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HISTÓRIA CULTURALANDRÉ THEOPHILO
RAIOMARA LOPESWAGNER PIRES
O QUE É CULTURA? O conceito de cultura foi construído através dos
séculos. Inicialmente utilizado para se referir a atividades e técnicas agrícolas, no entanto a partir do século XIX, o termo cultura passou a ser associado ao processo geral de desenvolvimento “íntimo”, em oposição ao “externo”. Cultura passou a ser ligada às artes, religião, instituições, práticas e valores distintos e às vezes até opostos à civilização e à sociedade. No entanto, a velha idéia de cultura relacionada aos cultivos agrícolas, permaneceu.
CULTURA X CIVILIZAÇÃO De acordo com Nobert Elias: O conceito de civilização refere-se a uma grande
variedade de fatos: ao nível da tecnologia, as idéias religiosas, aos costumes. Pode se referir a maneira como homens e mulheres vivem juntos, a forma de punição determinada, dentre outros.
Cultura alude basicamente a fatos intelectuais, artísticos e religiosos e apresenta a tendência de traçar uma nítida linha divisória entre fatos deste tipo, por um lado, e fatos políticos, econômicos e sociais, por outro.
Assim civilização é bem mais abrangente, expressa o resultado de um processo, enquanto cultura expressa uma relação diferente com o movimento.
DEFININDO HISTÓRIA CULTURAL
Toda a historiografia voltada para o estudo da dimensão cultural de uma determinada sociedade historicamente localizada.(José D’Assunção Barros)
Seria decifrar a realidade do passado por meio de suas representações, tentando chegar àquelas formas, discursivas e imagéticas, pelos quais os homens expressaram a si próprios e o mundo. (Sandra Jatahy Pesavento)
HISTÓRIA CULTURAL X
HISTÓRIA DA CULTURA Diferente da História da Cultura, a
História Cultural não se limita a examinar estilisticamente certos objetos culturais, como se esses objetos pudessem ser abordados de maneira autônoma, desvinculados da sociedade que os produziu.
FASES DA HISTÓRIA CULTURAL
Para Peter Burke pode-se dividir a História cultural nas seguintes fases:
HISTÓRIA CULTURAL CLÁSSICA – 1800 A 1950
HISTÓRIA SOCIAL DA ARTE – 1930 A 1940
HISTÓRIA CULTURAL POPULAR – 1950 A 1960
NOVA HISTÓRIA CULTURAL – A PARTIR DOS ANOS 70
INFLUÊNCIAS SOCIOLOGIA
FOLCLORE
GEOGRAFIA
ARQUEOLOGIA
ECOLOGIA
ANTROPOLOGIA
CAMPOS DE INVESTIGAÇÃO
HISTÓRIA CULTURAL
MEMÓRIA E HISTORIOGRAFIA
IMAGENS
CIDADES
HISTÓRIA DO TEMPO
PRESENTE
IDENTIDADES
HISTÓRIA E LITERATURA
FONTES RELATÓRIOS/CORRESPONDÊNCIAS
OFICIAIS, LEGILAÇÕES, CÓDIGOS DE POSTURAS E PROCESSOS CRIMINAIS
CRÔNICAS DE JORNAIS, ALMANAQUES E REVISTAS
LIVROS DIDÁTICOS, ROMANCES, POESIAS, PEÇAS TEATRAIS
CARTAZES DE PROPAGANDA, PUBLICIDADE, ANUNCIOS, FOTOGRAFIAS, PINTURAS, FILMES;
ORIGENS DA NOVA HISTÓRIA CULTURAL
Foi de dentro da vertente neomarxista inglesa e da história francesa dos Annales que veio o impulso de renovação, resultando na abertura desta nova corrente historiográfica a que chamamos de história cultural ou mesmo de nova história cultural.
OBJETOS DA HISTÓRIA CULTURAL Os objetos estudados pela História Cultural
vão desde imagens que o homem produz de si mesmo, da sociedade em que vive e do mundo que o cerca, até as condições sociais de produção e circulação de objetos de arte e literatura, englobando ainda objetos de cultura material e ainda oriundos da cultura popular.
A História Cultural interessar-se-á, ainda pelos sujeitos produtores e receptores de cultura.
As visões de mundo, os sistemas de valores, os modos de vida dos diversos grupos sociais.
EIXOS FUNDAMENTAIS OBJETOS CULTURAIS
SUJEITOS
PRÁTICAS
PROCESSOS
PADRÕES
MÉTODO PARADIGMA INDICIÁRIO – GINZBURG: o
historiador como um detetive
MÉTODO DA MONTAGEM – BENJAMIN: nas múltiplas combinações que se estabelecem revelam-se novas explicações para a leitura do passado
DESCRIÇÃO DENSA – ANTROPOLOGIA: explorar as fontes nas suas possibilidades mais profundas.
PETER BURKE A trajetória da história cultural ainda esta em
progresso. Historiadores culturais e sociais ampliam
seus territórios. Não há uma defesa de que a história
cultural é a melhor forma de história, mas necessárias são as suas contribuições.
Qualquer que seja os resultados não se pode voltar a pura visão positivista dos documentos históricos de uma compreensão literal onde não se destacam os simbolismo
ROGER CHARTIER Condenação, junto com Michel de Certeau,
da pretensão de se estabelecer em definitivo relações culturais que seriam exclusivas de formais culturais específicas e de grupos sociais particulares.
Elaboração das noções complementares de “práticas” e “representações”. Assim a cultura poderia ser examinada no âmbito produzido pela relação interativa entre esses dois pólos.
EDWARD THOMPSON Ao romper com o Partido Comunista e organizar a
Nova Esquerda com outros intelectuais oriundos do PC, questionou os rumos do pensamento marxista e postulou que a classe social não poderia ter apenas fundamento econômico, mas cultural.
A experiência daria a classe uma dimensão histórica. Experiência seria, então, uma espécie de solução prática para que se pudesse analisar os comportamentos, os valores, as condutas, os costumes, enfim, a cultura. Ou melhor, as culturas, no sentido de que “cultura” se refere a uma realidade específica.
CARLO GINZBURG É preciso não tomar o mundo – ou as suas
representações – na sua literalidade, como se elas fossem o reflexo e a cópia mimética do real. Ir além daquilo que é dito, ver além daquilo que é mostrado é a regra de ação desse historiador detetive, que deve exercitar seu olhar para os traços secundários, para os detalhes, para os elementos que, sob um olhar menos arguto e perspicaz, passariam despercebidos.
O historiador explica como foi, como aconteceu e, com a autoridade da fala e o controle da estratégia metodológica, faz valer sua representação sobre o passado como o discurso do acontecido.
HISTÓRIA CULTURAL NO BRASIL
Primeiros trabalhos na década de 1980. Destacam-se os trabalhos da Laura de Mello
e Souza sobre feitiçaria nos tempos coloniais a partir dos processos da Inquisição; os de Mary Del Priori sobre história das mulheres, da infância, das festas, do cotidiano no período colonial; os de Nicolau Sevcenko sobre história e literatura, cultura e cotidiano no século XX; e os de Fernando Novais, que migrou da História Econômica para os temas relacionados ao cotidiano e à vida privada.
HISTÓRIA CULTURAL NO BRASIL
Também tornaram-se referência as pesquisas de vários outros autores sobre família, vida doméstica, relações de gênero. Somam-se ainda os trabalhos de outros historiadores que redimensionaram os estudos sobre a escravidão no Brasil, a partir do estudo das relações entre senhores e escravos.
HISTÓRIA CULTURAL NO BRASIL
Uma análise do conjunto dos trabalhos acaba por demonstrar como o foco sobre cultura, civilização e costumes – cujo débito aos trabalhos de Norbert Elias é mais que evidente – trouxe a emergência de novos temas e sujeitos da História, com destaque para amplas abordagens sobre o cotidiano de vários grupos sociais pertencentes ao mundo dos trabalho, antes excluídos dos trabalhos históricos.