Intervenção profissional do assistente social e as condiçoes de trabalho no suas
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750 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez. 2010 Intervenção profissional do assistente social e as condições de trabalho no Suas* The social worker´s professional intervention and working conditions at Suas Raquel Raichelis** Resumo: Este artigo tem por objetivo discutir o trabalho do assis‑ tente social no âmbito do Sistema Único de Assistência Social (Suas), enquanto espaço sócio‑ocupacional do assistente social e de outros profissionais, que amplia o mercado de trabalho e abre novas possibi‑ lidades de intervenção profissional, ao mesmo tempo em que precari‑ za e intensifica os processos de trabalho, tensionando as formas de efetivação do projeto ético‑político profissional do serviço social. Palavras‑chave: Serviço Social. Trabalho. Suas. Precarização. Proje‑ to profissional. Abstract: This article aims at discussing the professional practice of the social worker in the context of the Sistema Único de Assistência Social — Suas. It intends to address the system as a socio‑occu‑ pational space for social workers and other professionals, which enhances the labor market and opens new possibilities for professional intervention. However, it takes place concurrently with the precari‑ zation and intensification of the working process, putting pressure on the strategies for the realization of the ethical‑political professional project of social work. Keywords: Social Work. Work. Suas. Precarization. Professional project. * Este artigo está baseado na palestra proferida em mesa‑redonda do 3º Seminário Anual de Serviço Social: O Serviço Social frente aos desafios do século XXI — crise do capitalismo, novos modelos de desen‑ volvimento e as repercussões na formação e na intervenção profissional, promovido pela Cortez Editora em maio de 2010, no Tuca, auditório da PUC‑SP. ** Assistente social; mestre e doutora em Serviço Social pela PUC‑SP; coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho e Profissão do Programa de Estudos Pós‑Graduados em Serviço Social da PUC‑SP, São Paulo, Brasil; pesquisadora da Coordenadoria de Estudos e Desenvolvimento de Projetos Especiais da PUC‑SP (Cedpe); atual coordenadora do Programa de Estudos Pós‑Graduados em Serviço Social da mesma universidade (2009‑11).
Intervenção profissional do assistente social e as condiçoes de trabalho no suas
1. 750 Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez.
2010 Intervenoprofissionaldoassistentesocial
eascondiesdetrabalhonoSuas*
ThesocialworkersprofessionalinterventionandworkingconditionsatSuas
Raquel Raichelis** Resumo: Este artigo tem por objetivo discutir o
trabalho do assis tente social no mbito do Sistema nico de
Assistncia Social (Suas), enquanto espao scioocupacional do
assistente social e de outros profissionais, que amplia o mercado
de trabalho e abre novas possibi lidades de interveno profissional,
ao mesmo tempo em que precari za e intensifica os processos de
trabalho, tensionando as formas de efetivao do projeto ticopoltico
profissional do servio social. Palavraschave: Servio Social.
Trabalho. Suas. Precarizao. Proje to profissional. Abstract:This
article aims at discussing the professional practice of the social
worker in the context of the Sistema nico de Assistncia Social
Suas. It intends to address the system as a sociooccu pational
space for social workers and other professionals, which enhances
the labor market and opens new possibilities for professional
intervention. However, it takes place concurrently with the precari
zation and intensification of the working process, putting pressure
on the strategies for the realization of the ethicalpolitical
professional project of social work. Keywords: Social Work. Work.
Suas. Precarization. Professional project. * Este artigo est
baseado na palestra proferida em mesaredonda do 3 Seminrio Anual de
Servio Social: O Servio Social frente aos desafios do sculo XXI
crise do capitalismo, novos modelos de desen volvimento e as
repercusses na formao e na interveno profissional, promovido pela
Cortez Editora em maio de 2010, no Tuca, auditrio da PUCSP. **
Assistente social; mestre e doutora em Servio Social pela PUCSP;
coordenadora do Ncleo de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho e
Profisso do Programa de Estudos PsGraduados em Servio Social da
PUCSP, So Paulo, Brasil; pesquisadora da Coordenadoria de Estudos e
Desenvolvimento de Projetos Especiais da PUCSP (Cedpe); atual
coordenadora do Programa de Estudos PsGraduados em Servio Social da
mesma universidade (200911).
2. 751Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez.
2010 Introduo O trabalho do assistente social tem sido um tema
presente na agenda profissional, e vem ganhando centralidade
crescente nos debates de profissionais estudantes e pesquisadores
do Servio Social, sinali zando a premncia de estudos e pesquisas
que desvendem o pro cessamento do trabalho do assistente social
(Iamamoto, 2007) e as formas por ele assumidas nos diferentes
espaos ocupacionais e nas diversas atividades que desenvolvem no
cotidiano das instituies pblicas e privadas. As transformaes
contemporneas que afetam o mundo do trabalho, seus processos e
sujeitos provocam redefinies profundas no Estado e nas polticas
sociais, desencadeando novas requisies, demandas e possibilidades
ao traba lho do assistente social no mbito das polticas sociais.
Aimplantao do Suas e sua rpida expanso por todo o territrio
nacional vem ampliando consideravelmente o mercado de trabalho para
os assistentes sociais e demais profissionais atuantes nessa rea.
Ao mesmo tempo e no mes mo processo, contraditoriamente, aprofundam
a precarizao das condies em que este trabalho se realiza,
considerando o estatuto de trabalhador assalariado do assistente
social, subordinado a processos de alienao, restrio de sua
autonomia tcnica e intensificao do trabalho a que esto sujeitos os
trabalha dores assalariados em seu conjunto. Ainda que a poltica de
assistncia social seja um campo de trabalho mul tiprofissional e
interdisciplinar, ela se constitui historicamente como uma das
principais mediaes do exerccio profissional dos assistentes
sociais, sendo reconhecidos socialmente (e se autorreconhecendo)
como os profissionais de referncia desta poltica, apesar das
ambiguidades que cercam essa relao de longa data.1 Problematizar
estas questes no contexto da anlise dos espaos scioocupa-. cionais
e das novas configuraes que assume o trabalho e as demandas
profissio 1. Na hierarquia das prticas profissionais, a assistncia
social foi secundarizada, especialmente a par tir do Movimento de
Reconceituao na Amrica Latina, que fez a crtica radical ao
assistencialismo e ao conservadorismo profissional, marcas
histricas das aes deste campo. Apesar da luta empreendida pela
categoria profissional e pela direo poltica das entidades
profissionais para a transformao da assistncia social em poltica
pblica de seguridade social, comprometida com a expanso de
direitos, permanece um movimento ambguo de afirmao/recusa,
continuidade/ruptura diante da premncia das necessidades sociais e
a precariedade das respostas institucionais.
3. 752 Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez.
2010 nais, bem como os processos e condies de trabalho do
assistente social (e demais trabalhadores sociais) no Suas, so as
finalidades deste artigo. Espaos scioocupacionais e trabalho do
assistente social situando algumas premissas Analisar os espaos
scioocupacionais do assistente social exige inscrever a reflexo no
movimento histrico da sociedade brasileira e mundial, conside rando
os processos sociopolticos que condicionam o modo como o Servio
Social se insere na sociedade capitalista madura, como um tipo de
especializa o do trabalho inscrito na diviso sociotcnica do
trabalho, articulado aos processos de produo e reproduo das relaes
sociais.2 Ao mesmo tempo, para alm das dimenses objetivas que
conferem ma terialidade ao fazer profissional, preciso considerar
tambm, e de forma nem sempre convergente, o modo pelo qual o
profissional incorpora na sua cons cincia o significado do seu
trabalho, as representaes que faz da profisso, a intencionalidade
de suas aes, as justificativas que elabora para legitimar sua
atividade que orientam a direo social do exerccio profissional.
Nesses termos, importante demarcar de sada que refletir sobre os
espa os scioocupacionais do servio social implica considerlos como
expresses das dimenses contraditrias do fazer profissional, nos
quais se condensam e se confrontam concepes, valores,
intencionalidades, propostas de sujeitos individuais e coletivos,
articulados em torno de distintos projetos em disputa no espao
institucional onde se implementam polticas pblicas. No caso em
questo, interessanos analisar o trabalho do assistente social no
mbito do Sistema nico deAssistncia Social (Suas), pela oportunidade
de problematizar um processo que est em curso em todo o pas, e que
pela velo cidade e complexidade apresenta desafios s profisses
envolvidas que precisam ser acompanhados e desvendados
criticamente. Apesar de a assistncia social ser uma das mediaes
mais tradicionais e persistentes do exerccio profissional,
considerase que a implantao do Suas 2. Aqui se insere um amplo e
polmico debate atual a respeito do Servio Social como trabalho e do
assistente social como trabalhador assalariado, que no cabe neste
momento aprofundar. Cf. Iamamoto, 2007, e Lessa, 2007.
4. 753Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez.
2010 amplia as possibilidades de trabalho profissional nos novos
espaos ocupacio nais, como os Centros de Referncia de Assistncia
Social (Cras) e os Centros de Referncia Especializados de
Assistncia Social (Creas), alm de demandar o desenvolvimento de
novas habilidades e competncias para a gesto pblica nos mbitos da
assessoria, planejamento, avaliao, monitoramento, entre outras.
Tratase, pois, de demandas profissionais que desafiam os
assistentes sociais a formular mediaes tericas, tcnicas, ticas e
polticas, na perspectiva da competncia crtica diante das exigncias
burocrticas e administrativas que lhe so requeridas, de modo a no
sucumbir ao discurso competente (Chaui, 1989) autorizado e
requisitado pelas instncias burocrticas das instituies
empregadoras. Descartando, portanto, qualquer viso unilateral e
buscando romper com os conhecidos pares dicotmicos na reflexo sobre
o trabalho do assistente social voluntarismo/determinismo,
politicismo/economicismo, conservado rismo/transformao, entre
outros, e com base em Iamamoto (1982), partimos do suposto que
apreender os espaos scioocupacionais que se abrem ao exer ccio
profissional para capturar a lgica de retrao ou intensificao de
deman das em determinadas reas, como a que ocorre atualmente com a
poltica de assistncia social, bem como as respostas individuais e
coletivas dos assistentes sociais s novas exigncias institucionais,
exige desvelar o carter contraditrio do Servio Social como prtica
polarizada pelos interesses das classes sociais, que tanto
participa dos mecanismos de manuteno quanto de mudana, res pondendo
a interesses do capital e tambm do trabalho, participando dos pro
cessos de dominao e de resistncia, continuidade e ruptura da ordem
social, como bem analisou Iamamoto em sua ampla e significativa
produo biblio grfica sobre o Servio Social na sociedade capitalista
madura.3 O trabalho do assistente social , pois, a expresso de um
movimento que articula conhecimentos e luta por espaos no mercado
de trabalho, competncias e atribuies privativas que tm
reconhecimento legal nos seus estatutos nor mativos e reguladores
(regulamentao profissional, cdigo de tica, diretrizes curriculares
da formao profissional), projeto ticopoltico que confere dire o
social ao trabalho profissional.Ao mesmo tempo, os sujeitos que a
exercem, individual e coletivamente, se subordinam s normas de
enquadramento insti 3. Entre outros, consultar especialmente
Iamamoto e Carvalho, 1982; Iamamoto, 1998, e Iamamoto, 2007.
5. 754 Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez.
2010 tucional, mas tambm se organizam e se mobilizam no interior de
um coletivo de trabalhadores que repensam a si mesmos e a sua
interveno no campo da ao profissional. nesse processo tenso que as
profisses constroem seus projetos profis sionais, no caso do Servio
Social, o projeto ticopoltico profissional que h pelo menos trs
dcadas vem sendo formulado coletivamente pelo Servio Social
brasileiro. Os projetos profissionais apresentam a autoimagem de
uma profisso, elegem os valores que a legitimam socialmente,
delimitam e priorizam seus objetivos e funes, formulam os
requisitos (tericos, prticos e institucionais) para o seu exerccio,
prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabe
lecem as bases das suas relaes com os usurios de seus servios, com
as outras profisses e com as organizaes e instituies privadas e
pblicas (inclusive o Estado, a quem cabe o reconhecimento jurdico
dos estatutos profissionais. (Net to, 2006, p. 144) Esse projeto,
que tem por base um sujeito coletivo, exige organizao de um corpo
ou categoria profissional por meio do conjunto dos seus agentes pro
fissionais, docentes, pesquisadores, estudantes e organismos
profissionais, e resultado de conjunturas e dinmicas sociopolticas
particulares, que reforam a estreita vinculao entre a definio e a
ampliao dos espaos de trabalho dos assistentes sociais e as
manifestaes da questo social.4 No Brasil, notadamente a partir dos
anos 1980, marco da construo do projeto de ruptura com o
conservadorismo, assistese ao agravamento da ques to social e suas
dramticas expresses a incidir no cotidiano de vida e trabalho de
indivduos, grupos, famlias, coletividades com os quais o Servio
Social trabalha, na luta pela reproduo social em suas mltiplas
dimenses materiais, subjetivas, relacionais, espirituais. As
polticas sociais, como mediao fundamental da ao do Estado, via
bilizam uma interveno continuada e estratgica sobre as sequelas da
questo social, levando o aparelho estatal a desenvolver
simultaneamente funes eco 4. A questo social, tal como a
entendemos, a expresso das desigualdades sociais produzidas e re
produzidas na dinmica contraditria das relaes sociais, e, na
particularidade atual, a partir das configura es assumidas pelo
trabalho e pelo Estado, no atual estgio mundializado e
financeirizado do capitalismo contemporneo. Para aprofundamento
consultar Netto, 1992, e Iamamoto, 2007.
6. 755Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez.
2010 nmicas, polticas e sociais, administrando as contradies e
buscando um sistema de consensos em busca de legitimidade social.
Simultnea e dialeticamente, as polticas sociais representam a face
da luta dos movimentos sociais, expressando a dimenso de conquista
das classes trabalhadoras decorrente das presses e mobilizaes em
busca de respostas a necessidades sociais de reproduo social, ainda
que estas sejam invariavel mente insuficientes e limitadas. As
respostas do Estado questo social se realizam por meio de um
semnmero de organizaes sociais, por meio da fragmentao e setorizao
das necessidades sociais (da as polticas sociais no plural),
recortandoas em problemas sociais particulares como o desemprego, a
fome, o analfabetismo, a doena etc.), dificultando a explicitao de
sua raiz comum numa perspectiva de totalidade, provocando a
atomizao das demandas e a competio entre os segmentos demandantes
do acesso a parcelas do fundo pblico. Aprpria implementao das
polticas sociais tambm um jogo comple xo de conflitos e tenses, que
envolve diferentes protagonistas, interesses, projetos e
estratgias, contexto em que so requisitadas a presena e a interven
o de diferentes categorias profissionais que disputam espaos de
reconheci mento e poder no interior do aparelho institucional.
Nesses termos, tornase importante romper com qualquer linearidade
na anlise das polticas sociais e dos espaos ocupacionais nos quais
se inserem os assistentes sociais, ainda mais considerando as
formas de enfrentamento do capital s suas crises de acumulao, que
aprofundam e agravam as manifesta es da questo social, mas tambm
desencadeiam respostas da sociedade e do conjunto das classes
trabalhadoras em seu movimento de resistncia e defesa de direitos
conquistados historicamente. Ainda que requerendo maior
aprofundamento, o que escapa aos limites deste texto, preciso
lembrar que os anos 1990 foram palco de um complexo processo de
regresses no mbito do Estado e da universalizao dos direitos,
desencadeando novos elementos que se contrapem ao processo de
democra tizao poltica, econmica e social em nosso pas, no contexto
de crise e reor ganizao do capitalismo em escala internacional.
Esse quadro desencadeia profundas transformaes societrias, determi
nadas pelas mudanas na esfera do trabalho, pela reforma gerencial
do Estado ou contrarreforma (nos termos de Behring, 2003), pelos
processos de redefini
7. 756 Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez.
2010 o dos sistemas de proteo social e da poltica social que
emergem nessa conjuntura, e pelas novas formas de enfrentamento da
questo social, com grandes mudanas e rebatimentos nas relaes
pblicoprivado. De um lado, observase o processo de destituio de
direitos no rastro da reforma conservadora do Estado e da economia,
que desencadeia um crescente e persistente processo de sucateamento
dos servios pblicos, de ofensiva sis temtica contra os novos
direitos consagrados na Constituio de 1988, a partir de ampla
mobilizao de foras sociais que lutaram pela democratizao da
sociedade e do Estado no Brasil. De outro, mais alm dessas
destituies, o que est em curso o esvazia mento da prpria noo de
direitos relacionado a uma suposta desnecessidade de tudo que
pblico e estatal. Nas palavras de Vera Telles (1994), tratase do
encolhimento do horizonte de legitimidade dos direitos, que
transforma di reito em privilgio em nome da necessria modernizao da
economia, cuja referncia maior o mercado e suas demandas e
prerrogativas. O agravamento da questo social decorrente do
processo de reestruturao produtiva e da adoo da programtica
neoliberal repercute no campo profis sional, tanto nos sujeitos com
os quais o Servio Social trabalha os usurios dos servios sociais
pblicos quanto no mercado de trabalho dos assistentes sociais que,
como o conjunto dos trabalhadores, sofrem o impacto das meta
morfoses que afetam o trabalho assalariado na contemporaneidade,
submeten do a atividade profissional aos dilemas da alienao
(Iamamoto, 2007 e 2009). Tratase de uma dinmica societria que
atinge as diferentes profisses, e tam bm o Servio Social, que tem
nas polticas sociais um campo de interveno privilegiado. As
transformaes nos espaos ocupacionais do assistente social tm origem
nesses processos macrossocietrios e pem em relevo as especficas
condies e relaes de trabalho no contexto mais geral de mudanas e
consti tuio da nova morfologia do trabalho (Antunes, 2005). Uma das
expresses dessas mudanas decorre das alteraes na base tcnica de
produo por meio da incorporao das denominadas TICs (Tecnologias de
Informao e Comu nicao) e demais inovaes tecnolgicas que induzem
novas relaes e modos de gesto do trabalho, desencadeando processos
de intensificao do trabalho (Dal Rosso, 2008) e aumento da
produtividade nas mais diversas reas, no s nas diretamente
produtivas, mas tambm no campo da formulao, gesto e prestao de
servios sociais pblicos.
8. 757Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez.
2010 Verificase, assim, que a reestruturao produtiva em curso
atinge o mer cado de trabalho do assistente social, incidindo
contraditoriamente tanto na mudana e/ou redefinio de postos de
trabalho em algumas reas (por exemplo, nas empresas), como tambm na
ampliao e diversificao, como o caso das polticas de seguridade
social, especialmente a poltica de assistncia social. Esta dinmica
ainda mais intensa em mbito municipal, considerando as novas
requisies que chegam aos municpios em virtude da descentralizao e
municipalizao dos servios sociais pblicos, e diante das inmeras
presses que sofrem diretamente das populaes atingidas pelo
desemprego, pobreza, violncia, insegurana do trabalho e da moradia.
A nova morfologia do trabalho tenses entre projeto profissional e
trabalho assalariado Dados da pesquisa sobre perfil do assistente
social no Brasil promovida pelo conjunto CFESS/Cress (2005)
demonstram que os assistentes sociais con tinuam sendo
predominantemente trabalhadores assalariados, notadamente de
organismos governamentais, com maior incidncia nas polticas de sade
e assistncia social. A maioria dos assistentes sociais de
servidores pblicos, sendo que 78,16% atuam em organizaes de
natureza estatal, 40,97% na es fera municipal, 24% nos estados e
13,19% em mbito federal. Embora seja necessria a atualizao desses
dados,5 outros estudos de carter regional, estadual ou local que tm
sido realizadas mais recentemente6 apontam para a permanncia desse
quadro, com predominncia da insero dos profissionais em rgos
municipais, indicando ainda um crescimento na esfera federal. 5. A
pesquisa Assistentes sociais no Brasil: elementos para estudo do
perfil profissional (CFESS, 2005) foi realizada pela Ufal com apoio
dos Cress em maio de 2004, com os assistentes sociais regularmen te
inscritos nos conselhos regionais, tendo como universo um
contingente de 61.151 profissionais. Com um universo atual de quase
90 mil profissionais urgente a necessidade de atualizao desta
pesquisa. 6. As pesquisas apresentadas no colquio Trabalho na
sociedade contempornea e o trabalho do assis tente social,
promovido pela Rede de Pesquisa sobre Trabalho do Assistente Social
(Retas), realizado na Universidade Federal de Alagoas em maio de
2010, reafirmam muitas das caractersticas apontadas na in vestigao
de 2005, ao mesmo tempo em que indicam a tendncia precarizao do
trabalho do assistente social em diferentes espaos
scioocupacionais.
9. 758 Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez.
2010 Em um contexto social marcado pela retrao e mesmo eroso do
traba lho contratado e regulamentado, tpico da era taylorista e
fordista, cresce o trabalho precrio, parcial, temporrio, bem como
as diferentes modalidades de flexibilizao de vnculos e de direitos,
alm da ampliao do trabalho volun trio e das diversas formas de
cooperativismo e empreendedorismo, que ocultam novos modos de gesto
e (auto)explorao do trabalho. Presenciase tambm a exploso do
desemprego estrutural em escala glo bal, que atinge a totalidade
dos trabalhadores, sejam homens e mulheres, est veis ou
precarizados, formais ou informais, e a deteriorao da qualidade do
trabalho, dos salrios e das condies em que ele exercido.7 As
condies atuais do capitalismo contemporneo globalizao finan
ceirizada dos capitais e sistemas de produo apoiados fortemente no
desen volvimento tecnolgico promovem intensas mudanas nos processos
de organizao, gesto e nas relaes e vnculos laborais da
classequevivedotra balho (Antunes, 1999), resultando em nova
morfologia do trabalho, com amplos contingentes de trabalhadores
flexibilizados, infornalizados, precariza dos, pauperizados,
desprotegidos de direitos e desprovidos de organizao coletiva
(Antunes, 2005). So contextos que geram processos continuados de
informalizao e fle xibilizao expressos por trabalhos terceirizados,
subcontratados, temporrios, domsticos, em tempo parcial ou por
projeto, para citar apenas algumas das diferentes formas de
fragilizao a que est submetida a classe trabalhadora. So
transformaes que atingem duramente o trabalho assalariado, sua
realiza o concreta, sua materialidade e as formas de subjetivao na
conscincia dos trabalhadores, levando a redefinies dos sistemas de
proteo social e das formas de organizao e gesto dos processos de
trabalho. Essa dinmica de precarizao atinge tambm o trabalho
profissional do assistente social, afetado pela insegurana do
emprego, precrias formas de contratao, intensificao do trabalho,
baixos salrios, presso pelo aumen to da produtividade e de
resultados imediatos, ausncia de horizontes profis sionais de mais
longo prazo, falta de perspectivas de progresso e ascenso 7. Um
amplo estudo sobre a reestruturao produtiva no Brasil e dos
mecanismos de terceirizao, subcontratao, precarizao do trabalho que
afetam a classe trabalhadora no pas, por meio da investigao emprica
em diversos setores ou ramos econmicos, pode ser encontrado em
Antunes (2006).
10. 759Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez.
2010 na carreira, ausncia de polticas de qualificao e capacitao
profissional, entre outros.8 No mbito do Servio Social,
intensificase a subcontratao de servios individuais dos assistentes
sociais por parte de empresas de servios ou de as sessoria, de
cooperativas de trabalhadores, na prestao de servios aos go vernos
e organizaes no governamentais, acenando para o exerccio profis
sional privado (autnomo), temporrio, por projeto, por tarefa, em
funo das novas formas de gesto das polticas sociais. As
consequncias desses processos para o trabalho social nas polticas
pblicas so profundas, pois a terceirizao desconfigura o significado
e a am plitude do trabalho tcnico realizado pelos assistentes
sociais e demais trabalha dores sociais, desloca as relaes entre a
populao, suas formas de representa o e a gesto governamental, pela
intermediao de empresas e organizaes contratadas. Alm disso, as aes
desenvolvidas passam a ser subordinadas a prazos contratuais e aos
recursos financeiros destinados para esse fim, impli cando
descontinuidades, rompimento de vnculos com usurios, descrdito da
populao para com as aes pblicas. O que ainda mais grave nesse
contexto de terceirizao dos Servios Sociais pblicos que se trata de
um mecanismo que opera a ciso entre servi o e direito, pois o que
preside o trabalho no a lgica pblica, obscurecendose a
responsabilidade do Estado perante seus cidados, comprimindo ainda
mais as possibilidades de inscrever as aes pblicas no campo do
direito. Consoli dase assim o que Vieira (1997) denominou de
poltica social sem direitos sociais, uma espcie de nova morfologia
da poltica social. Portanto, a partir dos anos 1990 e adentrando a
primeira dcada dos anos 2000, o campo das polticas pblicas e a luta
por direitos ficaram muito mais complexos, especialmente se
considerarmos que, apesar de todos os desmontes e desmanches que tm
atingido a esfera estatal, o Estado permanece sendo a forma mais
efetiva de operar a universalizao dos direitos, mesmo em socie
dades capitalistas perifricas e financeirizadas como a brasileira.
8. Mesmo diante de uma conjuntura adversa aos direitos do trabalho
e aos trabalhadores, os assistentes sociais conseguiram uma
significativa vitria com a recente aprovao pelo Senado Federal do
PLC n. 152/2008, sancionado pelo presidente Lula no dia 26 de
agosto de 2010, que implanta a jornada de trabalho de trinta horas
sem reduo salarial. A partir de agora a luta, que ser rdua, pela
implementao da lei fazendo valer este direito para todos(as) os(as)
assistentes sociais do pas em todos os municpios da federao.
11. 760 Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772,
out./dez. 2010 O trabalho do assistente social no Suas ampliao,
intensificao e precarizao Como tem sido amplamente analisado, a
poltica de assistncia social, desde que foi incorporada ao trip da
Seguridade Social nos marcos da Cons tituio Federal de 1988,
juntamente com a Sade e a Previdncia Social, vem experimentando um
continuado e expressivo movimento reformador, desenca deado com a
Loas/1993, com grande inflexo a partir da PNAS/2004 e da
NOBSuas/2005. Esse novo marco regulatrio introduziu significativas
altera es, entre elas a exigncia de novos modos de organizao,
processamento, produo e gesto do trabalho. A questo do trabalho e
dos trabalhadores no Suas um dos grandes de safios a ser
enfrentado, se o objetivo for a implementao da poltica de assis
tncia social voltada para o atendimento de necessidades sociais e
comprome tida com a ampliao e a consolidao de direitos das classes
subalternas. Se este um desafio para toda a administrao pblica
brasileira, em fun o das questes que atingem o mundo do trabalho, o
Estado e as polticas pblicas na contemporaneidade, inegavelmente
assume caractersticas espec ficas na assistncia social, pelo seu
histrico de desprofissionalizao e de atuao com base em estruturas
improvisadas e descontnuas, do qual so ex presses emblemticas a
cultura autoritria, patrimonialista e clientelista e o
primeirodamismo persistente e (re)atualizado nesta rea, indicando
possivel mente a adoo de novas estratgias de (re)legitimao desse
instituto.9 Acres centese a isso a realidade da maioria dos
municpios brasileiros que, sendo de pequeno porte, contam com
frgeis estruturas institucionais de gesto, rotinas tcnicas e
administrativas incipientes e recursos humanos reduzidos e pouco
qualificados. 9.Apesquisa Perfil dos municpios brasileiros
suplemento de assistncia social, Munic/IBGE (2010), recmpublicada,
apresenta dados significativos sobre a persistncia dessa cultura
patrimonialista na assis tncia social. Dentre os municpios que
declararam ter rgo gestor da assistncia social, 1.352 responderam
que a poltica de assistncia social naqueles municpios era conduzida
pela primeiradama, num total de 24,3% dos municpios brasileiros.
Chama a ateno ainda o movimento de primeirasdamas em busca de
qualificao universitria: 47,4% destas gestoras possuam o ensino
superior completo e/ou psgraduao, com maior incidncia nas seguintes
formaes: 45 assistentes sociais, 194 pedagogas, 42 advogadas, 43
administradoras e 257 com formaes variadas no discriminadas no
questionrio.
12. 761Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez.
2010 Do ponto de vista da constituio dos quadros profissionais do
Suas, destacase ainda o universo heterogneo de trabalhadores,
compostos por ser vidores e trabalhadores da esfera estatal nos trs
nveis de governo, e pela ex tensa rede privada de entidades de
assistncia social, com uma diversidade de reas de formao, acmulo
tericoprtico, vnculos e condies de trabalho. Tais quadros se
disseminam com grande discrepncia pela realidade heterog nea de
estados e municpios, sendo frequente a existncia de um nmero mni mo
e insuficiente de profissionais, em geral com grandes defasagens
tericas e tcnicas, atuando simultaneamente em diferentes polticas e
programas, e at mesmo em vrios municpios limtrofes.10 Por ser uma
rea de prestao de servios cuja mediao principal o prprio
profissional (Sposati, 2006), o trabalho da assistncia social est
estra tegicamente apoiado no conhecimento e na formao terica,
tcnica e poltica do seu quadro de pessoal, e nas condies
institucionais de que dispe para efetivar sua interveno.11 A
implantao do Suas exige novas formas de regulao, organizao e gesto
do trabalho e, certamente, a ampliao do nmero de trabalhadores com
estabilidade funcional condio essencial, ao lado de processos conti
nuados de formao e qualificao, a partir do ingresso via concurso
pblico, definio de cargos e carreiras e de processos de avaliao e
progresso, ca racterizao de perfis das equipes e dos servios, alm
de remunerao com patvel e segurana no trabalho. Nesses termos, a
Norma Operacional Bsica de Recursos Humanos do Sistema nico
deAssistncia Social (NOBRH/Suas), instituda pela Resoluo CNAS n.
269, de 13 de dezembro de 2006, representou um ganho poltico
significativo na pactuao federativa entre gestores da poltica de
assistncia social e na luta dos seus trabalhadores por condies
materiais, tcnicas e ticas de trabalho nos rgos gestores, nos Cras
e Creas e nas entidades de assistncia 10. Dados da pesquisa
Munic/IBGE (2010) sobre qualificao dos tcnicos de nvel superior
apontam que dos 3.376 (58,9%) gestores com superior completo e/ou
psgraduao, 29,6% eram assistentes sociais, 21,7% pedagogos, 26,7%
tinham outra formao no discriminada no questionrio, e 22% estavam
assim distribudos: 6,9% entre terapeutas ocupacionais, psiclogos,
mdicos enfermeiros ou nutricionistas; e 15% entre socilogos,
advogados, jornalistas, administradores, economistas e
contabilistas. 11. Referimonos aqui especificamente ao trabalho de
profissional de nvel universitrio, sem desco nhecer o grande e
crescente contingente de trabalhadores de nvel mdio que atuam no
Suas em diferentes cargos e atividades, muitas vezes substituindo o
trabalho especializado de profissionais.
13. 762 Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772,
out./dez. 2010 social vinculadas ao Suas, consideradas as
resistncias e dificuldades polticas que tiveram que ser aparadas
para viabilizar sua aprovao. Mesmo distante das requisies exigidas
em termos de recursos humanos e de condies materiais para o
funcionamento adequado do Suas, a NOBRH/ Suas foi resultado da
correlao de foras polticas presentes nos processos de negociao e
pactuao que levaram sua aprovao.Apesar disso, permanece ainda o
grande desafio de sua efetivao na maioria dos estados e municpios
brasileiros, que apresenta por parte dos gestores, prefeitos e
secretrios de go verno bastante resistncia, alm de desconhecimento
da NOB/Suas/RH e das exigncias para sua implementao.12 A NOBRH/Suas
prev a formao de equipes de referncia, que devem ser constitudas
por servidores efetivos responsveis pela organizao e oferta de
servios, programas, projetos e benefcios de proteo social bsica e
espe cial, levandose em considerao o nmero de famlias e indivduos
referencia dos por porte dos municpios, tipo de atendimento e
aquisies e direitos que devem ser garantidos aos usurios. Dados da
Munic/IBGE (2006) revelavam que 25% dos trabalhadores da rea de
assistncia social nas administraes municipais de todo o pas no
possuam vnculos permanentes, sendo 20% comissionados e apenas 38%
es tatutrios. Mais reveladores ainda foram os dados de 2007
extrados da ficha de monitoramento dos Cras (MDS, 2008, p. 30,
Tabela 11), que revelavam que 48,8% dos trabalhadores dos Cras no
tinham vnculos permanentes, sendo 25,8% estatutrios, 13,5% CLT e
12% comissionados. Comparandose esses dados com os apresentados
pela MunicIBGE (2010), verificamos que apesar da elevao em 30,7% do
total de pessoas ocupadas na administrao municipal da assistncia
social em todo o pas, no perodo 200509 a poltica de assistncia
social continuava sendo responsvel por apenas 3,2% de todo o
pessoal ocupado nas administraes pblicas municipais. 12. importante
que se afirme que o Suas ainda no se transformou em lei no pas, o
que confere a este sistema nico grande fragilidade poltica em
termos de enraizamento estatal e garantia de permanncia,
considerando o trao de descontinuidade e personalismo que
caracteriza as polticas pblicas no Brasil. O PL Suas em tramitao no
Congresso Nacional apresenta um dispositivo estratgico para avanar
no cum primento da NOBRH, quando define em um dos seus artigos a
possibilidade de repasse de recursos do Fundo Nacional de
Assistncia Social para financiar a contratao de trabalhadores da
assistncia social pelos municpios brasileiros, desde que
concursados e efetivados como servidores pblicos municipais.
14. 763Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez.
2010 Contudo, mais revelador da tendncia atual de precarizao do
trabalho assalariado no Suas so os dados relativos estrutura
trabalhista por vnculo empregatcio: apesar de no serem
identificadas grandes mudanas em relao aos dados de 2005 (a maioria
continua sendo composta por servidores estatu trios), a maior
elevao foi detectada entre os trabalhadores sem vnculo permanente,
que em 2005 totalizavam 34.057 pessoas, ampliando para 60.514 em
2010, ou seja, um aumento de 73,1%; tambm o grupo de celetistas
sofreu um decrscimo de 12,8% em 2005 para 8,5% em 2009. Portanto,
uma questo relevante a ser destacada quando se problematiza a
situao do trabalho e dos trabalhadores na assistncia social que no
se trata apenas de questes relacionadas gesto do trabalho, mas
fundamental mente dos modos de organizao do trabalho na sociedade
capitalista contem pornea, e das condies concretas em que se
realiza, particularmente nas po lticas sociais, que, como a
assistncia social, tiveram um grande crescimento nesses ltimos
anos. Nesse contexto preciso observar tambm que a reforma
neoliberal do Estado brasileiro implantada no governo FHC trouxe
com ela intensa campanha ideolgica de desconstruo do Estado e de
tudo que estatal, acompanhada da satanizao do Estado e
supervalorizao do mercado e de tudo que privado nos mbitos federal,
estadual e municipal, atingindo duramente as condies e relaes de
trabalho nos espaos governamentais. A ambincia neoliberal afetou
tambm a imagem do servidor pblico e as representaes sociais junto
populao e opinio pblica, instalandose um clima desfavorvel
recomposio e expanso da fora de trabalho na admi nistrao pblica,
embora nesse ltimos anos seja possvel observar certo avano nessa
direo, especialmente em nvel federal. Basta verificar como os
jornais de grande circulao veiculam a realizao de concursos pblicos
e a ampliao da contratao de funcionrios pblicos em qualquer esfera
da administrao pblica: termos como inchao da mqui na, cabide de
emprego, ampliao do dficit pblico, aumento da ineficincia etc. so
comuns nas manchetes desses veculos de comunicao, que, simult nea e
contraditoriamente, cobram do Estado mais e melhores servios
pblicos. Segundo anlise de Amir Khair (2010): O que est por trs
desta viso que o Estado um mau aplicador de recursos ao contrrio do
setor privado. Assim, quanto menor a despesa com o Estado,
mais
15. 764 Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772,
out./dez. 2010 recursos sobraro para o setor privado desenvolver
suas atividades. uma pol tica minimalista do Estado, no apenas em
seu tamanho, mas tambm em sua interferncia na vida econmica das
empresas. A questo que se apresenta : como responder ampliao da
demanda por polticas sociais sem a existncia de servidores pblicos
em nmero e qua lificao exigidos para a prestao de servios de
qualidade enquanto direitos de cidadania das classes trabalhadoras?
Em funo desse quadro, a anlise das condies de trabalho e das possi
bilidades de sua ampliao e qualificao no mbito do Suas no pode ser
desvinculada dessa dinmica macrossocietria, nem pode ser tratada
como uma responsabilidade individual do trabalhador, embora seja
comum atribuir ao prprio profissional a tarefa de sua qualificao,
ampliando a competio entre os prprios trabalhadores que atuam nas
diferentes polticas pblicas. A assistncia social um setor intensivo
de fora de trabalho humana, como j observamos, o que representa um
desafio para a criao de condies adequadas de trabalho e de sua
gesto institucional. Considerando as definies da NOBSuasRH, as
equipes de referncia para os Cras e os Creas envolvem um conjunto
diversificado de profisses, atribuies e competncias, instalan dose
nova diviso sociotcnica do trabalho no mbito do Suas. Tratase de um
processo de grande complexidade, pois cada uma das ca tegorias
profissionais envolvidas tem uma histria particular de organizao e
de luta corporativa e sindical, com acmulos e reivindicaes
especficas no que tange s condies de exerccio do trabalho, aos
conhecimentos e saberes construdos, aos parmetros ticopolticos
orientadores do trabalho profissional. Nessa perspectiva, preciso
considerar a tica do trabalho coletivo no Suas: o trabalho nos Cras
e Creas como trabalho social e combinado; orientado por projetos
profissionais que podem convergir mas tambm se contrapor; que
incorpora o acmulo e as contribuies das diferentes profisses; mas
que deve assimilar criticamente os conhecimentos e aportes da
quelas que, como o Servio Social, vem assumindo protagonismo
histrico na elaborao de conhecimentos tericos, tcnicos e polticos
que subsidiam os avanos da assistncia social no pas.
16. 765Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez.
2010 Isto pe em debate a direo poltica do trabalho e a qualidade
dos servi os socioassistenciais, na construo de processos
interventivos que promovam protagonismos, particularmente dos
usurios, para o fortalecimento da cultura democrtica e de direitos.
Assim sendo, fundamental no mbito do Suas superar a cultura
histrica do pragmatismo e das aes improvisadas, exercitando a
capacidade de leitura crtica da realidade, sem reforar naturalizaes
e criminalizaes da pobreza e das variadas formas de violncia
domstica e urbana, violao de direitos de crianas, adolescentes,
mulheres, idosos, pessoas com deficincia, pessoas em situao de rua
etc., mas procurando compreender criticamente os processos sociais
de sua produo e reproduo na sociedade brasileira. preciso, pois,
fazer a crtica e resistir ao mero produtivismo quantitativo, medido
pelo de reunies, nmero de visitas domiciliares, de atendimentos,
sem ter clareza do sentido e da direo social ticopoltica do
trabalho coletivo. Por isso a luta pela garantia da qualificao e da
capacitao continuadas, por espaos coletivos de estudo e de reflexo
sobre o trabalho, de debate sobre as concepes que orientam as
prticas, parte da luta pela melhoria das con dies de trabalho e da
qualidade dos servios prestados populao. No caso da assistncia
social, as questes que envolvem as condies, relaes e organizao do
trabalho ganham maior complexidade quando con sideramos que grande
parte dos servios, programas e projetos prestada por entidades de
assistncia social privadas que integram a rede socioassistencial
nos territrios de abrangncia dos Cras e Creas. Muitas dessas
entidades no realizaram ainda o reordenamento institucio nal
exigido pelo Suas, inclusive em relao ao quadro de profissionais e
condi es de trabalho, resistindo ainda aos mecanismos de controle
social e pblico. E as diretrizes e definies da NOBSuasRH se
concentram majoritariamente nas instituies pblicas, deixando em
segundo plano e a descoberto as exign cias que devem ser cumpridas
pela ampla rede de servios socioassistenciais privados. Para
integrar um sistema pblico estatal de assistncia social, essas enti
dades e organizaes sociais devem ser submetidas aos mesmos
princpios e diretrizes que orientam o Suas, considerando o acesso
ao fundo pblico para financiar atividades de assistncia social por
ela desenvolvidas (por meio de convnios e repasses diretos de
recursos), e tambm as imunidades e isenes
17. 766 Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772,
out./dez. 2010 fiscais das entidades beneficentes que acessam o
Certificado de Entidade Be neficente de Assistncia Social Cebas,
recentemente regulado. Os riscos presentes na implantao do Suas em
efetivao em todo o pas so apontados por Silveira (2009, p. 343): As
fragilidades presentes na gesto e na participao em mbito local
reforam limitaes que so constitutivas dos processos
descentralizadores, revelando a tendncia aos arranjos
institucionais que podem banalizar o prprio Suas. H uma tendncia
dos municpios e estados cumprirem requisitos mnimos para manter o
financiamento sem necessariamente expressar qualidade na estruturao
da rede socioassistencial e das condies institucionais de gesto o
que inclui o trabalho precrio dos profissionais. A NOBRH/Suas avana
no enfrentamento dessa realidade quando define mecanismos de
profissionalizao e publicizao da assistncia social, orien tando
procedimentos para composio de equipes bsicas de referncia para
Cras e Creas, definindo diretrizes para a qualificao de recursos
humanos e a ampliao da capacidade de gesto dos seus operadores. H
tambm algumas diretrizes para a rede socioassistencial privada, no
sentido da valorizao dos seus trabalhadores, da capacitao tcnica em
con sonncia com a PNAS, de tratamento salarial isonmico entre
trabalhadores da rede pblica e das entidades prestadoras de servio
assistenciais, mas ainda muito fluidas para garantir condies
concretas de trabalho comuns rede so cioassistencial, que deve ser
nica e integrada. Nessa perspectiva, h um longo caminho a ser
percorrido. O que est em questo, portanto, a ressignificao do
trabalho na assis tncia social, referenciada em um projeto coletivo
de redefinio do trabalho, das formas de organizao e gesto
institucional que incorporem mecanismos permanentes de
democratizao, qualificao e capacitao continuada, como questo
estratgica para a valorizao da interveno profissional no Suas.
Quanto mais qualificados os servidores e trabalhadores da
assistncia social, menos sujeitos a manipulao e mais preparados
para enfrentar os jogos de presso poltica e de cooptao nos espaos
institucionais, conferindo qua lidade e consistncia ao trabalho
realizado. Ao mesmo tempo, preciso discutir as estratgias de
organizao coletiva frente aos processos de precarizao do trabalho,
no contexto do conjunto dos
18. 767Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez.
2010 trabalhadores da seguridade social e das polticas sociais em
geral. Embora a perspectiva neoliberal se utilize de inmeros
mecanismos para dividir o con junto dos trabalhadores e suas
entidades coletivas, por meio da ao coletiva que so criadas condies
concretas para a melhoria das condies de trabalho: Outra questo
importante a ser analisada a crescente informatizao do trabalho, em
todos os mbitos em que ele se desenvolve, sendo hoje uma con dio
essencial para a organizao e a gesto do trabalho no Suas e nas pol
ticas sociais. No caso do setor pblico, a exemplo do setor privado,
as mudanas tec nolgicas tambm esto sendo profundas em todos os
nveis. O computador o equipamento emblemtico que sintetiza a
transformao do aparato de recur sos e sistemas. Sem desconsiderar
sua importncia e indispensabilidade na realidade atual, preciso
indagar: qual o seu efeito sobre o trabalho dos ser vidores
pblicos? Pesquisas junto s empresas e ao setor privado realizadas
por Dal Rosso (2008) concluram que as tecnologias de informao
intensificam os processos de trabalho, produzem um efeito mais
controlador sobre o trabalho, organizam e encadeiam as tarefas de
modo que desapaream os tempos mortos, quantifi cam as tarefas
realizadas e permitem a avaliao fiscalizatria do desempenho, entre
outros. Esse mesmo autor observa que embora nas entrevistas
realizadas com servidores pblicos do Distrito Federal prevalea o
entendimento de que os dispositivos eletrnicos aliviaram o
trabalho, que o desgaste fsico menor, que a tecnologia ajudou muito
porque antes era tudo feito manualmente, suas reflexes revelam que
algumas formas de intensificao do trabalho vo sendo incorporadas
gradativamente ao servio pblico e talvez no estejam ainda
claramente perceptveis para o conjunto de servidores. Segundo Dal
Rosso (2008, p. 188), essas formas de intensificao se re ferem mais
ao ritmo e velocidade do trabalho, s cobranas e s exigncias, ao
volume de tarefas, s caractersticas do trabalho intelectual
demandante, ao peso da responsabilidade. E o autor constatou que
tambm na esfera estatal est em plena construo a ideologia da
gerncia e da qualidade total, do erro zero, do trabalho a tempo
justo, da eficincia das metas e dos resultados. Por isso, por mais
que seja imprescindvel a incorporao das novas tec nologias de
informao no trabalho das polticas sociais, preciso analisar
mais
19. 768 Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772,
out./dez. 2010 profundamente os impactos dessa revoluo tecnolgica
na interveno profis sional e na relao dos assistentes sociais com
os usurios e a populao, e como isto vai incidindo nas representaes
dos usurios e na conscincia e formas de subjetivao dos
profissionais. Sobre esta questo, so interessantes as observaes de
rsula Huws (2009), importante pesquisadora inglesa em um texto que
analisa o impacto das mudanas tecnolgicas nos processos de trabalho
social: Trabalhadores sociais, por exemplo, podem verse preenchendo
formulrios padres numa tela de computador em vez de redigilos no
papel ou de entregar relatrios mais nuanados e profissionalmente
qualificados para seus clientes; professores podem verse
administrando testes padres; [...] jornalistas de internet podem
ser obrigados a escrever em apertados modelos predefinidos; e
arquitetos podem ser reduzidos tarefa de recombinar componentes
padres. (Huws, 2009, p. 47) Consideraes finais Apesar dos limites e
desafios aqui pontuados, a implantao do Suas em todo o territrio
nacional abre um campo de novas possibilidades, tensas e
contraditrias, ao trabalho profissional dos assistentes sociais: 1.
A existncia dos Cras e dos Creas como unidades pblicas estatais
cria oportunidade indita de qualificao e articulao dos servios,
programas, projetos e benefcios voltados para o atendimento das
necessidades sociais e direitos da populao nos seus territrios de
abrangncia. a presena do Es tado nos territrios de moradia da
populao com direito de acesso a servios e programas sociais pblicos
e de qualidade. 2. Ao mesmo tempo, a implantao do Suas evidencia os
limites do traba lho assalariado dos assistentes sociais no campo
das polticas pblicas, exigin do estratgias polticas coletivas para
o enfrentamento dos constrangimentos a que so submetidos na relao
com os empregadores e dirigentes institucionais. 3. Os avanos do
Servio Social brasileiro e a direo ticopoltica da profisso recusam,
contudo, a adoo de abordagens conservadoras, autoritrias ou
disciplinadoras, que individualizam, moralizam ou
patologizam/terapeutizam a questo social, culpabilizando ou
criminalizando as famlias e indivduos pela sua condio de
pobreza.
20. 769Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772, out./dez.
2010 4. Os assistentes sociais, com base em sua autonomia
profissional, ainda que relativa, e tendo em vista prerrogativas
legais, ticas e tcnicas, esto sen do desafiados a inovar e ousar na
construo de estratgias profissionais que priorizem as abordagens
coletivas e a participao dos usurios da assistncia social, no
sentido de reverter relaes autoritrias e tuteladoras que subalterni
zam a populao. 5.Aconsolidao do Suas exige novas formas de
organizao do trabalho, e certamente a ampliao do nmero de
trabalhadores condio essencial, ao lado de processos continuados de
capacitao, realizao de concursos pblicos de ingresso, plano de
cargos, carreira e salrios, entre outros. Para isso, a luta pela
efetiva concretizao da NOBRH/Suas requisito importante a mobilizar
os trabalhadores. 6. Por ltimo, mas no menos importante, o Suas, na
contramo do movi mento societrio nacional e internacional, supe um
Estado que recupere a capacidade de direo poltica e reconstrua as
bases de legitimidade social junto populao, recusandose, portanto,
qualquer padro minimalista para seu funcionamento, o que exclui a
possibilidade de ampliao de servios sociais pblicos em detrimento
da precarizao do trabalho e da terceirizao/privati zao dos servios
pblicos e dos seus operadores. Para concluir, necessrio ressaltar
as relaes entre Servio Social e poltica pblica, entendendose que as
polticas sociais so mediaes funda mentais da profissionalizao do
Servio Social, no entanto no se confundem com ela: preciso
reafirmar as diferenas entre Servio Social como profisso e poltica
pblica como responsabilidade do Estado e dos governos. No caso da
assistncia social, embora seja uma mediao persistente que remonta s
origens da profisso, o Servio Social no pode ser confundido com a
assistncia social nem ser restringido a esse campo de interveno
profissional. Essa compreenso de fundamental importncia para evitar
o que Maril da Iamamoto (2007) identifica, com propriedade, como
relao mimtica entre polticas sociais e Servio Social, diluindo e
obscurecendo a visibilidade das particularidades das aes
profissionais no mbito dessas polticas. Este mimetismo traz srias
consequncias para o reconhecimento da iden tidade profissional e
das particularidades da rea de Servio Social como cam po de produo
de conhecimentos. Nesses termos, imperioso recuperar a centralidade
de estudos e pesquisas que possam apreender o trabalho
profissio
21. 770 Serv. Soc. Soc., So Paulo, n. 104, p. 750-772,
out./dez. 2010 nal em suas mltiplas inseres, relaes e alternativas
no cenrio atual, no contexto das transformaes que se processam na
esfera do trabalho de produ o de bens e servios sociais, nos mbitos
pblico e privado. Finalizamos ressaltando que na contracorrente do
institudo que a cate goria dos assistentes sociais vem construindo
uma histria de lutas e de resis tncia, apostando no futuro, mas
entendendo que ele se constri agora, no tempo presente. Artigo
recebido em ago./2010 n Aprovado em set./2010 Referncias
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