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Jacques Oerrida GRAMATOLOGIA EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO EDITORA PERSPECTI VA

Jacques derrida gramatologia

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  • 1. Jacques Oerrida GRAMATOLOGIA EDITORA DA UNIVERSIDADE DE SO PAULO ~JI~ ~ ~ EDITORA PERSPECTIVA ~I~

2. Titulo do Original ; IJ" /g Gfgmgtologit Direitos para a IInrua portuauesa reservados EDITORA PERSPECTIVA SA 1'173 AV. BRIGADEIRO LuiS ANTONIO. 3 025 TELEFONE: 288-66BO SO PAULO BRASIL 01401 FICHA CATALOGRFICA (Preparada pelo Centro de Catalogao-na-fonte, Clmua Brasileira do Livro, SP) Derrida, hcqut$, D48d gramatologia IMiriam Schnaiderman e Renato Ianini Ribeiro, tradutoresl So Paulo, Perspecllva, Ed, da Universidade de So Paulo, 1973. p. (Estudos, 16) Biblioarafia. I. Linruagem - Filosofia 1. Ntulo. H-OJ7,S C00--401 Indices para o catlogo sistemtico: I. LinJUagem : Filosofia 401 Advertncia A primeira parte deste ensaio, "A escritura prlitcral"l, desenha em Iraos largos uma matriz terica. Indica certos pontos de referncia histricos e prope alguns conceitos crticos. Estes so postos prova na segunda parte: "Natureza, cultura, escritura". Momento, se assim se quiser, do exemplo - embora esta noo aqui seja, com todo o rigor, inadmis- svel. Do que, por comodidade, ainda nomeamos exemplo, cumpriria ento, procedendo com mais pacincia e lentido, justificar a escolha e demonstrar a Necessidade- . Tratase de uma leitura do que poderamos talvez denominar a poca I. POIk~ (on,lderA-Ioo l;OIn() o eIe""nyo!yi....nlo ele um ens-aio pu.bJi"do na ruiol. Cri,jq,,~ (elelll'mbro d~ 1165 _ jaoeiro de ]966). A oasiio 001 forl Plopo,(lonadl por uh imponantel publicaoo' M. V._David. u dlIMI ~.... IIs ....nll."J ~, 1'h1lro,/ypht "ux XVII - ti XVIII' sllc/u (I6S) (DE) ; A. LeroiGou.han, L~ rt.1e ~, I~ p",o/~ (]9~') (GP ): L',ifu,~ ti /.. psycllq- IO/lw du p~upl~s (AcIU d'un colloque. ]96] ) (EP). Par. deixarmo. cllr. I dinlnio UiHe"le em fr.neh enlre btlol" u.lan~l.I n......ida ela uturua ou di Yldl 1OCt1]: c!lado de pri..aio) e "~C~SI/I~ (obri,I,lo, oocrl0 inelulbe1. encldeamenlD ",,$!.iria nl ordem das ..Z&s ou d., mllklu - cycnlul]menl~ tamWm um MJOi.. imperiOK, decidimo. rCPf""nt""" N:specliYlmenle por "~md"d~ e N~uSlt""dt. AUlo- riu-no. I Utl distlnlo, puramente Fifica e sem upresslio font1;iu, jU:lifi- "lo que dA o Autor para a "I]UII dfJllr,,~ (pon. dlltr'"c"'), inycntldt por eli!: mesmo par. diotin,uir-"" de dilflrt..c~ (porl. dj/~,,",a): ..... este .ilfncio. funcionando no Interior somenle de uml esrilurl dil fonftlc., I.,i- n.ta ou lembra de modo muilo oportuno que. conuarilmente I um enOrme ~",conceilo, n10 hA esc:ritur. fo~tlc.. Nio hi esc:ritura pura e r;lorDSamenle fonfli". A escritura dita fOllflicl s pod~ funcionar. em p.inclpio e de direito, e nio .penas por uma in.ufici~nda empfria e l!!aIfa. se admili. em 51 mesma slanOl 'nAo-fonfticos' (pontulio, espalmtnlO, eIC.) que, romo 'e !'1I'T(cberil multo rlpidamente 10 examinar-"" I .... e!lrulu" e Ne~tllldlde. loli!:ram muito maIo conceilD de si,,"o. Ou melho,. " iIO d. diferena ele mnmo .ilendos. A diferena enlre cIoi5 '"""mu ~ inaudYcl, e S ela permIte elles ...rem operlrem como 111," ("li dlff~ran(C". ~n Tllltwl~ d~".I~",bl~. obrl coictlva. Au~ Edillon, du Seul!, ]968. pp.1-66). (N. dos T.) 3. de Rousseau. Leitura apenas esboada: considerando, com efeito, a Necessidade da anlise, a dificuldade dos problemas, a natureza de nosso desgnio, acreditamo-nos autorizados a privilegiar um texto curto e pouco conhecido, o Essai oiur l 'origIne d~s lallgut's. T~remos de explicar o lugar que conce- demos a esta obra. Se nossa leitura permanece inacabada, tambm por outra razo: embora no tenhamos a ambio de ilustrar um novo mtodo, temamos produzir, muitas vezes embaraando-nos neles, problemas de leitura crtica. Nossa interpretao do texto de Rousseau depende estreitamente das proposies arriscadas na primeira parte. Estas exigem que a leitura escape, ao menos pelo seu eixo, s categorias cls- sicas da histria: da histria das idias, certamente, e da histria da literatura, mas talvez, antes de mais nada, da histria da filosofia. Em torno deste eixo, como bvio, tivemos de respei- tar normas clssicas, ou pelo menos tentamos faz-lo. Em- bora a palavra poca no se esgote nestas determinaes, lidvamos com uma figura estrutural tanto quanto com uma totalidade histrica. Esfora"1.o-nos por isso em associar as duas formas de ateno que pareciam requeridas, repetindo assim a questo do texto, do seu estatuto histrico, do seu tempo e do seu espao prprios. Esta poca passada , com efeito, constituda totalmente como um texto, num sentido destas palavras que teremos a determinar. Que ela conserve, enquanto tal, valores de legibilidade e uma eficcia de mo- delo; que desordene assim o tempo da linha ou a linha do tempo - eis o que quisemos sugerir ao interrogarmos de passagem, para nele encontrarmos apelo, o rousseausmo declarado de um etnlogo moderno. $obre e.. termo. o;cr I Wlllndl not. que fja~ no Clph lllo IV da Se..,nda Plne. (N. dOi T.) Sumrio I. Advertncia ........... .. .......... .. . A ESCRITURA PRe-LlTERAL EpIgrafe ........... ........ .......... 1. O fim do livro e o comeo da escritura . .... . O programa . .................. .. .. . . . . O significante c a verdadl! . .............. . O ser escrito ........................ . . 2. Lingstica e GrlllTUJtologia .... . . .. ..... O fora e o dentro ........... . . .. . .. . . . O fora : o dentro .................. . . A bnsura . . . .... . .................... . VIl 3 7 8 12 2 1 33 36 53 79 3. Da Gramatologia como ci/ncia positiva ... . 91 A lgebra: arcano e transparncia . . . . 93 .Ar. cincia e o nome do homem 101 A charada e a cumplicidade das origens 109 11. NATUREZA, CULTURA, ESCRITURA Introduo "Epoca de Rousseau" ....... 121 1. A violncia da letra: de Uvi-Strauss a Rou,seau ........................... 125 A guerra dos nomes prprios .. . . . . . . . . . . . 132 A escritura e a explorao do homem pelo ~_m .......... ................... I~ 4. 2. "Este perigoso suplemento . .. '. .......... 173 Do cegamento ao suplemento ...... . ..... 176 A cadeia dos suplemeotos .... . . . . . . . . . . .. 187 O exorbitante. Questo de m~todo . . .. . . .. J93 3. Ginese e ~scritura do Essai sur l'origine dt'S langues ....... . .... . . . ... ... . .. . . .... 20I 1. O LUGAR DO ESSA! . .. ................. 201 A escritura, mal politico e mal lingstico . . . . 204 O debate atual: a economia da Piedade . . . . 208 O primeiro debate e a composio do Essai 234 lI. A IMITAO ........................... 238 O intervalo e o suplemento . ..... . .. 239 A estampa e as ambigidades do formalismo .. 245 O torno da escritura ...... 264 111. A ARTICULAO .............. . 280 "Este movimento de vareta . . ." .......... 280 A inscrio da origem ............ . ..... 295 O pneuma ............................ 300 Esta "simples movimento de dedo". A escritura e a proibio do iocesto ................ 310 4. Do suplemento fome: a Teoria da escritura 327 A metfora originria ................... 329 Histria e sistema das escrituras .......... 343 O alfabeto e a representao absoluta 360 O teorema e o teatro ............ . 370 O suplemento de origem 382 I. A ESCRITURA PR!:-LlTERAL 5. Epgrafe I. Aquele que brilhar na brilhar como o sol. p. 87). cincia da escritura Um escriba (EP, Sarnas (deus do sol), com tua luz per~ trutas a totalidade dos pases. como se fossem signos cuneiformes (ibidl!m). 2. Esses trs modos de escrever correspon- dem com bastante exatido aos Irh diver- sos estados pelos quais se podem conside- rar os homens reunidos em nao. A pintura dos objetos convf,m aos povos sel- vagcns; os signos das palavras e das ora- es, aos povos brbaros; e o alfabeto, aos povos policiados. JEAN-bequES ROUSSEAU, Essa; su.r I'OTlginl' dts languts. 3. A escritura alfablica em si e para si a mais inteligente. HEGEL, Encic/opidio. Essa tripla epgrafe no se destina apenas a concentrar a ateno sobre o etnocentrismo.que, em todos os tempos e lugares, comandou o conceito da escritura. Nem apenas sobre o que denominaremos logocentrismo: metafsica da escritura fontica (por exemplo, do alfabeto) que em seu fundo no foi mais - por razes enigmticas mas essenciais e inaces sveis a um simples relativismo histrico - do que o etnocen- lndlc&mOI, nOl Ioc:ab IlproprladOI, quando u..mOl tndulo brlllliJein de. tutol! ...,ferldot ""lo Autor. Muitas vezes, por~m, devido ~ pndllo VOCIIbut.r de Derrlda, fOUlOl leudot a Ilitllrar .nllvel...nte ""al PQMIUli d.. Uaau&1 dtad.., o que fizemos lem ilIdlcaio u,,",clfta em clda CI"'. (N. dOi T .) 6. 4 GRAMATOLOGIA trismo mais original e mais poderoso, que hoje est em vias de se impor ao planeta, e que comanda, numa nica e mesma ordem: I. o conceito da escritura num mundo onde a fone- tizao da escritura deve, ao produzir-se, dissimular sua pr- pria histria; 2. a histria da metafsica que, apesar de todas as dife- renas e no apenas de Plato a Hegel (passando at por Leibniz) mas tambm, fora dos seus limites aparentes, dos pr-socrticos e Heidegger, sempre atribuiu ao logos a ori- gem da verdade em gera1: a histria da verdade, da verdade da verdade, foi sempre, com a ressalva de uma' cxcurso me- tafrica de que deveremos dar conta, o rebaixamento da escritura e seu recalcamento fora da fala "plena"; 3. o conceito da cincia ou da cientificidade da cin- cia - o que sempre foi determinado como lgica - conceito que sempre foi um conceito filosfico, ainda que a prtica da cincia nunca tenha cessado, de fato, de contestar o impe- rialismo do logos, por exemplo fazendo apelo, desde sempre e cada vez mais, escritura no-fontica. Sem dvida, esta subverso sempre foi contida no interior de um sistema alo- cut6rio que gerou o projeto da cincia e as convenes de toda caracterstica no-fontical. Nem poderia ser de outro modo. Mas exclusivamente em nossa poca, no momento em que a fonetizao da escritura - origem hist6rica e possibi- lidade estrutural tanto da filosofia como da cincia, condio da epistt'me - tende a dominar completamente a cultura mundiaP, a cincia no pode mais satisfazer-se em nenhum de seus avanos. Esta inadequao j se pusera em mo- 1. Cf., por uempkl, IS no.6H de "ebboralo .cundiril" ou de ~sim!Jo. hsmo dlO Ie",nda Intenlo" in E. OrtiI1IU, LA dllCO." ,1 '- "",bo'-, pop. 61 e "1. "O simbolismo ma~m'tko ~ uma con"enla de escritura, um simbolismo ncriturial. a somente por ab1Do de YCClbul!tio 01 anaJoaia que ... fa" de uma 'Iin1U8p'm matemitica'. O allorltmo f. na yudlde, uma 'cltllctedsdca', con,lste em carKlercs esc:ritot. NIo fala. a nlo II:t pOr intenn6d:io de uma l'nrua que fornece n'o apenu upnulo fon~tka cios caracteres. mu Ilmbfm a fom...'~c.o "os uiomu 'file permItem de~rminlt O ".Ior destel c.nctertl. l!. rdade qUI:, I rlaor, II:rll postlftl declfrlr caracteres duc:o- nhecidos, mu Isto IUp6c IICmpre um ..ber adquirido, um pensamento I' formado pdo uso da fila. PorIlnIO, em todas IS hipteses, o simbolismo malemitlco , frulO de uma e"boralo ...cundiril, IUpondo ~'......nte o lUO do discurso e a possibilidade de cooceber onvenc. explicitas. Nem por lNO delurti o alrorilmo matemitlco de uprjmir kil for"";' de simbolizalo. estruturu ainllcal, inde~lIdentCl de tal ou qual modo de exprnllo p.rucular." Sob... cstco problema., cf. tlmbfm Glllet-GutOOl GrlnJ>er, Pt"' /onfttllt ti IICI~,, de "/tom",., p. lS e sob"'tudo OP. '3 e 00 e .,. (...ore o R..." ....u"'..., du ,r.ppor/l d. Ir. t.orr,.... l>I'al, tI d. rleru..,.). (N. d.... T.) 1. Todu li obras consqrldu fi hlJlfla da cscriturl trltam do problema da introd",1o da cscriturl fonltlca em culturu que I~ enlio nlo a pnticaYlm. Cf., por eumplo. EP, pp. 44 c 11. 01 l.IJ "IM- th rlcrl,ru, dollloUr, la: Ullpllll,.." Ru/tncMs ,1I1t.,..,lfo..../,u /oi LlUtIllu d.. Mr.r:tll1rrt, H9 " malo- .junho I"'. (H. da. T.) EPIOIlAFE 5 vimento, desde sempre. Mas algo, hoje, deixa-a aparecer como tal, permite, de certa forma, assumi-Ia, sem que esta novidade se possa traduzir pelas noes sumrias de muta- o, de explicitao, de acumulao, de revoluo ou de tra- dio. Estes valores pertencem, sem dvida, ao sistema cuja descolocao se apresenta hoje como tal, descrevem estilos de movimento histrico que s tinham sentido - como o con- ceito de hist6ria mesmo - no interior da poca logocntrica. Pela aluso a uma cincia da escritura guiada pela me- tfora, pela metafsica e pela teologial , a epgrafe no deve apenas anunciar que a cincia da escritura - a gramara- logilt - espalha pelo mundo os signos de sua liberao por meio de esforos decisivos. Estes esforos so necessaria- mente discretos e dispersos, quase imperceptiveis: isto se deve ao seu sentido e natureza do meio em que produzem sua operao. Desejaramos principalmente sugerir que, por mais necessria e fecunda que seja a sua empresa, e ainda que, na melhor das hip6teses, ela superasse todos os obst- culos tcnicos e epistemolgicos, todos os entraves teol6gicos e metafsicos que at agora a limitaram, uma tal cincia da escritura corre o risco de nunca vir luz como tal e sob esse nome. De nunca poder definir a unidade do seu pro- jeto e do seu objeto. De no poder escrever o discurso do seu mtodo nem descrever os limites do seu campo. Por razes essenCiaiS: a unidade de tudo o que se deixa visar hoje, atravs dos mais diversos conceitos da cincia e da DtlCOliNdl': I~rmo pelo qui' traduzimos o ..erbo fra"ds df.r/oqlUr. E1;te dif..... de djpJur (deslOC:Ir), bem mai, freqilenle, por incluir uma idti. de ..Io/III~J no mmimento que imprlrre. Tamb&n tem o scnlido - importante em nouo ooatato _ de delu", o despejo de um Iocatirio do scu alojoJm'"13. (N. dos T.) l. NIo Ylsa~ aqui apen.. 101 "J)fteOaceita. teol&!os" que, num IrIOIIOenlO c h.1Il' ",'e~lhell, Infltclinm 01 nprimirlm I teori. do "110 eJCfilo nOl IkuIOl XVII e XVIII. Fala"'mos a teU rUI>(!to maia ldilllte. a prop6$ito do tiYro tlc M.-V. Duid. Este. J)'~COII