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ÉTICA E DEONTOLOGIA PROFISSIONAL (E.D.P) – MSc.Econ. Pedro Batumenga Índice I. NOÇÕES BÁSICAS Princípios, Valores e Virtudes 8................................................................................................... 2 Relações Sociais e individualismo 11........................................................................................... 2 Vocação para o colectivo 12......................................................................................................... 2 Classes Profissionais 12................................................................................................................ 2 Actividade Voluntária 13............................................................................................................. 2 Código de Ética Profissional 13.................................................................................................... 2 Base filosófica dos códigos de ética profissional 14.................................................................... 2 Peculiaridades em um código de Ética Profissional 14................................................................ 2 Puritanismo e Ética Profissional 15............................................................................................. 2 Conduta individual e sucesso 16................................................................................................. 2 Profissão em contabilidade, um exemplo expressivo 18............................................................. 2 Valor social da profissão 19......................................................................................................... 2 Responsabilidade, Utilidade e projecção Profissional 20............................................................. 2 Valor da profissão, utilidade e expressão ética 21...................................................................... 2 Especialização, Cultura e utilidade profissional 22....................................................................... 2 Função social da profissão e ambiência social contemporânea 23............................................. 2 V. DEVERES PROFISSIONAIS......................................................................................................... 3 Conceito do dever Profissional e escolha da Profissão 26............................................................ 3 Dever de conhecer a profissão e a tarefa 27................................................................................ 3 Dever da execução das tarefas e das virtudes exigíveis 29.......................................................... 3 Virtudes profissionais 31............................................................................................................. 3 Conceito essencial e generico de virtudeético 32........................................................................ 3 Evolução conceptual de virtude e suas relatividades 34 ........................................................... 3 Efeitos e responsabilidades na prática de virtude 35.................................................................. 3 Conclusão 36................................................................................................................................ 3 Referencias bibliográficas 37........................................................................................................ 3 Anexos 39.................................................................................................................................... 3 1

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ÉTICA E DEONTOLOGIA PROFISSIONAL (E.D.P) – MSc.Econ. Pedro Batumenga

Índice

I. NOÇÕES BÁSICAS

Princípios, Valores e Virtudes 8...................................................................................................2

Relações Sociais e individualismo 11...........................................................................................2

Vocação para o colectivo 12.........................................................................................................2

Classes Profissionais 12................................................................................................................2

Actividade Voluntária 13.............................................................................................................2

Código de Ética Profissional 13....................................................................................................2

Base filosófica dos códigos de ética profissional 14....................................................................2

Peculiaridades em um código de Ética Profissional 14................................................................2

Puritanismo e Ética Profissional 15.............................................................................................2

Conduta individual e sucesso 16.................................................................................................2

Profissão em contabilidade, um exemplo expressivo 18.............................................................2

Valor social da profissão 19.........................................................................................................2

Responsabilidade, Utilidade e projecção Profissional 20.............................................................2

Valor da profissão, utilidade e expressão ética 21......................................................................2

Especialização, Cultura e utilidade profissional 22.......................................................................2

Função social da profissão e ambiência social contemporânea 23.............................................2

V. DEVERES PROFISSIONAIS.........................................................................................................3

Conceito do dever Profissional e escolha da Profissão 26............................................................3

Dever de conhecer a profissão e a tarefa 27................................................................................3

Dever da execução das tarefas e das virtudes exigíveis 29..........................................................3

Virtudes profissionais 31.............................................................................................................3

Conceito essencial e generico de virtudeético 32........................................................................3

Evolução conceptual de virtude e suas relatividades 34 ...........................................................3

Efeitos e responsabilidades na prática de virtude 35..................................................................3

Conclusão 36................................................................................................................................3

Referencias bibliográficas 37........................................................................................................3

Anexos 39....................................................................................................................................3

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Pauta deontológica do serviço público Angolano 41...................................................................3

Como resolver dilemas ético-deontologicos ( passos dos gestores para a tomada de decisão ) 43.................................................................................................................................................3

Os principais erros que devem ser evitado no trabalho em grupo 44.........................................3

As associações profissionais e associativismo do profissional 45...............................................3

Princípios, Valores e Virtudes ..........................................................................................8

II. CONDUTA DO SER HUMANO EM COMUNIDADE E EM SUA CLASSE

Relações Sociais e individualismo .................................................................................11

Vocação para o colectivo.................................................................................................12

Classes Profissionais.......................................................................................................12

Actividade Voluntária ....................................................................................................13

Código de Ética Profissional ..........................................................................................13

Base filosófica dos códigos de ética profissional ...........................................................14

Peculiaridades em um código de Ética Profissional .......................................................14

Puritanismo e Ética Profissional .....................................................................................15

Conduta individual e sucesso .........................................................................................16

III. PROFISSÃO E EFEITOS DE SUA CONDUTA

Profissão em contabilidade, um exemplo expressivo .....................................................18

Valor social da profissão ................................................................................................19

Responsabilidade, Utilidade e projecção Profissional.....................................................20

IV. ÉTICA E PROFISSÃO

Valor da profissão, utilidade e expressão ética ..............................................................21

Especialização, Cultura e utilidade profissional..............................................................22

Função social da profissão e ambiência social contemporânea ......................................23

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V. DEVERES PROFISSIONAIS

Conceito do dever Profissional e escolha da Profissão...................................................26

Dever de conhecer a profissão e a tarefa.........................................................................27

Dever da execução das tarefas e das virtudes exigíveis..................................................29

VI. VIRTUDE COMO SUBSTÂNCIA ÉTICA

Virtudes profissionais .....................................................................................................31

Conceito essencial e generico de virtudeético.................................................................32

Evolução conceptual de virtude e suas relatividades ...................................................34

Efeitos e responsabilidades na prática de virtude ...........................................................35

Conclusão........................................................................................................................36

Referencias bibliográficas...............................................................................................37

Anexos ............................................................................................................................39

Pauta deontológica do serviço público Angolano ..........................................................41

Como resolver dilemas ético-deontologicos ( passos dos gestores para a tomada de

decisão ) ..........................................................................................................................43

Os principais erros que devem ser evitado no trabalho em grupo ..................................44

As associações profissionais e associativismo do profissional .....................................45

Introdução

Que devemos aceitar como Ética, por vezes também designada como Moral (nem sempre adequadamente), e qual sua moderna forma de ser entendida, enseja a compreensão geral sobre tal assunto. A preocupação com tal ramo da Filosofia, considerado como ciência, também, é milenar, desde os trabalhos de Pitágoras, no século VI a.C., e se agasalha em manifestações remotas, quer em fragmentos que nos chegaram de escritos antiquíssimos, quer na obra específica de Aristóteles Ética a Nicômaco. Em seu sentido de maior amplitude, a Ética tem sido entendido como a ciência da conduta humana perante o ser e seus semelhantes

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Envolve, pois os estudos de aprovação ou desaprovação da acção dos homens e a consideração de valor como equivalente de uma medição do que é real e voluntarioso no campo das acções virtuosas Encara a virtude como prática do bem e esta como a promotora da felicidade dos seres, quer individualmente, quer colectivamente, mas também avalia os desempenhos humanos em relação às normas comportamentais pertinentes. Analisa a vontade e o desempenho virtuoso do ser em face de suas intenções e actuações, quer relativos à própria pessoa, quer em face da comunidade em que se insere. Expostas essas ideias genéricas, é preciso esclarecer sobre os dois aspectos sob os quais tem ela sido aceite pelos estudiosos da questão, ou seja: 1º Como ciência que estuda a conduta dos seres humanos, analisando os meios que devem ser empregados para que a referida conduta se reverta sempre a favor do homem. Nesse aspecto o homem torna-se o centro da observação, em consonância com o meio que lhe envolve. Cuida das formas ideais da acção humana e busca a essência do ser, procurando conexões entre o material e o espiritual. 2º Como ciência que busca os modelos de conduta conveniente, objectiva, dos seres humanos. A correlação, nesse aspecto, é objectiva entre o homem e seu ambiente. Os modelos, como valores, passam a guiar a estrutura normativa. Tais critérios de entender, possuem posicionamentos distintos em seus desenvolvimentos, embora possam parecer semelhantes. O primeiro situa-se no campo do ideal e o segundo no das forças que determinam a conduta, ou seja das causas que levam ao acto comportamental do ser Um estuda a essência ou natureza e, outro, os motivos ou relações que influem sobre a conduta. Embora seja possível identificar tais posicionamentos, no aprofundamento das obras dos tradistas, a realidade é que entrelaçamentos e mesclas diversas foram e ainda são operados Comum entre tais aspectos é , todavia, a analise do bem, como prática de amor em suas variadas formas; igualmente relevante destacar-se o da conduta respeitosa que evita prejudicar a terceiros, bem ao próprio ser. Existem os que contestam, todavia essa forma imprecisa de estudar o bem, ou ainda, objectivá-lo como um fenómeno em sí mesmo (o que é) ou o que deve ser tomado como um modelo para uma finalidade ideal (o que deve ser objecto de vontade). São detalhes da forma sob a qual se estuda um mesmo objecto e que é o bem. Os que criticam essa duplicidade de enfoques alegam que uma coisa é estudar-se o bem como uma realidade (como algo concreto) e outra o de sua analise como meta a ser atingida ou vontade de sua prática. São aspectos de uma só coisa, mas, competentes para mudar a forma de tratamento no desenvolvimento de um tema, embora considerada irrelevante ou como preciosismo, por escritores famosos da actualidade (ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982.). Quando Aristóteles afirmou que “para o homem não existe maior felicidade que a virtude e a razão”(Aristóteles. A politica. Livro IV,Cap1) situou tal pensamento no sentido de que a prática do bem ( que deflui do exercício da virtude) é a felicidade e que ela deve ser praticada como ideal e como acto consciente. É uma verdade aceite pelos grande pensador que bem caracteriza o aspecto ético, sob o prisma de uma realidade aceite como modelo de conduta racional.

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Isto se confirma na asserção do mesmo filósofo, quando escreve que a felicidade é diferentemente concebida pelo leigo (forma empírica) e pelo sábio (forma cientifica) e que o bem é o que se relaciona com o espírito e com a mente mas não apenas concebida, se não praticada, através da actividade virtuosa. (Aristóteles. Ética a Nicômaco livroII,6). Ao afirmar que “pelos actos que praticamos em nossas relações com os homens nos tornamos justos ou injustos “ e que “ é preciso atentar, pois, pela qualidade dos actos que praticamos, porquanto de sua diferença se pode aquilatar a diferença de caracteres”( Aristóteles. Ética a Nicômaco. LivroII,1) Aristóteles deixa claro que mesmo as situações ideais não alcançam todo o valor se se não materializam pela conduta virtuosa.(Aristóteles. Ética a Nicômaco. LivroII,6).

A humanidade tem assistido muitas mudanças em quase todos os sentidos da vida humana. O desenvolvimento tecnológico está atingindo dimensões jamais antes imaginadas ou mesmo concebidas pelo ser humano. As mudanças decorrentes da evolução e dos conhecimentos históricos são muito significativos e representam um exemplo do que pode acontecer com os esforços da criação da mente humana.

Nos campos da descoberta da medicina da indústria, da tecnologia, jamais se assistiu tamanho desenvolvimento. Assistimos a um aumento de velocidade de produção de informação nunca conhecido. Em face das conquistas tecnológicas actuais, a ética está mais do que nunca presente nos debates a respeito do comportamento humano e o seu estudo é sempre necessário em decorrência da necessidade das pessoas orientarem seu comportamento de acordo com a nova realidade da vida social. Do grego “Ethké e do latim Éthica” surgiu a ética-Ciência relativa aos costumes.

A ética é o domínio da filosofia que tem por objectivo o juízo de apreciação que distingue o bem e o mal, o comportamento correcto e o incorrecto. Pode ser considerada tambem como estudo do”ideal para o qual o homem se dirige” de acordo com a sua natureza, ou o estudo dos “motivos” ou “causas” da conduta humana ou das “forças” que a determinam, pretendendo ater-se ao conhecimento dos factos (ABBAGNANO,1998, p.380). Os princípios éticos constituem-se enquanto directrizes, pelas quais o homem rege o seu comportamento tendo em vista uma filosofia moral dignificante. Os códigos de ética, são dificilmente separáveis da deontologia profissional, pelo que não é pouco frequente os termos ética e deontologia serem utilizadas indiferentemente.

Assim, a ética é o conjunto de normas morais pelo qual o indivíduo deve orientar seu comportamento na profissão que exerce e é de fundamental importância em todas as profissões e para todo ser humano para que possamos viver relativamente bem em sociedade com o crescimento desenfreado do mundo globalizado, muitas vezes deixamo-nos levar pela pressão exercida em busca de produção pois, o mercado de trabalho está cada vez mais competitivo e exigente, as vezes não nos deixa e nem dá tempo para reflectir sobre nossas atitudes.

Temos que ter a consciência de que nossos actos podem influenciar na vida dos outros e que nossa liberdade acarreta em responsabilidade. De forma ampla a ética é definida como a explicitação do fundamento último do agir humano na busca do bem comum e da realização individual.

O termo deontologia surge das palavras gregas “deon, deontos” que signica dever e logós que se traduz por discurso ou tratado. Sendo assim, deontologia seria o tratado do dever ou conjunto de deveres princípios e normas adoptadas por um determinado grupo de profissionais.

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A deontologia também se refere ao conjunto de princípios e regras de conduta, os deveres inerentes a uma determinada profissão. Assim cada profissão está sujeita a uma deontologia própria a regular o exercício de sua profissão conforme o código de ética de sua categoria. Neste caso é o conjunto codificado das obrigações impostas aos profissionais de uma determinada área no exercício da sua profissão, Sendo esta codificação da responsabilidade de associações ou ordens profissionais. Para além disso estes códigos propõem sanções, segundo princípios e procedimentos explícitos para os infractores do mesmo. Alguns códigos não apresentam funções normativas e vinculativas oferecendo apenas uma função reguladora. São normas estabelecidas pelos próprios profissionais, tendo em vista não exactamente a qualidade moral, mas a correcção de suas intenções e acções em relação a direitos, deveres ou princípios nas relações entre profissão e a sociedade. A deontologia é um termo mais apropriado para a discussão em torno da conduta profissional, compreendendo-a como um esforço para obter-se uma uniformização da acção dos membros de uma categoria profissional.Unifomização não no sentido de igualar as acções mas sim, de orientar, prescrever controlar a conduta dos membros da profissão visando constrior uma identidade e por meio desta, tornar-se respeitado e conhecido pelos demais membros da sociedade. A realização de um trabalho e a acção de um grupo se dará “como se fosse a acção de um único indivíduo”(Souza, p.55). A princípio a reflexão em torno do comportamento dos membros de uma categoria profissional tende a acontecer nos diferentes espaços nos quais estes membros se situam. Se a ética é uma acção reflexiva em torno dos ideais e causas da conduta humana, portanto, uma acção propria do homem enquato ser social, ela se constroi em qualquer tempo e em qualquer lugar. O modo de um determinado profissional se comporta, independentemente de como tal coportamento venha a ser qualificado, se dá com base em certos principios, e a partir de um modo de ver a realidade, e principalmente, de se ver nesta realidade. Assim, enquanto um ser humano que sente e pensa, é possivel refletir sobre um dado comportamento seus motivos e complicações individualmente ou em grupo. Porém, considerando que “ser profissional” implica em situar-se em um determinado contexto, o comportamento, as implicações e motivos para tal, bem como, as reflexões em torno do mesmo dizem respeito ao grupo que esse individuo integra.Regra geral, os códigos deontologicos têm por base as grandes declarações universais e esforçam-se por traduzir o sentimento ético expresso nestas, adaptando-o, no entanto, às particularidades de cada país e de cada grupo profissional. A deontologia é uma disciplina da ética especial adaptada ao exercicio de uma profissão. A ocupação organizacional se constitui em uma profissão, a partir de elementos como a expertise (conjunto de conhecimentos, competências e técnicas especiais), credencialismo (escolas ou colégios que autorizam a entrada de novos membros no exercicio da profissão) e a autonomia que reflete a capacidade da categoria reivindicar para sí o poder de controlar a realização e o modo de fazer um determinado tipo de trabalho. É no âmbimto da autonomia que estão as corporações profissionais, associações e sindicatos.

O 1.º código de deontologia foi feito na área de medicina nos Estados Unidos de América- EUA em meados do século passado.

I. NOÇÕES BÁSICAS

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Origem e concepções

Historicamente, a ética sempre foi orientada pela religião e pela razão, sendo esta razão crítica em todas as sociedades. Podemos observar grandes filósofos como Sócrates, Plantão, Aristóteles, Santo Agostinho, Kant, cada um a seu modo, buscando o estabelecimento de códigos de ética validas universalmente.

Tendo a ética como ciência da conduta, podemos observar duas concepções: “Ciências que trata do fim que deve orientar a conduta dos homens e dos meios para atingir tal fim. É o ideal formulado e perseguido pelo homem por sua natureza e essência”“Ciência que trata do moral, da conduta humana e procura determinar esse móvel visando dirigir a própria conduta. Liga-se ao desejo da sobrevivência”.

Na 1.ª concepção vemos Sócrates como precursor da ética ocidental. Platão que tratou da ética das virtudes em sua obra “Republica”. Aristóteles que trata do propósito da conduta humana de buscar a felicidade a partir da sua natureza racional. Hegel tratou do objectivo da conduta humana destacando o estado como a realidade na qual a conduta encontra integração e perfeição, tratando a ética como a filosofia do direito.

Em sua 2.ª concepção, vemos pródico que nos contempla com suas palavras:

“Se desejares ser honrado por uma cidade deve ser útil a mesma”. Pregava o respeito mútuo e a justiça como condição necessária a sobrevivência do homem; Kant situou a ética no mundo da razão pura na qual os seres racionais buscavam firmar esse mundo evitando os interesses individualizados e perseguindo o bem.

Benthan defendeu a conduta do homem como sendo determinado pela expectativa do prazer ou da dor, sendo esse o único motivo possível da acção.

Ainda como ciência da conduta, vemos a ética no homem que exerce algum poder sentindo-se o único sujeito real o eleito o melhor, o mais capaz, o mais inteligente, portanto merecendo privilegio.

Neste sentido enfatiza-se que o significado ético deve estar sempre associado ao outro. Somente em relação ao outro pode existir o valor moral e a conduta pode ser uma acção da justiça.

A única ética possível estrutura-se na relação do sujeito com o outro, em que é importante ser preservado o complexo espaço para a inter subjectividade. Só nessa relação do sujeito com o outro podemos construir os valores éticos acerca do bem e do mal. Representa também a relação do indivíduo com as instituições, com á sociedade.

Conceito – Ética Profissional

É extremamente importante saber diferenciar a ética do moral e do direito. Estas 3 áreas de conhecimento se distinguem, entretanto têm grandes vínculos e até mesmo sobreposição.

A moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa independentemente das fronteiras geográficas e garante uma identidade entre pessoas que mesmo sem se conhecerem, utilizam este mesmo referencial moral comum.

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O direito estabelece o regulamento de uma sociedade delimitada pelas fronteiras do Estado. As leis têm uma base territorial, pois elas valem apenas para aquela área geográfica onde determinada população ou seus delegados vive. Alguns autores afirmam que o direito é um subconjunto da moral. Esta perspectiva pode gerar conclusão de que a toda lei é moralmente aceitável.Inúmeras situações demonstram existência de conflitos entre o direito e a moral.

Ex. Desobediência civil que ocorre quando argumentos morais impedem que uma pessoa acate determinada lei. Assim a moral e o direito apesar de referirem-se a uma mesma sociedade, podem ter perspectivas discordantes.

A ética profissional pode ser entendida como estudo da conduta humana no exercicio de uma profissão, seus ideais, motivos e causas.Inicialmente é importante destacar que a expressão “ética profissional” fere uma discussão de uma ética de perspectiva igualitária porque atribui para um grupo de pessoas, membros de um grupo profissional, uma ética especial em detrimento dos demais membros da sociedade (TAVARES,1998). Sendo assim, a acção reguladora da ética que age no desempenho das profissões, faz com que o profissional respeite seu semelhante quando no exercício da sua profissão.

A ética profissional estuda e regula o relacionamento do profissional com a sua clientela, visando a dignidade humana e a construção do bem-estar no contexto sócio-cultural onde exerce sua profissão atingindo toda categoria profissional. Ao falarmos da ética profissional, estamos nos referindo ao carácter normativo e até jurídico que regulamenta determinada profissão a partir de estatutos e códigos específicos. Assim, temos a ética médica, do advogado, do biólogo, do professor etc. relacionada em seus respectivos códigos de ética. Em geral as profissões apresentam a ética firmada em questões relevantes que ultrapassam o campo profissional em sí, como o aborto, a pena de morte, sequestro e outros que são questões morais que se apresentam como problemas éticos, pois pedem uma reflexão profunda e assim um profissional, ao se debruçar sobre elas, não o faz apenas como tal, mas, como um pensador, um filosofo da ciência ou seja profissão que exerce. Desta forma, a reflexão ética entra na normalidade de qualquer actividade profissional humana.

A ética inerente a vida humana é de suma importância na vida profissional, assim para o profissional a ética não é somente inerente, mas indispensável a este. Na acção humana o fazer e o agir estão interligados. O fazer diz respeito à competência, à eficácia que todo profissional deve possuir para exercer bem a sua profissão. O agir refere-se à conduta do profissional, conjunto de atitudes que deve assumir no desempenho da sua profissão.

A ética baseia-se em uma filosofia de valores compatíveis com a natureza e o fim de todo ser humano.

O agir da pessoa humana está condicionada às duas premissas consideradas básicas pela ética: “ o que é” o homem e para que vive”, logo toda capacidade científica ou técnica precisa estar em conexão com os princípios essenciais da ética. (Motta 1984. p. 69) Constatamos assim o forte conteúdo ético presente no exercício profissional.

Reflexões sobre a Ética Profissional

A validade da ética profissional reside no papel que a pessoa desempenha e na confiança depositada no “profissional”, que ganha ênfase em sociedades tecnologicamente complexas nas quais, a aplicação de conhecimentos por especialistas tende a aumentar. Além disso, a conduta ética profissional envolve os interesses do

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grupo, com base no interesse em garantir a sobrevivência de cada um, os interesses de realização pessoal obtida por meio de exercicio profissional adequado, no sentido tanto de preservar, como de enobrecer a sí e à profissão.

As reflexões realizadas no exercício de uma profissão devem ser iniciadas bem antes da prática profissional. A escolha por uma profissão é optiva, mas ao escolhe-la, o conjunto de deveres profissionais passa a ser obrigatório. Toda a fase de formação, abrangendo o aprendizado das competências e habilidades que se referem a prática especifica numa determinada área deve incluir a reflexão. Ao completar a graduação em nível superior, a pessoa faz um juramento, que significa sua adesão e compromisso com a categoria profissional onde formalmente ingressa, o que caracteriza o aspecto moral da chamada ética profissional. O facto de uma pessoa trabalhar numa área que não escolheu livremente como emprego por precisar de trabalhar, não o isenta da responsabilidade de pertencer a uma classe, não a eximindo também dos deveres a cumprir. Algumas perguntas podem guiar a reflexão, até esta tornar-se um hábito incorporado ao dia-dia como por ex. Perguntar a sí mesmo se está sendo bom profissional, está agindo adequadamente e ainda se está realizando correctamente sua actividade. É fundamental ter sempre em mente que há uma série de atitudes que não estão descritas nos códigos de todas as profissões, mas que são comuns a todas as actividades que uma pessoa pode exercer, gostando do que se faz, sem perder a dimensão de que é preciso sempre continuar melhorando, aprendendo, experimentando novas soluções, criando novas formas de exercer as actividades, estando aberto a mudanças, mesmo nos pequenos detalhes, que podem fazer uma grande diferença na sua realização profissional e pessoal. Isto tudo pode acontecer com a reflexão ética incorporada a seu viver. E isto é parte do que se chama empregabilidade, que nada mais é que a capacidade que você pode ter de ser um profissional eticamente bom. O comportamento adequado eticamente e o sucesso contínuo são indissociáveis.

Princípios, Valores E Virtudes

Existe uma grande diferença entre princípios, valores e virtudes embora sua efetividade seja válida apenas quando os conceitos estão alinhados. No mundo corporativo em geral, noto que muitos profissionais são equivocados com relação aos conceitos e, apesar de defenderem o significado de um ou outro, a prática se revela diferente.

Princípios são preceitos, leis ou pressupostos considerados universais que definem as regras pela qual uma sociedade civilizada deve se orientar. Em qualquer lugar do mundo, princípios são incontestáveis, pois, quando adotados não oferecem resistência alguma. Entende-se que a adoção desses princípios está em consonância com o pensamento da sociedade e vale tanto para a elaboração da constituição de um país quanto para acordos políticos entre as nações ou estatutos de condomínio. Vale no âmbito pessoal e profissional.

Amor, felicidade, liberdade, paz e plenitude são exemplos de princípios considerados universais. Como cidadãos – pessoas e profissionais - esses princípios fazem parte da nossa existência e durante uma vida estaremos lutando para torná-los inabaláveis. Temos direito a todos eles, contudo, por razões diversas, eles não surgem de graça. A base dos nossos princípios é construída no seio da família e, em muitos casos, eles se perdem no meio do caminho.

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De maneira geral, os princípios regem a nossa existência e são comuns a todos os povos, culturas, eras e religiões, queiramos ou não. Quem age diferente ou em desacordo com os princípios universais acaba sendo punido pela sociedade e sofre todas as conseqüências. São as escolhas que fazemos com base em valores equivocados, não em princípios.

Valores são normas ou padrões sociais geralmente aceitos ou mantidos por determinado indivíduo, classe ou sociedade, portanto, em geral, dependem basicamente da cultura relacionada com o ambiente onde estamos inseridos. É comum existir certa confusão entre valores e princípios, todavia, os conceitos e as aplicações são diferentes.

Diferente dos princípios, os valores são pessoais, subjetivos e, acima de tudo, contestáveis. O que vale para você não vale necessariamente para os demais colegas de trabalho. Sua aplicação pode ou não ser ética e depende muito do caráter ou da personalidade da pessoa que os adopta.

Pessoas de origem humilde definem valores de maneira diferente das pessoas de origem mais abastada. De um lado, a escassez pode gerar a idéia de que dinheiro não traz felicidade, portanto, mesmo sem dinheiro, é possível ser feliz utilizando-se valores como amizade, por exemplo. Do outro, o apego ao dinheiro e a convivência harmoniosa com o conforto pode gerar a idéia de que sem dinheiro não é possível ser feliz, ou seja, o dinheiro traz felicidade, amizade, conforto e, se houver mais dinheiro do que o necessário, valores como filantropia e voluntariado podem ser praticados.

Essa comparação não define o certo e o errado. Ela apenas levanta uma questão interessante sobre o conceito de valores e depende do ponto de vista de cada cultura ou de cada pessoa, em particular. Na prática, é muito mais simples ater-se aos valores do que aos princípios, pois este último exige muito de nós. Os valores completamente equivocados da nossa sociedade – dinheiro, sucesso, luxo e riqueza - estão na ordem do dia, infelizmente. Todos os dias somos convidados a negligenciar os princípios e adotar os valores ditados pela sociedade.

Virtudes, segundo o Aurélio, são disposições constantes do espírito, as quais, por um esforço da vontade, inclinam à prática do bem. Aristóteles afirmava que há duas espécies de virtudes: a intelectual e a moral. A primeira deve, em grande parte, sua geração e crescimento ao ensino, e por isso requer experiência e tempo; ao passo que a virtude moral é adquirida com o resultado do hábito.

Segundo Aristóteles, nenhuma das virtudes morais surge em nós por natureza, visto que nada que existe por natureza pode ser alterado pela força do hábito, portanto, virtudes nada mais são do que hábitos profundamente arraigados que se originam do meio onde somos criados e condicionados através de exemplos e comportamentos semelhantes.

Uma pessoa pode ter valores e não ter princípios. Hitler, por exemplo, conhecia os princípios, mas preferiu ignorá-los e adotar valores como a supremacia da raça ariana, a aniquilação da oposição e a dominação pela força. Significa que também não dispunha de virtudes, pois as virtudes são decorrentes dos princípios e o seu legado foi um dos mais nefastos da história. Sua ambição desmedida o tornou obcecado por valores que contrastam com os princípios universais.

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Diferente de Hitler, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce e Mahatma Gandhi tinham princípios, valores e virtudes integralmente alinhados com a sua concepção de vida. Todos lutavam por causas nobres e tinham um ponto comum: a dignidade humana. Enquanto Hitler, Milosevic e Karadzic entraram para o rol das figuras mais odiadas da humanidade, Madre Teresa, Irmã Dulce da Bahia e Gandhi são personalidades singulares que inspiram exemplos para a humanidade.

Existem pessoas que nunca seguiram princípio algum e, apesar de tudo, continuam enriquecendo, fazendo sucesso na televisão, conquistando cargos importantes nas empresas e assumindo papéis relevantes na sociedade. Entretanto, riqueza material não é a única medida de sucesso. Avalie, por si mesmo, quais os exemplos deixados por elas, a sua contribuição para o mundo e o seu triste legado para os descendentes.

No mundo corporativo não é diferente. Embora a convivência seja, por vezes, insuportável, deparamo-nos com profissionais que atropelam os princípios, como se isso fosse algo natural, um meio de sobrevivência, e adotam valores que nada tem a ver com duas grandes necessidades corporativas: a convivência pacífica e o espírito de equipe. Nesse caso, virtude é uma palavra que não faz parte do seu vocabulário e, apesar da falta de escrúpulo, leva tempo para destituí-los do poder.

Valores e virtudes baseados em princípios universais são inegociáveis e, assim como a ética e a lealdade, ou você tem, ou não tem. Entretanto, conceitos como liberdade, felicidade ou riqueza não podem ser definidos com exatidão. Cada pessoa tem recordações, experiências, imagens internas e sentimentos que dão um sentido especial e particular a esses conceitos.

O importante é que você não perca de vista esses conceitos e tenha em mente que a sua contribuição, no universo pessoal e profissional, depende da aplicação mais próxima possível do senso de justiça. E a justiça é uma virtude tão difícil, e tão negligenciada, que a própria justiça sente dificuldades em aplicá-la, portanto, lute pelos princípios que os valores e as virtudes fluirão naturalmente. O que vale em casa vale no trabalho. Não existe paz de espírito nem crescimento interior sem o triunfo dos princípios. Pense nisso e seja feliz.

II. CONDUTA DO SER HUMANO EM COMUNIDADE E EM SUA CLASSE

A razão pela qual se exige uma disciplina do homem em seu grupo repousa no facto de que as associações possuem, por sua natureza, uma necessidade de equilíbrio que só se encontra quando a autonomia dos seres se coordena na finalidade do tudo. É a lei dos sistemas que se torna imperiosa, do átomo ás galáxias, de cada individuo até sua sociedade. Em tudo parece haver uma tendência para a organização e os seres humanos não fogem a essa regra e vocação.

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Todo agregado, todo sistema, entretanto, depende de uma disciplina comportamental e de conduta. Cada ser, assim como a somatória deles em classe profissional, tem seu comportamento específico, guiado pela característica do trabalho executado. Cada conjunto de profissionais deve guiar uma ordem que permite a evolução harmónica do trabalho de todos, a partir da conduta de cada um, através de uma tutela no trabalho que conduza a regulação do individualismo perante o colectivo. São exigíveis, pois, uma conduta humana especial, que denominamos Ética, e o exercício de virtudes dela defluentes. O sentimento social é um imperativo na construção dos princípios éticos, e estes são incompreensíveis sem aquele. Como os seres são heterogéneos por seus caracteres, a homogeneização perante a classe precisa ser regulada de forma que o bem geral esteja preservado, inclusive o do próprio ser, como unidade, em um regime de interacção benéfica.

Relações sociais e individualismo

As leis de cada profissão são elaboradas com objectivo de proteger os profissionais, a categoria e as pessoas que dependem daquela profissão, mas há muitos aspectos não previstos especificamente e que fazem parte do compromisso dos profissionais em serem eticamente correctos, ou seja, fazer coisa certa.Outra referencia que tem sido objecto de estudo de muitos estudiosos, parece ser a tendência do ser humano de defender, em primeiro lugar, seus interesses próprios e, quando esses interesses são de natureza pouco recomendável, ocorrem seríssimos problemas.O valor ético do esforço humano é variável em função do seu alcance, em face da comunidade. Se o trabalho executado é só para auferir renda, tem em geral seu valor restrito. Os serviços realizados, visando o benefício de terceiros com consciência do bem comum, passa a existir a expressão social do mesmo. Aquele que só se preocupa com os lucros, geralmente, tende a ter menor consciência de grupo e a ele pouco importa o que ocorre com a sua comunidade e muito menos com a sociedade. O número dos que trabalham visando primordialmente o rendimento é muito grande, fazendo assim com que as classes procurem defender-se contra a dilapidação de seus conceitos, tutelando o trabalho e zelando para que uma luta encarniçada não ocorra na disputa dos serviços, pois ficam vulneráveis ao individualismo.A consciência de grupo tem surgido mais por interesse de defesa do que por altruísmo, pois garantida a liberdade de trabalho, se não se regular e tutelar a conduta, o individualismo pode transformar a vida dos profissionais em reciprocidade de agressão.Tal luta quase sempre se processa em virtude da ambição de uns em cima de outros, e que em nome dessas ambições, podem ser praticadas, por ex. quebras de sigilo.A tutela de trabalho processa-se pelo caminho da exigência de uma ética imposta através dos conselhos profissionais. As normas devem ser condizentes com as diversas formas de prestar o serviço de organizar o profissional para esse fim.A conduta profissional, muitas vezes, pode tornar-se agressiva e inconveniente e esta é uma das fortes razões pelas quais os códigos de ética quase sempre buscam maior abrangência. Assim ao nos referirmos à classe, ao social, não nos reportamos apenas a situações isoladas ou modelos particulares, mas a situação geral. O egoísmo desenfreado de poucas pode atingir um número expressivo de pessoas e até mesmo influenciar o destino de nações, e partindo da ausência de conduta virtuosa de minorias

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poderosas preocupados apenas com os lucros. Sabemos que a conduta do ser humano pode tender ao egoísmo, mas, para os interesses de uma classe, de toda sociedade, é preciso que se acomode às normas, porque, estas devem estar apoiadas em princípios de virtude, assim a ética tem sido o caminho justo e adequado, para o beneficio comum, geral.

Vocação para o Colectivo

Ingresso de uma vida inculta baseada apenas em instintos, o homem, sobre a terra, foi-se organizando, na busca de maior estabilidade vital, cedendo parcelas do referido individualismo para beneficiar da união, da divisão do trabalho e assim da protecção da vida em comum. A organização social foi e continua a ser um progresso, na definição das funções dos cidadãos e tal definição acentua gradativamente, o limite de acção das classes Como escreveu Vidar: “ a formação das classes sociais é um facto de grande importância Ética que se completa no momento exacto em que o homem sai de sua homogeneidade instável de origem primitiva e forma agrupamentos mais determinados e estáveis”( VIDARI,G. Elementi di ética. Milão:Hoepli,1922.p.68.). Tal assertiva ele a fez para depois argumentar que tais agrupamentos aumentaram suas necessidades na vida, em decorrência da agregação..A vocação para colectivo já não se encontra, nos dias actuais, com a mesma eficácia nos grandes centros como ainda é encontrado em núcleos menores e poucas cidades de maior dimensão possuem o espírito comunitário, enfrentando com grandes dificuldades as questões classistas.Parece-nos pouco entendido, que existe um bem comum a defender do qual um número expressivo de pessoas depende para o bem-estar próprio e seus semelhantes, tendo assim uma inequívoca interacção. O progresso do individualismo, gera sempre o risco da transgressão ética, assim é imperativa a necessidade de uma tutela sobre o trabalho, através de normas éticas.

Classes Profissionais

Uma classe profissional caracteriza-se pela homogeneidade do trabalho executado, pela natureza do conhecimento exigido para tal execução e pela identidade habilitação para, o exercício da mesma. A classe profissional é um grupo dentro da sociedade, especifico, definido por sua especialidade de desempenho de tarefas. A questão, pois, dos agrupamentos específicos, sem dúvida, defluiu de uma natureza especialização, motivada por selecção natural ou habilidade própria, e hoje constitui-se em inequívoca força dentro das sociedades. No tempo, atribui-se à Idade Média a organização das classes trabalhadoras, notadamente as de artesãos, que se reuniram em corporações. É possível que associações com outras características tenham existido em outras épocas e disto existem alguns indícios, não muito veementes, mas, indirectamente, aceitáveis. Sabemos que no Egipto Antigo, por exemplo, as classes trabalhadoras eram definidas e que existiam profissionais geniais e de grande notoriedade, como Imhotep (viveu no tempo de Zozer III, do velho reino /2.700-2300 a C/, cognominado de Leonardo da Vinci egípcio, pelos historiadores).

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Para aquele povo, uma das profissões mais nobres era a de contabilista. Tal profissão constituía-se no exercício das funções de escriturário, administrador, legislador geral e de impostos, diplomata e até ministro; os profissionais tinham mercado de trabalho assegurado, em razão, tudo faz crer, do altíssimo valor que se atribuía à escrita, notadamente a aplicada ao informe sobre a riqueza. Os historiadores, todavia, mesmo os mais detalhistas, não enfocaram a organização de classes profissionais ao longo da historia, tal como a que ocorreu, como fenómeno social, na Idade Média. A divisão do trabalho é antiga e está ligada a vocação de cada um para determinadas tarefas e as circunstâncias que obrigam, muitas vezes, a assumir esse ou aquele trabalho: ficou prático para o homem em comunidade transferir tarefas e executar a sua. A união dos que realizam o mesmo trabalho foi uma evolução natural e hoje se acha não só regulada por leis, mas consolidada em instituições fortíssimas de classe, como os códigos de ética.

Actividade Voluntária

Outro conceito interessante que podemos examinar é o de profissional, que é regularmente remunerado ao executar a actividade que exerce, em oposição ao amador, que podemos conceituar sendo aquele que exerce actividade voluntária e que, nesta conceituação, este não seria profissional, sendo esta uma conceituação polémica.Voluntário é aquele que se dispõe a exercer a pratica profissional não remunerada, seja para fins assistenciais, ou prestação de serviços por um período determinado ou não. É fundamental observar que só é eticamente adequado, o profissional que age, na actividade voluntária, com o mesmo comprometimento que teria no exercício profissional se este fosse remunerado. Se a actividade é voluntária, sendo uma opção realiza-la, é eticamente adequado que esta seja realizada da mesma forma como faz tudo que é importante em sua vida.

Código de Ética Profissional

A ética compreende os fundamentos dos códigos deontológicos ou éticos porque estuda e reflecte a conduta. Tais códigos reflectem o contexto de constituição da própria profissão, o modo como ela se organiza, como ela se situa em dada sociedade, como os seus membros se relacionam entre sí e com os usuários de seus serviços.Sempre, quando se fala em virtudes profissionais, é preciso mencionar a existência dos códigos de ética profissional.As relações de valor que existem entre o ideal, moral traçado e os diversos campos da conduta humana podem ser reunidos em um instrumento regulador. Assim o código de ética é uma espécie de contrato de classe em que os órgãos de fiscalização do exercício da profissão passam a controlar a execução de tal peça magna. Tudo deriva, pois de critérios de conduta de um individuo perante seu grupo social. Tem como base as virtudes que devem ser exigíveis e respeitadas no exercício da profissão abrangendo o relacionamento com usuários, colegas de profissão, classe e sociedade. O interesse no cumprimento do referido código deve ser de todos. O exercício de uma virtude obrigatória torna-se exigível para cada profissional como se uma lei fosse, uma vez que

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toda comunidade possui elementos qualificados e alguns que transgridem a prática das virtudes: seria utópico admitir uniformidade de conduta.A disciplina, entretanto, é um contrato de atitudes, de deveres, de estados de consciência, e que deve formar um código de ética, tem sido a solução, notadamente nas classes profissionais que são ingressas de cursos universitários (contadores, médicos, advogados, psicólogos, etc.).Uma ordem deve existir para que se consiga eliminar conflitos e especialmente evitar que se macule o bom nome e o conceito social de uma categoria.

Base filosófica dos códigos de ética profissional

Para que um código de Ética Profissional seja organizado, é preciso, preliminarmente, que se trace a sua base filosófica. Tal base deve estribar-se nas virtudes exigíveis a serem respeitadas no exercício da profissão, e em geral abrange as relações com utentes dos serviços, os colegas, a classe e a nação. As virtudes básicas são comuns a todos os códigos. As virtudes específicas de cada profissão representam as variações entre os diversos estatutos éticos. O zelo, por exemplo, é exigível em qualquer profissão, pois representa uma qualidade imprescindível a qualquer execução de trabalho, em qualquer lugar. O sigilo, todavia, deixa de ser necessário em profissões que não lidam com confidências e resguardos de direitos. Um contabilista precisa guardar sigilo dos segredos que conhece da vida dos negócios, mas um agrónomo já não tem muito que reservar-se em relação às tarefas que executa. Cada profissão tem suas próprias características e isto exige também virtudes pertinentes a um desempenho de boa qualidade. Traçar, pois, as linhas mestres de um código, é compor a filosofia que será seguida e que forma a base essencial do mesmo. Sejam quais forem as linhas mestres de um código de ética, elas serão sempre linhas de virtude a serem seguidas.Abase filosófica é necessária para que se forme a estrutura. Formada a estrutura, a partir dela, traçam-se os detalhes. O princípio será sempre o de estabelecer qual a forma de um profissional se conduzir no exercício profissional, de maneira a não prejudicar terceiros e a garantir uma qualidade eficaz de trabalho- essa a orientação filosófica fundamental

Peculiaridades em um código de Ética Profissional.

As peculiaridades em um código de conduta profissional dependem de diversos factores, todos ligados à forma como a profissão se desempenha, ao nível de conhecimentos que exige, ao ambiente em que é executada etc. Isto significa que não pode existir um padrão universal que seja aplicável com eficácia a todos os casos, embora as linhas mestres sejam comuns, pois comuns são as principais virtudes de todas as profissões exigíveis. Logo, existem códigos de ética, e não apenas um código de ética, quando se tem na mira objectivar o exercício profissional ou de conduta de um grupo. As classes, através de suas instituições, de seus líderes, são os naturais elementos geradores de tais estatutos, os quais precisam surgir do amplo debate, da franca intervenção de todos, de forma a possibilitar uma realidade e algo que efectivamente seja exequível e abrangente.

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Devem ser colectados, pacientemente, todos os deveres, ou obrigações do individuo perante todos os ângulos de seu exercício ou seja, em todas as esferas onde possam ocorrer relações pessoais que exijam actos profissionais e humanos a estes pertinentes Os contabilistas Brasileiros iniciaram o esboço de seu código de ética em 1950, no congresso Brasileiro de contabilidade, em Belo Horizonte. O tema central de tal conclave foi o código de ética. Os debates foram se sucedendo, as contribuições se somando, até que o conselho federal de contabilidade, em 1970, através de uma resolução, oficializou a matéria. Foram decorridos 20 anos de amadurecidos estudos. A evolução, todavia ocorrida nas profissões, através da mudança de costumes, do avanço da tecnologia, das alterações nas políticas sociais, do progresso das nações, da dilatação dos mercados etc., exerce influência nas condutas e os códigos se desajustam, por mais cuidadosas que tenham sido suas elaborações. Tais desajustes atingem, normalmente, os aspectos da forma de trabalhar, porque são estes os mais sensíveis às modificações Quando, todavia, a operacionalidade no trabalho se altera, é possível que também se alterem formas de relacionamento pessoal, e, logicamente, a conduta.

Puritanismo e Ética Profissional

Atitudes exageradas, em relação às virtudes, são antinaturais, logo, também enfraquecem seus valores éticos Não é sem razão que Carrel escreveu: “A virtude adquiriu, graças aos puritanos, uma desgraçada reputação. Foi confundida com a hipocrisia, a intolerância, a dureza, a afectação”(Carrel, Alexis. Op.cit.p.139). Os extremos, em matéria de conduta, parecem perigosos, e isto se agrava quando se prende a detalhes, às vezes, de mínima relevância. Devemos considerar sempre o que mais caracteriza um acto, diante da intenção maior; pequenos erros são às vezes toleráveis, quando não intencionais. A infalibilidade, não se encontra em qualquer ser. Até as máquinas falham; o próprio computador, com todos os seus inequívocos e maravilhosos recursos, por vezes, nos apresenta comportamentos discrepantes. A intransigência não é uma virtude. Opostamente, aquele que em tudo vê a fraude, a má-fé, o erro, mesmo que seja insignificante, não se encontra no melhor de sua capacidade mental. Conhece-se pessoas desse género, cujo único assunto é criticar todos e que só observam, em tudo, lesões à virtude. Imaginam-se puros e intocáveis. Tal comportamento não é ético, pois caracteriza a intolerância, e esta, quase sempre, gera o espírito de perseguição, calúnia, traição e demais vícios; ou seja, ao admitir-se o único virtuoso do mundo, o puritano acaba por enlamear, muitas vezes, a honra até de inocente. Quando isto ocorre no âmbito das profissões, a tendência é de que tais indivíduos terminem isolados em seu grupo. Sabemos que, em matéria de prestação de serviços, conseguem-se actos de grande expressão virtuosa, às vezes seguindo alguns caminhos aparentemente não virtuosos. O advogado, ao defender o criminoso, aos olhos de um puritano pratica acto imoral Um contador, ao deixar de denunciar ao fisco um cliente que está em atraso de pagamentos como a lei certa vez exigiu, para o puritano é transgressor.

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Um médico, ao dizer ao paciente que seu estado não é grave, sabendo que é terminal, aos olhos do puritano é desleal. Entretanto, o advogado não está a defender o crime mas sim o cidadão, o contador a defender a vida da empresa, e não a inadimplência, o médico a amenizar a aflição do paciente, e não engana-lo em um caso já perdido. Os actos precisam ser julgados com suas relatividades. Toda a natureza, obra de uma inteligência muito superior à nossa, nos dá exemplos exuberantes de relatividade, em todas as suas manifestações. Puritanismo é um vício quando prejudica terceiros, quando, em uma comunidade, procura abalar o valor ético das instituições e de líderes que as representam. Em nome de uma pseudomoralidade, muitas denúncias se fazem, muitas acusações se realizam, baseadas, às vezes, na simples aparência ou na análise parcial de formas de atitudes, desconhecendo a essência e o resultado destas. É da natureza do puritano ver fantasmas em tudo e ser sempre contra quase tudo, em todas as suas acções. Tais indivíduos, em nome de sua ética particular, lesam, quase sempre, a verdade ética.

Conduta individual e sucesso

A conduta sadia do ser, consigo mesmo e com seu ambiente, habita ao sucesso. Entre os muitos estudiosos da questão, Alexis Carrel conseguiu sintetizar sobre as relações ambientais, seus pontos de vista, em princípios aptos para a felicidade, todos de índole ética. Embora não seja o exclusivo tratadista da matéria, entendemos que foi com propriedade que objectivou os seguintes: - Considerar o triunfo da vida como nossa principal ocupação. - Aceitar a ordem das coisas, resignando-nos a uma vonluntária limitação da liberdade, para nos submetermos a uma regra. - Optar pela ordem, em vez da fantasia, e pelo esforço constante, em vez da despreocupação irresponsável. - Utilizar ao mesmo tempo, o saber e a crença, a inteligência e o sentimento. - Utilizar todas as aquisições da humanidade, tanto a religião como a ciência. - Incorporar, nas formas racionais, os elementos passional, afetivo e religioso. - Substituir pelos conceitos e princípios científicos aqueles conceitos e princípios fisiológiicos. - Levar em conta o económico, o que é uma condição necessária, mas não suficiente, para o triunfo. Subordinar esse económico ao humano. - Tirar partido de todos os elementos humanos idóneos, tais como os liberais sinceros e os intelectuais democratas; neutrlizar os preguiçosos, os especuladores, o poder do dinheiro, os traidores, os avarentos, os criminosos e os loucos. É a qualidade que importa, porque a quantidade não basta. - Recordar a importância do desenvolvimento simultâneo e conjugado do fisiológico e do intelectual. - Recordar, outrossim, que o homem tem necessidades, e não direitos, e que essas necessidades diferem segundo as funções. Os crentes não têm de se inquietar co a substituição dos conceitos científicos pelas ideologias. Só uma verdade existe. Todas as suas parcelas encontramos encerradas nas ideologias.(Carrel, Alexis. Op.cit.p. 304.).

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Carrel estabelece, em seus princípios os caminhos que entende sejam os que conduzem o homem ao triunfo. Denotam, em sua essência, um tipo de conduta que se basea na atenção em si mesmo, no próximo e nos objectivos definidos. O sucesso, todavia, como o entende a sociedade actual, nem sempre tem-se coadunado com essas normas. Não é pequeno o número de pessoas que enriquecem e passam a desfrutar de prestígio, tendo alcançado a fortuna pelas vias de corrupção, notadamente no mundo político e do comercio ilegal. Não se confundem, pois, o que na actualidade se considera como sucesso e aquilo que integralmente o ser consegue pela prática do ideal, da virtude, da conduta respeitosa. Conhece-se, homens que enriqueceram prodigiosamente, na política ás custas dos mais duros golpes de corrupção contra o estado e contra seus semelhantes. Seria absurdo admitir, pois, enriquecimento como sendo sucesso e sucesso sem virtude. O enriquecimento pode ser conseguido às custas da ausência de virtude, mas o sucesso desta depende. Por mais que se tenham corrompido os costumes, por mais que se tenham deixado sem punição os que furtaram em suas funções públicas, em tempo nenhum essas coisas conseguirão destruir a verdade contida na virtude. O sucesso, tal como admitimos para um homem integral, jamais poderá ser alcançado sem a prática da ética. Embora deixamos de concordar com alguns itens dos princípios de Carrel, admitimos que o sucesso repousa na associação do amor com a sabedoria, somado tudo à acção e a uma constante reflexão sobre tudo o que se faz . É pelo exercício do espírito que o homem alcança seus maiores objectivos, ou seja pela crença firme em sí mesmo, pela determinação obstinada em seus propósitos honestos, pelo desejo de dar a seu semelhante as mesmas oportunidade e respeito que recebe. Se amamos o que fazemos, o fruto de nosso trabalho será de boa qualidade e trará proveito. Se nos valorizamos pela sabedoria, é possível, profissionalmente, cada vez mais, auferimos melhores rendimentos. Se agimos sem tréguas, eticamente, conseguimos realizar e materializar os ideais. Nessa acção está compreendida a qualidade do trabalho que busca a possível perfeição e o respeito às necessidades dos utentes dos serviços que prestamos. Finalmente, se refletimos, estamos sempre em conexão com as forças transcendentais que parecem vir a nós pela ligação que estabelecemos pelo pensamento reflexivo ( a oração tem sido um caminho, quando ela é uma forma livre de lançar ao espaço nossos juízos).

III. PROFISSÃO E EFEITOS DE SUA CONDUTA

A expressão profissão provém do Latim professione, do substantivo professio, que teve diversas acepções naquele idioma, mas foi empregado por Cícero como “ acção de fazer profissão de”( Cícero, Marco T úlio. De oratore. 1, 21. Bolonha:Zanichelli,1992.). O conceito de profissão, na actuakidade, aquele que se aceita, representa:” trabalho que se pratica com habitualidade a serviço de terceiros”, ou seja, “ prática constante de um ofício.

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A profissão tem, pois, além de sua utilidade para o individuo, uma rara expressão social e moral. Basta lembrar os pontos que Cuvillier, com rara felicidade e oportunidade, destaca: - É pela profissão que o individuo se destaca e se realiza plenamente, provando sua capacidade , habilidade, sabedoria e inteligência, comprovando sua personalidade para vencer obstáculos. - Através do exercício profissional, consegue o homem elevar seu nível moral. - É na profissão que o homem pode ser útil a sua comunidade e nela se eleva e destaca, na prática dessa solidareidade orgânica.( Cuvillier, Manuel de philosophie. 9 ed. Paris: Armand Colin, 1947. P.358-359.). De facto, se acompanharmos a vida de um profissional, desde a sua formação escolar até seu êxito final, vamos observar o quanto ele produz e recebe de utilidade.

Profissão em contabilidade, um exemplo expressivo

Quem leu a autobiografia de D Auria ou Hilário Franco pode ter perfeita noção dessas trajectórias gloriosas de dois grandes cientistas de contabilidade. Tiveram eles o cuidado de oferecê-las, como documenário de uma vida útil e gloriosa no campo de uma profissão de alta utilidade social. Muitos outros exemplos poderíamos citar de vidas profissionais relevantes, em muitíssimas áreas, umas maiores, outras não tanto mas todas valorosas como contribuição aos semelhantes. Sendo uma das profissões mais antigas do homem, evoluiu com a sociedade e hoje se situa entre as mais requeridas ( não há, praticamente, crise em seu mercado de trabalho) e as mais difundidas, pois toda empresa e toda instituição precisam, obrigatóriamente, de tais serviços. A profissão contábil consiste em um trabalho exercido habitualmente nas células sociai, com o objectivo de prestar informações e orientações baseadas na explicação dos fenómenos patrimoniai, ensejando o cumprimento de deveres sociais, legais, ecõnomicos, tão como a tomada de decisões administrativas, além de servir de instrumentação histórica da vida da riqueza. Os deveres profissionais que ela impõe, por conseguinte, são os da utilidade, em relação à explicação dos fenómenos da natureza que as células sociais utilizam para suprirem suas necessidades de existência, tão como de informes(função técnica, de n´vel médio, da contabilidade.) e opiniões sobre tudo o que se relaciona ao património das pessoas naturais ou jurídicas. O ser que se dedica à contabilidade possui deveres para com a regularidade do emprego racional da riqueza nas empresas, nas instituições diversas, assim como perante o ensino, a pesquisa, a difusão cultural e educacional, o mercado, a sociedade e também na produção de provas e opiniões sobre comportamentos do património. Necessita o contabilista , de uma consciência profissional que possa guiar seus trabalhos e de virtudes que possam ser parametrias, considerada a imensa responsabilidade de tais tarefas. O trabalho é um dever social( Aristóteles A politica cap.2 paragráfo2), mas, além de tudo, algo que realiza quem o faz, se, realmente , no exercício de suas tarefas, emprega o amor como guia de suas acções. A profissão permite que o individuo exerça sua função de solidariedade para com seus semelhantes, recebendo, em troco, não só dignidades, mas compensações que permitem, inclusive, o enriquecimento material.

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Foi pelo caminho de cuidar do património de terceiros, inclusive, que muitos contadores se enriqueceram partindo de suas bases profissionais.

Valor social da profissão

A quase totalidade das profissões liberais possui grande valor social. O que varia é sua forma de actuação e a natureza qualitativa dos serviços perante as necessidades humanas. A saúde, a educação, o lazer, a habitação, a vida empresarial e institucional etc. são grandes objectivos que necessitam da atuação do profissional. Médicos, Professores, escritores, engenheiros, administradores, contadores, advogados, psicólogos, biólogos, agrónomos etc. são elementos indispensáveis á vida social, em tarefas de relevante importância. A contabilidade destaca-se por seu papel de protecção à vida da riqueza das células sociais e pela capacidade de produzir informes qualificados sobre o comportamento patrimonial. Entende-se, todavia, ser uma das maiores, entre todas as utilidades da profissão contábil, aquela que se baseia na consciência de que é por levar as células sociais à eficácia que se consegue o bem-estar nas nações e das comunidades em geral, O á pice da consciência profissional em contabilidade encontra-se nessa imensa responsabilidade de servir a todo o social, embora, obviamente, não se exclua, pela importância inequívoca que têm, as responsabilidades pela produção de provas, informes qualificados, análises e opiniões. Ao exercer sua profissão, o contabilista pratica uma função nitidamente social como um autêntico médico de empresas e instituições, e ao mantê-las sadias cuida, também, da riqueza social (que é uma concepção abstracta, decorrente da somatória dos patrimónios celulares). O trabalho nessa área não serve apenas ao profissional e a sua família, mas, quando de qualidade, tem condições de dignificar sua classe e cumprir a finalidade abrangente das organizações humanas. A dignidade no cumprimento estará sempre ao lado de uma utilidade ampla, coerente com os interesses de todos, embora o campo de actividade seja celular, das unidades de um todo. Todavia, como não há total sem parcelas e a expressão da soma depende daquela de suas unidades, uma consciência firme profissional, como condição ética, tende a beneficiar a todos, postos que se exerce, exactamente, nas parcelas activas da sociedade. As influências que pela contabilidade podem ser exercidas no destino da riqueza das células sociais são muito fortes. Um bom conhecedor de tal disciplina pode conduzir á prosperidade, através da ampliação das oportunidades de emprego, do aumento dos índices de investimentos, da adequação da utilização racional e do menor custo de financiamentos, da redução de gastos, do aumento de receitas, da atribuição de destinos correctos aos lucros, do ensejo da justiça no pagamento da mão-de –obra, do aumento de produtividade do capital, em suma, da oferta de orientações tão competentes ao uso adequado da riqueza que, por efeito de sua actuação o progresso tem condições de efectivar-se. No campo da informação, também, o profissional exerce um grande papel que beneficia o estado, as instituições, as empresas, os investidores etc. Hoje, nas tendências mais modernas, parte-se para uma normalização de tais informes, adequada aquela a cada utilidade que deve prestar.

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O papel do profissional é produzir tal utilidade, ou seja, por seu conhecimento, por suas virtudes pessoais no exercício, propiciar a eficácia na utilização da riqueza, oferecendo como decorrência informes, pareceres,estudos, planos etc. Cumpre, ainda, no campo da justiça, das provas, o importante papel de perito, ensejando decisões que modificam o destino das pessoas, como, também, no campo da auditoria, tem por função certificar situações para ensejar formação de opiniões diversas. Nesse particular, tal profissão tem seu relevo de “ fé pública” no informe e na interpretação de factos, requerendo responsabilidades de alto teor e o uso de uma consciência específica e muito mais rigorosa.

Responsabilidade, Utilidade e projecção Profissional

Entre os diversos campos profissionais, o Contabilista tem a seu dispor um dos maiores mercados, pois nenhuma empresa e nenhuma instituição podem dispensar sua assistência constante; por isso, proporcionalmente, se agigantam as responsabilidades e os deveres, mas também as dignidades e as recompensas pelo exercício. Não são poucos os contabilistas que hoje se encontram no poder, quer de empresas (como dirigentes ), quer no Estado (como deputados, ministros, altos funcionários), quer nas instituições em geral. Passam a fazer parte de uma classe média e média alta, tendendo à alta, em razão de seu valor pessoal, adquirido através do exercício da profissão. O mesmo ocorre com advogados, médicos, engenheiros, administradores e outros que galgaram tais posições em decorrência de seus valores profissionais, projectando-se pela qualidade de seus trabalhos. Em países de alto grau de civilização, os dirigentes nada resolvem sem ouvir serus contadores; em totós principais negócios, nas principais decisões, estão sempre presentes tais profissionais, pois temem os gestores praticar falhas, irreparáveis. A responsabilidade que lhes é atribuída advém da utilidade que prestam e, como decorrência, os benefícios surgem. Os benefícios que os profissionais propiciam, cumprindo as responsabilidades de seu trabalho, passam a dar-lhes notoriedade, ampliando o grau de satisfação em relação a eles e quase criando uma obrigação de retribuição moral por parte dos beneficiados. Esta razão pela qual, com sucesso, muitos deles chegam a cargos eletivos, com relativa facilidade. A oportunidade de servir é retribuída, socialmente, com aquela de usufruir o prestígio granjeado. A sociedade acaba por retribuir amplamente os serviços com qualidade que a ela o profissional dá com amor. Aquele que se conduz eticamente bem recebe de volta o bem social que pratica.

IV. ÉTICA E PROFISSÃO

Observada em tese, em seu sentido geral, a profissão, como exercício habitual de uma tarefa, a serviço de outras pessoas, insere-se no complexo da sociedade como uma actividade específica. Trazendo tal prática benefícios recíprocos a quem a quem pratica e a quem recebe o fruto do trabalho, também exigi, nessas relações, a preservação de uma conduta condizente com os princípios éticos específicos.

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O grupo de profissionais que exercem o mesmo ofício termina por criar as distintas classes profissionais e também a conduta pertinente. Existem aspectos claros de observação do comportamento, nas diversas esferas em que ele se processa: perante o conhecimento, perante o cliente, perante o colega, perante a classe, perante a sociedade , perante a pátria, perante a própria humanidade como conceito global. A consideração ética, sendo relativa, também hoje se analisa do ponto de vista da necessidade de uma conduta de efeitos amplos, globais, mesmo diante de povos que possuem tradições e costumes diferentes.

Valor da profissão, utilidade e expressão ética

A profissão, como prática habitual de um trabalho, oferece uma relação entre a necessidade e utilidade, no âmbito humano, que exige uma conduta específica para o sucesso de todas as partes envolvidas – quer sejam os indivíduos directamente ligados ao trabalho, quer sejam os grupos, maiores ou menores, onde tal relação se insere. Quem pratica a profissão dela se beneficia, assim como o utente dos serviços também desfruta de tal utilidade. Isto não significa, entretanto, que tudo o que é útil entre duas partes o seja para terceiros e para a sociedade. Um empresário que precisa estar informado e orientado sobre seus negócios, em face do que vai ocorrendo com seu capital, necessita de um profissional especializado em contabilidade. Em reciprocidade, o diplomado em contabilidade necessita do trabalho e de oportunidade que o empresário vai lhe oferecer. Estas são relações directas entre quem presta o serviço e o que deste se beneficia. Na oportunidade oferecida, tem os contabilistas meios de mostrar todas as suas capacidades e, em decorrência, construir seu conceito profissional. O conceito profissional é a evidência, perante terceiros, das capacidades e virtudes de um ser no exercício de um trabalho habitual de qualidade superior. Não se constrói um conceito pleno, todavia, sem que se pratique uma conduta também qualificada. O valor profissional deve acompanhar-se de um valor ético para que exista uma integral imagem de qualidade. Quando só existe a competência técnica e científica e não existe uma conduta virtuosa, a tendência é de que o conceito, no campo do trabalho, possa abalar-se, notadamente em profissões que lidam com maiores riscos. Um advogado por exemplo, que defenda o réu e sirva também ao autor, quebra um princípio ético e se desmerece, conceitualmente, como profissional. A profissão, pois, que pode enobrecer pela acção correcta e competente, pode também ensejar a desmoralização, através da conduta inconveniente, com a quebra de princípios éticos. O sentido de utilidade pode existir e a ética não se cumprir. No exemplo que citamos, o advogado serviu, sendo útil a uma das partes, mas, eticamente, praticou conduta condenável. Ocorreu repito, um acto útil para duas partes ( advogado e cliente), mas com ausência da ética (advogar para quem é autor onde o réu é empregador do profissional). O utilitário pode ser também antiético, portanto, segundo determinadas circunstâncias. Não podemos negar no caso exemplificado, que ocorreu a utilidade, mas também não podemos negar que se infringiu a Ética.

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O valor da utilidade, pois, é relativo e pode contrariar os preceitos de uma conduta sadia.

Especialização, Cultura e utilidade profissional

No campo educacional, tem-se alegado que o excesso de especialização termina por marginalizar, socialmente, o profissional.( GIDE, Charles. Essai d une philosophie de la solidarité, Paris,1928). Outros apregoam, opostamente, que a especialização é a solução para a qualidade do trabalho e para a sociedade, como maior veículo de utilidade; sociólogos, como Durkheim, inclusive, proclamaram ser a vida das classes aquela que se assemelha a de uma família, fazendo a apologia das especializações. Entende-se, particularmente, que o nível de cultura profissional depende do que se faz exigível, porque a tarefa pode realizar-se em diversos âmbitos: no campo de pesquisa, da literatura, do ensino, do exercício prático geral, do exercício prático específico etc. A cultura geral ensina a viver com maior intensidade e a compreender a própria especialização sob um prisma de maior valor. Pode parecer supérfuo, por exemplo a um administrador profissional, os conhecimentos de psicologia, ,psicanálise, cibernética mas na verdade, se tiver bases nesses ramos, conseguirá, com muito melhor qualidade, entender as questões relativas à qualidade da decisão, da selecção de pessoal, da motivação para a produção etc. A maior visão ensejará, automaticamente, maior qualidade de trabalho no campo administrativo, com proveitos para a eficácia da gestão. A um contador pode parecer supérfluo o conhecimento de lógica, mas compreenderá todo o seu valor quando se aprofundar nas questões de análise dos fenómenos patrimoniais das células sociais, onde precisará conscientizar-se da força dos princípios que regem as relações dos fenómenos da riqueza e saber como classificá-los. Se ele se dedicar ao magistério, à pesquisa, muito perderá em qualidade de trabalho se não se não conhecer a epistemologia. Não existe cultura inútil, mas sim os que não sabem reconhecer a utilidade da cultura. Por menor que seja o conhecimento, ele será sempre maior que a ignorância (De Sá, António Lopes Ética Profissional 4ª Ed, revista e ampliada São Paulo Atlas-2001). O valor do exercício profissional tende a aumentar à medida que o profissional também aumentar sua cultura, especialmente em ramos do saber aplicáveis a todos os demais, como são os relativos às culturas filosóficas, matemáticas e históricas. Uma classe que se sustenta em elites cultas tem garantida sua posição social, porque se habilita às lideranças e aos postos de comando no poder. A especialização tem sua utilidade, seu valor, sendo impossível negar tal evidência; não se trata apenas da identificação de uma classe de valor, mas também da qualidade superior que esse valor pode alcançar, se a especialização for complementada com outras culturas. Embora a autonomia profissional seja inequívoca, também o é que os limites de cada profissão sempre se confinam com os de outros; serão sempre mais qualificados a prática e o entendimento quanto menos muralhas existirem nessas demarcações, ou seja, quanto mais um saber ou técnica de outro similar se aproveitar. O contador que possui conhecimentos em administração, economia, direito, sociologia, matemática e lógica está muito mais credenciado ao sucesso que aquele que se limita apenas ao conhecimento eminentemente contábil.

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O argumento que se usa, em sentido absoluto, de que aquilo que se ganha em extensão se perde em profundidade é falsa. Depende, sim, da profundidade que já se tenha e da extensão a que se dedica um ser, nas áreas do conhecimento humano. A extensão do saber nunca prejudicou, pelo contrário, muito auxiliou grandes pensadores e cientistas, ao longo dos tempos, como nos prova a história. A utilidade e a qualidade do trabalho tendem a ser tanto maiores quanto maior for a cultura do profissional. Igualmente, a conduta tende a ser tanto mais qualificado quanto maior for o grau de cultura. É inequívoco, pois, que a qualidade da conduta tende a crescer na razão direita da qualidade da cultura.

Função social da profissão e ambiência social contemporânea

É inequívoco que o trabalho individual influencia e recebe influências do meio onde é praticado. Não é pois, somente em seu grupo que o profissional dá sua contribuição ou a sonega. Quando adquire a consciência do valor social de sua acção, da vontade volvida ao geral, pode realizar importantes feitos que alcançam repercussão ampla. Quando o Estado, como organização promovida pela sociedade motiva a ideia do colectivo, quando as administrações públicas são sinceras com o seu povo, quando a justiça é aplicada sem protecionismo e sem acobertar os erros dos mais poderosos, a consciência social se exerce com maior influência. Diante, Todavia, o exercício ineficaz da autoridade e de um poder corrupto, oligárquico e incompetente abala a vontade de uma acção de cooperação para com o Estado. Nas circunstâncias descritas, podem ocorrer atitudes mentais adversas para a nação e para a sociedade. Assim, por exemplo, a corrupção e o roubo podem implantar-se como conduta justificável diante daquelas praticadas pelo poder. O raciocínio de que se o Governo rouba o tesouro, e se o Governo é o representante de todo, e se nesse caso é o todo que está a furtar e, por isso, torna-se justificável que cada um também o faça, leva à destruição dos costumes e enfraquece o vigor das sociedades. A ideia do Estado que requer a participação igualitária de todos é consequência de todo um processo histórico e uma cultura que se consolida nessas áreas do ideal.( Spenglerr, Oswaldo. La decadência de accidente. Madrid: Espasa-calpe,1945. V.4,p 149 ss.). Como isso nega, em parte, a ideia de que a contribuição seja uma índole e tenha força para sobrepujar o interesse individual. É imprescindível que as profissões se preocupem com o social, mas se não são induzidas a isto, o que tende a ocorrer é a acção irresponsável de todos. O que é natural, como ético, é que a profissão esteja a serviço do social, quer das células, quer do conjunto indiscriminadamente. Quando o profissional, isoladamente, e as classes profissionais, por suas entidades representantes, agem em favor de uma cooperação orgânica, social, consegue-se o estágio idealmente desejável. É preciso, todavia, para que isso ocorra, que haja uma atmosfera moral competente, nem sempre observável em nossa época. A respeito da questão, escreveu Toffler, analizando a situação do fim do século XX, que “a lista dos problemas que a nossa própria sociedade enfrenta é interminável. Sentimos o cheiro do apodrecimento moral de uma civilização industrial moribunda,

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enquanto vemos as instituições, uma atrás da outra, sucumbir num turbilhão de ineficácia e corrupção. Consequentemente, o ar enche-se de amarguras, queixas e clamores por uma mudança radical( Toffler,,Alvin, Toffler, Heidi. Criando uma nova civilização. Lisboa: Livros do Brazil, 1995. P.139.). Ao reclamar que o mundo mudou, mas que a política e o procedimento ético não acompanharam tal mudança, o autor mostra o elevadíssimo grau de decadência moral a que se chegou, em razão do poder das minorias, que vêm mantendo uma fachada de democracia, mas sem que o povo tenha acção sobre os verdadeiros destinos de suas nações. Os acordos entre os grupos políticos que decidem em troca de favorecimentos e ao sabor de suas vontades subjectivas formam o que pode denominar-se “ditadura democrática”, por paradoxal que pareça; ditadura porque o poder se concentra nas mãos de grupos pequenos, que agem como desejam, e democrática porque tem rótulo de governo do povo, sem que este, todavia, influa directamente nas decisões que lhe atinge. Esse clima de descontentamento que hoje assistimos, através do terrorismo, das greves, da delinquência, da libertinagem tão livre quanto a prostituição, do abalo das estruturas dos lares, das fraudes gigantescas contra o povo, sempre parece ter existido, a julgar-se pelas obras dos clássicos que também reclamavam de suas épocas; na era actual, todavia, não encontram justificativas de tais desajustes, diante dos imensos auxílios dimanados dos progressos da ciência e da tecnologias. A realidade mostra-nos que os vultosos recursos que foram conquistados no campo do conhecimento não se fizeram acompanhar de evoluções no campo da política, do social, e tudo isso é consequência da debilidade da educação moral, do mau emprego da mídia eletrônica e do desrespeito às instituições. Estamos, cada vez mais, nos constituindo, como diz Toffler, em uma “sociedade desmassificada”, o que também cada vez mais dificulta a mobilização de maiorias para uma posição de reforma imediata(Toffler,Alvin, Tooffler, Heidi. Op. Cit.p.183.). A luta pelo mercado do trabalho , por exemplo, tem, também, produzido fenómenos sociais típicos de desrespeito entre as classes, dentro de um outro desrespeito geral que não observa os compromissos da qualidade de trabalho, mas exclusivamente a produção de lucros. A ausência da responsabilidade para com o colectivo gera, como consequência natural, irresponsabilidade para com a qualidade do trabalho. Ofertas indiscriminadas de”pacote de propostas”, com rótulos mercadológicos, invadem os mercados de serviços e de bens, sem nenhum compromisso com a utilidade. Não podemos negar que o Estado nasceu de uma vontade das sociedades de se organizarem, mas não é menor verdade que a autoridade e o poder exercidos em nome de tal instituição nem sempre se têm comportado dentro dos interesses das próprias sociedades. O objectivo do Estado é o bem público, mas nem sempre os dirigentes, incumbidos de cumprir tais propósitos, se comportaram dentro de uma filosofia sadia e motivadora da ética. O direito pode legitimar um poder e este legitimar outras situações de direito, mas nada disso legitima a conduta que se processa contra os princípios éticos. Não se confundem, pois, as formas legais com as essências éticas, e nisso pode residir uma colisão entre as acções do poder e aquelas da real prática das virtudes. A obrigação ética não se confunde, com a obrigação legal, imposta pelo poder. A ideia de um Estado infalível idealmente perfeito, tem-se comprovado uma utopia, embora a meta a alcançar seja a de uma organização eficaz, pois o desejável está em

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possuir-se uma macrocélula social que possa coordenar e ensejar a liberdade, o crescimento e o bem-estar de todas as demais. O social em si, o Estado como decorrência do social, as classes, os grupos e as relações próximas entre os seres criam deveres éticos específicos e definidos em relação à conduta relativa a cada um. Uma sociedade absolutamente eficaz e um Estado igualmente eficaz são abstrações que a teoria deve buscar nas configurações teóricas, nos modelos a serem construídos para as condutas. A realidade, mostra-nos, também, que não existem sociedades constituídas total e exclusivamente por virtuosos, nem só por células sociais eficazes. A tarefa da ciência ética e das ciências sociais é contribuir para que tais estágios desejáveis sejam alcançados, pelo menos, quase totalmente. Isto implica a produção de modelos científicos que podem ser construídos para que sejam paradigmas de uma nova sociedade, conquistada pelos esforços do aperfeiçoamento das condutas e da consecução da felicidade.

V. DEVERES PROFISSIONAIS

Todas as capacidades necessárias ou exigíveis para o desempenho eficaz da profissão são deveres éticos. Sendo o propósito do exercício profissional a prestação de uma qualidade a terceiros, todas as qualidades pertinentes à satisfação da necessidade, de quem requer a tarefa, possam a ser uma obrigação perante o desempenho.

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Logo, um complexo de deveres envolve a vida profissional, sob os ângulos da conduta a ser seguida para a execução de um trabalho. Esses deveres impõem-se a passam a orientar a acção do profissional perante seu utente, se grupo, seus colegas, a sociedade, o Estado e especialmente perante sua própria conformação mental e espiritual. Diferenciam-se, pois, os valores nas tarefas e também a importância destas em face da conduta humana observável perante a execução. Tais diferenças, por si sós, já seriam suficientes para a consideração científica do estudo da questão (SIMPSON, George. O homem na sociedade. Rio de Janeiro: Bloch, 1954.p. 115). Escolhido o trabalho, que desempenhará com habitualidade o ser se compromete com todo um agregado de deveres éticos, pertinentes e compatíveis com a escolha da tarefa a ser desempenhada. Existem aspectos de uma objectividade, volvida ao trabalho, que apresenta particularidades próprias e também peculiares a cada especialização, ou seja, há um complexo de valores pertinentes a cada profissão.

Conceito do dever Profissional e escolha da Profissão

Quando escolhemos o que fazer, devemos consultar nossa consciência: se a tarefa é, realmente, a desejável, a condizente com o que nos apraz, e se possuímos pendor para realizá-la. Nem sempre a escolha coincide com a vocação, mas feita a escolha, inicia-se um compromisso entre o individuo e o trabalho que se propõe a realizar. Tal compromisso, essencial está principalmente volvido para a produção com qualidade, ou seja para a materialização de um esforço, no sentido de que se consiga oferecer o melhor trabalho. O dever nasce primeiro do empenho de escolher, depois daquele de conhecer, e finalmente do de executar as tarefas, com a prática de uma conduta lastreada em valores ou guias de conduta. Não basta escolher a profissão de administrador, advogado, analista de sistemas,,biólogo, contabilista, engenheiro, jornalista, médico, modelo, professor, seja a que for: é preciso que, ao buscar conhecer a tarefa, haja uma ligação sensível com a mesma, de modo que possa ser prazenteira e ensejar por isso, a prática sob os influxos do amor e do que se faz concretamente desejável. A origem, a proveniência, a genes do dever é a escolha da tarefa. Daí decorrem os compromissos do pleno conhecimento da mesma; tudo se complementa com o dever da qualidade da execução e com uma conduta valorosa, calcada em uma escolha de práticas úteis e causadoras de benefícios. Essas são as relações essenciais no fenómeno do dever ético. A escolha da profissão implica o dever do conhecimento e o dever do conhecimento implica o dever da execução adequada. A escolha de uma tarefa habitual, deve ser natura, defluente de um encontro de nossas estruturas mentais com a tarefa prazente, como a solução de uma fórmula de identidades. A harmonia na vida muito depende de nossa armonia com o trabalho que executamos. O dever precisa fluir como algo que traz bem-estar, e não como uma obrigação imposta que se faz pesada e da qual se deseja logo se livrar. A profissão não deve ser um meio, apenas, de ganhar a vida, mas de ganhar pela vida que ela proporciona, representando um propósito de fé. Seus deveres, nesta acepção,

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não são imposições, mas vontades espontâneas. Isso exige, que a selecção da profissão passe pela vocação, pelo amor ao que se faz, como condição essencial de uma opção. Quando a selecção da tarefa está de acordo com uma consciência identificada com a escolha, dificilmente ocorrem as transgressões éticas, porque estas seriam violações da vontade, contrárias ao próprio ser. Isto não significa, todavia, que ninguém possa tornar-se um apaixonado adepto de outro conhecimento, tendo escolhido o que não lhe era movido pelo que entendia estar vocacionado. A história regista muitos casos de profissionais de uma área que acabaram por se notabilizar em outras, em razão de suas genialidades e até da descoberta de aptidões que eles mesmos desconheciam.

Dever de conhecer a profissão e a tarefa

O exercício de uma profissão demanda a aquisição de pleno conhecimento, o domínio sobre a tarefa e sobre a forma de executá-la, além de actualização constante e aperfeiçoamento cultural. Aceitar um encargo sem ter capacidade para exercê-lo é uma prática condenável, em razão do prejuízo defluente. Buscar a perfeição na execução de uma tarefa é um dever do profissional que depende do conhecimento e da aplicação plena do mesmo. Um trabalho mal feito pode causar sérios desastres. Mesmo quando se sabe como fazer, se o trabalho não for executado de acordo com este conhecimento, também se comete uma infracção ética, ocorrendo, no caso, a negligência, Desconhecer, todavia, como realizar a tarefa ou apenas saber fazê-la parcialmente, em face da totalidade do exigível para a eficácia, é conduta que fere os preceitos da doutrina da moral (Ética). Um advogado que não se especializou em direito tributário, ao elaborar um contrato social de uma empresa, pode não cometer engano quanto ao direito comercial, mas se expõe a falhas que possam vir a agravar a sociedade em razão de erros perante o fisco.. Assim, ao estabelecer no contrato que os lucros apurados serão distribuídos pelos sócios na proporção de suas cotas, não comete erro do ponto de vista comercial, mas sujeita a empresa a uma distribuição que será onerada com os impostos pertinentes; o correcto seria deixar a distribuição dos lucros em bases opcionais. Um médico especializado em ortopedia que aceita tratar de uma paciente com problemas relacionadas com a ginecologia pode causar sérios danos em relação a seu paciente. Um auditor que aceita dar parecer sobre um grande número de empresas, mas que não pode acompanhar e supervisionar directamente todos os trabalhos, corre o risco de certificar situações contrárias à verdade. Conhecer o que se faz implica não só ser especialista em um ramo para o qual se está habilitado legalmente, mas também ter todo domínio da tarefa, de modo que ela possa ser produzida com eficácia. Conhecimento, no caso, não é apenas a acumulação de teorias, teoremas e experiências, mas também o domínio pleno sobre tudo o que é abrangido pela tarefa que se encontra sob responsabilidade directa de um profissional. O dever de conhecer envolve, pois, o de estar apto perante a ciência, a tecnologia, arte ( qual seja o caso) e o de ter domínio total sobre tudo o que envolve o desempenho eficaz da tarefa.

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O dever para com a eficácia da tarefa envolve a posse do saber, a percepção integral do objecto de trabalho e a aplicação plena do conhecimento de ambos na execução, de modo a cumprir-se tudo o que se faz exigível, com perfeição desejável, Ter conhecimento é saber como executar e também ter pleno domínio sobre o que deve ser executado, quando a questão se trata sobre a visão da ética. É dever ético-profissional dominar o conhecimento, como condição originária da qualidade ou eficácia da tarefa. Um perito em contabilidade pode ser grande conhecedor de como realizar perícia, mas se não conhece bem o processo em que elas são exigíveis, se está só limitado aos quesitos formulados, tende a cumprir com deficiência sua tarefa. É preciso a ocorrência do uso do saber e também da plena cognição da matéria que se torna objecto da aplicação da técnica ou da ciência, de modo simultâneo, quando o que se pretende é exercitar uma profissão. Não se pode excluir da profissão seu carácter de utilidade e não se pode conceber utilidade sem que a função profissional se exerça com eficácia. Se a necessidade do cliente não é suprida pelo conhecimento e este não se aplica totalmente na execução da tarefa profissional, não há como se falar em eficácia, a menos que motivos de força maior se sobreponham. Se uma pessoa procura um advogado e a causa é perdida porque todas as evidências militaram contra a mesma, a ineficácia não é do profissional; o mesmo ocorre no caso em que um médico perde seu paciente por falta de reacção do organismo deste ao tratamento prescrito. Se um empresário frauda o fisco através de obtenção de documentos falsos, a culpa do delito não é do técnico em contabilidade que efetuou os registos, pois não tinha meios de verificar a falsidade. As culpabilidades por ineficácia devem observar os limites do cumprimento dos deveres e as condições sob as quais estes se cumpram. Nada, por menor que seja, justifica, todavia, um trabalho ineficaz por intenção ou negligência, que possa ser considerado apenas “quase bom”, “sofrível” ou “menos mau”, quando se tem em mira a qualidade da execução ( MARDEN, O.S. op.cit.41ss.). Factos circunstanciais podem empanar a qualidade de uma tarefa, mas quando ela é intencionalmente prejudicada, comprovada tal ocorrência, o caso é delituoso, quer perante a lei, quer perante a doutrina da moral (Ética).

Dever da execução das tarefas e das virtudes exigíveis

Se a profissão eleva o nível moral do individuo, por sua vez, também exige dele uma prática valorosa, como escolha, pelas vias da virtude. O êxito tende a ser uma natural decorrência de quem trabalha de modo eficaz, em plenitude ética. Não bastam as competências científicas, tecnológica e artísticas; é necessária também aquela relativa ás virtudes do ser, aplicada ao relacionamento com pessoas, com a classe, com o Estado, com a sociedade, com a prática. A consciência profissional necessita de uma formação específica. Não pode ser considerada eficaz uma tarefa realizada apenas com pleno conhecimento material,

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sendo imprescindível que tudo se exerça sob a actuação de todo um complexo de virtudes nas quais o zelo, a excelência do produto, é uma das mais louvadas. O trabalho, por conseguinte, não é feito só com a exclusiva participação do profissional, mas envolve o interesse de pessoas directamente a ele ligadas e, muitas outras, indirectamente influenciadas, ou ainda envolve quem o faz e quem dele se beneficia. O ciente é o primeiro e directo interessado e merece reciprocidade de confiança, pois, ao procurar o profissional, já nele depositou fé. Inicia-se, aí um processo de lealdade que requer a aplicação de todas as virtudes. É o cliente o mais directo objectivo da utilidade do trabalho e por isso deve, eticamente, receber toda a atenção, cuidado e dedicação. De um profissional se exige, geralmente, seja qual for sua função, a prática das seguintes capacidades básicas como virtudes, como valores necessários e compatíveis à prática de cada utilidade requerida pelo utente dos serviços profissionais:Abnegação, altruísmo, aptidão, atitude, autenticidade, benevalência, carácter, cautela, compreensão, coragem, criatividade, determinação, dignidade, diplomacia, eficácia, eficiência, fidelidade, gratidão, honestidade, lealdade, moderação, obediência, optimismo, perseverança, racionalismo, solidariedade, tolerância, veracidade, voluntariedade, sigilo, zelo. O elenco de tais virtudes, de quase uma centena, é ainda incompleto, mas oferece uma ideia de vastidão de aptidões necessárias, aplicáveis diferentemente, de acordo com as também variadíssimas necessidades. Todas essas capacidades desejáveis ensejam deveres a cumprir, de acordo com a natureza de cada tarefa, e todas são susceptíveis de normalizações no interesse de grupos profissionais Entretanto, não é só a quantidade das virtudes que nos deve impressionar; mas, notadamente, a qualidade com que devem ser desempenhadas pois isto identifica uma relação entre o carácter do profissional e o exercício de sua profissão. Nem todas são exigíveis para todas as profissões, visto que as virtudes são variáveis de acordo com o que se faz desejável ou necessário para o exercício de uma tarefa determinada, conforme os valores atribuíveis a cada trabalho ou função. O que representa um valor, uma expressão de virtude, em uma profissão, pode não representar em outra e até ser considerado inadequado ou fora de propósito. Há relatividade na apreciação da virtude quando por esta se entende a capacidade do ser dentro de uma conduta moral ou aprovada para a prática de um trabalho de utilidade social ou microsicial.. Quando benefícios morais se fazem exigíveis, especificamente, para um desempenho de labor, forçoso é cumpri-los; só podemos justificar o não-cumprimento quando factores de ordem muito superior o possam impedir, pois o descumprimento será sempre uma lesão à consciência ética. Ao se referir á importância dos deveres, Cícero cita o caso de um advogado que, tendo prometido defender alguém em uma causa, necessária se fazendo sua presença no tribunal, teve no mesmo dia, um filho gravemente enfermo; colocou o copromisso com o filho a cima da presença no tribunal e achou justificável tal posição, diante da hierarquia dos compromissos e do malefício do abandono de um descendente directo, desprotegido(Cícero, Marco Túlio. Oficiis. Livro I, p. X.). Com isso, o pensador romano desejou afirmar que o dever muda de acordo com a circunstância, mas não deixou de atribuir ao caso o carácter da excepcionalidade. Ele resumia todas as virtudes nos sentimentos de: (1) busca da verdade; (2) preservação da sociedade ou do colectivo; (3) moderação; e (4) temperança.

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Poucos pensadores tiveram tão forte, em suas convicções, a preocupação com o dever da doação, com o bem de terceiros e com o respeito ao que é de cada um (Cícero De oficiis, Livro I, p. XVI).

VI. VIRTUDE COMO SUBSTÂNCIA ÉTICA

A expressão isolada de Aristóteles “aos hábitos dignos de louvor chamamos virtudes” deve ser analisada com relatividade. Nessa expressão quis o genial pensador, ressaltar o efeito (louvor) como causa determinante e não a virtude em si, ou seja, o que ela de facto representa. Sabemos também, que virtuosos não são dignos de louvor em meios onde o vício prevalece, o que não invalida o teor da virtude. Essa observação torna-se evidente, quando imaginamos que louvor pode ser efeito de uma forma particular de ver as coisas, relativa a um grupo de pessoas, ou também, uma óptica particular de conduta grupal..

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A virtude não é apenas o que se pode louvar, pois, isto dependeria de parametrias variáveis e incertas; para um grupo de assassinos pode ser louvável o atirador impiedoso e veloz, mas, para homens de conduta humana correcta, tal comportamento seria reprovável. A conduta virtuosa, é algo essencial e estriba-se na qualidade do ser em viver a vida de acordo com a natureza da alma, ou seja, na prática do amor, em seu sentido pleno de não produzir malefícios a si e nem a sua semelhante. É o próprio Aristóteles que em digressões mais profundas evidencia que a virtude provém de algo intuitivo, na direcção do que de íntimo possuímos.

Virtuoso não é apenas o que se comporta louvavelmente, mas o que também recebendo louvores os tem provenientes de qualidades transcendentais, fundadas no

respeito a si e a seus semelhantes.

Virtudes Profissionais

Não obstante os deveres de um profissional, os quais são obrigatórios, devem ser levadas em conta as qualidades pessoais que também concorrem para o enriquecimento de sua atuação profissional, algumas delas facilitando o exercício da profissão.

Muitas destas qualidades poderão ser adquiridas com esforço e boa vontade, aumentando neste caso o mérito do profissional que, no decorrer de sua atividade profissional, consegue incorporá-las à sua personalidade, procurando vivenciá-las ao lado dos deveres profissionais.Honestidade: é a primeira virtude no campo profissional. É um princípio que não admite relatividade, tolerância ou interpretações circunstanciais.Sigilo: o respeito aos segredos das pessoas, deve ser desenvolvido na formação de futuros profissionais, pois trata-se de algo muito importante. Uma informação sigilosa é algo que nos é confiado e cuja preservação de silêncio é obrigatória.Competência: o conhecimento da ciência, da tecnologia, das técnicas e práticas profissionais é pré-requisito para a prestação de serviços de boa qualidade.Prudência: todo trabalho, para ser executado, exige muita segurança. A prudência contribui para a maior segurança, principalmente das decisões a serem tomadas; é indispensável nos casos de decisões sérias e graves, pois evita os julgamentos apressados e as lutas ou discussões inúteis.Coragem: A coragem nos ajuda a reagir às críticas, quando injustas, e a nos defender dignamente quando estamos cônscios de nosso dever. Nos ajuda a não ter medo de defender a verdade e a justiça, principalmente quando estas forem de real interesse para outrem ou para o bem comum. Perseverança: qualidade difícil de ser encontrada, mas necessária, pois todo trabalho está sujeito a incompreensões, insucessos e fracassos que precisam ser superados, prosseguindo o profissional em seu trabalho, sem entregar-se a decepções ou mágoasCompreensão: qualidade que ajuda muito um profissional, porque é bem aceito pelos que dele dependem, em termos de trabalho, facilitando a aproximação e o diálogo, tão importante no relacionamento profissional.Humildade: o profissional precisa ter humildade suficiente para admitir que não é o dono da verdade e que o bom senso e a inteligência são propriedade de um grande número de pessoas. Imparcialidade: é uma qualidade tão importante que assume as características do dever, pois se destina a se contrapor aos preconceitos, a reagir contra os mitos, a defender os verdadeiros valores sociais e éticos, assumindo principalmente uma posição

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justa nas situações que terá que enfrentar. Para ser justo é preciso ser imparcial, logo a justiça depende muito da imparcialidade.Otimismo: em face das perspectivas das sociedades modernas, o profissional precisa e deve ser otimista, para acreditar na capacidade de realização da pessoa humana, no poder do desenvolvimento, enfrentando o futuro com energia e bom-humor.

Ouvir: é a maior virtude das relações humanas.Perceber, reconhecer, entender, compreender, valorizar, dar atenção, respeitar...

São vários nomes diferentes para um processo tão simples, mas ao mesmo tempo tão difícil de ser praticado: ouvir, de fato, o outro.

Ouvir não significa simplesmente escutar os sons da voz ou acompanhar o raciocínio do interlocutor. Significa, antes de tudo, ter paciência e tolerância para aceitar a outra pessoa como ela é, com suas qualidades e seus defeitos, crenças e emoções, com sua aparência, quer nos seja agradável ou desagradável, sem pré-julgamentos. Concordo com quem disse que esse não é um processo fácil, embora pareça tão elementar.

Vamos analisar um pouco as causas dessas dificuldades. É muito comum compararmos o mundo ao nosso próprio referencial de vida, de como percebemos o mundo, que passa a ser o “nosso mundo”. Incluem-se aí os nossos valores, conceitos e preconceitos.

Além disso, as pessoas aproximam-se pelas semelhanças e não pelas diferenças, desmistificando a crença popular de que os opostos se atraem. Se observarmos bem, antes da diferença há muita convergência, situações comuns, similaridades que actuam como facilitadoras de um processo de entendimento e consideração e a partir daí eventuais diferenças de carácter, atitudes ou comportamentos passam a configurar uma relação afectiva.

Se observarmos bem, quando admiramos uma pessoa dizemos: “Que pessoa extraordinária! Que pessoa agradável! Que pessoa simpática!” Enquanto isso, lá no fundo, um outro comentário quase imperceptível complementa... “tão parecida comigo!” Também fica fácil entender tal atitude por outra simples razão, só percebemos qualidades e defeitos nos outros quando nos chamam a atenção porque em potencial essas características existem em nós mesmos.

Se precisamos falar com o outro de verdade, primeiro é necessário querer e esse querer precisa ser um desejo, uma vontade inquebrantável que não nos fará desistir diante da primeira adversidade. Depois, devemos ter e exercitar a flexibilidade, colocando-nos no lugar do outro, empaticamente.

Aliás, empatia é isso mesmo: ajustar-se ao estilo, momento psicológico, crenças e valores do mesmo interlocutor e nessa projecção conseguir melhor entendimento.

Algumas sugestões importantes para quem, de facto, deseja ouvir de verdade outra pessoa e, a partir daí, abrir uma porta de entrada para o relacionamento: amizade, vendas, negociações, lideranças, amor etc.:

•Olhe nos olhos da outra pessoa e perceba-a nos seus detalhes, esteja com a atenção focada e envolvida com ela.

• Procure manter a calma, evite deixar se dominar por algum preconceito ou algo da outra pessoa que desagrada.

• Tenha paciência, saiba aceitar o silêncio da outra pessoa.• Evite contradizer o outro, evitando as palavras “mas”, “todavia”, “entretanto”,

“contudo”. Procure, antes de qualquer discordância, algum ponto com o qual vocês concordem.

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• Valorize e respeite as opiniões de seu interlocutor.• Demonstre respeito pelo outro como o outro é, e não como gostaria que fosse.• Crie condições favoráveis para o outro expressar livremente suas ideias e

opiniões, saiba ter tacto para lidar com a discordância.• Concentre as diferenças no campo das ideias e não permita que sejam levadas

para o lado pessoal.• Certifique-se de que você compreendeu de fato o que o outro queria transmitir;

repita, questione, pergunte, evite ao máximo interpretações infundadas.• Por último, faça bom uso do grande amor que você tem em seu coração para

aceitar incondicionalmente as outras pessoas como são: cheias de defeitos, limites, preconceitos e, também, repleta de virtudes, sonhos, conhecimentos, de sentimento. Assim como você.

Conceito essencial e Genérico de virtude Ética

A virtude é a capacidade atada a origens transcendentais, em sua expressão conceptual genérica; ligada às propriedades do espírito, é essencial e se manifesta envolvida pelo amor, pela sabedoria, pela acção competente em exercer o respeito ao ser e a prática do bem, pela reflexão que mantém a energia humana em convívio com outras esferas mais abrangente.. Na conduta ética, a virtude é condição basilar, ou seja, não se pode conceber o ético sem o virtuoso como princípio, nem deixa de apreciar tal capacidade em relação a terceiros. Há uma virtude ética, por conseguinte, representando o feitio próprio de condutas específicas. Nesse campo ela não expressa simplesmente um hábito ou costume, nem uma capacidade qualquer, um sentimento etc. Para o campo da ética a virtude está atada à qualidade do ser, em sua prática de actos morais, essenciais, íntimos da alma. Entende-se também, não ser o caso de aceitar-se a virtude como simplesmente “a intenção moral em luta”, como a enunciou Kant(Kant, Emmnuel. Critica da razão pura. I, LivroI, cap.III.). O ser humano nasce com programações genéticas, atávicas, biológicas, espirituais etc. que ainda a ciência não conseguiu, com precisão, determinar. Tais atributos pelo nascimento evoluem e se moldam com a educação no lar, nas escolas, nas igrejas, nos clubes, nas diversas convivências. A educação a tudo pode controlar, até certa idade, e deve conduzir o ser a padrões de práticas de respeito e de amor, de natureza virtuosa. Não devemos negar que existem padrões de virtude aceites como verdadeiros, transmitidos secularmente pela via educacional. Referimo-nos aqueles derivados das culturas que moldam as diversas civilizações, consolidaram-se em códigos de natureza religiosa, legal, ética etc. Não se nega também a influência que o carácter dos seres possa exercer, mas reconhece-se que a virtude não é susceptível de ser somente concebida ao sabor de culturas, como se dentro delas tivesse sido produzida.

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No campo da Ética a virtude é sem dúvida, uma qualidade necessária, sem a qual não se consegue exercer a disciplina comportamental nos grupos. Os códigos podem prever e regular as qualidades exigíveis, mas o ser humano necessita, em seu íntimo, identificar-se com tais princípios, esforçando-se por superar desníveis de seu carácter e exercê-los de forma natural, instintiva.

Evolução conceptual de Virtude e suas relatividades

As novas formas de vida provocadas pelo avanço das ciências, das leis, das sociedades, já não permitem a calcificação de alguns conceitos de virtude que há séculos se adoptavam; as transformações imprimiram alterações nos modelos e na própria forma de encarar a aplicação de certos princípios, antes demasiadamente rígidos ou perifericamente, apenas determinados. Muitas alterações aceites hoje inclusive pela lei não se sabe se estarão preservadas em séculos futuros e outras tantas ainda causam reacções nos que se prendem a um nível maior de respeito ao ser humano. No campo escolar, por exemplo, certas liberdades introduzidas pela educação dita moderna, importada de modelos norte-americanos, atribui liberdades excessivas ao aluno e dá ao professor uma imagem tão confundida com a do discente, em matéria de comportamento, que a hierarquia tem-se perdido. Pode isto ser aceite por um número muito grande de imitadores, mas que é discordante . A conduta do professor deve ser de amor, com austeridade, ou seja, não deve ser um algoz, mas não deve confundir-se com a de um simples aluno mais velho. Não se sabe até que ponto essa liberdade referida não se confunde com libertinagem; apenas se sabe que perdida a autoridade, perdido o respeito do mestre como um centro, perde-se o sistema. As alterações sócio-morarais, todavia, nem todas, foram maléficas; muitas evoluções foram e ainda são altamente proveitosas à liberdade do ser humano e a uma aproximação à verdade. Tudo isto é perceptível, mas não altera as bases que devem caracterizar a conduta de um profissional como já referida do contabilista, por exemplo, em sua responsabilidade de guardião da riqueza das células sociais ou de um médico como guardião de organismo humano. As alterações ampliaram os níveis de liberdade, embora nem sempre com a preservação de um estado de melhor qualidade de vida do ser. Como os valores e as normas sociais modificaram, modificaram também as atitudes e os comportamentos; tais reformas, todavia, não abalaram os núcleos, referentes ao alicerces da virtude, daquela que Cícero já pregava com tanto rigor e antes dele tantos outros pensadores. Novos aspectos de uma virtude evolutiva, relativa, e não absoluta e congelada, alteraram, sensivelmente, as próprias concepções filosóficas da vida Embora, normalmente um homem do século I tenha muitas semelhanças com o homem do século XX a verdade é que outras coisas se modificaram, em razão dos progressos do conhecimento. Herbert Spencer, tratando cientificamente da questão moral em face da evolução, buscou dar à mesma um carácter científico por entender que a conduta humana é um aspecto singular do modelo de acção do homem, em face de uma sociedade que progride.

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Isto reforça o argumento de que a virtude não se faz dispensável em nenhuma circunstância e que não podemos transgredir diante daquelas pétreas, indeformáveis, ligadas à essência, ao espírito. Existe um elo indissolúvel entre o ser e seu grupo, entre o tipo de actividade que exerce e as virtudes que precisa praticar em face da sociedade. Um princípio de solidariedade rege as classes e é motivo de sua sustentação, mas estas não se dissociam do todo social opostamente, deve consolidá-lo e agir em consonância com o interesse deste. É justificável que a virtude não tem carácter absoluto, porém admite-se que o progresso e as mudanças do mundo operou-se mais material do que espiritualmente e que as condições de uma ética fundamentada no respeito ao semelhante é questão essencial. O estudo dos aspectos ou visões, nessa área, analisa, aliás, várias facetas, quer sob o ângulo religioso, quer sob aquele metafísico, utilitário, evolucionista ou de filósofos que se notabilizaram na análise da questão ( como Kant, Stuart Mill, Guyau etc.). Uma grande variedade de ângulos podem ser enfocadas. Assim, por exemplo, a força do dinheiro, na actualidade, tem deformado mentalidades, tem corrompido políticos, administradores, profissionais etc. forjando até o hábito de fazer do embuste, da má-fe, da mentira (antivirtude) uma condição de manutenção em grupos do poder. Nesse particular destacam-se o “homem sem dinheiro” e o dinheiro sem homem”, como o concebeu o referido Cícero, ou seja, o que pode conservar a virtude se sobrepõe ao dinheiro ou o homem adquire e perde a condição de homem pela prática de actos viciosos. E Cícero acrescenta mais: “a desmedida fascinação pela riqueza corrompeu os costumes”. Um profissional que vive lidando directamente com valores materiais, tendo como objecto de sua tarefa o zelo pela riqueza, como o da contabilidade, mais do que ninguém deve resguardar-se contra a sedução da fortuna, à custa de prejudicar a terceiros, notadamente seu cliente ( esse, todavia, um dos aspectos, apenas, das virtudes a serem exercidas). O Código de Ética profissional do contabilista, por exemplo, fixa um sem- número de virtudes exigíveis; poderíamos, mesmo, até dizer que é um complexo de normalizações de virtudes a serem cumpridas. Não basta, entretanto, que sejam normalizadas as condutas; o importante é que o profissional dessa área e daquelas que cuidam de interesses de terceiros tenha absoluta convicção de que não deve construir seu bem à custa do prejuízo de terceiros, sejam eles quem forem. Por mais rigorosos que sejam os códigos, as classes estarão sempre a transgredi-los se não possuírem educação ética com absoluta convicção sobre os benefícios da prática das virtudes.

Efeitos e Responsabilidades na prática da Virtude

Escreveu o filosofo Vauvenargues que “A utilidade da virtude é tão manifesta que os maus a praticam por interesse”(Lucas Vauvenargues Lucas moralista Francês autor de reflexões e máximas 1715-1747) Sem dúvida, a conduta virtuosa tende a consagrar os profissionais, especialmente, pois, a confiança de utentes, em seus trabalhos, directamente se liga a tal condição. Isto traz inequívocos benefícios de ordem material e social.

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Esta a razão pela qual, mesmo sem pendores para tal, alguns praticam a acção virtuosa para que não caiam no descrédito; ou ainda, buscam vantagens em ser virtuosos, não porque lhes dite a consciência, mas porque lhes obriga a consciência. Parece justificável a máxima do Marquês de Vauvenargues:”nem todo aquele que parece virtuoso ama, de facto, a virtude”. Isto coincide, também, com a afirmação de Diderot: “Louva-se a virtude; mas odeiam-na, mas fogem dela e ela gela de frio nesse mundo onde se precisa ter os pés quentes…a virtude se faz respeitar e o respeito é incômodo; a virtude se faz admirar, e a admiração não é aceitável.” (Diderot 1713-1784 um dos mais influentes pensadores da época). Ao longo dos anos, e mesmo nos escritores modernos, continua-se a mostrar essa grande luta entre a virtude e os vícios. Entende-se como Espinosa, que o mal existe para valorizar o bem e que muito difícil é eliminá-lo completamente, pelo menos enquanto a humanidade raciocinar nos termos que adota, em que a matéria tem prevalecido. Sendo a virtude algo atado ao espírito, e, sendo o espírito relegado, é natural que ocorra a decorrência inevitável de perda de força daquela. Por ser ás vezes rara, em determinadas sociedades, como os metais raros, tende a ganhar qualidade. No campo profissional os benefícios que traz são inequívocos. As compensações pela virtude, entretanto, são basicamente, morais e nem sempre materiais. Pode ocorrer, como de facto ocorre, não haver benefício material, pela prática da virtude, mas existirá, todas as vezes e em quaisquer casos, o benefício de ordem íntima, espiritual, mental, de consciência, e esta será a grande remuneração. Esse benefício nem sempre se traduz em expressões, em coisas, pois existem vibrações internas, em cada ser, competentes para evidenciar a existência de algo mais que nos liga a um prodigioso complexo em que o amor parece ser exigível em todas as acções. Quando, todavia, se analisa a obra de tantos pensadores, percebe-se tantas experiências de vida não se chega a duvidar dessas ligações transcendentais, dada a generalidade de manifestações, isto é objectivo. As religiões têm conjugado tais manifestações com alguma propriedade e seus códigos, na maioria das mais importantes, são códigos morais. A compensação pela virtude não é uma promessa todavia; aquele que pratica por amor, satisfaz a si mesmo. Que mais poderia ocorrer de benefício, senão aquele que fazemos a nós mesmos, distribuindo também e igualmente seus efeitos com nossos semelhantes?

Conclusão

A definição de ética e moral leva a insinuação de que ambas assumem a mesma identidade. Neste caso a ética seria a teoria dos costumes, ou a ciência dos costumes, enquanto moral seria tomada como ciência, haja vista ser objecto da mesma.

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O positivismo propõe que a ética enquanto conhecimento científico deva aspirar à racionalidade e objectividade mais completas e, ao mesmo tempo, deva proporcionar conhecimentos sistemáticos, metódicos e, no limite do possível, comprováveis (Vázques.1995. Monte, 2002).Construir a nação abstracta de conceitos como justiça, liberdade, igualdade e outros como a ética é também invocar à semântica - suas conotações e múltiplos sentidos atribuídos. Estas expressões imbuem o sujeito que as assimila de forte e evidente carga emocional. Nalini.1999) afirma que é ainda utilizar-se de expressões que transbordam o sentimento e enceram a complexidade característica às questões filosóficas. Contudo, a aplicabilidade pragmática da ética reside na crise de sustentação que civilizações modernas passam, de modo que se encontram imbricadas questões filosóficas, políticas, sociais e culturais, estéticas e sem excluir, questões religiosas, dentre tantas outras. A crise da humanidade é uma crise moral, afirma Nalini (1999). Partindo desta premissa é que não se pode desfocar da preservação da dignidade humana, quando se pauta na conduta pessoal.

Indistintamente, ética “é a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade”(Engelhardt.1998:72). Desta forma é concebida como uma ciência, e como tal, tem objecto próprio, leis próprias e métodos próprios. Assim, o objecto da ética é a moral que se torna reconhecida como um dos aspectos do comportamento humano. A expressão deriva da palavra romana mores, que assume o sentido de costumes, ou seja conjunto de normas adquiridas pelo hábito reiterado de sua prática.Toda via, não se trata apenas da concepção teórico-epistemológico de moral como produto ou essência do comportamento humano, mas a moral como produto da ética, vista através da moralidade positiva. Isto porque a ética abriga-se na ideia do “conjunto de regras de comportamento e formas de vida através das quais tende o homem a realizar o valor do bem”(Maynez Apud Nalini 199:35).A ética é uma disciplina normativa, não por criar normas, mas por descobri-las e elucidá-las. Mostrando ás pessoas os valores e princípios que devem nortear sua existência, a ética aprimora e desenvolve seu sentido moral e influencia a conduta. assume-se como epicentro na tomada de decisões, reconhecimento de sí como objecto de um sujeito, isto justifica a necessidade de normas avançadas que compreendam a dimensionalidade assumida pelo homem e ainda questões que contemplem a ética do comportamento, sobre a vida e os “novos” mecanismos de relação estabelecidos para a garantia e manutenção desta.A sustentação da ética profissional nas disciplinas como campo de assistência que trabalha com a subjectividade e o psiquismo humano, como por ex. a psicologia, abre indagações longínquas que contornam a ética profissional e suas actuações.Mesmo a filosofia da ética através do seu estudo histórico sobre o comportamento humano, bem como o reflexo da ética da vida, por trás de sua manutenção ou não, e por sua normalização e positivação das condutas que vislumbram a transformação da profissão e da ciência, frente ao ser humano, as condições para que encerrem as discussões sobre a ciência do bem e do mal ainda estão a quem de um meio e, por fim, de conclusões cristalizadas sobre o comportamento humano, ou seria o humano comportamento?O ser humano, como sabemos, é dotado de matéria e pensamento, de água e espírito.A ética para a psicologia é uma forma específica do comportamento humano. Ela se relaciona com outras ciências humanas com intuito de se alcançar um comportamento moral.

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Segundo Vázques, 1977. ”ainda que o comportamento moral responda á necessidade social de regular as relações dos indivíduos numa certa direcção, a actividade é sempre vivida interna ou intimamente pelo sujeito em um processo subjectivo cuja elucidação contribui muito para a psicologia. Como ciência do psíquico, a psicologia vem em ajuda da ética quando põe em evidência as leis que regem as motivações internas do comportamento do individuo, assim como quando mostra a estrutura do carácter e da personalidade. Dá a sua ajuda também quando examina os actos voluntários, a formação dos hábitos, a génese da consciência moral e dos juízos morais.Em poucas palavras, a psicologia presta uma importante contribuição à ética quando esclarece as condições internas subjectivas dos actos dos indivíduos e deste modo, contribuindo para a compreensão da sua dimensão moral.Devemos conhecer e aplicar nossos códigos de ética, mas também fazer brotar na categoria a (com) paixão e o compromisso com a área e com a sociedade á qual servimos.

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Pauta deontológica do serviço público Angolano

A Administração pública, no desempenho da sua insubstituivel função social, deve, através dos seus trabalhadores, pautar a sua conduta por principios, valores e regras alicerçados na justiça, na transparência e na ética profissional, como primeiro passo para o estabelecimento da necessaria relação de confiança entre serviços públicos e aos cidadãos.Assim, para além das obrigações estabelecidas no estatuto disciplinar dos trabalhadores da função pública, reconhece-se útil juntar-se-lhes os imperativos intrisencamente entranhados no âmago da coisa pública, ditames que transformam a obrigação em devoção e que enobrecem o sentido e a utilidade da actuação dos orgãos e serviços da administração pública.Para tanto tem de haver uma disciplina integral que procure contemplar deveres externos e internos na qual se interligam os comandos legal e moral e em que os poderes funcionais são acompanhados do conhecimento e prática dos usos exemplares da sociedade, com relevâcia para os que se referem às relações entre servidores público, trabalhador da Administração pública e o cidadão utente, beneficiário e garante dos serviços públicos.

Sendo os serviços públicos criados para servir a comunidade e o indivíduo, pesa sobre o servidor público, sem prejuizo da autoridade de que também está imbuído, o dever de acatamento e respeito para com os deveres fundamentais da sociedade, da ordem constituicional, dos cidadãos e da própria Administrção Pública quer Central como local.Impõe-se assim a formulação de regras deontológicas com as quais o funcionário público e agente administrativo deverão pautar a sua conduta no desempenho da sua actividade profissional, em homenagem e observância aos valores mais elevados em que se fundamenta a missão para qual estão investidos;Assim nos termos da alínea e) do artigo 112º da lei constituicional o governo delibera o seguinte:Aprovar e divulgar a pauta deontologica do serviço público anexa à resolução 27/94 de Agosto.

I – Âmbito, conteúdo e Aplicação

1. A pauta Deontológica do serviço público Angolano abrange todos os trabalhadores da Administração Pública, independentemente do seu cargo, nível ou local de actividade, incluindo, os que exercem funções de direcção e chefia.2. O conteúdo de Pauta Deontologica do serviço público compreende um conjunto de deveres de índole ético-profissional se social que impendem sobre os trabalhadores públicos no exercicio das actividades, nas relações destes com os cidadãos e demais entidades particulares bem como, com diferentes órgãos de Estado em especial a Administração Pública.

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3. Aplicação – A aplicação da presente Pauta Deontólogica não prejudica a observância simultânea das regras deontólogicas que existam em algumas instituições ou organismo público.

II – Valores Essenciais4. Interesse Público – Os trabalhadores da Administração Pública devem exercer as suas funções exclusivamente ao serviço do interesse público. Os interesses gerais sustentadores da estabilidade, convivência e tranquilidade sociais e garantes da satisfação das necessidades fundamentais da colectividade são razão de ser última da actuação dos trabalhadores públicos.5. Legalidade – os trabalhadores da Administração Pública devem proceder no exercicio das suas funções sempre em conformidade com a lei, devendo para efeito conhecer e estudar as leis, regulamentos e demais actos jurídicos em vigor bem como contribuir para a ampla divulgação e conhecimento da lei e o aumento da consciência jurídica dos cidadãos.6. Neutralidade – Os trabalhadores da Administração Pública têm o dever de adoptar uma postura e conduta profissionais ditadas pelos crit´rios da imparcialidade e objectividade no tratamento e resolução das matérias sob sua responsabilidade, observando sempre com justeza, ponderação e respeito do princípio da igualidade jurídica de todos os cidadãos perante a lei e isentando-se de quaisquer considerações ou interesses subjectivos de natureza política, económica, religioza ou outra.7. Integridade e responsabilidade – Os trabalhadores da Administração Pública devem no exercicio das suas funções pugnar pelo aumento da confiança dos cidadãos nas instituições públicas bem como da eficácia e prestígio dos seus serviços. A verticalidade, a discrição, a lealidade e a transparência funcionais devem caracterizar a actividade de todos quantos vinculados juridicamente à Administração Pública comprometem-se em servi-la para bem dos interesses gerais da comunidade.8. Competência – os trabalhadores da Administração Pública assumir o mérito, o brio e a eficiência como critérios mais elevados de profissionalismo no desempenho das funções públicas. A qualidade dos serviços públicos em melhor servir depende, decisivamente, do aumento constante da capacidade t´rcnica e proficional dos agentes e funcionários públicos.

III – Deveres para com os Cidadãos9. Qualidade na prestação do serviço público – A consciência e a postura de bem servir, com eficiência e rigor, devem constituir uma referência obrigatória na actividade dos trabalhadores da Administração pública nas suas relações com os cidadãos. Qualidade nas prestações que se proporcionam aos cidadãos e á sociedade em geral deve significar também uma forma mais humana de actuação, de participação e de rxigencia reciprocas entre os trabalhadores públicos e os utentes dos serviços públicos.10. Isenção e Imparcialidade – Os trabalhadores da Administração Pública devem ter sempre presente que todos os cidadãos são iguais perante a lei, devendo merecer o mesmo tratamento no atendimento, encaminhamento e resolução das suas pretensões ou interesses legitímos, salvaguardando, no respeito à lei a igualidade de acesso e de oportunidades de cada um.11. Competência e Proporcionalidade – Os trabalhadores da Administração Pública devem exercer as suas actividades com observância dos imperativos de ordem técnica e ciêntifica requeridos pela efectividade e celeridade das funções. Devem igualmente saber aguardar, em função dos objectivos a alcançar, os meios mais idóneos e proporcionais a empregar para aquele fim.12. Cortesia e Informação – Os trabalhadores da Administação Pública devem ser corteses no seu relacionamento com os cidadãos e estabelecer com eles uma relação que contribua para o desenvolvimento da civilidade e correcção dos servidores e dos utentes dos serviços públicos. Devem os trabalhadores de Administração Pública, igualmente, serem prestáveis no asseguramento aos cidadãos das informações e esclarecimentos de que carecam.13. Proibidade – Os servidores da Administração Pública não podem solicitar ou aceitar, para sí ou para terceiros, directo ou indirectamente quaisquer presentes, empréstimos, facilidade ou em geral, quaisquer ofertas que possam pôr em causa a liberdade da sua acção, a independência do seu juizo e a credibilidade e autoridade da Administração Pública, dos seus órgão e serviços.

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IV - Deveres Especiais para com a Administração14. Serviço Público – Os trabalhadores da Administração Pública ao vincularem-se com os entes públicos para contribuirem para a prossecução dos interesses gerais da sociedade, devem colocar sempre a prevalência destes acima de quaisquer outros. Igualmente não devem usar para fins e interesses particulares a posição dos seus cargos e seus poderes funcionais.15. Dedicação – Os trabalhadores da Administração Pública devem desenhar as suas funções com profundo espirito de missão, cumprindo as tarefas que lhe sejam confiadas, com prontidão, racionalidade e eficácia. O respeito pelos superiores hierarquicos, colegas e subordinados bem como a destreza e criatividade na análise dos problemas e busca de soluções deverão ser atributos de relevo na actuação dos trabalhadores públicos.16. Autoformação, Aperfeçoamento e Actualização – Os trabalhadores da Administração Pública devem assegurar-se do conhecimento das leis, regulamentos e instruções em vigor e desenvolver um esforço permanente e sistemático de actualização dos seus conhecimentos, bem como de influência neste sentido em relação aos colegas e subordinados. Em especial os titulares de cargos de direcção e chefia devem ser exemplo e o elemento dinamizador dessa acção.17. Reserva e discrição – Os trabalhadores da Administração Pública devem usar da maior reserva e discrição de modo a evitar a divulgação do facto e informações de que tenham conhecimento no exercício de funções sendo-lhes vedado o uso dessas informações em proveito próprio ou de terceiros.18. Parcimónia – Os trabalhadores da Administração Pública devem fazer uma criteriosa utilização dos bens que lhe são facultados e evitar desperdícios, não devendo utilizar directa ou indirectamente quaisquer bens públicos em proveito pessoal, nem permitir que qualquer outra pessoa deles se aproveite à margem da sua utilização.19. Solidariedade e Cooperação – Os trabalhadores da Administração Pública devem, estabelecer e fomentar um relacionamento correcto e cordial entre sí de modo a desenvolver o espírito de equipa e uma forte atitude de colaboração e entre ajuda, procurando auxílio dos superiores e colegas no aperfeiçoamento do nível e qualidade do trabalho a prestar.

V – Deveres para com os Órgãos de soberania20. Zelo e Dedicação – Os trabalhadores da Administração Pública, devem independentemente das suas convicções politícas ou ideológicas, agir com eficiência e objectividade e esforçar-se por dar resposta às solicitações e exigencias dos órgãos da Administração a que estão afectos, em especial respeitando e fazendo respeitar os direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos previstos na constituição e nas leis assim como contribuindo para o cumprimento rigoroso dos deveres estabelecidos no ordenamento jurídico.21. Lealdade – Os trabalhadores da Administração Pública devem esforçar-se por na sua esfera de acção exercer com lealdade os programas e missões definidas superiormente, no respeito escrupoloso à lei e às ordens legítimas dos seus superiores hierarquicos.

O Primeiro Ministro, Marcolino José Carlos Moco.

Como resolver dilemas ético-deontologicosPassos dos gestores para a tomada de decisão

Informação:Tenho informação relevante e suficiente para tomar decisão no caso concreto?Envolvimento:Considerei e envolvi todas as pessoas com interesse relevante para a decisão em causa?Consequências:Analisei todas as consequências previsíveis e ponderei-as face ao resultado final da decisão?

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Justiça:Se as consequências mais graves da decisão se refletissem em mim, mesmo assim consideraria a solução justa, tendo em consideração todas as circunstâncias?Valores:A solução encontrada mantém a integridade dos valores que considero essências?Universalidade (solução universal):Considero que a decisão que pretendo tomar se deve tornar uma norma universal aplicável a todas as situações semelhantes?Publicidade (reputação):Como me sentiria e como seria considerado pelas pessoas com quem me relaciono, se os detalhes do processo de tomada de decisão e a solução encontrada fossem revelados?

Os principais erros que devem ser evitados no trabalho em grupo

Cada vez mais o mercado de trabalho exige dos profissionais excelência em comunicação e facilidade para trabalhar em equipe. Ocorre que em boa parte dos casos o sucesso no desempenho dessas tarefas esbarra na falta de bom-senso e de limites entre o que pode ou não, ser feito e dito para os colegas da empresa. O “Universia” conversou com especialistas de carreira que listaram algumas atitudes imperdoáveis no relacionamento diário de uma equipe. Elas poderão ajudá-lo a não sofrer as consequências de uma piada fora de hora ou do mau-humor de um membro da Equipa Falar de colegas ausentes"Falar dos outros é sempre delicado. Portanto, se você tem algo a dizer ao seu colega diga directamente a ele. Desta forma, evita que o comentário seja mal interpretado e retransmitido por outros. Ao fazer uma crítica directamente ao colega em questão você evita que seu comentário chegue distorcido aos ouvidos dele, o que pode gerar conflitos. Além disso, falar pelas costas e comentar sobre a vida alheia é uma atitude mal vista". Rejeitar o trabalho em equipe"Hoje, independentemente do seu cargo, é preciso saber trabalhar em equipe, já que bons resultados dificilmente nascem de acções individuais. No ambiente corporativo, uns dependem dos outros. Se o funcionário não estiver disposto a colaborar com os colegas, certamente será um elo quebrado. Com isso, o grupo/equipe não chegará ao resultado desejado. Ser resistente ao trabalho em equipe é um revés grave. Sem essa abertura, dificilmente o colaborador conseguirá obter sucesso". Ser antipático (a)"A empatia é muito útil no ambiente de trabalho. Você deve ser leal, cortês, amigo e humilde. Falar «bom dia» e cumprimentar os outros são atitudes que demonstram educação e respeito pelos demais. O fato do trabalho exigir concentração do colaborador não significa que ele não possa ser cordial e abrir um espaço na agenda para ajudar os companheiros de equipa". Deixar conflitos pendentes"Conflitos acumulados podem agravar-se. Qualquer tipo de problema referente ao trabalho, dúvida sobre decisões, responsabilidades que não foram bem entendidas, alguém que ficou magoado com outro por algum motivo, enfim, qualquer tipo de desconforto deve ser esclarecido para evitar a discórdia no ambiente de trabalho. O colaborador deve conversar para resolver o assunto, caso contrário, isso poderá gerar antipatia, conversa de corredores com outros colaboradores e um clima péssimo para toda a equipa". Ficar de cara fechada

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"Ter um companheiro de equipa com bom humor anima o ambiente de trabalho, enquanto que um colega mal-humorado causa desconforto do início ao fim do expediente. Esta postura gera desgastes desnecessários, pois além de deixar toda uma equipa desmotivada ainda atrapalha a produtividade. Pessoas mal-humoradas geralmente não toleram brincadeiras. Com isso, automaticamente são excluídas da equipa, o que não é saudável. Por essa razão, manter o bom humor no trabalho é fundamental para cultivar bons relacionamentos". Deixar de cultivar relacionamentos"Os melhores empregos não estão nos jornais e nem nos classificados. A partir do seu relacionamento interpessoal no trabalho conseguirá construir a sua oportunidade ". é importante mostrar dinamismo, ser cooperativo no trabalho, um bom trabalho é aquele onde você está e só depende de si torná-lo no trabalho que deseja. porque o melhor trabalho é aquele onde você se empenha, onde constrói a sua carreira.Não ouvir os colegas"É importante escutar a todos, mesmo aqueles que têm menos experiência. Isso estimula a participação e a receptividade de novas ideias e soluções. Questionar com um ar de superioridade as opiniões colocadas numa reunião não só intimida quem está expondo a ideia, como passa uma imagem de que você é hostil. É necessário reflectir sobre o que está sendo dito, não apenas ouvir e descartar a ideia de antemão por considerá-la inútil". Não respeitar a diversidade"Todas as diferenças devem ser respeitadas entre os membros de uma equipe. Não é aceitável na nossa sociedade alguém que não queira contacto com outro indivíduo apenas por ele ser diferente. Ao passo que o funcionário aceita a diversidade, ele amplia as possibilidades de actuação, seja dentro da organização ou com um novo cliente. Além disso, o respeito e o tratamento justo são valores do mundo globalizado que deveriam estar no DNA de todos. Sem eles, o colaborador atrapalha o relacionamento das equipas, invade limites dos colegas e a natureza do outro". Apontar o erro do outro"A perfeição não é virtude de ninguém. Antes de apontar o erro de outro, devemos analisar a nossa própria conduta e a nossa responsabilidade para o insucesso de um trabalho ou projecto. É melhor ajudar a solucionar um problema do que criar outro maior em cima de algo que já deu errado. Lembre-se: errar é humano e o julgamento não cabe no ambiente de trabalho. No futuro, o erro apontado pode ser o seu".Ficar nervoso (a) com a equipe"Atritos acontecem no ambiente de trabalho, mas a empatia deve ser colocada em prática nos momentos de tensão entre a equipa para evitar que o problema chegue ao gestor e se torne ainda pior. Cada um tem um tipo de aprendizagem e um ritmo de trabalho, o que não quer dizer que a qualidade da actividade seja melhor ou pior que a sua. O respeito e a maturidade profissional devem falar mais alto do que o nervosismo. Equilíbrio emocional e uma conduta educada são importantes tanto para a empresa como para o profissional".

As associações profissionais e o associativismo do profissional

A partir do momento em que um grupo de pessoas que realizam um mesmo tipo de trabalho passa a formar um grupo, este se incorpora num empreendimento organizado e com isso, é imerso num contexto, social, politico e economico.As corporações profissionais integram um quadro de elementos que configuram uma ocupação organizada. São as corporações que vão mais direitamente, buscar negociar

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com consumidores de seu trabalho (o Estado, por exemplo), organizar instituições de recrutamento, treinamento e colocação de empregados num mercado(Freidson,1998). Em outros termos, as corporações profissionais vão buscar a mobilidade ascendente de seus membros, melhores salários, melhoria das condições de trabalho, significando autonomia por meio do esforço colectivo, representado pela acção entidades(Hovekamp,1997).Dentre as corporações profissionais estão as associações e os sindicatos. As associações colocam em primeiro lugar a autonomia e independência no trabalho, enquanto sindicatos evidenciam os beneficios privados de seus membros. Dentre os objectivos centrais das associações, está a ênfase nos bens públicos. Tal ênfase é um modo de melhorar a imagem da profissão mostrando o valor e a importância dos seus membros para a sociedade em função da aplicação de seus conhecimentos e habilidades especiais.Além disso, as associações buscam promover uma interacção entre os seus membros estabelecendo uma unidade cultural da profissão, institualizando códigos de contactos, padrões educacionais e de desempenho, a defesa de mudanças e inovações. As associações estimulam seus membros a participar de comunidades painéis, actividades de força-tarefas e grupos de estudo a partir de caracteristicas comuns de seus membros(Galaskiewicz,1985).Quando uma ocupação alcança a chamada autonomia, com maior capacidade de controlar a realização e o modo de fazer um tipo de trabalho, de controlar inclusive a oferta de trabalho que entra no mercado e a procura do mesmo, existem maiores condições para o desenvolvimento de uma ética que favoreça a manutenção e o fortalecimento do grupo e da profissão(Freidson,1998) trata da relação entre a realização de uma ética e o papel das corporações no espaço da autonomia.Essa relação se verifica, pricipalmente, quando há um abrigo de mercado ,torna-se atrativo e viável, para os membros da sociedade, investir tempo e dinheiro em um treinamento para posteriormente aplicar os conhecimentos obtidos por longo periodo de tempo colaborando para que a ocupação escolhida torne-se um “interesse central de vida”(Freidson,1998). Esse contexto leva para a formação de uma identidade dos membros da ocupação, permitindo a formação de uma “comunidade ocupacional”(Salan,1974 and Freidson,1998,p.128). Colocando em outros termos, quando um indivíduo busca uma profissão, na qual investirá um tempo para a sua formação, e posteriomente terá condições de desenvolver um trabalho que lhe traga sustentação financeira é facilitado o processo de comprometimento com a realização do trabalho, bem como a solidariedade na acção do grupo.A origem das ordens, pode ser vista na idade média(Moreira e Rego,2004).segundo os autores diferentes evidencias levam a crer que as afinidades naturais de uma profissão levaram oficiais a estabelecer pactos de assistência mútua(na velhice ,na doença, na invalidez, na pobreza e em outras condições nas quais havia uma fragilidade de um oficial) e de defesa comum, o que tem levado possivelmente ao nascimento das primeiras autoridades corporativas. Nesse meio, de defesa e assistência, aconteciam também, jantares de confraternização, laços religiosos eram comuns, tanto que as diferentes corporações elegiam um santos padroeiro.Os autores supra-citados destacam uma diferença entre espírito corporativo e interesse corporativo. Salientam que não se trata de excluir os interesses mas sim de promover o respeito de regras e principios colaborem para organizar a vida em sociedade, dado que a função das corporações inclui não só a regulação e controlo do exercicio profissional, mas também, o exercicio responsavel da profissão e sua função social. Reforçando as considerações dos autores, embora as associações profissionais sejam um espaço minado de interesses, nelas ocorrem laços de solidariedade, de ajuda mútua, de

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cooperação e de defesa de causas sociais o que tende a beneficiar não apenas os profissionais, mas a sociedade de um modo geral.Ainda que nas acções das associações predomine a defesa do bem público e o ideal do serviço, o que tem motivado profissionais a integrar as associações têm sido interesses privados atendidos pelas associações como: desseminação de informações por meio de revistas, boletins, eventos profissionais e cursos(Hovekamp,1997).Para além do trabalho em rede com outra profissões e assinatura de revistas que permitem o acompanhamento das novidades da área (Anderson, 1992).Se de um lado, é no espaço associativo que as pessoas vão se encontrar, trocar idéias, resolver conflitos e encontrar soluções para problemas comuns, também é nesse ambiente que haverá espaço para a publicação de boletins informativos, revistas, realização de cursos e eventos permitindo assim a educação contínua. De outro lado o comprometimento com a realização de um bom trabalho, a excelência de conhecimentos, competências e técnicas que interferem na autonomia, reflxo de um grupo em a acção individual integra a acção do grupo. Desse modo as associações não devem ser compreendidas como acção de um grupo de representantes, se assim for, as acções serão fragmentadas, a categoria não será reconhecida por uma identidade forte. É a partir de acções colectivas pautadas na compreensão do conjunto de elementos que compõe o cenário de uma sociedade profissionalista.´É muito comum, perceber saidas individualistas para problemas relativos a questões profissionais. A expressão “cada um faz a sua parte”soa como uma palavra de ordem para propagar o voluntariado, seja para justificar a baixa adesão em acções colectivas. É lógico, que mesmo em uma acção colectiva, cada um fará uma parte a questão é: a parte que um dos membros faz está conectada com o conjunto ou com o grupo do qual este individuo participa ou se identifica? Ela serve para fortalece-lo ou fragmenta-lo? Independente da acção ou dos esforços que cada profissional realiza é importante que essasacções ou esforços sejam acções que reflitam o pensamento do grupo, o anseio do grupo para que haja uma sintonia de acções. De outra forma, a saida individualé suicida quando não representa o grupo.E a ética? Na saida individual a ética também será de imperativo individualista prejudicando a pssibilidade de realização de uma ética que é construção,que é consciência na acção, que é situar-se no seu contexto, que é participar, que é objectivar o bem maior de todos.Antes de qualquer busca de uma ética institucionalizada em um código, é presiso ter clareza do que representa a profissão na sociedade, o que é fazer parte de um grupo profissional.Sem essa compreensão, de que cada membro constrói a acção do grupo, não haverá um fortalecimento do próprio grupo, dificultará a discussão de uma ética.A ética começa na maneira como eu ( como membro de um grupo profissional) me relaciono com o grupo no qual participo e me identifico, como me relaciono com os usuários dos serviços, como eu vejo a informação na sociedade, como eu me posiciono em relação aos rumos que os usos e fluxos da informação vem tomando. Esse se posicionar, pode e deve acontecer a partir de acções colectivas, por meio de associações profissionais, academicas, voluntariado, dado que com mostra Souza (2002), em país em que há uma mínima democracia política ou razoável cidadania, colectivos sócio-profissionais tambem são governo, mesmo que limitadamente podem exercer sua capacidade de embate e negociação.

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A indiferença“Primeiro, levaram os comunistas. Mas eu não me importei com isso.Não sou comunista.Em seguida, levaram alguns operários. Mas eu não me importei com isso.Eu também não sou operário.Depois prenderam os sindicalistas. Mas eu não me importei com isso.Eu não sou sindicalista.Depois agarraram os sacerdotes, mas como eu não sou religioso, também não me importei.Agora estão me levando.Mas já é tarde.”

Bertold Bre

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