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maariane27
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Profundamente
Quando ontem adormeciNa noite de São JoãoHavia alegria e rumorEstrondos de bombas luzes de BengalaVozes, cantigas e risosAo pé das fogueiras acesas.
No meio da noite desperteiNão ouvi mais vozes nem risos
Apenas balõesPassavam, errantes
SilenciosamenteApenas de vez em quandoO ruído de um bondeCortava o silêncioComo um túnel.
Onde estavam os que há poucoDançavamCantavam
E riamAo pé das fogueiras acesas?
— Estavam todos dormindoEstavam todos deitadosDormindoProfundamente.
***
Quando eu tinha seis anosNão pude ver o fim da festa de São JoãoPorque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempoMinha avóMeu avôTotônio RodriguesTomásiaRosaOnde estão todos eles?
— Estão todos dormindoEstão todos deitadosDormindoProfundamente.
Análise:
O poema pode ser dividido em duas partes : o passado e o presente. O passado mostra as lembranças do eu-lírico da noite de São João (“Quando eu tinha seis anos”), ele dormiu antes do fim da festa e ao acordar no meio da noite percebeu que o barulho tinha se transformado em silêncio, porque todos da casa estavam dormindo profundamente.
O presente mostra o hoje do eu-lírico, que não ouve mais as vozes da noite de São João pois estão todos dormindo profundamente, mas dessa vez no sentido conotativo. Estão todos mortos.
O Homem e a Morte
O homem já estava deitado
Dentro da noite sem cor.
Ia adormecendo, e nisto
À porta um golpe soou.
Não era pancada forte.
Contudo, ele se assustou,
Pois nela uma qualquer coisa
De pressago adivinhou.
Levantou-se e junto à porta
- Quem bate? Ele perguntou.
- Sou eu, alguém lhe responde.
- Eu quem? torna. – A Morte sou.
Um vulto que bem sabia
Pela mente lhe passou:
Esqueleto armado de foice
Que a mãe lhe um dia levou.
Guardou-se de abrir a porta,
Antes ao leito voltou,
E nele os membros gelados
Cobriu, hirto de pavor.
Mas a porta, manso, manso,
Se foi abrindo e deixou
Ver – uma mulher ou anjo?
Figura toda banhada
De suave luz interior.
A luz de quem nesta vida
Tudo viu, tudo perdoou.
Olhar inefável como
De quem ao peito o criou.
Sorriso igual ao da amada
Que amara com mais amor.
- Tu és a Morte? Pergunta.
E o Anjo torna: - A Morte sou!
Venho trazer-te descanso
Do viver que te humilhou.
-Imaginava-te feia,
Pensava em ti com terror...
És mesmo a Morte? Ele insiste.
- Sim, torna o Anjo, a Morte sou,
Mestra que jamais engana,
A tua amiga melhor.
E o Anjo foi-se aproximando,
A fronte do homem tocou,
Com infinita doçura
As magras mãos lhe cerrou...
Era o carinho inefável
De quem ao peito o criou.
Era a doçura da amada
Que amara com mais amor.
Análise:
O poema fala da imagem que se tem da morte e do pavor provocado por ela. O personagem, com medo, tenta fugir, mas quando ela entra ele percebe que a morte não é tão terrível assim e que a sua figura se assemelha à de um anjo. Um anjo que veio trazer paz e conforto, que é tão doce quanto a amada “que amara com mais amor”.
Morte Absoluta
Morrer.Morrer de corpo e de alma.Completamente.
Morrer sem deixar o triste despojo da carne,A exangue máscara de cera,Cercada de flores,Que apodrecerão — felizes — num dia,Banhada de lágrimasNascidas menos da saudade do que do espanto da morte.
Morrer sem deixar porventura uma alma errante...A caminho do céu?Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?
Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma sombra,A lembrança de uma sombraEm nenhum coração, em nenhum pensamento,em nenhuma epiderme.
Morrer tão completamenteQue um dia ao lerem o teu nome num papelPerguntem: “Quem foi?...”
Morrer mais completamente ainda,— Sem deixar sequer esse nome.
Análise: O poema trata de uma morte que não deixa saudade, que não deixa restos (corpo), que não deixa um sinal de existência uma morte absoluta.
A