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Com ligações infindas e perfeitas, a cadeia da vida continua. À margem dela, despegado e torto, O Homem-Rei-da-Criação! — Tu, Senhor morto do reino da misérrima ambição! Como no fim das guerras que fizeste, das trágicas fogueiras que acendeste, dos festins de ti mesmo que te deste, – pelos campos bravios, insepultos, os destroços de ti! São teus olhos cansados de chorar, tuas bocas cansadas de chamar, e a brancura duns ossos a apontar o caminho que já não passa ali. Miguel Torga Lamentação, XII, 1943

Lamentação - poema de Miguel Torga

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Page 1: Lamentação - poema de Miguel Torga

Com ligações infindas e perfeitas,

a cadeia da vida continua.À margem dela, despegado e

torto,O Homem-Rei-da-Criação!— Tu, Senhor mortodo reino da misérrima ambição!

Como no fim das guerras que fizeste,

das trágicas fogueiras que acendeste,

dos festins de ti mesmo que te deste,

– pelos campos bravios, insepultos,

os destroços de ti!São teus olhos cansados de

chorar,