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Há vida fora da Terra? Actualmente o ser humano questiona-se cada vez mais se está sozinho no universo. Já que o universo é tão vasto, em termos científicos, é de estranhar que não exista mais nenhum planeta com vida. Mesmo com os grandes avanços verificados na investigação espacial nas últimas décadas ainda não se descobriu vida fora do planeta Terra. Por isso o ser humano considera-se sozinho no universo até porque este último é tão vasto que é extremamente difícil encontrar e comprovar a existência de vida tanto dentro da nossa galáxia como fora dela. Como tal a investigação a este nível verifica-se principalmente dentro do nosso sistema solar embora nos últimos anos os progressos tecnológicos tenham permitido novas descobertas, nomeadamente, de planetas que orbitem em torno de outras estrelas. Definição de vida e condições para a sua existência O que é a vida? A vida é geralmente aceite como não sendo simplesmente matéria orgânica já que a primeira resulta de uma evolução química e biológica comandada pelas leis físicas. Os seres vivos são, deste modo, organismos que combinam os seguintes elementos: metabolismo, poder de reprodução e capacidade de sofrer mutações e de as reproduzir,(ou seja passam por uma selecção cumulativa). Por sua vez, a vida inteligente requer sempre centenas de milhares de milhões de células diferenciadas num organismo altamente complexo, sendo a selecção natural cumulativa extremamente lenta. Não existe, contudo, uma definição universal do conceito de vida. A questão de se considerar se um planeta tem vida e/ou condições de habitabilidade ou não depende essencialmente das condições cientificamente aceites relativamente à habitabilidade e ao próprio conceito de vida. Uma vez que a maioria das teorias sobre a vida extraterrestre se baseia nas condições do nosso planeta, a própria constituição bioquímica de eventuais seres vivos é 1

Há vida fora da Terra?

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Há vida fora da Terra?

Actualmente o ser humano questiona-se cada vez mais se está sozinho no universo. Já que o universo é tão vasto, em termos científicos, é de estranhar que não exista mais nenhum planeta com vida. Mesmo com os grandes avanços verificados na investigação espacial nas últimas décadas ainda não se descobriu vida fora do planeta Terra. Por isso o ser humano considera-se sozinho no universo até porque este último é tão vasto que é extremamente difícil encontrar e comprovar a existência de vida tanto dentro da nossa galáxia como fora dela. Como tal a investigação a este nível verifica-se principalmente dentro do nosso sistema solar embora nos últimos anos os progressos tecnológicos tenham permitido novas descobertas, nomeadamente, de planetas que orbitem em torno de outras estrelas.

Definição de vida e condições para a sua existência

O que é a vida?A vida é geralmente aceite como não sendo simplesmente matéria orgânica já que a primeira resulta de uma evolução química e biológica comandada pelas leis físicas. Os seres vivos são, deste modo, organismos que combinam os seguintes elementos: metabolismo, poder de reprodução e capacidade de sofrer mutações e de as reproduzir,(ou seja passam por uma selecção cumulativa). Por sua vez, a vida inteligente requer sempre centenas de milhares de milhões de células diferenciadas num organismo altamente complexo, sendo a selecção natural cumulativa extremamente lenta. Não existe, contudo, uma definição universal do conceito de vida. A questão de se considerar se um planeta tem vida e/ou condições de habitabilidade ou não depende essencialmente das condições cientificamente aceites relativamente à habitabilidade e ao próprio conceito de vida.

Uma vez que a maioria das teorias sobre a vida extraterrestre se baseia nas condições do nosso planeta, a própria constituição bioquímica de eventuais seres vivos é largamente defendida segundo um elemento base – o carbono (ou seja o elemento que compõem os seres vivos terrestres) – em conjugação com o solvente água, no qual as reacções químicas têm lugar. Como tal a existência de água é considerada fundamental para o surgimento de vida. Porém existem outras teorias que defendem a existência de vida à base de outros elementos como o silício em vez do carbono e o amoníaco no lugar da água (embora esta seja uma hipótese remota).

Neste contexto existem duas teorias relativas à probabilidade de outros corpos celestes sustentarem vida: o princípio da mediocridade e a hipótese da “Terra rara”. Os defensores da primeira teoria seguem uma linha racional ao afirmar que a vida na Terra não é um caso especial e que a vida como a conhecemos pode ser considerada um exemplo típico do que poderá ser a vida noutros planetas. Apesar de ser especulativo este princípio permite algumas pressuposições sobre os atributos de seres extraterrestres em particular o tributo da evolução darwiniana e outras características supostamente universais como o aparecimento dos sentidos, extremidades adaptadas a diferentes meios ou à fotossíntese no caso das plantas. Porém esta teoria é criticada porque para que exista este tipo de evolução o meio ambiente, entre outros factores, deveria ser

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muito similar à própria Terra. Por outro lado a hipótese da “Terra rara” afirma que no nosso planeta as condições necessárias para o aparecimento de vida são tão particulares que é possível que apenas esta albergue vida em todo o universo. Isto porque a vida na Terra e em particular a humana parece depender de uma variedade de circunstâncias provavelmente irrepetíveis à escala universal. Entre estas estão o tamanho da lua - exercendo influência na inclinação da Terra e nas estações do ano -, a distância do planeta relativo ao sol que impossibilita tanto o efeito de estufa como a glaciação. Também são mencionados outros parâmetros como o lugar periférico do sol na Via Láctea (relativamente livre de supernovas ou o tamanho de Júpiter que serve de "pára-raios” da Terra, protegendo-a de muitos impactos de asteróides e cometas). Apesar disso esta hipótese já não é compartilhada por grande parte dos cientistas, pois já se descobriu que os planetas extra solares são relativamente comuns e deste modo podendo alguns possibilitar a vida.

Diferentes perspectivas em relação à vida extraterrestre

Uma vez que a existência da vida extraterrestre permanece um mistério, quaisquer resultados de investigações são apenas conjecturas. É de extrema importância salientar que grande parte das investigações deste tema não tem base científica, sendo consideradas como parte de pseudociências. Assim a relação com o fenómeno extraterrestre nomeadamente o retratado na cultura popular apresenta diferentes perspectivas: a da astrobiologia e a da ovniologia procientífica que utilizam o método científico, a ovniologia popular que apenas propõe acumular supostas provas ou como um fenómeno paranormal, ou seja, sem objectividade científica. Será de interesse referir que, devido ao facto de ainda não se terem conseguido alcançar exemplos ou refutações válidos/as cientificamente, não existe nenhuma disciplina formal que estude a vida extraterrestre, sendo que os investigadores desta hipótese fazem parte do quadro da referida protociência astrobiologia (também denominada de exobiologia ou xenobiologia).

- Perspectivas na cultura popular

A ideia da existência de seres de outros planetas já existe desde a Antiguidade, embora nessa época fosse difícil distinguir entre representações destes e de seres sobrenaturais como deuses ou espíritos. Praticamente ignorada durante séculos, salvo por parte de pensadores como Giordano Bruno, no século XVI, esta ideia despertou maior interesse na cultura popular a partir do século XX e nomeadamente da década de 50 com a sua associação ao fenómeno OVNI.

Investigação científica

Embora com todos os progressos tecnológicos não haja provas consistentes de vida no nosso sistema solar (excepto na Terra), as investigações resumem-se basicamente ao nosso sistema solar, pois apesar de terem sido descobertos planetas extra-solares, estes estão a muitos anos-luz da Terra (a estrela mais próxima do sol está a 4,2 anos-luz da Terra, o que representa uma distância demasiado grande para ser percorrida por uma

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missão tripulada). Podemos sim, investigar esses planetas através de telescópios de longo alcance. Deste modo, existem três maneiras de procurar vida extraterrestre: através de instrumentos de observação directa, de observação indirecta (através de telescópios) ou da escuta de sinais artificiais (envio de ondas rádio criadas pelo Homem). Foi enviada uma mensagem digital para o grande enxame globular M13 que ficou conhecida como a Mensagem de Arecibo. Esta mensagem é das mais famosas tentativas de contacto com extraterrestre. O programa SETI também procura vida extraterrestre, mas não é aceite pela comunidade científica já que utiliza apenas recursos ao seu alcance e seu método é visto como não científico.

Dentro do sistema solar o planeta que mais provavelmente sustenta ou sustentou vida é Marte, por ser o mais semelhante à Terra. Entre os vários factores que sustentam esta probabilidade, está a existência de água em certa abundância apesar de se apresentar no estado sólido ou em forma de vapor, representando este último 0,03% da atmosfera. Estudos revelaram que poderão ter existido correntes de água na superfície de Marte o que demonstra ser possível ter permitido o surgimento de organismos vivos. Isto indica que provavelmente já foi mais habitável do que é na actualidade, embora não se tenha detectado qualquer forma de vida que ainda se mantenha.Em contrapartida, a inexistência do campo magnético e uma atmosfera fina dificultam o aquecimento da superfície e propiciam adversidades como a queda de corpos celestes e o vento solar e uma pressão atmosférica demasiado baixa para manter a água em estado líquido.

Mesmo assim vários programas de investigação espacial revelaram a existência de factores que propiciam ou indicam a existência de vida, nomeadamente de vida bacteriológica, tais como a descoberta de metano. A 11 de Setembro de 1997 a sonda Mars Global Surveyor chega a Marte e posteriormente envia fotografias que demonstram correntes de substâncias líquidas na superfície nos últimos dez anos, contudo ainda é incerto se se tratava de água ou de CO2.

Vida no satélite Europa?

Uma das quatro luas de Júpiter, Europa, é juntamente com Marte o local mais provável para a existência de vida extraterrestre já que, apresenta uma superfície gelada muito brilhante com riscos coloridos, pensa-se que seja um mundo oceânico coberto por uma capa de gelo que protege o mar interior das adversidades do espaço. Alguns cientistas pensam que lá possa existir vida como a que existe nas profundezas dos mares da Terra, visto que Europa possui elementos essenciais para a vida tais como: água, calor e compostos orgânicos, elementos estes que se encontram nos respiradouros hidrotermais no fundo do oceano terrestre ou no Lago Vostok da Antártida. Relativamente aos riscos coloridos, ou melhor às zonas raiadas de cor avermelhada existentes na camada de gelo exterior de Europa, estas são explicados por alguns cientistas como devendo-se a uma possível aglutinação de bactérias que se assemelhem às bactérias extremófilas existentes na Terra (espécies de cor castanha e cor de rosa), já que estas bactérias terrestres foram testadas pela NASA e têm a capacidade de sobreviver à radiação ultravioleta do espaço, a ambientes extremamente frios e oxidativos, severamente ionizados e ao vácuo, bem como a concentrações bastante altas de sulfatos de magnésio e ácido sulfúrico, condições esperadas em Europa.

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No entanto, nenhum extremófilo da Terra poderia viver na superfície de Europa, mas sim no suposto oceano. Os organismos poderiam viver no oceano e serem lançados por uma espécie de erupção para a superfície e congelados de imediato.

Vida em Marte?

A especulação sobre a possibilidade de vida em Marte já dura desde que o norte-americano Percival Lowell sugeriu que Marte era um planeta que estava a secar e que existia uma antiga civilização marciana que tinha construído canais para drenar as calotas polares e transportar água para as cidades. Suposição essa que se baseou no facto de as linhas descobertas em Marte por Schiaparelli, denominadas por ele de canali (canais), terem sido traduzidas como canals em vez de channels o que pressupunha algo de artificial. Contudo, e depois de isto ter sido tratado na ficção literária, descobriu-se que a maioria dos canais não passava de uma ilusão óptica. Assim a partir da década de 1950 a possibilidade de vida inteligente em Marte já estava praticamente posta de parte.

A primeira sonda a orbitar Marte, construída pelos norte-americanos, foi a Mariner 4 em 1965. Em 1976 as sondas gémeas Viking I e II conseguiram pousar no solo de Marte, logrando tirar a primeira fotografia da sua superfície. Mesmo com esta missão, as dúvidas quanto à existência de bactérias persistiram. Somente em 1997 voltaram a existir progressos significativos com o envio da sonda Mars Pathfinder. Esta, depois de pousar em Marte, libertou um veículo robô que analisou diferentes rochas e enviou mais de 16 500 imagens, fazendo ainda 8,5 milhões de medições às condições ambientais do Planeta Vermelho. No mesmo ano a já referida sonda Mars Global Surveyor enviou fotografias do planeta com uma resolução sem precedentes. A Europa iniciou a investigação próxima do planeta com a sonda orbital Mars Express, em 2003, e apesar do robô destinado a explorar a superfície ter falhado, isso não comprometeu a descoberta de um lago gelado em 2005 pela mesma sonda. Desde 2004 as bem sucedidas missões dos robôs Spirit e Opportunity (da Nasa) têm revelado novos dados, nomeadamente esta última que pousou numa suposta costa de um antigo mar salgado. Mas tudo isto foi realizado por máquinas. A distância entre Marte e a Terra tornaria uma missão tripulada em algo dispendioso e mais arriscado que uma viagem à Lua, a Agencia Espacial Europeia (ESA) tem como objectivo o envio de uma missão deste calibre em 2030 como parte do Programa Aurora. Já a Nasa, pretende voltar à Lua em 2015 considerando depois uma viagem ao Planeta Vermelho. Esta questão é relevante quando se considera a hipótese da colonização humana de Marte, impulsionada por uma possível terraformação de Marte ou seja criar artificialmente condições similares à Terra, pois Marte é o planeta com características mais aproximadas às terrestres. Uma das transformações cruciais para o ser humano habitar Marte teria de passar pela alteração da atmosfera e respectivo aquecimento produzido através do dióxido de carbono e de outros gases que provocam efeito estufa. Assim se conseguiria evitar a radiação solar actualmente existente naquele planeta.

Excepto o lançamento de equipamento espacial para a órbita ou superfície de Marte ou a observação deste último através de telescópios, um dos poucos artefactos disponíveis na Terra para a procura de microorganismos marcianos são os meteoritos denominados SNC ou seja originários de Marte. É relativamente fácil saber se são de Marte uma vez que a composição destes meteoritos coincide com a achada pelas sondas Viking. O mais importante e investigado dos 17 objectos desta proveniência (achados até 2005) é o

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meteorito ALH84001. A primeira identificação dos seus compostos foi revelada em 1996 por David McKay que anunciou a descoberta de elementos orgânicos. Este objecto, possivelmente desprendido de Marte devido ao impacto de um corpo celeste há cerca de cinco milhões de anos, foi assim tomado como um provável sinal de existência de vida no passado de Marte. Contudo, isto gerou bastante controvérsia e logo de início muitos cientistas qualificaram o anúncio de “prematuro” e possível equívoco. Já que afirmavam que a presença de resíduos semelhantes ao criado por material orgânico não significasse uma relação com seres vivos, ainda que defendesse que nenhuma explicação biológica é improvável, mesmo assim a investigação sofreu um duro revés em 1997 quando outros cientistas desmentiram que as estruturas encontradas no meteorito não haviam sido provocadas por microorganismos mas por outros agentes puramente químicos. Entre outras razões para refutar relacionavam-se com a possível contaminação do meteorito por organismos terrestres ou a baixa quantidade de aminoácidos. Mesmo assim o assunto continua em debate.

Vida em planetas extra-solares?

Com a evolução dos instrumentos de observação, tem sido possível ao homem descobrir planetas fora do sistema solar, ou seja, planetas extra-solares ou exolanetas. Entre os planetas descobertos, o que poderá apresentar condições mais parecidas às da Terra é o OGLE-2005-BLG-390Lb, na região da constelação de Escorpião (Scorpius), perto do centro da nossa galáxia. Este planeta foi descoberto utilizando a técnica das lentes gravitacionais. Embora os meios actualmente disponíveis não permitam o estudo detalhado dos planetas extra-solares, e pretenda desenvolver instrumentos que consigam detectar elementos como o presença de oxigénio, já foram apresentadas teorias sobre este planeta relativamente à sua temperatura (por sinal, muito fria) e à sua superfície (que será composta por substâncias sólidas, que se apresentam sólidas ou gasosas na Terra (como água, amoníaco, metano e nitrogénio). Certos especialistas defendem que um dos sistemas que tem mais probabilidade de conter planetas capazes de albergar vida é o que se centra em torno de Alfa Centauro, um sistema de três estrela, que contem a estrela mais próxima do Sol (cerca de 4,2 milhões de anos-luz). Isto porque duas das três estrelas são muito semelhantes,em tamanho, ao Sol.

A missão COROT, iniciada em 2006 pela agência espacial francesa (conhecida por pela sigla CNES), continua a procurar planetas extra-solares. È importante referir que o foi a missão com este objectivo determinado. Futuramente, espera-se a aplicação de mais projectos como a missão Darwin, da Agência Espacial Europeia, que tentará achar planetas semelhantes à Terra, e como tal, procurar provas de vida naqueles. Porém, a projecto de lançamento das sondas Terrestrial Path Finder, da NASA, não foi concretizado em 2007 (devido a cortes no seu orçamento), pelo que está agendado para Novembro de 2008 o início da viagem missão que a substituirá, a sonda Kepler.

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