34
Cap. IX - Construção da Passarola Voadora Memorial Do Convento de José Saramago Escola Secundária de Fafe Ana Pinto Fábio Costa Rui Braga

MC construção da passarola

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: MC construção da passarola

Cap. IX - Construção da Passarola Voadora

Memorial Do Convento de José Saramago

Escola Secundária de Fafe

Ana PintoFábio CostaRui Braga

Page 2: MC construção da passarola

Personagens

Page 3: MC construção da passarola

Baltasar Mateus De alcunha Sete-Sóis;

Ex. soldado maneta devido à guerra:

“Não é verdade que a mão esquerda não faça falta.

(…)um homem precisa de duas mãos, uma mão lava a

outra, as duas lavam o rosto,(…) são os desastres da

guerra(…)” – Pág. 120 ; “este maneta” – pág. 123 ;

“soldado” – pág. 130;

Apaixonado por Blimunda:

“Dormiram nessa noite os sóis e as luas abraçados,

enquanto as estrelas giravam devagar no céu. Lua

onde estás, Sol aonde vais.” – Pág. 122.

Page 4: MC construção da passarola

Blimunda de JesusDe apelido Sete-Luas:

“(…) tu serás Sete-Luas porque vês às escuras, e,

assim, Blimunda, que até aí só se chamava, como sua

mãe, de Jesus, ficou sendo Sete-Luas(…)” – Pág. 121

Filha de Sebastiana Maria de Jesus:

“(…) Sebastiana Maria de Jesus e onde abriu Blimunda

pela primeira vez os olhos para o espectáculo do

mundo, porque em jejum nasceu.”

Feiticeira <-> Vidente:

“Este ferro não serve, tem uma racha por dentro,

Como é que sabes, Foi Blimunda que viu (…)” – Pág.

121;

Page 5: MC construção da passarola

Cabelos cor de mel sombrio:

“(…) os pesados, espessos cabelos

de Blimunda, cor de mel sombrio(…)

– Pág. 120.

Blimunda de Jesus

Page 6: MC construção da passarola

Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão

Comparado ao Padre António Vieira:

“(…)tão grande fama de orador

sacro, ao ponto de terem comparado

ao padre António Vieira(…)” –

Pág.122;

Voador e extravagante:

“(…) a fama que tem de voador e

extravagante(…)” – Pág. 123;

Protegido pelo Rei :

“(…) el-rei não falemos, que sendo

tão moço ainda gosta de brinquedos

e por isso protege o padre(…)” –

Pág. 123.

Page 7: MC construção da passarola

Inicia-se após o nascimento do

infante D. Pedro que ocorreu a

19 de outubro de 1712 e

termina após a partida do

padre Bartolomeu de Gusmão

para a Holanda, em 1713.

Localização temporal

Page 8: MC construção da passarola

Antes: Capítulo VIII

Relação amorosa de Baltasar e Blimunda.

Confissão do segredo misterioso de Blimunda a Baltasar depois de este

lhe ter escondido o pão.

Blimunda prova a Baltasar que o seu segredo é verdadeiro dizendo-lhe

tudo o que vê no interior das pessoas/coisas.

Referência ao treino de pontaria de D. Franscisco.

Falha na obtenção da tença pedida por Baltasar e despedimento do

local onde este trabalhava (açougue).

Nascimento do segundo filho do rei, o infante D. Pedro.

Deslocação de El-rei a Mafra, para escolher a localização do convento

(um alto a que chamam Vela).

Page 9: MC construção da passarola

Mudança para a quinta

Baltasar e Blimunda mudam-se para a quinta do Duque de

Aveiro, em S. Sebastião da Pedreira, para trabalhar na

construção da máquina de voar do Padre Bartolomeu

Lourenço. “Outro ferro anda

agora no alforge de

Sete-Sóis, é a chave

da quinta do duque

de Aveiro,(…)podia

enfim adiantar-se a

construção da

máquina de

voar(...)”

“E sendo a Costa do

Castelo longe de S.

Sebastião da

Pedreira, de mais

para ir e vir todos os

dias, decidiu

Blimunda que

deixaria a casa para

estar onde estivesse

Sete-Sóis.

Page 10: MC construção da passarola

“(…) padre Bartolomeu

Lourenço que tem diante dos

próprios olhos um maior

pecado seu, aquele de orgulho

e ambição de fazer levantar

um dia aos ares, aonde até

hoje apenas subiram Cristo, a

Virgem e alguns escolhidos

santos(…)”

Page 11: MC construção da passarola

O Papel de Blimunda na construção Blimunda assegurava que a construção da Passarola ia sendo

perfeita vendo os materiais, que iam sendo usados, por

dentro.

“ Uma vez por outra, Blimunda levantava-se mais cedo,

antes de comer o pão de todas as manhãs, e,

deslizando ao longo da parede para evitar pôr os olhos

em Baltasar, afasta o pano e vai inspeccionar a obra

feita, descobrir a fraqueza escondida do entrançado, a

bolha de ar no interior do ferro, e, acabada a vistoria,

fica enfim a mastigar o alimento(…)”

Page 12: MC construção da passarola

O “batismo” de Blimunda de Jesus

É neste capitulo que Blimunda que surge o seu apelido de

Sete-Luas, dado pelo padre Bartolomeu Lourenço de

Gusmão.

“Tu és Sete-Sóis, porque vês às claras, tu serás Sete-

Luas porque vês às escuras, e, assim, Blimunda, que

até aí só se chamava, como sua mãe, de Jesus, ficou

sendo Sete-Luas, e bem baptizada estava, que o

baptismo foi de padre, não alcunha de qualquer um”

Page 13: MC construção da passarola

A proteção de el-rei O rei protegia a invenção do padre, e por isso este não era

perseguido pela inquisição. O autor aproveita para criticar o

rei e a rainha neste capitulo;

“(…) de el-rei não falemos , que sendo tão moço ainda

gosta de brinquedos, por isso protege o padre, por isso

de diverte tanto com as freiras nos mosteiros e as vai

emprenhando(…) coitada da rainha, que seria dela se

não fosse o seu confessor António Stieff, jesuíta, por

lhe ensinar resignação, e os sonhos em que lhe aparece

o infante D. Francisco(…)”

Page 14: MC construção da passarola

O anúncio da partida para a Holanda O Padre informa Blimunda e Sete-Sóis que partira em breve

para a Holanda, terra de muitos sábios sobre alquimia e éter,

pois sem este nunca conseguirá voar.

“Partirei breve para a Holanda, que é terra de muitos

sábios, e lá aprenderei a arte de fazer descer o éter do

espaço, de modo a introduzi-lo nas esferas, porque sem

ele nunca a máquina voará,(…) É ser parte da virtude

geral que atrai os seres e os corpos, e até as coisas

inanimadas, se libertam do peso da terra para o

sol(…)”

Page 15: MC construção da passarola

A revolução das freiras de Santa Mónica

D. João V dá a ordem que as freiras apenas podem falar no

convento com os seu familiares, estas revoltadas, saem à

rua para se manifestarem e conseguem o que querem.

“(…) que frequentavam as esposas do Senhor e as

deixavam grávidas no tempo de uma ave-maria, que

o faça D.João V, só lhe fica bem, mas não a um joão-

qualquer ou um josé-ninguém. (…) posto o que

recolheram vitoriosas as freiras de Santa Mónica(…)”

Page 16: MC construção da passarola

O auto-de-fé e a as touradas

O par decide não ir ao auto-de-fé e vão assistir às touradas,

que é um bom divertimento. As touradas é como assar o

touro em vida, tortura-se o touro enquanto o público

aplaude a mísera morte. Cheira a carne queimada mas o

povo nem nota pois está habituado ao churrasco do auto-

de-fé.

Como o padre vai para a Holanda, Sete-Sóis e Sete-Luas

decidem ir para Mafra.

Page 17: MC construção da passarola

A despedida do Padre Bartolomeu “Deitou o padre Bartolomeu Lourenço a bênção ao soldado

e à vidente, eles beijaram-lhe a mão mas no último

momento se abraçaram os três, teve mais força a amizade

que o respeito, e o padre disse, Adeus Blimunda, adeus

Baltasar, cuidem um do outro e da passarola, que eu

voltarei um dia com o que vou buscar, não será ouro nem

diamante, mas sim o ar que Deus respira, guardarás a

chave que te dei, e como vão partir para Mafra, lembra-te

de vir aqui de vez em quando ver como está a máquina,

podes entrar e sair sem receio, que a quinta confiou-ma el-

rei e ele sabe o que nela está, e tendo dito montou na mula

e partiu.”

Page 18: MC construção da passarola

Partida do casal para Mafra

Após a Tourada o casal parte para Mafra, com uma trouxa e

alguma comida.

“ Na madrugada seguinte, ainda noite, Baltasar e

Blimunda, sem outro carrego que uma trouxa de

roupa e alguma comida no alforge, saíram de Lisboa

para Mafra.”

Page 19: MC construção da passarola

Depois: Capítulo X Visita de Baltasar à família, com apresentação de Blimunda e explicação da

perda da mão.

Vivência conjunta e harmoniosa na família de Baltasar.

Venda das terras do pai de Baltasar, por causa da construção do convento.

Procura de trabalho por Baltasar.

Comparação entre a morte e o funeral do filho de dois anos da irmã de Baltasar

e a morte do infante D. Pedro.

Nova gravidez da rainha, desta vez do futuro rei.

Comparação dos encontros de Baltasar com Blimunda e do rei com a rainha.

A frequência dos desmaios do rei e a preocupação da rainha.

O desejo de D. Francisco, irmão do rei, casar com a rainha, à morte deste.

Page 20: MC construção da passarola

Espaço físico

Page 21: MC construção da passarola

Espaço social Os autos-de-fé e as touradas

caraterizam Lisboa como um

espaço caótico, dominado por

rituais religiosos cujo efeito

exorcizante amaldiçoa um mal

momentâneo que motiva a

exaltação absurda que envolve os

habitantes.

“(...) mas não faltou povo à

festa [auto-de-fé] (...)”

Page 22: MC construção da passarola

Espaço social (cont.) As touradas são vistas como um

“(...) bom divertimento (...)”

apreciadas por toda a população

“Estão as bancadas e os terrados

formigando de povo(...)”

“Cheira a carne queimada, mas

é um cheiro que não ofende

estes narizes, habituados que

estão ao churrasco do auto-de-

fé, (...)”

Page 23: MC construção da passarola

Linguagem

“...provêm de um princípio básico segundo o qual todo o

dito se destina a ser ouvido. Quero com isso significar que é

como narrador oral que me vejo quando escrevo e que as

palavras são por mim escritas tanto para serem lidas como

para serem ouvidas. Ora, o narrador oral não usa

pontuação, fala como se estivesse a compor música e usa

os mesmos elementos que o músico: sons e pausas, altos e

baixos, uns, breves ou longas, outras” (SARAMAGO,

Cadernos de Lanzarote, 1997: 223).

Page 24: MC construção da passarola

Recursos estilísticos Ironia – “(...) que o faça D. João V, só lhe fica bem,(...)”

Perífrase – “(...) o clandestino encontro, o suave

contacto, a doce carícia, mesmo trazendo ela tantas

vezes consigo o inferno, abençoado seja.”

Metáfora – “A passarola (...) é agora uma torre em

ruínas (...)”

Comparação – “A passarola, que parecia um castelo a

levantar-se,(...)”

Anáfora – “Entrou o primeiro touro, entrou o segundo,

entrou o terceiro (...)”

Diminutivos - “(...) dão gritinhos (...)”

Page 25: MC construção da passarola

Recursos estilísticos (cont.)

Adjetivação – “(...) digam-no os cavalos, aliás bonitos e

luzidamente aparelhados, encabuzados de veludo

carmesim lavrado, com as mantas franjadas de prata

falsa (...)”

Hipálage – “(...) trombetas bastardas (...)”

Anástrofe – “Não era a perda grande, (...)”

Polissíndeto – “(...) e dizendo, (...) e o telhado, e então

ficarão (...) e onde abriu (...)”

Page 26: MC construção da passarola

Recursos estilísticos (cont.) Hipérbato – “Quanto à leveza do fardo, assim deveria ser

de cada vez, levarem consigo mulher e homem o que

têm, e cada um deles ao outro, para não terem de tornar

sobre os mesmo passos, é sempre tempo perdido, e

basta.”

“(...) eles beijaram-lhe a mão, mas no último momento

se abraçaram os três, teve mais força a amizade que o

respeito, e o padre disse, Adeus Blimunda, adeus

Baltasar, cuidem um do outro e da passarola, que eu

voltarei um dia com o que vou buscar, não será ouro

nem diamante, mas sim o ar que Deus respira (...) ”

Page 27: MC construção da passarola

Outros processos usados na escrita saramaguiana

Utilização predominante do presente

Mistura de discursos

Coexistência de segmentos narrativos e descritivos sem

delimitação clara

Presença constante de marcas de coloquialidade

Tom simultaneamente cómico, trágico e épico

Discurso construído pelo emprego de provérbios e ditados

populares: “Uma mão lava a outra, as duas lavam o

rosto, (...)” ; “(…)quem vai à guerra empadas

leva(…)”

Page 28: MC construção da passarola

O papel da passarola voadora na obra

Na obra, parece-nos que a passarola tem uma função

marcadamente simbólica.

De facto, não será por acaso que o que faz subir a passarola

são as vontades dos homens e das mulheres. Estas vontades

recolhidas por Blimunda poderão significar que as vontades

dos homens, unidas por uma mesma causa ou num mesmo

sonho, serão capazes de vencer a ignorância, o fanatismo, a

intolerância, libertando o homem, projetando-o para uma nova

idade, abrindo-lhe perspetivas de um mundo diferente.

Page 29: MC construção da passarola

Mas o simbolismo tem outra face. A busca das vontades

matará Blimunda depois de a ter feito sofrer cruelmente:

“Cansados da grande caminhada de tanto subir e descer

escadas, recolheram-se Baltasar e Blimunda à quinta,

sete mortiços sóis, sete pálidas luas, ela sofrendo uma

insuportável náusea, como se regressasse de um campo

de batalha (...)”

O papel da passarola voadora na obra (cont.)

Page 30: MC construção da passarola

A concretização do sonho dos três seres empenhados na

construção da passarola levará o Padre Lourenço à loucura e

Baltasar à morte. Quanto a Blimunda, ela sofrerá nove anos a

angústia de uma morte lenta, enquanto busca desesperada o

seu amor:

“Durante nove anos, Blimunda procurou Baltasar.

Conheceu todos os caminhos do pó e da lama, a branda

areia, a pedra aguda, tantas vezes a geada rangente e

assassina, dois nevões de que só saiu viva porque ainda

não queria morrer. Tisnou-se do sol como um ramo de

árvore retirado do lume antes de lhe chegar a hora das

cinzas, arregoou-se como um fruto estalado, foi

espantalho no meio de searas, aparição entre os

moradores das vilas, susto nos pequenos lugares e nos

casais perdidos”.

O papel da passarola voadora na obra (cont.)

Page 31: MC construção da passarola

Assim, a história da construção da passarola representa, no seu

conjunto, a força criadora que revoluciona o mundo, a

esperança de um mundo livre e diferente, mas também o

sofrimento que a sua conquista acarreta para quem se atreve a

lutar por ela.

O papel da passarola voadora na obra (cont.)

Page 32: MC construção da passarola

A mensagem que chega à atualidade

O mundo está cheio de exemplos extraordinários de pessoas

que com força de vontade têm conseguido ultrapassar

dificuldades, grandes obstáculos que parecem intransponíveis,

mas que, com persistência, acabam por ser superados. A

vontade está dentro de nós, no entanto, por vezes, ela separa-

se do homem. Conhecemos então essas pessoas fracas,

desinteressadas, sem vontade sequer para fazer o trivial, para

viver o quotidiano. No entanto, quando ela existe e não nos

abandona, é um bem precioso, “é a vontade dos homens que

segura as estrelas”.

Através dos tempos, o Homem tem conseguido realizar tarefas

grandiosas, mostrando a sua superioridade quando à vontade

alia a liberdade.

Page 33: MC construção da passarola

Outrora, pela magia e pelo divino explicava-se o que

era incompreensível; depois, a ciência veio dar resposta

a muitas dúvidas e ajudou o Homem a integrar-se

num mundo que, por vezes, lhe era hostil; o

desenvolvimento da técnica tornou o nosso mundo mais

claro, a nossa vida mais fácil. A arte que sempre existiu

reflecte um outro mundo, o mundo dos sentimentos, do que

está dentro de nós e se exterioriza de diversas formas.

A mensagem que chega à atualidade (cont.)

Page 34: MC construção da passarola

O próprio voo da passarola poderá representar o

poder que o homem tem quando é capaz de sonhar e

não desiste dos seus sonhos. Como a passarola, o

homem libertar-se-á das amarras que o prendem às

limitações do seu quotidiano, à mesquinhez do dia-a-

dia e, capaz de olhar o mundo com lucidez, tornar-se-

á mais livre, será cada vez mais senhor de si.

Em consonância, a ciência, o engenho, a magia e

a arte harmonizam-se para corporizarem o sonho e o

progresso.

A mensagem que chega à atualidade (cont.)