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Harlequin Romance nº 8 A lista de A lista de desejos de desejos de Juliet Juliet ( HER WISH-LIST BRIDEGROOM) HER WISH-LIST BRIDEGROOM) Liz Fielding Liz Fielding Digitalizado por: Rita Digitalizado por: Rita De fã para fãs, num projeto sem fins lucrativos

Liz fielding a lista de desejos de juliet

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Harlequin Romance nº 8

A lista deA lista de desejos dedesejos de

JulietJuliet((HER WISH-LIST BRIDEGROOM)HER WISH-LIST BRIDEGROOM)

Liz FieldingLiz FieldingDigitalizado por: RitaDigitalizado por: RitaRevisado por: Edna F.Revisado por: Edna F.

De fã para fãs, num projeto sem fins lucrativos

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Harlequin Romance nº 8

HarlequinDe coração para coração...

Atirar champanhe no namorado vigarista — que também era seu chefe — teve sérias conseqüências para Juliet. Ela foi despedida! E depois de ter jurado

não se aproximar mais de nenhum homem, Juliet voltou para a casa da mãe com o objetivo de recomeçar a vida — mas acabou reencontrando paixão de

infância: Gregor McLeod.

ISBN 85-7687-299-4HARLEQUIN

B O O K S ™O livro de bolsa da mulher moderna. www. harlequinbooks.com. br

9788576872993

Ela tremeu um pouco.— Você está com frio?Ele olhava para ela, mas de repente ela não pôde mais olhá-lo nos olhos.— Não, é que... bem, talvez eu devesse ter vestido algo menos... — a única

palavra que lhe veio à mente foi revelador.Aproveitando-se da hesitação dela, McLeod disse:— Menos? Isso é possível?— Acho que a palavra que estava procurando é mais ao invés de menos.

Algo mais quente. — E ela conseguiu rir. — É louco não é? Homens saem à noite de terno e gravata e mulheres aceitam o desafio de vestir o mínimo possível.

— Bem, — ele disse — curvando-se para dar-lhe um beijo no ombro — acho essa regra ótima!

PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V.Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte, através

de quaisquer meios.Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência.

Copyright © 2004 by Liz FieldingOriginalmente publicado por Mills & Boon LondonTítulo original: HER WISH-LIST BRIDEGROOM

Impressão: RR DONNEL.LKY MOORE Tel.:(55 11)2148-3500 www.rrdonnelley.com.brDistribuição exclusiva para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: Fernando Chinaglia Distribuidora S/A

Rua Teodoro da Silva, 907 Grajaú, Rio de Janeiro, RJ — 20563-900 Tel.: (55 21) 3879-7766Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171,4° andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

Correspondências para: Caixa Postal 8516 Rio de Janeiro, RJ — 20220-971 Aos cuidados de Virgínia Rivera [email protected]

Prólogo

— Juliet? Hora de ir.Vislumbrando as figuras que checava, Juliet Howard sorriu para o homem

parado na porta. Paul Graham estava vestido como um típico executivo — terno preto, camisa branca e uma discreta gravata listrada. Tinha os trejeitos e a boa aparência de um modelo ou de um ator. Todo escritório deveria ter um, ela pensou enquanto ele fechava a porta e caminhava em sua direção.

Felizmente, este era todo dela — ou ao menos seria até o final do mês quando seu contrato temporário com o banco acabaria e também sua regra auto-imposta de não se relacionar no escritório. Algo que Paul sempre respeitara, com ocasional e lisonjeira impaciência.

— Já disse para não fazer isso no escritório — ela reprovou quando ele se curvou sobre a mesa e a beijou, consciente de que sua repreensão não adiantava.

Ele jurou solenemente com a mão no coração:— Nunca mais farei isso de novo.Essa não foi bem a resposta que ela previa, mas concordou:— Espero que não.Em vez de sair, ele se aproximou e esfregou a ponta do dedo pelos lábios

dela.— Borrei seu batom. Melhor consertar antes de ir à sala de reuniões. Nosso

novo digníssimo presidente não aprovaria.O novo presidente não fazia questão de mascarar o lato de achar que as

mulheres eram úteis apenas para procriar e para se ocupar dos trabalhos demais tediosos para homens importantes. Ele não gostava dela, e não escondia sua opinião. Felizmente, ela era muito boa no que fazia para ele se livrar dela. Ela esperava que ele tivesse tido um bom dia, pois ao entregar seu projeto de transportes na companhia ele a veria com muito mais freqüência.

— Lábios borrados serão as últimas coisas com que ele se preocupará na semana que vem, mas está certo, não há razão para irritar aquele velho demônio miserável sem necessidade.

Então ela sorriu.Ela tem sorrido muito ultimamente. Chegou até a Markham & Ridley

agarrada em seu diploma de administração, sete anos atrás, com uma única ambição: um lugar na diretoria em uma das indústrias mais conservadoras e machistas do país. Pedras, compostos e todos os produtos feitos a partir de coisas duras. A companhia prosperou lentamente, contando com velhas licenças extrativistas que lhe concedia um monopólio virtual em certas áreas.

Ela fizera sua pesquisa antes de se juntar a eles, analisara as possibilidades e estipulou dez anos para alcançar sua meta.

Três meses antes, John Ridley pediu a ela um projeto para contenção de custos a longo prazo, melhorando a produtividade. Era um reconhecido anúncio de uma oferta para a diretoria. Na segunda-feira ela iria entregá-lo.

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

Estava a um passo de conseguir o que queria. E não apenas a diretoria — que provaria que ela era igual a qualquer homem na empresa. Ela tinha Paul também, o mais promissor, charmoso e atencioso dos homens, provando que ela era igual a qualquer mulher.

Tinha todo o direito de sorrir. Mas esse não era um bom dia para se atrasar.

— Já estou indo, vou apenas retocar minha maquiagem. Pegue uma taça de champanhe para mim.

— Sim, senhora.Passou suavemente uma escova em seu penteado bem cuidado e

conservador — afinal era uma empresa conservadora — e retocou o batom. Colocou a jaqueta no lugar. Então, o sorriso cessou novamente. Foi uma dura jornada, trabalho pesado, mas finalmente foi recompensado. Ela então chegou.

A sala de reuniões já estava cheia. Quando abriu a porta, não conseguiu ver Paul de imediato. Pegou uma taça de champanhe enquanto adentrava, aparentemente a última a chegar, visivelmente atrasada por ficar sonhando com o sucesso iminente. Não tinha tempo para vislumbrar aquilo quando o diretor bateu em sua taça para conseguir atenção e propôs um brinde ao presidente. Ela tomou um gole e esperou o inevitável discurso.

Era mais breve do que o esperado. Talvez não tão breve assim.— Enquanto estou obviamente satisfeito por ter sido reconhecido, meu

maior prazer vem de um anúncio que venho planejando desde quando fui seu padrinho há 30 anos.

Ele esticou a mão e tocou o ombro do homem que estava sentado ao seu lado. Ela deu a volta para ver de quem se tratava.

Paul.O silêncio só foi quebrado por um discreto murmúrio de duas ou três

pessoas que olharam para ela.Paul era afilhado de Markham? Mas por que ele não contara a ela?— Todos conhecem Paul Granam — ele continuou. — Ele se juntou a nós há

alguns meses e usou bem esse tempo, analisando como fazemos as coisas. Agora vai nos dizer como faremos melhor. Ele fará parte da diretoria imediatamente e assumirá a responsabilidade na implantação de seu plano para simplificar a organização e cortar gastos com transporte. Daqui a um ano a Markham & Ridley será mais consistente e sólida. Deixaremos a concorrência para trás.

A pausa que sucedeu o anúncio demorou um pouco demais. E a essa altura ninguém olhava para ela. Não que ela percebesse algo. Ela apenas tinha olhos para Paul.

Plano dele! Aquilo era um roubo crasso dos documentos dela...O que o demônio estava tramando? O que fazia Paul no lugar que deveria

ser dela? Isso era uma piada... Tinha que ser uma piada...— Por favor, ergam suas taças e juntem-se a mim em um brinde a Paul e a

um futuro promissor para todos nós.Não era piada. Paul era afilhado de Markham. Assim que ele ergueu sua

taça, sua senhoria olhou para ela. Ele não estava apenas rindo. Estava visivelmente sendo irônico.

Ambos estavam, ela percebeu.Enquanto andava por um caminho que abrira à sua frente, pela primeira

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vez em sua vida, Juliet Howard, a mais cuidadosa garota no mundo, a garota que planejara sua vida até o último detalhe, fez algo sem pensar nas conseqüências.

Não havia espaço em sua cabeça para pensar. Estava ocupada demais relembrando os momentos que passara na presença de Paul. Como ele a cortejava, como ele a fazia se sentir protegida e desejada sem nunca tê-la pressionado. Mas estivera sempre lá desde o primeiro dia em que foi solicitada a tê-lo com sua sombra. Ele planejou até os últimos detalhes, atrasando-a para a reunião.

Havia apenas uma palavra para descrevê-lo e ela a usou, e então jogou o conteúdo do copo na cara dele.

Capítulo 1

— Levanta, Ju.Juliet Howard ouviu a voz da mãe dela, mas não se mexeu. A arrumação das

coisas, ou melhor, observando sua mãe arrumá-las, e a volta para casa até Melchester, desmoronada no banco de passageiros, drenaram toda a energia que possuía. Levantar da cama estava fora de cogitação por várias semanas. Até o esforço de abrir os olhos era muito intenso.

O som das cortinas se abrindo anunciava uma implosão de luzes dentro do quarto. Ela se virou enfiando a cabeça no travesseiro, tentando ignorar o falatório de sua mãe enquanto pegava algumas roupas para ela e as colocava sobre a cama.

— Fiz uma lista de compras. Não tive tempo para fazer compras este fim de semana. Não tem nada em casa. Você não deve se importar se come ou não, mas eu me importo. Anda logo que eu vou deixá-la na cidade enquanto vou para o trabalho. Pode se inscrever naquela agência de empregos perto da rodoviária após pegar meu livro na livraria. Diga a Maggie Crawford que a verei no bingo esta noite. Você deveria vir também.

— Ao bingo? — Aleluia, ela fala...A mãe dela não estava realmente interessada no bingo. Ela apenas blefou

para obter uma resposta.— Mãe, não precisa fazer isso.— Convença-me. Levante-se, tome um banho enquanto faço café.— Você vai se atrasar para o trabalho.— Só se você ficar enrolando. — Não...Mas sua mãe, que nunca se atrasara para o trabalho, não hesitou em

argumentar. Ela nunca teve tempo para aquilo. Nunca permitiu que qualquer patrão comentasse o fato de que ela era mãe solteira. Nem nunca sentiu pena de si mesma, pelo menos não quando tinha alguém por perto. Quantas lágrimas derramou na solidão e no escuro da noite?

Desgostosa consigo mesma, Juliet se virou e deixou que a gravidade apoiasse seus pés no chão. A mesma técnica que a botara para fora da cama nos dias em que a escola parecia mais um dia no purgatório.

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

O sol brilhando pela janela era uma afronta ao seu sofrimento, o cheiro de café a deixava enjoada, mas sua mãe se entregou por toda a vida, dando tudo de si para ter certeza de que sua filha tivesse a chance de algo melhor. Até agora era ela quem catava os cacos. Tirou vários dias de folga para ir a Londres, pôs o apartamento de Juliet para alugar, para pagar a hipoteca e para que ela tivesse para onde voltar. Foi ela quem arrumou as malas, trouxe-a para casa e acomodou-a em sua antiga cama.

Mesmo na adolescência, teve força para superar o sofrimento, contando cada dia que sobreviveu sem despertar a atenção dos valentões da escola como uma vitória.

Não era força agora, mas culpa, que a levou ao chuveiro, que a colocou em suas roupas e logo a levou até o carro. O sol brilhava, ainda era março, e o vento manso no rosto revelava mais um belo e agradável dia.

Sua mãe a deixou na calçada.— Não esqueça meu livro e compre alguns produtos de limpeza no

mercado.Ela ligou para a agência de empregos primeiro, preencheu o formulário e

esperou que avaliassem suas qualificações.— Você não respondeu por que deixou seu último emprego.— Não. — Essa é capciosa. — Desculpe.Ela puxou o formulário e escreveu "Síndrome de Bridget Jones", e o

empurrou de novo.— Você desrespeitou seu chefe?— Não, eu era a chefe, mas você sabe como são os homens. Sempre querem

estar por cima.Não era tudo verdade, mas servia para encurtar as perguntas difíceis. E ela

tinha certeza de que Paul se sacrificaria se ela fosse menos escrupulosa, menos cuidadosa com sua carreira ou reputação, menos ingênua...

— Certo. Você está um pouco acima do que precisamos, para ser honesta. — Sorriu com simpatia. — O máximo que temos são executivos juniores. Você realmente precisa de uma agência de empregos em Londres.

— Eu quero algo temporário, enquanto avalio minhas opções — disse ela. Algo que seu último agente de empregos havia sugerido. Não foram tão longe a ponto de perguntar a ela se era verdade que tivera um colapso; trocaram olhares e tiraram suas próprias conclusões.

— O que, diabos, lhe convenceu a comprar esse armazém, Mac?Gregor McLeod olhou sua última aquisição com satisfação. Lugares

pequenos como este não podiam competir com as superlojas de departamento que dominam o mercado, mas possuí-la estava em sua lista há muito tempo.

— É apenas sentimentalismo, Neil. Já trabalhei aqui em um passado distante. Não por muito tempo, mas jamais esqueci da experiência.

— Não sabia disso.— Bem, você estava na faculdade enquanto eu me matava de trabalhar para

Marty Duke.— Não são lembranças boas então.— Não foi tão mal. Tinha uma secretária linda. Cabelos lindos e brilhantes,

pernas bem torneadas e uma voz suave como chocolate suíço. Tinha um sorriso que fazia do trabalho uma experiência interessante.

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

Neil balançou a cabeça.— Você e suas passarinhas de luxo...Ela não era uma sumidade no trabalho, mas Duke a pagava muito bem, pois

os empreiteiros costumavam babar enquanto ela anotava os serviços.— Por que antecipo um final triste para essa história?— Você me conhece — disse Greg. — Quando vi Duke com as mãos onde

nenhum patrão deveria estar, não me importei em deixar claro que aquilo não era comportamento para o local de serviço. Acertei-o em cheio. Ele me despediu dali mesmo, caído no chão.

— Espero que sua deusa tenha ficado muito agradecida.— Ela estava muito ocupada interpretando Florence Nightingale para o

chefe. Deve ter feito um ótimo trabalho, pois ele lhe ofereceu uma promoção.— Como secretária?— Não, como esposa. Evidentemente, interpretei mal os sinais. Ela tinha

outras ambições.Neil retrucou:— Erro dela.— Você acha? Não tinha nada para oferecer a ela. Ela, por outro lado, me

fez um verdadeiro favor: ensinou que, entre dinheiro e músculos, as mulheres sempre ficam com o dinheiro. Mostrou que eu não tinha capacidade para trabalhar para os outros.

— Então, você comprou um armazém que não precisava, salvou Duke de afundar, tudo isso por pura gratidão a sua esposa? A mulher à qual você deve sua fortuna?

— Devo minha fortuna ao trabalho duro, olho aguçado para bons negócios e um pouco de sorte. Comprei o armazém por vários motivos, o mais prazeroso de todos, tenho que admitir, foi Duke ter que me encarar e me chamar de sr. McLeod.

— E quanto à esposa dele? Estava lá?— Ainda é sua secretária, dá para acreditar?— Eu lhe disse que foi uma manobra insensata. O que ela disse?— Não muito até me conduzir à porta. E então me disse: "Liga para mim."

Juliet deixou a agência com a promessa que se algo mais importante aparecesse alguém ligaria. Ela fez o melhor. Ou o melhor que era capaz. Pensou que quanto mais cedo terminasse as compras mais cedo iria para casa.

Pegou a sacola sem perceber que o caderno estava dentro. A maioria das mulheres usaria envelopes reciclados para fazer a lista, mas não sua mãe. Ela sempre usava o caderno não apenas para listas de compras, mas para tudo. Ela dizia que assim liberava a memória para coisas mais importantes. E também se sentia bem quando marcava alguns itens, especialmente aqueles que começavam com a palavra pagar...

Foi um hábito que passou para a filha, encorajando-a a escrever as coisas do dia-a-dia, até mesmo seus projetos de longo prazo.

E disse também que não devia apenas escrever os grandes projetos, mas os pequenos também, pois, como os grandes levavam tempo para acontecer, era deprimente não marcar nada no caderno. E com os pequenos, do dia-a-dia, ela tinha sempre a noção de estar realizando as coisas, mesmo que fosse comprar

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

pão.Pegando o caderno viu que era um dos antigos, da época que tinha 12 ou 13

anos. Lembrou-se do Natal e das prazerosas lembranças daquela época. Até então, ela tinha cadernos com gatos, hamsters ou personagens de desenhos animados, mas esse parecia mais maduro; havia uma etiqueta.

A etiqueta estava um pouco ilegível, pois anos entrando e saindo da mochila havia borrado as letras da capa.

Ela imaginou a garotinha que era e, então, alguém passou por ela, irritado com pessoas que "não têm nada melhor a fazer do que bloquear o caminho na calçada", ela se refugiou em um pub e pediu um café que não queria só para desfrutar de um lugar tranqüilo, um lugar onde pudesse pensar.

O que aquela criança desejava?Lembrou dos grandes planos, aqueles que não se alteraram. Uma vaga em

uma boa universidade, o diploma com mérito, para um dia ser uma mulher de sucesso que sempre ambicionara.

Algumas coisas nunca mudaram.Folheando as páginas enquanto tomava o café, viu que começou suas metas

tirando A em matemática, entregando seus projetos no prazo e mantendo seu quarto arrumado. Mas, depois disso, vieram as metas do coração — o desejo doloroso de cortar o cabelo curtinho para deixá-lo espetado com gel, como as meninas "da moda" na escola. A lembrança do impossível e caríssimo tênis que tanto queria. E, depois, tinha o feriado na Disney em Paris. Ela queria realmente ir ou estava na lista por que as outras crianças de sua idade tinham ido? Até mesmo as crianças de pais solteiros como ela. Se ela não fosse, seria estigmatizada como uma perdedora aos olhos das outras crianças.

Enfim, como muitos sonhos, alguns não se realizaram.Não havia nada que a impedisse de arrumar as malas e partir. Mas,

francamente, era patético ir a Disney sem crianças para dividir a experiência.Viu que planejara quatro filhos — um reflexo de seu desejo por irmãos e

irmãs. Não especificou quem seria o pai na época.Esse era o último item na lista. Logo depois do livro ser abandonado. Esse

era o problema de se ter um plano mestre. Era um crescente contínuo. A vida por outro lado, era um jogo.

Virou a página. A lista de compras não tinha sido escrita no caderno. Mas sim num papelzinho amarelo. Certamente, o caderno era a maneira de sua mãe se lembrar que sua vida não acaba quando suas metas passam das plausíveis para as impossíveis de serem realizadas.

As vezes, temos que começar uma lista nova. Escrever uma nova meta para cinco anos. E sobre esses sonhos impossíveis...

— Um passo de cada vez, mãe — murmurou consigo jogando o caderno na sacola.

Não tinha nada tão especial na lista. Nada que não pudesse pegar na lojinha da esquina. Exceto o livro — que poderia facilmente esperar mais um dia. E as flores amarelas.

Em vez disso, comprou narcisos brancos em um pequeno mercado no final da Prior's Lane e então seguiu até a livraria.

Quanto mais cedo terminasse, mais cedo iria para casa.E, então, o quê? Enterrar-se entre quatro paredes e sentir pena de si

mesma? Sua mãe já teve tanta pena dela? Por que estava sendo tão gentil? Por

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que ela não lhe dizia para se recompor e superar tudo aquilo?Ela vislumbrou o caderno no fundo da sacola. Tudo bem. Sua mãe tinha

razão. Ou, pelo menos, ao sugerir que era hora de escrever outra lista. O primeiro item era fácil: parar de sentir pena de si mesma.

Exceto por não ser assim que funcionava. Tinha que ser coisas mais práticas. Muito bem. Item 1: arranjar emprego.

Assim, estaria ocupada demais para sentir pena de si mesma.Infelizmente, ninguém em sã consciência contrataria uma gerente sênior

que arruinara o dia do presidente cobrindo-o e a seu protegido com champanhe.

Estresse! Não era estresse. Era mais simples que isso...Depois disso ficou meio bobo. Enquanto compilar mentalmente a lista de

tudo que queria fazer com o lorde Markham e seu miserável afilhado tinha certo efeito catártico, tudo era hipoteticamente impossível de se fazer. O ponto era riscar algo para ter a sensação de ter conquistado alguma coisa.

Juliet terminou a lista, mas estava longe de sentir-se melhor.Parou, olhou ao redor para checar onde estava. Prior's Lane seguia até a

colina e virava no rio até a catedral. Não era apenas uma rua, mas um emaranhado de ruas e becos que uma vez fora o coração medieval da cidade, um mundo à parte da estéril área de compras no centro da cidade.

O lugar proporcionou um grande volume de compras com lojas e boutiques pequenas mas excitantes, onde o ar cheirava a café torrado. Agora o pre-domínio de lojas de caridade indicava a decadência do local.

Ela sentiu raiva por tanto desperdício de recursos. O que o Conselho Municipal estava pensando? Ela já estivera em cidades com áreas como aquela, onde milhares de turistas impulsionavam a economia, ajudando assim a cidade a prosperar.

Não eram só más notícias. Talvez, por conta do exercício da caminhada, o cheiro de pão quentinho tenha lhe deixado com uma fome repentina, e então comprou uma bisnaga recém-saída do forno. Pareceu-lhe perfeitamente natural acrescentar uma porção de queijo e algumas azeitonas — sua mãe adorava e merecia um agrado de uma conceituada e antiga panificadora italiana.

Na parte de Londres onde vivia — até atirar sua carreira fora com sua taça de champanhe —, lojas como essa eram lotadas de fanáticos por comida que brigavam sobre as massas recém-fabricadas e azeite virgem. Aqui, não havia ninguém por perto.

Um sino soou assim que abriu a porta da livraria. Era exatamente como ela se lembrava. Sem concessões para o novo estilo de se vender livros, sem café, guloseimas, cadeiras, sem incentivo a demoras.

Pelo menos, achou os livros que queria — sua mãe preferia novelas policiais com mulheres fortes como heroínas. Quando não apareceu ninguém para pegar seu dinheiro ela gritou:

— Olá.Não houve resposta, então ela deu a volta nas prateleiras que dividiam a

frente da loja e reparou na disposição dos sofás e das cadeiras. O fato de as prateleiras estarem cheias de livros antigos chamou sua atenção.

Então, aproximando-se do pequeno escritório nos fundos:— Olá? Sra. Crawford? Tem alguém aí?

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

Foi quando viu Maggie Crawford estirada no chão. Uma cadeira virada próxima a ela revelava a história.

Estava tão pálida que por um terrível instante Juliet pensou que ela estivesse morta, e sua primeira reação foi de medo.

Pânico. O impulso vergonhoso de sair e deixar que outra pessoa a encontrasse passou por sua cabeça.

— Não posso. Por que eu? — Juliet pensou. Então, jogando tudo no chão, correu para ajudar.

— Sra. Crawford? Pode me ouvir?Ela abriu os olhos, vagamente surpresa, e disse:— Olá querida. É você, Juliet? Sua mãe disse que viria.Sua voz estava fraca, mas pelo menos estava lúcida. Então disse:— O que estou fazendo aqui embaixo?— Não! — Juliet pôs sua mão nos ombros da mulher enquanto ela se

sentava.— Fique onde está. Você sofreu uma queda. — Juliet pegou seu telefone no

bolso e ligou para a emergência. Em seguida, tirou o casaco e desocupou as mãos para aquecer a senhora. E explicou o que havia acontecido.

— É a sra. Crawford. Sra. Margaret Crawford. Livraria, Prior's Lane...— Oh, Deus, que incômodo estou causando.— Deixa disso, Maggie — Juliet retrucou enquanto sentava ao seu lado e

segurava as mãos dela firmemente.— Agüenta firme, a ajuda já está a caminho. Há quanto tempo você está

deitada aí?— Não sei. Só queria conserta a janela. Lembro-me de ter começado e

então me senti tonta e...— Shh.— Você não entende. Não posso deixar isso assim...Ela estava começando a ficar irritada e Juliet, olhando para cima, viu que

uma das vidraças estava quebrada. Tinha as marcas de uma tentativa de arrombamento.

Parecia ter sido apenas uma tentativa.Ela viu um pequeno aquecedor elétrico e o ligou para combater o frio que

entrava pela janela. Então, numa tentativa de confortá-la e mantê-la quieta, disse:

— Não se preocupe. Vou dar um jeito de consertá-la...Ela ouviu a porta da loja se abrindo.— Olá! Alguém chamou socorro?— Aqui.Foi com alívio que ela entregou a paciente para os paramédicos. Primeiros

socorros nunca foram o seu forte.A janela, por outro lado, era algo que ela poderia consertar. Ou pelo menos

poderia achar alguém que consertasse. Havia uma loja de serviços gerais do outro lado da rua. O aviso do lado de fora dizia que se tratava de uma loja à moda antiga com serviços antigos e, na verdade, parecia mais com um museu do qualquer outra coisa. Pareceu um bom motivo para testar esse serviço à moda antiga.

— Vai demorar alguns minutos até vocês a levarem não é? — ela perguntou aos paramédicos. — Vou chamar alguém para consertar a janela.

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— Seria melhor se esperasse até que nós saíssemos senhorita, precisamos de algumas respostas se não se importa.

— Mas... — Não. Obviamente, alguém tinha que ficar até que a janela fosse consertada, e não havia mais ninguém.

— Claro. — Ela deu a eles seu nome, respondeu às perguntas que pôde, enquanto um deles ajeitava Maggie.

O sino da porta soou novamente. Quando ela não podia se mover, o que fazia as perguntas sorriu e disse:

— Muito bem, acho que é tudo que precisamos da senhorita. Pode atender o freguês se desejar.

Juliet quase disse Não... eu sou a freguesa, mas deixou passar.Alguém tinha de avisar às pessoas que a loja estava fechada.— Desculpe — ela disse assim que se aproximou da mulher próxima à caixa

registradora.— Creio que não há ninguém para atendê-la no momento.— Não preciso de ninguém. Só vim pegar um livro que encomendei. Já está

pago. Maggie deixa as encomendas atrás da mesa.— É mesmo? Tudo bem. É esse? — Ela pegou um livro de bolso grosso, um

romance épico. Havia várias outras cópias. — Deve ser um livro muito popular.— É a indicação do grupo de leitura desse mês. Maggie sempre os compra

para nós.— Ah, sim.Ela colocou o livro em uma sacola e entregou à moça, fazendo uma nota do

que havia feito.— Há algo errado? — perguntou a mulher sem nenhuma pretensão de sair.— É Maggie.Não tendo como negar a ambulância parada na porta da loja, disse:— Ela sofreu uma queda.— Que terrível. — Balançou a cabeça. — Ela não é mais jovem, e uma coisa

assim mexe com você. Você perde a confiança. Se ela quebrou alguma coisa, imagino que será o fim de outra loja nessa área.

— Acha mesmo?— Quem vai tomar conta da loja? Essas pequenas lojas não têm como

competir, não é mesmo? E mais barato comprar no supermercado, lá os best sellers são mais em conta. — Ela tocou na bolsa com os livros de bolso. — Não se encontra algo assim nas prateleiras das lojas pequenas, três pelo preço de dois.

— Acho que não.— Muito bem, sra. Howard, estamos levando-a. Se ligar para o hospital

daqui a algumas horas, teremos notícias para a senhora.— Oh, mas... — Ela deixou passar. Suas preocupações não eram tão

importantes. — Maggie tem alguém que você quer que eu avise?— Você vai consertar a janela? Eles vão continuar a quebrá-las...Era claro o esforço que fazia para falar, e Juliet não a pressionou. Não seria

problema algum conseguir alguém para consertar a janela.— Vou cuidar disso, e então fecho a loja e vou vê-la no hospital.— Pobrezinha.— Só tem seu filho, mas trabalha em algum lugar no Oriente Médio. — Que

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

ótimo! E depois de lançar essa bomba, disse: — Bem preciso ir logo. Boa sorte.— Mas...Ocorreu a ela que dissera mas mais vezes nessa última meia hora do que

nos últimos sete anos. Sua resposta de praxe frente a um problema era Sem problema.

Brava consigo por ter sido tão patética, virou o aviso para Fechado e saiu.Não havia problema algum. Tudo que precisava era achar uma vidraçaria,

alguém para tomar conta da loja e então ir ao hospital assegurar a Maggie que tudo estava bem.

Isso era tudo. Moleza para alguém com sua experiência e habilidade. Ela se sentou atrás do balcão. Janela... Vidraceiro...

Ela se recompôs. A loja de materiais de construção.Mas ela não podia sair e deixar a loja destrancada, e se trancasse, o

vidraceiro não poderia entrar.Finalmente achou as chaves da loja, mas, a meio caminho da porta, mudou

de idéia e decidiu telefonar.Pegando o telefone, percebeu que precisava fazer algo a respeito da gaveta.

Guardar o dinheiro. Com certo tom de ironia, pegou seu caderno e começou a fazer uma lista.

— Então, o que vai fazer com o armazém?Greg olhou para as janelas imundas do escritório até o pátio deserto,

imaginando o que acontecera com os homens que trabalhavam lá.— Não é só este lugar. O acordo inclui uma propriedade na parte antiga da

cidade.— Ótimo. Aluguel barato, manutenção cara. O telefone começou a tocar e

Neil disse:— Pode deixar, a Duke's Yard não funciona mais.— Duke's Yard — Greg respondeu.— E, além disso — Neil continuou, sabendo que estava falando sozinho —, é

hora do almoço.— Graças a Deus. Consegui seu número na loja de materiais de construção

na Prior's Lane, mas não sabia se vocês estavam...Greg, atento à voz em seu ouvido, ignorava Neil.— Estavam o quê?— Funcionando.Quando ele não confirmou nem negou, ela disse:— Obviamente, eles estavam enganados. Olha, isso é uma emergência, pode

me ajudar?— Diga lá.— Certo. Tenho uma pequena vidraça que preciso repor com urgência. Tem

como mandar alguém aqui para consertar?— A que horas?— O mais cedo possível. É em Prior's Lane, na livraria.— Sei onde é. E seu nome é?— Howard.— Sério? Você não soa como Howard. Parece mais com Emma ou Sophie

ou...— Juliet Howard.

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— Ou como Juliet.— Desculpe, você disse algo? Não, olha, você pode fazer, porque, se não pu-

der...— Qual o seu telefone, Juliet?— Por que precisa do meu telefone?— Porque às vezes nos passam trotes.Ela viu que não tinha escapatória, e depois de uma breve hesitação deu a

ele o telefone. — Estarei aí em dez minutos.— Sério?Neil balançou a cabeça, apontando para seu relógio, dizendo: — Almoço. Greg retrucou:— Chocolate suíço.— Tem algum problema? — perguntou.— Não, estarei aqui — ela disse.— Então, ela tem a voz de um chocolate caro.— Se você estiver certo, terei feito minha boa ação do dia, se estiver

errado...— Se eu estiver errado?A voz aveludada lembrava o mais fino chocolate.— Você me conhece, Neil. Acredito na minha sorte.— Sorte! Primeiro você nos leva a um desperdício de espaço e então decide

abandonar o almoço para ver quem é a dona dessa voz.— Seu molengão — retrucou. — E é o meu desperdício de espaço, não o

seu.Neil fez um gesto curto e obsceno.— Tudo bem, meu caro desperdício de espaço vai lazer parte da nova área

de construção.— Você... — Então: — Duke não sabia disso, sabia?— Certamente, não disse a ele. E como não vai demorar no almoço às

minhas custas, pode ver se descobre o que aconteceu com sua força de traba-lho. Se estão desempregados, vamos ver o que podemos fazer por eles.

— Pelo amor de Deus! — Juliet desligou seu celular e o atirou em cima da mesa. A última coisa que ela precisava era de um biscateiro se achando um presente de Deus para as mulheres.

A Duke's Yard era o último número em sua lista e o biscateiro era o único que poderia fazer o serviço a tempo. A despeito de sua promessa, ele não ligou de novo.

E torcendo para que ele tivesse uma brecha na programação e pudesse resolver o problema para ela, cruzou os dedos esperançosa. Quão difícil seria trocar uma vidraça?

Ela poderia fazer provavelmente sozinha, se soubesse onde comprar o vidro e se tivesse as ferramentas certas.

Percebeu que as mãos estavam trêmulas. Havia uma pequena cozinha ao lado do escritório e ela achou uma chaleira; encheu-a e a colocou sobre o fogo, enquanto procurava uma garrafa de café. Ela ouviu alguém bater na porta,

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

mais uma vez. Ignorando a placa de Fechado algumas pessoas do lado de fora ainda tentavam entrar na loja.

Se estavam desesperadas para comprar algum livro ou se era apenas curiosidade pelo fato de a ambulância ter estado lá, ela não estava interessada cm descobrir.

Então, assim que derramou a água fervendo sobre o café, ocorreu-lhe que poderia ser o caipira para consertar a janela.

Ela foi checar a porta.Quando chegou para abrir, quem quer que fosse, já não estava mais lá.

Antes de destrancar a porta para ver se havia alguém do lado de fora, ouviu outra batida. Dessa vez, na porta de trás. Ao contrário da porta da frente, essa porta era de madeira sólida. Antes de abrir, ela gritou:

— Quem está aí?— Cavaleiro Errante Associados. Donzela em perigo é nossa especialidade— Oh, que maravilha. — Não apenas um biscateiro que se achava

irresistível, mas que também se achava engraçado. Quando abriu a porta, deparou com um sujeito trajando jeans, uma jaqueta de couro e uma camisa bem colada ao corpo, que parecia ter sido feita sob medida.

Seus cabelos eram longos e seus olhos tinham um tom azul profundo. O efeito era agressivo e masculino. Convencido. Arrogante. E atrás dele, uma motocicleta para completar.

Gregor McLeod, ela percebeu, não mudara nada.

Capítulo 2

A boca de Juliet secou e por um momento ela não podia pensar em nada para falar. Tudo o que ela queria era que ele não se lembrasse dela.

— Estou no lugar certo?Como ela não reconheceu a voz dele? Macia e grave, extremamente sexy.— A livraria? Você ligou para a Duke's Yard para que consertássemos uma

janela.Foi assim que ela percebeu que ele não sabia seu nome; sempre a chamava

de princesa.Naquele tempo, ela era uma garota magra, de 13 anos, com roupas doadas

e óculos com armação de metal — e com seu longo cabelo em uma trança infantil, calmamente seguindo seu herói pela escola.

Exceto, claro, que ele nunca fora herói.Um herói não desapareceria de sua vida sem uma palavra.— Sim. — Ela se recompôs, ignorando o desapontamento, pois enquanto ele

causava o maior impacto nela, ela nem sequer tocara em sua memória. Juliet se recusou a se arrepender pelo fato de não ter se esforçado mais no que diz respeito à sua aparência. Maquiara-se um pouco e arrumara o cabelo, só isso.

— Sim, aqui é a livraria. Mas não preciso de um cavaleiro errante. Preciso de um vidraceiro. Ou pelo menos alguém que troque o vidro. — Ela se dirigiu à passagem de acesso ao fundo da loja para indicar onde estava a janela quebrada. Ela se abaixou para pegar uns cacos de vidro no chão, sem tirar os olhos dele.

— Solte isso. — Ele se abaixou ao seu lado e tomou os vidros da mão dela.

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

Atônita, ela o fitou.— Você pode se cortar.— Certo. Obrigada. Não, ele não mudara nada. Estava mais pesado, claro, mas eram músculos.

Havia rugas delimitando seu rosto, saindo de seus olhos, dando personalidade a sua aparência. Mas ele era o mesmo Gregor McLeod e ela teve a mais estranha impressão quando, olhando sua lista de metas, ambições, enterrara-o no passado.

— Gostaria que ficasse pronto hoje.— Se está insinuando que eu não cheguei em dez minutos como tinha dito,

então a culpa é sua. Se tivesse aberto a porta da primeira vez que bati, tinha adiantado 30 segundos.

— Oh, era você?— Você achou que eu estava sendo otimista demais ao dizer dez minutos? — Bem, sim. — Então, percebendo que não era a coisa mais sábia a dizer:

— Não! Você foi muito rápido. Achei que você fosse um cliente.— Então você ignorou? Não quero dizer como deve tocar seu negócio,

Juliet, mas assim não vai vender muitos livros. — Você está certo — ela disse. — Mas não vendo livros. Ele se encostou na mesa, insinuando-se para ela. Alguns homens não conseguem evitar, e mesmo sabendo que ela não era o

tipo dele — e ele também não era seu tipo —, tinham que esticar seus músculos. Bem ele estava perdendo tempo com ela. Há muito trabalhando com homens, ela sabia que para evitar esse tipo de investida a melhor estratégia era permanecer calma e com uma postura profissional. Jamais demonstrar qualquer insinuação sexual. O máximo que poderia acontecer era pegar a fama de fria, mas havia coisas piores. Estupidez, por exemplo. Ainda bem que o tipo dele tinha uma atenção muito limitada; sabia que se uma mulher não respondesse aos músculos salientes e ao peitoral bem definido, haveria outra em questão de minutos. Iram os homens quietos, aqueles com cérebro, que tinham que ser observados.

— Esperava que você ligasse e confirmasse que eu era uma adolescente passando trote.

— Nenhuma adolescente soaria como você, princesa.Com certeza, ele chamava todas de princesa. Mais fácil do que lembrar

vários nomes.— Você consegue arrumar isso? Quero dizer, quanto tempo vai levar?— Vamos ver. Vou medir a janela, pegar o vidro e limpá-lo, enquanto isso,

você podia me fazer um cafezinho e contar a história da sua vida. — Quanto tempo? — ela repetiu. Ele devia achar aquilo uma diversão. — Uma hora deve dar, dependendo de como a sua vida foi interessante até

hoje.Meu Deus, uma hora de flerte e conversa fiada. E quanto custa uma hora do

seu tempo? Por que você não paga o almoço e estamos quites? E ele tinha nervos para criticar o senso de negócios dela.

— Vou trazer um bife do açougue da esquina, pode ser? Creio que você o coma cru.

Ele pegou uma trena no bolso e mediu a janela.

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

— Você sabe, tive que adiar meu almoço, estava saindo quando o telefone tocou, ia almoçar com uma pessoa. Devia ter dito que estava ocupado.

— E por que não disse?— É que pareceu que você precisava de ajuda. Ela se recusava a cair na sedução de sua aparente empatia.— Eu preciso de um vidraceiro não de uma pessoa para conversar, por que

não esquece o café e a história da minha vida? Chame a pessoa que ia almoçar com você. — Ela se recusou a sucumbir ao ciúme que passou por sua cabeça.

— Tenho certeza de que ela esperará meia hora.— Você esperaria? Esperaria?— Em primeiro lugar, não concordaria em almoçar com você, por isso a

ocasião nunca aconteceria.— Considere hipoteticamente.Era tudo sua culpa. Ela quebrara a regra capital — nunca se envolver com

alguém do escritório. Seis meses atrás, ela poderia passar por essa conversa sem se aborrecer. Mesmo com Gregor McLeod.

Mas seu senso de humor foi destruído pela rígida desculpa de Paul e não importava quanto ela tentasse manter seu astral elevado, a raiva continuaria extravasando como um vulcão em erupção.

— Hipoteticamente? — ela repetiu.Fria. Calma. Educada como uma duquesa — não, como uma princesa. Isso

ela podia fazer.— Foi o que disse.— Então, hipoteticamente — ela respondeu —, eu diria que se tivesse

concordado em almoçar com você e você me explicasse que estava atrasado porque estava ajudando uma donzela em perigo... — ela parou, notando a armadilha logo à frente.

— Continue — ele disse, sem esconder o fato de estar se divertindo muito com aquilo.

— Tenho certeza de que você pensaria em algo.— Você não estaria sugerindo que eu tenho muita prática em dar desculpas,

estaria?— Isso é mais forte do que você — ela disse, decidindo que ficar fria e

tranqüila não adiantaria nada. Era melhor ser natural. — Você é homem. O mecanismo de desculpas vem junto no pacote com os cromossomos. — Ela ouvia as palavras que saíam de sua própria boca com certo fascínio. Para uma mulher que até alguns meses nunca se arriscara na vida, ela parecia ter perdido os freios.

Felizmente, seu cavaleiro errante estava bastante ocupado anotando as medidas da janela em seu caderno. Era um caderno idêntico ao seu. A capa preta brilhante, desgastada pelo uso. Deveria estar quente, pois estava dentro de seu casaco, ela pensou.

— Por favor, fique sabendo que aprecio muito o sacrifício que está fazendo — ela disse.

Aquilo provocou uma reação nele. Nada excessivo. Apenas um movimento suave de uma sobrancelha, sugerindo que ele não estava totalmente impressionado pela declaração de apreço, não importava o quão profunda era essa declaração.

— Mas eu ficaria muito grata se você terminasse logo o serviço para que

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

ambos pudéssemos seguir em frente com nossas vidas — ela concluiu. — Imagino que você tenha uma vida.

— E você tem?Ele olhou para cima, e pensou no que ela disse, enquanto ela se dava conta

de que era melhor que ele permanecesse concentrado no trabalho. Comen-tários de cunho pessoal eram um convite aberto para ele desenvolver suas técnicas de persuasão.

Ao ver que ela não iria responder, ele disse:— O fato é que gosto de mostrar interesse pelos meus clientes. Gosto de

conhecê-los. Criar um relacionamento.— Muito digno. — Assim era melhor. Manter uma distância prática. —

Prometo que se um dia precisar novamente de consertar uma janela, Duke's Yard será o nome em que pensarei.

— Sarcasmo não é atraente numa mulher, Juliet. Sarcasmo? Isso não era sarcasmo.— Bem, obrigada...Ela se conteve. Ele a chamava pelo nome numa tentativa de fazê-la

perguntar pelo seu. A verdade era que ela chegou muito perto de usá-lo sem pensar. Se ela fizesse isso, ele ia querer saber como ela sabe e, ao passo que ele não ficaria nem um pouco envergonhado por não ter lembrado dela, ela ficaria muito envergonhada se ele soubesse que ela nunca o esquecera. Ela não precisaria da razão em palavras. Ele simplesmente saberia porquê.

— Vou anotar esse conselho — ela disse — e o colarei num lugar onde possa vê-lo todos os dias.

Agora isso era sarcasmo, ela se congratulou. E, então, no momento de silêncio que se sucedeu, ela se deu conta de que ele estava certo. Isso não era nada atraente. Não que isso o impedisse de tentar mais alguma coisa.

— Então, o que aconteceu com Maggie Crawford? — ele perguntou. — Você está no controle da livraria agora?

— Não.— Está trabalhando para ela?— Também não.— Que pena. Este lugar bem que precisava de alguma coisa para trazer-lhe

algum brilho.Nisso ela concordava com ele, mas não ia admitir. Mas, no que diz respeito

a ela trazer algum brilho...— Maggie caiu de uma cadeira hoje de manhã. Estava tentando colocar um

pedaço de papelão na janela para bloquear o frio. Ela foi levada para o hospital.

— Sinto muito em ouvir isso. — Ele foi muito convincente. Ela quase acreditou nele. — Então, qual a sua conexão com ela?

Ele simplesmente não desistia. — Você não tem que ir atrás de algum vidro? — ela perguntou.— Quer saber, estou com fome. Talvez você esteja certa. Ainda posso...— Não! — Não?— Olha, sinto muito, mas esta manhã tem sido muito complicada. Só vim

aqui para apanhar um livro para minha mãe. Encontrei Maggie caída no chão.

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

— E acabou ficando para consertar a janela? — ele perguntou, e ao olhar à sua volta viu-a olhando para ele. — Para alguém que você não conhece?

— Ela estava preocupada e muito agitada. E eu a conheço, sim. Pelo menos minha mãe a conhece. Eu vinha muito aqui quando estava na escola. Ela me deixava sentar num cantinho e ler os livros que eu não podia comprar.

— Entendo. Sinto muito. Creio que você tem que voltar para o trabalho.— Não, não tenho pressa. Estou desempregada.— Haverá uma vaga aqui, pelo que parece. Pelo menos uma vaga

temporária.— Sim, bem, perguntarei à sra. Crawford o que ela vai fazer quando estiver

bem o suficiente. Enquanto isso, não posso deixar a loja aberta ao deus-dará. Ou a algum bandido à procura de uma edição rara daquele livro popular Guia para principiantes de arrombamentos de sucesso.

Era para ele ter rido disso. No entanto, pareceu pensativo e olhou de volta para a janela.

— Creio que a pessoa que fez isso estava era tentando invadir a farmácia ao lado.

— Um viciado em busca de alguma droga? Que bom. Isso me deixa muito mais tranqüila.

— Você poderia deixar um bilhete lá fora dizendo: Isto é uma livraria. Favor arrombar a porta ao lado...

— Tenho certeza que o farmacêutico ia adorar.— O sistema de segurança dele deve ser muito melhor — ele disse

caminhando na direção da porta. Vou atrás do vidro. Por que você não vai atrás de umas guloseimas para acompanhar o chá, considerando que o almoço foi cancelado? Faz muito tempo desde o café da manhã.

— Isto é uma livraria, não um supermercado... Ele saiu e a deixou falando sozinha, numa atmosfera saturada de

feromônios e um ronco de motocicleta.Gregor McLeod era uma figura medieval. Não, na verdade um Neanderthal.

Como ela chegou a pensar que ele fosse... bem, não interessa o que ela havia pensado. Pelo menos ele pareceu saber o que estava fazendo. E também veio, como prometera. Talvez ela não devesse ser tão dura com ele.

Por outro lado, ele não precisava de nenhum encorajamento. Ela se assegurou de que a porta estava trancada e sentou-se à mesa com o café morno, procurando pelo endereço do filho de Maggie.

Ela não encontrou o endereço, muito menos a bolsa de Maggie. Isso teria de esperar até que ela fosse ao hospital. Talvez ela tenha algum vizinho que possa cuidar de algumas coisas pessoais dela.

Alguém que se responsabilizasse pela loja.E, então, quando o estômago dela a lembrou que estava com fome, olhou no

relógio e se deu conta de quanto tempo havia passado desde que o cavaleiro errante partira. Ótimo. Talvez ele tenha tido uma oferta melhor. Ou talvez tenha decidido ir almoçar. Ela não o culpava, afinal tinha sido sarcástica ao extremo.

Ela suspirou. Não deveria tê-lo deixado se aproximar tanto dela. Ele não era responsável pela admiração infantil que ela tivera por ele. Bem, era sim, mas tudo o que ele fizera tinha sido ajudá-la quando ela caíra no chão. Colocara-a de pé. Juntara suas coisas, e através daquele daquela boa ação manteve as

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crianças que implicavam com ela longe por meses. Elas só voltaram a perturbá-la quando ele desapareceu...

Ela olhou para a janela. Se ele não voltasse logo, era ela quem subiria naquela cadeira instável para tentar afixar um pedaço de papelão na janela.

Que alegria...Ela telefonou para o hospital fingindo ser um parente de Maggie. Não havia

nada de novo além do fato de sua admissão no hospital e estar confortável.Seu café já estava frio e ela preparou outra xícara. E percebendo que

estava com muita fome, arrancou um pedaço da baguete e preparou um san-duíche de queijo.

Ao dar a primeira mordida, ouviu alguém bater na porta de trás. Sem esquecer que ainda podia haver um viciado pelas ruas em busca de alívio, ela não abriu a porta antes de perguntar, com a boca cheia:

— Quem é?— Juliet?Ela abriu a porta.— Perdão — ela disse, gesticulando com o pão.— Obrigado — ele disse, pegando-o da mão dela, como se ela tivesse lhe

oferecido. — Estou morrendo de fome. Sabe que eu cheguei a pensar que o seu invasor tinha voltado e amarrado você para evitar que você tagarelasse.

— Não sou tagarela... — ela disse, espirrando farelo de pão por toda parte.Ele deu uma mordida no sanduíche.— Oh, que maravilha...Ela parou, mastigou e engoliu.— Por que demorou tanto? — ela perguntou. Ele terminou de comer o sanduíche dela e depois de lamber os dedos disse:— Como aquela janela é de acesso tão fácil, fiquei procurando algo mais

firme do que vidro para servir de proteção. Segure a porta enquanto trago lodo o material aqui para dentro. Todo material?

— Que material?Ele não respondeu, apenas abriu as portas traseiras de uma pequena van

com o nome Duke's Yard e entregou a ela uma caixa que, de acordo com o rótulo, continha um kit de segurança com alarme.

— Não. Espere... — Ele olhou para ela. — Não posso...— Não pode o quê?O que diabos havia de errado com ela? Estava tão indecisa quanto uma

menininha no primeiro dia de trabalho. Mas ela nunca fora assim. E sempre soube muito bem o queria — estava tudo em sua lista —, e estava sempre determinada a conseguir.

Não, ela tremia como uma menininha que acaba de ser posta de pé pelo menino mais sexy da escola. O menino por quem qualquer menina queria ser notada. Até mesmo menininhas magricelas de óculos...

— Olha, sinto muito sr... Cavaleiro. — Ah, como isso era bom. — Sr... Errante. Ou seria sr. Duque? — ela perguntou.

— Agora você está querendo me insultar — ele disse. — O meu nome — já que você perguntou — é McLeod. Gregor McLeod — ele disse.

— É mesmo? — ela disse, voltando para o presente. — Acho que não ouvi direito da primeira vez. — E então: — Sinto muito, sr. McLeod, mas não estou

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

na posição de fazer esse gasto pela sra. Crawford.— Greg ou Mac — ele disse. — Apenas as pessoas de quem não gosto

devem me chamar de senhor. E quem foi que falou em gasto? Pague um jantar e estamos quites.

Bem, ele tinha suas prioridades definidas. Um pedaço de vidro era equivalente ao almoço. Um alarme contra invasores era equivalente ao jantar. Ela nem quis saber o que ele esperava em troca da grade de ferro que ele retirava de dentro da van.

— Por outro lado, estou certa de que Maggie ficaria muito mais tranqüila se soubesse que sua loja estava mais segura — ela disse.

— O jantar sairia mais barato — ele disse ao entrar. Não, de acordo com a experiência dela.— Sinceramente, não estou interessada, sr. McLeod.— As mulheres geralmente me chamam de Greg ele disse. — Ou de Gregor.— Só chamo pelo primeiro nome as pessoas de quem gosto — ela

respondeu —, mas não me importo de parar de chamá-lo de senhor, se isso o ofende. E apenas para mostrar-lhe que não era nada pessoal, ela sorriu e disse: — Vou preparar aquela xícara de chá, McLeod.

— Você é um doce — ele disse, ao enfiar a mão no bolso da jaqueta —, mas creio que tenha sido uma boa idéia eu ter trazido alguns bolinhos de chocolate.

Ele entregou o pacote a ela, ainda com o calor do seu corpo.— Adorável — ela disse, ao segurar o pacote a certa distância, como se ele

mordesse. Ela sabia que o chocolate grudaria em seus dedos e ela não resisti-ria em lambê-los. Uma vez que fizesse isso...

Não. Ela apenas deixou o pacote em cima da mesa. Se ele quisesse, teria que abri-lo por conta própria.

— Gasto muito pouco num encontro — ele disse.— Vou lembrar disso — ela disse ao dar-se conta de que ele a fitava com

certa expectativa de que seu coração desse pulos em resposta àqueles olhos azuis. Da maneira como acontecia todos aqueles anos atrás. — Se um dia precisar de um encontro barato, vou lhe avisar.

Ela o deixou ali e foi até a cozinha encher a chaleira, indicando a ele que, se dependesse dela, a conversa já tinha acabado e ela agradeceria muito se ele seguisse com o trabalho.

Não que ela esperasse que ele desistiria assim tão fácil. Ela ficou surpresa — e para ser honesta, um pouco desapontada — quando ele não fez qualquer comentário fora de linha. Ela olhou para trás.

Ele havia tirado a jaqueta e, por ela ter olhado, ele tirou a camisa, revelando uma camiseta colada no corpo. Apenas um homem desejando mostrar seus dotes de Tarzan usaria algo daquele tipo, ainda mais no trabalho, ela pensou. Mas o silêncio dele era explicado pelo fato dele estar concentrado na remoção dos cacos de vidro da janela.

Ao se esticar, os músculos do ombro se enrijeceram e a camiseta subiu, ameaçando expor alguns centímetros de carne de sua cintura.

Ao dar-se conta de que estava prendendo a respiração ao antecipar aquela visão — ela podia até estar desligada da metade masculina da população, mas não estava morta —, ela se virou rapidamente e acendeu o fogo sob a chaleira antes de voltar à loja, onde se manteve ocupada arrumando os livros em cima da mesa. Vasculhou a correspondência para ver se havia algo urgente e deu a

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si mesma um tempinho para se recuperar do desejo irracional que a pegara de surpresa.

Ela nunca agia de maneira irracional, mas tinha que admitir que a proximidade de um homem de jeans apertados fazia enorme diferença se comparado a homens de ternos caros, camisas de alfaiataria e cortes caros de cabelos, preferências dos homens que, até recentemente, faziam parte do seu dia-a-dia.

Para dizer a verdade, apesar de estar um pouco grande, os cabelos de Gregor McLeod eram cortados por alguém que entendia do assunto.

— Acho que você deveria fazer alguma coisa em relação a essa chaleira — ele gritou, interrompendo os pensamentos dela.

Por outro lado, no mundo corporativo politicamente correto, ninguém esperaria que ela fizesse chá. Não que isso fizesse alguma diferença, afinal das contas.

Para chegar ao topo na Markham & Ridley ainda era preciso fazer xixi de pé.

— Você podia comprar uma daquelas chaleiras que desligam sozinhas — ele disse, enquanto ela retornava àquela pequena cozinha repleta de vapor.

Sem se preocupar em perceber a presença dele, ela desligou o fogo, pôs um sachê de chá numa caneca e despejou a água quente.

Era para ter desligado sozinha. Certamente, já estava estragada. Assim como o resto da loja. Como o resto da rua.

— Creio que Maggie tenha outras coisas em mente — ela disse, enquanto adicionava leite e açúcar antes de deixar a xícara na mesa atrás dele.

— Então, quem vai cuidar das coisas por aqui? — Ele encaixou o vidro na abertura. — Enquanto ela estiver no hospital.

— Hã? Oh, não faço idéia — ela disse, desviando o olhar dele. — Talvez o filho dela volte para casa e resolva alguma coisa.

— Jimmy? Eu duvido. Ele é que não aparecerá por aqui mesmo.— Você o conhece?— Estudamos na mesma escola. E você?— Se eu estudei na mesma escola que você e Jimmy Crawford? — ela

perguntou, querendo ganhar tempo.Ele riu.— Você só pode estar brincando. Você tem o tipo de voz peculiar às pessoas

que estudaram em escolas privilegiadas como a St. Mary's Ladies College. Ou algum lugar parecido.

E obviamente, Juliet pensou, se os rumores que rondavam a escola depois que ele sumiu fossem verdadeiros, ele saberia tudo sobre isso.

— Só quis saber se você conhecia Jimmy Crawford ele insistiu.— Oh, entendi. Bem, suponho que já o tenha visto na loja, mas nunca

conversei com ele. — Ele não pareceu acreditar no tom da resposta dela. — Não vivo em Melchester desde que saí para a universidade.

Ele deu de ombros.— Se é o que você diz. É que ainda estou tentando entender o porquê de

você se prestar a todo esse trabalho. Você poderia simplesmente ter trancado a porta e ido embora depois que ambulância partiu com Maggie.

— Sou uma cidadã considerada e responsável — ela respondeu, tentando

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não lembrar do pânico inicial de sua reação. A fração de segundo em que ela quase se mandou dali.

— Oh, certo. Bem, então é isso. E onde você tem vivido? Londres? — Ela não o encorajou nem um pouco. Ele não precisava disso, e entendia o silêncio dela como consentimento. — E agora voltou para casa. Por quê? Separação?

Ele não desistia nunca. Mais cinco minutos dessa conversa e ele saberia de tudo nos mínimos detalhes, inclusive a lamentável história da volta para casa para se afogar nas mágoas.

Uma batida forte e contínua na porta da frente a salvou.— Para dizer a verdade, acho que vou atender à porta. Já que estou presa

aqui por um tempo, vou aproveitar para fazer algo útil. Como vender alguns livros. Se me dá licença...

Ela não esperou nem mais um segundo. Talvez ela não tivesse a menor idéia sobre como vender livros, mas sabia que era bem mais fácil do que lidar com Gregor McLeod.

Greg a fitou enquanto ela saía. Aquela mulher tinha muita classe, e não era apenas na voz. Mas havia algo estranho, ela parecia estar fugindo de alguma coisa. Sem maquiagem, cabelos desarrumados, sua primeira impressão foi de desapontamento. Mas quando ela se abaixou para pegar os cacos de vidro e logo em seguida olhou para ele, era como se já tivesse vivido aquilo antes.

Algo naqueles olhos acinzentados e naqueles cabelos era muito familiar. E quase chegou ao ponto de perguntar Não conheço você de algum lugar?

Felizmente, ele conseguiu se frear. Ela não poderia ter deixado mais claro que não estava interessada, e não era preciso muita imaginação para descobrir a maneira como teria respondido a uma cantada velha como aquela.

Capítulo 3

— O que você está fazendo?Juliet deixou de lado a mesa pesada e olhou à sua volta. McLeod estava

apoiado contra a prateleira mais próxima olhando para ela. Ele havia trocado de camisa e parecia ter estado ali um bom tempo, o que a irritou profundamente, por alguma razão.

— Estou empurrando esta mesa — ela explicou, como se falasse com uma criancinha.

O olhar dele sugeriu que fosse falar mais uma vez sobre sarcasmo. Obviamente, ele mudou de idéia, pois disse:

— Vou perguntar de novo. O que você está fazendo lutando com essa mesa...

— Ela está no caminho — ela retrucou. Por três vezes ela teve que se espremer para pegar um livro para um freguês, e nas três vezes bateu com a canela. Isso era o suficiente. Ela não levou dez minutos para se dar conta de que toda a loja precisava ser reorganizada...

— Não faz sentido ter livros à mostra se ninguém consegue alcançá-los — ela disse.

— ... se tudo o que precisava ter feito era ter me chamado que eu viria ajudar — ele terminou, ao ir até o outro lado da mesa para movê-la com suas mãos fortes. — Então, Juliet, onde quer que eu a ponha?

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Ele estava de frente para ela, braços abertos, ombros fortes. Meu Deus. Tão... ali na cara dela. Tão... físico. Pior que isso, ele tinha um olhar que parecia tentá-la a entender aquela pergunta da maneira que quisesse. Ela limpou a garganta e saiu do , caminho.

— Em lugar nenhum.— Mesmo?Ele inflou aquela palavra de significado. A maior parte era descrença. Ela

achou que a resposta que ele esperava fosse em qualquer lugar. Ela estava errada ao pensar que podia lidar com o tipo dele. Gregor McLeod não era um tipo. Ele era único.

Há muitos anos ela pensou que ele fosse único e bom... — Mesmo — ela disse, ignorando o fato que ela estava muito mais quente

do que deveria naquele clima frio de março, além do aquecedor fraquíssimo ali na loja, mas nada nesse mundo faria com que ela tirasse o suéter.

Agora ela entendia que ele era único e provocante...— Nesse caso, é melhor tirar os livros daí primeiro. Se as pernas se

soltarem, talvez eu consiga colocá-la na van.Único e irritante...— Na van?— Você quer tirá-la do caminho, não quer? Tem um lugar lá na loja onde

posso deixá-la.— De jeito nenhum!— Não me incomodo. — E ele fez algo com a boca, um canto levantou em

algo diferente de um sorriso, mas era, com certeza... alguma coisa. — Eu adiciono esse serviço à conta.

Uma gota de suor escorreu pela nuca de Juliet. Único e sexy.— Não! — Oh, meu Deus. — Digo... — Ela não fazia idéia do que estava

dizendo. — Esquece. — E então: — Você já acabou?— Prontinho para a inspeção, madame.— Ótimo. Isso quer dizer que já posso ir.Ela virou de costas para a mesa e foi até a porta da frente, girou a tranca,

fechou um pino próximo no chão e deu um pulo ao se virar e encontrar Greg logo atrás dela.

— Você esqueceu um — ele disse, esticando o braço acima dela para fechar o pino no topo da porta, dando a ela uma visão privilegiada do seu peitoral e um cheiro masculino — couro, loção após barba, óleo da junta da janela...

— Tem certeza em relação à mesa? — ele perguntou, ao se afastar e deixá-la escapar.

— O quê? Oh, sim. — Ela tinha quase 30 anos, pelo amor de Deus. Ela não babava mais. Nem mesmo Paul a deixava desse jeito. Nem ao menos chegou perto disso, mas era como se, uma vez abaixada a guarda, ela agora se encontrava vulnerável... — Eu me distraí por um instante. — Ela pegou uma mecha de cabelo que se soltara da presilha e ajeitou-a atrás da orelha. — Acontece nesse trabalho.

— Você está no ramo de remoção de móveis? Ela sorriu.— Não, McLeod. Eu estou, ou pelo menos estava, até recentemente, no

ramo de gerência empresarial. — Embora a razão pela qual uma pessoa tão

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

boa em gerenciamento fizera um serviço tão medíocre em sua própria vida era difícil de enxergar. Paul, ao contrário de Gregor McLeod, nem ao menos estivera em sua lista...

— É mesmo? E isso envolve remover móveis?— Envolve lidar com problemas — ela disse.— E a mesa é um problema. Diga-me, princesa, se eu lhe dissesse que tenho

um problema, você não teria o impulso incontrolável de resolvê-lo para mim?Ela não podia acreditar que ele acabara de dizer aquilo.Ela não podia acreditar mesmo que estava ruborizada...— Sinto lhe informar, mas você vai ter que entrar na fila. Nesse momento,

eu é que estou com problemas demais, e até que encontre um emprego e um lugar para viver... — ela parou. Isso era bem mais do que ele precisava saber. — O que eu não preciso é de ficar encarregada de uma livraria à beira da falência. Assim como tudo mais nessa área. O que há de errado com essas pessoas? Com um pouquinho de imaginação — e uma camada de tinta fresca — essa área poderia se tornar numa atração de verdade.

— Sua imaginação deve estar um pouco animada demais. Essa área precisa vir abaixo para que possamos começar do zero.

— Você só pode estar brincando. Prior's Lane é cheia de personalidade. Repleta de história. A catedral e o castelo atraem muitos visitantes e aqui já foi o lugar onde eles vinham gastar dinheiro.

— Não depois que o shopping foi construído.— O novo shopping não passa de uma cópia de vários outros em todo o país.

Aqui a coisa é diferente.— Sem dúvida nenhuma.— Tudo o que precisa é de alguns lugares decentes para se comer, algumas

reformas e a publicidade correta para atrair lojistas de volta para esta área. Como a Portobello Road ou The Lanes em Brighton.

— Esse ramo de antigüidades não está um tanto quanto saturado?— Esqueça esse ramo. Antigamente, havia lindas lojinhas por aqui. Ainda

há algumas, embora tenha que procurar por elas. Uma boa confeitaria, uma dellicatessen italiana maravilhosa — você mesmo já experimentou os produtos de lá —, e tem uma loja de materiais de construção que parece algo tirado dos anos 1950. Uma peça rara. Ainda é possível se comprar parafusos avulsos por lá. Pregos pelo peso. — Ela pôde ver que ele não entendia. — O que a Prior's Lane precisa são os tipos de lojas que não se vê mais em nenhum lugar. Por aqui tinha um aviário, um chapeleiro...

— Um chapeleiro?— Bem, está certo, mas quando eu era criança, vivia olhando para aquela

vitrine e sonhando... — Ao ver a expressão no rosto dele, ela percebeu que estava meio perdida em seus pensamentos nostálgicos. Ela deu de ombros e disse: — Isso é comprar com diversão.

— Certamente, isso é uma coisa de menina — ele disse. E, então, com um sorriso que deveria ser um crime: — Embora eu goste do som de parafusos soltos.

Ela considerou responder com: insinuações não são nada atraentes num homem, mas decidiu que ignorá-lo seria muito mais sábio, e disse simples-mente:

— Não que isso seja da minha conta, é claro.

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

— Posso ver que você não considerou isso nem por um segundo.— Não precisei de um segundo. Um olhar foi tudo o que precisei. — Seria

um projeto interessante, algo que valeria muito a pena. Se ela não tivesse outros problemas mais imediatos para resolver. — Não tenho tempo para mais nada. Nem para ficar arrastando móveis por aí. E, além do mais, imagino que Maggie goste daqui exatamente do jeito que está.

— Talvez. Ou talvez ela só não tenha ninguém para ajudá-la com essas coisas. Talvez você esteja fazendo um favor a ela.

— É possível, mas, de qualquer maneira, isso não é da minha conta. Quanto lhe devo?

Ele deu de ombros.— Como você apontou, não é da sua conta.— Eu lhe chamei. Eu pago a conta.— E por que eu não mando direto para o dono?— Mas eu não sei quem é.— Eu sei.— Certo. — E então ela franziu a testa. — Seria ele o responsável por uma

janela quebrada?— Se ele tentar se safar, telefono para você e então me leva para jantar

como você prometeu.Ela ignorou o pequeno tremor de ansiedade que cruzou seu corpo. Ela já

cometera erros demais esse uno e não era nem Páscoa ainda.— Não lhe prometi nada, McLeod. E a grade e o alarme de segurança?Ele abriu um sorriso maroto. — Ah, bem, isso é outra história. Mas estou aberto a negociações.Recusando-se a se deixar levar por mais uma insinuação, ela disse:— O sr. Duke não vai se incomodar com esse biscate? Usando a van dele, e

seus materiais para fazer serviços por fora?— Duke nunca ficará sabendo.— Sei.— Sabe mesmo, Juliet?Ela sabia era que ele a estava envolvendo num esquema para subtrair seu

empregador.— Talvez seja melhor eu telefonar para ele e cuidar da conta diretamente

com o chefe.— Você está tentando me encrencar? Depois que desisti do meu almoço por

sua causa?— Não. Não, claro que não — ela disse. — Imagino que você prefira o

pagamento em dinheiro pelo alarme — ela disse, tentando se recompor e se lembrar de onde havia deixado a bolsa.

— Já disse, não quero o seu dinheiro.Ela nunca antes tivera tanta dificuldade em se livrar do olhar de um

homem.— Isso é muita generosidade de sua parte — ela disse. — Tenho certeza de

que Maggie ficará muito feliz quando eu lhe contar.Ele sorriu mais uma vez. Não foi o sorriso completo, foi um sorriso mais

pensativo, deixando-a com um sentimento desconfortável, dando-lhe a entender que ele sabia de algo que ela não sabia. Mas tudo o que disse foi:

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

— É melhor eu lhe ensinar como ligar o alarme antes de ir.Ir? Então era só isso?Ele se virou e foi na frente, na direção do escritório.— Quer checar a janela?É, aparentemente era só isso mesmo. Ela pegou a xícara de café que

abandonara e tomou um gole, apenas para umedecer os lábios.— Está ótimo. Muito obrigada. Você fez um ótimo trabalho.— Quer dizer, então, que me recomendaria para os seus amigos?Amigos? Ela não tinha nenhum amigo. Ela trabalhava demais para ter

amigos. Ela tinha colegas, conhecidos do mundo dos negócios e um ex-namorado traidor. Nenhum dos quais queria falar com ela nesse momento. Ou talvez nunca mais.

— Claro.— Você hesitou por uma fração de segundo nessa, Juliet, mas valeu pelo

esforço. — Ele se virou para o interruptor que pregara na parede. — Isso é muito simples. Vire a chave quando sair. Para baixo, liga; para cima, desliga. Demora dez segundos antes de começar a berrar a todo vapor acordando até os mortos.

— É só isso? Não existe um código que eu preciso saber?— Não. Isso não é nada muito sofisticado, é apenas um fio de contato

conectado à porta de trás e à janela — ele disse, enquanto lhe mostrava como fazia —, mas é muito alto, o que normalmente é suficiente para deter o ladrão. Tem certeza de que não quer que eu lhe ajude a mover a mesa antes que eu vá embora?

— Tenho.— Tudo bem. Então já vou. — Ele tirou um cartão do bolso da camisa e

entregou a ela. — Esse é o meu celular, caso você tenha mais algum serviço por aqui.

Ele já estava indo embora? Dessa maneira? Ela esperava que, pelo menos, ele repetisse a oferta do jantar. Ele falara sobre isso diversas vezes. Mas, não, ele entrou na van, e depois de um aceno casual, foi embora.

Certo. Bem, tudo bem. Ela queria mesmo que ele fosse.Ela fechou a porta.Agora ela também podia ir embora.Primeiro, ela escreveu um bilhete avisando aos fregueses que a livraria

estaria fechada temporariamente, e colou-o na porta. Em seguida, depois de pagar pelos livros que comprou, contar o dinheiro na gaveta e escrever uma nota dizendo exatamente quanto era, ela pôs os livros numa sacola e enfiou-os na bolsa de compras da sua mãe. Em seguida, pegou as flores, ligou o alarme e saiu pela parte de trás da loja, assegurando-se de que a porta estava bem fechada.

Juliet pôs as flores na mesinha-de-cabeceira e se inclinou sobre a cama.— Maggie?— Olá, querida — ela disse, parecendo bem pequena naquela cama de

hospital. Muito frágil. — São lindas.— Foi mamãe quem as enviou. Ela pediu para lhe dizer que jogará suas

cartelas no bingo. E dividirá os prêmios.Maggie riu.— É assim que fazemos. Ela é muito querida. E você também. Não sei o que

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

teria acontecido comigo se você não tivesse me encontrado lá.— Só fiz o que qualquer um teria feito — ela disse. — Como está se

sentindo?— Uma estúpida. Continuo a dizer-lhes que não há nada de errado comigo

exceto por alguns arranhões. Só fiquei um pouco tonta, só isso.— Bem, não vou lhe incomodar por muito tempo mais. Tenho certeza que

descanso é a melhor coisa para você agora. Mas pensei que poderia estar preocupada com a loja.

— Não, querida, você disse que ia tomar conta dela e eu acreditei.— Chamei alguém para consertar a janela e tranquei tudo direitinho. — Não

pareceu necessário incomodá-la com os detalhes do alarme rudimentar que McLeod instalara por lá.

— Você foi muito boa.— Não foi nenhum incômodo. O rapaz que consertou tudo disse que

enviaria a conta para o dono.— O dono? — Maggie tentou rir, mas era aparentemente muito esforço para

ela. — Quero ver. Ele não conserta nem as coisas que deveria.Juliet ofereceu-lhe água, ajeitou-a nos travesseiros e disse:— Não se preocupe com isso agora. — Ela teria de ir à Dukes's Yard para

ver se encontrava McLeod e acertava tudo. — O que preciso mesmo saber é o que você deseja que eu faça com o dinheiro da gaveta? Está bem guardado, mas deveria estar no banco. E tem a chave também. O que você gostaria que eu fizesse com ela?

— Dinheiro? Só havia uns trocados.— Bem, eu fiquei por lá enquanto o rapaz consertava a janela e os fregueses

continuaram a chegar. E, claro, comprei dois livros. Tem um dinheirinho bom lá...

Ao dar-se conta de que os olhos de Maggie haviam se fechado e que ela estava falando sozinha, Juliet pegou as flores e foi em busca de algo para colocá-las dentro.

Na volta, ela foi parada por uma enfermeira.— Você telefonou hoje cedo? Parente da sra. Crawford?Oh, meu Deus. Ela já havia esquecido daquela mentirinha.— Sim — ela disse. — E não. Meu nome é Juliet Howard, e liguei sim, mas

não sou exatamente parente dela. Eu sabia que vocês não me dariam notícias dela a não ser que eu fosse.

— Então, quem é você?— Ninguém. Bem, obviamente, eu sou alguém... — Ela parou. — Minha mãe

a conhece. Fui eu quem a encontrou e chamou a ambulância. Desculpe.A enfermeira franziu a testa.— Então, você é uma vizinha?— Também não. Apenas uma freguesa na livraria dela. Algum problema?— Nada que um parente — ou um vizinho — não pudesse ajudar. O fato é

que Maggie precisa de alguns objetos pessoais. Camisola, escova de dentes...— Ninguém mais veio visitá-la? Ela não lhe pediu para telefonar para

ninguém?— Ela nos disse que o filho está fora do país e se recusou a nos dar um

telefone de contato. Disse que não havia nada que ele pudesse fazer e não fazia

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

sentido preocupá-lo com isso.McLeod sugerira, de certo modo, que ele não ia querer ser incomodado. Ela

dissera a verdade quando disse que não conhecia Jimmy Crawford. Era bem possível que ele fosse mais velho do que McLeod, claro.

— Creio que você não saiba como entrar em condito com ele, sabe?— Não, não sei. E a sra. Crawford está certa sobre uma coisa: ele não vai

poder ajudar com a escova de dentes. — E, então, como parecia não haver mais nada que ela pudesse dizer: Para ser sincera, estou com as chaves. Se isso ajudar, posso perguntar se ela quer que eu vá buscar seus objetos de uso pessoal. — E torcer para encontrar um vizinho que possa assumir essa situação. — Por quanto tempo ela ficará no hospital?

— É difícil dizer. A sra. Crawford disse que teve uma tonteira súbita. Estamos fazendo alguns testes, mas é bem provável que ela tenha tido um infarto leve.

— Nesse caso, alguém vai ter que entrar em contato com o filho dela e dizer o que aconteceu, para que ele possa fazer o que for necessário.

Juliet notou que por mais que estivesse preocupada com a situação de Maggie a enfermeira viu algo atrás dela que pareceu tirar toda a sua atenção.

Esse algo era nada mais nada menos que McLeod.Sem a calça jeans. Ele estava vestido com calça social, uma camisa suave e

uma jaqueta fina de camurça. E ele carregava um buquê de flores que fazia as flores que ela carregava parecerem completamente inadequadas, embora ela estivesse grata demais por ter se dado ao trabalho de lavar os cabelos e colocar uma maquiagem no rosto para se preocupar com isso.

Não que ela esperasse encontrar McLeod mais uma vez, mas havia sempre a chance de esbarrar em alguém dos tempos da escola. Alguém que pudesse se lembrar dela. Pelo menos foi isso que disse a si mesma.

Sua mãe não dissera uma só palavra sequer, mas ficou muito feliz em lhe passar as chaves do velho carro, evitando assim que Juliet pegasse três ônibus para chegar até o hospital.

— Também gostei de lhe ver novamente, princesa.— Por favor, não me chame mais disso. Ele deu de ombros.— Como está Maggie?— Tão bem quanto o esperado. — E, então, ao ver a expressão de esperança

no rosto da enfermeira: — Desculpe, mas esse não é o filho de Maggie. É ape-nas um homem de biscates. — Ela olhou para ele. — Por que está aqui? Oh, não, não venha me dizer. Maggie disse que o dono do prédio se recusaria a pagar pelo vidro.

Os olhos dele escureceram por um momento e ela sentiu o calor de pura raiva.

— Tenho certeza que quando você parar para pensar vai desejar não ter dito isso.

Ela não precisava de tempo para pensar, já estava arrependida. Mas é que havia algo sobre toda aquela testosterona indomada que a irritava além da conta. Mas pelo menos ela sentia algo. Até mesmo irritação era melhor do que a depressão pela qual vinha passando nas últimas semanas.

— Ela está aqui, McLeod — ela disse, ao se virar e caminhar na direção da enfermaria onde Maggie estava, com vários outros pacientes. Ela não olhou para trás para ver se ele a seguia. Não era necessário. Os pescoços virados no

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caminho lhe asseguravam que ele estava bem atrás.— Ela está dormindo — disse McLeod.— Por favor, não se sinta obrigado a ficar se você tiver algo mais

importante agendado — ela disse, ao colocar o vaso que segurava em cima do armário. — Ficarei feliz em dizer que você veio, rapidamente, quando ela acordar.

— Não estou com pressa. — Ele sorriu para a jovem enfermeira e lhe entregou as flores que trouxera. — Você pode encontrar um vaso para colocá-las, meu doce? — A garota ficou ruborizada e as pegou, sem dizer nada.

— Por que você não pediu uma xícara de chá, com leite e açúcar? — Juliet perguntou. — Enquanto estava com o sorriso ligado.

— Você se lembrou. — E ele a fitou por um instante com um olhar tão profundo que ela sentiu um calor subir ao rosto. E, então, satisfeito, ele se virou para Maggie, cujos olhos agora estavam abertos.

— Olá, Maggie — ele disse, dando-lhe um beijo na testa. — Ouvi dizer que você foi à guerra.

— Gregor... — ela sorriu. — Que bom ver você. Você veio visitar alguém?— Você. Fiquei sabendo sobre o ocorrido e vim ver se precisava de algo.

Quer que eu tente entrar em contato com Jimmy? Quer que lhe diga o que aconteceu?

— Ah, não. Não precisa incomodá-lo. Ele está ocupado demais para voltar correndo para casa a cada cinco minutos — ela disse.

— Alguém tem que cuidar da loja — ele disse. — Juliet tem feito um ótimo trabalho...

— Maggie — Juliet interrompeu. A última coisa que Maggie precisava agora era ser incomodada com assuntos da loja. — Você vai precisar de algumas coisas. Ficarei feliz em ir buscá-las para você.

E em seguida disse: — Você tem um vizinho ou amigo para quem deseja telefonar?— Oh, não, isso seria difícil. Não há muitos vizinhos por lá. As pessoas

costumavam morar em cima das lojas, mas ninguém mais faz isso. Hoje em dia indo é escritório.

— Escritórios? — Juliet olhou para McLeod, aguardando uma explicação.— Maggie mora no andar de cima da livraria — ele disse. — Achei que você

soubesse.Ela o fitou. Então, foi por isso que ele consertou o alarme? Claro que sim.

Droga, agora sim ela se sentia mal.— Não — ela disse. — Gostaria que você tivesse mencionado. Eu poderia ter

trazido algumas coisas dela comigo. — E mais uma vez ela desejou ter mantido a boca fechada. Discutir com ele não ajudaria em nada. Nada disso era culpa dele. — Deixa para lá, posso ir pegá-las agora. Tem alguma coisa em particular que gostaria que eu trouxesse, Maggie?

— Que gentileza, querida, mas não precisa se preocupar comigo. Continuo a dizer a eles aqui no hospital que não vou ficar. Se eles apenas trouxessem minhas roupas...

— Você ainda não pode ir para casa, Maggie — Juliet disse com cuidado. — Terá que ficar por mais um tempo, até que eles terminem os testes.

— Oh, não, isso vai ser impossível. Como Gregor disse, não há ninguém

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

para cuidar da livraria.Juliet olhou para ele. Que homem estúpido e sem consideração.

Preocupando a pobre mulher.Ele sorriu de um modo que sugeria que ela se arrependeria profundamente

sobre o comentário sobre o biscate e disse:— Como estava dizendo, Juliet fez um ótimo trabalho hoje. Na verdade, ela

estava pronta até para mover uns móveis de lugar...— Já era tempo. Eu estou para chamar alguém para tirar aquela mesa de lá.

Estou sempre batendo com a perna nela.— Então ela é com sua garota. Trabalha com gerenciamento...— Não tem nada a ver com gerenciamento de loja de varejo...— E, olha só que sorte, ela também está atrás de emprego. Por que não

pede que ela assuma a loja até que você esteja bem para trabalhar? — ele pros-seguiu, como se ela não tivesse falado nada.

— Oh, eu não poderia incomodá-la — disse Maggie, economizando a Juliet ter de explicar porque não podia.

— Não seria incômodo, seria, Juliet? — McLeod persistiu. — Vocês têm muitas coisas em comum. Ela está bastante interessada em restaurar a área da Prior's Lane para deixá-la como era no passado.

— Oh, nem me faça começar com esse assunto -disse Maggie.— Não, de verdade, adoraria ajudar, mas...— E tem o apartamento do último andar. Ainda está vazio, não está? Juliet

está procurando por um lugar para viver, também.— É mesmo? Bem, imagino que viver com sua mãe é um tanto quanto

restritivo para vocês duas. O apartamento precisa de uma limpezinha. Todas aquelas escadas são um esforço muito grande para mim, hoje em dia.

— McLeod! — Juliet interveio. — Maggie, não liga para ele. A última coisa que você vai querer é alguém que você praticamente não conhece cuidando da sua loja e vivendo no andar de cima.

— Ah, eu conheço você desde que nasceu, Juliet. E sua mãe é o tipo de pessoa em quem confio cegamente. Mas não é só a loja. Preciso ir para casa por causa de Archie.

— Archie?— Archie? — McLeod ecoou. Quem ou o quê era Archie?— Ele não pode ficar lá sozinho, pobrezinho — disse Maggie, sem dar conta

dos olhares aterrorizados na direção dela, enquanto ela se esforçava para ficar acordada, com todos os medicamentos que tomara. — Ele sofre tanto quanto fica só. E, é claro, ele precisa de alguém que o alimente. — E então: — Você encontrou a comida dele, não encontrou, querida?

Bem, isso tirou o sorriso do rosto de McLeod. Não que ela tivesse alguma razão para estar feliz.

— Claro que sim — disse McLeod, antes que ela pudesse confessar. E acrescentou: — Você ficaria bem sozinha por um tempinho enquanto eu e Juliet vamos até a cidade buscar algumas coisas para você?

— Eu não preciso de carona. — Ainda mais na garupa daquela moto. — Tenho meu próprio transporte. Tem alguma coisa em especial que você pre-cisa, Maggie? Ou deixará por minha conta?

— Não se incomode com isso, querida. Já lhe disse, estou indo para casa. — Ela fez um esforço para tentar se sentar, para mostrar-lhes que estava falando

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sério, e logo em seguida desmoronou sem forças sobre os travesseiros. — Bem, talvez você esteja certa. Devo passar a noite aqui. Mas só se você prometer que vai ficar com Archie.

— Claro que ela vai ficar — McLeod prometeu por ela. — Não vai ser problema, não é mesmo, Juliet?

— Sem problemas — ela disse, depois de uma pequena hesitação. — Falaremos sobre isso quando eu voltar, mas agora preciso ir e pegar as suas coisas. McLeod ficará lhe fazendo companhia até que eu volte. — Ela olhou para ele. — Isto se você não tiver um encontro com alguém.

Ele sorriu, nem um pouco incomodado pela visível hostilidade dela.— Bem, agora, isso só depende de você, Juliet.

Capítulo 4

Greg deixou que ela escapasse. Pelo menos para se deliciar com a visão do traseiro dela envolto em calças levemente soltas sobre o corpo, enquanto ela caminhava o mais rápido que podia — quase ao ponto de estar correndo, diga-se de passagem, e agora essa do Archie! Ele não comera nada, nem ao menos sabia que ele existia.

O que ela estivesse fazendo em Londres, ele decidiu, ela era muito boa em sua atividade, se é que ele podia julgar esse mérito pelas roupas que ela vestia. Na verdade, isso trazia à tona a pergunta: o que ela estava fazendo de volta em Melchester? Uma cidade agradável, certamente, e até mesmo estava crescendo rapidamente, mas Londres era o lugar para alguém com as qualificações dela.

— Que menina adorável — disse Maggie quando ele retornou-lhe o olhar.— Exatamente o que eu pensava.— Duvido disso, Gregor. — Sua risada se transformou numa tosse, fazendo

com que seus olhos se fechassem. — Por que você não vai com ela? A cidade não é lugar para uma jovem sozinha à noite.

— Exatamente o que eu pensava — ele repetiu. Mas ela já estava dormindo. Ele parou na sala das enfermeiras para explicar que voltaria mais tarde e então andou até o estacionamento.

A primeira coisa que viu foi um carro velho com o capo aberto e a figura inegável de Juliet debruçada sobre ele. Ele teria reconhecido aquele bumbum em qualquer lugar.

— Sabe que eu imaginei que você possuísse um carro muito mais sensível e moderno — ele disse.

— É mesmo? — ela se endireitou. — Bem, nem sempre você está certo.— Verdade. Mas posso sempre ser útil.— Prove isso fazendo com que esse carro volte a funcionar.— A única coisa útil que estou preparado para lazer com esse troço patético

que você chama de carro é chamar o ferro-velho para rebocá-lo e acabar logo com o sofrimento dele.

— Você não é tão bom assim com motores, não é mesmo?— Essa tática não vai funcionar comigo, princesa. Não tenho que lhe provar

nada, especialmente quando o meu fiel garanhão está ali aguardando para sair galopando com uma donzela em apuros.

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

— Você está me oferecendo sua moto emprestada?— De jeito nenhum. O que estou oferecendo é carona até a livraria. No meu

carro.— Sinto muito McLeod, mas minha mãe me disse para jamais pegar carona

com estranhos.— Não sou estranho.— Isso é uma questão de...— Não sou nem um estranho.Ela começou, como se ele tivesse tocado num nervo, e o sentimento de que

ele a conhecia se intensificara. Será que ela já trabalhara em algum de seus escritórios? Mas, se fosse o caso, ela também o teria reconhecido. E se tivesse? Por que ela não falava nada?

— McLeod...Na esperança de evitar mais discussões, ele deixou suas preocupações de

lado — e poderia averiguar isso mais tarde — e disse:— Antes de você dizer qualquer coisa, devo lhe avisar que terá de esperar

uns 20 minutos por um táxi, no mínimo, e embora pense que vai valer a pena, pense no Archie morrendo de fome.

— Estou tentando não pensar sobre isso — ela declarou, fechando o capo e em seguida pegando sua bolsa e trancando o carro.

— Eu lhe prometo que nada mais irá me persuadir a pegar uma carona como você.

— Pode acreditar — ele disse -, nada neste mundo irá me persuadir a lhe oferecer uma carona.

E finalmente ela sorriu para ele.— Acho que mereci isso.— Sem dúvida, mas discutiremos sua atitude hostil inexplicada contra mim

num outro momento ele disse, sem retornar o sorriso ou sugerir que uma conversa durante o jantar seria o apropriado. Ela estaria esperando por isso e teria sua recusa brusca esperando por ele. Era hora de implementar esse jogo um pouquinho e parar de ser tão previsível. — Vamos, meu carro está estacionado bem ali.

Ela parou quando ele se aproximou de seu Jaguar E-type azul-marinho, modelo de colecionador, e abriu a porta para ela.

— Isto é seu? — ela perguntou. Certamente, não esperava por algo desse tipo.

— Homens como eu ganham boas gorjetas — ele disse.— Não...Primeiro o sorriso e agora ela estava meio confusa. Tão confusa quanto no

momento em que ele se virou depois de trancar a porta da loja e se pegou bem ali, tão próxima a ele. Havia algo de muito atraente sobre uma mulher tão segura de si perdendo o controle. O toque extra de cor em seu rosto era enfatizado pela claridade de sua pele...

— Só quis dizer... — Seu gesto indicava que ela não sabia ao certo o que estava dizendo. Mas ele podia tentar adivinhar.

— Quer dizer, se eu o peguei emprestado? E, mais importante, se eu pedi a permissão do dono antes de pegá-lo?

— Sim... — E então: — Não! Perdão. Nem sei mais o que quis dizer.É um pedido de desculpas. O pacote completo. Ele estava finalmente

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chegando a algum lugar.— É um belo carro, McLeod — ela disse ao entrar no carro com a facilidade

de uma mulher que sabia como entrar num carro esporte. Nádegas primeiro, em seguida as pernas. — É um carro clássico.

— É mesmo — ele concordou. — E pode ficar tranqüila que tenho a permissão incondicional do dono para usá-lo.

Ela olhou para ele.— É seu, não é mesmo?— Cada pedacinho dele — ele disse ao fechar a porta para ela e se dirigir

paro o lado do motorista e dar a partida.Ele nunca se cansava do ronco gutural e suave do motor, da maneira como

as pessoas olhavam para ele quando passava pelas ruas. Ele poderia dirigir qualquer carro que quisesse, os carros esporte mais velozes, qualquer um desses símbolos de riqueza que meninos pobres que se tornam bem de vida dirigiam para avisar ao mundo que estavam na área. Ele tinha uma meia dúzia deles para escolher na garagem subterrânea do seu apartamento na beira no rio Tâmisa em Londres e numa cabana que comprara num vilarejo à pouca distância de Melchester. Mas essa belezura de 40 anos era o seu favorito.

Ele nunca falhara em fazer as mulheres — até as mais seguras de si como Juliet Howard — suspirarem.

— Você o reformou por conta própria, McLeod? — Juliet perguntou, muito educada, com a respiração sob controle, enquanto ele pegava a estrada, na direção da velha parte da cidade. — O Jaguar?

Ele podia ser educado também, mas não ia deixar que ela se livrasse dessa tão fácil.

— Certamente, você não acredita que um homem simples e trabalhador como eu poderia restaurar um carro como esse e deixá-lo nessas condições?

— Não creio que tenha jamais sugerido que você fosse um homem simples. E tenho consciência de que em busca de suas paixões as pessoas são capazes de coisas extraordinárias.

— Restaurar carros não é minha paixão. — Ele parou no sinal e olhou para ela. — Tenho coisas mais interessantes para fazer deitado, do que coberto de graxa.

Se ele estivesse esperando por uma resposta irritada a tal insinuação, ficaria desapontado. Ela não disse nada e com o perfil no escuro não foi possível ver sua expressão. Em vez disso, ela levantou a mão e ajeitou o cabelo com seus dedos finos num gesto mais nervoso do que espontâneo.

Dessa forma, ele teve a incômoda sensação de que a autoconfiança dela estava apenas na superfície. Havia fragilidade por baixo de toda aquela pose e a autoconfiança não era nada além de uma máscara superficial — bem polida, mas muito fina. Isso provocava nele um sentimento de proteção e ele se pegou desejando oferecer a ela afirmação em vez de provocação. Ele desejou tocar na mão dela e dizer: Não se preocupe. Tudo vai ficar bem. Eu farei com que tudo fique bem.

Loucura.Neil estava certo. Mulheres como Juliet Howard sempre lhe causaram

problemas. Ele estava muito mais seguro com mulheres que entendia. Mulheres objetivas, que sabiam exatamente o que ele estava oferecendo, que

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

sabiam que ele lhes proporcionaria diversão, sexo bom para ambos e absolutamente nenhum compromisso.

Mas desde quando ele preferia as coisas mais seguras?Ele arrancou devagar com o carro — essa mulher não era do tipo que se

impressionava com pegas de adolescentes — e disse:— Veja bem, eu não estava tentando manipular você no hospital.Ela olhou para ele.— Perdão?Ele não acreditou que ela não tivesse entendido. Ela foi rápida demais para

não saber sobre o que ele estava falando. Mas ele também estava sendo um tanto quanto econômico ao dizer a verdade. Não sobre o apartamento. Embora fosse perfeito. Para ele. Se ela se mudasse para lá, ele teria todo o tempo do mundo para continuar com o joguinho que ambos começaram. E ele teria a cláusula perfeita para ir embora no minuto exato em que visse sua independência ameaçada... Mas ele continuou com o jogo.

— Sobre o apartamento — ele disse. — É bem possível que ele precise de alguma decoração. Acho que me lembro de muitos pretos e vermelhos e não acho que Maggie tenha mudado nada por lá desde que Jimmy partiu. Mas tem espaço suficiente por lá. Você disse que procurava um emprego e um lugar para morar. Isso significaria que todos os seus problemas seriam resolvidos numa só tacada.

— O único problema que tenho é você — ela retrucou.— E Archie — ele lembrou.Ela levantou as mãos num gesto incontrolado.— Tudo bem. E Archie. Mas isso é apenas temporário. Eu não posso me

responsabilizar por Maggie. Ou pela loja. Quem vai saber quanto tempo ela levará para se recuperar? A enfermeira disse que foi um infarto leve. É bem possível que ela tenha outro.

— E se alguém não tomar a frente de imediato, alguém competente, a loja fechará, você sabe disso, não sabe?

— Você é a segunda pessoa a me dizer isso hoje.— Bem, você sabe então que não estou apenas dizendo isso por dizer. E,

obviamente, isso não vai ser algo demorado. Ela está um pouco confusa no momento, mas logo que se der conta do que está acontecendo Maggie tomará providências para conseguir alguém permanente.

— Ela também precisará de ajuda. Não será capaz de viver no apartamento sozinha. Vai que ela tenha um outro infarto. Demoraria muito até que alguém sentisse falta dela.

— Nesse caso, Jimmy a levaria para um asilo mais rápido do que você pensa.

— Você parece conhecê-lo muito bem.— Bem o suficiente. Ele puxou o pai. A única pessoa em quem ele está

interessado é ele mesmo. — E quando ela olhou para ele: — Maggie foi muito boa para mim quando eu estava com problemas e precisava de alguém. Pague-me um jantar e lhe digo toda a história.

— Tenho uma idéia melhor. Por que você mesmo não muda para o apartamento acima da loja? Dessa maneira você estará por perto se ela precisar de algo.

— Não sou eu quem precisa de um lugar para morar — ele disse. — E já

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tenho emprego.— Que tipo de emprego? Um vendedor de óleo de cobra?— Perdão?— Não se faça de difícil, McLeod.— Eu? O que eu tenho a ganhar com isso? — ele deu de ombros para

controlar o sorriso. Vendedor de óleo de cobra. Se Neil tivesse ouvido isso não perdoaria nunca... — Só estou sempre tentando ajudar as pessoas. A decisão é sua, Juliet. Dê uma olhada antes de decidir. — Ele passava com o carro nas ruas estreitas próximas à catedral e finalmente estacionou na parte de trás da loja. — Mas primeiro precisamos cuidar de Archie. O que você acha que ele é? — ele perguntou ao destrancar a porta e desligar o alarme.

— O seu amigo Jimmy não tinha gosto por animais de estimação exóticos, tinha? — ela perguntou.

— Você não vai querer saber a resposta a essa pergunta. — Ela ergueu as sobrancelhas como se sugerisse que ele precisava crescer. Obviamente, ela pensou que ele estivesse brincando. — Quanto tempo aranhas venenosas vivem? — ele perguntou. — E cobras?

— Ah, não comece... — ela disse. Mas mesmo assim ela não pôde deixar de tremer ao pensar naqueles bichos.

— Sim, bem, isso foi há muitos anos. Archie não deve ser nada mais do que um periquito neurótico.

— Provavelmente. Mesmo assim, estou começando a desejar que tivéssemos perguntado a Maggie o que ele era antes de sairmos do hospital — ela disse no curvar-se para olhar debaixo da mesa.

— Nós? Você é a pessoa que ela deixou no comando. Só estou aqui de pura bondade minha — ele disse. — E não acho que vá encontrar o Archie aí, Juliet, pois se estivesse aí teríamos visto ele de manhã.

— Eu não — ela respondeu. — Não estava procurando. — E depois de se endireitar — Mas você está certo, não há nada aqui.

— Hora de desbravar o desconhecido, então.— Você me conforta muito. Ele estendeu a mão.— Pegue na minha mão se estiver com medo.— Guarde suas mãos para você, McLeod — ela disse, ao abrir a porta que

dava para o andar de cima. Juliet deu um pulo para trás quando algo mole e peludo voou da escuridão.

E de repente ela já não teve tanta repulsa dele. Não agora que ele a segurava tão perto de si.

Ela tremia muito e ele sabia que devia se sentir mal em gozar dela, mas segurá-la daquela maneira era bom demais para ele pensar em arrependi-mento.

Seus cabelos, com um aroma suave de xampu, alisavam o rosto dele, a gola do suéter dela tinha o toque suave da caxemira, e seu corpo, mesmo debaixo das roupas, era uma tentação de curvas. Com uma dificuldade imensa, ele manteve as mãos paradas, resistindo ao fluxo quente de desejo que o impulsionava a puxá-la para mais perto, virá-la em seus braços e beijá-la. Seu corpo dizia Tudo bem. Ela quer tanto quanto você.

Talvez ela até quisesse. Mas ele não ia arriscar. Quando a beijasse, queria

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

poder ver seu rosto. Queria saber que ela morreria se tivesse que esperar mais um momento.

— Está tudo bem — ele disse, afastando-se um pouco. Sua voz não foi tão firme quanto desejara que tivesse sido. Ele limpou a garganta e disse de novo: — Está tudo bem, Juliet. É só um gato.

— Eu sabia disso...Juliet deu uma tremida. Ela não acreditara na história da aranha ou da

cobra, mas só de pensar já linha sido suficiente para deixá-la toda arrepiada, e mesmo afastando-se, foi com certa relutância. Depois do dia que tivera, a tentação de cair nos braços fortes de um homem, sem se importar o quanto seu dono era irritante, parecia quase insuportável.

Mas ela já caíra nessa uma vez, quando ficou presa num elevador por tempo suficiente para sentir claustrofobia. Aquilo também foi planejado? Não importava, o erro fora seu, e por que mesmo ela estava de volta à estaca zero, quando sempre aprendia com seus erros?

E, então, afastando-se dele, ela se abaixou para tocar no gato, falando suavemente com o bichano para deixá-lo tranqüilo.

— Eu estava torcendo muito para o Archie ser um periquito — ela disse, com um sorriso fraco ao pegar o gato em seus braços. Ele era grande e carinhoso, seu pêlo, rajado. Um gatinho de livros de histórias. Ela sempre quis um gato desses quando menina. — Eu poderia levar um periquito para casa comigo.

— E não poderia levar um gato?— Minha mãe já me tem em sua casa lhe perturbando. Um gato já seria

abusar da boa vontade dela. Isso, supondo que ela não fosse alérgica a gatos. Venha aqui, Archie — ela disse. — Vamos atrás de algo para você comer.

Ele se esfregou nela, rosnando.— Obrigada por fazer isso — ela disse.— É para isso que serve um biscateiro.— Ah, olha só, sinto muito ter dito isso. É que...— Eu sei. Você teve um dia duro.— Já tive dias piores — ela admitiu. — Na verdade, o dia de hoje poderia ter

sido muito pior sem a sua ajuda.— Antes de você começar a ficar boazinha comigo acho melhor deixar claro

que Archie não vai para minha casa.— Você não pode dizer que sua mãe é alérgica — ela respondeu. — Eu já

usei essa desculpa.— Eu não vejo minha mãe há anos, então isso não vai ser problema.— Oh... Sinto muito.— A escolha foi dela. Aprendi a viver com isso. Mas ainda assim não posso

levar o Archie comigo. Vou viajar amanhã à noite.— Oh. Isso é muito conveniente. — E acrescentou: — De férias ou a

trabalho? — Como se isso importasse. Antes que ele pudesse responder, ela disse: — Desculpe, não é da minha conta. É melhor eu ir e juntar umas coisas para Maggie.

— Para dizer a verdade, é o aniversário de 18 anos de minha filha. O padrasto dela está organizando uma festinha para ela.

— Oh. — Ele tinha uma filha de 18 anos? Ela fez um cálculo rápido e se deu conta de que ela nascera logo antes dele desaparecer da escola... — Eu não

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

sabia. Sinto muito. — E então: — Não sobre a filha. Sobre o padrasto.— Tudo bem. Somos muito civilizados um com o outro. Ele permitiu que eu

pagasse tudo. — E comentou: — Enquanto estiver procurando pelas coisas de Maggie, não se esqueça de averiguar o sofá.

Ainda tentando digerir o fato de McLeod ter uma filha adulta, ela disse:— O sofá?— Você prometeu dormir aqui, não foi?Havia tantas perguntas que ela queria fazer a ele. Ele já fora casado?

Quanto tempo durou? Qual o nome de sua filha?— Na verdade — ela disse, desviando o olhar —, creio que você era quem

andava prometendo as coisas por aí.Mas ela também teve parte nesse jogo. Olhou para Archie que, depois de

devorar a comida que ela lhe preparou, esfregava-se nas pernas dela, rosnando sem parar, querendo colo e carinho.

Estava com saudades de Maggie, sem dúvida. E provavelmente com medo de ser deixado sozinho por mais algum tempo.

— Não tenho escolha — ela disse, dando um abraço acolhedor em Archie. — Mas é só por esta noite, — Pensarei em algo amanhã.

Resolver problemas era o que ela fazia de melhor, afinal. Quão difícil seria organizar o cuidado de uma livraria, incluindo um gato? Não que ela tivesse algo mais interessante e empolgante a fazer. A alternativa era mergulhar de volta num fosso com pena de si mesma.

— É isso mesmo e, para mostrar que não deixarei você cuidando disso tudo sozinha e sem a ajuda de ninguém, farei o possível para consertar seu carro quando voltarmos para o hospital.

Sugerir que McLeod parecia um tanto quanto cheio de si não era suficiente para descrevê-lo naquele momento. Juliet teve uma enorme vontade de dar-lhe um chute na canela, mas conseguiu segurar-se. Homens se oferecendo para consertar o carro de sua mãe eram raros. Talvez nem havia quem quisesse, a não ser que fossem muito bem pagos. Mesmo assim, ela se recusou a parecer desesperada com as complexidades de um motor de combustão interna.

— Deve ser apenas um problema com as velas; — ela disse. — Normalmente, é apenas isso. Eu já estava com uma lixa na mão para resolver o problema quando você apareceu com sua história de cavaleiro e garanhão.

— Acho que você está me confundindo com algum outro cavaleiro errante — ele disse —, mas se precisar da sua lixa, pode deixar que eu peço. — Ele pegou o celular do bolso. — Tenho que dar um telefonema. Você pode continuar sozinha por um instante?

— Primeiro o almoço e agora o jantar? O que quer que faça, não conte a verdade a ela, McLeod, ela nunca irá acreditar — Juliet avisou, segurando firme sua decepção e irritação pelo fato de, enquanto ele estava ali flertando com ela, uma outra mulher o esperava aparecer.

O canalha apenas sorriu para ela e, deixando-o para lá, ela foi atrás do quarto de Maggie.

O que mais ela esperava? Ele foi o rapaz que a levantara do chão e chamara-a de princesa enquanto saía com alguma rainha da St. Mary.

Ela era uma criança. Ele foi atencioso enquanto ela estava machucada, mas, além disso, ele quase não tinha consciência da existência dela. O fato de

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que ela o adorava, e de que o seu coração quase se partira quando ele desapareceu da face da Terra, não era culpa dele.

Ela estava machucada agora, uma voz interna lhe disse. Por que não deixar que ele a pegue de novo...

Porque ela já estava adulta, só por isso. Grande o suficiente para lutar suas próprias batalhas. E talvez fosse hora dela fazer exatamente isso.

E, então, removendo-o firmemente de sua cabeça, ela olhou à sua volta. Apesar de estar bem no centro da cidade, o apartamento era tão aconchegante quanto uma cabana no interior. Feixes de carvalho escurecido aumentavam ainda mais essa impressão, embora a lareira na sala de estar tivesse sido trocada por uma lareira elétrica que parecia muito com uma original.

Dormir ali não seria nada muito difícil de se fazer. Na verdade, ficar de babá de um gato e de uma livraria pareceu-lhe uma proposta bastante atraente. Não era exatamente sua idéia de emprego ideal, mas pelo menos era algo que ajudaria alguém que fora gentil com ela desde muito tempo atrás. E, além disso, Maggie era alguém de quem sua mãe gostava muito.

Ela podia até trazer seu laptop e começar a trabalhar naquela lista: "O plano mestre para a vida de Juliet Howard".

E, então, depois de abrir diversas gavetas e encontrar tudo o que Maggie precisava, ela decidiu que talvez pensasse sobre a reorganização da loja.

Seria um projeto pequeno, mas pelo menos não haveria um telhado de vidro mantendo-a quietinha em seu lugar.

Ela foi até o banheiro atrás de um roupão e pegou também algumas toalhas. E uma lata de talco.

— Uma moedinha para eles?Ela deu um pulo ao ouvir a voz de McLeod e virou-se para vê-lo de pé

próximo à porta a observá-la.— Uma moedinha?— Pelos seus pensamentos. Você estava distante.— Não estava perguntando o que você queria dizer com isso. Só estava

questionando sua falta de conhecimento sobre economia.— Se não quiser me dizer, é só falar, princesa.— Na verdade, eu só estava tentando imaginar o que precisaria se estivesse

num hospital.— Ir para casa. Ela sorriu.— Isso parece sensato.— Tive o apêndice removido quando tinha seis anos de idade — ele disse. —

Vamos. Você pode levar o restante das coisas que ela precisar amanhã.— Sim, é verdade.Ele esticou a mão para pegar a bolsa que ela preparou. Ela era

completamente capaz de carregá-la sozinha, mas dizer isso provocaria mais um daqueles rompantes, e ela então desistiu. Juliet deu um abraço em Archie — que por sinal passara o tempo inteiro colado nela — e o assegurou que voltaria em breve antes de trancá-lo no apartamento.

No hospital, McLeod deixou-a na entrada e, ao pegar as chaves do carro dela, largou-a para lidar com Maggie. Quando voltou, meia hora depois o motor do carro já estava funcionando. Ele desligou e desceu.

— Tente você — ele disse.

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Ligou no primeiro girar da chave.— Meu Deus, você é um gênio. Ele se curvou para ela e disse:— Esse jantar vai ter que ser muito bom.— Perdão?— Aquele que você está me devendo.— Na verdade, esse pode pôr na conta da minha mãe, McLeod. O carro é

dela.— Eu fiz o serviço para você, Juliet. E é você que vou procurar para acertar

as contas.— Oh, veja bem...— Não entre em pânico. Cancelei a reserva da mesa para esta noite.— Perdão?— O que mais você tinha planejado? Quando tivesse terminado sua tarefa

visitando os doentes no hospital?Então era por isso que ele aparecera por lá. Ele sabia que ela estaria lá...Ela tentou não se aparentar bajulada pela insistência dele e disse:— O meu plano era vasculhar o jornal local na esperança de encontrar um

apartamento que eu pudesse alugar — ela mentiu.Ele sorriu.— Bem, isso já está resolvido, então podemos nos concentrar na comida.

Quando você tiver recolhido tudo o que precisa, já estará tarde para irmos a um restaurante, a não ser que peguemos algo para comer em casa. O que você prefere? Já que está pagando. Chinês, indiano? Ah, tem um restaurante tailandês muito bom...

— Sai de mim, McLeod. Nunca concordei em lhe pagar um jantar, e mesmo se tivesse...

Não, não, não! Agora ela lhe dera uma abertura.— Sim? — ele perguntou, sem delongas.— Eu prefiro perguntar. E você decide onde e quando.— Creio que ambos sabemos que se ficar para você decidir seria no

primeiro dia frio do inferno.Seria mesmo, se ela tivesse algum bom senso...— Metade do prazer está na espera — ela disse.— Metade? Acho que alguém tem passado a perna em você, princesa.— É mesmo? Eu estava me referindo à comida, vinhos finos e excelente

companhia. Talvez você tenha algo mais em mente. — E então ela tinha algo com o que rir. — Comida de lanchonete, talvez?

— Eu, hein. — Quando quiser.— Está certo. Estou preparado para esperar por boa comida, bons vinhos e

ótima companhia. Vamos dizer, então, até sábado. Depois disso, esteja preparada para aparecer para pagar o jantar que eu escolher. Enquanto isso, você vai precisar de uma carona até a casa de Maggie. A não ser que sua mãe esteja preparada para lhe deixar o carro por muito tempo.

— Não, ela precisa dele para trabalhar, mas você não precisa dar uma de chofer. Estava planejando chamar um táxi.

Ele não discutiu, apenas disse:

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— Por favor, vamos tentar não ter uma conversa desagradável mais uma vez. Eu lhe sigo. — E, então, fechou a porta do carro dela antes de entrar em seu Jaguar.

Quando ele ligou o carro, ela já estava fora do estacionamento. Ela não estava particularmente empolgada em passar pela alameda escura atrás da loja sozinha, mas também não queria que McLeod pensasse que ela era incapaz de se virar sem ele. Não que ela imaginasse que precisava, e lá estava, quando olhou pelo espelho retrovisor, o Jaguar bem atrás dela, a uma distância segura.

Era ridículo ficar irritada pela certeza de McLeod que, mais cedo ou mais tarde, ela cairia na conversa e no charme dele. Ela seria a primeira a admitir que ele tinha toda razão para ser tão autoconfiante: ele não fazia a menor idéia que ela tomara uma vacina contra homens do tipo dele e agora estava completamente imune.

Ela só desejava que ele fosse atrás de alguém com mais receptividade para as suas paqueras. Alguém que não se incomodasse em ser chamada de princesa. A garota que ele deixou esperando no almoço, por exemplo.

— Não vou demorar — ela disse ao estacionar próxima ao que no passado fora uma enorme casa e hoje em dia estava dividida em pequenos apartamentos.

Por um momento terrível, ela pensou que ele fosse insistir em levá-la até a porta, obrigando-a a ter de explicar quem ele era. Embora ela já não fosse mais uma menininha, sua mãe colocaria dois e dois juntos e acreditaria saber exatamente o porque dela ter se produzido toda pela primeira vez depois que perdera o emprego: ela se sentia como uma adolescente trazendo para sua casa o menino mau. Não que ela já tivesse feito isso. Ela não era assim tão estúpida. Sua mãe enfiara muito bem em sua cabeça a necessidade de se ter uma boa educação, uma boa carreira. Tudo o que ela trazia para casa era dever de casa e mais dever de casa.

Até agora.— Só preciso explicar onde vou estar — ela disse. — E fazer uma mala para

poder passar a noite por lá. Voltarei em no máximo dez minutos.— Não se apresse. Estarei aqui.Pensando bem, como o arquetípico menino mau, ele provavelmente passara

a vida inteira evitando estar na presença de mães.Ele não precisava ficar preocupado. A mãe dela ainda não havia voltado do

seu jogo semanal de bingo e ela apenas escreveu um bilhete dizendo onde estaria, deixando-o com as chaves do carro.

Ele estava encostado no Jaguar falando no telefone quando ela chegou. Ele se endireitou quando a viu, fechou o telefone e guardou-o no bolso.

— Ela está ficando impaciente? — Juliet perguntou.— Ele — McLeod respondeu ao pegar o laptop dela e a bolsa e abrir a

porta. — Era trabalho.— Oh! — E acrescentou: — É meio tarde para isso, não é?— Você sabe como é, Juliet. — Ele abriu um sorriso lento, do canto da boca.

— O trabalho de um biscateiro nunca termina.Ela entrou no carro sem dizer uma palavra sequer. Ele ainda estava

sorrindo quando se sentou ao lado dela. Deixe que ele ria. Ela já pedira desculpas. Ela não ia se humilhar mais.

— Você já decidiu o que gostaria de comer? — ele olhou para ela. — Você

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está com fome, não é mesmo?Ela estava morta de fome. Pela primeira vez em semanas ela poderia ter

comido um cavalo, mas não ia admitir. Maggie certamente teria uma lata de feijões cozidos que ela podia esquentar e comer com torradas.

— Obrigada, mas acho que vou segurar até sábado.— Até sábado?— Essa foi a data-limite que você escolheu, não foi? Que tal oito horas no

Ferryside?— No Ferryside?— Tem eco aqui?— Você pode pagar um jantar lá? — ele perguntou. Provavelmente não,

mais valeu a pena vê-lo momentaneamente sem palavras.— Eu lhe disse, McLeod. Não gosto de encontros baratos.

Capítulo 5

Greg fez um esforço enorme para evitar todos os tipos de tentações, inclusive de beijar Juliet e encarar as conseqüências. Ele aprendeu muito por todos esses anos, especialmente a ter muita paciência, esperar por aquilo que queria, e ele a desejava desde o momento em que pegara o telefone e aquela voz calma tocara em algo primitivo nele.

Foi esse mesmo impulso de alcançar coisas além de sua compreensão que lhe trouxera tantos problemas quando jovem. O mesmo impulso que o fizera tomar tantas decisões de risco e, finalmente, o fizera voltar para casa pronto para deixar sua marca numa cidade que uma vez lhe desprezara.

Mas o tempo e a experiência temperaram sua impetuosidade. Ensinaram que se jogar diante de um muro não trazia nada além de dor. Que com uma dose suficiente de paciência — e dinheiro suficiente para lubrificar as fechaduras —, praticamente, qualquer porta se abriria para ele.

Praticamente.Todos os seus instintos lhe avisavam que, com Juliet Howard, ele precisaria

de uma estratégia de aproximação mais sutil. Na verdade, esses instintos sugeriam, com muita veemência, que ele encarasse aqueles avisos de mantenha distância que ela lhe dera o dia inteiro com muita seriedade. Era tal-vez muito bom que ele estivesse do outro lado do país por alguns dias, onde as tentações não seriam capazes de bagunçar com a melhor de suas intenções, porque, pela primeira vez em muito tempo, ele sentia vontade de largar todas as amarras e encarar as conseqüências de uma paixão.

Ele desceu do carro antes de esquecer quem era ele teria descido e aberto a porta para ela, mas ela não esperou — e deixou a mala dela dentro da loja logo que ela abriu a porta de trás. Ela permaneceu dentro da loja, fora do alcance do perigo.

— Você vai ficar bem aqui sozinha? — ele perguntou.— É meio tarde demais para ter remorso sobre me enfiar nessa situação,

não acha? Ou isso foi uma desculpa para você querer entrar e olhar debaixo da cama para ver se não tem nenhum bandido me esperando?

— Não, você está segura — ele disse, sorrindo. Não foi fácil sorrir, mas ele

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achou que era o que ela esperava. — Já chequei da outra vez que viemos. Não se esqueça de ligar o alarme antes de subir.

— Não esquecerei. Boa noite, McLeod. Quando ela se moveu para fechar a porta, ele a bloqueou com o ombro. Houve um momento de resistência, os olhos dela se arregalaram quando ele pegou em seu braço, arregaçou a manga dela e, olhando-a nos olhos, tirou uma caneta do bolso.

— Ligue para mim e me diga onde quer que eu a pegue no sábado — ele disse.

A pele suave do braço dela era quente e possuía um leve aroma de baunilha, uma verdadeira tentação para os sentidos. Ele teve que se segurar com todas as forças para manter o plano original, de usar o braço dela como uma folha de papel no qual escreveria o número do seu telefone.

— Já tenho o seu número.— Você tem? Claro que sim.Ele dera um cartão, mas isso era bem diferente de dar um número de

telefone. Era muito mais primitivo. Tinha a ver com a chance de tocá-la, deixar uma marca em seu corpo, e a pausa momentânea que Juliet fez antes de puxar o braço sugeria que ela também sabia disso.

— E eu estava tão certo de que você o jogaria n lixo no minuto em que eu virasse as costas.

— Por que eu faria isso? — ela perguntou, com os olhos brilhando com as luzes de segurança da farmácia ao lado. — Bons biscateiros são... uns tesouros.

— Obrigado pelo bom — ele disse.— Crédito para quem merece. — E em seguida: — Além disso, achei que

você estivesse confiante de que eu ficaria aqui... — E o não dito esperando por você ficou flutuando entre eles por um momento antes dela continuar — ... seduzida pelo apartamento lá de cima para tomar conta de Archie e da loja.

Ele balançou a cabeça.— Suspeito que qualquer resposta minha em relação a isso só vai me causar

arrependimento. Digamos que eu não espero nada além de boa comida, um bom vinho e uma companhia excelente.

A recompensa dele foi um sorriso espontâneo.— Que bom, McLeod. Você é mesmo muito bom.Por um instante, ele ficou sem palavras ao perceber rapidamente uma pinta

no canto da boca de Juliet, que mexeu em algo muito profundo na sua memória.

Por que ele não se lembrava?— McLeod?— Perdão, perdi a fala por um momento — ele disse. — Fico muito feliz por

você perceber como estou me esforçando.— Esforço — ela respondeu — é uma palavra muito boa, mas fique sabendo

que não vai conseguir muita coisa comigo com isso. E como isso é apenas um jantar e não um encontro, encontro você no restaurante. — E então: — Se você não aparecer, vou deduzir que você se distraiu com alguma mulher que precisava dos seus serviços.

— Droga... — Mas antes que ele pudesse dizer que se ele a deixasse esperando era porque ela merecia, ele se viu diante de uma porta fechada. — Problema — ele balbuciou, ao lembrar-se do conselho de Neil. — Sem a menor sombra de dúvidas, problema.

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Mas enquanto ele se afastava, de olho no primeiro andar, para ver se alguma luz era acesa, assegurando-lhe que ela chegara lá em cima sem pro-vocar nenhum desastre, descobriu que não podia fazer nada para impedir o sorriso largo que lhe invadia o rosto.

E, é claro, ele não podia deixar que ela tivesse a última palavra...Juliet preparou o jantar, e então, com Archie deitado aos seus pés rosnando

feito louco, ela passou uma hora surfando pela Internet, vasculhando páginas de recrutamento, cada uma tentando com mais veemência fazê-la se inscrever e deixar que eles lhe encontrassem o emprego dos sonhos. Sim, bem, ela já se inscrevera com as agências mais importantes, e não adiantara nada.

Era dolorido para ela, mas o fato era que o emprego que ela sempre quis, aquele para o qual ela se esforçara tanto, não estava mais ao alcance dela.

A verdade era que emprego nenhum a satisfaria além daquele que conseguira com trabalho duro, longas horas e muito esforço enquanto os meninos se divertiam fazendo seja lá o que for que meninos fazem depois do trabalho. Ela foi forçada a admitir que nada a deixaria mais satisfeita do que o lorde Markham em sua porta admitindo que cometera um erro. Dizendo que a empresa precisava dela para implementar o plano — o ápice de todas as idéias dela, toda a sua experiência, agrupadas ao longo dos anos em que ela subia degrau por degrau até o topo — e implorando que ela voltasse.

Olha, isso sim era estúpido.A primeira regra de gerenciamento era que ninguém era indispensável, mas

ela puxou o arquivo assim mesmo. Aquele que ela mantivera tão seguro, determinada que ninguém deveria vê-lo até que fosse finalizado. Exceto Paul. Ela foi vaidosa o suficiente para querer a opinião dele. A admiração dele. Queria impressioná-lo com sua inteligência...

Archie se esfregou no tornozelo dela. Enquanto ela se dobrava para esfregar a orelha dele, ela viu o número que McLeod escrevera em seu braço.

Segura? Ah, certo. Convidar McLeod para um jantar não foi nada que uma mulher vidrada em segurança teria feito.

Mas, por outro lado, com todo o cuidado de manter sua mente enfocada nos negócios, onde foi que ela chegou?

Ela caiu na conversa de Paul só porque ele aparentou ser o oposto do tipo predador de homens que qualquer mulher sensata evitava. Apesar de sua boa aparência, ele parecia tão... ela tentou encontrar uma palavra para descrevê-lo, mas tudo o que conseguiu foi inofensivo. Nada brilhante como referência para um namorado. Mas ela se sentia no controle com ele. Ele nunca a provocava e deixava que ela escolhesse o ritmo das coisas. Ela pensou que era apenas porque ele era sua sombra temporária no trabalho. Ele tomava todo o cuidado para não ultrapassar a linha invisível que os separava no trabalho. Ela gostava dele por isso. Ela se sentia segura com ele.

Tão segura que conversava sobre todas as suas idéias com ele, além de ficar feliz com o seu interesse; chegou ao ponto de ligar para ele no meio da noite para lhe dizer que sua obra estava terminada. Ele chegou 20 minutos depois trazendo champanhe, insistindo que deviam comemorar.

Foi então que ele copiou o arquivo, baixando-o em segundos no cartão de memória que carregava no chaveiro, enquanto ela pegava as taças? Ela es-perou que ele insistisse em passar a noite com ela... e sabia que não teria

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resistido. Em vez disso, ele usou de alguma desculpa sobre uma reunião de fa-mília naquele fim de semana.

Ele nem ao menos tocara nela até aquele beijo de Judas que borrou seu batom e a atrasou o suficiente para criar certa distância entre eles.

O que será que ele havia feito? Fechou os olhos e pensou no cargo na diretoria?

— Sou ou não sou estúpida, Archie?Archie rosnou suavemente, numa atitude felina bastante confortante.

Talvez, quando encontrasse uma casa para si, Juliet visitaria o centro de resgate animal e ofereceria um lar a mais alguma alma perdida.

— Oh, pelo amor de Deus, Juliet Howard — ela exclamou. — Pare de ficar sentindo pena de si mesma. Você não é a primeira pessoa que passou por isso, e não será a última. Bola para a frente. Siga com a vida...

Ou, pelo menos, mova-se.Viver em casa, com sua mãe tomando conta, não era a maneira de um

adulto se portar. Ela já estava cheia de sentir pena de si mesma. E, trazendo Archie consigo para companhia, ela subiu as escadas até o andar de cima para dar uma olhada no apartamento.

O apartamento tinha a mesma área de piso que o apartamento de Maggie, mas a área total era menor por causa da inclinação do telhado. E as paredes escuras também não ajudavam muito. McLeod não estava brincando quando falou sobre os vermelhos e pretos. Muito gótico. Mas não era nada que não pudesse ser consertado com algumas latas de tinta.

Talvez, Juliet pensou, ele consertasse isso para ela. Isso custaria muito mais do que um jantar, ela linha certeza, até mais do um que jantar no Ferryside. Ela sorriu ante a possibilidade de negociar um preço.

Ele podia até ser bem irritante, mas pelo menos lembrara a ela como sorrir...

E, então, levemente em choque pela espera prazerosa instigada por aquele pensamento, ela desceu e sentou-se no sofá onde dormiria. E com Archie aos seus pés permaneceu acordada pensando em como seria fácil transformar aquele apartamento numa área de trabalho. Paredes claras fariam do ambiente algo muito mais leve, e certamente havia um ótimo assoalho por baixo daquele carpete nojento...

Pura fantasia, é claro. Ela não precisava de uma área de trabalho.Mas isso era melhor do que contar carneirinhos.E muito mais eficiente em distraí-la do prazer de se aproximar tanto de

McLeod. Isso era algo que, apesar de toda a tentação, ela não tinha a menor intenção de fazer...

O carteiro a acordou, tocando a campainha com um embrulho procedente da América que precisava de assinatura.

— Como está Maggie? Soube que ela caiu. Nada sério, espero. — Ele entregou-lhe uma caneta e segurou a prancheta para ela assinar. — Você está cuidando das coisas enquanto ela está no hospital?

— Parece que sim — ela disse ao devolver-lhe a caneta antes de pegar o embrulho, uma pilha de cartas e fechar a porta.

Ela mexeu na correspondência enquanto voltava para a loja, deixando o embrulho — o qual, de acordo com o selo de envio, continha livros — na mesa.

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Havia algumas contas, mas o restante da correspondência parecia pessoal, então ela deixou-as de lado para mais tarde levá-las ao hospital antes de subir para tomar banho.

Ela estava no meio da escada quando ouviu alguém bater na porta, dessa vez na porta de trás. Uma lápida olhada confirmou que era a van da Duke's Yard na parte de trás da loja.

O salto dado pelo seu coração entregou-a: talvez ela soubesse, em tese, que Gregor McLeod não era o tipo de homem com quem uma mulher sensível se envolveria, mas a realidade sempre a pegava de surpresa. "Rapazes maus" não ganhavam essa reputação à toa. Era preciso mais do que um par de olhos azuis e um sorriso charmoso para conquistá-la. Homens como Gregor McLeod quase emanavam um ar de perigo. Um magnetismo intenso.

Talvez tenha sido sua boa sorte o fato de nenhum deles ter se interessado por ela.

Ou talvez não."Segurança" poderia virar um vício. Não conseguiu ficar longe? — ela

perguntou ao destrancar a porta, em seguida sentindo-se como uma idiota ao abri-la e descobrir que não era McLeod do lado de fora, mas um homem de meia-idade que nunca vira antes. Ele vestia um macacão de pintor e carregava uma caixa de ferramentas, sorrindo, confiante como alguém que tinha certeza que sua chegada era esperada.

— Srta. Howard?Ela balançou a cabeça.— Dave Potter. Mac me mandou aqui. Desapontada, ela disse:— Ele esqueceu alguma coisa aqui?— Perdão?— Quando consertou a janela?Sem o sorriso de antes, Dave Potter olhou para cima e disse:— Mac consertou sua janela? Preocupada pelo fato da boa vontade de

Maggie poder deixá-lo em maus lençóis, ela disse:— No seu horário de almoço. Maggie Crawford é uma velha amiga.— Oh, certo. Não estou sabendo de nada, ele apenas me pediu para

redecorar o andar de cima. Disse que era urgente. Tenho um cartão de cores para você escolher a tinta — ele disse, entregando a ela um envelope grande. — Ou, se você preferir, papel de parede, Mac disse para escolher o que quiser e deixar o resto comigo.

Tinta? Papel de parede...— Sem pressa — ele continuou quando percebeu que ela não respondeu. —

Tenho muito a fazer antes de chegar nisso. Gostaria de me dar a chave da entrada externa? — ele pediu, achando que ela ficaria grata, embora não tivesse dito nada. — Desse jeito não perturbarei você entrando e saindo.

Várias respostas a essa pergunta lhe vieram à mente, uma mais severa do que a outra, mas esse pobre homem era inocente e não merecia nenhuma delas.

Só havia uma pessoa com quem ela gostaria de falar e por sorte seu número estava impresso no braço dela, apesar de seus esforços para removê-lo na noite passada, pois só havia água fria.

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

— Você pode me dar um minuto, sr. Potter? — ela perguntou ao pegar o telefone.

Ela não lhe deu a chance de falar.— McLeod — ela começou, furiosa —, tenho de lhe dizer que sem sombra

de dúvida você é o maior...A secretária eletrônica a cortou e ela olhou para o telefone furiosa, como se

o aparelho a convidasse para deixar uma mensagem, incerta se o atiraria nobre sua própria cabeça ou contra a parede.

— Mac está a caminho da Escócia — David disse. E seu telefone deve estar desligado, mas ele pediu que eu lhe dissesse para não se preocupar em me pagar. Ele colocará na conta.

— Ele disse o quê!— Talvez eu tenha entendido mal — ele disse, afastando-se enquanto ela se

virava para olhar para ele.— Não. Não, sinto muito. Não é culpa sua. — Ela levantou a mão para

afastar o cabelo, e ao dar-se conta de que estava tremendo, tentou esconder. — Escócia? — ela repetiu.

— Um encontro de família, eu acho. Gaitas de foles e saias escocesas. — E acrescentou: — Eu, hã, vou começar, tudo bem?

Gaitas de foles e saias escocesas?Por que ela ficou surpresa? Talvez ele não tenha sotaque escocês,

certamente cresceu em Melchester, mas com um nome como Gregor McLeod com certeza tinha raízes escocesas...

Colocando o telefone no lugar com um cuidado enorme, ela respirou fundo e disse:

— Espere aí. Pegarei a chave. Se ele queria esbanjar dinheiro na decoração do apartamento para Maggie alugar, isso era problema dele, quaisquer que fossem as esperanças que tivesse. Mas como ela passara a metade da noite pensando sobre esquemas de cor, não havia porque ela não receber o benefício de seu conselho.

Ela apanhou a chave e marcou os quartos com as cores no cartão enviado com muito apreço.

— Talvez seja melhor tirar o carpete do corredor também. Um tapete ficará bem melhor quando o chão tiver sido lixado e polido — ela disse, entregando-lhe o cartão de volta.

Bem, isso era mesmo verdade.— Isso foi bem rápido — disse David, visivelmente impressionado pela

habilidade dela de tomar uma decisão sem hesitar. — Essa parte normalmente leva mais tempo do que o trabalho em si. — E comentou: E o resto do apartamento? Quer que trabalhe nos assoalhos nos outros cômodos?

— Não quero nada, sr. Porter. Isso não tem nada a ver comigo — ela informou, ignorando todo o planejamento da noite. Decidindo que móveis jogaria fora. O que manteria ali e onde os colocaria.

Aquilo era confusão demais.O apartamento veio com muitas coisas juntas e ela se recusava a ser

manipulada por Gregor McLeod. Ela podia estar desempregada, mas isso era um pequeno detalhe no plano mestre. Ela não tomaria conta de uma livraria. No minuto em que ela encontrasse alguém para assumir o lugar, estaria fora.

Ela certamente não levaria Maggie a sério em sua oferta do apartamento

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

em troca de um simples turno.Então disse:— Na verdade, madeira seria um tanto quanto barulhento para quem

estiver embaixo, não acha? Cada vez que algo cair no chão será como se o teto estivesse desmoronando. — Ela já havia tido uma vizinha no andar de cima com assoalho de madeira e sabia muito bem do que estava falando. — O resto do carpete não está tão ruim. Apenas precisa de uma limpeza. — Ela deu de ombros, tentando se distanciar de qualquer decisão. — Provavelmente.

Dave apenas disse:— Sim, srta. Howard.Ela teve a sensação desconfortável de que ele encarava tudo o que ela dizia

como uma ordem e, com um ataque de culpa, disse:— É melhor você falar com o sr. McLeod primeiro. Isso pode ficar caro.Por um instante, ele pareceu estar prestes a dizer algo, mas no final disse

apenas:— Sim, srta. Howard.— Levarei uma xícara de chá assim que resolver uma coisas. — E então ela

desceu e colocou a água para ferver.Sua mãe foi a seguinte, visita tocando a campainha e batendo na porta até

ela descer para abrir.— Olá, mamãe — ela disse, nem tão surpresa ao vê-la, embora achasse que

sua mãe fosse embora até a hora do almoço. — Você não se atrasará para o trabalho? Pela segunda vez nessa semana.

— Pela segunda vez em 20 anos — ela corrigiu —, mas telefonei avisando que não chegaria antes das dez. Apenas queria ter certeza de que você estava bem. Você vai cuidar da loja enquanto Maggie estiver no hospital?

— E só temporário, e ela já está ansiosa com isso. E com o gato. Como se eu soubesse como cuidar de uma livraria.

Sua mãe deu de ombros.— Não é nada complicado — ela disse. — Como está Maggie?— Um infarto leve, eles acham. Estão fazendo testes. Acho que daqui a

pouco ela terá que repensar a decisão de viver aqui sozinha. E, talvez, até sobre deixar de lado a loja.

— Talvez, mas ela ficará melhor se pensar que tem algo para que retornar. Vou vê-la essa noite. Ganhamos um pequeno prêmio no bingo na noite passada, isso a deixará animada. Você já tomou café?

— Não. Pensei em ir até a padaria logo que tiver um minuto.— Ponha a água para ferver que vou buscar umas guloseimas. — Ela pegou

um livro da prateleira de títulos novos e virou-o para checar a quarta capa antes de olhar à sua volta. — Você nunca diria, a julgar pelo lado de fora, mas esta é uma ótima livraria. Maggie tem sempre bons romances policiais impossíveis de se encontrar em outro lugar, mas uma atualizada cairia bem. A maioria das livrarias serve café hoje em dia, não é mesmo? E guloseimas. Mas não há sentido em melhorar nada aqui, eu suponho. Agora que tudo virá abaixo.

— Virá abaixo? O que você está falando?— Essa parte da cidade. Está muito decadente.— Mas é o centro histórico de Melchester. Certamente está cadastrada.

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

Protegido, talvez? Onde você ouviu isso?Sua mãe deu de ombros. Alguém mencionou algo no bingo na noite

plissada. Ela ouviu de alguém que conhece uma menina que trabalhou por um tempo no departamento de planejamento que será incluído no novo plano de desenvolvimento.

— Oh, sim, apenas rumores. Você me deixou preocupada por um segundo. Pode trazer um bolinho extra? Tem um decorador trabalhando no apartamento lá em cima e tenho certeza de que ele vai gostar de uma xícara de chá.

— Apartamento?— Maggie me ofereceu o apartamento no andar de cima. É bem legal, pelo

menos será quando estiver decorado. Se eu fosse ficar em Melchester. Eu levaria você para olhar, mas Archie vai fazer você espirrar a manhã inteira.

— Archie?— Grande, rajado e castrado.— Que pena. Homens são como bicicletas. Você leva um tombo, e logo se

levanta, antes de perder a confiança.Levemente chocada, Juliet disse:— Achei que isso fosse com cavalos.— Cavalos, bicicletas... qual a diferença? É tudo transporte.— Não notei nenhuma vontade de sua parte em fazer a viagem. Meu pai a

desanimou tanto assim?— Seu pai... — ela parou. — Vou lá na padaria.Juliet deixou passar.— Pode me trazer uma bisnaga? E pode trazer também um bom pó de café

e leite? Espere, vou pegar dinheiro.— Não se preocupe com isso. Você me paga depois. Diga-me, esse

apartamento, ele está ligado ao trabalho?— Não existe trabalho. Estou apenas ajudando numa emergência, mas se eu

estiver ultrapassando os limites da minha estada é só dizer.A porta da loja se abriu.— Está aberto? Ouvi dizer que Maggie está no hospital, mas esperava poder

pegar um livro.— Entre — disse Juliet, ignorando o sorriso de sua mãe enquanto saía para

a padaria. — Vamos ver se podemos encontrá-lo para você.Ela recebeu alguns clientes que ouviram sobre o acidente e estavam

ansiosos para receber seus livros. Levava tempo para convencê-los de que a livraria não iria fechar as portas — pelo menos não num futuro próximo — e ela ainda não tinha conseguido chegar na cozinha para ferver a água quando sua mãe voltou.

— Não se preocupe, tomo o chá no trabalho — ela disse, ao deixar a bolsa sobre a mesa. — Você precisa de algo de casa?

— Você não precisa ficar correndo atrás de mim, mamãe.— Você vai ficar muito apertada aqui sozinha.— Isso é verdade. Eu estava querendo ir ver Maggie essa tarde, acertar

umas coisas. Ficaria muito mais feliz se ela me deixasse entrar em contato com o filho para que ele possa tomar conta do negócio. Mas acho que isso vai ter que esperar até a noite.

— O que você precisa é de uma garota capaz de lhe ajudar. As escolas estão sem aulas para a Páscoa no fim de semana e uma das mulheres no trabalho

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

tem uma menina que talvez esteja interessada em ganhar um dinheirinho extra. É uma menina boa. Confiável. Posso pedir que ela venha conhecer você?

Ela quase não hesitou. Maggie a tinha trabalhando ali de graça.— Por favor. O quanto antes.— Ótimo. E venho cobrir você durante o almoço, se quiser. Pode pegar o

meu carro para ir ao hospital.— Você sabe que é uma mãe e tanto. Não digo isso vezes suficientes.— Sim, bem, seja agradável com a pobre senhora. Ela começou logo cedo

para mim hoje.— É mesmo?Sua memória a supriu com uma lembrança instantânea de McLeod

demonstrando esse truque. O sorriso de satisfação e prazer consigo mesmo em que os homens são tão bons. Aquele que dizia: Você não acha que eu mereço um grande...

-Bem, excelente! — ela declarou. — Vamos torcer para que ela ainda esteja de bom humor na hora do almoço.

O olhar de sua mãe sugeria que ela havia ultrapassado um pouco o limite, num esforço para calá-lo.

— Você está bem, Juliet? Está com o rosto vermelho.— Estou bem — ela disse, grata pelo seu celular ter Locado, dando-lhe a

oportunidade de encerrar a conversa. — Absolutamente bem. Vou lá e volto dentro de uma hora, se o tráfego permitir — ela disse, esperando que sua mãe saísse antes de abrir o telefone.

— Juliet Howard.— Olá, princesa.McLeod! Por que diabos ela não checou no visor para ver quem ligava antes

de atender? Isso teria dado tempo para ela recuperar o fôlego...— Perdi uma ligação e pensei que pudesse ter sido você.— Pense de novo.Ele fez um som de lamento. Que irritante. A arrogância do homem, achando

que fosse ela. Pressupondo que ela estava mentindo.Por que ela mentiria?Por que ela mentiu?— Então, como está? — ele perguntou. — Conseguiu dormir na noite

passada?Dormir?Respire, respire, ela disse a si mesma enquanto seu cérebro tentava

formular uma resposta. Algo distante o suficiente, frio o suficiente para indicar que ela não passou um só segundo pensando nele.

— Dormir? — ela repetiu tentando ganhar tempo. Você sabe, deita, fecha os olhos, e se tiver sorte. quando se der conta já está de manhã. Era para você estar fazendo isso no sofá de Maggie. Então, como foi? Estava quente o suficiente?

— Oh, dormir. Sim, foi tudo bem, obrigada. Archie foi uma ótima bolsa de água quente.

— Eu teria sido melhor.Não havia resposta para isso — ou pelo menos nenhuma que ela estivesse

preparada para contemplar — então disse:

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

— Só espero que não esteja usando o telefone enquanto dirige, McLeod. Mesmo sem segurá-lo é muito perigoso.

Capítulo 6

Não havia nada na expressão de McLeod para trair o fato de que ele acabara de ter um daqueles momentos de iluminação — os surtos de idéias que o faziam tão famoso.

Segurança.Apesar de sua força aparente e de sua atitude direta, Juliet Howard —

consciente ou não — era vidrada em segurança.Dave já começou o trabalho no apartamento? ele perguntou, sem se dar ao

trabalho de assegurá-la de que ele estava no banco de trás do Rolls que o transportava da pista de pouso; esse não era a preferência dele no que diz respeito a transportes, mas era tão efetivo em irritar os avós maternos de sua filha que ele estava preparado para o sofrimento.

Além disso, se Juliet estivesse preocupada com ele, significava que ela estava pensando nele. Como ele não a tirava da cabeça, parecia justo que ela passasse pelo mesmo sacrifício.

— Ele está trabalhando desde um pouco depois das oito — ela respondeu. — Tenho certeza de que Maggie ficará muito grata.

— Não estou fazendo isso por Maggie — ele disse. — Mas, então, ao menos que você não seja tão inteligente quanto imaginei que fosse, você já sabe disso.

— Você acha que sou inteligente? — O tom que ela usou evitou que parecesse menos um pedido dei elogio do que um convite para colocá-la para baixo;

— Ou isso — ele disse —, ou tão obstinada que recusaria em vez de arriscar ficar mais em dívida comigo.

— Pinte tudo, Gregor McLeod, se isso lhe agrada. Não devo nada a você.— E mesmo? Então, por que vai me levar para jantar no sábado?Ela respirou fundo, com raiva, e disse:— Oh, vá fazer uma dancinha escocesa, McLeod. E então ela desligou.— Droga...

— A passarinha com a voz elegante está sendo difícil com você? Neil perguntou sem tirar os olho do jornal.

— Você podia dar uma atualizada nos seus apelidos politicamente incorretos para as mulheres, Neil, embora, mesmo nos tempos sombrios da sua juventude, duvido que Juliet pudesse ser descrita como uma palavrinha.

Longe disso. Ele pode até não ter ficado muito impressionado da primeira vez que a vira, mas estava sempre pronto para admitir um erro. Sua recompensa era ela ter aparecido no hospital onde, do topo de seus cabelos louro-escuros até a ponta de seus sapatos elegantes, ela carregava uma aura inconfundível de mulher de carreira e de sucesso. Ele conhecia o suficiente delas para reconhecer uma quando encontrava. Então, o que ela estava fazen-do, desempregada e com tempo nas mãos para ajudar numa livraria que já passara da época de fechar as portas?

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

Ao dar-se conta de que Neil tinha olhado para cima e esperava por algo mais, ele disse:

— Ela é uma mulher elegante e educada.— Então você está com problemas. Não diga que não avisei.Apenas um pouco cheio de si, Greg pensou, enquanto ele atirava o telefone

para o lado, sobre o estofamento de couro da poltrona, e pegava o desenho arquitetônico da revitalização da margem do rio que ele andava examinando quando teve vontade de ouvir a voz dela mais uma vez.

Essa era a desvantagem de empregar pessoas que lhe conhecem desde quando você usava fraldas. Elas simplesmente não tinham respeito...

— Vou ter isso em mente quando ela estiver me pagando o jantar no Ferryside no sábado — ele respondeu.

— Ela vai pagar seu jantar?Bem, isso tem a ver com orgulho próprio...— Você deveria prestar mais atenção quando estiver bisbilhotando.Neil deu de ombros.— Se você queria uma conversa privada, deveria esperar até que

chegássemos no hotel. Não vai deixar que ela pague, vai?— Estamos no século XXI, Neil. Vivemos num mundo de encontros onde as

oportunidades são iguais.E, permitindo-se um sorriso de antecipação, ele estudou a mistura de

conversões e novas construções que ficariam de frente para a nova marina ao redor do velho píer. Aquilo não era, ele descobriu, suficiente para desviar seus pensamentos sobre um affair com Juliet. Dança caipira escocesa nunca foi prioridade em sua lista de passatempos favoritos, mas, de repente, ele pôde ver a atração no corpo a corpo daquela dança energética. A empolgação de se ter a cintura de uma bela mulher sob sua mão enquanto a gira.

E desejou que ela estivesse ao lado dele em vez de seu cínico braço direito.— Mark Hilliard tem feito um bom trabalho. Não vejo muitos problemas.— Pela taxa que ele está cobrando, deveria fazer a prefeitura estender o

tapete vermelho para você.Ele se permitiu sorrir.— Essa, Neil, é a idéia.— Bem, não conte com isso. Logo que o seu plano for do conhecimento de

todos, haverá objeções de grupos dedicados à defesa de qualquer pilha de tijolos no país.

— Uma pena ninguém ter se interessado por isso quando Duke deixava a área de Prior's Lane se deteriorar enquanto ele aumentava os preços dos aluguéis.

— E por falar na mancha em sua bela paisagem, o que você planeja fazer com ela?

— A prefeitura adoraria se lhe déssemos mais estacionamentos.Neil fez uma expressão qualquer com o rosto.— Você poderia pavimentar mais da metade de Melchester e ainda não

haveria espaço suficiente. Eles deveriam trabalhar em algo que fizesse com que as pessoas não usassem seus carros para ir até a cidade.

— Sim, bem, Hilliard está pensando em uma maneira de incluir isso no plano. Irei vê-lo na sexta-feira à tarde.

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

Juliet, ainda um pouco abalada, foi até a cozinha na parte de trás da loja para preparar um pouco de café, abrindo caixas de livros que haviam chegado enquanto esperava a água ferver.

Ela não podia acreditar que fora tão estúpida. O que diabos ela estava pensando ao convidar McLeod para jantar no restaurante mais romântico do país?

Olhou para a capa do livro em suas mãos — uma linda mulher nos braços de um escocês vestido apenas com uma saia e um manto xadrez sobre o ombro nu — e jogou-o sobre a mesa como se estivesse queimando-lhe as mãos.

Um cliente difícil provou-se uma boa distração, e quando ela finalmente conseguiu desembrulhar o restante dos livros, estava calma o suficiente para procurar pela lista de livros encomendados e separar alguns para o grupo de leitores. Parecia um bom negócio, e ela ficou pensando em onde eles se reu-niam para discutir os livros que liam.

E de repente os sofás e poltronas fizeram sentido.Aproveitando os momentos de paz, ela se concentra no trabalho,

vasculhando a documentação para descobrir como a loja funcionava. Automaticamente anotando o que era vendido, trazendo o dinheiro sobre o balcão. O que ficava nas prateleiras por meses. Encucada com os altos preços de postagem. Deixando sua mente vagar ao se dar conta de como seria fácil converter a parte de trás da loja numa área longe onde os fregueses poderiam ficar para olhar os livros enquanto se deliciavam com itens lucrativos como café e bolo.

Será que havia um grupo de discussão de leitores de romances policiais? Se houvesse, sua mãe com certeza faria parte.

Se Maggie fosse uma cliente, pagando um bom dinheiro pelos seus serviços, ela a aconselharia a iniciar um, aproveitando o fato de a loja se especializar em romances e romances policiais. Faça um estardalhaço ao dar cara nova ao lugar e transformá-lo numa espécie de livraria especializada à qual fãs do gênero fariam questão de visitar.

O tempo de David seria usado de forma mais produtiva aqui embaixo repintando as paredes, clareando o ambiente. Ou talvez McLeod pudesse ser persuadido a trabalhar um pouco aqui por uma boa causa...

Seus pensamentos soltos foram trazidos de volta com a chegada de Saffy, a estudante enviada pela sua mãe. Ela tinha o nariz empinado, muita maquiagem no rosto e uma mini-saia que mostrava um metro de pernas — resumindo, uma menina típica de 17 anos.

— Minha mãe disse que você precisa de ajuda — ela disse.— Preciso. — E depois de recitar as regras e estabelecer os termos do

trabalho, Juliet — após banir a idéia de colocá-la arrumando a vitrine para atrair homens — ensinou como a caixa registradora funcionava.

— Como está, Maggie?— Ficarei bem assim que eles pararem de me enfiar agulhas e tirar meu

sangue para exames. Aquela enfermeira é pior do que o Drácula.Bem, você parece muito melhor — disse Juliet, guardando uma caixa de

suco de laranja na geladeira.— Sobreviverei. Como você tem passado? Quem está cuidando da loja?— Minha mãe ficou lá para que eu pudesse vir vê-la. Ela vai ligar para você

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

mais tarde. Contratei uma menina, também, temporariamente. Espero que não se importe.

— Você faz o que for preciso. Não sei o que deu em mim para pedir a você que tomasse conta do negócio. Mas estou muita grata por ter aceito.

— Ponha a culpa em Gregor McLeod, foi ele quem pôs a idéia em sua cabeça. Ele viu como você estava preocupada. E não tem problema, honestamente. Deitamos no seu sofá e ficamos bem confortáveis.

— Você e Gregor? — Maggie perguntou, com um certo brilho nos olhos.— Eu e Archie — ela disse firmemente. — Trouxe sua correspondência — a

pessoal. As contas podem esperar alguns dias.— Traga-as com o talão de cheques da próxima vez — disse Maggie,

parecendo resignada com sua condição. — E essas cartas não são pessoais, são encomendas de livros.

— Encomendas? Você vende pelo correio? Isso é normal?— Provavelmente, não, mas tenho feito isso há anos. Havia uma americana

vivendo aqui que não conseguia encontrar livros dos seus autores favoritos e me perguntou se havia como encomendá-los para ela. Quando ela foi embora, continuou a encomendar pelo correio, e o negócio cresceu. Ela falou às amigas sobre mim e como o serviço era bom, e pouco tempo depois as pessoas me telefonavam e me escreviam de todos os lugares. Até mesmo americanos em busca de autores ingleses. Algumas pessoas simplesmente não confiam na Internet. — Ela devolveu os envelopes. — Você pode cuidar disso? perguntou, recostando-se nos travesseiros, visivelmente cansada por estar falando. — Você encontrará os envelopes especiais que uso no armário debaixo da escada.

Isso explica as postagens.— Maggie, você se lembra quando disse que eu podia mudar algumas

coisas de lugar?Maggie franziu a testa e disse:— Isso tem a ver com aquela mesa velha? -Bem, sim, mas estive pensando

em fazer um pouco mais que isso. — E ela rapidamente explicou suas idéias. — Não quero apressá-la a fazer nada. Apenas pense nisso. Podemos falar sobre isso em um ou dois dias.

— Não, você está certa. Deixei as coisas saírem um pouco da linha.— Não é nada grave. Mas você se sairia bem com ultima ajuda, creio eu.

Você terá o aluguel do apartamento em cima para aumentar sua renda, então acredito que possa custear uma estudante temporária.

— E você? Não posso esperar que você trabalhe de graça.— Tudo bem. Ainda é como férias para mim.— Não é o que eu chamaria de férias. Juliet sorriu.— Bem, talvez seja umas férias trabalhadas — ela concordou —, mas acho

que está sendo melhor para mim do que ficar deitada numa praia em algum lugar.

— Bem, se você acha mesmo. Mas você precisará de algum dinheiro para pagar essa garota. Na saída, peça à enfermeira para trazer o telefone até aqui. Falarei para o meu contador ir vê-la.

— Certo. — E acrescentou: — Oh, por falar nisso, Gregor McLeod mandou um rapaz pintar o apartamento de cima.

— Que gentil. Ele era bem bagunceiro, sabe, quando era jovem. Ficou

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

bastante perturbado por causa de uma garota. Mas tem um bom coração. — Ela sorriu. — E é muito agradável de se olhar.

— Então está tudo bem? — disse Juliet, recusando-se a pensar se gostava ou não de olhar para ele. Recusando-se a se entregar à curiosidade de saber que tipo de perturbação — o fato de que ele tinha uma filha sugeria a resposta. Aquela garota. — Deixei o pintor começar porque você disse que o apar-tamento precisava ser decorado mas em seguida fiquei em dúvida se estava fazendo a coisa certa.

— A julgar pelo que vi de você, Juliet, eu diria que você tem como hábito fazer as coisas certas, mas não precisa se preocupar. Gregor veio aqui tarde da noite antes de voar para a Escócia para me dizer o que fez. Ele disse que deixou que você escolhesse as cores que quisesse.

— Foi o que fez, mas...Mas Maggie fechou os olhos. Se estava mesmo cansada, ou queria apenas

evitar falar sobre o apartamento, Juliet não sabia ao certo. Mas pareceu um pouco como uma conspiração para ela. Ambos queriam que ela mudasse para lá por suas próprias razões. Maggie, para que a loja permanecesse aberta. E para Gregor McLeod...

Não. Ela não ia nem pensar sobre o que ele poderia querer.Mas ele estava certo sobre uma coisa: a única razão pela qual ela não

aceitava aquilo era uma enorme resistência em ser manipulada. Ou talvez ela estivesse se apegando a uma esperança patética de voltar logo para Londres.

Ela tinha que aceitar que isso não ia acontecer. Pelo menos não tão cedo. Ela já até colocara seu apartamento nas mãos de um agente — bem, sua mãe colocara — e, ela podia muito bem retirar seu nome das agências nas quais era registrada por tudo de bom que elas faziam por ela. Dê toda sua energia para a revitalização da livraria. Só tinha uma coisa...

— Antes que eu esteja preparada para pensar em me mudar, Maggie — ela disse, ignorando os olhos lindos dela — , teremos que conversar sobre o aluguel. E preparar um contrato para que ambas fiquemos protegidas. — Sem obter resposta, ela juntou a correspondência e se levantou. — Mas não se preocupe, se você não estiver disposta a isso, posso entrar em contato com o seu filho e pedir a ele que resolva isso.

— Não se atreva! — disse Maggie, com os olhos bem abertos. — Ele me colocará num asilo antes que eu possa assobiar uma canção.

— Não se eu tiver algo a ver com isso — disse Juliet. — Você é jovem demais para ser posta para escanteio, e não deixe que ninguém lhe diga o contrário. Mas quando você estiver em casa, gostaria de ouvi-la assobiar.

Maggie riu.— Quem sou eu para fazer isso. Não consigo nem assobiar para chamar um

cachorro, mas isso era o que o meu marido dizia. Ele viveu na América por um tempo e creio que algumas das frases que ele dizia ficaram em mim.

— Você deve sentir falta dele.— Nem tanto quanto deveria, aliás, ele não era o melhor marido do mundo.

Foi difícil para Jimmy quando ele foi embora. Um menino precisa de um pai.Meninas também, Juliet pensou.McLeod pode ter sido bagunceiro, mas pelo menos fez um esforço para

manter contato com a filha, embora ele não tivesse mais de 18 anos quando ela nasceu.

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Talvez ela tivesse sido um pouco dura com ele.Mais tarde, ao caminhar pela Prior's Lane rumo aos correios, com uma

pilha de envelopes, ela parou para olhar ao longo da curva daquela rua estreita, imaginando como ficaria pintada com tinta fresca, brilhante, toda reformada com cada loja decorada com cestas de flores.

O que a área precisava era de algum tipo de associação de comerciantes, ela concluiu. Um grupo ativo para reacender a área. Mas essas coisas não acontecem do nada. Exigia muito trabalho e esforço de alguém que não trabalhasse o dia todo para sobreviver. Alguém com o conhecimento para buscar incentivos do governo e de grupos históricos.

Ela fez o possível para ignorar a voz em sua cabeça dizendo alguém como você, mas quando chegou na fila dos correios já estava fazendo listas mentais.

Um local de encontro era a primeira necessidade. Panfletos para esclarecer os objetivos e reunir todos, e um telefonema pessoal em seguida para animar os menos empolgados. E, então, logo que ficasse claro quem estava preparado para ajudar e quem apenas concordaria com tudo contanto que não tivesse que fazer nada, um pequeno comitê...

Seus pensamentos foram interrompidos abruptamente pela notícia na capa do jornal nas mãos do homem à sua frente.

Nova Área a Ser Construída AnunciadaHavia uma fotografia dos galpões abandonados próximos às docas. Um

esboço da área em questão. De repente, ele dobrou o jornal e ela conseguiu ver apenas metade. A metade que não interessava.

Certamente, o boato que sua mãe ouvira havia sido levado às últimas conseqüências. Ninguém poderia estar pensando seriamente em botar abaixo o coração histórico da cidade e substituí-lo por um complexo de escritórios ou um estacionamento. Será que isso era possível?

No minuto em que ela despachou os livros, correu até a banca para comprar o jornal antes de voltar para a livraria. Ela só precisou dar uma olhada para se dar conta de que era possível.

O editorial descrevia a Prior's Lane como uma inclusão de choque no plano e, ao mesmo tempo, que via como bem-vinda a recuperação das docas, o dinheiro e os empregos atraídos para a cidade pelo novo complexo de escritórios, a nova marina proposta, que também previa uma resistência considerável a essa erosão do passado histórico da cidade.

— Pode apostar que sim — disse Juliet. Saffy desviou o olhar de um livro que lia.— O quê?— Eles se arrependerão. Se algum construtor ambicioso acha que vai

passar por cima de nós, ele pode reconsiderar essa idéia. — E, então, percebendo que Saffy não fazia idéia do que ela estava falando, deu a ela o jornal para que a menina pudesse lê-lo. — É um escândalo.

— Por quê? Eles vão apenas derrubar um monte de prédios horríveis.— Não apenas os prédios horríveis. A Prior's Lane está incluída nos planos.— E daí? — Ao dar-se conta de que isso não era bem o que ela queria ouvir,

acrescentou: — Digo, esse lugar está meio caído, você não acha? Quem viria aqui no frio e na chuva quando é possível comprar qualquer coisa nos shoppings! E esses paralelepípedos são horríveis para quem usa salto alto.

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

— Talvez, mas são mais bonitos do que asfalto, e duram muito mais. — Mas a reação da menina a fez pensar. Ela achava que todos lembravam daquela área da forma como ela lembrava, mas talvez não fosse bem assim. — Suponho que você tenha razão. Não há muito aqui que atraia as pessoas dos shoppings. É uma vergonha. Havia lojas muito adoráveis por aqui — ela disse, descrevendo aquele lugar na época em que tinha a idade de Saffy. E soando inconformada, ela percebeu, como sua mãe quando o mesmo shopping acabou com a High Street.

A garota não pareceu convencida. — Então, se as lojas eram tão legais assim, por que fecharam?— Sim, bem, isso é uma boa pergunta.Definitivamente, uma pergunta para se guardar. E, consciente do valor do

ataque enquanto o problema estava fresco na cabeça das pessoas, ela preparou um convite para uma reunião para a qual ela não tinha tido tempo de encontrar um local apropriado, e portanto aconteceria na livraria. E, então, quando Saffy foi até a biblioteca tirar cópias, pediu para ela distribuir os convites ao longo da rua. Sua mãe chegou quando ela fechava a loja.

— Como foi lá?— Bem — ela disse ao trancar a porta, esticando-se para fechar a tranca de

cima. — Meus pés estão doendo, minhas costas... na verdade, quase tudo dói, mas, tirando isso, tive um dia legal.

— Nesse caso, você não deve ter visto o jornal.— Vi sim. Já organizei uma reunião para amanhã à noite.— Meu Deus, você não perde tempo.— Não. Para quem estava desempregada, e sem chances de arrumar um

emprego ontem, agora pareço ter dois grandes projetos em mãos. Reformar a livraria e salvar a Prior's Lane.

— Você tem o trabalho. E já tem o cliente?— Alguém para pagar, você quer dizer? Não, mas haverá muita publicidade

no caso Prior's Lane. Se eu cuidar disso direitinho, demonstrará que não sou esse desastre que os meus antigos empregadores estão insinuando.

— Bom raciocínio. E não há razão porque a renovação da livraria não lhe fizesse bem. É o tipo de coisa que a revista Crônicas do País gosta de mostrar. Combinada com a luta pela Prior's Lane, você pode até gerar interesse por parte dos jornais de domingo.

Era um infortúnio descobrir que as habilidades gerenciais que ela sempre considerou como resultado de anos de estudo e experiência foram aprendidas com sua mãe. Uma mulher que nunca teve uma carreira. Grávida e sozinha com 17 anos, ela nunca teve chance de tentar uma carreira; teve que trabalhar para pagar as contas e se virar para cuidar dela. Sempre fazendo o possível para a filha ter um começo melhor que o seu. Que sua vida não fosse desperdiçada antes mesmo de começar.

Será que seu pai fora como McLeod? Jovem, assustado, correndo o mais rápido possível da bagunça que ajudou a fazer? Exceto pelo fato de McLeod não ter corrido.

Num impulso, ela abraçou sua mãe.— Ei, para que isso?— Por tudo. — E a seguir: — Você estará em casa essa noite? Precisarei de

algumas das minhas coisas. Minhas roupas sociais dentre outras coisas.

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

— Venha comigo agora. Pegaremos alguma comida para levar e ajudo você com a mala enquanto me conta sobre seus planos.

— Como foi a festa?— Um luxo — Greg respondeu ao entrar no carro. O padrasto de Chuí não

economizou na festa.— É mesmo? — Neil franziu a testa. — Achei que você iria pagar a conta.— Como eu disse, ele não economizou. Não que eu tenha inveja. Ela é tudo

o que tenho e eu a vejo muito pouco.— Bem, isso vai mudar quando ela vier para o sul para a universidade, não

é?— Sejamos realistas, Neil. Ao contrário de você, eu nunca cheguei à

universidade, mas tenho certeza de que você não perdeu tempo saindo com seu pai. — E acrescentou: — Diga-me o que está acontecendo em Melchester. O anúncio saiu como planejado?

— Saiu. — E?Ele entregou a Greg uma folha de papel.— Peguei isso na Internet hoje de manhã. Greg se pegou olhando para uma foto de JulietHoward com a Prior's Lane atrás. O lugar parecia agradável em vez de

deteriorado sob o sol da primavera. E notou que alguém havia colocado vasos com flores do lado de fora da loja para adicionar uma corzinha. Um belo toque.

— Você sabe quem fez isso? — ele perguntou.— Sim. É problema. A garota com a voz de chocolate usou essa voz para

alguma coisa, organizando os comerciantes da Prior's Lane e criando um grupo de pressão antes que a tinta tivesse secado na edição de quarta-feira. De acordo com o editorial, eles não serão retirados dali.

— Não? — Greg sorriu. — Caramba, Neil, ela não é uma gata? Adoro esse traje. Mostra a quantidade exata da perna dela. O suficiente para fazer qual-quer um querer ver mais...

— Não consigo entender por que você acha isso tão empolgante.— Não estou rindo. Francamente, estou muito admirado. Deixe disso, você

deve estar impressionado. Quanto tempo ela levou para organizar tudo isso?— Você é o gênio, faça os cálculos. O plano de construção saiu quarta-feira

na edição da noite do Chronicle. Isso aí saiu na primeira edição de hoje. Sexta-feira.

Menos de 48 horas.— E ela já falou na rádio local hoje de manhã. — Ela não apenas parecia

maravilhosa. Ela era maravilhosa. O que diabos ela estava fazendo perdendo seu tampo em Melchester? Por que não estava em algum lugar gerenciando uma empresa? Ele a empregaria de imediato. Se ela não estivesse fazendo um trabalho tão bom em desviar a atenção dos agitadores das construções principais.

— O que você vai fazer, Mac?— Nada. Pelo menos não diretamente. — Ele já checara com o

departamento pessoal para se assegurar de que ela nunca trabalhara para ele antes. Mas, certamente, ela já trabalhara para alguém. Quero que você vá

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

atrás daquelas agências de ofertas de mão-de-obra. Diga que estamos à pro-cura de uma mulher experiente e bem qualificada para um emprego de gerência plena em linha de produção. Cerca de 30 anos. Alguém com forte experiência organizacional. Veja se o nome dela aparece.

— E se aparecer?— Envie-me por e-mail tudo o que eles tiverem. E enquanto isso descubra

se a entrevista que ela deu na rádio está na Internet. Gostaria de saber o que ela tem a dizer.

Ele queria apenas ouvir a voz dela. — Mas... — Neil deu de ombros. — Tudo bem, Mac. Vou atrás disso.— E lembre a todos no escritório que se os cavalheiros da imprensa

tentarem pressioná-los, seus únicos comentários serão sem comentários. O mesmo vale para qualquer pessoa legal que queira comprar-lhes uma bebida num bar. Trabalhei duro para que o meu nome não estivesse conectado a esse projeto, mas agora isso virou assunto público e haverá pessoas a fim de descobrir quem está por trás da Melchester Finanças.

— E Marty Duke? Ele acabou de lhe vender alguns terrenos que não sabia estar incluídos no projeto. Ele deve estar soltando fumaça pelas ventas.

Greg sorriu. Ele teve o mesmo pensamento.— De acordo com minha informação, ele estava pronto para sair do país no

momento em que o banco transferiu o dinheiro, sem dúvida com um bando de credores atrás dele. Vamos torcer para que eles não o tenham prendido. Mais alguma coisa precisando da minha atenção imediata?

— Nada que eu não possa resolver sozinho.— Ótimo. Nesse caso, vou para casa tomar um banho e me trocar antes do

encontro com Mark Gilliard. Estarei na cabana o fim de semana inteiro, caso me procure, mas, por favor, não telefone, ao menos que seja muito importante. Tenho um encontro com uma linda mulher.

— Ainda planeja jantar com a srta. Howard? Agora que ela é... é...Neil fez um gesto vago, aparentemente sem querer sugerir exatamente o

que Juliet Howard poderia ser.— Líder da oposição? — ele disse. — Diga-me uma coisa, meu amigo, por

que eu desistiria de ouvir dos lábios dela que planos ela tem para arruinar minhas ambições?

Neil ficou visivelmente em choque.— Bem, sim, mas isso não é muito ético, não é mesmo? Especialmente

quando é ela quem pagará a conta.— E, o problema não é meu se ela pensa que sou apenas um biscateiro.— Ela vai lhe matar quando descobrir, e quer saber de uma coisa? Estou do

lado dela.

Capítulo 7

Juliet parou na entrada do belo restaurante à margem do rio para recuperar o fôlego. O dia havia começado cedo, bem antes de a loja abrir para os fregueses, e as perguntas, telefonemas e ofertas de ajuda de pessoas que viram a reportagem no jornal chegaram tão rápidos que ela quase não teve tempo para pensar, muito menos para respirar.

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

Por diversas vezes tentou pegar o telefone para ligar para McLeod e cancelar o jantar, com a desculpa do trabalho. Se ele viu o jornal, deveria saber como a vida dela ficou uma loucura.

Mesmo que não tivesse visto o jornal, ele ia querer saber do progresso de David, não é mesmo?

Cada vez que a porta da loja abria, ela olhava, esperando e ao mesmo tempo temendo que fosse ele em pessoa para ver o que estava acontecendo. Oferecendo para adiar o jantar. Ou pelo menos liberá-la ao sugerir que ela relaxasse, erguesse os pés ao lado da lareira com um copo de vinho, enquanto ele saía atrás da melhor comidinha chinesa que pudesse encontrar em Melchester.

Ela pagaria tudo, claro.Ela ficou dividida entre o desejo de vê-lo e a esperança desvairada de que

ele não aparecesse antes de Dave terminar o trabalho para que pudesse ver como tinha ficado bom. Então, não importaria o quanto estivesse zangado, teria de admitir que ela acertara em suas prioridades.

Finalmente, um pouco irritada por ele nem ao menos ter telefonado para confirmar o encontro, ela passara do ponto ali parada na porta do restaurante Terryside com os seus saltos mais altos, com os cílios alongados graças à última tecnologia em cosméticos e com um vestidinho preto que, em Londres, fora a palavra em sofisticação, mas que nas províncias parecia um tanto quanto baixo demais no decote e curto demais na saia.

E ela sabia que deveria ter telefonado.E o que diabos a fez escolher esse restaurante, com tantos outros para

escolher?Porque você queria impressioná-lo, estúpida, disse aquela voz interna que

sempre pareceu ter as respostas certas imediatamente. Demonstre que você é uma mulher no controle. Uma mulher que toma decisões e as segue...

Não, não!Tudo bem; talvez só um pouco. Mas era mesmo a necessidade de convencer

a si mesma. Restaurar sua autoconfiança.Mas a voz se recusava a se calar.Você quis se vestir para arrasar, ela continuou, para trucidar Gregor

McLeod, para fazê-lo olhar para você e desejá-la. Para provar para si mesma que você não era mais a menininha patética que andava atrás dele na hora do recreio, esperando ser notada. Que andou nas nuvens por uma semana quando ele piscou os olhos para você...

Ela tapou as orelhas para calá-la.— Juliet? Você está bem?Ela deu um pulo quando ouviu aquela voz grave e suave, tão perto que

deixou cair a bolsa. McLeod saiu das sombras ao lado da porta e se abaixou para pegar a bolsa, seus dedos se tocaram quando ele a entregou a ela.

O choque perigoso da empolgação invadiu o corpo dela.— M... McLeod.— Você parece surpresa. — N... Não. Não vi você aí. Para dizer a verdade, não esperava vê-lo por

aqui ainda. Vim um pouco mais cedo só para ter certeza... — ele esperou, — bem, você sabe.

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

— Para entregar o cartão de crédito para o garçom-chefe e evitar constrangimentos na hora de pagar a conta?

— É como eu sempre lidei com almoços de negócios... jantares... no passado.

E isso eram negócios, ela lembrou a si mesma. Pagar a conta desse jantar cobriria todas as dívidas pendentes. Pelo menos até que ele visse a loja...

— E eu vim mais cedo porque, como você rejeitou a minha carona, não quis que ficasse esperando sozinha no bar.

Ela respirou fundo, desejando não ter feito o comentário sobre negócios.— É muita gentileza sua.— Sou um rapaz bom, Juliet.— Sempre pronto para ajudar uma donzela em perigo. Bom para

velhinhas... — Protetor da menininhas... — Diga-me, você pega cachorros perdidos também?

— Isso é do conhecimento de alguns. Até alimento os pássaros no meu jardim — ele disse, ajudando-a a retirar o casaco e entregando-o a um garçom, como se isso fosse algo que ele já tivesse feito uma centena de vezes. Sentindo-se em casa no luxo daquele lunar. — É politicamente aceitável, hoje em dia, dizer que você está muito bonita? Levando em consideração que estamos aqui a negócios?

— Perfeitamente aceitável, obrigada, McLeod. E você também. — E era verdade. Ele estava muito charmoso. Seus cabelos escuros encaracolados sobre o colarinho, bem cuidados e brilhantes, o paletó do terno assentando perfeitamente em seus ombros largos, sua gravata de seda. Ele estava impecável. Chamando atenção, pois era o tipo de homem que atraía as mulheres onde fosse, com qualquer tipo de roupa.

E ainda assim... apesar das roupas, ele parecia, de alguma forma, muito mais ameaçador do que se estivesse de jeans e jaqueta de couro.

E, então, ruborizada ao se dar conta do que dissera...— Quero dizer que você parece muito elegante. De terno.Não havia nada diferente no sorriso dele. Mesmo assim, o coração dela

ficou tão acelerado que ela pôde senti-lo na garganta.— Eles não deixam ninguém entrar aqui de jeans.— É verdade. Espero que você não tenha comprado o terno especialmente

para essa ocasião.— Você me mata, princesa.Bem, missão completa, então. Mais fácil do que ela imaginara...— Você tem um jardim? — ela perguntou, mudando de assunto.— Percebo um toque de desconfiança em sua voz. Você não me vê como um

calejado filho da terra?Havia algumas frases que era melhor que fossem evitadas, ela concluiu.

Sem oferecer uma resposta, apenas ergueu as sobrancelhas.Ele riu.— Você está certa, claro. Um carrinho com cortador de gramas para manter

o gramado baixo o suficiente para que eu possa encontrar a cerveja e a rede pendurada entre duas árvores plantadas especialmente para mim são tudo o que preciso. Bem aqui. — E com a mão nas costas dela ele a guiou na direção do bar. O vestido não a cobria o suficiente, ela ficara preocupada com o comprimento da saia, com o decote; mas não pensara muito sobre o corte baixo

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

das costas. Não que McLeod estivesse abusando do seu toque. Pelo contrário, sua mão quase não tocava as costas dela; não era nada mais do que a transferência de calor que lhe subia pela espinha, cortando qualquer conexão entre seu celebro e seus sentidos. O toque dele apenas fazia indo isso.

— Você veio com o carro da sua mãe, Juliet?— O quê? — E em seguida: — Perdão, está muito quente aqui. — Ela

abanou a bolsa que carregava como se fosse um leque. — O carro de minha mãe?

— Aquele candidato ao ferro velho que você dirigia no outro dia — ele disse. — Ou você decidiu pela segurança?

— Segurança? Isso era seguro?— Não. Sim... A verdade era que ela nem ao menos pedira. Sentiu-se

insegura demais consigo mesma para responder; no que dizia respeito a sua mãe, ela estava na cama, dormindo.

Mas ela estava começando a soar como uma idiota.— Isto é, não — ela esclareceu com uma rispidez determinada. — Não vim

no carro de minha mãe. E, sim, decidi não arriscar a chance de ter de consertá-lo no meio do caminho e arruinar minhas unhas. Essa ocasião pedia um táxi.

— Bem, fico feliz em finalmente termos acertado isso. Isso significa que podemos tomar uma bebida enquanto você me conta os planos para salvar o mundo dos grandes e maus construtores.

— Então você viu o jornal — ela disse, grata pela mudança na conversa enquanto ele caminhava na direção de uma mesa reservada. Um garçom apare-ceu instantaneamente e começou a abrir uma garrafa de champanhe que gelava num balde, e ela se assustou, embora ele tenha soltado a rolha com o maior cuidado.

— Você parece um pouco irritada — McLeod disse, enquanto se sentava ao lado dela. — Você não está nervosa, está?

— E deveria? — E, então, antes que ele pudesse responder: — Estamos comemorando algo?

— Não é todo dia que você aparece na capa do Melchester Chronicle criando um levante popular contra o massacre promovido pelos construtores. Definitivamente, uma ocasião para o champanhe.

— Creio que não. — Ela já estava cheia de ocasiões para champanhe...— Não se preocupe, esse é por minha conta — ele disse, ao dar-lhe uma

taça e brindando com a sua. — À heroína do momento.— Oh, por favor. Sou apenas a porta-voz dos comerciantes.— Um pouco mais do que isso, eu suspeito. As flores foram um toque

agradável.— Você achou? — ela disse, dando um pequeno gole no champanhe para

que ele não percebesse como suas mãos estavam tremendo. Foi um pensa-mento gentil e generoso da parte dele. Ele não teria como saber que ela não gostava de champanhe...

Flores, ela pensou. Continue falando sobre isso. — Sim, bem, queria mostrar a Prior's Lane em sua melhor forma. Algumas

cestas grandes de flores teriam sido melhor, mas estamos na época errada do ano.

— Não, de verdade, eu quase não reconheci o lugar, mas o fotógrafo

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

também fez um bom trabalho ao manter o que estava atrás fora de foco para não mostrar a pintura descascando.

— Levou um tempinho para acertar tudo — ela admitiu. — Agradeço a Deus pelas câmeras digitais.

— E fotógrafos solícitos que respondem bem a elogios?Ela começou a relaxar. Conseguiu até sorrir.— Você é um cínico, McLeod — ela disse, dando outro gole em sua bebida.— Sou? Mesmo?Estava tudo bem. Afinal, não foi o champanhe que arruinou sua vida...— Juro para você, ele estava tão chocado quanto eu que uma área histórica

como aquela poderia sumir embaixo de 20 andares de concreto. E era de ambos os nosso interesses que ele fizesse uma boa foto.

— Não vai me dizer que foi ele quem levou as flores.— O quê? Oh, não. Dave encontrou os vasos para mim... — Droga! Ela não

quis dizer que ele não estava trabalhando duro na pintura. — Eu negociei com um dos comerciantes por um punhado de flores. Elas já estavam um pouco passadas — ela disse, torcendo para ele não perguntar sobre isso. — Consegui-as quase de graça.

— Ele está fazendo um bom trabalho? Dave? Obviamente, não tão rápido quanto deveria.

— Ele tem sido ótimo. Eu estava para agradecer a você por ele.— Tenho certeza de que sim, se não fôssemos interrompidos no meio da

conversa.— Não fomos interrompidos...Ela parou, respirou — ela não estava se saindo tão bem nesse momento — e

cruzou o olhar com o garçom.Ele se aproximou de imediato, enchendo seu copos, antes de resgatá-la

perguntando:— Está pronta para olhar o menu, madame? Senhor?— Obrigada.— Isso foi muito bom, princesa — disse Greg, enquanto admirava as táticas

de fuga dela. Indicando para o garçom deixar os menus na mesa. Ele não estava pronto para deixá-la se esconder por trás daquela capa de couro ainda, e continuou: — Qualquer um pensaria que você não come há uma semana. Em vez de fazer o possível para mudar de assunto. E com uma boa razão.

Mas, então, ela não tinha como saber se Dave Potter o havia consultado antes de se deixar desviar do trabalho de pintura. E se ele estava a par do trabalho realizado na loja.

— Bem, talvez não há uma semana — ela disse com um sorriso sem graça —, mas a verdade é que passei o dia correndo. Acho que não tomei mais do que uma xícara de chá desde o café da manhã. — Ela parou como se pensasse sobre o que tinha dito.

— Para ser sincera, não me lembro de ter comido algo de manhã. — E, então, só para lançar um assunto diferente: — E nos que diz respeito ao politicamente correto, eu já não lhe pedi que não me chamasse de princesa? Isso me dá a impressão de que você não se lembra do meu nome.

— Não precisa temer isso, Juliet.Mas ela estava certa, ele era casual o suficiente no uso de títulos carinhosos

— doce, querida, baby — e na maior parte pela razão que ela deu. Mas nunca

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princesa. Isso veio de algum lugar no fundo da cabeça dele...— Mas não se preocupe muito com isso — ele disse, deixando passar. — No

final do dia você deixará a Prior's Lane e a livraria, e voltará para sua vida de verdade.

— Minha vida de verdade! É impossível ficar mais verdadeira do que isso. — Em seguida, olhando à sua volta para o belo restaurante. — Certo, não do que isso. Mas você sabe o que quero dizer.

— Eu sei que se as pessoas que vivem da Prior's Lane não se importam o suficiente para lutar por ela, nada que você fizer as salvará.

— Mas eles se importam. A maioria deles. — Ele ergueu as sobrancelhas, sugerindo que ela estivesse otimista demais. — Obviamente, não vou conseguir muito apoio de lojas de caridade que estão ali apenas temporariamente. Se a área se tornar desejável de novo, eles perderão seus espaços.

— Pela causa do progresso, alguém sempre perde.— Se o lugar desaparecer sob toneladas de concreto, todos perdem. Eles só

precisam de alguém de fora, alguém com uma visão nova para organizar a resistência.

Ou alguém, Greg pensou, que precisava de uma causa para restaurar seu entusiasmo, sua autoconfiança, embora vê-la ali sentada, com toda aquela pose, num vestido de fazer virar o pescoço de qualquer um, era difícil imaginar o que poderia tê-la feito voltar para Melchester com o rabinho entre as pernas. Ela certamente não estava à procura de outro emprego...

— É muito difícil para eles — ela continuou, ao ver que ele não ofereceu nenhum apoio. — Todos trabalham muito, você sabe como é.

— Sei sim. Só espero que eles saibam como são sortudos por você estar cuidando de seus interesses. — Ele finalmente pegou os menus, entregando um a ela.

— Isso significa que posso contar com sua ajuda? Formamos um grupo de ação e já alistei a sociedade histórica...

— Obrigado, mas estou muito ocupado no momento. E de alguma forma ele achou que o grupo de ação não ia gostar muito quando soubesse que ela convidara o inimigo para sua sala de estratégia.

— Você não se importa com o que pode acontecer? Sabemos, mais ou menos, o que eles estão planejando fazer com o resto da área de construção, mas, aparentemente, a área da Prior's Lane é uma adição de última hora. Se você não se importa com Maggie e com os outros, tente um pouco de interesse próprio. Duke's Yard também está incluída, você sabe.

— Vi o jornal.— Oh, sim. — Ela se recostou na cadeira, visivelmente frustrada pela sua

tática ter falhado. — Pensei que isso o afetaria. E o seu trabalho?— Não trabalho lá. Trabalho por conta própria.— Mas pensei... — Ele pôde ver o que ela pensava. Você atendeu ao

telefone. Você dirigia uma das vans deles.— E a comprei — ele disse, deixando-a interpretar sua resposta como

quisesse.— A van?Ele ficou um pouco desapontado. Se ela tivesse ligado para ele, ele teria

confessado — ele não fizera nada para esconder a verdade —, mas nunca

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

ocorreu a ela ver o que estava na frente de seus olhos. — Você agia como um biscateiro, era tratado como um...— Dentre outras coisas. Você estava certa, Juliet. Marty Duke faliu. Eu

apenas estava lá quando você ligou. O telefone foi cortado minutos depois de sua ligação.

— Mas, e as coisas que você trouxe? A grade de segurança, o alarme?— Esqueça isso.— Certo — ela disse, franzindo a testa, tentando encaixar algumas peças

sem sentido. Ainda havia esperanças.— O que você achou do resto do plano? — ele perguntou. — Para a área das

docas.— O quê? Oh, bem, no papel pareceu muito bom. Não acredito que vá

agradar a todos, mas não faz sentido se apegar ao passado sem nenhuma razão específica.

— É verdade.Ela percebeu o sarcasmo na voz dele e seus olhos se cerraram.— Não sou oposta ao progresso, McLeod. Mas há uma enorme diferença

entre revitalizar a área com prédios lindos e novos e enterrar o passado sob um edifício garagem.

— Um edifício garagem? É isso o que vai acontecer lá?— Bem, é apenas um boato, mas você sabe como a prefeitura está

desesperada por mais espaço, e a Prior's Lane está no lugar exato para um estacionamento desses. Bem ao lado do shopping e todos aqueles escritórios novos.

— Pareceu-me que o construtor tinha feito provisões necessárias para estacionamento.

Enquanto ela dava de ombros, a luz brilhou em seus ombros e exigiu toda a concentração dele para não se entregar e tocar nela.

— O escritório de planejamento não pode lhe dizer o que está acontecendo?— Eles parecem não saber de nada. Ou talvez essa seja a impressão que

querem que tenhamos. E todas as companhias investidoras na construção apenas dizem sem comentários.

— Talvez você devesse fazer um protesto contra eles — ele sugeriu.— Oh, por favor. Eu, minha mãe e Archie. Isso os deixaria muito

preocupados.Ele riu. E, então, ao ver que ela estava séria, recompôs-se rapidamente e

disse:— O que você precisa é de uma espécie de mecanismo de bloqueio para

forçá-los a falar com você. Talvez o pessoal da sociedade histórica encontre algum tipo de estatuto antigo garantindo o direito de comércio aos cidadãos residentes naquela rua para sempre.

— Eles estão à procura.— Bom para eles. Enquanto isso, você parece estar com as mãos cheias.

Como está lidando com a loja? Suponho que tenha tido que esquecer das mudanças por enquanto.

— Bem...Juliet sabia que era o momento de confessar, dizer a ele a verdade. Dizer

que tirara Dave do trabalho no apartamento e o colocara para trabalhar na pintura da loja o mais rápido possível. Mas também seria muito mais fácil

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quando estivesse tudo terminado e ele pudesse ver por conta própria que ela havia feito a coisa certa.

E mesmo se ele estivesse zangado com ela, seria tarde demais para fazer alguma coisa. Além de enviar a conta...

Então ela foi vaga:— Maggie admira muito você, McLeod.Ele respondeu com um sorriso tão fraco que nem chegou a seus olhos,

deixando-a com a impressão de que ele sabia exatamente o que ela estava fazendo. Mas tudo o que ele disse foi:

— Esse sentimento é mútuo.— Então você não vai ajudar? Por ela?— Você não desiste, não é mesmo princesa?— Não quando o assunto é tão importante assim — ela disse, furiosa por ele

não se envolver. E por ele aparentemente ter esquecido o nome dela de novo.O apelido a conquistara quando menina e inocente, mas, obviamente, ele

usava o mesmo nome para todas as conquistas. Tão mais fácil do que fazei um esforço. Muito menos trabalho do que dizer um nome errado.

— E detesto ser a pessoa a lhe dizer isso, McLeod, mas sua memória recente precisa de um conserto. O nome é Juliet.

— E o meu — ele respondeu — é Gregor. Use-o e prometo que não conseguirá me manter longe da Prior's Lane.

Isso não foi o que ela pediu, e ele sabia disso. — É mesmo? Você estaria preparado para passar lodo o seu tempo livre

enchendo envelopes, fazendo cartazes, organizando pedidos? — ela perguntou. — É só dizer a palavra mágica, princesa — ele retrucou.O rosto dele estava coberto de sombras por causa da luz baixa, mas seus

olhos brilhavam com um toque de despreocupação que fazia com que um calor subisse pelo rosto dela, enquanto a voz dele, suave e grossa, emanava um desafio para levar aquele flerte inteligente para além das palavras.

Ele tinha apenas uma coisa na cabeça, ela sabia, e não era a Prior's Lane...Talvez ele não estivesse sozinho.Gregor...Ela queria sentir o nome dele deslizando sobre sua língua. Sussurrá-lo

baixinho, ouvir o som...— Não. Você está certo — ela disse de repente, torcendo para a luz baixa

esconder sua cor. — Não seria justo envolver você. Não se você tem, ah, muito o que fazer.

— A decisão é sua. Pode mudar de idéia quando quiser — ele disse. — Acho que devemos fazer o pedido. Acho que o garçom-chefe ficaria muito aborrecido se desmaiássemos de fome.

Era como o calor de um forno com a porta aberta, ela pensou. Um toque de algo inesperado, a tentação de queimar os dedos.

O momento passou tão rápido quanto surgiu, mas ao abrir o menu, Juliet sabia que em se apresentando as possibilidades, convidando-a a arriscar-se e colocar-se nas mãos dele, seu relacionamento mudara para sempre. Não porque ele a obrigaria a fazer algo que não estivesse preparada para fazer, mas porque ele não fizera. Ele deixara tudo por conta dela. E agora, cada vez que ela olhava para ele, chamava-o de McLeod, ambos saberiam que ela estava

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

pensando sobre o que ele dissera.Tudo o que ela precisava fazer era falar a palavra mágica. Gregor...Ela olhou por cima do menu, esperando roubar uma olhadela dele, e pegou-

se olhando diretamente dentro dos olhos azuis dele. Foi um momento no qual ela poderia ter abandonado qualquer pensamento sobre comida, agarrado sua mão e corrido, um momento de pura e nua paixão.

E ela sabia porque uma garota poderia facilmente esquecer os conselhos sábios de sua mãe, os avisos de seu pai e partir para o lado selvagem da vida.

E então ele riu, quebrando o encanto. — Quer me ajudar com isso? — ele perguntou, enquanto, deixando de lado

o menu, se aproximou dela e com o braço em volta da cadeira disse: — Nós, biscateiros, não estamos acostumados com restaurantes franceses.

Ela não acreditou nem um pouco que ele tivesse alguma dificuldade com o menu, mas não se importou. O tecido suave do paletó dele era agradável no ombro dela. Seu braço era sólido e protetor em volta dela.

E se aquilo fosse uma ilusão? Enquanto ela reconhecesse o que realmente estava acontecendo, reação pura e simplesmente sexual entre dois adultos, sem pretensões, sem mentiras...

Ela tremeu um pouco. Você está com frio?Ele olhava para ela, mas de repente ela não pôde mais olhá-lo nos olhos.— Não, é que... bem, talvez eu devesse ter usado algo menos... — A única

palavra que lhe veio à mente foi revelador.Aproveitando-se da hesitação dela, McLeod disse:— Menos? Isso é possível?— Acho que a palavra que estava procurando é mais em vez de menos. Algo

mais quente. — E ela conseguiu rir. — É louco, não é? Homens saem à noite de terno e gravata e mulheres aceitam o desafio de vestir o mínimo possível.

— Bem, falando pelos homens — ele disse, curvando-se para dar-lhe um beijo no ombro —, acho que é um sistema muito bom.

Capítulo 8

— Mais quente? — Greg perguntou, olhando para os olhos dela, enquanto ela lutava para encontrar palavras para expressar exatamente como se sentia, mas a dificuldade em se expressar lhe dizia o suficiente. — Você não tem que me agradecer — ele disse. — Aquecimento central é parte do serviço.

Era cruel provocar, mas era tão mais fácil deixá-la ruborizada. Juliet Howard era um emaranhado de contradições. Fria, formal, num dado instante. Completamente confusa no próximo. E fora ela quem insistira que isso não era um encontro, algo que o seu vestido negava com toda veemência.

Ela cerrou os lábios com força, recusando-se a se deixar levar pela tentação, e, ignorando-o, deu atenção completa ao menu, deixando-o livre para fixar sua atenção na forma como os cabelos dela deslizavam sobre seu pescoço, assentando sobre o ombro. A pele lisa de suas costas...

Ela olhou para ele, viu para onde ele olhava e disse:— Acalme-se, McLeod. Estou a fim de comer.— Sim, madame.Por um tempo a conversa girou em torno de nada mais perturbador do que

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os méritos do peixe contra os da carne, os prazeres de boas refeições, experiências compartilhadas e a descoberta de ambos. Uma conversa tranqüila e relaxante. Relaxante o suficiente, depois que o garçom partiu com os pedidos, para que Juliet, de volta ao controle depois daquele beijo indecente, voltasse ao território pessoal.

— Então, McLeod — ela começou —, como foi sua; viagem à Escócia? Tudo bem na festa da sua filha?

— Muito bem, se sua idéia de diversão consiste num bando de pessoas comendo demais, bebendo demais e dançando ao som de música prejudicial aos ouvidos.

— Para ser honesta, não é.— Nem para mim. — Ele sorriu como se fossem um casal de adultos mal

compreendidos. — Mas Chloe pareceu estar se divertindo muito. E isso é tudo o que importa.

— Que pai atencioso — ela disse, e se deu conta de certo sarcasmo em sua voz. Sem estar completamente no controle, ela disse: — Não creio que você tenha uma foto dela.

— Você não está gozando de mim, está? — ele perguntou, ao enfiar a mão no paletó e retirar uma foto da carteira.

A jovem na fotografia parecia tanto com McLeod quando ele tinha a mesma idade que, em vez de responder, ela apenas recuperou o fôlego. Ela tinha o mesmo cabelo escuro e pesado. Os mesmos olhos azuis. Mas nada do perigoso traço do pai Ou talvez o retrato formal com o sorriso inocente disfarçasse os sentimentos mais profundos. Ela teria, afinal de contas, de ter herdado algo da despreocupação do pai. E talvez da mãe também.

— Você está com um problemão, McLeod — ela disse, devolvendo-lhe a foto.

Pela primeira vez desde o início do encontro ela O viu desconcertado.— Estou? — Ele olhou para a foto, visivelmente interessado no que ela vira

que ele havia deixado passar.— A menos que ela entre para um convento, deixará um rastro de corações

despedaçados por onde passar. Certamente, ela puxou a mãe.— A mãe dela era ruiva, tinha olhos verdes e era sardenta — ele disse.— Sardenta! Achei que você fosse um cavalheiro! Ele sorriu.— Tudo bem, não eram sardas. Apenas uma pitadinha de pó dourado de

fadas.— Oh, pelo amor de Deus — ela disse, um tanto quanto enciumada. — Deve

ser difícil para você viver longe dela.— Não estou longe o suficiente para os avós dela. Eles fizeram de tudo para

me manter bem longe dela. E Fiona, claro.— A ruiva sardenta? — ela perguntou. — Obviamente, eles não

conseguiram.— Não por não tentarem. E é estranho. Odiei os pais de Fiona por muito

tempo. Nunca os perdoei pelo que fizeram. Mas, na festa, vi Chloe paquerando um rapaz e finalmente entendi o que eles passaram todo esse tempo. Entendi que tudo o que eles queriam era protegê-la de tipos como eu. Ele olhou para cima e sorriu. — Acho que é minha vez de sofrer.

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

— Você é pai. Isso é parte do jogo.— Sim, bem, as coisas têm sido fáceis até agora. Aparecer uma vez por mês

com um brinquedo novo que ela queria, nunca ter de ser duro com ela na hora de dormir, o homem mau na hora do dever do casa; tudo isso é moleza comparado ao trabalho de estar com ela.

— Sinto muito. Deve ter sido muito difícil para você — disse Juliet, curvando-se instintivamente para tocar-lhe o braço. Sabendo que houvera um outro homem para quem sua filhinha correra quando caiu e se machucou. Que contou histórias ela. Que sempre esteve presente. — Você fez o que pôde. Mais do que muitos homens na sua posição.

— Não foi suficiente.— Não. — Não era apenas sua filhinha quem ele queria. Era a mãe dela.Ela levantou a mão levemente e disse:— Os pais de Fiona impediram vocês de ficarem juntos? De se casarem? Ou

isso é muito antigo de minha parte?— Se é, estou com você, mas a única coisa que tínhamos em comum era o

fato de termos 18 anos e prontos para uma diversão. Ela estava no último ano nas Faculdades para Mulheres St. Mary com uma vaga garantida na Oxford. Eu estava terminando o primeiro ano de seis na Melchester Comp. Mundos completamente diferentes. Ela era do tipo que usava os cabelos brilhosos, chapéu panamá e era distinta. — Ele olhou para ela. — Bem, não preciso lhe dizer mais nada.

Ela se lembrou de quando ele deduziu que ela vinha da mesma tradição privilegiada.

— Não — ela disse —, não precisa dizer mais nada. Isso foi parte da lista dela. Parte do grande plano para a vida. Ser uma daquelas garotas confiantes, sempre sorridentes, com uniformes idênticos...

— Eu era o tipo de rapaz de quem ela tinha sido avisada a vida toda.— Meninos maus, especialmente aqueles de motocicletas, têm sido uma

atração irresistível até para garotas de boas famílias.— Como você sabia que eu tinha uma moto?— Poderia apostar qualquer coisa — ela disse.— Sim, bem, os pais dela acreditavam que eu era o único responsável. Se

eles pudessem, teriam me prendido por deflorar uma virgem. Não que ela fosse. Aqueles menininhos bem cuidados do St. Dominic deviam achar que era seu dever aliviar as meninas da St. Mary dessa carga logo depois de seus aniversários de 16 anos... — Ele parou. — Sim, bem, pelo menos eu fui inteligente o suficiente para não dizer-lhes isso.

— Então, se não um cavalheiro puro — ela disse —, perto de ser.Ele olhou para ela.— Se uma das amigas dela não tivesse me falado sobre Chloe, eu nunca

teria ficado sabendo.— Vocês já não estavam mais se vendo?— Eu nunca fui parte dos planos dela para o futuro, fui apenas um casinho

de verão para celebrar o término das aulas, para preencher o tempo antes de ela partir para a Toscana, onde passaria o verão. O enjôo da manhã deve ter atrapalhado bastante as férias dela.

— Sinto muito.— Tudo bem, princesa — ele disse ao tocar a mão dela. — Gostaria que

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

acreditasse que fiquei com o coração partido, mas aquilo foi apenas um caso de desejo juvenil à primeira vista. Desejo despreocupado.

Ela tentou apagar a imagem de dois jovens com tanta pressa que se esqueceram de usar proteção.

Um desejo repentino de saber como seria estar tão perdida de desejo...— Por que ela não lhe contou? Sobre o bebê?— Ela sempre disse que era porque tinha medo do que o pai dela poderia

fazer comigo. Suspeito que tenha havido um quê de autopreservação misturado nisso. Ela já estava em desgraça suficiente sem admitir que estava brincando do lado errado dos trilhos. Ela não ficou muito empolgada quando apareci em busca de meus direitos. Mas eu não ia permitir que ela ou a família dela me apagassem da árvore genealógica.

— Isso lhe dá um certo crédito — ela disse.— Sim, bem, meus pais acharam que eu estava louco. Disseram-me que eu

deveria estar grato por ter sido deixado de fora. Eles simplesmente não entendiam, recusavam-se a ajudar. No final das contas, Maggie foi quem descobriu o que eu tinha de saber e me ajudou a conseguir uma ordem judicial para um teste de paternidade. Então, antes disso acontecer, havia um sinal de Vende-se do lado de fora da casa. Ninguém em casa.

— Então, foi lá que você foi.— O quê? Ela se deu conta de que enfatizou a coisa errada. De que falara como se

sentira a falta dele.— Você foi atrás deles. Até a Escócia — ela disse, e ele respondeu:.— Oh, não. Isso teria sido fácil. Muito mais fácil. Tenho familiares na

Escócia, teria um lugar para ficar, pelo menos. Mas a Fiona só se mudou para lá quando se casou como o seu lorde, anos depois. Não, eu finalmente os encontrei na Irlanda, onde tive que começar o processo todo de novo. Acho que só então eles se deram conta de que não podiam fingir que eu não existia. Que eu não ia simplesmente desaparecer.

— Você largou a escola para ir atrás dela? Desistiu da sua chance de um lugar na universidade?

Ele deu de ombros.— Algumas coisas são mais importantes.— Duvido que outros garotos de 18 anos pensassem assim.— Talvez eu não tenha sido feito para uma carreira acadêmica. Mas, então,

foi concedido o direito de visitas, e de passar uma tarde com Chloe por mês na presença da babá.

— Uma vez por mês! Isso é monstruoso. — Talvez. Talvez eles tenham pensado que eu perderia o interesse, que

seria mais difícil para Chloe se ela me conhecesse de verdade. E, então, quando eles descobriram que eu era uma pessoa civilizada e apesar de minhas origens humildes tomava banho regularmente e sabia como usar garfo e faca, as coisas ficaram mais fáceis. Eu era até convidado para as festas de aniversário de Chloe.

— Com expressões muito severas olhando para você, aposto.— Apenas dos adultos. Especialmente quando cheguei com um pula-pula na

carroceria. As crianças amaram. — Ele sorriu brevemente ao lembrar. E eu sou

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

muito teimoso. Não importava o quanto não era bem-vindo, estava sempre voltando.

— E agora eles não apenas lhe convidam para as festas, mas deixam você pagar por elas. — Ela não conseguia acreditar como não gostava deles, sem no menos os conhecer. — Espero que as boas-vindas sejam mais calorosas.

— Para ser honesto, nunca descobri se as gaitas de fole são para me dar as boas-vindas ou para me afastar de lá. — Juliet riu. — Talvez tenha havido erros de ambas as partes, mas ela é minha filha e daria a lua a ela se ela me pedisse.

— Ela é uma menina de sorte.— Sim, é verdade. Ela tem uma família que a ama e um pai que... — ele deu

de ombros.Morreria por ela, ela pensou, preenchendo a pausa.— E Fiona? — Juliet perguntou. — Como ela se sente tendo você por perto?— Nunca a vi muito. Ela ficou um ano sem estudar para ter a Chloe, antes

de ir para Oxford como planejado. Em seguida ela conheceu Angus, e talvez porque quisessem deixar algo claro, ou porque Chloe fora a dama de honra, seus pais me convidaram para o casamento. Agora eles têm três menininhos também.

— Um final feliz para todos, exceto para você.— Estou trabalhando duro para isso. E você? Sei que tem uma mãe que

dirige um carro velho. O que aconteceu com o seu pai?— Boa pergunta. Ao contrário de você, McLeod, ele não honrou sua

paternidade. — Ela olhou para cima enquanto o garçom se aproximava deles e, por um instante, planejou se agarrar à chance de mudar de assunto e evitar essa dor que ela nunca dividira com ninguém. — Na verdade, nunca encontrei meu pai.

McLeod esperou até que estivessem sentados à mesa e a sós antes de fazer a pergunta que pareceu suspensa enquanto eles eram acomodados.

— Você quer? Encontrá-lo? Conhecê-lo?— É difícil — ela disse, brincando com os escalopinhos que eles pediram. —

Ele abandonou minha mãe. Fugiu. Entendo como ele estava assustado, mas ela teve a coragem de desafiar seus pais e me ter, embora eles tenham se recusado a ajudá-la.

— Uma mulher de coragem.— Quase uma menina. Era ainda mais jovem do que Fiona. Vi como ela teve

de batalhar, de trabalhar duro, não só para me sustentar como para me dar a chance que a ela fora negada. Por ele, a única coisa que sinto é indiferença.

— Mas?— Mas... — ela suspirou. — Existem grandes intervalos na minha vida e

ninguém para perguntar. Se Chloe ainda não se deu conta, um dia descobrirá como tem sorte por você ser o homem que é.

— Obrigado. Já fiquei em dúvida se a minha presença seria bem-vinda se não fosse sempre acompanhada de brinquedos.

— Brinquedos? — ela riu. — Posso apostar que você não está se safando com umas bonequinhas Barbie hoje em dia.

— Certamente. Esse ano o carro não foi feito de plástico cor-de-rosa. — E acrescentou: — Pensei que estivesse com fome. Isso está uma delícia. — Ele ofereceu a ela um pedaço de pato defumado. — Experimente.

Parecia a coisa mais natural do mundo, pegar a comida do garfo dele.

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

— Humm... Ela olhou nos olhos dele e se deu conta do quanto estavam próximos, de como aquilo fora um gesto íntimo. Paul nunca fora tão acolhedor, tão espontâneo, mas, também, ele nunca quisera nada dela além tio conteúdo de seu laptop. Comparado com Greg, ele era completamente frio. O que já era mau o suficiente.

McLeod, por outro lado, deixava claro de todas as formas que a desejava mais do que tudo. E, ela se pegou quase sem fôlego.

— É tão sutil — ela disse — , que sabor é esse?— Não faço idéia. Mas também não estou muito preocupado em saber como

prepará-lo.— Você não cozinha?— Não, a não ser que a alternativa seja passar fome — ele admitiu. — E

você?Ela deu de ombros.— Talvez as mulheres sejam acostumadas a cozinhar para si próprias.— Apenas para você? Ela sorriu.— O cozinheiro podia lhe ensinar algumas coisas sobre sutileza, McLeod.

Mas, sim, apenas para mim. Estive envolvida com alguém temporariamente. Já acabou.

— É por isso que voltou para Melchester?— Quem disse que eu voltei!— Você disse. Você me disse que não morava em Melchester desde que

deixou a universidade. Está à procura de um emprego, de algum lugar para viver. Estava procurando por um lugar para viver.

— Parece que encontrei muito trabalho. Não que eu ganhe um salário.— Maggie não está pagando você?— Estamos um tanto quanto paralisados no que diz respeito a finanças. Ela

não quer nem discutir um aluguel, então não deixarei que me pague por ajudá-la. E o contador dela deve estar louco com todas as mudanças que estou fazendo. Ele pareceu acreditar que fosse melhor que Maggie fechasse a loja de uma vez. Jeito engraçado de se fazer negócios.

— Bem, não posso dizer que concordo plenamente com ele, mas ele tem alguma razão. Minha mãe vai ao bingo com Maggie, mas ela não me via há anos. Eu poderia ser qualquer pessoa. Poderia estar roubando Maggie.

— Deveria ter dito quanto está lhe custando aquele painel de vidro na parte de trás que ele calaria a boca.

— Ele teria tido um ataque do coração bem ali, acredite em mim, já usei minhas habilidades de primeiros socorros ao limite essa semana. Ele se acal-mou um pouco depois de passar meu nome por uma agência de crédito e ter checado algumas referências que dei a ele, mas ainda não está feliz.

— Ele é um contador, não é do feitio dele ficar feliz. O que ele deveria fazer é se assegurar que a loja continue a vender. Seja o que for preciso.

— Talvez ele pense que isso não vale a pena — ela disse —, sendo que, ao menos que todos nós façamos um grande esforço para proteger a área, tudo será enterrado debaixo de um estacionamento no ano que vem.

Ele balançou a cabeça, um sorriso sarcástico cruzou-lhe o rosto.— Bela tentativa. Estava em dúvida se demoraria muito para você voltar

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

para o seu assunto predileto. Então, diga-me, o que você oferecerá para o comitê de planejamento?

— Oferecer?— Você quer salvar sua ruazinha preciosa mas deve saber que não pode

deixá-la como está.— Oh, não. Bem, obviamente, ela precisa de uma reforma completa. Uma

camada fresca de tinta, flores... — Mesmo tendo dito isso, ela se deu conta de que ainda era muito pouco. — Na verdade, descobri por que ela deixou de ser uma rua movimentada para o comércio. Os fregueses tinham que usar o estacionamento velho perto da estação e caminhar até o centro da cidade passando pela Prior's Lane. O novo shopping tem seu estacionamento, que dei-xa os fregueses bem na sua porta. E Saffy disse algo interessante...

— Saffy?— Uma estudante que admiti para trabalhar na loja. Ela queria saber por

que alguém se daria ao trabalho de sair no frio e na chuva quando podia encontrar tudo o que precisava no shopping.

— E daí? Você está dizendo que a rua deveria ser coberta de alguma maneira?

— Não faço idéia se isso é possível. Ficaríamos bem com um arquiteto ou um engenheiro na equipe.

— Eles custam dinheiro.— Isso é um projeto comunitário. Somos todos voluntários. — Ela ignorou a

resposta engasgada dele. — E é claro que teríamos que gerar interesse da parte de comerciantes para que voltem para lá. E algumas pesquisas... — Ela falou por um bom tempo, cheia de idéias. Então, dando-se conta de que ele não dissera uma só palavra em dez minutos, terminou de repente. — Sinto muito. Você está visivelmente entediado. É que eu tenho vivido tudo isso desde que vi o jornal.

— Tenho que admitir, vendas no varejo não está na minha lista de preferências quando estou num restaurante romântico com uma bela mulher, mesmo que seja apenas um jantar e não um encontro. Mas você está certa sobre uma coisa: conseguir alguns lojistas interessados seria melhor do que qualquer petição neste mundo.

— Você só está dizendo isso porque está com medo que eu peça para você ficar do lado de fora da loja com uma prancheta.

— Não estou com medo. Pode me pedir qualquer coisa, princesa. Se eu não quiser fazer, vou lhe dizer. Tem alguma coisa que você gostaria que eu fizesse para você?

— Ela teve a sensação estranha de que eles já não falavam mais da campanha. Mas ele não teria como falar da loja. Ele teria dito algo. Dave teria dito...

— Vamos pedir um pudim? — ela disse. Ele levantou a cabeça e um garçom apareceu de imediato. Ela o

interrompeu antes que ele começasse a falar sobre a lista de sobremesas e disse:

— Por favor, traga-me alguma coisa com chocolate.— Nada para mim — disse McLeod. E então, quando o garçom saiu: — Fale-

me sobre esse relacionamento breve que lhe fez voltar para casa.— Foi um relacionamento. E foi breve. — Ele esperou. — Ele era um idiota

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

— ela disse —, pior, eu em uma idiota.— E como você está à procura de outro emprego, deduzo que vocês

trabalhavam juntos.— Você é inteligente demais para trabalhar com biscates, sabia? — Ele

sorriu. — Você está certo, claro. Cometi o erro de sair com um colega de trabalho. — Ela deu de ombros. — Quando a casa cai, alguém tem que ir embora.

— Ele era seu chefe?— Nem tão inteligente. Eu era a chefe dele. Ou pelo menos pensei que

fosse. Quando ele roubou minhas idéias e passou por cima de mim na sala da diretoria, perdi o controle. Aquele foi um momento digno de champanhe.

— Você jogou isso na cara dele?— Lá estava — ela disse, sentada com um gesto largo. — Eu sabia. É tão

previsível. Ponha uma taça de champanhe na mão de uma mulher. Faça-a de idiota na frente de seus colegas e, sim, a casa veio abaixo, e em seguida uma saída com o conteúdo de sua mesa numa caixa debaixo do braço e sete anos de trabalho duro desce pelo ralo. Ele calculou minha reação, deixou-me no ponto certo...

— Juliet...—... e eu agi de acordo. Mas o meu maior erro foi não ter parado ali. Uma

taça de champanhe era compreensível. Agarrar uma bandeja e atirar o con-teúdo sobre o presidente, deixando-o pingando champanhe e com cacos de vidros sobre o carpete,mostra que você está prestes a ter um ataque de nervos. Não só indesejável na Markham and Ridley, mas um risco para qualquer empregador sensato.

— Sinto muito.— Por quê? Não foi culpa sua.— Digo, por ter pedido o champanhe. Não é a toa que você pareceu tão

horrorizada. Achei que você tivesse pensado que eu tivesse ultrapassado seu orçamento antes mesmo de termos olhado o menu.

— Não... Fiquei com medo de, depois de você ter gastado tanto dinheiro, eu não poder tocar os lábios na bebida antes de ter um troço. Mas logo que* consegui controlar as tremedeiras, aproveitei bastante.

— Talvez seja como andar de bicicleta. Você precisa voltar a tentar antes que isso se torne um problema maior.

— Que estranho. Minha mãe disse algo desse tipo outro dia.— Sobre champanhe?— Não, sobre... — Ela balançou a cabeça, mas já era tarde demais. Ele não

poderia ter deixado de compreender o que ela queria dizer. — E você? Deve ter havido alguém importante na sua vida além de Fiona.

— Ela não foi importante. Mudou minha vida, mas não foi importante. Mas você está certa, foram muitas garotas, mulheres. Uma, talvez duas que pareceram importantes quando aconteceu, mas nada que prosperou. Nada recente. Ao ficar mais velho, pareço ficar mais exigente. — Ele sorriu. — E sempre fui muito exigente.

Ela pensou se ele não estava enganando a si mesmo. Se a mãe de sua filha era a única pessoa com quem ele poderia ter algum compromisso, tendo consciência ou não.

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

— E o encontro na hora do almoço que você cancelou para vir ao meu resgate? — ela perguntou.

— Sinto lhe informar, mas eu planejava almoçar com alguém que trabalha comigo. Neil até parece uma mulher velha, mas tem mulher e filhos para provar o contrário.

— Então, por que você não me disse isso?Ele foi salvo da resposta pelo garçom que chegou com a sobremesa que

mais parecia uma obra de arte feita de açúcar e chocolate.— Meu Deus, sinto-me culpada apenas em pensar em comer isso — ela

disse, tentando se agarrar em qualquer oportunidade de esquecer o que havia dito. Torcendo para que ele também esquecesse.

McLeod se inclinou, quebrou um pedacinho do chocolate e levou até os lábios dela. O chocolate se quebrou enquanto ela tentava pegar com os dentes para evitar tocá-lo, e ao tentar apanhá-lo, seus lábios se fecharam em volta do dedo dele.

O tempo pareceu desacelerar. Seu coração, que usualmente não a incomodava, bateu uma vez, duas, três vezes contra suas costelas. Embaixo o seu ventre contraia e cada parte dela parecia mole, pronta...

— Aí está — ele disse, levando o dedão até a boca para pegar um pedaço de chocolate que ela deixou para trás. — É fácil.

— É mesmo? — A voz dela não passou de um sussurro. — Nunca achei que fosse.

E, como se respondesse a uma pergunta que ela nem se dava conta de ter perguntado, ele pegou a mão dela, segurando-a entre as suas.

— A vida é curta demais para desperdiçar os prazeres mais simples, Juliet.Era tão simples assim? Ela passou a vida inteira trabalhando. O prazer era

para as outras pessoas. E quando ela finalmente se sentiu tentada, seu julgamento, tão ausente na prática — deixou-a na mão.

Mas ela não tinha nada que McLeod queria além do calor humano e prazer corporal. Algo que ela sabia que ele daria em troca à altura.

Era puro prazer. — Você me dá licença por um segundo?Antes que ele se desse conta, Juliet saiu pelo restaurante. Ela deixou o

cartão de crédito com um garçom assustado.— A conta — ela disse. — E, por favor, diga ao recepcionista para telefonar

para um táxi para nos levar até Melchester.— Mas, madame...— Agora. — Ela não esperou para ter certeza de que ele havia entendido a

mensagem e correu para o banheiro, esperando encontrar o que procurava.Suas mãos deviam estar tremendo quando pôs as moedas na fenda da

máquina, mas estava tão firmes quanto as de um cirurgião. Ela deveria ter ficado embaraçada quando uma mulher ajeitando o batom olhou para ela pelo espelho e sorriu. Em vez disso, ao jogar a embalagem na bolsa, ela sorriu de volta.

Ela deixou uma gorjeta enorme com a conta assinada, agradeceu o garçom pela noite maravilhosa e sentou-se de frente para McLeod.

— Espero que não se importe em deixar de lado o café, mas temos apenas cinco minutos antes de o táxi chegar — ela disse.

— Você pediu um táxi?

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— Sim, Gregor— ela disse. Em seguida olhou para ele, para que ele não pudesse deixar de entender o que ela dizia naquele momento. — Quero que você me leve para casa.

Capítulo 9

Greg não deixou de entender o significado da forma deliberada como ela usou o nome de batismo dele pela primeira vez. Parecia deslizar pela língua dela, suave como o veludo, provocando o desejo ardente que ele segurava com tanto esforço desde que ela entrara pela porta do restaurante.

Ele falou mais do que falara em anos, falou sobre coisas que ninguém sabia, falou sobre o passado para desviar sua mente dela. Isso não era um ou outro. Era apenas um jantar. Ela se vestira assim para puni-lo por ter se comportado como um homem das cavernas, e ele não oferecia nenhum argumento para a sua defesa. No final da noite ela simplesmente ligaria para um táxi e iria embora, deixando-o com uma última olhada de suas costas largas, suas longas pernas, antes de acenar para ele.

Ele passou os últimos quatro dias com ela na expectativa. Quando isso aconteceu antes?

Todos os seus sentidos trabalhavam a todo vapor. Ele não deu a mínima para o sabor sutil da comida; era o sabor da pele dela que ele beijara que o assombrava.

Ele podia fechar os olhos e só de ouvi-la falar da Prior's Lane — o que no momento era seu assunto de menor interesse — ficava excitado. Se ele abrisse os olhos e visse sua boca suave, a tarefa de se concentrar no que ela dizia ficava ainda mais difícil.

Ele forçou a si mesmo — precisava mesmo saber o que ela estava pensando, planejando —, tanto que conseguiu fazer a pergunta ocasional para que não parecesse um idiota completo, mesmo enquanto a combinação de aromas da pele dela, de suas roupas, de seus cabelos, quase o levava à loucura.

Agora, ela estava bem ali, sentada, seus olhos prateados o fitavam tão calmamente que só as meninas dos olhos disfarçavam o que passava pela cabeça dela.

Mas mesmo quando cada célula de seu corpo gritava "Sim!" e "Vá com tudo!", algo na cabeça dele o avisava que isso não era o que ela queria. Que isso não era o que ele queria. Quando ele fosse com tudo para cima da srta. Gerente do ano, seria porque ela havia implorado, dizendo que morreria se ele não viesse. Não porque ela rejeitara friamente o conselho de sua mãe para subir de volta na bicicleta antes que ela perdesse o fio da meada e ele fosse o idiota que ela escolhera para a garupa.

Ele a queria.Não podia acreditar no quanto a queria. Queria mais do que tudo. Além da

razão. Fora de controle. E ele se recusava a ser mais um na lista de jantares de negócio. Ela ditou as regras para a noite — jantar e um encontro — e agora ela queria quebrá-las.

Fácil pensar, difícil viver com isso. Ele precisava se acalmar, dar ao seu corpo a chance de acompanhar sua cabeça, e para isso precisava colocar

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alguma distância entre eles.— Já volto — ele disse, ao levantar-se. Na verdade... Ele não podia

acreditar. Será que ela ia mesmo olhá-lo nos olhos e dizer que não precisava visitar a máquina no banheiro porque ela já o fizera?

Enquanto ele esperava, ela se ruborizava e balançava a cabeça. O que quer que seja que ela ia dizer, agora a deixara nervosa.

Quando ele voltou, ela ainda estava olhando para a sobremesa, imóvel, cheia de pânico.

— Vamos? — ele disse, sem nem ao menos se sentar. — Mas eu não terminei.— Você já é doce o suficiente — ele disse, pegando-a pelo braço sem querer

saber se ela estava pronta para se mover. — O táxi que você pediu já chegou. — Já? Ele não pode esperar? Ela já não estava mais tão vermelha, ele notou.

Na verdade, ela perdera quase toda a cor. Sem dúvida ela estava reconsiderando a idéia.

Ele reconheceu que deveria ter recebido de bom coração a mudança de idéia dela. Assim como deveria ter se sentido mais seguro quando ela vestiu o casaco. Mas as coisas não eram bem assim.

Vendo as pernas longas e a pele clara escondidas por trás do longo casaco, a imaginação dele funcionava a todo vapor, pois o que agora estava escondido tornava-se ainda mais desejável.

E a perda repentina de autoconfiança dela fez com que ele ficasse à frente, tomasse a decisão sobre onde isso iria terminar. Jogá-la sobre seus ombros e carregá-la até sua caverna, como o brutamontes que ela o considerava. Tudo o que precisava era uma limusine com motorista...

Ao saírem do restaurante ele viu seu carro indo embora, Gregor o dispensara discretamente. Ele deu a Juliet o recibo cancelado da conta, pois a pagara.

Abriu a porta do táxi para Juliet.— Não quero que haja nenhuma confusão. Quando você diz casa, quer dizer

a casa da sua mãe ou a livraria?Ela hesitou por uma fração de segundo e ele achou que ela tomaria a rota

de fuga que ele lhe oferecera. Em seguida, disse:— A livraria. Quero começar cedo amanhã.Ele deu as instruções para o motorista e sentou-se ao lado dela.— Ponha o cinto, Juliet — ele disse, abotoando o cinto de segurança que

manteria uma distância segura entre eles.Ela pensou que ele partiria para cima dela no momento em que estivessem

juntos no banco de trás?Por mais que ele estivesse tentado a fazer algo, esse era o jogo dela, e ela

era quem moveria as peças. Ele não facilitaria nada para ela.— Obrigado pelo ótimo jantar — ele disse. — O restaurante é muito

agradável.— Fico feliz por você ter gostado.— Feliz? Juliet não podia acreditar que dissera isso. Não, ela não podia acreditar que

ele dissera isso. Ela era uma massa de desejos e emoções conflitantes e ele dizia calmamente que gostara do jantar.

— Aquele pato estava uma delícia.

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Como ele se atreve a falar de comida, pensar em comida, quando ela não conseguia nem se lembrar de uma só palavra que passara por seus lábios? Tudo o que ela lembrava era o sabor de chocolate. A da pele dele.

— Você disse — foi tudo o que ela conseguiu responder.Num momento impetuoso, de certeza absoluta que não conseguiria lidar

com isso, ela disse a palavra, e ao dizer isso, praticamente se ofereceu para ele numa bandeja. Como sobremesa.

— Gregor.Ela estava certa, aquela palavra foi uma delícia em sua boca. Suave como a

brisa. Dura como pedra. E, agora, ela estava sentada ao lado dele enquanto o táxi se apressava na direção do centro da cidade. Ela não se importava com o que ele tinha pensado do pato. Apenas queria suas mãos sobre ela, sua boca fazendo coisas impensáveis...

E sem o menor aviso a idéia de que o jantar era apenas um acerto de contas caiu como um castelo de cartas.

Talvez tenha sido o choque repentino de ar frio no caminho do restaurante até o carro, mas aquela primeira dose de adrenalina desapareceu entre o chocolate e o frio do táxi.

Ou talvez tenha sido apenas a aceitação fria dele, quase como se estivesse fazendo um favor a ela. Como se ele não tivesse que fazer o menor esforço para fazê-la se sentir especial. Um frio subiu pela espinha dela. Será que ele pensava que ela fazia isso sempre?

Será que ele não fazia idéia do quanto isso era importante para ela?Que droga. Ele estava ali sentado, despreocupado, olhando pela janela.

Toque em mim, ela pedia em silêncio, implorando a ele para que lesse seus pensamentos. Apenas toque em mim. Você é bom com motores. Faça algo para dar a ignição no meu coração. Faça-o funcionar como fez com o carro de minha mãe.

Ele tem flertado com ela sem parar desde que ela ligou para a Duke's Yard e ele atendeu o telefone — e por que ele teria feito aquilo se estivesse apenas comprando uma van? — mas agora ele parecia mais interessado na paisagem do rio. Os velhos armazéns.

Qual era o problema com ele?Qual era o problema com ela?Ela deu a luz verde a ele, então, por que ela não estava em seus braços,

sendo beijada sem piedade? Não era isso que os homens faziam?Não Gregor McLeod, evidentemente, a julgar pela distância entre eles.O que foi que aconteceu?Em seus sonhos, esse era o momento em que ele tinha de olhar nos olhos

dela e juntos lembrarem do dia em que ele foi seu cavalheiro honrado...Não, nem mesmo ela era tão boba.Ela era inteligente o suficiente para saber que era nada mais do que a

substituta para a mulher que ele nunca teria. A garota da St. Mary de família privilegiada e a pronúncia perfeita; sua princesa de verdade. Ela era apenas uma versão falsificada, uma princesa cuja mãe moldara-lhe a fala até que ficasse idêntica à original, além de assegurar-lhe que iria a lugares que as meninas que a provocavam nunca seriam capazes de entrar.

E ela estava certa. Uma universidade antiga, uma graduação de primeira

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classe, uma carreira sólida. Era tudo dela.Mas aquelas outras meninas tinham algo que ela não tinha: homens que a

amavam, filhos, a segurança de uma família. Sonhos que para ela passaram a parecer impossíveis, pois nunca confiara em ninguém o suficiente para isso.

Mas esse caso era diferente. Ela não estava à procura, esperando um final feliz, apenas uma noite para preencher o doloroso vazio. Será que ela não merecia pelo menos experimentar um sonho?

Não nessa vida, é o que parecia. Ela disse:— Então é isso. Todas as dívidas pagas. Ele olhou para ela.— Exceto pelo café. — Café?— E a decoração. Você vai me convidar para entrar e tomar uma xícara de

café, não vai? E vai me mostrar o bom trabalho de Dave? Deduzi que tenha sido por isso que me apressou a sair do restaurante.

Deus do céu! Ela nem ao menos pensara no apartamento quando murmurou o nome dele no restaurante como uma imitação barata de uma mulher fatal de um filme dos anos 1930. O apartamento estava pior do que quando ela o viu pela primeira vez, O carpete do corredor fora arrancado. Marcas de gesso por toda parte. A pintura ainda rala...

— Que indelicadeza a minha. Nem ao menos perguntei se você queria café ou conhaque. Não sei o que estava pensando.

— Não mesmo?Ela engoliu. Pelo menos estava escuro ali na parta de trás daquele táxi, e

dessa vez ele não pôde vê-la ruborizar. E então ela pensou sobre isso. — Espere ai, não foi você quem estava com pressa, sr. Engraxadinho!Greg deu de ombros.O taxímetro estava ligado. Ele ouviu-a suspirar. — Está com frio? — Estou bem. Ela não estava nada bem e ele se segurava com todas as forças para não

partir para cima dela e aquecê-la. A única esperança de se comportar, de modo a poder olhar para si mesmo no espelho na manhã seguinte, era mantendo a distância. Deus abençoe a pessoa que tornou o uso do cinto de segurança obrigatório.

— Talvez você deva investir numas roupas térmicas para vestir com esse vestido.

— Não há espaço para isso por baixo dele — ela disse, num tom suficiente para deixá-lo sabendo que não estava achando graça.

Melhor, ele pensou. Muito melhor.Era muito pior. Agora ele era incapaz de pensar em outra coisa senão nas

roupas de baixo que ela usava com aquele vestido.Um fio-dental. Só podia ser. Pequenino e preto, de lacinho, colado ao corpo.

Bem onde a mão dele deveria estar.— E praticamente mais nada. Eu notei — ele disse, incapaz de frear suas

reações. — Mas como você se embrulhou em lycra, suponho que essa seja a intenção. Creio que você tenha desejado que todos os homens no restaurante olhassem para você com segundas intenções.

— Todos os homens? — ela perguntou.

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

E ao passar por um poste de luz, ele notou que o rosto dela esboçava um sorriso.

— Quase todos os homens — ele corrigiu. — Eu não seria tão óbvio. E havia um casal gay num canto que nem notou sua presença.

— Conversa fiada — ela declarou. — Esse vestido é de um estilista famoso. Eles olharam cada passo que dei pelo restaurante quando saímos, e posso lhe assegurar que eles não estavam babando por causa da comida.

Então era o fato que ele lembrava da comida que a incomodava? Assim como ela não sabia que ele só lembrava daquele pato porque lembrava também dos lábios dela em seu garfo.

— Babando? Ah, faça o favor... Mas, também, isso é o que eles chamam de vestido de resultado, não é mesmo?

— Perdão?— Um vestido que diz: Siga-me até em casa e...— Isso é sapato, Gregor — ela disse, antes que ele pudesse dizer as

palavras. — Sapatos de resultado. E se você tem amor à sua vida, sugiro que mantenha esses pensamentos apenas dentro da sua cabeça.

— Eu ia apenas dizer que você estava calçando belos sapatos. E que eles funcionaram. Você teve um resultado. Está em casa. E eu estou bem atrás de você.

Antes que Juliet pudesse pensar em uma resposta, o táxi parou atrás da loja. E qual a razão dela estar tão indignada? Ela se vestiu para deixá-lo excitado. Para fazê-lo olhar. Fazê-lo querer tocá-la.

Então, ela queria deixá-lo no ponto de não conseguir se segurar.O motorista abriu a porta para ela, e ao descer do carro Juliet abriu a bolsa

para pagar a corrida. Gregor foi mais rápido e dispensou-o.— Você pode se arrepender de fazer isso.McLeod riu disso enquanto o carro partia e os deixava ali, em frente da

porta.— Acho que não. — Ele olhou para ela. — A sua chave.Ela a pegou da bolsa e deu a ele. Se ele apenas a beijasse, tudo seria muito

mais simples, mais fácil.Era como se ele estivesse esperando, quase certo de que ela tomasse a

atitude.Gregor destrancou a porta, abriu-a e desligou o alarme antes de se afastar

e deixá-la entrar primeiro.Ele sentiu imediatamente o cheiro de tinta fresca.No momento em que ia acender a luz, ela virou para trás e disse:— Gregor... tenho uma confissão a fazer. — Diga-me mais tarde — ele disse, e antes que ela pudesse dizer qualquer

coisa sobre Dave, sobre quanto a pintura da loja era mais importante do que a pintura do apartamento, ele a agarrou contra a parede. — Só quero ouvir de você uma palavra.

Ela se enrijeceu de choque.Não! Não era assim que era para ser...— Isso não pode esperar...Suas mãos estavam dentro do casaco dela, empurrando a bainha do vestido

e escorregando-as até a coxa dela.

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

Oh... Oh...— É sobre o apartamento... — ela insistiu.As mãos dele deslizavam sobre a meia-calça dela e ele fez um som gutural

com a garganta...— Oh, sim...— Sobre Dave...A boca de Gregor traçava o contorno do decote dela, e em vez de empurrá-

lo para longe, ela queria mais, mais...— Sobre aloja...Ela começava a perder a noção do que estava dizendo, enquanto seu corpo

parecia derreter de desejo.— A pintura...Ele a levantou pelas nádegas, puxando-a para mais perto de si, fazendo-a

sentir sua ereção.— Você fala demais, princesa — ele disse, com voz áspera.Nenhum homem com quem ela saíra jamais deixara de passar pelos

movimentos iniciais da conquista de maneira tão selvagem e sexy. Sua boca estava cheia e inchada, e sem pensar ela a lambeu numa tentativa de esfriá-la. Ela queria que ele arrancasse seu vestido, ela o queria de joelhos...

— Gregor — ela disse, como se implorasse por ele. A única luz vinha da vitrine do outro lado da rua, e mesmo assim, os olhos dele brilhavam como se estivesse em chamas.

— Por favor... Diga-me o que você quer, Juliet. Greg sabia que era louco. Ela dizia por favor de um jeito que nenhum

homem deixaria de entender. Ele podia sentir o corpo dela implorando pelo seu. Tudo o que ele tinha de fazer era beijá-la e ela derreteria.

E mesmo assim ele se segurou, oferecendo a ela a chance de fugir, dando-lhe a chance de pensar.

Em quê?Ela não era nenhuma virgem nervosa sem saber o que queria. Ele nunca se

interessara por esse tipo. Gostava de mulheres que sabiam o que queriam e não tinham medo de mostrar-lhe. Juliet era uma mulher adulta e ambos sabiam onde isso ia parar n o minuto em que começaram a jogar iscas um para o outro. Ele tinha em suas mãos uma mulher quente e ela sabia exatamente como ele se sentia nesse momento e não estava tentando evitá-lo. Isso deveria ser bem simples. Mas não era.

E ela não sabia porquê.Exceto, exceto...— Preciso saber que é isso o que você quer.A resposta dela foi levantar a mão e tocar-lhe o rosto. Ela tremia. Não de

medo, mas de desejo. E ter consciência disso o fazia dez vezes, 100 vezes mais forte e mais poderoso do que jamais se sentira. E mesmo assim ele esperou, sem fazer nada para encorajá-la, ou para desencorajá-la.

Ele queria que ela soubesse que, apesar do lapso repentino de machismo que ele detestava, aquilo era um convite para qualquer mulher de respeito botá-lo para fora dali. Queria mostrar que não estava tão perdido em suas necessidades que seria incapaz de recuar se ela não o quisesse.

Como recompensa para sua paciência, ela levantou a outra mão e segurou-lhe o rosto com ambas. E em seguida beijou-o levemente.

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

Foi o beijo mais doce.Do tipo dado pela namorada em seu primeiro namorado. Lábios macios e

trêmulos. Desejos incertos. Do tipo desperdiçado num jovem quente e excitado, com apenas uma coisa em mente. Do tipo que podia roubar o coração de um homem. Ela não fazia idéia do quanto custava a ele se segurar daquela maneira. Não sabia como a doçura dela o queimava mais do que o beijo mais quente de toda a sua vida.

E então ele se deu conta de que o rosto dela estava molhado, lágrimas brotavam nos seus olhos, tocavam-lhe os lábios. E naquele momento ele soube que era um idiota. Isso não era um jogo. Isso era algo além da imaginação dele, e se ele não pudesse tê-la, ele morreria de desejo.

E ao lembrar-se de sua arrogância de momentos atrás, de sua determinação de não chegar perto dela antes que ela implorasse, sentiu enorme vergonha, ele soube que naquele momento não merecia mais do que a distância dela e um táxi para ir embora, sua noite estava acabada.

Capítulo 10

— Juliet?Greg não conseguia mais suportar o silêncio. E ele quem implorava, de

joelhos, em sua cabeça, se não em realidade.E naquela luz fraca ele a viu sorrir dizer:— Você pode esperar pelo café?

Juliet abriu os olhos. Ela se sentia renascida. Nova.Pela primeira vez na vida ela não pensou em ninguém além de em si

mesma. Sua mãe, seus tutores, a companhia...Por toda a vida ela tentara dar prazer aos outros e na noite passada ela

arriscara, fora até a beira do precipício e tomara a decisão de dar prazer a si mesma apenas.

Acima dela, aquele teto preto horrível estava bloqueado pelo seu belo e sexy cavaleiro, não apenas o matador do dragão do parquinho como os de sua vida pessoal também. O sol baixo da manhã brilhava nos ombros nus dele e, incapaz de resistir ao desejo de tocá-lo, ela passou os dedos ao longo do contorno de sua clavícula até encontrar o intervalo no meio do seu pescoço. E então ela mudou de direção, para baixo...

Ele pegou a mão dela antes que ela pudesse ter leito algo insensato.— Princesa, precisamos conversar. — É mesmo, McLeod? — ela respondeu. — Que droga, mulher, não comece com isso de novo. Eu juro para você que

nunca chamei outra mulher de princesa na minha vida inteira.O sol se escondeu por trás de uma nuvem.Deixe passar, a consciência dela avisou. Ela era boa nisso. Nunca fez as

perguntas mais importantes em sua vida com medo de se machucar. Na noite passada, tudo isso havia mudado.

— Nunca? — ela o desafiou. — Nunca — ele respondeu.

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

Apenas alguém que soubesse que isso era uma mentira teria percebido a fração de segundo antes da resposta. Um homem decidindo se contaria a verdade ou a mentira. E decidindo-se pela última.

Por que ela ficou surpresa? Por isso tinha alguma importância? Foi apenas uma mentirinha boba. Para fazê-la se sentir especial.

— Qual o problema?Ele era apenas mais uma coisa na lista de afazeres e coisas afins na vida

dela, afinal de contas. Uma noite perfeita nos braços de Gregor McLeod. Tudo bem, isso não era bem o que ela escrevera em seu caderno, mas ela estava apenas com 13 anos. Uma garotinha estúpida, romântica e magricela que não tinha muita noção das coisas.

O que ela escreveu naquele tempo, agora o momento era outro. A noite passada não foi nada mais do que um pontinho em seu plano mestre, mais um tijolo em seu muro de ambições.

Então, por que o seu coração parecia se despedaçar?— Juliet, Juliet, Juliet... — ele repetiu o nome dela, levando a mão dela até

sua boca, beijando-lhe a palma da mão, enquanto um choque de desejo invadia seu corpo. — Por favor...

— Sinto muito, McLeod — ela disse, grata pelo toque da campainha. Nada mais poderia tê-la salvo do calor do desejo que queimava nos olhos dele... isso pelo menos foi real. — Creio que seja minha mãe. — Ela puxou a mão, tentou ajeitar a cama e juntou as roupas dele. — Ela vai me ajudar na loja hoje.

Ele rolou para o lado e fitou-a. Ela de repente se sentiu nua, desprotegida...— Eu também posso ajudar. E então poderíamos conversar.Conversar? Oh, certamente, ela acreditava mesmo que ele queria

conversar.Ela deixou as roupas ao lado dele na cama.— O interrogatório vai ter que esperar, sinto muito. Você não está na minha

lista de afazeres de hoje. Ele não se mexeu, apenas assistiu enquanto ela abriu uma gaveta à procura

de roupas de baixo. Ela desistiu do sutiã e vestiu uma calça jeans com uma blusa de moletom.

— Você vestiu a blusa ao contrário — ele disse, ela já estava a meio caminho de tirá-la quando percebeu que ele estava brincando.

— Oh, muito engraçado.— Você não pode culpar um homem por querer manter você nua. Diga à

sua mãe que algo mais urgente apareceu.Ele não tinha a menor vergonha de si mesmo. Continuava deitado, com as

mãos atrás da cabeça como se planejasse ficar ali deitado o dia inteiro. Parecia querer ficar ali até que ela voltasse para terminar o que haviam começado. Esse era o problema da tentação. Uma vez que você se rende a ela, era muito mais difícil dizer não. Era por isso que ela precisava sair de perto. Antes que aquilo virasse um vício.

Pensei que você quisesse conversar — ela disse desviando o olhar e ao mesmo tempo procurando os sapatos. Qualquer coisa para despistar sua mente do que o seu corpo lhe dizia.

— Quero mesmo. Vamos brincar um pouco, conversar um pouco, comer um pouco... temos o dia inteiro.

— Você pode até ter. Eu tenho trabalho a fazer. Use as escadas de trás

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

quando for embora — ela disse. — Mas fique de olho na escada de Dave no lobby. Minha agenda para visitas de hospitais já está cheia.

— O que sua mãe está fazendo na loja?— Ela vai me dar uma ajuda para deixar tudo pronto para amanhã.— Se houver algo pesado para carregar, vai precisar de mim.— Você está de terno, McLeod. — Um terno muito caro, diga-se de

passagem. Não que a assinatura do estilista tivesse sido surpresa. Ele andava numa moto Harley, dirigia um Jaguar de colecionador, e mesmo que ela nunca tivesse ido a uma festa em um castelo, sabia que isso não era nada barato. Ele pode até trabalhar por conta própria, mas não como biscateiro. Gregor McLeod era muito mais do que isso. Ela queria apenas que ele dissesse o que fazia para viver.

Mas ele não falou. Contou apenas a história de sua filha e pronto. Não disse nada sobre si mesmo.

Essa omissão dizia a ela tudo o que precisava saber. Não que isso fizesse alguma diferença.

— Vou em casa trocar de roupa.— Não! — E continuou: — Você não entende. Minha mãe vai dar uma

olhada para você e saberá que... — ela engoliu.— O quê? Que passamos a noite juntos? Você não é criança, Juliet.— Não é isso. — Ele franziu a testa. — É que... — O quê?Por que diabos ela teria que explicar? Ele já havia conseguido tudo o que

queria. Na experiência limitada e assumida dela, ficar para conversar depois de uma noite de sexo não fazia parte da agenda de homem algum.

— Já fiz uma bagunça da minha vida. Foi ela quem me colocou de pé de novo. Ela dará uma só olhada em você e verá o tipo de homem de que qualquer mulher sensível passaria longe. Ela dará uma olhada em você e chamará logo um médico para mim. Encare a realidade, McLeod, você é mau. Ele fingiu parecer ofendido.

— Não, não sou. Sou bom, muito bom. Foi o que você me disse diversas vezes na noite passada. — Ele sorriu e, imitando uma voz feminina, acrescentou: — Oh, Gregor. Oh, sim! Oh, você é tão boooom...

— Mentira...— Tem certeza?— Por favor, quer ir embora? Estou implorando, McLeod. Você não resiste a

isso, esqueceu?— Dê-me um beijo e pensarei sobre isso.— Jujuuu... — O grito insistente de sua mãe a salvou da tentação. Ela olhou

pela janela e viu sua mãe perto da porta, na calçada. — Você já está acordada? Ela se inclinou na janela e gritou:— Espere aí, já vou descer. — Ela pegou as chaves e evitando olhar para

Gregor disse:— Preciso ir.Greg já tinha pulado da cama e bloqueado a porta antes que ela se desse

conta.Ele era o espertalhão, não ela, e ele queria que ela soubesse disso. Ele

achava que era muito esperto com as brincadeiras. Pensava que isso era ape-

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

nas um doce interlúdio com alguém que, por exemplo, não olhava para ele como uma oportunidade de jantar ou desejando um emprego. Ele podia simplesmente relaxar, aproveitar o momento. Ajudar um velho amigo e dar prazer a uma bela mulher...

Na noite passada ele se deu conta de que estava enganando a si mesmo. Da primeira vez em que a ouviu falar, do momento que ela ignorou as investidas dele com o sarcasmo necessário, ele soube que aquilo não era apenas mais um flerte. Era diferente. Estar com ela, fazê-la feliz, era mais importante que qualquer outra coisa, e ele precisava dizer-lhe isso. Dizer tudo a ela.

Ele pensou que teria o dia todo para contar-lhe a verdade. Explicar tudo. Tempo entre fazer amor com ela, tomar café juntos na cama, entrar mais uma vez juntos debaixo daquele chuveiro no banheiro minúsculo.

— Deixe-me ir, McLeod.Agora ela o chamava de McLeod de novo. O erro foi dele de chamá-la de

princesa quando ela estava alerta o suficiente para notar. Ela não ligara para isso quando se encontrava perdida em desejo. Na verdade, ele tinha certeza de que ela não estava ligando para isso. Agora ela o chamava assim para distanciar-se dele. Por que ela fazia isso agora?

— Não, espere um segundo aí. Juju? — Se ele apenas conseguisse fazê-la rir... — Você me dá uma bronca quando lhe chamo de princesa e você permite que sua mãe lhe chame de Juju?

— Ela mereceu o direito de me chamar do que quiser. Sai da frente, McLeod.

Nem um sinal de sorriso. — É isso? — ele disse com um toque de desespero ao sentir que algo

precioso lhe escorregava por entre os dedos. — Dispensado sem nem um beijo?— Sem beijo — ela disse, olhando-o bem de frente. — Já lhe paguei um

jantar. Todas as dívidas foram acertadas. Não faça barulho quando sair. Nada antes soara tão decidido. Parecia um adeus, e, então, ela já não olhava mais para ele. Ela não olhava para nada, e quando tentou agarrar a maçaneta da porta, perdeu um sapato.

Ambos pararam para apanhá-lo, mas ele foi mais rápido e ao entregar a ela olhou para ele com os olhos brilhando e disse:

— brigada.Juliet desceu as escadas correndo e destrancou a porta, deixando a mãe

dela entrar.— Deus do céu, Juju, você está horrível. — Desculpe, dormi demais. Foi uma noite longa. Longa, linda e

inevitavelmente destruidora de mulheres...Ela se enganou pensando que apenas uma noite seria suficiente. A tentação

de um dia longo e preguiçoso ao lado dele mostrou-lhe como ela estava errada. Seria duro demais lidar com as conseqüências disso, seguir em frente. Se ela se permitisse um dia prazeroso com Gregor McLeod, nunca mais se recuperaria da dor de perdê-lo.

— Quer colocar a água para ferver enquanto dou comida ao Archie?— Acalme-se, Juju.— Não, preciso me manter ocupada. Estava pensando em propor um livro

de auto-ajuda para mulheres — ela disse, sem saber se queria enganar sua mãe ou a si mesma. — Do tipo gerenciamento de tempo para sua vida ocupada. —

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

Ela quase não parou para respirar. — E talvez pudesse escrever alguns artigos mais simples para revistas femininas. Tenho feito algumas pesquisas... — Ela ia fazer algumas pesquisas... — O que você acha?

— Talvez você devesse pensar em escrever um romance policial. Um sobre uma mulher que sai livre depois de matar um homem mentiroso e traidor e domina o mundo. Aposto que seria um best-seller.

— Duas boas idéias numa manhã. — Ela sorriu. — É melhor anotar isso na minha lista de construção de carreira antes que eu me esqueça. — Ela olhou à volta, procurando seu caderno, mas, em sua ânsia por escapar tinha deixado o caderno lá em cima. — Faço isso mais tarde. Agora temos trabalho a realizar.

Ainda que não estivesse ocupada demais para ignorar a dor, pelo menos não teve tempo de mergulhar de cabeça nela.

Era como receber um golpe de martelo.

Greg não se moveu por um bom tempo. Ele sabia desde o começo que a vira antes. Havia algo em seus olhos, em sua voz, até mesmo sobre seus cabelos, que tocou em memórias muito distantes.

Mas ela era apenas uma criança magricela e de tranças. Ela era provocada por um grupo de meninas adolescentes, de maquiagem e mini-saias. Elas a provocavam pela forma como ela falava. Ao tentar escapar delas, Juliet tropeçou e caiu, espalhando todo o conteúdo de sua mochila. Ele foi ao socorro dela, pegou seu caderno antes que uma das meninas o pegasse. Ajudou-a a pegar o restante de suas coisas.

Seus olhos estavam repletos de lágrimas e ela sofria muito quando ele lhe entregou o caderno, Juliet olhou para ele e disse:

— Obrigada. — Com muita doçura.E ele disse: — De nada, princesa.Ele não sabia o nome dela, apenas a chamou assim porque era assim que

ela parecia. Depois disso ele cuidou para que ninguém a provocasse quando ele estava presente.

Meu Deus, ela deveria ter sabido quem ele era desde o princípio. Por que diabos ela não disse nada? Não, esquece isso. Que pergunta estúpida.

A resposta estava lá naquele momento quando ela abriu a porta. Ele acabara de se proclamar para ela como seu cavaleiro errante e ficou ali parado feito um idiota, feliz consigo mesmo, feliz com a vida, aguardando uma calorosa recepção em retorno pela sua boa ação; mas o que ele conseguiu foi um longo silêncio. Ela o reconheceu no momento em que o viu. E esperou que ele a reconhecesse.

Droga, isso era absolutamente improvável, e ele diria isso a ela já. Ela estava em desvantagem, ele disse a si mesmo. Ele não mudara muito. Engordou um pouco, envelheceu um pouco, só isso. Nada drástico. Droga, ele até andava de moto. Ela o teria reconhecido em qualquer lugar. Mas Juliet...

Sua princesinha mudara demais. Era uma mulher. Uma mulher linda, autoconfiante e sexy. Como ele ia saber que era a mesma menina patética de antes?

Exceto pelo fato dele ter sabido. Não num nível consciente, mas bem no fundo, onde as memórias confabulam para nos enganar, tornar as coisas mais

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

complicadas quando menos se espera. Ele sabia. E sem nem ao menos pensar, ele a chamou de princesa

Ela pensou que ele havia mentido sobre isso. Mas não mentiu. Ela era a única. Sempre seria a única Ele precisava dizer isso a ela e de alguma forma fazê-la acreditar que isso era verdade.

Para tanto, ele precisava fazê-la ouvir o que ele tinha a dizer, mas não havia um jeito certo de ganhar a atenção dela. Ele não perdeu mais tempo. Vestiu-se, pegou as chaves, carteira e bloco de notas da mesinha-de-cabeceira antes de ligar para um táxi e pedir para ser apanhado no final da rua. Ele torcia para que seu arquiteto não tivesse planos para hoje...

Juliet estava exausta. Ela trabalhara muito para não ter que pensar nele. Estava cansada demais para comer e a viagem até o hospital acabara com seu animo. Quando chegou ao apartamento, no andar de cima, tinha apenas energia suficiente para cair na cama. A última coisa que se lembrava ter pensado foi que os lençóis tinham o cheiro de Gregor McLeod. E que lavá-los seria a coisa mais difícil que teria de fazer.

— Vou continuar o trabalho no apartamento agora que acabamos aqui embaixo, srta. Howard.

Juliet estava passando por uma espécie de dilema Dave lhe dissera que estava desempregado quando a Duke's faliu. Disse que na sua idade seria difícil conseguir outro emprego. E o apartamento precisava ser decorado tanto quanto a loja.

Mas ela não queria acumular mais dívidas com. McLeod.Mas havia mais uma coisa que ele podia fazer para Maggie.— Prefiro que você pinte o exterior da loja, Dave. Se não estiver abusando

de sua boa vontade. — Ela o levou para fora. — Preto brilhante com letreiro dourado. Você conhece um bom gráfico? Maggie e eu decidimos renomear a loja. Vai chamar Kiss * Kill. Seria bom que estivesse pronto quando ela saísse do hospital.

— Apenas me diga o que a senhora quer e estará pronto.Ela pensou no terno caro de McLeod e tentou não se sentir culpada ao

explicar o serviço.

— Greg? Onde você está?— Neil, agora não posso falar.— Talvez não, mas precisa escutar. Marty Duke pode até ter saído do país,

mas sua esposa não. Ela anda falando com a imprensa...

Apesar do obstáculo do lado de fora impedindo os fregueses de olhar o que havia na loja, Juliet teve muito trabalho embrulhando os livros que não venderiam mais para retornar às editoras; embrulhando os pedidos que haviam chegado pelo correio conversando sobre uma página da livraria na Internet com um amigo de Saffy.

E colocando um cartaz na vitrine convidando todos os interessados a participar de um grupo leitura de romances policiais para telefonar para a mãe.

Depois do almoço, Saffy foi até a confeitaria para pegar os bolos que Juliet havia encomendado para o grupo de leitura mensal que se reunia naquela

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

tarde pela primeira vez com guloseimas.— Juliet, sua mãe já morou na rua Milsom? -Saffy perguntou ao retornar.— Sim, anos atrás. — Antes dela ter nascido. — Por que a pergunta?— Alguém que olhava o cartaz lá fora me perguntou.Juliet se levantou e foi de encontro a um homem alto, magro, quase

elegante. Ela lhe estendeu a mão.— Olá, sou Juliet Howard. Soube que você perguntou sobre minha mãe.Ele ficou tão pálido que ela achou que ele fosse desmaiar. Juliet o pôs

sentado numa poltrona ali mesmo do lado de fora da loja.— Saffy, traga água, por favor.— Não, não, estou bem, de verdade, é que é um choque muito grande. Você

é a cara dela. — Ele balançou a cabeça. — Nunca achei que ela fosse casada e tivesse filhos.

— Perdão?— Becky. Becky Howard. Ela é sua mãe? — Ele não esperou pela resposta.

— Você leva essa imagem na cabeça, não leva, das coisas como eram? Para mim ela sempre foi aquela menina na plataforma do trem de calça jeans e camiseta branca acenando para mim na minha partida.

— Você conheceu minha mãe?— Ambos éramos adolescentes. Eu... eu me mudei para longe. Escrevi com

o meu endereço logo que me assentei. Ela prometeu escrever de volta...E só então ela se deu conta de que estava olhando para o seu pai. Que ele

não a havia abandonado, fugido. Que ele nem ao menos sabia que ela existia. E que sua mãe não fora abandonada pelo seu jovem amor e também nunca chegara a contar-lhe que tinha uma filha.

— Aonde você foi?Ela perguntou num tom mais ríspido do que pretendia.— Aonde fui?— Quando deixou Melchester.— Oh. Bem, Cornwall. Meu pai trabalhava para um banco e foi transferido

quando recebeu uma promoção. Eu não queria ir, mas ambos estávamos na escola ainda. Eu teria voltado, mas como ela não respondeu à minha carta, achei que tinha encontrado alguém. Isso acontece, não é mesmo? É claro que éramos jovens demais...

— E você? Encontrou alguém?— Ninguém que chegasse aos pés de Becky. Ninguém com quem pensaria

em me casar, viver junto...— Saffy — ela disse. — Por favor, ligue para minha mãe. Diga a ela para

parar o que estiver fazendo e vir aqui, agora. E depois faça um café. Ou talvez você prefira chá... — Ela quase não podia falar. — Sinto muito, não sei seu nome.

— Walker. James Walker. E uma xícara de chá seria maravilhoso. Obrigado.— Juju? — Sua mãe entrou pela porta cinco minutos depois. — O que

houve?E, então, quando viu o homem se levantar lentamente, ela derrubou tudo o

que havia em suas mãos e as levou até a boca.

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

— James... — Ela esticou uma das mãos e ele a pegou. Em seguida estavam nos braços um do outro.

Saffy disse:— O que diabos está acontecendo? — Romance, Saffy. Menino encontra menina, menino perde a menina e

menino encontra a menina de novo. — Ela apontou para a nova seção de romances da livraria e disse: — Está nesses livros aí.

Ela parou o olhar no jornal que sua mãe havia derrubado junto com sua bolsa.

Construtor Misterioso ReveladoE abaixo da notícia estava uma fotografia de Gregor McLeod.A campainha tocou e antes de se virar para olhar ela já sabia quem era. — Juliet...— Sr. McLeod. A que devemos o prazer da visita? Você veio olhar o terreno

do seu novo estacionamento?— Tentei chegar aqui antes que você visse isso.— Por quê? — Ela se sentiu muito calma, talvez por que estivesse

amortecida. Era muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. — Que diferença teria feito se você tivesse chegado antes?

— Eu ia lhe dizer que... — Ele hesitou, olhando para a mãe dela e para James, que olhavam fixamente para os dois.

— Oh, por favor, não se faça de desentendido. Você ia me dizer ontem de manhã. Você pensou que se me levasse para a cama poderia fazer o que quisesse de mim? Que eu esqueceria a Prior's Lane e as pessoas que trabalham aqui? Como a sua querida amiga Maggie?

A loja pareceu cheia de repente, mas isso não tinha importância, quanto mais pessoas ouvissem o tipo de homem que ele era, melhor.

— Você se acha tão esperto, sr. McLeod. Fingindo não se interessar sobre o que estávamos fazendo para salvar a Prior's Lane, mas não me impediu de falar, não é mesmo? Estava sempre pronto com uma pergunta, caso eu mudasse de assunto. Você até me deixou pagar pelo privilégio, seu vigarista barato.

— Juliet, por favor, deixe-me explicar...Ela estava consciente, de alguma forma, que estava se comportando de

maneira muito rude. Mas ela passou a vida inteira se comportando tão bem enquanto todos à sua volta mentiam.

— O quê? Não sou mais sua princesa?Talvez ele tenha se dado conta de que não havia mais nada que pudesse

fazer ou dizer, que explicaria o tamanho da traição, pois ele não respondeu.— Não, claro que não. Bem, você pode achar que venceu. Que vou entrar

num buraco e parar de amolar você, mas está errado. — Ela deu um passo na direção dele. — Já estou farta de fazer o que as pessoas querem, farta de fugir de confrontos, farta de ouvir mentiras. Vou lutar contra você enquanto tiver forças. — Ela deu um soco sobre o casaco que ele usava. — Faça o que tiver de fazer. Nunca deixarei você destruir algo que as pessoas valorizam tanto. — Ela deu outro soco pois era bom estar lutando contra ele.

Ele segurou a mão dela antes que ela repetisse o soco pela terceira vez.— Juliet, eu amo você. Ela riu.

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

— Ah, por favor. Agora sei que está desesperado. Quando ela se virou de costas para ele, viu que poderia ter uma dúzia de

mulheres olhando para ela de queixo caído.— Vocês são do grupo de leitura? — ela perguntou. — Sinto muito, estamos

tendo um dia extraordinário: meu pai desaparecido há tempos surgiu do nada, bem como o homem que resolveu transformar essa área num estacionamento. Só falta aparecer o homem que destruiu minha carreira e o jogo fica completo.

— Juliet!Dessa vez foi sua mãe quem chamou, mas ela a ignorou também.— Vocês querem ir lá para trás, senhoritas? Tentamos deixar tudo o mais

aconchegante possível para vocês, e se quiserem, digam a Saffy se preferem chá ou café... — E como ninguém disse nada: — Se me dão licença, preciso ir a algum lugar onde possa gritar.

Não adiantava subir para o apartamento para que o seu desejo de gritar fosse satisfeito. Ela não levou muito tempo para descobrir que todas as pessoas de quem ela corria logo viriam atrás dela, e ela não estava pronta para encará-las.

Logo ela teria que se desculpar com todos pelo seu comportamento — bem, com a maioria deles —, mas não ainda. Não antes que tivesse a chance de se recompor e aceitar aquela enorme traição.

Ela pegou o casaco e desceu pelas escadas da parte de trás. Quando abriu a porta, descobriu que Gregor havia antecipado a fuga dela e estava, esperando por ela. Sua única fuga era subir de volta as escadas.

— Precisamos conversar — ele disse.— Não tenho nada a dizer...— Mas eu tenho. Vamos subir ou prefere uma caminhada?— Eu... eu...— Então vamos caminhar — ele disse, ao pegar o casaco dela para ajudá-la

a vesti-lo. — Está frio — ele disse quando ela resistiu ao convite.Ela aceitou em silêncio antes de bater a porta e começar a caminhar pela

alameda na direção do rio, deixando-o para trás. Ele foi atrás sem dizer nada, até que ela parou no parapeito da ponte para recuperar o fôlego e segurar as lágrimas que eram nada mais do que uma reação ao vento frio.

No rio, os antigos armazéns se refletiam na água, e ela desejou ter ido em outra direção, para o lado da catedral. Algo que McLeod jamais poderia possuir.

Ele a alcançou, trazendo uma xícara de chá que comprara no caminho.— Aquele era seu pai? Na livraria?— Parece que sim.— Como você se sente com isso?Ela o fitou. Ele queria mesmo falar sobre a aparição inesperada do pai dela?— Como você acha que eu me sinto? Minha mãe mentiu para mim. Ela me

disse... fez com que eu acreditasse que... que ele simplesmente fugira. Abandonara a ela... e a mim.

— E não foi o que aconteceu?— Ele nem fazia idéia que eu existia. Quando ele me viu pensou que ela

havia se casado com alguém. .. pensou que eu fosse filha de outra pessoa.Sem tentar esconder as lágrimas, ela olhou para ele:

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

— Por que ela fez isso?— Você poderia perguntar isso a ela. — Ele deu de ombros. — Ou então use

sua imaginação. Eles deviam ser muito jovens.— Ainda estavam na escola. Algo que você conhece bem.— Sim, bem, talvez ela quisesse que ele fosse livre para conquistar tudo

aquilo que era capaz. Talvez ela o amasse tanto a esse ponto. Se ele soubesse, nada o teria mantido tão longe e por tanto tempo.

— Como você sabe disso?— Porque, se eu não ficasse sabendo, minha filha sentiria o mesmo que

você.— E você acha que Fiona estava pensando no seu futuro quando tentou

manter segredo sobre a gravidez?— Sei que Fiona só estava pensando nela, mas não estávamos apaixonados.Ela bebeu o chá e fez uma cara feia.— Você pôs açúcar nisso?— Achei que você precisasse de um pouco. — E então: — Não menti para

você Juliet.— Você não me disse a verdade.Ele olhou para o rio.— Quando chamei você de princesa, foi puro instinto.Ela franziu a testa. Não era sobre isso que ela estava falando, e ele sabia

disso...— Não é um apelido carinhoso que uso freqüentemente, embora não a

culpe por pensar assim. A verdade é que já usei esse apelido antes. Havia uma menininha na escola com olhos cinzentos, grandes demais para seu rosto... — Ao vê-la tremer, ele tirou seu próprio cachecol e enrolou no pescoço dela. E então passou o polegar em seu rosto para limpar as lágrimas.

— Gregor...— Ela deixou a mochila cair e eu a ajudei a juntar suas coisas. — Ele tirou

algo do bolso: — Esse caderno. Juliet olhava para ele.— Nunca soube o que havia acontecido com ele — ela disse, sem pegá-lo.— Eu o peguei ontem, por engano — ele disse, deixando-o ao lado dela. —

Tenho um muito parecido com ele.— Eu sei. Você escreveu as medidas do vidro nele. Eu... eu aposto que você

o leu.— Se eu fosse um cavaleiro errante, teria resistido a tentação. Mas nunca

fingi ser.— Não mesmo.— É um documento impressionante. Você tinha uma idéia muito clara do

que queria fazer e alcançou praticamente tudo o que propusera.— Sou muito disciplinada. Uma vergonha não ter conseguido a direção da

empresa.— Estou mais preocupado com o fato de a maioria das ambições não

realizadas estarem no campo de diversão. Acho que deveria gastar mais tempo preenchendo as lacunas.

Pelo contrário. Ela fez um bom começo ao passar a noite com ele, mas esse não parecia um bom momento para mencionar isso, então ela disse apenas:

— Será que eu deveria começar com um corte de cabelo espetado?

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Liz Fielding Her wish-list bridegroom

— O seu cabelo é lindo... Mas se é isso o que quer, por que não?— Não, nunca quis isso. Só queria ser como todo mundo.— Não há porque se amargurar por não ter ido à Disney ou Paris. Eu

também não fui.— Estou guardando essa para ir quando tiver quatro filhos para levar

comigo.— Notei os quatro filhos no seu plano mestre. Se me permite dizer, Juliet,

você não está ficando mais jovem. Precisa começar a trabalhar nisso logo...— Obrigada pela parte que me toca.— ... e como o pai escolhido, fico feliz em cooperar quando você quiser,

embora deva insistir que você me transforme em um homem honesto e se case comigo. — Até então, ele tinha estado sério, mas, sem avisar, abriu um sorriso que podia levar qualquer mulher a cometer uma loucura. — Essa não é uma oferta que faço à toa, Juliet. Na verdade, é a primeira vez que a faço.

— Os filhos ou o casamento?— Ambos.Ela tentou resistir ao amolecer de seus lábios, e tentou impedir seus olhos

de traírem seus sentimentos.— Obrigada, McLeod, mas vai levar muito mais do que a promessa de uma

viagem a Disney e quatro filhos para me fazer esquecer os seus planos para a Prior’s Lane.

— Alguém já lhe disse que você é muito exigente no que diz respeito a cavaleiros errantes, princesa?

— Você esperaria algo menos da futura mãe de seus quatro filhos, McLeod?— Nada menos — ele admitiu. — Talvez se eu lhe mostrasse o que tinha em

mente para aquela parte da cidade você reconsiderasse minha oferta?Ele não esperou pela resposta dela e enfiou a mão no casaco, retirando um

longo envelope e espalhando todo o conteúdo para que ela pudesse ver.— Isso é apenas um desenho artístico, é claro — ele disse. — Hilliard

rabiscou isso para mim ontem. Pedi que trabalhasse com você nele.Ela olhou para o esboço da Prior's Lane exatamente como havia imaginado,

até mesmo com o telhado de ferro protegendo os fregueses dos elementos.— Não sei o que dizer, Gregor.— Sim? — ele sugeriu ao dobrar o desenho e entregar a ela.— Sim?— Bem, se você disser não, talvez construa mesmo aquele estacionamento.— O quê? Mas isso é chantagem.— Você mesma disse... eu sou mau.E, de repente, ela não pôde segurar um sorriso que despontava em seu

rosto.— Talvez eu tenha sido dura demais, embora...— E tem mais?— Bem, estive pensando sobre a Duke's Yard. São vários homens bons

desempregados e me parece que se eles tivessem onde se organizar numa espécie de cooperativa com um gerente de escritório para organizar a papelada...

— Só se você organizar.— Isso eu posso fazer.

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LizFielding A lista de desejos de Juliet

— Não duvido, mas há algo que ainda precisamos acertar.— Oh?Ele pegou um recibo rasgado de cartão de crédito e entregou a ela.— O que é isso?— Só para lhe garantir que se você disser sim para tudo isso não estará se

casando com um vigarista barato.Ela olhou para o recibo em seguida para ele, e quando ele a pegou em seus

braços, não houve mais necessidade de palavras. Os lábios dela diziam sim, sim, sim, e com mais eloqüência e mais calor que qualquer afirmação listada no dicionário. Razão pela qual talvez nenhum dos dois tenha ouvido o som do caderno batendo na água, quando caiu do para-peito da ponte, afundando sem deixar rastro.

— O que é isso? Mais cartas de fãs falando do novo livro?Juliet olhou para o marido enquanto ele olhava para a criança deitada no

berço ao lado dela, e segurou um sorriso ao ver tamanho poder deitado ao lado de um bebezinho tão pequeno.

— Tem um cartão de Chloe, cheio de agradecimentos pela irmãzinha. Ela virá no final de semana para vê-la em pessoa... — Ela entregou o cartão a ele para que pudesse ver com os próprios olhos. — Tem um cartão-postal de mamãe e de papai também, acho que mandaram logo antes de voltar correndo da lua-de-mel. Sinto-me tão culpada sobre isso.

— Não há nada que os impeça de ter outra lua-de-mel quando quiserem. Isso é um cartão de Maggie?

— Espero que ela esteja bem.— Jimmy está cuidando bem dela.— Hum. Acho que não é coincidência que o trabalho perfeito apareceu para

ele no projeto de renovação da área, não é mesmo?— É para isso que servem os amigos. O que é isso?— Isso? — Ela segurou uma carta escrita em papel pesado cor creme. —

Apenas uma carta do lorde Markham perguntando se estou pronta para me juntar à diretoria da Markhan and Ridley. Por alguma razão, os acionistas não ficaram felizes com o nepotismo de sua última escolha.

— Apenas mais um dia no paraíso, então? Quanto estão lhe oferecendo?— O dobro do salário que poderiam me pagar se fossem inteligentes.— Tentada a aceitar?— Nem de longe. — Ela deixou a carta cair no chão e pegou o bebê,

colocando-a no colo de seu pai. E, então, inclinando-se para beijá-lo, ela disse:— Tudo o que sempre quis está bem aqui.

Fim

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