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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO, POLÍTICA E SOCIEDADE TÓPICO ESPECIAL DE ENSINO III
RENATA EMERICH MORAES MIRANDA WESLEY CORNELIO DIAS
HUDERLAN BRAGANÇA ZORDAN
GEOGRAFANDO A CULTURA DE VILA VELHA / E.S.: CONTRIBUIÇÕES PARA OS PROFESSORES DE
GEOGRAFIA
VITÓRIA – E.S. 2010
RENATA EMERICH MORAES MIRANDA WESLEY CORNELIO DIAS
HUDERLAN BRAGANÇA ZORDAN
GEOGRAFANDO A CULTURA DE VILA VELHA / E.S.: CONTRIBUIÇÕES PARA OS PROFESSORES DE
GEOGRAFIA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como parte da avaliação da disciplina de Tópicos Especiais de Ensino III do Curso de Geografia da Universidade Federal do Espírito Santo.
Orientadora: Professora Doutora Marisa Terezinha Rosa Valladares.
VITÓRIA – E.S. 2010
RENATA EMERICH MORAES MIRANDA WESLEY CORNELIO DIAS
HUDERLAN BRAGANÇA ZORDAN
GEOGRAFANDO A CULTURA DE VILA VELHA / E.S: CONTRIBUIÇÕES PARA OS PROFESSORES DE
GEOGRAFIA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como parte da avaliação da disciplina de Tópicos Especiais de Ensino III do Curso de Geografia da Universidade Federal do Espírito Santo.
COMISSÃO EXAMINADORA
______________________________________________ Professora Doutora Marisa Valladares
Universidade Federal do Espírito Santo Orientadora
______________________________________________ Mestre Julio de Souza Santos
Universidade Federal do Espírito Santo
______________________________________________ Pedagoga Lucineide Gomes Macedo EEEFM “Professora Maura Abaurre”
Ao iniciar uma caminhada, é difícil prevermos se conseguiremos alcançar nossos objetivos porque nesse caminhar podem existir barreiras, porém uma grande qualidade é a coragem de não se abater com as dificuldades, levantar ao cair e começar novamente, nunca desistir. Porém ao terminarmos essa jornada, não há nada no mundo que seja mais gratificante do que concluirmos o que planejamos. Todas as dificuldades vividas são esquecidas, pelo ao menos por um momento, e após a ansiedade, novos planos, novos objetivos são traçados e começamos uma nova caminhada. É dessa forma que nos sentimos e gostaríamos de agradecer a Deus, primeiramente, por ter nos dado força para seguirmos em frente; à nossa família e aos amigos que estiveram conosco, nos apoiando e tendo paciência nos momentos mais difíceis. A vocês, dedicamos todo o nosso trabalho!
AGRADECIMENTOS
Aos professores da graduação em licenciatura, pelos ensinamentos e acompanhamento ao longo deste tempo em formação; A professora orientadora Doutora Marisa Terezinha Rosa Valladares, pela atenção dispensada colocando suas sábias palavras nos momentos de dificuldade; Aos profissionais que participaram das entrevistas concedendo-nos importantes informações que muito contribuíram para o desenvolvimento desta pesquisa; A todos que, de alguma forma, contribuíram com a elaboração deste trabalho.
“A verdadeira educação consiste em pôr a descoberto ou fazer atualizar o melhor de uma pessoa. Que livro melhor que o livro da humanidade?”
(Mahatma Gandhi)
RESUMO
Ao analisar os materiais ofertados pelas prefeituras e pelo estado, como representação de seus potenciais locais, pode-se observar a escassez de conteúdos voltados à questão geográfica e cultural. Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo mostrar este problema cultural, procurando amenizá-lo ao propor sugestões de inserção e de intervenção programática no segmento final do ensino fundamental, assim como apresentar um material para as escolas de Vila Velha, na forma de uma cartilha, contando com informações das principais manifestações culturais de Vila Velha e entrevistas com alguns dos representantes culturais destas manifestações e com integrantes do corpo docente do município. Assim, numa abordagem de pesquisa-ação, foi realizada uma pesquisa bibliográfico-documental sobre a cultura do município canela verde e a partir dela, foram selecionadas expressões culturais sobre as quais se estruturou o processo de pesquisa em campo, valendo-se de entrevistas, filmagens e fotografias. A base teórica tem sustentação nos estudos de Geertz (1978) em Antropologia; Chauí (1994) em filosofia, Daolio (2004) na Educação e Claval (2001), Rosendahl e Corrêa (2002), Santos (1999), na Geografia, dentre outros estudiosos. Os sujeitos entrevistados foram selecionados junto às comunidades envolvidas com os eventos culturais escolhidos como representações da cultura de Vila Velha, pelo grupo. Os resultados desse estudo apontam para a necessidade de se investir, na Geografia Escolar, na formação de alunos e professores pesquisadores na própria comunidade escolar, assim como se detectou a necessidade urgente de atuar, geograficamente, fortificando a importância de se trabalhar a cultura dentro do âmbito escolar. A esperança que se manteve ao longo da pesquisa é a mesma que sustenta a proposta de socialização dos seus resultados: o enriquecimento da cultura local como ação geográfica importante para constituição de uma sociedade mais cônscia de sua importância na promoção da paz social, da sustentabilidade planetária e da dignidade humana. Palavras chave: 1. Geografia e Cultura, 2. Geografi a de Vila Velha, 3. Geografia Escolar.
ABSTRACT
In reviewing the materials offered by municipalities and the state as a representation of your potential sites, one can observe the lack of content focused on geographic and cultural issue. Thus, this study aimed to show this cultural problem, trying to soften it to propose suggestions for integration and programmatic interventions in the final segment of basic education, as well as presenting a material for the schools of Vila Velha, in the form of a booklet, with details of the main cultural events of Vila Velha and interviews with some of the representatives of these cultural manifestations and with members of the faculty council. Thus, an approach of action research, a survey was conducted bibliographical-documentary about the culture of the city cinnamon green and from it were selected cultural expressions for which it has structured the process of field research, drawing on interviews, footage and photographs. The theoretical basis has support in studies of Geertz (1978) in Anthropology; Chauí (1994) in philosophy, Daolio (2004) Education and Claval (2001), Rosendahl and Corrêa (2002), Santos (1999), Geography, among other scholars. The interviewees were selected in the communities involved with cultural events chosen as representations of the culture of Vila Velha, by the group. The results of this study indicate the need to invest in School Geography, training of students and faculty researchers in their own school community, as we detected an urgent need to act, geographically, and strengthens the importance of working within the culture the school. Hope that is maintained throughout the research is the same that underpins the proposed socialization of their results: the enrichment of local culture as important to share geographical constitution of a society more aware of its importance in promoting social peace, the planetary sustainability and human dignity. Key-words: 1. Geography and Culture, 2. Geography o f Vila Velha, 3. School Geography.
FOTOGRAFIA 1: IMAGENS DA FESTA DA PENHA............ ........................................................
34
FOTOGRAFIA 2: IMAGENS REPRESENTATIVAS DO CONGO..... .............................................
37
FOTOGRAFIA 3: IMAGENS REPRESENTATIVAS DOS CATRAIEIR OS....................................
39
FOTOGRAFIA 4: IMAGENS REPRESENTATIVAS DO SAMBA..... .............................................
43
LISTA DE FOTOGRAFIAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................. 11
2 SELECIONANDO DINÂMICAS PARA GEOGRAFAR A CULTURA LOCAL... .............................................................................................. 13
3 ENTRE A CULTURA E A IDENTIDADE CULTURAL, UMA GEOGRAFIA ESCOLAR. ................................. ................................... 18
3.1 MANIFESTAÇÕES CULTURAIS NO ESPAÇO GEOGRÁFICO..... 23
4 DAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS AO DESEJO DE UMA GEOGRAFIA ESCOLAR LOCAL ............................ ............................ 28
4.1 O CURRÍCULO ESCOLAR............................................................. 28 4.1.1 As Contribuições dos Parâmetros Curriculares Nacionais –
PCN’s.............................................. ..................................................... 30
4.2 MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DE VILA VELHA......................... 32 4.2.1 A Festa da Penha............................. .......................................... 33
4.2.2 O Congo ...................................... ............................................... 35
4.2.3 Os Catraieiros ............................... ............................................. 38
4.2.4 O Samba...................................... ............................................... 41
4.3 A IMPORTÂNCIA E O DESEJO DE UMA GEOGRAFIA ESCOLAR LOCAL ................................................................................................. 44
5 DIZENDO DO QUE APRENDEMOS: POR UMA GEOGRAFIA CULTURA E LOCAL .................................... ....................................... 47
5.1 CONTRIBUIÇÕES PARA A REDUÇÃO DA CARÊNCIA CULTURAL............................................................................................................. 47 5.2 RELACIONAMENTOS INTERCULTURAIS.................................... 49 5.3 PRINCIPAIS DIFICULDADES E TRABALHOS FUTUROS ......... 52
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................... .................................. 53
REFERÊNCIAS.................................................................................... 55
APÊNDICE..............................................................................................57
APÊNDICE A: TERMO DE CONSENTIMENTO PARA PARTICIPAÇÃO EM PESQUISA..................................................................................... 58 APÊNDICE B: MODELO ROTEIRO DE ENTREVISTA COM O CORPO DOCENTE............................................................................................ 60 APÊNDICE C: MODELO QUESTIONÁRIO DE PESQUISA PARA OS MANIFESTANTES CULTURAIS .......................................................... 61 APÊNDICE D: TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS.......................... 62
11
1 INTRODUÇÃO1
O município de Vila Velha é um dos mais lembrados quando se pensa a geografia
capixaba. Linda por suas praias e rica em sua história, a cidade inspira poesias e
pesquisas desenvolvidas por muitos interessados em melhor conhecer as riquezas
desta cidade.
Este trabalho se originou da inquietação de integrantes do grupo, moradores do
município de Vila Velha, que perceberam o vazio de estudos acadêmicos acerca do
tema. Essa constatação animou o grupo na caminhada que culmina com a
construção deste trabalho, e o envolvimento com o município justifica a escolha da
temática pesquisada.
Percebe-se que a escolha do tema justifica-se por indagações e vivências pessoais
por parte dos autores. Nesse sentido, Ferrrari (1982 apud GIL, 1999, p. 51) aponta
que [...]
O pesquisador, desde a escolha do problema, recebe influência de seu meio cultural, social e econômico. A escolha do problema tem a ver com grupos, instituições, comunidades ou ideologias com que o pesquisador se relaciona. Assim, na escolha do problema de pesquisa podem ser verificadas muitas implicações, tais como a relevância, oportunidade e comprometimento.
Certamente, a subjetividade e a percepção pessoal influenciaram na escolha do
tema de pesquisa. Compreende-se, então, que “Somos no final de tudo,
pesquisadores de nós mesmos, somos nosso próprio tema de investigação”
(FERRAÇO, 2003, p. 158).
Sendo assim, a pesquisa visa responder ao seguinte problema de pesquisa:
● Quais os principais desafios encontrados para o ensino da geografia cultural nas
escolas públicas do município de Vila Velha?
Como objetivo geral, pretendeu-se pesquisar as manifestações culturais de Vila
Velha, analisando como elas são trabalhadas na disciplina de Geografia nas
1 Correção ortográfica e normatização feita por Danuza Barbirato, graduada em Engenharia Elétrica e feita por Gisele Resende de Oliveira, graduada em Pedagogia e Pós Graduada em Educação.
12
escolas, estabelecendo-se como meta, desenvolver uma cartilha pedagógica,
visando contribuir com o trabalho dos professores, em especial aqueles da escola
pública, em torno da temática Geografia Cultural do município. E para se alcançar tal
objetivo, foram traçados os seguintes objetivos específicos:
● discorrer sobre a identidade e a cultura de Vila Velha;
● entrevistar pessoas envolvidas com a cultura e o ensino da Geografia;
● analisar as manifestações culturais no espaço geográfico de Vila Velha;
● refletir sobre as manifestações culturais e a geografia escolar;
● descrever as principais manifestações culturais de Vila Velha
● desenvolver uma cartilha para auxiliar no ensino da geografia cultural de Vila
Velha.
Um trabalho de pesquisa se torna relevante de acordo com as novas informações
que ele pode fornecer (ARAUJO, 2001). Nesse sentido, a relevância desta pesquisa
reside na proposta de enriquecer a incipiente produção bibliográfica existente no
mercado sobre a temática, pouco abordada em livros e artigos científicos, com a
proposta de construir uma cartilha, ao final do estudo, material que servirá a outros
pesquisadores, professores e alunos que estudam a geografia cultural de Vila Velha.
Assim, a pesquisa está estruturada em seis partes sendo, a primeira parte, a
introdução, onde constam informações gerais sobre o desenvolvimento da pesquisa;
o capítulo dois, sobre a metodologia, onde relatamos os procedimentos
metodológicos para se alcançar o objetivo geral proposto; o capítulo três, que
discorre sobre a identidade, a cultura e a geografia escolar; o quarto capítulo, que
discorre sobre as manifestações culturais de Vila Velha; o quinto capítulo, que
aborda a proposta da construção da cartilha; as considerações finais, onde constam
as informações finais e as aprendizagens construídas ao longo da pesquisa. Além
desses capítulos, dispomos as referências, onde constam as informações gerais
sobre os autores citados e obras consultadas; e, por fim, nos apêndices, todos os
arquivos construídos e dados coletados nas entrevistas realizadas.
Esperamos que a temática abordada, no desenho elaborado pela metodologia
escolhida e pela pesquisa realizada, seja relevante para outros pesquisadores, bem
13
como professores e alunos que se interessem em estudar as manifestações culturais
do município de Vila Velha.
2 SELECIONANDO DINÂMICAS PARA GEOGRAFAR A CULTURA
LOCAL...
Ao traçarmos a metodologia de trabalho, pensamos em fazer um mapeamento das
principais manifestações culturais do município e a partir desse estudo, realizamos
um estudo em campo, efetuando entrevistas com representantes dessas
manifestações e com alguns docentes do município de Vila Velha. Para registrar as
principais expressões culturais, decidimos fazer uso de fotografias e filmagens.
Planejamos reunir essas produções em uma cartilha pedagógica, pretendendo
disponibilizá-la para a rede de ensino municipal, em formato impresso e digital, no
Laboratório de Ensino e Aprendizagem em Geografia (LEAGEO) na Universidade
Federal do Espírito Santo (UFES).
Sendo assim, adotamos como abordagem metodológica a Pesquisa-ação, como
ensinam Thiollent e André (apud VALLADARES, 2000), considerando que:
a) a pesquisa educacional deve definir exigências emergentes do contexto atual,
bem como a utilização do conhecimento na efetiva transformação de situações;
b) a orientação da pesquisa educacional deve promover o controle das funções
sociais do conhecimento para minimizar a burocracia e a tecnocracia, maximizando
seu potencial para transformações sociais desejáveis;
c) a pesquisa educacional com sentido projetivo possui dimensão construtiva,
remetendo a uma aprendizagem coletiva, constante, problematizadora e, portanto,
capaz de promover autonomia;
d) a questão normativa manifesta na articulação entre pesquisa e ação é resolvida
por deliberação coletiva, gerando vivência da cidadania e reciclagem de idéias,
enriquecidas pelo conhecimento a ser praticado pelo grupo;
14
e) a posição do pesquisador, como possuidor de um conhecimento prévio, não é
promessa de transmissão de conhecimentos, nem de obtenção de informação, antes
é perspectiva de reelaboração de conhecimentos num processo multidirecionado e
de ampla interação.
Entendemos que com essas perspectivas estaríamos indo ao encontro de nossas
aspirações na pesquisa com a atemática selecionada. Como a pesquisa-ação adota
diversos tipos de procedimentos metodológicos, selecionamos aqueles que nos
pareceram adequados ao estudo da temática. Todavia, nos mantivemos abertos ao
que nos indicaria o decorrer do estudo, que exigiu as seguintes opções:
1. Pesquisa exploratória e descritiva - Essa pesquisa se utiliza dos procedimentos
selecionados como cabíveis ao estudo. Em nosso caso, foi o momento de selecionar
bibliografia, conversar com professores, ler o que havia disponível imediatamente,
observar o objeto de estudo – a cultura de Vila Velha. É um momento do estudo.
Valemo-nos dela, no início do estudo, buscando o que Vergara (2000, p. 47)
explicita quanto a este momento da pesquisa:
[...] a investigação explicativa tem como principal objetivo tornar algo inteligível, justificar-lhe os motivos. Visa, portanto, esclarecer quais fatores contribuem, de alguma forma, para a ocorrência de determinado fenômeno.
2. Pesquisa bibliográfica: para que fosse construída essa pesquisa, foi necessário
realizar um levantamento e um estudo bibliográfico, conforme explica Ruiz (1996, p.
50)
A pesquisa teórica tem por objetivo ampliar generalizações, definir leis mais amplas, estruturar sistemas e modelos teóricos, relacionar e enfaixar hipóteses numa visão mais unitária do universo e gerar novas hipóteses por força de dedução lógica. Além disso, supõe grande capacidade de reflexão [...].
3. Pesquisa documental: para Gil (1999), esse tipo de pesquisa muito se
assemelha ao levantamento bibliográfico, diferenciando-se apenas nas fontes e suas
origens, sendo documentos oficiais construídos pelos órgãos competentes. Neste
estudo, tal procedimento se deu com o estudo da lei municipal de abairramento nº
4.707/08, assim como com os documentos oficiais sobre os currículos escolares –
Parâmetros Curriculares de Geografia (PCNs).
15
4. Realização de entrevistas: de acordo com Cury (2000) esse método de pesquisa
permite que o pesquisador esteja mais próximo do sujeito da pesquisa, podendo
explorar mais informações. Decidimos por entrevistas semi-estruturadas, isto é,
entrevistas com um roteiro pré-organizado, mas com abertura para inclusões
ensejadas pelos entrevistados, assim como pelo entrevistador a partir das respostas
obtidas.
a) Roteiro de entrevistas: O roteiro das entrevistas só foi definido após estudos
preliminares, que nos deram pistas sobre o que deveria ser investigado. Ainda
assim, adotamos o caráter da entrevista semi-estruturada, razão pela qual os
roteiros se mantiveram em aberto, mesmo no decorrer da entrevista. Essa prática
fez com que as questões ficassem diferenciadas entre os sujeitos pesquisados.
Tivemos algumas dificuldades na formulação das perguntas que seriam da
entrevista, pois era desejado evitar algo muito técnico ou rebuscado, que não
pudesse ser explorado como material de estudo nas escolas de ensino básico.
Assim, elaboramos algumas perguntas mais simples, que favorecessem o diálogo
nas entrevistas tanto com representantes populares, quanto outros representantes
de instituições administrativas, escolares ou acadêmicas, com maior oportunidade
de estudos. As perguntas para representantes do corpo docente buscaram tratar do
conteúdo de geografia cultural, trabalhado em sala de aula.
b) Sujeitos da pesquisa: Ferrão (2003) explica que os sujeitos de uma pesquisa
devem ser selecionados de acordo com sua capacidade de fornecer as informações
necessárias para que se responder ao problema proposto. Esse procedimento se
deu com profissionais que lidam com o desafio do ensino da cultura canela verde
nas escolas públicas em Vila Velha e com os sujeitos envolvidos com as
manifestações culturais.
Houve a divisão dos entrevistados em dois grupos. Um grupo foi formado por dois
membros do corpo docente da rede ensino de Vila Velha: uma pedagoga e um
professor de geografia. O outro grupo reuniu representantes das manifestações
culturais selecionadas. Para falar da Festa da Penha, entrevistamos um frei da
ordem religiosa que cuida do Convento da Penha, e, conseqüentemente da Festa da
padroeira do Estado. Entrevistamos o presidente da Escola de Samba Mocidade
16
Unida da Glória; o presidente da Associação dos Catraieiros do Espírito Santo e a
vice-presidente da Associação de Bandas de Congo de Vila Velha.
Os entrevistados apresentaram características pessoais muito diferentes, com
histórias de vida diversificadas e condições de trabalho heterogêneas. Contudo, do
ponto de vista do posicionamento cultural apresentaram características comuns,
ligados tanto pelo interesse e dedicação pela cultura, quanto pelas próprias
manifestações em si, defendendo a interação entre elas, a sua propagação e a luta
pelo incentivo popular e institucional para que os eventos culturais tenham
perpetuidade nas comunidades locais.
5. Filmagem, gravação e fotos: Valemo-nos dos artefatos tecnológicos que nos
permitissem captar com mais fidelidade o que pesquisamos em campo. Para isso,
solicitamos aos sujeitos envolvidos, a devida autorização, conforme prevê a ética da
pesquisa. Os produtos se tornaram representações das manifestações pesquisadas
(fotos e filmagens) assim como se fizeram documentos preciosos para validação de
nossas aprendizagens e compreensões elaboradas ao longo do estudo.
Todas as entrevistas foram feitas em um formato audiovisual, incluindo a gravação
da fala dos entrevistados e a filmagem deles no decorrer da entrevista. Escolhemos
efetuá-las no local de atuação de cada entrevistado, exigindo uma adaptação por
parte de cada um de nós à dinâmica do meio dos nossos parceiros neste trabalho –
o ambiente das docas, com o catraieiro; a solenidade do santuário; a peculiaridade
do barracão do samba e na Casa da Cultura da Barra do Jucu com o Congo. Isto
favoreceu nossas análises das condições geográficas locais para o desenvolvimento
das atividades feitas tanto pelos manifestantes, como por parte dos profissionais da
educação.
6. Análise dos dados coletados: os dados foram analisados qualitativamente,
dispensando análise quantitativa, uma vez que se trata de uma temática não
quantificável, mas, vivenciada por cidadãos, educadores, educandos, pesquisadores
e trabalhadores da cultura do município de Vila Velha. Como enfatiza Moreira,
Não há hipóteses pré-concebidas [...] os pesquisadores não coletam informações ou provas com o objetivo de corroborar ou refutar hipóteses construídas previamente; ao invés disto, as abstrações são construídas à medida que os dados coletados vão se agrupando, a pesquisa qualitativa é
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descritiva, tem maior interesse no processo do que meramente nos resultados ou produtos (MOREIRA apud ROQUE, 2004, p. 21).
7. Criação da cartilha: Essa cartilha foi constituída por uma síntese do nosso
trabalho, na expectativa de ser um auxílio aos professores sobre o tema geografia
cultural de Vila Velha. Considerando a carência de materiais bibliográficos a
respeito, realizamos uma breve historicização de cada manifestação pesquisada;
evidenciamos sua localização, destacando, também, a importância da cultura local,
sua preservação e de uma maior retomada do tema no ambiente escolar. Nela
incluímos as filmagens produzidas a partir das entrevistas, bem como as fotos e o
texto integral das entrevistas.
8. Elaboração de mapas: Após estudos preliminares, sobre a cultura local,
selecionamos as manifestações culturais que mais se evidenciaram na bibliografia
consultada e, então, elaboramos o mapa cultural de Vila Velha, segundo nossa
concepção de pesquisa: o Congo na Barra do Jucu; o Samba no bairro da Glória; a
Festa da Penha no Convento da Penha e na Prainha e o ofício dos Catraieiros em
Paul. A partir do mapeamento, fomos a campo fazer as entrevistas, as fotografias e
as filmagens.
Essa trajetória metodológica nos fortaleceu quanto à importância da temática para a
formação dos alunos como cidadãos atuantes em sua comunidade local, com sua
identidade cultural valorizada pelo resgate das vivências atuais, reconhecendo suas
origens na vida de antepassados, entendendo que é por meio da cultura que todos
nós vamos dar sentido a vida. Afinal, o indivíduo se forma imitando e aprendendo.
18
3 ENTRE A CULTURA E A IDENTIDADE CULTURAL, UMA
GEOGRAFIA ESCOLAR.
Há muito tempo, os diversos segmentos da ciência, principalmente as ciências
humanas, buscam entender o mundo e as situações que o envolvem. Essas ciências
evoluíram conforme as modificações socioeconômicas, políticas, ambientais,
culturais e espaciais ocorridas no mundo.
A cultura é entendida de maneira distinta pelos pesquisadores de cada ciência, por
causa das peculiaridades de cada campo cientifico, e não há uma única definição.
Os estudos da geografia cultural possuem cinco temas implícitos em si: cultura, área
cultural, paisagem cultural, história da cultura e ecologia cultural, que constituem
juntos o seu núcleo (CORRÊA; ROSENDAHL, 2007). Não deixando de considerar as
comunidades de pessoas ocupando um determinado espaço, amplo e geralmente
contínuo, é preciso, ainda, levar em conta as numerosas características de crenças
e comportamento comuns entre os membros pertencentes a essas comunidades.
A cultura é uma chave para a compreensão sistemática de diferenças e
semelhanças entre os homens. (CORRÊA; ROSENDAHL, 2007). E Paul Claval
citado por Silva e Martins (2010) esclarece que:
A cultura é a soma dos comportamentos, dos saberes, das técnicas, dos conhecimentos e dos valores acumulados pelos indivíduos durante suas vidas e, em uma outra escala, pelo conjunto dos grupos de que fazem parte. A cultura é herança transmitida de uma geração a outra. (...) Os membros de uma civilização compartilham códigos de comunicação. Seus hábitos cotidianos são similares. Eles têm em comum um estoque de técnicas de produção e de procedimentos de regulação social que asseguram a sobrevivência e a reprodução do grupo. Eles aderem aos mesmos valores, justificados por uma filosofia, uma ideologia ou uma religião compartilhadas (2010, p 63).
Se falarmos da vida em sociedade em que estamos presentes, a cultura retrata
todas as nossas atuações, pois está em qualquer lugar, seja no trabalho, na relação
conjugal, na vida financeira, na vida religiosa, na vida social em geral. Na sociedade
humana tudo está formado em relação aos modos de pensar, de como agir e nas
regras em geral.
19
Podemos dizer assim, que temos maneiras distintas de cultura, a cultura clássica e a
cultura popular. A cultura clássica, também chamada de erudita, é caracterizada por
ser própria dos intelectuais e artistas da classe dominante da sociedade, a segunda
considerada também como espontânea, advém dos trabalhadores urbanos e rurais
(CHAUÍ, 1994).
A cultura erudita está interligada às classes dominantes da sociedade e por isso, ela
é reconhecida como uma cultura oficial, sendo valorizada pela educação formal no
processo de organizar os conteúdos que serão trabalhados em sala de aula.
Já a cultura espontânea ou popular é aquela tirada da vivência das pessoas, dos
povos “[...] é o acervo de conhecimento apreendido assistematicamente, ao saber da
vivência, fruto da experiência empírica do homem, no contexto informal com seu
semelhante” (MACRUZ, 1989, p.10).
Podemos realçar um lado muito importante que é como absorvemos as idéias de
cultura tanto como uma maneira de preservá-la, como forma de modificação social
que são mostradas pela linha de pensar, agir e sentir o mundo e as ligações do
homem seja através de crenças, da língua, pelas práticas, um artesanato, culinária
entre muitos outros. É nesse sentido que Santos (1994) nos atenta em sua
discussão, que a cultura é uma formação histórica, seja como concepção, seja como
processo da sociedade. Ou seja, a cultura não é algo simples, não é algo biológico
ou físico. Ao contrário, ela é um conjunto de vidas humanas. Este fato nos faz
compreender não só a idéia de cultura, mas também a importância que ela passa a
ter.
Apresentamos aqui a cultura como fator relevante no processo de ensino-
aprendizagem e formação da identidade do discente.
Dentro da Geografia essa movimentação pode ser vista nas obras de autores do
século XIX como Ratzel, La Blache, Humboldt e Ritter entre outros, cujos trabalhos
estão ligados à Geografia Humana.
20
Nesse contexto, muitos estudos foram realizados para entender as transformações
do espaço geográfico, como também para nortear uma geografia escolar
indispensável na formação crítica do aluno. A partir da década de 1990, o cunho
crítico foi evidenciado a partir da sua ligação com a abordagem cultural; esse
período fica marcado pela importância da geografia cultural renovada. Esse
processo de renovação da geografia cultural se deu no contexto da valorização da
cultura que ficou conhecido como “virada cultural”.
A geografia cultural é atualmente uma das mais emergentes áreas do trabalho
geográfico. Abrangendo desde as análises de objetos do cotidiano, representação
da natureza na arte e em filmes, até estudos do significado das paisagens e a
construção social de identidades, baseadas em lugares, ela cobre numerosas
questões. Seu foco inclui a investigação da cultura material, costumes sociais e
significados simbólicos, abordados a partir de uma série de perspectivas teóricas
(MCDOWELL, 1996).
Da mesma forma como McDowell (1996) considera essa área uma das mais
importantes do trabalho geográfico, nós também nos interessamos por essa parte da
geografia. O entusiasmo é alimentado pelo prazer, pelo estético, pelo envolvente
ambiente das manifestações culturais, no bucólico dos lugares onde acontecem,
pela paixão daqueles que militam com a cultura. Com o intuito de nos aprofundar na
temática Cultural e inseri-la no âmbito escolar, usando como instrumento a
geografia, pesquisamos as manifestações culturais mais evidentes, presentes no
município de Vila Velha – ES, selecionando entre elas, aquelas que nos pareceram
mais expressivas: A Festa da Penha, o congo, os catraieiros e o samba.
Vários autores de diferentes aéreas do conhecimento como Geertz (1978) da
Antropologia, Chauí (1994) da filosofia, Daolio (2004) da Educação e Claval (2001),
Rosendahl; Corrêa (2002), Santos (1999), Sauer (2003), da Geografia, entre outros,
se preocupam também com essa questão, do que é geografia cultural, e nos
mostram em suas obras o que se entende por Cultura, como fator importante na vida
- vida essa marcada por uma troca de experiências proporcionadas nos contatos
entre indivíduos nas sociedades. Antes de abordarmos neste trabalho o conceito de
21
cultura, lembraremos de Corrêa e Ronsedahl (2007), a seguinte reflexão “Para os
que praticam e ensinam, a geografia cultural não é suscetível de definição fácil.”
Nós sabemos que os alunos, assim como todos nós, vêm com identidades forjadas
ao longo de suas vidas, influenciados por todos estes pontos trazidos por Claval
(apud SILVA e MARTINS, 2010). Um desses pontos são as manifestações culturais
locais que estão inseridas no cotidiano do aluno.
Identidade cultural como descreve Miranda (2000) é a soma de significados que
estruturam a vida de um indivíduo ou de um povo. Parte-se do princípio de que será
necessário ter em mente, antes de mais nada, que a identidade cultural não é mais
uma, porém múltipla.
Assim, falar de identidade cultural revela-se uma contradição: nossa vida se
entrelaça com diferentes vivências culturais, eivando-nos de diversas identidades
culturais. As culturas nacionais formam um grande caldeirão cultural, onde se
misturam as histórias, tradições, manifestações de danças, de comidas, de artes, de
religiões, de modos de viver de ancestrais reunidos pela vivência comum num dado
território. A parte essencial de identidade cultural deriva dessa mistura, que, do
sentimento de pertença nacional fabrica o sentimento diversificado da identidade
local, pela auto-estima dos grupos mais próximos. A narrativa da cultura nacional é
contada inúmeras vezes na literatura nacional, na mídia, na história, na música e na
cultura popular. Desta forma, a cultura popular é um dos elementos que simbolizam
e dão sentido à nação, à cultura nacional. Assim, se constitui como uma das fontes
de identidade cultural, multiplicando-a, diversificando-a em muitas (HALL, 2006).
Pode-se conceber identidade cultural como uma “interação” entre o eu e a
sociedade. Como o próprio conceito com o qual estamos lidando, “[...] identidade, é
demasiadamente complexo, muito pouco desenvolvido e muito pouco compreendido
na ciência social contemporânea” (HALL, 2006, p. 08). Desta forma, é difícil
encontrarmos uma definição que encerre vários conceitos.
Vendo essa relevância e a escassez bibliográfica e com que é trabalhada no
ambiente escolar, demos inicio ao trabalho. A escassez de trabalhos pode ser
verificada na seguinte fala do professor de geografia da escola Godofredo
22
Schneider, quando questionado se ele considera importante abordar a cultura de
Vila Velha nas aulas de Geografia.
Sim, o maior problema de trabalhar a cultura de canela-verde é a falta de material. Uma vez eu fui fazer um levantamento e tive dificuldade. [...]. Aqui em Vila Velha você não encontra a história dos bairros.
E a escassez com que é trabalhada no ambiente escolar, nessa outra entrevista com
a pedagoga da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Professora Maura
Abaurre”, ganha destaque:
Existem dificuldades em relacionar a cultura Canela Verde, com os conteúdos que você acha que devem ser ministrados nas aulas de geografia? Eu vejo que o professor, às vezes, tem uma certa dificuldade porque ele tem que seguir um programa. Existe um programa você querendo ou não pro vestibular onde vai ver raramente questões voltadas especificamente para cada município.
Essa afirmação serviu de mais um incentivo à nossa escolha de pesquisa, serviu-
nos de alento na insistência de levar a cultura local para a escola, por meio da
geografia escolar, conforme objetivo desse trabalho.
A produção do trabalho, além de servir como subsídio ao trabalho docente, permite a
discussão de como o ensino da cultura local e consequente relação com o cotidiano
do aluno pode colaborar para um melhor aprendizado do conteúdo de geografia, no
âmbito das discussões curriculares municipais, entendendo a força política no
espaço municipal dessa inserção no ensino escolar.
Por exemplo, quando o representante da manifestação da Festa da Penha nos
responde se houve épocas em que a Festa da Penha foi mais evidenciada.
Eu acho que cada festa tem seu caráter próprio do tempo, da data, às vezes até conforme o tempo ajuda, o tempo bom, não ter muita chuva, coisas assim. As peripécias do tempo favorecem ou não favorecem a festa. Inclusive nesse ultimo ano, tivemos um tempo muito favorável, teve chuva mansa, não teve chuva violenta. Teve sol, teve calor. Tudo isso, mas dentro de uma medida. Então ficou tranqüilo [...]2
Vimos neste discurso, algumas possibilidades de se trabalhar conteúdos de
geografia vinculados ao cotidiano como, por exemplo, pedir para os alunos
realizarem uma pesquisa dizendo por que o tempo estava com aquelas
características no dia da festa, em qual estação do ano geralmente acontece o
2 Ver Apêndice D.
23
evento e as principais características dessa estação, o que poderia explicar o motivo
da chuva na data do evento.
É importante que a geografia escolar tenha essa relação com a vida cotidiana dos
alunos, para que não se guie a aprendizagem apenas por repetições, e que o aluno
tenha a oportunidade de criação. Essa busca vai permitir uma relação entre a vida
cultural e social, por intermédio da geografia.
Lima e Vlach (2002) nos afirmam esta questão de que a geografia real, quando
vivenciada, é favorável ao aluno:
[...] os manuais tradicionais não enfatizam a compreensão do saber geográfico historicamente acumulado, dificultando a visão da Geografia real, vivenciada no seu cotidiano e tão necessária para melhorar as relações entre o homem e a natureza.
Ao analisarmos essas relações de prática e teoria em possibilidades para o ensino
da geografia escolar, podemos compreender como é importante trazer a
manifestação cultural para a discussão do que se vive, como expressão de
conhecimento sistemático, na escola.
A Geografia escolar deveria ter um papel mediador entre a identidade e o processo
de ensino e ainda da propagação da cultura, neste caso integrar a cultura local do
município de Vila Velha com a identidade cultural nacional, como uma de suas
muitas faces.
Essa prática vai permitir uma relação entre a vida cultural e social por intermédio da
geografia. Neste pensamento de influências na vida cotidiana do aluno, podemos
dizer que a identidade de uma comunidade ou de um indivíduo pode sofrer, ou não,
influência dessas manifestações, mesmo não vivenciando de perto tais culturas.
3.1 MANIFESTAÇÕES CULTURAIS NO ESPAÇO GEOGRÁFICO
Buscando espacializar as manifestações por nós apresentadas, elaboramos um
Mapa, mostrando a localização de cada uma daquelas manifestações selecionadas
24
por nós. A figura 1 mostra o mapa de Vila Velha e suas manifestações culturais
destacadas. Esse mapa, mostrado na Figura 1, teve que ser criado pelo grupo, uma
vez que não encontramos nenhum mapa cultural referente ao município de Vila
Velha.
Essas manifestações em nosso trabalho estão representadas e presentes em quatro
das cinco regiões políticas de Vila Velha: Centro, Grande Aribiri, Grande Cobilândia
e Grande Jucu.3
Figura 1: Manifestações Culturais do Município de V ila Velha Fonte: Desenvolvido pelos alunos autores desta pesquisa
3 Somente na região do Grande Ibes não foi encontrada em nossas pesquisas nenhuma informação sobre representação cultural, das que foram pesquisadas.
25
Localizamos as quatro manifestações culturais mais importantes do município de
Vila Velha utilizando a mais recente divisão política do município. As áreas
destacadas – Centro, Grande Ibes, Grande Aribiri, Grande Cobilândia e Grande Jucu
– contemplam 91 bairros. Vendo as delimitações feitas desses locais podemos
observar que estão bastante pontuadas pelas características históricas, culturais,
geográficas e sociais de cada comunidade, fazendo surgir uma sistematização
cultural em Vila Velha. Podemos dizer, então, que a organização desse espaço está
atrelada aos focos culturais existentes em suas regiões, desencadeando, assim,
uma tremenda complexidade, rica para se tratar em sala de aula, considerando os
pressupostos da geografia.
Devemos ter em mente que a cartografia é uma ferramenta para ensinar a geografia,
por isso não podemos deixar de destacar que o sucesso em trabalhar com qualquer
meio da cartografia depende de o leitor absorver a totalidade da informação contida
na representação de elementos no meio cartográfico, oriundos de forma histórica,
cultural e tradicional, de uma perspectiva geográfica (ALMEIDA, 2007).
As aulas de campo, como o professor Vitor E. F. Viegas demonstrou em sua
entrevista, são um excelente recurso para propiciar, de forma clara, um aprendizado
sobre a temática cultura. Contudo, para além do contato dos alunos com elementos
práticos dos eixos culturais do município, é preciso propiciar uma formação reflexiva
sobre a cultura local, onde se faz necessário o contato com material bibliográfico-
documental, que insistimos não estar disponível no mercado livreiro e na escola de
Vila Velha, deixando o aluno à mercê dessa experiência empírica do que é cultura.
Os apontamentos abordados permitem entender que “[...] a cultura é a própria
condição de vida de todos os seres humanos. É produto das ações humanas, mas é
também processo contínuo, pelo qual, as pessoas dão sentido às suas ações.
Constitui-se em processo singular e privado, mas também é plural e publico. É
universal, porque todos os humanos a produzem, mas é também local, uma vez que
é dinâmica específica de vida que significa o que o ser humano faz” (DAOLIO, 2004,
p. 07). Partindo desses parâmetros, pode-se ter uma perspectiva de que estudar a
cultura propicia a criação de valores que irão alavancar a formação de um cidadão
26
demasiadamente mais consciente da importância dos aspectos culturais, materiais e
imateriais do seu habitat.
De acordo com essa visão, a cultura é entendida como uma forma que contém
sentido e mobilidade à vida de um indivíduo em algumas maneiras, se não todas. Já
outros autores, que ajudaram na formação e aperfeiçoamento do estudo, o
entendimento sobre Cultura nos leva, a saber, que estão relacionados a dar valor
aos pormenores do local, das raízes e da identidade do povo canela verde. È
possível afirmar então, que a cultura é a maneira como o aluno tem a chance de
viver e reconhecer suas raízes culturais. A cultura de um povo tem que ser
desfrutada e conhecida, pois é desta forma que todos se localizam em sua origem e
cultura local (GALVÊAS, 2005).
Devemos ter como pressuposto dessa questão, que os canelas verdes de cada
distrito têm um pensar sobre o seu município de acordo com a manifestação cultural
mais expressiva em seu lugar. Conforme Chauí (1994), a Cultura é a forma como as
pessoas se tornam mais humanas por meio do exercício permanente das
expressões sociais, econômicas, políticas, religiosas, artísticas e intelectuais.
Pensando dessa maneira e considerando que a Cultura imediata é aquela local,
reforça-se a nossa compreensão de que é preciso dar destaque à Geografia cultural
nas escolas.
As manifestações culturais tradicionais de Vila Velha estão muito mais enraizadas do
que se imagina. Nas escolas ou colégios do município, de forma geral, não são
plenamente trabalhadas, mesmo se tendo a idéia também afirmada na entrevista
feita ao Frei Pedro Engel ao salientar que “o ensino deve ser ecumênico”. Porém só
se encontra essa idéia no papel, pois como o professor Vitor E. F. Viegas, em sua
entrevista, destaca em “não ter material didático suficiente sobre a cultura de Vila
Velha para trabalhar em sala de aula”. Assim é vital a criação de suporte ao
profissional da geografia para o desenvolvimento desse aprendizado facilitando o
conhecimento, para os alunos do município, das características culturais de Vila
Velha nas dimensões sociais, materiais e ambientais, contribuindo assim,
progressivamente para a noção de identidade capixaba e o sentimento de
pertinência ao solo desse Estado.
27
Como o professor Vitor E. F. Viegas deixa claro em sua entrevista, até pouco tempo,
a maioria da população de Vila Velha era formada por pessoas de fora, de estados
vizinhos, e agora que está surgindo um povo tipicamente local, formando assim uma
nova identidade canela verde. Daí entendemos que uma cultura típica do local vem
a ser construída com o tempo e sempre está se transformando de acordo com
influências externas.
As atitudes do professor Vitor E. F. Viegas estão bastante atreladas, em uma esfera
de ação condizente em ter sempre Vila Velha em todas as suas abordagens como
referência fazendo haver, a todo instante, contatos dos seus alunos com aspectos
de sua terra. A partir disso podemos observar que o sentir de forma constante faz
surgir a identidade cultural de um indivíduo.
28
4 DAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS AO DESEJO DE UMA
GEOGRAFIA ESCOLAR LOCAL
Neste capítulo, são destacadas algumas das principais manifestações culturais
presentes no município de Vila Velha. Nele argumentamos sobre o desejo e
importância de uma geografia escolar que inclua em sua ementa curricular
conteúdos referentes à cultura local.
4.1 O CURRÍCULO ESCOLAR
Embora seja um termo bastante conhecido entre os profissionais da educação, o
currículo escolar ainda é um documento pouco compreendido do ponto de vista
saber-fazer. Engavetá-lo ou simplesmente escrevê-lo como documento e não como
prática, são atitudes que muitas escolas adotam por desconhecerem ou ignorarem a
importância de se estabelecer um currículo escolar vivido, voltado para a valorização
geográfica da escola, considerando o seu município.
De acordo com Mota e Barbosa (2002)
Os estudos curriculares representam [...] um poderoso artefato para o movimento de observação, reflexão e intervenção na dinâmica escolar. Possibilitam compreender o que se processa no seu interior e os vínculos entre o que se vive na escola e a comunidade onde esta se localiza. De igual forma, possibilitam ainda (des)estabelecer limites entre o que é "específico" da escola e o que "pertence" ao conhecimento da sociedade em geral.
Nesse sentido, conceituar currículo escolar não é uma atividade muito simples. Ela
requer uma série de ações que expliquem a escola na sua especificidade, bem como
o meio social no qual ela está inserida.
Na visão de Ferraço (2005, p. 18)
A questão curricular [...] só é possível de ser pensada na dimensão das redes coletivas de fazeressaberes dos sujeitos que praticam o cotidiano, fato que tem implicado a elaboração de outros discursos sobre educação, ao colocar-se em dúvida idéias que têm permeado o imaginário da área já há algum tempo.
29
Oliveira (2005) quando aborda o termo currículo escolar, muito pensa na palavra
cotidiano. A autora concorda com Ferraço (2005), no sentido de que há prática do
currículo no cotidiano, ou seja, ele é feito por pessoas, e essas pessoas são sujeitos
ativos na escola, que agem ao fazerem o cotidiano escolar. Isto não descarta a
teorização dele, nele e com ele. Ao fazer, se teoriza no querer e no poder fazer.
Portanto, o currículo escolar, que é visto como pronto e acabado, não se faz
verdadeiro como representação real do que acontece na escola, assim como aquele
que não foi feito a partir da prática e da vivência de todos os envolvidos na
educação, não pode ser válido para uma prática educacional com intenções
coletivas na busca de transformações no meio social, histórico e geográfico.
É importante ressaltar que o cotidiano escolar é a base do seu currículo, e as
observações dos atores envolvidos na educação – pais, alunos, professores,
pedagogos, membros da comunidade, entre outros – são fundamentais para a
construção deste documento que norteia o trabalho pedagógico desenvolvido na
escola.
As ações pedagógicas da escola trazem sempre uma intenção, por isso são
politicamente instituídas. Portanto, isso requer planejamento, conhecimento, e
relacionamentos entre aqueles que participam do processo de formação dos alunos
e construção da qualidade de ensino.
O sistema educacional brasileiro exige da escola uma burocracia que lhe toma boa
parte de seu tempo. Essa documentação que, muitas vezes é pouco utilizada pelos
próprios profissionais, coloca em questão a finalidade do currículo escolar. Na visão
de Mota e Barbosa (2002) é através do currículo escolar que algumas questões são
colocadas em discussão, como por exemplo, a definição do que e como se aprende
na escola, buscando conhecer de quem é o interesse em aprender, verificando a
validade do conteúdo ensinado.
A escola precisa dar importantes passos para que ela consiga sair da “prisão” em
que vive. É preciso discutir qual o papel da escola na sociedade atual. Mas, não
existem garantias de que as discussões sobre tantas questões relacionadas à
30
escola, frente à sociedade, atinjam seus objetivos. Portanto, a participação de todos,
famílias, profissionais da educação, alunos, membros da comunidade e gestores
tende a aumentar as possibilidades de sucesso.
A escola precisa de prática. É preciso que não haja medo de errar, que não haja
temor do fracasso. O caminho, a escola descobre caminhando, e por isso, as ações
são muito importantes no sentido de dar significado ao saber-fazer, colocando em
prática ações voltadas às necessidades da clientela escolar.
Assim, pode-se pensar que o currículo escolar reflete os conflitos e as alternativas
que surgem a partir dos dilemas demandados nesse tempo vivido.
É no currículo escolar que se encontra a principal tarefa da escola frente à
sociedade: a transformação. O modelo social atual, caótico, carente de uma
estrutura mais solidária e igualitária grita por um socorro transformador, onde haja
mudança de mentalidade referente a valores que têm comprometido a afirmação da
própria vida. Currículo escolar, portanto, é isto. A expressão da vida na escola, como
ela se reflete no contexto de formação humana, que interfere na construção do
caráter, na formação do sujeito socialmente preparado, compreendendo e
transformando o espaço geográfico em que ele vive. E a cultura do povo se inclui aí.
4.1.1 As Contribuições dos Parâmetros Curriculares Nacionais –
PCN’s
O Ministério da Educação (MEC), visando estabelecer um padrão de qualidade entre
as escolas brasileiras, sejam elas localizadas na zona urbana ou rural, pertencentes
tanto a rede pública quanto a rede privada de ensino, criou os PCN’s.
Esses Parâmetros, na verdade, tratam-se de uma
[...] iniciativa do MEC em propor parâmetros curriculares nacionais vem configurar uma proposta que oriente de maneira coerente políticas educacionais e contribua efetivamente para avanços na qualidade da educação no Brasil, assim como procura se inscrever no horizonte das concepções acima apontadas, de modo a tentar dar conta de uma concepção de cidadania, pólo norteador do processo educativo, à luz das demandas do mundo contemporâneo (BRASIL, 1999a, p. 17).
31
O documento PCN’s está organizado em 10 livros que distribuem suas orientações
de acordo com as diferentes áreas do saber, entre elas, o ensino da Geografia na
escola.
A proposta para o ensino da Geografia trazida pelos PCN’s mostra que há
necessidade de se trabalhar um ensino que leve o aluno a compreender e intervir na
sua realidade social (BRASIL, 1999b). Essa colocação dos PCN’s de Geografia nos
faz pensar que não se deve organizar o currículo escolar sem levar em conta a
realidade do aluno, sua história, cultura e geografia local.
Tal orientação dos PCN’s se justifica pela possibilidade de compreender de que
maneira diferentes sociedades interagem com o meio natural diante da construção
do seu próprio espaço, bem como as singularidades do local onde o aluno vive, e
também as suas características que o tornam diferente e também o assemelham a
outros lugares.
Trabalhar a Geografia à luz dos PCN’s, segundo nossa compreensão, permite
repensar como propiciar ao aluno a consciência acerca dos vínculos de afeto e
também da identidade que se estabelece com o local de vivência, além das relações
estabelecidas entre a realidade do aluno e outros espaços geográficos, sendo
distantes no tempo e no espaço, assim como perceber as conseqüências no
presente trazidas do passado (BRASIL, 1999b). Daí a necessidade de se promover
um ensino de Geografia voltado para a interdisciplinaridade, pois essa proposta não
deve se desvincular do ensino de História, por exemplo.
Assim, os Parâmetros Curriculares Nacionais de Geografia trazem a proposta de
desenvolvimento de um trabalho pedagógico voltado para o aumento da capacidade
do aluno do ensino fundamental de poder observar, conhecer, explicar, comparar e
representar as características do lugar onde ele vive e também das diversas
paisagens e espaços geográficos (BRASIL, 1999b).
A primeira parte do documento descreve a trajetória da Geografia em dois ângulos:
como ciência e como disciplina escolar, procurando mostrar as suas tendências na
32
atualidade e também a sua importância na formação do cidadão. Apontam-se os
conceitos, os procedimentos e as atitudes que deverão ser ensinados, visando a
aproximação dos alunos para compreenderem a dinâmica desta área de
conhecimento apropriando-se de suas teorias e de suas explicações (BRASIL,
1999b).
Entra-se, na segunda parte, numa descrição da maneira como pode ser o trabalho
pedagógico, os objetivos e os conteúdos nessa disciplina para o Ensino
Fundamental.
O documento finaliza trazendo uma série de sugestões norteadoras acerca da
organização do trabalho escolar e suas questões didáticas. Nessas orientações
didáticas, os princípios e os procedimentos de Geografia se apresentam como
recursos que serão utilizados pelo professor no momento de planejar as suas aulas
e também na definição das atividades que serão construídas e propostas aos alunos
(BRASIL, 1999b).
Assim, é importante ressaltar que embora cada uma dessas partes possa ser lida
com independência, é indispensável o conhecimento acerca do documento como um
todo, buscando enriquecer a experiência docente em sala de aula.
Torna-se relevante que a proposta seja integralmente lida e discutida pelos
professores e, com o apoio de outras bibliografias, tornam-se possíveis outras
adaptações de acordo com a realidade de suas escolas e também considerar as
características dos alunos atendidos.
4.2 MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DE VILA VELHA
Vila Velha é um município rico em cultura local, apresentando diversas
manifestações culturais, dentre as quais este trabalho optou por enfatizar a Festa da
Penha, o Congo, os Catraieiros e o Samba. Sínteses desses movimentos,
embasadas por autores consagrados e por alguns dos principais representantes das
manifestações, são apresentadas a seguir:
33
4.2.1 A Festa da Penha
Vila Velha é um município do estado do Espírito Santo composto em sua quase
totalidade por áreas planas, com exceção de alguns pontos mais elevados, como
por exemplo, onde está localizado o Convento da Penha, no bairro da Prainha. É
nesse bairro em que acontece a Festa da Penha, uma das mais importantes festas
religiosas e culturais do Estado. Esta festa é dedicada a Nossa Senhora da Penha,
padroeira oficial do Estado.
A comemoração traz consigo a religiosidade (sagrado) e o profano, onde se incluem
as bandas de congo, que compõem a parte ligada à cultura popular e ao folclore. A
cultura popular, segundo (CHAUÍ, 1994), é advinda das classes trabalhadoras,
sendo considerada espontânea. Isso nos remete ao entendimento da participação
popular como formadora e agente social que irá influenciar os comportamentos de
uma sociedade.
Pensando assim, Claval (2001, p. 63) nos diz que “[...] a cultura é a soma dos
comportamentos, dos saberes, das técnicas, dos conhecimentos e dos valores
acumulados pelos indivíduos durante suas vidas e, em uma outra escala, pelo
conjunto dos grupos de que fazem parte” e nos acrescenta que “A vida cotidiana é
assim toda penetrada de automatismos: não há necessidade de parar para refletir, o
que convém fazer é conhecido; a situação pode ser avaliada num golpe de olhos”
(CLAVAL, 2001, p. 80).
A Festa da Penha, que atualmente traz milhares de fiéis ao Parque da Prainha e ao
Convento, se iniciou, segundo o Frei Engel, depois que Pedro Palácios construiu a
primeira parte da capela, no século XVI. A festa ocorre anualmente, se iniciando no
domingo de Páscoa, quando começa o Oitavário, período de oito dias de
celebrações antes do dia de Nossa Senhora da Penha, feriado estadual em que
ocorre o encerramento da festa.
Durante o Oitavário, são realizadas missas todos os dias no campinho do Convento,
sendo as mais importantes as missas de sábado, domingo e segunda-feira, que
34
marcam, respectivamente, o encerramento da romaria dos homens, o encerramento
da romaria das mulheres e o encerramento das celebrações da Festa Penha,
conforme mostram as imagens da Fotografia 1 a seguir.
FOTOGRAFIA 1: IMAGENS DA FESTA DA PENHA Fonte: Werls, 26/04/ 2006 e Gabriel Lordêllo e Tade u Bianconi,15/04/2008 Segundo Frei Engel, a Festa da Penha é “uma manifestação que jamais pode
acabar pela sua importância cultural e religiosa”. Ao analisarmos essa frase do Frei
Engel, percebemos a importância da cultura popular no cenário estadual. Portanto,
devemos garantir que a cultura popular seja ensinada nas escolas, uma vez que são
“[...] as experiências e histórias pelas quais os estudantes dão sentido ao mundo [...]”
(MOREIRA; SILVA, 1999, p. 95). Privar os estudantes desse ensino “[...] seria
reduzir a aprendizagem à dinâmica da transmissão e da imposição” (MOREIRA;
SILVA, 1999, p.95).
Contribuições para os professores de Geografia: trabalhar a Festa da Penha não
exige o rigor com a data comemorativa que, normalmente, ocorre no primeiro
semestre do ano. Tal evento envolve muito mais que uma manifestação dos
religiosos. A festa envolve um fluxo de populações de vários lugares do estado e do
Brasil, o que causa impactos momentâneos na organização espacial de Vila Velha:
há um aumento na quantidade de consumo, de produção de lixo, no tráfego
rodoviário, nos serviços de modo geral. Movimenta o comércio local, a hotelaria, os
bares e restaurantes. O estudo disso pode ser feito com mapas (marcar os locais de
origem das maiores romarias), com gráficos (o quantitativo de romeiros dos últimos
três anos), com tabelas (apresentação de dados como gastos públicos, acidentes de
35
trânsito, pessoas na festa), com textos da mídia, com imagens comparativas de
diferentes tempos...
O local de realização deste movimento histórico, religioso e cultural exigiu mudanças
estruturais na organização do espaço, na localidade da Prainha, que é um dos mais
antigos bairros e também um sítio histórico (pouco preservado) no município de Vila
Velha.
A região onde ocorrem as celebrações da festa da Penha pode ser explorada com o
aluno para investigar, problematizar e compreender as intervenções humanas no
espaço geográfico: os aterros, construções, desmatamentos e crescimento
desenfreado na região de praia e mata atlântica abrigada no bairro da Prainha.
Esse trabalho se torna mais enriquecido se o conteúdo for desenvolvido em parceria,
envolvendo outras áreas de saberes do currículo escolar, por exemplo, com
professores de história, ciências naturais, artes (a arquitetura do local se confunde
entre o antigo e o moderno) entre outras disciplinas escolares.
4.2.2 O Congo
O Congo na Barra do Jucu, de acordo com nossa entrevistada Beatriz dos Santos
Rego, vice-presidente da Associação de congo de Vila Velha, teria surgido na Barra
do Jucu, no início da década de 1940.
O precursor local dessa manifestação cultural foi Mestre Honório, que juntamente
com seus amigos, se reuniam para a brincadeira de congo, conhecida como roda de
congo. Os participantes dessas rodas eram, na sua maioria, moradores de bairros
vizinhos como Ponta da Fruta e Itapuera, entre outros. Na entrevista, Rego nos fala
a respeito do surgimento dos principais instrumentos componentes do congo “a partir
daí que começou a surgir o tambor e a casaca. Não existiam nessa época outros
instrumentos, somente o tambor e casaca”. Posteriormente ela relata sobre o início
do interesse de pessoas para formação da primeira banda de congo da Barra do
Jucu.
36
O Congo tem três momentos específicos de comemoração, sendo o primeiro a
Fincada do Mastro, em que é homenageado São Benedito. Acontece no último
sábado de dezembro, depois do Natal, para não coincidir com outra festa municipal.
Conta a história que “[...] um navio naufragou e os escravos se agarraram ao mastro
e se salvaram e prestaram essa homenagem ao santo fincando esse mastro do
navio na praia”4. No entanto, na Barra a fincada é realizada em frente a uma igreja,
que era a única que existia na região, a Igreja de Nossa Senhora da Glória.
O segundo momento é a retirada deste mastro, já que o mesmo não pode
permanecer fincado o ano todo. O mastro é retirado dia 20 de janeiro, dia de São
Sebastião. O terceiro e último momento ocorre quando se encerra a quaresma e
quando as bandas de congo voltam a tocar. É importante destacar que algumas
bandas continuam realizando suas atividades nesse período, embora a banda
Mestre Honório, por exemplo, tenha por cultura realizar esta parada durante a
quaresma.
O congo, que ganhou notoriedade internacional, é uma manifestação que tem,
segundo Geraldo Pignaton e Kleber Galvêas (2005), como fundamento a
capacidade de ser muito espontânea, narrar as tradições, os costumes do cotidiano
local do seu povo, as coisas que acontecem no dia a dia da comunidade, servindo
como verdadeiro jornal do lugar; falando das pescarias, fatos curiosos, caçadas,
sobre aventuras, amores, desilusões, reclamações locais, entre outras questões.
A capacidade de improvisação de versos que estes homens têm é grande, “[...] eles
ficavam o dia todo no mar pescando, na mata caçando ou fazendo lenha e no rio
navegando e pensando nos acontecimentos locais e preparando novos versos para
a próxima congada” (GALVÊAS, 2005, p. 140).
Tomando como base as letras das músicas e sua grande variedade de informações
do dia a dia, de elementos da natureza e histórias, entre outros; é possível trabalhar
conteúdos da disciplina de geografia com os alunos, criando assim um elo entre a
cultura local e o conteúdo curricular.
4 Ver Apêndice D.
37
FOTOGRAFIA 2: IMAGENS REPRESENTATIVAS DO CONGO Fonte: Gilson J. S. Borba, 2010.
O congo no seu início não era valorizado. Nas primeiras reuniões, por exemplo, o
número de pessoas participando era de aproximadamente dez, e não existia público,
pois este, invariavelmente, se incluía na cantoria e na dança. O congo da Barra
começou a se destacar no cenário nacional após a música de Martinho da Villa,
composta em 1988 e intitulada Madalena, onde se fazia menção ao Congo da Barra
do Jucu.
A partir desse momento o público começou a se interessar por tal manifestação e
procurar saber onde ocorria, o que fez com que a Barra do Jucu começasse a ter
notoriedade no cenário cultural do Estado e no Brasil.
Contribuições para os professores de Geografia: embora o congo seja uma
importantíssima manifestação religiosa do Espírito Santo, é preciso ressaltar o
cuidado que o professor de Geografia deve ter em relação a este assunto, incluindo
aí a Festa da Penha. É preciso lembrar que, devido às orientações legais que
afirmam que a escola deve ser um espaço laico, é preciso não apoiar-se em
nenhuma religião, trabalhando a religiosidade e a espiritualidade como
manifestações culturais, sem considerações específicas religiosas.
A religião faz parte da cultura de um povo e a cultura está diretamente ligada à
história e a geografia de uma população.e, portanto, não pode ser ignorada. Vila
Velha, por exemplo, é uma cidade muito marcada pela presença e manifestação de
evangélicos e trabalhar o congo discorrendo sobre os dois santos homenageados
38
(São Benedito e São Sebastião) pode ocasionar problemas com os familiares e
também a comunidade escolar.
É mais importante que o professor de Geografia foque nas relações culturais, como
por exemplo, os sons, a música, a dança e os instrumentos utilizados no congo, que
muito lembram a capoeira (expressão afro descendente). Daí o professor de
Geografia pode dar início ao trabalho sobre festas e manifestações culturais de Vila
Velha, relacionando suas histórias, pois assim como o congo, a capoeira também é
oriunda do sofrimento dos escravos que vinham para o Brasil. Trabalhar as suas
histórias torna a participação do professor de História indispensável, assim como os
professores de literatura que podem trabalhar os poemas do “Poeta dos Escravos”,
Castro Alves, o que não dispensa a Arte voltada para a cultura local, a música, as
danças e vestimentas vistas no congo.
Como o congo não acontece apenas em Barra do Jucu, é possível mapear os outros
lugares onde ocorre. Além disto, pode-se propor uma linha de espaço-tempo
representativa dos materiais usados na construção de seus instrumentos musicais:
que tipo de madeira é usada na feitura do tambor e da casaca? Onde aparece? Que
outros materiais são usados? Que impactos causam sua retirada?
4.2.3 Os Catraieiros
A cultura dos catraieiros é uma das culturas mais antigas do município de Vila Velha.
De acordo como o presidente da Associação dos Catraieiros do Espírito Santo,
Jefferson R. Castro, a história das catraias e dos próprios catraieiros se confunde
com a história dos municípios de Vila Velha e Vitória.
As catraias, embarcações utilizadas para transporte de passageiros, geralmente
manobradas por uma única pessoa, eram utilizadas desde o descobrimento do solo
Espírito-Santense, consistindo no único meio de transporte da época. O termo
catraia foi popularizado pelos pescadores que se classificavam na época do
descobrimento como catraieiros, embora seja pouco utilizado nos dias atuais.
39
A década de 1960 foi o momento de maior evidência dos catraieiros. No entanto, a
cultura declinou posteriormente, em grande parte devido à inclusão de transportes
motorizados junto a Baía de Vitória, por parte dos governantes. Esse declínio deve-
se também à falta de apoio financeiro governamental e às sucessivas gestões de má
qualidade que não souberam reagir ao ritmo de desenvolvimento sócio-econômico
estadual. Esses fatores fizeram com que os próprios catraieiros tenham considerado
a década de 90 como um período negro, segundo Castro.
Hoje, a classe está com uma nova visão estratégica, pleiteando incentivos junto às
empresas privadas e ao setor público, para que haja a restauração e o surgimento
de novas catraias.
Os principais locais onde os catraieiros realizam diariamente o seu trabalho são no
bairro de Paul, localizado no município de Vila Velha e na Baía de Vitória. Por dia,
são realizadas em média, por cada catraieiro, de 80 a 100 travessias, de acordo com
o presidente da associação, ao valor de R$ 1,50 por travessia. Nesse cenário, o
salário médio mensal de cada trabalhador varia entre R$ 2.400 e R$ 3.000, levando-
se em conta uma árdua jornada de trabalho de cinco dias por semana.
FOTOGRAFIA 3: IMAGENS REPRESENTATIVAS DOS CATRAIEIR OS Fonte: Bruno Zorzal,
Uma curiosidade diz respeito à importância que os catraieiros tiveram ao longo dos
anos para a realização de outra manifestação cultural do município de Vila Velha, a
Festa da Penha. Durante um período de, aproximadamente, 100 anos os catraieiros
participavam da Festa da Penha, com a responsabilidade de levar a imagem de
40
Nossa Senhora da Penha, da Ilha de Vitória até Vila Velha. Ainda, as catraias eram
utilizadas como um dos principais meios de transporte de pessoas para o evento.
Embora essa tradição tenha sido perdida com o tempo, os catraieiros mantêm até
hoje a relação com a Festa da Penha ao participarem em grande número na romaria
dos homens e ao comemorarem sua festa no mesmo período em que se comemora
a Festa da Penha. É interessante, do ponto de vista histórico e cultural, observar que
movimentos culturais, aparentemente independentes, mostram-se interligados pelas
suas histórias e comemorações.
Contribuições para os professores de Geografia: são muitos os conteúdos que
podem e devem ser abordados nas aulas de Geografia. Mais do que pequenos
barcos atravessando a baía de Vitória, os catraieiros são “sobras” do sistema de
transporte público aquaviário que se extinguiu e, sequer uma satisfação foi dada a
população. Hoje, a região metropolitana da Grande Vitória sofre com um sistema de
ônibus monopolizado, além de trânsito intenso entre os municípios.
É importante levar o aluno para conhecer a dimensão da baia de Vitória (vista de
Vila Velha, de Vitória da avenida Beira Mar, além de passeios de escuna pela
região) para que ele compreenda que o sistema de transporte aquaviário poderia
interligar, pelo menos, os municípios de Vitória, Vila Velha e Cariacica, reduzindo a
quantidade de ônibus e carros nas ruas e melhorando os engarrafamentos, além de
ser um transporte social e ambientalmente viável.
Levar a imagem de Nossa Senhora da Penha foi uma tarefa retirada das mãos dos
catraieiros que, com muita persistência e crença na sua cultura, continuam
trabalhando e transportando cidadãos que enxergam no sistema aquaviário uma
possibilidade de agilizar o trânsito.
Neste mesmo cenário, o aluno pode compreender mais duas importantes questões:
o sistema portuário - Porto de Vitória, Porto de Capuaba e Porto de Vila Velha, e o
aterro que foi realizado por muitos anos para construir a parte plana do município de
Vitória.
41
Quanto ao cartão postal marcante na baía de Vitória, é possível iniciar uma divertida
discussão: observar o brasão da Prefeitura de Vitória e nele os alunos verão a Pedra
do Penedo que, no cenário real, encontra-se em Vila Velha, e esta mesma beleza
natural possui lendas, histórias, tradições e já sofreu o risco de ser tirada do mapa
para ampliar o porto, mas, felizmente, isso não ocorreu graças às intervenções da
própria população. Há muito que se trabalhar no meio onde trabalham os catraieiros.
4.2.4 O Samba
O Samba, apresentado neste trabalho, será representado, principalmente, pela
Mocidade Unida da Glória (MUG), uma das primeiras escolas de Samba fundadas
no município de Vila Velha. No entanto, vale destacar que a manifestação do Samba
em Vila Velha tem início um pouco antes da fundação da MUG, com a
Independentes de São Torquato, primeira escola de samba fundada no município,
tendo surgido a partir do antigo bloco Caveira, o qual foi fundado no início dos anos
50. A escola foi criada no ano de 1974, após ter sido campeã do concurso oficial de
blocos tanto de Vitória quanto de Vila Velha, tendo dessa forma desempenhado
importante papel na história do carnaval de Vitória.
● Escola de Samba Mocidade Unida da Glória (MUG): Mocidade Unida da Glória
(MUG), escola de samba de Vila Velha, foi fundada em 09 de agosto de 1980,
originada de um bloco carnavalesco denominado “Calção Vermelho”, cujos
componentes desfilavam do bairro da Glória até o centro da cidade de Vila Velha,
usando somente calções vermelhos e sem camisa.
Segundo o presidente da MUG, Carlos Roberto dos Santos Ribeiro5, o que
diferencia a escola das outras é o fato de que a escola surgiu de grupos de amigos
que jogavam futebol, o grupo “Leão da Glória” que se reuniam depois do futebol
para tocar e cantar alguns sambas da época. Alguns desses amigos faziam parte do
bloco carnavalesco “Pantera Cor de Rosa” de Jaburuna. Este bloco encerrou suas
atividades porque estavam sendo prejudicados pela desonestidade de alguns dos
5 Ver Apêndice D.
42
jurados que sempre beneficiavam outro bloco de carnaval, os “Unidos da Vila”.
Pouco tempo depois do encerramento do bloco “Pantera Cor de Rosa”, alguns dos
integrantes não conseguiram ficar longe do carnaval e se juntaram aos amigos do
futebol que também gostavam de samba, formando a partir deste momento a atual
escola de samba. Dentre os principais fundadores, destaca-se o já falecido Ivan
Ferreira. Como escola de samba, a MUG desfilou em Vila Velha, sendo contemplada
com o tetracampeonato entre os anos de 1981 e 1984. No mesmo ano de 1984,
desfilou em Vitória com o enredo “No Reino Onde Chorar é Proibido”. Em 1985, com
o enredo “Raízes da história de uma civilização” foi rebaixada para o segundo grupo,
tendo retornado para o primeiro grupo em 1987 ao vencer o grupo de acesso, com o
enredo “Quem te viu, TV” em 1986 (MUG, 2009).
Nos anos seguintes, a MUG se estabeleceu como uma das grandes escolas do
Carnaval Capixaba com os enredos “Amazonas, Lendas e Cobiças” (1987), “Quem
viver verá! O Arauto da Liberdade” (1988) e “O Sonho de Ícaro” (1989). Em 1990,
com o enredo “Do Sonho à Fantasia” a MUG fez um brilhante desfile e conquistou o
vice-campeonato, seu melhor resultado até então.
Em 1992, a MUG vivenciou o pior momento de sua história, quando um incêndio
destruiu seu barracão, fazendo com que a escola ficasse impossibilitada de desfilar.
O retorno ao Sambódromo só ocorreu 10 anos depois do último carnaval, em 2002,
junto com a volta do desfile competitivo, que se deve, em grande parte, ao apoio
dado pela prefeitura de Vitória ao carnaval capixaba. Com o enredo “O Renascer
das Cinzas”, a MUG contou sua própria trajetória e a conquista do vice campeonato
a consagrou definitivamente como uma das grandes escolas do Carnaval Capixaba.
O tão esperado título foi obtido no ano seguinte, com o enredo “De Passo a Passo,
Faço os Passos de Anchieta” (MUG, 2003).
Em 2007, com problemas no desfile, a escola acabou sendo rebaixada pela segunda
vez em sua história. Ao ganhar o título do Grupo B em 2008, garantiu vaga para
retornar novamente ao Grupo A para o ano seguinte (MUG, 2009).
43
Em 2009, desfilando com 3000 componentes, 23 alas e 6 alegorias, a MUG foi a
Vice-Campeã, com o enredo “Do Eldorado Africano ao Berço Selvagem e
Fascinante da Vila São Matheus” (MUG, 2009).
Em 2010, ao falar sobre o cinquentenário de Brasília, a MUG terminou mais uma vez
na 2º colocação (MUG, 2009).
FOTOGRAFIA 4: IMAGENS REPRESENTATIVAS DO SAMBA Fonte: Paulo Silva, 05/02/2010. Assim, o crescimento da escola de samba é notável a cada ano no carnaval
capixaba, onde a MUG tem sido premiada e reconhecida dentro e fora do Espírito
Santo.
Contribuições para os professores de Geografia: o samba é uma manifestação
histórica, social e cultural que faz com que o Brasil seja lembrado até mesmo pelos
demais países do mundo. A história do samba se confunde com a história do Brasil e
se mostra sempre com a mesma alegria e envolvimento, ano após ano, mas suas
músicas, vestimentas e envolvimento da população se modificam, de acordo com o
tempo e espaço do brasileiro.
44
Para o professor de Geografia o que não falta é conteúdo para se abordar acerca do
samba. É quase impossível abordar o samba sem comentar o carnaval. Pesquisar a
história dessa manifestação cultural é importante, mas é também relevante que o
aluno tenha acesso às letras dos enredos de diversas épocas, principalmente
aquelas que falavam de maneira sutil e articulada sobre os problemas sociais vividos
pelos brasileiros.
Visando o ensino de uma Geografia crítica, é interessante que o aluno seja
convidado e refletir algumas questões: por que há tanta diferença de credibilidade
entre as escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo e as demais escolas
do Brasil, como as capixabas? Por que desfilam em dias diferentes, e as capixabas
sempre desfilam antes do carnaval? O carnaval é uma festa popular, mas todos têm
acesso aos desfiles das escolas?
É importante refletir com os alunos que muitas escolas de samba ficam localizadas
em bairros de periferias, mas a clientela que assistirá ao desfile não é uma clientela
de poucos recursos. Então, como é a relação entre ricos e pobres e como ela se
manifesta no carnaval?
4.3 A IMPORTÂNCIA E O DESEJO DE UMA GEOGRAFIA ESCOLAR
LOCAL
As manifestações culturais criam, muitas vezes, fortes laços do povo com sua terra,
levando a um sentimento de orgulho por aquilo que é produzido. Nesse contexto, o
estado do Espírito Santo ainda está defasado quando comparado a outros estados
do Brasil. Os estados da Bahia e Rio de Janeiro, apenas para exemplificar,
conseguem levar sua cultura a um nível elevado, quando trazem pessoas de várias
regiões geográficas para participar de uma de suas festas mais importantes, o
carnaval. Ao elevar sua cultura e arte a um patamar mais elevado de qualidade, um
estado ou município é capaz de realizar um ciclo de desenvolvimento contínuo
extremamente benéfico: os manifestantes culturais, ao terem sua arte valorizada, se
esforçam continuamente em busca da perfeição; o público, por sua vez, fica cada
45
vez mais satisfeito em vislumbrar a cultura se aproximando do ideal; e o setor
econômico lucra com turismo e comercialização de produtos e serviços. A conjunção
das conseqüências desse ciclo traz, além do desenvolvimento cultural natural,
desenvolvimento sócio-econômico à sociedade.
No município de Vila Velha, a preservação das culturas locais ocorre, muitas vezes,
por meio da herança familiar, na passagem cultural de pai para filho. A proposta de
se trabalhar o conteúdo na sala de aula é capaz de contribuir profundamente com a
cultura local, para que a mesma não seja perdida, visto que atualmente vivemos em
um mundo globalizado onde temos fácil acesso a culturas e costumes de todas as
partes do mundo, e muitas vezes acabamos super valorizando a cultura
“estrangeira” e não valorizando o que é local, perdendo o sentimento de orgulho das
nossas tradições. Segundo Moreira e Silva (1999, p. 78) as escolas são:
[...] formas sociais que ampliam as capacidades humanas, a fim de habilitar as pessoas a intervir na formação de suas próprias subjetividades e a serem capazes de exercer poder com vistas a transformar as condições ideológicas e materiais de dominação em práticas que promovam o fortalecimento do poder social e demonstrem as possibilidades da democracia.
Vemos nesse trecho a importância e influência de uma instituição de ensino na vida
do aluno. Devemos pensar como as interações simbólicas e materiais do dia a dia
do aluno que é parte da sua cultura, vão interferir diretamente em sua vida. Essa
cultura popular vivenciada pelo aluno vai dar subsídio as suas concepções éticas e
modo de ver o mundo. Vai ajudar o aluno a dar vozes as suas experiências
(MOREIRA e SILVA,1999).
A problemática é que se reconheça que nas escolas os significados são produzidos
pela construção de formas de poder, experiências e identidades que precisam ser
analisadas em seu sentido político-cultural mais amplo. A argumentação acerca do
ciclo de desenvolvimento sócio-econômico e cultural e as colocações de Moreira e
Silva (1999) sobre as instituições de ensino como formadoras de opinião destacam a
grande importância de se trazer o cotidiano e a cultura popular para a sala de aula,
como um forte instrumento capaz de fortalecer a busca pela prosperidade social.
46
Este trabalho deseja, além de fornecer um suporte teórico e informativo ao corpo
docente, destacar a escola como a principal ferramenta que possibilita a inclusão da
Cultura popular na sala de aula, na certeza de que essa possibilidade é viável e
fundamental. E para concretizar essa proposta de ensino, a geografia escolar local
abordada deve ser capaz de relacionar o cotidiano do aluno, que inclui a cultura
popular local, com o processo de ensino/aprendizagem. Em outras palavras, deve-se
estabelecer uma relação entre o que é vivenciado e o conteúdo escolar, até como
forma de incitar a curiosidade dos alunos.
No cenário proposto, a geografia escolar local deveria ser um meio de ampliação de
experiências e aprendizado, levando em conta a realidade dos alunos, ampliando o
acesso que nem sempre lhes é proporcionado a experiências culturais, e tornando a
geografia escolar uma importante forma de política cultural.
Infelizmente, a proposta e o desejo de uma geografia escolar local no município de
Vila Velha ainda aparentam ser um futuro distante. Quando a pedagoga da escola
Maura Abaurre, a senhora Lucineide G. Macedo, é questionada sobre a importância
de se trabalhar a cultura canela-verda nas aulas de geografia, percebe-se pela sua
resposta que poucos alunos têm conhecimento sobre seu próprio município. E ela
destaca que
Com certeza, muito importante, por que inclusive a gente tem aluno que nem tem idéia do que é um canela-verde no município que ele estuda, mora..
A dificuldade de se ensinar a cultura local aos alunos, destacada no parágrafo
anterior, deve ser vista como motivação por parte do corpo docente, que deve
buscar superar os entraves existentes e assim, com planejamento e incentivo por
parte dos governantes e muito trabalho e dedicação por parte dos profissionais de
educação, conduzir o município de Vila Velha a um novo patamar de
desenvolvimento cultural, que será capaz de impulsionar consigo o desenvolvimento
econômico e social. E como incentivo para os próximos passos, podemos destacar o
Congo da Barra do Jucu, que conseguiu projeção nacional, e o Samba, que embora
ainda não seja tão valorizado como em outros estados, representa um marco por já
ter tido incentivo por parte da prefeitura de uma cidade vizinha, Vitória.
47
5 DIZENDO DO QUE APRENDEMOS: POR UMA GEOGRAFIA
CULTURA E LOCAL
Neste capítulo, são apresentados os principais resultados do trabalho: o material de
apoio (cartilha), justificando a necessidade do mesmo, e o relacionamento
intercultural existente no município de Vila Velha, indicando que o fortalecimento
cultural de um movimento tende a influenciar positivamente os movimentos vizinhos.
Em seguida, são apresentadas as principais dificuldades encontradas e algumas
extensões da pesquisa que podem ser objeto de estudo em trabalhos futuros.
5.1 CONTRIBUIÇÕES PARA A REDUÇÃO DA CARÊNCIA CULTURAL
Em sua entrevista, a pedagoga reforça a carência cultural, ao dizer que os alunos
não estão acostumados a lidar com atividades relacionadas à cultura local. Até
comenta a questão de acreditarem que ao sair da escola para ir ao teatro, os alunos
acham que estão perdendo aula, não entendendo que se trata apenas de um tipo de
aula diferente, com enfoque no aprendizado cultural.
A visão equivocada dos alunos, relatada pela pedagoga em sua entrevista, destaca
a necessidade de inclusão de conteúdos programáticos relacionados à cultura local,
principalmente na ementa das disciplinas de Geografia e História. Essa necessidade
foi corroborada, ao longo deste trabalho, visto que todos os entrevistados, cada um
à sua maneira, nos disseram da importância, tanto no âmbito de se preservar a
cultura dentro do município, como de se estar ciente das influências que sofremos
convivendo com essa cultura.
Apesar de sabermos da necessidade de ensinar e expandir a cultura local, os
profissionais responsáveis por propagá-la carecem de meios para tal. Por exemplo,
o professor Vitor, ao ser questionado se ministra alguma atividade relacionada à
cultura de Vila Velha, nos confirmou a falta de material de apoio disponível, quando
afirma que:
48
[...] o maior problema de trabalhar a cultura canela-verde é a falta de material... Em Vila Velha você não encontra a história dos bairros... Quando dá para incluir cultura de Vila Velha nas aulas a gente inclui. O Aluno tem que ter o subsidio nas aulas, material que comprove o que falamos.
Cientes da importância e influência da cultura local, assim como da necessidade de
estender o conhecimento, identificamos que, para a conclusão deste trabalho, era
necessário mais do que apenas organizar as idéias obtidas nas pesquisas e
entrevistas realizadas.
Precisávamos chegar ao final do processo com um meio eficiente, que pudesse ser
utilizado pelo corpo docente, hoje muito carente de pesquisas na área de geografia
cultural. Identificamos então a necessidade de um material capaz de auxiliar a todos
que se interessem em apresentar a cultura municipal de Vila Velha dentro das aulas
de Geografia.
Por essa razão, decidimos que além de mostrar cada manifestação cultural em
destaque do município, deveríamos também produzir e fornecer esse artefato aos
professores e às escolas de Vila Velha. Como esse material deve ser simples, fácil
de usar, de compreender e de absorver as idéias, optamos pela produção da
cartilha.
Na cartilha, optamos por fazer um breve resumo das principais manifestações
culturais de Vila Velha (Congo na Barra do Jucu, Convento da Penha na Prainha,
Escola de Samba na Glória e Catraieiros em Paul) e destacar a importância
apresentada pelos próprios representantes dessas manifestações e também pelo
corpo docente (Pedagogo e Professor de Geografia) de se estudar esses tipos de
manifestações dentro do ambiente escolar.
Trata-se de um material simples e eficaz, que tem como objetivo primário fazer um
apanhado histórico das manifestações culturais do município de Vila Velha,
mostrando fotos das mesmas e, dispondo de trechos das entrevistas com os
manifestantes e o corpo docente.
Este material está disponível, nos anexos deste trabalho.
49
5.2 RELACIONAMENTOS INTERCULTURAIS
Durante as entrevistas foi possível perceber muitas relações entre as manifestações
culturais pesquisadas. Ao responderem as perguntas, os próprios manifestantes
culturais citaram essas relações. Na conversa com a representante cultural do
Congo, por exemplo, foi lembrado da relação com o Convento da Penha e com o
Samba. O Samba, por sua vez, também citou o Congo. Em relação ao Convento da
Penha, Beatriz S. Rego nos contou que existe uma última etapa da festa do Congo
em que é feita referência a Nossa Senhora da Penha.
O terceiro momento é quando retornamos a quaresma e voltamos a tocar. Onde fazemos uma homenagem a Nossa Senhora da Penha, que também tem bandas que ela é padroeira em outros municípios. E vamos pedir a benção da Nossa Senhora para nossas apresentações durante o ano, onde começa nosso calendário com nossas apresentações de congo.
O samba cita o congo como parte da sua cultura quando fala que ambos são
parceiros na questão histórica. Quando a escola de samba Mocidade Unida da
Glória (MUG) foi formada o samba ainda não era valorizado em Vila Velha. Com o
passar dos anos, a escola conquistou excelentes resultados no Sambódromo, atraiu
inúmeros fãs para seus ensaios e elevou a importância do samba na cidade.
O congo por sua vez, também não era valorizado até o momento em que Martinho
da Villa lançou, em 1988, a música “Madalena”, a qual falava do Congo da Barra do
Jucu, ocasionando uma enorme euforia acerca dessa cultura. Porém, antes do
crescimento de ambas as culturas, as duas manifestações sempre se apoiaram na
conquista de seu espaço. Inclusive, foi possível confirmar que essa ajuda mútua
permanece quando, nos dias seguintes à nossa entrevista, foi realizada uma festa
na Quadra da Escola de Samba e a Banda de Congo Mestre Honório se apresentou
junto com a MUG, engrandecendo ainda mais a festa em que se comemorava o
aniversário de um dos integrantes da Escola.
Na entrevista com o representante dos catraieiros, Jefferson Castro também faz
menção a essa proximidade com outras manifestações culturais. O Convento entra
novamente em foco, quando Castro nos diz que, antigamente, os catraieiros eram os
responsáveis por levar a imagem de Nossa Senhora, de barco, de Vitória até a
Prainha, e acompanhados de um grupo de fiéis, subiam com a imagem até o
50
Convento. Até por causa dessa antiga tradição, podemos entender porque muitos
catraieiros participam da romaria dos homens durante as comemorações da Festa
da Penha.
Consideramos muito interessante essa interligação cultural que pôde ser percebida
durante a pesquisa entre as manifestações culturais estudadas. É uma relação que
nos faz pensar e entender que a cultura de Vila Velha está interligada de uma forma
que nem todos, ou quase ninguém, conhece. Essas conexões estão representadas
na figura 2 que traz o mapa onde as setas representam as interligações culturais.
Figura 2: Mapa das Manifestações Culturais de Vila Velha e as Relações Entre Elas Fonte: Desenvolvido pelos alunos autores desta pesquisa
51
Como pode ser observado no mapa, as relações entre as manifestações foram
classificadas entre quatro grupos: relação dos catraieiros com congo e samba,
relação dos catraieiros com Convento da Penha, relação do congo com Convento da
Penha e a relação do congo com o samba.
Essa classificação das respectivas relações entre as manifestações culturais foi
baseada na pesquisa bibliográfica e entrevistas desenvolvidas neste trabalho, as
quais demonstravam pontos de encontros entres essas culturas.
Nas relações representadas pelas cores rosa (relação dos catraieiros com o congo e
o samba) e verde (relação do congo com samba), podemos destacar como
semelhança a dependência de verba externa, seja do governo ou de pessoas que se
agregam e investem na causa do grupo.
Para a relação Congo-Samba temos, adicionalmente, o fator histórico: ambos os
movimentos se ajudavam mutuamente quando os mesmos careciam de apoio da
comunidade e continuam próximos mesmo depois da expansão de ambos.
A relação catraieiros e Convento da Penha, representada no mapa pela seta laranja,
foi iniciada quando os catraieiros participavam da Festa da Penha incumbidos da
responsabilidade de carregar/ transportar a imagem da santa pelas catraias no
trajeto de Vitória até Vila Velha. O vínculo mantém-se até os dias atuais, com a
participação do grupo na romaria dos homens realizada durante as comemorações
da Festa da Penha.
Já a relação representada pela cor azul, entre congo e convento da Penha,
corresponde ao momento da festa do congo na qual há, em sua terceira e última
etapa de festejos, uma homenagem e pedido de benção a Nossa Senhora da
Penha. Nessa etapa, os congueiros, sobem o convento e fazem uma última
apresentação da sua festa, pedindo proteção a Nossa Senhora para as futuras
apresentações no decorrer do ano.
52
5.3 PRINCIPAIS DIFICULDADES E TRABALHOS FUTUROS
A pesquisa nos ajudou a ter uma noção melhor de culturas, muitas vezes
esquecidas, e encontrar uma maneira eficiente de auxiliar o corpo docente a
introduzir essas culturas no âmbito escolar.
Pesquisar o ensino é bastante complexo, e torna-se ainda mais complexo quando se
aborda a temática cultura. As interações nesse campo são imensas, não existindo
um caso isolado que facilite o estudo. Portanto, fazer uma ponte do ensino de
geografia com a cultura, seja ela local ou global, é uma tarefa muito difícil e que
exige muito tempo e dedicação.
Acreditamos que todos nós, integrantes do grupo, nos surpreendemos no decorrer
da pesquisa ao ver as relações entre as manifestações escolhidas. Relações essas
que nos ajudaram e nos motivaram ainda mais na preparação de um material
interdisciplinar, em que características de manifestações distintas e inter-
relacionadas são abordadas com uma mesma finalidade: permitir conhecer um
pouco mais da cultura do município de Vila Velha.
A partir do nosso trabalho, pretendemos não só deixar um sucinto material para
auxiliar ao corpo docente das escolas municipais e estaduais de Vila Velha, mas
também apresentar outras linhas de pesquisa desse assunto tão pouco trabalhado e
pesquisado no nosso Estado, a cultura.
Sugerimos, como uma continuação natural deste trabalho, que essa pesquisa seja
estendida para outras manifestações culturais, explorando maiores regiões
geográficas, ou seja, realizar a pesquisa também em outros municípios e nos
âmbitos Estadual e Federal. Também se apresenta como trabalho futuro
interessante o aprofundamento em alguma das manifestações culturais
pesquisadas, visando obter maior detalhamento histórico (cronologia dos
acontecimentos, influências políticas, sociais, econômicas) da mesma.
53
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Finalizar este estudo é muito gratificante para nós, envolvidos na busca pela
investigação sobre a geografia cultural do município onde residimos, uma cidade
que traz riquíssimas manifestações culturais, embora a escola pouco aborde na sala
de aula, deixando de assumir a sua responsabilidade enquanto emissora de uma
mensagem de preservação da cultura canela verde.
Assim, relembrando os caminhos percorridos neste estudo, vale lembrar o traçar do
caminho metodológico percorrido, que foi de suma importância para se alcançar o
objetivo proposto e também responder à problemática de pesquisa em questão.
Sujeitos envolvidos diretamente foram consultados e cada um nos forneceu valiosa
informação para compreendermos a distância que há entre a geografia cultural e a
geografia escolar trabalhada nas salas de aula. O distanciamento curricular muito
compromete a preservação e a valorização da cultura enquanto saber que precisa
ser construído na escola.
Foi abordada neste estudo a questão da identidade, da cultura e da geografia
escolar. É preciso rever o currículo desenvolvido nas escolas públicas do município
de Vila Velha. Percebeu-se, nas falas dos sujeitos que participaram das entrevistas,
que a carência de material é um dos fatores que comprometem o desenvolvimento
do ensino de uma geografia mais próxima da realidade vivenciada pelo aluno.
Assim, pesquisamos as manifestações culturais do município de Vila Velha, e
verificamos que, na verdade, são muitas, mas nem todas são muito conhecidas, nos
levando a selecionar algumas, as mais evidenciadas no município. Construímos um
mapa para facilitar a compreensão do tempo-espaço dessas manifestações dentro
do município, uma vez que essa ilustração ainda não foi desenvolvida por nenhum
órgão competente ou pesquisador do assunto.
Identificar os problemas não foi o suficiente. Sentimo-nos convidados a contribuir de
alguma forma com o ensino da geografia na escola vilavelhense. Desenvolvemos
54
uma cartilha: material simples, mas fruto de pesquisa, que poderá auxiliar
professores e alunos para o desenvolvimento de aulas mais voltadas para a
realidade cultural do povo canela verde.
Quanto ao problema de pesquisa proposto, que buscou saber quais os principais
desafios encontrados para o ensino da geografia cultural nas escolas públicas do
município de Vila Velha, podemos afirmar que a escassez de material didático e
informativo é um obstáculo bastante lembrado pelos participantes da pesquisa, mas
ainda há muita resistência por parte dos professores quanto ao estudo da cultura
local, além de pouca valorização da mesma, em Vila Velha, num âmbito geral.
É preciso rever o currículo escolar. É preciso rever o que e como têm sido
trabalhados os conteúdos de Geografia nas salas de aula. Uma das propostas deste
ensino é que o aluno aprenda a se situar no tempo e espaço e passe a ver como
agente no meio onde mora, tomando consciência de que ele também é produtor da
cultura e depende dele a preservação dessa riqueza social. Para isso, é necessário
que ele tome consciência da cultura vivida e a aprenda a valorizá-la.
Desenvolver um ensino de Geografia crítico onde o aluno compreenda o seu espaço
e o seu tempo e também veja o seu redor e as suas possibilidades de mudança é
um trabalho que requer união e vontade dos professores. Os Parâmetros
Curriculares Nacionais, portanto, não devem ser vistos como “receitas prontas”, mas
como um auxílio à docência, para que ela seja uma experiência crítica e valiosa para
os alunos.
É importante que os professores de Geografia conheçam os Parâmetros
Curriculares Nacionais para o Ensino de Geografia e os analisem criticamente,
procurando adaptá-los à realidade com a qual trabalha para que o ensino não se
resuma aos mapas e conteúdos decorados pelos alunos, sem qualquer significado
para suas vidas. Foi possível, no decorrer da pesquisa, oferecer algumas idéias e
contribuições aos colegas professores de Geografia, porque nós, autores da
pesquisa, também experimentamos a docência e, asseguramos que tais sugestões
são possíveis de ser trabalhar nas escolas vilavelhenses, além de oferecermos o
material por nós desenvolvidos. Bom trabalho a todos!
55
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APÊNDICE
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APÊNDICE A: TERMO DE CONSENTIMENTO PARA PARTICIPAÇÃO
EM PESQUISA
Título da Pesquisa: Geografia e Cultura Vila Velhence ou Canela-Verde.
Pesquisadora: Huderlan Zordan, Renata Emerich Moraes e Wesley C. Dias
Objetivo da Pesquisa: pesquisar as manifestações culturais de Vila Velha,
analisando como elas são trabalhadas na disciplina de Geografia nas escolas e, por
fim, desenvolver uma cartilha pedagógica visando contribuir com o trabalho dos
professores, em especial aqueles da escola pública, em torno da temática Geografia
Cultural do município.
Benefícios: Espera-se que os resultados contribuam para uma melhor ação docente
no que diz respeito à cultura local de Vila Velha por meio da Geografia escolar.
Descrição do procedimento: entrevista semi-estruturada, gravadas em áudio e
transcritas, referente aos aspectos relevantes do tema pesquisado.
Análise de risco e sigilo: Todo o procedimento de pesquisa descrito obedecerá
rigorosamente aos critérios éticos. A entrevista seguirá técnica padrão
cientificamente reconhecida e será realizada em local escolhido pela pessoa que
dará entrevista. Sendo que os registros das informações poderão ser utilizados para
fins exclusivamente científicos e divulgação em congressos e publicações científicas.
O participante terá a liberdade de interromper ou desistir de sua participação em
qualquer fase da pesquisa. Dúvidas, informações suplementares e esclarecimentos
serão fornecidos a qualquer momento aos participantes.
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Identificação do participante:
Nome do (a) Participante: ______________________________________________
RG: ____________Órgão Emissor:__________Data de Nascimento: ____/___/____
Estando de acordo, assinam o presente termo de consentimento.
Vila Velha/ES, ___/_________/ 2010
____________________________
Participante
_______________________________________________________________
Pesquisadores:
Huderlan Zordan
Renata Emerich Moraes
Wesley C. Dias.
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APÊNDICE B: MODELO ROTEIRO DE ENTREVISTA COM O CORPO
DOCENTE
1ª Parte – Identificação e Perfil Profissional:
Nome:
Idade:
Formação acadêmica:
Tempo de experiência em escola:
Especialização/área: Sim (___) Qual?_______________________ Não (___)
2ª Parte - Questões relativas ao objetivo da pesqui sa:
1) Quais conteúdos você ministra nas aulas de Geografia?
2) Você considera importante que a cultura canela-verde seja trabalhada nas aulas
de Geografia? Justifique?
3) O que você considera importante na cultura de Vila Velha que pode ser
trabalhado nas aulas de Geografia?
4) Você ministra alguma atividade que tem relação com a cultura de Vila Velha?
Quais?
5) Existem dificuldades em relacionar a cultura canela-verde com os conteúdos que
você ministra nas aulas de Geografia? Quais?
6) De que maneira é apresentada a cultura do município para os alunos? É
apresentada?
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APÊNDICE C: MODELO QUESTIONÁRIO DE PESQUISA PARA OS MANIFESTANTES CULTURAIS
(Congo, Festa da Penha e Catraieiros) 1ª Parte – Identificação e Perfil Profissional
Nome:
Idade:
Escolaridade:
Tempo de experiência nesta atividade:
2ª Parte - Questões relativas ao objetivo da pesqui sa:
1) Você sabe como surgiu esse costume aqui neste local?
2) Quem lhe passou essa prática (costume)?
3) Em que data é realizada a festa (Festa da Penha / Congo)?
4) No decorrer do tempo, houve épocas em que essa manifestação fosse mais
evidenciada/valorizada/destacada junto à sociedade local? E aconteceu de ser
menos evidenciada/valorizada/destacada junto à sociedade local?
5) Vocês recebem algum apoio, patrocínio, do governo ou instituições privadas?
Quais?
6) Você considera importante a continuação/preservação desta cultura?
7) O que poderia ser feito, para que este costume, não seja esquecido?
8) Se fosse incentivado na escola, seria bom para que as novas gerações
continuassem a praticar essa atividade?
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APÊNDICE D: TRANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS
INFORMAÇÔES PESSOAIS:
Nome: Lucineide Gomes Macedo
Idade: 50 anos
Formação: Graduada em Pedagogia
Tempo em que trabalha na área/História: Tem 30 anos de magistério em escola
particular e no estado já está com 15 anos de trabalho.
Hoje é Pedagoga da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio “Professora
Maura Abaurre”, localizada no Bairro Vila Nova.
Especializações: três pós-graduações e um MBA em avaliação educacional.
Data: 04/05/2010
Perguntas sobre manifestações culturais trabalhadas em torno do ensino de
geografia:
1) Quais conteúdos você acha que devem ser ministra dos nas aulas de
geografia?
Depende da série. Nós, por exemplo, trabalhamos à noite com EJA, que é o
supletivo, e o regular de 3° ano, então depende mui to. No 3° ano nós focamos muito
questões pré-vestibular e Enem. E no EJA nós trabalhamos questões de cultura, do
nosso município e do estado. A gente trabalha com o espaço geográfico, então vai
depender muito de cada série para o conteúdo ser ministrado.
2) Você considera importante que a cultura canela-v erde seja trabalhada nas
aulas de geografia?
Com certeza, muito importante, porque inclusive a gente tem aluno que nem tem
idéia do que é um canela-verde no município que ele estuda, mora. Então eu acho
muito importante.
3) Mas isso em todos os níveis?
É, eu vejo em todos os níveis, inclusive quando é dia 23 de maio, a gente com
certeza em todas as séries estaremos falando sobre este assunto, até pro aluno
tomar conhecimento do dia-a-dia, do bairro onde mora, estuda.
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4) O que você considera importante da cultura de Vi la Velha que pode ser
trabalhado nas aulas de geografia?
Principalmente o espaço geográfico, porque nós temos muitos alunos, que às vezes
querem se dirigir de um bairro pra outro, eles têm essa dificuldade: o espaço
geográfico. Eu vejo a questão na própria população em si, a questão de habilitantes.
Isso pra mim é essencial nas aulas de geografia pros alunos.
5) Você ministra alguma atividade que tem relação c om a cultura de Vila
Velha?
Eu como pedagoga, procuro muito trabalhar a questão cultural. Semana passada
mesmo, levamos os alunos ao teatro, pra nós isso é muito importante. Agora, por
exemplo, vamos à Pedra da Cebola para um evento, procuramos estar levando os
alunos. Porque a parte cultural, ela faz parte do dia-a-dia e nós temos que estar
preservando isso.
6) Existem dificuldades em relacionar a cultura Can ela Verde, com os
conteúdos que você acha que devem ser ministrados n as aulas de geografia?
Eu vejo que o professor às vezes ele tem uma certa dificuldade porque ele tem que
seguir um programa. Existe um programa, você querendo ou não, pro vestibular,
onde vai ver raramente questões voltadas especificamente para cada município.
Mas eu vejo que o professor ele consegue fazer isso com muita tranqüilidade dentro
do conteúdo que ele trabalha, não vejo dificuldade não. Claro que temos exceções,
tem professor que encontra dificuldade até devido à série que ele está lecionando.
7) Você acha que a questão do vestibular prejudica que as regras, os termos
do PCN, sejam cumpridas?
Não vejo, não é nem que atrapalha, mas só que às vezes tem professor que está
muito obcecado no conteúdo, tem que dar conta. Para a gente os levar pro teatro, foi
difícil, teve aluno que falou bem assim “eu vou perder aula?”. Pra ele ir ao teatro não
é uma aula cultural que ele estará tendo. Talvez seja porque não tem o costume, a
gente está começando a criar esse hábito no aluno. E é muito importante. Mas eu
não vejo dificuldade não, eu vejo que dá pra conciliar as duas situações, mas
infelizmente ainda tem muito professor que está preocupado com o conteúdo, não
só professor, o aluno também.
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8) Então a solução para isso seria aspectos relacio nados à cultura serem
implantados, acrescentados, inseridos nas temáticas que serão cobradas no
vestibular? Seria uma forma de estimular os alunos a buscarem entender e
estudar a cultura de Vila Velha?
Acho que tudo quando é imposto ele acaba sendo feito, por exemplo, a gente está
vendo a mudança do vestibular, do Enem. Ai acaba acontecendo, porque será
imposta e vai ser, então. A partir do momento que é colocado na grade ou é
colocado na parte diversificada do currículo, assim o professor acaba sendo
obrigado a trabalhar. Eu acho que seria uma opção, eu vejo como uma opção, tudo
que a gente puder colocar pra estar acrescentando. Eu acho que é válido sim.
9) De que maneira é apresentada a cultura do municí pio para os alunos?
Acho que a gente tem certa dificuldade, eu não sei se devido a própria questão
social, mas por exemplo, raramente você vê uma peça de teatro de graça pra todo
mundo. Ultimamente a gente está vendo várias peças de teatro interessantes vindo
do Rio de São Paulo, no colégio Marista, que agora é uma opção que o povo de Vila
Velha, que o povo Canela Verde tem, mas é pago e não é barato. Agora mesmo
vem uma peça ai, Dona Flor e seus Dois maridos, só um exemplo, mas 60 reais pra
entrar, e ai? Complicado, como é que um aluno que estuda numa escola estadual,
tem emprego e ganha salário mínimo, vai pagar por esse valor? Teve uma época
que tava tendo aqui no Titanic peças de teatro, mas é muito difícil, eu vejo que ainda
o município de Vila Velha precisa crescer muito sobre isso.
10) Não tem incentivo?
Não tem incentivo! Eu acho que falta ainda aí um incentivo a nossa cultura Vila
Velhense.
11) A senhora acha que incentivar a cultura seria s ubsidiar a entrada de
alunos?
Eu acho isso que fez agora, tá tendo aí o teatro e o pessoal do Ceará, o teatro
brasileiro, deu oportunidade pros alunos, apesar da gente ter que arrumar ônibus,
até pra gente arrumar o ônibus é uma dificuldade que a gente tem. A escola publica
realmente é um grupo de alunos que tem certa dificuldade financeira, cinco reais que
ele tira vai fazer falta pra ele. Agora já é um incentivo que foi muito bom e é claro
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que nós temos também outras atividades culturais, temos o Convento da Penha,
temos outras situações, cinema na Glória, ali que não é tão caro. Mas eu ainda acho
que falta muito. Nós temos muitos alunos com dificuldades e que gostariam de
participar e não têm condições, acho que falta sim. Por que se tiver, quando vieram
do teatro vieram assim radiantes, nós temos alunos que não conheciam um teatro,
nunca tinham entrado em um teatro. Então olha a oportunidade que foi dada pra
eles.
12) Então você acha que a cultura, o contato de for ma geral com a cultura, abre
o horizonte do aluno?
Com certeza, e muito. Abre sim, porque apesar daquela troca de experiência que ele
vai ter com o outro lado, com outras pessoas. Ele tem aquele momento que é dele
de ouvir, de estudar, de participar, e de ter aquele monte de gente junto com ele
num espaço diferente, de sair da sala de aula pra ir pra outro espaço. Eu acho que
isso aí é um ganho muito grande pra aluno. Aprender a cultura é fundamental para a
vida do aluno.
13) A vida acadêmica e profissional?
Com certeza, a gente tira a conclusão quando damos uma atividade, por exemplo,
temos uma semana cultural aqui na escola. Sabe como esses meninos ficam? Eles
mudam completamente. Por eles, vou fala a verdade, não teria aula, teria só semana
cultural, que é tudo de bom, eles apresentam teatro, dança, apresentam música,
mostram as habilidades que eles têm. Uma semana dessas dá muito trabalho, nós
que estamos na escola que sabemos, mas vale a pena quando vemos o crescimento
do aluno.
14) Então você acha que a cultura em si, ensinar a cultura seria uma temática
que está muito próxima, ou que seja a mais próxima do cotidiano do aluno?
De uma necessidade, eu vou dizer assim, do cotidiano que é uma necessidade, que
ele precisa, não apenas ele, mas todos nós! Que nós somos frutos da cultura, nós
precisamos disso. Como nós nos sentimos bem quando saímos do cinema, de uma
peça teatro, ou de um lugar diferente, que você assiste alguma coisa, alguém
apresentando algo, isso é cultura, é outro saber.
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15) Agora pra encerrar uma frase que para você seri a o que é ensinar a cultura
de uma forma geográfica?
Estamos falando de cultura, então “A cultura é a arte do saber”.
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INFORMAÇÔES PESSOAIS:
Nome: Frei Pedro Engel Idade: 73 anos
Formação: Sua escolaridade não possui pontuação, porque na sua época não se
tinha essa pontuação que se tem hoje. Tinha-se a 1ª e 4ª série, e depois colegial.
Foi fazendo em parcelas e mais tarde foi ter uma noção filosófica e depois a parte
religiosa.
Tempo que está na área: 55 anos.
História: Sempre foi da igreja católica. Seu laço principal é a Ordem Franciscana.
Sua intuição, desde pequeno, foi optar por esta vida. Estudou teologia, fez um curso
que pôde ser renovado de tempos em tempos com o intuito de conhecer a Deus
melhor. Tempo que demorou em ingressar na vida religiosa na sua província da
imaculada: um ano de admissão, depois postanlantado, que é a preparação para o
noviciado, um ano de noviciado, quatro anos de filosofia e quatro de teologia,
terminando aí o curso para a vida franciscana, o sacerdócio.
Data: 05/05/2010
Questões relativas ao objetivo da pesquisa:
1) Você sabe como surgiu esse costume da Festa da P enha?
A festa começou depois que Pedro Palácios construiu a primeira parte da capela. Se
surgiu uma festa maior nessa época eu não conheço. Essa parte vocês podem ver
no site do Convento da Penha que tem datas marcadas e trata sobre o assunto.
2) Quem lhe passou esse costume? Como ele se formou ?
Esse costume é propriamente popular, ao mesmo tempo está ligada a toda a
sociedade, principalmente a todo o estado. Se tornou uma festa religiosa e depois
veio como uma festa política porque entrou a prefeitura e o estado. Ela se amplia
virando uma festa estadual.
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3) Em que data é realizada a Festa da Penha?
A Festa da Penha é realizada logo depois da Páscoa, quando começa o Oitavário.
Toda semana tem as celebrações que tem gente de todo estado, vem comissões,
vem as romarias, vem os bispos para fazer as celebrações. No 8º dia da Páscoa, na
segunda-feira, acontece o encerramento da festa, onde é a grande concentração
popular. Além disso, nesse ano, tivemos desfile das bicicletas, cavalarias. Tem as
romarias dos homens e das mulheres. É uma força muito grande das mulheres e dos
homens, cada um querendo representar seu grupo. Daí se torna uma festa popular.
4) Houve épocas em que a Festa da Penha fosse mais evidenciada?
É difícil saber pelo pouco tempo que eu estou aqui, três anos. Ainda não deu para
saber qual a festa mais importante, mais estrondosa, eu não poderia dizer. Eu acho
que cada festa tem seu caráter próprio do tempo, da data, às vezes até conforme o
tempo ajuda, o tempo bom, não ter muita chuva, coisas assim. As peripécias do
tempo favorecem ou não favorecem a festa. Inclusive nesse último ano, tivemos um
tempo muito favorável, teve chuva mansa, não teve chuva violenta. Teve sol, teve
calor. Tudo isso, mas dentro de uma medida. Então ficou tranquilo. O único dia que,
se não me engano, foi numa segunda-feira, quando acabamos a celebração pelas 5
horas, o tempo escureceu e ficou de noite teve um temporal que inundou a cidade.
Cada festa conta uma história. Outro fator que interfere é o grupo que organiza a
festa. Se o grupo organiza tudo direitinho, é mais fácil de tudo dar certo.
5) Vocês recebem algum apoio, patrocínio, do govern o ou instituições
privadas?
Quanto aos patrocínios, a equipe que prepara a festa junto com a prefeitura, junto
com a diocese, junto ao estado. Eles conseguem verba pra certas coisas, folhetos e
também áreas de ocupação, aí entra a prefeitura e o estado, mas nem sempre tem
verba, não se tem verba para tal ponto. A parte da prefeitura entra com a parte
cultural, convida cantores. O último foi Padre Fábio, que é um bom cantor, está na
alta da sociedade, no auge da sociedade, são chamados para a população se aderir
mais. Há um interesse que se invista nessa festa, é uma cidade turística, atrair gente
de fora cria nome pra cidade, pra prefeitura. Quanto mais se abre mais dá um brilho,
um valor a festa. Tem o objetivo de incentivar a fé diante das pessoas.
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6) Houve algum momento em que mudou o local da Fest a da Penha?
Não. No começo só se fazia aqui em cima, celebrações aqui e no campinho, aonde
é o estacionamento. Depois com o movimento aumentando, começamos a usar ali
embaixo na Prainha, onde tem mais espaço. Para celebrações maiores, vamos ter
uma celebração agora do dia das mães então vai encher o campinho. Não dá mais
pra fazer aqui em cima. Tem que ter um lugar maior. Quando não dá no campinho,
pela grandiosidade da festa, fazemos lá embaixo na Prainha.
7) Você considera importante a continuação/preserva ção desta cultura?
Imagina! Não se pode tirar de jeito nenhum. Tem que continuar, tem que dar mais
realce, mais valor, mais brilho para que ela possa se expandir mais, levar irradiação
através da TV, por exemplo, você atinge não só o estado, mas o Brasil inteiro e até
para fora. Essa irradiação que é importante, levar a fé para as pessoas.
8) O que poderia ser feito, para que a Festa da Pen ha, não seja esquecida?
Eu acho que não precisa fazer nada porque uma festa dessas nunca será
esquecida. O povo não esquece, de jeito nenhum vai querer esquecer. Seria como
se você esquecesse sua mãe. Não dá, né? A não ser que você não goste de sua
mãe. Você recebeu a vida dela. Nossa senhora é nossa mãe espiritual. A Festa da
Penha é um patrimônio religioso e cultural. Uma festa que se torna patrimônio
religioso e cultura não tem como desaparecer.
9) Se fosse incentivado nas escolas seria bom para as novas gerações
continuassem a praticar as atividades da Festa da P enha?
Eu acho essa atividade pelas escolas tudo bem. Acho que até tem em algumas uma
semana de celebração, uma parcela participa da rede de televisão e rádio ou de
outra maneira. Mas não seria nada mal. Dentro da escola tem sempre esse
problema de outras religiões, estão ali. É meio complicado você falar de um assunto
exclusivo. Então ela é mais genérica, lá fora eles sabem o que está acontecendo
porque faz parte da própria cultura e do aprendizado. Os professores então
incentivando para que levem essa cultura para dentro das escolas. Entra no
currículo como matéria, o ensino religioso, mais ecumênico. Antes prevalecia a igreja
católica. Hoje, como existe várias religiões dentro das escolas, não se devem
desvalorizar as outras. Assim aplicam mais um ensino ecumênico.
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10) Uma frase que defina a Festa da Penha?
A Festa da Penha é um marco da história do município e do estado, da igreja. É uma
marca, um selo.
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INFORMAÇÔES PESSOAIS:
Nome: Vitor Emanuel de Farias Viegas Idade: 47 anos
Formação: UFES - Universidade Federal do Espírito Santo
Formado em Geografia, em Licenciatura e Bacharelado, com colação de grau em
janeiro de 1989.
Tempo em que trabalha na área: 21 anos.
Data: 05/05/2010
História:
Quando estava estudando trabalhou com o projeto Rondon durante 20 meses,
durante a época da constituinte, a nova constituição. Trabalhou com o Professor
Domingos de Azevedo, coordenador do projeto Rondon, que realizava palestras no
interior sobre a nova constituição que seria elaborada por volta de 1988.
Vitor ficava encarregado de organizar os palestrantes e entrar em contato com os
mesmos e com os municípios em que seriam realizadas as palestras. Ficou
trabalhando nessa área, e quando se formou começou a trabalhar em magistério.
Começou a trabalhar em Vitória, na Escola Mauro Braga, no turno noturno, com o
Ensino fundamental no Morro do Quadro, no centro de Vitória. A partir daí,
conhecendo outras pessoas, foi sendo indicado para outras escolas. Depois, passou
no concurso público do Estado, realizado durante o governo de Max Mauro, e em
seguida foi aprovado em concurso realizado pela prefeitura de Vila Velha durante o
governo de Jorge Anders. Posteriormente, em 1996, depois de um tempo
trabalhando no estado e na prefeitura, fez uma entrevista e foi contratado para
trabalhar no SESI. Começou, então, a trabalhar nos três turnos: de manhã, à tarde e
a noite.
Especializações: Pós – Graduação, curso pelo SESI dentro da área
empreendedora, e cursos ofertados pelo SESI, Prefeitura e Estado, voltados para a
área de magistério.
PERGUNTAS SOBRE MANIFESTAÇÕES CULTURAIS TRABALHADAS EM
TORNO DO ENSINO DE GEOGRAFIA:
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1) Quais conteúdos você ministra nas aulas de geogr afia?
Depende da turma. Se você for trabalhar com segundo grau, você tem aquelas
etapas: geografia física, geografia humana e geografia econômica. Dentro de cada
área, de cada especialidade, você procura incluir Vila Velha. Quando você fala de
geografia física, vamos a uma região litorânea, incluímos o clima, a vegetação.
Quando tem condições, a gente leva os alunos em uma reserva, Paulo Vinha, da
Prefeitura de Vila Velha. Nós temos uma estrutura. A gente procura introduzir Vila
Velha em qualquer assunto trabalhado, já que o município é o nosso ponto de
referência, não podemos perder esse ponto de referência.
2) Quais outras turmas você trabalha?
Trabalho com EJA aqui na escola (Escola Godofredo Schneider) e Ensino Médio no
Estado. No SESI eu trabalho com Ensino Médio, e na Prefeitura até ano passado eu
trabalhava com Ensino Fundamental. Esse ano, eu estou na coordenação. É uma
experiência nova. Este ano estou só no EJA e Ensino Médio dando aulas.
3) Então você tem um trabalho comum em todas as sua s turmas?
O ritmo do SESI é diferente do ritmo do Estado. Mas procuro trazer o material do
SESI para o Estado para estimular o aprendizado. Quando você trabalha no
município, ou você quer abordar alguma coisa do município, você pode abordar dos
dois lados. É claro que o ritmo é diferente. O EJA nem se fala, temos que fazer três
anos em um ano só. O conteúdo é bem enxugado mesmo, pegamos a parte
essencial, tentamos pegar pontos importantes de referências de Vila velha.
4) Você considera importante abordar a cultura de V ila Velha nas aulas de
Geografia?
Sim, o maior problema de trabalhar a cultura canela-verde é a falta de material. A
Prefeitura de Vila Velha é muito desorganizada.
Uma vez eu fui fazer um levantamento e tive dificuldade. Não existe, como em
Vitória, que você encontra a história de cada bairro. Aqui em Vila Velha você não
encontra a história dos bairros.
Ano passado, foram 50 anos de SESI, e eu fiz um levantamento de quantos bairros
que o SESI atende. Ele atende, no SESI de Araçás, mais 102 bairros. Mais da
metade não tem nenhum dado histórico, bairros que surgiram de 30 a 40 anos para
73
cá. Fica muito difícil termos material aqui em Vila Velha, mas mesmo assim, dentro
do pouco que conseguimos, montamos nosso trabalho. O maior problema é que
conseguimos informação através de algum material de imprensa, ou quando se
entra na internet, podendo conseguir informações de alguns bairros, não são todos.
Vila Velha, nessa questão cultural, é muito desorganizada mesmo.
Alguns colegas comentam que fizeram um trabalho sobre o clima e relevo de Vila
Velha e encontraram muita dificuldade. Quando dá para incluir cultura de Vila Velha
nas aulas a gente inclui. O Aluno tem que ter o subsídio nas aulas, material que
comprovem o que falamos em aula.
5) O que você acha importante da cultura de Vila Ve lha que podemos trabalhar
nas aulas de geografia?
Se analisarmos nosso estado, ele foi formado com pessoas que vieram de fora.
Agora que está surgindo o termo capixaba. Vila Velha hoje, 50% no mínimo dos
moradores são pessoas de fora. Pessoas do sul da Bahia, de Minas Gerais, eu sou
do Rio de Janeiro. Estou aqui há quase 40 anos. Precisamos trabalhar essa
abordagem, essa identidade cultural. Vila Velha é composta em sua maioria por
pessoas de fora, agora que está surgindo a população típica de vila velha. Quando
tentou ocupar essa parte onde fica a Prainha, há uns 40 a 50 anos atrás, o prefeito
dava lotes aqui, tanto na Praia da Costa quando aqui na Prainha. Hoje, Vila Velha é
uma área de ocupação muito rápida, crescimento muito rápido. Em Vitória não tem
mais onde crescer. Vila Velha tem crescido muito pra o lado de Guarapari. Vale a
pena abordar essa questão da formação do povo Vila Velhence, que é a formação
cultural do baiano, do mineiro e do próprio carioca também que vêm para essa
região.
6) Você acha que essa vinda de imigrantes para o Es tado pode estar
atrapalhando para criação da identidade capixaba ou ajudando?
O imigrante ele traz sua cultura de sua cidade, ele contribui. Mas tem a questão do
Vila Velhence mesmo, ele tem que preservar sua cultura. A Barra do Jucu tem toda
uma estrutura para preservar. É uma adaptação de cultura, uma cultura tem que se
adaptar a outra. Se formos em bairros, vemos a música baiana, é uma adaptação de
cultura. Duas culturas vão se unir para se formar uma terceira cultura.
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7) Devemos então receber a cultura do imigrante ten tando preservar a nossa?
Com certeza. Temos que receber e preservar a nossa. Eles têm que aprender sobre
a nossa cultura, aí está o papel da escola, da prefeitura em abraçar essa questão.
Porque só conseguimos divulgar a nossa cultura nas periferias das escolas da
prefeitura, se houver um acompanhamento da própria prefeitura, se tem um material
para isso. Se a prefeitura é o órgão maior do município, não coloca disponível
material nenhum, então é difícil manter essa cultura forte. O imigrante vem para
ganhar dinheiro, mas traz sua cultura já que é uma necessidade dele.
8) Você ministra alguma atividade que tem relação c om a cultura de Vila
Velha?
Eu trabalhei no ano passado (2009) os bairros onde o SESI atende, trabalhei aqui na
escola também a questão da formação de Vila Velha em alguns trabalhos, mas a
nossa maior dificuldade é questão de material mesmo. Alguns alunos foram até atrás
de alguns moradores antigos de alguns bairros fazer entrevista, porque não
encontraram muito material. Fizermos um trabalho em anos anteriores aqui na
escola (Godofredo Shineider), que veio até a banda de congo tocar na escola. É
uma manifestação, mas quando queremos recolher material sobre o assunto cultura
de Vila Velha, formação de bairros de Vila Velha, não se acha nada.
9) Existe dificuldade em relacionar a cultura de Vi la Velha com os conteúdos
que são ministrados nas aulas de geografia?
Quando você trabalha com imigrante, relacionamos com o que falamos, aonde
pudermos entrar colocando a cultura, nós encaixamos. É complicado mesmo pela
falta de material como base dessas aulas para podermos ir na raiz, dá trabalho
porque temos que entrar na internet, tentar achar algo, nem sempre se acha, mas
mesmo assim tentamos encaixar sem muita profundidade. Fazemos menção,
destacamos a questão da música, as formações, até mesmo o termo “canela-verde”,
fazemos aquela menção. O nome de Vila Velha, que passou a ser Vila Nova.
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10) De que maneira é apresentada a cultura do munic ípio aos alunos?
Através de conversas, debates, se conseguirmos imagens colocamos, através de
pesquisas na internet, trabalhos de campo. E se algum deles conhece alguma banda
que se possa trazer para se apresentar na escola, a gente traz.
11) Uma frase sobre como seria ensinar a cultura de Vila Velha?
É apresentar o município, não são só aspectos físicos, são também aspectos
humanos culturais. A atuação do homem dentro do meio, no espaço, transforma.
Apresentar a cultura é apresentar a raiz. Não adianta falarmos de município se não
apresentarmos uma raiz histórica, uma raiz cultural.
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INFORMAÇÔES PESSOAIS:
Nome: Carlos Roberto dos Santos Ribeiro (Robertinho da MUG)
Idade: 58 anos
Formação: Ensino superior incompleto, tendo cursado até o 1º ano de Engenharia.
Estudou em Colégio Estadual de Vitória e Vila Velha e também na UFES.
Data: 06/05/2010
História:
Parou de estudar por causa das condições de sua família, mais humilde. Também,
considerando que a engenharia não era tão valorizada nos anos 70, sua inspiração
pelo curso foi acabando.
Foi a partir da sua saída da Universidade que você buscou se aproximar da MUG?
Não, a MUG é uma história de vida. Os fundadores da MUG são todos amigos de
infância. A nossa história é quase igual a todas as outras, uma ligação entre futebol
e a escola de samba, quase uma parceria, igual pagode é com samba, futebol
também é com a escola de samba.
1) Foram seus pais que estimularam você a gostar de samba?
Isso é nativo mesmo. Isso vem, por incrível que pareça. Meu pai nem gostava de
futebol e nem de samba. Até rasgava as bolas da gente para não jogar bola, que na
época dos anos 60 jogador não tinha uma boa visão, assim como o sambista.
Calhou que, por incrível que pareça, a morte do meu pai facilitou porque a gente
teve liberdade para fazer as manifestações culturais e esportivas.
PERGUNTAS SOBRE MANIFESTAÇÕES CULTURAIS:
1) Você sabe como surgiu o samba em Vila Velha?
O samba aqui em Vila Velha, nós temos a escola de samba que até quando a gente
resolveu ser escola de samba, ela foi uma das primeiras, que é a Independente de
São Torquato, uma escola que detém cinco títulos, na época era famosa porque
concorriam quatro escolas grandes de Vitória, Unidos da Gurigica, Novo Império,
Piedade e Mocidade da Paz. Essas escolas eram grandes. Nós éramos apenas
bloco. Então o samba em Vila Velha já tinha porque, do mesmo jeito que foi a
formação da MUG, nada muda em outras escolas de samba. O que muda é de não
surgida de um agrupamento de bloco de futebol e sim de agrupamento de famílias
que gostava de cantar. Se reunia. O samba desceu o morro e hoje esta no meio da
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sociedade, graças à segurança e a cultura. O samba é uma cultura fixa nacional. O
samba trás musicas que não detém nada, não fala mal, não chama coisa ruim, não
denigre a imagem de ninguém. O samba tende a crescer porque suas musicas são
devidamente culturadas.
2) Quem lhe passou essa prática (costume)?
Eu vim desde garoto, jogava bola, um grupo de amigos, onde tinha vários garotos
que jogavam bola, que gostavam de se reunir para fazer um batuque. A nossa
criação da MUG veio através de um time de futebol “Leão da Glória” e o término de
um bloco carnavalesco “Pantera Cor de Rosa” que é de Jaburuna. Com o time de
futebol a gente se reunia na Praia da Costa ao lado do “Bar MUG” que era perto do
Sereia, ali na curva da sereia, fazíamos após o jogo aquela manifestação de alegria,
comemorando e cantando alguns sambas da época e com isso veio crescendo. Nós
também tínhamos aqui no bairro alguns fãs de remadores, remadores do Saldanha,
uma família dos Bresciani, eram chamados na época de “os sanção do bairro” por
serem belos e fortes, eram nossa comissão de frente, eles vinham na frente do
bloco. E nosso bloco era somado por um grupo de amigos que eram jogadores de
futebol que depois se tornaram profissional. Todos nos jogamos profissionalmente
no time do Glória. Dai veio o surgimento da MUG.
Como o “Pantera Cor de Rosa” era um time do morro que se formou no morro de
Jaburuna, encerrou as suas atividades até por estar cansados de perderem para um
bloco de Vila Velha que era “Unidos da Vila”, pelas falcatruas dos jurados. Ai se
fundiu junto com a MUG, dai veio todo esse crescimento da MUG. Nos quatro
primeiro anos a MUG foi campeã, se tornou escola do segundo grupo em 1984.
Vindo subir em 85. Em 86 teve a queda. Dai começa a história da MUG no grupo
oficial em 1986. No ano de 1992 por causa das forças políticas, falta de apoio
cultural e falta de verba para colocar uma escola na avenida, a MUG encerrou as
suas atividades por dez anos. Vindo reiniciá-las em 2002. Eu mesmo sendo um dos
amantes e também gostar muito, recebi uma transferência pelo cargo que eu ocupo
de maquinista da Vale do Rio Doce. A Vale do Rio Doce me transferiu para Minas
Gerais e eu tive que abandonar aqui a escola a qual teve até o seu fechamento.
Mas, o meu retorno em 1994 a gente começou a se articular de novo e começou a
voltar como bloco em 2002, com o apoio do prefeito Luiz Paulo, lá em Vitória, não
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para MUG, mas para o crescimento do carnaval, a gente se inspirou de novo a vir a
concorrer. De 2002 até 2010 a MUG sempre é a escola de ponta, ou é campeã ou é
vice-campeã. Se tornou uma das maiores escolas de samba de Vila Velha
comprovados pelos dados dos centros de pesquisa, pela própria popularidade, pela
imprensa, e pelo jornalismo. A MUG alcançou algo tão grande que hoje nos estamos
nos reunimos mais agora em 2010 pegando algum apoio de algumas faculdades e
de alguns estudantes para nos organizarmos mais porque nós crescemos tanto, que
perdeu o controle.
3) Em que data é realizada a festa principal de voc ês?
Graças a um grupo fundador diretoria, a MUG buscou realizar a sua abertura de
quadra todos os dias dês da sua reabertura em 2002. O trabalho é extenso a todo o
setor da escola. O uso da quadra, que foi coberta agora em janeiro de 2010, onde
esperamos 30 anos para conseguirmos essa cobertura. Um amigo se sensibilizou
junto com outros amigos, se juntaram e dividiram a cobertura da quadra. E hoje está
sendo usada para vários tipos de comemorações como aniversários, manifestações,
inclusive teremos no dia 05 de junho com a igreja católica, encontro de casais. Isso
ocorre até pela carência de um espaço, de um patrimônio cultural em Vila Velha. A
MUG está se propondo a fazer isso já que somos uma utilidade pública estadual.
4) No decorrer do tempo, houve épocas em que essa m anifestação fosse mais
evidenciada?
Foi sim! O crescimento é visto através dos registros, das fotos e da própria
ignorância nossa, porque graças a Deus, a MUG é uma escola diferenciada.
Costumo dizer que é como um namoro até chegar a um casamento. Não se torna
membro em um primeiro dia e se torna diretor. Amanhã podem querer chegar aqui e
vão entrar onde cabe cada um. Mesmo sabendo sambar, nos temos que obedecer a
uma hierarquia. Vão bater um papo. Vamos ver se ele samba mesmo. Apresenta um
status de vantagens. Isso vai diluindo com o tempo.
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5) Vocês recebem algum apoio, patrocínio, do govern o ou instituições
privadas?
A escola de samba não tem renda. A gente capita através do enrredo alguma coisa.
Temos um apoio do poder público, porém é um co-patrocínio, 10% do que vamos
gastar. Temos o nosso trabalho, festas folclóricas que ganhamos com o bar da
quadra, temos a parte comunitária. O apoio dado pelo governo é hiper-insuficiente.
Observo que a cultura local poderia ter mais representação do estado. Dão muita
pouca condição. No Rio tem a Cidade do Samba. Quem comanda é a prefeitura,
paga ingresso para entrar para ver um museu de todas as escolas de samba. Eles
inventam forma de ganhar dinheiro. Tem uma programação cultural e turística.
6) Você considera importante a continuação/preserva ção desta cultura?
O samba é o sangue do brasileiro. A maior manifestação cultural é o samba. O
samba é matriz de pagode de tudo que se liga a musica é tirado das escolas de
samba. Os maiores compositores Manoel Rosa, hoje nós temos o Zeca Pagodinho,
nós temos Betty Carvalho. A extensão na Bahia tem a Ivete que canta as musicas da
Bahia, mas também canta samba. Outros lugares também. Eu sou extremamente
favorável. Não se pode deixar acabar. Ainda mais que tem a musica “Não deixe o
samba morrer...”.
7) O que poderia ser feito, para que este costume, não seja esquecido?
É apoio. Esse apoio tem que ter apoio local. A MUG é uma escola de samba não é
tradicional de morro. A MUG é enfrentada num bairro.
Eu sou nascido da Glória, 1952. A minha família vive 100 anos aqui. Então,
conhecemos esse bairro da Glória aqui, conhecemos quando não existia. Não existia
o bairro da Glória. Existia uma casa. Era tipo estilo uma fazenda. Uma casa aqui e
outra ali a quilômetros. A “Chocolates Garoto” chegou aqui 1920 e pouco. Era um
barracão. Nós meninos aqui acompanhamos todo o crescimento e fomos
funcionários de descascar abacaxi para a Garoto. Aquele processo artesanal de
levar uma faca de casa. Nem faca eles davam para descascar abacaxi. A gente tem
muita historia do bairro da Glória.
A MUG não é uma escola de morro que desceu o morro para a sociedade, é o
contrario. A mug inclusive, eu foco e divido, a MUG é uma escola de samba
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tradicionalmente bairrista do bairro da Glória. A MUG é uma escola tradicionalmente
do município.
Nós agradecemos muito aos bairros vizinhos, Aribiri, Santa Inês, Santa Rita,
Primeirode Maio, Terra Vermelha, Barra do Jucu e Centro de Vila Velha. Vou fazer
um registro, por incrível que pareça, um dos bairros que fomos mais bem recebidos,
nas apresentações da MUG, foi Terra Vermelha. Acontecia àquela manifestação, o
centro comunitário promovia uma festa.
Enquanto, em outras apresentações, um registro para vocês da grande sociedade,
nós já fizemos apresentação no Iate Clube que a gente chega num ônibus, a gente
troca de roupa dentro do ônibus, entra de frente e voltar de ré. É aquele direito
pagou, usou e dispensou. Não é isso que a gente quer. A gente quer justamente o
que vocês querem com a entrevista, dar continuidade e mostrar a nossa cultura.
Assim como o sertanejo para o sertanejo universitário. A cultura vai expandindo. Eu
acho que a alegria deles é ter o prazer de ver que a cultura deles tá dentro da
universidade, também o forró universitário. Ai você vê que é uma versão diferente,
mas a raiz não vai mudar, ela continua.
8) Se fosse incentivado na escola, seria bom para q ue as novas gerações
continuassem a praticar essa atividade?
Hoje é triste entrar na escola publica. Você ver trafico. Você ver ameaça. A pessoa
que deveria ganhar melhor no mundo é o professor porque ninguém chega a médico
e a engenheiro se não tiver o professor.
Registrar também, a perda do vinculo familiar. O estudante esqueceu o respeito ao
pai e mãe. O quanto mais estuda, mais fica ignorante. Tá sendo ao contrario. A
educação não disse isso. A educação é para ele transmitir e reproduzir. Tem que
passar num banco de estudo.
Então você criar uma matéria de samba. Eu não sou muito favorável não porque já
tem tanta matéria para estudar que é cansativo. Criar uma matéria sobre samba não,
mas que a cultura deveria ser apresentada nem q fosse duas vezes por ano dentro
de alguma data, dentro da escola pra mostrar. Não é mostrar a sambista para os
caras olhar ela de biquíni, não é para isso. É para mostrar o que ela aprendeu de
cultura que ela sabe sambar. Não é fácil. Nós temos ai, como exemplo, nossos bons
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amigos argentinos. Todo mundo gosta de argentino no Brasil. Não sei por que tanta
rivalidade. Nós temos que tirar o chapéu quando se vê um casal dançando tango. Eu
paro para aplaudir e paro para olhar. Aí tem aquele ignorante que vai para olhar o
rasgo da saia da moça. Não é essa cultura. A cultura é ver o malabarismo dançado.
É igual como você ver a apresentação de mestre sala e porta bandeira. É como se
fosse um caso de amor. Ele vai endeusá-la. Vai chamá-la para dançar. Vai beijá-la.
Quer dizer uma encenação teatral. Por que o samba é rico? Porque o samba é o
maior teatro a céu aberto. Ele tá ali para apresentar para as pessoas aquela cultura.
Ai você tem as alas que apresenta o enredo dentro daquela proposta que foi pedida.
Depois você tem aquele casal de mestre sala e porta bandeira que vai
espalhar/endeusar e que são julgados. Depois nos temos as mães, que são mães
de todos, que são as baianas. As velhas, elas vem satisfeitas e sorridentes que são
exemplos de saúde. Então quero dizer que eu acho que o samba deve ser
apresentado uma vez por mês ou duas vezes ao ano.
Mas acho que as faculdades e as escolas deveriam levar uma apresentação de
samba porque endeusa. Todo mundo para. Essa seria a minha proposta.
9) Uma frase sobre o samba em Vila Velha?
O samba em Vila Velha é alegria.
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INFORMAÇÔES PESSOAIS:
Nome: Jefferson Rodrigues Castro - Presidente da Associação dos Catraieiros do
Espírito Santo
Idade: 39 anos
Formação: Superior Incompleto
Tempo em que trabalha na área: 10 anos
Data: 13/05/2010
História:
Seus familiares já estavam engajados nessa manifestação há muitos anos. Veio
essa influência através de uma cultura familiar, passada de geração em geração.
Durante seu crescimento, observava essa manifestação e sua família engajada e
participante, e começou a se interessar em participar também. Até que foi eleito
como representante do grupo na associação, depois de um tempo trabalhando como
apoio.
PERGUNTAS SOBRE MANIFESTAÇÕES CULTURAIS:
1) Como surgiu esse costume nessa região?
A história dos catraieiros se confunde muito com a história da cidade de Vila Velha e
Vitória. Desde quando houve o descobrimento do povo canela-verde e o tráfego de
grandes navios antigos aqui, o único meio de transporte da época era a catraia, hoje
é um linguajar pouco utilizado pelos marinheiros, mas começou pelos pescadores
que se classificavam na época como catraieiros, na época dos portugueses.
Viemos acompanhando o desenvolvimento da cidade de Vitória, apelidada de
Cidade Luz, surgiu junto com os pescadores que circundavam a Bahia de Vitória,
que faziam o transporte de vários gêneros alimentícios para a população do centro
de Vitória e o povo canela-verde, de Vila Velha.
2) Quem lhe passou esse costume?
É uma coisa familiar, bem fechada. Vem de geração em geração. Foi passada pro
meu tio que foi passada para mim. Meu pai não era catraieiro, mas meu tio já era. Eu
abracei a causa do meu tio. Isso é uma questão geral, todos os catraieiros. Hoje
para uma pessoa ser catraieiro, ele tem que passar um período probatório de dois
anos até ele se formar catraieiro. Ele tem que conhecer como funciona o sistema da
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catraia, tem que saber como remar, como pescar também, já que a maior parte dos
catraieiros são pescadores. É para deixar bem segura a nossa cultura.
3) Em que data que é realizada a comemoração de voc ês? Vocês têm alguma
festa?
Nossa festa se confunde muito com a Festa da Penha. Teve um período de quase
100 anos que os catraieiros participavam da Festa da Penha. Anteriormente, o
trajeto pelas pessoas que moravam na Ilha de Vitória para Vila Velha, ou era de
cavalo, ou de balsa ou junto com os catraieiros. Tanto é verdade que se confunde
até com a Construção da Ponte Florentino Ávidos. Em fotos antigas, tem catraieiros
auxiliando aos engenheiros e na mão de obra pesada.
4) No decorrer do tempo, houve épocas em que as cat raias foram mais
valorizadas, evidenciadas? E que foram menos valori zadas?
A década de 1960 foi o auge dos catraieiros e depois com o tempo os governantes
foram incluindo junto à Baía de Vitória os transportes motorizados. Primeiro houve o
auge e com o tempo houve também o declínio dessa manifestação. Não houve um
investimento nos catraieiros. Na época, a pessoa que estava à frente deles não
soube ajudar a acompanhar esse ritmo de desenvolvimento. Hoje, estamos brigando
junto às empresas privadas, ao setor público, para que haja a restauração, o
surgimento de novas catraias.
Teve um período da década de 90 que foi um período negro para os catraieiros,
sofreram bastante. De três anos para cá, tivemos uma nova visão, começou a
pleitear custos, pleitear junto às secretarias que envolvem a cultura capixaba na
restauração dos catraieiros, já que hoje estamos um pouco esquecidos, tanto do
lado dos governantes e das instituições privadas.
5) Vocês recebem algum apoio, patrocínio do governo ou alguma instituição
privada? Que tipo de apoio?
Hoje estamos em um processo de bater em porta em porta. É muito difícil, a cultura
hoje não existe um apoio nem do governo, nem do setor privado. Temos que pedir,
dependemos das pessoas se sensibilizarem, geralmente não vão à frente, mas o
bom que é algo que está incumbido na história. É a mesma coisa se tirarmos o
Convento da Penha e colocarmos no Morro do Quadro, é algo que foge um pouco.
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Estamos conseguindo poucas coisas no setor privado, não com o governo. Estamos
pleiteando junto à classe para vermos o que pode ser feito para a restauração da
nossa história e da cultura do Estado. Os tipos de empresas que geralmente
investem no nosso setor cultural, que nos auxiliam, que conseguimos mandar algum
ofício são as empresas portuárias. Empresas que estão ribeirinhas aqui ao porto.
6) Você acha importante a preservação dessa cultura ?
Estamos pleiteando junto ao governo e as secretarias, até o próprio IPHAN, um
curso junto com as comunidades ribeirinhas para que as pessoas saibam como
surgiu a história dos catraieiros, como é a vida dos catraieiros; existem várias
reportagens, mas não existe isso difundido diante da comunidade. Estamos tentando
fazer um trabalho de resgatar a história. Se você observar bem, a idade dos
catraieiros é bastante avançada, não está tendo uma renovação, os jovens não
estão querendo mais continuar a cultura, estão querendo facilidade. Estamos
trabalhando em cima disso tentando tirar essa idéia um pouco da cabeça dessa
nova geração, porque manter nossa cultura viva é uma coisa maravilhosa. É um
trabalho árduo, mas estamos conseguindo reverter esse quadro. Anteriormente
estava muito difícil. Temos que fazer um trabalho bem estruturado para termos um
resultado a longo prazo, e não a curto prazo.
7) O que poderia ser feito para que esse costume nã o seja esquecido?
Precisamos que haja um olhar do governo, principalmente do estado. Reconhecer a
classe. É a base fundamental que batemos sempre na tecla. Não adianta falarmos
que queremos investimentos de X, 2x, 3x, se a própria cultura não valorizar no nosso
trabalho. É um trabalho difícil, temos que conscientizar primeiramente os catraieiros
e a comunidade aonde ele trabalha, que é no caso Vila Velha e Vitória. São as duas
baldeações hoje que é fundamental para a sobrevivência dos catraieiros.
Precisamos difundir a comunidade, seria uma forma de incentivar aos jovens que
estão perdidos nas ruas, sem profissão, uma forma de incentivar o que não deixa de
ser um esporte, remar, fazer a travessia de Vitória à Vila Velha e vice-versa.
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8) Você acha que se fosse incentivado nas escolas s eria bom para que as
novas gerações dessem continuidade a esse costume?
Sem dúvida. É uma coisa que vai aprender muito, enriquecer seu lado cultural, vai te
alimentar de uma forma que teriam noções de muitas coisas. É uma cultura que
temos que fazer valer. Esse é um segundo plano que também estamos querendo
trabalhar. Essa é a base das comunidades que circundam a Baía de Vitória, também
em Vila Velha, um aspecto fundamental para a gente.
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INFORMAÇÔES PESSOAIS:
Nome: Beatriz dos Santos Rego - Vice Presidente, representante cultural do Congo
Idade: 42 anos
Formação: Segundo Grau Completo
Tempo em que trabalha na área/ História: mais de 20 anos.
Ela entrou mais ou menos com 20 anos nessa manifestação. Seu pai sempre fez
parte da banda a qual sofreu influência da família.
Data: 19/05/2010
PERGUNTAS SOBRE MANIFESTAÇÕES CULTURAIS:
1) Como surgiu esse costume nessa região?
Eram encontros de amigos, roda de congo, brincadeira de congo, falada pelos
antigos. Não eram todos da Barra do Jucu, eram vindos de bairros vizinhos, Ponta
da Fruta, Itapuera, entre outros. Cada um trazia seu instrumento e fazia a roda de
tambor. Foi a partir daí que começou a surgir o tambor e a casaca. Não existiam
nessa época outros instrumentos, somente o tambor e casaca. Começaram, a partir
daí, a surgir outras pessoas interessadas, que formaram a Banda de Congo Mestre
Honório. Mestre Honório era um senhor que tomava conta dessa banda. Ele era
mais velho e tinha mais experiência em outros lugares que ele tocava. Ele tocava o
instrumento que conduzia a banda.
2) Quem lhe passou esse costume?
Meu pai parte daqui da Barra. Minha mãe era de Santa Leopoldina e morou muito
anos em Cariacica. Meu avô, pai dela, tinha uma banda de congo. Acho que está no
sangue isso. Minha mãe foi a única das oito filhas que se interessou pelo congo.
Casou com uma pessoa que também gostava. Acabou surgindo esse interesse por
mim e pelos meus irmãos. Inclusive, minha família toda está na banda, minha filha,
meus sobrinhos, também estão incluídos nesse costume.
3) Em que data que é realizada a comemoração de voc ês? Vocês têm alguma
festa?
Nós temos três momentos específicos pra gente, o objetivo das bandas de congo.
Primeiro é a Fincada de Mastro que a gente homenageia São Benedito. Aqui na
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Barra é feita no último sábado do mês de dezembro. Como ele é padroeiro na
maioria das bandas dos congos do Espírito Santo, dezembro é dedicado a São
Benedito. E para não confrontar com festa de outro município já colocamos no
calendário depois do natal, 28, 29 ou 30 sempre ultimo sábado depois do natal. A
fincada é uma homenagem que a gente presta ao santo por um naufrágio de um
navio. Um navio naufragou e os escravos se agarraram ao mastro e se salvaram e
prestaram essa homenagem ao santo fincando esse mastro do navio na praia. Aqui
na Barra adquirimos essa tradição, mas não fincando o mastro na praia, mas em
frente a uma única igreja que existia na Barra do Jucu, a Igreja da Nossa Senhora
da Glória. Esse é o primeiro momento que prestamos essa homenagem. O segundo
momento é a retirada deste mastro. Não pode ficar lá o ano todo, temos um prazo
para a retirada. Na Quaresma a gente não toca o congo, aqui fazemos diferente. Em
20 de janeiro, dia de São Sebastião, retiramos esse mastro. O terceiro momento é
quando retornamos da Quaresma e voltamos a tocar. Onde fazemos uma
homenagem a Nossa Senhora da Penha, que também tem bandas que ela é
padroeira em outros municípios. E vamos pedir a benção da Nossa Senhora para
nossas apresentações durante o ano, onde começa nosso calendário com nossas
apresentações de congo.
4) No decorrer do tempo, houve épocas que o Congo f oi mais valorizado,
evidenciado? E que foi menos valorizado?
Antigamente quando fazíamos festa aqui na Barra iam três ou quadro pessoas para
segurar o mastro e mais os conguistas tocando tambor. Não tinha público, fazíamos
a festa por devoção e porque já era uma tradição da gente. A cultura, infelizmente,
não é muito valorizada pelas pessoas locais. Não dão valor pelo que a gente faz.
Mas as pessoas de fora começaram a se interessar depois que Martinho da Villa, em
1988, lançou a musica “Madalena”, onde falava “Congo da Barra do Jucu” e as
pessoas começaram a se perguntar aonde era isso, começaram a pesquisar, muita
gente de outros estados veio aqui na Barra. O povo começou a se chegar mais. As
nossas festas começaram a encher de gente a partir da música da Madalena que
evidenciou nossa festa. Eles chegavam aqui achando uma coisa e vinham para ver,
viram que era outra e começaram a participar da nossa festa. Contribuindo para que
a festa ficasse maior. Ultimamente a gente fica até com medo, de a festa ficar muito
grande porque a Barra não suporta tanta gente. A gente nem faz mais propaganda
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da festa com medo de não suportar tanta gente. A propaganda tem sido de boca a
boca.
5) Vocês recebem algum apoio, patrocínio do governo ou alguma instituição
privada? Que tipo de apoio?
Sim, entre aspas. A gente não tem uma coisa certa todo ano. Há quatro anos atrás
fizeram um convênio com a prefeitura para repassar um dinheiro de apoio às quatro
bandas de Vila Velha para ajudar nessa festa. Porém recebemos durante um ano
só, no primeiro ano. Depois não recebemos mais. Este ano está firmado o convênio
de novo, mas até agora a gente não recebeu ainda. Mas até dezembro que vamos
ter certeza se vamos receber o dinheiro ou não. O que nos ajuda nessa manutenção
dessa festa são as apresentações individualmente das bandas que fazemos em
escolas, palestras, festas, casamentos e aí as pessoas ajudam. É uma ajuda mais
de pessoas de fora, do que do governo. Quando a gente faz uma apresentação de
uma festa do governo que eles pagam um cachê aí é ótimo, mas não é sempre.
Esse convênio que estamos tentando firmar com a Associação das Bandas de
Congo de Vila Velha e a prefeitura vai nos ajudar muito.
6) Você acha importante a preservação dessa cultura ?
Nossa, muito! O que me leva a continuar é ver a alegria do meu pai. Desde quando
surgiram as bandas de congo meu pai foi o único que deu continuidade, todos os
outros desistiram, morreram e não passaram pros seus filhos. Papai foi o único que
continuou. Se nós filhos não tivéssemos dado continuidade, não teria mais a banda
de congo. Assim como eu vejo a alegria do meu pai vendo todo mundo numa roda
de congo tocando, eu quero ver isso nos meus filhos. Eu quero dar continuidade a
isso. As pessoas falam que o Mestre Honório tinham seis filhos e nenhum deles se
interessou. Ele viu meu pai como um filho e se apegou a ele que tocava tambor de
condução, de marcação, que marca o ritmo do jongo. Quando Mestre Honório
faleceu em 1993, não tinha ninguém que tocasse o instrumento dele, a caixa,
ficamos com medo de perder isso. Não sei se foi obra divina que eu nunca havia
pegado na caixa, mas hoje quem toca a caixa sou eu. É a única banda das bandas
de congo do Espírito Santo que tem uma mulher que comanda uma banda é a
Mestre Honório.
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7) O que poderia ser feito para que esse costume nã o seja esquecido?
Passar de pai pra filho. Passar na família. Que é o que acontece na nossa banda.
Passando essa tradição de pai para filho.
8) Você acha que se fosse incentivado nas escolas s eria bom para que as
novas gerações desse continuidade a esse costume?
Sim, tem escolas que já tem bandas de congo. Aqui na Barra mesmo tem escolas
que tem Banda Mirim, da outra banda de congo a Tambor de Jacaranema. Esta
escola ela já tem uma banda. Aqui na Barra tem outras escolas que poderiam fazer
isso. No próprio município de Vila Velha, muitas pessoas chamam as bandas de
congo para falar sobre o costume para as crianças e elas se interessam e
perguntam “tia, porque aqui não pode ter, aqui pode?” Pode. Vila velha pode ter
porque nós quatro do município de Vila Velha, Mestre Honório, Tambor de
Jacaranema, Mestre Aucides e Banda São Benedito da Glória, podemos
desenvolver um projeto de introduzir bandas de congo com ritmos de Vila Velha
dentro das escolas de Vila Velha. Não podemos ultrapassar o limite de Vila Velha e
ir para Cariacica porque lá o ritmo é diferente.
9) Uma frase que representa o congo na cultura de V ila Velha?
Congo da Barra é um congo de Cultura, de raiz, tradição!