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07/06/22 Prof. Jorge Freire Póvoas 1 Aristóteles

Introdução à Filosofia - Aristóteles

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Professor: Jorge Freire Póvoas - Introdução à Filosofia 6

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10/04/23 Prof. Jorge Freire Póvoas 1

Aristóteles

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O Pensamento de Aristóteles Aristóteles (384-322 a.C.) nasceu em Estagira e aos dezoito anos vai para Atenas o grande centro intelectual e artístico da Grécia.

Como muitos outros, vem atraído pela intensa vida cultural da cidade que lhe acenava com oportunidades para prosseguir seus estudos.

Não era belo e para os padrões vigentes no mundo grego, principalmente na Atenas daquele tempo, apresentava características que poderiam dificultar-lhe a carreira e a projeção social.

Em particular uma certa dificuldade em pronunciar corretamente as palavras, deveria criar-lhe embaraços e mesmo complexos numa sociedade que além de valorizar a beleza física e enaltecer os atletas, admirava a eloquência e deixava-se conduzir por oradores.

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O Pensamento de Aristóteles Naquela época duas grandes instituições educacionais disputavam em Atenas a preferência dos jovens, que através de estudos superiores, pretendiam se preparar para exercer com êxito suas prerrogativas de cidadãos e ascender na vida pública.

De um lado, Isócrates, seguindo a trilha dos sofistas, propunha-se a desenvolver no educando a Aretê Política - ou seja, a “virtude”, capacitação para lidar com os assuntos relativos à pólis, transmitindo-lhe a arte de “emitir opiniões prováveis sobre coisas úteis”.

E de fato, numa Democracia como a ateniense, cujos destinos dependiam em grande parte da atuação de oradores, a arte de persuasão por meio da palavra manipulada com o brilho e a eficácia dos recursos retóricos era fator imprescindível para o desempenho de um papel relevante na Cidade-Estado.

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O Pensamento de Aristóteles Platão ensinava na sua Academia que a atividade humana desde que pretendesse ser correta e responsável, não poderia ser norteada por valores instáveis, formulados segundo a diversidade das opiniões, requeria uma Ciência (episteme) dos fundamentos da realidade na qual aquela ação estaria inserida.

Por trás do inseguro universo das palavras sujeitas à arte encantatória dos retóricos o educando deveria ser levado, por via do socrático exame do significado das palavras à contemplação e ao ápice da ascensão dialética, das essências estáveis, que é a razão de ser das próprias coisas e modelos de todos os existentes do mundo físico.

Para além do plano da palavra-convenção dos sofistas e de Isócrates, Platão apontava um ideal de linguagem construída em função das ideias, essas justas medidas de significação e de realidade.

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O Pensamento de Aristóteles Diante dos dois caminhos o de Isócrates e o de Platão o Aristóteles não hesita e ingressa na Academia, que viria a frequentar durante cerca de vinte anos.

Em 347 a.C, com a morte de Platão, Aristóteles deixa Atenas e em 343 a.C, Filipe, rei da Macedônia convida Aristóteles para uma importante missão a de educar seu filho, Alexandre. Durante anos o filósofo, encarrega-se dessa missão e ainda preceptor de Alexandre em 338 a.C acompanha os Macedônios derrotarem os Gregos chegando ao fim a autonomia das Cidades-Estados que caracterizara a Grécia. Em 336 a.C, Filipe é assassinado e Alexandre sobe ao trono, então Aristóteles volta para Atenas onde funda uma escola, o Liceu, que passou a rivalizar com a Academia então dirigida por Xenócrates.

Do hábito que tinham os estudantes de realizar seus debates enquanto passeavam, teria surgido o termo Peripatéticos (que significa “os que passeiam”) para designar os discípulos de Aristóteles.

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O Pensamento de Aristóteles Apesar da estima que Alexandre tinha ao seu antigo mestre, uma barreira os distanciava: Aristóteles não concordava com a fusão da civilização grega com a oriental, pois os gregos e orientais eram naturezas distintas, com distintas potencialidades e não deveriam coexistir sob o mesmo regime político.

Aristóteles estava convencido de que o regime político dos gregos era inseparável de seu temperamento, sendo impossível transferi-lo para outros povos. Assim, estabelece nítida distinção entre as populações “bárbaras” e a polis grega, somente esta sendo uma comunidade perfeita, pois a única a permitir ao homem uma vida verdadeiramente boa segundo os princípios morais e a justiça.

Depois da morte de Alexandre, em 323 a.C, Aristóteles passou a ser hostilizado pela facção antimacedônica, que o considerava politicamente suspeito. Acusado de impiedade, deixou Atenas e refugiou-se em Cálcis, na Eubéia. Aí morreu no ano de 322 a.C.

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O Pensamento de Aristóteles

A compreensão dos fenômenos que ocorrem no mundo físico depende de uma hipótese para Platão: a existência de um plano superior da realidade, atingido apenas pelo intelecto e constituído de formas ou idéias.

Através da dialética seria possível ascender do mundo físico (apreendido pelos sentidos) e a contemplação dos modelos ideais (objetos da verdadeira Ciência).

Mas, Aristóteles discorda e retomando a problemática do conhecimento se preocupa em definir a Ciência como conhecimento verdadeiro, conhecimento capaz de superar os enganos da opinião e de compreender a natureza do Devir.

Ao analisar a oposição entre o mundo Sensível e o Inteligível segundo a tradição de Platão, inspirado em Heráclito e Parmênides, Aristóteles recusa as soluções apresentadas e critica o mundo “separado” das idéias platônicas.

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O Pensamento de Aristóteles Aristóteles tinha percebido que a dialética platônica entre mundo Sensível e Inteligível não poderia lhe garantir aprofundar o entendimento da Ciência então parte para um projeto de forjar um instrumento mais seguro para a constituição da Ciência.

O Organon que é também um tratado sobre Lógica e que significa “instrumento” ou “ferramenta” porque os Peripatéticos consideravam que a Lógica era um instrumento para o entendimento da Filosofia.

Para se atingir a certeza científica e construir um conjunto de conhecimentos seguros, torna-se necessário, possuir normas de pensamento que permitam demonstrações corretas e irretorquíveis.

O estabelecimento dessas normas confere a Aristóteles o papel de criador da Lógica Formal, que estabelece a forma correta das operações do pensamento. Se as regras forem aplicadas adequadamente assim o raciocínio é considerado válido e verdadeiro.

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O Pensamento de Aristóteles Vejamos o exemplo clássico da Lógica Formal que é um processo substancialmente Dedutivo de Silogismo, pois extrai verdades particulares (conclusão) de verdades universais (premissas). Logo, sua conclusão está contida nas premissas e retira daí sua validade.

Se todos os homens são mortais, e se Sócrates é homem, então Sócrates é mortal.

Como se vê, que “Sócrates é mortal” por consequência necessariamente de ter estabelecido que “todos os homens são mortais” e de “Sócrates é homem”, sendo “homem” o termo sobre o qual se apóia para concluir.

Silogismo é então um discurso (raciocínio) no qual, postos alguns dados (premissas) segue necessariamente algo por força deles, pelo simples fato de terem sido postos.

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O Pensamento de Aristóteles No entanto, a Lógica Formal não implica a verdade, pois nem sempre o que é correto é verdadeiro (Falácia). Exemplo:

Todos os homens são loiros. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é loiro.

Na Lógica Material a partir de dados singulares inferimos uma verdade universal (conclusão) que se evidencia da experiência sensível dos dados particulares.

O cobre é condutor de eletricidade, e o ouro, o ferro, o zinco e a prata também, logo, o metal (isto é todo metal) é condutor de eletricidade.

A Lógica Material investiga a adequação do raciocínio à realidade. De caráter Indutivo sua conclusão excede as premissas e tem probabilidade de ser correta

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O Pensamento de Aristóteles Aristóteles divide as Ciências em três grandes ramos do saber. São elas:

Ciências Teoréticas, que buscam o saber por si mesmo (Metafísica, Física [Psicologia] e a Matemática);

Ciências Práticas, que buscam o saber para alcançar através dele a perfeição moral (Ética e Política);

Ciências Poiéticas ou Produtivas, que buscam o saber em vista do fazer, isto é, com a finalidade de produzir determinados objetos, como a Retórica que é a arte de fazer discursos persuasivos e a Poética que é a arte de compor enredos ou narrativas como o drama, tragédia, comédia, poesia épica e lírica).

As mais elevadas por dignidade e valor são as primeiras, onde está incluída à Metafísica, que não é termo aristotélico (talvez tenha sido cunhado pelos Peripatéticos, se não nasceu por ocasião da edição das obras de Aristóteles feita por Andrônico de Rodes, no século 1 a.C.)

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O Pensamento de Aristóteles Aristóteles usava a expressão Filosofia primeira ou também Teologia em oposição à Filosofia segunda ou Física. Mas o termo Metafísica é mais significativo e assim ficou definitivamente consagrado.

A Metafísica aristotélica é a Ciência que se ocupa das realidades que estão acima das Físicas. Trata-se da parte nuclear da Filosofia, onde se estuda “o ser enquanto ser” isto é, o ser independentemente de suas determinações particulares. É a Metafísica que fornece a todas as outras Ciências o fundamento comum, o objeto ao qual todas se referem e os princípios dos quais dependem.

Todas as ciências se referem continuamente ao ser e a diversos conceitos ligados diretamente a ele, tais como: quantidade, oposição, diferença, gênero, espécie, todo, parte, perfeição, unidade, necessidade, possibilidade, realidade, etc. Mas, nenhuma Ciência examina tais conceitos e é nesse sentido que Aristóteles considera que o objeto da Metafísica consiste em examinar o ser e suas propriedades.

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O Pensamento de Aristóteles A Metafísica é definida por Aristóteles como a Ciência que indaga sobre:

As causas e os princípios primeiros ou supremos (e neste sentido chama-se Etiologia);

O ser enquanto ser (e portanto chama-se Ontologia);

A substância (chama-se Ousiologia, uma vez que em Grego Ousia significa substância);

Deus e a substância supra-sensível (Aristóteles a chama de Teologia).

Quando a Metafísica indaga sobre os princípios primeiros ou supremos, o ser enquanto ser, a substância e o supra-sensível, devem encontrar Deus, como Motor Imóvel e assim está posto o problema Teológico. Também em cima da ideia das causas e dos princípios primeiros ou supremos Aristóteles formulou a Teoria das Quatro Causas.

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O Pensamento de Aristóteles Em Aristóteles “causa” e “princípio” significam o que funda, o que condiciona, o que estrutura. As Causas são:

Causa Formal: Que confere a forma e portanto a natureza e a essência de cada realidade singular, por exemplo: a alma para os animais, a estrutura dos diferentes objetos de arte.

Causa Material: Aquilo de que é composto toda realidade sensível, de que é feita uma coisa, por exemplo: nos animais são a carne e os ossos, na esfera de bronze é o bronze, da taça de ouro é o ouro, da estátua de madeira é a madeira, da casa são os tijolos e cimento.

Causa Eficiente: Aquilo que produz geração, movimento ou transformação, por exemplo: os pais são a causa eficiente dos filhos, a vontade é a causa eficiente das várias ações do homem, o golpe que dou nessa bola é a causa eficiente do seu movimento.

Causa Final: Aquilo a que toda coisa tende. O fim de cada coisa. É o fim ou o escopo das coisas e das ações, ela constitui em função de que cada coisa é diz Aristóteles: é o bem de cada coisa.

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O Pensamento de Aristóteles Para Aristóteles o ser se diz em muitos sentidos, mas todos em referência a um único princípio, são eles:

O ser em si - Indica, não o que é por outro como o ser acidental, mas o que é por si, isto é, essencialmente. Como exemplo Aristóteles indica a substância.

O ser como ato e potência - Indica por exemplo, em ato uma estátua já esculpida e ao invés que é em potência o bloco de mármore que o artista está esculpindo.

O ser como verdade - É o contraposto ao significado do não-ser como falso. Este é o ser que podemos chamar “lógico” de fato, o ser como verdadeiro indica o ser do juízo verdadeiro, enquanto o não-ser como falso indica o ser do juízo falso. Esse é um ser puramente mental, é um ser que só subsiste na razão e na mente que pensa.

O ser como acidente - O ser se diz como acidental, por exemplo, quando dizemos que “o homem é músico”, o ser músico não exprime a essência do homem é apenas um puro acontecer, um mero acidente.

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O Pensamento de Aristóteles

Toda a estrutura teórica da filosofia aristotélica desemboca na Teologia. A descrição das relações entre as coisas leva ao reconhecimento da existência de um ser superior e necessário, ou seja, Deus.

Se as coisas são contingentes, já que não têm em si mesmas a razão de sua existência, é preciso concluir que são produzidas por causas a elas exteriores. Assim, todo ser contingente foi produzido por outro ser, que também é contingente e assim por diante. Para não ir ao infinito na seqüência de causas, é preciso admitir uma primeira causa, por sua vez incausada, um ser necessário (e não contingente).

Esse primeiro motor imóvel é também um puro ato (sem nenhuma potência). Chamamos Deus ao primeiro motor imóvel, ato puro, ser necessário, causa primeira de todo existente.

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O Pensamento de Aristóteles Dado que há um movimento eterno, para Aristóteles é necessário haver um princípio eterno que o produza e que esse princípio seja:

Eterno, se eterno é o que ele causa,

Imóvel, se a causa absolutamente primeira do móvel é o imóvel,

Ato puro, se é sempre em ato o movimento que ele causa.

Esse é o Motor imóvel, que não é senão a substância supra-sensível. Evidentemente, a causalidade do Primeiro Motor não é uma causalidade de tipo eficiente, do tipo daquela exercida pela mão que move um corpo, ou pelo pai que gera o filho. A causalidade do Motor imóvel é uma causalidade de tipo final.

Mas, que pensa Deus? Deus pensa o que há de mais excelente. Deus pensa a si mesmo. E atividade contemplativa de si mesmo, é pensamento de pensamento. É pura abstração.

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O Pensamento de Aristóteles A inteligência pensa a si mesma, captando-se como inteligível: de fato, ela se torna inteligível intuindo e pensando a si, de modo a coincidirem inteligência e inteligível.

A inteligência é, com efeito, o que é capaz de captar o inteligível e a substância, e é em ato quando os possui. Portanto, ainda mais do que aquela capacidade, essa posse é o que a inteligência tem de divino, e a atividade contemplativa é o que há de mais aprazível e mais excelente.

A Inteligência divina é o que há de mais excelente. Deus é eterno, imóvel, ato puro privado de potencialidade e de matéria.

Sendo assim, obviamente, Deus “não pode ter nenhuma grandeza”, mas deve ser “sem partes e indivisível”.

E deve também ser “impassível e inalterável”.

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O Pensamento de Aristóteles A Física ou segunda ciência teorética para Aristóteles ou ainda “filosofia segunda”, tem por objeto pesquisar a realidade sensível, caracterizada pelo movimento

A Metafísica tem por objeto a realidade supra-sensível que é caracterizada pela falta absoluta de movimento. Logo, a Física em Aristóteles trata da substância sensível (animada e inanimada) afetada pelo movimento. O ser ou é em ato ou é em potência, ou é, ao mesmo tempo, em ato e em potência.

Não existe nenhum movimento que esteja fora das coisas: de fato, a mudança tem lugar sempre segundo as categorias do ser e não há nada que seja comum a todas e que não entre numa única categoria por exemplo: na Substância ou essência do ser que se manifesta no homem.

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O Pensamento de Aristóteles Na sistematização aristotélica do saber, depois das ciências

teoréticas, em segundo lugar aparecem as ciências práticas. Estas são hierarquicamente inferiores às primeiras, enquanto nelas o saber não é mais fim para si mesmo em sentido absoluto, mas subordinado e em certo sentido servo da atividade prática.

Estas ciências práticas, de fato, dizem respeito à conduta dos homens, bem como ao fim que através dessa conduta eles querem alcançar, seja enquanto indivíduos, seja enquanto fazendo parte de uma sociedade, sobretudo da sociedade política.

Aristóteles chama em geral, “Política” (mas também “filosofia das coisas humanas”) a ciência da atividade moral dos homens, quer como indivíduos, quer como cidadãos. Em seguida subdivide a “Política” em Ética e em Política propriamente dita (Teoria do Estado).

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O Pensamento de Aristóteles Nessa subordinação da Ética à Política, incidiu clara e

determinantemente a doutrina platônica que entendia o homem unicamente como cidadão e punha a Cidade completamente acima da família e do homem individual: o indivíduo existia em função da Cidade e não a Cidade em função do indivíduo.

Sendo idêntico o bem para o indivíduo e para a cidade é mais importante defender o bem da cidade. É certo que o bem é desejável mesmo quando diz respeito só a uma pessoa, porém é mais belo e mais divino quando se refere a um povo e às cidades.

É verdade, porém, que na medida em que Aristóteles procede na sua Ética, a relação entre indivíduo e Estado corre o risco de inverter-se, “e no final da obra fala como se o Estado tivesse uma simples função subsidiária com relação à vida moral do indivíduo, fornecendo o elemento de compulsão para tornar os desejos dos homens submissos à razão”.

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O Pensamento de Aristóteles Nas suas várias ações, o homem tende sempre a precisos fins, que se

configuram como bens. Na Ética Nicomaquéia (Ética à Nicômaco) Aristóteles diz que toda arte e toda pesquisa e do mesmo modo, toda ação e todo projeto parecem visar a algum bem, por isso o bem foi definido como aquilo a que tendem todas as coisas.

Há fins e bens que nós queremos em vista de vários fins e que são fins e bens relativos, mas os que interessam a Aristóteles são os fins e os bens aos quais tende o homem para um fim último e de um bem supremo.

O fim das nossas ações que queremos é o bem supremo. Mas, qual é esse bem supremo? Aristóteles não tem dúvidas: todos os homens, sem distinção, consideram que tal bem é a felicidade. Quanto ao seu nome, a maioria está praticamente de acordo: felicidade o chamam, tanto o vulgo como as pessoas cultas, supondo que ser feliz consiste em viver bem e em ter sucessos.

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O Pensamento de Aristóteles Portanto, a felicidade é o fim ao qual conscientemente tendem todos

os homens. Mas que é a felicidade?

A multidão dos homens considera que a felicidade consiste no prazer e no gozo. Mas as pessoas mais evoluídas e mais cultas põem o bem supremo e a felicidade na honra.

E a honra buscam, sobretudo, aqueles que se dedicam ativamente à vida política. Contudo, este não pode ser o fim último que buscamos, porque, nota Aristóteles, é algo exterior.

A vida política parece depender mais de quem confere a honra do que de quem é honrado: nós, ao invés, consideramos que o bem é algo individualmente inalienável. Ademais, os homens buscam a honra não por ela mesma, mas como prova e reconhecimento público da sua bondade e virtude, as quais demonstram ser mais importantes que a honra.

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O Pensamento de Aristóteles Aristóteles diz ser inadequada a vida dedicado ao prazer e a esse

tipo de honras, mas rejeita a vida dedicado a acumular riquezas, pois a riqueza não é o bem que buscamos, ela só existe em vista do lucro e é um meio para outra coisa.

As virtudes Éticas permitem a vitória da razão sobre os impulsos, pois buscam a justa medida entre dois excessos (nada em demasia). Ao manifesta-se como hábitos elas fixam o fim do ato moral.

Já a Retórica estuda para Aristóteles as estruturas do pensar e do raciocinar que procedem não de elementos fundados cientificamente, mas da opinião que se mostra aceitável a todos ou à grande maioria dos homens.

Logo a Retórica estuda os procedimentos com os quais os homens aconselham, acusam, defendem-se, elogiam que em geral, não procedem de conhecimentos científicos, mas de opiniões prováveis.

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O Pensamento de Aristóteles A Retórica refere-se à estrutura da persuasão em geral, pois é

também verdade que os homens exercem as suas atividades de persuasão sobretudo nos tribunais (para acusar ou defender), nas assembléias (para aconselhar e fazer adotar determinadas deliberações) e em geral, para louvar ou lastimar (sobre o bem e o mal, sobre a virtude e o vício). Ora, tudo isso, como é evidente, tem a ver com a Ética e com a Política.

A Retórica é o correlativo equivalente da Dialética, se consideramos a seu procedimento formal. Ela é estritamente ligada à Ética e à Política (e, em parte, à Psicologia), se consideramos a sua esfera de aplicação.

Portanto, Aristóteles pode, corretamente, concluir que: A Retórica é como um ramo da Dialética e da ciência dos costumes, que se denomina, justamente, Política.

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O Pensamento de Aristóteles Na Retórica, Aristóteles distingue, os argumentos persuasivos não técnicos dos argumentos técnicos.

As argumentações não técnicas (o texto das leis, os testemunhos, as convenções, as declarações sob tortura, os juramentos) são dadas de antemão e não nos compete buscá-las (podemos servir-nos delas, sem ter necessidade de descobri-las), ao contrário, as argumentações técnicas são específicas do retórico e são de três espécies:

a) Refiram-se ao orador e visam dar-lhe credibilidade,

b) Tendem a dispor o ânimo do ouvinte a deixar-se convencer, apoiando-se sobre as emoções,

c) Visam à validez e eficácia da própria argumentação.

Eis como Aristóteles motiva essa distinção:

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O Pensamento de Aristóteles Três são as espécies de argumentações fornecidas pelo discurso:

Umas residem no caráter do orador e ocorrem quando o discurso é dito de maneira a tomar digno de fé o orador de fato. Mas é preciso que essa confiança venha do discurso e não de uma opinião pré-constituída sobre o caráter do orador.

Outras em dispor do ouvinte de determinada maneira e ocorrem quando estes são conduzidos pelo discurso a uma paixão. De fato, não pronunciamos um juízo da mesma maneira se estamos entristecidos ou contentes, ou em amizade ou em ódio.

No próprio discurso através da demonstração ou da aparência de demonstração e ocorrem quando mostramos o verdadeiro ou o verdadeiro aparente a partir do que cada argumento oferece de persuasivo.

Aristóteles, desenvolve o seu tratamento argumentativo em todas as três direções, destacando a terceira como a mais válida.

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O Pensamento de Aristóteles Com relação ao caráter do orador, Aristóteles observa que para ser digno de fé e persuasivo, um orador deve ser ou mostrar-se dotado dessas três qualidades:

Sabedoria - O justo meio-termo como a virtude da prudência;

Honestidade - Suscita a necessária confiança das pessoas como a sinceridade. 

Benevolência - Solidário, amável praticando o bem com generosidade, gentileza e simpatia.

De fato, os oradores podem errar ao falar sobre algo ou por falta de sabedoria ou porque mesmo sabendo o que seria oportuno falar, não falam por desonestidade ou porque não têm benevolência por aqueles com quem falam.

Os meios que permitam o orador mostrar-se com tais qualidades devem ser extraídos da Ética, à qual Aristóteles se remete para analise das emoções e das paixões que comumente se encontram nos ouvintes.

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O Pensamento de Aristóteles Conforme o estado de ânimo no qual se encontra o ouvinte, ele julga de modo diferente as mesmas coisas.

Por ser assim, um conhecimento da Psicologia das paixões que Platão punha como um dos fundamentos da verdadeira retórica e que é indispensável ao orador.

Esta é a parte da Retórica que se dedica não só à análise das paixões individuais, mas à descrição das características psíquicas das diferentes idades da vida humana (juventude, maturidade e velhice).

Até mesmo à determinação das diferentes disposições de ânimo ligadas às características provenientes dos diferentes bens de fortuna, ou seja, à determinação das diferentes psicologias dos ricos, dos nobres e dos poderosos, revela um conhecimento verdadeiramente surpreendente dos homens.

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O Pensamento de Aristóteles

Quanto ao autoritarismo platônico, Aristóteles faz duras criticas, considerando sua utopia impraticável. Também recusa sua Sofocracia por atribuir poder ilimitado a apenas uma parte do corpo social, os mais sábios, tornando a sociedade muito hierarquizada. Não aceita a proposta de dissolução da família nem considera que a justiça, virtude por excelência do cidadão, possa vir separada da amizade.

A reflexão aristotélica sobre a política não se separa da ética, pois a vida individual está ligada a vida comunitária. Se a finalidade da ação moral é a felicidade do individuo, também a política tem por fim organizar a cidade feliz.

Aristóteles considera que a justiça não pode vir separada da philia. Embora possa ser traduzida por “amizade” philia é um conceito mais amplo quando se refere à cidade. Significa a concordância entre as pessoas que tem ideias semelhantes e interesses comuns, donde resulta a camaradagem, o companheirismo.

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O Pensamento de Aristóteles

A amizade não se separa da justiça já que essas duas virtudes se relacionam e se complementam, fundamentando a unidade que deve existir na cidade.

Se a cidade é a associação de homens iguais, a justiça é o que garante o princípio da igualdade. Justo é o que se apodera de parte que lhe cabe, é o que distribui o que é devido a cada um.

É preciso lembrar que Aristóteles não se refere à igualdade simples mas à justiça distributiva, segundo a qual a distribuição justa é a que leva em conta o mérito das pessoas. Isso significa que não se pode dar o igual para desiguais, já que as pessoas são diferentes.

A justiça está intimamente ligada ao império da lei, pela qual se faz prevalecer a razão sobre as paixões cegas. Retomando a tradição grega, a lei é para Aristóteles o princípio que rege a ação dos cidadãos, é a expressão política da ordem natural.

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O Pensamento de Aristóteles

O fato de se morar na mesma cidade não torna seus habitantes igualmente cidadãos. São excluídos os escravos, os estrangeiros, as mulheres.

O que também não significa que todo homem livre, nascido na pólis, possa participar da administração da justiça ou ser membro da assembléia governante.

Para Aristóteles, é necessário ter qualidades que variam conforme as exigências da constituição aceita pela cidade.

De forma geral, Aristóteles concorda que o bom governante deve ter a virtude da prudência prática, pela qual será capaz de agir visando o bem comum. Trata-se de virtude difícil, que não se acha disponível a muitos.

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O Pensamento de Aristóteles

Por isso exclui da cidadania a classe dos comerciantes e trabalhadores braçais, porque a ocupação não lhes permite o tempo de ócio necessário para participar do governo e também por reforçar o desprezo que os antigos tinham pelo trabalho manual.

Esse tipo de atividade embrutece a alma e torna o indivíduo incapaz da prática de uma virtude esclarecida.

Para Aristóteles, os homens livres e concidadãos aprisionados em guerras não deveriam ser escravizados, mas o mesmo não acontece com os “bárbaros”, os não-gregos, por serem considerados inferiores e possuírem uma disposição natural para a escravidão.

Por isso seria legitimo o controle que o senhor exerce sobre o escravo, embora o tratamento não deva ser cruel, devendo mesmo ser estabelecidos laços afetivos.

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O Pensamento de Aristóteles

Formas de Governo Boas Corrompidas

UM Monarquia Tirania Poucos Aristocracia Oligarquia Muitos Politéia Democracia

Aristóteles usa o critério da quantidade, para distinguir a Monarquia (ou governo de um só), a Aristocracia (ou governo de um pequeno grupo) e a Politéia (ou governo da maioria). As formas podem ser consideradas boas, quando visam o interesse comum e corrompidas, quando têm como objetivo o interesse particular.

A tirania se refere ao governo de um só quando visa o interesse próprio; a Oligarquia prevalece quando vence o interesse dos mais ricos ou nobres; e a Democracia quando a maioria pobre governa em detrimento da minoria rica.

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O Pensamento de Aristóteles Aristóteles prefere a Politéia como forma correta e adequada ao exercício do poder, porque à constatação feita de que a tensão política sempre deriva da luta entre ricos e pobres e se um regime conseguir conciliar esses antagonismos, torna-se mais propício para assegurar a paz social.

Aristóteles retoma o critério já usado na Ética, o de que a virtude sempre está no meio-termo. É o justo meio termo como equilíbrio, como neutralidade política.

A teoria política grega está voltada para a busca dos parâmetros do bom governo. Platão e Aristóteles envolvem-se nas questões políticas do seu tempo e criticam os maus governos.

O que ambos concordam é que a ligação entre Ética e Política é evidente, na medida em que a questão do bom governo, do regime justo, da cidade boa, depende da virtude do bom governante.