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TEXTO DE ANGELA MIGUEL TENDÊNCIA EDITORIAL Em desenvolvimento acelerado, o mercado editorial digital no Brasil torna-se uma boa opção para quem quer investir em tecnologia, evitar gastos com impressão, alcançar leitores em todos os cantos do País e gostar de nichos em constante evolução Leitura em tela de cristal líquido 72

Leitura em tela de cristal líquido

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Em desenvolvimento acelerado, o mercado editorial digital no Brasil torna-se uma boa opção para quem quer investir em tecnologia, evitar gastos com impressão, alcançar leitores em todos os cantos do País e gostar de nichos em constante evolução. Nossa Gerente de Mídia, Ligia Britto, foi uma das fontes da reportagem da revista Gestão & Negócio. Leia a reportagem completa.

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TEXTO DE ANGELA MIGUEL

TENDÊNCIA EDITORIAL

Em desenvolvimento acelerado, o mercado editorial digital no Brasil torna-se uma boa opção para quem quer investir em tecnologia, evitar gastos com impressão, alcançar leitores em todos os cantos do País e gostar de nichos em constante evolução

Leitura em tela de cristal líquido

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A chegada da gigante Amazon

no início de 2013 ao Brasil

foi um dos grandes alertas

sobre a importância do País

no mercado editorial digital mun-

dial. Representantes globais come- laicnetop o arap ratrepsed a maç

pouco difundido de leitores nacio-

nais. Contudo, o setor de livros di-

gitais ainda é uma grande incógnita

para as empresas, até mesmo as já

consolidadas. Mesmo assim, come-

çam a aparecer jovens empreende-

dores interessados em investir nesse

ramo incerto, atraídos pelos siste-

mas de autopublicação, custos mais

baixos e febre nacional quanto a ta-

blets e e-readers . Será que o mercado

está preparado para absorver as no-

vas editoras?

Lê-se ainda pouco no País. De

acordo com o estudo “Retratos da

Leitura no Brasil”, do total de 178

milhões com mais de cinco anos

de idade, apenas 88,2 milhões são

leitores, isto é, 50% da população.

Quanto à leitura de e-books, ape-

nas 9,5 milhões. Segundo os últimos

dados divulgados pela Associação

Nacional de Livrarias por meio do

estudo “Diagnóstico ANL do Setor

Livreiro - 2006 a 2009”, apenas 27%

das livrarias comercializam conteú-

do digital. Entre aquelas que não o

fazem, 54% pretendem comerciali-

zar e destes, 33% pretendem iniciar

até o �m de 2013.

APOSTA NO DIGITAL

Com dados ainda alarmantes so-

bre a leitura no Brasil, como saber se

vale a pena investir nesse mercado

ou se haverão leitores interessados

em suas ferramentas? Desde 2005 no

Brasil, a editora canadense Harlequin,

focada em entretenimento para mu-

lheres, resolveu arriscar. Segundo a

diretora-geral da Harlequin Brasil,

Elise Ambar, a empresa embarcou

no mundo digital brasileiro em julho

de 2012. “Lançamos nossos primei-

ros dez e-books e agora já são mais

de 200 títulos. Nosso crescimento no

mercado de livros digitais em núme-

ro de downloads é de 455%, ao com-

pararmos o primeiro semestre desse

ano com o segundo do ano passado”,

conta Elise.Para atender à demanda, a

Harlequin trabalha com uma distri-

buidora de livros digitais, a DLD, e fe-

chou parcerias com Amazon e Kobo.

Para Elise, há incrível potencial de

crescimento da área no País, muito

maior do que os 30% até 2016 previs-

tos por institutos de pesquisa. “Não é

impossível, pois o livro digital pode

chegar aos lugares que os livros físi-

cos não conseguem. Temos poucas

livrarias, o número de bancas de jor-

nal está caindo e há um custo de en-

trega alto e serviço precário para as

lojas virtuais. Onde comprar ainda é

um limitante para o progresso desse

mercado no País”, analisa a diretora.

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A chegada de e-readers e tablets é o fator mais importante no desenvolvi-mento do mercado editorial digital, na opinião de Elise Ambar, assim como o acesso a serviços de internet de qualida-de e preços atraentes, além do aperfei-çoamento de ferramentas mobile . Desde janeiro de 2013, os lançamentos mensais da editora acontecem simultaneamente nas versões impressa e digital.

Dados da Gfk Custom Research Brasil mostram que a comercialização de ta-blets cresceu 267% entre janeiro e agos-to de 2012. No �nal do ano passado, cer-ca de nove milhões de brasileiros já op-tavam pelas versões digitais. “Os preços mais atrativos chamam a atenção e po-dem estimular uma mudança de com-portamento de leitura pela novidade de ler um livro ou revista por um meio ino-vador”, lembra a gerente de mídia da Rae,MP, Lígia Britto.

Há também alguns fatores que aju-dam na lentidão de todo o processo, co-mo a falta de incentivo governamental, a pouca leitura no País e o preço da tec-nologia para promover essa mudança, da mão-de-obra aos preços dos gagdets. Sabe-se que quase um terço do mercado editorial é sustentado por compras go-vernamentais. Ainda compram-se obras em CD-Rom, mas a expectativa é que os ministérios e secretarias passem a ver o e-book com olhar mais atraente.

Ricardo Garrido é diretor de operações do iba, primeira plataforma brasileira de venda, distribuição e consumo de con-teúdo digital, ligado à editora Abril. Em pouco mais de um ano, a plataforma já conta com mais de 500 mil usuários de li-vros, revistas e jornais digitais. Mas quem pensa que foi um processo simples se engana. O iba foi lançado em março de 2012 após um soft launch de sete meses – e o projeto ainda não está completo. “O grande desa�o foi ter o foco em investir sem concessões na experiência do usu-ário – e ter a paciência de aprender, tes-tar, errar e melhorar o produto ao longo do caminho. O iba abraçou esse cami-nho desde antes do seu lançamento: de-

“Lançamos nossos primeiros dez e-books e agora já são mais de 200 títulos. Nosso crescimento no mercado de livros digitais em número de downloads é de 455%.”ELISE AMBAR,HARLEQUIN BRASIL

PANORAMA NACIONAL DE LEITURA

TENDÊNCIA EDITORIAL

FONTE: PESQUISAS “PRODUÇÃO E VENDAS DO SETOR EDITORIAL BRASILEIRO” (FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS (FIPE), CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO E SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS) E “RETRATOS DA LEITURA NO BRASIL” (INSTITUTO PRÓ-LIVRO E IBOPE INTELIGÊNCIA).

LIVROS VENDIDOS

469,5 milhões de livros em 2012, 7% a mais que em 2010

LIVROS EDITADOS

58.192 mil novos títulos em 2011, 6% a mais que em 2010

LIVROS DIGITAIS

5,2 mil novos títulos, correspondente a 9% do total

FATURAMENTO DO SETOR

R$ 4,8 bilhões em 2011, um aumento real de 0,8%

NÚMERO DE LEITORES

88,2 milhões, isto é, 50% da população

LEITORES DE E-BOOKS

Maioria é do sexo feminino

Entre 18 e 24 anos

Com ensino superior

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“Os preços mais atrativos chamam a atenção e podem estimular uma mudança de comportamento de leitura pela novidade de ler um livro ou revista por um meio inovador.”LÍGIA BRITTO, RAE,MP

senvolvemos uma plataforma que serviu para ser colocada à prova e nos ajudar a desenhar como seria o iba que o consu-midor deseja”, conta Garrido.

COMO ENTRAR NESSE NICHOComo em qualquer outro segmento,

o empreendedor deve entender como é o mercado e quem é o seu cliente. A re-gra é se diferenciar. Encontre um público ou um tema especí�co e desenvolva suas ideias editoriais. Ricardo Garrido diz que a entrada no digital deve ser feita sem receio: deve-se pesquisar, encontrar os melhores exemplos e entender como se inserir no ecossistema. “No mundo digi-tal, ninguém joga sozinho ou tem estra-tégias particulares: sempre se está inseri-do em um ecossistema. Deve-se, portan-to, estudar bem e conhecer todo mundo no mercado – e então lançar seu melhor produto, de maneira rápida e pronta a receber melhorias”, emenda.

Mas não pense que apostar em pla-taformas digitais é simples. Ou barato, já que não há preocupação com impres-são de milhares de cópias físicas. Os gas-tos comuns a uma editora convencional são transferidos para outras áreas no di-gital. É preciso investir em mão-de-obra, em tecnologia e em criatividade. “Além da competência de pro�ssionais quali-�cados, sempre aponto para a questão de usabilidade. O mundo digital deve ser interativo e prático. Usabilidade mirabo-lante não casa com o meio digital. Além disso, o aplicativo deve ter uma função ativa para o usuário. Criar um aplicati-vo onde você terá um grande número de downloads, mas que não terá usabilida-de frequente com o usuário, não é efeti-vo”, opina Lígia Britto.

A tecnologia não é apenas um “viabili-zador” no mundo digital, é parte central do produto. De acordo com Garrido, de-ve-se mergulhar de cabeça na tecnologia, ainda que a mão-de-obra seja mais cara e o contexto de negócio mais complexo. Esperto o pequeno empresário que con-segue identi�car o que os grandes do ra-mo não fazem e buscar algo novo.

“Em um trabalho recente para o seg-mento de construção e decoração, pa-ra um determinado target, chegamos à conclusão, por pesquisas, que as revis-tas impressas do segmento ainda tinham mais apelo e geravam mais interesse do que o digital. Isso não signi�ca que leito-res que estão decorando ou construindo não acessam a internet, mas que, de re-pente, as revistas digitais poderiam ofe-recer mais do que simplesmente ver fo-tos de apartamentos. Deve-se criar um

diferencial para atrair esse público para a leitura digital”, atesta Lígia.

Para o diretor de operações do iba, as barreiras de entrada comuns do mundo impresso, como a tiragem mínima em uma grá�ca, estão eliminadas no mundo digital. Segundo ele, é muito mais bara-to lançar algo e testar antes de compro-meter um time em torno de um projeto maior. “Por outro lado, ainda está lon-ge de chegarmos ao momento em que as publicações digitais terão escala su-

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�ciente para rentabilizar o negócio. O momento ainda é de investimento e de descoberta – mas quem não es-tiver atuando agora estará perdendo um tempo precioso de aprendizado, além de deixar o campo aberto para outros conquistarem os leitores”, opi-na Garrido.

O QUE ESPERARNos Estados Unidos e na Europa está

surgindo uma corrida entre os empre-endedores desse setor, com o objetivo de reinventar cada passo da cadeia pro-dutiva de livros ou revistas. Há empre-sas voltadas para a criação de e-books repletos de efeitos cinematográ�cos, outras que abrem obras antes do �m para que leitores participem do proces-so de edição (buscando revelar best-sel-lers sem o apoio – e o investimento – de grandes editoras). Há ainda as que in-vestem no chamado crowdfunding pu-blishing , que incentivam “vaquinhas” para a publicação de títulos inéditos. São empreendedores que veem na ino-vação uma nova maneira de se traba-lhar no mercado editorial.

Ainda que de maneira tímida, o Brasil começa a despontar na área editorial digital. E é preciso que men-tes criativas embarquem na busca por reinvenções no setor. Para Ricardo Garrido, se é possível dizer que em al-guns países o mercado de livros digi-tais está maduro, no Brasil poderemos ver um crescimento enorme nos pró-ximos anos.

“Outros tipos de conteúdo, como as revistas e os vídeos, crescerão muito a partir do aumento da base de tablets e do avanço da banda larga. Além dis-so, o consumo de conteúdo nos tablets traz em sua natureza uma proximida-de muito grande com a ideia da assina-tura: pagamentos recorrentes para ter acesso contínuo a algo que lhe interes-sa. Acredito que as revistas terão muito sucesso nas assinaturas digitais”, �na-liza o diretor de operações do iba.

“No mundo digital, ninguém joga sozinho ou tem estratégias particulares: sempre se está inserido em um ecossistema.”RICARDO GARRIDO, IBA

1) COMO FUNCIONA O PROCESSO DA AU-TOPUBLICAÇÃO?É simples. Primeiro, o trabalho de pré–publi-cação que tradicionalmente era feito pelas editoras: revisão de conteúdo, revisão orto-grá�ca e gramatical, preparação da capa. O passo seguinte é subir em uma das plata-formas, uso a Amazon e a Kobo. Depois, vem a promoção e isso é tão difícil quanto com o livro impresso. É necessário o contato com a imprensa, participação em eventos, divulgação nos meios. Apenas, no caso da autopublicação, isso é feito sem o apoio da editora.

2) VIVENDO NOS ESTADOS UNIDOS, ACHA QUE SE TORNAR ESCRITOR AÍ FOI MAIS FÁCIL DO QUE NO BRASIL?Tanto no mercado americano como no mer-cado editorial em espanhol existem muitos serviços à disposição dos escritores, mas é impressionante como este mercado está se desenvolvendo rapidamente no Brasil. Já existem vários lugares na internet onde um

autor pode encontrar revisores, capistas, diagra-madores, en�m, tudo aquilo que necessita para publicar e divulgar suas obras.

3) QUAL FOI O IMPACTO DA REVOLUÇÃO DO E--BOOK EM SUA VIDA?Como leitor, o livro digital reduziu signi�cativamen-te o peso da minha bagagem. Hoje não tenho mais de carregar livros na mala, levo meu equipamento de leitura no bolso da calça e compro o livro que quero quando quero por um preço bem inferior. Como escritor, ele reduziu dramaticamente o custo da publicação e me permitiu atingir leitores em mi-lhares de locais e países onde nem existem livrarias.

4) ACHA AINDA IMPORTANTE TER SEUS LI-VROS IMPRESSOS?Os dois mercados se complementam. Existe um leitor que vive nas grandes cidades e está acos-tumado a comprar seus livros na mesma livraria onde toma o seu café e, para este leitor, a edição impressa ainda é importante. Por esta razão, es-tou por assinar um contrato com uma editora bra-sileira para edição de meus livros impressos.

O ROSTO DO FUTUROEconomista e apaixonado pela escrita, Marcelo Antinori já havia publicado dois livros (“Os Enfrentantes” e “O Voo do Condor”) da maneira conven-cional até descobrir a autopublicação. Em 2013, já lançou dois e-books pela Amazon, “O Labirinto de Mariana” e “O Húngaro que Partiu sem Avisar”. Após ter dificuldades para distribuir seu segundo livro por meio de uma editora do Panamá, arriscou-se no mundo digital - e não se arrepende.

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