28
SUMÁRIO A teoria deontológica - o dever como fundamento da moralidade (Immanuel Kant) A teoria consequencialista - a utilidade como fundamento da moralidade (Stuart Mill) 1.3 A necessidade de fundamentação da moral – duas perspectivas filosóficas 1. A dimensão ético-política Ética

Fundamentação da moral

Embed Size (px)

DESCRIPTION

matéria de filosofia do 10º ano

Citation preview

Page 1: Fundamentação da moral

SUMÁRIO A teoria deontológica - o dever como fundamento da

moralidade (Immanuel Kant)

A teoria consequencialista - a utilidade como fundamento

da moralidade (Stuart Mill)

1.3 A necessidade de fundamentação da moral – duas perspectivas filosóficas

1. A dimensão ético-política

Ética

Page 2: Fundamentação da moral

Problema

Qual o fundamento da moralidade?

Qual o critério para avaliar a moralidade das acções?

Page 3: Fundamentação da moral

Dois tipos de teorias

1) Teorias deontológicas - o critério para avaliar a moralidade das acções é o seu respeito pelos princípios

2) Teorias consequencialistas – o critério para avaliar a moralidade das acções são as suas consequências

Page 4: Fundamentação da moral

Duas teorias

Deontológicas ▼

Teorias que fazem depender a moralidade de uma acção do

respeito por princípios ▼

Devemos agir por obediência a regras ▼

Exemplo: para Kant mentir é errado ainda que do acto

de mentir resultem benefícios ▼

Kant pergunta: qual foi a intenção da acção?

Consequencialistas ▼

Teorias que fazem depender a Moralidade de uma acção das

suas consequências ▼

Devemos escolher a acção que tem as melhores consequências

globais ▼

Exemplo: para Stuart Mill mentir não é errado por

princípio, mas em função das consequências

S.Mill pergunta: quais as consequências das acções?

Page 5: Fundamentação da moral

Uma teoria deontológica: a ética racional de Kant

Sumário

Legalidade e moralidade

O ideal moral: tornar a vontade boa

Dever e lei moral – imperativo categórico da

moralidade

Moralidade, autonomia e dignidade humana

Fundamento e critério de moralidade

Page 6: Fundamentação da moral

Qual é o critério para

avaliar as acções?

O que torna as

acções boas ou más ?

Problema

Page 7: Fundamentação da moral

Legalidade e moralidade

Kant caracteriza o domínio da moralidade e apresenta um critério para avaliar a moralidade das acções (Fundamentação da Metafísica dos Costumes)

Em que circunstâncias uma acção é boa?

Basta respeitar as regras?

Se o depositário de um bem (dinheiro) o devolve por ter medo de ser descoberto, a acção ainda é moralmente boa?

Devolver o dinheiro será suficiente para se poder falar em moralidade?

Page 8: Fundamentação da moral

Kant >>>

É na verdade conforme ao dever que o merceeiro não suba os preços ao

comprador inexperiente (...) Mantém um preço fixo geral para toda a gente,

de forma que uma criança pode comprar na sua mercearia tão bem como

qualquer outra pessoa. É-se, pois, servido honradamente; mas isso ainda

não é bastante para acreditar que o comerciante tenha assim procedido por

dever e princípios de honradez; o seu interesse assim o exigia. A acção não

foi, portanto, praticada (...) por dever, mas somente com intenção egoísta.

(...)

Pensar Azul, p. 111

>>>

Page 9: Fundamentação da moral

Kant

>>>

Pelo contrário, conservar cada qual a sua vida é um dever, e é além disso

uma coisa para que toda a gente tem inclinação imediata. Mas por isso

mesmo é que o cuidado que a maioria dos Homens lhe dedicam não tem

nenhum valor intrínseco e a máxima que o exprime nenhum conteúdo

moral. Os Homens conservam, habitualmente, a sua vida, conforme ao

dever, sem dúvida, mas não por dever. Em contraposição, quando as

contrariedades e o desgosto sem esperança roubaram totalmente o gosto de

viver; quando o infeliz (…) deseja a morte e contudo conserva a vida sem a

amar, não por inclinação ou medo, mas por dever, então a sua máxima tem

conteúdo moral.

Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes

Page 10: Fundamentação da moral

Kant apresenta três exemplos

1) Fixando um preço, o merceeiro respeita a regra moral, mas escolhe a honestidade por interesse, não por dever

2) Temos o dever de conservar a vida e gostamos de viver. Se conservarmos a vida por gostar de viver, fazemo-lo por inclinação e não por lhe atribuir valor intrínseco: conservamos a vida por conformidade ao dever

3) Se perdermos a vontade de viver e desejarmos morrer mas conservarmos a vida por dever, estamos a agir moralmente, pois a regra particular (Kant chama-lhe máxima) que seguimos ao escolher o dever tem valor moral

Diz Kant:

Conservo a vida não por ter gosto de viver, mas porque é meu dever respeitar o princípio universal não matarás.

Page 11: Fundamentação da moral

A moralidade das acções resulta do cumprimento

do dever

Acção moral ou moralmente

boa (moralidade)

Acções legais ou boas (legalidade)

A acção em conformidade com

a norma; opção do agente não

por inclinação mas por dever

Acções em conformidade

com a norma; opção do

agente por interesse (gostar

de viver), não por dever

Exemplo 3

Exemplos 1 e 2

Page 12: Fundamentação da moral

Distinção legalidade versus moralidade

Legalidade

Carácter das acções simplesmente boas, i.e., em conformidade com a

norma

Moralidade

Carácter das acções realizadas não só em conformidade com a norma, mas também por respeito ao dever

Page 13: Fundamentação da moral

O ideal moral: tornar a vontade boa

Quem opta é a razão; quem decide realizar a acção é vontade (a “faculdade do querer”)

Nós nem sempre escolhemos de acordo com a nossa racionalidade. Porquê?

Porque na deliberação e na decisão somos influenciados pelo que Kant chamou as três disposições do ser humano

Page 14: Fundamentação da moral

As três disposições do ser humano

para a

personalidade

ser racional capaz de

responsabilidade:

tornar-se pessoa

exigências auto

impostas pela razão -

desprendimento e

autonomia

para a

humanidade

ser vivo e ser

racional

influências da

sociedade e da

comunidade de

interesses

para a

animalidade

ser vivo

a natureza em

nós: inclinações

e necessidades

sensíveis

Disposição racional Disposição

sensível

Disposição

sensível

Page 15: Fundamentação da moral

Como alcançar a vontade boa?

O corpo e a razão não têm as mesmas

inclinações

A vontade fica sujeita a conflitos entre disposições

A vontade fica dividida entre o dever (motivações racionais) e o prazer (inclinações sensíveis)

A vontade pode escolher (é o livre-arbítrio)

Nem sempre escolhe o dever (a moralidade)

Page 16: Fundamentação da moral

Vontade boa

Devido aos conflitos entre as disposições a vida ética

é uma luta

Kant propõe como ideal moral o esforço para transformar a

vontade dividida e imperfeita numa vontade boa, isto é,

numa vontade que se determine a agir por dever

Só a escolha do dever por dever permite transformar a

vontade numa vontade boa

Page 17: Fundamentação da moral

Dever e lei moral – imperativo categórico da moralidade

O que é agir por dever?

É orientar-se pela disposição para a personalidade, e

consiste na elaboração de leis racionais a que a própria

Razão se submete (autonomia)

O dever é o respeito pela lei moral

Page 18: Fundamentação da moral

Duas coisas enchem o meu coração de admiração: o céu estrelado por cima de mim e a lei moral em mim.

Kant, Crítica da Razão Prática

Vincente van Gog (1853-1890), Noite estrelada Heitor Villa Lobos,

Noite estrelada

Page 19: Fundamentação da moral

As leis da razão e as leis da natureza valem universalmente

As leis naturais são descritivas

– dizem como a natureza funciona

As leis morais são prescritivas (normativas)

– prescrevem um comportamento

– são incondicionais e absolutas

– são um imperativo categórico (uma ordem incondicional)

Page 20: Fundamentação da moral

Enunciado do Imperativo Categórico

Age apenas segundo uma máxima tal que possas, ao mesmo tempo, querer que ela se torne lei universal

É uma ordem incondicional

Impõe a acção como necessária, fim

em si mesma

Page 21: Fundamentação da moral

Imperativo categórico

Significa que

A regra particular (máxima) que seguimos deve poder ser aceite por todos os seres racionais – universalização

A universalização da máxima garante a imparcialidade e a independência do agente em relação aos seus interesses particulares

A universalização da máxima torna-a acção boa (moral)

Page 22: Fundamentação da moral

Moralidade, autonomia e dignidade humana >>>

A opção pela moralidade permite ao indivíduo tornar-se ser moral ou pessoa, conferindo-lhe dignidade e valor absoluto.

Diz Kant

A moralidade é a única condição que pode fazer de um ser racional um fim

em si mesmo; a moralidade, e a humanidade, enquanto capaz de moralidade,

são as únicas coisas que têm dignidade. Podemos agora explicar-nos

facilmente (pois) sucede que possamos achar simultaneamente uma certa

sublimidade e dignidade na pessoa que cumpre todos os seus deveres.

Pensar Azul, p. 114

Page 23: Fundamentação da moral

Moralidade, autonomia e dignidade humana

Pois enquanto ela está submetida à lei moral não há nela sublimidade

alguma; mas há-a sim na medida em que ela é ao mesmo tempo

legisladora em relação a essa lei moral e só por isso lhe está subordinada.

Não é nem o medo nem a inclinação mas tão somente o respeito à lei, que

constitui o móbil [motivo] que pode dar à acção um valor moral. Só esta

vontade que nos é possível [representar] na ideia é o objecto próprio do

respeito, e a dignidade da humanidade consiste precisamente nesta

capacidade de ser legislador universal, se bem que com a condição de

estar ao mesmo tempo submetido a essa mesma legislação.

Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes

Page 24: Fundamentação da moral

Tese defendida no texto

A vontade é digna de respeito quando se subordinar a «uma

legislação universal» que ela própria elaborou, pois:

é legisladora universal

só tem de obedecer à razão (à lei que impõe a si mesma)

não está dependente das inclinações sensíveis (as disposições para a animalidade e para a humanidade)

Page 25: Fundamentação da moral

Autonomia

Kant chama autonomia à propriedade da vontade de se

constituir como a sua própria lei;

A autonomia da vontade é o princípio supremo da moralidade

e o fundamento da dignidade e do respeito devido ao ser moral

ou pessoa

Page 26: Fundamentação da moral

Fundamento e critério de moralidade >>>

Perguntas

qual o fundamento da moralidade das acções?

qual o critério para avaliar a moralidade das acções?

Segundo Kant

O fundamento da moralidade é a racionalidade, i.e. , a autonomia da vontade

Isso implica:

cumprimento do dever por dever

independência face às disposições sensíveis

opção pela personalidade

Page 27: Fundamentação da moral

Fundamento e critério de moralidade

O critério para identificar uma acção como boa é o

carácter incondicional e universalizável da máxima que

determina a escolha, ou seja, o carácter racional da lei

moral

Page 28: Fundamentação da moral

Organograma conceptual

Ser Humano (pessoa)

fim em si mesmo

vontade boa

autonomia acção por interesse, não por dever

acção moral (por dever) o móbil são as inclinações sensíveis

dever cumpre a lei

lei moral racional

imperativo categórico acção legal

Disposição para a

◄ personalidade

Disposição para a

◄ humanidade ►

Disposição para a

animalidade ►

Ser Humano

Uma teoria deontológica

a ética racional de KANT