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Hierarquização e Epidemiologia das Doenças Bucais Professora Me. Adélia Delfina da Motta Silva Correia Campo Grande, 22 de setembro de 2014 Faculdade de Odontologia Disciplina de Odontologia em Saúde Coletiva II

Hierarquização e epidemiologia das doenças bucais

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Hierarquização e Epidemiologia das

Doenças BucaisProfessora Me. Adélia Delfina da Motta Silva Correia

Campo Grande, 22 de setembro de 2014

Faculdade de Odontologia Disciplina de Odontologia em Saúde Coletiva II

Contextualização das Doenças Bucais no Mundo

As doenças bucais de maior prevalência continuam sendo a cárie dentária, doença periodontal e câncer de boca. Em muito países em desenvolvimento o acesso aos serviços de saúde bucal é limitado e dentes geralmente não são tratados ou são extraídos devido a dor ou desconforto.

Infelizmente no mundo, a perda de dentes ainda é vista por muitas pessoas como uma consequência natural do envelhecimento. Enquanto em alguns países industrializados existe uma tendência positiva de redução da perda dentária em adultos no últimos anos, a proporção de adultos edêntulos acima de 65 anos de idade ainda é alta. Nos EUA 26% dessa população já perdeu algum dente, na Finlândia 41 e no Reino Unido 46 . Segundo o último levantamento epidemiológico de saúde bucal realizado no Brasil em 2010, nossos idosos já perderam em média 25 dentes.

Contextualização das Doenças Bucais no Mundo

As ações prioritárias para a melhoria das condições de saúde bucal são, conforme recomendado pela WHO:

Uso efetivo de Fluoretos

Dieta e nutrição saudáveis

Controle do Tabaco

Saúde bucal para jovens e crianças através de escolas promotoras de saúde

Melhoria na saúde bucal entre os idosos

Saúde bucal, saúde geral e qualidade de vida

Sistemas de saúde bucal

HIV/AIDS e saúde bucal Sistemas de informação em saúde bucal, evidências em prol de políticas de saúde bucal e formulação de metas

Pesquisa em prol da saúde bucal

Petersen, 2008

Contextualização das Doenças Bucais no Mundo

Bases políticas para Programas de Saúde Bucal

Saúde bucal é integral e essencial à saúde geral

Saúde bucal é um fator determinante para a qualidade de vida

Saúde bucal - saúde geral

Cuidados próprios de saúde bucal reduzem mortalidade prematura

Qual é o peso da doença oral?

O peso das doenças orais e fatores de risco comuns

Vigilância em saúde bucal e metas

WHO, 2003

Contextualização das Doenças Bucais no Mundo

Doenças bucais: um problema de saúde para a Europa

Doenças orais, incluindo a cárie dentária e doenças periodontais, estão entre os mais importantes encargos globais de saúde, afetando a maioria das crianças em idade escolar e adultos ao redor do mundo.

Apesar de uma melhoria na prevalência de cárie dentária em crianças e adultos jovens na Europa Ocidental e um declínio no percentual de pessoas sem dentes naturais, cáries continuam a ser um grande problema, especialmente na Europa Oriental e em grupos socioeconomicamente desfavorecidos em todos os países membros da União Europeia.

Apenas 41% dos europeus ainda afirmam ter todos os seus dentes originais.

No Reino Unido, quase um em cada quatro adultos ainda não escova os dentes duas vezes por dia e um terço das pessoas ainda só escova os dentes uma vez por dia, ou menos. The State of Oral health in Europe (2012)

Contextualização das Doenças Bucais no Mundo

Doenças bucais: um problema de saúde para a Europa

O câncer de boca é o quinto tipo de câncer mais importante para os homens na Europa.

Na Hungria, 3.800 novos casos são diagnosticados a cada ano, com cerca de 1.700 mortes associadas. Em comparação, quase 6.000 novos casos de câncer de boca são diagnosticados no Reino Unido a cada ano e mais de 1.800 pessoas morrem de câncer de boca por ano no UK.

Se a Alemanha é feita como um exemplo, cerca de uma em cada cinco pessoas sofre de periodontite, de acordo com a OMS. Devido às insuficiências da epidemiologia periodontal, está longe de ser claro se a saúde periodontal da população europeia está a melhorar. No entanto, é claro que o número de diabéticos está aumentando e que mais pessoas estão retendo seus dentes em sua velhice. Esses grupos estão em maior risco de destruição periodontal.

Existem profundas disparidades de saúde bucal entre os países da UE, relacionadas ao nível socioeconômico, idade, sexo ou estado geral de saúde, tal como reconhecido pelo Parlamento Europeu na sua resolução sobre Desigualdades em Saúde (2010). A utilização de serviços odontológicos é consideravelmente maior entre os grupos de alta renda em relação aos grupos de baixa renda.

The State of Oral health in Europe (2012)

Contextualização das Doenças Bucais no Mundo

O custo das doenças orais na Europa

A Doença Oral é a quarta doença mais dispendiosa de tratar. Atendimento odontológico curativo tradicional é um ônus econômico significativo para muitos países industrializados, onde 5-10% das despesas de saúde pública relaciona-se com a saúde bucal.

Em toda a UE, a prestação de cuidados de saúde oral foi estimada em valor superior a 54 mil milhões de euros por ano em 2000 e o número tem aumentado substancialmente desde então.

Só na Alemanha, 18,000,000,000 € são gastos anualmente em serviços odontológicos pela sistema seguro de saúde de estatutários, além de passar ainda por outras fontes.

O custo de manutenção de dentes, especialmente para adultos, na segunda metade de suas vidas, que frequentemente têm dentes muito restaurados, é elevado. Neste contexto, a evolução demográfica representa um desafio para a saúde oral.

The State of Oral health in Europe (2012)

Doenças Bucais no Brasil Estudos Epidemiológicos

Nacionais 1º Levantamento de abrangência nacional teve seus resultados divulgados

em 1988, organizado pela Divisão Nacional de Saúde Bucal (DNSB) do Ministério da Saúde, sob o comando do Dr. Vitor Gomes Pinto.

Foi realizado em1986, com base nas seguintes justificativas:

1. “o reconhecimento de que, somente com dados fidedignos tornar-se-ia possível o desenvolvimento de ações preventivas, educativas e curativas com a necessária amplitude no país”

2. “a evidência de que a demanda por serviços odontológicos é limitada (...)”

3. “a possibilidade cada vez mais próxima e concreta de implementação de um programa nacional de saúde pública em odontologia, para o qual esses subsídios são essenciais”

Oliveira,2006

Em suma, de uma maneira ou de outra, sefalava, concretamente – provavelmente pela primeiravez em caráter nacional – no estabelecimento de ummodelo de atenção à saúde bucal de baseepidemiológica. Neste sentido, o levantamento de 1986pode ser considerado um marco no desenvolvimentoda epidemiologia em saúde bucal no país, a despeito de suas limitações(...).

Oliveira, 2006

Doenças Bucais no Brasil Estudos Epidemiológicos Nacionais

Levantamento de 19866 até12 anos – 15.480 exames em escolas15 a 19 anos35 a 44 anos exames domiciliares50 a 59 anosAvaliação de cárie e doença periodontalSomente em zona urbana de 16 capitais

Oliveira,2006

Doenças Bucais no Brasil Estudos Epidemiológicos Nacionais

Metas Estabelecidas para 2010OMS/FDI, Suécia, 1993

METAS

ANO

IDADE

12 ANOS 18 ANOS 35-44 ANOS

65-74 ANOS

2010CPO-D <1 100% P=O

90% com 20 ou+ dentes;

até 2% desdentados

Até 5% desdentadosFonte: BRASIL, 2001.

Levantamento de 1993

☻3 a 14 anos☻ Realizado pelo Serviço Social da Indústria (SESI)☻ Financiamento Ministério da Saúde e Kolynos do Brasil☻ Amostra “enviesada” – escolas do SESI na amostra☻ Coordenado por Dr. Vitor Gomes Pinto☻ 110.640 crianças em 114 cidades de 22 unidades federadas☻ 52.190 de escolas públicas e 58.450 de escolas do SESI SESI, 1993

Doenças Bucais no Brasil Estudos Epidemiológicos Nacionais

Levantamento de 1993

SESI, 1993

Doenças Bucais no Brasil Estudos Epidemiológicos Nacionais

Levantamento de 1993

SESI, 1993

Doenças Bucais no Brasil Estudos Epidemiológicos Nacionais

Levantamento de 1993

SESI, 1993

Doenças Bucais no Brasil Estudos Epidemiológicos Nacionais

Levantamento de 1996

☻Realizado pela Coordenação de Saúde Bucal do Ministério da Saúde (COSAB), em 2 etapas, sendo que a segunda não aconteceu☻ 6 a 12 anos☻ CRO, ABO, SES☻ Escolas públicas e privadas☻ Sofreu várias críticas

Doenças Bucais no Brasil Estudos Epidemiológicos Nacionais

Oliveira,2006

Levantamento de 1996

Doenças Bucais no Brasil Estudos Epidemiológicos Nacionais

O declínio da cárie dentária na população infantil está ocorrendo de forma desigual na população brasileira.

Em relação à população infantil, tanto na dentição decídua quanto na permanente são notáveis as diferenças na distribuição do ataque de cárie. Essas diferenças foram observadas tanto na experiência global (CPO- D/ceo-d) quanto na análise por componentes. As crianças do Norte e Nordeste do País apresentaram os maiores números de dentes cariados não tratados. Essas diferenças são ainda mais marcantes na análise por porte municipal e entre os adolescentes. O ataque de cárie e o número de dentes perdidos entre adultos e idosos são profundamente elevados.

A identificação de bolsa periodontal durante o exame indica agravamento das condições do órgão de suporte dentário relacionadas à presença e/ou risco de infecção periodontal. Região da boca excluída do exame reflete incapacidade funcional gerada por mobilidade e/ou perda do órgão dental. Cerca de 10% dos adultos brasileiros possuíam bolsa periodontal em uma ou mais regiões da boca. Praticamente a mesma proporção de adultos apresentou pelo menos um sextante da boca excluído, sendo que esse problema atinge mais da metade dos idosos.

A perda dentária precoce é grave. A necessidade de algum tipo de prótese começa a surgir a partir da faixa etária de 15 a 19 anos de idade.

O edentulismo continua sendo um grave problema em nosso País, especialmente entre os idosos. Disparidades relacionadas ao acesso a serviços também foram identificadas.

BRASIL, 2004

É provável que muitas das diferenças apontadas sejam decorrentes do modelo de atenção em cada área

geográfica incluindo, dentre outros, o impacto de medidas mais gerais, como, por exemplo, a fluoretação

da água e do creme dental, e de medidas mais específicas relacionadas ao acesso e à utilização de serviços

de assistência odontológica.

Com a continuidade do trabalho e a análise segundo as principais variáveis de estratificação, pretende-se

gerar informações adicionais que possam contribuir para a discussão desses e de outros inúmeros aspectos

ligados à distribuição dos principais agravos em saúde bucal no País.

Brasil, 2011

Brasil, 2011

Brasil, 2011

Brasil, 2011

Entre quem necessita estão os que não

usam e precisam usar e os que já usam e

precisam trocar.

Brasil, 2011

O primeiro inquérito nacional, realizado em 16 capitais em 1986, mostrou um CPO aos 12 anos de 6,7, ou seja, aproximadamente 7 dentes afetados pela doença, sendo a maioria destes ainda sem tratamento. Em 2003 foi realizado o primeiro inquérito de saúde bucal que incluiu, além de todas as 27 capitais, os municípios do interior das cinco regiões, pesquisa que ficou conhecida como Projeto SBBrasil 2003. Naquele estudo, o CPO aos 12 anos foi igual a 2,78 e, nesta pesquisa de 2010, o CPO aos 12 anos ficou em 2,07, correspondendo a uma redução de 26,2% em 7 anos. Considerando o componente do CPO relativo especificamente aos dentes não tratados (cariados), a redução foi de mesma magnitude (de 1,62 para 1,21).

Entre os adolescentes de 15 a 19 anos, a média de dentes afetados foi de 4,25, mais que o dobro do número médio encontrado aos 12 anos. Esta evolução do CPO entre a infância e a adolescência tem sido um achado comum em outros estudos no Brasil e no mundo. Comparando-se com 2003, contudo, a redução no componente “cariado” foi de 35% (de 2,60 dentes em 2003 para 1,70 em 2010).

No que diz respeito aos adultos e idosos, em geral a redução no ataque de cárie é menos significativa, tendo em conta o caráter cumulativo das sequelas da doença. Entre os idosos de 65 a 74 anos, por exemplo, o CPO praticamente não se alterou, ficando em 27,5 em 2010, enquanto que, em 2003, a média era de 27,8, com a maioria correspondendo ao componente “extraído”. Entretanto, analisando os resultados para o grupo de 35 a 44 anos, observa-se que o CPO caiu de 20,1 para 16,7 – um declínio de 17%. Mais importante: observa-se que os componentes “cariado” e “perdido” caíram mais acentuadamente enquanto que o componente “obturado” cresceu em termos relativos. Sinteticamente, o componente “perdido” cai de 13,23 para 7,48 enquanto que o componente “obturado” cresce de 4,22 para 7,33 (um aumento de 73,7%). Em linhas gerais, isso significa que a população adulta de 35 a 44 anos, ao longo dos últimos sete anos, está tendo um menor ataque de cárie e está, também, tendo um maior acesso a serviços odontológicos para restaurações dentárias. Esta é uma importantíssima inversão de tendência registrada no país: os procedimentos mutiladores, representados pelas extrações de dentes, cedendo espaço aos tratamentos restauradores.

Ainda com relação à cárie dentária, cabe destaque às importantes diferenças regionais.

Comparando-se as regiões naturais, são expressivas as diferenças nas médias do CPO aos 12

anos: o Norte (com 3,16) e o Nordeste (com 2,63) e também o Centro-Oeste (com 2,63) têm

situação pior que as regiões Sudeste (1,72) e Sul (2,06). Os valores extremos (Norte e

Sudeste) mostram uma diferença de cerca de 84%. Além disso, no Nordeste a proporção de

dentes restaurados em relação ao CPO total é menor que no Sudeste, indicando que o maior

ataque da doença combina-se com menor acesso aos serviços odontológicos.

Comparativamente ao observado em 2003, esse padrão de diferenças regionais se manteve.

Cabe ressaltar, também, que atenção especial deve ser dada à dentição decídua, pois o ataque

de cárie em crianças de cinco anos foi, em média, de 2,43 dentes. Desses, menos de 20%

estavam tratados no momento em que os exames epidemiológicos foram realizados. Em 2003

a média nessa idade era de 2,8 dentes afetados – uma redução, portanto, de apenas 13,9%

em 7 anos. Além disso, a proporção de dentes não tratados se manteve no mesmo patamar de

80%.

Em termos internacionais, úteis para comparações, o último estudo sobre carga de doença

bucal no mundo foi realizado pela OMS em 2004. Na ocasião, o CPO médio mundial aos 12

anos (dados ponderados de 188 países) foi de 1,6. Na região correspondente às Américas, a

média ficou em 2,8 e, na Europa, em 1,6. As regiões responsáveis pela baixa média mundial

são a África e o Sudeste Asiático, que apresentam valores médios baixos, geralmente

explicados pelo baixo consumo de açúcares.

Comparando-se o Brasil com países de mesmo grau de desenvolvimento na Europa e na

América, a média brasileira se situa em um valor intermediário. Dentro da América do Sul,

apenas a Venezuela apresenta média de CPO aos 12 anos semelhante à brasileira (2,1). Os

demais países possuem médias mais altas, como a Argentina (3,4), Colômbia (2,3), Paraguai

(2,8), Bolívia (4,7) e Peru (3,7).

Os resultados do Projeto SB Brasil 2010 indicam que, segundo a classificação adotada pela

OMS, o Brasil saiu de uma condição de média prevalência de cárie em 2003 (CPO entre 2,7 e

4,4), para uma condição de baixa prevalência em 2010 (CPO entre 1,2 e 2,6).

No que diz respeito às condições periodontais, avaliadas pelo Índice Periodontal Comunitário

(CPI), em termos populacionais, estes problemas aumentam, de modo geral, com a idade. Os

resultados do Projeto SB Brasil 2010 indicam que o percentual de indivíduos sem nenhum

problema periodontal foi de 63% para a idade de 12 anos, 50,9% para a faixa de 15 a 19

anos, 17,8% para os adultos de 35 a 44 anos e somente 1,8% nos idosos de 65 a 74 anos.

A presença de cálculo e sangramento é mais comum aos 12 anos e entre os adolescentes. As

formas mais graves da doença periodontal aparecem de modo mais significativo nos adultos

(35 a 44 anos), em que se observa uma prevalência de 19,4%. Nos idosos, os problemas

gengivais têm pequena expressão em termos populacionais, em decorrência do reduzido

número de dentes presentes.

Quanto às diferenças regionais, cabe menção ao percentual de adolescentes sem problemas

gengivais, que varia de 30,8% na região Norte a 56,8% na região Sudeste.

Com relação ao edentulismo, avaliado pela necessidade de prótese dentária, é importante

destacar que, no Projeto SB Brasil 2010, as necessidades de próteses dentárias foram

estimadas com a finalidade de proporcionar subsídios para o planejamento dos serviços de

atenção secundária de caráter reabilitador. As próteses dentárias referidas foram a parcial e a

total e buscou-se verificar se a necessidade ocorria em um ou nos dois maxilares.

Entre os adolescentes, 13,7% necessitam próteses parciais em um maxilar (10,3%) ou nos

dois maxilares (3,4%). Não houve registro para necessidade de próteses totais. Em 2003, 27%

dos adolescentes necessitavam algum tipo de prótese. Assim, constata-se importante redução

de 52% nas necessidades de prótese entre adolescentes.

Para os adultos, a necessidade de algum tipo de prótese ocorre em 68,8% dos casos, sendo

que a maioria (41,3%) é relativa à prótese parcial em um maxilar. Em 1,3% dos casos, há

necessidade de prótese total em pelo menos um maxilar. Importante destacar que este

percentual em 2003 era de 4,4%, portanto a redução corresponde a 70%.

Em idosos de 65 a 74 anos, 23,9% necessitam de prótese total em pelo menos um maxilar e

15,4% necessitam de prótese total dupla, ou seja, nos dois maxilares. Estes números estão

muito próximos dos encontrados em 2003.

Os problemas de oclusão dentária, como mordida aberta, mordida cruzada, apinhamentos e

desalinhamentos dentários, sobremordidas e protrusões, dentre outros, foram avaliados em

crianças de 12 anos e em adolescentes (15 a 19 anos).

Aos 12 anos, 38,8% apresentam problemas de oclusão. Em 19,9% dessas crianças, os

problemas se expressam na forma mais branda. Mas 19,0% têm oclusopatia severa ou muito

severa, sendo estas as condições que requerem tratamento mais imediato, constituindo-se em

prioridade em termos de Saúde Pública.

Outros agravos e condições importantes foram também avaliados nesta pesquisa, sendo que

em alguns casos, por conta do ineditismo da mensuração do agravo (como foi o caso do

traumatismo dentário), não são possíveis, neste momento, estabelecer comparações com

dados anteriores. De todo modo, estes dados são muito importantes para estabelecer uma

linha base que servirá como instrumento de planejamento das ações no momento atual e

também para projetar metas futuras.

Enfim, o Ministério da Saúde, por intermédio da Secretaria de Vigilância à Saúde, Secretaria de

Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica e Coordenação Geral de Saúde Bucal,

espera que as informações disponibilizadas neste relatório se corporifiquem em mais um

instrumento de gestão nos diversos níveis do Sistema Único de Saúde e contribuam para a

melhoria da atenção à saúde e da qualidade de vida dos brasileiros. Além disso, o Projeto

SBBrasil deverá se estabelecer como o principal componente da Vigilância em Saúde no eixo

da produção de dados primários, contribuindo para a consolidação dos avanços da Política

Nacional de Saúde Bucal nos próximos anos.

Ainda com relação à cárie dentária, cabe destaque às importantes diferenças regionais. Comparando-se as regiões naturais, são expressivas as diferenças nas médias do CPO aos 12 anos: o Norte (com 3,16) e o Nordeste (com 2,63) e também o Centro-Oeste (com 2,63) têm situação pior que as regiões Sudeste (1,72) e Sul (2,06). Os valores extremos (Norte e Sudeste) mostram uma diferença de cerca de 84%. Além disso, no Nordeste a proporção de dentes restaurados em relação ao CPO total é menor que no Sudeste, indicando que o maior ataque da doença combina-se com menor acesso aos serviços odontológicos. Comparativamente ao observado em 2003, esse padrão de diferenças regionais se manteve.

Cabe ressaltar, também, que atenção especial deve ser dada à dentição decídua, pois o ataque de cárie em crianças de cinco anos foi, em média, de 2,43 dentes. Desses, menos de 20% estavam tratados no momento em que os exames epidemiológicos foram realizados. Em 2003 a média nessa idade era de 2,8 dentes afetados – uma redução, portanto, de apenas 13,9% em 7 anos. Além disso, a proporção de dentes não tratados se manteve no mesmo patamar de 80%.

Em termos internacionais, úteis para comparações, o último estudo sobre carga de doença bucal no mundo foi realizado pela OMS em 2004. Na ocasião, o CPO médio mundial aos 12 anos (dados ponderados de 188 países) foi de 1,6. Na região correspondente às Américas, a média ficou em 2,8 e, na Europa, em 1,6. As regiões responsáveis pela baixa média mundial são a África e o Sudeste Asiático, que apresentam valores médios baixos, geralmente explicados pelo baixo consumo de açúcares.

Comparando-se o Brasil com países de mesmo grau de desenvolvimento na Europa e na América, a média brasileira se situa em um valor intermediário. Dentro da América do Sul, apenas a Venezuela apresenta média de CPO aos 12 anos semelhante à brasileira (2,1). Os demais países possuem médias mais altas, como a Argentina (3,4), Colômbia (2,3), Paraguai (2,8), Bolívia (4,7) e Peru (3,7).

Os resultados do Projeto SB Brasil 2010 indicam que, segundo a classificação adotada pela OMS, o Brasil saiu de uma condição de média prevalência de cárie em 2003 (CPO entre 2,7 e 4,4), para uma condição de baixa prevalência em 2010 (CPO entre 1,2 e 2,6).

No que diz respeito às condições periodontais, avaliadas pelo Índice Periodontal Comunitário (CPI), em termos populacionais, estes problemas aumentam, de modo geral, com a idade. Os resultados do Projeto SB Brasil 2010 indicam que o percentual de indivíduos sem nenhum problema periodontal foi de 63% para a idade de 12 anos, 50,9% para a faixa de 15 a 19 anos, 17,8% para os adultos de 35 a 44 anos e somente 1,8% nos idosos de 65 a 74 anos.

A presença de cálculo e sangramento é mais comum aos 12 anos e entre os adolescentes. As formas mais graves da doença periodontal aparecem de modo mais significativo nos adultos (35 a 44 anos), em que se observa uma prevalência de 19,4%. Nos idosos, os problemas gengivais têm pequena expressão em termos populacionais, em decorrência do reduzido número de dentes presentes.

Quanto às diferenças regionais, cabe menção ao percentual de adolescentes sem problemas gengivais, que varia de 30,8% na região Norte a 56,8% na região Sudeste.

Com relação ao edentulismo, avaliado pela necessidade de prótese dentária, é importante destacar que, no Projeto SB Brasil 2010, as necessidades de próteses dentárias foram estimadas com a finalidade de proporcionar subsídios para o planejamento dos serviços de atenção secundária de caráter reabilitador. As próteses dentárias referidas foram a parcial e a total e buscou-se verificar se a necessidade ocorria em um ou nos dois maxilares.

Entre os adolescentes, 13,7% necessitam próteses parciais em um maxilar (10,3%) ou nos dois maxilares (3,4%). Não houve registro para necessidade de próteses totais. Em 2003, 27% dos adolescentes necessitavam algum tipo de prótese. Assim, constata-se importante redução de 52% nas necessidades de prótese entre adolescentes.

Para os adultos, a necessidade de algum tipo de prótese ocorre em 68,8% dos casos, sendo que a maioria (41,3%) é relativa à prótese parcial em um maxilar. Em 1,3% dos casos, há necessidade de prótese total em pelo menos um maxilar. Importante destacar que este percentual em 2003 era de 4,4%, portanto a redução corresponde a 70%.

Em idosos de 65 a 74 anos, 23,9% necessitam de prótese total em pelo menos um maxilar e 15,4% necessitam de prótese total dupla, ou seja, nos dois maxilares. Estes números estão muito próximos dos encontrados em 2003.

Os problemas de oclusão dentária, como mordida aberta, mordida cruzada, apinhamentos e desalinhamentos dentários, sobremordidas e protrusões, dentre outros, foram avaliados em crianças de 12 anos e em adolescentes (15 a 19 anos). Aos 12 anos, 38,8% apresentam problemas de oclusão. Em 19,9% dessas crianças, os problemas se expressam na forma mais branda. Mas 19,0% têm oclusopatia severa ou muito severa, sendo estas as condições que requerem tratamento mais imediato, constituindo-se em prioridade em termos de Saúde Pública.

Outros agravos e condições importantes foram também avaliados nesta pesquisa, sendo que em alguns casos, por conta do ineditismo da mensuração do agravo (como foi o caso do traumatismo dentário), não são possíveis, neste momento, estabelecer comparações com dados anteriores. De todo modo, estes dados são muito importantes para estabelecer uma linha base que servirá como instrumento de planejamento das ações no momento atual e também para projetar metas futuras.

Dados do INCA

☻ O câncer de cavidade oral é considerado um problema de saúde pública em todo o mundo. A última estimativa mundial apontou que ocorreriam cerca de 300 mil casos novos e 145 mil óbitos, para o ano de 2012, por câncer de boca e lábio (C00-08). Desses, cerca de 80% ocorreram em países em desenvolvimento. As mais altas taxas de incidência foram observadas em populações da Melanésia, do Centro-Sul Asiático, da Europa Oriental, Central e Ocidental, da África e da América Central.

☻ Os principais fatores de risco para o câncer da cavidade oral são: tabagismo, etilismo, infecções por HPV, principalmente pelo tipo 16, e exposição à radiação UVA solar (câncer de lábio). Contudo, entre tais fatores, destacam-se o tabagismo e o etilismo. Estudos mostram um risco muito maior de desenvolver câncer na cavidade oral em indivíduos tabagistas e etilistas do que na população em geral, evidenciando a existência de uma sinergia entre o tabagismo e o etilismo. Ressaltam ainda um aumento no risco de acordo com o tempo que a pessoa fuma, com o número de cigarros fumados por dia e com a frequência de ingestão de bebidas alcoólicas.

☻ A dieta também parece exercer um papel importante na prevenção desse tipo de câncer. Alguns estudos de base hospitalar reportam que o aumento da ingestão de frutas e vegetais contribui para a diminuição do risco de desenvolver essa neoplasia.

Doenças Bucais no Brasil Estudos Epidemiológicos Nacionais

BRASIL, 2014

Dados do INCA

☻ As taxas de incidência para câncer de cavidade oral relacionado à infecção pelo HPV, como amígdala, base da língua e orofaringe, vêm aumentando entre a população de adultos jovens em ambos os sexos. Parte desse aumento pode ser em razão de mudanças no comportamento sexual.

☻ Apesar disso, as taxas de mortalidade por câncer da cavidade oral apresentam um declínio na maioria das populações masculinas. Contudo, em mulheres, esse comportamento ainda não pode ser observado, porque o início do uso do tabaco por elas foi posterior ao dos homens.

☻ A melhor forma de diminuir a incidência dessa doença é controlar os fatores de risco que conhecidamente favorecem seu desenvolvimento. Para reduzir a mortalidade, é necessário que haja diagnóstico precoce feito por meio do exame clínico dos tecidos da boca, realizado obrigatoriamente por um profissional de saúde capacitado, com o qual será possível identificar tanto lesões potencialmente malignas quanto o câncer em estágios iniciais, possibilitando um tratamento menos agressivo e o aumento da sobrevida. O autoexame não deve ser preconizado como método preventivo com o risco de mascarar lesões e retardar o diagnóstico do tumor.

Doenças Bucais no Brasil Estudos Epidemiológicos Nacionais

BRASIL, 2014

Estimativas do INCA para o Brasil em 2014

Doenças Bucais no Brasil Estudos Epidemiológicos Nacionais

BRASIL, 2014

Estimativas do INCA

☻Estimam-se, para o Brasil, no ano de 2014, 11.280 casos novos de câncer da cavidade oral em homens e 4.010 em mulheres. Tais valores correspondem a um risco estimado de 1,54 casos novos a cada 100 mil homens e 3,92 a cada 100 mil mulheres.

☻ Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer da cavidade oral em homens é o quarto mais frequente nas regiões Sudeste (15,48/ 100 mil) e Nordeste (7,16/100 mil). Na região Centro-Oeste, é o quinto (8,18/ 100 mil). Nas regiões Sul (15,21/ 10mil) e Norte (3,21/ 100 mil), o sexto.

☻ Para as mulheres, é o nono mais frequente nas regiões Sudeste (4,88/ 100 mil) e Nordeste (3,72/ 100 mil). Na região Norte (1,60/ 100 mil), ocupa a 11ª posição. Na região Centro-Oeste (3,30/ 100 mil), é o 12º mais frequente e, na região Sul 3,09/ 100 mil), o 15º.

Doenças Bucais no Brasil Estudos Epidemiológicos Nacionais

BRASIL, 2014

Estimativas do INCA para Mato Grosso do Sul e Campo Grande, 2014

Doenças Bucais no Brasil Estudos Epidemiológicos Nacionais

BRASIL, 2014

Diagrama de Influência em Camadas de Dahlgren e WhiteheadFonte: Comissão de Determinantes de Saúde (2005)

Relações das Doenças Bucais com a Realidade Socioeconômica no Brasil – Produção Social de Doenças

Barros, 2007

Relações das Doenças Bucais com a Realidade Socioeconômica no Brasil – Produção Social de Doenças

Relações das Doenças Bucais com a Realidade Socioeconômica no Brasil – Produção Social de Doenças

BASTOS et al., 2007

Pitts et al., 2011

Relações das Doenças Bucais com a Realidade Socioeconômica no Brasil – Produção Social de Doenças

Relações das Doenças Bucais com a Realidade Socioeconômica no Brasil –

Produção Social de Doenças

Tem sido sugerido que os determinantes sociais da saúde (ou seja , formação educacional, status econômico, as condições de vida ,estilos de vida e ambiente de trabalho) são em grande parte responsáveis pela desigualdades na saúde oral e periodontal em todo o mundo (Petersen et al., 2005 ; Petersen; Kwan , 2010).

Entre as três mais comuns doenças bucais ( cárie dentária, doença periodontal e câncer oral), a doença periodontal apresenta a associação mais forte com os determinantes sociais, econômicos e as variáveis de risco comportamentais (Hobdell et al. , 2003).

Estes determinantes podem afetar uma gama de efeitos na saúde oral , como aumentar a exposição a fatores de risco e dificultar o acesso e utilização de serviços de saúde bucal.

Portanto, intervenções que modificam o ambiente socioeconômico e capazes de melhorar o controle dos fatores de risco são estratégias importantes para a promoção da saúde bucal na comunidade.

Além disso, essas intervenções precisam ser integradas com os esforços globais na prevenção de doenças crônicas e promoção da saúde geral ( Petersen e Kwan , 2010; Marmot e Bell, 2011).

Jin et al., 2011

Relações das Doenças Bucais com a Realidade Socioeconômica no Brasil – Produção Social de Doenças

Giannobile; Joskow, 2012