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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO DISCIPLINA ELETIVA ESTUDOS EM GESTÃO EDUCACIONAL PROF. DR. PAULO GOMES LIMA DISSERTAÇÃO : CONCEPÇÕES DE GESTÃO ESCOLAR E ELEIÇÃO DE DIRETORES DA ESCOLA PÚBLICA DO PARANÁ ANOS 90 A 2001: A CONCEPÇÃO DA GESTÃO ESCOLAR NA ÓTICA DA GESTÃO POR RESULTADOS E DA QUALIDADE TOTAL E A ESCOLHA DE DIRETORES ESCOLARES JOSÉ LUCIANO FERREIRA DE ALMEIDA MESTRANDA MARICLEI PRZYLEPA

Dissertação almeida - cap iii

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

CURSO DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO

DISCIPLINA ELETIVA – ESTUDOS EM GESTÃO EDUCACIONAL

PROF. DR. PAULO GOMES LIMA

DISSERTAÇÃO : CONCEPÇÕES DE GESTÃO ESCOLAR E ELEIÇÃO DE

DIRETORES DA ESCOLA PÚBLICA DO PARANÁ

ANOS 90 A 2001: A CONCEPÇÃO DA GESTÃO ESCOLAR NA ÓTICA DA

GESTÃO POR RESULTADOS E DA QUALIDADE TOTAL E A ESCOLHA DE

DIRETORES ESCOLARES

JOSÉ LUCIANO FERREIRA DE ALMEIDA

MESTRANDA MARICLEI PRZYLEPA

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

• As reformas políticas e econômicas no âmbito do Estado, durante a

década de 90, marcaram as políticas públicas para a educação.

• A gestão escolar sofreu o impacto das reformas: aprofundamento da

concepção de gerência empresarial na gestão escolar.

• Uma concepção que tem no chamado Estado mínimo uma base de

redução daquilo que é público, privilegiando-se a lógica do mercado.

Na primeira parte: busca-se compreender o caráter da gestão escolar diante das reformas do Estado, a

partir da década de 90, e a implantação de uma lógica privada na gestão escolar.

A análise toma como foco a definição de uma concepção de gestão escolar, tentando-se compreender a

relação entre reforma do Estado e a concepção de gestão escolar.

Na segunda parte: partir das análises dos documentos e dos conteúdos das entrevistas realizadas, indicar

a afirmação da concepção de uma gestão escolar sob a lógica da gerência da qualidade total, com

base na análise do Guia de gestão escolar e nas entrevistas.

Há considerações que aceitam e utilizam-se dos referenciais da gerência empresarial na escola, como há

considerações críticas sobre os referenciais e princípios da gerência empresarial na gestão escolar.

As questões dirigidas aos diretores tiveram como objetivo levantar questões acerca do processo

eleitoral de 2001 principalmente, e as considerações sobre tal processo e qual relação guarda com a

concepção de gestão democrática.

AS REFORMAS DO ESTADO NA DÉCADA DE 90 E A

GESTÃO DA EDUCAÇÃO

Década de 90, e ainda hoje, sofre a influência da

concepção gerencial e da lógica do privado e do mercado

na escola.

Políticas neoliberais na América Latina LAURELL (1995),

considera que tais políticas provocaram uma deterioração das

condições de vida da maioria da população:

Condição de empobrecimento da população decorreu

principalmente da redução dos gastos sociais do Estado,

reduzindo-se a presença do próprio Estado no atendimento de

tais políticas.

“O fato de o Estado desempenhar um papel fundamental na formulação e efetivação das

políticas sociais não significa que estas envolvam exclusiva ou mesmo

principalmente, o âmbito público.” (LAURELL, 1995, p.153)

Ao Estado cabe apenas garantir os direitos sociais àqueles que se encontram numa

situação de indigência. Neste caso, o papel do Estado enquanto formulador e

administrador das políticas sociais públicas, tem uma significação meramente

supletiva.

Na visão liberal, há um alto grau de mercantilização dos bens sociais:“Isso significa

que os bens sociais estão submetidos à lógica do lucro, o que se opõe à do Estado

social-democrata, onde o financiamento, produção e administração pertencem ao

âmbito público-estatal e se subtraem assim à lógica do mercado.” (LAURELL, 1995,

p.156)

TRANSFORMAÇÕES NA DÉCADA DE 90

As significativas transformações no mundo do trabalho e da produção capitalistas na década de 90,

redimensionaram o papel da educação e da escola na sociedade.

As transformações se expressam pelo desenvolvimento tecnológico de base microeletrônica e pela

globalização do capital e do trabalho.

A reforma do Estado no Brasil, assentado em premissas de modernização, racionalização e

privatização, tendo o mercado como portador da racionalidade sociopolítica conservadora,

configura-se pela diminuição do papel do Estado no tocante às políticas públicas.” (DOURADO).

A transposição de teorias e modelos de organização e administração empresariais e burocráticos para

a escola como uma atitude freqüente.

As políticas públicas são redirecionadas de acordo com os novos parâmetros que regulam o mercado

e a sociedade capitalista, principalmente os paradigmas reguladores da organização do trabalho e

produção de mercadorias.

As chamadas reformas no âmbito do estado colocam a concepção de gestão escolar e o

processo de seleção de diretores das escolas públicas, no espírito da racionalidade da

organização do capitalismo, tendo como fundamento a reestruturação econômica e produtiva.

A implantação de uma racionalização para o Estado, no que se refere ao financiamento público,

assegura o uso tecnicamente “eficiente” dos reduzidos recursos destinados ao financiamento

das diversas políticas sociais, entre elas, a educação. (KUENZER, 1998) .

Segundo GONÇALVES (1994), ao analisar o teor dos documentos formulados no processo de

negociação do governo paranaense junto ao Banco Mundial, verificou-se: a absorção da

linguagem e do quadro teórico de análise neoliberal, nos documentos que estabelecem as

propostas de negociação do governo do Estado do Paraná para a obtenção de financiamento do

Banco Mundial para ações da área educacional.

A gestão escolar encontrava-se inserida num contexto de amplas reformas. Cabe ainda no âmbito

deste trabalho, fazer uma referência ao Projeto Qualidade de Ensino Público do Paraná (PQE)

como expressão das reformas introduzidas e da lógica de gerência empresarial presentes

nestas reformas na gestão escolar pública.

A AFIRMAÇÃO DA CONCEPÇÃO DA GERÊNCIA DE EMPRESA NA

GESTÃO ESCOLAR E A REDUÇÃO DA FORMA DEMOCRÁTICA NA ELEIÇÃO

DO DIRETOR ESCOLAR

O guia de gestão escolar sintetiza a concepção de gestão posta pelas políticas públicas para a

educação do Paraná no final da década de 90 até o ano 2002. Trata-se de um conjunto de

orientações destinadas principalmente para o trabalho do gestor escolar. O objetivo dessas

orientações postas têm como foco “o atingimento de resultados cada vez melhores na

educação pública paranaense” (PARANÁ, 2002, p.6).

O guia está organizado em seis capítulos, todos eles voltados para o caráter da gestão, como

organizar a escola de forma que atenda a uma concepção gerencial da gestão escolar.

Uma gestão escolar de concepção gerencial é de qualidade a partir da gestão por resultados,

gestão pedagógica, gestão participativa e estratégica, gestão de pessoas e gestão de serviços

de apoio, recursos físicos e financeiros.

O papel do gestor escolar toma a concepção da produção de resultados, da pragmaticidade do

mundo da eficiência, da excelência e da qualidade.

A cultura organizacional da gerência significa a racionalização do tempo e dos

processos internos da escola, essas características são emprestadas do

taylorismo/fordismo e do toyotismo.

Concepção do toyotismo na gestão escolar: combater o desperdício é um dos

pressupostos mais importantes da racionalidade gerencial do próprio toyotismo.

O papel do gestor escolar igual a um inspetor de qualidade, no sentido de controlar os

processos internos da escola, sempre sob a referência de uma gestão para

resultados.

A concepção de gestão por resultados tem como base a gerência de empresa privada,

por outro lado, refere-se também à chamada reestruturação produtiva do

capitalismo.

A gestão pedagógica está diretamente ligada à concepção posta pela gestão de

resultados, ou seja, depende em grande parte para o seu êxito do trabalho e das

competências de gestão escolar.

Concepção de gestão participativa ou compartilhada tomada como sinônimo da gestão democrática:

Qual gestão democrática é esta?

Concepção de uma gestão escolar participativa de caráter gerencial, esta efetivamente vincula-se aos

parâmetros do regime social capitalista.

Gestão democrática é a gestão na qual os funcionários e mesmo os usuários de uma organização

participam do processo decisório, partilhando responsabilidades e méritos. Trata-se da definição

formalista da democracia liberal COUTINHO(2002) e CIAVATTA(2002).

Dividir o poder, e não de criticar e questionar as relações de poder, essa relação aponta uma diferença

fundamental entre gestão escolar democrática e democratização da gestão escolar.

COUTINHO(2002): a democratização da gestão escolar tem como foco promover a participação da

comunidade escolar para a construção de um conhecimento histórico para a superação das

relações internas e externas de poder.

A concepção de gestão compartilhada se presta e tem na APM um instrumento imprescindível para a

organização do trabalho escolar sob a gerência da qualidade total.

O conteúdo que norteou o Guia de gestão escolar editado pela SEED em 2002, contemplava

a concepção gerencial de gestão escolar posta por meio das políticas públicas a partir do final da

década de 90.

Trata-se da conformação acrítica a uma concepção que tem como objetivo a manutenção das

relações sociais que sustentam o capitalismo.

Contradições envolveram o processo de escolha dos diretores: “no final de 2001, o processo de

seleção de diretores foi conduzido de forma „autoritária e interventora‟ foi um processo muito

confuso. (SAPELLI, 2002)

É possível compreender que o processo eleitoral de 2001 foi marcado pelas contradições postas,

a partir do aprofundamento da lógica empresarial na gestão escolar.

No caso do Paraná as políticas públicas para a educação estiveram sob a lógica de um Estado

mínimo de concepção neoliberal, ou seja, tem-se um contexto que é local e um contexto que é

global.

Concepção de Gestão: aprofundamento da concepção gerencial na escola.

Aceitação e adesão a uma Concepção de Gestão Escolar que fundamenta-se na transferência de uma

cultura organizacional desenvolvida nas empresas para as escolas.

A concepção política da participação tem um peso importante para a democratização das relações

escolares, de forma a possibilitar a compreensão de como se dão as relações de poder no interior

da escola.

Participação da comunidade escolar no processo pedagógico escolar, estaria não na dimensão

política, mas na dimensão de apoio financeiro e logístico às escolas públicas.

Ao considerar que o processo eleitoral de escolha do diretor escolar articula-se a uma

concepção de gestão escolar, foi necessário compreendê-los numa perspectiva

eminentemente política e histórica.