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LINHAS DO DESTINO
1
A Deus, que me abençoa de várias formas.
A minha esposa, por todos esses anos de lutas.
A Nair, pela capa e incentivo.
A Sueli por ler meus rascunhos.
A todos, que contribuíram para um sonho virar realidade.
L.P.OWEN
2Capitulo 1
A ROTINA
O dia estava amanhecendo o movimento costumeiro de
todas as manhãs já era notado.
Enquanto Ana terminava de preparar a mesa para o café da
manhã, Luís colocava seu material escolar na bolsa.
Roberto, como sempre, estava pronto. O terno bem
alinhado. A camisa combinando com a gravata, os sapatos
limpos e engraxados, sem contar o perfume que exalava.
Da cozinha ouvia-se o ruído de mesa sendo arrumada e o
cheiro do café invadia o restante da casa.
- Querida, hoje meu dia vai ser corrido, terei reuniões e
devo chegar por volta das vinte horas - disse Roberto.
Ana e Luís nem se preocupavam em responder, porque
sabiam que chegaria muito mais tarde.
- Quantas matérias têm hoje meu filho? - Perguntou
Roberto.
LINHAS DO DESTINO
3
- Tenho cinco aulas - respondeu o garoto.
Luís sempre se questionava porque seu pai lhe perguntava
sobre seus afazeres se não tinha a menor intenção de ouvi-
lo. Sempre que iniciava a resposta seu pai já estava dando
um beijo de despedida em sua mãe, fechando a porta ao
sair.
Já fazia tempo que seu pai já não era mais o mesmo.
Lembrou-se do campinho que fizeram atrás da garagem. O
dia em que a grama fora colocada. A pintura das traves,
até o tempo de espera para que a grama fixasse no solo.
Apenas usado por duas ou três vezes.
Notou também que sua mãe já não desfrutava da
companhia do pai, que já estivesse acostumada não
ligando mais. No início chegou a ouvi-la chorar, mas o
tempo passou apenas via sua indiferença aumentar a cada
dia.
- Meu filho, você já terminou seu café? Estamos
atrasados!
L.P.OWEN
4Durante o trajeto, que durava aproximadamente 15
minutos até a escola, conversaram sobre vários assuntos.
Ana deixou Luís no portão de entrada da escola e seguiu
em direção ao centro da cidade a caminho do trabalho.
Não era nada fácil, mas gratificante. As pessoas de quem
cuidava estavam sofrendo, a única forma de aliviar suas
dores era tratá-las com muito carinho e respeito e isso ela
tinha de sobra.
No começo tinha pensado em desistir porque presenciara a
morte de um garoto. Pensou na dor da mãe e ficou muito
abalada.
Márcia, sua grande amiga, disse a ela que o melhor era
pensar nas pessoas que ela estava ajudando a salvar. Foi
por isso que Ana conseguiu superar essa fase.
Ana era uma mulher culta e de uma beleza que até
chegava a impressionar, seus cabelos castanho-escuros
contrastava com os olhos azuis em formato de amêndoa.
LINHAS DO DESTINO
5
Com um corpo escultural, em seus 1,75m e 65kg, faziam-
na uma mulher admirada.
Sempre bem vestida com seu uniforme impecavelmente
limpo, com caimento perfeito, causava admiração em
todas as pessoas, até de suas colegas de trabalho.
Por mais que era admirada mantinha-se humilde, os
elogios não lhe subiam à cabeça.
Estudou enfermagem, uma de suas paixões. Quando
atendia algum enfermo sempre o fazia com muito carinho.
O sentimento de gratidão, que todos sentiam por ela, era
enorme.
Após trinta minutos dirigindo chegou finalmente no
estacionamento reservado para os funcionários do
hospital. Como sempre, cumprimentou o porteiro seu José
com seu sorriso contagiante.
Na sala reservada às enfermeiras, Márcia encontrou a
enfermeira Chefe, que a cumprimentou e imediatamente
L.P.OWEN
6entregou-lhe uma prancheta com os prontuários dos
enfermos que seriam medicados.
Normalmente tinham uma breve conversa, mas, neste dia,
o hospital estava com um volume de internações e
emergências muito elevado e não tiveram tempo nem
mesmo para um pequeno diálogo.
No corredor viu acompanhantes que choravam, outros que
andavam de um lado para o outro, não conseguindo
esconder a expectativa de alguma notícia do estado de
saúde de seus entes.
Nesse momento pedia a Deus que a ajudasse a diminuir o
sofrimento de seus semelhantes. Pedia forças para suportar
todas as dificuldades daquele dia.
Entrou no quarto do 1º paciente do dia para verificação de
rotina, era um garoto com oito anos de idade, que quebrou
o braço e permanecia em observação. Tinha caído de uma
altura de 3 metros ao subir em uma árvore para salvar seu
gato.
LINHAS DO DESTINO
7
- Bom dia! - Disse sorrindo - Como está se sentindo Caio?
- Mais ou menos, estou com um pouco de dor. Quem é
você?
- Meu nome é Ana, vou cuidar de você e se precisar de
alguma coisa é só apertar esse botão ao seu lado e virei o
mais rápido que puder.
- Agora te darei um remédio para diminuir a dor. - Falou
sorrindo.
Enquanto preparava a medicação aproveitou para
conversar e distraí-lo um pouco.
- Você tem irmão?
- Só tenho uma irmã e o seu nome é Sara. Ela tem três
anos.
- Você ajuda a mamãe a cuidar dela?
- Às vezes sim, mas ela fica mais com minha mãe. –
Tomou o remédio fazendo uma careta de nojo.
- Prontinho Caio! Daqui a pouco o remédio fará efeito e a
dor vai sumir. Logo você estará bonzinho.
L.P.OWEN
8Neste momento no alto-falante, ouviu seu nome sendo
chamado. Sua presença era solicitada na sala de
emergências.
Ana despede-se de Caio e imediatamente sai para atender
ao chamado.
Quando chega, o ambiente que encontra é parecido com
um campo de guerra, um verdadeiro caos. Médicos e
enfermeiras se dividiram em equipes para atenderem
algumas pessoas envolvidas em um acidente grave entre
dois ônibus e três automóveis. Os feridos chegavam a todo
o momento.
Mal entrou na sala e o doutor Félix imediatamente
solicitou seu auxílio para atender uma garota que
apresentava pequenos cortes na cabeça, braço direito com
fratura exposta e perna esquerda também com fratura.
Estava em estado de choque e os médicos se desdobravam
para estabilizá-la.
LINHAS DO DESTINO
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Olhou para a garota, viu um rosto com feições delicadas.
Apesar de estar suja de sangue, com alguns hematomas,
não pode deixar de perceber que era apenas uma
adolescente.
Assim que encostou junto à maca onde se encontrava a
garota, tomou as providências necessárias e iniciou o
atendimento com a atenção voltada a tudo que o doutor
Félix dizia.
Executava com grande perícia todos os procedimentos,
tinha tanto amor pela profissão e o fazia com muita
competência. À medida que o paciente era atendido
imediatamente a equipe se ocupava de outros casos menos
graves.
Após doze horas de trabalho intenso, com um sorriso nos
lábios pensou como a equipe fizera um ótimo trabalho.
Agora poderiam ir para casa com a sensação de dever
cumprido.
L.P.OWEN
10Estava exausta de tanto ficar em pé, não via a hora de
chegar e tomar um banho de imersão. Enquanto fazia o
trajeto de volta, procurava se desligar de tanto sofrimento
pelos quais tantas pessoas estavam passando no hospital,
ouvindo um pouco de música.
Para relaxar gostava de ouvir músicas clássicas, elas
tinham o poder de transformar e transportar seus
pensamentos, aliviando suas tensões.
Ao chegar a casa, situada num bairro tranquilo, com ruas
arborizadas, calçadas gramadas, sem muros em volta, com
apenas roseiras e jardins bem cuidados dividindo os
terrenos. Subiu a escada em direção ao quarto de Luís,
como sempre fazia. Quando o beijou ouviu a pergunta de
sempre.
- Mamãe! Trouxe alguma surpresa?
- Não tive tempo de sair. Você poderia ao menos
perguntar como foi meu dia.
LINHAS DO DESTINO
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- Está bem mamãe. Como foi seu dia? - Perguntou
sorrindo.
- Foi muito cansativo, mas compensador porque
conseguimos salvar muitas pessoas. Como foi o seu dia
filho?
- Tirando a escola foi tudo bom. – Respondeu como todos
os dias.
- Não diga isso filho é maravilhoso estudar e você vai
precisar dos estudos mais tarde para poder ter um bom
trabalho.
- Você estudou tanto e agora trabalha muito.
Ana não sabia o que responder estava exausta e Luís tinha
alguma razão, porque não davam atenção suficiente para
ele. De alguma maneira, estava influenciando em sua
educação.
Pediu um momento para o filho e foi tomar um banho. No
ambiente hospitalar existem diversos tipos de
L.P.OWEN
12contaminação, apesar do uso de roupas diferentes, não
gostava de ficar muito tempo sem o banho.
Luís estava acostumado e esperou pacientemente.
Quando terminou, Ana sentou-se ao lado do filho. A
conversa foi iniciada com muita tranquilidade e franqueza.
- Meu filho! Disse com voz suave. Você tem toda razão de
reclamar, de dizer que não tem nossa atenção, que
trabalhamos muito e não conversamos o suficiente.
Precisamos mudar essa situação, então vamos por mão na
massa. A partir de agora, vamos nos falar mais, nem que
seja via tambor, ou fumaça. – Disse sorrindo.
Os dois riram um pouco, quando pararam, se abraçaram
permanecendo assim por longo tempo. Os únicos barulhos
que se ouvia eram de suas respirações e corações.
Fazia muito tempo que não se abraçavam assim. Luís
quebrou o silêncio.
- Sabe mamãe, eu te amo tanto. – Enquanto falava
apertava o abraço.
LINHAS DO DESTINO
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Aquelas palavras foram como alento para a alma de Ana
fazendo lágrimas rolar. Desejou responder, mas não
conseguiu, apenas abraçou-o mais forte.
- Sei que você esta passando por um momento delicado. –
Disse ele. - Papai não quer mais vir para casa só fica
arrumando desculpas. Estarei com você para o que
precisar. Seu trabalho é muito desgastante, mas não tem
problema, por mais difícil que seja teu dia e tudo pareça
difícil, estarei esperando.
Ana não aguentou, por mais forte que gostaria de
aparentar, não conseguiu segurar a emoção e chorou.
Mesmo sendo apenas um garoto com seus 14 anos, sentiu-
se segura e amada nos braços de seu filho.
Naquela noite nem viu a hora que seu marido chegou, mas
não deu importância, estava feliz porque tivera momentos
inesquecíveis com seu filho.
Na manhã seguinte Ana levantou-se, como de costume no
mesmo horário, tomou seu banho e preparou-se para ir
L.P.OWEN
14trabalhar. Enquanto se maquiava, Roberto despediu-se e
saiu.
Quando descobriu que Luís, desta vez, estava preparando
seu café, apressou-se em descer para aproveitar esse
momento com o filho.
A mesa estava posta com muito carinho, apenas duas
xícaras colocadas, sorriu e aproveitou para conversarem.
Os assuntos foram variados, a conversa prolongou-se até a
porta do colégio. Despediram-se com um beijo e Ana
seguiu para um novo dia de trabalho. Feliz, sentia-se uma
nova mulher.
LINHAS DO DESTINO
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Capitulo dois
UM ANJO NA TERRA
Dona Raquel, expressão serena, olhos castanhos-escuros
de brilho intenso e cabelos castanhos. Uma senhora de
aparência bondosa e gestos delicados. Todos os dias ela
passava pelo hospital para visitar as pessoas que lá
estavam.
Os funcionários conheciam e respeitavam seu trabalho.
Raquel sempre com uma palavra de amor e esperança para
quem às vezes não tinha e não esperava mais nada.
Como sempre, chegou com seu jeito calmo
cumprimentando todos como se fossem seus filhos, por
instinto, ela sabia quem mais precisava de uma palavra de
apoio.
- Bom dia dona Raquel, como a senhora está? - Perguntou
Márcia.
L.P.OWEN
16- Estou bem minha querida. Você como está? –
Retribuindo o sorriso.
- Tudo ótimo. Graças a Deus. – Respondeu sem muita
convicção.
- Sabe minha querida. - Iniciou dona Raquel com seu jeito
especial - Muitas vezes acordamos com a sensação de que
não fizemos e não demos o melhor de nós. Ficamos
remoendo esse sentimento e não dividimos o fardo com
ninguém. Com o tempo ele fica tão pesado que mal
conseguimos suportá-lo. Digo com sinceridade, damos
apenas o que temos no momento e isso é o nosso melhor.
Sem saber como nem por que Márcia percebeu que dona
Raquel estava dizendo algo que há muito a fazia sofrer.
Quando se aproximou, abraçou-a com ternura e começou a
chorar desesperadamente.
- Sei que você fez o melhor que podia. - Disse com voz
doce. - Não precisa culpar-se. Tenho a certeza absoluta,
quando vejo o quanto se dedica aos enfermos daqui.
LINHAS DO DESTINO
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Portanto, pare de culpar-se. Continue fazendo o seu
melhor, mesmo que você não ache, o importante é que o
Papai do céu sabe que sim. – Antes de seguir seu caminho
completou. - Pode acreditar sou sua fã incondicional.
Aquelas palavras aliviaram o peso que Márcia estava
carregando há algum tempo.
Como sempre fazia, Raquel passou pela capela do
hospital, fez sua oração. Enquanto estava lá aproveitou
para agradecer e pedir novas graças para os enfermos.
Certa vez alguém lhe perguntou por que ela frequentava
tanto a capela. Respondeu apenas que fazia vários pedidos
para os enfermos. - Com um sorriso franco disse: - Eu
peço a Deus. Ele sabe que não tenho como pagar, mas
assim mesmo Ele sempre me atende. Volto para
agradecer.
Depois de alguns instantes levantou-se e foi cuidar dos
pacientes.
L.P.OWEN
18Andando pelo corredor viu um homem sentado num
banco da sala reservada aos pacientes, que aguardavam
para internação. Foi em sua direção, ao chegar mais perto
disse sorrindo.
- Em que posso ajudar?
Carlos nem olhou para ela, apenas respondeu que ninguém
poderia ajudá-lo.
Raquel não era de desistir facilmente. Apesar da frieza
com que foi recebida, sentou-se ao seu lado e ali ficou
quieta. Imóvel como uma estátua.
Carlos - um homenzarrão - vendo que aquela pequena
senhora não estava disposta a desistir olhou para o lado e
resolveu conversar um pouco.
- Como a senhora se chama? - Perguntou ainda meio sem
jeito para conversar.
- Meu nome é Raquel e o seu?
LINHAS DO DESTINO
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- O meu é Carlos. - Respondeu ainda meio desconfiado se
aquela mulher frágil pudesse resolver seu problema. “-
Quem ela pensa que é?” – Pensou.
Raquel não hesitou, falou com firmeza, porem com muito
carinho.
- Sei o que está pensando - Disse sorrindo.
- Se sabe então me diga? - Desafiou Carlos ainda amargo.
- O que essa mulher pode fazer por mim? - Disse ela
calmamente.
Mesmo sentindo o espanto de Carlos, continuou com o
monólogo sem olhar para seu interlocutor.
- Venho aqui todos os dias, conheci e a cada novo dia
conheço mais pessoas, cada uma com problema maior que
o do outro. Quando penso ter encontrado o maior
problema de todos, dou alguns passos, não demora muito,
acabo por conhecer um problema ainda maior.
Virando-se para Carlos e com a voz doce continuou.
L.P.OWEN
20- Talvez o seu problema seja maior do que o que vi
ontem. – Continuou sua narração.
- Ao chegar aqui fiquei sabendo do caso do garoto
Gabriel, que está em coma devido a um atropelamento que
sofreu. – Carlos ouvia olhando para o chão, mas atento.
- Há suspeitas de estar paralítico. O que é pior, quando sair
do hospital, não tem ninguém que possa cuidar dele. –
Raquel falava tranquilamente.
- Tudo aconteceu porque o pai tinha ciúmes de sua mãe,
ao invés de ir trabalhar, ficou de tocaia aguardando que
algum homem viesse ao encontro de sua esposa.
- Não apareceu ninguém, porque não havia quem viesse
visitá-la. Ele entrou na casa interrogando-a, como não
conseguiu uma confissão matou sua amada em seguida se
matou.
- Quando o garoto soube do ocorrido fugiu da escola e foi
em disparada para casa. Ao atravessar a rua foi pego por
LINHAS DO DESTINO
21
um carro que estava em alta velocidade. - Não esperou
comentário algum somente continuou sua narrativa.
- Desculpe-me por incomodá-lo com o problema do
garoto, o senhor já tem a sua cruz, que também deve ser
pesada para ser carregada. – Finalizou - Ao invés de
ajudá-lo sou eu quem está desabafando.
Depois ficou calada novamente, como se já soubesse,
sentiu a mão de Carlos tocar na sua e o pedido de perdão
por ter sido tão rude.
Ela simplesmente ergueu a mão de Carlos, deu um beijo e
disse: - Fique com Deus. – Saiu tranquilamente.
Carlos ficou sentado por alguns instantes pensando no que
tinha acontecido, sobre seus problemas, agora com a saúde
precisando de cuidados, devido aos vários abusos
cometidos durante a sua vida, ficaria internado sem
previsão para sua alta.
A situação no trabalho ficou difícil com o agravamento de
seu quadro clínico resultando no seu afastamento.
L.P.OWEN
22Sua esposa Olga fazia de tudo para ajudar no
orçamento, trabalhava como diarista, por vezes cozinhava,
lavava e passava para fora. Assim obtinha algum dinheiro
extra que servia para complementar o orçamento.
Estava tão mergulhado em seus pensamentos que não
notou a enfermeira e o enfermeiro à sua frente para levá-lo
para seu quarto onde ficaria internado para o tratamento.
LINHAS DO DESTINO
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Capitulo três
UM NOVO RUMO
Ana pediu para Carlos sentar-se na cadeira de roda para
ser conduzido ao quarto. Nesse momento ele fez seu
pedido a Deus, para que o amparasse. Sem que Carlos
soubesse, Deus já tinha mandado seus Anjos para cuidar
dele.
Depois de acomodá-lo no quarto, Ana foi à sala de preparo
e iniciou os procedimentos de pré-operatório prescrito,
pelo médico, para o senhor Carlos.
Quando se preparava para retornar ao quarto de Carlos seu
telefone tocou.
- Alô – atendeu enquanto ajeitava tudo na bandeja.
- Tudo bem? – Quis saber Roberto.
- O que você quer? – Perguntou, mas tinha ideia sobre o
assunto.
L.P.OWEN
24- Está ocupada? – A pergunta que sempre fazia para
poder ser breve.
- Sempre estou ocupada, você sabe disso, diga o que quer,
tenho um paciente para medicar.
- Gostaria de almoçar com você hoje, posso passar por aí?
Ana já sabia o que ele pretendia e concordou. Sua vontade
era acertar tudo o mais rápido possível.
Desligou o aparelho e ficou pensando por alguns instantes,
sabia que seria inevitável. Sentiu apenas alívio, voltou a
concentrar-se no trabalho e foi medicar Carlos.
LINHAS DO DESTINO
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Capitulo quatro
UMA LINHA TÊNUE
No CTI Gabriel lutava por sua sobrevivência. Os
encarregados de seu tratamento estavam empenhados em
salvá-lo, para tanto, não mediam esforços. Quando ocorria
uma melhora no quadro clinico, por menor que fosse todos
vibravam.
Ao passar pelo CTI, Raquel, antes de entrar, vestiu a roupa
especial para ser utilizada no local e entrou. Em todos os
leitos fez suas preces. Disse algumas palavras de
esperança para cada um dos enfermos, mesmo para os que
estavam inconscientes e não poderiam ouvi-la.
Viu o leito agora vazio, onde há pouco tempo era ocupado
por um homem que lutara bravamente pela vida, mas
acabou falecendo. Lembrou-se e sentiu saudades do
grande guerreiro que dirigiu a ela as últimas palavras -
“obrigado por ter sido meu anjo durante esse tempo”.
L.P.OWEN
26No leito de Gabriel, parou por mais tempo, segurou sua
mão e ficou assim por algum tempo fazendo suas preces
mentalmente. Antes de sair falou: - “Vamos Gabriel, já é
hora de acordar estamos esperando para cuidar de você”.
Saiu, foi visitar os que estavam nos quartos e enfermarias.
LINHAS DO DESTINO
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Capitulo cinco
UM SUSTO
À hora do almoço Ana retirou seu avental e foi em direção
ao estacionamento para aguardar a chegada de Roberto. O
tempo passou como de costume, ele não apareceu.
Mesmo acostumada com seus atrasos resolveu ligar para
saber o motivo, mas não foi atendida. Seu horário já
estava esgotando. Resolveu tomar um lanche e voltar ao
trabalho.
Durante a tarde ligou varias vezes sem sucesso. Quando
tinha desistido, recebeu um recado sobre o acidente que
Roberto tinha sofrido e o hospital onde se encontrava
internado, mas foi informada de que passava bem.
Foi ao encontro de Márcia no final da tarde e pediu
autorização para ir até o hospital visitar seu marido.
L.P.OWEN
28Capitulo seis
NOVO AMIGO
Antes de ir embora dona Raquel aproveitou para passar no
quarto do senhor Carlos encontrou um homem
completamente diferente daquele de algum tempo atrás.
Conversaram sobre vários assuntos e ela pôde conhecê-lo
melhor e passar a admirá-lo.
Quando se despediu teve a certeza de ter encontrado um
novo amigo.
LINHAS DO DESTINO
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Capítulo sete
DESILUSÃO
Quando Ana chegou ao hospital para visitar Roberto, foi
ao quarto indicado. Acabou sendo recebida por uma garota
aparentemente muito mais nova que ela, que ao vê-la
vestida de branco, achou tratar - se de uma funcionária do
hospital.
Ao ser apresentada, a garota percebeu que era hora de
deixar os dois a sós para conversarem e saiu. Ana portou-
se como se não tivesse notado a presença de Lívia.
- Você está precisando de algo? - Perguntou Ana.
- Estou bem! Obrigado. - Disse sem jeito.
- Queria ter conversado antes com você - disse ele -
infelizmente ocorreu o acidente e não deu para
almoçarmos e esclarecer nossa situação.
L.P.OWEN
30- Há quanto tempo vocês estão juntos? – Perguntou
sentindo vontade de quebrar-lhe o pescoço, mas mantendo
o controle.
- Faz algum tempo, um ano aproximadamente – respondeu
sem graça.
- Já tinha uma ideia da situação – disse ela com
tranquilidade.
- Vim somente saber como está para dizer ao Luís quando
chegar a casa. - Continuou como se falasse para um
estranho.
- Você está sendo bem cuidado. Quando estiver em
condições pode pedir o divórcio, assim acertamos tudo.
Saiu dali com vontade de chorar, tinha raiva, queria tê-lo
estrangulado com o tubo do soro ou dar-lhe uma injeção
para aumentar a dor.
LINHAS DO DESTINO
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Capítulo oito
A NOTÍCIA
Luís fazia suas tarefas. Ficou surpreso quando viu sua mãe
chegando naquele horário.
- O que aconteceu mamãe? – Perguntou enquanto dava um
beijo de boas vindas.
- Tenho algo muito importante para falar com você,
gostaria que prestasse atenção – falou tranquilamente.
- Está certo que combinamos nos falar mais, mas não
precisa exagerar - disse Luís para alegrar mais o ambiente.
Quando viu que sua mãe não sorriu de sua piada percebeu
que o caso era mais serio do que imaginava, atendeu
imediatamente.
- Você sabe que o relacionamento entre mim e seu pai faz
algum tempo que não está bem. Hoje cedo ele ligou para
almoçarmos juntos, mas não apareceu. Quando cheguei de
L.P.OWEN
32volta ao hospital fui informada que ele havia sofrido um
acidente e estava internado, mas não corria perigo.
- O almoço que teríamos seria para acertarmos nossa
situação e separarmos definitivamente.
- Sei que você ama seu pai e acho maravilhoso, não vou
ficar entre você e ele, mas vamos nos divorciar e espero
que compreenda.
Luís ouviu sua mãe com muita atenção. Já imaginava que
isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, porque fazia
muito tempo que seus pais não se beijavam de verdade.
Não demonstravam qualquer sentimento de carinho um
pelo outro. Era só aparência.
- Já esperava isso a qualquer momento. – Disse
demonstrando maturidade. - Entendo sua posição, mesmo
assim gostaria de ter uma conversa com ele para
acertarmos algumas coisas. Poderia levar-me para visitá-
lo?
LINHAS DO DESTINO
33
Ana concordou. Deu-lhe um beijo e antes de deixar o
quarto e entrar no banho ouviu:
- Tenho uma coisa para falar com a senhora - disse Luís
aproveitando o momento.
Sua mãe apenas olhou para ele e aguardou.
- Sabe mamãe – iniciou preparando o caminho para fazer
o pedido - meu amigo Francisco tem uma cachorra. Ela
teve cria de seis filhotes...
- Ele te ofereceu um. - Interrompeu Ana.
- Disse-lhe que pediria sua permissão e depois falaria com
ele. – Deu uma pausa criando coragem. - Posso ficar com
um?
Luís ficava em casa sozinho, ela achou interessante ter
uma companhia, mas antes de dar permissão fez algumas
objeções.
- Então vamos definir algumas obrigações. – Sorrindo
continuou.
L.P.OWEN
34- Você será responsável por todos os cuidados, banho,
comida, limpeza da sujeira que ele fizer, dos passeios e
etc. – Disse para terminar.
- Ele será sua responsabilidade. Combinado?
Luís respondeu afirmativamente. Ana perguntou quanto
custaria.
- Será um presente – Luís respondeu sorrindo.
- Qual a raça dele? - Perguntou ela.
- É um Lavrador, tenho certeza de que a senhora vai gostar
- respondeu Luís ao abraçá-la.
Mais tarde conversaram por um bom tempo sobre onde
ficaria a casinha, que nome seria dado.
Apesar da separação eminente, ninguém estava
preocupado ou sentindo a falta de Roberto.
Combinaram para o final de semana a compra do material
necessário para o conforto do animal.
LINHAS DO DESTINO
35
O dia amanheceu bonito, o outono estava chegando ao
final. Apesar de ensolarado, a temperatura estava muito
agradável.
Os dois acordaram dispostos, saíram cedo para iniciarem
uma nova jornada.
- Levarei você na hora do almoço ao hospital onde seu pai
está depois você me liga para buscá-lo no término do meu
turno. - Disse antes de deixá-lo na escola e sair para o
trabalho.
L.P.OWEN
36Capítulo nove
OUTRO DIA
Ana foi para o trabalho, o trânsito, como sempre, muito
intenso. As pessoas com os nervos à flor da pele e o dia
ainda estava no início.
Ela sabia que o ambiente hospitalar também é muito
estressante. Procurava melhorar seu ânimo antes de chegar
ao trabalho, para isso, a música clássica era excelente.
Ao chegar encontrou dona Raquel, as duas seguiram
conversando. O tema foi sobre o garoto Gabriel.
- Fiz uma visita ao garoto Gabriel e apesar de ainda estar
inconsciente, tenho a certeza de que logo estará recebendo
alta. – Disse Raquel com seu entusiasmo habitual.
- Também estou torcendo muito por ele. – Ana não pôde
deixar de se lembrar de Luís. - Acredito que logo estará de
alta.
LINHAS DO DESTINO
37
As duas entraram no hospital. Raquel foi para a capela
fazer suas orações, Ana seguiu para a sala de enfermagem.
L.P.OWEN
38Capítulo dez
O PASSADO
Ana foi em direção ao seu setor verificar os prontuários
médicos dos pacientes e iniciou pelo quarto 32.
Preparou os medicamentos indicados para o paciente e foi
em direção ao quarto indicado.
- Bom dia! - Disse Ana com um sorriso nos lábios.
- Bom dia! - Respondeu Carlos.
- Como está se sentindo hoje senhor Carlos?
- Estou melhor graças a Deus, mas vou sentir ainda mais
quando sair daqui, apesar de ser cuidado por uma bela
princesa. Contarei para o pessoal só para deixá-los
morrendo de inveja, vai ser ótimo. - Riu como uma
criança.
Carlos devia ter a idade de seu pai. Ana, ao ser chamada
de princesa lembrou-se dele e uma saudade tomou conta
de seu coração.
LINHAS DO DESTINO
39
Fazia uns cinco anos desde que falecera e desde então sua
mãe se mudara para o interior próximo ao seu irmão.
Raramente viam-se. Nem nos aniversários de Luís teve a
presença da mãe. Havia algo a ser resolvido por elas, mas
não sabia exatamente o que seria.
Desde pequena essa divisão em sua casa podia ser notada,
sua mãe sempre preocupada com o seu irmão e seu pai
fazia dela o seu xodó, nunca entendeu porque isso
aconteceu.
- “Talvez porque seus pais não estavam mais se
entendendo e para se agredirem cada um escolheu um
filho para servir de pretexto”. - Pensou.
Até algum tempo antes do falecimento de seu pai Ana e
seu irmão se davam bem, mas aos poucos sua mãe fez
com que seu irmão se afastasse. Através de chantagens
emocionais conseguiu transformá-lo em seu escravo.
Ao voltar à realidade olhou para seu Carlos e sentiu que
estava preocupado com ela.
L.P.OWEN
40- O senhor fez lembrar-me de alguém muito importante.
- Disse Ana para deixá-lo mais tranquilo.
- Quem era essa pessoa importante? - Perguntou em tom
muito carinhoso.
- Meu pai. Ele costumava chamar-me de minha princesa,
foi por isso.
- Conte-me; como era ele?
- Era um homem bom, sempre sorrindo não importava o
que estivesse acontecendo, por isso não tinha rugas –
sorriu - dizia que sorria para economizar alguns músculos.
-Trabalhou muito para dar educação e sustento para mim e
meu irmão. Alguns anos atrás ele faleceu. Mas não é hora
de pensar em coisas tristes. O senhor vai ser operado, logo
vai ter alta. - Disse Ana com tanto entusiasmo que
contagiou Carlos.
- Gostaria que você conhecesse minhas três filhas.
Carmem a mais velha, Débora a do meio e Sílvia a mais
nova. A mais velha tem 23 anos, 15 e 13. Meu sonho era
LINHAS DO DESTINO
41
ter um filho, mas vieram três mulheres, então torci para ter
um neto e ganhei uma neta. Pode você acreditar nisso? -
Disse sorrindo. – Nasci para estar rodeado de mulheres.
Repentinamente voltou a ficar tenso.
- O que houve senhor Carlos? – Perguntou
carinhosamente.
- Não é nada apenas um pouco preocupado com a cirurgia
que vou fazer, preferiria ser o médico agora. - Os dois
riram novamente.
- Vou ficar bem, quero visitar o Gabriel quando puder dar
minhas voltas. - Sabe minha querida – Disse
confidenciando. - Quando vim para ser internado, estava
desesperado. Fiquei sabendo sobre o caso dele através de
dona Raquel que para me amparar mostrou que outros
tinham problemas e alguns bem maiores que o meu. Então
pedi a Deus por ele.
- Realmente dona Raquel é uma mulher maravilhosa com
quem adoro conversar, de ficar ao seu lado. Todos aqui a
L.P.OWEN
42conhecem e a adoram. - Disse Ana com muita
admiração – Tenho certeza de que Deus ouviu suas
orações.
- Quem ela é, onde mora? – Perguntou Carlos.
Ana achou esta a mais difícil de todas as perguntas.
- Para ser sincera não posso responder, por incrível que
pareça, sempre conversamos sobre o pessoal de quem
cuidamos. No fim esquecemo-nos de perguntar essas
coisas – respondeu pensativa.
Ana ficou estarrecida por ter descoberto, somente agora,
algo tão importante. Conhecia dona Raquel há algum
tempo, conversava com ela várias vezes por semana, mas
não sabia praticamente nada sobre ela.
- Será que tem parente? - Disse Carlos em tom sério.
- Não sei. - Respondeu com um sentimento de culpa por
nunca tê-la convidado para um almoço.
Despediu-se de Carlos desejando-lhe sorte e saiu.
LINHAS DO DESTINO
43
Capítulo onze
A LEMBRANÇA
Ao sair pensou em procurá-la e descobrir algo sobre ela,
onde morava, se tinha parentes enfim o que pudesse.
- Quantas pessoas passam por nossas vidas – pensou Ana
– e não sabemos nada sobre elas, sobre suas necessidades,
seus sonhos, medos, suas paixões, seus problemas.
Simplesmente não sabemos se apenas um abraço é o
suficiente para melhorar sua vida.
Lembrou-se de algo que vira na televisão sobre a
procissão do Sírio de Nazaré, aonde uma multidão vinha
segurando numa corda enorme que se estendia a partir do
Sírio de Nazaré. Cada fiel se desdobrava para segurar-se
nela. A multidão era tão grande que se compactavam
parecendo um bloco único de pessoas. Todos os que
porventura iam perdendo as forças e caiam exaustos pelo
caminho, eram imediatamente seguros pelos que estavam
L.P.OWEN
44em melhores condições físicas. Nenhum era deixado
para traz num gesto de solidariedade e amor ao próximo.
- Quem sabe se nossa caminhada não é como essa corda
que segue o Sírio de Nazaré - pensou Ana -. Quem sabe os
que se aproximam de nós não são os que deveremos
segurar ou sermos seguros por eles. – Seguiu seu trabalho
pensando no assunto.
LINHAS DO DESTINO
45
Capitulo doze
UM OMBRO AMIGO
Ao retornar a sala de preparo de medicação encontrou
Márcia e percebeu que algo estava errado.
Márcia estava no canto, quando Ana chegou perto, tocou
em seu ombro, ela não conseguiu segurar e chorou.
Ana não disse nada apenas abraçou-a. Ficou calada ao seu
lado até que tivesse condições de dizer algo.
Depois de alguns minutos conseguiu acalmar-se e
conversar sobe o que acontecera.
- Você está melhor? - Perguntou Ana.
- Já passou. Obrigada por compreender.
- Sem problemas. Se precisar de algo que possa fazer é só
avisar.
- Obrigada já estou melhor. - Disse terminando de enxugar
as lágrimas.
L.P.OWEN
46Ana notou que ela tinha um papel na mão, reconheceu
ser o resultado de um exame utilizado no hospital, mas
não fez comentário algum. Esperou que Márcia tomasse a
iniciativa de contar.
O silencio foi curto Márcia resolveu desabafar.
- Hoje recebi o resultado dos exames. Vou fazer uma
cirurgia para retirada de um nódulo no seio. O doutor
Guilherme disse que após a cirurgia vai fazer biopsia.
- Quando será a cirurgia?
- A internação será hoje à tarde. Provavelmente amanhã
cedo a cirurgia. Tudo vai depender dos resultados dos
exames.
- O que posso fazer por você?
- Se puder cuidar de mim durante seu turno ficaria muito
grata.
- Vou cuidar de você, pode estar certa disso. - Disse Ana
sorrindo.
LINHAS DO DESTINO
47
As duas ficaram conversando por algum tempo. Márcia
fez algumas confidências à Ana.
- Tenho um sonho de fazer uma viagem pela Itália para
conhecer a terra de meus ancestrais. Fiz algumas
economias para um curso e aprender a língua, até
pesquisei sobre os costumes, museus e as cidades que
pretendo visitar como Verona, Bérgamo entre outras.
Agora vou ter que adiar um pouco.
- Calma! Não fez a cirurgia e pensa em desistir da
viagem? – Disse Ana para dar ânimo à amiga. - Afinal
quantas pessoas que estavam em situações de muita
dificuldade, acabaram dando a volta por cima? - Você
mesma cuidou de muitas delas. - Completou – Então,
fique tranquilas que vai dar tudo certo.
Márcia e Ana estiveram unidas antes para tratar de pessoas
que precisavam de cuidados. Revezavam-se para que o
paciente não ficasse um minuto sem atendimento. Assim
puderam salvar muitas pessoas. Em várias ocasiões
L.P.OWEN
48receberam demonstrações de carinho daqueles que um
dia necessitaram dos seus carinhos.
Algumas pessoas já tinham perguntado sobre o grau de
parentesco das duas, elas respondiam: - Apenas carne e
unha.
LINHAS DO DESTINO
49
Capitulo treze
HORA DA VISITA
Luís estava à porta da escola quando Ana chegou.
- Como foi sua manhã mamãe? – Perguntou sorridente. -
Boa e a sua? Teve prova? Foi bem? – Antes que pudesse
fazer outra pergunta Luís respondeu.
- Deixa responder somente trinta e cinco perguntas por
vez. - Disse sorrindo.
- Desculpe-me. Vamos comer algo antes de irmos visitar
seu pai, porque depois não vai dar tempo. A Márcia
mandou um beijo pra você. – Completou.
- Obrigado! Como está ela?
- Hoje ficou sabendo que tem nódulo no seio, amanhã será
operada. Esta ansiosa.
- Vai dar tudo certo, tenho certeza de que ela vai dar a
volta por cima rapidinho.
- Deus te ouça Luís.
L.P.OWEN
50Os dois entraram no restaurante. Luís pediu um lanche
natural e um suco de laranja, Ana gostou da ideia e
resolveu fazer o mesmo pedido.
Depois do lanche foram para o hospital. Ao chegarem,
receberam o cartão para visitantes.
- Agora é com você. Vou retornar para o trabalho,
qualquer problema é só ligar.
Deu um beijo no filho e saiu.
LINHAS DO DESTINO
51
Capitulo catorze
O FILHO CRESCEU
Roberto ao ver seu filho ficou contente. Perguntou como
estavam as coisas.
- Está tudo ótimo. - Falou com tranquilidade.
- Como você chegou aqui?
- Minha mãe me trouxe. Como você está? - Perguntou
Luís.
- Estou bem!
Roberto aproveitou para apresentar Lívia, sua namorada.
Comentou sobre o encontro que teve com Ana para
esclarecer a situação do casal.
Os dois ficaram conversando por longo tempo, Luís
aproveitou para resolver como seria o relacionamento
entre eles após a separação.
L.P.OWEN
52Falou sobre o amor que sentia pelo pai, mas também
sobre a intenção de morar com sua mãe. Disse que não
teria problema algum para visitá-lo quando quisesse.
Roberto explicou tudo a respeito do relacionamento entre
ele e Ana. Falou sobre quando conheceu Lívia e se
apaixonou por ela.
- Eu e sua mãe merecemos uma nova chance de voltarmos
a ser felizes.
Luís apesar da pouca idade era um garoto maduro, fazia
algumas colocações que deixava os mais velhos de boca
aberta.
- Não quero julgar nada, desejo que vocês sejam felizes.
Para ser sincero, hoje foi o dia que mais tempo
conversando. – Sorriu e disse: - Quando quiser visitar-me
é só aparecer.
Luís ficou até o final do horário de visita. Quando se
despediram, seu pai abraçou-o e fez promessa de que as
LINHAS DO DESTINO
53
visitas seriam constantes. Seriam mais amigos do que
antes.
Mais uma vez Luís lembrou-se das manhãs quando seu pai
perguntava sobre sua vida, mas não escutava a resposta.
Agora era ele quem estava de saída.
L.P.OWEN
54Capitulo quinze
AMIZADE
Raquel aproximou-se do leito de Gabriel e perguntou,
sabendo que não teria nenhuma resposta, mas isso não
importava:
- Como está meu garoto? - Sem esperar continuou.
- Está melhorando a cada dia. Logo você poderá
responder-me.
- Sei que é difícil. Tudo está tão confuso pra você, mas
quando voltar ficará tudo bem, estarei aqui para te ajudar.
Assim passava seus momentos, encorajando aqueles que
precisavam de apoio.
Todos tinham uma grande admiração por Raquel, mas não
faziam ideia de sua vida particular.
Quando chegava aos lugares, as pessoas logo notavam sua
presença, não pela aparência, mas pela paz, tranquilidade e
alegria de viver que transmitia.
LINHAS DO DESTINO
55
Seu semblante tinha uma luz própria e os olhos castanhos
possuíam um brilho que só os sonhadores possuem.
Apesar das marcas do tempo, seu rosto mantinha os traços
da juventude, de formato alongado, nariz levemente
arrebitado e os lábios bem definidos que fazia mais belo o
seu sorriso.
Certa vez alguém lhe perguntou como ela era quando mais
nova e como resposta apenas disse: “Mais jovem”.
De humor maravilhoso, por mais que a situação fosse
estressante não perdia a fibra e a delicadeza, tratando
todos com igualdade, mas com firmeza quando necessário.
Raquel saiu da UTI preocupada com Gabriel, apesar de ter
deixado o coma profundo, não estava de todo consciente.
Resolveu ir onde mais gostava de refletir – na Capela.
Enquanto orava sentiu a presença de alguém no banco de
trás, ao olhar viu Ana de joelhos e olhos fechados.
Resolveu aproximar-se.
L.P.OWEN
56- No que posso ajudar minha querida? – Sabia que essa
pergunta abria muitas portas.
Ana não tinha visto dona Raquel na capela. Abriu os olhos
viu um sorriso por ela já conhecido e amado.
- Não tinha visto a senhora. Vim apenas conversar um
pouco com Deus. Estou preocupada com a Márcia. Segui
seu exemplo, vim fazer uma oração e pedir para que ela
fique curada. A senhora, o que a preocupa?
- Às vezes ao invés de pedir, venho agradecer e meditar
para tentar entender as coisas que nos preocupam. – Como
se buscasse na memória. - Ainda não vi a Márcia hoje, não
sabia que ela estava enferma.
- Ela vai fazer uma cirurgia amanha, então resolvi pedir
por ela.
- Seremos duas a pedir. Você quer iniciar? - Disse Raquel
sentando ao lado de Ana.
Depois da oração ficaram conversando. Ana contou sobre
sua separação.
LINHAS DO DESTINO
57
- Não tenha pressa, minha querida, seu grande amor está
apenas esperando o momento certo para te encontrar. –
Disse dona Raquel sorrindo.
Despediram-se. Ana voltou para o trabalho, ainda tinha
muito por fazer.
O início da noite estava agradável, às luzes davam um
colorido todo especial. Ana estava sentindo-se muito bem.
Concluiu que a separação foi a melhor escolha para
ambos.
Era uma mulher atraente, muitas vezes teve de usar a
diplomacia para desvencilhar-se dos galanteadores que
não paravam de importuná-la.
L.P.OWEN
58Capitulo dezesseis
NOVO MEMBRO NA FAMÍLIA
Não via a hora de chegar em casa. O dia fora extenuante e
cheio de emoções. Agora necessitava recarregar a bateria e
um banho era o que mais queria.
Quando chegou em casa foi recebida com muito
entusiasmo por Luís. Estava muito contente por ter vindo
de ônibus para casa.
- Como foi sua tarde? – Falou alegremente.
- Bem obrigada. Qual o motivo da recepção?
Luís levantou-se foi até a lavanderia, quando retornou Ana
não se conteve quando viu aquele bichinho de olhos
meigos e brilhantes olhando para ela.
- Que coisa linda! Imediatamente pegou o filhote da mão
de Luís. - Ele é muito fofo!
LINHAS DO DESTINO
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Como ele previra sua mãe ficou apaixonada pelo
cãozinho. Imediatamente ela abraçou-o, beijou-o, fez uma
tremenda festa.
- Que nome você vai dar? - Perguntou Ana.
- Qual a senhora prefere? - Replicou.
- O cachorro é seu. Você lembra? – Fez a mesma careta
que costumava fazer para repreendê-lo.
- Ele tem cara de Tobias. Que tal? – Ficou esperando a
bronca.
- Adorei! Realmente é a cara dele.
- Ufa! Pensei que não fosse gostar. - Aproveitando a
oportunidade perguntou.
- Está combinado, o nome dele será Tobias. Quando
poderemos ir comprar coleira, casinha e etc.?
- Vou tomar um banho, depois iremos. – Respondeu Ana.
Antes que deixasse os dois ouviu.
- Mamãe, eu te amo.
– Também te amo. – Respondeu feliz do alto da escada.
L.P.OWEN
60Compraram casinha, caminha, comedouro, bebedouro,
enfim tudo o que Tobias não usaria.
Foram para um restaurante e jantaram felizes.
Luís comentou que a família, apesar de tudo, não tinha
diminuído.
LINHAS DO DESTINO
61
Capitulo dezessete
UMA BOA NOITE
Carlos, apesar das visitas que recebera estava ansioso.
Quando a enfermeira da noite chegou para medicá-lo
esqueceu um pouco dos problemas e conseguiu relaxar.
- Como esta se sentindo senhor Carlos? - Perguntou
Flávia.
- Ansioso para que tudo acabe logo.
- Fique tranquilo que vai dar tudo certo. Quando menos
esperar, já estará recebendo alta. - Antes de sair informou.
- Se precisar de algo é só tocar a campainha, vou estar
numa sala ao lado.
- Obrigado. – Foi a única coisa que se lembrou.
Carlos não soube o que tinha tomado, mas a ansiedade
diminuiu. Conseguiu dormir mais tranquilo.
Quando Flávia chegou ao quarto de Márcia e a
cumprimentou, o comentário foi espontâneo.
L.P.OWEN
62- Já chegou com boa noite Cinderela? – Disse Márcia
sorrindo.
Flávia apenas sorriu, depois de medicar a chefe do
departamento, as duas conversaram por alguns instantes.
Não demorou muito e Márcia dormiu calmamente.
LINHAS DO DESTINO
63
Capitulo dezoito
O QUE SONHAMOS
Ana chegou mais cedo no hospital, queria estar ao lado da
amiga, como prometera, foi à primeira pessoa que Márcia
viu naquela manhã e ficou muito feliz por isso.
- Sonhei que estávamos viajando juntas para Itália,
pudemos ir a vários museus, conhecemos o Vaticano foi
maravilhoso. Disse Márcia.
- Agora é capaz de ser possível, já que estamos solteiras. –
Ana falou enquanto ajudava a amiga a preparar-se para a
cirurgia.
Enquanto esperavam as duas fizeram planos para o futuro.
Quando Rui, enfermeiro encarregado de transportar os
pacientes encontrou as duas colegas de trabalho, brincou
para descontrair.
- Bom dia! Por onde anda o paciente? – Fugiu? - Disse
sorrindo.
L.P.OWEN
64- Sou eu seu bobo. - Respondeu Márcia.
- Pela primeira vez esta gata vai dar uma volta comigo.
- Claro que não, quem gosta de dar uma voltinha de maca?
- Riu mostrando uma de suas qualidades, o humor.
- Está nervosa? - Perguntou Rui.
- Claro que estou!
- Ainda bem que está nervosa, imagine se fosse o médico.
– Rui mostrou sua dentadura perfeita num sorriso
contagiante.
Ana desejou sorte para a amiga e acompanhou-a até que
atravessou a porta para a sala de preparo.
No corredor pensou em dona Raquel, na segurança que
transmitia a todos os que se aproximavam. Antes que
pudesse deixar o corredor viu Carlos, sendo trazido para
ser operado.
- Como vai princesa? Vão consertar meu coração, assim
vou poder amar mais. - Sorriu.
LINHAS DO DESTINO
65
- Boa sorte! Pode estar certo que vou esperar para cuidar
do pós-operatório, fazendo o senhor ficar bom logo.
- Então estamos combinados.
- Até daqui a pouco. - Disse Ana enquanto a maca
desaparecia.
Ana dirigiu-se para iniciar seu turno. Pacientes
necessitavam de seus cuidados. Começou a pensar
novamente em Dona Raquel.
L.P.OWEN
66Capitulo dezenove
O CONVITE
Dona Raquel foi para a capela pedir a Deus saúde para
todos os enfermos.
- Não acredito! - Exclamou Ana ao ver dona Raquel que
até levou um susto. – Estava pensando na senhora.
- Como está, minha filha?
- Agora estou bem! - Disse alegre.
- Nossa! O que a faz tão feliz?
- Quero convidá-la para conhecer minha casa e passar o
dia com a gente. Não aceito o não como resposta.
- Desse jeito sou obrigada a dizer sim.
- Venho buscá-la amanhã as 09h00min horas, só preciso
saber onde mora.
- Para facilitar sua vida, me apanhe aqui no hospital, assim
aproveito e faço uma visita rápida para o pessoal.
LINHAS DO DESTINO
67
- Então está combinado. - Ana parecia uma criança de
tamanha felicidade.
Quando soube que a cirurgia de Márcia tinha terminado,
foi até o corredor que dava acesso a sala de cirurgia. Ficou
esperando que ela saísse.
Não demorou muito para que Rui passasse por ela levando
Márcia na maca em direção ao quarto.
Ana pegou sua mão, apesar de estar sob o efeito da
anestesia, Márcia ficou feliz de saber que sua amiga estava
esperando por ela.
L.P.OWEN
68Capitulo vinte
O DESABAFO
Raquel visitava todos os enfermos, algumas vezes
contando casos engraçados, noutras, casos sérios. Desta
forma, conseguia fazer todos pensarem positivamente.
Assim ajudavam a si mesmos e aos médicos.
Nem sempre as coisas caminhavam como gostaria. Por
isso sofria calada. Depois de fazer sua ronda foi visitar um
paciente que aprendeu a admirar. Entrou no CTI não viu
melhora esperada no estado de Gabriel. Segurou a mão do
garoto, ficou quieta por algum tempo.
Em tom suave, mas firme, iniciou sua conversa solitária de
sempre.
- Às vezes temos que tomar uma decisão entre desistir ou
continuar. Sei que não depende só de nós, mas se
desejamos já é um grande passo para conseguimos.
LINHAS DO DESTINO
69
- Hoje, ao chegar aqui, pensei em encontrá-lo em
condições diferentes. Confesso que estou triste, porque
não sinto que queira sair dessa situação e tenha que
encarar a realidade.
- Muitas vezes desistimos porque acreditamos não ter
forças para superar os obstáculos, não damos a
oportunidade para Deus nos mostrar o que tem para nós.
- Posso dizer que depende apenas de você, basta querer.
Lembre-se que Deus não escolhe os capacitados, mas
capacita os escolhidos.
Fez suas orações deu um beijo na mão de Gabriel e saiu.
Após a cirurgia de coração, que tinha durado mais do que
deveria, Carlos foi levado para o CTI, até que pudesse ir
para o quarto novamente. Por ironia do destino estava ao
lado de Gabriel. Apenas uma divisória os separava.
No dia seguinte cedinho lá estava Raquel em companhia
daqueles que sempre esperavam sua visita. Ao entrar no
CTI viu Carlos em um dos leitos e foi até ele.
L.P.OWEN
70Sentou-se ao lado de Carlos, calmamente começou a
conversar com ele. Falava sobre a melhora de sua
aparência, de sua saúde e a possibilidade de ter uma vida
mais saudável e feliz.
Fez suas preces, pediu para que ele rezasse também e
pedisse a Deus que o ajudasse a se restabelecer o mais
breve possível.
- As coisas estão se encaminhando para sua felicidade. -
Disse com um sorriso ao sair.
LINHAS DO DESTINO
71
Capitulo vinte e um
A NACIONALIDADE
No corredor, Raquel encontrou Ana, que sem o uniforme
estava mais bonita ainda. As duas foram fazer uma visita a
Márcia que já estava mais acordada do que a última vez.
- Bom dia! - Disse Ana sorrindo.
- Bom dia! Hoje não é seu dia de folga? - Perguntou
Márcia.
- A senhora não descansa, dona Raquel? – Completou.
- Vir aqui é estar com meus amigos e com aqueles que
precisam. Hoje vou passar o dia com a Ana. Na verdade
gostaria que você pudesse vir com a gente.
- Vou deixar para a próxima vez. - Respondeu.
Ficaram conversando por um bom tempo, depois se
despediram.
Ao saírem, foram contempladas com um dia
maravilhosamente ensolarado e temperatura agradável.
L.P.OWEN
72Durante o caminho Ana falou sobre a vontade, dela e de
Márcia, de viajarem à Itália.
O que fez Raquel se lembrar de seu passado, retornar no
tempo e contar sua história.
Disse ter nascido na cidade de Pescara, situada na região
dos Abruzos, as margens do mar Adriático, Itália, mas
acabou vindo para o Brasil logo depois do seu nascimento,
por isso não conhecia o lugar.
LINHAS DO DESTINO
73
Capitulo vinte e dois
A CONCEPÇÃO
Antonieta, uma menina de 15 anos vive um drama ao
saber que o estupro que sofrera do filho do dono da
fazenda onde seu pai trabalhava como administrador
resultara em uma gravidez indesejada.
Os momentos de terror, que passou algumas semanas
antes, quando foi surpreendida próximo do riacho, onde
costumava pescar todas às tardes, não saiam de seus
pensamentos.
Ao perceber que Giuseppe um rapaz de 20 anos vinha em
sua direção, sorriu e cumprimentou-o como sempre fizera,
mas ficou preocupada ao notar que o brilho no seu olhar
estava diferente.
Giuseppe sentou ao lado de Antonieta. Iniciou uma
conversa sem pé sem cabeça. Repentinamente, agarrou-a e
com o braço em volta do seu pescoço sacou uma faca.
L.P.OWEN
74Colocou próximo ao seu rosto ameaçando-a. Disse caso
ela não fizesse o que ele queria, seria comida dos peixes
do lago.
A garota tentou desvencilhar-se, mas o rapaz era muito
forte com 1,90 m e 80 kg, não conseguiu, pois era muito
menor do que ele com 1,60 m e 50 kg.
Ele rasgou suas roupas com uma ferocidade e à medida
que ela tentava escapar era espancada com violência.
Lutou até perder suas forças. Mesmo quase desfalecida,
implorava para que ele não consumasse o ato, mas não foi
ouvida.
Foram momentos que ficaram gravados na sua mente. A
partir desse instante o ódio instalou-se imediatamente no
seu coração. Não conseguia tirar da sua mente as cenas
daquele homem alucinado em cima dela com os dentes
cerrados, os olhos vidrados, uma dor insuportável que
sentiu devido à violência com que foi penetrada.
LINHAS DO DESTINO
75
Quando terminou, ele prometeu que mataria toda sua
família se contasse para alguma pessoa.
Entrou várias vezes no lago para se lavar, mas não
conseguiu sentir-se limpa. Por mais que fizesse,
continuava com a mesma sensação de nojo.
As ameaças de Giuseppe foram muito claras, a segurança
de seus familiares estava em jogo. Ela não sabia o que
fazer.
A família de Giuseppe era muito poderosa na cidade. Se
contasse para qualquer pessoa seus pais poderiam sofrer
algum atentado. Caso seu pai viesse a descobrir, ele a
mataria.
A única pessoa em quem confiava era Angelina casada
com seu primo Carlo.
Moravam numa cidade não muito próxima. Normalmente
costumava visitá-la para conversar e pedir-lhe algum
conselho. Angelina era jovem, inteligente. Sabia como
L.P.OWEN
76orientar Antonieta. Por isso não causou desconfiança a
seus pais o pedido que Antonieta fez de ir visitá-la.
LINHAS DO DESTINO
77
Capitulo vinte e três
O PLANO
Ao chegar na fazenda foi recebida com muito carinho e
alegria. Angelina ficava sozinha o dia todo. Quando
recebia uma visita, ficava muito feliz, principalmente sua
prima por quem tinha muito carinho.
Antonieta estava tão ansiosa para desabafar com alguma
pessoa que não deu tempo para que sua prima perguntasse
sobre seus pais.
Falou que estava com problemas sérios, precisava de ajuda
para solucioná-los, mas antes, queria ter a promessa que
ela guardaria segredo.
A seriedade de Antonieta fez Angelina compreender que
sua prima estava passando por uma situação muito difícil.
Resolveu concordar.
A garota contou entre choro, acesso de raiva, tudo o que
ocorrera. À medida que os fatos eram narrados, mais
L.P.OWEN
78revoltada Angelina ficava com o cafajeste. As duas
planejaram a melhor maneira de solucionar o problema.
Angelina comentou seu plano para Antonieta. A garota foi
convencida da necessidade da inclusão e aprovação de
Carlo, não queria esconder nada dele, seria mais uma
pessoa a ajudá-las.
Quando foi perguntada sobre o que faria com o bebe,
Antonieta somente disse não querer ficar com ele, se
tivesse condições faria o aborto.
Angelina estremeceu com a palavra, já tivera alguns
espontâneos. Não conseguia mais engravidar. Tentou
acalmá-la para poder ganhar tempo, mas Antonieta não
estava disposta a mudar de ideia.
Apesar de entender o sentimento da prima disse que
poderia cuidar dele, sugeriu que ela não tomasse decisões
precipitadas.
LINHAS DO DESTINO
79
Antonieta comentou sobre a desconfiança de sua mãe, mas
ela não sabia exatamente o que havia de errado ou, se
sabia, não fizera nenhum comentário ou pergunta.
Naquela tarde ao chegar em casa, Carlo encontrou
Angelina e Antonieta à sua espera.
Beijou a esposa, cumprimentou a visitante com um
caloroso abraço, afinal era a única de seus parentes que
costumava visitá-los.
- Como você cresceu, já está quase uma mulher! –
Exclamou Carlo sem saber dos acontecimentos.
Pediu licença e foi tomar um banho. Ao retornar foi em
direção a sala de jantar onde foi servido seu prato
predileto de espaguete com frango ensopado e uma jarra
de vinho produzido por ele.
- Você faz as orações. – Disse Carlo para Antonieta.
Conversaram sobre vários assuntos, dentre eles os
problemas da agricultura.
- Como está o tio? – Perguntou Carlo.
L.P.OWEN
80- Está ótimo, trabalhando muito. Como sempre
reclamando da situação, que está cada vez mais difícil.
Angelina comentou sobre os dias de solidão, a falta que
fazia uma companhia. À medida que o assunto prosseguia,
amadurecia a ideia de trazê-la para morar com eles.
Contou também sobre o desejo de morarem no Brasil após
as colheitas e venda da fazenda.
- O que esperam encontrar lá? Como vão viver? -
Antonieta perguntou por quê tinha vontade de ir para o
Brasil.
- Não será tão rápido assim. No começo moraremos com
amigos, trabalharemos na lavoura. - Carlo comentou.
- Teremos tanto trabalho para fazer que não sinta solidão.
Angelina falou sobre o ocorrido com Antonieta. A ira de
Carlo ia aumentando. Quando a narrativa de sua esposa
terminou levantou-se.
- Vou caçar esse animal e arrancarei sua pele. – Disse
tremendo de raiva.
LINHAS DO DESTINO
81
Tanto imploraram que ele acabou por ouvi-las. Para não
causar mais tragédia na família resolveu que acataria suas
ideias.
Angelina pediu permissão para que Antonieta viesse
morar com eles durante esses meses que antecederia a
viajem do casal. Carlo respondeu, que por ele não teria
problema, mas a palavra final seria dada pelos pais de
Antonieta.
Carlo pensou, na vontade de ter um filho, no sentimento
de culpa de sua esposa, nas vezes que a ouviu chorar
durante as madrugadas. A solidão que ela sentia enquanto
ele estava no trabalho.
- A viagem será longa, temos que sair cedo, para antes do
anoitecer, estarmos lá.
Quando ouviu as palavras do marido, abraçou-o, beijou-o.
Naquela noite entregou-se ao amor como nunca
acontecera antes.
L.P.OWEN
82Na manhã seguinte ela acordou radiante e feliz. O dia
estava lindo, a temperatura agradável, Carlo preparou a
charrete deixando-a bem confortável, a caminhada seria
árdua.
Ao longo do caminho existiam algumas fazendas. A
estrada, ora passava entre as árvores, ora em locais de
difícil acesso, com alguns penhascos em suas margens.
As árvores floridas, a temperatura agradável indicava que
a primavera estava apenas começando.
No início da tarde pararam para um breve descanso.
LINHAS DO DESTINO
83
Capitulo vinte e quatro
O PEDIDO
O sol escondia-se no horizonte quando desceram da
charrete e cumprimentaram os pais de Antonieta. Dona
Nina preparou um jantar especial para os recém-chegados.
Seu Gino e Carlo colocavam as notícias em dia enquanto
esperavam o jantar.
As mulheres foram todas para a cozinha, onde Angelina
conversou com dona Nina aproveitando o momento para
convencê-la a deixar, que sua filha morasse com o casal.
Não sentiu que tivesse o apoio de dona Nina, mas teve a
certeza que não criaria problemas.
Na sala o assunto em pauta era a situação, que estava
caminhando para mais uma crise. O dinheiro escasso e o
aumento do desemprego geravam uma grande incerteza
quanto ao futuro.
L.P.OWEN
84Quando surgiu oportunidade, Carlo falou sobre o real
motivo de sua visita. O pedido feito ao senhor Gino que
sua filha morasse com o casal por algum tempo.
Falou sobre sua preocupação de deixar a esposa sozinha,
enquanto ele permanecia na lavoura.
Que sua esposa chorava pelos cantos, reclamando o fato
de não poder ter filhos.
Seu Gino não disse nada, o semblante não demonstrava
sentimento algum, fazendo com que tivesse dúvidas
quanto ao consentimento do tio. Isto fazia Carlo ficar mais
apreensivo.
O silêncio era total. Chegando a ser constrangedor. O
único som que se fazia ouvir era o dos passarinhos no
pomar procurando um lugar para dormir e as mulheres
conversando na cozinha.
Nesse momento Antonieta entrou na sala para perguntar se
o jantar poderia ser servido.
LINHAS DO DESTINO
85
Seu Gino olhou para a filha e notou a felicidade
estampada no seu rosto. Deu autorização para que fosse
servido o jantar.
Novamente o silêncio foi instalado. Seu Gino era uma
pessoa honesta de enorme coração, tranquilo, mas de
decisões muito bem pensadas.
O jantar transcorreu alegre, após os agradecimentos
costumeiros devoraram as delicias que dona Nina tinha
preparado.
Os assuntos eram variados. Em alguns momentos falavam
sobre colheita, noutro sobre a perspectiva da viagem de
Marco e Angelina para o Brasil.
Ao final do jantar seu Gino deu a notícia que todos
esperavam. Permitiu que sua filha fosse morar com eles.
No dia seguinte bem cedo já estavam a caminho de casa
novamente, tinham um longo caminho, mas estavam
felizes.
L.P.OWEN
86Capitulo vinte e cinco
O GRANDE MOMENTO
À medida que o tempo passava, o corpo de Antonieta
sofria algumas modificações importantes e sua revolta
aumentava.
Angelina passava o tempo conversando com a garota para
acalmá-la e levar até o final sua gravidez. Apesar da
contrariedade, da raiva que sentia atendeu sua prima, mas
sua decisão de não querer sequer ver a criança estava
mantida.
No final da tarde, de outono, Antonieta começou a sentir
as contrações anunciando a chegada do bebê.
A mais entusiasmada, era com certeza Angelina, que não
deixou por um segundo a garota.
Carlo ouviu o choro de uma criança que acabara de chegar
ao mundo.
LINHAS DO DESTINO
87
Capitulo vinte e seis
A CONFISSÃO
Ao chegarem, Ana viu um bilhete de Luís sobre a mesa,
nele estava escrito, que estava na casa de seu amigo
Júnior. Levou o Tobias para a mãe dele conhecê-lo.
Voltaria antes do almoço.
As duas riram com o bilhete e iniciaram a preparação do
almoço. Raquel continuou sua narração.
- Depois do meu nascimento fui entregue para um casal
que viera morar aqui no Brasil. Eles registraram-me como
sua filha. - Ana a ouvia em silêncio.
- Minha infância foi muito feliz. Éramos pobres, mas
havia amor entre nós. Quando papai Vitor morreu foi
terrível. Tinha saído para o trabalho na lavoura, onde era
meeiro, acabou não voltando. Teve um enfarto fulminante,
não conseguiram salvá-lo.
L.P.OWEN
88- Qual era sua idade nessa época? - Perguntou Ana
lembrando-se do seu sofrimento com a perda do pai.
- Tinha 15 anos. Depois de alguns meses minha mãe Sofia
começou a ter a saúde abalada. Não demorou e também
faleceu. – Deu uma pequena pausa para tomar fôlego e
continuou.
- Passei a morar sozinha numa casinha na cidade.
Trabalhei em serviços diversos como lavar e passar.
- Algum tempo depois acabei recebendo uma herança de
um casal que não conhecia até então. Descobri, tempos
depois, serem Carlo e Angelina, que infelizmente nunca
tive oportunidade de conhecer. Eles me deixaram além de
uma quantia razoável a casa onde moro atualmente, uma
carta onde contaram todo o drama de minha mãe.
- A senhora nunca se casou? - Perguntou Ana enxugando
uma lagrima que rolava pelo rosto.
Raquel apenas sorriu e respondeu com o bom humor que
era sua característica.
LINHAS DO DESTINO
89
- Amei uma pessoa, mas não era hora de estarmos juntos.
Não encontrei outra tampa. - Riram gostosamente.
- Eu também ainda não encontrei o meu príncipe – sorriu e
completou. – Pensei ter encontrado um, mas virou sapo.
- Apesar de morar sozinha acabei com um monte de filhos,
maridos, mães, avôs e avós. Comecei a cuidar de pessoas e
desde então não parei mais.
- O que aconteceu com sua mãe Antonieta?
- Durante muitos anos não tive notícias dela, ou melhor,
não sabia que ela existia. Somente depois do falecimento
de meus pais, quando recebi a carta fiquei sabendo de sua
existência, que vivia no Brasil, mas não sabia onde.
- Ela tinha casado com um rapaz que conhecera pouco
depois do meu nascimento. Viveram juntos 45 anos, mas
não tiveram filhos.
- A senhora chegou a encontrá-la?
- Sim cuidei dela durante alguns anos.
L.P.OWEN
90- Ela descobriu que era sua mãe? - Ana estava com os
olhos marejados pensando na saudade que sua mãe fazia.
Apesar das desavenças, gostaria de poder conviver mais
com ela.
- Como sempre fiz, após a morte de meus pais adotivos,
visitava orfanatos, asilos, hospitais. Numa dessas visitas a
um asilo vi uma senhora que me fazia sentir algo diferente
tínhamos os traços parecidos, mas nunca pensei na
possibilidade de ser minha mãe. Como nunca me
preocupei com isso, não me passou pela cabeça que
pudesse ser ela.
- Ela tinha diabetes, por isso, outros tipos de complicações
na saúde apareceram. Sua visão estava a cada dia pior, sua
circulação também. Um dia ao chegar para visitá-la no
asilo, fiquei sabendo que tinha sido levada e estava
internada no hospital onde você trabalha.
LINHAS DO DESTINO
91
- Todos os dias fazia minha visita pra ela. Quando
perguntei quem mais a teria visitado. Fui informada que
não havia, nem no asilo.
- Como era a única pessoa que a visitava, um dia ao
chegar, fui autorizada a ficar o tempo que quisesse porque
ela teria apenas algumas horas então fui até ela e perguntei
se queria que trouxesse um padre para se confessar.
- Olhou-me, com voz suave disse.
- “Venha mais perto, minha filha, porque gostaria que
você presenciasse minha confissão a Deus”.
- Segurou minha mão e começou a contar sobre as coisas
que tinha passado ao longo dos anos. Sobre a solidão que
sentira durante vários anos até o dia que nos encontramos.
- Contou sobre seus pais, sua infância, onde moravam,
tudo o que lembrou. Começou sua confissão.
- “Quero iniciar, pedindo perdão a Deus, porque não tinha
entendido seus desígnios. Pedir perdão a Deus, por não ter
L.P.OWEN
92aproveitado a chance de cuidar de alguém tão especial
que Ele me deu”.
- “Agora, na sua infinita misericórdia, me concedeu este
momento de resgatar o que tinha perdido. - Gostaria de
além de pedir perdão a Deus, pedir perdão para você,
minha filha, pelo mal que fiz. – Lágrimas rolavam pelo
seu rosto”.
- “Quando ainda sequer tinha nascido. De não tê-la amado
como deveria. De abandoná-la, dando-a para que outros
pudessem criá-la. Enganei-me, porque depois, descobri
que tinha morrido naquele instante. Passei a sentir sua
falta. Lamentei durante toda minha vida não ter a presença
de um anjo que me fora dado por Deus”.
- “Gostaria de te pedir perdão por tudo, te dizer que desde
a primeira vez que te revi senti meu coração bater
diferente. Não importa o que aconteça, a única coisa que
gostaria de saber se você me perdoa”.
LINHAS DO DESTINO
93
- Quando a abracei, antes mesmo de conseguir dizer, que
não tinha nada a perdoar, ela segurou minha mão com
mais força e fechou os olhos.
- Foi assim que nos despedimos. A última página de nossa
história tinha sido escrita ali.
- Além de mim, algumas poucas pessoas do asilo foram ao
velório, mas não vi ninguém diferente, nenhum parente.
Nesse momento Ana não conseguiu segurar a emoção e
começou a soluçar como uma criança.
Depois de algum tempo, já refeita, contou sobre os
problemas de relacionamento com sua mãe.
Raquel abraçou-a com ternura e comentou.
- Faça uma visita para sua mãe, conversem, na maioria das
vezes, os motivos são sempre banais, mal-entendido. Nada
que não possa ser resolvido simplesmente deixando o
orgulho de lado. – Concluiu – O orgulho é um dos
motivos para as desavenças.
As duas ficaram abraçadas por um bom tempo.
L.P.OWEN
94O almoço estava quase pronto quando Luís chegou
fazendo a maior bagunça com Tobias.
- Olá mamãe! - Disse Luís sorrindo segurando Tobias pela
coleira.
Quando viu que tinha visita ficou meio sem jeito, mas foi
socorrido por Ana.
- Esta é Raquel, todos os dias ela vai ao hospital para
visitar os doentes.
- Muito prazer disse Luís.
- O prazer é todo meu. - Raquel sorriu. - Quem é esse
cãozinho lindo?
- Esse é o Tobias o mais novo morador desta casa. –
Comentou com orgulho.
- Mas ele é muito lindo, tem uma cara meiga.
O almoço estava delicioso e muito agradável e Ana ficou
reparando no jeito, no som de sua voz quando falava a
conversa que tinha com Luís, enfim todos os trejeitos dela
era exatamente como todos diziam no hospital.
LINHAS DO DESTINO
95
- “Raquel iluminava o ambiente”. – Pensou.
Luís ficou meio enciumado quando seu cãozinho Tobias
pulou no colo de Raquel e não quis mais sair.
Após o almoço foram para a sala. Ana contou um pouco
de sua vida, as coisas que aconteceram em seu casamento
e como terminou.
Conversaram durante um longo tempo, quando
perceberam já estava anoitecendo.
- Nossa! – Exclamou Raquel – As horas passaram.
- Nem eu. - Completou Ana. - Foi tão bom o dia, fazia
muito tempo que não passava por momentos tão
agradáveis.
- Também senti como muito tempo não sentia. Adorei
estar aqui, estava tudo perfeito, mas agora está na hora de
ir, tenho que me preparar para a semana.
Ana prontificou-se a levá-la para casa. Convidou Luís para
ir junto.
L.P.OWEN
96Capitulo vinte e sete
UM LUGAR AGRADÁVEL
A noite estava muito agradável, as luzes da cidade
atrapalhavam o brilho das estrelas e da lua. O céu estava
muito limpo, a temperatura tinha baixado um pouco, mas
ainda continuava agradável.
O trajeto foi tranquilo, ao chegarem, Raquel convidou Ana
e Luís para conhecerem sua casa e tomarem um café.
Era uma casa simples com o portão de madeira, pintado na
cor verde musgo. O jardim bem cuidado, com flores de
diversas cores e qualidades, enfeitava toda frente
construída com tijolo aparente.
Caminharam alguns metros por entre as flores e plantas.
Uma varanda surgiu como um passe de mágica. Sob uma
janela a namoradeira de balanço. Ao lado uma mesinha
com uma toalha branca e um vaso com algumas flores do
jardim davam um toque especial ao ambiente.
LINHAS DO DESTINO
97
Na entrada, algumas fotos colocadas sobre um móvel
chamaram a atenção de Ana.
Raquel aproveitou para mostrar seus pais adotivos e num
local especial a foto de Antonieta. Ana percebeu o quão
especial era Raquel. Deu um abraço tão apertado na
amiga, que ela ficou sem saber o por quê. Percebeu que
era algo importante para Ana e retribui o gesto de carinho.
A simpatia que Ana sentia por Raquel também passou a
ter por Antonieta. Era algo inexplicável, desde quando
Raquel contou sua história, sentiu um profundo respeito
por elas.
Os três sentaram na sala, enquanto conversavam,
apreciavam o delicioso sabor do café preparado pela
anfitriã.
Quando iam saindo, Ana comentou.
- Você nem imagina quanto adorei esse dia. - Disse
sorrindo.
- Também adorei. – Respondeu Raquel.
L.P.OWEN
98Capitulo vinte e oito
SEGUINDO O CONSELHO
Na manhã seguinte, depois de tomarem um café da manhã
bem reforçado, saíram em direção à estrada que levava a
cidade onde sua mãe morava.
Não era tão distante, com o trânsito livre poderiam chegar
em pouco mais de duas horas.
O dia estava ensolarado, mas a temperatura continuava
agradavelmente em torno de 20ºC.
A estrada, apesar de sinuosa, era bem sinalizada e bem
conservada, tornando a viagem agradável.
O ar da serra fazia os pulmões absorverem um pouco mais
de Oxigênio. Ao chegarem na cidade, mesmo depois de
algum tempo, Ana não notou nenhuma mudança.
Sua mãe morava numa chácara dentro da cidade, com
árvores frutíferas de várias espécies, jardim bem cuidado e
LINHAS DO DESTINO
99
um terreno espaçoso onde as galinhas, patos e pássaros de
diversas espécies dividiam aquele pequeno paraíso.
A casa era ampla, com varanda em toda volta. Havia redes
de descanso presas entre a parede e as colunas que
sustentavam o telhado. Ao fundo uma piscina cercada por
um gramado muito bem tratado. Outra coisa que chamava
a atenção era a horta plantada ao lado da casa.
Quando ouviu o barulho de carro parando na porta, dona
Marta olhou pela janela. Ao ver Ana, largou tudo, correu
ao seu encontro.
Dona Marta era uma mulher de beleza incontestável,
inteligente, com personalidade forte.
Tinha o dom da arte manual, em tudo o que fazia tinha o
seu bom gosto.
Como sempre, mantinha o cuidado com sua aparência.
O local apesar de toda a beleza era simples.
L.P.OWEN
100Ana ao ver sua mãe vindo em sua direção, tão bela e
graciosa, sentiu orgulho de ser sua filha. Ao se abraçarem,
não conseguiam conter as lágrimas.
- Estava com muita saudade de você, mamãe, por isso vim
ver-te. – Disse Ana chorando.
Marta não aguentou a emoção e chorou.
Lembrando-se do tempo quando Ana era pequena.
Somente depois de alguns minutos conseguiu responder.
- Eu também estava com muita saudade de você minha
filha. Você não imagina a felicidade de poder te abraçar,
dizer que te amo mais do que eu mesma.
- Quando te vi entrando por aquele portão voltei alguns
anos da minha vida de tão parecida que somos. Talvez,
seja por isso que brigamos e sofremos depois.
As duas conversaram sobre vários assuntos. Luís, que até
então, não tinha cumprimentado a avó deu e recebeu um
abraço caloroso.
LINHAS DO DESTINO
101
Depois dos cumprimentos foram à casa vizinha, onde
Fábio, seu irmão e a esposa Leila moravam. Foi mais um
momento de felicidade, de abraços e choro.
Como nos bons tempos a paz reinou naquele lar. Luís
conheceu melhor seu tio.
- Só está faltando aqui Tobias. - Disse Luís.
- Quem é o Tobias? - Perguntaram os três ao mesmo
tempo.
- É o mais novo morador de casa. – Explicou Ana - Um
cão Lavrador, muito gracioso.
Contou também sobre sua separação de Roberto, a cirurgia
de Márcia, enfim colocou todos os assuntos em dia.
Quase ao mesmo tempo Marta, Fábio e Leila deram a
noticia sobre a vinda do bebe. Leila estava grávida há dez
semanas, como era o primeiro filho estavam ansiosos por
sua chegada.
A conversa estava animada, mas o tempo era implacável,
passava como uma velocidade inacreditável.
L.P.OWEN
102Ao final da tarde quando já iam sair Ana perguntou a
sua mãe se gostaria de passar alguns dias com ela.
Marta ficou em dúvida, por causa dos animais que
mantinha na chácara. Eles eram sua companhia. Fábio se
propôs a cuidar de tudo enquanto estivesse fora.
- OK! Minha filha, me de alguns instantes para colocar
algumas roupas na mala e iremos.
LINHAS DO DESTINO
103
Capitulo vinte e nove
DESCOBRINDO O SEGREDO
A felicidade de Marta era visível, desde o falecimento de
seu marido não voltara a São Paulo, cidade onde nascera e
amava.
Uma cidade grandiosa sob todos os aspectos maus e bons.
A maior cidade do Brasil e da América Latina. Isso fazia
sentir-se orgulhosa.
Depois de todos os preparativos iniciaram o regresso. Ana
não escondia a felicidade de ter sua mãe por perto.
Neste momento, lembrou-se do que Raquel dissera, sobre
os motivos que levavam as pessoas a brigarem, perderem
a amizade o amor.
- “A maior parte das brigas acontecem porque queremos
que a outra pessoa faça o que falamos, não aceitamos o
seu ponto de vista, isso é o mesmo que estarmos colados
L.P.OWEN
104de frente para o outro e quisermos dar um passo à
frente, não conseguiremos”.
Ana percebeu o motivo pelo qual brigara com sua mãe “o
orgulho” de não ceder em nada. Quando teve a iniciativa
de dar um passo a traz resolveram-se todas as diferenças.
LINHAS DO DESTINO
105
Capitulo trinta
UM DILEMA
Raquel foi ao hospital visitar o pessoal. Assim que entrou
foi direto à capela, fez suas orações. Em seguida foi ao
Centro de Tratamento Intensivo. Ao entrar, teve algumas
surpresas.
Carlos tinha sido transferido para o quarto, Gabriel, saído
do coma, também seria transferido para um quarto.
Quando Raquel chamou seu nome, o garoto sorriu como
se reconhecesse quem o chamava.
- Como você está Gabriel? - Perguntou sem esperar pela
resposta.
- Meu nome é Raquel, visito você sempre que posso.
- Obrigado. - Disse o garoto.
- Você precisa se esforçar, se quiser melhorar, só assim
sairá mais rápido daqui, também gostaria de te apresentar
uma pessoa muito especial, ele tem torcido por você.
L.P.OWEN
106Repentinamente Gabriel muda de assunto
completamente.
- O que aconteceu com meus pais? - Perguntou com olhar
fixo nos olhos de Raquel aguardando uma resposta.
Nesse momento ela não sabia o que responder, não tinha
ideia sobre o que haviam contado para ele. Procurou com
olhar pelo médico responsável, mas ele estava ocupado em
outra sala, como não havia tempo para confirmações,
resolveu perguntar-lhe sobre o que Gabriel sabia.
- Sei que estou aqui deitado com um montão de coisas
ligadas, quando pergunto por quê minha mãe não vem
visitar-me eles dizem que ainda não pode vir.
Raquel descobriu o que mais temia, não tinham dito nada
sobre os acontecimentos, mas não sabia se poderia agravar
seu estado de saúde contando a verdade. Pensou em como
ganhar algum tempo para poder certificar-se do real estado
do garoto.
LINHAS DO DESTINO
107
- Vou procurar a pessoa responsável para saber o que
aconteceu, depois volto para falar o que descobri. – Em
tom de cumplicidade perguntou - Você está de acordo?
Depois da resposta afirmativa, deu um beijo no garoto,
saiu o mais rápido que pôde para falar com o médico
responsável por seu tratamento.
Instante depois conversava com o doutor Robson e ele
confirmou o que ela temia, caso Gabriel soubesse do
ocorrido com sua família, poderia ter complicações no seu
quadro. Por hora deveriam manter alguma restrição sobre
o que dizer para ele.
- O que faremos? – Disse procurando achar uma solução.
- Não podemos simplesmente ignorar suas perguntas.
- Ele tem saudades de sua mãe e está com medo de ficar
sozinho.
- Para ser sincero - respondeu o doutor - não sei como
lidar com essa questão.
L.P.OWEN
108- Será transferido para o quarto, à medida que seu
estado melhorar poderá começar a prepará-lo para
conhecer a verdade. - Disse ela com convicção.
- Contar-lhe por etapas, para ganhamos mais tempo. –
Concordou o doutor.
Raquel teve uma ideia e resolveu contar para o doutor que
achou excelente.
- OK! Vou tentar acalmá-lo, a partir de amanhã falarei aos
poucos com ele.
Raquel despediu-se do médico e voltou para dar a boa
noticia a Gabriel.
- Falei com o doutor e ele informou que está preocupado
em achar um quarto para você, depois vai verificar o que
aconteceu com seus pais e me informar. – Novamente em
tom de confidência.
- Vamos combinar o seguinte – Disse baixinho - prometo
que vou cuidar de você até que tudo se resolva você me
promete que vai fazer o possível para sarar logo.
LINHAS DO DESTINO
109
Gabriel concordou. O acordo foi firmado com um aperto
de mão. Nesse momento o garoto sentiu uma sensação
diferente.
- Você é quem segurava minha mão? - Perguntou
repentinamente.
- Você se lembra do que dizia para você? – Falou com
suavidade.
- Lembro de alguém me segurando, falando comigo, me
dizendo algo que não conseguia entender, mas sabia que
eram coisas boas. Sentia que algo me segurava não me
deixava ir aonde eu queria.
- Para onde você queria ir?
- Não sei exatamente, mas às vezes me sentia muito triste,
com medo. De repente tudo parecia mudar me sentia feliz.
– Continuou sério - Em alguns momentos pensava na
minha mãe. Ela me abraçava me acalmava.
L.P.OWEN
110Raquel sentiu seus olhos marejarem. Como previra ele
seria o grande mensageiro de Deus para uma pessoa que
tinha muito por ensinar e aprender.
- Deixa dar a boa notícia para um amigo que também torce
por você.
LINHAS DO DESTINO
111
Capitulo trinta e um
A RECEITA
Raquel saiu com a sensação de que a Providência já
começara a agir. Ao passar pelo quarto, onde Márcia
estava, entrou e cumprimentou-a.
- Olá minha filha! Como você está?
- Estou melhorando a cada dia. – Notou a alegria
estampada no rosto de Raquel. – Pelo visto a senhora esta
muito feliz.
- Quando vocês estão bem, eu também estou. –
Respondeu.
- Como foi o dia de vocês ontem? – Referiu-se a visita na
casa de Ana. – Espero, que tenha sido divertido.
- Foi muito bom, conversamos, ela contou sobre a vida
dela, eu sobre a minha Ana disse que vocês planejam fazer
uma viagem à Itália.
L.P.OWEN
112- A senhora sempre levantando o astral da gente. -
Disse Márcia ao perceber o que ela pretendia.
- É por isso e para isso que vivo. - Sorriu maliciosamente,
- Gostaria de oferecer um almoço pra vocês na minha
casa, mostrar alguns objetos que tenho da Itália, creio que
vão gostar.
- Desde quando a conheci adotei-a como minha segunda
mãe, Ana como uma irmã que nunca tive. – Segurando a
mão de Raquel continuou - Às vezes penso por que temos
mais afinidades com as pessoas que conhecemos fora de
casa do que com nossos familiares.
- É simples! - Respondeu Raquel. - Começamos a crescer,
nosso orgulho acaba crescendo com a gente. Ao invés de
conversarmos, discutimos.
- Você precisa ter alta logo, minha filha, afinal tem muitas
pessoas precisando do seu carinho.
LINHAS DO DESTINO
113
- Prometo que vou perturbar o doutor Guilherme até que
ele me dê alta. Também não vejo a hora de poder trabalhar
novamente.
- Agora preciso ir andando. – Disse Raquel - Prometi
procurar um lugar para o Gabriel, alguém para fazer
companhia para ele.
– Tenho a impressão de que a senhora já tem alguém em
mente. – Interrompeu Márcia sorrindo.
Raquel piscou e saiu. Antes que ela se afastasse muito
ouviu “Eu te amo”.
L.P.OWEN
114Capitulo trinta e dois
LADO A LADO
Quando chegou ao quarto de Carlos ele estava recostado
no travesseiro. Ela percebeu que algo estava errado. Ele
estava com o semblante triste demonstrando preocupação.
Novamente sentou-se ao seu lado, ali permaneceu quieta
sem dizer absolutamente nada.
Carlos tentou sorrir, melhorar sua aparência, mas foi
surpreendido por uma frase bastante curiosa.
- Como está sua aparência por dentro? - Perguntou Raquel
olhando-o de soslaio.
- Está bem. - Respondeu sem jeito.
- O que aconteceu para te deixar tão triste por fora? – Sua
voz era doce.
- Estar aqui, de não arranjar um emprego, de não poder dar
uma condição melhor de vida para minha família.
LINHAS DO DESTINO
115
- O que é uma condição melhor de vida? – Ela emendou
outras perguntas - será que não é estar ao lado de quem se
ama? - Poder ajudar outras pessoas, mesmo que seja com
um abraço, uma conversa, manter a família unida e feliz?
Carlos ficou admirado de ver como a vida pode ser
simplificada. Dona Raquel sempre mostrava o que poderia
ser feito.
- Na verdade vim aqui para verificar se o senhor permite
que alojemos o Gabriel nesse quarto. Ele precisa sair do
CTI, então, achei bom para o senhor ter alguém com quem
conversar.
- Por mim não há problema algum, afinal terei quem
perturbar. – Disse mais alegre.
- Falarei com o doutor Robson para providenciar a
transferência mais rápida possível.
Quando Rui chegou com a maca para levar Gabriel para o
quarto, imediatamente, foi fazendo festa com ele.
L.P.OWEN
116- Como vai meu camarada, vamos dar uma volta na
minha máquina envenenada?
Gabriel apenas sorriu timidamente.
- Vou mostrar o corredor mais legal para fazer racha, verá
que é uma beleza. - Da até para dar uns cavalos de pau.
- Prefiro continuar quase inteiro. - Disse Gabriel sorrindo.
- Então vamos lá. Você prefere com ou sem emoção?
- Prefiro com tranquilidade e segurança. – Respondeu sem
hesitar.
- Então aqui vamos nós. Tirem as macas, as cadeiras de
rodas da frente por que estamos passando.
Gabriel ria com as palhaçadas de Rui, que procurava
tranquilizar todos os enfermos. Por isso sempre recebia
elogios e presentes, mas como ele dizia era palhaço por
natureza. Gostava de fazer as brincadeiras apenas em troca
de um simples sorriso.
Ao chegarem no quarto, Carlos já estava esperando. Rui
foi dizendo.
LINHAS DO DESTINO
117
- Acabou o seu sossego senhor Carlos, agora terá mais um
hóspede. Espero que não ronque alto, não goste de ouvir
música num volume muito alto.
- Acredito que ele não goste de música alta, mas sim de
músicas boas. – Carlos emendou sorrindo.
- Não acredite nisso, porque as informações que obtive
eram de que ele gosta dessas músicas barulhentas.
Gabriel ainda um pouco acanhado não disse nada apenas
sorriu. Depois de acomodar o garoto Rui foi se
despedindo.
- Bem minha missão já está cumprida agora é com os
senhores. Por favor, não troquem os frascos de soro nem é
permitido usar o suporte como cabide.
Todos riram o ambiente ficou mais alegre quando Raquel
chegou para perguntar se estava tudo bem o quarto parecia
um campo de futebol em final de campeonato. Ela sabia
que essa convivência seria boa para ambos.
L.P.OWEN
118Capitulo trinta e três
O INÍCIO DA AMIZADE
Quando todos saíram e ficaram apenas os dois. Carlos
iniciou a conversa, a princípio timidamente, mas aos
poucos foi fluindo naturalmente.
- Não tivemos tempo para apresentações, meu nome é
Carlos, muito prazer.
- O meu é Gabriel. O que aconteceu para estar aqui no
hospital?
- Fiz muitas bobagens na minha vida, ficava com raiva de
tudo, vivia de cara feia. Não que esteja mais bonita agora.
Acabei tendo um problema, foi necessário fazer uma
cirurgia no coração. Agora estou recuperando-me. O
doutor falou para eu parar de ser teimoso e tudo estará
resolvido, mas não consigo preciso de alguém que me
policie.
- O senhor tem filhos?
LINHAS DO DESTINO
119
- Sim tenho três filhas, mas já estão casadas. Você é
casado Gabriel?
- Claro que não. Tenho apenas onze anos.
- Hoje em dia é moda casar tão cedo, então, achei que
fosse casado.
Gabriel ria a todo instante, nascia ali um vínculo afetivo
muito forte. O tempo era preenchido com bom humor, tão
bom que a melhora dos dois era vista em cada momento
que o médico passava para consulta.
Numa das conversas Carlos perguntou o que estava
acontecendo, porque notara que o garoto ficou triste de
uma hora para outra. Gabriel procurou dissimular, mas
Carlos sabia exatamente o que era.
- Você não gostaria de conversar um pouco a respeito? –
Carlos procurou não forçar.
Depois de alguns instantes o silêncio foi quebrado.
- Agora pouco me lembrei do que ocorreu antes do meu
acidente. Estava na escola quando algum conhecido veio
L.P.OWEN
120me chamar porque meu pai tinha matado minha mãe
por ciúmes, em seguida se matou. Todos aqui esconderam
de mim a verdade, por isso ninguém falava nada sobre o
que aconteceu. Quando perguntei mudaram de assunto.
Agora descobri que já não posso mais fazer nada pela
minha mãe, que estou aqui sem saber o que será daqui
para frente.
- Não tenho ideia de como você esta se sentindo, mas sei o
que é sentir saudades, afinal antes de ser pai já era filho.
Mesmo hoje, ainda tenho muita saudade de minha mãe,
mas procuro lembrar de coisas alegres que fizemos. De
coisas que ela fazia para me agradar. Assim a saudade
diminui e continuo seguindo pra frente. – Continuou - É
difícil agora que tudo é tão recente. Com o tempo não será
mais essa saudade dolorida, mas somente saudade. Se
precisar de um amigo para te ajudar a suportar esses
momentos pode contar comigo afinal é para isso que os
amigos servem. – Concluiu - Acredito que não te
LINHAS DO DESTINO
121
contaram antes para que você pudesse lutar para sarar o
mais rápido possível. Ser o homem que a sua mãe sempre
imaginou que será.
- Não sei o que será daqui para frente, meus pais já não
existem, não conheço parente próximo, não sei o que
fazer.
- Vamos fazer o seguinte você se preocupa em sarar,
depois nos vamos verificar o que podemos fazer. Caso
você queira, poderá morar em minha casa até você casar,
como fizeram minhas filhas.
O garoto ficou mais tranquilo depois da conversa com
Carlos o assunto que se seguiu foi sobre esporte.
L.P.OWEN
122Capitulo trinta e quatro
A DECLARAÇÃO
Márcia sentia-se cada vez mais forte, quando o doutor
Guilherme, para brincar com ela, fez alguns comentários
misteriosos, achou não estar tão bem quanto julgava.
- Bom dia Márcia, como tem passado? – Ele estava feliz
em poder cuidar do seu grande amor.
- Muito bem doutor, mas com vontade de voltar a
trabalhar, afinal não nasci para ficar doente, mas para
cuidar deles.
- Sei disso, mas ainda vai demorar um pouco.
- Por quê? - Perguntou assustada. - Algum problema?
- Sim! – Respondeu com um sorriso nos lábios. - Um
problema de ordem técnica. – Tomando coragem falou.
- Vai ter alta agora, com a condição de permitir que a leve
para jantar, antes que diga, isso é uma chantagem, não
aceito não como resposta.
LINHAS DO DESTINO
123
- Claro que aceito! – A comida hospitalar é sem gosto.
- Agora você sabe como os enfermos se sentem quando
vamos cuidar deles. – Disse Guilherme.
- É verdade, vou lembrar-me desses dias e procurar fazer
melhor ainda do que fazia.
- O jantar fica marcado para terça-feira, se não se importa.
Na quarta vou a um congresso, ficarei fora durante uma
semana. - Disse ele.
- Gosta de comida italiana? – Perguntou sorrindo.
– Amo!
- Então está combinado.
L.P.OWEN
124Capitulo trinta e cinco
UM PRÍNCIPE DE MACA
Ana chegou feliz para o trabalho. Não via a hora de dar
um beijo em Márcia e Raquel. Contar todas as novidades
do final de semana, mas quando foi ao quarto, onde
Márcia estava, foi surpreendida com a presença de outra
paciente. Depois de informar-se descobriu que ela
recebera alta, já estava a caminho de casa.
Apesar da surpresa ficou ainda mais feliz, quando
encontrou dona Raquel no corredor convidou-a para
almoçarem juntas, queria contar sobre os novos
acontecimentos.
À medida que o tempo passava o trabalho aumentava. O
número de pacientes atendidos era muito grande. Não
dava tempo nem para tomar um copo de água. Eram
pessoas que chegavam precisando de cuidados especiais,
LINHAS DO DESTINO
125
outras apenas para serem medicadas. Enfim era uma
bagunça organizada e gratificante.
Sua mãe, agora em companhia de seu filho, fazia com que
ela se sentisse mais segura. Caso ocorresse qualquer
problema ela poderia resolver ou ligar, além disso, Luís
sentia mais proteção. Ainda mais agora, que a amizade dos
dois tinha sido fortalecida depois que a avó confessou
estar com muita saudade dele, no tempo em que estavam
separados.
Pouco antes da hora do almoço, chegou uma viatura do
resgate trazendo um paciente em estado grave. Vítima de
colisão, não havia morrido porque seu carro tinha todos os
itens de segurança. Mesmo assim, requeria cuidados
especiais. O carro ficara completamente destruído indo
direto para o ferro velho.
Ao chegar à sala de emergência, Ana pôde ver um homem
com seus 1,90 m de altura pesando aproximadamente 90
L.P.OWEN
126kg, todo ensanguentado, com suspeita de fraturas
múltiplas de costela e fêmur, entre outras coisas.
Já tinha sido atendido pelo pessoal que o socorrera.
No momento, estava sendo atendido pela equipe médica
do hospital.
A atenção que todos dedicavam era de dar orgulho a
qualquer um da equipe. Logo que foi medicado e limpo,
conduziram-no para fazer exames mais detalhados.
Felizmente não havia nenhum tipo de problema interno. O
maior seria a cirurgia no fêmur para colocação de alguns
pinos, os restantes eram pequenos cortes ocasionados por
vidros e outros materiais.
A cirurgia foi coordenada pelo doutor Mota e os
resultados foram excelentes. Após o término, o médico foi
até a sala de espera para comunicar aos familiares o estado
de saúde do paciente, mas para sua surpresa não havia
ninguém.
LINHAS DO DESTINO
127
Quando Ana soube do ocorrido ficou preocupada e curiosa
ao mesmo tempo. Foi ao setor de internação para saber se
havia algum parente do paciente na recepção, mas
lembrou-se, que não sabia o nome dele, resolveu perguntar
para a atendente.
- Bom dia Sílvia! - Disse com seu sorriso estonteante.
- Olá Ana! Como vai? Faz tempo que não nos vemos. O
que posso fazer por você?
- É verdade, faz muito tempo, estamos sempre correndo.
Preciso saber algumas informações a respeito do paciente
que foi trazido pelo pessoal do resgate.
- Um minuto e dou-te.
Ana estava tão preocupada com o trabalho que havia
esquecido o horário. Quando sentiu um toque se virou
para olhar, viu Raquel.
- Eu estava procurando por você, então, avisaram-me onde
você estava. – Disse Raquel.
Quando Ana olhou para o relógio ficou desesperada.
L.P.OWEN
128- Nossa nem havia percebido que já é esse horário.
Tenho que verificar os dados de um paciente a senhora
está com muita fome?
- Claro que não, se você estiver muito ocupada almoçamos
outro dia sem problema algum.
- Hoje as coisas complicaram muito. Acredito que só farei
um lanche, mas tenho tanto para contar, te agradecer o
conselho que me deu para ir falar com minha mãe ela veio
passar uns dias aqui comigo. – Estava radiante quando
comentou.
- Fico feliz por você. Sei que será mais feliz ainda, afinal a
felicidade sempre está à procura de nós, ou melhor, está
dentro de nós.
Raquel deu um beijo carinhoso em Ana e saiu.
Sílvia apareceu com a ficha de informação do homem
internado. Ao pegá-la Ana verificou que se tratava de um
homem de 40 anos, divorciado, seu nome Paulo A. Silva.
Procurou outros dados que constavam na ficha como
LINHAS DO DESTINO
129
telefone, endereço, para comunicar-se com algum familiar.
O telefone que constava era residencial.
- Alô! Quem fala? – Ana perguntou, uma voz feminina
respondeu.
- Aqui é Doralice quem quer saber?
- Meu nome é Ana, gostaria de falar com algum parente
do senhor Paulo.
- O senhor Paulo não tem parente aqui só no litoral.
- Como posso falar com eles?
- Posso ligar para o senhor João, ele entrará em contato
com você.
- Se você puder te agradeço.
- Um minuto que vou pegar papel e lápis para anotar seu
telefone e endereço.
Depois de despedir-se de Ana, com o endereço do hospital
em mãos, Dora, imediatamente ligou para o senhor João,
informou o que tinha acontecido com Paulo.
L.P.OWEN
130Já fazia tempo que João vinha a São Paulo, desde que
Paulo havia construído a casa da praia e convidou-o a
morar lá. Como era um sonho de muito tempo, não pensou
duas vezes.
Agora voltaria a cidade onde vivera grande parte se sua
existência. Conhecia o hospital, não teria dificuldades para
chegar. O que não sabia é que ele tinha mudado.
Acostumou-se com o sossego do litoral, visitar uma cidade
tão populosa tão cheia de vida se tornara algo assustador,
mas não media esforços quando o assunto era Paulo.
LINHAS DO DESTINO
131
Capitulo trinta e seis
AS NOVIDADES
O dia passou tão rápido, que Ana não teve tempo para o
lanche. Ao assinar o relatório, resolveu passar na casa de
Márcia para ver como ela estava. Foi ao estacionamento,
ao entrar em seu automóvel colocou uma música suave
para relaxar. O início da noite estava agradável, mas o
trânsito estava como sempre muito intenso.
Quando, pelo interfone, ouviu a voz de outra pessoa, Ana
lembrou que Márcia tinha saído naquele dia do hospital,
precisava de alguém para os afazeres domésticos.
- Eu sabia que vinha me ver. – Disse Márcia quando a
amiga entrou.
- Que saudade eu senti de você parece que o dia não
passava. Tinha certeza de que viria, por isso fiquei mais
ansiosa.
L.P.OWEN
132- Tive tanto trabalho e não deu tempo para nada.
Tenho tantas novidades que não sei por onde começo.
- Experimente começar pelo início. - Disse rindo.
- No sábado quando estive com dona Raquel, conversamos
sobre diversos assuntos. Um foi sobre o relacionamento
que estava tendo com minha mãe. Ela disse algo que ficou
gravado na minha mente. No dia seguinte resolvi procurar
minha mãe para me desculpar, no fim fizemos as pazes,
acertamos todos os conflitos. Como dona Raquel diz tudo
é questão de uma boa conversa. Hoje o dia estava tão
corrido que não consegui almoçar, acabei fazendo um
lanche. – Com olhar de moleca perguntou - Você o que
me conta, estou vendo um brilho diferente nos seus olhos.
- O Guilherme vem jantar aqui amanhã.
– Já tirou até o título de doutor dele? - Emendou Ana - Ele
te pediu em namoro?
- Ainda não, mas acredito que pedirá afinal mais dica do
que dei impossível. Ele queria ir num restaurante, mas
LINHAS DO DESTINO
133
enfaixada, vai ter que me dar comidinha na boca, assim
achei melhor que fosse aqui.
- Você está com segundas intenções em jantar aqui,
porque não parece que você está com faixa. Tomara que
tudo dê certo. Já faz muito tempo que estão na paquera,
vocês se merecem.
- Quase ia esquecendo – comentou Ana - hoje foi
internado um homem daqueles de balançar a estrutura de
qualquer mulher e adivinhe... Solteiríssimo. Ele foi
operado. Foi muito bem cuidado, é claro!
- Pelo brilho dos seus olhos, já começou balançando você.
- Márcia sorriu. – Será muito bem tratado se depender de
você.
- Digamos que minha autoestima está um pouco em baixa.
Mas adoraria cuidar dele. - Quando olhou o relógio. Levou
um susto, já era tarde. Levantou-se para sair.
- Nossa! Como as horas estão passando. O papo está bom,
mas tenho que ir, amanhã o dia será cheio. Preciso
L.P.OWEN
134conversar com minha mãe e o Luís para saber como
foi o dia deles.
- OK! Antes que me esqueça preciso que você venha
trocar os curativos. – Disse Márcia.
- Só me ligar quando você quiser estarei à disposição.
LINHAS DO DESTINO
135
Capitulo trinta e sete
A SEPARAÇÃO
Gabriel superava as expectativas, sua recuperação era
muito boa e o dia da alta estava mais próximo do que se
imaginava.
Carlos sabia que o garoto teria um futuro muito melhor do
que tivera até o momento. Apesar da morte dos pais.
Soube que ele presenciara sua mãe sendo espancada pelo
pai, por ciúmes. O que deveria ser um lar era um inferno.
Gabriel contou-lhe que muitas vezes, quando chegava em
casa, cenas dignas de horror eram vistas. Um festival de
pancadaria, ele sem poder fazer nada apenas sofria.
Prometera a sua mãe que teria uma profissão, ganharia
muito dinheiro e daria a ela uma vida mais feliz longe de
tudo. O que ele não sabia era que o destino tinha reservado
outros caminhos para todos, que não poderia cumprir sua
promessa.
L.P.OWEN
136Carlos muitas vezes ao imaginar o que passava no
pensamento de seu amigo, de tudo quanto sofrera, de toda
raiva que provavelmente sentia do pai por ter feito isso
com sua vida e de sua mãe, chegou a chorar. Não entendia
por que aconteciam essas coisas, por que o destino era tão
cruel em deixar uma criança passar sozinha por tudo isso,
sem ninguém que amenizasse a sua dor, pra consolar e
amparar. Perdido em seus pensamentos quase não reparou
na pessoa que abria a porta do quarto.
Rui acabara de chegar com uma cadeira de roda e quando
cumprimentaram os dois, o comentário feito por Carlos foi
instantâneo.
- Lá vem o taxista.
- O que é isso senhor Carlos? Sou o maior piloto de maca
e cadeira de rodas do pedaço. Minha fama já atravessou os
muros do complexo hospitalar e esta conquistando outras
fronteiras.
LINHAS DO DESTINO
137
- Realmente sua habilidade é reconhecida por todos, mas
pensando bem, preferimos ir andando que é muito mais
seguro. – Completou.
- Não se preocupe com nada, pode deixar comigo, sei tudo
sobre pilotar VSM.
– V o quê? – Perguntaram ao mesmo tempo.
- Veículos sem motores.
- Quem vai ser o felizardo a ter mais emoção por hoje? -
Perguntou Carlos.
- Desta vez, é o senhor mesmo seu Carlos.
- Não sei por que não mantive minha boca calada. - A
risada foi generalizada, Gabriel ria tanto que quase não
conseguia falar.
- Por que devo sentar nessa cadeira maluca?
- Não quer dar uma volta?
- Claro que não Rui.
- O senhor está de alta, já pode ir para casa.
L.P.OWEN
138O que deveria ser uma felicidade para Carlos
transformou-se em pesadelo, porque não queria deixar
Gabriel sozinho.
- Deve ter acontecido algum engano. - Disse indignado.
Nesse momento entra dona Raquel, como sempre fazia sua
visita matinal.
- Bom dia para todos! – Disse ela.
- Hoje não está sendo um bom dia. Está dando alta sem
meu consentimento. – Resmungou Carlos.
- Se o senhor está bom o melhor é ir para casa, porque lá
seu restabelecimento total será mais rápido. Há outras
pessoas necessitando de atendimento.
- Sei disso, mas gostaria de sair no mesmo dia que o
Gabriel.
- As coisas nem sempre são como queremos, mas como
tem que ser. Tenho certeza que o Gabriel vai se esforçar
também para sair rapidamente. O senhor poderá visitá-lo
quando quiser.
LINHAS DO DESTINO
139
- Estava sendo egoísta a senhora tem razão, pensando
bem, temos que dar graças a Deus por estarmos vivos. Sei
que mais cedo do que possa parecer estaremos juntos
novamente.
- Pode ficar certo que me cuidarei para ter alta também. -
Disse Gabriel querendo ajudar o amigo.
Apesar de estar saindo com mais saúde, podendo fazer
coisas que antes não podia, Carlos estava por um lado
alegre de voltar para casa, por outro, triste de deixar um
novo amigo que havia conquistado seu coração pela
coragem, pela educação e companheirismo.
Mesmo disfarçando, não conseguiu enganar o garoto, que
ao abraçá-lo deu-lhe um beijo que o fez ficar sem voz para
dizer um até logo. Engoliu a seco, deu um sorriso amarelo,
mas não conseguiu dizer nada.
Raquel que a tudo assistia sabia que ali estavam duas
almas unidas.
L.P.OWEN
140Rui, um eterno brincalhão, acabou ficando
emocionado, mesmo com vontade de chorar tentou
descontrair o ambiente.
- A minha máquina está com o motor ligado e quando
esquenta tenho que andar mais rápido para resfriar o
motor.
- Podemos ir agora, mas vou voltar para te levar para casa
quando sair. - Carlos deu seu recado a Gabriel.
Depois que todos saíram, quando Gabriel ficou sozinho,
chorou muito. Parou quando percebeu a presença de
alguém no quarto. Quando olhou viu dona Raquel que
sorria demonstrando todo o carinho que ela tinha por ele.
- Sei que apesar do pouco tempo que vocês se conhecem,
mas estão muito ligados, sei também que é vontade do seu
Carlos levá-lo para morar com ele, mas quero que saiba
que isso não depende só dele.
- O que podemos fazer é esperar e rezar para que tudo se
acerte. Por enquanto, se quiser, pode contar comigo para o
LINHAS DO DESTINO
141
que precisar, mas chorar não vai resolver. Você tem que
ser mais forte ainda do que é para poder sarar. O resto
pode deixar que Deus te ajudará.
- Obrigado por tudo que a senhora faz por mim. Sei que
tem razão sempre. Gostaria de te dar um abraço.
Os dois ficaram abraçados até que ele se acalmou.
L.P.OWEN
142Capitulo trinta e oito
UM BOM COMEÇO
Ana chegou para o trabalho, um pouco cansada, afinal não
dormira o quanto precisava, mas isso não abalou seu
humor. O trabalho de cuidar de pessoas era uma de suas
paixões, principalmente agora que tinha um especial que
não saia da sua mente.
Quando entrou no corredor para ir a sala da enfermagem,
ouviu uma voz dizendo seu nome, quando se virou viu que
se tratava de Sílvia.
- Bom dia Sílvia! Tudo bem?
- Tudo ótimo. Tem um senhor procurando por você na
recepção, será que poderia verificar o que ele precisa?
- Claro! Dê-me um tempo para verificar como as coisas
estão e em seguida o atenderei.
- Vou avisá-lo. Obrigada.
LINHAS DO DESTINO
143
Sílvia saiu em direção à recepção. Lá atendia diversos
tipos de pessoas, algumas alteradas outras compreensivas,
mas sempre conseguia manter a calma. – Diziam que para
descarregar as tensões lutava boxe na academia.
Ao chegar à sala, Ana encontrou algumas tarefas para
serem executadas, fez a ronda nos quartos, preparando e
aplicando os medicamentos necessários prescritos pelos
médicos, que a essa altura já tinham feito suas rondas.
Antes de entrar no quarto onde estava Paulo deu uma
conferida no visual ao passar próximo de uma porta
envidraçada, gostou do que viu. Ao entrar Paulo olhou-a
com surpresa.
- Devo ter morrido e entrado no céu. - Disse ele sorrindo.
- Bom dia, como tem passado? - Perguntou Ana meio sem
graça.
- Me belisca para ver se não estou sonhando. Não devo
estar passando muito bem. – Ela não se fez de rogada e
deu-lhe um beliscão muito dolorido.
L.P.OWEN
144- Calma estava apenas querendo ser gentil.
- Fique tranquilo vou preparar algo para deixá-lo disposto.
– Disse enquanto preparava uma injeção.
- Não se pode dizer a verdade, você vem com agressões.
- Estou com um pouco de pressa porque ainda tenho
muitas agressões para fazer, inclusive atender um senhor,
morador do litoral, que me aguarda na recepção.
Quando Ana comentou sobre o morador do litoral, Paulo
percebeu que se tratava de João e ficou intrigado.
- Como ele soube que estava aqui?
- Quem sabe algum passarinho contou para ele. O senhor
se preocupa muito.
- Novamente me tratando mal, me chamando de senhor,
meu nome é Paulo muito prazer.
- O meu é Ana. Somente chamei-o de senhor por
educação, não para magoá-lo.
- Sei disso estava apenas descontraindo um pouco afinal
não é sempre que encontro um anjo pra cuidar de mim.
LINHAS DO DESTINO
145
Ana não respondeu, mas adorou o elogio, ele era um
pedaço de mau caminho.
- Se me der licença agora vou... - Antes que ela pudesse
terminar ele completou.
- Falar com o senhor João.
- Deve ser esse o nome, eu acredito que tenha vindo por
sua causa.
- Ainda bem, porque se fosse por sua causa brigaria com
ele.
Ela sorriu, já ia saindo quando ouviu alguma coisa como
“até mais meu anjo”.
Um homem sexagenário, com aproximadamente 1,70 m,
cabelos grisalhos um pouco amassado pelo chapéu, que
agora segurava na mão, demonstrando cavalheirismo,
rosto bronzeado, olhos escuros parecendo duas jabuticabas
seguiam-na. Quando se aproximou sorrindo, notou que
eles ficaram mais expressivos, demonstrando surpresa.
- Bom dia, meu nome é Ana. Muito prazer!
L.P.OWEN
146- Bom dia, o meu é João, o prazer é todo meu.
- Recebi o recado de Doralice dizendo que havia ligado
dizendo que Paulo estaria internado aqui. Vim o mais
rápido que pude, mas acredito que esteja sendo bem
cuidado.
- Ele está muito bem, teve que fazer uma cirurgia vai ficar
algum tempo de repouso. O senhor é o que dele?
- Podemos dizer que o considero como um filho.
- Vamos fazer um crachá de visitante e poderá subir para
falar com ele.
- Sim gostaria muito se me permite agradecer por tudo que
fez.
- Não se preocupe com isso estamos aqui para ajudar.
Ana solicitou um crachá para seu João, acompanhou até o
quarto onde estava Paulo. Ao chegarem, Paulo sorriu e
brincou com o velho amigo.
- Gostaria de te apresentar o cara mais sensacional do
mundo. Posso dizer que é mais que um pai pra mim.
LINHAS DO DESTINO
147
– Ele está dopado? - Perguntou seu João.
- Agora, meu querido, gostaria de te apresentar a garota
mais linda que já vi. - Disse sorrindo para João.
– Será que troquei os medicamentos – Ela respondeu.
- O pior é que não concorda comigo nunca. – Continuou
Paulo.
- Com licença tenho mais pacientes para judiar. Até logo
senhor João.
João ouvindo isso não entendeu o que se passava. Tratou
de saber maiores detalhes sobre o acidente e tudo que
precisava ser feito enquanto Paulo estivesse lá.
- Por favor, meu amigo, gostaria que comprasse um
arranjo de flores o mais bonito que puder encontrar e
colocasse ali em cima.
- Vai precisar de um cartão para a dedicatória.
- Quase tinha esquecido isso. Obrigado. Como sempre me
ajudando a fazer a coisa certa.
L.P.OWEN
148João saiu em direção à floricultura enquanto Paulo de
olhos fechados recordava a figura de Ana. Poderia ficar lá
mais tempo sem problema algum.
Pensou no quanto era cativante, inteligente e bem-
humorada. Resolveu fazer o possível para conquistá-la.
LINHAS DO DESTINO
149
Capitulo trinta e nove
A LUTA CONTINUA
Gabriel estava sendo preparado para mais uma sessão de
fisioterapia e Rui, como sempre, descontraindo o garoto.
- Está preparado para as emoções? - Falou sorrindo.
- Só estou preparado para me recuperar rápido. Todas as
vezes que tenho de sentar nessa cadeira, para ir a algum
lugar, tenho um frio na barriga.
- Não esquenta meu camarada, tem uns que gritam pelos
corredores só porque acelero um pouco, parece até
perseguição.
- O papo está bom, mas temos que ir logo porque a
doutora esta te esperando para ajudar nos exercícios.
Posso afirmar que quanto mais você se dedicar, mais
rápido vai sair.
- Vou lembrar-me disso. - Disse Gabriel.
L.P.OWEN
150Rui conduzia a cadeira de rodas com muito carinho e
cuidado pelos corredores. Quando chegou à sala de
fisioterapia, a doutora Marina já esperava por ele.
- Olá Gabriel! Como você está?
- Muito bem, obrigado.
- Hoje nos vamos fazer alguns exercícios, espero que
possa apreciá-los e com o tempo vai poder fazer de tudo.
A doutora Marina e sua assistente começaram com uma
massagem, fazendo com que a circulação nos membros
inferiores pudesse ser melhorada. À medida que o tempo
passava, os exercícios eram alterados. No começo Gabriel
achava aquilo inútil, mas depois da saída de Carlos do
hospital, passou a se empenhar mais, a equipe, vendo a
dedicação do garoto ela ficou mais motivada, com isso o
progresso inevitável.
Os médicos envolvidos no caso de Gabriel estavam
confiantes na cura completa dele e cada conquista era
comemorada com muito entusiasmo.
LINHAS DO DESTINO
151
À volta para o quarto era sempre triste, porque Gabriel não
tinha mais com quem conversar, como antes acontecia
com Carlos. O pessoal fazia o maior esforço para dar uma
passada por lá, mas a saudade de sua mãe, do amigo era
muito grande.
Estava preparado para ficar só, mas quando chegou no
quarto, uma surpresa, Carlos o esperava com toda sua
família, Gabriel levou até um susto de tanta gente que
estava lá dentro.
- Olá meu amigo soube que está se esforçando para ir lá
para casa, fico contente com isso. Quero informar para
você, que a minha parte esta sendo feita. Provavelmente
vou ganhar a sua guarda provisória, quando sair vai para
minha casa, ou melhor, para nossa casa.
Até o pessoal se reuniu para te dar as boas vindas.
Ficaram conversando por um longo período. Quando
foram embora, novamente Carlos beijou-o. Com os olhos
vermelhos despediu-se.
L.P.OWEN
152- Até breve, meu filho cuide-se.
Quando ficou só fez uma pequena oração agradecendo a
Deus por todas as graças. Pediu pela saúde e proteção de
todos. Acabou adormecendo.
LINHAS DO DESTINO
153
Capitulo quarenta
DOCE SURPRESA
Ao entrar novamente no quarto de Paulo para medicá-lo,
notou algumas modificações. Flores estavam sobre uma
prateleira que servia de apoio de bandejas. Após preparar
a medicação, chamou-o docemente, ele acordou e viu que
era ela, imediatamente tentou se arrumar meio sem jeito.
- Boa tarde, como está passando? - Perguntou enquanto
entregava os comprimidos.
- Ótimo. Estava sonhando com você.
- Por isso acordou com essa cara de assustado?
- Não estou acostumado a dormir à tarde, não tenho quem
me acorde, a não ser pelo meu fiel despertador. - Disse
sorrindo.
- Da próxima vez vou trazer o Tobias para te acordar.
- Quem é ele? - Seu namorado? Seu marido?
- O segundo amor da minha vida.
L.P.OWEN
154- Como o segundo? Quem é o primeiro?
- O primeiro disparado é o Luís, agora por gentileza fique
quieto para poder judiar de você.
- Tinha certeza que uma mulher linda como você já
deveria ter um amor.
- Dois amores. – Corrigiu Ana.
- Mas mesmo assim gostaria de te oferecer aquelas flores
em agradecimento por tudo o que tem feito por mim.
- Elas são pra mim? - Disse surpresa.
- Elas são lindas!
- Não sei de outra garota que tenha balançado tanto meus
sentimentos.
- Não precisava, apenas fazemos nosso trabalho.
- Espero que tenha gostado.
- Obrigada, adorei. Mas não vá pensando somente porque
me deu flores lindas como essas não vai ser judiado. –
Completou.
– Só que vou judiar com mais carinho.
LINHAS DO DESTINO
155
- OK! Rendo-me aos seus argumentos, mas me diga quem
são Luís e Tobias?
- Veremos se você se comportar, direi quem são, ou quem
sabe apresentar os dois.
- Estarei aguardando ansioso para conhecê-los. São uns
felizardos.
Paulo, deitado no leito, ficou reparando em todos os gestos
de Ana. Ficou encantado com tanta delicadeza. Quando ia
saindo, mais uma vez ela o impressionou.
- Boa tarde. Enquanto pegava o arranjo, antes de sair
piscou e disse.
- São lindas. Obrigada, adorei!
A porta foi fechada, Paulo não cabia em si de felicidade.
Não via a hora de saber quem eram esses dois. Pensou,
mas ela não usava aliança. Resolveu tentar ler um pouco
para ajudar o tempo passar.
L.P.OWEN
156O que importava é que tinha gostado das flores o resto
resolveria depois, tinha como lema resolver cada problema
no seu tempo, não sofrer por antecipações.
LINHAS DO DESTINO
157
Capitulo quarenta e um
UM LAR
Voltar para casa é sempre bom ainda mais quando
queremos dividir nossa felicidade com aqueles a quem
amamos. Com ela não foi diferente. Ao chegar foi
recebida com um grande beijo de Luís, uma lambida de
Tobias um beijo e um abraço da mãe. A felicidade foi
completa. Quando viu a filha com flores, sorriso nos
lábios e brilho no olhar soube que era o sintoma do amor.
- Minha filha, quem é esse anjo que te iluminou?
- Um belo anjo, mamãe. – Disse enquanto suspirava.
- Então me conta onde e como o conheceu.
- Para dizer a verdade ele é o único príncipe que veio
numa maca. - Comentou com a maior naturalidade.
Luís ao ouvir sobre o príncipe ficou enciumado, mas ao
receber o abraço e o beijo de sua mãe, ficou tranquilo.
L.P.OWEN
158- Não fique assim, você sabe que não o troco por nada
nesse mundo. Alem do mais ainda não estou namorando,
somente estou cuidando dele no hospital. Agora preciso
tomar um banho para me livrar desse cheiro de
medicamento, estou com fome, não consegui almoçar hoje
novamente.
Dona Marta tinha preparado algo que há muito tempo Ana
não comia. Quando se sentou, sua mãe pediu para que
adivinhasse qual seria o cardápio. Fez uma careta
enquanto pensava e respondeu.
- Bife com tomate e cebola e um ovo com a gema mole,
arroz e feijão.
- Como você adivinhou?
- Uma das coisas de que tenho vontade de comer faz muito
tempo, mas teria que ser feita pela senhora era justamente
essa comida.
LINHAS DO DESTINO
159
Repentinamente Ana levantou-se foi em direção a sua
mãe, deu-lhe um beijo, um abraço bem apertado, tão
gostoso que deixou dona Marta muito contente.
L.P.OWEN
160Capitulo quarenta e dois
NOITE INESQUECÍVEL
Ao sair do hospital, doutor Guilherme sentiu seu coração
ficar acelerado só em pensar em ir a residência de Márcia.
As flores exalavam um perfume inebriante que ocupou o
interior de seu automóvel.
Quantas lembranças tomaram conta de seus pensamentos.
Quando chegou e estacionou em frente do sobrado.
Pensou nas vezes que ficou parado, sem tomar nenhuma
iniciativa, com as pernas trêmulas e agora seria diferente.
Desligou o motor, abriu a porta, quando desceu suas
pernas novamente deram sinal de nervosismo.
Tinha que tomar uma atitude, não fora ele quem fizera o
convite? - Pensou.
Foi em direção ao pequeno portão. Tocou o interfone.
Quando ouviu a voz de Márcia quase teve um ataque, mas
procurou ser firme e responder com naturalidade.
LINHAS DO DESTINO
161
- Oi sou eu, Guilherme.
- Como sou atrapalhado – Pensou.
- Um minuto já vou abrir.
Instantes depois, Márcia estava abrindo a porta de entrada.
Quando Guilherme se deparou com a mulher exuberante,
cabelos soltos, usando um vestido preto, no pescoço um
pingente de brilhante, combinando com os delicados
brincos ele ficou boquiaberto.
Foi com tremendo esforço que conseguiu pronunciar
algumas palavras.
- Está tão linda, que até elas perderam o brilho. -
Mostrando as flores que trazia.
Ela sorriu e agradeceu, dando um beijo nos lábios de
Guilherme.
- Você sabe que estou com as faixas, mas se quiser,
poderemos sair, afinal estou com meu médico, qualquer
problema não vou precisar nem ligar.
L.P.OWEN
162- Você prefere ir a algum lugar em especial. – Estava
tão ansioso que não tinha pensado onde levá-la.
- Onde você quiser. – Disse ela delicadamente.
Saíram rumo a um restaurante muito badalado, onde a
reserva é imprescindível. Como sempre difícil de ser feita.
Por sorte Guilherme mantinha uma relação de amizade, de
longos anos, com o proprietário.
Quando chegaram, o manobrista abriu a porta. Márcia
desceu do veículo. No saguão, foram recebidos por um
rapaz muito bem vestido que cumprimentou o casal. Tinha
nas mãos uma espécie de agenda onde eram anotadas as
reservas. Ao verificar que não havia nenhuma, agiu com
naturalidade.
- Boa noite doutor Guilherme!
Para certificar-se que não havia engano por parte do
restaurante perguntou.
- Por favor, qual o horário da sua reserva?
LINHAS DO DESTINO
163
- Boa noite Henrique! Olha! - Disse piscando. - Estamos
adiantados e não temos pressa.
O rapaz entendeu a deixa, solicitou que aguardassem em
uma sala ao lado enquanto providenciavam a mesa. Algum
tempo depois, Henrique voltou informando que a mesa
estava pronta. Pediu para que os acompanhassem.
- Como o senhor pediu um local mais reservado, espero
que seja do seu agrado. – Concluiu Henrique.
Guilherme percebeu que o restaurante como sempre estava
lotado. A mesa que lhe fora apresentada estava localizada
em local improvisado, mas aconchegante. Agradeceu
imensamente a gentileza.
O garçom encarregado de servi-los cumprimentou-os.
- Boa noite! O que gostariam de beber?
- Gostaria de ver sua carta de vinho. – Solicitou com a
educação costumeira.
- Com todo prazer. Aqui está.
L.P.OWEN
164Depois da escolha do vinho, assim que o garçom saiu,
Guilherme pegou a mão de Márcia, ainda tremulo pela
emoção de estar com a mulher de sua vida, confidenciou.
- Você já deve ter notado que sou tímido, por isso não me
perdoo de ter ficado tanto tempo sem lhe dizer o que sinto.
Desde que a vi pela primeira vez, não consigo tirá-la da
minha mente. Você não sabe quantas vezes estive na porta
da sua casa para conversar com você, mas não tive
coragem de entrar. As noites que fiquei sem dormir
ensaiando o que lhe falar no dia seguinte.
- Pensei muitas vezes que você não me quisesse. Quando
dava alguma indireta você não falava nada, achei, que
estivesse sendo inoportuna.
- É como te falei sou muito tímido. – Justificou.
Nesse instante o garçom apresentou o vinho que foi
servido para degustação, depois da aprovação, foi servido
também para Márcia.
LINHAS DO DESTINO
165
Guilherme pediu o cardápio, ofereceu-o para Márcia
enquanto o garçom aguardava pacientemente ao lado até
fosse feito o pedido.
Márcia aceitou a sugestão de Guilherme, um Penne ao
molho branco e filé de frango grelhado. Os dois
conversaram sobre os planos e sonhos para o futuro.
Repentinamente Guilherme perguntou se ela não gostaria
de viajar com ele para Havana.
Ela ficou surpresa com o convite, mas imediatamente ele
explicou sobre a participação no congresso naquela
cidade.
A duração era de apenas cinco dias, no restante dos quinze
dias de sua licença, poderiam passear.
Macia adorou a ideia, mas não estava preparada e não
queria precipitar as coisas. Ele entendeu os seus motivos e
mudou de assunto.
L.P.OWEN
166A conversa estava animada, os dois não deixavam de
se olharem, se tocarem, os acontecimentos, as pessoas à
sua volta não foram notadas. Parecia que o mundo não
existia.
Guilherme olhou para o relógio exclamou.
- O tempo, às vezes é nosso aliado, outras vezes ele é
nosso algoz. Inimigo dos apaixonados, tornando-se breve
e fugaz quando estamos com nossa amada, somente por
mero capricho, para que fiquemos com saudade antes
mesmo de irmos embora.
O manobrista trouxe o carro de Guilherme, aguardou a
gorjeta. A noite estava clara. Iluminada pelo luar e pelas
estrelas. O universo também conspirava por eles, por
incrível que parecesse, seu bip não havia tocado nenhuma
vez.
- Hoje posso dizer que sou o mais feliz, o mais triste dos
homens, estou ao lado do amor da minha vida e vou ter
que me ausentar.
LINHAS DO DESTINO
167
- Será por pouco tempo apenas uma semana, até lá, estarei
totalmente recuperada.
O jantar estava perfeito, a noite perfeita, quando chegaram
à casa de Márcia, ele abriu a porta do carro para que ela
pudesse descer. Estava prestes a se despedir foi convidado
para tomar uma xícara de café, aceitou sem hesitação.
Márcia preparou o café, ao voltar à sala de estar,
surpreendeu Guilherme colocando um Cd de músicas
suave.
- Você quer me dar o prazer desta dança? – Perguntou
com um sorriso nos lábios.
Os corpos se encontraram, Guilherme não acreditou que
estava com amor da sua vida nos braços.
Uma mulher exuberante, cabelos compridos castanho-
escuros na altura das costas, com ondulação suave.
Grandes olhos azuis e brilhantes. O nariz bem talhado, a
boca com lábios bem delineados compunham
harmoniosamente o rosto alongado.
L.P.OWEN
168Alta postura e corpo de bailarina. Como se não
bastasse o charme era o seu ponto forte.
Guilherme era apresentável, tinha cabelos e olhos
castanhos, maxilar saliente, nariz um pouco pronunciado e
boca delineada, o porte atlético a educação eram suas
marcas.
Assim que ele a abraçou, seus corpos se tocaram, ela
sentiu um arrepio correr pela espinha. Seu vestido, de
tecido fino, a cada passo da dança, com o atrito dos corpos
aumentava o desejo do casal. Guilherme começou a beijá-
la no rosto, sentindo o perfume suave que exalava,
deixando-o mais excitado. Continuou a beijá-la até que
suas bocas se tocaram selando o início de um grande amor
com um beijo.
Quando Márcia acordou, ainda meio sonolenta, pensou ter
vivido um sonho magnífico. Sentindo-se a mulher mais
feliz do mundo, viu Guilherme que dormia ao seu lado.
Abraçou-o enquanto dava beijos no seu rosto tentava
LINHAS DO DESTINO
169
acordá-lo. Como não teve sucesso resolveu ir até a
cozinha e preparar um café. Estava distraída com os
afazeres, não notou Guilherme parado olhando-a da porta.
Quando percebeu sua presença, virou-se e não conseguiu
parar de rir.
- Não é por nada, mas você está ridículo com a minha
saída de banho. – Disse ela ao beijá-lo.
- Garanto que ficaria mais se estivesse nu andando pela
casa.
Ao abraçá-lo sentiu o quanto ficaria mais engraçado ele
andando naquele estado pela casa e fizeram amor
novamente.
L.P.OWEN
170Capitulo quarenta e três
A VIDA CONTINUA
Ana, Luís e Marta conversavam animadamente quando
Tobias entrou na cozinha rosnando com um tênis na boca
todo destruído. Ao ouvir a bronca de Ana, percebeu que
tinha entrado em terreno proibido. Largou seu brinquedo
no chão deitou-se e cobriu o focinho com as patas.
Ela estava prestes a dar-lhe uma reprimenda, mas não
conseguiu e começou a rir com a cena.
- Como o cachorro é seu e o tênis deixado no quintal à
disposição de Tobias também, então, não me preocuparei.
Você é o responsável por ensiná-lo. Que sirva de lição
para não deixar suas coisas largadas pela casa toda. – O
tom da conversa era amigável.
Dona Marta ria sem parar, o único que ficou sério foi Luís,
o tênis destruído, era o que mais gostava.
LINHAS DO DESTINO
171
Depois do incidente Ana apressou Luís porque estava
atrasado, o trânsito aumentava a cada minuto. Os dois
despediram-se de dona Marta.
- Até mais vovó, fica com Deus. – Disse Luís enquanto a
beijava.
- Deus acompanhe vocês dois. – Respondeu feliz.
Ana deixou Luís no colégio e saiu em direção ao hospital.
Estava atrasada, ao chegar ao estacionamento suspirou
aliviada.
Seguiu, apressadamente, em direção a entrada dos
funcionários, onde encontrou com dona Raquel. Ela
conversava com o médico responsável pelo garoto
Gabriel.
Cumprimentou-os, rapidamente foi para a sala da
enfermagem.
O doutor acabara de informar para dona Raquel sobre o
estado de saúde de Gabriel. Disse que estava dependendo
L.P.OWEN
172de fisioterapia para melhorar os movimentos das
pernas, assim ter alta.
LINHAS DO DESTINO
173
Capitulo quarenta e quatro
UMA NOVA HISTÓRIA
Carlos tomou apenas um café. Saiu de casa disposto a
resolver a situação da guarda provisória de Gabriel. Foi à
repartição responsável pelo caso. Lutava contra o tempo e
a burocracia. Indo de um lado para outro em busca de
certidões, até conseguir o documento que autorizava a tão
esperada, guarda provisória.
Desceu a escadaria sem lembrar que fizera uma cirurgia de
coração há poucos dias. Carlos não conseguia segurar sua
alegria e emoção. Até os funcionários que acompanharam
sua luta demonstraram solidariedade. Ao sair com o
documento ligou para sua esposa e comunicou o
acontecimento. Disse que estava indo para o hospital. Não
via a hora de chegar e comunicar para Gabriel e dona
Raquel a boa noticia.
L.P.OWEN
174Sua ansiedade era tão grande, que ficou assustado ao
entrar no quarto vazio.
Voltou à recepção para pedir informações. Soube que o
garoto estava na fisioterapia, então, resolveu procurar por
dona Raquel.
- Olá dona Raquel! Como está a senhora? – Estava
radiante.
- Muito bem! Vejo que está muito feliz. O que aconteceu
de bom?
- Realmente estou muito feliz, acabo de receber o
documento que me autoriza a ter a guarda de Gabriel e
estou ansioso para contar pra ele.
- Que ótimo! – Disse feliz da vida.
- O senhor não sabe como é boa essa notícia para mim.
Estava preocupada em saber o que aconteceria quando ele
tivesse alta, agora estou mais tranquila.
- Quando a vi pela primeira vez a senhora me disse que
tudo mudaria na minha vida. – Confidenciou.
LINHAS DO DESTINO
175
- Hoje, posso dizer que estava certa. Sei que é provisório,
mas não importa vou aproveitar cada momento e ser feliz
o quanto puder.
Repentinamente surgiu no final do corredor Rui
empurrando Gabriel na cadeira de rodas. Como sempre as
risadas eram ouvidas por todos, quando viram Carlos e
dona Raquel começaram a acenar.
- Como vocês estão? – Carlos disse sorrindo.
- Como sempre estamos fazendo bagunça. - Disse Rui.
- Tenho uma surpresa para você, Gabriel. Será que
consegue adivinhar qual é? – Perguntou mostrando um
papel que segurava.
- Você conseguiu algo que quisesse muito – e com a maior
inocência completou. - Já sei, ganhou na loteria.
- Você errou. Mais importante do que isso, um dos
maiores presentes que recebi nos últimos tempos. O
primeiro foi meu coração novo, o segundo é a autorização
L.P.OWEN
176para você morar lá em casa quando sair daqui, porque
consegui a sua guarda provisória.
Gabriel ficou visivelmente emocionado. A insegurança
que sentia por estar sozinho aos poucos foi diminuindo.
- Essa notícia é muito boa. – Completou. - Também tenho
uma surpresa para você.
O garoto pediu para Rui afastar um pouco a cadeira,
levantou-se cuidadosamente foi andando vagarosamente
até os braços de Carlos.
Dona Raquel, que também não sabia, aplaudiu de
felicidade. Carlos abraçou o garoto, as lágrimas rolaram
pelo seu rosto, todos comemoraram.
- Quando você puder correr vou deixar você me empurrar
um pouco nesta cadeira de roda. - Rui comentou para
descontrair.
- Está combinado, vou fazer você sentir o que nós
sentimos. - Gabriel respondeu.
LINHAS DO DESTINO
177
Capitulo quarenta e cinco
A RECOMPENSA
Ana bateu suavemente na porta do quarto de Paulo e
entrou. Foi recebida com um sorriso.
- Bom dia! - Disse ela indo à estante de apoio onde
depositou a bandeja com o medicamento.
- Agora sim meu dia ficou bom, apesar de você só vir aqui
para me judiar.
- Então se prepare que vou continuar judiando de você até
sarar e livrar-se de mim.
- Quem disse que quero ficar livre de você?
- Você acha realmente que gosto de judiar de você? -
Perguntou Ana fazendo uma cara de tristeza.
Depois de algum tempo ela mesma respondeu.
- Pois você acertou. Dentro de pouco tempo estará em
casa. Lá poderá se recuperar mais rapidamente.
L.P.OWEN
178- Se você garante isso, acredito. Para confirmar que
estou sendo sincero, quero que me dê o prazer da minha
primeira dança.
- Combinado, quando puder dançarei com você. – Disse
Ana.
- É casada? - Perguntou sério, fazendo Ana quase derrubar
a seringa no chão,
- Por que a pergunta?
- Você disse que Luís e Tobias são os únicos amores da
sua vida então...
Ela riu gostosamente, deixando Paulo ainda mais
apaixonado.
– Isso mexeu com sua curiosidade?
- Sabe como é? – Disse meio sem jeito.
- Você ainda está pensando nisso? Luís é meu filho e
Tobias...
- Seu marido. – Completou desanimado.
- Não seu bobo! Tobias é o cachorro de estimação de Luís.
LINHAS DO DESTINO
179
- Cachorro? - Comentou surpreso. – Então é livre?
- Estou separando-me. Você é casado?
- Estou esperando você dizer sim, aí serei casado. Até
agora ainda não tinha encontrado meu amor.
- Não tinha encontrado? – Comentou fazendo cara de
incrédula.
- Isso mesmo que você ouviu, mas agora encontrei você
posso até ser casado no futuro.
O doutor Guilherme entrou para verificar o estado de
Paulo e interrompeu a conversa dos dois.
- Bom dia! – Disse olhando o prontuário do paciente.
Os dois responderam simultaneamente um pouco sem
graça.
- Como você está passando? - Perguntou o doutor,
enquanto fazia algumas anotações.
- Estou sendo maltratado todo o dia. - Respondeu sorrindo.
- Uma injeção atrás da outra, não consigo beber mais
líquido.
L.P.OWEN
180- Elas são assim mesmo. - Falou.
- Vamos dar uma olhada para ver como esta sua perna.
- Você está melhor do que pensei. – Comentou depois de
examiná-lo cuidadosamente. - Amanhã não virei, mas vou
deixá-lo de alta.
- Boa noticia, não vejo a hora de voltar a trabalhar.
- Trabalhar ainda vai demorar um pouco, a não ser que
trabalhe em casa com a perna para cima. – Antes de sair
piscou e completou. – Elas gostam de maltratar a todos.
Depois que o médico saiu Paulo ficou sério.
- Só estou preocupado se vou poder falar com você
novamente.
- É fácil. - Disse ela. - É só se internar novamente.
- A minha dança como fica?
- Basta me convidar. Agora, me da licença, preciso judiar
de mais pessoas.
Quando chegou na sala de enfermagem recebeu recado
que Márcia havia telefonado, retornou a ligação.
LINHAS DO DESTINO
181
- Alô! Como você está? – Ana ficou feliz com a resposta
que tudo estava bem. - Você não vai trocar esses
curativos? - Completou.
- Já trocaram para mim.
- Sua traidora. Quem fez isso?
- Foi o meu amor! – Respondeu ela transpirando
felicidade.
- Estive com ele agora pouco. – Comentou Ana. - Por sinal
está feliz e radiante, não sei por quê? Ele viu um
passarinho cor-de-rosa?
- Viu mais do que isso. – Riu - Estamos namorando,
ontem fomos jantar juntos.
- Então você conseguiu fazer ele te pedir em namoro?
- Sim, apesar da timidez. Pena que hoje à noite viaja para
Havana vai para um congresso, vamos ficar longe por
mais de uma semana.
- Quer dizer que você já não é mais do time das solteiras e
desimpedidas? – Brincou Ana.
L.P.OWEN
182- Não deixaria passar essa oportunidade não é?
As duas ainda estavam rindo quando uma luz ascendeu no
painel da sala de enfermagem, indicando a urgência no
atendimento do paciente. Ana imediatamente interrompeu
a conversa.
- Depois falamos, a luz do painel está acesa, preciso
verificar. Um beijão.
- Tudo bem. Pode ligar quando quiser. Beijos.
Chegou ao quarto o mais rápido que podia para verificar o
que estava acontecendo. Uma senhora que tinha sofrido
uma intervenção cirúrgica no dia anterior estava com
dores abdominais. Assim que constatou ser um problema
sério acionou o departamento médico, prontamente
atenderam a paciente que foi transferida para exames.
Informada sobre a importância do seu pronto atendimento,
para que a equipe medica pudesse ter salvado a paciente,
ela apenas agradeceu a Deus por ter ajudado, afinal essa
era a maior recompensa, salvar vidas.
LINHAS DO DESTINO
183
Capitulo quarenta e seis
ALGO ERRADO
Paulo já estava impaciente de ficar deitado, resolveu entrar
em contato e falar com o pessoal do escritório para saber
sobre o andamento dos negócios.
- Alô! Quem fala? - Paulo não reconheceu a voz do outro
lado da linha.
- Vera Lúcia em que posso ajudar?
- És uma funcionária nova?
- Sim, iniciei ontem, com quem falo?
- Meu nome é Paulo, gostaria de falar com Heitor.
- O senhor Heitor está em reunião. Seria só com ele?
- Então me chama a Olga, por favor.
- Ela não trabalha mais na empresa.
- Como não trabalha mais na empresa? – Paulo não
acreditava no que estava ouvindo.
- A informação que tenho é que foi para outra companhia.
L.P.OWEN
184- Por favor, me informe o telefone onde posso
encontrá-la.
- Infelizmente não tenho essa informação...
- Então me passa para o RH. - Paulo já estava perdendo a
paciência, mas controlou-se.
- Quem gostaria de falar?
Antes que pudesse terminar.
- Já te falei que meu nome é Paulo.
- Me desculpe senhor Paulo, mas tenho ordens de não
transferir as ligações sem a autorização do senhor Heitor.
- Então me transfere para ele.
- Como disse antes ele ainda continua em reunião.
- OK! Quero falar com o Miguel de vendas.
- O ramal está ocupado, quer deixar recado?
- O seu Barbosa de compras?
- Está em reunião com o senhor Heitor e um fornecedor.
- Anote meu número e peça para... – Desistiu de deixar
seu número.
LINHAS DO DESTINO
185
Paulo desligou o telefone preocupado com a notícia que
sua secretária tivesse pedido sua demissão.
Estavam trabalhando juntos há dez anos
aproximadamente.
Não sabia o que fazer e como obter o telefone de Olga.
Não tinha o hábito de fazer ligações, todos os números de
sua agenda era ela quem controlava.
Estava tão absorto em seus pensamentos que levou um
susto quando dona Raquel cumprimentou-o.
- Me desculpe estava distraído que não percebi a senhora
entrar.
- Como você esta passando?
- Estou ótimo, sendo muito bem atendido. Amanhã terei
alta, assim disse o doutor Guilherme. A senhora trabalha
aqui?
- Não, apenas faço algumas visitas para o pessoal. Ao
entrar notei que estava preocupado com alguma coisa.
L.P.OWEN
186- Sim, a senhora tem toda razão, não consegui falar
com ninguém no meu escritório, parece que todos estão
em reunião, mas tudo bem depois falo com eles. Na
realidade gostaria de tomar outra injeção assim me
acalmaria.
- Gosta tanto assim de injeções?
- Não gosto, seria apenas uma desculpa para rever Ana, a
senhora a conhece?
- Sim. É uma mulher e tanto.
- Concordo plenamente com a senhora.
- O senhor está interessado nela?
- Sim. Só ela não percebeu isso.
- Posso adiantar que é uma mulher de muita fibra,
portanto, galanteios vulgares não seria a melhor forma de
conquistá-la.
- Tenho certeza de que é uma grande mulher, estou
falando de amor à primeira vista, sempre achei isso
LINHAS DO DESTINO
187
esquisito, mas a partir do momento em que entrou neste
quarto, não consigo parar de pensar nela.
- De tempo ao tempo, verá que no final tudo se ajeita.
Agora, que está mais calmo, se quiser posso ligar para seu
escritório, quem sabe eles me atendam.
- Poderia fazer-me essa gentileza?
- Claro é só me passar o numero o resto pode deixar por
minha conta.
Paulo informou o número e Raquel discou, aguardou a
ligação ser completada, Paulo percebeu que a presença
dela deixou-o mais tranquilo, mais contente. Após
algumas chamadas, alguém responde do outro lado da
linha.
- Boa tarde, minha querida, gostaria de falar com o seu
Heitor.
- Quem gostaria de falar?
- Raquel, ele não me conhece... - Não deram tempo para
terminar sua frase.
L.P.OWEN
188- Um minuto, por favor. – Responderam.
Após alguns minutos uma voz masculina cumprimentava-
a. Dona Raquel, sem dizer uma palavra, entregou o
telefone a Paulo.
- Alô quem fala? – Perguntou Heitor e ficou surpreso com
a resposta.
- Sou eu Heitor. – Respondeu Paulo.
Paulo pode até imaginar a cara de Heitor, ao reconhecer
sua voz, mas atendeu muito a contra gosto.
- Olá meu amigo por onde você anda? Liguei várias vezes
para você e não retornou, então, pensei que tivesse
viajado.
- Quase viajei para o além, estou internado num hospital
após um acidente, mas isso é uma longa história, preciso
falar com Olga para obter alguns documentos.
- Ela pediu demissão sexta-feira passada. - Disse Heitor.
LINHAS DO DESTINO
189
- Como pediu demissão? Não falou nada a respeito
comigo. Por que nos deixaria depois de tanto tempo
conosco?
- Não me informou - Heitor disse isso sem um pingo de
emoção.
- Uma pessoa que trabalha tanto tempo numa empresa se
demite e ninguém pergunta o motivo para o pedido?
- Faça o favor de me passar o seu telefone.
- Não tenho o número do seu telefone, ela era sua e não
minha secretaria. - Disse Heitor.
- Por favor, me transfere para o Júlio do RH.
- Aguarde um minuto que vou pedir para chamarem o
ramal dele.
Paulo ouviu ao fundo Heitor dando uma bronca na garota
que fez a transferência sem ter perguntado se queria ou
não atender.
Do outro lado Júlio cumprimenta o patrão e amigo e fica
surpreso de saber que está hospitalizado.
L.P.OWEN
190- O que aconteceu com você? Não liga a três dias, mas
como nossa reunião é somente na semana que vem nem
me preocupei.
- É uma longa história, depois te conto com mais calma.
Por que a Olga pediu demissão sem falar nada para mim?
- Para ser sincero fiquei sabendo que havia pedido
demissão quando cheguei aqui na segunda-feira e recebi
sua carta. Fui autorizado pelo Heitor a fazer o pagamento
de seus direitos o mais rápido possível aqui no escritório.
- Ela não disse nada a respeito? Alguém perguntou qual
era o problema? Afinal alguém perguntou para ela sobre o
que eu acharia disso?
- Não perguntei, apenas cumpri ordens.
- Tudo bem Júlio me desculpe estou bravo comigo
mesmo. Você tem o número do seu telefone?
- Sem problemas, você pode anotar?
- Pode dizer, aproveite passe-me o número do seu celular,
esses telefones do escritório estão sempre ocupados.
LINHAS DO DESTINO
191
Depois de obter os números que precisava, despediu-se
com uma saudação calorosa.
- Alguma coisa está errada. – Comentou.
- Ouvi um clique de aparelho, desligados duas vezes.
- O que acha de errado? – Perguntou Raquel.
- Estavam ouvindo a conversa. Fiquei sabendo que minha
secretária pediu demissão sem motivo algum, o pior, na
minha ausência. Até agora não tinha conseguido falar com
ninguém da empresa, apenas a telefonista. Não vou
trabalhar a cinco dias, ninguém se preocupou em me
procurar, não sei onde está o meu celular, mas sou capaz
de apostar que não deixaram recado algum. Para ser
sincero, gostaria de saber se tenho algum recado nele.
- Se quiser posso perguntar na recepção sobre seus
pertences.
- Que bela ideia dona Raquel, não tinha pensado nisso. Se
puder fazer mais essa gentileza ficarei imensamente grato.
L.P.OWEN
192- Vamos ver o que podemos fazer. - Antes de sair
comentou.
- Tudo acontece por um bom motivo, quem sabe não é o
momento propício para descobrir aquilo que está oculto
bem à sua volta.
- Estou muito carente, três dias num hospital e estou
apaixonado por duas mulheres. - Disse sorrindo -
Obrigado por tudo.
- Só mais uma coisa disse olhando nos seus olhos, não a
faça sofrer.
Não conseguiu falar com Olga, a ligação era encaminhada
para caixa postal, não deixou recado, porque suspeitava
que fosse ouvido por outra pessoa.
Resolveu deixar para mais tarde, aproveitou e ligou para
seu João. Pediu que trouxesse seu laptop que havia
deixado em sua casa.
LINHAS DO DESTINO
193
Capitulo quarenta e sete
GRANDE AJUDA
Raquel estava indo para o setor de internação quando
alguém tocou no seu braço, ao se virar, deparou com um
sorriso que conhecia e adorava.
- Nosso almoço está difícil de acontecer. - Disse Ana -
Gostaria que fosse à minha casa, assim poderia apresentar
minha primeira mãe.
- Podemos marcar para quando você quiser. – Respondeu
com o carinho de sempre.
- Combinado, vou convidar a Márcia também, assim
quando vier buscá-la aproveito e a apanho também. Ela
não pode dirigir.
Nesse momento se deu conta de perguntar.
- Para onde está indo? – Pensou estar na direção errada.
- Na internação para saber se viram o celular de Paulo.
L.P.OWEN
194- Você o conhece? - Perguntou Ana demonstrando
interesse.
- Digamos que estou conhecendo. – Com ar misterioso
completou. - A propósito, cuide bem do seu amor.
- Meu amor? Ele falou alguma coisa? Você viu que gato?
- Não só vi como fiquei sabendo que está caído por uma
enfermeira linda que está cuidando dele.
- Não me diga que ele falou isso?
- Então não vou dizer – Sorriu.
- Pode dizer o que ele falou? – Implorou. – O que a
senhora achou dele?
- Parece uma pessoa correta, vai ser muito bom para você.
Nesse momento Ana se lembrou da quantidade de trabalho
que a esperava e despediu-se.
Ao chegar ao setor de internação dona Raquel foi atendida
por Sílvia.
- Boa tarde dona Raquel, como a senhora está?
- Muito bem e você?
LINHAS DO DESTINO
195
- Estou bem! O que a senhora deseja?
Raquel explicou toda a situação e ficou aguardando
enquanto Sílvia verificava o prontuário de Paulo. Após
alguns instantes se aproximou com um sorriso nos lábios,
de satisfação por ter encontrado o que procurava,
entregou-os a dona Raquel que imediatamente retornou ao
quarto de Paulo.
- A senhora é fantástica. – Disse ele feliz por encontrar
seus pertences. - Achei ter perdido meus documentos no
acidente, mas graças a Deus está dando tudo certo.
- Agora é com você. - Encaminhando-se para a porta. - Se
precisar de algo é só dizer, estamos aqui para ajudar. Bom
final de tarde.
- Para senhora também. Obrigado por tudo e
principalmente pela companhia.
Paulo pensou em tudo o que estava acontecendo, no
acidente que sofrera no encontro com a mulher que
conseguiu mexer com seu coração, a demissão de Olga, a
L.P.OWEN
196dificuldade de falar com o pessoal do escritório e o
pressentimento de que algo estava errado. Estava tão
distraído que Ana teve que falar mais alto para que fosse
notada.
LINHAS DO DESTINO
197
Capitulo quarenta e oito
FORTALECENDO A AMIZADE
Carlos ficou com Gabriel durante toda tarde.
Aproveitaram para conversar sobre vários assuntos dentre
eles o time que torcia e etc.
- Aproveite a fisioterapia, sare logo, não vejo a hora de
irmos para casa, assim poderemos fazer um monte coisas e
uma é pescar. Você gosta de pescar?
- Nunca fui, mas deve ser muito bom.
Repentinamente o garoto ficou sério e perguntou.
- Por que será que acontecem certas coisas com a gente,
faz pouco tempo que te conheci e já gosto de você muito
mais do que gostava do meu pai. Apesar de tudo sinto
remorso por isso.
- Não sei se minha resposta para sua pergunta é a correta,
mas o universo aproxima as almas que se parecem ou
mesmo as almas gêmeas para elas terem a chance de
L.P.OWEN
198aprender juntas, de construir e até mesmo desfazer
algo que esteja impedindo o seu crescimento.
- Como sua alma é minha alma gêmea? – Com seriedade
completou. – Olha só o seu tamanho!
Carlos riu gostosamente.
- Não disse que temos almas iguais, para ser sincero não
saberia definir o que é alma gêmea. - Tentou explicar do
seu modo.
- Não são os opostos que se atraem, e sim, os que se
completam, os que têm a maneira parecida de ser. Tem
pessoas que moram tão distantes das outras, no fim
acabam vivendo juntas algum tempo ou por toda uma
vida. – Completou.
- Acredito serem almas, que por algum motivo terão que
estarem próximas umas das outras.
O menino completou.
- Uma é ir pescar.
LINHAS DO DESTINO
199
- Vamos fazer isso e muito mais assim que você tiver alta.
Acredito que não demore muito.
Dona Raquel, como sempre fazia antes de ir embora, foi
se despedir de Gabriel. Ao chegar, foi recebida com um
sorriso de felicidade.
- Hoje você está mais feliz, parece que ganhou algum
presente.
- Porque prometi levá-lo para pescar. – Informou Carlos.
- Pescar é muito bom, dá tranquilidade para a alma.
Acredito que tenha alta logo. Já está na hora de voltar para
escola para aprender o que puder.
Depois do beijo dona Raquel falou.
- A conversa está boa, mas preciso ir andando. Até
amanhã.
Os dois despediram-se dela como se tivessem ensaiado.
Depois de algum tempo Carlos comentou.
- Você acredita em anjo Gabriel?
Rapidamente ele respondeu.
L.P.OWEN
200- Sim. Minha mãe sempre disse para rezar para o meu.
Por quê?
- Acabamos de falar com um.
- Sempre achei não poder ver um. - Não entendeu o que
Carlos disse.
- Existem dois tipos de anjos. Aqueles que cuidam da
gente e os que nos protegem. Ela é um anjo que cuida da
gente.
O garoto comentou.
- Quando estava dormindo, escutava uma voz que falava
comigo, depois de acordar, reconheci a voz dela. Por isso
desde que a vi sinto um carinho muito grande por ela,
porque estava sempre ao meu lado me dando coragem.
Carlos não tinha reparado, mas depois do comentário do
garoto, começou a prestar atenção e concordou com o que
dissera.
- Estava para ser operado, enquanto aguardava para ser
internado, sentou-se ao meu lado e conseguiu acalmar-me
LINHAS DO DESTINO
201
e dar uma nova esperança. Deus nos envia aqueles que vão
nos ajudar no momento certo. No meu caso, posso dizer
que ela foi muito importante e agradeço a Deus por tê-la
conhecido.
L.P.OWEN
202Capitulo quarenta e nove
BREVE DESPEDIDA
Paulo desculpou-se pela desatenção. Imediatamente um
sorriso de satisfação instalou-se no seu rosto ao perceber a
presença de Ana.
- Já chegou o momento de judiar deste pobre rapaz
novamente? – Disse Paulo.
- Bem que eu gostaria, mas já terminou sua secção de
tortura. Amanhã cedo já estará livre para ir para casa.
- Então quer dizer que veio somente despedir-se?
Imediatamente ouviu dela.
- Não. Vim dizer que você me deve uma dança.
- Essa divida vou ter o maior prazer em pagar.
Paulo tornou-se sério e aquele rosto alegre se modificou
tanto que Ana não pode deixar de notar a transformação.
- Gostaria de dizer que vou sentir muita falta de ser tratado
por você.
LINHAS DO DESTINO
203
Ela provocou-o.
- Disse que eu só torturava você!
- Tortura é você chegar em casa e não ter com quem
dividir as coisas do dia, nem sonhos nem desilusões e,
para dizer a verdade, esse acidente foi a melhor coisa que
me aconteceu.
- Parece até loucura dizer isso, mas é verdade, porque
jamais te encontraria se não fosse por ele.
- Caso não se importe gostaria de saber seu telefone ou se
preferir posso dizer o meu. Não posso deixar a felicidade
ir para onde não consiga achá-la.
Para disfarçar a emoção que sentira, Ana disse
ironicamente.
- Será que apesar de tudo o que te fiz sofrer ainda está
cantando-me? – Quase não terminou a frase.
- Sim estou.
Ao mesmo tempo em que falava Ana estendeu um papel
que tinha escrito momentos antes de entrar.
L.P.OWEN
204- Agora cuidarei dos dois que precisam de mim em
casa. Foi um prazer judiar de você. Somente para que
saiba, vou sentir sua falta.
- Aqui está meu cartão com número do meu telefone se
não tiver quem possa judiar estarei a disposição. Se for
preciso arrumo outro acidente e digo que o plano de saúde
é deste hospital.
Ao sair do quarto, antes que a porta se fechasse por
completo, Ana pode ouvir “até mais princesa”.
LINHAS DO DESTINO
205
Capitulo cinquenta
COMO IRMÃS
Ana foi para o estacionamento, quando entrou no seu
carro, ficou parada por alguns instantes pensando em
Paulo. Sentiu um pouco de tristeza porque na manhã
seguinte não teria mais sua presença.
Os carros passavam ao seu lado como sempre, mas hoje
algo estava diferente de outros dias, Ana pensava no fato
de que numa cidade tão grande onde as pessoas sequer se
falam, se conhecem, encontrou alguém que pudesse mexer
tanto com os seus sentimentos e colorir sua vida outra vez.
Perdida em seus pensamentos, quase se esqueceu do
compromisso de passar na casa de Márcia para convidá-la
para almoçar em sua casa no final de semana, conforme
tinha dito para dona Raquel.
Márcia preparava-se para tomar banho quando a
campainha tocou, a princípio ficou contrariada, mas
L.P.OWEN
206quando viu uma mulher exuberante, com olhar de
felicidade, sorrindo em frente à câmera de circuito
fechado, começou a rir também. Acionou o botão para
abrir o portão.
- Como vai a paciente traidora? - Disse rindo ao abraçar a
amiga.
- Estou ótima e pelo jeito você também está. Quando vi
uma garota muito alegre pensei “talvez ela tenha muitas
novidades para me contar” e como não gosto de
novidades, abri a porta rápido – segurando-a pelas mãos -
agora me conta logo o que aconteceu.
- Não sei por onde começo será que devo começar por
dizer que estou apaixonada? Que encontrei finalmente
minha alma gêmea? Meu paraíso? O amor que nunca tive?
Ou quem sabe tudo isso?
- Por que não começa logo? – Márcia perguntou
desesperada.
LINHAS DO DESTINO
207
- Quando me separei de Roberto fiquei muito abalada,
num encontro casual com dona Raquel ela me disse que
não demoraria muito e encontraria meu grande amor, não
achei ser tão rápido.
Enquanto Ana falava seus olhos transmitiam toda
felicidade de sua alma. Márcia sentia-se feliz pela amiga e
por ela mesma, que também vivia um momento muito
bom.
Quando Ana terminou de contar sobre o encontro com
Paulo e tudo o que aconteceu olhou para a amiga, notou
que ela estava emocionada.
- Você está chorando? - Disse Ana.
- Não acredito que você esteja chorando, uma mulher tão
forte como você. - Ao mesmo tempo, passava a mão no
rosto para enxugar suas próprias lágrimas que escorriam e
borravam a maquiagem.
Depois de alguns momentos, as duas já refeitas das
emoções, Ana se lembrou do motivo real de sua visita.
L.P.OWEN
208Convidou Márcia para almoçar em sua casa no final de
semana. Despediu-se e quando ia saindo encontrou o
doutor Guilherme que acabava de chegar.
Cumprimentou-o, não se fez de rogada.
- Por que deu alta para o Paulo?
As duas riram somente ele não entendeu a piada.
LINHAS DO DESTINO
209
Capitulo cinquenta e um
LOUCO POR RESPOSTAS
O sol já estava despontando quando Paulo acordou
sentindo uma vontade imensa de tomar um bom banho.
Resolveu chamar algum atendente e pedir ajuda.
Apertou a campainha e ficou na expectativa de ver
novamente Ana, mas teve uma grande surpresa.
- Bom dia! Está precisando de algo? - Perguntou Rui com
a alegria de sempre.
- Se te contar você não acreditaria. – Paulo respondeu com
um sorriso sem graça.
- Sei que não pareço nada com a enfermeira que te atendia,
mas em que posso ajudar?
- Vou ter alta hoje, estou louco para tomar um banho,
poderia ajudar-me de alguma forma?
L.P.OWEN
210- Estou aqui para isso mesmo, vou pegar uma cadeira
de roda e vamos dar um jeito nisso. Vai ser um banho
meia boca.
- Só isso já será maravilhoso não aguento esse cheiro de
hospital.
Após algumas horas Paulo já estava pronto para ir para
casa. Deu uma última olhada no quarto procurou no bolso
da jaqueta o papel que Ana lhe havia dado, ao vê-lo, uma
ponta de saudade invadiu seu coração. Estava perdido em
seus pensamentos quando o atendente entrou.
- Você está novamente aqui. - Disse surpreso ao ver Rui
com uma cadeira de rodas.
- Claro! Apareço somente em momentos felizes.
- Que susto, pensei que fosse dar-me outro banho.
- Agora é só sentar nessa cadeira e preparar-se para a
liberdade. Podemos ir?
- Claro que sim, gostaria de saber quem será o felizardo a
ocupar este quarto. – Referindo-se a companhia de Ana.
LINHAS DO DESTINO
211
Na recepção João o aguardava com o entusiasmo e o
carinho de sempre.
- Bom dia! Agora, meu amigo terá muito trabalho. Não
vejo a hora de entender o que está ocorrendo.
- Bom dia! Você está com ótima aparência, só para teu
conhecimento, também estou muito motivado a desvendar
esse assunto.
- É isso aí meu grande amigo, temos uma história mal
contada. Agora você poderia dizer-me o que foi feito do
que sobrou do meu carro?
- Foi levado pelo pessoal responsável pelo trânsito e
colocado num pátio. Assim que fiquei sabendo fui retirá-
lo, agora está estacionado na sua garagem, ou melhor, o
que sobrou dele.
- Não sei o que seria de mim sem você. – Disse com um
sorriso que contagiou João.
- O que pretende fazer com ele, pelo estado em que se
encontra, não sei como conseguiu sair quase inteiro.
L.P.OWEN
212- Está muito destruído?
- Ainda bem que estava sozinho caso o contrário estaria
com sua consciência muito pesada.
Nesse momento Paulo agradeceu a Deus por estar bem e
por ter encontrado Ana somente agora.
- Gostaria que entrasse em contato com o José, meu
mecânico, para ele dar uma avaliada e verificar o que
ocorreu. Caso ele pergunte, poderá vir quando puder.
- Vou ligar para ele assim que chegarmos.
João dirigia tranquilamente a caminho da residência de
Paulo. Quando chegaram foram recebidos por Dora, uma
pessoa que Paulo fazia questão de ajudar. Casada, um
casal de filhos maravilhosos e o marido que devido a um
acidente na empresa onde trabalhava acabou com uma
invalidez permanente. Apesar de tudo, Dora não era uma
pessoa triste, pelo contrário, muito batalhadora. Fazia
alguns anos que trabalhava com ele e cuidava de tudo com
muita competência.
LINHAS DO DESTINO
213
- Como o senhor está seu Paulo? – Dora perguntou com a
sinceridade de sempre.
- Agora estou bem melhor, vou dar mais trabalho para
você.
- A família como tem passado?
- Graças a Deus estamos todos muito bem. Pensei quando
vi o carro estacionado na garagem todo embrulhado, que
alguma coisa grave tinha acontecido com o senhor.
- Pra você ver como meu Anjo de Guarda é forte – Disse
sorrindo.
- O senhor quer que prepare alguma coisa para comer?
- Sim estou louco para comer um lanche que só você sabe
fazer e um suco de frutas.
- Vou preparar agora mesmo e levo no quarto para o
senhor.
- Não vou para o meu quarto, estou cansado de ficar
deitado, preciso resolver alguns assuntos importantes,
estarei no escritório.
L.P.OWEN
214Capitulo cinquenta e dois
OLGA
Naquela tarde Paulo sentou-se frente ao computador e
conectou-se a Internet.
Digitou o endereço de sua empresa, em seguida sua senha.
A tela que surgiu na sua frente escrita em negrito. “Bom
dia Paulo” informava que o sistema estava à sua
disposição.
Imediatamente abriu os diretórios referentes aos diversos
departamentos. Resolveu iniciar a pesquisa pelo setor de
compras e suprimentos. À medida que lia os documentos
ficava surpreso e preocupado com o que estava vendo.
Resolveu verificar o departamento de contas a pagar. Ao
verificar o volume de pagamentos efetuados a um pequeno
grupo de fornecedores ficou mais preocupado ainda.
O telefone tocou no final da tarde, do outro lado da linha
Paulo ouviu uma voz bastante conhecida.
LINHAS DO DESTINO
215
- Olá, meu amigo, como você havia suspeitado, alguém
preparou alguma coisa para você. Pelo menos o teste que
fiz comprova o que estou dizendo – em tom de ironia – o
sistema de freio não esconde o óleo.
- Obrigado! Fico devendo mais essa. – Disse Paulo.
- O que você quer fazer com o restante das peças?
- Pode guardá-las por algum tempo?
- Claro que sim. – Respondeu o outro.
- Talvez eu vá precisar delas – informou Paulo.
Paulo se despediu. Imediatamente ligou para o seu João e
informou o resultado da análise feita por José.
- O que você quer que eu faça agora. – Perguntou João.
- Temos que encontrar Olga. Gostaria que fosse ao
departamento de pessoal e verificasse o seu endereço. -
Instruiu - Procure falar diretamente com o Júlio Gerente
do Departamento. O número que me passaram só atende
uma secretária eletrônica, não quero deixar recado
L.P.OWEN
216nenhum. Enquanto você investiga na rua, vou fazer o
possível por aqui.
De posse do endereço fornecido por Júlio, João
encaminhou-se para o local marcado no mapa. As ruas
eram sinuosas, as casas empilhadas umas sobre as outras.
Eram várias casas sem acabamento, apenas no tijolo,
formando construções de três até quatro andares.
João não conseguia entender como as pessoas conseguiam
morar daquela maneira. Poderiam construir casas
menores, mais bem acabadas, mas isso não era de sua
conta. O seu problema agora era encontrar o endereço que
tinha em mãos.
Ao chegar à rua indicada, diminuiu a velocidade para
poder olhar os números das casas, que também eram
repetidos, dificultando a localização do endereço.
Depois de algumas idas e vindas acabou encontrando o
local correto.
LINHAS DO DESTINO
217
Era uma casa enorme, como todas daquele local, não tinha
acabamento algum, somente a estrutura de concreto e
alvenaria. Como eram espremidas umas nas outras, todos
construíam para cima. O que era para ser uma casa
tornava-se um pequeno edifício.
João deixou seu carro estacionado na rua e entrou pelo
beco até a casa de Olga. Notou várias crianças brincando
nos pequenos espaços que sobravam entre as vielas,
dividida com os adultos que conversavam.
João procurou pela campainha, mas como não encontrou,
resolveu bater palmas.
- Com quem o senhor quer falar? - Uma voz de criança
soou em suas costas.
- Estou procurando por dona Olga, você a conhece?
- Sim ela morava aqui, agora não mora mais.
- Você sabe onde ela esta morando agora?
- Não, mas minha mãe deve saber. Por que o senhor não
pergunta para ela?
L.P.OWEN
218- Você me indica qual é a sua casa?
- É aquela casa branca ali em cima é só chamar que minha
mãe atende.
- Obrigado pela informação.
Caminhou até o local indicado pelo garoto. Uma casa
pequena, a única com pintura na parede, cheia de vasos
pelo quintal e em cada um deles ao invés de flores
ornamentais apresentavam hortaliças e verduras
cultivadas. João não precisou bater palma, um cachorro
incumbiu-se de alertar que tinha visita no portão.
- Pois não, o que o senhor deseja? - Perguntou uma voz
feminina da porta de entrada da casa.
- Bom dia, meu nome é João, estou procurando por dona
Olga e seu filho me disse que a senhora sabe onde ela está
morando atualmente.
- O que o senhor quer com ela?
- Ela trabalhava para o senhor Paulo, como ele está
impossibilitado de vir, porque sofreu um acidente e não
LINHAS DO DESTINO
219
pode andar, pediu-me para procurá-la, ele precisa muito
falar com ela. - Enquanto João falava uma voz feminina a
sua costa soou.
- Bom dia seu João como o senhor tem passado?
- Estou ótimo! Você como está Olga?
- Faz alguns dias que tive que abandonar minha casa e me
esconder por aqui. Como está o senhor Paulo?
- Está se recuperando do acidente que sofreu, mas está
bem melhor agora. Vim aqui a pedido dele. Ele gostaria
que você fosse comigo ele precisa muito falar com você.
- Vou trocar de roupa e iremos em seguida.
L.P.OWEN
220Capitulo cinquenta e três
O INÍCIO DE UM BELO DIA
A campainha tocou. Quando Raquel abriu a porta viu
Tobias sentado, com olhar de pidão aguardando ser
atendido. Ela não conseguiu se conter e caiu na
gargalhada.
- Meu lindo, você também veio visitar-me?
Tobias apenas abanava o rabo fazendo festa para aquela
que aprendeu a gostar.
- Como vocês estão? – Perguntou enquanto pegava Tobias
no colo.
- Estamos bem e a senhora? – Ana e Luís responderam
quase ao mesmo tempo.
- Viemos buscá-la para passar o dia com a gente.
- Acabei de passar um café, não querem tomar uma
xícara?
- Já que a senhora insiste - Disse Luís brincando.
LINHAS DO DESTINO
221
Enquanto Raquel se preparava Ana aproveitou, retirou a
mesa e lavou as xícaras.
- Vamos passar na casa de Márcia e em seguida, iremos
para a minha. Mamãe está preparando uma comida
especial. – Completou Ana.
- Preparei uma carne e coloquei para assar no mínimo,
espero que fique comestível.
A senhora vai passar no hospital? – Perguntou quando
passava em frente.
- Não. Hoje vou dar uma folga para eles. – Argumentou
Raquel.
Tobias não parava de encostar-se em Raquel, enquanto
não fazia um carinho o cachorro não a deixava tranquila.
Durante o caminho para a casa de Márcia a conversa fluía
agradável.
- Como está seu coração? - Perguntou Raquel.
- Ela deve estar apaixonada novamente, porque seus olhos
estão mais brilhantes, está se cuidando mais. – Luís não
L.P.OWEN
222perdeu tempo para comentar. – Em minha opinião, ela
está mais linda ainda.
- Isso é uma coisa boa, afinal ninguém consegue conviver
com pessoas que estão sempre de mau humor,
resmungando de tudo, enfim não se amando nem amando
os outros.
- É verdade, dona Raquel, minha mãe não estava se
cuidando, mas agora está dando a volta por cima.
- Fico contente que você ajude sua mãe a ser feliz.
Ana ouvia a conversa sem fazer comentário, apenas
dirigindo, mas descobrindo a maturidade e o ponto de
vista de Luís.
- Às vezes, fazemos do amor uma corrente que não permiti
ao outro a possibilidade de gostar de outra pessoa além de
nós. A essa corrente pode-se dar o nome de ciúme. –
Falava dona Raquel.
Luís abriu seu coração.
LINHAS DO DESTINO
223
- Sempre tive e continuo tendo muito ciúme de minha
mãe, mas acabei percebendo que de alguns dias para cá,
está mais feliz. Então pensei, será muito bom se ela
encontrasse alguém que a amasse, assim, poderia
continuar tão alegre como está ultimamente.
- Sábia conclusão, meu filho. – Comentou Raquel.
A conversa prosseguiu até a chegada na casa de Márcia.
Quando Ana estacionou seu automóvel em frente ao
portão, Márcia já a aguardava na porta.
- Que pontualidade sua. Pensei ela não estará pronta! –
Disse Ana.
- Não aguento mais ficar aqui trancada sem ver pessoas, já
estava a ponto de enlouquecer. Como tem passado? –
Dirigindo-se a dona Raquel, enquanto entrava no
automóvel.
- Muito bem! Quanto tempo ainda vai ficar longe de nós?
– Perguntou dona Raquel.
L.P.OWEN
224- Acredito que mais uma ou duas semanas. Estou
aguardando a liberação do médico. Não vejo a hora de
poder conversar com as pessoas de cuidar delas...
Márcia estava tão ansiosa que se esqueceu de
cumprimentar Ana e Luís. Ao se dar conta pediu
desculpas.
- Só porque eu te amo dessa vez passa. - Respondeu Luís.
- Prometo que não acontecera mais.
A conversa estava animada e feliz dentro do automóvel.
LINHAS DO DESTINO
225
Capitulo cinquenta e quatro
A MÃO ESTENDIDA
Naquele sábado o escritório da HP - Empreendimentos
Imobiliários estava deserto, livre do vai e vem dos
funcionários, apenas duas pessoas estavam trabalhando
arduamente.
Instalada em oito andares do edifício situado num bairro
comercial, onde o metro quadrado era um dos mais
valorizados, há alguns meses, com os problemas
financeiros, mas apenas o diretor financeiro e seu
assistente e cúmplice, estavam cientes da situação que
poderia culminar em uma falência.
No departamento de contabilidade, Heitor e Humberto
faziam os lançamentos necessários para maquiar os
resultados negativos obtidos nos últimos meses.
Os pagamentos feitos às empresas fantasmas eram
modificados e direcionados para outros fornecedores,
L.P.OWEN
226pulverizando o volume gasto entre os vários
fornecedores habituais.
Heitor N. Moraes formado com louvor em ciências
contábeis, sempre trabalhou em empresas de grande porte.
Depois de algumas promoções conquistou o cargo de
diretor financeiro, com a posição e a alta remuneração
começou a participar de noitadas com mulheres, bebidas
alcoólicas e jogos.
Começou a frequentar barzinhos onde, no começo,
encontrava-se apenas com garotas até que um dia
envolveu-se com um rapaz e a partir daí passaram a
dividir o mesmo apartamento.
Com o tempo as drogas fizeram Heitor perder seu
emprego, amigos, família, todas suas economias e chegar
no fundo do poço. Todos aqueles que viviam bajulando-o
acabaram por afastar-se, apenas uma pessoa estendeu-lhe a
mão e o ajudou a reerguer-se novamente.
LINHAS DO DESTINO
227
Capitulo cinquenta e cinco
O ORGULHO OUTRA VEZ
A hora do almoço estava se aproximando o cheiro do
molho, que vinha da cozinha, parecia muito apetitoso.
Luís não resistiu à tentação, partiu um pedaço de pão que
mergulhou no molho e experimentou a obra-prima feita
por dona Raquel e sua avó.
O almoço delicioso e a boa conversa deixaram o ambiente
mais feliz e cheio de paz.
- O paciente bonitão, ainda não te ligou? – Márcia tocou
no ponto nevrálgico de Ana.
- Para ser sincera, ele nem pensou em me ligar.
- Por quê você não liga para saber o que aconteceu? –
Márcia insistiu.
- Você acha? Não ligarei. - Ele que ligue.
- Temos o hábito de complicar as nossas relações, somos
muito teimosos e não queremos dar o braço a torcer, o
L.P.OWEN
228grande velho e problemático orgulho. - Comentou
dona Raquel.
- Precisamos aprender que para darmos um passo à frente,
em alguns casos, antes temos que dar um passo atrás. –
Repetiu o que tinha dito algum tempo antes.
- Se você tem vontade de falar com ele, que mal tem em
ligar? – Completou.
- Quando chega seu príncipe? - Perguntou Ana tentando
colocar a amiga na fogueira.
- Acredito que em uma semana já tenha chegado. Para ser
sincera não vejo a hora, estou com muita saudade.
Após o almoço delicioso dona Marta e dona Raquel
conversavam alegremente na sala de estar enquanto
apreciavam o café que Ana tinha preparado.
- Gostaria de te agradecer por ter conversado com minha
filha. Sem você não teríamos a oportunidade de
reconciliação. – Marta comentou sinceramente.
LINHAS DO DESTINO
229
- Não fiz nada, apenas comentei a mesma coisa que acabei
de falar, mostrei como as pessoas precisam ser mais
receptivas e menos orgulhosas.
- Eu e a Ana não conseguíamos conversar, uma queria
falar mais que a outra, mas não ouvíamos o que era dito,
apesar do amor que temos, vivíamos brigando.
- Quando falamos alto não escutamos o que o outro diz,
porque o nosso coração está distante. – Disse Raquel.
- Sou obrigada a concordar com minha filha, você é muito
especial.
- É mais fácil quem está de fora do problema enxergar a
solução.
L.P.OWEN
230Capitulo cinquenta e seis
UMA SAÍDA
Quando o telefone tocou Paulo tinha acabado de verificar
que a situação da sua empresa estava ruim. Ao atendê-lo
não conseguiu esconder sua raiva.
- Paulo?
- Sim. Você conseguiu encontrá-la?
- Encontrei, estamos a caminho do lugar marcado. - Disse
João.
- OK. Vou dirigir-me para lá. – Paulo mentiu, porque o
seu telefone estava grampeado.
Fazia algum tempo que João percebera alguém seguindo
seus movimentos. Resolveu fazer uma manobra arriscada
para poder despistar e chegar à casa de Paulo sem que o
vissem.
LINHAS DO DESTINO
231
Lembrou-se do túnel que havia no caminho e a
interligação existente entre eles, para o caso de ocorrer
algum problema, resolveu arriscar e utilizar esse desvio.
O veículo que o seguia estava mantendo uma distância
razoável, ao entrar no túnel acelerou para adquirir
velocidade e distância suficiente para, com a ajuda da
pouca iluminação no interior do túnel, conseguir fazer o
retorno utilizando o desvio sem ser visto.
- Aperte bem o sinto Olga, vou fazer uma manobra
arriscada.
Ao entrar no túnel João acelerou e conseguiu distanciar-se
do veículo que o perseguia.
Após a curva preparou-se para executar a manobra com
segurança, afinal poderia causar algum acidente de
proporções incalculável. Finalmente pode relaxar e
prosseguir rumo a residência de Paulo.
L.P.OWEN
232Capitulo cinquenta e sete
A NOVA OPORTUNIDADE
Com os olhos espumando de raiva, recebeu o telefonema
com a notícia que o plano dera errado.
- Seu bando de incompetente, como conseguiu perdê-lo de
vista? Ele dirige na velocidade de uma tartaruga.
- Nos estávamos próximos dele, entramos no túnel e
simplesmente ele desapareceu.
- Qualquer idiota sabe da existência de pontos de
interligação, para o caso de acontecer acidente, somente os
dois imbecis que trabalham pra mim não sabiam. Agora
sigam para a residência dele. Desta vez, sejam mais
competentes.
Heitor não sabia o que fazer, mas acreditava que Paulo já
tivesse descoberto ou pelo menos desconfiava sobre os
desfalques feitos por ele.
LINHAS DO DESTINO
233
Nesse momento a cabeça de Heitor fervilhava, não
encontrara até agora nada que pudesse fazer para manter o
controle da situação.
Quando tudo parecia perdido eis que surge uma luz.
Realmente uma luz brilhou no painel, indicando que o
equipamento de escuta telefônica tinha sido acionado e
uma voz feminina foi ouvida.
- Alô! – Atendeu a mulher.
- De onde está falando? – Perguntou a outra.
- Com quem quer falar? – Disse a primeira.
- Com Paulo.
- Quem está falando? – Quis saber.
- Aqui é Ana, você não é a Dora?
- Sim, agora estou lembrando-me de você, é a enfermeira
que ligou do hospital, não é?
- Sim. Você tem uma memória muito boa.
- Obrigada. Vou passar para seu Paulo, um minuto, por
favor.
L.P.OWEN
234Ana estava ansiosa, não conseguia disfarçar enquanto
aguardava. Alguns instantes depois, Dora falou novamente
ao telefone.
- Ele disse que não pode atender no momento, se for sobre
a troca de curativo, ele liga para a senhora depois.
- Não é para a troca de curativo, eu só queria... - Deixa
para lá. Obrigada. Até logo.
Heitor pulava de alegria, não acreditava no que estava
ouvindo, conseguiu o que queria uma forma de controlar
Paulo.
Nunca fizera um investimento tão bom quanto esse
equipamento de escuta, pensou. Precisava apenas obter
mais informações sobre Ana, enfermeira do hospital onde
Paulo estava internado.
LINHAS DO DESTINO
235
Capitulo cinquenta e oito
O OUTRO LADO DA VERDADE
Paulo acabara de receber a visita de João e Olga. Eles
haviam entrado pela rua que dava acesso pelos fundos da
propriedade, dessa forma, os homens que vigiavam a
entrada principal foram ludibriados novamente.
- Que bom te ver Olga. Estava preocupado com a tua
segurança.
- Também estou feliz de voltar a vê-lo. Depois que soube
que tinha sofrido um grave acidente fiquei muito
preocupada, não conseguia entrar em contato com você.
- O acidente foi grave, mas graças a Deus não aconteceu
nada que não pudesse ser concertado. Gostaria de saber o
que realmente aconteceu naquela semana.
À medida que Olga contava sobre os acontecimentos,
aumentava ainda mais a preocupação de Paulo.
L.P.OWEN
236- Ao chegar ao escritório, naquela manha, fui direto à
sua sala, como sempre fiz, para verificar se estava tudo em
ordem, olhei para a CPU do seu computador e vi que
estava ligada, mas o monitor apresentava a tela escura.
Pensei, talvez tivesse esquecido de desligar seu
equipamento. Quando o Heitor me chamou em sua sala
para me informar sobre o seu acidente, percebi que
alguém havia utilizado o computador sem o seu
consentimento.
- Fui até sua sala e fiz uma cópia de todos os documentos
utilizados recentemente. Ao sair fui interpelada pelo
Heitor que me perguntou o que estava fazendo, informei
que você tinha esquecido o seu equipamento ligado e
resolvi desligá-lo.
- O Heitor acreditou?
- Se acreditou não sei, mas depois de duas horas, mandou
que me chamassem novamente em sua sala e me demitiu
por justa causa alegando que tinha destruído alguns
LINHAS DO DESTINO
237
arquivos importantes. Chegou a ameaçar de me mandar
para a cadeia se passasse pela porta da empresa. Informou-
me que tinha tudo gravado pelo sistema de segurança.
- Mas que cafajeste! – Disse Paulo com raiva.
- Antes de sair pediu para me revistarem e ficou com a
cópia que tinha eu feito...
- Não se preocupe ele pode apagar todos os arquivos, mas
vai continuar deixando o rastro por onde passar.
- Acho melhor arranjar um local para você ficar até
conseguirmos acertar essa situação. Você tem algum
parente que deva ser avisado?
- Meus parentes moram em outro estado, não tenho o
hábito de ligar.
- OK. Você poderá passar alguns dias na praia, João a
levará e tudo o que precisar é só falar com dona Alzira.
Não fale com mais ninguém a não ser ela depois que tudo
estiver acertado, nós te avisaremos.
L.P.OWEN
238Capitulo cinquenta e nove
O SEQUESTRO
Estarrecida com a maneira que foi atendida, Ana subiu
rapidamente para seu quarto. Deitada pensou em Paulo.
Não entendeu por que a mudança de tratamento, afinal
tinha sido um verdadeiro cavalheiro no hospital. Deitada
não conseguia dormir. Por mais cansada que estivesse não
conseguiu tirar da cabeça a resposta de Doralice.
Resolveu descer e tomar um chá. Olhou pela janela notou
um carro que acabara de estacionar no outro lado da rua.
O que mais chamou sua atenção foi o fato de não conhecer
o carro e seus ocupantes.
Colocou a água para ferver, voltou para dar mais uma
olhada, o veículo continuava parado com os ocupantes
ainda sentados conversando no seu interior.
LINHAS DO DESTINO
239
A chaleira começou a emitir um apito, que a fez
estremecer, odiava isso, mas toda a manhã conseguia
acordar com o barulho que ela fazia.
Preparou seu chá e sentada na cozinha sorvia cada gole
saboreando vagarosamente. Pensou nos acontecimentos do
dia. Ao terminar, apagou a luz, caminhou aproveitando a
claridade fornecida pela luz da rua que batia nas janelas.
Estava se dirigindo ao quarto, mas viu a silhueta de um
homem próximo à porta de entrada. Ana levou um susto
enorme.
Caminhou em direção a escada para chegar a seu quarto,
quase deu um grito de dor quando bateu na quina da mesa,
mas colocou a mão na boca para sufocar o grito, as
lagrimas escorreram pelo seu rosto.
Chegou ao topo da escada procurou seu celular, mas não
sabia para quem ligar. Num instante de lucidez lembrou-se
de ligar para Paulo. Ao ouvir a voz do outro lado, quase
não conseguia falar.
L.P.OWEN
240- Alô! Paulo? – Disse ela num sussurro.
- Ana? – É você?
- Estou ligando para você porque tem algumas pessoas no
portão da minha casa e não sabia para quem ligar.
- Estou morrendo de medo. – Disse enquanto olhava do
alto da escada.
- Fez bem em ligar para mim. Não quis atender você hoje
à tarde justamente para que não ocorresse isso.
- Qual é o teu endereço?
Ana informou.
- Vou enviar ajuda pra você, procure manter seu celular
ligado.
Paulo chamou João e entregou-lhe o endereço de Ana. De
outro aparelho entrou em contato com um grande amigo.
Dr. Juvenal tinha um apreço muito grande por Paulo,
apesar da pouca diferença de idade, foi como um pai na
hora em que ele mais precisava.
LINHAS DO DESTINO
241
Após a morte de seu pai e a grave doença que acometera
sua mãe, numa época onde entrar na faculdade era sua
grande meta, viu seu sonho de ser advogado não se
concretizar.
Filho único de casal de classe media alta tornou-se uma
pessoa que possuía apenas a roupa do corpo em pouco
tempo.
Tudo o que seu pai conseguiu juntar durante toda sua vida
fora gasto em pouco mais de um ano, com o tratamento de
sua mãe.
Enquanto João se dirigia para a casa de Ana, Paulo
procurava mantê-la calma.
- Me diz o que está acontecendo. – Pediu Paulo.
- Eles continuam parados na calçada, aguardando alguma
coisa. - Disse controlando a dor que sentia.
- Já liguei para um amigo da polícia. – Informou tentando
acalmá-la.
- Acredito que João já esteja quase chegando...
L.P.OWEN
242- Acabou de chegar outro automóvel e parou na casa
em frente. - Ela falou baixinho para não chamar a atenção.
Paulo pode ouvir através do telefone um barulho
ensurdecedor de porta sendo colocadas abaixo, pessoas
gritando o grunhido de um animal sendo mal tratado.
Depois de alguns momentos apenas o silêncio.
O desespero tomou conta de Paulo uma angústia invadiu
seu peito. O outro telefone tocou, ouviu a voz de João, não
conseguiu se controlar.
- Pelo amor de Deus me diz o que aconteceu?
- A porta está aberta, as luzes acesas, mas não tem
ninguém aqui exceto um filhote de cachorro que está
deitado no tapete.
- Verifique se não está machucado, porque ouvi um
grunhido alto.
- Vou verificar – Completou.
- Um minuto que a polícia está chegando.
LINHAS DO DESTINO
243
- Fui eu quem chamou. Pergunte pelo doutor Juvenal antes
que te prendam.
Instantes depois de ouvir as explicações de João o doutor
Juvenal estava conversando com Paulo pelo telefone.
- Lamento meu amigo, mas infelizmente chegamos um
pouco tarde, vamos trabalhar sem descanso até encontrá-
la.
- Acredito que havia mais pessoas na casa. - Paulo
comentou.
- Quem poderia ter feito isso?
- Não tenho certeza, Juvenal, mas acredito que meu sócio
esteja por traz disso. Hoje à tarde Ana havia ligado
justamente no telefone que está grampeado o resto é só
imaginar.
- Vamos investigar. Se você estiver certo vamos pegá-lo.
Provavelmente ele não seria burro de levá-la para casa,
mas em todo o caso mandarei que não o percam de vista.
L.P.OWEN
244- Por favor, peça para o João trazer o cachorro para
cuidarmos dele.
- Vou avisá-lo.
- Um abraço!
- Por favor! Qualquer novidade me avise.
- Manterei contato.
Apesar da dificuldade de locomoção, Paulo vestiu-se e
aguardou até a chegada de João trazendo o cachorro que
foi encontrado.
- Desculpe-me por não chegar a tempo. - Disse João muito
triste.
- Está tudo bem, meu amigo, te agradeço por tudo.
- Então você é o famoso Tobias, meu grande rival.
- Tobias? - Estranhou João.
- Sim. Quando estava internado, Ana comentou sobre seus
dois amores Luís e Tobias. Devo confessar que ele é muito
bonito.
LINHAS DO DESTINO
245
Nesse momento Paulo pensou em Ana comentando sobre
sua nova paixão, sentiu saudades e remorso de não ter
atendido ao telefone quando ela telefonara. Quando
acariciou Tobias recebeu uma lambida na mão em
retribuição.
- Vou cuidar de você até tudo ficar resolvido. – Será que
não está com fome.
- Precisamos providenciar comida para esse garotão aqui.
L.P.OWEN
246Capitulo sessenta
O CATIVEIRO
Um barracão velho construído no alto de um monte,
aparentemente usado como depósito. O local era afastado
de tudo, principalmente de vizinhos.
O cheiro do lugar era indescritível uma mistura de madeira
apodrecida, urina de roedores e mofo tomava conta do
ambiente. As paredes úmidas faziam a sensação térmica
ficar mais baixa do que realmente estava.
Amontoados num espaço reduzido Ana, Luís e dona Marta
tentavam se acomodar, amarrados uns aos outros, todos os
movimentos tinham que ser executado em conjunto.
Os três estavam assustados, nunca pensaram passar por
uma situação como esta, apesar de tudo, Ana procurava
acalmar os demais.
Heitor e seus comparsas conversavam sobre o segundo
passo do plano.
LINHAS DO DESTINO
247
Quando pegou o celular que estava em poder de Ana,
verificou que ela tinha feito uso do aparelho, ficou furioso.
O número que aparecia no visor era de conhecimento de
Heitor.
- Não sei onde estava com a cabeça quando contratei esse
bando de idiotas, para cuidar de um caso simples como
este.
- Fizeram tanto carnaval que conseguiram acordar a vítima
e deixaram que fizesse ligações para quem tivesse vontade
– continuou com ironia.
- Olha fulano estou sendo sequestrada...- Imitando a voz
de uma mulher.
Quando Humberto foi tentar se explicar.
- Não fale mais nada, caso contrário meto uma bala em
você agora mesmo.
- Vamos continuar com o plano se alguém fizer outra
dessa, prometo que vai se arrepender de ter nascido.
L.P.OWEN
248Incumbiu Fininho de ir até um telefone público em
uma cidade vizinha, ligar para o número do celular de
Paulo e informar sobre o valor do resgate que foi
estipulado em R$ 2.000.000,00.
O sol ainda não tinha surgido no horizonte, os pássaros
faziam barulho nas árvores, como se fizessem festa por
terem sobrevivido a mais uma noite de caçada, quando
Fininho iniciou sua viagem para cumprir a ordem
recebida.
Esse era seu estilo, cumpria o que era dito por Heitor sem
pensar, apenas executava as ordens como um robô.
Difícil saber qual o sentimento que tinha em relação ao
Heitor, não tinha medo de coisa alguma. Um homem
calado, expressão fria, olhar distante, jamais encarava as
pessoas, quando isso ocorria, imediatamente esquivava-se
e olhava em outra direção.
Ana não tinha a menor ideia do que estava acontecendo,
não conseguia entender o motivo para tudo aquilo.
LINHAS DO DESTINO
249
O tempo passava lentamente, na escuridão somente ouvia
barulhos estranhos vindo do assoalho.
Quase teve um ataque quando sentiu o toque de algum
animal, parecido com rato, roçou seu pé.
Não gritou para não assustar Luís e sua mãe, apenas
rezava e pedia desesperadamente para que fossem para
outro local.
Quando conseguiu empurrá-lo para longe com os pés
alguém abriu a porta e uma lanterna com luz muito forte
cegou seus olhos já acostumados à escuridão.
Por instantes não conseguia abri-los para ver onde estava.
A pessoa deixou a comida no chão e foi embora trancando
novamente a porta.
Pelo barulho parecia ser uma madeira que atravessava a
porta de lado a lado. A comida estava horrível, fria e
misturada, como se fosse a sobra do que haviam comido,
mas pediu para que todos fizessem um esforço para
L.P.OWEN
250limparem o prato, não queria que houvesse restos que
pudesse atrair animais famintos.
LINHAS DO DESTINO
251
Capitulo sessenta e um
A ANGÚSTIA DA ESPERA
Paulo não conseguia parar de pensar em Ana, o que
poderia estar acontecendo com ela.
Angustiado não saiu do lado do telefone aguardando um
contato, tinha ideia de quem poderia estar por traz de tudo,
já sabia do que ele era capaz de fazer.
A madrugada de segunda-feira já começara. Os
equipamentos de escuta estavam instalados, mas até o
momento nenhuma chamada fora feita.
Ao seu lado o delegado Juvenal aguardava que os
sequestradores telefonassem.
Sabia que ainda era cedo, normalmente eles esperavam até
que os familiares ficassem desesperados para depois entrar
em contato.
L.P.OWEN
252O sol já tinha aparecido por completo. As pessoas
seguindo para o trabalho. Nas ruas um enorme
congestionamento estava se formando.
João, que em momento algum saiu de perto do grande
amigo, entrou na sala trazendo um delicioso café que
acabara de fazer.
- Aqui está um cafezinho, os senhores precisam se
alimentar.
- Obrigado, meu amigo, não sei o que seria de mim sem
você. – Disse Paulo.
- Você poderia descansar um pouco, teremos de aguardar
que entrem em contato.
- Não conseguiria dormir, vou ficar apenas deitado aqui no
sofá, se quiser Juvenal, pode ir descansar você também
merece.
- Os senhores querem mais alguma coisa? – Perguntou
João.
LINHAS DO DESTINO
253
- Estou satisfeito, obrigado. Você quer algo mais Juvenal?
– Quis saber Paulo.
- Não obrigado, estava muito bom. - Respondeu ao sentar-
se no sofá ao lado.
- Com toda essa bagunça, esqueci-me de perguntar sobre
dona Alzira – desculpou-se Paulo - como ela está João?
- Está muito bem, obrigado. – Respondeu.
- Ainda mais agora que está em companhia de Olga, as
duas estão muito felizes.
- Fico contente, Olga é uma pessoa muito fácil de entender
e conviver.
O tempo passava a angustia aumentava. Enquanto
esperavam Paulo fazia algumas ligações para saber onde
Heitor estava, mas todas as pessoas que o conheciam
disseram a mesma coisa, não sabiam de seu paradeiro.
A manhã estava quase chegando ao seu final quando foi
interrompido pelo som de seu celular. O delegado
imediatamente deu um pulo do sofá e xingou até a última
L.P.OWEN
254geração do sequestrador porque não pode usar o
equipamento de escuta e gravar a conversa.
Ao atender ouviu do outro lado uma voz fria e rouca que
informava suas exigências.
- Não precisa dizer nada apenas escute. – Disse Fininho
pausadamente.
Paulo perguntou sobre Ana, mas Fininho não permitiu que
a conversa se estendesse, apenas disse que o valor do
resgate era de R$ 2.000.000,00 em notas.
Disse que aguardasse novas instruções a serem dadas
posteriormente. A ligação foi cortada. Paulo soltou um
palavrão porque não teve como negociar.
Juvenal pediu para ele ter calma afinal era o que os
sequestradores queriam desestabilizá-lo para poderem
obter vantagens.
LINHAS DO DESTINO
255
Capitulo sessenta e dois
A VIDA É COMO UMA MOEDA
Raquel não sabia o motivo, mas estava angustiada, foi à
capela do hospital. Iniciou sua oração os seus pensamentos
foram invadidos por lembranças de Ana, do sorriso, das
alegrias do dia anterior e assim que terminou, resolveu
procurá-la.
Saiu em direção à sala da enfermagem e ficou preocupada
com a notícia de que ela ainda não tinha chegado para o
seu turno.
Foi ao telefone, ligou para a residência de Ana, mas não
obteve sucesso. Resolveu ligar para Márcia.
- Márcia, bom dia, é Raquel quem fala.
- Olá! Dona Raquel, como está?
- Estou bem. O motivo de te ligar, minha filha é para saber
se Ana passou por sua casa hoje.
- Ela não passou por aqui. Será que não é folga dela?
L.P.OWEN
256- Fui informada de que ela deveria estar aqui hoje.
Liguei para casa dela, mas ninguém atende ao telefone.
Não sei o que fazer, afinal é tarde e estou preocupada.
- Vamos fazer o seguinte vou dar uma chegada até a casa
dela e depois informo a senhora.
- Ontem ela me disse que você não podia dirigir.
- Dá-se um jeito em quase tudo. Vou de táxi.
- Vou ficar aguardando você me ligar. Um beijo.
Raquel desligou o telefone. Ficou mais tranquila Márcia
era uma pessoa especial, caso o assunto se referisse a Ana
enfrentaria o mundo por ela.
Resolveu fazer uma visita para o Gabriel e conversar com
ele para poder se distrair um pouco.
- Bom dia meu filho, como você está?
- Bem e a senhora? – Ela respondeu sem muita convicção.
- Bem!
O garoto sentiu que algo estava errado.
- A senhora está preocupada. - Disse Gabriel.
LINHAS DO DESTINO
257
- Você me conhece tanto assim que sabe quando não estou
muito bem.
Pensou que não valeria a pena contar-lhe sobre o que a
preocupava e mudou de assunto.
- Quando vai para casa? Carlos não vê a hora que você
receba alta.
- A doutora Marina disse que já posso ir para casa, o pior
já passou.
Nesse momento Carlos entrou no quarto sorridente porque
poderia levá-lo para casa. Gabriel estava de alta.
- Então Gabriel vai para casa hoje? - Perguntou Raquel
sorrindo.
- Gostaria de agradecer-lhe por tudo o que a senhora fez
por mim, pelo Gabriel.
- Por tudo que a senhora fez por pessoas que passaram por
aqui e precisaram de uma palavra, uma oração ou até
mesmo um momento de silêncio, como fez comigo.
L.P.OWEN
258Carlos estava tão emocionado que não conseguia
conter as lagrimas.
- Como havia dito para o Gabriel, “Deus criou dois tipos
de Anjos”; o que cuida de nós e o que nos protege e eu
acredito que a senhora faça parte do primeiro grupo.
Com a simplicidade e carinho que era a sua marca, Raquel
somente balançava, negativamente, a cabeça e sorria
encabulada.
- Não diga isso meu filho. – Disse dando-lhe um abraço
fraternal.
- Sou apenas uma mulher que gosta de conhecer pessoas e
fazer amizades.
- Como quiser, mas para mim a senhora é alguém muito
especial, um anjo. Se as orações deste pobre pecador
forem ouvidas, pode ter certeza, nelas estará o seu nome,
Deus permita que elas sejam ouvidas.
LINHAS DO DESTINO
259
- Obrigado pelas orações Carlos e por palavras tão gentis.
Tenho certeza absoluta de que Deus quer fazer vocês
felizes. – Finalizou
- Quando oramos por outras pessoas, na verdade estamos
fazendo-o por nós mesmos.
Dito isto, ela deu um beijo nos dois e saiu para continuar
sua visita a outras pessoas.
Na verdade procurou sair antes de começar a chorar, tinha
um carinho muito especial por esses dois e sentiria
saudades.
L.P.OWEN
260Capitulo sessenta e três
A DOR DA VERDADE
Quando o táxi parou em frente à casa de Ana, Márcia
notou um carro diferente parado na porta. Ao se aproximar
foi abordada por um homem trajando um terno surrado.
- Bom dia o que a senhora deseja? – Interceptando o seu
caminho.
- Como o que eu desejo? – Respondeu com indignação.
- Quero visitar minha amiga! Posso?
- Como se chama sua amiga?
Indignou-se com a pergunta.
- Quem é o senhor afinal para fazer-me tantas perguntas?
– Disse revoltada.
- Sou policial por isso as perguntas. – Desculpou-se.
- O que aconteceu aqui para ter uma pessoa da policia? –
Perguntou curiosa.
- Houve um sequestro e estamos investigando.
LINHAS DO DESTINO
261
Nesse momento Márcia sentiu um mal-estar e recostou na
parede.
Muito prestativo o policial a acudiu.
- Você está bem? - Perguntou delicadamente.
- Sim foi apenas um mal-estar, o senhor me disse que
ocorreu um sequestro nessa casa?
- Positivo. Um minuto, por favor. – Ernesto atendeu ao
chamado no telefone.
Juvenal perguntou se havia alguma novidade, se já sabia
sobre o policial que o substituiria. Ernesto informou sobre
a presença de Márcia. Imediatamente recebeu ordem para
colocá-la ao telefone.
- O delegado quer falar com você. – Caminhou na direção
de Márcia e entregou-lhe o celular.
Ao atender foi informada sobre os detalhes dos
acontecimentos. Paulo também falou com ela para acalmá-
la.
L.P.OWEN
262- Márcia quem está falando é Paulo, você não me
conhece, mas pode confiar em mim, vou encontrá-la o
mais rápido possível. – Continuou. - Me informa quantas
pessoas viviam aí?
- Somente ela, o filho Luís e a mãe. - Depois de alguns
instantes lembrou-se.
- Quase ia esquecendo-me de Tobias.
- Esse garotão lindo? – Brincou para distrair.
- Está comigo e sendo muito bem tratado. – Informou
Paulo.
- Já pediram o resgate, mas não disseram onde entregar.
Caso tenha alguma novidade anote o meu telefone. - Paulo
informou o número e o endereço de sua casa.
- Estou confusa com tudo isso, mas se eu pegar primeiro
quem fez isso, vai se arrepender de me ter conhecido. -
Disse ela.
Paulo sentiu a força da amizade e da mulher que estava do
outro lado da linha.
LINHAS DO DESTINO
263
- Gostaria que me informasse tudo o que acontecer. –
Pediu Márcia.
- Pode ficar tranquila que te informarei.
Devolveu o aparelho para o policial e se retirou.
Não sabia o que fazer resolveu ir até o hospital e falar com
dona Raquel.
L.P.OWEN
264Capitulo sessenta e quatro
PROCURANDO UMA SAÍDA
- Precisamos fazer algo para sairmos daqui. – Disse Ana.
- Como vamos fugir minha filha, se estamos amarrados e
trancados?
- Para ser sincera não faço a mínima ideia. Temos que
pensar em algo.
- Por que não me desamarra, sou pequeno é só afrouxar
um pouco as cordas, eu consigo me soltar.
- Tente chegar mais perto da mamãe para eu poder
alcançar o nó.
Num esforço brutal Luís chegou o mais próximo possível
e a corda foi retirada.
Em pouco tempo todos estavam livres. A corda provocou
hematomas e a sensação de formigamento nos membros,
devido má circulação.
LINHAS DO DESTINO
265
A luz do dia já era visível, mas a claridade que penetrava
através das poucas frestas existentes não iluminava o
suficiente, apenas servia como orientação.
Cada um procurou alongar-se e aliviar as dores causadas
pela má postura. Com muito cuidado procuraram alguma
coisa que pudesse servir para escapar daquele inferno.
Por uma fresta, Ana pode ver que estavam num local
isolado. Do lado direito havia uma mata ou algo parecido,
mas à esquerda, o local era gramado. Ao longe a ponta de
alguma construção.
Quando olhou novamente viu a aproximação de alguém,
imediatamente reuniram-se. Luís amarrou as duas
novamente e apenas enrolou a corda em seu pulso.
Mal tiveram tempo de se ajeitarem à porta foi aberta com
brutalidade. Um homem mascarado trouxe água e pão.
- Isso é o que vão comer de agora em diante.
Novamente a claridade ofuscou-a. A máscara usada não
permitiu ver quem era.
L.P.OWEN
266Desta vez teve calma para prestar atenção em detalhes
que pudessem ajudá-la a sair dali. Ao ver os ferros
colocados, em forma de “U” pelo lado de fora da porta,
indicando que era fechada apenas com uma trava de
madeira.
Esperou que o mascarado fosse embora e pediu para que
todos comessem tudo novamente e explicou seu plano.
LINHAS DO DESTINO
267
Capitulo sessenta e cinco
AUXÍLIO INESPERADO
Sua vida não tinha sido fácil. Trabalhara como servente de
pedreiro até operador de equipamentos de pavimentação,
ajudara a construir o progresso daquela região onde
nascera que conhecia tão bem.
Casado com uma nativa de sua cidade natal. Pensou várias
vezes em ir primeiro, mas como o destino tem seus
próprios caminhos isso não foi possível porque sua amada
teve um problema na hora do parto do seu quinto filho.
Dias antes ela se queixou de uma dor, mas somente
quando não conseguia mais controlar a dor pediu para ir
ao médico. Quando constataram que o bebê tinha entrado
em óbito alguns dias antes imediatamente a prepararam
para a cesariana, mas a infecção já havia espalhado, ela
não resistira.
L.P.OWEN
268Com ela também morrera aquele homem simples do
interior. A partir de então começou a beber até desmaiar
para não pensar no que acontecera. Com o tempo não
conseguia mais ficar sem a bebida. Com isso a perda do
emprego, as dificuldades. Passou a viver num estado
permanente de embriaguez.
Com o tempo, seu único motivo para viver, era sentar ao
lado da estrada que ajudara a construir. Olhar os carros
que passavam em alta velocidade sem notar que ele estava
ali sentado.
Naquela madrugada notou um movimento muito grande
de carros que seguiam em direção ao sítio onde ele já tinha
trabalhado muito tempo antes quando o proprietário era
um senhor muito bom amigo de seu pai. Depois que
aquele rapaz tornou-se proprietário, nem ir ao lago para
pescar podia mais.
LINHAS DO DESTINO
269
Resolveu verificar o que estava acontecendo e por que
aquela movimentação. Ao se aproximar da cerca, viu um
grupo mantendo algumas pessoas presas e encapuzadas.
Pôde ver também os olhos vendados das duas mulheres e
do garotinho. Acabou tropeçando em um galho seco, que
ao se partir, fez barulho denunciando a sua presença.
Imediatamente um homem armado caminhou em sua
direção a única vantagem que tinha era o conhecimento do
terreno como a palma de sua mão. Assim tirou proveito
disso para enganá-lo.
Começou a imitar o ruído de um porco do mato, com uma
vara, movimentou alguns arbustos em outra direção dando
a impressão que tinha fugido. Pôde sentir o cheiro do
cigarro vindo em sua direção, ficou imóvel como um
animal predador que espera o melhor momento para
atacar.
- Afinal o que fez o barulho? – Alguém perguntou.
L.P.OWEN
270- Um porco do mato, mas já fugiu. - Respondeu
voltando para perto do grupo.
Não sabia o que fazer, ir a polícia poderia ser perigoso.
Numa cidade pequena as notícias correm muito rápidas,
além disso, já tinha visto o dono do sítio conversando com
o delegado, poderiam não acreditar nele por que era
considerado apenas um bêbado.
Aquelas pessoas precisavam de ajuda, algo tinha que ser
feito.
LINHAS DO DESTINO
271
Capitulo sessenta e seis
TENTATIVA FRUSTRADA
Raquel não entendia como as pessoas conseguiam fazer
mal para outras. Ainda mais para uma pessoa tão dedicada
em ajudar seus semelhantes como Ana. Uma mulher que
não media esforços para ajudar, não importava quem era,
ma sim o que precisava.
- Falei com Paulo que me informou tudo isso que acabei
de contar. – Márcia estava muito preocupada.
- O que poderemos fazer por ela? - Raquel emendou.
- Sinceramente não sei, a policia está no caso junto com o
Paulo. Estão negociando com os sequestradores. Eu não
consigo ficar parada esperando por notícias. - Ela
desabafou.
O telefone de Márcia tocou, quando ela atendeu
reconheceu a voz de Paulo.
L.P.OWEN
272- Márcia os sequestradores estão com o celular de Ana,
ela estava falando comigo ao ser levada.
- Precisamos que você ligue para ela e mantenha a
conversação o maior tempo que puder, dessa forma poderá
rastreá-los.
- Vou ligar imediatamente.
- Ligue daqui a dez minutos precisamente. - Paulo pediu.
- OK! No meu será 15h45min.
A resposta veio a seguir.
- Correto. – Disse ele.
Raquel não ficou sossegada até saber o que estava
acontecendo.
Foram os dez minutos mais longos de sua vida.
Primeiro toque, mais alguns instantes o segundo, o
terceiro até que iniciou uma gravação “no momento não
posso atender deixe seu recado e ligarei em seguida”.
Márcia reconheceu a voz da amiga. Pensou por alguns
instantes e resolveu deixar uma mensagem na caixa postal.
LINHAS DO DESTINO
273
- É Márcia! Preciso falar com você urgente anote meu
novo número.
Deixou seu número para que retornassem a ligação.
Avisou Paulo sobre o ocorrido. Disse que ligaria
novamente em 30 minutos exatos.
L.P.OWEN
274Capitulo sessenta e sete
ÚLTIMAS INSTRUÇÕES
Na sede do sítio, onde tudo era planejado, Heitor
conversava com o grupo para instruir todos sobre o que
deveria ser feito nas próximas horas.
- As coisas estão saindo como planejado, por isso peço a
todos que mantenham a atenção redobrada porque no
momento que revelarmos o local para entrega do dinheiro,
cada um dos senhores deverá executar suas tarefas com
rapidez e precisão.
- Caso seja apanhado cortem a língua, suicidem-se, façam
o que quiserem, mas não digam nada a respeito do que foi
feito ou dito até agora. Vocês entenderam? – Perguntou
olhando para cada um deles.
O silêncio que se seguiu foi impressionante. Heitor
conversava com cada um repassando ponto a ponto o
plano. Todos olhavam para o chão, não tinham coragem
LINHAS DO DESTINO
275
de encará-lo. O único que mantinha o olhar fixo em
Heitor, sem demonstrar nenhuma emoção, era Fininho. A
frieza dele chegava a incomodar Heitor. Sabia que seu
comparsa estava com ele por espontânea vontade e nada o
intimidaria. Sabia também que o rapaz o serviria até o fim,
não importando o que acontecesse com ele. Fininho queria
apenas servi-lo em gratidão ao que fizera por ele.
Pensou o quanto foi bom ter dado uma oportunidade para
aquele moribundo deitado na calçada ao lado de seu carro.
Seu faro novamente reconhecera uma grande
oportunidade.
Deu um sinal para que Fininho o acompanhasse, ele
apenas levantou-se e seguiu em sua direção. Na porta de
saída entregou-lhe um envelope com as últimas instruções.
- “Vai poder me pagar todo o gesto de boa vontade que
tive com você”. - Pensou.
Um sorriso fugaz apareceu em seus lábios.
L.P.OWEN
276Ao pegar o envelope não sabia o que continha, não
importava o que havia para ser feito, apenas seria
executado como fora ordenado. Antes de sair ouviu o
celular de Heitor tocando.
LINHAS DO DESTINO
277
Capitulo sessenta e oito
NOVA TENTATIVA
- Alô quem está falando? – Perguntou Márcia.
- Com quem você deseja falar? – Uma voz masculina
respondeu.
Ela ouviu a voz do homem que estava com sua melhor
amiga. Teve vontade de poder estar frente a ele e fazer o
que desejava, mas respirou fundo, manteve a calma, fez-se
de desentendida para ganhar o maior tempo possível.
- Quem está falando?
- Com quem deseja falar? - Ele perguntou visivelmente
irritado.
- Roberto é você? - Como uma metralhadora não deixou
que respondesse e foi contando sua história.
- Tudo bem com você e Ana? – Sem dar tempo para o
interlocutor responder.
L.P.OWEN
278- Não deu para passar na sua casa domingo, minha avó
chegou de surpresa e ficou conversando, sabe como são as
avós, quando começam a falar, não param mais. Olhei
para o relógio já era muito tarde, acabei não ligando.
Continuou num monólogo desesperado para manter o
telefone ocupado por mais tempo.
- Quero dizer...
Do outro lado da linha Heitor balbuciava algumas palavras
que não eram ouvidas por Márcia.
- O dinheiro que ela precisa para pagar as prestações
atrasadas, da compra da casa, poderá emprestá-lo se ela
quiser. Basta que ela me diga o número da conta e o banco
e farei a transferência.
Fez uma pausa para saber se estava na linha, quando
Heitor ia dizer algo, ela o interrompeu.
- Antes que eu me esqueça meu número do telefone
mudou você tem lápis e papel para anotar? - Se não tiver
posso aguardar para providenciar.
LINHAS DO DESTINO
279
- Pode dizer que vou colocar na agenda do celular – Heitor
conseguiu falar.
- Então anota você está pronto?
- Sim pode dizer. – “Como é enrolada”. - Pensou.
- Então lá vai... - Um minutinho me deu branco, não o
decorei ainda, não faço ligações para mim mesma – riu da
própria piada.
Passou o número do seu celular e enquanto fazia isso
torcia para que tivessem conseguido localizar a ligação,
para garantir, continuou.
- Luís e sua mãe como estão? Espero que estejam todos
bem. Não se esqueça de dizer a Ana que vou voltar para o
trabalho na quinta-feira assim ela vai poder descansar um
pouco. Dividiremos melhor o serviço.
- OK! Vou avisá-la. Um abraço. - Sem dar tempo para
Márcia iniciar outro assunto desligou.
Márcia não conseguia disfarçar a vontade de esmagar
aquele cara, ficou tão nervosa que quase vomitou.
L.P.OWEN
280Dona Raquel com sua doçura de sempre disse.
- Quisera ter quem me defendesse assim. – Falou com
admiração.
- Fique tranquila você foi sensacional. Tenho certeza de
que conseguiram localizar a ligação.
Paulo não escondia o nervosismo, seu coração palpitava.
Os ponteiros do relógio marcaram 15h45min, sabia que
Márcia estaria ligando para o celular de Ana.
Os equipamentos de rastreamento da operadora poderiam
localizá-lo facilmente.
Cada gesto ou modificação no semblante de Juvenal era
notado por Paulo, que ansioso por obter notícias e
impossibilitado de ficar andando de um lado para outro,
apenas aguardava balançando a outra perna.
- Mesmo que localizemos de onde está sendo usado o
aparelho, não significa que esteja no local do cativeiro ou
próximo dele. – Para acalmar Paulo. – Vamos saber onde
se encontra o aparelho.
LINHAS DO DESTINO
281
Seu coração, nos últimos tempos, tinha sofrido uma
transformação radical. Há muito tempo que vivia em
função do trabalho. Não se preocupava com as cantadas
recebidas, porque não tinha encontrado nenhuma pessoa
capaz de despertar a chama dentro do seu peito.
Estava distraído em seus pensamentos, quando sentiu a
pata de Tobias raspar em sua perna buscando carinho e
consolo.
Ficou emocionado ao saber que eles estavam sentindo
falta da mesma pessoa. Pegou-o no colo enquanto fazia
carinho no pequeno filhote, pensava em Ana, na sua voz,
no jeito como falava, como olhava, como andava, por
instantes pensou sentir o perfume que ela usava.
Estava com muita saudade, lembrou-se de quando lhe dera
as flores, não imaginara que ficasse tão contente.
O brilho no olhar e a forma como lhe agradeceu despertou
uma vontade tremenda de abraçar e beijá-la.
L.P.OWEN
282Estava distante em seus pensamentos quando sentiu
que Juvenal tocara em seu braço.
LINHAS DO DESTINO
283
Capítulo sessenta e nove
NOVO CONTATO
Fininho seguiu para a cidade vizinha, sua agenda para os
próximos dois dias seria intensa. Hospedou-se num hotel
simples, para na manhã seguinte seguir para a outra cidade
ainda mais distante do local do cativeiro. Não queria
despertar suspeita. Sua missão era combinar o pagamento
do resgate.
Heitor tinha sido claro, depois de acertar o pagamento
retornar para o sítio e eliminar todas as testemunhas.
Aguardar no hotel para novas instruções.
O dia amanheceu nublado, a temperatura continuava
elevada. Desceu para tomar o café da manhã, em seguida,
saiu em direção à cidade de onde faria o contato.
O telefone soou uma, duas, três vezes e ninguém atendeu.
Ele não era muito inteligente, pensou ter discado o número
L.P.OWEN
284errado. Procurou pelo papel que tinha recebido de
Heitor e discou novamente, desta vez, pausadamente.
A ligação foi completada com sucesso. Ouviu uma voz do
outro lado e iniciou a leitura do que Heitor tinha escrito no
papel.
- O pagamento deve ser feito hoje as 13h00min. O
dinheiro deve ser dividido em sacolas e levadas para o
local que for indicado no próximo contato.
Imediatamente desligou, saiu para completar o trabalho.
Paulo sabia como arrumar a quantia exigida, mas teria que
dar como garantia de pagamento todo seu patrimônio.
Novamente a ligação foi curta demais para ser rastreada,
deveriam aguardar novos contatos. O telefonema feito por
Márcia também não teve êxito, por isso a frustração era
muito grande, não sabia como ajudar sua amada a se livrar
desses crápulas.
O tempo passava muito rápido, deveria providenciar o
dinheiro, acondicioná-lo nas sacolas para serem entregues.
LINHAS DO DESTINO
285
Entrou em contato com João, que se encontrava com o
gerente do banco aguardando as ordens de Paulo.
Informou-o sobre como deveria ser acondicionado o
dinheiro para o transporte e pediu que aguardasse suas
ordens.
Estava preocupado com o horário. Comentou com o
delegado.
- Agora são dez horas, caso tenhamos que entregar o
dinheiro às 13h00min, deverá ser um local próximo daqui.
- Eles estão querendo confundir-nos, mas quando disserem
o local vamos fazer um cerco tão perfeito que será difícil
escaparem. – O delegado estava confiante no sucesso da
operação.
Paulo ao contrário estava apreensivo não achava ser tão
simples quanto foi apregoado pelo delegado.
O horário dado pelo sequestrador estava se esgotando.
Faltavam apenas 10 minutos para as 13h00min e nada das
ordens para a entrega.
L.P.OWEN
286- Será que saiu algo errado? – Perguntou com voz
ansiosa.
- O contato que ligou é apenas um rapaz de recado. –
Disse Juvenal calmamente.
À tarde já estava chegando ao seu final quando o telefone
soou, Paulo atendeu.
- Pois não. – Atendeu achando ser o sequestrador.
- Paulo, alguma novidade? – Quis saber Márcia.
- Não ligaram mais para dar as instruções de entrega do
dinheiro. Estou aguardando, qualquer novidade, você será
informado em seguida.
A noite chegou e nada de novo telefonema.
LINHAS DO DESTINO
287
Capitulo setenta
O TERROR
Desamarrados, cada um pegou o que pôde para usar como
arma. Aguardavam que um dos sequestradores viesse,
fosse dominado por eles, com sorte poderiam fugir.
- Todos já sabem o que fazer, assim que ele entrar
bateremos nele para nocauteá-lo. Pelo que pude ver nós
estamos no meio de uma mata, vamos para a direita, não
parem por nada.
Ana viu, através da fresta, que a noite chegara. Luzes
foram acesas. Não tardaria, alguém viria dar comida para
eles.
A espera era angustiante, estava apreensiva, tinha medo
que acontecesse algo ruim a Luís ou sua mãe. Enquanto
esperava pensou em Paulo, lamentou tê-lo conhecido
somente agora.
L.P.OWEN
288Pensou no primeiro momento que puderam conversar,
nas flores que recebera, de como se preocupou quando
ligou para ele.
Seus pensamentos foram interrompidos com o som de
alguém que se aproximava, olhou pela fresta para avaliar a
situação. Viu uma luz de lanterna, que balançava de um
lado para o outro, em seguida o som abafado de algo
caindo pesadamente no chão.
O que conseguiu ver, pela fresta, deixou-a apavorada. Um
corpo sendo arrastado para dentro da mata, como se um
animal predador tivesse levando o alimento para um local
seguro. O silêncio que se seguiu foi mais assustador ainda.
LINHAS DO DESTINO
289
Capitulo setenta e um
A FUGA
Miguel apenas aguardava. Todo o movimento que faziam
era acompanhado por ele. Teria que esperar o melhor
momento para agir, tinha que ter cautela para não por em
risco aqueles inocentes.
Nas suas contas havia somente três pessoas dentro da casa,
todos estavam bem armados, enfrentá-los seria loucura,
por isso resolveu aguardar. Utilizaria as armas que
conhecia muito bem, mas deveria separá-los.
O único problema era como faria isso.
O vigia que estava do lado de fora sentado na varanda
deveria ser levado para o outro lado da casa, teria que
chamar sua atenção sem despertar a dos outros.
O que teria no barracão para ser tão vigiado? Armas? Os
reféns? Pensou em várias possibilidades.
Bem disse sua sorte, melhor não poderia acontecer.
L.P.OWEN
290Alguém entregou ao vigia um saco de papel e ele
caminhou em sua direção, não acreditou no que estava
vendo.
- “Pode vir com o papai, verá que não dói nada”. – Pensou
enquanto preparava seu material.
Como uma cobra, silencioso, arrastou-se pelo mato até
chegar na parte traseira do barracão de onde poderia atacar
como planejara, mais importante, com precisão cirúrgica,
pelo menos com essa arma era um especialista.
Aqueles dardos poderiam conter qualquer substância,
desde um veneno poderosíssimo ou apenas um anestésico,
a Zarabatana é silenciosa e eficaz. Quando seus dardos são
percebidos já é tarde.
Colocou-se em posição, assim que o alvo colocou-se ao
seu alcance, lançou um dardo em seguida outro para
garantir.
LINHAS DO DESTINO
291
Eram pequenos, silenciosos, mas com poder de derrubar
um animal de grande porte em pouco tempo, apenas
aguardou...
O barulho seco de um corpo caindo no chão, o trabalho
restante, foi jogá-lo no mato.
Desligou a lanterna, pegou o saco que havia caído no
chão. Caminhou lentamente em direção a porta do galpão.
Começou a retirar a tranca, abriu a porta lentamente e
antes de entrar iluminou o ambiente com a lanterna.
Quando viu o estado daquelas pessoas ficou
impressionado.
- Não tenham medo. – Disse baixinho enquanto entrava.
- Vocês estão bem?
- Pelo jeito, livrei aquele salafrário de vocês. – Disse ao
ver todos com pedaços de ferro e madeira na mão.
- Sim, quem é senhor? - Perguntou Ana.
- Não importa agora, o que importa é sair daqui o mais
rápido possível. – Acenou indicando a saída.
L.P.OWEN
292Caminharam em direção ao riacho onde costumava
pescar, os atalhos conhecia todos. Somente teria que
arrumar um local seguro até conseguir levá-los para longe.
Todos estavam cansados e famintos, até o momento só
tinham comido pão e água. Abriram o saco de papel e
exclamaram a uma só voz.
- Não aguento mais pão e água!
Caminharam por longo tempo na mata até chegarem em
local seguro, um rancho onde Miguel costumava pescar.
O local não era uma mansão, mas poderiam ficar em
segurança até irem embora.
- Vamos ficar aqui até raiar o dia, nós demos muita sorte
de não encontrarmos alguma fera com fome. - Preciso de
algum telefone para onde possa ligar.
- Tenho o telefone de minha amiga Márcia.
Depois de fornecer o número Ana teve a oportunidade de
agradecer tudo o que estava fazendo por eles.
LINHAS DO DESTINO
293
- Esta é uma cidade pequena, aqui todos sabem de tudo,
por este motivo não posso levá-los para minha casa, não é
muito diferente desta aqui, mas considero o meu santuário.
- O que o senhor está fazendo por nós já é o bastante.
Estamos todos muito gratos, não queremos que se
prejudique por nossa causa.
- Ali naquele armário tem algumas redes que uso para
descansar quando venho aqui, vocês podem dormir um
pouco.
- Apesar do cansaço, não sei se consigo pegar no sono,
mas vou descansar. – Disse Ana.
L.P.OWEN
294Capitulo setenta e dois
APENAS TRABALHO
A primeira parte do contato para o pagamento já tinha sido
feita, a segunda e ultima seria na manhã seguinte, na
próxima noite deveria concluir o trabalho.
Resolveu ir a um barzinho tomar alguma bebida, precisava
relaxar, afinal estava trabalhando com o pessoal há algum
tempo.
Tinham criado um vínculo de confiança muito grande,
executá-los era algo que não conseguia digerir, mas as
ordens foram claras, ele só cumpria ordens, não seria nada
pessoal.
Pediu uma dose de cachaça, depois outra e mais uma até
quase não conseguir parar em pé.
Levantou-se, sentiu o mundo girar a sua volta, foi em
direção ao hotel onde se hospedara. No trajeto ora ia de
encontro ao poste, ora ao muro.
LINHAS DO DESTINO
295
Finalmente conseguiu chegar à porta do hotel. Reuniu suas
últimas forças para subir ao terceiro andar, dentro do
elevador animou-se porque faltava muito pouco. No
corredor, batendo de um lado e de outro, finalmente a
porta do seu quarto.
Depois de algum tempo brigando com o buraco da
fechadura apenas caiu na cama, dormiu com roupa e tudo.
L.P.OWEN
296Capitulo setenta e três
SOLIDÃO
Paulo não conseguia entender por que não tinha recebido
outro telefonema informando o local para entrega do
dinheiro.
Agora sozinho pensava em Ana. Ficou triste de não poder
ajudá-la. A única coisa que sua presença fez em sua vida
foi trazer-lhe aborrecimentos. Como estaria sendo tratada
por aqueles monstros. Queriam atingi-lo, por que não o
levaram? Queria ficar acordado, mas já fazia tempo que
não dormia direito e acabou por entregar-se ao sono.
Mesmo dormindo não conseguiu parar de pensar no seu
grande amor.
LINHAS DO DESTINO
297
Capitulo setenta e quatro
SUBESTIMANDO O ADVERSÁRIO
Heitor ficou intrigado com o telefonema que recebera.
Achou muito estranho que a amiga de sua refém não
perguntasse nada sobre ela. Não estranhou a voz do
marido da amiga, seria uma manobra muito boa, mas ele
era mais esperto.
A sorte de estar em seu carro deslocando-se muito
rapidamente dificultaria sua localização e mesmo que isso
ocorresse estariam muito longe do local do cativeiro. A
coisa certa foi jogá-lo no rio, o celular de Ana não tinha
mais utilidade para eles.
Aproveitou para saborear a comida, o café e tudo mais,
estava se preparando para deixar o país, provavelmente
sentiria falta da culinária e da vida noturna. Uma vida
tranquila o esperava na Europa, já havia transferido uma
L.P.OWEN
298quantia razoável durante esse tempo que trabalhou
com Paulo, agora era só se preparar para o “Gran Finale”.
A noite estava agradável, seria uma boa ideia ir ao cinema,
assistir a um filme enquanto a digestão era feita.
Foi à bilheteria comprou seu ingresso e entrou. A sessão
demoraria uns quinze minutos para o início, resolveu
comprar pipoca e refrigerante. Não percebeu duas
mulheres, que à distância, monitoravam seus passos.
LINHAS DO DESTINO
299
Capitulo setenta e cinco
BONS E MAUS
Márcia e Raquel juntas durante o dia todo uma dando
força para outra, Raquel não parava de rezar.
- O que mais me deixa furiosa é que eu falei com o
sequestrador. Ele me atendeu como se não estivesse
fazendo nada de mais. – Disse Márcia.
- Só espero que não apareça na minha frente.
- Não adianta alimentar o ódio no coração, isso só vai
fazer mal para você mesma. Devemos sim rezar por ele,
para que uma semente de bondade apareça em seu coração
e solte nossa Ana e seus familiares sem machucá-los.
- Não acredite dona Raquel, a pessoa quando é ruim não
tem jeito.
Raquel sabia que seria difícil fazê-la mudar de ideia.
Convidou-a para visitar algumas pessoas que estavam
precisando de cuidados. Raquel entrou pela maternidade,
L.P.OWEN
300quando passaram pelo berçário, olharam pelo vidro,
puderam observar os bebes que haviam nascido naqueles
dias. Os olhos de Márcia brilharam, era seu local
preferido.
- Apesar das diferenças são todos iguais. – Raquel falava
em tom suave, quase confidente.
- Olhando para eles, não conseguimos imaginar o que se
tornarão dentro de alguns anos. O que será de cada um
deles. Qual deles serão doutores, mecânicos, executivos
ou um delinquente. – Continuou olhando para os bebes.
- Ser bom ou ser ruim vai depender de como serão tratados
quando crianças.
- Olhando para eles você conseguiria dizer quais serão
ruins? – Aguardou em silêncio.
- A senhora tem razão, muitos serão privados de uma serie
de coisas inclusive do direito de serem amados. Obrigada
por me mostrar o outro lado do ser humano. – Disse com o
coração mais sereno.
LINHAS DO DESTINO
301
À tarde se arrastou, a noite chegou, Márcia preparava-se
para o banho quando o telefone tocou. Correu para
atender, ao ouvir a voz de Guilherme começou a chorar, o
rapaz preocupou-se.
- O que aconteceu? Por que você está chorando?
Márcia contou-lhe todos os acontecimentos.
L.P.OWEN
302Capitulo setenta e seis
NOVAS INSTRUÇÕES
A cabeça latejava, à claridade o incomodava, levantou-se
foi em direção ao banheiro e tomou um banho frio para
despertar um pouco. Não usou o elevador, desta vez,
desceu pela escada. Foi em direção ao restaurante onde era
servido o café da manhã.
Sentou-se em uma mesa no fundo do salão, apenas tomou
um café amargo, um suco de laranja e comeu uma fatia de
pão com manteiga.
Saiu por volta das 08h00min, desta vez seguiria em
direção a uma cidade um pouco mais longe.
Como sempre, vestia uma jaqueta jeans, embaixo do
braço, sua amiga inseparável, uma pistola de uso
exclusivo do exército, que tinha obtido depois de eliminar
um oficial.
LINHAS DO DESTINO
303
Acendeu um cigarro, no trajeto procurava memorizar tudo
o que deveria fazer naquele dia. Procurou um telefone
público que estivesse localizado na entrada da cidade.
Avistou um local ermo, achou ideal para execução do seu
trabalho.
Desta vez não foi necessário esperar muito, o telefone
apenas tocou duas vezes, do outro lado da linha alguém
atendeu. Ele sem emoção alguma apenas transmitiu o
recado.
- Você já conseguiu o dinheiro? – Perguntou Fininho.
- Sim, mas quero uma prova de que todos eles estejam
bem. – Falou Paulo.
- Você a terá no momento oportuno. – Respondeu
friamente.
- Você tem que... – Paulo teve medo que o telefone fosse
desligado.
L.P.OWEN
304Fininho não era de muitas palavras somente um ótimo
executor, não pensava muito rápido. Qualquer coisa que
saísse do controle começava a gaguejar.
Quando Paulo se deu conta, assumiu a situação, fez um
bombardeio de perguntas para confundi-lo, quem sabe
descobrir algo.
- Onde devo deixar o dinheiro? – Como você quer o
dinheiro?
Fininho apenas dizia o que tinha decorado.
- Você deverá colocar as sacolas em sacos plásticos, como
se fosse lixo e deixá-los no Km 183 da rodovia SP 280. Na
margem direita haverá algo marcando o local exato.
- Preciso de algumas horas, estou a mais de 200 km do
local. Antes de deixar o dinheiro, quero ter a certeza de
que todos estejam bem. Outra coisa é que iremos eu e meu
motorista, por que...
O sequestrador completou a frase.
LINHAS DO DESTINO
305
- Está com a perna engessada. Você tem até as 15h00min.
– Completou. – Nada de truques.
Quando desligou o telefone percebeu até onde aqueles
crápulas poderiam chegar.
Providenciou um helicóptero e o aluguel de um carro
numa cidade próxima.
L.P.OWEN
306Capitulo setenta e sete
EM SEGURANÇA
Quando Márcia atendeu ao telefone, no princípio ficou
apreensiva, uma voz masculina perguntou por ela. Depois
de alguns segundos de conversação começou a ver uma
luz no fim do túnel. A voz que ouvia do outro lado tinha
um sotaque do interior. Com toda simplicidade informou
os acontecimentos.
- Alô! - Márcia atendeu ainda meio sonolenta, devido ao
estresse do dia anterior, não tinha dormido muito bem.
- Bom dia! Meu nome é Miguel, estou ligando a pedido de
dona Ana.
Quando ouviu o nome de Ana despertou imediatamente.
Um sentimento de alegria, de ansiedade, de vontade de
chorar, tudo o que estava preso dentro de seu peito queria
libertar-se.
LINHAS DO DESTINO
307
- Ela estava presa, mas agora está em local seguro,
somente aguardando que venham buscá-la. – Continuou a
voz serena.
- Como o senhor disse que se chama?
- Miguel, dona. – Respondeu.
- Me desculpe senhor Miguel eu fiquei confusa. De
tamanha felicidade não consegui ouvir mais nada depois
de local seguro. O senhor poderia fornecer o endereço. Irei
buscá-los o mais rápido que puder.
- Você pode anotar. Não estão na cidade porque é muito
perigoso. Eu os escondi num rancho próximo a cidade.
Vou explicar, não será difícil de encontrar. Ela pediu para
avisar o senhor Paulo.
Miguel explicou detalhadamente como chegar no rancho,
quando se despediu, Márcia apressou-se em dizer.
- Gostaria de agradecê-lo desde já senhor Miguel.
- Não precisa agradecer não dona.
Depois dessas palavras apenas desligou.
L.P.OWEN
308Paulo recebeu a notícia com muita alegria, mas
manteve o plano de entregar o resgate, para pegar os
responsáveis com maior segurança.
Combinou com Márcia, ela viajaria com eles. Informou
seu João sobre o ocorrido e a mudança dos planos.
Pediu que se dirigisse à residência de Márcia para apanhá-
la, para juntos buscarem Ana e sua família.
Sua vontade era poder ir ao encontro de Ana, mas tinha
outras coisas em mente, não queria chamar a atenção.
A notícia da libertação de Ana foi a melhor que recebera
nos últimos tempos. Agora deveria prosseguir com o
plano.
LINHAS DO DESTINO
309
Capitulo setenta e oito
POR ÁGUA ABAIXO
A noite foi tranquila faltava pouco para resolver todos os
assuntos pendentes e deixar o país.
Escolheu um terno impecável, o sapato muito bem
engraxado realçava o cuidado com a aparência, um hábito
notado por todos os seus. Saiu em direção à estrada que
dava acesso ao local do cativeiro.
Não tinha pressa, teria que esperar a ação de Fininho,
somente depois entraria em ação para acertar tudo e
terminar o serviço.
Depois de algum tempo dirigindo, resolveu parar em um
restaurante a beira da estrada para almoçar. Não sabia
quando teria outra oportunidade para alimentar-se.
Resolveu sentar-se próximo à janela, aproveitar a brisa e
vigiar o movimento na entrada. Ao olhar para a porta de
entrada notou duas garotas que entravam naquele
L.P.OWEN
310momento, teve a impressão de tê-las visto antes em
algum lugar.
As duas vinham em sua direção mantendo uma conversa
animada, sentaram-se em uma mesa próxima.
O assunto que as duas tratavam era estritamente
comercial. Ouvir o que falavam deixou-o mais tranquilo.
Continuou a verificar o cardápio, pediu uma salada mista e
um filé de frango grelhado.
O restaurante típico de beira de estrada, um salão enorme.
Neste local, onde Heitor estava as mesas eram atendidas
por garçons. O setor mais reservado do estabelecimento.
No outro espaço havia um balcão com bancos, lá os
lanches rápidos eram feitos e servidos.
Finalmente um mercado para compra de diversos produtos
como biscoitos, guloseima e artesanato da região. Neste
ultimo, um policial a paisana dava cobertura as duas
agentes.
Enquanto almoçava o telefone de Heitor tocou.
LINHAS DO DESTINO
311
Atendeu. A notícia da fuga dos reféns dada pelo pessoal
que estava no sítio deixou-o tão irritado que não conseguiu
segurar-se.
- Vou cortar vocês em pedacinhos e jogar para os urubus
se divertirem, depois terem uma indigestão. – Falou
sussurrando, mas com toda raiva que estava sentindo.
A notícia não podia ser pior, mas continuaria como
planejado. Torcia para que não conseguissem se
comunicar com Paulo.
Uma policial que o vigiava levantou-se e foi em direção
ao lavabo para poder informar-se sobre o que estava
ocorrendo.
Quando retornou, mostrou um papel toalha, enquanto
sentava, nele estava escrito (reféns livres apenas aguardem
ordens).
- “Estava muito calmo para ser verdade. Não sabia onde
estava com a cabeça quando contratou aqueles idiotas para
L.P.OWEN
312executar um plano simples como aquele”. – Pensou
Heitor.
Terminou de comer rapidamente enquanto pensava em
algo para contornar a situação.
Não conseguia entender como conseguiram deixá-los
escapar. Visivelmente alterado pagou a conta e saiu em
direção ao estacionamento.
Resolveu dar prosseguimento ao plano, pelo menos
tentaria conseguir o dinheiro. Acreditava que os reféns
seguiriam em direção a alguma cidade das redondezas
para entrar em contato. O dinheiro a essa altura já deveria
estar sendo entregue.
LINHAS DO DESTINO
313
Capitulo setenta e nove
CONTATO FINAL
A viagem fora excelente, assim que o helicóptero pousou
dois automóveis se aproximaram do aparelho.
- “Ainda bem que pedira mais um veículo”. – Paulo
pensou.
- Gostaria de ir com vocês, mas não vai ser possível.
Entregue isso para Ana, diga que junto está meu coração.
– Disse Paulo enquanto João pegava a pequena caixa de
madeira.
Em um dos automóveis Márcia e João seguiram para o
local onde Ana se encontrava.
No outro, Paulo e o delegado, levariam o dinheiro aos
sequestradores.
Enquanto combinavam os últimos detalhes da operação,
receberam uma ligação de um dos sequestradores.
L.P.OWEN
314- Você deverá seguir pela estrada indicada, a partir do
Km 183 procure deixar o dinheiro exatamente no local
marcado com a cor vermelha. O horário está mantido as
15h00min.
Antes que a ligação fosse interrompida, Paulo falou
duramente.
- Quero uma prova da integridade dos reféns. – Continuou.
- Não foi possível colocar a quantia toda num mesmo tipo
de bolsa, tivemos que colocar um pouco em uma bolsa
menor. Agora me dê uma prova de que todos estão bem?
- Eles estarão cinco quilômetros à frente... – Disse Fininho
sem a intenção de apresentar qualquer prova.
- Como vou ter a certeza de que estão bem? - Paulo
interrompeu-o em tom de desespero, para dar veracidade
ao caso.
- Não terá – falou friamente.
LINHAS DO DESTINO
315
- Apenas deixe o dinheiro no local indicado e siga cinco
quilômetros à frente, todos estarão sentados embaixo de
uma árvore.
A comunicação foi interrompida.
O doutor Juvenal entrou em contato com suas agentes
informando a necessidade de abandonarem suas posições
para não serem notadas, outro investigador já estava
aguardando a saída do meliante.
Um helicóptero da polícia estava à disposição do
delegado, mas aguardava instruções, caso houvesse
necessidade de uso seria acionado. Deu ordens para não
interpelarem o suspeito.
L.P.OWEN
316Capitulo oitenta
MANTENDO O PLANO
Fininho seguiu por cerca de dois quilômetros de distância
da ponte onde deixou a marca vermelha.
Entrou em uma estrada de terra, percorreu mais três
quilômetros, depois seguiu por um atalho a direita para
chegar a uma pequena clareira.
Estacionou seu carro entre as árvores, cobriu-o com alguns
arbustos. Foi até a margem do rio, subiu no barco de
alumínio que estava atracado. Antes de dar partida no
motor verificou as condições de suas armas.
Aguardou alguns instantes, já havia avaliado o percurso
por três vezes, não levaria mais do que 15 minutos rio
acima.
Acendeu um cigarro enquanto aguardava o tempo passar.
Terminado o tempo, acionou o motor do barco, que
respondeu rapidamente. Deu a volta e seguiu rio acima, o
LINHAS DO DESTINO
317
motor não era muito potente, mas o suficiente para levá-lo
até onde queria.
Como previsto o tempo foi próximo das tomadas
anteriores. Fez a manobra para deixar o barco no sentido
contrário e amarrou-o. Agora somente precisava aguardar
a entrega.
Dez minutos antes do horário marcado um automóvel
parou sobre a ponte.
- Acredito que seja esse o local para entrega, desde o
quilometro indicado à única coisa vermelha é este pilar da
ponte. – Comentou Juvenal em alta voz para poder ganhar
tempo e verificar a presença de alguém escondido.
- Vamos deixar aqui mesmo e seguir para o Km 188
conforme combinado os reféns estão lá.
A duas malas grandes e a maleta foram deixadas
encostadas no pilar da ponte. O automóvel abandonou o
local em seguida.
L.P.OWEN
318Fininho aguardou o telefonema de Heitor e deixou seu
esconderijo, verificou que as malas grandes estavam com
cadeados, à maleta pequena também estava trancada, mas
a chave estava amarrada na alça.
Rapidamente fininho abriu a maleta, seus olhos brilharam
ao deparar-se com aquela quantidade de dinheiro, Apenas
notas de 100 e 50.
- “Isso me daria uma vida mais tranquila”. – Pensou.
Imaginando as chaves das outras malas estarem no fundo
da maleta arrastou-as até a beira do riacho.
Com um pouco de esforço conseguiu colocá-las dentro do
barco.
Acionou o motor do barco e seguiu em direção do seu
automóvel, desta vez, o tempo gasto foi muito menor.
Retirou as sacolas do barco, colocou-as no porta-malas,
depois foi até o barco, soltou-o rio abaixo. Saiu em
direção do sítio para concluir o serviço.
LINHAS DO DESTINO
319
Capitulo oitenta e um
A AÇÃO COMEÇA
Antes de sair Juvenal olhou novamente, não viu nada
suspeito, apenas um carro que vinha ao longe, mesmo
assim resolveu deixar o local para não despertar a atenção
ou curiosidade.
Após percorrer 500 metros, recebeu um telefonema de seu
agente que informava a presença de Heitor próximo do
local indicado para a entrega do dinheiro. Pode ver pelo
retrovisor que não tinha parado, seguia em sua direção,
resolveu acelerar e achar um local para deixá-lo passar a
frente.
- OK! Estou vendo-o pelo espelho – Disse Juvenal ao
agente.
- Reduza sua velocidade e verifique quando pegarem as
sacolas.
– Mantenha-me informado. – Ordenou.
L.P.OWEN
320- O que vamos fazer agora Juvenal? – Paulo não
entendeu o que acontecia.
- Vamos sair da estrada e deixá-lo passar.
Depois de alguns quilômetros pararam na entrada de uma
fazenda, aguardaram que Heitor passasse por eles, alguns
minutos depois novo chamado pelo telefone é ouvido.
- Um homem pegou as sacolas, mas me pareceu que havia
saído do mato ou estava embaixo da ponte. – Informou o
agente.
- Fui investigar e o vi descendo o rio em um barco de
alumínio.
- Talvez aquela estrada secundária que passamos há pouco
seja o caminho que nossos amigos estão usando para fuga.
- Disse Juvenal enquanto fazia a volta.
- Por isso Heitor não passou por nós.
- Vou prosseguir e verificar o que aconteceu. – Informou o
agente Samuel.
LINHAS DO DESTINO
321
Após alguns minutos, que pareceram uma eternidade, a
resposta foi dada por Samuel, num tom de desespero.
- Doutor, o carro do Heitor está estacionado a uns dois
quilômetros da desova.
- Espere está saindo um carro do matagal. Agora os dois
estão vindo em minha direção.
- Eles poderão desconfiar de algo? – Era a última coisa
que Juvenal queria.
- Acredito que não – Respondeu Samuel.
- Onde você está? – Inquiriu Juvenal.
- Estou parado no acostamento uns 800 metros deles com
o capô aberto. Seria bom que vocês retornassem. –
Informou o agente.
- Já estamos a caminho, tenha cuidado Samuel.
Pelo celular, Juvenal entrou em contato com as duas
agentes.
- Estamos seguindo pela SP 2.8.0 próximo do Km 1.8.0. –
Respondeu à agente.
L.P.OWEN
322- Os suspeitos estão seguindo na sua direção. São dois
automóveis. Verifique as possíveis saídas da estrada.
- OK! Estamos a postos.
LINHAS DO DESTINO
323
Capitulo oitenta e dois
ENFIM A LIBERDADE
João e Márcia seguiram para o endereço fornecido.
Saíram da estrada principal e entraram em outra de terra
cheia de buracos. A ansiedade estava estampada no rosto
de Márcia. Ela pensava o que eles teriam passado nas
mãos dos sequestradores.
- Devo seguir até onde? - Perguntou João depois de um
solavanco.
- Depois de entrar na estrada de terra, disse-me que
haveria uma bifurcação, aí teremos que ir pela estrada da
esquerda por dois quilômetros. O rancho fica ao lado de
uma lagoa.
Alguns instantes depois chegaram ao encontro entre duas
estradas, que mais pareciam trilhas de tanto mato nas
laterais.
- A bifurcação é esta! – Disse Márcia.
L.P.OWEN
324- Agora já estamos quase chegando. – Comentou João
mostrando um sorriso de satisfação.
Os dois, muito emocionados, não conseguiam disfarçar a
vontade de encontrá-los rapidamente.
À medida que se aproximavam do lago somente o som dos
pneus derrapando nas pedras da estrada era ouvido.
Ao avistarem um homem com seus 60 e poucos anos, mas
ainda em pleno vigor físico, vindo em direção ao
automóvel que se aproximava a alegria tomou conta deles.
- Boa tarde! – Disse Miguel.
- Boa tarde! – Respondeu João.
- O senhor se chama Miguel?
- Sim e o senhor como se chama? – Perguntou com
desconfiança.
- Meu nome é João, esta é Márcia. Somos amigos de Ana,
viemos buscá-la.
LINHAS DO DESTINO
325
Antes mesmo de fazerem as apresentações Ana, ao ouvir o
nome da amiga, apareceu na porta. Ao vê-la, saiu correndo
em sua direção.
As duas se abraçaram, se beijaram e choraram como
crianças. Márcia tinha esquecido que ainda não estava
completamente curada, mas não se importou com a dor.
- Estava morrendo de saudade de você. – Disse Ana ainda
soluçando.
Márcia queria falar algo, mas não conseguia para de
soluçar, apenas balbuciou alguma coisa que Ana não
conseguiu entender.
Em seguida Luís e dona Marta saíram e novamente o
choro recomeçou. Depois de algum tempo tentando falar,
Márcia conseguiu finalmente ser entendida.
- Tenho algo para te entregar. Disse Márcia.
Quando João levou a caixa, Ana abriu-a, uma língua
começou a lamber sua mão. Saiu latindo e abanando o
rabo de felicidade e alivio de ter saído da caixa.
L.P.OWEN
326- Tobias meu lindo, você também veio? - Ana pegou-o
no colo e começou a fazer carinho no cachorrinho.
Estava todo limpinho, bem cuidado. Trazia no pescoço
uma coleira com a inscrição Tobias.
- Você está lindo Tobias e cheiroso também quem cuidou
de você assim?
- Paulo. – Informou Márcia.
- Ele pediu para desculpá-lo por não estar aqui, mas disse
que o seu coração estava representado pelo Tobias.
- Bom pessoal! – Interrompeu seu João.
- O assunto está bom, mas temos uma longa viagem pela
frente.
- Gostaria de te agradecer Miguel por tudo o quanto fez
por todos nós. – João estava muito emocionado.
- Paulo pediu para o senhor fornecer seu endereço ele quer
agradecer-lhe pessoalmente.
- Se quiserem vir fazer uma visita minha casa estará aberta
e o meu coração também, mas não é necessário
LINHAS DO DESTINO
327
agradecimentos, já tenho muitas bênçãos na minha vida,
essa foi mais uma que o bom Deus deu-me.
Ana, que apesar de estarem juntos por poucas horas,
aprendeu a admirar aquele homem simples, integro que
punha nas palavras a sua verdade, a honestidade o amor e
o respeito pelo próximo e pela natureza, que fazia o bem
simplesmente pelo prazer de ajudar seu próximo sem
esperar nada em troca.
Quando Ana perguntou se o homem que ele carregou para
o mato estava morto, deu um sorriso, no seu jeito simples
respondeu que somente a Deus era dado esse poder, bem
ou mal, aquele pobre infeliz não tivera oportunidade de
aprender outra coisa, por esse motivo agira daquela
maneira.
Ele acreditava que todos os homens um dia poderiam ser
mudados. Aquele infeliz já deveria ter acordado, pois o
efeito do tranquilizante era temporário, riu pensando na
dor de cabeça que teria.
L.P.OWEN
328Ana pensou em dona Raquel e percebeu que Deus
havia espalhado diversos anjos no mundo, um diferente do
outro, mas com o mesmo pensamento, servir a Deus.
Márcia entregou uma sacola, todos trocaram as roupas.
Na hora da despedida, Ana abraçou Miguel, agradeceu
tudo o que ele tinha feito, deu-lhe um beijo, as lágrimas
escorreram pelo rosto dele.
- Você se parece com minha filha, ela sempre me faz
chorar. – Disse visivelmente emocionado.
Todos se ajeitaram no carro, Miguel foi deixado próximo
a sua casa.
Seguiram para o local onde estava o helicóptero. A tarde
estava chegando ao seu final, o sol estava se despedindo
com um colorido especial dando a oportunidade aos
homens de apreciarem um dos maiores espetáculos do
universo, pena que nem todos queiram assistir.
LINHAS DO DESTINO
329
Capitulo oitenta e três
O CERCO SE FECHA
A comunicação entre as agentes e o doutor Juvenal se
intensificou. Estavam muito próximos dos fugitivos, não
queriam perdê-los agora.
Em dado momento viram uma estrada de terra que servia
apenas para o trânsito local, nela a poeira levantada pelos
automóveis que trafegavam em alta velocidade chamou
atenção.
- Estamos numa saída próxima ao Km 1.8.1 e dois carros
seguem por ela com destino a algum sítio da região. -
Disse uma das agentes.
- OK! Estamos chegando. Já avistamos vocês.
Doutor Juvenal entrou na estrada em alta velocidade,
quase capotou o automóvel.
- Acredito que Heitor tenha comprado alguma propriedade
nesta região. – Informou Paulo.
L.P.OWEN
330- Ele me convidou para uma visita, mas não foi
possível.
Ao longo da estrada ladeada por árvores enormes e pastos
onde os animais pastavam livremente, após uma curva,
notaram que os automóveis dos bandidos haviam parado
numa propriedade.
Juvenal estava sendo seguido por sua equipe, apenas
aguardou que se aproximassem para capturarem o bando.
O dia estava terminando o sol já estava se pondo quando
todos os agentes se posicionaram.
Assim que a noite caiu ouviu-se três tiros, a tensão
aumentou entre os agentes. Não tinham ideia do que
estava acontecendo.
Pelo celular, Juvenal determinou que ficassem em suas
posições e só atacassem quando fosse dada a ordem.
Minutos mais tarde mais dois tiros foram ouvidos.
LINHAS DO DESTINO
331
Capitulo oitenta e quatro
A PERSEGUIÇÃO
Heitor e Fininho depois de pegarem as bolsas, seguiram
em direção ao sítio, ainda tinham um trabalho a fazer.
Chegaram ao local pouco antes do por do sol.
Os três capangas aguardavam a chegada do chefe e de
Fininho, não viam a hora de receberem seus pagamentos,
apesar do erro que cometeram o resgate fora pago.
Heitor entrou, seguido de perto por Fininho, os dois
sentaram e pediram uma bebida.
- O que temos para beber aqui? - Temos que comemorar. –
Disse Heitor.
- Temos cerveja. – Respondeu um dos capangas se
encaminhando para a geladeira.
Todos sentados beberam e comemoraram o êxito do golpe.
Enquanto Heitor comentava sobre quando deveriam deixar
o local do cativeiro, Fininho levantou-se, caminhou em
L.P.OWEN
332direção a geladeira, pegou sua pistola, virou-se
desferindo um tiro em cada um dos comparsas.
Os estampidos foram seguidos e certeiros, não deram
tempo para qualquer reação.
Heitor que a tudo assistia pediu para Fininho pegar mais
duas cervejas, aguardou até que se virasse de costa, pegou
a arma de um dos capangas mortos e atirou.
Fininho ouviu um estampido e sentiu algo queimar suas
costas, em seguida outro estampido, mas dessa vez não
teve tempo de sentir mais nada, o projétil estourou seus
miolos fazendo seu corpo despencar no chão.
Calmamente, Heitor abriu a geladeira, pegou outra cerveja
e tomou mais um copo. Comemorando o êxito do plano
saboreou-a. Ao seu lado apenas corpos inertes daqueles
que dariam suas vidas por ele.
Pegou a sacola que havia trazido para fingir uma divisão e
poder colocar seu plano em prática.
LINHAS DO DESTINO
333
Saiu lentamente em direção ao carro onde o restante do
dinheiro estava. Sem perceber, tropeçou, imediatamente
sentiu uma dor no calcanhar, como se rompesse o tendão
de Aquiles.
Abriu a porta do automóvel e entrou. A chave, que ainda
continuava no contato, foi acionada e imediatamente o
motor começou a rugir.
Quando estava quase chegando à porteira que dava acesso
a estrada viu que estava bloqueada, ao perceber o que
estava acontecendo começou a entrar em pânico.
Sacou sua pistola, verificou se estava devidamente
municiada, seguiu em alta velocidade tentando intimidar
os ocupantes do automóvel que estavam bloqueando sua
passagem, mas quem estava no volante não estava
disposto a deixá-lo ir.
Retirou o braço para fora da janela, começou a atirar.
Não conseguiu acertar nenhum dos tiros no alvo. A dor no
pé torcido teimava em aumentar. Resolveu fazer uma
L.P.OWEN
334manobra arriscada como ultima cartada. Pisou no
pedal do acelerador, o automóvel patinou, quando tocou a
grama, derrapou até começar a ganhar velocidade.
Dentro do outro automóvel Paulo e Juvenal aguardavam o
momento para o ataque, mas quando perceberam a
intenção de Heitor, era tarde, não conseguiram segurá-lo
porque acabara de passar pela cerca de arame farpado e
ganhar a estrada em alta velocidade.
- Mas que filho de uma puta ele conseguiu fugir. - Os dois
gritaram ao mesmo tempo.
- Vamos atrás dele Juvenal. – Paulo gritou.
Imediatamente Juvenal acionou a ignição, seu veículo saiu
em disparada. Iniciou-se uma perseguição em meio às
estradas por entre as plantações.
Pelo celular pediu reforço para o Samuel e ordenou que as
agentes averiguassem o sítio. A escuridão dificultava a
localização de quem se aventurasse naquelas plantações de
cana-de-açúcar, havia estradinhas que seguiam para
LINHAS DO DESTINO
335
diversas direções. Um automóvel sem iluminação poderia
facilmente esconder-se em qualquer lugar.
- Tenho a impressão que o perdemos. – Disse Juvenal se
lamentando.
- Devia ter pedido mais reforço antes, assim teríamos
cercado todas as possibilidades de fuga. – Lamentou-se.
- Mesmo se tivéssemos um exército aqui ele teria
escapado. – Disse Paulo contemporizando.
- Ele conhece isso aqui como a palma da mão, vinha para
esses lados desde criança.
Nesse momento o telefone de Juvenal toca e quem dá a
notícia sobre o massacre é Lúcia uma das agentes.
L.P.OWEN
336Capitulo oitenta e cinco
BOAS NOTÍCIAS
A noite caia quando eles chegaram na empresa locadora
de veículos. Ana não conseguia esconder a vontade de
falar com Paulo, mas tinha receio que atrapalhasse algo.
João também não parava de olhar para seu celular, chegou
a ligar algumas vezes, mas uma voz feminina dizia não ter
mensagem para ser ouvida.
A seu pedido todos foram a um restaurante simples para
comerem alguma coisa. Pediam seus pratos, um telefone
tocou, aconteceu uma tremenda confusão. Todos queriam
atendê-lo ao mesmo tempo.
João atendeu, mas não falava nada apenas ouvia fazendo o
restante do grupo ficar mais curioso.
- Eles perderam o patife. – Disse decepcionado, voltando a
atender o celular.
LINHAS DO DESTINO
337
- Sim estamos todos ótimos, aguarde um minuto vou
passar para ela. – Entregou o aparelho sorrindo.
- É para você.
Ana ao ouvir as palavras de João começou a tremer dos
pés a cabeça.
Paulo falou seu nome, seus olhos começaram a brilhar e
encher de lagrimas. Todos estavam prestando atenção à
conversa tentando adivinhar o que ele falava.
- Oi! – Estou bem e você? – Onde vocês estão? –
Perguntou ela.
- Estamos preocupados... Eu estou preocupada... Num
restaurante próximo da locadora... Posso esperar... Você
vai demorar?
Houve uma pausa na resposta de Ana, mas todos
entenderam o que se passava à medida que seu rosto
corava.
- Também. Outro pra você.
L.P.OWEN
338Imediatamente uma salva de palmas foi ouvida. Paulo
começou a rir do outro lado.
- Estarei esperando. – Disse antes de desligar.
Márcia aproveitou, pediu para avisar dona Raquel que a
essa altura deveria estar desesperada querendo saber
alguma novidade.
O dia se arrastara, as visitas aos enfermos foram às únicas
coisas que conseguiam fazê-la esquecer de Ana.
Não recebera notícia alguma sobre ela e estava
preocupada. Resolveu fazer um chá para se acalmar.
A água estava quente, adicionou a erva e desligou o fogo.
Foi pegar a xícara, o telefone tocou. Na pressa de atender,
quase caiu quando tropeçou no tapete da sala, ao ouvir a
voz de Ana, não conseguia falar nada apenas soluçava. Em
pensamento, agradecia a Deus,
- Tudo bem com a senhora? – Perguntou Ana.
Dona Raquel depois de alguns instantes finalmente
conseguiu responder.
LINHAS DO DESTINO
339
- Comigo está tudo bem!
- Como vocês estão?
- Aqui estamos todos ótimos. Estou com muita saudade de
você. – Disse Ana chorando.
- Você nem imagina como me deixou feliz agora. Quando
vão voltar?
- Estamos apenas aguardando Paulo, que já está a
caminho, assim que puder retornaremos. Obrigada por
preocupar-se conosco.
- Então fica com Deus, um beijo e até mais tarde.
Quando Ana desligou Raquel fez uma oração em
agradecimento a Deus pela ótima notícia. Agora poderia
tomar seu chá com mais alegria.
Sentou-se na cozinha, enquanto sorvia o chá com algumas
bolachas pensou em tudo o que Ana passou.
Pediu pelos sequestradores para que fossem perdoados
porque não conhecia aquela doce garota.
L.P.OWEN
340Capitulo oitenta e seis
O DESENHO DE UM CRIME
Quando chegaram para verificar o local do cativeiro
encontraram uma cena típica dos filmes de terror.
Havia três corpos sentados, um ao lado do outro, cada um
com um tiro na cabeça, um estava segurando uma arma.
Em frente aos três e mais próximo da porta da cozinha,
estava um homem deitado de bruços com a cabeça virada
para o lado esquerdo. Apresentava dois ferimentos, um
nas costas e outro ao lado da cabeça acima da orelha
esquerda.
- O que você acha sobre o acontecido aqui? – Perguntou
Paulo.
- Este próximo da porta atirou nos três sentados à mesa.
Pelo posicionamento dos corpos foram três tiros certeiros,
não deu tempo para reação alguma.
LINHAS DO DESTINO
341
Depois de ter matado os três recebeu os dois tiros que
saíram dessa arma que foi deixada na mão deste aqui, mas
quem a usou não foi esse infeliz e sim o nosso fugitivo.
Heitor esteve assistindo de camarote, com um copo de
cerveja na mão. – Disse Juvenal cheirando o conteúdo de
um copo deixado um pouco afastado dos três.
- Vamos preservar o local do crime até que a perícia
chegue, vou pedir para o Samuel levar você, quando
prendermos Heitor será informado.
Paulo agradeceu toda a ajuda recebida, ao sair Samuel o
aguardava incumbido de levá-lo até o local onde o restante
do pessoal estava.
L.P.OWEN
342Capitulo oitenta e sete
UM IMPREVISTO
Finalmente conseguiu despistar o automóvel que estava
seguindo-o. Felizmente conhecia a região como ninguém.
Aquele local era um esconderijo perfeito.
De onde Heitor estava pôde ver as luzes do automóvel que
o perseguia se afastar. Deveria esperar algum tempo para
certificar-se de estar seguro e poder sair do esconderijo.
À medida que o tempo passava seu calcanhar doía mais.
Uma sensação de calor que subia do local provocava
calafrio em todo o corpo, indicando um possível estado
febril.
Levantou a barra da calça retirou o sapato, quando
abaixou a meia e olhou para avaliar a situação ficou
horrorizado. O tornozelo estava muito inchado e
apresentava uma coloração arroxeada.
LINHAS DO DESTINO
343
A luz de leitura do automóvel não permitia uma
visualização boa do local, mas pôde ver que havia sangue
em dois pontos.
Resolveu passar num pronto-socorro médico. Ligou o
automóvel, mantendo as luzes apagadas, saiu em direção à
cidade vizinha, por estradas de terra evitando a rodovia.
Por sorte a estrada estava boa. Há muito tempo que não
chovia. O tempo gasto foi bem maior, pois o caminho era
mais longo, mas era a única solução.
Ao parar em frente ao hospital sentiu-se aliviado por ter
chegado, não conseguia mais embrear o carro e sua visão
estava começando a ficar turva, parecia que estava
acontecendo uma desordem generalizada no seu corpo.
Quando finalmente chegou ao balcão de atendimento não
conseguiu ficar em pé.
L.P.OWEN
344Capitulo oitenta e oito
JUNTOS NOVAMENTE
Todos estavam sentados conversando e aguardando o
jantar, quando o automóvel parou no estacionamento.
- Você tem certeza de que não quer jantar conosco? –
Perguntou ao agente.
- Tenho, obrigado. Temos muito trabalho pela frente.
- Então poderia, pelo menos, levar alguns sanduíches para
você e o restante do pessoal. – Disse Paulo.
- Não aceito não como resposta.
Quando Paulo chegou na porta de entrada seu coração
começou a disparar, suas mãos começaram a suar, parou,
respirou fundo e entrou.
Ana estava sentada de costa. Paulo viu pela primeira vez
que estava com os cabelos soltos, sua voz soava como
uma música suave.
LINHAS DO DESTINO
345
Não conseguiu segurar a emoção, parou na porta
apreciando a cena. Todos olharam em sua direção
instintivamente Ana virou-se. Não disse nada apenas um
sorriso brotou em seus lábios. Não tinha ideia de quão
linda era ela, o brilho daqueles olhos azuis e o sorriso
franco faziam-na uma deusa.
Ela levantou-se, caminhou em sua direção com
sensualidade e graça. Paulo deixou as muletas caírem.
Procurou apenas manter o equilíbrio, ela apressou o passo
não queria perder mais tempo para estar nos braços
daquele homem que já era seu grande amor.
Suas mãos se tocaram, seus olhares não viam outra coisa
senão um ao outro, não foi necessário uma só palavra para
dizerem o que sentiam, o amor estava sendo declarado no
encontro de seus lábios, no carinho da busca de suas
línguas. Os corações pararam, a respirações pararam, o
tempo parou, o mundo parou, somente eles giravam.
L.P.OWEN
346Depois de alguns minutos foram em direção à mesa,
quando Paulo sentou-se Tobias, que estava no colo de
Luís, fez festa para ele, todos riram da cena.
LINHAS DO DESTINO
347
Capitulo oitenta e nove
MARCAS DA VIDA
Sentado naquela cadeira no canto do quarto ouvia seu pai
dizer que ele não seria nada na vida, que seu final seria só,
largado num local qualquer, porque não conseguia amar
ninguém, a não ser ele mesmo e o dinheiro.
Ouvia um grito abafado que teimava em não sair.
- “Eu te amo só você que não percebe”.
Imediatamente a cena que via passar agora era o da garota
a seu lado toda machucada, não soube dizer o que
aconteceu para perder a direção e bater naquele poste.
Só recordava-se de um carro em alta velocidade que
colidiu com o seu. Não podia acreditar que a pessoa que
mais amava estivesse ali inerte, sem vida.
As cenas de sua vida passavam pela sua mente em
desordem total. Viu quando Paulo lhe deu um abraço de
L.P.OWEN
348boas vindas. Ouvia vozes, que às vezes sussurravam,
outras parecendo um turbilhão dentro da piscina.
- Não podemos perdê-lo ele foi envenenado, pelo que
estou vendo foi mordido por uma cobra, deem uma olhada
nestas perfurações. Vamos administrar soro antiofídico e
aguardar.
LINHAS DO DESTINO
349
Capitulo noventa
TUDO EM SEU LUGAR
A volta para casa foi muito agradável, estavam felizes,
Paulo não sabia o que fazer para agradá-la e recuperar o
tempo perdido.
- Acho melhor vocês ficarem em minha casa até que tudo
se resolva, encontrem Heitor e o coloquem na cadeia. –
Disse Paulo.
- Pretendo ficar em minha casa é mais pratico minhas
coisas estão lá, imagine ter que fazer uma mudança por
alguns dias, não vale a pena, acredito que ele não voltara
mais. – Respondeu Ana.
- Preciso agradecer ao senhor Miguel por ter cuidado de
você, não sei o que seria se te perdesse. – Paulo comentou
emocionado.
- Não me perderá mais. – Ana beijou-o.
L.P.OWEN
350O cansaço havia tomado conta de Luís, que procurou
se aninhar no colo de sua mãe, Tobias não se fez de
rogado e deitou no colo de Paulo.
- Vocês estão bem arranjados com esses dois. – Disse
dona Marta sorrindo.
- É bom ter companhia sempre e o Tobias já sabe que
adoro carinho. Já faz muito tempo que não me sentia tão
feliz. – Confessou Paulo.
A madrugada já estava iniciando quando chegaram na
residência de Márcia, foi quando um automóvel
estacionado em frente ao portão deixou todos apreensivos
exceto ela que reconheceu ser de Guilherme.
Quando o Van parou, Márcia desceu o semblante dele
iluminou-se num sorriso.
- Estava preocupado, não consegui falar com você em
telefone nenhum. Cheguei aqui, não te encontrei fiquei
desesperado.
LINHAS DO DESTINO
351
- Liguei para Ana só dava caixa postal, foi uma loucura,
não sabia mais o que fazer. - Desabafou Guilherme.
- Agora está tudo bem, depois te explico com calma tudo o
que aconteceu. – Contemporizou Márcia com um abraço e
um beijo.
- Quase esqueci de te apresentar, este é Paulo o namorado
de Ana.
- Nos já nos conhecemos quem o deixou neste estado
lastimável fui eu. – Disse Guilherme sorrindo.
- Como você está?
- Já me acostumei com essas coisas. – Apontando as
muletas.
- Como foi a viagem? – Perguntou Paulo.
- Não foi muito boa porque a Márcia não estava comigo. -
Disse dando uma piscada.
Todos riram ainda mais agora que estavam todos juntos e
felizes.
L.P.OWEN
352Capitulo noventa e um
CHECANDO TODAS AS PISTAS
O agente chegou com os lanches que Paulo tinha
oferecido, o doutor Juvenal fez um comentário onde
demonstrou toda sua admiração.
- Esse é um tremendo amigo está sempre pensando nos
outros.
A quantidade de sanduíches foi tamanha que até o pessoal
da perícia se deliciou, apesar do local não ser o mais
apropriado para comer, mas não se importaram.
O delegado recebeu um telefonema e saiu para averiguar.
Horas depois, estava na sala com o doutor Fernando K.
Sato, chefe da equipe médica, que atendeu um paciente
quase sem sentidos, que continuava em observação.
- Atendemos um homem, ele chegou sozinho na recepção
e antes de ser atendido, perdeu a consciência e desmaiou.
LINHAS DO DESTINO
353
Estava com o pé esquerdo num estado muito avançado de
infecção, necrose, suspeita de insuficiência renal.
Provocada pela picada de uma cobra muito venenosa.
- Uma cobra? - Porque os senhores ligaram para a polícia?
- Havia um automóvel estacionado na porta do pronto-
socorro com a porta e o vidro aberto, como estava
atrapalhando o estacionamento da ambulância, foram
verificar e encontraram uma arma que estava no banco
dianteiro e uma sacola cheia de dinheiro. Algumas
testemunhas descreveram este homem como sendo o dono
do veículo. – Completou o médico.
- O paciente onde e como ele está?
- Está sendo medicado, mas ainda inconsciente e não está
fora de perigo. – Concluiu o doutor Sato.
- Um policial fará plantão na porta do quarto e quando
retornar a consciência deverá nos avisar. - Disse o
delegado.
- As chaves do carro onde estão? – Perguntou Juvenal.
L.P.OWEN
354- Na recepção, juntamente com todos os seus
pertences.
- OK! Vamos fazer uma busca no automóvel porque ele é
acusado de sequestro e suspeito de homicídio.
Quando abriram o automóvel, encontraram as sacolas
grandes e a pequena, onde estava todo o dinheiro.
As sacolas grandes ainda fechadas indicavam que não se
preocuparam em verificar seu conteúdo, nem sabiam de
tratar-se de papéis picados.
LINHAS DO DESTINO
355
Capitulo noventa e dois
DE VOLTA A ROTINA
A sós na sala conversavam sobre o futuro, mas estavam
mesmo interessados era no presente.
- Tenho que retornar ao trabalho o mais rápido possível,
afinal estou fora há bastante tempo, não sei como vou
encontrar a empresa. – Disse Paulo.
- Devo verificar os prejuízos, porque as pessoas e suas
famílias dependem desse emprego, vou fazer o possível
para não abrir falência.
- Estarei ao seu lado para te ajudar no que for preciso. –
Ana falou com entusiasmo tentando elevar o seu moral.
Paulo e João se retiraram, quando Ana lembrou-se do que
aconteceu verificou que tudo estava em ordem, inclusive a
porta que tinha sido arrombada.
Imediatamente seus instintos lhe mostraram que o
responsável seria Paulo e sorriu.
L.P.OWEN
356Quando olhou para o relógio, depois de tanto barulho,
viu que já era hora de levantar-se e não acreditou.
- “Não dormi ainda, o despertador esta tocando?” –
Pensou Ana.
Viu a claridade através da janela, resolveu acreditar no
relógio que marcava 5h00.
Começou a tomar um banho quente para tirar o cansaço do
corpo e poder despertar com mais alegria.
Enquanto colocava seu uniforme sentiu um cheirinho de
café sendo feito e lembrou-se que sua mãe estava
passando uma temporada com ela.
Passou pelo quarto de Luís e acordou-o com um beijo.
Pediu que levantasse rápido para tomar um banho para ir a
escola.
Apesar de tudo estava muito feliz, ao dar um beijo de bom
dia sua mãe agradeceu a Deus por estarem todos bem.
Sabia que ninguém saia de um sequestro sem nenhuma
cicatriz.
LINHAS DO DESTINO
357
Como sempre, estava agradecendo a Deus a boa noite e
pedindo para todos terem um bom dia, quando foi tocada
no ombro, ao virar-se não acreditou no viu.
Dois anjos vestidos de branco sorriam para ela.
- Se puderem, por favor, me belisquem para ter certeza de
que ainda estou na terra ou se parti. – Sem dó as duas
beliscaram dona Raquel.
- Ai, não precisava ser tão forte. – Disse sorrindo e pela
primeira vez as lágrimas caíram de forma contínua.
- Beliscamos muito forte. – Ana disse, chorando sem
conseguir dizer mais nada.
Ficaram abraçadas até que Márcia para amenizar a
choradeira disse:
- Vamos trabalhar senão esvaziaremos a alma por
completo e alagaremos o hospital.
Deram-se as mãos e um brado de guerra e de união soou.
- Uma por todas e todas por uma. – Como se tivessem
ensaiado.
L.P.OWEN
358Capitulo noventa e três
ASSUMINDO OS NEGÓCIOS
A notícia o pegou de surpresa o telefonema do doutor
Juvenal informando todo o ocorrido com Heitor e o seu
falecimento, fez Paulo pensar nos acontecimentos que o
levaram a esse fim trágico, mas previsível.
- “Tudo poderia ter sido diferente”. – Pensou.
Considerava Heitor como a um irmão e torcia para que ele
progredisse, mas a ganância tomou conta do seu coração.
Tinha plano para o futuro. Heitor se castigou por nunca
estar contente com o que tinha.
Olga, na sua frente, aguardava para anunciar a primeira de
uma serie de reuniões com fornecedores para solucionar o
problema de pagamento e crédito.
Apesar de constrangedor, para um homem que sempre
honrou seus compromissos, tratar de assuntos como falta
de pagamentos e prorrogação de prazos.
LINHAS DO DESTINO
359
Era necessário para o bem da organização.
- Senhores o intuito de nossa reunião é acertarmos todos
os débitos que temos e voltarmos a ter um relacionamento
de confiança mútua que tínhamos até alguns meses
atrás...- Em todas elas a mesma explicação o mesmo
pedido.
A grande maioria aceitou o acordo, porem uma pequenina
parte não se dispôs a fazer acordo nenhum.
- Pelo menos esse acontecimento serviu para separarmos o
joio do trigo, os que te consideram apenas um cliente,
daqueles que tem em você um parceiro e um aliado. –
Comentou como um pequeno desabafo.
- Fortaleceremos nossas relações com os parceiros e
aliados. – Disse Olga sorrindo.
L.P.OWEN
360Capitulo noventa e quatro
QUANDO AS LINHAS SE ENCONTRAM
De cada lado orquídeas enfeitavam o caminho por onde
deveria passar, não muito distante um jardim enorme de
rosas, tulipas e arranjos de cores variadas completava a
decoração.
Alguém muito importante em sua vida a entregaria a outro
que se tornou também muito importante.
Preparando-se para entrar o nervosismo tomou conta do
seu ser.
A orquestra iniciou os primeiros acordes da música de
Félix Mendelssohn seu coração disparou.
Quando se iniciaram as primeiras notas da Marcha
Nupcial as portas se abriram. Como uma deusa imponente,
começou a ser conduzida pelo cavalheiro todo orgulhoso
que caminhava ao seu lado para o altar.
LINHAS DO DESTINO
361
Os convidados ao vê-la linda emocionaram-se, todos de
pé, rendiam-lhe homenagens. Seus lábios trêmulos
indicavam todo seu nervosismo. Fez daquela cerimônia
algo inesquecível.
Ana viu Paulo que a aguardava no início da pequena
escada que dava para o altar, à direita os padrinhos dele,
seu João e dona Alzira, Juvenal e Olga e para sua surpresa,
seu Miguel e sua filha mais velha.
Do outro lado estavam Guilherme e Márcia, Fábio seu
irmão e sua mãe Marta, e dona Raquel que não parava de
chorar.
Os bancos estavam lotados, funcionários da empresa de
Paulo e os funcionários do hospital, pelo menos os que
estavam de folga.
Quando Luís lhe deu um beijo e a entregou a Paulo teve
que fazer um esforço gigantesco para não chorar.
L.P.OWEN
362Paulo por sua vez não sabia o que fazer para disfarçar,
mas estava bastante emocionado. Quando o padre falou
que podia beijar a noiva não se fez de rogado.
Na festa, quando Ana jogou o buquê, Márcia mesmo
depois de tanto ensaiar, não conseguiu pegá-lo. O tão
cobiçado troféu foi parar nas mãos de dona Marta.
A propósito Tobias estava aguardando o término da
cerimônia no carro da noiva.