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RECENSÃO CRÍTICA: Da I Parte da obra: Subsídios breves param o debate de princípios e valores na formação do (a) Educador (a) Social, da autora Rosanna Barros. Docente: Rosanna Barros Discente: Cláudia Brito (Nº 47027) UNIVERSIDADE DO ALGARVE Escola Superior de Educação e Comunicação (ESEC) Curso Superior de Educação Social (Pós-Laboral) Ano letivo de 2013/2014 2º Ano 2º Semestre Unidade Curricular: Politicas Socioeducativas no

Ideologias politicas

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RECENSÃO CRÍTICA:

Da I Parte da obra: Subsídios breves param o debate de princípios e valores na formação do (a) Educador (a) Social, da autora Rosanna Barros.

Docente: Rosanna Barros

Discente: Cláudia Brito (Nº 47027)

UNIVERSIDADE DO ALGARVE

Escola Superior de Educação e Comunicação

(ESEC)

Curso Superior de Educação Social (Pós-Laboral)

Ano letivo de 2013/2014 – 2º Ano – 2º Semestre

Unidade Curricular: Politicas Socioeducativas no

Contexto da União Europeia

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Recensão crítica da primeira parte da obra “ Subsídios breves para o debate

de princípios e valores na formação política do (a) Educador (a) Social 2014

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na formação política do (a) Educador (a) Social” 2

Não há nenhuma atividade humana da qual se possa excluir qualquer intervenção

intelectual – o Homo faber não pode ser separado do Homo sapiens. Além disso, fora do

trabalho, todo o homem desenvolve alguma atividade intelectual; ele é entre outras

palavras, um filósofo, um artista, um homem co sensibilidade; ele partilha uma

conceção do mundo, tem uma linha consciente de conduta moral, e portanto, contribui

para manter ou mudar a conceção do mundo, isto é, para estimular novas formas de

pensamento.

António Gramsci

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No âmbito do conteúdo programático da Unidade Curricular de Políticas

Socioeducativas no Contexto da União Europeia, do 2º ano - 2º semestre do Curso de

Educação Social (pós laboral), foi-nos proposto, pela professora Rosanna Barros, a

elaboração de uma recensão crítica, da primeira parte do seu livro, que se intitula

“Subsídios Breves para o Debate de Princípios e Valores na Formação Política do (a)

Educador (a) Social, editado pela Chiado, em 2012.

O livro estrutura-se em duas partes. A primeira, que se intitula “Sebenta sobre as

Ideologias Políticas Modernas e sobre as Teorias do Estado: Uma Síntese entre Outras

Possíveis”, divide-se em duas partes, a saber: a primeira, que aborda diversas ideologias

políticas modernas (liberalismo, conservadorismo, socialismo, anarquismo, fascismo,

feminismo e ecologismo), e a segunda, que nos fala do Estado e das suas teorias.

A segunda parte do livro, que se intitula “Estado e Sociedade na Modernidade

Ocidental: Um Debate Ideológico e de Princípios Incontornável para a Educação

Transformadora, aborda cinco pontos, a saber: Estado e Sociedade na Modernidade

Ocidental; O Estado Capitalista Democrático; O Estado- Providencia; O Estado

Neoliberal; A Redefinição do Papel do Estado e o seu Impacto na Regulação Social.

Ainda que se tenha apresentado a estrutura do livro, o objeto desta recensão crítica será

a primeira parte do livro, da página 25 à 106.

Antes de abordar as diferentes ideologias políticas modernas, a autora faz uma breve

introdução, onde justifica a necessidade de clarificar conceitos e tecer aproximações

teóricas a certos aspetos que estão inscritos na base da ciência politica, abordar questões

relacionadas com a politicidade da educação (destacando, o pedagogo brasileiro Paulo

Freire, que defende uma educação libertadora), para que o educador (a) Social possa

construir “saberes basilares para uma conscientização, uma auto-reflexividade crítica e

uma formação politica, necessárias ao desempenho prático-profissional e de cidadania”.

Seguidamente, na I parte do livro, percebe-se que a autora considera que a noção de

ideologia não é percecionada por todos da mesma forma, quando afirma: “ No entanto,

os pressupostos segundo os quais se pensa e reflete acerca da própria noção de

ideologia, não tem gerado a mesma consensualidade, sendo fácil constatar que o termo

não é percecionado da mesma maneira por todos os que sobre ele se pronunciam”

(Barros, 2012).

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Apesar de, numa perspetiva critica, se aceitar que a dimensão ideológica é parte

integrante dos elementos que constituem o poder político.

Assim, entre os vários significados que o termo ideologia pode assumir, torna-se

imprescindível fazer uma clara distinção entre: uma, que se refere a um conjunto

qualquer de ideias sobre um determinado assunto (conceção neutra - sinonima de

ideário) e, outra, em que a ideologia, orientadora do poder político, utiliza ferramentas

simbólicas para criar e manter relações de dominação (conceção critica). Importante

será dizer, que sob uma perspetiva critica, a ideologia é comumente dissimuladora da

realidade, porque a distorce ou a mostra apenas parcialmente.

Entre muitas outras possíveis, numa perspetiva crítica, a ideologia (numa classificação

tripartida), segundo Slavoj Zizek, pode ser entendida como:

“A ideologia em si é um conjunto de ideias destinadas a nos convencer acerca da

sua veracidade, mas, em verdade, serve a um interesse particular de poder não

confessado. Por isso, é importante em nossa análise discernir, através das

ruturas, lapsos, lacunas, a tendenciosidade (o projeto de poder) não declarada no

texto oficial. Como por exemplo, discernir na “igualdade e liberdade” a

igualdade e a liberdade dos parceiros nas trocas comerciais que, evidentemente,

privilegiam o proprietário dos meios de produção e o livre mercado. O papel,

pois, da ideologia é gerar uma rede de discursividade (constituição do mundo)

em que os fatos falem por si, sejam autoevidentes, isto é, sejam naturalizados.

A Ideologia para-si revela, na linha de pensamento de Althusser, a necessidade

de reprodução por meio dos aparelhos especiais de Estado voltados para a

materizalização da ideologia no quotidiano que, como Foucault diria,

disciplinam o sujeito nas microestruturas de poder.

A ideologia em-si-e-para-si, ou seja, a ideologia refletida em si mesma

obscurece uma rede de pressupostos e de atitudes quase espontâneas que formam

um momento irredutível da reprodução de práticas “não-ideológicas”, como por

exemplo os atos comerciais, legais, sexuais, etc. Ou seja, a ideologia, suas

manifestações concretas, suas instituições de reprodução apresentam-se no

quotidiano como “naturais”, destituídas de história, destituídas de ideologia”.

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Numa perspetiva crítica, assumida claramente pela autora, e que é a que nos interessa,

percebe-se que as ideologias políticas nunca foram, nem são neutras. Esta ausência de

neutralidade justifica-se pelos interesses das classes dominantes, que vêm submetendo

outras classes ao longo da história, de forma mais ou menos “mascarada”, para atingir

esses mesmos interesses. Essa submissão tem sido conseguida, com a transposição de

várias ideologias politicas que, através das leis/regras concebidas pelo poder politico,

têm imposto obediência às coletividades.

Para uma melhor compreensão dos significados do termo ideologia e para proporcionar

um pensamento critico-reflexivo das principais ideologias politicas, que têm orientado a

relação entre o individuo e sociedade ao longo da história moderna, a autora, segue duas

tipologias, a de António José Fernandes (ideologias politicas que vão desde a

antiguidade clássica às ideologias politicas modernas) e as de Andrew Vincent

(ideologias politicas da modernidade: Liberalismo, Conservadorismo, Socialismo,

Anarquismo, Fascismo, Feminismo e Ecologismo), entre outras que seriam possíveis.

Percebe-se que a história do termo “ideologia” é relativamente recente e, portanto,

coincidente com a nossa era contemporânea.

O termo ideologia, neologismo criado a partir das palavras gregas eidos (ideias) e logos

(ciência), significa a ciência das ideias. Mas, se seria de esperar que o termo significasse

apenas uma postura anticlerical e materialista, muito próprias da Revolução Francesa

(1789) e do Iluminismo, ele ganha outra direção com Antoine Destutt de Tracy.

Cunhando-a pela primeira vez nos seus escritos - Éléments d'idéologie - nos finais de

setecentos, Tracy (assim como outros adeptos desta nova ciência das ideias),

perceberam que serviria para preparar uma ciência da legislação e ter um considerável

impacto na política. Desta forma, no início de oitocentos, na França, o termo ideologia

deixa de ser somente uma ciência das ideias para passar a uma doutrina política

especifica: o liberalismo.

No século XIX, o termo “ideologia” é reconstruído por Marx e Engels, e inserido num

original sistema de pressupostos paradigmáticos: materialismo histórico. Neste, a

divisão social do trabalho é causadora da ilusão ou da perda da noção da realidade, ou

seja, Marx desenvolve a “ (…) ideia de ideologia como falsa consciência” (Barros,

2012, pag.33), contrapondo-a à realidade prática e à ciência materialista (significantes

de “verdade”).

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Posteriormente, a partir da conceção de ideologia de Marx, e do socialismo científico,

surgem outras interpretações para o conceito de ideologia.

Entre muitos, Gramsci, que atribui um papel central à separação entre infraestrutura

(forças produtivas e relações sociais de produção) e superestrutura (a ideologia

constituída pelos sistemas de ideias, instituições, doutrinas e crenças de uma sociedade),

mostra-nos, a partir do conceito de bloco hegemónico, que o poder das classes

dominantes sobre as classes dominadas (no modo de produção capitalista), não se

explica somente pelo controlo dos aparelhos repressivos do Estado mas também pela

hegemonia cultural.

No que se refere à hegemonia cultural pode-se dizer que, através do controlo do sistema

educacional, das instituições religiosas e dos meios de comunicação, as classes

dominadas ficam inibidas de exprimir a sua potencialidade revolucionária uma vez que

são “educadas” para entenderem a “submissão” como algo natural. Perante este quadro,

Gramsci propõe aos intelectuais orgânicos, engajados com a luta de classes, a

construção de uma ideologia contra-hegemónica.

Se no século XIX se assistiu, com Marx, a um primeiro momento marcante na história

do debate ideológico, na 2ª metade do seculo XX, em que as relações internacionais se

encontravam marcadas pelo clima político da Guerra Fria, a ideologia, de uma maneira

generalizada, passa a ser concebida, segundo Barros (2012): como “(…) uma

simplificação distorcida e potencialmente perigosa da complexa realidade social” (

Barros, 2012, p.34).

Visto considerar-se imprescindível que a conscientização do educador se adeque à

prática da educação social, torna-se necessária a sua compreensão das várias

conceptualizações de Estado, das diversas teorias de Estado, dos regimes políticos e a

questão e das consequentes políticas sociais e educativas. Por outras palavras, é preciso

identificarmos as principais ideologias políticas que se encontram registadas

historicamente, assim como entendermos as principais características que marcaram o

pensamento politico e social de cada uma delas. É, a partir, das especificidades da

conceção do mundo de cada uma delas perceber como foi a vida em sociedade.

A autora optou, no que diz respeito às sistematizações e tipologias, seguir as de António

José Fernandes (1995), - ideologias politicas desde a Antiguidade Clássica -, e as de

Andrew Vincent (1992) - Ideologias políticas modernas.

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Tal como referido pela autora, estas tipologias, entre outras possíveis, manifestaram

algum tipo de influência na conceção e no exercício do poder politico, como veremos

seguidamente.

Para não tornar este trabalho muito extenso, optei por situar temporalmente cada uma

das ideologias políticas abordadas pela autora (posteriores às revoluções: inglesa,

americana e francesa), caracteriza-las e por fim, usando citações da autora, mostrar

como em todas nunca houve neutralidade, pois serviram sempre interesses. Interessa

também não perder de vista que as ideologias refletem-se em três eixos: Estado,

Mercado e sociedade.

O termo liberalismo surgiu entre 1810 e 1820 em Espanha para designar os primeiros

“liberales”, que pregavam um reformismo radical contra os interesses monárquicos.

Mas, foi com a Revolução Inglesa, com a Revolução Americana, o Iluminismo (triunfo

da razão sobre a teologia) e a Revolução Francesa, que se determinaram as

características e a difusão do liberalismo.

Como afirma Barros (2012) “A conceção do mundo e da vida em sociedade típica do

liberalismo gira em torno de uma determinada forma de entender três valores

considerados fundamentais e inter-relacionados: a liberdade, a justiça e a igualdade.

(Barros, 2012, p. 41). Mas como são entendidos esses valores pelo liberalismo?

Segundo a autora, “ Em termos económicos a justiça liberal é uma justiça comutativa,

não uma justiça redistributiva. (…) O valor da igualdade é visto no liberalismo

basicamente em termos formais, como um ponto de partida e não de chegada”

(Barros, 2012, p. 42).

Por isso, como afirma Barros (2012), em termos genéricos, na conceção ideal do mundo

(liberalismo puro), o governo ficaria nas mãos de uma elite esclarecida, que teria

como funções a proteção estatal da coesão social, da propriedade e dos interesses

privados, numa economia de livre acesso geral ao mercado e de exclusivo laissez-faire.

A economia de livre acesso apoiou-se na teoria de Adam Smith que defendia que, tendo

regras de autorregulação, pela sua lógica interna (lei da procura/oferta), o mercado

funciona e por isso deve ser deixado livre, sendo qualquer tipo de intervenção

prejudicial. Assim, a igualdade, a liberdade, e a fraternidade do liberalismo são valores

intimamente ligados ao mercado.

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A nível da igualdade, todos têm acesso ao mercado garantido pelo Estado; a nível da

liberdade, todos se movem livremente no mercado e, por último, segundo a fraternidade,

todos têm a mesma possibilidade de sucesso no mercado. No caso dos inadaptados, o

Estado apesar de não ter de se preocupar com eles, por questões morais, interfere em

situações de urgência (entidades caritativas) para evitar que se cheguem a patamares

desumanos.

Seguindo a tipologia de Vincent (1992), desde o século XIX, surgem, com

posicionamentos diferentes, a partir de duas grandes escolas no liberalismo, três

correntes principais do liberalismo. Mas, apesar desses posicionamentos diferentes, “a

hegemonia que o liberalismo conheceria acabaria também por implicar a existência e

desenvolvimento de conceções alternativas do mundo em sociedade” (Barros, 2012, p.

45).

Importante referir que, se os Estados Modernos do século XIX adotaram com

entusiasmo esta ideologia, no seculo XX, com a grande depressão e o Crash da bolsa

de Nova Iorque, os fundamentos teóricos sofreram um “abanão”, resultando na divisão

do liberalismo: Liberalismo clássico e Liberalismo Social.

Este último – liberalismo social – assente nas teorias de Keynes, distingue-se do

liberalismo clássico, pelo facto do Estado passar a intervir no mercado. Curiosamente,

pela primeira vez na história, surgem condições (coincidência dos interesses dos

cidadãos e dos interesses económicos), para o surgimento do Estado Providencia e da

classe média.

Tal como referido pela autora, na parte final da ideologia do liberalismo, as restantes

ideologias modernas podem ser entendidas como uma crítica, oposição ao liberalismo

hegemónico.

O Conservadorismo, surge no século XIX, como uma reação de resistência a uma

série de acontecimentos históricos ligados: à Revolução Francesa e pós Revolução

Francesa; pensamento liberal e ao aparecimento da industrialização. São, portanto, as

elites rurais (aristocratas, donos de terra e detentores de poder) que num ideário

político promotor da conservação e manutenção da ordem existente, se opõem à

mudança, à nova elite burguesa que está ligada às fábricas, á industrialização.

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No que diz respeito a esta ideologia política (antidemocrática) interessa-nos sobretudo

perceber que a igualdade não é alargada, mas circunscreve-se a estas elites defensoras

do conservadorismo. Da mesma forma, a liberdade é restrita e a fraternidade,

inscreve-se no domínio da mulher que presta serviços caritativos à sociedade.

Com base na teoria darwinista, e como justificação da sua ideologia política, os

conservadores entendem que a desigualdade social é inevitável e natural. Como refere

Barros (2012) “ (…) é o resultado inevitável e natural da melhor capacidade de

adaptabilidade de indivíduos e grupos, revertendo no privilégio dos mais aptos, e no

dever moral de assistencialismo social aos mais fracos, que pela lei da sobrevivência

seriam simplesmente eliminados” (Barros, 2012, p. 47).

Como podemos ver, à semelhança da ideologia política do liberalismo hegemónico em

que o governo ficaria nas mãos de uma elite esclarecida (burguesia), também na

ideologia política dos conservadores o governo ficaria nas mãos das elites defensoras da

mesma. É curioso, perceber que tanto na ideologia do liberalismo como na do

Conservadorismo, tanto a burguesia como a aristocracia, desvalorizando as outras

classes/massas, se considerarem mais aptos à governação.

No caso, da ideologia do conservadorismo, e apesar das diferentes escolas de

pensamento, é comum a ideia de um modelo ideal de governação, onde a igualdade não

é alargada mas funciona dentro da própria classe (das elites). Esta ideia está bem

expressa nas seguintes frases de Barros (2012):

O papel do Estado deve ser sobretudo o de garantir a ordem e a paz social, na

observância da tradição e dos costumes herdados do passado, para o que deve de

dispor de um forte aparelho de coerção, governado pela autoridade de uma

elite natural ou intelligentsia. (…) o entendimento conservador acerca da

democracia é sobretudo crítico, na medida em que parte geralmente do

pressuposto de que as massas são, na sua essência, medíocres e por

conseguinte, incapazes de se governar.(Barros, 2012, p. 48)

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Na página seguinte da sua obra, a autora reforça esta ideia quando afirma: “ O governo

seria exercido por uma elite natural e autoritária, cujo papel seria assegurar a

proteção estatal dos interesses orgânicos da comunidade política, assegurando o

respeito pela ordem tradicional e o assistencialismo aos menos aptos” (Barros, 2012,

p. 49-50).

Ainda será de referir, que entre as cinco escolas no conservadorismo, segundo a

tipologia de Vincent (1992), os Neoliberais - Nova direita - (ligados inicialmente aos

latifundiários perceberam que era útil “juntar” a terra ao capital”), que surgem na

década de 80 (Ronald Regan e Margaret Thatcher), subindo ao poder, ainda

acentuaram mais as ideias do conservadorismo, tornando a igualdade, a

fraternidade e a liberdade ainda mais restritas.

Em suma, em todas as escolas de pensamento é comum a “…importância e centralidade

com que a ideia da elite se reveste no âmbito da ideologia politica conservadora. As

qualidades superiores, morais e materiais, do grupo que constitui a elite, vista como

natural, de uma sociedade, justifica quer os seus privilégios quer a sua natural

liderança, controlo e comando das massas” (Barros, 2012, p.53).

A ideologia socialista que emerge na Europa, no contexto pós Revolução Francesa, em

que o liberalismo é a ideologia política dominante, vem opor-se aos pressupostos

liberais.

Portanto, ao contrário do liberalismo que se apoia na doutrina do individualismo, a

ideologia socialista valoriza o oposto: o coletivismo, a soberania popular, a partilha,

a cooperação, a comunhão. Assim, no que diz respeito ao conceito de igualdade para

os socialistas, ele é alargado, tendo o Estado o dever de conceder/assegurar igualdade

a todos os cidadãos nacionais (direitos sociais). Por isso, operacionalizada pelas

diferentes escolas socialistas, a igualdade assenta na dignidade humana. No campo

da liberdade, onde o conceito de cidadania assume um grande valor, aos cidadãos são

reconhecidos várias liberdades: cultural, de expressão, etc. Por último, a fraternidade,

passa pelo reconhecimento de que, se há direitos que devem de ser assegurados aos

cidadãos, o Estado deve de intervir em vários domínios, inclusivamente no económico.

Na conceção do mundo e da vida em sociedade do socialismo, insere-se a tese da

perfetibilidade humana, que entende que as condições materiais e morais influem e

condicionam o desenvolvimento dos seres humanos e da sociedade.

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Em consequência deste entendimento, surge o materialismo histórico desenvolvido por

Marx. Portanto, no século XIX, nasce o socialismo científico a partir da obra de Marx e

Engels, baseado na ideia de uma ciência social, que procura explicar fenómenos como o

poder, relacionando ao fenómenos políticos com os sociais, para se entender o

desenvolvimento material e moral da história humana. Além do socialismo científico,

outras propostas surgiram dentro do socialismo, como: o socialismo utópico, o

socialismo revolucionário, o socialismo reformista, o socialismo ético, o socialismo

pluralista e o socialismo de mercado. Sem se entrar em pormenores sobre cada uma

destas variáveis do socialismo, é importante referir que em teoria o socialismo, que se

opõem às ideologias políticas anteriores – liberalismo e conservadorismo, e que defende

o aperfeiçoamento dos indivíduos e grupos, o tratamento igual entre indivíduos e

grupos, a cooperação e a comunhão ao invés da competição e da acumulação, é uma

ideologia “perfeita”, mas inviável. Pois como nos afirma Barros (2012) “ (…) No que

concerne ao entendimento dado ao Estado, e ao seu papel, há no pensamento socialista

alguma ambiguidade nesta matéria” (Barros, 2012, p. 59).

Numa outra afirmação da autora, percebe-se claramente que a ideologia politica

socialista carece de meios para “materializar” as suas ideias teóricas: “(…) no seio dos

ideólogos socialistas não há acordo quanto à conceção de estratégias e métodos a adotar

para desencadear e conduzir a transformação social” (Barros, 2012, p. 60).

No que se refere ao Anarquismo, trata-se de uma ideologia que nasce, nos finais do

século XIX, como um interstício entre o socialismo e o liberalismo e que partilha e

rejeita pressupostos destas duas ideologias. Podem ser assinalados dois importantes

momentos históricos para a ideologia e movimentos anarquistas: o primeiro, entre 1880

e 1930, com a guerra civil espanhola e o segundo com os movimentos contracultura na

década de 70 do século XX.

Como destaca Vincent (1992), “na conceção anarquista do mundo e da vida em

sociedade predomina a crença na observação de três princípios, tidos como

fundamentais para a organização e regulação sociais, nomeadamente: o princípio da não

hierarquia, o princípio da não coercibilidade; e o principio da liberdade” (Vincent, 1992

cit. Barros, 2012, p. 68).

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Sem nos determos muito nesta ideologia – anarquismo – podemos dizer que ela defende

o fim de qualquer forma de dominação e de coercibilidade, pois considera que

autonomia e autoridade são incompatíveis, daí rejeitar o Estado e eleger como

alternativa a livre associação.

O Fascismo, outra ideologia politica apresentada nesta obra, nasce, após a primeira

guerra mundial, como reação ao predomínio do liberalismo e provoca um profundo

impacto na história entre o Estado e a sociedade, devido às suas conceções do mundo e

da vida em sociedade. Destacam-se no fascismo três valores relacionados: o racismo, o

sexismo e a desigualdade. Também nesta ideologia, são defendidos os interesses de

uma elite. Segundo Barros (2012):

(…) os seres humanos e as nações são marcados por uma desigualdade

incondicional, ou seja, que é biologicamente determinada pelo nascimento, não

sendo possível a sua motivação. Desta forma dentro da nação, a elite, que nasce

com características distintivas, é superior aos demais e pode por isso,

naturalmente, impor-lhe a sua vontade. (Barros, 2012, p. 72).

Convém deixar claro que na política fascista, a violência é legitimada e a discriminação,

as mentiras e a manipulação servem como estratégias politicas. O Estado preconizado

segundo esta ideologia política é forte, totalitário e autoritário.

Estas cinco ideologias políticas que se acabaram de abordar (Liberalismo,

Conservadorismo, Socialismo, Anarquismo e Fascismo), tem influenciado, desde o

início do século XIX até meados do século XX, o exercício do poder político na

modernidade ocidental.

O Feminismo e o Ecologismo, são também ideologias políticas incluídas na tipologia

de Vincent, apesar de nalguns aspetos ainda se encontrarem em processo de

consolidação.

Sucintamente, importa reter em relação à primeira – Feminismo – que se trata de um

ideologia que nasce, no rescaldo dos acontecimentos da Revolução Francesa.

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Trata-se de uma ideologia, completamente diferente das anteriormente abordadas, na

medida em que vem desconstruir o entendimento androcêntrico hegemónico. Por

outras palavras, esta ideologia política tem como meta os direitos iguais, por meio do

empoderamento e libertação de padrões opressores baseados no género. Não podemos

pois ignorar os seus contributos, que nos vêm inequivocamente demonstrar que existem

diferenças importantes no modo desigual (assente numa visão androcêntrica e

patriarcal) como homens e mulheres tem sido tratados desde tempos remotos.

A segunda – Ecologismo – nasce, como ideologia politica, no último quartel do século

passado, associada ao movimento que, baseado na crise mundial do petróleo assim

como nos dados dos relatórios ecológicos mundiais, critica as atitudes perante a

natureza. De uma forma muito sucinta, esta ideologia defende os valores de harmonia,

de responsabilidade e respeito, na relação homem/natureza. Por isso, um conceito chave

para se entender esta ideologia política é a igualdade ecológica. Essa igualdade

ecológica significa que o homem não é superior às outras espécies e por isso devem de

existir limites éticos reais para a sua intervenção na natureza. Obviamente, sendo esta

uma conceção do mundo distinta das anteriores, é fácil de se perceber as críticas dos

ecologistas ao atual padrão ocidental de consumo de bens e produtos, à produção

intensiva a nível industrial e agrícola, etc. Por isso, no que se refere à economia, esta

ideologia defende uma economia sustentável. No que diz respeito ao papel do Estado,

dentro das várias linhas distintivas do ecologismo, uns defendem um Estado deve de

assumir um papel interventivo no seu papel regulador e outros defendem o contrário.

Depois de apresentadas as ideologias politicas, segundo a tipologia de Vincent (1992),

que representam diversas conceções do mundo e prescrições de organização e regulação

social, e lembrando que todas elas influenciaram o exercício do poder politico, desde o

período da modernidade ocidental, veremos onde como cada uma delas se encaixa,

numa divisão geral de governação (direita/esquerda). Sendo esta uma das interpretações

possíveis, podemos dizer que numa posição de moderados, o Socialismo se encontra à

esquerda e o Liberalismo à direita. Numa uma posição extremista, de esquerda,

encontram-se o Feminismo, o Anarquismo e o Ecologismo. E, numa posição extremista

de direita, encontram-se as ideologias do Fascismo e do Conservadorismo.

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Recensão crítica da primeira parte da obra “ Subsídios breves para o debate

de princípios e valores na formação política do (a) Educador (a) Social 2014

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É pois necessário destacar os dois eixos opostos (esquerda e direita), e perceber que

aqueles que se situam à esquerda pretendem, acreditando que a natureza humana pode

ser melhorada, transformar o mundo para melhor; por outro lado, aqueles que se

posicionam à direita, e não acreditando nessa possibilidade, pretendem preservar a

ordem das coisas que percecionam existir.

É, pois importante, compreender que com base nas ideologias politicas que

apresentamos que, desde os finais do seculo XX, ao contrário do que o Socialismo

esperava, esta não se tornou uma das principais ideologias oponentes ao liberalismo.

Pelo contrário, o mundo em que vivemos hoje representa uma utopia realizada

(hierarquizada e competitiva) e não a utopia igualitarista.

Perante este cenário, é fundamental que o educador social tenha uma clara compreensão

das doutrinas e ideologias políticas (esquerda/direita), das várias conceptualizações de

Estado e teorias de Estado, dos regimes políticos, das políticas sociais e educativas, para

que, a partir de uma consciência critica, possa reconstruir e propor novos modelos

interpretativos da realidade socio politica atual.

De seguida, apresentar-se-á, segundo Vicent (1987), as principais ideias politicas que

refletem uma teoria de Estado, que derivam em 5 principais tipos de Estado: Estado

Absolutista, Estado Constitucional, Estado ético, Estado classicista e o Estado

pluralista.

No que se refere ao Estado absolutista, sabe-se que na sua origem ele partiu de um

conjunto de pressupostos politico-filosóficos, que ganharam forma no seculo XVI, que

se opunham ao feudalismo (como modelo de organização sociopolítica) e ao poder

papal. Segundo Barros (2012) “Desde modo, emerge a teoria do absolutismo, na qual a

centralização do poder político, da autoridade e da lei são as mais notáveis

características do Estado” (Barros, 2012, p. 100). Na conceção do Estado Absolutista é

ainda de salientar a ideia de soberania (legislativa) e “propriedade absoluta” centrada na

autoridade do príncipe soberano.

No que diz respeito à teoria constitucional do Estado (Século XVIII), só a podemos

entender se a compreendermos como uma oposição aos Estados absolutistas, que tentam

através da criação de regras constitucionais limitar o espectro de ação do monarca.

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Um dos principais objetivos desta teoria de Estado foi, com a criação de novas regras

constitucionais, a limitação do poder e a diversificação da autoridade (separação dos

poderes, das funções e das esferas de atuação do governo). É a partir deste universo

teórico-conceptual que, a partir do século XI, surgem os conceitos de soberania popular,

soberania, consentimento e sociedade civil.

O que diz respeito à teoria ética do Estado, que se desenvolve após a Revolução

Francesa, tem como base os pressupostos hegelianos. Interessa saber que o pensamento

politico-filosófico de Hegel defende uma teoria centralizada do Estado, onde se critica o

feudalismo, o individualismo burguês, a conceção negativa da liberdade e à teoria

democrática.

Segundo Barros (2012) “ A teoria ética do Estado perceciona-o como uma totalidade,

materializada em leis e instituições concretas, com responsabilidades especiais no

desenvolvimento dos indivíduos e no estabelecimento de uma ordem ética” (Barros,

2012, p. 102). Nesta conceção de poder político são, portanto, levados em conta os

direitos individuais, da liberdade de expressão, de consciência e de opinião.

Apesar da importância das teorias de Estado anteriormente abordadas (absolutista,

constitucional e ético), no debate contemporâneo, no âmbito do pensamento politico, as

teorias que têm merecido mais atenção são: por um lado, as teorias marxistas e

neomarxistas e, por outro, as pluralistas e neo-pluralista.

Nascida do pensamento de Marx e Engels, a teoria do Estado classicista, que tem sido

desenvolvida com o contributo de várias escolas de tradição marxista, privilegia a

relação entre o Estado e a sociedade, vista como um conjunto de relações entre classes

sociais. Segundo Barros (2012) “ (...) vê nas relações conflituais de produção a

fundação da superestrutura politico-legal, o Estado é entendido como a instância que

melhor reflete a luta de classes que tem lugar na base económica da sociedade” (Barros,

2012, p. 104). Assim, defende-se que o Estado traduzindo o padrão de dominação

exercido pela classe social, ao invés de representar primeiramente os interesses gerais,

representa os interesses particulares dessa classe.

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De igual forma influente no debate contemporâneo do Estado, temos a teoria do

Estado pluralista, que surge como uma reação ao crescimento do Estado nos séculos

XIX e XX e que se conceptualizou a partir do sistema medieval das corporações.

O Estado pluralista deve, perante uma diversidade de grupos, assegurar as liberdades

fundamentais que forem necessárias para uma coexistência pacifica e autónoma, embora

competitiva, assim como o respeito pelos centros de autoridade da sociedade.

Segundo Barros (2012):

(…) o Estado pluralista não é soberano, no sentido mais tradicional do termo, na

medida em que funciona descentralizadamente, segundo uma matriz de

governação em que lhe cabe sobretudo superintender as relações entre os vários

grupos e interesses, num modelo que assenta no debate e negociação contínuos

entre grupos, destinado a lograr compromissos e consensos entre parceiros

sociais” (Barros, 2012,p. 105).

Esta obra é sem dúvida imprescindível para que o educador social possa tomar

consciência de que as ideologias políticas moldam, de forma diferenciada (esquerda ou

direita), a relação entre Estado mercado e sociedade. Pois, é só a partir de uma

consciência critica que o educador social poderá intervir, através de projetos, e

contribuir para a transformação social.

Esta compreensão profunda, política e crítica da realidade social é ainda mais urgente

quando se percebe que a atual e complexa conjuntura, dominada pelo Capitalismo

financeiro, apresenta, para muitos Estados nacionais, incapacidade para resistir às

tendências hegemónicas, resultando, tanto para os cidadãos como para as sociedades,

incluindo a portuguesa, num aumento dramático das desigualdades sociais.

Esta ideia da incapacidade de alguns Estados nacionais pode ser claramente percebida

através da seguinte afirmação de Santos, Boaventura (2001):

Quanto às relações sociopolíticas, tem sido defendido que, embora o sistema

mundial moderno tenha sido sempre estruturado por um sistema de classes, uma

classe capitalista transnacional está hoje a emergir cujo campo de reprodução

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social é o globo enquanto tal e que facilmente ultrapassa as organizações

nacionais de trabalhadores, bem como os Estados externamente fracos da

Periferia e da semiperiferia do sistema mundial. (Santos, Boaventura, 2001,

p.37)

Por outras palavras, os países periféricos e semiperiféricos, sob o controlo e imposições

dos Estados hegemónicos ou através das instituições internacionais (sobretudo

financeiras) que estes controlam, têm perdido, drasticamente, a sua autonomia política.

É, portanto, neste contexto de vulnerabilidade social, que a compreensão da realidade é

a principal ferramenta para se aplicar ações que promovam a participação da

comunidade envolvida, preparando-a para um futuro mais digno.

Na minha perspetiva, a democracia formal não está em crise, mas sim a do bem comum.

Como se sabe o poder financeiro apoderou-se do poder político, defendendo unicamente

os seus interesses, e por isso, o bem comum está a ser apropriado por privados. Quando

se idealizou a U. E. tratava-se de um projeto de paz. Ora, neste momento, com 37

milhões de desempregados, a europa está em “guerra”, e nenhuma guerra fez 37

milhões de vítimas. É, por isso, urgente, enquanto educadores sociais desencadear, a

nível local, processos pedagógicos geradores de conhecimento critico para melhorar as

condições de vida.

Torna-se, assim, imprescindível, recorrer à prática educativa, reconhecendo-se como

prática politica, não só serve para possibilitar o ensino de conteúdos como para

conscientizar os indivíduos. Nesta linha de ideias, Freire (2001), diz-nos:

Não devemos chamar o povo à escola para receber instruções, postulados,

receitas, ameaças, repreensões e punições, mas para participar coletivamente da

construção de um saber, que vai além do saber de pura experiência feito, que

leve em conta as suas necessidades e o torne instrumento de luta, possibilitando-

lhe ser sujeito de sua própria história.” (Freire, 2001, p.)

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Enquanto educadores sociais lutamos por um sonho, que está muito bem expresso nas

seguintes palavras de Freire (2001):

Um desses sonhos por que lutar, sonho possível mas cuja concretização

demanda coerência, valor, tenacidade, senso de justiça, força para brigar, de

todas e de todos os que a ele se entreguem é o sonho por um mundo menos feio,

em que as igualdades, em que as discriminações de raça, de sexo, de classe

sejam sinais de vergonha e não de afirmação orgulhosa ou de lamentação

puramente cavilosa. No fundo, é um sonho sem cuja realização a democracia de

que tanto falamos, sobretudo hoje, é uma farsa. (Freire, 2001, p. 15)

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Referências

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Santos, B. (2001), Globalização – Fatalidade ou Utopia?, Edições Afrontamento

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Petropólis