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A Reta Final das Eleições Norte-Americanas: Miniguia explicativo da vitória de Trump Apresentação: O jogo político norte-americano é praticamente composto por dois grandes partidos: o Democrata e o Republicano. A eleição presidencial neste país é um processo longo que dura ao menos 18 meses e é feita, principalmente, na base de comícios. Ela inicia com a escolha interna dos partidos, com eleições em cada estado da federação, chamadas de primárias, que votam nos delegados que apoiarão um dos candidatos em grandes convenções partidárias. Somente após este processo, começa o confronto entre os candidatos Democrata e Republicano pela presidência. A disputa chega à reta final a pouco mais de um mês da eleição com o início dos debates de televisão. Foi neste período final que as principais acusações envolvendo os candidatos vieram a tona, acirrando a disputa e dividindo os eleitores. Inicialmente, foi divulgado um vídeo antigo em que Trump se enaltece por ter facilidade de relacionamento com mulheres por ser famoso, ele foi apresentador de televisão de um reality show de talentos para negócios. Depois da divulgação, uma série de mulheres afirmaram terem sido abusadas por Trump, acusações que não foram comprovadas. O candidato também foi acusado durante toda a campanha de xenofobia, racismo e sexismo por causas de seus discursos politicamente incorretos dirigidos a uma parcela da população norte-americana interiorana que perdeu seus empregos por conta da globalização, valorizando suas identidades tradicionais. Esse discurso surtiu efeito, já que a vitória de Trump foi construída menos nas grandes cidades do que no interior. Por outro lado, Hillary foi exposta pela divulgação do WikiLeaks de mais de 30 mil e-mails de seu chefe de campanha, a princípio se afirmou que a Rússia teria hackeado tais e-mails (o presidente da Rússia Putin dizia que a vitória de Hillary poderia levar a um conflito militar entre os dois países), mas depois foi relatado que agentes do FBI descontentes com a falta de investigação sobre Hillary, por ter utilizado um servidor de dados particular quando era Secretária de Estado do governo Obama, vazaram os e- mails. Isso deve ter tido um peso no desgaste de sua campanha, talvez desmobilizando alguns de seus possíveis eleitores a não comparecem ao pleito. Sobre estes e-mails, por exemplo, foi divulgado que os governos da Arábia Saudita e do Catar teriam financiado o grupo terrorista ISIS e ao mesmo tempo financiado substancialmente a Fundação Clinton. Ainda mais, foi achado num computador de sua assistente pessoal cerca de 650 mil e-mails usados por Hillary quando era Secretária de Estado. Há duas semanas da eleição, o diretor do FBI informou ao congresso que abriria investigações sobre esses e-mails, mas surpreendentemente poucos dias depois disse que não encontrou indícios de crime. Sobre a reta final da eleição norte-americana, foram selecionados e traduzidos três textos principais. O primeiro discute os e-mails do chefe de campanha de Hillary divulgados pelo site WikiLeaks. O segundo faz uma análise do impacto na campanha eleitoral da abertura de investigação pelo FBI sobre Hillary. O terceiro faz uma análise do primeiro debate presidencial, momento em que a campanha começou a esquentar e demonstra a forma como a grande imprensa internacional retratou o candidato Trump, além de torcer pela vitória da democrata. 1) A jornalista da Globo, Gioconda Brasil, expôs no Twitter aquilo que foi o tom da grande mídia internacional sobre as eleições norte-americanas. Esse twitter teve grande impacto nas redes sociais brasileiras. Sobre a relação entre a grande mídia e Hillary, e-mails do chefe de campanha de Hillary, divulgados pelo WikiLeaks, demonstram que, para os debates presidenciais, as redes de televisão informavam antecipadamente à candidata democrata as perguntas que seriam feitas e pediam outras ao próprio partido Democrata.

Miniguia explicativo da vitória de Trump: a reta final das eleições norte-americanas

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A Reta Final das Eleições Norte-Americanas:Miniguia explicativo da vitória de Trump

Apresentação: O jogo político norte-americano é praticamente composto por dois grandes partidos: o Democrata e oRepublicano. A eleição presidencial neste país é um processo longo que dura ao menos 18 meses e é feita,principalmente, na base de comícios. Ela inicia com a escolha interna dos partidos, com eleições em cada estado dafederação, chamadas de primárias, que votam nos delegados que apoiarão um dos candidatos em grandes convençõespartidárias. Somente após este processo, começa o confronto entre os candidatos Democrata e Republicano pelapresidência. A disputa chega à reta final a pouco mais de um mês da eleição com o início dos debates de televisão. Foineste período final que as principais acusações envolvendo os candidatos vieram a tona, acirrando a disputa e dividindoos eleitores. Inicialmente, foi divulgado um vídeo antigo em que Trump se enaltece por ter facilidade de relacionamentocom mulheres por ser famoso, ele foi apresentador de televisão de um reality show de talentos para negócios. Depois dadivulgação, uma série de mulheres afirmaram terem sido abusadas por Trump, acusações que não foram comprovadas.O candidato também foi acusado durante toda a campanha de xenofobia, racismo e sexismo por causas de seusdiscursos politicamente incorretos dirigidos a uma parcela da população norte-americana interiorana que perdeu seusempregos por conta da globalização, valorizando suas identidades tradicionais. Esse discurso surtiu efeito, já que avitória de Trump foi construída menos nas grandes cidades do que no interior. Por outro lado, Hillary foi exposta peladivulgação do WikiLeaks de mais de 30 mil e-mails de seu chefe de campanha, a princípio se afirmou que a Rússia teriahackeado tais e-mails (o presidente da Rússia Putin dizia que a vitória de Hillary poderia levar a um conflito militarentre os dois países), mas depois foi relatado que agentes do FBI descontentes com a falta de investigação sobre Hillary,por ter utilizado um servidor de dados particular quando era Secretária de Estado do governo Obama, vazaram os e-mails. Isso deve ter tido um peso no desgaste de sua campanha, talvez desmobilizando alguns de seus possíveis eleitoresa não comparecem ao pleito. Sobre estes e-mails, por exemplo, foi divulgado que os governos da Arábia Saudita e doCatar teriam financiado o grupo terrorista ISIS e ao mesmo tempo financiado substancialmente a Fundação Clinton.Ainda mais, foi achado num computador de sua assistente pessoal cerca de 650 mil e-mails usados por Hillary quandoera Secretária de Estado. Há duas semanas da eleição, o diretor do FBI informou ao congresso que abriria investigaçõessobre esses e-mails, mas surpreendentemente poucos dias depois disse que não encontrou indícios de crime. Sobre a retafinal da eleição norte-americana, foram selecionados e traduzidos três textos principais. O primeiro discute os e-mailsdo chefe de campanha de Hillary divulgados pelo site WikiLeaks. O segundo faz uma análise do impacto na campanhaeleitoral da abertura de investigação pelo FBI sobre Hillary. O terceiro faz uma análise do primeiro debate presidencial,momento em que a campanha começou a esquentar e demonstra a forma como a grande imprensa internacional retratouo candidato Trump, além de torcer pela vitória da democrata.

1) A jornalista da Globo, Gioconda Brasil, expôs no Twitter aquilo que foi o tom da grande mídiainternacional sobre as eleições norte-americanas. Esse twitter teve grande impacto nas redes sociaisbrasileiras. Sobre a relação entre a grande mídia e Hillary, e-mails do chefe de campanha de Hillary,divulgados pelo WikiLeaks, demonstram que, para os debates presidenciais, as redes de televisãoinformavam antecipadamente à candidata democrata as perguntas que seriam feitas e pediam outrasao próprio partido Democrata.

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2) Trump em sua campanha afirmou que terminaria com o establishment que controlariaWashington. Essa impressão de que haveria uma elite que se beneficia de suas relações com ogoverno pode estar presente na realidade social norte-americana, principalmente naqueles que nãose identificam com as minorias e com as políticas de seguridade social. Por não pertencer aosquadros políticos tradicionais, Trump pôde mobilizar esse imaginário em sua campanha, além de seapresentar como um empresário bem-sucedido, uma encarnação do “sonho americano” que pareceestar bloqueado desde a crise econômica de 2008. Neste artigo do jornal inglês The Guardian,algumas relações entre a elite norte-americana e o governo federal são apresentadas.

Esqueça os arquivos do FBI; os e-mails de Podesta mostram como os EUA funcionam

A publicação de mensagens pelo WikiLeaks do chefe de campanha de Hillary Clinton oferece umavisão sem precedentes do funcionamento da elite, e como ela se protege a si mesma

Thomas Frank para The Guardian - 31 de outubro de 2016Tradução de Rodrigo Belinaso Guimarães

Os atuais e-mails que desestabilizam a campanha presidencial norte-americana fazem parte de umacoleção digital, até então desconhecida, acumulada pelo problemático Anthony Weiner (ex-deputadodemocrata). Porém, se o seu propósito é entender a panelinha que hoje domina Washington, os e-mails querealmente importam são aqueles que estão sendo lançados gradualmente pelo WikiLeaks de uma contahackeada de John Podesta, o chefe de campanha de Hillary Clinton. Este é o escândalo da última hora em umano carregado de escândalos, mas, na verdade, o significado destes e-mails está além do mero escândalo: elessão uma janela para a alma do Partido Democrata e para os sonhos e pensamentos da classe que beneficia.

A classe a qual me refiro não está fazendo protestos furiosos; ela está muito satisfeita, bastantecontente. Ninguém viaja até a exótica West Virginia para ver como são os membros dessa classe ou comoeles vivem; pelo contrário, eles são aqueles para os quais tais histórias são escritas. Este grupo não precisa secontentar com um líder charlatão, galã de TV; para esta classe, as escolhas são sempre muito boas, e este anoelas parecem terem sido excelentes.

Eles são o confortável e bem-educado alicerce do nosso Partido Democrata moderno. Eles sãotambém os figurões da nossa mídia nacional; os arquitetos de nossos softwares; os designers de nossas ruas;os altos funcionários de nosso sistema financeiro; os promotores de quase todos os planos de ajustes daseguridade social ou das políticas para com o Oriente Médio. Eles são, imaginam, não uma classe, mas, aocontrário, os iluminados, aqueles que devem ser atendidos sem que nunca precisem se explicar a si mesmos.

Para variar, vamos observá-los com uma lupa, através de uma seleção dos e-mails pessoaishackeados de John Podesta, que tem sido por décadas bastante influente em Washington. Eu admito que mesinto pouco confortável remexendo nestes arquivos; roubar e-mails de alguém é crime, além de tudo, éescandaloso que informações pessoais sejam expostas. De qualquer forma, o WikiLeaks parece não tereliminado os e-mails. É preciso também resolver a questão da autenticidade: não há como sabermos nemtemos certeza se estes e-mails não foram adulterados por quem os roubou de John Podesta. O suposto autordas mensagens está se recusando a confirmar ou negar a veracidade deles, e embora eles pareçam reais, háuma pequena possibilidade deles são serem.

Levando tudo isso em consideração, eu penso que a divulgação do WikiLeaks nos oferece umaoportunidade de observar a camada mais alta da hierarquia de status norte-americana, com todas as suasvirtudes e ostentações. Neste incrível conjunto de dados estão presentes os dramas pessoais da classe liberal:inovadores das finanças; colegas muito ambiciosos tentando conseguir empregos para suas crianças muitoambiciosas; executivos de fundações fazendo coisas boas e nobres; prêmios, é claro; e altas promoçõesacadêmicas. Neles, certos empresários emergem grandes e virtuosos. Claro que os discursos bajuladores paraWall Street de Hillary são bem conhecidos, mas o que é notável é que, no partido de Jackson, Bryan eRoosevelt, financistas sorridentes parecem estar em cada esquina, proferindo sem parar conselhos sobre istoou aquilo. Em uma das sequências de e-mails famosos do momento, por exemplo, o leitor pode observar oatual secretário de comércio exterior norte-americano, Michael Froman, escrevendo de uma conta de e-maildo Citibank em 2008, atuando na composição do ministério do Presidente Obama mesmo antes da grandeeleição da esperança e da mudança estar decidida (incidentalmente, uma importante pista para entenderporque o maior dos bancos zumbis nunca ter sido devassado).

Os inovadores clarividentes do Vale do Silício também estão fortemente presentes aqui, interagindo

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a todo o momento com os líderes do partido do povo. Nós observamos como Podesta atua em um e-mail paraSheryl Sandberg. Ele faz planos de visitar Mark Zuckerberg (que, de acordo com uma carta, quer “aprendermais sobre os próximos passos de sua filantropia e de sua ação social”). Podesta troca e-mails com umempresário sobre a desagradável campanha que acontecia pela vaga no Congresso do Vale do Silício; estehomem, em resposta, repassa para Podesta os comentários de outro figurão do Vale do Silício, que reclamaque um dos postulantes Democratas naquela disputa estava criticando bilionários que doam aos Democratas.Especificamente, o patife Democrata em questão estava: “… expondo (e atacando) doadores que tinhamapoiado Democratas. John Arnold e Marc Leder tinham ambos financiado Cory Booker, Joe Kennedy, eoutros. Ele está também atacado todos os bilionários que doaram para Ro [Khanna] [candidato aocongresso], muitos que apoiam outros democratas também.” Atacando bilionários! No ano de 2015! Alémdisso, um outro integrante da conversa escreve que, “loucura e má prática política do partido permitem queisto aconteça”.

Há coisas maravilhosas para serem descobertas neste tesouro quando você pesquisa as palavras-chave “Davos” ou “Tahoe”. Porém, é quando você pesquisa “Vineyard” no arquivo do WikiLeaks que vocêpercebe que estas pessoas verdadeiramente habitam em um mundo diferente do resto de nós. Por “Vineyard”,é óbvio, eles se referem a Martha's Vineyard, a ilha com o elegante resort de férias na costa de Massachusettsonde os presidentes Clinton e Obama passam a maior parte de suas férias de verão. O Vineyard é um lugarpara os muito, muito ricos relaxarem, sim, mas como nós aprendemos nestes e-mails, é também um lugar dealto idealismo; uma terra para os esclarecidos e empenhados liberais que estão muito além do que qualquercidadão comum pode pensar em alcançar.

Considere, por exemplo, o e-mail de 2015 de um executivo para um banqueiro do setor de hipotecasaposentado (que remeteu a conversa para Podesta, e então para a história) no qual expressava a preocupaçãode que “a imagem de Hillary está sendo desvirtuada na mídia e não há esforço suficiente para a coisa voltaraos trilhos”. O público bisbilhota ainda outro financista convidando Podesta para um jantar que servirá“comida produzida exclusivamente por fazendeiros e pescadores da ilha que será acompanhada de vinhosespecialmente selecionados”. Nós aprendemos que um assistente de campanha de Hillary recomendou umadeclaração política em um certo dia para que “esteja em sintonia com as outras notícias que nós estamosproduzindo – assim, antecipando os eventos de arrecadação de Hamptons e Vineyard”. Nós até mesmo lemosas súplicas de um homem que quer ser convidado para um jantar oficial na Casa Branca e que apresenta,como uma das muitas justificativas a seu favor, o fato dele ter “participado da DSCC Majority Trust emMartha's Vineyard (contribuindo com mais de 32 mil dólares para os senadores democratas) em julho de2014.” (De forma hilária, em outra corrente de e-mails, a equipe dos Clinton combina em “bater” em BernieSanders por ter comparecido ao “DSCC retreats em Martha's Vineyard com lobistas.”)

Além de tudo, há um aparente nepotismo, dúzias senão centenas de e-mails mundanos em quepeticionários por este ou aquele bom emprego em Washington ou a indicação para um alto cargo acadêmicoapelam educadamente para Podesta – o faz tudo da elite meritocrática – através de uma palavra solícitasussurrada no ouvido de um camarada poderoso. Este tipo de e-mail para Podesta, em que pessoas tentamarranjar empregos para eles mesmos ou para seus afiliados, indica-nos a característica mais fundamental quejá sabíamos sobre as pessoas no topo desta classe: a lealdade entre eles e o modo como passam por cima detudo o mais. Claro que Hillary Clinton vai preencher seu governo com banqueiros que fizeram discursos secomprometendo com bancos de investimento tal como ela tinha feito no Departamento de Estado. É óbvioque ela pensa que qualquer tipo de reforma bancária deveria “partir do próprio setor”. E é claro que ninguémda elite financeira foi acusado pela administração Obama. Leia estes e-mails e você vai entender, com umsimples toque, que as pessoas no topo desta camada da vida norte-americana conhecem uns aos outros. Elesestão todos engajados em promover as carreiras de uns aos outros, constantemente.

Neste mundo, tudo é uma névoa que penetra em todas as outras coisas: o Departamento de Estado,os bancos, o Vale do Silício, as organizações sem fins lucrativos, o “Global CEO Advisory Firm” que pareceter solicitado fundos para a Fundação Clinton. Executivos aqui vão para fundações, depois para o governo,depois para grupos de lobby, depois para startups. Há honra. Capital de risco. Subsídios. Cátedras. Títulos.Para eles as portas estão sempre abertas. Aos amigos tudo se consegue. Eles rompem qualquer barreira.Porém “Uma Grande Fronteira” permanece. Sim, tudo isto era para ser uma meritocracia. Mas se você não éparte desta feliz, próspera panelinha – se você não tem o endereço de e-mail de Podesta – você está fora.

3) A maior denúncia que Julian Assange, o fundador do WikiLeaks, fez contra Hillary foi terencontrado nos e-mails de Podesta o caso de que logo após ter saído da Secretaria de Estado,Hillary envia um e-mail a Podesta demonstrando saber que os governos da Arábia Saudita e doCatar financiavam o Estado Islâmico. Numa entrevista, Assange comenta tal fato:

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<https://www.youtube.com/watch?v=8QJLPCvVFng>. Ele também afirma que estes paísesfinanciavam as ações da Fundação Clinton, quando Hillary era secretária de Estado. Neste período,foram aprovadas vendas significativas de armas à Arábia Saudita. Isso tudo, deixou no ar aconclusão de que se eleita, a candidata não combateria o ISIS, nem o terrorismo como deveria.Abaixo temos uma charge que explorou para o público norte-americana estas alegações:

4) O caso da descoberta recente de centenas de milhares de e-mails arquivados num computadorpessoal da assessora especial de Hillary, mensagens da época em que era Secretária de Estado,acendeu uma forte contestação entre agentes do FBI que queriam que seu diretor abrisseinvestigações sobre o caso. O fato é grave, Hillary usava um servidor comum para tratar de temasde Estado quando Secretária de Estado e não os servidores altamente protegidos do governo. Issopermitiu o acesso a esse conjunto de e-mails por sua assessora que é esposa de um ex-congressistado Partido Democrata. A questão que pairou na reta final de campanha era sobre o uso de taisinformações, algumas confidenciais. Hillary já havia mentido ao povo norte-americano afirmandoque não teria sido ataque terrorista o que tinha acontecido em Benghazi na Líbia em 2012, quandonum e-mail afirmava já saber que a Al-Qaeda tinha atacado a embaixada. A abertura da investigaçãopelo FBI a duas semanas da eleição produziu forte desconforto entre os Democratas e ajudou nodesgaste de Hillary, leia abaixo uma análise sobre estes fatos:

O Pânico Democrata

A reabertura das investigações criminais sobre os delitos de Hillary – e como isto poderá afetar aeleição

Matthew Vadum para FrontPage Magazine 01/11/2016Tradução de Rodrigo Belinaso Guimarães

A uma semana da eleição, os Democratas estão em modo de pânico, tentando reverter o anúncio darecente descoberta do FBI de um estoque de cerca de 650 mil e-mails potencialmente controversos eaparentemente relacionados à catastrófica posse de Hillary como Secretária de Estado norte-americano. Ocomentador político dos Democratas, James Carville, está disparando teorias da conspiração: “Eu penso queisto é ultrajante e eu acho que o fato da KGB estar envolvida nesta eleição é um ultraje e eu acredito que opovo norte-americano deveria resgatar sua democracia de volta, independentemente do que a imprensa querfazer e das desculpas que eles querem dar para Comey [James Comey é o diretor do FBI]. Isto é o que eupenso.” Ele acrescentou: “Isto é, acima de tudo, uma tentativa de sequestrar uma eleição. Isto deveria serchamado pelo que é.” Em julho passado (2016), Comey era elogiado a todo momento pelos Democratas porsua sabedoria em optar por não perseguir Clinton. Há provas de que autoridades federais tentaram atrapalhar

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várias investigações sobre Hillary e sobre a corrupta Fundação Clinton, que funciona como um centro deprocessamento de subornos para aquela que quer ser presidente. Porém, os Democratas têm repentinamentetrocado de posição, denunciando Comey como um inimigo da república, agora que ele abriu umainvestigação sobre a recente descoberta de e-mails.

Carville, conhecido há bastante tempo como “Ragin' Cajun,” está furioso porque ele acha que estese-mails podem mudar a dinâmica das eleições. O velho colaborador dos Clinton pode ter razão.Investigadores encontraram 650 mil e-mails em um notebook que, acreditam, era usado na residência dodesonrado ex-deputado Anthony Weiner e sua mulher, Huma Abedin, que é assistente especial de Hillary hátempos. O computador é, conforme se afirma, o mesmo equipamento usado pelo pervertido Weiner quecostumava enviar mensagens sexuais para uma garota menor de idade. “Dados do computador sugerem quemilhares daquelas mensagens poderiam ter sido enviadas para ou do servidor privado que Hillary Clintonusava enquanto ela era Secretária de Estado, conforme pessoas envolvidas no caso”, relata o Wall StreetJournal. Algumas das informações enviadas por e-mail podem ser confidenciais. Abedin, que tem laços deparentesco com a Irmandade Muçulmana, como se afirma, enviou informações delicadas do governo parasua conta de e-mail pessoal do Yahoo e pode tê-los acessado em seu notebook doméstico.

Recebendo objeções da Advogada-Geral da União, Loretta Lynch, Comey notificou o Congressosobre os e-mails, anteriormente desconhecidos, neste estágio avançado do ciclo eleitoral, isto porque, depoisde deixar Hillary sossegada por todo o verão (junho a setembro de 2016) ele estava às voltas com uma forterevolta dos servidores do FBI, cuja maioria não é formada por inescrupulosos medicantes do poder. Lynchestá dando tudo de si para fazer com que a investigação no Departamento de Justiça não vá a lugar nenhum.O assistente da advocacia geral para assuntos legislativos, Peter J. Kadzik, a quem Zero Hedge chama de “omelhor amigo de Podesta,” o chefe de campanha de Hillary e ex-ministro da casa civil na administração BillClinton, está conduzindo a investigação dos e-mails. Assim, a pizza está no forno. Em todo caso, aperspectiva de restaurar sua imagem pessoal pode ter levado Comey a agir. As pessoas estavam furiosas comComey porque ele assumiu um modo covarde de lidar com as investigações sobre os e-mails e era vistocomo que auxiliando os Clinton e o governo de Obama em seus esforços de esconderem os delitos.

Em 05 de junho de 2016, Comey anunciou que apesar da massiva quantidade de provasincriminatórias acumuladas contra Hillary, ele não recomendaria o prosseguimento das acusações contra aex-Secretária de Estado por ela utilizar servidores de e-mails privados para conduzir negócios oficiais quepodiam ser facilmente hackeados. Clinton e suas assistentes foram “extremamente descuidadas” em lidarcom documentos sigilosos, mas não havia evidência de intenção criminal, ele disse, mesmo que aimportância conferida a atos contrários à segurança nacional não necessite de intenções pra ser investigados.No dia seguinte, a advogada-geral Lynch confirmou que não havia acusações contra Hillary. Lynch, comotodo mundo sabe agora, teve um encontro escondido com o ex-presidente Bill Clinton no aeroporto dePhoenix uma semana antes, no qual alguma barganha corrupta teria sido supostamente feita.

A rebelião interna na agência de investigação foi séria o suficiente para Comey perceber que tinhaque agir imediatamente. “Eu tenho algumas fontes no FBI além do ex-promotor público,” disse ocomentarista político Larry Kudlow no programa “Meet the Press” na NBC. “O FBI está em completarevolta neste momento. O FBI esteve em estado permanente de revolta desde as decisões feitas no últimoverão (2016).” “Desde que Hillary tentou encobrir o caso,” o apresentador Chuck Todd corrigiu Kudlow.“Não é bem uma revolta completa,” ele disse. “Há muita revolta. O que quero dizer é que há agentes, nãovamos dizer uma revolta completa.” “Certo, uma quase revolta completa,” disse Kudlow. “Porque o que euobservo é que Comey não teria dito o que disse ao congresso e ao resto do mundo, se não tivesse vazado.Aquilo tudo estava pronto para ser vazado, aquela fonte que eles tinham recém-descoberto com Weiner eAbedin. Então, eu acho que Comey não teve muitas opções. E eu imagino que o FBI está bem dividido.”

Nos últimos dias, a onda de más notícias para Hillary Clinton tinha se transformado em uma terrívelinundação (outubro de 2016). Clinton tem sido diretamente implicada em uma má intencionada edissimulada operação contra a campanha de Donald Trump. Destacados agentes Democratas, RobertCreamer e Scott Foval, foram pegos em um vídeo caseiro descrevendo uma complexa conspiração criminal,envolvendo o uso de violência política orientada contra oponentes. O eufemismo adotado foi “engajamentoconflituoso” que significa pagar agitadores esquerdistas, sem-teto ou doentes mentais para causaremtumultos nos comícios de Trump. Fomentar a violência e atacar fisicamente os oponentes foram o que ofascista Terceiro Reich fez, usando a Sturmabteilung ou S.A., também chamados de camisas marrons.

O especialista em eleições e antigo consultor de campanhas Democratas, Doug Schoen, uma figurafamiliar no canal Fox News, anunciou que ele não poderia mais em sã consciência apoiar a candidatura deClinton. “Eu estou profundamente preocupado porque nós teremos uma crise constitucional se ela for eleita,”ele disse no domingo (30/10/2016). “Se a Secretária de Estado vencer, nós teremos uma presidente sob

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investigação criminal, com sua [assistente principal] Huma Abedin sob investigação criminal.”O Republicano Donald Trump está reduzindo a distância em pesquisas eleitorais com prováveis

eleitores. A taxa de rejeição de Clinton em pesquisas excede agora a de Trump. Ela tem 60%, enquanto eletem 58%. O ex-prefeito de New York e destacado apoiador de Trump, Rudy Giuliani, disse nesse fim desemana (final de outubro de 2016) que há provas suficientes que vieram a tona do WikiLeaks e do FBI paraindiciar Clinton por extorsão. Bill Clinton “negociou, eles colocaram o dinheiro no bolso, ela realizou osfavores no governo,” disse Giuliani, um ex-procurador federal. “Isto está tudo interligado. Por que elesdestruíram 33 mil e-mails? Porque eles mostram a ligação.”

O influente jornalista liberal Ron Fournier jogou Hillary aos leões. Hillary Clinton se beneficiou deum “serviço secreto” para proteger o que o Washington Post chamou de “círculo do enriquecimento,” eledisse. Se Hillary Clinton ganhar na próxima semana (08/11/2016), os meios de comunicação em todo osEUA terão que contratar mais jornalistas investigativos para lidar com a exposição da corrupção que virápela frente.

5) No texto abaixo, observamos um exemplo de como a grande mídia internacional qualificou ocandidato Republicano, comparando-o aos piores personagens presentes no imaginário popular,inclusive com Hitler. O fenômeno é que Trump conseguiu fazer uma campanha que denunciou aosseus eleitores a forma como era exposto pela imprensa, através de uma corrida eleitoral repleta decomícios. Circulou nas redes sociais um vídeo em que Trump pede às câmeras de televisão que nãofoquem apenas nele, mas na multidão que ouvia seus discursos, sem a presença de celebridades doshow business. Trump chamava sua campanha de “movimento” devido às grandes massas quemobilizava em seus comícios e que eram ignoradas pela grande imprensa. O artigo faz uma análisedo primeiro debate presidencial e como nos outros dois, a grande imprensa cravou a vitória daDemocrata. Nele aparecem vários dos pontos nos quais Trump foi criticado durante a campanha enenhuma das fragilidades reais de Hillary. Ao fim desse debate, surgiram rumores de que o PartidoRepublicano queria substituir Trump por seu vice, Pence, mas os boatos não surtiram efeito. Oponto positivo do artigo está na caracterização dos eleitores de Trump que se mobilizaram paravotar: a população norte-americana há mais tempo estabelecida no país e que sofreu maisfortemente os efeitos da globalização e da crise financeira de 2008.

Sem Final Feliz

Hillary Clinton provoca Donald Trump que se precipita, mas os EUA permanecem divididos

The Economist – 1/10/2016Tradução de Rodrigo Belinaso Guimarães

“Nós vivemos em um mundo que tem muros. E estes muros precisam ser vigiados por homensarmados,” rosnou o demoníaco Colonel Jessep no final do filme “A Few Good Men”. No momento seguinte,ele admite que para manter a união de sua linha de frente, ele ordenou os maus-tratos fatais de um jovemfuzileiro naval: “Você está certo, eu fiz.” Esta é uma das melhores cenas de confissão do cinema, einesperadamente veio à mente durante o primeiro debate presidencial na Universidade de Hofstra em LongIsland, em 26 de setembro de 2016.

Repetidamente, Donald Trump mordeu as iscas de Hillary Clinton em explosões de franqueza talcomo Jessep. Rememorado que em 2006 ele tinha desejado em alto e bom som a quebra imobiliária quecustaria a milhões as suas casas, concebendo a crise econômica como uma oportunidade para “fazerdinheiro”, Trump inclinou-se ao microfone e resmungou: “a propósito, isto é chamado de negócios.” Outrafranqueza exemplar disse respeito a recusa de Trump em apresentar seu imposto de renda. Talvez, pensouHillary, meu rival não quer que os norte-americanos saibam que ele não é tão rico quanto quer ser, ou que naúnica renda anual que tornou pública (enquanto procurava por uma licença para um cassino), ele não pagou oimposto de renda federal. “Aquilo me faz esperto,” esbravejou Trump.

Como fica a reputação de Trump após se recursar a pagar tudo o que devia a prestadores de serviçosque instalaram mármore em seus hotéis, ou desenharam seu último campo de golfe? Hillary queria saber.Pois, ela falou ao seu oponente, um arquiteto a quem Trump não havia pago estava na plateia do debate estanoite. Trump zombou: “Talvez ele não tenha feito um bom serviço.” Ele foi desafiador quando o moderador,

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Lester Holt, do canal de TV NBC, perguntou o que ele diria para um norte-americano não branco depois deanos promovendo acusações raciais sob uma teoria da conspiração na qual o Presidente Barack Obama nãoera norte-americano. “Eu não tenho nada a dizer,” retrucou Trump, em vez de auto elogiar-se por forçarObama a apresentar sua certidão de nascimento em 2011.

A primeira vista, a explicação seria a de que Trump tem pouco jogo de cintura para ajudar a simesmo. O certo é que Hillary provocou seu oponente magistralmente. Ela o apresentou como uma criançaque nasceu em berço de ouro, financiado com milhões do império de seu pai (o qual foi processado pordiscriminação racial, ela acrescentou). Isto funcionou até certo ponto. Um atordoado Trump usou o tempo dodebate para queixar-se da generosidade de seu pai - “me emprestou muito pouco”. Em uma emboscada quefoi até manchetes de jornais dias depois, Hillary o relembrou de seus insultos para uma mulher num concursode beleza no qual foi jurado. Ele zombou de uma candidata chamando-a de “miss porca” e, supostamente porela ser latina, de “Miss Dona de Casa”.

O mau gosto de Trump foi o que mais ajudou Hillary, porque ela não fez o melhor uso de seupróprio tempo de fala, por muitas vezes ela recitou promessas como se as tivesse ensaiando em seu comitê.Em parte, ela se enrolou por causa de suas claras vulnerabilidades políticas. Trump foi efetivo (mesmo queequivocado em sua análise econômica) quando ele atacou Hillary de forma dura, por ter apoiado o acordocomercial do NAFTA com o México e o Canadá nos anos 1990, e por inicialmente endossar um grandeesforço pelo Acordo Transpacífico (TPP) de abertura comercial com países do pacífico asiático. Trumpacusou Hillary de se voltar contra o TPP depois de ouvi-lo criticar o acordo. A triste realidade, para osadvogados do livre mercado, é que Hillary não apenas ficou amedrontada pelos comícios de Trump nocinturão dos Estados indecisos. Ela também se assustou com a ala de seu próprio partido contrária ao TPP,capitaneada pelo velho esquerdista que fez das primárias presidenciais dos Democratas uma corrida acirrada,o senador Bernie Sanders de Vermont.

Porém, há uma explicação mais profunda para a disposição de Trump em admitir que esquiva-se deimpostos e de que passa para trás fornecedores. Embora falte ao homem de negócios as medalhas e aelasticidade psicológica do personagem ficcional Colonel Jessep (representado por Jack Nicholson), ambosconfessam um orgulho desafiador, que não se envergonha. Ambos valorizam seus códigos pessoais dehipermasculinidade, além do autoritarismo sobre as queixas de calmos e desesperados críticos. E ambosadoram muros. “Seus desgraçados. Vocês não têm ideia de como defender uma nação,” dispara ColonelJessep ao atormentado grupo de advogados militares, urbanos e altamente educados. Mais importante,muitos dos apoiadores de Trump aplaudiriam aquele sentimento. Isto é uma razão porque eles perdoam seucandidato, embora eles dificilmente amem todos os homens ricos que evitam impostos, ou trapaceiam compequenos fornecedores.

O que faz alguém ser honesto?

O primeiro debate presidencial expôs, com infeliz claridade, o quanto os candidatos estão falandopara diferentes norte-americanos. As campanhas de Trump e Hillary não apenas discordam sobre impostosou políticas de saúde. Seus mundos dificilmente coincidem. Entre homens brancos sem curso superior,Trump lidera na proporção de 4 para 1, enquanto ela lidera entre não brancos na proporção de 3 para 1. Entremulheres com ensino superior (normalmente um grupo que varia seu voto a cada eleição), Hillary tem umavantagem de 2 para 1. De modo extremo, estas campanhas descrevem dois sistemas de valores. Para Trump eseus apoiadores, políticos como Hillary permitiram que empregos fossem roubados, deixaram que imigranteshomicidas e terroristas jorrassem por fronteiras expostas, e consumiram sangue norte-americano e fortunasem tentativas ingênuas de construírem nações em terras distantes de um mundo mal-agradecido. E por falharem dar segurança aos EUA, tais egoístas e decaídas elites perderam o direito de serem levadas a sério emqualquer assunto em debate. Do outro lado, ao ressaltar o caso em que Trump é culpado de racismo esexismo, Hillary está apelando para fatias do eleitorado que ela necessita ao seu lado – eleitores negros,hispânicos, jovens e brancos graduados – cujos códigos morais dizem que um fanático não arrependido édificilmente uma boa pessoa.

Colonel Jessep encontra um destino adequado, enfurecido enquanto é conduzido pela implacávelpolícia militar. Isto acontece porque diante do tribunal as leis superam os códigos de honra pessoal. Nenhumconsenso existe entre os eleitores norte-americanos sobre as qualidades de um líder. Quem ganhar a eleiçãode 2016 deixará metade do país numa profunda tristeza. Este é um drama que não possui final feliz.

6) Na minha avaliação, a explicação principal para a eleição de Trump está na saturação que partedo eleitorado sente em relação à política convencional e às explicações da grade mídia para a

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solução de seus problemas. Há sinais de que esse público se volta para discursos com valores maistradicionais e que não apelam ao multiculturalismo e para as divisões sociais criadas por este. Asegurança econômica através do trabalho e não da cobertura estatal joga um papel fundamental.Trump encampou os valores de que pelo trabalho industrial, pela ampla liberação de armas e pelavirilidade os norte-americanos poderão combater seus inimigos: a globalização, os terroristas e oaumento da criminalidade. Por tudo isso Trump venceu as eleições. A charge abaixo sintetiza opapel de Trump desempenhado neste pleito: daquele que vai sanear o sistema político e econômicodo país.