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Antônio de Oliveira Leila Rodrigues Cristovam Buarque Já foi assim... Cápsulas de qualquer coisa Basta de fingir Diálogo possível Quem conheceu bem, se é que isto fosse possível, a figura lendária de Pedro X Gontijo, um dos nomes mais importantes da histó- ria de Divinópolis, sabia de suas reações sempre intem- pestivas e às vezes passio- nais quando contrariado. X Gontijo não era homem de meias palavras, dizia o que lhe vinha na cabeça, cara a cara ou através de seus famosos boletins que infe- lizmente nem todos foram guardados. “Eu disse a eles, por um boletim, e volto a re- petir, que a mim eu me basto e nunca precisei do Município para coisa ne- nhuma, dele nada quero, de nada preciso, nem dele nem de ninguém, nem em vida, nem depois de minha morte, quando julgo mui- tíssimo útil a mim o mais rápido e completo esqueci- mento do meu nome”. Mais claro, impossível. Se fossem do mesmo tempo, poderia até ser admitida a coerência com a figura emblemática de João Figueiredo, que ao ser perguntado sobre o que queria após deixar de ser presidente, simplesmente respondeu: quero que me esqueçam! O povo até esqueceu mesmo, mas como fez com X Gontijo, a história não. Num diálogo possível e muito previsível, os jorna- listas Sonia Terra e Flavio Flora foram no fundo do baú e extraíram das pró- prias palavras de X Gontijo uma realidade bem atual. As mazelas de hoje não são diferentes das de 30, 40 ou 50 anos atrás. X, que foi prefeito nomeado em 1930, portanto há 84 anos, já falava a língua de hoje. Veja a res- posta ao presente que daria a Divinópolis no seu aniversá- rio: “...de presente material, eu daria mesmo a limpeza da imundície em que se en- contra o rio Itapecerica, uma destinação correta do lixo e do esgoto urbano e proteção aos mananciais que ainda restam.” Quase um século depois, suas palavras começam a ser entendidas e atendidas. Ver- dade que depois de X Gonti - jo, outras pessoas de grande visão passaram pela primei - ra cadeira municipal. Alguns com certo brilho, outros com nenhum, deixando a cidade à sua própria sorte, enquan- to outros ainda cuidaram de si, suas fortunas e abandona- ram o ideal. A cidade perdeu o foco, cresceu sem organiza- ção, tornando a vida de cada prefeito que se elege em um tormento. Depois de tantas, e até violentas críticas de pou- cos e certos oposicionistas, a atual administração vem começando a dar respostas ao povo “a quem apenas se deve prestar contas”. Real - mente X Gontijo foi um ho- mem bem à frente do seu tempo. Preto no Branco Sonia Terra e Pedro Magalhães de Faria A2 | OPINIÃO Divinópolis 03 de junho de 2014 – Olha o padeiro... O pão sendo conduzido, a princípio, a pé, balaio nos ombros, ou de carrocinha; depois, de bicicleta. Três pães de sal aqui, meia dúzia ali, broinhas acolá. Eventu- almente, também salgados na cacunda. O entregador de pão madrugava, e ainda trabalhava o dia inteiro. – Olha o verdureiro... A verdura, vendida de por- ta em porta. No balaio. E na sola do sapato. Ou mesmo sem calçado. Não se usava tênis nem se usavam sandá- lias havaianas. A Bonequi- nha Preta, de Alaíde Lisboa, cai da janela e cai justamen- te num cesto de alfaces. – Olha o leiteiro... O leite, numa carrocinha, medido na hora. A vasilha era sempre do comprador. É verdade que não se usava ja- leco branco, mas o leite, sim, já era branco... – Olha o frango... Amarrados pelos pés e en- fiados numa vara apoiada no ombro. Era assim que os frangos vinham dependurados. Na manguara. – Olha o pirulito... Tabuleiro de doce de leite, caixa de pirulitos, cartu- chos de amendoim torrado, e ovos. Rodilha de pano na cabeça apoia outra carga, uma bandeja de quitanda. Trabalhava-se noite aden- tro, à luz de lamparinas. Olha o funileiro... Que saía, de porta em porta, soldando vasilhas e apondo alça de folha-de-flandes a latas vazias. – Olha o amolador... Ao som característico da dança da lima com o es- meril o amolador de facas se anunciava aos fregue- ses. Não se usava a palavra cliente. Amolador de facas e de tudo o que corta: tesou- ras, alicates, para ficar tudo nos trinques. Bem afiado. O esmeril do tempo esmeri- la o progresso, esse, sim, um cliente que não pede licen- ça, e vai rompendo com o passado. Mudando os hábi- tos. Diluindo o romantismo. Cultuando o virtual. Veloz. Instantâneo. Mudando coi- sas, conceitos, gente. Mu- dando. Mudando para me- lhor ou para pior, pois nem tudo o que vem em nome do progresso vem para melhor. Ou se vem, precisa ser mo- nitorado. Como no trânsito. O automóvel passou a valer mais do que as pessoas. Por- que há valores que se inver- tem. E como! [email protected] Elas são minúsculas, não tem cheiro e ninguém percebe que você usa. Pesam no bolso, mas isso ninguém vai saber, afinal elas vão resolver todos os seus problemas. E esse milagre ninguém deve saber o nome do santo! Estamos falando das cápsulas, esse vício novo que promete resolver todos os nossos problemas. A libido está baixa, a cápsula resolve. O cabelo caiu! Então tome esta outra cápsula que o cabelo vai parar de cair. Mas deu uma insônia danada! Sem problemas, tome esta outra cápsula que você vai dormir como uma pedra! A esta altura como uma pedra estão os rins do sujeito! Vira um vício! Viciado em remé- dios! Sem medicar, sem fazer exames para conhecer o pró- prio organismo, muitas pesso- as permitiram que o milagre das cápsulas invadisse suas cabeças insanas. De um lado a preocupação com o não. Não engordar, não envelhecer, não ter rugas, não brochar, não cansar. Pergun- to-me de onde veio essa or- dem? Isso é correr contra a na- tureza de nossas vidas! Viver é por natureza envelhecer. E envelhecer significa cansar-se cada vez com mais facilidade, ter rugas e perder os hormô- nios sim! Podemos e devemos envelhecer de uma forma sau- dável e hoje a medicina pode nos proporcionar isso. Mas o que estamos presenciando é uma verdadeira guerra arma- da contra o tempo! Do outro lado está o merca- do das cápsulas, prometendo milagres cada vez mais ime- diatos. É tudo estudado e cal- culado para entrar em nossas cabeças de uma forma tão su- til que nem sequer percebe- mos que fomos influenciados pelas suas promessas. Vejo mães competindo com fi- lhas para provar que são mais gostosas. Pais querendo mos- trar para a amiga da filha que ainda são potentes. Todos de- pendentes de uma pílula que os transforme, só mudam as cores das pílulas. Há que se achar uma cápsu- la que acorde a humanidade! Que nos faça desconfiar de tudo que queira transformar a nossa história em um insigni- ficante parágrafo. Uma pílula que nos acorde desse transe e nos mostre o frescor de cada fase de nossas vidas. Que nos devolva a autoestima perdida no fundo de nossas gavetas cheias de cápsulas de qual- quer coisa. Que aprendamos a guardar nosso organismo para as cáp- sulas realmente importantes que um dia teremos que to- mar. E que a próxima cápsula seja para nos mostrar que bo- nito mesmo são os traços da nossa genuína história! Úni- cos, verdadeiros e capazes de caminhar conosco até o fim! leilarodrigues-palavras.blogspot.com.br O Brasil comemora sua posição de sétimo maior PIB do mun- do, mas o PIB per capita rebaixa o país para a 54ª posição no ce- nário mundial; no Índice de De- senvolvimento Humano (IDH) ficamos em 85º lugar. Fingimos ser ricos, apesar da pobreza. Nos últimos 20 anos, passamos de 1,66 milhão para 7,04 mi - lhões de matrículas nos cursos superiores, mas quase 40% de nossos universitários sabem ler e escrever mediocremente, poucos sabem a matemática necessária para um bom curso nas áreas de ciências ou enge- nharias, raros são capazes de ler e falar outro idioma além do Português. Fingimos ser possí - vel dar um salto à universidade sem passar pela Educação de Base. Comemoramos ter passado de 36 milhões, em 1994, para 50 milhões de matriculados na Educação Básica, em 2014, sem dar atenção ao fato de termos 13 milhões de adultos prisioneiros do analfabetismo; 54,5 milhões de brasileiros com mais de 25 anos não terminaram o Ensino Fundamental e 70 milhões não terminaram o Ensino Médio. Fingimos que os matriculados estão estudando, quando sa- bemos que passam meses sem aulas por causa de paralisações ou falta de professores. A partir de 1995, no DF e em Campinas, iniciamos um pro- grama que serve de exemplo ao mundo inteiro, atualmente chamado de Bolsa Família e que transfere por mês, em mé- dia, R$ 167,00 por pessoa po- bre, o que lhe assegura R$ 5,67 por dia, valor insuficiente para aliviar suas necessidades mais essenciais. E fingimos que, com esta transferência, estamos er- radicando a pobreza que é ca- racterizada efetivamente pela falta de acesso aos bens e servi - ços essenciais que não estamos oferecendo. Fingimos ter 94,9 milhões na classe média, saben- do que a renda média mensal per capita dessas pessoas está entre R$ 291 e R$ 1.019, quan- tia insuficiente para uma vida cômoda, especialmente em um país que não oferece educação e saúde públicas de qualidade. Comemoramos o aumento da frota de automóveis de, apro- ximadamente, 18 milhões, em 1994, para 64,8 milhões, em 2014, fingindo que isto é pro- gresso, mesmo que signifique engarrafamentos monumen- tais. Comemoramos, corretamente, termos desfeito uma ditadura, esquecendo que a democracia está sem partidos e a política se transformou em sinônimo de corrupção. Fingimos ter uma democracia com liberdade de imprensa escrita em um país onde poucos são capazes de ler um texto de jornal. Assistimos 56 mil mortos pela violência ao ano, e fingimos ser um país pa- cífico, sem uma guerra civil em marcha. Fingimos ser um país com am- bição de grandeza, mas nos contentamos com tão pouco que os governantes se recusam a ouvir críticas sobre a inefi- ciência dos serviços públicos. Preferem um otimismo ufanis- ta, comparando com o passado que já foi pior, e denunciam como antipatriotas aqueles que ambicionam mais e criticam as prioridades definidas e a in- competência como elas são exe- cutadas. Antipatriota é achar que o Brasil não tem como ir além, é acreditar nos fingimen- tos. [email protected] EDITORIAL Diretor Responsável Pedro Magalhães de Faria Reg 256/29-003 Sede - Av. 1º de Junho, 708, Centro Telefone: 37 3222-8221 (geral) Redação: 37 3301-8442 Diretora Editorial - Sonia Terra de Faria Propriedade do Sistema PEMAFA de Comunicação - CNPJ: 86.666.674/0001-45/ Insc: 223.913.786-0012 E-mail: [email protected] Mágoa... A tradicional “Queima do Alho”, realizada no último sábado, durante a 44ª Divinaexpô, premiou as melhores comitivas do Brasil que mantêm viva a tradição das comidas típicas dos peões de es- tradão, na época em que viajavam para vender bois. O primeiro lu- gar deste ano ficou com a comitiva “Mágoa de Boiadeiro”, de Divinó- polis comandada pelo cozinheiro Antônio Carlos Guimarães. ...de boiadeiro A Mágoa de Boiadeiro é tricam- peã da Divinaexpô e venceu em 2012, 2013 e 2014. No ano passa- do, a comitiva ficou em quarto lu- gar na Queima do Alho de Barretos em São Paulo, que concorreu com mais de 26 nomes, inclusive vindo de Barretos e bastante experientes. Chuva .... Nem a chuva que caiu na noite de domingo, durante o encerra- mento da Divinaexpô, impediu a dupla Gino & Geno de movimentar o parque. Usando capas de chuva, os fãs da dupla cantaram e dança- ram ao som dos hits, encerrando com chave de ouro a maior festa da cidade. ...de prata A festa que atraiu 180 mil pes- soas ao parque, segundo dados da organização do evento, foi uma das mais tranquilas. A única ocorrên- cia policial foi um roubo com uso de força física, quando o assaltan- te levou dois aparelhos celulares e R$ 20. Esta informação torna-se significativa, porque mostra como a cidade espera por este momento, com o espírito desarmado, dispos- ta apenas a comemorar. Tambores A família Fagundes compareceu em peso e foi torcer pelo desem- penho de Gabryelle, que não de- cepcionou e fez bonito, levando o primeiro lugar na charmosa prova dos Três Tambores. A Campeã da Divinaexpô 2014 levantou a taça, agradeceu as energias positivas e deu lições de disciplina, elegância e religiosidade. Símbolo incômodo A solenidade de condecoração da Medalha Candidés ocorreu na última sexta, 30, no salão nobre do Estrela do Oeste de forma dinâmi- ca e brilhante, revelando persona- lidades e instituições marcantes de Divinópolis. O único aspecto críti- co da noite foi a grande bandeira exposta de forma incorreta e osten- tando um brasão totalmente altera- do. Destoou. A Câmara Municipal precisa corrigir esse equívoco o quanto antes. Ciência “O que a proteômica pode nos dizer sobre a esquizofrenia?” é o tema da palestra que o jovem cien- tista Daniel Martins de Souza fará quinta-feira no Campus Dona Lin- du, da Universidade Federal de São João Del Rey. Recentemente con- tratado pela Unicamp, ele pertence ao departamento de bioquímica da Unicamp e possui pós-doutorado pelo Instituto de Psiquiatria Max Planck de Munique (Alemanha), no laboratório da renomada cien- tista Bahn da Universidade de Cambridge (Inglaterra) – o primei- ro grupo do mundo a produzir um kit de diagnóstico para pacientes com esse transtorno. Projeto No Brasil, o professor Daniel aprovou um importante proje- to da FAPESP para montar o pri- meiro laboratório de neuroprote- ômica da América Latina e está entusiasmado e aberto para esta- belecer parcerias com professores interessados. O endereço na Pla- taforma Lattes: http://lattes.cnpq. br/3326522478832809

Editorial Pedro X Agora [3-06-2014]

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Repercussão de uma entrevista ficcional com X Gontijo por meio de seus escritos. Um trabalho editorial de Sônia Terra e Flávio Flora. Jornal Agora, 31 de maio/ 1 de junho 2014, pag, 2

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Page 1: Editorial Pedro X   Agora [3-06-2014]

Antônio de Oliveira

Leila Rodrigues

Cristovam Buarque

Já foi assim...

Cápsulas de qualquer coisa

Basta de fingir

Diálogo possívelQuem conheceu bem, se

é que isto fosse possível, a figura lendária de Pedro X Gontijo, um dos nomes mais importantes da histó-ria de Divinópolis, sabia de suas reações sempre intem-pestivas e às vezes passio-nais quando contrariado. X Gontijo não era homem de meias palavras, dizia o que lhe vinha na cabeça, cara a cara ou através de seus famosos boletins que infe-lizmente nem todos foram guardados.

“Eu disse a eles, por um boletim, e volto a re-petir, que a mim eu me basto e nunca precisei do Município para coisa ne-nhuma, dele nada quero, de nada preciso, nem dele

nem de ninguém, nem em vida, nem depois de minha morte, quando julgo mui-tíssimo útil a mim o mais rápido e completo esqueci-mento do meu nome”. Mais claro, impossível. Se fossem do mesmo tempo, poderia até ser admitida a coerência com a figura emblemática de João Figueiredo, que ao ser perguntado sobre o que queria após deixar de ser presidente, simplesmente respondeu: quero que me esqueçam!

O povo até esqueceu mesmo, mas como fez com X Gontijo, a história não. Num diálogo possível e muito previsível, os jorna-listas Sonia Terra e Flavio Flora foram no fundo do

baú e extraíram das pró-prias palavras de X Gontijo uma realidade bem atual.

As mazelas de hoje não são diferentes das de 30, 40 ou 50 anos atrás. X, que foi prefeito nomeado em 1930, portanto há 84 anos, já falava a língua de hoje. Veja a res-posta ao presente que daria a Divinópolis no seu aniversá-rio: “...de presente material, eu daria mesmo a limpeza da imundície em que se en-contra o rio Itapecerica, uma destinação correta do lixo e do esgoto urbano e proteção aos mananciais que ainda restam.”

Quase um século depois, suas palavras começam a ser entendidas e atendidas. Ver-dade que depois de X Gonti-

jo, outras pessoas de grande visão passaram pela primei-ra cadeira municipal. Alguns com certo brilho, outros com nenhum, deixando a cidade à sua própria sorte, enquan-to outros ainda cuidaram de si, suas fortunas e abandona-ram o ideal. A cidade perdeu o foco, cresceu sem organiza-ção, tornando a vida de cada prefeito que se elege em um tormento.

Depois de tantas, e até violentas críticas de pou-cos e certos oposicionistas, a atual administração vem começando a dar respostas ao povo “a quem apenas se deve prestar contas”. Real-mente X Gontijo foi um ho-mem bem à frente do seu tempo.

Preto no BrancoSonia Terra e Pedro Magalhães de Faria

A2 | OPINIÃODivinópolis03 de junho de 2014

– Olha o padeiro...O pão sendo conduzido, a princípio, a pé, balaio nos ombros, ou de carrocinha; depois, de bicicleta. Três pães de sal aqui, meia dúzia ali, broinhas acolá. Eventu-almente, também salgados na cacunda. O entregador de pão madrugava, e ainda trabalhava o dia inteiro. – Olha o verdureiro...A verdura, vendida de por-ta em porta. No balaio. E na sola do sapato. Ou mesmo sem calçado. Não se usava tênis nem se usavam sandá-lias havaianas. A Bonequi-nha Preta, de Alaíde Lisboa, cai da janela e cai justamen-

te num cesto de alfaces.– Olha o leiteiro...O leite, numa carrocinha, medido na hora. A vasilha era sempre do comprador. É verdade que não se usava ja-leco branco, mas o leite, sim, já era branco...– Olha o frango...Amarrados pelos pés e en-fiados numa vara apoiada no ombro.Era assim que os frangos vinham dependurados. Na manguara. – Olha o pirulito...Tabuleiro de doce de leite, caixa de pirulitos, cartu-chos de amendoim torrado, e ovos. Rodilha de pano na

cabeça apoia outra carga, uma bandeja de quitanda. Trabalhava-se noite aden-tro, à luz de lamparinas. Olha o funileiro...Que saía, de porta em porta, soldando vasilhas e apondo alça de folha-de-flandes a latas vazias. – Olha o amolador...Ao som característico da dança da lima com o es-meril o amolador de facas se anunciava aos fregue-ses. Não se usava a palavra cliente. Amolador de facas e de tudo o que corta: tesou-ras, alicates, para ficar tudo nos trinques. Bem afiado.O esmeril do tempo esmeri-

la o progresso, esse, sim, um cliente que não pede licen-ça, e vai rompendo com o passado. Mudando os hábi-tos. Diluindo o romantismo. Cultuando o virtual. Veloz. Instantâneo. Mudando coi-sas, conceitos, gente. Mu-dando. Mudando para me-lhor ou para pior, pois nem tudo o que vem em nome do progresso vem para melhor. Ou se vem, precisa ser mo-nitorado. Como no trânsito. O automóvel passou a valer mais do que as pessoas. Por-que há valores que se inver-tem. E como!

[email protected]

Elas são minúsculas, não tem cheiro e ninguém percebe que você usa. Pesam no bolso, mas isso ninguém vai saber, afinal elas vão resolver todos os seus problemas. E esse milagre ninguém deve saber o nome do santo! Estamos falando das cápsulas, esse vício novo que promete resolver todos os nossos problemas.A libido está baixa, a cápsula resolve. O cabelo caiu! Então tome esta outra cápsula que o cabelo vai parar de cair. Mas deu uma insônia danada! Sem problemas, tome esta outra cápsula que você vai dormir como uma pedra!A esta altura como uma pedra estão os rins do sujeito! Vira um vício! Viciado em remé-

dios! Sem medicar, sem fazer exames para conhecer o pró-prio organismo, muitas pesso-as permitiram que o milagre das cápsulas invadisse suas cabeças insanas.De um lado a preocupação com o não. Não engordar, não envelhecer, não ter rugas, não brochar, não cansar. Pergun-to-me de onde veio essa or-dem? Isso é correr contra a na-tureza de nossas vidas! Viver é por natureza envelhecer. E envelhecer significa cansar-se cada vez com mais facilidade, ter rugas e perder os hormô-nios sim! Podemos e devemos envelhecer de uma forma sau-dável e hoje a medicina pode nos proporcionar isso. Mas o que estamos presenciando é

uma verdadeira guerra arma-da contra o tempo!Do outro lado está o merca-do das cápsulas, prometendo milagres cada vez mais ime-diatos. É tudo estudado e cal-culado para entrar em nossas cabeças de uma forma tão su-til que nem sequer percebe-mos que fomos influenciados pelas suas promessas. Vejo mães competindo com fi-lhas para provar que são mais gostosas. Pais querendo mos-trar para a amiga da filha que ainda são potentes. Todos de-pendentes de uma pílula que os transforme, só mudam as cores das pílulas.Há que se achar uma cápsu-la que acorde a humanidade! Que nos faça desconfiar de

tudo que queira transformar a nossa história em um insigni-ficante parágrafo. Uma pílula que nos acorde desse transe e nos mostre o frescor de cada fase de nossas vidas. Que nos devolva a autoestima perdida no fundo de nossas gavetas cheias de cápsulas de qual-quer coisa.Que aprendamos a guardar nosso organismo para as cáp-sulas realmente importantes que um dia teremos que to-mar. E que a próxima cápsula seja para nos mostrar que bo-nito mesmo são os traços da nossa genuína história! Úni-cos, verdadeiros e capazes de caminhar conosco até o fim!

leilarodrigues-palavras.blogspot.com.br

O Brasil comemora sua posição de sétimo maior PIB do mun-do, mas o PIB per capita rebaixa o país para a 54ª posição no ce-nário mundial; no Índice de De-senvolvimento Humano (IDH) ficamos em 85º lugar. Fingimos ser ricos, apesar da pobreza.Nos últimos 20 anos, passamos de 1,66 milhão para 7,04 mi-lhões de matrículas nos cursos superiores, mas quase 40% de nossos universitários sabem ler e escrever mediocremente, poucos sabem a matemática necessária para um bom curso nas áreas de ciências ou enge-nharias, raros são capazes de ler e falar outro idioma além do Português. Fingimos ser possí-vel dar um salto à universidade sem passar pela Educação de Base.Comemoramos ter passado de 36 milhões, em 1994, para 50 milhões de matriculados na

Educação Básica, em 2014, sem dar atenção ao fato de termos 13 milhões de adultos prisioneiros do analfabetismo; 54,5 milhões de brasileiros com mais de 25 anos não terminaram o Ensino Fundamental e 70 milhões não terminaram o Ensino Médio. Fingimos que os matriculados estão estudando, quando sa-bemos que passam meses sem aulas por causa de paralisações ou falta de professores.A partir de 1995, no DF e em Campinas, iniciamos um pro-grama que serve de exemplo ao mundo inteiro, atualmente chamado de Bolsa Família e que transfere por mês, em mé-dia, R$ 167,00 por pessoa po-bre, o que lhe assegura R$ 5,67 por dia, valor insuficiente para aliviar suas necessidades mais essenciais. E fingimos que, com esta transferência, estamos er-radicando a pobreza que é ca-

racterizada efetivamente pela falta de acesso aos bens e servi-ços essenciais que não estamos oferecendo. Fingimos ter 94,9 milhões na classe média, saben-do que a renda média mensal per capita dessas pessoas está entre R$ 291 e R$ 1.019, quan-tia insuficiente para uma vida cômoda, especialmente em um país que não oferece educação e saúde públicas de qualidade.Comemoramos o aumento da frota de automóveis de, apro-ximadamente, 18 milhões, em 1994, para 64,8 milhões, em 2014, fingindo que isto é pro-gresso, mesmo que signifique engarrafamentos monumen-tais.Comemoramos, corretamente, termos desfeito uma ditadura, esquecendo que a democracia está sem partidos e a política se transformou em sinônimo de corrupção. Fingimos ter uma

democracia com liberdade de imprensa escrita em um país onde poucos são capazes de ler um texto de jornal. Assistimos 56 mil mortos pela violência ao ano, e fingimos ser um país pa-cífico, sem uma guerra civil em marcha.Fingimos ser um país com am-bição de grandeza, mas nos contentamos com tão pouco que os governantes se recusam a ouvir críticas sobre a inefi-ciência dos serviços públicos. Preferem um otimismo ufanis-ta, comparando com o passado que já foi pior, e denunciam como antipatriotas aqueles que ambicionam mais e criticam as prioridades definidas e a in-competência como elas são exe-cutadas. Antipatriota é achar que o Brasil não tem como ir além, é acreditar nos fingimen-tos. [email protected]

EDITORIAL

Diretor ResponsávelPedro Magalhães de FariaReg 256/29-003

Sede - Av. 1º de Junho, 708, CentroTelefone: 37 3222-8221 (geral)Redação: 37 3301-8442

Diretora Editorial - Sonia Terra de Faria

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Mágoa...

A tradicional “Queima do Alho”, realizada no último sábado, durante a 44ª Divinaexpô, premiou as melhores comitivas do Brasil que mantêm viva a tradição das comidas típicas dos peões de es-tradão, na época em que viajavam para vender bois. O primeiro lu-gar deste ano ficou com a comitiva “Mágoa de Boiadeiro”, de Divinó-polis comandada pelo cozinheiro Antônio Carlos Guimarães.

...de boiadeiro

A Mágoa de Boiadeiro é tricam-peã da Divinaexpô e venceu em 2012, 2013 e 2014. No ano passa-do, a comitiva ficou em quarto lu-gar na Queima do Alho de Barretos em São Paulo, que concorreu com mais de 26 nomes, inclusive vindo de Barretos e bastante experientes.

Chuva ....

Nem a chuva que caiu na noite de domingo, durante o encerra-mento da Divinaexpô, impediu a dupla Gino & Geno de movimentar o parque. Usando capas de chuva, os fãs da dupla cantaram e dança-ram ao som dos hits, encerrando com chave de ouro a maior festa da cidade.

...de prata

A festa que atraiu 180 mil pes-soas ao parque, segundo dados da organização do evento, foi uma das mais tranquilas. A única ocorrên-cia policial foi um roubo com uso de força física, quando o assaltan-te levou dois aparelhos celulares e R$ 20. Esta informação torna-se significativa, porque mostra como a cidade espera por este momento, com o espírito desarmado, dispos-ta apenas a comemorar.

Tambores

A família Fagundes compareceu em peso e foi torcer pelo desem-penho de Gabryelle, que não de-cepcionou e fez bonito, levando o primeiro lugar na charmosa prova dos Três Tambores. A Campeã da Divinaexpô 2014 levantou a taça, agradeceu as energias positivas e deu lições de disciplina, elegância e religiosidade.

Símbolo incômodo

A solenidade de condecoração da Medalha Candidés ocorreu na última sexta, 30, no salão nobre do Estrela do Oeste de forma dinâmi-ca e brilhante, revelando persona-lidades e instituições marcantes de Divinópolis. O único aspecto críti-co da noite foi a grande bandeira exposta de forma incorreta e osten-tando um brasão totalmente altera-do. Destoou. A Câmara Municipal precisa corrigir esse equívoco o quanto antes.

Ciência

“O que a proteômica pode nos dizer sobre a esquizofrenia?” é o tema da palestra que o jovem cien-tista Daniel Martins de Souza fará quinta-feira no Campus Dona Lin-du, da Universidade Federal de São João Del Rey. Recentemente con-tratado pela Unicamp, ele pertence ao departamento de bioquímica da Unicamp e possui pós-doutorado pelo Instituto de Psiquiatria Max Planck de Munique (Alemanha), no laboratório da renomada cien-tista Bahn da Universidade de Cambridge (Inglaterra) – o primei-ro grupo do mundo a produzir um kit de diagnóstico para pacientes com esse transtorno.

Projeto

No Brasil, o professor Daniel aprovou um importante proje-to da FAPESP para montar o pri-meiro laboratório de neuroprote-ômica da América Latina e está entusiasmado e aberto para esta-belecer parcerias com professores interessados. O endereço na Pla-taforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/3326522478832809