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LINHAS DO DESTINO 1 A Deus, que me abençoa de várias formas. A minha esposa, por todos esses anos de lutas. A Nair, pela capa e incentivo. A Sueli por ler meus rascunhos. A todos, que contribuíram para um sonho virar realidade.

LINHAS DO DESTINO

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Page 1: LINHAS DO DESTINO

LINHAS DO DESTINO

1

A Deus, que me abençoa de várias formas.

A minha esposa, por todos esses anos de lutas.

A Nair, pela capa e incentivo.

A Sueli por ler meus rascunhos.

A todos, que contribuíram para um sonho virar realidade.

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L.P.OWEN

2Capitulo 1

A ROTINA

O dia estava amanhecendo o movimento costumeiro de

todas as manhãs já era notado.

Enquanto Ana terminava de preparar a mesa para o café da

manhã, Luís colocava seu material escolar na bolsa.

Roberto, como sempre, estava pronto. O terno bem

alinhado. A camisa combinando com a gravata, os sapatos

limpos e engraxados, sem contar o perfume que exalava.

Da cozinha ouvia-se o ruído de mesa sendo arrumada e o

cheiro do café invadia o restante da casa.

- Querida, hoje meu dia vai ser corrido, terei reuniões e

devo chegar por volta das vinte horas - disse Roberto.

Ana e Luís nem se preocupavam em responder, porque

sabiam que chegaria muito mais tarde.

- Quantas matérias têm hoje meu filho? - Perguntou

Roberto.

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LINHAS DO DESTINO

3

- Tenho cinco aulas - respondeu o garoto.

Luís sempre se questionava porque seu pai lhe perguntava

sobre seus afazeres se não tinha a menor intenção de ouvi-

lo. Sempre que iniciava a resposta seu pai já estava dando

um beijo de despedida em sua mãe, fechando a porta ao

sair.

Já fazia tempo que seu pai já não era mais o mesmo.

Lembrou-se do campinho que fizeram atrás da garagem. O

dia em que a grama fora colocada. A pintura das traves,

até o tempo de espera para que a grama fixasse no solo.

Apenas usado por duas ou três vezes.

Notou também que sua mãe já não desfrutava da

companhia do pai, que já estivesse acostumada não

ligando mais. No início chegou a ouvi-la chorar, mas o

tempo passou apenas via sua indiferença aumentar a cada

dia.

- Meu filho, você já terminou seu café? Estamos

atrasados!

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L.P.OWEN

4Durante o trajeto, que durava aproximadamente 15

minutos até a escola, conversaram sobre vários assuntos.

Ana deixou Luís no portão de entrada da escola e seguiu

em direção ao centro da cidade a caminho do trabalho.

Não era nada fácil, mas gratificante. As pessoas de quem

cuidava estavam sofrendo, a única forma de aliviar suas

dores era tratá-las com muito carinho e respeito e isso ela

tinha de sobra.

No começo tinha pensado em desistir porque presenciara a

morte de um garoto. Pensou na dor da mãe e ficou muito

abalada.

Márcia, sua grande amiga, disse a ela que o melhor era

pensar nas pessoas que ela estava ajudando a salvar. Foi

por isso que Ana conseguiu superar essa fase.

Ana era uma mulher culta e de uma beleza que até

chegava a impressionar, seus cabelos castanho-escuros

contrastava com os olhos azuis em formato de amêndoa.

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LINHAS DO DESTINO

5

Com um corpo escultural, em seus 1,75m e 65kg, faziam-

na uma mulher admirada.

Sempre bem vestida com seu uniforme impecavelmente

limpo, com caimento perfeito, causava admiração em

todas as pessoas, até de suas colegas de trabalho.

Por mais que era admirada mantinha-se humilde, os

elogios não lhe subiam à cabeça.

Estudou enfermagem, uma de suas paixões. Quando

atendia algum enfermo sempre o fazia com muito carinho.

O sentimento de gratidão, que todos sentiam por ela, era

enorme.

Após trinta minutos dirigindo chegou finalmente no

estacionamento reservado para os funcionários do

hospital. Como sempre, cumprimentou o porteiro seu José

com seu sorriso contagiante.

Na sala reservada às enfermeiras, Márcia encontrou a

enfermeira Chefe, que a cumprimentou e imediatamente

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L.P.OWEN

6entregou-lhe uma prancheta com os prontuários dos

enfermos que seriam medicados.

Normalmente tinham uma breve conversa, mas, neste dia,

o hospital estava com um volume de internações e

emergências muito elevado e não tiveram tempo nem

mesmo para um pequeno diálogo.

No corredor viu acompanhantes que choravam, outros que

andavam de um lado para o outro, não conseguindo

esconder a expectativa de alguma notícia do estado de

saúde de seus entes.

Nesse momento pedia a Deus que a ajudasse a diminuir o

sofrimento de seus semelhantes. Pedia forças para suportar

todas as dificuldades daquele dia.

Entrou no quarto do 1º paciente do dia para verificação de

rotina, era um garoto com oito anos de idade, que quebrou

o braço e permanecia em observação. Tinha caído de uma

altura de 3 metros ao subir em uma árvore para salvar seu

gato.

Page 7: LINHAS DO DESTINO

LINHAS DO DESTINO

7

- Bom dia! - Disse sorrindo - Como está se sentindo Caio?

- Mais ou menos, estou com um pouco de dor. Quem é

você?

- Meu nome é Ana, vou cuidar de você e se precisar de

alguma coisa é só apertar esse botão ao seu lado e virei o

mais rápido que puder.

- Agora te darei um remédio para diminuir a dor. - Falou

sorrindo.

Enquanto preparava a medicação aproveitou para

conversar e distraí-lo um pouco.

- Você tem irmão?

- Só tenho uma irmã e o seu nome é Sara. Ela tem três

anos.

- Você ajuda a mamãe a cuidar dela?

- Às vezes sim, mas ela fica mais com minha mãe. –

Tomou o remédio fazendo uma careta de nojo.

- Prontinho Caio! Daqui a pouco o remédio fará efeito e a

dor vai sumir. Logo você estará bonzinho.

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L.P.OWEN

8Neste momento no alto-falante, ouviu seu nome sendo

chamado. Sua presença era solicitada na sala de

emergências.

Ana despede-se de Caio e imediatamente sai para atender

ao chamado.

Quando chega, o ambiente que encontra é parecido com

um campo de guerra, um verdadeiro caos. Médicos e

enfermeiras se dividiram em equipes para atenderem

algumas pessoas envolvidas em um acidente grave entre

dois ônibus e três automóveis. Os feridos chegavam a todo

o momento.

Mal entrou na sala e o doutor Félix imediatamente

solicitou seu auxílio para atender uma garota que

apresentava pequenos cortes na cabeça, braço direito com

fratura exposta e perna esquerda também com fratura.

Estava em estado de choque e os médicos se desdobravam

para estabilizá-la.

Page 9: LINHAS DO DESTINO

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Olhou para a garota, viu um rosto com feições delicadas.

Apesar de estar suja de sangue, com alguns hematomas,

não pode deixar de perceber que era apenas uma

adolescente.

Assim que encostou junto à maca onde se encontrava a

garota, tomou as providências necessárias e iniciou o

atendimento com a atenção voltada a tudo que o doutor

Félix dizia.

Executava com grande perícia todos os procedimentos,

tinha tanto amor pela profissão e o fazia com muita

competência. À medida que o paciente era atendido

imediatamente a equipe se ocupava de outros casos menos

graves.

Após doze horas de trabalho intenso, com um sorriso nos

lábios pensou como a equipe fizera um ótimo trabalho.

Agora poderiam ir para casa com a sensação de dever

cumprido.

Page 10: LINHAS DO DESTINO

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10Estava exausta de tanto ficar em pé, não via a hora de

chegar e tomar um banho de imersão. Enquanto fazia o

trajeto de volta, procurava se desligar de tanto sofrimento

pelos quais tantas pessoas estavam passando no hospital,

ouvindo um pouco de música.

Para relaxar gostava de ouvir músicas clássicas, elas

tinham o poder de transformar e transportar seus

pensamentos, aliviando suas tensões.

Ao chegar a casa, situada num bairro tranquilo, com ruas

arborizadas, calçadas gramadas, sem muros em volta, com

apenas roseiras e jardins bem cuidados dividindo os

terrenos. Subiu a escada em direção ao quarto de Luís,

como sempre fazia. Quando o beijou ouviu a pergunta de

sempre.

- Mamãe! Trouxe alguma surpresa?

- Não tive tempo de sair. Você poderia ao menos

perguntar como foi meu dia.

Page 11: LINHAS DO DESTINO

LINHAS DO DESTINO

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- Está bem mamãe. Como foi seu dia? - Perguntou

sorrindo.

- Foi muito cansativo, mas compensador porque

conseguimos salvar muitas pessoas. Como foi o seu dia

filho?

- Tirando a escola foi tudo bom. – Respondeu como todos

os dias.

- Não diga isso filho é maravilhoso estudar e você vai

precisar dos estudos mais tarde para poder ter um bom

trabalho.

- Você estudou tanto e agora trabalha muito.

Ana não sabia o que responder estava exausta e Luís tinha

alguma razão, porque não davam atenção suficiente para

ele. De alguma maneira, estava influenciando em sua

educação.

Pediu um momento para o filho e foi tomar um banho. No

ambiente hospitalar existem diversos tipos de

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12contaminação, apesar do uso de roupas diferentes, não

gostava de ficar muito tempo sem o banho.

Luís estava acostumado e esperou pacientemente.

Quando terminou, Ana sentou-se ao lado do filho. A

conversa foi iniciada com muita tranquilidade e franqueza.

- Meu filho! Disse com voz suave. Você tem toda razão de

reclamar, de dizer que não tem nossa atenção, que

trabalhamos muito e não conversamos o suficiente.

Precisamos mudar essa situação, então vamos por mão na

massa. A partir de agora, vamos nos falar mais, nem que

seja via tambor, ou fumaça. – Disse sorrindo.

Os dois riram um pouco, quando pararam, se abraçaram

permanecendo assim por longo tempo. Os únicos barulhos

que se ouvia eram de suas respirações e corações.

Fazia muito tempo que não se abraçavam assim. Luís

quebrou o silêncio.

- Sabe mamãe, eu te amo tanto. – Enquanto falava

apertava o abraço.

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LINHAS DO DESTINO

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Aquelas palavras foram como alento para a alma de Ana

fazendo lágrimas rolar. Desejou responder, mas não

conseguiu, apenas abraçou-o mais forte.

- Sei que você esta passando por um momento delicado. –

Disse ele. - Papai não quer mais vir para casa só fica

arrumando desculpas. Estarei com você para o que

precisar. Seu trabalho é muito desgastante, mas não tem

problema, por mais difícil que seja teu dia e tudo pareça

difícil, estarei esperando.

Ana não aguentou, por mais forte que gostaria de

aparentar, não conseguiu segurar a emoção e chorou.

Mesmo sendo apenas um garoto com seus 14 anos, sentiu-

se segura e amada nos braços de seu filho.

Naquela noite nem viu a hora que seu marido chegou, mas

não deu importância, estava feliz porque tivera momentos

inesquecíveis com seu filho.

Na manhã seguinte Ana levantou-se, como de costume no

mesmo horário, tomou seu banho e preparou-se para ir

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14trabalhar. Enquanto se maquiava, Roberto despediu-se e

saiu.

Quando descobriu que Luís, desta vez, estava preparando

seu café, apressou-se em descer para aproveitar esse

momento com o filho.

A mesa estava posta com muito carinho, apenas duas

xícaras colocadas, sorriu e aproveitou para conversarem.

Os assuntos foram variados, a conversa prolongou-se até a

porta do colégio. Despediram-se com um beijo e Ana

seguiu para um novo dia de trabalho. Feliz, sentia-se uma

nova mulher.

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Capitulo dois

UM ANJO NA TERRA

Dona Raquel, expressão serena, olhos castanhos-escuros

de brilho intenso e cabelos castanhos. Uma senhora de

aparência bondosa e gestos delicados. Todos os dias ela

passava pelo hospital para visitar as pessoas que lá

estavam.

Os funcionários conheciam e respeitavam seu trabalho.

Raquel sempre com uma palavra de amor e esperança para

quem às vezes não tinha e não esperava mais nada.

Como sempre, chegou com seu jeito calmo

cumprimentando todos como se fossem seus filhos, por

instinto, ela sabia quem mais precisava de uma palavra de

apoio.

- Bom dia dona Raquel, como a senhora está? - Perguntou

Márcia.

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16- Estou bem minha querida. Você como está? –

Retribuindo o sorriso.

- Tudo ótimo. Graças a Deus. – Respondeu sem muita

convicção.

- Sabe minha querida. - Iniciou dona Raquel com seu jeito

especial - Muitas vezes acordamos com a sensação de que

não fizemos e não demos o melhor de nós. Ficamos

remoendo esse sentimento e não dividimos o fardo com

ninguém. Com o tempo ele fica tão pesado que mal

conseguimos suportá-lo. Digo com sinceridade, damos

apenas o que temos no momento e isso é o nosso melhor.

Sem saber como nem por que Márcia percebeu que dona

Raquel estava dizendo algo que há muito a fazia sofrer.

Quando se aproximou, abraçou-a com ternura e começou a

chorar desesperadamente.

- Sei que você fez o melhor que podia. - Disse com voz

doce. - Não precisa culpar-se. Tenho a certeza absoluta,

quando vejo o quanto se dedica aos enfermos daqui.

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Portanto, pare de culpar-se. Continue fazendo o seu

melhor, mesmo que você não ache, o importante é que o

Papai do céu sabe que sim. – Antes de seguir seu caminho

completou. - Pode acreditar sou sua fã incondicional.

Aquelas palavras aliviaram o peso que Márcia estava

carregando há algum tempo.

Como sempre fazia, Raquel passou pela capela do

hospital, fez sua oração. Enquanto estava lá aproveitou

para agradecer e pedir novas graças para os enfermos.

Certa vez alguém lhe perguntou por que ela frequentava

tanto a capela. Respondeu apenas que fazia vários pedidos

para os enfermos. - Com um sorriso franco disse: - Eu

peço a Deus. Ele sabe que não tenho como pagar, mas

assim mesmo Ele sempre me atende. Volto para

agradecer.

Depois de alguns instantes levantou-se e foi cuidar dos

pacientes.

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18Andando pelo corredor viu um homem sentado num

banco da sala reservada aos pacientes, que aguardavam

para internação. Foi em sua direção, ao chegar mais perto

disse sorrindo.

- Em que posso ajudar?

Carlos nem olhou para ela, apenas respondeu que ninguém

poderia ajudá-lo.

Raquel não era de desistir facilmente. Apesar da frieza

com que foi recebida, sentou-se ao seu lado e ali ficou

quieta. Imóvel como uma estátua.

Carlos - um homenzarrão - vendo que aquela pequena

senhora não estava disposta a desistir olhou para o lado e

resolveu conversar um pouco.

- Como a senhora se chama? - Perguntou ainda meio sem

jeito para conversar.

- Meu nome é Raquel e o seu?

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- O meu é Carlos. - Respondeu ainda meio desconfiado se

aquela mulher frágil pudesse resolver seu problema. “-

Quem ela pensa que é?” – Pensou.

Raquel não hesitou, falou com firmeza, porem com muito

carinho.

- Sei o que está pensando - Disse sorrindo.

- Se sabe então me diga? - Desafiou Carlos ainda amargo.

- O que essa mulher pode fazer por mim? - Disse ela

calmamente.

Mesmo sentindo o espanto de Carlos, continuou com o

monólogo sem olhar para seu interlocutor.

- Venho aqui todos os dias, conheci e a cada novo dia

conheço mais pessoas, cada uma com problema maior que

o do outro. Quando penso ter encontrado o maior

problema de todos, dou alguns passos, não demora muito,

acabo por conhecer um problema ainda maior.

Virando-se para Carlos e com a voz doce continuou.

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20- Talvez o seu problema seja maior do que o que vi

ontem. – Continuou sua narração.

- Ao chegar aqui fiquei sabendo do caso do garoto

Gabriel, que está em coma devido a um atropelamento que

sofreu. – Carlos ouvia olhando para o chão, mas atento.

- Há suspeitas de estar paralítico. O que é pior, quando sair

do hospital, não tem ninguém que possa cuidar dele. –

Raquel falava tranquilamente.

- Tudo aconteceu porque o pai tinha ciúmes de sua mãe,

ao invés de ir trabalhar, ficou de tocaia aguardando que

algum homem viesse ao encontro de sua esposa.

- Não apareceu ninguém, porque não havia quem viesse

visitá-la. Ele entrou na casa interrogando-a, como não

conseguiu uma confissão matou sua amada em seguida se

matou.

- Quando o garoto soube do ocorrido fugiu da escola e foi

em disparada para casa. Ao atravessar a rua foi pego por

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um carro que estava em alta velocidade. - Não esperou

comentário algum somente continuou sua narrativa.

- Desculpe-me por incomodá-lo com o problema do

garoto, o senhor já tem a sua cruz, que também deve ser

pesada para ser carregada. – Finalizou - Ao invés de

ajudá-lo sou eu quem está desabafando.

Depois ficou calada novamente, como se já soubesse,

sentiu a mão de Carlos tocar na sua e o pedido de perdão

por ter sido tão rude.

Ela simplesmente ergueu a mão de Carlos, deu um beijo e

disse: - Fique com Deus. – Saiu tranquilamente.

Carlos ficou sentado por alguns instantes pensando no que

tinha acontecido, sobre seus problemas, agora com a saúde

precisando de cuidados, devido aos vários abusos

cometidos durante a sua vida, ficaria internado sem

previsão para sua alta.

A situação no trabalho ficou difícil com o agravamento de

seu quadro clínico resultando no seu afastamento.

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22Sua esposa Olga fazia de tudo para ajudar no

orçamento, trabalhava como diarista, por vezes cozinhava,

lavava e passava para fora. Assim obtinha algum dinheiro

extra que servia para complementar o orçamento.

Estava tão mergulhado em seus pensamentos que não

notou a enfermeira e o enfermeiro à sua frente para levá-lo

para seu quarto onde ficaria internado para o tratamento.

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Capitulo três

UM NOVO RUMO

Ana pediu para Carlos sentar-se na cadeira de roda para

ser conduzido ao quarto. Nesse momento ele fez seu

pedido a Deus, para que o amparasse. Sem que Carlos

soubesse, Deus já tinha mandado seus Anjos para cuidar

dele.

Depois de acomodá-lo no quarto, Ana foi à sala de preparo

e iniciou os procedimentos de pré-operatório prescrito,

pelo médico, para o senhor Carlos.

Quando se preparava para retornar ao quarto de Carlos seu

telefone tocou.

- Alô – atendeu enquanto ajeitava tudo na bandeja.

- Tudo bem? – Quis saber Roberto.

- O que você quer? – Perguntou, mas tinha ideia sobre o

assunto.

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24- Está ocupada? – A pergunta que sempre fazia para

poder ser breve.

- Sempre estou ocupada, você sabe disso, diga o que quer,

tenho um paciente para medicar.

- Gostaria de almoçar com você hoje, posso passar por aí?

Ana já sabia o que ele pretendia e concordou. Sua vontade

era acertar tudo o mais rápido possível.

Desligou o aparelho e ficou pensando por alguns instantes,

sabia que seria inevitável. Sentiu apenas alívio, voltou a

concentrar-se no trabalho e foi medicar Carlos.

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Capitulo quatro

UMA LINHA TÊNUE

No CTI Gabriel lutava por sua sobrevivência. Os

encarregados de seu tratamento estavam empenhados em

salvá-lo, para tanto, não mediam esforços. Quando ocorria

uma melhora no quadro clinico, por menor que fosse todos

vibravam.

Ao passar pelo CTI, Raquel, antes de entrar, vestiu a roupa

especial para ser utilizada no local e entrou. Em todos os

leitos fez suas preces. Disse algumas palavras de

esperança para cada um dos enfermos, mesmo para os que

estavam inconscientes e não poderiam ouvi-la.

Viu o leito agora vazio, onde há pouco tempo era ocupado

por um homem que lutara bravamente pela vida, mas

acabou falecendo. Lembrou-se e sentiu saudades do

grande guerreiro que dirigiu a ela as últimas palavras -

“obrigado por ter sido meu anjo durante esse tempo”.

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26No leito de Gabriel, parou por mais tempo, segurou sua

mão e ficou assim por algum tempo fazendo suas preces

mentalmente. Antes de sair falou: - “Vamos Gabriel, já é

hora de acordar estamos esperando para cuidar de você”.

Saiu, foi visitar os que estavam nos quartos e enfermarias.

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Capitulo cinco

UM SUSTO

À hora do almoço Ana retirou seu avental e foi em direção

ao estacionamento para aguardar a chegada de Roberto. O

tempo passou como de costume, ele não apareceu.

Mesmo acostumada com seus atrasos resolveu ligar para

saber o motivo, mas não foi atendida. Seu horário já

estava esgotando. Resolveu tomar um lanche e voltar ao

trabalho.

Durante a tarde ligou varias vezes sem sucesso. Quando

tinha desistido, recebeu um recado sobre o acidente que

Roberto tinha sofrido e o hospital onde se encontrava

internado, mas foi informada de que passava bem.

Foi ao encontro de Márcia no final da tarde e pediu

autorização para ir até o hospital visitar seu marido.

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28Capitulo seis

NOVO AMIGO

Antes de ir embora dona Raquel aproveitou para passar no

quarto do senhor Carlos encontrou um homem

completamente diferente daquele de algum tempo atrás.

Conversaram sobre vários assuntos e ela pôde conhecê-lo

melhor e passar a admirá-lo.

Quando se despediu teve a certeza de ter encontrado um

novo amigo.

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LINHAS DO DESTINO

29

Capítulo sete

DESILUSÃO

Quando Ana chegou ao hospital para visitar Roberto, foi

ao quarto indicado. Acabou sendo recebida por uma garota

aparentemente muito mais nova que ela, que ao vê-la

vestida de branco, achou tratar - se de uma funcionária do

hospital.

Ao ser apresentada, a garota percebeu que era hora de

deixar os dois a sós para conversarem e saiu. Ana portou-

se como se não tivesse notado a presença de Lívia.

- Você está precisando de algo? - Perguntou Ana.

- Estou bem! Obrigado. - Disse sem jeito.

- Queria ter conversado antes com você - disse ele -

infelizmente ocorreu o acidente e não deu para

almoçarmos e esclarecer nossa situação.

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30- Há quanto tempo vocês estão juntos? – Perguntou

sentindo vontade de quebrar-lhe o pescoço, mas mantendo

o controle.

- Faz algum tempo, um ano aproximadamente – respondeu

sem graça.

- Já tinha uma ideia da situação – disse ela com

tranquilidade.

- Vim somente saber como está para dizer ao Luís quando

chegar a casa. - Continuou como se falasse para um

estranho.

- Você está sendo bem cuidado. Quando estiver em

condições pode pedir o divórcio, assim acertamos tudo.

Saiu dali com vontade de chorar, tinha raiva, queria tê-lo

estrangulado com o tubo do soro ou dar-lhe uma injeção

para aumentar a dor.

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Capítulo oito

A NOTÍCIA

Luís fazia suas tarefas. Ficou surpreso quando viu sua mãe

chegando naquele horário.

- O que aconteceu mamãe? – Perguntou enquanto dava um

beijo de boas vindas.

- Tenho algo muito importante para falar com você,

gostaria que prestasse atenção – falou tranquilamente.

- Está certo que combinamos nos falar mais, mas não

precisa exagerar - disse Luís para alegrar mais o ambiente.

Quando viu que sua mãe não sorriu de sua piada percebeu

que o caso era mais serio do que imaginava, atendeu

imediatamente.

- Você sabe que o relacionamento entre mim e seu pai faz

algum tempo que não está bem. Hoje cedo ele ligou para

almoçarmos juntos, mas não apareceu. Quando cheguei de

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32volta ao hospital fui informada que ele havia sofrido um

acidente e estava internado, mas não corria perigo.

- O almoço que teríamos seria para acertarmos nossa

situação e separarmos definitivamente.

- Sei que você ama seu pai e acho maravilhoso, não vou

ficar entre você e ele, mas vamos nos divorciar e espero

que compreenda.

Luís ouviu sua mãe com muita atenção. Já imaginava que

isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, porque fazia

muito tempo que seus pais não se beijavam de verdade.

Não demonstravam qualquer sentimento de carinho um

pelo outro. Era só aparência.

- Já esperava isso a qualquer momento. – Disse

demonstrando maturidade. - Entendo sua posição, mesmo

assim gostaria de ter uma conversa com ele para

acertarmos algumas coisas. Poderia levar-me para visitá-

lo?

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LINHAS DO DESTINO

33

Ana concordou. Deu-lhe um beijo e antes de deixar o

quarto e entrar no banho ouviu:

- Tenho uma coisa para falar com a senhora - disse Luís

aproveitando o momento.

Sua mãe apenas olhou para ele e aguardou.

- Sabe mamãe – iniciou preparando o caminho para fazer

o pedido - meu amigo Francisco tem uma cachorra. Ela

teve cria de seis filhotes...

- Ele te ofereceu um. - Interrompeu Ana.

- Disse-lhe que pediria sua permissão e depois falaria com

ele. – Deu uma pausa criando coragem. - Posso ficar com

um?

Luís ficava em casa sozinho, ela achou interessante ter

uma companhia, mas antes de dar permissão fez algumas

objeções.

- Então vamos definir algumas obrigações. – Sorrindo

continuou.

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L.P.OWEN

34- Você será responsável por todos os cuidados, banho,

comida, limpeza da sujeira que ele fizer, dos passeios e

etc. – Disse para terminar.

- Ele será sua responsabilidade. Combinado?

Luís respondeu afirmativamente. Ana perguntou quanto

custaria.

- Será um presente – Luís respondeu sorrindo.

- Qual a raça dele? - Perguntou ela.

- É um Lavrador, tenho certeza de que a senhora vai gostar

- respondeu Luís ao abraçá-la.

Mais tarde conversaram por um bom tempo sobre onde

ficaria a casinha, que nome seria dado.

Apesar da separação eminente, ninguém estava

preocupado ou sentindo a falta de Roberto.

Combinaram para o final de semana a compra do material

necessário para o conforto do animal.

Page 35: LINHAS DO DESTINO

LINHAS DO DESTINO

35

O dia amanheceu bonito, o outono estava chegando ao

final. Apesar de ensolarado, a temperatura estava muito

agradável.

Os dois acordaram dispostos, saíram cedo para iniciarem

uma nova jornada.

- Levarei você na hora do almoço ao hospital onde seu pai

está depois você me liga para buscá-lo no término do meu

turno. - Disse antes de deixá-lo na escola e sair para o

trabalho.

Page 36: LINHAS DO DESTINO

L.P.OWEN

36Capítulo nove

OUTRO DIA

Ana foi para o trabalho, o trânsito, como sempre, muito

intenso. As pessoas com os nervos à flor da pele e o dia

ainda estava no início.

Ela sabia que o ambiente hospitalar também é muito

estressante. Procurava melhorar seu ânimo antes de chegar

ao trabalho, para isso, a música clássica era excelente.

Ao chegar encontrou dona Raquel, as duas seguiram

conversando. O tema foi sobre o garoto Gabriel.

- Fiz uma visita ao garoto Gabriel e apesar de ainda estar

inconsciente, tenho a certeza de que logo estará recebendo

alta. – Disse Raquel com seu entusiasmo habitual.

- Também estou torcendo muito por ele. – Ana não pôde

deixar de se lembrar de Luís. - Acredito que logo estará de

alta.

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37

As duas entraram no hospital. Raquel foi para a capela

fazer suas orações, Ana seguiu para a sala de enfermagem.

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38Capítulo dez

O PASSADO

Ana foi em direção ao seu setor verificar os prontuários

médicos dos pacientes e iniciou pelo quarto 32.

Preparou os medicamentos indicados para o paciente e foi

em direção ao quarto indicado.

- Bom dia! - Disse Ana com um sorriso nos lábios.

- Bom dia! - Respondeu Carlos.

- Como está se sentindo hoje senhor Carlos?

- Estou melhor graças a Deus, mas vou sentir ainda mais

quando sair daqui, apesar de ser cuidado por uma bela

princesa. Contarei para o pessoal só para deixá-los

morrendo de inveja, vai ser ótimo. - Riu como uma

criança.

Carlos devia ter a idade de seu pai. Ana, ao ser chamada

de princesa lembrou-se dele e uma saudade tomou conta

de seu coração.

Page 39: LINHAS DO DESTINO

LINHAS DO DESTINO

39

Fazia uns cinco anos desde que falecera e desde então sua

mãe se mudara para o interior próximo ao seu irmão.

Raramente viam-se. Nem nos aniversários de Luís teve a

presença da mãe. Havia algo a ser resolvido por elas, mas

não sabia exatamente o que seria.

Desde pequena essa divisão em sua casa podia ser notada,

sua mãe sempre preocupada com o seu irmão e seu pai

fazia dela o seu xodó, nunca entendeu porque isso

aconteceu.

- “Talvez porque seus pais não estavam mais se

entendendo e para se agredirem cada um escolheu um

filho para servir de pretexto”. - Pensou.

Até algum tempo antes do falecimento de seu pai Ana e

seu irmão se davam bem, mas aos poucos sua mãe fez

com que seu irmão se afastasse. Através de chantagens

emocionais conseguiu transformá-lo em seu escravo.

Ao voltar à realidade olhou para seu Carlos e sentiu que

estava preocupado com ela.

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L.P.OWEN

40- O senhor fez lembrar-me de alguém muito importante.

- Disse Ana para deixá-lo mais tranquilo.

- Quem era essa pessoa importante? - Perguntou em tom

muito carinhoso.

- Meu pai. Ele costumava chamar-me de minha princesa,

foi por isso.

- Conte-me; como era ele?

- Era um homem bom, sempre sorrindo não importava o

que estivesse acontecendo, por isso não tinha rugas –

sorriu - dizia que sorria para economizar alguns músculos.

-Trabalhou muito para dar educação e sustento para mim e

meu irmão. Alguns anos atrás ele faleceu. Mas não é hora

de pensar em coisas tristes. O senhor vai ser operado, logo

vai ter alta. - Disse Ana com tanto entusiasmo que

contagiou Carlos.

- Gostaria que você conhecesse minhas três filhas.

Carmem a mais velha, Débora a do meio e Sílvia a mais

nova. A mais velha tem 23 anos, 15 e 13. Meu sonho era

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LINHAS DO DESTINO

41

ter um filho, mas vieram três mulheres, então torci para ter

um neto e ganhei uma neta. Pode você acreditar nisso? -

Disse sorrindo. – Nasci para estar rodeado de mulheres.

Repentinamente voltou a ficar tenso.

- O que houve senhor Carlos? – Perguntou

carinhosamente.

- Não é nada apenas um pouco preocupado com a cirurgia

que vou fazer, preferiria ser o médico agora. - Os dois

riram novamente.

- Vou ficar bem, quero visitar o Gabriel quando puder dar

minhas voltas. - Sabe minha querida – Disse

confidenciando. - Quando vim para ser internado, estava

desesperado. Fiquei sabendo sobre o caso dele através de

dona Raquel que para me amparar mostrou que outros

tinham problemas e alguns bem maiores que o meu. Então

pedi a Deus por ele.

- Realmente dona Raquel é uma mulher maravilhosa com

quem adoro conversar, de ficar ao seu lado. Todos aqui a

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42conhecem e a adoram. - Disse Ana com muita

admiração – Tenho certeza de que Deus ouviu suas

orações.

- Quem ela é, onde mora? – Perguntou Carlos.

Ana achou esta a mais difícil de todas as perguntas.

- Para ser sincera não posso responder, por incrível que

pareça, sempre conversamos sobre o pessoal de quem

cuidamos. No fim esquecemo-nos de perguntar essas

coisas – respondeu pensativa.

Ana ficou estarrecida por ter descoberto, somente agora,

algo tão importante. Conhecia dona Raquel há algum

tempo, conversava com ela várias vezes por semana, mas

não sabia praticamente nada sobre ela.

- Será que tem parente? - Disse Carlos em tom sério.

- Não sei. - Respondeu com um sentimento de culpa por

nunca tê-la convidado para um almoço.

Despediu-se de Carlos desejando-lhe sorte e saiu.

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LINHAS DO DESTINO

43

Capítulo onze

A LEMBRANÇA

Ao sair pensou em procurá-la e descobrir algo sobre ela,

onde morava, se tinha parentes enfim o que pudesse.

- Quantas pessoas passam por nossas vidas – pensou Ana

– e não sabemos nada sobre elas, sobre suas necessidades,

seus sonhos, medos, suas paixões, seus problemas.

Simplesmente não sabemos se apenas um abraço é o

suficiente para melhorar sua vida.

Lembrou-se de algo que vira na televisão sobre a

procissão do Sírio de Nazaré, aonde uma multidão vinha

segurando numa corda enorme que se estendia a partir do

Sírio de Nazaré. Cada fiel se desdobrava para segurar-se

nela. A multidão era tão grande que se compactavam

parecendo um bloco único de pessoas. Todos os que

porventura iam perdendo as forças e caiam exaustos pelo

caminho, eram imediatamente seguros pelos que estavam

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L.P.OWEN

44em melhores condições físicas. Nenhum era deixado

para traz num gesto de solidariedade e amor ao próximo.

- Quem sabe se nossa caminhada não é como essa corda

que segue o Sírio de Nazaré - pensou Ana -. Quem sabe os

que se aproximam de nós não são os que deveremos

segurar ou sermos seguros por eles. – Seguiu seu trabalho

pensando no assunto.

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LINHAS DO DESTINO

45

Capitulo doze

UM OMBRO AMIGO

Ao retornar a sala de preparo de medicação encontrou

Márcia e percebeu que algo estava errado.

Márcia estava no canto, quando Ana chegou perto, tocou

em seu ombro, ela não conseguiu segurar e chorou.

Ana não disse nada apenas abraçou-a. Ficou calada ao seu

lado até que tivesse condições de dizer algo.

Depois de alguns minutos conseguiu acalmar-se e

conversar sobe o que acontecera.

- Você está melhor? - Perguntou Ana.

- Já passou. Obrigada por compreender.

- Sem problemas. Se precisar de algo que possa fazer é só

avisar.

- Obrigada já estou melhor. - Disse terminando de enxugar

as lágrimas.

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46Ana notou que ela tinha um papel na mão, reconheceu

ser o resultado de um exame utilizado no hospital, mas

não fez comentário algum. Esperou que Márcia tomasse a

iniciativa de contar.

O silencio foi curto Márcia resolveu desabafar.

- Hoje recebi o resultado dos exames. Vou fazer uma

cirurgia para retirada de um nódulo no seio. O doutor

Guilherme disse que após a cirurgia vai fazer biopsia.

- Quando será a cirurgia?

- A internação será hoje à tarde. Provavelmente amanhã

cedo a cirurgia. Tudo vai depender dos resultados dos

exames.

- O que posso fazer por você?

- Se puder cuidar de mim durante seu turno ficaria muito

grata.

- Vou cuidar de você, pode estar certa disso. - Disse Ana

sorrindo.

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As duas ficaram conversando por algum tempo. Márcia

fez algumas confidências à Ana.

- Tenho um sonho de fazer uma viagem pela Itália para

conhecer a terra de meus ancestrais. Fiz algumas

economias para um curso e aprender a língua, até

pesquisei sobre os costumes, museus e as cidades que

pretendo visitar como Verona, Bérgamo entre outras.

Agora vou ter que adiar um pouco.

- Calma! Não fez a cirurgia e pensa em desistir da

viagem? – Disse Ana para dar ânimo à amiga. - Afinal

quantas pessoas que estavam em situações de muita

dificuldade, acabaram dando a volta por cima? - Você

mesma cuidou de muitas delas. - Completou – Então,

fique tranquilas que vai dar tudo certo.

Márcia e Ana estiveram unidas antes para tratar de pessoas

que precisavam de cuidados. Revezavam-se para que o

paciente não ficasse um minuto sem atendimento. Assim

puderam salvar muitas pessoas. Em várias ocasiões

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L.P.OWEN

48receberam demonstrações de carinho daqueles que um

dia necessitaram dos seus carinhos.

Algumas pessoas já tinham perguntado sobre o grau de

parentesco das duas, elas respondiam: - Apenas carne e

unha.

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49

Capitulo treze

HORA DA VISITA

Luís estava à porta da escola quando Ana chegou.

- Como foi sua manhã mamãe? – Perguntou sorridente. -

Boa e a sua? Teve prova? Foi bem? – Antes que pudesse

fazer outra pergunta Luís respondeu.

- Deixa responder somente trinta e cinco perguntas por

vez. - Disse sorrindo.

- Desculpe-me. Vamos comer algo antes de irmos visitar

seu pai, porque depois não vai dar tempo. A Márcia

mandou um beijo pra você. – Completou.

- Obrigado! Como está ela?

- Hoje ficou sabendo que tem nódulo no seio, amanhã será

operada. Esta ansiosa.

- Vai dar tudo certo, tenho certeza de que ela vai dar a

volta por cima rapidinho.

- Deus te ouça Luís.

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50Os dois entraram no restaurante. Luís pediu um lanche

natural e um suco de laranja, Ana gostou da ideia e

resolveu fazer o mesmo pedido.

Depois do lanche foram para o hospital. Ao chegarem,

receberam o cartão para visitantes.

- Agora é com você. Vou retornar para o trabalho,

qualquer problema é só ligar.

Deu um beijo no filho e saiu.

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LINHAS DO DESTINO

51

Capitulo catorze

O FILHO CRESCEU

Roberto ao ver seu filho ficou contente. Perguntou como

estavam as coisas.

- Está tudo ótimo. - Falou com tranquilidade.

- Como você chegou aqui?

- Minha mãe me trouxe. Como você está? - Perguntou

Luís.

- Estou bem!

Roberto aproveitou para apresentar Lívia, sua namorada.

Comentou sobre o encontro que teve com Ana para

esclarecer a situação do casal.

Os dois ficaram conversando por longo tempo, Luís

aproveitou para resolver como seria o relacionamento

entre eles após a separação.

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52Falou sobre o amor que sentia pelo pai, mas também

sobre a intenção de morar com sua mãe. Disse que não

teria problema algum para visitá-lo quando quisesse.

Roberto explicou tudo a respeito do relacionamento entre

ele e Ana. Falou sobre quando conheceu Lívia e se

apaixonou por ela.

- Eu e sua mãe merecemos uma nova chance de voltarmos

a ser felizes.

Luís apesar da pouca idade era um garoto maduro, fazia

algumas colocações que deixava os mais velhos de boca

aberta.

- Não quero julgar nada, desejo que vocês sejam felizes.

Para ser sincero, hoje foi o dia que mais tempo

conversando. – Sorriu e disse: - Quando quiser visitar-me

é só aparecer.

Luís ficou até o final do horário de visita. Quando se

despediram, seu pai abraçou-o e fez promessa de que as

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LINHAS DO DESTINO

53

visitas seriam constantes. Seriam mais amigos do que

antes.

Mais uma vez Luís lembrou-se das manhãs quando seu pai

perguntava sobre sua vida, mas não escutava a resposta.

Agora era ele quem estava de saída.

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54Capitulo quinze

AMIZADE

Raquel aproximou-se do leito de Gabriel e perguntou,

sabendo que não teria nenhuma resposta, mas isso não

importava:

- Como está meu garoto? - Sem esperar continuou.

- Está melhorando a cada dia. Logo você poderá

responder-me.

- Sei que é difícil. Tudo está tão confuso pra você, mas

quando voltar ficará tudo bem, estarei aqui para te ajudar.

Assim passava seus momentos, encorajando aqueles que

precisavam de apoio.

Todos tinham uma grande admiração por Raquel, mas não

faziam ideia de sua vida particular.

Quando chegava aos lugares, as pessoas logo notavam sua

presença, não pela aparência, mas pela paz, tranquilidade e

alegria de viver que transmitia.

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LINHAS DO DESTINO

55

Seu semblante tinha uma luz própria e os olhos castanhos

possuíam um brilho que só os sonhadores possuem.

Apesar das marcas do tempo, seu rosto mantinha os traços

da juventude, de formato alongado, nariz levemente

arrebitado e os lábios bem definidos que fazia mais belo o

seu sorriso.

Certa vez alguém lhe perguntou como ela era quando mais

nova e como resposta apenas disse: “Mais jovem”.

De humor maravilhoso, por mais que a situação fosse

estressante não perdia a fibra e a delicadeza, tratando

todos com igualdade, mas com firmeza quando necessário.

Raquel saiu da UTI preocupada com Gabriel, apesar de ter

deixado o coma profundo, não estava de todo consciente.

Resolveu ir onde mais gostava de refletir – na Capela.

Enquanto orava sentiu a presença de alguém no banco de

trás, ao olhar viu Ana de joelhos e olhos fechados.

Resolveu aproximar-se.

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56- No que posso ajudar minha querida? – Sabia que essa

pergunta abria muitas portas.

Ana não tinha visto dona Raquel na capela. Abriu os olhos

viu um sorriso por ela já conhecido e amado.

- Não tinha visto a senhora. Vim apenas conversar um

pouco com Deus. Estou preocupada com a Márcia. Segui

seu exemplo, vim fazer uma oração e pedir para que ela

fique curada. A senhora, o que a preocupa?

- Às vezes ao invés de pedir, venho agradecer e meditar

para tentar entender as coisas que nos preocupam. – Como

se buscasse na memória. - Ainda não vi a Márcia hoje, não

sabia que ela estava enferma.

- Ela vai fazer uma cirurgia amanha, então resolvi pedir

por ela.

- Seremos duas a pedir. Você quer iniciar? - Disse Raquel

sentando ao lado de Ana.

Depois da oração ficaram conversando. Ana contou sobre

sua separação.

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- Não tenha pressa, minha querida, seu grande amor está

apenas esperando o momento certo para te encontrar. –

Disse dona Raquel sorrindo.

Despediram-se. Ana voltou para o trabalho, ainda tinha

muito por fazer.

O início da noite estava agradável, às luzes davam um

colorido todo especial. Ana estava sentindo-se muito bem.

Concluiu que a separação foi a melhor escolha para

ambos.

Era uma mulher atraente, muitas vezes teve de usar a

diplomacia para desvencilhar-se dos galanteadores que

não paravam de importuná-la.

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58Capitulo dezesseis

NOVO MEMBRO NA FAMÍLIA

Não via a hora de chegar em casa. O dia fora extenuante e

cheio de emoções. Agora necessitava recarregar a bateria e

um banho era o que mais queria.

Quando chegou em casa foi recebida com muito

entusiasmo por Luís. Estava muito contente por ter vindo

de ônibus para casa.

- Como foi sua tarde? – Falou alegremente.

- Bem obrigada. Qual o motivo da recepção?

Luís levantou-se foi até a lavanderia, quando retornou Ana

não se conteve quando viu aquele bichinho de olhos

meigos e brilhantes olhando para ela.

- Que coisa linda! Imediatamente pegou o filhote da mão

de Luís. - Ele é muito fofo!

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Como ele previra sua mãe ficou apaixonada pelo

cãozinho. Imediatamente ela abraçou-o, beijou-o, fez uma

tremenda festa.

- Que nome você vai dar? - Perguntou Ana.

- Qual a senhora prefere? - Replicou.

- O cachorro é seu. Você lembra? – Fez a mesma careta

que costumava fazer para repreendê-lo.

- Ele tem cara de Tobias. Que tal? – Ficou esperando a

bronca.

- Adorei! Realmente é a cara dele.

- Ufa! Pensei que não fosse gostar. - Aproveitando a

oportunidade perguntou.

- Está combinado, o nome dele será Tobias. Quando

poderemos ir comprar coleira, casinha e etc.?

- Vou tomar um banho, depois iremos. – Respondeu Ana.

Antes que deixasse os dois ouviu.

- Mamãe, eu te amo.

– Também te amo. – Respondeu feliz do alto da escada.

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60Compraram casinha, caminha, comedouro, bebedouro,

enfim tudo o que Tobias não usaria.

Foram para um restaurante e jantaram felizes.

Luís comentou que a família, apesar de tudo, não tinha

diminuído.

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LINHAS DO DESTINO

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Capitulo dezessete

UMA BOA NOITE

Carlos, apesar das visitas que recebera estava ansioso.

Quando a enfermeira da noite chegou para medicá-lo

esqueceu um pouco dos problemas e conseguiu relaxar.

- Como esta se sentindo senhor Carlos? - Perguntou

Flávia.

- Ansioso para que tudo acabe logo.

- Fique tranquilo que vai dar tudo certo. Quando menos

esperar, já estará recebendo alta. - Antes de sair informou.

- Se precisar de algo é só tocar a campainha, vou estar

numa sala ao lado.

- Obrigado. – Foi a única coisa que se lembrou.

Carlos não soube o que tinha tomado, mas a ansiedade

diminuiu. Conseguiu dormir mais tranquilo.

Quando Flávia chegou ao quarto de Márcia e a

cumprimentou, o comentário foi espontâneo.

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62- Já chegou com boa noite Cinderela? – Disse Márcia

sorrindo.

Flávia apenas sorriu, depois de medicar a chefe do

departamento, as duas conversaram por alguns instantes.

Não demorou muito e Márcia dormiu calmamente.

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Capitulo dezoito

O QUE SONHAMOS

Ana chegou mais cedo no hospital, queria estar ao lado da

amiga, como prometera, foi à primeira pessoa que Márcia

viu naquela manhã e ficou muito feliz por isso.

- Sonhei que estávamos viajando juntas para Itália,

pudemos ir a vários museus, conhecemos o Vaticano foi

maravilhoso. Disse Márcia.

- Agora é capaz de ser possível, já que estamos solteiras. –

Ana falou enquanto ajudava a amiga a preparar-se para a

cirurgia.

Enquanto esperavam as duas fizeram planos para o futuro.

Quando Rui, enfermeiro encarregado de transportar os

pacientes encontrou as duas colegas de trabalho, brincou

para descontrair.

- Bom dia! Por onde anda o paciente? – Fugiu? - Disse

sorrindo.

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64- Sou eu seu bobo. - Respondeu Márcia.

- Pela primeira vez esta gata vai dar uma volta comigo.

- Claro que não, quem gosta de dar uma voltinha de maca?

- Riu mostrando uma de suas qualidades, o humor.

- Está nervosa? - Perguntou Rui.

- Claro que estou!

- Ainda bem que está nervosa, imagine se fosse o médico.

– Rui mostrou sua dentadura perfeita num sorriso

contagiante.

Ana desejou sorte para a amiga e acompanhou-a até que

atravessou a porta para a sala de preparo.

No corredor pensou em dona Raquel, na segurança que

transmitia a todos os que se aproximavam. Antes que

pudesse deixar o corredor viu Carlos, sendo trazido para

ser operado.

- Como vai princesa? Vão consertar meu coração, assim

vou poder amar mais. - Sorriu.

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LINHAS DO DESTINO

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- Boa sorte! Pode estar certo que vou esperar para cuidar

do pós-operatório, fazendo o senhor ficar bom logo.

- Então estamos combinados.

- Até daqui a pouco. - Disse Ana enquanto a maca

desaparecia.

Ana dirigiu-se para iniciar seu turno. Pacientes

necessitavam de seus cuidados. Começou a pensar

novamente em Dona Raquel.

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66Capitulo dezenove

O CONVITE

Dona Raquel foi para a capela pedir a Deus saúde para

todos os enfermos.

- Não acredito! - Exclamou Ana ao ver dona Raquel que

até levou um susto. – Estava pensando na senhora.

- Como está, minha filha?

- Agora estou bem! - Disse alegre.

- Nossa! O que a faz tão feliz?

- Quero convidá-la para conhecer minha casa e passar o

dia com a gente. Não aceito o não como resposta.

- Desse jeito sou obrigada a dizer sim.

- Venho buscá-la amanhã as 09h00min horas, só preciso

saber onde mora.

- Para facilitar sua vida, me apanhe aqui no hospital, assim

aproveito e faço uma visita rápida para o pessoal.

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67

- Então está combinado. - Ana parecia uma criança de

tamanha felicidade.

Quando soube que a cirurgia de Márcia tinha terminado,

foi até o corredor que dava acesso a sala de cirurgia. Ficou

esperando que ela saísse.

Não demorou muito para que Rui passasse por ela levando

Márcia na maca em direção ao quarto.

Ana pegou sua mão, apesar de estar sob o efeito da

anestesia, Márcia ficou feliz de saber que sua amiga estava

esperando por ela.

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68Capitulo vinte

O DESABAFO

Raquel visitava todos os enfermos, algumas vezes

contando casos engraçados, noutras, casos sérios. Desta

forma, conseguia fazer todos pensarem positivamente.

Assim ajudavam a si mesmos e aos médicos.

Nem sempre as coisas caminhavam como gostaria. Por

isso sofria calada. Depois de fazer sua ronda foi visitar um

paciente que aprendeu a admirar. Entrou no CTI não viu

melhora esperada no estado de Gabriel. Segurou a mão do

garoto, ficou quieta por algum tempo.

Em tom suave, mas firme, iniciou sua conversa solitária de

sempre.

- Às vezes temos que tomar uma decisão entre desistir ou

continuar. Sei que não depende só de nós, mas se

desejamos já é um grande passo para conseguimos.

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LINHAS DO DESTINO

69

- Hoje, ao chegar aqui, pensei em encontrá-lo em

condições diferentes. Confesso que estou triste, porque

não sinto que queira sair dessa situação e tenha que

encarar a realidade.

- Muitas vezes desistimos porque acreditamos não ter

forças para superar os obstáculos, não damos a

oportunidade para Deus nos mostrar o que tem para nós.

- Posso dizer que depende apenas de você, basta querer.

Lembre-se que Deus não escolhe os capacitados, mas

capacita os escolhidos.

Fez suas orações deu um beijo na mão de Gabriel e saiu.

Após a cirurgia de coração, que tinha durado mais do que

deveria, Carlos foi levado para o CTI, até que pudesse ir

para o quarto novamente. Por ironia do destino estava ao

lado de Gabriel. Apenas uma divisória os separava.

No dia seguinte cedinho lá estava Raquel em companhia

daqueles que sempre esperavam sua visita. Ao entrar no

CTI viu Carlos em um dos leitos e foi até ele.

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70Sentou-se ao lado de Carlos, calmamente começou a

conversar com ele. Falava sobre a melhora de sua

aparência, de sua saúde e a possibilidade de ter uma vida

mais saudável e feliz.

Fez suas preces, pediu para que ele rezasse também e

pedisse a Deus que o ajudasse a se restabelecer o mais

breve possível.

- As coisas estão se encaminhando para sua felicidade. -

Disse com um sorriso ao sair.

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Capitulo vinte e um

A NACIONALIDADE

No corredor, Raquel encontrou Ana, que sem o uniforme

estava mais bonita ainda. As duas foram fazer uma visita a

Márcia que já estava mais acordada do que a última vez.

- Bom dia! - Disse Ana sorrindo.

- Bom dia! Hoje não é seu dia de folga? - Perguntou

Márcia.

- A senhora não descansa, dona Raquel? – Completou.

- Vir aqui é estar com meus amigos e com aqueles que

precisam. Hoje vou passar o dia com a Ana. Na verdade

gostaria que você pudesse vir com a gente.

- Vou deixar para a próxima vez. - Respondeu.

Ficaram conversando por um bom tempo, depois se

despediram.

Ao saírem, foram contempladas com um dia

maravilhosamente ensolarado e temperatura agradável.

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72Durante o caminho Ana falou sobre a vontade, dela e de

Márcia, de viajarem à Itália.

O que fez Raquel se lembrar de seu passado, retornar no

tempo e contar sua história.

Disse ter nascido na cidade de Pescara, situada na região

dos Abruzos, as margens do mar Adriático, Itália, mas

acabou vindo para o Brasil logo depois do seu nascimento,

por isso não conhecia o lugar.

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LINHAS DO DESTINO

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Capitulo vinte e dois

A CONCEPÇÃO

Antonieta, uma menina de 15 anos vive um drama ao

saber que o estupro que sofrera do filho do dono da

fazenda onde seu pai trabalhava como administrador

resultara em uma gravidez indesejada.

Os momentos de terror, que passou algumas semanas

antes, quando foi surpreendida próximo do riacho, onde

costumava pescar todas às tardes, não saiam de seus

pensamentos.

Ao perceber que Giuseppe um rapaz de 20 anos vinha em

sua direção, sorriu e cumprimentou-o como sempre fizera,

mas ficou preocupada ao notar que o brilho no seu olhar

estava diferente.

Giuseppe sentou ao lado de Antonieta. Iniciou uma

conversa sem pé sem cabeça. Repentinamente, agarrou-a e

com o braço em volta do seu pescoço sacou uma faca.

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74Colocou próximo ao seu rosto ameaçando-a. Disse caso

ela não fizesse o que ele queria, seria comida dos peixes

do lago.

A garota tentou desvencilhar-se, mas o rapaz era muito

forte com 1,90 m e 80 kg, não conseguiu, pois era muito

menor do que ele com 1,60 m e 50 kg.

Ele rasgou suas roupas com uma ferocidade e à medida

que ela tentava escapar era espancada com violência.

Lutou até perder suas forças. Mesmo quase desfalecida,

implorava para que ele não consumasse o ato, mas não foi

ouvida.

Foram momentos que ficaram gravados na sua mente. A

partir desse instante o ódio instalou-se imediatamente no

seu coração. Não conseguia tirar da sua mente as cenas

daquele homem alucinado em cima dela com os dentes

cerrados, os olhos vidrados, uma dor insuportável que

sentiu devido à violência com que foi penetrada.

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LINHAS DO DESTINO

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Quando terminou, ele prometeu que mataria toda sua

família se contasse para alguma pessoa.

Entrou várias vezes no lago para se lavar, mas não

conseguiu sentir-se limpa. Por mais que fizesse,

continuava com a mesma sensação de nojo.

As ameaças de Giuseppe foram muito claras, a segurança

de seus familiares estava em jogo. Ela não sabia o que

fazer.

A família de Giuseppe era muito poderosa na cidade. Se

contasse para qualquer pessoa seus pais poderiam sofrer

algum atentado. Caso seu pai viesse a descobrir, ele a

mataria.

A única pessoa em quem confiava era Angelina casada

com seu primo Carlo.

Moravam numa cidade não muito próxima. Normalmente

costumava visitá-la para conversar e pedir-lhe algum

conselho. Angelina era jovem, inteligente. Sabia como

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76orientar Antonieta. Por isso não causou desconfiança a

seus pais o pedido que Antonieta fez de ir visitá-la.

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LINHAS DO DESTINO

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Capitulo vinte e três

O PLANO

Ao chegar na fazenda foi recebida com muito carinho e

alegria. Angelina ficava sozinha o dia todo. Quando

recebia uma visita, ficava muito feliz, principalmente sua

prima por quem tinha muito carinho.

Antonieta estava tão ansiosa para desabafar com alguma

pessoa que não deu tempo para que sua prima perguntasse

sobre seus pais.

Falou que estava com problemas sérios, precisava de ajuda

para solucioná-los, mas antes, queria ter a promessa que

ela guardaria segredo.

A seriedade de Antonieta fez Angelina compreender que

sua prima estava passando por uma situação muito difícil.

Resolveu concordar.

A garota contou entre choro, acesso de raiva, tudo o que

ocorrera. À medida que os fatos eram narrados, mais

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78revoltada Angelina ficava com o cafajeste. As duas

planejaram a melhor maneira de solucionar o problema.

Angelina comentou seu plano para Antonieta. A garota foi

convencida da necessidade da inclusão e aprovação de

Carlo, não queria esconder nada dele, seria mais uma

pessoa a ajudá-las.

Quando foi perguntada sobre o que faria com o bebe,

Antonieta somente disse não querer ficar com ele, se

tivesse condições faria o aborto.

Angelina estremeceu com a palavra, já tivera alguns

espontâneos. Não conseguia mais engravidar. Tentou

acalmá-la para poder ganhar tempo, mas Antonieta não

estava disposta a mudar de ideia.

Apesar de entender o sentimento da prima disse que

poderia cuidar dele, sugeriu que ela não tomasse decisões

precipitadas.

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Antonieta comentou sobre a desconfiança de sua mãe, mas

ela não sabia exatamente o que havia de errado ou, se

sabia, não fizera nenhum comentário ou pergunta.

Naquela tarde ao chegar em casa, Carlo encontrou

Angelina e Antonieta à sua espera.

Beijou a esposa, cumprimentou a visitante com um

caloroso abraço, afinal era a única de seus parentes que

costumava visitá-los.

- Como você cresceu, já está quase uma mulher! –

Exclamou Carlo sem saber dos acontecimentos.

Pediu licença e foi tomar um banho. Ao retornar foi em

direção a sala de jantar onde foi servido seu prato

predileto de espaguete com frango ensopado e uma jarra

de vinho produzido por ele.

- Você faz as orações. – Disse Carlo para Antonieta.

Conversaram sobre vários assuntos, dentre eles os

problemas da agricultura.

- Como está o tio? – Perguntou Carlo.

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80- Está ótimo, trabalhando muito. Como sempre

reclamando da situação, que está cada vez mais difícil.

Angelina comentou sobre os dias de solidão, a falta que

fazia uma companhia. À medida que o assunto prosseguia,

amadurecia a ideia de trazê-la para morar com eles.

Contou também sobre o desejo de morarem no Brasil após

as colheitas e venda da fazenda.

- O que esperam encontrar lá? Como vão viver? -

Antonieta perguntou por quê tinha vontade de ir para o

Brasil.

- Não será tão rápido assim. No começo moraremos com

amigos, trabalharemos na lavoura. - Carlo comentou.

- Teremos tanto trabalho para fazer que não sinta solidão.

Angelina falou sobre o ocorrido com Antonieta. A ira de

Carlo ia aumentando. Quando a narrativa de sua esposa

terminou levantou-se.

- Vou caçar esse animal e arrancarei sua pele. – Disse

tremendo de raiva.

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LINHAS DO DESTINO

81

Tanto imploraram que ele acabou por ouvi-las. Para não

causar mais tragédia na família resolveu que acataria suas

ideias.

Angelina pediu permissão para que Antonieta viesse

morar com eles durante esses meses que antecederia a

viajem do casal. Carlo respondeu, que por ele não teria

problema, mas a palavra final seria dada pelos pais de

Antonieta.

Carlo pensou, na vontade de ter um filho, no sentimento

de culpa de sua esposa, nas vezes que a ouviu chorar

durante as madrugadas. A solidão que ela sentia enquanto

ele estava no trabalho.

- A viagem será longa, temos que sair cedo, para antes do

anoitecer, estarmos lá.

Quando ouviu as palavras do marido, abraçou-o, beijou-o.

Naquela noite entregou-se ao amor como nunca

acontecera antes.

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82Na manhã seguinte ela acordou radiante e feliz. O dia

estava lindo, a temperatura agradável, Carlo preparou a

charrete deixando-a bem confortável, a caminhada seria

árdua.

Ao longo do caminho existiam algumas fazendas. A

estrada, ora passava entre as árvores, ora em locais de

difícil acesso, com alguns penhascos em suas margens.

As árvores floridas, a temperatura agradável indicava que

a primavera estava apenas começando.

No início da tarde pararam para um breve descanso.

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LINHAS DO DESTINO

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Capitulo vinte e quatro

O PEDIDO

O sol escondia-se no horizonte quando desceram da

charrete e cumprimentaram os pais de Antonieta. Dona

Nina preparou um jantar especial para os recém-chegados.

Seu Gino e Carlo colocavam as notícias em dia enquanto

esperavam o jantar.

As mulheres foram todas para a cozinha, onde Angelina

conversou com dona Nina aproveitando o momento para

convencê-la a deixar, que sua filha morasse com o casal.

Não sentiu que tivesse o apoio de dona Nina, mas teve a

certeza que não criaria problemas.

Na sala o assunto em pauta era a situação, que estava

caminhando para mais uma crise. O dinheiro escasso e o

aumento do desemprego geravam uma grande incerteza

quanto ao futuro.

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84Quando surgiu oportunidade, Carlo falou sobre o real

motivo de sua visita. O pedido feito ao senhor Gino que

sua filha morasse com o casal por algum tempo.

Falou sobre sua preocupação de deixar a esposa sozinha,

enquanto ele permanecia na lavoura.

Que sua esposa chorava pelos cantos, reclamando o fato

de não poder ter filhos.

Seu Gino não disse nada, o semblante não demonstrava

sentimento algum, fazendo com que tivesse dúvidas

quanto ao consentimento do tio. Isto fazia Carlo ficar mais

apreensivo.

O silêncio era total. Chegando a ser constrangedor. O

único som que se fazia ouvir era o dos passarinhos no

pomar procurando um lugar para dormir e as mulheres

conversando na cozinha.

Nesse momento Antonieta entrou na sala para perguntar se

o jantar poderia ser servido.

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85

Seu Gino olhou para a filha e notou a felicidade

estampada no seu rosto. Deu autorização para que fosse

servido o jantar.

Novamente o silêncio foi instalado. Seu Gino era uma

pessoa honesta de enorme coração, tranquilo, mas de

decisões muito bem pensadas.

O jantar transcorreu alegre, após os agradecimentos

costumeiros devoraram as delicias que dona Nina tinha

preparado.

Os assuntos eram variados. Em alguns momentos falavam

sobre colheita, noutro sobre a perspectiva da viagem de

Marco e Angelina para o Brasil.

Ao final do jantar seu Gino deu a notícia que todos

esperavam. Permitiu que sua filha fosse morar com eles.

No dia seguinte bem cedo já estavam a caminho de casa

novamente, tinham um longo caminho, mas estavam

felizes.

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86Capitulo vinte e cinco

O GRANDE MOMENTO

À medida que o tempo passava, o corpo de Antonieta

sofria algumas modificações importantes e sua revolta

aumentava.

Angelina passava o tempo conversando com a garota para

acalmá-la e levar até o final sua gravidez. Apesar da

contrariedade, da raiva que sentia atendeu sua prima, mas

sua decisão de não querer sequer ver a criança estava

mantida.

No final da tarde, de outono, Antonieta começou a sentir

as contrações anunciando a chegada do bebê.

A mais entusiasmada, era com certeza Angelina, que não

deixou por um segundo a garota.

Carlo ouviu o choro de uma criança que acabara de chegar

ao mundo.

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Capitulo vinte e seis

A CONFISSÃO

Ao chegarem, Ana viu um bilhete de Luís sobre a mesa,

nele estava escrito, que estava na casa de seu amigo

Júnior. Levou o Tobias para a mãe dele conhecê-lo.

Voltaria antes do almoço.

As duas riram com o bilhete e iniciaram a preparação do

almoço. Raquel continuou sua narração.

- Depois do meu nascimento fui entregue para um casal

que viera morar aqui no Brasil. Eles registraram-me como

sua filha. - Ana a ouvia em silêncio.

- Minha infância foi muito feliz. Éramos pobres, mas

havia amor entre nós. Quando papai Vitor morreu foi

terrível. Tinha saído para o trabalho na lavoura, onde era

meeiro, acabou não voltando. Teve um enfarto fulminante,

não conseguiram salvá-lo.

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88- Qual era sua idade nessa época? - Perguntou Ana

lembrando-se do seu sofrimento com a perda do pai.

- Tinha 15 anos. Depois de alguns meses minha mãe Sofia

começou a ter a saúde abalada. Não demorou e também

faleceu. – Deu uma pequena pausa para tomar fôlego e

continuou.

- Passei a morar sozinha numa casinha na cidade.

Trabalhei em serviços diversos como lavar e passar.

- Algum tempo depois acabei recebendo uma herança de

um casal que não conhecia até então. Descobri, tempos

depois, serem Carlo e Angelina, que infelizmente nunca

tive oportunidade de conhecer. Eles me deixaram além de

uma quantia razoável a casa onde moro atualmente, uma

carta onde contaram todo o drama de minha mãe.

- A senhora nunca se casou? - Perguntou Ana enxugando

uma lagrima que rolava pelo rosto.

Raquel apenas sorriu e respondeu com o bom humor que

era sua característica.

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- Amei uma pessoa, mas não era hora de estarmos juntos.

Não encontrei outra tampa. - Riram gostosamente.

- Eu também ainda não encontrei o meu príncipe – sorriu e

completou. – Pensei ter encontrado um, mas virou sapo.

- Apesar de morar sozinha acabei com um monte de filhos,

maridos, mães, avôs e avós. Comecei a cuidar de pessoas e

desde então não parei mais.

- O que aconteceu com sua mãe Antonieta?

- Durante muitos anos não tive notícias dela, ou melhor,

não sabia que ela existia. Somente depois do falecimento

de meus pais, quando recebi a carta fiquei sabendo de sua

existência, que vivia no Brasil, mas não sabia onde.

- Ela tinha casado com um rapaz que conhecera pouco

depois do meu nascimento. Viveram juntos 45 anos, mas

não tiveram filhos.

- A senhora chegou a encontrá-la?

- Sim cuidei dela durante alguns anos.

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90- Ela descobriu que era sua mãe? - Ana estava com os

olhos marejados pensando na saudade que sua mãe fazia.

Apesar das desavenças, gostaria de poder conviver mais

com ela.

- Como sempre fiz, após a morte de meus pais adotivos,

visitava orfanatos, asilos, hospitais. Numa dessas visitas a

um asilo vi uma senhora que me fazia sentir algo diferente

tínhamos os traços parecidos, mas nunca pensei na

possibilidade de ser minha mãe. Como nunca me

preocupei com isso, não me passou pela cabeça que

pudesse ser ela.

- Ela tinha diabetes, por isso, outros tipos de complicações

na saúde apareceram. Sua visão estava a cada dia pior, sua

circulação também. Um dia ao chegar para visitá-la no

asilo, fiquei sabendo que tinha sido levada e estava

internada no hospital onde você trabalha.

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LINHAS DO DESTINO

91

- Todos os dias fazia minha visita pra ela. Quando

perguntei quem mais a teria visitado. Fui informada que

não havia, nem no asilo.

- Como era a única pessoa que a visitava, um dia ao

chegar, fui autorizada a ficar o tempo que quisesse porque

ela teria apenas algumas horas então fui até ela e perguntei

se queria que trouxesse um padre para se confessar.

- Olhou-me, com voz suave disse.

- “Venha mais perto, minha filha, porque gostaria que

você presenciasse minha confissão a Deus”.

- Segurou minha mão e começou a contar sobre as coisas

que tinha passado ao longo dos anos. Sobre a solidão que

sentira durante vários anos até o dia que nos encontramos.

- Contou sobre seus pais, sua infância, onde moravam,

tudo o que lembrou. Começou sua confissão.

- “Quero iniciar, pedindo perdão a Deus, porque não tinha

entendido seus desígnios. Pedir perdão a Deus, por não ter

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92aproveitado a chance de cuidar de alguém tão especial

que Ele me deu”.

- “Agora, na sua infinita misericórdia, me concedeu este

momento de resgatar o que tinha perdido. - Gostaria de

além de pedir perdão a Deus, pedir perdão para você,

minha filha, pelo mal que fiz. – Lágrimas rolavam pelo

seu rosto”.

- “Quando ainda sequer tinha nascido. De não tê-la amado

como deveria. De abandoná-la, dando-a para que outros

pudessem criá-la. Enganei-me, porque depois, descobri

que tinha morrido naquele instante. Passei a sentir sua

falta. Lamentei durante toda minha vida não ter a presença

de um anjo que me fora dado por Deus”.

- “Gostaria de te pedir perdão por tudo, te dizer que desde

a primeira vez que te revi senti meu coração bater

diferente. Não importa o que aconteça, a única coisa que

gostaria de saber se você me perdoa”.

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- Quando a abracei, antes mesmo de conseguir dizer, que

não tinha nada a perdoar, ela segurou minha mão com

mais força e fechou os olhos.

- Foi assim que nos despedimos. A última página de nossa

história tinha sido escrita ali.

- Além de mim, algumas poucas pessoas do asilo foram ao

velório, mas não vi ninguém diferente, nenhum parente.

Nesse momento Ana não conseguiu segurar a emoção e

começou a soluçar como uma criança.

Depois de algum tempo, já refeita, contou sobre os

problemas de relacionamento com sua mãe.

Raquel abraçou-a com ternura e comentou.

- Faça uma visita para sua mãe, conversem, na maioria das

vezes, os motivos são sempre banais, mal-entendido. Nada

que não possa ser resolvido simplesmente deixando o

orgulho de lado. – Concluiu – O orgulho é um dos

motivos para as desavenças.

As duas ficaram abraçadas por um bom tempo.

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94O almoço estava quase pronto quando Luís chegou

fazendo a maior bagunça com Tobias.

- Olá mamãe! - Disse Luís sorrindo segurando Tobias pela

coleira.

Quando viu que tinha visita ficou meio sem jeito, mas foi

socorrido por Ana.

- Esta é Raquel, todos os dias ela vai ao hospital para

visitar os doentes.

- Muito prazer disse Luís.

- O prazer é todo meu. - Raquel sorriu. - Quem é esse

cãozinho lindo?

- Esse é o Tobias o mais novo morador desta casa. –

Comentou com orgulho.

- Mas ele é muito lindo, tem uma cara meiga.

O almoço estava delicioso e muito agradável e Ana ficou

reparando no jeito, no som de sua voz quando falava a

conversa que tinha com Luís, enfim todos os trejeitos dela

era exatamente como todos diziam no hospital.

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95

- “Raquel iluminava o ambiente”. – Pensou.

Luís ficou meio enciumado quando seu cãozinho Tobias

pulou no colo de Raquel e não quis mais sair.

Após o almoço foram para a sala. Ana contou um pouco

de sua vida, as coisas que aconteceram em seu casamento

e como terminou.

Conversaram durante um longo tempo, quando

perceberam já estava anoitecendo.

- Nossa! – Exclamou Raquel – As horas passaram.

- Nem eu. - Completou Ana. - Foi tão bom o dia, fazia

muito tempo que não passava por momentos tão

agradáveis.

- Também senti como muito tempo não sentia. Adorei

estar aqui, estava tudo perfeito, mas agora está na hora de

ir, tenho que me preparar para a semana.

Ana prontificou-se a levá-la para casa. Convidou Luís para

ir junto.

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96Capitulo vinte e sete

UM LUGAR AGRADÁVEL

A noite estava muito agradável, as luzes da cidade

atrapalhavam o brilho das estrelas e da lua. O céu estava

muito limpo, a temperatura tinha baixado um pouco, mas

ainda continuava agradável.

O trajeto foi tranquilo, ao chegarem, Raquel convidou Ana

e Luís para conhecerem sua casa e tomarem um café.

Era uma casa simples com o portão de madeira, pintado na

cor verde musgo. O jardim bem cuidado, com flores de

diversas cores e qualidades, enfeitava toda frente

construída com tijolo aparente.

Caminharam alguns metros por entre as flores e plantas.

Uma varanda surgiu como um passe de mágica. Sob uma

janela a namoradeira de balanço. Ao lado uma mesinha

com uma toalha branca e um vaso com algumas flores do

jardim davam um toque especial ao ambiente.

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LINHAS DO DESTINO

97

Na entrada, algumas fotos colocadas sobre um móvel

chamaram a atenção de Ana.

Raquel aproveitou para mostrar seus pais adotivos e num

local especial a foto de Antonieta. Ana percebeu o quão

especial era Raquel. Deu um abraço tão apertado na

amiga, que ela ficou sem saber o por quê. Percebeu que

era algo importante para Ana e retribui o gesto de carinho.

A simpatia que Ana sentia por Raquel também passou a

ter por Antonieta. Era algo inexplicável, desde quando

Raquel contou sua história, sentiu um profundo respeito

por elas.

Os três sentaram na sala, enquanto conversavam,

apreciavam o delicioso sabor do café preparado pela

anfitriã.

Quando iam saindo, Ana comentou.

- Você nem imagina quanto adorei esse dia. - Disse

sorrindo.

- Também adorei. – Respondeu Raquel.

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98Capitulo vinte e oito

SEGUINDO O CONSELHO

Na manhã seguinte, depois de tomarem um café da manhã

bem reforçado, saíram em direção à estrada que levava a

cidade onde sua mãe morava.

Não era tão distante, com o trânsito livre poderiam chegar

em pouco mais de duas horas.

O dia estava ensolarado, mas a temperatura continuava

agradavelmente em torno de 20ºC.

A estrada, apesar de sinuosa, era bem sinalizada e bem

conservada, tornando a viagem agradável.

O ar da serra fazia os pulmões absorverem um pouco mais

de Oxigênio. Ao chegarem na cidade, mesmo depois de

algum tempo, Ana não notou nenhuma mudança.

Sua mãe morava numa chácara dentro da cidade, com

árvores frutíferas de várias espécies, jardim bem cuidado e

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LINHAS DO DESTINO

99

um terreno espaçoso onde as galinhas, patos e pássaros de

diversas espécies dividiam aquele pequeno paraíso.

A casa era ampla, com varanda em toda volta. Havia redes

de descanso presas entre a parede e as colunas que

sustentavam o telhado. Ao fundo uma piscina cercada por

um gramado muito bem tratado. Outra coisa que chamava

a atenção era a horta plantada ao lado da casa.

Quando ouviu o barulho de carro parando na porta, dona

Marta olhou pela janela. Ao ver Ana, largou tudo, correu

ao seu encontro.

Dona Marta era uma mulher de beleza incontestável,

inteligente, com personalidade forte.

Tinha o dom da arte manual, em tudo o que fazia tinha o

seu bom gosto.

Como sempre, mantinha o cuidado com sua aparência.

O local apesar de toda a beleza era simples.

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100Ana ao ver sua mãe vindo em sua direção, tão bela e

graciosa, sentiu orgulho de ser sua filha. Ao se abraçarem,

não conseguiam conter as lágrimas.

- Estava com muita saudade de você, mamãe, por isso vim

ver-te. – Disse Ana chorando.

Marta não aguentou a emoção e chorou.

Lembrando-se do tempo quando Ana era pequena.

Somente depois de alguns minutos conseguiu responder.

- Eu também estava com muita saudade de você minha

filha. Você não imagina a felicidade de poder te abraçar,

dizer que te amo mais do que eu mesma.

- Quando te vi entrando por aquele portão voltei alguns

anos da minha vida de tão parecida que somos. Talvez,

seja por isso que brigamos e sofremos depois.

As duas conversaram sobre vários assuntos. Luís, que até

então, não tinha cumprimentado a avó deu e recebeu um

abraço caloroso.

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LINHAS DO DESTINO

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Depois dos cumprimentos foram à casa vizinha, onde

Fábio, seu irmão e a esposa Leila moravam. Foi mais um

momento de felicidade, de abraços e choro.

Como nos bons tempos a paz reinou naquele lar. Luís

conheceu melhor seu tio.

- Só está faltando aqui Tobias. - Disse Luís.

- Quem é o Tobias? - Perguntaram os três ao mesmo

tempo.

- É o mais novo morador de casa. – Explicou Ana - Um

cão Lavrador, muito gracioso.

Contou também sobre sua separação de Roberto, a cirurgia

de Márcia, enfim colocou todos os assuntos em dia.

Quase ao mesmo tempo Marta, Fábio e Leila deram a

noticia sobre a vinda do bebe. Leila estava grávida há dez

semanas, como era o primeiro filho estavam ansiosos por

sua chegada.

A conversa estava animada, mas o tempo era implacável,

passava como uma velocidade inacreditável.

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102Ao final da tarde quando já iam sair Ana perguntou a

sua mãe se gostaria de passar alguns dias com ela.

Marta ficou em dúvida, por causa dos animais que

mantinha na chácara. Eles eram sua companhia. Fábio se

propôs a cuidar de tudo enquanto estivesse fora.

- OK! Minha filha, me de alguns instantes para colocar

algumas roupas na mala e iremos.

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Capitulo vinte e nove

DESCOBRINDO O SEGREDO

A felicidade de Marta era visível, desde o falecimento de

seu marido não voltara a São Paulo, cidade onde nascera e

amava.

Uma cidade grandiosa sob todos os aspectos maus e bons.

A maior cidade do Brasil e da América Latina. Isso fazia

sentir-se orgulhosa.

Depois de todos os preparativos iniciaram o regresso. Ana

não escondia a felicidade de ter sua mãe por perto.

Neste momento, lembrou-se do que Raquel dissera, sobre

os motivos que levavam as pessoas a brigarem, perderem

a amizade o amor.

- “A maior parte das brigas acontecem porque queremos

que a outra pessoa faça o que falamos, não aceitamos o

seu ponto de vista, isso é o mesmo que estarmos colados

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104de frente para o outro e quisermos dar um passo à

frente, não conseguiremos”.

Ana percebeu o motivo pelo qual brigara com sua mãe “o

orgulho” de não ceder em nada. Quando teve a iniciativa

de dar um passo a traz resolveram-se todas as diferenças.

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Capitulo trinta

UM DILEMA

Raquel foi ao hospital visitar o pessoal. Assim que entrou

foi direto à capela, fez suas orações. Em seguida foi ao

Centro de Tratamento Intensivo. Ao entrar, teve algumas

surpresas.

Carlos tinha sido transferido para o quarto, Gabriel, saído

do coma, também seria transferido para um quarto.

Quando Raquel chamou seu nome, o garoto sorriu como

se reconhecesse quem o chamava.

- Como você está Gabriel? - Perguntou sem esperar pela

resposta.

- Meu nome é Raquel, visito você sempre que posso.

- Obrigado. - Disse o garoto.

- Você precisa se esforçar, se quiser melhorar, só assim

sairá mais rápido daqui, também gostaria de te apresentar

uma pessoa muito especial, ele tem torcido por você.

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106Repentinamente Gabriel muda de assunto

completamente.

- O que aconteceu com meus pais? - Perguntou com olhar

fixo nos olhos de Raquel aguardando uma resposta.

Nesse momento ela não sabia o que responder, não tinha

ideia sobre o que haviam contado para ele. Procurou com

olhar pelo médico responsável, mas ele estava ocupado em

outra sala, como não havia tempo para confirmações,

resolveu perguntar-lhe sobre o que Gabriel sabia.

- Sei que estou aqui deitado com um montão de coisas

ligadas, quando pergunto por quê minha mãe não vem

visitar-me eles dizem que ainda não pode vir.

Raquel descobriu o que mais temia, não tinham dito nada

sobre os acontecimentos, mas não sabia se poderia agravar

seu estado de saúde contando a verdade. Pensou em como

ganhar algum tempo para poder certificar-se do real estado

do garoto.

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LINHAS DO DESTINO

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- Vou procurar a pessoa responsável para saber o que

aconteceu, depois volto para falar o que descobri. – Em

tom de cumplicidade perguntou - Você está de acordo?

Depois da resposta afirmativa, deu um beijo no garoto,

saiu o mais rápido que pôde para falar com o médico

responsável por seu tratamento.

Instante depois conversava com o doutor Robson e ele

confirmou o que ela temia, caso Gabriel soubesse do

ocorrido com sua família, poderia ter complicações no seu

quadro. Por hora deveriam manter alguma restrição sobre

o que dizer para ele.

- O que faremos? – Disse procurando achar uma solução.

- Não podemos simplesmente ignorar suas perguntas.

- Ele tem saudades de sua mãe e está com medo de ficar

sozinho.

- Para ser sincero - respondeu o doutor - não sei como

lidar com essa questão.

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108- Será transferido para o quarto, à medida que seu

estado melhorar poderá começar a prepará-lo para

conhecer a verdade. - Disse ela com convicção.

- Contar-lhe por etapas, para ganhamos mais tempo. –

Concordou o doutor.

Raquel teve uma ideia e resolveu contar para o doutor que

achou excelente.

- OK! Vou tentar acalmá-lo, a partir de amanhã falarei aos

poucos com ele.

Raquel despediu-se do médico e voltou para dar a boa

noticia a Gabriel.

- Falei com o doutor e ele informou que está preocupado

em achar um quarto para você, depois vai verificar o que

aconteceu com seus pais e me informar. – Novamente em

tom de confidência.

- Vamos combinar o seguinte – Disse baixinho - prometo

que vou cuidar de você até que tudo se resolva você me

promete que vai fazer o possível para sarar logo.

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Gabriel concordou. O acordo foi firmado com um aperto

de mão. Nesse momento o garoto sentiu uma sensação

diferente.

- Você é quem segurava minha mão? - Perguntou

repentinamente.

- Você se lembra do que dizia para você? – Falou com

suavidade.

- Lembro de alguém me segurando, falando comigo, me

dizendo algo que não conseguia entender, mas sabia que

eram coisas boas. Sentia que algo me segurava não me

deixava ir aonde eu queria.

- Para onde você queria ir?

- Não sei exatamente, mas às vezes me sentia muito triste,

com medo. De repente tudo parecia mudar me sentia feliz.

– Continuou sério - Em alguns momentos pensava na

minha mãe. Ela me abraçava me acalmava.

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110Raquel sentiu seus olhos marejarem. Como previra ele

seria o grande mensageiro de Deus para uma pessoa que

tinha muito por ensinar e aprender.

- Deixa dar a boa notícia para um amigo que também torce

por você.

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Capitulo trinta e um

A RECEITA

Raquel saiu com a sensação de que a Providência já

começara a agir. Ao passar pelo quarto, onde Márcia

estava, entrou e cumprimentou-a.

- Olá minha filha! Como você está?

- Estou melhorando a cada dia. – Notou a alegria

estampada no rosto de Raquel. – Pelo visto a senhora esta

muito feliz.

- Quando vocês estão bem, eu também estou. –

Respondeu.

- Como foi o dia de vocês ontem? – Referiu-se a visita na

casa de Ana. – Espero, que tenha sido divertido.

- Foi muito bom, conversamos, ela contou sobre a vida

dela, eu sobre a minha Ana disse que vocês planejam fazer

uma viagem à Itália.

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112- A senhora sempre levantando o astral da gente. -

Disse Márcia ao perceber o que ela pretendia.

- É por isso e para isso que vivo. - Sorriu maliciosamente,

- Gostaria de oferecer um almoço pra vocês na minha

casa, mostrar alguns objetos que tenho da Itália, creio que

vão gostar.

- Desde quando a conheci adotei-a como minha segunda

mãe, Ana como uma irmã que nunca tive. – Segurando a

mão de Raquel continuou - Às vezes penso por que temos

mais afinidades com as pessoas que conhecemos fora de

casa do que com nossos familiares.

- É simples! - Respondeu Raquel. - Começamos a crescer,

nosso orgulho acaba crescendo com a gente. Ao invés de

conversarmos, discutimos.

- Você precisa ter alta logo, minha filha, afinal tem muitas

pessoas precisando do seu carinho.

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- Prometo que vou perturbar o doutor Guilherme até que

ele me dê alta. Também não vejo a hora de poder trabalhar

novamente.

- Agora preciso ir andando. – Disse Raquel - Prometi

procurar um lugar para o Gabriel, alguém para fazer

companhia para ele.

– Tenho a impressão de que a senhora já tem alguém em

mente. – Interrompeu Márcia sorrindo.

Raquel piscou e saiu. Antes que ela se afastasse muito

ouviu “Eu te amo”.

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114Capitulo trinta e dois

LADO A LADO

Quando chegou ao quarto de Carlos ele estava recostado

no travesseiro. Ela percebeu que algo estava errado. Ele

estava com o semblante triste demonstrando preocupação.

Novamente sentou-se ao seu lado, ali permaneceu quieta

sem dizer absolutamente nada.

Carlos tentou sorrir, melhorar sua aparência, mas foi

surpreendido por uma frase bastante curiosa.

- Como está sua aparência por dentro? - Perguntou Raquel

olhando-o de soslaio.

- Está bem. - Respondeu sem jeito.

- O que aconteceu para te deixar tão triste por fora? – Sua

voz era doce.

- Estar aqui, de não arranjar um emprego, de não poder dar

uma condição melhor de vida para minha família.

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115

- O que é uma condição melhor de vida? – Ela emendou

outras perguntas - será que não é estar ao lado de quem se

ama? - Poder ajudar outras pessoas, mesmo que seja com

um abraço, uma conversa, manter a família unida e feliz?

Carlos ficou admirado de ver como a vida pode ser

simplificada. Dona Raquel sempre mostrava o que poderia

ser feito.

- Na verdade vim aqui para verificar se o senhor permite

que alojemos o Gabriel nesse quarto. Ele precisa sair do

CTI, então, achei bom para o senhor ter alguém com quem

conversar.

- Por mim não há problema algum, afinal terei quem

perturbar. – Disse mais alegre.

- Falarei com o doutor Robson para providenciar a

transferência mais rápida possível.

Quando Rui chegou com a maca para levar Gabriel para o

quarto, imediatamente, foi fazendo festa com ele.

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116- Como vai meu camarada, vamos dar uma volta na

minha máquina envenenada?

Gabriel apenas sorriu timidamente.

- Vou mostrar o corredor mais legal para fazer racha, verá

que é uma beleza. - Da até para dar uns cavalos de pau.

- Prefiro continuar quase inteiro. - Disse Gabriel sorrindo.

- Então vamos lá. Você prefere com ou sem emoção?

- Prefiro com tranquilidade e segurança. – Respondeu sem

hesitar.

- Então aqui vamos nós. Tirem as macas, as cadeiras de

rodas da frente por que estamos passando.

Gabriel ria com as palhaçadas de Rui, que procurava

tranquilizar todos os enfermos. Por isso sempre recebia

elogios e presentes, mas como ele dizia era palhaço por

natureza. Gostava de fazer as brincadeiras apenas em troca

de um simples sorriso.

Ao chegarem no quarto, Carlos já estava esperando. Rui

foi dizendo.

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LINHAS DO DESTINO

117

- Acabou o seu sossego senhor Carlos, agora terá mais um

hóspede. Espero que não ronque alto, não goste de ouvir

música num volume muito alto.

- Acredito que ele não goste de música alta, mas sim de

músicas boas. – Carlos emendou sorrindo.

- Não acredite nisso, porque as informações que obtive

eram de que ele gosta dessas músicas barulhentas.

Gabriel ainda um pouco acanhado não disse nada apenas

sorriu. Depois de acomodar o garoto Rui foi se

despedindo.

- Bem minha missão já está cumprida agora é com os

senhores. Por favor, não troquem os frascos de soro nem é

permitido usar o suporte como cabide.

Todos riram o ambiente ficou mais alegre quando Raquel

chegou para perguntar se estava tudo bem o quarto parecia

um campo de futebol em final de campeonato. Ela sabia

que essa convivência seria boa para ambos.

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118Capitulo trinta e três

O INÍCIO DA AMIZADE

Quando todos saíram e ficaram apenas os dois. Carlos

iniciou a conversa, a princípio timidamente, mas aos

poucos foi fluindo naturalmente.

- Não tivemos tempo para apresentações, meu nome é

Carlos, muito prazer.

- O meu é Gabriel. O que aconteceu para estar aqui no

hospital?

- Fiz muitas bobagens na minha vida, ficava com raiva de

tudo, vivia de cara feia. Não que esteja mais bonita agora.

Acabei tendo um problema, foi necessário fazer uma

cirurgia no coração. Agora estou recuperando-me. O

doutor falou para eu parar de ser teimoso e tudo estará

resolvido, mas não consigo preciso de alguém que me

policie.

- O senhor tem filhos?

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LINHAS DO DESTINO

119

- Sim tenho três filhas, mas já estão casadas. Você é

casado Gabriel?

- Claro que não. Tenho apenas onze anos.

- Hoje em dia é moda casar tão cedo, então, achei que

fosse casado.

Gabriel ria a todo instante, nascia ali um vínculo afetivo

muito forte. O tempo era preenchido com bom humor, tão

bom que a melhora dos dois era vista em cada momento

que o médico passava para consulta.

Numa das conversas Carlos perguntou o que estava

acontecendo, porque notara que o garoto ficou triste de

uma hora para outra. Gabriel procurou dissimular, mas

Carlos sabia exatamente o que era.

- Você não gostaria de conversar um pouco a respeito? –

Carlos procurou não forçar.

Depois de alguns instantes o silêncio foi quebrado.

- Agora pouco me lembrei do que ocorreu antes do meu

acidente. Estava na escola quando algum conhecido veio

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120me chamar porque meu pai tinha matado minha mãe

por ciúmes, em seguida se matou. Todos aqui esconderam

de mim a verdade, por isso ninguém falava nada sobre o

que aconteceu. Quando perguntei mudaram de assunto.

Agora descobri que já não posso mais fazer nada pela

minha mãe, que estou aqui sem saber o que será daqui

para frente.

- Não tenho ideia de como você esta se sentindo, mas sei o

que é sentir saudades, afinal antes de ser pai já era filho.

Mesmo hoje, ainda tenho muita saudade de minha mãe,

mas procuro lembrar de coisas alegres que fizemos. De

coisas que ela fazia para me agradar. Assim a saudade

diminui e continuo seguindo pra frente. – Continuou - É

difícil agora que tudo é tão recente. Com o tempo não será

mais essa saudade dolorida, mas somente saudade. Se

precisar de um amigo para te ajudar a suportar esses

momentos pode contar comigo afinal é para isso que os

amigos servem. – Concluiu - Acredito que não te

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LINHAS DO DESTINO

121

contaram antes para que você pudesse lutar para sarar o

mais rápido possível. Ser o homem que a sua mãe sempre

imaginou que será.

- Não sei o que será daqui para frente, meus pais já não

existem, não conheço parente próximo, não sei o que

fazer.

- Vamos fazer o seguinte você se preocupa em sarar,

depois nos vamos verificar o que podemos fazer. Caso

você queira, poderá morar em minha casa até você casar,

como fizeram minhas filhas.

O garoto ficou mais tranquilo depois da conversa com

Carlos o assunto que se seguiu foi sobre esporte.

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L.P.OWEN

122Capitulo trinta e quatro

A DECLARAÇÃO

Márcia sentia-se cada vez mais forte, quando o doutor

Guilherme, para brincar com ela, fez alguns comentários

misteriosos, achou não estar tão bem quanto julgava.

- Bom dia Márcia, como tem passado? – Ele estava feliz

em poder cuidar do seu grande amor.

- Muito bem doutor, mas com vontade de voltar a

trabalhar, afinal não nasci para ficar doente, mas para

cuidar deles.

- Sei disso, mas ainda vai demorar um pouco.

- Por quê? - Perguntou assustada. - Algum problema?

- Sim! – Respondeu com um sorriso nos lábios. - Um

problema de ordem técnica. – Tomando coragem falou.

- Vai ter alta agora, com a condição de permitir que a leve

para jantar, antes que diga, isso é uma chantagem, não

aceito não como resposta.

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LINHAS DO DESTINO

123

- Claro que aceito! – A comida hospitalar é sem gosto.

- Agora você sabe como os enfermos se sentem quando

vamos cuidar deles. – Disse Guilherme.

- É verdade, vou lembrar-me desses dias e procurar fazer

melhor ainda do que fazia.

- O jantar fica marcado para terça-feira, se não se importa.

Na quarta vou a um congresso, ficarei fora durante uma

semana. - Disse ele.

- Gosta de comida italiana? – Perguntou sorrindo.

– Amo!

- Então está combinado.

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124Capitulo trinta e cinco

UM PRÍNCIPE DE MACA

Ana chegou feliz para o trabalho. Não via a hora de dar

um beijo em Márcia e Raquel. Contar todas as novidades

do final de semana, mas quando foi ao quarto, onde

Márcia estava, foi surpreendida com a presença de outra

paciente. Depois de informar-se descobriu que ela

recebera alta, já estava a caminho de casa.

Apesar da surpresa ficou ainda mais feliz, quando

encontrou dona Raquel no corredor convidou-a para

almoçarem juntas, queria contar sobre os novos

acontecimentos.

À medida que o tempo passava o trabalho aumentava. O

número de pacientes atendidos era muito grande. Não

dava tempo nem para tomar um copo de água. Eram

pessoas que chegavam precisando de cuidados especiais,

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LINHAS DO DESTINO

125

outras apenas para serem medicadas. Enfim era uma

bagunça organizada e gratificante.

Sua mãe, agora em companhia de seu filho, fazia com que

ela se sentisse mais segura. Caso ocorresse qualquer

problema ela poderia resolver ou ligar, além disso, Luís

sentia mais proteção. Ainda mais agora, que a amizade dos

dois tinha sido fortalecida depois que a avó confessou

estar com muita saudade dele, no tempo em que estavam

separados.

Pouco antes da hora do almoço, chegou uma viatura do

resgate trazendo um paciente em estado grave. Vítima de

colisão, não havia morrido porque seu carro tinha todos os

itens de segurança. Mesmo assim, requeria cuidados

especiais. O carro ficara completamente destruído indo

direto para o ferro velho.

Ao chegar à sala de emergência, Ana pôde ver um homem

com seus 1,90 m de altura pesando aproximadamente 90

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126kg, todo ensanguentado, com suspeita de fraturas

múltiplas de costela e fêmur, entre outras coisas.

Já tinha sido atendido pelo pessoal que o socorrera.

No momento, estava sendo atendido pela equipe médica

do hospital.

A atenção que todos dedicavam era de dar orgulho a

qualquer um da equipe. Logo que foi medicado e limpo,

conduziram-no para fazer exames mais detalhados.

Felizmente não havia nenhum tipo de problema interno. O

maior seria a cirurgia no fêmur para colocação de alguns

pinos, os restantes eram pequenos cortes ocasionados por

vidros e outros materiais.

A cirurgia foi coordenada pelo doutor Mota e os

resultados foram excelentes. Após o término, o médico foi

até a sala de espera para comunicar aos familiares o estado

de saúde do paciente, mas para sua surpresa não havia

ninguém.

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LINHAS DO DESTINO

127

Quando Ana soube do ocorrido ficou preocupada e curiosa

ao mesmo tempo. Foi ao setor de internação para saber se

havia algum parente do paciente na recepção, mas

lembrou-se, que não sabia o nome dele, resolveu perguntar

para a atendente.

- Bom dia Sílvia! - Disse com seu sorriso estonteante.

- Olá Ana! Como vai? Faz tempo que não nos vemos. O

que posso fazer por você?

- É verdade, faz muito tempo, estamos sempre correndo.

Preciso saber algumas informações a respeito do paciente

que foi trazido pelo pessoal do resgate.

- Um minuto e dou-te.

Ana estava tão preocupada com o trabalho que havia

esquecido o horário. Quando sentiu um toque se virou

para olhar, viu Raquel.

- Eu estava procurando por você, então, avisaram-me onde

você estava. – Disse Raquel.

Quando Ana olhou para o relógio ficou desesperada.

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128- Nossa nem havia percebido que já é esse horário.

Tenho que verificar os dados de um paciente a senhora

está com muita fome?

- Claro que não, se você estiver muito ocupada almoçamos

outro dia sem problema algum.

- Hoje as coisas complicaram muito. Acredito que só farei

um lanche, mas tenho tanto para contar, te agradecer o

conselho que me deu para ir falar com minha mãe ela veio

passar uns dias aqui comigo. – Estava radiante quando

comentou.

- Fico feliz por você. Sei que será mais feliz ainda, afinal a

felicidade sempre está à procura de nós, ou melhor, está

dentro de nós.

Raquel deu um beijo carinhoso em Ana e saiu.

Sílvia apareceu com a ficha de informação do homem

internado. Ao pegá-la Ana verificou que se tratava de um

homem de 40 anos, divorciado, seu nome Paulo A. Silva.

Procurou outros dados que constavam na ficha como

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LINHAS DO DESTINO

129

telefone, endereço, para comunicar-se com algum familiar.

O telefone que constava era residencial.

- Alô! Quem fala? – Ana perguntou, uma voz feminina

respondeu.

- Aqui é Doralice quem quer saber?

- Meu nome é Ana, gostaria de falar com algum parente

do senhor Paulo.

- O senhor Paulo não tem parente aqui só no litoral.

- Como posso falar com eles?

- Posso ligar para o senhor João, ele entrará em contato

com você.

- Se você puder te agradeço.

- Um minuto que vou pegar papel e lápis para anotar seu

telefone e endereço.

Depois de despedir-se de Ana, com o endereço do hospital

em mãos, Dora, imediatamente ligou para o senhor João,

informou o que tinha acontecido com Paulo.

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130Já fazia tempo que João vinha a São Paulo, desde que

Paulo havia construído a casa da praia e convidou-o a

morar lá. Como era um sonho de muito tempo, não pensou

duas vezes.

Agora voltaria a cidade onde vivera grande parte se sua

existência. Conhecia o hospital, não teria dificuldades para

chegar. O que não sabia é que ele tinha mudado.

Acostumou-se com o sossego do litoral, visitar uma cidade

tão populosa tão cheia de vida se tornara algo assustador,

mas não media esforços quando o assunto era Paulo.

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Capitulo trinta e seis

AS NOVIDADES

O dia passou tão rápido, que Ana não teve tempo para o

lanche. Ao assinar o relatório, resolveu passar na casa de

Márcia para ver como ela estava. Foi ao estacionamento,

ao entrar em seu automóvel colocou uma música suave

para relaxar. O início da noite estava agradável, mas o

trânsito estava como sempre muito intenso.

Quando, pelo interfone, ouviu a voz de outra pessoa, Ana

lembrou que Márcia tinha saído naquele dia do hospital,

precisava de alguém para os afazeres domésticos.

- Eu sabia que vinha me ver. – Disse Márcia quando a

amiga entrou.

- Que saudade eu senti de você parece que o dia não

passava. Tinha certeza de que viria, por isso fiquei mais

ansiosa.

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132- Tive tanto trabalho e não deu tempo para nada.

Tenho tantas novidades que não sei por onde começo.

- Experimente começar pelo início. - Disse rindo.

- No sábado quando estive com dona Raquel, conversamos

sobre diversos assuntos. Um foi sobre o relacionamento

que estava tendo com minha mãe. Ela disse algo que ficou

gravado na minha mente. No dia seguinte resolvi procurar

minha mãe para me desculpar, no fim fizemos as pazes,

acertamos todos os conflitos. Como dona Raquel diz tudo

é questão de uma boa conversa. Hoje o dia estava tão

corrido que não consegui almoçar, acabei fazendo um

lanche. – Com olhar de moleca perguntou - Você o que

me conta, estou vendo um brilho diferente nos seus olhos.

- O Guilherme vem jantar aqui amanhã.

– Já tirou até o título de doutor dele? - Emendou Ana - Ele

te pediu em namoro?

- Ainda não, mas acredito que pedirá afinal mais dica do

que dei impossível. Ele queria ir num restaurante, mas

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LINHAS DO DESTINO

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enfaixada, vai ter que me dar comidinha na boca, assim

achei melhor que fosse aqui.

- Você está com segundas intenções em jantar aqui,

porque não parece que você está com faixa. Tomara que

tudo dê certo. Já faz muito tempo que estão na paquera,

vocês se merecem.

- Quase ia esquecendo – comentou Ana - hoje foi

internado um homem daqueles de balançar a estrutura de

qualquer mulher e adivinhe... Solteiríssimo. Ele foi

operado. Foi muito bem cuidado, é claro!

- Pelo brilho dos seus olhos, já começou balançando você.

- Márcia sorriu. – Será muito bem tratado se depender de

você.

- Digamos que minha autoestima está um pouco em baixa.

Mas adoraria cuidar dele. - Quando olhou o relógio. Levou

um susto, já era tarde. Levantou-se para sair.

- Nossa! Como as horas estão passando. O papo está bom,

mas tenho que ir, amanhã o dia será cheio. Preciso

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134conversar com minha mãe e o Luís para saber como

foi o dia deles.

- OK! Antes que me esqueça preciso que você venha

trocar os curativos. – Disse Márcia.

- Só me ligar quando você quiser estarei à disposição.

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Capitulo trinta e sete

A SEPARAÇÃO

Gabriel superava as expectativas, sua recuperação era

muito boa e o dia da alta estava mais próximo do que se

imaginava.

Carlos sabia que o garoto teria um futuro muito melhor do

que tivera até o momento. Apesar da morte dos pais.

Soube que ele presenciara sua mãe sendo espancada pelo

pai, por ciúmes. O que deveria ser um lar era um inferno.

Gabriel contou-lhe que muitas vezes, quando chegava em

casa, cenas dignas de horror eram vistas. Um festival de

pancadaria, ele sem poder fazer nada apenas sofria.

Prometera a sua mãe que teria uma profissão, ganharia

muito dinheiro e daria a ela uma vida mais feliz longe de

tudo. O que ele não sabia era que o destino tinha reservado

outros caminhos para todos, que não poderia cumprir sua

promessa.

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136Carlos muitas vezes ao imaginar o que passava no

pensamento de seu amigo, de tudo quanto sofrera, de toda

raiva que provavelmente sentia do pai por ter feito isso

com sua vida e de sua mãe, chegou a chorar. Não entendia

por que aconteciam essas coisas, por que o destino era tão

cruel em deixar uma criança passar sozinha por tudo isso,

sem ninguém que amenizasse a sua dor, pra consolar e

amparar. Perdido em seus pensamentos quase não reparou

na pessoa que abria a porta do quarto.

Rui acabara de chegar com uma cadeira de roda e quando

cumprimentaram os dois, o comentário feito por Carlos foi

instantâneo.

- Lá vem o taxista.

- O que é isso senhor Carlos? Sou o maior piloto de maca

e cadeira de rodas do pedaço. Minha fama já atravessou os

muros do complexo hospitalar e esta conquistando outras

fronteiras.

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LINHAS DO DESTINO

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- Realmente sua habilidade é reconhecida por todos, mas

pensando bem, preferimos ir andando que é muito mais

seguro. – Completou.

- Não se preocupe com nada, pode deixar comigo, sei tudo

sobre pilotar VSM.

– V o quê? – Perguntaram ao mesmo tempo.

- Veículos sem motores.

- Quem vai ser o felizardo a ter mais emoção por hoje? -

Perguntou Carlos.

- Desta vez, é o senhor mesmo seu Carlos.

- Não sei por que não mantive minha boca calada. - A

risada foi generalizada, Gabriel ria tanto que quase não

conseguia falar.

- Por que devo sentar nessa cadeira maluca?

- Não quer dar uma volta?

- Claro que não Rui.

- O senhor está de alta, já pode ir para casa.

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L.P.OWEN

138O que deveria ser uma felicidade para Carlos

transformou-se em pesadelo, porque não queria deixar

Gabriel sozinho.

- Deve ter acontecido algum engano. - Disse indignado.

Nesse momento entra dona Raquel, como sempre fazia sua

visita matinal.

- Bom dia para todos! – Disse ela.

- Hoje não está sendo um bom dia. Está dando alta sem

meu consentimento. – Resmungou Carlos.

- Se o senhor está bom o melhor é ir para casa, porque lá

seu restabelecimento total será mais rápido. Há outras

pessoas necessitando de atendimento.

- Sei disso, mas gostaria de sair no mesmo dia que o

Gabriel.

- As coisas nem sempre são como queremos, mas como

tem que ser. Tenho certeza que o Gabriel vai se esforçar

também para sair rapidamente. O senhor poderá visitá-lo

quando quiser.

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LINHAS DO DESTINO

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- Estava sendo egoísta a senhora tem razão, pensando

bem, temos que dar graças a Deus por estarmos vivos. Sei

que mais cedo do que possa parecer estaremos juntos

novamente.

- Pode ficar certo que me cuidarei para ter alta também. -

Disse Gabriel querendo ajudar o amigo.

Apesar de estar saindo com mais saúde, podendo fazer

coisas que antes não podia, Carlos estava por um lado

alegre de voltar para casa, por outro, triste de deixar um

novo amigo que havia conquistado seu coração pela

coragem, pela educação e companheirismo.

Mesmo disfarçando, não conseguiu enganar o garoto, que

ao abraçá-lo deu-lhe um beijo que o fez ficar sem voz para

dizer um até logo. Engoliu a seco, deu um sorriso amarelo,

mas não conseguiu dizer nada.

Raquel que a tudo assistia sabia que ali estavam duas

almas unidas.

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140Rui, um eterno brincalhão, acabou ficando

emocionado, mesmo com vontade de chorar tentou

descontrair o ambiente.

- A minha máquina está com o motor ligado e quando

esquenta tenho que andar mais rápido para resfriar o

motor.

- Podemos ir agora, mas vou voltar para te levar para casa

quando sair. - Carlos deu seu recado a Gabriel.

Depois que todos saíram, quando Gabriel ficou sozinho,

chorou muito. Parou quando percebeu a presença de

alguém no quarto. Quando olhou viu dona Raquel que

sorria demonstrando todo o carinho que ela tinha por ele.

- Sei que apesar do pouco tempo que vocês se conhecem,

mas estão muito ligados, sei também que é vontade do seu

Carlos levá-lo para morar com ele, mas quero que saiba

que isso não depende só dele.

- O que podemos fazer é esperar e rezar para que tudo se

acerte. Por enquanto, se quiser, pode contar comigo para o

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LINHAS DO DESTINO

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que precisar, mas chorar não vai resolver. Você tem que

ser mais forte ainda do que é para poder sarar. O resto

pode deixar que Deus te ajudará.

- Obrigado por tudo que a senhora faz por mim. Sei que

tem razão sempre. Gostaria de te dar um abraço.

Os dois ficaram abraçados até que ele se acalmou.

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142Capitulo trinta e oito

UM BOM COMEÇO

Ana chegou para o trabalho, um pouco cansada, afinal não

dormira o quanto precisava, mas isso não abalou seu

humor. O trabalho de cuidar de pessoas era uma de suas

paixões, principalmente agora que tinha um especial que

não saia da sua mente.

Quando entrou no corredor para ir a sala da enfermagem,

ouviu uma voz dizendo seu nome, quando se virou viu que

se tratava de Sílvia.

- Bom dia Sílvia! Tudo bem?

- Tudo ótimo. Tem um senhor procurando por você na

recepção, será que poderia verificar o que ele precisa?

- Claro! Dê-me um tempo para verificar como as coisas

estão e em seguida o atenderei.

- Vou avisá-lo. Obrigada.

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Sílvia saiu em direção à recepção. Lá atendia diversos

tipos de pessoas, algumas alteradas outras compreensivas,

mas sempre conseguia manter a calma. – Diziam que para

descarregar as tensões lutava boxe na academia.

Ao chegar à sala, Ana encontrou algumas tarefas para

serem executadas, fez a ronda nos quartos, preparando e

aplicando os medicamentos necessários prescritos pelos

médicos, que a essa altura já tinham feito suas rondas.

Antes de entrar no quarto onde estava Paulo deu uma

conferida no visual ao passar próximo de uma porta

envidraçada, gostou do que viu. Ao entrar Paulo olhou-a

com surpresa.

- Devo ter morrido e entrado no céu. - Disse ele sorrindo.

- Bom dia, como tem passado? - Perguntou Ana meio sem

graça.

- Me belisca para ver se não estou sonhando. Não devo

estar passando muito bem. – Ela não se fez de rogada e

deu-lhe um beliscão muito dolorido.

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144- Calma estava apenas querendo ser gentil.

- Fique tranquilo vou preparar algo para deixá-lo disposto.

– Disse enquanto preparava uma injeção.

- Não se pode dizer a verdade, você vem com agressões.

- Estou com um pouco de pressa porque ainda tenho

muitas agressões para fazer, inclusive atender um senhor,

morador do litoral, que me aguarda na recepção.

Quando Ana comentou sobre o morador do litoral, Paulo

percebeu que se tratava de João e ficou intrigado.

- Como ele soube que estava aqui?

- Quem sabe algum passarinho contou para ele. O senhor

se preocupa muito.

- Novamente me tratando mal, me chamando de senhor,

meu nome é Paulo muito prazer.

- O meu é Ana. Somente chamei-o de senhor por

educação, não para magoá-lo.

- Sei disso estava apenas descontraindo um pouco afinal

não é sempre que encontro um anjo pra cuidar de mim.

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Ana não respondeu, mas adorou o elogio, ele era um

pedaço de mau caminho.

- Se me der licença agora vou... - Antes que ela pudesse

terminar ele completou.

- Falar com o senhor João.

- Deve ser esse o nome, eu acredito que tenha vindo por

sua causa.

- Ainda bem, porque se fosse por sua causa brigaria com

ele.

Ela sorriu, já ia saindo quando ouviu alguma coisa como

“até mais meu anjo”.

Um homem sexagenário, com aproximadamente 1,70 m,

cabelos grisalhos um pouco amassado pelo chapéu, que

agora segurava na mão, demonstrando cavalheirismo,

rosto bronzeado, olhos escuros parecendo duas jabuticabas

seguiam-na. Quando se aproximou sorrindo, notou que

eles ficaram mais expressivos, demonstrando surpresa.

- Bom dia, meu nome é Ana. Muito prazer!

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146- Bom dia, o meu é João, o prazer é todo meu.

- Recebi o recado de Doralice dizendo que havia ligado

dizendo que Paulo estaria internado aqui. Vim o mais

rápido que pude, mas acredito que esteja sendo bem

cuidado.

- Ele está muito bem, teve que fazer uma cirurgia vai ficar

algum tempo de repouso. O senhor é o que dele?

- Podemos dizer que o considero como um filho.

- Vamos fazer um crachá de visitante e poderá subir para

falar com ele.

- Sim gostaria muito se me permite agradecer por tudo que

fez.

- Não se preocupe com isso estamos aqui para ajudar.

Ana solicitou um crachá para seu João, acompanhou até o

quarto onde estava Paulo. Ao chegarem, Paulo sorriu e

brincou com o velho amigo.

- Gostaria de te apresentar o cara mais sensacional do

mundo. Posso dizer que é mais que um pai pra mim.

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– Ele está dopado? - Perguntou seu João.

- Agora, meu querido, gostaria de te apresentar a garota

mais linda que já vi. - Disse sorrindo para João.

– Será que troquei os medicamentos – Ela respondeu.

- O pior é que não concorda comigo nunca. – Continuou

Paulo.

- Com licença tenho mais pacientes para judiar. Até logo

senhor João.

João ouvindo isso não entendeu o que se passava. Tratou

de saber maiores detalhes sobre o acidente e tudo que

precisava ser feito enquanto Paulo estivesse lá.

- Por favor, meu amigo, gostaria que comprasse um

arranjo de flores o mais bonito que puder encontrar e

colocasse ali em cima.

- Vai precisar de um cartão para a dedicatória.

- Quase tinha esquecido isso. Obrigado. Como sempre me

ajudando a fazer a coisa certa.

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148João saiu em direção à floricultura enquanto Paulo de

olhos fechados recordava a figura de Ana. Poderia ficar lá

mais tempo sem problema algum.

Pensou no quanto era cativante, inteligente e bem-

humorada. Resolveu fazer o possível para conquistá-la.

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Capitulo trinta e nove

A LUTA CONTINUA

Gabriel estava sendo preparado para mais uma sessão de

fisioterapia e Rui, como sempre, descontraindo o garoto.

- Está preparado para as emoções? - Falou sorrindo.

- Só estou preparado para me recuperar rápido. Todas as

vezes que tenho de sentar nessa cadeira, para ir a algum

lugar, tenho um frio na barriga.

- Não esquenta meu camarada, tem uns que gritam pelos

corredores só porque acelero um pouco, parece até

perseguição.

- O papo está bom, mas temos que ir logo porque a

doutora esta te esperando para ajudar nos exercícios.

Posso afirmar que quanto mais você se dedicar, mais

rápido vai sair.

- Vou lembrar-me disso. - Disse Gabriel.

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150Rui conduzia a cadeira de rodas com muito carinho e

cuidado pelos corredores. Quando chegou à sala de

fisioterapia, a doutora Marina já esperava por ele.

- Olá Gabriel! Como você está?

- Muito bem, obrigado.

- Hoje nos vamos fazer alguns exercícios, espero que

possa apreciá-los e com o tempo vai poder fazer de tudo.

A doutora Marina e sua assistente começaram com uma

massagem, fazendo com que a circulação nos membros

inferiores pudesse ser melhorada. À medida que o tempo

passava, os exercícios eram alterados. No começo Gabriel

achava aquilo inútil, mas depois da saída de Carlos do

hospital, passou a se empenhar mais, a equipe, vendo a

dedicação do garoto ela ficou mais motivada, com isso o

progresso inevitável.

Os médicos envolvidos no caso de Gabriel estavam

confiantes na cura completa dele e cada conquista era

comemorada com muito entusiasmo.

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LINHAS DO DESTINO

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À volta para o quarto era sempre triste, porque Gabriel não

tinha mais com quem conversar, como antes acontecia

com Carlos. O pessoal fazia o maior esforço para dar uma

passada por lá, mas a saudade de sua mãe, do amigo era

muito grande.

Estava preparado para ficar só, mas quando chegou no

quarto, uma surpresa, Carlos o esperava com toda sua

família, Gabriel levou até um susto de tanta gente que

estava lá dentro.

- Olá meu amigo soube que está se esforçando para ir lá

para casa, fico contente com isso. Quero informar para

você, que a minha parte esta sendo feita. Provavelmente

vou ganhar a sua guarda provisória, quando sair vai para

minha casa, ou melhor, para nossa casa.

Até o pessoal se reuniu para te dar as boas vindas.

Ficaram conversando por um longo período. Quando

foram embora, novamente Carlos beijou-o. Com os olhos

vermelhos despediu-se.

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152- Até breve, meu filho cuide-se.

Quando ficou só fez uma pequena oração agradecendo a

Deus por todas as graças. Pediu pela saúde e proteção de

todos. Acabou adormecendo.

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LINHAS DO DESTINO

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Capitulo quarenta

DOCE SURPRESA

Ao entrar novamente no quarto de Paulo para medicá-lo,

notou algumas modificações. Flores estavam sobre uma

prateleira que servia de apoio de bandejas. Após preparar

a medicação, chamou-o docemente, ele acordou e viu que

era ela, imediatamente tentou se arrumar meio sem jeito.

- Boa tarde, como está passando? - Perguntou enquanto

entregava os comprimidos.

- Ótimo. Estava sonhando com você.

- Por isso acordou com essa cara de assustado?

- Não estou acostumado a dormir à tarde, não tenho quem

me acorde, a não ser pelo meu fiel despertador. - Disse

sorrindo.

- Da próxima vez vou trazer o Tobias para te acordar.

- Quem é ele? - Seu namorado? Seu marido?

- O segundo amor da minha vida.

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154- Como o segundo? Quem é o primeiro?

- O primeiro disparado é o Luís, agora por gentileza fique

quieto para poder judiar de você.

- Tinha certeza que uma mulher linda como você já

deveria ter um amor.

- Dois amores. – Corrigiu Ana.

- Mas mesmo assim gostaria de te oferecer aquelas flores

em agradecimento por tudo o que tem feito por mim.

- Elas são pra mim? - Disse surpresa.

- Elas são lindas!

- Não sei de outra garota que tenha balançado tanto meus

sentimentos.

- Não precisava, apenas fazemos nosso trabalho.

- Espero que tenha gostado.

- Obrigada, adorei. Mas não vá pensando somente porque

me deu flores lindas como essas não vai ser judiado. –

Completou.

– Só que vou judiar com mais carinho.

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LINHAS DO DESTINO

155

- OK! Rendo-me aos seus argumentos, mas me diga quem

são Luís e Tobias?

- Veremos se você se comportar, direi quem são, ou quem

sabe apresentar os dois.

- Estarei aguardando ansioso para conhecê-los. São uns

felizardos.

Paulo, deitado no leito, ficou reparando em todos os gestos

de Ana. Ficou encantado com tanta delicadeza. Quando ia

saindo, mais uma vez ela o impressionou.

- Boa tarde. Enquanto pegava o arranjo, antes de sair

piscou e disse.

- São lindas. Obrigada, adorei!

A porta foi fechada, Paulo não cabia em si de felicidade.

Não via a hora de saber quem eram esses dois. Pensou,

mas ela não usava aliança. Resolveu tentar ler um pouco

para ajudar o tempo passar.

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156O que importava é que tinha gostado das flores o resto

resolveria depois, tinha como lema resolver cada problema

no seu tempo, não sofrer por antecipações.

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LINHAS DO DESTINO

157

Capitulo quarenta e um

UM LAR

Voltar para casa é sempre bom ainda mais quando

queremos dividir nossa felicidade com aqueles a quem

amamos. Com ela não foi diferente. Ao chegar foi

recebida com um grande beijo de Luís, uma lambida de

Tobias um beijo e um abraço da mãe. A felicidade foi

completa. Quando viu a filha com flores, sorriso nos

lábios e brilho no olhar soube que era o sintoma do amor.

- Minha filha, quem é esse anjo que te iluminou?

- Um belo anjo, mamãe. – Disse enquanto suspirava.

- Então me conta onde e como o conheceu.

- Para dizer a verdade ele é o único príncipe que veio

numa maca. - Comentou com a maior naturalidade.

Luís ao ouvir sobre o príncipe ficou enciumado, mas ao

receber o abraço e o beijo de sua mãe, ficou tranquilo.

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158- Não fique assim, você sabe que não o troco por nada

nesse mundo. Alem do mais ainda não estou namorando,

somente estou cuidando dele no hospital. Agora preciso

tomar um banho para me livrar desse cheiro de

medicamento, estou com fome, não consegui almoçar hoje

novamente.

Dona Marta tinha preparado algo que há muito tempo Ana

não comia. Quando se sentou, sua mãe pediu para que

adivinhasse qual seria o cardápio. Fez uma careta

enquanto pensava e respondeu.

- Bife com tomate e cebola e um ovo com a gema mole,

arroz e feijão.

- Como você adivinhou?

- Uma das coisas de que tenho vontade de comer faz muito

tempo, mas teria que ser feita pela senhora era justamente

essa comida.

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LINHAS DO DESTINO

159

Repentinamente Ana levantou-se foi em direção a sua

mãe, deu-lhe um beijo, um abraço bem apertado, tão

gostoso que deixou dona Marta muito contente.

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160Capitulo quarenta e dois

NOITE INESQUECÍVEL

Ao sair do hospital, doutor Guilherme sentiu seu coração

ficar acelerado só em pensar em ir a residência de Márcia.

As flores exalavam um perfume inebriante que ocupou o

interior de seu automóvel.

Quantas lembranças tomaram conta de seus pensamentos.

Quando chegou e estacionou em frente do sobrado.

Pensou nas vezes que ficou parado, sem tomar nenhuma

iniciativa, com as pernas trêmulas e agora seria diferente.

Desligou o motor, abriu a porta, quando desceu suas

pernas novamente deram sinal de nervosismo.

Tinha que tomar uma atitude, não fora ele quem fizera o

convite? - Pensou.

Foi em direção ao pequeno portão. Tocou o interfone.

Quando ouviu a voz de Márcia quase teve um ataque, mas

procurou ser firme e responder com naturalidade.

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LINHAS DO DESTINO

161

- Oi sou eu, Guilherme.

- Como sou atrapalhado – Pensou.

- Um minuto já vou abrir.

Instantes depois, Márcia estava abrindo a porta de entrada.

Quando Guilherme se deparou com a mulher exuberante,

cabelos soltos, usando um vestido preto, no pescoço um

pingente de brilhante, combinando com os delicados

brincos ele ficou boquiaberto.

Foi com tremendo esforço que conseguiu pronunciar

algumas palavras.

- Está tão linda, que até elas perderam o brilho. -

Mostrando as flores que trazia.

Ela sorriu e agradeceu, dando um beijo nos lábios de

Guilherme.

- Você sabe que estou com as faixas, mas se quiser,

poderemos sair, afinal estou com meu médico, qualquer

problema não vou precisar nem ligar.

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162- Você prefere ir a algum lugar em especial. – Estava

tão ansioso que não tinha pensado onde levá-la.

- Onde você quiser. – Disse ela delicadamente.

Saíram rumo a um restaurante muito badalado, onde a

reserva é imprescindível. Como sempre difícil de ser feita.

Por sorte Guilherme mantinha uma relação de amizade, de

longos anos, com o proprietário.

Quando chegaram, o manobrista abriu a porta. Márcia

desceu do veículo. No saguão, foram recebidos por um

rapaz muito bem vestido que cumprimentou o casal. Tinha

nas mãos uma espécie de agenda onde eram anotadas as

reservas. Ao verificar que não havia nenhuma, agiu com

naturalidade.

- Boa noite doutor Guilherme!

Para certificar-se que não havia engano por parte do

restaurante perguntou.

- Por favor, qual o horário da sua reserva?

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LINHAS DO DESTINO

163

- Boa noite Henrique! Olha! - Disse piscando. - Estamos

adiantados e não temos pressa.

O rapaz entendeu a deixa, solicitou que aguardassem em

uma sala ao lado enquanto providenciavam a mesa. Algum

tempo depois, Henrique voltou informando que a mesa

estava pronta. Pediu para que os acompanhassem.

- Como o senhor pediu um local mais reservado, espero

que seja do seu agrado. – Concluiu Henrique.

Guilherme percebeu que o restaurante como sempre estava

lotado. A mesa que lhe fora apresentada estava localizada

em local improvisado, mas aconchegante. Agradeceu

imensamente a gentileza.

O garçom encarregado de servi-los cumprimentou-os.

- Boa noite! O que gostariam de beber?

- Gostaria de ver sua carta de vinho. – Solicitou com a

educação costumeira.

- Com todo prazer. Aqui está.

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164Depois da escolha do vinho, assim que o garçom saiu,

Guilherme pegou a mão de Márcia, ainda tremulo pela

emoção de estar com a mulher de sua vida, confidenciou.

- Você já deve ter notado que sou tímido, por isso não me

perdoo de ter ficado tanto tempo sem lhe dizer o que sinto.

Desde que a vi pela primeira vez, não consigo tirá-la da

minha mente. Você não sabe quantas vezes estive na porta

da sua casa para conversar com você, mas não tive

coragem de entrar. As noites que fiquei sem dormir

ensaiando o que lhe falar no dia seguinte.

- Pensei muitas vezes que você não me quisesse. Quando

dava alguma indireta você não falava nada, achei, que

estivesse sendo inoportuna.

- É como te falei sou muito tímido. – Justificou.

Nesse instante o garçom apresentou o vinho que foi

servido para degustação, depois da aprovação, foi servido

também para Márcia.

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LINHAS DO DESTINO

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Guilherme pediu o cardápio, ofereceu-o para Márcia

enquanto o garçom aguardava pacientemente ao lado até

fosse feito o pedido.

Márcia aceitou a sugestão de Guilherme, um Penne ao

molho branco e filé de frango grelhado. Os dois

conversaram sobre os planos e sonhos para o futuro.

Repentinamente Guilherme perguntou se ela não gostaria

de viajar com ele para Havana.

Ela ficou surpresa com o convite, mas imediatamente ele

explicou sobre a participação no congresso naquela

cidade.

A duração era de apenas cinco dias, no restante dos quinze

dias de sua licença, poderiam passear.

Macia adorou a ideia, mas não estava preparada e não

queria precipitar as coisas. Ele entendeu os seus motivos e

mudou de assunto.

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166A conversa estava animada, os dois não deixavam de

se olharem, se tocarem, os acontecimentos, as pessoas à

sua volta não foram notadas. Parecia que o mundo não

existia.

Guilherme olhou para o relógio exclamou.

- O tempo, às vezes é nosso aliado, outras vezes ele é

nosso algoz. Inimigo dos apaixonados, tornando-se breve

e fugaz quando estamos com nossa amada, somente por

mero capricho, para que fiquemos com saudade antes

mesmo de irmos embora.

O manobrista trouxe o carro de Guilherme, aguardou a

gorjeta. A noite estava clara. Iluminada pelo luar e pelas

estrelas. O universo também conspirava por eles, por

incrível que parecesse, seu bip não havia tocado nenhuma

vez.

- Hoje posso dizer que sou o mais feliz, o mais triste dos

homens, estou ao lado do amor da minha vida e vou ter

que me ausentar.

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LINHAS DO DESTINO

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- Será por pouco tempo apenas uma semana, até lá, estarei

totalmente recuperada.

O jantar estava perfeito, a noite perfeita, quando chegaram

à casa de Márcia, ele abriu a porta do carro para que ela

pudesse descer. Estava prestes a se despedir foi convidado

para tomar uma xícara de café, aceitou sem hesitação.

Márcia preparou o café, ao voltar à sala de estar,

surpreendeu Guilherme colocando um Cd de músicas

suave.

- Você quer me dar o prazer desta dança? – Perguntou

com um sorriso nos lábios.

Os corpos se encontraram, Guilherme não acreditou que

estava com amor da sua vida nos braços.

Uma mulher exuberante, cabelos compridos castanho-

escuros na altura das costas, com ondulação suave.

Grandes olhos azuis e brilhantes. O nariz bem talhado, a

boca com lábios bem delineados compunham

harmoniosamente o rosto alongado.

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168Alta postura e corpo de bailarina. Como se não

bastasse o charme era o seu ponto forte.

Guilherme era apresentável, tinha cabelos e olhos

castanhos, maxilar saliente, nariz um pouco pronunciado e

boca delineada, o porte atlético a educação eram suas

marcas.

Assim que ele a abraçou, seus corpos se tocaram, ela

sentiu um arrepio correr pela espinha. Seu vestido, de

tecido fino, a cada passo da dança, com o atrito dos corpos

aumentava o desejo do casal. Guilherme começou a beijá-

la no rosto, sentindo o perfume suave que exalava,

deixando-o mais excitado. Continuou a beijá-la até que

suas bocas se tocaram selando o início de um grande amor

com um beijo.

Quando Márcia acordou, ainda meio sonolenta, pensou ter

vivido um sonho magnífico. Sentindo-se a mulher mais

feliz do mundo, viu Guilherme que dormia ao seu lado.

Abraçou-o enquanto dava beijos no seu rosto tentava

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LINHAS DO DESTINO

169

acordá-lo. Como não teve sucesso resolveu ir até a

cozinha e preparar um café. Estava distraída com os

afazeres, não notou Guilherme parado olhando-a da porta.

Quando percebeu sua presença, virou-se e não conseguiu

parar de rir.

- Não é por nada, mas você está ridículo com a minha

saída de banho. – Disse ela ao beijá-lo.

- Garanto que ficaria mais se estivesse nu andando pela

casa.

Ao abraçá-lo sentiu o quanto ficaria mais engraçado ele

andando naquele estado pela casa e fizeram amor

novamente.

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170Capitulo quarenta e três

A VIDA CONTINUA

Ana, Luís e Marta conversavam animadamente quando

Tobias entrou na cozinha rosnando com um tênis na boca

todo destruído. Ao ouvir a bronca de Ana, percebeu que

tinha entrado em terreno proibido. Largou seu brinquedo

no chão deitou-se e cobriu o focinho com as patas.

Ela estava prestes a dar-lhe uma reprimenda, mas não

conseguiu e começou a rir com a cena.

- Como o cachorro é seu e o tênis deixado no quintal à

disposição de Tobias também, então, não me preocuparei.

Você é o responsável por ensiná-lo. Que sirva de lição

para não deixar suas coisas largadas pela casa toda. – O

tom da conversa era amigável.

Dona Marta ria sem parar, o único que ficou sério foi Luís,

o tênis destruído, era o que mais gostava.

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Depois do incidente Ana apressou Luís porque estava

atrasado, o trânsito aumentava a cada minuto. Os dois

despediram-se de dona Marta.

- Até mais vovó, fica com Deus. – Disse Luís enquanto a

beijava.

- Deus acompanhe vocês dois. – Respondeu feliz.

Ana deixou Luís no colégio e saiu em direção ao hospital.

Estava atrasada, ao chegar ao estacionamento suspirou

aliviada.

Seguiu, apressadamente, em direção a entrada dos

funcionários, onde encontrou com dona Raquel. Ela

conversava com o médico responsável pelo garoto

Gabriel.

Cumprimentou-os, rapidamente foi para a sala da

enfermagem.

O doutor acabara de informar para dona Raquel sobre o

estado de saúde de Gabriel. Disse que estava dependendo

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172de fisioterapia para melhorar os movimentos das

pernas, assim ter alta.

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Capitulo quarenta e quatro

UMA NOVA HISTÓRIA

Carlos tomou apenas um café. Saiu de casa disposto a

resolver a situação da guarda provisória de Gabriel. Foi à

repartição responsável pelo caso. Lutava contra o tempo e

a burocracia. Indo de um lado para outro em busca de

certidões, até conseguir o documento que autorizava a tão

esperada, guarda provisória.

Desceu a escadaria sem lembrar que fizera uma cirurgia de

coração há poucos dias. Carlos não conseguia segurar sua

alegria e emoção. Até os funcionários que acompanharam

sua luta demonstraram solidariedade. Ao sair com o

documento ligou para sua esposa e comunicou o

acontecimento. Disse que estava indo para o hospital. Não

via a hora de chegar e comunicar para Gabriel e dona

Raquel a boa noticia.

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174Sua ansiedade era tão grande, que ficou assustado ao

entrar no quarto vazio.

Voltou à recepção para pedir informações. Soube que o

garoto estava na fisioterapia, então, resolveu procurar por

dona Raquel.

- Olá dona Raquel! Como está a senhora? – Estava

radiante.

- Muito bem! Vejo que está muito feliz. O que aconteceu

de bom?

- Realmente estou muito feliz, acabo de receber o

documento que me autoriza a ter a guarda de Gabriel e

estou ansioso para contar pra ele.

- Que ótimo! – Disse feliz da vida.

- O senhor não sabe como é boa essa notícia para mim.

Estava preocupada em saber o que aconteceria quando ele

tivesse alta, agora estou mais tranquila.

- Quando a vi pela primeira vez a senhora me disse que

tudo mudaria na minha vida. – Confidenciou.

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- Hoje, posso dizer que estava certa. Sei que é provisório,

mas não importa vou aproveitar cada momento e ser feliz

o quanto puder.

Repentinamente surgiu no final do corredor Rui

empurrando Gabriel na cadeira de rodas. Como sempre as

risadas eram ouvidas por todos, quando viram Carlos e

dona Raquel começaram a acenar.

- Como vocês estão? – Carlos disse sorrindo.

- Como sempre estamos fazendo bagunça. - Disse Rui.

- Tenho uma surpresa para você, Gabriel. Será que

consegue adivinhar qual é? – Perguntou mostrando um

papel que segurava.

- Você conseguiu algo que quisesse muito – e com a maior

inocência completou. - Já sei, ganhou na loteria.

- Você errou. Mais importante do que isso, um dos

maiores presentes que recebi nos últimos tempos. O

primeiro foi meu coração novo, o segundo é a autorização

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176para você morar lá em casa quando sair daqui, porque

consegui a sua guarda provisória.

Gabriel ficou visivelmente emocionado. A insegurança

que sentia por estar sozinho aos poucos foi diminuindo.

- Essa notícia é muito boa. – Completou. - Também tenho

uma surpresa para você.

O garoto pediu para Rui afastar um pouco a cadeira,

levantou-se cuidadosamente foi andando vagarosamente

até os braços de Carlos.

Dona Raquel, que também não sabia, aplaudiu de

felicidade. Carlos abraçou o garoto, as lágrimas rolaram

pelo seu rosto, todos comemoraram.

- Quando você puder correr vou deixar você me empurrar

um pouco nesta cadeira de roda. - Rui comentou para

descontrair.

- Está combinado, vou fazer você sentir o que nós

sentimos. - Gabriel respondeu.

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Capitulo quarenta e cinco

A RECOMPENSA

Ana bateu suavemente na porta do quarto de Paulo e

entrou. Foi recebida com um sorriso.

- Bom dia! - Disse ela indo à estante de apoio onde

depositou a bandeja com o medicamento.

- Agora sim meu dia ficou bom, apesar de você só vir aqui

para me judiar.

- Então se prepare que vou continuar judiando de você até

sarar e livrar-se de mim.

- Quem disse que quero ficar livre de você?

- Você acha realmente que gosto de judiar de você? -

Perguntou Ana fazendo uma cara de tristeza.

Depois de algum tempo ela mesma respondeu.

- Pois você acertou. Dentro de pouco tempo estará em

casa. Lá poderá se recuperar mais rapidamente.

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178- Se você garante isso, acredito. Para confirmar que

estou sendo sincero, quero que me dê o prazer da minha

primeira dança.

- Combinado, quando puder dançarei com você. – Disse

Ana.

- É casada? - Perguntou sério, fazendo Ana quase derrubar

a seringa no chão,

- Por que a pergunta?

- Você disse que Luís e Tobias são os únicos amores da

sua vida então...

Ela riu gostosamente, deixando Paulo ainda mais

apaixonado.

– Isso mexeu com sua curiosidade?

- Sabe como é? – Disse meio sem jeito.

- Você ainda está pensando nisso? Luís é meu filho e

Tobias...

- Seu marido. – Completou desanimado.

- Não seu bobo! Tobias é o cachorro de estimação de Luís.

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- Cachorro? - Comentou surpreso. – Então é livre?

- Estou separando-me. Você é casado?

- Estou esperando você dizer sim, aí serei casado. Até

agora ainda não tinha encontrado meu amor.

- Não tinha encontrado? – Comentou fazendo cara de

incrédula.

- Isso mesmo que você ouviu, mas agora encontrei você

posso até ser casado no futuro.

O doutor Guilherme entrou para verificar o estado de

Paulo e interrompeu a conversa dos dois.

- Bom dia! – Disse olhando o prontuário do paciente.

Os dois responderam simultaneamente um pouco sem

graça.

- Como você está passando? - Perguntou o doutor,

enquanto fazia algumas anotações.

- Estou sendo maltratado todo o dia. - Respondeu sorrindo.

- Uma injeção atrás da outra, não consigo beber mais

líquido.

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180- Elas são assim mesmo. - Falou.

- Vamos dar uma olhada para ver como esta sua perna.

- Você está melhor do que pensei. – Comentou depois de

examiná-lo cuidadosamente. - Amanhã não virei, mas vou

deixá-lo de alta.

- Boa noticia, não vejo a hora de voltar a trabalhar.

- Trabalhar ainda vai demorar um pouco, a não ser que

trabalhe em casa com a perna para cima. – Antes de sair

piscou e completou. – Elas gostam de maltratar a todos.

Depois que o médico saiu Paulo ficou sério.

- Só estou preocupado se vou poder falar com você

novamente.

- É fácil. - Disse ela. - É só se internar novamente.

- A minha dança como fica?

- Basta me convidar. Agora, me da licença, preciso judiar

de mais pessoas.

Quando chegou na sala de enfermagem recebeu recado

que Márcia havia telefonado, retornou a ligação.

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- Alô! Como você está? – Ana ficou feliz com a resposta

que tudo estava bem. - Você não vai trocar esses

curativos? - Completou.

- Já trocaram para mim.

- Sua traidora. Quem fez isso?

- Foi o meu amor! – Respondeu ela transpirando

felicidade.

- Estive com ele agora pouco. – Comentou Ana. - Por sinal

está feliz e radiante, não sei por quê? Ele viu um

passarinho cor-de-rosa?

- Viu mais do que isso. – Riu - Estamos namorando,

ontem fomos jantar juntos.

- Então você conseguiu fazer ele te pedir em namoro?

- Sim, apesar da timidez. Pena que hoje à noite viaja para

Havana vai para um congresso, vamos ficar longe por

mais de uma semana.

- Quer dizer que você já não é mais do time das solteiras e

desimpedidas? – Brincou Ana.

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182- Não deixaria passar essa oportunidade não é?

As duas ainda estavam rindo quando uma luz ascendeu no

painel da sala de enfermagem, indicando a urgência no

atendimento do paciente. Ana imediatamente interrompeu

a conversa.

- Depois falamos, a luz do painel está acesa, preciso

verificar. Um beijão.

- Tudo bem. Pode ligar quando quiser. Beijos.

Chegou ao quarto o mais rápido que podia para verificar o

que estava acontecendo. Uma senhora que tinha sofrido

uma intervenção cirúrgica no dia anterior estava com

dores abdominais. Assim que constatou ser um problema

sério acionou o departamento médico, prontamente

atenderam a paciente que foi transferida para exames.

Informada sobre a importância do seu pronto atendimento,

para que a equipe medica pudesse ter salvado a paciente,

ela apenas agradeceu a Deus por ter ajudado, afinal essa

era a maior recompensa, salvar vidas.

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Capitulo quarenta e seis

ALGO ERRADO

Paulo já estava impaciente de ficar deitado, resolveu entrar

em contato e falar com o pessoal do escritório para saber

sobre o andamento dos negócios.

- Alô! Quem fala? - Paulo não reconheceu a voz do outro

lado da linha.

- Vera Lúcia em que posso ajudar?

- És uma funcionária nova?

- Sim, iniciei ontem, com quem falo?

- Meu nome é Paulo, gostaria de falar com Heitor.

- O senhor Heitor está em reunião. Seria só com ele?

- Então me chama a Olga, por favor.

- Ela não trabalha mais na empresa.

- Como não trabalha mais na empresa? – Paulo não

acreditava no que estava ouvindo.

- A informação que tenho é que foi para outra companhia.

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184- Por favor, me informe o telefone onde posso

encontrá-la.

- Infelizmente não tenho essa informação...

- Então me passa para o RH. - Paulo já estava perdendo a

paciência, mas controlou-se.

- Quem gostaria de falar?

Antes que pudesse terminar.

- Já te falei que meu nome é Paulo.

- Me desculpe senhor Paulo, mas tenho ordens de não

transferir as ligações sem a autorização do senhor Heitor.

- Então me transfere para ele.

- Como disse antes ele ainda continua em reunião.

- OK! Quero falar com o Miguel de vendas.

- O ramal está ocupado, quer deixar recado?

- O seu Barbosa de compras?

- Está em reunião com o senhor Heitor e um fornecedor.

- Anote meu número e peça para... – Desistiu de deixar

seu número.

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LINHAS DO DESTINO

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Paulo desligou o telefone preocupado com a notícia que

sua secretária tivesse pedido sua demissão.

Estavam trabalhando juntos há dez anos

aproximadamente.

Não sabia o que fazer e como obter o telefone de Olga.

Não tinha o hábito de fazer ligações, todos os números de

sua agenda era ela quem controlava.

Estava tão absorto em seus pensamentos que levou um

susto quando dona Raquel cumprimentou-o.

- Me desculpe estava distraído que não percebi a senhora

entrar.

- Como você esta passando?

- Estou ótimo, sendo muito bem atendido. Amanhã terei

alta, assim disse o doutor Guilherme. A senhora trabalha

aqui?

- Não, apenas faço algumas visitas para o pessoal. Ao

entrar notei que estava preocupado com alguma coisa.

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186- Sim, a senhora tem toda razão, não consegui falar

com ninguém no meu escritório, parece que todos estão

em reunião, mas tudo bem depois falo com eles. Na

realidade gostaria de tomar outra injeção assim me

acalmaria.

- Gosta tanto assim de injeções?

- Não gosto, seria apenas uma desculpa para rever Ana, a

senhora a conhece?

- Sim. É uma mulher e tanto.

- Concordo plenamente com a senhora.

- O senhor está interessado nela?

- Sim. Só ela não percebeu isso.

- Posso adiantar que é uma mulher de muita fibra,

portanto, galanteios vulgares não seria a melhor forma de

conquistá-la.

- Tenho certeza de que é uma grande mulher, estou

falando de amor à primeira vista, sempre achei isso

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LINHAS DO DESTINO

187

esquisito, mas a partir do momento em que entrou neste

quarto, não consigo parar de pensar nela.

- De tempo ao tempo, verá que no final tudo se ajeita.

Agora, que está mais calmo, se quiser posso ligar para seu

escritório, quem sabe eles me atendam.

- Poderia fazer-me essa gentileza?

- Claro é só me passar o numero o resto pode deixar por

minha conta.

Paulo informou o número e Raquel discou, aguardou a

ligação ser completada, Paulo percebeu que a presença

dela deixou-o mais tranquilo, mais contente. Após

algumas chamadas, alguém responde do outro lado da

linha.

- Boa tarde, minha querida, gostaria de falar com o seu

Heitor.

- Quem gostaria de falar?

- Raquel, ele não me conhece... - Não deram tempo para

terminar sua frase.

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188- Um minuto, por favor. – Responderam.

Após alguns minutos uma voz masculina cumprimentava-

a. Dona Raquel, sem dizer uma palavra, entregou o

telefone a Paulo.

- Alô quem fala? – Perguntou Heitor e ficou surpreso com

a resposta.

- Sou eu Heitor. – Respondeu Paulo.

Paulo pode até imaginar a cara de Heitor, ao reconhecer

sua voz, mas atendeu muito a contra gosto.

- Olá meu amigo por onde você anda? Liguei várias vezes

para você e não retornou, então, pensei que tivesse

viajado.

- Quase viajei para o além, estou internado num hospital

após um acidente, mas isso é uma longa história, preciso

falar com Olga para obter alguns documentos.

- Ela pediu demissão sexta-feira passada. - Disse Heitor.

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LINHAS DO DESTINO

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- Como pediu demissão? Não falou nada a respeito

comigo. Por que nos deixaria depois de tanto tempo

conosco?

- Não me informou - Heitor disse isso sem um pingo de

emoção.

- Uma pessoa que trabalha tanto tempo numa empresa se

demite e ninguém pergunta o motivo para o pedido?

- Faça o favor de me passar o seu telefone.

- Não tenho o número do seu telefone, ela era sua e não

minha secretaria. - Disse Heitor.

- Por favor, me transfere para o Júlio do RH.

- Aguarde um minuto que vou pedir para chamarem o

ramal dele.

Paulo ouviu ao fundo Heitor dando uma bronca na garota

que fez a transferência sem ter perguntado se queria ou

não atender.

Do outro lado Júlio cumprimenta o patrão e amigo e fica

surpreso de saber que está hospitalizado.

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190- O que aconteceu com você? Não liga a três dias, mas

como nossa reunião é somente na semana que vem nem

me preocupei.

- É uma longa história, depois te conto com mais calma.

Por que a Olga pediu demissão sem falar nada para mim?

- Para ser sincero fiquei sabendo que havia pedido

demissão quando cheguei aqui na segunda-feira e recebi

sua carta. Fui autorizado pelo Heitor a fazer o pagamento

de seus direitos o mais rápido possível aqui no escritório.

- Ela não disse nada a respeito? Alguém perguntou qual

era o problema? Afinal alguém perguntou para ela sobre o

que eu acharia disso?

- Não perguntei, apenas cumpri ordens.

- Tudo bem Júlio me desculpe estou bravo comigo

mesmo. Você tem o número do seu telefone?

- Sem problemas, você pode anotar?

- Pode dizer, aproveite passe-me o número do seu celular,

esses telefones do escritório estão sempre ocupados.

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LINHAS DO DESTINO

191

Depois de obter os números que precisava, despediu-se

com uma saudação calorosa.

- Alguma coisa está errada. – Comentou.

- Ouvi um clique de aparelho, desligados duas vezes.

- O que acha de errado? – Perguntou Raquel.

- Estavam ouvindo a conversa. Fiquei sabendo que minha

secretária pediu demissão sem motivo algum, o pior, na

minha ausência. Até agora não tinha conseguido falar com

ninguém da empresa, apenas a telefonista. Não vou

trabalhar a cinco dias, ninguém se preocupou em me

procurar, não sei onde está o meu celular, mas sou capaz

de apostar que não deixaram recado algum. Para ser

sincero, gostaria de saber se tenho algum recado nele.

- Se quiser posso perguntar na recepção sobre seus

pertences.

- Que bela ideia dona Raquel, não tinha pensado nisso. Se

puder fazer mais essa gentileza ficarei imensamente grato.

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L.P.OWEN

192- Vamos ver o que podemos fazer. - Antes de sair

comentou.

- Tudo acontece por um bom motivo, quem sabe não é o

momento propício para descobrir aquilo que está oculto

bem à sua volta.

- Estou muito carente, três dias num hospital e estou

apaixonado por duas mulheres. - Disse sorrindo -

Obrigado por tudo.

- Só mais uma coisa disse olhando nos seus olhos, não a

faça sofrer.

Não conseguiu falar com Olga, a ligação era encaminhada

para caixa postal, não deixou recado, porque suspeitava

que fosse ouvido por outra pessoa.

Resolveu deixar para mais tarde, aproveitou e ligou para

seu João. Pediu que trouxesse seu laptop que havia

deixado em sua casa.

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LINHAS DO DESTINO

193

Capitulo quarenta e sete

GRANDE AJUDA

Raquel estava indo para o setor de internação quando

alguém tocou no seu braço, ao se virar, deparou com um

sorriso que conhecia e adorava.

- Nosso almoço está difícil de acontecer. - Disse Ana -

Gostaria que fosse à minha casa, assim poderia apresentar

minha primeira mãe.

- Podemos marcar para quando você quiser. – Respondeu

com o carinho de sempre.

- Combinado, vou convidar a Márcia também, assim

quando vier buscá-la aproveito e a apanho também. Ela

não pode dirigir.

Nesse momento se deu conta de perguntar.

- Para onde está indo? – Pensou estar na direção errada.

- Na internação para saber se viram o celular de Paulo.

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194- Você o conhece? - Perguntou Ana demonstrando

interesse.

- Digamos que estou conhecendo. – Com ar misterioso

completou. - A propósito, cuide bem do seu amor.

- Meu amor? Ele falou alguma coisa? Você viu que gato?

- Não só vi como fiquei sabendo que está caído por uma

enfermeira linda que está cuidando dele.

- Não me diga que ele falou isso?

- Então não vou dizer – Sorriu.

- Pode dizer o que ele falou? – Implorou. – O que a

senhora achou dele?

- Parece uma pessoa correta, vai ser muito bom para você.

Nesse momento Ana se lembrou da quantidade de trabalho

que a esperava e despediu-se.

Ao chegar ao setor de internação dona Raquel foi atendida

por Sílvia.

- Boa tarde dona Raquel, como a senhora está?

- Muito bem e você?

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LINHAS DO DESTINO

195

- Estou bem! O que a senhora deseja?

Raquel explicou toda a situação e ficou aguardando

enquanto Sílvia verificava o prontuário de Paulo. Após

alguns instantes se aproximou com um sorriso nos lábios,

de satisfação por ter encontrado o que procurava,

entregou-os a dona Raquel que imediatamente retornou ao

quarto de Paulo.

- A senhora é fantástica. – Disse ele feliz por encontrar

seus pertences. - Achei ter perdido meus documentos no

acidente, mas graças a Deus está dando tudo certo.

- Agora é com você. - Encaminhando-se para a porta. - Se

precisar de algo é só dizer, estamos aqui para ajudar. Bom

final de tarde.

- Para senhora também. Obrigado por tudo e

principalmente pela companhia.

Paulo pensou em tudo o que estava acontecendo, no

acidente que sofrera no encontro com a mulher que

conseguiu mexer com seu coração, a demissão de Olga, a

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196dificuldade de falar com o pessoal do escritório e o

pressentimento de que algo estava errado. Estava tão

distraído que Ana teve que falar mais alto para que fosse

notada.

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LINHAS DO DESTINO

197

Capitulo quarenta e oito

FORTALECENDO A AMIZADE

Carlos ficou com Gabriel durante toda tarde.

Aproveitaram para conversar sobre vários assuntos dentre

eles o time que torcia e etc.

- Aproveite a fisioterapia, sare logo, não vejo a hora de

irmos para casa, assim poderemos fazer um monte coisas e

uma é pescar. Você gosta de pescar?

- Nunca fui, mas deve ser muito bom.

Repentinamente o garoto ficou sério e perguntou.

- Por que será que acontecem certas coisas com a gente,

faz pouco tempo que te conheci e já gosto de você muito

mais do que gostava do meu pai. Apesar de tudo sinto

remorso por isso.

- Não sei se minha resposta para sua pergunta é a correta,

mas o universo aproxima as almas que se parecem ou

mesmo as almas gêmeas para elas terem a chance de

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198aprender juntas, de construir e até mesmo desfazer

algo que esteja impedindo o seu crescimento.

- Como sua alma é minha alma gêmea? – Com seriedade

completou. – Olha só o seu tamanho!

Carlos riu gostosamente.

- Não disse que temos almas iguais, para ser sincero não

saberia definir o que é alma gêmea. - Tentou explicar do

seu modo.

- Não são os opostos que se atraem, e sim, os que se

completam, os que têm a maneira parecida de ser. Tem

pessoas que moram tão distantes das outras, no fim

acabam vivendo juntas algum tempo ou por toda uma

vida. – Completou.

- Acredito serem almas, que por algum motivo terão que

estarem próximas umas das outras.

O menino completou.

- Uma é ir pescar.

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199

- Vamos fazer isso e muito mais assim que você tiver alta.

Acredito que não demore muito.

Dona Raquel, como sempre fazia antes de ir embora, foi

se despedir de Gabriel. Ao chegar, foi recebida com um

sorriso de felicidade.

- Hoje você está mais feliz, parece que ganhou algum

presente.

- Porque prometi levá-lo para pescar. – Informou Carlos.

- Pescar é muito bom, dá tranquilidade para a alma.

Acredito que tenha alta logo. Já está na hora de voltar para

escola para aprender o que puder.

Depois do beijo dona Raquel falou.

- A conversa está boa, mas preciso ir andando. Até

amanhã.

Os dois despediram-se dela como se tivessem ensaiado.

Depois de algum tempo Carlos comentou.

- Você acredita em anjo Gabriel?

Rapidamente ele respondeu.

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200- Sim. Minha mãe sempre disse para rezar para o meu.

Por quê?

- Acabamos de falar com um.

- Sempre achei não poder ver um. - Não entendeu o que

Carlos disse.

- Existem dois tipos de anjos. Aqueles que cuidam da

gente e os que nos protegem. Ela é um anjo que cuida da

gente.

O garoto comentou.

- Quando estava dormindo, escutava uma voz que falava

comigo, depois de acordar, reconheci a voz dela. Por isso

desde que a vi sinto um carinho muito grande por ela,

porque estava sempre ao meu lado me dando coragem.

Carlos não tinha reparado, mas depois do comentário do

garoto, começou a prestar atenção e concordou com o que

dissera.

- Estava para ser operado, enquanto aguardava para ser

internado, sentou-se ao meu lado e conseguiu acalmar-me

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LINHAS DO DESTINO

201

e dar uma nova esperança. Deus nos envia aqueles que vão

nos ajudar no momento certo. No meu caso, posso dizer

que ela foi muito importante e agradeço a Deus por tê-la

conhecido.

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202Capitulo quarenta e nove

BREVE DESPEDIDA

Paulo desculpou-se pela desatenção. Imediatamente um

sorriso de satisfação instalou-se no seu rosto ao perceber a

presença de Ana.

- Já chegou o momento de judiar deste pobre rapaz

novamente? – Disse Paulo.

- Bem que eu gostaria, mas já terminou sua secção de

tortura. Amanhã cedo já estará livre para ir para casa.

- Então quer dizer que veio somente despedir-se?

Imediatamente ouviu dela.

- Não. Vim dizer que você me deve uma dança.

- Essa divida vou ter o maior prazer em pagar.

Paulo tornou-se sério e aquele rosto alegre se modificou

tanto que Ana não pode deixar de notar a transformação.

- Gostaria de dizer que vou sentir muita falta de ser tratado

por você.

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203

Ela provocou-o.

- Disse que eu só torturava você!

- Tortura é você chegar em casa e não ter com quem

dividir as coisas do dia, nem sonhos nem desilusões e,

para dizer a verdade, esse acidente foi a melhor coisa que

me aconteceu.

- Parece até loucura dizer isso, mas é verdade, porque

jamais te encontraria se não fosse por ele.

- Caso não se importe gostaria de saber seu telefone ou se

preferir posso dizer o meu. Não posso deixar a felicidade

ir para onde não consiga achá-la.

Para disfarçar a emoção que sentira, Ana disse

ironicamente.

- Será que apesar de tudo o que te fiz sofrer ainda está

cantando-me? – Quase não terminou a frase.

- Sim estou.

Ao mesmo tempo em que falava Ana estendeu um papel

que tinha escrito momentos antes de entrar.

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204- Agora cuidarei dos dois que precisam de mim em

casa. Foi um prazer judiar de você. Somente para que

saiba, vou sentir sua falta.

- Aqui está meu cartão com número do meu telefone se

não tiver quem possa judiar estarei a disposição. Se for

preciso arrumo outro acidente e digo que o plano de saúde

é deste hospital.

Ao sair do quarto, antes que a porta se fechasse por

completo, Ana pode ouvir “até mais princesa”.

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205

Capitulo cinquenta

COMO IRMÃS

Ana foi para o estacionamento, quando entrou no seu

carro, ficou parada por alguns instantes pensando em

Paulo. Sentiu um pouco de tristeza porque na manhã

seguinte não teria mais sua presença.

Os carros passavam ao seu lado como sempre, mas hoje

algo estava diferente de outros dias, Ana pensava no fato

de que numa cidade tão grande onde as pessoas sequer se

falam, se conhecem, encontrou alguém que pudesse mexer

tanto com os seus sentimentos e colorir sua vida outra vez.

Perdida em seus pensamentos, quase se esqueceu do

compromisso de passar na casa de Márcia para convidá-la

para almoçar em sua casa no final de semana, conforme

tinha dito para dona Raquel.

Márcia preparava-se para tomar banho quando a

campainha tocou, a princípio ficou contrariada, mas

Page 206: LINHAS DO DESTINO

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206quando viu uma mulher exuberante, com olhar de

felicidade, sorrindo em frente à câmera de circuito

fechado, começou a rir também. Acionou o botão para

abrir o portão.

- Como vai a paciente traidora? - Disse rindo ao abraçar a

amiga.

- Estou ótima e pelo jeito você também está. Quando vi

uma garota muito alegre pensei “talvez ela tenha muitas

novidades para me contar” e como não gosto de

novidades, abri a porta rápido – segurando-a pelas mãos -

agora me conta logo o que aconteceu.

- Não sei por onde começo será que devo começar por

dizer que estou apaixonada? Que encontrei finalmente

minha alma gêmea? Meu paraíso? O amor que nunca tive?

Ou quem sabe tudo isso?

- Por que não começa logo? – Márcia perguntou

desesperada.

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- Quando me separei de Roberto fiquei muito abalada,

num encontro casual com dona Raquel ela me disse que

não demoraria muito e encontraria meu grande amor, não

achei ser tão rápido.

Enquanto Ana falava seus olhos transmitiam toda

felicidade de sua alma. Márcia sentia-se feliz pela amiga e

por ela mesma, que também vivia um momento muito

bom.

Quando Ana terminou de contar sobre o encontro com

Paulo e tudo o que aconteceu olhou para a amiga, notou

que ela estava emocionada.

- Você está chorando? - Disse Ana.

- Não acredito que você esteja chorando, uma mulher tão

forte como você. - Ao mesmo tempo, passava a mão no

rosto para enxugar suas próprias lágrimas que escorriam e

borravam a maquiagem.

Depois de alguns momentos, as duas já refeitas das

emoções, Ana se lembrou do motivo real de sua visita.

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208Convidou Márcia para almoçar em sua casa no final de

semana. Despediu-se e quando ia saindo encontrou o

doutor Guilherme que acabava de chegar.

Cumprimentou-o, não se fez de rogada.

- Por que deu alta para o Paulo?

As duas riram somente ele não entendeu a piada.

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LINHAS DO DESTINO

209

Capitulo cinquenta e um

LOUCO POR RESPOSTAS

O sol já estava despontando quando Paulo acordou

sentindo uma vontade imensa de tomar um bom banho.

Resolveu chamar algum atendente e pedir ajuda.

Apertou a campainha e ficou na expectativa de ver

novamente Ana, mas teve uma grande surpresa.

- Bom dia! Está precisando de algo? - Perguntou Rui com

a alegria de sempre.

- Se te contar você não acreditaria. – Paulo respondeu com

um sorriso sem graça.

- Sei que não pareço nada com a enfermeira que te atendia,

mas em que posso ajudar?

- Vou ter alta hoje, estou louco para tomar um banho,

poderia ajudar-me de alguma forma?

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210- Estou aqui para isso mesmo, vou pegar uma cadeira

de roda e vamos dar um jeito nisso. Vai ser um banho

meia boca.

- Só isso já será maravilhoso não aguento esse cheiro de

hospital.

Após algumas horas Paulo já estava pronto para ir para

casa. Deu uma última olhada no quarto procurou no bolso

da jaqueta o papel que Ana lhe havia dado, ao vê-lo, uma

ponta de saudade invadiu seu coração. Estava perdido em

seus pensamentos quando o atendente entrou.

- Você está novamente aqui. - Disse surpreso ao ver Rui

com uma cadeira de rodas.

- Claro! Apareço somente em momentos felizes.

- Que susto, pensei que fosse dar-me outro banho.

- Agora é só sentar nessa cadeira e preparar-se para a

liberdade. Podemos ir?

- Claro que sim, gostaria de saber quem será o felizardo a

ocupar este quarto. – Referindo-se a companhia de Ana.

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LINHAS DO DESTINO

211

Na recepção João o aguardava com o entusiasmo e o

carinho de sempre.

- Bom dia! Agora, meu amigo terá muito trabalho. Não

vejo a hora de entender o que está ocorrendo.

- Bom dia! Você está com ótima aparência, só para teu

conhecimento, também estou muito motivado a desvendar

esse assunto.

- É isso aí meu grande amigo, temos uma história mal

contada. Agora você poderia dizer-me o que foi feito do

que sobrou do meu carro?

- Foi levado pelo pessoal responsável pelo trânsito e

colocado num pátio. Assim que fiquei sabendo fui retirá-

lo, agora está estacionado na sua garagem, ou melhor, o

que sobrou dele.

- Não sei o que seria de mim sem você. – Disse com um

sorriso que contagiou João.

- O que pretende fazer com ele, pelo estado em que se

encontra, não sei como conseguiu sair quase inteiro.

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212- Está muito destruído?

- Ainda bem que estava sozinho caso o contrário estaria

com sua consciência muito pesada.

Nesse momento Paulo agradeceu a Deus por estar bem e

por ter encontrado Ana somente agora.

- Gostaria que entrasse em contato com o José, meu

mecânico, para ele dar uma avaliada e verificar o que

ocorreu. Caso ele pergunte, poderá vir quando puder.

- Vou ligar para ele assim que chegarmos.

João dirigia tranquilamente a caminho da residência de

Paulo. Quando chegaram foram recebidos por Dora, uma

pessoa que Paulo fazia questão de ajudar. Casada, um

casal de filhos maravilhosos e o marido que devido a um

acidente na empresa onde trabalhava acabou com uma

invalidez permanente. Apesar de tudo, Dora não era uma

pessoa triste, pelo contrário, muito batalhadora. Fazia

alguns anos que trabalhava com ele e cuidava de tudo com

muita competência.

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LINHAS DO DESTINO

213

- Como o senhor está seu Paulo? – Dora perguntou com a

sinceridade de sempre.

- Agora estou bem melhor, vou dar mais trabalho para

você.

- A família como tem passado?

- Graças a Deus estamos todos muito bem. Pensei quando

vi o carro estacionado na garagem todo embrulhado, que

alguma coisa grave tinha acontecido com o senhor.

- Pra você ver como meu Anjo de Guarda é forte – Disse

sorrindo.

- O senhor quer que prepare alguma coisa para comer?

- Sim estou louco para comer um lanche que só você sabe

fazer e um suco de frutas.

- Vou preparar agora mesmo e levo no quarto para o

senhor.

- Não vou para o meu quarto, estou cansado de ficar

deitado, preciso resolver alguns assuntos importantes,

estarei no escritório.

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214Capitulo cinquenta e dois

OLGA

Naquela tarde Paulo sentou-se frente ao computador e

conectou-se a Internet.

Digitou o endereço de sua empresa, em seguida sua senha.

A tela que surgiu na sua frente escrita em negrito. “Bom

dia Paulo” informava que o sistema estava à sua

disposição.

Imediatamente abriu os diretórios referentes aos diversos

departamentos. Resolveu iniciar a pesquisa pelo setor de

compras e suprimentos. À medida que lia os documentos

ficava surpreso e preocupado com o que estava vendo.

Resolveu verificar o departamento de contas a pagar. Ao

verificar o volume de pagamentos efetuados a um pequeno

grupo de fornecedores ficou mais preocupado ainda.

O telefone tocou no final da tarde, do outro lado da linha

Paulo ouviu uma voz bastante conhecida.

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LINHAS DO DESTINO

215

- Olá, meu amigo, como você havia suspeitado, alguém

preparou alguma coisa para você. Pelo menos o teste que

fiz comprova o que estou dizendo – em tom de ironia – o

sistema de freio não esconde o óleo.

- Obrigado! Fico devendo mais essa. – Disse Paulo.

- O que você quer fazer com o restante das peças?

- Pode guardá-las por algum tempo?

- Claro que sim. – Respondeu o outro.

- Talvez eu vá precisar delas – informou Paulo.

Paulo se despediu. Imediatamente ligou para o seu João e

informou o resultado da análise feita por José.

- O que você quer que eu faça agora. – Perguntou João.

- Temos que encontrar Olga. Gostaria que fosse ao

departamento de pessoal e verificasse o seu endereço. -

Instruiu - Procure falar diretamente com o Júlio Gerente

do Departamento. O número que me passaram só atende

uma secretária eletrônica, não quero deixar recado

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216nenhum. Enquanto você investiga na rua, vou fazer o

possível por aqui.

De posse do endereço fornecido por Júlio, João

encaminhou-se para o local marcado no mapa. As ruas

eram sinuosas, as casas empilhadas umas sobre as outras.

Eram várias casas sem acabamento, apenas no tijolo,

formando construções de três até quatro andares.

João não conseguia entender como as pessoas conseguiam

morar daquela maneira. Poderiam construir casas

menores, mais bem acabadas, mas isso não era de sua

conta. O seu problema agora era encontrar o endereço que

tinha em mãos.

Ao chegar à rua indicada, diminuiu a velocidade para

poder olhar os números das casas, que também eram

repetidos, dificultando a localização do endereço.

Depois de algumas idas e vindas acabou encontrando o

local correto.

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LINHAS DO DESTINO

217

Era uma casa enorme, como todas daquele local, não tinha

acabamento algum, somente a estrutura de concreto e

alvenaria. Como eram espremidas umas nas outras, todos

construíam para cima. O que era para ser uma casa

tornava-se um pequeno edifício.

João deixou seu carro estacionado na rua e entrou pelo

beco até a casa de Olga. Notou várias crianças brincando

nos pequenos espaços que sobravam entre as vielas,

dividida com os adultos que conversavam.

João procurou pela campainha, mas como não encontrou,

resolveu bater palmas.

- Com quem o senhor quer falar? - Uma voz de criança

soou em suas costas.

- Estou procurando por dona Olga, você a conhece?

- Sim ela morava aqui, agora não mora mais.

- Você sabe onde ela esta morando agora?

- Não, mas minha mãe deve saber. Por que o senhor não

pergunta para ela?

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218- Você me indica qual é a sua casa?

- É aquela casa branca ali em cima é só chamar que minha

mãe atende.

- Obrigado pela informação.

Caminhou até o local indicado pelo garoto. Uma casa

pequena, a única com pintura na parede, cheia de vasos

pelo quintal e em cada um deles ao invés de flores

ornamentais apresentavam hortaliças e verduras

cultivadas. João não precisou bater palma, um cachorro

incumbiu-se de alertar que tinha visita no portão.

- Pois não, o que o senhor deseja? - Perguntou uma voz

feminina da porta de entrada da casa.

- Bom dia, meu nome é João, estou procurando por dona

Olga e seu filho me disse que a senhora sabe onde ela está

morando atualmente.

- O que o senhor quer com ela?

- Ela trabalhava para o senhor Paulo, como ele está

impossibilitado de vir, porque sofreu um acidente e não

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LINHAS DO DESTINO

219

pode andar, pediu-me para procurá-la, ele precisa muito

falar com ela. - Enquanto João falava uma voz feminina a

sua costa soou.

- Bom dia seu João como o senhor tem passado?

- Estou ótimo! Você como está Olga?

- Faz alguns dias que tive que abandonar minha casa e me

esconder por aqui. Como está o senhor Paulo?

- Está se recuperando do acidente que sofreu, mas está

bem melhor agora. Vim aqui a pedido dele. Ele gostaria

que você fosse comigo ele precisa muito falar com você.

- Vou trocar de roupa e iremos em seguida.

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220Capitulo cinquenta e três

O INÍCIO DE UM BELO DIA

A campainha tocou. Quando Raquel abriu a porta viu

Tobias sentado, com olhar de pidão aguardando ser

atendido. Ela não conseguiu se conter e caiu na

gargalhada.

- Meu lindo, você também veio visitar-me?

Tobias apenas abanava o rabo fazendo festa para aquela

que aprendeu a gostar.

- Como vocês estão? – Perguntou enquanto pegava Tobias

no colo.

- Estamos bem e a senhora? – Ana e Luís responderam

quase ao mesmo tempo.

- Viemos buscá-la para passar o dia com a gente.

- Acabei de passar um café, não querem tomar uma

xícara?

- Já que a senhora insiste - Disse Luís brincando.

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221

Enquanto Raquel se preparava Ana aproveitou, retirou a

mesa e lavou as xícaras.

- Vamos passar na casa de Márcia e em seguida, iremos

para a minha. Mamãe está preparando uma comida

especial. – Completou Ana.

- Preparei uma carne e coloquei para assar no mínimo,

espero que fique comestível.

A senhora vai passar no hospital? – Perguntou quando

passava em frente.

- Não. Hoje vou dar uma folga para eles. – Argumentou

Raquel.

Tobias não parava de encostar-se em Raquel, enquanto

não fazia um carinho o cachorro não a deixava tranquila.

Durante o caminho para a casa de Márcia a conversa fluía

agradável.

- Como está seu coração? - Perguntou Raquel.

- Ela deve estar apaixonada novamente, porque seus olhos

estão mais brilhantes, está se cuidando mais. – Luís não

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222perdeu tempo para comentar. – Em minha opinião, ela

está mais linda ainda.

- Isso é uma coisa boa, afinal ninguém consegue conviver

com pessoas que estão sempre de mau humor,

resmungando de tudo, enfim não se amando nem amando

os outros.

- É verdade, dona Raquel, minha mãe não estava se

cuidando, mas agora está dando a volta por cima.

- Fico contente que você ajude sua mãe a ser feliz.

Ana ouvia a conversa sem fazer comentário, apenas

dirigindo, mas descobrindo a maturidade e o ponto de

vista de Luís.

- Às vezes, fazemos do amor uma corrente que não permiti

ao outro a possibilidade de gostar de outra pessoa além de

nós. A essa corrente pode-se dar o nome de ciúme. –

Falava dona Raquel.

Luís abriu seu coração.

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LINHAS DO DESTINO

223

- Sempre tive e continuo tendo muito ciúme de minha

mãe, mas acabei percebendo que de alguns dias para cá,

está mais feliz. Então pensei, será muito bom se ela

encontrasse alguém que a amasse, assim, poderia

continuar tão alegre como está ultimamente.

- Sábia conclusão, meu filho. – Comentou Raquel.

A conversa prosseguiu até a chegada na casa de Márcia.

Quando Ana estacionou seu automóvel em frente ao

portão, Márcia já a aguardava na porta.

- Que pontualidade sua. Pensei ela não estará pronta! –

Disse Ana.

- Não aguento mais ficar aqui trancada sem ver pessoas, já

estava a ponto de enlouquecer. Como tem passado? –

Dirigindo-se a dona Raquel, enquanto entrava no

automóvel.

- Muito bem! Quanto tempo ainda vai ficar longe de nós?

– Perguntou dona Raquel.

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224- Acredito que mais uma ou duas semanas. Estou

aguardando a liberação do médico. Não vejo a hora de

poder conversar com as pessoas de cuidar delas...

Márcia estava tão ansiosa que se esqueceu de

cumprimentar Ana e Luís. Ao se dar conta pediu

desculpas.

- Só porque eu te amo dessa vez passa. - Respondeu Luís.

- Prometo que não acontecera mais.

A conversa estava animada e feliz dentro do automóvel.

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LINHAS DO DESTINO

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Capitulo cinquenta e quatro

A MÃO ESTENDIDA

Naquele sábado o escritório da HP - Empreendimentos

Imobiliários estava deserto, livre do vai e vem dos

funcionários, apenas duas pessoas estavam trabalhando

arduamente.

Instalada em oito andares do edifício situado num bairro

comercial, onde o metro quadrado era um dos mais

valorizados, há alguns meses, com os problemas

financeiros, mas apenas o diretor financeiro e seu

assistente e cúmplice, estavam cientes da situação que

poderia culminar em uma falência.

No departamento de contabilidade, Heitor e Humberto

faziam os lançamentos necessários para maquiar os

resultados negativos obtidos nos últimos meses.

Os pagamentos feitos às empresas fantasmas eram

modificados e direcionados para outros fornecedores,

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L.P.OWEN

226pulverizando o volume gasto entre os vários

fornecedores habituais.

Heitor N. Moraes formado com louvor em ciências

contábeis, sempre trabalhou em empresas de grande porte.

Depois de algumas promoções conquistou o cargo de

diretor financeiro, com a posição e a alta remuneração

começou a participar de noitadas com mulheres, bebidas

alcoólicas e jogos.

Começou a frequentar barzinhos onde, no começo,

encontrava-se apenas com garotas até que um dia

envolveu-se com um rapaz e a partir daí passaram a

dividir o mesmo apartamento.

Com o tempo as drogas fizeram Heitor perder seu

emprego, amigos, família, todas suas economias e chegar

no fundo do poço. Todos aqueles que viviam bajulando-o

acabaram por afastar-se, apenas uma pessoa estendeu-lhe a

mão e o ajudou a reerguer-se novamente.

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LINHAS DO DESTINO

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Capitulo cinquenta e cinco

O ORGULHO OUTRA VEZ

A hora do almoço estava se aproximando o cheiro do

molho, que vinha da cozinha, parecia muito apetitoso.

Luís não resistiu à tentação, partiu um pedaço de pão que

mergulhou no molho e experimentou a obra-prima feita

por dona Raquel e sua avó.

O almoço delicioso e a boa conversa deixaram o ambiente

mais feliz e cheio de paz.

- O paciente bonitão, ainda não te ligou? – Márcia tocou

no ponto nevrálgico de Ana.

- Para ser sincera, ele nem pensou em me ligar.

- Por quê você não liga para saber o que aconteceu? –

Márcia insistiu.

- Você acha? Não ligarei. - Ele que ligue.

- Temos o hábito de complicar as nossas relações, somos

muito teimosos e não queremos dar o braço a torcer, o

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228grande velho e problemático orgulho. - Comentou

dona Raquel.

- Precisamos aprender que para darmos um passo à frente,

em alguns casos, antes temos que dar um passo atrás. –

Repetiu o que tinha dito algum tempo antes.

- Se você tem vontade de falar com ele, que mal tem em

ligar? – Completou.

- Quando chega seu príncipe? - Perguntou Ana tentando

colocar a amiga na fogueira.

- Acredito que em uma semana já tenha chegado. Para ser

sincera não vejo a hora, estou com muita saudade.

Após o almoço delicioso dona Marta e dona Raquel

conversavam alegremente na sala de estar enquanto

apreciavam o café que Ana tinha preparado.

- Gostaria de te agradecer por ter conversado com minha

filha. Sem você não teríamos a oportunidade de

reconciliação. – Marta comentou sinceramente.

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LINHAS DO DESTINO

229

- Não fiz nada, apenas comentei a mesma coisa que acabei

de falar, mostrei como as pessoas precisam ser mais

receptivas e menos orgulhosas.

- Eu e a Ana não conseguíamos conversar, uma queria

falar mais que a outra, mas não ouvíamos o que era dito,

apesar do amor que temos, vivíamos brigando.

- Quando falamos alto não escutamos o que o outro diz,

porque o nosso coração está distante. – Disse Raquel.

- Sou obrigada a concordar com minha filha, você é muito

especial.

- É mais fácil quem está de fora do problema enxergar a

solução.

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230Capitulo cinquenta e seis

UMA SAÍDA

Quando o telefone tocou Paulo tinha acabado de verificar

que a situação da sua empresa estava ruim. Ao atendê-lo

não conseguiu esconder sua raiva.

- Paulo?

- Sim. Você conseguiu encontrá-la?

- Encontrei, estamos a caminho do lugar marcado. - Disse

João.

- OK. Vou dirigir-me para lá. – Paulo mentiu, porque o

seu telefone estava grampeado.

Fazia algum tempo que João percebera alguém seguindo

seus movimentos. Resolveu fazer uma manobra arriscada

para poder despistar e chegar à casa de Paulo sem que o

vissem.

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LINHAS DO DESTINO

231

Lembrou-se do túnel que havia no caminho e a

interligação existente entre eles, para o caso de ocorrer

algum problema, resolveu arriscar e utilizar esse desvio.

O veículo que o seguia estava mantendo uma distância

razoável, ao entrar no túnel acelerou para adquirir

velocidade e distância suficiente para, com a ajuda da

pouca iluminação no interior do túnel, conseguir fazer o

retorno utilizando o desvio sem ser visto.

- Aperte bem o sinto Olga, vou fazer uma manobra

arriscada.

Ao entrar no túnel João acelerou e conseguiu distanciar-se

do veículo que o perseguia.

Após a curva preparou-se para executar a manobra com

segurança, afinal poderia causar algum acidente de

proporções incalculável. Finalmente pode relaxar e

prosseguir rumo a residência de Paulo.

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232Capitulo cinquenta e sete

A NOVA OPORTUNIDADE

Com os olhos espumando de raiva, recebeu o telefonema

com a notícia que o plano dera errado.

- Seu bando de incompetente, como conseguiu perdê-lo de

vista? Ele dirige na velocidade de uma tartaruga.

- Nos estávamos próximos dele, entramos no túnel e

simplesmente ele desapareceu.

- Qualquer idiota sabe da existência de pontos de

interligação, para o caso de acontecer acidente, somente os

dois imbecis que trabalham pra mim não sabiam. Agora

sigam para a residência dele. Desta vez, sejam mais

competentes.

Heitor não sabia o que fazer, mas acreditava que Paulo já

tivesse descoberto ou pelo menos desconfiava sobre os

desfalques feitos por ele.

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LINHAS DO DESTINO

233

Nesse momento a cabeça de Heitor fervilhava, não

encontrara até agora nada que pudesse fazer para manter o

controle da situação.

Quando tudo parecia perdido eis que surge uma luz.

Realmente uma luz brilhou no painel, indicando que o

equipamento de escuta telefônica tinha sido acionado e

uma voz feminina foi ouvida.

- Alô! – Atendeu a mulher.

- De onde está falando? – Perguntou a outra.

- Com quem quer falar? – Disse a primeira.

- Com Paulo.

- Quem está falando? – Quis saber.

- Aqui é Ana, você não é a Dora?

- Sim, agora estou lembrando-me de você, é a enfermeira

que ligou do hospital, não é?

- Sim. Você tem uma memória muito boa.

- Obrigada. Vou passar para seu Paulo, um minuto, por

favor.

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234Ana estava ansiosa, não conseguia disfarçar enquanto

aguardava. Alguns instantes depois, Dora falou novamente

ao telefone.

- Ele disse que não pode atender no momento, se for sobre

a troca de curativo, ele liga para a senhora depois.

- Não é para a troca de curativo, eu só queria... - Deixa

para lá. Obrigada. Até logo.

Heitor pulava de alegria, não acreditava no que estava

ouvindo, conseguiu o que queria uma forma de controlar

Paulo.

Nunca fizera um investimento tão bom quanto esse

equipamento de escuta, pensou. Precisava apenas obter

mais informações sobre Ana, enfermeira do hospital onde

Paulo estava internado.

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LINHAS DO DESTINO

235

Capitulo cinquenta e oito

O OUTRO LADO DA VERDADE

Paulo acabara de receber a visita de João e Olga. Eles

haviam entrado pela rua que dava acesso pelos fundos da

propriedade, dessa forma, os homens que vigiavam a

entrada principal foram ludibriados novamente.

- Que bom te ver Olga. Estava preocupado com a tua

segurança.

- Também estou feliz de voltar a vê-lo. Depois que soube

que tinha sofrido um grave acidente fiquei muito

preocupada, não conseguia entrar em contato com você.

- O acidente foi grave, mas graças a Deus não aconteceu

nada que não pudesse ser concertado. Gostaria de saber o

que realmente aconteceu naquela semana.

À medida que Olga contava sobre os acontecimentos,

aumentava ainda mais a preocupação de Paulo.

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236- Ao chegar ao escritório, naquela manha, fui direto à

sua sala, como sempre fiz, para verificar se estava tudo em

ordem, olhei para a CPU do seu computador e vi que

estava ligada, mas o monitor apresentava a tela escura.

Pensei, talvez tivesse esquecido de desligar seu

equipamento. Quando o Heitor me chamou em sua sala

para me informar sobre o seu acidente, percebi que

alguém havia utilizado o computador sem o seu

consentimento.

- Fui até sua sala e fiz uma cópia de todos os documentos

utilizados recentemente. Ao sair fui interpelada pelo

Heitor que me perguntou o que estava fazendo, informei

que você tinha esquecido o seu equipamento ligado e

resolvi desligá-lo.

- O Heitor acreditou?

- Se acreditou não sei, mas depois de duas horas, mandou

que me chamassem novamente em sua sala e me demitiu

por justa causa alegando que tinha destruído alguns

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LINHAS DO DESTINO

237

arquivos importantes. Chegou a ameaçar de me mandar

para a cadeia se passasse pela porta da empresa. Informou-

me que tinha tudo gravado pelo sistema de segurança.

- Mas que cafajeste! – Disse Paulo com raiva.

- Antes de sair pediu para me revistarem e ficou com a

cópia que tinha eu feito...

- Não se preocupe ele pode apagar todos os arquivos, mas

vai continuar deixando o rastro por onde passar.

- Acho melhor arranjar um local para você ficar até

conseguirmos acertar essa situação. Você tem algum

parente que deva ser avisado?

- Meus parentes moram em outro estado, não tenho o

hábito de ligar.

- OK. Você poderá passar alguns dias na praia, João a

levará e tudo o que precisar é só falar com dona Alzira.

Não fale com mais ninguém a não ser ela depois que tudo

estiver acertado, nós te avisaremos.

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238Capitulo cinquenta e nove

O SEQUESTRO

Estarrecida com a maneira que foi atendida, Ana subiu

rapidamente para seu quarto. Deitada pensou em Paulo.

Não entendeu por que a mudança de tratamento, afinal

tinha sido um verdadeiro cavalheiro no hospital. Deitada

não conseguia dormir. Por mais cansada que estivesse não

conseguiu tirar da cabeça a resposta de Doralice.

Resolveu descer e tomar um chá. Olhou pela janela notou

um carro que acabara de estacionar no outro lado da rua.

O que mais chamou sua atenção foi o fato de não conhecer

o carro e seus ocupantes.

Colocou a água para ferver, voltou para dar mais uma

olhada, o veículo continuava parado com os ocupantes

ainda sentados conversando no seu interior.

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LINHAS DO DESTINO

239

A chaleira começou a emitir um apito, que a fez

estremecer, odiava isso, mas toda a manhã conseguia

acordar com o barulho que ela fazia.

Preparou seu chá e sentada na cozinha sorvia cada gole

saboreando vagarosamente. Pensou nos acontecimentos do

dia. Ao terminar, apagou a luz, caminhou aproveitando a

claridade fornecida pela luz da rua que batia nas janelas.

Estava se dirigindo ao quarto, mas viu a silhueta de um

homem próximo à porta de entrada. Ana levou um susto

enorme.

Caminhou em direção a escada para chegar a seu quarto,

quase deu um grito de dor quando bateu na quina da mesa,

mas colocou a mão na boca para sufocar o grito, as

lagrimas escorreram pelo seu rosto.

Chegou ao topo da escada procurou seu celular, mas não

sabia para quem ligar. Num instante de lucidez lembrou-se

de ligar para Paulo. Ao ouvir a voz do outro lado, quase

não conseguia falar.

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240- Alô! Paulo? – Disse ela num sussurro.

- Ana? – É você?

- Estou ligando para você porque tem algumas pessoas no

portão da minha casa e não sabia para quem ligar.

- Estou morrendo de medo. – Disse enquanto olhava do

alto da escada.

- Fez bem em ligar para mim. Não quis atender você hoje

à tarde justamente para que não ocorresse isso.

- Qual é o teu endereço?

Ana informou.

- Vou enviar ajuda pra você, procure manter seu celular

ligado.

Paulo chamou João e entregou-lhe o endereço de Ana. De

outro aparelho entrou em contato com um grande amigo.

Dr. Juvenal tinha um apreço muito grande por Paulo,

apesar da pouca diferença de idade, foi como um pai na

hora em que ele mais precisava.

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LINHAS DO DESTINO

241

Após a morte de seu pai e a grave doença que acometera

sua mãe, numa época onde entrar na faculdade era sua

grande meta, viu seu sonho de ser advogado não se

concretizar.

Filho único de casal de classe media alta tornou-se uma

pessoa que possuía apenas a roupa do corpo em pouco

tempo.

Tudo o que seu pai conseguiu juntar durante toda sua vida

fora gasto em pouco mais de um ano, com o tratamento de

sua mãe.

Enquanto João se dirigia para a casa de Ana, Paulo

procurava mantê-la calma.

- Me diz o que está acontecendo. – Pediu Paulo.

- Eles continuam parados na calçada, aguardando alguma

coisa. - Disse controlando a dor que sentia.

- Já liguei para um amigo da polícia. – Informou tentando

acalmá-la.

- Acredito que João já esteja quase chegando...

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242- Acabou de chegar outro automóvel e parou na casa

em frente. - Ela falou baixinho para não chamar a atenção.

Paulo pode ouvir através do telefone um barulho

ensurdecedor de porta sendo colocadas abaixo, pessoas

gritando o grunhido de um animal sendo mal tratado.

Depois de alguns momentos apenas o silêncio.

O desespero tomou conta de Paulo uma angústia invadiu

seu peito. O outro telefone tocou, ouviu a voz de João, não

conseguiu se controlar.

- Pelo amor de Deus me diz o que aconteceu?

- A porta está aberta, as luzes acesas, mas não tem

ninguém aqui exceto um filhote de cachorro que está

deitado no tapete.

- Verifique se não está machucado, porque ouvi um

grunhido alto.

- Vou verificar – Completou.

- Um minuto que a polícia está chegando.

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LINHAS DO DESTINO

243

- Fui eu quem chamou. Pergunte pelo doutor Juvenal antes

que te prendam.

Instantes depois de ouvir as explicações de João o doutor

Juvenal estava conversando com Paulo pelo telefone.

- Lamento meu amigo, mas infelizmente chegamos um

pouco tarde, vamos trabalhar sem descanso até encontrá-

la.

- Acredito que havia mais pessoas na casa. - Paulo

comentou.

- Quem poderia ter feito isso?

- Não tenho certeza, Juvenal, mas acredito que meu sócio

esteja por traz disso. Hoje à tarde Ana havia ligado

justamente no telefone que está grampeado o resto é só

imaginar.

- Vamos investigar. Se você estiver certo vamos pegá-lo.

Provavelmente ele não seria burro de levá-la para casa,

mas em todo o caso mandarei que não o percam de vista.

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244- Por favor, peça para o João trazer o cachorro para

cuidarmos dele.

- Vou avisá-lo.

- Um abraço!

- Por favor! Qualquer novidade me avise.

- Manterei contato.

Apesar da dificuldade de locomoção, Paulo vestiu-se e

aguardou até a chegada de João trazendo o cachorro que

foi encontrado.

- Desculpe-me por não chegar a tempo. - Disse João muito

triste.

- Está tudo bem, meu amigo, te agradeço por tudo.

- Então você é o famoso Tobias, meu grande rival.

- Tobias? - Estranhou João.

- Sim. Quando estava internado, Ana comentou sobre seus

dois amores Luís e Tobias. Devo confessar que ele é muito

bonito.

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LINHAS DO DESTINO

245

Nesse momento Paulo pensou em Ana comentando sobre

sua nova paixão, sentiu saudades e remorso de não ter

atendido ao telefone quando ela telefonara. Quando

acariciou Tobias recebeu uma lambida na mão em

retribuição.

- Vou cuidar de você até tudo ficar resolvido. – Será que

não está com fome.

- Precisamos providenciar comida para esse garotão aqui.

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246Capitulo sessenta

O CATIVEIRO

Um barracão velho construído no alto de um monte,

aparentemente usado como depósito. O local era afastado

de tudo, principalmente de vizinhos.

O cheiro do lugar era indescritível uma mistura de madeira

apodrecida, urina de roedores e mofo tomava conta do

ambiente. As paredes úmidas faziam a sensação térmica

ficar mais baixa do que realmente estava.

Amontoados num espaço reduzido Ana, Luís e dona Marta

tentavam se acomodar, amarrados uns aos outros, todos os

movimentos tinham que ser executado em conjunto.

Os três estavam assustados, nunca pensaram passar por

uma situação como esta, apesar de tudo, Ana procurava

acalmar os demais.

Heitor e seus comparsas conversavam sobre o segundo

passo do plano.

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LINHAS DO DESTINO

247

Quando pegou o celular que estava em poder de Ana,

verificou que ela tinha feito uso do aparelho, ficou furioso.

O número que aparecia no visor era de conhecimento de

Heitor.

- Não sei onde estava com a cabeça quando contratei esse

bando de idiotas, para cuidar de um caso simples como

este.

- Fizeram tanto carnaval que conseguiram acordar a vítima

e deixaram que fizesse ligações para quem tivesse vontade

– continuou com ironia.

- Olha fulano estou sendo sequestrada...- Imitando a voz

de uma mulher.

Quando Humberto foi tentar se explicar.

- Não fale mais nada, caso contrário meto uma bala em

você agora mesmo.

- Vamos continuar com o plano se alguém fizer outra

dessa, prometo que vai se arrepender de ter nascido.

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248Incumbiu Fininho de ir até um telefone público em

uma cidade vizinha, ligar para o número do celular de

Paulo e informar sobre o valor do resgate que foi

estipulado em R$ 2.000.000,00.

O sol ainda não tinha surgido no horizonte, os pássaros

faziam barulho nas árvores, como se fizessem festa por

terem sobrevivido a mais uma noite de caçada, quando

Fininho iniciou sua viagem para cumprir a ordem

recebida.

Esse era seu estilo, cumpria o que era dito por Heitor sem

pensar, apenas executava as ordens como um robô.

Difícil saber qual o sentimento que tinha em relação ao

Heitor, não tinha medo de coisa alguma. Um homem

calado, expressão fria, olhar distante, jamais encarava as

pessoas, quando isso ocorria, imediatamente esquivava-se

e olhava em outra direção.

Ana não tinha a menor ideia do que estava acontecendo,

não conseguia entender o motivo para tudo aquilo.

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LINHAS DO DESTINO

249

O tempo passava lentamente, na escuridão somente ouvia

barulhos estranhos vindo do assoalho.

Quase teve um ataque quando sentiu o toque de algum

animal, parecido com rato, roçou seu pé.

Não gritou para não assustar Luís e sua mãe, apenas

rezava e pedia desesperadamente para que fossem para

outro local.

Quando conseguiu empurrá-lo para longe com os pés

alguém abriu a porta e uma lanterna com luz muito forte

cegou seus olhos já acostumados à escuridão.

Por instantes não conseguia abri-los para ver onde estava.

A pessoa deixou a comida no chão e foi embora trancando

novamente a porta.

Pelo barulho parecia ser uma madeira que atravessava a

porta de lado a lado. A comida estava horrível, fria e

misturada, como se fosse a sobra do que haviam comido,

mas pediu para que todos fizessem um esforço para

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250limparem o prato, não queria que houvesse restos que

pudesse atrair animais famintos.

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Capitulo sessenta e um

A ANGÚSTIA DA ESPERA

Paulo não conseguia parar de pensar em Ana, o que

poderia estar acontecendo com ela.

Angustiado não saiu do lado do telefone aguardando um

contato, tinha ideia de quem poderia estar por traz de tudo,

já sabia do que ele era capaz de fazer.

A madrugada de segunda-feira já começara. Os

equipamentos de escuta estavam instalados, mas até o

momento nenhuma chamada fora feita.

Ao seu lado o delegado Juvenal aguardava que os

sequestradores telefonassem.

Sabia que ainda era cedo, normalmente eles esperavam até

que os familiares ficassem desesperados para depois entrar

em contato.

Page 252: LINHAS DO DESTINO

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252O sol já tinha aparecido por completo. As pessoas

seguindo para o trabalho. Nas ruas um enorme

congestionamento estava se formando.

João, que em momento algum saiu de perto do grande

amigo, entrou na sala trazendo um delicioso café que

acabara de fazer.

- Aqui está um cafezinho, os senhores precisam se

alimentar.

- Obrigado, meu amigo, não sei o que seria de mim sem

você. – Disse Paulo.

- Você poderia descansar um pouco, teremos de aguardar

que entrem em contato.

- Não conseguiria dormir, vou ficar apenas deitado aqui no

sofá, se quiser Juvenal, pode ir descansar você também

merece.

- Os senhores querem mais alguma coisa? – Perguntou

João.

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LINHAS DO DESTINO

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- Estou satisfeito, obrigado. Você quer algo mais Juvenal?

– Quis saber Paulo.

- Não obrigado, estava muito bom. - Respondeu ao sentar-

se no sofá ao lado.

- Com toda essa bagunça, esqueci-me de perguntar sobre

dona Alzira – desculpou-se Paulo - como ela está João?

- Está muito bem, obrigado. – Respondeu.

- Ainda mais agora que está em companhia de Olga, as

duas estão muito felizes.

- Fico contente, Olga é uma pessoa muito fácil de entender

e conviver.

O tempo passava a angustia aumentava. Enquanto

esperavam Paulo fazia algumas ligações para saber onde

Heitor estava, mas todas as pessoas que o conheciam

disseram a mesma coisa, não sabiam de seu paradeiro.

A manhã estava quase chegando ao seu final quando foi

interrompido pelo som de seu celular. O delegado

imediatamente deu um pulo do sofá e xingou até a última

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254geração do sequestrador porque não pode usar o

equipamento de escuta e gravar a conversa.

Ao atender ouviu do outro lado uma voz fria e rouca que

informava suas exigências.

- Não precisa dizer nada apenas escute. – Disse Fininho

pausadamente.

Paulo perguntou sobre Ana, mas Fininho não permitiu que

a conversa se estendesse, apenas disse que o valor do

resgate era de R$ 2.000.000,00 em notas.

Disse que aguardasse novas instruções a serem dadas

posteriormente. A ligação foi cortada. Paulo soltou um

palavrão porque não teve como negociar.

Juvenal pediu para ele ter calma afinal era o que os

sequestradores queriam desestabilizá-lo para poderem

obter vantagens.

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LINHAS DO DESTINO

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Capitulo sessenta e dois

A VIDA É COMO UMA MOEDA

Raquel não sabia o motivo, mas estava angustiada, foi à

capela do hospital. Iniciou sua oração os seus pensamentos

foram invadidos por lembranças de Ana, do sorriso, das

alegrias do dia anterior e assim que terminou, resolveu

procurá-la.

Saiu em direção à sala da enfermagem e ficou preocupada

com a notícia de que ela ainda não tinha chegado para o

seu turno.

Foi ao telefone, ligou para a residência de Ana, mas não

obteve sucesso. Resolveu ligar para Márcia.

- Márcia, bom dia, é Raquel quem fala.

- Olá! Dona Raquel, como está?

- Estou bem. O motivo de te ligar, minha filha é para saber

se Ana passou por sua casa hoje.

- Ela não passou por aqui. Será que não é folga dela?

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256- Fui informada de que ela deveria estar aqui hoje.

Liguei para casa dela, mas ninguém atende ao telefone.

Não sei o que fazer, afinal é tarde e estou preocupada.

- Vamos fazer o seguinte vou dar uma chegada até a casa

dela e depois informo a senhora.

- Ontem ela me disse que você não podia dirigir.

- Dá-se um jeito em quase tudo. Vou de táxi.

- Vou ficar aguardando você me ligar. Um beijo.

Raquel desligou o telefone. Ficou mais tranquila Márcia

era uma pessoa especial, caso o assunto se referisse a Ana

enfrentaria o mundo por ela.

Resolveu fazer uma visita para o Gabriel e conversar com

ele para poder se distrair um pouco.

- Bom dia meu filho, como você está?

- Bem e a senhora? – Ela respondeu sem muita convicção.

- Bem!

O garoto sentiu que algo estava errado.

- A senhora está preocupada. - Disse Gabriel.

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- Você me conhece tanto assim que sabe quando não estou

muito bem.

Pensou que não valeria a pena contar-lhe sobre o que a

preocupava e mudou de assunto.

- Quando vai para casa? Carlos não vê a hora que você

receba alta.

- A doutora Marina disse que já posso ir para casa, o pior

já passou.

Nesse momento Carlos entrou no quarto sorridente porque

poderia levá-lo para casa. Gabriel estava de alta.

- Então Gabriel vai para casa hoje? - Perguntou Raquel

sorrindo.

- Gostaria de agradecer-lhe por tudo o que a senhora fez

por mim, pelo Gabriel.

- Por tudo que a senhora fez por pessoas que passaram por

aqui e precisaram de uma palavra, uma oração ou até

mesmo um momento de silêncio, como fez comigo.

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258Carlos estava tão emocionado que não conseguia

conter as lagrimas.

- Como havia dito para o Gabriel, “Deus criou dois tipos

de Anjos”; o que cuida de nós e o que nos protege e eu

acredito que a senhora faça parte do primeiro grupo.

Com a simplicidade e carinho que era a sua marca, Raquel

somente balançava, negativamente, a cabeça e sorria

encabulada.

- Não diga isso meu filho. – Disse dando-lhe um abraço

fraternal.

- Sou apenas uma mulher que gosta de conhecer pessoas e

fazer amizades.

- Como quiser, mas para mim a senhora é alguém muito

especial, um anjo. Se as orações deste pobre pecador

forem ouvidas, pode ter certeza, nelas estará o seu nome,

Deus permita que elas sejam ouvidas.

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LINHAS DO DESTINO

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- Obrigado pelas orações Carlos e por palavras tão gentis.

Tenho certeza absoluta de que Deus quer fazer vocês

felizes. – Finalizou

- Quando oramos por outras pessoas, na verdade estamos

fazendo-o por nós mesmos.

Dito isto, ela deu um beijo nos dois e saiu para continuar

sua visita a outras pessoas.

Na verdade procurou sair antes de começar a chorar, tinha

um carinho muito especial por esses dois e sentiria

saudades.

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260Capitulo sessenta e três

A DOR DA VERDADE

Quando o táxi parou em frente à casa de Ana, Márcia

notou um carro diferente parado na porta. Ao se aproximar

foi abordada por um homem trajando um terno surrado.

- Bom dia o que a senhora deseja? – Interceptando o seu

caminho.

- Como o que eu desejo? – Respondeu com indignação.

- Quero visitar minha amiga! Posso?

- Como se chama sua amiga?

Indignou-se com a pergunta.

- Quem é o senhor afinal para fazer-me tantas perguntas?

– Disse revoltada.

- Sou policial por isso as perguntas. – Desculpou-se.

- O que aconteceu aqui para ter uma pessoa da policia? –

Perguntou curiosa.

- Houve um sequestro e estamos investigando.

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Nesse momento Márcia sentiu um mal-estar e recostou na

parede.

Muito prestativo o policial a acudiu.

- Você está bem? - Perguntou delicadamente.

- Sim foi apenas um mal-estar, o senhor me disse que

ocorreu um sequestro nessa casa?

- Positivo. Um minuto, por favor. – Ernesto atendeu ao

chamado no telefone.

Juvenal perguntou se havia alguma novidade, se já sabia

sobre o policial que o substituiria. Ernesto informou sobre

a presença de Márcia. Imediatamente recebeu ordem para

colocá-la ao telefone.

- O delegado quer falar com você. – Caminhou na direção

de Márcia e entregou-lhe o celular.

Ao atender foi informada sobre os detalhes dos

acontecimentos. Paulo também falou com ela para acalmá-

la.

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262- Márcia quem está falando é Paulo, você não me

conhece, mas pode confiar em mim, vou encontrá-la o

mais rápido possível. – Continuou. - Me informa quantas

pessoas viviam aí?

- Somente ela, o filho Luís e a mãe. - Depois de alguns

instantes lembrou-se.

- Quase ia esquecendo-me de Tobias.

- Esse garotão lindo? – Brincou para distrair.

- Está comigo e sendo muito bem tratado. – Informou

Paulo.

- Já pediram o resgate, mas não disseram onde entregar.

Caso tenha alguma novidade anote o meu telefone. - Paulo

informou o número e o endereço de sua casa.

- Estou confusa com tudo isso, mas se eu pegar primeiro

quem fez isso, vai se arrepender de me ter conhecido. -

Disse ela.

Paulo sentiu a força da amizade e da mulher que estava do

outro lado da linha.

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LINHAS DO DESTINO

263

- Gostaria que me informasse tudo o que acontecer. –

Pediu Márcia.

- Pode ficar tranquila que te informarei.

Devolveu o aparelho para o policial e se retirou.

Não sabia o que fazer resolveu ir até o hospital e falar com

dona Raquel.

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264Capitulo sessenta e quatro

PROCURANDO UMA SAÍDA

- Precisamos fazer algo para sairmos daqui. – Disse Ana.

- Como vamos fugir minha filha, se estamos amarrados e

trancados?

- Para ser sincera não faço a mínima ideia. Temos que

pensar em algo.

- Por que não me desamarra, sou pequeno é só afrouxar

um pouco as cordas, eu consigo me soltar.

- Tente chegar mais perto da mamãe para eu poder

alcançar o nó.

Num esforço brutal Luís chegou o mais próximo possível

e a corda foi retirada.

Em pouco tempo todos estavam livres. A corda provocou

hematomas e a sensação de formigamento nos membros,

devido má circulação.

Page 265: LINHAS DO DESTINO

LINHAS DO DESTINO

265

A luz do dia já era visível, mas a claridade que penetrava

através das poucas frestas existentes não iluminava o

suficiente, apenas servia como orientação.

Cada um procurou alongar-se e aliviar as dores causadas

pela má postura. Com muito cuidado procuraram alguma

coisa que pudesse servir para escapar daquele inferno.

Por uma fresta, Ana pode ver que estavam num local

isolado. Do lado direito havia uma mata ou algo parecido,

mas à esquerda, o local era gramado. Ao longe a ponta de

alguma construção.

Quando olhou novamente viu a aproximação de alguém,

imediatamente reuniram-se. Luís amarrou as duas

novamente e apenas enrolou a corda em seu pulso.

Mal tiveram tempo de se ajeitarem à porta foi aberta com

brutalidade. Um homem mascarado trouxe água e pão.

- Isso é o que vão comer de agora em diante.

Novamente a claridade ofuscou-a. A máscara usada não

permitiu ver quem era.

Page 266: LINHAS DO DESTINO

L.P.OWEN

266Desta vez teve calma para prestar atenção em detalhes

que pudessem ajudá-la a sair dali. Ao ver os ferros

colocados, em forma de “U” pelo lado de fora da porta,

indicando que era fechada apenas com uma trava de

madeira.

Esperou que o mascarado fosse embora e pediu para que

todos comessem tudo novamente e explicou seu plano.

Page 267: LINHAS DO DESTINO

LINHAS DO DESTINO

267

Capitulo sessenta e cinco

AUXÍLIO INESPERADO

Sua vida não tinha sido fácil. Trabalhara como servente de

pedreiro até operador de equipamentos de pavimentação,

ajudara a construir o progresso daquela região onde

nascera que conhecia tão bem.

Casado com uma nativa de sua cidade natal. Pensou várias

vezes em ir primeiro, mas como o destino tem seus

próprios caminhos isso não foi possível porque sua amada

teve um problema na hora do parto do seu quinto filho.

Dias antes ela se queixou de uma dor, mas somente

quando não conseguia mais controlar a dor pediu para ir

ao médico. Quando constataram que o bebê tinha entrado

em óbito alguns dias antes imediatamente a prepararam

para a cesariana, mas a infecção já havia espalhado, ela

não resistira.

Page 268: LINHAS DO DESTINO

L.P.OWEN

268Com ela também morrera aquele homem simples do

interior. A partir de então começou a beber até desmaiar

para não pensar no que acontecera. Com o tempo não

conseguia mais ficar sem a bebida. Com isso a perda do

emprego, as dificuldades. Passou a viver num estado

permanente de embriaguez.

Com o tempo, seu único motivo para viver, era sentar ao

lado da estrada que ajudara a construir. Olhar os carros

que passavam em alta velocidade sem notar que ele estava

ali sentado.

Naquela madrugada notou um movimento muito grande

de carros que seguiam em direção ao sítio onde ele já tinha

trabalhado muito tempo antes quando o proprietário era

um senhor muito bom amigo de seu pai. Depois que

aquele rapaz tornou-se proprietário, nem ir ao lago para

pescar podia mais.

Page 269: LINHAS DO DESTINO

LINHAS DO DESTINO

269

Resolveu verificar o que estava acontecendo e por que

aquela movimentação. Ao se aproximar da cerca, viu um

grupo mantendo algumas pessoas presas e encapuzadas.

Pôde ver também os olhos vendados das duas mulheres e

do garotinho. Acabou tropeçando em um galho seco, que

ao se partir, fez barulho denunciando a sua presença.

Imediatamente um homem armado caminhou em sua

direção a única vantagem que tinha era o conhecimento do

terreno como a palma de sua mão. Assim tirou proveito

disso para enganá-lo.

Começou a imitar o ruído de um porco do mato, com uma

vara, movimentou alguns arbustos em outra direção dando

a impressão que tinha fugido. Pôde sentir o cheiro do

cigarro vindo em sua direção, ficou imóvel como um

animal predador que espera o melhor momento para

atacar.

- Afinal o que fez o barulho? – Alguém perguntou.

Page 270: LINHAS DO DESTINO

L.P.OWEN

270- Um porco do mato, mas já fugiu. - Respondeu

voltando para perto do grupo.

Não sabia o que fazer, ir a polícia poderia ser perigoso.

Numa cidade pequena as notícias correm muito rápidas,

além disso, já tinha visto o dono do sítio conversando com

o delegado, poderiam não acreditar nele por que era

considerado apenas um bêbado.

Aquelas pessoas precisavam de ajuda, algo tinha que ser

feito.

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LINHAS DO DESTINO

271

Capitulo sessenta e seis

TENTATIVA FRUSTRADA

Raquel não entendia como as pessoas conseguiam fazer

mal para outras. Ainda mais para uma pessoa tão dedicada

em ajudar seus semelhantes como Ana. Uma mulher que

não media esforços para ajudar, não importava quem era,

ma sim o que precisava.

- Falei com Paulo que me informou tudo isso que acabei

de contar. – Márcia estava muito preocupada.

- O que poderemos fazer por ela? - Raquel emendou.

- Sinceramente não sei, a policia está no caso junto com o

Paulo. Estão negociando com os sequestradores. Eu não

consigo ficar parada esperando por notícias. - Ela

desabafou.

O telefone de Márcia tocou, quando ela atendeu

reconheceu a voz de Paulo.

Page 272: LINHAS DO DESTINO

L.P.OWEN

272- Márcia os sequestradores estão com o celular de Ana,

ela estava falando comigo ao ser levada.

- Precisamos que você ligue para ela e mantenha a

conversação o maior tempo que puder, dessa forma poderá

rastreá-los.

- Vou ligar imediatamente.

- Ligue daqui a dez minutos precisamente. - Paulo pediu.

- OK! No meu será 15h45min.

A resposta veio a seguir.

- Correto. – Disse ele.

Raquel não ficou sossegada até saber o que estava

acontecendo.

Foram os dez minutos mais longos de sua vida.

Primeiro toque, mais alguns instantes o segundo, o

terceiro até que iniciou uma gravação “no momento não

posso atender deixe seu recado e ligarei em seguida”.

Márcia reconheceu a voz da amiga. Pensou por alguns

instantes e resolveu deixar uma mensagem na caixa postal.

Page 273: LINHAS DO DESTINO

LINHAS DO DESTINO

273

- É Márcia! Preciso falar com você urgente anote meu

novo número.

Deixou seu número para que retornassem a ligação.

Avisou Paulo sobre o ocorrido. Disse que ligaria

novamente em 30 minutos exatos.

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L.P.OWEN

274Capitulo sessenta e sete

ÚLTIMAS INSTRUÇÕES

Na sede do sítio, onde tudo era planejado, Heitor

conversava com o grupo para instruir todos sobre o que

deveria ser feito nas próximas horas.

- As coisas estão saindo como planejado, por isso peço a

todos que mantenham a atenção redobrada porque no

momento que revelarmos o local para entrega do dinheiro,

cada um dos senhores deverá executar suas tarefas com

rapidez e precisão.

- Caso seja apanhado cortem a língua, suicidem-se, façam

o que quiserem, mas não digam nada a respeito do que foi

feito ou dito até agora. Vocês entenderam? – Perguntou

olhando para cada um deles.

O silêncio que se seguiu foi impressionante. Heitor

conversava com cada um repassando ponto a ponto o

plano. Todos olhavam para o chão, não tinham coragem

Page 275: LINHAS DO DESTINO

LINHAS DO DESTINO

275

de encará-lo. O único que mantinha o olhar fixo em

Heitor, sem demonstrar nenhuma emoção, era Fininho. A

frieza dele chegava a incomodar Heitor. Sabia que seu

comparsa estava com ele por espontânea vontade e nada o

intimidaria. Sabia também que o rapaz o serviria até o fim,

não importando o que acontecesse com ele. Fininho queria

apenas servi-lo em gratidão ao que fizera por ele.

Pensou o quanto foi bom ter dado uma oportunidade para

aquele moribundo deitado na calçada ao lado de seu carro.

Seu faro novamente reconhecera uma grande

oportunidade.

Deu um sinal para que Fininho o acompanhasse, ele

apenas levantou-se e seguiu em sua direção. Na porta de

saída entregou-lhe um envelope com as últimas instruções.

- “Vai poder me pagar todo o gesto de boa vontade que

tive com você”. - Pensou.

Um sorriso fugaz apareceu em seus lábios.

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L.P.OWEN

276Ao pegar o envelope não sabia o que continha, não

importava o que havia para ser feito, apenas seria

executado como fora ordenado. Antes de sair ouviu o

celular de Heitor tocando.

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LINHAS DO DESTINO

277

Capitulo sessenta e oito

NOVA TENTATIVA

- Alô quem está falando? – Perguntou Márcia.

- Com quem você deseja falar? – Uma voz masculina

respondeu.

Ela ouviu a voz do homem que estava com sua melhor

amiga. Teve vontade de poder estar frente a ele e fazer o

que desejava, mas respirou fundo, manteve a calma, fez-se

de desentendida para ganhar o maior tempo possível.

- Quem está falando?

- Com quem deseja falar? - Ele perguntou visivelmente

irritado.

- Roberto é você? - Como uma metralhadora não deixou

que respondesse e foi contando sua história.

- Tudo bem com você e Ana? – Sem dar tempo para o

interlocutor responder.

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L.P.OWEN

278- Não deu para passar na sua casa domingo, minha avó

chegou de surpresa e ficou conversando, sabe como são as

avós, quando começam a falar, não param mais. Olhei

para o relógio já era muito tarde, acabei não ligando.

Continuou num monólogo desesperado para manter o

telefone ocupado por mais tempo.

- Quero dizer...

Do outro lado da linha Heitor balbuciava algumas palavras

que não eram ouvidas por Márcia.

- O dinheiro que ela precisa para pagar as prestações

atrasadas, da compra da casa, poderá emprestá-lo se ela

quiser. Basta que ela me diga o número da conta e o banco

e farei a transferência.

Fez uma pausa para saber se estava na linha, quando

Heitor ia dizer algo, ela o interrompeu.

- Antes que eu me esqueça meu número do telefone

mudou você tem lápis e papel para anotar? - Se não tiver

posso aguardar para providenciar.

Page 279: LINHAS DO DESTINO

LINHAS DO DESTINO

279

- Pode dizer que vou colocar na agenda do celular – Heitor

conseguiu falar.

- Então anota você está pronto?

- Sim pode dizer. – “Como é enrolada”. - Pensou.

- Então lá vai... - Um minutinho me deu branco, não o

decorei ainda, não faço ligações para mim mesma – riu da

própria piada.

Passou o número do seu celular e enquanto fazia isso

torcia para que tivessem conseguido localizar a ligação,

para garantir, continuou.

- Luís e sua mãe como estão? Espero que estejam todos

bem. Não se esqueça de dizer a Ana que vou voltar para o

trabalho na quinta-feira assim ela vai poder descansar um

pouco. Dividiremos melhor o serviço.

- OK! Vou avisá-la. Um abraço. - Sem dar tempo para

Márcia iniciar outro assunto desligou.

Márcia não conseguia disfarçar a vontade de esmagar

aquele cara, ficou tão nervosa que quase vomitou.

Page 280: LINHAS DO DESTINO

L.P.OWEN

280Dona Raquel com sua doçura de sempre disse.

- Quisera ter quem me defendesse assim. – Falou com

admiração.

- Fique tranquila você foi sensacional. Tenho certeza de

que conseguiram localizar a ligação.

Paulo não escondia o nervosismo, seu coração palpitava.

Os ponteiros do relógio marcaram 15h45min, sabia que

Márcia estaria ligando para o celular de Ana.

Os equipamentos de rastreamento da operadora poderiam

localizá-lo facilmente.

Cada gesto ou modificação no semblante de Juvenal era

notado por Paulo, que ansioso por obter notícias e

impossibilitado de ficar andando de um lado para outro,

apenas aguardava balançando a outra perna.

- Mesmo que localizemos de onde está sendo usado o

aparelho, não significa que esteja no local do cativeiro ou

próximo dele. – Para acalmar Paulo. – Vamos saber onde

se encontra o aparelho.

Page 281: LINHAS DO DESTINO

LINHAS DO DESTINO

281

Seu coração, nos últimos tempos, tinha sofrido uma

transformação radical. Há muito tempo que vivia em

função do trabalho. Não se preocupava com as cantadas

recebidas, porque não tinha encontrado nenhuma pessoa

capaz de despertar a chama dentro do seu peito.

Estava distraído em seus pensamentos, quando sentiu a

pata de Tobias raspar em sua perna buscando carinho e

consolo.

Ficou emocionado ao saber que eles estavam sentindo

falta da mesma pessoa. Pegou-o no colo enquanto fazia

carinho no pequeno filhote, pensava em Ana, na sua voz,

no jeito como falava, como olhava, como andava, por

instantes pensou sentir o perfume que ela usava.

Estava com muita saudade, lembrou-se de quando lhe dera

as flores, não imaginara que ficasse tão contente.

O brilho no olhar e a forma como lhe agradeceu despertou

uma vontade tremenda de abraçar e beijá-la.

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282Estava distante em seus pensamentos quando sentiu

que Juvenal tocara em seu braço.

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LINHAS DO DESTINO

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Capítulo sessenta e nove

NOVO CONTATO

Fininho seguiu para a cidade vizinha, sua agenda para os

próximos dois dias seria intensa. Hospedou-se num hotel

simples, para na manhã seguinte seguir para a outra cidade

ainda mais distante do local do cativeiro. Não queria

despertar suspeita. Sua missão era combinar o pagamento

do resgate.

Heitor tinha sido claro, depois de acertar o pagamento

retornar para o sítio e eliminar todas as testemunhas.

Aguardar no hotel para novas instruções.

O dia amanheceu nublado, a temperatura continuava

elevada. Desceu para tomar o café da manhã, em seguida,

saiu em direção à cidade de onde faria o contato.

O telefone soou uma, duas, três vezes e ninguém atendeu.

Ele não era muito inteligente, pensou ter discado o número

Page 284: LINHAS DO DESTINO

L.P.OWEN

284errado. Procurou pelo papel que tinha recebido de

Heitor e discou novamente, desta vez, pausadamente.

A ligação foi completada com sucesso. Ouviu uma voz do

outro lado e iniciou a leitura do que Heitor tinha escrito no

papel.

- O pagamento deve ser feito hoje as 13h00min. O

dinheiro deve ser dividido em sacolas e levadas para o

local que for indicado no próximo contato.

Imediatamente desligou, saiu para completar o trabalho.

Paulo sabia como arrumar a quantia exigida, mas teria que

dar como garantia de pagamento todo seu patrimônio.

Novamente a ligação foi curta demais para ser rastreada,

deveriam aguardar novos contatos. O telefonema feito por

Márcia também não teve êxito, por isso a frustração era

muito grande, não sabia como ajudar sua amada a se livrar

desses crápulas.

O tempo passava muito rápido, deveria providenciar o

dinheiro, acondicioná-lo nas sacolas para serem entregues.

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LINHAS DO DESTINO

285

Entrou em contato com João, que se encontrava com o

gerente do banco aguardando as ordens de Paulo.

Informou-o sobre como deveria ser acondicionado o

dinheiro para o transporte e pediu que aguardasse suas

ordens.

Estava preocupado com o horário. Comentou com o

delegado.

- Agora são dez horas, caso tenhamos que entregar o

dinheiro às 13h00min, deverá ser um local próximo daqui.

- Eles estão querendo confundir-nos, mas quando disserem

o local vamos fazer um cerco tão perfeito que será difícil

escaparem. – O delegado estava confiante no sucesso da

operação.

Paulo ao contrário estava apreensivo não achava ser tão

simples quanto foi apregoado pelo delegado.

O horário dado pelo sequestrador estava se esgotando.

Faltavam apenas 10 minutos para as 13h00min e nada das

ordens para a entrega.

Page 286: LINHAS DO DESTINO

L.P.OWEN

286- Será que saiu algo errado? – Perguntou com voz

ansiosa.

- O contato que ligou é apenas um rapaz de recado. –

Disse Juvenal calmamente.

À tarde já estava chegando ao seu final quando o telefone

soou, Paulo atendeu.

- Pois não. – Atendeu achando ser o sequestrador.

- Paulo, alguma novidade? – Quis saber Márcia.

- Não ligaram mais para dar as instruções de entrega do

dinheiro. Estou aguardando, qualquer novidade, você será

informado em seguida.

A noite chegou e nada de novo telefonema.

Page 287: LINHAS DO DESTINO

LINHAS DO DESTINO

287

Capitulo setenta

O TERROR

Desamarrados, cada um pegou o que pôde para usar como

arma. Aguardavam que um dos sequestradores viesse,

fosse dominado por eles, com sorte poderiam fugir.

- Todos já sabem o que fazer, assim que ele entrar

bateremos nele para nocauteá-lo. Pelo que pude ver nós

estamos no meio de uma mata, vamos para a direita, não

parem por nada.

Ana viu, através da fresta, que a noite chegara. Luzes

foram acesas. Não tardaria, alguém viria dar comida para

eles.

A espera era angustiante, estava apreensiva, tinha medo

que acontecesse algo ruim a Luís ou sua mãe. Enquanto

esperava pensou em Paulo, lamentou tê-lo conhecido

somente agora.

Page 288: LINHAS DO DESTINO

L.P.OWEN

288Pensou no primeiro momento que puderam conversar,

nas flores que recebera, de como se preocupou quando

ligou para ele.

Seus pensamentos foram interrompidos com o som de

alguém que se aproximava, olhou pela fresta para avaliar a

situação. Viu uma luz de lanterna, que balançava de um

lado para o outro, em seguida o som abafado de algo

caindo pesadamente no chão.

O que conseguiu ver, pela fresta, deixou-a apavorada. Um

corpo sendo arrastado para dentro da mata, como se um

animal predador tivesse levando o alimento para um local

seguro. O silêncio que se seguiu foi mais assustador ainda.

Page 289: LINHAS DO DESTINO

LINHAS DO DESTINO

289

Capitulo setenta e um

A FUGA

Miguel apenas aguardava. Todo o movimento que faziam

era acompanhado por ele. Teria que esperar o melhor

momento para agir, tinha que ter cautela para não por em

risco aqueles inocentes.

Nas suas contas havia somente três pessoas dentro da casa,

todos estavam bem armados, enfrentá-los seria loucura,

por isso resolveu aguardar. Utilizaria as armas que

conhecia muito bem, mas deveria separá-los.

O único problema era como faria isso.

O vigia que estava do lado de fora sentado na varanda

deveria ser levado para o outro lado da casa, teria que

chamar sua atenção sem despertar a dos outros.

O que teria no barracão para ser tão vigiado? Armas? Os

reféns? Pensou em várias possibilidades.

Bem disse sua sorte, melhor não poderia acontecer.

Page 290: LINHAS DO DESTINO

L.P.OWEN

290Alguém entregou ao vigia um saco de papel e ele

caminhou em sua direção, não acreditou no que estava

vendo.

- “Pode vir com o papai, verá que não dói nada”. – Pensou

enquanto preparava seu material.

Como uma cobra, silencioso, arrastou-se pelo mato até

chegar na parte traseira do barracão de onde poderia atacar

como planejara, mais importante, com precisão cirúrgica,

pelo menos com essa arma era um especialista.

Aqueles dardos poderiam conter qualquer substância,

desde um veneno poderosíssimo ou apenas um anestésico,

a Zarabatana é silenciosa e eficaz. Quando seus dardos são

percebidos já é tarde.

Colocou-se em posição, assim que o alvo colocou-se ao

seu alcance, lançou um dardo em seguida outro para

garantir.

Page 291: LINHAS DO DESTINO

LINHAS DO DESTINO

291

Eram pequenos, silenciosos, mas com poder de derrubar

um animal de grande porte em pouco tempo, apenas

aguardou...

O barulho seco de um corpo caindo no chão, o trabalho

restante, foi jogá-lo no mato.

Desligou a lanterna, pegou o saco que havia caído no

chão. Caminhou lentamente em direção a porta do galpão.

Começou a retirar a tranca, abriu a porta lentamente e

antes de entrar iluminou o ambiente com a lanterna.

Quando viu o estado daquelas pessoas ficou

impressionado.

- Não tenham medo. – Disse baixinho enquanto entrava.

- Vocês estão bem?

- Pelo jeito, livrei aquele salafrário de vocês. – Disse ao

ver todos com pedaços de ferro e madeira na mão.

- Sim, quem é senhor? - Perguntou Ana.

- Não importa agora, o que importa é sair daqui o mais

rápido possível. – Acenou indicando a saída.

Page 292: LINHAS DO DESTINO

L.P.OWEN

292Caminharam em direção ao riacho onde costumava

pescar, os atalhos conhecia todos. Somente teria que

arrumar um local seguro até conseguir levá-los para longe.

Todos estavam cansados e famintos, até o momento só

tinham comido pão e água. Abriram o saco de papel e

exclamaram a uma só voz.

- Não aguento mais pão e água!

Caminharam por longo tempo na mata até chegarem em

local seguro, um rancho onde Miguel costumava pescar.

O local não era uma mansão, mas poderiam ficar em

segurança até irem embora.

- Vamos ficar aqui até raiar o dia, nós demos muita sorte

de não encontrarmos alguma fera com fome. - Preciso de

algum telefone para onde possa ligar.

- Tenho o telefone de minha amiga Márcia.

Depois de fornecer o número Ana teve a oportunidade de

agradecer tudo o que estava fazendo por eles.

Page 293: LINHAS DO DESTINO

LINHAS DO DESTINO

293

- Esta é uma cidade pequena, aqui todos sabem de tudo,

por este motivo não posso levá-los para minha casa, não é

muito diferente desta aqui, mas considero o meu santuário.

- O que o senhor está fazendo por nós já é o bastante.

Estamos todos muito gratos, não queremos que se

prejudique por nossa causa.

- Ali naquele armário tem algumas redes que uso para

descansar quando venho aqui, vocês podem dormir um

pouco.

- Apesar do cansaço, não sei se consigo pegar no sono,

mas vou descansar. – Disse Ana.

Page 294: LINHAS DO DESTINO

L.P.OWEN

294Capitulo setenta e dois

APENAS TRABALHO

A primeira parte do contato para o pagamento já tinha sido

feita, a segunda e ultima seria na manhã seguinte, na

próxima noite deveria concluir o trabalho.

Resolveu ir a um barzinho tomar alguma bebida, precisava

relaxar, afinal estava trabalhando com o pessoal há algum

tempo.

Tinham criado um vínculo de confiança muito grande,

executá-los era algo que não conseguia digerir, mas as

ordens foram claras, ele só cumpria ordens, não seria nada

pessoal.

Pediu uma dose de cachaça, depois outra e mais uma até

quase não conseguir parar em pé.

Levantou-se, sentiu o mundo girar a sua volta, foi em

direção ao hotel onde se hospedara. No trajeto ora ia de

encontro ao poste, ora ao muro.

Page 295: LINHAS DO DESTINO

LINHAS DO DESTINO

295

Finalmente conseguiu chegar à porta do hotel. Reuniu suas

últimas forças para subir ao terceiro andar, dentro do

elevador animou-se porque faltava muito pouco. No

corredor, batendo de um lado e de outro, finalmente a

porta do seu quarto.

Depois de algum tempo brigando com o buraco da

fechadura apenas caiu na cama, dormiu com roupa e tudo.

Page 296: LINHAS DO DESTINO

L.P.OWEN

296Capitulo setenta e três

SOLIDÃO

Paulo não conseguia entender por que não tinha recebido

outro telefonema informando o local para entrega do

dinheiro.

Agora sozinho pensava em Ana. Ficou triste de não poder

ajudá-la. A única coisa que sua presença fez em sua vida

foi trazer-lhe aborrecimentos. Como estaria sendo tratada

por aqueles monstros. Queriam atingi-lo, por que não o

levaram? Queria ficar acordado, mas já fazia tempo que

não dormia direito e acabou por entregar-se ao sono.

Mesmo dormindo não conseguiu parar de pensar no seu

grande amor.

Page 297: LINHAS DO DESTINO

LINHAS DO DESTINO

297

Capitulo setenta e quatro

SUBESTIMANDO O ADVERSÁRIO

Heitor ficou intrigado com o telefonema que recebera.

Achou muito estranho que a amiga de sua refém não

perguntasse nada sobre ela. Não estranhou a voz do

marido da amiga, seria uma manobra muito boa, mas ele

era mais esperto.

A sorte de estar em seu carro deslocando-se muito

rapidamente dificultaria sua localização e mesmo que isso

ocorresse estariam muito longe do local do cativeiro. A

coisa certa foi jogá-lo no rio, o celular de Ana não tinha

mais utilidade para eles.

Aproveitou para saborear a comida, o café e tudo mais,

estava se preparando para deixar o país, provavelmente

sentiria falta da culinária e da vida noturna. Uma vida

tranquila o esperava na Europa, já havia transferido uma

Page 298: LINHAS DO DESTINO

L.P.OWEN

298quantia razoável durante esse tempo que trabalhou

com Paulo, agora era só se preparar para o “Gran Finale”.

A noite estava agradável, seria uma boa ideia ir ao cinema,

assistir a um filme enquanto a digestão era feita.

Foi à bilheteria comprou seu ingresso e entrou. A sessão

demoraria uns quinze minutos para o início, resolveu

comprar pipoca e refrigerante. Não percebeu duas

mulheres, que à distância, monitoravam seus passos.

Page 299: LINHAS DO DESTINO

LINHAS DO DESTINO

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Capitulo setenta e cinco

BONS E MAUS

Márcia e Raquel juntas durante o dia todo uma dando

força para outra, Raquel não parava de rezar.

- O que mais me deixa furiosa é que eu falei com o

sequestrador. Ele me atendeu como se não estivesse

fazendo nada de mais. – Disse Márcia.

- Só espero que não apareça na minha frente.

- Não adianta alimentar o ódio no coração, isso só vai

fazer mal para você mesma. Devemos sim rezar por ele,

para que uma semente de bondade apareça em seu coração

e solte nossa Ana e seus familiares sem machucá-los.

- Não acredite dona Raquel, a pessoa quando é ruim não

tem jeito.

Raquel sabia que seria difícil fazê-la mudar de ideia.

Convidou-a para visitar algumas pessoas que estavam

precisando de cuidados. Raquel entrou pela maternidade,

Page 300: LINHAS DO DESTINO

L.P.OWEN

300quando passaram pelo berçário, olharam pelo vidro,

puderam observar os bebes que haviam nascido naqueles

dias. Os olhos de Márcia brilharam, era seu local

preferido.

- Apesar das diferenças são todos iguais. – Raquel falava

em tom suave, quase confidente.

- Olhando para eles, não conseguimos imaginar o que se

tornarão dentro de alguns anos. O que será de cada um

deles. Qual deles serão doutores, mecânicos, executivos

ou um delinquente. – Continuou olhando para os bebes.

- Ser bom ou ser ruim vai depender de como serão tratados

quando crianças.

- Olhando para eles você conseguiria dizer quais serão

ruins? – Aguardou em silêncio.

- A senhora tem razão, muitos serão privados de uma serie

de coisas inclusive do direito de serem amados. Obrigada

por me mostrar o outro lado do ser humano. – Disse com o

coração mais sereno.

Page 301: LINHAS DO DESTINO

LINHAS DO DESTINO

301

À tarde se arrastou, a noite chegou, Márcia preparava-se

para o banho quando o telefone tocou. Correu para

atender, ao ouvir a voz de Guilherme começou a chorar, o

rapaz preocupou-se.

- O que aconteceu? Por que você está chorando?

Márcia contou-lhe todos os acontecimentos.

Page 302: LINHAS DO DESTINO

L.P.OWEN

302Capitulo setenta e seis

NOVAS INSTRUÇÕES

A cabeça latejava, à claridade o incomodava, levantou-se

foi em direção ao banheiro e tomou um banho frio para

despertar um pouco. Não usou o elevador, desta vez,

desceu pela escada. Foi em direção ao restaurante onde era

servido o café da manhã.

Sentou-se em uma mesa no fundo do salão, apenas tomou

um café amargo, um suco de laranja e comeu uma fatia de

pão com manteiga.

Saiu por volta das 08h00min, desta vez seguiria em

direção a uma cidade um pouco mais longe.

Como sempre, vestia uma jaqueta jeans, embaixo do

braço, sua amiga inseparável, uma pistola de uso

exclusivo do exército, que tinha obtido depois de eliminar

um oficial.

Page 303: LINHAS DO DESTINO

LINHAS DO DESTINO

303

Acendeu um cigarro, no trajeto procurava memorizar tudo

o que deveria fazer naquele dia. Procurou um telefone

público que estivesse localizado na entrada da cidade.

Avistou um local ermo, achou ideal para execução do seu

trabalho.

Desta vez não foi necessário esperar muito, o telefone

apenas tocou duas vezes, do outro lado da linha alguém

atendeu. Ele sem emoção alguma apenas transmitiu o

recado.

- Você já conseguiu o dinheiro? – Perguntou Fininho.

- Sim, mas quero uma prova de que todos eles estejam

bem. – Falou Paulo.

- Você a terá no momento oportuno. – Respondeu

friamente.

- Você tem que... – Paulo teve medo que o telefone fosse

desligado.

Page 304: LINHAS DO DESTINO

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304Fininho não era de muitas palavras somente um ótimo

executor, não pensava muito rápido. Qualquer coisa que

saísse do controle começava a gaguejar.

Quando Paulo se deu conta, assumiu a situação, fez um

bombardeio de perguntas para confundi-lo, quem sabe

descobrir algo.

- Onde devo deixar o dinheiro? – Como você quer o

dinheiro?

Fininho apenas dizia o que tinha decorado.

- Você deverá colocar as sacolas em sacos plásticos, como

se fosse lixo e deixá-los no Km 183 da rodovia SP 280. Na

margem direita haverá algo marcando o local exato.

- Preciso de algumas horas, estou a mais de 200 km do

local. Antes de deixar o dinheiro, quero ter a certeza de

que todos estejam bem. Outra coisa é que iremos eu e meu

motorista, por que...

O sequestrador completou a frase.

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LINHAS DO DESTINO

305

- Está com a perna engessada. Você tem até as 15h00min.

– Completou. – Nada de truques.

Quando desligou o telefone percebeu até onde aqueles

crápulas poderiam chegar.

Providenciou um helicóptero e o aluguel de um carro

numa cidade próxima.

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306Capitulo setenta e sete

EM SEGURANÇA

Quando Márcia atendeu ao telefone, no princípio ficou

apreensiva, uma voz masculina perguntou por ela. Depois

de alguns segundos de conversação começou a ver uma

luz no fim do túnel. A voz que ouvia do outro lado tinha

um sotaque do interior. Com toda simplicidade informou

os acontecimentos.

- Alô! - Márcia atendeu ainda meio sonolenta, devido ao

estresse do dia anterior, não tinha dormido muito bem.

- Bom dia! Meu nome é Miguel, estou ligando a pedido de

dona Ana.

Quando ouviu o nome de Ana despertou imediatamente.

Um sentimento de alegria, de ansiedade, de vontade de

chorar, tudo o que estava preso dentro de seu peito queria

libertar-se.

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LINHAS DO DESTINO

307

- Ela estava presa, mas agora está em local seguro,

somente aguardando que venham buscá-la. – Continuou a

voz serena.

- Como o senhor disse que se chama?

- Miguel, dona. – Respondeu.

- Me desculpe senhor Miguel eu fiquei confusa. De

tamanha felicidade não consegui ouvir mais nada depois

de local seguro. O senhor poderia fornecer o endereço. Irei

buscá-los o mais rápido que puder.

- Você pode anotar. Não estão na cidade porque é muito

perigoso. Eu os escondi num rancho próximo a cidade.

Vou explicar, não será difícil de encontrar. Ela pediu para

avisar o senhor Paulo.

Miguel explicou detalhadamente como chegar no rancho,

quando se despediu, Márcia apressou-se em dizer.

- Gostaria de agradecê-lo desde já senhor Miguel.

- Não precisa agradecer não dona.

Depois dessas palavras apenas desligou.

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308Paulo recebeu a notícia com muita alegria, mas

manteve o plano de entregar o resgate, para pegar os

responsáveis com maior segurança.

Combinou com Márcia, ela viajaria com eles. Informou

seu João sobre o ocorrido e a mudança dos planos.

Pediu que se dirigisse à residência de Márcia para apanhá-

la, para juntos buscarem Ana e sua família.

Sua vontade era poder ir ao encontro de Ana, mas tinha

outras coisas em mente, não queria chamar a atenção.

A notícia da libertação de Ana foi a melhor que recebera

nos últimos tempos. Agora deveria prosseguir com o

plano.

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LINHAS DO DESTINO

309

Capitulo setenta e oito

POR ÁGUA ABAIXO

A noite foi tranquila faltava pouco para resolver todos os

assuntos pendentes e deixar o país.

Escolheu um terno impecável, o sapato muito bem

engraxado realçava o cuidado com a aparência, um hábito

notado por todos os seus. Saiu em direção à estrada que

dava acesso ao local do cativeiro.

Não tinha pressa, teria que esperar a ação de Fininho,

somente depois entraria em ação para acertar tudo e

terminar o serviço.

Depois de algum tempo dirigindo, resolveu parar em um

restaurante a beira da estrada para almoçar. Não sabia

quando teria outra oportunidade para alimentar-se.

Resolveu sentar-se próximo à janela, aproveitar a brisa e

vigiar o movimento na entrada. Ao olhar para a porta de

entrada notou duas garotas que entravam naquele

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310momento, teve a impressão de tê-las visto antes em

algum lugar.

As duas vinham em sua direção mantendo uma conversa

animada, sentaram-se em uma mesa próxima.

O assunto que as duas tratavam era estritamente

comercial. Ouvir o que falavam deixou-o mais tranquilo.

Continuou a verificar o cardápio, pediu uma salada mista e

um filé de frango grelhado.

O restaurante típico de beira de estrada, um salão enorme.

Neste local, onde Heitor estava as mesas eram atendidas

por garçons. O setor mais reservado do estabelecimento.

No outro espaço havia um balcão com bancos, lá os

lanches rápidos eram feitos e servidos.

Finalmente um mercado para compra de diversos produtos

como biscoitos, guloseima e artesanato da região. Neste

ultimo, um policial a paisana dava cobertura as duas

agentes.

Enquanto almoçava o telefone de Heitor tocou.

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LINHAS DO DESTINO

311

Atendeu. A notícia da fuga dos reféns dada pelo pessoal

que estava no sítio deixou-o tão irritado que não conseguiu

segurar-se.

- Vou cortar vocês em pedacinhos e jogar para os urubus

se divertirem, depois terem uma indigestão. – Falou

sussurrando, mas com toda raiva que estava sentindo.

A notícia não podia ser pior, mas continuaria como

planejado. Torcia para que não conseguissem se

comunicar com Paulo.

Uma policial que o vigiava levantou-se e foi em direção

ao lavabo para poder informar-se sobre o que estava

ocorrendo.

Quando retornou, mostrou um papel toalha, enquanto

sentava, nele estava escrito (reféns livres apenas aguardem

ordens).

- “Estava muito calmo para ser verdade. Não sabia onde

estava com a cabeça quando contratou aqueles idiotas para

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312executar um plano simples como aquele”. – Pensou

Heitor.

Terminou de comer rapidamente enquanto pensava em

algo para contornar a situação.

Não conseguia entender como conseguiram deixá-los

escapar. Visivelmente alterado pagou a conta e saiu em

direção ao estacionamento.

Resolveu dar prosseguimento ao plano, pelo menos

tentaria conseguir o dinheiro. Acreditava que os reféns

seguiriam em direção a alguma cidade das redondezas

para entrar em contato. O dinheiro a essa altura já deveria

estar sendo entregue.

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Capitulo setenta e nove

CONTATO FINAL

A viagem fora excelente, assim que o helicóptero pousou

dois automóveis se aproximaram do aparelho.

- “Ainda bem que pedira mais um veículo”. – Paulo

pensou.

- Gostaria de ir com vocês, mas não vai ser possível.

Entregue isso para Ana, diga que junto está meu coração.

– Disse Paulo enquanto João pegava a pequena caixa de

madeira.

Em um dos automóveis Márcia e João seguiram para o

local onde Ana se encontrava.

No outro, Paulo e o delegado, levariam o dinheiro aos

sequestradores.

Enquanto combinavam os últimos detalhes da operação,

receberam uma ligação de um dos sequestradores.

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314- Você deverá seguir pela estrada indicada, a partir do

Km 183 procure deixar o dinheiro exatamente no local

marcado com a cor vermelha. O horário está mantido as

15h00min.

Antes que a ligação fosse interrompida, Paulo falou

duramente.

- Quero uma prova da integridade dos reféns. – Continuou.

- Não foi possível colocar a quantia toda num mesmo tipo

de bolsa, tivemos que colocar um pouco em uma bolsa

menor. Agora me dê uma prova de que todos estão bem?

- Eles estarão cinco quilômetros à frente... – Disse Fininho

sem a intenção de apresentar qualquer prova.

- Como vou ter a certeza de que estão bem? - Paulo

interrompeu-o em tom de desespero, para dar veracidade

ao caso.

- Não terá – falou friamente.

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- Apenas deixe o dinheiro no local indicado e siga cinco

quilômetros à frente, todos estarão sentados embaixo de

uma árvore.

A comunicação foi interrompida.

O doutor Juvenal entrou em contato com suas agentes

informando a necessidade de abandonarem suas posições

para não serem notadas, outro investigador já estava

aguardando a saída do meliante.

Um helicóptero da polícia estava à disposição do

delegado, mas aguardava instruções, caso houvesse

necessidade de uso seria acionado. Deu ordens para não

interpelarem o suspeito.

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316Capitulo oitenta

MANTENDO O PLANO

Fininho seguiu por cerca de dois quilômetros de distância

da ponte onde deixou a marca vermelha.

Entrou em uma estrada de terra, percorreu mais três

quilômetros, depois seguiu por um atalho a direita para

chegar a uma pequena clareira.

Estacionou seu carro entre as árvores, cobriu-o com alguns

arbustos. Foi até a margem do rio, subiu no barco de

alumínio que estava atracado. Antes de dar partida no

motor verificou as condições de suas armas.

Aguardou alguns instantes, já havia avaliado o percurso

por três vezes, não levaria mais do que 15 minutos rio

acima.

Acendeu um cigarro enquanto aguardava o tempo passar.

Terminado o tempo, acionou o motor do barco, que

respondeu rapidamente. Deu a volta e seguiu rio acima, o

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317

motor não era muito potente, mas o suficiente para levá-lo

até onde queria.

Como previsto o tempo foi próximo das tomadas

anteriores. Fez a manobra para deixar o barco no sentido

contrário e amarrou-o. Agora somente precisava aguardar

a entrega.

Dez minutos antes do horário marcado um automóvel

parou sobre a ponte.

- Acredito que seja esse o local para entrega, desde o

quilometro indicado à única coisa vermelha é este pilar da

ponte. – Comentou Juvenal em alta voz para poder ganhar

tempo e verificar a presença de alguém escondido.

- Vamos deixar aqui mesmo e seguir para o Km 188

conforme combinado os reféns estão lá.

A duas malas grandes e a maleta foram deixadas

encostadas no pilar da ponte. O automóvel abandonou o

local em seguida.

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318Fininho aguardou o telefonema de Heitor e deixou seu

esconderijo, verificou que as malas grandes estavam com

cadeados, à maleta pequena também estava trancada, mas

a chave estava amarrada na alça.

Rapidamente fininho abriu a maleta, seus olhos brilharam

ao deparar-se com aquela quantidade de dinheiro, Apenas

notas de 100 e 50.

- “Isso me daria uma vida mais tranquila”. – Pensou.

Imaginando as chaves das outras malas estarem no fundo

da maleta arrastou-as até a beira do riacho.

Com um pouco de esforço conseguiu colocá-las dentro do

barco.

Acionou o motor do barco e seguiu em direção do seu

automóvel, desta vez, o tempo gasto foi muito menor.

Retirou as sacolas do barco, colocou-as no porta-malas,

depois foi até o barco, soltou-o rio abaixo. Saiu em

direção do sítio para concluir o serviço.

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Capitulo oitenta e um

A AÇÃO COMEÇA

Antes de sair Juvenal olhou novamente, não viu nada

suspeito, apenas um carro que vinha ao longe, mesmo

assim resolveu deixar o local para não despertar a atenção

ou curiosidade.

Após percorrer 500 metros, recebeu um telefonema de seu

agente que informava a presença de Heitor próximo do

local indicado para a entrega do dinheiro. Pode ver pelo

retrovisor que não tinha parado, seguia em sua direção,

resolveu acelerar e achar um local para deixá-lo passar a

frente.

- OK! Estou vendo-o pelo espelho – Disse Juvenal ao

agente.

- Reduza sua velocidade e verifique quando pegarem as

sacolas.

– Mantenha-me informado. – Ordenou.

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320- O que vamos fazer agora Juvenal? – Paulo não

entendeu o que acontecia.

- Vamos sair da estrada e deixá-lo passar.

Depois de alguns quilômetros pararam na entrada de uma

fazenda, aguardaram que Heitor passasse por eles, alguns

minutos depois novo chamado pelo telefone é ouvido.

- Um homem pegou as sacolas, mas me pareceu que havia

saído do mato ou estava embaixo da ponte. – Informou o

agente.

- Fui investigar e o vi descendo o rio em um barco de

alumínio.

- Talvez aquela estrada secundária que passamos há pouco

seja o caminho que nossos amigos estão usando para fuga.

- Disse Juvenal enquanto fazia a volta.

- Por isso Heitor não passou por nós.

- Vou prosseguir e verificar o que aconteceu. – Informou o

agente Samuel.

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Após alguns minutos, que pareceram uma eternidade, a

resposta foi dada por Samuel, num tom de desespero.

- Doutor, o carro do Heitor está estacionado a uns dois

quilômetros da desova.

- Espere está saindo um carro do matagal. Agora os dois

estão vindo em minha direção.

- Eles poderão desconfiar de algo? – Era a última coisa

que Juvenal queria.

- Acredito que não – Respondeu Samuel.

- Onde você está? – Inquiriu Juvenal.

- Estou parado no acostamento uns 800 metros deles com

o capô aberto. Seria bom que vocês retornassem. –

Informou o agente.

- Já estamos a caminho, tenha cuidado Samuel.

Pelo celular, Juvenal entrou em contato com as duas

agentes.

- Estamos seguindo pela SP 2.8.0 próximo do Km 1.8.0. –

Respondeu à agente.

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322- Os suspeitos estão seguindo na sua direção. São dois

automóveis. Verifique as possíveis saídas da estrada.

- OK! Estamos a postos.

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Capitulo oitenta e dois

ENFIM A LIBERDADE

João e Márcia seguiram para o endereço fornecido.

Saíram da estrada principal e entraram em outra de terra

cheia de buracos. A ansiedade estava estampada no rosto

de Márcia. Ela pensava o que eles teriam passado nas

mãos dos sequestradores.

- Devo seguir até onde? - Perguntou João depois de um

solavanco.

- Depois de entrar na estrada de terra, disse-me que

haveria uma bifurcação, aí teremos que ir pela estrada da

esquerda por dois quilômetros. O rancho fica ao lado de

uma lagoa.

Alguns instantes depois chegaram ao encontro entre duas

estradas, que mais pareciam trilhas de tanto mato nas

laterais.

- A bifurcação é esta! – Disse Márcia.

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324- Agora já estamos quase chegando. – Comentou João

mostrando um sorriso de satisfação.

Os dois, muito emocionados, não conseguiam disfarçar a

vontade de encontrá-los rapidamente.

À medida que se aproximavam do lago somente o som dos

pneus derrapando nas pedras da estrada era ouvido.

Ao avistarem um homem com seus 60 e poucos anos, mas

ainda em pleno vigor físico, vindo em direção ao

automóvel que se aproximava a alegria tomou conta deles.

- Boa tarde! – Disse Miguel.

- Boa tarde! – Respondeu João.

- O senhor se chama Miguel?

- Sim e o senhor como se chama? – Perguntou com

desconfiança.

- Meu nome é João, esta é Márcia. Somos amigos de Ana,

viemos buscá-la.

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Antes mesmo de fazerem as apresentações Ana, ao ouvir o

nome da amiga, apareceu na porta. Ao vê-la, saiu correndo

em sua direção.

As duas se abraçaram, se beijaram e choraram como

crianças. Márcia tinha esquecido que ainda não estava

completamente curada, mas não se importou com a dor.

- Estava morrendo de saudade de você. – Disse Ana ainda

soluçando.

Márcia queria falar algo, mas não conseguia para de

soluçar, apenas balbuciou alguma coisa que Ana não

conseguiu entender.

Em seguida Luís e dona Marta saíram e novamente o

choro recomeçou. Depois de algum tempo tentando falar,

Márcia conseguiu finalmente ser entendida.

- Tenho algo para te entregar. Disse Márcia.

Quando João levou a caixa, Ana abriu-a, uma língua

começou a lamber sua mão. Saiu latindo e abanando o

rabo de felicidade e alivio de ter saído da caixa.

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326- Tobias meu lindo, você também veio? - Ana pegou-o

no colo e começou a fazer carinho no cachorrinho.

Estava todo limpinho, bem cuidado. Trazia no pescoço

uma coleira com a inscrição Tobias.

- Você está lindo Tobias e cheiroso também quem cuidou

de você assim?

- Paulo. – Informou Márcia.

- Ele pediu para desculpá-lo por não estar aqui, mas disse

que o seu coração estava representado pelo Tobias.

- Bom pessoal! – Interrompeu seu João.

- O assunto está bom, mas temos uma longa viagem pela

frente.

- Gostaria de te agradecer Miguel por tudo o quanto fez

por todos nós. – João estava muito emocionado.

- Paulo pediu para o senhor fornecer seu endereço ele quer

agradecer-lhe pessoalmente.

- Se quiserem vir fazer uma visita minha casa estará aberta

e o meu coração também, mas não é necessário

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LINHAS DO DESTINO

327

agradecimentos, já tenho muitas bênçãos na minha vida,

essa foi mais uma que o bom Deus deu-me.

Ana, que apesar de estarem juntos por poucas horas,

aprendeu a admirar aquele homem simples, integro que

punha nas palavras a sua verdade, a honestidade o amor e

o respeito pelo próximo e pela natureza, que fazia o bem

simplesmente pelo prazer de ajudar seu próximo sem

esperar nada em troca.

Quando Ana perguntou se o homem que ele carregou para

o mato estava morto, deu um sorriso, no seu jeito simples

respondeu que somente a Deus era dado esse poder, bem

ou mal, aquele pobre infeliz não tivera oportunidade de

aprender outra coisa, por esse motivo agira daquela

maneira.

Ele acreditava que todos os homens um dia poderiam ser

mudados. Aquele infeliz já deveria ter acordado, pois o

efeito do tranquilizante era temporário, riu pensando na

dor de cabeça que teria.

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328Ana pensou em dona Raquel e percebeu que Deus

havia espalhado diversos anjos no mundo, um diferente do

outro, mas com o mesmo pensamento, servir a Deus.

Márcia entregou uma sacola, todos trocaram as roupas.

Na hora da despedida, Ana abraçou Miguel, agradeceu

tudo o que ele tinha feito, deu-lhe um beijo, as lágrimas

escorreram pelo rosto dele.

- Você se parece com minha filha, ela sempre me faz

chorar. – Disse visivelmente emocionado.

Todos se ajeitaram no carro, Miguel foi deixado próximo

a sua casa.

Seguiram para o local onde estava o helicóptero. A tarde

estava chegando ao seu final, o sol estava se despedindo

com um colorido especial dando a oportunidade aos

homens de apreciarem um dos maiores espetáculos do

universo, pena que nem todos queiram assistir.

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Capitulo oitenta e três

O CERCO SE FECHA

A comunicação entre as agentes e o doutor Juvenal se

intensificou. Estavam muito próximos dos fugitivos, não

queriam perdê-los agora.

Em dado momento viram uma estrada de terra que servia

apenas para o trânsito local, nela a poeira levantada pelos

automóveis que trafegavam em alta velocidade chamou

atenção.

- Estamos numa saída próxima ao Km 1.8.1 e dois carros

seguem por ela com destino a algum sítio da região. -

Disse uma das agentes.

- OK! Estamos chegando. Já avistamos vocês.

Doutor Juvenal entrou na estrada em alta velocidade,

quase capotou o automóvel.

- Acredito que Heitor tenha comprado alguma propriedade

nesta região. – Informou Paulo.

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330- Ele me convidou para uma visita, mas não foi

possível.

Ao longo da estrada ladeada por árvores enormes e pastos

onde os animais pastavam livremente, após uma curva,

notaram que os automóveis dos bandidos haviam parado

numa propriedade.

Juvenal estava sendo seguido por sua equipe, apenas

aguardou que se aproximassem para capturarem o bando.

O dia estava terminando o sol já estava se pondo quando

todos os agentes se posicionaram.

Assim que a noite caiu ouviu-se três tiros, a tensão

aumentou entre os agentes. Não tinham ideia do que

estava acontecendo.

Pelo celular, Juvenal determinou que ficassem em suas

posições e só atacassem quando fosse dada a ordem.

Minutos mais tarde mais dois tiros foram ouvidos.

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Capitulo oitenta e quatro

A PERSEGUIÇÃO

Heitor e Fininho depois de pegarem as bolsas, seguiram

em direção ao sítio, ainda tinham um trabalho a fazer.

Chegaram ao local pouco antes do por do sol.

Os três capangas aguardavam a chegada do chefe e de

Fininho, não viam a hora de receberem seus pagamentos,

apesar do erro que cometeram o resgate fora pago.

Heitor entrou, seguido de perto por Fininho, os dois

sentaram e pediram uma bebida.

- O que temos para beber aqui? - Temos que comemorar. –

Disse Heitor.

- Temos cerveja. – Respondeu um dos capangas se

encaminhando para a geladeira.

Todos sentados beberam e comemoraram o êxito do golpe.

Enquanto Heitor comentava sobre quando deveriam deixar

o local do cativeiro, Fininho levantou-se, caminhou em

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332direção a geladeira, pegou sua pistola, virou-se

desferindo um tiro em cada um dos comparsas.

Os estampidos foram seguidos e certeiros, não deram

tempo para qualquer reação.

Heitor que a tudo assistia pediu para Fininho pegar mais

duas cervejas, aguardou até que se virasse de costa, pegou

a arma de um dos capangas mortos e atirou.

Fininho ouviu um estampido e sentiu algo queimar suas

costas, em seguida outro estampido, mas dessa vez não

teve tempo de sentir mais nada, o projétil estourou seus

miolos fazendo seu corpo despencar no chão.

Calmamente, Heitor abriu a geladeira, pegou outra cerveja

e tomou mais um copo. Comemorando o êxito do plano

saboreou-a. Ao seu lado apenas corpos inertes daqueles

que dariam suas vidas por ele.

Pegou a sacola que havia trazido para fingir uma divisão e

poder colocar seu plano em prática.

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Saiu lentamente em direção ao carro onde o restante do

dinheiro estava. Sem perceber, tropeçou, imediatamente

sentiu uma dor no calcanhar, como se rompesse o tendão

de Aquiles.

Abriu a porta do automóvel e entrou. A chave, que ainda

continuava no contato, foi acionada e imediatamente o

motor começou a rugir.

Quando estava quase chegando à porteira que dava acesso

a estrada viu que estava bloqueada, ao perceber o que

estava acontecendo começou a entrar em pânico.

Sacou sua pistola, verificou se estava devidamente

municiada, seguiu em alta velocidade tentando intimidar

os ocupantes do automóvel que estavam bloqueando sua

passagem, mas quem estava no volante não estava

disposto a deixá-lo ir.

Retirou o braço para fora da janela, começou a atirar.

Não conseguiu acertar nenhum dos tiros no alvo. A dor no

pé torcido teimava em aumentar. Resolveu fazer uma

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334manobra arriscada como ultima cartada. Pisou no

pedal do acelerador, o automóvel patinou, quando tocou a

grama, derrapou até começar a ganhar velocidade.

Dentro do outro automóvel Paulo e Juvenal aguardavam o

momento para o ataque, mas quando perceberam a

intenção de Heitor, era tarde, não conseguiram segurá-lo

porque acabara de passar pela cerca de arame farpado e

ganhar a estrada em alta velocidade.

- Mas que filho de uma puta ele conseguiu fugir. - Os dois

gritaram ao mesmo tempo.

- Vamos atrás dele Juvenal. – Paulo gritou.

Imediatamente Juvenal acionou a ignição, seu veículo saiu

em disparada. Iniciou-se uma perseguição em meio às

estradas por entre as plantações.

Pelo celular pediu reforço para o Samuel e ordenou que as

agentes averiguassem o sítio. A escuridão dificultava a

localização de quem se aventurasse naquelas plantações de

cana-de-açúcar, havia estradinhas que seguiam para

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LINHAS DO DESTINO

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diversas direções. Um automóvel sem iluminação poderia

facilmente esconder-se em qualquer lugar.

- Tenho a impressão que o perdemos. – Disse Juvenal se

lamentando.

- Devia ter pedido mais reforço antes, assim teríamos

cercado todas as possibilidades de fuga. – Lamentou-se.

- Mesmo se tivéssemos um exército aqui ele teria

escapado. – Disse Paulo contemporizando.

- Ele conhece isso aqui como a palma da mão, vinha para

esses lados desde criança.

Nesse momento o telefone de Juvenal toca e quem dá a

notícia sobre o massacre é Lúcia uma das agentes.

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336Capitulo oitenta e cinco

BOAS NOTÍCIAS

A noite caia quando eles chegaram na empresa locadora

de veículos. Ana não conseguia esconder a vontade de

falar com Paulo, mas tinha receio que atrapalhasse algo.

João também não parava de olhar para seu celular, chegou

a ligar algumas vezes, mas uma voz feminina dizia não ter

mensagem para ser ouvida.

A seu pedido todos foram a um restaurante simples para

comerem alguma coisa. Pediam seus pratos, um telefone

tocou, aconteceu uma tremenda confusão. Todos queriam

atendê-lo ao mesmo tempo.

João atendeu, mas não falava nada apenas ouvia fazendo o

restante do grupo ficar mais curioso.

- Eles perderam o patife. – Disse decepcionado, voltando a

atender o celular.

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LINHAS DO DESTINO

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- Sim estamos todos ótimos, aguarde um minuto vou

passar para ela. – Entregou o aparelho sorrindo.

- É para você.

Ana ao ouvir as palavras de João começou a tremer dos

pés a cabeça.

Paulo falou seu nome, seus olhos começaram a brilhar e

encher de lagrimas. Todos estavam prestando atenção à

conversa tentando adivinhar o que ele falava.

- Oi! – Estou bem e você? – Onde vocês estão? –

Perguntou ela.

- Estamos preocupados... Eu estou preocupada... Num

restaurante próximo da locadora... Posso esperar... Você

vai demorar?

Houve uma pausa na resposta de Ana, mas todos

entenderam o que se passava à medida que seu rosto

corava.

- Também. Outro pra você.

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338Imediatamente uma salva de palmas foi ouvida. Paulo

começou a rir do outro lado.

- Estarei esperando. – Disse antes de desligar.

Márcia aproveitou, pediu para avisar dona Raquel que a

essa altura deveria estar desesperada querendo saber

alguma novidade.

O dia se arrastara, as visitas aos enfermos foram às únicas

coisas que conseguiam fazê-la esquecer de Ana.

Não recebera notícia alguma sobre ela e estava

preocupada. Resolveu fazer um chá para se acalmar.

A água estava quente, adicionou a erva e desligou o fogo.

Foi pegar a xícara, o telefone tocou. Na pressa de atender,

quase caiu quando tropeçou no tapete da sala, ao ouvir a

voz de Ana, não conseguia falar nada apenas soluçava. Em

pensamento, agradecia a Deus,

- Tudo bem com a senhora? – Perguntou Ana.

Dona Raquel depois de alguns instantes finalmente

conseguiu responder.

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- Comigo está tudo bem!

- Como vocês estão?

- Aqui estamos todos ótimos. Estou com muita saudade de

você. – Disse Ana chorando.

- Você nem imagina como me deixou feliz agora. Quando

vão voltar?

- Estamos apenas aguardando Paulo, que já está a

caminho, assim que puder retornaremos. Obrigada por

preocupar-se conosco.

- Então fica com Deus, um beijo e até mais tarde.

Quando Ana desligou Raquel fez uma oração em

agradecimento a Deus pela ótima notícia. Agora poderia

tomar seu chá com mais alegria.

Sentou-se na cozinha, enquanto sorvia o chá com algumas

bolachas pensou em tudo o que Ana passou.

Pediu pelos sequestradores para que fossem perdoados

porque não conhecia aquela doce garota.

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340Capitulo oitenta e seis

O DESENHO DE UM CRIME

Quando chegaram para verificar o local do cativeiro

encontraram uma cena típica dos filmes de terror.

Havia três corpos sentados, um ao lado do outro, cada um

com um tiro na cabeça, um estava segurando uma arma.

Em frente aos três e mais próximo da porta da cozinha,

estava um homem deitado de bruços com a cabeça virada

para o lado esquerdo. Apresentava dois ferimentos, um

nas costas e outro ao lado da cabeça acima da orelha

esquerda.

- O que você acha sobre o acontecido aqui? – Perguntou

Paulo.

- Este próximo da porta atirou nos três sentados à mesa.

Pelo posicionamento dos corpos foram três tiros certeiros,

não deu tempo para reação alguma.

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LINHAS DO DESTINO

341

Depois de ter matado os três recebeu os dois tiros que

saíram dessa arma que foi deixada na mão deste aqui, mas

quem a usou não foi esse infeliz e sim o nosso fugitivo.

Heitor esteve assistindo de camarote, com um copo de

cerveja na mão. – Disse Juvenal cheirando o conteúdo de

um copo deixado um pouco afastado dos três.

- Vamos preservar o local do crime até que a perícia

chegue, vou pedir para o Samuel levar você, quando

prendermos Heitor será informado.

Paulo agradeceu toda a ajuda recebida, ao sair Samuel o

aguardava incumbido de levá-lo até o local onde o restante

do pessoal estava.

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342Capitulo oitenta e sete

UM IMPREVISTO

Finalmente conseguiu despistar o automóvel que estava

seguindo-o. Felizmente conhecia a região como ninguém.

Aquele local era um esconderijo perfeito.

De onde Heitor estava pôde ver as luzes do automóvel que

o perseguia se afastar. Deveria esperar algum tempo para

certificar-se de estar seguro e poder sair do esconderijo.

À medida que o tempo passava seu calcanhar doía mais.

Uma sensação de calor que subia do local provocava

calafrio em todo o corpo, indicando um possível estado

febril.

Levantou a barra da calça retirou o sapato, quando

abaixou a meia e olhou para avaliar a situação ficou

horrorizado. O tornozelo estava muito inchado e

apresentava uma coloração arroxeada.

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A luz de leitura do automóvel não permitia uma

visualização boa do local, mas pôde ver que havia sangue

em dois pontos.

Resolveu passar num pronto-socorro médico. Ligou o

automóvel, mantendo as luzes apagadas, saiu em direção à

cidade vizinha, por estradas de terra evitando a rodovia.

Por sorte a estrada estava boa. Há muito tempo que não

chovia. O tempo gasto foi bem maior, pois o caminho era

mais longo, mas era a única solução.

Ao parar em frente ao hospital sentiu-se aliviado por ter

chegado, não conseguia mais embrear o carro e sua visão

estava começando a ficar turva, parecia que estava

acontecendo uma desordem generalizada no seu corpo.

Quando finalmente chegou ao balcão de atendimento não

conseguiu ficar em pé.

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344Capitulo oitenta e oito

JUNTOS NOVAMENTE

Todos estavam sentados conversando e aguardando o

jantar, quando o automóvel parou no estacionamento.

- Você tem certeza de que não quer jantar conosco? –

Perguntou ao agente.

- Tenho, obrigado. Temos muito trabalho pela frente.

- Então poderia, pelo menos, levar alguns sanduíches para

você e o restante do pessoal. – Disse Paulo.

- Não aceito não como resposta.

Quando Paulo chegou na porta de entrada seu coração

começou a disparar, suas mãos começaram a suar, parou,

respirou fundo e entrou.

Ana estava sentada de costa. Paulo viu pela primeira vez

que estava com os cabelos soltos, sua voz soava como

uma música suave.

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Não conseguiu segurar a emoção, parou na porta

apreciando a cena. Todos olharam em sua direção

instintivamente Ana virou-se. Não disse nada apenas um

sorriso brotou em seus lábios. Não tinha ideia de quão

linda era ela, o brilho daqueles olhos azuis e o sorriso

franco faziam-na uma deusa.

Ela levantou-se, caminhou em sua direção com

sensualidade e graça. Paulo deixou as muletas caírem.

Procurou apenas manter o equilíbrio, ela apressou o passo

não queria perder mais tempo para estar nos braços

daquele homem que já era seu grande amor.

Suas mãos se tocaram, seus olhares não viam outra coisa

senão um ao outro, não foi necessário uma só palavra para

dizerem o que sentiam, o amor estava sendo declarado no

encontro de seus lábios, no carinho da busca de suas

línguas. Os corações pararam, a respirações pararam, o

tempo parou, o mundo parou, somente eles giravam.

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346Depois de alguns minutos foram em direção à mesa,

quando Paulo sentou-se Tobias, que estava no colo de

Luís, fez festa para ele, todos riram da cena.

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Capitulo oitenta e nove

MARCAS DA VIDA

Sentado naquela cadeira no canto do quarto ouvia seu pai

dizer que ele não seria nada na vida, que seu final seria só,

largado num local qualquer, porque não conseguia amar

ninguém, a não ser ele mesmo e o dinheiro.

Ouvia um grito abafado que teimava em não sair.

- “Eu te amo só você que não percebe”.

Imediatamente a cena que via passar agora era o da garota

a seu lado toda machucada, não soube dizer o que

aconteceu para perder a direção e bater naquele poste.

Só recordava-se de um carro em alta velocidade que

colidiu com o seu. Não podia acreditar que a pessoa que

mais amava estivesse ali inerte, sem vida.

As cenas de sua vida passavam pela sua mente em

desordem total. Viu quando Paulo lhe deu um abraço de

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348boas vindas. Ouvia vozes, que às vezes sussurravam,

outras parecendo um turbilhão dentro da piscina.

- Não podemos perdê-lo ele foi envenenado, pelo que

estou vendo foi mordido por uma cobra, deem uma olhada

nestas perfurações. Vamos administrar soro antiofídico e

aguardar.

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Capitulo noventa

TUDO EM SEU LUGAR

A volta para casa foi muito agradável, estavam felizes,

Paulo não sabia o que fazer para agradá-la e recuperar o

tempo perdido.

- Acho melhor vocês ficarem em minha casa até que tudo

se resolva, encontrem Heitor e o coloquem na cadeia. –

Disse Paulo.

- Pretendo ficar em minha casa é mais pratico minhas

coisas estão lá, imagine ter que fazer uma mudança por

alguns dias, não vale a pena, acredito que ele não voltara

mais. – Respondeu Ana.

- Preciso agradecer ao senhor Miguel por ter cuidado de

você, não sei o que seria se te perdesse. – Paulo comentou

emocionado.

- Não me perderá mais. – Ana beijou-o.

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350O cansaço havia tomado conta de Luís, que procurou

se aninhar no colo de sua mãe, Tobias não se fez de

rogado e deitou no colo de Paulo.

- Vocês estão bem arranjados com esses dois. – Disse

dona Marta sorrindo.

- É bom ter companhia sempre e o Tobias já sabe que

adoro carinho. Já faz muito tempo que não me sentia tão

feliz. – Confessou Paulo.

A madrugada já estava iniciando quando chegaram na

residência de Márcia, foi quando um automóvel

estacionado em frente ao portão deixou todos apreensivos

exceto ela que reconheceu ser de Guilherme.

Quando o Van parou, Márcia desceu o semblante dele

iluminou-se num sorriso.

- Estava preocupado, não consegui falar com você em

telefone nenhum. Cheguei aqui, não te encontrei fiquei

desesperado.

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- Liguei para Ana só dava caixa postal, foi uma loucura,

não sabia mais o que fazer. - Desabafou Guilherme.

- Agora está tudo bem, depois te explico com calma tudo o

que aconteceu. – Contemporizou Márcia com um abraço e

um beijo.

- Quase esqueci de te apresentar, este é Paulo o namorado

de Ana.

- Nos já nos conhecemos quem o deixou neste estado

lastimável fui eu. – Disse Guilherme sorrindo.

- Como você está?

- Já me acostumei com essas coisas. – Apontando as

muletas.

- Como foi a viagem? – Perguntou Paulo.

- Não foi muito boa porque a Márcia não estava comigo. -

Disse dando uma piscada.

Todos riram ainda mais agora que estavam todos juntos e

felizes.

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352Capitulo noventa e um

CHECANDO TODAS AS PISTAS

O agente chegou com os lanches que Paulo tinha

oferecido, o doutor Juvenal fez um comentário onde

demonstrou toda sua admiração.

- Esse é um tremendo amigo está sempre pensando nos

outros.

A quantidade de sanduíches foi tamanha que até o pessoal

da perícia se deliciou, apesar do local não ser o mais

apropriado para comer, mas não se importaram.

O delegado recebeu um telefonema e saiu para averiguar.

Horas depois, estava na sala com o doutor Fernando K.

Sato, chefe da equipe médica, que atendeu um paciente

quase sem sentidos, que continuava em observação.

- Atendemos um homem, ele chegou sozinho na recepção

e antes de ser atendido, perdeu a consciência e desmaiou.

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Estava com o pé esquerdo num estado muito avançado de

infecção, necrose, suspeita de insuficiência renal.

Provocada pela picada de uma cobra muito venenosa.

- Uma cobra? - Porque os senhores ligaram para a polícia?

- Havia um automóvel estacionado na porta do pronto-

socorro com a porta e o vidro aberto, como estava

atrapalhando o estacionamento da ambulância, foram

verificar e encontraram uma arma que estava no banco

dianteiro e uma sacola cheia de dinheiro. Algumas

testemunhas descreveram este homem como sendo o dono

do veículo. – Completou o médico.

- O paciente onde e como ele está?

- Está sendo medicado, mas ainda inconsciente e não está

fora de perigo. – Concluiu o doutor Sato.

- Um policial fará plantão na porta do quarto e quando

retornar a consciência deverá nos avisar. - Disse o

delegado.

- As chaves do carro onde estão? – Perguntou Juvenal.

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354- Na recepção, juntamente com todos os seus

pertences.

- OK! Vamos fazer uma busca no automóvel porque ele é

acusado de sequestro e suspeito de homicídio.

Quando abriram o automóvel, encontraram as sacolas

grandes e a pequena, onde estava todo o dinheiro.

As sacolas grandes ainda fechadas indicavam que não se

preocuparam em verificar seu conteúdo, nem sabiam de

tratar-se de papéis picados.

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Capitulo noventa e dois

DE VOLTA A ROTINA

A sós na sala conversavam sobre o futuro, mas estavam

mesmo interessados era no presente.

- Tenho que retornar ao trabalho o mais rápido possível,

afinal estou fora há bastante tempo, não sei como vou

encontrar a empresa. – Disse Paulo.

- Devo verificar os prejuízos, porque as pessoas e suas

famílias dependem desse emprego, vou fazer o possível

para não abrir falência.

- Estarei ao seu lado para te ajudar no que for preciso. –

Ana falou com entusiasmo tentando elevar o seu moral.

Paulo e João se retiraram, quando Ana lembrou-se do que

aconteceu verificou que tudo estava em ordem, inclusive a

porta que tinha sido arrombada.

Imediatamente seus instintos lhe mostraram que o

responsável seria Paulo e sorriu.

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356Quando olhou para o relógio, depois de tanto barulho,

viu que já era hora de levantar-se e não acreditou.

- “Não dormi ainda, o despertador esta tocando?” –

Pensou Ana.

Viu a claridade através da janela, resolveu acreditar no

relógio que marcava 5h00.

Começou a tomar um banho quente para tirar o cansaço do

corpo e poder despertar com mais alegria.

Enquanto colocava seu uniforme sentiu um cheirinho de

café sendo feito e lembrou-se que sua mãe estava

passando uma temporada com ela.

Passou pelo quarto de Luís e acordou-o com um beijo.

Pediu que levantasse rápido para tomar um banho para ir a

escola.

Apesar de tudo estava muito feliz, ao dar um beijo de bom

dia sua mãe agradeceu a Deus por estarem todos bem.

Sabia que ninguém saia de um sequestro sem nenhuma

cicatriz.

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Como sempre, estava agradecendo a Deus a boa noite e

pedindo para todos terem um bom dia, quando foi tocada

no ombro, ao virar-se não acreditou no viu.

Dois anjos vestidos de branco sorriam para ela.

- Se puderem, por favor, me belisquem para ter certeza de

que ainda estou na terra ou se parti. – Sem dó as duas

beliscaram dona Raquel.

- Ai, não precisava ser tão forte. – Disse sorrindo e pela

primeira vez as lágrimas caíram de forma contínua.

- Beliscamos muito forte. – Ana disse, chorando sem

conseguir dizer mais nada.

Ficaram abraçadas até que Márcia para amenizar a

choradeira disse:

- Vamos trabalhar senão esvaziaremos a alma por

completo e alagaremos o hospital.

Deram-se as mãos e um brado de guerra e de união soou.

- Uma por todas e todas por uma. – Como se tivessem

ensaiado.

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358Capitulo noventa e três

ASSUMINDO OS NEGÓCIOS

A notícia o pegou de surpresa o telefonema do doutor

Juvenal informando todo o ocorrido com Heitor e o seu

falecimento, fez Paulo pensar nos acontecimentos que o

levaram a esse fim trágico, mas previsível.

- “Tudo poderia ter sido diferente”. – Pensou.

Considerava Heitor como a um irmão e torcia para que ele

progredisse, mas a ganância tomou conta do seu coração.

Tinha plano para o futuro. Heitor se castigou por nunca

estar contente com o que tinha.

Olga, na sua frente, aguardava para anunciar a primeira de

uma serie de reuniões com fornecedores para solucionar o

problema de pagamento e crédito.

Apesar de constrangedor, para um homem que sempre

honrou seus compromissos, tratar de assuntos como falta

de pagamentos e prorrogação de prazos.

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Era necessário para o bem da organização.

- Senhores o intuito de nossa reunião é acertarmos todos

os débitos que temos e voltarmos a ter um relacionamento

de confiança mútua que tínhamos até alguns meses

atrás...- Em todas elas a mesma explicação o mesmo

pedido.

A grande maioria aceitou o acordo, porem uma pequenina

parte não se dispôs a fazer acordo nenhum.

- Pelo menos esse acontecimento serviu para separarmos o

joio do trigo, os que te consideram apenas um cliente,

daqueles que tem em você um parceiro e um aliado. –

Comentou como um pequeno desabafo.

- Fortaleceremos nossas relações com os parceiros e

aliados. – Disse Olga sorrindo.

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360Capitulo noventa e quatro

QUANDO AS LINHAS SE ENCONTRAM

De cada lado orquídeas enfeitavam o caminho por onde

deveria passar, não muito distante um jardim enorme de

rosas, tulipas e arranjos de cores variadas completava a

decoração.

Alguém muito importante em sua vida a entregaria a outro

que se tornou também muito importante.

Preparando-se para entrar o nervosismo tomou conta do

seu ser.

A orquestra iniciou os primeiros acordes da música de

Félix Mendelssohn seu coração disparou.

Quando se iniciaram as primeiras notas da Marcha

Nupcial as portas se abriram. Como uma deusa imponente,

começou a ser conduzida pelo cavalheiro todo orgulhoso

que caminhava ao seu lado para o altar.

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Os convidados ao vê-la linda emocionaram-se, todos de

pé, rendiam-lhe homenagens. Seus lábios trêmulos

indicavam todo seu nervosismo. Fez daquela cerimônia

algo inesquecível.

Ana viu Paulo que a aguardava no início da pequena

escada que dava para o altar, à direita os padrinhos dele,

seu João e dona Alzira, Juvenal e Olga e para sua surpresa,

seu Miguel e sua filha mais velha.

Do outro lado estavam Guilherme e Márcia, Fábio seu

irmão e sua mãe Marta, e dona Raquel que não parava de

chorar.

Os bancos estavam lotados, funcionários da empresa de

Paulo e os funcionários do hospital, pelo menos os que

estavam de folga.

Quando Luís lhe deu um beijo e a entregou a Paulo teve

que fazer um esforço gigantesco para não chorar.

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362Paulo por sua vez não sabia o que fazer para disfarçar,

mas estava bastante emocionado. Quando o padre falou

que podia beijar a noiva não se fez de rogado.

Na festa, quando Ana jogou o buquê, Márcia mesmo

depois de tanto ensaiar, não conseguiu pegá-lo. O tão

cobiçado troféu foi parar nas mãos de dona Marta.

A propósito Tobias estava aguardando o término da

cerimônia no carro da noiva.