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FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO Ana Eliza Grigorio Rodrigues Damaris Siqueira Brito Fabiana de Oliveira Paulino Joseane de Santana Tavares Lourival Lopes Cancela LEITORES DE RUA SÃO PAULO 2010

Leitores de rua: biblioteca do albergue Arsenal da Esperança

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Trabalho apresentado para a disciplina "Estatística" ministrada pela Profª Roseli Terezinha Gatti. A disciplina faz parte do curso de graduação em Biblioteconomia e Ciência da Informação da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo - FESPSP.

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Page 1: Leitores de rua: biblioteca do albergue Arsenal da Esperança

FUNDAÇÃO ESCOLA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA DE SÃO PAULO

FACULDADE DE BIBLIOTECONOMIA E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

Ana Eliza Grigorio Rodrigues

Damaris Siqueira Brito

Fabiana de Oliveira Paulino

Joseane de Santana Tavares

Lourival Lopes Cancela

LEITORES DE RUA

SÃO PAULO

2010

Page 2: Leitores de rua: biblioteca do albergue Arsenal da Esperança

Ana Eliza Grigorio Rodrigues

Damaris Siqueira Brito

Fabiana de Oliveira Paulino

Joseane de Santana Tavares

Lourival Lopes Cancela

LEITORES DE RUA

Trabalho apresentado à Disciplina de

Estatística como requisito parcial para

aprovação no 3º semestre do curso de

Biblioteconomia e Ciência da Informação da

Fundação Escola de Sociologia e Política de

São Paulo

Prof. Roseli Terezinha Gatti

SÃO PAULO

2010

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A cada leitor o seu livro, a cada livro o seu leitor.

Ranganathan

“Diz-se violento o rio que tudo arrasta, mas não se dizem violentas as margens que o oprimem.”

Bertold Brecht.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 5

1.1 Referencial Teórico 6

1.2 Justificativa do Tema 6

1.3 Objeto 7

1.4 Objetivo 7

4 METODOLOGIA 9

4.2 Elaboração do Questionário 9

4.3 Visitas e Aplicação do Questionário 9

5 ANÁLISE DOS DADOS 11

5.2 Idade 11

5.3 Naturalidade 11

5.4 Porque Está na Situação de Rua 12

5.5 Nível Escolar 13

5.6 Estado Civil 14

5.7 Profissão e Ocupação 15

5.8 Porque Frequenta a Biblioteca do Arsenal 15

5.9 Frequencia em Outras Bibliotecas 16

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 17

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 19

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ANEXO 1: RESULTADOS DA PESQUISA REALIZADA PELA FUND AÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS (FIPE) SOBRE MORA DORES DE RUA NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO 20

ANEXO 2: O ARSENAL DA ESPERANÇA 21

ANEXO 3: QUESTIONÁRIO 25

ANEXO 4: RELATÓRIO DE VISITA 27

ANEXO 5: FOTOS DA BIBLIOTECA DO ARSENAL DA ESPERANÇ A 28

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1 INTRODUÇÃO

É indiscutível o grande número de pessoas morando nas ruas desta cidade, aliás,

acabou de ser divulgado o resultado de uma pesquisa encomendada pela Prefeitura Municipal

de São Paulo que revelou que existem 13.666 pessoas em situação de rua, dessas 7.079 estão

acolhidos nos albergues e 6.587 morando nas ruas. Esse levantamento, realizado pela

Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), se preocupou em coletar dados

quantitativos relacionados ao sexo, trabalho, cor, despesas e dependência de álcool ou algum

outro tipo de droga. (Anexo 1)

Chamou-nos a atenção o fato de não haver dados quanto à procura por leituras,

bibliotecas ou algum centro de informação por parte dessa imensa população. Diante disso

baseamos esse trabalho nesta questão investigando se esse público, chamado de morador de

rua, completamente à margem da sociedade, tem o costume de frequentar bibliotecas ou

mesmo se existe por parte do poder público algum incentivo para que isso aconteça.

Para conhecer melhor o cotidiano dessa população visitamos aquele que é

considerado o maior albergue social da América Latina, o Centro de Acolhida Arsenal da

Esperança Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida (Anexo 2), conhecido popularmente

como Arsenal da Esperança, na Rua Doutor Almeida Lima, 900, no bairro da Mooca, partindo

do fator técnico que considera o acolhido em um albergue também um morador de rua, por

pertencer ao mesmo grupo em estado de vulnerabilidade social. Ali são acolhidos 1.200

homens diariamente e entre os diversos serviços que são disponibilizados à esses usuários está

uma biblioteca, que serviu de base para o nosso estudo.

Partindo da premissa que esse público sente necessidade de leitura, cultura e

informação, este projeto tem por objetivo mostrar a realidade escondida atrás das paredes de

uma antiga hospedaria de imigrantes, que passa despercebida pela maioria das pessoas que

por ali transitam, um verdadeiro universo de boas ações centradas na recolocação dos

acolhidos no mercado de trabalho, na recuperação dos laços familiares, da auto-estima, da

dignidade e, principalmente, da reinserção social. E um dos principais pilares desse processo é

o incentivo diário dado aos seus moradores, para que frequentem a biblioteca, retirem livros e

se mantenham sempre atualizados em relação aos últimos acontecimentos mundiais.

Por isso, o foco dessa pesquisa é exatamente conhecer o perfil desses leitores, usuários

da biblioteca do Arsenal e que aqui denominamos “leitores de rua”, destacando características

desconhecidas desse público que por ora não tem onde morar.

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1.1 Referencial Teórico

Esta pesquisa foi alicerçada nos estudos realizados pela assistente social Cleisa M. M.

Rosa, relatados em seu livro Vidas de rua (2005), onde estão descritas as primeiras ações de

um processo investigativo sobre a população de rua, no final da década de 1980. A obra

concorda com o que disse Bursztyn (2000, p. 19) “viver no meio da rua não é um problema

novo. Se não é tão antigo quanto à própria existência das ruas, da vida urbana, remonta, pelo

menos, ao renascimento das cidades, no início do capitalismo”.

Através da narrativa de Rosa (2005, p.10-15) podemos verificar que há muito se vêm

discutindo essa problemática e, com o seu olhar perspicaz, já naquela época, foi possível

constatar a institucionalização do trabalho social com quem mora na rua, pelo padrão de

atendimento convencional em albergues. Apesar deste trabalho já ter cinco anos, os dados

assemelham-se aos da pesquisa realizada pela FIPE e que foram divulgados em junho de 2010

pela Prefeitura Municipal de São Paulo, no qual muito nos baseamos.

Outra fonte de pesquisa e inspiração foi a matéria realizada pela Rede Globo para o

programa Globo Repórter que mostrou história do ex-morador do Arsenal da Esperança,

Marivaldo da Silva Santos, um homem que saiu de Feira de Santana e foi morar nas ruas de

São Paulo até que descobriu os “tesouros” da biblioteca do Arsenal e renasceu na companhia

dos livros.

1.2 Justificativa do Tema

A presença de pessoas vivendo cotidianamente nas ruas é uma realidade universal,

especialmente nas grandes metrópoles, um fenômeno complexo mesclado por processos

sociais e psicólogicos, objetivos e subjetivos, agravados pelas constantes transformações no

mundo do trabalho, geradoras de inseguranças e incertezas que levam ao enfraquecimento e

ruptura de vínculos sociais, familiares, profissionais e comunitários, e pelas dificuldades dos

sistemas de proteção social.

No Brasil, é bastante heterogêneo o segmento das populações que vivem nas ruas,

especialmente o das maiores cidades e não se sabe exatamente quantos são, pois essas pessoas

sempre ficam de fora dos censos oficiais do IBGE. Por iniciativas de alguns governos locais

têm sido feitos estudos e contagens, como é o caso da cidade de São Paulo, que realiza um

levantamento dessa população a cada três anos e no último realizado pela Prefeitura

Municipal existiam 13.666 pessoas em condição de rua em São Paulo. Esses dados são

sempre contestados pelos órgãos que assistem a essa população, alguns falam em mais de

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18.000 pessoas perambulando pelas ruas e pernoitando nos logradouros públicos e nos

albergues da cidade.

Como citado anteriormente, existe na cidade de São Paulo uma rede de albergues,

centros de serviços e proteção à população de rua, formada por um conjunto de 41 entidades

que recebem verba da Prefeitura para atender e tentar amenizar o sofrimento dessas pessoas

através de diversos programas assistenciais. Segundo informação do site da Secretaria

Municipal de Ação e Desenvolvimento Social (SMADS), não existe em nenhum desses

projetos a implantação de bibliotecas, salas de leitura ou algo parecido onde os usuários

possam buscar alguma fonte de informação, ficando tal responsabilidade à mercê do interesse

e das condições financeiras da Instituição local que, de acordo com inúmeras matérias

veiculadas pela imprensa, não conseguem oferecer nem mesmo os serviços prioritários com

qualidade.

Pode-se então perceber que essa concepção de proteção social consiste em oferecer os

elementos básicos para suprir as necessidades emergenciais de uma população que cresce ano

a ano, conforme constatado pela FIPE, mas que não se estende a recursos informacionais,

deixando-a desassistida no âmbito sócio-cultural, revelando o caráter assistencialista dos

programas governamentais. Diante disso a biblioteca que encontramos no Arsenal da

Esperança Dom Luciano Pedro Mendes de almeida é um exemplo às demais instituições, pois

contribui para que as pessoas deixem definitivamente as ruas, onde vivem expostas à

violência pessoal e a companhia constante das drogas.

1.3 Objeto

É importante esclarecer que consideramos como objeto o excluído social, que se

encontra em situação de rua, ainda que sob os cuidados do albergue Arsenal da Esperança,

pois, segundo disse Alda Marco Antonio em entrevista concedia à Rádio CBN, ao comentar a

pesquisa realizada pela FIPE, mesmo estando albergado essas pessoas também são

consideradas “moradores de rua”, pela dependência da rede de proteção social do município, e

todas foram relacionadas nos dados dessa pesquisa, cujos parâmetros norteiam o nosso

estudo.

1.4 Objetivo

Valorizar a importância da leitura e da informação como fator de transformação social

e compreender a sua importância na vida de uma parcela da população desprovida de

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condições que permitam o acesso a esse universo, capaz de promover mudanças em sua forma

de sobrevivência, e assim possamos contribuir chamando a atenção para essa gente tão

carente, mas que, ainda em meio a esse caos sócio-econômico, segue persistindo no hábito da

leitura como fator determinante para o seu bem-estar, mesmo em estado de abandono.

Esse estudo centra-se no conhecimento do tipo de público que frequenta o espaço

destinado à leitura e estudo do Arsenal da Esperança, sua origem, profissão, sua frequência a

essa ou outra biblioteca da cidade, para a partir daí traçarmos o seu perfil.

O nosso desejo é que o resultado final dessa pesquisa possa motivar os órgãos públicos

à implantação de uma rede de bibliotecas e/ou centros de informação dentro das Casas de

Acolhidas conveniadas, para que possam também colaborar no processo de recuperação

psicológica e social dos seus internos, como imaginamos acontecer com os leitores do Arsenal

da Esperança.

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2 METODOLOGIA

Depois de definido o tema deste estudo, realizamos levantamento bibliográfico sobre

moradores de rua e instituições de assistência a esta população no município de São Paulo. A

partir disso, escolhemos a estratégia a ser utilizada para coleta de dados, e elaboramos um

questionário para ser aplicado aos usuários da biblioteca do Arsenal da Esperança.

2.1 Elaboração do Questionário

A pesquisa de campo foi realizada através de um questionário misto com 10 perguntas,

sendo oito de múltipla escolha e duas dissertativas.

As perguntas realizadas foram: idade em anos, em que região do Brasil nasceu, ou

seja, naturalidade, os motivos que levaram à situação de rua, nível escolar, profissão e

ocupação, estado civil, se possui filhos, o porquê freqüenta esta biblioteca e se tem o hábito de

freqüentar outras. (Anexo 3)

Ao todo foram preenchidos 56 questionários, sendo a maioria de próprio punho e

alguns através de entrevistas.

2.2 Visitas e Aplicação do Questionário

Para efetuarmos esta pesquisa visitamos o Arsenal da Esperança cinco vezes. Na

primeira vez conhecemos a instituição e os serviços oferecidos, e tivemos a oportunidade de

nos familiarizar com a biblioteca. (Anexo 4)

Esta possui aproximadamente 100m² com mesas individuais e em grupo, balcão de

atendimento e um terminal de consulta. O ambiente é aconchegante e adequado ao público.

É considerada uma biblioteca especial, pois não é mantida ou organizada por órgãos

governamentais para ser classificada como pública, também não tem um tema e público

específico para ser especializada. Está inserida e é financiada por uma instituição, então não é

comunitária, mas como o trabalho realizado é voluntário, não a consideram como particular.

O acervo é composto por 5.600 obras, os materiais encontrados são: Atlas, dicionários,

enciclopédias, guias, mapas, gibis, livros e periódicos. A recuperação da informação é

realizada através do programa PHL.

Além de empréstimo de livros, os outros serviços oferecidos são: auxílio para

reinserção no mercado de trabalho, para isso a biblioteca adquire semanalmente jornais com

vagas de empregos, realiza digitação de currículos e pesquisa de vagas. Ainda incentiva a

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comunicação dos usuários com seus familiares, é o chamado “Central do Brasil”, onde os

voluntários redigem, quando necessário, e enviam correspondências sem nenhum custo

monetário aos interessados. O incentivo à cultura é feito através dos saraus e concursos de

poesias.

O horário de funcionamento é das 18h às 21h diariamente, exceto quando há outro

evento na Instituição ou ausência de pessoal. Trabalham na biblioteca 16 voluntários sendo

que, 10 são externos e seis são acolhidos que tem a oportunidade de ajudar. (Anexo 5)

Na segunda visita conhecemos o trabalho dos responsáveis pela biblioteca, o Sr.

Simone Bernardi, Coordenador, e Lourival Lopes Cancela, Técnico Responsável por todo o

processamento e dos demais voluntários, e fomos apresentados aos moradores do albergue,

para que todos pudessem compreender porque estaríamos ali e quais eram nossos objetivos.

Nas três últimas aplicamos os questionários.

Apesar do objetivo da pesquisa ser revelar o perfil dos usuários da biblioteca não nos

limitamos a realizá-la apenas neste espaço, mas tivemos a liberdade de abordar pessoas na

sala de leitura e em salas de aula.

Fomos muito bem recebidos pelos albergados e funcionários do Arsenal da Esperança,

e apenas cinco pessoas se recusaram a responder o questionário.

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3 ANÁLISE DOS DADOS

Após a coleta dos dados realizamos análise estatística.

3.1 Idade

Em relação à idade 37% dos entrevistados (21 homens) que frequentam a Biblioteca

do Arsenal tem entre 29 e 38 anos, 27% (15 homens) possuem entre 18 e 28 anos, uma

porcentagem significativa. 23% (13 homens) têm idade entre 39 e 48 anos, 9% (cinco) tem

entre 49 e 58 anos e 4% (dois) tem entre 59 e 68 anos. Dos 56 entrevistados, 49 tem idade

entre 18 e 48 anos, ou seja, são relativamente jovens.

3.2 Naturalidade

Contradizendo a pressuposição de que a maioria das pessoas que estão em situação de

rua vieram das regiões Norte e Nordeste do Brasil, chegamos ao seguinte resultado: 57% (32

homens) dos entrevistados são da região Sudeste do país, ou seja, mais da metade. 25% (14

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homens) são do Nordeste. 7% (quatro) são da região Centro-Oeste. 5% (três) são do Sul e

apenas 2% (um) são do Norte do país. Dois entrevistados não responderam a esta questão.

3.3 Motivos que levaram à Situação de Rua

Nesta questão os entrevistados puderam marcar mais de uma alternativa. Em sua maioria o

desemprego associado às dificuldades financeiras foram os motivos que levaram os

entrevistados a esta situação. O vício, diferente do que podemos pensar, aparece como quarto

motivo, e é antecedido dos conflitos familiares. Esses resultados levam-nos a pensar que os

dois fatores, o vício e os conflitos familiares, estão relacionados, mas em nenhum dos casos

isso acontece. Já o desemprego e os conflitos familiares podem estar interligados, pois em

quatro questionários estas duas alternativas foram assinaladas.

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3.4. Nível Escolar

A maioria dos entrevistados tem o ensino fundamental incompleto (24 homens ou

43%), mas também tivemos um grande percentual de entrevistados que possuem o ensino

médio completo (12 homens ou 21%), entre eles existe um percentual pequeno de homens que

possuem o superior completo ou incompleto (cinco homens ou 9%). Com ensino fundamental

completo entrevistamos sete homens, 13% do total e com ensino médio incompleto oito

homens, 14% do total.

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3.5 Estado Civil

Em relação ao estado civil 9% (cinco homens) são casados e três possuem filhos. 5%

(três) são divorciados e possuem filhos e um é viúvo e também possui filhos. O número maior

é de solteiros (47 homens ou 84%) e entre eles 24 possuem filhos. Sem fazer a distinção sobre

estado civil 31 ou 55% possuem filhos e 25 ou 45% não possuem.

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3.6 Profissão e Ocupação

Quando perguntados sobre a profissão, houve uma variação muito grande de respostas,

por isso não foi possível colocarmos em gráficos. A maior parte respondeu sobre o que faz,

porém nem todos são profissionais, ou seja, não são especializados na profissão. A maioria

executa trabalho braçal, como de ajudante geral ou de pedreiro, padeiro, pintor, soldador, gari,

borracheiro, outros já executam trabalhos mais leves, como agente comunitário de saúde,

teleoperador, motorista, auxiliar administrativo, funcionário público. Nem todos que dizem

exercer uma profissão está empregado. E alguns não responderam sobre a ocupação, talvez

por não compreenderem a pergunta ou por estarem desempregados.

3.7 Porque Frequenta a Biblioteca do Arsenal

Nesta questão, mais uma vez, os entrevistados puderam escolher mais de uma alternativa. A

maioria respondeu que frequenta a biblioteca por gostar de ler (44%), para passar o tempo foi

respondido em 16% dos casos e 15% responderam que a utilizam a para adquirir

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conhecimento, 11% para se manter atualizado, já que ali eles podem encontrar jornais do dia e

revistas da semana, e 9% por necessidade de estudo. Por fim, 5% dos entrevistados

responderam utilizar a biblioteca por outros motivos, mas não especificaram.

3.8 Frequência em Outras Bibliotecas

67% dos entrevistados frequentam outra biblioteca, e 33% não frequentam. Alguns

relataram que vão a outras bibliotecas para ler um pouco e passar o tempo, mas não podem ter

a carteirinha por não possuir um endereço fixo.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da análise dos dados verificamos que a maioria das pessoas que frequenta a

biblioteca são de meia idade, o que os leva à essa situação, como mostram os gráficos, na

maioria das vezes é o desemprego e que a maior parte dessas pessoas não vem de muito

longe.

Apesar das dificuldades que estes homens enfrentam e a necessidade que sentem de

conversar e desabafar com alguém que os escutem, e nem sempre existe este alguém,

observamos que uma das maneiras de esquecer um pouco os problemas é através leitura, e o

lugar perfeito para isso dentro do Arsenal é a biblioteca.

Neste sentido podemos considerar a Biblioteca do Arsenal um espaço privilegiado de

difusão de informações, fomento de cultura e promoção de cidadania, pois propicia a esse

público a inclusão através do conhecimento. Do ponto de vista inclusivo, ela oferece serviços

que auxiliam na formação de novos leitores e além do aprimoramento daqueles cidadãos que,

semi-alfabetizados, engrossam o impressionante número de iletrados de nossa sociedade. O

grande desafio a ser superado deve-se a conquista destes e mais brasileiros no que tange à

leitura é, segundo a análise que lá foi feita, uma maior atenção e investimento justamente à

acessibilidade ao livro, desde que é notório que o cidadão excluído socialmente encontra-se

impossibilitado de adquirir, com recursos próprios, a informação que a leitura lhe fornece.

A biblioteca por sua vez pode se constituir em um espaço privilegiado para a

intervenção social e o desenvolvimento de mediação pedagógica. Nesse sentido a biblioteca

tem tudo para estar à frente da luta contra a exclusão social se conseguirmos aliar o acesso a

tecnologias da informação, o texto escrito e a comunicação voltada para o educativo, o

organizativo e o produtivo.

Com essa pesquisa verificamos que os estudos sobre a população em situação de rua

no Brasil ainda são relativamente escassos e que a diversidade de conceitos que envolvem

esse tipo população e as dificuldades relacionadas à sua mensuração são obstáculos que têm

sido superados gradativamente, graças ao trabalho humanitário de instituições como o Arsenal

da Esperança Dom Lucas Pedro Mendes de Almeida. Aliás, uma das maiores satisfações que

sentimos ao realizar esse trabalho, foi realmente o exemplo de caridade e cidadania que é

dado diariamente por essa instituição, abrindo não somente as suas portas, mas o coração para

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acolher todos aqueles que a procuram e lhes oferecer o melhor de que dispõe naquele

momento.

Ficamos tristes com a miséria e a desigualdade que impera entre nós, porém, quando

vimos exemplos como o de Marivaldo e o interesse dos leitores em buscar meios de deixarem

a rua, acreditamos que vale a pena sonhar e lutar para que esse sonho de liberdade se realize.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 BURSZTYN, M. No meio da rua: nômades, excluídos e viradores. Rio de Janeiro:

Garamond, 2000. p. 19

2 MORADOR de rua renasce ao descobrir a leitura. Disponível em:

<http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1178563-7823-

MORADOR+DE+RUA+RENASCE+AO+DESCOBRIR+A+LEITURA,00.html>.Ac

esso em: 28 maio 2010

3 MORADORES de rua. Disponível em:

<http://colunas.cbn.globoradio.globo.com/miltonjung/moradoresderua>. Acesso em:

01 jun. 2010.

4 O QUE a SMADS faz? Disponível em:

<http://ww2.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/assistencia_social/defuturo/smads.php>.

Acesso em: 30 maio 2010.

5 PARREIRAS, M. Cresce o número de moradores de rua em SP. Jornal Agora São

Paulo, São Paulo, ano 12, p. A3, 01 jun. 2010

6 ROSA, C.M.M. Visas de rua. São Paulo: Hucitec,2005.

7 __________.Disponível em: <http://www.arsenaldaesperanca.org.br>. Acesso em: 02

jun. 2010.

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ANEXO 1: RESULTADOS DA PESQUISA REALIZADA PELA FUND AÇÃO

INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS (FIPE) SOBRE MORA DORES DE

RUA NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO

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ANEXO 2: O ARSENAL DA ESPERANÇA DOM LUCIANO PEDRO

MENDES DE ALMEIDA

O Arsenal da Esperança é uma Instituição Beneficente fundada por Ernesto Olivero

e Dom Luciano Mendes de Almeida, em 1 de fevereiro de 1996 e administrado pela

Associação Assindes Sermig, SP

Todos os dias oferece acolhida a 1150 homens que se encontram em dificuldades,

devido, na maioria das vezes, à falta de trabalho, casa, alimentação, saúde e família. Quem

ingressa nesta casa recebe uma acolhida digna e, sobretudo, a oportunidade de transformar a

sua própria condição de vida. Nestes 14 anos de funcionamento hospedou mais de 35.000

pessoas, ofereceu mais de 4,5 milhões de atendimentos, produziu e forneceu mais de 12

milhões de refeições.

O Arsenal é também um lugar de encontro para os jovens e as famílias que queiram dialogar

e “crescer” e que se proponham a serem promotores de ações de paz, justiça e solidariedade.

Localização:

Encontra-se num local repleto de construções históricas, onde funcionou a

Hospedaria dos Imigrantes, um enorme conjunto de prédios destinado, desde 1886, a abrigar

imigrantes recém–chegados a São Paulo.

Page 23: Leitores de rua: biblioteca do albergue Arsenal da Esperança

Esta continua preservando a história da imigração, mantendo viva a memória da

cidade. Neste mesmo espaço, o Arsenal, sendo “uma casa que acolhe”, congrega tanto as

antigas instalações da hospedaria, quanto à acolhida as pessoas de passagem, que também

hoje chegam com os seus fardos, seus sofrimentos e seus projetos, e que aqui podem

encontrar uma esperança.

Rua Dr. Almeida Lima, 900 – Mooca

CEP 03164-000 - São Paulo - SP

Tel./Fax (11) 2292-0977

(Próximo da Estação do Metrô Bresser Mooca).

Filosofia:

Para o Arsenal da Esperança a pessoa que utiliza seus serviços não é um “morador

de rua” e sim um “acolhido”.

Ser acolhido quer dizer, em primeiro lugar, não se sentir mais um número, mas

sentir-se compreendido, aceito, amado, parte de uma família. A partir disso pode renascer a

esperança. Neste local, cada um é acolhido com o próprio passado, com as próprias angústias,

com os medos que muitas vezes são comuns aos de muitos outros.

Propõe um método e algumas regras que, se aceitos, o ajudarão a crescer. Jovens e

adultos encontram um lugar bem cuidado, limpo e acolhedor, elementos fundamentais para

ajudar a descobrir uma dignidade talvez perdida, e encontrar também uma espiritualidade que

nasce da oração e da ajuda concreta dos outros.

O Arsenal, vivendo realmente cada dia o próprio empenho de solidariedade e de

esperança, semeando traços indeléveis em cada pessoa que acolhe: não é somente um

albergue e muito menos um “gueto” feito para tirar as pessoas da rua, mas sim um espaço de

integração entre os diversos níveis da sociedade.

Page 24: Leitores de rua: biblioteca do albergue Arsenal da Esperança

A questão do desemprego sempre fez dedicar especial atenção às iniciativas que

visem à realização de cursos profissionalizantes, no próprio Arsenal, ou através da

participação em cursos externos. Com o objetivo de criar oportunidades para elevar ou

diversificar a capacitação profissional das pessoas acolhidas, a Associação Assindes Sermig

mantém contato com várias empresas e tradicionais instituições de ensino profissionalizante.

Cursos oferecidos:

Em parceria com o SENAI, implementou cursos voltados para a capacitação

profissional nas áreas de: construção civil, informática e alimentação.

O "Caminho Novo" é um programa, iniciado em 1997, e desde 2004 em parceria

com Associação pela Família (ASPF), tradicional entidade educacional, em que o Arsenal

oferece aos acolhidos a possibilidade de aprender a ler e a escrever ou de retomar os estudos.

Há diversas atividades: o clube de leitura, as atividades de artes plásticas, oficina de

reciclagem de papel, encadernação, visitas a exposições, festas e eventos são experiências

valiosas, que auxiliam no processo educativo.

Bazar:

O bazar do Arsenal da Esperança é organizado por uma equipe voluntária, juntamente

com membros da Fraternidade da Esperança, mas também conta com a participação de grupos

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de jovens que se disponibilizam para ajudar na preparação e no atendimento.

As peças (roupas, sapatos, bijuterias, acessórios, brinquedos, etc.) oferecidas no

bazar chegam através de doações. O lucro obtido com a venda desses artigos é investido no

próprio Arsenal, para que assim, as portas desta casa, continuem sempre abertas.

Reconhecimentos:

A Associação Assindes Sermig teve o seu trabalho reconhecido da seguinte forma:

• Prêmio Bem Eficiente 2003, concedido pela Kanitz & Associados que, através de

critérios próprios de seleção, reconheceu a ASSINDES-SP (atual ASSINDES SERMIG) pelo

bom trabalho e desempenho dentro de uma estrutura profissional e eficiente, operando com

custos administrativos baixos, com transparência e supervisão externa, de forma a garantir a

sua perpetuação como entidade beneficente.

• Homenagem das Nações Unidas, em junho de 2004, através do Alto Comissariado

das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), pela colaboração ativa da ASSINDES-SP

(atual ASSINDES SERMIG) no atendimento a Refugiados em São Paulo, no Arsenal da

Esperança.

• Homenagem do Conselho Comunitário de Segurança Brás-Mooca Belenzinho como

Destaque 2008.

• Homenagem da Câmara Municipal de São Paulo e da Coordenadoria Municipal de

Defesa Civil, em fevereiro de 2009, pela solidariedade manifestada à Defesa Civil na

Operação SOS Santa Catarina.

• Homenagem da Câmara Municipal de São Paulo e da Coordenadoria Municipal de

Defesa Civil, em fevereiro de 2009, pela solidariedade manifestada à Defesa Civil na

Operação SOS Santa Catarina.

Page 26: Leitores de rua: biblioteca do albergue Arsenal da Esperança

ANEXO 3: QUESTIONÁRIO

1.Idade (em anos):

( ) 18 – 28 ( ) 29 – 38 ( ) 39 – 48 ( ) 49 – 58

( ) 59 – 68 ( ) Mais de 68

2.Naturalidade:

( ) Região Norte ( ) Região Nordeste ( ) Região Centro-Oeste

( ) Região Sudeste ( ) Região Sul

3.Motivos que levaram a situação de rua:

( ) Desemprego ( ) Dificuldade financeira ( ) Conflitos com a família

( ) Vício ( ) Migração ( ) Outros____________________________________

4. Nível escolar:

( ) Fundamental incompleto ( ) Fundamental completo

( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo

( ) Superior incompleto ( ) Superior completo

( ) Pós-graduação: ___________________________________________

5. Profissão: ___________________________________________

6. Ocupação: ___________________________________________

7. Estado civil:

( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Divorciado ( ) Viúvo

( ) Outros________________________________________

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8. Possui filhos? ( ) Sim ( ) Não

9. Por que freqüenta esta biblioteca?

( ) gosto pela leitura ( ) necessidade de estudo ( ) se manter atualizado

( ) passar o tempo ( )adquirir conhecimento ( ) falta de opção

( ) outros ___________________________________________

10. Tem o hábito de freqüentar outras bibliotecas? ( ) Sim ( ) Não

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ANEXO 4: RELATÓRIO DE VISITA

1. Nome do local de visita: Biblioteca do Arsenal da Esperança

2. Descrição do local de visita: A Biblioteca possui aproximadamente 100m² dividido

em dois espaços com mesas individuais e em grupo, balcão de atendimento, um

terminal de consulta.

3. Tipo de biblioteca: Biblioteca especial

4. Objetivo: Atender as necessidades informacionais e a inserção sociocultural dos

usuários.

5. Acervo: O acervo é composto por 5.500 obras catalogadas, num montante de 5.600.

Os materiais encontrados na biblioteca são: Atlas, dicionários, enciclopédias, gibis,

livros e periódicos.

6. Público alvo: Moradores do Arsenal.

7. Serviços: Empréstimo de livros, auxílio para reinserção no mercado de trabalho,

“Central do Brasil”, saraus e concursos de poesia.

8. Recuperação da informação: Através do programa PHL; as consultas são realizadas

pelos voluntários ou no terminal pelos usuários.

9. Horário de funcionamento: Diariamente das17h às 21h.

10. Dia /ano/ da visita 04, 09, 11, 18 e 25 de maio de 2010.

11. Recursos humanos/equipe: 17 voluntários sendo que 10 são externos e sete são

acolhidos que tem a oportunidade de ajudar.

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ANEXO 5: FOTOS DA BIBLIOTECA DO ARSENAL DA ESPERANÇ A