27
Estudo aos Grêmios JANEIRO DE 2003 Grêmio Livre Estudantil do Cefet-MG Gestão 2001/2002

Estudo aos Grêmios Estudantis

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Estudo aos Grêmios Estudantis O objetivo deste estudo decorre da observação de problemas relativos aos Grêmios em geral que vêm se repetindo todos os anos. A grande causa dessa ciclicidade é a rotatividade de estudantes, que entram no Grêmio, cometem erros que já foram cometidos nos anos anteriores, por ingenuidade ainda e, quando as pessoas pegam o jeito, elas saem e entram outros, que vão ter grande probabilidade de fazer o mesmo. A rotatividade é natural das escolas e o objetivo não é mudar o sistema de ensino, mas nesse caso não deixa de ser um grande problema. “Um grupo de alunos acha que o grêmio não faz nada e resolve fazer uma ‘Revolução’ no grêmio, se candidatando como chapa. Ganham a eleição com ótimas propostas e tomam posse cheios de vontade e de disposição. Só que os projetos começam a não sair como planejado, então muitos resolvem sair porque é mais difícil (e talvez mais chato) do que esperavam. Os poucos que ficam então têm que trabalhar igual loucos e quase não sai nada. Só no final da gestão que começam a pegar o jeito, os macetes, e então sai algo proveitoso. Só que os outros alunos que não viram o grêmio fazer nada o ano inteiro falam que agora só está fazendo porque a eleição está próxima, e então os ingênuos estudantes resolvem fazer uma ‘Revolução’ no grêmio, se candidatando...” Essa historinha não é uma crítica a Grêmios e nem tem, nem de longe, a pretensão de fazer os que restaram no grêmio desistirem. O papel dos grêmios e associações comunitárias é importantíssimo na sociedade. Infelizmente, uma história parecida com essa tem se repetido em milhares de lugares pelo Brasil, provavelmente pelo mundo, e é para tentar quebrar esses ciclos que esse tratado está sendo escrito. A esperança é que, ao ler, cada grêmio possa melhorar em sua luta pela comunidade dos estudantes (e, porque não, pela sociedade inteira, inseridos os alunos), analisando as experiências anteriores, e que grêmios iniciantes talvez já comecem a gestão um pouco mais maduros. Esperamos que seja uma semente de continuidade nesse universo estranho que é um grêmio estudantil. Sumário: • Dos Motivos do Estudo • Estudo Psicológico, Ideológico e Histórico • Organização Administrativa • Projetos • Propostas para o Problema Levantado

Citation preview

Page 1: Estudo aos Grêmios Estudantis

Estudo aos Grêmios

JANEIRO DE 2003

Grêmio Livre Estudantil do Cefet-MG – Gestão 2001/2002

Page 2: Estudo aos Grêmios Estudantis

2

Sumário:

Dos Motivos do Estudo

Estudo Psicológico, Ideológico e Histórico

Organização Administrativa

Projetos

Propostas para o Problema Levantado

Page 3: Estudo aos Grêmios Estudantis

3

Dos Motivos do Estudo:

O objetivo deste estudo decorre da observação de problemas relativos aos Grêmios em

geral que vêm se repetindo todos os anos. A grande causa dessa ciclicidade é a rotatividade de

estudantes, que entram no Grêmio, cometem erros que já foram cometidos nos anos

anteriores, por ingenuidade ainda e, quando as pessoas pegam o jeito, elas saem e entram

outros, que vão ter grande probabilidade de fazer o mesmo. A rotatividade é natural das

escolas e o objetivo não é mudar o sistema de ensino, mas nesse caso não deixa de ser um

grande problema.

“Um grupo de alunos acha que o grêmio não faz nada e resolve fazer uma ‘Revolução’

no grêmio, se candidatando como chapa. Ganham a eleição com ótimas propostas e tomam

posse cheios de vontade e de disposição. Só que os projetos começam a não sair como

planejado, então muitos resolvem sair porque é mais difícil (e talvez mais chato) do que

esperavam. Os poucos que ficam então têm que trabalhar igual loucos e quase não sai nada.

Só no final da gestão que começam a pegar o jeito, os macetes, e então sai algo proveitoso.

Só que os outros alunos que não viram o grêmio fazer nada o ano inteiro falam que

agora só está fazendo porque a eleição está próxima, e então os ingênuos estudantes resolvem

fazer uma ‘Revolução’ no grêmio, se candidatando...”

Essa historinha não é uma crítica a Grêmios e nem tem, nem de longe, a pretensão de

fazer os que restaram no grêmio desistirem. O papel dos grêmios e associações comunitárias é

importantíssimo na sociedade. Infelizmente, uma história parecida com essa tem se repetido

em milhares de lugares pelo Brasil, provavelmente pelo mundo, e é para tentar quebrar esses

ciclos que esse tratado está sendo escrito.

A esperança é que, ao ler, cada grêmio possa melhorar em sua luta pela comunidade

dos estudantes (e, porque não, pela sociedade inteira, inseridos os alunos), analisando as

experiências anteriores, e que grêmios iniciantes talvez já comecem a gestão um pouco mais

maduros. Esperamos que seja uma semente de continuidade nesse universo estranho que é um

grêmio estudantil.

Page 4: Estudo aos Grêmios Estudantis

4

Estudo Psicológico, Ideológico e Histórico

Este tópico deste estudo vem tratar do ramo de ação do grêmio, analisando a situação

presente da sociedade e também do passado.

Primeiramente, para que serve um grêmio?

Essa é a pergunta mais básica. Pegar um grêmio não é agir em proveito próprio, mas

para que se possa melhorar a vida de outras pessoas. E olha que o individualismo, seguido a

um passo do egoísmo e da ambição desenfreada (onde os outros podem se fuder), é um dos

pilares da sociedade moderna. Aí entra o primeiro problema de qualquer grêmio: tentar fazer

uma ação contra o que dita a mentalidade da maioria das pessoas. Ao contrário de quando

você estuda, trabalha e segue o que o sistema te diz, fazer algo contra a situação atual do

mundo é como remar contra a maré, cansa muito mais. Sempre vão existir muito mais

obstáculos para quem insistir em não ser o “padrão de cidadão da nossa sociedade capitalista

‘democrática’ ”.

A princípio, o grêmio é uma entidade que representa os estudantes, lutando pelos seus

direitos e deveres, suas opiniões e representando-os perante a comunidade externa (inclusive

perante o colégio). Como o grêmio vai fazer isso já é outra história. Desde festas e

entretenimento até trabalho voluntário e luta política são caminhos seguidos com freqüência.

Outras iniciativas serão abordadas no tópico Projetos, e o importante é o grêmio não perder o

seu papel de agir em conjunto com os estudantes pelos seus interesses (dos estudantes - e não

usar o grêmio para se ajudar).

Muitos grêmios abrem suas atividades não mais para ajudar apenas os alunos, mas a

sociedade como um todo. Os alunos fazem parte da sociedade, então eles também serão

ajudados. É muito boa a tentativa de mudar a cabeça dos estudantes (que normalmente

costumam “bitolar” nos estudos), para que eles passem a olhar e agir do lado de fora do

colégio. Mas muitos grêmios, ao abrirem demais seu campo de reivindicações, acabam

deixando de resolver os problemas internos dos alunos; é preciso ter cuidado.

Atualmente, e desde muito tempo, partidos políticos fazem parte do dia-a-dia de

muitos grêmios. No caso de um partido pegar o grêmio, então ele passa a agir de acordo com

seus objetivos. Botando em termos práticos, quando grande parte dos integrantes de um

grêmio é de um partido, mesmo que o grêmio em si não seja, suas ideias acabam

transparecendo nos ideais da entidade. Além disso, é preciso ficar claro para os estudantes a

diferença entre partido e grêmio. Ë comum que porque integrantes do grêmio usem camisa de

partidos e fazem propaganda político partidária, os estudantes achem que a entidade (grêmio)

esteja assumindo tais posições. Infelizmente, política não costuma ser muito popular entre

alunos, e sempre há um certo índice de rejeição.

Isso não significa que seja ruim. Integrantes com experiência política costumam ser

bons em organizar movimentos e quase sempre apresentam uma garra muito grande em horas

críticas em que muitos tremem. A política inclusive é um campo que influencia a sociedade e

não deve ser esquecido.

Pena que nem tudo são flores e muitos partidos políticos utilizam os grêmios para

aumentar o seu poder e arrebanhar militantes, quando deveriam estar agindo na transformação

da sociedade. Partidos costumam perder mais tempo brigando entre si (como, por exemplo,

no controle de grêmios), do que tentando melhorar a situação do mundo. Fora os inúmeros

casos de grêmios que desviam seus fundos arrecadados para os partidos controladores.

Independente do campo político-ideológico de cada um, dentro do grêmio todos deveriam se

unir para lutar por ideais nobres. É inaceitável que se pratiquem atos inescrupulosos dentro de

uma entidade como um grêmio.

Outras vezes um oposto acontece. Quando um grupo de pessoas que detestam a

combatividade típica de grêmios políticos sobe, é comum aparecer o “Grêmio Sandy &

Page 5: Estudo aos Grêmios Estudantis

5

Junior”, com todo mundo com carinha feliz e cantando, mas sem resolver problema algum. O

grêmio fica amistoso e arrumadinho, mas perde o seu papel de ação. E junto a sua

consciência, se tornando alienado. Há uma tendência muito grande para isso, visto que esse

tipo de grêmio se adequa ao padrão que o sistema espera de nós.

Muitos adultos que mexem com política reclamam que a cada geração os jovens estão

menos politizados. Sempre é evocada a imagem da geração de 68, que lutava contra ditadura

sob ferro e fogo. De certa forma, essa despolitização dos jovens e da sociedade em geral não

deixa de ser um reflexo do que nos é incutido pela mídia, pelo consumismo e pelo

individualismo egoísta que são o estilo de vida atual. Mas não é só isso. Hoje ainda há muitas

pessoas que estão a fim de fazer algo para melhorar a sociedade, só que elas se desencantaram

com a política. Em seus argumentos dizem que a política já virou uma corporação tão grande

que não se sabe mais com segurança para quem e para quê você está agindo, tamanha é a rede

de interesses e “politicagens” em jogo. Outro ponto é que já se criou todo um sistema para

abafar qualquer possível transformação vinda do campo político, com a mídia, as elites, as

forças amadas e tudo mais colaborando entre si contra qualquer ameaça à ordem vigente.

Muitas dessas pessoas, aliás, já se envolveram em partidos políticos e ou se desiludiram ou se

desgastaram ao limite sem conseguir resultados.

Então, muitas vezes, esse grupo de pessoas resolve se dedicar a atividades como

ecologia, trabalho voluntário e eventos culturais. O bom é que se consegue ver na prática,

com segurança, o fruto do trabalho que foi investido, ali na frente. Essas pessoas se imbuem

de um importante papel de mudar a mentalidade das pessoas, principalmente pelo exemplo,

fazendo crescer a ideia e por fim mudando a sociedade.

O problema é que o governo tem o grande poder de cagar tudo. Quando se vê que uma

iniciativa pode mudar a sociedade, os que estão por cima tremem, e, como mandam no

governo, baixa-se uma lei que bota tudo abaixo. Um bom exemplo disso foi Canudos. Parece

até uma situação meio desesperadora: o governo cagando tudo e a gente limpando as

bostinhas, um bocado de formiguinhas reconstruindo o que o gigante vai destruindo. Não dá

para pensar em continuar assim para sempre. Talvez a solução seja que a mudança de

mentalidade atinja também as elites, tirando-as de sua ambição e egoísmo, mudando os seus

projetos de vida. Quem sabe.

Outro problema é que se as pessoas vão largando a política, o governo vai ficando sem

oposição e então passa a fazer o que bem entender, tirando os poucos benefícios que o povo

tem, sob a justificativa do progresso, que só é repartido entre os que estão no poder. Se não

houvesse oposição, mesmo com todos os problemas do nosso sistema político, medidas como

a flexibilização da CLT virariam rotina.

Nessa corrente que não concorda com o sistema político-partidário, um ponto positivo

é que, por não haver um enfrentamento muito grande, os envolvidos acabam tendo maior

possibilidade de ação. Uma estratégia que pode unir os dois pontos é a de eventos culturais

que fazem as pessoas pensarem sobre política, pois muita gente tem um preconceito que

impede de conhecer ou até mesmo pensar em política.

Apesar de toda a diversidade de objetivos e maneiras em movimentos como um

grêmio, ele não deve escolher um ou outro. Um grêmio nunca deve fechar as portas para

alunos ou outras pessoas que querem ajudar, mesmo que seja de uma maneira diferente. Em

um movimento forte, cada um ajuda do seu jeito e a luta passa a ser mais completa,

abrangendo várias áreas. Grupos de alunos com interesses diferentes têm que se sentir à

vontade para tocar projetos paralelos junto ao grêmio.

Antes de dispensar gente, um grêmio sempre se depara com a falta de “efetivo”. Já foi

citado o comportamento de muita gente perante dificuldades: pular fora. Ainda mais na

juventude, com tanta coisa para fazer a nossa volta, parece besteira ficar batendo cabeça no

grêmio sem conseguir metade do que se planejou. Já foi feita uma pesquisa de âmbito

Page 6: Estudo aos Grêmios Estudantis

6

psicológico envolvendo ativistas, psiquiatras e outros indivíduos que interagem de forma

contínua a ambientes carregados e a constantes fracassos, e poucos aguentavam passar dos

primeiros anos, a cabeça não aguentava. A grande maioria dos que continuava tinha alguma

atividade paralela na qual se recuperava das “nabas” que levava na outra. Outros recorriam ao

cinismo ou se tornavam “frios”, congelando suas emoções para que elas não os

atrapalhassem. Além disso, é preciso ter uma vontade muito forte de continuar, tem que

acreditar na importância do que se faz.

O segundo grau de um colégio possui 3 anos, mas a maioria dos participantes do

grêmio só tem tempo para participar do grêmio um ano. O mais comum dos colégios é que as

chapas para grêmios sejam formadas basicamente, ou em sua maioria, por alunos do 3º ano

colegial, o que vem agravar ainda mais o nosso problema da ciclicidade. A experiência

acumulada em um ano não passa para os outros, porque a maioria do pessoal forma. Já no

período de eleição, no início do outro ano, o grêmio está quase deserto. Muitos alunos dos

anos mais novos se sentem um pouco intimidados com o terceiro ano, ou não se sentem tão

preparados ou maduros quanto eles. Muitos, mesmo quando entram no grêmio, se sentem

meio perdidos, meio inseguros para agir em alguma coisa e grande parte acaba largando já no

início, sem perceber que no começo é assim mesmo e que depois vai se pegando as manhas.

Grêmios mais receptivos dão mais liberdade de chegada aos alunos mais inseguros.

Por algum motivo biológico, psicológico ou social, é no 3º ano que grande parte dos

estudantes resolve entrar no grêmio. Parece que aos 17 ou 18 anos, aliado ao fato de serem os

alunos mais velhos do colégio, bate uma vontade de participar de uma coisa maior, de não se

dedicar apenas ao estudo, ou talvez por uma necessidade de autoafirmação ou de fazer

alguma coisa pelos outros e contribuir para o mundo. O fato é que isso parece ser uma coisa

natural e que acontece em cada lugar do mundo onde as condições são parecidas.

Natural porque é o comum, mas não significa que é o certo. Um grêmio com uma

experiência de 3 anos seria muito mais forte, erraria muito menos em coisas bobas. Um dos

meios de corrigir isso é fazer uma campanha intensiva com os alunos mais novos na formação

de chapas e depois, durante a gestão.

É comum também que alguns alunos queiram se juntar ao grêmio durante o ano.

Espera-se que nenhuma gestão seja boba o suficiente para restringir o grêmio aos alunos que

tomaram posse na eleição. Alguns falam que é uma forma de trapaça com os alunos, pois eles

votaram em alguns e outros estão participando, só que o objetivo de um grêmio é que todo

mundo esteja participando mesmo. Aí alguém pergunta: “Então, para que serve eleição?”

Uma eleição de grêmio, do contrário do que se pensa à primeira vista, serviria mais para

definir quais são os objetivos que os estudantes querem, qual a linha que o grêmio deve

trilhar. Sob essa nova maneira de encarar as eleições de grêmio, um plano de ação (e não um

grupo de alunos) é que seria eleito e todos os alunos que quiserem segui-lo podem então

entrar para o grêmio e representar a entidade. Corretíssimo, e deveria ser quase obrigatório, é

a chapa vencedora abrir o grêmio para que todas as chapas que perderam possam se juntar.

Chapas que possuem essa proposta durante as eleições também costumam ganhar muitos

votos, pois é uma decisão sensata. Outras chapas se recusam a aceitar certos alunos ou chapas

dizendo que eles não são a favor da linha proposta pela chapa e iriam desvirtuar o

movimento. A exclusão é sempre pior, ainda mais que se criam duas oposições que ficarão

brigando entre si (o que desperdiça as ações que deveriam estar voltadas para outros

problemas) e na eleição do outro ano a chapa que perdeu tentará se reeleger deixando a outra

na oposição e cria-se mais um ciclo, de intrigas e desgastes desnecessários.

Além disso, as eleições são um importante momento onde todos os alunos passam a

pensar mais no grêmio. É também uma hora de renovação, quando muitas pessoas resolvem

se candidatar e posteriormente atuar no grêmio.

Page 7: Estudo aos Grêmios Estudantis

7

Eleições costumam ser um período crucial, quando mudanças que já estavam se

configurando no colégio e nos alunos sobem a tona e podem mudar de uma vez as linhas que

eram adotadas pelos grêmios anteriores. E isso pode ser tanto para o bem quanto para o mal.

O marketing pode eleger não a melhor chapa, mas a que fala o que o aluno quer ouvir, assim

como acontece nas eleições da política de nosso país. Um grêmio que só quer fazer festas e

diz que não vai mexer nessas coisas podres de política, hoje em dia, consegue a simpatia de

muitos estudantes, porque se adequa à mentalidade comum, mesmo que ela seja fruto de uma

manipulação profunda do sistema. Muitas diretorias também ajudam essa ou aquela chapa

que se encaixa melhor em seus interesses, e isso pode ser um problema quando os interesses

dos alunos batem contra os interesses da direção da escola.

Para contextualizar melhor esse embate entre alunos e diretorias de colégios, é preciso

ver um pouquinho da história da educação e dos fatores que com ela interagem:

A educação está passando por um momento de transição no mundo. Aliás, é difícil

achar alguma coisa que não esteja mudando. Com a consolidação do capitalismo como

corrente política hegemônica mundial e dentro dele a supremacia da corrente neoliberal (à

qual o Brasil vem se dirigindo sob o governo de Fernando Henrique) exerce-se grande

influência nas relações não só econômicas, mas principalmente sociais, alterando o papel do

indivíduo na sociedade, os seus objetivos de vida e a sua percepção do mundo em si.

Tudo, em decorrência disso, é e caminha cada vez mais para um grande

individualismo e egoísmo. Em uma sociedade fundada na competição, alguns sobem ao poder

e não pensam, em nenhuma hipótese, em dispensar o que têm por uma melhoria geral. E

nunca eles tiveram tanta tecnologia para se manter lá em cima.

A educação seria uma forma de estabelecer uma igualdade entre todos. Pelo menos

uma igualdade de oportunidade, e a partir daí cada um seguiria por merecimento próprio. Mas

não é interesse de quem manda que isso ocorra.

Assim se arquiteta um sistema de educação que é apenas para manter o “Status Quo”,

a ordem vigente. As poucas chances que os pobres tinham vão sendo podadas. As escolas

particulares mantêm a classe média e alta enquanto a escola pública é sucateada para que os

mais pobres não ascendam socialmente e compitam com os filhos dos ricos. E a subordinação

da educação a essa mentalidade de egoísmo e ambição acolhe como objetivo principal o

dinheiro, ao qual tudo na sociedade passa a girar e a se guiar.

Deveríamos lutar contra isso, mas como eu disse, o individualismo prevalece. Para

quê lutar pelos outros se eu posso ganhar mais dinheiro se investir esse tempo em mim?

As empresas ganham cada vez mais poder e não existe mais ética, apenas se tenta se

dar melhor, ser mais rico. A própria escola passa a agir como empresa, se assemelhando a

elas em suas ações e objetivos.

Além disso, tanto o governo quanto a escola e a própria sociedade, todos os três já

dominados pela mentalidade egoísta-capitalista, definem os novos rumos do conteúdo

educacional que será oferecido aos alunos. A educação não busca mais uma consciência

crítica dos alunos, nem uma preparação para a sua vida adulta, de tanto que se perdeu em seu

próprio sistema. Tanto que, depois que sair do colégio, praticamente tudo que foi aprendido é

esquecido pela pessoa, porque é inútil em sua vida. Quando há uma real capacitação do aluno,

ela costuma vir ausente de conteúdo ético, e esse “poder” que é dado ao estudante facilmente

é usado para fins nefastos e egoístas, como manipulação e exploração de outras pessoas, ao

invés de utilizar seu conhecimento para ajudar o mundo.

Como a nova geração poderá melhorar a humanidade se está sendo ensinada a cometer

os mesmos erros das gerações anteriores? Um movimento social de verdade deve batalhar

acima de tudo para mudar uma mentalidade social, em vez de mudar quem está por cima ou

por baixo e continuar a mesma prática de dominação e exploração.

Page 8: Estudo aos Grêmios Estudantis

8

- Ensino Privado

As escolas particulares, por terem um dono e estrutura semelhante às empresas,

têm como objetivo o lucro. Algumas vão com muita ‘sede ao pote’ e exageram nas

mensalidades, não oferecendo um ensino adequado.

Além disso, existe a famosa “Fórmula da Felicidade”: Os pais querem que os

alunos tirem notas altas no boletim e a direção quer que os pais continuem pagando.

Então ela faz provas facílimas para os alunos, para as quais eles nem precisam estudar.

Com as notas altas de seus filhos, os pais continuam felizes pagando as mensalidades,

a direção fica feliz por estar recebendo dinheiro e o aluno fica feliz porque não precisa

estudar. Todo mundo fica feliz, mas a educação vai por água abaixo.

Existem também os colégios “PPP” (Papai pagou, passou), para onde os alunos

que vão tomar bomba se transferem no final do ano. Esses colégios, mediante uma

soma em dinheiro, dão o diploma de conclusão do ano para o aluno, que então pode

voltar para o seu colégio anterior no início do próximo ano. Essas práticas antiéticas

de educação prejudicam o próprio estudante, que no final sempre termina sem

aprender o que precisava.

Um grêmio estudantil consciente teria que alertar os alunos para os problemas

da escola, por sinal, reflexos do capitalismo. Então, haveria um embate. De um lado,

alunos com consciência política e um pouco de bom senso. De um outro, a Diretoria,

pregando que o colégio é bom e não é caro, lógico que usando de sua bem aparelhada

máquina administrativa. Vale lembrar ainda que, nesse tipo de instituição, professores

e funcionários são meio que impedidos de ser contra a Diretoria, que é chefe, senão,

rua mesmo. Da mesma forma que é muito fácil expulsar certos alunos “problema”.

Ao invés de fazer um movimento que bata de frente com a direção, em relação

aos muitos problemas da educação particular, talvez seja mais eficaz investir na

mudança de mentalidade capitalista, que normalmente já está profundamente

enraizada nos alunos, pais e funcionários da escola. Projetos que estimulem valores

como solidariedade e combatam o individualismo, egoísmo e ambição típicos do

capitalismo são bons para isso, tais como trabalho voluntário, doações, projetos

ecológicos e atividades de integração com os alunos. Para problemas em que é preciso

encarar a diretoria de frente, é uma boa estratégia usar a Associação de Pais do

colégio, se houver. Caso não haja, é um bom projeto puxar a sua formação.

- Ensino Público

A princípio, instituições idôneas, bem administradas por governos que querem

o bem comum (Há! Há! Há! Há! Há!).

O que se observa no Brasil é um verdadeiro sucateamento do Ensino Público.

As verbas são cada vez menores, não há material nem professores em quantidade e

qualidade suficientes. Tudo porque é interessante para quem domina que o povo seja

burro e continue elegendo essa gente.

E dar diploma a rodo rende prêmio da UNICEF. Esse é o caso da Escola

Plural, que foi adotada na rede municipal e que, por não poder reprovar o aluno, não

tem como cobrar dele que aprenda a matéria. O resultado são alunos com diploma de

2º grau que mal sabem escrever. Para impelir a implantação do sistema plural nas

escolas, a prefeitura oferece uma verba a mais para as escolas que a adotarem. Tem-se

muito medo de esse sistema ser adotado nas escolas estaduais (o que já está para

acontecer) e, logo depois, nas federais.

Como se não bastasse, algumas escolas têm seus diretores nomeados pelos

governantes. Estes, que deveriam ir à secretaria de Educação ou ao Ministério buscar

Page 9: Estudo aos Grêmios Estudantis

9

o bem da escola passam a ser apenas fantoches dos governantes. Isso em troca de

benefícios e promessas de maiores cargos.

Assim, alunos que sejam cientes de que não há verbas para a escola ou mesmo

que esta não é bem vista pelo governo, não são só inimigos desta, mas também da

diretoria do colégio. Tornam-se vítimas de perseguição na escola e, se são poucos, a

naba entra mesmo.

Em ambos os casos, a diretoria faz propaganda do colégio para os alunos e

consegue iludir grande parte. É meio injusto, os estudantes precisam estudar e ainda

lutar pelos seus direitos, mas a direção da escola pode contratar pessoas para ficarem o

tempo todo ferrando os alunos do grêmio...

Comentário: hoje em dia não é tão fácil para o estudante perceber todo esse

esquema de manipulação, porque o inimigo não ‘põe a cara’. No tempo da ditadura,

havia um inimigo exposto e a luta era clara. Hoje, com a chamada “ditadura sutil”,

para alguém lutar contra o sistema é mais difícil e mais complicado ainda é convencer

o colega que se senta ao seu lado que o mundo não é tão perfeito como a imagem que

vendem dele.

- Educação Técnica

A educação profissionalizante capacita o estudante a um serviço específico,

normalmente dentro da área industrial. No capitalismo, quem realmente manda cada

vez mais são as empresas. E se elas acham que a educação técnica pode dar a elas

mais lucro, elas resolvem mandar nela a partir de então, financiando-a, desde que essa

educação obedeça as suas condições e interesses.

O estudante técnico passa então a ter cada vez menos conhecimento teórico de

sua área e menos consciência crítica, se tornando um “apertador de parafuso”, uma

mão de obra barata que só repete e nem entende direito o que está fazendo. Se a

empresa muda o seu sistema de produção por um mais moderno, então o ex-estudante

não tem mais onde se empregar. Em alguns lugares do país, esse poder das empresas

já está tão explícito que os cursos se chamam Ford-I, Ford-II, Ford-III, etc... De

objetivo público, a educação passa a atender objetivos privados.

Os colégios secundários técnicos e universitários federais foram por muito

tempo um reduto de educação pública de qualidade, onde os alunos de escolas

públicas brigavam para passar em um apertado exame de seleção para poder usufruir

dessa educação.

Então o Governo Federal lançou a Reforma da Educação, para corrigir uma

falha que era imperdoável: os pobres estavam entrando nas universidades, e através do

2º grau dos colégios técnicos. Com a Reforma, os colégios não produziriam mais

conhecimento, só trabalhadores. São planos dessa reforma:

Diminuir o ensino teórico e aumentar a prática “burra” nos cursos técnicos.

Aumentar o financiamento e o gerenciamento do currículo dos cursos pelas

empresas privadas.

Sucatear e, posteriormente, extinguir o ensino médio das instituições federais,

seja reduzindo a qualidade, o número de vagas ou não repondo os professores que

forem se aposentando (ou então os substituindo por professores contratados

temporariamente, em condições trabalhistas bem piores).

Essa reforma se apóia na LDB, Lei de Diretrizes e Bases, aprovada pelo

governo, e só não foi totalmente implementada ainda devido à luta organizada dos

professores, funcionários e estudantes contra essas mudanças. Hoje a qualidade do

ensino federal já caiu dramaticamente, mas o alto nível dos alunos, devido à prova de

seleção, ainda segura o nível dos colégios.

Page 10: Estudo aos Grêmios Estudantis

10

Organização Administrativa:

Nesse tópico trataremos das diversas formas de organização dentro de um grêmio,

abrangendo funções, estruturas de poder, comunicação entre os membros, reuniões e

infraestrutura. É essa organização que possibilitará uma coesão e harmonia entre os membros,

potencializando da melhor forma possível a ação do grêmio.

Existem várias formas de organização para entidades estudantis, e estudaremos

algumas, pois cada uma adequa-se melhor a um ou outro caso. O que é bom citar é que

nenhuma estrutura é impassível de alterações durante uma gestão, já que os grêmios sofrem

transformações. Pelo contrário, elas devem ser flexíveis para que não se impeça o trabalho de

alguém por causa de ‘burocracia’.

- 1ª Forma – Presidencialista

Embora não seja o modo mais recomendado de gerir um grêmio, é o mais encontrado.

Tem em seu centro a figura do Presidente do Grêmio, rodeado pela Diretoria Executiva

(tesoureiro, secretário, etc.).

Demasiadamente centralizadora, a estrutura presidencialista depende demais do Sr.

Manda-Chuva, ficando todo o Grêmio, bem como os demais alunos, à mercê de sua boa-

vontade. Recomendada apenas para casos em que falta iniciativa, sendo necessário que

haja alguém para designar as tarefas.

- 2ª Forma - Liberal

Ocorre geralmente onde o presidencialismo sofreu um grande desgaste. Nesse grêmio,

cada um faz o que pensa, sem uma avaliação de atitudes.

É interessante observar que uma chapa vence por propor ideias e coisas a fazer.

Empossada, passa a fazer isso, mas cada um vê uma forma de fazer. Quando esse

desencontro é exagerado, e as reuniões não conseguem chegar a um consenso, há a

estrutura liberal, cada um faz força para um lado e o barco não anda. Sem falar que causa

divisões no Grêmio.

- 3ª Forma - Colegiada

Uma espécie de meio termo entre as duas primeiras. Não há uma figura central, mas

há uma coalizão de atitudes. Emprega-se o que for escolhido pela maioria. Nota-se que o

grêmio não deve perder o seu caráter voluntário, então ninguém é obrigado a participar de

algo que não queira, mas o bom senso prevalece e normalmente as pessoas concordam em

agir pelo conjunto.

Recomendada para entidades compostas por estruturas heterogêneas, onde há muita

discussão. Nas reuniões, os assuntos são discutidos e votadas as propostas.

Torna-se frágil quando um determinado grupo com segundas intenções consegue ter a

maioria nas reuniões, desvirtuando o Grêmio de seus objetivos.

- 4ª Forma - Comissional

Neste tipo de estrutura os integrantes dividem-se por áreas de atuação (política,

organização de eventos, jornal...). Cada área fica responsável pela execução dos

respectivos projetos, de acordo com o gosto pessoal de cada integrante.

Se mal sedimentados, os grupos ficam sem interação entre si e quando uma comissão

precisar de ajuda de outras pessoas, as pessoas das outras comissões podem não ajudar.

Isso causa uma segmentação muito ruim no grêmio.

Page 11: Estudo aos Grêmios Estudantis

11

Podem aparecer junto a qualquer uma das outras três formas administrativas, e vale

lembrar que as comissões são referências, não ficando as pessoas presas a suas áreas.

Todos podem atuar em qualquer projeto, se necessário.

Fundação de um Grêmio

Este tópico destina-se a ajudar as pessoas que pretendem criar um Grêmio em uma

escola, com alguns passos importantes e detalhes que não podem ser esquecidos.

Geralmente a criação de um Grêmio se dá por insatisfação dos alunos com alguma

situação em específico, por exemplo, o fechamento do Centro de Esportes do colégio. No

caso exemplificado, os alunos se organizariam com o fim de manter o Centro de Esportes, e

esta mobilização poderia originar um Grêmio Estudantil que, certamente, tornaria a luta mais

forte.

Neste caso é importante ter cuidado, pois a diretoria da escola pode ver esta iniciativa

com maus olhos e arrumar meios de impedir a criação do Grêmio. Pode usar de artifícios

como, por exemplo, colocar os pais contra a Comissão Pró-Grêmio através da APM

(Associação de Pais e Mestres). Ou então pode querer 'adotar' o Grêmio, transformando-o em

um órgão dependente da Diretoria, um Grêmio Sandy e Júnior.

Outro caso relevante é a retomada de funcionamento de Grêmios em escolas. Isso

ocorreu em muitos lugares após o fim do regime militar, em que os Grêmios eram fechados.

Acontece também em escolas que possuem uma diretoria antidemocrática ao extremo, que

impediu o funcionamento do Grêmio, forçando uma 're-fundação'.

Independente do motivo pelo qual se pretende fundar um Grêmio, são necessárias

algumas providências, dentre as quais: fazer um abaixo assinado para provar que os alunos

estão mesmo interessados em fundar o Grêmio, e convocar uma reunião (de preferência uma

Assembleia dos Alunos, senão uma reunião de representantes de turma) para criar a Comissão

Pró-Grêmio. Esta Comissão terá a função de elaborar uma proposta de Estatuto para o

Grêmio (há um modelo de Estatuto em anexo) e convocar a Assembleia de Fundação.

Nela, será apresentada a proposta de Estatuto aos alunos, que podem fazer sugestões e

irão votá-lo. Devem ainda ser decididas as questões relativas ao período transitório - enquanto

não há Diretoria de Grêmio eleita - como, por exemplo, a escolha da Comissão Eleitoral do

Grêmio e um esboço de Calendário Eleitoral. É importante sejam feitas atas oficiais,

assinadas pelos presentes, tanto na assembleia de criação da Comissão Pró-Grêmio quanto na

Assembleia de Fundação.

Uma coisa importante é saber que existe a lei que regulamenta a existência de

Grêmios Estudantis. Ela diz que eles não dependem de autorização da escola para funcionar e

garante que a escola deve ceder o espaço para o Grêmio. Diz ainda que o Grêmio deve ser

independente da diretoria da Escola, bem como de qualquer outro poder.

No caso da fundação de um Grêmio, é necessário um cuidado especial com as

Entidades Estudantis. Elas costumam se aproveitar de estudantes inexperientes com o

movimento para poderem controlar o Grêmio em função de interesses próprios nem sempre

idôneos.

Vale lembrar que para se conseguir o registro do Grêmio em cartório é importante

levar a ata da Assembleia de Fundação e o estatuto aprovado, bem como a ata de posse da

primeira Diretoria do Grêmio.

Comunicação interna do Grêmio:

É uma das questões que sempre pegam no Grêmio, pois se não se está conseguindo

conversar internamente para se tirar quais as atividades que irão ser feitas, provavelmente não

Page 12: Estudo aos Grêmios Estudantis

12

chegará quase nenhuma proposta aos alunos. Sabendo disso, uma boa comunicação interna

entre os integrantes do grêmio e as pessoas que nele circulam permite, com certeza, uma

melhor representatividade da entidade. Quando se está afinado com as causas do Grêmio,

todos os integrantes geralmente se mantêm informados, não esperando que as reuniões e

outros encontros informem o que está acontecendo.

Encontros periódicos com todo o grupo do Grêmio permitem que as pessoas se

posicionem diante dos fatos e avaliem o movimento que está sendo feito, além de ser um

momento onde todos estão juntos (é o grupo por uma causa comum, e isso é uma grande

fonte de motivação). Esse entrosamento interno é muito importante, caso o contrário, nas

reuniões com os representantes de turma ou outros indivíduos, podem sair brigas entre os

próprios participantes do grêmio, o que desgasta quem está assistindo e passa uma imagem

ruim da entidade. Também é necessário que os integrantes se mantenham informados para o

caso de algum aluno ou qualquer indivíduo ou entidade chegar ao Grêmio para pedir

informações sobre algo, principalmente se for a posição do grêmio sobre determinado

assunto. É possível (e natural) ter divergências, mas não desgastar o movimento.

Meios para comunicação interna

Achamos importante, por exemplo, existir um mural, bem simples, dentro do grêmio, já que

várias pessoas passam no grêmio e nem sempre existe alguém para atender telefones, deixar

recados ou dar informações. O uso do mural interno tem se mostrado muito eficiente, já que

as reuniões, as decisões, os projetos em andamento e os recados têm sido pregados no mural e

isso mantém os interessados informados das decisões do Grêmio. Além disso, através desses

recados muitos estudantes novos entraram para o grêmio, por se interessar pelos assuntos que

estavam ali pregados.

Outras estratégias de comunicação interna seriam:

- Caderno de ata de reuniões, onde são anotados, sucintamente, os assuntos

debatidos em cada reunião e as decisões que foram tomadas, sendo bom

para ser consultado por quem não pode estar presente, ou para se certificar

da posição do grêmio sobre um assunto.

- Arquivo com os nos

de telefone, e-mail e endereço de cada participante,

para comunicação em caso de urgência.

Reuniões internas

O grêmio precisa ter pelo menos uma reunião geral semanal, em dia e horário fixos, de

outra forma é muito difícil manter um movimento estudantil coeso. A duração da reunião

pode variar, possuir uma duração fixa ou ser definida no início de cada encontro (a

concentração mental sempre vai diminuindo ao longo da reunião, além do que muita gente

pode ter horário de ir embora). Alguém deve ficar responsável de anotar os pontos

importantes da reunião (como assuntos, decisões e argumentos), para um balanço e uma

conclusão ao final. De preferência, as reuniões devem ser abertas a quem quiser participar,

com direito de voz e voto (caso seja estudante, ou se participar do grêmio mesmo assim).

Além das reuniões semanais, reuniões extras devem ser marcadas sempre que

necessário, e principalmente em relação a assuntos de urgência. Quando apenas alguns

integrantes do grêmio estão envolvidos em um projeto, também é bom que marquem reuniões

separadas para discutir o projeto que lhes diz respeito.

Existem diferentes tipos de reunião, mas todas costumam ter em comum um ou mais

assuntos para serem discutidos e sobre os quais é necessário tomar decisões e planejar a ação

do grêmio até a próxima reunião. No princípio, enquanto as pessoas ainda estão chegando,

Page 13: Estudo aos Grêmios Estudantis

13

escolhe-se alguém para ir anotando o que for importante ao longo da reunião, e começa-se a

tirar os temas a serem discutidos e a ordem em que serão abordados. É comum começar a

reunião com informes dos diferentes integrantes sobre fatos relevantes ao grêmio e sobre o

que foi feito no grêmio desde a última reunião.

Existem reuniões diretas, onde as pessoas levantam as mãos para falar ou, em caso de

necessidade, cortam a fala de alguém para fazer comentários. Quando essas reuniões

envolvem muita gente e começam a ficar bagunçadas, é comum decidir que quem quiser falar

deve colocar o nome em um papel e esperar a sua vez. É aí que mora o perigo, muitas

reuniões resultaram em fracasso quando se faz isso. Quando há pessoas de opiniões contrárias

(principalmente se são de correntes ideológicas diferentes e não estão dispostas a abrir mão

delas ou a considerar a opinião do outro), é de praxe que comecem a se inscrever várias vezes

na reunião para fazer discursos repetitivos que todo mundo está cansado de saber, e a reunião

segue indefinidamente. Como normalmente o tempo é curto porque os estudantes têm suas

outras obrigações, acaba-se perdendo muito tempo por nada. Em situações como essa, deve-

se fazer uma intervenção dura repreendendo os dois que estão discutindo para ver se criam

vergonha na cara. Lembre-se que as reuniões têm como objetivo discutir e decidir algo, e

quebrar as normas combinadas sobre a reunião por um motivo nobre é muito justo.

Outro problema comum é quando o tempo é curto e há muitas coisas para serem

decididas. Nesses casos o que não é prioridade precisa ser descartado, pelo menos

temporariamente. Quando a reunião envolve uma ampla discussão sobre o contexto de uma

ação do grêmio, é preciso limitar o tempo da discussão para que a reunião não termine sem

que as decisões necessárias sejam tomadas. É melhor combinar uma ação com uma discussão

rápida do que não combinar ação nenhuma; o grêmio é para ajudar os estudantes e não para

que meia dúzia de alunos fique tendo aula de sociologia. Cabe aos integrantes do grêmio

conversar com quem gosta de falar muito e agir pouco, e infelizmente há muita gente assim,

para que a pessoa entenda, mude seu comportamento e o grêmio funcione melhor.

No fim da reunião, deve-se rever todas as decisões tomadas e planejar o que cada

pessoa vai fazer até a próxima reunião. Cada pessoa deve assumir seus compromissos por

vontade própria, mas deve ser cobrado que quem assumir algo deve fazer mesmo, senão as

reuniões acabam sem sentido. Algumas pessoas gostam de terminar reuniões estressantes

indo para barzinhos ou fazendo alguma atividade em conjunto para relaxar.

Comunicação externa

A comunicação do grêmio com os estudantes é importante tanto no sentido de mantê-

los informados de coisas de seu interesse, quanto para saber as suas opiniões, quanto para que

continuem lembrando que existe um grêmio onde se pode lutar pelos seus interesses. Existem

vários meios, como: mural externo, jornalzinho, jornal-mural, faixas, cartazes, etc.

Sempre que for necessário uma comunicação e discussão com os estudantes, o grêmio

deve fazer uso das reuniões do Conselho de Representantes de Turma (CRT) e das

Assembleias Gerais.

As reuniões de CRT são boas para recolher opinião dos alunos e discutir certos temas.

Também são muito úteis para passar uma comunicação a todos os alunos, pois cada

representante pode passar o recado em sua respectiva sala. Para uma boa reunião é preciso:

- Preparar o(s) tema(s) a ser(em) discutido(s), material impresso (talvez um

resumo com os tópicos a serem discutidos), local e horário, para uma

reunião organizada. Uma reunião interna do grêmio é uma boa, para se

preparar para um CRT; é preciso de pessoas por dentro do assunto para

conduzir a reunião.

Page 14: Estudo aos Grêmios Estudantis

14

- Espalhar avisos em locais estratégicos do colégio ao menos 1 ou 2 dias

antes.

- Avisar em todas as salas um dia antes, ou ao menos chamar cada

representante de turma e, se for de extrema importância, também avisar no

dia da reunião. (avisar em cada sala é muito cansativo, mas muito eficaz).

Comumente as reuniões de CRT são realizadas nos horários de intervalo (recreio) de

cada turno. É uma boa estratégia abrir a reunião para qualquer aluno que esteja interessado,

para ampliar a discussão. Durante a reunião, deve-se fazer uma lista de presença, pois caso

tenha sido tirada uma atividade ou decisão, são essas pessoas presentes que fundamentam a

ação.

Já para se tomar uma decisão importante em nome de todos os alunos, é realizada a

Assembleia Geral. Todos os alunos devem ser convocados, com cartazes, panfletos, passagem

dentro das salas de aula, panfletagem e divulgação por aparelhagem sonora. O tema deve ser

discutido, os alunos devem ter direito de voz e a decisão é feita mediante votação. Deve-se

passar uma lista de presença, como nos CRT’s.

Em situações emergenciais em que uma informação precisa ser massivamente

divulgada, solta-se um panfleto, para que o maior número de pessoas seja atingido. Panfletos

de meio papel ofício, imprimidos frente-e-verso, tem uma boa visualização e são

relativamente mais baratos.

Desde a época da ditadura que os panfletos de grêmio, movimentos estudantis e

políticos seguem uma “linha de abordagem motivacional” para com o leitor. Nesse tipo de

panfleto é muito comum o uso de palavras de ordem (Fora FHC! Fora FMI! Fora Alca!), de

slogans e jargões (‘Para um movimento combativo e atuante’, ‘contra o neoliberalismo’,

‘companheiros’), de gerúndios (‘estar organizando, para estar conscientizando, para estar

combatendo’, tudo em seqüência na mesma frase ou em vários pontos do texto), além de um

uso excessivo de ordens aos alunos acompanhadas de pontos de exclamação (Lute! Rebele-

se! Diga não!). Parece que o grêmio está gritando com o aluno para que ele acorde, ou para

que ele obedeça sem pensar. E normalmente o mesmo estilo de expressão do panfleto

costuma ser repetidos nos discursos públicos.

Se o sistema dominante se utiliza de slogans e jingles (musicas de comercial e

campanha política) para manipular as pessoas, o grêmio não precisa seguir o mesmo caminho.

Algumas entidades já perceberam isso e têm melhorado os seus discursos e panfletos.

Folhetos mais explicativos e menos apelativos, que, através de um papo mais cabeça,

mostram argumentativamente ao leitor certo ponto de vista, tratando-o com muito mais

respeito. Então, se o leitor achar que esses argumentos são realmente válidos, ele passa a

participar do movimento, e de uma forma muito mais consciente.

Para elaborar o texto, é mais eficaz que uma ou duas pessoas redijam para depois ser

apreciado e modificado pelo restante do grêmio, porque é difícil e vagaroso elaborar um bom

texto com muitas pessoas ao mesmo tempo.

Infraestrutura

A função do grêmio é executar uma ação, normalmente no meio estudantil, que pode

ser de diferentes naturezas. Mas sempre com o intuito de ajudar o mundo. A infraestrutura é

importantíssima para potencializar essa ação.

Um grêmio deve possuir uma estrutura básica, usualmente fornecida pela escola, e, se

não possuir, é preciso batalhar por ela. É bom que o grêmio tenha:

- Uma sala específica, de fácil acesso a todos os estudantes.

- Um arquivo, para guardar documentos importantes, textos, projetos e outros

papéis. Esse arquivo deve estar sempre bem organizado e seu acesso deve ser

Page 15: Estudo aos Grêmios Estudantis

15

limitado a integrantes do grêmio (pessoas que não participam do grêmio só devem

ter acesso a ele se alguém do grêmio estiver olhando). A divisão de pastas por

assunto deve ser clara (política, comunicação, projetos administração, cultura,

atas, etc) e deve ser respeitada.

- Cadeiras e mesas, para reuniões e uso cotidiano.

- Um ou mais armários, para guardar o material do grêmio. É bom que haja um

armário trancado à chave para guardar objetos de maior valor. É comum deixar

algum armário ou espaço para os estudantes deixarem suas coisas, como um

guarda-volume de objetos de pouco valor, mesmo que ninguém se responsabilize

por objetos extraviados.

- Telefone para se comunicar e, principalmente, para poder ser acessado por

estudantes, pais, escola, instituições e comunidade externa.

- Material escolar, inclusive tinta e cartolina, para fazer cartazes. Esse material

escolar deve ser bem guardado, porque é muito fácil de ser perdido, ainda mais em

uma comunidade de estudantes.

- Infraestrutura de informática (computador, impressora, internet, scanner), que

aumenta em muito o poder de ação e de prestação de serviços do grêmio.

- Xerox, para os estudantes e como forma de renda para o grêmio.

- Espaço reservado em um mural do colégio, para comunicação com os

estudantes.

- Aparelhagem de som (principalmente microfone e caixas de som deslocáveis),

para comunicação com os estudantes e para promover música nos intervalos. Uma

mesa de som também é importante.

- Uma máquina fotográfica e filme, imprescindível para registrar momentos de

importância coletiva (manifestações, festas, campeonatos, etc.), incentivando

mobilizações futuras e registrando a história do grêmio.

- Estrutura de lazer para os estudantes, como TV, vídeo, videogame, mini-

system, fitas, cd’s, lp’s, bolas, baralho, sinuca e outros. Alem de ser função de o

grêmio proporcionar entretenimento e qualidade de vida aos alunos, é um bom

meio de atrair novas pessoas para o grêmio. Deve-se apenas tomar cuidado para

que os integrantes do grêmio não deixem de fazer o que devem para ficar

brincando. Na época da ditadura, as estruturas de lazer nos grêmio e organizações

estudantis universitárias foram incentivadas pelo governo, desviando os objetivos

da organização estudantil, e não podemos cometer os mesmos erros.

- Mural interno do grêmio para comunicação interna.

- Carimbo oficial par autenticar documentos, cartazes e folhetos. (Isso deve ficar

bem guardado)

A conservação e aparência do grêmio e de sua infraestrutura é importante para deixá-

lo sempre convidativo aos estudantes. Além disso, convidados de externos “mais

fresquinhos” que venham a ser convidados para participar de reuniões no grêmio costumam

ser meio chatos em relação ao cenário.

Por último, é preciso relembrar que o objetivo do grêmio é uma ação, e a

infraestrutura é apenas um meio de ajudá-la, e não a finalidade última da entidade. Muitos

integrantes de grêmios dão muita importância ao material (e isso tem sido muito visto

principalmente em relação a computadores e à estrutura de informática) e acabam ficando o

tempo todo por conta disso enquanto poderiam ser muito úteis em outras ocupações.

Page 16: Estudo aos Grêmios Estudantis

16

Projetos

Registro do Grêmio

Exibições culturais

Bandas

Curta-metragens

Animes

Processos e Ações Judiciais

Taxa de matrícula

Coleta seletiva de lixo

Jornal

Jornal-mural

Festas

Computador

Xerox

Biblioteca

Venda de uniformes

Abaixo-assinados

Rádio Comunitária

Prestação de contas

Representação estudantil

Eventos culturais gratuitos

Page 17: Estudo aos Grêmios Estudantis

17

Registro do Grêmio

É importantíssimo que o grêmio seja registrado, apesar da gigantesca burocracia que

se enfrenta para fazer isso. Sem estar registrado judicialmente o grêmio não pode representar

os alunos judicialmente e muitas instituições (inclusive a própria escola) podem não

reconhecer o grêmio como representante válido dos estudantes.

O grêmio, como é uma entidade, deve ser registrado no cartório Ger Oliva da cidade.

São documentos exigidos para registra-lo: Estatuto aprovado em assembleia, ata de posse e

ata de fundação também aprovada em assembleia. A assistência de um advogado é

imprescindível na obtenção destes documentos e em todo o processo de registro, pois uma

falha pode fazer ter que começar tudo de novo. Como obter ajuda de um advogado será

tratado no tema “Processos e Ações Judiciais”.

Nota: Mesmo não podendo agir judicialmente, o grêmio é obrigado a responder

judicialmente por seus atos.

Exibições Culturais

As exibições, além de serem entretenimento, devem servir como formadores de

caráter e moral dos alunos. Filmes que agucem a consciência crítica, bandas e grupos de

dança que não participem da mídia comum são bons exemplos. Exibições sempre têm boa

aceitação dos alunos e do colégio. Sempre costuma haver integrantes do grêmio que gostam

mais de mexer nessa área, podendo ser uma boa ideia deixá-los por conta disso.

Bandas

Shows nos finais de aula ou na hora do almoço. É de bom hábito incentivar a

apresentação de bandas dos próprios alunos, professores e funcionários. Deve-se evitar que o

show entre no horário de aulas, para evitar reclamações de professores e diretoria por causa

do barulho ou por prende os alunos. Variação de estilos de apresentação em apresentação é

importante para atingir os diversos grupos de estudantes.

Uma iniciativa que tem se mostrado proveitosa é a do “Violão e Voz”, nos intervalos e

fins de aula. É fornecido aparelhagem de som e violão e os alunos que sabem tocar ou cantar

sobem para apresentar. É bem informal e as pessoas costumam gostar.

Curtas-metragens

Curtas-metragens são filmagens de curta duração, normalmente filmadas por

cinegrafistas independentes ou amadores. Atualmente estão fazendo sucesso pelos roteiros

inteligentes e linguagens não convencionais

Por ser uma concepção diferente de fazer filme em relação aos convencionais que se

vê na praça, causa um estranhamento no início (e depois também). Como não se tem a

pretensão de produzir o curta para lotar salas de cinema e ganhar dinheiro, geralmente, as

produções são bastante diversificadas, criativas e críticas. Pra lotar cinemas, no geral, é só

falar o que o grande público supostamente anseia. No fim, os produtores só queriam vender e

nem se preocupam com o objetivo passado. O curta vai bem além desse objetivo.

Além da exibição no colégio, podem-se fazer oficinas relacionadas ao cinema

(inclusive cinema amador).

Page 18: Estudo aos Grêmios Estudantis

18

Animes

Animes são desenhos animados japoneses ou que seguem esse estilo, e criaram uma

comunidade cultural espalhada pelo mundo inteiro. É preciso saber que existem animes de

vários estilos, desde os críticos ou introspectivos até os de violência gratuita, pornográficos e

infantis, portanto é bom selecionar bem o que se vai passar. Existem diversos clubes de fãs de

animes, normalmente intitulados clãs.

Processos e ações judiciais

É normal que entidades que lutam pelos interesses dos alunos acabem em alguma hora

se deparando com a justiça, ou por serem processados ou por que entrar com um processo é a

última opção que restou, após diálogo e pressão.

Toda pessoa ou entidade tem direito à acessória de um advogado público

(gratuitamente), para entrar com um processo. O problema é que esse advogado não costuma

ser especialista na área do direito aplicado à educação. Pode-se procurar um advogado

especializado no assunto no sindicato de professores, nas entidades estudantis, em partidos

políticos onde há militância estudantil O grêmio pode entrar com um processo pelo ministério

público. Ações ganhas no ministério público têm validade permanente, mas costumam

demorar vários anos tramitando de tribunal em tribunal até que um lado ganhe.

Uma alternativa mais rápida é o mandato de segurança. Assim que é dada a entrada no

processo, o juiz precisa dar uma liminar em 48 horas, que é um parecer que deverá ser

obedecido até que o processo receba uma decisão final. O problema do mandato de segurança

é que ele só é válido para uma situação específica, e se essa situação ocorrer de novo algum

tempo depois, ou com outras pessoas, é preciso entrar com outro mandato de segurança.

Se o grêmio não for registrado, é preciso reunir uma certa porcentagem do total

de estudantes do colégio para entrar com um processo em nome de todos os estudantes.

Lembramos também que um grêmio não registrado continua obrigado a responder

judicialmente por seus atos.

Taxa de matrícula

É dever dos governos municipais, estaduais e federais fornecer ao povo uma educação

pública, gratuita e de qualidade. Infelizmente não é o que ocorre, mas é dever de cada

estudante, professor e cidadão do país lutar e exigir os seus direitos.

Por lei, nenhuma escola pública (incluindo as universidades), pode obrigar o estudante

a pagar taxas, e muitos menos impedi-lo de estudar no estabelecimento no caso do não

pagamento. Mas o que se vê é que cada vez mais escolas estão cobrando taxas dos alunos,

para atendimento médico, uso de biblioteca, para matrícula e também para sua renovação ao

longo dos anos em que o aluno estuda.

O diálogo com o colégio é importante, porque, embora comumente não resolva, antes

de se tomar uma decisão mais drástica é preciso haver tentado resolver por todos os outros

caminhos. Os alunos também podem pressionar o colégio através de assembleias, abaixo-

assinados, passeatas e cartazes.

A técnica normal é a de combinar um boicote com os estudantes e, ao mesmo tempo,

entrar com um processo na justiça. Entrar apenas com o processo é ruim porque não envolve

os estudantes de forma participativa, pois é preciso lembrar ao aluno que ele deve lutar pelos

seus direitos, além de que a justiça pode ser lenta e não dar para impedir a cobrança a tempo.

(Mandatos de segurança são bons porque a liminar é dada em 48 horas).

Page 19: Estudo aos Grêmios Estudantis

19

Muitos colégios falam que o dinheiro da cobrança da taxa é usado na assistência

estudantil, mas não é o aluno que deve dar assistência a ele mesmo, e sim o governo que deve

liberar a verba para tanto. Além disso, a maioria das escolas não presta conta do uso que faz

desse dinheiro, simplesmente porque boa parte é desviada no meio do caminho.

Coleta seletiva de lixo

Campanhas ecológicas são boas porque não encontram muita resistência das pessoas,

e principalmente da direção da escola. É comum que participantes do grêmio que não gostam

de se envolver em questões de enfrentamento se sintam mais à vontade para se envolver

nesses projetos, e também é uma boa hora para chamar novos alunos para participar do

grêmio.

A coleta seletiva de lixo é uma das formas mais simples de ajudar o meio ambiente.

Consiste em implantar lixeiras de coleta seletiva espalhadas pela escola, que terão o lixo

recolhido pelos funcionários do colégio. Esse lixo deve ser colocado em um “container de

coleta seletiva” (que é uma lixeira maior, feita especialmente para isso), de onde será

recolhido pela(s) empresa(s) de coleta seletiva. Existem várias entidades que fazem coleta

seletiva de lixo. Pode-se também vender cada parte do lixo reciclado (papel, latas, plástico,

vidro, matéria orgânica) para empresas especializadas.

Um jogo de lixeira de coleta seletiva (com uma para cada tipo de lixo) sai de 100 a

500 reais nas lojas especializadas, enquanto o container sai por volta de 1000 reais. Existem

lixeiras com alguns defeitos, como vazamento de chorume e disseminação do mosquito da

dengue. Não costuma ser difícil conseguir financiamento (inclusive do colégio), para

implantar a coleta. É bom que os containers fiquem próximos à saída ou à garagem do

colégio, para que o caminhão de coleta seletiva possa descarregá-los de forma mais eficiente.

Se os containers ficarem do lado de fora do colégio, mas ainda sim perto da portaria ou

garagem, é melhor ainda, pois podem servir de LEV’s (Locais de Entrega Voluntária).

Jornal

O jornalzinho do Grêmio é uma prática comum em várias escolas, embora, devido aos

problemas básicos que todo grêmio enfrenta, o nº de edições não costume passar de 1 ou 2.

O ideal é que as matérias do jornal sejam feitas com a participação dos alunos, mas, a

maioria das vezes, se os participantes do grêmio não botarem a mão na caneta e escreverem

muitas das reportagens, o jornal não sai. Mesmo assim, se for preciso, deve-se atrasar um

pouco a edição do jornal para ele seja melhor elaborado. Entre as matérias do jornal pode

haver notícias do cotidiano da escola, informes sobre eventos que aconteceram ou vão

acontecer no colégio, textos de opinião dos alunos, dicas de programação cultural da cidade,

charges, poesias, além da comunicação do grêmio com os estudantes sobre o que ele está

fazendo e sobre como os estudantes podem ajudar.

É melhor que o jornal seja gratuito, através de patrocínios, de preferência se forem de

entidades e associações de ideais parecidos com o do grêmio.

Jornal-Mural

Murais pelo colégio são uma ótima forma de estabelecer comunicação entre o grêmio

e os alunos, embora na maioria dos colégios esse recurso esteja sendo subutilizado. É muito

útil o grêmio ter também um mural próprio, específico para o seu uso.

Um ótimo hábito é o jornal-mural, com um espaço reservado em que as matérias, de

interesse dos alunos, sejam renovadas de tempos em tempos. Um integrante do grêmio deve

Page 20: Estudo aos Grêmios Estudantis

20

ficar responsável pelo jornal, selecionando as matérias, escrevendo e administrando o projeto.

Pode-se e deve-se haver um intercâmbio de reportagens publicadas no jornal mural e no

jornal impresso do grêmio.

Festas

Festas são muitos populares entre os estudantes e o entretenimento destes é também

função do grêmio. Shows e outros tipos de festa são uma boa hora par renovar o caixa do

grêmio, além de tornar o grêmio mais popular entre os estudantes.

Para realizar este tipo de evento, é útil fazer parceria com alguma empresa promotora

de eventos, que consegue com muito mais facilidade o material, os artistas e o que mais for

necessário, embora cobre uma fatia do lucro. Pode-se faze parcerias com as comissões de

formatura dos últimos anos de colégio, oferecendo ingressos e o direito de montar

barraquinhas de comida e bebida no show, em troca da comissão se comprometer a vender

um número X de ingressos. Também é preciso tomar cuidado para o evento não virar uma

furada e dar prejuízo no caixa.

Embora possam não ser os mais populares, o grêmio deve sempre que possível

preferir artistas de qualidade ideológica, com trabalhos que estimulem a consciência crítica

em relação com nossa realidade, ao contrário de vários grupos comerciais que participam

dessa massificação e alienação promovidas pela mídia. Bons critérios de seleção de bandas

são um meio de unir o lazer com uma boa ação social.

Computador

Um computador é muito útil tanto par o uso interno do grêmio quanto para prestar

serviço aos estudantes.

Internamente, serve como banco de dados de documentos e textos. O computador

também é bom para elaborar textos em conjuntos devido à facilidade de apagar, alterar e

mover certos trechos, além de já ficarem prontos para imprimir, o que evita de alguém ter que

levar o texto escrito à mão para alguém digitar em casa. No caso do grêmio adquirir uma

impressora, a situação se torna melhor ainda. Um computador e uma impressora facilitam a

emissão de documentos urgentes e a comunicação com os alunos através de folhetos afixados

pelo colégio. O scanner também é uma ferramenta muito útil.

Se for possível a instalação de internet no computador, o grêmio pode se comunicar

por e-mail com outras entidades, adquirir informações até manter um site no ar.

Externamente, o grêmio pode ceder o uso do computador para os alunos fazerem seus

trabalhos e, se houver impressora, imprimi-los. Impressoras matriciais ou que funcionam

alimentadas por fita são mais baratas para recarregar de tinta do que as a jato de tinta e laser,

além de serem mais baratas. É preciso ter muito cuidado ao deixar que estudantes que não

pertençam ao grêmio utilizem o computador, para que arquivos do grêmio não sejam

apagados e para que não estraguem o computador.

Existem também, no domínio da informática, muitos campos de ação de cunho social,

como softwares abertos (ex: Linux), doações por um click (www.clickarvore.com.br,

www.thehungersite.com, entre outros), ativismo hacker e difusão de informações pela

internet, e essas atitudes podem ser promovidas e/ou incentivadas pelo grêmio.

Xerox

Em vários lugares grêmios têm feito parcerias com empresas de xerox, para elas

prestarem esse serviço aos alunos no espaço do grêmio. A empresa cede uma máquina e um

Page 21: Estudo aos Grêmios Estudantis

21

empregado para permanecer tirando xerox e o grêmio recebe uma remuneração mensal fixa

ou uma porcentagem do lucro faturado. O grêmio também passa a ter direito a um número X

de cópias por mês.

Dentro de muitos colégios há o monopólio do xerox (além de outros, como o da

cantina, refeitório, ou venda de uniforme). Essa situação acaba resultando em altos preços, e a

concorrência feita pelo grêmio pode abaixar esse preço, ajudando muito os alunos.

É preciso, no entanto, manter a papelada do contrato com a empresa de xerox sempre

em dia, por prevenção para eventuais problemas.

Biblioteca do Grêmio

A grande dificuldade de fazer uma biblioteca, videoteca ou arquivo musical em um

grêmio é controlar a entrada e saída do material, para que não terminem vazias, devido a

calotes. O material, que pode ser doado ou comprado, deve ficar trancado à chave e só deve

ser aberto pelo(s) indivíduo(s) que assumir(em) a responsabilidade pela administração.

Identificação, telefone e endereço são fundamentais para contatar alunos que estiverem em

atraso. Multas por atraso em dinheiro devem ser simbólicas (na casa de centavos) e pode-se

proibir o aluno de pegar empréstimos por algum tempo.

Normalmente os grêmios não possuem material para consulta dos estudantes e dos

próprios integrantes do grêmio. Acontece geralmente que os integrantes do grêmio possuem

livros, fitas, etc, para seus usos próprios, mas não o deixam no grêmio, por razões diversas.

Seria interessante, então, criar uma biblioteca com os possíveis itens:

Livros

o Relacionados ao movimento estudantil

o As condições sócio-econômicas do país

o A situação da Educação

o Os movimentos sociais (ong’s, MST, movimento negro, índio, Greenpeace,

etc...)

Cultura

o Aspectos da cultura brasileira

o Movimentos artísticos, musicais, etc.

Arte

o Arte produzida pelos próprios alunos

o Livros de arte

Partituras/Cifras/Letras

É tradição em colégios que os estudantes toquem música no hall, pátio ou área

comum, e geralmente formem grupos nos intervalos, troca de horários ou mesmo no horário

de aula. Isso constitui uma forma de estar em grupo, principalmente hoje, onde se incentiva

ficar em grupo só para mostrar-se superior aos outros. Essas pequenas reuniões possibilitam

discussões talvez impossíveis dentro das salas de aula. Dessa forma, poderia se incentivar

para que os alunos continuem tocando. Uma forma é oferecer cursos, por exemplo, de violão.

Algo que também ajudaria seria a reunião em uma pasta com partituras e/ou cifras e letras.

Isso aumentaria o contato dos alunos com o Grêmio e a freqüência, além de ser uma medida

bem prática para aglutinar a gente. (Essa pasta ficaria para consulta no grêmio).

Discos/Fitas/CD’s

A música sempre aglutinou pessoas e isso não é diferente no grêmio. Comumente

pessoas vão ao grêmio para ouvir um disco e isso é uma boa forma de manter os alunos do

que está acontecendo e aumentar a sua afinidade com a instituição. Lembrando sempre que a

música e a arte em geral sempre contribuíram para as mudanças de atitude. O problema é

Page 22: Estudo aos Grêmios Estudantis

22

conseguir uma forma de fazer as pessoas conservarem o acervo musical do grêmio sem deixar

de usá-lo.

Venda de uniformes

O grêmio pode começar a vender o uniforme padrão do colégio, que é uma forma de

ganhar algum dinheiro para entidade. Mais importante que o lucro é o efeito da concorrência

com outro(s) ponto(s) de venda, abaixando o preço para os estudantes. Principalmente quando

essa venda é monopolizada.

Quando o fabricante de camisa se recusa a fornecer o uniforme ao grêmio, pode-se

pegar um uniforme e levar para outro fabricante, que facilmente copia o modelo de forma

idêntica.

Abaixo-assinados

Quando o colégio ou outra instituição contesta que uma decisão do grêmio não condiz

com a opinião dos alunos, pode-se comprovar a visão do grêmio organizando-se um abaixo

assinado, com nome, assinatura e R.G dos estudantes. Os abaixo-assinados devem ser sempre

oficializados (por protocolo ou por recibo) para que o destinatário não alegue que não o

recebeu. Não é preciso a assinatura de todos, pois uma grande quantidade já exerce uma

pressão considerável. Abaixo-assinados com reivindicações dos alunos à escola e/ou ao

governo também são bons. Apesar do poder desses documentos, geralmente não resolvem

nenhum problema sozinhos, sem a mobilização e o acompanhamento dos interessados.

A adesão do grêmio abaixo-assinados de fatores externos aos estudantes, recolhendo

assinaturas no colégio, é uma boa ação de cunho social. Hoje a população pode propor

projetos de lei se conseguir colher um número de assinaturas requisitado e a ajuda dos

grêmios faz diferença.

Rádio Comunitária

A radiofusão comunitária é um movimento que tem crescido no Brasil e no mundo e

está dando muita dor de cabeça nas empresas de mídia detentoras do monopólio da

informação. Por ser uma tecnologia acessível e relativamente barata, milhares de bairros e

associações já têm a sua própria rádio.

As vantagens das rádios locais de pequeno porte são várias, como valorização da

cultura regional, divulgação de informações específicas, relevantes às comunidades do local,

liberdade de expressão de ideias e divulgação para a população de coisas importantes que o

governo ou os donos das grandes emissoras não querem que se espalhe. Ao contrário, o atual

sistema de mídia tem servido para massificar opiniões visando o lucro e não a formação

crítica.

As grandes empresas de telecomunicação estão fazendo de tudo para que a radiofusão

comunitária (e também as TV’s comunitárias) seja barrada a qualquer custo. Para isso elas

exercem controle sobre o Ministério das Telecomunicações e usam de seu poder para atender

seus interesses. Atendendo a seus pedidos, foi decretada a lei das rádios comunitárias, nº

9612, que contém:

- Limitação para a potência das rádios comunitárias para no máximo 25 KW, para um

raio de no máximo 3 km de sinal transmitido.

- Obrigação de todas as rádios comunitárias de funcionar no mesmo sinal, 87,9 em BH,

além de proibir que exista mais de uma rádio comunitária dentro de cada área de 3

quilômetros.

Page 23: Estudo aos Grêmios Estudantis

23

- Proibição de uma rádio comunitária de passar um programa que foi feito em outra

rádio comunitária, ou de retransmitir o sinal de outra rádio.

- Obrigação de retransmitir a Hora do Brasil e o Horário Político.

- Proibição de usar materiais de rádio que não sejam autorizados pela Anatel.

- Toda uma burocracia que torna quase impossível o registro legal de uma Rádio

Comunitária.

Paralelamente a criação dessa lei, o governo criou o Projeto Alvorada, que é a sua versão

de rádio comunitária. Com dinheiro da ONU, concedeu rádios de pequeno porte para um

número gigantesco de políticos filiados aos seus partidos de direita. Essas milhares de rádios,

que já estão espalhadas por todas as grandes cidades do Brasil, ficam fechadas durante todo o

tempo e abrem na época das eleições, funcionando como uma imensa rede de alto-falantes

fazendo propaganda eleitoral para os partidos do governo. Na prática, o governo não tinha

como fiscalizar as rádios e quando elas mandavam o pedido de autorização para o Ministério

das Telecomunicações o governo olhava o endereço e acionava a polícia para fechar a estação

de rádio.

A constituição garante alguns direitos às rádios, mas a polícia só lembra-se deles se o

pessoal da rádio mostrar que sabe deles. Primeiro, algo que não tenha autorização do governo

não é necessariamente ilegal, só se contrariar alguma lei ou causar dano a alguém (a rádio

comunitária não faz nada disso). Segundo, a polícia não pode apreender o material, só lacrar a

rádio, e precisa da decisão judicial, mas se o pessoal da rádio não se lembrar disso, eles levam

mesmo.

Como não há meios de fiscalização, o normal é montar a rádio e por ela funcionando, em

um sinal que esteja vago, assim como todo mundo faz. Em várias escolas e universidades os

estudantes já montaram suas rádios, algumas inclusive com caixas de som espalhadas pelas

salas e corredores da instituição.

O equipamento básico para uma rádio é um microfone, um aparelho de som, um

transmissor de sinal e uma antena, e todos juntos cabem e numa mala grande. Outros

aparelhos dão uma qualidade melhor ao som e podem ser comprados com o tempo, como o

gerador de estéreo e os eliminadores de ruído. Uma rádio nova sai de R$3.000,00 à

R$5.0000,00, mas é muito comum haver rádios comunitárias inativas que vendem,

emprestam e até doam o seu material. Colégios técnicos e universidades também podem

construir ou aperfeiçoar seus equipamentos, pois a tecnologia é bem simples. Telefones

celulares e um computador com estrutura de som aumentam muito o poder de uma rádio,

também.

Uma rádio comunitária deve ser sem fins lucrativos e pertencer à comunidade onde

espalha seu sinal, incluindo tanto os estudantes do colégio como professores, funcionários,

diretoria e moradores do bairro. Ela costuma sobreviver de comerciais (na forma de apoio

cultural de pequenas lojas do local) e o trabalho nela normalmente é voluntário.

A ABRAÇO (Associação Brasileira das Rádios Comunitárias) oferece assistência gratuita

e é de fundamental importância para quem queira montar ou participar de uma rádio

comunitária. A ajuda pode ser na esfera burocrática, administrativa, cultural, jurídica e até

material. Ela tem sido a entidade que mais protege as rádios comunitárias das grandes

empresas e do governo. Atualmente ela precisa de pessoal, de preferência de árias de

conhecimento específico (por exemplo: eletrônica e informática).

Para fundar uma rádio comunitária é preciso fazer uma Assembleia de Fundação

convidando a comunidade e nela aprovar um estatuto geral. Toda entidade deve ser registrada

no cartório Ger Oliva da cidade.

Page 24: Estudo aos Grêmios Estudantis

24

Prestação de Contas

Em uma situação ideal, uma boa escola deve ser transparente quanto à sua política em

relação aos alunos, e essa transparência também deve ser demonstrada em seu setor

financeiro. Os alunos e pais têm direito de saber como está sendo aplicado o dinheiro

destinado à sua educação. A partir disso poderia então haver uma melhor discussão entre

alunos, pais, professores e administração quanto à escola em si, com um ganho para todos,

inclusive para uma maior consciência do processo educativo para pais e estudantes, que

costumam ficar alheios a ele.

Ao contrário, nós temos escolas que relutam em prestar suas contas. Partindo do

princípio de que “quem não deve, não teme”, começa-se a desconfiar que as contas não sejam

prestadas porque têm alguma coisa errada que não se quer que os alunos descubram. Todo

mundo sabe que a corrupção infelizmente é bem comum no Brasil, e em um setor

administrativo, normalmente bem burocrático, de uma escola não é difícil desviar uma grana.

Quando esse dinheiro é desviado justamente pelas pessoas que controlam as contas, ou pelas

cabeças maiores da escola, aí é que não se quer mostrar as contas mesmo. A prestação de

contas se torna um bom tema de campanha para um grêmio exercer seu papel de ajudar os

alunos. Como ajuda, a lei assegura que toda instituição pública deve prestar suas contas a

qualquer cidadão, se solicitada. Pode-se entrar com uma ação judicial caso uma escola

pública se negue a fazer isso.

Uma prestação de contas deve abranger os diversos setores do colégio, inclusive

biblioteca, refeitório, assistência estudantil médica e social, insumos de uniformes, xerox,

cantina e obras. Também é preciso ficar atento a fraudes na prestação de contas, indo conferir

em cada setor se os valores condizem com a realidade. Oficialmente, a prestação de contas

deve ser prestada por um contador profissional credenciado, e é bom que o grêmio também

contrate um, para avaliar de forma segura as contas.

Representação Estudantil

A participação dos estudantes no que condiz ao seu processo educacional é importante

para um planejamento melhor da escola e para o crescimento dos alunos que passam a

aprender com as novas responsabilidades. Nos dias de hoje, é muito comum os funcionários,

mesmo os administrativos, e mesmo professores, se preocuparem não com os alunos e com a

educação, mas só em receber o seu salário no fim do mês, e os alunos, em situações como

essas, precisam ter poder de voz para impor seus pontos de vista e suas reivindicações.

Essa participação deve se dar tanto no planejamento cotidiano (calendário, data de

provas, atividades extracurriculares), quanto nos mais profundos, como elaboração de regras

disciplinares, reformas de infraestrutura e política externa. Essa representação costuma ser na

forma de uma fração das vagas dos conselhos escolares (dos professores, de ensino, de

diretores e quantas mais houver), reservada para os alunos, mediante indicação do grêmio ou

votação entre os estudantes (forma mais ética e que envolve mais os estudantes na questão da

representatividade, embora seja mais trabalhoso). Deve ser informado aos alunos, por meio de

passagem em sala e/ou panfletos nos murais, quais são os seus representantes e os seus

suplentes nos conselhos e para que serve cada conselho.

Uma jogada de baixo nível por parte da escola é conceder representatividade para os

estudantes e não chamá-los para as reuniões. Outra baixeza é pedir o telefone e endereço dos

representantes e depois ligar para seus pais dizendo que eles não estão estudando porque

ficam o dia inteiro mexendo com o grêmio e com os movimentos de estudantes. Quando há

enfrentamento entre diretoria e estudantes, é sempre bom ficar atento.

Page 25: Estudo aos Grêmios Estudantis

25

Eventos Culturais Gratuitos

Os meios de comunicação e cultura “alternativos” têm crescido muito em todo o

Brasil, o que é muito bom como alternativa ao que nos é oferecido massivamente pela mídia

padrão. Essa forma de contracultura costuma apresentar como frutos trabalhos conscientes e

de excelente qualidade.

Cada vez mais cresce o número de espetáculos e eventos culturais gratuitos,

financiados por apoios culturais, pelo incentivo cultural do governo ou feitos sem fins

lucrativos mesmo. Essa forma de oferecer cultura ajuda a quebrar com a visão capitalista de

pagar por tudo e ainda é uma grande chance para quem não tem dinheiro para pagar

espetáculos similares.

Esses eventos costumam se concentrar em Centros Culturais dos bairros, além de

ocorrerem em praças e espaços públicos. Infelizmente, por serem gratuitos, não há a

possibilidade de uma divulgação do evento para a população. A forma encontrada é a de

colocar os poucos panfletos rodados em outros centros-culturais. O resultado é que só quem

vai a um evento gratuito é que fica sabendo do próximo, pois a divulgação praticamente só

ocorre nesse momento. Acaba que quem vai aos espetáculos gratuitos é sempre um mesmo

grupinho de pessoas, porque são as únicas a saber.

É interessante para o Grêmio divulgar esses eventos para os alunos, possibilitando que

tenham acesso à cultura e também que possam espalhar a divulgação para outras pessoas.

Calendários de eventos culturais gratuitos da cidade podem ser feitos pelo grêmio e pregados

nos murais, além de serem incluídos nas edições do jornalzinho do grêmio.

Page 26: Estudo aos Grêmios Estudantis

26

Propostas para o problema levantado

Para concluir nossa obra, é preciso voltar ao problema inicial e pensar se, após

discorrer sobre todos estes assuntos ao longo deste livro, é possível chegar a algumas

conclusões e propostas que nos ajudem a resolver nossa questão. Com certeza não é possível

acabar com os problemas cíclicos nos grêmios estudantis, pois a ciclicidade é natural dos

colégios (sempre vai haver gente saindo e entrando). Porém talvez seja possível diminuir

estes problemas ao máximo, de modo que haja uma transmissão mais eficaz das experiências

vividas em uma gestão para os que vão iniciar a nova.

Este próprio livro é uma das propostas para se fazer isso, visto que ele não faz mais do

que disseminar experiências vividas pelos seus autores em meio ao movimento estudantil. Ao

ler este material, esperamos que os leitores possam refletir e chegar às suas próprias

conclusões que devem ajudá-lo em sua vivência no movimento estudantil. A tempo, nada do

que foi escrito deve ser encarado como verdade absoluta, que não possa ser contestada. É a

discussão que deve existir sim e que sempre leva a um crescimento.

Mas vamos nos voltar agora a propostas e atitudes que podem ser tomadas em relação

à atitude e projetos do grêmio. Muitas gestões reclamam que a culpa de não haver saído tudo

como o esperado não é delas, mas dos alunos da escola que deviam participar mais

ativamente do grêmio. Ocorre que os alunos, envolvidos em seus estudos e atividades

paralelas, muitas vezes nem chegam a pensar em participar do grêmio, não porque discordam

dele, mas porque, envolvidos em suas atividades cotidianas, não tem nenhum estímulo para

refletir se entram ou não no movimento estudantil. Atitudes simples de um grêmio, como

colocar panfletos nos murais lembrando os alunos de que o grêmio está aberto para todos que

quiserem participar, e enfatizando a importância de fazer algo pelo coletivo e mostrando que

no grêmio se aprende muita coisa e não apenas na sala de aula, além de reafirmar o convite a

cada evento musical e/ou cultural, já são um estímulo para fazer os alunos pensarem no

assunto.

No tópico Estudo Psicológico, Ideológico e Histórico foram discutidas algumas

ideias. Recapitulando:

- Incentivando os alunos mais novos a participar dos grêmios, para que já

possam ir aprendendo e acumulando experiência.

- Realizando as reuniões do grêmio em horário conhecido por todos os

alunos. Essas reuniões devem ser abertas a todos os alunos, com direito de voz e voto.

- Passar para os alunos uma ideia amigável de grêmio, no qual eles se sintam

à vontade para participar. É preciso tirar o estereótipo de “movimento estudantil de cara feia”

(não só do movimento estudantil mas dos movimentos de oposição como um todo). É

possível se indignar e agir contra a situação sem precisar ser agressivo, principalmente para

com os estudantes.

- No período das eleições, procurar não criar um clima ruim entre os

integrantes das diversas chapas. Por causa de briguinhas e trocas de acusações na época das

eleições é que muita gente capaz deixa de participar do grêmio por causa de rixas com a

chapa que ganhou. Excluir estudantes que poderiam estar agindo e adquirindo experiência

para os próximos anos só agrava o nosso problema.

Uma questão mais profunda que vem sendo percebida é a da relação que os alunos

têm para com o grêmio. Mesmo quando entendem a função de um grêmio estudantil e acham

isso importante, o que se tem observado é uma concepção paternalista do grêmio, tanto por

parte dos alunos quanto pelos próprios participantes da entidade. O grêmio é visto como um

grande paizão dos alunos, que vem lutar pelos seus direitos, mas os alunos não percebem que

são eles que devem lutar. Quando o colégio piora, é fácil falar: “A culpa é do grêmio, que

deveria ajudar os estudantes e não faz nada!”, mas o aluno que fala isso esquece que o grêmio

Page 27: Estudo aos Grêmios Estudantis

27

é de todos os alunos e não só de uma diretoria, então se ele não está fazendo a sua parte, deve

assumir a culpa por isso também. Mesmo nos grêmios muito ativos, é preciso ter cuidado para

não acostumar os alunos a ficarem só esperando o grêmio resolver os problemas. Antes de

mais nada, uma diretoria de grêmio tem a função é de organizar os estudantes para eles

lutarem por seus próprios direitos.

Outra maneira de estimular a troca de experiências e opiniões no movimento

estudantil é promovendo o contato entre os vários grêmios. Infelizmente, as atuais entidades

estudantis regionais, como UNE, UBES, UMES, etc... não têm cumprido eficazmente o seu

papel (aliás, faz muito tempo que se tornaram quase que unicamente vendedoras de

carteirinhas que desviam o dinheiro para os partidos que as dirigem, principalmente o PC do

B). Acaba que a iniciativa para que esses contatos ocorram deve partir dos próprios

integrantes do grêmio, e deve-se tomar cuidado para que os contatos não sejam perdidos ou

esquecidos na troca de gestões. Greves são um bom momento para iniciar um intercâmbio

entre grêmios, devido a um maior tempo livre.

Um modo de se fazer isso seria criando um site na internet, independente das

entidades estudantis regionais, onde pudesse se discutir sobre o movimento estudantil. Esse

site poderia conter um chat, um fórum de discussões, textos concernentes ao movimento

estudantil, notícias importantes para a área e várias outras funções que já são disponíveis

gratuitamente na internet. Fica aí a ideia, para os leitores que se interessarem.

O momento mais crítico em um grêmio é na passagem de uma gestão para a próxima.

É a hora em que muitos projetos são interrompidos por causa do fim da gestão e por causa do

período eleitoral. Outro agravante é que, se as eleições são no início do ano (o que é bom,

porque envolve os calouros que estão entrando no colégio), provavelmente grande parte dos

integrantes (que já estavam no último ano) já formou, o que faz o grêmio ficar praticamente

abandonado. É extremamente importante que uma gestão, em seus últimos meses, prepare um

histórico sobre o que fez, um balanço sobre a gestão e um relato do andamento de cada

projeto inacabado, para que a nova gestão possa dar continuidade ao que já foi feito. Se cada

gestão tiver que começar os projetos do início e não termina-los, então realmente a eficácia

dos grêmios cai para muito pouco.

O objetivo deste livro é ser um empurrão inicial para um maior amadurecimento dos

movimentos sociais estudantis. A ideia é que cada grêmio leia e reflita sobre o que foi

abordado, acrescente ou modifique o que achar necessário e repasse para quantos grêmios for

possível, preferivelmente os que ainda não receberam este material, para que essa ideia vá

cada vez mais longe.

Aos futuros movimentos, que as lembranças, (re)interpretações e a efervescência

continuem vivos como nunca. E que recebam os parabéns todos que já estão empenhados em

criar um mundo melhor. Boa batalha.