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OCENTRO UNIVERSITÁRIO METODISTA IZABELA HENDRIX
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
GUILHERME GOMES DA SILVA
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO - TFG
LUGAR E IDENTIDADE CONFLITOS GERADOS PELA VALORIZAÇÃO DO
ESPAÇO
Belo Horizonte
2012
2
GUILHERME GOMES DA SILVA
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO - TFG
LUGAR E IDENTIDADE CONFLITOS GERADOS PELA VALORIZAÇÃO DO
ESPAÇO
Trabalho Final de Graduação – TFG - apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix como requisito para a aprovação na disciplina.
Orientador: José Júlio Vieira
BELO HORIZONTE
2012
Dedicatória
A meu irmão Cláudio, pelo carinho e tempo jogando vídeo-game pra me ajudar a
pensar, a minha irmã Claudia por fazer com que esse trabalho conseguisse existir e
por me ensinar a nunca desistir dos meus sonhos, a minha mãe, Dalva, por se fazer
presente até nos momentos que eu achei não ser mais capaz de escrever, aos meus
amigos, em especial para Aline, Amanda, Fernando, Junior, Jeffersom e Warlley, por
nunca me abandonarem e por me lembrarem do significado da expressão amizade.
4
Agradecimentos
Agradeço a todos que colaboraram de alguma forma pra que esse trabalho viabiliza-
se, em especial destaque para:
O querido professor José Júlio que demonstrou ser mais que um mestre, ser um
amigo, me orientando e mostrando ser possível e viável o presente trabalho
acadêmico.
Aos professores que me ensinaram durante todo curso e me mostraram que a
Arquitetura deve começar a ser construída a partir dos sonhos.
As professoras Karine Carneiro e Raquel Garcia que me ajudaram a dar os primeiros
passos neste trabalho, definindo tema e finalizando a pré monografia.
A toda equipe de funcionários do Instituto Metodista Izabela Hendrix, que com um
simples bom dia me ajudavam a ter animo para mais um dia de estudos e
compromissos.
Enfim, agradeço a todos que de alguma forma tornaram possível que hoje eu atingi-
se o ponto de finalizar essa pesquisa e acima de tudo me torna-se uma pessoa
melhor.
Resumo
O presente projeto de pesquisa visa analisar os efeitos da valorização e dos conflitos
sucedidos no espaço urbano do bairro Serra, a partir da perspectiva de seus
lugares, territórios e territorialidades. Para tanto, são abordados conceitos
desenvolvidos por autores que tratam dos referidos temas, bem como apresentados
relatos da história do bairro, levantamentos de campo e análise do material coletado,
com vistas à identificação dos lugares do bairro e dos fatores que influenciaram sua
perda ou manutenção.
Abstract
This research project aims to analyze the effects of successful recovery and conflicts
in the urban neighborhood of Serra, from the perspective of their places, territories
and territoriality. For both, are discussed concepts developed by the authors dealing
with these issues, as well as presented accounts of the history of the neighborhood,
field surveys and analyze the collected data, in order to identify the places in the
neighborhood and the factors that influenced their loss or maintenance.
6
IMAGENS
IMAGEM 1: Ligação Rua Desembarcador Drumond com Avenida do Contorno.
Trecho marcado por edificações de maior porte, mais que 15 pavimentos, e com uso
predominantemente diurno. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor:
Guilherme Gomes ..................................................................................................... 40
IMAGEM 2: Esquina Rua Desembargador Drumond e Avenida do Contorno.
Edificação modificada para atender a demandas comerciais. Foto dia 22/08/2012 às
15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ............................................................................... 41
IMAGEM 3: Vista da Avenida do Contorno, próximo a Rua Estevão Pinto, a altura
das edificações nesse trecho é destoante de praticamente todo o resto do bairro,
onde as edificações costumam ter até 15 pavimentos. Foto tirada no dia 22/08/2012
às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ........................................................................... 41
IMAGEM 4: Exemplo da diferenciação da altimetria das edificações deste entorno,
Prédio Lifecenter. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
.................................................................................................................................. 42
IMAGEM 5: Esquina de Capivari e Capelinha, edificação com uso misto, em que o
primeiro pavimento funciona como galeria de pequenos comércios. Foto tirada no
dia 18/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes .................................................. 43
IMAGEM 6: Edificação, no entroncamento de Rua Capivari e Rua Herval, em que o
uso misto é dado em salas comerciais e restaurante. Foto tirada no dia 18/08/2012
às 17hrs. Autor: Guilherme Gomes ........................................................................... 43
IMAGEM 7: Esquina conformada por Rua do Ouro, Rua Palmira e Rua Amapa,
ponto em que é comum o uso do primeiro pavimento para comércios. Aqui vale
ressaltar a presença do Bar do Salomão, ponto de destaque em uso pelos usuários
do bairro, principalmente em dias de jogos de futebol. Foto tirada no dia 18/08/2012
às 17hrs. Autor: Guilherme Gomes. .......................................................................... 44
IMAGEM 8: Casa localizada na Rua do Ouro, novamente o primeiro andar é utilizado
como comercio. A presença de edificações de ocupação pretérita do bairro é notada
inclusive ligação da edificação com a rua, sem contar com afastamento. Foto tirada
no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ............................................ 44
IMAGEM 9: Rua do Ouro 187. Seguindo a configuração de uso misto com a mesma
colada a divisa frontal. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 17:30hrs. Autor: Guilherme
Gomes ....................................................................................................................... 45
IMAGEM 10: Rua Estevão Pinto esquina com Monte Alegre a tonalidade de cor
funciona como um dos divisores entre comércio e moradia. Foto tirada no dia
22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ........................................................ 45
IMAGEM 11: Rua Estevão Pinto esquina com Monte Alegre. O uso de cores pra
diferenciação não é utilizado, mas a presença de platibanda gera o dialogo de época
entre as duas edificações de esquina. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor:
Guilherme Gomes ..................................................................................................... 46
IMAGEM 12: Rua Monte Alegre, a utilização de casas para comercio é comum na
faixa de via apresentada. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme
Gomes ....................................................................................................................... 46
IMAGEM 13: Rua Capelinha, sentido Rua Sacramento, apesar de não fazerem parte
da atual verticalização do bairro o trecho já é marcado por prédios com, no mínimo,
cinco pavimentos. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 17hrs. Autor: Guilherme Gomes
.................................................................................................................................. 47
IMAGEM 14: Rua Capivari esquina com Capelinha. Na imagem, lado esquerdo, já é
possível observar uma das edificações que fazem parte do novo processo de
verticalização. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes .... 47
IMAGEM 15: Rua Níquel, à esquerda tapume da Aguimar marcando mais um local
com edificação que terá uso multifamiliar. Na rua já é possível observar o efeito da
verticalização, visto que a mesma não possui presença de usuários na rua, sendo a
mesma utilizada como estacionamento de carros. Foto tirada no dia 22/08/2012 às
15hrs. Autor: Guilherme Gomes ................................................................................ 48
IMAGEM 16: Rua Henrique Passini nº720. Edificação que também faz parte do novo
processo de verticalização do bairro. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor:
Guilherme Gomes. .................................................................................................... 48
IMAGEM 17: Rua Caraça nº 777, trecho próximo ao ponto final do ônibus 2102. A
ocupação da rua nesse espaço é dada tanto pelos usuários do ônibus, quanto por
pessoas que utilizam os pequenos comércios que são mantidos lindeiros a Rua
Caraça. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes. ............. 49
IMAGEM 18: Rua Caraça, final dos ônibus 2102, 9106 e 8150. Edificações de baixo
porte e próximas a entrada do Parque das Mangabeiras. Foto tirada no dia
21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes. ....................................................... 50
IMAGEM 19: Esquina de Rua Caraça e Rua Serranos. Foto tirada no dia 21/08/2012
às 17hrs. Autor: Guilherme Gomes. .......................................................................... 50
8
IMAGEM 20: Rua Caraça. Apesar do afastamento em relação a rua o uso de grade
e vegetação ainda trazem a ligação entre rua e residência. Foto tirada no dia
21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes. ....................................................... 51
IMAGEM 21: Avenida do Contorno, esquina com Desembargador Drumond, nº 4631.
Uma das edificações que compõem a área que marcam essa verticalização de alto
gabarito da região. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
.................................................................................................................................. 53
IMAGEM 22: Vista geral da Avenida do Contorno, sentido Avenida Getúlio Vargas,
prédios com características semelhantes ao estreitamento e verticalização
acentuada. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ......... 53
IMAGEM 23: Rua Estevão Pinto, a tendência de estreitamento também faz-se
presente no trecho, mas em menor medida que na Avenida do Contorno. Outro
ponto importante é a maior presença de arborização na área. Foto tirada no dia
22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme ..................................................................... 54
IMAGEM 24: Rua Alumínio, esquina com Rua Estevão Pinto. Rua que também é
marcada por presença de edificações extremamente verticalizadas e com muros que
tornam-nas voltadas para seu interior sem ligação com a rua. Foto tirada no dia
22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ........................................................ 54
IMAGEM 25: Vista da Rua Luz a partir da Rua Estevão Pinto, apesar de isolada a
edificação ultrapassa os 15 pavimentos comuns a área do Bairro Serra. Foto tirada
no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ............................................. 55
IMAGEM 26: Esquina de Rua Estavão Pinto e Rua Alumínio. Primeira edificação da
serie que compõem a verticalização da área. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs.
Autor: Guilherme Gomes ........................................................................................... 55
IMAGEM 27: Rua Caraça, esquina com Rua Estevão Pinto. Em primeiro plano
edificação de pequeno porte que é cercada por zona de verticalização. Foto tirada
no dia 22/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes ............................................. 56
IMAGEM 28: Rua Palmira, esquina com Rua do Ouro. Apesar de ter uso multifamiliar
e tendência a verticalização, o gabarito das edificações é mais suave. Foto tirada no
dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes .................................................. 56
IMAGEM 29: Rua Capivari, esquina com Ruas Capelinha e Amapá. Apesar da
verticalização, o gabarito das construções é menor em relação as que ocorrem em
torno da Avenida Estevão Pinto. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor:
Guilherme Gomes ..................................................................................................... 57
IMAGEM 30: Rua Capivari, esquina com Oriente. Novamente a verticalização é feita,
mas com porte menor das edificações. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs.
Autor: Guilherme Gomes ........................................................................................... 57
IMAGEM 31: Rua Oriente, ainda com traços da primeira verticalização do bairro,
decada de 50 e 60, a relação de proporção não é tão marcante quanto em outras
regiões do bairro. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes
.................................................................................................................................. 58
IMAGEM 32: Rua Capivari. A presença da verticalização faz-se presente, mas com
gabarito que permite uma leitura pelo pedestre sem a necessidade de inclinar
demais a cabeça, como ocorre nas proximidades da Rua Estevão Pinto
principalmente na ligação com rua Alumín ................................................................ 58
IMAGEM 33: Ocupação aglomerado. Com exceção a edificação da prefeitura para o
programa Vila Viva as casas constituem-se em dois ou três pavimentos. Foto tirada
no dia 23/08/2012 às 12hrs. Autor: Guilherme Gomes ............................................. 59
IMAGEM 34: Ocupação favela, próximo a comunidade da Igrejinha. Foto tirada no
dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes .................................................. 59
IMAGEM 35: Ocupação próxima a Avenida Mendes Sá. A construção em vermelho
marca a inserção de uma UMEI na região. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs.
Autor: Guilherme Gomes ........................................................................................... 60
IMAGEM 36: Rua Capivari, próximo a esquina com a Rua Oriente. O mesmo imóvel
funciona como conserto de móveis e roubas (entrada na esquina). Foto tirada no dia
18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ........................................................ 62
IMAGEM 37: Rua Itapemerim, esquina com Rua Capivari. A Padaria Gênova é uma
das responsáveis pela movimentação diurna no local. Foto tirada no dia 18/08/2012
às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ........................................................................... 63
IMAGEM 38: Padaria Santíssimo Pão, influência diretamente o fluxo de pessoas na
região. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ............... 63
IMAGEM 39: Rua do Ouro. Apesar da proximidade a região do bar do Salomão a
região conta com pouca utilização na sua parte residencial. Foto tirada no dia
18/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes ........................................................ 64
IMAGEM 40: A Auto Escola Cesinha tem seu horário de funcionamento iniciado a
partir das 16hrs, o que garante o uso da região também durante a noite garantindo
segurança a área. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
.................................................................................................................................. 65
10
IMAGEM 41: Rua Capivari nº 429, o uso do espaço é dado principalmente por
clientes da loja de roupa e do salão de beleza. Dessa forma a maioria das pessoas
que se utilizam do local são mulheres. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor:
Guilherme Gomes ..................................................................................................... 65
IMAGEM 42: Rua Caraça, próximo à entrada do Parque das Mangabeiras. A
ocupação do espaço público pelo pedestre já é perceptível. Foto tirada no dia
18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ........................................................ 66
IMAGEM 43: Rua do Ouro, foto tirada a partir da esquina com Rua Capivari, aqui o
número de carros na rua já é mais marcante que o número de pedestres. Foto tirada
no dia 17/08/2012 às 18hrs. Autor: Guilherme Gomes. ............................................ 94
IMAGEM 44: Rua do Ouro, proximo a esquina com Rua Caraça. Ponto marcado por
movimentação associado a característica comercial da área. Foto tirada no dia
22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ........................................................ 94
IMAGEM 45: Rua do Ouro, esquina com Caraça. Ponto onde se localiza o Fotos
Mendes, responsável, juntamente com as demais lojas do trecho, pelo movimento
da região. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes .......... 95
IMAGEM 46: Rua Caraça, esquina com Rua do Ouro. Foto tirada no dia 22/08/2012
às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ........................................................................... 95
IMAGEM 47: Rua Caraça, a partir da esquina com Rua do Ouro. Ponto onde ocorre
movimento e utilização da rua pela proximidade entre comerciantes e moradores da
área. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes .................. 96
IMAGEM 48: Rua Estevão Pinto, próximo a Rua Caraça, o comércio tradicional
garante o movimento e uso da rua. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor:
Guilherme Gomes ..................................................................................................... 96
IMAGEM 49: Esquina de Rua Estevão Pinto e Caraça, ponto com destaque para
movimentação ligada ao comercio. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor:
Guilherme Gomes ..................................................................................................... 97
IMAGEM 50: Rua Estevão Pinto, esquina com Caraça. Foto tirada no dia 22/08/2012
às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes ........................................................................... 97
IMAGEM 51: Prédio localizado na Rua Capivari, a tipologia construtiva é marca do
novo processo de verticalização do bairro. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs.
Autor: Guilherme Gomes. ........................................................................................ 102
IMAGEM 52: Prédio localizado na Rua Capivari, próximo a esquina com a Rua
Capelinha, mesma tipologia construtiva de prédio na região. Foto tirada no dia
18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ..................................................... 102
IMAGEM 53: Rua Caraça, esquina com Rua Serranos, nesse ponto a leitura pelo
pedestre é dificultada pela altimetria da edificação. Foto tirada no dia 19/08/2012 às
15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ............................................................................. 103
IMAGEM 54: Rua Capivari, próximo a esquina com Rua Angustura, o muro fechado
não permite a visualização pelo pedestre, dificultando a identidade do mesmo com a
edificação. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ...... 107
IMAGEM 55: Rua Capelinha, esquina com Rua Capivari, o muro torna o ambiente
privado fechado ao contato com o espaço público. Mantêm-se a ideia de segurança
por dispositivos de inibição não pela proteção do proprio pedestre. Foto tirada no dia
18/08/2012 às 15hrs. ............................................................................................... 107
IMAGEM 56: Rua Capelinha, o número de fachadas fechadas para o contato com a
rua tornam o ambiente pouco atrativo ao caminhar pelo pedestre. Foto tirada no dia
18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ..................................................... 108
IMAGEM 57: Rua Capivari, esquina com Rua Angustura, apesar da presença da
grade, a permeabilidade do elemento permite o contato entre o pedestre e o interior
da edificação. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. . 108
IMAGEM 58: Rua Serranos, esquina com Rua Caraça, a edificação conta com três
elementos que conformam a separação entre espaço público e espaço privado
(muro em alvenaria, gradil e vegetação). Essa combinação torna o ambiente ainda
permeável a visualização pelo pedestre. Foto tirada no dia 19/08/2012 às 15hrs.
Autor: Guilherme Gomes. ........................................................................................ 109
IMAGEM 59: Rua Estevão Pinto, nº313, a mescla de tipos de fechamento pode
configurar-se como bom partido para execução da transição, possibilitando o contato
e ainda mantendo a descrição do privado. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs.
Autor: Guilherme Gomes. ........................................................................................ 110
IMAGEM 60: Bar do Salomão, primeiro ponto identifica do com características de
lugar. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. .............. 111
IMAGEM 61: Rua do Ouro, esquina com Rua Palmira, ponto com característica de
lugar pelo comércio desenvolvido no local. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs.
Autor: Guilherme Gomes. ........................................................................................ 111
12
IMAGEM 62: Rua Estevão Pinto, ponto com características que o permitem a
aplicação do conceito de lugar pelo caráter local do comércio. Foto tirada no dia
22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ..................................................... 112
IMAGEM 63: Bar Boiadeiro, entroncamento das Ruas Palmira, Niquel e
Desembargador Mário Matos, a foto mostra um horário em que o comercio encontra-
se fechado, evidenciando a queda do movimento na região. Foto tirada no dia
18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ..................................................... 112
IMAGEM 64: Trecho na esquina de Rua Caraça e Rua Estevão Pinto, primeiro ponto
indicado para fechamento. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme
Gomes. .................................................................................................................... 114
IMAGEM 65: Rua do Ouro, esquina com Palmira, segundo ponto indicado para
fechamento. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. .... 114
IMAGEM 66: Vista do segundo trecho a partir da Rua do Ouro. Foto tirada no dia
22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ..................................................... 115
IMAGEM 67: Trecho de fechamento na esquina de Rua Estevão Pinto e Rua Monte
Alegre, é indicado o fechamento até a esquina com a Rua Alumínio e com a Avenida
do Contorno. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ... 115
IMAGEM 68: Rua Níquel, esquina com Capivari, serie de quatro casas foram
derrubas para dar lugar a empreendimento vertical. Foto tirada no dia 18/08/2012 às
15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ............................................................................. 119
IMAGEM 69: Vista do mesmo empreendimento a partir da Rua Capivari. Foto tirada
no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. .......................................... 119
IMAGEM 70: Rua Capivari, prédio localizado em frente ao empreendimento da
Agmar. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ............ 119
IMAGEM 71: Empreendimento localizado na Rua Herval, esquina com Rua
Joanésia. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes. ........ 120
FIGURAS
FIGURA 1: Diagrama com etapas previstas para realização do trabalho. ....... 31
FIGURA 2: Planta cadastral de Belo Horizonte de 1898, marcado em vermelho a
primeira conformação do Bairro Serra. ............................................................ 34
FIGURA 3: Ocupação do aglomerado na década de 50, a menor mancha representa
a ocupação que deu lugar ao Minas Tênis Clube, a mancha média representa a
Favela do Pendura Saia e a terceira e maior mancha representa a favela da Serra.
FONTE: Cadernos de Arquitetura e Urbanismo. 1999 ed. PUC Minas, Belo
Horizonte. p. 71. ............................................................................................... 35
FIGURA 4: Ocupação pelo aglomerado, ao final do estudo de Manoel Teixeira. Nele
a menor ocupação da Figura 2 já havia dado lugar ao Minas Tênis Clube e a favela
do Pendura Saia já havia praticamente desaparecido, restando apenas três
pequenas manchas da antiga ocupação. Em contra partida a mancha conformada
pela Favela da Serra aumenta de proporção, tornando-se uma das ligações do
bairro com o Bairro São Lucas. FONTE: Cadernos de Arquitetura e Urbanismo. 1999
ed. PUC Minas, Belo Horizonte. p. 71. ............................................................. 36
FIGURA 5: Ocupação recente do aglomerado. Atualmente a área é maior do que a
representada por Manoel Teixeira, mas concentra-se em somente um local,
formando conurbação do bairro e o Bairro São Lucas. .................................... 37
FIGURA 6: Em vermelho área de intervenção, Bairro Serra. Fonte: Google Mapas.
......................................................................................................................... 40
FIGURA 7: Em vermelho, edificações com uso predominantemente comercial. Em
laranja, edificações com uso predominantemente misto. Em azul, uso
predominantemente residencial multifamiliar. Em magenta, uso predominantemente
residencial unifamiliar. FONTE: Google Maps. ................................................. 51
FIGURA 8: Em vermelho, construções acima de 15 pavimentos. Em amarelo,
construções até 15 metros de altura. Em laranja, ocupação irregular, zona do
aglomerado da Vila Cafezal. Fonte: Google Maps. .......................................... 52
FIGURA 9: Em roxo, ocupação aglomerado. Em laranja, ocupação mista, com maior
peso para ocupação residencial. Em verde, zona de uso residencial. Em Marrom uso
misto, com predominância comercial, grande rotatividade de pessoas durante o dia,
horário de uso ligado muito ao comercio, pouca atividade quando esse termina seu
14
expediente. Em vermelho, Minas Tênis Clube. Em magenta, ocupação com
características comerciais. FONTE: Google Earth. .......................................... 61
GRÁFICOS
GRÁFICO 1: Gráfico mostra idade média dos usuários entrevistados, em “y” número
de usuários por área e em “x” intervalos de idade propostos. Essa media mostra que
o bairro varia a dominância de acordo com a área, tendo a repetição de idade
predominante quase escassa. .......................................................................... 71
GRÁFICO 2: Tempo de convívio no Bairro Serra, em “y” é apresentado o número de
usuários por região e em “x” é representado o tempo que eles convivem no Bairro
Serra. Segundo o analisado em nenhum setor as pessoas convivem no bairro a mais
de 60 anos e em todos os cinco setores há predominância do menor tempo de
convívio possível. Apontando mudança populacional do bairro. ...................... 72
GRÁFICO 3: Gráfico com número de usuários que moram, trabalham ou fazem as
duas atividades no bairro, em “y” é representado o número de cada usuário por área,
em "x” é apresentado qual é o tipo de atividade realizada. As áreas 5 e 6 tem a
maior concentração da combinação de usos do bairro. ................................... 72
16
TABELAS
TABELA 1: Locais mais utilizados pelos questionados. Na tabela faz-se o
diagnóstico através das atividades mais citadas pelos entrevistados e número de
usuários a citá-las por área. ........................................................................... 123
TABELA 2: Locais mais movimentados do Bairro Serra. Vale ressaltar a variedade
de áreas que apontam as Ruas Alípio Goulart, Rua Estevão Pinto e Rua do Ouro
como movimentadas. ..................................................................................... 124
TABELA 3: Mudanças no Bairro Serra. vale ressaltar o caráter de destaque que a
verticalização tem como ponto de observação pela população. .................... 125
TABELA 4: Pontos de referência do Bairro Serra. Destaque para o número de
citações do Hospital Evangélico como Ponto de Referência. ........................ 126
TABELA 5: Pontos de referência do Bairro Serra. Destaque para o número de
citações do Hospital Evangélico como Ponto de Referência. ........................ 127
TABELA 6: Pontos de referência do Bairro Serra. Destaque para o número de
citações do Hospital Evangélico como Ponto de Referência. ........................ 128
TABELA 7: Pontos de referência do Bairro Serra. Destaque para o número de
citações do Hospital Evangélico como Ponto de Referência. ........................ 129
TABELA 8: Pontos de referência que apareceram. Destaque para as nove citações
da Praça do Cardoso e para as 13 e 12 (área 1 e 5) do não aparecimento de pontos
de referência. ................................................................................................. 130
TABELA 9: Pontos de referência que desapareceram. Destaque para o grande
número de vezes a ser citado a não recordação de desaparecimentos. ....... 131
TABELA 10: Pontos de referência que desapareceram. Destaque para o grande
número de vezes a ser citado a não recordação de desaparecimentos. ....... 132
TABELA 11: Pontos de referência que desapareceram. Destaque para o grande
número de vezes a ser citado a não recordação de desaparecimentos. ....... 133
SUMÁRIO
Dedicatória .................................................................................................................. 3
Agradecimentos .......................................................................................................... 4
Resumo ....................................................................................................................... 5
Abstract ....................................................................................................................... 5
IMAGENS .................................................................................................................... 6
FIGURAS .................................................................................................................. 13
GRÁFICOS ................................................................................................................ 15
TABELAS .................................................................................................................. 16
SUMÁRIO .................................................................................................................. 17
1 - APRESENTAÇÃO DO TRABALHO ..................................................................... 19
1.1 - Introdução ...................................................................................................... 19
1.2 - Problema ....................................................................................................... 21
1.3 - Objetivos ........................................................................................................ 23
1.3.1 – Objetivo geral ............................................................................................. 23
1.3.2 – Objetivos específicos ................................................................................. 23
1.4 - Justificativa .................................................................................................... 24
1.6 - Metodologia ................................................................................................... 29
1.7 - Cronograma ................................................................................................... 32
2 – DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO .............................................................. 33
2.1 – Histórico ........................................................................................................... 33
2.1.1 – Histórico do bairro Serra ............................................................................ 33
2.1.2 – Abordagem da história e do lugar segundo Manoel Teixeira de Azevedo
Junior ..................................................................................................................... 37
2.2 – Diagnóstico ....................................................................................................... 39
2.2.1 – Área de estudo .......................................................................................... 39
2.2.2 Usos do solo ................................................................................................. 40
2.2.3 – Altimetria das edificações .......................................................................... 52
2.2.4 – Apropriação diurna ..................................................................................... 60
2.3 – Percepções da comunidade sobre o bairro Serra ............................................ 68
2.3.1 – Metodologia de pesquisa ........................................................................... 68
2.3.2 – Questionário para obtenção dos lugares de destaque ............................... 69
18
2.3.3 – Caracterização dos usuários por idade, tipo de atividade e tempo de
relação com o bairro .............................................................................................. 71
2.3.4 – Percepção sobre a região .......................................................................... 73
2.3.5 – Percepção quanto aos pontos de referência ............................................. 80
2.3.6 – Conclusão a cerca das entrevistas ............................................................ 85
2.3.7 – Análise dos lugares do bairro segundo definição de Ana Fani Carlos ....... 87
2.3.8 – Analise dos motivos de manutenção/ perdas dos lugares do bairro Serra 91
3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 104
3.1 – Diretrizes para intervenção no bairro Serra ................................................ 104
3.1.1 – Primeira Diretriz – Valorização da relação das esquinas como espaço de
convivência e identidade ..................................................................................... 104
3.1.2 – Segunda diretriz – Desenvolvimento de tipologias e soluções projetuais
que valorizem uma melhor relação entre espaço público e espaço privado ........ 105
3.1.3 – Terceira diretriz – Inventário dos locais comerciais de destaque no bairro
Serra .................................................................................................................... 111
3.1.4 – Quarta diretriz – Estimular atividades que aconteçam no espaço público
............................................................................................................................. 113
3.1.5 – Quinta diretriz – Realização de inventário das edificações de interesse de
preservação no bairro Serra, com vistas á posterior definição de conjunto urbano.
............................................................................................................................. 118
ANEXOS ................................................................................................................. 123
TABELAS COM ANALISE DOS QUESTIONÁRIOS ............................................ 123
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 134
1 - APRESENTAÇÃO DO TRABALHO
1.1 - Introdução
O presente trabalho objetiva problematizar as formas como o crescimento urbano e
as políticas formadoras da cidade influenciaram os lugares, segundo definição de
Ana Fani Carlos (1996), conformados no bairro Serra, identificados através de
entrevistas com moradores e usuários da região. Para tanto, busca-se discutir como
as mudanças recentes na conformação do espaço do bairro, decorrentes do trabalho
de diversos agentes – com destaque para as formas como o mercado (entendido
como a disputa por pontos de venda ou ações do âmbito das políticas urbanas
(CORRÊA,2002) de Belo Horizonte) e o Poder Público influenciam a dinâmica de
formação do espaço, as territorialidades e os lugares que caracterizam determinada
área.
O espaço, segundo Lefebvre, “está além de uma simples análise econômica, pois
deriva das formas de relação entre indivíduos, sendo ele maior do que a análise de
coleção de objetos, coisas e mercadorias, definindo-se assim pelo desenvolvimento
das atividades do cotidiano na forma dinâmica de corelações entre as pessoas”
(LEVEBVRE, 2008, p.35).
A abordagem de espaço apresentada por Lefebvre conduz à busca pela definição do
segundo termo de importância para a pesquisa, o lugar. Sendo assim, o lugar é
definido de acordo com a teoria de Ana Fani Alessandri Carlos (1996), como,
essencialmente, “a base de relação da vida de determinado individuo”. Portanto, o
lugar seria o âmbito representado pela cotidianidade, sejam as coisas rotineiras ou
as acidentais, e na forma de apropriação que o individuo faz do espaço.
O ponto de partida do presente trabalho é a relação de identidade desenvolvida
entre a população e um determinado lugar, aqui assinalada pelo Bairro Serra.
Propõe-se a realização de análises acerca das discussões inerentes a essa
territorialidade que se permeia no que é lembrado e sentido no cotidiano dos
moradores da região. Nesse sentido, faz-se necessário entender que “os territórios
são construídos, e desconstruídos, dentro de variadas escalas temporais: séculos,
20
décadas, anos, meses ou dias; podendo ter como característica ser permanentes,
mas também podem ter uma existência efêmera, periódica ou cíclica” (SOUZA,
2005, p. 85).
Pretende-se trabalhar um viés ligado a história e identidade que determinado grupo
social cria com um local. Essa territorialidade, entendidos os territórios como os
espaços ligados primariamente às relações projetadas no espaço antes mesmo que
sejam espaços concretos (SOUZA, 2005) será base para o desenvolvimento da
pesquisa.
Assim sendo, “a história tem uma dimensão social que emerge do cotidiano das
pessoas, no modo de vida, no relacionamento com o outro, entre estes e o lugar, no
uso” (CARLOS, 1996, p.19). A investigação da permanência ou perda dos lugares
no cotidiano atual do bairro, bem como de suas causas, constitui o escopo do
presente trabalho.
1.2 - Problema
A busca pela compreensão dos aspectos relacionados a um determinado tema
passa pela identificação de uma amplitude de ramificações relacionada ao foco
principal. A modificação do espaço e como essa reflete, frequentemente, em
situações de conflito – sejam elas decorrentes da falta de interesse dos usuários
tradicionais do bairro pelo novo espaço conformado, da expulsão causada por um
critério anterior, a valorização do local aonde a pessoa realiza suas atividades – é a
base que norteia a interdisciplinaridade associada ao Urbanismo.
Esta valorização dos imóveis de uma determinada área frequentemente relaciona-se
à atuação do mercado, principalmente a de adquirir lotes ou casas para construção
de um empreendimento de grande porte por imobiliárias, sendo o grupo denominado
“promotores imobiliários” (CORRÊA, 2002). Isso pode ocasionar uma expulsão,
mesmo que indiretamente, dos usuários comuns à área, seja pela falta de condições
de adquirir esse novo bem, ou pelo simples desinteresse na ambiência criada, seja
pela saída das pessoas que se utilizavam de determinado comércio tradicional do
bairro.
É importante ressaltar que o impacto causado pelos empreendimentos imobiliários
afeta, em muito, as formas de ocupação do espaço público, visto que mudanças
relacionadas à quantidade de tráfego, à falta de ligação e identificação dos novos
usuários com o local e ao tamanho dos empreendimentos, prejudica a leitura do
nível do usuário realizada tanto pelos pedestres quanto pelos motoristas (mesmo
que seja, a segunda, uma leitura mais dinâmica e superficial do espaço) (JUNIOR,
1999, p.85) perdidas na paisagem geral, além das condições de habitabilidade das
edificações já existentes de menor porte, notadamente no que diz respeito à
ventilação e à insolação.
O poder público é, segundo Corrêa (2002), um dos agentes conformadores do
espaço, uma vez que frequentemente é responsável por políticas que buscam
requalificar ou preservar uma determinada área. Por vezes, tais políticas acabam por
elevar os custos de permanência num determinado espaço, de modo a ocasionar a
22
expulsão de seus moradores ou usuários. Nesse sentido, o trabalho inclui a leitura
da atuação do Município no processo evolutivo do bairro.
A busca, em resumo, é pela compreensão da influência das recentes mudanças
ocorridas no bairro nos conflitos de apropriação, em situações de relevância entre
usuários e personagens de destaque do Serra, em ações de uso do espaço público,
para além das atividades de rotina, e, em menor escala, na identificação espacial
característica do Bairro, podendo ter este conflitos ligações com o interesse público
ou com o interesse privado.
1.3 - Objetivos
1.3.1 – Objetivo geral
Analisar a influência gerada pelas transformações urbanas recentes na perda ou
manutenção dos lugares conformados no bairro Serra
1.3.2 – Objetivos específicos
- Analisar história de formação e transformações do Bairro Serra;
- Identificar os lugares do bairro, segundo conceito de Ana Fani Carlos;
- Analisar se o lugar ainda se mantêm, se ele perdeu relevância e se outro lugar
surgiu para substituí-lo.
- Analisar os fatores que influenciam, direta ou indiretamente, nessa perda ou
manutenção.
24
1.4 - Justificativa
As escolhas baseiam-se numa busca de compreensão do que ocorre nas grandes
metrópoles, em específico em Belo Horizonte, o crescimento e transformações que
causam a perda dos lugares que caracterizam uma dada região, aqui assinalada
pelo Bairro da Serra.
O grande acervo bibliográfico acerca do tema, mesmo que em áreas diferentes –
ainda que próximas da arquitetura –, como os autores já citados e outros (Pierre
George, Michel Foucault dentre outros), a proximidade e ligação desenvolvidas com
o bairro, gerando conhecimento suficiente de pessoas que são importantes para a
história local (como o Senhor Melo, da mercearia, ou a vendedora de frutas da
esquina, Senhora Ilma, e a disponibilidade de tempo para realizar a pesquisa)
conduziram à escolha do tema e do local.
Questões de conflitos urbanos são documentadas desde a Grécia antiga, onde nem
todos eram considerados cidadãos (esse já sendo um conflito de gênero). O tema
busca entender em sua essência os locais que tornam-se pontos de encontro e
convívio dentro de uma dada região e como esses são influenciados por questões
relativas a valorização do espaço e a perda de identidade entre usuários e o local.
Entendê-los conduz a considerar um tema que segue rumo ao que Henri Lefebvre
denomina de “mitos de época”1, em que questionar-se-á e embasar-se-á para
buscar as unidades significantes de uma determinada região.
O Bairro Serra passa por processo de redefinição dos locais que podem receber o
conceito de lugar, com significativa perda da identidade entre usuários e bairro2.
Nesse sentido, o presente trabalho visa identificar o processo pelo qual o bairro
passa com definição dos locais que se mantém no bairro. Apontando o motivo da
manutenção e identificando os locais que se perderam, com apontamento dos
motivos que geraram tal fato.
1 Sobre o tema ver LEFEBVRE, H., A revolução urbana, Belo Horizonte, UFMG, 1999.
2 Sobre esse ponto ler o diagnostico realizado sobre as entrevistas com os usuários, que segue o
trabalho.
O presente trabalho também busca servir como base de pesquisa para discussões
acerca dos conflitos ocasionados pela atuação do mercado imobiliário em áreas de
ocupação tradicional. Além disso, pretende-se que o mesmo sirva de referência para
futuras ações de planejamento para a área, inclusive de revisão da legislação válida
para o bairro e para estudos que busquem inventariar e preservar o patrimônio
imaterial levantado nesse estudo.
Sendo assim, justifica-se o problema e a escolha na tentativa de entender algo que é
contemporâneo. A forma que determinado lugar, aqui entendido como o espaço
gerado pelo que é vivido e pelas relações do individuo com a área, podem ser
influenciados pelos conflitos gerados pelas questões políticas/privadas de conduzir a
cidade, em termos de moradia e valorização do espaço – bem como nos possíveis
benefícios para o desenvolvimento de propostas de planejamento para a área que o
estudo deverá fornecer.
26
1.5 – Referencial teórico
Este capítulo trata das referências que servem de ponto de partida para o
desenvolvimento do presente trabalho. A seguir, são apresentados definições e
conceitos de autores que trataram sobre o tema, bem como sua forma de
contribuição para o desenvolvimento do estudo.
Para definição de espaço, a referência é a obra de Henri Lefebvre, contida no trecho
a seguir:
Não se pode dizer que o espaço seja um produto como um outro, objeto ou soma de objetos, coisa ou coleção de coisas, mercadoria ou conjunto de mercadorias. Não se pode dizer que se trata simplesmente de um instrumento, o mais importante dos instrumentos, o pré suposto de toda produção e de toda troca. O espaço estaria essencialmente ligado à reprodução das relações (sociais) de produção (LEFEBVRE, 2008, p.48).
Este conceito torna possível elucidar a forma em que se busca identificar o mercado
enquanto agente transformador de espaço, sendo ele co-responsável (juntamente
com outros fatores) pela mudança no espaço arquitetônico e urbanístico.
Outro conceito importante para definição de espaço é a cedido por Roberto Lobato
Corrêa, sobre os agentes formadores do espaço urbano. Segundo Corrêa (2002), o
espaço é formado por 5 agentes principais, os proprietários dos meios de produção,
os proprietários fundiários, os promotores imobiliários, o Estado e os grupos sociais
excluídos (CORRÊA, 2002, p.12).
Esse conceito de agentes formadores faz-se importante para o projeto de pesquisa
para melhor esclarecimento de uma abordagem dos que seriam responsáveis pela
forma que o espaço urbano toma desde seu planejamento até sua apropriação.
Segundo Milton Santos o espaço ainda pode ser entendido como algo mútuo e
associado, dessa forma:
O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistema de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá (SANTOS, 2009, p.62).
Abordando o conceito de território, pretende-se discutir com a noção cedida por
Marcelo José Lopes de Souza. É interessante ressaltar uma das possíveis noções
de territorialidade contidas no artigo do professor para o livro Geografia: conceitos e
temas, aonde o termo é definido da seguinte forma:
Outra forma de se abordar a temática da territorialidade, mais abrangente e crítica, pressupõem não propriamente um deslocamento entre as dimensões política e cultural da sociedade, mas uma flexibilização da visão do que seja território. Aqui, o território será um campo de forças, uma teia ou rede de relações sociais que, a par de sua complexidade interna, define, ao mesmo tempo, um limite, uma alteridade: a diferença entre “nós” (o grupo, os membros da coletividade ou “comunidade”, os insiders) e os “outros” (os de fora, os estranhos, os outsiders) (SOUZA, 2009, p.86).
Outro autor a tratar sobre o conceito de território, também na obra Geografia:
conceitos e temas é Rogério Haesbaert. Sua contribuição para o artigo em
desenvolvimento está na sua abordagem de território através da tríade
“territorialização, desterritorialização e reterritorialização” (HAESBAERT, 2009,
p.169).
Para o estudo são relevantes, principalmente, os conceitos de reterritorialização e
desterritorialização, que podem estar ligados ou ocorrer em um mesmo momento no
mesmo território, sendo originados de diferentes fatores, como velocidade de
alterações da informação ou por agentes políticos (HAESBAERT, 2009).
Por fim, reforça-se aqui já apresentado conceito de lugar de Ana Fani Alessandri
Carlos (1996), referência chave para o desenvolvimento do trabalho:
O lugar é a base da reprodução da vida e pode ser analisado pela tríade habitante-identidade-lugar. A cidade, por exemplo, produz-se e revela-se no plano da vida do indivíduo. Este plano é aquele do local. As relações que os indivíduos mantêm com os espaços habitados se exprimem todos os dias nos modos do uso, nas condições banais, no secundário, no acidental. É o espaço passível de ser sentido, pensado, apropriado e vivido pelo corpo (CARLOS, 1996, p.22).
Dessa forma, utilizando principalmente a definição de Ana Fani Carlos sobre lugar,
as definições de espaços cedidas por Henri Lefebvre e Milton Santos e a tríade de
Rogério Haesbaert sobre território será embasado o presente trabalho acadêmico
28
para a tentativa de compreensão de como diferentes fatores podem influenciar na
presença e permanência dos lugares identificados no âmbito do Bairro Serra.
1.6 - Metodologia
A pesquisa será desenvolvida em três etapas.
A primeira etapa é formada por tópicos de apresentação da base utilizada para o
desenvolvimento do trabalho acadêmico, como trabalho de Manoel Teixeira Azevedo
sobre o Bairro Serra, e por passos que deem inicio ao projeto de pesquisa, com
aplicação do questionário para identificação dos personagens de destaque no bairro
e diagnóstico que apresente a área de atuação e demarque as zonas de pesquisa.
Explicando a etapa em detalhes, seria possível traduzi-la da seguinte maneira:
- Apresentação da História do Bairro Serra;
- Apresentação do trabalho de Manoel Teixeira, trabalho esse que servirá como
ponto de partida para escolha do marco temporal da pesquisa,
- Elaboração do diagnóstico atual da área;
- Comparação com o trabalho de Manoel Teixeira, mudanças e permanências;
- Definição da metodologia para as entrevistas;
- Aplicação das entrevistas, com usuários do Bairro Serra.
A investigação documental “é realizada em documentos conservados no interior de
órgãos públicos e privados de qualquer natureza entre outros” (VERGARA, 2004, p.
48). Em termos de investigação documental, o trabalho inclui a busca, junto ao
Arquivo Público Mineiro e à Diretoria de Patrimônio Cultural da Fundação Municipal
de Cultura, informações sobre a história do Bairro Serra e o mapa cadastral de Belo
Horizonte, com vistas especialmente à identificação do período inicial de ocupação
do bairro.
O trabalho de Manoel Teixeira servirá como marco por explicar em detalhes o Bairro
até o final do seu período de estudo, com o objetivo de fornecer subsídios à
identificação dos lugares do bairro. Quanto às entrevistas, estas serão feitas com
pessoas que tenham no mínimo 25 anos de idade e vivência de treze anos do bairro
desde a data estipulada. Dessa forma, caso a pessoa tenha vindo para o bairro com
maior idade, ela terá desenvolvido tempo suficiente de vivência do local e para quem
30
cresceu na região é possível que a pessoa tenha no mínimo 12 anos de idade na
data de início, tornando-a apta a perceber as mudanças que o bairro sofreu.
Na segunda etapa serão realizadas as análises dos questionários/entrevistas
aplicados na primeira etapa e, a partir daí, identificados os lugares do bairro.
Será ainda analisada a legislação urbanística incidente no bairro, com vistas a
identificar possíveis fatores responsáveis pela mudança da configuração dos
espaços e atividades em sua área.
Na terceira e última etapa serão apontados os fatores responsáveis pela perda ou
manutenção dos lugares e a perspectivas para estudos futuros a partir do trabalho
realizado.
Figura 1: Diagrama com etapas previstas para realização do trabalho.
32
1.7 - Cronograma
2 – DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO
2.1 – Histórico
2.1.1 – Histórico do bairro Serra
Pensar um bairro é abordar, inicialmente, a sua identidade, o modo específico de ele ser, aquilo que o diferencia das áreas em volta e determina características próprias, perceptíveis para quem o frequenta ou percorre seus espaços (JUNIOR, 1996, p.69).
A toponímia Serra tem referência ao Córrego da Serra, que corta a região desde o
Parque das Mangabeiras (com 59 nascentes no local) até a Rua Dona Cecília,
contanto com boa parte do seu percurso hoje pavimentado3.
Essa configuração é característica do inicio da formação da nova capital de Minas
Gerais, sendo o bairro já pensado no plano original de Aarão Reis, como parte
componente da primeira e segunda região suburbana de Belo Horizonte (Figura 2).
A figura 2 apresenta a planta cadastral de Belo Horizonte em 1898, no período a
ocupação do bairro era dada predominantemente pelos cofundadores da cidade
(como Estevão Pinto e o Professor Antônio Aleixo) com grandes terrenos e
chácaras.
3 Prefeitura de Belo Horizonte. Disponível em
<http://portalpbh.pbh.gov.br/pbh/ecp/contents.do?evento=conteudo&idConteudo=23748&chPlc=23748&termos=Bairro%20Serra.> Acesso em 19/03/2012 às 18h16min
34
Figura 2: Planta cadastral de Belo Horizonte de 1898, marcado em vermelho a primeira conformação do Bairro Serra.
.Fonte:http://3.bp.blogspot.com. Acesso em 17/04/2012 às 21:30
O Bairro Serra constituiu-se junto às encostas da Serra do Curral, outro motivo
responsável pela denominação da região, sendo a única forma de acessar a região
montanhosa, já que a Avenida Afonso Pena continuou seu percurso somente nos
arredores da década de 60 (com a idealização do Bairro Mangabeiras). Desta forma,
para os interessados em visitar ou se aventurar na Serra do Curral, o Bairro Serra e
suas vias principais, Rua Estevão Pinto, Rua do Ouro, Palmira e Caraça eram o
único meio de ter acesso a região montanhosa (JUNIOR, 1999, p. 69-75)
A ocupação do aglomerado se confunde com o inicio da história do Bairro Serra,
tendo ocorrido a partir da década de 1920, juntamente com o inicio dos
parcelamentos dos terrenos das chácaras. Apesar da ocupação pretérita, foram
necessários cerca de trinta anos para que o processo de ocupação do aglomerado
fosse consolidado; segundo Junior (1999) essa primeira ocupação ocorre em três
manchas básicas (Figura 3): a primeira marcada pela área ocupada em terreno de
topografia íngreme a leste e nordeste do bairro, recebendo o nome de favela da
Serra, a segunda ocorre em área denominada de favela do Pendura Saia, ao sul da
Praça Milton Campos, sendo esta hoje componente de parte do bairro Cruzeiro. A
ultima porção já inexiste, tendo dado lugar ao Minas Tênis Clube, sendo conformada
pelo final da Rua Trifana e Avenida Bandeirantes.
Ainda seguindo a analise de Azevedo (Ibid.) a favela do Pendura Saia foi outra a
sofrer com processo de elitização da região, tendo sido sua área cedida a órgãos da
iniciativa privada e publica e outro grande trecho sendo retirado para dar
continuidade a Avenida Afonso Pena, sendo assim, do trecho original da favela
restavam, até o final do estudo realizado por Manoel Teixeira, três pequenas
porções de ocupação (Figura 4).
Na configuração atual do bairro, já não perdura a ocupação do Pendura Saia, tendo
maioria dos seus terrenos tornado-se edificações multifamiliares de classe média do
Bairro Cruzeiro. E, mais recentemente, a favela da Serra já passa por modificações
com desocupação, com a abertura da Avenida Mem de Sá (popularmente conhecida
como Avenida do Cardoso) e com os projetos de urbanização conhecidos como Vila
Viva (Figura 5).
Figura 3: Ocupação do aglomerado na década de 50, a menor mancha representa a ocupação que deu lugar ao Minas Tênis Clube, a mancha média representa a Favela do Pendura Saia e a terceira e maior mancha representa a favela da Serra. FONTE: Cadernos de Arquitetura e Urbanismo. 1999 ed. PUC Minas, Belo Horizonte. p. 71.
36
Figura 4: Ocupação pelo aglomerado, ao final do estudo de Manoel Teixeira. Nele a menor ocupação da Figura 2 já havia dado lugar ao Minas Tênis Clube e a favela do Pendura Saia já havia praticamente desaparecido, restando apenas três pequenas manchas da antiga ocupação. Em contra partida a mancha conformada pela Favela da Serra aumenta de proporção, tornando-se uma das ligações do bairro com o Bairro São Lucas. FONTE: Cadernos de Arquitetura e Urbanismo. 1999 ed. PUC Minas, Belo Horizonte. p. 71.
Figura 5: Ocupação recente do aglomerado. Atualmente a área é maior do que a representada por Manoel Teixeira, mas concentra-se em somente um local, formando conurbação do bairro e o Bairro São Lucas.
Dessa forma, a ocupação inicial do bairro mostra já antecipa característica relevante
de sua configuração atual, marcada pela heterogeneidade, com clara mescla entre
diferentes setores sociais. Na mesma medida, a evolução de ocupação do bairro é
influenciada diretamente pela configuração do aglomerado, visto que enquanto o
bairro formal desenvolvia-se em torno da Avenida do Contorno e das ruas que
faziam ligações com a mesma, eram iniciados novos parcelamentos e ocupações
em trechos que hoje são conformados pelas ruas Capivari e adjacências que cortam
as vias principais, como Rua do Ouro, Rua Caraça, Rua Estevão Pinto e Rua
Trifana.
2.1.2 – Abordagem da história e do lugar segundo Manoel Teixeira de Azevedo
Junior
Manoel T. A. Junior (1999) identifica o bairro a partir da observação e análise do
mesmo, realizada por Pedro Nava no seu livro Chão de Ferro (1976). Nessa obra,
Nava pontua as relações entre edificação e terreno e entre os moradores da região,
com destaque para o contato entre os diversos estratos socioeconômicos que
formam o bairro.
38
Para tanto, Manoel T. A. Junior se apropria da analise cedida por Pedro Nava para
fazer um estudo sobre a identidade característica do bairro a partir do seu sistema
viário e pelas Avenidas e ruas que o separam dos bairros que fazem vizinhança e
pela forma como os moradores se apropriam do mesmo e como é a relação
dinâmica e transforma do exterior para o interior do bairro.
Na analise do sistema viário Manoel T. A. Junior aponta a forma em que o bairro
está inserido na cidade e delimitado pelas vias estruturantes que o contornam. A
Avenida Afonso Pena, a Avenida Bandeirantes e a Avenida do Contorno formando
um eixo de vias importantes que demarcam os limites do bairro e caracterizam a
diferença, tanto do traçado quanto da arquitetura, entre o Serra e os bairros
circunvizinhos, como Anchieta, Cruzeiro, Funcionários e Mangabeiras.
Em relação aos bairros Mangabeiras, Anchieta e Cruzeiro a mudança é marcada
pela uniformização da ocupação do primeiro, com arquitetura horizontalizada e
unifamiliar, e pela verticalização de médio e alto porte dos dois outros. Outra
característica que difere os bairros citados e o Bairro Serra é o relevo acidentado de
ambos os espaços, relevo esse, que apesar de íngreme no Serra, ainda é mais
suave que nos vizinhos Mangabeiras, Anchieta e Cruzeiro. Grande semelhança
entre os bairros está na forma orgânica de organização viária, muitas vezes com as
ruas mantendo o mesmo em alguns casos (JUNIOR, 1999).
Em relação ao Bairro Funcionários essa diferença se caracteriza pelo traçado das
vias, no Serra elas tendem a ser orgânicas e muitas das vezes não contando com
ortogonalidade. Já no Bairro Funcionários esse traçado segue ortogonal, equivalente
ao parcelamento original proposto por Aarão Reis para o perímetro interno da
Avenida do Contorno.
Essa explicação em termos viários continua sendo realizada por Manoel T. A. Junior
para delimitar a forma de organização do bairro, partindo do macro para o micro,
onde a rua movimentada e com usos diversificados e de intensa velocidade das
Avenidas que circundam o bairro vão dando lugar a ruas tranquilas e com menor
fluxo de usuários na rua e por fim chegam na casa, espaço reservado pro privado.
Nessa analise é possível elucidar a organização das edificações pretéritas do bairro,
onde a ligação com a rua é feita por meio de arborização e aberturas através de
grades vazadas ou sem nenhuma medida de intrusão tornando a proximidade e
ligação entre público e privado em maior medida do que a arquitetura que se torna
vigente no bairro a partir da década de 80, onde essa proximidade cede lugar a
afastamentos, exigidos pela legislação, revolvendo a ligação entre público e privado
prejudicada.
Dessa forma, Manoel T. A. Junior identifica o bairro a partir da sua formação e da
forma como ele desenvolveu-se a partir dos seus dois eixos viários principais, Rua
do Ouro e Rua Estevão Pinto (antiga Rua Chumbo).
2.2 – Diagnóstico
2.2.1 – Área de estudo
A área de estudo consiste nas duas ramificações do Bairro Serra, o bairro formal e o
aglomerado. Essa divisão ocorre por motivos didáticos, para que seja possível a
identificação de lugares nos dois meios tornando assim a pesquisa com maior
amplidão.
Outra divisão ocorrerá na área composta pelo aglomerado, visto que o mesmo
ocupa grande trecho do bairro e, pelo tempo disposto para realização do trabalho
acadêmico seria inviável a pesquisa e levantamento de dados em todo seu
perímetro.
Dessa forma o trecho representado como área de estudo consiste em todo o bairro
formal e no trecho limitado pelas Ruas Capelinha, Bandonion e Sacramento para
demarcação da área de estudo no aglomerado como é representado no mapa a
seguir:
40
Figura 6: Em vermelho área de intervenção, Bairro Serra. Fonte: Google Mapas.
2.2.2 Usos do solo
O Bairro da Serra tem a marcação de usos, de certa forma, clara. As regiões
polarizada pelas avenidas do Contorno, Afonso Pena e Bandeirantes conformam um
uso com características marcadas pelo uso predominantemente comercial, com
maior parte das edificações voltadas para essa demanda (Erro! Fonte de
referência não encontrada. à Imagem 4).
Imagem 1: Ligação Rua Desembarcador Drumond com Avenida do Contorno. Trecho marcado por edificações de maior porte, mais que 15 pavimentos, e com uso predominantemente diurno. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
Imagem 2: Esquina Rua Desembargador Drumond e Avenida do Contorno. Edificação modificada para atender a demandas comerciais. Foto dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.
Imagem 3: Vista da Avenida do Contorno, próximo a Rua Estevão Pinto, a altura das edificações nesse trecho é destoante de praticamente todo o resto do bairro, onde as edificações costumam ter até 15 pavimentos. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
42
Imagem 4: Exemplo da diferenciação da altimetria das edificações deste entorno, Prédio Lifecenter. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
Nesta mesma linha, o perímetro conformado entre Rua Estevão Pinto e Rua
Capelinha apresenta traços marcantes de uso misto, principalmente com uso de
casas tradicionais para o mesmo. Tendo o primeiro pavimento o uso comercial e o
segundo sendo usado, normalmente, para moradia. Desta forma, esse trecho ainda
conta com grande parte da arquitetura conformada até a década de 80 no bairro,
mantendo as características históricas do mesmo (Imagem 5 à Imagem 12).
Imagem 5: Esquina de Capivari e Capelinha, edificação com uso misto, em que o primeiro pavimento funciona como galeria de pequenos comércios. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes
Imagem 6: Edificação, no entroncamento de Rua Capivari e Rua Herval, em que o uso misto é dado em salas comerciais e restaurante. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 17hrs. Autor: Guilherme Gomes
44
Imagem 7: Esquina conformada por Rua do Ouro, Rua Palmira e Rua Amapa, ponto em que é comum o uso do primeiro pavimento para comércios. Aqui vale ressaltar a presença do Bar do Salomão, ponto de destaque em uso pelos usuários do bairro, principalmente em dias de jogos de futebol. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 17hrs. Autor: Guilherme Gomes.
Imagem 8: Casa localizada na Rua do Ouro, novamente o primeiro andar é utilizado como comercio. A presença de edificações de ocupação pretérita do bairro é notada inclusive ligação da edificação com a rua, sem contar com afastamento. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.
Imagem 9: Rua do Ouro 187. Seguindo a configuração de uso misto com a mesma colada a divisa frontal. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 17:30hrs. Autor: Guilherme Gomes
Imagem 10: Rua Estevão Pinto esquina com Monte Alegre a tonalidade de cor funciona como um dos divisores entre comércio e moradia. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
46
Imagem 11: Rua Estevão Pinto esquina com Monte Alegre. O uso de cores pra diferenciação não é utilizado, mas a presença de platibanda gera o dialogo de época entre as duas edificações de esquina. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
Imagem 12: Rua Monte Alegre, a utilização de casas para comercio é comum na faixa de via apresentada. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
Seguindo com a caracterização do bairro enquanto usos das edificações, vale
ressaltar a porção que passa pelas modificações de verticalização mais acentuadas
no processo recente de reorganização. O trecho é conformado pela Rua Capelinha
até a ligação com o aglomerado através da Rua Caraça, Sacramento e Alípio
Goulart, sendo a última um limite que tem ligação com as Ruas Capivari e
Sacramento (Imagem 13 à Imagem 16). O processo de verticalização neste trecho é
intenso e, segundo observações realizadas durante toda a estadia no bairro4, já
ocorre há cerca de sete anos, com casas sendo demolidas para dar origem a
prédios – motivo que gerou a identificação do mesmo como moradia
majoritariamente multifamiliar.
Imagem 13: Rua Capelinha, sentido Rua Sacramento, apesar de não fazerem parte da atual verticalização do bairro o trecho já é marcado por prédios com, no mínimo, cinco pavimentos. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 17hrs. Autor: Guilherme Gomes
Imagem 14: Rua Capivari esquina com Capelinha. Na imagem, lado esquerdo, já é possível observar uma das edificações que fazem parte do novo processo de verticalização. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
4 É interessante ressaltar que a relação do pesquisador com o bairro ocorre a 22 anos, tornando
possível essa identificação.
48
Imagem 15: Rua Níquel, à esquerda tapume da Aguimar marcando mais um local com edificação que terá uso multifamiliar. Na rua já é possível observar o efeito da verticalização, visto que a mesma não possui presença de usuários na rua, sendo a mesma utilizada como estacionamento de carros. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
Imagem 16: Rua Henrique Passini nº720. Edificação que também faz parte do novo processo de verticalização do bairro. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes.
Por fim, a ultima ocupação identificada é a das casas unifamiliares, moradias que
marcaram o inicio da ocupação do bairro e foram responsáveis pela principal forma
de construção ocorrida até a década de 50 – quando as ideias modernistas de
verticalização começam a ser inseridas na região da Serra – (JUNIOR, Ibid).
O trecho apontado como ainda remanescente desta ocupação unifamiliar
compreende pequena porção do bairro formal, entorno da Rua Alípio Goulart,
Caraça (Imagem 17 à Imagem 20) e Sacramento. O uso residencial unifamiliar é
também marcante na porção correspondente ao aglomerado, que, apesar do
processo de urbanização recente com o Programa Vila Viva, ainda tem forte traço de
unifamiliar. É importante ressaltar, nesse ponto, a peculiaridade da forma de
expansão das edificações no aglomerado, na maior parte dos casos, forma de
manter familiares próximos ou decorrência da falta de lugares disponíveis na mesma
região para que se mantenha a proximidade a área central da cidade.
Imagem 17: Rua Caraça nº 777, trecho próximo ao ponto final do ônibus 2102. A ocupação da rua nesse espaço é dada tanto pelos usuários do ônibus, quanto por pessoas que utilizam os pequenos comércios que são mantidos lindeiros a Rua Caraça. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes.
50
Imagem 18: Rua Caraça, final dos ônibus 2102, 9106 e 8150. Edificações de baixo porte e próximas a entrada do Parque das Mangabeiras. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes.
Imagem 19: Esquina de Rua Caraça e Rua Serranos. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 17hrs. Autor: Guilherme Gomes.
Imagem 20: Rua Caraça. Apesar do afastamento em relação a rua o uso de grade e vegetação ainda trazem a ligação entre rua e residência. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes.
O diagnóstico desenvolvido evidencia que a residência multifamiliar é vem tornando-
se a principal forma de ocupação ocorrente no bairro, mesmo que não seja marcada
somente pelo novo processo de transformação do Bairro Serra, com número cada
vez maior de casas sendo derrubadas para que seja possível a construção de
prédios. Esse processo só não ocorre de forma tão clara na ocupação do
aglomerado, onde as moradias unifamiliares – ainda que com a citada expansão
horizontal – permanecem como tipologia mais comum. Desse modo,
georreferenciando a leitura apresentada, segue-se a forma de organização do bairro.
Figura 7: Em vermelho, edificações com uso predominantemente comercial. Em laranja, edificações com uso predominantemente misto. Em azul, uso predominantemente residencial multifamiliar. Em magenta, uso predominantemente residencial unifamiliar. FONTE: Google Maps.
52
2.2.3 – Altimetria das edificações
No que tange a referência altimétrica do Bairro Serra a divisão foi simplificada em
três zonas (Erro! Fonte de referência não encontrada.) com altura maior do que
15 pavimentos (maiores que 30m de altura), edificações até 15 pavimentos (cerca
de 30 metros de altura) e edificações do aglomerado que mantêm gabarito entre 9 e
12 m de altura.
Figura 8: Em vermelho, construções acima de 15 pavimentos. Em amarelo, construções até 15 metros de altura. Em laranja, ocupação irregular, zona do aglomerado da Vila Cafezal. Fonte: Google Maps.
Nesse sentido, é interessante ressaltar que o trecho que agrega as edificações
superiores a trinta metros de altura tem coincidência com a região com
características marcadamente comerciais no Bairro, apesar de estender-se ao
interior do bairro, chegando ao entorno da Rua Estevão Pinto (IMAGEM 21 à
IMAGEM 26). Esse fato pode ser explicado pela proximidade das construções com a
Avenida do Contorno, garantindo que o afastamento da via tenha que ser maior – de
acordo com a Lei n 7.166/96, esse deve ser de, no mínimo, 4m entre fachada frontal
do lote e inicio da edificação e desta forma concentrando o potencial construtivo
verticalmente.
Imagem 21: Avenida do Contorno, esquina com Desembargador Drumond, nº 4631. Uma das edificações que compõem a área que marcam essa verticalização de alto gabarito da região. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
Imagem 22: Vista geral da Avenida do Contorno, sentido Avenida Getúlio Vargas, prédios com características semelhantes ao estreitamento e verticalização acentuada. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
54
Imagem 23: Rua Estevão Pinto, a tendência de estreitamento também faz-se presente no trecho, mas em menor medida que na Avenida do Contorno. Outro ponto importante é a maior presença de arborização na área. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme
Imagem 24: Rua Alumínio, esquina com Rua Estevão Pinto. Rua que também é marcada por presença de edificações extremamente verticalizadas e com muros que tornam-nas voltadas para seu interior sem ligação com a rua. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
Imagem 25: Vista da Rua Luz a partir da Rua Estevão Pinto, apesar de isolada a edificação ultrapassa os 15 pavimentos comuns a área do Bairro Serra. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
Imagem 26: Esquina de Rua Estavão Pinto e Rua Alumínio. Primeira edificação da serie que compõem a verticalização da área. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
As edificações até quinze pavimentos encontram-se, por sua vez, distribuídas entre
as vias internas ao bairro, sendo as de maior altura aquelas que circundam a Rua
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Estevão Pinto, a partir da sua ligação com a Rua Monte Alegre, até Rua Trifana
(IMAGEM 27 à IMAGEM 32). Esse mesmo trecho marca a intensa verticalização da
configuração atual do Bairro, sendo composto quase que inteiramente por
edificações de uso residencial multifamiliar, exceção marcada pelas antigas
chácaras do Professor Estevão Pinto e pela casa do Professor Antônio Aleixo (atual
sede da Diretoria do Patrimônio Cultural da Fundação Municipal de Cultura).
Imagem 27: Rua Caraça, esquina com Rua Estevão Pinto. Em primeiro plano edificação de pequeno porte que é cercada por zona de verticalização. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes
Imagem 28: Rua Palmira, esquina com Rua do Ouro. Apesar de ter uso multifamiliar e tendência a verticalização, o gabarito das edificações é mais suave. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes
Imagem 29: Rua Capivari, esquina com Ruas Capelinha e Amapá. Apesar da verticalização, o gabarito das construções é menor em relação as que ocorrem em torno da Avenida Estevão Pinto. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes
Imagem 30: Rua Capivari, esquina com Oriente. Novamente a verticalização é feita, mas com porte menor das edificações. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes
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Imagem 31: Rua Oriente, ainda com traços da primeira verticalização do bairro, decada de 50 e 60, a relação de proporção não é tão marcante quanto em outras regiões do bairro. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes
Imagem 32: Rua Capivari. A presença da verticalização faz-se presente, mas com gabarito que permite uma leitura pelo pedestre sem a necessidade de inclinar demais a cabeça, como ocorre nas proximidades da Rua Estevão Pinto principalmente na ligação com rua Alumín
Por fim, na área polarizada pelas ruas Capivari, Caraça e Sacramento e em direção
ao aglomerado marca uma ruptura com o padrão verticalizado das edificações que
ocorre nos demais trechos. Nessa porção, a predominância é de construções
verticais de altimetria reduzida e de pavimento único (IMAGEM 33 à IMAGEM 35).
Imagem 33: Ocupação aglomerado. Com exceção a edificação da prefeitura para o programa Vila Viva as casas constituem-se em dois ou três pavimentos. Foto tirada no dia 23/08/2012 às 12hrs. Autor: Guilherme Gomes
Imagem 34: Ocupação favela, próximo a comunidade da Igrejinha. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes
60
Imagem 35: Ocupação próxima a Avenida Mendes Sá. A construção em vermelho marca a inserção de uma UMEI na região. Foto tirada no dia 21/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes
2.2.4 – Apropriação diurna
A presente leitura visa identificar a relação estabelecidas entre usuários e espaços
públicos no Bairro Serra, considerando o período do dia, de 8:00 às 18:00,
concentrando dessa forma o período em que os moradores costumam deixar o
bairro e dirigir-se ao local em que trabalham e também o contrário, quando usuários
do bairro chegam para realizar a atividade diária. O trabalho conduziu à identificação
de seis áreas distintas (Fig.4), delimitadas de acordo com o que ocorre de mais
representativo em cada uma delas.
Figura 9: Em roxo, ocupação aglomerado. Em laranja, ocupação mista, com maior peso para ocupação residencial. Em verde, zona de uso residencial. Em Marrom uso misto, com predominância comercial, grande rotatividade de pessoas durante o dia, horário de uso ligado muito ao comercio, pouca atividade quando esse termina seu expediente. Em vermelho, Minas Tênis Clube. Em magenta, ocupação com características comerciais. FONTE: Google Earth.
A primeira área é marcada por uso com características comerciais, tendo seu uso
ligado ao horário de funcionamento do mesmo.
A segunda área de apropriação, conformada pelo Minas Tênis Clube, também
possui caráter diurno, principalmente pelo horário de funcionamento do clube – até
as 20 horas – tendo como principais frequentadores pessoas que praticam algum
exercício físico no local, os lavadores de carros que exercem seu serviço nos
arredores pela facilidade de adquirir clientes e os alunos da Escola Estadual Pedro
Aleixo e do Colégio Promove, que costumam passar os períodos sem aula nos
arredores das escolas citadas e do clube.
É importante mencionar que a região também conta com uma companhia de polícia,
142º distrito, e com uma das entradas do Parque das Mangabeiras. A portaria é
utilizada como local declaradamente de passagem, tanto para pessoas que
pretendem embarcar no ônibus 4111 ou para trabalhadores que tem empregos nos
bairros Anchieta, Mangabeiras e Sion, que descem a pé para o local e utilizam da
entrada do parque como um atalho.
62
Esta área não será tratada como área isolada no desenvolvimento do trabalho
devido ao seu caráter pendular de apropriação, sendo praticamente todos os
usuários de outras regiões de Belo Horizonte e não necessariamente do Bairro
Serra, desta forma tendo relação superficial com bairro.
Seguindo a analise de apropriação, a terceira zona apresenta uma maior ligação
com o bairro e as relações que se desenvolvem nele. Ela é conformada pelas ruas
Estevão Pinto, Palmira, Doutor Camilo e Níquel (Erro! Fonte de referência não
encontrada., Erro! Fonte de referência não encontrada.). Essa área tem caráter
predominante ao uso residencial, mas com pontos de funcionamento de comércio
que garantem a utilização da mesma durante o dia.
Imagem 36: Rua Capivari, próximo a esquina com a Rua Oriente. O mesmo imóvel funciona como conserto de móveis e roubas (entrada na esquina). Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
Imagem 37: Rua Itapemerim, esquina com Rua Capivari. A Padaria Gênova é uma das responsáveis pela movimentação diurna no local. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
Os pontos comerciais concentram-se ao redor das Ruas Estevão Pinto e Palmira,
com destaque para o Bar do Salomão e a padaria Santíssimo Pão (Erro! Fonte de
referência não encontrada.7) que garantem grande movimentação a região,
principalmente ao final da tarde. Outros pontos que podem receber destaque são a
Sorveteria Palmira e a Max Vídeo Locadora, que já mantêm serviços há
aproximadamente dez anos no bairro.
Imagem 38: Padaria Santíssimo Pão, influência diretamente o fluxo de pessoas na região. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
64
Nas porções com caráter residencial, é possível notar a pouca apropriação das
áreas públicas, visto que, por ser uma das regiões com pessoas de maior poder
aquisitivo do bairro, a maioria dos residentes desenvolvem suas atividades
profissionais fora da região, ou costumam utilizar veículos motorizados para se
locomover, fazendo pouco uso da rua como pedestres (Erro! Fonte de referência
não encontrada.38).
Imagem 39: Rua do Ouro. Apesar da proximidade a região do bar do Salomão a região conta com pouca utilização na sua parte residencial. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 16hrs. Autor: Guilherme Gomes
Essa característica também se repete na quarta área, em marrom, onde o uso do
automóvel é um dos responsáveis pelo esvaziamento da rua. Nesta área, marcada
pelas Ruas do Ouro, Palmira, Pouso Alto e Avenida do Contorno, temos o uso misto,
com predominância comercial, como característica básica. Dessa forma, a ocupação
da rua se dá, principalmente, em horários em que a parte comercial das edificações
está aberta tendo seu movimento coordenado por esse horário.
Outro ponto que faz com que a área seja utilizada são as linhas de ônibus do bairro
que passam pelo local (4102, 4107 e 2151 – no sentido bairro/centro – e 4102, 2102,
2151, 4107 e os suplementares que atendem no sentido centro/bairro), que são
responsáveis diretos pelo número de pedestres no local.
Como quinta área tem-se a região de transição entre bairro formal e aglomerado,
marcada pelas Ruas Níquel, Oriente, Caraça, Sacramento e Alípio Goulart (IMAGEM
39 à Imagem 41). A área é caracterizada por ocupação mista, com predominância a
ocupação residencial multifamiliar.
Imagem 40: A Auto Escola Cesinha tem seu horário de funcionamento iniciado a partir das 16hrs, o que garante o uso da região também durante a noite garantindo segurança a área. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
Imagem 41: Rua Capivari nº 429, o uso do espaço é dado principalmente por clientes da loja de roupa e do salão de beleza. Dessa forma a maioria das pessoas que se utilizam do local são mulheres. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
66
Ao contrário da área mista comercial e da área de características residenciais essa
mancha conta com ocupação quase que constante em seus limites, principalmente
pela proximidade e uso do comercio da mesma também pelos moradores do
aglomerado. A presença do Supermercado EPA é um dos destaques para o uso da
região sendo utilizado pelas diferentes camadas sociais que habitam o Bairro. O
tamanho dos comércios e a tipologia também tem influência direta na apropriação,
sendo lojas de menor porte ou com donos que permitem vendas “fiadas” aos seus
clientes tornando a relação proprietário e morador mais próxima e intima.
Imagem 42: Rua Caraça, próximo à entrada do Parque das Mangabeiras. A ocupação do espaço público pelo pedestre já é perceptível. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
Por fim, apresenta-se a sexta região, conformada pelo trecho do aglomerado que faz
parte do estudo. Assim como na quinta região, a utilização da área é feita de forma
intensiva e independente do horário sendo marcada por uma proximidade ainda
maior entre moradores e comerciantes, sendo o trato marcado por apelidos e nomes
carinhos, como o “Sr. Tonho da mercearia” e o “Sr. Manquinha” que mostram uma
relação intima e de confiança que muitas vezes garante segurança ao comercio de
forma a não necessitar, às vezes, da presença do dono para que o mesmo esteja
seguro de roubos.
Desta forma, com a divisão realizada em termos de uso do espaço urbano, é
possível observar que a proximidade entre os usuários e os comerciantes e a
diversidade entre tipologias de ocupação, comércio e residência, tem caráter
decisivo na apropriação por parte das pessoas, sendo um dos principais
responsáveis pela utilização do local por pedestres e trazendo aos mesmos o
sentimento de segurança.
68
2.3 – Percepções da comunidade sobre o bairro Serra
O presente questionário busca levantar e analisar dados e temas que possam
apontar os locais passiveis de identificação como lugares, segundo definição do
termo por Ana Fani Alessandri Carlos, no Bairro Serra. Para tanto, visa-se
questionar os pesquisados sobre sua vivencia do Bairro, sobre o tempo que os
mesmos convivem na região e como identificam-na no presente momento e a
perspectiva para o futuro local. Essa construção permitirá o embasamento para
desenvolvimento do trabalho acadêmico e a forma de conduzir a próxima etapa,
relativa à identificação e análise dos fatores responsáveis pela perda ou manutenção
dos lugares do bairro.
2.3.1 – Metodologia de pesquisa
A definição do método de pesquisa levou em conta o Mapa de Usos (Fig. 4)
juntamente com o diagnóstico fornecido nesse ponto e o estudo anteriormente
realizado pelo professor Manoel Teixeira Azevedo Junior (1999) que trata do bairro
por um longo período e com sólido embasamento teórico.
A pesquisa de Manoel Azevedo trata do período até 1999. A analise comparativa
entre a obra de Manoel Teixeira e o diagnóstico realizado nesse trabalho permite
observar mudanças na conformação espacial do bairro desde então. Desse modo, a
obra foi tomada como ponto de partida para investigação das alterações ou
manutenção dos personagens de destaque do bairro.
A resolução partiu desse mapa devido a divisão que melhor elucidou a apropriação
por parte dos usuários do Bairro Serra, sendo possível dividir a área de estudo em
cinco áreas, com a parte formada pelo Minas Tênis Clube sendo incorporada à
terceira área.
A pesquisa foi realizada observando-se a proporção de 70%/30%, aplicada de
acordo com a característica de maior destaque da zona conformada segundo o
Mapa de Usos. Dessa forma, para as porções identificadas como de caráter
predominantemente comercial, a pesquisa deu-se com 70% dos entrevistados sendo
comerciantes ou funcionários do comércio e 30% sendo moradores; nas porções
com predominância residencial a lógica é a mesma, mas com os valores invertidos.
No caso das áreas de uso misto, foram aplicados questionários com igualdade entre
a quantidade de entrevistados dos dois setores.
O questionário aplicado nas entrevistas teve como objetivo identificar a percepção
dos usuários sobre o Bairro Serra, podendo ocasionar o apontamento de
personagens de destaque ou de lugares de referência ou que remetam a memória
do bairro, levando em conta para analise dos lugares a definição de Ana Fani Carlos
(1996). O mesmo foi aplicado exclusivamente a usuários que tenham idade mínima
de 23 anos, para que seja possível a vivência desde a finalização da pesquisa de
Manoel Teixeira Azevedo Junior, concluída em 1996.
A abordagem inicial deu-se com o pesquisador apresentando a si e ao objetivo da
pesquisa, bem como os resultados que ele pretendia obter. Concluída essa fase,
passou-se à análise do material, com vistas à identificação dos lugares do bairro a
partir da percepção dos entrevistados.
2.3.2 – Questionário para obtenção dos lugares de destaque
A seguir, é apresentado o questionário que conduziu as entrevistas com os usuários
do bairro para futura identificação dos lugares no Bairro Serra.
70
Ordem Questões Aplicadas aos Usuários do Bairro Serra
1ª Idade
2ª Grau de escolaridade
3ª Profissão
4ª Qual tipo de relação com o bairro: residente, trabalha ou ambos?
5ª Caso seja residente, qual o tipo de moradia: multifamiliar ou
unifamiliar?
6ª Onde mora ou trabalha?
7ª Em caso de moradia: é proprietário ou é alugado? Em caso de
estabelecimento: dono ou empregado?
8ª De quanto tempo é a relação desenvolvida com o bairro?
9ª Quais lugares do bairro costuma frequentar?
10ª Quais os lugares do bairro que destacaria como de maior movimento?
11ª Percebe mudanças no bairro?
12ª Quais os lugares que, na sua concepção, são pontos de referencia no
bairro?
13ª Os lugares/pontos de referencia são recentes?
14ª Identifica lugares/pontos de referencia que existiram e não existem
mais?
15ª Apontaria o desaparecimento ou aparecimento de alguma referencia
no bairro?
2.3.3 – Caracterização dos usuários por idade, tipo de atividade e tempo de
relação com o bairro
A primeira parte da entrevista visou delimitação etária dos usuários do bairro (Gráfico
1).
Analisando-se os questionários, foi possível perceber que a variação concentra-se,
principalmente, entre as duas primeiras faixas de divisão etária dos usuários (25 a
40 e 41 a 60) sendo os dois trechos predominantes nos setores 3 e 4, de 25 à 40
anos, e 1 e 5, de 41 à 60 anos. O trecho 4, representado pela entrada do bairro à
partir da Rua do Ouro mostra que os usuários são pautados em uma idade mais
avançada.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
DE 25 A 40 ANOS DE 41 A 60 ANOS ACIMA DE 60 ANOS
ÁREA 1
ÁREA 3
ÁREA 4
ÁREA 5
ÁREA 6
Gráfico 1: Gráfico mostra idade média dos usuários entrevistados, em “y” número de usuários por área e em “x” intervalos de idade propostos. Essa media mostra que o bairro varia a dominância de acordo com a área, tendo a repetição de idade predominante quase escassa.
Em termos de convivência na região ( Gráfico 2) todas as cinco áreas tem predominância ao menor tempo delineado, entre
13 e 30 anos, mostrando uma temporalidade e contato com bairro pautado por
relações a partir da década de 80, onde a região já havia sofrido processos de
mudanças pela verticalização e pela conclusão da Avenida Afonso Pena até o Bairro
Mangabeiras. Nesse momento, o bairro não mais constituía o único caminho
possível de ligação a Serra do Curral, fato que o reforçava sua identidade dentro da
cidade de Belo Horizonte.
72
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
13 A 30
ANOS DE
CONVÍVIO
DE 31 A 45
ANOS
DE 45 A 60
ANOS
ACIMA DE
60 ANOS
ÁREA 1
ÁREA 3
ÁREA 4
ÁREA 5
ÁREA 6
Gráfico 2: Tempo de convívio no Bairro Serra, em “y” é apresentado o número de usuários por região e em “x” é representado o tempo que eles convivem no Bairro Serra. Segundo o analisado em nenhum setor as pessoas convivem no bairro a mais de 60 anos e em todos os cinco setores há predominância do menor tempo de convívio possível. Apontando mudança populacional do bairro.
Seguindo a pesquisa, foi questionado aos usuários qual era o tipo de relação que
eles desenvolviam com o bairro (Gráfico 3), trabalho, moradia ou os dois. Por meio de
tal indagação, buscou-se identificar o motivo da predominância do menor tempo de
relação com a região.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
MORA TRABALHA MORA E
TRABALHA
ÁREA 1
ÁREA 3
ÁREA 4
ÁREA 5
ÁREA 6
Gráfico 3: Gráfico com número de usuários que moram, trabalham ou fazem as duas atividades no bairro, em “y” é representado o número de cada usuário por área, em "x” é apresentado qual é o tipo de atividade realizada. As áreas 5 e 6 tem a maior concentração da combinação de usos do bairro.
Foi possível perceber que, mesmo não sendo predominante dentre os entrevistados
em nenhuma das áreas, o número de pessoas que moram e trabalham no bairro é
relevante em comparação às que somente trabalham ou somente residem. Esse fato
só não é ocorrente na área 1, apontando um grau de ligação com o bairro que pode
ser impactado pela característica comercial do perímetro.
Dessa forma, analisando-se o bairro no comparativo idade x tempo de convivência x
tipo de utilização, é possível perceber que, apesar de terem sido identificadas faixas
etárias de ocupação variadas, o tempo de convívio da população no bairro é baixo,
independente do tipo de ocupação dos usuários (residente ou trabalho) podendo
afetar assim os processos de percepção temporal da região e de identificação das
transformações sofridas pela mesma.
2.3.4 – Percepção sobre a região
Após identificação inicial do padrão de usuários do bairro, seguiu-se o
questionamento buscando-se incentivar a reflexão sobre quais locais eles utilizam,
sobre quais locais consideram movimentados na região e, principalmente, sobre as
mudanças sofridas recentemente pelo bairro. Ao contrário da analise realizada no
item 2.3.3, esse item contou com divisão do diagnóstico da pesquisa feita área a
área, para que fosse possível analisar as especificidades detectadas em cada uma
das regiões.
Em termos de utilização do bairro (Tabela 1), foi possível identificar situações de
similaridade em alguns dos termos utilizados.
Para a primeira porção, os usuários mostraram não identificar ruas do bairro como
áreas de utilização comum, sendo muitos dos locais citados utilizados pela mesma
pessoa ou por pequeno grupo de pessoas. Nesta porção, a apropriação da rua é
afetada, principalmente, pelo caráter da área, sendo a utilização baseada em
critérios ligados a necessidade imediata do usuário e não no interesse de usufruir do
espaço público.
74
Dando sequencia a analise na mesma porção, pontos foram citados como utilizados
predominantemente, sendo eles bares e farmácias. No caso dos bares não houve
uma coincidência entre o nome do bar utilizado. No caso das farmácias, todos os
usuários apontaram a Drogaria Araújo como principal drogaria da região, sendo
lembrada por todas as pessoas que apontaram usar locais do bairro.
A porção 1 foi a que apresentou maior número de usuários a não identificar
nenhuma rua ou serviço do bairro como lugares de uso, tendo a resposta “eu só
frequento meu trabalho” sido utilizada por dez dos quinze entrevistados na área.
A área três apresenta maior utilização do bairro pelos entrevistados, ocorrendo
somente duas respostas em que não havia locais de utilização, e com diversidade
nas áreas citadas como de uso. Sendo os bares a porção predominante (cinco
citações) e as farmácias e supermercados os que o seguem (três citações cada).
Entre os bares houve destaque para citação do Boiadeiro, com duas citações, e o
Bar do Salomão, também com duas citações. Além deles, foram incluídos na lista de
bares utilizados o Bar do Baltazar e o Bar do Caçapa, com uma citação cada. Em
termos de supermercado, todas as pessoas a indicar o item apontaram o
Supermercado EPA como local de utilização. Para o item drogarias também houve
unanimidade no local indicado, sendo ele a Drogaria Araujo, localizada na esquina
de Rua Palmira e Rua do Ouro.
Na área 4, ocorreu a identificação de ruas como locais de utilização, apesar de não
serem destaque, sendo as Ruas Estevão Pinto (duas citações) e Rua do Ouro (uma
citação) lembradas. Outra tipologia de destaque na região foi o de escola, sendo a
Escola Estadual Dulce Pinto Rodrigues citada por três entrevistados.
Também foram mencionados os bares – quatro vezes entre os entrevistados. Não
ocorreu, no entanto, a lembrança de nenhum estabelecimento em especifico, sendo
o item sempre mencionado no plural.
A área 5, área que representa transição entre bairro formal e aglomerado, apresenta
a maior diversidade de utilizações entre os setores de divisão sugeridos, tendo sido
nove os lugares lembrados entre os de uso por parte da população.
O destaque do setor fica a cargo dos bares e da Praça Alípio Goulart, sendo ambos
citados três vezes, a rua de mesma alcunha e o Clube Olímpico vem em seguida,
com duas citações cada.
Aqui, novamente, surgem a citação dos bares Boiadeiro, Caçapa e Salomão, sendo
cada um lembrado pelo menos uma vez por parte dos usuários (2 vezes, 1 e 1,
respectivamente).
É importante ressaltar também o caráter recente da Praça Alípio Goulart, que tem,
aproximadamente, um ano de execução e já é vista como local de apropriação por
parte da população do bairro.
Por fim, em termos de analise da utilização do bairro pelos usuários, temos a área 6,
conformada pelas ruas que margeiam o aglomerado e pelo trecho do mesmo
abordado para delimitação da área de pesquisa (Figura 9). Há dois locais que se
igualam quanto a utilização por parte dos entrevistados, sendo eles o próprio
aglomerado e a Rua Alípio Goulart (com quatro citações cada).
Os outros dois setores com relevância em termos de citação são recorrentes de
outras áreas já mencionadas, sendo eles a Praça Alípio Goulart e o Supermercado
EPA (com três menções cada).
Em termos de movimentação (
Tabela 2) o número de locais citados teve a inclusão de cinco novos pontos, sendo
eles as Ruas Herval, Capivari, Palmira e Caraça, a Avenida Afonso Pena e os
pontos de ônibus do bairro.
Na área 1, houve destaque para citação da Avenida Afonso Pena, tendo sido
mencionada sete vezes entre os entrevistados, seguida pelas menções à Drogaria
Araújo, (5). Essas menções sugerem o caráter comercial e de serviço dessa camada
76
do bairro, tendo as lembranças sido concentradas em locais de uso rápido e não em
locais de estadia prolongada.
A área 3 mostra-se mais diversificada em termos de locais citados como
movimentados, tendo a Rua do Ouro sido apontada como a de maior movimento
(cinco menções). Apesar do destaque houve também recordação de outros três
pontos com relevância as menções, sendo eles a Rua Estevão Pinto, o Parque das
Mangabeiras e as praças da região (visto que a população também considerava a
Praça do Papa parte do bairro). Todos os três foram citados quatro vezes.
Destaca-se também o número de menções às Ruas Alípio Goulart e Caraça, duas e
três menções respectivamente. Esse detalhe é interessante principalmente pelo fato
da Rua Alípio Goulart ter sido lembrada, já que ela possui considerável afastamento
em relação à área demarcada como trecho três. Isso poderia ser justificado por
menções realizadas por usuários que apontaram morar e trabalhar na região e foram
entrevistados na área três, mas apenas um dos dois que afirmou morar e trabalhar
indicou a rua como ponto movimentado.
A área 4 volta a apontar a Rua do Ouro como local mais movimentado (cinco
alusões), seguido pela Rua Estevão Pinto(quatro citações). Outros três pontos
voltam a ser novamente citados, sendo eles os bares, aqui direcionados ao Bar do
Salomão (com duas citações), a Rua Alípio Goulart (uma menção) e o Parque das
Mangabeiras (uma menção) apontando seu caráter marcante no bairro.
As Ruas do Ouro e Estevão Pinto incluem-se entre as mais características do bairro,
sendo parte do traçado original e dos limites entre o Bairro Serra e o restante da
cidade, compondo duas das três portas de entrada para a região pelo bairro formal,
ficando a terceira a cargo da Avenida Bandeirantes. Há também a entrada para o
bairro através do Bairro São Lucas pela Avenida Mem de Sá, próximo a Rua Alípio
Goulart, mas essa tem seus limites baseados na inserção pelo aglomerado.
Para área 5, a Rua Alípio Goulart assume o posto de local mais movimentado, com
sete menções, seguida pela Rua do Ouro, com cinco, e pela Rua Capivari e Praça
Alípio Goulart, com três citações cada. Na área houve também menções de
destaque para Rua Estevão Pinto, para o Clube Olímpico e bares, com duas
citações cada. No caso dos bares, assim como nas áreas um e três, não houve
nomeação do bar movimentado, sendo somente citado o estabelecimento como
local de movimento.
Para a área 6, há, para a Rua Alípio Goulart e o aglomerado, oito citações, refletindo
a importância das mesmas como pontos de referência do bairro, provavelmente em
decorrência do significativo número de pessoas utilizando-se da Rua Alípio Goulart e
da Rua do Ouro mostra o caráter marcante das vias
Por fim, foi questionado aos usuários sobre as mudanças que ocorrem no bairro ( Tabela 3), para que eles pudessem dizer se as percebiam ou não e qual era a
influência que elas geravam na região.
Na área 1 houve igualdade entre as pessoas que apontaram o aumento do transito
como mudança e as pessoas que não perceberam alterações no bairro, com cinco
afirmações cada, mostrando o baixo contato entre os usuários da área e o bairro. Na
relação do aumento do transito todos os entrevistados apontaram-no mais intenso
na área da Avenida Afonso Pena e sendo ponto negativo por isso.
Outro ponto com grande menção foi a segurança, quatro vezes, sendo a sua
melhora, principalmente nas ruas que afluem a Avenida Afonso Pena, Avenida do
Contorno e Bandeirantes as mais citadas. Como causa da melhora todos os
usuários apontaram o aumento do policiamento e dos seguranças na rua sendo a
influência do fato. Também foram citados o aumento da verticalização (com três
afirmações) e o aumento da população (duas menções) como pontos de alteração
do bairro.
Na área três foram citados seis pontos diferentes de mudança. O destaque foi a
reposta com o termo verticalização (dez citações), apontada negativamente por
todos os usuários que a mencionaram. Os outros termos a aparecer foram: mudança
no aglomerado (duas citações), segurança (uma menção), aumento transito (três
citações), abertura de vias (duas menções), diversificação comercio (uma citação).
78
A verticalização foi justificada negativamente por alterar a intensidade do bairro e a
taxa populacional, influenciando, segundo os entrevistados, “a calma característica
do bairro” tornando-o sempre ruidoso e de difícil estadia.
O setor 4 contou com dois pontos de destaque, sendo eles verticalização e aumento
do transito, ambos com seis menções. Os outros dois pontos de mudança citados na
área foram o aumento populacional, três citações, e segurança, com duas citações.
Assim como na área três a verticalização foi citada negativamente, mas sendo
relacionada diretamente com o aumento do trânsito, a justificativa nesse setor foi
dada pela dificuldade de se andar nas ruas, com a afirmação que a verticalização
havia trazido o aumento do trânsito, que tornava inseguro atravessar as vias,
principalmente as que tinham caráter interno ao bairro.
Outro ponto mencionado negativamente, quanto ao aumento do transito, foi a
dificuldade de se estacionar na região, sendo justificado que não havia necessidade
de estar no local de trabalho mais cedo para conseguir se estacionar e atualmente
há essa demanda.
A área 5 apresentou o maior número distinto de mudanças percebidas, sendo
novamente a verticalização a com maior número de apontamentos (dez menções).
Os outros pontos recordados envolvem a mudança no aglomerado, três citações, a
segurança, duas menções, o aumento do trânsito, três menções, e os termos
aumento da população, abertura de vias e diversidade do comercio, todos com uma
menção.
Nesse setor a menção da verticalização também foi apontada, predominante, como
sendo ruim ao bairro, com sete das dez menções sendo negativas. A justificativa
para discordância tem seu predomínio na afirmação da perda de casas relevantes
esteticamente ao bairro, sendo a casa nomeada de “chácara” localizada no
entroncamento de Rua Palmira e Rua do Ouro a perda mais sentida, todos os
usuários informaram que o local dará lugar a uma filial do Supermercado Mart Plus.
Os entrevistados a visualizar a mudança de forma positiva deram a aprovação pelo
caráter evolutivo do bairro, apontando o crescimento como algo bom e que permite à
chegada de novos serviços a região.
A percepção na mudança do aglomerado também contou com avaliação positiva,
sendo justificada pela melhoria nas habitações dos moradores e na educação e
relacionamento entre os moradores do aglomerado e do bairro formal.
A área 6 teve sua percepção de mudança atrelada ao aglomerado, com nove
menções as alterações pelas quais a área passou. Apesar do destaque para essa
opção outros três pontos tiveram recordação relevante, sendo eles a verticalização,
a abertura de vias e as características da população, todos com três citações.
A mudança no aglomerado foi bem vista pela população, sendo apontada
positivamente por nove dos dez usuários a cita-la. A aprovação envolve como
motivo a urbanização, com inserção de habitações, UMEI’S e creches, e a melhoria
dos acessos ao aglomerado, além disso apontasse a diminuição do tráfico e dos
problemas de guerra por controle de bocas de fumo como outro ponto de melhora.
A citação que afirmou não estar de acordo com as mudanças relacionou o
desagrado pela retirada de vizinhos que isso ocasionou em sua rua, dando o
seguinte depoimento: “Quando pequena eu conhecia todo mundo da minha rua, saía
pra brincar e me divertir com meus amigos. Hoje eu não conheço ninguém, não
posso deixar meu filho sair pra brincar, pois essa nova Avenida do Cardoso
aumentou demais o transito na região, acho inseguro pra ele”.
Vale ressaltar também a aprovação quanto à mudança de pessoas, os entrevistados
afirmaram que hoje há maior dialogo e convívio harmonioso entre os moradores,
dando como motivo o aumento da escolaridade e melhoria da educação.
Dessa forma, a relação entre locais de utilização, locais mais movimentados e
percepção de mudanças no bairro tornou possível apontar alguns possíveis
territórios para que seja dada continuidade ao trabalho de pesquisa. Sendo eles a
Rua do Ouro, a Rua Alípio Goulart e a Rua Estevão Pinto. Através dos depoimentos
há também o surgimento de um ponto recente que pode passar a ser alvo de
80
investigação sendo ele a Praça da Rua Alípio Goulart, ponto lembrando tanto como
mudança quanto como local de uso, tornando-se destaque nas áreas 5 e 6.
2.3.5 – Percepção quanto aos pontos de referência
Por fim, foi solicitado aos usuários que se manifestassem quanto aos pontos de
referência do bairro. Para tanto, buscou-se fazer questionamentos sobre quais
lugares do bairro eram vistos como ponto de referência, sobre o tempo do ponto de
referência no bairro e, por fim, pela perda ou surgimento de pontos de referência na
região.
Como resposta a primeira questão foram mencionados 32 pontos de referência, entre todas as áreas de
entre todas as áreas de divisão da pesquisa (Tabela 4,
Tabela 5,
Tabela 6 e Tabela 7).
A primeira área teve apresentação de sete pontos de referência, sendo os dois mais
citados a Praça Milton Campos e a Telemar (ambos com quatro menções). Também
foram citados a Rua do Ouro, com duas menções, o Clube Olímpico, com uma
citação, o Lifecenter, com três menções, a Praça do Papa, com duas citações, e a
Drogaria Araújo, também com duas menções.
Apesar de das citações à Praça Milton Campos e ao prédio da Telemar, nenhum dos
entrevistados demonstrou frequentá-los, citando-os apenas como “o ponto que a
gente dá quando alguém quer vir aqui” (Entrevista cedida pelo Senhor Evandro Silva
Cunha, 48 anos de idade e 15 anos de relação com o bairro).
A área três, segundo o que é visualizado no quadro de pontos de referência (Tabela 4, Tabela 5,
Tabela 6 e Tabela 7), mostra ser aquela na qual é perceptível uma relação de maior
conhecimento entre usuários e bairro, com presença de treze pontos de referencia
citados pelos entrevistados. O Hospital Evangélico é o mais mencionado, cinco
vezes. Além do hospital, outro ponto com grande número de menções é o Parque
das Mangabeiras, com quatro marcações. Além deles houve a citação da Rua do
Ouro, com três menções, a Rua Estevão Pinto, Praça Milton Campos, Bar do
Salomão, todos com duas menções, o Supermercado EPA, Igreja São João
Evangelista, o Clube Olímpico, o Minas Tênis Clube, a Rua Caraça, o
estabelecimento Fotos Mendes, a Rua Palmira, o Bar Boiadeiro e a Drogaria Araujo,
todos com uma anotação.
A área 4 também conta com treze locais apontados como referência, sendo alguns
pontos coincidentes com os da área 3. Os principais pontos da área são o Hospital
Evangélico e a Rua Estevão Pinto, ambos com quatro marcações. Em seguida,
aparecem Supermercado EPA, a Rua do Ouro, o Lifecenter e a Praça Milton
Campos, todos com três menções, seguidos pelos bares Salomão e Baltazar, com
dois apontamentos, pelo Espaço Criança Esperança, pela padaria Santíssimo Pão e
Rua Palmira, todos com uma citação.
A área 5, assim como as duas áreas anteriores, conta com número elevado de
pontos de referência citados, doze no total, sendo o Hospital Evangélico novamente
o ponto mais destacado em uma área (8 menções). A Rua do Ouro também mantém
caráter de destaque, juntamente com a Rua Estevão Pinto, ambas com cinco
marcações. Em seguida aparecem a Praça do Cardoso e o Parque das
Mangabeiras, com três citações cada, seguidos pelas duas citações ao Aglomerado
e a Rua Capivari e, com uma citação, aparecem a Rua Alípio Goulart, a Avenida
Mem de Sá, a Praça Alípio Goulart e a Villa Rizza.
A área 6 reafirma o marco representado pelo Hospital Evangélico. A instituição
contou com nove menções na área, sendo novamente o destaque como ponto de
referência. Outro ponto que mostra relevância ao espaço é a Praça do Cardoso, com
sete afirmações. Outros dez pontos são memorados como pontos de referencia,
sendo quatro deles marcados duas vezes (Rua do Ouro, Rádio 98fm, Rua Alípio
Goulart e o Aglomerado) e outros 6 apontados uma vez (Bar do Caçapa, Parque das
Mangabeiras, Avenida Mem de Sá, Drogacelso, Praça Alípio Goulart,Criança
Esperança e Academia Toninho).
Os pontos de coincidência, como Supermercado EPA e Rua do Ouro, mostram-se
relevantes também como resposta a outros pontos da pesquisa – como locais de
movimento e utilização pela população local. As áreas 5 e 6 mantém o dialogo que
lhes foi característico durante todo o processo de entrevista, tendo seus usuários
82
identificado o mesmo ponto principal de referência, além de vários outros pontos em
comum.
Dentre os trinta e dois pontos mencionados, quatro deles tem existência inferior a
dez anos: Criança Esperança, Praça do Cardoso, Avenida Mem de Sá e Praça
Alípio Goulart, sendo que os três últimos pontos têm tempo menor que cinco anos.
Entre os demais pontos, um ainda conta com idade inferior a quinze anos,
Lifecenter, sendo considerado um ponto recente pelos entrevistados que o citaram
nas áreas 1 e 4.
No prosseguimento do questionamento, foi sugerido aos entrevistados que indicassem novos pontos de
indicassem novos pontos de referência (Tabela 8), bem como aqueles que foram perdidos recentemente (
Tabela 9, Tabela 10 e
Tabela 11).
Foram identificados treze novos pontos de referência no bairro, parte deles citados
nesse item e não considerados como pontos de referência no questionamento
anterior.
A área 1 apresentou somente o Lifecenter como ponto recente, sugerindo que ele
veio substituir o Hospital Santa Amélia. O maior destaque da área fica a cargo do
não apontamento de pontos de referencia surgidos, sendo justificados pelos
usuários que todos os locais que eles se recordavam são anteriores a estadia deles
no bairro.
A área 3 conta com a indicação de sete pontos recentes para o Bairro Serra, sendo
o Mart Plus (duas menções), ponto que substituirá a casa apontada como de
destaque no entroncamento de Rua Palmira e Rua do Ouro, considerado como
ponto de referência, mesmo que não citado quando a questão envolvia o tema
pontos de referência.
Os demais pontos identificados foram o Boiadeiro, que sofreu mudança de
endereço, a Praça do Cardoso, a nova conformação do aglomerado, Supermercado
Oba, que não chegou a ser mencionado na primeira questão dessa parte avaliativa,
com dois votos, a nova UMEI da Vila Marçola, com um voto, o Centro Cultural Vila
Marçola, também novo ponto, com uma menção, a Pizzaria Melo, que passou a
substituir a Mercearia Melo, com um voto. Houve dois entrevistados que não
apontam pontos de referência recentes.
Para a área 4 foram apontados três pontos considerados recentes, sendo o Pizzaria
Melo e o Criança Esperança, com três citações, os mais lembrados. Os outros dois
pontos ficam a cargo do Lifecenter e do Bar e Restaurante Boiadeiro, ambos com
duas menções, além deles foi mencionado que nenhum dos pontos é recente, com
seis menções.
Para a área 5 foram apresentados três pontos novos, sendo todos mencionados
apenas uma vez cada: a Praça Alípio Goulart, a Praça do Cardoso e a Avenida Mem
de Sá. Os demais entrevistados afirmaram que seus pontos de referencia são
antigos ao bairro.
Esse é um ponto interessante a ser ressaltado, visto que houve três indicações
como sendo um ponto de referência a Praça do Cardoso e somente um entrevistado
menciona-o como recente, mostrando uma noção de temporalidade variável entre
usuários do bairro, já que nas áreas 1 e 4 houve a indicação do Hospital Lifecenter
como sendo recente por pelo menos duas pessoas.
A área 6 apresenta o maior número de menções a um ponto de referência como
sendo recente: a Praça do Cardoso, indicada nove vezes. Outros três pontos foram
citados como recentes, todos com duas menções: a Avenida Mem de Sá, a nova
conformação do aglomerado e as UMEI’s da região. Além disso, dois dos
entrevistados não apontaram o aparecimento de pontos de referência,
demonstrando novamente a noção de temporalidade que varia entre usuários.
Por fim, foi questionado aos usuários sobre os pontos desaparecidos ( Tabela 9, Tabela 10 e
Tabela 11). Houve a menção a dezoito pontos diferentes que desapareceram, mas o
destaque é o número de pessoas que não se lembram de pontos desaparecidos,
sendo o número predominante em quatro das cinco áreas de estudo.
84
A área 1 teve todos os seus pontos mencionados pela mesma pessoa, que
frequenta a região há cinquenta e dois anos, sendo eles o Asilo São Vicente,
antigamente localizado no local do atual Hotel Afonso Pena, o Campo Copacabana,
no local do atual edifício da Telemar, o Cine Copacabana, substituído por
empreendimentos imobiliários, o Clube Ginásio, passa a compor área do Clube
Olímpico e as casas da região, que foram vendidas para incorporadoras imobiliárias.
As demais quatorze pessoas afirmaram não perceber o desaparecimento de pontos
de referência no bairro, mostrando pouco vínculo com a região.
A área três apresentou o maior número de usuários capazes de identificar pontos de
referência desaparecidos. Foram seis pontos apresentados, um deles mencionado
por três pessoas: o desaparecimento das casas da região, sendo citada
especificamente a casa próxima ao entroncamento de Rua Palmira e Rua do Ouro,
que dará lugar ao Supermercado Mart Plus. Além desse ponto, foram mencionados,
com uma anotação cada, o Supermercado EPA, o campo de futebol da Rua
Mangabeiras da Serra, a escola Jardim Olímpico, a Vila Pombal e o Clube de
Caçadores, sendo os dois últimos retirados para dar lugar ao Bairro Mangabeiras.
Na área 4, nenhum dos entrevistados apontou um ponto específico como destaque.
Foi mencionado, no entanto, o desaparecimento das casas da região, com quatro
menções, sendo consideradas todas as casas que passam a dar origem a prédios
no bairro como pontos de referência perdidos.
Os outros pontos mencionados são o Sacolão Taíde, o Supermercado Ari, a
Mercearia Melo, a Padaria Shirley, todos com duas anotações, o Hospital Santa
Clara e a Villa Rizza, mencionada pela desconfiguração interna, ambas com uma
citação.
Para área 5, verifica-se também a dificuldade dos entrevistados em apontar
referências perdidas. Houve três pontos citados duas vezes pelos entrevistados,
sendo eles: Casas, Mercearia Melo e a Rádio 107fm, ponto que dá lugar a Lotérica
Capivari, localizada na rua de mesma alcunha. Os outros oito pontos recordados
receberam uma menção cada, sendo eles: o Supermercado EPA, o Sacolão Taíde,
o Supermercado Ari, a Padaria Shirley, o Colégio Promove, o festival Favela Rock, o
ponto conhecido como “Escadão” e as alterações no aglomerado.
Na área 6, o aglomerado foi identificado como ponto perdido – a mudança na sua
configuração é identificada pelos usuários como uma perda. Outros dez pontos são
recordados, sendo a Farmácia do Senhor José, com duas menções, a segunda mais
citada. Os outros nove pontos contam com uma menção cada, sendo eles a Rádio
98 fm, a Rua da Passagem, o Bar da Marilena, o Armazém do Arnaldo, o Bar do
Tenente, o Bar do Geraldo, o Campo do Bola de Ouro, o “Escadão” e as casas da
região.
Sendo assim, foi possível perceber que a baixa média do tempo de relação com o
bairro e idade dos entrevistados tem grande influência na percepção dos pontos de
referência antigos ao bairro e as mudanças pelas quais a região passou mostrando-
se que não é recordado pontos que tenham mais do que dez anos de
desaparecimento como pontos perdidos.
2.3.6 – Conclusão a cerca das entrevistas
Através da análise dos questionários foi possível perceber a relevância do tempo de
convívio no bairro para que torne-se possível identificar os pontos de referência e as
mudanças que aconteceram na região. Sendo a área 1 a que demonstra a maior
influência desse tempo na relação usuário x bairro.
Outro ponto de destaque na área 1 é o afastamento entre entrevistados e Bairro
Serra, tendo várias das respostas demonstrado pouco ou nenhum contato com a
região. As demais áreas demonstram que o tempo ainda é um definidor na
percepção, influenciando, principalmente, a percepção dos pontos de referencia que
não existem mais, mas demonstram ligação e quantidade elevada de pontos de
referência indicados.
A obtenção dos pontos de referência demonstra ligação com grandes equipamentos
urbanos ou vias, sendo o ponto com maior destaque o Hospital Evangélico, indicado
em quatro das cinco áreas, evidenciando a percepção, em primeiro momento, do
86
que é relevante para o grupo e não para o individuo, sendo pouco citados os
estabelecimentos com caráter local, como, por exemplo, o Bar do Salomão.
O tempo dos pontos de referência demonstra que há manutenção dos mesmos,
sendo somente quatro dos pontos apresentados pontos com menos de quinze anos
no bairro. Apesar desta manutenção há também o valor significativo de pontos que
desapareceram, tendo sido citados vinte nove pontos de desaparecimento.
Desses vale destacar o número de citações para o termo casa, sendo citado pelo menos uma vez em menos uma vez em cada um dos setores, esse fato pode ser influenciador direto na identificação entre identificação entre usuário e bairro, sendo o processo recente de retirada de casas para o processo de para o processo de verticalização identificado como ponto de destaque segundo a percepção dos percepção dos usuários quanto a mudanças no bairro (
Tabela 3). Além delas vale ressaltar o número de pontos com citação relacionada ao
aglomerado, demonstrando o impacto gerado nas recentes alterações na área
conformada pelo mesmo.
Dessa forma, é possível começar a fazer a leitura de alguns pontos, principalmente
associados aos pontos de referencia e a locais mais movimentados, como passivos
de formação de territórios para estudo durante o processo de continuidade da
pesquisa. Dentre eles ficam citados o Hospital Evangélico, a Rua do Ouro, a Rua
Alípio Goulart, a Praça Milton Campos, a Praça do Cardoso e o Supermercado EPA,
sendo todos lembrados em praticamente todas as questões que envolviam
demarcação de pontos de referencia e locais mais movimentados do bairro.
O tamanho dos pontos de referência será influenciador direto no prosseguimento da
pesquisa, demonstrando que a busca pode ter sentido direcionado aos territórios e
ao lugar, segundo a definição de Ana Fani Carlos (1996, p. 19), onde o lugar é “o
que é vivido pelo individuo”, e não aos agentes conformadores de territorialidade em
si. Visto que todos os pontos apresentados como referência ou de movimento não
tornam possível o apontamento de um agente em si, mas do espaço que ali se
conforma.
Sendo assim, para continuidade do trabalho de pesquisa será realizado a
identificação dos lugares do bairro que mantêm caráter de convívio entre usuários,
aqueles que desapareceram e os que surgiram, gerando-se analises a cerca do
motivo de desaparecimento e sobre como outros surgem e dão prosseguimento ao
caráter local das relações, segundo definido por Ana Fani Carlos.
2.3.7 – Análise dos lugares do bairro segundo definição de Ana Fani Carlos
Como elucidado anteriormente, Ana Fani Carlos trabalha a relação do indivíduo com
a tríade “habitante-identidade-lugar” (CARLOS, 1996, p.20). Para tanto ela escreve
que “para que a cidade exista e possa ser entendida como lugar é necessária às
relações no âmbito local, através das relações corporais do individuo e seu meio
para além das atividades do cotidiano” (Idem, Ibdem).
Aplicando esse conceito ao Bairro Serra, e analisando os questionários realizados, é
possível perceber que os locais identificados no bairro passam por um período de
transformação, inclusive com perdas significativas na relação entre os usuários e o
espaço urbano. Essa afirmativa baseia-se na percepção demonstrada pelos
usuários aos grandes equipamentos e não aos estabelecimentos comerciais locais e
que dão caráter íntimo de contato, típicas da região e não ao que seria a observação
geral da cidade.
Apesar da perda do referencial local ainda é possível, através dos questionários,
identificar pontos que carregam a definição de lugar na sua existência, sendo o
primeiro deles o Bar do Salomão, ponto lembrado tanto em termos de movimento
como de referencial (mesmo que em menor demanda em relação ao segundo ponto,
com quatro menções).
Podemos justificar o caráter de lugar do bar, marcado como um ponto de encontro e
realizador de convívio, no que Ana Fani Carlos define através da seguinte afirmativa
“O lugar é a porção do espaço para a vida – apropriada através do corpo – dos
sentidos – dos passos (...)” (CARLOS, 1996, p.20). Essa característica de ponto de
encontro associado ao bar só lhe garantem sentido de lugar por estar associada ao
caráter local do mesmo, sendo a maioria dos usuários pessoas que tem por
tendência serem atleticanas, e daí unirem-se para compartilhar o momento de
88
assistir ao jogo de seu time, ou por moradores mais antigos que mantêm amizade
com o proprietário e os funcionários do local.
Outro ponto possível de identificação como lugar é a Rua Alípio Goulart, ponto esse
de transição entre o bairro formal e o aglomerado, sendo considerado de destaque
tanto na área 5 como na área 6. Aqui o destaque fica na característica comercial da
rua, ainda persistindo o caráter de comercio interiorano na região, sendo um dos
últimos pontos de observação possível do mesmo no bairro.
Mantendo a analise através do tato do usuário, que Ana Fani identifica como
essencial para que sejam definidas as relações de lugar entre individuo e metrópole,
a rua tem caráter tanto de permanência como de passagem, sendo responsável por
maioria dos serviços realizados pela comunidade, mas também pela proximidade
entre usuários e comerciantes da região.
Ou seja, aqui há ainda a possibilidade de observar uma tendência de convivência
com características interioranas onde usuários e proprietários do comercio mantêm
relações de proximidade em que ocorre a garantia da segurança do comercio pela
alta taxa de conhecimento entre as pessoas e os usuários conseguem realizar
operações de troca mesmo sem possuir soldo para quita-las havendo ainda a ideia
de compra através de cadernetas.
Outros dois pontos com características de lugar no bairro são a Rua do Ouro e a
Rua Estevão Pinto, esses serão definidos em conjunto por possuírem a
característica de lugar equivalente.
A igualdade é evidenciada pelo caráter de passagem e ligação com o restante da
cidade que as duas ruas possuem, influenciando em grande medida a nova
organização e ocupação que as duas têm. Apesar de hoje contarem com caráter de
vias de ligação a pontos arteriais da cidade, como Avenida Afonso Pena e Avenida
do Contorno, ocorrem manchas com caráter de lugar nos dois pontos. Sendo o da
Rua do Ouro presente na ligação entre a mesma e a Rua Palmira e dela com a Rua
Caraça (Erro! Fonte de referência não encontrada. e Erro! Fonte de referência
não encontrada.), formada pelo comercio ali presente, e o da Rua Estevão Pinto
marcado pela ligação da mesma com a Rua Monte Alegre e com a Rua Caraça
(Erro! Fonte de referência não encontrada. e Erro! Fonte de referência não
encontrada.), mantendo nos dois locais comércios em que usuários e proprietários
ainda mantêm tratamento nominal.
Outro ponto com características de lugar, esse ligado a transição do bairro, é a
Praça Milton Campos. O ponto tem caráter de permanência atrelado, principalmente,
a usuários dos prédios comerciais que cercam a praça e a usuários da área 4. Além
deles é possível perceber a utilização por babas e enfermeiras com idosos a que
realizam cuidados.
Ao contrário dos pontos citados anteriormente, a Praça Milton Campos tem caráter
de permanência ligado ao horário de funcionamento do entorno, sendo utilizada,
predominantemente, no período diurno. Apesar dessa apropriação com horário
programado é possível identifica-la como lugar pelo caráter atrativo que o local
mantém, contando com áreas gramadas e com número elevado de bancos para
estádia prolongada dos usuários.
É interessante ressaltar que durante a noite há utilização da praça, mas sendo essa
pautada por mudança, de certa maneira, brusca do território conformado. Com a
utilização ligada a zonas de prostituição, sendo utilizada, em maior medida, por
homens travestidos para sua prostituição. Ainda seria possível identificar o local
como lugar, segundo a definição de Ana Fani Carlos, mas esse com especificidades
e grau de complexidade que tornariam sua analise superficial pelo presente
pesquisador.
Outro ponto que mantém marcado em suas características o conceito de lugar é o
Bar Boiadeiro. O local já passou por mudanças de área, sendo localizado
anteriormente na Rua Monte Alegre e hoje inserido na Rua Palmira.
O novo local trouxe ao bar características de comercio local, ainda carregado pelo
convívio e contato entre usuários e dono, apontando, dessa forma, o conceito de
lugar, mas também crescimento e diversificação do número de usuários, tornando-o
90
ponto de ligação entre bairro e metrópole, apontando crescimento e possível
alteração desse conceito.
Além dos pontos citados, sendo esses pontos antigos ao bairro, existem pontos de
referência recentes, mas que permitem a leitura do termo lugar também em seus
espaços.
O primeiro é a Praça do Cardoso, ponto de permanência e de realização de eventos
no aglomerado. O ponto tem caráter de lugar associado aos dois tipos de
apropriação que lhe ocorrem, diurna e noturna. Sendo no período diurno utilizado
para projetos do Fica Vivo para realização de oficinas e treinamento dos times de
futebol. Além disso, havendo também utilização para comercio ambulante e
permanência dos moradores do aglomerado.
Para apropriação noturna há, além da apropriação da população para estádia, a
utilização da praça para realização de shows de funk, garantindo que o local tenha
movimento e vida durante todo o período do dia. Sendo assim, a praça assume, com
essas características, o caráter de reprodução da vida no cotidiano.
Por fim, o ultimo ponto elucidado como ponto de referência no bairro é a Pizzaria
Melo, ponto que passou por alterações e ainda consegue se manter como local de
destaque no bairro. O local deixa de ser a Mercearia Melo, ponto antigo do bairro, e
passa a ser o novo local.
Apesar da mudança o local ainda funciona como ponto de destaque quanto à
socialização de pessoas no bairro. Tendo horário de funcionamento integral, com
alta taxa de rotatividade do público durante todo período do dia.
No que concerne ao sentido de perdas dos espaços com características de lugar do
bairro ocorre, principalmente, pelo menor contato da população com esses
equipamentos, especialmente na área 1 de pesquisa, onde os usuários demonstram
não utilizar-se do bairro ou apontam baixa taxa de percepção do local.
Assim como foi possível identificar locais com características que tornam aplicáveis
o conceito de lugar, que se mantém no bairro, é possível identificar pontos com
características semelhantes que deixaram de existir na região.
O primeiro local passível dessa analise seriam as casas da região, que, apesar de
não serem em si um lugar, a ambiência e conformação por elas gerada torna
possível a geração de identidade entre usuários e bairro. O conceito de lugar, nesse
ponto de referência, ficava a cargo da maior possibilidade de contato entre
moradores, além do convite ao flanar ocasionado pela proximidade entre rua e casa,
onde o contato entre o interno (privado) e o externo (publico) era convidativo ao
pedestre (JUNIOR, 1999).
Outro ponto que poderia receber o conceito lugar, esse ligado as relações
comerciais, seria o Sacolão Taíde. A identidade entre moradores e o dono do local
tornava-o ponto de encontro e obtenção de relações de troca de maior intimidade
entre os dois lados.
Por fim, como pontos que desapareceram, é possível apontar a Mercearia Melo,
esse ponto passando por alteração de uso e tipo de comercio. Aqui vale ressaltar
que o ponto será estudado em duas frontes, sendo o mesmo apontado como
aparecimento e desaparecimento, visto que a Pizzaria Melo ainda mantêm o caráter
de lugar, mas esse conta com o convívio e o contato de usuários diferentes ao que
seria a ocupação e proposta da Mercearia Melo. Sendo, no caso da Mercearia Melo,
o ponto com uso marcado pelo contato direto entre clientes e o dono do local, o
Senhor Melo, e hoje esse contato sendo feito através de maior número de
funcionários.
Com essa explicação dos locais que permanecem com características de lugar,
segundo a definição de Ana Fani Carlos, e dos locais que desapareceram o trabalho
segue no sentido de buscar a compreensão dos motivos relacionados à perda ou
manutenção dos lugares, analisando-se os fatores responsáveis por esse fato.
92
2.3.8 – Analise dos motivos de manutenção/ perdas dos lugares do bairro
Serra
Para sequência do trabalho será realizada a analise dos motivos identificados como
pontos contribuintes para manutenção ou perda dos lugares de destaque no Bairro
Serra, sendo elucidado de forma a contemplar as especificidades de cada um dos
lugares apresentados no item 2.3.7.
O primeiro ponto apresentado, o Bar do Salomão, tem elevado tempo de
permanência no local, quarenta e cinco anos5, aproximadamente, tornando o tempo
de relação entre usuários e local elevada, possibilitando o convívio e contato entre
dono e clientes, aumentando a identidade com o local.
Outro ponto que contribui com a permanência do bar na região é o local onde o
mesmo se insere, esquina de Rua do Ouro e Rua Palmira, local com caráter
predominantemente comercial e ponto de convergência de duas vias importantes no
traçado regulador do bairro, sendo a transição entre uma das ruas do traçado inicial
da região e outra que dá inicio a ocupação posterior. Dessa forma, tornando a
esquina em que o local se insere um ponto de relevância a área.
Há de se destacar também a identificação e temática que o bar sugere, sendo
conhecido pelo fanatismo do seu dono pelo Clube Atlético Mineiro, o que tornou o
ponto marco para reunião de torcedores do mesmo time para dias de jogo, mesmo
após a morte do Senhor Salomão.
O segundo ponto apresentado, a Rua Alípio Goulart, conta com fatores que podem
justificar seu caráter de lugar no Bairro Serra baseados na tipologia comercial da rua
e na característica local do comercio da região. O primeiro é baseado na evolução e
transformação do comercio que ocorre na porção, sendo o mesmo transformado ou
acrescido de serviços de acordo com a necessidade do nicho de usuários que dele
se abastece.
5 Informação baseada em entrevista de Manoel da Cunha Nascimento, cedida no dia 20/09/2012 às
16:00, usuário do bairro a cinquenta e dois anos, tendo vinte e um na chegada a região.
Essa mimese é caracterizada pelo contato pessoal entre donos do comercio e
moradores, sendo feitas transformações e melhorias de acordo com o que é
identificado como necessário a população da região6.
O segundo se relaciona a característica de comercio local que o empório desenvolvido na região mantém, já que, apesar das transformações, o consumo dos serviços e a ligação com o local ainda é
predominado pelas áreas 5 e 6 de pesquisa (Tabela 1 e
Tabela 2), áreas que contam com publico em que o tempo de moradia no bairro é
variado, tornando possível o dialogo entre comércios antigos e recentes da região.
Outro ponto que torna a Rua Alípio Goulart ponto com características de lugar no
bairro são os espaços de permanência que existem na mesma, principalmente a
nova praça realizada, de mesma alcunha, na qual os moradores da região
costumam realizar passeios e apropriar-se para períodos maiores de permanência.
As Ruas do Ouro e Estevão Pinto mantêm pontos característicos em comum no que
tange o conceito de lugar. O primeiro deles é relacionado ao tempo de inserção no
bairro, sendo as duas marcadas por ocupação pretérita do mesmo.
Outro ponto de relevância, esse já com processo de mudança acelerado devido ao
crescimento do bairro, é o convite ao flaneur, sendo as duas ruas rotas para saída
ou entrada no bairro o que torna o número de carros presentes e circulando pelas
mesmas inibidores ao processo de caminhar pelo pedestre (Imagem 43) (JUNIOR,
1999).
Vale ressaltar o que Ana Fani Carlos define como a identificação por parte do
usuário com o local pela vivencia através das sensações corporais (CARLOS, 1996).
Para tanto há ainda locais que mantém essa característica de identificação nas duas
vias, sendo-os associados principalmente aos locais com comércios comuns a
região, na Rua do Ouro este localizado principalmente nas redondezas do Bar do
Salomão (Imagem 7) e do Fotos Mendes (Imagem 43 à Imagem 46), e na Rua Estevão
6 Informação baseada nas entrevistas do Senhor Wagner, cabeleireiro na região, e da Senhorita Diva
Amarante, secretária na loja Decent Line, que afirmaram ter contato e pedir feedback por parte dos
usuários de seus serviços para poder realizar melhoras no atendimento e prestação dos mesmos.
94
Pinto localizados na ligação da via com a Rua Monte Alegre e com a Rua Caraça
(Imagem 10, Imagem 11, Imagem 48 à Imagem 50)
Imagem 43: Rua do Ouro, foto tirada a partir da esquina com Rua Capivari, aqui o número de carros na rua já é mais marcante que o número de pedestres. Foto tirada no dia 17/08/2012 às 18hrs. Autor: Guilherme Gomes.
Imagem 44: Rua do Ouro, proximo a esquina com Rua Caraça. Ponto marcado por movimentação associado a característica comercial da área. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
Imagem 45: Rua do Ouro, esquina com Caraça. Ponto onde se localiza o Fotos Mendes, responsável, juntamente com as demais lojas do trecho, pelo movimento da região. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
96
Imagem 46: Rua Caraça, esquina com Rua do Ouro. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
Imagem 47: Rua Caraça, a partir da esquina com Rua do Ouro. Ponto onde ocorre movimento e utilização da rua pela proximidade entre comerciantes e moradores da área. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
Imagem 48: Rua Estevão Pinto, próximo a Rua Caraça, o comércio tradicional garante o movimento e uso da rua. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
Imagem 49: Esquina de Rua Estevão Pinto e Caraça, ponto com destaque para movimentação ligada ao comercio. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
98
Imagem 50: Rua Estevão Pinto, esquina com Caraça. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes
O Bar Boiadeiro, assim como o Bar do Salomão, mantém o caráter de convívio como
definidor para sua manutenção e conceituação como lugar no bairro. Além disso, o
bar sofreu com mudanças de endereço que contribuíram para sua manutenção
como lugar e expansão como ponto de encontro, tornando-se ponto de encontro
para além do Bairro Serra.
Essa mudança está associada ao local de inserção do bar, saindo do entroncamento
de Rua Estevão Pinto e Monte Alegre e mudando-se para a Rua Palmira, esquina de
Rua Níquel e Rua Desembarcador Mário Matos, ampliando sua ligação para além da
área 4 de pesquisa, no que diz respeito ao uso por parte dos moradores do bairro
(tendo o bar sido apontado como ponto de uso também nas área 3,5 e 6).
A Praça Milton Campos conta com características que a fazem ser ponto específico
entre os identificados como lugar dentro do bairro.
O primeiro deles se associa as vias de transito rápido que a conformam, sendo a
praça rodeada pela Avenida Afonso Pena e pela Avenida do Contorno, podendo ser
esse um fator que causaria o desuso da porção, mas, apesar desse fato, o local
conta com publico durante boa parte do dia, com horário associado, principalmente,
a usuários dos prédios ao redor da mesma.
O segundo fator associa-se a ocupação noturna da região, sendo o ponto utilizado
como local para realização de prostituição, principalmente por homens, tornando o
uso e a denominação de lugar ainda possíveis, mas com as características de
território alteradas (HAESBAERT, 2009).
A Praça do Cardoso, levando em conta os aspectos apontados por Ana Fani Carlos
para conceituação de lugar, é o que melhor representa o conceito. Apesar do caráter
recente, tendo menos do que dez anos de idade, o local conta com vivência e
variações de uso que garantem a apropriação por parte da população durante todo
período do dia.
A primeira característica que garante vida ao local é a realização de atividades
físicas, principalmente exercidas pelo programa Fica Vivo7, na área. Essas
atividades garantem a utilização do espaço pelas crianças e adolescentes da região.
O segundo ponto elucida-se na permanência no local, assim como na Praça Alípio
Goulart, sendo utilizado pela população para realização de convívio com a
vizinhança. Essa característica é reforçada pela variação de comércios que ocorre
nas redondezas da praça, sendo muitos deles feitos por moradores próximos da
região.
O terceiro ponto é a apropriação noturna do local, com utilização para realização de
festas, principalmente bailes funk. Esse é o ponto com maior apropriação da praça,
com pessoas vindas de outras regiões da cidade para participar do evento.
7 Programa desenvolvido pelo Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Publica (CRISP) e
pelo Comando da Polícia Civil de Belo Horizonte. Informação obtida em
http://dssbr.org/site/2011/08/projeto-fica-vivo-acoes-estrategicas-mobilizacao-e-participacao-social-
interferem-positivamente-na-sociedade/ acessado no dia 18/10/2012 às 11:40
100
Por fim, como pontos que se mantêm no bairro com características de lugar, temos a
Pizzaria Melo ponto que tem caráter recente, mas que existe pela transformação de
um ponto antigo na região, a Mercearia Melo. O local mantém o mesmo espaço de
utilização da antiga mercearia, sendo decorado e adornado com materiais que
remetem ao antigo comercio realizado, sendo esse um ponto contribuinte para
identificação entre usuários e local.
Ao contrario da antiga mercearia, que contava com o publico voltado,
principalmente, para terceira idade, com boa parte dos usuários indo pelo contato e
convívio com o dono do estabelecimento, a nova configuração é marcada por maior
diversificação de publico. Sendo a ligação com o local marcada pelo divertimento no
espaço e na inter-relação com as pessoas de seu convívio e, em menor escala, com
os funcionários do local.
Nesse caso o desaparecimento da mercearia poderia estar atrelado ao processo de
crescimento e transformação do comercio da região, sendo preferido pela população
a utilização de grandes equipamentos, como o Supermercado EPA e Mart-Plus, para
realização de compras, pela maior quantidade na opção de produtos8.
Dessa forma o processo de transformação do local para Pizzaria Melo garantiu com
que o dono do local pudesse continuar na região e ainda manter o local que
desenvolvia contato e vinculo com os moradores do bairro.
No caso das casas esse processo de transformação tem ligação direta com a
dinâmica de verticalização do bairro, promovida pelo mercado imobiliário (CORRÊA,
2002), tornando a percepção e identificação entre usuários e bairro diferenciado.
8 Considera-se essa dinâmica um dos pontos de perda pelo alto índice de apontamento, nos
questionários, para o item “Supermercado” como local de uso, sendo citado o Supermercado EPA e
Mart-Plus como utilizados e não os comércios de porte local.
Em entrevista cedida pela Senhorita Ana Valéria9 ela afirma que no tempo de
contato com o bairro, cerca de vinte anos, essas alterações influenciaram seu gosto
pelo local, sendo, segundo ela, “um local menos agradável de ver”10.
Esse processo ocorre de forma mais marcante em ruas interiores ao bairro, com
destaque para as Ruas Capivari e Caraça, onde o número de casas que foi retirado
já torna a descaracterização em ritmo acelerado (Imagem 14 à Imagem 16).
Segundo Manoel Teixeira de Azevedo Junior a proximidade entre o publico e o
privado é um caracterizador necessário para que sejam utilizados os espaços
públicos, sendo o Bairro Serra ponto onde o caminhar e o convívio é influenciado
pela configuração vertical das edificações (JUNIOR, 1999, p. 85).
Essa característica de uso do espaço publico pelo convívio entre moradores e pela
forma de locomoção, a pé, transporte coletivo ou transporte individual (JUNIOR,
1999) é a característica de maior destaque para o apontamento das casas com
aplicação do conceito de lugar. Visto que, para que seja possível a identidade entre
usuários e bairro, faz-se necessário que o contato vá além da guarita de segurança
ou do muro, sendo a vista da edificação e sua compreensão em primeiro plano de
visada necessária para essa identificação (JUNIOR, 1999, p.69).
Dessa maneira, não é identificado o termo lugar no que concerne a individualidade
de cada edificação isoladamente, mas pelo conjunto de características e formas de
ocupação que geram a ambiência característica do Bairro Serra. É a ambiência
conformada por essas edificações e pela relação que as mesmas estabelecem com
o espaço público a responsável pelo “lugar” Serra, pela identidade do bairro, em
grande parte já comprometida. (JUNIOR, 1999).
Por fim, vale ressaltar a uniformização das novas construções que ocorrem no
bairro, dificultando o sentimento de apego, pela forma arquitetônica, nos usuários,
9 Entrevista cedida no dia 18/09/2012 às 10hrs.
10 Idem
102
diminuindo assim a identificação dos mesmos com a nova forma de ocupação, de
contato restrito com o espaço público.
Imagem 51: Prédio localizado na Rua Capivari, a tipologia construtiva é marca do novo processo de verticalização do bairro. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.
Imagem 52: Prédio localizado na Rua Capivari, próximo a esquina com a Rua Capelinha, mesma tipologia construtiva de prédio na região. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.
104
Imagem 53: Rua Caraça, esquina com Rua Serranos, nesse ponto a leitura pelo pedestre é dificultada pela altimetria da edificação. Foto tirada no dia 19/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.
3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
3.1 – Diretrizes para intervenção no bairro Serra
As diretrizes que serão propostas para o Bairro Serra visam possibilitar a
manutenção dos lugares identificados e o estímulo, nos usuários do bairro, a
apropriação dos espaços públicos de destaque e nos demais espaços que possam
receber essa conceituação na área e que não foram vislumbrados pela presente
pesquisa, possibilitando, dessa maneira, que permaneçam traços da ambiência
característica do bairro. De modo geral, todas têm como objetivo estreitar a relação
das pessoas com o espaço, seja por meio da preservação da memória do bairro ou
da aproximação do espaço privado ao espaço público.
3.1.1 – Primeira Diretriz – Valorização da relação das esquinas como espaço de
convivência e identidade
A primeira delas visa à valorização da relação das esquinas como espaços de
convivência e identidade. Segundo Manoel de Azevedo Teixeira Junior, essa relação
tem características especiais devido ao caráter de transição associado à mesma,
sendo um elo de entroncamento de vias, com a perspectiva de mudança de uma pra
outra ou de permanência na que se seguia pelo usuário (JUNIOR, 1999, p.95).
No Bairro Serra essa característica é marcante pelos pontos com conceito de lugar
que se associam as esquinas, sendo os locais comerciais, as manchas com
características de lugar nas Ruas Estevão Pinto e na Rua do Ouro, e as praças
sempre associados a esquinas de destaque do bairro11.
Esse enriquecimento da esquina como ponto marcante tem como pressuposto a
relação estabelecida entre a tipologia da edificação, sempre contando com uso
misto, e a relação que a mesma desenvolve com a rua, estando sempre com a
fachada realizada na divisa, possibilitando contato direto entre pedestre e edificação
(Imagem 5, Imagem 7, Imagem 10, Imagem 11, Imagem 45).
11
Sobre isso ver o texto realizado no item 2.3.8
106
Dessa forma, é interessante que se estabeleça, para possibilitar formas que
garantam esse contato, diretrizes especiais para projetos executados em locais com
relação direta com esquina, permitindo que a edificação seja executada diretamente
nas divisas, sem realização de afastamentos frontais.
Vale destacar que para que isso ocorra o empreendedor deve realizar medidas
compensatórias com inserção de áreas permeáveis nos fundos da edificação e/ou
com a instalação de caixas de coleta de água pluvial com capacidade igual ou
superior a três vezes a capacidade da caixa d’água da edificação.
Além disso, há de ser levado em conta que as edificações inseridas em esquinas
devem, impreterivelmente, estabelecer o uso misto em seu programa, com o
primeiro pavimento sendo destinado ao uso comercial e os demais pavimentos
tendo uso de acordo com a demanda estabelecida pelo empreendedor.
Outro ponto importante é a relação entre a altimetria da edificação e o espaço em
que a mesma se insere, sendo necessário que seja seguido o gabarito das
edificações que circundam o empreendimento, sendo, segundo Manoel Teixeira de
Azevedo Junior, a “fácil leitura no nível do pedestre necessária para que o mesmo
tenha identificação com o local” (JUNIOR, 1999, p.85).
3.1.2 – Segunda diretriz – Desenvolvimento de tipologias e soluções projetuais
que valorizem uma melhor relação entre espaço público e espaço privado
A segunda diretriz caminha no mesmo sentido das soluções projetuais e das
tipologias de projeto que promovam melhor relação entre o espaço público e o
espaço privado.
Segundo elucidado por Manoel Teixeira de Azevedo Junior (1999) o bairro conta
com formas de ocupação diferenciadas, tornando o estilo arquitetônico dominante
inexistente, com variados estilos ocorrendo na área (JUNIOR, 1999, p.84). Apesar
dessa afirmativa, Manoel Teixeira de A. Junior indica que as ruas em que a
facilidade de leitura da edificação como um todo pelo pedestre, indicando que a
relação 1/2 e 1/3 são indicadas para leitura do todo e para leitura do todo no
contexto, respectivamente, (Id. Ibdem), tornam o espaço mais agradável ao
caminhar.
Evidenciando ainda que a relação entre edificação multifamiliar, principalmente as
que ocorrem no primeiro processo de verticalização do bairro (década de 50 e 60),
mostram contato e relação direta com a rua, tornando a identidade do pedestre com
o local facilitada.
Dessa forma, indica-se a necessidade estudo com vistas à ampliação da área da
ADE Serra, para a qual já existe o limite altimétrico de 15 metros, com vistas à
redefinição da altimetria máxima permitida para outras áreas do bairro12, com vistas
à manutenção de tipologias que permitam o contato e relação do pedestre com a
área.
É importante ressaltar também como as formas de delimitação (muros, gradis e
afins) contribuem no contato e na forma de delimitação entre o espaço público e
privado. Há no Bairro Serra formas de delimitação variadas que possibilitam contato
mais amplo ou mais refreado com o interior das residências, principalmente quando
as mesmas configuram-se como residências unifamiliares, tornando o contato do
pedestre e seu sentimento de identidade com o espaço mais ou menos propicio
(Imagem 54 à Imagem 59).
12
Sobre isso ver os anexos da lei 7166 relativa a legislação de Parcelamento, Ocupação e Uso do
Solo de Belo Horizonte.
108
Imagem 54: Rua Capivari, próximo a esquina com Rua Angustura, o muro fechado não permite a visualização pelo pedestre, dificultando a identidade do mesmo com a edificação. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.
Imagem 55: Rua Capelinha, esquina com Rua Capivari, o muro torna o ambiente privado fechado ao contato com o espaço público. Mantêm-se a ideia de segurança por dispositivos de inibição não pela proteção do proprio pedestre. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs.
Imagem 56: Rua Capelinha, o número de fachadas fechadas para o contato com a rua tornam o ambiente pouco atrativo ao caminhar pelo pedestre. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.
Imagem 57: Rua Capivari, esquina com Rua Angustura, apesar da presença da grade, a permeabilidade do elemento permite o contato entre o pedestre e o interior da edificação. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.
110
Imagem 58: Rua Serranos, esquina com Rua Caraça, a edificação conta com três elementos que conformam a separação entre espaço público e espaço privado (muro em alvenaria, gradil e vegetação). Essa combinação torna o ambiente ainda permeável a visualização pelo pedestre. Foto tirada no dia 19/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.
Imagem 59: Rua Estevão Pinto, nº313, a mescla de tipos de fechamento pode configurar-se como bom partido para execução da transição, possibilitando o contato e ainda mantendo a descrição do privado. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.
Segundo Manoel Teixeira de Azevedo Junior os locais que permitem esse dialogo
entre os espaços público e privado, com o pedestre podendo desenvolver o
sentimento de proximidade com a família pela permeabilidade visual gerada pelos
fechamentos vazados, ou pelos não fechamentos, com a divisão entre o público e o
privado sendo feito somente por vegetação, tornam a segurança, tanto do
caminhante, quanto do residente, ampliada (JUNIOR, 1999, p.83).
Dessa forma, indica-se a utilização de gradis e fechamentos, mesmo que nas
residências multifamiliares, vazados. Permitindo a visualização do nível térreo, ou da
varanda da casa, pelo pedestre, desenvolvendo, desta maneira, o que a autora Jane
Jacobs denomina de “os olhos da rua” (JACOBS, 2000, p.30) possibilitando a
segurança pelo fato de ser possível visualizar qualquer evento diferenciado que
ocorra no interior da edificação e, no caso dos pedestres, seja desenvolvido o
interesse pelo caminhar nas calçadas da rua pelo sentimento de segurança
propiciado pela permeabilidade e sensação de ser “vigiado” pelas edificações que
circundam a via.
112
3.1.3 – Terceira diretriz – Inventário dos locais comerciais de destaque no
bairro Serra
Como terceira diretriz é sugerido a execução de inventariado, por parte do Conselho
Deliberativo de Patrimônio Municipal, dos locais comerciais que tem por
característica o conceito de lugar em sua essência (Imagem 60 à Imagem 623),
podendo servir de base para consulta na execução tipológica e projetual sugerida
nas diretrizes um e dois do presente trabalho acadêmico.
Imagem 60: Bar do Salomão, primeiro ponto identifica do com características de lugar. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.
Imagem 61: Rua do Ouro, esquina com Rua Palmira, ponto com característica de lugar pelo comércio
desenvolvido no local. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.
Imagem 62: Rua Estevão Pinto, ponto com características que o permitem a aplicação do conceito de lugar pelo caráter local do comércio. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.
Imagem 63: Bar Boiadeiro, entroncamento das Ruas Palmira, Niquel e Desembargador Mário Matos, a foto mostra um horário em que o comercio encontra-se fechado, evidenciando a queda do movimento na região. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.
114
Vale ressaltar que o estudo para inventariado pode utilizar-se dos pontos
identificados pelo autor para execução do processo, o que não exclui uma possível
ampliação da pesquisa para obtenção de outros pontos que possam ter conjunto de
características que o tornem passíveis de serem identificados como lugares.
Além do inventario sugere-se que sejam afixadas placas, ou totens, nos
estabelecimentos investigados contendo a historia do mesmo e como esse torna-se
local de destaque no Bairro Serra. Essa comunicação visual pode ser extrapolada
para além dos comércios, podendo constar também em painéis e/ou totens inseridos
nas praças próximas ao local, contando, quando as placas estiverem inseridas em
praças, o histórico geral do bairro, o histórico da praça e a relação entre a mesma e
o estabelecimento inventariado.
Faz-se necessário o inventariado para que seja possível extrair características em
comum entre os estabelecimentos e as especificidades características de cada
empreendimento para que assim possa-se estabelecer o que é visado na primeira e
segunda diretriz, com formas de apropriação e construção que incentivem o contato
entre usuário e bairro, desacelerando o processo de perda dos locais do bairro13.
3.1.4 – Quarta diretriz – Estimular atividades que aconteçam no espaço público
A quarta diretriz sugere o fechamento de trechos de ruas do bairro para que elas
sejam utilizadas por pedestres para atividades de entretenimento e apropriação do
espaço publico aos domingos e feriados. Indica-se, em primeira instancia, o
fechamento de trechos da Rua do Ouro, nos locais em que lhe foram reconhecidos o
conceito de lugar, e a Rua Estevão Pinto, levando em conta o mesmo processo
elucidado para Rua do Ouro (Imagem 64 à Imagem 67).
13
Sobre isso reler os itens que elucidam a analise e os resultados obtidos nas entrevistas com
usuários do bairro.
Imagem 64: Trecho na esquina de Rua Caraça e Rua Estevão Pinto, primeiro ponto indicado para fechamento. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.
Imagem 65: Rua do Ouro, esquina com Palmira, segundo ponto indicado para fechamento. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.
116
Imagem 66: Vista do segundo trecho a partir da Rua do Ouro. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.
Imagem 67: Trecho de fechamento na esquina de Rua Estevão Pinto e Rua Monte Alegre, é indicado o fechamento até a esquina com a Rua Alumínio e com a Avenida do Contorno. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.
Apesar de conformarem duas vias importantes para saída e entrada no bairro o
fechamento de trechos das vias não configura algo prejudicial ao trafego no local. O
mesmo incentivo sugerido já é realizado com resultados positivos na Avenida
Bandeirantes e na Avenida Prudente de Morais, vias de ligação arterial da cidade
(Figura 10) não tornando, dessa forma, o impacto no tráfego um impeditivo a
proposta.
Outro fator que torna a proposta viável é o dia em que é sugerido que seja realizado
o fechamento, no domingo ou feriados. Sendo esses dias marcados por tráfego mais
brando e que não influenciaria o convívio na região.
Sugere-se ainda que o trecho seja bem assinalado, com placas e avisos que
indiquem o local de desvio para veículos, e o horário que o fechamento será
proposto, sugere-se que o mesmo ocorra das 6:00 da manhã de domingo até as
18:00 do mesmo dia, contemplando horário que possibilite atividades com
iluminação natural abundante.
Caso a iniciativa mostre-se efetiva é indicado o aumento da área de fechamento das
vias e a expansão para vias adjacentes, possibilitando o aumento da área de
abrangência da iniciativa.
118
Figura 10: Hierarquização viária de Belo Horizonte. Fonte: http://www.bhtrans.pbh.gov.br/portal/pls/portal/docs/1/4710213.JPG. Acessado no dia 27/10/2012 às 10h:50m.
3.1.5 – Quinta diretriz – Realização de inventário das edificações de interesse
de preservação no bairro Serra, com vistas á posterior definição de conjunto
urbano.
Como última diretriz indica-se a realização de inventariado das casas com interesse
de preservação que se mantiveram na região, para que possam ser realizados,
posteriormente, estudos para indicação de conjuntos urbanos que mantêm a
ambiência característica do Bairro Serra.
O mesmo pressuposto já foi realizado em outros bairros de Belo Horizonte, sendo os
dois mais recentes o Bairro Santo Antônio e o Bairro Prado, possibilitando a
identificação de configurações urbanas que diferem os bairros dos demais da
cidade.
Esse inventariado possibilitaria, juntamente com o inventário realizado na terceira
diretriz, a identificação de pontos materiais, sendo esses os próprios locais onde se
realizam os comércios e as tipologias de residências que ocorrem na região, e
imateriais, ancorados nas relações desenvolvidas entre usuários e donos dos
estabelecimentos e na forma com que a relação e visibilidade gerada pelas casas e
prédios antigos da região configuram o sentimento de pertencimento nos pedestres,
conformando, dessa forma, um conjunto urbano pautado na ambiência característica
do Bairro Serra.
Vale ressaltar que seriam gerados bolsões com essas características, já que o bairro
passa por processo avançado de verticalização, com perdas significativas das casas
da região (Imagem 68 à Imagem 71).
120
Imagem 68: Rua Níquel, esquina com Capivari, serie de quatro casas foram derrubas para dar lugar a empreendimento vertical. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.
Imagem 69: Vista do mesmo empreendimento a partir da Rua Capivari. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.
Imagem 70: Rua Capivari, prédio localizado em frente ao empreendimento da Agmar. Foto tirada no dia 18/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.
Imagem 71: Empreendimento localizado na Rua Herval, esquina com Rua Joanésia. Foto tirada no dia 22/08/2012 às 15hrs. Autor: Guilherme Gomes.
122
3.2 – Conclusão
Quando desenvolvido a proposta para o presente trabalho acadêmico visava-se a
obtenção de agentes de destaque do Bairro Serra que conformassem território no
mesmo, visando entender como a valorização do espaço, principalmente na forma
do novo processo de verticalização, afetava a relação do mesmo com o local.
Com o desenvolvimento e continuidade do processo foi evidenciado, através das
entrevistas desenvolvidas com usuários da região, que o contato das pessoas com o
bairro forma-se cada vez mais pelos grandes equipamentos e que a relação
pormenorizada com o individuo não era identificada como referencia entre usuários
e o Bairro Serra. Desta forma, o trabalho rumou em identificar pontos, que apesar
desse processo de perda de identidade entre usuários e bairro, mantinham, e
mantém, em suas características o conceito de lugar segundo a definição da autora
Ana Fani Carlos (1996).
Nesse sentido, foi possível perceber pontos e manchas do que configuram a
ambiência tradicional de ocupação e uso do Bairro Serra, com destaque para pontos
que possuem tempo de construção no bairro recente, sendo o principal deles a
Praça do Cardoso.
Foi interessante perceber como as residências do bairro, na ambiência gerada pelas
mesmas, conformavam em si um lugar, já que a identidade e sentimento de
proximidade entre os usuários os prédios antigos e as casas, principalmente o
segundo ponto, foram apontados como ponto referencial pelos entrevistados, sendo
em muitos casos indicado a mudança gerada pela verticalização que o bairro sofre
como ponto principal de mudança na região.
Esse processo, juntamente com o aumento populacional e de fluxo na região,
configuraram os pontos mais citados como transformadores e influenciadores na
região. Gerando, com as novas construções, um processo de homogeneização
arquitetônica que já era sentida ao final da pesquisa de Manoel T. A. Junior (1999),
mas que hoje passa por processo ainda mais intenso e com perdas cada vez mais
significativas nas construções e tipologias de ocupação características do bairro.
Dessa maneira, é possível identificar um processo de transformação das
características tradicionais do Bairro Serra, que conformaram seu uso desde a
ocupação inicial, com elevado contato e relação entre o espaço público e o espaço
privado, sendo perdido, dando espaço a relações que inibem o contato do pedestre
com o flanar pelo espaço urbano e dele, o pedestre, com as novas construções,
sendo executadas edificações que tendem a respeitar a Lei de Uso e Ocupação do
Solo de Belo Horizonte e não promover a relação entre espaço público e espaço
privado.
Com isso, percebendo-se esse processo de transformação e identificando-se locais
que ainda eram passíveis de receber a conceituação de lugar, foram sugeridas
diretrizes para tentar desacelerar o processo de transformação tipológico do bairro
ou, no mínimo, manter os pontos e bolsões identificados como lugares na região
garantindo que a identidade característica do bairro em relação as demais regiões
da cidade não fosse totalmente perdida.
Vale ressaltar que entende-se que processos de transformação do espaço são
conformados durante todo processo de formação da cidade, resultando em perdas e
manutenção de locais para que a mesma passe por desenvolvimento, mas também
entende-se que processos que acabem por resultar em rompimentos bruscos e que
visem a utilização da cidade somente para as atividades rotineiras não devem
prevalecer na dinâmica do espaço.
Sendo, sempre que possível – como ainda é possível de ser realizado no Bairro
Serra –, valorizado a relação do indivíduo com o espaço, ocasionando situações que
o incentivem ao uso do mesmo para além das situações de rotina, gerando
apropriações e usos que garantam vida e segurança na cidade.
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ANEXOS
TABELAS COM ANALISE DOS QUESTIONÁRIOS
Tabela 1: Locais mais utilizados pelos questionados. Na tabela faz-se o diagnóstico através das atividades mais citadas pelos entrevistados e número de usuários a citá-las por área.
Tabela 2: Locais mais movimentados do Bairro Serra. Vale ressaltar a variedade de áreas que apontam as Ruas Alípio Goulart, Rua Estevão Pinto e Rua do Ouro como movimentadas.
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Tabela 3: Mudanças no Bairro Serra. vale ressaltar o caráter de destaque que a verticalização tem como ponto de observação pela população.
Tabela 4: Pontos de referência do Bairro Serra. Destaque para o número de citações do Hospital Evangélico como Ponto de Referência.
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Tabela 5: Pontos de referência do Bairro Serra. Destaque para o número de citações do Hospital Evangélico como Ponto de Referência.
Tabela 6: Pontos de referência do Bairro Serra. Destaque para o número de citações do Hospital Evangélico como Ponto de Referência.
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Tabela 7: Pontos de referência do Bairro Serra. Destaque para o número de citações do Hospital Evangélico como Ponto de Referência.
Tabela 8: Pontos de referência que apareceram. Destaque para as nove citações da Praça do Cardoso e para as 13 e 12 (área 1 e 5) do não aparecimento de pontos de referência.
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Tabela 9: Pontos de referência que desapareceram. Destaque para o grande número de vezes a ser citado a não recordação de desaparecimentos.
Tabela 10: Pontos de referência que desapareceram. Destaque para o grande número de vezes a ser citado a não recordação de desaparecimentos.
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Tabela 11: Pontos de referência que desapareceram. Destaque para o grande número de vezes a ser citado a não recordação de desaparecimentos.
REFERÊNCIAS
CARLOS, Ana Fani Alessandri, O lugar no/do mundo, São Paulo, Hucitec, 1996. CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano, 4ª Ed, São Paulo, Editora Atica, 2002. 93 p. HAESBAERT, Rogério. Desterritorialização: Entre as Redes e os Aglomerados de Exclusão, CASTRO, Íná Elias; GOMES, Paulo Cesar da Costa; CORREA, Roberto Lobato (orgs.). Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. JUNIOR, Manoel Teixeira Azevedo. Serra: Um Olhar Urbano, Caderno de Arquitetura e Urbanismo, v.7, n.7, Belo Horizonte, 1999. 180 p. LEFEBVRE, Henri. Espaço e Política, 1ª Ed, Belo Horizonte, UFMG, 2008. 192p. LEFEBVFRE, H., A revolução urbana, Belo Horizonte, UFMG, 1999. SANTOS, Milton, A Urbanização brasileira, 4ª Ed., São Paulo, Hucitec, 1994. 157p. SANTOS, Milton, A Natureza do Espaço, 4ª Ed., São Paulo, Edusp, 2009. 384 p. SOUZA, Marcelo José L., O Território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento, CASTRO, Íná Elias; GOMES, Paulo Cesar da Costa; CORREA, Roberto Lobato (orgs.). Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. VERGARA, Sylvia Constant, Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2004. 94 p. Site prefeitura de Belo Horizonte. www.pbh.gov.br Google Mapas. www.google.com/mapas