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JORNAL da CIÊNCIA PUBLICAÇÃO DA SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA • RIO DE JANEIRO, 14 DE MARÇO DE 2014 • ANO XXVII N 0 754 • ISSN 1414-655X Prêmio Almirante Álvaro Alberto (p.12) SBPC e ABC em prol da Embrapa Cerrado (p.6) A substituição de Marco An- tonio Raupp do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) em pleno fim de mandato do governo representa "o des- conhecimento" da importância da Ciência para o desenvolvi- mento do país. A opinião é da presidente da Sociedade Brasi- leira para o Progresso da Ciên- cia (SBPC), Helena Nader. Segundo ela, a comunidade científica está decepcionada e surpreendida com a saída de Raupp neste momento, consi- derando que este é um ano atípico para o país, que terá Copa de Mundo e eleições presiden- ciais, com toda a mobilização política e econômica que esses acontecimentos requerem. Des- sa forma, Helena Nader assegu- ra que a saída de Raupp e de boa parte de sua equipe, nesta atual conjuntura, pode atrapa- lhar o andamento dos progra- mas da pasta de C&T, já que o novo ministro não está inteirado com todas as ações da pasta. "Essa é uma mudança dra- mática, em pleno fim de gover- no, que nos trará impactos (ne- gativos) que ainda vamos ver", acredita Helena Nader, ao infor- mar que ouviu ontem uma cantilena de decepção de vários cientistas, dos mais altos esca- lões da comunidade científica, e de empresários, sobre a saída de Raupp. "Todos estão decep- cionados. Essa mudança é um desconhecimento da Ciência." Conforme Helena Nader, existem ministérios que são es- tratégicos para o desenvolvimen- to do país, como o MEC e o MCTI, que são as bases para a trans- formação econômica e social. Dessa forma, ela defende que o MCTI não pode ser incluído no pacote de trocas, (Página 3) Poucas & Boas Ensino médio, sustentabilidade e do- enças negligenciadas. Confira o que foi dito sobre esses e outros assuntos. (Página 3) Breves Mutação - Pesquisa do Instituto Oswaldo Cruz informa que uma mutação do vírus da hepatite C pode estar ligada ao surgimento de câncer de fígado em pacientes brasileiros. (Página 11) Livros e Revistas Cientistas Fluminenses - Coletânea de dez livros financiada pela Faperj conta a história de dez pessoas que deram contribuições à ciência e à humanida- de. (Página 11) Agenda Cientfica Fórum Nacional do Conselho Nacio- nal de Secretários Estaduais para assuntos de Ciência e Tecnologia - O encontro será em Cuiabá, nos dias 20 e 21 de março. (Página 11) 2º Congresso Internacional de Ciên- cia da Educação - Evento será em agosto e é organizado pela Universi- dade Federal da Integração Latino- Americana. (Página 11) Morre o geneticista Darcy Fontoura Troca de ministro de CiŒncia, Tecnologia e Inovaªo decepciona cientistas Anunciado plano de C&T para a Amaznia Legal Com foco no desenvolvimento sustentável da região amazônica, os secretários de Ciência e Tecnologia e as Fundações de Amparo à Pesquisa dos estados do Norte sugeriram a criação de um Plano de Ciência, Tecnologia e Inovação para a Amazônia Legal (PCTI/ Amazônia). O documento foi elaborado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e propõe um novo modelo de desen- volvimento, baseado em conhecimentos e inovações. (Página 4) Dez anos da Lei da Inovaªo A Lei da Inovação, está completando dez anos. E depois desse período, inovar no Brasil ainda é um desafio. A aprovação da lei foi o pontapé inicial para a construção de um sistema de fomento e apoio à inovação, mas ainda há muitos obstáculos a serem driblados. Para especialistas na área, há algumas lacunas a serem cobertas pela lei, e mesmo com a ampla oferta de recursos para investimento em pesquisa e desenvolvimento no país, falta demanda das empresas. (Página 5) Museus e centros de ciŒncia e tecnologia pedem socorro Os museus de ciência brasileiros vivem hoje um momento com muitas contradições e incertezas. Apesar de a política de democrati- zação da ciência ter esses espaços como foco principal, consolidar tais instituições está sendo um grande desafio. Tanto que alguns centros importantes estão fechando: a Estação Ciência/USP e o Museu de Ciência e Tecnologia da Bahia são exemplo disso. Afinal, que política de democratização é essa que não consegue manter os centros e museus de ciência funcionando? (Página 8) O Plano Nacional de Educa- ção ainda está emperrado na Câmara, sem aprovação, de- pois de ter passado pelo Sena- do. O projeto tramita como uma lei ordinária. Mas enquanto o PNE não é aprovado surgem iniciativas voltadas para a ques- tão. Uma delas é o Observatório do PNE, do movimento Todos Pela Educação. (Página 4) Enquanto o PNE nªo vem Indgenas terªo programaªo especial na Reuniªo da SBPC no Acre Decisivos na preservação e conservação da biodiversidade, os povos indígenas terão um espaço especial na 66ª Reunião Anual da SBPC, a ser realizada na semana de 22 a 27 de julho deste ano, na Universidade Federal do Acre (Ufac), em Rio Branco. Na progra- mação, batizada de SBPC Indígena, esses povos devem apresen- tar trabalhos sobre a própria cultura e a medicina da floresta, além de demandas sobre políticas públicas. (Página 2) O Projeto de Decreto Legisla- tivo que "convoca plebiscito para consultar o eleitorado nacional sobre a transferência para a União da responsabilidade so- bre a educação básica" saiu da pauta da Comissão de Consti- tuição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado Federal. Após debate caloroso entre os senadores o projeto foi retira- do da pauta, pelo relator, para reformulação. (Página 4) Federalizaªo da educaªo bÆsica Ø polŒmica SBPC Jovem Em 2014, a SPBC Jovem chega a sua 17ª Edição, reno- vando o convite para uma via- gem ao mundo do conhecimen- to. A SBPC, a Universidade Fe- deral do Acre (Ufac) e o gover- no do estado do Acre apostam na força jovem para a garantia de um futuro melhor a partir da pesquisa, da troca de experi- ências, da criatividade e da ino- vação. (Página 9) Cavalcante

Jornal da Ciência Edição 754

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Jornal da Ciência Edição N°754 uma publicação da SBPC

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JORNAL da CIÊNCIAPUBLICAÇÃO DA SBPC - SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA • RIO DE JANEIRO, 14 DE MARÇO DE 2014 • ANO X XVII N0 754 • ISSN 1414-655X

PrêmioAlmirante

ÁlvaroAlberto(p.12)

SBPC e ABCem prol daEmbrapaCerrado

(p.6)

A substituição de Marco An-tonio Raupp do Ministério daCiência, Tecnologia e Inovação(MCTI) em pleno fim de mandatodo governo representa "o des-conhecimento" da importânciada Ciência para o desenvolvi-mento do país. A opinião é dapresidente da Sociedade Brasi-leira para o Progresso da Ciên-cia (SBPC), Helena Nader.

Segundo ela, a comunidadecientífica está decepcionada esurpreendida com a saída deRaupp neste momento, consi-derando que este é um anoatípico para o país, que terá Copa

de Mundo e eleições presiden-ciais, com toda a mobilizaçãopolítica e econômica que essesacontecimentos requerem. Des-sa forma, Helena Nader assegu-ra que a saída de Raupp e deboa parte de sua equipe, nestaatual conjuntura, pode atrapa-lhar o andamento dos progra-mas da pasta de C&T, já que onovo ministro não está inteiradocom todas as ações da pasta.

"Essa é uma mudança dra-mática, em pleno fim de gover-no, que nos trará impactos (ne-gativos) que ainda vamos ver",acredita Helena Nader, ao infor-

mar que ouviu ontem umacantilena de decepção de várioscientistas, dos mais altos esca-lões da comunidade científica, ede empresários, sobre a saídade Raupp. "Todos estão decep-cionados. Essa mudança é umdesconhecimento da Ciência."

Conforme Helena Nader,existem ministérios que são es-tratégicos para o desenvolvimen-to do país, como o MEC e o MCTI,que são as bases para a trans-formação econômica e social.Dessa forma, ela defende que oMCTI não pode ser incluído nopacote de trocas, (Página 3)

Poucas & BoasEnsino médio, sustentabilidade e do-enças negligenciadas. Confira o quefoi dito sobre esses e outros assuntos.(Página 3)

BrevesMutação - Pesquisa do InstitutoOswaldo Cruz informa que umamutação do vírus da hepatite C podeestar ligada ao surgimento de câncerde fígado em pacientes brasileiros.(Página 11)

Livros e RevistasCientistas Fluminenses - Coletânea dedez livros financiada pela Faperj contaa história de dez pessoas que deramcontribuições à ciência e à humanida-de. (Página 11)

Agenda CientíficaFórum Nacional do Conselho Nacio-nal de Secretários Estaduais paraassuntos de Ciência e Tecnologia - Oencontro será em Cuiabá, nos dias 20e 21 de março. (Página 11)

2º Congresso Internacional de Ciên-cia da Educação - Evento será emagosto e é organizado pela Universi-dade Federal da Integração Latino-Americana. (Página 11)

Morre o geneticistaDarcy Fontoura

Troca de ministro de Ciência, Tecnologia eInovação decepciona cientistas

Anunciado plano de C&T para aAmazôniaLegal

Com foco no desenvolvimento sustentável da região amazônica,os secretários de Ciência e Tecnologia e as Fundações de Amparoà Pesquisa dos estados do Norte sugeriram a criação de um Planode Ciência, Tecnologia e Inovação para a Amazônia Legal (PCTI/Amazônia). O documento foi elaborado pelo Centro de Gestão eEstudos Estratégicos (CGEE) e propõe um novo modelo de desen-volvimento, baseado em conhecimentos e inovações.(Página 4)

Dez anos da Lei da InovaçãoA Lei da Inovação, está completando dez anos. E depois desse

período, inovar no Brasil ainda é um desafio. A aprovação da leifoi o pontapé inicial para a construção de um sistema de fomentoe apoio à inovação, mas ainda há muitos obstáculos a seremdriblados. Para especialistas na área, há algumas lacunas aserem cobertas pela lei, e mesmo com a ampla oferta de recursospara investimento em pesquisa e desenvolvimento no país, faltademanda das empresas. (Página 5)

Museus e centros de ciência etecnologia pedem socorro

Os museus de ciência brasileiros vivem hoje um momento commuitas contradições e incertezas. Apesar de a política de democrati-zação da ciência ter esses espaços como foco principal, consolidar taisinstituições está sendo um grande desafio. Tanto que alguns centrosimportantes estão fechando: a Estação Ciência/USP e o Museu deCiência e Tecnologia da Bahia são exemplo disso. Afinal, que políticade democratização é essa que não consegue manter os centros emuseus de ciência funcionando? (Página 8)

O Plano Nacional de Educa-ção ainda está emperrado naCâmara, sem aprovação, de-pois de ter passado pelo Sena-do. O projeto tramita como umalei ordinária. Mas enquanto oPNE não é aprovado surgeminiciativas voltadas para a ques-tão. Uma delas é o Observatóriodo PNE, do movimento TodosPela Educação. (Página 4)

Enquanto o PNEnão vem

IndígenasterãoprogramaçãoespecialnaReuniãodaSBPCnoAcre

Decisivos na preservação e conservação da biodiversidade, ospovos indígenas terão um espaço especial na 66ª Reunião Anualda SBPC, a ser realizada na semana de 22 a 27 de julho deste ano,na Universidade Federal do Acre (Ufac), em Rio Branco. Na progra-mação, batizada de SBPC Indígena, esses povos devem apresen-tar trabalhos sobre a própria cultura e a medicina da floresta, alémde demandas sobre políticas públicas. (Página 2)

O Projeto de Decreto Legisla-tivo que "convoca plebiscito paraconsultar o eleitorado nacionalsobre a transferência para aUnião da responsabilidade so-bre a educação básica" saiu dapauta da Comissão de Consti-tuição, Justiça e Cidadania (CCJ)do Senado Federal.

Após debate caloroso entreos senadores o projeto foi retira-do da pauta, pelo relator, parareformulação. (Página 4)

Federalização daeducação básica é

polêmica

SBPC JovemEm 2014, a SPBC Jovem

chega a sua 17ª Edição, reno-vando o convite para uma via-gem ao mundo do conhecimen-to. A SBPC, a Universidade Fe-deral do Acre (Ufac) e o gover-no do estado do Acre apostamna força jovem para a garantiade um futuro melhor a partir dapesquisa, da troca de experi-ências, da criatividade e da ino-vação. (Página 9)

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JORNAL da CIÊNCIAPublicação quinzenal da SBPC— Sociedade Brasileira para oProgresso da Ciência

Conselho Editorial: Alberto P.Guimarães Filho, Jaime MartinsSantana, Lisbeth KaiserlianCordani, Maria Lucia Maciel eMarilene Correa da Silva FreitasEditora: Fabíola de OliveiraEditora assistente: Edna FerreiraRedação e reportagem: CamilaCotta, Edna Ferreira, VivianCosta e Viviane Monteiro.Colaborou com esta edição:Beatriz BulhõesRevisão: Mirian S. CavalcantiDiagramação: Sergio SantosIlustração: Mariano

Redação: Av. Venceslau Brás,71, fundos, casa 27, Botafogo, CEP22290-140, Rio de Janeiro, RJ.Fone: (21) 2295-5284. E-mail:<[email protected]>

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14 de Março de 2014Página 2 JORNAL da CIÊNCIA

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Indígenas terão programação especial naReunião da SBPC no Acre

A ideia é estimular o povo indígena brasileiro a buscar o conhecimento cultural ocidental

Viviane Monteiro

Decisivos na preservação econservação da biodiversidade,os povos indígenas terão umespaço especial na 66ª ReuniãoAnual da SBPC, a ser realizadana semana de 22 a 27 de julhodeste ano, na Universidade Fe-deral do Acre (Ufac), em RioBranco. Na programação, bati-zada de SBPC Indígena, essespovos devem apresentar traba-lhos sobre a própria cultura e amedicina da floresta, além dedemandas sobre políticas públi-cas, principalmente relaciona-das à saúde e educação.

A expectativa dos organizado-res do evento é reunir 300 indíge-nas brasileiros, principalmente daAmazônia, sem contar com povosdo Peru e Bolívia, países que fa-zem fronteiras com Brasil.

Na ocasião, devem ser tam-bém apresentados pactos ecoló-gicos e socioculturais, segundo oantropólogo Jacob Piccoli, pro-fessor da Ufac e coordenador daComissão Organizadora daSBPC Indígena. A intenção doespaço SBPC Indígena é estimu-lar o povo indígena nacional abuscar conhecimento culturalocidental e apresentar trabalhossobre a própria cultura.

Jacob chama a atenção para onúmero de índios nas universida-des do Acre, onde pelo menos100 indígenas fazem cursos degraduação. Em 2012, existiam 45pessoas declaradas indígenasnas universidades acreanas, se-gundo dados do Instituto Nacio-nal de Estudos e Pesquisas Edu-cacionais Anísio Teixeira (Inep),vinculado ao Ministério da Educa-ção (MEC). No Brasil, é cada vezmaior o ingresso de pessoas as-sumindo a identidade indígenanos cursos de graduação, embo-ra a maioria ainda estude em uni-versidades privadas.

Os últimos dados do Inep re-velam que em 2012 eram 10,282mil indígenas nas universida-des brasileiras, dos quais 4,126mil em instituições públicas e6,156 mil no setor privado. Paraefeitos comparativos, em 2011,esse número totalizava 9,756mil, o que representa crescimentode 5,4% na comparação com oanterior. Desse total, 3,54 milestudavam em instituições pú-blicas e o restante (6.216) emuniversidades privadas.

Natureza conservada - Ao dis-correr sobre a contribuição dosindígenas à preservação e con-servação da biodiversidade, oantropólogo Piccoli declarou queos indígenas ocupam hoje 13%

do território acreano, o equiva-lente entre 15 mil a 20 mil indíge-nas distribuídos pelo sul do Ama-zonas e Rondônia. Ou seja, es-sas terras são preservadas econservadas pelos chamadosdefensores da natureza.

Tal ocupação, no olhar dePiccoli, poderia ser mais abran-gente caso alguns indígenas nãotivessem sido dizimados pelosseringalistas na época do extra-tivismo, quando a populaçãoindígena acreana girava em tor-no de 70 mil. Além de mortes emconflitos com seringalistas, lem-bra o estudioso, muitos índiostambém foram dizimados pordoenças endêmicas.

Pesquisador de conflitos so-ciais na Amazônia, o antropólo-go Alfredo Wagner de Almeidaconfirma o avanço significativono número de índios residentesem centros urbanos, público quevem “assumindo a identidadeindígena e compondo novas for-mas organizativas, agrupandodiferentes etnias e consolidan-do territórios pluriétnicos”.

Dados da Fundação Nacionaldo Índio (Funai) mostram que apopulação indígena quase tripli-cou nas últimas décadas – eram294,130 mil índios no Brasil em1991, número que atingiu 817,963mil em 2010, o equivalente a0,42% da população nacional.

Transformação social - Con-forme a leitura de Wagner deAlmeida, criar um espaço espe-cífico para os indígenas no maiorencontro científico do Brasil co-loca a SBPC em sintonia comuma das mais significativastransformações sociais ocorri-das no Brasil na passagem doséculo XX para o século XXI: aemergência da expressão orga-nizativa dos povos indígenas,posicionando-os como sujeitosna vida social.

“As instituições universitáriasvêm refletindo sobre este fenô-meno, de existência coletiva, que

compreende não apenas o ad-vento de uma capacidade políti-ca de apresentar publicamentesua pauta de reivindicações,mas também o reconhecimentode direitos étnicos”, analisaWagner de Almeida, tambémpresidente do Programa NovaCartografia Social e conselheiroda SBPC.

Em outra frente, o diretor doMuseu da Amazônia (Musa),Ennio Candotti, vice-presidenteda SBCP, considera fundamen-tal promover o intercâmbio dosindígenas, com a proposta dedifundir ideias, de forma maisampla. Nesse caso, Candottidefende a abertura de mais es-paço aos indígenas, para dis-cussão de ideias e cobrança depolíticas públicas.

Indígenas isolados no Acre -Conforme entende Wagner deAlmeida, no Acre encontra-se omaior número dos denomina-dos “povos indígenas isolados”,afetados diretamente pelasações de desmatamento e de-vastação, sobretudo nas regi-ões de fronteira internacional.

“Pesquisas de sísmica porempresas de petróleo e gás eretirada ilegal de madeira e obrasde construção de estradas semo devido licenciamento ambien-tal configuram uma situaçãoconflitiva que, aliás, caracterizahoje toda a região da Pan-Ama-zônia (Brasil, Bolívia, Colômbia,Venezuela, Suriname, Equador,República da Guiana, Peru eGuiana Francesa)”.

Dessa forma, o Acre, avaliaWagner de Almeida, pode fun-cionar como um grande labora-tório de reflexão sobre essesantagonismos sociais e suas im-plicações nos planos de desen-volvimento sustentável relativosaos nove países que constituema Pan-Amazônia. “A escolha daSBPC consiste num convite atornar estas questões objetos dereflexão do trabalho científico.”

Espaço terá trabalhos sobre a cultura indígena e a medicina da floresta

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14 de Março de 2014 Página 3JORNAL da CIÊNCIA

Poucas & BoasPoucas & Boas

Reputação � �Todas as universi-dades do mundo buscam reputação.Uma reputação elevada faz com que ainstituição seja procurada por melho-res alunos e melhores professores, oque resulta em mais financiamentopara suas atividades e uma melhorreputação, e o ciclo recomeça.�

Leandro Tessler, professor daUnicamp, em artigo no O Estadode São Paulo (06/03).

Ensinomédio - �Doze por centovão para o ensino superior, 88% nãovão. Para esses 88%, para que serviuo ensino médio? Eles não usam oensino médio para nada. Se nem paraos 88%serve, nempara os 12%serve,dá 100%, não serve para ninguém.Então é esse o ensino médio atual.�

Deputado Wilson Filho (PTB-PB), relator da comissão especialcriada para analisar o Projeto deLei 6840/13, que prevê melhoradaqualidadedoensinomédio,naAgência Câmara (05/03).

Gargalos - �Mesmo que rece-ba mais recursos, a universidadenão consegue executar tudo emum ano. A lei amarra e impede ocrescimento.�

Presidente da Andifes, Jesual-do Farias, para quem o principalentrave financeiro para as uni-versidades federais não é o volu-me de dinheiro repassado às ins-tituições, mas o engessamentodo uso das verbas, noOEstado deSão Paulo (10/03).

Doenças negligenciadas -�Todo ano se faz um estudo paraanalisar o investimento feito nasdoenças que afetam as popula-ções pobres. O gap continua, amaioria do dinheiro é investidopara os futuros blockbusters, umViagra, ouumremédiopara cres-cimento de cabelos.�

Eric Stobbaerts, 49, diretor-executivo da Iniciativa de Medi-camentos para Doenças Negli-genciadas (Drugs for NeglectedDiseases Initiative, na sigla eminglêsDNDi),naFolhadeSãoPaulo(10/03).

Crédito estudantil - �Depoisde 2010, o Fies se transformounum divisor de águas no ensinosuperior privado. A taxa de jurosanual caiu de 9%para 3,4%; antesera só a Caixa oferecendo crédi-to, aí veio o Banco do Brasil; oprazo de carência passou de seispara 18meses; e o prazo de paga-mento passou de uma vez e meiapara três vezes o tempo do cursomais um ano.�

Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Sindicato das Enti-dades Mantenedoras de Estabe-lecimentos de Ensino SuperiornoEstadodeSãoPaulo (Semesp),sobre a participação de 31% doFies e Prouni nas matrículas deuniversidades privadas, noValorEconômico (11/03).

Viviane Monteiro

A substituição de Marco An-tonio Raupp do Ministério daCiência, Tecnologia e Inovação(MCTI) em pleno fim de mandatodo governo representa "o des-conhecimento" da importânciada Ciência para o desenvolvi-mento do país. A opinião é dapresidente da Sociedade Brasi-leira para o Progresso da Ciên-cia (SBPC), Helena Nader.

Segundo ela, a comunida-de científica está decepciona-da e surpreendida com a saídade Raupp neste momento, con-siderando que este é um anoatípico para o país, que teráCopa de Mundo e eleições pre-sidenciais, com toda a mobili-zação política e econômica quetais acontecimentos requerem.Dessa forma, Helena Naderassegura que a saída de Rauppe de boa parte de sua equipe,nesta atual conjuntura, podeatrapalhar o andamento dosprogramas da pasta de C&T, jáque o novo ministro não estáinteirado com todas as açõesda pasta.

"Essa é uma mudança dra-mática, em pleno fim de gover-no, que nos trará impactos (ne-gativos) que ainda vamos ver",acredita Helena Nader, ao in-formar que ouviu ontem umacantilena de decepção de vá-rios cientistas, dos mais altosescalões da comunidade cien-tífica, e de empresários, sobrea saída de Raupp. "Todos es-tão decepcionados. Essa mu-dança é um desconhecimentoda Ciência."

Conforme Helena Nader, exis-tem ministérios que são estraté-gicos para o desenvolvimento dopaís, como o Ministério da Edu-cação e o MCTI, que são as basespara a transformação econômi-ca e social. Dessa forma, HelenaNader defende que o MCTI nãopode ser incluído "no pacote demoedas de troca de ministérios".

"Um país que quer pertencerao clube dos países ricos temque ter estratégia que nação. Enessa visão estratégica tem queter educação e ciência e tecno-logia de qualidade. Um projetode nação vai além de um projetode governo, sobretudo quantotratamos de ações na área cien-tífica, tecnológica e de inovação,que requerem longo prazo deplanejamento e maturação atéque sejam concretizados. Mas adescontinuidade tem carreirahistórica em nosso país."

A presidente da SBPC la-

Presidente da SBPC fala sobre os riscos de descontinuidade do trabalho realizado pelo ex-ministro

Troca de ministro de Ciência, Tecnologia eInovação decepciona cientistas

menta que a troca de ministrosna pasta de Ciência, Tecnolo-gia e Inovação seja recorrente.Lembra que desde que foi cria-do o Ministério, em março de1985, como compromisso doprograma de governo de Tan-credo Neves, compromisso esseassumido pelo presidente JoséSarney, a pasta foi utilizadacomo instrumento de barganhapolítica em vários momentos.Somente no Governo Sarney,entre outubro de 1987 a marçode 1989, foram 5 trocas de titu-lares, e no governo de Fernan-do Collor, 3 titulares reveza-ram-se na pasta, entre marçode 1990 e outubro de 1992.

Alternância da política científi-ca e tecnológica - Preocupadacom a alternância da políticacientífica e tecnológica nacio-nal, a presidente da SBPC fezquestão de lembrar que no últi-mo ano do Governo Lula, em2010, houve a 4ª ConferênciaNacional de Ciência Tecnologiae Inovação para o Desenvolvi-mento Sustentável que traçoudiretrizes para a política científi-ca, e tecnológica e de inovação.No entanto, poucas foram cum-pridas, em razão de cortes econtingenciamentos de recursosdo atual governo.

Apesar de consecutivos con-tingenciamentos de recursos,Helena Nader afirmou queRaupp e equipe realizaram umtrabalho importante não apenaspara Ciência, mas criou também,em especial, uma plataforma deTecnologia e Inovação do Go-verno Dilma.

"Raupp conseguiu fazer vá-rios acordos, com diferentes mi-nistérios, para trazer mais re-

Comunidade científica ficou decepcionada com saída de Raupp

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cursos e fomentar a área deciência e tecnologia. Mas pare-ce que tudo isso foi desconsi-derado", disse. Para HelenaNader, a troca de ministro de-veria acontecer apenas caso afunção dele não estivesse sen-do cumprida corretamente.

Helena Nader reforça que nãoquestiona o perfil profissional eacadêmico do futuro gestor doMCTI, pois o mesmo "já demons-trou sua competência e habili-dade à frente da UniversidadeFederal de Minas Gerais (UFMG)e da Fundação de Amparo àPesquisa do Estado de MinasGerais (Fapemig)".

Disse, entretanto, que qual-quer ministro que assumir a pas-ta agora, a apenas nove mesespara o fim do atual governo,enfrentará dificuldade para to-mar pé da situação, pois o MCTItem uma arquitetura complexa,que envolve acordos com ou-tros ministérios e diversas orga-nizações. Helena Nader de-monstra preocupação tambémcom o contingenciamento derecursos, o qual Raupp semprebuscou evitar.

Perfil do novo ministro - ClelioCampolina Diniz saiu da reito-ria UFMG para assumir o MCTI.Ex-presidente da Câmara deCiências Sociais Aplicadas daFundação de Amparo à Pesqui-sa do Estado de Minas Gerais(Fapemig), é formado em Enge-nharia Mecânica pela PontifíciaUniversidade Católica de MinasGerais, doutor em Ciência Econô-mica pela Universidade Estadualde Campinas, dirigiu o ParqueTecnológico de Belo Horizonte(BHTEC) e coordenou a área deeconomia do CTC da Capes.

JORNAL da CIÊNCIA 14 de Março de 2014Página 4

Edna Ferreira e Camila Cotta

O Plano Nacional de Educa-ção (PNE 2011-2020) ainda estáemperrado na Câmara, semaprovação, depois de ter passa-do pelo Senado. O projeto trami-ta como uma lei ordinária queterá vigência de dez anos a partirde sua promulgação, e pretendeestabelecer diretrizes, metas eestratégias de concretização nocampo da Educação. Mas, en-quanto o PNE não é aprovado,surgem iniciativas voltadas paraa questão. Uma delas é o Obser-vatório do PNE, uma plataformaonline lançada pelo movimentoTodos Pela Educação e que temcomo objetivo monitorar os indi-cadores referentes a cada umadas 20 metas do plano.

A iniciativa tem 20 organiza-ções parceiras ligadas à Educa-ção e especializadas nas dife-rentes etapas e modalidades deensino, entre elas a SociedadeBrasileira para o Progresso daCiência (SBPC). Juntas, essasentidades vão realizar o acom-panhamento permanente dasmetas e estratégias do PNE. Aideia do Todos Pela Educação éque a ferramenta possa apoiargestores públicos, educadorese pesquisadores, mas especial-mente ser um instrumento à dis-posição da sociedade para quequalquer cidadão brasileiro pos-sa acompanhar o cumprimentodas metas estabelecidas.

Cada parceiro será respon-sável por acompanhar uma dasmetas do PNE. Coube à SBPC ameta 13, que trata de elevar aqualidade da Educação Supe-rior pela ampliação da propor-ção de mestres e doutores docorpo docente em efetivo exercí-cio no conjunto do sistema deEducação Superior para 75%,sendo do total, no mínimo, 35%doutores. Para isso está sendomontado um grupo de trabalhoque será coordenado pela pro-fessora Lisbeth Cordani, que fazparte do conselho da SBPC. Deacordo com a professora, a inten-ção principal é de colaboração.

Para Alejandra MerazVelasco, gerente da Área Técni-ca do movimento Todos PelaEducação, a escolha dos par-ceiros para este projeto foi umaetapa importante. “A amplitudedos temas tratados nas metas doPNE levou naturalmente a umacongregação de várias organi-zações que têm expertise emcada um destes temas e queidentificaram a importância dedar notoriedade à execução doPlano”, explica a gerente. Aindasegundo ela, durante o desenhodo projeto várias organizaçõesparceiras do Todos Pela Educa-

Enquanto o PNE não vemPlataforma online é criada para monitorar as metas do Plano Nacional de Educação e conta com a parceria da SBPC

ção interessaram-se pela inicia-tiva. “E, assim, uma rede de ins-tituições que também têm no seufoco de atuação a influência naspolíticas públicas de Educaçãosomou-se à proposta, no âmbitoda atuação específica de cadauma, com a alimentação e ma-nutenção constante da platafor-ma”, definiu Alejandra.

Controle social - SegundoAlejandra, além de monitorar asmetas do Plano, o Observatóriodo PNE vai oferecer análisessobre as políticas públicas edu-cacionais já existentes e queserão implementadas ao longodos dez anos de vigência doPNE. Ela destaca o uso da ferra-menta pela sociedade. “Espera-mos que haja maior controlesocial em relação ao cumprimen-to do Plano, para que, diferentedo anterior (2000-2010), que teveapenas cerca de 20% das metascumpridas, este PNE que vigo-rará para os próximos 10 anosseja, de fato, cumprido”, revelaAlejandra.

A gerente explica que en-quanto o PNE não é aprovado,o site do Observatório já estásendo alimentado e divulgado.“A ideia com isso é que ele pos-sa ser também uma forma depressionar o poder público pelaaprovação do PNE, que já tra-mita há mais de 3 anos no Con-gresso Nacional. Após a apro-vação e sanção do Plano, aplataforma será atualizada deacordo com a versão do Planoaprovado”, disse ela.

PNE no Congresso - O PlanoNacional de Educação foi en-caminhado à Câmara pela Pre-sidência da República, onde

foi apreciado e modificado an-tes de ser encaminhado ao Se-nado. Após passar por diver-sas comissões no Senado, oPlenário da casa aprovou umaversão que, segundo especia-listas, apresentou retrocessosem relação ao texto aprovadona Comissão de Educação dopróprio Senado e também emrelação ao texto original apro-vado anteriormente na Câmarados Deputados. Neste momen-to, o PNE tramita novamente naCâmara, que aceitará ou não asalterações aprovadas no Sena-do. Em seguida, a matéria se-guirá obrigatoriamente para asanção presidencial.

Para o deputado ÂngeloVanhoni (PT-PR), relator do PNE,a expectativa é que até o fim demarço o plano seja votado. “AComissão de Educação da Câ-mara dos Deputados, da qual

sou relator, está analisando oProjeto que recebemos do Se-nado no início desse ano. Assimque analisarmos toda a propos-ta, estaremos elaborando umnovo texto para ser apreciado evotado no Plenário da Câmara.Após aprovação, a presidentaDilma Rousseff assinará o Pla-no, que começa a valer imediata-mente para o decênio”, explica.

Vanhoni destaca a importân-cia do Plano composto por 20metas e elaborado com a partici-pação de vários segmentos dasociedade. “É uma grande con-quista de todos os brasileiros.Além disso, avançamos no de-bate do financiamento para edu-cação, que passará de 4,94%para 10% do PIB até o final davigência do Plano. O PNE ex-pressa a nova realidade do país,com uma educação plural e de-mocrática”, resume ele.

Alunos e educadores aguardam a aprovação das diretrizes do PNE

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C.H

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Camila Cotta

O Projeto de Decreto Legisla-tivo (SF) Nº 460, de 2013, que"convoca plebiscito para con-sultar o eleitorado nacional so-bre a transferência para a Uniãoda responsabilidade sobre aeducação básica", saiu da pautada Comissão de Constituição,Justiça e Cidadania (CCJ) doSenado Federal.

Na manhã desta quarta-feira(12), os senadores RandolfeRodrigues (PSOL/AP) e AloysioNunes Ferreira (PSDB/SP) pro-moveram um caloroso debate arespeito do assunto, fazendocom que o relator do projeto,senador Pedro Taques (PDT/MT), pedisse para retirar o proje-to da pauta, para reformulação.

Federalização da educação básica é polêmicaSenadores divergem sobre proposta e convocação de plebiscito sai da pauta da CCJ

O embate entre os parlamen-tares foi em torno da responsa-bilidade da educação básica,até que ponto será do governofederal e até onde vai a atuaçãodo município. "Sou a favor doplebiscito. Hoje um terço da po-pulação é analfabeta. Precisa-mos mudar isso. A responsabili-dade tem que ser da federação",esbravejou Rodrigues. "Eu soucontra. O governo federal vaigerir creche? Escola? Vai no-mear diretor?", retrucou Ferrei-ra. Com a calorosa discussão, orelator do projeto preferiu anali-sar os pontos e tirar da pauta davotação na CCJ.

Apoio - O autor do projeto dedecreto, senador CristovamBuarque (PDT/DF), pediu apoio

aos parlamentares. Ele defendeo envolvimento da sociedade edos candidatos à Presidência daRepública em um amplo debatesobre o tema: municípios brasilei-ros não conseguem proporcionareducação de qualidade porquesão pobres e desiguais. "Tratarcada criança ao nascer neste país,não importa a cidade, não importao nível de renda que ela tenha,como uma criança brasileira,merecendo o mesmo cuidadoeducacional no que se refere aofinanciamento público", observa.

Cristovam Buarque acreditaque a federalização da educa-ção básica vai levar o Brasil "adar o salto para o mundo doconhecimento". Também deve-rá permitir "a resolução de pro-blemas centrais e de acesso".

JORNAL da CIÊNCIA14 de Março de 2014 Página 5

Dez anos da Lei da InovaçãoEdna Ferreira

A Lei 10.973, também co-nhecida como Lei da Inovação,está completando dez anos. Edepois desse período, inovarno Brasil ainda é um desafio. Aaprovação da lei foi o pontapéinicial para a construção de umsistema de fomento e apoio àinovação, mas ainda há muitosobstáculos a serem driblados.Para especialistas na área, háalgumas lacunas a serem co-bertas pela lei e mesmo com aampla oferta de recursos parainvestimento em pesquisa e de-senvolvimento no país, falta de-manda das empresas para acaptação desses recursos.

Para a professora VanderlanBolzani, do Instituto de Químicada Universidade Estadual Pau-lista (Unesp) de Araraquara ediretora da Agência Unesp deInovação (Auin), o Brasil vemavançando sim na área da ino-vação, mas está longe do de-senvolvimento tecnológico tãosonhado. “São muitas as cau-sas e tanto o setor público (go-verno) como o setor industrialtêm suas parcelas neste de-senvolvimento. O país ficacada dia mais dependente detecnologia externa e isto é ter-rível”, alerta.

De acordo com a professora,nesse aspecto a Lei da Inova-ção foi importante para criar osNúcleos de Inovação Tecnoló-gica (NITs) e a obrigatoriedadede planos de políticas de inova-ção. “A legislação regula a pro-teção do conhecimento geradonas universidades e institutosde pesquisas. A criação de em-presas de base tecnológica porpesquisadores e alunos e o usodos laboratórios e demais re-cursos de infraestrutura por par-ceiros empresariais tambémpassam a ser regulamentadospela Lei. Isto é um dado positivoe acredita-se que possa contri-buir com o processo de inova-ção empresarial nacional”, ar-gumenta Bolzani.

A presidente da AssociaçãoNacional de Entidades Promo-toras de Empreendimentos Ino-vadores (Anprotec), FrancileneProcópio Garcia, afirma que alegislação tem ajudado a mu-dar a forma como as institui-ções pensam e priorizam aquestão da inovação. “Tivemosvários avanços na implemen-tação de programas e instru-mentos de fomento a partir damaior clareza jurídica providapela lei”, diz. Em apoio a suaafirmação ela aponta uma pes-quisa do Ministério de Ciência,Tecnologia e Inovação (MCTI)

Em uma década de existência da legislação, avanços e desafios na área mostram que país ainda tem longo caminho a percorrer

que mostrou que, nos últimosnove anos, já foram feitos 217pedidos de proteção de privilé-gio de propriedade intelectualpor instituições brasileiras.

Apesar dos dados positivose do crescimento de iniciativasestaduais e federais com amplaoferta de recursos para investi-mento em pesquisa e desenvol-vimento no Brasil, ela afirmaque existem algumas lacunas aserem cobertas pela lei. Segun-do Francilene, percebem-seainda fragilidades no ambienteempresarial para a captação es-truturada e oportuna dessesrecursos. “É necessário refor-çar políticas públicas com focoem incubadas, startups, micro epequenas empresas com perfilinovador, como é feito em paí-ses que são referência nestaárea. O Brasil está mais prepa-rado e maduro para um cresci-mento mais acelerado nos pró-ximos anos”, afirma ela.

Mudança de mentalidade - Noranking internacional ÍndiceGlobal de Inovação (GlobalInnovation Index) de 2013, oBrasil aparece atrás de paísescomo Chile e Colômbia. O re-sultado da última pesquisa na-cional de inovação nas empre-sas (Pintec) realizada peloIBGE, que avaliou a taxa deinovação das empresas brasi-leiras no período de 2008 a2011, encontrou uma queda de38,1% para 35,7%, em relaçãoao período anterior. O que estáfaltando para o Brasil decolarna inovação?

A resposta pode estar naparceria entre universidades eempresas. O Brasil é o 13° pro-dutor de conhecimento do mun-do em número de artigos publi-cados pelos pesquisadores denossas universidades. Masapenas uma fração pequenadesse ativo de conhecimento,porém, é aplicada para melho-rar a produtividade e a compe-titividade de nossas indústrias,empresas e serviços. “Faltamàs universidades de excelên-cia mais ousadia e vanguardapara colaborar, e às empresasmais empenho para absorvermais conhecimento e se torna-rem mais inovadoras. É um pro-cesso longo, onde as políticasde governo podem facilitarmuito”, opina a professoraVanderlan Bolzani.

Nesse cenário, a professoradestaca a importância das agên-cias, como a da Unesp, quesurgiram com o objetivo de au-xiliar os docentes e pesquisa-dores na questão da transfe-rência de conhecimento. “Nós

pesquisadores não sabemoscomo identificar parceiros nomercado para as pesquisas quefazemos. O papel da agência éser um facilitador para a aproxi-mação de dois setores impor-tantes para atuarem em colabo-ração: universidades e empre-sas”, define a professora.

Já a presidente da Anprotecaposta que para mudar a menta-lidade do empresário brasileiroe ampliar os horizontes da ino-vação é fundamental dissemi-nar a cultura empreendedora. “Éprovável que seja oportuno aopaís repensar o processo de ino-vação como um todo, não ape-nas com a definição de segmen-tos prioritários, mas em especialcom a definição de modelos defomento mais eficientes para aparticipação casada de investi-mentos públicos e privados. De-pender somente de financiamen-to a juros baixos limita muito aspossibilidades de criar algonovo. O capital semente e derisco tem muito a avançar nopaís”, explica Francilene.

Academia e tecnologia - Masnão faz sentido culpar somenteo empresariado. Afinal, estãona esfera governamental mui-tos dos fatores que ainda sãoentraves ao desenvolvimentotecnológico no país. Um exem-plo disso é o conhecido fardotributário, que somado ao labi-rinto da burocracia, emperra odia a dia no ambiente dos negó-cios brasileiros. Para ÁlvaroPrata, secretário de Desenvol-vimento Tecnológico e Inova-ção do MCTI, a inovação hoje éparte da agenda do país. “OBrasil se preocupa muito comisso, temos um número cres-cente de empresas envolvidascom inovação tecnológica. Te-mos também as instituições deciência e tecnologia, que cadavez mais se preocupam com atransferência do conhecimentocientífico para o tecnológico atra-vés da inovação”, afirma ele.

De acordo com Prata, a pró-pria Lei da Inovação veio embenefício da parceria universida-de-empresa. “O Brasil precisamelhorar muito isso, por que es-sas duas instâncias se colocammuito distantes uma da outra. Auniversidade atua muito nasquestões mais acadêmicas, nacomponente científica mais embenefício dos valores da acade-mia, que é a publicação e a for-mação de pessoas”, explica eleafirmando ainda que “essa ciên-cia precisa também se aproximardos aspectos mais tecnológicos,do setor industrial, do benefícioeconômico, e para isso a univer-

sidade precisa se aproximar dasempresas, da indústria, da inicia-tiva privada.”

Prata reconhece a importân-cia do setor acadêmico para opaís e de seu crescente contin-gente de mestres e doutores. “OBrasil formou o seu primeiro mes-tre em 1963 e hoje titula 40 milmestres e 14 mil doutores porano. Esses números são notá-veis, nenhum país do mundo,num tempo tão curto quantoesse, teve um crescimento tãogrande”, afirma. Do lado indus-trial, o secretário aponta que épreciso mais investimentos empesquisa e desenvolvimento ena valorização das pessoas qua-lificadas cientificamente.

Segundo Álvaro Prata, um dospapéis da Secretaria de Desen-volvimento Tecnológico e Ino-vação e do MCTI é aproximaresses dois mundos. “Nós temoscriado uma série de instrumen-tos, de programas e incentivosque mais e mais começam a darresultados, por exemplo, o nú-mero de empresas que inves-tem, se envolvem e se benefici-am com a Lei do Bem de incen-tivos fiscais é crescente. Agoraesse impacto que nós queremoster e queremos que apareça daprodução industrial em benefí-cio da sociedade brasileira, essecertamente virá, mas não numestalar de dedos”, pondera ele.

Fonte: Global Innovation Index 2013

Ranking internacional

Anunciado plano de C&T para a Amazônia LegalDocumento, coordenado pelo Centro de Gestão e Assuntos Estratégicos (CGEE), será lançado nos dias 20 e 21 de março em Cuiabá (M T)

Camila Cotta

A Amazônia representa maisda metade das florestas tropi-cais remanescentes e a maiorbiodiversidade do planeta. É umdos seis grandes biomas brasi-leiros. Para efeitos de governo eeconomia, a Amazônia é delimi-tada por uma área chamada“Amazônia Legal”, composta pornove estados (Acre, Amapá,Amazonas, Mato Grosso, Mara-nhão, Pará, Rondônia, Roraimae Tocantins). Sua singularidadee riquezas são importantes parao crescimento do país e o bem-estar de sua população.

Com foco no desenvolvimen-to sustentável da região amazô-nica, os Secretários de Ciência eTecnologia e as Fundações deAmparo à Pesquisa dos estadosdo Norte sugeriram a criação deum Plano de Ciência, Tecnolo-gia e Inovação para a AmazôniaLegal (PCTI/Amazônia). O docu-mento, elaborado pelo Centro deGestão e Estudos Estratégicos(CGEE), teve como base a intera-ção sistêmica entre os atores einstituições relevantes visando àadoção de um novo modelo dedesenvolvimento, baseado emconhecimentos e inovações.

A região sempre foi olhadapelas óticas dos interesses eco-nômico e preservacionista. Prin-cipalmente a Floresta Amazôni-ca, hoje mais do que nunca, jáque vivemos um momento deesgotamento de muitas das fon-tes energéticas, minerais e vege-tais. Para alterar esse panorama,o plano do CGEE ressalta a im-portância de mudanças que re-forcem e promovam a centralida-de das ações de ciência, tecnolo-gia e inovação no conjunto dasestratégias de desenvolvimento,de forma a propiciar a utilização

intensiva de conhecimentos eagregar valor à biodiversidaderegional. Com isso, espera am-pliar as oportunidades de empre-go e renda e compatibilizar odinamismo da economia com amitigação dos impactos sociais eambientais esperados.

De acordo com Henrique Villada Costa Ferreira, líder do proje-to, “queremos transformar, nospróximos 20 anos, a ação huma-na na região, menos predatória emais enfocada no conhecimen-to, de forma a garantir a preserva-ção do seu bioma”. A orientaçãodo CGEE foi para que se elabo-rasse uma proposta consensualsobre o papel da CT&I para odesenvolvimento da Amazônia,tendo como pano de fundo oaproveitamento sustentável darica biodiversidade regional.

Para Antonio Carlos FilgueiraGalvão, diretor do CGEE, o gran-de desafio que a CT&I tem pelafrente é criar uma agenda posi-tiva, de forma a utilizar a florestade maneira não predatória, agre-gando valor, tanto de recursos

quanto de qualidade de vidapara a população. “A políticaregional não pode seguir damaneira que está hoje. Estamosacabando com os recursos na-turais existentes. A Amazônia éum grande laboratório de rique-zas potenciais”, salienta.

A meta do plano é gerar dis-cussão e conhecimento, aumen-tando a capacidade de inteli-gência nas políticas públicas. Épromover a equação das pesso-as na região, de forma a educá-las a viverem organizadamentepara sua sobrevivência. “Com oaumento do suporte da ciênciana região, fortaleceremos a es-trutura técnico-científica. Preci-samos mostrar à sociedadequais são os desafios e comovencê-los”, diz Galvão.

PCTI/Amazônia - O grande de-safio a perseguir é aumentar empelo menos 50% a participaçãoda Amazônia no total de dispên-dios do governo federal em CT&I;e triplicar o número de doutoresexistentes e atuantes na região,

com ênfase nas áreas do conhe-cimento correlatas à Agenda deP&D, sempre considerando asdesigualdades intrarregionaisque caracterizam o sistema re-gional de CT&I.

Por ser um documento que vaialém da proposição de estraté-gias, caracterizando-se como Pla-no de Ação, o PCTI/Amazôniapropõe um conjunto de progra-mas: Apoio à Infraestrutura de CT&Ida Amazônia (ProInfraCTI); For-talecimento e Expansão da Basede Recursos Humanos da Ama-zônia (ProRH); Estruturação eAmpliação dos Polos Regionaisde Inovação (ProInovar); e Apoioà Pesquisa e Desenvolvimentoda Amazônia (ProPesquisa).

“A modernidade do plano é aforma em que ele foi concebido,em ambiente de discussão. Oresultado é a opinião consensualdos atores. Coletamos sugestõese as transformamos em relató-rios. Nossa missão é comparti-lhar um entendimento comumcom resultados concretos a partirdo comprometimento das lide-ranças e atores regionais, tantono âmbito federativo, quanto noâmbito horizontal da relação daPolítica de CT&I com as demaispolíticas públicas direcionadas àregião”, finaliza Galvão.

Sob a coordenação do CGEE,o documento contou com a parti-cipação de mais de 600 atoresregionais – membros da comuni-dade científica, gestores estadu-ais e federais, empresários – du-rante um período de aproxima-damente 11 meses, com a reali-zação de diversas etapas, entrerodadas de consultas e discus-são com os seus protagonistas.

O plano está disponível nestelink: www.cgee.org.br/busca/C o n s u l t a P r o d u t o N c o mTopo.php?f=1&idProduto=8585

Pesquisadores sugerem um novo modelo de desenvolvimento

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Vivian Costa

A SBPC e a Academia Brasi-leira de Ciência (ABC) enviaramcarta ao governador do DistritoFederal, Agnelo Queiroz, solici-tando que ele reconsidere a pre-tensão de retirar 90 hectares daárea da Embrapa Cerrados paraa implantação de um projetohabitacional, o ResidencialPlanaltina Parque, às margensda BR-020 e que irá alojar 5 milpessoas. Segundo as entidades,“a importância social desse em-preendimento não pode anulara importância de outro, para asociedade brasileira e em espe-cial para o Distrito Federal e paraa região dos Cerrados, que é amanutenção do campo experi-mental da Embrapa Cerrados”.

Entre tantos argumentos cita-dos pelas entidades, encontra-

O anúncio de redução da área da unidade poderá prejudicar pesquisas que vêm sendo realizadas há décadas

se o de que a Embrapa Cerradosestá localizada há mais de 30anos no mesmo lugar, e que, aolongo desses anos, a Embrapainvestiu grandes montantes derecursos, humanos e financei-ros, no desenvolvimento de ex-perimentos científicos e tecnoló-gicos, como o desenvolvimentode técnicas para correção daacidez e adubação do solo paraa produção agrícola, desenvolvi-mento de cultivares de soja emilho adaptados à região doscerrados, técnicas de integraçãolavoura-pecuária e, ainda, expe-rimentos para aumentar a quali-dade da carne bovina, comerci-alizada no país e no exterior.

Na carta, as entidades afir-maram ainda que já há outrasdisponíveis para o mesmo fim,de modo que permita que aEmbrapa Cerrados continue no

mesmo local contribuindo paraa geração e difusão de conheci-mentos, tão importantes para odesenvolvimento de nosso país.Para a SBPC e ABC, “a rupturade anos de pesquisa neste cam-po experimental da EmbrapaCerrados causará enormes pre-juízos ao avanço da ciência bra-sileira e, em consequência, paraa economia nacional”.

Importância da região - Consi-derado o segundo maior biomado país, o Cerrado apresentounas últimas quatro décadas umdesenvolvimento agrícola ex-cepcional, tornando-se referên-cia no cenário econômico na-cional e internacional. A partirde 1975 a Embrapa Cerradosvem contribuindo eficazmentepara a incorporação de terrasantes consideradas impróprias

para a exploração agrícola emsistemas modernos de produ-ção de alimentos.

O Cerrado possui 139 mi-lhões de hectares de terras ará-veis, dos quais, 54 milhões es-tão sob pastagens cultivadas;21,6 milhões sob culturas agrí-colas, sendo 85% com cultivosanuais e 15% com cultivos pe-renes; e 3,4 milhões com áreasreflorestadas. Na safra 2009/2010, a região foi responsávelpor 54% da produção nacionalde soja, 95% da produção dealgodão e 23% da produção decafé. Na pecuária, estão 41%dos 190 milhões de bovinos dorebanho nacional, responsá-veis por 55% da produção na-cional de carne e 41% da pro-dução de leite.(Com informações da EmbrapaCerrados)

Pesquisadores analisam o "Mais Médicos"Estudo vai analisar os resultados e a eficácia do programa de saúde pública

Camila Cotta

A Universidade de Brasília(UnB) realiza um estudo paraexaminar as condições de ofertados serviços de saúde à popula-ção e analisar a eficácia do Pro-grama Mais Médicos. A medidagovernamental prevê, entre ou-tras metas, mais investimentosem infraestrutura dos hospitais eunidades de saúde, além de le-var mais profissionais para regi-ões onde há escassez e ausên-cia de médicos.

A pesquisa intitulada Análiseda Efetividade da Iniciativa MaisMédicos na Realização do Di-reito Universal à Saúde e naConsolidação das Redes deServiços de Saúde busca ma-pear a distribuição dos médicosvinculados ao programa pelopaís. O estudo também analisa opercentual de municípios aten-didos em relação à demandapor serviços de saúde e o tempode permanência e rotatividadedos médicos em cada cidade.

Para a coordenadora do es-tudo, professora Leonor MariaPacheco Santos, do Departa-mento de Saúde Coletiva daUnB, a pesquisa é de extremaimportância por se tratar de umapolítica pública com grandemobilização de recursos. “Que-remos ver se o programa real-mente vai cumprir com seus ob-jetivos e resolver as questões dasaúde no país, principalmentenos municípios mais necessita-dos”, explica.

Entre as questões a seremresolvidas estão os índices deinternação e mortalidade decor-rentes de doenças tratáveis naatenção primária à saúde, comoos casos de diabetes e hiperten-são. “Se houvesse um bom aten-dimento na atenção básica, onúmero de internações não se-ria tão grande, desafogando oshospitais. Vamos verificar se háuma diminuição desse procedi-mento”, frisa a coordenadora.

Segundo a professora daUnB o estudo, apesar de serindependente, conta com oapoio dos Ministérios da Saúdee da Educação, que também jáfazem um monitoramento pró-prio do programa. “Estaremosem contato direto com os gesto-res da Saúde informando a situ-ação encontrada na pesquisade campo. Assim, na medida dopossível, vamos corrigir asdistorções”, conta Leonor.

Abrangência geográfica - Du-rante três anos, cerca de 20pesquisadores com estudos naárea de saúde integrarão o pro-jeto. São especialistas das uni-versidades federais de Brasília(UnB), Bahia (UFBA), Rio Gran-de do Sul (UFRGS), EspíritoSanto (Ufes), Pará (UFPA), Mi-nas Gerais (UFMG) e da EscolaSuperior de Ciências da Saú-

de do Distrito Federal (ESCS).Os participantes foram escolhi-dos de acordo com a expertisedos professores e a localiza-ção geográfica.

A pesquisadora explica que,além do estudo quantitativo, noqual serão utilizados dados dosistema de informação do Minis-tério da Saúde, serão realizadasvisitas em cidades que recebe-ram o Programa. “Queremosavaliar se o número de médicoscobre o deficit dos municípios ese a interação médico/popula-ção é efetiva”, observa.

O trabalho será in loco em 32municípios brasileiros. Os espe-cialistas serão responsáveis porconduzir entrevistas com gesto-res e profissionais da área dasaúde. “Queremos saber comoesses médicos estão se inte-grando nas unidades e se modi-ficaram a situação da saúde naregião”, diz a professora da UnB.A coordenadora acrescenta queserão verificadas ainda as con-dições de trabalho dos profissio-nais e se as unidades de saúdeestão equipadas.

Para a efetividade do traba-lho, durante os três anos ocorre-rão três visitas nos municípiosselecionados. Até o momento, jáforam selecionados 12 municí-pios na região Norte e 14 noNordeste, regiões que recebe-ram o maior número de médicospelo programa. “Serão realiza-das visitas anualmente duranteo tempo da pesquisa. Na oca-sião, os médicos e a populaçãoserão entrevistados e relatarãoas dificuldades encontradas”,informa Leonor Pacheco. Paraum controle efetivo, serão emiti-dos relatórios semestrais ao Mi-nistério da Saúde e à imprensa.

O estudo conta com recursosde R$ 930 mil do Conselho Na-cional de Desenvolvimento Ci-entífico e Tecnológico (CNPq),provenientes da chamada pú-blica nº 41/2013, destinada aapoiar projetos de pesquisa cien-tífica e tecnológica voltados àárea de políticas de saúde, quecontribuam com a produção de

conhecimento para a efetivaçãodo direito universal à saúde.

Raios X da saúde no Brasil - OInstituto Nacional de PesquisaAplicada (Ipea) revelou, em2011, que 58,1% da populaçãoapontam a falta de médicoscomo o principal problema doSistema Único de Saúde (SUS).Dados do Instituto mostram queo Brasil possui apenas 1,8 mé-dico por mil habitantes. Esseíndice é menor do que em ou-tros países, como a Argentina(3,2), Portugal e Espanha, am-bos com 4 por mil. Além disso, opaís sofre com uma distribuiçãodesigual de médicos nas regi-ões: 22 estados estão abaixoda média nacional.

Programa Mais Médicos - O Pro-grama faz parte de um pacto demelhoria do atendimento aosusuários do SUS, que prevê maisinvestimentos em infraestruturados hospitais e unidades de saú-de, além de levar mais médicospara regiões onde há escasseze ausência de profissionais. Coma convocação de médicos paraatuar na atenção básica de mu-nicípios com maior vulnerabili-dade social e Distritos Sanitá-rios Especiais Indígenas (DSEI),o governo federal garantirá maismédicos para o Brasil. A iniciati-va prevê também a expansão donúmero de vagas de medicina ede residência médica, além doaprimoramento da formaçãomédica no Brasil.

Em 2014, a verba do progra-ma será de R$ 1,9 bilhão. Noexercício passado, quando foiimplementado o programa, oMinistério da Saúde era o únicoexecutor dos recursos repassa-dos para o Mais Médicos. Em2014, os Ministérios da Educa-ção e Defesa também foram con-templados com verba para inici-ativas do programa. Dos quaseR$ 2 bilhões orçados, R$ 1,5bilhão está sob a responsabili-dade da Saúde, R$ 359,5 mi-lhões da Educação e R$ 28,6milhões da Defesa.

Leonor Santos avalia se programa governamental cumprirá metas

UnB

Nordeste ganhaprimeiro Instituto deMedicina Tropical

Objetivo da instituição é estu-dar e pesquisar doenças negli-genciadas presentes na região

O primeiro Instituto de Medi-cina Tropical (IMT) do Nordestefoi inaugurado no mês passado(21/02) pela Universidade Fe-deral do Rio Grande do Norte(UFRN). O objetivo é estudar epesquisar doenças endêmicasinfecciosas e infectocontagio-sas, características de clima tro-pical, cuja incidência no séculoXXI representa um atraso emsaúde no país, afirmou a diretorado IMT, a professora SelmaJerônimo.

Selma acredita que o IMTcontribuirá para melhorar a ca-pacidade diagnóstica e desen-volver vacinas em âmbito re-gional. Ela acrescentou que so-luções para leishmaniose, do-ença de Chagas e hanseníase,entre outras presentes nas po-pulações menos favorecidasdo Nordeste brasileiro, pode-rão advir de investigação decausa e produção de medica-mentos através de parceriasentre a UFRN, instituições depesquisa norte-americanas, aCoordenação de Aperfeiçoa-mento de Pessoal de NívelSuperior (Capes) e governo doRio Grande do Norte.

Os investimentos de R$ 2,2milhões aplicados no desen-volvimento do Instituto foramfinanciados por órgãos como aFinanciadora de Estudos e Pro-jetos (Finep/CT-Intra), Progra-ma de Apoio a Planos de Rees-truturação e Expansão das Uni-versidades Federais (Reuni), oInstituto Nacional de Ciência eTecnologia - Doenças Tropi-cais (INCT-DT), do NationalInstitute of Health (EUA), e Con-selho Nacional de Desenvolvi-mento Científico e Tecnológico(CNPq).

Hoje, na UFRN, as pesquisassobre doenças negligenciadassão realizadas por um grupo depesquisadores da própria uni-versidade, em uma estrutura “de-ficitária”. Agora, esses pesqui-sadores irão trabalhar direta-mente no IMT.

Impacto da pós-graduação naciência - Participaram da inau-guração do IMT, dentre outraspersonalidades, o vice-presi-dente da Capes, Lívio Amaral, ea presidente da Sociedade Bra-sileira para o Progresso da Ciên-cia (SBPC), Helena Nader. Am-bos integraram a mesa-redon-da intitulada “O impacto da pós-graduação no desenvolvimen-to científico brasileiro” – realiza-da em meio à inauguração doIMT – sob a coordenação dareitora da UFRN, Ângela MariaPaiva Cruz.

JORNAL da CIÊNCIA 14 de Março de 2014Página 8

Museus e centros de Ciência e Tecnologia pedem socorroEspaços fechados e falta de investimento colocam em cheque a atual política de democratização da ciência

Edna Ferreira e Viviane Monteiro

Os museus de ciência brasilei-ros vivem hoje um momento commuitas contradições e incertezas.Apesar de a política de democra-tização da ciência ter esses es-paços como foco principal, con-solidar essas instituições estásendo um grande desafio. Tantoque alguns centros importantesestão fechando: a Estação Ciên-cia/USP, que foi inaugurada em1987 e atendia mais de 400 milpessoas, e o Museu de Ciência eTecnologia da Bahia, aberto em1979, e um dos mais antigos dopaís. Afinal, que política de demo-cratização é essa que não conse-gue manter os centros e museusde ciência funcionando?

Para Carlos Wagner Costa Ara-újo, presidente da AssociaçãoBrasileira de Centros e Museusde Ciência (ABCMC) e professorda Universidade Federal do Valedo São Francisco - Univasf, essasituação é terrível. "Quando osespaços estão funcionando bem,com atendimento e sucesso depúblico, vem a 'magia' da gestãoe da política para mudar tudo, comreformas e transferência de pes-soal qualificado e fechamento.Nesse sentido, os cadeados emordaças surgem com muita fa-cilidade dos gestores", analisaAraújo. Ainda segundo ele, onúmero de espaços científicos eculturais vem crescendo, no en-tanto cresce de forma desigual edesproporcional.

O Ministério da Ciência, Tec-nologia e Inovação - MCTI criou oDepartamento de Popularizaçãoda Ciência, em 2004. Duranteuma década, projetos e ações detodas as partes do Brasil foramfomentados por editais do CNPq.Mas, de acordo com Araújo, o paísé muito grande e necessita demuito investimento na área. "Oscentros e museus de ciência sãoparte de um processo educacio-nal brasileiro que já esteve muitoruim e excludente. O país possui5.564 municípios, onde o interiorestá esquecido. Tenho a certezade que pelo país a fora há maisprojetos de shoppings, do que decentros e museus de ciência. Pre-cisamos inverter essa lógica", afir-ma o presidente da ABCMC.

De acordo com Araújo, hoje oBrasil tem competência parapensar, elaborar e construir seuspróprios espaços científicos eculturais com exposições quevalorizem a ciência e a culturanacional. "Os museus de ciênciadevem estar antenados e saberfazer e apresentar a natureza,para que o público interprete deforma crítica", opina. Ele tam-bém espera mais investimentospara os museus universitários,que em sua opinião são ambien-tes nos institutos de pesquisa e

Antes do abandono, Museu de C&T da Bahia era visitado por crianças

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nas universidades que guardame conservam a memória da ciên-cia e tecnologia brasileira e queprecisam ser mapeados. "AABCMC já alertou o governosobre essa problemática. Esta-mos aguardando soluções maisconcretas", afirma Araújo.

Bons exemplos - Em 2014, oEspaço Ciência, um dos maioresmuseus de ciência no país, estácompletando 20 anos. Os res-ponsáveis pelo espaço comemo-ram o fato dele ter recebido cercade 2 milhões de visitantes nesteperíodo – em 2013 foram 160 milvisitantes. Para Antonio CarlosPavão, Diretor do Espaço Ciên-cia (há quase 20 anos) e profes-sor de Química na UniversidadeFederal de Pernambuco (UFPE),o sucesso desse espaço é umaclara demonstração de que a"política de democratização daciência pelos museus está fun-cionando", pelo menos em Per-nambuco. "Isto não significa di-zer que não precisa ser incre-mentada, pelo contrário: o Espa-ço Ciência é um exemplo de queprecisamos ampliar o númerodestes espaços de divulgaçãocientífica", afirma Pavão.

Da atual política do MCTI, odiretor do Espaço Ciência des-taca os editais, mas que eleainda considera "muito poucose de pouca monta". "É necessá-rio desenvolver uma políticamais permanente e mais ex-pressiva de apoio tanto aosmuseus existentes como para aimplantação de novos pelo país.Acho que deveria ter um museuem cada esquina. O ideal seriatransformar as igrejas e tem-plos religiosos em museus deciência", sugere Pavão. Aindasegundo ele, os museus e cen-tros de C&T brasileiros são bons,mas são poucos. "Já tivemosmelhores safras", resume.

Mas, mesmo diante dessequadro negativo, o presidente

da ABCMC, Carlos Wagner Ara-újo também aponta outros bonsexemplos e pessoas que estãopersistindo no sonho de novosespaços. "Um exemplo de su-cesso de público são os projetosCiência Móvel, que não fica "imó-vel", a maioria percorre e movi-menta várias cidades. Espaçoscomo o do Museu de Ciência deBrasília, em fase de projeto, oMuseu da Amazônia - MUSA,que já funciona em Manaus. E,ainda em 2014, teremos a inau-guração do Espaço Ciência eCultura da Universidade Fede-ral do Vale do São Francisco -Univasf, instituição onde sou pro-fessor", comemora Araújo.

Outro projeto que anima o pre-sidente da ABCMC é a organiza-ção de um novo catálogo da ins-tituição, que será apresentadodurante a 66ª Reunião Anual daSBPC, a ser realizada na Univer-sidade Federal do Acre, em RioBranco. A publicação está sendoorganizada por membros daABCMC, Museu da Vida/Fiocruze Casa da Ciência/UFRJ. "Atual-mente, nosso catálogo possuimais de 200 espaços dedicadosa popularizar a ciência que são:centros e museus de ciência, pla-netários, parques zoobotânicos.Nesse novo catálogo teremosuma radiografia com informaçõesdos espaços", conta Araújo.

Em decadência, Museu de C&Tda Bahia deve ser revitalizadoem 2014 - Diante da pressão dacomunidade científica local, oMuseu de Ciência e Tecnologia(C&T) da Bahia, em decadênciadesde a década de 1990, deveser reformado ainda este ano,embora a Universidade do Esta-do da Bahia (Uneb), sua antigagestora, permaneça transferin-do setores administrativos parao espaço baiano de populariza-ção da ciência.

Nelson Pretto, professor daUniversidade Federal da Bahia

(UFBA) e secretário regional daSociedade Brasileira para o Pro-gresso da Ciência (SBPC) deSalvador, espera que o museuseja revitalizado na nova gestãoda Secretaria de Ciência e Tec-nologia e Inovação (Secti), que játornou público o quanto de desa-fio existe na intenção de reformaro museu. Inclusive, mantê-lo emseu endereço original. A verbacanalizada para reforma do mu-seu este ano é estimada em cer-ca de R$ 2 milhões, adiantou odiretor de Tecnologia para o De-senvolvimento Socioambientalda Secti-BA, Ernesto Carvalho.

Fundado em 1979, pelo en-tão governador Roberto Santos,ex-reitor da UFBA, o Museu deCiência e Tecnologia da Bahiafoi o primeiro, dessa categoria, aser erguido na América Latina.Alocado em um dos mais beloscartões-portais de Salvador, noParque de Pituaçú, a maior re-serva ecológica da cidade, che-gou a ser um dos museus maisfamosos do Brasil, nos anos de1980. Entrou, porém em deca-dência nos governos seguintes,sob alegação de que o espaçode popularização da ciência deSalvador demandava investi-mentos constantemente.

Com isso, o empreendimen-to passou aos cuidados da Uni-versidade do Estado da Bahia(Uneb) que o manteve "a duraspenas" por algum período, e como passar do tempo passou aimplementar setores administra-tivos no local, conforme relata osecretário regional da SBPC deSalvador.

Da Uneb para Secti-BA - Hoje omuseu encontra-se em proces-so de transição. Em agosto de2013, o atual governo da Bahiao transferiu para as mãos daSecti-BA, pelo Decreto Nº14.719. Entretanto, o primeirosinal dado pela gestão anteriorda Secretaria foi o de tirar o mu-seu do endereço original, o quedesencadeou uma manifesta-ção contrária por parte da comu-nidade científica local e de asso-ciações de museus.

Embora a atual gestão da Secti-BA assegure que o museu seráreativado e mantido em seu ende-reço original, Nelson Pretto disseestar preocupado com a decisãoda Uneb de permanecer transfe-rindo para o museu novos setoresadministrativos, mesmo depois dapublicação do decreto.

"Isso, seguramente, dificulta-ria mais ainda a reativação domuseu (e em seu endereço origi-nal)", explica o secretário regionalda SBPC, em Salvador. Procura-da pelo Jornal da Ciência, a reito-ria da Uneb não foi encontrada,até por que as atividades da uni-versidade estão paralisadas.

JORNAL da CIÊNCIA14 de Março de 2014 Página 9

EstudossobreosimpactosdadegradaçãodoCerradoedoPantanal

Publicação traz pesquisas sobre dois biomas brasileiros

Camila Cotta

O Centro-Oeste é a 2ª maiorregião do Brasil em superfícieterritorial e abrange dois impor-tantes biomas: Cerrado e Panta-nal. Por suas vastas áreasterritoriais e extensões aquáti-cas, ambas as savanas possuemum rico patrimônio de recursosnaturais e biodiversidades, comdiversas espécies nativas e inú-meros micro-organismos, compotenciais para indústrias farma-cêuticas, de alimentos e cosmé-ticos, de biocombustíveis, entreoutros. No entanto, esses biomasencontram-se em estado de de-gradação, resultado de políticaseconômicas não sustentáveis.

Para evitar que a ameaça deconservação torne-se ainda maiscrítica, a Rede Centro-Oeste dePós-graduação, Pesquisa e Ino-vação (Rede Pró Centro-Oeste)lançou um livro para divulgar as101 pesquisas desenvolvidas noDistrito Federal, Mato Grosso,Goiás e Mato Grosso do Sul. Apublicação – Construindo o futu-ro das novas gerações – explicao contexto, os impactos e as pers-pectivas dos trabalhos, que se-guem três linhas de estudos: ciên-cia, tecnologia e inovação para asustentabilidade da região; bioe-conomia e conservação dos re-cursos naturais; e desenvolvi-mento de produtos, processos eserviços biotecnológicos.

De acordo com o superinten-dente da Fundação de Amparo àPesquisa do Distrito Federal(FAPDF) entidade que faz parteda Rede Pró-Centro-Oeste, pro-fessor Paulo Henrique AlvesGuimarães, as pesquisas abran-gem áreas que causam impactosna sociedade, como o trabalhode melhoramento genético, de-senvolvimento de novos fárma-cos, desenvolvimento de produ-tos para nutrição animal, entreoutros. O professor acrescentaque os estudos visam gerar re-sultados benéficos para a forma-ção de recursos humanos e pro-dução do conhecimento científi-co, tecnológico e de inovação.

Dentre as pesquisas publica-das, estão em destaque os estu-dos sobre as peçonhas de ani-mais da Região Centro-Oeste, quevisam identificar os acidentes comanimais peçonhentos; o desen-volvimento de novas ferramentasfarmacológicas e novas drogas(bioprodutos); implantação deuma plataforma tecnológica paraa produção de biofármacos noCentro-Oeste; terapêutica para otratamento do diabetes tipo 2.

O livro pode ser encontradoem sua versão on-line no link:h t t p : / / i s s u u . c o m /produtoranaturezaemfoco/docs/

l i v r o _ r e d e _ p r o _ c e n t r o -oeste_issuuu. Para obter a có-pia impressa é preciso solicitar aobra na página da Secretaria daRede Pró-Centro-Oeste: http://redeprocentrooeste.org.br.

Rede Pró-Centro-Oeste - ARede Centro-Oeste de Pós-gra-duação, Pesquisa e Inovação foicriada em 2009 com o objetivode fortalecer e consolidar a for-mação de recursos humanos,produção de conhecimento ci-entífico, tecnológico e inovaçãoque contribuam para o desen-volvimento sustentável da Re-gião Centro-Oeste. Ela tem comofoco a conservação e o uso sus-tentável dos recursos naturaisdo Cerrado e Pantanal.

Para o professor, a Rede per-mite aos pesquisadores de insti-tuições de ensino e de pesquisaque troquem informações e com-partilhem laboratórios e experiên-cias. “A intenção é que a Redeajude na execução de pesquisas,pois, muitas vezes se tem materialde campo, mas não se tem equi-pamentos para análise”, ressalta.

Paulo Henrique acrescentaque a Rede também ajuda naformação de estudantes, com aoportunidade de interagir compesquisadores de diferentes á-reas, bem como conhecer dife-rentes realidades. “A Rede Pró-Centro-Oeste dá a oportunida-de para que as instituições depesquisa possam ter padrão depesquisa e de resultados seme-lhantes aos das regiões Sudes-te e Sul, onde há inclusive aparticipação maior de empresasinteragindo com os institutos depesquisa”, frisa.

Atualmente a Rede conta com16 grupos de pesquisa, 101 pro-jetos, 208 colaboradores, entreeles 70 mestrandos, 36 douto-randos, 16 pós-doutorandos, 63estudantes de iniciação científi-ca e 23 pesquisadores de insti-tuições de ensino e pesquisa doGoiás, Distrito Federal, MatoGrosso, Mato Grosso do Sul;além de secretarias de ciência,tecnologia e inovação e funda-ções de amparo à pesquisa detodos os estados.

Paulo Henrique Alves Guimarães

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O Centro de Investigações eEstudo Superior de Antropolo-gia Social (Ciesas) do Méxicolançou no dia 11 de março aBiblioteca de Antropologia eCiências Sociais Brasil-México,no Centro Cultural Brasil – Méxi-co (CCBM), situado na Embai-xada do Brasil.

Os primeiros livros do acer-vo da biblioteca serão de trêsbrasileiros. Otávio Velho, an-tropólogo da Universidade Fe-deral do Rio de Janeiro (UFRJ)e ex-diretor da Sociedade Bra-sileira para o Progresso daCiência (SBPC). A obra éintitulada Capitalismo autori-tário y campesinado. Un estudiocomparativo a partir de lafrontera em movimiento, comintrodução de Pablo Seman.

Outro título, La utopia urba-na. Un estudio de AntropologíaSocial, assinado por GilbertoVelho (1945 a abril de 2012),irmão de Otávio Velho. A intro-

Centro mexicano de antropologialançabibliotecaBrasil-México

Um dos títulos é de Otávio Velho, antropólogo da UniversidadeFederal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-diretor da SBPC

dução dessa obra é realizadapor Claudia C. e ZamoranoVillarreal.

Por último, a obra El índio y elmundo de los blancos. Unainterpretación sociológica de lasituación de los tukuna, realiza-da por Roberto Cardoso de Oli-veira, com introdução de MiguelAlberto Bartolomé.(Jornal da Ciência)

Um livro será de Otávio Velho

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SBPC Jovem convida para umaviagem aomundo do conhecimento

A programação está articulada com o tema central da 66ª RA daSBPC: Ciência e Tecnologia em uma Amazônia sem Fronteiras

Em 2014, a SPBC Jovemchega a sua 17ª Edição, reno-vando o convite para uma via-gem ao mundo do conhecimen-to. A Sociedade Brasileira parao Progresso da Ciência (SBPC),a Universidade Federal do Acre(Ufac) e o governo do estadodo Acre apostam na força jo-vem para a garantia de um fu-turo melhor a partir da pesqui-sa, da troca de experiências,da criatividade e da inovação.

A programação da SBPC Jo-vem está articulada com o temacentral da 66ª Reunião Anualda SBPC: “Ciência e Tecnolo-gia em uma Amazônia sem Fron-teiras”, criando um espaço con-vidativo e possibilitando umencontro desafiador entre o jo-vem e a ciência em plena Ama-zônia. Entidades científicas, ór-gãos governamentais e associ-ações estarão juntos nessegrande evento.

A SBPC Jovem traz uma pro-gramação diversificada, comatividades apresentadas de for-ma lúdica e criativa, que certa-mente irão despertar o interes-se do público infanto-juvenilpela ciência e tecnologia, comotambém atrair as famílias e asociedade em geral. A SBPCJovem inclui a SBPC Mirim, um

espaço destinado exclusiva-mente às crianças, organizadopela Secretaria Municipal deEducação.

Entre as atividades que se-rão oferecidas estão oficinasdestinadas a estudantes e pro-fessores do ensino básico, comduração de duas horas ou qua-tro horas, unindo teoria e prá-tica; salas temáticas: espaçosde livre circulação do públicodurante todo o evento; FeiraSBPC Jovem, com apresenta-ção de 30 trabalhos científicosde estudantes e professoresdo ensino básico de todo oBrasil; Papo com jovens cien-tistas, espaço para conversainformal com jovens que sãodestaque em diferentes áreasdo conhecimento, com relatode seu cotidiano, suas expe-riências e projetos itinerantesque incluem exposição Agên-cia Espacial Brasileira (AEB)na Escola, participação do Cir-co da Ciência, da AssociaçãoBrasileira dos Centros e Mu-seus de Ciência (ABCMC),Museu com atividades e expe-rimentos interativos.

Para mais informações so-bre a SPBC Jovem envie email:[email protected].(Ascom Ufac)

JORNAL da CIÊNCIA 14 de Março de 2014Página 10

Bagagens de passageiros internacionais contêm agentesinfecciosos prejudiciais à saúde e agropecuária

Pesquisa da UnB avalia riscos de entrada de doenças no país por produtos de origem animal e vegetal sem certificação sanitária

Camila Cotta

Juliana Castilho, 36 anos, ad-ministradora de empresas, aca-ba de chegar ao Brasil apóspassar 15 dias viajando pelaEuropa. Na sua mala trouxe vá-rios presentes, entre eles umqueijo português. Ao parar naalfândega do Aeroporto Inter-nacional Juscelino Kubitschek,em Brasília, ficou surpresa aosaber que não poderia ingres-sar no País com o laticínio quetrazia na bagagem. “Sabia queeu não podia levar alimentos doBrasil para outros países, mas ocontrário eu não imaginava, ain-da mais que comprei no freeshop”, afirma.

De acordo com o Ministérioda Agricultura, Pecuária e Abas-tecimento (Mapa), o desconhe-cimento sobre o que pode ounão ser trazido na mala ou nabagagem de mão é a principaljustificativa dos turistas que che-gam por aqui e têm suas com-pras apreendidas. O órgão in-forma que panfletos estão emvários locais dos aeroportos ex-plicando as normativas, alémde um espaço no site para tiraras dúvidas.

Para trazer um determinadoqueijo para o Brasil é precisoantes pedir uma certificação aoMinistério da Agricultura decla-rando o tipo de queijo, marca equantidade. Depois, ao voltar aoBrasil, deve apresentar a certifi-cação na inspeção das malas.Todos os alimentos importadosvendidos no país passam poreste processo de controle. A au-torização deve ser solicitadapelo menos um mês antes daviagem, em postos da VigilânciaAgropecuária Internacional(Vigiagro) em todos os estados.

Além dos derivados de leite,na lista de produtos que nãopodem ser trazidos na bagagemsem uma licença especial estãoalimentos de origem animal,plantas, frutas, vegetais, semen-tes, carnes e até a comida servi-da no avião.

Mas, por que os turistas nãopodem trazer os produtos cita-dos acima? A explicação fazparte da pesquisa coordenadapelo professor Cristiano Barrosde Melo, da Faculdade de Agro-nomia e Medicina Veterinária(FAV) da Universidade de Bra-sília (UnB). O trabalho, realiza-do durante cinco anos, éintitulado Avaliação do Risco daEntrada de Doenças Infeccio-sas através do Transporte deProdutos de Origem Animal emBagagens de Passageiros Pro-cedentes do Exterior.

Especialista em doençastransmitidas por vírus, bactérias,fungos e parasitas, o professorobserva que a entrada de produ-tos de origem animal e vegetalem território brasileiro, sem certi-ficação sanitária internacional,pode ocasionar a disseminaçãode doenças, afetando a saúdepública e animal, com impactosocial e econômico para o Brasil.“Nosso país é um dos mais impor-tantes na área da agropecuária eprecisa se proteger. Somos o prin-cipal exportador de carne de fran-go do mundo. Uma doença emnossos animais impediria essacomercialização e traria prejuí-zos enormes”, alerta Cristiano.

O professor acrescenta queum vírus, por exemplo, de umagripe, pode matar muitos brasi-leiros. “Nós não temos a mesmaimunidade de outras popula-ções. Um simples resfriado naEspanha pode chegar aqui ematar milhares de pessoas, poisnão temos a resistência dosmoradores de lá”, frisa.

Pesquisa - Para a realização doestudo foram interceptados aolongo de cinco anos 132 voosinternacionais em quatro dosmaiores aeroportos internacio-nais do país: Guarulhos (SP),Galeão (RJ), Confins (MG) e deBrasília (DF), entre 2009 e 2013.

Guarulhos e Galeão são os doisaeroportos internacionais, dos27 existentes, que representam85% da entrada de turistas quevêm do exterior. Brasília é o cen-tro do poder e, Minas Gerais,possui o maior polo de laticíniodo país.

O resultado foi a identificaçãode 23 agentes infecciosos. “Nósdescobrimos que é um proble-ma sério que o Brasil precisaenfrentar. Foram 60 toneladasde produtos apreendidos e leva-dos para um laboratório debiossegurança para serem ana-lisados”, diz.

Os resultados do estudo vãoajudar o Brasil a enfrentar os

grandes eventos esportivos –Copa do Mundo e Olimpíadas.“Temos que estar preparadospara a chegada de turistas domundo inteiro e, consequente-mente, para as irregularidadesnas bagagens. Assim estaremosprotegendo a população deagentes infecciosos e uma pos-sível catástrofe e ação terroris-ta”, alerta.

O estudo, realizado com recur-sos do Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico e Tec-nológico (CNPq), conta com aparceria do Mapa. A coleta domaterial apreendido foi feita comapoio do Sistema de VigilânciaAgropecuária Internacional(Vigiagro), Empresa Brasileira deInfraestrutura Aeroportuária(Infraero) e Receita Federal. Osprodutos coletados foram anali-sados microbiologicamente noLaboratório Nacional Agropecuá-rio de Minas Gerais (Lanagro),vinculado ao Ministério.

Projeto de Lei - Um PL está tra-mitando no Ministério da Agri-cultura e deve transitar para aCasa Civil. O documento prevê adeportação, multa e prisão depassageiros que desobedece-rem a lei. “Precisamos corrercom isso. Com os grandes even-tos, o trânsito aeroportuário doBrasil vai mudar. Cerca de 80mil voos serão alterados. Qua-se 2 mil voos a mais entre junhoe julho no período da Copa”,relata o especialista.

Copa do Mundo de 1978 - Paramostrar a extensão do proble-ma, o especialista cita comoexemplo o episódio ocorrido nopaís há 35 anos. Um vírus foidisseminado no Rio de Janeiroa partir do Aeroporto Internacio-nal do Galeão, recém-inaugura-do. “Em 1978, ano de Copa doMundo na Argentina, entrou noBrasil a peste suína africana atra-vés de resto de comida de bordode aviões procedentes de Por-tugal e Espanha”, conta. Os ali-mentos, que deveriam ser des-truídos no aeroporto, foram le-vados por um funcionário paraalimentar sua criação de por-cos. Quando os animais adoe-ceram, o funcionário do aero-porto vendeu-os em uma favelado Rio de Janeiro.

Foram necessários seis anospara erradicar a doença. “O Mi-nistério da Agricultura, de 1978a 1984, teve que comprar todosos porcos da favela do Rio deJaneiro. O Brasil gastou mais deR$ 60 milhões para erradicar apeste suína africana”, lembra oprofessor da UnB.

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Agenda científicaAgenda científica

JORNAL da CIÊNCIA14 de Março de 2014 Página 11

BrevesBreves Livros & RevistasLivros & Revistas

Tome CiênciaExibido em diversas emissoras com variadas alternativas de horários, oprograma promove debates sobre temas da atualidade com cientistas dediferentes especialidades. Horários e emissoras podem ser conferidos napágina www.tomeciencia.com.br. A seguir, alguns dos próximos temas:

China, parceira do futuro - De 15 a 21 de março - Especialistasdebatem sobre a China como hoje um dos principais parceiros tecno-lógicos do Brasil. Devem participar do encontro José Raimundo BragaCoelho, físico com mestrado em matemática, presidente da AgênciaEspacial Brasileira (AEB); o historiador Severino Bezerra Cabral Filho,diretor presidente do Instituto Brasileiro de Estudos de China e Ásia-Pacífico; e o físico Fernando Lázaro Freire Junior, diretor do CentroBrasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).

Diabetes: causas e consequências - De 22 a 28 de março -Especialistas comentam a tendência de alta do diabetes no Brasil,doença que, segundo pesquisas, atinge 5,6% dos brasileiros. Afinal, oque a ciência já sabe sobre diabetes? Esse e outros assuntos serãodiscutidos pela médica Lenita Zajdenverg, professora da UniversidadeFederal do Rio de Janeiro (UFRJ) e vice-presidente da SociedadeBrasileira de Diabetes; e a médica Flávia Lucia Conceição, da diretoriada regional Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia,dentre outros.

Encontros científicosFórum Nacional do Consecti - De 20 a 21 de março - O Fórum doConselho Nacional de Secretários Estaduais para assuntos de Ciênciae Tecnologia (Consecti) será realizado em Cuiabá (MT), no Palácio doGoverno. Estarão presentes cientistas, especialistas, dirigentes deinstituições, além do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação(MCTI).

24º Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica (CBEB) - Pelaprimeira vez, a Universidade Federal de Uberlândia (UFU) sediará oevento científico, um dos maiores da área na América Latina. Aconte-cerá de 13 a 17 de outubro, com o tema central "A Engenharia Biomédicacomo propulsora de desenvolvimento e inovação tecnológica emsaúde". As inscrições deverão ser feitas a partir do dia 3 de março nosite http://cbeb.org.br

2d International Congress Of Science Education, 15 Years Of TheJournal Of Science Education - O congresso será realizado em Fozdo Iguaçu, Paraná, de 27 a 30 de agosto de 2014.Organizado pelaUniversidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), Fun-dação Parque Tecnológico Itaipu e Journal of Science Education.Oescopo do Congresso abrange ensino de ciências (biologia, física,química) e matemática em nível de educação básica e superior.Contato: [email protected]

QualificaçãoBolsa para pós doutorado em Biologia Molecular - Instituto deBiociências da Universidade de São Paulo tem quatro oportunidadesde bolsa de pós-doutorado. Inscrições é 30 de abril pelo sitewww.fapesp.br/oportunidades/561.

Duke Human Vaccine Institute - Duas vagas para pós-docs para oslaboratórios de imunorregulação em células B e análise de repertórioem células B. Os interessados precisam ter graduação em Medicinaou doutorado em Imunologia ou Microbiologia. Veja os requisitoscompletos em goo.gl/XzOAjo [em inglês]. Propostas até 30 de abril.

ConcursosPrograma de Oncobiologia da UFRJ - O Programa Interinstitucio-nal de Ensino, Pesquisa e Extensão em Biologia do Câncer doInstituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, da UFRJ, está comtrês editais abertos voltados a pesquisadores. Informações:www.oncobiologia.bioqmed.ufrj.br/oportunidades_editais.asp

Livre-docência na Unicamp - Inscrições abertas para concursos deobtenção do título de livre-docente nas áreas de: projeto mecânico,processamento de imagens e obstetrícia. Informações: www.sg.unicamp.br/dca/concursos/abertos/obtencao-do-titulo-de-livre-docente

Concurso para professor efetivo - A Universidade Federal do Cearábusca professor do magistério superior para o novo Campus deRussas. São oferecidas oito vagas, nas áreas de Computação eEngenharia de Produção Mecânica. Inscrições: www.progep.ufc.br.

Mutação – Pesquisa do InstitutoOswaldo Cruz informa que umamutação do vírus da hepatite C(HCV) pode estar ligada ao sur-gimento de câncer de fígado empacientes brasileiros. O estudo,publicado em fevereiro noJournal of Medical Virology,aponta para a descoberta de ummarcador precoce desse tipo decâncer em pessoas com hepati-te viral crônica. O biólogo OscarRafael Carmo Araújo, que de-fendeu dissertação de mestradosobre o tema, analisou amostrasde sangue de 106 pacientesinfectados pelo HCV.

Camada de ozônio – Pesquisa-dores britânicos identificaramquatro novos gases que estãocontribuindo para o buraco dacamada de ozônio. Os trêsclorofluorcarbonetos (CFCs) e ohidrofluorocarboneto (HCF) es-tão atuando na atmosfera hácerca de 50 anos, mas a fonte desuas emissões ainda é desco-nhecida. Mais de 74 mil tonela-das dos quatro gases recém-descobertos já foram emitidosna atmosfera, segundo um arti-go assinado por cientistas daUniversidade de East Anglia(UEA) e publicado na revistaNature Geoscience.

Prevenção do Alzheimer - Umnovo exame de sangue capazde prever com precisão o apare-cimento da doença de Alzheimerfoi desenvolvido por pesquisa-dores da Universidade deGeorgetown, em WashingtonD.C, informou a BBC News. Elesmostraram que testes do nívelde 10 gorduras no sangue per-mitiria detectar – com 90% deprecisão – o risco de uma pes-soa desenvolver a doença nospróximos três anos. Os resulta-dos, publicados na revista NatureMedicine, agora passarão portestes clínicos maiores.

Novidade na Física - Apresen-tador de um programa de Ciên-cias na Inglaterra, Steve Mould,que possui mestrado em Físicapela Universidade de Oxford,parece ser o descobridor da fon-te de corrente, que ele demons-trou em um vídeo espantosopublicado online. No clipe, elepuxa a ponta de uma compridacorrente de esferas de dentro deuma jarra de vidro. Quando soltaa ponta, a corrente continua sederramando para fora do vidropor conta própria, como água ougasolina sendo extraída de umtanque. O fenômeno foi interpre-tado como uma novidade pelosfísicos John Biggins e MarkWarner de Cambridge.

A Difícil Gestão da Pesquisa:institutos públicos de pesquisaou meros aglomerados de gru-pos de pesquisa? O caso doInstituto Nacional de Pesquisasda Amazônia (Inpa) - Com baseem sua dissertação de mestradodefendida em 1994, o pesquisa-dor do Inpa/MCTI, Peter Weigellançou, a publicação, que abor-da questões baseadas em suasexperiências como gestor noInstituto. Com atuação no institu-to desde 1978, o pesquisadorviu a necessidade de fazer umaanálise e sugerir alternativaspara que a gestão pudesse ten-tar induzir uma maior conver-gência entre o interesse dospesquisadores e as demandasda economia e da sociedade daregião. Editora da UniversidadeFederal do Amazonas (Edua).

Cientistas Fluminenses – Cole-tânea de dez livros financiadapela Fundação Carlos Chagasde Amparo à Pesquisa do Esta-do do Rio (Faperj). A organiza-ção da obra é de Ana Lucia Aze-vedo, Máximo Masson, RenatoCasimiro. O levantamento con-sultou especialistas de diversasáreas até chegar aos nomeshomenageados. Os dez eleitossão pessoas que deram contri-buições à ciência e à humanida-de, são eles: Anísio Teixeira,Carlos Chagas Filho, CarlosChagas, Cesar Lattes, JohannaDöbereiner, José Leite Lopes,Nise da Silveira, Oswaldo Cruz,Edgar Roquette-Pinto, VitalBrazil. Editora: EdUERJ.

Dicionário da Política Republica-na do Rio de Janeiro – A obra fazparte do trabalho que vem sendodesenvolvido no Centro de Pes-quisa e Documentação de Histó-ria Contemporânea do Brasil daFundação Getúlio Vargas. A pu-blicação teve como coordenado-ras Alzira Alves de Abreu eChristiane Jalles de Paula. Oobjetivo do dicionário é colocarao alcance da sociedade umpainel informativo sobre a histó-ria política, econômica e culturaldo estado e da cidade do Rio deJaneiro. Editora: Editora da FGV.

Insetos do Brasil – O livro contacom 71 autores que, em 43 capí-tulos (810 páginas e 1.769 figu-ras), falam sobre as 30 ordensde insetos encontradas no Bra-sil. A obra contou com financia-mento do Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico eTecnológico (CNPq) e da Fun-dação de Amparo à Pesquisa doEstado do Amazonas. (Fapeam).A primeira edição do livro é umvolume único e recebeu o prê-mio Alexandre Rodrigues Fer-reira, que é concedido pela So-ciedade Brasileira de Zoologia.Editora Holos.

JORNAL da CIÊNCIAPUBLICAÇÃO DA SBPC • 14 DE MARÇO DE 2014 • ANO XXVIII Nº 754

Viviane Monteiro

Uma perda irreparável para aCiência. Essa é a avaliação decientistas sobre a morte de DarcyFontoura Almeida (83 anos), ge-neticista, biofísico, e um dos fun-dadores da revista Ciência Hojee do Jornal da Ciência.

Filho de imigrantes portugue-ses, era professor aposentadodo Instituto de Biofísica da Uni-versidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ), onde se gra-duou no curso de medicina eposteriormente passou a atuarcomo pesquisador visitante.

Embora nunca tenha sido pre-sidente da SBPC, seu mérito naciência rendeu-lhe o título de pre-sidente de honra da instituição.Além de um cientista renomado,Darcy era um defensor de políti-cas para o desenvolvimento dapesquisa e da divulgação científi-ca no Brasil, relatou o jornalistaJosé Monserrat Filho, que em 1995participou do desenvolvimento doJornal da Ciência, juntamente comDarcy e outros cientistas como ofísico Ennio Candotti, vice-presi-dente da SBPC, e Alberto PassosGuimarães, pesquisador do Cen-tro Brasileiro de Pesquisas Físi-cas (CBPF).

“O que Darcy entendia deCiência, entendia de política”,resumiu Monserrat. “Darcy é ummodelo a ser seguido: determi-nado, otimista, afável, amigo ededicadíssimo ao trabalho.”

Emocionado, o físico EnnioCandotti preferiu não se esten-der sobre a perda de Darcy. Li-mitou-se a chamá-lo de “grandeamigo e fundamental para a cri-ação da revista Ciência Hoje.”

A mesma reação teve o físicodo CBPF, Alberto Guimarães quetrabalhou com Darcy no desen-volvimento da Ciência Hoje. “Foiuma convivência rica. Era umapessoa agradável, de humor fino,com capacidade de trabalhar emequipe e que deu uma grandecontribuição para a SBPC e aCiência Hoje.”

Em outra frente, o antropólo-go Otávio Velho, que trabalhoucom Darcy principalmente porintermédio das atividades daSBPC e da revista Ciência Hoje,destacou o status de Darcy comopresidente de honra da SBPC,apesar de nunca exercer de fatoa presidência da instituição, oque reflete a atuação significati-va de Darcy na Ciência do Brasil.

“Ele foi discípulo, amigo e cola-borador do professor Carlos Cha-gas Filho (filho de Carlos Justinia-no Ribeiro Chagas, que desco-briu o protozoário Trypanosomacruzi) na biofísica”, disse o antro-pólogo. Dentre outras atribui-ções, Darcy foi também pioneirona área de bioinformática noBrasil e ajudou a desenvolveralgumas áreas do Laboratório

Nacional de Computação Cien-tífica (LNCC), no Rio de Janeiro.

Marcas no jornalismo - No casodo Jornal da Ciência, a presen-ça de Darcy era marcada pelaedição. “Era ele que pegava ´osgatos´ (jargão jornalístico daépoca para corrigir os erros tipo-gráficos)”, lembra Monserrat.

A editora da revista CiênciaHoje, Alicia Ivanissevich, recor-da que quase todos os dias, nofim da tarde, Darcy saía do Insti-tuto de Biofísica da UniversidadeFederal do Rio de Janeiro e apa-recia na redação da revista “paracorrigir as provas” do Informe (Jor-nal da Ciência) ou da revista an-tes de entrarem em gráfica. Se-gundo Alicia, Darcy conseguiacomo ninguém descobrir os er-ros tipográficos que, como diziaMonteiro Lobato, se escondem ese fazem positivamente invisí-veis, mas, uma vez impressos,“se tornam visibilíssimos, verda-deiros sacis a nos botar a línguaem todas as páginas”.

Alicia acrescenta que Darcy eEnnio revezavam-se para escre-ver os editoriais do Informe, sem-pre combativos em defesa dodesenvolvimento da pesquisa noBrasil. Eram tempos de formaçãodas primeiras fundações estadu-ais de amparo à pesquisa.

Famosos caderninhos - Mon-serrat fez questão de lembrar“dos famosos caderninhos deDarcy”, uma espécie de diário,usados para anotações com lá-pis, especificamente, de todosos acontecimentos científicos,como propostas, ideias, pautasetc. Ou seja, uma relíquia. “Ébom resgatar isso.”

Darcy Fontoura morreu namadrugada do dia 6 de março.Ele deixa esposa, a jornalistaSuely Spiguel, seu segundocasamento.

Morre o geneticistaDarcy FontouraDeterminação, otimismo e dedicação ao trabalho marcam atu-ação de Darcy na ciência e na divulgação científica brasileira.

Walter Colli é o ganhador do PrêmioAlmirante Álvaro Alberto 2014

Cientista foi agraciado devido aos seus trabalhos na Bioquímica

Vivian Costa

O vencedor da edição 2014do Prêmio Álvaro Alberto é o ci-entista Walter Colli, professor ti-tular aposentado da Universida-de de São Paulo (USP), ondeainda atua como Professor Cola-borador Sênior, e um dos direto-res da Sociedade Brasileira parao Progresso da Ciência (SBPC).

O anúncio foi feito no dia 7 demarço pelo Conselho Nacionalde Desenvolvimento Científicoe Tecnológico (CNPq), após Colliter sido comunicado sobre aescolha pelo ministro da Ciên-cia, Tecnologia e Inovação, Mar-co Antonio Raupp. “Quando re-cebi a ligação do ministro fiqueifeliz e, ao mesmo tempo, muitosurpreso. Não poderia esperar,já que existem tantos cientistascompetentes que merecem aindicação”, disse Colli.

Graduado em medicina pelaUSP (1962), doutor em bioquími-ca pela Faculdade de Medicina elivre-docente pelo Instituto deQuímica da USP (1971), Collilembra que começou sua carrei-ra em 1957, quando seu entãoprofessor Isaias Raw o convidoupara trabalhar no laboratório deBioquímica da Faculdade deMedicina. “Não parei mais e en-tendo este prêmio como um reco-nhecimento da comunidade poruma vida inteira dedicada à ciên-cia e ao ensino”, comemora.

Colli tem experiência na áreade Bioquímica e Biologia Molecu-lar, atuando principalmente naárea de interação entre o proto-zoário Trypanosoma cruzi e acélula hospedeira, com particularenfoque em glicoconjugados, eligantes e receptores glicoprotei-cos. “Quando voltei dos EstadosUnidos em 1970 eu tentei trêsopções: seguir a pesquisa quehavia começado no exterior, queera o estudo da genética de umabactéria, estudar o DNA de umaameba de vida livre e trabalharcom o Trypanosoma cruzi, que éum protozoário flagelado, agenteda doença de Chagas. Depois decinco anos concluí que esta últimalinha seria mais produtiva. Naépoca, a Parasitologia era muitodescritiva e nós inovamos ao em-preender estudos moleculares,de Biologia Celular e Molecular,com esse parasita”, disse.

Formando pesquisadores - Aodescobrir uma nova classe demoléculas e, posteriormente,descrever uma grande famíliaproteica em torno da qual são

feitos ainda muitos estudos pormuitos grupos de pesquisa, Colliacredita que deu alguma contri-buição à pesquisa científica noBrasil. Ele destaca também asua contribuição na formaçãode alunos e pesquisadores e acriação de laboratórios. “Porcausa dos estudos originadosem meu laboratório, outros pes-quisadores conseguiram avan-çar em muitos outros aspectos. Eisso é gratificante”, explica.

O vencedor da edição de 2014foi diretor do Instituto de Químicada USP em dois períodos (1986-1990 e 1994-1998) e do InstitutoButantan (1999). Foi membro doConselho Deliberativo do CNPq(1989-1991), do Conselho Su-perior da FAPESP (1988-1994) ePresidente da Academia de Ciên-cias do Estado de São Paulo(1999-2006). Foi ainda diretor doInstituto de Relações Internacio-nais da USP e presidente da Co-missão Técnica Nacional de Bi-ossegurança (CTNBio) por 4anos. Atualmente, é coordena-dor adjunto da Diretoria Científi-ca da Fapesp. É membro da Aca-demia Brasileira de Ciências eda Academia de Ciências doMundo em Desenvolvimento.Manteve, desde 1975 e por 25anos, estreita colaboração comgrupos argentinos, tendo recebi-do vários pós-doutores dessepaís em seu laboratório, motivopelo qual recebeu o título de dou-tor honoris causa da Universida-de de Buenos Aires.

Ao laureado será entreguepremiação concedida pela Fun-dação Conrado Wessel, no va-lor de R$ 200 mil, uma viagemem navio de assistência hospi-talar na Amazônia concedidapela Marinha do Brasil, além dediploma e medalha concedidospelo Conselho Nacional de De-senvolvimento Científico e Tec-nológico (CNPq/MCTI). A ceri-mônia de premiação ocorrerádurante a Semana Nacional deCiência e Tecnologia, organiza-da pelo Ministério da Ciência,Tecnologia e Inovação (MCTI),em Brasília, no mês de outubro.

Colli: contribuição à pesquisa

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Darcy: modelo a ser seguido

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