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Livros poliedro caderno 1 português

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livro poliedro portugues 1

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OOUEDRO

Page 4: Livros poliedro   caderno 1 português

Autoria: Renato Gomes de Carvalho, Esther Pereira Silveira Rosado.

Coordenação geral: André Oliveira de Guadalupe.

Supervisão editorial: Eduardo Quintanilha Faustino.

Projeto gráfico: Kleber de Souza Portela.

Coordenação de arte: Antonio José Domingues da Silva, Kleber de Souza Portela.

Diagramação: Equipe de arte da Editora Poliedro.

Ilustrações: Equipes de ilustração e de arte da Editora Poliedro.

Iconografia: Equipes de iconografia e de arte da Editora Poliedro.

Edição técnica: Camila Ribeiro.

Edição de texto: Michelle Silva da Mata.

Coordenação de revisão: Bruna Salles.

Revisão: Equipe de revisão da Editora Poliedro.

Capa: Fernando Augusto Pereta.

Impressão e acabamento: Prol.

A Editora Poliedro pesquisou junto às fontes apropriadas a existência de eventuais

detentores dos direitos de todos os textos e de todas as obras de artes plásticas presentes

nesta obra, sendo que sobre alguns nenhuma referência foi encontrada. Em caso de

omissão, involuntária, de quaisquer créditos faltantes, estes serão incluídos nas futuras

edições, estando, ainda, reservados os direitos referidos nos arts. 28 e 29 da lei 9.610/98.

Page 5: Livros poliedro   caderno 1 português

IntroduçãoO estudo das classes gramaticais está distribuído ao longo

do livro. Neste capítulo, a ênfase será dada ao substantivo, ao adjetivo, aos pronomes, ao advérbio e à preposição (o prono­me pessoal e o pronome relativo serão estudados em capítulos posteriores). As aulas sobre verbo concentram-se no segun­do semestre; neste capítulo, há apenas o seu reconhecimento. Quanto à conjunção, o seu emprego está contemplado nas aulas dedicadas ao período composto.

Para o reconhecimento das classes gramaticais, é funda­mental que se estabeleça a relação entre as palavras; sabe-se, por exemplo, que determinada palavra é um substantivo em função da presença de um artigo, de um adjetivo ou de um pronome/- numeral adjetivo. Ou seja, toda análise deve levar em conta o contexto, que pode ser a própria oração. Em “O velho está ve­lho”, por exemplo, o primeiro ‘Velho” é substantivo e o segun­do, adjetivo. Não nos esqueçamos de que o vestibular moderno preocupa-se, sobretudo, com o emprego das classes gramaticais no texto e os efeitos de sentido. O aspecto semântico (relativo ao significado) deve, por conseguinte, ser privilegiado.

Classes gramaticaisAs palavras de uma língua dividem-se em grupos de acor­

do com suas características. Esses grupos recebem o nome de classes de palavras (ou classes gramaticais).

São dez as classes gramaticais.

Grupo nominal

Falava corretamente

4verbo advérbio

I “ *Escrevia muito'bem.'

4verbo V advérbio

advérbio

João era certamente muito inteligente.

* T í * *subst r advérbio advérbio adjetivo

verbo

Grupo relacionai

As preposições e as conjunções são operadores de encaixe, isto é, ligam palavras ou orações (frases com verbo).

N a minha alma

pousa a sombra da lua.Batem os crucifixos na tumba...

Cruzam-se os vermes e os ossos...Renato Onada. Romanceiro da morte.

Em “Na”, temos a preposição “em” em contração com o artigo “a”. A expressão “na tumba” é indicadora de lugar. Em “da”, temos a preposição “de” em contração com o artigo “a”; a preposição nesse caso introduz o possuidor da sombra. Na ora­ção “Cruzam-se os vermes e os ossos”, a conjunção “e” indica uma sobreposição. Todos os conectivos destacados no poema ligam palavras.

O substantivo é o núcleo de um grupo nominal; o pronome, o artigo, o adjetivo e o numeral referem-se a ele.

O numeral e o pronome também podem substituir o subs­tantivo. Veja o exemplo:

Interjeição

As suas duas poesias românticas.11 11f l i 4 4art. pron. num. subst adjetivo

Grupo verbal

L y ejbp..) S Advérbio

j

O verbo é o núcleo do grupo verbal. O advérbio refere-se a ele e, em alguns casos, a adjetivos e a outros advérbios. Fig. 1 Interjeição.

Page 6: Livros poliedro   caderno 1 português

As interjeições são palavras que expressam reações emo­cionais; valem por frases inteiras.

-Adeus! -Cuidado! -Ai!i j l i l— I4 4 4

interjeição interjeição interjeição

Substantivo

EGGB W MEGGEGGEG

GEGGEGGEGG EGGEGGEGGEG

GEGGEGCTGGEG GEGGTOGEGGEGG

GEGGEGGEGGEGG GEGGEGGEGGEG

ÍGEGGEGGEGGE GGEgGEGGEG I GEGGEGGEi H&GEGGE

Fig. i Substantivo.

Classificarão do substantivo Concretos

Há quem passe pelo bosque e só veja lenha para fogueira.Leon Tolstoi.

Os substantivos concretos possuem existência própria, independente, e referem-se a elementos do mundo natural. A fada e o príncipe dos Contos maravilhosos são concretos, por­que são apresentados sob forma humana. O ar é concreto, pois, a exemplo daqueles, remete a um elemento do mundo natural. São concretos: João (pessoa), Campinas (lugar), saci (entidade), pedra (objeto), tempestade (fenômeno), senado (instituição).

AbstratosA imaginação é müis importante que o conhecimento.

Albert Einstein.

Os substantivos abstratos dependem de algo para existir, a beleza só existe se houver algo ou alguém belo. Designam no­mes de qualidades, ações e estados. Trata-se de categorias uni­versais: bondade (qualidade), vingança (ação), vida (estado).

A análise do substantivo, todavia, deve ser feita sempre no contexto, na frase, pois um substantivo concreto pode assumir valor abstrato e vice-versa. Observe as frases a seguir.

O substantivo é a classe gramatical que nomeia seres, quali­dades, ações ou estados. Comporta propriedades, os adjetivos, e flexiona-se em gênero, número e grau. O substantivo funcionará na oração (frase com verbo) como núcleo de um termo (sujeito, objeto, predicativo etc.), principal palavra de uma seqüência no­minal (sem verbo). Em “Bagdá foi atacada pelos americanos”, por exemplo, “Bagdá” e “americanos”, substantivos na morfolo- gia, funcionam sintaticamente como núcleos do sujeito e do agen­te da passiva, respectivamente.

O substantivo costuma fazer o plural em “s” (o verbo faz o plural em “m”) e não admite flexão no tempo (o verbo admite). Compare:

A luta é difícil.Ul'4

As lutas são difíceis.

r r r 4 4■ verbo ■ j subst. I adjetivo

subst. adjetivo verbo

O prefeito quer a plantação de batata em todo o município, abstrato: o ato de plantar

A plantação de batata foi perdida por causa das chuvas, concreto: um pedaço de terra com batatas

O amor é um sentimento nobre, abstrato: o sentimento

Vem, amor, o arco-íris espera por nós. concreto: a esposa, a namorada

Em textos literários, sobretudo, a utilização de concretos no lugar de abstratos e vice-versa consiste num efeito de sen­tido, trata-se de uma figura de linguagem denominada metoní- mia. Veja a frase a seguir.

4 4 4 4pron. i advérbio pron. 4 advérbio O medo cortava os céus de Bagdá, as crianças choravam,

verbo verbo pressentiam a morte.

O artigo transforma qualquer palavra em substantivo. No texto a seguir, por exemplo, “quereres” e “estares” funcionam como substantivos e não como verbos:

O quereres e o estares sempre a fim

Do que em mim é de mim tõo desigualCaetano Veloso. "O quereres".

O termo “medo” substitui “aviões”, dando mais elegância ao texto. Ocorre também efeito de sentido quando o enunciador mis­tura uma seqüência de concretos com abstratos, observe o seguinte texto.

Tocava piano, violoncelo, harpa e a tristeza de ter nascido sem perna.

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CAPÍTULO 1 * Morfoiogia - Classes gramaticais

O autor surpreende o leitor ao colocar o substantivo abs­trato “tristeza”, depois de uma seqüência de concretos. A esse processo também chamamos quebra do paralelismo semântico.

PrópriosIndicam um ser da espécie: Bianca, França, Poliedro.Há substantivos próprios que podem virar substantivos

comuns e vice-versa.

Era um judas, a cidade o condenava.

ComunsIndicam um conjunto de seres da mesma espécie: criança,

país, montanha. Dependendo do contexto, o substantivo co­mum vira próprio e vice-versa.

O técnico Leão assume o time do Palmeiras.

“Leão” é nome próprio, o ex-goleiro da seleção brasileira. No texto a seguir, “Iraque” funciona como substantivo

comum, sinônimo de guerra prolongada, mais penosa:

Poro alguns especialistas, a cidade do Rio está se tomando um iraque latino-americano.

Em certas situações, o uso de substantivos comuns e pró­prios pode obedecer a uma estratégia enunciativa. Observe os textos a seguir.

Fig. 3 Estratégia enunciativa (substantivo comum).

Fig. 4 Estratégia enunciativa (substantivo próprio).

No primeiro quadrinho da figura 3, “pessoas”, substantivo comum, é usado em tom irônico, o enunciador faz referência ao amigo presente, mas não o cita diretamente; trata-se de um efei­to de afastamento. Na figura 4, “Joaquim Novaes Albuquerque Lima”, nome próprio, funciona como argumento para o indiví­duo entrar na festa, faz lembrar as famílias tradicionais, que pri­mam pelo sobrenome.

ColetivosA gente todos os dias arruma os cabelos: por que não o coração?

Provérbio Chinês.

São assim chamados por designarem uma coleção de seres ou certas entidades coletivas. Os coletivos classificam-se entre os substantivos comuns: exército, par, cardume etc.

álbum de autógrafos, retratos, selosalcateia de lobosaludel de vasosarmada de navios de guerraarquipélago de ilhasassembleia de pessoas reunidasatilho de espigasatlas de mapasbaixela de utensílios para serviço de mesabanca de examinadores, de advogadosbando de pessoas, aves, ciganosbatalhão de soldados, desempregados, manifestantesbosque de árvores

0 senhor sabe com quem está falando1?

Descul|>e-me, o senhor . não |wde entrar. .

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buquê de flores

cáfila de camelos

capela de macacos

cardume de peixes, submarinos

colégio de eleitores, de cardeais

colmeia de abelhas

colônia de imigrantes, formigas ou bactérias

concilio de bispos convocados pelo papa

conclave de cardeais escolhidos para eleger o papa

consistório cardeais presididos pelo papa

constelação de astros e de estrelas

cordilheira de montanhas

discoteca de discos ordenados

dilúvio de perguntas

elenco de artistas, atores, medidas e palavras

enxame de abelhas

enxoval de roupas e complementos

esquadra de navios de guerra

esquadrilha de aviões

falange de soldados, anjos, heróis

farândola de maltrapilhos

fato de cabras

fauna de animais de determinada região

feixe de lenha, de raios luminosos

flora de plantas de uma determinada região

floresta de árvores

frota de navios mercantes ou de veículos

junta de bois, médicos, examinadores, militares que governam

júri de jurados

manada de gado (bois, búfalos, cavalos, elefantes)

matilha de cães de caça

molho de chaves, de cenouras, de rabanetes

pelotão de soldados

pilha de livros, tijolos, discos

pinacoteca de quadros

plantei de animais selecionados

plêiade de pessoas ilustres

prole de filhos

quadrilha de ladrões, de malfeitores

rebanho de gado de qualquer espécie

repertório de peças teatrais, musicais, de anedotas

réstia de cebola, de alho

seleta de trechos escolhidos

trouxa de roupas

universidade de escolas de ensino superior

vara de porcos

viveiro de aves e peixes confinados

vocabulário de palavras

Tab. 1 Coletivos.

Em algum as situações, os substantivos coletivos podem assum ir outros significados, veja as frases a seguir.

O substantivo “rebanho” significa, nessa frase, sem opinião própria, sem poder de decisão: as pessoas e o gado são condu­zidos, não possuem vontade própria. A alteração de significado ocorre em virtude de as palavras, em geral, serem polissêmicas, assumirem vários sentidos. É o caso também do substantivo cole­tivo “gente”, do qual notam-se dois empregos muito freqüentes.• Em linguagem coloquial, com sentido de nós:

• Em linguagem culta, coletivo de pessoas:

Havia gente im portante no congresso, a po lícia federal estava

atenta.

Embora considerado coloquial, “gente” com sentido de “nós” é largamente utilizado por pessoas com nível superior em situação de oralidade, além de marcar presença na poesia e na música, con­forme exemplo a seguir.

Tem dias que a gente se sente

Como quem partiu ou morreu

A gente estancou de repente

O u fo i o mundo entõo que cresceu

Chico Buarque. "Roda Viva".

SimplesMas eu desconfio que a única p e sso a livre, realm ente livre, é

a que não tem m edo do ridículo.

Luis Fernando Verissimo.

Substantivos simples são aqueles que possuem um só radical: moleque, mula, freira.

CompostosE, desistindo do elevador, e m b ria g a tin h a v a escada acima.

João Guimarães Rosa. "Nós, os temulentos".

O s substantivos com postos possuem m ais de um radical: girassol (gira+sol), pão-duro.

A gente fala, fala, e ele não escutai!

Fig. 5 Liguagem coloquial (gente)

O povo, quando não possui cultura, age como rebanhol

Page 9: Livros poliedro   caderno 1 português

O composto pode ser resumido por uma só palavra (uma unidade semântica):

O pão-duro comia pão duro.

pão-duro = avarento pão duro = pão endurecido

PrimitivosNão há pior inimigo que um falso amigo.

Provérbio inglês.

Os substantivos primitivos dão origem a outras palavras: ferro, livro, tarde.

DerivadosFelicidade é a certeza de que nossa vida não está se passan­

do inutilmente.Erico Veríssimo.

Os substantivos derivados se originam de outras palavras: ferramenta, livraria, entardecer.

A língua é uma fábrica de palavras; com um mesmo radi­cal, pode-se criar uma infinidade de palavras derivadas. Obser­ve os neologismos do escritor:

Era o danado jagunço: por sua fortíssima opinião e recatado rancor, ensimesmudo, sobrolhoso, sozinho sem horas a remedir

o arraial, caminhando com grandes passos.Guimarães Rosa. Tutameia.

O termo “ensimesmudo” é formado por ensimesmado + mudo, sujeito fechado, taciturno. Já “sobrolhoso” é formado por sobrolho (o conjunto das sobrancelhas) + oso (sufixo que dá ideia de característica acentuada).

Flexão do subsfantivoO substantivo é uma classe gramatical variável, que apre­

senta flexão de gênero, número e grau. Por meio da flexão, é possível indicar o masculino, o feminino, o singular, o plural, o aumentativo e o diminutivo: menina, meninas, menininha. A flexão permite ao enunciador expressar-se com mais econo­mia de linguagem (menininho em vez de menino pequeno). Em alguns casos, o singular representa o plural e vice-versa, o sen­tido não é literal.

O carioca é alegre e samba o ano todo.

(carioca = cariocas)

- Pare de falar, Joaquim!Esses jovens, esses jovens...

(esses jovens = Joaquim)

GêneroOs substantivos estão divididos em dois grupos, (mascu­

linos e femininos), segundo a terminação do adjetivo. A regra geral é o uso da desinência o para o masculino e a para o femi­nino (menino, menina), mas em alguns casos isso não ocorre, como em réu-ré.

Eis algumas flexões de gênero:

o anfitrião a anfitrioa, a anfritiã

o ateu a ateia

o bacharel a bacharela

o barão a baronesa

o capiau a capioa

o capitão a capitã

o cavalheiro a dama

o cônego a canonisa

o coronel a coronela

o czar a czarina

odeus a deusa (diva)

o duque a duquesa

o frade a freira

o garçom a garçonete

o herói a heroína

o imperador a imperatriz

o lavrador a lavradeira

o maestro a maestrina

o moleque a moleca

o oficial a oficiala

o pardal a pardaloca (pardoca, pardaleja)

o pigmeu a pigmeia

o patriarca a matriarca

o presidente a presidenta

o réu a ré

o rinoceronte a abada

o tigre a tigresa

o varão a virago (a varoa)

o zangão a abelha

Tab. 2 Gênero.

ATENÇÃO!Não procure memorizar as tabelas de uma só vez; leia-as periodicamente.

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Fig. 6 No cursinho, gatas paqueram gatos.

Alguns substantivos (biformes) possuem duas formas para indicar o gênero: uma para o masculino e outra para o femini­no. É o caso de “gatos” e “gatas”, homem e mulher, doutor e doutora. Contudo, há os que possuem uma só forma e um só gênero (uniformes) para indicar os seres do sexo masculino e feminino, por exemplo, a pessoa, a vítima. Esses substantivos são chamados sobrecomuns. Há ainda os que apresentam uma só forma (uniformes) para dois gêneros: o imigrante/a imigran­te, o artista/a artista etc. e são classificados como comuns de dois gêneros.

Alguns substantivos apresentam alteração de semântica na mudança de gênero, compare as orações.

Na primeira ocorrência, o caixa refere-se ao indivíduo res­ponsável pela cobrança e pelo pagamento; na segunda, a caixa remete ao lugar em que se guarda o dinheiro da propina. Eis outro exemplo:

Fig. 9 Grama, substantivo que apresenta alteração semântica.

A tençãoiTome muito cuidado para não confundir o gênero destes substantivos:

masculinoso açúcar, o apêndice, o avestruz, o champanhe, o dó, o eclipse, o formicida, o guaraná, o saca-rolhas, o telefonema.

femininosa alcunha, a alface, a apendicite, a bacanal, a cal, a cólera, a dinamite, a ênfase, a mascote, a sentinela.

NúmeroO plural no português é dado pela desinência “s” (com uma

variante: “es”). Veja os casos a seguir:

coso, casas; estupidez, estupidezes; lírio, lírios

Ftg. 7 Alteração semântica com a mudança de gênero da palavra caixa.

Quando o caixa do banco entregou “a caixa” para o deputado...

Fig. 8 Substantivo rádio apresenta alteração semântica na mudança de gênero.

Eis alguns substantivos que também apresentam alteração semântica:• o cabeça (líder) - a cabeça (parte do corpo)• o capital (valor) - a capital (cidade)• o grama (unidade de medida) - a grama (tipo de vegetação)• o moral (ânimo, faculdades morais) - a moral (conjunto de

regras de conduta).Por isso, lembre-se:

Quanto vai, CacISo'?

Duzentas gramas, seu Manuel!

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O s com postos sem hífen seguem a m esm a regra: malme- quer - m alm equeres

Veja os dez casos de plural:

1. depois de ditongo, “s” histórias, jóqueis, fáceis

2. depois de r, z, n, “es” cadáveres, cruzes, hífenes

3. final m é trocado por “ns” armazéns, atuns, álbuns

4. nas paroxítonas, ão vira “ãos” órfãos, sótãos, bênçãos

5. ão vira “ães” pães, cães, capitães

6. ão vira “ões” ações, balões, campeões

7. ão vira “ãos” mãos, cristãos, cidadãos

8. final s vira “es”, se oxítonajaponeses, franceses, burgueses

9.final s, “invariável”, se paroxí- tona ou proparaoxítona

os pires, os atlas, os vírus, os óculos, os lápis, os ônibus

10. final al, el, il, ol, ut, “I” vira “is”, final //, T vira “s”

canais, motéis, anzóis, cantis, funis

Tab. 3 Dez casos de plural.

O s dim inutivos fazem o plural da seguinte forma: • passe a palavra para o plural:

pão - pães• tire o “s” e acrescente “zinhos” ou “zitos” : pães - pãezinhos

Assim temos: balõezinhos, animaizinhos. Quanto aos subs­tantivos invariáveis (aqueles cuja form a não sofre alteração), destacam-se os terminados em “x” (os tórax, os clímax).

o ananás os ananases

o anão os anões, anãos

o ancião os anciões, anciãos, anciães

o ardil os ardis

o arroz os arrozes

o ás os ases

o blêizer os blêizeres

o capelão os capelães

o caramanchão os caramanchões

o caráter os caracteres, caráteres

o charlatão os charlatães, charlatões

o chofer os choferes

o cônsul os cônsules

o convés os conveses

o corcel os corcéis

o corrimão os corrimãos, corrimões

a estupidez as estupidezes

o funil os funis

o futebol os futebóis

ogiz os gizes

o gol os gols

a gravidez as gravidezes

o hambúrguer os hambúrgueres

o júnior os juniores (ô)

a malcriadez as malcriadezes

o pôster os pôsteres

o projétil os projéteis

o projétil os projetis

o pulôver os pulôveres

o réptil os répteis

o reptil os reptis

o suéter os suéteres

o xadrez os xadrezes

o zângão os zângãos

o zangão os zangões

o zíper os zíperes

Tab. 4 Plural dos substantivos simples.

A lguns substantivos só podem ser usados no plural: as al­

gem as, os A lpes, os Andes, os óculos, os parabéns, os pêsam es, as reticências.

Há, ainda, os que podem ser usados no singular e no plural, conservando a m esm a forma: o/os conta-giros, o/os paraque­das, o/os para-raios, o/os porta-aviões, o/os porta-luvas, o/os porta-m alas.

O substantivo pode sofrer alteração sem ântica (de signifi­cado) na m udança de número. L eia os exem plos a seguir.

Fig. 10 Alteração semântica de substantivo quando há mudança de número.

Veja outros casos:

vergonha (sentimento) vergonhas (órgão sexual)

cobre (metal) cobres (moeda)

costa (litoral) costas (dorso)

saudade (sentimento)saudades (lembranças, cumprimento a alguém distante)

Tab. 5 Alteração semântica de substantivo quando há mudança de número.

Page 12: Livros poliedro   caderno 1 português

Da mesma forma que pode haver alteração semântica, também pode ocorrer alteração fonética (metafonia), o timbre da vogal tônica passa de fechado (ô) para aberto (ó).

Assim, teremos no plural: coros (= có), corvos (= có), des- pojos (= pó), fogos (= fó). Outros substantivos, porém, não so­frem alteração: almoços (= mô), bolos (= bô), bodas (= bô), esgotos (= gô).

Quanto à hifenização dos compostos, eis as regras:Variam os dois elementos:

a) substantivo + substantivo: couves-flores.b) substantivo + adjetivo: amores-perfeitos.c) adjetivo + substantivo: públicas-formas.d) numeral + substantivo: segundas-feiras.

a)

b)c)

d)

e)

Varia o segundo elemento:palavra invariável (advérbios, prefixos) ou verbo + subs­tantivo ou adjetivo: bem-amados, beija-flores, guarda- -roupas.onomatopéia: bem-te-vis, tique-taques, adjetivo + adjetivo: os latino-americanos, palavras repetidas (homônimas ou parônimas): pingue-pongues, reco-recos, grã ou grão + substantivo: grão-duques.

/^TENÇÃOÍ

Os diminutivos, quando terminados em -zinho ou -zito, fazem plural a partir da palavra inicial, com acréscimo poste­rior do sufixo:fogão (inicial): fogões (plural): fogõezinhos. limão (inicial): limões (plural): limõezinhos. anel (inicial): anéis (plural): aneizinhos. chapéu (inicial): chapéus (plural): chapeuzinhos. coronel (inicial): coronéis (plural): coroneizinhos.

ATENÇÃO!Observe ainda que em aneizinhos e chapeuzinhos o acento do ditongo aberto não mais existe. Há deslocamento da sílaba tônica e as palavras, com o acréscimo do sufixo, pas­sam a ser paroxítonas. Como paroxítona terminada em "o" não recebe acento, é impossível acentuá-las.

O emprego do grau do substantivo pode ser denotativo (literal) ou conotativo (assumir valor ofensivo, afetivo ou ser empregado como espécie de eufemismo). Observe os exemplos a seguir.

Quando os verbos possuírem sentido oposto, o composto torna-se invariável: os entra e sai; os vai e volta.

Varia o primeiro elemento:a) substantivo + preposição + substantivo: pés de moleque,

dores de cotovelo.b) quando o segundo elemento delimita o significado do peneiro:

bananas-maçã, saias-balão, salários-família.

ATENÇÃO!Casos especiais:os arco-íris, os louva-a-deus, os padre-nossos, as ave-marias, os mapas-múndi.

GrauO aumentativo e o diminutivo apresentam-se analiticamente;

(com um adjetivo) ou sinteticamente (com um sufixo):

Sujeitinh o chato o Jonas!

Valor conotativo: ofensivo

E um babão, isso mesmo, babão. Não acha?

Valor conotativo: ofensivo

Meu paizinho diziat "o que arde cura, o que aperta segura"

Valor conotativo: afetivo

A varandinha, no fundo, era misteriosa.

Valor denotativo: pequenez

Fig. 11 Grau (conotativo).Valor conotativo: eufemismo

casa grande / casarão saia pequena / saiote

* 4 4 *analítica sintética anaiitica sintética

O grau do substantivo é obtido por meio de sufixos aumen- tativos e diminutivos. Eis alguns deles.

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Aumentativo

aça: “Era uma mulheraça, a bela Lili!”

alhão: “Fala, seu porcalhão!”

anzil: “Tinha um corpanzil!”

ão: “E pôs o olhão na janela.”

arra: “Que bocarra!!”

Diminutivo

ebre: “Morava num casebre o pobre homem.”

eco: “Isso não é um livro, é um livreco!”

eto: “Um poemeto, Haroldo, um poemeto!”

ota: “Era uma ilhota, uma flor no oceano.”

ucho: “O gorducho era o mais simpático.”Tab. 6 Sufixos aumentativos e diminutivos.

Aspectos semânticos do substantivo A direção argumentativa

A escolha das palavras obedece a uma intencionalidade; ao utilizar x e não y, o falante dá uma direção argumentativa ao texto. Compare:a) O carrasco chegou.b) O professor chegou.c) O mestre chegou.

Nos exemplos anteriores, o substantivo estabelece uma avaliação do enunciador. Em a, o docente é sancionado negati­vamente; em b, há neutralidade; em c, o docente é sancionado positivamente.

A seleção lexicalNas nossas ruas, ao anoitecer,

Há tal soturnidade, há tal melancolia,

Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia,

Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.Cesário Verde. O sentimento de um Ocidental.

O enunciador manifesta a opressão da cidade por meio de uma seleção de substantivos disfóricos: anoitecer, soturnidade, melancolia, bulício, sombras. Essa disforia cria efeitos de sen­tido, dá à cidade um clima psicológico que angustia o poeta, fazendo-o sofrer.

Cruzamento de vocabulárioE preciso fazer uma cirurgia no governo, retirar o câncer da

corrupção.

O time do Santos era uma orquestra; Pelé, o seu maestro.

As frases citadas apresentam cruzamento de dois campos semânticos; no primeiro caso, utiliza-se o léxico médico em as­sunto político; no segundo caso, emprega-se o léxico da música em matéria esportiva. Trata-se, na realidade, de um processo metafórico e, portanto, criador de efeito de sentido.

AdjetivoDiversões eletrônicas

Fig. 12 O Título é composto por um substantivo (diversões) mais um adjetivo (eletrônicas).

É preciso, pois tentar reduzir ou anular essa espécie de inter- posição narcisística representada pelo adjetivo (e pelo próprio pos­sessivo) no relacionamento com o outro. O que é, semioticamente, adjetivar o outro? E executar sobre o seu fazer um fazer sanciona- dor, vale dizer, colocar-se como sujeito da sanção em relação à performance do outro.

Ignácio Assis Silva. Figuratizaçõo e metamorfose, p. 39.

É a classe gramatical que dá uma propriedade ao ser, expri­mindo aparência, modo de ser ou qualidade. Além do adjetivo, há outras formas gramaticais que também exercem função ad­jetiva, observe algumas delas.

Vi um homem que berrava. O poeta da vila sumiu.

* f oração locução

A garota é dez! Eu sou tudo.

* Tnumeral pronome

O adjetivo pode assumir valor denotativo (literal) ou cono­tativo (figurado), variando semanticamente.

O teu vizinho é quadradol

O teu vizinho possui um quarto quadrado.

Na primeira frase, o adjetivo expressa um julgamento de valor e tem sentido conotativo, significa “conservador”; na se­gunda, o mesmo adjetivo assume valor denotativo, diz respeito à forma, não traduz uma opinião, é apenas uma característica do quarto. Há textos que utilizam um maior número de adjetivos que expressam julgamento de valor, trata-se de textos mais subjetivos; há os que procuram não utilizá-los: textos objetivos.

Page 14: Livros poliedro   caderno 1 português

O texto possui dez parágrafos e faz referência à crise polí­tica; é um texto argumentativo, em terceira pessoa.

O romance é bastante criativo, utiliza uma linguagem re­pleta de efeitos de sentido; o vocabulário é rico e a abordagem do tema é profunda e interessante.

O primeiro exemplo utiliza linguagem objetiva, os adjetivos empregados não denotam uma opinião, mas uma constatação, trata-se de texto objetivo. Por oposição, o segundo exemplo é mar­cado pela presença de adjetivos que expressam um julgamento do enunciador, temos um texto subjetivo.

Flexão do adjetivo Gênero do adjetivo

Os adjetivos podem ser uniformes ou biformes.Òs primeiros possuem uma única forma para os dois gêne­

ros; os segundos, uma forma para cada gênero: céu azul/malha azul; homem nu/mulher nua. Veja as principais regras de for­mação do gênero feminino:

Regra geral:a) troca-se o por a: apático, apática.

Exceções:• troca-se eu por eia: europeu, europeia (exceção: judeu,

judia)• troca-se eu por oa: tabaréu, tabaroa• troca-se ão por ã: cristão, cristã• troca-se ão por ona: chorão, choronab) acrescenta-se a às terminações u, ês, or:

cru, crua; japonês, japonesa; trabalhador, trabalhadorac) são invariáveis em geral os adjetivos terminados em e, 1,

z, m:homem forte - mulher forte menino amável - menina amável Exceção:

• bom/boad) são invariáveis os adjetivos hindu, cortês, montês, melhor,

maior, menor, interior, pior:prefeito hindu - prefeita hindu cozinheiro cortês - cozinheira cortês

e) são invariáveis os adjetivos pátrios terminados em a e ense: professor belga - professora belgaator cearense - atriz cearense

Adjetivos compostos: o último elemento assume a forma feminina (se o substantivo for feminino): companhia ítalo-americana peça afro-brasileira quadro greco-romano

Número do adjetivoAs regras que norteiam o plural dos adjetivos se asseme­

lham às dos substantivos (rica, ricas), com algumas exceções: regular, regulares; cruel, cruéis.

Quanto ao plural dos adjetivos compostos, a regra geral é a flexão do último elemento: poesias luso-brasileiras.

Mas há exceções:Variam os dois elementos: surdos-mudos.São invariáveis os compostos de adjetivo de cor + substan­

tivo: carros verde-abacate, lençóis vermelho-sangue.

ATENÇÃO! aNota: carros verde-abacate; carros verdes.

Grau do AdjetivoO grau expressa a variação de intensidade do adjetivo; há

o grau comparativo e o grau superlativo. O primeiro expressa uma comparação, o segundo intensifica a característica. Comparativo:de superioridade: A minha canção é mais doce do que a sua. de igualdade: A minha canção é tão doce quanto a sua. de inferioridade: A minha canção é menos doce do que a sua.

Em linguagem coloquial, observam-se as seguintes cons­truções:

Ele fala que nem papagaio!

Ele corre feito um foguete!

Trata-se do comparativo de igualdade, essas construções devem ser evitadas em linguagem escrita culta.

Superlativo:relativo de superioridade: A minha canção é a mais doce do festival.relativo de inferioridade: A minha canção é a menos doce do festival.

No superlativo relativo, destaca-se uma característica comum (“doce”) a todos (“do festival”), porém enfatiza-se que um deles (“minha canção”) a possui em grau mais intenso (relativo de superioridade: “mais”) ou menos intenso (relativo de inferioridade: “menos”):

absoluto sintético: A minha canção é dulcíssima.

absoluto analítico: A minha canção é muito doce.

Não são aceitas pela norma culta expressões como “mais bom”, “mais mau” ou “mais grande”; no lugar, utiliza-se “me­lhor”, “pior” e “maior”. Em relação às formas literárias de superla­tivo sintético, consulte a tabela a seguir:

Page 15: Livros poliedro   caderno 1 português

ágil agílimo

agradável agradabilíssimo

agudo acutíssimo

amargo amaríssimo

amável amabilíssimo

antigo antiqu íssimo

áspero aspórrimo

atroz atrocíssimo

benévolo benevolentíssimo

capaz capacíssimo

doce dulcíssimo

eficaz eficacíssimo

fácil facílimo

feroz ferocíssimo

fiel fidelíssimo

frágil fragílimo

geral generalíssimo

inimigo inimicíssimo

magnífico magnificentíssimo

manso mansuetíssimo

mau péssimo

nobre nobilíssimo

pequeno mínimo

perspicaz perspicacíssimo

possível possibilíssimo

próspero prospérrimo

pudico pudicíssimo

sábio sapientíssimo

sagrado sacratíssimo

soberbo superbíssimo

voraz voracíssimo

vulnerável vulnerabilíssimoTab. 7 Superlativo absoluto sintético.

A forma culta de alguns superlativos absolutos sintéticos é construída por meio do radical latino do adjetivo + os sufixos —íssimo, —imo, -érrimo (niger + -érrimo — nigérrimo; nobilis + -íssimo = nobilíssimo; fidel + -íssimo = fidelíssimo).

Era agradabilíssimo conversar na varanda.

A forma coloquial do absoluto sintético é construída pelo radical do adjetivo português + o sufixo -íssimo: magríssimo (erudito: macérrimo), pobríssimo (erudito: paupérrimo). A po­pulação utiliza ainda formas correlatas para expressar o grau absoluto sintético, veja algumas delas:

Em alguns casos o superlativo absoluto sintético pode ser de­preciativo: “É um grandessíssimo vigarista!”.

A locução adjetivaA locução adjetiva é uma expressão formada de preposição

+ substantivo que, a exemplo do adjetivo, dá uma propriedade ao ser:

som de assombração [...] ira de tubarão [...]

V 4 4 4prep. subst. prep. subst.

Fig. 14 Repetição de adjetivos.

Fig. 15 Expressões em linguagem coloquial.

Page 16: Livros poliedro   caderno 1 português

zum de besouro [...] tez da manhãi__ii_______ i 1 ‘ i— 11----------14 1 4 4

prep. subst. prep. subst.

Djavan. "Açaí*.

A escolha entre a locução adjetiva ou o adjetivo obedece a

um critério estilístico, ao dizer “program a vespertino” o enun- ciador m ostra-se m ais culto do que se dissesse “program a da tarde” . Consulte, na tabela a seguir, as principais locuções e os

adjetivos correspondentes:

de abelha apícola

de águia aquilino

de aluno discente

da audição auditivo, ótico

de boca bucal, oral

de campo rural, bucólico

de cavalo equino, equídeo

de chumbo plúmbeo

de chuva pluvial

de cidade citadino, urbano

de cinza cinéreo

de cobra ofídico

de coração cardíaco, cordial

de criança pueril, infantil

de diamante diamantino, adamantino

de estômago estomacal, gástrico

de estrela estelar

de fígado figadal, hepático

de filho filial

de fogo ígneo

de garganta gutural

de gato felino

de gelo glacial

de gesso gípseo

de guerra bélico

de homem humano

de idade etário

de ilha insular

de intestino celíaco, entérico ou intestinal

de inverno hibernai

de lago lacustre

de lebre leporino

de leite lácteo, láctico

de lobo lupino

de lua lunar, selênico

de macaco símio, simiesco

de marfim ebúrneo, ebóreo

de mestre magistral

de morte mortal, letal

de nádegas glúteo

de neve níveo, nival

de nuca occipital

de orelha auricular

de ouro áureo

de ovelha ovino

de paixão passional

de pedra pétreo

de pele epidérmico, cutâneo

de pescoço cervical

de prata argênteo

de proteína proteico

dos quadris ciático

do rio fluvial

de rocha rupestre

de sonho onírico

de tarde vesperal, vespertino

da terra telúrico

de tórax torácico

de umbigo umbilical

de velho senil

de vento eólio, eólico

de verão estivai

de víbora viperino

de vidro | vítreo, hialino, hialoide

de visão | óptico

Tab. 8 Locuções adjetivas.

Adjetivos pátriosConhecidos tam bém com o gentílicos, os adjetivos pátrios

designam origem, país, estado, região, cidades, enfim , localida­

des. Você encontrará, a seguir, os mais importantes:

Acre acreano

Alagoas alagoano

Amapá amapaense

Amazonas baré ou amazonense

Bahia baiano

Ceará cearense

Espírito Santo capixaba ou espírito-santense

Goiás goiano

Maranhão maranhense

Mato Grosso mato-grossense

Mato Grosso do Sul mato-grossense-do-sul

Minas Gerais mineiro

Pará paraense ou paroara

Paraíba paraibano

Paraná paranaense

Pernambuco pernambucano

Piauí piauiense

Rio de Janeiro fluminense

Page 17: Livros poliedro   caderno 1 português

Rio Grande do Norte rio-grandense-do-norte, norte-rio-grandense, potiguar

Rio Grande do Sul rio-grandense-do-sul, rio-grandense ou gaúcho

Rondônia rondoniense ou rondoniano

Roraima roraimense

Santa Catarina catarinense, catarineta ou barriga-verde

São Paulo paulista

Tocantins tocantinenseTab. 9 Adjetivos pátrios (estados).

Anápolis anapolinoAngra dos Reis angrenseAracaju aracajuano ou aracajuenseBelém belenenseBoa Vista boa-vistenseCampo Grande campo-grandenseCuiabá cuiabanoDuas Barras bibarrenseFlorianópolis florianopolitanoJoão Pessoa pessoenseJuiz de Fora juiz-forano, juiz-de-forano ou juiz-forenseMacapá macapenseMaceió maceioenseManaus manauense ou manauaraNatal natalense ou papa-jerimumNiterói niteroienseNovo Hamburgo hamburguensePalmas palmensePetrópolis petropolitanoPorto Velho porto-velhenseRecife recifenseRio de Janeiro cariocaSalvador salvadorense, soteropolitanoSantarém santarenoSão Luís ludovicense ou são-luisenseSão Paulo paulistanoTeresina teresinenseTrês Corações tricordianoTrês Rios tririense

Tab. 10 Adjetivos pátrios (cidades).

Veja a redução de alguns adjetivos pátrios (usados em ad­jetivos compostos):• Era uma escola anglo-americana, (anglo = inglês)

• Caiu o governo austro-húngaro. (austrà = austríaco)

• Era um quadro teuto-brasileiro. (teuto = alemão)

• As exportações sino-japonesas vão bem, obrigado, (sino = chinês)

• A indústria era nipo-chinesa, mas os funcionários eram brasileiros,

(nipo = japonês)

• As tropas euro-americanas entraram em território egípcio, (euro

— europeu)

• O espetáculo é franco-argentino: produção francesa e direção

argentina, (franco = francês)

Aspectos semânticos do adjetivo A anteposição e o posposição ao substantivo

Em certos casos, os adjetivos, dependendo de sua posição em relação ao substantivo, podem mudar de significado. Observe:

O amigo velho era um velho amigo.

4senil

4antigo

O falso filósofo encontrou um filósofo falso.

4não era

4mentiroso

A mudança gramatical e a mudança de sentidoNo texto a seguir, extraído do anuário de criação, o termo

“físico” muda de classe gramatical. Funciona respectivamente como substantivo, indicando a profissão, e como adjetivo, indi­cando uma propriedade relativa ao corpo.

Fig. 16 Stephen Hawking.

Veja outros exemplos:

Ela estava errada.I..... .....I4

adjetivo

Ela fala errado.4

advérbio

O doce era gostoso. O filho abraça gostoso.4

adjetivo4

advérbio

O adjetivo concorda com o substantivo ao qual se refere, todavia o advérbio é invariável (sempre masculino singular), observe:

Ele fala bonito.4

advérbio

Ela fala bonito. l_____ i4

advérbio

Eles faiam bonito.4

advérbio

Elas falam bonito. • » 4

advérbio

físicoí u n

físico

Page 18: Livros poliedro   caderno 1 português

Facilmente, o adjetivo toma-se substantivo; basta indicar o Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos, de-ser e não a propriedade do ser. O uso de artigo é muito comum monstrativos, relativos, indefinidos e interrogativos. Observe o nesses casos: quadro a seguir.

Clossificafão

j. 17 Na frase, a palavra bonito mudou de classe gramatical (adjetivo tornou-se substantivo).

A palavra “bonito” atua na frase como substantivo. Observe, agora, estas outras frases:

Era um grande homem.

4formidável

Era um a lto ' funcionário.

f ; importante

Era um homem grande.I

corpo grande

Era um funcionário alto.4

grande estatura

O adjetivo pode variar de significado na mudança de posição. Anteposto ao substantivo, nos dois exemplos, ele assume valor subjetivo (opinião); posposto, tem valor objetivo (constatação).

A anteposição ao substantivo como recurso enfático

Que belò múlhert em vez de

Que mulher bela!

A anteposição destaca a qualidade do ser. Na tira a seguir, o adjetivo anteposto “importante” enfatiza o comunicado do governo.

pessoais possessivos demonstrativos \(1a, 2a, 3a) |i(1a, 2a, 3a) 1 (1a, 2a, 3a)eu, tu... meu, minha... i este, esta... |me, te, se... teu, tua... esse, essa...mim, ti, si... É seu, sua... aquele, aquela...r i áf 1 i j j j l i l i l l l l l

■ ■ ■ ■ ■

I

indefinidos interrogativos relativos| (3a) |(3a) que, qual...; algum, alguém... quem, que... onde, cujo...

tudo, nada... |qual, quanto... quem, quanto.muito, pouco... [...]

quantas...

f a[...1

imprego dos pronomes Pronome de tratamento

Os pronomes de tratamento indicam o interlocutor, portanto, com quem se fala. Conjugam-se na terceira pessoa e são incluí­dos entre os pronomes pessoais. Podem ser assim classificados:

• de tratam ento familiarOs pronomes você e vocês são utilizados para tratamento fa­

miliar, expressam intimidade, aproximação, informalidade. Seu uso está consagrado na linguagem oral e presente na escrita.

Fig. 18 Recurso enfático: anteposição ao substantivo.

PronomeA rigor, pronome é toda palavra que representa, substitui ou

acompanha um substantivo, referindo-se sempre a um ser e indi­cando uma pessoa do discurso: aquele que utiliza a língua no mo­mento da comunicação (eu, nós), aquele a quem a comunicação é dirigida (tu, você, vós, vocês, Vossa Senhoria, Senhor), aquele ou aquilo que não participa do ato comunicativo, mas é mencionado (ele, ela, aquilo, outro, qualquer, alguém etc).

• de tratam ento cerimoniosoSão pronomes de tratamento cerimonioso: senhor, senhora,

senhorita. No texto de Dalton Trevisan, o pronome é utilizado em letra maiúscula a fim de retratar a importância da mulher na vida da família e do enunciador; mais que respeitabilidade, esse pronome assume no contexto um valor afetivo.

Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia

de sua perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, nin­

guém os guardou debaixo da escada. Toda a casa era um corredor

deserto, até o canário ficou mudo.Dalton Trevisan. "Apelo", /n: Mistérios de Curitiba.

Rio de Janeiro: Record, 1979. p.73.

Em outros contextos, entretanto, esse pronome pode ser utilizado como efeito de distanciamento:

É A TE N Ç Ã O P Ã * U M IM P Ò jp ^ N T E

■ COMUjj$!?CADO q g re O V E R N O :

'Neste mandato nunca houve

desvio de verbas/

Page 19: Livros poliedro   caderno 1 português

à s 4:00 da m adrugadaA senhora sabe que horas eãofy

Mora para o senhor deixar de ser chato e

me dar um beijo! >

Fig, 19 Pronome de tratamento cerimonioso - afastamento.

• de reverência

Fig. 20 Pronome de tratamento.

Os pronomes de reverência são utilizados em contextos formais para altas autoridades públicas, membros da aristocra­cia e do clero. Podem ser agrupados da seguinte maneira:

A Igreja:Vossa Eminência (o cardeal)Vossa Reverendíssima (o sacerdote)Vossa Santidade (o papa)

A aristocracia:Vossa Alteza (o príncipe, o duque, o arqueduque)Vossa Majestade (o rei, o imperador)A presidência e as autoridades:Vossa Senhoria (funcionário público graduado, oficiais até

coronel, pessoas de cerimônia)Vossa Excelência (o presidente, altas autoridades do gover­

no e das Forças Armadas)

/ TEWÇÃOIOs pronomes de tratamento fazem a concordância em terceira pessoa. Utiliza-se "sua" (Sua Excelência) quando a autoridade está ausente; "vossa", quando se dirige a ela.

É especialmente interessante o caso do pronome de trata­mento você que, no Brasil, alcança status de pronome pessoal, usado em vez de tu. Embora substitua a segunda pessoa, ainda conserva características de pronome de tratamento, pois exige verbo na terceira pessoa.

Além de você, as palavras senhor, senhora, senhorita, ma- dame também são pronomes de tratamento, formas respeitosas pelas quais se reconhece ou se destaca o valor social do outro.

Os principais pronomes de tratamento são:

Vossa Alteza V. A. príncipes, duquesVossa Eminência V. Em.a cardeaisVossa Excelência V. Ex.a altas autoridades

Vossa Magnificência V. Mag.a reitores de universidades

Vossa Majestade V.M. reis, imperadores

Vossa Santidade V.S. papaVossa Senhoria V.S.® tratamento cerimoniosoVossa Reverendíssima V. Rev.ma sacerdotes

Tab 11 Pronomes de tratamento.

Os pronomes de tratamento podem criar efeitos de aproxi­mação ou distanciamento. Observe os exemplos a seguir:

- O doutor...- Eu não sou doutor, Senhor Melli.- Parlo assim para facilitar. Non é para ofender.

Alcântara Machado. Brás, Bexiga e Barra Funda.

Fig. 21 Efeito de aproximação.

Page 20: Livros poliedro   caderno 1 português

No diálogo, o pronome de tratamento “Senhor” cria um efeito de distanciamento entre os interlocutores, já no anúncio publicitário, temos um efeito de aproximação.

Os pronomes pessoais do caso reto e do caso oblíquo serão estudados em capítulo posterior.

Pronome possessivoOs pronomes possessivos podem expressar afetividade,

desprezo, ironia ou cálculo aproximado.

jy ^ llg l doce Bianca...

^ H ll idiota, não pise no meu pé!

querido... retire-se!

Tinha quinze anos...

Quanto mais econômica for a escrita, mais claro o texto ficará. Sendo assim, não é recomendável o excesso de posses­sivos (1) nem seu uso para partes do corpo (2). Veja:

(?) João foi ao teatro com seu pai.

João foi ao teatro com o pai.

(2) Minha cabeça dói.

A cabeça dói.

Há, ainda, situações nas quais o possessivo gera ambigüi­dade (3). É preciso desfazê-la:

(3a) A família de Adolfo Bastos comunica seu arrependimento.

4De quem? De Adolfo

ou da família?

Agora observe:

(3b) A família de Adolfo Bastos comunica o arrependimento deste.

Pronto! Está desfeita a ambigüidade.A posposição do pronome ao substantivo costuma ser

recurso enfático:

Neto meu não sai a essa horal

Na literatura, também se observa a posposição como recurso expressivo, algumas vezes como vocativo:

Mas vem! Os hinos meus, as canções minhas.Manuel Bandeira.

É necessário estar atento em relação à concordância entre os verbos, especialmente o imperativo, e os possessivos. Observe:

linguagem coloquial:

Vem, sua obra é digna!

* I2* 3»

linguagem culta:

Venha, sua obra é digna!

Na primeira fiase, falta concordância, o verbo está na segunda pessoa (Vem tu) e o pronome está na terceira. Já na segunda frase, verbo e pronome estão em concordância (outra possibilidade: Vem, tua obra). Quando um só possessivo deter­mina mais de um substantivo, concorda-se com o substantivo mais próximo:

Minha bússola e cantil de que tanto precisol

Pronome demonstrativoOs pronomes conhecidos como demonstrativos são usados

para indicar proximidade ou distância, isto é, a posição de algo ou de um ser em relação à pessoa gramatical do enunciador. Principais demonstrativos:a) o, a, os, as (= aquilo, aquele, aquela e flexões)

Quando eu te encarei frente a frente

não vi o meu rostochamei de mau gosto o que vi...

Caetano Veloso. "Sampa".

O pronome o em “o que vi” pode ser substituído por “aquilo”: chamei de mau gosto aquilo que vi...

b) este, esse, aquele...Há dois critérios a serem observados:

critério espacial• Próximo do emissor: este, esta, estes, estas, isto.

Esta caneta = Minha caneta

• Próximo do receptor: esse, essa, esses, essas, isso.Essa caneta = Tua caneta

critério temporal• Tempo presente em relação ao emissor: este, esta.

Esta noite está sendo inesquecível.

• Passado próximo em relação ao emissor: esse, essa.Essa noite foi inesquecível.

Page 21: Livros poliedro   caderno 1 português

CAPÍTULO 1 * Morfoiogia — Classes gramaticais W j

Marcadores de coesão1. V alores sem ânticos

O s dem onstrativos podem transm itir um a pluralidade de

valores sem ânticos como:

Em certas situações, um dem onstrativo pode substituir o

outro, note:

Rg. 26“Esse” no lugar de “este” para criar um efeito de distanciamento.

Rg. 27 “Este” no lugar de “aquele” para criar um efeito de aproximação.

Rg. 24 Admiração.

Rg. 28 “Este” no lugar de “esse” para criar ênfase:

2. Polissem iaVeja agora os valores que os demonstrativos “tal” e “mesmo”

podem assumir:• tal

Tal foi o assalto de que falei. (= esse)

Encontrei Samuel em tal situação no congresso de 94. (= se­

melhante)

• mesmoNo mesmo local, eu o vi. (= exato)

Ela é a mesma mulher, em todas as ocasiões. (= idêntica)

Eu mesmo voarei! (= em pessoa)

Ela estudou mesmo! (= de fato, como advérbio)

Rg. 22 Depreciativo.

Rg. 23 Malícia.

Rg. 25 Com valor temporal (= então).

0 assassino chegou, nisto o cacho^o rosnou.

Page 22: Livros poliedro   caderno 1 português

Os pronomes isso, esse, essa exercem função anafórica, retomam palavras, orações, períodos, parágrafos:

Nas estradas por que passei colhi flores e espinhos. Esses

acontecimentos tornaram-me mais sensível.

Já os pronomes isto, este, esta possuem função catafórica, isto é, introduzem palavras, orações, parágrafos. Criam expec­tativa em tomo do que vai ser mencionado.

São estas as pérolas da morte:

o fim e um novo começo/

Quando houver dois elementos, deve-se retomá-los por meio de este (o mais próximo) e aquele (o mais distante):

Carlota, a escrava, vem denunciar Carlota

livre, amaldiçoe esta, lembre-se daquela.

3. Aspectos gramaticais• Os demonstrativos “isto”, “isso”, “aquilo” podem ser asso­

ciados a advérbios, também chamados pronomes adverbiais demonstrativos:Isto ................ aquiIsso................ aíAquilo........... ali, lá

• Os demonstrativos de reforço “mesmo”, “próprio” concor­dam com o nome ao qual se referem:

Eles mesmos fizerpm o serviço.

Elas próprias denunciaram à polícia.

Em função adverbial, todavia, o demonstrativo “mesmo” permanece invariável:

Elas pintavam mesmo!

• São pronomes demonstrativos:este, esta, estes, estas, esse, essa, esses, essas, aquele, aque­la, aqueles, aquelas, mesmo, mesma, mesmos, mesmas, próprio, própria, próprios, próprias, tal, tais, semelhante, semelhantes, isto, isso, aquilo, o, a, os, as.

Pronome indefinidoOs indefinidos são utilizados para criar noções vagas, de

sentido impreciso ou de grande abrangência, como no exemplo a seguir.

Nas favelas, no Senado

Sujeira pra todo lado

Ninguém respeita a constituição

Mas todos acreditam no futuro da nação

Que país é este?Renato Russo. "Que país é este"?

Os indefinidos “todo”, “ninguém” e “todos” referem-se ao fato de que a corrupção é exercida por boa parte dos brasileiros, em todas as partes do país. Veja algumas particularidades:a) o indefinido “qualquer” possui plural atípico e, quando

posposto ao substantivo, é pejorativo.Respondam a quaisquer dúvidas.

E um homem qualquer...

b) “algum” e “alguma”, quando pospostos ao substantivo, as­sumem valor negativo.

Mulher alguma me ènganoul (alguma = nenhuma)

c) “todo” e “toda” seguidos de substantivos:• não seguido de artigo, significa “qualquer”:

Toda obra precisa ser avaliada com carinho.

• seguido de artigo, significa “inteiro”:

Toda a obra precisa ser avaliada com carinho.

d) “todo” e “toda”, antepostos ao adjetivo, significam “intei­ramente”.

NIISIGÜJEM

Fig. 29 Pronomes indefinidos.

Estava toda arrumada.

Page 23: Livros poliedro   caderno 1 português

e) os indefinidos são pronomes de terceira pessoa, alguns são variáveis, outros invariáveis. Veja a tabela a seguir:

Variáveis Invariáveis

masculino femininoalgum alguns alguma algumas alguém

nenhum nenhuns nenhuma nenhumas ninguém

todo todos toda todas tudo

outro outros outra outras outrem

muito muitos muita muitas nada

pouco poucos pouca poucas cada

certo certos certa certas

vário vários vária várias

tanto tantos tanta tantas

quanto quantos quanta quantas 1qualquer quaisquer qualquer quaisquer

Tab. 12 Pronome indefinido.

Além dos pronomes indefinidos, há também as locuções pro­nominais indefinidas: “cada um”, “cada qual”, “quem quer que”, “seja quem for”, “seja qual for”.

Pronome interrogativoHá dois aspectos importantes:

a) o interrogativo “que” possui variantes que objetivam a ênfase.

- O que você quer?

- Que que você quer?

b) nas interrogativas indiretas, não há ponto de interrogação.

Não sei quem é você.

Pronome relativo 0 uso dos relativos• que: emprega-se com referência a pessoa ou coisa; precedido

de o, pode referir-se a uma oração inteira.

MP quer o dinheiro que Pitta recebeu por livro.Jêtnal da Tarde, 14 fev. 2001.

que = dinheiroOs trabalhadores estavam dormindo, o que facilitou a busca,

que = Os trabalhadores estavam dormindo

Emprega-se preferencialmente esse relativo depois das preposições monossilábicas a, com, de, em (vide, a seguir, o emprego de o qual e flexões).• quem: emprega-se com referência a pessoas ou seres per­

sonificados.Eis a mulher a quem amei. quem = mulher

Esse relativo pode aparecer sem antecedente explícito. Em Investigo a quem investigas fica implícita a expressão aquele a quem (aquele como antecedente implícito).

• o qual (e flexões): substitui o relativo que com o propósito de dar mais eufonia à frase, ou de evitar uma interpretação ambígua (clareza). Compare as frases a seguir.

Eis a jogada de José, que todos devemos aplaudir.

Eis a jogada de José, a qual todos devemos aplaudir.

A primeira oração é ambígua, o relativo que pode recuperar jogada ou José. Já na segunda, o relativo a qual só pode recu­perar jogada.

Emprega-se esse tipo de relativo com as demais preposições essenciais ou acidentais (Eis o filme sobre o qual falávamos).

• cujo (e flexões): emprega-se como pronome adjetivo, isto é, sempre acompanhado de um substantivo, com o qual concorda em gênero e número; esse pronome eqüivale pelo sentido a do qual, de quem, de que (tem valor possessivo).

Eis o poeta de cuja obra falávamos. cujo = do poeta (obra do poeta)

A moça a cuja filha fiz referência é muito honesta. cuja = da moça (filha da moça)

• quanto: emprega-se com o antecedente tudo, todos, todas, que podem estar elípticos.

Em tudo quanto olhei fiquei em parte.Fernando Pessoa.

• onde, aonde, donde (ou de onde): são empregados quando o antecedente for lugar.

A cidade onde moro é linda.

O litoral aonde foste nâo é poluído.

Eis o país donde vim.

A tenção»O uso desses relativos obedece ao seguinte critério: onde: remete a algo parado, o verbo pede a preposição em (morar em);aonde: remete a algo em movimento, o verbo pede a prepo­sição a (foste a);donde: traz a ideia de origem, o verbo pede a preposição de (vim de).E comum esse tipo de pronome estar empregado inade­quadamente. Em Eu tive um diálogo ontem à noite, onde eu pude constatar a ignorância do meu vizinho, o conectivo adequado é quando (quando eu pude...), visto que não há antecedente com ideia de lugar.

Page 24: Livros poliedro   caderno 1 português

ArtigoÉ a classe gramatical que determina ou indetermina o subs­

tantivo. Há os definidos (o, a, os, as) e os indefinidos (um, uma, uns, umas). O artigo definido surge no latim vulgar e se origina do demonstrativo illu, illa. A consoante 1 é ainda observada em muitas línguas, como no francês (le, la), no castelhano (el, lo, la) e no ita­liano (il, lo, la)! A evolução dos definidos deu-se da seguinte forma:

illu>elo>lo>o;illos>elos>los>os;

illa>ela>la>a;illas>elas>las>as

E e/e o assassino de Marianal

atribuem ao substantivo a ideia de inteiro quando pospos- tos ao indefinido “tudo, todo, toda”:

atribuem a um ser a responsabilidade de um fato:

Todo dia ela cantava. Ela cantava todo o dia.

% % pr. subst.

Iqualquer dia

pr. art. subst.

o dia inteiro

No plural, mesmo com a presença do artigo, a ideia costu­ma ser de generalização: “Trabalho todos os dias”. Para que não haja generalização, é preciso um contexto que determine os dias: “Armando compareceu a todas as sessões marcadas”.

Rg. 30 São João Del Rei.

Na locução el-Rei, por exemplo, o artigo está apocopado (elo>el). O fenômeno explica nomes de cidade como São João Del Rei.

O artigo indefinido já aparecia no latim clássico na forma de numeral: unus. A evolução deu-se da seguinte maneira:

unu>fiu>um; una>üu>uma;unus>üos>üus>uns; unas>üas>umas

Valores semânticos do artigo definidoO artigo definido costuma assumir os seguintes valores se­

mânticos:* referir-se a um ser conhecido:

Leopoldo! Assaltaram a escola 11

O emissor utiliza o artigo definido “a”, pressupondo que o receptor conheça a escola.

* podem indicar conjunto, classe de seres:

A mulher ainda sofre preconceitos.

* podem intensificar o ser:

Ele é O ator, o melhor!

Valores semânticos do artigo indefinidoOs artigos indefinidos assumem os seguintes valores:

• podem indicar aproximação numérica:

Devia ter uns trinta anos, no máximo.

• podem qualificar positivamente ou negativamente o subs­tantivo:

Tinha uns olhos... os homens babavam...

• podem tomar a frase conotativa:

Meu lar é o jardim. Meu lar é um jardim.

¥ Vmora no jardim compara o lar a um jardim

• destacam a ideia quando acompanhados do indefinido “certo”:

O pai via no noivo da filha um certo ar de malandragem.

Emprego do artigo definidoNão se utiliza o artigo definido depois de “cujo”, antes de pro­

nome de tratamento (exceto senhor, senhora, senhorita e dona), antes de substantivo de sentido indeterminado e em provérbios:

Eis a mulher de cuja a filha falei, (errado)Eis a mulher de cuja filha falei, (certo)

A Vossa Excelência chamou? (errado)Vossa Excelência chamou? (certo)

Ela não lidava com o jovem, (errado)Ela não lidava com jovem, (certo)

Quem com o ferro fere com o ferro será ferido, (errado)Quem com ferro fere com ferro será ferido, (certo)

Page 25: Livros poliedro   caderno 1 português

Não se utiliza o artigo diante da palavra “casa” no sentido de moradia:

Jantará em casa?

Não se utiliza o artigo diante da palavra “terra” no sentido de terra firme:

ATENÇÃO!Se a palavra "terra" indicar o planeta ("Marcianos invadem a Terra") ou vier acompanhada de expressão qualificadora ("Voltamos da terra dos meus avós."), o artigo aparecerá.

Utiliza-se o artigo depois do numeral “ambos”:

Elogiaram ambos os compositores.

Utiliza-se o artigo para evitar a repetição de um substantivo.

Roubou o quadro de Picasso e o de Renoir.

Utiliza-se o artigo antes de estações do ano:

Vem chegando a primavera.

(quando qualificativos, são comumente usados sem artigo: “Noites de primavera”.)

Emprego do artigo indefinidoOs artigos indefinidos podem ser usados nas seguintes si­

tuações:

• introduzir a personagem:

No meio do ataque, surge um garoto apavorado. O garoto

estava com medo, os aviões eram pássaros da morte.

• realçar o substantivo:

Era uma beleza de ópera.

• introduzir os detalhes, as características do ser anterior­mente mencionados.

Na estação Vassouras, entraram no trem Sofia e o marido,

Crisfíano de Almeida e Palha. Este era um rapagão de trinta e dois

anos...Machado de Assis.

• indicar quantidade (quando empregados em contexto de contagem, tomam-se numerais).

Na indústria, havia uma gerente e duas secretárias.

Casos facultativosDiante de nome próprio:

Vi José no clube.

Vi o José no clube.

De modo geral, o emprego do artigo denota intimidade, to­davia, em certas regiões do país, a ausência do artigo também revela intimidade. Na região Sudeste, notadamente em São Paulo, é comum o uso de artigo definido diante de nome próprio, quando há intimidade:

O José chegou, rapaziada!

Já no Norte e Nordeste, mesmo havendo intimidade, é co­mum a ausência do artigo:

José chegou, gente!Trata-se de um caso de variante lingüística geográfica no

nível morfológico.Diante de possessivo:

Minha terra tem macieiras da Califórnia

Onde cantam gaturamas de Veneza

Os poetas da minha terra[...]Murilo Mendes.

ATENÇÃO!Este lápis é teu. Temos a simples ideia de posse.Este lápis é o teu. A posse é mais enfática, pressupõe-se aexistência de outros lápis.

Numeral

Classe de palavras que oferece ideia de quantidade, número exato de seres, coisas, ou ainda, a posição por eles ocupada Os numerais estão divididos em cardinais (indicadores de quantida­de), ordinais (indicadores de posição, ordem, hierarquia), fracio­nários (indicadores de fracionamento, divisão), multiplicativos

Já falei um bilhão de vezes que esse bilhão 6 meu!

Fig.3! Numeral.

Page 26: Livros poliedro   caderno 1 português

(indicadores de aumento proporcional, múltiplos). Os numerais cardinais indicam quantidade determinada (são invariáveis, exce­to “um” e “dois” e as centenas a partir de duzentos). Os ordinais indicam ordem ou posição (variam em gênero e número): “primei­ro”, “segundo”, “nonagésimo”, “milésimo” etc. Os multiplicativos indicam uma multiplicação (variam em gênero e número quando acompanham o substantivo): “duplo”, “dobro”, “triplo”, “cêntu- plo” etc. Os fracionários indicam quantidade em partes (variam em número de acordo com os cardinais com que se relacionam): “meio”, “metade”, “quarto”, “décimo”, “onze avos”, “centésimo”.

Classificação

O s numerais podem ser ;

c) No texto persuasivò, o numeral funciona como argumento prova-concreta.

No geral, o gasto do consumidor [estadunidense] subiu 2,2%

no segundo trimestre, em comparação à alta de 1,9% no primeiro.

A alta mais expressiva foi observada no setor de investimento resi­

dencial - que passou de uma queda de 12,3%, no primeiro trimes­

tre, para 25,7%, no segundo. Destaque para a alta de 17,2% dos

investimentos não residenciais (o aumento no primeiro trimestre foi

de 7,8%). A variação também foi positiva, de 24,8%, no consumo

de equipamentos e softwares.Folha de S.Paulo, 30 set. 2010.

<wwwl.folha.uol.com.br/mercado/807060-estados-unidos-revisam-o- -pib-do-segundo-trimestre-para-17.shtml>.

d) O emprego coloquial de grau aumentativo ou diminutivo cria efeito de aproximação, intimidade.

cardinaisumtrinta

ordinaisprimeirotrigésimo

fracionários meio um terço

multiplicativos dupto ou dobro triplo ou tríplice

Emprego dos numerais

a) Na linguagem literária, o numeral pode significar quanti­dade ilimitada.

Fig. 33 Emprego coloquial (diminutivo).

Fig. 32Quantidade ilimitada.

b) “Cincoenta”, “treis” e “hum” são admissíveis só em con­texto bancário.

Há cinqüenta homens, três mulheres e um adolescente.

Fig. 34 Emprego coloquial (aumentativo).

ATENÇÃO!* Os numerais catorze e bilhão apresentam dupla ortografia

(quatorze e bilião).• Como se escreve, por exemplo, em ordinal o numeral

8.569?Observe as duas maneiras:• oito milésimos, quingentésimo sexagésimo nono.* oitavo milésimo, quingentésimo sexagésimo nono.

Page 27: Livros poliedro   caderno 1 português

Numerais cardinais[...]

Como um brilhante que partindo a luz Explode em sete cofes

Revelando entâo os sete mil amores Que eu guardei somente pra ,te dar Luiza.

Tom Jobim. "Luiza".

Quanto ao emprego dos cardinais, observe:a) zero e ambos são numerais:

Os carros zero quilômetro sofreram dòmento novamente. Ambas as filhas quiseram fazer cursirího.

b) no início do período, deve-se escrever o numeral por extenso:

Duzentos presos fugiram da Casa de detenção.

c) ao preencher um cheque, não se esqueça de que não há vírgula e utiliza-se a conjunção “e-apenas antes de dezena e unidade:

R$ 340,00: trezentos e quarenta reo/s.R$ 2.340,00: dois mil trezentos e quarenta reais.R$ 3.340.442,00: três milhões trezentos e quarenta mil quatrocen­

tos e quarenta e dois reais.

d) quando há mais de dois conjuntos de três algarismos, usa-se a vírgula para separar cada grupo:

3.442.883.000: três bilhões, quatrocentos e quarenta e dois milhões, oitocentos e oitenta e três mil.e) quando o numeral é muito extenso, utiliza-se uma forma

mais sintética com o uso da vírgula:

O governo liberou 3,7 bilhões (três bilhões e 7 milhões) aos pequenos agricultores.

f) na escrita das horas, utiliza-se o símbolo da unidade após o numeral:11 h54min 3h4min2s 20^5min

Numerais ordinaisO primeiro me chegou como quem vem do florista Trouxe um bicho de pelúcia, trouxe um broche de ametista [...]O segundo me chegou como quem chega do bar Trouxe um litro de aguardente tão amarga de tragar [...]O terceiro me chegou como quem chega do nada Ele não me trouxe nada também nada perguntouU

ffihico Buarque. "Teresinha".

Quanto aos ordinais, observam-se as seguintes regras:a) abaixo de dois mil, devem ser escritos como ordinais:

1.845: milésimo octingentésimo quadragésimo quinto

b) Acima de dois mil, o milhar também pode ser lido como cardinal (ou ordinal):

2.043: dois milésimos (ou segundo milésimo) quadragésimo terceiro

c) Utiliza-se o numeral ordinal para o primeiro dia do mês:

Paris foi bombardeada! Primeiro de abril!!

Numerais multiplicativosAmazônia pode ter o dobro de espécies de pássaros do que

se pensava.

Rg, 36 Ilustrações mostram o uirapuru e o garrincha-trovão, espécies já bem conhecidas.

Cantos diferentes revelam que aves "iguais" são de espécies distintas.

Ouça pássaros da Amazônia e aprenda sobre a melodia que eles cantam.

Iberê Thenório. Globo Amazônia, Manaus. <www.globoamazonia.com/Amazonia/0„MUn 230075-16052/00.html>.

Os numerais multiplicativos são, como já vimos, aqueles que informam aumentos proporcionais, indicando ser múltiplos de outros:

2 dobro, duplo, dúplice

3 triplo, tríplice

Wm quádruplo

5 quíntuplo

6 sêxtuplo

7 sétupio

8 óctuplo

9 nônuplo

10 décuplo

11 undécuplo

12 duodécuplo

100 cêntuplo

Tafo. 13 Numerais multiplicativos.

Numerais fracionáriosCerca de um terço das mulheres é vítima de violência no Brasil,

diz ministra [Nilcéia Freire].Ala na Gandra. Agência Brasil.

> <www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2006/09/12/mate- ria.2006-09-12.1367127791 /view> .

Page 28: Livros poliedro   caderno 1 português

REPR

OD

UÇÃ

O.

O s num erais ditos fracionários são “m eio” (ou m etade) e

terço; os dem ais são expressos pelo uso do ordinal, po r exem ­plo (1/4: um quarto), (2/5: dois quintos), ou pelo cardinal acom ­panhado pela palavra avos (traduza essa palavra com o parte). Em “centavos”, por exem plo, são cem partes. O m esm o se dá em treze avos, quarenta avos, cinqüenta avos.

Considere as seguintes regras:a) o num erador é lido e escrito com o cardinal:

1— um quarto

b) o denom inador, se inferior ou igual a dez ou se o núm ero for redondo, deve ser lido com o ordinal:2 3 . , .— dois sétim os — tres vigésim os

c) o denom inador, se for acim a de dez e não representar nú­m ero redondo, deve ser lido com o cardinal, acom panhado

da palavra “avos” :

— cinco dezoito avos 18

—— sete duzentos e v in te dois avos 222

d) para dois ou três, há form as especiais para o denominador:1 . 1 2 J— um m eio - um terço — dois terços 2 3 3 v

Algarismos romanos

Fig. 36 Algarismo romano.

0 nome “algarismos romanos” deve-se ao sistema numérico criado pelos romanos para quantificar, ou seja, marcar as quanti­dades. Veja a seguinte correspondência.

1 = 1

V = 5

X = 10

L = 50

C = 100

D = 500

M = 1000

Considere agora três regras:

a) Se repetirmos os algarismos, teremos sua soma: i = i , n = 2 , m = 3 .

b) Se houver um algarism o m enor à esquerda, terem os um a

subtração: IV = 4.c) Se houver um algarism o m enor à direita, terem os um a

soma, então, V I = 6.

A o nos referirm os a determ inado núm ero hierárquico para reis, papas, séculos, capítulos, tom os, usam os os algarism os ro­manos, mas, durante a leitura, de 1 a 10, lerem os os num erais com o ordinais; de 11 em diante, passam os a usar os cardinais.

y^TENÇÃO!Se o num eral vier anteposto ao substantivo ou adjetivo, será sempre como ordinal que o lerem os.

Veja a tabela a seguir:

1 I um primeiro

2 II dois segundo

3 III três terceiro

4 IV quatro quarto

5 V cinco quinto

6 VI seis sexto

7 VII sete sétimo

8 VIII oito oitavo

9 IX nove nono

10 X dez décimo

11 XI onzedécimo primeiro, undécimo, onzeno

12 XII doze décimo segundo, dozeno

13 XIII treze décimo terceiro, trezeno

14 XIV catorze, quatorze décimo quarto

15 XV quinze décimo quinto

16 XVI dezesseis décimo sexto

17 XVII dezessete décimo sétimo

18 XVIII dezoito décimo oitavo

19 XIX dezenove décimo nono

20 XX vinte vigésimo

21 XXI vinte e um vigésimo primeiro

30 x x x trinta trigésimo

40 XL quarenta quadragésimo

50 L cinqüenta quinquagésimo

60 LX sessenta sexagésimo

70 LXX setentasetuagésimo,septuagésimo

80 LXXX oitenta octogésimo

90 XC noventa nonagésimo

100 C cem centésimo

Papa João Paulo II

Page 29: Livros poliedro   caderno 1 português

200 c c duzentos ducentésimo

300 c c c trezentos trecentésimo

400 CD quatrocentos quadringentésimo

500 D quinhentos quingentésimo

600 DC seiscentos seiscentésimo,sexcentésimo

700 DCC setecentos setingentésimo,septingentósimo

800 DCCC oitocentos octingentésimo

900 CM novecentos nongentésimo,noningentésimo

1.000 M mil milésimo

10.000 X dez mil décimo milésimo

100.000 c cem mil centésimo milésimo

1.000.000 M um milhão milionésimo

1.000.000.000 M um bilhão bilionésimo

Tab. 14 Numerais.

Numerais coletivos HNão tenho escolha, careta, vou descartar Quem não rezou a novena de Dona Canô Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor Quem não amou a elegância sutil de Bobô

Quem não é Recôncavo e nem pode ser reconvexoCaetano Veloso. "Reconvexo".

Alguns numerais indicam o período em que ocorre o evento ou o fato, trata-se de numerais coletivos. Veja alguns deles:

bíduo: dois dias milênio: mil anos

biênio: dois anos qüinqüênio: cinco anos

bimestre: dois meses semestre: seis meses

centúria: cem anos septênio: sete anos

década: dez anos trezena: treze dias

decênio: dez anos triênio: três anos

lustro: cinco anos quarentena: quarenta dias

quatriênio: quatro anos novena: nove diasTab. 15 Numeral coletivo.

Veja agora o numeral coletivo e as estrofes:

dístico: dois versos sextilha: seis versos

terceto: três versos oitava: oito versos

quadra: quatro versos nona: nove versos

quintilha: cinco versos décima: dez versosTab. 16 Numeral coletivo.

VerboÉ a classe gramatical que denota ação, estado ou fenômeno.

É a que possui mais acidentes gramaticais (variações de forma).

A temçãO!As vozes verbais estão inseridas na sintaxe e o estudo dos modos e tempos verbais está em capítulo posterior, por se tratar de matéria extensa.

Observe a tira a seguir.

Rg. 37 Vozes verbais.

No primeiro quadrinho, “conto” é verbo e “voto” é subs­tantivo. No segundo, “voto” é verbo e “conto” é o substantivo. O verbo aceita flexão no tempo (exceto o imperativo, o modo que traduz ordem, pedido), o substantivo não; o verbo faz o plural em “m” (contam, votam), o substantivo faz o plural em “s” (votos, contos). O verbo pode expressar ação, estado, mu­dança de estado, fenômeno da natureza; pode introduzir quali­dades, características de um ser. Veja o texto a seguir.

Um cantinho e um violão Este amor, uma canção Pra fazer feliz a quem se ama Muita calma pra pensar E ter tempo pra sonhar

Da janela vê-se o Corcovado O Redentor que lindoQuero a vida sempre assim com você perto de mim Até o apagar da velha chama E eu que era triste Descrente deste mundo Ao encontrar você conheci o que é felicidade meu amor

Tom Jobim. "Corcovado".

Nos dois primeiros versos, Tom Jobim emprega frases no­minais, sem verbo; no terceiro utiliza dois verbos de ação: fazer e amar. No quarto verso, Tom faz uso de um verbo que expressa ação mental, assim como no quinto verso (sonhar). O compo­sitor também emprega no final da canção verbo que introduz estado e qualidade, é o caso do verbo ser (“era triste”, “o que é felicidade”). Associado ao valor semântico que o verbo possui, há outros aspectos a serem considerados:

Pessoa• pessoa gramatical: eu, nós

Tirei o nó da depressão e fomos felizes.

Page 30: Livros poliedro   caderno 1 português

• pessoa gramatical: tu, vósCantaste a ópera; tu e a orquestra cantastes o público.

• pessoa gramatical: ele, ela, eles, elas Desfilou como se fosse a única no universo.

/ [ t e u ç â o i

No modo imperativo, não temos primeira pessoa; a terceira do singular é "você" e a terceira do plural, "vocês".

Tempo• presente - ação concomitante com o momento da enunciação.

Saio para a rua e bebo o veneno das fábricas.

• passado - ação anterior ao momento da enunciação.Conheci um homem que amou a poesia.

• futuro - ação posterior ao momento da enunciação.Terei o verso e a prosa no meu baú de mil segredos.

Modo• indicativo: de forma geral, expressa certeza.

Sou ave de rapina.

Reca Poletti.

• subjuntivo: de forma geral expressa dúvida, vontade, pos­sibilidade.Quiçá eu salte o trampolim da morte.

• imperativo: expressa ordem, pedido, sugestão.Vá ao Rei e peça perdão.

ATENÇÃO!Há ainda as formas nominais: infinitivo (amar), ação em sua potência; gerúndio (amando), ação em processo; parti- cípio (amado), ação encerrada.

Aspectualidade• aspectualidade durativa.

Ele mordia ferozmente o saco de pano.

• aspectualidade pontual.Pegou o revólver e o jogou no lixo.

• aspectualidade incoativa.Começou a festa das loucas.

• aspectualidade terminativa.Encerraram-se as inscricões oara o céu.

• Voz passiva: sujeito sofre a ação. Japão é goleado por Estados Unidos.

Goleia-se Japão.

Fig. 38 Advérbio (docemente).

Na primeira frase, há a locução verbal (“é goleado”); na se­gunda, temos apenas um verbo e a partícula “se”.

O que você acabou de ler é apenas um resumo para que você tenha uma noção dessa classe gramatical - o verbo. O assunto será abordado com mais profundidade no livro 3.

Advérbio

O advérbio é um caracterizador da ação verbal; dá ao verbo uma noção de tempo, lugar, modo, intensidade, negação, afir­mação e dúvida. Observe as letras abaixo:

Desesperadamente, eu sei que vou te amar.

Tom Jobim e Vinicius de Moraes.Porque o tempo, o tempo não para.

Cazuza e Amaldo Brandão.Em Tom Jobim, o advérbio caracteriza modo de amar; em

Cazuza, o advérbio nega a ação de parar. O advérbio também pode estar ligado a adjetivo, a outro advérbio ou a uma oração inteira.

Ela é muito inteligente, Geraldo! Fala muito bemll

Na primeira ocorrência, o advérbio liga-se ao adjetivo “in­teligente”; na segunda, liga-se ao advérbio de modo “bem”; em ambos os casos, o advérbio “muito” intensifica. Alguns advérbios relacionam-se a frases inteiras, são denominados de advérbios da enunciação (expressam um juízo de valor do enunciador), veja:

Obviamente que a terra é redonda, José, que pergunta!

Quando o Samba Acabou

fozesVoz ativa: sujeito pratica a ação.Estados Unidos goleia Japão.

incoativo: é início de processo; pontual designa ação repentina.

Lá no morro da Mangueira Bem em frente a ribanceira Uma cruz a gente vê

Quem fincou foi a Rosinha Que é cabrocha de alta linha E nos olhos tem seu não sei que

Page 31: Livros poliedro   caderno 1 português

Numa linda madrugadaAo voltar da batucadaPra dois malandros olhou a sorrir[ J

Noel Rosa.

Os advérbios e as locuções adverbiais são importantes para o texto, visto que estabelecem duas das três categorias do mun­do: tempo e espaço. No texto de Noel Rosa, por exemplo, as lo­cuções adverbiais de lugar (Lá no morro da Mangueira/ Bem em frente a ribanceira) identificam o local em que a história se passa. Já as locuções adverbiais de tempo “Numa linda madrugada” e “Ao voltar da batucada” instalam o tempo da ação. A instalação dessas duas categorias, com a categoria de pessoa, cria efeitos de realidade.

/^TENÇÂOlAs três categorias do mundo são: pessoa, tempo e espaço.

Algumas palavras denotativas de designação, realce, situ­ação, inclusão e exclusão apresentam valor adverbial. Embora não sejam advérbios, possuem emprego semelhante:

Todos concordaram, menos José.

*exclusão

Classificação dos advérbios

A Nomenclatura Gramatical Brasileira registra os seguintes casos:

tempo agora, ainda, amanhã, ontem, logo, já, tarde, cedo, outrora, então,

antes, depois, imediatamente anteriormente

etc.

lugar abaixo, ali, acima além, aí, aqui, cá, dentro, lá, avante atrás, fora, longe,

perto etc.

modo assim, bem, mal, \

adrede, asperamente I etc.

negação não, nunca, jamais,

tampouco etc.

T/d*

afirmação sim, decerto, realmentel

certamente, deveras, | efetivamente

etc.

dúvida talvez, acaso

quiçá, porventura, provavelmente, eventualmente

etc.

intensidade muito, assaz, pouco, bastante, demais, excessivamente, demasiadamente etc.

A classificação dos advérbios deve levar em conta o con­texto, ou seja, a oração:

Fala mal? Mal falai

t l modo Intensidade

Nas locuções adverbiais, a classificação é mais extensa, eis alguns exemplos:

Matou por amor. Andava a cavalo.lH.______ i '* f

modo meio

Cortou a peça com uma faca.

Iinstrumento

Veja algumas locuções adverbiais:

tempo às vezes, à tarde,

à noite, de repente, de súbito,

hoje em dia etc.

lugar à distância, de

longe, em cima, em volta etc.

dúvida por certo, com certeza etc.

meio Sempre andou

a cavalo.

condição Sem você, eu não vou.

mmmmumm

modo às pressas, às claras,

às cegas, à toa, à vontade, dessa maneira, de cor,

em vão etc.

afirmação sem dúvida, de fato,

por certo etc.

concessão Mesmo doente,

escrevia romances.

Flexão do advérbioÉ palavra invariável, não apresenta flexão de número ou de

gênero. Compare:

E/e chegou cedo.

Ela chegou cedo.

sem flexão: advérbio

Ele chegou atrasado.

Ela chegou atrasada.

com flexão: adjetivo

Page 32: Livros poliedro   caderno 1 português

Certos advérbios, contudo, podem ser empregados no grau e) A repetição do advérbio e a expressão de realce “é que” são comparativo e no grau superlativo. Veja: recursos enfáticos:

Falava mais docemente (do) que o irmão, comparativo de superioridade.

Falava menos docemente (do) que o irmão, comparativo de inferioridade

Falava tão docemente quanto o irmão, comparativo de igualdade

Comportou-se muito fielmente, superlativo absoluto analítico (uso de adv. deintensidade)

Comportou-se fldelissimamente: superlativo absoluto sintético (uso do sufixo -íssimo)

Para a expressão do superlativo relativo usa-se a correlação o mais (ou menos)... possível.

Traçar o mais fielmente possível os objetivos.

Emprego do advérbioa) Alguns adjetivos podem funcionar como advérbios:

LIVRO: O CONHECIMENTO QUE DESCE REDONDO!

Beba cultura num cálice de letras, o livro embriaga a alma dos

curiosos.

Ela fala gostoso.As crianças escrevem errado.

b) A exemplo dos adjetivos, o advérbio e a locução adverbial podem traduzir uma sanção positiva ou negativa:

Andava elegantemente pelo salão.

*sanção positiva

c) Quando há vários advérbios terminados em -mente, utiliza-se o sufixo apenas no último:

Levava a vida pacífica e honradam ente.

d) A utilização do sufixo -inho para os advérbios é coloquial e eqüivale à forma superlativa:

Acordou cedinho e saiu devagarinho.

("muito cedo", "bem devagar")

Vem logo, logol

Eu é que falol

f) Advérbios como “aí” e “aqui” podem funcionar em lingua­gem coloquial como advérbios de tempo:

Termino por aqui, o mês que vem dou prosseguimento.O filme estava ótimo, e a í a campainha tocou.

g) Em frases interrogativas, usamos advérbios interrogativos:

Por que feriste? (causa)

Onde caíste? (lugar)

Como jogaste? (modo)

Quando falaste? (tempo)

h) Algumas formas diminutivas assumem o valor do superla­tivo absoluto:

Estudava pertinho da mõe. Partiremos cedinho. (muito perto,

muito cedo)

i) Além de marcadores espaciais e temporais, os advérbios podem assumir a função anafórica - recuperar palavras - ou catafórica - introduzir palavras:

• Função anafórica:

O assalto ocorreu em Copacabana, zona sul do Rio. Lá a paz está ameaçada.

Em Copacabana: termo a ser recuperado.L á : anafórico.

• Função catafórica:

Você sabe onde eu queria estar? Aqui: na página da apostilal

Cansei de escrever, quero ser palavra; palavras nõo possuem fra­

quezas, palavras viajam pelo tempo e pelo espaço.

Aqui: catafóricoNa página da apostila: termo introduzido pelo catafórico.

Os catafóricos podem criar o efeito da expectativa:

Lá a vida é um paraíso, lá nõo há injustiça, lá o homem respeita

o próximo, lá "a vida tem mais flores, mais amores" e menos guerras. De que se fala? Do texto, claro, no texto tudo é possível. É só escrever.

Page 33: Livros poliedro   caderno 1 português

PreposiçãoÉ a classe gramatical que subordina um termo da frase a

outro:Mistura sua laia, ou foge da raia.

Ultraje a Rigor. "Nós vamos invadir sua praia".

contração (de + a)

4 ^Foge *da raia.

I *antecedente conseqüente

ClassificaçãoEssenciais: só atuam como preposições,

a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, perante, por, sem, sob, sobre.

Entre mim e ti, pairam sombras do passado.

Acidentais: podem pertencer a outra classe de palavra, afora, consoante, durante, exceto, fora, mediante, segundo, se­não, tirante, visto

Exceto eu, todos estão livres!

Emprego da preposifãoa) Como liga um termo a outro, a preposição é instrumento de

interpretação de texto. Compare:

O trabalho Pedro prejudicou.

Há ambigüidade, não se sabe quem é o sujeito da oração, “trabalho” ou “Pedro”?

Ao trabalho Pedro prejudicou.

Pedro é o sujeito, pois não há sujeito com preposição.

b) As preposições essenciais são empregadas com os prono­mes pessoais oblíquos tônicos:

Lutou contra mim.

Não cantava sem mim.

Falava de ti.

c) As preposições acidentais são empregadas com os prono­mes pessoais do caso reto:

Todos vieram, salvo tu.

Fora eu, todos compareceram.

d) A preposição “a” pode introduzir:• o complemento do verbo:

Assistia a todas as aulas.

• o complemento de um adjetivo:Era semelhante a uma rosa delicada. I

• o complemento de alguns substantivos:A obediência ao pai, Jair!

• complementos circunstanciais (locuções adverbiais):Ao cemitério iam os romeiros.

• orações subordinadas:A permanecer assim, retiro a candidatura!

• adjuntos adnominais:O motor a álcool rende mais.

e) “Segundo”, “conforme”, “mediante” e “consoante” não ad­mitem pronome pessoal.

não existe: existe:

Consoante tu... Consoante tua nobreza...

f) Não se faz a contração da preposição com o artigo quando este fizer parte do sujeito a seguir:

Estava na hora de o jogo melhorar.("o jogo" = sujeito de "melhorar")

g) A preposição “sob” dá ideia de “noção” em textos como:

Divergia sob todos os aspectos da irmã.

h) “Perante” é intensivo de “ante”, dá ideia de “espaço” e de “noção”:

Perante despotismo tão declarado.

i) A preposição “até” pode indicar limite de tempo, espaço ou ainda inclusão:

Foi até a prisão.

Durou até setembro.

Até o Firmino participou!

j) A omissão da preposição quando ela é necessária é consi­derada erro de regência.

• uso coloquialTive a impressão que haveria feriado.

• uso cultoTive a impressão de que não haveria feriado.

Aspectos semânticosa) As preposições podem estabelecer inúmeras relações. As

mais freqüentes são: companhia: Vá com Deus! lugar: Bebiam na praça.

Page 34: Livros poliedro   caderno 1 português

tempo: Em dezembro de 64, o país agonizava.causa: Gritava de dor.posse: A vez dele ninguém notou.finalidade: Saiu para lutar.oposição: Era contra todos.ausência: Estava sem fome.origem: Ele veio lá do sertão.direção: Foi ao presídio.

b) A mudança de preposição pode implicar mudança de sentido:

Os homens que bebiam no bar eram homens de bar.

A preposição “em” (“no bar”) indica caráter passageiro; já a preposição “de”, caráter permanente.

c) Alguns valores semânticos da preposição “a”:

la da calçada ao paredõo. (extensão)

Encostado ao carro, observava-me. (proximidade)Fugiu à chegada da polícia, (tempo)

Falava à gaúcho, (modo)

Comprava a cem reais, (preço)

A aluno, paciêncial (condição)Jogou-me ao chão. (direção)

d) Alguns valores semânticos da preposição “com”:

Jantaram com o filho, (companhia)

Martelava com o pedaço de ferro, (instrumento)Morreu com um ataque cardíaco, (causa)

Estava em conflito com o Congresso, (oposição)

e) Alguns valores semânticos da preposição “de”:

Viemos de São José dos Campos, (procedência)

Felizes de trabalhar no filme, cantavam, (causa)

Falou de literatura o tempo todo. (assunto)

Vivia de farinha e feijão, (meio)

De noite, era vampiro, (tempo)

f) Alguns valores semânticos da preposição “em”:

Dirigia em ritmo de fórmula 1. (modo)

O rombo foi avaliado em um bilhão, (preço)

Converteu-se em muçulmano, (mudança de estado)

g) Alguns valores semânticos das preposições “para” e “por”:

Por aqui, viveu o poeta, (lugar)

Suportei por cinco anos um sofrimento imenso, (tempo)

A bússola apontava para o sul. (direção)

Feito para mulheres ardentes, (finalidade)

Vamos para a faculdade? (lugar)

h) As preposições “sob” e “sobre”:

Estavam sob a mesa. (posição inferior)

Estavam sobre a mesa. (posição superior)Atirou-se sobre o divã. (direção)Falava-se sobre tudo. (assunto)

Locução prepositivaÉ o conjunto de duas ou mais palavras que possuem valor

de preposição. Bom lembrar que a última palavra desse conjun­to deverá ser sempre uma preposição:abaixo de, acerca de, acima de, ao lado de, a respeito de, de acordo com, dentro de, embaixo de, em cima de, em frente a, em redor de, graças a, junto a, junto de, perto de, por causa de, por cima de, por trás de.

A tençâoiObserve o emprego das seguintes locuções: em vez de: no lugar de. ao invés de: ao contrário de. ir ao encontro de: é compatível. ir de encontro a: não é compatível.

Combinações e contrações das preposiçõesAlgumas preposições acabam por se ligar a outras pala­

vras de outras classes gramaticais e, com isso, formam outros vocábulos. Existem dois tipos de ligações:

• por combinação: ocorre quando a preposição, ao se unir a outro vocábulo, não possui nenhum fonema omitido, manten­do integralmente todos os seus sons. Forma-se quando a pre­posição “a” se encontra com os artigos “a”, “o”, “os” e “as”.

por contração: ocorre quando a preposição, ao se unir a outro vocábulo, sofre modificações fonéticas: do, das, dos, das; num, nuns, numa, numas; disto, disso, daquilo; na­quele, naqueles, naquela, naquelas; pelo, pelos, pela, pelas.

Artigos definidos0 a os as

a ao à aos àsde do da dos dasem no na nos naspor pelo pela pelos pelas

Tab. 17 Preposições (combinações e contrações).

Artigos indefinidos

um '1 uma uns umas

em num numa nuns numas

de dum duma duns dumas

Tab. 18 Preposições (contrações).

Page 35: Livros poliedro   caderno 1 português

Dá-se o nome de crase à contração do artigo “a” com a preposição “a”.

Evita-se a contração da preposição com o artigo em duas situações:

• Quando o artigo fizer parte do sujeito que vem a seguir:

Está na hora de a onça beber água. ("a onça" é sujeito de "beber").

• Quando o artigo fizer parte do título:

Li a notícia em O Estado, (o nome dó jornal é O Estado de

S. Paulo).

Coesão e preposiçãoA preposição subordina um termo ao outro, como já foi

dito. O termo que comanda a preposição pode ser chamado “termo regente” e o comandado, “regido”. Em “gosto de você”, o regente é o verbo; o regido, o pronome de tratamento. Se re­gente e regido estiverem distantes um do outro, haverá falha na coesão textual, a ligação malfeita. Veja 0 texto a seguir:

Dá-se chance a garoto com curso primário completo, que saiba

conversar com adultos, de cu idar de enfermos em descanso na praia.

No período anterior, o regente “chance” está muito distante do regido “de cuidar”, acarretando um problema de coesão; o período estaria mais bem escrito desta forma:

Dá-se a garoto, com curso primário completo, que saiba con­

versar com adultos, chance de cu id a r dé enfermos em descanso

na praia.

ConjunçãoSegundo o gramático Rocha Lima, as conjunções são pa­

lavras que ligam elementos da mesma natureza (substantivo + substantivo, oração + oração, por exemplo) ou de natureza di­versa. Dão uma direção argumentativa ao texto:

Era bonita e ambiciosa, uma graça!

Era bonita, mas ambiciosa.

N a primeira oração, a conjunção “e” acrescenta uma qua­lidade. Na segunda, os adjetivos “bonita” e “ambiciosa” são colocados em oposição, como se a segunda qualidade fosse negativa e a primeira, positiva.

Classificação das conjunçõesAs conjunções estão classificadas em coordenativas e

subordinativas; as primeiras ligam orações não dependentes, sintaticamente equivalentes; as segundas ligam orações que se subordinam hierarquicamente, ou seja, unem uma principal

a seus desdobramentos (as subordinadas). As conjunções se­rão retomadas no estudo do período composto (sintaxe).

Conjunções coordenativas Aditivas

Expressam soma, adição: e, nem, não só... mas também.

Saio feliz e volto cansada.O rapaz nõo fica ne r

AdversativasExpressam contras

rém, todavia, contudo,

Estarei em casa, contudo estarei ocupada.

AlternativasExpressam exclusíi

ou...ou, ora...ora, quer.

Ora está alegre, orà está triste.

CondusivasExpressam conclu|s

isso, por conseqüência

Ela é muito nova, portanto está proibida de sair.

ExplicativasExpressam razão, rhotivo: porque, que, pois (antes do verbo).

Nõo brinque com is Comam bastante, q

Conjunções subordinativas

IntegrantesServem para intro

seja substantiva: que, s

Ela me disse que vo Nõo sei se devo faz

CausaisIntroduzem oraçõ'

porque, que, pois, vist pre em início de oraçã<

Como estivesse can

Nõo falei nada por<b

ComparativasIntroduzem oraçõc

comparação: que, do qu lhor, pior), como:

João teimou como um burro.

te ou oposição de pensamento: mas, po- entretanto, no entanto.

o ou alternância de pensamentos: ou, .quer, seja...seja.

são de pensamento: portanto, logo, por pois (após o verbo), assim.

so, porque será fatal, ue comer faz crescer.

duzir orações subordinadas cuja função e.

Itaria amanhã, er o exame.

s subordinadas que exprimem causa: ) que, já que, uma vez que, como (sem-

>):

sada, preferiu dormir,

ue ela gritou.

s subordinadas que exprimem ideia de le (após mais, menos, maior, menor, me-

Page 36: Livros poliedro   caderno 1 português

ConcessivasIntroduzem orações subordinadas qiln

trário ao que se encontra na oração princ ficiente para anulá-lo: embora, ainda qu que, posto que, por mais que, por men< por pior que, por melhor que, por pouco

e exprimem fato con- ipal, ainda que não su- s, mesmo que, se bem >r que, por maior que, que, conquanto:

Vou viajar em abril, mesmo que nõo tenha dinheiro.

CondicionaisIntroduzem orações subordinadas qiii

hipótese ou suposição para que o fato s seja realizado: se, caso, contanto que, menos que, a não ser que:

Se mamãe vier, viajo.

Desde que comesse, eu cozinharia.

e exprimem condição, nunciado da principal

salvo se, desde que, a

ConformativosIntroduzem orações subordinadas q

cipal, exprimem ideia de concordância, me, consoante, segundo, como:

Conforme disse, espero esta vaga.

Lie, em relação à prin- :onformidade: confor-

ConsecutivasIntroduzem orações subordinadas qüi

ências, efeitos do que é enunciado na orai (depois dos reforçativos tão, tanto, tami de modo que, de maneira que, de forma

Foi tamanha a emoção, que desatou c Ela falou tanto, que perdeu a voz.

TemporaisIntroduzem orações subordinadas què

tempo: quando, logo que, depois que, antes que, até que, assim que, enquanto, mal:

A luz apagou, mal o filme começara. Enlouquecemos de tristeza, assim que soubemos da tragédia.

FinaisIntroduzem orações subordinadas que indicam uma finali­

dade: para que, a fim de que:

Estudamos bastante a fim de que pass

ProporcionaisIntroduzem orações subordinadas

neidade: à proporção que, à medida que mais, quanto menos, quanto menor, qua lhor, quanto pior.

e expressam consequ- ção dita principal: que iho, tal), de sorte que,

que:atil

expressam a ideia de que, sempre que, desde

óssemos no vestibular.

que revelam simulta- ao passo que, quanto

tito maior, quanto me-

Coesão e coerênciaA conjunção é um importante elemento de ligação, pois

relaciona palavras, expressões e orações. Ademais, dá uma di­reção argumentativa ao texto, transmite ideias, possui um valor semântico. E preciso, pois, ter cuidado com sua colocação para que não haja um erro de coerência. Por exemplo:

O governo fará grandes investimentos na Saúde, embora haja

muitos hospitais em situação alarmante.

O período possui coesão, mas não possui coerência. A conjunção subordinativa adverbial “embora” estabelece uma oposição que não existe; o fato de fazer grandes investimentos pressupõe que haja muitos hospitais em estado alarmante. Sem grandes alterações, o mais adequado é utilizar uma conjunção explicativa, para que a frase tome-se coerente.

O governo fará grandes investimentos na Saúde, pois há mui­tos hospitais em situação alarmante.

Polissemia das conjunçõesPolissemia é o fato de a palavra assumir vários significados.

Observe alguns casos.

Mas• Terás o descanso, mas apenas uma semana, (restrição)• Entrou numa faculdade particular, mas arrependeu-se e fez

o cursinho novamente, (retificação)• Estava nervoso, mas dissimulava com sorrisos forçados,

(atenuação)• Investiu muito, mas perdeu tudo. (não compensação)• Mas a CPI? Acabou em pizza? (situação, assunto)

EEstudou muito e não foi bem na prova, (oposição)Estudou muito e entrou na USP. (conseqüência)Era mulher, e muito mulher! (explicação enfática)Saiu do serviço e foi à loja. (adição)E a CPI dos Correios? Alguma notícia pelos correios? (situação, assunto)

ComoEscrevia como poeta, (comparação)Como era estudante, não pôde assumir o cargo, (causa) Jogou como o técnico o orientou, (conformidade)

SeSe não foi um insulto a todos, ainda sim revoltou a todos, (concessão)Se não sair, eu paro o trabalho! (condição)

Quanto mais preciso de dinheiro, mer os ganho.

À medida que economizava, sentia mais prazer em viver.

Page 37: Livros poliedro   caderno 1 português

Fig. 39 Interjeição (“ai” e “meu Deus”).

É palavra invariável, expressa sentimentos e emoções, sen­sações ou estados de espírito repentinos. Com elas, ou por meio delas, o emissor manifesta ao interlocutor o que sente. Algumas são apenas ruídos que variam de língua para língua, e revelam, inclusive, proximidade afetiva. Outras, na forma de locuções in- terjetivas, são expressões idiomáticas sem significado específico, a não ser em contexto próprio. As mais importantes inteqeições são:

Alegria: oh!, ah !, oba!, viva!Advertência: cuidado!, calm a!, atenção!, devagar!Espanto, surpresa: ua i!, opa!, eba!, caram ba!, céus!,

xi!, meu Deus!, gente!, hein?!

Alívio: ufa!, arre!Animação: coragem!, avante!, força! Chamamento: alô !, o lá!, psiu!, ó! socorro! Aplausos: viva!, b is!, parabéns!Aversão, repúdio: credo!, ih !, xi!Cessação: alto!, basta!, chega!Desejo: tom ara!, oxalá!, pudera!, viva! morra! Dor: a i!, ui!Impaciência: puxa!Incredibilidade: qual!, ora!Reprovação: francamente!Silêncio: psiu! silêncio!

AExemplos de locuções interjetivás:• Macacos me mordam!• Valha-me Deus!• Quem me dera!• Puxa vida!

Texto para as questões de 1 a 15.

Hoje você é quem manda E a gente se amando Sem lhe pedir licençaFalou, tá falado Sem parar E eu vou morrer de rirNõo tem discussão Que esse dia há de virA minha gente hoje anda Quando chegar o momento Antes do que você pensaFalando de lado Esse meu sentimentoE olhando pro chão, viu Vou cobrar com juros, juro Apesar de vocêVocê que inventou esse estado Todo esse amor reprimido Amanhã há de serE inventou de inventar Esse grito contido Outro diaToda a escuridão Esse samba no escuro Você vai ter que verVocê que inventou o pecado Você que inventou a tristeza A manhã renascerEsqueceu-se de inventar Ora, tenha a fineza E esbanjar poesiaO perdão De desinventar Como vai se explicar

Você vai pagar e é dobrado Vendo o céu clarearApesar de você Cada lágrima rolada De repente, impunementeAmanhã há de ser Nesse meu penar Como vai abafarOutro dia

Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia Inda pago pra ver O jardim florescer Qual você não queria

y/ni ço nmnrnnr

Nosso coro a cantarEu pergunto a você Onde vai se esconder Da enorme euforia Como vai proibir Quando o galo insistir

Na sua frente

Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia

Em cantar Você vai se dar malÁgua nova brotando

VULC VUI oCT Ul/IUIUUI

Vendo o dia raiarEtc. e tal

Chico Buarque. "Apesar de você"

Page 38: Livros poliedro   caderno 1 português

D Leve em consideração o excerto:Ho/e você é quem manda Falou, tá falado Nõo tem discussão A minha gente hoje anda Falando de lado E olhando pro chão, viu Você que inventou esse estado E inventou de inventar Toda a escuridão Você que inventou o pecado Esqueceu-se de inventar O perdão

Apesar de você Amanhã há de ser Outro dia [...]

Cite dois substantivos que entram em oposição semântica.Interprete-os à luz do contexto.

D Extraia do texto dois adjetivos que, em outro contexto, poderiam funcionar corno verbo. O que eles possuem em co­mum do ponto de vista fonético e semântico?

D Que efeito de sentido o artigo definido dá à passagem “A minha gente hoje anda...”?

D Ao longo do texto, o poeta emprega o pronome “esse”. Por se tratar de um pronome de segunda pessoa, o seu empre­go cria efeito de sentido; diga qual é.

D Cite um substantivo em que a ortografia ajuda a construir _____uma ambigüidade. Dê as duas interpretações. H Qual é o sentido contextual de “você”? Que tipo de pro- ____________________________________________________________________ nome está em jogo?

D Leia o excerto abaixo.Esse meu sofrimento

Vou cobrar com juros, juro

Todo esse amor reprimido

Esse grito contido

Este samba no escuro

Você que inventou a tristeza

Ora, tenha a fineza

[...]

Reúna do excerto acima três substantivos abstratos de caráter disfórico e identifique aquele que expressa uma ação.

B I Explique como o poeta cria do ponto de vista morfológico o verbo “desinventar”? O que ele significa no contexto?

O Que advérbios são utilizados pelo autor para se referir a um momento disfórico e a outro eufórico? O que eles represen­tam no contexto?

O autor cria um jogo de palavras de modo que a pala- _____vra “juro” assuma dois sentidos. Explique os dois significados m Qual o objetivo do autor ao empregar a dupla negação associando-os a uma classe gramatical. em “Não tem discussão, não ”

Page 39: Livros poliedro   caderno 1 português

E l Dô o significado contextual das locuções adverbiais Dl Explique o valor semântico da locução “apesar de” em

presentes em “Falando de lado e olhando pro chão”. “Apesar de você amanhã há de ser outro dia”.

Indique o valor semântico que as preposições em grifo 1 9 Como se pode interpretar a frase citada na questão

introduzem para o que vem a seguir. anterior?

a) Falando de lado e olhando pro chão. -------------------------------------------------------------------------------------

b) E a gente se amando sem parar.

Exercícios propostos

■ I Unimep O plural de fogãozinho e cidadão é:

i) fogãozinhos e cidadãos. (d; fogõezinhos e cidadões.

fogãosinhos e cidadãos, (e) fogõesinhos e cidadões.

fogõezinhos e cidadãos.

H Assinale a única frase em que há erro no que diz respeito

ao gênero das palavras.

:■ O gerente deverá depor como testemunha única do crime.

A personagem principal do conto é Seu Rodrigues.

Ele foi apontado como a cabeça do motim.

3) O telefonema deixou a anfitriã perplexa.

i ) Comprei a cal.

E l Dadas as palavras:1. esforços 2. portos 3. impostos

Verificamos que o timbre da vogal tônica é aberto:

apenas na palavra 1. (d: apenas nas palavras 2 e 3.

apenas na palavra 2 . <e) em todas as palavras,

apenas na palavra 3.

K l Inime Classificam-se como substantivos as palavras des­tacadas, exceto em:

0 “... o idiota com quem os moleques mexem...”

)} “... visava a me acostumar à morna tirania..."

:) “... Adeus, volto para meus caminhos...”

i) “conheço até alguns automóveis...”

i) “... todas essas coisas se apagarão em lembranças...”

D Acafe (Adapt.) A alternativa em que o plural dos nomes

compostos está empregado corretamente é:

pé de moleques, beija-flores, obras-primas, navios-escolas. pés de moleques, beijas-flores, obras-primas, navios-escolas. pés de moleque, beija-flores, obras-primas, navios-escola.

f pé de moleques, beija-flores, obras-primas, navios-escola. pés de moleque, beija-flores, obras-primas, navio-escolas.

Leia a frase a seguir e responda às questões 6 e 7.

Umo violenta ventania atingiu o bairro.

Há na frase citada dois grupos nominais; dê os respec­tivos núcleos.

D Que classificação morfológica recebem essas palavras?

1 3 A palavra destacada está incorretamente flexionada na frase:

Quaisquer que fossem as medidas, eles as impugnavam.

Os beija-flores a í estão, desfrutando a primavera.

Os móbiles estavam presos por cordeizinhos.

São beijos-de-frade - explicou-me, apontando as ervas.

Dois dos guarda-roupas estavam infestados de cupins.

2 | Mas aquele pendâo firme, vertical, beijado pelo vento do

mar, veio enriquecer nosso canteirinho vulgar com uma força e uma

alegria que fazem bem.Rubem Braga.

Page 40: Livros poliedro   caderno 1 português

Suponha que o início desse período seja: “Mas aqueles...”. Reescreva o período, fazendo apenas as alterações que se tor­

narem gramaticalmente necessárias.

Dl O gosto pelo vinho é inerente às pessoas daquela região.

O termo destacado significa, no texto:

i) natural nas. (d) cultivado pelas.

(b) estranho nas. (e) difundido pelas.

(c) inaceitáveis nas.

e h ITA Os superlativos absolutos sintéticos de comum, so­berbo, fiel, miúdo são, respectivamente:

a) comuníssimo, super, fielíssimo, minúsculo.

(b) comuníssimo, sobérrimo, fidelíssimo, minúsculo.

:) comuníssimo, superbíssimo, fidelíssimo, minutíssimo.

j) comunérrimo, sobérrimo, fidelíssimo, miudérrimo.

3) comunérrimo, sobérrimo, fielíssimo, minutíssimo.

m ITA Os adjetivos correspondentes aos substantivos:

1. enxofre; 2. chumbo e 3. Pratasão, respectivamente:

1. sulfúreo; 2. plúmbeo e 3. argênteo.Verificamos que está(ão) correta(s):

(a) apenas 1 .(b apenas 2 .

(c) apenas 3.

(d) apenas 2 e 3.

(e) todas as afirmações.

m ITA Os adjetivos lígneo, gípseo, níveo, braquial signifi­

cam, respectivamente:

3) lenhoso, feito de gesso, alvo, relativo ao braço.

(b) lenhoso, rotativo, nivelado, relativo ao crânio.

(c) lenhoso, rotativo, abalizado, relativo ao crânio.

(d) associado, rotativo, nivelado, relativo ao braço.

3) associado, feito de gesso, abalizado, relativo ao crânio.

D l ESPM Dê os adjetivos equivalentes às expressões em destaque.

a) Programa da tarde.b) Ciclo da vida.c) Representante dos alunos.

Unimep O adjetivo está malflexionado em grau em:(a) livre: libérrimo.

(b) magro: macérrimo.

(c) doce: docílimo.(d) triste: tristíssimo.

(e) fácil: facílimo.

Dl Cesgranrio Assinale a alternativa em que o termo cego(s)

é um adjetivo.

(a) “Os cegos, habitantes de um mundo esquemático, sabem

aonde ir...”

(b) “O cego de Ipanema representava naquele momento todas

as alegorias da noite escura da alma...”

:) Todos os cálculos do cego se desfaziam na turbulência

do álcool.”

(d) “Naquele instante era só um pobre cego.”

(e) "... da Terra que é um globo cego girando no caos.”

Dl Aponte a alternativa incorreta quanto à correspondência

entre a locução e o adjetivo:

(a) glacial (de gelo); ósseo (de osso).

(b) fraternal (de irmão); argênteo (de prata).

(c) farináceo (de farinha); pétreo (de pedra).

(d) viperino (de vespa); ocular (de olho).

(e) ebúrneo (de marfim); insípida (sem sabor).

O Unimep Em algumas gramáticas, o adjetivo vem definido

como sendo “a palavra que modifica o substantivo”. Assinale a

alternativa em que o adjetivo destacado contraria a definição.

(a) Li um livro lindo.

(b) Beber água é saudável.

(c) Cerveja gelada faz mal.

(d) Gente fina é outra coisa.

(e) Ele parece uma pessoa sim pática.

D l UFU Em uma das frases, o artigo definido está emprega­do erroneamente. Em qual?

(a) A velha Roma está sendo modernizada.

(b) A “Paraíba” é uma bela fragata.

(c) Não reconheço agora a Lisboa de meu tempo.

(d) O gato escaldado tem medo de água fria.

(e) Muita é a procura, pouca é a oferta.

m Fatec Indique o erro quanto ao emprego do artigo.

(a) Em certos momentos, as pessoas as mais corajosas se

acovardam.

(b) Em certos momentos, as pessoas mais corajosas se aco­vardam.

(c) Em certos momentos, pessoas as mais corajosas se aco­

vardam.

(d) Em certos momentos, pessoas mais corajosas se acovardam.

(e) n.d.a.

o U.MET Assinale a alternativa em que há erro.

(a) Li a notícia no Estado de S. Paulo.

(b) Li a notícia em A Notícia.

Page 41: Livros poliedro   caderno 1 português

(c) Essa notícia, eu a vi em A Gazeta.

(d) Vi essa notícia em O Imparcial.

(e) Foi em O Globo que li a notícia.

WJ/M U. MET. Assinale a alternativa em que o uso do artigo não

obedece à norma culta.

(a) O major queria a escravidão.

(b) A Ouro Preto dos inconfidentes festejava seu aniversário.

(c) A Alemanha vivia seus dias de terror.

(d) O Japão venceu a Dinamarca.(e) Tive a impressão das moças chorarem.

Fasp Ele obteve o (123°) lugar:(a) centésimo vigésimo terceiro.

(b) centésimo trigésimo terceiro.

(c) cento e vinte trigésimo.

(d) cento e vigésimo terceiro.

(e) n.d.a.

o FCL O numeral ordinal de 80 é:

(a) octagésimo.(b) octogésimo.(c) octingentésimo.

(d) octogentésimo.(e) n.d.a.

O Unesp Identifique o caso em que não haja expressão nu­

mérica de sentido indefinido.(a) Ele é o duodécimo colocado.

(b) Quer que veja este filme pela milésima vez?

(c) Na guerra os meus dedos disparam mil mortes.

(d) A vida tem uma só entrada; a saída é por cem portas.

(e) n.d.a.

PUC-SP Nos trechos [de Rubem Braga]:

"... aquelas cores todas nõo existem na pena do pavão",

"... este é o luxo do grande artista..."

"Ele me cobre de glórias...",

sob o ponto de vista morfológico das classes de palavras, as

palavras destacadas são, respectivamente (em seqüência):

(a) pronome demonstrativo, pronome demonstrativo, pronome

pessoal.

(b) pronome indefinido, pronome indefinido, pronome pessoal.

(c) pronome demonstrativo, pronome demonstrativo, pronome

relativo.

(d) pronome indefinido, pronome demonstrativo, pronome re­

lativo.

(e) pronome relativo, pronome demonstrativo, pronome pos­

sessivo.

O fclQuem é esse que está com você?

Quem é este que está com você?

Qual a forma a que você daria preferência?

E 3 UFRJ Considerando os itens destacados na passagem “o

que o patriotismo o fez pensar” , é correto afirmar que temos,

respectivamente:(a) artigo definido, pronome demonstrativo e pronome de­

monstrativo.

(b) pronome relativo, artigo definido e artigo definido.

(c) pronome relativo, pronome oblíquo e pronome demonstrativo.

(d) pronome demonstrativo, artigo definido e pronome oblíquo.

(e) pronome definido, artigo definido e pronome oblíquo.

m Fuvest Dê o significado de “todo” em:a) “Ai! por que todo ser nasce chorando?”

b) “Chegou com o rosto todo manchado.”

D l Fuvest Suponha que, por qualquer motivo, você não quei­

ra empregar possessivos. Indique os demonstrativos a que re­

correria para designar.

a) Sua própria mão.

b) A mão de seu interlocutor.

Efl Identifique a alternativa em que todas as palavras de­stacadas são pronomes.

(a) Um só aluno não nos prestou nenhuma colaboração.

(b) Quem a ajudará a alcançar todo o sucesso?

(c) Aquele ao qual se entregou o prêmio, ficou muito feliz.(d) Todos os que ajudam são nossos amigos.

(e) n.d.a.

ia Dê a classificação morfológica da palavra “completa” em cada uma das ocorrências.

23

Page 42: Livros poliedro   caderno 1 português

E 3 Unimep “Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-

-las na bolsa.” Os vocábulos destacados são, respectivamente:

3) pronome pessoal oblíquo, preposição, artigo.

d) artigo, preposição, pronome pessoal oblíquo.

:) artigo, pronome demonstrativo, pronome pessoal oblíquo,

j) artigo, preposição, pronome demonstrativo.

3) preposição, pronome demonstrativo, pronome pessoal oblíquo.

m MockenzieCapítulo Cl I - De casada

Imagina um relógio que só tivesse pêndulo, sem mostrador, de

maneira que nõo se vissem as horas escritas. O pêndulo iria de um

lado para outro, mas nenhum sinal externo mostraria a marcha do

tempo. Tal fo i aquela semana da Tijuca.

De quando em quando, tornávamos ao passado e divertía-

-mo-nos em relembrar as nossas tristezas e calamidades, mas isso

mesmo era um modo de nõo sairmos de nós. Assim vivemos no­

vamente a nossa longa espera de namorados, os anos da adoles­

cência, a denúncia que está nos primeiros capítulos, e ríamos de

José Dias que conspirou a nossa desunião, e acabou festejando o

nosso consórcio.Machado de Assis. Dom Casmurro.

Imagina um relógio que só tivesse pêndulo, sem mostrador, de

maneira que nõo se vissem as horas escritas. O pêndulo iria de um

lado para outro, mas nenhum sinal externo mostraria o marcha do

tempo. Tal foi aquela semana da Tijuca.

Considerado o parágrafo transcrito, é correto afirmar:

31 A forma verbal no imperativo indica que o narrador se dirige

ao leitor tratando-o por “vós”.

: ) A expressão “de maneira que” expressa, no contexto, ideia

de finalidade.

:) Em “de maneira que não se vissem as horas escritas”, se o verbo “ver” fosse substituído por “poder ver”, a correção

gramatical exigiria a forma “pudesse ver”.

i) Se o segundo período fosse iniciado com “Nenhum sinal

externo”, para que se mantivesse o sentido original, a con­

junção a ser empregada seria “porém”,

s) Em “TAL foi aquela semana da Tijuca”, o termo destacado

é um advérbio.

m Fuvest Na frase: “Estamos a bordo”, a preposição indica

relação de lugar. Escreva duas frases em que o emprego dessa

preposição indique, respectivamente:

a) relação de tempo.

b) relação de instrumento.

E 9 Fuvest Em: “óculos sem aro”, a preposição sem indica

ausência, falta. Explique o sentido expresso pelas preposi­

ções destacadas em:

a) Cale-se ou expulso a senhora da sala.

b) Interrompia a lição com piadinhas.

PUC-SP Em uma peça publicitária recentemente veicula­

da em jornais impressos, pode-se ler o seguinte:

"Se o prática leva à perfeição, então imagine o sabor de pratos

elaborados bilhões e bilhões de vezes".

A segunda oração que compõe a referida peça publicitária

contém a expressão "pratos elaborados bilhões e bilhões de vezes".

Em recente declaração à "Revista Veja" a respeito de seu filho, o

presidente Luís Inácio Lula da Silva fez a seguinte afirmação "Deve

haver um milhão de pais reclamando: por que meu filho nõo é o

Ronaldinho? Porque não pode todo mundo ser o Ronaldinho".(Revista Veja, edição 1.979, 25 out. 2006).

A respeito das expressões destacadas nos trechos acima, é

linguisticamente adequado afirmar que:

a) apenas em bilhões e bilhões, em que “bilhões” é essen­

cialmente advérbio, existe uma indicação precisa de quan­

tidade.

d) apenas em um milhão, em que “milhão” é essencialmente

adjetivo, existe uma indicação precisa de quantidade.

: > em ambas as expressões, que são conjunções coorde-

nativas aditivas, existe uma indicação precisa de quan­

tidade.

I) em ambas as expressões, que são essencialmente nume­

rais, existe um uso figurado que expressa exagero inten­cional.

j) apenas em bilhões e bilhões, em que “bilhões” é essen­

cialmente pronome, existe um uso figurado que expressa

exagero intencional.

E l Assinale a alternativa em que a preposição “de” estabe­

lece uma relação causai.

3} Chegou, há dois meses, de Maceió.

>) Usava o casaco de sua irmã mais nova.

:) Não levou muito, de receio da polícia.

i) Não sabia como, contudo ela passou de comunista a anar­quista.

s) De lado, dançava como uma bailarina.

O país, segundo um canal de televisão, está próximo a ocu­

par a segunda posição no ranking dos países com maior número

de desempregados.

O governo está no vermelho.

a) Qual é a classe gramatical de “segunda”?

b) Qual a sua funcionalidade para o texto?

c) Qual é a classe gramatical de “segundo”?

37

Page 43: Livros poliedro   caderno 1 português

D l A mesma relação semântica assinalada pela conjunção “e” na frase “Detenho-me diante de uma lareira e olho o fogo” encontra-se também em:

} E, a cada dia, você tem mais lugares onde pode contar com a comodidade de pagar suas despesas com cartões de crédito.

) Realizada pela primeira vez em outubro do ano passado, a Se­mana de Arte e Cultura da USP tenta conquistar seu espaço na agenda cultural de São Paulo.

) Carro quebra no meio da estrada e casal pede ajuda a um motorista que passa pelo local.

) Quisera falar com o ladrão, e nada fizera.(e) E seu irmão Dito é o dono daqui?

eh Leia o excerto a seguir.A vila inteira, embora ninguém nada dissesse claramente,

esfovo de olhos abertos assuntando se tais bens entrariam ou nõo

entrariam no inventário.

Lugar pequeno, ah, lugar pequeno, em que cada um vive vi­

giando o outro!

Pela segunda vez, Vicente Lemes lavrou seu despacho, exigindo

que o inventaríante completasse o rol de bens. [...]Bernado Elis. O tronco.

Que emoção ou estado de espírito são expressos pela inter­jeição “ah” no texto citado?

) desaprovação (c) espanto (e) ansiedadeíb) ironia (d) saudosismo

TEXTOS COMPLEMENTARESAs línguas e a linguagem inscrevem-se num espaço real, num

tempo histórico, e são faladas por seres situados nesse espaço e nes­se tempo. No entanto, suas origens dão-se num tempo mítico, num mundo desaparecido, e os protagonistas de seu aparecimento são os heróis fundadores.

No Gênesis, vê-se que a linguagem é um atributo da divindade, pois o Criador dela se vale quando realiza sua obra. Há dois relatos da criação. No primeiro, Deus cria o mundo, falando. No início, não havia nada. Depois, há o caos:

No princípio, criou Deus o céu e a Terra. A Terra, contudo,

estava vazia e vaga e as trevas cobriam ô abismo e o Espírito de

Deus pairava sobre as águas. (1,1-2)

A passagem do caos à ordem (= cosmo) faz-se por meio de um ato de linguagem. E esta que dá sentido ao mundo. O poder criador da divindade é exercido pela linguagem, que tem, no mito, um poder ilocucional, já que nela e por ela se ordena o mundo:

Deus disse: "Faça-se a luz". E a luz fo i feita. E viu Deus que a

luz era boa: separou a luz e as trevas. Deus chamou à luz dia e às

trevas noite; fez-se uma tarde e uma manhã, primeiro dia. (1,3-5)

Ao mesmo tempo que faz as coisas, Deus denomina-as. No universo mítico, dar nome é criar. Até o quinto dia, o Senhor vai criando linguisticamente o mundo. No sexto, depois de fazer os animais da Terra, cria o homem:

"Façamos o homem à nossa imagem e semelhança; e que

ele domine os peixes do mar, e as aves do céu, e os animais da

Terra, e todo réptil, que se move na Terra". E Deus criou o ho­

mem à sua imagem; à imagem de Deus criou-o, macho e fêmea

criou-os. (1,26-7)

Na segunda narrativa da criação, o homem é feito de bar­ro, portanto, não mais com a linguagem, mas com o trabalho das mãos:

Então, o Senhor Deus modelou o homem com o barro da

terra e soprou-lhe no rosto o sopro da vida, e o homem tornou-se

um ser vivo. (2,7)

O mito mostra que as duas categorias fundadoras do cos­mo, do sentido, são a linguagem (primeiro relato da criação) e o trabalho (segunda narrativa).

José Luiz Fiorin. As astúcias da enunciação.

XV

O dia abriu seu para-sol bordado De nuvens e de verde ramaria.E estava até um fumo, que subia, Mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado. Depois surgiu, no céu azul arqueado, A Lua - a Lua! - em pleno meio-dia. Na rua, um menininho que seguia [ Parou, ficou a olhá-la admirado...

Para Erico Veríssimo

Pus meus sapatos na janela alta.Sobre o rebordo... Céu é que lhes falta Pra suportarem a existência rude!

E eles sonham, imóveis, deslumbrados,Que são dois velhos barcos, encalhados Sobre a margem tranqüila de um açude...

Mario Quintana. A rua dos cata ventos. São Paulo: Globo, 2005. p. 33

Page 44: Livros poliedro   caderno 1 português

O soneto de Mario Quintana faz uma pequena narrativa do dia, sobretudo de seu início, o nascer do sol e o surgimento da Lua em pleno meio-dia. Para isso, o poeta empregou substantivos como "dia", "para-sol", "nuvens", "ramaria", "fumo", "ceú", "Lua", "meio-dia", "rua", "menininho", "sapatos", "janela", "barcos", "margem", "açude". Esses substantivos, palavras que nomeiam seres (concretos ou abstratos), podem ser divididos no poema em dois grandes grupos: os que pertencem à natureza e os que per­tencem à civilização:

Natureza: para-sol, nuvens, ramaria, fumo, ceú, Lua, meio- -dia, margem.

Civilização: rua, menininho, sapatos, janela, barcos, açude. A existência desses dois grupos lexicais pressupõe a interação

civilização e natureza; o garoto, o eu poemático, e os sapatos são seduzidos pela natureza, possibilitando um momento epifânico. Esse momento de epifania faz com que o menininho entre numa espécie de transe e os sapatos tornem-se, para ele, se "barcos", em outro local, "açudes". Para caracterizar esse momento epifâni­co e para descrever a própria natureza, o poeta faz uso de alguns adjetivos, classe gramatical que tem a função de caracterizar o substantivo:

para-sol bordado verde ramaria.

Fumo [...] desenhado céu azul arqueado menininho [...] admirado...

janela alta existência rude!

Eles [...] imóveis, deslumbrados margem tranqüila

Adjetivos como "bordado", "desenhado" fazem da natureza uma obra de arte; adjetivos como "admirado", "imóveis" e "des­lumbrados" traduzem o momento de epifania, de êxtase diante do belo. Mario Quintana, para narrar os fatos, emprega verbos de ação e de estado; os primeiros são responsáveis pela sucessão dos fatos; os segundos, pelo estado dos seres. Alguns verbos de ação também ajudam na descrição dos seres.Veja os dois grupos:

Ação/progressão temporal O dia abriu Depois surgiu Um menininho Parou, ficou a olhá-la

Pus meus sapatos ^E eles sonham Estado/descrição E estava até um fumo, que subia um menininho que seguia Céu [...] lhes falta Pra suportarem

Os verbos do primeiro grupo são responsáveis pelas ações principais e pela progressão temporal do texto: do nascer do sol ao sonho; isto é, do mais concreto ao mais abstrato; a natureza despertando o prazer, ò deleite, a imaginação (o sonho) no me­nininho e nos sapatos). Os verbos, por meio de suas terminações (desinências), apontam os atores em cena: o dia, a Lua, o menino, o eu poemático, os sapatos; estes últimos são personificados. O segundo grupo de verbós passa um estado (estar, faltar, suportar) e uma ação durativa (subir e seguir) dos seres. O emprego do advérbio de modo Mi-nu-á-o-sa-men-te (classe gramatical que se liga ao verbo, ao adjetivo ou ao advérbio) em sílabas separadas enfatiza a própria ideia de minúcia em relação ao desenho e dá à ação do "fumo" um colorido estético, como se houvesse uma mão realmente desenhando. A progressão temporal do texto também é obtida por meio de um advérbio de tempo: "depois"; ele não só possibilita a progressão temporal como liga partes do texto -possui função coesiva - e marca o tempo da ação: o surgimento da Lua, uma quebra de expectativa por ser meio-dia. O poeta também emprega locuções adverbiais (grupo de palavras que possuem a mesma função do advérbio):

no céu azul arqueado [...] em pleno meio-dia. [...] Na rua [...] na janela alta, Sobre o rebordo [...] Sobre a margem tranqüila de um açude [...]

As preposições "em" (no=em+o/na=em+a) e "sobre", presentes no início das locuções, além de ligarem palavras, in­troduzem a ideia de espãço e tempo, duas das três categorias do mundo; trata-se de um efeito de realidade, cria-se um simulacro do real no papel. No final do poema, o espaço e o tempo são reais e imaginários (pois eles sonham estar no açude); como se a natureza despertasse a fantasia, a criatividade. Se tomarmos a Lua como signo poético da inspiração, o espaço imaginário é a concretização dessa inspiração. Ao empregar o artigo definido em "A Lua", o poeta já a coloca como ser conhecido, como ser que in­tegra uma rede de signos: ligados à natureza, à fantasia e à poesia. O surgimento da Lua marca o acontecimento central da narrativa, o que vai proporcionar úm momento de estesia para o menino e

Page 45: Livros poliedro   caderno 1 português

os sapatos. O emprego do numeral em "são dois velhos barcos' tem função quantitativa e coesiva; coesiva, pois o numeral cardinal "dois* permite recuperar o par de sapatos# agora como "barcos"; assim como o pronome relativo "que" ( "fumo, que subia....menininho, que seguia" ) retoma seu antecedente. Quanto às conjunções, Quintana emprega duas vezes o conedivo "e"; na primeira ocorrência traz um acréscimo; na segunda, uma conseqüência; esta é o sonho, o devaneio que a natureza e a poesia permitem aos seres: o menininho, o poeta, o leitor.

Assim cada classe gramatical tem sua função no texto de Mario Quintana. Substantivo, adjetivo, pronome, numeral, verbo, advérbio, preposição e conjunção foram as classes citadas, Mario Quintana só não usou a interjeição, classe gramatical que expressa reação emo­cional; na realidade não era preciso, o poema fala de emoções.

RESUM INDO

SubstantivoSubstantivo: classe gramatical que nomeia o ser.

• Classificação: simples (um radical) ou composto (mais de um radical); concreto (elementos do mundo natural) ou abs­trato (categorias abstratas: sentimentos, qualidades, ações); primitivo (palavra de origem - café) ou derivado (palavra derivada - cafezal); comum (ser da mesma espécie - profes­sor) ou próprio (um ser em particular - João).

• Flexão: o substantivo pode flexionar em gênero (masculino/ feminino), número (singular/plural) ou grau (aumentativo/ diminutivo).

• A mudança de gênero pode gerar mudança de significado (Não havia capital necessário para a construção da capital).

• A mudança de número pode alterar o sentido do substantivo (Na costa do Brasil, turistas americanos davam as costas

para os avisos).• Valor conotativo do grau: o aumentativo e o diminutivo po­

dem assumir um tom afetivo ou ofensivo (Aquele homenzi- nho de meia tigela...).

• Campo semântico: conjunto de palavras que remetem a um mesmo universo de conhecimento (ladrão, crime, roubo, as­salto, prisão, morte, por exemplo).

Adjetivo• O adjetivo dá uma propriedade ao ser.• O adjetivo pode assumir valor objetivo (A carteira é quadra­

da) ou subjetivo (A vizinha é quadrada).• A posição do adjetivo pode gerar mudança de significado

(alto funcionário/funcionário alto).• O adjetivo pode virar advérbio, ou seja, passa a ser invariá­

vel: (Elas falam manso).• O adjetivo pode virar substantivo: (Os melhores na final do

campeonato).• O adjetivo pode ser simples (um só radical: escuro) ou com­

posto (mais de um radical: luso-brasileiro); primitivo (não deriva de outra palavra: feliz) ou derivado (deriva de outra palavra: amoroso).

• O adjetivo flexiona-se em gênero (plebeu/plebeia), número (feliz/felizes) e grau (forte/fortíssimo).

• No grau absoluto sintético, pode haver a forma coloquial (agilíssimo) ou erudita (agflimo).

Pronome• O pronome desempenha importantes funções na língua: in­

dica as pessoas do discurso (primeira: quem fala; segunda: com quem se fala; terceira: de quem ou de que se fala), promove a coesão textual — liga partes, substituindo nomes, acontecimentos - e auxilia o nome, atribuindo-lhe ideias de posse, indefinição etc. (pronome adjetivo: acompanha o substantivo; pronome substantivo: substitui o substantivo).

• Os pronomes você e vocês são utilizados para tratamento familiar, expressam intimidade, aproximação, informalidade.

• São pronomes de tratamento cerimonioso senhor, senhora, senhorita.

• Os pronomes de reverência (como, Vossa Excelência) são utilizados em contextos formais para altas autoridades públi­cas, membros da aristocracia e do clero.

• O possessivo faz referência às pessoas do discurso, apresen­tando-as como possuidoras de algo. Os possessivos podem imprimir ao texto traços de possessividade, afetividade, ad­miração, simpatia e até mesmo desprezo.

• Os indefinidos costumam ser empregados com a finalidade de se criar o efeito do vago, do geral, da indefinição.

• Os indefinidos são pronomes de terceira pessoa, alguns são variáveis, outros invariáveis.

• Indefinido + substantivo versus indefinido + artigo + subs­tantivo: sem artigo, generaliza-se, qualquer (toda mulher); com o artigo, dá-se ao substantivo a noção do inteiro (toda a mulher).

• Indefinido + adjetivo: ligado ao adjetivo, tem-se a noção do inteiro (toda bonita).

• Algum + substantivo versus substantivo + algum. No caso, o indefinido tem valor positivo (algum sinal); no segundo, negativo (sinal algum).

Page 46: Livros poliedro   caderno 1 português

• Os demonstrativos, além de marcadores espaciais e tem­porais, possuem uma função coesiva no texto, introduzindo ou recuperando palavras, expressões, orações, parágrafos

.inteiros.- este, esta, isto indicam proximidade da pessoa que fala.- esse, essa, isso indicam proximidade da pessoa a quem

se fala.- aquele, aquela, aquilo indicam o que está afastado tanto

da pessoa que fala como da pessoa a quem se fala.- este, esta, isto indicam tempo presente em relação à pes­

soa que fala.- esse, essa, isso: indica tempo passado em relação à épo­

ca em que se coloca a pessoa que fala.- aquele, aquela, aquilo indicam tempo vago ou época re­

mota.

ArtigoOs definidos:

• determinam o ser, pressupõem que o ser já é conhecido.• podem assumir valor intensificador: Ele era o ladrão, o

maior de todos.• colocados após o indefinido "todo", dão a ideia de intei­

ro: todo o colégio; sem artigo, significa "qualquer": todo colégio.

• podem assumir valor denotativo quando postos em oposi­ção ao indefinido: Meu lar é o escritório (mora no escritório, emprego denotativo) x Meu lar é um escritório (assemelha- -se ao escritório, emprego conotativo).

• não se utiliza após "cujo": As deusas a cujas orações me referi.

• não se utiliza diante de pronomes como Vossa Excelência, Vossa Santidade.

Os indefinidos:• indefinem o ser: Havia um garoto na calçada.• podem indicar aproximação: Tem uns vinte anos.• podem assumir valor pejorativo ou afetivo (E um zé nin­

guém!; Ela tem uma boca).

Numeral• podem ser cardinais (um, dois), ordinais (primeiro, segun­

do),; multiplicativos (dobro, triplo), fracionários (um terço, dois quartos).

• podem assumir valor conotativo: Já falei mil vezes!• com algarismo romano, se colocados à esquerda do subs­

tantivo, leem-se como ordinais: XX Bienal do livro (vigésima).• com algarismo romano, se colocados à direita do substan­

tivo, leem-se como ordinais de um a dez: Papa João Paulo II (segundo); lê-se como cardinal a partir de onze: Leão XIII (treze).

• em linguagem coloquial, é comum a flexão de grau (Me dá cincão, pai?).

• possuem valor argumentativo quando usados como dado estatístico.

Verbo• Voz (ação verbal é: produzida ou recebida pelo sujeito):

ativa: sujeito pratica a ação;passiva: sujeito sofre a ação; reflexiva: sujeito pratica e sofre a ação.

• Modo (as diversas maneiras sob as quais a pessoa que fala traduz o significado contido no verbo, o modo de dizer): indicativo (certeza)subjuntivo (incerteza)imperativo (pedido, sugestão, ordem)

• Tempo (momento em que ocorre a ação verbal): presentepassado (pretérito futuro

• Número (singular òu plural)

• Pessoa (primeira, segunda, terceira)

0 advérbioClasse gramatical invariável (flexão no grau apenas)Lugar: abaixo, acima, além, aí, ali, aqui, cá, dentro, lá,

avante, atrás, fora, longe, perto.Tempo: ainda, agora, amanhã, ontem, logo, já, tarde,

cedo, outrora, então, antes, depois, imediatamente, anteriormen­te.

Intensidade: muito, pouco, assaz, bastante, demais, exces­sivamente, demasiadamente.

Dúvida: talvez, quiçá, acaso, porventura, provavelmente, eventualmente.

Modo: bem, maljwssim, adrede, asperamente.Negação: não, nunca, jamais, tampouco.Afirmação: sim, realmente, certamente, deveras, decerto,

efetivamente.

Locuções adverbiais

Lugar: à distância, de longe, em cima, em volta.Tempo: às vezes, à tarde, à noite, de repente, de súbito,

hoje em dia.Modo: às pressas, às claras, às cegas, à toa, à vontade,

dessa maneira, de cor, em vão.Afirmação: sem dúvida, de fato, por certo.Dúvida: por certo, quem sabe.Causa: Morreu por amor.

Meio: Sempre andòu a cavalo.

Page 47: Livros poliedro   caderno 1 português

Instrumento: Operou com o canivete.Condição: Sem você, eu não vou. „Concessão: Mesmo doente, escrevia romances.

Flexão do advérbioEm número e pessoa: o advérbio não apresenta flexão em

número ou gênero.

comparativo...mais lentamente (do) que... comparativo de superioridade ...menos lentamente (do) que... comparativo de inferiorida­

de...tão lentamente como... comparativo de igualdade Viveu muito fielmente, (superlativo absoluto analítico - uso

do advérbio de intensidade)Viveu fidelissimamente. (superlativo absoluto sintético - uso

do sufixo -íssimo)Para a expressão do superlativo relativo, usa-se a correlação

o mais (ou menos)... possível; exemplo:Respeitar o mais fielmente possível p pessoa com quem se

vive.Certos advérbios promovem a ligação entre partes do texto,

funcionam como marcadores de coesão.

Os conectivosA preposição e a conjunção possuem pontos em comum,

por exemplo:• ambas ligam palavras e orações, são elementos de coesão.

Mas não retomam palavras como o pronome e o advérbio.• não possuem função sintática, ao contrário dos pronomes.• possuem na frase valor semântico, excetuando as preposi­

ções de verbos transitivos indiretos.

A função da preposiçãoA função da preposição é subordinar um termo a outro, o

segundo passa a ser dependente do primeiro:

ClassificaçãoAs preposições podem ser de dois tipos:Essenciais: a, ante, até, após, com|contra, de, desde, em,

entre, para, perante, por, sem, sob, sobre.Acidentais (podem pertencer a outras classes gramaticais):

afora, consoante, durante, exceto, fora, mediante, salvo, segun­do, senão, tirante, visto.

Locuções prepositivasNestas a última palavra é sempre uma preposição: ao lado

de, antes de, além de, adiante de, a despeito de, acima de, abai­xo de, depois de, em tomo de, a par de, apesar de, através de, de acordo com, com respeito a, por causa de, quanto a, respeito a, junto a etc.

Emprego da preposiçãoAs preposições essenciais são empregadas com os prono­

mes pessoais oblíquos tônicos:Lutou contra mim./Não trabalhava sem mim./Pensava

em ti./Confiava a mim seus segredos.As preposições acidentais são empregadas com os prono­

mes pessoais do caso reto:Todos comeram, salvo tu./Fora eu, todos comeram.

Relações semânticas das preposiçõesAs preposições podem exprimir várias relações, eis algumas: Cantava à gaúcho, (modo)O hotel foi estimado em 1 bilhão, (preço)A agulha apontava para o sul./Atirou-se sobre o herói, (di­

reção)Foram com o tio. (companhia)Martelava com o ferro, (instrumento)Vim de Salvadorl (procedência)Alimentava-se de farinha e feijão, (meio)Falava-se sobre tudo. (assunto)De manhã, tocava violino./Por dez anos, vivi em Londres,

(tempo)Transformou-se em sapo. (mudança de estado)Cantava pelos bares da vida./Vamos para o Rio? (lugar) Editado para leitores exigentes, (finalidade)Estavam sob o automóvel, (posição inferior)Estavam sobre o automóvel, (posição superior)

Coesão e preposiçãoA preposição subordina um termo ao outro. O termo que

comanda a preposição pode ser chamado termo regente e o co­mandado, regido. Em "confio em você", o regente é o verbo; o regido, o pronome de tratamento. Se regente e regido estiverem distantes um do outro, haverá um problema de coesão, de liga­ção malfeita.

ConjunçãoA conjunção, além de ligar palavras ou orações, dá uma

direção argumentativa ao texto, estabelece relação semântica. Observe as conjunções e a ideia que elas transmitem:

Terás a felicidade, mas só na velhice, (restrição)Comprou a casa, mas arrependeu-se e vendeu-a. (retifica­

ção)Estava feliz, mas dissimulava com uma expressão séria,

(atenuação)Apanhou muito, mas ganhou, (não compensação)Mas o prefeito? Resolveu trabalhar? (situação, assunto) Correu muito e não venceu, (oposição)Correu muito e venceu, (conseqüência ou conclusão)Era honesto, e muito honesto! (explicação enfática)Tirou o chapéu e entrou no templo, (adição)

Page 48: Livros poliedro   caderno 1 português

E o Valdir? Já devolveu o dinheiro? (situação, assunto) Cantava como Caetano, (comparação)Como era louco, não podia sair de lá. (causa)Jogava como o pai o orientou, (conformidade)Se não foi um galanteio, ainda sim impressionou a jovem,

(concessão)Se não falar, eu chamo o juiz! (condição)

Interjeição

É a classe gramatical que expressa reação emocional. Exemplo: ai! Socorro! Ufa!

QUER SABER MAIS?

^ FILME

■ Francis Ford Coppola. O selvagem da motocicleta.

LIVROS

■ Catulo da Paixão Cearense. "Meu sertão".■ Celso Cunha. Gramática de Português Contemporâneo.

£ | SITE

■ www.academiapaulistadeletras.org.br/pg_noticias.htm

TEATRO

Chico Buarque. "Gota-d'Água".

MUSICA

0 Teatro Mágico. DVD “Entrada para Raros".

XERCICIOS OMPLEMENTARES

Assinale a alternativa em que o substantivo concreto as­sume o valor de abstrato.(a) Você não tem raciocínio?(b) Mário é um gelo, não dá nem pra conversar.

) Você não quer um carro, você quer um avião!(d) Vamos andar de bicicleta?

0 A sala de aula é o espaço da discussão.

FuvestO diminutivo é uma maneira ao mesmo tempo afetuosa e pre­

cavida de usar a linguagem. Afetuosa porque geralmente o usamos

para designar o que é agradável, aquelas coisas tâo afáveis que se

deixam diminuir sem perder o sentido. E precavida porque também

o usamos para desarmar certas palavras que, por sua forma origi­

nal, são ameaçadoras demais.Luis Fernando Veríssimo. Diminutivos.

A alternativa inteiramente de acordo com a definição do autor sobre diminutivos é:(a) O iogurtinho que vale por um bifínho.(b) Ser brotinho é sorrir dos homens e rir interminavelmente

das mulheres.

(c) Gosto muito de te ver, Leãozinho.(d) Essa menininha é terrível!(e) Vamos bater um papinho.

D Fuvest Pode ser substituída por dissensão, sem que se alte­re o sentido da frase apresentada, apenas a palavra destacada em:(a) A discordância entre as opiniões inviabilizou qualquer

acordo.(b) A disparidade de oportunidades dificulta a concretização

de uma verdadeira democracia.(c) Os que se envolveram na discussão do assunto não chega­

ram a um acordo.(d) A mudança acelerada dos costumes levou à dissolução da

família.(e) A dissimulação das verdadeiras intenções não lhe garantiu

chegar aos fins desejados.

D Como sabemos, as palavras podem assumir novas fun­ções morfológicas e novos significados conforme cada contex­to. É o que ocorre com um determinado pronome na alternativa:

Page 49: Livros poliedro   caderno 1 português

(a) “Gosto muito de te ver, leãozinho”.(b) “O meu coração tão só”.(c) “Arrastando meu olhar como um ímã”.(d) “Quando ele me doura a pele ao léu”.(e) “De molhar minha juba”.

I I Fuvest Leia o texto a seguir.— Finado Severino,

quando passares em Jordão

e os demônios te atacarem perguntando o que é que levas...

— Dize que levas somente

coisas de nõo:

fome, sede, privação.

As “coisas de sim” estão, correspondentemente, em:(a) saciedade; repleção; carência.(b) fartura; carência; vacuidade.(c) repleção; carência; saciedade.(d) satisfação; saciedade; fartura.(e) vacuidade; fartura; repleção.

E l Mackenzie Aponte a alternativa em que o substantivo em destaque foi empregado de forma genérica.(a) Aquele homem contundente lançou, como um vulcão, sua

ira já incrustada nas paredes do estômago.(b) Instrumento de força e energia pacífica, um homem de fé

e coragem pertinaz, aquele pai obteve o reconhecimento dos filhos.

(c) Todo homem necessita de segurança, não só para dominar a própria vida, como também para desvendar os mistérios do universo exterior.

(d ) Com nove páginas, o laudo da justiça acusou Mário de vá­rios crimes e o considerou como um homem devasso.

(e) O novo marco implantado na geografia urbana de Paris deve-se a um artista americano, homem de origem chine­sa, considerado um dos mais bem-sucedidos arquitetos da atualidade.

D Leia o texto a seguir.— Não perca a cabeça, Zezinho! Você é um rapaz tõo inteli­

gente!

a) A que classe gramatical pertencem as palavras “rapaz” e “inteligente”?

b) A palavra “cabeça” é, no contexto, um substantivo concre­to ou abstrato? Justifique.

D As minhas rugas me orientam nesse fim de estrada.

Na frase citada, a palavra “rugas” remete a algo abstrato. Le­vando em conta o uso de substantivos concretos e abstratos, explique como o autor criou esse efeito de sentido.

A palavra sanção com o significado de ratificação ocor­re apenas em:(a) Aplicar sanções a grevistas não é direito, nem dever de um

presidente.(b) Eventual sanção do presidente à nova lei, aprovada ontem,

poderá desagradar a setores de todas as categorias.(c) As sanções previstas na lei eleitoral não exercem influên­

cias significativas sobre a paixão dos militantes.(d) O novo diretor prefere sanções a diálogos.(e) O contrato prevê sanções para os inadimplentes.

D l Está usada em sentido figurativo a palavra destacada em:(a) A casa foi restaurada dos alicerces ao telhado.(b) Era muito pouca a claridade que a cortina deixava passar.(c) Do interior escuro da casa surgiu uma mulher.(d) No seu jardim floresceram as mais belas rosas da região.(e) Reagiu violentamente à frieza da resposta do chefe.

Texto para a questão 11.

Esparsa - Ao desconcerto do mundo Os bons vi sempre passar No Mundo graves tormentos; e para mais me espantar, os maus vi sempre nadar em mar de contentamentos.Cuidando alcançar assim o bem tõo mal-ordenado, fui mau, mas fui castigado.Assim que, só para mim anda o mundo concertado.

Luís de Camões. In: Redondilhas - Obras completas.Rio de Janeiro: Aguilar, 1963. pp. 475*6.

m Considere as seguintes afirmações.I. Camões substantivou algumas palavras ao compor o poe­

ma, por exemplo, nos versos 1,4 e 7.II. A palavra “mau” apresenta a mesma classe morfológica em

“Os maus...” e “Fui mau”.III. Nos primeiros versos de “Esparsa”, Camões demonstra sua

consciência sobre o “desconcerto do mundo”. Em decorrência disso, confessa uma mudança de atitude: passa a ser mau para alcançar o bem.

IV. O desconcerto para o “eu lírico “é o fato de a justiça ser diferenciada em relação aos atos próprios e alheios.

Estão corretas apenas:(a) I. (c) I e n . (e) I ,n ie IV .(b) n e m . (d) I,IIeIV.

KB João vendeu suas terras, seu caminhõo e muita espe­rança.Na frase, há uma descontinuidade gramatical que provoca umefeito de sentido. Explique-a.

Page 50: Livros poliedro   caderno 1 português

E l Na frase a seguir, há uma palavra substantivada. Identi­fique-a e explique o mecanismo gramatical que tomou possível a substantivação:

O bom de jogar futebol é que você aprende a trabalhar em equipe.

Dl FGY Frase de referência: Um homem gordinho e simpático entrou na sala.

Os manuais de língua portuguesa ensinam que -inho é um sufixo diminutivo, normalmente aplicado aos substantivos. Qual o sentido de gordinho, no texto?

1 9 Fuvest Chamar o dicionário de pai dos burros é que é burrice. Reconhecer um desconhecimento não é uma virtude? Se a burrice costuma vir sempre acompanhada da insolência, a inteligência não dispensa a força da humildade.a) Reescreva os dois primeiros períodos, substituindo os verbos

“chamar” e “reconhecer” por substantivos que não sejam da mesma família desses verbos. Faça apenas as adaptações necessárias, mantendo o sentido original.

b) Reescreva o último período do texto, utilizando agora as for­mas “não costuma” e “dispensa”. Faça apenas as alterações necessárias, mantendo o sentido original.

D l Fuvest Cultivar amizades, semear empregos e preservar o cultura fazem parte da nossa natureza.a) Explique o efeito expressivo que, por meio da seleção lexi­

cal, se obteve nessa frase.b) Reescreva a frase, substituindo por substantivos cognatos

os verbos cultivar, semear e preservar, fazendo também as adaptações necessárias.

Dl ITA Leia os dois enunciados a seguir.a) A Sadia descobriu o jeitinho italiano.

Propaganda da Sadia, fabricante de alimentos, para as massas prontas congeladas.

b) Queremos mostrar que o Brasil tem jeito.Pronunciamento de um político

em propaganda televisiva levada ao ar em julho/l 999.

Por que não é possível a substituição de “jeitinho” por “jeito” e vice-versa, nos enunciados?

Texto para a questão 18.

Fabiano, uma coisa da fazenda, um triste, seria despedido quando menos esperasse. Ao ser contratado, recebera o cavalo de fábrica, peneiras, gibão, guarda-peito e sapatões de couro, mas ao sair largaria tudo ao vaqueiro que o substituísse.

Sinhá Vitória desejava possuir uma cama igual à de seu Tomás da bolandeira. Doidice.

Nõo dizia nada para nõo contrariá-la, mas sabia que era doi­dice. Cambembes podiam ter luxo? E estavam ali de passagem.

Qualquer dia o patrão os botaria fora, e eles ganhariam o mundo, sem rumo, nem teria meio de conduzir os cacarecos. Viviam de trouxa amarrada, dormiriam bem debaixo de um pau.

Olhou a caatinga amarela, que o poente avermelhava. Se a seca chegasse, nõo ficaria planta verde. Arrepiou-se. Chegaria, na­turalmente. Sempre tinha sido assim, desde que ele se entendera.

E antes de se entender, antes de nascer, sucedera o mesmo- anos bons, misturados com anos ruins. A desgraça estava em caminho, talvez andasse perto. Nem valia a pena trabalhar. Ele marchando para casa, trepando a ladeira, espalhando seixos com as alpercatas - ela se avizinhando a galope, com vontade de matá-lo.

Graciliono Ramos. Vidas Secas.

D l Ibmec-Rio Muitas vezes, uma palavra tem sua classe grama­tical usual deslocada para se atribuir mais expressividade ao ato de comunicação. E o que acontece no seguinte fragmento retirado do texto de Graciliano Ramos:

i) “Fabiano, uma coisa da fazenda, um triste, seria despedido quando menos esperasse.” (par. 1)

(b) “Não dizia nada para não contrariá-la...” (par. 3)(c) que o poente avermelhava.” (par. 5)(d) não ficaria planta verde.” (par. 5)(e) “A desgraça estava em caminho...” (par. 6)

Texto para a questão 19.

A ciência do palavrão Por que diabos m... é palavrão? Aliás, por que a palavra dia­

bos, indizfvel décadas atrás, deixou de ser um? Outra: você já deve ter tropeçado numa pedra e, para revidar, xingou-a de algo como filha da ..., mesmo sabendo que a dita nem mõe tem.

Pois é: há mais mistérios no universo dos palavrões do que o senso comum imagina. Mas a ciência ajuda a desvendá-los.

Pesquisas recentes mostram que as palavras sujas nascem em um mundo à parte dentro do cérebro. Enquanto a linguagem comum e o pensamento consciente ficam a cargo da parte mais sofisticada da massa cinzenta, o neocórtex, os palavrões moram nos porões da cabeça. Mais exatamente no sistema límbico. Nossa parte animal fica lá.

E sai de vez em quando, na forma de palavrões. A medicina ajuda a entender isso. Veja o caso da síndrome de Tourette. Essa doença acomete pessoas que sofreram danos no gânglio basal, a parte do cérebro cuja funçõo é manter o sistema límbico com­portado. E os palavrões saem como se fossem tiques nervosos na forma de palavras.

Mas você não precisa ter lesão nenhuma para se descontrolar de vez em quando, claro. Justamente por não pensar, quando essa parte animal do cérebro fala, ela consegue traduzir certas emoções com uma intensidade inigualável.

Page 51: Livros poliedro   caderno 1 português

Os palavrões, por esse ponto de vista, são poesia no sentido mais profundo da palavra. Duvida? Então pense em uma palavra forte. Paixão, por exemplo. Ela tem substância, sim, mas está lon­ge de transmitir toda a carga emocional da paixão propriamente dita. Mas com um grande e gordo p.q.p. à história é outra. Ele vai direto ao ponto, transmite a emoção do sistema límbico de quem fala diretamente para o de quem ouve. Por isso mesmo, alguns pesquisadores consideram o palavrão até mais sofisticado que a linguagem comum.

<www.super.abril.com.br/revista/> . (Adapt.)

D l Unifesp No texto, o substantivo “palavrão”, ainda que se mostre flexionado em grau, não reporta a ideia de tamanho. Tal emprego também se verifica em:

;) Durante a pesquisa, foi colocada uma “gotícula” do ácido para se definir a reação.

(b) Na casa dos sete anões, Branca de Neve encontrou sete minúsculas “caminhas”.

(c) Para cortar gastos, resolveu confeccionar “livrinhos” que cabem nos bolsos.

(d) Não estava satisfeita com aquele “empreguinho” sem gra­ça e sem perspectivas.

(e) Teve um “carrinho” de dois lugares, depois um carro de cinco e, hoje, um de sete.

Texto para a questão 20.

Crônica da vida que passa As vezes, quando penso nos homens célebres, sinto por eles

toda a tristeza da celebridade.A celebridade é um plebeísmo. Por isso deve ferir uma alma

delicada. E um plebeísmo porque estar em evidência, ser olhado por todos inflige a uma criatura delicada uma sensação de paren­tesco exterior com as criaturas que armam escândalo nas ruas, que gesticulam e falam alto nas praças. O homem que se toma célebre fica sem vida íntima: tornam-se de vidro as paredes de sua vida doméstica; é sempre como se fosse excessivo o seu traje; e aquelas suas mínimas ações - ridiculamente humanas às vezes - que ele quereria invisíveis, coa-as a lente da celebridade para espetaculo- sas pequenezes, com cuja evidência a sua alma se estraga ou se enfastia. E preciso ser muito grosseiro para se poder ser célebre à vontade.

Depois, além dum plebeísmo, a celebridade é uma contradi­ção. Parecendo que dá valor e força às criaturas, apenas as des­valoriza e as enfraquece. Um homem de gênio desconhecido pode gozar a volúpia suave do contraste entre a sua obscuridade e o seu gênio; e pode, pensando que seria célebre se quisesse, medir o seu valor com a sua melhor medida, que é ele próprio. Mas, uma vez conhecido, não está mais na sua mão reverter à obscuridade. A celebridade é irreparável. Dela como do tempo, ninguém toma atrás ou se desdiz.

E é por isto que a celebridade é uma fraqueza também. Todo o homem que merece ser célebre sabe que não vale a pena sê-lo. Deixar-se ser célebre é uma fraqueza, uma concessão ao baixo- -instinto, feminino ou selvagem, de querer dar nas vistas e nos ouvidos.

Penso às vezes nisto coloridamente. E aquela frase de que "ho­mem de gênio desconhecido" é o mais belo de todos os destinos, torna-se-me inegável; parece-me que esse é não só o mais belo, mas o maior dos destinos.

Fernando Pessoa. Páginas íntimas e de autointerpretaçõo.Lisboa: Edições Atica, [s.d.], pp. 66-7.

EEI Vunesp Na crônica apresentada, Fernando Pessoa atribui três características negativas à celebridade, descrevendo-as no segundo, terceiro e quarto parágrafos. Releia esses parágrafos e aponte os três substantivos empregados pelo poeta que sinteti­zam essas características negativas da celebridade.

E l Leia a frase a seguir.Por que a Coca-Cola e a Fanta se dão muito bem? Porque se a

Fanta quebra, a Coca-Colal

Explique a ambigüidade na piada do ponto de vista gramatical (morfologia).

HMÜ Leia a publicidade a seguir.

2l O ul!

L>s,

Interprete a frase, fazendo uma paráfrase.

D l Assinale a alternativa em que a mudança de posição do adjetivo gera uma mudança de sentido:(a) bela mulher; mulher bela.(b) dia triste; triste dia.(c) velho amigo; amigo velho.(d) sala silenciosa; silenciosa sala.(e) professor alegre; alegre professor.

oao n o v o p ic o

q u e r s e r um

r i c o n o vo .

As lojas "Hom em com H" estão fazendo uma promoção

im perdível, compareça! Praça Homem de Melo, 777

Page 52: Livros poliedro   caderno 1 português

0 Fatec Identifique a alternativa em que não é atribuída a ideia de superlativo ao adjetivo.1 a ) É uma ideia agradabilíssima.{b i Era um rapaz alto, alto, alto.t c ) Saí de lá hipersatisfeito.i d ) Almocei tremendamente bem.

•) É uma moça assustadoramente alta.

O ITA Durante a Copa do Mundo deste ano, foi veiculada, em programa esportivo de uma emissora de TV, a notícia de que um apostador inglês acertou o resultado de uma partida porque seguiu os prognósticos de seu burro de estimação. Um dos co­mentaristas fez, então, a seguinte observação: “Já vi muito co­mentarista burro, mas burro comentarista é a primeira vez”. Percebe-se que a classe gramatical das palavras se altera em função da ordem que elas assumem na expressão.Assinale a alternativa em que isso não ocorre.

D obra grandiosa M) velho chinês' i jovem estudante (e fanático religioso

(c } brasileiro trabalhador

O Fuvest Segundo a ONU, os subsídios dos ricos prejudicam

o Terceiro Mundo de várias formas: 1. mantêm baixos os preços

internacionais, desvalorizando as exportações dos países pobres; 2.

excluem os pobres de vender para os mercados ricos: 3. expõem

os produtores pobres à concorrência de produtos mais baratos em

seus próprios países.Folha de S.Paulo, 2 nov. 1997, E-12.

Nesse texto, as palavras sublinhadas rico e pobre pertencem a diferentes classes de palavras, conforme o grupo sintático em que estão inseridas.a) Obedecendo à ordem em que aparecem no texto, identifi­

que a classe a que pertencem, em cada ocorrência sublinha­da, as palavras rico e pobre.

b) Escreva duas frases com a palavra brasileiro, empregando- -a cada vez em uma dessas classes.

JEM Leia o diálogo a seguir.- Você assistiu ao filme do Cazuza? Você viu como o ator ficou

magro no fim?

- Supermagrol Mas o Cazuza tava assim, né?

- Coitadol Era um senhor compositor.

I. A forma “supermagro” é de uso coloquial, substitui o su­perlativo absoluto sintético magríssimo, forma culta, que utiliza o radical latino.

II. A forma “supermagro” eqüivale, em termos de formação de palavras, a expressões do tipo “hiperlegal”.

III. O pronome de tratamento “senhor” cumpre função subs­tantiva, eqüivale a “grande campositor”.

Estão corretas:(a) apenas I. (c) apenas III. (e) todas.(b) apenas II. (d) apenas I e III.

A questão de número 28 toma por base um poema do clássico português Luís Vaz de Camões (15247-1580) e a letra do fox- trote Você só... mente, escrita pelo músico brasileiro Noel de Medeiros Rosa (1910-1937).

Trovasa uma dama que lhe jurara

sempre por seus olhos.Quando me quer enganar a minha bela perjura, para mais me confirmar o que quer certificar,

05 pelos seus olhos mo jura.Como meu contentamento todo se rege por eles, imagina o pensamento que se faz agravo a eles

10 nõo crer tõo grõo juramento.

Porém, como em casos tais ando já visto e corrente, sem outros certos sinais, quanto me ela jura mais

15 tanto mais cuido que mente.Então, vendo-lhe ofender uns tais olhos como aqueles, deixo-me antes tudo crer, só pela nõo constranger

20 a jurar falso por eles.Luís de Camões. Lírica. Belo Horizonte: Editora Itatiaia;

São Paulo: Editora da Universidade de Sõo Paulo, 1982. pp. 56-7.

Você só... mente Nõo espero mais você,Pois você nõo aparece.Creio que você se esquece Das promessas que me faz...

05 E depois vem dar desculpas Inocentes e banais.E porque você bem sabe Que em você desculpo Muita co/sa mais...

10 O que sei somente E que você é um ente Que mente inconscientemente,Mas finalmente,Nõo sei por que

Page 53: Livros poliedro   caderno 1 português

15 Eu gosto imensamente de você.

E invariavelmente,Sem ter o menor motivo,Em um tom de voz altivo,Você, quando fala, mente

20 Mesmo involuntariamente.Faço cara de contente,Pois sua maior mentira E dizer à gente Que você nõo mente.

25 O que sei somente E que você é um ente Que mente inconscientemente,Mas finalmente,Nõo sei por que

30 Eu gosto imensamente de você.Noel Rosa. "Noel pela primeira vez".

E3 Os homônimos homófonos e homógrafos, ou seja, vocábu­los que apresentam a mesma pronúncia e a mesma grafia, são co­muns na Língua Portuguesa. No verso “pelos seus olhos mo jura”, o vocábulo jura é um verbo empregado como núcleo do predicado verbal; mas podemos construir a frase “Ele quebrou sua jura e foi para longe” em que o homônimo jura é empregado como substan­tivo em função de núcleo do objeto direto. Com base nessa infor­mação, releia os dois poemas e, em seguida:a) estabeleça a classe de palavra a que pertence “grão”, no

décimo verso do poema de Camões e escreva uma frase em que apareça um homônimo homófono e homógrafo dessa palavra.

b) aponte o efeito expressivo, relacionado com o tema e com a rima, que o emprego de advérbios como somente, incons­cientemente etc. produz na letra de Noel Rosa.

Explique a ambigüidade no texto a seguir.Ou

EEI Leia, atentamente, o trecho a seguir, extraído de Memó­rias póstumas de Brás Cubas:

[...] a primeira é que eu nõo sou propriamente um autor de­funto, para quem a campa foi um berço, mas um defunto autor [...]

Machado de Assis.

Identifique a classificação morfológica de autor e de defunto.I. No primeiro caso, autor é substantivo e defunto é adjetivo.II. No segundo caso, defunto é substantivo e autor é adjetivo.III. Em ambos os casos, temos substantivos compostos.

Agora, identifique a alternativa correta.(a) I e II estão corretas. (d) Todas estão corretas.(b) II e III estão corretas. (e§ Todas estão incorretas.(c) I e III estão corretas.

Texto para as questões 31 e 32.

Daí porque o sertanejo fala pouco: as palavras de pedra u/ceram a boca e no idioma pedra se fala doloroso; o natural desse idioma fala à força.

João Cabral de Melo Neto. 'O sertanejo falando*.A Educação Pela Pedra.

a Que função morfológica assume a palavra “pedra” em “idioma pedra”?

gçjJJI De que maneira as expressões “palavras de pedra” e “idio­ma pedra” relacionam-se com o “sertanejo”?

Leia o texto a seguir.Na gostosa penumbra da Biblioteca Pública leio velhos jornais e dos anúncios prescritos das novidades caducasdos poetas mortos há tanto tempo que parecem de novo

estreantes [...]

Mario Quintana.

Em relação ao texto:a) relacione os adjetivos que se referem ao tempo da leitura.b) relacione o substantivo que se refere ao tempo do jornal.

E l Leia o provérbio abaixo.Mais vale um cachorro amigo do que um amigo cachorro.

a) Explique do ponto de vista morfológico o recurso expres­sivo empregado pelo autor em “cachorro amigo” e “amigo cachorro”.

b) Interprete o. provérbio.

Page 54: Livros poliedro   caderno 1 português

BcEl ITA Determine o caso em que o artigo tem valor qualifi­cativo.

i) Estes são os candidatos de que lhe falei.>} Procure-o, ele é o médico! Ninguém o supera.•) Certeza e exatidão, estas qualidades não as tenho.1) Os problemas que o afligem não me deixam descuidado.

(e ) Muita é a procura; pouca a oferta.

O texto a seguir refere-se às questões 36 e 37.

As duas manas Lousadas! Secas, escuras e gárrulas como cigar­ras, desde longos anos, em Oliveira, eram elas as esquadrinhado- ras de todas as vidas, as espalhadoras de todas as maledicências, as tecedeiras de todas as intrigas. E na desditosa cidade, nõo existia nódoa, pecha, bule rachado, coração dorido, algibeira arrasada, janela entreaberta, poeira a um canto, vulto a uma esquina, bolo encomendado nas Matildes, que seus olhinhos furantes de azeviche sujo não descortinassem e que sua solta língua, entre os dentes ralos, nõo comentasse com malícia estridente.

Eça de Queirós. A ilustre casa de Ramires.

i ! l No texto, o emprego de artigos definidos e a omissão de artigos indefinidos têm como efeito, respectivamente:

i) atribuir às personagens traços negativos de caráter; apontar Oliveira como cidade onde tudo acontece.

(b) acentuar a exclusividade do comportamento típico das per­sonagens; marcar a generalidade das situações que são ob­jeto de seus comentários.

(c) definir a conduta das duas irmãs como criticável; colocá- -las como responsáveis pela maioria dos acontecimentos na cidade.

I) particularizar a maneira de ser das manas Lousadas; situá- -las numa cidade onde são famosas pela maledicência.

:) associar as ações das duas irmãs; enfatizar seu livre acesso a qualquer ambiente na cidade.

O Há, no texto, analogia entre o sentido da expressão “gár­rulas como cigarras” e o sentido de:(a) “tecedeiras de todas as intrigas”.( b ) “olhinhos furantes”.(c} “azeviche sujo”.(d) “sua solta língua”.(e'> “entre os dentes ralos”.

E l Analise as afirmações relacionadas a “Um triângulo cujos lados são todos iguais é...?”I. Como “equi” significa “igual”, a palavra que completa a

frase é “equiângulo”.II. O pronome relativo “cujos” se relaciona com “triângulo”

— o possuidor—e concorda com “lados” — o elemento pos­suído.

III. O acréscimo de um artigo antes da palavra “lados” tomaria a oração mais adequada ao padrão culto da língua.

Está(ão) correta(s)(a) apenas I. (d) apenas I e II.(b) apenas II. (e) apenas I e III.(c) apenas III.

Dê uma funcionalidade do numeral no texto dissertativo.

Texto para as questões 40 e 41.

Tubarão ataca caminhoneiro em Recife Ele nadava em área de risco sinalizada na praia da Boa Viagem

quando foi mordido na perna e na coxa esquerdas, ontem. Incidente foi o 48 registrado em Pernambuco desde J 992 e o segundo deste ano; 17 pessoas morreram no Estado após ataque do peixe.

Folha de S.Paulo. 22 maio 2006.

Ü 1 A manchete como foi redigida apresenta um efeito de estranhamento, causado:(a) pela ordem das palavras, que acaba provocando uma am­

bigüidade.(b) pelo uso do verbo no presente do indicativo, que deixa con­

fuso o leitor acerca da data do acontecimento.j pelo emprego de vocabulário, inadequado para o contexto

(é o caso de “caminhoneiro”).(d) pelo emprego da preposição “em”, que está em desacordo

com a norma.;) pela omissão do artigo na manchete, que provoca uma im­

precisão em relação ao “tubarão”.

□ Em relação ao texto lido, considere as seguintes afirma­ções.I. Deduz-se implicitamente do texto que o quadragésimo

sexto incidente com tubarão em Pernambuco ocorreu no ano de 2006.

II. Em o “ataque do peixe”, no final do último período, a enun­ciação faz referência ao mesmo tubarão citado na manchete.

m . O período “Ele nadava em área de risco sinalizada na praia da Boa Viagem quando foi mordido na pema e na coxa esquerdas, ontem” poderia ser substituído sem prejuízo se­mântico por: Ontem, em área de risco sinalizada na praia da Boa Viagem, nadava o caminhoneiro, ao ser mordido na coxa e na pema esquerdas.

Está(ão) correta(s):(a) apenas I.(b) apenas Q.(c) apenas II e III.(d) apenas III.(e) nenhuma.

Page 55: Livros poliedro   caderno 1 português

Texto para a questão 42.

[...] os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visõo que não pertence à física.

William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é o mesma árvore que o tolo vê".

[...]Rubem Alves. "A complicada arte de ver".

Folha de S.Paulo, 26 out. 2004.

m FGV A respeito do pronome “disso”, na primeira linha do segundo parágrafo, pode-se dizer que é um:(a) possessivo de segunda pessoa e se refere ao conteúdo do

parágrafo anterior.(b) demonstrativo combinado com prefixo e se refere aos ipês

floridos citados a seguir.) demonstrativo masculino de segunda pessoa e se refere ao

poeta William Blake.I) demonstrativo neutro que tem como referência a última

frase do parágrafo anterior.(e) possessivo neutro e se refere a Moisés diante da sarça

ardente.

Texto para a questão 43.

- Assim, pois, o sacristão da Sé, um dia, ajudando ò missa, viu entrar o dama, que devia ser sua colaboradora na vida de d. Plácida. Viu-a outros dias, durante semanas inteiras, gostou, disse-lhe alguma graça, pisou-lhe o pé, ao acender os altares, nos dias de festa. Ela gostou dele, acercaram-se, amaram-se. Dessa conjunção de luxúrías vadias brotou d. Plácida. E de crer que d. Plácida não fe/asse ainda quando nasceu, mas se falasse podia dizer aos autores de seus dias: - Aqui estou. Para que me chamastes? E o sacristão e a sacristã natural­mente lhe responderiam: - Chamamos-te para queimar os dedos nos tachos, os olhos na costura, comer mal, ou não comer, andar de um lado para outro, na faina, adoecendo e sarando, com o fim de tomar a adoecer e sarar outra vez, triste agora, logo desesperada, amanhã re­signada, mas sempre com as mãos no tacho e os olhos na costura, até acabar um dia na lama ou no hospital; foi para isso que te chamamos, num momento de simpatia.

M achado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas.

m Fuvest No trecho, “pisou-lhe o pé”, o pronome lhe assu­me valor possessivo, tal como ocorre em uma das seguintes fra­ses, também extraídas de Memórias póstumas de Brás Cubas:

i) “falei-lhe do marido, da filha, dos negócios, de tudo”.(b ) “mas enfim contei-lhe o motivo da minha ausência”.

) “se o relógio parava, eu dava-lhe corda”.(d) “Procure-me, disse eu, poderei arranjar-lhe alguma coisa”.(e) “envolvida numa espécie de mantéu, que lhe disfarçava as

ondulações do talhe”.

E l Fuvest Veja as frases a seguir.

Texto IBoa parte dos políticos constroem seu discurso com suas pa­

lavras otimistas, com suas ideias utópicas e com suas promessas irrealizáveis.

Texto I I Meu funcionário não errai

a) Que problema estilístico observa-se no texto I? Reescreva-o de modo que elimine o problema.

b) Que efeito de sentido teríamos no texto II se o pronome estivesse posposto ao substantivo?

O Santa Casa Por favor, passeque está aí perto de você;_______para______________ desenhar.(a) aquela - esta - mim(b) esta - esta - mim(c) e s s a -e s ta -e u(d) essa - essa - mim(e) aquela - essa - eu

O Em “arranquei-lhes as esperanças”, o pronome pessoal tem valor possessivo. Reescreva a frase usando o possessivo correspondente.

E9 Leia o texto a seguir.Absolutamente éscuro e vazio; ninguém aparecia, nada surgia.

Se algo era sonoro, era pouco, algum ruído de natureza, de coisa crescendo.a) Que pronome predomina no texto citado?b) Que oposição está pressuposta no texto?c) Que efeito de sentido o uso reiterado desse tipo de prono­

me produz no texto?

m Assinale a alternativa em que o pronome tenha valor possessivo.

i} Ofereceu-me um buquê de rosas envenenadas.(b) Falou-me de tudo e de todos.

) Assaltou-me a consciência, desgraçado!(d ) Cortou-se sem querer.(e ) Solicitou-me um talão de cheques.

______ canetaaqui não serve

Page 56: Livros poliedro   caderno 1 português

E 3 Leia o anúncio a seguir.

O capacete é a sua segurança; ponha isso na cabeça/

a) Qual é a palavra que gera ambigüidade?b) Interprete os dois significados.

Texto para as questões 50 e 51.

Leia o seguinte excerto, extraído da obra de Gil Vicente.

Auto da Lusitânia Entra Todo o Mundo, homem como rico mercador, e faz que

anda buscando alguma cousa que se lhe perdeu; e logo após ele um homem, vestido como pobre. Este se chama Ninguém, e diz:

- Que andas tu aí buscando?Todo o Mundo:- Mil cousas ando a buscar: delas não posso achar, porém ando perfiando, por quão bom é perfiar.Ninguém:- Como hás nome, cavaleiro?Todo o Mundo:- Eu hei nome Todo o Mundo, e meu tempo todo inteiro sempre é buscar dinheiro,e sempre nisto me fundo.Ninguém:- E eu hei nome Ninguém, e busco a consciência.(Berzebu para Dinato)- Esta é boa experiência!Dinato, escreve isto bem.Dinato:- Que escreverei, companheiro?Berzebu:- Que Ninguém busca consciência, e Todo o Munc/o dinheiro.

uG il Vicente. Auto da Lusitânia. In: Obras de Gil Vicente. Porto: Lello & Irmão, 1965. pp. 452-3.

E l Considere as seguintes afirmações:I. Em “ - Mil cousas ando a buscar”, o numeral possui valor

conotativo, não pode ser interpretado ao pé da letra.II. Do ponto de vista morfológico, sem levar em conta o con­

texto, o artigo em “Todo o Mundo” confere a ideia de intei­ro (o mundo inteiro); já se fosse ‘Todo Mundo”, a ausência do mesmo artigo remeteria à ideia de qualquer (qualquer mundo).

III. Interpretado somente como nome próprio, “Todo o Mundo” é personagem, pertence ao mundo da ficção; interpretado como pronome indefinido, seguido de artigo e substantivo, liga-se de forma mais abstrata à realidade de uma época, a um grupo social e sua visão de mundo.

Estão corretas:(a) apenas I. (tj> apenas II e III.(b) apenas II. (C) todas.(c) apenas I e II.

E l Ainda em relação à obra de Gil Vicente, leia as afirma­ções a seguir.I. Em “Ninguém busca consciência”, o duplo sentido da frase

decorre de um investimento nas classes gramaticais, há um termo que apresenta dupla função morfológica.

II. O duplo sentido da frase “Ninguém busca consciência” faz com que a ação de buscar não ocorra, se interpretarmos “Ninguém” como substantivo próprio.

III. No contexto, a personagem Berzebu interpreta os nomes “Ninguém” e “Todo o Mundo” como se fossem substanti­vos próprios e não pronomes.

Estão corretas:(a) apenas I. (c) apenas III. (e) apenas I e II.(b) apenas n . (d) apenas II e III.

E l Leia a frase a seguir.O PT entrou em desacordo com o PMDB por causa de sua

proposta salarial.

A frase é ambígua; dê as duas interpretações possíveis.

E l Vunesp Considere os enunciados a seguir.I. O senhor não pode deixar de comparecer. Precisamos do

seu apoio.II. Você quer que te digamos toda a verdade?III. Vossa Excelência conseguiu realizar todos os vossos inten-

tos?IV. Vossa Majestade não deve preocupar-se unicamente com os

problemas dos seus auxiliares diretos.Verifica-se que há falta de uniformidade no emprego das pessoasgramaticais nos enunciados:(a) H eIV . (C) Ie lV . (e) IIe III.(b) III e IV. (d) Ie f f l .

E t Fuvest Leia o texto a seguir.E mudo aquele a quem irmão chamamos,E a mão que tantas vezes apertamos Agora é fria jálNão mais nos bancos esse rosto amigo Hoje escondido no fatal jazigo Conosco sorrirá!

Page 57: Livros poliedro   caderno 1 português

Nesses versos de Casimiro de Abreu, o pronome destacado re­vela um emprego denotativo de:(a) tempo presente e proximidade física.(b' tempo passado e proximidade física.(c ) tempo futuro e proximidade física.(d) tempo futuro e afastamento físico.(e) tempo passado e afastamento físico.

Leia o texto a seguir.Que me enganei, ora o vejo;Nadam-te os olhos em pranto.Arfa-te o peito> e no entanto Nem me podes encarar;Erro foi, mas não foi crime.Não te esqueci, eu to juro:Sacrifiquei meu futuro.Vida e glória por te amar!

Gonçalves Dias.

Em dois versos do texto, um pronome substitui toda uma oração. Reescreva um dos versos em que isso ocorre.

O A polissemia é um fenômeno que ocorre com quase to­das as palavras, inclusive com pronomes, preposições e con­junções. Identifique a classe gramatical dos termos em itálico e dê o seu valor semântico.a) No mesmo dia, eu o encontrei vinte anos depois.b) Ela é a mesma pessoa, em todas as situações.c) Eu mesmo farei o serviço!d) Ela veio mesmo\

m ESPM Assinale o item em que o pronome destacado tenha valor semântico de possessivo:(a) “A borboleta, depois de esvoaçar muito em tomo de mim,

pousou-ME na testa.” (Machado de Assis)(b) “Começo a arrepender-ME deste livro. Não que ele ME

canse; eu não tenho que fazer.” (Machado de Assis)(c) “Perdi-ME dentro de mim / Porque eu era labirinto.” (Má­

rio de Sá Carneiro)(d) “Vou-ME embora pra Pasárgada / Lá sou amigo do rei!”

(Manuel Bandeira)(e) “Perdi alguma coisa que ME era essencial, e que já não ME

é mais.” (Clarice Lispector)

m Leia o provérbio abaixo.

Ninguém se levanta sem primeiro cair.

a) A quem se refere o pronome indefinido “ninguém”?b) Explique o provérbio.c) A frase possui conteúdo negativo; transforme-a de modo

que tenha conteúdo positivo, para isso altere o pronome indefinido e faça as adaptações necessárias (não altere se- manticamente a relação de subordinação).

O excerto a seguir pertence à peça Gota-D’Água, de Chico Buarque, servirá para as questões 59 e 60.

UJoana tentou reconquistar Jasão, porém não obteve sucesso e

com isso decidiu largar tudo e ir embora para recomeçar sua vida junto com seus dois filhos. Para poder se organizar, Joana pede ao pai das crianças que fique com elas por umas duas ou três sema­nas, ele por sua vez pede ajuda ao seu futuro sogro, Creonte, por estar sem dinheiro.

Joana então manda os filhos irem até a festa de casamento de Jasão e Alma levando um presente para esta última em sinal de que não havia mais ressentimento, porém ao entregarem o embrulho para Alma, Creonte, seu pai, não permitiu que abrisse julgando ser feitiço pelo fato de Joana ser macumbeira.

[ ...]

O Assinale a alternativa em que a relação causa e efeito não está em jogo.(a) pelo fato de Joana ser macumbeira.(b) por estar sem dinheiro.(c) em sinal de que não havia mais ressentimento.(d) julgando ser feitiço.(e) ao entregarem o embrulho para Alma.

m Sabe-se que pronomes e elipses (sujeito elíptico, por exemplo) exercem função coesiva no texto, isto é, retomam, introduzem palavras, frases, parágrafos; por essa razão são importantes para a interpretação. Leia as partes citadas a se­guir e veja se há correspondência com aquilo que se coloca entre parênteses.I. [...] com isso decidiu largar tudo (Joana tentou reconquis­

tar Jasão)II. [...] porém ao entregarem o embrulho para Alma [...] (Jo­

ana e os filhos)III. [...] pede ajuda ao seu futuro sogro, [...] (Creonte)IV. [...] o embrulho para Alma, Creonte, seu pai, [...] (Cre­

onte)V. [...] um presente para esta última em [...] (Joana)

Estão corretas:(a) apenas 1 e 3(b) apenas 2 e 4(c) apenas 3

Texto para a questão 61.

Olha, Marília, as flautas dos pastores,Que bem que soam, como estão cadentes!Olha o Tejo a sorrir-se! Olha; não sentes Os Zéfiros brincar por entre as flores?

(d) apenas 5 jÉÉ nenhuma

Page 58: Livros poliedro   caderno 1 português

Vês como ali, beijando-se, os Amores Incitam nossos ósculos ardentes!Ei-las de planta em planta as inocentes,As vagas borboletas de mil cores!

Naquele arbusto o rouxinol suspira;Ora nas folhas a abelhinha para.Ora nos ares, sussurrando gira.

Que alegre campo! Que manhã tão clara!Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira.Mais tristeza que a morte me causara.

Bocoge. Obras de Bocoge. Porto: Lello & Irmão Editores, 1968. p. 152.

eh O eu lírico em Bocage dirige-se a um interlocutor, cite os vocábulos responsáveis pela presença deste no texto. Indique seu valor morfológico.

O FGY Considere o trecho:... os sonhos haviam de ser assim tão tênues que se esgarçavam

ao menor abrir de olhos ou voltar de corpo...a) Identifique o tipo de relação existente entre as duas orações.b) Explique a diferença que há, quanto à morfologia, com a

palavra “abrir” em:I. ao menor abrir de olhos...”II. Ao abrir os olhos, viu um mundo que não conhecia.

Ea A mudança de classe gramatical pode constituir-se em recurso expressivo, como se observa em “vida severina”. Explique o processo de transformação desse vocábulo: a que classe gramatical pertencia, a que classe gramatical agora per­tence.

□ Em que momento do texto o autor emprega um advérbio para destacar a força da vida em condições adversas? Cite-o.

m Levando em conta o poema e o que se diz dele na sua introdução, que significado assume o termo “Severina”?

E3 Interprete a partícula destacada e identifique a alternativa em que há o valor semântico de situação, assunto:(a) Ficou aí, você não viu.(b) O pai tocou um blues, e aí ouvimos uma explosão.(c ) O policial aplicou um golpe, e aí o bandido caiu de vez.(d) E ai? O Robinho já foi vendido?(e) A í, tem um chiclete?

□ Fuvest Classifique gramaticalmente as palavras destaca­das em “ele faz melhor os produtos” e “ele faz os melhores produtos”.

Desloque uma das palavras da oração a seguir e crie doisnovos significados. Em seguida, explique a diferença de senti­do entre as três frases.

Ele só comia arroz.

Texto para a questão 69.

Longe de tudo £ livres, livres desta vã matéria, longe, nos claros astros peregrinos que havemos de encontrar os dons divinos e a grande paz, a grande paz sidérea.

Có nesta humana e trágica miséria, nestes surdos abismos assassinos teremos de colher de atros destinos a flor apodrecida e deletéria.

O baixo mundo que troveja e brama só nos mostra a caveira e só a lama, ah! só a lama e movimentos lassos...

Mas as almas irmãs, almas perfeitas, hão de trocar, nas Regiões eleitas, largos, profundos, imortais abraços.

Cruz e Sousa. Poesias completas. Florianópolis: Fundação Catarinense de Cultura, 1981. p. 158.

m Fuvest O texto confronta dois espaços para marcar a opo­sição “corpo e alma”.a) Retire do texto os dois advérbios que explicitam esses dois

espaços.b) Transcreva duas expressões formadas por adjetivo(s) e

substantivo que caracterizem esses espaços, identificando a que espaço cada uma se refere.

o Leia as seguintes frases.H A globalização pode ser negativa se a internacionalização

econômica beneficiar uns graças à exploração de outros.II. Educação, saúde, saneamento básico, rede elétrica, teleco­

municações e transporte são bens que, graças à globaliza­ção, atingem um número maior de indivíduos.

a) Em qual das frases seria mais adequado o emprego da lo­cução destacada, caso fosse levado em conta o significado do substantivo graças? Justifique sua resposta.

b) Reescreva os trechos “graças à exploração” e “graças à globalização”, substituindo a locução destacada por outra equivalente quanto ao sentido. Procure usar uma locução diferente para cada trecho.

Page 59: Livros poliedro   caderno 1 português

Texto para a questão 71.

Estes índios sõo de cor baço, e cabelo corredio; têm o rosto amassado e algumas feições dele à maneira de chinês.

Pela maior parte sõo bem-dispostos, rijos e de boa estatura; gente mui esforçada, e que estima pouco morrer, temerária na guerra, e de muito pouca consideração: são desagradecidos em grande maneira, e mui desumanos e cruéis, inclinados a pelejar, e vingativos por extremo. Vivem todos mui descansados sem terem outros pensamentos senão de comer, beber, e matar gente, e por isso engordam muito, mas com qualquer desgosto pelo conseguinte tornam a emagrecer, e muitas vezes pode deles tanto a imaginação que se algum deseja a morte, ou alguém lhe mete em cabeça que há de morrer tal dia ou tal noite não passa daquele termo que não morra. São mui inconstantes e mudáveis: creem de ligeiro tudo aquilo que lhes persuadem por dificultoso e impossível que seja, e com qualquer dissuasão facilmente o tornam logo a negar. São mui desonestos e dados à sensualidade, e assim se entregam aos vícios como se neles não houvera razão de honiens: ainda que todavia em seu ajuntamento os machos e fêmeas têm o devido resguardo, e nisto mostram ter alguma vergonha.

Pero de Magalhães Gândavo. In: Cronistas e viajantes. Literatu­ra comentada. Sâo Paulo: Abril Cultural, 1982, p. 33.

D l PUC-Rio Observe os usos de “mui” e “muito” nos seguin­tes exemplos do texto: “mui esforçada”, “mui desumanos”, “mui descansados”, “mui inconstantes”, “mui desonestos” e “engordam muito”. Comparando esses usos, identifique em que contextos morfossintáticos cada um deles é empregado.

m As preposições e locuções prepositivas, além de sua fun­ção primordial, que é ligar outras palavras de modo que estas constituam sintagmas nominais ou verbais, também podem expressar determinados valores semânticos. Veja o que ocorre com algumas delas nos trechos a seguir, transcritos de uma crô­nica de Luis Fernando Veríssimo:I. “O dr. Ariosto arrependido de ter feito a confissão.”II. “Quando sentiu que ia morrer, o dr. Ariosto pediu para fa­

lar a sós com a mulher...”III. “Outra mulher, outros filhos, até outros netos.”IV. “Mas tinha decidido contar ele mesmo. De viva, por assim

dizer, voz.”V. “Em poucas semanas, estava fo ra da cama.”Os valores semânticos das preposições e locuções prepositivas destacadas são, respectivamente:(a) causa, finalidade, adição, modo, lugar.(*>) causa, conseqüência, adição, origem, lugar.(c) conseqüência, finalidade, modo, modo, lugar.(d) modo, finalidade, adição, origem, origem.(e) modo, modo, adição, causa, lugar.

E l U. Met. A preposição ou locução prepositiva podem, ex­cepcionalmente, ligar orações. Assinale a alternativa em que isso ocorre.(a) Por causa da chuva, ali permaneceram até a madrugada.(b) Fomos à cidade a fim de receber os documentos.(c) O professor assentou-se e discorreu longamente acerca de

Aristóteles.(d) A casa devia ser construída de acordo com a planta do ar­

quiteto.(e) Enquanto almoçávamos, os garotos se esconderam atrás da

casa.

E l Assinale a alternativa em que a preposição destacada é vazia de significado.( a) Referiram-se aos alunos com muita delicadeza.(b) Eram homens do porto, só poderiam ser.(c) Vou à classe.(d) Criança em casa é um sossego.(e) Voar com a família é uma desgraça!

□ Fora do contexto, o trecho destacado na frase a seguir pode ter dois sentidos. Explique-os.A montagem dependia da aprovação do diretor.

Não sei, quando eu tiro esses óculos, tão fortes, até meus olhos se enchem d’água...” Assinale a alternativa em que a pa­lavra até possui o mesmo valor semântico.(a) Me disseram que na casa dele até cachorro sabe padre-

-nosso.>) Bebeu uma bagaceira, saiu para a rua, sob a chuva intensa,

andou até a segunda esquina, atravessou a avenida...(c) Até então, ele não inquietava os investidores, uma vez que

era utilizado para financiar investimentos.(d ) Não sei se poderei esperar até a próxima semana.(e) Foi até a sala e retomou.

E l Leia o texto a seguir.O projeto Montanha Limpa, desenvolvido desde 1992, por meio

da parceria entre o Parque Nacional de Itatiaia e a DuPont, visa ame­nizar os problemas causados pela poluição em forma de lixo deixado por visitantes desatentos.

Folheto do Projeto Montanha Limpa do Parque Nacional de Itatiaia.

A preposição que indica que o Projeto Montanha Limpa conti­nua até a publicação do Folheto é:(a) entre. (d.) por (pela poluição).(b) por (por visitantes). (e) desde.(c) em.

76

Page 60: Livros poliedro   caderno 1 português

o Cesgranrio Assinale a opção em que a preposição “com” exprime a mesma ideia que possui em: “Surge a lua cheia para chorar com os poetas”.(a) O menino machucou-se com a faca.(b) Ela se afastou com um súbito choro.(c) Tinha empobrecido com a seca.(d) Deve-se rir com alguém, não de alguém.

-) Ela se confundiu com a minha resposta.

O Um dos recursos expressivos de Guimarães Rosa con­siste em deslocar palavras da classe gramatical a que elas per­tencem.Das frases a seguir a única em que isso não ocorre é:

0 “... os mais detrás quase que corriam. Foi o de não sair mais da memória”.

>) "... não queria dar-se em espetáculo, mas representava de outroras grandezas”.

(ç) mas depois puxando pela voz ela pegou a cantar”.(d) sem jurisprudência, de motivo nem lugar nenhum, mas

pelo antes, pelo depois”.(e) ela batia com a cabeça, nos docementes”.

Texto para a questão 80.

Capítulo XVII Do trapézio e outras coisas

...Marcelo amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai, logo que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um capricho juvenil.

Desta vez, disse ele, vais para a Europa; vais cursar uma uni­versidade, provavelmente Coimbra; quero-te para homem sério e não para arruador e gatuno. E como eu fizesse um gesto de es­panto: - Gatuno, sim senhor, não é outra coisa um filho que me faz isto...

Sacou da algibeira os meus títulos de dívida, já resgatados por ele, e sacudiu-mos na cara.

- Vês, peralta? é assim que um moço deve zelar o nome dos seus? Pensas que eu e meus avós ganhamos o dinheiro em casas de jogo ou a vadiar pelas ruas? Pelintral Desta vez ou tomas juízo, ou ficas sem coisa nenhuma.

Estava furioso, mas de um furor temperado e curto. Eu ouvi-o calado, e nada opus à ordem da viagem, como de outras vezes fizera; ruminava a ideia de levar Marcela comigo. Fui ter com ela; expus-lhe a crise e fiz-lhe a proposta. Marcela ouviu-me com os olhos no ar, sem responder logo; como insistisse, disse-me que fica­va, que não podia ir para a Europa.

- Por que não?- Não posso, disse ela com ar dolente; não posso ir respirar

aqueles ares, enquanto me lembrar de meu pobre pai, morto por Napoleão...

- Qual deles: o hortelão ou o advogado?

Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Editora Nova Cultural, 1995. pp. 201 -2.

m A famosa ironia machadiana pode ser notada na maneira como o narrador encerra um capítulo e inicia outro: “[ . . . ] Mar­cela amou-me... ” e “...Marcela amou-me durante quinze meses e 11 contos de réis; nada menos. ” Observe como primeiro o autor cria a expectativa de que a personagem realmente amava o narrador; em seguida, trata logo de romper essa expectativa, ao sugerir que o amor de Marcela sempre esteve condicionado ao poder aquisitivo de Brás Cubas.Esse efeito irônico é resultante, em boa parte, do emprego expressivo da preposição “durante ”, cuja função é:(a) temporal, do ponto de vista denotativo; por outro lado, as­

sume uma função proporcional ou causai, do ponto de vista conotativo.

(b) temporal, denotativamente falando; em contrapartida, seu papel é espacial no sentido figurativo.

(c) temporal, tanto no aspecto denotativo quanto no conotativo.(d) proporcional ou causai, seja na dimensão denotativa ou na

conotativa.• > temporal, como linguagem denotativa; porém, essa função

passa a ser de comparação, como linguagem conotativa.

Texto para as questões 81 e 82.

CHRIS BROWRE

í h

a) Explique a funcionalidade dos pronomes de tratamento e seu efeito de sentido.

b) O que fica implícito na charge?c) Que tipo de ideia o conectivo “se” imprime à frase? Que

outro conectivo poderia substituí-lo?

CHRIS BROWNE

VOU ME EXPRESSAR EM TB*MOS COMPREENSÍVEIS

^SE vocêUMA CORDA NA

...PODE ^ ARRUMAR

HAGA R

' COMO ESTOU,

Page 61: Livros poliedro   caderno 1 português

m Que palavras do texto formam uma seleção lexical?

■ H Fatec (Adapt.) Considere o seguinte excerto:[...] E quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito [...]

Manuel Bandeira. Libertinagem.

Contrariando o emprego tradicional, a palavra “mas” não assu­me, no contexto citado, o papel de criar contraste ou oposição entre os enunciados que liga; antes, cria um vínculo de sentido de intensificação entre eles. Assinale a alternativa em que se repete esse emprego de “mas” .(a) Se você gosta, mas gosta mesmo de comer, então você tem

de conhecer Digeplus.Texto de anúncio publicitário.

(b) Na mesa do escritório (...] a cadeira onde sentava era injus­tamente mais alta do que as duas poltronas [...] reservadas aos seus interlocutores. Falava de cima, mas sabia ser suave, educado e divertidamente inteligente.

IstoÉ.

(e) Nos próximos anos ele vai torcer o pé no futebol, machucar o joelho no pega-pega, vai cair de bicicleta, da árvore... Mas tudo bem, ele já é associado Transmontano.

Texto de anúncio publicitário,

(o ) Então Macunaíma foi pescar porque agora não tinha mais nin­guém que pescasse pra ele não. Mas cada peixe que tirava do anzol e jogava no paneiro, a sombra pulava do ombro, engolia o peixe e voltava pro poleiro outra vez.

Mário de Andrade.

(e) Chegou a pegar o punhal que o índio lhe dera, mas compreen­deu logo que não teria coragem de meter aquela lâmina no peito e muito menos na barriga, onde estava a criança.

Erico Verissimo.

EDI As conjunções, além de sua função básica, que é a de ligar orações, também podem prestar-se à poesia. É o caso do breve poema a seguir, em que o jornalista e poeta carioca Artur da Távola (pseudônimo de Paulo Alberto Monteiro de Barros) obtém efeitos conotativos a partir de duas conjunções ampla­mente empregadas em português.

ProclamaçãoProclamo o e Diante do ou Sou e Não ou.Sou, se só.

Paulo Alberto M . Monteiro de Barros (Artur da Távola).

Considerando que o verbo “proclamar” significa “anunciar em público e em voz alta” ou ainda “eleger”, “aclamar”, pode-se dizer que o autor:

(a) se apresenta perante o leitor como um homem dividido entre ser ou não ser.

(b) defende a união entre os indivíduos (representada pela con­junção “e”, que indica adição) ao invés da desunião e do egoísmo (simbolizados pela conjunção “ou”, a qual sugere ausência ou falta)

(c) propõe uma reformulação da gramática normativa, por meio da qual a conjunção “ou” seria extinta.

(d) afirma que, se estiver só, dependerá do apoio de outros indivíduos; por isso, ele proclama a conjunção “e”, a qual exprime a ideia de adição (um indivíduo, somado ao outro, será mais forte, mais resistente, mais completo).

(e) prefere a ideia da exclusão à ideia da adição, expressas res­pectivamente pelas conjunções “e” e “ou”.

Texto para a questão 85.

Como as venc/as aumentaram nos primeiros meses do ano, os preços, como manda a lei da oferta e da procura num mercado perfeito como o nosso, aumentarão.

Um a revista de humor do Rio de Janeiro.

ia O conectivo “como” em “Como as vendas aumentaram” só não poderá ser substituído por:(a) já que. (c) porquanto. (e) visto que.(b) uma vez que. (d) ainda que.

m O excerto a seguir foi extraído do livro “Renascer Bra­sil”, de Valvim M Dutra.

A Democracia é um bom instrumento de liberdade, mas não é o fator determinante. A Grécia, por exemplo, que é tida pela maioria dos historiadores como o berço da Democracia, perdeu a liberdade várias vezes no último século, resultado de invasões, de guerras civis e de regimes militares: a mais recente de 1967 a 1974. (Uma situação pior que a brasileira, e que demonstra que o simples fato de conhecer ou praticar democracia não garante a preservação do estado de liberdade).

Portanto, precisamos considerar a Democracia como um bom instrumento social, e não como a mãe de todas as soluções. Por­que, se assim fosse, a nossa Democracia dos anos 60 não teria resultado numa revolução militar. E obvio que se houve uma revo- lução foi porque alguma coisa não andava muito bem. Além disso, democratizar não é misturar crianças com adolescentes e com adul­tos. A Democracia não tem como objetivo igualar estas três diferen­tes fases do ser humano. A ideia central da democracia é igualar o direito de opinião das diferentes classes sociais. Numa democracia desenvolvida, todos os cidadãos exerçam a mesma influência políti­ca independentemente de posição social. Na prática, o sistema de­mocrático tem como objetivo evitar que o poder econômico domine o país e oprima os mais pobres. (Uma realidade que as lideranças brasileiras não têm dado o devido enfoque).

[...]Valvim M Dutra. Extraído do capítulo 4 do livro Renasce Brasil.

Page 62: Livros poliedro   caderno 1 português

a) Dê o valor semântico do conectivo “e” nas duas ocorrên­cias abaixo:“...a Democracia como um bom instrumento social, enão como a mãe de todas as soluções.”

o sistema democrático tem como objetivo evitar que o poder econômico domine o país e oprima os mais pobres.”

b) Em que medida a democracia não é sinônimo de liberdade? Argumente de acordo com o texto.

Texto para a questão 87.

Anatomia do monólogo ser ou não ser? er ou não er? r ou não r?

ou nõo? onõ?

José Paulo Paes.< www.revista.agulha.nom.br/jpaulol .html#anatomia>.

H E I Em relação ao texto de José Paulo Paes, responda:a) O título “anatomia do monólogo” pode ser explicado em

função do aspecto visual da poesia. Comente.b) Sabe-se que as conjunções assumem vários valores semân­

ticos, por isso a classificação é perigosa. Empregue outra conjunção coordenativa no lugar de “ou” e (de outra clas­sificação, mas ainda coordenativa; procure não alterar a relação semântica.

Texto para a questão 88.

UE reabre parcialmente importação de frango da China

Ao mesmo tempo em que retarda qualquer decisão que pos­sibilite aos EUA retomar suas exportações de carne de frango para o bloco (o argumento é o de que os norte-americanos desinfetam suas carcaças com cloro), a União Européia reabre — embora par­cialmente - suas portas à carne de frango de origem chinesa.

A reabertura atenua um embargo de ordem sanitária mantido sobre todos os produtos da avicultura chinesa há quatro anos e que foi declarado logo após a China ter anunciado, oficialmente, os primeiros casos de Influenza Aviária no país.

A atenuação do embargo não envolve carnes avícolas e ovos in natura, apenas produtos tratados a uma temperatura mínima de 70 °C, considerada suficiente para inativar algum vírus da Influenza Aviária eventualmente presente no produto. Além disso, está restrito apenas à província de Shandong e, assim, exclui outras 29 províncias chinesas, sobre as quais prevalece o embargo total.

Ainda que duplamente parcial, essa reabertura não deve ser me­nosprezada - avaliam analistas europeus. Primeiro, porque a província de Shandong é a principal região av/co/a chinesa, tendo sido respon­sável (2006) por 10% de toda a carne de frango produzida pela Chi­na. Segundo, porque imediatamente após os primeiros embargos as empresas locais passaram a investir com ênfase no pós-processamento

(frango cozido) e hoje têm uma capacidade de atendimento bem maior que há quatro ou cinco anos. E isso, completam, deve acelerar o ritmo de expansão das exportações chinesas.

Redação Avisite. Fonte: < www.agrolink.com.br/gripeaviaria/ NoticiaDetalhe.aspx?codNoticia=74605> .

m PUC-PR Os pronomes, os advérbios, os numerais e as con­junções são recursos lingüísticos que atribuem coesão ao texto, ou seja, estabelecem relações de sentido entre as unidades tex­tuais. A esse respeito, assinale a alternativa que apresenta uma informação inadequada,

l) A expressão “ainda que” (4o parágrafo) indica a ideia de concordância. Por meio dela, o autor confirma a importân­cia do embargo.

(b) No enunciado “... essa reabertura não deve ser menospre­zada”, o pronome “essa” retoma a ideia da reabertura das negociações entre União Européia e China, apresentada nos primeiros parágrafos do texto.

(c) Em “a União Européia reabre - embora parcialmente - suas portas à carne de frango de origem chinesa”, o co­nectivo “embora” pode ser substituído por “todavia”, sem prejuízo do sentido da oração.

(d) O pronome “isso”, na última frase do texto, refere-se ao investimento em pós-processamento realizado pelas em­presas locais.

(e) A expressão “ao mesmo tempo em que” ( Io parágrafo) in­dica a ideia de simultaneidade.

m FGV Assinale a alternativa em que se repete a conjunção como da frase - “COMO lembra a revista The Economist, são essas as pessoas que mais estão sentindo o rigor da crise”.(a) O candidato republicano, tal como Obama, também pre­

tende ampliar o corte de impostos iniciado por Bush.(b) Não se sabe como o americano se comportará até o final

da campanha.(c) Como o americano, no fundo, é conservador, é provável

que Obama não leve a melhor.(d) Os especialistas em previsões eleitoreiras poderão dizer

como o candidato deve agir para ganhar as eleições.(e) Dizer que Obama é um desenraizado, como pretendem al­

guns, já é um exagero.

E 3 PUC-Rio (Adapt.) Leia o texto a seguir.A única resolução aprovada foi a de que, para evitar a per­

seguição, todos se despojassem de sinais ostensivos de serem da classe média, como carro pequeno etc., e passassem a viver como pobres. AS nõo seria rebaixamento social, seria disfarce.

Luis Fernando Verissimo. A classe.

Escreva duas frases em que a palavra “aí” esteja empregada com o valor semântico e de uso:a) igual ao do trecho citado;b) diferente do trecho citado.

Page 63: Livros poliedro   caderno 1 português

Morfologia - formação de palavras

FRENTE 1

A abertura desse capítulo dialoga corri .ojgrtúncio de uma famosa marca de chocolates e emprega cóffio mgcaiilnip de criatividade a aprçxknação entre fèSiificante e-4> -

iÍ|jnífS|bdo (gofas de âioCôlatê sàffiaò das letras) e o neologismo, a palavra inventada. | O êrujneiador empregou duas patavraí;conhecidas ("chocolate", "compulsivo") cujo

sirniificado seria cctnpuH® por chocolate. Trafa-se de neologismo.composto aglLrtinççqo, pois houve perda de fonemas em st# composição.

Page 64: Livros poliedro   caderno 1 português

Morfemas da línguaOs morfemas são elementos que compõem uma palavra e

podem ser assim classificados:

Radical0Que pode uma criatura senão,entre criaturas, amar?amar e esquecer,amar e malamar,amar, desamar, amar?sempre, e até de olhos vidrados, amar?M

C a r lo s D rum m ond de Andrade. "Am ar".

Trata-se da unidade de maior significação da palavra. Se­gundo o gramático Celso Cunha, é o radical que irmana pala­vras da mesma família (palavras cognatas):

t ifcriE ÊM9NHO

Bb H Iuca d e s ^ a d a

Raiz é o morfema originário, que contém o núcleo signi­ficativo comum a uma família lingüística. Veja os principais radicais gregos e latinos nas tabelas a seguir.

Radicais Sentido Exemplosacro- alto acrofobiaaero- ar aeronaveagro- campo agronomia

antropo- homem antropófagoaristo- melhor aristocraciaatmo- ar atmosferaauto- próprio autobiografia

baro- peso, pressão Barômetrobiblio- livro biblicAecabio- vida biografia

caco- mau cacografia

céfalo- cabeça cefale iacito- célula citologia

cosmo- mundo cosmcÁogiadico- em duas partes dicotomiaeno- vinho endlogoetno- povo efnografiafono- som, voz fonologia

gastro- estômago gastronomiahemo- sangue hemogramahidro- água hidrografiahigro- úmido higrômetrohomo- igual homófonoidio- próprio /d/ossincrasia

macro- grande macrdbiometra- útero, mãe mefròpolemicro- pequeno micróbiomono- um monólogonecro- morto necrotérionefro- rim nefrite

odonto- dente oc/ontologiaoftalmo- olho oftalmologia

Radicais Sentido Exemplosorto- correto ortografia

pneumo- pulmão pneumcÀ ogiasemio- sinal semici ogiatele- longe telefone

xeno- estrangeiro xenofobiazoo- animal zoologia

Tab. 1 Radicais gregos (primeiro elemento).

Radicais Sentido Exemplos-agogo condutor pedagogo- algia dor nevr algia- arquia comando monarquia- cômio habitação mani cômio- cracia poder demo cracia- dromo lugar para correr hipódromo- fagia ato de comer antropo fagia- fobia temor hidro fobia- gamia casamento mono gamia- geno, - gêneo origem, procedência alienígena, homogêneo- grafia escrita geografia- latria culto ido latria- logia estudo teologia- metro que mede hod ômetro-morfo que tem a forma antropomorfo

- polis, - pole cidade metrópole- sofia sabedoria filo sofia-teca lugar onde se guarda video teca- tomia divisão dico tomia- tono tom monótono

Tab. 2 Radicais gregos (segundo elemento).

Radicais Sentido Exemplosagri- campo agric ulturaapi- abelha ap/cultorbeli- guerra £>e//gerância

bene- bem benefíciocentri- centro centrífugoigni- fogo ignNomooni- todo on/potência

pisci- peixe p/sepulturaquadr-, quadru- quatro quadrúpede, guadricromia

sui- a si mesmo suicídiotri- três frfcampeonato

uxori- esposa uxoric idavini-_________________________ . . . .____ vinho wnÂcultura

Tab. 3 Radicais latinos (primeiro elemento).

Radicais Sentido Exemplos-cida que mata uxori cida-co la que cultiva ou habita arbo rícoia

- cultura ato de cultivar api cultura-fero que contém ou produz aur ífero-fico que faz ou produz benéfico

- forme que tem a forma punti forme-gena nascido em alienígena-paro que produz ovíparo-pede pé velocípede-sono que soa uníssono- vago que vaga noctí vago- voro que come herbívoro

Tab. 4 Radicais latinos (segundo elemento).

Page 65: Livros poliedro   caderno 1 português

FERN

ANDO

G

ON

SAIE

S.

TemaÉ o radical acrescido da vogal temática (morfema que ca­

racteriza nomes e verbos).

Dent + e Cant + a + rt J L_J l J L_l L_J

I % I I 4rad. v.t. rad. v.t. desinência

tema tema

N os verbos, as vogais temáticas indicam a conjugação. Enxug + a + r Perd + e + r Part + i + r° í_j i—i i_j

I I Iprimeira segunda terceira

DesinênciaTrata-se do morfema indicativo das flexões das palavras.

Desinências nominaisGat + a + si-j UJ

I $gênero número

Desinências verbaisCant + á + va + mos

f Imodo-temporal número-pessoas

\ 4 \ \indicativo pretérito plural primeira

imperfeito pessoa

Vogal e consoante de ligaçãoSão elementos mórficos não significativos que servem ape­

nas para evitar encontros desagradáveis e facilitar a pronúncia: Gas + ô + metro Pau + 1 + adaUi I—I

* | vocal de ligação consoante de ligação

AfixosTrata-se de morfemas destinados à formação de derivados. Há

os prefixos, antepostos ao radical, e os sufixos, pospostos a ele.

Des + dent + ada

4 4prefixo sufixo

Observe o segundo quadro da tirinha.

Fig. 1 Na fala do cão, aparece a palavra “desconversa”, a qual é com­posta pelo prefixo des-.

PrefixoOs prefixos de nossa língua são de origem latina ou grega,

alguns apresentam alteração em contato com o radical, assim o prefixo an- indicador de privação, transforma-se em a- diante de consoante.

an-e stesia a-patia O radical estesia significa sentidos; anestesia, privação de sen­tidos. O radical patia origina-se do grego pathos, paixão; apatia significa ausência de emoção, de paixão. Muitos prefixos são polissêmicos, assumem vários significados.

desvario c/espregar

\ \ excesso ação contrária

Os prefixos possuem mais independência que os sufixos, pois se originam, em geral, de advérbios ou preposições, que têm ou tiveram vida independente.Veja:

Agiu contra todos Não se contrapôs

% l preposição prefixo

Prefixos Sentido Exemplosan-, a- negação, privação anarquia, acéfalo

ana- decomposição, inversão, repetição análise, anagrama, anáfora

anfi- ao redor de, duplicidade anfiteatro, anfíbioanti- oposição, contra antitese, antipatia, antiaéreoapo- afastamento, separação apogeu, apóstoloarqui-, arque-, arc, arce, arci-

superioridade, precedência arcanjo, arcebispo, arcip reste

dia-, di- movimento através de, afastamento, duplicidade d/afano, d/acronia, ditongo

dis- dificuldade, falta, mau estado

dispnéia, d/ssemetria, d/se nteria

endo- movimento para dentro endove noso, endoscopia

epi- posição superior, poste­ridade epÁjerme, ep/logo

eu- perfeição, excelência, bem i eugenia, eufonia, eucaristiahemi- metade /iem/sfério, hem/stíquiohiper- superabundância, excesso hipóiboie, hipertrofiahipo- posição inferior, por baixo de i hipoóerme, hipótesemeta- mudança, sucessão metáfora, metacarpopara- proximidade, paralelismo paradigma, pará grafoperi- em torno de, em volta de perimetro, peripéciapoli- coleção, multiplicidade polie dro, polis sílabo

pro- movimento para frente, adiante

prólogo, prognóstico, pro­grama

proto- anterioridade, o primeiro protótipo, protomártirsin-, sim-, si- simultaneidade sintaxe, simpatia, sAnetria

Tab. 5 Prefixos gregos.

Prefixos Sentido Exemplos

a-, ab-, abs- afastamento, separação, privação

aversão, apolítico, abdicação, abster-se

ad-, a- aproximação, soma, mudança de estado

abeirar-se, ajuntar, aguentar, assustador, adjunto, acA/érbio

ambi- duplicidade a/nMJestro, amb'Nalente

ante- anterioridade, antece­dência antepor, antever

bene-, ben-, bem- fazer bem benevolente, bendizer, benfei­

tor, bem-vindobis-, bi- repetição, duas vezes bisavô, b/pede

circum- movimento em torno de c/rcum-navegação, circumi- zinhança

Page 66: Livros poliedro   caderno 1 português

P r9f|ip$ ,^ PPPPb Sentidocis- posição aquém c/splatino, c/sandinocom-

- -... ...— ... .. '......companhia, reunião compadre, condomínio

contra- oposição, posição seme­lhante ou próxima

contradizer, conframestre, contrarregra

de-movimento de cima para baixo, separação, intensidade, ablação

decrescer, deportar, decantar, depenar

dis- separação, distribuição dispersar, d/sseminar

em-, en-, e-movimento para dentro, mudança de estado, superposição

embeber, engarrafar, enru- bescer, emolar, empilhar

es-, ex-, e- movimento para fora, intensidade, atividade

esfolhar, exportar, emigrar, esforçar, escoicear

extra- posição exterior, fora de exfraclasse, exfraoficial

im-, in-, i-sentido contrário, ne­gativo, movimento para dentro

/nfeliz, /mpróprio, inevitável, /mortal, /ngerir, /mportar, /migrar

intro-, intra- movimento para dentro, dentro de /'nfrovertido, intravenoso

per- movimento através de pernoitar, percorrerpos- ação posterior pós-escrito, posposto

pre- anterioridade pré-datar, pró-clássico, pre­destinada

pro- antes, em frente, adiante proqresso, pronome

preter-, pro- além, mais para a frente, movimento para a frente

preterir, prosseguir, propor, proa redir

re- movimento para trás, repetição regredir, reler

retro- movimento mais para trás

retroceder, retroagir

sesaui- um e meio sesou/centenáriosub-, sus-, su-

inferioridade, movimento de baixo

subdelegado, subir, suster, supor

sob-, so- para cima suboor, soterrarsuper-,suora-

posição superior, acima de

superprodução, supracitado

ultra- além de. excesso u/framarino. uitrassomvice-, vis- em luaar de wce-oresidente, v/sconde

Tab. 6 Prefixos gregos.

SufixosOs sufixos podem ser nominais, verbais ou adverbiais. For­

mam, respectivamente, nomes (substantivos, adjetivos), verbos e advérbios (a partir de adjetivos).

realismo afranc esar levemente

4 4 4sufixo nominal sufixo verbal sufixo adverbial

Sufixos nominaisI. Grau

Sufixos !?. Exemplos

-aça barcaça, mulherapa

-aço ricaço

-alhão vagalhão, porcalhão

-alho, -alha politicalha, muralha, genta//7a

-anzil corp anzil

-ão portão, narigão

-aréu povaréu

-arra bocarra

-arrão sant arrão

-astro poet astro

-az cart az

-ázio cop ázio

-orra cabeçorra

-uça dentupa

Tãiâ-1 Grau aumentativo.

Sufixos Exemples

-acho riacho, populacho

-ebre casebre-eco 1 livreco

-ejo luqare/'o

-ela ruela-eta sal ete

-ete foguete

-eto poemeto

-ico burrico

-iço caniço, arranhiço

-im espad/m

-inho bolinho, povinho, espertinho

-isco chu visco

-ito cabrito-ola rapazola, beiço/a

-ota ilhote

-ote velho/e

-ucho gorducho

-ula flâmula, radícula-ulo homúncu/o, corpúscu/o, glóbulo

Tab. 8 Grau diminutivo.

Figi 1 Grau diminutivo.

‘A gentalha q u e a n d a p e lo s a n d a im e s e q u e va i p ra c a s a

P o r v ie la s q u a se ír re a is d e e stre ife za e podridão.”

| ‘Atirèn^

itm&Gérii ie p a ra [dentro d a s f o rn a lh a s ! '

5es (F<êÊÊ&p F^sS Í||^ |:^riurt|ar’!■ m

m .mm

W

Fig. 2 Grau aumentativo.

Page 67: Livros poliedro   caderno 1 português

üfe. S u f ix o s l l l i M % Exemplos-érrim o p a u p é rr im o

-im o dificíl im o

- ís s im o altí s s im o , sant í s s im o

Tab. 9 Superlativo.

II. Noção de quantidade

Tab. 10 Característica acentuada, abundância ou coleção.

III. Noção de ação

Tab. 11 Resultado de ação, estado ou qualidade.

IV. Naturalidade

V. Agente

Sufixos -T 1 Exemplos-a ço chumapo-a d a boiac/a, moçada-a g e m folhagem•ai algodo a l

-a iha c o rd o a lh a

-a m e vasilhame-aria cavai aria, livrar/a-ario cas ario

-e d o arvoredo-io mulher/o•o so gorduroso, corajoso, religioso-u d o barrigudo, cabeludo, bicudo-u m e cardume

Sufixos g Ê t ü !-a n ç a , -â n c ia mudança, relutâ n c ia

-çã o , - s s ã o ora çã o , agrega çã o , progressão-d a d e mal d a d e

-d ã o solidão•dura mordedura, racha d u ra

-e n ç a , -ên c ia nasce n ç a , incompetên c ia

- e z surdez- e z a beleza, frieza- ic e velhice , burric e

-íc ie cal v ic ie , imund íc ie

- is m o c iv is m o

-n te semelhaníe, resistente, pedinte-m e n to acolhimento, fragmento-ura brancura, formatura-v e l d u rá v e l, p e r e c ív e l

HH Sufixos í f j P-a n o sergipano-ã o alemão•eiro brasil eiro

-e n o madrileno, chileno- e n s e amazonense, cearense- ê s português-e s a inglesa-e u europeu-ino florent/no-ista paul ista , sul is ta

-o i espanh ol

Sufixos Exemplos . i; ; <-ário bibliotecár/o-d o r modelador, comprador-eiro verdureiro, ca rc e re iro

-e n te agente, s e r v e n te

-ista d e n tis ta , jornal/sía-(t)or mentor, agricultor- (s )o r professor, assessor

Tab. 13 Profissão, ofício.

VI. Noção de lugar

m u sufixos , mw b ê ê ê ê Exemplos 1 | T f l f r j-ário orquid ário, vesti ário

■douro b e b e d o u r o , ancora d o u ro

-eiro canteiro , v ive iro

-ório dormitório, refeitório

Tab. 14 Onde se pratica a ação.

VII. Nomenclatura científica

«: SufiXOS Exemplos M lÊ Ê Ê È r ' $ 8 %

-a to sulfato- e n o acetil e n o

-ina anil ina

-ite bronqu/te, sinus/te, apendic/te-ó id e alcal o/de• o s e verminose, celulose

Tab. 15 Nomenclatura científica.

Sufixos verbais

Sufíxòs Aspecto verbal Significado Exemplos-ea r frequentativo ação repetida folhear

-en ta r factitivo ação prolongada afugentar, a g u e n ta r

-icar frequentativo ação repetida beber icar, depen icar

-ilhar frequentativo ação repetida j fervilhar, enrod ilhar

-inhar frequentativo ação repetida escrev in h a r

-iscar frequentativo ação repetida | ch u v isca r, lambisc a r

-itar iterativo ação repetida dorm itar, saltitar

-izar factitivo ação prolongada j civil izar, util iza r

Tab. 16 Sufixos verbais.

Tab. 12 Origem, procedência.

Sufixo adverbialO único sufixo adverbial da língua é -mente. A palavra

“eternamente, por exemplo, é formada pelo radical “eterno” mais o sufixo -mente. Veja como o poeta trabalha a palavra criativamente, ressegmentando-a.

Fig. 4 Grafite em muro, no início dos anos 80.

Page 68: Livros poliedro   caderno 1 português

Sufixo no ciênciaAlguns sufixos pertencentes à terminologia científica:

DerivaçãoTemos seis tipos de derivação:

Na química:a) -ato/-eto/-ito\ nomes de sais - clorato cloreto cloritob) -ina: alcalóides e álcalis artificiais - cafeína anilinac) -io: corpos simples - potássio sódiod) -ol: derivados de hidrocarbonetos - feno/ naftol

Na mineralogia e geologia:a) sufixo -ita, espécies minerais: piritab) sufixo -ito, rocha: granitoc) sufixo -ite, fósseis: amonite

Na lingüística:É comum o emprego do sufixo -ema, menor unidade dis­

tintiva/significativa:• fonema: menor segmento distintivo em uma enunciação (o

fonema /s/, por exemplo)• morfema: menor unidade gramatical de forma (o radical

am em “amar”, por exemplo)A seqüência -ar será considerada sufixo, quando estiver

em palavra derivada (fumar); caso contrário, teremos a vogal temática -a seguida da desinência de infinitivo -r (cantor). Só se inventam verbos terminados em sufixo -ar. Veja esse excerto de Bandeira:

Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.Intransitivo:Teadoro, Teodora

Manuel Bandeira.

Form afào de p a lavras

PiÇÇÇ Kkkkkkk P U T SÜ Ül u \ O r r a m e u !! ! f lc H íT lll

Mano véio xriís? c^eAAaca ÔLOKO <=\fe'se'pade/l Psiu RS

Pirei! A ff A h a h a Obs:R g . 5 Form ação de palavras.

Há dois grandes processos de formação de palavras no por­tuguês: a derivação e a composição. Na derivação, temos ape­nas um radical, a palavra é derivada de outra; na composição temos ao menos dois radicais, a palavra é composta. Compare:

derivação: composição:

chuv/isco manda/chuva f V * *

radical sufixo radicai radical

Tanto na derivação quanto na composição é comum a per­da de fonemas (assimilação):

a + terra + ar = aterrar (a + ar = ar)

Derivação prefixaiJá o João, pelo sim, pelo não, sua marcha ainda mais muito

incoordenada.- Olhe lá: eu não vou contar a ninguém onde foi que estivemos

até agora [...]Guimarães Rosa. "Nós, os temulentos".

Acréscimo à esquerda do radical. A palavra é criada a partir de um prefixo (geralmente preposições e advérbios extintos ou vivos).

refresco ctesleal compor contrapeso

No excerto citado, Guimarães Rosa cria um neologismo por meio do prefixo in-\ trata-se de um recurso expressivo.

Derivação sufixai[ ...] depois verticou-se, disposto o prosseguir pelo espaço o

seu peso corporal. Daí, deu contra um poste. Pediu-lhe: - Pode largar meu braço. Guarda, que eu fico em pé sozinho [...]

Guimarães Rosa. "Nós, o s temulentos".

Acréscimo à direita do radical. A palavra é criada a partir de um sufixo:

sozinho dentuça lindamente escurecer barbudo

O vocábulo verticou-se, no excerto citado, é neologis­mo verbal criado a partir do vocábulo vertical’, para isso, o autor empregou o sufixo -ar na forma infinitiva (verbal + ar) e a seguir conjugou esse verbo no pretérito perfeito (verticou-se).

Derivação parassintética

Diminui fila para em barcar açúcar no Brasil

A fila para embarque de açúcar nos portos brasileiros caiu de 47 para 43 navios em um período de sete dias encerrado no dia 22$ segundo relatório publicado pela agência marítima Williams Brazil.

< Http://netmarinha.uol.cJ>m.br/index.php?optión=?corn_content&vieW=

artide&id = 17343 :diminyi-fila-para-embarcar-acucar-no-brasil&catid:

, .15 :outras&ltemicte7'>1

m m m

Acréscimo à esquerda e à direita do radical (acréscimo simultâneo):

enforcar amolecer adoçar envergonhar avermelhar embarcar

O vocábulo embarcar, citado no título do excerto, é forma­do a partir do radical barco, com acréscimo do prefixo em- e do sufixo -ar.

Page 69: Livros poliedro   caderno 1 português

Prefixai e sufixai

Acréscimo à esquerda e à direita do radical (acréscimo não simultâneo):

deslealdade inutilizar desni velar desmoralizar

prefixai e sufixai:

des\ea\dade «■* desleal lealdade

4 4(existe) (existe)

parassíntese:ajoelhar ■+ ajoelh joelhar

4 4(não existe) (não existe)

O vocábulo deslealdade, citado na manchete do artigo, é formado a partir do radical leal, com acréscimo de prefixo des- e de sufixo -dade; tal acréscimo não é simultâneo, uma vez que temos desleal e lealdade.

Derivação imprópriaMeu partidoE um coração partidoE as ilusões estão todas perdidas

Cazuza e Roberto Frejat. "Ideologia®

Não há alteração na forma, mas na classe gramatical.

O sim me excita, o não me irrita.

4 4advérbios substantivados

Descoberto o funcionário fantasma.

4substantivo

viraadjetivo

O querido do papai chegou!

4particípio

viraadjetivo

O técnico Leão foi contratado.

substantivo comum vira

próprio

Era um judas!

substantivo próprio vira

comum

Derivação regressivaChoro e luto reúne fãs de M ichael Jackson no Rio."Não consegui parar de chorar", diz sósia do cantor. Fã cole­

ciona itens há 37 anos e já soma 15 mil fotos. http://g 1 .globo.com/Noticias/Musica/0„MUL1209025-7085,OO -CHORO

+ E + LU T O + R E U N E M + F A S+ D E + M IC H A E L+ JA C K SO N + N O + R IO .h tm l

Há decréscimo de fonemas. Na sua maioria, trata-se de substantivos deverbais, isto é, oriundos de verbos: arranjo (de arranjar) choro (de chorar)debate (de debater) leva (de levar)

Para saber se o substantivo é primitivo ou derivado, basta verificar o seguinte:

indica coisa: é primitivo

substantivo! -*- indica ação: é derivado (derivação regressiva)

há um menor número de fonemas, se compara o verbo (luta-lutar)

Exemplos:luta - lutar

4 4subst. verbo

joelho - ajoelhar

4subst.

4verbo

Luta = ação =s> palavra derivada (derivação regressiva). Joelho = coisa => palavra primitiva.

A T E N Ç Ã O !

O gramático Rocha Lima registra os casos de "comuna" (de comunista) e "delega" (de delegado), gírias, como substan­tivos não deverbais formados por derivação regressiva.

Nos dois últimos exemplos, temos o substantivo comum' virando próprio e o próprio virando comum. Trata-se também de derivação imprópria.Veja as principais mudanças:a) de substantivo comum para o próprio

O jogador Coelho deixou o Timão.b) de substantivo próprio para comum

Era um valdomiro da vida.c) de adjetivo para substantivo

O velho de cara nova: cinema americano.d) de substantivo para adjetivo

- Ele é burro, de um raciocínio invejável!!e) de verbo para substantivo

Tinha um olhar de desconcertar hipopótamo.f) de substantivo/adjetivo/verbo para interjeição

- Viva! O Brasil é campeão!g) de verbo e advérbio para conjunção

Seja homem, seja mulher, o importante é o caráter.h) de adjetivo para advérbio

A garota que fala bonito.i) de particípio a preposição

- Salvo José, todos derramaram o sangue, j) de particípio para substantivo e adjetivo

A am ada vestia o luto da incompreensão.Meu partido é um coração partido.

No anúncio publicitário a seguir, a derivação imprópria é explorada como mecanismo de criatividade e persuasão.

“Não é por acaso que o ticket restaurante mais conceituado e confiável do país é o Ticket Restaurante.”

Page 70: Livros poliedro   caderno 1 português

Na primeira ocorrência, o substantivo próprio virou co­mum. E freqüente observamos a derivação imprópria no mun­do das marcas; substantivos próprios como Guaraná e Chiclete, entre outros, costumam ser usados como substantivos comuns (Guaraná = refrigerante; Chiclete = goma de mascar).

ComposiçãoPalavras compostas são aquelas que apresentam mais de um

radical, no mínimo dois. Os radicais primitivos perdem a signifi­cação própria em benefício de um único significado, novo, global. Há dois tipos de composição em nossa língua. São elas: justa­posição e aglutinação.

JustaposiçãoLosangos tênues de ouro bandeiranacionalizavam o verde

dos montes interiores.Oswald de Andrade.

Conserva a forma e a acentuação dos radicais de origem, não há perda de fonemas.

Com hífencobra - cega

4 4sub. + adj.

segunda - feira

4 4numeral + sub.

Sem hífenVossa Excelência

4 4pron. + subst.

vaivémt 4

V . + V .

mandachuvaI_____« ■4 4v. + subst.

televisãoI ■ ■■ !- - .. 14 4

rad.+subst.

AglutinaçãoE, desistindo do elevador, embriagatinhava escada acima. Pode

entrar no apartamento. A mulher esperava-o de rolo na mão. - Ah,querida! Fazendo uns pasteizinhos para mim? - o Chico se comoveu.

Guimarães Rosa. "Nós, os iemulentos".

Não conserva a forma e é subordinado a um acento único,havendo alteração fonética:

perna + alta4 4

subst. adj. i »4

pernalta

Outros exemplos: aguardente, pontiagudo, quintessência, hidrelético, boquiaberto, agridoce, planalto, embora.

livre - pensador

4 4adj. + sub.

pica - pau

4 4verbo + sub.

Nosso Senhor

4 4pron. + pron.

girassol

4 4v.+subst.

biólogo

t 4rad. + subst.

passatempo

4 4v. + subst.

Outros processos Abreviação

Trata-se da redução de fonemas; a palavra se apresenta de forma reduzida e não plena. Observe esta manchete.

Fig. 6 Abreviação.

Na manchete, as palavras “moto”, “pneu” e “apê” são for­mas reduzidas de motocicleta, pneumático e apartamento. A essa redução de fonemas dá-se o nome de “abreviação”. Veja outros exemplos: Zé (José), auto (automóvel), quilo (quilograma).

Fig. 7 Onomatopéia.

É possível criar uma onomatopéia a partir de palavras que já existem. Observe a música de Djavan.

UPoeira tomando assentoRajada de ventoSom de assombraçãoUZum de besouro,Um ímã

Djavan, "Açaí".

As expressões “som de assombração” e “zum de besouro” (por meio da aliteração do fonema s e do fonema z) reproduzem, respectivamente, o barulho do vento e o som do besouro.

Veja algumas onomatopéias: múúú, splash, bum!, tique- -taque, au au, plac, plac, slam!, slam!.

DIÁRIO

DA FAVELAM orro da Vela, segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

Moto roubada é pega em apê"No apê de bacana, polícia descobre pneu e moto roubados"

Ontem, por volta das quatro da m os policiais encontraram no apê d pneus, uma moto e várias peças r< Questionado sobre a “muamba", J.

Page 71: Livros poliedro   caderno 1 português

Hibridismo

S É R 6 I0 RODRIGUES

, . W h a t

l í n g u a ^

i s e s t a rESTRAH6EIRISM 0S,

NEOLO&ISMOS,

LULISMOS E o OUTROS MODISMOS J Ê L

Fig. 8 Hibridismo.

Hibridismo são palavras cujos elementos provêm de lín­guas diferentes:

Trata-se da invenção de novas palavras. Para que isso aconteça, é preciso levar em consideração dois aspectos:• o enunciador deve ter reconhecida competência lingüística;• é preciso que não haja no léxico palavra com igual sentido.

São famosos os neologismos criados por músicos e poetas;eis alguns deles:

Autor Neologismo

embriagatinhavaHitlerocidadeaquém-túmuloexclamouzãocombeber

Guimarães Rosa gaviõoõopernibambodespedidosazupicandocompalavradosepilogava

Mário de Andradebrincabrincandodançarinamente

Drummond[...] e quanto mais as ondas me levavam as fontes de Maria mais chuvavam [...]

alcoômetro S árabe e gregofrancês e grego

latim e gregoportuguês e grego

grego e latimTab, 17 Palavras formadas por hibridismo.

Neologismo

Fig. 9 Neologismo.

Page 72: Livros poliedro   caderno 1 português

f § RevisandoTexto para as questões de 1 a 6.

Argentina Urgente! Gracias, Dunga!BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O escu-

Ihambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! E sabe o que o s deputados gritaram quando passou o projeto Fi­cha Limpa? SUJO! Rarará! Ficha Limpa? Sujô! E um leitor me disse que esse projeto Ficha Limpa parece aquele rolo novo de papel higiênico que já foi estreado. Rarará! Lula lança Plano Nacional de Combate ao Crack. Dunga diz que é plágio! [...]

E adorei a charge do Duke com o Lula ao telefone: "Me liga mais tarde! Vou ali resolver o s problemas do mundo e já volto". [...] Ou seja, qualquer uma! Então fala pra ele levar o time do Guarani, de Formiga, Minas Gerais: Nico, Gvico, Tavico, Cabrito, Mugango, Moela e JÁ MORREU!

Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha herói­ca e mesopotâmica campanha Morte ao Tucanês. E que em Novo Hamburgo tem um outdoor: "Bem Vindo a Novo Hamburgo! Capi­tal Nacional do Calçado! CHURRASCARIA SAPATÃO!". Mais direto, impossível. Viva o antitucanês! Viva o Brasil!

Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante [...]! O lulês é mais fácil que o ingrêis. Hoje só amanhã. Que vou pingar meu colírio alucinógeno!

José Simão.

■ I Indique os elementos mórficos (radical, afixo, desinência etc.) presentes na palavra “antitucanês”.

Qual é o sentido do estrangeirismo Gracias, levando em conta o contexto e o conhecimento de mundo?

Que palavra é responsável pelo duplo sentido de “crack”?

Texto para as questões de 7 e 8.

Os diferentes Descobriu-se na Oceania, mais precisamente na ilha de

Ossevaolep, um povo primitivo, que anda de cabeça para baixo e tem vida organizada.

E aparentemente um povo feliz, de cabeça muito sólida e m ão s

reforçadas. Vendo tudo ao contrário, não perde tempo, entretanto, em refutar a visão normal do m undo. E o que eles dizem com o s

p é s dá a impressão de serem coisas aladas, cheias de sabedoria.Uma comissão de cientistas europeus e americanos estuda a

linguagem desses homens e mulheres, não tendo chegado ainda a conclusões publicáveis. Alguns professores tentaram imitar esses

nativos e foram recolhidos ao hospital da ilha. O s cabecences-para-

-baixo, como foram denominados à falta de melhor classificação, têm vida longa e desconhecem a gripe e a depressão.

Carlos Drummond de Andrade. Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,2003. p. 150.

a UFRJ No texto, identifica-se o povo da ilha de Ossevaolep por um neologismo: cabecences-para-baixo.a) Identifique os processos de formação de palavras utiliza­

dos para a criação desse neologismo.

K l Em “mesopotâmica”, os morfemas envolvidos já tradu­zem a localização geográfica dessa região. Explique. b) Considerando o conhecimento que os observadores têm___________________________________________________ do povo de Ossevaolep, responda: por que se afirma que___________________________________________________ o neologismo foi criado “à falta de melhor classificação”?

B I Em “Lulês é mais fácil...”, o autor cria um neologismo. Indique a derivação, a classe gramatical e o significado.

___________________________________________________ O Em “Os diferentes”, ocorre derivação imprópria. Explique.

E l Extraia do texto uma palavra onomatopaica e dê seu sig- vv , .____ . „ , ~ ‘ ~nificado no texto.

Page 73: Livros poliedro   caderno 1 português

a) Cite um neologismo do texto.

b) Identifique uma ambigüidade criada pelo autor da tira.

D Leia a tira a seguir.

Exercícios propostos

D Fuvest As palavras: adivinhar; adivinho; adivinhação têm a mesma raiz, por isso são cognatas. Assinalar a alternativa em que não ocorrem três cognatos.(a) Alguém; algo; algum,

ler; leitura; lição.(c) ensinar; ensino; ensinamento.(d) candura; cândido; incandescência.(e) viver; vida; vidente.

ü f lü Fuvest Estabeleça a combinação dos radicais latinos das colunas I e II, de forma que construa termos que signifiquem “quem vaga pela noite”, “o que traz o sono”, “quem assassina o irmão”, “o que quer o bem”, “o que é relativo ao campo”.

I II

1. fratri .. J vago

2. agri fero

3. bene •____ j cida

4. nocti l ........i volo

5. soni I_____ I colaA seqüência correta é:

5, 2 , 3 , 4 e 1. íc ) 1, 2 , 3 , 4 e 5. (e) 2, 5, 1, 3 e 4.(b) 4 , 5 , 1 , 3 e 2. (d) 2, 4, 5 ,1 e 3.

B tM UEL Indique a alternativa em que o sufixo não dá à pala­vra o sentido de resultado de uma ação.

ferimento (c) vingança (e) traição(b) nomeação (d) instrumento

D UEL Relacione.1. aversão a lugares abertos a) fotofobia

2. aversão à luz b) acrofobia3. aversão à altura c) claustrofobia4. aversão a lugares fechados d) agorafobia

5 I Relacione os radicais gregos a seus significados.1. vento a) nti2. homem b) anemo3. cor c) bio4. vida d) cromo5. oposição e) antropo

D Relacione os radicais latinos a seus significados.1. além de a) sub2. substituição b) super3. para baixo c) trans4. excesso d) contra5. oposição e) vice

WM Fuvest O valor semântico de des não coincide com o do par centralização/descentralização apenas em:

Despregar o prego foi mais difícil do que pregá-lo.) “Belo, belo, que vou para o Céu ...”, - e se soltou, para voar:

descaiu foi lá de riba, no chão muito se machucou.) Enquanto isso ele ficava em casa, em certo repouso, até a

saúde de tudo se desameaçar.A despoluição do rio Tietê é urgente aos políticos e à popu­lação de São Paulo.O governo de Israel decidiu desbloquear metade da renda de arrecadação fiscal que Israel devia à Autoridade Nacio­nal Palestina.

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Q Os homens aqui mudam de nome quando têm um filho. Maxihú é o pai de Maxi. Teró por muito tempo foi Jaguarhú. Eu seria Luicuihí se minha filha se chamasse Luicui?Levando em conta apenas os substantivos próprios citados no trecho, é possível entender que, na língua dos mairuns, o novo nome do pai de um filho homem contém:(a) o nome da criança seguido do morfema-hí.(b) o nome do filho seguido do morfema-hú.(c) o nome da mãe seguido do morfema-hí.

j) o nome do pai seguido do morfema-hú.

D O prefixo presente em semideia tem o mesmo valor se­mântico do prefixo que há em:(a) hipotensão. (c) anfiteatro. (e) hemisfério.(b) perífrase. (d) subalterno.

Dl A raiz de embelezados é:(a) embel. (c) bel.(b) belez. (d) embelez.

m Relacione os radicais gregos e seus significados.

1. cidade

L1 hemi-

2. lugar teo-r~3. meio4. Deus micro-

5. pequeno oCLO

C l Procure explicar, utilizando o seu conhecimento de mun­do, o sentido da palavra morfina.

m Levando em conta que rino significa nariz, procure dedu­zir qual o sentido de cero em rinoceronte.

O texto a seguir refere-se às questões 14 e 15.

Sin/ió Vitória falou assim, mas Fabiano resmungou, franziu a testa, achando a frase extravagante. Aves matarem bois e cabras, que lembrançal Olhou a mulher, desconfiado, julgou que ela esti­vesse tresvariando.

Graciliano Ramos. Vidas secas.

m Fuvest Dê o significado de des em desconfiado.

■a O prefixo assinalado em tresvariando traduz ideia de:a) substituição. (c) privação. (e) intensidade.

(b) contiguidade. (d) inferioridade.

D l FEI Assinale a alternativa em que nem todas as palavras apresentem sufixo de grau diminutivo.

i) poemeto, maleta. (d) lugarejo, vilarejo.(b) rapazola, bandeirola. (e) menininho, carinho.(c) viela, ruela.

m UEL Assinale a alternativa em que o prefixo da palavra indica duplicidade.

(a) Circunlóquio. (c) Contradizer. (e) Transporte.(b) Ambivalência, (d) Adjacente.

na Todas as palavras a seguir possuem o mesmo prefixo, com exceção de:(a) insinuações. (d) incapazes.(b) indireta. (e) inconscientemente.(c) incompetentes.

O Relacionam-se, pela origem, a verbos existentes na Lín­gua Portuguesa todos os substantivos a seguir, à exceção de:(a) deterioração. (c) mergulhadores, (e) metrópoles.(b) compensações, (d) estofamento.

E 1 Fuvest Assinale a alternativa que registra a palavra que tem o sufixo formador de advérbio.(a) Desesperança. (d) Extremamente.(b) Pessimismo. (e) Sociedade.(c) Empobrecimento.

E a Fuvest Assinale a alternativa em que a primeira palavra apresenta sufixo formador de advérbio e a segunda, sufixo for­mador de substantivo.(a) Perfeitamente; varrendo, (d) Atrevimento; ignorância.(b) Provavelmente; erro. (e) Proveniente; furtado.(c) Lentamente; explicação.

E ü Dê o significado dos elementos de composição presen­tes em metrópole.Dica: metralgia (inflamação no útero)

E S I O único vocábulo cujo prefixo se distingue semantica- mente do de “invisível” é:(a) irreverência. (c) inútil. (e) imigrar.(b) impossível. (d) inoportuno.

m UEL Assinale a letra correspondente à alternativa que preenche corretamente as lacunas da frase apresentada. _________ e __________ são palavras que se formaram pelo pro­cesso de derivação prefixai.(a) Contradizer; bananal. (d) Subalterno; facada.(b) Superpovoado; prefácio. (e) Febril; ilegal.(c) Folhagem; previsão.

O UEL Assinale a alternativa que exemplifica o processo de derivação parassintética.

i) Entardecer. (c) Automóvel. (e) Desfazer.(b) Pé de moleque, (d) Beija-flor.

O FCMSC Em qual dos exemplos a seguir está presente um caso de derivação parassintética?(a) Lá vem ele, vitorioso do combate.(b) Ora, vá plantar batatas!(c) Começou o ataque.(d) Assustado, continuou a se distanciar 6o animal.(e) Não vou mais me entristecer, vou é cantar.

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w m

Et FEI Assinalar a alternativa em que a palavra entre aspas é exemplo de derivação parassintética.(a) A situação malresolvida provocou-lhe um “ataque” de ira.

i) Terminado o “combate”, o soldado descansou.(c) A “reforma” tributária se faz necessária.(d) No “entardecer”, o sol oferecia um incrível espetáculo.

:) Ler histórias policiais é seu “passatempo” predileto.

m Em abrasileiramento, temos:(a) uma derivação sufixai.(b) uma derivação prefixai.(c) uma derivação regressiva.(d) duas derivações sufixais.(e) duas derivações sufixais e uma parassintética.

m As palavras “prova", “respeito”, “mando” e “espécie” são, no plano de formação de palavras, respectivamente:(a) todas primitivas.(bs todas derivadas por sufixação.(c) todas derivadas deverbais.(d) derivadas deverbais, somente as três primeiras.

>) derivadas deverbais, somente as duas primeiras.

E l UFMG Em que alternativa a palavra em destaque resulta de derivação imprópria?(a) Às sete horas da manhã, começou o trabalho principal: a

votação.(bj Pereirinha estava mesmo com a razão. Sigilo... Voto secre­

to... Bobagens, bobagens!(c) Sem radical reforma da lei eleitoral, as eleições continua­

rão sendo uma farsa!(d? Não chegaram a trocar um isto de prosa, e se entenderam.(e) Sr. Osmírio andaria desorientado, senão bufando de raiva.

E l Leia.- Mãe, vou comprar guaraná!No bar...- Seu Manoel, o senhor tem Fanta?

Procure dar uma explicação lógica para o fato de o garoto ter dito à mãe que iria comprar guaraná e para o fato de ele ter pedido ao dono do bar uma Fanta.

E l Fatec Observe os termos destacados das frases a seguir.I. É bom lembrar que os césares contemporâneos vêm efeti­

vamente tentando impor uma ruptura conservadora diante de grave impasse socioeconômico.

II. Os críticos, mesmo os mais autorizados, refugiam-se, su­perficialmente, em considerações de moral política (fisiolo- gismo, oportunismo, narcisismo, ilegitimidade...).

III. A laranja ajuda a regular o metabolismo e a combater a anemia. Muita gente desconfia do valor nutritivo do suco pronto para beber em comparação com a laranja espremi­da na hora.

IV. Sabemos que Minas, Paraná e São Paulo, os estados que le­varam mais a sério o desafio de melhorar suas escolas primá­rias são justamente aqueles que estão disparando na frente.

Os vocabulários destacados são formados pelos processos:(a) I . sufixação; I I . aglutinação; I II . sufixação; IV . derivação im­

própria.(b) I . sufixação; I I . justaposição; I I I . parassíntese; IV . prefixação.(c) I . derivação imprópria; I I . sufixação; I I I . sufixação; IV . deri­

vação regressiva.(d) I . derivação imprópria; II. sufixação; I I I . prefixação; IV . deri­

vação regressiva.(e) I . sufixação; I I. justaposição; I I I . sufixação; IV . prefixação.

Texto para a questão 33.

Transforma-se o amador na cousa amada, por virtude do muito imaginar; não tenho, logo, mais que desejar, pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minh'alma transformada, que mais deseja o corpo de alcançar?Em si somente pode descansar, pois consigo tal alma está liada.

M a s esto linda e pura semideia, que, como um acidente em seu sujeito, assim com a alma minha se conforma,

está no pensamento como ideia: e o vivo e p u ro am o r de que sou feito, como a matéria simples busca e forma.

Camões. Editora A. J. da Costa Pimpão.

E S I Fuvest Em amada temos uma derivação. Diga qual é.

E l Fuvest Leia o texto seguir.

Filosofia de Epitáfios Saí, afastando-me dos grupos, e fingindo ler o s epitáfios.

E, aliás, gosto dos epitáfios; eles são, entre a gente civilizada, uma expressão daquele pio e secreto egoísmo que induz o homem a arrancar à morte um farrapo ao menos da sombra que passou. Daí vem, talvez, a tristeza inconsolável dos que sabem os seus mortos na vala comum; parece-lhes que a podridão anônima os alcança a eles mesmos.

Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas.

O processo de transposição de uma palavra de uma classe gra­matical para outra é conhecido pelo nome de derivação impró­pria. É correto afirmar que, no texto, esse processo ocorre no emprego do vocábulo:(a) epitáfios. (d) podridão.

>) mortos. (e) inconsolável.(c) tristeza.

Page 76: Livros poliedro   caderno 1 português

E9 Observe as seguintes frases."... viver em voz ALTA.” e

que ligasse o rádio um pouco ALTO...” indique a classe gramatical das palavras em maiúsculo e o pro­cesso de derivação que ocorre no segundo fragmento.

E23 As palavras perda, corredor e saca-rolha são formadas, respectivamente, por:

i) derivação regressiva, derivação sufixai, composição por justaposição.

>) derivação regressiva, derivação sufixai, derivação paras­sintética.

;) composição por aglutinação, derivação parassintética, de­rivação regressiva,

j) derivação parassintética, composição por justaposição, composição por aglutinação.

5) composição por justaposição, composição por aglutinação, derivação prefixai.

m Em “Foram-se embora”, a palavra embora (em + boa + hora) é formada por:(a) composição por justaposição.(b) composição por aglutinação.

;) derivação prefixai.(d) derivação sufixai.

i) parassíntese.

E 3 Assinalar a alternativa correta quanto à formação das se­guintes palavras: girassol; destampado; vinagre; irreal,

i) Sufixação, parassíntese; aglutinação; prefixação.3) Justaposição; prefixação e sufixação; aglutinação; prefixação. '} Justaposição; prefixação e sufixação; sufixação; parassíntese. :í) Sufixação; parassíntese; derivação regressiva; sufixação. í) Aglutinação; prefixação; aglutinação; justaposição.

Escreva a seguir se as palavras foram formadas por aglutinação ou justaposição.a) malmequer.b) pernilongo.c) embora.d) girassol.e) aguardente.

m Sociologia é palavra:(a) composta híbrida.(b) derivada parassintética.(c) derivada por sufixação.(d) derivada por prefixação.(e) composta por aglutinação.

eh A expressão “plic-plic-plic-plic” é semelhante a “toc-toc” ou a “ping-pong”.a) Como se chamam essas expressões?b) Cite outra que você conheça.

E9 Encontra-se escrito, em um dos muros de Goiânia:“I love you como ninguém loveu!’

Da forma como está grafado, o termo loveu não pertence à es­trutura da Língua Inglesa nem à da Língua Portuguesa. Expli­que, então, por meio de quais mecanismos essa construção se tornou possível.

EE1 Complete.Reco-reco, pingue-pongue, cacarejar são palavras formadas pelo processo da________ , que é a imitação de um som ou ruído.

E3 Complete.Moto, cine, pneu são reduções de uma palavra longa.A esse processo dá-se o nome d e_________ .

ca Complete.ONU, CLT, PTB são abreviaturas de nomes extensos que se uti­lizam das iniciais das palavras que formam esses nomes. São cham adas_________ .

O Leia o texto a seguir.

Os gatosDeus fez o homem à sua imagem e semelhança, e fez o crítico

à semelhança do gato. Ao crítico deu ele, como ao gato, a graça ondulosa e o assopro, o ronrom e a garra, o língua espinhosa. Fê-/o nervoso e ágil, refletido e preguiçoso; artista até o requinte, sarcas- ta até a tortura, e para os amigos bom rapaz, desconfiado para os indiferentes, e terrível com agressores e adversários...

Desde que o nosso tempo englobou os homens em três catego­rias de brutos, o burro, o cão e o gato - isto é, o animal de trabalho, o animal de ataque, e o animal de humor e fantasia - por que nõo escolhermos nós o travesti do último? E o que se enquadra mais ao nosso tipo, e aquele que melhor nos livrará da escravidão do asno e das dentadas famintas do cachorro.

Razão por que nos acharás aqui, leitor, miando um pouco, ar­ranhando sempre e não temendo nunca.

Fialho de Almeida.

Ao crítico deu ele [...] o ronrom. O processo pela qual se formou a palavra destacada é:(a) derivação prefixai.(b) derivação parassintética.(c) regressiva.(d) composição por aglutinação.(e) onomatopéia.

E3 No final do século XIX e princípio do século XX, muitas palavras francesas foram incorporadas ao léxico português, dada a influência cultural exercida pela França em todo o mun­do civilizado da época. Assinale a alternativa que contém ape­nas palavras de extração francesa.(a) Abajur; pôquer; gafe.(b) Bandó; abajur; pôquer.(c) Gafe; abajur; cachecol.(d) Cachecol; chaleira; bandó.(e) Organdi; cachecol; chaleira.

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Acrifão liwguiitkq no português

Além do processo de criação de palavras através da apli­cação das regras do sistema lingüístico, criam-se também novas unidades por meio da metáfora, que consiste na identificação do conteúdo cognoscitivo do signo com o qual se designa X com uma qualidade percebida em Y. Dizendo de outro modo, na metáfora, uma palavra que significa o objeto X passa a significar também o objeto Y, sem perder seu vínculo com X. |

Na criação metafórica, obedecendo-se, naturalmente, às re­gras previstas no sistema lingüístico, não se formam propriamente signos novos, mas, sim, aproveitam-se antigas unidades, aderindo- -se-lhes novos valores significativos, construídos através de ima­gens, associações subjetivas ou objetivas* fantasias feitas acerca de um dado objeto da realidade. Assim,fa metáfora constitui um processo bastante econômico de se criarem novas unidades sígni- cas, pois a realidade extralinguística sempre inédita e multifacetada de que os signos têm de dar conta é representada por expressões já existentes no sistema lingüístico, que são aproveitadas, sendo reconstruídas apenas pelos novos valores que se lhes aderem.

Naturalmente que a justificativa para o processo metafórico na criação de palavras não reside primeira e primariamente na econo­mia que lhe é inerente, mas no próprio caráter expressivo peculiar a tal processo. A linguagem é essencialmente atividade cognoscitiva, atividade através da qual o mundo é apreendido, representado e conhecido por meio de significados. Estes, por seu turno, ao con­trário da imagem que está sempre irreversível e indissoluvelmente ligada ao objeto que lhe deu origem, são genéricos, multívocos, abrangendo de modo indiferenciado todo o universo conceptual. Por isso, o conhecimento lingüístico, em virtude de determinadas cir­cunstâncias próprias do ato concreto de fala, pode consubstanciar- -se de maneira mais eficaz, se se efetivar através de imagens, pois estas concretizam o objeto que, ao ser apreendido pelo significado, perde os traços peculiares de sua materialidade. Um exemplo toma­rá mais clara a explicação. As palavras broto, pão e gato foram utili­zadas durante certo período pelos jovens da área do Rio de Janeiro, para designar pessoa bonita; cada uma delas, por sua vez, teve vida efêmera, como podem comprovar os usuários que assistiram, durante poucas décadas, ao nascimento|circulação e morte das duas primeiras. Ora, por que razão tais palavras foram substituídas em tão curto espaço de tempo, para dar lugar a outra que cumpria a mesma função? A resposta reside no princípio da criatividade, comum a todo falante, que se manifesta na necessidade imperiosa de expressividade. Dizendo de outra forma: toda vez que a palavra, ao ser usada, perde a sua imagem criadora para transformar-se em signo, em sinal genérico, esvazia igualmente seu poder de evocar a imagem que lhe deu origem, e o usuário toma, então, a buscar na realidade outras imagens que sirvam ao mesmo propósito. Tal mo­vimento que leva a imagem a transformar-se em signo, obrigando o falante a procurar novas imagens que serão, se usadas, transfor­madas novamente em signos lingüísticos é perpétuo, e faz parte da própria essência da linguagem, que é atividade livre e finalística.

A criação metafórica, vale lembrar, embora ocorra com todo o vigor na obra literária, já que é nesse gênero textual que o logos fan­tástico se manifesta em toda a sua plenitude, pode manifestar-se em qualquer ato de fala. E, a rigor, tais criações aparecem nos enuncia­dos mais singelos da vida quotidiana, sem que o falante, justamente

por estar ocupado com a eficácia do instrumento lingüístico, esteja atento à sua construção. Sirvam de exemplos as seguintes palavras e expressões colhidas na linguagem diária: bonde (=grupo de pes­soas com a finalidade de promover distúrbios), orelhão (=telefone público), sabonete (=moça namoradeira), deixar um furo (=agir de modo inconveniente com alguém), malhar (=fazer ginástica), sara­do (=corpo bonito), armar um barraco (=brigar, discutir), impreg­nar (=ficar próximo de uma pessoa por longo tempo), viajar (=dizer algo sem fundamento), empada, pastel (=indivíduo sem expedien­te), mala (=pessoa aborrecida), periquita (=moça que se veste com roupas de marcas caras), baba-ovo (=bajulador), chupeta do diabo (=cigarro), perua (=mulher que se enfeita excessivamente), loba (= mulher a partir dos quarenta anos), avião (=mulher bonita), fritar (=destruir uma candidatura), cozinhar (=enganar com promessas ilusórias), queimar o filme (=destruir uma reputação), cair a ficha (=dar-se conta de algo), alugar um ouvido (=falar incessantemente sobre tema desinteressante), jogar conversa fora (=falar sobre as­suntos sem importância), dar uma carteirada (=empregar a posição de autoridade para obter algum tipo de favorecimento), encher lin­güiça (=dar explicações desnecessárias), segurar a onda (=supor- tar determinada situação adversa), são expressões cunhadas pelos falantes com o objetivo nítido de dar caráter expressivo a conteúdos de consciência.

[...]O reino dos animais se presta também a muitas criações

dessa natureza. Note-se que alguns bichos são invariavelmente selecionados para a tarefa de povoar o inesgotável universo da fantasia humana, conforme pode comprovar o emprego, como substantivo ou adjetivo, das palavras cachorro, gato, boi, vaca, tubarão, cobra, papagaio, porco, sapo etc. Vale a pena lembrar alguns provérbios fixados na comunidade com a imagem que, através da metáfora, o animal faz sugerir: Em buraco de cobra, tatu não anda; Segues a formiga, se queres viver sem fadiga; Em terra onde não tem galinha, urubu é frango; Quando a mula fala, o homem cala; Quem com porcos se mistura, farelo come; Urubu, quando está infeliz, cai de costas e quebra o nariz.

Assim, é a própria constituição da linguagem, na sua dupla finalidade de apreender o real e manifestá-lo, que permite o duelo permanente entre a força da inovação - que obedece ao princípio da criatividade - e a força da conservação - que obedece ao princípio da historicidade. Por isso, a língua tem de ser investigada sob essa dupla perspectiva, pois se apresenta simultaneamente como "ér- gon", produto, algo acabado, e como "enérgeia", algo que está em eterna construção, através da atividade lingüística. Revela-se como "érgon", na dimensão da historicidade, isto é, enquanto norma es­tabelecida e consagrada pela comunidade e, como "enérgeia", na dimensão da criatividade, isto é, enquanto sistema de regras que permite ao falante exercer sua capacidade de apreensão do ser. Tal embate, como se vê, só terá fim quando findar a trajetória da espécie humana e, junto a ela, se extinguir o instrumento mais misterioso, sofisticado e fascinante que os deuses lhe concederam: a linguagem verbal. Enquanto o homem não deixar de se ser, enquanto o homem estiver deambulando com olhar de água suja no meio das ruínas, para dizer com as palavras do exímio fazedor de sonhos e de signos, Manoel de Barros, o conflito permanecerá. E é bom que permaneça.

Terezinha Bittencourt, < www.filologia.org.br/abf/volume2/numero2/01.htm>.

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R E S U M I N D O

• M orfem asAlém das desinências, do radical, do tema, da vogal temática, temos como morfemas os afixos (prefixo e sufixo); são eles que possi­

bilitam a formação de novas palavras (morfemas derivacionais). O s afixos que se antepõem ao radical chamam-se prefixos; os que se pos-

põem denominam-se sufixos; os afixos possuem significação maior que as desinências. Já vogal de ligação e a consoante de ligação são

morfemas insignificativos, servem apenas para evitar dissonâncias (hiatos, encontros consonantais), seqüências sonoras indesejáveis. Veja:

- Palavras cognatas, família ideológicaQ uando um grupo de palavras possui o mesmo radical, diz-se que o grupo é formado pela mesma raiz; quando as palavras

irmanam-se pelo sentido, temos a série sinonímica, a família ideológica: casa, moradia, lar, mansão, habitação etc.

- Radical: O "radical" é a base significativa da palavra; "raiz" é o morfema que contém o núcleo significativo comum a uma família

lingüística (radical mais antigo).- Prefixo: O s prefixos de nossa língua são de origem latina ou grega, alguns apresentam alteração em contato com o radical, assim

o prefixo an-, indicador de privação, transforma-se em a- diante de consoante.

O s prefixos possuem mais independência que os sufixos, pois provêm, em geral, de advérbios ou preposições, que têm ou tiveram

vida independente.- Sufixo: O s sufixos podem ser nominais, verbais ou adverbiais. Formam, respectivamente, nomes (substantivos, adjetivos), verbos

e advérbios (a partir de adjetivos). Exemplos: anarqu/smo, malufar, rapidamente.

• Processos de form ação de palavrasHá dois grandes processos de formação: a derivação e a composição. Na derivação, temos apenas um radical, a palavra é deri­

vada de outra; na composição temos ao menos dois radicais, a palavra é composta. Exemplos: girassol (composta), giratório (derivada).

- Tipos de derivação

Prefixai: cria-se uma palavra derivada a partir de um prefixo. Exemplo: d/senteria.

Sufixai: cria-se uma palavra derivada a partir de um sufixo. Exemplo: doutorado.Parassintética: cria-se uma palavra derivada por meio do acréscimo simultâneo de um prefixo e um sufixo. Se retirarmos qualquer

um dos afixos, não teremos palavra. Exemplo: adoçar.

Prefixai e sufixai: acréscimo não simultâneo de prefixo e sufixo. Retirando-se um dos afixos (ou os dois), ainda teremos palavra.

Exemplo: deslealdade.Derivação regressiva: esse tipo de derivação cria substantivos deverbais, isto é, derivados de verbos. Por isso, são substantivos que

denotam ação. Se o substantivo indicar ação e se, em relação ao verbo, possuir um menor número de fonemas, o primitivo será

o verbo e o derivado, o substantivo (a derivação ocorre por meio da supressão de fonemas). Exemplo: ataque.

Derivação imprópria: há duas possibilidades:

o substantivo comum vira próprio ou vice-versa: Rapaz, como ele joga, é um pelél

- Mudança de classe gramatical

de substantivo comum para o substantivo próprio;

de substantivo próprio para comum;

de adjetivo para substantivo;

de substantivo para adjetivo;

de verbo para substantivo;

de substantivo/adjetivo/verbo para interjeição;

de verbo e advérbio para conjunção;

de adjetivo para advérbio;

de particípio para preposição;

de particípio para substantivo e adjetivo.- Composição: Palavras compostas são aquelas que apresentam mais de um radical, no mínimo dois; os radicais primitivos perdem

a significação própria em benefício de um único significado.

Justaposição: os dois termos (radicais) conservaram a sua individualidade, nõo há alteração fonética.

Aglutinação: na composição, há perda de fonemas. Exemplo: aguardente, boquiaberto.

- Outros processos:Onomatopéia: Trata-se da imitação de sons e ruídos da natureza. A partir das onomatopéias, formam-se novas palavras. Exem­

plo: miar/miado, latir/latido, piar/pio.Abreviação vocabular: Trata-se da redução de fonemas, a palavra se apresenta de forma reduzida e não plena. Exemplo: auto

(automóvel).Hibridismo: Trata-se de palavras, cujos morfemas são de línguas diferentes. Exemplo: sambódromo: português/grego.

Page 79: Livros poliedro   caderno 1 português

Eq ü I rT a b é r m a i s ?— iu u iijw jiiiw ü im ^ pw»i i111 r n| f TT^w— 1 MI1. . . . . . . .

W Ê SITE■ Museu da língua portuguesa

www.poiesis.org.br/mlp/

\ J j& LIVRO■ Hermann Hese. 0 Lobo da Estepe. Tradução de Ivo Barroso. Rio de

Janeiro: Bestbolso, 2009.

FILMEi Diários de motocicleta, 2004. Direção de Walter Salles.

TEATROi A mão na luva. Oduvaldo Vianna Filho.

MÚSICA■ *Aria na corda sol*. Bach.

áf ARTES PLÁSTICAS■ Hélio Oiticica.

a)

b)

FuvestCapitulaçõo

DeliveryAté pra telepizza E um exagero.Há quem negue?Um povo com vergonha Da própria língua Já está entregue.Luis Fernando Veríssimo. "Capitulação" - In: A Versão dos Afogados.

Editora L&PM, Porto Alegre, RS.

O título dado pelo autor está adequado, tendo em vista o conteúdo do poema? Justifique sua resposta.O exagero que o autor vê no emprego da palavra delivery se aplicaria também a telepizza? Justifique sua resposta.

UFRJ Leia o texto a seguir.[...] O distímico só enxerga o lado negativo do mundo e não

sente prazer em nada. A diferença entre ele e o resto dos mal- -humorados é que os últimos reclamam de um problema, mas param diante da resolução. O distímico reclama até se ganha na loteria. "Não fica feliz, porque começa a pensar em coisas nega­tivas, como ser alvo de assalto ou de seqüestro", diz o psiquiatra Antônio Egídio Nardi, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. [...]

Karina Klinger. "M au humor crônico é doença e exige tratamento" Folha on-line < www.folha.com.br> , 15 jul. 2004.

O texto apresenta como tema central um transtorno causa­do pelo mau funcionamento do timo (glândula relacionada ao controle da afetividade e da emoção).a) Identifique a palavra que, por meio do uso de prefixo e

sufixo, nomeia o portador desse transtorno.b) Diferencie o referido transtorno de uma outra categoria

psicológica relativa ao humor apresentada no texto, apon­tando a principal característica de cada uma delas.

a Leia com atenção os seguintes versos de João Cabral de Melo Neto em Morte e vida severina.

- E belo porque com o novo todo o velho contagia.

- Belo porque corrompe com sangue novo a anemia.

- Infecciona a miséria com vida nova e sadia.

- Com oásis, o deserto, com ventos, a calmaria.

I. O poeta substantiva, nos dois primeiros versos, dois adje­tivos que possuem entre si uma relação de oposição, o que resulta em efeito expressivo.

II. Em o novo e em sangue novo, a palavra em destaque assu­me diferentes classes gramaticais.

III. Nos dois últimos versos, o autor estabelece oposições se­mânticas, o que cria certo efeito de sentido.

Está(ão) correta(s): i) apenas I.

( b ) apenas II.) apenas III.

(d) apenas I e II.(e) todas.

Texto para a questão 4.

E agora, pronta de todo ela está ficando, cá que cada vaqueiro pega o balanço de busto, sem querer e imitotivo, e que os cavalos gingam bovinamente. Devagar, mal percebido, vão sugados todos pelo rebanho trovejante - pata o pato, casco a casco, soca soca, fasta vento, rola e trota, cabisbaixos, mexe lama, pela estrada, chifres no ar.

A boiada vai, como um navio.João Guimarães Rosa. Sagarana. Rio de Janeiro: José Olympio, 1969.

Page 80: Livros poliedro   caderno 1 português

n AFA Considere as seguintes afirmações:I. Em os cavalos gingam bovinamente e A boiada vai temos

duas palavras cognatas.II. Em bovinamente temos um neologismo formado por com­

posição.III. Em pata a pata, casco a casco, soca soca o ritmo remete ao

trotar do animal.IV. Ao dizer que os cavalos gingam bovinamente o autor estabe­

lece uma comparação.Estão corretas:(a) I e II. (d) I, III e IV.

>) II e III. (e) I, II e III.(c) II, III e IV.

Texto para a questão 5.

- Uai, eu?1 Se o assunto é meu e seu, lhe digo, lhe conto; que vale enterrar

minhocas? De como aqui me vi, sutil assim, por tantas cargas- -d'água. No engano sem desengano: o de aprender prático o desfeitio da vida.

2 Sorte? A gente vai - nos passos da história que vem. Quem quer viver faz mágica. Ainda mais eu, que sempre fui arrimo de pai bêbado. Só que isso se deu, o que quando, deveras comigo, feliz e prosperado. Ah, que saudades que eu nõo tenha... Ah, meus bons maus temposl Eu trabalhava para um senhor doutor Mimoso.

3 Sururjão, nõo; é solorgião. Inteiro na fama - olh'alegre, justo, inteligentudo - de calibre de quilate de caráter. Bom até-onde-que, bom como cobertor, lençol e colcha, bom mesmo quando com dor de cabeça: bom, feito mingau adoçado. Versando chefe os solertes preceitos. Ordem, por fora; paciência por dentro. Muito mediante fortes cálculos, imaginado de ladino, só se diga. A fim de comigo ligeiro poder ir ver seus chamados de seus doentes, tinha fechado um piquete no quintal: lá pernoitavam, de diário, à mõo, dois animais de sela - prontos para qualquer auroro.

4 Vindo a gente a par, nas ocasiões, ou eu atrás, com a maleta dos remédios e petrechos, renquetrenque, estudante andante. Pois ele comigo proseava, me alentando, cabidamente, por nor- teaçõo - a conversa manuscrita. Aquela conversa me dava mui­tos arree/ores. O homeml Inteligente como agulha e linha, feito pulga no escuro, como dinheiro não gastado. Atilado todo em sagacidades e finuras - é de "fimplus"! "de tintínibus"... - latim, o senhor sabe, aperfeiçoa... Isso, para ele, era fritada de meio ovo. O que porém bem.

João Guimarães Rosa. Tutameia: terceiras estórias. Rio de Janeiro: NovaFronteira, 1985.

a A obra de Guimarães Rosa, citado como grande renova­dor da expressão literária, é também reconhecida pela contri­buição lingüística, por causa da utilização de termos regionais, palavras novas, não dicionarizadas, o que chamamos neolo- gismos, especialmente para expressar situações ou opiniões de seus personagens.a) Retire do primeiro parágrafo um exemplo de neologis­

mo e explique, em uma frase completa, o seu sentido no texto.

b) Compare o adjetivo “inteligentudo” (par. 3) com “barbu­do”, “barrigudo”, “sortudo”. Escreva duas formas da lín­gua padrão - a primeira com duas palavras; a segunda com uma palavra - que eqüivalem semanticamente ao neologis­mo “inteligentudo”.

Texto para a questão 6.

Epitáfio para um banqueiro

n e g ó c i 0e g 0

ó c i 0

0

José Paulo Paes. In: Anatomias. Editora Cultrix.

“Epitáfio para um Banqueiro” enfoca um tema literário bastante atual: o egoísmo, a solidão do indivíduo, a falta de comunicação que o leva a se fechar nos limites de sua própria existência e, consequentemente, ver o mundo sempre defor­mado por uma visão individualista. Tomando por base essas observações:a) faça uma descrição do plano semântico-visual do texto,

de modo que revele sua compreensão do poema como um “epitáfio”.

b) aponte o signo lingüístico que, em uma da linhas do poema, demarca a característica do indivíduo como ser em si, exclusivista e isolado. Dê um exemplo de uma palavra composta em que esse signo lingüístico esteja presente.

Texto para a questão 7.

Estados Unidos querem 'lulalização' de Chávez, diz embaixador

O embaixador da Espanha em Washington, Carlos Westendorp, afirmou que o objetivo da política norte-americana para a Venezue­la, compartilhado pelos espanhóis, é o de "lulalizar" o presidente do país, Hugo Chávez.

O termo mostra que o interesse dos Estados Unidos é levar Chávez a ações infernas e externas mais ortodoxas, à semelhança do ocorrido com Lula.

Folha de S.Paulo, 31 mar. 2005.

D Considere as seguintes afirmações.I. O termo “lulalização” é um neologismo formado por sufi­

xação, que possui, no contexto, uma carga semântica posi­tiva aos olhos dos americanos.

II. Pode-se inferir do contexto da notícia que há um certo in­tervencionismo dos Estados Unidos nos assuntos relativos ao nosso país.

III. Observa-se no neologismo a presença de dois sufixos, um deles possui o mesmo valor semântico de -mento, em “pen­samento”.

Page 81: Livros poliedro   caderno 1 português

IV. Se em vez de “política” (em “política norte-americana”), tivéssemos “ataques”, o primeiro elemento da composição permaneceria invariável e o segundo elemento concordaria apenas em gênero.

Está(ão) correta(s) apenas:| I e III.>) l i e III.: ) I e IV.| | III e IV | I, II e III.

O Leia o anúncio a seguir.D o Rio Grande à Grande Rio

Anúncio publicitário.

a) Explique o recurso expressivo utilizado pela enunciação fazendo uso das letras x e y; a seguir comente-o.

b) Explique a alteração de significado.c) Em “grande compositor”, o adjetivo tem valor subjetivo,

infere um julgamento de valor. Explique o seu valor no texto publicitário.

d) No anúncio, observa-se uma quebra do paralelismo semân­tico. Identifique-a e comente-a. A seguir, refaça a frase, al­terando uma das palavras, de modo que haja o paralelismo.

D UFF Veja as manchetes a seguir.• A o velha Dolly, primeiro animal adulto clonado, com Emília e o

Visconde de Sabugosa, personagens de Monteiro Lobato, au­tor do livro A re-forma d a natureza, em ilustrações de Manuel Victor Filho

• Ciência modifica plantas e animais, no Brasil e no mundo, para produzir medicamentos e poder aplicar a técnica de clonagem na medicina

• O s escritores Silviano Santiago, José J. Veiga, João Batista M elo e Bráulio Tavares fazem o s contos da era clônica

• Godard filma livro sobre metamorfose de mulher em leitoaFolha de S.Paulo, 16 maio 1997.

A separação intencional do prefixo re-, na manchete do cader­no MAIS\, pressupõe um novo valor semântico para a palavra “reforma”, no contexto em que se insere. O efeito de sentido dessa separação:

s} integra personagens ficcionais (Emília e Visconde de Sa­bugosa) a situações não ficcionais de transformação da na­tureza.

■>) produz uma leitura restritiva das possibilidades da ciência na aplicação da técnica da clonagem.

:) indica um recurso lingüístico de formação parassintética que enfatiza a matéria sobre clonagem, desenvolvida no caderno.

i) propicia uma leitura concomitante da ideia de “forma” e “re­forma” da natureza vinculada ao assunto do caderno MAIS\.

O O texto a seguir foi extraído da Folha de S.Paulo.Jair Bolsonaro (PFL-RJ), que empregou filho e mulher, afirmou

que a discussão foi "demagógica". "Eu não estou preocupado por­que meu filho não é imbecil e minha mulher não é jumenta." ACM Neto (PFL-BA) falava em "nepetismo".

Folha de S.Paulo, 14 abr. 2005.

a) Explique o uso das aspas em “demagógica” e “nepetismo”.b) O que significa “nepotismo”?c) Que derivação observa-se em “jumenta”?

EU UFRJ Leia o texto a seguir.Lídio Corró, um sentimental, sente um aperto no peito, ainda

há de morrer numa hora dessas, de emoção. Pedro Archanjo mantém-se sério por um momento; distante, grave, quase sole­ne. De repente se transforma e ri, seu riso alto, claro e bom, sua infinita e livre gargalhada: pensa na cara do professor Argolo, na do doutor Fontes, dois luminares, dois sabidórios que da vida nada sabem. São mestiças a nossa face e a vossa face: é mestiça a nossa cultura, mas a vossa é importada, é merda em pó. Iam morrer de congestão. Seu riso acendeu a aurora e iluminou a terra da Bahia.

Jorge Amado. Tenda dos milagres. São Paulo: Martins, s/d, p. 163.

a) Qual o efeito pretendido pelo narrador ao utilizar, ironica­mente, o termo “sabidórios”?

b) Que outro termo, derivado do mesmo radical de “sabidó- rio”, poderia ser utilizado, sem prejuízo do efeito pretendi­do pelo narrador?

Texto para a questão 12.

A bem dizer, sou Ponciano de Azeredo Furtado, coronel de pa­tente, do que tenho honra e faço alarde. Herdei do meu avô Simeão terras de muitas medidas, gado do mais gordo, pasto do mais fino. Leio no corrente da vista e até uns latins arranhei em tempos verdes da infância, com uns padres-mestres a dez tostões por mês. Digo, modéstia de lado, que já discuti e joguei no assoalho do Foro mais de um doutor formado. Mas disso não faço glória, pois sou sujei­to lavado de vaidade, mimoso no trato, de palavra educada. Já morreu o antigamente em que Ponciano mandava saber nos ermos se havia um caso de (1) lobisomem a sanar ou pronta justiça a ministrar. Só de uma regalia não abri mão nesses anos todos de pasto e vento: a de falar alto, sem freio nos dentes, sem medir consideração, seja em compartimento do governo, seja em sala de desembargador. Trato as partes no macio, em jeito de moça. Se não recebo cortesia de igual porte, abro o peito:

- Seu filho da égua, que pensa que é?Nos currais do Sobradinho, no debaixo do capotão de meu

avô, passei os anos de pequenice, que pai e mãe perdi no gosto do primeiro leite. Como fosse dado a fazer garatujações e desabusado de boca, lá num inverno dos antigos, Simeão coçou a cabeça e estipulou que o neto devia ser doutor de lei:

- Esse menino tem todo o sintoma do povo da política. E inven- cioneiro e (2) linguarudo. [...]

J.C. Carvalho. O coronel e o lobisomem. Rio de Janeiro: José Olympio, 1978.

■ B Uerj Observe as seguintes palavras, lobisomem (ref. 1) linguarudo (ref. 2)Identifique o processo de formação de cada uma delas, segundo o seu emprego no texto.

Page 82: Livros poliedro   caderno 1 português

UFJF O marketing venceu mais uma...As palavras marketing, marqueteiro e marquetear são emprega­das hoje, com significativa frequência, na Língua Portuguesa. Identifique e descreva os processos de formação responsáveis pela introdução de cada um dos três termos em nossa língua.

Texto para a questão 14.

Julho de 1990 Nunca se imprimiu tanto. E nunca se aproveitou tão pouco. Devo­

ram-se toneladas de papel impresso em todas as línguas, mas a per­centagem de nutrientes desse palavrório é quase nada. A chamada democratização da cultura, em vez de sucos, fabrica perto de 100% de refrescos aguados, essas publicações fajutas já chamadas non-books.

O antilivro vai expulsando do mercado a ciência, a informação e a literatura. O grotesco é que os novos gêneros de impressão não chegam nem mesmo a cumprir o que no s prometem nos títulos e nas orelhas; a livralhada sexual é idiota; a violenta é pueril; a de terror não chega a impressionar crianças; a esotérica é de dar pena; a fofoqueira ainda pode distrair, mas mente pelos dedos. [...]

O século XX lê mais que o século passado. Mas nosso avô comia um bife, e o nosso contem porâneo entulha-se com um saco de farinha ou pólvora ou titica.

O fragmento do texto de Paulo Mendes Campos foi publicado na edição comemorativa dos 110 anos do Jornal do Brasil, de 8 abr. 2001.

D l UFJF Observe as palavras maiúsculas a seguir, seleciona­das do texto lido.“A CHAMADA democratização da cultura...”“A LIVRALHADA sexual é idiota...”A respeito das formas -ADA, pode-se dizer que:(a) têm valor semântico distinto.

■} aplicam-se à mesma classe de palavra.{c) são invariáveis.(d) são livres.

:) formam palavras compostas

Fuvest A gente via Brejeirinha: primeiro, os cabelos, compridos, lisos, louro-cobre; e, no meio deles, coisicas dimi­nutas: a carinha não comprida, o perfilzinho agudo, um narizi- nho que-carícia. Aos tantos, não parava, andorinhava, espiava agora - o xixixi e o empapar-se da paisagem - as pestanas til-til. Porém, disse-se-dizia ela, pouco se vê, pelos entrefios: - “Tanto chove, que me gela!”

Guimarães Rosa. "Partida do audaz navegante". Primeiras estórias.a) Os diminutivos com que o narrador caracteriza a persona­

gem traduzem também sua atitude em relação a ela. Identi­fique essa atitude, explicando-a brevemente.

b) “Andorinhava” é palavra criada por Guimarães Rosa. Ex­plique o processo de formação dessa palavra.Indique resumidamente o sentido dessa palavra no texto.

Texto para as questões 16 e 17.

Um chamado João João era fabulista? fabuloso? fábula?Sertão místico disparando no exílio da linguagem comum?

Projetava na gravatinha a quinta face das coisas inenarrável narrada?Um estranho chamado João para disfarçar, para farçar o que não ousam os compreender?[...]

Mágico sem apetrechos, civilmente mágico, apelador de precipites prodígios acudindo a chamado geral?[...]

Ficamos sem saber o que era João e se João existiu deve pegar.

Carlos Drummond de Andrade, "Correio da Manhã", 22 nov. 1967. In: J. G. Rosa. Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

na Unicamp Na segunda estrofe, há dois processos muito interessantes de associação de palavras. Em “inenarrável/nar­rada” encontramos claramente um processo de derivação. Em “disfarçar/farçar”, temos a sugestão de um processo semelhan­te, embora “farçar” não conste dos dicionários modernos.a) Relacione o significado de “inenarrável” com o processo

de sua formação; e o de “farçar”, na relação sugerida no poema, com “disfarçar’.

b) Explique como esses processos contribuem na construção dos sentidos dessa estrofe.

Dl Unicamp Ainda em relação ao texto lido, responda:a) No título, “chamado” sintetiza dois sentidos com que a

palavra aparece no poema. Explique esses dois sentidos, indicando como estão presentes nas passagens em que “chamado” se encontra.

b) Na primeira estrofe do poema, “fábula” é derivada em “fabulista” e “fabuloso”. Mostre de que modo a formação morfológica e a função sintática das três palavras contri­buem para a formação da imagem de Guimarães Rosa.

Page 83: Livros poliedro   caderno 1 português

C l Fuvest Prefixos que têm o mesmo sentido ocorrem nas seguintes palavras do texto:(a) íntima/agremia.(b) resiste/deslizam.(c) desprazeres/indissolúvel.(d) imperturbável/transforma.(e) revelado/persiste.

Texto para questão 19.

S. Paulo; 13-XI-42MuriloSão 23 horas e estou honestissimamente em casa, imaginei

Mas é doença que me prende, irmão pequeno. Tomei com uma gripe na semana passada, depois, desensarado, com uma chuva, domingo último, e o resultado foi uma sinusitezinha infernal que me inutilizou mais esta semana toda. E eu com tanto trabalhol Faz quinze dias que não faço nada, com o desânimo de após-gripe, uma moleza invencível, e as dores e tratamento atrozes. Nesta noitinha de hoje me senti mais animado e andei trabalhandinho por aí. [...]

Mário de Andrade, Cortas a Murilo Miranda.

O Fuvest No texto, as palavras sinusitezinha e trabalhandi­nho exprimem, respectivamente:(ú) delicadeza e raiva.(b) modéstia e desgosto.(c) carinho e desdém.(d ) irritação e atenuação(e) euforia e ternura.

Texto para a questão 20.

Omarse dirigiu à mãe, abriu os braços para ela, como se fosse ele o filho ausente, e ela o recebeu com uma efusão que parecia contrariar a homenagem a Yaqub. Ficaram juntos, os braços dela enroscados no pescoço do Caçula, ambos entregues a uma cum­plicidade que provocou ciúme em Yaqub e inquietação em Halim.

"Obrigado pela festa", disse ele, com um quê de cinismo na voz. "Sobrou comida para mim?"

"Meu Ornar é brincalhão", Zana tentou corrigir, beijando os olhos do filho. "Yaqub, vem cá, vem abraçar o teu irmão."

Milton Hatoum. Dois irmãos. São Paulo: Çia. das letras, 2002, p.24.

E U Quanto ao valor semântico do sufixo -ão, em “brinca­lhão”, é correto afirmar que:

(a) possui valor denotativo, indica garoto grande que brinca; no contexto valoriza positivamente a imagem do filho.

(b) Possui valor denotativo, transmite um conteúdo eufóri­co que procura ratificar um comportamento inadequado (...tentou corrigir...).

(c) possui valor conotativo, transmite um conteúdo eufórico que serve de desculpa para um possível deslize do filho.

(d) possui valor conotativo, transmite um conteúdo disfórico, de garoto filho não sabe se comportar.

(e) possui valor denotativo, indica pessoa alegre, que quer ani­mar o ambiente; tem conteúdo eufórico.

E l Unicamp Leia os seguintes artigos do Capítulo VIII do novo Código Civil (Lei n° 10.406, de 10 de janeiro de 2002):

Art. 1.548. E nulo o casamento contraído:I. pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os

atos da vida civil;II. por infringência de impedimento.

I I

Art. 1.550. E anulável o casamento:I. de quem não completou a idade mínima para casar;

uVI. por incompetência da autoridade celebrante.

a) Os enunciados que introduzem os artigos 1.548 e 1.550 têm sentido diferente. Explique essa diferença, comparando, do ponto de vista morfológico, as palavras nulo e anulável.

b) Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001), infringência vem de infringir (violar, transgredir, desrespeitar) + o sufixo “-ência”. Compare o processo de formação dessa palavra com o de incompetência, indican­do eventuais diferenças e semelhanças.

E 9 Fuvest Leia a seguinte fala, extraída de uma peça teatral, e responda ao que se pede.

Odorico - Povo sucupiranol Agoramente já investido no cargo de Prefeito, aqui estou para receber a confirmação, ratificação, a au­tenticação e, por que não dizer, a sagração do povo que me elegeu.

Dias Gomes. O Bem-Amado: farsa sócio-político-patológicaem 9 quadros.

a) A linguagem utilizada por Odorico produz efeitos humo­rísticos. Aponte um exemplo que comprove essa afirma­ção. Justifique sua escolha.

b) O que leva Odorico a empregar a expressão “por que não dizer”, para introduzir o substantivo “sagração”?

Page 84: Livros poliedro   caderno 1 português

FRENTE

Sujeito e predicado

B r a s il N o t íc ia s

Brasil investe 80 bilhões nas áreas da saúde e da educação

Manchetes de jornal, em gerai, apresentam estrutura oracional, isto é, lidarji com a oração, a frase quô possui verbo. A ordem empregada costuma ser a mais simples, a direta (sujeito predicado).

Brasil investe 8 0 b ilhõe s n a s á re a s da sa ú d e e d a educação.

; í sujeito p red icado

Page 85: Livros poliedro   caderno 1 português

IntroduçãoNeste capítulo, serão estudados o sujeito e o predicado.

Trata-se de dois importantes termos da oração, visto que englo­bam os demais (objeto, predicativo etc). O seu conhecimento é íundamental para a concordância, regência e pontuação. E preciso, todavia, ter em mente alguns fundamentos.1. Texto - um ou vários parágrafos. Por exemplo:

O maior peixe de água doce Afirma-se que o pirarucu é o maior peixe de água doce. Vive

nos rios do Amazonas e do Pará. E um peixe de grandes proporções, alcança três metros de comprimento e chega a pesar, em média, cem quilos. A sua língua é utilizada na indústria de guaraná, no trabalho de pulverização das sementes, mede uns 20 cm de compri­mento, por 4 cm de largura. Um peixão!

"Curiosidades", p. 111.

2. Período - da maiúscula ao ponto: Afirma-se que o pirarucu é o maior peixe de água doce.

3. Oração - enunciado com verbo: Mec/e uns 20 cm de compri­mento, por 4 cm de altura.

4. Frase nominal - enunciado sem verbo: Um peixão!a. Para alguns autores, as frases com verbo de ligação

também são nominais, uma vez que traduzem uma visão estática.

b. A frase precisa ter sentido completo; em “Afirma-se que”, temos uma oração, mas não temos uma frase.

Termos da oraçãoTermo é a palavra ou expressão considerada como elemento

funcional na frase. Desempenha uma função sintática e é um dos constituintes da frase. ANGB distingue três tipos de termos:• essenciais: são as vigas-mestres da estrutura oracional; é o

caso do sujeito e do predicado.• integrantes: são termos que completam, integram o sentido

da oração, sem os quais a frase ficaria incompleta; é o caso dos complementos verbais (objetos) e nominais (comple­mento nominal).

• acessórios: termos que anexam dados secundários aos no­mes ou ao verbo. É o caso do adjunto adnominal, do adjun­to adverbial, do aposto e do agente da passiva.Veja, agora, a oração a seguir, ela possui os dois termos

essenciais, um termo integrante e um termo acessório.termo essencial termo essencial

t t sujeito predicado

t t ‘A linda moça' quis o impossível'.

4adjunto

adnominal

4t. essencial

sem o termo acessório: sem o termo integrante: sem o termo essencial:

4objetodireto

4t. integrante

A moça quis o impossível A linda moça quis A linda moça

Percebe-se a importância de cada termo da oração ao com­pararmos as frases decorrentes da sua omissão. Observa-se que o termo que menos prejudica a sintaxe e a clareza é o acessó­rio. Além desses termos, há ainda os predicativos (inseridos no predicado) e o vocativo. Excluindo os termos essenciais e o vocativo, poderíamos organizar os termos de acordo com a sua associação ao nome ou ao verbo:• associados ao verbo: objeto direto, objeto indireto, adjunto

adverbial e agente da passiva.• associados ao nome: predicativo do sujeito, predicativo do

objeto, aposto, complemento nominal.Nos capítulos subsequentes, utilizaremos, para estudo dos

demais termos da oração, o critério exposto acima.

SujeitoTrata-se do termo da oração com o qual o verbo concor­

da em número e pessoa, e é expresso por um substantivo ou equivalente. Quando há mais de um vocábulo, o substantivo é a palavra principal, o núcleo do sujeito. A posição natural do sujeito é à esquerda do verbo, mas pode vir à direita:

Acidentes graves acontecem todos os dias em São Paulo.4

sujeito4

predicado

4ordem direta

Acontecem, todos os dias, em São paulo, acidentes graves.4

predicado4

sujeito

4ordem direta

Para a identificação do sujeito, é preciso:• perguntar ao verbo: que (quem) é que...?• verificar se a palavra ou expressão cabe à esquerda do verbo.• verificar se o verbo concorda em número e pessoa com o su­

jeito (as exceções serão discutidas na aula de concordância). A posição das palavras é, em alguns casos, o único instru­

mento de interpretação.

João conheceu Pedro. Pedro conheceu João.4

sujeito4

sujeito

A menina é o menino! O menino é a menina!4

sujeito4

sujeito

É importante destacar ainda que, em nossa língua, não há sujeito preposicionado:

Ao João conheceu Pedro.

Pedro é o sujeito, visto que em Ao João temos uma prepo­sição.

Sujeito semântico, sujeito sintáticoSujeito e predicado são os termos essenciais da oração. Os

dois estão em paralelismo sintático, então, colocar o sujeito e omitir o predicado constitui-se em uma quebra desse paralelismo.

Page 86: Livros poliedro   caderno 1 português

O conceito acerca do papel do sujeito varia de autor para autor. Alguns afirmam que é o ser que pratica uma ação; essa definição serve para alguns casos; há frases em que o sujeito é paciente, há outras ainda em que o sujeito não pratica nem sofre a ação.

Fig. 1 Judoca recebe aplausos.

A torcida aplaude Thiago Camilo.

sujeito agente

Thiago Camilo é aplaudido pela torcida brasileira.L " i I%

sujeito agente

Thiago Camilo é campeão.

*sujeito é caracterizado, recebe uma qualidade

Thiago Camilo emocionou-se com os aplausos.

Isujeito experienciador psicológico

Há também quem defina o sujeito como o ser do qual se fala alguma coisa; a definição é boa, porém há frases em que o assunto do qual se fala não ocupa a posição de sujeito. Para complicar um pouco mais, há ainda frases em que se discute um assunto, mas não há sujeito. Por exemplo:

Há muito sangue no solo árabe.

Isujeito é inexistente (oração sem sujeito)

Como, então, identificar tão importante termo da oração? Primeiramente, há de se distinguir o sujeito semântico do sujei­to sintático. O sujeito semântico está no nível da interpretação de texto; o sintático, no nível da análise sintática, isto é, o termo da oração que cumpre a função de sujeito sintático, estando em relação de concordância com o verbo. Compare:

[O jogador recebeu a notícia ontem à noite];

[nos próximos dias, ele viajará para a Espanha.]

Temos duas orações, na primeira, o sujeito sintático e o su­jeito semântico são os mesmos: “o jogador”. Na segunda, o su­jeito semântico é o jogador (“ele” - “o jogador”), mas o sujeito sintático é o pronome pessoal do caso reto “ele”; é esse prono­me que cumpre a função de sujeito da forma verbal “viajará”.

Desse modo, o substantivo próprio “o jogador” é sujeito sin­tático apenas da primeira oração, visto não estar presente na segunda oração, senão semanticamente por meio do pronome que o representa. Veja-se outro exemplo:

Fig. 2 Kaká, Cristiano Ronaldo e Messi.

[Kaká, Cristiano Ronaldo e Messi também foram eleitos os melhores do mundo];

[oí craques ganharam fama e dinheiro.]

Na primeira oração, o sujeito sintático e semântico é o mesmo: “Kaká, Cristiano Ronaldo e Messi”; na segunda, o su­jeito semântico é o mesmo da primeira frase, “Kaká, Cristiano Ronaldo e Messi”, mas o sujeito sintático é o substantivo “cra­ques”; é esse substantivo que está em relação de concordância com o verbo “ganharam” da segunda oração. A mudança de sujeito sintático é um fator estilístico, isto é, tal procedimento evita a repetição do sujeito. A noção de sujeito nas gramáticas liga-se ao sujeito sintático, que, para ser identificado, deve pas­sar pelas verificações citadas anteriormente. Não se esqueça ainda de que o sujeito pode ser expresso por uma única palavra ou ter significado ampliado por meio de outras palavras que giram em tomo da palavra central, que é o núcleo.

sujeito: todo complexo (o sujeito como um todo)

tAs inocentes crianças sobrevivem ao ataque aéreo.

*núcleo: palavra central do todo complexo

Tipos de sujeitoO sujeito pode ser:

1. Determinado:• simples.• composto.• elíptico ou desinencial (oculto).

Page 87: Livros poliedro   caderno 1 português

2. Indeterminado.3. Inexistente (oração sem sujeito).

Sujeito determinadoO sujeito é determinado quando pode ser identificado na fira-

se por meio de seu(s) núcleo(s) ou de uma elipse (omissão de uma palavra que está subentendida no contexto ou implícita na terminação do verbo). Não nos esqueçamos, todavia, de que a identificação do sujeito passa pelo menos por duas averiguações:1. perguntar ao verbo: “que (quem) é que...?”2. verificar se o verbo está em concordância com a palavra

ou expressão suspeita (o verbo concorda com o sujeito em número e pessoa, com raras exceções).Veja os exemplos a seguir.

Exemplo 1:Nada resta, senão uma lágrima perdida.Que é que resta?Resolução:“Nada”. Sujeito determinado.

Exemplo 2:Robinho e Elano marcaram os gols pelo Brasil.Quem é que marcou?Resolução:“Robinho e Elano”. Sujeito determinado.

Exemplo 3:Sou louco por música clássica.Quem é que é louco?Resolução:“Eu”, implícito em “sou”. Sujeito determinado.

No exemplo I, o sujeito sintático é o pronome indefini­do “nada”. Esse pronome está em concordância com o verbo e exerce, no lugar de um substantivo, o papel de sujeito de “restar”. No exemplo II, os substantivos “Robinho e Elano” exercem o papel de sujeito, eles estão presentes na frase e em concordância com o verbo “marcar” no plural. No exemplo III, embora o pronome “eu” não esteja na frase, ele está implícito na forma verbal “sou”; portanto, determinado, visto que o “eu” sempre é identificável; isso também ocorreria nas segundas pessoas (respectivamente “tu” e “vós”).Observe:- És um verme!- Sois o exemplo da democracia!

Mas não ocorreria na terceira do plural, a não ser que o sujeito possa ser identificado em uma oração anterior. Veja-se um caso de sujeito indeterminado:

[Entraram no prédio] e [roubaram tudo].

Nas duas orações, o sujeito é indeterminado, não se sabe quem entrou e quem roubou.

Sujeito determinado:

[Os dois garotos entraram no prédio] e [roubaram tudo].

Na primeira oração, o sujeito é determinado, “dois garo­tos”; na segunda, também é determinado, visto que o pronome “eles”, implícito em “roubaram”, está anteriormente explícito: “Os dois garotos”.

Determinado simples

Fíg. 3 Sujeito determinado simples: “A garota balança”.

Quando o sujeito apresenta um só núcleo (explícito).Pelé marcou cinco gols.O habilidoso Pelé comemorou.Ninguém brigou.

Na segunda oração, Pelé é o núcleo do sujeito (o sujeito é “O habilidoso Pelé”). Na terceira, o sujeito é determinado, mas tem sentido indefinido.

O sujeito determinado simples também pode aparecer com a partícula apassivadora (se) em estrutura denominada voz pas­siva sintética:

Vendem-se casas.

l~ T "sujeito

Alugam-se apartamentos.

‘ I 'sujeito

O estudo da partícula apassivadora será feito após as aulas dos termos ligados ao nome (aula sobre a partícula “se”).

Page 88: Livros poliedro   caderno 1 português

Determinado composto Heitor era um m enino rebelde, n ão obedec ia a o pai, brigava

com todos, principalmente com o vizinho, um tal de Pitu, um ga roto

muito levado que sem pre a rrum ava confusão. N o feriado d a cidade,

q u a n d o estava brincanc/o na rua, atirou um a batata no sorveteiro.

O sujeito de brincar e atirar não fica claro, pode ser “Heitor”ou “Pitu”. Isso ocorre porque o enunciador fez a elipse do sujeito. Para tirar a ambigüidade, basta colocar o sujeito de volta:

No feriado da cidade, quando Heitor estava brincando na

rua, atirou um a batata n o sorveteiro.

Fig. 4 Sujeito determinado composto: “Meninos e m eninas tomam banho”.

Quando o sujeito apresenta mais de um núcleo (explícito).sujeito sujeito

f iTrabalhadores e mulheres fizeram passeata em protesto contra o aumento de preços.

2. Uso estilístico para evitar a repetição.Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, a rrum ara-se. C h e g a ra na-

quele estado, com a família morrendo de fome, c o m e n d o raízes.

1 C a íra no fim do pátio, debaixo de um juazeiro, depois tom ara conta da casa deserta. Ele, a mulher e os filhos tinham-se habituado à cam arinha escura, parec iam ratos - e a lembrança dos sofrimentos passados esmorecera.

Pisou com firmeza no chão gretado, puxou a faca de ponta, esga-

ravatou a s unhas sujas. Tirou do a/ó um pedaço de fumo, picou-o, fez um cigarro com palha de milho, acendeu-o a o binga, pôs-se a fumar

2 regalado.

- Fabiano, você é um homem, exclam ou em voz alta.Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certe­

za iam adm irar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não3 era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos4 outros. Vermelho, queimado, tinha o s olhos azuis, a barba e os

cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de ani­mais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e ju lgava-se cabra.

O lh o u em torno, com receio de que, fora o s meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando:

- Você é um bicho, Fabiano.5 Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho,

capaz de vencer dificuldades.6 Chegara naquela situação medonha - e ali estava, forte, até7 gordo, fu m an d o o seu cigarro de palha.

- Um bicho, Fabiano.8 Graciliano Ramos. Vidas secas. Rio de Janeiro:

Martins Editora, 1960. pp. 20-1.9 Todos os verbos assinalados trazem o sujeito elíptico, para

a sua identificação é preciso que o leitor recupere, em oração ou período anterior, o termo omitido. Assim, em “Sim senhor, arrumara-se. Chegara naquele estado”, o sujeito elíptico nas duas orações está explícito anteriormente, em outro período, na primeira oração do texto: “Fabiano ia satisfeito.” . Trata-se do substantivo “Fabiano”, sujeito da oração do primeiro período do texto. Já em “pareciam ratos”, o sujeito elíptico implícito na terceira pessoa do plural está no mesmo período, na oração anteriormente expressa: “Ele, a mulher e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura”; trata-se do sujeito composto “Ele, a mulher e os filhos”.

Determinado elíptico ou desinencial (oculto)

Fig 5 Sujeito determinado oculto (elíptico): “Estou com medo".

Quando o sujeito está implícito na desinência verbal ou no contexto.

Chuva para São Paulo e causa morte.

T “determinado determinadosimples: chuva elíptico: ela, chuva

Sou ave de rapina...

Vdeterminadoelíptico: eu

O sujeito determinado elíptico ou desinencial é um impor­tante mecanismo de coesão e de concisão. Trata-se do antigo sujeito oculto: oculta-se a palavra, pois ela está implícita no contexto ou na desinência verbal. Ao ler um texto, o aluno deve recuperar todos os sujeitos elípticos. Veja agora algumas impli­cações semânticas e estilísticas do sujeito elíptico.

1. Uso incorreto, gerando falta de clareza.A má utilização da elipse pode criar ambigüidades, falta de

clareza. Observe o texto a seguir:

3. Elipse por antecipação.A elipse por antecipação é realizada com o objetivo de se

criar expectativa em tomo de quem se fala. Observe o texto a seguir:

Page 89: Livros poliedro   caderno 1 português

[Escrevia contos e crônicas], [apreciava uma boa música clássica], [era crítico de teatro]. [João respirava cultura].

Nas três primeiras orações temos o sujeito elíptico “ele”, que aponta para o sujeito da quarta oração, “João”.

Nem sempre a elipse é desejada, há situações em que o enunciador utiliza o pronome ou o substantivo para que este ga­nhe destaque, embora possa omiti-lo. Em linguagem oral, esse procedimento é comum.

— Eu canto, entendeu?! Eu canto! Você ouve!

Na literatura, o procedimento também é comum. Veja os dois fragmentos a seguir e os termos em destaque.

Texto 1UIria morrer, quem sabe se naquela noite mesmo? E que tinha ele

feito de sua vida? Nada. Levara toda ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la muito, no intuito de contribuir para a sua felicidade e prosperidade. Gastara a sua mocidade nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava na velhice, como ela o recom­pensava, como ela o premiava, como ela o condecorava? Matando- -o. E o que nâo deixara de ver, de gozar, de fruir, na sua v/da? Tudo. Não brincara, não pandegara, não amaro - todo esse lado da exis­tência que parece fugir um pouco à sua tristeza necessária, ele não vira, ele não provara, ele não experimentara.

Lima Barreto. Triste fim de Policarpo Quaresma.

São Paulo: Ática, 1988.

Texto 2[...]

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.Ele é o humano que é natural,Eie é o divino que sorri e que brinca.E por isso é que eu sei com toda certezaQue ele é o Menino Jesus verdadeiro.[...}

Fernando Pessoa (sob o heterônimo de Alberto Caeiro). O guardador de rebanhos e outros poemas. São Paulo: Cultrix, 1997. p. 97.

Nos dois casos, haveria a possibilidade de se fazer a elipse, todavia ela não ocorre por razões enfáticas.

O sujeito indeterminado ocorre quando não se pode ou não se quer identificar o sujeito: ou na terceira do plural ou na terceira do singular, com o índice de indeterminação do sujeito.

Na terceira do plural

Assaltaram o Banco do Brasil.Não há, no texto citado, qualquer indício de quem tenha

praticado a ação, por isso o sujeito é indeterminado. É preciso, todavia, tomar cuidado com o sujeito elíptico na terceira pessoa do plural, pois este está implícito no contexto.

Ladrões entram na agência do Banco do Brasil e i ll

sujeito determinado simples

levam cinco milhões.

Isujeito determinado elíptico: eles, os ladrões

Em certas ocasiões, o falante não quer explicitar o sujeito por alguma razão. Por exemplo, um garoto que tenha rasgado o sofá da mãe e queira esconder o fato:

- Pedrinho, quem rasgou o sofá?- Rasgaram, mõel

Na terceira do singular, com o índice de indeterminação do sujeito

Confia-se em falsos profetas.Come-se bem.

O estudo do índice de indeterminação do sujeito será feito com o da partícula apassivadora (aula sobre a palavra “se”).

Oração sem sujeito

Sujeito indeterminado

Fig. 7 Sujeito inexistente: “Venta na praia.

Na oração sem sujeito, tem-se apenas o processo verbal, o predicado não é atribuído a termo nenhum. Há três casos im­portantes.

Fig. 6 Sujeito indeterminado: “Estenderam a roupa”.

Page 90: Livros poliedro   caderno 1 português

Os verbos hover e fazer indicando tempo decorrido

Há vinte anos / que não ouço o ruído dos canhões.

Ioração sem sujeito sujeito determinado elíptico (eu)

Na primeira oração (“Há vinte anos”), o verbo haver in­dica tempo decorrido (Faz vinte anos). Quando haver e fazer possuem esse sentido, ficam sempre na 3a pessoa do singular, tomando-se impessoais.

Correto: Faz vinte anos que não ouço o barulho dos canhões. Errado: Fazem vinte anos que não ouço o barulho dos canhões.

Na segunda oração, o sujeito é determinado elíptico, a ação é atribuída a alguém, “eu”.

0 verbo haver com o sentido de existir, acontecer, realizar UHá um oásis no IncertoU

Fernando Pessoa. "A múmia", I. O guardador de rebanhos e outros poe­mas. São Paulo: Cultrix, 1997. p. 63.

No texto citado, o verbo “haver” pode ser substituído por “existir”:

Existe um o á s is no Incerto.

A exemplo do caso anterior, o verbo haver é impessoal, só pode ser usado no singular (sozinho ou em locução verbal):

Há poesias. Deve haver poesias.

X Toração sem sujeito oração sem sujeito

Outros exemplos:H ouve b riga s n o jogo.

H av ia vinte torcedores arm ados.

Pode haver m enores envolvidos.

A T E N Ç Ã O !

O verbo existir é pessoal, estabelendo concordância com o sujeito.

Existem poesias. Devem existir poesias.

sujeito determinado sujeito determinado

Com outros sentidos, o verbo haver não é impessoal. Assim, pode ocorrer o sujeito determinado ou indeterminado.

Houveram um alvará.

Isuj. indet. (obter)

Eles se houveram com dignidade.

isuj. det. (comporta-se)

Nós havíamos tido uma discussão.

isuj. det. (ter)

Em linguagem coloquial e em certos textos literários, é co­mum o emprego do verbo “ter” com o sentido de existir. Veja o exemplo a seguir:

Tem dias que a gente se sente Como quem partiu ou morreu.ml

Chico Buarque. "Roda Viva".

Em “tem dias”, o verbo “haver” apresenta-se no singular, é impessoal e assume, como o “haver”, o sentido de “existir”. O uso do “ter” com o sentido de existir deve ser evitado em linguagem culta.

Com verbos que denotam tempo e fenômenos da natureza

Chove lá fora e aqui tá tanto frio [...]

São quinze hora s em Brasília.

Lobão. "M e chama".

Os verbos chover e fazer são impessoais, não apresentam sujeito; como nos exemplos anteriores, só há predicado. O ver­bo ser admite plural, pois concorda com o predicativo, mas não possui sujeito.

Tipos de inversão Hipérbato

É a inversão da ordem natural das palavras na oração, ou a da ordem indireta das orações no período.

UO coração no peito, que estremece De quem o s olha, se alvoroça, e teme.U

Luís de Camões. O s Lusíadas, "Canto VI", 1865. p. 272

A oração “que estremece” parece referir-se a “peito”, no entanto isso não é verdade; temos uma ordem indireta, a ora­ção adjetiva “que estremece” está ligada a “coração”, a ordem direta seria assim:

O coração, que estremece no peito, se alvoroça e teme.

AnástrofeQuando se pospõe uma preposição ao seu conseqüente, te­

mos a anástrofe.

Sonho através das cores. Sonho das cores através.* I

ordem direta ordem indireta: anástrofe

SínquiseSe a inversão for radical, teremos a sínquise.

Ucias, pastor - enquanto o Sol recebe,Mugindo, o manso armento e ao largo espraia,Em sede abrasa, qual de amor por Febe,- Sede também, sede maior, desmaia.Í-.J

Alberto de Oliveira. "Taça de coral".

Page 91: Livros poliedro   caderno 1 português

Interpretação do texto: Lícias, pastor, enquanto o manso armento, mugindo, recebe o sol e ao largo espraia, abrasa em sede, qual desmaia de amor por Febe, sede também, sede maior.

A ordem indireta, em prosas dissertativas, também pode ser utilizada, mas não de forma radical. A anteposição do ad­jetivo ou mesmo do predicado é comum nos textos dos bons autores e constitui-se em um fato estilístico.

Ordem das palavrasO fragmento a seguir é de Gonçalves Dias, do poema

Canção do exílio, no qual há uma pequena modificação:

Minha terra tem palmeiras,Onde canta o sabiá;As aves, que aqui gorjeiam,Nõo gorjeiam como lá.[...]

Gonçalves Dias. Canção do exílio.

“Onde o sabiá canta” ou “onde canta o sabiá”? No texto de Gonçalves Dias, a ordem é a segunda, pois ao colocar o sujeito em ordem indireta, à direita do verbo, o poeta obtém uma rima de final de verso: sabiá/lá. Trata-se de uma manobra sintática com fins estilísticos. Na poesia, passar da ordem direta para a indireta, às vezes, é necessário para que se entenda o texto de forma mais clara. Veja este fragmento pertencente à obra de Gregório de Matos:

Nasce o Sol, e nõo dura mais que um dia,Depois da Luz se segue a noite escura,Em tristes sombras morre a formosura,Em contínuas tristezas a alegria.u

"A instabilidade das cousas do mundo". In: Segismundo Spina. A poesia de Gregório de Matos. São Paulo: Edusp, 1995. p. 161.

Em ordem direta, teríamos:

O Sol nasce, e não dura mais que um dia,A noite escura se segue depois da Lua,A formosura morre em sombras tristes,A alegria em tristezas contínuas.

Os dois últimos versos ficam mais claros em ordem direta; as transformações tomam-se mais evidentes, embora, nova­mente, percamos a rima de final de verso. A identificação do sujeito é possível em função da concordância (“formosura” e “morre” no singular, assim como “alegria”, sujeito da última oração, que apresenta verbo elíptico) e do fato de as expres­sões “em tristes sombras” e “em contínuas tristezas” estarem comandadas por preposição.

Mas a ordem indireta não é uma característica apenas da poesia. Na linguagem veicular, em muitos momentos, observa- -se o seu uso:

Faltam vinte segundos, o Brasil vai fechar o set e se tomar o campeão da Liga Mundial de Vôlei Feminino, atenção, senhoras e senhores, final de partida...

No texto citado, a expressão “vinte segundos” é o sujeito de faltar, verbo intransitivo (sem complemento). Parte signifi­cativa dos verbos intransitivos leva o sujeito à direita do verbo (ordem indireta), é o caso de acontecer, restar, sobrar, ocorrer, nascer, morrer etc. A não atenção à ordem pode acarretar erro de concordância:Linguagem coloquial

Sobrou dez reais!Aconteceu tantas coisas, menina!Resta vinte sacolas, Jacó!

Linguagem cultaSobraram dez reais.Aconteceram tantas coisas.Restam vinte sacolas, Jacó!

Posposição do sujeitoPara melhor entendimento, é interessante relatar os casos em

que o sujeito costuma estar posposto. Veja cada um deles:a) em orações infinitivas (introduzidas por verbo no infiniti­

vo), com verbos intransitivos (que não precisam de com­plemento) ou passivos (que sofrem ação).Declarou não existir burocracia.Disse ter sido o povo enganado.

b) quando algum elemento da oração, que não o sujeito, ocor­re na primeira posição.

• Interrogativas com pronome Onde estão meus camaradas?

• Topicalizações (com o objeto, complemento do verbo, ou predicativo)Isso disse ele\ Louca é você!

• Com pronomes relativos (que, onde, aonde, o qual)Não sabia onde moravam os deuses de suas fantasias.

c) com verbos reflexivos (carregam o pronome consigo) de sentido passivo:Desfaz-se a última lágrima revolucionária.

d) com verbos no particípio:Detidos todos os ladrões, os policiais voltaram à delegacia.

e) em orações intercaladas (no meio de outra):O sonho, dizia um amigo, é construído ao longo da vida.

Coloquialismo de "eu" e "tu "Os pronomes “eu” e “tu” funcionam como sujeito na ora­

ção. Sua colocação no predicado é coloquial.Você viu eu na televisão?

Tling. coloquial

Você me viu na televisão?

4ling. culta

Verbo "chover" aceitando sujeitoNo sentido figurado, o verbo chover aceita sujeito.

Chovem canivetes.L 1 4

sujeito

Page 92: Livros poliedro   caderno 1 português

RevisandoTexto para as questões de 1 a 10.

Chuva de vento

[...]Chuva de vento E quando o vento dá na chuva Sol com chuva - céu cinzento Casamento de viúva

Zeca Secura Da Fazenda do Anzol Quando chove nõo vê sol Vai comprar feijão no centro Bebe dez litros De cachaça em meia hora Pra aguentá chuva por fora Tem que se molhar por dentro Vento danado E aquele lá de Minas Sopra em cima das meninas Diverte a população Até os velhos Vão correndo pras janelas Pra ver se alguma delas Já usa combinação

Fez sol com chuva

Tem viúva lá da Penha Não há viúva que tenha Tanto pretendente junto Mas um por um Dos pretendentes é otário Pois o vencedor do páreo Ganha resto de defunto

Quem nunca viu Chuva de vento à fantasia Vá em Caxambu de dia Domingo de carnaval Chuva de vento Só essa de Caxambu Domingo chove chuchu E venta água mineral

Um Zé Pau-d'água Tem um amigo parasita Não trabalha e sempre grita: "Viva Deus e chova arroz!" Gritando assim Do seu povo ele se vinga Viva Deus e chova pinga Que arroz nasce depois.[-1

Noel Roso.

a Substitua na passagem a seguir o verbo haver por existir e passe viúva para o plural; faça as adaptações necessárias. Depois, identifique o sujeito em cada caso (com o verbo haver e com o verbo existir); use a norma culta.Não há viúva que tenha Tanto pretendente junto

U H O verbo ter foi empregado com diferentes sentidos em “Fez sol com chuva/Tem viúva lá da Penha” e “Um Zé Pau d'Água/Tem um amigo parasita”. Explique os significados e aponte a frase em que o verbo ter é coloquial.

D Identifique o sujeito sintático e o sujeito semântico na oração em destaque.Um Zé Pau d'Agua Gritando assimTem um amigo parasita Do seu povo ele se vinga:Não trabalha e sempre grita: Viva Deus e chova pinga Viva Deus e chova arroz! Que arroz nasce depois.

D Identifique em “Domingo chove chuchu” o sujeito da ora­ção e o efeito onomatopeico obtido pelo autor.

fE Ê Cite do texto uma ocorrência em que o verbo chover determina um outro tipo de sujeito sintático, diferente daquele presente em “Domingo chove chuchu”. Justifique sua resposta.

O Identifique na passagem abaixo a elipse do sujeito e ex­plique o porquê de seu emprego.Vento danado Até os velhosE aquele lá de Minas Vão correndo pras janelasSopra em cima das meninas Pra ver se alguma delas Diverte a população Já usa combinação

B I Nos trechos a seguir, compare o emprego dos verbos ventar e chover e diga o que eles apresentam em comum do ponto de vista estilístico.E venta água mineral Viva Deus e chova pinga

Q Leia o trecho a seguir.Pra aguentá chuva por fora Tem que se molhar por dentro

Qual é o sentido de “molhar” no contexto e qual o seu sujeito sintático?

O Qual o significado de “venta água mineral”?

na No texto de Noel, os termos das orações apresentam-se sempre em ordem direta. Como esse procedimento sintático relaciona-se com o nível de linguagem empregado?

Page 93: Livros poliedro   caderno 1 português

Exercícios propostosPasse para a ordem direta as questões de 1 a 8.

■ ■ Morre, em acidente automobilístico, o piloto de fórmula 1.

B Vai passar nessa avenida um samba popular [...]Chico Buorque.

D Chegou, após um voo com muitos problemas, o ignoto cientista da Universidade de São Paulo.

O coso triste, e digno da memória Que do sepulcro os homens desenterra

[...]Luís de Camões.

A Rita matou nosso amor De vingança, nem herança deixou

u

n Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heroico o brado retumbanteÍ-.J

Ch ico Buorque.

Hino Nacional.

[...] Quando eu te encarei frente a frente e nõo vi o meu rosto [...]Coetano Veloso.

Ocorrem, em todas a s partes do país, greves operárias.

P asse para o plural o termo destacado e faça apenas as alterações necessárias.Triste confusão foi aquela, todavia a mídia a considerou ainda mais grave.

| | i | Destaque o sujeito e o predicado em:A sociedade era anônima, m as o desfalque no caixa tornou-a famosa.

Classifique o s sujeitos das questões 11 e 12.

O Brasil é o único país do mundo onde a honestidade nõo é uma virtude, é um esforço.

Bundas. 12 set. 1999.

Experimenta!Propagando publicitária.

O texto a seguir refere-se à s questões 13 e 14.

Pedrinho, ao brincar com o irmão mais novo, rosgou o sofá. A mãe, ao chegar do trabalho, viu o sofá rasgado e indagou:

- Quem rasgou meu sofá?Pedrinho respondeu:-E u e o Zezinho!

B E 1 Que estrutura sintática Pedrinho utilizou para se livrar da responsabilidade?

Dl Que outra estrutura sintática Pedrinho poderia ter utiliza­do (tipos de sujeito)?

Passe para o plural as frases referentes às questões 15 a 17.

U J I Deve haver, no próximo mês, contratação no time do Pal­meiras.

I Q Pode existir contradição no documento.

| [ f l Faz vinte anos que não venho a Parati.

Classifique o papel temático do sujeito nas questões de 18 a 20.

B H Mariana foi assaltada em plena Praça da Sé.

| £ | João sofreu muito após a separação,

d A mulher matou-se por amor.

m Interprete a s frases a seguir.a) A tradição retém os chineses.b) A tradição retêm os chineses.

Leia o texto a seguir.

As pombas Vai-se a primeira pombo despertada...Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas De pombos võo-se dos pombais, apenas Raia sanguínea e fresca, a madrugada.

E ò tarde quando o rígida nortada Sopra, aos pombais de novo, elas, serena,Ruflando as as os, sacudindo as penas,Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,Os sonhos, um por um, céleres voam,Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,E eles aos corações não voltam mois...

Raimundo Correia.

Page 94: Livros poliedro   caderno 1 português

Todos os verbos aparecem com o respectivo sujeito em negrito, exceto um deles em que a palavra em negrito é objeto direto. Identifique:

Vai-se a primeira pomba despertada.> Apenas raia sanguínea e fresca a madrugada.;) Ruflando as asas.I) Como voam as pombas dos pombais. l) E eles aos corações nõo voltam mais.

H 9 Leia o texto a seguir.O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia, Mas o Tejo nõo é mais belo que o rio que corre pela minha

aldeiaPorque o Te/o nõo é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios E navega nele ainda,Para aqueles que veem em tudo o que lá nõo está,A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha E o Te/o entra no mar em Portugal.Toda a gente sabe isso.Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia E para onde ele vai E donde ele vem.E por isso, porque pertence a menos gente,É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.Para além do Tejo há a América E a fortuna daqueles que a encontram.Ninguém nunca pensou no que há para além Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia nõo faz pensar em nada.Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

Alberto Caeiro. (Fernando Pessoa).

O Guardador de rebanhos e outros poemas.

“O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia ” Rigorosamente o sujeito do verbo correr é:

Tejo.rio.que (no lugar de rio), aldeia.indeterminado.

E l Leia o texto a seguir.Hão de chorar por ela os cinamomos.Murchando as flores ao tombar do dia.Dos laranjais hõo de cair os pomos.Lembrando-se daquela que os colhia.

As estrelas dirõo: - "Ail nada somos,Pois ela se morreu silente e fria..."E pondo os olhos nela como pomos,Hõo de chorar a irmõ que lhes sorria.

A lua, que lhe foi mõe carinhosa,Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la Entre lírios e pétalas de rosa.

Os meus sonhos de amor serõo defuntos...E os arcanjos dirõo no azul ao vê-la.Pensando em mim: - "Por que nõo vieram juntos?"

Alphonsus de Guimaraens. Em “Lembrando-se daquela que os colhia.”, o sujeito do verbo colher é:

i) ela. (d) indeterminado.>) os (4a linha). (e;> inexistente.:) que (no lugar de aquela).

□ O núcleo do sujeito está corretamente destacado em:i) "... ruas mortas onde esvoaçavam despojos de serpentina

e confete”(b) “Até que viesse o outro ano”

“Mas houve um carnaval diferente dos outros.”I) " ... a mãe de uma amiga minha resolvera fantasiar a filha...”

“Embora de pétalas, o papel crepom nem de longe lem­brasse...”“Quando horas depois a atmosfera em casa acalmou-se...” “Só horas depois é que veio a salvação.”

E S Leia o texto a seguir.Queria dizer aqui o fim do Quincas Borba, que adoeceu tam­

bém, ganiu infinitamente, fugiu desvairado em busca do dono, e amanheceu morto na rua, três dias depois. Mas, vendo a morte do cão narrada em capítulo especial, é provável que me perguntes se ele, se o seu defunto homônimo é que dá o título ao livro, e por que antes um que outro, - questão prenhe de questões, que nos levariam longe... Eial chora os dois recentes mortos, se tens lágri­mas. Se só tens riso, ri-tel E a mesma coisa. O Cruzeiro, que a linda Sofia não quis fitar, como lhe pedia Rubião, está assaz alto para nõo discernir os risos e os lágrimas dos homens.Machado de Assis. Quincas Borba. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003. p. 390.

Em [...] é provável que me perguntes [...], o sujeito do verbo ser é: ele. (d? que me perguntes,provável. (e indeterminado,que.

E l Em De repente da calma fez-se o vento. Que dos olhos desfez o última chama [Vinícios de Moraes], o sujeito do verbo desfazer (desfez) é:

calma. ; olhos,vento. (e) chama,que (no lugar de vento).

Page 95: Livros poliedro   caderno 1 português

E3 Leia a definição de sujeito apresentada por Cegalla, em sua Novíssima gramática da língua portuguesa, 22 ed.:

Sujeito é o ser de quem se diz alguma coisa.I. Dor de cabeça eu curo com uma boa noite de sono.II. Cabe pouca roupa no meu armário.III. Não se constroem edifícios de qualidade neste país.IV. Sempre falta água no prédio ao lado.V. Não há mulheres como antigamente.Os itens cujos termos destacados estão de acordo com a definição proposta para sujeito, embora não exerçam tal função na sentença, são:(a) I e II. (c) II e IV. (e) IV e V.(b) leV. (d) III e IV.

m FMPA “Quando me procurar o desencanto, eu direi, sere­no e confiante, que a vida não foi de todo inútil.”O sujeito de “procurar” é:(a) indeterminado, (c) o desencanto, (e) inexistente.(b) eu (elíptico). (d) me.

O texto a seguir refere-se às questões 30 e 31.Toda a humanidade estaria condenada à morte se houvesse

um tribunal para os crimes imaginários.Paulo Bonfim.

E 3 FEI Qual o sujeito da primeira oração?

E O FEI Qual o sujeito da segunda oração?

E 9 FMU Na oração “Mas uma diferença houve”, o sujeito ó:(a) agente. (c) paciente. (e) oculto.(b) indeterminado, (d) inexistente.

n a fmu Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heroico o brado retumbante[...]O sujeito da afirmação com que se inicia o Hino Nacional é:(a) indeterminado.(b) um povo heroico.(c) as margens plácidas do Ipiranga.(d) do Ipiranga.(e) o brado retumbante.

m Fesp Em “Retira-te, criatura ávida de vingança”, o sujeito ó:(a) te.(b) inexistente.(c) oculto determinado.(d) criatura.(e) n.d.a.

13 “Nevam dúvidas.” Que função sintática exerce o termo “dúvidas”?

O Grife o sujeito, circule o núcleo e classifique o sujeito em: simples, composto, oculto e indeterminado.

a) A descoberta do fogo trouxe outras invenções.b) Deixaram um bilhete para você.c) Pedrinho ficou pensativo e depois respondeu.d) Narizinho e Emília eram inseparáveis.

O No trecho:O reciclamento desse lixo limpo, que 6 constituído de metal,

vidro, plástico e papel, se nõo representa uma soluçõo definitiva para o problema do lixo urbano, 6, no entanto, o melhor caminho para uma mudança de comportamento da populaçõo.O sujeito dos verbos de ligação em destaque são, respectiva­mente:(a) pronome relativo que - solução definitiva.

>) o reciclamento desse lixo limpo - mudança de comporta­mento.

(c) a conjunção integrante que - solução definitiva.(d) o pronome relativo que - ele (o reciclamento desse lixo

limpo).(e) o lixo limpo - o melhor caminho.

E3 Assinale o item em que o sujeito foi incorretamente ana­lisado.(a) Decorreram alguns minutos de estranho silêncio. (determi­

nado simples)(b) Só me restam poucas economias, (indeterminado)(c) Meus amigos e eu viemos auxiliá-lo. (determinado composto)(d) Ainda está fazendo muito frio. (oração sem sujeito)(e) Volte cedo! (elíptico)

Ea Ibmec-RJ O período em que há uma oração sem sujeito ó: (a Embarcaríamos, ainda que a ventania aumentasse.(b) Caso ocorram ventos fortes, suspenderemos o embarque.(c) Se ventar, não teremos como embarcar.(d) Chegam do sul, com a chuva, os ventos que impedem o

embarque.(e) A ventania ameaçava o nosso embarque, mas, enfim, mo­

derou.

EU UEL Até ontem, já ____duas mil pessoas desabrigadasem todo o estado, e muitas mais____se ____ as chuvas tor­renciais.(a) existiam; haverá; continuar(b) existiam; haverão; continuarem(c) existia; haverá; continuar(d) existia; haverão; continuarem(e) existiam; haverá; continuarem

EU UEPG Só num caso a oração é sem sujeito. Assinale-a.(a) Faltavam três dias para o batismo.(b) Houve por improcedente a reclamação do aluno.(c) Só me resta uma esperança.(d) Havia tempo suficiente para as comemorações.(e) n.d.a.

Page 96: Livros poliedro   caderno 1 português

A reiteração de uma estrutura sintática recebe o nome de pa­ralelismo sintático. Veja como ocorre nos exemplos a seguir.[...]A franja da encosta cor de laranja Capim rosa-chá O mel desses olhos luz, mel de cor ímpar O ouro ainda nõo bem verde da seira A prata do trem [...]

Caetano Veloso.

O paralelismo sintático está ligado ao nível do conteúdo, já que é por meio da repetição que o emissor questiona o interlocutor, repetição que é extraída da própria realidade; na briga de malan­dros, a expressão "qual é?" é signo de valentia.

Í...JSeu padre, toca o sinoQue é pra todo mundo saberQue a noite é criança, que o samba é meninoQue a dor é tõo velha que pode morrerOlê, olê, o lê, olá[...]

Chico Buarque. "O lê, olé."

A reiteração de frases nominais (sem verbo) possibilita o em­prego de uma linguagem fragmentada, sem nexos lógicos (sem conectivos) que ligam um verso ao outro; esse procedimento apro- xima-se da linguagem cinematográfica: há uma câmara registran­do a paisagem e o próprio trem. O paralelismo, portanto, possui efeito estilístico e contribui para o ritmo.

Í-.JEssa onda que tu tira Qual é?Essa marra que tu tem Qual é?Tira onda com ninguém Qual é?Qual é neguinho?Qual é?

Marcelo D2. 'Q ua l é?".

A reiteração da oração subordinada substantiva objetiva di­reta (que...) tem como propósito enfatizar, destacar a informação que cada oração traz (...a noite é criança, ...o samba é menino, ...a dor é tão velha).

RESUMINDO

* Tipos de sujeito DeterminadoO sujeito é determinado quando pode ser identificado na frase por meio de seu(s) núcleo(s) ou por meio de uma elipse (quando se

oculta a palavra, porque ela está subentendida no contexto ou implícita na terminação do verbo).

- Sujeito determinado simplesQuando há um só núcleo sintático, representado por um substantivo, pronome ou numeral (no singular ou no plural).Os presidenciais debateram, eles se ofenderam, os dois foram analisados.

- Sujeito determinado compostoQuando há dois ou mais núcleos sintáticos, representados por substantivos, pronomes ou numerais (no singular ou no plural).Lula e o ex-governador argumentaram de forma diferente.

Page 97: Livros poliedro   caderno 1 português

- Sujeito determinado elíptico ou implícito na desinência verbal (oculto)Quando o sujeito foi oculto por estar expresso anteriormente ou por estar implícito na desinência verbal.Somos alienados? Os ricos e os pobres os são?Há muitos ricos e muitos pobres... não igualemos.

IndeterminadoO sujeito indeterminado ocorre quando o verbo não se refere a uma pessoa determinada, ou por se desconhecer quem pratica a ação,

ou ainda por não haver interesse no seu conhecimento. O sujeito indeterminado pode apresentar-se na terceira pessoa do plural ou na terceira pessoa do singular, com emprego do "se", índice de indeterminação do sujeito.

Com verbo na terceira pessoa do singular e com o índice de indeterminação do sujeito (se):Necessita-se de água.Com verbo na terceira pessoa do plural, sem o índice de indeterminação do sujeito (se):Necessitam de água.

Inexistente (oração sem sujeito)Neste tipo de estrutura sintática, a exemplo do sujeito elíptico e do sujeito indeterminado, há apenas o predicado; a diferença é que,

ao contrário dos dois primeiros, não há quem faça a ação. Os principais casos:a) verbos ou expressões que denotam fenômeno da natureza e indicação de tempo em geral.

Faz calor, meu bem? Podemos sair?Chove, amor!

b) com os verbos "haver" e "fazer" no sentido de tempo decorrido (impessoais).Aliás, faz 10 minutos que chove.Há pouco não chovia, que chato!

c) com o verbo "haver" no sentido de existir, acontecer, ocorrer (impessoal).Amor, há tantas outras coisas a fazer...Em linguagem coloquial e em certos textos literários, é comum o emprego do verbo "ter" com o sentido de existir. Para muitos gramá­

ticos, todavia, o uso deve ser evitado em linguagem culta.Tem tanto museu bonito...

QUER SABER MAIS?

FILME■ Platoon. Direção de Oliver Stone, 1986.

LIVROSARTES PLÁSTICAS■ Eurípedes. As Bacantes. São Paulo: Hedra, 2010.

■ Roberto Piva. '20 Poemas com brócolis*. In: Alcir Fecora (org). Mala na mão e asas pretas. São Paulo: Globo, 1981 (Obras reunidas).

■ Lygia Clark.

Page 98: Livros poliedro   caderno 1 português

Q Leia o texto a seguir.Quando olho para mim não me percebo.Tenho tanto a mania de sentir Que me extravio às vezes ao sair Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo,Pertencem ao meu modo de existir,E eu nunca sei como hei de concluir As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca, propriamente reparei,Se na verdade sinto o que sinto. Eu Serei tal qual pareço em mim? Serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.

Fernando Pessoa. Obra poética. Rio de Janeiro: J. Aguilar,1974. p. 301.

Na frase O ar que respiro, este licor que bebo, pertencem ao meu modo de existir, é composto o sujeito do verbo pertencem.Quais são os núcleos desse sujeito composto?

H Leia atentamente o texto a seguir.

Sujeito composto, segundo a definição de Alfredo Gomes, é o que representa mais de um ser.Ex.: Senhora em estado interessante.

Mendes Fradique. Grammatica portugueza pelo methodo confuso. 4 ed.facsimilado. Rio de Janeiro: Rocco, 1985. p. 79.

A intenção humorística de Mendes Fradique foi satisfeita, por­quanto “Senhora em estado interessante” = “Senhora grávida”. Mas dada a frase:“Duas pessoas acudiram a senhora em estado interessante.” Mostre duas coisas:a) a falha da conceituaçâo de Alfredo Gomes.b) a inadequação do exemplo descontextualizado.

D Qual é o sujeito do verbo “ser” em “É proibido fumar?”

n ita Para uma pessoa mais exigente no que se refere à redação, especificamente a construções em que está em jogo a omissão do sujeito, só seria aceitável a alternativa:(a) os mulheres devem evitar o uso de produtos de higiene femini­

na perfumados, pois podem causar irritações [...]Infecção urinária. In: A cidade. Lorena, mar 2002, ano IV, n.42.

(b) é recomendável também não usar roupas justas, pois assim permite uma boa ventilação [...], o que reduz as chances de infecção.

Infecção urinária. In: A cidade, Lorena, mar 2002, ano IV, n.42.

(c) alguns medicamentos devem ser ingeridos ao levantar-se (ma­nhã), e outros antes de dormir (noite), aproveitando assim seu efeito quando ele é mais necessário.

Boletim informativo sobre o uso de medicamentos, produzido por M & R

Comunicações.

(d) já a rouquidão persistente é sinal de abuso excessivo da voz, o que pode levar à formação de nódulos (calos) ou pólipos, e merecem atenção especial.

Rouquidão: o que é e como ela afeta sua saúde vocal. Panfleto de divul­

gação do curso de Fonoaudiologia. Lorena, abr. 2001.(e) os seqüelas [causadas pelo herpes] variam de paciente para

paciente e podem ou não ser permanentes.Folha Equilíbrio. Folha de S.Paulo, 27 jun 2002. p.3.

D Observe a frase a seguir, extraída da revista Veja, de agosto de 1998:

Tem um contrato em que o Ronaldo tem que jogar os noventa minutos.

Edmundo. Veja, ago 1998.

A frase anterior está expressa em uma variante informal da lín­gua. Redija-a novamente em conformidade com o uso culto da língua.

Texto para as questões 6 e 7.

Considere o trecho:[...] o Tribunal de Contas da União (TCU) descobre, toda se­

mana, irregularidades no uso das verbas do FNDE pelo país. Para grande surpresa de todos nós, claro, que nunca desconfiamos de que esse tipo de coisa acontecesse. Ainda bem que não fede.

Paulo Freire. Pelas marinas.

D URFN A forma verbal em destaque (FEDE) encontra-se no singular por:(a) não apresentar sujeito.(b) não apresentar sujeito determinado.(c) concordar com o sujeito pronominal elíptico ele, “Tribunal

de Contas da União”(d) concordar com sujeito explicitado em período anterior.(e) concordar com o sujeito composto implícito em “irregula­

ridades”.

^ 9 Considere as seguintes afirmações.I. Há uma ironia nos dois últimos períodos, que pode ser de­

tectada por meio do conhecimento de mundo do leitor.II. O autor faz um jogo fonético no uso das maiúsculas, que

cria efeito de sentido.m . Examinando o contexto, a sigla FNDE possui em si mesma

uma sanção negativa.IV. O último período mantém com o primeiro período o nexo

lógico da oposição; oposição que é desfeita no contexto. Estão corretas:(a) I e II.(b) II e III.(c) II, III e IV.(d) i ,n e m .(e) todas.

Page 99: Livros poliedro   caderno 1 português

E l Apesar de consideradas erradas, construções como “No segundo tumo nós conversa”, “A gente fomos”, “Subiu os pre­ços” obedecem a regras de concordância sistemáticas, carac­terísticas principalmente de dialetos de pouco prestígio social. O trecho a seguir, extraído de um editorial de jornal (portanto, representativo da modalidade culta), contém uma construção que é de fato um erro de concordância.

Pode-se argumentar, é certo, que eram previsíveis os percalços que enfrentariam qualquer programa de estabilização [...] necessário

no Brasil.Folha dê S.Faulo. 0 7 nav. 2008.

No texto citado, há uma infração à norma; o erro ocorre em:(a) “pode-se argumentar”. (d) “eram previsíveis”.(b) “que enfrentariam”. (e) “necessário no Brasil”.(c) “é certo”.

Texto para as questões de 9 a 11.

Há na manchete acima uma transgressão à norma que remete ao uso da sintaxe. Identifique-a e corrija o texto.

Dl Identifique a palavra do texto que mantém relação se­mântica com o vocábulo “genocídio”.

O Pode-se afirmar que a palavra “raça” tem sentido literal na frase em que foi inserida?

m Leia o texto a seguir.Convite a M arília

Já se afastou de nós o Inverno agreste Envolto nos seus úmidos vapores;A fértil primavera, a mãe das flores O prado ameno de boninas veste:

Varrendo os ares o sutil nordeste Os torna azuis; as aves de mil cores Adejam entre Zéfiros e Amores,E toma o fresco Tejo a cor celeste:

Vem, 6 Marília, vem lograr comigo Destes alegres campos a beleza,Destas copadas árvores o abrigo:

Deixa louvar da corte a vã grandeza:Quanto me agrada mais estar contigo Notando as perfeiçôes da Natureza!

Bocage. Obras de Bocage. Porto: Lello & Irmão, 1968. p. 142.

O estilo neoclássico, do qual Bocage foi um dos grandes ex­poentes em Língua Portuguesa, se caracteriza, entre outros as­pectos, pelo uso de hipérbatos, isto é, de inversões da ordem normal das palavras na oração ou da ordem das orações no período. Em “Já se afastou de nós o inverno agreste/Envolto nos seus úmidos vapores” (versos 1 e 2), temos a inversão do termos da oração, a ordem indireta.Como esses versos ficariam em ordem direta?

EEI ITA Passe para a ordem direta:a) o primeiro verso do fragmento a seguir.

[...] Dos laranjais hão de cair os pomos.Lembrando-se daquela que os colhia.[...]

Alphonsus de Guimaraens.

a frase a seguir.

A grita se alevanta ao céu, da gente;

b)

Í-.JLuís de Camões.

B 9 UFRRS Leia o texto a seguir.Quando tomou posse na Presidência em 31 de janeiro de

1951, Getúlio Vargas tinha plena consciência das dificuldades e dos riscos que teria de enfrentar. Ainda antes mesmo de se can­didatar, dera-lhe a oposição udenista, em meados de 1950, por meio do jornalista Carlos Lacerda, um recado claro e desafiador: “O senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à Pre­sidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governarA estupefação que causa hoje semelhante golpe anun­ciado permite medir em toda a sua extensão a evolução política operada em meio século.

Décio Freitas. O suicídio do príncipe perfeito.Zero hora.

Considere as afirmações sobre as seguintes frases.Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. (linhas 6 e 7 )I. Caso fossem retiradas as vírgulas, as informações veicu­

ladas pelas frases não se alterariam fundamentalmente.II. Ambas as frases poderiam ser iniciadas pela expressão

se fo r .III. Os sujeitos das frases são, respectivamente, candidato e

eleito.IV. A ausência de artigo precedendo as palavras candidato

e eleito indica que o autor das frases fala dos candidatos e dos eleitos em geral.

Quais estão corretas?(a) Apenas I. (d) Apenas I e III.(b ) Apenas II. (e) Apenas III e IV.(c) Apenas I e II.

Page 100: Livros poliedro   caderno 1 português

r a UFRN Considere o trecho a seguir.Mas, agora, o professor observava com ternura os alunos à sua

frente, cada um voltado para seu cademo, fazendo a lição que co­locaria ponto final no ano letivo. Então, agarrado à calmaria daque­la hora, ele se recordou do primeiro encontro com o grupo. Todos o miravam com curiosidade, ansiosos por apanhar, como uma fruta, o conhecimento que imaginavam lhe pertencia.

J. C a rra sco z a . Apenas uma ponte.

No trecho citado, os pronomes destacados apresentam:(a) o mesmo referente textual e exercem a mesma função

sintática.'! referentes textuais diferentes e exercem a mesma função

sintática.) o mesmo referente textual e exercem funções sintáticas

diferentes.I) referentes textuais diferentes e exercem funções sintáticas

diferentes.

Textos para as questões de 16 a 23.

Texto ISedia Ia fremosa seu sirgo torcendo

Sedia Ia fremosa seu sirgo torcendo,Sa voz manselinha fremoso dizendo cantigas d'amigo.Sedia Ia fremosa seu sirgo lavrando, sa voz manselinha fremoso cantando cantigas d'amigo.- Par Deus de Cruz, dona, sei eu que avedes amor mui coitado que tan ben dizedes cantigas d'amigo.Par Deus de Cruz, dona, sei eu que andades d'amor mui coitada que tan ben cantades cantigas d'amigo.- Avuitor comestes, que adevinhades.

Estêvão Coelho. 'C ontigo n° 32 1" - Canc. da Vaticana.

Texto IIEstava a formosa seu fio torcendo Estava a formosa seu fio torcendo,Sua voz harmoniosa, suave dizendo Cantigas de amigo.

Estava a formosa sentada, bordando,Sua voz harmoniosa, suave cantando Cantigas de amigo.- Por Jesus, senhora, vejo que sofreis De amor infeliz, pois tão bem dizeis Cantigas de amigo.

Por Jesus, senhora, eu vejo que andais Com penas de amor, pois tão bem cantais Cantigas de amigo.

- Abutre comeste, pois que adivinhais.Cleonice Berardinelli. Cantigas de trovadores medievais em português

modemo. Rio de Janeiro: O rgan. Simões, 1953. pp. 58-9.

O Cite três passagens do texto II em que se observam in­versões sintáticas.

Dl Passe-as para a ordem direta.

Dl Por que razão essas inversões foram empregadas?

Dl Que figura de linguagem foi utilizada nessas inversões?

1 7 1 O paralelismo é um dos recursos estilísticos mais comuns na poesia lírico-amorosa trovadoresca. Consiste na ênfase de uma ideia central, às vezes repetindo expressões idênticas, palavra por palavra, em séries de estrofes paralelas. A partir dessas observa­ções, releia o texto de Estêvão Coelho e responda: o poema se estrutura em quantas séries de estrofes paralelas? Identifique-as.

O Que ideias centrais são enfatizadas em cada série para- lelístíca?

E 9 Considerando-se que o último verso da cantiga caracteriza um diálogo entre personagens; considerando-se que a palavra abu­tre grafava-se avuytor, em português arcaico; e considerando-se que, de acordo com a tradição popular da época, era possível fazer previsões e descobrir o que está oculto, comendo carne de abutre. Mediante estas três considerações, identifique o personagem que se expressa em discurso direto, no último verso do poema.

E3 Interprete o significado do último verso, no contexto do poema.

Texto para as questões de 24 a 26.E assim, nas calhas de roda, gira, a entreter a razão, esse comboio de corda que se chama o coração.

Fernando Pessoa.

E l Identifique os dois vocábulos que entram em oposição semântica no contexto em que se inserem.

Quais são os sujeito sintáticos de “gira” e “chama”?

O Qual o significado de “entreter”?

m Assinale a opção em que a mudança na ordem dos ter­mos altera sensivelmente o significado do enunciado.( a ) A leitura é um dado cultural.

E a leitura um dado cultural.(b) Assim, tomou-se cada vez mais importante para o homem

saber ler.Saber ler tomou-se, assim, cada vez mais importante para o homem.

) Também por isso a leitura é uma atitude individual.Por isso a leitura é também uma atitude individual.

(d) Por tudo isto, existe uma produção específica destinada a crianças e jovens.Por tudo isto, existe, destinada a crianças e jovens, uma produção específica.

(e) Daí a divisão em faixas de interesse, ou faixas etárias, nor­malmente usada.Daí a divisão, normalmente usada, em faixas de interesse, ou faixas etárias.

Page 101: Livros poliedro   caderno 1 português

Termos da oração ligados ao verbo

Onde alguns veem deficiência.

l ig g ig p

■ ■ ■ ■

O texto em linguagem verbal presente no outdoor é composto por um período com duas orações, as quais apresentam uma mesma estrutura

sintática: sujeito, verbo e complemento; entre os complementos, há uma oposição semântica que cria efeito de sentido: "deficiência" e "superação", ou seja, a visão de alguns e a visão do enunciador.

Page 102: Livros poliedro   caderno 1 português

IntroduçãoNeste capítulo, estudaremos os termos associados ao ver­

bo; em capítulo posterior, será a vez dos associados ao nome. É preciso ter em mente que a relação verbo-nome está subjacente a muitos tópicos da língua, como concordância (verbal e nomi­nal) e regência (verbal e nominal). A associação ao verbo ou ao nome é premissa para uma boa análise sintática. Compare:

O macaco da Africa fugiu. O macaco fugiu da África'.

*nome adj. adn.

(substantivo)

iverbo

i adj. adv.

Verbos intransitivos

Na primeira oração, “da África” é adjunto adnominal, termo associado ao nome; na segunda, “da África” é adjunto adverbial, termo associado ao verbo.

Para ajudá-lo na fixação dos conceitos, eis um resumo dos quatro termos:

OD 01 adj. adv. Agente da passiva

a) LV a) LV a) LV a) LVb) s/prep. b) c/prep. b) d ou s/ prep. b) d prep. por ou dec) alvo, c) alvo, c) caracteriza- c) agente na voz

afetado destinatário dor do verbo passiva

Os verbos intransitivos possuem sentido completo, dispen­sam complemento. “A merenda sumiu” tem sentido completo; o que segue ao verbo sumir é um adjunto adverbial, termo aces­sório. Grosso modo, o afetado é o próprio sujeito (no caso, a “merenda”. Veja outros exemplos.

Tab. 1 Resumo dos quatro termos ligados ao verbo.

A luz apagou.

* Tsuj. VI

Nasceu Maria.

* \VI suj.

O sol brilhava l i

suj. VI

LV = ligado ao verbo OD = objeto diretoc/ = com 01 ■ objeto indiretos/ = sem adj. adv. = adjunto advervial prep. ■ preposição

A t e m ç Ã O !

Lembre-se de que o primeiro passo para a análise sintática é a identificação do sujeito.

O s verbos e seu s com plem entos

Há em nossa língua dois tipos de verbos:a) os que expressam ação (mental ou física), que são os tran­

sitivos e os intransitivos.b) os que introduzem um estado, mudança de estado ou quali­

dade, que são os verbos de ligação.

Há um número razoável de intransitivos que costumam tra­zer o sujeito à direita do verbo; é preciso tomar cuidado para não confundi-los com o objeto, complemento do verbo. Em “Nasceu Maria”, temos um bom exemplo, Maria é o sujeito (Quem é que nasceu? Maria). Veja outros casos.

Acabaram as aulas.

Que é que acabaram? R: “As aulas”, sujeito.

Faltam vinte minutos.

Que é que faltam? R: Vinte minutos”,

sujeito.

Restam flores de plástico.

Que é que restam? R : "flores de plástico”,

sujeito.

Verbos transitivos e seus complementos (OD e 01)

Verbos transitivos são aqueles que exigem complemento verbal (objeto direto ou indireto). A ação transita e recai so­bre um alvo: o objeto. Os verbos transitivos e os intransiti­vos expressam ação mental ou física; são considerados verbos significativos, isto é, fundamentais para a frase. A diferença é que os transitivos apresentam um complemento verbal e os intransitivos possuem sentido completo, dispensam o objeto. Por exemplo:

Os animais beberam toda a água. Os animais vivem.

IV T

TOD

MM

Fig. 2 Sumir: exemplo de verbo intransitivo.

Page 103: Livros poliedro   caderno 1 português

Cabe ressaltar ainda que um mesmo verbo pode atuar como transitivo em uma frase e como intransitivo em outra. Veja a ocorrência do verbo dançar nas frases a seguir.

Eles dançaram. “Dançaram tanta dança"

VT OD

Chico Buorque e Vinicius de Moraes. "Valsinha", 1970.

Há três tipos de verbos transitivos, que serão apresentados adiante, com algumas particularidades de seus objetos.

Verbo transitivo direto

b) Quando se quer passar ideia partitiva (um pouco de):

Ela tomou do vinho, ou Ela tomou o vinho.4OD

preposicionado

IOD

c) Quando o pronome só é utilizado com preposição (oblí­quos tônicos):

Ela adorava a mim. mas Ela adorava João.l J i----------------- -J

l \OD OD

preposicionado

C O N S U L T E N O S S O S P R E Ç O SDEPUTADO ESTADUAL

RS 2 8 0 MILDEPUTADO FEDERAL

RS 4 5 0 MIL

Fig. 3 Consulte: exemplo de verbo transitivo direto.

Não exige preposição e seu complemento recebe o nome de objeto direto.

O deputado desviou a verba.f f * suj. VTD OD

O congresso o cassou.* t * suj. OD VTD

Os pronomes oblíquos átonos o, a, os, as, quando ligados ao verbo, funcionam sintaticamente como objetos diretos. Em “O congresso o cassou”, o pronome o substitui deputado, com­plementando o sentido inacabado do verbo transitivo (cassar).

Objeto direto preposicionadoOs verbos transitivos diretos podem apresentar um obje­

to direto com preposição (objeto direto preposicionado). Isso ocorre nas seguintes circunstâncias,a) Quando se quer enfatizar o objeto:

Ele ama a todos, ou Ele ama todos.

ODpreposicionado

*OD

d) Para evitar ambigüidade, com o objeto direto iniciando a frase:

Ao pai ama o filho, ou O filho ama o pai.I tOD OD

preposicionado

e) Diante da palavra Deus:

Venerava a Deusl ... II

ODpreposicionado

Objeto direto cognato (ou interno)Ocorre quando o objeto traz o mesmo radical do verbo

(ou o mesmo sentido: Dormiu um sono); é freqüente na lite­ratura (trata-se de recurso expressivo):

Morrerás morte gloriosa.*

VTD OD. cognato

Sorri um sorriso pontual.

I *VTD OD cognato

Gonçalves Dias. (Adapt.).

Chico Buarque.

Alteração semântica do verbo na mudança de objetoEm literatura, é comum o uso de recursos expressivos en­

volvendo o objeto; um desses recursos consiste em empregar o verbo em sentidos diferentes. Para cada objeto, o verbo possui um sentido diferente.

Meu filho, essa moça, a Mirthes, namora você ou minhas 30 fazendas?

4OD

OD

Na segunda ocorrência, o verbo “namorar” assume valor conotativo: ambicionar.

Page 104: Livros poliedro   caderno 1 português

ÇJaiba maisEsquema da oração em árvore

Vejamos como ficam distribuídos os termos da oração em "O anão roubou uma orquídea".

I P S :

To

roubou uma orquídea.

PS = período simpleso = oraçãoSN 1 = sintagma nominal = sujeitoN I = nome = núcleo do sujeitodet 1 = determinante (do substantivo) = adjunto

adnominalSV = sintagma verbal = predicadoV = verbo = VTDSN2 = sintagma nominal = objeto diretoN2 = nome = núcleo do objeto diretodet 2 = determinante = adjunto adnominal

Verbo transitivo indiretoExige preposição e seu complemento recebe o nome de

objeto indireto.João obedecia aos mestres.João obedecia-lhes.João confia em seus ensinamentos.

Os verbos obedecer e confiar são transitivos indiretos e, portanto, exigem preposição. Os pronomes lhe e lhes, quando ligados ao verbo, exercem a função de objeto indireto.

Objeto direto/indireto pleonásticoComo recurso enfático, as gramáticas registram ainda o

objeto pleonástico.

As mulheres, eu as vi.

I tOD = OD

Aos homens, servi-lhes uma taça de dúvidas.

4 I01 OI

Topicolizoção do objetoColocar o objeto no início da oração (no topo) é uma forma

de chamar a atenção para o objeto, instrumento de ênfase. Veja os exemplos a seguir.

Da Fernanda eu gostei!!

f01

A lábia eu tive, juro!

4OD

Não há consenso em tomo da omissão da vírgula na to- picalização do objeto; todavia, boa parte das gramáticas não registra a vírgula. A pontuação, portanto, é recurso expressivo na frase a seguir.

LIVRO: LEIA UM!

ATENÇÃO!Não confunda a topicalização do objeto com determinadas estruturas chamadas de anacoluto.O país... a crise que se abateu no governo tomou a popu­lação "de assalto".

O anacoluto é uma quebra sintática. O enunciador abando­na a oração e a substitui por outra com começo, meio e fim. Há ainda estruturas em que o sujeito da segunda oração é deslocado para o início do período.

[A Leila] [eu acho] [que está viajando], oração 1 oração 2 oração 1

A frase poderia ser escrita da seguinte forma:[Eu acho] [que a Leila está viajando], oração 1 oração 2

Verbo transitivo direto e indiretoTrata-se do verbo que possui dois complementos: um ob­

jeto direto e um objeto indireto (o destinatário da ação verbal).

As mulheres ofereceram flores aos soldados.

4 4 4VTDI OD 01

O governo deu aumento aos funcionários.

4 4 4VTDI OD 01

As vários regêndas de um verboBoa parte dos verbos possui mais de uma regência; a tran-

sitividade de um verbo é determinada sempre no contexto, isto é, na frase. Por exemplo:

O massagista assistiu ao jogo.

4 4vn oi4

ver

O massagista assistiu o jogador.

4 4VTD OD

4socorrer

Page 105: Livros poliedro   caderno 1 português

/^ TEN Ç Ã O ÍOs transitivos circunstanciais

Verbos como morar e ir, entre outros, são considerados por Rocha Lima como transitivos circunstanciais por exigi­rem um complemento adverbial (tempo ou lugar). Todavia, os gramáticos mais tradicionais consideram-nos intransiti­vos (o termo que segue seria, então, um adjunto adverbial e não um complemento circunstancial como quer Rocha Lima). A análise de Rocha Lima parece ter mais coerência, visto que esses verbos não possuem sentido completo. Veja alguns exemplos.

Ir a Roma.Estar à janela.

Apagamento do objetoE comum o apagamento do objeto como forma de conci­

são. Observe a piada a seguir.Abro o boca! Mas não precisa abrir tanto que eu vou ficar do

lado de fora.

Em “não precisa abrir tanto”, o objeto direto boca está elíp­tico. Em certos casos, o apagamento do objeto pode dar ao ver­bo uma maior abrangência. Imagine um político que não queira comprometer-se com a população:

Senhores eleitores, eu prometo que vou investir!

O prefeito pode investir em educação, em saúde ou até mesmo em suas propriedades!

Adjunto adverbial

É um caracterizador da ação verbal, dá ao verbo (em al­guns momentos ao adjetivo e ao advérbio) uma circunstância de lugar, tempo etc. Pode ser representado por advérbio ou lo­cução adverbial.

f ------------------------------------ 1Nesta apostila, o professor feia abertamente.

i iadj. adv. adj. adv.

* «-locução advérbio

Quando o adjunto é representado por locução, nota-se grande mobilidade na frase, o que não ocorre com o objeto.

Após vinte anos, meu time venceu um campeonato.

1 l ' < adj. adv. OD

Meu time, após vinte anos, venceu um campeonato.

Meu time venceu, após vinte anos, um campeonato.

Meu time venceu um campeonato após vinte anos.

O adjunto adverbial é um termo acessório (não necessário à estrutura sintática), enquanto o objeto é um termo integrante (necessário à estrutura); o termo Após vinte anos poderia ser sintaticamente excluído da frase, já o termo um campeonato só poderia ser excluído se estivesse subentendido no contexto, caso contrário a mensagem seria prejudicada: venceu o quê?

Tipos de adjunto adverbialA seguir, a classificação dos adjuntos adverbiais.

• tempo: Trabalhava aos sábados.• lugar: Lia o jornal na praça.• modo: Pisou em falso.• meio: Viajava a cavalo.• causa: Ficou pobre com a enchente.• instrumento: Escrevia seus poemas a lápis.• dúvida: Talvez eu a receba.• companhia: Bebia com os amigos.• oposição: Remava contra a maré.• condição: Sem dinheiro, não entra.• intensidade: Chorava muito.• finalidade: Parou à escuta.• concessão: Apesar da chuva, saiu.• conformidade: Chove segundo a TV.

Como você observou, o adjunto adverbial pode apresentar ou não preposição.

Agente da passivaSegundo Rocha Lima, o agente da passiva é um termo que,

na voz passiva com auxiliar (passiva analítica), representa o ser que praticou a ação. Para o entendimento desse termo da oração, é preciso primeiramente saber o que é voz ativa e voz passiva.

Voz ativa e voz passiva analíticaNa voz ativa, o sujeito é agente.

O Brasil goleia a seleção adversária.‘ ¥ ...." |T " ----------- 1 '

sujeito VTD ODagente

Fig. 4 Lousa: exemplo de adjunto adverbial.

Page 106: Livros poliedro   caderno 1 português

Na voz passiva analítica, o objeto direto vira sujeito pacien­te, o verbo da ativa apresenta-se no particípio (acompanhado de um auxiliar, na maioria dos casos, o verbo ser, que estará no mesmo tempo verbal do verbo principal na ativa) e o sujeito tor­na-se o agente da passiva (sempre introduzido por preposição).

A seleção adversária é goleada pelo Brasil.

* t f 4sujeito verbo particípio agente da

paciente auxiliar passiva

O agente da passiva também pode ser introduzido pela pre­posição de:

Esta escola é formada de bons alunos.

•i r ~sujeito verbo particípio agente da

paciente auxiliar passiva

A voz passiva só ocorre com verbo transitivo direto e verbo transitivo direto e indireto; veja um exemplo.

A bola foi dada ao garoto pelo vizinho.

* % % sujeito verbo particípio

paciente auxiliar

‘AIB A MAIS

*01

\agente da

passiva

O termo "analítica" para esse tipo de voz passiva justifica-se pelo fato de que analisar é decompor em partes; o verbo nesse tipo de voz passiva é decomposto em partes (verbo auxiliar e verbo principal).

0 apagamento do agenteO agente da passiva pode sofrer apagamento por se des­

conhecer quem realizou a ação ou por não haver interesse em

mencioná-lo. Imagine um governador que não queira assumir a responsabilidade pelo aumento de impostos.Em vez de:Eu aumentarei os impostos dos automóveis. (Voz ativa)O governador diria:Os impostos serão aumentados. (Voz passiva analítica)

Se transformássemos a voz passiva analítica - sem o agen­te da passiva - em voz ativa, teríamos um sujeito indetermina­do: Aumentarão os impostos. Em síntese, temos voz passiva quando o sujeito sofre a ação e temos voz ativa, quando o su­jeito pratica ação. Se o sujeito praticar e sofrer a ação, teremos a voz reflexiva: “Ele se matou”. A voz passiva analítica será discutida com mais profundidade em aula posterior em conjun­to com a voz passiva sintética, que traz a partícula se. A título de exemplo, a frase que inicia o cartaz da figura 5 está em voz passiva sintética e o termo “esta casa” é um sujeito paciente, e não o objeto direto (este não existe na passiva).

Fig. 5 Voz passiva sintética.

RevisandoQual é a transitividade da locução verbal “vamos des­

cer”? Por que o emprego dessa locução cria efeito de sentido para a charge?

M M Dê a regência do verbo “tomar” nas duas ocorrências e os respectivos sentidos.

Texto para as questões de 3 a 5.

Cuida de mim enquanto não esqueço de você Cuida de mim enquanto finjo que sou quem eu queria ser.Cuida de mim enquanto não me esqueço de você Cuida de mim enquanto finjo, enquanto fujo.

Teatro Mágico. "Cuida de mim".

Texto para as questões 1 e 2.

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PÍTULO 4 i Termos da oração ligados ao

D É possível reescrever o verbo “esquecer” em outra re- D Por que temos em “desta bebida” um objeto direto prepo- gência; faça isso no primeiro verso, em norma culta. sicionado e não um objeto indireto?

Q Que tipo de objeto temos no primeiro verso? Os verbos __!_2----------------------------------------------------------------------que pedem o objeto traduzem uma ação mental ou física? -----------------------------------------------------------------------------

___________________________________________________ Q Explique a ocorrência do paralelismo sintático na frase___________________________________________________ de Chico.

BEB Explique o significado do verbo “fugir” no contexto em que é empregado, dô a sua regência e cite a palavra que man­tém relação paronomásica (trocadilho) com esse verbo.

Leia o excerto a seguir para responder às questões de 6 a 8.

Como beber dessa bebida amarga Tragar a dor, engolir a labuta Mesmo calada a boca, resta o peito Silêncio na cidade não se escuta

Gilberto Gil e Chico Buarque. "Cálice"

E l Em “Silêncio na cidade não se escuta”, o autor fez a elip­se (omissão) de um verbo e empregou um adjunto adverbial. Identifique-os e esclareça a relação semântica que o adjunto adverbial traduz.

Exercícios propostosD Faap Leia o texto a seguir.

Olhos de ressaca Enfim, chegou a hora da encomendaçâo e da partida. Sancha

quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance conster­nou o todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando o viúva, parecia vencer-se a si mesma. Con­solava a outra, queria arrancá-la dali. A confusõo era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tõo fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas...

As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxu­gou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também. Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.

Machado de Assis. Dom Casmurro.

Só um destes verbos é transitivo direto, ao lado do qual apareceo objeto direto:(a) chegou a hora da encomendaçâo.(b) a confusão era geral.(c) lhe saltassem algumas lágrimas.(d) Capitu enxugou-as.(e) as minhas cessaram logo.

D Unirio O pronome me não exerce função sintática de ob­jeto direto na opção:(a) o termo não me é compatível.(b) "... que me rodeiam”.(c) “...vi-mecercada...”.(d) “lncorporei-/7?e a elas...”.(e) “... me discriminassem...”.

D Faap Leia o texto a seguir.Queria dizer aqui o fim do Quincas Borba, que adoeceu

também, ganiu infinitamente, fugiu desvairado em busca do dono, e amanheceu morto na rua, três dias depois. Mas, vendo a morte do cão narrada em capítulo especial, é provável que me perguntes se ele, se o seu defunto homônimo é que dá o título ao livro, e por que antes um que outro, - questão prenhe de questões, que nos levariam longe... Eial chora os dois recentes mortos, se tens lágrimas. Se só tens riso, ri-tel E a mesma coisa.O Cruzeiro, que a linda Sofia não quis fitar, como lhe pedia Rubião, está assaz alto para não discernir os risos e as lágrimas dos homens.

Machado de Assis. Quincas Borba.

Em: "... é provável que me perguntes...”, o pronome “me”exerce que função?

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0 texto a seguir refere-se às questões 4 e 5.

Durante este período de depressão contemplativa uma coisa ape­nas magoava-me: não tinha o ar angélico do Ribas, não cantava tão bem como ele. Que faria se morresse, entre os anjos, sem saber cantar?

Ribas, quinze anos, era feio, magro, linfático. Boca sem lábios, de velha carpideira, desenhada em angústia - a súplica feita boca, a prece perene rasgada em beiços sobre dentes; o queixo fugia-lhe pelo rosto, infinitamente, como uma gota de cera pelo fuste de um círio...

Mas, quando, na capela, mãos postas ao peito, de joelhos, voltava os olhos para o medalhão azul do teto, que sentimentoI que doloroso encantol que piedadel um olhar penetrante, adorador, de enlevo, que subia, que furava o céu como a extrema agulha de um templo gótlcol

E depois cantava as orações com a doçura feminina de uma virgem aos pés de Maria, alto, trêmulo, aéreo, como aquele pro­dígio celeste de garganteio da freira Virgínia em um romance do conselheiro Bastos.

Ohl não ser eu angélico como o Ribas! Lembro-me bem de o ver ao banho: tinha as omoplatas magras para fora, como duas asas!

Raul Pompeia. O Ateneu.

Q Faap D urante este p e río d o de depressão contemplativa, uma coisa apenas magoava-me: não tinha o ar angélico de Ribas, não cantava tão bem como ele. O termo destacado exerce a função de:(a) sujeito. (d) adjunto adverbial.(b) objeto direto. (e) agente da passiva.(c) objeto indireto.

D Faap Em Eu não tinha o ar angélico de Ribas, a língua co­nhece o objeto direto pleonástico:(a) Eu o ar angélico de Ribas não tinha.

)) Eu, só eu, não tinha o ar angélico de Ribas.(c) O ar angélico de Ribas, não o tinha eu.(d) Eu não tinha, não tinha o ar angélico de Ribas.(e) O ar angélico de Ribas não era tido por mim.

D Cesgranrio Leia o texto a seguir.A S. Paulo

1 Terra da liberdade!2 Pátria de heróis e berço de guerreiros,3 Tu és o louro mais brilhante e puro,4 O mais belo florão dos Brasileiros!

5 Foi no teu solo, em borbotões de sangue6 Que a fronte ergueram destemidos bravos,7 Gritando altivos ao quebrar dos ferros:8 - Antes a morte que um viver de escravos!

9 Foi nos teus campos de mimosas flores,10 A voz das aves, ao soprar do norte,11 Que um rei potente às multidões curvadas12 Bradou soberbo - Independência ou morte!

13 Foi de teu seio que surgiu, sublime,14 Trindade eterna de heroísmo e glória,15 Cujas estátuas, - cada vez mais belas,16 Dormem nos templos da Brasília história!

17 Eu te saúdo, ohl majestosa plaga,18 Filha dileta, - estrela da nação,19 Que em brios santos carregaste os cílios20 A voz cruenta de feroz Bretão!

21 Pejaste os ares de sagrados cantos,22 Ergueste os braços e sorriste à guerra,23 Mostrando ousada ao murmurar das turbas24 Bandeira imensa da Cabrália terra!

25 Eial - Caminha, o Partenon da glória26 Te guarda o louro que premia os bravos!27 Voa ao combate repetindo a lenda:28 - Morrer mil vezes que viver escravosl

Fagundes Varela. O estandarte auriverde. Poesias completas. São Paulo:Saraiva, 1956. pp. 85 -6 .

Assinale a opção em que o vocábulo “te” exerce a mesma função sintática que nos versos a seguir:

... o Partenon da glória te guarda o louro que premia os bra­vos! (versos 25 e 26)(a) Ele te encontrou na recepção ao presidente.(b) Ele te viu quando chegou ao escritório.(c) Ele te trouxe os livros que encomendamos.(d) Ele te avisou do perigo que corríamos.(e) Ele te aconselhou a esperar que a chuva parasse.

D UFMG Todas as alternativas contêm trechos que apre­sentam imprecisão do agente da ação verbal, exceto:(a) Já não basta os prefeitos, como imperadores, tentarem

mudar o nome de avenidas cruciais?(b) Já não basta mudarem toda hora as teorias sobre o que

engorda e o que emagrece?(c) Lá vêm eles de novo, querendo mudar as regras de escre­

ver o idioma.(d) Já não basta ficarem mexendo toda hora no valor e no

nome do dinheiro?

E U UFV Dependendo do contexto, um verbo normalmente intransitivo pode tornar-se transitivo. Assinale a alternativa em que ocorre um exemplo.(a) “Ponha intenções de quermesse em seus olhos...”(b) ”... sorria lírios para quem passe debaixo da janela.”(c) “beba licor de contos de fadas...”(d) “Ande como se o chão estivesse repleto de sons...”(e) “... e do céu descesse uma névoa de borboletas...”

D UFV (Adapt.) Dependendo da frase, um verbo normal­mente empregado como transitivo direto pode tornar-se verbo de ligação. Assinale a alternativa em que aparece um exemplo:(a) "Não tem namorado...”.(b) "... quem beija sem carinho...”.(c) "... quem acaricia sem vontade...”.(d) ”... de virar sorvete ou lagartixa...”.(e) "... e quem ama sem alegria”.

m UFPE Sobre a história do arquipélago, explicou que fora doado pelo Rei de Portugal, em 1504, a Femão de Noronha. O primeiro nome fora ilha de São João. Naqueles tempos era comum batizar os lugares com o nome da festa religiosa do dia da descoberta. Pode-se dizer, então, que ela foi vista pela primeira vez por olhos de navegantes europeus num dia 24 de junho, entre 1500 e 1503.

Abdias M oura. O Segredo da Ilha.

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Em qual alternativa a expressão não exerce, no texto, a função de adjunto adverbial?(a) em 1504...”. (d) “... pelo Rei de Portugal...”.(b) “Naqueles tempos...”. (e) “...num dia 24 de junho...”.(c) " ... pela primeira vez...”.

m Classifique o tipo de adjunto adverbial.a) O mundo anda tão complicado.

Legião Urbana.b) Meus heróis morreram de overdose.

Cazuza.

m FGV F ui recebido p o r Palma, sua m ulher.Sem alterar o sentido da frase, mas fazendo as adaptações necessárias, inicie-a com Palma.

Famemo Classifique corretamente os termos integrantes destacados.“Mulher que a dois ama, a am bos engana.”(a) Objeto direto preposicionado e objeto direto preposicionado.(b) Objeto indireto e objeto direto.(c) Objeto indireto pleonástico e complemento nominal.(d) Objeto direto e objeto direto preposicionado.(e) Objeto direto preposicionado e objeto indireto.

Unifaap Dê nova redação à frase que se segue, passan­do-a para a voz ativa, sem mudança de tempo e modo verbais: “Foi nomeada tutora.”

□ Puccamp O continente africano, que tantas vezes e por tanto tempo já foi o espelho sombrio e espoliado dos progres­sos da civilização ocidental, infelizmente continua sujeito a um processo que, no limite, resume-se a uma implosão civilizatória. O advérbio em destaque exprime ideia de:(a) modo. (d) tempo.(b) dúvida. (e) afirmação.(c) intensidade.

n a Fuvest A transformação passiva da frase “A religião inspi­rou-te esse anúncio” apresentará o seguinte resultado:(a) Tu te inspiraste na religião para esse anúncio.(b) Esse anúncio inspirou-se na tua religião.(c) Tu foste inspirado pela religião nesse anúncio.(d) Esse anúncio te foi inspirado pela religião.(e) Tua religião foi inspirada nesse anúncio.

D l Cesgranrio Leia o texto a seguir.

Meu povo, meu poema Meu povo e meu poema crescem juntos como cresce no fruto a árvore nova

No povo meu poema vai nascendo como no canavial nasce verde o açúcar

No povo meu poema está maduro como o sol na garganta do futuro

Meu povo em meu poema se refletecomo a espiga se funde em terra fértil

Ao povo seu poema aqui devolvo menos como quem canta do que planta.

Ferreira Gullar. Toda poesia. Rio de Janeiro: José Olympio. p. 155.

Os termos “No povo” (v.7) e “Ao povo” (v. 13) exercem, respecti­vamente, as funções sintáticas de:(a) objeto indireto; adjunto adverbial.(b) objeto indireto; complemento nominal.(c) complemento nominal; objeto indireto.(d) adjunto adverbial; adjunto adverbial.(e) adjunto adverbial; objeto indireto.

S ü Informe a função sintática dos termos em destaque.a) A alegria da criançada contaminou os adultos mais sérios.b) Revi a balconista p o r quem fui maltratada.c) Telefonaram para você.d) A qual deles iria presentear o patrão?

1 3 Mackenzie Em todos, nos corpos emagrecidos e nas vestes em pedaços, liam-se as provações sofridas.

Euclides da Cunha.

Aponte a alternativa correta sobre a frase anterior.(a) O sujeito “provações sofridas” confirma a ideia de sofrimen­

to contida nos adjuntos adverbiais.(b) O objeto direto “provações sofridas” ratifica a ideia de sofri­

mento dos adjuntos adverbiais.(c) A indeterminação do sujeito em “liam-se” aponta para um

observador que não assume a própria palavra.(d) O sujeito “nos corpos emagrecidos” completa-se, no hor­

ror da descrição, por meio de outro sujeito, “nas vestes em pedaços”.

(e) A ordem direta da frase expressa um raciocínio retilíneo, sem meandros de expressão.

m s Uece Em “Cuspi no chão com um nojo desgraçado da­quele sangue...”, o verbo cuspir é:(a) intransitivo. (c) transitivo indireto.(b) transitivo direto. (d) transitivo direto e indireto.

O UFMA O termo destacado é objeto direto na alternativa:(a) Meus amigos, viva o povo brasileiro*.(b) Quem te falou isso, m enino?(c) A s casas a enchente levou.(d) Quem não gosta de m ilho verde?

E 9 UFMA Há objeto indireto na opção:(a) A eleição transcorreu calma.(b) A chuva cai mansa nos telhados.(c) As cidades elegeram novos prefeitos.(d) Os prefeitos foram eleitos pelo povo.(e) O povo confia nos seus dirigentes.

13

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E l Classifique o adjunto adverbial.a) Faleceu de dor*b) Veio de Maceió.c) Falava de filosofia.d) Sonhava de dia.

Texto para a questão 24.

A coda canto um grande conselheiro Que nos quer governar a cabana, e vinha;Não sabem governar sua cozinha;E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um freqüentado olheiro Que a vida do vizinho e da vizinha Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,Para a levar à Praça e ao Terreiro.

Muitos Mulatos desavergonhados,Trazidos pelos pés os homens nobres,Posta nas palmas toda a picardia.

Estupendas usuras nos mercados,Todos, os que não furtam, muito pobres:E eis aqui a cidade da Bahia.

G regário de Matos.

EDIUFRJ No verso “para a levar à Praça, e ao Terreiro”, o pronome destacado está substituindo a palavra:

a) “porta” (verso 5). (d) “esquadrinha" (verso 7).:) “vida" (verso 6). (e) “Praça" (verso 8).

(c) “vizinha” (verso 6).

Texto para a questão 25.

Pequeno deu a quantia determinada pela esposa de Zé Gordo, em seguida retornaram à patrulha que faziam.

Paulo Lins. Cidade de Deus.

E U Uerj [...] em seguida retornaram à patrulha que faziam.O pronome relativo que desempenha a mesma função sintática a ele atribuída em:(a) “baratas como a tripa de porco que sobrava na casa do

compadre maneiro.”

)) “um pedaço de sebo de boi achado no lixo e que aumenta­ria o volume da sopa.”

(c) “Pequeno aproveitou para perguntar pelos amigos que fi­zera no morro.”

(d) “pelas tias que faziam um mocotó saboroso nos sábados à tarde.”

m Observe a manchete a seguir:CAMINHÃO PERDE DIREÇÃO E BATE EM ÔNIBUS FEIO:

20 MORTOSIDiário do Terror, 13 ago. 2003.

A falta de clareza na manchete acima deve-se:(a) à ordem dos termos da oração.(b) à elipse de um termo.(c) ao duplo sentido do adjunto adverbial de instrumento.(d) à falta de concisão.(e) à falta de coerência da manchete.

m Classifique e interprete a frase a seguir.O barco entrava a canoa na lagoa.

m Leia o texto a seguir:A UNIÃO-Auniõo só fortalece, seja fiel e solidário. Um amigo

com grande sabedoria poderá ajudar-lhe, mas você tem de fazer a sua parte para atrair aliados.

I Ching.

Não atende à norma culta a passagem:(a) “para atrair aliados” (d) “ajudar-lhe”(b) “seja fiel e solidário” (e) “tem de fazer”(c) “com grande sabedoria”

O Leia o texto a seguir.Time 6 derrotado e crise se agrava.

Passando para a voz ativa a primeira oração do período, teremos:(a) Derrotou-se o time.(b) Alguém derrotou o time.(c) Derrotam o time.(d) O time foi derrotado.(e) Derrota-se o time.

T extos C omplementaresA tensão entre o m rtiireza e a convenção nos estudos da linguagem

As línguas naturais (com as propriedades que os linguistas e filó­sofos lhes têm reconhecido) são adquiridas e faladas espontaneamente apenas pelos membros da espécie humana, isto é, por organismos com um determinado tipo específico de estrutura e organização men­tal. Parece, pois, difícil escapar à conclusão de que as propriedades es­senciais da linguagem são diretamente determinadas por propriedades mentais dos seres que as falam, e que estudar a linguagem humana consiste em estudar determinadas propriedades da mente humana, radicadas em última instância na organização biológica da espécie.

Ao longo da história dos estudos sobre a linguagem, esta con­clusão (que nos parece indiscutível) tem sido, no entanto, objeto de intensos debates, e muitas das teorias desenvolvidas por filósofos e linguistas a têm negado, explícita ou implicitamente. Como Chomsky o assinala várias vezes, o pensamento científico e humanista oci­dental tem uma extrema dificuldade em assumir que os produtos do pensamento (entre os quais a linguagem) possam radicar na nature­za biológica dos seres humanos tal como as estruturas anatômicas. A posição antimentalista tem usualmente uma fundamentação social:

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os seres humanos vivem em comunidades sociais; a linguagem é um instrumento essencial na vida social das mulheres e dos homens; logo, a explicação última das propriedades da linguagem tem a ver com o seu funcionamento social; em última instância, é um produto convencional da cultura dos seres humanos vivendo em sociedade, e não um produto natural da sua organização mental.

Não é este lugar para apresentar detalhadamente as diferentes escolas e correntes que se sucederam na história da lingüística e a posição que tomaram relativamente a esta dicotomia. A teoria da Gramática Generativa inscreve-se decididamente na corrente natu­ralista dos estudos sobre a linguagem e a natureza humana (o que não significa, como Chomsky acentua várias vezes, que seja o pro­duto ou o seguimento directo de nenhuma das tradições históricas que a antecederam).

0 p ro g ra m a d e in v e s t iq o c õ o d a G ra m á tic a G e n e r a t iv a

Na base do pressuposto de que a linguagem é um sistema de conhecimentos interiorizado na mente humana, Chomsky define o programa de investigação da Gramática Generativa como o de­senvolvimento das quatro seguintes questões (para uma exposição extremamente clara deste programa, ver Chomsky (1988a) e as entrevistas dedicadas à lingüística em Chomsky (1988b)):1. Qual é o conteúdo do sistema de conhecimentos do falante,

por exemplo, do Português? O que é que existe na mente deste falante que lhe permite falar e compreender expres­sões do Português e ter intuições ter intuições sobre os sons, as contruções e os sentidos dessa ou de outras línguas?

2. Como é que este sistema de conhecimentos se desenvolve na mente do falante? Que tipo de conhecimentos é necessá­rio pressupor que a criança traz a priori para o processo de

aquisição de uma língua particular, para explicar o desenvol­vimento dessa língua em sua mente?Como é que o sistema de conhecimentos adquirido é utilizado pelo falante em situações discursivas concretas?Quais são os sistemas físicos do cérebro do falante que ser­vem de base ao sistema de conhecimentos lingüísticos?

Eduardo Paiva Raposo. Teoria da gramática: A Faculdade da Linguagem.Lisboa, 1992.

Observações:A forma "anatômica* pertence ao português lusitano.Noam Chomsky é considerado o maior linguista do século XX.

RESUMINDOTermos associados ao verbo

jjadjuntâ*Adverbial

Verbos de ligação são freqüentes na descrição dos seres em geral, nas definições científicas e nas operações lógicas. Esse tipo pode designar estado permanente, estado transitório, mudança de estado e continuidade de estado.

Aparência de estado

ISignificativos

Transitivos: possuem complemento verbal, objeto/sentido Incompleto.

Intransitivos: não possuem comple­mento verbal/sentido completo.

Verbo transitivo direto: o verbo não exige preposição e possui um complemento chamado objeto direto.Verbo transitivo indireto: o verbo exige preposição e possui um complemento chamado objeto indireto, o qual apresenta prepo­

sição explícita (ou implícita, se for pronome).Verbo transitivo direto e indireto: o verbo exige dois complementos, um objeto direto (sem preposição) e um objeto indireto (com

preposição explícita ou implícita).

Page 112: Livros poliedro   caderno 1 português

Termo integrante (necessário à estrutura sintática).

. É o complemento de um verbo transitivo (sinônimo de complemento verbal).

Funciona semanticamente como o alvo,J o ser afetado, o destinatário.

. Pode estar elíptico se estiver claro no contexto.

. Está sempre associado ao verbo transitivo (termo associado ao verbo).

Objeto direto"\trât(3-;Se do complemento do verbo transitivo direto, ou do complemento verbal sem preposição (porque o verbo não a exige).

Objeto indiretoTrata-se do complemento do verbo transitivo indireto, ou do complemento verbal com preposição (quando a preposição é uma

exigência do verbo).

Objeto na forma de pronomePronomes como "me", "te", "se", "nos", "vos" podem funcionar como OD ou como 01, se ligados ao verbo (se ligados ao nome,

adjunto adnominal ou complemento nominal). Para saber a função, deve-se analisar a regência do verbo.

Objeto direto preposicionadoO objeto direto preposicionado (ou preposicional) ocorre quando a preposição existe no objeto, mas não é comandada pelo verbo.

Ou é comandada pelo falante ou por um outro vocábulo (pronomes oblíquos tônicos). Veja os casos.a) Com pronomes oblíquos tônicos, que exigem preposição (obrigatório);b) Com o pronome quem, com antecedente expresso (obrigatório);c) Com o nome Deus (obrigatório);d) Quando se coordena o pronome átono (na função de OD) e um substantivo (obrigatório);e) Quando se usa um verbo transitivo direto de forma impessoal (no singular), acompanhado da partícula se (obrigatório);f) Diante de pronomes referentes a pessoas (facultativo);g) Por necessidade de clareza;h) Com nomes precedidos de partícula comparativa (facultativo);i) Quando o objeto direto precede o verbo (facultativo);j) Quando a preposição tem valor partitivo (facultativo, dependendo do caso); k) Em certas expressões idiomáticas (facultativo).

Objeto direto cognato (ou interno)Ocorre quando o objeto traz o mesmo radical (ou mesmo sentido: Dormiu um sono) do verbo. E freqüente na literatura como re­

curso expressivo.

Objeto direto (ou indireto) pleonásticoTrata-se da repetição do objeto como instrumento de ênfase: Os sonhos, eu os perdi.

Topicalização do objetoColocar o objeto no início da oração (no topo) é uma forma de chamar a atenção (instrumento de ênfase). E preciso não confundir

a topicalização do objeto com determinadas estruturas chamadas de anacoluto.

Alteração semântica do verbo na mudança de objetoEm literatura, é comum o uso de recursos expressivos envolvendo o objeto. Um desses recursos consiste em empregar o mesmo

verbo em sentidos diferentes para cada objeto.

Ampliação de sentido na mudança de regênciaVerbos transitivos, quando se tornam intransitivos, passam a ter sentido mais abrangente.

Adjunto adverbialDo ponto de vista sintático, relacionai, o adjunto adverbial se anexa ao verbo, ao adjetivo e ao advérbio. Do ponto de vista se­

mântico, o adjunto dá ao verbo uma circunstância de lugar, tempo, modo etc. (os valores semânticos do advérbio). Quando ligado ao adjetivo e ao advérbio, expressa intensidade.

Em certas construções, o adjunto adverbial pode ligar-se à frase toda (para muitos linguistas, seria um adjunto adverbial de enun- ciação).

Com o seu emprego, o enunciador manifesta sua opinião em relação a um fato, expresso por toda uma frase.Ao contrário do objeto, dado como termo integrante, necessário à estrutura da frase, o adjunto adverbial é classificado pelas gra­

máticas normativas como termo acessório, desnecessário à frase.

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Em algumas situações, a omissão do adjunto adverbial pode não prejudicar a sintaxe, mas pode prejudicar a mensagem, se o ad­junto contiver uma informação importante para o emissor ou para o contexto.

Tipos de adjunto adverbial:1. causa 5. conformidade 9. intensidade 13. modo2. companhia 6. dúvida 10. lugar 14. negação3. concessão 7. finalidade 11. matéria 15. oposição4. condição 8. instrumento 12. meio 16. tempo

Em relação à classificação, é importante levar em consideração a frase, pois um mesmo adjunto pode assumir um significado dife­rente em outro contexto.

Agente da passivaTermo que, na oração em voz passiva analítica, designa o agente da ação verbal. Introduzido pela preposição por ou de, o agente

da passiva está sempre ligado ao verbo. Quando uma oração apresenta um verbo construído com o objeto direto (voz ativa, sujeito agente), ela pode assumir a forma passiva; havendo a passiva analítica, pode-se ter o agente da passiva. As transformações podem ser descritas da seguinte forma.

OD vira sujeitoverbo vira locução verbal (verbo ser no mesmo tempo e modo + particípio do verbo)sujeito vira agente da passiva, introduzido pela preposição por

Observações:1. Se o sujeito da ativa estiver acompanhado de artigo, haverá a contração antecedendo o núcleo (substantivo ou pronome) do

agente da passiva:Por + a = pela por + as = pelas Por + o = pelo por + os — pelos

2. Pode haver na ativa uma locução verbal (verbo auxiliar + verbo principal em uma das formas nominais). A transformação para a passiva obedece aos seguintes critérios.a) O auxiliar concorda com o sujeito na passiva, mas permanece no mesmo tempo e modo.b) O verbo principal, na passiva, vai para o particípio.c) Coloca-se o verbo ser na passiva após o auxiliar da ativa e antes do particípio.d) O verbo ser assume o tempo e o modo do verbo principal da ativa.

Omissão do agente da passiva:a) Se, em uma oração de voz ativa, o verbo estiver na terceira do plural, não haverá agente explícito para indicar sujeito inde­terminado na transformação para a voz passiva.b) Na imprensa, às vezes o agente não aparece por desconhecimento ou por não haver interesse em revelá-lo.

QUER SABER MAIS?

LIVRO

■ Gabriel Garcia Márquez. Cem anos de solidão. Trad. de Eric Nepomuceno. Rio de Janeiro: Record, 2009.

FILME

■ Bernardo Bertolucci. O último imperador, 1987.

MUSICA

■ "A dança das cabeças", Egberto Gismonti.

0 ARTES PLÁSTICAS

■ Francisco de Goya

SITE

1 Ziraldo (cartunista)

www.ziraldo.com.br

Page 114: Livros poliedro   caderno 1 português

M B Leia o texto a seguir.O guarda:- O senhor é que quebrou o elevador?!O rapaz:- Nõo. O elevador é que quebrou!

Explique sintaticamente o uso do verbo quebrar e as manobras lingüísticas que possibilitam a acusação e a defesa.

B Unicamp “A ONU solicitou o envio de tropas ao Brasil.”a) Quais as duas interpretações possíveis da frase acima?b) Tire a ambigüidade de modo que o Brasil seja o destinatário.c) Classifique o verbo da oração e diga o que a tomou am­

bígua.

B “Os subordinados levaram os presentes, algumas bebi­das, para a presidência.”Que funções sintáticas pode assumir o termo “para a presidência”?

Leia a frase a seguir.Os alunos os professores ajudavam.a) Por que a frase é sintaticamente ambígua?b) Sem mudar a ordem das palavras e sem alterá-las, tire a

ambigüidade, acrescentando apenas uma única letra.

K B Leia o texto a seguir.

O M ENOR QUEBROU O PROTOCOLO B D IR IG IU BÊBADO

...QUEBROU TAM BÉM OS GARROS M A FAM ÍLIA.

Explique como a mudança de objeto direto alterou o sentido do texto.

K M Classifique os objetos a seguir.a) Como beber dessa bebida amarga,

Chico Buarque, "Cálice*.

b) Aos ditadores, dei-lhes minha espada.

D Leia o fragmento a seguir de Sampa.... e à mente apavora o que ainda nõo é mesmo velho. [...]

Caetano Veloso.

a) Que função sintática exerce o termo “à mente”?b) Tente explicar o porquê de seu uso.

D AFA No trecho Gastei trinta dias para ir do Rocio Grande ao coração de Marcela, extraído de Memórias póstumas de Brás Cubas, há quebra proposital do paralelismo:(a) rítmico.(b) sintático.(c) semântico.(d) rítmico e sintático.

D Leia o texto a seguir.- E o vizinho? Fala mal?- Mal falai

Que classificação assume o advérbio “mal” em cada uma das frases?

na Em qual das frases a seguir “pior” é um adjunto adver­bial? Interprete os dois períodos.

Ela faz pior a costura.Ela faz a pior costura.

m Leia o texto a seguir.

Vida de catado A vida de casado ê muito frustrante:- No primeiro ano o homem fala e a mulher ouve.- No segundo ano a mulher fala e o homem ouve.- No terceiro ano os dois falam e os vizinhos ouvem.

a) Que função possui para o texto a presença dos adjuntos adverbiais no início do diálogo?

b) O que fica implícito no fim?

m Em Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis, de Machado de Assis, temos:(a) um efeito de sentido provocado por dois adjuntos adver­

biais de mesma classificação.(b) uma coordenação de dois objetos indiretos de significação

oposta.(c) uma quebra semântica na relação sujeito-objeto.(d) um efeito de sentido na coordenação de dois adjuntos ad­

verbiais de significação diferente.(e) n.d.a.

MB Leia o texto a seguir.- Manuelzinho, lave o pé direitol Manuelzinho respondeu:- £ o pé esquerdo, mamõe?

a) Por que a primeira frase é ambígua?b) Tire a ambigüidade com as mínimas alterações possíveis.

Page 115: Livros poliedro   caderno 1 português

Igíi

BI Que outro conectivo poderia ser empregado em “de ho­mens sensíveis”?

w a Passe para a voz ativa o enunciado que está acima do quadro.

na Passe para a voz passiva o seguinte período.Os cidadãos podem, aos poucos, transformar a sociedade.

Dl Em “Ela foi comunicada da demissão pelo assessor”, te­mos um equívoco na construção da passiva. Faça a correção.

m Em relação à frase “O jogo foi assistido pelos torcedores de todos os times.”, temos:

i) um desvio de norma. (d) um objeto direto.(b) uma voz ativa. (e) um sujeito indeterminado.(c) um erro de concordância.

Dl Classifique os termos em destaque.a) As estrelas foram vistas por um telescópio moderno.b) As estrelas foram vistas por todos.

Leia as afirmações a seguir.I. O governo corrigirá o imposto predial.II. O imposto predial será corrigido.III. Corrigirão o imposto.IV. Corrigir-se-ão os impostos.a) Em qual(is) há o apagamento do agente?b) Qual é a voz ativa de “O imposto predial será corrigido”?

E l Leia a frase a seguir.Pedro operou o estômago.a) Em que contexto a voz passiva seria possível?b) Por que em outro contexto a passiva não seria possível?

m Altere a redação do período a seguir, empregando os ver­bos na voz passiva.

*[...] e se às vezes me repreendia, à vista de gente, fazia-o por simples formalidade[...]".

Machado de Assis.

texto a seguir refere-se às questões 14 e 15.

6ST€ ÇXéflCITO é fÇlTO pé HOM6N5 S€NSÍV€IS

v á A e ieN fli, se jfi h o m cm , toN H eçft o s PiNTOftes

F E I Unicamp Leia o texto a seguir.Mala pronta

O ex-prefeito de Sonora, J.C.C., apenas aguarda os primeiros pronunciamentos da Justiça e do Tribunal de Contas para decidir se responde ao processo por desvio de Cr$ 130 milhões em came e osso ou desaparece, seguindo exemplo de um colega de corrupção.

J.C.C. corre dois riscos: ter que devolver o dinheiro e ainda ir para a cadeia. São motivos suficientes para pensar em pegar a estrada.

Bastidores. Diário da Serra. Campo Grande, set. de 1993.Segundo a nota, o ex-prefeito de Sonora deveria tomar uma decisão: apresentar-se à justiça ou fugir. Para formular a pri­meira alternativa, o autor do texto usa a expressão idiomática (frase feita) “em carne e osso”.a) O que significa a expressão idiomática “em carne e osso**?b) Se a seqüência “em carne e osso” não for lida como ex­

pressão idiomática, e as palavras “carne” e “osso” forem tomadas em sentido literal, é possível fazer uma outra in­terpretação da nota acima. Qual é essa interpretação?

c) Para obter cada uma das duas interpretações, a seqüência “em carne e osso” deve ser relacionada a diferentes palavras do texto. Identifique essas palavras, vinculando-as a cada uma das interpretações.

O Fuvest No final da Guerra Civil americana, o ex-coronel ian­que [...] sai à caça do soldado desertor que realizou assalto a trem com confederados.

O Estado de S. Paulo, 15 set. 1995. O uso da preposição “com” permite diferentes interpretações da frase anterior.a) Reescreva-a de duas maneiras diversas, de modo que haja

um sentido diferente em cada uma.b) Indique, para cada uma das redações, a noção expressa

pela preposição “com”.

m Fuvest Leia o texto a seguir.Décadas atrás, vozes bem afinadas cantavam no rádio esta

singela quadrinha de propaganda:As rosas desabrocham Com a luz do sol,E a beleza das mulheres Com o creme Rugol.Os versos nunca fizeram inveja a Camões, mas eram boni-

tinhos. E sabe-se lá quantas senhoras nõo foram atrás do creme Rugol para se sentirem novinhas em folha, rosas resplandecentes.

Quintino Miranda.

a) Reescreva o primeiro parágrafo do texto, substituindo “Dé­cadas atrás” por “Ainda hoje” e transpondo a forma verbal para a voz passiva. Faça as adaptações necessárias.

b) Que expressões da quadrinha justificam o emprego de no­vinhas em folha e de resplandecentes, no comentário feito pelo autor do texto?

O Leia o texto a seguir.Uma cidade é uma cidade é uma cidade. Ela é feita à imagem e

semelhança de nosso sangue mais secreto. Uma cidade não é um dia­mante transparente. Ela espelha, palmo a palmo, o mundo dos homens,

Page 116: Livros poliedro   caderno 1 português

suas contradições, abusões, virtudes e desterros. Milímetro por milímetro. A mão do homem em toda parte. No asfalto. No basalto domado. Na pedreira. Nos calçadões. Na rua, onde os veículos veiculam nosso exas­pero e desespero. Uma cidade nos revela. Nos denuncia naquilo que escondemos. Grande construção, empreitada de porte enorme, regou- go de martelos e martírios. Construímos nossa cidade. Somos construí­dos por ela. Os e/os e cordames nos enlaçam, nos sufocam. Boiámos e nadamos dia e noite, levados numa escuma onde borbulhas se abrem, como furúnculos maduros. Onde está a saída, ou a entrada?Hélio Pellegríno. A burrice do demônio. Rio de Janeiro: Rocco, 1988. p. 82.

a) Reescreva as duas frases de acordo com a orientação entre parênteses.“Construímos nossa cidade.” (voz passiva)“Somos construídos por ela.” (voz ativa)

b) Explique, agora, com uma frase completa, o sentido do trecho: “Construímos nossa cidade. Somos construídos por ela.”

m Leia os textos a seguir.E a tarde que chega.Desperta então o viajante; esfrega os olhos; distende preguiço­

samente os braços; boceja; bebe um pouco d'água; fica uns instan­tes sentado, a olhar de um lado para o outro, e corre afinal a buscar o animal, que de pronto encilha e cavalga [...].

Quanta melancolia baixa à terra com o calor da tardei [...] Quem viaja atento às impressões íntimas, estremece, mau gra­

do seu, ao ouvir nesse momento de saudades o tanger de um sino muito, muito ao longe, ou o silvar distante de uma locomotiva im­possível. São insetos ocultos na macega que trazem essa ilusão, por tal modo de viva e perfeita que a imaginação, embora desabusada e prevenida, ergue o voo e lá vai por estes mundos afora a doidejar e a criar mil fantasias.

***Espalham-se, por fim, as sombras da noite.O sertanejo que de nada cuidou, que não ouviu as harmonias

da tarde, nem reparou nos esplendores do céu, que não viu a tristeza a pairar sobre a Terra, que de nada se arreceia, consubstanciado como está com a solidão, para, relanceia os olhos ao derredor de si e, se no lagar pressente alguma aguada, por má que seja, apeia-se, desencilha o cavalo e reunindo logo uns gravetos bem secos, tira fogo do isqueiro, mais por distração do que por necessidade.

Sente-se deveras feliz. Nada lhe perturba a paz do espírito ou o bem-estar do corpo. Nem sequer monologa, como qualquer ho­mem acostumado a conversar.

Visconde de Taunay. Inocência.

A metáfora romântica mais simples é sempre a que se funda sobre alguma correlação entre a paisagem e o estado de alma.

Alfredo Bosi.

a) Em que frase do texto de Taunay o narrador, por meio do emprego do discurso indireto livre, confirma a afirmativa do professor Bosi?

b) Passe para a voz ativa a seguinte frase: “Espalham-se, por fim, as sombras da noite”.

abusão: engano, ilusão, erro; superstição, crendice; basalto: rocha vulcânica; regougo: voz da raposa ou qualquer som que a imite; ronco.

Texto para a questão 28.

Ura VIII Marília, de que te queixas?De que te roubou Dirceu O sincero coração?Não te deu também o seu?E tu, Marília, primeiro Não lhe lançaste o grilhão?

Todos amam; só Marília Desta lei da Natureza Queria ter isenção?

Em torno das castas pombas,Nõo rulam ternos pombinhos?E rulam, Marília, em vão?Não se afagam c'os biquinhos?E a prova de mais ternura Não os arrasta à paixão?

Todos amam; só Marília Desta lei da Natureza Queria ter isenção?

Já viste, minha Marília,Avezinhas, que não façam Os seus ninhos no verão?Aquelas, com quem se enlançam,Não vão cantar-lhes defronte Do mole pouso, em que estão?[...}

Tomás Antônio Gonzaga. Marília de Dirceu. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997.

E3 Uerj (Adapt.) O sentido de um texto deve muito às relações expressas pelas unidades gramaticais, como as preposições e as desinências verbais de número e pessoa.a) Nos versos “Não se afagam c’os biquinhos?” (v. 13) e

“Aquelas, com quem se enlaçam” (v. 22), a mesma prepo­sição com exprime relações adverbiais distintas. Indique a relação de sentido que essa preposição exprime em cada verso citado.

b) As formas verbais “roubou” (v. 2) e “arrasta” (v. 15) se apre­sentam na terceira pessoa do singular. Justifique, com base no texto, essa concordância.

Textos para as questões 29 e 30.

[...] No fundo o imponente castelo. No primeiro plano a ín­greme ladeira que conduz ao castelo. Descendo a ladeira numa disparada louca o fogoso ginete. Montado no ginete o apaixona­do caçula do castelão inimigo de capacete prateado com plumas brancas. E atravessada no ginete a formosa donzela desmaiada entregando ao vento os cabelos cor de carambola.

A. de Alcântara Machado. Carmela.

[...] lamos, se não me engano, pela rua das Mangueiras, quan­do voltando-nos, vimos um carro elegante que levava a trote largo dois fogosos cavalos. Uma encantadora menina, sentada ao lado de uma senhora idosa, se recostava preguiçosamente sobre o macio estofo e deixava pender pela cobertura derreada do carro a mão pequena que brincava com um leque de penas escarlates.

José de Alencar. Lucíola.

Page 117: Livros poliedro   caderno 1 português

o Passe para a passiva analítica a primeira oração do ex­certo a seguir.

... vimos um carro elegante que levava a trote largo dois fogo­sos cavalos.

m Considere os seguintes períodos.

No fundo o imponente castelo. No primeiro plano a íngreme ladeira que conduz ao castelo.

Qual é a funcionalidade dos adjuntos adverbiais na descrição de Alcântara Machado? Cite-os.

Texto para as questões de 31 a 33.

A frase a seguir foi publicada na revista Época, de 28 jun. 2004.

A magreza é imprescindível para o bom caimento da roupa. As modelos são ótimos cabides.

Alexandre Gomes, da agência de modelos L'Equipe.

E l Transforme o adjunto adverbial do primeiro período em oração desenvolvida e em oração reduzida. Faça as adaptações necessárias.

Use um nexo lógico (conectivo) que una o primeiro ao segundo período, de modo que o segundo seja um argumento favorável ao primeiro.

E l Explique as razões pelas quais o termo “cabides” foi utili­zado. Em que nível de linguagem se enquadra?

Page 118: Livros poliedro   caderno 1 português

Termos da oração ligados ao nome e vocativo

Seleção brasileira é hexaO objetivo da manchete de jornal é colocar o leitor êrn contato com a

notícia, com o que está acontecendo no país ou no mundo, O títuló|"Seleção brasileira é Hexa!" traz uma revelação, um fato novo. Na frase, a palavra "hexa" é o núcleo do predicado; é ela que informa acerca do sujeito "Seleção brasileira", exerçendo a função sintática de predicativo do sujeito.

Page 119: Livros poliedro   caderno 1 português

IntroduçãoNestas aulas, serão estudados os termos da oração que estão ligados ao nome (substantivo, adjetivo, advérbio) e o vocativo.

A memorização dos conceitos é fundamental para o bom entendimento da matéria. Leia o resumo do que vai ser exposto, procure colocá-lo no caderno ou em uma ficha; quando necessitar, é só consultar.

Adjunto adnominal Predicativo do sujeito Predicativo do objetoLN (ligado a um núcleo, sem mediação I do verbo ou da vírgula)

LN (ligado ao sujeito; com mediação do verbo ou da vírgula) LN (ligado ao objeto)

com ou sem preposição com ou sem preposição com ou sem preposição

qualidade velha ou permanente qualidade nova ou passageira qualidade nova imposta pelo sujeito ao objetoTab. 1 Termos ligados ao nome: adjunto adnominal, predicativo do sujeito e predicativo do objeto.

Complemento nominal ApostoLN (substantivo abstrato, advérbio ou adjetivo) LN (a um antecedente)

com preposição com ou sem preposição

paciente, afetado (ligado a abstrato) mantém uma relação de igualdade com o antecedenteTab. 2 Termos ligados ao nome: complemento nominal e aposto.

Vocativonão faz parte do sujeito nem do predicado sempre com vírgula LN = ligado ao nomeindica um chamado

Tab. 3 Vocativo.

Term os asso c iad o s ao nom eCompare as duas orações a seguir.

O jogador da França voltou.O jogador voltou da França.

Observe a correção:

Na primeira oração, a locução “da França” é um termo as­sociado ao nome, trata-se de um jogador francês; na segunda, o mesmo termo está associado ao verbo, indica o lugar de onde veio. Observe:

t IO jogador da França voltou.

f 4nome adj. adn.

O jogador voltou da França.i

verbo4

adj. adv.

No primeiro caso, temos um adjunto adnominal, termo associado ao nome: o substantivo “jogador”; no segundo, te­mos um adjunto adverbial, termo associado ao verbo “voltar”. A mudança de posição gerou alteração semântica e alteração sintática. A posição das palavras, em certos casos, pode criar ambigüidades, veja a manchete a seguir.

É Campanha publicitária contra as drogas do Ministério é suspensa

Do modo como foi redigida a manchete, temos a impres­são de que o termo “drogas” está ligado a “ministério”; um ministério que possui drogas? O problema decorre da posição dos termos da oração, que, malcolocados, geram duplo sentido.

A exemplo do que vimos no capítulo anterior, a posição das palavras é de fundamental importância, pois determina a rela­ção sintático-semântica dos termos da oração. A seguir, estão os termos que se associam ao nome.

Adjuntoadnominal __Predjcativ0

A djun to adnom ina lO adjunto, principalmente quando expresso por um adje­

tivo, passa, no ato da comunicação, uma informação já conhe­cida pelos interlocutores. Oposto ao predicativo, que expressa uma informação nova, algo que o emissor (ou receptor) não sabia, duvidava ou tinha esquecido. Pode-se comparar os dois exemplos a seguir:

O garotoalegrechegou! *

adj. adn.

informação conhecida

O garoto é alegre!I

pred. suj.

finformação nova

O adjunto também passa, no nível do enunciado, a ideia de permanência, de algo que é permanente no ser. O predicativo, por sua vez, pode indicar um estado passageiro, novo.

i Campanha publicitária do Ministério, contra as drogas é suspensa

Page 120: Livros poliedro   caderno 1 português

0 jgarotojalegre jsaiu.

1 I % %adj. núcleo adj. VI adn. adn.

%permanente

0_garoto_saiu alegre..

I i I 4adj. núcleo VI pred. suj. adn.

passageiro

Como se pode observar na frase “Tu pisavas nos astros distraída”, depois do verbo, não há necessidade da vírgula. A vírgula, porém, é de fundamental importância quando o adjetivo segue o núcleo do sujeito.

Nos exemplos a seguir, em cada período, o adjunto está inserido em um termo diferente:• adjunto adnominal do núcleo do sujeito

Assembleia da Igreja atraiu muitos fiéis.• adjunto adnominal do núcleo do objeto

Povo assiste à agonia do papa.• adjunto adnominal do núcleo do adjunto adverbial

Na prisão, detentos colocam fogo nas celas.• adjunto adnominal do núcleo do predicativo do sujeito

Meu partido é um coração partido.Cazuza.

Predicativo do sujeitoO predicativo pode estar acompanhado ou não de um verbo

de ligação, cuja função é apenas de ligar o sujeito ao predica­do (é um verbo não significativo: ser, estar, ficar, permanecer, continuar, parecer etc.).

Morfologia: art. pron. num. subst. adj. verbo adj.

X, t . t , _ t . - - i __ i - - ,As minhas duas filhas orasileiras são alegres.

O dentista nervoso errou o caminho.

I ISintaxe: adj. adj.

adn. adn.

Ela está abatida.I I 4

suj. V L pred. suj.

4 4adj. núcleo do adn. sujeito

4adj.adn.

4 4V L pred. suj.

Ele está no bar.I

suj.* IVI adj. adv.

A T E N Ç Ã O !

Paro Rocha Lima, "no bar" seria complemento circunstan­cial (antigo complemento locativo). O verbo, portanto, seria uma espécie de transitivo circunstancial (pede uma circuns­tância de lugar como complemento). Essa análise parece a mais sensata.

qualidade permanente

4adjunto adnominal

IO dentista, .nervoso, bateu o carro.

Iqualidade passageira

4predicativo do sujeito

É preciso estar atento também à ordem das palavras, pois em muitos casos é a posição do adjetivo que gera ambigüidade. O texto a seguir demonstra essa ideia.

fig . 1 Policiais em frente de presídio.

Não se sabe se “calmo” refere-se a “traficante”, predicativo do sujeito (qualidade passageira), ou a “presídio”, adjunto ad­nominal (qualidade permanente). Alterando-se a ordem, pode- -se obter maior clareza, de modo que haja uma só interpretação.

Eis alguns exemplos de predicativo:Traficante calmo escapa do presídioFunção sintática: adjunto adnominal Interpretação: qualidade permanente do traficante.

a) com verbo de ligaçãoO meu cartão de crédito é uma navalha.

Cazuza.

b) sem verbo de ligação (com transitivo ou intransitivo)Tu pisavas os astros, distraída.

Sílvio Caldas e Orestes Barbosa.

A frase “Tu pisavas nos astros distraída” poderia ser assim escrita:

Tu pisavas, distraída, nos astros.Tu, distraída, pisavas nos astros.Distraída, tu pisavas nos astros.

Traficante, calmo, escapa do presídioFunção sintática: predicativo do sujeito Interpretação: qualidade passageira do traficante.

Calmo, traficante escapa do presídioFunção sintática: predicativo do sujeito Interpretação: qualidade passageira do traficante.

Traficante escapa calmo do presídioFunção sintática: predicativo do sujeito Interpretação: qualidade passageira do traficante.

Se a oração fosse “Traficante escapa do presídio calma­mente”, o último termo seria adjunto adverbial; o termo “cal­mo”, nos exemplos citados, por flexão, não poderia funcionar como adjunto adverbial (Traficantes escapam do presídio

Page 121: Livros poliedro   caderno 1 português

calmos), embora alguns autores (Rocha Lima, por exemplo) acenem para a possibilidade de o adjetivo funcionar como ad­junto adverbial desde que se apresente claramente em relação ao verbo.

O adjunto e o predicativo devem ser estudados em conjunto, pois são muitas as oposições e as semelhanças.

Predkafivo do objeto

O predicativo do objeto é um termo associado ao objeto di­reto (no caso do verbo “chamar”, o predicativo do objeto tam­bém associa-se ao objeto indireto). Trata-se de uma opinião do sujeito sobre o objeto, ou uma qualidade imposta por aquele a este, uma qualidade nova:

IMaluf chama Pitta de traidor.

4 4 í 4suj. VTD OD pred. OD

Folho de S. Paulo.

Leila deixou louco o garoto.

4 4 4 1suj. VTD pred. OD OD

I ,O diretor nomeou João chefe da repartição.

4 4 4 4suj. VTD OD pred. OD

O predicativo do objeto pode ser expresso por:• um adjetivo

Te chamam de arrogante, insensato, orgulhoso.• um substantivo

O ofício duro tornou-o médico.

Eis alguns verbos que possibilitam o predicativo do objeto: eleger, crer, encontrar, estimar, fazer, nomear, proclamar, cha­mar, formar. Exemplos:Nomearam-no presidente da folia.O país me fará um homem?A esquerda elegeu-o prefeito.

É preciso estar atento à posição do predicativo na frase para que ele não seja confundido com outro termo, gerando uma frase ambígua:

Jogador deixa o time falido.

O termo “falido” pode ser entendido como predicativo do objeto - qualidade nova imposta pelo sujeito “jogador” ao ob­jeto “time” (o time não estava falido, passou a estar) - ou como adjunto adnominal - qualidade velha do time (o time já estava falido, jogador o abandonou). No primeiro caso, o verbo “dei­xar” significa “fazer com que”; no segundo, “abandonar”. São possíveis outras opções para que haja maior clareza:

Jogador deixa o falido time.Função sintática: adjunto adnominal Interpretação: qualidade velha do time

Jogador deixa falido o time.Função sintática: predicativo do objeto Interpretação: qualidade nova do time

O falido jogador deixa o time.Função sintática: adjunto adnominal Interpretação: qualidade velha do jogador

Falido, jogador deixa o time.Função sintática: predicativo do sujeito interpretação: qualidade passageira do jogador

Jogador deixa-o falido.Função sintática: predicativo do objeto Interpretação: qualidade nova do time

Complemento nominal

A INVENÇÃO DO AVIÃO FO I UM SU C ESSO

O complemento nominal é um termo associado a um substantivo abstrato (ação, sentimento, qualidade), a um ad­jetivo ou a um advérbio, sempre com preposição. Ligado a abstratos, possui o valor semântico do objeto direto, é o afetado, o paciente.

t I A invenção'do avião' foi um sucesso.

4 4 4 4 4adj. adn. núcleo suj. CN V L pred. suj.

R g . 2 Ilustração de Fernando Pessoa.

Page 122: Livros poliedro   caderno 1 português

~ IA tua piscina está cheia de ratos.i__il— J T , i l ,, -J t______ ff 1

$ 4 I i 4 %adj. adn. núcleo suj. V L pred. suj. CN

Agiu favoravelmente'ão réu.

4 4 4VI adj. adv. CN

Aposto

Flg. S Luta de boxe.

O aposto mantém uma relação de igualdade com o termo an­terior. Ele pode especificar, enumerar, explicar e recapitular o antecedente:

João, o chefe, saiu.

* 4 Isuj. aposto VI

João = chefe

Aposto explicativo f I

O povo quer as seguintes coisas: honestidade e trabalho.

4 4 4 ' r 1

suj. VTD OD aposto

seguintes coisas = honestidade e trabalho

Interpretação 1: se a Síria invadiu, é agente; sintaticamente, é o adjunto adnominal.Interpretação 2: se a Síria foi invadida é paciente; sintatica- mente, é o complemento nominal.

A ambigüidade poderia ser desfeita se utilizássemos um adjetivo (“invasão Síria”) ou outra preposição (“invasão na Síria”). O complemento nominal pode integrar o sujeito, o predicativo, o objeto direto, o objeto indireto, o agente da passiva, o adjunto adverbial, o aposto e o vocativo, e pode ser expresso por:a) um substantivo ou palavra substantivada

Estávamos ansiosos pelo concerto.b) pronome

O presidente está contente com ele.c) numeral

A ambição era necessária aos três.d) oração completiva nominal

Tem a impressão de que a CPI vai virar pizza.

Aposto enumerotivo

Os seqüestradores f |____________exigiram os seguintes objetos: uma arma calibre 38 e um carro.

4 4núcleo do objeto aposto

Aposto distributivof ~1_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ i

Havia dois grupos interessados: o da direita e o da esquerda.4 4

núcleo do objeto aposto

Aposto recopitulotivo * — , r )

O delegado Jair Assunção foi preso recebendo propina de A | traficantes.

núcleo do apostosujeito

Fig. 4 Equipamento bélico.

Para que não haja confusão com o adjunto adnominal, de­ve-se observar a seguinte comparação:

A invenção do avião...

CN paciente

A invenção do cientista...

adj. adn. agente

Em algumas frases, só o contexto nos ajudará a distinguir adjunto de complemento, note:

INVASÃO DA SÍRIA PROVOCOU ■ H H H f

Page 123: Livros poliedro   caderno 1 português

CAPÍTULO 5 * Termos do oração

Aposto especificativo

r - í w -Os revolucionários___desejavam uma sócoisâ: que fosse feita distribuição de renda.

4 ‘ * 'antecedente oração subordinada substantiva apositiva

É preciso não confundir o sujeito com o vocativo, repare no exemplo a seguir.

Brasil, mostra tua cara!

4 4vocativo sujeito elíptico (tu)

Cazuza.

Aposto oracional

O mais importante do mundo ó isto: que as pessoas não estejaml~j_J i____________sempre iguais.

pred. suj. 4aposto

O sonho,'que eu entre na universidade, está próximo.

4suj.

4aposto

Vocativo

Em certas frases, uma mudança de pontuação pode trans­formar o adjunto adnominal ou o sujeito em vocativo. Observe:

Ela contou uma história boba.4adj. adn.

Ela contou uma história, boba!L ------- t

4vocativo

Maria, a aluna do cursinho, faltou.

* Tsujeito aposto

Maria, a aluna do cursinho faltou.

vocativo sujeito

As ambigüidadesEste capítulo é rico em construções ambíguas, observe a

frase a seguir.

O delegado achou o homem culpado.

O vocativo não faz parte do sujeito nem do predicado, é sempre separado por vírgula e indica um chamado. Em certas circunstâncias, ele é termômetro da relação, isto é, por meio do vocativo pode-se perceber o tipo de relacionamento estabeleci­do entre os interlocutores.• O namorado à namorada:

Benzinho, desliga o televisor!

4 4vocativo VTD

(afetividade)

O chefe ao subordinado:

4OD

Oh, infeliz, pega a caneta!

4 4vocativo VTD

(autoritarismo)

4OD

O termo culpado pode ser uma qualidade já conhecida do homem, adjunto adnominal (achar com o sentido de encon­trar), ou pode ser uma qualidade imposta pelo delegado, predi­cativo do objeto (achar com o sentido de considerar).

A mudança de significado associada à mudança de função sintática

Uma simples mudança de pontuação pode mudar o signifi­cado da frase e a função sintática dos termos. Compare.

O cozinheiro louco fugiu. Qualidade-— * permanente

4adj. adn. ________

O cozinheiro, louco, fugiu. Qualidadepassageira

pred. suj.

Na primeira oração, “louco” é uma característica perma­nente do cozinheiro; na segunda, é um estado passageiro.

Fig. 6 Propaganda.

Page 124: Livros poliedro   caderno 1 português

O I Leia as manchetes a seguir.“Mulher louca invade hospital”“Mulher invade hospital louca”Explique as funções sintáticas e o sentido de “louca” em cada uma das ocorrências.

D Na frase “O presidente saiu do refeitório estranho”, temos ambigüidade decorrente da ordem das palavras. Reescreva-a de duas maneiras diferentes, de modo que haja duas interpre­tações (não seja ambíguo e altere o mínimo).

Veja a charge a seguir.

Dê a função sintática de “à corrupção” e explique a charge.

K l Leia o parágrafo a seguir.A ocupação dos Estados Unidos levou o mundo a repensar o sentido da guerra; foram tantas mortes de inocentes que é im­possível conceber a guerra como instrumento de paz; a paz é obtida por meio de diálogo e não de bombas.

Cite uma passagem que pode parecer ambígua se não levar­mos em conta o conhecimento de mundo. Justifique sua res­posta.

D Pontue duas vezes a frase a seguir, empregando a vír­gula para dar sentidos diferentes. Use a exclamação em uma das versões.- Irineu o delegado foi encontrado morto.

Q Modifique a frase abaixo sintaticamente e semantica- mente, empregando a pontuação.

Um beijo fofo! Nós nos veremos na semana que vem!

“O Brasil deixou o povo rico”. Por que a frase anterior não é clara?

D Leia a frase a seguir.O ministro achou o palácio triste.

Reescreva a frase, com as mínimas alterações possíveis, em três diferentes interpretações.

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Exercícios propostosH Assinale 1 para o adjunto adnominal e 2 para o predica­tivo do sujeito.

As mulheres cantavam alegres.

As mulheres alegres cantavam.

As mulheres, alegres, cantavam.

Cantavam as alegres mulheres.

D Assinale 1 para o complemento nominal e 2 para o ad­junto adnominal.

A venda do apartam ento gerou muito lucro.

A venda do corre to r lhe rendeu uma boa comissão.

Leia a frase a seguir.Ninguém parecia disposto ao trabalho.O termo em itálico exerce o papel de:(a) adjunto adnominal. (d) predicativo do objeto.(b) predicativo do sujeito. (e) objeto direto.(c) complemento nominal.

E l O amor de mãe é diferente de amor à mãe.Qual é a função sintática dos elementos em itálico?

D FCMSC Na oração seguinte:Você ficará tuberculoso, de tuberculose morrerá.As palavras destacadas são, respectivamente:(a) adjunto adverbial de modo e adjunto adverbial de causa.(b) objeto direto e objeto indireto.(c) predicativo do sujeito e adjunto adverbial.(d) ambos predicativos.(e) n.d.a.

Leia as frases a seguir.A cidade de São Paulo respira fumaça. O clima de São Paulo não é muito bom.Classifique os termos em destaque.

B I Mude a pontuação de modo que tenhamos outra inter­pretação:- João, o professor, é meu melhor amigo!

U | Dê o termo da oração para cada conceito.a) Mantém uma relação de igualdade com o termo anterior.b) Ligado ao núcleo sem mediação do verbo ou vírgula.c) Trata-se de uma qualidade nova imposta pelo sujeito

ao objeto.d) Está ligado a um adjetivo, advérbio ou substantivo abstrato

por meio de uma preposição.

K l Observe a frase:A prova de que ela é “divina”, dizia um “erudito”, é que os ho­mens ainda não “a” destruíram.As palavras entre aspas são, no plano morfológico e sintático, respectivamente:

(a) substantivo e complemento nominal, advérbio e objeto di­reto, artigo e locução adverbial.

(b) adjetivo e predicativo, substantivo e sujeito, pronome e ob­jeto direto.

(c) substantivo e predicativo, adjetivo e objeto direto, pronome e objeto indireto.

(d) adjetivo e complemento nominal, advérbio e aposto, artigo e objeto direto.

(e) substantivo e predicativo, adjetivo e sujeito, artigo e objeto direto.

B T ij Na frase “mineiro só é solidário no câncer”, a expressão em destaque é:(a) predicativo do sujeito.(b) aposto.(c) objeto direto.(d) adjunto adverbial de modo.(e) adjunto adnominal de mineiro.

m Na frase “Nomeá-los nossos representantes é revesti-los do direito ao mandato por três anos”, as palavras em destaque são, respectivamente:(a) predicativo do sujeito; adjunto adnominal.(b) objeto direto; objeto indireto.(c) predicativo do objeto; complemento nominal.(d) objeto direto; adjunto adnominal.(e) predicativo do objeto; objeto indireto.

| U Fecap “A recordação da cena persegue-me até hoje”. As palavras destacadas são, respectivamente:(a) adjunto adnominal; objeto indireto.(b) adjunto adnominal; objeto direto.(c) complemento nominal; objeto indireto.(d) complemento nominal; objeto direto.(e) nenhum dos casos citados.

m UFGO Em uma das alternativas a seguir, o predicativo inicia o período. Assinale-a.(a) A dificílima viagem será realizada pelo homem.(b) Em suas próprias inexploradas entranhas descobrirá a ale­

gria de conviver.(c) Humanizado tornou-se o sol com a presença humana.(d) Depois da dificílima viagem, o homem ficará satisfeito?(e) O homem procura a si mesmo nas viagens a outros mundos.

UMP Em “... as empregadas das casas saem apressa­das, de latas e garrafas na mão, para a pequena fila de leite", os termos destacados são, respectivamente:(a) adjunto adverbial de modo e adjunto adverbial de matéria.(b) predicativo do sujeito e adjunto adnominal.(c) adjunto adnominal e complemento nominal.(d) adjunto adverbial de modo e adjunto adnominal.(e) predicativo do objeto e complemento nominal.

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W Ê Indique a opção em que o termo em itálico não é predi­cativo.(a) “As palavras, porém, são mais difíceis..”(b) “••• e vêm carregadas de uma vida...”(c) “... vi-me cercada de pessoas...”j) "... selecionando animadamente e com grande competên­

cia...”j) “Pareciam pequenas abelhas alegres...”

na Assinale a letra correspondente à alternativa que preen­che corretamente as lacunas da frase apresentada.Exerce a função de_______o termo destacado na frase “Nin­guém ficou satisfeito com aquela medidsT.

i) complemento verbal (d) sujeito j) adjunto adverbial (e) complemento nominal Vi predicativo do sujeito

R O Nos enunciados a seguir, há adjuntos adnominais e ape­nas um complemento nominal. Assinale a alternativa que con­tém o complemento nominal.(a) Faturamento das empresas.(b) Ciclo de graves crises.(c) Energia desta nação.(d) História do mundo.

) Distribuição de poderes e renda.

na (JMP 'Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade” O trecho destacado é:

i) complemento nominal. (d) objeto direto.(b) vocativo. (e) aposto.

! agente da passiva.

na Relativamente a esse assunto, tenho muito que dizer.A expressão em destaque na frase anterior classifica-se, sln- taticamente, como:(a) objeto indireto.(b) adjunto adverbial.(c) adjunto adnominal.(d) objeto direto preposicionado.(e) complemento nominal.

E 3 Assinale a alternativa em que a função sintática do termo em itálico está incorreta.Faltariam algumas respostas (a) para que o trabalho ficasse completo (b) e os meninos se dispuseram a outras tarefas (c) mais adaptadas (d) a seu nível (e).a) objeto direto d) adjunto adnominalb) predicativo do sujeito e) complemento nominalc) objeto indireto

o Mackenzie Aponte a alternativa que expressa a função sintática do termo destacado: “Parece enfermo, seu irmão!”,

a) sujeito (d) adjunto adverbial3) objeto direto (e) adjunto adnominal

(c) predicativo do sujeito

Mackenzie Com respeito aos termos destacados no tre­cho a seguir, identifique a alternativa incorreta.“Os filmes de ação não constituem novidade nas prateleiras empoeiradas das locadoras.”(a) os filmes de ação = sujeito simples(b) constituem = verbo transitivo direto(c) novidade = núcleo do objeto direto(d) empoeiradas = adjunto adnominal(e) das locadoras = adjunto adverbial de lugar

E 3 I Unesp Em “com as últimas chuvas, o verde rebentou ver- díssimd', identifique as funções sintáticas dos segmentos em destaque.

O UFV Leia o texto a seguir.Cesso o estrondo das cachoeiras. e com elea memória dos índios, pulverizada, já nõo desperta o mínimo arrepio.

Carlos Drummond de Andrade.

No texto citado, as expressões destacadas são, respectivamente:(a) sujeito, complemento nominal, objeto direto.(b) sujeito, adjunto adnominal, objeto direto.(c) objeto direto, adjunto adnominal, sujeito.(d) objeto direto, complemento nominal, objeto direto.(e) adjunto adverbial, objeto indireto, sujeito.

m UEL Ainda que surgissem poucos recursos para o proje­to, todos mostravam-se satisfeitos com a boa vontade do chefe. As palavras destacadas no período citado exercem, respectiva­mente, a função sintática de:(a) objeto direto; complemento nominal.(b) sujeito; objeto indireto.(c) objeto direto; adjunto adnominal.(d) objeto direto; objeto indireto.(e) sujeito; adjunto adnominal.

o Em: “O jovem artista pintava o mundd', identifique a fun­ção das palavras em itálico.(a) objeto direto; complemento nominal(b) adjunto adnominal; objeto direto(c) objeto indireto; adjunto adnominal(d) adjunto adnominal; adjunto adnominal

3) complemento nominal; complemento nominal

Localize, grifando, o predicativo e classifique-o em: predi­cativo do sujeito ou predicativo do objeto.a) Sua fisionomia parecia contraída.b) Rufino morreu afogado.c) Alexandre nomeou os tubarões pontuais.d) Julgaram Alexandre herói.e) Velasco chegou triste.

na Classifique os termos em itálico em complemento nomi­nal, objeto indireto e adjunto adnominal.

Page 127: Livros poliedro   caderno 1 português

a) Alexandre necessitava de cuidados.

b) As noites do mar eram perigosas.c) Ele crê em m ilagres.

d) A crença em m ilagres favorece à igreja.e) Ele se orgulha dos am igos.

Wâ Informe a função sintática dos termos em destaque.a) A maioria da população é favorável à reform a agrária.b) Perdoei-lhe a dívida.c) A Constituição foi elaborada pelos senadores e deputados

federais.d) Necessitamos de reform as sociais.e) O trabalhador merece salários justos.

E 3 Analise sintaticamente os termos em destaque das se­guintes orações.a) Ele tem plena confiança em você.b) Eles não confiavam em seus próprios filhos.c) Alguns alunos consideraram a prova fácil.d) Antes de nos retirarmos, a porta foi fechada p o r Mauro.e) Cumprimentei-o pelo aniversário.

E U Analise sintaticamente os termos em destaque das se­guintes orações.a) O presidente está atualmente na China.b) Prezo muito a amizade de m eu pai.c) A bebida alcoólica é prejudicial à saúde.d) Os vinhos da Alemanha são deliciosos.e) Não gostamos de pessoas preguiçosas.

E 3 Analise sintaticamente os termos em destaque das se­guintes orações.a) D el-lhe o recibo.b) Eiegeram-no presidente.c) O homem teve medo da m ultidão.d) Ele estava consciente do perigo.e) Nada podemos fazer relativamente ao problem a.

ESI Analise sintaticamente os termos em destaque das se­guintes orações.a) Ele necessitava de ajuda.b) Ele tem necessidade de ajuda.c) Saímos numa noite de chuva.d) A plantação tem necessidade de chuva.e) Ela tem orgulho do filho .

Analise sintaticamente os termos em destaque das se­guintes orações.a) O homem teve receio da violência.b) Ele não tinha confiança em ninguém .c) Ele não confiava em ninguém .d) A esperança no futuro anima m uitas pessoas.e) Ele era responsável pela segurança.

E l Analise sintaticamente os termos em destaque das se­guintes orações.

a) Algumas pessoas reclamaram da segurança.b) Todos estavam confiantes na vitória.c) Sua riqueza não era útil à sociedade.d) Todos olharam para o homem de terno.

Analise sintaticamente os termos em destaque das se­guintes orações.a) Ela não tem gosto po r m úsica.b) O prazer da le itu ra atrai muita gente.c) A paisagem do cam po surpreendeu os viajantes.d) Ele tem muito interesse po r esportes.e) Seu gesto de carinho emocionou a todos.

m Lembrando-se de que objeto indireto é complemento de um verbo transitivo indireto e complemento nominal são palavras que completam o sentido de um nome (substantivo, adjetivo, advér­bio), identifique, a seguir, os objetos indiretos e os complementos nominais.a) Cuide de seus interesses que eu cuido dos meus.b) Temos confiança em nossos jogadores.c) Já organizamos a resistência a qualquer ataque inimigo.d) A assistência às aulas tem sido normal.e) Naquela situação difícil recorremos ao diretor.f) Gostamos de pessoas sinceras.

E l Identifique, a seguir, os objetos indiretos e os comple­mentos nominais.a) Lembre-se, pelo menos, dos amigos.b) Fez grandes investimentos em terras.c) A notícia agradou a todos.d) O orador fez alusão ao fato.e) O gosto pela música vem desde criança.f) Absteve-se de bebidas alcoólicas durante o carnaval.

o Identifique a seguir os complementos nominais, os obje­tos indiretos e os adjuntos adnominais.a) Um jornal de Salvador noticiou o fato.b) Gostamos de Salvador.c) Gente do Sul sabe da existência de Lampião.d) Eu sou do interior do Brasil.

O FT Na oração: “José de Alencar, rom ancista brasile iro, nasceu no Ceará”, o termo destacado exerce a função sintá­tica de:(a) aposto. (d) complemento nominal.(b) vocativo. (e) n.d.a.(c) predicativo do objeto.

o Osec “Ninguém parecia disposto ao trabalho naquela manhã de segunda-feira.” O termo destacado exerce a função sintática de:(a) predicativo. (d) adjunto adverbial.

>) complemento nominal. (e) adjunto adnominal.(c) objeto indireto.

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Page 128: Livros poliedro   caderno 1 português

E3 Osec Todas as cartas que me enviam chegam com a l­gum atraso” Os termos destacados no período exercem, res­pectivamente, a função sintática de:

:i objeto direto e adjunto adnominal.(b) sujeito e adjunto adnominal.(c) objeto direto e adjunto adverbial.(d) sujeito e objeto indireto.(e) objeto direto e objeto indireto.

UFV Numere corretamente as frases a seguir, indicando, assim , a função sintática do que.1) sujeito 4) predicativo2) objeto direto 5) complemento nominal3) objeto indireto

Perdeu o único aliado a que se unira.

O artilheiro que o julgaram ser não se revelou na nossa

equipe.

À janela, que dava para o mar, assombravam todos.

A prova de que tenho mais receio é a de Matemática.

Os exames que terá pela frente não o assustam.

m Observe os fragmentos a seguir.I. " ... custou-lhe a história uma forte sarabanda...”II. " ... o amor e o ciúme lhe ocupavam a alma...”O “lhe”, pronome pessoal do caso oblíquo átono, pode exercer diferentes funções sintáticas.Depois de analisar os trechos citados, assinale a alternativa que indica a função exercida por esse pronome em cada um dos fragmentos, respectivamente:

0 objeto indireto; objeto indireto.0 complemento nominal; adjunto adnominal.! adjunto adnominal; adjunto adnominal.

(d) objeto indireto; adjunto adnominal.(e) objeto indireto; complemento nominal.

Empregue a vírgula e descreva a mudança de sentido.- Um abraço querido.

Fernando Pessoa.

E9 Que tipo de louvor está subjacente aos vocativos empre­gados por Álvaro de Campos no fragmento a seguir?

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r etemol Forte espasmo retido dos maquinismos em fúríal Em fúria fora e dentro de mim,Por todos os meus nervos dissecados fora,Por todas as papilas fora de tudo com que eu sintol

Á lvaro de Campos. "O de triu n fa l".

ESI A apóstrofe, figura de linguagem, em “Deus\ Ó Deus! onde estás que não respondes?” é exercida sintaticamente pelo:

i) objeto direto. (d) predicado verbal.'■) vocativo. (e) predicado verbo-nominal.

predicado nominal.

E l Que tipo de variante lingüística pode ser observada no emprego dos vocativos?- Mano, descola o pisante?- Sai fora, malucoi

m Leia o texto a seguir.- Tiradentes, o tira-dentes, tira dentes.Dê outro significado à frase, mudando a pontuação. A seguir faça a análise sintática.

m A ocupação da Alemanha causou preocupação.a) Por que a frase citada é ambígua?b) Que funções sintáticas pode receber o termo “da Alemanha”?

E l “O aumento do funcionalismo causa pânico no governo.” Explique os dois sentidos da frase.

m Na frase a seguir, o termo em itálico pode receber duas funções sintáticas, dependendo da interpretação. Diga quais são as funções.O presidente demonstrou confiança no congresso.

Texto para a questão 53.

Nem posso contar a você, Kitty, a sensação que me percor­reu durante aqueles momentos. Senti-me feliz demais para falar e, acredite-me, ele sentia o mesmo.

Como aconteceu tão de repente, não sei dizer, mas [...] ele me deu um beijo através dos cabelos, da metade de meu rosto e da orelha; irrompi escada abaixo, sem olhar para lado nenhum [...]

Sua Anne.Anne Frank. Diário de uma jovem. Belo Horizonte: Itatiaia, 1972. pp.

230-1.

E l Em que nível de linguagem se encontra o vocativo em­pregado no início da carta? Que efeito de sentido obtém-se com o emprego desse nível?

Texto para a questão 54.

Dear MimmySão exatamente 9h30. Papai acaba de sintonizar a Deutsche

Welle, [...] mamãe está no trabalho e eu em casa. Como você vê, nõo estou na escola.

uSerá que os bombardeios vão recomeçar? Não há escola, nõo

há aula - nem escola de música - e estou trancada em casa. Que tédio. Nõo sei o que escrever.

Ah, Mimmy, me lembrei. Na terça-feira aconteceu uma coisa incrível. Vi ISMAR RESIC. Na quarta série ele era apaixonado por mim [...]. Era minúsculo, Mimmy, menor que eu, e agora está com 1,70 m. Dobrou de tamanho. Está gigantesco. E se você ouvisse a voz delel Graaaavel [...] Você nunca vai acreditar: terça-feira me cansei de repetir "puxa, você viu só?" e "você viu a altura dele?*

ZlataZlata Filipovic. O diário de Zlata: a vida de uma menina na guerra. São

Paulo: Cia. das Letras, 1994. p. 144.

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Page 129: Livros poliedro   caderno 1 português

E l Que efeito de sentido pode ser observado no emprego do vocativo “Dear Mimmy”?

Texto para a questão 55.

Nõo me escutas, JatirI nem tardo ocodes A voz do meu amor, que em võo te chama!Tupõl lá rompe o soll do leito inútil A brisa da manhõ sacuda as folhas!

Gonçalves Dias. Leito de folhas verdes.

Que tipo de sentimento subjaz ao vocativo assinalado?

E j | Dê outro sentido à frase, deslocando a vírgula para outra posição.“Ja ir Lates, o líder revolucionário foi preso.”

O Leia a manchete a seguir.“JOÃO E SEU S CAPANGAS ACHARAM O CO FRE VELHO” Observa-se na manchete:(a) um erro de ortografia.(b) uma ambigüidade.(c) um erro de concordância.(d) um sujeito indeterminado, “acharam”.(e) uma ordem indireta que prejudica a clareza.

E3 Assinale a alternativa em que a retirada da vírgula altera semanticamente a frase:(a) - Tranquilamente, os alunos leem esta questão.(b) É preciso fazer silêncio, na explicação.(c) O professor Renato iniciou, nesta semana, a operação si­

lêncio. (as duas vírgulas)(d) - Darwin, o pai da biologia, está saindo, (a segunda vírgula)(e) Ontem, os pássaros voaram no Poliedro.

E3 Leia os cartazes a seguir.Cartaz I:

m

Prefeito Josimar Josém

Cartaz II:

Prefeito Josimar José

Considere as seguintes afirmações a respeito dos dois car­tazes lidos:I. Não há diferença de sentido entre os cartazes.II. Em I, o povo deve fazer silêncio.III. Em II, o prefeito deve fazer silêncio.Estão corretas:(a) apenas I.(b) apenas II.(c) apenas III.(d) apenas II e III.(e) nenhuma.

m Considere as seguintes frases:a) - Lindosvaldo, o maquiador, gritou: “aaau”.b) - Lindosvaldo, o maquiador gritou: “aaau”I. Temos aposto em b e vocativo em a.II. Em a, Lindosvaldo é o maquiador.III. Em b, Lindosvaldo é o interlocutor.Estão corretas:(a) apenas I.(b) apenas II.(c) apenas I e II.(d) apenas III.(e) apenas II e III.

Leia o texto a seguir.“O diretor da escola criticou

o ensino do português no pátio.”I. A frase é ambígua, há um termo mal posicionado.II. O termo “no pátio” pode estar ligado a “ensino de portu­

guês” ou a “criticou”.III. A frase é clara, pois “no pátio” só pode estar ligado a “ensi­

no de português”.Estão corretas:(a) apenas I.(b) apenas I e II.(c) apenas III.(d) apenas I e III.(e) todas.

Texto para as questões de 62 a 64.

“Na madrugada do dia 5, interna da Febem foge da prisão apa­vorada e é morta em confronto com a polícia.”

ca Por que a frase é ambígua?

E 2 I Reescreva a frase duas vezes com sentidos diferentes e sem ambigüidade.

o Explique o que motivou a ambigüidade.

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Regência

Derivado de reger, "governar, comandar, dirigir", é natural que regência signifique "govemo, comando, direção".

Em Gramática, emprega-se o termo em sentido amplo e restrito. Em sentido amplo, regência eqüivale a subordinação em geral. Em chuva grossa, por exemplo, o substantivo chuva rege, isto é, subordina, o adjetivo grossa, e em trabalha muito, o verbo trabalha subordina o advérbio muito. Chuva e trabalha são as pa­lavras regentes (subordinantes); grossa e muito, as palavras regidas (subordinadas).

Artigos, pronomes adjetivos, numerais e (nomes) adje­tivos são regidos pelos substantivos, que lhes comandam a for­ma pelo processo da concordância nominal; o seu primeiro livro encadernado/a sua primeira obra encadernada, os seus primeiros livros encadernados. Quando sujeito, o substantivo (nome ou pro­nome) rege ainda o número e a pessoa do verbo pelo processo da concordância verbal: o livro ensina/os livros ensinam, eu ensino, tu ensinas, nós ensinamos etc. Como se vê, a concordância é efeito da regência.

Regência: nominal/verbalEm sentido restrito, e mais habitual, regência é a subordina­

ção especial de complementos às palavras que os preveem na sua significação.

Assim, cúmplice, na sua significação, implica "coautoria" ou "envolvimento" e "ato (negativo)": em cúmplice/com marginais/ num crime, o (nome) adjetivo cúmplice rege dois "complementos nominais", com marginais e num crime; é um caso de "regência nominal".

Pôr, na sua significação, implica "objeto" (a movimentar)" e "lugar-meta": em pôr/o livro/na estante; o verbo pôr rege dois "complementos verbais", o livro e na estante; é um caso de "re­gência verbal". O verbo cumpliciar (ou acumpliáar), derivado do citado adjetivo cúmplice, rege complementos verbais precedidos das mesmas preposições regidas pela base adjetiva: [(a)cumpliciar- -se/com alguém/em algo).

Outros nomes e verbos dispensam complemento(s): casa, corpo, mesa, rosa...; azul, etemo, moreno...; bocejar, chover, dor­mir, morrer...

Regência em sentido restrito é, pois, a necessidade ou des­necessidade de complementação implicada pela significação de nomes (substantivos, adjetivos, advérbios) e verbos. No terreno que aqui interessa, esse necessitar ou prescindir, o verbo, de elemen­tos nominais para completar uma estrutura significativa é o que se chama "regência verbal".

Regência verbal e padrões oracionaisComo se sabe, o verbo é a palavra cuja presença caracteriza

o que se denomina "oração". Na acepção ampla de regência, o verbo (não sendo "de ligação": ser, estar e semelhantes) rege todos os termos da oração; na acepção restrita, rege os complementos. Para clarear isto, é útil recorrer à noção de "padrões oracionais".

A língua prevê moldes sintáticos segundo os quais se constrói toda e qualquer frase efetiva. Tais moldes, aqui chamados padrões, são constituídos de quatro posições básicas correspondentes às fun­ções primárias da oração: 1. Sujeito (S), 2. Verbo (V), 3. Comple­mentos (C) verbais ou Predicativo (Pvo), 4. Adjuntos (A) adverbiais. Sujeito é o elemento com o qual concorda o verbo. Complementos verbais são o objeto direto (OD) e o objeto indireto (OI), distinção devida à ausência/presença de preposição na ligação direta/indi­reta do complemento ao verbo: amar alguém/gostar DE alguém. Predicativo é o ocupante da posição 3 quando o verbo é de ligação (ser, estar e semelhantes). Adjuntos adverbiais são os elementos que exprimem circunstâncias - modo, tempo, lugar, meio etc.

Exemplos de frases-orações com as quatro posições ocupadas:(1) O motorista/consertou/o carro/na garagem. [S V C A](2) A criança/estava/muito alegre/ontem. [S V Pvo A]

O verbo consertou rege (regência em sentido amplo) o sujeito o motorista, o complemento (objeto direto) o carro e o adjunto ad­verbial na garagem; ou rege apenas (regência em sentido restrito)o carro.

Complemento/AdjuntoPõe-se frequentemente um problema: distinguir entre comple­

mento e adjunto. Nem sempre vale o argumento de que os adjun­tos exprimem circunstâncias (modo, tempo, lugar etc.), nem menos ainda, o que são substituíveis por advérbios. Na garagem, é adjun­to (adverbial) na frase (1), mas é complemento em pôs/o carro/na garagem, apesar de exprimir lugar e ser substituível por lá.

Critério válido é o citado atrás: é preciso ter em conta o queo verbo prevê na sua significação, o que está implícito nos seus traços semânticos. Assim, consertar só prevê um complemento, o objeto da ação, ao que pôr, como se viu atrás, prevê, além do ob­jeto, o lugar-meta. Podemos dizer: O motorista/consertou/o carro mas não O motorista/pôs/o carro.

Uma seqüência como trabalhar num prédio pode significar duas coisas, conforme interpretarmos num prédio como posição3 (complemento) ou 4 (adjunto), isto é, prédio como objeto (3) ou como local (4) do trabalho: trabalhar/nele (2 - 3)/ trabalhar/ lá (2 - 4). Veja-se também a diferença entre ir ou chegar/ lá (2 - 3) e dormir (brincar, estudar etc.)/ lá (2 - 4).

Verbos como proceder e conduzir-se preveem advérbios ou locuções adverbiais de modo (bem, mal, como, com dignidade etc.), já que são inviáveis frases como Elo procede, Ela se condu­ziu? Os elementos adverbiais necessários, previstos pela significa­ção de tais verbos, são pois complementos, e não adjuntos.

Celso Pedro Luft,

Page 131: Livros poliedro   caderno 1 português

R E S U M IN D O

* Adjunto adnominalTermo ligado ao nome, mais especificamente a um núcleo sintático (do sujeito, do objeto etc.).

E expresso por: artigos, pronomes, numerais, adjetivos, locuções adjetivas e orações adjetivas.

As minhas duas lindas garotas da África morrem da subnutrição que o mundo nõo combate.

Possui a função de especificar, explicar, indeterminar, determinar o ser, isto é, o nome, o substantivo.

Pode estar presente em qualquer termo da oração, estará ligado ao seu núcleo, sem intermediação do verbo ou da vírgula.

Quando o adjunto adnominal estiver ligado ao sujeito e for desempenhado por um adjetivo, teremos uma qualidade velha (posta

como conhecida pelos interlocutores) ou permanente (o predicativo transmite-nos uma qualidade nova - posta como revelação - ou passageira).

O documento falso foi encontrado. O documento é falso.t f

adj. adn. predicativo

* Predicativo do sujeitoRemete a uma qualidade (qualidade nova, isto é, posta corno se fosse uma revelação) ou a um estado do sujeito (de caráter pas­

sageiro). Pode apresentar-se:a) com verbo de ligação (ser, estar, parecer, continuar, entre outros, podem funcionar como verbos de ligação se introduzirem uma

qualidade, um estado ou uma mudança de estado do sujeito).As nuvens são mágicas.As nuvens estão escuras.As nuvens continuam ameaçadoras.

b) sem verbo de ligação (com transitivo ou intransitivo).As nuvens marcham mansas.

Depois do verbo, não há necessidade da vírgula. Á vírgula, porém, é de fundamental importância quando o adjetivo segue o núcleo do sujeito.

O garoto, cansado, assistia a guerras.O garoto assistia a guerras cansado.

E preciso estar atento também à ordem das palavras, pois em muitos casos é a posição do adjetivo que gera ambigüidade.O garoto saiu do local abandonado.

• Predicativo do objetoQualidade nova imposta pelo sujeito ao objeto ou uma opinião do sujeito sobre o objeto.Alguns verbos que possibilitam o predicativo do objeto: eleger, crer, encontrar, estimar, fazer, nomear, proclamar, chamar, formar. Nomearam o ministro chefe da comissão.

• Complemento nominalPossui a função de completar o nome; pode estar ligado a substantivo abstrato, adjetivo ou advérbio, sempre com preposição.- Ligado ao substantivo, cumpre o papel semântico do objeto, isto é, ser afetado, alvo da ação.

Ex.: invasão no Líbano.- Se fo r agente, ou possuidor, teremos o adjunto adnominal.

Ex.: As armas dos Estados Unidos.

* ApostoMantém uma relação de igualdade semântica com o termo anterior. O aposto pode ser explicativo, enumerativo, distributivo, re-

capitulativo, especificativo ou o ra c io n a ®Os Beatles, o mais famoso conjunto de rock de todos os tempos, tornaram-se um mito. (explicativo)Ele amava tudo dos Beatles: a música, a filosofia, as vestimentas etc. (enumerativo)

• VocativoO vocativo é um termo que não pertence ao sujeito nem ao predicado; indica um chamado, um apelo; o vocativo remete ao destina­

tário da mensagem. Também pode ser um indicador de religião, posição política, grupo social, idade, opção sexual, origem geográfica etc. , r— Tucanos, o petista já chegou!

— Padre, eu pequei!— Bofe, você tem "fogo"?

Page 132: Livros poliedro   caderno 1 português

QUER SABER MAIS?

J g l . LIVROSi Fiodor Dostoiévski. Crime e castigo.i William Shakespeare. Macbeth.i William Shakespeare. Sonho de uma noite de verão.

SITE1 www.teses.usp.br

| |{ MUSICAi Frédéric Chopin. "Fantasia Impromptu Op.66. No. A."

MUSEU1 Museu da Imagem e do Som. São Paulo.

FILMEi Pixote. Direção de Hedor Babenco, 1981.

ERCICIOS MPiEMENTARü Explique a diferença entre:O menino atrapalhado fugiu.O menino, atrapalhado, fugiu.

D “A funcionária saiu da sala estranha.”a) Qual é a dupla interpretação que se pode extrair da frase

citada?b) Que funções pode assumir “estranha”?

B Fazendo apenas um deslocamento, tire a ambigüidade do exercício anterior.

n Coloque 1 para o predicativo do objeto e 2 para o adjunto adnominal.

A moça achou a linda joia.A moça achou linda a joia.A joia linda foi achada pela moça.A moça achou-a linda.

A frase a seguir refere-se às questões 5 e 6.“O velho deixou a esposa louca.”

D Que funções sintáticas pode receber o termo “louca”?

D a) Passe para a voz passiva, mantendo a ideia de quali dade nova.

b) Que função sintática recebe o termo “louca” na voz passiva?

B “O povo acha o governo corrupto, diz o deputado.”O predicativo do objeto representa no texto uma sanção do sujeito sobre o objeto. Identifique, na frase citada, o objeto, a sanção e o sujeito.

Explique a diferença de sentido entre as frases a seguir:a) Os brigadeiros novos foram imediatamente comidos.b) Os brigadeiros, novos, foram imediatamente comidos.

K l Leia a manchete a seguir.

Bêbado dirige caminhão doido e bate em carro

a) A manchete apresenta uma ambigüidade. Explique-a.b) Reescreva a manchete de modo que tenha um só sentido.

Texto para a questão 10.

m Unicamp Na tira de Garfield, a comicidade se dá por uma dupla possibilidade de leitura.a) Explicite as duas leituras possíveis e explique como se

constrói cada uma delas.b) Use vírgula(s) para discernir uma leitura da outra.

Texto para a questão 11.O preto Henrique tomou o caneco das mõos da preta velha e

bebeu dois tragos.-A in d a tá quente, meu filho? E o restinho...- Tá, tia. Bota mais.Quando acabou, disse:- Você lembra dessas histórias que você sabe, minha tia?- Q ue histórias?

àÕÁttbAWtÀ ' 6AT0C0M 6 POR ACASO EU SOU UMGATO COM POUCA

9C&0URA?

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LD,

JIM

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©

2004

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WS.

Page 133: Livros poliedro   caderno 1 português

- Essas histórias de escravidão...- O que é que tem?- Você vai esquecer elas todas.- Quando?- No dia em que nós for dono disso...- Dono de quê?- Disso tudo... Da Bahia... do Brasil...- Como é isso, meu filho?- Quando a gente não quiser mais ser escravo dos ricos, titia,

e acabar com eles...- Quem é que vai fazer feitiço tão grande pros ricos ficar tudo

pobre?- Os pobres mesmo, titia.- Negro é escravo. Negro não briga com branco. Branco é

senhor dele.- O negro é liberto, tia.- Eu sei. Foi a princesa Isabel, no tempo do imperador. Mas

negro continua a respeitar o branco...- Mas a gente agora livra o preto de vez, velha.- Você sabe qual é a coisa mais melhor do mundo, Henrique?- Não.- Não sabe o que é? E cavalo. Se não fosse cavalo, branco

montava em negro...Jorge Amado. Suor. Rio de Janeiro: Record, 1984,43. ed., pp. 43-4. (Adapt.).

m UFRJ O texto é praticamente todo composto por diálogos, sem verbos de elocução - aqueles que indicam quem está falan­do. O recurso gramatical utilizado pelo autor, em substituição aos verbos de elocução, para que o leitor possa identificar quem está com a palavra, foram:(a) os períodos curtos. (d) as frases interrogativas.(b) os travessões. (e) as reticências.(c) os vocativos.

m Leia a manchete a seguir.PRESIDENTE E SEUS MINISTROS

VOLTARAM DOS PAÍSES EUROPEUS ANIMADOS

A palavra que gera o duplo sentido é:(a) o pronome possessivo “seus”, que retoma “presidente”.(b) o substantivo “presidente”, que denota um julgamento de

valor.(c) o adjetivo “animados”, o qual pode indicar uma qualidade

permanente ou passageira.(d) o verbo “voltar”, que aponta para uma ação concluída.(e) a conjunção “e”, que estabelece uma noção de sobreposição.

1 3 Leia a manchete a seguir.POLÍCIA DO RIO CAPTURA LADRÃO

DE HELICÓPTERO A polícia do Rio de Janeiro conseguiu prender o terrível

traficante do morro da Rocinha Erasmão, vulgo “Itão”. Os policiais, que pilotavam um moderno helicóptero da Polícia Militar, perseguiram o carro do traficante durante duas horas; quando o bandido atravessava a Ponte Rio-Niterói, o delega­do João Polidrinho conseguiu alvejar os pneus do veículo. Itão perdeu o volante e capotou. O helicóptero pousou na ponte e o traficante foi preso. O delegado João Polidrinho afirmou que o criminoso chefiava o tráfico na zona sul do Rio há quatro anos.

A manchete, tal como foi redigida, apresenta:(a) erro de coesão.(b) erro de coerência.(c) falta de progressão lógica.(d) falta de concisão.(e) quebra do paralelismo semântico.

K l Leia a manchete a seguir, extraída do jornal Folha deS.Paulo, de 8 de março de 2006:

Exército usa tropa do Haiti na MangueiraFolha de S.Paulo, 8 mar. 2006.

A manchete da Folha de S.Paulo pode prestar-se a mais de uma interpretação, só o conhecimento de mundo permitirá entender o sentido pretendido pelo jornalista. Assinale a alternativa em que se aponta a causa da ambigüidade.(a) A ordem das palavras na frase.(b) A omissão de palavras.(c) A polissemia da palavra “Mangueira”.(d) A polissemia da palavra “Haiti”.(e) A contração da preposição com o artigo, “na”, indicadora

de lugar ou meio.

B i Leia.- Camarada, venha!- Camarada me chamou?- O partido nos espera, camarada!Que tipo de conteúdo o vocativo projeta?

1 1 Sabe-se que por meio do vocativo é possível avaliar o tipo de relação estabelecida entre os interlocutores. Diga qual é a relação no texto a seguir.- Patrão, posso sair?- Claro que não! Não vê que eu preciso de você?!- Perdão, senhor, eu pensei...- Pensou mal, volte ao trabalho!- Desculpe, seu Horácio, eu...- E pare de me chamar de seu Horácio!- Está bem, seu Horácio.- Ahhh... suma, bucéfalo!

D l Identifique no texto a seguir os mecanismos gramaticais que possibilitam o emprego da função apelativa.

Oh, musa do meu fado,Oh, minha mãe gentil,Te deixo consternado,No primeiro abril.Mas não sê tão ingrata,Não esquece quem te amou.

Chico Buarque. "Fado Tropical".

D 3 Alguns vocativos constituem-se em verdadeiras fi­guras de linguagem. Analise o caso a seguir e cite a figura correspondente.- Bigode!- Fala, Pezão.

Page 134: Livros poliedro   caderno 1 português

A frase a seguir refere-se às questões 19 e 20.Vem, meu menino vadio.

C hico Buarque.

□ Dê a função sintática de “meu menino vadio”.

E Q Qual é o sujeito da frase?

O vocativo, por vezes, revela a variante lingüística uti­lizada. Examine o texto a seguir e identifique a variante. Em seguida, crie um exemplo com uma variante oposta, utilizando também um vocativo.

alma minha gentil, que te parfiste, tõo cedo desta vida descontente, repousa lá no Céu eternamente e viva eu cá na terra sempre triste!

Luís de Camões.

B n Que tipo de relação o vocativo projeta no texto a seguir? Quando você me deixou, meu bem Me disse pra ser feliz e passar bem.

Chico Buarque.

E J Explique a mudança de função sintática na frase a seguir.- João, o chefe da cozinha era árabe.- João, o chefe da cozinha, era árabe.

EH Pontue, se necessário, as frases a seguir:a) Drummond o grande poeta mineiro nasceu em Itabira.

b) Vinho caviar mulheres tudo alucinava o pobre Godofredo.

O texto a seguir refere-se às questões de 25 a 28.

f iq u e emNão vá à Europa é o título do livro - um antiguia turístico - que acaba de se r lançado nos Estados Unidos. O autor, o americano Chris Harris, enumera as razões pelas quais seus compatriotas não devem atravessar o Atlântico. Algumas delas:

• " A Itália é um monte de ruínas imundas, os franceses são mal-educados e a Suíça é tediosa”.• “Veneza é a única cidade do mundo onde os esgotossão atração turística. Em Pisa, os turistas se acotovelam para ver um erro arquitetônico.”• “O dia da Espanha se divide assim: de manhã, sesta; de tarde, sesta.”• 'Três coisas são proibidas na Suíça: o barulho, as piadas e a alegria.A única coisa a fazer é olhar os relógios, os melhores do mundo.”• “Sempre há turistas palermas dispostos a engolir tudo o que não conseguem pronunciar. Foie gras é um escândalo: um reles patê de fígado.”• “Deus cometeu um grave erro: pôs Paris na França.”

O Destaque do primeiro parágrafo dois apostos.

m Qual é a importância do aposto para o texto em questão?

No segundo parágrafo, o autor faz uma série de revela­ções. Que termo da oração é utilizado?

27

21

e i Por que o texto é incoerente?

O A Folha de S.Paulo de 30 de novembro de 1996 trazia, na página 14 da seção “Mundo”, uma notícia da qual foi extra­ído o trecho a seguir:

PF prende acusado de terrorismo nos Estados Unidos

O libanês Marwán Al Safadi, suspeito do atentado ocorrido no World Trade Center em New York (EUA), em 1993, foi preso no último dia 6 em Assunção (Paraguai), após ser localizado pela PF (Polícia Federal)...

Folha de S.Paulo.

a) Transcreva do texto as expressões que indicam as circuns­tâncias de lugar e tempo da prisão do suposto terrorista.

b) A que fato mencionado no título refere-se a expressão nos Estados Unidos, considerando o sentido geral da notícia?

c) O título da notícia se presta a interpretações distintas. Quais são essas interpretações?

JEbI A função sintática do “que” está correta em:(a) um adestramento que já não tenho” — predicativo do

objeto direto.(b) de uma vida que se foi desenrolando” - objeto direto.(c) “... dos seres que me rodeiam” - adjunto adverbial.(d) “Mulheres de meia-idade que compravam lãs” - aposto.(e) “... os pontos que minha pequena mão infantil executara.”

- objeto direto.

e h Unicamp A leitura literal do texto a seguir produz um efeito de humor.

As videolocadoras de São Carlos estão escondendo suas fitas de sexo explícito. A decisão atende a uma portaria de dezembro de 1991, do Juizado de Menores, que proíbe que as casas de vídeo aluguem, exponham e vendam fitas pornográficas a menores de18 anos. A portaria proíbe ainda os menores de 18 anos de irem a motéis e rodeios sem a companhia ou autorização dos pais.

Folha Sudeste, 6 jun. 1992.

a) Transcreva a passagem em que se produz efeito de humor.b) Qual a situação engraçada que essa passagem permite

imaginar?c) Reescreva o trecho de forma a impedir tal interpretação.

E 3 Unicamp O comentário seguinte faz parte de uma repor­tagem sobre o decreto assinado pelo presidente José Samey, tomando eliminatórios, no vestibular, os exames de língua por­tuguesa e de redação.

Os estudantes que pretendem ingressar na Unicamp, no próxi­mo vestibular, concordam com o decreto do governo. Estão recla­mando, apenas, que a Universidade de Campinas está exigindo a leitura de um livro que entrará no exame inexistente no Brasil: A confissão de Lúcio, de Mário de Sá-Carneiro.

Istoé Senhor/991, 14 set. 1988.

Conforme redigido, o texto contém uma passagem ambígua (que pode ter mais de uma interpretação). Identifique essa pas­sagem ambígua. Em seguida, reescreva-a de forma que tome clara a interpretação pretendida pela revista.

Page 135: Livros poliedro   caderno 1 português
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Trovadorismo (1198-1434)

FRENTE 2

Wmm

O Trovador

Sentimentos em mim do asperamente

dos homens das primeiras eras.

As primaveras de sarcasmo';

intermitentemente no meu coração arlequinal.

Intermitentemente...

Outras vezes é um doente, um frio é aa minha alma doente como um tango som redondo

Canta bona! Cantabona!

Dlorom.í.;

1 ! § § ou um *UP' ían9endo om alaúde! i^ ' t ' ' ' ' ^ á r 1 i > d e A ndrade1. Pcfulitéia dèsvijifaâo,

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Page 137: Livros poliedro   caderno 1 português

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O.

IntroduçãoEste é o capítulo inicial de Literatura. Bem-vindo a este uni­

verso que desvenda mundos, mostra a força das palavras, modifi­ca posicionamentos, instaura novas realidades. Começaremos por Literatura Portuguesa.

Mas por que estudar Literatura Portuguesa? É simples: porque ela representa o ponto de partida, influência para tudo o que se produziu em nossa língua.

Aqui, partindo do contexto histórico-cultural, você vai co­nhecer a poesia dos trovadores, chamadas cantigas, divididas em líricas e satíricas; sentirá o encantamento do que era ouvido pelas cortes medievais ibéricas, o jeito de ser dos poetas, a ma­neira como produziam seus textos para serem cantados ao som de instrumentos musicais.

Além disso, poderá ler, ao final da última aula, as chama­das novelas de cavalaria, relatos em prosa que exaltavam os feitos dos heróis medievais, que se dispunham a dar a vida por justiça, bem, verdade, rei, reino e donzelas em perigo.

Ao estudar o período, lembre-se de contextualizá-lo na Idade Média e aproveite o ensejo para visitar o assunto no seu livro de História Geral.

Estamos muito distantes - no tempo - da produção trovado- resca; no entanto, é preciso considerar que autores como o român­tico Gonçalves Dias e o modernista Mário de Andrade sofreram influência dos textos dos trovadores e produziram poemas mag­níficos à maneira daquele tempo.

E mais ainda: toda época literária é rica porque os poetas e prosadores sempre têm muito a dizer: o que lhes vai na alma, reflexão sobre o mundo que habitaram e a maneira especial de nele estar. Seja, portanto, bem-vindo ao mundo dos trovadores!

Contexto histérico-cultural

No final do século XI (1094), d. Afonso VI, rei de Leão, casa suas duas filhas: Urraca — a quem coube o território do que hoje se define como Espanha, com o Conde Raimundo de Borgonha - e Teresa (d. Tareja), filha bastarda, que recebe em casamento d. Henrique, obtendo do pai, como presente de núp­cias, o Condado Portucalense, pequeno território entre os rios Minho e D’Ouro, um verdadeiro “presente de grego” àquela época, posto ter as costas banhadas inteiramente pelo Atlântico em um tempo de escassas navegações.

Em 1112(14) morre d. Henrique; d. Teresa alia-se aos galegos, muito especialmente ao famoso Conde Femão Pe- res de Trava. O infante d. Afonso Henriques insurge-se con­tra a mãe, o que termina com a Batalha de S. Mamede, em24 de junho de 1128. Os revoltosos coroam-no o primei­ro rei de Portugal, mas somente em 1143, na Conferência de Samora, Afonso VII, bisavô de Afonso Henriques, reconhe­ce-o como rei de Portugal e, por conseguinte, reconhece tam­bém Portugal como Estado independente.

Até essa ocasião, o condado pertencera à Galiza, no reino de Leão, e tinha como centro irradiador de cultura, leis, artes e religiosidade, a cidade de Santiago de Compostela; lá estudaram todos os nobres da época.

Longo tempo seria transcorrido até que Portugal pudesse verdadeiramente ser Estado independente; décadas e décadas se passaram na Guerra da Reconquista quando, por fim, já no século XIII, durante o reinado de Afonso III, os sarracenos são expulsos em definitivo do território lusitano.

Mesmo durante a época em que aquele país dedicou-se constantemente à guerra, houve efusiva e não descontínua pro­dução literária e é da Provença, região meridional da França, a maior influência para a composição, sobretudo das cantigas de amor. Leia a seguir o que dizem os historiadores da Literatura Portuguesa, A. J. Saraiva e Oscar Lopes.

A influência dos trovadores e jograis da Provença veio assim dar foros de poesia palaciana a uma tradição jogralesca local, de origem popular, e a enxertar-se na cepa galega. Deste cruzamento derivam as características próprias das "cantigas de amor", em que o senhor aristocrata exprime as convenções do amor cortês — divi- nização da mulher, constância tímida e submissa do amante, enca- recimento do sofrimento do amor etc. — uma linguagem um tanto artificial, esmaltada em termos provençais.

Antônio José Saraiva e Oscar Lopes. História da Literatura Portuguesa. 7 ed. São Paulo: Livraria Martins Fontes, s/d.

Historicamente, em que época acontece o Trovadorismo? A resposta é simples: durante a Idade Média, em pleno feuda­lismo. Pois bem, é preciso considerar ter havido realmente o feudalismo em Portugal?

Leia a seguir o posicionamento de uma autoridade no as­sunto, José Hermano Saraiva, no livro História Concisa de Portugal, 4a ed., Lisboa, Publicações Europa - América.

A nobreza reconstituída depois da reconquista exercia um do­mínio que declinava com a latitude: mais intenso na Galiza, dimi­nuía no Entre Douro e Minho e mal se fazia sentir ao sul do Douro, onde predominavam as populações dispersas e sem senhor e as organizações municipais. [...]

A localização das beetrias confirma isto mesmo. A beetria é um tipo de organização intermediária entre o concelho e o senhorio feudal; os moradores da aldeia ou da região dependiam de um se­nhor nobre, mas tinham o direito de o eleger. Ora, as beetrias, nu­merosas na Galiza, são já raras no Minho e quase não existem para o sul do Douro. Por essa mesma ordem vai crescendo em relação a elas a proporção dos concelhos, comunidades de moradores em que o senhorio era exercido coletivamente pelos próprios vizinhos.

Julgue você mesmo a questão feudal portuguesa...

Fig. 1 ‘Trovador canta”.

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Qual a língua falada naquela época?No século XII termina a denominada genericamente “Ida­

de das Trevas”, abissalmente voltada ao poder da Igreja e da nobreza, à obediência servil, à agricultura de subsistência. Se­gundo os teóricos da literatura Óscar Lopes e Antônio José Sa­raiva, começo a desenvolver-se a economia mercantil, [...] brotam as vilas e cidades povoadas de burgueses.

Está claro, então, que os países europeus, por meio da de­marcação geográfica, ganharam os contornos semelhantes aos de hoje e acabaram, em razão desse processo, formando uma espécie de “reduto lingüístico” próprio. Portugal e Espanha fa­lavam o galego ou galaico, originário do latim vulgar, que os romanos levaram à Península Ibérica, e ao próprio substrato lingüístico, que esta região juntou à língua romana.

Durante o tempo literário a que damos o nome de Trovadoris- mo (1198(89)) a (1418(34)), em Portugal falava-se o galego-por- tuguês, conhecido também como galaico-português ou, ainda, como português arcaico. Ou seja, foi nessa língua que se produ­ziram os cantares, as novelas de cavalaria (que eram traduzidas de outras línguas), os cronicões, os livros nóbiliárquicos (livros de linhagens), as hagiografias (livros sobre a vida dos santos).

Releia o poema que abre este capítulo, do poeta modernista Mário de Andrade; há nele influência trovadoresca, referência aos primeiros poetas da língua portuguesa.

0 que são cantigas?São poemas feitos para ser cantados, acompanhados de

instrumentos musicais: a flauta doce, o alaúde, o pandeiro, o saltério, os tambores, as violas de arco, triângulos.

Os trovadores faziam tais cantigas para animar a vida dos feudos. Há quase que uma unanimidade quando se informa que esses poetas eram de origem nobre. Por quê?

Em primeiro lugar, porque anotavam suas letras em “ca- deminhos” escritos à mão, chamados códices, ou seja, sabiam ler e escrever e, portanto, puderam ter educação formal com o clero, o que se destinava apenas à nobreza; em segundo lugar, tocavam um instrumento musical, geralmente o alaúde. E mú­sica, na Idade Média, só se aprendia em contato com o clero.

Mais tarde, tais “cademinhos” foram coligidos sob a forma de Cancioneiros.

A primeira cantiga, o primeiro trovador

Fig. 3 Alaúde, o mais sofisticado instrumento trovadoresco.

§AIBA MAISFeche os olhos e imagine um feudo...

O ra et labora. S. Bento.

Fig. 2 Les Três Riches H | Heures du due de

Berry. Juillet the Musée Condé Chantilly.

Um feudo?! Melhor uma beetria... Espécie de cidadela fortifi­cada. Exercitemos nossa imaginação... No alto de uma colina, lá está a fortificação. Uma feira, casas (?!), um castelo, uma igreja com seu sino. Pestes, medo de Deus vingador e cruel. O Senhor (quase) feudal é dono de todas as vidas, e possui po­der de mandar matar e fazer viver. Mal anoitecia e as pessoas, amedrontadas, amontoavam-se para dormir.Imaginemos, ainda, um guardião da torre de vigia; uma tarde pelo meio... Uma estrada estreita que some ao olhar. O vigia fixa os olhos num ponto: pessoas! Observa um grupo vestindo roupas espalhafatosas, extravagantes. Tocam tambores, sal­tam, fazem piruetas no ar. Engolem fogo, produzem música; malabaristas, dançarinas, um coro. São os saltimbancos que chegam para a diversão geral.

Fig. 4 Michelângelo M. Caravaggio. O tocador de alaúde.

Cancioneiros: são coleções de cantigas de todos os gêneros, feitas por nobres e clero; mais tarde foram editados. São três: Vaticana, Bi­blioteca Nacional e Ajuda;

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Leia o texto a seguir e verifique se você reconhece nele algum parentesco com o português atual.

Cantiga da Guarvaia No mundo non me sei parelha, mentre me for como me vai, ca já moiro por vós — e ai!Mia senhor branca e vermelha, queredes que vos retraia quando vos eu vi en saia!Mau dia! me levantei, que vos enton non vi fea!

E, mia senhor, dês aquel d', ai!Me foi a mi mui mal, e vós, filha de Don Paai Moniz, e bem vos semelha d'haver eu por vós guarvaia, pois eu, mia senhor, d'alfaia nunca de vós houve nem hei valia d' ua correa. (séc. XII)

E língua estranha? Não. Está escrito em galego-português ou galaico-português e seu autor é Paio Soares de Taveirós. Composto em 1189 ou 1198, homenageava d. Maria Paes Ri­beiro, preferida do rei d. sancho I, e é o primeiro documento literário português de que se tem notícia em Portugal.

A cantiga acima, que é também conhecida como A Ribeiri­nha, faz parte do Cancioneiro da Ajuda (sob a custódia n° 38) e nela podem ser notados alguns aspectos interessantes:a) é composta por duas estrofes de 8 versos cada uma (oitavas);b) os versos são octossílabos;c) os termos “mia senhor”, citados como vocativos nas duas

estrofes, correspondem ao tratamento “minha senhora”, já que na época não havia pronome de tratamento no feminino;

d) a palavra “guarvaia” designa um manto, vestuário típico da corte, altamente luxuoso e presumivelmente de cor escarla­te, vermelha, segundo a pesquisadora portuguesa Carolina Michaêlis de Vasconcelos;

e) embora a mulher seja citada nominalmente: “filha de Don Paai Moniz”, A Ribeirinha não é cantiga de maldizer; há coi­ta amorosa, vassalagem, amor cortês e é interessante obser­var que quebra uma regra típica: a amada foi vista “en saia” pelo trovador que é possivelmente seu drut ou drudo (aman­te), posto tê-la visto apenas com “roupas de baixo”, íntimas.

Hoje, essa cantiga se escreveria assim:

Nõo sei, no mundo, quem a mim se compare enquanto a minha vida continuar assim deste modo porque morro por ti e ail minha senhora branca e de faces rosadas,Quereis que eu vos retrate (descreva numa cantiga) quando eu vos vi sem manto Maldito dia! Me pus em pé (acordado, levantado) e nõo vos vi feia (viu-a bela).

E, minha senhora, desde aquele dia, aitudo me pareceu muito ruime vós, filha de d. PaiMuniz, bem vos pareceque possa ter eu por vós uma guarvaiapois eu, minha rica senhora,nunca tive nem tenho de vósnecessidade de qualquer coisa (pequena coisa, sem valor)

(Adaptaçõo livre da autora.

Tipos de cantigaSão dois os chamados tipos de cantares medievais:

- Cantigas de amor- -f. Cantigas de amigoLíricos

Satíricos' Cantigas de escárnio- - r Cantigas de maldizer

Suas quatro partições são, em tudo, diferentes entre si. Vejamos, pois, as diferenças entre os tipos de cantigas.

Cantigas líricasAs cantigas líricas são aquelas que ressaltam os sentimen­

tos, sobretudo os amorosos. Estão divididas em dois tipos: amor e amigo, e possuem características muito peculiares, como veremos a seguir.

Cantigas de amor

Fig. 5 O trovador canta sua cantiga de amor.

Quer'eu en maneira de provença/ fazer agora un cantar d'amor.

D. Dinis.1. Nelas, há nítida influência provençal, como podemos, in­

clusive, constatar no trecho em epígrafe, do rei trovador d. Dinis. En maneira provençal pode ser entendido como ao modo de Provença, da maneira requintada e cortês com que se comportavam as pessoas (e os poetas, naturalmente) nas cortes daquela região.

Cantiga da Guarvaia: todo o 1° verso eqüivale à expressão "nõo sei, no mundo, quem a mim se compare"; mentre: enquanto; senhor branca e vermelha: senhora muito branca de faces rosadas; retraia: retrate, pinte; en saia: roupa de baixo, sem manto; vos seme­lha: vos parece; d'haver eu por vós guarvaia: receber, de vós, um luxuoso manto encarnado para freqüentar a corte; valia d 'ua correa: necessidade de qualquer coisa de escasso valor.

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2. O eu lírico apresentado é masculino, ou seja, o trovador expressa seus sentimentos em relação à mulher amada que é, invariavelmente, de classe superior à do trovador.

3. A linguagem usada é mais refinada, evitam-se os refrões e as repetições, e, por serem assim mais sofisticadas, cha­mavam-se cantigas de maestria ou mestria.

D. Dinis e Bernardo Bonaval, no entanto, usaram refrões e paralelismos nas cantigas de amor.

Observe.

A mulher que eu amo e tenho por Senhora Mostrai-a a mim. Deus, se for de Vosso agrado,Se não, dai-me a morte.

A que tenho eu por lume destes olhos meus E por quem choram sempre, mostrai-a a mim. Deus,Se não, dai-me a morte.

Essa que vós fizestes ser tão mais bela De quantas conheço, ai Deus, fazei-me vê-la,Se não, dai-me a morte.

Ai, Deus, que me fizestes mais e mais amá-la,Mostrai-me onde posso com ela falar,Se não, dai-me a morte.

Bernardo Bonaval.

4. Os termos usados pelo trovador para se referir à mulher amada são variados e sempre no masculino: mia senhor, fremosa senhor, mia don (dona).

5. O trovador em geral se queixa da indiferença da mulher amada) faz o que nomeamos como sendo coita amorosa, ou seja, ele é um coitado, infeliz, não recebe o amor a que deveria fazer jus e lamenta por isso.

6. O amor é sempre cortês, mesmo porque a distância social entre o amante e a amada não permitia que houvesse atre­vimentos de qualquer ordem, a não ser quando o trovador, por graça e mercê da senhora, se transformasse em seu drut ou drudo (amante); há, dessa forma, platonismo e distan­ciamento amoroso.

g A l B A MAISObserve o que diz sobre o assunto o prof. Francisco da Sil­veira Bueno em sua célebre Antologia Arcaica, Ed. Saraiva, 2a ed., 1968.

Era um servidor, estava a seu serviço [...] ligado a ela como um vassalo se ligava ao susserano, pronto a todos os sacrifí- cios. Colocava-se a mulher muito alto, muito acima do homem como ideal jamais inatingível. Consistia tal amor numa venera­ção, num culto à beleza, sem que aparecesse uma nota sensual, de volúpia carnal, de ânsia de sexo insatisfeito. Já conta o poeta com o desdém da amada, confessando-se seu escravo, levando a sua "mesura" ao ponto de nunca nomear a fremosa. Era este um dos preceitos do amor platônico e quando o trovador se atreve a dar os nomes das mulheres, há verdadeiro escândalo. {...] Era preceito que devia ser observado, não fazer declarações de amor às donzelas, à "moça en cabello" como se dizia então. Também as viúvas não podiam ser objeto de amor e as freiras entravam neste rol.

Os trovadores medievais, em suas cantigas de amor, influen­ciaram magistralmente, na maneira de dirigir-se à amada, alguns poetas que vieram depois deles. A título de exemplo, observe como Gonçalves Dias, poeta romântico do século XIX, expõe seu amor à mulher amada.

Adeus qu'eu parto, senhora;Negou-me o fado inimigo Passar a vida contigo,Ter sepultura entre os meus;Negou-me nesta hora extrema,Por extrema despedida.Ouvir-te a voz comovida Soluçar um breve Adeus!

"Ainda uma vez - Adeus!". Novos Cantos. 1857.

Cantigas de amigo

1. O eu lírico das cantigas de amigo é sempre feminino, ou seja, o trovador, investido do papel feminino, canta a sauda­de do amado distante, que foi para o fossado ou bafordo (ser­viço militar obrigatório), deixando a amada triste e sozinha.

2. Há, sistematicamente, o uso de repetições de palavras, de versos inteiros, como nos refrões, o que dá a entender que as mulheres fariam cantigas mais simples.

3. O homem amado é de classe superior à da mulher que canta; inverte-se, portanto, a posição social verificada nas cantigas de amor.

4. O amigo/amado, a que se referem as cantigas, deve ser entendido como amante, namorado; outra vez elas se dis­tanciam das primeiras. H á amor erótico nas cantigas de amigo. Não raro, os namorados passaram a noite juntos.

5. A influência é nitidamente popular, de origem ibérica.6. Os cenários, onde se encaixa a moça que chora a ausência

do amado, são rurais, campestres, ligados à natureza: praia, bosque, arredores dos rios, campo, floresta.

eu lírico: "voz do poema"; a voz de quem "fala", expõe sentimentos no poema; mercê: favor, graça, benefício; moça en cabello: virgem donzela, que usa a cabeça descoberta, livre do véu negro com o qual as casadas, cobrindo a cabeça, deveriam assistir à s missas.

Fig. 6 Saudade do amigo distante.

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7. A mulher queixa-se à mãe, à natureza, ao mar, às ondas, à floresta, às aves, às amigas sobre a dor de ter perdido o amado ou se distanciado dele .

8. Geralmente tais cantigas são dialogadas (a mulher pergunta e os seres respondem sobre a sorte ou o paradeiro do amado); tais cantigas são também chamadas de cantigas de tenção.

9. Aparecem na maior parte dos cantares de amigo os versos paralelísticos.

10. A cantiga de amigo usa de maneira ostensiva a descrição; a narração também aparece, uma vez que se “conta” uma história.

Classificação das cantigas de amigoNas cantigas de amigo há uma subclassificação que deve

ser levada em conta, de acordo com alguns acontecimentos queas direcionam.1. Albas: acontece quando os amantes passam a noite juntos

e, entristecidos, veem o dia amanhecer. O amado deve ir embora ao alvorecer. Nelas, os pássaros cantam, avisando que chegou ao fim a noite e é tempo de partir.

2. Barcarolas: são classificadas dessa maneira quando a mu­lher sozinha fala sobre o bafordo ou fossado (serviço mili­tar), lamentando que estejam sendo construídas as barcas do rei, significando que logo os soldados partirão para a guerra.

3. Bailias ou bailadas: narram temas relacionados a festas e bailes onde ambos, após estarem juntos, se separam.

4. Marinhas: o assunto desse tipo de cantiga são os banhos de mar, ocasião notável para que ambos, amado e amada, estivessem juntos.

5. Romaria: narram recordações de um tempo em que, estando ainda o amigo presente, iam em bandos pelas estradas, em companhia de outros casais, visitar os santuários religiosos.

6. Pastorelas: o assunto, sob forma de recordação, é a alegria de estar ao lado do amado pastor e ter passado com ele os melhores dias possíveis.

7. Dialogadas: consistem em diálogos entre a mulher queixosa e a natureza, mãe ou amigas, sempre a perguntar sobre o amado.

8. De fonte, de tear: são cantigas tristes, que falam da saudade, da ausência do amado. Nelas, a amiga está tecendo, buscan­do água, conversando sobre a falta que o amado lhe faz.

Estava a formosa seu fio torcendo,Sua voz harmoniosa, suave dizendo Cantigas de amigo.

Estava a formosa sentada, bordando,Sua voz harmoniosa, suave cantando,Cantigas de amigo.

Por Jesus, senhora, vejo que sofreis De amor infeliz, pois tão bem o dizeis Cantigas de amigo.

Por Jesus, senhora, vejo que andais com penas de amor, pois tão bem cantais Cantigas de amigo.- Abutre comeste, pois que adivinhais.

Cleonice Berardinelli. Cantigas de trovadores medievais em Português moderno. Rio de Janeiro:

Org. Simões, 1953. pp. 58-9

Fig. 7 Iluminura medieval.

Cantigas satíricasAs cantigas satíricas ocupam nos Cancioneiros da Vati-

cana e da Biblioteca Nacional de Lisboa um espaço conside­ravelmente grande. Seus assuntos preferenciais estão ligados ao próprio mundo da boêmia jogralesca da época e aos da corte. Os tipos satirizados são nobres, fidalgos, soldadeiras, jogralesas ou o clero.

Narram-lhes os vícios humanos, costumes desregrados de seres vis, que fugiam às normas de viver em sociedade. Há mexericos, termos obscenos e linguagem especialmente chula. Termos de baixo calão denunciam a sovinice, a pouca- vergonha, a falta de compostura do clero, dos nobres, dos fidalgos e dos próprios componentes dos grupos que as can­tavam. Para tanto, há o uso e abuso do trocadilho malicioso.

Ao todo, existem classificadas hoje 428 cantigas satíri­cas que revelam tanto os bastidores da época na política e no poder da Igreja, quanto os defeitos dos homens comuns. Eram cantadas nos castelos, mas, preferencialmente, pelo tom debochado, nas feiras, em lugares públicos onde existia ajun­tamento de pessoas: praças, saídas das missas.

Cantigas de escárnioSão sátiras indiretas, em que os nomes das pessoas re­

ferenciadas não eram ditos, ou seja, nas cantigas de escárnio não encontramos pessoas nomeadas. Está claro que, dada a brincadeira torpe e a maneira de se evidenciar os maus hábi­tos, os presentes ao local onde eram cantadas sabiam de quem se tratava. Maliciosas, produziam o ridículo para quem era atin­gido por elas.

Page 142: Livros poliedro   caderno 1 português

Veja o exemplo.

Ai dona fea! Fosfe-vos queixar porque vos nunca louv'en meu trobar mais ora quero fazer un cantar en que vos loarei toda via; e vedes como vos quero loar: dona fea, velha, sandial

Ai dona feal Se Deus mi perdonl E pois havedes tan gran coraçon que vos loe en esta razon, vos quero já loar toda via; e vedes qual será a loaçon: dona fea, velha e sandial

Dona fea, nunca vos eu loei en meu trobar, pero muito trobei; mais ora já un bom cantar farei en que vos loarei toda via; e direi-vos como vos loarei: dona fea, velha e sandial

João Garcia de Guilhade, século XIII.

A tençâoiEmbora alguns autores insistam em afirmar que essa can­tiga deva ser considerada como de maldizer, é necessário observar que o nome da "dona feia, velha.e louca" não é citado em nenhum momento, restando apenas uma insi­nuação sobre quem seja; portanto, preferimos considerá- -la como sendo de escárnio.

Por se tratar de cantiga de cunho popular, trocista, e, por­tanto, muito mais dirigida ao escárnio do povo, as cantigas sa­tíricas não raro obedeciam às mesmas condições de construção das de amigo, ou seja, uso de repetições, paralelismos e refrões.

Cantigas de maldizerNelas, a sátira é direta e a pessoa atacada é nomeada

integralmente. A linguagem desse tipo de cantiga é de baixo calão, mesclada de muitos palavrões; atacam o clero, as freiras, os fidalgos e toda a sorte de pessoas que, dentro de suas classes, indiquem decadência moral.

Pero da Ponte é o trovador português mais conhecido da época.

Morto está dom Martim Marcos, ai Deus, se é verdade Sei que com ele está morta a desonestidade,Morta está a parvoice, morta está a vacuidade,Morta está a poltronice e morta está a maldade.

Se dom Martinho está morto sem honra e sem bondade e de outros maus costumes haveis curiosidade, em võo os buscareis desde Roma à cidade; noutro sítio vereis feita a vossa vontade.

De um certo cavaleiro sei eu, por caridade, que vos ajudaria a matar tal saudade.Deixai-me que vos diga em nome da verdade:Nõo é rei nem é conde, mas outra potestade, que nõo direi, que direi, que nõo direi...

Cancioneiro da Vaticana.

Três cancioneiros: 3.162 cantigasOs mais antigos textos literários em língua portuguesa são

composições em versos coligidas em cancioneiros de fins do século XIII e do século XIV. Mas devemos supor muito anterior a tal época o culto da poesia testemunhado por estes textos escritos. A literatura oral, com efeito, só se fixa por escrito em época tardia da sua evolução, quando as condições ambientes já divergem muito daquelas que lhe deram origem. Portanto, seria errado pensar que a poesia portuguesa nasceu com os Cancioneiros; estes não passam de coleções, mais ou menos tardias e limitadas.

A. J. Saraiva e Ó . Lopes. História da Literatura Portuguesa.. 7 ed. São Paulo: Livraria Martins Fontes, s/d.

Ao ler o texto acima, fica fácil depreender que toda lite­ratura advém, antes de ser documentada, de fase tipicamente oral; portanto, boa parte das cantigas trovadorescas acabou se perdendo. Assim, está claro o fato de A Cantiga da Guar­vaia, de 1189(98), de Paio Soares de Taveirós, ser o primeiro registro literário de que se tem notícia. Isso não quer dizer, entretanto, que seja a primeira manifestação trovadoresca.

Três cancioneiros concentram boa parte da produção co­nhecida dos séculos XII, XIII e XIV. Pertenceram a coleciona­dores, a nobres cultos, mecenas da época e também a abadias, mosteiros, conventos e igrejas: Cancioneiro da Ajuda, Can­cioneiro da Biblioteca Nacional (Collocci-Brancuti) e Can­cioneiro da Vaticana.

Por fim, é necessário compreender que tais cancioneiros reúnem cantigas, líricas originais da Cantiga da Ajuda, ou sa­tíricas, de vários trovadores.

Cantioneiro da AjudaCompilado no reinado de Afonso III, é o mais antigo de to­

dos que se tem notícia e é também o menos completo, uma vez que compreende apenas cantigas anteriores ao reinado do (<rei trovador”, d. Dinis, que governou Portugal entre 1268 e 1325.

Contém 310 composições, quase todas classificadas como de amor e o seu colecionador deixou de fora os gêneros menos palacianos, isto é, as cantigas de amigo e as de escárnio ou maldizer [...]. Mas tem o interesse especial de o seu manuscrito pertencer à própria época da maioria dos poetas seus colabo­radores, e é um documento valioso, pela grafia, pela decora­ção e sobretudo pelas iluminuras, que testemunham o caráter

ora: agora, neste momento; toda via: para sempre, sempre; sandia: louca, desajuizada; que vos loe en esta razon: que eu vos louve de maneira merecida, justa; loaçon: louvação, ato de louvar; pero: todavia.

Page 143: Livros poliedro   caderno 1 português

cantado, instrumental e até coreográfico de pelo menos uma parte das suas poesias, integrando-as no conjunto do espetá­culo jogralesco a que se destinavam.

A. J. Saraiva e Ó . Lopes. História da Literatura Portuguesa, op. cit.

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Fig. 8 Cancioneiro da Ajuda.

Somente Martim Codax, que exerceu as funções de jogral na Corte de d. Afonso III, no século XIII, teve a preocupação de deixar transcritas, ainda que de maneira rudimentar, as notações musicais de seis cantigas de amigo das sete que compôs. Os poemas a seguir são os mais co­nhecidos daquela época.

Texto IOndas do mar de Vigo, se vistes meu amigo?E, ai Deus, ele virá logo?Ondas do mar levado, se vistes meu amado?E, ai Deus, ele virá logo?Se vistes meu amigo, aquele por quem suspiro?E, ai Deus, ele virá logo?Se vistes meu amado,por quem tenho muito cuidado?E, ai Deus, ele virá cedo?

• Trata-se de uma cantiga de amigo porque o eu lírico é feminino (a referência é para o amigo, o amado).

• Há presença do refrão em todas as estrofes (não se esque­cer de que o refrão é o verso final de cada estrofe e que deve ser integralmente repetido).

• Há paralelismo integral apenas nas duas primeiras estro­fes; nas outras duas, o paralelismo é parcial.

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Texto IIQuantas sabedes amar amigo Treydes comig'a Io mar de Vigo E banhar-nos-emos nas ondas.Quantas sabedes amar amado Treydes comig'a Io mar levado E banhar-nos-emos nas ondas.Treydes comig'a Io mar de Vigo E veeremo'lo meu amigo E banhar-nos-emos nas ondas.Treydes comig'a Io mar levado E veeremo-lo meu amac/o E banhar-nos-emos nas ondas.

Cancioneiro da B ib lio teca N acionalEssa coletânea de cantigas trovadorescas é também co­

nhecida como Collocci-Brancuti, em uma evidente home­nagem aos seus donos anteriores, mecenas que protegiam as artes. Trata-se apenas de uma cópia italiana feita no século XVI e é rica em conteúdo: 1.647 cantigas de todos os tipos, incluindo a obra de d. Dinis e de seus filhos (o principal espólio é do Conde de Barcelos, chamado d. Pedro).

Os professores óscar Lopes e A. J. Saraiva acreditam que, pelo fato de muitos poemas constantes nesse cancionei­ro e no da Vaticana serem idênticos, não se pode desprezar a hipótese de que estejamos em presença de sucessivas cópias de uma mesma coleção.

Texto IIIEn gran coita, senhor, que peior que mort'é, vivo, per boa fé, e polo voss'amor

esta coita sofr'eu por vós, senhor, que eu Vi polo meu gran mal, e melhor mi será de morrer por vós já e, pois meu Deus non vai,

esta coita sofr'eu por vós, senhor, que eu Polo meu gran mal vi, e mais mi vai morrer ca tal coita sofrer, pois por meu mal assi

esta coita sofr'eu por vos, senhor que eu Vi por gran mal de mi pois tan coitad'and'eu.

jogral: era um músico, mas que tinha também outras funções: fazer rir, fazer acrobacias, imitar as pessoas; quantas: todas aquelas que; sabedes: sabeis; Treydes: vinde; Vigo: cidade da região da Galiza, famosa pela peregrinação de jovens que esperavam, na época, a volta dos barcos com os rapazes que retornavam do serviço militar; leva­do: elevado, cheio de ondas, ondulado; veeremo: veremos; coita: sofrimento; senhor: senhora, dona; per boa fé: com toda a verdade; ca: do que.

Page 144: Livros poliedro   caderno 1 português

Apesar de tratar-se de uma cantiga de amor, há repetições, inversão dos versos.

O uso do refrão, sistemática típica das cantigas de amigo, aparece no poema visando dar mais musicalidade, ou, então, integrar a comunidade da corte na canção.

Cantioneiro da VatitanaChama-se da Vaticana porque foi encontrado na Biblioteca

do Vaticano, em Roma, onde foi preservado. N ele estão conti­das 1.205 cantigas e misturam-se todos os gêneros: amor, ami­go, escárnio e maldizer.

Texto IVLevad', am igo, que dorm ides as manhãas frias;

todalas aves do mundo d 'am or dizian:

leda m 'and'eu!

Levad', am igo, que dorm ide'-las frias manhãas;

todalas aves do mundo d 'am or cantavan:

leda m 'and'eul

Todalas aves do mundo d 'am or dizian;

do meu am or e do voss'en m ent'avian:

leda m 'and'eu!

Todalas aves do mundo d 'am or cantavan;

do meu am or e dos voss'i enmentavan:

leda m 'and'eul

Do meu am or e do voss'en m ent'avian;

vós Ihi tolhestes os ramos en que siian:

leda m 'and'eul

Do meu am or e do voss'i enmentavam;

vós Ihi tolhestes os ramos en que pousavam: leda m 'and'eul

Vós Ihi tolhestes os ramos en que siian

e Ihi secastes as fontes en que bevian:

leda m 'and'eu!

Vós Ihi tolhestes os ramos en que pousavam

e Ihi secastes as fontes u se banhavan:

leda m 'and'eu!

Como se vê, trata-se de uma cantiga de amigo. Veja o que diz o prof. Massaud Moisés sobre ela em sua obra:

A Literatura Portuguesa Através de Textos, Ed. Cultrix, p. 24.

Como se nota, esta alba, um dos raros exemplos no gênero

dentro da lírica trovadoresca portuguesa, encerra o m onólogo da

moça ao amanhecer, desperta pelo canto da passarada: ao mesmo

tempo que sua alegria de am ar parece comunicar-se às aves ou

nelas encontrar sua expressão musical, a jovem exorta o amante a

levantar-se e a com ungar com ela da festiva revoada que a cobre

e a encanta.

Massaud M oisés diz ser raro o exemplo porque, nas canti­gas de amigo, o amado, em sua plena maioria, está em ausência.

Levad: levantai; leda: contente, feliz; i: aí, po r aí, nos cantos; en ment'i siian: pousavam .

Fig. 10 D. Dinis.

Na noite escreve um seu cantar de am igo

O plantador de naus a haver,

E ouve um silêncio murmuro consigo:

E o rum or dos pinhais que, como um trigo

De Im pério, ondulam sem se poder ver.

A rroio, esse cantar, jovem e puro,

Busca o oceano por achar;

E a fa la dos pinhais, m arulho obscuro,

É som presente d'esse m ar futuro,

E a voz da terra ansiando pelo mar.

Fernando Pessoa. "D . D in is". M en sagem .

ian: traziam na mente, referiam-se a; enmentavan: na mente estavam;

Fig. 9 Trovador cantando em uma corte.

Um rei trovador

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Page 145: Livros poliedro   caderno 1 português

No final do século XIII, Portugal conheceu os “cantares” de d. Dinis (1261-1325), comumente conhecido como “o rei trova­dor”. Filho de d. Afonso III, a quem se deve a fixação da cor­te portuguesa em Lisboa; foi educado por franceses (teve como mestre Aiméric d’Ebrard, bispo de Coimbra que transmitiu-lhe fundamental conhecimento sobre a poesia provençal); sabia tocar o alaúde e compôs cerca de 150 cantigas (76 de amor, 52 de ami­go, 10 de maldizer e 12 cantigas mistas).

Registra a História de Portugal que em seu reinado Registra a História d e Portugal que, em seu reinado, "Protegeu,

pois com larga generosidade as letras, tanto o s trovadores com o os

poetas populares (jogra is); fundou, em 1290, a Universidade portu­

guesa , fez traduzir grande parte das obras elaboradas so b o s auspí­

cio s d o avô , A fonso X , d e Leão e Castela , o grande co rpo legislativo

Las siete partidas, a C rôn ica G en era l, o Livro d o mouro Rasis.

Coleção Presença da Literatura Portuguesa, Sgismundo Spina. Presença de Literatura Portuguesa - Era Medieval. 9 ed. Bertrand do Brasil,

1991. p. 35.

Seus poemas encontram-se coletados no Cancioneiro da Vaticana e no da Biblioteca Nacional. Especialista em captar a alma feminina e seus meandros, d. Dinis é autor de uma das mais conhecidas cantigas medievais portuguesas:

Texto VA i flores, a i flores do verde pinho,S e soubésse is notícias do meu am igo?

A i, D eus, onde e le está?

A i flores, a i flores do verde ramo,S e soubésse is notícias do meu am ado?

A i, D eus, onde e le está?

S e soubésse is notícias d o meu am igo,A que le que mentiu do que com binou com igo?

Ai, D eus, onde e le está?

S e soubésseis notícias do meu am ado,A que le que mentiu do que jurou com igo?

A i, D eus, onde e le está?

Vós m e perguntastes pe lo vosso am igo?E eu bem vos digo que está sã o e vivo:

A i, D eus, on de e le está?

Vós m e perguntastes pe lo vosso am ado?E eu bem vos digo que está vivo e são

A i, D eus, onde e le está?Eu bem vos d igo que está sã o e vivo,E estará convosco antes do prazo passado :

A i, D eus, onde e le está?

E eu bem vos d igo que está vivo e são ,E estará convosco quando passa r o p razo :

A i, D eus, onde e le está?

Estudemos a estrutura da cantiga:a) Existem nela inúmeras repetições, expedientes típicos das

cantigas de amigo.b) Pode-se observar um perfeito exemplo de cantiga dialo­

gada, conhecida ainda como tenção. Observe que a moça enamorada dirige-se à natureza (pinheiros) e que esta lhe responde às perguntas sobre o namorado.

c) Observe, ainda, a presença de paralelismo.d) Há a presença do refrão (A i, D eus, on de e le e stá ? ).

e) Esta é a mais famosa cantiga de d. Dinis, tendo gerado, inclusive, a epígrafe de Fernando Pessoa.

^TENÇÃO!O fa to de as cantigas, sobretudo as de am igo, fazerem

uso corrique iro do refrão pressupõe a existência de um coro, ou seja, de um grupo especialmente criado para repetir os versos e, consequentemente, d a r m aior impulso m elódico aos poemas cantados, vivacidade e vibração, posto que, presumivelmente, tam bém se dançasse ao som das cantigas.

0 que é afinal paralelismo?Em primeiro lugar, são chamados também de versos para-

lelísticos e usaremos a definição de A. J. Saraiva:[ . . .] denominadas paralelísticas p o r serem constituídas p o r duas

séries de estrofes paralelas. C ada série é formada p o r duas estrofes,

só diferentes nas palavras terminais, que mudam a rima conservando

o sentido; cada estrofe é formada p o r dois versos, acrescidos sem pre

d e um refrão.

Texto VIAm iga, muit'á gran sazon

que s e foi d 'aqu i com el-rei

meu am igo; mais já cuidei

mil vezes no meu coraçon

que algur morreu com pesar,

pois non tornou m igo falar.

Porque tarda tan muito lá,

e nunca m e tornou veer,

am iga, s i veja prazer,

mais d e mil vezes cuidei já

que algur m orreu com pesar,

pois non tornou m igo falar.

Am iga, o coraçon seu

era de tornar ced 'aqu i

u visse o s m eus o lhos en mi;

e p o r en mil vezes cu id 'eu

que algur(40) morreu com pesar,

po is non tornou m igo falar.

D. Dinis. Cancioneiro da Biblioteca Nacional.

meandros: labirintos. As expressões prazo passado e passar o prazo referem-se a concluir o serviço militar; muit'á gran sazon: há muito tempo; cuidei iá: imaginei, pensei;'algur: alguém, ele.

Page 146: Livros poliedro   caderno 1 português

Observe que se trata de cantiga de amigo: a amada queixa-se à amiga (vocativo que abre a primeira e última estrofes) da au­sência do ser amado que se foi daqui com el-rei, deixando claro tratar-se de alguém que partiu em companhia do rei, para a guerra ou o serviço militar, em treinamento.

Como é típico de d. Dinis, que era poeta requintado, ape­sar de tratar-se de cantiga de amigo, evita-se o paralelismo. A cantiga citada é, por isso, mais refinada, embora não dispense o refrão com dois versos, o que era raro.

As novelas de cavalaria

1. Gdo greco-latino (dássico)Constituído por influência dos heróis gregos e romanos

que, pela manipulação da Igreja aos mitos pagãos da Antigui­dade, são convertidos em heróis medievais, cavaleiros a serviço de Cristo. Pertencem a ele O Romance de Enéas, O Romance de Troia e O Romance de Tebas.

Em Portugal, é o que menos influenciou o culto às novelas.

2. Gdo carolíngioAqui, os assuntos dizem respeito às ações de Carlos Magno

e os Doze Pares de França. Revestem-se de caráter guerreiro e têm como objeto as lutas francesas contra os mouros. Entre to­das as novelas pertencentes a esse ciclo, destaca-se A Canção de Rolando. Rolando é o sobrinho de Carlos Magno que, frente às lutas contra os mouros, é derrotado em Roncesvales.

Fig. 1 1 A colina de Glastonbury comumente associada à mítica Ilha

de Avalon, onde a espada Excalibur fora forjada.

As novelas de cavalaria representam o que há de melhor na prosa da época trovadoresca; foram originárias das canções de gesta, canções guerreiras, em versos, cujo centro eram heróis ou até mesmo rebeldes, visionários, lendários por suas ações em prol do bem comum.

Ainda não se sabe como tais manuscritos passaram para o galaico-português; no entanto, é certo que antes de virem para o português, foram traduzidos para o francês e daquela língua para a nossa língua, ainda em português-arcaico.

Caso desejemos observar bem a influência da igreja da épo­ca, tomemos como exemplo a própria Demanda do Santo Graal. O graal é o vaso em que José de Arimateia teria recolhido o sangue derramado por Jesus na cruz: Galaaz, o herói dessa his­tória, é puro de coração, virgem de corpo e, para ter consigo o vaso, deveria cultivar a virtude e a religiosidade. Escolhido por Deus, é ele que vai conseguir, por meio de muitas peripécias, trazer a Camelot o Graal e salvar a vida de Arthur.

A Demanda notabiliza-se pela moralidade, pelos princí­pios da religião e pela resistência do herói com o auxílio da fé.

Ciclos dos novelos de cavalariaPodemos considerar claramente a existência de três ciclos

nas novelas de cavalaria.

Fig. 12 Trono de Carlos Magno, na Catedral de Aachen, Alemanha.

3. Gdo bretão ou arturianoA organização dos assuntos desse ciclo gira em tomo dos fei­

tos do rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda. De todos os ciclos, apenas o bretão destacou-se em Portugal, tendo sido largamente apreciado. Certamente que as adaptações portuguesas ou castelhanas de tal ciclo foram feitas primeiramente por jograis peninsulares, ao final do séc. XIII, na corte de Afonso m.

Tudo indica ser dessa época a tradução e a adaptação des­sas novelas à língua falada na Península, embora nunca se tenha conseguido determinar de maneira precisa como tais traduções tenham sido feitas, quem as tenha realizado e quando passaram a fazer parte do acervo português.

Entre todas as novelas que formam esse ciclo, uma especial­mente se destaca: A Demanda do Santo Graal. Há nela a inversão total dos valores cultivados na época: em vez de divertir, a obra tem feição moralizante; o amor que inspira cantigas e penares é todo dedicado a Cristo e a Deus, sendo considerado pecado todo amor que transcenda a natureza mística e alcance a condição car­nal. Dessa forma é que Galaaz, filho de Sir Lancelote do Lago, deverá manter-se puro de corpo e alma para vencer a maior bata­lha de sua vida: trazer o Graal, que restauraria a saúde de Arthur e a paz de Camelot

Desse ciclo, foram traduzidas para nossa língua: A Deman­da do Santo Graal, A História de Merlim e José de Arimateia.

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Page 147: Livros poliedro   caderno 1 português

A Demanda do Santo GraalDemanda quer dizer busca, e o Santo Graal é o cálice, vaso

sagrado em que José de Arimateia, rico comerciante convertido e seguidor de Jesus, teria recolhido o sangue do Mestre na cruz. Se­gundo a lenda, tal vaso estaria a salvo, escondido em algum lugar do mundo (quem sabe se até na Inglaterra?) e, abençoado que era, podia produzir milagres: restaurar a saúde de quem bebesse o vi­nho que em seu fundo repousasse de um dia para outro, equilibrar pátrias, restaurar a tranqüilidade das pessoas, determinar tempos de calmarias sem guerra.

Fíg. 13 Arthur e o s cavaleiros da Távola Redonda.

A história da Demanda é a seguinte:Estavam os cavaleiros arturianos ao redor da Távola Re­

donda, celebrando a véspera de Pentecostes. Eram 150 homens devotados ao rei Arthur e ao seu reino: Camelot, que passava por dura época de desgraça. O rei estava doente, estavam mal as colheitas, havia pestes e pobreza.

Naquela noite, durante as orações, apareceu levitando so­bre a mesa, de maneira breve, mas indicativa de caminhos a se­rem tomados, o santo vaso. Uma espécie de mensagem divina para que os cavaleiros saíssem em busca do Graal.

O filho de Lancelote do Lago, Galaaz, adolescente ingênuo e virgem, adentrou o recinto e sentou-se na “saeda perigosa”, a cadeira perigosa na qual sentavam-se apenas os destemidos, os que, aceitando as “demandas” em nome do rei e do reino, iam lutar em nome de Deus. O rei e os cavaleiros entenderam, assim, que Galaaz era o eleito para a busca do Santo Cálice.

Lancelote retirou-se com o filho e uma donzela para uma igreja próxima do lago, e nomeou-o cavaleiro de Arthur. Galaaz, depois de receber nas mãos Excalibur, a espada do rei, ouviu ao alvorecer uma missa e saiu demandando em companhia de alguns cavaleiros.

Aqui, a história se embaraça, há digressões e é claro que o maravilhoso funde-se ao que se pretende real. Galaaz é tenta­do de todas as formas. A narrativa ganha contornos de contos populares, funde-se a eles, quando aparecem reis feiticeiros, infantas, bruxas, cavalos voadores, enigmas, traições.

Depois de mortos os companheiros ilustres que demanda­vam com Galaaz, este vai encontrar o vaso sagrado em Sarras, em uma igreja, e trazê-lo de volta a Camelot.

A narrativa tem seqüência com a história dos amores adul- terinos entre Sir Lancelote e a rainha D. Genevere (Ginebra, Guinévère). Em alguns trechos traduzidos do francês, fica clara a intenção de evidenciar o fato de Galaaz ser filho desses amo­res impuros.

Tais narrativas, por certo, analisando-se o tom, a musicali­dade, devem ter sido feitas com o intuito de encantar a nobreza, o clero e até mesmo a burguesia, em leituras para auditórios. Em um mundo de analfabetos e em uma época em que a Igreja tinha grande poder político, é perfeitamente compreensível o encanto dessas leituras.

Fragmento IMais ora leixa o conto falar deles e torna a Galaaz, ca muito há

gram peça que se calou dele.

Conta a estória que, pois que o boô cavaleiro se partiu de Persival e que o livrara dos XX cavaleiros que o perseguiram polo donzela, entrou no vã caminho da froesta e andou pois muitas jor­nadas, aas vezes acá, aos vezes alá, assi como a ventura o levava.

E depois andou gram peça pelo reino de Logres em muitos logares u lhe diziam que havia aventuras de acabar, tornou-se contra o mar, assi como as vontade lhe deu.

Um dia lhe aveo que a ventura o levou per ante uu castelo, u havia uu torneo forte e maravilhoso; e havia i gram gente da ua parte e da outra, e dos da Meda Redonda havia i muitos, uus que ajudavam os de dentro, e outros os de fora, e nom se conheciam, polas armas que haviam cambadas. Mais aquela hora que veo i Galaaz, eram os de dentro tam desbaratados, que nom atendiam se morte nom. E Tristam, que a ventura adussera aaquel torneo e que ajudava os de dentro, sofrerá já i tanto que tinha já mui grandes III chagas, ca todolos de fora estavam sobre ele polo prenderem, porque viram que era melhor cavaleiro que nehuu dos outros; e nom havia i tal dos outros que lhe tanto mal fezesse como Galvam e Estor, que eram da outra parte, e nom no conheciam, e pero el se defendia tam vivamente, que todos os que o viam eram mara­vilhados. Galaaz estava já muito preto da porta, e viu ante si uu cavaleiro mal chagado, que saíra do torneo e ia fazendo tam gram doo, que nom vistes maior. E Galaaz se chegou a ele e preguntou-o porque fazia tam gram doo:

— Por quê? Disse el: polo milhor cavaleiro do mundo, que vejo morrer por grã maa-ventura, cá todo mundo é contra el, assi como veedes, e ainda nom quer leixa r o torneo.

— E qual é? Disse Galaaz.E el lho mostrou.— Par Deus, disse Galaaz, verdadeiramente el é mui boõ cava­

leiro. Assi Deus vos Salve, dizede-me como há nome.Senhor, disse el, há nome dom Tristam.

boô: bom; gram peça: muito tempo, um grande pedaço; adussera: trouxera, tam gram doo: ter piedade, dó, fazer dó; leixar: deixar; dizede-me como há nome: dizei-me qua(,é o vosso nome.

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Fragmento II— Quanto a mim, prometo agora a Deus e a toda cavalaria

que, de manhã, se me Deus quiser atender, entrarei na demanda do Santo Graal, assim que a manterei um ano e um dia e, porven­tura mais; e ainda mais digo: jamais voltarei à corte, por cousa que aconteça, até que melhor e mais meu prazer veja o que ora vi, mas se nõo puder ser, voltarei então.

Quando os cavaleiros da Távola Redonda ouviram que aquele era Galvão e viram o que disse, pararam até de comer; mas assim que as mesas foram tiradas, foram todos ante o rei e fizeram aquela promessa que fizera Galvão, e disseram que jamais deixariam de andar até que vissem a tal mesa e tão sabo­rosos manjares e tão bem preparados, como eram aqueles que aquele dia comeram, se era cousa que lhes outorgada dosse por dificuldade e por esforço que sofrer pudessem.

E quando o rei viu que todos haviam feito esta promessa, teve grande pesar e grande amargura em seu coração porque viu que não podia fazê-los voltar atrás de modo algum. E disse a Galvão:

— Vós me haveis morto e escarnecido porque por esta promes­sa que fizestes, me tirastes a melhor companhia e a mais leal que nunca houve no mundo — a companhia da Távola Redonda; por­que, depois de partirem daqui, sei bem que não tornarão tão cedo, antes morrerão muitos nesta demanda, porque não terá tão cedo fim como cuidais; e por isso me pesa, porque sempre lhes fiz honra de todo o meu poder, e lhes quis bem e quero, como se fossem meus irmãos e meus filhos. E por isso, me é grave a sua partida, e quando eu, que os costumava ver e ter sua companhia, os nõo vir, grande dor sofrerei e grande pesar.

Depois que isto disse, o rei começou a pensar muito; e ele pensando, começaram-se-lhe ir as lágrimas dos olhos pelas faces, assim que todos o viram. E, ao cabo de um tempo, disse de modo que todos ouviram:

— Galvão, Galvão. VÓs me metestes tão grande pesar no co­ração, que jamais sairá até que desta demanda veja o fim, porque terei grande pesar e pavor de perder nela meus amigos.

— Ai, senhor, disse Lancelote, que dizeis? Tal homem como vós não deveria ter pavor, mas ânimo e boa esperança. Certamente, se morrêssemos todos nesta demanda, maior honra seria de que morrer em outro lugar.

— A , Lancelote, disse o rei, o muito grande amor que sempre tive por vós e por eles me faz isto dizer. E nõo é grande maravilha, se tenho grande pesar, porque nunca rei cristão teve tantos cavalei­ros, nem tantos homens bons à sua mesa, como hoje tenho, nem terá jamais. E por isso receio que jamais estarão reunidos aqui nem em outro lugar, como agora estão."

A influência da matéria bretã foi tão grande em Portugal que tais novelas foram lidas sistematicamente naquele país até o século XVI, com inúmeras traduções, influenciando, inclusive, o aparecimento de uma novela tipicamente peninsular denominada Amadis de Gaula. Em crônica de Zurara, no século XV, atribui- -se ao português Vasco de Lobeira a feitura de tal romance.

Mais provável, no entanto, é que seja herança ibérica e, portanto, obra portuguesa e castelhana, em um tempo em que as cortes, muito próximas, e as línguas idênticas, geraram ri­quezas intelectuais muito assemelhadas:

Em qualquer caso, o Amadis é uma obra peninsular, contem­porânea ainda da primeira fase da poesia de corte medieval, e mais representativa do que a Demanda do Santo Graal da ga- lanteria palaciana peninsular refletida nas cantigas de amor. Só conhecemos, aliás, uma versão certamente já muito "polida"e floreada pela galanteria ainda mais requintada do Renascimento, da qual veio a ser, por seu turno, um dos principais paradigmas.

A. J. Saraiva e Ó . Lopes. História da Literatura Portuguesa, op. c/f.

O texto de Amadis de Gaula nos conta a lenda de que ele era filho de Elisena e do rei Perion; fruto espúrio de amores clandestinos, foi abandonado pelos pais nas águas do mar.

Foi salvo, no entanto, por rica e gentil família que, pos­teriormente, encaminhou-o para ser pajem da Infanta Oriana. Portanto, pajem de um a princesa. Está claro que o gentil donzel não apenas guardou Oriana, mas também ficou por ela inteira­mente apaixonado.

Por seu amor, ou movido por ele, entregou-se a combates assombrosos; destruiu gigantes, monstros e dragões. E, portan­to, o cavaleiro ideal. Tímido, delicado com a amada, mas vigo­roso no combate, não teve coragem de se declarar a ela.

Por fim, acusado de infidelidade por sua “dona” e senhora, resolveu retirar-se do convívio do mundo, fazendo-se ermitão. Mas foi impedido por Oriana. E, prêmio dos prêmios, quando os dois, finalmente a sós, ficaram juntos na floresta, ela se ofe­receu a ele e, sobre o manto da donzela, Amadis a possuiu.

Casaram-se por fim e foram felizes.Como se pode observar, há uma enorme diferença de

enfoque moralista entre essa novela e a Demanda do Santo Graal. Nesta última, a preocupação é religiosa, de pureza do corpo e da alma; em Amadis, a virtude não é empanada pelo amor corporal, visto não como pecado, mas como dádiva que se compartilha.

í O2z Os5 O

Galvão: cavaleiro da Távola Redonda, após ver o cálice sagrado flutu­ando sobre a mesa, assim se pronuncia.

H n u d í ô t J e @ a u l4 .

X o s q n a t r o l i f o o õ c e 2 lm a a í0 i> p u l a n u e

l u m e u t e í m p í d K J e

% E E B v l£Fig. 14 Capa do livro Amadis.

Page 149: Livros poliedro   caderno 1 português

Revisando

M M Fuvest Leia.Coube ao século XIX a descoberta surpreendente da nossa primei­

ra época lírica. Em 1904, com a edição crítica e comentada do Can­cioneiro da Ajuda, por Carolina Michaêlis de Vasconcelos, tivemos a primeira grande visão de conjunto do valiosíssimo espólio descoberto.

Rocha Pimpão.a) Qual é essa “primeira época literária portuguesa”?

b) Que tipos de composições se cultivavam nessa época?

D Comente o seguinte trecho.As cantigas de amor e de amigo formam a própria base da poesia líri­

ca portuguesa e brasileira, oferecendo sugestões temáticas e formais a inú­meros autores (Garrett, Gonçalves Dias, Manuel Bandeira, entre outros).

Massaud Moisés.

c[a] avendo-mi vos desamor, u vos amei sempr'a servir, des que vus vi, e des enton m'ouvestes mal no coraçon.

D. Feran Paes. Cancioneiro da Ajuda.

Texto II (frag.)Por Deus vos rogo, madre, que mi digades que vos mereci, que mi tanto guardades d'ir a San Leuter falar com me'amigo?Nunca vos fiz ren que no devess'a fazer, e guardades-me tanto que no ey poder d'ir a San Leuter falar com me'amigo?"

Lopo Jograr. Cancioneiro da Vaticana.

Explicite pelo menos três características que possam ser usadas para diferenciar a cantiga de amor e a cantiga de amigo apre­sentadas.

____________________________________________________________________ _____ K B Explique por que, no contexto medieval, os trovadores____________________________________________________________________ _____ valiam-se do recurso do refrão e do paralelismo nas cantigas

de amigo.D Levando em consideração os trechos: _____________________________________________________________________

Texto I (frag.) _____________________________________________________________________Com vossa graça, mia senhor _____________________________________________________fremosa! Ca me quer'eu ir, _______________________ _______________________________e venho-me vus espedir, _____________________________________________________porque mi fostes traedor; _____________________________________________________

C A C iu u u b p iu p u b iu b hhhhhhmmhhhhhmh

l i Dadas as afirmativas: BI Dadas as três afirmativas:1 1. Os cantares de amigo, do ponto de vista estético, são su­ 1. 0 instrumento lingüístico da produção literária medieval da

periores aos cantares de amor. primeira época é o galego-português.11. Nos cantares de amor, o trovador faz a coita amorosa. II. As cantigas de amigo refletem mais a influência provençal.III. Os cantares de amigo caracterizam-se por um forte idealis­ III. Do sul da França, na Provença, vem a influência para os

mo; os de amor são realistas e objetivos, às vezes cruéis. cantares de amor.Responda de acordo com o seguinte código: Responda de acordo com o seguinte código:(a) se apenas a 1 for correta. (a) se apenas a 1 for correta.(b) se apenas a II for correta. (b) se apenas a II for correta.(c) se apenas a III for correta. (c) se apenas a III for correta.(d) se a 1 e a II forem corretas. (d) se a 1 e a II forem corretas.(e) se a 1 e a III forem corretas. (e) se a 1 e a III forem corretas.(f) se a II e a III forem corretas. (f) se a II e a III forem corretas.

t) se as três forem corretas. (g) se as três forem corretas.

Page 150: Livros poliedro   caderno 1 português

E l Dadas as três afirmativas:I. Há na produção trovadoresca quatro tipos de cantigas líri­

cas: de amor, de amigo, de escárnio e de maldizer.II. Há três cancioneiros da fase trovadoresca: da Vaticana, da

Biblioteca Nacional de Lisboa, da Ajuda.III. D. Dinis é o mais importante trovador português da Idade Média. Responda de acordo com o seguinte código:(a) se apenas a I for correta.(b ) se apenas a II for correta.(c) se apenas a III for correta.(d ) se a I e a II forem corretas.{©) se a I e a III forem corretas.(f) se a II e a III forem corretas.(g) se as três forem corretas.

d Assinale a alternativa correta quanto à produção trova­doresca.(a) Há predominância da poesia satírica.(b ) Há predominância de um tipo de poesia que podemos cha­

mar de sacra ou religiosa.(c) As cantigas estão, de certa forma, intimamente ligadas à

cultura greco-romana.(d ) Ainda não aparece naquela época a poesia como hoje nós

a conhecemos e sim uma produção poética intimamente ligada à música.

í) A prosa aparece exclusivamente como irradiadora das fon­tes do cristianismo.

D Por Trovadorismo, entende-se:(a) manifestação literária de origem provençal e renascentista

que se compõe de prosa (cavalaria) e poesia ligada à música.(b ) período literário no qual prevaleceu a literatura ligada à mú­

sica, em uma situação filosófica e religiosa em que predo­minou o pensamento teocêntrico.

) época medieval da literatura portuguesa: poesia palaciana, medida nova e novelas de cavalaria.

(d ) escola literária subjetiva, de caráter épico, acontecida no finai da Idade Média (séculos XII a XV).

i) manifestação ligada ao classicismo greco-latino, com pre­dominância do anseio antropocêntrico.

Q j Fatec O paralelismo, uma técnica de construção literária nas cantigas trovadorescas, consistiu em:

i) unir duas ou mais cantigas com temas paralelos e recitá- -las em simultaneidade.

(b) um conjunto de estrofes ou um par de dísticos em que sem­pre se procura dizer a mesma ideia.

;) apresentar as cantigas, nas festas da corte, sempre com o acompanhamento de um coro.

(d ) reduzir todo o refrão a um dístico.1} pressupor que há sempre dois elementos paralelos que se

digladiam verbalmente.

Q Leia.No mundo nom me sei parelha, mentre me for como me vai, ca já moiro por vós - e ai! mia senhor branca e vermelha; queredes que vos retraia quando vos eu vi en saia!Mau ia me levantei que vos enton non vi fea

O poema citado é o primeiro documento literário português. Foi es­crito para Maria Paes Ribeiro, amante de d. Sancho I, no final do século XII (1198 ou 1189). Entre as alternativas a seguir, encontre, respectivamente, 0 autor e a língua em que o poema foi escrito.(a) Mestre de Avis, galego-português.(b) Fernão Lopes, galaico-português.(c) Paio Soares de Taveirós, galaico-português.(d ) Martim Codax, galego-português.

) Paio Soares de Taveirós, galego-italiano.

As questões 8 e 9 baseiam-se em uma cantiga trovadoresca e sua paráfrase:

Sedia Ia fremosa seu sirgo torcendo Sedia Ia fremosa seu sirgo torcendo,As voz manselinha fremoso dizendo Cantigas d'amigo.

Sedia Ia fremosa seu sirgo lavrando,As voz manselinha fremoso contonc/o Cantigas d'amigo.

— Par Deus de Cruz, dona, sei que havedes Amor mui coitado que tan bem dizedes Cantigas d'amigo.

— Par Deus de Cruz, dona, sei que andades D'amor mui coitada que tan bem cantades Cantigas d'amigo.

— Avuitor comestes, que adivinhades.Estêvão Coelho. Cancioneiro da Vaticana, Cantiga n. 321.

Estava a formosa seu fio torcendo Estava a formosa seu fio torcendo,Sua voz harmoniosa, suave dizendo Cantigas de amigo.

Estava a formosa sentada, bordando,Sua voz harmoniosa, suave cantando,Cantigas de amigo.

Por Jesus, senhora, vejo que sofreis De amor infeliz, pois tão bem dizeis Cantigas de amigo.

Por Jesus, senhora, eu vejo que andais Com penas de amor, pois tão bem cantais Cantigas de amigo.Abutre comestes, pois que adivinhais.Cleonice Berardinelli. Cantigas de trovadores medievais em Português

moderno. Rio de Janeiro: O rg. Simões, 1953. pp. 58-9.

Page 151: Livros poliedro   caderno 1 português

Vunesp O paralelismo é um dos recursos estilísticos mais comuns na poesia lírico-amorosa trovadoresca. Consiste na ênfase de uma ideia central, às vezes repetindo expressões idênticas, palavra por palavra, em série de estrofes paralelas. A partir dessas observações, releia o texto de Estêvão Coelho e responda.a) O poema se estrutura em quantas séries de estrofes para­

lelas? Identifique-as.b) Que ideias centrais são enfatizadas em cada série pa-

ralelística?

n Vunesp Considerando-se que o último verso da cantiga caracteriza um diálogo entre personagens; considerando-se que a palavra abutre grafava-se avuytor, em português arcaico; e considerando-se que, de acordo com a tradição popular da épo­ca, era possível fazer previsões e descobrir o que está oculto, comendo carne de abutre. Mediante estas três considerações:a) identifique a personagem que se expressa em discurso

direto, no último verso do poema.b) interprete o significado do último verso, no contexto do poema.

Dl Mackenzie Em meados do século XIV, a poesia trovado­resca entra em decadência, surgindo, em seu lugar, uma nova forma de poesia, totalmente distanciada da música, apresentan­do amadurecimento técnico, com novos recursos estilísticos e novas formas poemáticas, como a trova, a esparsa e o vilancete. Assinale a alternativa em que há um trecho representativo de tal tendência.(a) Non chegou, madre, o meu amigo,

e oje est o prazo saidolAi, madre, moiro d’amor!

(b) Êstes olhos nunca perderán, senhor, gran coita, mentr’eu vivo fôr; e direi-vos fremosa, mia senhor, dêstes meus olhos a coita que han: choran e cegan, quand’alguém non veen, e ora cegan por alguen que veen.

(c) Meu amor, tanto vos amo, que meu desejo não ousa desejar nehua cousa.Porque, se a desejasse,logo a esperaria, e se eu a esperasse, sei que vós anojaria: mil vezes a morte chamo e meu desejo não ousa desejar-me outra cousa.

(d) Amigos, non poss’eu negar a gran coita que d’amor hei, ca me vejo sandeu andar,e con sandece o direi: os olhos verdes que eu vi me fazen ora andar assi.

(e) Ai! dona fea, foste-vos queixarpor (que) vos nunca louv’em meu cantar; mais ora quero fazer um cantar,

em que vos loarei toda via; e vedes como vos quero loar: dona fea, velha e sandial

m Leia o texto a seguir.Cantiga

Bailemos nós já todas três, ai amigas,So aquestas avelaneiras frol idas, (frol idas — floridas)E quem for velida,- como nós, velidas, (velida = formosa)Se amigo amar,So aquestas avelaneiras frolidas (aquestas = estas)Verrá bailar, (verrá = virá)Bailemos nós já todas três, ai irmanas, (irmanas = irmãs)So aqueste ramo destas avelanas, (aqueste = este)E quem for louçana, como nós, louçanas, (louçana — formosa)Se amigo amar,So aqueste ramo destas avelanas (avelanas = avelaneiras)Verrá bailar.Por Deus, ai amigas, mentr'al non fazemos,(mentr'al = enquanto outras coisas)

So aqueste ramo frolido bailemos,E quem bem parecer, como nós parecemos (bem parecer = tiver belo aspecto)

Se amigo amar, iSo aqueste ramo so Io que bailemos Verrá bailar.

Santiago de Aires Nunes. In: Segismundo Spina. Presença da Literatura Portuguesa - Era Medieval. Vol. 1. 2 ed. São Paulo:

Difusão Européia do Livro, 1996.

Na cantiga de Aires Nunes verificam-se diferentes persona­gens: um eu poemático, que assume a palavra, e um interlocu­tor (ou interlocutores) a quem se dirige. Com base nessa infor­mação, releia o poema e, a seguir:a) identifique o eu poemático e classifique-o.b) identifique os interlocutores e indique o que isso representa

na classificação da cantiga.

E l Mackenzie Leia.Ai, dona feia, foste-vos queixar porque non vos louvei en meu trovar mais ora quero fazer um cantar em que vos loarei toda via; e vedes como vos quero loar: dona feia, velha e sandial

Assinale a informação correta a respeito do trecho de João Garcia de Guilhade.(a) É uma cantiga satírica.

) Foi o primeiro documento escrito em língua portuguesa.} Trata-se de uma cantiga de amigo e foi escrita durante o

Humanismo (1418-1527).(d) Faz parte do Auto da Feira.(e) n.d.a.

E Q FMU Nas mais importantes novelas de cavalaria que cir­cularam na Europa medieval, principalmente como propaganda das Cruzadas, sobressaem-se:

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Page 152: Livros poliedro   caderno 1 português

(a) as namoradas sofredoras, que fazem bailias para atrair o namorado ausente.

(b) os cavaleiros medievais, concebidos segundo os padrões da Igreja Católica (por quem lutam).

(c) as namoradas castas, fié is, dedicadas, dispostas a qual­quer sacrifício para ir ao encontro do amado.

(d) os namorados castos, fiéis, dedicados, que, entretanto, são traídos pelas namoradas sedutoras.

(e) os cavaleiros sarracenos, eslavos e infiéis, inimigos da fé cristã.

PUC As narrativas que envolvem as lutas dos cruzados envolvem sempre um herói muito engajado na luta pela cristan- dade, podendo ser a um só tempo frágil e forte, decidido e ter­no, furioso e cortês. No entanto, com relação à mulher amada, esse herói é sempre:(a) pouco dedicado. (d) indelicado.(b) infiel. (e) ausente e belicoso.(c) devotado.

14

Histórias de amor e matrimônio

Especialista em mitos, o americano Joseph Campbell afirma

terem sido os trovadores da Idade Média os responsáveis pela rein-

terpretação do am or com o uma relação entre duas pessoas. Por

meio da análise da famosa história medieval de Tristão e Isolda, o

pensador nos revela a importância do trovadorismo na psicologia

do amor. Veja o trecho a seguir.

O casamento nas culturas tradicionais era arranjado pelas fa­mílias. Nõo era absolutamente uma decisão entre duas pessoas. Na India, hoje, há colunas de anúncios de esposas, nos jornais, colo­cados por agências de matrimônio. Lembro-me de uma jovem, de uma família que conheci lá, que ia se casar. Ela nunca tinha visto o rapaz que ia ser seu marido, e perguntava aos irmãos: "Ele é alto? Tem pele escura? Pele clara? Como é?"

Na Idade Média, esse era o tipo de casamento santificado pela Igreja, de modo que a ideia trovadoresca do verdadeiro Amor entre duas pessoas era muito perigosa. [...]

Não apenas heresia, era adultério, o que poderia ser chamado de adultério espiritual. Como os casamentos eram todos arranjados pela sociedade, o amor derivado de um encontro de olhares tinha um alto valor espiritual.

Por exemplo, na história de Tristão, Isolda está comprometida a se casar com o rei Mark. Eles nunca se haviam visto. Tristão é enviado para escoltar Isolda até Mark, e a mãe de Isolda prepara uma poção amorosa, a fim de que os noivos nutrissem verdadeiro amor um pelo outro. A poção é colocada sob a guarda da camareira que deve acompanhar Isolda, mas ela se distrai e Tristão e Isolda, pensando que é vinho, bebem a poção e são acometidos de amor. Mas e/es já estavam enamorados, só que não o sabiam. A poção amorosa ape­nas trouxe isso à tona. Todos se lembram desse tipo de experiência.

O problema, do ponto de vista do trovador, é que o rei Mark e Isolda, que estão para se casar, não estão na verdade qualificados para o amor. Eles nunca chegaram sequer a se ver. O verdadeiro matrimônio é aquele que brota da descoberta da identificação com o outro, e a união física é apenas o sacramento pelo qual isso é confirmado. A coisa não se dá no sentido contrário, do interesse físico que depois se torne espiritualizado. Começa com o impacto espiritual do amor - o Amor. [...]

Tristão, Isolda e Mark.

E todo casamento constituía uma violação dessas, quando era arranjado pela sociedade e não pelo coração. Esse é o sen­tido do amor cortês, na Idade Média. Contradiz inteiramente o caminho pregado pela Igreja. A palavra AM OR, lida ao contrário, é ROMA, a Igreja Católica Romana, que justificava casamentos que não passavam de arranjos políticos e sociais. Então surgiu esse movimento que validava a escolha individual, que eu chamo de "perseguir a bem-aventurança".

Mas aí se esconde algum perigo, também, é claro. Na história de Tristão, depois que eles bebem a poção amorosa, a camareira, ao se dar conta do que tinha acontecido, vai a Tristão e diz: "Você bebeu a sua morte". E Tristão responde: "Por minha morte você entende esta dor de amor?" Porque esse era um ponto básico, o indivíduo devia sentir a enfermidade do amor. Nõo há nada mais no mundo capaz de preencher a sensação de identidade como a experiência no amor. Tristão diz: "Se por minha morte você entende esta agonia de amor, isso é a minha vida. Se por minha morte você entende a punição que sofreremos se formos descobertos, eu aceito isso. E se por minha morte você entende a punição eterna nas chamas do inferno, aceito isso também". Bem, aí a coisa já é para valer!

Bill Moyers & Joseph Campbell. "V II Histórias de am or e matrimônio".In: O poder do mito. São Paulo: Palas Athena, 1990. pp. 199 -200.

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0 Trovadorismo como manifestação literáriaEsteja atento(a) para os seguintes aspectos:1. Definição e origem da escola: o Trovadorismo aparece na Idade

Média e está intimamente ligado ao contexto feudal daquela época;o trovador é um poeta-cantor e compõe poemas para serem canta­dos ao som de instrumentos musicais (flauta doce, alaúde, saltério).

2. As cantigas estão divididas em dois grupos: líricas (subdivididas em amor e amigo) e satíricas (escárnio e mqldizer).

3. A origem das cantigas de amor é a Provença, na França; as canti­gas de amigo têm origem popular, ibérica.

4. O eu lírico (voz do poema) nas cantigas de amor é masculino; nas cantigas de amigo, o eu lírico é feminino (o trovador faz o poema dando voz a uma moça que se queixai geralmente, da ausência do amado).

5. A linguagem, na cantiga de amor, é refinada; nas cantigas de amigo,

a linguagem é coloquial, aceita repetições, refrões e paralelismos.

Os três Cancioneiros e as novelas de cavalariaTodas as cantigas produzidas pelo Trovadorismo foram coligidas

e ganharam a forma de coletâneas ou cancioneiros.1. Assim, três cancioneiros contêm, hoje, a produção daquela época:

Ajuda, Vaticana e Biblioteca Nacional.2. Martim Codax, trovador galego, foi o único a deixar transcritas

em pauta, ainda que de maneira rudimentar, a música de suas cantigas; são sete cantigas de amigo.

3. D. Dinis (final do século XIII, início do século XIV) é conhecido como "rei trovador" e deixou escritas cerca de 150 cantigas. Observe bem: em uma de suas mais conhecidas canções, usa os seguintes versos: Quero eu à maneira provençal/ fazer agora um cantar de amor, o que significa compor uma cantiga à maneira da Provença, sofisticada, como os trovadores franceses faziam.

4. Refrões são típicos de cantigas de amigo e consistem na repetição do último verso de cada estrofe. Existe também o paralelismo que consiste em, a cada série composta por duas estrofes, mudar apenas umas palavras no final de cada verso; dessa forma, tere­mos versos paralelos, parecidos ou correspondentes.

5. São 428 cantigas satíricas que nos sobraram da época trovado­resca; possuem cunho popular, brincalhão e muitas vezes cruel e que revelam, por isso mesmo, o panorama da época: os nobres, o clero, os costumes sociais viciosos. A linguagem é chula, de baixo calão.

6. As novelas de cavalaria são manifestações da prosa trovadores­ca e possuem características tipicamente moralizadoras. São três ciclos, dentre, os quais se sobressai o ciclo bretão, conhecido também como arturiano.

7. A novela de cavalaria mais importante é A Demanda do San­to Graal, narrativa apócrifa que conta sobre o rei Arthur e os cavaleiros da távola redonda. Nela, ressaltam-se as ações de Merlim, Lancelot do Lago, Perceval, Morgana, Mordred, Guinevere e Galaaz.

FILMES■ As brumas de Avalon, 2001.■ Excalibur, 1981.

QUER SABER MAIS?

f i SITE

Você pode encontrar uma cópia da Crestoma- tia Arcaica (org. José Joaquim Nunes) no site. www.archive.org

MÚSICA■ "Madredeus". Palavras Cantadas, 2000.

i H m i c

U Fuvest Interpretando historicamente a relação de vassala- gem entre homem amante/ mulher amada, ou mulher amante/ homem amado, pode-se afirmar que:

} o Trovadorismo corresponde ao Renascimento.} o Trovadorismo corresponde ao movimento humanista.

(c) o Trovadorismo corresponde ao Feudalismo.’ o Trovadorismo e o Medieval ismo só poderiam ser provençais.

tanto o Trovadorismo como o Humanismo são expressões da decadência medieval.

UU Assinale a alternativa falsa quanto à fase trovadoresca.) Inicia-se em 1198, aproximadamente, com um texto intitu­

lado Cantiga da Guarvaia ou A Ribeirinha.

I Durante essa fase, percebemos uma grande evolução da pro­sa, enquanto a poesia ficava restrita ao âmbito das cantigas.

> O ideal cavalheiresco da época era baseado em profundas condutas moralistas.

' A língua portuguesa não atinge sua maturidade lingüística durante toda a época medieval.

} A Igreja e o Estado estão intimamente ligados.

B I Apenas uma, dentre todas as alternativas abaixo, é incor­reta. Assinale-a.

) D. Dinis, o rei trovador, é o principal autor da fase trova­doresca em Portugal.

) As cantigas satíricas podem ser encontradas sob duas mo­dalidades: cantiga de escárnio e de maldizer.

Page 154: Livros poliedro   caderno 1 português

(c) A cantiga de amigo tem eu lírico tipicamente feminino, embora feita pelo trovador.

(d) N a cantiga de amor, a vassalagem amorosa é fruto do am­biente palaciano das cortes medievais.

) A cantiga de amor teve origem na Península Ibérica, espalhan­do-se, posteriormente, para a região da Provença, na França.

O Mackenzie Sobre a poesia trovadoresca em Portugal, é incorreto afirmar que: (a) refletiu o pensamento da época, marcada pelo teocentris-

mo, o feudalismo e valores altamente moralistas.(b) representou um claro apelo popular à arte, que passou a ser

representada por setores mais baixos da sociedade.(c) pode ser dividida em lírica e satírica.

!) em boa parte de sua realização, teve influência provençal. :) as cantigas de amigo, apesar de escritas por trovadores, ex­

pressam o eu lírico feminino.

■ 1 Mackenzie Assinale a alternativa incorreta a respeito das cantigas de amor. (a) O ambiente é rural ou familiar.(b) O trovador assume o eu lírico masculino: é o homem

quem fala.(c) Têm origem provençal.(d) Expressam a “coita” amorosa do trovador, por amar uma

dama inacessível.:) A mulher é um ser superior, normalmente pertencente a

uma categoria social mais elevada que a do trovador.

Fuvest O Trovadorismo, quanto ao tempo em que se instala:(a) tem concepções clássicas do fazer poético.(b) é rígido quanto ao uso da linguagem que, geralmente, é erudita.

:) estabeleceu-se num longo período que dura 10 séculos.I) tinha como concepção poética a epopeia, a louvação

dos heróis.:) reflete as relações de vassalagem nas cantigas de amor.

H Conhecendo os procedimentos utilizados pelos trovado­res, indique nos apontamentos a seguir as características que se refiram a cantigas de amor ou de amigo.a) Presença de elementos naturais: o mar, o rio, o pássaro.b) Elogio da mulher amada.c) Ênfase no relacionamento físico.d) Linguagem menos elaborada, mais coloquial.e) Mais realismo no enfoque do relacionamento amoroso.f) Erotismo mais evidente.g) Estrutura de raciocínio mais complexa.

Q Leia.Ainda uma vez - adeus!

1.Enfim te vejo! — enfim posso .Curvado a teus pés, dizer-te,Q ue não cessei de querer-te.Pesar de quanto sofri.Muito penei! Cruas ânsias,Dos teus olhos afastado,

Houveram-me acabrunhado A nõo lembrar-me de tilu5.Mas que tens? Não me conheces?De mim afastas teu rosto?Pois tanto pôde o desgosto Transformar o rosto meu?Sei o aflição quanto pode,Sei quanto ela desfigura,E eu não vivi na ventura...Olha-me bem, que sou eu!u14.Pensar eu que o teu destino Ligado ao meu, outro fora.Pensar que te vejo agora,Por culpa minha, infeliz;Pensar que a tua ventura Deus ab eterno a fizera,No meu caminho a pusera...E eul Eu fui que a não quisl 15.Es doutro agora, e para sempre!Eu a mísero desterro Volto, chorando o meu erro,Quase descrendo dos céusl D6i-te de mim, pois me encontras Em tanta miséria posto,Que a expressão deste desgostoSerá um crime ante Deusl[...]17.

Adeus que eu parto, senhora;Negou-me o fado inimigo Passar a vida contigo,Ter sepultura entre os meus;Negou-me nesta hora extrema,Por extrema despedida,Ouvir-te a voz comovida Soluçar um breve Adeus!18.Lerás porém algum diaMeus versos, da alma arrancados,De amargo pranto banhados,Com sangue escritos; - e então Confio que te comovas,Que a minha dor te apiade Que chores, não de saudade,Nem de amor, — de compaixão,

G o n ç a lv e s D ias. " I-Ju ca -P iram a .* /n : O s Timbiras. Outros poemas. S ã o P au lo : (A o b ra -p r im a d e cada autor).

Martin Claret, 2003.

A leitura dos fragmentos do poema do autor romântico Gonçal­ves Dias nos remete, com ênfase na estrofe 17, a uma cantiga trovadoresca. Com base nessa afirmação:a) compare o eu lírico do poema de Gonçalves Dias ao de

uma cantiga trovadoresca.b) por que a estrofe 17 poderia servir perfeitamente como

exemplo para o que se propõe em “a”?

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D Leia.A mulher que eu amo e tenho por senhora

A dona que eu am'e tenho por senhor amostráde-mi-a Deus, se vos en prazer for, se non, dáde-mi a morte.

A que tenh'eu por lume destes olhos meus e por que choran sempr', amostráde-mi-a, Deus, se non, dáde-mi a morte.Essa que vós fezestes melhor parecer de quantas sei, ai Deus!, fazéde-mi-a veer, se non, dáde-mi a morte.

Ai Deus, que mi-a fezestes mais ca min amar, mostráde-mi-a u possa con ela falar, se non, dáde-mi a morte.

Tradução para o português contemporâneo:

A mulher que eu amo e tenho por senhora Mostrai-a a mim, Deus, se for de Vosso agrado,Se nõo, dai-me a morte.

A que eu tenho por lume destes olhos meus E por quem choram sempre, mostrai-a a mim, Deus,Se nõo, dai-me a morte.

Essa que vós fizestes ser tão mais bela De quantas conheço, ai Deus, fazei-me vê-la,Se não, dai-me a morte.

Ai, Deus, que me fizestes mais e mais amá-la, mostrai-me onde posso com ela falar,Se não, dai-me a morte.

O texto, de Bernardo Bonaval (séc. XII, 19 cantigas: 10 de amor e 9 de amigo), rompe com algumas características da can­tiga de amor daquela época. Cite pelo menos um exemplo e explique por que isso acontece.

O texto a seguir refere-se às questões de 10 a 12.Olhos nos olhos

Quando você me deixou, meu bem,Me disse pra ser feliz e passar bem;Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci,Mas, depois, como era de costume, obedeci.Quando você me quiser rever Já vai me encontrar refeita, pode crer.Olhos nos olhos, quero ver o que você faz Ao sentir que sem você eu passo bem demais;E que venho até remoçando Me pego cantando Sem mais nem por quê.E tantas águas rolaram Quantos homens me amaram Bem mais e melhor que você.Quando talvez precisar de mimCê sabe que a casa é sempre sua, venha sim.Olhos nos olhos, quero ver o que você diz,Quero ver como suporta me ver tão feliz...

Chico Buarque. "O lho nos Olhos". ©Marola Edições Musicais Ltda.

m Lendo o texto de Chico Buarque, é possível fazer compara­ções entre ele e as cantigas trovadorescas. Depois de fazer as com­parações, justifique sua resposta indicando características daquela escola presentes na letra anterior.

Há, no comportamento do eu lírico feminino do texto, uma fundamental divergência de comportamento do eu lírico feminino medieval. Cite-a e dê exemplos.

m b Levando em conta a linguagem dos versos citados, apro­xime-os dos cantares de amigo e explique por quê. Cite exem­plos.

Leia.Esse cara

Ah, esse cara tem Me consumidoA mim e a tudo o que eu quis Com seus olhinhos infantis Como os olhos de um bandido.Ele está na minha vida Porque quer;E eu estou pra o que der e vier;Ele chega ao anoitecer,Quando vem a madrugada Ele some:Ele é quem quer.Ele é o homem,Eu sou apenas Uma mulher.Caetano Veloso. "Esse Cara." Warner/Chappel Edições Musicais Ltda.

O texto anterior, de autoria de poeta contemporâneo, pode ser fa­cilmente aproximado de um tipo específico de cantiga trovadores­ca. Responda qual é o tipo de cantiga e justifique a sua resposta.

D 9 Leia.Ai dona feial Foste-vos queixar porque eu nunca vos louvei em meu trovar, mas agora quero fazer um cantar em que vos louvarei toda a vida e vedes como vos quero louvar: ai dona feia, velha e loucal

a) O fragmento acima pertence às cantigas satíricas. Em qual dos tipos de encaixa?

b) Justifique por que, usando trechos do fragmento de João Garcia de Guilhade.

MB Analise os itens abaixo.I. O instrumento lingüístico da produção poética da Idade

Média é o galego-português.II. Em Portugal há três cancioneiros importantes que coligiram

toda a produção trovadoresca: Cancioneiro da Ajuda, can­cioneiro da Vaticana e Cancioneiro da Biblioteca Nacional.

III. Nas cantigas de amigo, o eu lírico é masculino, uma vez que o poeta faz a cantiga como se fosse uma mulher.

É correto o que se afirma em:(a) I, apenas.(b) I e II, apenas.(c) n , apenas.(d) II e III, apenas.(e) nenhuma.

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Humanismo (1434-1527)

O homem é o espelho de todas as coisas.Plotino, séc. III d.C.

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IntroduçãoO Humanismo é o período que medeia o fim da Idade Mé­

dia e o início do Renascimento. Literariamente corresponde ao período entre o fim do Trovadorismo e o início do Classicismo.

Nele, despontam circunstâncias que devemos levar em consideração: a poesia afasta-se da música e passa a se cha­mar palaciana; sofistica-se de maneira notável e é feita para ser declamada em ambientes mais requintados, apoiando-se em metonímias e metáforas; o eu lírico que nela se manifesta é masculino.

Aparecerá, ainda, no início do Humanismo, a obra mag­nífica de Femão Lopes: historiografia da mais alta qualidade, descritivismo intenso, compromisso profundo com a pesquisa sobre a vida dos reis e do reino português. Entre todas as crô­nicas que produz, destaca-se A crônica d ’e l rei d. Pedro I, o Cruel, em que se guarda, triste e inexplicável, a história de Inês de Castro, a rainha coroada depois de morta. A história de Por­tugal que Femão Lopes escreve desvia-se do eixo regiocêntrico e faz, pela primeira vez, incursões preciosas junto ao povo, suas revoluções, maneiras de viver, falar e levar a vida.

Por último, já no final do período, em pleno Renascimento histórico, aparece o teatro popular, iniciado por Gil Vicente em 1502. O teatro popular distancia-se do que era feito nas igrejas, ganha as praças e o palácio real, crítica e ridiculariza todos os es­tamentos sociais em seus autos, suas farsas e alegorias. A Farsa de Inês Pereira é a mais importante peça desse dramaturgo que deixou, em seus autos, um depoimento sobre os costumes sociais de seu tempo.

Contexto histórico-culturalA escola humanista em Portugal é iniciada quando

d. Duarte nomeia Femão Lopes, em 1418 (34), como “guar- dador-mor” da Torre do Tombo, para “poer en caronyca” as coisas do reino e do rei, e termina em 1527, quando Sá de Miranda introduz naquele país, trazida da Itália, a “medida nova”: os versos decassílabos, geralmente concebidos sob a forma de soneto.

Costumeiramente entendido apenas como fase de transição entre o final da Idade Média e o Renascimento do século XVI, o Humanismo iniciou-se historicamente naquele país com as revoluções populares do final do século XIV, das quais foi ge­radora a rainha Leonor Teles, de origem espanhola e casada com d. Fernando de Borgonha, e que provocou, inclusive, o aparecimento da Dinastia dos Avis (1385-1578).

Dessa forma, devemos entender o Humanismo português como medianeiro entre um Portugal conservador e aquele que, no início do século XVI, era o maior país navegador da Europa.

O início da expansão ultramarima (tomada de Ceuta, 1415) está relacionado com a crise da nobreza, resultante principalmente da rápida desvalorização da moeda, iniciada no reinado de d. Fernando e acentuada no de d. João I. Enquanto o rei e a nobreza esperavam enriquecer com o saque e as caravanas do ouro, a burguesia marítimo buscava no Norte da África mercados agrícolas e um ponto-chave do tráfego entre o Atlântico e o Mediterrâneo.

A luta entre a burguesia e a nobreza atinge a, sua acuidade máxima sob o governo do gerente d. Pedro, que alcançou o poder

apoiado na burguesia e nas camadas populares de todo o País. A nobreza, discretamente acaudilhada pelo infante d. Henrique, grão- -mestre da Ordem de Cristo, e sobretudo pelo duque de Bragança, conseguiu derrotar o regente na batalha de Alfarrobeira, que abre as aventuras bélicas de d. Afonso V e põe termo ao período de ins­tabilidade política inaugurado com a morte de d. Fernando.

E indispensável ter presentes estes acontecimentos para com­preender cabalmente a obra do maior escritor medieval português: Femão Lopes.

A. J. Saraiva e Ó. Lopes. História da Literatura Portuguesa. 7a ed. São Paulo: Livraria Martins Fontes, s/d.

Considerado de maneira abrangente, o Humanismo não é apenas um breve período entre o fim da Idade Média e o iní­cio do Renascimento do século XVI. Não apenas isso. Pou­co depois de 1300, todos os ideais marcadamente feudais, a autoridade sagrada do papado (em 1434, o papa Eugênio IV denunciava: “Não há no corpo da Igreja uma única parte sã”), a cavalaria, o romanismo, a filosofia escolástica, começam len­tamente a desaparecer.

Em seu lugar, surge uma civilização “nova”, que conquista determinado espaço entre o século XIV e a metade do século XVÜ. É o período da Renascença. Cuidado para não interpretar esse período como sendo apenas um breve estágio entre os sécu­los XIV e XV, ocasião em que houve o reviver da cultura clás­sica, um impulso que enviaria o homem às conquistas do século XVI. Desde o século XI o homem vinha criando pequenos “re­nascimentos”, e é preciso lembrar que já existiam nessa época as universidades, as escolas de mosteiros ou catedrais, locais onde eram estudados Aristóteles e Sêneca e interpretados Virgílio e Cícero.

O aparecimento do que, séculos mais tarde, seria a classe burguesa contribuiu para expandir a fé no homem e, sobretudo, elevá-lo, ainda que aos poucos, à condição de centro do univer­so em expansão e movimento e das especulações filosóficas. Ou seja, dos pequenos renascimentos que foram acontecendo, ainda que muitos passassem pelas mãos da Igreja, surgiu o Hu­manismo.

Nascido na Itália do século XIV, elegeu o homem como centro de todas as preocupações, superdimensionando a glori­ficação do que é humano e natural, em oposição ao divino, ao intocável e ao transcendente.

O homem, voltado para si mesmo, empenhado em ser agente transformador do universo, só por meio do conhecimento pôde, finalmente, achar uma porta de saída da escuridão terrível do teocentrismo para a luz do antropocentrismo que então se iniciava. Com o que se identifica esse homem novo?

O Humanismo corresponde a uma fase de grandes mu­danças: invenção da imprensa, desenvolvimento comercial, ascensão social dos comerciantes burgueses (o que acaba por provocar alianças entre nobreza e burguesia), reaparecimento e divulgação de toda cultura greco-latina e, coroando tudo isso, o início das grandes navegações.

teocentrismo: doutrina medieval que considera Deus com o centro de todas as coisas do Universo; antropocentrismo: doutrina que consi­dera o homem como centro do Universo, o que concebe o Universo em tomo das experiências humanas.

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Mas, ainda que buscando o antropocentrismo e as transfor­mações fundamentais, é necessário lembrar que mudanças não são feitas subitamente: coexistiram, então, resquícios medie­vais, tipicamente teocêntricos, com circunstâncias renovado­ras. Essa coexistência gerou a marca fundamentai dessa época: o bifrontismo.

À literatura hum anista em PortugalComeçaremos o Humanismo observando que em Portugal,

na Literatura, o movimento nasceu a partir da nomeação de Femão Lopes como cronista. Com tal nomeação, aquele país iniciou um verdadeiro período de mecenato artístico, abrigan­do, sob a custódia da Dinastia dos Avis, no início do século XV, escritores, pensadores, intelectuais.

A leitura, a produção do livro e a criação literária desenvol­vem-se na corte portuguesa do século XV. Os príncipes organizam livrarias, empreendem iniciativas como a redação de grandes com­pilações históricas, promovem ou fazem traduções, sõo, por vezes, autores de obras originais. [...]

O advento da Dinastia dos Avis intensificou na corte o interesse pelos problemas teóricos e doutrinários, religiosos, políticos, morais e até psicológicos.

A. J. Saraiva e Ó. Lopes. História da Literatura Portuguesa, op. cit.

Além disso, é interessante observar que, por essa época, a língua portuguesa começou a ganhar autonomia, a tomar con­tornos típicos e bem definidos, distanciando-se, assim, da uni­dade peninsular que o galaico representava.

Três foram as manifestações fundamentais da Literatura Portuguesa nesse tempo: a prosa historiográfica de Femão Lo­pes, a poesia palaciana e, por fim, no início do século XVI, o teatro popular gilvicentino.

Fig. 1 Assinatura de Femão Lopes.

Crônica Femão Lopes

O que era um cronista no final da Idade Média?O que significava “poer en caronyca” as coisas do reino

e do rei?Podemos considerar o cronista medieval como historiador.

Naquela época, a crônica — tal como seu nome indica - visava registrar acontecimentos temporais, históricos, em ordem cro­nológica e narrativa.

Ao ser nomeado para “poer en caronyca as estórias dos Reys que antygamente en Portugal forom”, Fer- não Lopes passou a ter diante de si a incumbência de resgatar a história por­tuguesa de sua época e de outras mais remotas, narrando com minúcia a vida dos reis, da corte. Mas não fez somente isso. Por capricho e vocação, investi­gou, buscou documentos, pesquisou.Não apenas na Torre do Tombo de Lis­boa, espécie de arquivo nacional, mas por todo o território português: abadias, cartórios, prefeituras, conventos e mosteiros; ouviu, inclusive o próprio povo.

Por isso foi um historiador. Por isso é hoje conhecido como “o pai da historiografia portuguesa”. O primeiro de Portugal e o mais respeitado de seu tempo. Ao escrever Os Lusíadas, cem anos após a morte do cronista, Camões não hesitou em “beber nas fontes históricas” de Femão Lopes.

Pouco se sabe da vida desse homem. Possivelmente sua origem tenha sido popular, “notário” de profissão. Nomeado em 1418 por um d. Duarte ainda Infante, que exercia àquela época o cargo de ministro das Finanças, iniciou trabalho remune­rado apenas a partir de 1434, recebendo, para tanto, uma tença régia anual (espécie de pensão). A única coisa certa que se sabe de sua existência é que foi aposentado em 1454 e teve um filho médico que morreu em Tânger.

O que o toma diferente de todos os cronistas medievais é: [...] a larguíssima visão do conjunto que lhe permite discernir

muito mais do que os feitos dos reis e cavaleiros — todo o processo histórico da revolução que transformou nos séculos XIV e XV o so­ciedade portuguesa.

Femão Lopes não é o cronista de d. Joõo I ou de Nuno Álvares, mas o cronista da revolução. Esta visão de conjunto permite-lhe dar aos protagonistas individuais dos acontecimentos o modesto papel que lhes atribuiria a historiografia científica da atualidade.

D. Joõo I, por exemplo, aparece como um homem hesitante, por vezes pusilânime, empurrado para a frente por outros mais conscientes ou mais decididos. Escorrega-lhe a espada quando ten­ta matar o Andeiro e prepara-se para fugir para a Inglaterra quan­do a situação lhe parece mal-encaminhada. A sua figura perde-se constantemente de vista entre os figurantes individuais e coletivos que, em turbilhão, se movimentam nas insurreições, nos cercos e nas batalhas. Lendo Femão Lopes, os heróis não nos aparecem como causas dos acontecimentos, mas como participantes, às vezes involuntários, dos acontecimentos. [...]

[...] Femão Lopes dá grande relevo a outros aspectos que os cronistas medievais sistematicamente desconhecem. O grande ator e promotor da resistência, ao que se infere das suas crônicas, é o povo de Lisboa.

A. J. Saraiva e Ó . Lopes. História da Literatura Portuguesa, op. cit.

Pretendia, e conseguiu, mostrar o valor da ação do povo patrio­ta em suas crônicas; definia esse patriotismo como sendo o “amor da terra”. Distanciando-se frequentemente da visão regiocêntrica

bifrontismo: duas faces, dois aspeçtos. notário: escrivão público, tabelião.

REPR

ODU

ÇÃO.

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de todo cronista, foi capaz de denunciar a política bélica de d. Fer­nando, discordando dos métodos daquele rei.

Suas narrativas são brilhantes e, por isso, perenes na memória de quem as lê. Minucioso, deu a elas um colorido especial. De- talhista, soube captar também não só os aspectos visuais do que narrava, mas sobretudo a consciência palpitante das criaturas que compunham tais mudanças. Quem o lê pode ouvir claramente os rumores de uma cidade, os clamores de suas gentes, as lágrimas, o riso. Um pintor de paixões, de ambições e crueldades.

A fauna humana foi o que mais lhe interessou: d. Leonor Telles, inescrupulosa e cheia de ambição; d. Pedro insone, dan­çando e gritando nas noites de Lisboa, emoções inesquecíveis para quem tentou recompor o tempo. De suas crônicas pode­mos resgatar, inclusive, os ditos populares, as anedotas e, gran­demente, o tom de quem parecia conhecer a importância de seu trabalho para o futuro.

Parte de sua obra, infelizmente, se perdeu. De tudo quanto pro­duziu, restam três documentos: Crônica d’El-Rei d. Pedro, Crônica d’El-Rei d. Fernando e Crônica d ’El-Rei d. João I.

Além de Camões, que no século XVI valeu-se de sua obra para compor partes de Os Lusíadas, outros escritores remon­taram à ela. Entre eles, Alexandre Herculano, romântico portu­guês do século XIX.

Texto I

Crônica d'EI-Rei d. Pedro

[...] Ora deixemos os jogos e festas que El-Rei ordenava por desenfadamento, nas quais, de dia e de noite, andava dançando por mui grande espaço; mas vede se era bem saboroso jogo. Vinha El-Rei em batéis de Almada para Lisboa, e saíam-no a receber os c/- dadâos, e todos os dos mesteres, com danças e trebelhos, segundo entõo usavam, e ele saía dos batéis, e metia-se na dança com eles, e assim ia até o paço.

Parai mentes se foi bom sabor: jazia El-Rei em Lisboa uma noite na cama, e nõo lhe vinha o sono para dormir. E fez levantar os mo­ços, e quantos dormiam no paço; e mandou chamar Joõo Mateus e Lourenço Paios, que trouxessem os trombas de prata. E fez acender tochas, e meteu-se pela vila em dança com os outros.

As gentes, que dormiam, saíam às janelas, a ver que festa era aquela ou o que se fazia; e quando viram daquela guisa El-Rei, to­maram prazer de o ver assim ledo. E andou El-Rei assim gram parte da noite, e tomou-se ao paço em dança, e pediu vinho e fruta, e lançou-se a dormir...

Texto II

Crônica d/EI-Reí d. PedroA Portugal foram trazidos Álvaro Gonçalves e Pero Coelho, e

chegaram a Santarém onde El-Rei d. Pedro era; e El-Rei, com prazer

de sua vinda, porém mal magoado porque Diego Lopes fugira, os saiu fora a receber, e sanha cruel sem piedade lhos fez per sua mão meter a tormento, querendo que lhe confessassem quais foram na morte de d. Inês culpados, e que era o que seu padre tratava contra ele quando andavam desavindos por azo da morte dela; e nenhum deles respondeu a tais perguntas cousa que El-Rei prouvesse; e El-Rei com queixume dizem que deu um açoite no rosto de Pero Coelho, e ele se soltou entõo contra El-Rei em desonestas e feias palavras, chamando-lhe traidor, fé perjuro, algoz e carniceiro dos homens; e El-Rei, dizendo que lhe trouxessem cebola e vinagre pera o coelho, enfadou-se deles e mandou-os matar.

A maneira de sua morte, sendo dita pelo miúdo, seria mui estranha e crua de contar, ca mandou tirar o coração pelos pei­tos de Pero Coelho, e a Álvaro Gonçalves pelas espáduas; e quais palavras ouve, e aquele que lho tirava, que tal ofício havia pouco em costume, seria bem dorida cousa d'ouvir; enfim man­dou-os queimar; e tudo feito ante os paços onde ele pousava, de guisa que comendo olhava quanto mandava fazer.

Muito perdeu El-Rei de sua boa fama por tal escambo como este, o qual foi havido em Portugal e em Castela por mui grande mal, dizendo todolos bons que o ouviam, que os reis erravam mui muito indo contra suas verdades, pois que estes cavaleiros estavam sobre segurança acoutados em seus reinos.

Outros cronistas, os "menores"Após Femão Lopes, dois outros brilhantes cronistas o su­

cederam:

Gomes Eones Azuraro (Zurora)Imediatamente sucedeu Femão Lopes de 1454 a 1474.

Zurara, que deu continuidade à redação da Crônica de d. João /, mais especificamente à terceira parte, que narra a tomada de Ceuta, escreveu, ainda, a Crônica dos Feitos da Guiné, relato das primeiras viagens ultramarítimas.

ordenar por desenfadamento: ordenar para sair da mesmice, do coti­diano; batéis: barcos; mesteres: ofícios; trebelhos: brincadeiras; paço: palácio; onde El-Rei era: onde o rei estava.

mal magoado: triste; prouvesse: tirasse proveito; fé perjuro: traidor da fé; carniceiro dos homens: matador; dita pelo miúdo: dito pelo povo; de guisa que: de modo que; escambo: troca. Pedro I, por atos considerados injustos como este, recebeu dois eprtetos dados pelo povo: O Cru (Cruel), O Justiceiro.

Fig. 3 Túmulo de d. Pedro I de Portugal, que fica no Mosteiro de Alcobaça junto ao de Inês de Castro.

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Ao contrário de seu antecessor, exalta a força da nobreza, mas amesquinha vergonhosamente a força do povo, à qual dera tanto valor Fem ão Lopes.

Texto III

Crônico dos feitos de Guiné (frag.)Posto assim o infante em aqueste movimento, segundo as

razões que já ouvistes, começou de aviar seus nav/os e gentes, quais a necessidade do caso requeria: mas tanto podeis apren­der, que pero a enviasse muitas vezes, e ainda homens que por experiência de grandes feitos, entre os outros que havia no ofício das armas avontejado nome, nunca foi algum que ousasse passar aquele cabo do Bojador pera saber a terra de além, segundo o Infante desejava. E isto por dizer verdade, nem era com míngua de fortaleza, nem de boa vontade, mas por a novidade do caso, misturado com geral e antiga fama, a qual ficava já entre os mareantes de Espanha, quase por sucessão de gerações. E já seja que fosse enganosa, porque a experiência deli o ameaçava com o costumeiro dano, era grande dúvida qual seria o primeiro que quisesse pôr sua vida em semelhante aventura. Como pas­saremos, diziam eles, os termos que puseram nossos padres, ou que proveito pode trazer ao Infante a perdição de nossas almas, juntamente com os corpos, cá conhecidamente seremos homici­das de nós mesmos? Por ventura non foram em Espanha outros príncipes, nem senhores tõo cobiçosos desta sabedoria como o Infante nosso senhor?

Observação: Observa-se, em primeiro lugar e como consta do títu­lo do texto acima, que a crônica cuida da conquista da Guiné e da instalação da famosa Escola de Sagres, pelo Infante d. Henrique.

É interessante também observar que, comparada às crô­nicas de Femão Lopes, Azurara parece dar feitio tipicamente histórico ao relato. A emoção, o dinamismo, o colorido, não aparecem no trecho.

Rui de PinoEsteve a serviço do rei d. João II, alcunhado “O Príncipe

Perfeito”, e viveu entre os anos de 1440 e 1522. Teve estilo discreto e empregou um sem-número de sutilezas para falar do ambiente da corte. Sua visão regiocêntrica em excesso não empanou, contudo, sua força descritiva e o colorido dado às narrativas, mas tudo isso não o fez um cronista que continuasse com sucesso a missão de Femão Lopes.

Aliás, das nove crônicas que escreveu, muitas parecem ser refundições das obras de outros cronistas, especialmente de Femão Lopes.

avantejado: conhecido; cabo do Bojador: descoberto em 1434, por G il Eanes, era o ponto mais distante a que se atreviam os portugueses. Depois dele, era o M a r Tenebroso, desconhecido; míngua de fortale­za: dim inuição de ânim o; proveito: lucro.

Texto IV

Crônica de d. João IIFoi El-Rei d. João homem de cor­

po, mais grande que pequeno, mui bem feito, e em todos seus membros mui proporcionado; teve o rosto mais comprido, que redondo, e de barba em boa conveniência povoado. Teve os cabelos da cabeça castanhos, e cor- redios; porém em idade de trinta e sete anos, na cabeça, e na barba era já mui cão, de que mostrava receber grande contentamento, pela muita autoridade que a sua Dignidade Real suas cãs lhe acrescentavam: e os olhos de perfeita vista, e às vezes mostrava nos brancos deles umas veias, e mágoas de sangue, com que nas cousas de sanha, quando era dela tocado, lhe faziam o aspecto mui temeroso. E porém nas cousas de honra, prazer e gasalhado, mui alegre, e de mui real, e excelente graça: o nariz teve um pouco comprido, e derribado algum tanto sem fealdade. Era em todo mui alvo, salvo no rosto que era corado em boa maneira. E até a idade de trinta anos foi enxuto de carnes, e depois foi nelas mais revolto. Foi prín­cipe de maravilhoso engenho, e subida agudeza, e mui místico para todalas cousas; e a confiança grande que disso tinha, muitas vezes lhe fazia confiar mais de seu saber, e creio conselhos de outrem menos do que devia. Foi de mui viva, esperta memória, e teve o juízo claro e profundo.

Observação: Pode-se observar no cronista um agudo pendor para a descrição. Tinha, com certeza, formação clássica, por isso seu pensamento é lógico, suas frases procuram servir-se da ordem dire­ta, o que produz também um certo encantamento descritivo.

A poesia palacianaE comum que nos refiramos à poesia palaciana como aque­

la que, substituindo as antigas cantigas trovadorescas, rompeu com a música e era fe ita apenas para se r declamada ao som de instrumentos musicais apenas como “fundo” para tais de- clamações.

Ela existiu e era uma modalidade mais sofisticada, daí seu nome: para os palácios, palaciana. Tradicionalmente, é vista como poesia mais bem elaborada, cujo eu lírico é essencial­mente masculino. Há nela galanteria, uso sistemático de me- tonímias e metáforas e raramente se lhe encontra um modelo pobre quanto à elaboração. Observe:

mui cão: encanecido, de cabelos brancos; cãs: cabelos brancos na lateral da cabeça; mágoas de sangue: m anchas de sangue; sanha: fúria, furor; gasalhado: carinho.

Fig. 4 D. João II, o príncipe perfeito.

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Page 161: Livros poliedro   caderno 1 português

Texto ISuspiros, cuidados, paixões de querer se tomam dobrados, meu bem, sem vos ver.Non sinto prazer, sem vós um só dia viver nõo queria.Nem quero nem posso nem posso querer viver sem ser vosso, e vosso morrer.Pois isto há de ser, por morte haveria nõo vos ver um dia.

Garcia de Resende.

Texto II

Cantiga soa partindo-seSenhora, partem tõo tristes meus olhos por vós, meu bem, que nunca tõo tristes vistes outros nenhuns por ninguém.

Tõo tristes, tão saudosos, tõo doentes da partida, tõo cansados, tõo chorosos, da morte mais desejosos cem mil vezes que da vida.

Partem tõo tristes os tristes, tão fora d'esperar bem, que nunca tõo tristes vistes outros nenhuns por ninguém.

João Ruiz de Castelo Branco.

Texto IIIQue de meus olhos partays em qual quer parte questeys, em eu coraçam fycays e nele vos converteys.

Este é o vosso luguar,Em que mays çerta vos vejo, por que nam quer meu desejo que vos dy possays mudar.

E por ysso que partays, em qual quer parte questeys, em meu coraçam fycays, pois nele vos converteys.

Rui Gonçalves.

0 Cancioneiro Geral de 1516O poeta português Garcia de Resende, quem sabe inspirado

pelos “cancioneiros” espanhóis que faziam muito sucesso à época, coletou, em um trabalho incansável, os poemas palacianos escritos em Portugal desde a metade do século XV e os publicou em 1516 sob o título de Cancioneiro Geral de Garcia de Resende.

Tome-se aqui a palavra Cancioneiro como designação co- mumente usada para coletânea de poemas palacianos ou trovado- rescos; mas esse cancioneiro organizado por Garcia de Resende não se aproxima das coletâneas de cantigas trovadorescas. Seu conteúdo é mais sofisticado e é preciso lembrar que, no Huma­nismo, a poesia divorciou-se da música. Portanto, nele existem poemas feitos para serem declamados nos serões dos palácios.

Os poetas humanistas tinham, tradicionalmente, um modo de poetar. Alguém oferecia-lhes um mote (versos que serviam como motivação, modelo básico, uma espécie de tema) e eles os desenvolviam em voltas, também conhecidas como glosas.

Ou seja, glosar um mote naquela época eqüivalia a desen­volver o tema oferecido ao poeta. E foram sendo abandonados os refrões trovadorescos e predominando as redondilhas (maio­res: 7 sílabas métricas e menores: 5 sílabas métricas), chamadas também de medida tradicional. Somente em 1527 é que Sá de Miranda trouxe da Itália a medida nova (versos decassílabos).

Fazem parte dessa coletânea cerca de 300 poetas da época. Entre os mais conhecidos estão: seu organizador, Garcia de Re­sende, Gil Vicente, Sá de Miranda, João Ruiz de Castelo Bran­co e Bemardim Ribeiro.

0 teatro popular vicentinoPardeosl Sete arrepelões me ferraram à entrada, mas eu dei uma punhada num daqueles figurões.Porém, se de tal soubera, não viera,e vindo, nõo entraria, e se entrasse eu olharia de maneiraque nenhum me chegaria.

Gil Vicente. Monólogo do Vaqueiro ou Auto da Visitação.

Com os versos da epígrafe, em 1502, Gil Vicente saúda, no quarto da rainha d. Maria, no dia 7 de junho, o nascimento de d. João III, filho de d. Manuel, o Venturoso. É o célebre Monó­logo do Vaqueiro, também conhecido como Auto da Visitação.

Vestido de vaqueiro, acompanhado de um pequeno zagal (pastor), espantou os guardas da porta do quarto da rainha que havia acabado de dar à luz. Em espanhol, posto ser ela espanho­la, saudou-a e o recém-nascido em nome da corte, do povo portu­guês e de Deus. Declamou o seu monólogo e inaugurou também o teatro popular em Portugal.

Convidado pela rainha para reapresentar sua peça em de­zembro, por ocasião das comemorações do Natal, trouxe à cena, para que a assistisse toda a Corte, uma nova peça: O Auto do

arrepelões: puxadas; ferraram: obstaram, impedira; punhada: soco, murro.

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Pastoril Castelhano. Graças a esses fatos, tomou-se amigo pes­soal de d. Maria, mulher de d. Manuel. E para ela e a rainha- -mâe, d. Leonor, compôs a Trilogia das Barcas (Auto da Barca do Inferno (1517); Auto da Barca do Purgatório (1518) e Auto da Barca do Céu (ou da Glória, 1519)). Bem entendido: embo­ra d. Maria morresse em 1517, Gil Vicente, em gratidão à sua amizade, continuou dedicando-lhe os autos.

Quem foi Gii Vicente?A que vindes, mestre Gil?

Rainha-mãe, d. Leonor, 7 jun. 1502.

Há uma confusão que se esta­belece logo que se tenta responder à pergunta acima. Não há registros corretos sobre o teatrólogo: nasceu por volta de 1465, provavelmente em Lisboa, e pode ter tido origem popular ou burguesa. Possivelmente tenha sido “mestre da Balança” real, cargo que eqüivaleria a ser uma es­pécie de tesoureiro responsável pelo recolhimento de impostos.

Algumas fontes afirmam ter ha­vido um outro Gil Vicente em sua Fig. 5 Gil Vicente, época, nome comum àquele tempo. Na abertura explicativa do Monólogo do Vaqueiro, no entanto, fica claro que era co­nhecido do palácio real, posto ter a rainha-mãe, d. Leonor, se surpreendido com Gil Vicente coberto do manto de vaqueiro e exclamado quando este entrava para saudar d. Maria:

- A que vindes, mestre Gil?Tal fato confirmaria que o teatrólogo era pessoa de relacio­

namento na Corte.Mas o certo é que Gil Vicente era uma espécie de organi­

zador oficial dos festejos da Corte, animando, com representa­ções, os nascimentos e casamentos e os dias solenes, tais como a Páscoa, o Natal e o Ano Novo.

Mais obscura ainda é sua vida familiar. Sabe-se que, em 1485, Gil Vicente contraiu matrimônio com Branca Bezer­ra, que veio a falecer em 1514. Deste primeiro casamento, o teatrólogo teve um filho, Belchior Vicente. Do segundo matri­mônio, nasceram três filhos, entre os quais Luís Vicente que, 25 anos após a morte do pai, publicaria a Copilaçam de Todalas Obras de Gil Vicente, coletânea de todas as obras do autor.

Supostamente morreu em 1537, após 35 anos de exemplar trabalho dedicado a fazer rir e, sobretudo, fazer pensar.

Toda sua produção é composta por 46 autos. Desses, 11, in­clusive o Monólogo do Vaqueiro, foram escritos em espanhol;17 deles foram feitos em língua portuguesa e 18 em saiaguês, um dialeto falado em Salamanca, Espanha.

Floresta de Enganos, escrita em 1536, parece ter encerrado a carreira desse teatrólogo, pois nada mais se sabe a seu respeito.

Por que teatro popular?Em toda a Europa, no decorrer da Idade Média, o conheci­

mento do teatro greco-romano esteve sob a tutela exclusiva da Igreja, nunca representado, mas reduzido e sujeito a cópias que,

sob julgamento da mesma Igreja, eram consideradas “perigo­sas”, vez que premiavam o homem com a visão antropocêntrica.

Leia o que diz o prof. Massaud Moisés, em sua A Litera­tura Portuguesa.

Durante a Idade Média, despontou e vice/ou um tipo de teatro que recebeu o nome de popular por suas características fundamen­tais (popular nos temas, na linguagem e nos atores). De remota ori­gem francesa (séc. XII), iniciara-se com os mistérios e milagres, que consistiam na representação de breves quadros religiosos alusivos a cenas bíblicas e encenados em datas festivas, sobretudo no Natal e na Páscoa. Inicialmente falados em latim, mais adiante adotaram o francês. O local da encenação era o interior das igrejas, o próprio altar, de onde se transferiu para o claustro, e ao fim para o adro. No começo, era reduzido o texto e escasso o tempo de representação, mas, três séculos depois, o número de figurantes ascendia a cente­nas, o texto a milhares de versos, e a encenação podia levar dias. [...] Com o tempo, o próprio povo entrou a representar suas peças num tablado erguido no pátio defronte à igreja: daí seu caráter profano, isto é, que fica fora, diante (pro) da igreja (fanu).

Ou seja, o teatro profano, popular, tem sua origem no teatro religioso. Cabe ao povo, como sempre, transformá-lo de acordo com suas necessidades.

Em situação não bem-determinada, Gil Vicente tomou co­nhecimento do teatro tipicamente popular de Juan dei Encina, espanhol que iniciara, em seu país, a prática do teatro de centro de praça, teatro de carroção, ou seja, teatro exclusivamente voltado para a população.

Ora, é preciso entender que tais representações eram basi­camente críticas, cuja tendência era a sátira de costumes sociais impróprios, não só da nobreza ou do clero, mas de todos os estamentos que formavam o conjunto social da época.

Anteriormente a Gil Vicente, em Portugal, não se tem no­tícia de obra ou conjunto de obras com as características acima citadas. Portanto, é efetivamente em 1502 que se inicia o teatro popular naquele país.

Mas é preciso estar alerta para um detalhe fundamental: Gil Vicente era um homem de seu tempo e seu teatro tem raízes nas quais podemos reconhecer: teocentrismo, preocupação com a punição de Deus e seu julgamento, religiosidade, moralidade.

Fig. 6 Cena típica de uma apresentação de teatro popular.

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Classificação dos "autos"Gil Vicente escreveu autos, ou seja, peças teatrais escritas

em versos geralmente redondilhos (maiores e menores); sob esta designação se encontram todas as peças medievais de caráter religioso principalmente. E possível encontrar também assun­tos profanos, em menor escala. Há profunda influência medie­val: Monólogo do Vaqueiro e a célebre Trilogia das Barcas.

Os autos possuíam mais que um ato e tinham como objeti­vo moralizar, cristianizar e, além disso, divertir.

Há também em sua produção as peças denominadas farsas, cuja inspiração básica é o teatro profano ibérico. Têm apenas um único ato, seu enredo e número de participantes é reduzido. Também nelas se pode observar uma profunda ironia contra os maus costumes sociais: A Farsa de Inês Pereira, Farsa do Velho da Horta, Quem tem farelos?

A Farsa de Inês Pereira é, entre todas elas, a mais conhe­cida e encenada.

Vinte e cinco anos após a morte do pai (1562), o filho Luís Vicente colocou em ordem as peças produzidas por ele, publicando-as sob a designação de Copilaçam de Todalas Obras de Gil Vicente e classificando-a de maneira falhada, incompleta. No início da Copilaçam, Luís declara que o pai iniciara, mas deixara incompleta, a compilação de todos os autos que produzira e que, como seu filho, apenas se res­ponsabilizava pelos autos a que tivera acesso, depois de ter “procedido larga apuração”.

Muitas folhas “volantes” (soltas) foram encontradas após a publicação de 1562 e acrescentadas à coletânea; mas a Cen­sura Inquisitorial da época encarregou-se de fazer desapare­cer algumas peças: Auto da Aderência do Paço, Auto da Vida do Paço e Jubileu de Amores.

É preciso esclarecer, então, que a Copilaçam de Todalas Obras de Gil Vicente não inclui todas as obras daquele teatró­logo, que, mesmo em sua época, fizera imprimir, por conta pró­pria, um grande número de cópias “volantes” de seus autos.

* * C O P I L A C A M D E nT O D A l OBRA* DB GIL VICENTE. A Q VALSE I4 S?

I I M i n lM CINCO LIVROS. O N IM I I O ■« OB TOOâ» 3(mtmímáiémim OmuMiOiaii»■awla. NtMüfab 3éaiMfe í9

COM M UVILEGIO U A I .

Fig. 7 Frontispício da compilação das obras de Gil Vicente editada em 1562 por seu fi­lho, Luís Vicente.

Observe o que dizem Oscar Lopes e Antônio José Saraiva a respeito desses fatos.

O confronto das edições feitas em vida de Gil Vicente ou de seus vestígios com a Copilaçam de Luís Vicente mostra que esta, além de incompleta, é defeituosa. O compilador modernizou, sem grande critério, a língua do original, alterou, suprimiu e acrescentou versos. As discrepânclas sõo principalmente visíveis entre as duas versões do Auto da Barca do Inferno, a da Compilação e da folha volante quinhentista.

Por este motivo é que preferimos nos utilizar da identifica­ção do prof. Segismundo Spina, a seguir.

Os autosNeles, podemos encontrar grande influência do teatro me­

dieval (moralidades, mistérios e milagres) e dos autos espa­nhóis de Juan dei Encina:Auto do Pastoril Castelhano (1502)Auto dos Reis Magos (1503)Auto da Sibila Cassandra (1509)Auto da Fé { 1510)Autos das Barcas (1517/1518/1519)Auto da Alma (1518)Auto Pastoril Português (1523)Auto da Cananeia (1534)Auto de Mofina Mendes (1534)

As farsasEpisódios de um só ato, tais peças visavam escarnecer dos

maus costumes sociais.Auto da índia (1509)Farsa do Velho da Horta (1513)Quem tem farelos? (1515)A Farsa de Inês Pereira (1523)Auto dos Físicos (1524)Juiz da Beira (1525)Farsa dos Almocreves (1527)O Clérigo da Beira (1529)Romagem dos Agravados (1533)

As alegoriasTais autos são, a seu modo, mais refinados, e trazem

personagens alegorizadas, isto é, simbolizadas, tal qual o que sucede no Auto da Lusitânia com as personagens Todo o Mundo e Ninguém. Pertencem já à obra “madura” desse dramaturgo: Frágua de Amor (1524)Nau dos Amores (1527)Auto da Lusitânia (1532)

Observação: Esses autos guardam sempre intenção claramente moralizante; neles, a presença de anjos e demônios indica metáfora dos defeitos humanos.

0 teatro romanescoOs temas de tais peças são aqueles baseados nas novelas

de cavalaria:

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Comédia de Rubena (1521)Dom Dardos (1522)Comédia do Viúvo (1524)Auto de Amadis de Gaula (1533)

Os MonólogosMonólogo do Vaqueiro (Auto da Visitação) (1502)Pranto de Maria Parda (1522)

As fases do teatro de Gil VicenteComumente distribui-se a obra de Gil Vicente em três fa­

ses distintas entre si:

De 1502 o 1509Há nessa fase forte influência do teatro de Juan dei Encina;

teatro marcadamente religioso, de base tipicamente medieval, é aparentado dos antigos mistérios e milagres da Igreja. Destacam- -se dessa época seu soberanamente conhecido Monólogo do Va­queiro, o Auto do Pastoril Castelhano e o Auto dos Reis Magos.

De 1510a 1515Cenários ainda simples, português espontâneo e muitas ve­

zes estropiado, os efeitos cômicos e, portanto, altamente irônicos ganham destaque. A sátira e a crítica social fazem-se notar em o Auto da índia, a Farsa do Velho da Horta, e Quem tem farelos?

De 1516 em dianteCorresponde ao que se chama obra madura do teatrólogo:

A Farsa de Inês Pereira O Auto da Barca do Inferno Floresta de Enganos

Nela, Gil Vicente foi capaz de alargar consideravelmente sua galeria de tipos sociais: alcoviteiras, adúlteras, nobres de­cadentes, beberrões de toda a sorte, burgueses inescrupulosos, padres mesquinhos, judeus agiotas, camponeses parvos, crimi­nosos, magistrados, bispos, reis, corruptos de todas as origens.

E soube, como ninguém em sua época, levar aos palcos o que a vida real laigamente oferecia, ainda que camufladamente. Denuncia as criaturas e seus deslizes e é capaz de colocá-las sobre o palco com seus costumes e linguajares típicos, critican­do os estamentos sociais a que pertenciam e, antes de tudo, as criaturas sem escrúpulos que deles são representantes.

A alegoria, a moralidade, a espontaneidade e a improvisação são suas armas mais poderosas. Desprezando um cenário requinta­do, fugindo às leis das três unidades teatrais (tempo, lugar e ação), Gil Vicente fez uma obra em que se perpetuaram tipos, criaturas, não apenas como simples personagens, mas sobretudo como seres que habitaram uma época e integraram a sociedade do século XVI.

A T E N Ç Ã O !

A instituição mais atingida pela ironia gilvicentina é, sem dú­vida, o clero "em todos os seus escalões, mas sobretudo os frades. Há os de vários gêneros, como os palacianos, que sabem todas as artes cortesãs, jogam esgrima e pretendem entrar com a sua dama pela mão na barca do Paraíso, como os ermitães que vivem de explorar a piedade dos incautos; há

os rudes e boçais, como o clérigo da Beira; mas todos levam vida alegre. Na Feira das Virtudes, Roma, personificando o papado, pretende comprar com os bens do Céu interesses da Terra. Na Frágua reformadora da sociedade portuguesa propõe-se que os frades se transformem em cavaleiros, pais de família, com o argumento, dito por um frade: 'Somos mais frades que a terra, sem conto na cristandade'.Mas há mais do que simples anticlericalismo em Gil Vicente. Ele advoga a necessidade de uma reforma religiosa mais pro­funda do que a morigeraçõo dos costumes."

Antônio José Saraiva e ó sca r Lopes. História da LiteraturaPortuguesa. 7a ed. São Paulo: Livraria Martins Fontes, s/d.

Segundo o professor e escritor Álvaro Cardoso Gomes, em Literatura Comentada (Editora Nova Cultural, 1988), a obra gilvicentina é o grande registro de uma época e ostenta, por um lado, a tradição medieval, os versos redondilhos e a preocupação com a Fé, a religiosidade e o pecado; por outro lado, por ser extremamente crítica, sua preocupação recai também sobre o homem e o mundo que ele habita: “Não é à toa que em Auto de Inês Pereira, o Escudeiro morre justo no instante que Pero Marques herda a fortuna do pai. É o homem medieval, o nobre que morre, substituído pelo tolo que possui o dinheiro. O fidal­go que morre é decadente, porque não pertence mais aos novos tempos. Corpo estranho na época, tem que desaparecer numa estranho Cruzada. ”

Cáustico, irônico e de natureza bem-humorada porque faz rir em suas comédias e farsas, o dramaturgo português revela o mundo que habita: é um cuidadoso observador da alma huma­na, antes de mais nada, e é lá que vai, por exemplo, observar Inês Pereira ou o Velho da Horta, suas personagens mais inten­samente humanas: ela, interesseira e vil; ele, um pobre velho a quem falta a autocrítica e, por isso mesmo, faz à vida um pagamento terrível.

Comentários gerais sobre as obras Auto da Barca do Inferno

Fig. 8 Barca do inferno.

morigeraçõo: bons costumes, boa educação; Álvaro Cardoso Go­mes: é crítico literário, foi professor de literatura Portuguesa na USP; le­cionou literatura brasileira na Universidade de Berkeley, Califórnia. Além de crítico literário conceituado, é também romancista e contista. Em 1982, recebeu o Prêmio Nestlé com o romance O sonho da terra (São Paulo: Editora L&R). Tem diversos livros de ensaios publicados, entre os quais A metáfora cósmica em Camilo Pessanha, A estética simbolista e A santidade do aiquimista: ensaios sobre Poe e Baudelaire.

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Esse auto foi apresentado pela primeira vez em 1517, na câmara (quarto) da rainha d. Maria que se encontrava doente. E a ela foi oferecido, como se pode ler na rubrica inicial:

Auto de moralidade composto por Gil Vicente por contempla­ção da sereníssima e muito católica rainha Lianor, nossa senhora, e representado por seu mandado ao poderoso príncipe e mui alto rei Manuel, primeiro de Portugal deste nome.

O auto tem início quando, em um cais, estão atracadas duas barcas que conduzirão as almas dos que acabam de morrer. Elas são conduzidas por dois Arrais, o Arrais do Céu é o Anjo e o Arrais do Inferno, o Diabo, os quais julgam os mortos que são trazidos para obter a justiça de Deus.

Está claro que os culpados não se consideram assim e acham sempre uma desculpa para serem conduzidos pelo Anjo.

Inicia-se a peça quando o Diabo e seu ajudante preparam a embarcação. Com exclamações que incluem linguagem de baixo calão, taxiam a barca para que esteja pronta para zarpar.

A peça se inicia quando o Fidalgo chega ao cais acompa­nhado de um moço que carrega uma cadeira. Aqui vale uma ex­plicação: o moço (vivo) carrega uma cadeira porque não havia, nos lugares públicos e sequer nas igrejas, bancos; era comum, portanto, que os fidalgos mandassem carregar seus assentos e é por isso que o Diabo manda o rapaz embora:

Diz o Diabo ao Moço da cadeira:Diabo: Nom entras cál Vai-te d'il

A cadeira é cá sobeja; cousa que esteve na igreja nom se há-de embarcar aqui.Cá lha darão de marfi, marchetada de dolores, com tais modos de lavores, que estará fora de si...

O Fidalgo insiste em entrar na Barca do Céu, mas tem que se contentar em subir “ao cortiço” (uma bagunça danada na barca do Diabo, já que aqueles que morriam, e eram culpados de pecados, levaram tudo que imaginavam que poderiam car­regar para o “outro lado”).

Desfilam pelo cais o Fidalgo, o Onzeneiro (agiota), um parvo (Joane), uma alcoviteira (Brízida Vaz), um sapateiro, um frade, um corregedor e um judeu. Ali, no embarcadouro, são julgados segundo, claro, os direcionamentos da Igreja da épo­ca, menos o judeu, porque cristão não era.

Não são poupados seus defeitos; pecados e culpas os con­duzem para a Barca certa. Ao final da peça, chegam os Qua­tro Cavaleiros de Cristo, que morreram na África por lutarem pelo cristianismo. Salvam-se apenas os Quatro Cavaleiros de Cristo e o parvo Joane.

Diabo: Ao Inferno, entra cálParvo: Ao Inferno, em hora-má?!

Hiul Hiu! Barca do cornudo,Pero Vinagre, Beiçudo, rachador de Alverca, huhál Sapateiro da Candosal

Entrecosto de carrapatol Hiul Hiu! Caga no sapato, filho da grande aleivosal Tua mulher é tinhosa e há-de parir um sapo chentado num guardanapo, neto da cagarrinhosal

Joane, aparentemente, tem um comportamento inconvenien­te, mas é bom e puro de coração e o Anjo o convida a embarcar.

Observe, no texto a seguir, o diálogo entre o Diabo e a Alcoviteira Brísida Vaz, que traz consigo a casa toda, os instru­mentos de “trabalho” e, pasmem, seiscentos hímens postiços, os quais seriam costurados às moças que já não eram mais vir­gens. E queria entrar na Barca do Céu!

[...]Diabo: Que é o que haveis de embarcar?Alcoviteira: Seiscentos himens postiços,

e três arcas de feitiços que não podem mais levar.Três armários de mentir, e cinco cofres de enleios, e alguns furtos alheios, assim em jóias de vestir; guarda-roupa de encobrir; enfim — casa movediça; um estrado de cortiça com dois coxins de encobrir.A maior carga que é: essas moças que vendia.Daquesta mercadoria trago eu muita, bofé!

TEMÇÂOÍComposto por estrofes em redondilhas maiores, a visão me­dieval sobre a punição dos pecados nela ainda predomina.

A par disso, convém que se observe a sátira ferrenha contra os membros do clero, da justiça, os maus costumes morais, a fidalguia. O moralismo cristão é nota que percorre toda a Trilo­gia das Barcas e, além disso, boa parte das obras gilvicentinas.

Observe-se, ainda, a espontaneidade desse tipo de teatro, o clima bem-humorado e a ironia que perpassam toda a obra. Além de moralizar, é óbvio que o teatrólogo sabia fazer rir. Mas, antes de qualquer coisa, fazia pensar sobre o seu tempo, os costumes sociais e a crise moral vivida por Portugal naquela ocasião.

Leia a seguir um trecho da conversa entre o Diabo, o Anjo e os Quatro Cavaleiros de Cristo, no final da peça.

Vêm Quatro Cavaleiros cantando, os quais trazem cada um a Cruz de Cristo, pelo qual Senhor e acrescentamento de Sua santa fé católica morreram em poder dos mouros. Absoltos a culpa e pena per privilégio que os que assi morrem têm dos mistérios da Paixão d'Aquele por Quem padecem, outorgados por todos os Presidentes

Arra is: barqueiro, condutor. bofé: expressão popular que quer dizer "em boa-fé",

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Sumos Pontífices da Madre Santa Igreja. E a cantiga que assim can­tavam, quanto a palavra dela, é a seguinte:

Cavaleiros: A barca, à barca segura, barca bem guarnecida, à barca, à barca da vidal Senhores que trabalhais pela vida transitória, memória, por Deus, memória deste temeroso caisl A barca, à barca, mortais.Barca bem guarnecida, à barca, à barca da vida!

Vigiai-vos, pecadores, que, depois da sepultura, neste rio está a ventura de prazeres ou doloresl A barca, à barca, senhores, barca mui nobrecida, ò barca, à barca da vidal"

E passando per diante da proa do batei dos danados assi can­tando, com suas espadas e escudos, disse o Arrais da perdição desta maneira:

Diabo: Cavaleiros, vós passaise não perguntais onde vais?

Io Cavaleiro: Vós, Satanás, presumis?Atentai com quem falais!

2o Cavaleiro: Vós que nos demandais?Sequer conhece-nos bem: morremos nas Partes d'Além, e não queirais saber mais.

Diabo: Entrai cá! Que cousa é essa?Eu não posso entender istol

Cavaleiros: Quem morre por Jesus Cristonão vai em tal barca como essal

Tornaram a prosseguir, cantando, seu caminho direito à barca da Glória, e, tanto que chegam, diz o Anjo:

Anjo: O cavaleiros de Deus,a vós estou esperando, que morrestes pelejando por Cristo, Senhor dos Céus!Sois livres de todo mal, mártires da Santa Igreja, que quem morre em tal peleja merece paz eternal.

E assim embarcam.

A farsa de Inês Pereira (1523)

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g. 9 Frontispfcio do Auto de Inês Pereira.

Gil Vicente. In: José Marques da Cruz. História da Literatura, Melhoramentos, São Paulo, 1939. p. 215.

Mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube.

Ditado popular medieval.

É unânime, por parte da crítica, afirmar que A Farsa de Inês Pereira é a mais bem acabada obra de Gil Vicente. Explica-se: entre todas as peças, essa farsa possui fio condutor visível (o que não é característica do autor) e delineia o caráter psicológi­co da personagem de maneira acentuada como ressalta, na obra mencionada, o professor e escritor Álvaro Cardoso Gomes.

Inês Pereira é nos apresentada como uma jovem que, já tendo sido noiva e abandonada, é massacrada pelo trabalho doméstico imposto pela mãe; resolve, então, com 0 auxílio de uma alcoviteira (Lianor Vaz) e, posteriormente, de dois judeus casamenteiros, procurar um marido que alivie sua vida.

O primeiro interessado (Pero Marques) é malrecebido por­que é rico e tolo; mas o segundo (Brás da Mata), o Escudeiro, encanta (e engana) a jovem Inês. Depois do casamento, des­cobre-se enganada e explorada: 0 que 0 Escudeiro prometera, nada cumpre e ainda explora, mais largamente que a mãe, o trabalho da moça.

Com essa farsa, Gil Vicente critica o casamento por inte­resse e a corrupção dos costumes.

A Farsa de Inês Pereira nasceu de um desafio: descon­fiadas da larga produção que Gil Vicente tinha alcançado em tão pouco tempo, algumas pessoas puseram em dúvida que ele fosse autor de tantos autos. Gil pediu-lhes um mote para o dia seguinte. E desse desafio, cujo mote era mais quero asno que me carregue que cavalo que me derrube, ditado popular à épo­ca, que nasceu a mais conhecida peça teatral do autor.

A farsa foi escrita misturando-se o espanhol e o português, e pode ser entendida como uma comédia das mais hilárias que o autor escreveu.

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Inês sonha casar-se bem, com um nobre. Vive quase que miseravelmente, explorada pela mãe nos serviços domésticos; mas se rebela. É o início da peça:

Inês canta uma cantiga:Quien com veros pena y muere que hará cuando no o viere?

Falado: Renego deste lavrare do primeiro que o usouI Ó diabo que o eu dou, que tõo mao é d'aturarl O Jesul Que enfadamento, e que raiva, e que tormento, que cegueira, e que canseiral Eu hei-de buscar maneira d'algum outro aviamento.

Coitada, assi hei-de estar encerrada nesta casa como panela sem asa que sempre está num lugar?E assi hõo-de ser logrados dous dias amargurados, que eu posso durar viva?E assi hei-de estar cativa m poder de desfiados?

Observação: Percebe-se que as estrofes usadas na farsa têm nove versos cada uma; cada verso tem sete sílabas métricas (heptassíla- bos) e são chamados redondilhas maiores ou tradicionais.

Seu conteúdo não foge à regra da sátira gilvicentina: moça ca- sadoira, viciosa e ociosa intelectualmente, malformada quanto ao caráter, busca pretendentes através de uma alcoviteira, Lianor Vaz.

Enganada quanto à escolha do primeiro marido, Inês escolhe o segundo, um parvo chamado Pero Marques, rico e que se lhe faz todas as vontades. O novo marido é homem pio, devoto, cré­dulo. Inês tem tudo o que quer; mas o destino, juntando as pontas de intrincado laço, aproxima Inês de um ex-namorado que havia se tomado monge e que agora leva vida de ermitão devoto. Ao pedir esmolas na casa desta, ela o reconhece:

Inês: Jesul Jesul Manas minhas!Sois vós aquele que um dia en casa de minha tia me mandastes camarinhas, e quando aprendia a lavrar mandáveis-me tanta cousinha?Eu era ainda Inesinha,Nõo vos queria falar.

Mas o Ermitão faz uma proposta:Ermitão: Senora, tengoos servido,

y vos o mi despreciado; hazed que el tiempo pasado no seu cuente por perdido.

Inês convence o marido a levá-la à ermida. Para tanto, tinha que passar um rio a vau (raso, sem precisar nadar) e enquanto Pero a levava sobre os ombros, Inês cantava para*ele, tratando-o por “marido cuco, gamo”, traduza-se aqui pelas palavras de baixo calão “chifrudo, comudo”. E ia à ermida encontrar-se sexualmente com o ermitão.

O ditado popular que dá origem à farsa está, então, expli­cado. O asno é Pero Marques, marido crédulo e bom; o cavalo é o escudeiro que, apesar de garboso, a maltratava.

Com essa peça Gil Vicente critica agudamente o casamento por interesse, a falsa moralidade cristã. Inês Pereira é símbolo de uma época de deslizes morais e predisposição ao adultério, gerados sempre pelo casamento por interesse.

Auto do Lusitânia (1532)Essa peça foi oferecida a d. João III, trinta anos após Gil

Vicente ter escrito, por ocasião de seu nascimento, em 1502, o Monólogo do Vaqueiro (Auto da Visitação).

Seu núcleo é mítico-nacionalista: Lisibea, ninfa de mag­nífica beleza, acendeu a paixão do Sol e dele teve uma filha: Lusitânia, também formosa, cuja fama alcançou Portugal.

Lusitânia e Portugal se encontraram e se apaixonaram perdi- damente; Lisibea, enciumada, morreu e foi enterrada na mon­tanha Feliz Deserta. Sobre seu túmulo edificou-se uma cidade que a homenageia: Lisboa.

O Auto da Lusitânia não narrou apenas essa história. Sendo um auto alegórico, suas personagens representaram sistemati­camente ações, criaturas e seres que nelas foram simbolizados. Mais uma vez, por meio de Dinato e Berzebu, que se encarrega­ram de relatar a Lúcifer, por meio do que presenciaram o que se passou em Portugal da época, a ironia, o humor, os trocadilhos, principalmentes estes, deram o toque especialíssimo ao panora­ma social que Gil Vicente tentava denunciar de seu país.

Vamos transcrever a parte mais conhecida do Auto: o en­contro entre Todo o Mundo e Ninguém.

Estão em cena dois diabos, Berzebu e Dinato, este prepa­rado para escrever.

Entra Todo o Mundo, homem como rico mercador, e faz que anda buscando alguma coisa que se lhe perdeu; logo após ele, um homem, vestido como pobre. Este se chama Ninguém, e diz:

Ninguém:Todo o Mundo:

Ninguém:Todo o Mundo:

Ninguém:

Berzebu para Dinato:

Que andas tu aí buscando? Mil Coisas ando a buscar: delas não posso achar porém ando porfiando, por quão bom é porfiar. Como hás nome, cavaleiro? Eu hei nome Todo o Mundo, e meu tempo todo inteiro sempre é buscar dinheiro, e sempre nisto me fundo.E eu hei nome Ninguém,E busco a consciência.Esta é boa experiência! Dinato, escreve isto bem

buscando: procurando; porfiando: lutando.

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Dinato:Berzebu:

Que escreverei, companheiro?Que Ninguém busca consciência, e Todo o Munc/o dinheiro.

Farsa do Velho da Horta (1512)A farsa gira em tomo dos amores de um velho já sessentão

(o próprio Gil Vicente fará o papel do velho na primeira apre­sentação da peça) e uma mocinha que vai até sua horta “buscar cheiros pra panela”.

O Velho a corteja e apaixona-se por ela. Uma alcoviteira, aproveitando-se da situação, põe-se a tirar a fortuna do Velho e o deixa na miséria (ao que tudo indica, sem o consentimento da Moça).

O ridículo que se estabelece na peça fica por conta da ma­neira de se comportar do Velho assanhado, em busca de um amor juvenil. A alcoviteira extorque seu dinheiro com a pro­messa de que fará o casamento do Velho com a Moça.

A peça termina quando, ao receber uma freguesa, o Velho fica sabendo que a Moça por quem se apaixonara estava casa­da. Leia o fragmento, parte inicial da obra.

Esta seguinte farsa é o seu argumento que um homem honrado e muito rico, já velho, tinha uma horta: e andando uma manhõ por ela espairecendo, sendo o seu hortelã o fora, veio uma moça de muito bom parecer buscar hortaliça, e o Velho em tanta maneira se enamorou dela que, por via de uma alcoviteira, gastou toda a sua fazenda. A alcoviteira foi açoitada, e a Moça casou honradamente. Entra logo o Velho rezando pela horta. Foi representada ao mui sereníssimo rei d. Manuel, o primeiro desse nome. Era do Senhor de M.D.XII.Velho: Pater noster criador, Qui es in coelis, poderoso, San-

tificetur, Senhor, nomen tuum vencedor, nos céu e ter­ra piedoso. Adveniat a tua graça, regnum tuum sem mais guerra; voluntas tua se faça sicut in coelo et in

Entra a Moça Velho:Moça Velho Moça Velho Moça

Velho:

Moça:Velho:

Moça:

VelhoMoçaVelho

Moça:

terra. Panem nostrum, que comemos, cotidianum teu é; escusá-lo não podemos; inda que o nõo mere­ceremos tu da nobis. Senhor, debita nossos errores, sicut et nos, por teu amor, dimittius qualquer error, aos nosso devedores. Et ne nos, Deus, te pedimos, inducas, por nenhum modo, in tentationem caímos porque fracos nos sentimos formados de triste lodo. Sed libera nossa fraqueza, nos a maio nesta vida; Amen, por tua grandeza, e nos livre tua alteza da tristeza sem-medida.

na horta e diz o Velho:Senhora, benza-vos Deus,Deus vos mantenha, senhor.Onde se criou tal flor? Eu diria que nos céus.Mas no chõo.Pois damas se acharão que nõo são vosso sapatol Ail Como isso é tão vão, e como as lisonjas são de barato!Que buscais vós cá, donzela, senhora, meu cora­ção?Vinha ao vosso hortelão, por cheiros para a panela. E a isso vinde vós, meu paraíso. Minha senhora, e nõo a aí?Vistes vós! Segundo isso, nenhum velho nõo tem siso natural.O meus olhinhos garridos, mina rosa, meu arminho! Onde é vosso ratinho? Não tem os cheiros colhidos? Tão depressa vinde vós, minha condensa, meu amor, meu coração/Jesus! JesusI Que coisa é essa? E que prática tõo avessa da razão!

__ RevisandoVunesp Levando em consideração o Humanismo e seu

conjunto de atividades literárias, indique entre elas o que ca­racteriza a seguinte afirmação:

[...] O ritmo, agora, é alcançado com os próprios recursos das pa­lavras, despidas do aparato musical, dispostas em versos, estrofes. A poesia adquire ritmo próprio, torna-se 'moderna', mas, diga-se de pas­sagem, não cessará daí por diante de buscar o antigo consórcio através duma série de tentativas, principalmente a partir da revolução romântica.

Massaud Moisés.

Explique a importância da “raia miúda” para a crônica de Femão Lopes.

Ó meu bem, pois te partiste dante meus olhos coitado, os ledos me farão triste, os tristes desesperado.Triste vida sem prazer me deixas com gran cuidado, que por meu negro pecado me vejo vivo morrer; meu prazer me destruíste, meu nojo será dobrado, porque sou cativo, triste, de meu bem desesperado.

D iogo de Miranda.

a Diogo de Miranda é poeta palaciano e quase nada se BI O que são autos?sabe dele. Lendo-se o poema a seguir, podemos observar al- __________________________gumas preocupações da época em que foi composto. Aponte __________________________duas dessas preocupações. __________________________

I

Page 169: Livros poliedro   caderno 1 português

Fuvest Leia o trecho:Chega ao batei do Anjo e diz:Joane — Hou do barco!Anjo — Que me queres?Joane - Queres-me passar além?Anjo — Quem és tu?Joane — Samica alguém.Anjo — Tu passarás, se quiseres;

porque em todos teus fazeres per malícia nom erraste tua simpreza t'abaste para gozar dos prazeres.

Espera entanto per i; veremos se vem alguém merecedor de tal bem que deva de entrar aqui.

Depois de reler o texto, responda.a) Quem é Joane? Indique o outro nome por que é tratado no

texto.

b) Por que o Anjo diz que ele pode ficar na Barca do Céu?

Exercícios propostosSobre o período Humanista em Portugal.

(a) Representa uma fase de transição entre o Medievalismo e o Renascimento.

(b) A prosa historiográfica, a poesia palaciana e a obra teatral gilvicentina são suas manifestações mais relevantes.

(c) Nele define-se o contorno da Língua Portuguesa e acen­tua-se um sentimento de nacionalidade.

(d) Corresponde, cronologicamente, ao que definimos como Quatrocentismo.

(e) Todas as alternativas são corretas.

Leia.O castigo aos assassinos de Inês de Castro

[...] A maneira de sua morte, sendo dita pelo povo, seria muito estranha e cruel de contar, pois El-Rei d. Pedro mandou tirar o cora­ção pelos peitos a Pero Coelho, e a Álvaro Gonçalves pelas espá- duas; e dando-lhes as vísceras para os cães sarnentos e miseráveis de Lisboa, mandou-os enfim queimar seus corpos. Foi assim que puniu aos assassinos da mulher que muito amou.

Femão Lopes. Crônica de d. Pedro I.

Levando em conta o texto citado e o que sabe sobre a historio­grafia portuguesa, responda indicando a afirmação de melhor qualidade.(a) Narração realista e dinâmica que quase nos faz visualizar

os acontecimentos.(b; Fidelidade absoluta aos acontecimentos históricos.

:} Utilização de linguagem especialmente elevada, de acordo com os padrões da época.

i) Exaltação dos atos heroicos de d. Pedro I. t) Não há alternativa que se adapte como resposta.

D Vunesp A obra de Femão Lopes pode ser definida como humanismo de caráter:(a) puramente cientificista, uma vez que é essencialmente his­

tórica.(b) literário, por fazer incursões históricas, mas fazer prevale­

cer o estilo.(c) histórico, mas com tratamento estilístico, linguagem figura­

da, descritiva e colorida.

1) literário: linguagem expressiva, uso de linguagem figurativa.i) histórico, em virtude da descrição dos fatos e fidelidade à

documentação.

D Sobre Fernão Lopes, fundador da historiografia medievalportuguesa e primeiro cronista lusitano, assinale, entre as alter­nativas abaixo, a única falsa.

i) Marca o início do Humanismo em Portugal em 1418, quan­do de sua nomeação para o cargo de cronista-mor da Torre do Tombo em Lisboa.

(b) Apoia-se em documentação que submete a rigorosa observa­ção crítica e, por isso, aproxima-se dos atuais historiadores.

(c) Todas as personagens de Fernão Lopes são tingidas de heroísmo, tendo como base os cavaleiros medievais.

Q Dele restaram apenas três longos relatos: as crônicas do Rei d. Pedro I, do Rei d. Fernando e do Rei d. João I.

i) Crítico, o cronista deixa vir à tona os defeitos das autorida­des; coloca o povo como fundamento das transformações.

B E B Sobre a poesia palaciana, assinale a única alternativaincorreta.(a) Camões é um dos seus principais representantes.(b) Foi publicada no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende,

em 1516.:) Utiliza-se largamente de versos “redondilhos”, chamados

medida velha ou tradicional.(d) Vale-se do procedimento de motes e glosas.

i) É poesia sofisticada, galante, feita para ser declamada em público.

D Fuvest Caracteriza o teatro de Gil Vicente:(a) a revolta contra o cristianismo.(b) a obra escrita em prosa.

:) a elaboração requintada dos quadros e cenários apresen­tados.

1) a preocupação com o homem e com a religião.(e) a busca dos conceitos universais.

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D Fuvest Aponte a alternativa correta em relação a Gil Vicente.i) Destaca-se na dramaturgia, com peças sacras e satíricas.>) Introduziu a lírica trovadoresca em Portugal.:) Escreveu a novela Amadis de Gaula.

(d) Só escreveu peças em português.0 Representa o melhor do teatro clássico português.

O Vunesp Sobre o teatro de Gil Vicente, assinale a única incorreta.

i) Leva ao palco e desnuda toda a sociedade portuguesa: fi­dalgos decadentes, o clero, os judeus onzeneiros, padres libertinos, vagabundos e beberrões, não poupando nenhu­ma classe ao satirizar o tempo em que viveu.

>) Não obedece à Lei das Três Unidades, que regem o teatro clássico. O teatro gilvicentino é espontâneo, crítico.

j) O teatro gilvicentino é escrito em versos e sua produção divide-se em autos, farsas e alegorias.

í) Seu teatro repete, com sucesso, o modelo medieval dos mistérios e milagres.

>) Seu teatro é espontâneo, crítico e bem-humorado.

Q Fuvest Indique a afirmação correta sobre o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente.

!} É intrincada a estruturação de suas cenas, que surpreen­dem o público com o inesperado de cada situação.

>) O moralismo vicentino localiza os vícios não nas institui­ções, mas nos indivíduos que as fazem viciosas.

:) É complexa a crítica aos costumes da época, já que o autor é o primeiro a relativizar a distinção entre o Bem e o Mal.

i) A ênfase desta sátira recai sobre as personagens popula­res, as mais ridicularizadas e as mais severamente punidas.

») A sátira aqui é demolidora e indiscriminada, não fazendo referência a qualquer exemplo de valor positivo.

B S Vunesp Entre as alternativas a seguir, assinale a incorre­ta sobre o Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente.

i) Nesta peça, o cenário se compõe de um cais que separa o reino dos vivos do reino dos mortos, ao qual estão anco­radas duas barcas: uma governada por um anjo (Arrais do Céu) e a outra por um demônio (Arrais do Inferno).

>) Diante das barcas, desfilam várias personagens que, em diálogo com o anjo ou com o demônio, tentam expor suas razões pelos feitos terrenos, numa tentativa de conquistar o direito ao reino dos céus.

;) Salvam-se, entre todos os que se apresentam aos barquei­ros, o Parvo e os Quatro Cavaleiros de Cristo.

J) Brízida Vaz é uma conselheira que ama os seres humanos, é bondosa e dedicada à salvação das almas.

;) São ainda personagens da peça: o fidalgo, o onzeneiro, o frade, o sapateiro, o corregedor, o procurador.

K l l O Auto da Barca do Inferno pode ser entendido como:(a) crítica violenta à Igreja do século XVI.(b) crítica à nobreza, tanto que é oferecido a d. Maria, rainha

de Portugal, com o intuito de criticá-la.:) elogio à doutrina católica que ensina a punição dos maus e

eleva os bons.(d) crítica aguda a todas as classes sociais, à corrupção do

homem e à ausência de espiritualidade das pessoas. i) crítica à mulher adúltera, modismo renascentista.

m Na Farsa de Inês Pereira, Gil Vicente:(a) critica os costumes sociais, sobretudo o casamento entre

as pessoas do povo e a nobreza.(b) critica o casamento por interesse, o adultério, os maus cos­

tumes sociais.(c) confere atualidade à obra quando fala de um monge que,

apaixonado, é impedido de casar pela hierarquia católica.i) narra a vida e os amores de Inês Pereira, moça órfã e inde­

fesa, perseguida por fidalgos imorais.>) narra a vida de Pero Marques, o escudeiro, apaixonado por

Inês.

O texto a seguir refere-se às questões 13 e 14.

Todo o Mundo Folgo muito d'engonor e mentir nasceu comigo.

Ninguém Eu sempre verdades digoSem nunca me desviar.

Berzebu para Dinato:Ora escreve lá, compadre.Nõo sejas tu preguiçoso!

Dinato Quê?lBerzebu Que Todo o Mundo é mentiroso

e Ninguém diz a verdade.G il V icen te . Auto da Lusitânia.

■ E l Fuvest No texto, Todo o Mundo e Ninguém constituem tipos:(a) arcaicos. (c) amorais. (e) religiosos.(b) alegóricos. (d) políticos.

m Fuvest O texto afirma que:(a) Todo mundo é mentiroso.(b) Ninguém é mentiroso.(c) Todo mundo diz a verdade.(d) Ninguém diz a verdade.(e) Todo o mundo é mentiroso.

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Fernão Lopes e o mito de Inês de Castro

Na Crônica cTEI-Rei d. Pedro I, o Cruel, escrita por Femão Lopes, aparece a morte de Inês de Castro, a rainha coroada depois de morta, mito que o povo português consagrou.

No próximo capítulo (Classicismo), você encontrará Luís de Camões entusiasmado por essa história, a ponto de transformá-la no Canto III de sua epopeia, Os Lusíadas.

Inês de Castro existiu? A resposta é sim. Morta no dia 7 de janeiro de 1355, a mando do pai de Pedro, quando este ainda era Infante, foi amante do futuro rei e dele teve dois filhos. Os historiadores são unânimes ao afirmar que ela era espanhola, de origem nobre, e veio para Portugal como dama de companhia de d. Constança, futura rainha de Portugal, cuja mão estava destinada a Pedro.

Mas o nobre português apaixonou-se por Inês e traiu sua mu­lher Constança. Diz a lenda que Constança morreu de desgosto por isso. Pedro, assim que a esposa morreu, casou-se em segredo com Inês, à revelia do povo. O pai dele, d. Afonso IV, mandou matá-la às escondidas, o que trouxe enorme dor ao futuro rei.

Quando subiu ao trono, cinco anos depois, Pedro a desenter­rou e promoveu a coroação da mulher que tanto amou.

Hoje, os túmulos de Pedro e Inês encontram-se no Mosteiro de Alcobaça, frente a frente. Diz a lenda que esperam pelo dia do Juízo Final porque, a partir de então, estarão para sempre juntos.

RESUM INDO

• O Humanismo é fase de transição, inserido entre o fim da Idade Média e o Renascimento.Há três manifestações literárias da­quela época: a crônica historiográfica de Fernõo Lopes, a poesia palaciana e o teatro popular vicentino.Fernõo Lopes é o mais consagrado historiador medieval português; em 1434 d. Duarte nomeou-o "cronis- “Heródoto português”, ta-mor" da Torre do Tombo (Arquivo histórico nacional) para "poer em caronica as coisas do reino e dos reis que em Portu­gal foram", ou seja, colocar em ordem cronológica a História daquele país. Pesquisou documentos em prefeituras, hospitais, mosteiros, bibliotecas. Sua crônica é requintada, descritiva, e traz, pela primeira vez, a presença do povo nos relatos da­quele gênero. Sua obra mais significativa é a Crônica d'EI-Rei d. Pedro I, o Cruel; nela, Camões inspirou-se para criar o Canto III de Os Lusíadas.No Humanismo, a poesia divorcia-se da música e, distancian­do-se do Trovadorismo, passa a ser conhecida como "poesia

palaciana"; mais requintada, faz uso de figuras estilísticas como metáforas, prosopopeias e metonímias. Nelas, o eu líri­co é sempre masculino. É feita para ser declamada.O poeta mais importante da época é João Roiz de Castelo Branco. Leia:

Cantiga sua, partindo-se Senhora, partem tõo tristes meus olhos por vós, meu bem, que nunca tõo tristes vistes outros nenhuns por ninguém.Tõo tristes, tão saudosos, tõo doentes da partida, tão cansados, tõo chorosos, da morte mais desejosos cem mil vezes que da vida.Partem tão tristes os tristes, tão fora d'esperar bem, que nunca tão tristes vistes outros nenhuns por ninguém.

João Roiz de Castelo Branco.Líricas portuguesas, Portugália Editora, p. 45.

QUER SABER MAIS?

www.bibvirt.futuro.usp.br/textos/biografias/autores/gil_vicente SITES www.mundocultural.com.br/literatura 1 /humanismo/gilvicente.html

_ . i , , www.vidaslusofonas.pt/femaolopes.htmRara conhecer mais os autores do Humanismo, navegue nos sites: www.klepsidro.net/klepsidra5/femao.htmlhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Gil_Vicente http://antt.dgarq.gov.pt/

Túmulo de Inês de Castro, que fica no Mosteiro de Alcobaça.

Page 172: Livros poliedro   caderno 1 português

ü Leia cuidadosamente o texto a seguir.Foi El-Rei d. João homem de corpo, mais grande que pequeno,

mui bem feito, e em todos seus membros mui proporcionado; teve o rosto mais comprido, que redondo, e de barba em boa conveniência povoado. Teve os cabelos da cabeça castanhos, e corredios; porém em idade de trinta e sete anos, na cabeça, e na barba era já mui cõo, de que mostrava receber grande contentamento, pola muita autoridade que a sua Dignidade Real suas cãs lhe acrescentavam: e os olhos de perfeita vista, e òs vezes mostrava nos brancos deles umas veias, e mágoas de sangue, com que nas cousas de sanha, quando era dela focado, lhe faziam o aspecto mui temeroso. E porém nas cousas de honra, prazer e gasalhado, mui alegre, e dé mui real, e excelente graça: o nariz teve um pouco comprido, e derribado algum tanto sem fealdade. Era em todo mui alvo, salvo no rosto que era corado em boa maneira. E até a idade de trinta anos foi enxuto de carnes, e depois foi nelas mais revolto. Foi príncipe de maravilhoso engenho, e subida agudeza, e mui místico para todalas cousas; e a confiança grande que disso tinha, muitas vezes lhe fazia confiar mais de seu saber, e creio conselhos de outrem menos do que devia. Foi de mui viva, esperta memória, e teve o juízo claro e profundo.

Levando em consideração as características do trecho lido, responda:

í ) o texto foi escrito por Gil Vicente, que também demonstrou seu pendor como historiador durante o Humanismo.

>) o texto pode ser tomado como tipicamente pertencente a Femão Lopes, dado o seu caráter regiocêntrico.

:) o texto com assentos notadamente descritivos, estilo vivo e direto é de Gomes Eanes Azurara (ou Zurara).

(d) o fragmento citado foi escrito por Rui de Pina que, apesar de recortar as crônicas de Femão Lopes, imitando-lhe o estilo, foi ótimo descritivista, dado o detalhismo que im­prime às suas narrações.

:) o texto foi escrito durante o governo de d. João VI no Bra­sil e o autor é desconhecido.

B Sobre Femão Lopes, primeiro cronista-mor do Reino de Portugal e fundador da historiografia portuguesa, assinale a única alternativa falsa.(a) Apoia-se em documentação que submete a rigoroso crivo

crítico, aproximando-se da concepção modema da História.(b) Existem relatos vivos, dinâmicos e coloridos nas crônicas

de d. João I e de d. Pedro.(c) Relatou minuciosamente o episódio da morte de Inês de

Castro, a “rainha que foi coroada depois de morta”.I) Foge da visão regiocêntrica dos cronistas anteriores.:) Os heróis de Femão Lopes são assemelhados aos cavalei­

ros medievais.

E l Sobre Femão Lopes, é lícito afirmar que: l) constrói narrativas históricas com clareza de palavras,

isenção dos fatos, capacidade de identificar transgressões de qualquer natureza.

(b) foi um grande historiador de língua portuguesa, porém sua visão é ainda regiocêntrica.

(c) narra os fatos como se os presenciasse: sua narrativa, em nada regiocêntrica, é colorida e nela, pela primeira vez, há registro de participação popular.

(d) não admite recriação literária, é severo quanto às seqüên­cias narrativas e crítico mordaz das classes burguesas.

(e) foi um grande historiador do período barroco português.

a Unicamp Leia com atenção os poemas transcritos a seguir.

Cantiga sua partindo-se Senhora, partem tão tristes meus olhos por vós, meu bem, que nunca tõo tristes vistes outros nenhuns por ninguém.

Tõo tristes, tão saudosos, tão doentes da partida, tão cansados, tõo chorosos, da morte mais desejosos cem mil vezes que da vida

Partem tõo tristes os tristes, tão fora de esperar bem, que nunca tão tristes vistes outros nenhuns por ninguém.

João Ruiz de Castelo Branco.

S o n e t oAquela triste e leda madrugada, cheia toda de mágoa e piedade, enquanto houver no mundo saudade quero que seja sempre celebrada.

Ela só, quando amena e marchetada saía, dando ao mundo claridade, viu-se apartar-se de uma outra vontade, que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio,que duns e doutros olhos derivadas,se acrescentaram em grande e largo rio.

Ela viu as palavras magoadas, que puderam tomar o fogo frio e dar descanso às almas condenadas.

Luís de Camões.

Ambos os poemas desenvolvem a dor da separação, mas tra­tam-na de forma diferente. Exponha em que consiste esse trata­mento diferenciado do tema em cada poema.

leda: alegre; marchetada: esmaltada, matizada.

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D Vunesp Leia.Coração, já repousavas, já nõo tinhas sojeiçõo, já vivias, já folgavas; pois por que te sojugavas outra vez, m eu co ração?

Sofre, pois te não sofreste na vida que já vivias; sofre, pois tu perdeste; sofre, pois não conheceste como t'outra vez perdias!

Sofre, pois já livre estavas e quiseste sojeiçõo; sofre, pois te não lembravas das dores de qu'escapavas; sofre, sofre, coração!

A literatura portuguesa é fértil em obras onde se reúnem com­posições poéticas de diversos autores, obras a que normalmente se dá o nome geral de cancioneiros. E é por meio deles que se pode ter uma ideia exata da evolução da poesia nos primeiros quatro séculos da literatura peninsular, nomeadamente da pas­sagem da poesia trovadoresca, com seus cenários simples e seu universo rural, para a poesia palaciana, que nos mostra jogos verbais e conceptuais mais elaborados.A composição transcrita é de um cancioneiro famoso publicado em 1516. Assinale, nas alternativas indicadas, o cancioneiro a que pertence.(a) Cancioneiro Popular.(b) Cancioneiro Alegre, de Camilo C. Branco.(c) Cancioneiro da Vaticana(d) Cancioneiro, de Luís Franco Correia.(e) Cancioneiro Geral, de Garcia de Resende.

D Entre as alternativas a seguir, assinale a única certa sobre o teatro popular de Gil Vicente.(a) Seus autos e farsas mesclam crítica à nobreza e ao clero,

linguagem clássica, conservadora, e têm caráter filosófico.(b) Embora ainda expresse uma visão medieval (teocêntrica),

em pleno mundo renascentista, critica duramente a ambi­ção, a imoralidade, os maus costumes sociais e não poupa de suas críticas nenhuma classe social.

(c) Realizou teatro de densidade psicológica; analisou profun­damente os tipos sociais de seu tempo.

(d) Fez peças trágicas, clássicas, satíricas, de nítida influência greco-romana.

(e) Sua primeira peça é a célebre Floresta de Enganos, de 1536.

Q O Monólogo do Vaqueiro, também conhecido como o Auto da Visitação, foi apresentado em 1502, na alcova real, para saudar o nascimento de d. João III, filho do rei d. Manuel, o Venturoso. Essse fato pode ser entendido como:(a) o início do teatro popular em Portugal.(b) o início do Humanismo em Portugal.(c) o aparecimento da obra de Gil Vicente, até então um mero

cronista real.

(d) a denúncia de um tempo triste para os portugueses e a es­perança de que a pecuária se expandisse naquele país.

(e) a denúncia contra as grandes navegações portuguesas.

Entre as alternativas a seguir, apenas uma refere-se in­tegralmente ao teatro humanista de Gil Vicente:(a) tem como tema o homem e seus pecados.(b) é escrito em versos redondilhos.(c) foi escrito apenas em espanhol.(d) foi escrito apenas em português.(e) foi escrito no dialeto saiaguês.

B I Leia o texto.E vimos singularmentefazer representaçõesde estilo mui eloqüente,

de mui novas invenções.e feitas por Gil Vicente:ele foi o que inventouisto cá, e o usoucom mais graça e mais doutrina,posto que Juan dei Encinao pastoril começou.

Garcia de Resende. M/sce/ânea,1554.

Em relação aos termos em destaque nos versos com que Garcia de Resende homenageia a mais alta expressão do teatro portu­guês no século XVI, estes conotam:(a) Trata-se de observação sobre o teatro religioso de Gil Vi­

cente, de caráter doutrinário.(b) Trata-se da nomeação do teatro profano “de mui novas in­

venções” em contraposição ao teatro religioso, os mistérios e milagres da Igreja medieval.

(c) Trata-se de reconhecer em Gil Vicente um dramaturgo niti­damente quinhentista, com características renascentistas.

(d) Trata-se de reconhecer como estilo “mui eloqüente” o fato de Gil Vicente ter feito um teatro alegre, brincalhão, espon­tâneo.

(e) Trata-se de reconhecer Gil Vicente como clássico-renas- centista.

n a Unip Seu teatro caracteriza-se, antes de tudo, por ser pri­mitivo, rudimentar e popular, muito embora tenha surgido e se tenha desenvolvido no ambiente da corte, para servir de entre­tenimento nos animados serões oferecidos pelo rei. Entre suas obras destacam-se Monólogo do Vaqueiro, Floresta de Enga­nos, o Velho da Horta, Quem tem farelos?. Trata-se de:(a) Martins Pena. (d) Artur Azevedo.(b) José de Alencar. (e) Sá de Miranda.(c) Gil Vicente.

m PUC-SP Diabo, Companheiro do Diabo, Anjo, Fidalgo, Onzeneiro, Parvo, Sapateiro, Frade, Florença, Brísida Vaz, Ju­deu, Corregedor, Procurador, Enforcado e Quatro Cavaleiros são personagens de Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente. Analise as informações a seguir e selecione a alternativa in­correta, cujas características não descrevam adequadamente a personagem.

Page 174: Livros poliedro   caderno 1 português

i) Onzeneiro idolatra o dinheiro, é agiota e usurário; de tudo que juntara, nada leva para a morte, ou melhor, leva a bolsa vazia.

}) Frade representa o clero decadente e é subjugado por suas fraquezas: mulher e esporte; leva a amante e as armas de esgrima.

} Diabo, capitão da barca do inferno, é quem apressa o em­barque dos condenados; é dissimulado e irônico.

I) Anjo, capitão da barca do céu, é quem elogia a morte pela fé; é austero e inflexível,

í) Corregedor representa a justiça e luta pela aplicação ín­tegra e exata das leis; leva papéis e processos.

É H Fuvest Considere as seguintes afirmações sobre o Autoda Barca do Inferno, de Gil Vicente.I. O auto atinge o seu clímax na cena do Fidalgo, personagem

que reúne em si os vícios das diferentes categorias sociais anteriormente apresentadas.

II. A descontinuidade das cenas é coerente com o caráter didá­tico do auto, pois facilita o distanciamento do espectador.

III. A caricatura dos tipos sociais presentes no auto não é gratui­ta nem artificial, mas resulta da acentuação de traços típicos.

Está correto apenas o que se afirma em:(a) I. (c) II e III. (e) I e III.(b) II. (d ) le ll .

B I UFRS Considere as seguintes afirmações, relacionadas aoepisódio do embarque do fidalgo, da obra Auto da Barca doInferno, de Gil Vicente.I. A acusação de tirania e presunção dirigida ao fidalgo con­

figura uma crítica não ao indivíduo, mas à classe a que ele pertence.

II. Gil Vicente critica as desigualdades sociais ao apontar o des­prezo do fidalgo aos pequenos, aos desfavorecidos.

III. No momento em que o fidalgo pensa ser salvo por haver deixado, em terra, alguém orando por ele, evidencia-se a crítica vicentina à fé religiosa.

Quais estão corretas?(a) Apenas I. (c) Apenas I e III. (e) I, II e III.(b) Apenas I e II. (d) Apenas II e III.

d Fuvest Na Farsa de Inês Pereira, Gil Vicente:(a) retoma à análise do velho apaixonado, desenvolvida em O

Velho da Horta.(b) mostra a humilhação da jovem que não pode escolher seu

marido, tema de várias peças desse autor.(c) descreve a revolta da jovem confinada aos serviços domés­

ticos.(d) conta a história de uma jovem que assassina o marido para

se livrar dos maus-tratos.(e) aponta, quando Lianor narra as ações do clérigo, uma solu­

ção religiosa para a decadência moral de seu tempo.O texto a seguir refere-se às questões de 15 a 17.

Senhora amiga Inês P'reirq,Pêro Marquez, vosso amigo, que ora estou na vossa aldea mesmo na vossa mercea m'encomendo. E mais digo, digo que benza-vos Deos,

que vos fez de tõo bom jeito.Bom prazer e bom proveito veja vossa mãe de vós.E de mim também assi.

Ainda que eu vos vi est'outro dia folgar e não quisestes bailar nem cantar presente mi [...]

Gil Vicente. A farsa de Inês Pereira.

Responda às questões:a) De quantas sílabas métricas se compõem os versos do frag­

mento?b) Qual é o nome com o qual são designados tais versos? Há

outro tipo de designação para eles. Você sabe qual é?c) Defina tecnicamente a diferença entre auto e farsa na obra

de Gil Vicente.

I Q Divida as sílabas métricas dos dois primeiros versos do fragmento.

C l Nos dois versos em questão existe um fenômeno conhe­cido como elisão. Aponte onde se encontra e defina o processo.

As questões de 18 a 20 têm por base os seguintes fragmentos do Auto da Lusitânia (1532), de Gil Vicente, e de O Cortiço (1890), de Aluísio Azevedo.

Auto da Lusitânia Entra Todo o Mundo, homem como rico mercador, e faz que

anda buscando alguma coisa que se lhe perdeu; logo após ele um homem, vestido como pobre. Este se chama Ninguém, e diz:

Ninguém Que andas tu aí buscando?Todo o Mundo Mil Coisas ando a buscar:

delas não posso acharporém ando porfiando,por quão bom é porfiar.

Ninguém Como hás nome, cavaleiro?Todo o Mundo Eu hei nome Todo o Mundo,

e meu tempo todo inteirosempre é buscar dinheiro,e sempre nisto me fundo.

Ninguém E eu hei nome Ninguém,E busco a consciência.

Berzebu para Dinato:Esta é boa experiêncialDinato, escreve isto bem

Dinato Que escreverei, companheiro?Berzebu Que Ninguém busca consciência§

e Todo o Mundo dinheiro.Ninguém para Todo o Mundo:

E agora que buscas lá?Todo o Mundo Busco honra muito grande.Ninguém E eu virtude, que Deus mande

que tope com ela já.Berzebu para Dinato:

Outra adição nos acude:Escreve logo i a fundo,que busca honra Todo o Mundo,E Ninguém busca virtude.

Page 175: Livros poliedro   caderno 1 português

Ninguém Buscas outro mor bem qu'esse?Todo o Mundo Busco mais quem me louvasse

tudo quanto eu fezesse.Ninguém E eu quem me repreendesse

em cada cousa que errasse.

Berzebu para Dinato:Escreve mais.

Dinato Que tens sabido?Berzebu Que quer em extremo grado

Todo o Mundo ser louvado,E Ninguém ser repreendido.

Ninguém para Todo o Mundo:Buscas mais, amigo meu?

Todo o Mundo Busco a vida e quem ma dê.Ninguém A vida nõo sei que é,

a morte conheço eu.Berzebu para Dinato:

Escreve lá outra sorte.Dinato Que sorte?Berzebu Muito garrida:

Todo o Mundo busca a vida,E Ninguém conhece a morte.

Todo o Mundo para Ninguém:E mais queria o paraíso, sem mo ninguém estrovar.

Ninguém E eu ponho-me a pagarquanto devo pero isso,

Berzebu para Dinato:Escreve com muito aviso

Dinato Que escreverei?Berzebu Escreve

que Todo o Mundo quer paraíso, e Ninguém paga o que deve.

Gil Vicente. Auto da Lusitânia. Obras de Gil Vicente. Porto: Lello & Irmão,1965, p . 452 e 453.

O CortiçoDaí a alguns meses, Joõo Romõo, depois de tentar um derra­

deiro esforço para conseguir algumas braças do quintal do vizinho, resolveu principiar as obras da estalagem.

— Deixa estar, conversava ele na cama com Bertoleza; deixa estar que ainda lhe hei de entrar pelos fundos da casa, se é que nõo lhe entre pela frentel Mais cedo ou mais tarde como-lhe, não duas braças, mas seis, oito, todo o quintal e até o próprio sobrado talvezl

E dizia isso com uma convicção de quem tudo pode e tudo espera da sua perseverança, do seu esforço inquebrantável e da fecundidade prodigiosa do seu dinheiro, dinheiro que só lhe saía das unhas para voltar multiplicado.

Desde que a febre de possuir se apoderou dele totalmente, to­dos os seus atos, todos, fosse o mais simples, visavam um interesse pecuniário. Só tinha uma preocupação: aumentar os bens. Das suas hortas, recolhia para si e para a companheira os piores legumes, aqueles que, por maus, ninguém compraria; as suas galinhas pro­duziam muito e ele não comia um ovo, do que no entanto gostava imenso; vendia-os todos e contentava-se com os restos de comida dos trabalhadores. Aquilo já não era ambição, era uma moléstia nervosa, uma loucura, um desespero de acumular, de reduzir tudo a moeda. E seu tipo baixote, socado, de cabelos à escovinha, a barba sempre por fazer, ia e vinha da pedreira para a venda, da venda às hortas e ao capinzal, sempre em mangas de camisa, de tamancos, sem meias, olhando para todos os lados, com o seu eterno ar de cobiça, apoderando-se, com os olhos, de tudo aquilo de que ele não podia apoderar-se logo com as unhas.

Aluísio Azevedo. O cortiço. 2 5 a ed. Sâo Pq ú Io : Ática, 1 9 9 2 , p p . 2 3 - 2 4 .

na Na cena da farsa do Auto da Lusitânia, traduzida, aparecem os personagens Todo o Mundo e Ninguém, e, intercaladamente, Berzebu e Dinato. Os diálogos entre estes dois últimos estabele­cem uma ambigüidade semântica com respeito aos dois primeiros. Releia o texto e responda.a) Qual personagem se responsabiliza diretamente por pro­

mover ambigüidade?b) Explique a ambigüidade que adquirem os nomes Todo o

Mundo e Ninguém.

K l Gil Vicente (14657-1540?), na rubrica de seu texto, ao introduzir em cena os personagens Todo o Mundo e Ninguém, indica-os dissimulados por suas aparências. Isso implica consi­derar que podem não ser o que parecem. Tendo em vista que a farsa é uma peça cômica irreverente, com elementos da comé­dia de costumes, e fazendo uso dos equívocos e dos enganos, releia o texto e a seguir:a) aponte e classifique gramaticalmente o vocábulo que, em­

pregado duas vezes na indicação inicial de como deve ser executada a cena (rubrica) permite inferir que as aparên­cias de Todo o Mundo e Ninguém são dissimuladas.

b) demonstre, com base no texto, uma característica farsesca do Auto da Lusitânia.

Confrontando os fragmentos de o Auto da Lusitânia e O Cortiço, percebe-se que o comportamento de João Romão corresponde, até com sarcasmo, a uma das atitudes que o auto de Gil Vicente atribui a Todo o Mundo. Compare ambos os textos e responda.a) Qual é o comportamento de João Romão?b) Aponte uma passagem de cada um dos textos em que tal

comportamento esteja caracterizado.

Q | Leia.Velho ó meus olhinhos garridosl

Minha rosai Meu arminhol Moça Onde é o vosso ratinho?

Não tem os cheiros colhidos?Velho Tõo depressa

vindes vós, minha condessa, meu amor, meu coração?

Moça Jesul Jesul Que coisa é essa?E que prática tão avessa da razõol

O texto acima pertence à genial farsa O Velho da Horta, de Gil Vicente, escrita em 1513. Entre as alternativas a seguir, apenas uma pode ser indicada como definição do termo farsa:(a) peça teatral de origem provençal, para fazer rir o povo nas

praças.(b) peça escrita em versos redondilhos, breve, geralmente de

um só ato, que objetiva crítica social intensa.(c) peça teatral escrita em versos decassílabos, dividida em

três atos breves, com agudeza de crítica social.(d) peça teatral de origem indefinida, escrita em prosa, que

visa criticar duramente as práticas sexuais entre velhos e jovens.

(e) peça teatral denominada “mistérios e milagres”, escrita em decassílabos.

Page 176: Livros poliedro   caderno 1 português

Dessa forma, a epopeia Os Lusíadas pode ser compreendida como a mais alta expressão de amor à Pátria, de orgulho portu­guês e, de qualquer modo, uma homenagem literária à Dinastia dos Avis, interrompida tragicamente em 1578, na Batalha de Alcácer-Quibir, no Marrocos, com a morte desse rei, que não tinha descendentes diretos.

Encerra-se aí o Classicismo português. E inicia-se, his­toricamente, uma fase cruel: o Domínio Espanhol, que durou até 1640.

0 Classicismo renascentista PortuguêsEmbora desde a Idade Média os autores greco-latinos já

fossem conhecidos em Portugal, posto serem estudados nas universidades, ou mesmo nas escolas episcopais, a poesia pra­ticada no país durante todo o Humanismo, e colocada por Gar­cia de Resende em seu Cancioneiro Geral, de 1516, continha apenas versos em “medida velha”, isto é, tradicionalmente me­dievais, “curtos”, como eram chamados.

Na Itália, desde o século XIII já se praticava um tipo es- pecialíssimo de verso: o decassílabo e a composição poética chamada dolce stil nuovo. Como imposição de estilo, tal verso deveria ser acentuado ou na 4a e 8a e 10a sílabas (quando era chamado sáfico), ou na 6a e 10a sílabas (heroico).

Petrarca, ainda no século XTV, utilizara-se grandemente de uma forma de origem desconhecida, mas já cultivada na França, pelos provençais: o soneto, composição fixa de dois quartetos e dois tercetos, num total de 14 versos decassílabos.

Alma minha gentil, que te partiste Tõo cedo desta vida, descontente,Repousa lá no Céu eternamente E viva eu cá no Terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,Memória desta vida se consente,Nâo te esqueças daquele amor ardente Que já nos olhos meus tõo puro viste.

E se vires que pode merecer-te Alguma coisa a dor que me ficou Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga o Deus, que teus anos encurtou,Que tõo cedo de cá me leve a ver-te,Quão cedo de meus olhos te levou.

Esse conjunto de características de versejar, que tinha por base a poé­tica clássica, é que Sá de Miranda introduz em Portugal, em 1527, dando origem ao que denominamos Classicismo português.

Sua duração é pequena: até 1580 (ano da morte de Camões e do início do Domínio Espanhol), apenas 57 anos.

Sá de Miranda, depois de um período na Itália, trouxe para Portugal tal conjunto de procedimentos que em terra lusitana se desenvolveu, mas só ganhou total notabilidade a partir da produção camoniana. E é preciso observar aqui, para que não haja mal-entendidos futuros no estudo da obra poética camoni­ana, que a par do cultivo do “novo versejar”, sobreviveram (e Camões também foi grande poeta nelas) as medidas tradicio­nais, os versos redondilhos, parte integrante da lírica daquele autor e da alma expressiva da poesia do país.

Leia um texto de Sá de Miranda:O sol é grande: caem co'a calma as aves,Do tempo em tal sazõo, que sói ser fria.Esta água que de alto cai acordar-me-ia,Do sono nâo, mas de cuidados graves.

ó cousas, todas võs, todas mudaves,Qual é tal coração que em vós confia?Passam os tempos, vai dia trás dia,Incertos muito mais que ao vento as naves.

Eu vira já aqui sombras, vira flores,Vi tantas águas, vi tanta verdura,As aves todas cantavam de amores.

Tudo é seco e mudo; e, de mistura,Também mudando-me eu fiz doutras cores.E tudo o mais renova: isto é sem curai

Só de Miranda.

É fácil entender por que Camões adaptou-se perfeitamente ao soneto: seu lirismo pungente e delicado, a agudeza de seu raciocínio e a capacidade de se expressar de maneira comovida com relação aos acontecimentos da existência e coisas do cora­ção, viabilizam tal forma como modelo, facilmente usado para veicular a emoção. Mas é preciso ressaltar, desde já, que nem todos os poetas obtiveram, a partir da utilização do soneto, um desempenho semelhante: os parnasianos, apesar de adotarem tal forma, em muito se distanciaram do conteúdo, da pungência e da delicadeza dos sentimentos camonianos.

Além de Camões, outros po­etas fizeram parte do Classicismo lusitano: Sá de Miranda, Bemardim Ribeiro, Antônio Ferreira, Femão Mendes Pinto, Diogo de Couto e João de Barros. No entanto, elevado ao cume máximo de seu tempo, pela grandiosidade e beleza de sua obra,Camões tem, dentre os demais, lugar de destaque. Escreveu obra lírica em medida velha e medida nova e uma epopeia que é a mais impor­tante da língua portuguesa, além de teatro e cartas.

sáfico: relativo a Safo, poetista grega; Petrarca: Poeta do Classicismo italiano; mudaves: mutáveis, que se transformam.Fig. 3 Sá de Miranda.

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CAPÍTULO 3 « Clossicismo (1527-1580]

Luís Vaz de Camões pequena biografia do "poeta máximo"

Camões, só por si, vale uma literatura inteira.August-Wilhelm Schlegel.

Fig. 5 Praça Luís de Camões.

Todo e qualquer esforço de proceder-se a uma mínima bio­grafia de Luís Vaz de Camões redundaria por quase inútil, em face da escassez de dados reais sobre o maior poeta português. Deu-se como certo seu nascimento em 1524 ou 1525, por fa­vor de um registro seu feito pela Armada Portuguesa que lhe atribuiu, em 1550,25 anos. Filho de Simão Vaz de Camões e Ana de Sá Macedo, seu nascimento pode ter ocorrido em Lisboa ou Coimbra, grandes centros da época, embora haja quem o afirme nascido em Alenquer ou Santarém. Era rei português nessa época d. João III, que governou Portugal entre 1521 e 1557.

Pelo fato de ter tido educação esmerada, possivelmente em curso superior de Artes e Humanidades (fato atestado pelos escritos do poeta nos quais se notam conhecimento em latim, grego, mitologia clássica, geografia, cartografia, astronomia e escritores clássicos greco-latinos), querem seus biógrafos fazer crer ter sido Camões oriundo de família de pequena nobreza, embora decaída, dadas as dificuldades pecuniárias por que o poeta passou toda a vida.

O certo é que nenhuma biografia nega que tenha sido sol­dado mercenário e que já em 1547 esteve em Ceuta e em luta contra os mouros perdeu o olho direito. Em 1550, como o fa­ziam então os fidalgos, alistou-se na Marinha portuguesa, mas não chegou a embarcar para as índias.

Em 1552, brigou com Gonçalo Borges, servidor do palá­cio, ferindo-o com um golpe certeiro de espada. Foi preso pelas ordens del-Rei e, depois de passar alguns meses na prisão, foi multado e obrigado a embarcar para as índias. Sua peregrinação

pelo Oriente foi longa e tumultuada: Goa, Golfo Pérsico, Ter- nate. Foi provedor de defuntos e ausentes em Macau, onde nau­fragou e, segundo consta a lenda, teria perdido Dinamene, sua companheira chinesa. Diz ainda a lenda que safou-se nadando e levando o manuscrito de Os Lusíadas.

Em Goa, deu-se por certa sua prisão por dívidas, mas este­ve sempre próximo das autoridades, em relação de proteção, o que o salvou de outras penalidades mais atrozes. Em 1567, um amigo do poeta, que fora nomeado capitão para Moçambique, prometeu-lhe emprego, adiantando, para as passagens, o paga­mento de seus salários. Mas um outro grupo de amigos, algum tempo depois, cotizou-se para pagar-lhe a viagem de retomo a Portugal.

Em 1569, chegou a Lisboa. Estava tão pobre que “comia de amigos”, ou seja, comia de favor. Levou na bagagem o livro Os Lusíadas, editado em 1572, sob custódia do rei d. Sebastião, a quem a obra foi dedicada e graças a quem, apesar de conter mi­tologia, consegue passar pelos rigores do selo do Santo Ofício. Em reconhecimento à grandiosidade de sua obra, o poeta ga­nhou uma tença anual de 15.000 réis, recebida irregularmente, mas que o fez sobreviver com certa dignidade até o desapareci­mento, em batalha, de seu protetor, d. Sebastião.

Ganhou fama e notoriedade, reconhecimento de seu país, e morreu em 1580, ao que se registra, de varíola, na mais absoluta miséria. Seu enterro tem duas versões: uma, a que lembra que foi pago por uma certa Companhia dos Cortesãos, obra beneficente; outra, a que foi enterrado em vala comum, sem o caixão que de ordinário acompanhava os defuntos. A primeira hipótese parece a mais verossímil.

A obra camonianaDe maneira genérica, podemos dividir a obra do maior poeta

português do século XVI da seguinte forma:

Anfitriões, El-Rei Seleuco e Filodemo

O s Lusíadas

Tradicional Versos redondilhos

ííW 1 -Clássica

Versos decassílabos, sonetos

Tab. 1 Divisão da obra de Camões.

0 teatro camonianoO teatro feito por Luís de Camões é composto por três

pequenas peças: Anfitriões, El-Rei Seleuco e Filodemo. Escri­tas em versos (El-Rei Seleuco mistura verso e prosa), apenas Anfitriões possui influência clássica, de Plauto, se bem que, estruturalmente possua versos redondilhos, ao gosto popular.

Filodemo possui personagens e ação que lembram as novelas de cavalaria medieval, ainda muito próximas do au­tor; seus versos, no entanto, são reveladores do poeta magnífico que Camões sempre fora:

oriundo: originário; pecuniárias: referentes a finanças; cotizar: dividir em cotas, parcelas, repartir; verossímil: real, digna de crédito.

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Se uns olhos por vos servir Com amor que vos conquista, Se atreverem a subir Os muros de vossa vista,Que culpa tem quem vos vir? E se esta minha afeição Que vos serve de giolhos Nõo faz erro na tençâo Tomai vingança nos olhos E deixai o coração.

É interessante considerar que trazer à luz um poema narrativo, de características épicas, com modelo greco-latino, usando mito­logia grega e abertamente cultuando um herói, não era tarefa fácil no final do século XVI mercantilista. Mas Camões conseguiu tal façanha e tocou fundamente o peito da gente e do rei de Portugal.

Um modelo

Fala da personagem Duriano.

E f r 0$ t v s I A D A S

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COM PR IV ILEG IO REAL.

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‘57 &

A epopeia camoniana

Fig. 6 Primeira edição 1572.

Os Lusíadas servirão perpetuamente, como até agora serviram, a manter coeso o sentido heroico e realizador da nacionalidade.

Tasso da Silveira, crítico literário.

As conquistas marítimas portuguesas, desde o século XV, já vinham despertando no povo lusitano um orgulho malcon- tido e alguns poetas manifestavam desejo de escrever uma epo­peia para o país. No reinado de d. João II, o humanista italiano Ângelo Policiano ofereceu-se ao rei para realizar tal feito e pôr num poema narrativo, de “versos latinos”, os ainda incipientes feitos portugueses.

Mais tarde, já no reinado de d. João III, Luís Vives elogiou os feitos portugueses numa dedicatória e o próprio Garcia de Resende, na introdução de seu Cancioneiro Geral, de 1516, mostrou-se entristecido pelo fato de não se ter notícia ainda de nenhum poema épico que louvasse condignamente a gente lusi­tana. Somente cinqüenta anos depois é que Camões daria à sua pátria aquele que é considerado o maior poema épico escrito em nossa língua.

Na época de Camões, as viagens ultramarinas, as conquis­tas das colônias, a heroicização dos navegadores deram ensejo ao uso do modelo grego clássico, mais especificamente ao de Homero e sua Odisséia, escrita tantos séculos antes, mas que tinha, enfim, um mesmo núcleo de ações heróicas.

Embora se deva a Virgílio o modelo seguido no início do po­ema, especialmente na “Proposição”, é de Homero que Camões empresta o modelo efetivo na realização de sua epopeia.

Um herói

Nada é mais fantástico que a própria realidade.F. Dostoiévski.

Fig. 8 Vasco da Gama.

Vasco da Gama, navegador que em 1498 abriu o caminho marítimo-comercial para as índias, é o herói individual do po­ema. É metonímia, no entanto, de um povo e suas façanhas, de um tempo especialmente rico e pleno para a nação portuguesa.

condignamente: de maneira digna, honrada.

Fig. 7 Cena da Odisséia em que U lisses (Odisseu) desafia o perigo

para ouvir o canto das sereias.

JOHN

WI

LLIAM

W

ATER

HOUS

E/WIK

IMED

IA

COM

MO

NS.

Page 179: Livros poliedro   caderno 1 português

Ele encarna o modelo heroico de maneira decisiva: põe-se ao mar, ainda “tenebroso” e segue para outras terras. Abrir o caminho marítimo-comercial não era apenas o começo, era um fim em si mesmo: conquistar através do mar imenso, a grandi­osidade, a coragem, a dignidade, expandindo a monarquia por­tuguesa e a fé cristã. Sob outro enfoque, buscar riquezas e fazer jus à coragem com que se inflamavam as mentes lusitanas.

A T EN Ç Ã O ! ;

Vasco é, na epopeia, um misto de herói e narrador.E representa um outro herói, este coletivo: todo um povo e seu orgulho; uma gente que se pôs ao mar e conquistou o mundo.

0 assunto[...] Que eu canto o peito ilustre lusitano,A quem Netuno e Marte obedeceram; [...]

Os Lusíadas, Canto I, 3/ 5 e ó.

O assunto fundamental da epopeia é a viagem de Vasco da Gama às índias. Ao redor dele gravitam outros importantes eixos poéticos:a) a narrativa da história de Portugal;b) os ideais renascentistas de expansão do poderio português;c) o ideal cristão de expandir a fé;d) o sentimento heroico-ufanista do colonizador português.

A estrutura da epopeiaO poema Os Lusíadas é uma epopeia; gênero que os gregos

e romanos já praticavam que se caracteriza pela intenção clara de louvar um herói.

A T E N Ç Ã O !

Epopeia: poema narrativo com intenção visivelmente demar­cada: louvar o herói como modelo de comportamento, ou, por meio dele, louvar uma raça, um povo, uma comuni­dade.

Ç a ib a MAISPoema narrativo?Sim. Um poema que conta uma história de maneira deta­lhada, em ordem cronológica ou acronológica. Por que um poema e não prosa? A resposta é: na Antiguidade, pou­cas pessoas sabiam ler ou escrever; portanto, as narrativas eram feitas em versos que, por conterem rimas, ficavam mais fáceis de ser decorados e, consequentemente, passa­dos de gerações para outras gerações.

O poema épico Os Lusíadas está dividido em 10 cantos, isto é, 10 partes, divisões internas que, caso fossem prosa, cor­responderiam às mesmas divisões internas de partes ou capítu­los dos romances ou novelas.

Ainda: está composto de 1.102 estrofes em oitava-rima ou rima real, o que eqüivale a dizer que cada uma dessas 1.102 estrofes tem oito versos e esses versos são decassílabos.

Só isso? Não... Essas estrofes têm sempre o mesmo esque­ma rímico ABABABCC:

1. No/ mar/ tan/ta/ tor/men/ta e/ tan/to/ da/no, (A)1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

2. Tan/tas/ ve/zes/ a/ mor/te a/ per/ce/bi/dal (B)1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

3. Na/ te/rra,/ tan/ta/ gue/rra,/ tan/to en/ga/no, (A)1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

4. Tan/ta/ ne/ce/ssi/da/de a/bo/rre/ci/dal (B)1 2 3 4 5 6 7 8 910

5. On/de/ po/de a/co/lher-/se um/ fra/co hu/ma/no, (A)6. On/de/ te/rá/ se/gu/ra a/ cur/ ta/ vi/da, (B)7. Que/ não/ se ar/me e/ se in/dig/ne o/ Céu/ se/re/no (C)8. Con/tra um/ bi/cho/ da/ Te/rra/ tão/ pe/que/no? (C)

Os Lusíadas, Canto I, estrofe 106.

Observe que todo o poema é composto de 1.102 estrofes idênticas ao exemplo transcrito no que diz respeito ao esquema rímico, à oitava-rima e aos versos decassílabos.

Em sua maioria, os versos são decassílabos hervicos (toni- cidade na 6a e 10a sílabas); há, no entanto, embora em pequena proporção, o uso da tonicidade sáfica (decassílabos com tonici- dade na 4a, 8a e 10a sílabas).

As dnco partes do poemaTal como a obra clássica, o poema, estruturalmente, divide-se

em cinco partes: Proposição, Invocação, Dedicatória, Narração e Epílogo.

Em palestra proferida no Recife, durante seminário pro­movido para comemorar os 400 anos da publicação de Os Lu­síadas, o professor Segismundo Spina, uma das autoridades em Camões, professor da USP, indagava se o poeta teria elaborado a epopeia a partir do primeiro canto e, de maneira contínua, construíra sua obra até o décimo.

A resposta para isso é não, certamente. Uma obra de tal envergadura não poderia, na sua confecção, prender-se a uma linearidade estrutural que a própria narração não possui. Ou seja: o poeta foi escrevendo as partes e só depois de prontas alinhou-as, alinhavou-as, fez delas um todo. Mas, com certeza, ao fazer isso, sabia que deveria obedecer a ordem citada.

0 enredo Canto IParte 1: Proposição

Entenda tal procedimento como a apresentação dos assuntos, ou assunto, sobre os quais se vai narrar. No caso de Os Lusíadas, há uma enumeração grandiosa de feitos, ações, criaturas, povo, reis, atividades portuguesas que são anunciadas minuciosamente em três estrofes. Assim, podemos observar que os 24 primeiros versos formam, pois, a proposta do narrador:

ufanista: ufania = orgulho nacionalista; envergadura: importância.

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As armas e os barões assinalados,Que da ocidental praia lusitana.Por mares nunca de antes navegados.Passaram, ainda além da Taprobana,Em perigos e guerras esforçados,Mais do que prometia a força humana,E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram.2E também as memórias gloriosas Daqueles reis que foram dilatando a Fé, o Império, e as terras viciosas De África e de Ásia andaram devastando.E aqueles que por obras valerosas Se võo da lei da morte libertando.Cantando espalharei por toda parte,Se a tanto me ajudar o engenho e arte3Cessem do sábio Grego e do Troiano As navegações grandes que fizeram.Cale-se de Alexandre e de Trajano A fama das vitórias que tiveram,Que eu canto o peito ilustre Lusitano,A quem Neptuno e Marte obedeceram:Cesse tudo o que a musa antígua canta,Que outro valor mais alto se alevanta.

Temos aqui três estrofes que estruturalmente já apren­demos a reconhecer: foram concebidas em oitava-rima ou rima real; cada uma delas tem oito versos, dez sílabas métricas e seu esquema rímico é ABABABCC. As três integram o que denominamos Proposição.

Observe que os versos 15 e 16, na segunda estrofe, corres­pondem a um enorme hipérbato, prova da sintaxe opulenta de que os clássicos se utilizavam. Tais versos, em verdade, deveriam iniciar o poema uma vez que as enumerações sobre o que o poeta cantará, nos catorze versos iniciais, são sucessivos objetos diretos do verbo cantar. Observe-os: “As armas e os barões assinalados “as memórias gloriosas”; “e aqueles que por obras valerosas

Fixe-se também na expressão “por mares nunca dantes na­vegadoso que o poeta cantará (cantar no sentido de louvar, glorificar) é a viagem de Vasco da Gama e seus navegadores que, saindo da Praia do Restelo (ocidental praia lusitana) pu­seram-se ao mar e foram para além do Ceilão (país hoje conhe­cido como Sri Lanka).

Há também, na terceira estrofe, uma aproximação entre portugueses e heróis da Antiguidade clássica.“Cessem do sábio grego (Ulisses) e do troiano (Eneias), / as navegações grandes que fizeram; cale-se de Alexandre (Magno) e de Trajano (im­perador romano) / a fama das vitórias que tiveram, / que eu canto o peito ilustre e lusitano! a quem Netuno e Marte obede­ceram.” Quando o poeta pede para cessar o antigo, está auto­maticamente exaltando os feitos do “novo”, representado aqui pela metonímia peito ilustre Lusitano. É fundamental notar a comparação de caráter heroico, transformador.

7 Com:Cesse tudo o que a musa antígua canta,que outro valor mais alto se alevanta.

fica claro observar que os portugueses, no tempo presente da epopeia, substituem gloriosamente os heróis passados e seus feitos e, se comparados aos dos antigos heróis, são sobejamente superiores: outro valor mais alto se alevanta.

Portanto, fica comprovada a mobilização poética por meio da ufania, do orgulho nacionalista e do superdimensionamento dos feitos portugueses.

A ideia da epopeia pátria andava associada a certa ideolo­gia oficial forjada pela expansão, e cujas raízes encontramos já em Zurara. Segundo essa ideologia, os Portugueses cumpriram uma missão providencial, dilatando tanto o Império como a Fé: eram Cruzados por excelência.

Antônio José Saraiva e Oscar Lopes. História da Literatura Portuguesa. 7a ed. São Paulo: Livraria Martins Fontes, s/d.

Parte 2: InvocaçãoOs poetas clássicos também invocavam suas musas logo

após a proposição do poema épico. Fazia parte da estrutura poética clamar pelas benfazejas criaturas que auxiliavam os compositores e legar-lhes um bom número de estrofes. Em es­pecial, os poetas épicos invocavam Calíope, a nona musa, a que auxilia os cantos heroicos, segundo a mitologia grega.

Camões, em Os Lusíadas, heroicizava os feitos portu­gueses; portanto, as musas por ele invocadas na Parte II são as Tágides, ou seja, criaturas que, segundo a mítica criada pelo au­tor, habitariam as águas do rio Tejo, o rio por onde iam ao mar as naus portuguesas em busca das novas conquistas.

viciosas: cheias de vícios, de pecados; valerosas: valorosas; enge­nho: método; arte: capacidade técnica; musa antígua: a inspiradora dos gregos, Calíope; barões assinalados: Varões ilustres.

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A Invocação inicia-se na quarta estrofe e é composta ape­nas de duas estâncias, que passamos a transcrever:

4E vós, Tágides minhas, pois criado Tendes em mi um novo engenho ardente,Se sempre, em verso humilde, celebrado Foi de mi vosso rio alegremente,Dai-me agora um som alto e sublimado,Um estilo grandíloquo e corrente,Por que de vossas águas Febo ordene Que nõo tenham inveja às de Hipocrene.

5Dai-me ua fúria grande e sonorosa,E nõo de agreste avena ou frauta ruda,Mas da tuba canora e belicosa,Que o peito acende e a cor ao gesto muda;Dai-me igual canto aos feitos da famosa Gente vossa, que a Marte tanto ajuda:Que se espalhe e se cante no universo,Se tõo sublime preço cabe em verso.

A T E N Ç Ã O !

Observe que, dirigindo-se às Tágides, lembrou-lhes que celebrava o rio no qual habitavam através de "verso humil­de", ou seja, na poesia lírica, o que era absolutamente ver­dadeiro, posto ter sido Camões cantor do Tejo. Dispôs-se a usar, se elas o ajudassem, "um novo engenho ardente", que aqui pode ser interpretado como os versos decassíla­bos, eloqüentes, da epopeia.

Fig. 10 Rio Tejo.

Suplicou-lhes “um som alto e sublimado, um estilo gran­díloquo” e comparou as águas habitadas pelas Tágides com a fonte aberta pelo cavalo Pegasus, ser alado e divino; quem be- besse de tal fonte, diz a lenda, tomar-se-ia poeta e faria os mais belos versos de toda a literatura.

Verifique que, além das musas, de Febo e Hipocrene, apareceu Marte, o deus da guerra. Era tempo, outra vez, de refletir a influência clássica dos gregos e dos latinos não só nessa epopeia camoniana, mas em todas as atividades literári­as ou artísticas da época.

Parte 3: DedicatóriaO poema, como já exaustivamente dito, foi oferecido ao

rei d. Sebastião, responsável pela publicação de Os Lusíadas, e pelas tenças que Camões recebeu até 1578, por favor do elogio à Pátria e ao povo lusitano.

A Dedicatória é longa (ao todo 13 estrofes) e vai da 6a até a 18a estrofe, inclusive. E preciso não esquecer o fato de estar­mos ainda no Canto I da epopeia. Leia os versos:

6E vós, 6 bem-nascida segurança Da lusitana antiga liberdade,E nõo menos certíssima esperança De aumento da pequena Crístandade;Vós, 6 novo temor da Maura lança,Maravilha fatal da nossa idade.Dada ao mundo por Deus, que todo o mande,Para do mundo a Deus dar parte grande.

7Vós, tenro e novo ramo florescente De uma árvore de Cristo mais amada Que nenhuma nascida no Ocidente,Cesárea ou Crístianíssima chamada (Vede-o no vosso escudo, que presente Vos amostra a vitória já passada,Na qual vos deu por armas e deixou As que ele para si na Cruz tomou);

8Vós, poderoso Rei, cujo alto Império O Sol, logo em nascendo, vê primeiro,Vê-o também no meio do Hemisfério,E quando desce o deixa derradeiro;Vós, que esperamos jugo e vitupério Do torpe Ismaelita cavaleiro,Do turco oriental e do gentio Que inda bebe o licor do Santo Rio:

18Mas, enquanto este tempo passa lento De regerdes os povos, que o desejam,Dai vós favor ao novo atrevimento,Para que estes meus versos vossos sejam,E vereis ir cortando o salso argento Os vossos Argonautas, por que vejam Que são vistos de vós no mar irado;E acostumai-vos já a ser invocado.

vosso rio: rio Tejo; sonorosa: que tem bom som; frauta ruda: flauta rude; grandíloquo: com grandiloqüência; pomposo; Maura: variante para mou­ra, relativa aos árabes; salso argento: mar verde e prateado.

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A T E N Ç Ã O !

D. Sebastião estava vivo quando Camões, ao dedicar-lhe a epopeia, usou todo orguiho lusitano e nele resumiu a espe­rança de melhores tempos e se empenhou em atribuir-lhe um lugar de destaque dentre os reis passados.

D. Sebastião é visto pelo poeta como bem-nascida segu­rança da lusitana antiga liberdade, ou seja, aquele que, por seu nascimento, impediu que o trono português fosse anexado ao trono espanhol. Vai além: “E não menos certíssima esperança do aumento da pequena cristandade”. Criado pelo tio-avô, arcebispo d. Henrique, o rei fora guiado no sentido de aumentar os domínios e a cristandade (leia-se catolicismo) em virtude do que acontecera com a Reforma Luterana. Em: “Vós, ó novo temor da Maura lança”, a mensagem é clara; d. João UI perdera uma batalha contra os mouros e fizera morrer soldados às cen­tenas. O novo rei, d. Sebastião, deveria se empenhar no comba­te contra os mouros e encontrar um caminho para estabelecer em Alcácer-Quibir uma base portuguesa, na costa atlântica do Marrocos. Havia como uma premonição em Camões ou, pior, levado por tais palavras, é que o rei, seis anos depois, iria de­saparecer em combate naquele lugar, à procura de conquistas.

Ao terminar a dedicatória, um verso terrível nos fez estreme­cer:

E acostumai-vos já a ser invocado.

Se conhecermos bem a história terrível desse rei e o que significou, gerando o sebastianismo invocativo, visionário, mítico e místico, veremos que o poeta escreveu não apenas uma dedicatória, mas, sobretudo, uma louvação lamentosa daquele que morreria aos 24 anos e, sem filhos, faria, dois anos após seu desaparecimento, Portugal mergulhar em um caos político sem par: o domínio dos Felipes.

Mas, desconsiderando esse fato e verificando a grandeza e a majestade do rei enquanto vivo, Camões apenas sintetizou em seus versos o devotamento e o amor com que d. Sebastião foi adorado pelo povo.

“Maravilha fatal da nossa idade” era uma das maneiras como o povo o conhecia, usando as palavras com as quais Bandarra designara um rei por vir, ainda no início do século.

Parte 4: Narração

Ainda no Canto I, na estrofe 19, inicia-se a Narração, in media res:

19Já no largo Oceano navegavam.As inquietas ondas apartando;Os ventos brandamente respiravam,Das naus as velas côncavas inchando;Da branca escuma os mares se mostravam Cobertos, onde as proas võo cortando As marítimas águas consagradas,Que do gado de Proteu são cortadas;

Aqui o poeta inicia a parte denominada Narração que ter­minará no Canto X, estrofe 144.

Essa parte engloba basicamente dois assuntos: a viagem de Vasco da Gama às índias e a História de Portugal, acrescidos tais assuntos de largo uso da mitologia grega.

/^TEWÇÃOÍMas, o que significa a expressão latina in media res?Significa que quando a história começou a ser narrada, na estância 19 do primeiro Canto, os portugueses já estavam no Oceano Índico, costa oriental africana, próximos a Ma­dagascar. Ou seja, a narrativa iniciou-se quando os nave­gadores já haviam saído de Portugal e já dobrado o Cabo das Tormentas próximos ao Sri Lanka.O início da viagem, a saída das naus da Praia do Restelo, aparecerá somente mais tarde na epopeia, sob forma de reminiscência ou digressão.

A vigésima estrofe introduz um fato novo: enquanto os por­tugueses navegam, um Concilio de deuses, no Olimpo, conspira contra eles. Apenas Vênus e Marte ficam a favor dos portugueses. Baco pretende destroçá-los. Chegam a Moçambique, lutam com o governador que queria matá-los, vencem; vão embora e pouco de­pois passam por Quíloa; chegam a Mombaça. Termina o Canto I.

Canto IIEstando os portugueses em Mombaça e havendo traição de­

liberada de Baco contra eles, Vênus dirige-se a Júpiter no sentido de fazê-lo zelar pelos portugueses. Júpiter promete-lhe cuidar de­les e relata a Vênus as futuras façanhas dos lusitanos no Oriente.

O segundo canto compreende a parte da viagem que vai de Mombaça a Melinde, ponto-final dessa trajetória. A recepção amistosa pelos melindanos explica-se pela intervenção de Vênus junto a Júpiter, na qual reclama que a determinação dele (a de que os lusos fossem

Proteu: deus marinho, encarregado de apascentar os rebanhos de fo­cas de Poseidon (Netuno); Restelo: hoje praia de Belém, de onde saíam os portugueses para navegar; Vênus: deusa da beleza e encantamento. Marte: deus da guerra; Baco: deus do vinho, das danças bacantes, diversões; Júpiter: o pai de todos o s deuses.

A \Fy^PORTUGUI^-Wp3 /JROTÀ ÁRABÇ/l

Fig. 11 Mapa de navegação para as índias.

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agasalhados na costa africana como amigos) nõo vinha sendo cumpri­da. [...] Aportados em Melinde, o rei local, que recebe festivamente os navegantes portugueses, manifesta certo interesse por saber a origem dessa gente e os sucessos da viagem até ali. Esta curiosidade do rei de Melinde dá motivo a que o Gama inicie a história medieval portuguesa. Antes, porém, o Gama faz uma descrição geográfica da Europa a fim de situar Portugal; a seguir vem a história portuguesa medieval, que no Canto III termina na altura do reinado de d. Fernando.

Revista Língua e Literatura. S ã o P aulo : USB 1 9 7 4 , vol. 3 .

Aqui podemos encontrar um recurso camoniano muito in­teressante.

Caso fizesse uma epopeia em ordem linear, ou seja, con­tando os feitos portugueses desde a fundação do Condado Por- tucalense, no século XII, até a época em que a epopeia fora escrita, seria apenas um livro de História em versos, facilmente esquecido por todos; mas o gênio camoniano soube dar-lhe con­tornos inesquecíveis: através do expediente do rei de Melinde pedir a Vasco que conte sobre o seu país, pode-se ter acesso à história medieval portuguesa, sem que em nada empane o brilho dos heróis navegadores.

109Mas antes, valeroso Capitão,Nos conta (lhe dizia), diligente,De terra tua o clima e região Do mundo onde morais, distintamente;E assi de vossa antiga geração,E o princípio do Reino tõo potente,Co'os sucessos das guerras do começo,Que, sem sabê-las, sei que sõo de preço.

Canto IIIEsse é um dos cantos mais conhecidos desta epopeia. Inicia-se

quando o narrador dirige-se, abrindo as estrofes, à musa Calíope, inspiradora de todos os cantos heroicos, como antes já vimos:

?Agora tu, Calíope, me ensina O que contou ao rei o ilustre Gama;Inspira imortal canto e voz divina Neste peito mortal, que tanto te ama.Assi o claro inventor da Medicina,De quem Orfeu pariste, 6 linda dama,Nunca por Dafne, Clície ou Leucotoe,Te negue o amor devido, como soe.

2Põe tu. Ninfa, em efeito meu desejo,Como merece a gente Lusitana;Que veja e saiba o mundo que do Tejo

O licor de aganipe cone e mana.Deixa as flores de Pindo, que já vejo Banhar-se Apoio na água soberana;Senõo direi que tens algum receio Que se escureça o teu querido Orfeio.

Vasco revisita a história medieval lusitana. Nesse Canto, especialmente, desfilam diante de nossos olhos as persona­gens que Camões foi buscar nas fontes históricas do humanista Femão Lopes.

A TEN Ç Ã O !Observe aqui que dois são os narradores principais de Os Lusíadas: o próprio poeta, no caso chamado propriamente de narrador, e Vasco da Gama, que vai sistematicamente falar sobre Portugal e sua história. Ocasionalmente, outros narradores ad hoc (para aquela hora) também se predis­põem a falar, tal como Veloso e Paulo da Gama, irmão de Vasco.

É nele que o lirismo camoniano, juntando-se à tradição trágica, tem seu ponto mais elevado. Aqui acontece o famoso Episódio de Inês de Castro, degolada por Afonso IV em 7 de janeiro de 1355, rainha coroada depois de morta.

Fig. 12 Inês de Castro aos pés de Afonso IV.

diligente: c u id a d o s o , p e rsev era n te ; Orfeu: o d e u s d o c a n to e m g ru p o ; Pindo: filho d e M aced ô n io , q u e foi m o rto p e lo s trê s irm ãos, e ra p ro te g id o d e u m a g ra n d e se rp e n te m a rin h a ; Apoio: d e u s d a b eleza .

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119Tu só, tu, puro Amor, com força crua,Que os corações humanos tanto obriga,Deste causa à molesta morte sua,Como se fora pérfida inimiga.Se dizem, fero Amor, que a sede tua Nem com lágrimas tristes se mitiga,E porque queres, áspero e tirano.Tuas aras banhar em sangue humano.

120Estavas, linda Inês, posta em sossego,De teus anos colhendo o doce fruto,Naquele engano da alma, ledo e cego,Que a Fortuna não deixa durar muito,Nos saudosos campos do Mondego,De teus fermosos olhos nunca enxuto,Aos montes ensinando e às ervinhas O nome que no peito escrito tinhas.

121

De teu príncipe ali te respondiam As lembranças que na alma lhe moravam,Que sempre ante seus olhos te traziam,Quando dos teus fermosos se apartavam:De noite, em doces sonhos que mentiam,De dia, em pensamentos que voavam,E quanto enfim cuidava e quanto via Eram tudo memórias de alegria.

122De outras belas senhoras e princesas Os desejados tálamos enjeita,Que tudo enfim, tu, puro amor, desprezas,Quando um gesto suave te sujeita.Vendo estas namoradas estranhezas,O velho pai sisudo, que respeita O murmurar do povo e a fantasia Do filho que casar-se nõo queria,

123Tirar Inês ao mundo determina,Por lhe tirar o filho que tem preso.Crendo co'o sangue só da morte indigna Matar do firme amor o fogo aceso.Que furor consentiu que a espada fina,Que pôde sustentar o grande peso Do furor mauro, fosse alevantada Contra ua dama delicada?

135As filhas do Mondego a morte escura Longo tempo chorando memoraram,E, por memória eterna, em fonte pura As lágrimas choradas transformaram;O nome lhe puseram, que inda dura,"Dos Amores de Inês", que ali passaram.Vede que fresca fonte rega as flores,Que lágrimas sõo a água, e o nome Amoresl (frag.)

/ \t EMÇÃO!Saiba que, além de narrar o episódio que acabamos de ler, o Canto III contém, em seu início, a descrição que Vasco faz da Europa e, muito especialmente, de Portugal até o rei d. Fernando e sua mulher, a espanhola d. Leonor Telles.

Canto IV

Nesse canto narra-se a Batalha de Aljubarrota. D. João II inicia as diligências para chegar até as índias. O governo de d. Manuel, o Venturoso, é revisitado. O sonho deste rei está posto em destaque; depois de sonhar, d. Manuel inicia os pre­parativos, reúne uma frota e põe os navios ao mar. Vasco conta a partida de sua Armada da Praia do Restelo.

É desse canto uma das perguntas mais freqüentes so­bre Camões no vestibular: o Episódio do Velho do Restelo, amaldiçoando as ambições portuguesas, “a glória de mandar e a vã cobiça.” Leia o texto.

94Mas um velho de aspecto venerando,Que ficava nas praias, entre a gente,Postos em nós os olhos, meneando Três vezes a cabeça, descontente,A voz pesada um pouco alevantando,Que nós no mar ouvimos claramente,C'um saber só de experiências feito,Tais palavras tirou do experto peito:

95Ó glória de mandarl Ó vã cobiça Desta vaidade a quem chamamos fama!Ó fraudulento gosto que se atiça Cua aura popular que honra se chama!Que castigo tamanho e que justiça Fazes no peito vão que muito te amai Que mortes, que perigos, que tormentas,Que crueldade neles experimentas!

Fig. 13 Torre de Belém.

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A fala do Velho do Restelo é reflexivo-filosófica; ele, fazen­do o papel do que na Antiguidade era o coro no teatro grego, re­presenta o que os portugueses, já na década de 60 do século XVI, pensavam de si próprios. Sair ao mar, por cobiça, ouro, fama...

g A IB A MAISO episódio do Velho do Restelo, muito mais tarde, já no século XIX, em Mensagem (1934), do modernista Fernando Pessoa, tem ressonância:

Mar português

O mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal)Por te cruzarmos, quantas mâes choraram,Quantos filhos em vão rezaraml Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó marl Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena.Quem quer passar além do Bojador Tem que passar além da dor.Deus ao mar o perigo e o abismo deu,Mas nele é que espelhou o Céu.

Canto VNele, Vasco continua contando ao rei a história portuguesa:

a saída de Lisboa, Fogo de Santelmo, a Tromba Marinha, o caso de Femão Veloso, a passagem pelo Cabo das Tormentas, a viagem até Melinde.

Aqui também aparece uma personagem mitológica muito conhecida: o Gigante Adamastor, adaptação camoniana ao mito de Netuno, com suas longas barbas e tridente na mão. Ele aparece no quinto dia de viagem: “cinco sóis eram passados” e diz o motivo pelo qual não aceita que os portugueses contornem aquele Cabo.

37Porém já cinco sóis eram passados Que dali nos partíramos, cortando Os mares nunca de outrem navegados,Prosperamente os ventos assoprando,Quando ua noite, estando descuidados Na cortadora proa vigiando,Ua nuvem, que os ares escurece,Sobre nossas cabeças aparece.

38Tõo temerosa vinha e carregada,Que pôs nos corações um grande medo.Bramindo, o negro mar de longe brada,Como se desse em võo n'algum rochedo.

Gigante Adamastor: representação de Netuno, o deus dos mares.

"Ó Potestade - disse - sublimada,Que ameaço divino ou que segredo Este clima e este mar nos apresenta,Que mor cousa parece que tormenta?"

39Nõo acabava, quando ua figura Se nos mostra no ar, robusta e válida,De disforme e grandíssima estatura,O rosto carregado, a barba esquálida,Os olhos encovados, e a postura Medonha e má, e a cor terrena e pálida,Cheios de terra e crespos os cabelos,A boca negra, os dentes amarelos.

Se você for perceptivo, estará vendo repetidas as palavras do Velho do Restelo. Aliás, a forma mais comum, nessa epo­peia, de Camões dirigir-se ao povo lusitano é como “gente ou­sada”, com o sentido dilatado de “empreendedora, destemida”.

O Gigante Adamastor explicará por que fará com que os na­vios da frota de Vasco sejam consumidos pelas águas do Cabo das Tormentas: a ninfa que ele ama “mora nestas águas” e a quilha dos navios poderia machucá-la.

Ambas as partes dialogam e expõem seus motivos. E, por fim, “Tomando a cortar a água salgada/ Fizemos desta costa algum desvio.” E lá se foram para o mar sem fim.

Canto VIPartem os portugueses de Melinde em direção a Calecute.

Aqui a epopeia ganha a dimensão do tempo presente. Estão, Vasco e sua armada, no tempo em que cortam as águas com “suas navegadoras proas”. Para distrair os marinheiros, Veloso conta-lhes o episódio dos Doze da Inglaterra. Baco enfurece-se contra a gente portuguesa.

A t e n ç ã o !

É preciso esclarecer aqui a razão mitológica de Baco indis­por-se contra os lusitanos. E que, segundo a lenda, o filho de Baco, Luso, depois de brigar com o pai, na Grécia, furta* -lhe dois ramos do pomar: um de videira e outro de oliveira.E vai para a Europa, onde funda a Lusitânia. Em posse dos ramos, finca-os no chão e começam a crescer. As videiras invadem as terras, multiplicam-se para muitos bons vinhos; e os olivais, com sua azeitona e seu azeite expandem-se como riquezas de Portugal.

Daí também, conclui-se por que o povo português é chamado lusitano. Filhos de Luso; portanto Os Lusíadas louvam aquela gente como descendente direta de deuses, o que dava certa estatura moral àquele povo e os aproximava, de qualquer modo, dos gregos e romanos.

Há um Concilio de deuses marinhos e “Baco pede que destruam a Armada”; Vênus pede às ninfas que contenham os Éolos (ventos fortes), seus apaixonados. E assim é feito. Chegam os portugueses a Calecute:

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Estas obras de Baco são, por certo Disse - mas não será que avante leve Tão danada tenção, que descoberto Me leve sempre o mal a que se atreve.Isto dizendo, desce ao mar aberto,No caminho gastando espaço breve,Enquanto manda as Ninfas amorosas Grinaldas nas cabeças pôr de rosas.

Canto VIIJá em Calecute, na índia, o Samori, rei daquele lugar, re-

cebe-os muito bem. E todos, curiosos, querem ver os navios. Nesse canto, os portugueses são exaltados pelo narrador:

2A vós, ó geração de Luso, digo,Que tõo pequena parte sois no mundo,Não digo inda no mundo, mas no amigo Curral de quem governa o Céu rotundo;Vós, a quem nõo somente algum perigo Estorva conquistar o povo imundo,Mas nem cobiça ou pouca obediência Da Madre que nos Céus está em essência;

3Vós, Portugueses, poucos quanto fortes,Que o fraco poder vosso nõo pesais;Vós, que à custa de vossas várias mortes A lei da vida eterna dilatais:Assi do Céu deitadas sõo as sortes Que vós, por muito pouco que sejais,Muito façais na santa Cristandade.Que tanto, ó Cristo, exaltas a humildadel

É fácil verificar aqui a heroicidade conferida aos portu­gueses e, principalmente, o ideal de expansão do império portu­guês e da fé católica, tão presentes na epopeia, embora o poeta se valha de arquétipos mitológicos gregos e romanos.

Canto VIIIPaulo da Gama, irmão de Vasco, explica o significado das

pinturas e dos bordados nas bandeiras que os navios portugueses agitam; o Catual ouve-o contar sobre os feitos portugueses. O Samori convoca os adivinhos de sua Corte para especular-lhes sobre o futuro; eles falam contra os portugueses e Vasco tem que se defender e defender seu povo diante do rei de Calecute.

?Na primeira figura se detinha O catual, que vira estar pintada,

86Que por divisa um ramo na mõo tinha,A barba branca, longa e penteada.Quem era e por que causa lhe convinha A divisa que tem na mõo tomada?Paulo responde, cuja voz discreta O mauritano sábio lhe interpreta:

2Estas figuras todas que aparecem,Bravos em vista e feros nos aspectos,Mais bravos e mais feros se conhecem.Pela fama, nas obras e nos feitos;Antigos são, mas inda resplandescem Co'o nome entre os engenhos mais perfeitos.Este que vês, é Luso, donde a fama O nosso Reino “Lusitânia" chama.

Canto IXEm Calecute, há uma traição feita a Vasco. Mas a arma­

da portuguesa consegue escapar. Este canto contém o célebre episódio da Ilha dos Amores; após a fuga, navegam e chegam à dita ilha. Enquanto os marinheiros passeiam com as nerei- das, Tétis conduz Vasco da Gama ao topo de “um cume alto e divino” e de lá mostra-lhe “a máquina do mundo”, e faz vaticínios sobre o povo lusitano:

87Tomando-o pela mõo, o leva e guia Para o cume dum monte alto e divino,No qual ua rica fábrica se erguia De cristal toda e de ouro puro e fino,A maior parte aqui passam do dia Em doces jogos e em prazer contino;Ela nos paços logra seus amores,As outras pelas sombras, entre as flores.

93E ponde na cobiça um freio duro,E, na ambiçõo também, que indignamente Tomais mil vezes, e no torpe e escuro Vício da tirania, infame e urgente;Porque essas honras vãs, esse ouro puro Verdadeiro valor nõo dão à gente;Melhor é merecê-los sem os ter,Que possuí-los sem os merecer.

95E fareis claro o Rei que tanto amais,Agora co'os conselhos bem cuidados,Agora co'as espadas, que imortais Vos farão, como os vossos já passados.Impossibilidades não façais.Que quem quis, sempre pôde; e numerados

Catual e Samori: autoridades indianas como se fossem o governador e o prefeito; feros: ferozes; vaticínios: previsões.

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Sereis entre os Heróis esclarecidos,E nesta "Ilha de Vênus" recebidos.

Marcam profundamente essas palavras as expressões: “se quiserdes no mundo ser tamanhos / despertai já do ócio ignavo / que o ânimo, de livre, faz escravo”. E acrescenta duras palavras ao seu conselho: “E ponde na cobiça um freio duro...”.

Releia a estrofe 93: honras vãs, ouro puro, vã cobiça... Há crítica de como os portugueses conduziam ou conduziriam seus domínios.

A t EMÇÃO!

Observe que Tétis aconselha Vasco sobre o futuro, adver­tindo-o como metonímia representativa do povo lusitano.

Canto XAinda na Ilha dos Amores, Sirena dará conta dos feitos

futuros dos portugueses. Do monte, Tétis mostra a Gama a es­fera terrestre. Os portugueses partem da Ilha. E retomam, final­mente, a Lisboa.

144Assi foram cortando o mar sereno,Com vento sempre manso e nunca irado,Até que houveram vista do terreno Em que nasceram, sempre desejado;Entraram pela foz do Tejo ameno,E à sua Pátria e Rei temido e amado O prêmio e glória dão por que mandou E com títulos novos se ilustrou.

Parte 5: EpílogoEssa parte estrutural inicia-se na estrofe 145 do último can­

to; são onze estrofes reflexivas, em que o narrador dirige-se à Calíope em tom lamentoso, mas grandiloqüente:

145Não mais, Musa, não mais, que a lira tenho Destemperada e a voz enrouquecida,E não do canto, mas de ver que venho Cantar a gente surda e endurecida.O favor com que mais se acende o engenho,Não no dá a Pátria, não, que está metida No gosto da cobiça e na rudeza Dua austera, apagada e vil tristeza.[...]154Mas eu que falo, humilde, baixo e rudo,De vós não conhecido nem sonhado?Da boca dos pequenos sei, contudo,Que o louvor sai às vezes acabado;Nem me falta na vida honesto estudo,

Com longa experiência misturado,Nem engenho, que aqui vereis presente,Cousas que andam juntas raramente.

O narrador, na estrofe 154, parece retomar as palavras da Proposição: sua experiência e “honesto estudo” fundem-se ao “engenho” do fazer poético, aqui entendido como “capacidade de criação, astúcia para fazer o poema magnífico” que é.

O Epílogo contém, ainda, apelos ao rei d. Sebastião, reflexões sobre a moralidade e crítica à decadência da nação tão gloriosa.

Terminam Os Lusíadas e está contada, fantasiosamente, usando-se de mitologia e, portanto do maravilhoso e do in­verossímil, a história de uma gente ousada que, lançando-se ao mar tenebroso, conquistou o mundo, ainda que reduzido, no século XVI.

0 maiteirismo camonianoNa lírica camoniana, tanto na medida velha como na

nova, mas de modo mais agudo nesta última vertente, pode­mos encontrar o que denominamos maneirismo camoniano. De modo geral, os teóricos classificam como maneirista em literatura a produção que reflete a crise da crença nos valo­res antropocêntricos que, aos poucos, vão sendo substituídos pela angústia, desesperança e dúvida. E quando o homem se descobre não apenas como centro do universo, mas também vulnerável, transitório.

A crise provocada pela Reforma e Contrarreforma da primeira metade do século XVI produz uma inquietação hu­mana vastamente manipulada pela Igreja que deseja retomar os valores teocêntricos como forma de deter o poder. Tal crise, estendida ao cotidiano, faz com que o homem renas­centista descubra a brevidade da vida, o fluxo rápido do tem­po que tudo destrói. A literatura e as artes em geral sofrem a influência desse clima, surgindo assim o que designamos como maneirismo.

Fig. 14 Monumento aos Descobrimentos.

Tétis: uma das adivinhas do Olimpo, nascida dos amores de Urano e Geia, a terra; Tétis é o nome também de uma das nereidas, filhas de Nereu, cha­mado "o velho do mar"; rudo: rude.

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Tecnicamente, o maneirismo medeia o fim do Renascimen­to e o início do Barroco na literatura. Nos poemas camonianos, tal crise impregna de incertezas e desequilíbrios seus escritos. E a fase em que aparecerão os poemas antecipadores da visão barroca da existência. Serão plenos de antíteses, paradoxos e contradições:

Amor é fogo que arde sem se ver;E ferida que dói e nõo se sente;E um contentamento descontente;E dor que desatina sem doer.

E um nõo querer mais que bem querer;E solitário andar por entre a gente;E nunca contentar-se de contente;Ê cuidar que se ganha em se perder.

E querer estar preso por vontade;E servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade,Se tõo contrário a si é o mesmo Amor?

( J a ib a MAISEste soneto de Camões tornou-se extremamente popular de­vido à banda Legião Urbana que musicou trechos do poema fundidos com trechos de textos bíblicos escritos por São Paulo.

A lírica camoniana

"Viajante, letrado, humanista, trovador à maneira tradicional, fidalgo esfomeado, numa mõo a pena e noutra a espada, salvando a nado, num naufrágio, manuscrito, a grande obra da sua vida, Camões assu­miu e meditou a experiência de toda uma civilização cujas contradições viveu na sua carne e procurou superar pela cr/ação artística."

Quando vivo, Camões teve publicados, sob a forma de “folhas volantes”, somente três poemas líricos: uma elegia, um soneto e uma ode, todos encaixados dentro do padrão que designamos como medida nova. Suas Rhytmas de Luís de Camões, primeiro livro seu que veio à luz, foram publicadas em Lisboa no final do século XVI (1595) e organizadas pelo seu pesquisador e biógrafo, Femão Rodrigues Lobo Soropita.

Nas edições sucessivas de tal livro, incorporaram-se a ele poemas fragmentados, maltranscritos, atribuídos ao poeta sem que se soubesse ao certo quem os tivesse composto.

Coube a Carolina Michaélis de Vasconcelos e a Guilherme Storck, ambos pesquisadores portugueses, o trabalho exaustivo de tentar reconhecer e recompor a obra verdadeiramente camo­niana, levando-se em conta o ajuntamento de poemas que os séculos foram acumulando. Na década de trinta do século pas­sado, cerca de 250 poemas foram expurgados da obra daquele poeta e não se dá por definitivo, ainda, tal expurgo.

Conforme já dissemos anteriormente, a lírica camoniana compreende duas vertentes: a vertente tradicional, de versos re­dondilhos, à maneira palaciana do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende e a vertente clássica, de versos decassílabos.

Em qual das duas foi melhor o poeta? Em ambas, é a nossa resposta. E, leve-se em consideração, que foram cultivadas concomitantemente; portanto, a par da feitura dos redondilhos, cultivava também o soneto. E em ambas deixou ver sua ca­pacidade grandiosa de apreender os estados de alma, os senti­mentos, os desenganos, as tragédias pessoais, os impasses do coração, os impulsos das emoções.

Graças a esse poeta, a Língua Portuguesa ganhou graça e equilíbrio, leveza e lirismo, capacidade de expressar todas as dores e as alegrias interiores. Embora o descontentamento, o “desconcerto do mundo”, muitas vezes a morte, o abandono e a ausência da amada se façam presentes, o poema camoniano é vivo, vibrante, transformador/transtomador pela facilidade com que os versos expressam a adequação exata de estar no mundo, viver, sentir.

Para começar a conhecer Camões, leia o texto.

SonetoQuem diz que Amor é falso ou enganoso,Ligeiro, ingrato, vão, desconhecido,Sem falta lhe terá bem merecido Que lhe seja cruel ou rigoroso.

Amor é brando, é doce e é piedoso,Quem o contrário diz nõo seja crido;Seja por cego e apaixonado tido,E aos homens, e inda aos deuses, odioso.

Se males faz Amor, em mi se veem;Em mi mostrando todo o seu rigor,Ao mundo quis mostrar quanto podia.

Mas todas suas iras são de Amor;Todos estes seus males são um bem,Que eu por todo outro bem nõo trocaria.

A lírica da medida fradidonalEsse tipo de poesia lírica foi cultivado em versos redon­

dilhos maiores (heptassílabos) e menores (pentassílabos) e as estruturas usadas são o vilancete, em que Camões é soberbo, as quintilhas, esparsas e trovas, motes glosados.

O vilancete, como forma tradicional, permite o jogo in­telectual e constitui-se de um entretenimento que era feito pelos vilões, habitantes das vilas, daí o nome da composição, quase que semelhantemente ao que hoje conhecemos como “repentes”. Mais tarde, já no século XV, durante a floração da poesia pala­ciana, refinou-se grandemente e expandiu-se no século XVI.

pena: instrumento de escrita; brando: suave, delicado.

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Para obter-se um vilancete, o poeta se vale de um mote alheio (alguém oferece os versos contendo o assunto que será desenvolvido) ou próprio. Em posse do mote, desenvolve as voltas, ou seja, as estrofes seguintes, onde, no final de cada uma, obrigatoriamente, o último verso do mote deve aparecer. Preste atenção ao exemplo:

MofeDescalça vai para a fonte Lianor pela verdura;Vai formosa, e não segura.

VoltasLeva na cabeça um pote,O testo nas mãos de prata,Cinta de fina escarlata,Sainho de chamalote;Traz a vasquinha de cote,Mais branca que a neve pura.Vai formosa, e não segura.Descobre a touca a garganta,Cabelos de ouro entrançado>Fita de cor de encarnado,Tão linda que o mundo espanta;Chove nela graça tanta Que dá graça à formosura.Vai formosa, e não segura.

/^TENÇÂOIE muito comum, quando se teoriza sobre os vilancetes, usar a expressão glosar um mote, daí fazer-se necessária esta explicação. Glosa quer dizer volta, ou seja, desenvolvimen­to das estrofes sobre o motivo, mote que foi oferecido como tema ao poeta, ou aquele que ele próprio escolheu para desenvolver.O vilancete, por ser jogo intelectual, permite, como se pode notar nos poemas acima, o uso de aproximações, parano- másias, "brincadeiras" intelectuais.

A lírica clássicaA lírica clássica em Camões corresponde à sua produção

mais divulgada; escrita em medida nova (versos decassílabos) não se restringe apenas aos sonetos. Usando tal medida, o poeta escreveu também éclogas, oitavas, elegias, canções e odes.

Mas é por meio da estrutura do soneto que o poeta portu­guês atinge a fluência, adequação exata de seus sentimentos. Há neles tal ordem de entemecimentos, de alegrias, conten­tamentos, perdas, desconsolos, aflições e encantamentos

que a alma humana se amplia nos questionamentos de todo querer.

Como se sabe, o soneto é breve estrutura poemática de 14 versos decassílabos, distribuídos em 4 estrofes: dois quartetos, dois tercetos. O esquema rímico é variado, mas em Camões encontram-se sobretudo o petrarquista ou petrarquiano: ABBA/ABBA/CDC/DCD. Nos quartetos, as rimas são chamadas interpoladas (também conhecidas como opostas) e nos tercetos, alternadas (ou cruzadas).

Há outro esquema rímico de que Camões se valeu em menor escala: ABBA/ABBA/CDE/CDE.

Somam 70 os sonetos do autor, se considerarmos apenas os que foram selecionados pelos estudiosos e atribuídos certa­mente a ele.

E, por último: não era uso do século XVI colocar título nos poemas; por isso os sonetos recebem sempre por nome o primeiro verso inteiro. Por exemplo: “Alma minha gentil, que te partiste”; “Amor é fogo que arde sem se ver”; “Sustenta o meu viver uma esperança” etc.

Características da poesia camonianaSob o título Tensões fundamentais da Lírica de Camões,

os teóricos Óscar Lopes e Antônio José Saraiva esclarecem que imaginar a obra camoniana como sendo sempre um amontoado de reflexões filosóficas é perigoso, posto oferecer-lhe um cargo como doutrinário e não como poeta. E apontam algumas ten­sões fundamentais para sua obra.

0 amor: idealismo platônicoCamões interessou-se pelo neoplatonismo como qualquer

homem culto e cristão de sua época, como aliás todo poeta que sofreu, como ele, influência petrarquiana. Em seus poemas herda um posicionamento que a concepção de amor provençal e hu­manista possuíam sobre a mulher: “não como uma companheira humana, mas como um ser angélico”, e em seus sonetos, espe­cialmente, a amada é deificada, iluminada por uma luz sobrenatural que lhe transfigura as feições camais: luminosos cabelos de oiro, e o olhar resplandescente tem o condão de serenar o vento; a sua pre­sença faz nascer as flores e até enternecer o tronco das órvores. Toda sua figura é o revestimento corpóreo de um ideal: respira gravidade, serenidade, altura.

Mas pode-se notar, mesmo assim, forte tensão contrária a isso. E embora nos sonetos, principalmente, o poeta se negue a desenvolver temas não platônicos e de amor distanciado e submisso, podemos ver sensualidade, amor carnal, erotici- dade, na passagem em que as ninfas cuidam dos marinheiros portugueses quando estes chegam, na companhia de Vasco, à Ilha dos Amores, isto é, em sua poesia épica.

não segura: desprotegida; testo: rodilha de tecido grosso, usada sobre a cabeça para aliviar o peso de objetos carregados; escarlata: tecido vermelho, geralmente em seda; sainho: avental usado sobre a saia; chamalote: tecido grosso; vasquinha de cote: saia de vestir todos os dias; enternecimen- to: doçuras (no lirismo); neoplatonismo: corrente filosófica fundada no século II em Alexandria, por Amônio Sacas; deificada: endeusada.

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Quando as fermosos Ninfas, co'os amantes Pela mão, já conformes e contentes,Subiam para os paços radiantes E de metais ornados reluzentes,Mandados da rainha, que abundantes Mesas de altos manjares excelentes Lhe tinha aparelhadas, que a fraqueza Restaurem da cansada natureza.

Canto X, O s Lusíadas.

0 desconcerto do mundoHá sempre nos versos camonianos um desacerto, um que-

branto, uma tristeza, um desajuste entre as exigências de seu interior e os obstáculos que o mundo oferece no caminho.

Esse descompasso entre o mundo exterior e o da intimida­de aparece tanto em suas queixas sobre as injustiças que sofre, a pobreza, a miséria física e moral, como nos poemas amorosos em que a amada é intangível. E esse universo contraditório o infelicita. Quer compreendê-lo, mas não consegue. Frustra-se, desta forma, e conduz-se para a experiência sofrida da existên­cia malograda. Parece ao poeta que é ímpar, sem igual, e que dificilmente compreenderá a dor intensa que sente ao viver em contraste com tudo que o rodeia. Releia, agora, os versos que você já conhece para aplicar-lhes tal teoria:

Ao desconcerto do Mundo Os bons vi sempre passar No mundo graves tormentos;E pero mais me espantar,Os mous sempre vi nadar Em mar de contentamentos.Cuidando alcançar assim O bem tõo mal ordenado,Fui mau, mas fui castigado.Assim que, só pera mim Anda o mundo concertado.

Encontramos, ainda, outras características da poesia ca­moniana:

A mímesisComo qualquer poeta clássico de seu tempo, Camões pro­

curou imitar modelos de comportamento clássico greco-roma- no que transpunham para suas obras a natureza. Não se trata de retratar a natureza minuciosamente, mas trazê-la para a obra de maneira idealizada.O mundo exterior interessa pouco para os clássicos, a natureza para eles é a natureza humana. Isto não eqüivale a dizer que o mundo fora do homem não faça aparição numa obra clássica; mas normalmen­te a natureza, entendida como paisagem, não intervém como tema exclusivo, e sim como decoração, pretexto, ou recesso propício para a meditação. Nos sonetos camonianos, em que o elemento plástico

2 aparece dominante (descrição da natureza e retrato da mulher ama­da), ainda que a pintura ocupe a quase totalidade do espaço do poe­ma, o elemento humano está sempre presente, ou no fecho do soneto (A formosura desta fresca serra); ou diluído nele (Aquela triste e leda madrugada, ou Está-se a Primavera transladando).

Prof. Segismundo Spina. Introdução à Poética Clássica, MartinsFontes, p. 96

A imitação dos clássicosA redescoberta da produção dos gregos e latinos produziu

no Classicismo uma tendência para a imitação de alguns mo­delos. A epopeia camoniana é bom exemplo para esse tipo de “imitação”. Não devemos considerar plágio esse tipo de com­portamento, uma vez que os renascentistas, em todas as artes, julgam a produção de tais povos como modelo venerável de perfeição estética.

Mas, para se imitar o clássico antigo, era preciso ter “engenho", ou seja, a capacidade pessoal de elaboração, e a “arte”, domínio da técnica, da estética, para desenvolver o poema.

0 bem, o belo e a verdadePreceitos fundamentais da Antiguidade, estes são valores

inalienáveis para os clássicos renascentistas. A ordem, como equilíbrio, harmonia e ventura, implica os modelos de beleza eterna. O uso do racionalismo, a busca do equilíbrio e da razão, não quer dizer que os renascentistas não pudessem reproduzir os desequilíbrios e as tensões da vida, mas trazer para a arte o modelo da perfeição, da moral, que servissem como reflexão.

0 tema religiosoImaginando-se que o poeta valorizou apenas os temas mi­

tológicos, esquece-se de um aspecto importante de sua obra: os temas ligados à Bíblia como fonte inspiradora. O soneto a seguir é um desses raros exemplos:

Sete anos de pastor Jacó servia Labão, pai de Raquel, serrana bela;Mas não servia ao pai, servia a ela,E a ela só por prêmio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,Passava, contentando-se com vê-la;Porém o pai, usando de cautela,Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos Lhe fora negada a sua pastora,Como se a não tivera merecida,Começa de servir outros sete anos,Dizendo: - Mais servira, se não fora Para tão longo amor tão curta a vidal

Pera: para; concertado: harmonizado; leda: alegre.

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0 uso do m itologiaÉ freqüente na poesia camoniana o uso de personagens mi­

tológicos. Não estamos nos referindo apenas à poesia épica, porque lá se encontram deuses greco-latinos às centenas, mas tam­bém à lírica, onde ninfas e deusas, deuses, povoam a imaginação do poeta.

O céu, a terra, o vento sossegado...As ondas, que se estendem pela areia...O s peixes, que no mar o sono enfreia O noturno silêncio repousado

O pescador Aônio, que, deitado onde co vento a água se meneia chorando, o nome amado em võo no meia, que nõo pode ser mais que nomeado:

Ondas - dizia - antes que Amor me mate, tornai-me a minha Ninfa, que tõo cedo me fizestes à morte estar sujeita.

Ninguém responde; o mor de longe bate;Move-se brandamente o arvoredo;Leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita.

0 uso do hipérbofoComo se sabe, o hipérbato é figura de construção que se

realiza sob a égide da inversão violenta de termos sintáticos. Toda a construção clássica assim é feita. Observando os poe­mas transcritos você perceberá com facilidade tal expediente.

Mais um pouco de CamõesOs textos abaixo formam uma coletânea das mais impor­

tantes composições camonianas. Devem ser lidos a fim de que possamos tomar conhecimento dos assuntos abordados pelo poeta maior do Classicismo português:

IMudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Muda-se o ser, muda-se a confiança;Todo o mundo é composto de mudança. Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades.Diferentes em tudo da esperança;Do mal ficam as mágoas na lembrança,E do bem, se algum houve, as saudades.O tempo cobre o chão de verde manto,Que já coberto fo i de neve fria,E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada diaf Outra mudança faz de mor espanto:

Que nõo se muda já como soía.

De quantas graças tinha; o Natureza Fez um belo e riquíssimo tesouro>E com ruBis e rosas, neve e ouro,Formou sublime e angélica beleza.

Pôs na boca os rubis, e na pureza Do belo rosto as rosas, por quem mouro;No cabelo o valor do metal louro;No peito a neve em que a alma tenho acesa.

Mas nos olhos mostrou quanto podia,E fez deles um sol, onde se apura A luz mais clara que a do claro dia.

Enfim, Senhora, em vossa compostura Ela a apurar chegou quanto sabia De ouro, rosas, rubis, neve e luz pura.

O tempo acaba o ano, o mês e a hora,

A força, a arte, a manha, a fortaleza;

O tempo acaba a fama e a riqueza,

O tempo, o mesmo tempo, de si chora.

O tempo busca e acaba o onde mora

Qualquer ingratidõo, qualquer dureza;

Mas nõo pode acabar minha tristeza.

Enquanto nõo quiserdes vós. Senhora.

O tempo o claro dia toma escuro.E o mais ledo prazer em choro triste;O tempo, a tempestade em grõo bonança.

Mas de abrandar o tempo estou seguro O peito de diamante, onde consiste A pena e o prazer desta esperança.

Coitadol Que em um tempo choro e rio; Espero e temo, quero e aborreço; Juntamente me alegro e me entristeço; De uma cousa confio e desconfio.

Avoo sem asas; estou cego e guio;E no que valho mais menos mereço

mor: maior; soer: costumar; natureza: natura, mãe de todos; mouro: morro; grão : grande; bonança: calmaria, sossego, tranqüilidade.

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Co/o e dou vozes, falo e emudeço,Nada me contradiz, e eu aporfio.

Q u'ria, se ser pudesse, o impossível; Qu'ria poder mudar-me, e estar quedo; Usar de liberdade, e ser cativo.

Qu'ria que visto fosse, e invisível;Qu'ria desenredar-me, e mais me enredo; Tais os extremos em que triste vivol

5Que me quereis, perpétuas saudades? Com que esperanças ainda me enganais? Que o tempo que se vai nõo torna mais.

E se toma, nõo tomam as idades.

Razão é já, ó anos, que vos vades;Porque estes tão ligeiros que mostrais,Nem todos para um gosto são iguais,Nem sempre são conformes as vontades.

Aquilo a que já quis é tão mudado,Que quase é outra cousa; porque os dias Têm o primeiro gosto já danado.

Esperanças de novas alegriasNão mas deixa a Fortuna e o Tempo errado,Que do contentamento são espias.

aporfio: lutar, planejar; quodo: quieto.

RevisandoDiferencie Renascimento e Classicismo.

B Quais são as características estruturais de Os Lusíadas?

E l Quais são as divisões possíveis da obra camoniana?

____________________________ D Quais os principais temas da lírica camoniana?

Q A quem é dedicado Os Lusíadasl? __________________________________________________________

------------------------------------------ D O que é um soneto?

M M Quais são os heróis de Os Lusíadas? _____________________________

Exercícios propostos| Sobre Os Lusíadas, é incorreto afirmar que: quando a ação do poema começa, as naus portuguesas estão navegando em pleno Oceano Índico, portanto, no meio da viagem.na Invocação, o poeta se dirige às Tágides, musas do rio Tejo.na Ilha dos Amores, após o banquete, Tétis conduz o ca­pitão ao ponto mais alto da ilha, onde lhe desvenda a “má­quina do mundo”.

(d) tem como núcleo narrativo a viagem de Vasco da Gama a fim de estabelecer contato marítimo com as índias.

>) é composto em sonetos decassílabos, mantendo em 1.102 estrofes o mesmo esquema de rimas.

B Com os versos “Cantando espalharei por toda parte/Se a tanto me ajudar o engenho e arte”, Camões explica que o propósito de Os Lusíadas é divulgar os feitos portugueses. So­bre esse poema épico, só é incorreto afirmar que:

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(a) trata-se da maior obra literária do quinhentismo português.(b) Camões sofre a clara influência dos clássicos greco-latinos.(c) há forte presença do romantismo, devido ao nacionalismo.(d) como epopeia moderna, há momentos de crítica à nação

e ao povo.(e) louva não apenas o homem português, mas o homem re­

nascentista.

Entre as alternativas a seguir, apenas uma está incorreta no que se refere a Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões.(a) A estrofação do poema é regular, composta em oitavas.(b) A narrativa do poema inicia-se in media res, o que pode­

mos traduzir como “no meio da viagem”, com os portugue­ses já chegando às índias.

(c) O herói Vasco da Gama é do tipo “coletivo”, ou seja, é re­presentante de todo o povo português.

(d) As estrofes de que se compõe o poema são irregulares, escritas em oitava-rima ou rima real.

(e) Os Lusíadas estão divididos em dez Cantos.

Q Apontam-se a seguir algumas características atribuídas pela crítica à epopeia de Luís Vaz de Camões, Os Lusíadas. Uma dessas características está incorreta.(a) Concepção da história nacional como uma seqüência de

proezas de heróis aristocráticos e militares.(b) Apologia dos poderes humanos, realçando o orgulho nacio­

nalista de autorrealização e do domínio sobre a natureza.(c) Mistura de história e mitologia, louvação do herói Vasco da

Gama.(d) Dividida em 10 capítulos, a narrativa tem como herói Vasco

da Gama e valoriza emoções nacionalistas dos coloniza­dores.

(e) A obra é dedicada ao rei d. Sebastião, ainda vivo, referido nela como “maravilha total da nossa idade”.

D O digno representante do povo português, herói de Os Lusíadas, foi:(a) Alexandre, o Grande.(b) Trajano.(c) Vasco da Gama.(d) Ulisses.(e) Virgílio.

K l Leia.No mor, tanta tormenta e tanto dano,Tantas vezes a morte apercebida;Na terra, tanta guerra, tanto engano,Tanta necessidade aborrecida!Onde pode acolher-se um fraco humano,Onde terá segura a curta vida,Que nõo se arme e se indigne o Céu sereno Contra um bicho da terra tõo pequeno?

Estrofe 106 — Canto I — Os Lusíadas.

A estrofe citada fecha o primeiro Canto da epopeia Os Lusía­das, escrita por Camões em 1572, dedicada a d. Sebastião,

último rei português da Dinastia dos Avis. Tendo em vista a escola literária a que Camões pertenceu, as finalidades da epopeia e a estrutura do poema, assinale a única referência incorreta a seguir.(a) Por ter se amparado em modelo clássico, Camões pôde

usar na epopeia Os Lusíadas motivações mitológicas como é o caso das passagens Episódio do Gigante Adamastor ou do Concilio dos Deuses.

(b) Em Os Lusíadas, louva-se a coragem do povo português, sua história, suas proezas, seu povo.

(c) O núcleo da epopeia é a viagem de Vasco da Gama às índias.

(d) O poema épico camoniano é tecido em oitava-rima ou rima real.

(e) O poema épico camoniano é a louvação das descobertas ultramarinas, da vida humana em perigo e da confiança dos portugueses na providência divina que os escolhera para serem grandes navegadores no século XVI.

E U Leia.Cessem do sábio Grego e do Troiano As navegações grandes que fizeram:Cale-se de Alexandre e de Trajano A fama das vitórias que tiveram;Que eu canto o peito ilustre lusitano A quem Neptuno e Marte obedeceram;Cesse tudo o que a Musa antígua canta,Que outro valor mais alto se alevanta.

A oitava acima constitui a terceira estrofe de Os Lusíadas, po­ema épico publicado em 1572, obra máxima do classicismo português. O tipo de verso que Camões empregou é de origem italiana e fora introduzido na literatura portuguesa algumas déca­das antes, por Sá de Miranda. Quanto ao conteúdo, o poema Os Lusíadas toma como ponto de referência um episódio da história de Portugal.

Baseado nesses comentários e em seus próprios conhecimen­tos, releia a estrofe citada e indique:a) o tipo de verso utilizado (pode mencionar simplesmente o

número de sílabas métricas).b) o episódio da História de Portugal que serve de núcleo nar­

rativo ao poema.

OAs armas e os barões assinalados,Que da ocidental praia lusitana.Por mares nunca dantes navegados.Passaram ainda além da Taprobana,Em perigos e guerras esforçados,Mais do que prometia a força humana,E entre gente remota edrfícaram Novo reino> que tanto sublimaram;E também as memórias gloriosas Daqueles reis que foram dilatando A Fé, o Império, e as terras viciosas

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De África e de Ásia andaram devastando,E aqueles que por obras valerosas Se võo da lei da morte libertando;Cantando espalharei por toda parte,Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

A expressão “engenho e arté' do último verso pode ser inter­pretada como sendo:

i) Capacidade de navegar e sair-se bem nessa empreitada.>) Capacidade de fazer a narração da viagem de Vasco da

Gama.) Colocar em versos, à maneira artística, a história das nave­

gações de Vasco da Gama.I) Narrar os episódios dramáticos da história do reino e reis

portugueses.(e) Narrar no modelo de crônica humanista os feitos de Por­

tugal.

O Leia.Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito (Se de humano é matar uma donzela,Fraca e sem força, só por ter sujeito O coração a quem soube vencê-la).A estas criancinhas tem respeito,Pois o não tens à morte escura dela;Mova-te a piedade sua e minha Pois não te move a culpa que não tinha.

A estância transcrita pertence a Os Lusíadas, de Luís de Camões, e faz parte de um dos mais conhecidos “episódios” daquela obra. Indique-o nas alternativas abaixo assinaladas.(a) Episódio da Ilha dos Amores.(b) Episódio do Gigante Adamastor.(c) Episódio de Inês de Castro.(d) Episódio dos Doze da Inglaterra.

>) Episódio da Batalha de Aljubarrota.

na O velho dos versos de Camões da passagem conhecida como “O Velho do Restelo”:

i) abençoa os marinheiros portugueses que vão atravessar os mares à procura de uma vida melhor.

)] critica as navegações portuguesas por considerar que elas baseiam-se na cobiça e na busca de fama.

:; emociona-se com a saída dos portugueses que vão atra­vessar os mares até chegar às índias,

i) destrata os marinheiros por não o terem convidado a parti­cipar de tão importante empresa.

0 adverte os marinheiros portugueses dos perigos que eles podem encontrar para buscar fama em outras terras.

Leia com atenção o poema transcrito a seguir.Aquela triste e leda madrugada, cheia toda de mágoa e piedade, enquanto houver no mundo saudade quero que seja sempre celebrada.

Ela só, quando amena e marchetada saía, dando ao mundo claridade, viu-se apartar-se de uma outra vontade, que nunca poderá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio,que duns e doutros olhos derivadas,se acrescentaram em grande e largo rio.

Ela viu as palavras magoadas, que puderam tornar o fogo frio e dar descanso às almas condenadas.

Camões.

Indique, no poema que acabou de ler, características maneiris- tas. Defina o que seja maneirismo como estilo de época.

C lAmor é fogo que arde sem se ver;E ferida que dói e não se sente;E um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer.

E um não querer mais que bem querer;É solitário andar por entre a gente;E nunca contentar-se de contente; t cuidar que se ganha em se perder.

Camões.

Assinale a alternativa correta sobre o texto.(a) Expressa as vivências amorosas do Heu” lírico em lingua­

gem emotivo-confessional.(b) Apresenta índices de linguagem poética marcada pelo ra-

cionalismo do século XVI.(c) Conceitua o amor de forma unilateral, revelando o

intenso sofrimento do coração apaixonado.(d) Notam-se, em todos os versos, imagens poéticas contradi­

tórias, criadas a partir de substantivos concretos.(e) Conceitua positivamente o amor correspondido e, negati­

vamente, o amor não correspondido.

D l Quanto à produção lírica de Luís Vaz de Camões: i) É escrita única e exclusivamente em versos redondilhos.

(b) É mesclada por poemas escritos em “medida velha” e os sonetos, a “medida nova”, trazida da Itália por Sá de Mi­randa.

(c) Apresenta temas de morte e solidão aliados a temas tipi­camente medievais.

(d) Usa apenas a tradição clássica, rompendo em definitivo com a Idade Média.

(e) Apresenta aspectos típicos do Humanismo italiano e es­panhol.

Leia.Busque Amor novas artes, novo engenho para matar-me, e novas esquivanças;

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que nõo pode tirar-me os esperanças que mal me tirará o que eu nõo tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!Vede que perigosas seguranças:que nõo temo contrastes nem mudançasandando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto nõo pode haver desgosto onde esperança falta, lá me esconde Amor um mal, que mata e nõo se vê;

que dias há que na alma me tem posto um nõo sei quê, que nasce não sei onde vem não sei como e dói nõo sei por quê.

Relido o poema de dois quartetos e dois tercetos com versos decassílabos heroicos e esquema rimático abba-abba-cde-cde, e considerada a elaboração estética da linguagem com que é

tratado o tema, assinalar a alternativa que nomeia que tipo de poema ó, o seu autor e o movimento literário em que este se enquadra:(a) redondilha - Gil Vicente - Humanismo.(b) soneto - Camões - Classicismo.(c) soneto - Gregório de Matos - Barroco.(d) lira - Cláudio Manuel da Costa - Arcadismo.(e) lira - Camões - maneirismo.

1 3 Na lírica de Camões:(a) o metro usado para a composição dos sonetos é a redon­

dilha maior.(b) encontram-se sonetos, odes, sátiras e autos.

;) cantar a Pátria é o centro das preocupações.i ) encontra-se uma fonte de inspiração de muitos poetas bra­

sileiros do século XX.(e) a mulher é vista em seus aspectos físicos, despojada de

espiritualidade.

ÊMSÊSÊÊMÊBM T exto C omplementar; 1

As nove musasQuando houve a vitória dos deuses do Olimpo sobre os seis

titãs, filhos de Urano, Zeus sentiu necessidade de criar divindades capazes de louvar cantando as vitórias de seus heróis e tornar co­nhecidas todas as glórias e honras dos olímpicos. Para tanto, Zeus escolheu Mnemósine (A Memória) como sua parceira e com ela dormiu por nove noites seguidas. Um ano depois, nas redondezas do Monte Olimpo, Mnemósine deu à luz nove musas que foram criadas pelo caçador Croto.

Sempre acompanhadas pela lira de Apoio, junto à fonte de Hipocrene, eram conhecidas como "as cantoras divinas" e louva­vam o passado de honras, o presente de glória e o futuro gre­go; nos primórdios de seu nascimento, as musas eram deusas da música, apenas, e formavam esse pequeno e bem-afinado coro feminino; um pouco mais tarde, suas funções e atributos foram se diversificando e a cada uma delas coube uma função, ou proteção ou trabalho, mas sempre no sentido divino de inspirar, proteger, favorecer e beneficiar.

Esther RS. Rosado.

1. ClioClio (do grego "glória* ou "fama") é uma das nove musas

e, com suas irmãs, habita o Monte Hélicon; ela tem o dom de restabelecer a paz entre os mortais e inspirar os governantes a serem bons e dignos de seus cargos.

É a musa da criatividade e da história; traz na mão uma va­rinha de madeira ou ouro (plectro), com a qual se tocavam instru­mentos de corda. Sua representação é estar coroada por louros ou trazer junto de si um livro (Tucídide) no qual se registram os feitos dos homens. E considerada a inventora da guitarra.

*

J. Vermeer. The Allegory of Painting (Detalhe). 1666. Óleo sobre tela. Kunsthistorisches Museum, Áustria.

Titã: cada um dos gigantes que, segundo a mitologia, pretenderam escalar o Céu e destronar Júpiter.Musas dançando com Apoio.

Page 196: Livros poliedro   caderno 1 português

2. EuterpeEuterpe é a inventora da flauta e é a musa da música; no

período clássico, presidia também a poesia lírica; está sempre re­presentada com seus longos cabelos louros e toca o instrumento de sua invenção. Ao seu lado encontram-se flautas, oboés, guitarras e todos os instrumentos de sopro e cordas. Pode ser ouvida na voz doce dos ventos e durante as tempestades.

4 . MelpómeneE a musa da tragédia; aparece sempre calçada com coturnos,

de aspecto sério ou triste, muito bem-vestida. As folhas de videira são seu símbolo.

Euterpe e Urânia, Pompeo Battoni, Apollo and the Two Muses, século XVIII.

3. TáliaA musa da comédia; calçava borzeguins (botina cujo cano é

fechado com cordões), portava uma máscara cômica em uma das mãos e se apresentava algumas vezes com uma coroa de hera à cabeça. E considerada também a musa da poesia campestre, pas­toril. E uma das chamadas Três Graças (Tália, Eufrósine e Aglaé).

Jean-Marc Nattier. Tália, a musa da comédia, 1739. Óleo sobre tela. Museu de Belas-Artes de São Francisco, Estados Unidos.

5 . TerpsícoreMusa da dança e da música; porta sempre uma lira e sua ca­

beça está coroada de grinaldas de flores; adora dançar ao som da lira que toca e dirige o ritmo de seus passos. E possível encontrá-la, quando citada por alguns autores, como se fosse "a mãe de todas as Sereias"; é a inspiradora da poesia épica.

Jean-Marc. Terpsícore, Musa da música e da Dança, 1739. Óleo sobre tela.

Gustave Moreau. Hesíodo e a Musa, 1891. Óleo sobre madeira. Musée d’Orsay, Paris, França.

Page 197: Livros poliedro   caderno 1 português

6. ÉratoMusa da poesia lírica em seu aspecto amoroso e erótico;

está sempre apresentada de pés descalços e, por vezes, coroada de rosas e mirtilo. Ao seu lado, um pequeno Amor brinca com ela e, por vezes, lhe beija os pés.

Simon Vouet. Erato. Painel em carva­

lho, século XVII.

7. PolímniaDeusa da retórica, é representada sempre séria, de olhos bai­

xos e pensativos, indicadores da modéstia de quem compreende o mundo. Estava ligada aos ritos do campo, agricultura, geometria e meditação.

9. CalíopeMusa da poesia épica, da eloqüência e da ciência; é conside­

rada a mais sábia de todas as musas, e aquela que as comanda. Pode ser vista como uma moça muito jovem, virgem, de ar nobre e se apresenta coroada de louro e flores, em atitude de honestidade, com a cabeça repousada em uma das mãos. Junto dela, encon- tram-se três livros: A llíada, a Odisséia e a Eneida. Completam sua representação uma pena (para escrever) e um pergaminho (para ser escrito).

Polímnia, século VI ou V I a.C., fragmento

de mural grego.

RESUM INDO

O Classicismo português (1527-1580) está inserido no Renascimento histórico e nele aparece o poeta máximo daquele século: Luís Vaz de Camões.

A obra camoniana está dividida em três aspectos: lírica {que se utiliza da medida "velha" (versos redondilhos) e "nova" (versos decassí­labos, no soneto)], épica [Os Lusíadas (1572), obra máxima em sua categoria, escrita em dez cantos, utiliza-se da estrofe em oitava-rima] e dramática (são três peças teatrais: Anfitriões, El-Rei Seleuco e Filodemo).]

Os episódios mais importantes de Os Lusíadas são: Canto III (Episódio de Inês de Castro) e IV (O velho do Restelo).

Simon Vouet. Urânia e Calíope, século XVII.

8. UrâniaMusa da astronomia, é representada por seu vestido azul re­

presentando a abóboda celeste, coroada de estrelas e a seus pés podem aparecer instrumentos matemáticos ou de astronomia.

Sim on Vouet. As Musas Urânia e Calíope (Detalhe).

Page 198: Livros poliedro   caderno 1 português

/ i JÈL jiWÊm QUER SABER MÁIS?

\ J ^ LIVROS■ Luís Vaz de Camões. Sonetos de Camões. São Paulo: Ateliê Editorial,

2008.■ Luís Vaz de Camões. Obra completa de Luís de Camões. Rio de Janeiro:

Nova Aguilar, 2002.

S SITES

■ Obras digitalizadas na Bibioteca Nacional de Portugal, http:// purl. pt/index/gerpl/aut/PT/10642_P1 .html

■ Quer ler os mais importantes sonetos camonianos? Procure aqui: www.secrel.com.br/jpoesia/camoes16.html

ERCICIO OMPLEMENTARES I

U Leia os textos.Texto I

O homem; as viagens O homem, bicho da Terra tõo pequeno chateia-se na Terralugar de muita miséria e pouca diversão.Faz um foguete, uma cápsula, um módulo toca para a Lua desce cauteloso na Lua pisa na Luaplanta bandeirola na Lua experimenta a Lua civiliza a Lua coloniza a Lua humaniza a Lua.

Lua humanizada: tão igual à Terra.O homem chateia-se na Lua.Vamos para Marte — ordena a suas máquinas.Elas obedecem, o homem desce em Martepisa em Marteexperimentacolonizacivilizahumaniza Marte com engenho e arte.

Marte humanizado, que lugar quadrado. Vamos a outra parte?Claro - diz o engenho sofisticado e dócil.Vamos a Vênus.O homem põe o pé em Vênus vê o visto - é isto?Idemidemidem.O homem funde a cuca se não for a Júpiter proclamar justiça junto com injustiça repetir a fossa repetir o inquieto repetitório.Outros planetas restam para outras colônias.O espaço todo vira Terra a terra.O homem chega ao Sol ou dá uma volta só para te ver?Não - vê que ele inventa roupa insiderável de viver no Sol.Põe o pé e:mas que chato é o Sol, falso touro espanhol domado.

Restam outros sistemas fora do solar a colonizar.Ao acabarem todossó resta ao homem(Estará equipado?)a difícil, dangerosíssima viagemde si a si mesmo:pôr o pé no chãodo seu coraçãoexperimentarcolonizarcivilizaro homemdescobrindo em suas próprias inexploradas entranhas a perene, insuspeitada alegria de conviver."O h om em ; a s viagens". In: C arlo s D rum m nd d e A ndrade . As Impurezas do

Branco. Rio d e Jane iro : Editora Record. C arlo s D rum m ond d e A n d rad e © G rafia D rum m ond < w w w .carlosdrum m ond.com .br> .

Texto IINo mar, tanta tormenta e tanto dano,Tantas vezes a morte apercebida;Na Terra, tanta guerra, tanto engano,Tanta necessidade aborrecidalOnde pode acolher-se um fraco humano,Onde terá segura a curta vida,Que não se arme e se indigne o Céu sereno Contra um bicho da terra tão pequeno?

C a m õ e s , estrofe 1 0 6 , C a n to I, O s Lusíadas.

Texto IIICantando espalharei por toda parte,Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

C a m õ e s , estro fe 2 , C a n to I, O s Lusíadas.

Releia atentamente os trechos e responda.a) Aponte as áreas de intertextualidade entre o poema de

Drummond e os trechos da epopeia camoniana.b) Podemos considerar o uso da intertextualidade como plá­

gio?c) Há, em termos temáticos, unidade de intenções entre os

dois poemas?

Page 199: Livros poliedro   caderno 1 português

l i Leia o texto.Ó tu, que tens de humano gesto e o peito,(Se de humano é matar uma donzela Fraca e sem força, só por ter sujeito O coração a quem soube vencê-la).A estas criancinhas tem respeito,Pois o não tens à morte escura dela;Mova-te a piedade sua e minha,Pois não te move a culpa que não tinha.

Camões. O s Lusíadas.Observando a estrofe, verifique e transcreva seu esquema rími­co e o tipo específico de verso utilizado.

jjjj^l Leia.Vi por mandado da Santa e Geral Inquisição esses dez Can­

tos d e___________ , de___________ i dos valorosos feitos emarmas que os portugueses fizeram em Ásia e Europa, e não achei coisa alguma escandalosa nem contrária à Fé e aos bons costumes, somente me pareceu que era necessário advertir os leitores que o Autor, para encarecer a dificuldade da navegação e entrada dos portugueses na India, usa de uma ficção dos deuses dos gentios.O trecho acima é uma adaptação do parecer de Frei Bartolomeu Ferreira a respeito de importante obra. Assinale a alternativa que completa, corretamente, as lacunas:(a) Viagens na Minha Terra - Almeida Garrett.(b) Caramuru - Frei Santa Rita Durão.(c ) Prosopopeia - Bento Teixeira.(d ) Mensagem - Fernando Pessoa.(e) Os Lusíadas - Luís Vaz de Camões.

D Leia.E também as memórias gloriosas Daqueles Reis que foram dilatando A Fé, o Império e as terras viciosas De África e Ásia andaram devastando;E aqueles que por obras valerosas Se vão da lei da morte libertando:Cantando espalharei por toda parte,Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

Tomando como referência a epopeia camoniana e o fato de os versos apresentados fazerem parte da Proposição de Os Lusía­das, responda:

i) Os termos destacados significam cantar sem embaraço, aos quatro cantos do mundo.

(b) Os termos destacados devem ser tomados por domínio da arte poética e capacidade de fazer versos na medida nova.

) Podem, tais versos, ser entendidos como domínio da arte poética e capacidade de fazer versos usando os modelos grego e romano.

(d) “Engenho e arte” são termos ligados à poética platoniana.(e) Os termos destacados significam “máquina de guerra” e

“virtude poética”.

Q Assinale a alternativa incorreta. No canto V de Os Lu­síadas:(a) Adamastor representa os perigos enfrentados pelos nave­

gadores lusitanos na travessia do oceano Atlântico para o oceano Índico.

(b) os portugueses assistem à transformação do gigante Ada­mastor em penedo quando tentam ultrapassar a parte mais meridional da África.

(c) apesar das ameaças do gigante, os navegantes prosseguem, esperando ardentemente que os perigos e castigos profeti­zados sejam afastados.

(d) a nuvem negra que se desfaz, antes associada ao Cabo das Tormentas, abre novas esperanças em relação aos objetivos da viagem.

(e) a voz de “tom horrendo e grosso” do gigante Adamastor, ao dar lugar a um “medonho choro”, deixa ver aos navegado­res que o perigo já foi afastado.

K l LeiaTu só, tu, puro amor, com força crua,Que os corações humanos tanto obriga,Deste causa à molesta morte sua,Como se fora pérfida inimiga.Se dizem, fero Amor, que a sede tua Nem com lágrimas tristes se mitiga,E porque queres, áspero e tirano,Tuas aras banhar em sangue humano.

Camões. O s Lusíadas - episódio de Inês de Castro.

a) Considerando-se a forte presença da cultura da Antiguida­de Clássica em Os Lusíadas, a que se pode referir o vocá­bulo “Amor”, grafado com maiúscula, no 5o verso?

b) Explique o verso ‘Tuas aras banhar em sangue humano”, relacionando-o à história de Inês de Castro.

Leia.Estavas, linda Inês, posta em sossego,De teus anos colhendo doce fruito,Naquele engano da alma, ledo e cego,Que a Fortuna não deixa durar muito,Nos saudosos campos do Mondego,De teus fermosos olhos nunca enxuito,Aos montes ensinando e às ervinhas O nome que no peito escrito tinhas.

Relendo o trecho citado, fragmento da epopeia camoniana Os Lusíadas (1572), indique:a) o núcleo histórico que deu origem a tal passagem.b) a que parte da estrutura de Os Lusíadas pertence tal pas­

sagem?

O Leia.Ohl Maldito o primeiro que, no mundo,Nas ondas vela pôs em seco lenho!Digno da eterna pena do Profundo,

Page 200: Livros poliedro   caderno 1 português

Se é justa a justa Lei que sigo e tenho!Nunca juízo algum, alto e profundo,Nem citara sonora ou vivo engenho,Te dê por isso fama nem memória,Mas contigo se acabe o nome e a glória.

Camões. Os Lusíadas.

a) Considerando esse trecho da fala do velho do Restelo no contexto da obra a que pertence, explique os dois primei­ros versos, esclarecendo o motivo da maldição que neles é lançada.

b) Nos quatro últimos versos, está implicada uma determina­da concepção da função da arte. Identifique essa concep­ção, explicando-a brevemente.

D Leia.41E disse: - Ó gente ousada, mais que quantas No mundo cometeram grandes cousas,Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,E por trabalhos võos nunca repousas,Pois os vedados términos quebrantas E navegar meus longos mares ousas,Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho,Nunca arados de estranho ou próprio lenho.42Pois vens ver os segredos escondidos Da natureza e do úmido elemento,A nenhum grande humano concedidos De nobre ou de imortal merecimento,Ouve os danos de mi que apercebidos Estão a teu sobejo atrevimento,Por todo o largo mar e pela terraQue inda hás-de subjugar com dura guerra.

O trecho que você acabou de ler pertence ao Canto IV de Os Lusíadas.a) Qual é o nome que se dá a tal Canto?b) Por que existe a presença da mitologia nessa epopeia?

Leia o texto a seguir.87Tomando-o pela mão, o leva e guia Para o cume dum monte alto e divino,No qual ua rica fábrica se erguia De cristal toda e de ouro puro e fino,A maior parte aqui passam do dia Em doces jogos e em prazer confino;Ela nos paços logra seus amores.As outras pelas sombras, entre as flores.

88Assi a fermosa e a forte companhia O dia quase todo estão passando Nua alma, doce, incógnita alegria.Os trabalhos tão longos compensando;Porque dos feitos grandes, da ousadia

Forte e famosa, o mundo está guardando O prêmio lá no fim, bem merecido,Com fama grande e nome alto e subido. f t j92Mas a Fama, trombeta de obras tais,Lhe deu no mundo nomes tão estranhos De Deuses, Semideuses imortais,Indígetes, Heroicos e de Magnos.Por isso, ó vós que as famas estimais,Se quiserdes no mundo ser tamanhos,Despertai já do sono do ócio ignavo,Que o ânimo, de livre, faz escravo.93E ponde na cobiça um freio duro,E, na ambição também, que indignamente Tomais mil vezes, e no torpe e escuro Vício da tirania, infame e urgente;Porque essas honras vãs, esse ouro puro Verdadeiro valor não dão à gente;Melhor é merecê-los sem os ter,Que possuí-los sem os merecer.

94Ou dai na paz as leis iguais, constantes,Que aos grandes não deem o dos pequenos,Ou vos vesti nas armas rutilantes,Contra a lei dos inimigos Sarracenos:Fareis os reinos grandes e possantes,E tereis mais, e nenhum menos;Possuireis riquezas merecidas,Co'os honras que ilustram tanto as vidas.

O texto que você acabou de ler pertence a uma passagem muito especial de Os Lusíadas e é parte do Canto IX, correspondendo à volta dos portugueses para casa.Esse trecho, em especial, recebe o nome de:(a) Episódio da Máquina do Mundo.(h) Episódio dos 12 da Inglaterra.(c) Episódio de Pedro e Inês.(d) Episódio da Batalha de Aljubarrota.(e) Episódio da Batalha de Salado.

O texto a seguir refere-se às questões 11 e 12.

Mote Alheio Perdigão perdeu a pena, não há mal que lhe não venha.VoltasPerdigão que o pensamento Subiu a um alto lugar,Perde a pena ao voar,Ganha a pena do tomento Não tem no ar nem no vento Asas com que se sustenha:Não há mal que lhe não venha.Quis voar a uma alta torre,Mas achou-se desasado;

10

Page 201: Livros poliedro   caderno 1 português

E, vendo-se depenado,De puro penado morre.Se a queixumes se socorre Lança no fogo mais lenha;Nõo há mal que lhe nõo venha.

Dl A propósito do vilancete acima transcrito, que é de Luís Vaz de Camões, Antônio José Saraiva e Oscar Lopes, na sua História da Literatura Portuguesa dizem que ele faz de Camões “um dos precursores do Conceptismo de Seiscentos”. Diga por que e exemplifique.

Dl Se o vilancete pertence à medida tradicional, ou a que se chama de “medida velha” do verso português, Camões cultivou também uma nova medida, na qual se tomou o maior poeta de língua portuguesa. Que medida foi essa e que poema famoso Camões escreveu nela? Diga, o que foi il dolce stil nuovo, de que literatura foi importado e quem foi que o introduziu em Portugal.

■ Q Leia e responda.Sete anos de pastor Jacó servia Lobão, pai de Raquel, serrana bela;Mas não servia ao pai, sen/ia a ela,E a ela só por prêmio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,Passava, contentando-se com vê-la;Porém o pai, usando de cautela.Em lugar de Raquel lhe dava a Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos Lhe fora assim negada a sua pastora,Como se a nõo tivera merecida,

Começa de servir outros sete anos,Dizendo: - Mais servira, se não fora Para tão longo amor, tão curta a vidal

a) Dê as características clássicas presentes no texto.b) Comente o aspecto verbal do mais-que-perfeito do indica­

tivo do penúltimo verso.

D l Tomando ainda o texto anterior, responda.a) Há antecipações barrocas nesse soneto?b) No último verso há antítese ou paradoxo? Justifique.

O texto a seguir refere-se às questões de 15 a 17.

Alma minha, gentil, que te partiste tão cedo desta vida descontente, repousa lá no céu eternamente e viva reu cá na Terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste, memória desta vida se consente, não te esqueças daquele amor ardente que já nos olhos meus tão puros viste.

E se vires que pode merecer-te alguma coisa a dor que me ficou da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus que teus anos encurtou-se, que tão cedo de cá me leve a ver-te, quão cedo dos meus olhos te levou.

MB Releia o texto e responda.(a) Trata-se de um soneto (dois quartetos e dois tercetos), em

versos de medida tradicional e esquema rímico ABBA/ ABBA/CDC/DCD.

(b) Trata-se de um soneto, forma fixa de 14 versos decassílabos.(c) O platonismo revela-se no texto através do tema da morte,

distanciamento, tristeza e solidão, quesitos básicos para a concepção do Amor em Platão.

(d) Trata-se de versos de medida nova, com características re­nascentistas.

(e) Trata-se de uma ode ao modelo horaciano.

na Com relação aos advérbios destacados no texto, assinale a alternativa correta:(a) Indicam a posição do poeta.(b) Significam distanciamento entre o poeta e Dinamene.(c) São advérbios indicadores e em termos semânticos corres­

pondem, respectivamente, a Céu e Terra.(d) Podem ser tomados como indicadores do amor entre ambos.(e) Não possuem papel adverbial no texto.

Dl Tomando em consideração o segundo verso da primeira estrofe, o termo em grifo significa:(a) a amada do poeta morreu porque estava descontente com

sua vida.(b) a amada, homenageada em versos tão pungentes, preferiu a

segurança do mundo das almas (“Lá no Céu”).(c) o termo em questão é adjunto adnominal de vida e pode ser

interpretado como “vida sem contentamentos”.(d) o termo grifado corresponde ao significado “vida triste,

sem significado”.(e) o termo grifado significa vida impossível de ser vivida.

1 0 1 Leia.No mar, tanta tormenta e tanto dano,Tantas vezes a morte apercebida;Na Terra, tanta guerra, tanto engano,Tanta necessidade aborrecidal Onde pode acolher-se um fraco humano,Onde terá segura a curta vida,Que nõo se arme e se indigne o Céu sereno Contra um bicho da terra tõo pequeno?

Nessa estrofe, Camões:(a) exalta a coragem dos homens que enfrentam os perigos do

mar e da terra.(b) considera quanto deve o homem confiar na providência di­

vina que o ampara nos riscos e adversidades.(c) lamenta a condição humana ante os perigos, sofrimentos e

incertezas da vida.(d) propõe uma explicação a respeito do destino do homem.(e) classifica o homem como um bicho da terra, dada sua

agressividade.

Page 202: Livros poliedro   caderno 1 português

É t * l l Leia.Alma minha gentil, que te partiste Tõo cedo desta vida, descontente,Repousa lá no céu eternamente,E viva eu cá na Terra sempre triste.

a) Existe uma forte oposição no interior da estrofe. Identifique-a e dê uma pequena explicação para ela.

b) Os verbos repousa e viva estão no mesmo modo? Explique.

m Leia os textos.

Jacó encontra-se com Raquel Depois, disse Labõo a Jacó: Acaso, por seres meu parente,

irás servir-me de graça? Dize-me, qual será o teu salário? Ora, Labõo tinha duas filhas: Lia, a mais velha, e Raquel, a mais moça. Lia tinha os olhos baços, porém Raquel era formosa de porte e de semblante. Jacó amava Raquel, e disse: Sete anos te servirei por tua filha mais moça, Raquel. Respondeu Labõo: Melhor é que eu ta dê, em vez de dá-la a outro homem; fica, pois, comigo.

Assim, por amor a Raquel, serviu Jacó sete anos; e estes lhe pa­receram como poucos dias, pelo muito que a amava. Disse Jacó a Labõo: Dá-me minha mulher, pois já venceu o prazo, para que eu me case com ela. Reuniu, pois, Labõo, todos os homens do lugar e deu um banquete. A noite, conduziu a Lia, sua filha, e a entregou a Jacó. E coabitaram [...] Ao amanhecer, viu que era Lia, e por isso disse Jacó a Labõo: Que é isso que me fizeste? Nõo te servi por amor a Raquel? Por que, pois, me enganaste? Respondeu Labõo: Nõo se faz assim em nossa terra, dar-se a mais nova antes da primogênita. Decorrida a se­mana desta, dar-te-emos também a outra, pelo trabalho de mais sete anos que ainda me servirás. Concordou Jacó, e se passou a semana desta; entõo Labõo lhe deu por mulher Raquel, sua filha, [...] E coabi­taram. Mas Jacó amava mais Raquel do que Lia; e continuou servindo a Labõo por outros sete anos.

G ê n e s is , 2 9 , 1 5 - 3 0 , Bíblia Sagrada. Trad . d e J o ã o F erre ira d e A lm e id a .Rio d e J a n e i ro : S o c ie d a d e B íb lica d o B rasil, 1 9 6 2 .

Soneto 88 Sete anos de pastor Jacó servia Labõo, pai de Raquel, serrana bela;Mas nõo servia ao pai, servia a ela,E a ela só por prêmio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia.Passava, contentando-se com vê-la;Porém o pai, usando de cautela,Em lugar de Raquel lhe dava a Lia.

Vendo o triste pastor com que enganos Lhe fora assim negada a sua pastora,Como se nõo a tivera merecida,

Começa de servir outros sete anos.Dizendo: - Mais servira, se nõo fora Para tõo longo amor tão curta a vida!

C a m õ e s . Obra Completa. Rio d e J a n e iro : A gu ila r, 1 9 6 3 , p . 2 9 8 .

O racionalismo é uma das características mais freqüentes da literatura clássica portuguesa. A logicidade do pensamento quinhentista repercutiu no rigor formal de seus escritores e no culto à expressão das “verdades eternas”, sem que isto impli­casse tolhimento da liberdade imaginativa e poética. Com base nessas observações, releia os dois textos apresentados e:a) aponte um procedimento literário de Camões que compro­

ve o rigor formal do Classicismo.b) indique o dado da personagem bíblica que, por ter sido

omitido por Camões, revela a prática da liberdade poética e confere maior carga sentimental ao seu modo de focalizar o mesmo episódio.

Q | Leia.

Tanto do meu estado me acho incerto que em vivo ardor tremendo estou de frio sem causa, juntamente choro e rio o mundo todo abarco e nada aperto.

Ê tudo quanto sinto um desconcerto da alma um fogo me sai, da vista um rio agora espero, agora desconfio, agora desvario, agora acerto.

Estando em terra chego ao céu voando num'hora acho mil anos, e é de jeito que em mil anos nõo posso achar um'hora.

Se me pergunta alguém por que assi ando respondo que nõo sei; porém suspeito que só porque vos vi, minha Senhora.

O soneto acima transcrito é obra maneirista de Luís de Camões. Nele, pode ser encontrado(a):(a) a suspeita de amor que o poeta declara na conclusão.(b) o jogo de contradições e perplexidades que atormentam o

poeta.(c) o fato de todos perguntarem ao poeta por que assim anda.(d) o fato de o poeta não saber responder a quem o interroga.(e) a utilização de um soneto para relato das suas amarguras.

Os textos a seguir referem-se às questões 22 e 23.

Esparsa - Ao desconcerto do mundo Os bons vi sempre passar No Mundo graves tormentos;E peno mais me espantar,Os maus vi sempre nadar Em mar de contentamentos.Cuidando alcançar assim O bem tão mal-ordenado,Fui mal, mas fui castigado.Assim que, só pera mim Anda o Mundo concertado.Luís d e C a m õ e s . Obra Completa. Redondilhos. R io d e J a n e i ro : N o v a

A gu ila r, 1 9 6 3 , p p 4 7 5 - 6 .NósAi daqueles que nascem neste caos,E, sendo fracos, sejam generosos!As doenças assaltam os bondosos E - custa a crer - deixam viver os maus!C e s á r io V erde . O Livro de Cesárío Verde, 9 e d . L isboa : Ed. M in erv a ,

1 9 5 2 , p. 1 2 2 .

Page 203: Livros poliedro   caderno 1 português

E 9 Nessa redondilha de Camões e na estrofe do poema Nós, do realista Cesário Verde, os poetas exploram um tema lite­rário bastante comum, presente em obras de poetas de todos os tempos. Trata-se do “desconcerto do mundo”, quer dizer, a verificação de que os fatos do mundo acontecem às avessas, em desajuste com as exigências íntimas da vida pessoal. Com base neste comentário, releia os textos e, a seguir, explique que tipo de “desconcerto” é apontado:a) por Camões, em seu poema.b) por Cesário Verde, em sua estrofe.

ESI Nos primeiros versos de “Esparsa”, Camões demonstra sua consciência sobre o “desconcerto do mundo”. Em decor­rência disso, confessa uma mudança de atitude. Releia o poema e, em seguida:a) explique como se dá essa mudança de atitude.b) comente o resultado de sua tentativa.

HJH Leia.

Transforma-se o amador na cousa amada, por virtude do muito imaginar; nõo tenho, logo, mais que desejar, pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minh'alma transformada, que mais deseja o corpo de álcançar?Em si somente pode descansar, pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia, que, como um acidente em seu sujeito, assi co a alma minha se conforma,

está no pensamento como ideia: e o vivo e puro amor de que sou feito, como a matéria simples busca a forma.

C a m õ e s . E ditora A J . d a C o s ta P im põo.

É correto afirmar que, nesse soneto:(a) a experiência individual e a reflexão filosófica, altemando-

-se e conjugando-se, encaminham o desenvolvimento do poema.

(b) a fusão do eu e do outro, almejada no amor, produz a con­versão da forma em simples matéria.

(c) a influência platônica, patente no texto, determina a renún­cia ao impulso erótico-amoroso.

(d) a oscilação entre ascetismo e erotismo, típica do autor, resolve-se pela eleição da mulher imaterial e dessexuada.

(e ) os excessos da imaginação amorosa produzem uma confusão mental que caberá à razão disciplinar.

Leia.Soneto

Quem diz que Amor é falso ou enganoso,Ligeiro, ingrato, vão, desconhecido,Sem falta lhe terá bem merecido Que lhe seja cruel ou rigoroso.

Seja por cego e apaixonado tido,E aos homens, e inda aos deuses, odioso.

Se males faz Amor, em mi se veem;Em mi mostrando todo o seu rigor.Ao mundo quis mostrar quanto podia.

Mas todas suas iras são de Amor;Todos estes seus males são um bem,Que eu por todo outro bem não trocaria.Levando em consideração o texto apresentado e o poeta clássi­co português dono de tais versos, assinale entre as alternativas a seguir a única integralmente correta.(a) Trata-se de um soneto camoniano, de tom maneirista e ver­

sos em medida clássica.( b ) Nele, o poeta lamenta a condição do homem barroco, divi­

dido entre o amor e as incertezas da vida.(c) É um soneto maneirista, típico da fase de transição entre o

fim de Humanismo e o Barroco.(d) Propõe uma explicação a respeito do homem em desencon­

tro consigo mesmo, vítima do amor.(e) Considera que o homem é um ser vulgar, ambíguo e volú­

vel em seus sentimentos desencontrados.

H Q Leia.

Se os penas com que Amor tão mal me trata Permitirem que tanto viva delas,Que veja escuro o lume das estrelas Em cuja vista o meu se acende e mata;

E se o tempo, que tudo desbarata.Secar as frescas rosas sem colhê-las,Mostrando a linda cor das tranças belas Mudada de ouro fino em bela prata;

Vereis, Senhora, então também mudado O pensamento e aspereza vossa,Quando não sirva já sua mudança.

Suspirareis então pelo passado,Em tempo quando executar-se possa Em vosso arrepender minha vingança.

Depois de ler atentamente o texto clássico acima, de autoria de Luís Vaz de Camões, responda:a) Qual o modelo estrutural usado por ele?b) Em que você poderia aproximar o posicionamento do poe­

ta em relação à mulher amada com aquele que os trovado­res e poetas palacianos tomavam?

Amor é brando, é doce e piedoso, Quem o contrário diz não seja cr/do;

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Como se pode observar, há a apreciação dessa produção literária como simples documentação histórica pertencente ao que chamamos Ciclo dos descobrimentos. No entanto, não se pode negar extrema competência descritiva na literatura de via­gens ou literatura informativa, assim como não se deve colocar como mera documentação histórica a produção dos padres ca- tequistas, sobretudo a de Anchieta.

Álvaro Lins, em seu livro Jornal de Critica (Rio de Janeiro: Editora José Olímpio, 1941, p. 103 e ss.), estabelece parâmetros para a escritura dos viajantes:

Pela sua facilidade, raramente o livro de viagem conseguirá salvar-se de um certo tom descritivo, narrador e superficial. Acaba por cair constantemente no caráter da composição escolar. E o que se pode chamar sem nenhuma prevenção um gênero "menor". [...] Só encontro um meio de se salvar o livro de viagem e não se trata de uma salvação pela literatura pura. Será uma tangente para o es­tudo social, para a análise e a interpretação do espírito crítico. Não podendo se constituir em obra de arte literária, resta-lhe a utilização desse honroso recurso para sobreviver e obter significação. Assim, o livro de viagens deverá ser sempre, não digo uma obra rigorosa­mente, cientificamente, de sociologia, mas necessariamente, uma obra de espírito sociológico. O que quer dizer que também há de ser uma obra de espírito crítico. E espírito crítico é em geral o que mais falta aos livros de viagens. [...]

Quase sempre encontramos, nestes livros, como que um des­lumbramento de pasmados, uma admiração ingênua de perplexos, um constante abrir de boca.

Existem três vertentes para categorizar o período Quinhen- tista no Brasil: literatura informativa, literatura de viagens e literatura catequética (ou jesuitica). Estudemos a seguir.

literatura informativaA terra é mui graciosa,Tão fértil eu nunca vi.

Considera-se literatura informativa toda produção que tem origem oficial e que visa contar os prodígios e aconteci­mentos das terras descobertas, ou seja, a A Carta de Caminha possui esse caráter: foi escrita sob encomenda para o reid. Manuel, o Venturoso, que recebeu-a do escrivão-mor de sua armada, o qual lhe relatava o que vira em pouco menos de dez dias neste nosso país.

Caminha não era, em absoluto, o único escrivão da armada de Cabral, além do que, era dever do capitão-mor Pedro Álvares Cabral e dos outros capitães escreverem ao rei, como se pode observar no trecho:

- Senhor, posto que o Capitão-mor desta Vossa frota e assim (mesmo) os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navega­ção achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que — para bem contar e falar — o saiba pior que todos fazer!

Todavia, tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que, para aformosentar, nem afear, aqui nõo há de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu.

Em 1817, o sacerdote e filólogo Manuel Aires de Casal transcreveu para a língua portuguesa daquela época, e pela primeira vez, A Carta de Pero Vaz de Caminha, publicando-a em um conjunto denominado Corografia Brasílica. Mas, in­felizmente, mutilou-a, extraindo-lhe trechos que considerava “indecentes”.

Até o início do século XIX, A Carta era documento quase que desconhecido, perdido entre centenas de milhares de outros documentos guardados na Torre do Tombo, em Lisboa. Foi assim que o padre Aires de Casal a encontrou pela primeira vez: 27 folhas de texto e uma de endereços e anotações. Logo que colocou os olhos sobre ela, Aires de Casal entendeu o que significava aquela narrativa e a im­portância que ali se encerrava. Fez nela um estudo sobre filologia, estilo e termos quinhentistas. Editou-a naquele mesmo ano, dando-lhe o devido realce:

[...] faria injustiça aos meus leitores não lhes dando aqui dela a cópia seguinte [...]

Tristemente, no entanto, "refletindo o policiamento de sua época em questões íntimas e na sua condição de sacerdote, não teve dúvida em mutilar alguns trechos da nanativa, principalmente aqueles em que o missivista descreve, com certo interesse até, as vergonhas das indígenas e suas partes pintadas. Diz Sousa Viterbo com muita verdade que "os escrúpulos do sacerdote levaram de vencida os escrúpulos do consciencioso historiador."

Leonardo Arroyo. A Carta de Pero Vaz de Caminha, Ed. Melhoramentos pp. 11 e 12. 1971.

Sobre o autor, que termina tal documento pedindo um favor ao rei, caso este gostasse de sua narrativa, pouco se sabe além do fato de ter morrido em 16 de dezembro de 1500, durante um assalto dos mouros à feiíoria de Calecute, para onde d. Manuelo nomeara escrivão e lá se encontrava, mais uma vez, a serviço do rei. Além de A Carta, nada se conhece que tenha sua autoria. Mas a ela vale o comentário entusiástico de Leonardo Arroyo na obra acima citada.

A capacidade de observação de Pero Vaz de Caminha é o tra­ço mais surpreendente que salta de sua narrativa. Em face desta habilidade admirável para observar, do seu quase científico método de registro dos fatos culturais mais significativos, ou aparentemen­te mais sem valor, desse primeiro contato com o nativo brasileiro, afirmou Capistrano de Abreu que Pero Vaz de Caminha já teria exercitado tais narrativas sob outros céus. Já havia fixado outros momentos nas costas da África e na própria índia. [...] Embora in­teressante a sugestão de Capistrano de Abreu, não se conhece ne­nhum outro documento do próprio punho de Pero Vaz de Caminha para se aquilatar das razões do nosso historiador. A Carta de Pero Vaz de Caminha é um documento ímpar, porque é um documento íntimo. A narrativa da semana em Vera Cruz serve de introdução a um pedido muito particular ao amigo, El-Rei d. Manuel: o perdão para Jorge Osório, seu genro, degredado na Ilha de São Tomé.

pasmados: perplexos, espantados por admiração; achamento: termo técnico de navegação da época que significa "relocalizaçâo"; filólogo: estudioso ou conhecedor de filologia; filologia: estudioso da língua em toda a sua extensão, sobretudo dos documentos escritos;

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Fig. 2 Fac-símile da carta original de Pero Vaz de Caminha quando do aportamento da expedição de Cabral em terras brasileiras.

Fig. 3 Pedro Álvares Cabral, capitão.

São Nicolau, segundo o dito de Pero Escobar, piloto.

Na noite seguinte à segunda-feira (quando) amanheceu, se perdeu da frota Vasco deAtaíde com sua nau, sem haver tempo forte ou contrário para (isso) poder ser! Fez o capitão suas dili­gências para o achar, em umas e outras partes. Mas... não apareceu mais!

Seu estilo é criativo, inquietante, e lendo tal carta, muito além de ser um mero documento, a certidão de nascim ento de nossa te r ra ou o prim eiro docum ento literário de nosso país, veremos registrado um tempo político, pessoas, costumes, sen­do possível recompor uma época de navegações e conquistas.

Mas a Carta vai além, ela nos traz mais coisas. Na maior parte dela perdemos de vista o rei; Caminha abandona as formas de tratamento e a referência direta a ele, e com isso parece dirigir-se a um leitor mais geral, preocupando-se em descrever com detalhes o que acabou de ver: a nova terra e os "homens da terra". Aqui, a nossa emoção particular, que faz com que tentemos sempre integrar sua carta à literatura brasileira, é a noção da primeira vez. Pela primeira vez, ao mesmo tempo, vemos e somos vistos. Para nós, são as primeiras imagens dessa relação: aceitamos como legado a língua e os traços étnicos-culturais de quem viu, dos portugueses, ao mesmo tempo que tentamos assumir uma perspectiva também étnica e cultural dos que foram vistos, das populações locais aqui encontradas, quando muitos crimes e destruições ainda não haviam sido cometidos, nem contra a terra, nem contra os homens.

Luiz Roncari. In: Literatura Brasileira - Dos primeiros cronistas aos últimosromânticos. Edusp/FDE, 1995. p. 42.

Coletânea de fragmentos de A C arta Fragmento I

[...] A partida foi de Belém - como Vossa Alteza sabe, segun­da-feira, 9 de março. E sábado, 14 do dito mês, entre 8 e 9 horas, nos achamos entre as Canárias, mais perto da Grande Canária. E ali andamos todo aquele dia em calma, à vista delas, obra de três a quatro léguas. E domingo, 22 do dito mês, às dez horas mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, a saber da Ilha de

Fragmento II£ assim seguimos nosso caminho, por este mar de longo, até

que terça-feira das Oitavas da Páscoa, que foram 21 dias de abril, topamos alguns sinais de terra, estando (distantes) da dita Ilha - segundo os pilotos diziam, obra de 660 ou 670 léguas - os quais (sinais) eram muita quantidade de ervas compridas, a que os ma- reantes chamam botelho, e assim mesmo outras a que dão o nome de rabo-de-asno. E quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves a que chamam fura-buchos.

Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de ter­ra! A saber, primeiramente de um grande monte, muito alto e redon­do; e de outras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao qual monte alto o capitão pôs o nome de O Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz!

Fragmento III[...] mancebos e de bons corpos. Um deles trazia um àrco, e

seis ou sete setas; mas não os aproveitou. Logo, já de noite, levou- -os à Capitânia, onde foram recebidos com muito prazer e festa.

A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cober­tura alguma. Não fazem caso de encobrir ou deixar de encobrir suas vergonhas do que mostrar a cara. Acerca disso são de gran­de inocência. Ambos traziam o beiço de baixo furado e metido nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. Metem-no pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita a modo de roque de xadrez.^E trazem-no ali encaixado de sorte que nõo os magoam, nem lhes põe estorvo no falar, nem no comer e beber.

Os cabelos deles são corredios. E andavam tosquiados [...]

Fragmento IVO Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma

cadeira, aos pés uma alcatifa por estrado; e bem vestido, com um colar de ouro, mui grande, ao pescoço. £ Sancho de Tovar, e Simão de Miranda, e Nicolau Coelho, e Aires Corrêa, e nós outros que aqui na nau com ele íamos, sentados no chão, nessa alcatifa. Acenderam-se tochas. E eles entraram. Mas nem sinal de cortesia fizeram, nem de (querer) falar ao Capitão, nem a alguém. Todavia um deles fitou o colar do capitão, e começou a fazer acenos com

legado: herança; étnica: relativa a etnia, raça; mar de longo: exten­so; mancebo: moço, jovem; travessa: no sentido longitudinal; roque: peça de jogo de xadrez denominada torre; estorvo: atrapalho, obstá­culo; corredios: lisos; alcatifa: tapete.

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a mõo em direção, e depois para o colar, também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata!

Mostraram-lhes um papagaio pardo que o capitão traz con­sigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali.

Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele.Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela [...]Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos,

fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora.

Fragmento VAli andavam entre eles três ou quatro moças, bem novinhas e

gentis, com cabelos muito pretos e compridos pelas costas; e suas ver­gonhas, tão altas e tõo saradinhas e tõo limpas das cabeleiras que, de as nós muito bem olharmos, não sentíamos nenhuma vergonha.

Fragmento VINeste ilhéu, onde fomos ouvir missa e sermão, espraia mui­

to a água e descobre muita areia e muito cascalho. Enquanto lá estávamos foram alguns buscar marisco e nõo no acharam. Mas acharam alguns camarões grossos e curtos, entre os quais vinha um muito grande e muito grosso; que em nenhum tempo o vi tamanho. Também acharam cascas de berbigões e de amêijoas, mas não toparam com nenhuma peça inteira. E depois de termos comido vieram logo todos os capitães a esta nau, por ordem do Capitão-mor, com os quais ele se aportou; e eu na companhia. E perguntou a todos se nos parecia bem mandar a nova do acha­mento desta terra a Vossa Alteza pelo navio de mantimentos, para melhor mandar descobrir e saber dela mais do que nós podíamos saber, por irmos na nossa viagem.

Fragmento VIIEsta terra, Senhor, parece-me que, da ponta que mais con­

tra ao sul vimos, até a outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste porto houvemos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco léguas de costa. Traz ao longo do mar e em algumas partes grandes barreiras, umas vermelhas e outras brancas; e a terra por cima toda chã e muito cheia de arvoredos. De ponta a ponta é toda praia... muito chã e mui fermosa. Pelo se estender olhos, não podíamos ver senão terra e arvoredos — terra que nos parecia muito extensa.

Até agora não pudemos ver se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muitos bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro e Minho, porque neste tempo de agora assim os achávamos como os de lá. As águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!

Fragmento VIIIContudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que

será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vos­sa Alteza em ela deve lançar.

[...] E desta maneira dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta Vossa Terra vi.

[...] Beijo as mãos de Vossa Alteza.Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-

-feira, primeiro dia de maio de 1500.

Fig. 4 Fragmento da carta.

Os pontos mais importantes abrangidos por Pero Vaz de Cami­nha são três: 1. a terra era boa e nela “em se plantando tudo dá”; 2. o índio deveria ser cristianizado (“Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente.”); 3. aqui havia ouro e prata para serem extraídos (ver exemplos nos fragmentos VII, Vm e novamente VII, respectivamente).

Literatura de viagensTal literatura tem objetivo frequentemente diverso da li­

teratura informativa. Não tem, a rigor, caráter oficial; os chamados viajantes eram pessoas que, alfabetizadas e com in­formações razoáveis, viajavam pelos países recém-descobertos à procura de aspectos exóticos, criaturas ímpares, paisagens desconhecidas. Após escrever tal literatura, copiavam seus “ca­dernos, livros de viagens”, geralmente à mão, e vendiam tais cópias nas cortes europeias.

Viviam disso e provocavam curiosidade acerca de seus escritos, vendendo-os às centenas. Muitas vezes, quando im­pressos, traziam também desenhos chamados “pranchas”, que esclareciam notadamente sobre os habitantes das regiões que visitavam. As mais conhecidas “pranchas” do século XVII, re­lacionadas, é claro, ao Brasil, são as cinco contidas em História de uma viagem feita à terra do Brasil (1611).

vergonhas: genitais; saradinhas: sem doenças (venéreas), berbigões e amêijoas: moluscos bivalves, cardídeos; chã: baixa, ao rés do chão.

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Observe:

Fig. 5 índio tupinambá: imobilização do prisioneiro.

Em poucas palavras, é literatura para despertar curiosidade, fazer vender, dar lucros a quem se aventurasse pelas terras recém-descobertas em busca de exoticidades. Algumas produções, no entanto, são voltadas para o caráter propagandístico. Durante o domínio espanhol, era comum esse tipo de literatura, que visava fundamentalmente trazer para o Brasil imigrantes portugueses, descrevendo-lhes a abundância da terra e as oportunidades comerciais que nela se apresentavam. Era, na verdade, uma maneira de resguardar os direitos dos portugueses nas terras brasileiras. O exemplo mais notável desse tipo de literatura fica por conta de Ambrósio Fernandes Brandão, em Diálogos das grandezas do Brasil (1618).

Autores e obrasAlguns autores deixaram trabalhos fundamentais para a

reconstituição da primeira fase da colonização brasileira. Entre eles, podemos ressaltar:

Fig. 6 Capa da 1a ed. da História da província deSanta Cruz.

Pero de Magalhães GândavoTratado da terra do Brasil (1537): visão de Gândavo sobre

os indígenas brasileiros.História da província de Santa Cruz, a que vulgarmente

chamamos Brasil (1576).

Gabriel Soares de SousaTratado Descritivo do Brasil (1587): nesse livro, o autor

envia ao rei da Espanha um relato que tinha como intuito mos­trar as belezas da terra e do povo brasileiros.

Ambrósio Fernandes BrandãoDiálogos das grandezas do Brasil (1618).Existe uma interminável “conversa” entre dois imigran­

tes: Brandônio (colono que imigrara há tempos, experiente e conhecedor das coisas brasileiras) e Alviano (chegado há pouco de Portugal, em dificuldades). São seis “diálogos”, ou conver­sas em capítulos; neles, Brandônio elogia a nova terra e incita Alviano a aceitá-la como fonte de progresso e riqueza. É literatura de caráter propagandístico', o Brasil também estava sob domínio espanhol e interessava, como já dissemos, trazer o máximo de portugueses para a colônia, a fim de assegurar terra para os portugueses em crise.

[...] Brandônio: Comorin é um peixe pequeno o que chamam peixe pedra, por ter outra dentro da cabeça em lugar de miolos; e por muito sadio é assás estimado por doentes, como se pescarem em grande quantidade.

Alviano: Nunca ouvi dizer de fera, ave, nem peixe, que tivesse dentro na cabeça pedra em vez de miolo.

Brandônio: [...] piranha é pescado pouco maior de palmo, mas de tõo grande ânimo que excedem em ser carniceiros aos tubarões, dos quais, com haver muitas desta parte, nõo sõo tõo arriscados como estas piranhas, que devem de ter uma inclinação leonina. [...] e tanto que estes peixes sentem qualquer pessoa dentro nágua: se enviam a elas, como fera brava, e a parte aonde ferram levam na boca sem resistência, com deixarem o osso descoberto de carne, e por onde mais freqüentam de aferrar é pelos testículos, que logo os cortam, e levam juntamente com a natura, e muitos índios se acham por este respeito faltos de semelhantes membros.

Alviano: Dou-vos minha palavra que nõo haverá já coisa na vida que me faça meter nos rios desta terra;[...]

Hans StadenMeu cativeiro entre os selvagens do Brasil (1557).É, sem dúvida, a mais empolgante e fantástica aventura

narrada. Hans Staden era natural de Homberg, na Alemanha. Temperamento aventureiro, esteve no Brasil, como viajante, duas vezes. E escreveu seu mais famoso livro de viagens de­pois de ter naufragado nas costas do Brasil em 1553, tendo sido aprisionado pelos tupinambás em Bertioga. Levado para Ubatuba como presente, ficou à disposição do temível chefe Cunhambebe. Na aldeia de Ubatuba, com a perna quebrada e atada por um cipó, foi apresentado de choça em choça. Os índios riam daquele alemão gigantesco, vermelho, de olhos azuis e cabelos ruivos, e exclamavam, vendo-o saltitando por causa do machucado:

—Aqui está nosso almoço pulando!carniceiros: devoradores; natura: genitália.

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Fazendo previsões, enfrentando maus-tratos e repetindo a toda hora que não era português, porque os tupinambás eram inimigos dos portugueses e aliados dos franceses, rezando e pedindo clemência a Deus, foi levado para Itaquaquecetuba; já não era propriamente um escravo: tinha conquistado respeitabi­lidade e o temor dos índios quando fazia previsões. E, por fim, libertado, pôde partir em um navio francês.

Diferentemente dos demais viajantes que exaltavam a terra brasileira, Staden queria sair dela o mais breve possível, tomado de um medo aterrador:

Objeto e sujeito de sua fantástica aventura, espectador de seu próprio suplício e narrador de sua salvação, vítima e algoz dos índios canibais, o personagem a um tempo trágico e picaresco de Staden revela e toma consciente o que os relatos épicos da conquista e os informes administrativos do século XVI jamais admitiram: o medo existe como um dado intrínseco da relação do europeu com o ameríndio. Staden não nos transmite o espanto e o maravilhamento do conquistador face as riquezas indescritíveis e abundãncias incomensuráveis. Seu relato é atípico. De sua América de mar e selva, omada não de templos dourados, mas de ocas em cipó e folhas de palmeira e de estacas encimadas por crânios, ele só pensa em fugir.

Carlos Alberto de M oura Ribeiro. "Zeron Hans Staden entre os Can iba is Tupinambás".

Coletânea da literatura de viagensA seguir você vai encontrar trechos selecionados dos au­

tores do século XVI.

Tratado da terra do Brasil, de Pero de Magalhães Gândavo

Trecho IA língua destes gentios é uma só por toda a costa: carece

de três letras; não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei; e desta maneira vivem sem justiça e desordenadamente.

Trecho IIEstes índios andam nus sem cobertura alguma, assim ma­

chos como fêmeas; não cobrem parte nenhuma de seu corpo, e trazem descoberto quanto a natureza lhes deu. Vivem todos em aldeias, pode haver em cada uma sete, oito casas, as quais são compridas feitas à maneira de cordoaria; e cada uma delas está cheia de gente duma parte e doutra, e cada um por si tem sua estância e sua rede armada em que dorme, e assim estão todos juntos uns dos outros por ordem, e pelo meio da casa fica um caminho aberto para se servirem.

Não há como digo entre eles nenhum Rei, nem Justiça, so­mente em cada aldeia tem um principal que é como um capitão, ao qual obedecem por vontade e não por força; morrendo este principal fica seu filho no mesmo lugar [...]

Trecho III[...] Esta índia tem cargo de lhe dar muito bem de comer e

de beber; e depois de o terem desta maneira cinco ou seis meses ou o tempo que querem, determinam de o matar; e fazem grandes cerimônias e festas daqueles dias, e aparelham muitos vinhos para se embebedarem, e fazem-no da raiz duma herva que se chama aipim, a qual fervem primeiro e depois de cozida mastigam-no umas moças virgens, e espremem-nas nuns potes grandes, e dali a três ou quatro dias o bebem. E o dia em que hão de matar este cativo, pela manhã, se alguma ribeira está junto da aldeia, atam- -no pela cinta com quatro cordas cada uma para sua parte e três, quatro índios pegados em cada ponta destas e assim o levam ao meio de um terreiro, e estiram tanto por estas cordas que não se possa bolir para uma parte nem para a outra, as mãos lhes deixam soltas porque folgam de o ver defender com elas. Aquele que há de matá-lo empena-se primeiro com penas de papagaio de muitas cores por todo corpo: há de ser este matador o mais valente da terra e o mais honrado.

Trecho IVQuando estas índias parem, a primeira coisa que fazem de­

pois do parto lavam-se todas num ribeiro e ficam tõo bem dispostas como se nõo tivessem parido; em lugar delas se deitam os seus maridos nas redes, a assim os visitam e curam como se eles fossem os paridos.

História da provínda de Santa Cruz, de Pero de Magalhães Gândavo

Estes índios são de cor baça, e cabelo corredio; têm o rosto amassado, e algumas feições deles à maneira de chinês. Pela maior parte são bem dispostos, rijos e de boa estrutura. [...] Vivem todos muito descansados sem terem outros pensamentos senão de co- mer, beber, e matar gente, e por isso engordaram muito, mas com qualquer desgosto tornam a emagrecer, e muitas vezes usam tanto a imaginação que se algum deseja a morte, ou alguém lhe mete na cabeça que há de morrer dia ou tal noite não passa daquele termo que não morra.

omada: enfeitada; carece: necessitar; cobertura: roupas; cordoaria: corda esticada, um as atrás da s outras; parido: dar alguém à luz; corredio: liso; termo: fim.

Fig. 7 Preparação dos prisioneiros.

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CAPÍTULO 4 • Quinhentismo (1500-1601

Duas viagens ao Brasil, de Hans Staden - Uvro Primeiro XXIII

Do lugar onde me haviam raspado as sobrancelhas, condu­ziram-se as mulheres em frente da choça em que estavam os seus ídolos, os maracás, e fizeram uma roda em volta de mim.

Fiquei no meio. Duas mulheres amarraram-me com um cordel alguns chocalhos a uma perna e por trás, no pescoço, de modo que me ficasse acima da cabeça, um leque quadrangular de penas da cauda de papagaios, que eles chamam aracoiá. Depois come­çaram elas todas a cantar. De acordo com o seu compasso, devia eu bater o pé com a perna à qual estavam atados os chocalhos, de modo que chocalhasse acompanhando o seu canto. E a perna ferida doía-me tanto que mal me podia ter em pé. [...]

Literatura catequéticaA chamada literatura catequética, ou jesuítica, ficou

conhecida ainda como doutrinária ou moralista e estava a serviço da Companhia de Jesus e do processo da Contrarreforma: de um lado, pretendia cristianizar os indígenas, expandir a fé católica; por outro, moralizar os costumes dos colonos portugueses, não deixando que se perdessem seus parâmetros religiosos.

É interessante também observar que os jesuítas possuíam o monopólio da educação, não só no Brasil, mas em todo o mundo português colonizado. A literatura que produziram era, portanto, de caráter pedagógico e doutrinário. Entre nós, a mais expressiva produção jesuítica pertence a José de Anchieta e, secundariamente, ao padre Manoel da Nóbrega. No âmbito do levantamento histórico, o frei franciscano Vicente do Salvador escreveu, em 1627, sua História do Brasil, relato dos aconteci­mentos desde a descoberta até o século XVII.

Do padre Manoel da Nóbrega existe um livro denominado Diálogo sobre a conversão dos gentios, escrito possivelmente em 1558; do padre Fernão Cardim restou-nos um relatório de tom vivo e inteligente, enviado aos seus superiores europeus, denominado Tratado da terra e da gente do Brasil.

O "apóstolo do Brasil"

Entre todos os jesuítas, destaca-se José de Anchieta, denominado O após­tolo do Brasil; sua obra é vasta, dirigi­da à catequese e ao ensino.

Nascido em 1534 nas Canárias, ilha de Tenerife, Anchieta iniciou seus estu­dos na Companhia de Jesus quando mal completara 17 anos; aos 21, depois de sofrer um acidente que o deixara man­co e jogando o quadril de um lado para outro enquanto andava, resolveu vir

para o Brasil com a missão jesuítica do Padre Luís da Grã, que acompanhava o segundo Govemador-geral, Duarte da Costa. Devoto de Maria Santíssima e Santa Inês, viveu em nosso país por mais 43 anos, viajando, ensinando, escrevendo, fundando vilas. O fim de sua vida foi passado no povoado de Reritiba (hoje a cidade de Anchieta), no Espírito Santo.

Fundador do Colégio de Piratininga, em 25 de janeiro de 1554, núcleo de onde se expandiria a cidade de São Pau­lo, escreveu inúmeras obras para ensinar e catequizar, além da preocupação de produzir material específico para auxiliar seus colegas jesuítas na catequese e educação.

O episódio mais famoso em que se envolveu foi quando, entre julho e agosto de 1563, em companhia do padre Manoel da Nóbrega, esteve preso como refém, pelos tamoios, em Iperoig, hoje Ubatuba, ocasião em que teria escrito o longo poema De Beata Virgine Dei Matre Maria (À Virgem Maria, mãe de Deus). O poema, de cinco mil versos, foi escrito em latim, diz a lenda que nas areias daquela praia. Mais tarde traduzido para o português, revela devoção ímpar pela Virgem, utilizando-se do verso decassílabo mesclado com a redondilha maior (heptassílabo).

A fim de ilustrar, transcrevemos apenas parte da dedi­catória:

Eis os versos que outrora, 6 Mãe Santíssima,Te prometi em voto,Vendo-me cercado de feros inimigos.Enquanto entre os tamoios conjurados,Pobre refém, tratava as suspiradas pazes,Tua graça me acolheu Em teu materno mantoE teu poder me protegeu intactos corpo e alma.À inspiração do Céu,Eu muitas vezes desejei penar E cruelmente expirar em duros ferros.Mas sofreram merecida repulsa meus desejos:Só a heróis compete tanta glória!

Veja agora o que Luiz Roncari, professor da USP, em Litera­tura Brasileira, observa sobre a obra do autor:

Decorrente desse duplo aspecto da formação jesuítica, o ativo e o ascético contemplativo, sua obra pode ser dividida em dois grandes blocos: um, pensado como apoio à ação, é instru­mento de catequese, evangelização, doutrinação e formaçõo; o outro é expressão de sua vida contemplativa, voltada para o amor divino e o fortalecimento da própria fé. No primeiro bloco reunir-se-iam os sermões, o epistolário, os autos, a gramática do tupi, Arte de Gramático da Língua mais usada na Costa do Brasil, ou "artinha", como a chamaram, e parte da poesia. No segundo bloco estão principalmente suas poesias em castelha­no, latim e português, baseadas em modelos clássicos latinos, como Ovídio e Virgílio, e inspiradas em manifestações medievais e contemporâneas da mística espanhola. Esse segundo bloco tinha, sem dúvida, um outro público, mais culto, talvez apenas seus próprios pares da Companhia, e não era desprovido tam­bém de uma finalidade imediata: a expressão e a afirmação da fé, do amor divino e de valores e preceitos doutrinários.Luiz Roncari. Literatura Brasileira - Dos primeiros cronistas aos últimos

românticos. Edusp/FDE, 1995. p. 42.

cordel: corda fina, barbante; ascético: sublime, elevado; epistolário: relativo a carta;

Fig. 8 Anchieta, século XVII.

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A seguir, exemplo de texto religioso, de devoção.

A Santa Inês

Cordeirinha linda, como folga o povo porque vossa vinda lhe dá lume novo!

Cordeirinha santa, de Jesus querida, vossa santa vinda o Diabo espanta.

Cordeirinha santa, de Jesus querida,Vossa Santa vida o Diabo espanta.

Por isso vos canta, com prazer, o povo, porque vossa vinda lhe dá lume novo.

Nossa culpa escura fugirá depressa, pois vossa cabeça vem com luz tõo pura.

Santa Padeirinha, morta com cutelo sem nenhum farelo é vossa farinha.

Ela é mezinha com que sara o povo que com vossa vinda terá trigo novo.

O pão que amassastes dentro em vosso peito é o amor perfeito com que a Deus amastes.

Deste vos fartastes, deste dais ao povo, porque deixe o velho pelo trigo novo.

Vosso formosura honra é do povo, porque vossa vinda lhe dá lume novo.

Virginal cabeça p'ela fé cortada, com vossa chegada já ninguém pereça.

Vinde mui depressa ajudar o povo, pois com vossa vinda lhe dais lume novo.

Vós sois, cordeirinha, de Jesus formoso, mas o vosso esposo já vos fez rainha.

Também padeirinha sois de nosso povo, pois, com vossa vinda, lhe dais lume novo.

Anchieta e o teatroO catequista Anchieta soube tirar proveito do fato de os in­

dígenas gostarem de cantar e dançar e se interessarem sobretudo por alguns ritos que, já tradicionais entre eles, assemelhavam-se a peças teatrais. Escreveu, então, algumas delas usando modelo tipicamente medieval, produzindo o que podemos denominar de autos. De maneira maniqueísta, repartiu o universo em dois: o habitado pelos deuses do Mal, os deuses indígenas e o outro, habitado pelo Bem, representado por Deus, pelos anjos e santos católicos. Na briga eterna entre o Bem e o Mal, vencia sempre, está claro, o Bem.

Fig. 9 Padre Anchieta.

As mulheres não podiam assistir a tais peças que eram re­presentadas em cenários rudimentares. Leia o que disse o pro­fessor Alfredo Bosi sobre elas:

[...] ele teve, vamos dizer, a inteligência, o bom-senso de escrevê-los em tupi, e secundariamente em português, o que faz supor que os autos eram assistidos e até representados também por colonos... Esse teatro de Anchieta é às vezes muito informal, sõo lutas entre o bem e o mal representadas pelos anjos bons e anjos maus. O demônio entra a todo o momento, sai e é espancado... Os índios deviam divertir-se muito com essas representações.

folgar: ficar feliz; cutelo: faca larga para cortar carne; mezinha: chá caseiro; lume: luz; perecer: morrer.

BEN

EDITO

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CAPÍTULO 4 ■ Quinhentismo (1500-1

As mais famosas peças do teatro de Anchieta são: Na Festa de São Lourenço (1583), Na Visitação de Santa Izabel e Na Festa de Natal. Este último, do qual extraímos o trecho abaixo, foi escrito originalmente em tupi; portanto, não procure nele as rimas, estrofes e versos dos quais se compõem os outros autos de Anchieta.

Na Festa de Natal

Personagens: Guaixará (diabo)Aimberê (seu criado)Anjo

Tema: Guaixará chama Aimberê para ajudá-lo o perverter a aldeia. O anjo os expulsa e coloca três Reis Magos no presepe. Segue-se dança típica.

Atos:

Io Diálogo entre os diabos e o anjo (tupi).2o Dança indígena (trilíngue: tupi, castelhano e português).

1o AtoEntram dois diabos, que querem destruir a aldeia com peca­

dos, aos quais resiste o Anjo da Guarda, que os expulsa.

Guaixará:Molestam-me os virtuosos, irritando-me muitíssimo os seus novos hábitos.Quem os terá trazido, para prejudicar a minha terra?

Eu somente nesta aldeia estou como seu guardião, fazendo-a seguir minhas leis. Daqui vou longe visitar outras aldeias.

Quem, como eu?Eu sou conceituado, sou o diabâo assado,Guaixamará chamado, por aí afamado.Meu sistema é agradável.Nõo quero que seja constrangido, nem abolido.Pretendoalvoroçar as tabas todas.Boa coisa é beber até vomitar cauim.Isso é apreciadíssimo.Isso se recomenda, isso é admirável!

São aqui conceituados os moçarabas beberrões.Quem bebe até esgotar-se o cauim, esse é valente, ansioso por lutar.

E bom dançar,adornar-se, tingir-se de vermelho, empenar o corpo, pintar as pernas, fazer-se negro, fumar, curandeirar...

De enfurecer-se, andar matando, comer um ao outro, prender tapuias, amancebar-se, ser desonesto, espião, adúltero- não quero que o gentio deixe.Para issoconvivo com os índios, induzindo-os a acreditarem em mim. Vêm inutilmente afastar-me os tais "padres", agora, apregoando a lei de Deus.

Aqui está meu ajudante-mor, meu colaborador, queimado como eu: o grande chefe Aimbirê, pervertedor de escravos.

A T E N Ç Ã O !

Pelo trecho apresentado, ção do dramaturgo Anch

depreende-se que há preocupa- lieta com a catequese dos índios,

com seus comportamentos e vícios humanos: a bebida, a violência.Se você desejar ver esse tipo de teatro representado, há um filme brasileiro em que Anchieta aparece com os índios. Trata-se de Pindorama, do cineasta Arnaldo Jabor, cinema novo brasileiro, 1970, 110 minutos.

Page 212: Livros poliedro   caderno 1 português

Revisando ______________

U H Os textos de informação e de viagem podem ser consi- D Qual era o propósito dos relatos de viajantes? derados literatura? Explique. __________________________________________________________

M m O que torna o relato de Hans Staden um dos mais rele- B Qual a diferença entre literatura informativa e literatura vantes do Quinhentismo brasileiro?de viagens? ____________________________________________________________________

_ D Quais as finalidades práticas dos primeiros textos da lite-D Quais são os três principais temas da Carta de Caminha ratura catequética?para d. Manuel sobre o “achamento” do Brasil? ____________________________________________________________________

_ o O teatro trazido ao Brasil por Anchieta teve alguma im-D Quais são as principais virtudes literárias do texto de portância do ponto de vista da catequese? Explique.Caminha? ____________________________________________________________________

Exercícios propostosn A gênese da nossa formação literária se encontra no século XVI. Dela fazem parte:

*} as obras produzidas pelos degredados que eram obriga­dos a se instalar no Brasil.

(te) os escritos que os donatários das capitanias hereditárias faziam ao rei de Portugal.

(c) os relatos dos cronistas viajantes.(d) as produções arcádicas.

?) as poesias de Gregório de Matos Guerra.

B Os primeiros escritos da nossa terra documentam precio­samente a instauração do processo: sã o _______________ queviajantes e missionários europeus colheram sobre a _________ eo __________ brasileiro.

Alfredo Bosi.

i) informações - indústrias - comércio(b) análises - agricultura - comércio

;> histórias - realidade - passado(d) informações - natureza - homem (fe) análises - mulher - clima

D Marque a alternativa que corresponda a um autor que não se enquadra no período quinhentista.

Pero Magalhães Gândavo.Gabriel Soares de Sousa.

(c) Padre Antônio Vieira.(d ) Padre José de Anchieta.(©) Padre Manuel da Nóbrega.

K l Fuvest Entende-se por literatura informativa no Brasil:(a) o conjunto de relatos de viajantes e missionários europeus

sobre a natureza e o homem brasileiros.(b ) a história dos jesuítas que aqui estiveram no século XVI.(c) as obras escritas com finalidade de catequese do indígena.(d ) os poemas do padre José de Anchieta.(e) a produção organizada de modo a informar sobre a terra, a

fauna e a flora e sobre o homem de nossa terra.

B A respeito de A Carta de Caminha, podemos afirmar que: Ça) não há preocupação com a conquista material.(ty a única preocupação era a catequese dos índios, tis) é representativa do pensamento contrarreformista.(d ) apresenta tanto preocupação material quanto espiritual.(e) não cita, em momento algum, os nativos brasileiros.

(a)

Page 213: Livros poliedro   caderno 1 português

São identificados como literatura de informação: i) os textos coloniais em que viajantes e missionários europeus

retratam a natureza e o homem de nossa terra.(b) os romances naturalistas empenhados mais na descrição

da realidade observada que na elaboração estética.;) os textos românticos preocupados com a divulgação dos

ideais republicanos e abolicionistas.(d) os contos contemporâneos que empregam recursos da lin­

guagem jornalística.>) os tratados científicos em que se combinam a exatidão dos

dados objetivos e a perfeição do estilo.

^ 3 A C arta de Pero Vaz de Cam inha:(a) relata o primeiro contato dos portugueses com populações

não europeias.(b) expõe a atitude compreensiva dos portugueses diante da

barbárie dos índios.(c) descreve as habitações indígenas, a organização social

tribal e os mecanismos de comando dela.(d) revela a extensão e fertilidade da terra, seus produtos natu­

rais como ouro, prata e boas águas.(e) mostra o indígena brasileiro alternadamente como selvagem

e como inocente.

B l Leia com atenção o texto a seguir.Quando está grávida uma mulher, nem por isso abandona o

seu labor ordinário, apenas evita carregar pesos fortes.A mulher entre os tupinambás trabalha muito mais que o ho­

mem, pois, excetuada a faina dos roçados, que só executam pela manhõ, os homens nõo fazem mais nada fora da caça, da guerra e do fabrico de armas e ornato de penas.

Certa vez, pernoitando com um companheiro numa aldeia, ouvimos à meia-noite gritos de mulher, e julgamos logo que fora alguma assaltada pelo jaguar.

Acudimos de pronto e verificamos que se tratava apenas de mulher em dores do parto. O marido recebeu a criança nos braços, e, depois de amarrar o cordão umbilical, cortou-o com os dentes. Em seguida, fazendo as vezes da parteira, esmagou com o polegar o nariz do recém-nascido, pois o nariz chato é lá beleza como entre nós o nariz fino.

Apenas sai do ventre materno é a criança bem lavada e logo pelo pai pintada de preto e vermelho, sendo, sem nenhum enfaixamento, colocada na rede de algodão. Se é um macho, o pai dá-lhe logo uma espadinha de pau, arco e flechazinhas de penas de papagaio [...]

Trata-se do texto de:(a) Tratado da terra de Santa C ruz a que vulgarm ente chamamos

Brasil, de Pero de Magalhães Gândavo.(b) Trecho de A C arta de Caminha.

) Meu cative iro entre os selvagens do B rasil, de Hans Staden.(d) Trecho de um auto de padre Anchieta.

) H istória de uma viagem fe ita à terra do B rasil, de Jean de Léry.

E I Leia.Uma planta se dá também nesta província, que foi da ilha de

São Tomé, com a fruita da qual se ajudam muitas pessoas a susten­tar a terra. Esta planta é mui tenra e nõo mui alta, nõo tem ramos senõo umas folhas que serão seis ou sete palmos de comprido. A fruita dela se chama banana. Parecem-se na feição com pepinos e criam-se em cachos. [...] Esta fruita é mui saborosa e das boas, que há na terra; tem uma pele como a de figo (ainda que mais dura) a qual lhe lançam fora quando a querem comer: mas faz dano à saúde e causa febre a quem se desmanda nela.

Depois de ler atenciosamente o trecho de Pero de Magalhães Gândavo, contido em H istória da província de Santa C ruz a que vulgarm ente chamamos B rasil, assinale a alternativa correta.(a) O texto é subjetivo e tem caráter lírico.(b) O texto é descritivista e nativista.(c) Há no texto tom de sóbrio classicismo europeu.(d) O trecho faz parte do que classificamos como literatura

propagandística.(e) O trecho releva caráter épico.

| | ! | Leia.[...] Brandônio: Comorín é um peixe pequeno a que chamam

peixe-pedra, por ter outra dentro da cabeça em lugar de miolos; e por muito sadio é assás estimado por doentes, como se pescarem em grande quantidade.

Alviano: Nunca ouvi dizer de fera, ave, nem peixe, que tivesse dentro da cabeça pedra em vez de miolos.

Brandônio: [...] piranha é pescado pouco maior de palmo, mas de tão grande ânimo que excedem em ser carniceiros aos tubarões, dos quais, com haver muitas desta parte, nõo são tõo arriscados como estas piranhas, que devem de ter uma inclina­ção leonina. [...] e tanto que estes peixes sentem qualquer pessoa dentro nágua: se enviam a elas, como fera brava e a parte aon­de ferram levam na boca sem resistência, com deixarem o osso descoberto da carne, e por onde mais freqüentam aferrar é pelos testículos, que logo os cortam, e levam juntamente com a natura, e muitos índios se acham por este respeito faltos de semelhantes membros.

Alviano: Dou-vos minha palavra que não haverá já coisa na vida que me faça meter nos rios desta terra; [...]

Lido o texto, podemos nele encontrar características típicas da literatura propagandística do início do século XVI. Brandônio tenta convencer Alviano das múltiplas vantagens oferecidas pela nova terra. Nomeie texto e autor.(a) Meu cativeiro entre os selvagens do B rasil - Hans Staden.

) D iálogos das grandezas do B ra sil - Antônio Fernandes Brandão.

(c) Viagem à terra do B rasil - Jean de Léry.(d) Tratado sobre a terra de Santa C ruz - Pero de Magalhães

Gândavo.(e) Tratado da terra B rasilis - Hans Staden.

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S ü FEI Dos oito (autos) que lhe são atribuídos, o melhor é o intitulado Na Festa do São Lourenço, representado, pela primeira vez, em Niterói, em 1583. Seu autor é:(a) Anchieta.(b) Gregório de Matos.(c) Bento Teixeira.(d) Padre Manuel da Nóbrega.(e) Gabriel Soares de Sousa.

IE I Assinale a alternativa incorreta sobre José de Anchieta.(a) Foi o grande orador sacro da língua portuguesa, com seus

sermões barrocos.(b) Foi o mais importante jesuíta em atividade no Brasil no

século XVI.:) Estudou o tupi-guarani, escrevendo uma cartilha sobre a

gramática da língua dos nativos.(d) Escreveu tanto uma literatura de caráter informativo como

de caráter pedagógico.(e) Suas peças apresentam sempre o duelo entre anjos e

diabos.

O texto a seguir refere-se às questões 13 e 14.

Esta virtude estrangeira me irrita sobremaneira.Quem a teria trazido com seus hábitos polidos estragando a terra inteira?

Quem é forte como eu?Como eu, conceituado?Sou diabo bem assado,Boa medida é beber cauim até vomitar.

Que bom costume é bailarl Adornar-se, andar pintado, tingir penas, empenado, fumar e curandeirar, andar de negro pintado.

José de Anchieta. Auio de São Lourenço.

E3 Unimep Nestes versos aparecem características da produção poética de José de Anchieta, exceto:(a) versos curtos, de tradição popular.(b) preocupação catequética.(c) linguagem direta.(d) tensão e elaboração artística renascentista.(e) conflito entre o bem e o mal.

m Unimep Levando-se ainda em consideração o trecho anterior:a) que tipo de estrofe e versos podemos encontrar?b) divida e conte as sílabas métricas dos dois primeiros ver­

sos da última estrofe.

m A literatura dos jesuítas está diretamente ligada à:(a) Revolução de Avis, ocorrida em Portugal no final do século

XVI.(b) política de d. Manuel, o Venturoso.(c) criação da Companhia de Jesus e à Contrarreforma.(d) descoberta do caminho marítimo para as índias.(e) Carta de Pero Vaz de Caminha.

I t l Leia.

Eis os versos que outrora, 6 Mãe Santíssima,Te prometi em voto,Vendo-me cercado de feros inimigos.Enquanto entre os tamoios conjurados,Pobre refém, tratava as suspiradas pazes,Tua graça me acolheu Em teu materno mantoE teu poder me protegeu intactos corpo e alma.À inspiração do Céu,Eu muitas vezes desejei penar E cruelmente expirar em duros ferros.Mas sofreram merecida repulsa meus desejos:Só a heróis compete tanta glóriaI

O trecho citado pertence ao único poema de características clás­sicas do padre José de Anchieta. Preso, tomado como refém dos tamoios em Iperoig, o jesuíta escreveu:(a) Festa de São Lourenço.(b) Auto de Santa Izabel.(c) Poema à Virgem Maria, mãe de Deus.(d) Ato de Contrição e Amor.(e) Festa de Deus e de Tupã.

Page 215: Livros poliedro   caderno 1 português

T exto C omplementarCapitulo I - Sobre quem sou e sobre como decidi via jar

Eu, Hans Staden, nascido em Homberg, cidadezinha do Esta­do de Hassen, na Alemanha, em determinado momento de minha existência decidi conhecer as tão famosas Indias. Saí de Bremen, onde estava, para a Holanda e em Campon achei várias naus em aprestos para irem carregar-se de sal no reino português.

Embarquei numa delas e depois de quatro semanas de traves­sia cheguei a Setúbal a 29 de abril de 1547.

De Setúbal continuei até Lisboa, que fica próxima, onde fiquei alojado numa hospedaria de um alemão, Luhr, o moço, onde fi­quei algum tempo.

Ele me disse que eu chegara tarde, pois os navios d'EI-Rey da carreira das índias já haviam partido.

Solicitei-lhe, então, que me ajudasse em meus planos. Co­nhecendo a língua do país, seria fácil para ele orientar-me nisso- serviço que eu lhe pagaria.

Luhr aceitou meu pedido e conseguiu colocar-me numa nau como artilheiro. O capitão deste barco chamava-se Pen­teado e estava indo ao Brasil fazer comércio, embora tivesse permissão de atacar navios que estavam traficando com os mouros da Berberia. Tinha também a permissão de aprisionar naus francesas que encontrasse nas costas do Brasil fazendo contato com os índios e de deixar em terra, como castigo, tri­pulantes portugueses se os viesse a descobrir a bordo.

Embora mercante, nosso navio estava perfeitamente apare­lhado para a guerra no mar, e tinha na tripulação três alemães: eu, Hans von Buchasen e Heinrich Brant, de Bremen.

Hans Staden. Meu cativeiro entre os selvagens do Brasil, cap. 1. <www.geocites.com/fusaoracial/staden_cap. 1 .htm>.

RESUM INDO

A primeira época da colonização brasileira guarda em si um momento que não se pode chamar propriamente de escola literária e que é composto de três vertentes distintas na produção de textos: literatura informativa, cujo documento mais importante é A Carta de Pero Vaz de Caminha; literatura de viagens, cuja produção é feita por viajantes, cronistas que se interessavam pelo exótico e pitoresco da terra recém-descoberta; e, ainda, pela literatura jesuítica, de caráter catequético e moralista-doutrinário. Nesta última vertente, destacam-se as obras de padre Anchieta: gramática, dicionários, poemas de devoção e, sobretudo, o teatro.

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HJÜ Assinale V (verdadeiro) ou F (falso), após analisar as afirmações que se seguem sobre o Quinhentismo.

J A literatura de informação ressalta a importância do tra­balho com o estilo, com a forma.

J A atitude de Caminha frente à terra recém-descoberta é de decepção e de repulsa pelo índio.

I___1 A produção informativa do Quinhentismo tem maiorvalor histórico-documental que literário.A exaltação ufanista das virtudes da terra prestava-se também ao incentivo à imigração e aos investimentos da Europa na colônia.

Autores românticos e modernistas valeram-se de sugestões temáticas e formais das crônicas de viagem.A literatura dos viajantes é ocorrência exclusivamente brasileira, não tendo nenhum similar em nenhuma outra parte do mundo.A poesia de Anchieta está presa aos modelos renascentis­tas e reflete, em seus sonetos, uma transparente influência de Camões.

B O Quinhentismo se projeta em literaturas posteriores? Como é caracterizada essa projeção intertextual?

Page 216: Livros poliedro   caderno 1 português

B f l Relacione o poema a seguir ao movimento quinhentista.

Erro de português Quando o português chegou Debaixo duma bruta chuva Vestiu o índio Que pena!Fosse uma manhõ de sol O índio tinha despido O português.

Oswald de Andrade. "Erro de Português". In: O santeiro do mangue e outros poemas. São Paulo: Editora Globo, 2003. p. 95.

a) O que o poeta quer dizer com a expressão Vestiu o índio?b) Que tipo de injunção de significados (polissemia) o quarto

verso nos traz?

1 ^ 9 Leia.O Quinhentismo, devido às suas características, não se firmou

como estética literária dentro de um sincretismo cultural.Justifique a afirmação, indicando e comentando quais caracte­rísticas foram responsáveis para que isso ocorresse.

m O nativismo, característica marcante nos textos quinhen- tistas, pode ser definido como:(a) o sentimento de indignação pelos índios.(b) o retrato da vida nas tribos indígenas.(c) a relação estabelecida entre colônia e metrópole.(d) o relato das coisas vistas na terra descoberta sob a ótica da

exaltação.;) o amor dos cronistas portugueses pelas paisagens encon­

tradas.

D Leia.Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é graciosa que,

querendo-a aproveitar, dor-se-ó nela tudo, por bem das águas que tem. Porém o melhor fruto, que dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar...

No texto acima, vemos o autor mostrar sua preocupação com a exploração da terra, dos rios. Vemos também a presença da religião colocada como “principal semente” que deve ser lançada no lugar. Analisando o texto, com base nas informa­ções do enunciado, podemos afirmar que o fragmento per­tence à literatura de:(a) Pero de Magalhães Gândavo.(b) Ambrósio Fernandes Brandão.(c) Pero Vaz de Caminha.(d) José de Anchieta.(e) Jean de Léry.

B H Leia.As meninas da gare

Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis Com cabelos mui pretos pelas espáduas E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas

Que nós de as muito bem olharmosNão tínhamos nenhuma vergonha.Oswald de Andrade. "As meninas da gare". In: Pau Brasil. 2 ed. São

Paulo: Editora G lobo, 2003. p. 108.

Lendo o poema escrito por Oswald de Andrade, constata-se que:(a) Oswald de Andrade plagiou a descrição de Caminha.(b) Oswald de Andrade tinha como proposta resgatar o

Quinhentismo em seu livro Pau Brasil.(c) o autor faz uma crítica à colonização, ao mesmo tempo em

que ironiza o texto de Caminha.(d) com esse poema, Oswald de Andrade inaugura o Modernismo.(e) com este poema, Oswald ironiza o início da colonização

feito pelos portugueses.

B B Muitos textos dos cronistas eram revestidos por uma ca­racterística denominada nativismo. Dê o conceito de nativismo aplicado à literatura dos viajantes.

Leia.Esta Província de Santa Cruz, além de ser tão fértil como

também digo, e abastada de todos os mantimentos necessários para a vida do homem, é certo ser também muito rica, e haver nela muito ouro e pedraria, de que se tem grandes esperanças.

Como demonstra esse excerto, de Pero de Magalhães Gândavo, a literatura dos que aqui estiveram nos séculos XVI e XVII:(a) procura indicar, com a maior exatidão possível, e com ver­

dadeiro espírito científico, as potencialidades econômicas do novo território.

(b) mostra a atitude de superioridade e menosprezo com que o europeu encarava a nova terra e a selvageria de seus habitantes.

(c) constitui a primeira manifestação de sentimento naciona­lista, que iria crescendo à medida que se desenvolvia a literatura brasileira.

(d) adquiriu - não sendo propriamente ficção - inestimável valor documental, por transmitir a visão da terra, encara­da, por isso mesmo, como um lendário paraíso perdido.

(e) contém mais ficção - como conseqüência do espanto do descobridor diante das novas terras — do que propriamente informação.

m Assinale a alternativa correta a respeito do padre José de Anchieta.(a) O teatro usado por ele tinha por objetivo auxiliar no pro­

cesso da catequese indígena.(b) As suas poesias mostravam a redescoberta do pensamento

clássico.(c) Os autos escritos por ele continham forte crítica à Igreja.(d ) Foi considerado o maior orador do período Barroco.(e) Fez catequese ligada ao processo da 2a fase da coloniza­

ção explorativa.

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Leia o texto a seguir e responda às questões 11 e 12.

Cordeirinha linda, como folga o povo! porque vossa vinda lhe dá lume novo.

Cordeirinha santa, de Jesus querida, vossa santa vindao diabo espanta.

Santa Padeirínha Morta com cutelo Sem nenhum farelo é vossa farinha.

Padre José de Anchieta. A Sanfa Inês.

m Analisando o poema acima, identificamos o uso das re- dondilhas, a temática religiosa e a dualidade bem/mal. Assina­le a alternativa que apresente outra característica da poesia de Anchieta.(a) Verso branco.(b) Devoção a Santa Inês.(e) Pensamento antropocêntrico.(d) Preocupação com a vida terrena.(e) Tradição clássica.

m Além dos versos redondilhos, tais como os do trecho aci­ma, Anchieta também escreveu:(a) cartas, poemas em latim e grego, peças teatrais.(b) poemas em versos decassílabos, gramáticas, dicionários e

obra teatral.(c) versos decassílabos, autos, dicionários e poesia amorosa.(d) teatro educativo, cartas, dicionários e literatura de viagens.(e) não há resposta que se encaixe na produção de Anchieta.

m Qual a finalidade do teatro trabalhado por Anchieta ao introduzi-lo no Brasil? Comente.

| Q Leia.Diabo: O que valentes soldados!

Agora me quero rir!...Mal me podem resistir os que fracos, com pecados, não fazem, senâo cair!

Anjo: Se caem, logo se levantam,e outros ficam em pé.Os quais, com armas da fé, te resistem e te espantam, porque Deus com eles é.

Sobre o diálogo acima, pertencente ao teatro jesuítico de An­chieta, pode-se afirmar que:(a) o autor mostra a queda dos soldados nas cruzadas.(b) é a visão antropocêntrica do mundo baseada nos valores

bem x mal.(c) o autor retrata as constantes lutas colocando o índio na

figura do soldado.(•d) Anchieta criou o teatro em Portugal influenciando outros

autores que fizeram um trabalho idêntico ao seu; entre eles está Gil Vicente.

(e) o teatro de Anchieta manipulava conceitos sobre o bem e o mal, aplicando-os aos costumes indígenas, e, assim, intro­duzia a religião europeia na vida do índio brasileiro.

Page 218: Livros poliedro   caderno 1 português

Mensagem, de Fernondo Pessoa, é o único livro publicado enquanto o poeta ainda vivia, em 1934. Apesar de Mensagem ser um livro de origem literária moderno, sua

temática dialoga com o Classicismo na medida em que canta os feitos portu­gueses, tal qual Camões, em "Os Lusíadas". Composto por 44 poemas

e dividido em três partes, Mensagem revisita o passado heroico de Portugol, procurando mitificar sua história. Cada parte do livro re­presenta uma etapa do desejodo Império Português (o "Quinto

_________________ Império", profetizado por Pe. Antônio Vieiro e orraigado na cul-W f tura portuguesa): "Brasão", primeira parte, traz em seus poemas

a formação da nacionalidade portuguesa, cantando sobre heróis lendários e históricos; "Mar Português" relata as descobertas em

suas oventuras marítimas, reforçando a ânsia pelo desconhecido e o esforço heroico da luta contra o mar empenhado pelo povo português;

a última parte, "O Encoberto", representa o declínio do Império, des­crevendo Portugal, simbolicamente, tomado por um nevoeiro, adormecido, à

espera de seu renascimento, da volta de D. Sebastião.Sobre a função histórica do livro, diz Fernando Pessoa1 na sua resposta ao inqué­

rito Portugol Vasto Império (1934): "Há só uma espécie de propaganda com que se pode levantar a moral de uma nação o construção ou renovação e a difusão conseqüente

e multímoda de um grande mito nacional". E logo a seguir: "Temos, felizmenie, o mito sebostianista, com raízes profundas no passado e na alma portuguesa".

Confira a seguir uma seleção de poemas da primeira versão de Mensagem. Inicial­mente, o título do livro era "Portugal", como pode ser observado na folha de rosto da edição de 1934.

1 "Nós, Portugal". In: Fernando Pessoa. Mensagem. Org. Fernando Cabral Martins. São Paulo:Cia. das Letras, 1998. p. 108.

Page 219: Livros poliedro   caderno 1 português

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LISBOA 1934

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Page 220: Livros poliedro   caderno 1 português

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P rim e iro

ULYSS1S

0 my th o é o nada que é tu d o • 0 mesmo s o l que ab re o s cá u s t um mytho b r i lh a n t e mudo - 0 corp o m orto de D eu s,V iv o e desnudo*

Bs te» ÇL e a g u i a p o r to u ,F o i p o r nSo s e r e x i s t i n d o . Sem e x i s t i r n o s b astou *P or não t e r v in d o f o i v in d o B n o s creou *

A ssim a le n d a s e e s c o r r e A e n tr a r n a r e a l id a d e .E a f e c u n d a i—a d eco rre# Sm b a ix o , a v id a , m etade De n ad a , m orre*

Page 221: Livros poliedro   caderno 1 português

c /

I .

0 INFANTE

Deus q u e r , o homem sonha, a ob ra nasce* Deus q,uiz que a t e r r a f o s s e to d a uma,Que o mar u n i s s e , já não se p a r a sse * S a g r o u - t e , e f o s t e desvendando a espum a,

E a o r la b ran ca f o i de I lh a em c o n t i ­n e n te ,

C la r e o u , c o r r e n d o , a t é ao f im do mundo, E v iu - s e a t e r r a i n t e i r a , de r e p e n t e , S u r g ir , red on d a , do a z u l profundo*

Quem t e sa g r o u c r e o u - te p o rtu g u ez*Do mar e nps em t i n o s d eu s ig n a l* C um priu-se o M ar, e o Im p ério s e d e s fe z * S en h o r , f a l t a cu m p r ir -se P o r tu g a l!

Page 222: Livros poliedro   caderno 1 português

MAR PORTUGUEZ

d mar sa lg a d o , guanto do te u s a lsão lagr im as de P o rtu g a lIPor t e cruzarm os, quantas mSes choraram,Quantos f i l h o s am v8o resaramJQuantas n o iv a s fioaram p or c a sa rPara g.ue f o s s e s n o s s o , o marl

*^VKl«u a pena? Tudo v a le a pena Se a alma não é pequena.Quem quer p a ssa r alem do B ojador Tem que p a ssa r al4m da dor*Deus ao mar o p er ig o e o abysmo d eu ,Mas n e l l e e que e sp e lh o u o oáu«

Page 223: Livros poliedro   caderno 1 português

Prim eiro

D. SEBASTlXO

Sperael Galii no a r e a i e na hora adversaQue Deus oonoede aos seu sPara o in te r v a l lo em que e s t e j a a alma

immersaEm sonhos que sfio Deus.

Que importa o a r e a i e a morte e a d es­ventura

Se com Deus me guardei?É 0 que eu me son h e i que e tern o dura,É E sse que reg ressa re i*

mW

Ê

Page 224: Livros poliedro   caderno 1 português

SegundoANTONIO VIEIRA

0 c^u s tre lla o azu l e tem grandeza# E ste , que teve a fama e à g lo r ia tem, Imperador da lin g u a portugueza,F oi-nos um céu também#

No imraenso espaço seu de m ed ita r, C onsteliado de fórma e de visS o,Surge, prenuncio c la ro do lu a r,E l- B e i D. S eb a s tiS o *

Mas nSS, nSo é lu a r: 4 lu z do ethereo# t um d ia , e , no céu amplo de desejo,A madrugada ir r e a l to Quinto Im pério D oira as margens do Tejo#

Page 225: Livros poliedro   caderno 1 português

QuintoNEVOEIBO

Nem r e i nem l e i , nem paz nem guerra D efin e com p e r f i l e s e r E ste fu lg o r baço da te r r a Que 4 P o rtu g a l a e n t r is t e c e r - B r ilh o sem lu z e sem a r à e r ,Como o que o fo g ò -fa tu o en ce rr a .

Ninguém sab e que o o is a quer.Ninguém conhece que alma tem ,Nem o que e mal nem o que e 'bem.

(Que a n o ia d is t a n t e p er to chora?)

Tudo e in o e r to e d err a d e ir o .Tudo e d is p e r s o , nada é in t e i r o .(5 P o r tu g a l, h o je é s n e v o e ir o . . .

á a Horal

Er&taaa.

Page 226: Livros poliedro   caderno 1 português

Revisando1. Trata-se da palavra “dia”, a esperança de dias

melhores, e “escuridão”, tensão por que pas­sa o povo no momento, opressão.

2. O substantivo “estado” remete ao poder e ao clima psicológico.

3. Os substantivos de caráter disfóricos são “so­frimento”, “grito”, “tristeza”, “escuro”. O subs­tantivo que expressa ação é “grito”.

4. Pode significar a ação de prestar um jura­mento (verbo) ou a cobrança de juros (subs­tantivo).

5 . Trata-se dos adjetivos “reprimido” e “contido”. Foneticamente, os dois adjetivos rimam entre si e semanticamente são sinônimos.

6. O artigo cria um efeito de aproximação, con­tribui para o tom afetivo.

7 . O pronome demonstrativo “esse” cria um efei­to de distanciamento.

8. O pronome você refere-se aos que impõem o silêncio, o estado de medo e de opressão. Trata-se de um pronome de tratamento.

9. O autor valeu-se do prefixos “des” (ação con­trária) e do verbo “inventar”; no contexto refe- re-se ao fato de que os que estão no poder devem mudar sua postura em relação ao povo.

10. Os advérbios “hoje” e “amanhã” representam respectivamente a disforia (opressão, medo, so­frimento, o que ocorre no presente da enuncia- ção) e a euforia (a esperança, a liberdade, o que deverá ocorrer no futuro).

11. Procura-se enfatizar o fato de não se poder falar.

12. As locuções referem-se ao fato de não haver liberdade para se falar e para se viver.

13. a) direção,b) modo.

14. Possui valor de concessão, trata-se de uma res­salva.

15. Embora a situação naquele momento seja desfavorável, negativa; o futuro será melhor, sem opressão e medo.

Exercícios propostos Substantivo1. C2. C3. E4. C5. C6. Ventania, bairro.7. Substantivos.8. C9. Mas aqueles pendões firmes, verticais, bei­

jados pelo vento do mar, vieram enriquecer nosso canteirinho vulgar com uma força e uma alegria que fazem bem.

Adjetivo10. A11. C12. E13. A

14. a) Vespertinob) Vitalc) Discente

15. C16. E17. D18. B

Artigo19. O 21. A20. A 22. E

Numeral23. A24. B25. A

Pronome26. A27. “Quem é esse que está com você” é a forma

mais adequada, de acordo com o critério es­padai: o indivíduo em questão (“esse”) estaria próximo do receptor (“você”).

28. D29. a) todo ser = qualquer ser.

b) todo manchado = inteiro.30. a) Esta mão.

b) Essa mão.31. D

Verbo32. Verbo e adjetivo, respectivamente.

Preposição33. B34. E35. Resposta pessoal. Sugestões:

a) relação de tempo: Daqui a cinco anos estarei formado.

b) relação de instrumento: Foi morta a faca.36. a) lugar

b) meio37. D 38. C

Conjunçõo39. a) Numeral.

b) Servir de argumento (prova concreta) à tese de que o país está no vermelho, dar um dado estatístico.

c) Conjunção subordinativa adverbial confor- mativa.

40. C

interjeição41. A

Exercícios com plem entares Substantivo1. B 4. D2. C 5. D3. A 6. C7. a) Substantivo e adjetivo,

b) Abstrato, substitui calma.8. O autor valeu-se de um substantivo concreto,

rugas, no lugar de um abstrato, velhice.9. B10. E11. E12. Trata-se da colocação de um substantivo abstra­

to, esperança, que rompe a seqüência de subs­tantivos concretos (terras, caminhão).

13. A palavra é “bom”. O que possibilita a substanti- vação do adjetivo é a presença do artigo antes dele: “O bom”.

14. O sufixo -inho, nesse contexto, manifesta o tom afetivo com que o narrador se refere ao homem que entrou na sala.

15. a) O apelido de pai dos burros ao dicionário éque é burrice.A adm issão do desconhecimento não é uma virtude?

(Há outras possibilidades: cham ar- a denomi­nação, a nomeação, a alcunha de; reconhecer- a constatação),

b) Se a burrice não costuma vir acompanhada da força da humildade, a inteligência dispen­sa sempre a insolência.

16. a) O enunciador compara a atividade humanaà atividade agrícola. Para isso, utiliza um vo­cabulário que remete a dois campos semân­ticos.

b) O cultivo de amizades, a semeadura de em­pregos e a preservação da cultura fazem parte da nossa natureza.

17. Em a, “jetinho” significa “manha", “astúcia”, “jei­to”; no texto b, é “solução”. A troca não é possível porque as duas palavras possuem significados diferentes.

18. A19. D20. As três características negativas que Fernando

Pessoa atribui à celebridade são representa­das pelos substantivos plebeísmo, contradição e fraqueza.

21. O substantivo, composto por dois radicais, pas­sa a ter um só (“Coca”); o segundo radical pas­sa a ser uma nova palavra, na função de verbo (verbo “colar”).

Adjetivo22. Quem acaba de ser rico quer parecer jovem.23. C 25. A24. D26. a) “ricos”: substantivo (linha 1)

“pobres”: adjetivo (linha 3)“pobres”: substantivo (linha 4)“ricos”: adjetivo (linha 4)“pobres”: adjetivo (linha 4)

b) Resposta pessoal. Sugestão:Substantivo: O brasileiro adora o Carnaval. Adjetivo: O futebol brasileiro é respeitado em todo o mundo.

27. B28. a) Grão é uma forma reduzida de grande e é

classificado como adjetivo masculino. Em “há um grão de milho na sala do grão-duque”, na primeira ocorrência grão é substantivo; na se­gunda, adjetivo (que entra na formação de um nome composto),

b) No poema, “mente” ocorre como verbo e como sufixo formador de advérbio de modo e de in­tensidade (“inconscientemente", “imensamen­te", “invariavelmente”, Involuntariamente”), e o efeito expressivo é reforçar a mentira: “so/ mente", “inconsciente/mente”.

29. O efeito de sentido se faz em torno da palavra “real”, que pode ser adjetivo (verdadeira (o)) ou substantivo (o real).

30. A31. adjetivo32. A linguagem incorpora em si mesma as caracte­

rísticas do meio em que o sertanejo vive.

Page 227: Livros poliedro   caderno 1 português

33. a) Velhos, caducas, prescritos, mortos, b) Novidades.

34. a) Há uma alteração de classe gramatical: naprimeira ocorrência, “cachorro” é substantivo e “amigo” é adjetivo; na segunda, o contrário,

b) Um cão amigo de seu dono possui mais va­lor que um amigo que não tenha caráter.

Aitigo35. B36. B37. D38. B

Numeral39. Servir de argumento, dado estatístico que com­

prove uma tese.40. C41. D

Pronome42. D43. E44. a) Excesso de possessivos. Boa parte dos polí­

ticos constroem seu discurso com palavras otimistas, ideias utópicas e promessas irrea- lizáveis.

b) A posposição do pronome ao substantivo cos­tuma ser recurso enfático.

45. C46. Arranquei as suas esperanças.47. a) Indefinido.

b) Silêncio x ruído.c) De solidão, vazio, medo etc.

48. C49. a) isso

b) Ponha o capacete na cabeça ou ponha essa ideia (a frase) na cabeça; ou seja, conscien- tize-se.

50. E51. A52. Pode-se entender que a proposta é do PMDB

ou do PT.53. E54. E55. Há duas possibilidades, portanto;

verso 1: “Que me enganei, ora o vejo," verso 6: “Não te esqueci, eu to ju rd 'Nota: to (te + q)

56. a) Pronome demonstrativo (exato).b) Pronome demonstrativo (idêntica).c) Pronome demonstrativo (em pessoa).d) Advérbio de afirmação (realmente).

57. A58. a) A todos os seres humanos.

b) O erro (ou a queda, o sofrimento) é neces­sário para que haja crescimento, superação, aprendizagem.

c) Todos se levantam, se primeiro caírem.59. E60. E

Vertw61. Trata-se de “Olha”, “Vês”, “sentes”, “vês” (ver­

bos), “Marília” (substantivo), “te"(pronome)62. a) A relação é de causa e conseqüência: a pri­

meira oração indica a causa (oração princi­pal); e a segunda, a conseqüência (oração subordinada adverbial consecutiva),

b) Em “ao menor abrir de olhos”, “abrir” funcio­na como substantivo. Em “ao abrir os olhos”,

“abrir” funciona como verbo.

Advérbio63. “Severina”, como nome próprio, exerce o papel

de substantivo; no texto executa a função de adjetivo.

64. Trata-se do advérbio “teimosamente”.65. “Severina” significa miséria, sofrimento.66. D

67. Advérbio e adjetivo, respectivamente.68. Ele comia só arroz. Arroz era o único alimento

que ele comia.Só ele comia arroz. A única pessoa que comia arroz.Ele comia arroz só. Sozinho.

69. a) Os dois vocábulos são “cá” e longe”.b) As expressões possíveis formadas por

adjetivo(s) e por substantivo que caracteri­zam esses espaços são as seguintes:- Espaço do corpo (“cá”): vã matéria; huma­na e trágica miséria; surdos abismos assas­sinos; atros destinos; flor apodrecida e dele­téria; baixo mundo; movimentos lassos.- Espaço da alma (“longe”): claros astros pe­regrinos; dons divinos; grande paz; grande paz sidérea; almas irmãs; almas perfeitas; regiões eleitas; largos, profundos, imortais abraços.

70. a) O emprego da locução “graças à” é maisadequado na segunda frase, já que o signi­ficado do substantivo graças é marcado por traços positivos (ao menos no sentido literal): uma dádiva, uma benevolência,

b) Os trechos podem ser reescritos da seguinte forma: “devido à exploração” e “por causa da globalização”.

71. Nos exemplos destacados, mui é empregado modificando adjetivos, e muito, modificando um verbo.

Preposição72. A73. B74. A75. O trecho pode ter os seguintes sentidos:

• A montagem dependia de que o diretor apro­vasse (algo).

• A montagem dependia de que o diretor fosse aprovado (por alguém).

O termo o diretor pode ser agente ou alvo da aprovação, fato responsável pela ambigüidade do trecho.

76. A 78. D 80. D

77. E 79. C

81. a) Servem para dirigir-se ao interlocutor; o“doutor” é formal, denota respeito e profis­são; o ‘Você” é informal.

b) Que Hagar está pesado.c) Valor de condição. O conectivo “caso" seria

uma opção (com as adaptações necessá­rias).

82. Trata-se das palavras “marinheiro”, “corda” e “âncora".

83. A84. D85. D86. a) O primeiro tem valor de oposição; o segun­

do, de adição (aceita-se conseqüência se dominação prepuser opressão).

b) A democracia não garante a liberdade, pois percebe-se que em países em que houve democracia, houve também estados totalitá­rios; a democracia é apenas um instrumento, não é a solução; ela procura garantir o direito à opinião de todas as classes sociais e evitar que o poder econômico seja opressor.

87. a) No primeiro verso, temos várias palavras, noúltimo uma só, o que condiz com a ideia de monólogo, (mono = um). O ser é e não é.

b) Ser e não ser? O conectivo “e”, normalmente classificado como aditivo, neste caso passa a possuir ideia de alternidade.

88. A89. E

Interjeição90. a) Por exemplo: Seria bom que todas as escolas

tivessem o mesmo nível de qualidade. Aí todos os alunos teriam as mesmas oportunidades,

b) Não deixe a bicicleta a í, porque atrapalha a passagem.

Revisando1. A palavra apresenta um prefixo (anf/-), um radi­

cal (tucano) e um sufixo (-ês).2. Dunga, o qual remete a “craque”, jogador com

habilidade.3. Em “mesopotâmica”, “meso” significa “meio” e

“potamos”, rio (entre dois rios: Eufrates e Tigre).4. Trata-se de substantivo formado por derivação

sufixai; o autor inventa uma língua que seria usa­da pelo presidente Lula.

5. Trata-se do “Rarará!”, riso do autor e/ou do leitor.6. Fica implícito que a seleção de Dunga seria fra­

ca (sem craques), o que é bom para os argenti­nos, tradicional rival. O estrangeirismo traduz o agradecimento do povo argentino a Dunga.

7. a) Composição por justaposição e derivaçãosufixai.

b) Os observadores criaram um neologismo superficialmente, pois eles não conseguiram alcançar um conhecimento aprofundado so­bre o povo Ossevaolep.

8. O adjetivo, por meio do artigo, transformou-se em substantivo.

9. a) Trata-se de “internetês”.b) A fala do garoto de óculos no segundo qua-

drinho é ambígua, a imagem refere-se a signos contidos no teclado do computador, o “internetês”, e ao sorriso, se visto na vertical.

Exercícios propostos Rodkol e ofixos1. E2. B3. D4. a) 2; b) 3; c) 4; d) 1.5. a) 5; b) 1; c) 4 ; d) 3; e) 2.6. a )3 ;b )4 ;c ) 1; d) 5; e) 2.7. B 8. B 9. E 10. C11. 3; 4; 1; 5; 212. A palavra é formada por sufixação (sufixo-/na)

e tem sua origem ligada à mitologia: Morfeu é deus do sono.

Page 228: Livros poliedro   caderno 1 português

A substância é utilizada em cirurgias para que o paciente não sinta dor.

13. Chifre, visto que o rinoceronte possui chifre no “nariz”.

14. Negação.15. E 17. B 19. E 21. C16. E 18. A 20. D22. Metro: mãe; Poli: cidade23. E

Derivação24. B 26. E 28. E 30. D25. A 27. D 29. D31. O garoto utilizou “Guaraná” como substantivo

comum, sinônimo de refrigerante. Trata-se de uma derivação imprópria.

32. D33. Imprópria.34. B35. Adjetivo e advérbio, respectivamente. Temos

uma derivação imprópria.

Composição e outros processos36. A 37. B 38. B39. a) justaposição.

b) aglutinação.c) aglutinação.d) justaposição.e) aglutinação.

40. A41. a) Onomatopéia.

b) Reco-reco etc. (respostas pessoais)42. O autor usou um neologismo. Trata-se do radi­

cal “lov” mais a terminação dos verbos regulares (vendeu).

43. Onomatopéia44. Abreviação45. Siglas46. E47. C

Exercícios complementores Morfologia - formação de palavras

1. a) “Capitulação”: rendição, sujeição, renúncia,no caso, à própria língua. No poema, o autor critica o exagero existente no emprego de termos estrangeiros em nossa língua; por­tanto o título é perfeitamente adequado ao conteúdo do texto,

b) Não. “Telepizza” é um processo de compo­sição (hibridismo) admissível, pois a palavra pizza, de origem italiana, já está incorpora­da ao idioma e até mesmo dicionarizada, enquanto delivery é um termo estrangeiro, ainda não aportuguesado.

2. a) A palavra que nomeia o portador do transtor­no é “distímico”.

b) A distimia diferencia-se do mau humor natu­ral. Enquanto a distimia é uma doença, um mau humor patológico, crônico, o mau humor natural é circunstancial e não se caracteriza como doença.

3.4.

ED

5. a) Desfeitio.Na expressão “o desfeitio da vida”, pode-se ressaltar o sentido de que a vida não tem fei­ção ou configuração certa,

b) O neologismo “inteligentudo” é formado pelo radical in te ligent mais o sufixo latino -udo, que significa abundância, grande quanti­

6.

dade. Desse modo, “inteligentudo” significa cheio de inteligência, muito inteligente, as­sim como barbudo, barrigudo e sortudo sig­nificam, respectivamente, com bastante bar­ba, barriga e sorte. Uma dentre as formas: muito inteligente bastante inteligente bem inteligente deveras inteligente assaz inteligente

Ou com uma palavra: inteligentíssimoa) Desmembrando-se a palavra “negócio” ob­

têm-se Ego e Ócio que sugerem a síntese da vida do banqueiro.

b) EGO. Por exemplo: egocêntrico, egocentrismo. Aa) xy-yx. A palavra quiasmo origina-se do

grego chiasmós e significa dispor em cruz, repetem-se as palavras invertendo-se-lhes a ordem (também chamada de conversão).

b) Grande Rio diz respeito à cidade do Rio (e vizinhas); “Rio Grande” deve estar ligado a Rio Grande do Sul (ou do Norte).

c) Não há subjetividade, nas duas ocorrências tem sentido objetivo, refere-se ao aspecto geográfico.

d) Rio Grande é estado e Grande Rio não é. Da Grande Rio à Grande São Paulo. Do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte, por exemplo.

9. D10. a) Citação e neologismo.

b) Nepotismo, segundo o dicionário, significa favoritismo para com parentes (nepote-sobri- nho-sobrinho do papa, favorito).

c) Derivação imprópria, mudança de classe gramatical.

11. a) Pejorativo, depreciativo.b) Sabichões, sabidões.

12. Lobisomem: composição por aglutinação.Linguarudo: derivação sufixai.

13. - Market + ing = derivação sufixai (empréstimolingüístico)

- Marquet + eiro = derivação sufixai- Marquet + ear = derivação sufixai

14. A15. a) Os diminutivos que caracterizam Brejeirinha

assumem dois valores: afetividade (por parte do narrador) e pequenez (por causa da sua estatura e idade).

b) A forma verbal “andorinhava” é o pretérito imperfeito do verbo “andorinha^, neologismo criado por Rosa pelo processo de derivação sufixai, agregando-se à base “andorinha” o sufixo -ar, formador de verbos. O narrador compara a personagem a uma andorinha (pequena, ligeira e esperta).

16. a) No primeiro caso, a palavra “inenarrável” sig­nifica “o que não pode ser narrado". A ideia de negação está no prefixo in- (derivação prefixai). Porém, o elemento ao qual se jun­ta o prefixo é o adjetivo “enarrável”, que os dicionários, na sua maioria, não costumam registrar. A palavra geralmente usada é “nar- rável”, o que resulta em “inarrável”. Isso ocor­re por haver dois verbos, “narrar" e “enarrar”, com o mesmo sentido.No segundo caso, como o significado de disfarçar é encobrir, ocultar, tapar, o vocá­bulo primitivo do qual ele seria formado, por processo de derivação prefixai, seria farçar,

que tem como significado oposto revelar, manifestar. Mas essa relação não é absolu­ta, já que a semelhança sonora entre farçar e farsa sugeriria que João é capaz de dizer o indizível, fazendo com que o mistério do “que não ousamos compreender” permaneça vivo em sua literatura.

b) Na segunda estrofe, a ideia pretendida é a de que João consegue realizar o impossível. O processo de derivar um vocábulo de outro “inexistente”, que se observa nos pares ine- narrável/enarrável e disfarçar/farçar, mostra o poder que o ficcionista tem de realizar o “irrealizável”.

17. a) Em “Um estranho chamado João", a pala­vra “chamado" é um adjetivo cujo sentido é o mesmo das expressões "que se chama", "que se denomina", "que se nomeia", “que pode ser chamado de". No último verso da terceira estrofe ([acudindo] “a chamado ge­ral"), "chamado" é um substantivo que repre­senta o ato de chamar a atenção, de pedir ajuda, fazer uma convocação. Então, o título do poema - "Um chamado João” - explora o duplo sentido que a palavra "chamado" tem no poema.

b) Os termos "fabulista" e "fabuloso" podem ser considerados derivações sufixais de "fábula". O sufixo -ista designa aquele que pratica uma atividade ("fabulista" é quem produz fábulas), enquanto o sufixo -oso for­ma substantivos a partir de adjetivos, produ­zindo um efeito de sentido de intensificação ("fabuloso* é o que ultrapassa a imaginaçãoe, por extensão de sentido, que é admirável, incrível, fantástico). Pode-se observar que o poema de Drummond começa classificando Rosa como um produtor de fábulas, para de­pois valorizá-lo como um escritor fabuloso e, por fim, tomá-lo como a própria fábula, como se autor e obra se fundissem em uma coisa só. Essas três palavras possuem a mesma função sintática - predicativo do sujeito - e têm a mesma origem, produzindo, no plano sintático e morfológico, um efeito de repeti­ção, de reiteração, de corroboração.

18. C 19. D 20. C21. a) Conforme o texto:

NULO significa “algo sem valor devido à falta de uma formalidade fundamental”; ANULÁVEL significa “que pode se tornar nulo”.As duas palavras são adjetivos, sendo que “anulável” se forma por derivação sufixai, a partir do verbo “anular” - por isso com a raiz nul- acrescida do prefixo a-. O sufixo empre­gado, -vel, significa “passível de”.

b) Infringência = “ato de infringir”; incompetên­cia = “falta de competência”.Há o mesmo prefixo (in -) e o mesmo sufi­xo (-ência) nas duas palavras, mas no caso da palavra “Infringência”, ocorre derivação sufixai, pois o prefixo faz parte do verbo “in­fringir'’ (“desobedecer, descumprir”), a cujo radical se juntou o sufixo -ência, formador de substantivo abstrato. Em “incompetência”, ocorre derivação prefixai, pois o prefixo in-, de sentido negativo, se junta ao substantivo competência.

22 . a) Com o emprego do neologismo agoramente,ao acrescentar o sufixo -m ente ao vocábulo

Page 229: Livros poliedro   caderno 1 português

agora, Odorico cria outro advérbio, com a in­tenção de reforçar o tom persuasivo de seu discurso pretensamente solene,

b) Já que a palavra sagração pode ser enten­dida como “ato ou efeito de sagrar rei, bispo etc., em cerimônia religiosa”, ao usar a ex­pressão “por que não dizer” para introduzir tal substantivo, Odorico intensifica sua pre­tensão de homem público que se julga digno de receber todas as honras de seu povo.

Revisando1. Trata-se de sujeito determinado simples “chu­

chu”; a reiteração do dígrafo /ch/ mimetiza o ruído da chuva.

2. Em “Quando chove não vê sol”, o verbo chover não apresenta sujeito. Tem-se oração sem su­jeito, pois o verbo está empregado em sentido literal.

3. Ambos são empregados em sentido figurado.4. Por se tratar de uma estância hidromineral, Ca*

xambu possui muitas fontes.5. Não existem viúvas que tenham tantos preten­

dentes juntos. Com o verbo haver, a oração não apresenta sujeito (sujeito inexistente); com o verbo existir, o sujeito é “viúvas”.

6. No primeiro caso, o sentido é de existir (colo­quial). Deve-se usar o “haver” ou o próprio “exis­tir” para a norma culta. No segundo caso, é sinô­nimo de “possuir”.

7. O sujeito sintático é exercido pelo pronome pes­soal do caso reto “ele”; o sujeito semântico é “um amigo parasita”.

8. Os verbos soprar e divertir apresentam sujeito elíptico “ele" (vento danado); o verbo “ver” traz sujeito elíptico “eles” (os velhos).

9. Trata-se da ação de beber; o sujeito é elíptico, retoma “Zeca Secura”.

10. O nível de linguagem é o coloquial; as persona­gens são simples. Dessa forma, a simplicidade sintática é a mais coerente.

Exercícios propostosSujeito e predicado1. O piloto de fórmula 1 morre em acidente auto­

mobilístico.2. Um samba popular vai passar nessa avenida.3. O ignoto cientista da Universidade de São Paulo

chegou após um voo com muitos problemas.4. O caso triste, e digno da memória, que desenter­

ra os homens do sepulcro.5. A Rita matou nosso amor, nem deixou herança

de vigança.6. As margens plácidas do Ipiranga ouviram o bra­

do retumbante de um povo heroico.7. Não vi o meu rosto, quando eu te encarei frente

a frente.8. Greves operárias ocorrem em todas as partes

do país.9. Tristes confusões foram aquelas, todavia a mídia

as considerou ainda mais graves.10. Primeira oração: A sociedade (sujeito), era anô­

nima (predicado). Segunda oração: O desfalque no caixa (sujeito) tornou-a famosa (predicado).

11. Primeira oração: determinado simples, O Brasil.

Segunda oração: determinado simples, a hones­tidade. Terceira oração: determinado elíptico, ela (a honestidade).

12. Determinado elíptico, tu.13. Pedrinho utilizou um sujeito determinado com­

posto, “Eu e Zezinho”.14. Rasgaram o sofá, sujeito indeterminado. (Há ou­

tras possibilidades)15. Deve haver, nos próximos meses, contratações

no time do Palmeiras.16. Podem existir contradições nos documentos.17. Faz vinte anos que não vimos a Parati.18. Paciente.19. Sujeito experienciador psicológico.20. Sujeito agente e paciente.21. Em a, a tradição impede que os chineses evoluam,

em b, os chineses preservam a tradição.22. C23. C24. C25. B26. D27. C28. D29. C30. Toda a humanidade.31. Inexistente.32. D33. C34. C35. Sujeito36. a) Descoberta - determinado simples

b) Indeterminadoc) Pedrinho - Sujeito determinado simples; su­

jeito determinado elíptico.d) Narizinho, Emília - sujeito determinado com­

posto.37. D38. B39. C40. E41. D

Exercícios complementares Sujeito e predicado1. ar, licor2. a) O critério para o sujeito composto é o número

de núcleos. Em “Duas pessoas”, por exemplo, o sujeito é determinado simples, pois apenas apresenta um núcleo (“pessoas”),

b) O exemplo traz um sujeito determinado simples: senhora (núcleo).

3. Fumar, sujeito oracional.4. E5. Há um contrato segundo o qual o Ronaldo tem

de jogar os noventa minutos, ou Existe um con­trato prescrevendo que o Ronaldo deve jogar os noventa minutos.

6. D7. E8. B9. Está na hora de o Brasil mostrar que tem...10. “Geno” significa “raça”, “genocídio” extermínio

de uma raça.11. Não. No contexto significa “garra”, tem valor co-

notativo.12. Seriam assim construídos: “O inverno agreste,

envolto nos seus úmidos vapores, já se afastou de nós.”

13. a) Na ordem direta, teríamos: “Os pomos hãode cair dos laranjais”.

b) Em ordem direta, teríamos: A grita da gente se alevanta ao céu”.

14. B15. C16. “Estava a formosa seu fio torcendo” / “Estava a

formosa sentada, bordando”/ “Abutre comeste”17. A formosa estava torcendo seu fio/ A formosa

estava sentada, bordando/ Comeste abutre.18. O posicionamento das palavras está diretamen­

te relacionado ao uso de rimas (torcendo com dizendo), à utilização da ênfase (topicalização do objeto direto em “abutre comeste”) e ao para­lelismo sintático (primeiro e quarto versos).

19. Hipérbato20. Em duas séries: as duas primeiras estrofes (uma

série) e as duas estrofes seguintes (outra série).21. Na primeira são enfatizados os afazeres da mu­

lher; na segunda, o seu sofrimento.22. Trata-se de uma mulher.23. Ela considerou o poeta uma espécie de vidente,

pois descobriu o seu sofrimento amoroso.24. Razão e coração.25. “Esse comboio de corda” e o relativo “que”.26. Divertir ou sinônimo.27. C

Revisando1. Trata-se de uma locução verbal intransitiva, o

segundo verbo é que determina a regência, o verbo descer é intransitivo. O uso dessa loucu- ção cria o efeito de sentido de falta de coerên­cia, pois não há como tomar o café, a casa está submersa.

2. Em “tome chuva”, o sentido é ser vítima da chu­va, apanhar chuva; em “tomar um cafezinho”, o sentido é ingerir. Nos dois casos, o verbo “tomar” é transitivo direto.

3. Cuida de mim enquanto não esqueço você (“não esqueço de você” é regência coloquial).

4 . O verbo cuidar envolve ação física e mental; já o verbo esquecer envolve ação mental. Em ambas as orações temos objeto indireto.

5. O verbo fugir traduz uma ação mental, fuga da realidade, viver uma mentira; trata-se de verbo intransitivo; a paronomásia é obtida com o verbo fingir.

6. Porque o verbo “beber” é transitivo direto. A pre­posição é uma opção do falante e indica, em geral, parte (comer do pão).

7 . O autor emprega a seqüência verbo transitivo direto e objeto direto nas três orações (o primei­ro preposicionado); trata-se também de orações coordenadas assindéticas, sem conjunção.

8. Há a elipse do verbo “haver” e o adjunto adver­bial é de lugar: “na cidade”.

Exercícios propostosTermos da oração ligados ao verbo1. D2. A3. Objeto indireto4. D5. C6. C7. A

Page 230: Livros poliedro   caderno 1 português

8. B9. D10. D11. a) Intensidade

b) Causa12. Palma, sua mulher, recebeu-i13. A14. Nomearam-na tutora.15. D16. D17. E18. a) objeto direto

b) agente da passivac) objeto indiretod) sujeito

19. A20. A21. C22. E23. a) causa

b) lugar (origem)c) assuntod) tempo

24. B25. C26. A27. Trata-se do verbo “entravar” i

28.29.

O barco: sujeitoEntrava: verbo transitivo diretoEntrava a canoa na lagoa: predicadoA canoa: objeto diretoNa lagoa: adjunto adverbial de lugarDC

Exercícios complementaresTermos da oração ligados ao verbo1. O verbo quebrar é transitivo direto no enunciado

do guarda e intransitivo no enunciado do acu­sado. A expressão “é que”, locução de realce, enfatiza o discurso de ambos e não tem função sintática. No primeiro enunciado, o rapaz (cha­mado de “senhor”) assume a posição de sujei­to da frase e a responsabilidade da quebra; no segundo, o sujeito é o elevador, como se este fosse o responsável.

2. a) A ONU pediu ao Brasil um conjunto de tro­pas ou as tropas têm como destino o Brasil.

b) A ONU solicitou o envio, ao Brasil, de tropas.c) O verbo é VTI, e o que torna a oração ambí­

gua é a posição dos objetos.Pode ser adjunto adverbial (lugar) ou objeto indi­reto (o destinatário: o presidente).a) Não se sabe quem é o sujeito e quem é o

objeto.b) Aos alunos os professores ajudavam ou Os

alunos aos professores ajudavam.O verbo quebrar remete à ideia de transgredir em “quebrou o protocolo”; “em quebrou os carros”, refere-se ao ato de destruir; em “quebrou (...) a família”, o verbo traduz o ato de levar à falência.a) objeto direto preposicionado.b) objeto indireto pleonástico.a) objeto direto preposicionado.b) Para que o leitor não interprete o termo

“mente” como sujeito.CModo e intensidade, respectivamente.Na primeira, pior diz respeito ao modo de fazer; na segunda pior diz respeito à costura.

11. a) Indicar a progressão temporal.

3.

4.

5.

6.

7.

8.9.10.

12.13.

Que eles brigam.

14.15.16.

17.

18.19.

20.

21.22.

23. b)

c)

24. a)

b)

25.

26.

b)

27. a

28.

29.

30.

31.

32.33.

a) Direito pode ser um termo associado ao nome (pé direto, adjunto adnominal) ou pode ser um termo associado ao verbo (lavar direito, adjunto adverbial.)

b) - Manuelzinho, lave direito o pé!A preposição por.Homens sensíveis fazem este exército.A sociedade, aos poucos, pode ser transforma­da pelos cidadãos.A demissão foi-lhe (ou foi a ela) comunicada pelo assessor.Aa) Adjunto adverbial de meiob) Agente da passivaa) ll-lll-IVb) Corrigirão o imposto predial.a) Pedro é o médico.b) Porque Pedro não é o agente.... e se às vezes eu era repreendido, à vista de gente, isso era feito por simples formalidade,a) Pessoalmente.

Ele desviou carne e osso no valor de Cr$ 130 milhões.Para dar a ideia de “responder pessoalmen­te”, a expressão “em carne e osso” liga-se a responder. Para a interpretação ser literal, a expressão liga-se a desvio.... sai à caça do soldado desertor que, na companhia de confederados, realizou assal­to a trem.... sai à caça do soldado desertor que rea­lizou assalto a trem com confederados em seu interior.No primeiro caso há noção de companhia; no segundo, de conteúdo.

a) Ainda hoje, esta singela quadrinha de pro­paganda é cantada no rádio por vozes bem afinadas.

b) “Novinhas em folha” justifica-se pela remis­são a “desabrocham”; “resplandecentes”, pela remissão a “a luz do sol”.

a) Nossa cidade foi (é) construída por nós.Ela nos constrói.Há uma reciprocidade na relação entre o ho­mem e a cidade. Ao mesmo tempo em que nós trabalhamos para expandir fisicamente a cidade, sofremos a influência dela.Quanta melancolia baixa à terra com o calor da tarde! [...]Espalham, por fim, as sombras da noite.No primeiro: a preposição com indica meio, instrumento.No segundo: a preposição com indica com­panhia.Roubou concorda com o sujeito: “Dirceu”. Arrasta concorda com o sujeito “a prova de mais ternura”.

Um carro elegante que levava a trote largo dois fogosos cavalos foi visto por nós.Indicam a posição em que se encontram os elementos descritos: o castelo e a ladeira. Os adjuntos são: “No fundo” e “No primeiro plano”. A magreza é imprescindível para que a roupa caia bem. A magreza é imprescindível para a roupa cair bem.... pois (porque, porquanto, já que...) as modelos... Esse objeto é utilizado para se colocar as rou­pas, assim como as modelos as vestem; além disso, a roupa no cabide lembra a pessoa ma-

b)a)

b)

gra, característica atuai de quem desfila. O ní­vel de linguagem é conotativo, há subjetividade, percebe-se o uso da metáfora.

termos da oração ligados ao nome e vocolí

Revisando1. Na primeira ocorrência, “louca” é adjunto ad­

nominal, qualidade permanente; na segunda, é predicativo do sujeito, qualidade passageira.

2. O presidente saiu do estranho refeitório.O presidente saiu estranho do refeitório.

3. Trata-se de complemento nominal; o fato de o político estar mascarado faz dele um corrupto.

4. Trata-se da passagem “ocupação dos Estados Unidos”. Os “Estados Unidos” podem ser o agente (adjunto adnominal) ou o paciente (com­plemento nominal).

5. I rineu, o delegado, foi encontrado morto. (“I rineu” é sujeito, “delegado” é aposto).Irineu, o delegado foi encontrado morto! (“Irineu” é vocativo e “delegado” é sujeito).

6 . - Um beijo, fofo! Fofo passa de adjunto adnomi­nal para vocativo.

7. O termo “rico” pode ser uma qualidade velha (o povo sempre foi rico) e o verbo “deixar” tem o sentido de “abandonar”. Ou “rico” pode ser uma qualidade nova e o verbo “deixar" tem o sentido de “acarretar”.

8. 1 -Triste, o ministro achou o palácio.2 - 0 ministro achou triste o palácio.3 - 0 ministro achou o triste palácio.

Exercícios propostos Associados ao nome e vocativo 1. 2 ; 1; 2 ; 1 2 . 1; 23. C4. “de mãe”, adjunto adnominal; “à mãe”, comple­

mento nominal.5. C6. Aposto e adjunto adnominal, respectivamente.7. João, o professor é meu melhor amigo.8. a) Aposto

Adjunto adnominal Predicativo do objeto Complemento nominal

9.10.11.12.13.14.15. D16. E17.18.19.20. 21. 22 .

23. Adjunto adverbial de causa, sujeito e predicativo do sujeito, respectivamente.

24. B25. E26. B27. a) contraída: predicativo do sujeito

Page 231: Livros poliedro   caderno 1 português

b) afogado: predicativo do sujeitoc) pontuais: predicativo do objetod) herói: predicativo do objetoe) triste: predicativo do sujeito

28. a) objeto indiretob) adjunto adnominalc) objeto indiretod) complemento nominale) objeto indireto

29. a) complemento nominalb) objeto diretoc) agente da passivad) objeto indiretoe) objeto direto

30. a) complemento nominalb) objeto indiretoc) predicativo do objetod) agente da passivae) objeto direto

31. a) sujeitob) adjunto adnominalc) adjunto adnominald) predicativo do sujeitoe) objeto indireto

32. a) objeto indiretob) predicativo do objetoc) complemento nominald) predicativo do sujeitoe) complemento nominal

33. a) objeto indiretob) complemento nominalc) adjunto adnominald) complemento nominale) complemento nominal

34. a) complemento nominalb) complemento nominalc) objeto indiretod) objeto diretoe) complemento nominal

35. a) objeto indiretob) predicativo do sujeitoc) complemento nominald) objeto indireto

36. a) objeto diretob) adjunto adnominalc) adjunto adnominald) complemento nominale) objeto direto preposicionado

37. a) de seus interesses = objeto indiretob) em nossos jogadores = complemento nomi­

nalc) a qualquer ataque inim igo = complemento

nominald) às aulas = complemento nominale) ao d ire to r = objeto indiretof) de pessoas sinceras = objeto indireto

38. a) dos amigos = objeto indiretob) em terras = complemento nominalc) a todos = objeto indiretod) ao fato = complemento nominale) pela m úsica = complemento nominalf) de bebidas alcoólicas = objeto indireto

39. a) de Salvador: adjunto adnominalb) de Salvador: objeto indiretoc) do Sul: adjunto adnominal; da existência: ob­

jeto indiretod)

40. A41. B42. A

do Brasil: adjunto adnominal

43. 3; 4 ; 1; 5; 2

44. D45. Um abraço, querido. Querido pode ser o abraço,

adjunto adnominal, ou o interlocutor, vocativo (com a vírgula).

46. Álvaro de Campos é um poeta futurista, um ho­mem do século XX. Portanto, celebra as fábricas, a energia elétrica, as máquinas, a velocidade. Os vocativos “rodas" e “engrenagem” representam, metonimicamente, o louvor à modernidade.

47. B48. Variante social, identifica um grupo social.49. Tiradentes, o tira-dentes tira-dentes.1 1 1 » 1

4 f Ivocativo sujeito OD

50. a) Alemanha pode ser agente ou paciente daocupação.

b) Adjunto adnominal ou complemento nominal.51. O número de funcionários aumentou ou o fun­

cionalismo teve aumento salarial.52. Adjunto adverbial (congresso: lugar) ou comple­

mento nominal (congresso: pessoas, congressis­tas).

53. O vocativo “ Kitty” é empregado de modo infor­mal, há um efeito de aproximação que traduz o grau de relacionamento entre Anne e seu diário apelidade de “Kitty”. Há o efeito também de per­sonificação do diário.

54. O vocativo, no texto, também assume um tom afetivo, confessional (“querida Mimmy”), há um efeito de aproximação que traduz o grau de inti­midade entre as interlocutoras: 2 lata e Mimmy, seu diário.

55. Trata-se de um lamento por um amor não cor­respondido, que se expressa em figuras de rejeição, como “leito inútil”. O nome do amado é apresentado em tom de queixa por meio do vocativo do verso 1, “Jatir".

56. Jair Lates, o líder revolucionário, foi preso.57. B 59. D 61. B58. D 60. E62. O adjetivo “apavorada” pode referir-se a "in­

terna da Febem” (estado passageiro) ou a prisão.

63. Interna da Febem, apavorada, foge da prisão, (apavorada refere-se a “interna"). Interna da Febem foge apavorada da prisão (apavorada refere-se a “interna”). Interna da Febem foge da apavorada prisão (apavorada refere-se a “prisão”).

64. A ordem das palavras.

Exercícios complementoresAssociodos oo nome e vocotivo

1. Na primeira, temos uma qualidade permanente; na segunda, uma qualidade passageira.

2. a) Estranha pode se referirá sala ou à funcionáriab) Se a referência for a funcionária, é predica-

tivo do sujeito; se for a sala, é adjunto adno­minal.

3. A funcionária saiu da estranha sala.4. 2; 1; 2; 15. Adjunto adnominal ou predicativo do objeto.6. a) A esposa foi deixada louca pelo marido,

b) Louca é predicativo do sujeito.7. A sanção é o termo corrupto, o objeto é o gover­

no e o sujeito é o povo.8. a) Só os brigadeiros novos foram comidos (su­

põe a presença de velhos).

b) Todos os brigadeiros são novos e todos fo­ram comidos.

9. a) “doido” pode referir-se a “bêbado”ou a “ca­minhão”.

b) Bêbado, doido, dirige caminhão e bate em carro.

10. a) A primeira interpretação seria: “comida paragato magro”. A segunda seria: “comida ma­gra para gato”. Isso acontece porque “com pouca gordura" pode ser adjunto adnominal de comida ou de gato.

b) A primeira interpretação não precisa da in­clusão de vírgula no enunciado. A segunda interpretação, no entanto, seria favorecida pela presença de uma vírgula que separas­se o adjunto adnominal: “Comida para gato, com pouca gordura”.

11. C12. C13. A14. B15. Ideologia, camarada é um termo utilizado pelos

comunistas.16. Poder, submissão e desprezo17. Os responsáveis são os vocativos, o imperativo

e os pronomes.18. Trata-se de metonímias (ou sinédoque), a parte

é colocada no lugar do todo.19. Vocativo20. Elíptico: tu.21. O texto apresenta variante culta. Seu contrário, a

variante popular, pode ser exemplificada por: “Oh, cara, sai da frente, pô!” Entre outros exemplos.

22. Projeta intimidade entre os interlocutores.23. Na primeira, João é vocativo (chefe da cozinha,

sujeito); na segunda, João é sujeito (chefe da cozinha, aposto).

24. a) Drummond, o grande poeta mineiro,nasceu em Itabira.

b) Vinho, caviar, mulheres, tudo alucinava o po­bre Godofredo.

25. "Um verdadeiro antiguia turístico”, "o americano Chris Harris”.

26. Dar informações sobre o livro e seu autor.27. Trata-se do predicativo do sujeito.28. Porque, mesmo criticando a Europa e sugerindo

aos turistas não irem para lá, o autor elogia Paris ao dizer “Deus cometeu uma grande erro: pôs Paris na França.

29. a) último dia: tempoAssunção: lugar

b) “nos Estados Unidos", local do terrorismo.c) Dada a ambigüidade do título, pode-se ter a

impressão de que o acusado foi preso nos Estados Unidos, e não que o terrorismo praticado por ele foi obrigatoriamente nesse país.

30. E31. a) A portaria proíbe ainda os menores de 18

anos de irem a motéis e rodeios sem a com­panhia ou autorização dos pais.

b) Os menores irem a motéis sem a companhia ou autorização do pais.

c) A portaria proíbe ainda os menores de 18 anos de irem a rodeios sem a companhia ou autori­zação dos pais e de freqüentarem motéis.

32. Inexistente pode ser o livro ou o exame. Rees- crevemos:... para o exame a leitura de um livro inexistente no Brasil.

Page 232: Livros poliedro   caderno 1 português

Revisando1. a) Trata-se do trovadorismo.

b) Cantigas (amor, amigo, escárnio e maldizer).2. É evidente a influência dos cantares medievais,

sobretudo as cantigas de amor e de amigo. Em Gonçalves Dias e Manuel Bandeira, esta evidên­cia fica maior.

3. Em uma cantiga de amor, o trovador se dirige à mulher amada (mia senhor) e faz a coita amoro­sa, a queixa por não se sentir amado; na cantiga de amigo a mulher se dirige à mãe, a linguagem usada beira o coloquialismo e a palavra “amigo” aparece para designar namorado.

4. Por alguns motivos: o refrão permitia a partici­pação de toda a assistência e das jogralesas na repetição dos versos; o paralelismo evidenciaria uma maneira tipicamente feminina de escrever: as repetições.

Exercícios propostos Contexto histórico-culturol1. B2. E3. F4. D5. B

Cantigas6. B7. C8. a) O poema está estruturado em duas séries

de estrofes paralelas: a primeira é formada pelas duas primeiras estrofes e a segunda pelas duas últimas estrofes,

b) Na primeira (estrofes 1 e 2) focaliza-se uma mulher tecendo o sirgo e cantando, cheia de saudades; na segunda série (estrofes 3 e 4) um homem a vê cantando e sofrendo e per­gunta se ela sofre de penas de amor.

9. a) A personagem é a mesma que tece.b) Corresponderia, mais ou menos, à expressão

coloquial; “Como é que você sabe?”, ou seja, os adivinhos medievais comiam carne de abu­tre para fazer suas adivinhações e, portanto, a expressão que se usava era esta: “Abutre comeste, pois que adivinhais...”

10. C11. a) O eu poemático, conhecido também como

eu lírico, é feminino porque a mulher se diri­ge às amigas e as convida para bailar sob as aveloneiras floridas, à espera de que apare­ça o amado. A cantiga é de amigo,

b) A cantiga é de amigo, do tipo dialogada por­que o eu lírico feminino se dirige às amigas e com elas conversa sobre o namorado ou amigo.

12. A

As novelas de cavalaria13. B14. C

Exercícios complementaresContexto histórico-cultural1. c2. B3. E4. B5. A6. E

Cantigas7. a) cantiga de amigo.

b) cantiga de amor.c) cantiga de amigo.d) cantiga de amigo.e) cantiga de amigo.f) cantiga de amigo.g) cantiga de amor.

8. a) O eu lírico do poema de Gonçalves Dias é dotipo masculino, ou seja, o homem se refere à mulher que ama, em tom de lamento e de despedida.

b) Os poemas trovadorescos também se refe­riam à senhora, eram despedidas e coitas amorosas, o que lembra o poema citado.

9. A estrutura da cantiga referida é típica da de amigo, muitas repetições e uso de refrão, o que é raro na cantiga de amor.

10. Podemos aproximar o poema das cantigas de amigo; o uso de linguagem coloquial é o exem­plo mais apropriado: “cê sabe que...”, “olhos nos olhos”. Outro aspecto é o da mulher que, abando­nada, canta para o homem amado. Outro, ainda, são as repetições: Quando você me deixou, meu bem..."“Quando você me quiser rever...”, “Quando talvez precisar de mim...”

11. Há uma insubmissão que não é comum no eu lí­rico feminino; nas cantigas de amigo, isso não se­ria possível, haveria submissão; como exemplo, podemos observar: “Ao sentir que sem você eu passo bem demais.”/ "Quantos homens me ama­ram/ bem mais e melhor que você...”

12. Esta resposta está praticamente dada nas ques­tões anteriores: linguagem que repete estrutu­ras, coioquialidade, eu lírico feminino.

13. O poema de Caetano Veloso se aproxima muito dos cantares de amigo, o que se pode compro­var nos versos finais: “Ele é o homem, eu sou apenas uma mulher”; a linguagem coloquial também serve como comprovação: “esse cara”, “pra o que der e vier”.

14. a) Cantiga de escárnio.b) Todo o trecho pode ser tomado como refe­

rência: o trovador faz uma sátira indireta.15. B

Humanismo {1434-1527)

Revisando1. A referência é feita à poesia palaciana que, di­

ferentemente da poesia trovadoresca, distancia- -se da música embora ainda guarde o ritmo. A partir do Romantismo, quando surgem as cha­madas “modinhas", até os dias atuais, a poesia estará consorciada com a música.

2. A crônica de Fernão Lopes se diferencia pela va­lorização do popular, registrando provérbios, ane­dotas e as impressões do povo sobre a conduta dos governantes.

3. É a preocupação de todo poeta palaciano: estili­zar a poesia, tornando-a muito mais metafórica e galante, distante, portanto, da poesia trovado­resca a que sucedeu.

4. Os autos são peças teatrais escritas em versos redondilhos; têm fundo religioso, e é um gênero tipicamente medieval, embora haja contempora- neamente manifestações que nele se apoiem ou aproximem: O auto da Compadecida, de Ariano Suassuna; Morte e vida Severina cujo subtítulo é Auto do Natal pernambucano, de João Cabral de Mello Neto.

5. a) Joane é o Parvo, outro nome que lhe dão notexto.

b) Porque, embora xingasse com palavras de baixo calão e fosse meio ignorante, tenden­do à imbecilidade, nunca tinha feito, de pro­pósito, mal a ninguém.

Exercícios propostosContexto histórico1. E

Crônicas2. A3. C4. C

Poesia palaciana5. A

Gil Vicente - questões gerais6. D7. A8. D

Gil Vicente-autos9. B10. D11. D12. B13. B14. D

Exercícios complementares

Crônicas1. D2. E3. C

Poesia palaciana4. No primeiro poema, o eu lírico está só, ele que

parte porque não é amado pela mulher que ado­ra; no segundo, o poeta fala sobre a dor da se­paração de duas pessoas que se amam: “viu-se apartar-se de uma outra vontade”, e a terceira estrofe, inteira, faz disso notícia.

5. E

Gil Vicente - questões gerais6. B7. A8. B9. B10. C

Gil Vicente - autos11. E12. C13. B

Page 233: Livros poliedro   caderno 1 português

14.15.

Ca)

b)

Os versos são compostos de 7 sílabas métri­cas.

b) Os versos de 7 sílabas métricas ou são chamados de heptassílabos ou redondilhas maiores; são conhecidos também como ver­sos de medida velha ou tradicional.

c) O auto é peça de teatro dividida em atos; faz crítica de comportamentos sociais e possui fundo religioso; a farsa é peça escrita em versos, de origem medieval, mas sua crítica social é intensa sobre comportamentos indi­viduais. Em A farsa de Inês Pereira, a crítica aguda se dá porque Inês se casa por interes­se, dinheiro, conveniência.

16. Esta divisão deve levar em conta, inclusive, a maneira de falar da época:Se/nho/ra a/ mi gal/ nês / P’rei/ ra Pe/ ro/ Mar/ ques/ Vo/sso a/ mi/go OBS: lembrar-se de que se contam as sílabas métricas até a última sílaba tônica de cada ver­so.

17. A elisão consiste em tornar apenas uma sílaba métrica a junção de palavras que terminem e comecem com vogais idênticas ou diferentes em cada verso, emitidas como se fossem uma só sílaba, observe:Se/ nho/ ra a/ mi/ ga /l/nês / P’rei/ ra Pe/ ro/ Mar/ ques/ Vo/sso a/ mi/go

18. a) A personagem que se utiliza da estratégiada ambigüidade é Berzebu.Pela maneira como Berzebu dita a Dinato as ações que os dois praticam, Todo o Mundo passa a ser a alegoria de todas as pessoas e Ninguém a ausência de todas elas. Ou seja: Todo o Mundo e Ninguém ganham status de pronomes indefinidos.A palavra-chave é o substantivo “homem": um rico e um pobre são símbolos de toda a humanidade; as aparências se demonstram também por: “homem como rico mercador/ homem vestido como pobre”,

b) O texto é uma alegoria, satiriza os costumes; as personagens adquirem o aspecto de tipos humanos facilmente encontráveis.

20. a) A ambição da personagem, o que aproximaJoão Romão do homem que é rico mercador em Gil Vicente,

b) Em Gil Vicente: “E meu tempo todo inteiro/ sempre é buscar dinheiro/e sempre nisto me fundo”. E em Aluísio Azevedo: “Desde que a febre de possuir se apoderou dele totalmen­te..."

21. B

Classicism o 0 $27*1580)

Revisando

1. O Renascimento é um período histórico, iniciado no século XVI; o ser humano, depois de dez séculos de escuridão medieval, renasce; Clas­sicismo é o nome que se dá à produção artística do século XVI que, por mimese, é influenciada pela produção clássica greco-romana.

2. A obra de Camões pode ser dividida em épica, lírica e dramática; na épica, Os Lusíadas apa­rece como um poema sem precedente, que con­

19. a)

ta a história de Portugal em versos decassílabos e usando a influência grega e romana. Vasco da Gama é seu herói. Na lírica, Camões usou versos redondilhos, de inspiração medieval, e os versos de medida nova, o soneto. No teatro, fez poucas peças: El-R ei Seleuco, Os Anfitreões e Filodemo.

3. A d. Sebastião, o último rei da Dinastia de Avis em Portugal.

4. Vasco da Gama e o povo português.5. O poema está assim dividido: 10 Cantos, 1.102

estrofes, 8.816 versos; as estrofes são em oita- va-rima ou rima real (oito versos decassílabos cada uma, com rimas ABABABCC).

6. O amor, a ausência ou distanciamento da mu­lher amada que é inatingível (ver e olhar são os verbos mais referenciados), o desconcerto do mundo.

7. É estrutura formada por 14 versos, 2 quartetos,2 tercetos, geralmente em modelo petrarquiano: ABBA/ABBA/CDC/DCD.

Exercícios propostosÉpica camoniana1. E2. C3. D4. D5. C6. E7. a) O verso utilizado é o decassílabo (dez síla­

bas métricas),b) O núcleo ao redor do qual se desenvolvem

Os Lusíadas é a viagem de Vasco da Gama às índias. Por extensão, e pelo fato de Vasco ser um herói coletivo, podemos dizer que toda a história de Portugal também funcio­nará assim, uma vez que Vasco narra, em cada parada, a história dos homens glorio­sos de Portugal.

8. C9. C10. B

Lírica camoniana11. O maneirismo pode ser observado no poema

por meio do emprego de antíteses: leda (alegre) e triste ou em situações paradoxais como “fogo frio”.O maneirismo é a passagem entre o fim do Clas­sicismo e o início do Barroco: o fato de a Igreja ter reinstalado o Tribunal do Santo Ofício e, de certa forma, pretender acabar com o antropo- centrismo do séc. XVI, fez com que o homem entrasse em um processo de contradições e tentasse fundir esses dois mundos tão diversos: o antropocêntrico e o teocêntrico. Dessa duali­dade, desencanto e desequilíbrio é que surge o Barroco. À fase de transição entre as duas esco­las dá-se o nome de maneirismo.

12. B13. B14. B15. D

Exercícios complementares Épica camoniana1. a) O primeiro verso do poema de Drummond

apoia-se no último verso da estrofe 106 do Canto I de Os Lusíadas, em uma clara inten­

ção de recriação literária: “O homem, bicho da Terra, tão pequeno" se opõe a “Contra um bicho da Terra tão pequeno?"

b) Não. O plágio é feito às escondidas, de maneira a não chamar a atenção para o texto original; é técnica escusa, penalizada de acordo com a lei. Na intertextualidade, um texto “conversa” com outro, no sentido de valorizá-lo, realçando-lhe o conteúdo e valor.

c) Sim. O poema de Drummond teve como apoio o poema de Camões; embora separa­dos por quatro séculos, falam das mesmas aventuras humanas: o de Drummond narra viagens interplanetárias, o de Camões narra as aventuras humanas fora da Europa, em outros continentes.

2. 2 .0 verso utilizado por Camões é o decassílabo em oitava-rima ou rima real; o esquema rímico é ABABABCC.

3. E4. B5. A6. a) Trata-se de referência ao deus Eros ou Cu-

pido, o deus dos sentimentos, o Amor.b) É uma metáfora: ara é pedra de altar; por­

tanto a referência é sacrifício, o amor exige sacrifícios até aqueles assemelhados ao que aconteceu a Inês: a decapitação.

7 . a) O episódio da morte de Inês de Castro, arainha coroada depois de morta,

b) Canto III, que é também denominado Episó­dio de Inês de Castro.

8. a) O Velho do Restelo, no Canto IV, amaldiçoaos navegadores portugueses, os primeiros a colocar “seco lenho” (madeira enxuta) sobre os mares; o motivo é porque muitas mortes tinham ocorrido e muita ambição por riquezas aparecera. É uma condenação elo­qüente contra a empreitada mercantil portu­guesa, que ceifara centenas e centenas de vidas jovens, pais de família, velhos e sol­dados, com a finalidade de buscar riquezas. Famílias, mulheres, filhos foram abandona­dos por essa causa,

b) O Velho, que representa a tradição e se colo­ca contra o mercantilismo, condena os portu­gueses ao esquecimento; “nem citara sonora ou vivo engenho” representa que não sejam louvados por canções ou pelo vivo engenho (maneira de pôr em versos) das epopeias os feitos que glorificaram o povo português.

9. a) Episódio de O Velho do Restelo.b) Porque Camões sofreu influência dos clássi­

cos épicos grego e latino, Homero e Virgílio.10. A11. O conceptismo aparecerá como técnica literária

apenas no Barroco, mas Camões, nos versos, usa um jogo de ideias típico daquela escola. A base de tal raciocínio é a palavra “pena” que tem duplo sentido: pena de sofrer e pena de voar. Ao ler o poema, a voz poética do texto comanda o raciocínio do leitor.

12. A medida é a “nova" ou “clássica”, versos decas­sílabos. Com ela, Camões escreveu todos os seus sonetos, mas o poema que o consagrou em tal medida foi Os Lusíadas. O “doce estilo novo” é o verso decassílabo, empregado na for­ma fixa do soneto; quem o trouxe da Itália foi Sá de Miranda.

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13. a) Estruturalmente, o texto apresenta a formade soneto e o uso dos versos decassílabos, características fundamentais do Classicismo renascentista,

b) O mais-que-perfeito representa uma ação iniciada e acabada no passado; portanto, o eu lírico projeta o seu amor como capaz de ter feito o máximo em um tempo que termi­nou.

14. a) Sim. É interessante observar que o tema éreligioso, o que, de todo, tinha sido negado pelo Classicismo. No último verso, podemos ver os enfoques de palavras antitéticas (lon­go, curta); há também o predomínio do tema sofrimento, amor que causa dor e exílio in­terno.

b) De qualquer maneira, o paradoxo é tam­bém uma forma de antítese, mais refinada e muito mais trabalhada. O que se instala aqui é o desequilíbrio “longo amor” versus “curta vida”. Afinal, para que serve ter um amor longo se a vida é curta?

15. B16. C17. C18. C19. a) A oposição está configurada pelos advér­

bios “cá” e “lá”, indicando o eu lírico na Terra (vivo) e a amada no céu (morta),

b) Não, porque “repousa” está no imperativo e “viva” está presente do subjuntivo.

20. a) O verso decassílabo no soneto é o exemplopara esse procedimento,

b) Na Bíblia, Jacó tem em casamento as duas mulheres: é um bígamo, portanto; Camões escreve o poema como se Jacó, depois de servir sete anos, se dispusesse a servir ou­tros sete por amor a Raquel.

21. A22. a) Camões, em seu poema, queixa-se do fato

de ter visto sempre os maus se saírem bem e os bons passarem no mundo “graves tor­mentos”. Eis aí o poema mais conhecido do autor sobre o tema “desconcerto do mundo”,

b) Em Cesário Verde, a queixa é que as doen­ças afligem os bons e deixam viver os maus, o que parece ser contradição.

23. a) O eu poético confessa ter sido bom a vidatoda, mas resolve ser mau por saber que eles não são punidos,

b) “Fui mau, mas fui castigado” - aqui, de novo se dá o desconcerto do mundo. Ele foi mau, mas em vez de obter benefícios, como todos os maus, é punido, o que causa perplexi­dade.

24. A25. A26. a) O modelo estrutural é o soneto: versos de­

cassílabos, dois quartetos e dois tercetos.b) No Trovadorismo, a coita amorosa pode se

aproximar dos versos camonianos, além do

tratamento que se dispensa à mulher amada: senhora; na poesia palaciana, o tratamento é o mesmo, mas as palavras se refinam e a queixa de amor permanece.

11500r 16011

Revisando1. Não é apropriado classificar os relatos de via­

jantes e os textos de informação como sendo literários; servem, por seu caráter descritivo, como crônica histórica dos primeiros momentos de uma cultura.

2. A literatura informativa tem caráter oficial (A Carta de Caminha), o rei nomeia alguém para acom­panhar a armada e, depois, dar notícias das ter­ras descobertas; a literatura de viagens era feita para ser vendida nas cortes europeias e ressaltar o exótico das terras recém-descobertas. Quem escrevia este tipo de literatura não possuía no­meação real.

3. São os três principais temas da carta de Cami­nha: a qualidade da terra, em que se plantando tudo dá; a cristianização dos gentios; e a impres­são que na terra descoberta haveria ouro e prata para explorar.

4. O estilo criativo e inquietante, não meramente documental, torna o relato de Caminha uma nar­rativa vivida.

5. Tinham caráter propagandístico de divulgar na Europa aspectos pitorescos do Novo Mundo; desprovida de caráter oficial, muitas vezes eram vendidas nas cortes europeias.

6. Diversamente da maioria dos demais, o relato de Hans Staden não é elogioso às terras bra­sileiras; pelo contrário, narra o terror por que passou quando prisioneiro da tribo tupinambá.

7. Os primeiros textos literários brasileiros foram produzidos por padre Anchieta, no sentido de catequizar os índios por meio do teatro ou, ain­da, produzindo textos com versos de devoção. Observar aqui que a literatura informativa ou a de viagens não estava buscando ser vista como “literatura” propriamente dita.

8. Sim, através dele, Anchieta fez com que os in­dígenas visualizassem os santos e anjos católi­cos como bons e justos e seus próprios deuses como injustos, desonrados ou omissos com re­lação aos seus próprios destinos.

Exercícios propostos Quinhentismo - questões gerais1. C2. D3. C

Literatura informativa4. E5. D6. A7. D

Literatura de viagens8. E9. B10. B

Literatura de catequese11. A12. A13. D14. a) A estrofe é um quinteto e os versos são heptas-

sílabos.b) Que/ bom/ cos/tu/me é/ bai/lar

A/dor/nar/se an/dar/ pin/ta/do15. C16. C

Exercícios com plem entaresQiiifiítâritisiTtó - questões g é ra ís1. F ; F ; V; V; V; F ; F2. Sim, o Quinhentismo projetou-se, por exemplo,

na literatura modernista Oswaldiana (Pau Brasil,

1924). No exercício 3, você pode observar essa intertextualidade.

3. a) “vestiu o índio” quer dizer fê-lo aceitar as re­gras europeias, renegar as suas tradições,

b) “Pena” pode significar tanto a pena usada pelo índio, como parte das vestimentas e adornos, quanto pena de dó, compaixão.

4. O Quinhentismo não deve ser considerado esco­la literária, mas apenas uma fase de transição, correspondente apenas cronologicamente ao fim do Humanismo e início do Renascimento na Eu­ropa, o que o descaracteriza como escola. Nele, foram feitos textos para informar, catequizar e di­vertir as cortes europeias.

5. D

Literatura informativa6. c7. B

Literatura de viagens8. O nativismo consiste em elogiar os aspectos na­

turais e aparece em ressalto na literatura dos viajantes quando diz sobre a natureza espetacu­lar e exótica que a terra nova abriga.

9. D10. A11. B12. B13. O teatro de Anchieta tinha como finalidade ex­

clusiva a catequese e para isso foi usado pelo jesuíta.

14. E

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