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Cap. IX - Construção da Passarola Voadora
Memorial Do Convento de José Saramago
Escola Secundária de Fafe
Ana PintoFábio CostaRui Braga
Personagens
Baltasar Mateus De alcunha Sete-Sóis;
Ex. soldado maneta devido à guerra:
“Não é verdade que a mão esquerda não faça falta.
(…)um homem precisa de duas mãos, uma mão lava a
outra, as duas lavam o rosto,(…) são os desastres da
guerra(…)” – Pág. 120 ; “este maneta” – pág. 123 ;
“soldado” – pág. 130;
Apaixonado por Blimunda:
“Dormiram nessa noite os sóis e as luas abraçados,
enquanto as estrelas giravam devagar no céu. Lua
onde estás, Sol aonde vais.” – Pág. 122.
Blimunda de JesusDe apelido Sete-Luas:
“(…) tu serás Sete-Luas porque vês às escuras, e,
assim, Blimunda, que até aí só se chamava, como sua
mãe, de Jesus, ficou sendo Sete-Luas(…)” – Pág. 121
Filha de Sebastiana Maria de Jesus:
“(…) Sebastiana Maria de Jesus e onde abriu Blimunda
pela primeira vez os olhos para o espectáculo do
mundo, porque em jejum nasceu.”
Feiticeira <-> Vidente:
“Este ferro não serve, tem uma racha por dentro,
Como é que sabes, Foi Blimunda que viu (…)” – Pág.
121;
Cabelos cor de mel sombrio:
“(…) os pesados, espessos cabelos
de Blimunda, cor de mel sombrio(…)
– Pág. 120.
Blimunda de Jesus
Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão
Comparado ao Padre António Vieira:
“(…)tão grande fama de orador
sacro, ao ponto de terem comparado
ao padre António Vieira(…)” –
Pág.122;
Voador e extravagante:
“(…) a fama que tem de voador e
extravagante(…)” – Pág. 123;
Protegido pelo Rei :
“(…) el-rei não falemos, que sendo
tão moço ainda gosta de brinquedos
e por isso protege o padre(…)” –
Pág. 123.
Inicia-se após o nascimento do
infante D. Pedro que ocorreu a
19 de outubro de 1712 e
termina após a partida do
padre Bartolomeu de Gusmão
para a Holanda, em 1713.
Localização temporal
Antes: Capítulo VIII
Relação amorosa de Baltasar e Blimunda.
Confissão do segredo misterioso de Blimunda a Baltasar depois de este
lhe ter escondido o pão.
Blimunda prova a Baltasar que o seu segredo é verdadeiro dizendo-lhe
tudo o que vê no interior das pessoas/coisas.
Referência ao treino de pontaria de D. Franscisco.
Falha na obtenção da tença pedida por Baltasar e despedimento do
local onde este trabalhava (açougue).
Nascimento do segundo filho do rei, o infante D. Pedro.
Deslocação de El-rei a Mafra, para escolher a localização do convento
(um alto a que chamam Vela).
Mudança para a quinta
Baltasar e Blimunda mudam-se para a quinta do Duque de
Aveiro, em S. Sebastião da Pedreira, para trabalhar na
construção da máquina de voar do Padre Bartolomeu
Lourenço. “Outro ferro anda
agora no alforge de
Sete-Sóis, é a chave
da quinta do duque
de Aveiro,(…)podia
enfim adiantar-se a
construção da
máquina de
voar(...)”
“E sendo a Costa do
Castelo longe de S.
Sebastião da
Pedreira, de mais
para ir e vir todos os
dias, decidiu
Blimunda que
deixaria a casa para
estar onde estivesse
Sete-Sóis.
“(…) padre Bartolomeu
Lourenço que tem diante dos
próprios olhos um maior
pecado seu, aquele de orgulho
e ambição de fazer levantar
um dia aos ares, aonde até
hoje apenas subiram Cristo, a
Virgem e alguns escolhidos
santos(…)”
O Papel de Blimunda na construção Blimunda assegurava que a construção da Passarola ia sendo
perfeita vendo os materiais, que iam sendo usados, por
dentro.
“ Uma vez por outra, Blimunda levantava-se mais cedo,
antes de comer o pão de todas as manhãs, e,
deslizando ao longo da parede para evitar pôr os olhos
em Baltasar, afasta o pano e vai inspeccionar a obra
feita, descobrir a fraqueza escondida do entrançado, a
bolha de ar no interior do ferro, e, acabada a vistoria,
fica enfim a mastigar o alimento(…)”
O “batismo” de Blimunda de Jesus
É neste capitulo que Blimunda que surge o seu apelido de
Sete-Luas, dado pelo padre Bartolomeu Lourenço de
Gusmão.
“Tu és Sete-Sóis, porque vês às claras, tu serás Sete-
Luas porque vês às escuras, e, assim, Blimunda, que
até aí só se chamava, como sua mãe, de Jesus, ficou
sendo Sete-Luas, e bem baptizada estava, que o
baptismo foi de padre, não alcunha de qualquer um”
A proteção de el-rei O rei protegia a invenção do padre, e por isso este não era
perseguido pela inquisição. O autor aproveita para criticar o
rei e a rainha neste capitulo;
“(…) de el-rei não falemos , que sendo tão moço ainda
gosta de brinquedos, por isso protege o padre, por isso
de diverte tanto com as freiras nos mosteiros e as vai
emprenhando(…) coitada da rainha, que seria dela se
não fosse o seu confessor António Stieff, jesuíta, por
lhe ensinar resignação, e os sonhos em que lhe aparece
o infante D. Francisco(…)”
O anúncio da partida para a Holanda O Padre informa Blimunda e Sete-Sóis que partira em breve
para a Holanda, terra de muitos sábios sobre alquimia e éter,
pois sem este nunca conseguirá voar.
“Partirei breve para a Holanda, que é terra de muitos
sábios, e lá aprenderei a arte de fazer descer o éter do
espaço, de modo a introduzi-lo nas esferas, porque sem
ele nunca a máquina voará,(…) É ser parte da virtude
geral que atrai os seres e os corpos, e até as coisas
inanimadas, se libertam do peso da terra para o
sol(…)”
A revolução das freiras de Santa Mónica
D. João V dá a ordem que as freiras apenas podem falar no
convento com os seu familiares, estas revoltadas, saem à
rua para se manifestarem e conseguem o que querem.
“(…) que frequentavam as esposas do Senhor e as
deixavam grávidas no tempo de uma ave-maria, que
o faça D.João V, só lhe fica bem, mas não a um joão-
qualquer ou um josé-ninguém. (…) posto o que
recolheram vitoriosas as freiras de Santa Mónica(…)”
O auto-de-fé e a as touradas
O par decide não ir ao auto-de-fé e vão assistir às touradas,
que é um bom divertimento. As touradas é como assar o
touro em vida, tortura-se o touro enquanto o público
aplaude a mísera morte. Cheira a carne queimada mas o
povo nem nota pois está habituado ao churrasco do auto-
de-fé.
Como o padre vai para a Holanda, Sete-Sóis e Sete-Luas
decidem ir para Mafra.
A despedida do Padre Bartolomeu “Deitou o padre Bartolomeu Lourenço a bênção ao soldado
e à vidente, eles beijaram-lhe a mão mas no último
momento se abraçaram os três, teve mais força a amizade
que o respeito, e o padre disse, Adeus Blimunda, adeus
Baltasar, cuidem um do outro e da passarola, que eu
voltarei um dia com o que vou buscar, não será ouro nem
diamante, mas sim o ar que Deus respira, guardarás a
chave que te dei, e como vão partir para Mafra, lembra-te
de vir aqui de vez em quando ver como está a máquina,
podes entrar e sair sem receio, que a quinta confiou-ma el-
rei e ele sabe o que nela está, e tendo dito montou na mula
e partiu.”
Partida do casal para Mafra
Após a Tourada o casal parte para Mafra, com uma trouxa e
alguma comida.
“ Na madrugada seguinte, ainda noite, Baltasar e
Blimunda, sem outro carrego que uma trouxa de
roupa e alguma comida no alforge, saíram de Lisboa
para Mafra.”
Depois: Capítulo X Visita de Baltasar à família, com apresentação de Blimunda e explicação da
perda da mão.
Vivência conjunta e harmoniosa na família de Baltasar.
Venda das terras do pai de Baltasar, por causa da construção do convento.
Procura de trabalho por Baltasar.
Comparação entre a morte e o funeral do filho de dois anos da irmã de Baltasar
e a morte do infante D. Pedro.
Nova gravidez da rainha, desta vez do futuro rei.
Comparação dos encontros de Baltasar com Blimunda e do rei com a rainha.
A frequência dos desmaios do rei e a preocupação da rainha.
O desejo de D. Francisco, irmão do rei, casar com a rainha, à morte deste.
Espaço físico
Espaço social Os autos-de-fé e as touradas
caraterizam Lisboa como um
espaço caótico, dominado por
rituais religiosos cujo efeito
exorcizante amaldiçoa um mal
momentâneo que motiva a
exaltação absurda que envolve os
habitantes.
“(...) mas não faltou povo à
festa [auto-de-fé] (...)”
Espaço social (cont.) As touradas são vistas como um
“(...) bom divertimento (...)”
apreciadas por toda a população
“Estão as bancadas e os terrados
formigando de povo(...)”
“Cheira a carne queimada, mas
é um cheiro que não ofende
estes narizes, habituados que
estão ao churrasco do auto-de-
fé, (...)”
Linguagem
“...provêm de um princípio básico segundo o qual todo o
dito se destina a ser ouvido. Quero com isso significar que é
como narrador oral que me vejo quando escrevo e que as
palavras são por mim escritas tanto para serem lidas como
para serem ouvidas. Ora, o narrador oral não usa
pontuação, fala como se estivesse a compor música e usa
os mesmos elementos que o músico: sons e pausas, altos e
baixos, uns, breves ou longas, outras” (SARAMAGO,
Cadernos de Lanzarote, 1997: 223).
Recursos estilísticos Ironia – “(...) que o faça D. João V, só lhe fica bem,(...)”
Perífrase – “(...) o clandestino encontro, o suave
contacto, a doce carícia, mesmo trazendo ela tantas
vezes consigo o inferno, abençoado seja.”
Metáfora – “A passarola (...) é agora uma torre em
ruínas (...)”
Comparação – “A passarola, que parecia um castelo a
levantar-se,(...)”
Anáfora – “Entrou o primeiro touro, entrou o segundo,
entrou o terceiro (...)”
Diminutivos - “(...) dão gritinhos (...)”
Recursos estilísticos (cont.)
Adjetivação – “(...) digam-no os cavalos, aliás bonitos e
luzidamente aparelhados, encabuzados de veludo
carmesim lavrado, com as mantas franjadas de prata
falsa (...)”
Hipálage – “(...) trombetas bastardas (...)”
Anástrofe – “Não era a perda grande, (...)”
Polissíndeto – “(...) e dizendo, (...) e o telhado, e então
ficarão (...) e onde abriu (...)”
Recursos estilísticos (cont.) Hipérbato – “Quanto à leveza do fardo, assim deveria ser
de cada vez, levarem consigo mulher e homem o que
têm, e cada um deles ao outro, para não terem de tornar
sobre os mesmo passos, é sempre tempo perdido, e
basta.”
“(...) eles beijaram-lhe a mão, mas no último momento
se abraçaram os três, teve mais força a amizade que o
respeito, e o padre disse, Adeus Blimunda, adeus
Baltasar, cuidem um do outro e da passarola, que eu
voltarei um dia com o que vou buscar, não será ouro
nem diamante, mas sim o ar que Deus respira (...) ”
Outros processos usados na escrita saramaguiana
Utilização predominante do presente
Mistura de discursos
Coexistência de segmentos narrativos e descritivos sem
delimitação clara
Presença constante de marcas de coloquialidade
Tom simultaneamente cómico, trágico e épico
Discurso construído pelo emprego de provérbios e ditados
populares: “Uma mão lava a outra, as duas lavam o
rosto, (...)” ; “(…)quem vai à guerra empadas
leva(…)”
O papel da passarola voadora na obra
Na obra, parece-nos que a passarola tem uma função
marcadamente simbólica.
De facto, não será por acaso que o que faz subir a passarola
são as vontades dos homens e das mulheres. Estas vontades
recolhidas por Blimunda poderão significar que as vontades
dos homens, unidas por uma mesma causa ou num mesmo
sonho, serão capazes de vencer a ignorância, o fanatismo, a
intolerância, libertando o homem, projetando-o para uma nova
idade, abrindo-lhe perspetivas de um mundo diferente.
Mas o simbolismo tem outra face. A busca das vontades
matará Blimunda depois de a ter feito sofrer cruelmente:
“Cansados da grande caminhada de tanto subir e descer
escadas, recolheram-se Baltasar e Blimunda à quinta,
sete mortiços sóis, sete pálidas luas, ela sofrendo uma
insuportável náusea, como se regressasse de um campo
de batalha (...)”
O papel da passarola voadora na obra (cont.)
A concretização do sonho dos três seres empenhados na
construção da passarola levará o Padre Lourenço à loucura e
Baltasar à morte. Quanto a Blimunda, ela sofrerá nove anos a
angústia de uma morte lenta, enquanto busca desesperada o
seu amor:
“Durante nove anos, Blimunda procurou Baltasar.
Conheceu todos os caminhos do pó e da lama, a branda
areia, a pedra aguda, tantas vezes a geada rangente e
assassina, dois nevões de que só saiu viva porque ainda
não queria morrer. Tisnou-se do sol como um ramo de
árvore retirado do lume antes de lhe chegar a hora das
cinzas, arregoou-se como um fruto estalado, foi
espantalho no meio de searas, aparição entre os
moradores das vilas, susto nos pequenos lugares e nos
casais perdidos”.
O papel da passarola voadora na obra (cont.)
Assim, a história da construção da passarola representa, no seu
conjunto, a força criadora que revoluciona o mundo, a
esperança de um mundo livre e diferente, mas também o
sofrimento que a sua conquista acarreta para quem se atreve a
lutar por ela.
O papel da passarola voadora na obra (cont.)
A mensagem que chega à atualidade
O mundo está cheio de exemplos extraordinários de pessoas
que com força de vontade têm conseguido ultrapassar
dificuldades, grandes obstáculos que parecem intransponíveis,
mas que, com persistência, acabam por ser superados. A
vontade está dentro de nós, no entanto, por vezes, ela separa-
se do homem. Conhecemos então essas pessoas fracas,
desinteressadas, sem vontade sequer para fazer o trivial, para
viver o quotidiano. No entanto, quando ela existe e não nos
abandona, é um bem precioso, “é a vontade dos homens que
segura as estrelas”.
Através dos tempos, o Homem tem conseguido realizar tarefas
grandiosas, mostrando a sua superioridade quando à vontade
alia a liberdade.
Outrora, pela magia e pelo divino explicava-se o que
era incompreensível; depois, a ciência veio dar resposta
a muitas dúvidas e ajudou o Homem a integrar-se
num mundo que, por vezes, lhe era hostil; o
desenvolvimento da técnica tornou o nosso mundo mais
claro, a nossa vida mais fácil. A arte que sempre existiu
reflecte um outro mundo, o mundo dos sentimentos, do que
está dentro de nós e se exterioriza de diversas formas.
A mensagem que chega à atualidade (cont.)
O próprio voo da passarola poderá representar o
poder que o homem tem quando é capaz de sonhar e
não desiste dos seus sonhos. Como a passarola, o
homem libertar-se-á das amarras que o prendem às
limitações do seu quotidiano, à mesquinhez do dia-a-
dia e, capaz de olhar o mundo com lucidez, tornar-se-
á mais livre, será cada vez mais senhor de si.
Em consonância, a ciência, o engenho, a magia e
a arte harmonizam-se para corporizarem o sonho e o
progresso.
A mensagem que chega à atualidade (cont.)