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TÍTULO DO PROGRAMA Epicuro e a Felicidade Série: Filosofia – Um Guia para a Felicidade SINOPSE DO PROGRAMA Em um mundo cercado de publicidades e discursos que associam felicidade e realização à posse e ao desejo de ter possuir coisas, é difícil imaginar outra forma de ser feliz. O documentário questiona esse estilo de vida a partir da filosofia de Epicuro - que há milhares de anos já identificara o mesmo comportamento no povo grego. O trabalho interdisciplinar parte da análise do discurso publicitário para estudar mecanismos cognitivos que favorecem o desejo e, por fim, sugere a discussão do comportamento dos alunos a partir da criação de peças publicitárias de caráter epicuristas. CONSULTORES João Luiz Muzinatti – FILOSOFIA André Chauvet – BIOLOGIA Irene Terron Gadel – LÍNGUA PORTUGUESA TÍTULO DO PROJETO A Felicidade Sustentável

Felicidade sustentável epicuro e_a_felicidade

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TÍTULO DO PROGRAMA

Epicuro e a Felicidade Série: Filosofia – Um Guia para a Felicidade

SINOPSE DO PROGRAMA Em um mundo cercado de publicidades e discursos que associam felicidade e realização à posse e ao desejo de ter possuir coisas, é difícil imaginar outra forma de ser feliz. O documentário questiona esse estilo de vida a partir da filosofia de Epicuro - que há milhares de anos já identificara o mesmo comportamento no povo grego. O trabalho interdisciplinar parte da análise do discurso publicitário para estudar mecanismos cognitivos que favorecem o desejo e, por fim, sugere a discussão do comportamento dos alunos a partir da criação de peças publicitárias de caráter epicuristas.

CONSULTORES

João Luiz Muzinatti – FILOSOFIA

André Chauvet – BIOLOGIA

Irene Terron Gadel – LÍNGUA PORTUGUESA

TÍTULO DO PROJETO

A Felicidade Sustentável

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MATERIAL NECESSÁRIO PARA REALIZAÇÃO DA ATIVIDADE: TV e DVD; computador; datashow; impressora; papel sulfite - para anotações em discussões, as quais serão arquivadas em uma pasta, para as pesquisas e impressões de textos e figuras -, lápis, borracha e canetas; pastas para arquivos; papéis para cartazes; pincéis e tinta para desenhos. Propagandas ou reproduções de propagandas de jornais e revistas, vídeo/ cds de propagandas da televisão.

PRINCIPAIS CONCEITOS QUE SERÃO TRABALHADOS EM CADA DISCIPLINA

FILOSOFIA

- Prazer;

- Liberdade;

- Amizade;

- Reflexão.

BIOLOGIA/EDUCAÇÃO AMBIENTAL - Neurociência;

- Comportamento;

- Consumismo;

- Sustentabilidade.

LÍNGUA PORTUGUESA: - Funções da linguagem;

- Recursos da propaganda.

- FILOSOFIA Prazer: superação de carências específicas: prazer efêmero; ausência de carências: prazer perene. Liberdade: não dependência das imposições da natureza nem da sociedade. Amizade: troca constante, compartilhamento de ideias e saberes. Reflexão: “vida analisada”: investigação acerca dos porquês das coisas; relação entre metafísica e vida prática (ética).

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- BIOLOGIA Neurociência: É o estudo do sistema nervoso: sua estrutura, seu desenvolvimento, funcionamento, evolução, relação com o comportamento e a mente, e também suas alterações. Comportamento: É o conjunto organizado das operações selecionadas em função das informações recebidas do ambiente, através do qual o indivíduo integra as suas tendências. Consumismo: É o ato de comprar produtos e/ou serviços, sem necessidade e consciência. É compulsivo, descontrolado e se deixa influenciar pelo marketing das empresas que comercializam tais produtos e serviços. Sustentabilidade: Capacidade de ser sustentável, mantendo-se constante ou estável por um longo período.

- LÍNGUA PORTUGUESA Linguagem: texto, imagem;

Funções da Linguagem: função conativa ou apelativa;

A linguagem da propaganda, recursos: linguagem publicitária.

DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE

Introdução

O projeto “Felicidade Sustentável” tem por objetivo fazer com que nossos alunos investiguem

aquilo que todos estamos sempre buscando, e muitas vezes garantindo que encontremos. A

felicidade parece ter se tornado a razão suprema de se viver – e isto nunca foi tão professado

quanto nos tempos atuais. Alunos – especialmente os adolescentes – e suas famílias nos abordam

constantemente, evocando essa ideia como fundamental em tudo que fazem ou a que se propõem.

Mas será que sabemos, de fato, o que significa ser feliz? Felicidade é a busca de superação de

necessidades imediatas? Seria algo voltado à realização de nossos sonhos? Mas, até onde vão

nossos sonhos? E de onde vêm? Serão frutos de nossas vontades enquanto sujeitos, de fato, de

nossas vidas? Somos donos de nosso querer e, consequentemente, a felicidade é nossa

construção autônoma?

Essas e outras questões são mais que pertinentes, principalmente para adolescentes. Uma

temática grandiosa e que pode ser muito bem trabalhada em um projeto interdisciplinar que

agregue a Biologia – a ciência de nosso ser biológico -, a Língua – nosso principal instrumento de

construção de cultura e de saberes - e a Filosofia – o instrumento pelo qual o homem se encanta e

se propõe a explicar os porquês de nossa existência e de nossa forma de agir no mundo.

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A utilização do filme Epicuro e a felicidade pode ser muito rica nessa investigação, pois trata-

se de uma visão de felicidade, que, por romper com a tradicional busca do prazer imediato ou a

construção de metas a serem alcançadas no futuro para ser feliz, possibilita ao jovem um

questionamento sobre sua condição de sujeito e uma reflexão acerca do mundo em que vive, no

tempo em que vive. E esse, certamente, será o grande objetivo a ser alcançado no projeto: buscar

quem somos, o que e por que nos realizamos e nos tornamos felizes.

Filosofia Muito se pode trabalhar o filme em Filosofia. O professor poderá discutir com os alunos aspectos

do pensamento de Epicuro que possibilitem refletir sobre nossas vidas e sobre o mundo em que

vivemos.

Considerações conceituais

Antes de qualquer consideração sobre a filosofia epicurista, é preciso que a localizemos. É uma

continuidade da filosofia surgida na Grécia, a partir dos pensamentos de Sócrates, Platão e

Aristóteles. É o que chamamos Filosofia Helenista: que vai dos fins do século IV a.C. até VI d.C..

O Helenismo corresponde, portanto, à difusão da cultura grega para o mundo. Os períodos são o

alexandrino, romano e bizantino. A polis não existe mais, há uma nova visão da vida:

individualismo e cosmopolitismo; ciências autônomas (matemáticas e naturais); investigação

filosófica. Não há mais sistemas novos, mas especulação dos existentes; prática – um processo de

decadência na grande produtividade conceitual que o antecede. O ideal dos filósofos, nesse

momento, é a sabedoria e a vida mais tranquila – subordinação do pensamento à vida. Há um

sincretismo filosófico religioso. Despreza-se a ordem ontológica para o homem – o resgate se dará

pelo cristianismo – e busca-se o “bem viver”.

Epicurismo.

Fundador: Epicuro de Samos (falecido em 260 a.C.). A investigação filosófica é um meio para a

vida prática. Busca da vida feliz. A filosofia e a própria ciência não têm um fim em si, mas são

meios. Há que se subordinar o conhecimento à ação, e o pensamento à prática.

Nossos conhecimentos se originam da experiência sensível. Não é possível duvidar da existência

de objetos sensíveis. Se uma sensação é falsa, então todas as demais também poderiam ser.

Assim, não há critérios para vencer a dúvida. O conhecimento racional deriva da experiência

sensível.

Atomismo: visão de mundo epicurista, porém, diferente de Demócrito. Assim como o atomista, para

Epicuro, existe o vazio infinito e os átomos, dos quais tudo o que existe é formado. A diferença é

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que, enquanto Demócrito acredita que tudo o que existe é formado a partir da colisão dos átomos

que se movimentam retilínea e uniformemente, para Epicuro tal movimento deve ter um desvio,

sem o qual não poderia haver encontro e choque das partículas. A esse desvio casual, aleatório,

dá o nome de clinamen. Tal visão, além de justificar a constituição de tudo quanto existe no

mundo – material ou não -, também obriga o pensamento de um universo não previsível, onde as

coisas não acontecem segundo uma determinação anterior. Tal forma de entender o mundo leva à

constatação de que o homem possui livre arbítrio e pode escolher o seu destino.

A explicação do cosmo - conhecimento da física universal – propicia ao homem livrar-se de

preocupações como a morte e a ira dos deuses. Se tudo é composto de infinitos átomos, em um

universo infinito e vazio, então a vida humana se encerra nesse contexto. Para Epicuro, não

devemos temer nem a morte, nem os deuses. A primeira, porque quando existimos, a morte não

existe; quando ela vem, não existiremos mais (e não perceberemos mais nada, nem a morte).

Quanto aos deuses, são figuras imortais, livres e perfeitas, que vivem em um plano distinto do ser

humano, superior, e não se preocupam com a banalidade de nosso mundo de mortais. Assim, não

há porque temê-los, já que nunca se voltarão para seres insignificantes (como nós o somos) em

relação a eles. Os deuses somente nos servem como modelos para nossa vida. Devemos imitar

sua tranquilidade e serenidade se quisermos ser felizes. São, pois, exemplos de sabedoria.

A felicidade. Para Epicuro, a felicidade consiste no prazer. Todos os seres humanos, por sua

natureza, necessitam do prazer, da mesma forma que devem fugir da dor. O prazer é o fim último

do homem. Porém, o prazer, para ele, não consiste naquilo que imaginamos comumente. Uma vida

sem limites e que satisfaça todas as nossas necessidades, não é o modelo de vida prazerosa

pensada por Epicuro. Para ele, o prazer consiste numa vida tranquila e em harmonia com o cosmo.

Um prazer estável, não dinâmico. Ao contrário de muitas visões, os epicuristas não pensam no

prazer como satisfação das necessidades, mas na inexistência destas. Não se trata, portanto, de

hedonismo, mas de eudemonismo. Não se trata do gozo do prazer, mas da ausência de dor, do

não sofrer. Ataraxia: ausência de qualquer perturbação.

Receitas da vida feliz e do prazer: a sabedoria é fundamental, pois faz com que sejam escolhidos e

vivenciados os verdadeiros prazeres da vida. A sabedoria deve organizar as vontades, buscando a

tranquilidade da alma. O sábio é quem pode moderar os próprios desejos. A vida feliz se associa à

satisfação moderada dos desejos naturais e necessários, e à negação dos não necessários e não

naturais.* Tudo o que não é natural e necessário tende a perturbar a nossa tranquilidade, pois

pode nos trazer dor maior que o prazer proporcionado. Os prazeres do espírito são superiores aos

do corpo, pois não são momentâneos e não provocam consequências incômodas. É sábio e feliz

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quem domina seus desejos e suas paixões. Assim, a vida reflexiva e que valoriza as coisas da

alma, ao lado de pessoas amigas e que compartilhem esse exercício de elevação intelectual e

espiritual conosco, é a mais feliz que podemos ter. Diz ele: “antes de buscar o que comerás e

beberás, busque com quem comerá e beberás”.

O trabalho com o vídeo

O professor tem aqui um momento bastante favorável para uma reflexão com os adolescentes

sobre a condição de sujeito em suas vidas. O vídeo, dentro das aulas de Filosofia e no projeto

interdisciplinar com Biologia e Língua Portuguesa, propicia questionamentos sobre a busca

incessante (que realizamos) dos produtos e das marcas, dos programas, das festas e baladas que

nos tornarão mais felizes. Será que tudo isso brota de nós mesmos? Quanto as propagandas nos

induzem a querer esta (e não aquela) marca? Quem são os amigos de quem mais gosto, de fato?

Ando com as pessoas que mais me agradam, ou prefiro a companhia daqueles que são a “nata” da

turma?

Para isso, além de uma discussão atenta sobre o conteúdo do filme, sugerimos que o professor dê

um embasamento sobre o pensamento epicurista, pois trata-se de uma atitude de ruptura com as

formas comuns de vida social da antiguidade grega, e é sempre importante mostrar ao jovem que

o mundo não está aí apenas para ser entendido, mas também deve ser transformado. A própria

noção de “projeto de felicidade” pode ser discutida com eles.

[*Desejos naturais e necessários: comer, beber. Naturais e não necessários: manjares. Não

naturais e não necessários: honrarias, glórias, riqueza.]

Língua Portuguesa O vídeo mostra como o mundo moderno ampliou desmedidamente o desejo de “ter”: objetos,

dinheiro, fama, prestígio, status. O ser humano é impelido a consumir. Nas coisas exteriores

estaria o bem maior: a felicidade e seus componentes (saúde, amor, paz...). Portanto a felicidade

poderia ser comprada junto com a bolsa de uma marca famosa e cara, com a etiqueta à mostra no

jeans, com o carro tão valioso quanto uma casa, ou no celular tão multiuso que não funciona bem

para fazer ligações telefônicas.

A publicidade, criadora de desejos, disseminou a vontade de ter, e entranhou-se de tal forma na

natureza do ser humano pós-cosmopolita, que, antes um signo do capitalismo, hoje é signo de

atualidade. Os anúncios de décadas passadas, que ainda eram “reclames”, faziam a propaganda

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de produtos, serviços e posturas de uma forma direta, quase ingênua. Atualmente anunciar é uma

ciência e desenvolveu uma linguagem própria, sofisticada, pensada para ser eficiente naquilo que

se propões: levar o consumidor a consumir.

A linguagem publicitária está baseada em recursos que potencializam seu efeito, e a base

desses recursos vem de três vias confluentes; 1) a psicológica, fazendo apelo ao prazer; 2)

antropológica, recorrendo a arquétipos fortes, embora sejam ocultos ou disfarçados;

3) sociológica, por se dirigir a todo o mundo, faz sentir que se dirige a cada um de nós.

São exemplos dessas vias anúncios como:

a- psicológica: anúncios que mostram um casal jovem e belo numa praia, em um radiante dia de

sol; um tablete de chocolate; um duplo sentido que, decifrado, traz o prazer da resolução de um

enigma;

b- antropológica: os anúncios clichês de alimentos que mostram a mãe, nutriz, amorosa, guardiã,

alimentado um bebê;

c- sociológica: anúncios sempre usam “você”, seu, compre, prefira, use”, isto é, empregam sempre

a 3ª pessoa do singular.

A função da linguagem usada na publicidade é a conativa ou apelativa: procura-se influenciar

o comportamento da pessoa a quem se dirige. Para isso usam-se recursos que valem a pena

conhecer. Ler uma propaganda decifrando-a realmente, é entender como podemos ser levados ao

consumo. Ensinar os alunos a compreender as técnicas da linguagem publicitária é ensiná-los a ler

as mensagens verbais e imagéticas. É fazê-los entender subtextos.

Quais seriam alguns dos recursos da linguagem publicitária?

1- uso do imperativo: “Beba Coca-Cola”;

2- uso de frases interrogativas: “Você quer cabelos sedosos? Use o melhor xampu”;

3- uso da 3ª pessoa do singular sempre: “Seu pai espera um presente das Casas Bahia”;

4- uso do vocativo: “Jovem, seu futuro está nas Faculdades Radial”;

5- uso da redundância e da reiteração: “O branco é branco, o azul é azul... Televisores Philco”;

“Mais barato, mais barato, mais barato, Extra!”;

6- o duplo sentido ou polissemia: “Você dá as cartas com Baralhos Copag”;

7- mudança de frases e expressões bem conhecidas, trocadilhos: “Pai para toda a obra”;

8 - frases diretas e curtas; reduzir as informações ao mínimo possível: “Beba Coca-Cola”;

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9 – uso da homonímia: Seda Shampoo;

10 - presença do humor.

Quanto às imagens;

1- imagens esteticamente agradáveis: um lindo pôr-do-sol, pessoas e objetos bonitos;

2- imagens com elementos significativos de conceitos bem estabelecidos para o público alvo:

para jovens imagens que deem ar de liberdade; para homens, que falem de coragem, ousadia;

para crianças, desenhos coloridos;

3- imagens que contenham arquétipos: a mãe, o pai, os avós, o filho;

4- imagens que identifiquem posturas desejadas: ousadia, ternura, paixão;

5- imagens que lembrem prazeres: comida, velocidade, contato físico.

Para passar esse conteúdo, sugere-se uma atividade: o professor, para trabalhar o assunto com

os alunos, pede que eles escolham um anúncio, uma propaganda que achem bonita ou

interessante. Podem trazer anúncios publicados em revistas, jornais, podem fotografar um outdoor,

descrever um anúncio da televisão ou do rádio, se possível, podem gravá-lo ou filmá-lo. Os alunos

apresentam os anúncios escolhidos para a sala e dizem o porquê de sua escolha.

O professor terá trazido anúncios que ele mesmo escolheu. Mostra-os para a sala e diz por que

os escolheu. Depois os analisa, mostrando como a linguagem da publicidade realiza-se nesses

exemplos. Dois ou três alunos tentam analisar, sob essa ótica, os anúncios que trouxeram. Por

último, os alunos trocam de anúncios com seus colegas e analisam esses novos anúncios por

escrito.

O professor pode avaliar essa tarefa pela seleção dos anúncios e pela análise escrita.

Biologia O filme direciona a discussão das concepções de Epicuro para a moderna questão do

consumismo, um importante tema na área de meio ambiente e sustentabilidade. Além disto, ao

abordar a propaganda, ele oferece a possibilidade de se discutir como esta interfere em nossos

desejos e comportamentos, inclusive no nível neurológico.

Assim, o professor de Biologia pode atuar nestas duas frentes. Sugere-se começar pela

abordagem neurológica, ilustrando-se aspectos do funcionamento do cérebro humano, como o

metabolismo, os neurotransmissores e sua influência em nossos comportamentos. A partir desta

abordagem, pode-se entrar mais especificamente nos aspectos relacionados às respostas de

nossa mente ao estímulo da propaganda e sua influência em nosso comportamento, inclusive com

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o uso de mensagens subliminares. O programa Fantástico, da TV Globo, apresentou um episódio

da série Neuro-Lógica abordando exatamente este assunto, o mesmo está disponível na página

do programa na Internet, onde é apresentado o seguinte texto:

“...a neurociência hoje sabe que a racionalidade é apenas um fator pequeno na hora

de tomar decisões. O que decidimos fazer, inclusive comprar e não comprar, depende

de uma competição entre dois circuitos do cérebro ao mesmo tempo, como os pratos

de uma balança.

O prato positivo é o sistema de recompensa, que representa quanto prazer teremos

com o objeto que pensamos comprar. Quanto mais desejamos uma coisa, mais

intensa é a ativação desse sistema e mais forte é a nossa motivação para a compra.

O prato negativo é uma região do córtex da ínsula, que representa dor, desgosto ou

outras emoções negativas. No caso, a dor de ficar sem aquele valor em dinheiro, de

gastar.

A atividade da ínsula representa o custo da decisão. Quanto maior é a ativação,

maior é a dor da compra. A ínsula é o freio que mantém a carteira fechada.

O que decidimos fazer depende de qual dos dois circuitos fala mais alto. Depende

também da região medial córtex pré-frontal, que avisa quando o custo real é menor

do que você imaginava. Ou seja, quando se trata de uma oportunidade imperdível.

Por tudo isso, o cérebro humano é um prato feito para a liquidação da sua loja

favorita. O sistema de recompensa diz: ‘Gosto disso’. O córtex medial pré-frontal diz:

‘Puxa, e custa menos do que eu costumava pagar’. E outra região, que tenta evitar

arrependimentos, diz: ‘Compra, compra’. E, se a ínsula não se opuser... O cérebro

torce tanto por uma compra na liquidação que pode cair em armadilhas. “Por

exemplo, em anúncios de preços parcelados, faz o custo que a ínsula avalia parecer

menor.”

Ou seja, o programa aborda exatamente o efeito da propaganda, mais especificamente

relacionada a liquidações, em nosso cérebro, estimulando o consumismo.

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A partir desta abordagem, o professor pode iniciar uma discussão sobre como podemos utilizar

este conhecimento para direcionarmos melhor as nossas escolhas, assumindo comportamentos

mais conscientes e analisados (um dos princípios de Epicuro), inclusive na busca da “verdadeira”

felicidade, considerando-se, inclusive, os demais princípios de Epicuro.

Neste ponto, o professor pode trazer à tona toda a discussão sobre a busca de uma vida mais

sustentável e, portanto, menos centrada no consumismo. Então, ele pode desenvolver um amplo

trabalho no campo da educação ambiental, aprofundando questões como os efeitos catastróficos

do super consumismo, a importância e o desenvolvimento da prática do consumo consciente, a

influência dos modelos econômicos nas questões ambientais, entre outras. Diversas outras fontes

de informação, gratuitamente disponíveis na Internet, podem ser utilizadas de forma complementar,

como o vídeo “A História das Coisas” (Tides Foundation - Annie Leonard), publicações do MMA,

MEC e IDEC (Ex. Manual de Educação para Consumo Sustentável), além de sites como o do

Instituto Akatu (Consumo Consciente).

ETAPA INTERDISCIPLINAR

Inicialmente, os professores de Filosofia, Biologia e Língua Portuguesa deverão preparar os

alunos para ver o vídeo com um olhar mais crítico e atento. Uma discussão inicial em Filosofia

sobre “o que é a felicidade” é importante para que, ao assistirem ao vídeo, já tenham em mente a

problemática que será levantada no trabalho. Em Biologia, as questões podem ser levantadas

acerca de nossa relação com o meio ambiente, pois até onde pode ir nossa atuação no mundo?

Até onde, e com que direito, podemos usar do mundo em que vivemos a nosso favor? Até onde a

natureza nos limita e até onde a própria perspectiva de preservação da raça humana nos impõe

um cuidado maior com a natureza? Até que ponto aquilo que fazemos contra a natureza já não se

tornou algo “normal” para todos? Como conciliar a busca da felicidade com a busca da

sustentabilidade? Como o conhecimento do funcionamento de nosso cérebro pode nos ajudar a

fazer melhores escolhas. Em Língua Portuguesa, as questões podem ser sobre o poder da

propaganda em nossas vidas: por que somos tão facilmente induzidos a comprar tudo o que se

oferece? Qual o segredo da linguagem usada na propaganda que nos faz comprar muito,

pensando sempre que assim seremos mais felizes?

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Em seguida, os professores passam o vídeo, sempre ressaltando os aspectos importantes para as

reflexões a serem propostas em cada componente curricular.

A aula a seguir deverá ser de discussão conceitual em cada disciplina. Os professores deverão dar

o embasamento sobre epicurismo, meio ambiente e poder da propaganda, sempre mantendo uma

relação com o filme e visando um trabalho posterior de pesquisa e criação.

O professor de Língua Portuguesa fará a proposta do trabalho interdisciplinar (com Filosofia e

Biologia), chamando a atenção para o mar de propagandas no qual estamos imersos. Como a

propaganda pode influenciar nosso comportamento? Quantas vezes compramos um produto

porque vimos um anúncio e nasceu o desejo de experimentar? Ou porque lembramos seu nome

fixado na memória pela propaganda insistente? O que torna as propagandas eficientes?

Título do projeto: “A Felicidade Sustentável”.

O projeto deve ser realizado em duas partes. Primeiramente, os alunos serão divididos em

grupos e farão uma pesquisa entre as pessoas da escola – alunos, professores e funcionários –

sobre “10 coisas que os tornam felizes”. De propósito, poderão perguntar quais os artigos

comercializados os tornam mais realizados.

Em seguida, de posse dos resultados tabulados, os grupos deverão, assim como aparece no

vídeo, compor anúncios com propagandas questionadoras. Os produtos mostrados deverão conter

sempre um questionamento (possivelmente paradoxal) que remeta à busca da felicidade.

A apresentação aos professores poderá ser feita com uma exposição dos anúncios pelos

corredores da escola. Durante uma semana as propagandas serão expostas; professores e alunos

dialogarão informalmente com as pessoas que estiverem apreciando a exposição.

RESUMO DA ATIVIDADE

1-) Discussão com os alunos, nas três disciplinas, sobre “o que é Felicidade”.

2-) Vídeo, nas três disciplinas, com encaminhamento de uma futura discussão.

3-) Trabalho conceitual sobre epicurismo, funcionamento da mente, meio ambiente e linguagem da

propaganda, sempre tendo em vista o tema do vídeo.

4-) Apresentação do projeto “Felicidade sustentável”.

5-) Pesquisa, em grupos, na comunidade escolar, pelos alunos.

6-) Tabulação dos resultados.

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7-) Preparação, nos grupos, de propagandas reflexivas.

8-) Exposição dos trabalhos nos corredores da escola.

COMO VOCÊS AVALIARIAM ESSE TRABALHO? 1-) Participação dos alunos nos momentos de discussão do vídeo e nas aulas conceituais: perguntas feitas, sugestões apresentadas, envolvimento, atitude durante as aulas.

2-) Qualidade do trabalho de pesquisa. Os grupos deverão ser avaliados com duas notas: coletiva e individual (a partir de um relatório apresentado pelo grupo sobre o nível de participação de cada um).

3-) Avaliação dos trabalhos finais, sempre com duas notas: em grupo (qualidade do trabalho) e individual (participação de cada um).

EM QUAL ANO OU ANOS DO ENSINO MÉDIO SERIA MELHOR APLICAR ESSE TRABALHO?

2º ano do Ensino Médio.

PALAVRAS-CHAVE

- Epicuro;

- Felicidade;

- Neurociência;

- Sustentabilidade;

- Propaganda;

- Linguagem;

- Prazer. SUGESTÕES DE LEITURAS

• http://portal.filosofia.pro.br/

• http://www.youtube.com/watch?v=bLIM8q3Psww

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• http://www.youtube.com/watch?v=PVO2LGzJeLU

• http://www.youtube.com/watch?v=sAdWRVzP73Q

• Canção - Vinícius e Toquinho - A Felicidade http://www.youtube.com/watch?v=Ka44wBAypuA

• Zenão e Epicuro http://www.youtube.com/watch?v=dvjnGsTFeGY

• Epicuro: Publicidade e Felicidade http://www.youtube.com/watch?v=-GutgxeCleE

• Sobre Epicurismo http://www.youtube.com/watch?v=j-Gudx3rJ6I

• Os Epicuristas http://www.youtube.com/watch?v=V5Ig7AU-y1M

• Heidegger e Epicuro: arte http://www.youtube.com/watch?v=qI67USluu2U

• Epicuro y Pascal: Lógicas ateas. http://www.youtube.com/watch?v=fxeYtHX8oW0

• Epicuro, filósofo greco (em italiano) http://www.youtube.com/watch?v=WBSHW8B_NKo• Helenismo http://www.youtube.com/watch?v=ECXBPEqh4x8

1) Vídeo “A História das Coisas” está disponível no You Tube:

http://www.youtube.com/watch?v=lgmTfPzLl4E – Pode-se utilizar, especialmente, o trecho entre

11´18” a 12´38”, quando se aborda os nossos altos níveis de desperdício e a forma como foi

planejado o estímulo ao consumismo como meio para a busca da satisfação.

2) “O comportamento do cérebro numa liquidação”

http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL992506-15605,00-

O+COMPORTAMENTO+DO+CEREBRO+NUMA+LIQUIDACAO.html).

http://www.cerebronosso.bio.br/neurolgica/ - Aborda como nossa mente reage à propaganda, um

dos focos de nossa proposta.

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3) Pode-se também indicar sites e publicações que abordem o Consumo Consciente / Consumo

Sustentável (anexo uma destas publicações que considerei particularmente relevante para o nosso

tema), tais como:

a. Instituto Akatu (http://www.akatu.net/) – Publicações:

http://www.akatu.org.br/akatu_acao/publicacoes.

b. IDEC (http://www.idec.org.br/consumosustentavel/) – Publicações:

http://www.idec.org.br/consumosustentavel/ e http://www.idec.org.br/biblioteca.asp

(Incluem publicações em parceria com o INMETRO e MMA, também indicadas abaixo)

c. Inmetro (http://www.inmetro.gov.br) – Publicações:

http://www.inmetro.gov.br/multiplicadores/matdidatico.asp

d. MMA (http://www.mma.gov.br/sitio/ – Publicações:

http://www.mma.gov.br/sitio/index.php?ido=publicacao.exibirTodasPublicacoes

e. Dentre todas as publicações encontradas nestes sites, uma das mais interessantes é o

Manual de Educação para o Consumo Consciente, que pode ser encontrado em versão

completa em http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao8.pdf

ANEXOS

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Figura 1

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Figura 2