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John T. Dunlop e o
Sistema de Relações Industriais
(SRI)
Prof. Marcelo ManzanoAula da disciplina “Empresas e Relações Industriais”.
Novembro de 2013
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Quem foi John T. Dunlop?(1914-2003)
Professor de Economia em Harvard
Arbitro em negociações trabalhistas;
Servidor público de alto escalão (de Roosevelt a Clinton),
Foi Secretário do Trabalho entre 1975 e 1976, quando se demitiu por discordar de lei que restringia os piquetes:
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“O país precisa adquirir uma compreensão
mais realista dos limites de realizar
mudança social por meio de coação legal.
O governo precisa dedicar uma grande
parte do sue tempo para melhorar a
compreensão, a persuasão, resolver
impasses e mediar informações.
Legislação, litígios e regulamentações
são meios úteis para alguns problemas
sociais e econômicos, mas hoje o governo
tem mais regulação no seu prato do que é
capaz de manejar.”
Trecho de artigo de Dunlop em que
manifestava os motivos de sua renúncia
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• Em 1954 lidera um ambicioso programa de pesquisa comparando os sistemas de relações de trabalho de 35 países (inclusive o Brasil):
– Nome da Pesquisa: “Estudo Interuniversitário dos Problemas do Trabalho no Desenvolvimento Econômico”
• Objetivo: analisar os impactos das industrizalições sobre a vida em sociedade.
• Foi a partir dessa pesquisa que ele retirou os elementos fundamentais para escrever sua grande obra, em 1958:
“Industrial Relations Systems” (SRI)
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O S.R.I. de Dunlop: “uma teoria geral das relações de trabalho”
• Objetivo:
“Oferecer ferramentas de análise para interpretar e entender o mais amplo leque de fatos e práticas nas relações de trabalho”
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No Brasil,
o conceito de SRI inaugura o
campo de pesquisa que,
chamamos de
“Teoria das Relações de Trabalho”
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O Sistema de Relações Industriais
• Conceito: – Conjunto de relações entre pessoas e instituições que
constitui um todo.
– O sistema é composto por:• Atores
– (agentes que interagem)
• Contextos – (tecnológico, estrutura dos mercados, poder na sociedade)
• Ideologia – (modo como cada ator entende seu papel e os demais)
• Normas– (Produto do sistema que governa as relações de trabalho)
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A dinâmica de produção da norma:
• Considerando que existe uma hierarquia interna a cada grupo de atores, a norma resultará da maneira como essa hierarquia constitui no contexto um conjunto de relações.
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Hierarquia dos atores (1):
• TRABALHADORES:
– Organizações complementares ou rivais:
• Sindicatos
• Associações
• Conselhos
• Organizações Políticas
• Clubes
• Grupos de interesse não formais.
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Hierarquia dos atores (2):
• Empregadores:– Podem ser públicos, privados ou mistos:
• Empregadores privados individuais;
• Empregadores de empresas familiares;
• Administradores de grandes empresas multinacionais;
• Corporações Públicas;
• Sindicato Patronal;
• Agências internacionais;
• Associações Setoriais;
• Conselhos;
• Organizações Políticas;
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Hierarquia dos atores (3):
• Agências Públicas (especializadas):– Podem ser estatais, empresariais ou trabalhistas:
• Arbitragem e Resolução de conflitos;
• Treinamento;
• Definição de salários;
• Saúde do trabalhador;
• Aposentadorias e pensões;
• Fiscalização;
• Pesquisas;
• A depender da amplitude e da profundidade de atuação das Agências elas podem anular o poder das outras hierarquias ou lagar a elas grande liberdade.
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O Contexto (1):
• Tecnológico:
– Características do local de trabalho/ das Operações
• Mobilidade,
• Segurança;
• Duração da jornada;
• Volume de trabalhadores;
• Intensidade (ritmo) do trabalho;
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O Contexto (2):
• Estrutura do Mercado (do produto): – Regime de concorrência (pura, oligopólio, monopólio;
– Dimensão (local, regional, nacional, internacional)
– Grau de exposição (protegido x exposto à concorrência)
– Grau de dependência financeira;
• Estrutura do Mercado (da força de trabalho):– Perfil dos trabalhadores (racial, etário, educacional,
religioso, cultural);
– Disponibilidade de trabalhadores;
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O Contexto (3):
• Distribuição do Poder
– Depende do prestígio, da legitimidade, da posição e da autoridade de cada ator.
– Pode ser determinado de fora (exôgeno) ou resultar das interação entre os atores (endôgeno);
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O Contexto (4):
• Ideologia:
– Conjunto de ideias e crenças compartilhados pelos atores.
– Estabelece o papel de cada ator e de sua posição relativa frente aos outros;
– Para que o SRI funcione, é necessário que haja convergência ideológica entre os atores.
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O Contexto (5):
• Teia de NORMAS:– Resultado da interação => “variável dependente”– Se expressam de modo variado:
• Obrigações formais regulamentadas;• Políticas das hierarquias dos administradores;• Regras implícitas na organização do trabalho; • Legislação do trabalho;• Decretos governamentais;• Decisões de tribunais, Jurisprudência;• Negociações coletivas;• Decisões de agências públicas;• Costume e tradição;
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Sobre as NORMAS:
– As normas se distinguem em:
• SUBSTANTIVAS– Remunerações;
– Deveres e Direitos;
– Performances;
• DE PROCEDIMENTO– Como aplicar/fazer cumprir as primeiras.
– Como decidir e arbitrar sobre sua aplicação ou não.
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OBS:
As “normas de procedimento” são um
produto das políticas públicas, da
história e da tradição. Se
resultam mais da legislação
estatal ou mais da negociação
entre as partes, constituirão
SRI’s muito distintos entre si.
Por que o SRI de Dunlop não é difundido no Brasil? (1)
• Nossa história de regulação pública desde 1930 não coaduna com a perspectiva de “construção das normas a partir das relações entre os atores”
– Nos anos 1960, quando a perspectiva de Dunlop se propaga, o Brasil já tinha a regulação do trabalho fortemente determinada pelo Estado, com a presença de uma justiça especializada e com controle da organizações patronais e trabalhistas.
– Além disso, os conflitos eram encaminhados para o arbítrio de magistrados, sem processos negociais.
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Por que o SRI de Dunlop não é difundido no Brasil? (2)
• Prevalece no Brasil a cultura de que o conflito nas relações de trabalho é negativo e deve ser evitado/eliminado pelo Estado (herança do positivismo?)
• Para Dunlop, o conflito é benigno e produtor da norma. Deve-se, portanto, evitar a tutela do Estado.
• Dunlop se insere entre os “economistas institucionalistas”, favorável à organização dos trabalhadores e do fortalecimento dos sindicatos.
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Por que o SIR de Dunlop não é difundido no Brasil? (3)
• Não havia diálogo entre as escolas de pensamento econômico predominantes no Brasil e a abordagem de Dunlop.– Neoclássicos (reduzem o trabalho a uma mercadoria
comum que deve ser “regulado” por meio das leis de oferta e procura)
– Marxistas-estruturalistas, embora houvesse alguma afinidade metodológica, não parecia útil dado o necessário protagonismo do Estado no país e ao entendimento de que sua análise se restringia ao capitalismo liberal.
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Que lições de Dunlop podemos tirar nos dias de hoje?
• Sua abordagem é fundamentalmente uma “metodologia” para analisar e comparar os SRI’s(por setor, por país e ao longo do tempo).
• Para ele o “conflito é inerente, mesmo que coexista com as ideias de cooperação e de consenso”.
• Por isso, há em Dunlop uma perspectiva pluralista (diferentes interesses em processo) o que sugere que aos atores cabe o papel de protagonistas.
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Referência Bibliográfica:
DUNLOP, J. T. - Industrial Relations System. Harvard Business School Press Classic,Caps. 1 e 4. Cambridge, 1993. (edição espanhola)
HORN, C.H. et al. John T Dunlop e os 50 anos do Industrial Relations Systems. Revista de Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Vol 52, nº4, 2009, pp. 1047-1070.