75
EAC Editor ISBN 978-85-919549-9-5 EAC Editor “O presente trabalho trata de questões relacionadas aos direitos da pessoa com deficiência em Rio Branco, principalmente o portador da Síndrome de Down. Procuramos dar ênfase na história da APAE e no importante papel que ela exerce na inclusão dessas pessoas no mercado de trabalho de Rio Branco. O livro está dividido em três capítulos, a saber: 1) APAE no Brasil; 2) APAE no Acre; 3) A APAE e a inclusão das pessoas com deficiências no mercado de trabalho rio-branquense”. AS AUTORAS E A INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS NO MERCADO DE TRABALHO EM RIO BRANCO (ACRE) ADRIANA ALVES DE LIMA É professora efetiva de Língua Portuguesa e respectivas literaturas na rede pública de ensino da educação básica do estado do Acre, na Escola Edilson Façanha em Rio Branco, atua nos 6º e 7º anos do ensino fundamental II, professora de Língua Espanhola no Colégio Vitória - Rede Pitágoras. Mestranda em Letras pela Universidade Federal de Rondônia - UNIR (2015); Especialista em Educação Especial Inclusiva pela Faculdade Acriana Euclides da Cunha - UNEP (2014). Graduada em Letras Português e respectivas literaturas, pela Universidade Federal do Acre (2012). Bolsista Top Espanha (2012). Atualmente desenvolve a pesquisa intitulada “Artigo de opinião: o gênero, a sequência didática e a produção textual em Feijó" que tem por objetivo analisar as sequências didáticas, realizadas com base em gêneros textuais artigo de opinião na Escola de Ensino Médio José Gurgel Rabello, no município de Feijó, no estado do Acre, no ano de 2014. Orientadora Prof. Dra.Rosa Maria Aparecida Nechi Verceze. Tem experiência na área de Letras com ênfase em Teoria Literária, atuando principalmente nos seguintes temas: cidade, modernidade, belle époque, cidade, chá, salão, sociedade, modernidade, representação feminina, flâneur; representação feminina, rua e poesia romântica. Adriana Alves de Lima Maria Zenaide da Silva Lima MARIA ZENAIDE DA SILVA LIMA É professora temporária de Filosofia na rede pública de ensino da educação básica do estado do Acre, na Escola Alcimar Nunes Leitão em Rio Branco, atua nos 1º, 2º e 3º anos do ensino médio. Graduada em Bacharelado em História pela Universidade Federal do Acre (2010). Graduada em Filosofia pela Universidade Federal do Acre (2015). (ASSOCIAÇÃO DE PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS)

Miolo livro apae (oficial)

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EAC Editor

ISBN

978-85-919549-9-5

EAC Editor

“O presente trabalho trata de questões relacionadas aos direitos da pessoa com deficiência em Rio Branco, principalmente o portador da Síndrome de Down. Procuramos dar ênfase na história da APAE e no importante papel que ela exerce na inclusão dessas pessoas no mercado de trabalho de Rio Branco. O livro está dividido em três capítulos, a saber: 1) APAE no Brasil; 2) APAE no Acre; 3) A APAE e a inclusão das pessoas com deficiências no mercado de trabalho rio-branquense”.

AS AUTORAS

E A INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS NO

MERCADO DE TRABALHO EM RIO BRANCO (ACRE)

ADRIANA ALVES DE LIMA

É professora efetiva de Língua Portuguesa

e respectivas literaturas na rede pública de

ensino da educação básica do estado do

Acre, na Escola Edilson Façanha em Rio

Branco, atua nos 6º e 7º anos do ensino

fundamental II, professora de Língua

Espanhola no Colégio Vitória - Rede

Pitágoras. Mestranda em Letras pela

Universidade Federal de Rondônia -

UNIR (2015); Especialista em Educação

Especial Inclusiva pela Faculdade Acriana

Euclides da Cunha - UNEP (2014).

Graduada em Letras Português e

respectivas literaturas, pela Universidade

Federal do Acre (2012). Bolsista Top

Espanha (2012). Atualmente desenvolve a

pesquisa intitulada “Artigo de opinião: o

gênero, a sequência didática e a produção

textual em Feijó" que tem por objetivo

analisar as sequências didáticas, realizadas

com base em gêneros textuais artigo de

opinião na Escola de Ensino Médio José

Gurgel Rabello, no município de Feijó, no

estado do Acre, no ano de 2014.

Orientadora Prof. Dra.Rosa Maria

Aparecida Nechi Verceze. Tem

experiência na área de Letras com ênfase

em Teoria Literária, atuando

principalmente nos seguintes temas:

cidade, modernidade, belle époque, cidade,

chá, salão, sociedade, modernidade,

representação feminina, flâneur;

representação feminina, rua e poesia

romântica.

Adriana Alves de Lima

Maria Zenaide da Silva Lima

MARIA ZENAIDE DA SILVA LIMA

É professora

temporária de Filosofia

na rede pública de

ensino da educação

básica do estado do

Acre, na Escola

Alcimar Nunes Leitão

em Rio Branco, atua

nos 1º, 2º e 3º anos do

ensino médio.

Graduada em

Bacharelado em

História pela

Universidade Federal

do Acre (2010).

Graduada em Filosofia

pela Universidade

Federal do Acre (2015).

(ASSOCIAÇÃO DE PAIS E AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS)

Page 2: Miolo livro  apae (oficial)

Adriana Alves de Lima Zenaide da Silva Lima

APAE (ASSOCIAÇÃO DE PAIS E

AMIGOS DOS EXCEPCIONAIS)

E A INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO

MERCADO DE TRABALHO EM RIO BRANCO (ACRE)

EAC Editor

Page 3: Miolo livro  apae (oficial)

L732a

Todos os direitos desta edição pertencem a Adriana Alves de Lima e a Zenaide da Silva Lima. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida

por qualquer meio ou forma sem a autorização prévia do autor pelo e-mail [email protected].

Editor Geral

Eduardo de Araújo Carneiro

Capa, Diagramação, Preparação do Texto, Ilustração, Projeto Gráfico e Arte Final

Eduardo de Araújo Carneiro

ISBN

978-85-919549-9-5

1ª Edição

30 exemplares Março de 2016

Lima, Adriana Alves, 1988 -

APAE (Associação de Pais e Amigos dos excepcionais) e a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho em Rio Branco (Acre)/Adriana Alves de Lima; Maria Zenaide da Silva Lima. Rio Branco: EAC Editor, 2016, 77p. : il.

I. Educação; II. APAE; III Rio Branco (Acre);

Título. CDD 371.9

Page 4: Miolo livro  apae (oficial)

Dedicatória:

A Deus, nosso socorro presente...

Força que guia nossas vidas;

Aos nossos pais, irmãos, sobrinhos, filhos e amigos, pela contribuição de amor em cada momento.

Page 5: Miolo livro  apae (oficial)

APRESENTAÇÃO

Essa obra inaugura o viés ideológico do contexto histórico

local; produzindo a descrição dos progressos e desafios dos direitos

da pessoa com deficiência através da ótica e atuação institucional da

APAE Rio Branco desde a década de 1980 aos dias vigentes.

Dentre as discussões que acompanham esse processo de

reconhecimento dos direitos das pessoas com deficiência, refletem

as questões que ultrapassam os limites do contexto reducionista da

filantropia social, produzindo observações dessa problemática na

realidade de tantas outras localidades do panorama nacional.

O cenário do referido livro se inclui em um processo de

reflexão sobre a educação das pessoas com deficiência que a partir

do acesso à educação tem como fim o encaminhamento ao mercado

de trabalho e demais recursos que lhes são necessários ao pleno

desenvolvimento e convívio em sociedade como ser humano.

A práxis das pessoas incorporadas na categoria de

deficientes estabelece modificações nas relações entre os indivíduos

que são contrários ao que é estabelecido como garantia de

acessibilidade e legitimidade do individuo e sua atuação social,

alterando e modificando as relações entre os sujeitos e grupos

majoritariamente dominantes no âmbito do trabalho, tornando-se,

injusto e excludente às práticas de transformações sociais da pessoa

que tem sua imagem associada à deficiência.

As autoras se propõem apresentar linearmente como a

APAE Rio Branco trilhou esse caminho das práticas de ações

educativas a inserção no mercado de trabalho; com base na política

de inclusão social de pessoas com Síndrome de Down ou com

qualquer outro tipo de deficiência, ressaltando que a instituição

citada de acordo com as autoras não é uma instituição especializada

em uma única modalidade de educação especial, pois, desde que foi

criada presta atendimento a uma clientela mista.

Page 6: Miolo livro  apae (oficial)

A capacidade laborativa desse público é prevista pelas

políticas públicas do governo federal, e foi narrada pelas autoras

segundo o Manual de Orientações; definições e aspectos legais.

Educação Especial (SENAI 2006), com vistas a esclarecer de forma

mais didática os seus leitores.

O registro narrativo explora as capacidades educativas

básicas e profissionalizantes que visam à qualidade de vida na

inclusão das pessoas com deficiência em uma realidade local. Dessa

forma, as autoras historiam essa passagem do enfoque de formação

educacional para o enfoque de formação cidadã, que abrange a

inserção no mercado de trabalho na cidade de Rio Branco das

pessoas com Síndrome de Down que é o público-alvo de

investigação das autoras, com base no resultado do trabalho de

conclusão do curso de graduação das mesmas, realizado no ano de

2009.

Portanto, essa publicação além de trazer uma contribuição

reflexiva e singular sobre o tema, apresenta também um

enriquecimento bibliográfico que fornece espelho investigativo no

que se refere aos apontamentos históricos da área para futuras

pesquisas de inserção no campo da educação especial do nosso

Estado.

Rio Branco, 14 de Fevereiro de 2016.

Profª Me. Nina Rosa Silva de Araújo

Universidade Federal do Acre - UFAC

Centro de Educação, Letras e Artes - CELA

Page 7: Miolo livro  apae (oficial)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 07

CAPÍTULO 1 – APAE NO BRASIL 09

1.1 A exclusão a inclusão de pessoas com deficiência. 09

1.2 A inclusão social no Brasil. 19

1.3 APAE e a defesa das pessoas com deficiência. 26

CAPÍTULO 2 - APAE NO ACRE 32

2.1 APAE: entre a filantropia e assistência social 32

2.2 APAE: a contribuição social da educação inclusiva 39

2.3 Pessoas com síndrome de Down e o mercado de

trabalho 47

CAPÍTULO 3 - A APAE E A INCLUSÃO DE PESSOAS

COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS

NO MERCADO DE TRABALHO RIO-BRANQUENCE

55

3.1 O projeto político pedagógico da APAE 55

3.2 A inserção de pessoas com necessidades especiais no

mercado de trabalho rio-branquense (1981-2009) 58

CONSIDERAÇÕES FINAIS 71

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 73

Page 8: Miolo livro  apae (oficial)

~ 7 ~

INTRODUÇÃO

O presente trabalho busca tratar a questão dos

direitos da pessoa com deficiência pela ótica da história e

atuação na defesa dos direitos dessas pessoas com o auxílio

da APAE, e as contribuições que essa entidade trouxe a

população rio-branquense desde a década de 1980 aos dias

atuais, não como reprodutores de modelos arcaicos e

insatisfatórios frente às atuais e graves demandas sociais do

país, mas como possibilidade de transformação do que se

mostra injusto e excludente.

Com tal desiderato, reconhece-se a

imprescindibilidade do tratamento interdisciplinar da matéria

tanto quanto permitem as limitações advindas de um tema

que é acentuadamente poroso a outras ciências, indicando

parte da doutrina que o estudo das deficiências é, na

verdade, um estudo de toda a humanidade.

Estabelecemos como campo de investigação a APAE/

Rio Branco, situada na Rua Major Ladislau Ferreira, 67 –

Conjunto Esperança I, Bairro Floresta, CEP: 69.905-250, no

estado do Acre. Optou-se por esta instituição primeiramente

por está localizada na cidade em que residimos; segundo

porque é pioneira em receber alunos com deficiências e por

último, por contar em sua clientela com alunos com Síndrome

de Down, Deficiência Intelectual, recorte da nossa pesquisa.

Temos por objetivo verificar como a inclusão desses

alunos está acontecendo no mercado de trabalho de Rio

Branco, para tanto priorizamos a entrevista com Heloisa

Pantoja, coordenadora do Sistema Nacional de Emprego –

SINE/Acre e com a coordenadora Cecília Maria na condição

de coordenadora técnica da APAE para saber quais as

Page 9: Miolo livro  apae (oficial)

~ 8 ~

políticas públicas de inclusão estão sendo utilizadas por

ambas as instituições para inserção no mercado de trabalho.

O estudo foi realizado no ano de 2009, a priori para a

conclusão de curso de graduação, e que agora

transformamos neste livro. Baseamo-nos em pressupostos

teóricos e metodológicos da pesquisa qualitativa e

quantitativa, com a utilização de técnicas como:

questionários, observação, entrevistas e pesquisa

bibliográfica.

Nesse passo, a estrutura do trabalho antes referida se

divide em três capítulos: No primeiro capítulo, fazemos uma

contextualização sobre o processo histórico das pessoas

com deficiências, desde a Idade média aos dias atuais, para

então rumar à evolução e o surgimento da APAE no Brasil.

No segundo capítulo abordamos o surgimento da

APAE/ Rio Branco e a filantropia e o assistencialismo

prestado pela instituição. Por fim, o terceiro capítulo trata da

questão da inserção das pessoas com Síndrome de Down e

deteve-se nos limites e possibilidades dessas pessoas no

Direito brasileiro englobarem essa temática. O tema é, aliás,

como indicado por parte da doutrina, um fenômeno do século

XX, muito embora as deficiências acompanhem desde

sempre a humanidade. Fatores e circunstâncias variados

confluíram para que no século referido houvesse o despertar

para o assunto, consoante abordagem no trabalho.

É com tais ideias que se buscou fundamentalmente

pensar como a APAE pode viabilizar os caminhos do respeito

às diversidades, da igualdade efetiva e da cidadania como

algo vivo e presente no cotidiano de todos nós.

Page 10: Miolo livro  apae (oficial)

~ 9 ~

CAPÍTULO 1

APAE NO BRASIL

1.1 A EXCLUSÃO A INCLUSÃO DE PESSOAS COM

DEFICIÊNCIA

.

“Eu pensava que era pobre. Ai, disseram que eu

não era pobre, eu era necessitado. Aí, disseram

que era autodefesa eu me considerar

necessitado, eu era deficiente. Aí, disseram que

deficiente era uma péssima imagem, eu era

carente. Aí, disseram que carente era um termo

inadequado. Eu era desprivilegiado. Até hoje eu

não tenho um tostão, mas já tenho um grande

vocabulário”.

Feiffer (2005)1

Ao abordar o tema da inclusão social de pessoas com

necessidade especiais, particularmente, a inclusão no

mercado de trabalho dos portadores da Síndrome de Down

na cidade de Rio Branco, década de 1990 a década de 2000,

importa conceber o processo socioeducativo que envolve

esta temática.

Desta forma, podemos contextualizar nosso tema sob

duas perspectivas históricas da década de 1960 e 1990,

distintas entre si, mas possuidora de um núcleo comum, as

1 Fragmento extraído de depoimento do autor, retirado da coletânea Ensaios

Pedagógicos: construindo escolas inclusivas, 2005, sem nº de página.

Page 11: Miolo livro  apae (oficial)

~ 10 ~

Leis estabelecidas no país, quanto ao trato do chamado

“Pessoas com Necessidade Especiais” - PNE2.

Vale ressaltar que o histórico a seguir servirá para situar

historicamente a temática. Contudo, pensamos que o

aprofundamento deste tema ainda deverá ser alvo de estudo

de fôlego, possivelmente será realizado noutro momento.

É importante reconhecer nesse processo histórico a

concepção do/no trato dos PNE(s) ficaram conhecidas por

“etapas”. Assinalando, no começo a chamada “Etapa do

Extermínio”, da antiguidade grega espartana a pessoa com

deficiência não tinha direito a vida (Etapa Mágica), na fase

seguinte, o período conhecido “Etapa Filantrópica” a criança

deficiente era concebida como eterna inválida, incapaz, aqui

as ações tinham caráter assistencialistas e paternalistas.

Assim, a historicidade do tema Inclusão Social aos PNE

mostra que até o século XVIII, os registros dão conta da

segregação em organizações religiosas. Ao final do séc.

XVIII, com o processo de industrialização, educação também

se estendeu para os filhos das classes trabalhadoras.

O século XIX, com o advento das luzes e das ciências

tem-se o começo do atendimento especial e, particularmente,

da área de reabilitação, bem como, a primeira legislação

específica sobre a questão do deficiente, contudo, focada no

conceito de deficiência orgânica projetando a ideia da pessoa

inválida, modelo clínico avaliativo outorgado até as décadas

2 Vale ressaltar que recentemente houve uma atualização desse termo, hoje se

utiliza “Pessoas com deficiência”.

Page 12: Miolo livro  apae (oficial)

~ 11 ~

de 1970 e 1980 do século XX, quando a medicina e a

legislação passam a apontar novas tendências.

A década 1990 fora um período de conquistas nesta

área em 1994 a CONFERÊNCIA MUNDIAL DE

SALAMANCA - SOBRE EDUCAÇÃO ESPECIAL EM

SALAMANCA lança as bases políticas em direção a uma

educação inclusiva. Esta vista como um plano progressivo de

inclusão social escola/ comunidade contexto educativo,

público e privado.

A Declaração de Salamanca (1994) trata dos Princípios,

Política e Prática em Educação Especial. Trata-se de uma

resolução das Nações Unidas adotada em Assembleia Geral,

a qual apresenta os Procedimentos-Padrões das Nações

Unidas para a Equalização de Oportunidades para pessoas

com deficiências. A Declaração de Salamanca é considerada

mundialmente um dos mais importantes documentos que

visam à inclusão social, juntamente com a Convenção sobre

os Direitos da Criança (1988) e da Declaração Mundial sobre

Educação para Todos (1990). Faz parte da tendência

mundial que vem consolidando a educação inclusiva. Sua

origem é normalmente atribuída aos movimentos em favor

dos direitos humanos e contra instituições segregacionistas,

movimentos iniciados a partir das décadas de 60 e 70 do

século XX.

Nesse sentido buscou-se um consenso internacional

sobre o direito de todas as crianças de serem educadas nos

sistemas regulares de educação e, exigia um processo

progressivo e contínuo de inclusão social da escola nas

comunidades.

Page 13: Miolo livro  apae (oficial)

~ 12 ~

Há algumas décadas, especialmente a partir dos anos

60, os trabalhos de Michel Foucault, Gilles Deleuze e Félix

Guattari abordam o tema. O termo exclusão foi utilizado por

Foucault (1978)3, com os significados de banimento,

reclusão, expulsão. Para ele, exclusão está diretamente

relacionada às formas de distribuição de poder, encontrando-

se o termo ligado a controle social e disciplinarização,

circulação de poder e constituição de hierarquia.

Foucault destaca em suas análises as diferentes

modalidades segregadoras, que eram consideradas como

um processo totalmente natural pela sociedade, a partir do

século XVII. Durante esse tempo, os doentes mentais, por

exemplo, eram encarcerados e, por vezes, até acorrentados,

no caso de oferecerem algum tipo de “perigo” aos

funcionários ou aos demais internos das instituições

psiquiátricas. A segregação em instituições psiquiátricas,

severamente criticada na literatura foucaultiana,

acrescentando-se os autores referidos acima, abriu uma

discussão nas últimas décadas sobre o significado da

segregação social.

O aperfeiçoamento da democracia foi outro aspecto que

veio a questionar a segregação social. Na atualidade, dá-se

uma atenção maior à diversidade, respeitando os diferentes

grupos étnicos, sociais, religiosos, culturais e sexuais.

Neste sentido, as teorias multiculturalistas combatem a

estigmatização de determinados grupos sociais, e a

consequente inferiorização. Isto acontece, por exemplo, com

3 FOUCAULT, 1978.

Page 14: Miolo livro  apae (oficial)

~ 13 ~

as prostitutas e os leprosos, que acabaram fazendo valer os

seus direitos e reivindicam maior informação à sociedade

para que o preconceito seja superado.

A segregação pode ser em função da origem de

moradia (formação dos guetos, como dos negros), da origem

étnica, religiosa ou sexual. Gimeno Sacristán chama à

atenção para o problema da participação de alunos ciganos

em escolas espanholas, alertando que a escola deve estar

preparada para a diversidade, oferecendo um currículo

multicultural.

Por sua vez, Amaral4 (1994) estabelece uma

comparação entre os problemas vividos pelo movimento

feminista no Brasil e o movimento pela integração das

pessoas com deficiência. A notável semelhança entre os dois

grupos se reflete pelas mesmas lutas, em busca do direito a

inclusão e a identidade social. Ela se apoia no livro “Elogio

da diferença”, de Oliveira (1991), o qual enfatiza que “mudou

o lugar social das mulheres, mudou sua experiência de

mundo”. As mulheres ficaram assim, divididas entre o

passado e futuro, entre memória e projeto.

Ressalta também Amaral5 (1994) que o mesmo poderia

ser dito das pessoas com deficiência: mudado o seu lugar

social, viram-se divididas entre passado e futuro, entre

memória e projeto – da morte ou isolamento à presença no

mundo, do “infantilismo” socialmente construído à maturidade

possível a cada um.

4 AMARAL, 1994. P. 14.

5 Ibdem. P.14

Page 15: Miolo livro  apae (oficial)

~ 14 ~

Na verdade, a escola, durante muito tempo, exclui o

aluno com deficiência, seja rejeitando sua matrícula,

recomendando a segregação (“Ele deve ir para uma escola

especial”), seja considerando-o um cidadão de segunda

classe (aceita - o, mas não promove seu desenvolvimento

educacional).

O sociólogo francês Bordieu a linguagem é um capital

lingüístico e quem fala melhor tem um preço melhor: o da

autoridade lingüística. Vamos fazer uma comparação com a

educação. Se considerarmos que ela é uma forma de

investimento, o capital humano é maior e mais poderoso para

aqueles que aprendem mais, melhor e mais rápido. Nesse

caso, pessoas com deficiências estariam levando um enorme

prejuízo. E isso ocorre porque existe o estigma de que eles

não têm capacidade de se educar e de produzir.

Dessa forma, têm dificuldades de se inserir no mercado

de trabalho de forma eficiente. Isso na verdade, se constitui

inverdade. Por quê? Porque há atividades ocupacionais que

são mais bem desempenhadas por pessoas que possuem

alguma deficiência. Por exemplo, um surdo é capaz de

desempenhar atividade que envolve muitos ruídos de forma

mais eficaz, tendo em vista que o barulho não o incomoda e,

portanto, não distrai sua atenção. Um cego pode trabalhar

melhor em revelação de radiografias (“câmara escura”), pois

a falta de luz não o prejudica.

Não podemos negar que a deficiência traz uma

limitação, mas como afirma Edler (1997, p.54):

Page 16: Miolo livro  apae (oficial)

~ 15 ~

Sem deixar de reconhecer as limitações

impostas pela deficiência (um surdo não pode

ouvir, um cego não pode ver (...), fica o alerta

de que tais limitações, Por si só, não são

impeditivas de auto-realização dos indivíduos).

O contexto social, com suas regras. É que lhes

impõe pautas de condutas que, se não forem

cumpridas, os torna desviantes, incapacitados

(...)

Assim sendo, com base nos argumentos

anteriormente mencionados, as pessoas com deficiência

viam-se sem memória e sem projeto, passaram da morte ou

isolamento à presença no mundo, sendo tratadas

frequentemente de forma infantil. Todavia, é importante

observar que o tratamento dado às pessoas com deficiência,

ao longo da história da humanidade, também se transformou.

No entanto, é possível se constatar alguns avanços

(lentos mais graduais) na maneira como a sociedade lidou

com a questão da deficiência. Na era pré-cristã, período da

Antiguidade, as pessoas com deficiências não tinham direito

a educação, a vida. Eram exterminadas, sacrificadas em

homenagem aos deuses. Durante a Idade Média, com a

religiosidade em alta, ter um filho com qualquer deficiência

era entendido como “um castigo de Deus” e era necessário

levar uma vida de abnegação, protegendo-o e

compadecendo-se dele.

Nos últimos séculos, mormente a partir do XVII, assim

como a loucura era tratada de forma segregacionista, em

asilos, também a deficiência era segregada da sociedade.

Page 17: Miolo livro  apae (oficial)

~ 16 ~

Emergiu então, a partir do século XIX, uma nova

mentalidade: instituições educacionais dedicadas a prover

uma educação especializada e o movimento social da

filantropia, considerando que aqueles que se dedicassem a

ajuda e assistência a esse segmento da população

“alcançariam o reino dos céus”. Foi com base nesse

entendimento que D.Pedro II funda no Brasil O Imperial

Instituto dos Meninos Cegos, em 1854, atual Instituto

Benjamim Constant, e o Imperial Instituto de Surdos Mudos,

em 1857, hoje denominado de Instituto Nacional de

Educação de Surdos. (MEC, 1998).

A este respeito, observamos que no curso do tempo,

do extermínio da pessoa até chegar ao início de uma

tentativa de educação especializada existiram avanços. Do

século passado aos dias atuais, ocorreu um despertar quanto

aos direitos humanos no âmbito da educação.

Porquanto, para a superação dos estereótipos

construídos pelo olhar universalizador e discriminante

instituído pela sociedade, amigos e pais tiveram a

necessidade de criar um lugar onde as crianças com

deficiências tivessem as mesmas possibilidades que as

crianças ditas “normais” teriam, como: educação, saúde e

acesso. É nesse contexto que surge a APAE.

O discurso da cidadania no Brasil tem início a partir da

promulgação da Constituição Federal de 1988 que

contrariamente as Constituições anteriores estabeleceram

amplos direitos sociais para os segmentos ditos “minorias” ou

marginalizados.

Page 18: Miolo livro  apae (oficial)

~ 17 ~

A partir de então foram organizados / fortalecidos

vários movimentos sociais para lutar pelos direitos de negros,

mulheres, índios, idosos e pessoas com deficiências.

A questão da cidadania que até então era

preocupação das ONGs, diante da falência ou incapacidade

do Estado de atender as necessidades desses segmentos

sociais, passou a ser incorporada nos projetos dos governos

municipais, estaduais e federais que através das secretarias

sociais e/ou entidades criadas para essas finalidades,

priorizaram implementar ações voltadas para as garantias

dos direitos sociais, através de vários programas e projetos

de inclusão social.

No âmbito dessa pesquisa por inclusão social

entende-se: inserir no contexto social, todos os indivíduos,

independentes de cor, raça, religião e etnia, inclusive

pessoas com necessidades educativas especiais que

buscaram através de inúmeras lutas auxiliados por

movimentos sociais o direito a valores básicos da igualdade

de tratamento e oportunidades, da justiça social, do respeito

à dignidade da pessoa humana, inclusive direito à educação

e ao trabalho.

Não bastando apenas que estes sejam “colocados”

dentro das escolas e mercado de trabalho, mas, que sejam

aceitos, capacitados e respeitados, a partir de suas

habilidades e não vistos conforme os estigmas existentes.

Uma vez que no Brasil a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDBEN n. 9394/96), que reconhece o

preparo do professor para trabalhar com o aluno com

Page 19: Miolo livro  apae (oficial)

~ 18 ~

necessidades educacionais especiais como condição sine

qua non para que a inclusão se estabeleça. Isso fica explícito

no artigo 59 ao estabelecer que, os sistemas de ensino

assegurarão aos educandos com necessidades especiais:

“I - currículos, métodos, técnicas, recursos

educativos e organização específica, para

atender às suas necessidades; [...] III -

professores com especialização adequada em

nível médio ou superior, para atendimento

especializado, bem como professores do ensino

regular capacitados para a integração desses

educandos nas classes comuns.” (BRASIL,

1996).

Portanto, a historicidade que envolve a questão das

pessoas com deficiência, nos permite compreender o

processo de Inclusão Social desses sujeitos, atualmente

definidas pelas políticas públicas do estado, são resultados

de lutas pela não exclusão, mas também, uma construção

socialmente constituída ao longo da história das sociedades

filantrópicas a afetiva presença do Estado Nacional.

Em fins da década de 60, a integração surgiu como

palavra de ordem para os que se interessavam e estavam

envolvidos com o seu atendimento. A integração é o

processo que visa ao estabelecimento de condições que

facilitem a participação da pessoa com necessidades

educativas especiais na sociedade, obedecendo aos valores

democráticos de igualdade, participação ativa e respeito a

direitos e deveres socialmente estabelecidos.

Page 20: Miolo livro  apae (oficial)

~ 19 ~

Inserir, por exemplo, numa escola especial, significou

um retrocesso, numa época, num espaço. Entretanto, para

alguns deles, que se encontravam anteriormente em

hospitais, representou um avanço social. Quanto às classes

especiais, permitiram que os alunos vivessem experiências

como os demais alunos em várias situações escolares, no

que houve um retrocesso, se comparar com outros países

que nesta época mantinham o aluno com deficiência mental

leve em escolas especiais, houve um avanço.

De certo modo, essa prática estava associada aos

movimentos de “desrotulação” e “desinstitucionalização”.

Eles abriram caminho para o surgimento do paradigma da

inclusão, como desafio a todos nós educadores, para o 3º

milênio – matricular todas as crianças e jovens nas escolas

regulares da comunidade em que vivem, a menos que

existam fortes razões para agir de outra forma.

Com uma opção política pela organização de um

sistema educacional inclusivo vem coroar um movimento

para assegurar a todos os cidadãos, inclusive aos com

necessidades educacionais especiais, a possibilidade de

aprender a administrar a convivência digna e respeitosa

numa sociedade complexa e diversificada.

1.2 A INCLUSÃO SOCIAL NO BRASIL

A atual abordagem educacional relativa às pessoas

com deficiências é preciso conversar um pouco sobre o

Page 21: Miolo livro  apae (oficial)

~ 20 ~

significado mais amplo do conceito oposto, o da exclusão, a

Inclusão.

O tema da exclusão adquiriu força maior no Brasil

nessa última década. A exclusão tem articulação direta com

a dinâmica social como um todo, em especial com os

desdobramentos do modo de produção capitalista6. Assim,

são excluídos do processo de produção todos aqueles que,

por uma razão ou outra, não conseguem produzir de forma

rápida e eficiente.

O que se considera na atualidade como exclusão

social, na realidade abrange diferentes concepções ao longo

da história. As pessoas que apresentam dentro do contexto

social uma disfunção ou inadaptação individual acabam por

gerar ações governamentais ou de parte da sociedade civil

organizada, que se traduzem em uma técnica corretiva de

reparação, caracterizada por uma intervenção social, do tipo

filantrópico ou de assistência social.

As dificuldades ou limitações que levam a esta

inadaptação podem, entretanto ser superadas pelo sistema

educacional ou ainda através de diferentes

acompanhamentos feitos por serviços especializados. O

problema da exclusão social no Brasil não é novo e talvez

por isso mesmo seja tão inaceitável. Nem mesmo a

industrialização conseguiu amenizar o contexto de

desigualdades vigente.

Pensar o desenvolvimento nacional implica em “incluir”

largas parcelas da sociedade, sobretudo no que se atém aos

6 Fontes, 1997, p.14

Page 22: Miolo livro  apae (oficial)

~ 21 ~

segmentos subalternos, a uma sociedade de TODOS e para

TODOS. Nesse sentido, o quadro abismal de desigualdade

existente no Brasil inspirou aos congressistas quando da

elaboração da Constituição de 1988 no que diz respeito a

instituir medidas que possam gradativamente rever a

situação de exclusão das “minorias” por meio de programas /

projetos de intervenção social frente às implicações sociais

geradas pela política macroeconômica nacional.

Considerando o exposto acima, a temática cidadania

passou a significar a instauração de uma sociedade com

direitos e oportunidades iguais para todos. Existiram /

existem também esforços quanto à questão do abuso sexual

de crianças e adolescentes, bem como direcionados para a

realidade de desassistência e violência das crianças ditas de

“rua” ou inseridas precocemente no mundo do trabalho, o

que culminou na elaboração e aprovação do Estatuto da

Criança e Adolescente - ECA (1990).

Como parte desse processo, grupos sociais

articulados ou não com os partidos políticos, sobretudo os de

esquerda passaram a desenvolver trabalhos comunitários

através de voluntários. O voluntariado social, inclusive

através da mídia nacional, passou a ser visto como estratégia

de resultados quanto a superar / minimizarem os graves

percentuais de brasileiros excluídos.

O debate da inclusão social expandiu - se propiciando

a realização de seminários, mudanças na legislação vigente

e a criação de Estatutos. Vale ressaltar o Estatuto do Idoso

(aprovado em 01 de outubro 2003) e culmina com a lei

federal de nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003, quanto a

Page 23: Miolo livro  apae (oficial)

~ 22 ~

obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira

e a implementação do sistema de cotas para negros nas

universidades.

Diante do exposto, ressalta-se que o “Governo Lula” 7,

formado por uma ampla frente de partidos políticos, elegeu

como prioridade governamental instaurar o “Brasil de todos”

slogan que expressa um conjunto de ações sociais que vem

sendo realizadas, algumas numa ação consorciada com

empresas públicas, ONGs, iniciativa privada, associações de

classes e meios de comunicação (televisão, jornais, rádios).

A perspectiva vislumbrada é incluir o maior número

possível de pessoas numa proposta de elevação da

autoestima. Para mudar a concepção que o brasileiro tem de

si mesmo como inferior, perdedor, incapaz foi realizada a

Campanha “O melhor do Brasil é o brasileiro”, inspirada na

frase de Luiz da Câmara Cascudo.

A valorização da terra e da gente brasileira

caracterizada pela diversidade em vários aspectos torna-se

alvo das atenções da sociedade civil organizada, envolvendo

neste contexto também as Igrejas no que concerne ao

desenvolvimento de trabalhos comunitários que reforcem os

laços de família, a superação de hábitos de dependência

química, violências e preconceitos, a geração de emprego e

renda e suporte aos pequenos e médios produtores nos

diversos setores da economia nacional.

7 Refere-se ao atual Presidente da República do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva

– 2002 a 2010.

Page 24: Miolo livro  apae (oficial)

~ 23 ~

Embora o modelo econômico capitalista seja a opção

viável do governo Lula, caracterizado como de “esquerda”,

certos princípios do socialismo são contemplados enquanto

filosofia nas diretrizes das políticas governamentais. E, nesse

horizonte se insere a questão das pessoas com deficiência,

conforme preceitua a Constituição Federal lei n°.7853/89 e

as medidas viabilizadas em relação ao ingresso destes no

mercado de trabalho. E a lei 8.213/99 que estabelece o

percentual de até 5% (cinco por cento).

A educação ocupa lugar primordial na estratégia de

desenvolvimento de um país. Principal fator de modernidade

é um instrumento efetivo para a formação da cidadania. Por

este motivo, são intrínsecas suas relações com as condições

de participação social. Sintonizando com os princípios tão

claramente defendidos pela sociedade, o Governo Brasileiro,

precisa dá destaque à educação, defendendo a ideia de que

sem ela todos os direitos da pessoa tornam-se sem valor.

Como cita o texto do Ministério da Educação, tem-se

que proporcionar a convivência com as diversidades

educacionais especiais, maior possibilidade de

desenvolvimento acadêmico e social. E dando acessibilidade

aos deficientes nas escolas. Mas também, na capacitação de

profissionais nas escolas tanto para os professores quanto

para os demais funcionários.

Toda criança possui características, interesses,

habilidades e necessidade de aprendizagem que são únicas.

Nos movimentos sociais vinculados aos direitos das pessoas

com deficiência, é sabido, sempre esteve presente de forma

veemente a preocupação em informar as sociedades de todo

Page 25: Miolo livro  apae (oficial)

~ 24 ~

planeta de que muitas das deficiências não significam

incapacidade para quem a porta. Ou seja, independente da

limitação, que nem sempre atinge os limites da incapacidade.

A grande maioria está apta a expressar sua vontade, a

exercer seus direitos e os quer exercer. Têm necessidade de

aprender, têm curiosidade, e muitas habilidades.

Acreditamos que na pratica esse princípio funcionaria

se fossem dadas as ferramentas a essas crianças, Demerval

Saviani aborda que só vamos acabar com a divisão de

classes quando dermos a mesmas ferramentas (conteúdos)

para a classe dominada. Esse conceito se aplica muito bem

nesse sentido, se dermos as mesmas possibilidades a essas

crianças, para que possam ter as mesmas oportunidades.

A Declaração de Salamanca é também considerada

inovadora porque, conforme diz seu próprio texto, ela

“proporcionou uma oportunidade única de colocação da

educação especial dentro da estrutura de „educação para

todos‟ firmada em 1990 (...) promoveu uma plataforma que

afirma o princípio e a discussão da prática de garantia da

inclusão das crianças com necessidades educacionais

especiais nestas iniciativas e a tomada de seus lugares de

direito numa sociedade de aprendizagem”.

A Declaração de Salamanca ampliou o conceito de

necessidades educacionais especiais, incluindo todas as

crianças que não estejam conseguindo se beneficiar com a

escola seja por que motivo for. Assim, a ideia de

"necessidades educacionais especiais" passou a incluir, além

das crianças com deficiências, aquelas que estejam

experimentando dificuldades temporárias ou permanentes na

Page 26: Miolo livro  apae (oficial)

~ 25 ~

escola, as que estejam repetindo continuamente os anos

escolares, as que sejam forçadas a trabalhar, as que vivem

nas ruas, as que moram distantes de quaisquer escolas, as

que vivem em condições de extrema pobreza ou que sejam

desnutridas, as que sejam vítimas de guerra ou conflitos

armados, as que sofrem de abusos contínuos físicos,

emocionais e sexuais, ou as que simplesmente estão fora da

escola, por qualquer motivo que seja.

Uma das implicações educacionais orientadas a partir

da Declaração de Salamanca refere-se à inclusão na

educação. Segundo o documento, “o princípio fundamental

da escola inclusiva é o de que todas as crianças deveriam

aprender juntas, independentemente de quaisquer

dificuldades ou diferenças que possam ter. As escolas

inclusivas devem reconhecer e responder às diversas

necessidades de seus alunos, acomodando tanto estilos

como ritmos diferentes de aprendizagem e assegurando uma

educação de qualidade a todos através de currículo

apropriado, modificações organizacionais, estratégias de

ensino, usam de recursos e parceiras com a comunidade

(...). Dentro das escolas inclusivas, as crianças com

necessidades educacionais especiais deveriam receber

qualquer apoio extra que possam precisar, para que se lhes

assegure uma educação efetiva (...)”.

Portanto, é no contexto das lutas pelos direitos sociais

de todos que se insere a APAE, na perspectiva da inclusão

educacional de crianças, adolescentes e adultos com

deficiências.

Page 27: Miolo livro  apae (oficial)

~ 26 ~

1.3 APAE E A DEFESA DAS PESSOAS COM

DEFICIÊNCIA

[...] Tudo era para nós, ainda, profundamente

nebuloso. Pouco ou nada sabíamos de nossas

reações emocionais, de nossas fantasias, de

quão pouco sabíamos lutar; primeiro contra

nossa própria desesperança e frustração,

depois com os problemas em si, nosso elo

comum, o grave problema de deficiência mental

[...]

(Depoimento de Dona Alda Moreira

Estrázula, fundadora da APAE São Paulo)

De acordo com Federação Nacional das APAES8 esta

é uma Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, é um

Movimento que se destaca pelo pioneirismo. Nascida no Rio

de Janeiro, no dia 11 de dezembro de 1954, na ocasião da

chegada ao Brasil de Beatrice Bemis, procedente dos

Estados Unidos, membro do corpo diplomático norte-

americano e mãe de uma criança com Síndrome de Down.

No seu país de origem havia participado da fundação de

mais de duzentas e cinqüenta associações de pais e amigos;

e admirava-se por não existir algo semelhante no Brasil.

Devido à influência desta cidadã, um grupo,

congregando pais, amigos, professores e médicos de

excepcionais, fundou a primeira Associação de Pais e

Amigos dos Excepcionais – APAE do Brasil. A primeira

8 Federação Nacional das APAES, 1997

Page 28: Miolo livro  apae (oficial)

~ 27 ~

reunião do Conselho Deliberativo ocorreu em março de 1955,

na sede da Sociedade de Pestalozzi do Brasil. Esta colocou

a disposição, parte de um prédio, para que instalassem uma

escola para crianças excepcionais, conforme desejo do

professor La Fayette Cortes9.

A entidade passou a contar com a sede provisória

onde foram criadas duas classes especiais, com cerca de

vinte crianças. A escola desenvolveu-se, seus alunos

tornaram-se adolescentes e necessitaram de atividades

criativas e profissionalizantes. Nessa perspectiva a

Federação Nacional das APAES afirma que surgiu, assim, a

primeira oficina pedagógica de atividades ligadas à

carpintaria para deficientes no Brasil, por iniciativa da

professora Olívia Pereira.

Este fato se reveste de grande significado, tendo em

vista que pela primeira vez no Brasil, discutia-se a questão

da pessoa com deficiência com um grupo de famílias que

traziam para o movimento suas experiências como pais de

deficientes e, em alguns casos, também como técnicos na

área.

Para uma melhor articulação de suas ideias, sentiram

a necessidade de criar um organismo nacional. A primeira

ideia era a formação de um Conselho e a segunda a criação

da Federação de APAES. Prevaleceu esta última que foi

fundada no dia 10 de novembro de 1962, e funcionou

durante vários anos em São Paulo, no Consultório do Dr.

Stanislau Krynsky. O primeiro presidente da diretoria

9 Ibdem.

Page 29: Miolo livro  apae (oficial)

~ 28 ~

provisória eleita foi Dr. Antonio Clemente Filho.10 Diante

dessas articulações de ideias surgem as primeiras APAES no

Brasil como mostra a tabela a seguir.

Tabela 1: Primeiras APAES no Brasil

APAE ESTADO DATA FUNDAÇÃO

Rio de Janeiro RJ 11/12/1954

Brusque SC 14/09/1955

Volta Redonda RJ 09/04/1956

Fonte: www.apaebrasil.org.br

Com a aquisição da sede própria a Federação foi

transferida para Brasília. Adotou-se como símbolo a figura de

uma flor ladeada por duas mãos em perfil, desniveladas, uma

em posição de amparo e a outra de proteção.

FIGURA 1 – Símbolo da APAE/AC

Fonte: http://www.riobranco.apaebrasil.org.br/

10

Federação Nacional das APAES, 1997.

Page 30: Miolo livro  apae (oficial)

~ 29 ~

A Federação Nacional das APAES11 destaca que, “a

exemplo de uma APAE, esta se caracteriza por ser uma

sociedade civil, filantrópica, de caráter cultural, assistencial e

educacional com duração indeterminada, congregando como

filiadas as APAES e outras entidades congêneres, tendo

sede e fórum em Brasília - DF”.

O Movimento logo se expandiu para outras capitais e

depois para o interior dos Estados. Atualmente decorridos

cinquenta e três anos existem mais de duas mil APAES,

distribuídas no território nacional. Convém mencionarmos

que é o movimento filantrópico de maior impacto no Brasil e

no mundo, na sua área de atuação. É uma explosão de

multiplicação, verdadeiramente notável sob todos os

aspectos, levando-se em conta as dificuldades de um país

como nosso terrivelmente carente de recursos no campo da

educação e, mais ainda, na área de Educação Especial. Para

que possamos ter uma dimensão de visualidade, optamos

por colocar um quadro onde podemos observar o

crescimento desce movimento e às datas de fundação das

mesmas.

TABELA 2: APAES criadas no Brasil

ESTADO APAE DATA FUNDAÇÃO Acre Rio Branco 31/07/1981

Alagoas Maceió 20/08/1964

Amazonas Manaus 04/05/1973

Amapá Macapá 27/09/1966

11

Ibdem.

Page 31: Miolo livro  apae (oficial)

~ 30 ~

Bahia Salvador 03/10/1968

Ceará Fortaleza 28/08/1965

Distrito Federal Brasília 22/08/1965

Espírito Santo Vitória 27/05/1965

Goiás Goiânia 15/05/1969

Maranhão São Luís 10/03/1971

Minas Gerais São Lourenço 01/06/1956

Mato Grosso do Sul Campo Grande 10/06/1967

Mato Grosso Cuiabá 06/10/1967

Pará Belém 30/11/1962

Paraíba João Pessoa 23/03/1957

Pernambuco Recife 27/10/1961

Piauí Teresina 04/06/1968

Paraná Curitiba 06/10/1962

Rio de Janeiro Rio de Janeiro 11/12/1954

Rio Grande do Norte

Natal 31/10/1959

Rondônia Vilhena 12/02/1981

Roraima - -

Rio Grande do Sul São Leopoldo 07/08/1961

Santa Catarina Brusque 14/09/1955

Sergipe Aracaju 27/08/1967

São Paulo Jundiaí 07/08/1957

Tocantins Araguaína 22/01/1986

Fonte: www.apaebrasil.org.br

Este crescimento vertiginoso se deu graças à atuação

da Federação Nacional e das Federações Estaduais, que,

seguindo a mesma linha filosófica da primeira, permitiram e

incentivaram a formação de novas APAES. Estas, através de

congressos, encontros, cursos, palestras, sensibilizam a

sociedade em geral, bem como, viabilizam os mecanismos

que garantam os direitos da cidadania da pessoa com

deficiência no Brasil.

Page 32: Miolo livro  apae (oficial)

~ 31 ~

Portanto, a APAE vem a ser constituída, integrada por

pais e amigos de uma comunidade significativa de alunos

com deficiências, contando para tanto com a colaboração da

sociedade em geral, do comércio, da indústria, dos

profissionais liberais, dos políticos, enfim, de todos quantos

acreditam, apostam e lutam pela causa da pessoa com

deficiência.

Todavia, a entidade apesar de gozar do registro como

associação de utilidade pública nos âmbitos federal, estadual

e municipal; defronta-se com as mais diversas dificuldades,

essencialmente no tocante à pessoal e a questão financeira.

Estes últimos recursos talvez sejam insignificantes, se

comparados à importância do compromisso que todo

integrante do movimento tem diante da sociedade, da família

e da própria pessoa com necessidades educativas especiais.

Page 33: Miolo livro  apae (oficial)

~ 32 ~

CAPÍTULO 2

APAE NO ACRE

2.1 APAE: ENTRE A FILANTROPIA E ASSISTÊNCIA

SOCIAL

Contexto histórico – entender a sociedade acriana e

suas realizações de assistências sociais ligadas à filantropia

em razão desse pensamento a explicar a importância da

fundação da APAE/ Acre.

A APAE da cidade de Rio Branco foi fundada em julho

de 1981, a partir da ideia inicial da Assistente Social Cecília

Maria Garcia Lima que ao tomar conhecimento dos trabalhos

desenvolvidos pela APAE de São Paulo, sensibilizou-se com

a causa das pessoas com deficiências, passando a ser a

maior idealizadora quanto à implantação de uma APAE na

capital do Estado do Acre12.

Mesmo sem dispor de dados concretos era

conhecedora da existência de um grande número de

pessoas sem atendimento, pois o centro de saúde Dom

Bosco13 que prestava assistência não possuía capacidade

para absorver a clientela existente e nem os recursos

materiais e humanos necessários à prestação de serviços

com qualidade.

12

Estas informações foram alcançadas através de entrevistas orais com Cecília

Maria. 13

Centro de Ensino Especial, localizado na Rua Dom Bosco, nº 511 no Bairro

Bosque. Rio Branco- Acre.

Page 34: Miolo livro  apae (oficial)

~ 33 ~

No entanto, apesar do forte desejo, boa vontade de

inúmeras pessoas havia o desafio de sensibilizar a

sociedade quanto à problemática das pessoas com

deficiência mental no Estado.

A campanha de implantação da APAE em Rio Branco

teve início em 1980, data instituída como o ano Internacional

da Pessoa com deficiência, e nessa época, por coincidência,

a capital acriana recebia a visita da professora Maria

Monteiro de Medeiros, membro da diretoria da APAE de

Manaus.

O primeiro passo dado foi à convocação de várias

pessoas da sociedade para a realização da primeira

assembleia geral que foi realizada no dia 30 de julho de

1981, na sede social do Vasco da Gama com o objetivo de

discutirem sobre a necessidade da união dos pais e amigos

das pessoas com deficiências visando criar uma associação

que tratasse da causa desse segmento.

De acordo com o relato de Cecília Maria para a

concretização deste propósito realizou-se inúmeras reuniões

preparatórias, que culminaram na nomeação dos membros

do conselho deliberativo, a saber: Dr. Arthur Chalub Leite,

Nazaré Dourado de Souza, Francisca Letícia Holanda de

Souza, Dr. Fernando Inácio dos Santos, Wellyton Melo de

Souza, Ana da Silva da Silveira, Dr. Helio Cardoni, Guilherme

Chalub, Raimunda Holanda de Paula, Edilce Lima, os quais

nomearam os membros da primeira diretoria constituída por:

Ceres Afonso da Silva, Cecília Maria Garcia Lima de Souza,

Maria do Socorro Milone, Siglia Monteiro Abrahão, Normélia

Maria Rodrigues Pinho, Rosineide Moura Brasil Meire, Ivan

Page 35: Miolo livro  apae (oficial)

~ 34 ~

Ferreira da Silva, Maria do Carmo Pismel da Silva, Enaldy

Magalhães Silva, Emilia Alves de Souza, Neuza Murata

Yonekura.

Em virtude da valiosa contribuição prestada tanto na

condição de médico responsável pelo diagnóstico das

crianças com deficiências, quanto pela participação na

fundação da Instituição, o nome do Dr. Arthur Chalub Leite

está presente na designação oficial da Instituição

denominada de: Centro de Atendimento Especial Dr. Arthur

Chalub Leite - APAE- Rio Branco.

Naquela oportunidade, outra contribuição importante

era ofertada pela Sra. Marlize Braga, que sendo colunista

social, tinha acesso à mídia local, o que facilitava a

divulgação dos trabalhos desenvolvidos pela APAE - Rio

Branco, bem como a aquisição de doações. Vale destacar

que a APAE de Rio Branco, conforme o projeto político

pedagógico da instituição é uma entidade que tem como:

Objetivo principal atender pessoas com

necessidades por meio de modalidade de

ensino, oferecendo oportunidades educacionais

que possam garantir o desenvolvimento de suas

competências e habilidades, a fim de contribuir

para desenvolver plenamente o seu potencial

e/ou superar ou minimizar suas dificuldades.

(PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, APAE-

RIO BRANCO, 2006, p. 24.)

Page 36: Miolo livro  apae (oficial)

~ 35 ~

Uma vez lançado o desafio partiram para a

implantação da instituição, priorizando a sua organização

jurídica e neste sentido desenvolveram-se ações quanto a:

Criação de uma legislação de suporte da

Instituição, registro das Atas em Cartórios,

expedição de ofícios junto ao governo do Acre e

ao prefeito de Rio Branco para tornar a

Instituição de utilidade pública, bem como junto

à federação nacional das APAES para o registro

da APAE de Rio Branco, elaboração e

publicação do Estatuto, divulgação através de

rádios, televisão e jornais da criação da

Instituição, seus objetivos e relevância social,

encaminhamentos de convites às autoridades

municipais e governamentais com o intuito de

arrecadar recursos. (ATA DA APAE- RIO

BRANCO, de n° 4, 1981, p.4)

No entanto, sem dispor de recursos financeiros seus

membros tiveram que “cair em campo” para arrecadar as

verbas exigidas à implantação da Entidade. Sendo assim, os

passos iniciais para “fazer acontecer” a APAE, segundo

relato de Cecília Maria Garcia Lima, consistiram em buscar

recursos.

Os primeiros recursos arrecadados se

originaram da doação de 1.000 exemplares do

livro “oração do Sol”, de autoria do senhor

Calixto, esposo de Isabel Monteiro e de

inúmeras rifas, participação em feiras de

Page 37: Miolo livro  apae (oficial)

~ 36 ~

bondade, doações e atividades correlatas.

Foram formadas comissões para ir às

empresas, na busca de novos sócios, definição

e levantamento da clientela a ser atendida pela

APAE de Rio Branco, tendo como principal

preocupação o local de funcionamento desta.

Acrescenta também Cecília Maria Garcia Lima que as

principais dificuldades enfrentadas para a criação da APAE

na cidade de Rio Branco foram aquelas oriundas da

inexistência de convênio com instituições governamentais e

privadas, frente à carência de profissionais qualificados que

atuassem na área.

Naquela época, o quadro de pessoal era

composto de 05 (cinco) psicólogos e 03(três)

fisioterapeutas no Estado, não existindo ainda

fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e

neurologista infantil. Outros fatores que se

tornou obstáculo eram a discriminação e o

preconceito por parte da sociedade, o que

reforçava a resistência de pais e familiares, que

por desconhecer os tipos de atendimentos

oferecidos pela instituição, se recusavam em

apresentar seus filhos a uma instituição como

deficientes.

Os atendimentos propriamente ditos a clientela

tiveram início no ano 1983, em uma pequena casa de

madeira, cedida por Francisco Ferreira Lima, pai da Cecília

Page 38: Miolo livro  apae (oficial)

~ 37 ~

Maria Garcia Lima e graças às doações de móveis e

utensílios pelos demais membros da diretoria.

Os primeiros alunos eram provenientes da Escola

Dom Bosco14, que através de uma triagem foram

selecionados, tendo em vista que essa Instituição de Ensino,

até aquele momento era o único órgão do Estado que

atendia a todos os tipos de deficiências por dispor de

profissionais qualificados, ficando a APAE responsável pelo

atendimento de seis alunos, considerados educáveis e

treináveis, provenientes do Centro Educacional Dom Bosco.

A APAE funcionou naquele local até o ano de 1993

quando se mudou para a sede própria construída pelo

governo Edson Cadaxo. Atualmente funciona num prédio,

com 1.500m² de área construída, em uma área total de 8.000

m², localizada na Rua Major Ladislau Ferreira, nº 67,

Conjunto Esperança I, Bairro Floresta em Rio Branco no

Estado do Acre e atende cerca de 250 alunos. Contando com

espaço físico próprio composto por: salas de aula, sala de

fisioterapia e fonoaudióloga, salas de psicólogos, laboratório

de informática, gabinete dentário e outros, oferece inúmeros

serviços a sua clientela, a saber: assistência médica,

assistência pedagógica e toda a estrutura de cursos

profissionalizantes que garante e possibilita o

desenvolvimento social, cultural, artístico e profissional das

pessoas com deficiências. Todavia, apesar dos avanços

alcançados, as carências ainda são muitas, pois o espaço

físico disponível está insuficiente para a demanda.

14

Centro de Ensino Especial, localizado na Rua Dom Bosco, nº 511 no Bairro

Bosque. Rio Branco- Acre.

Page 39: Miolo livro  apae (oficial)

~ 38 ~

Como destaca o Projeto Político Pedagógico “Educar

para Vida” a APAE oferece quanto a sua atuação

educacional, voltado para educandos com deficiência mental

e outras deficiências ofertando na modalidade de ensino os

seguintes níveis conforme demonstramos a seguir:

Estimulação Precoce de 0 a 03 anos; Educação de Jovens e

Adultos; Educação Profissionalizante; Sala de Recursos –

AEE; Laboratório de Informática; Acompanhamento

Itinerante; Assistência Social; Psicologia; Fisioterapia; Apoio

à família; Artes (Dança e Teatro).

Conforme o relato da Cecília Maria, a APAE como

organização não governamental sem fins lucrativos é dirigida

por uma diretoria executiva formada por pais e amigos da

causa das pessoas com deficiência e está composta da

seguinte forma:

Presidente - Wellyton Melo de Souza · Vice-Presidente -

Francisca Temoteo dos Santos. 1º Diretor Secretário -

Rosilene Araújo Moreira · 2º Diretor Secretário - Mirian de

Moura Magalhães · 1º Diretor Tesoureiro - Luiz Melquiades

Américo de Souza · 2º Diretor Tesoureiro - Cislene Balica

Monteiro · Diretor de Patrimônio - Maria Gomes Pimentel ·

Diretor Social - Paulo Sérgio Soriano de Abreu · Procurador

Geral - Marcos Rangel da Silva.

O Conselho Administrativo por sua vez é composto de

um Conselho Fiscal e Conselheiros efetivos este conselho

tem como gestores Alcides Silva de Souza, Cláudio Camelo

Barbosa, Francisco Ferreira Lima. Atualmente atuam como

Conselheiros Suplentes Cecília Luiz Teixeira, Francisco Ney

Bezerra e José Feliciano Gomes da Silva.

Page 40: Miolo livro  apae (oficial)

~ 39 ~

2.2 APAE: A CONTRIBUIÇÃO SOCIAL DA EDUCAÇÃO

INCLUSIVA

Na atualidade, a APAE de Rio Branco conta com o

apoio de algumas entidades municipais, estaduais e federais,

sendo o governo do Estado, através da Secretaria de

Educação, o responsável pela dotação dos recursos

humanos, tais como: professores, técnicos e pessoal de

apoio. Recebe também ajuda do governo federal, por meio

de convênio de benefício de prestação continuada.

Tem parcerias também com a ELETROACRE firmada

pelo convênio APAE - Energia, através do qual recebe um

percentual das doações dos assinantes da Companhia de

Eletricidade e com a Secretaria Municipal, no caso da

merenda escolar.

Acrescenta-se ainda que o Tribunal Regional Eleitoral

(TRE) apadrinha os alunos nas comemorações de fim de

ano, a Receita Federal doa produtos apreendidos, que sejam

de utilidade, o IBAMA faz doações de madeira apreendida, a

SENSUR corta a grama e faz a limpeza do quintal, o SENAC

e o Tribunal de Justiça do Estado do Acre auxiliam quando

se faz necessário disponibilizando grande quantidade de

xerox, a UFAC disponibiliza cartuchos recicláveis, o

Ministério do Desenvolvimento Social (MDE), a Cooperativa

dos Artesões, o DETRAN, o Ministério Público Estadual e o

Juizado de Pequenas Causas fazem doações de sacolões,

Page 41: Miolo livro  apae (oficial)

~ 40 ~

além de possibilitar que pessoas cumpram penas alternativas

prestando serviços a Instituição.

Fica evidente que a APAE é viabilizada por

estabelecer parcerias com vários órgãos, os quais oferecem

pequenas doações, porém imprescindíveis a um atendimento

de qualidade. No que se refere ao quadro de pessoal, Cecília

Maria na condição de Coordenadora técnica afirma que por

meio de ações consorciadas é possível contar com uma

equipe qualificada de profissionais composta atualmente de:

TABELA 3 - QUADRO DE PESSOAL DA APAE – RIO

BRANCO

QUANTIDADE PROFISSIONAIS

44 PEDAGOGOS

01 PSICOLÓGO

01 FONOAUDIÓLOGO

01 DENTISTA

01 ASSISTENTE SOCIAL

01 FISIOTERAPEUTA

01 TERAPEUTA OCUPACIONAL *Até agora não foi disponibilizado

Fonte: Projeto Político Pedagógico da APAE.

No entanto, estes profissionais ainda são insuficientes

para atender a demanda da clientela, porque a APAE atende

aproximadamente a 250 alunos sendo que o número de

alunos é bem maior que o número de profissionais.

Page 42: Miolo livro  apae (oficial)

~ 41 ~

No que se refere à proposta pedagógica de

educação, esta é centrada nas possibilidades de educação

dos alunos com necessidades educacionais especiais, tendo

como horizonte a conquista da cidadania e o alcance da

autonomia intelectual, moral e social.

Portanto, as ações pedagógicas do Centro

Educacional Dr. Arthur Chalub Leite – APAE – Rio Branco

estão fundamentadas nas leis constitucionais vigentes para a

educação. A Constituição de 1988, em seu Artigo 6°,

preceitua que a educação é um direito de todo brasileiro e no

Artigo 203, capítulo IV – enumera que: “a assistência social

será prestada a quem dela necessitar, independente de

contribuição à seguridade social”.

Destacam-se, neste texto, os objetivos da assistência

social as pessoas com deficiência. Por sua vez, o Artigo 208.

Inciso III – relaciona os deveres do Estado com a educação,

prescrevendo, “atendimento educacional especializado as

pessoas com deficiências „preferencialmente‟ na rede regular

de ensino”. Culminando com o Artigo 213, ao estabelecer

que “os recursos públicos serão destinados às escolas

públicas, podendo ser dirigidas a escolas comunitárias,

confessionais ou filantrópicas”. Por sua vez, a Lei de

Diretrizes e Bases (LDB), datada de 20 de dezembro 1996

em seu capítulo V, Artigo 58, expressa que:

Entende-se por educação especial, para os

efeitos desta lei, a modalidade de educação

escolar, oferecida preferencialmente na rede

regular de ensino, para educandos portadores

Page 43: Miolo livro  apae (oficial)

~ 42 ~

de necessidades especiais. [No Parágrafo 1°,

assinala que]: “Haverá, quando necessário,

serviços de apoio especializado, na escola

regular, para atender as peculiaridades da

clientela de educação especial” [e no Parágrafo

2°, complementa preceituando que:] O

atendimento educacional será feito em classes,

escolas ou serviços especializados, sempre

que, em função das condições especificas dos

alunos, não for possível sua integração nas

classes comum de ensino regular.

Neste contexto de instauração de uma sociedade de

direitos no Brasil, mormente no que se refere aos grupos

sociais excluídos, o Artigo 6º, da LDB estabelece que:

Os órgãos normativos dos sistemas de ensino

estabelecerão critérios de caracterização das

instituições privadas sem fins lucrativos,

especializadas e com atuação exclusiva em

educação especial, para fins de apoio técnico

pelo poder público.

Porquanto, a estrutura organizacional da escola da

APAE, contempla a educação formal e a profissional,

coerente com os preceitos legais, anteriormente

mencionados, tendo como perspectiva a inserção do egresso

na vida produtiva, com capacidade de enfrentar os desafios

do mundo do trabalho.

Page 44: Miolo livro  apae (oficial)

~ 43 ~

O projeto político pedagógico da APAE – Rio Branco

baseia sua atuação na ideia de processo educativo como

trajetória, jornada progressiva, por entender que “a formação

básica objetiva disponibilizar meios diversos de acesso a

aprendizagem e aquisição de instrumentos para o

aprimoramento da qualificação do educando para o trabalho”.

Concepção esta consubstanciada no que expressa o

capítulo II da LDB, ao afirmar que: “cada etapa de ensino,

cada avanço na aprendizagem, potencializa, agrega

capacidades adicionais para que o educando adquira novas

competências para progredir no trabalho”. (CARNEIRO,

2000, p.83).

Com base nesses dispositivos legais, o Centro

Educacional Dr. Arthur Chalub Leite, APAE- Rio Branco:

Tem como objetivo oficial: Ofertar uma

educação básica nos níveis de educação infantil

e nas fases iniciais do ensino fundamental, de

forma interativa com as modalidades de

educação profissional e educação de jovens e

adultos. Estabelecendo como propósito a

educação infantil na primeira etapa,

considerando o desenvolvimento integral da

criança, de zero a seis anos. (PROJETO

POLÍTICO PEDAGÓGICO DA APAE - RIO

BRANCO, 2006, p.4.).

Atualmente, há propostas para extinguir as APAE, pois

o Ministério da Educação fundamentado nas leis vigentes

Page 45: Miolo livro  apae (oficial)

~ 44 ~

quanto a “educando na e para a diversidade” defende a

posição de que a pessoa com deficiência deve ser atendida

na rede regular de ensino.

No entanto, esta proposta, embora coerente com a

política de inclusão de todos frustra sonhos e direitos

adquiridos, na medida em que, até o presente, as escolas

regulares, em sua maioria, não estão estruturados para

alunos com necessidades educacionais especiais, tanto no

que se refere aos recursos humanos, base física, material

didático e equipe psicossocial de apoio didático, além do

despreparo das crianças “normais”, quanto às relações que

estabeleceriam com estes.

A escola e consequentemente a sala de aula reproduz

os preconceitos existentes na sociedade. E, a sociedade

brasileira, em virtude do processo histórico europeizante é

discriminadora em relação ao “diferente”, olhado como

“inferior”, embora seja multiétnica, multicultural e

multifacetada. Do ponto de vista da superação dos

estereótipos é humana e saudável a convivência de

“contrários” (“normais” e “anormais”), todavia é preciso

preparar à escola para receber esta clientela, caso contrário

os objetivos educacionais podem ser comprometidos.

Portanto, vale destacar que as escolas especiais são

escolas de direito e de fato inclusivas, considerando-se sua

competência para o acolhimento à diversidade, o que não

ocorre ainda nas classes do ensino regular, pois na

atualidade, sistematicamente, são “devolvidos” à escola

especial da APAE, alunos que apresentam necessidades

especiais.

Page 46: Miolo livro  apae (oficial)

~ 45 ~

Ao rejeitar uma criança com deficiência, fica evidente

que o sistema educacional oficial demonstra não está

preparado para acolher à diversidade. As escolas comuns,

propriamente ditas, não só necessitam ser fortalecidas nos

aspectos mencionados acima, como deve ser ampliado o

número de vagas, por meio da construção de novas escolas

de educação especial.

A proposta de “acesso de alunos com deficiência às

escolas e classes comuns da rede regular” prevê uma

inclusão radical, imediata, desqualificando o trabalho

realizado pelas escolas especiais.

Com base no exposto, a APAE de Rio Branco, nesta

fase de transição, teve que encaminhar os educandos de 7 a

14 anos para as escolas regulares. Neste sentido, o MEC

não está respeitando o direito de escolha das famílias, que

passam a ser obrigadas, por lei, correndo o risco de serem

penalizados pelo não comprimento, a “jogar” seus filhos em

salas de aulas não preparadas para recebê-los.

A proposta do MEC é válida e Constitucional, porém

exige o estabelecimento de um período de preparação,

adequação, das escolas públicas e privadas, à realidade da

clientela de crianças e adolescentes com deficiências. Aliás,

esta é a preocupação das APAES de todo país. A inclusão

deve ser vista como uma opção, não pode se configurar uma

imposição legal, perdendo dessa forma a dimensão

educativa e humana. Eis o cerne da questão.

Até o momento, as escolas especializadas se

constituem uma alternativa necessária diante da

Page 47: Miolo livro  apae (oficial)

~ 46 ~

precariedade do ensino brasileiro. Diante da ameaça de

extinção, em todo o território nacional, está sendo realizados

protestos e movimentos contrários a “inclusão ditatorial”.

Esta preocupação da APAE, sobre a nova política de

inclusão é válida, mas outro aspecto também pode ser

discutido, pois, como já foi citado anteriormente, esta é uma

entidade filantrópica e que “não visa lucro”, mas sem

arrecadações esta não pode se manter. Então se conclui que

se os alunos forem inseridos em uma escola regular será

necessário que este centro que antes atendiam a essas

pessoas que necessitavam “ser incluídas”, na atual política

de governo não será mais necessário.

Portanto, não tendo quem atender esta não terá

arrecadações, ou seja, há os dois “lados da moeda”, o

primeiro seria realmente a preocupação com as pessoas com

deficiências na sala de aula regular, e a segunda seria

simplesmente a preocupação com o fechamento do centro,

pois é frustrante saber que as pessoas que trabalham com a

inclusão acabem não acreditando que de fato esta possa

acontecer.

Nesta pesquisa, tivemos a oportunidade de ver que os

profissionais que trabalham nesta instituição não acreditam

no próprio esforço dessa luta de muitos anos, pois de acordo

com relatos de alguns professores, as pessoas com

deficiências não irão se adequar a sala de aula regular. Esta

é visão um pouco complexa, pois mesmo sabendo que há

muito que ser feito na educação de ensino regular, para

receber estes alunos que estão migrando dos Centros de

atendimento especializados, sabemos que é uma proposta

Page 48: Miolo livro  apae (oficial)

~ 47 ~

audaciosa e que é preciso ter a credibilidade de todos os que

estão envolvidos nessa luta pela inclusão para que realmente

essa proposta venha dar certo.

2.3 OS PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN E O

MERCADO DE TRABALHO

A década de 1990 se apresenta como um divisor de

águas no campo da ação educativa para o mercado de

trabalho. Nesse contexto a APAE/ Acre integra ações

voltadas a estimular a política de inclusão social de pessoas

com Síndrome de Down. Claudia Werneck15 afirma que:

A história das relações entre a síndrome de

Down e as sociedades começou em um

passado remotíssimo. Existem crânios

saxônicos do século VII que os antropólogos

dizem ser de pessoas nascidas com essa

síndrome. E também desenhos e esculturas de

crianças e adultos com traços reproduzindo o

mesmo fenótipo já na civilização olmeca, que

antecedeu aos aztecas, no México, há quase

três mil anos”. (1999, pág.05).

A referida autora nos indaga se a existência da

Síndrome de Down é tão antiga quanto à humanidade,

15

WERNECK, Apud. Síndrome de Down. Federação Brasileira das Associações

de Síndrome de Down, Brasília, 1999.

Page 49: Miolo livro  apae (oficial)

~ 48 ~

parece que sim, então porque nos dias atuais há muitas

pessoas que ainda veem este assunto como um problema?

Ou uma maldição familiar?

É este os desafios que APAE se propôs a enfrentar ao

longo destes anos, que trava uma batalha para democratizar

a saúde, reabilitação, educação, lazer, esporte, trabalho etc.

Uma das barreiras que a APAE no Acre tem

enfrentado é a discriminação e a luta por uma comunidade

menos preconceituosa. Outro aspecto é que muitas vezes a

própria família que não aceita uma criança com deficiência

mental, insistindo para que esta permaneça na escola

regular, não procurando auxílio de uma instituição adequada.

Esta é uma das metas proposta pela APAE, que é ser

uma escola adequada, um local onde, crianças e

adolescentes se entendam e se reconheçam como parte de

um todo e de uma sociedade indivisível, desenvolvendo as

atividades estabelecidas pelo Projeto Político Pedagógico,

onde mesmo com todas as limitações cada estudante possa

ter um enfrentamento dos desafios diante da vida fora e

dentro da sala de aula.

É nesse contexto, que podemos observar o que cada

cidadão pode contribuir para inserção incondicional de

pessoas com Síndrome de Down ou com qualquer outro tipo

de deficiência, ser incluídos nessa sociedade

preconceituosa, não só na educação, com o acesso, mas no

mercado de trabalho, reorganizando e dignificando as

diferenças individuais, buscando novas metodologias úteis

Page 50: Miolo livro  apae (oficial)

~ 49 ~

para trazer o verdadeiro conhecimento e um novo conceito

de mundo para o sujeito em análise.

Como pode ser observado em visitas feitas a APAE de

Rio Branco existem programas específicos de estimulação

precoce para portadores de SD, em diversas instituições

especializadas na educação de crianças excepcionais.

Importante ressaltar que as pessoas com síndrome de

Down se constituem a clientela escolhida para um estudo

mais aprofundado, no âmbito desta pesquisa, quanto às

práticas educativas ministradas e as possibilidades de

ingresso no mercado de trabalho. Com base nas pesquisas

realizadas foi possível constatar um menor percentual de

pessoas com essa modalidade atendida pela APAE de Rio

Branco.

A APAE de Rio Branco não é especializada em uma

única modalidade de educação especial, pois desde que foi

criada presta atendimento a uma clientela mista. Neste

contexto, podemos perceber um menor número de casos de

pessoas com Síndrome de Down. Portanto, a inclusão destas

no mercado de trabalho e em escolas regulares é mínima.

No caso das pessoas com síndrome de Down é

relevante destacar que há um benefício previsto em lei,

através do qual a família do assistido recebe mensalmente a

quantia de um salário mínimo. Este fato explica porque, em

geral, as famílias destes resistem para que estes sejam

inseridos no mercado formal de trabalho, por implicar na

perda deste auxílio financeiro que, na maioria dos casos, é

fundamental ao atendimento das suas necessidades básicas,

Page 51: Miolo livro  apae (oficial)

~ 50 ~

diante dos parcos recursos materiais de suas famílias ou

responsáveis. Por outro lado, ao ser incluso no mercado de

trabalho, a pessoa com síndrome de Down, devido à

inexistência de uma legislação especial, pode ser dispensado

repentinamente, o que acarretaria transtornos de toda ordem

para esta e seus familiares.

As pessoas com deficiência, que recebem algum

benefício do Estado, não podem ser admitidas regularmente,

há apenas uma exceção: a dos portadores da Síndrome da

Talidomida. De acordo com a Lei nº 7.070, de 20 de

dezembro de 1982, estas pessoas podem receber pensão

especial, mensal, vitalícia e intransferível. Mas a Lei é de

natureza indenizatória, não prejudicando eventuais

benefícios de natureza previdenciária, e não poderá ser

reduzido em razão de eventual aquisição de capacidade

laborativa ou de redução de incapacidade para o trabalho

ocorrido após a sua concessão. Outros portadores de

deficiência que foram aposentados por invalidez não podem

ser admitidos regularmente, sob pena de perderem a

aposentadoria.

Com a perspectiva de tornar a leitura mais

compreensível ao leitor e para esclarecer muitas dúvidas que

nos rodeiam constantemente diante dessas novas políticas

públicas do governo federal, com base no Manual de

Orientação (Definições e aspectos legais) 200116, vamos

utilizar algumas questões, por sinal muito comum em nosso

dia-dia, com o objetivo de respondê-las de forma mais clara e

16

SENAI. DN. Manual de Orientações; definições e aspectos legais.

Educação Especial. Brasília, 2001. 96 p.

Page 52: Miolo livro  apae (oficial)

~ 51 ~

coerente possível, como parte dessa modalidade de nossa

pesquisa, para que muitos preconceitos e paradigmas sejam

quebrados, pois a pessoa com deficiência é amparada em

lei, e tem direito a ingressar no mercado de trabalho.

A empresa pública deve contratar pessoas com

deficiência de acordo com a alínea VIII do art. 37 da

constituição Federal, a lei reservará percentual dos cargos e

empregos públicos para as pessoas com deficiência e

definirá os critérios de sua admissão.

Conforme o § 2º do art. 5º da Lei nº 8.112, de 11 de

dezembro de 1990,

(Que dispõe sobre o regime jurídico dos

servidores públicos civil da União, das

autarquias e das fundações públicas federais),

às pessoas portadoras de deficiência é

assegurado o direito de se inscrever em

concurso público para provimento de cargo

cujas atribuições sejam compatíveis com a

deficiência de que são portadoras; para tais

pessoas serão reservadas até 20% (vinte por

cento) das vagas oferecidas no concurso.

A empresa privada deve contratar pessoas com

deficiência de acordo com o art. 93 da Lei nº 8.213, de 24 de

julho de 1991 (Plano de Benefícios da Previdência social), a

empresa com 100 (cem), ou mais empregados está obrigada

a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento)

dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas

Page 53: Miolo livro  apae (oficial)

~ 52 ~

portadoras de deficiência, habilitadas, na seguinte

proporção17:

TABELA 4: QUADRO DE FUNCIONÁRIO POR EMPRESAS

I – até 200 empregados 2%

II – de 201 a 500 3%

III – de 501 a 1.000. 4%

IV – de 1.001 em diante 5%

Encontra-se também na Portaria nº 4.677, de 29 de

julho de 1998, do Ministério da Previdência e Assistência

Social.

O Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, além

de reeditar este mesmo artigo, ainda incube o Ministério do

Trabalho e Emprego fiscalizarem o seu comprimento.

A empresa privada pode demitir funcionários que

sejam deficientes, empresários do setor privado e

funcionários deficientes, estão sujeitos às mesmas

determinações da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT

pelas quais devem se reger todos aqueles que estão no

mercado de trabalho.

De acordo com o § 1º da Lei n 8.213, de 24 de julho

de 1991 (Plano de Benefícios da Previdência Social), a

17

SENAI. DN. Manual de Orientações; definições e aspectos legais. Educação

Especial. Brasília, 2001. 96 p.

Page 54: Miolo livro  apae (oficial)

~ 53 ~

dispensa ao final de contrato por prazo determinado de mais

de 90 (noventa) dias, e a imotivada, no contrato por prazo

indeterminado, só poderá ocorrer após a contratação de

substituto de condição semelhante.

Portanto, constitui crime não empregar uma pessoa

porque ela é deficiente, o art. 8º da Lei nº 7.853, de 24 de

outubro de 1989, informa que:

Constitui crime punível com reclusão de 01 (um)

a 4 (quatro) anos de multa: a)obstar, sem justa

causa, o acesso de alguém a qualquer cargo

público, por motivos derivados de sua

deficiência; b) negar, sem justa causa, a

alguém, por motivos derivados de sua

deficiência, emprego ou trabalho.18

O art. 1º da Instrução Normativa nº 05, de 30 de

agosto de 1991, que dispõe sobre a fiscalização do trabalho

das pessoas com deficiência, afirma que o trabalho da

pessoa deficiente não caracterizará relação de emprego

quando atender aos seguintes requisitos: a) realizar-se sob

assistência e orientação de entidades sem fins lucrativos, de

natureza filantrópica, que tenha como objetivo assistir o

deficiente; b) destinar-se a fins terapêuticos de

desenvolvimento da capacidade laborativa do deficiente19.

18

SENAI. DN. Manual de Orientações; definições e aspectos legais. Educação

Especial. Brasília, 2001. 96 p 19

Ibdem.

Page 55: Miolo livro  apae (oficial)

~ 54 ~

Diante do exposto, percebe-se que existe uma

infinidade de Leis que amparam as pessoas com deficiência,

o que pode ser observado também é que essas leis são

generalizadas, ou seja, abrange a todos os tipos de

deficiência, em nenhum momento vimos uma lei específica

para cada deficiência. Que no caso nosso foco de pesquisa é

a Síndrome de Down, e a inserção dessas pessoas no

mercado de trabalho da cidade de Rio Branco.

Page 56: Miolo livro  apae (oficial)

~ 55 ~

CAPÍTULO 3

A APAE E A INCLUSÃO DE PESSOAS COM

NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NO

MERCADO DE TRABALHO RIO-BRANQUENCE

3.1 O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DA APAE

O objetivo do Projeto Político Pedagógico: “Educar

para Vida...” do Centro Educacional “Dr. Arthur Chalub Leite”

– é a inserção oficial desta Escola da APAE na estrutura da

educação nacional, ofertando educação básica nos níveis de

educação infantil e fases iniciais do ensino fundamental, de

forma interativa com as modalidades de educação

profissional e educação de jovens e adultos. Essa

interatividade entre modalidades de ensino é indispensável

para atender às demandas dos educandos com deficiência

na realidade do nosso país, visivelmente marcada pela

exclusão social e escolar.

A educação especial permeia os mencionados níveis

de ensino como modalidade educativa, focalizando os

aspectos organizativos e curriculares que favorecem e

mediam o desenvolvimento, a aprendizagem e a socialização

dessa população específica, bem como as peculiaridades de

sua educação. A Escola da APAE, adotando o estatuto da

nova LDB (1996) destaca,

Page 57: Miolo livro  apae (oficial)

~ 56 ~

A posição relevante que ocupa a educação

básica como alicerce na trajetória educacional

do aluno. Por isso, estabelece como propósito

de sua primeira etapa, a educação infantil,

considerando o desenvolvimento integral da

criança de zero a seis anos, nas dimensões

físicas, psicológica, intelectual e social. 20

Neste sentido, o Projeto Político Pedagógico da

Escola da APAE – Dr. Arthur Chalub Leite estende sua

escolarização de nível básico até as fases iniciais do ensino

fundamental, adotando escolarização e profissionalização.

A LDB (1996) faculta aos sistemas de ensino a

organização do ensino fundamental em ciclos, estabelecendo

para esse nível a duração mínima de oito anos. Cabe aos

sistemas a deliberação de expandir o tempo, tendo em vista

o benefício do aluno e de sua formação básica.

No contexto da educação especial, essa ampliação é

muitas vezes necessária, para a escolarização de educandos

com deficiência. Quando isso ocorre, os sistemas de ensino

possam a valer dos programas da modalidade de educação

de jovens e adultos para os que não tiveram acesso à

educação ou não deram continuidade aos estudos na idade

própria e ainda, para educandos que levaram mais tempo no

período escolar em decorrência de suas necessidades

educacionais especiais/deficiências (s).

20

Projeto Político Pedagógico, APAE, Rio Branco, 2006. P. 7

Page 58: Miolo livro  apae (oficial)

~ 57 ~

O projeto também visa incluir na estrutura

organizacional da escola da APAE, a educação profissional,

condizente com os preceitos legais. Essa modalidade está

vinculada à vida produtiva no espaço desafiador do mundo

do trabalho. Desse modo, o currículo deve privilegiar as

competências e habilidades compatíveis com o exercício

profissional, enfatizando a formação do sujeito trabalhador,

considerando que a prática pedagógica deve ser entendida

como instrumento libertador do educando e de sua

emancipação como cidadão.

De acordo com o Projeto Político Pedagógico: “Educar

Para Vida” a Educação Profissional abrange três níveis:

básico, técnico e tecnológico, segundo a legislação vigente.

O Centro Educacional Dr. Arthur Chalub Leite, tendo em vista

as características dos seus educandos, define a atuação no

nível básico, focalizando a qualificação, requalificação e

reprofissionalização dos trabalhadores, independentemente

de níveis de escolarização ou de escolaridade prévia. Essa

possibilidade preconizada na legislação compatibiliza-se com

a diversidade de situações peculiares à modalidade de

educação Especial, e dos alunos que dela necessitam.

O PPP da Escola da APAE destaca que as metas para

a Educação de Jovens e Adultos/Ensino Profissionalizante

são:

Favorecer a inclusão da pessoa portadora de

deficiência no mercado de trabalho;

Page 59: Miolo livro  apae (oficial)

~ 58 ~

Organizar programas de qualificação profissional na

instituição e/ou em parcerias com outras

organizações;

Buscar alternativas de criação, produção e geração de

renda para pessoas portadoras de deficiência

acentuada;

Implantar trabalho protegido, associado à cultura e ao

lazer;

Proporcionar trabalho educativo de forma sistemática

e permanente;

Divulgar potencialidade da pessoa portadora de

deficiência e sua eficiência no trabalho.

Diante do exposto, como base o PPP da Escola da

APAE, percebe-se que o mesmo não é destinado a uma

única clientela, ou seja, em nenhum momento, este

especifica, ou delimita alguma deficiência, este abrange de

forma genérica.

3.2 A INSERÇÃO DO EGRESSO DOS CURSOS DA APAE

NO MERCADO DE TRABALHO RIO-BRANQUENSE (1981-

2009)

Lamentavelmente ainda existem pessoas que se

constituem empregador que fecha os olhos para a evidência

do nosso direito. Em uma época em que só se fala de

Page 60: Miolo livro  apae (oficial)

~ 59 ~

tecnologias, de avanço e de inclusão ainda existem pessoas

com uma mentalidade leiga sobre o direito do trabalho e as

vagas destinadas a pessoas com deficiência. Não se trata

aqui de falar de menores jornadas de trabalho ou de

melhores salários, nossa proposta é mostrar como está o

raciocínio em relação ao mercado de trabalho rio-branquense

para esse grupo de pessoas.

Em pesquisa realizada com o SINE/ Departamento de

Mobilização pelo trabalho, o objetivo foi de levantar quais as

políticas públicas desenvolvidas para o mercado trabalho de

Rio Branco, para que pudéssemos estruturar bases

confiáveis e atualizadas para identificar quais as demandas e

perspectivas dos agentes envolvidos na questão: os

Governos (Federal/Estadual e Municipal); profissionais e as

instituições que estão vinculadas e absorvem essa mão-de-

obra.

De acordo com Heloísa Pantoja na função de Gerente

de Mobilização pelo Trabalho, a proposta de políticas

públicas do SINE para o mercado de trabalho rio-branquense

é que com a implantação da Política Pública Social de

Emprego, Trabalho e Renda no estado do Acre desde 1997,

o emprego tem acompanhado as crescentes taxas de

desenvolvimento sócio-econômico do Estado. O SINE, conta

atualmente com 02 (dois) postos de atendimento aos

trabalhadores, empresários e parceiros, em Rio Branco –

capital do Estado do Acre, e 19 (dezenove) Núcleos de

Atendimento ao Trabalhador – NAT no interior do Estado.

Frente à evolução dessa política, o Governo do Estado

investiu na ampliação da estrutura física e capacidade

Page 61: Miolo livro  apae (oficial)

~ 60 ~

operacional dos serviços do Sistema Nacional de Emprego -

SINE/AC, com o intuito de garantir um novo espaço de

qualidade para um atendimento rápido e eficaz em suas

ações diante da demanda dos profissionais e empresários.

Os resultados da intermediação mostram que em 2009

foram ofertadas 4.861 vagas aos trabalhadores, sendo que o

número de inscritos foi de 12.818 trabalhadores. Foram

encaminhados ao mercado de trabalho 10.806 trabalhadores,

sendo que 3.122 trabalhadores foram efetivamente

colocados no mercado de trabalho. Segundo dados do

CAGED em 2009, O número de admissões foi de 23.790, o

que representa 13,1% dos trabalhadores admitidos no

Estado do Acre por meio do SINE.

GRÁFICO 01: PANORAMA GERAL – RIO BRANCO/AC

5633

9

193

124

20 21

72

39 4172 67

2 3 8 4 10 142517

45

319

117

20

5949

86

21

0

100

200

300

400

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Inscritos Vagas Encaminhados Colocados

FONTE: SINE/AC, 2007.

Page 62: Miolo livro  apae (oficial)

~ 61 ~

Esses números são os retratos do crescimento da

economia local a partir do fortalecimento da indústria da

transformação de maneira geral e da construção civil em

particular, assim como de toda cadeia produtiva, associada à

implantação de novas e importantes empresas do setor

industrial, comercial e serviços. Os resultados desse

crescimento estão diretamente associados às medidas e

iniciativas implantadas pelo Governo do Estado no estímulo

ao setor privado e na implantação de diversas obras públicas

de infra-estrutura, promovendo a elevação da

empregabilidade com carteiras assinadas.

GRÁFICO 02: TRABALHADORES DEFICIENTES

ENCAMINHADOS PELO SINE/AC

39 41

7267

59

49

86

0

20

40

60

80

100

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Encaminhados

FONTE: SINE/AC, 2007

Page 63: Miolo livro  apae (oficial)

~ 62 ~

Nessa perspectiva é necessário acrescentar que em

meio a esse crescimento no mercado de trabalho de Rio

Branco, nossa indagação se estabelece em identificar as

diretrizes e estratégias tendentes a satisfazer a demanda que

possui necessidades especiais e qual o objetivo do SINE

para possibilitar o ingresso no mercado de trabalho.

Heloísa Pantoja destaca que em se tratando da

questão jurídica, a Lei Nº 8.213 de 24 de julho de 1991 que

trata do processo de admissão às pessoas com deficiência

no mercado de trabalho, em geral é pouco conhecida,

validada e tão pouco respeitada, sobretudo quanto à garantia

de um percentual de vagas nas empresas públicas e

privadas para tal segmento.

Este fato é justificado pelo desrespeito às adaptações

físicas das empresas e visão de subutilização das pessoas

com deficiências em períodos de crise econômica e no

escasso número de empresas que adotam a contratação de

pessoas com deficiência, umas por desconhecerem as

habilidades destas pessoas, outras por ainda terem uma

visão de que estas podem implicar em prejuízos sociais e

produtivos para a empresa, outras por acreditarem que

precisarão investir em treinamentos específicos para a

classe, situação não recomendável, segundo estudos

técnicos de profissionalização de pessoas com deficiências.

Page 64: Miolo livro  apae (oficial)

~ 63 ~

GRÁFICO 03: TRABALHADORES DEFICIENTES

INSCRITOS NO SINE/AC

5633

2517

45

319

117

0

100

200

300

400

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Inscritos

FONTE: SINE/AC, 2007

GRÁFICO 04: VAGAS DE EMPREGO PARA DEFICIENTES

9

193

124

20 21

72

20

0

50

100

150

200

250

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Vagas

FONTE: SINE/AC, 2007

Page 65: Miolo livro  apae (oficial)

~ 64 ~

Por sua vez, a lei 7.853/89 estabelece a política

nacional para as pessoas portadoras de deficiência, com a

ampliação de oportunidades, reconhecendo que as

desigualdades têm origem em todos os setores sociais, mas

que devem ser anuladas do meio social, especialmente por

instituições e programas sociais que potencializem a inclusão

de trabalhadores no mundo do trabalho como bem

desenvolve a missão de intermediador de profissionais sem

preconceito, visando atingir a igualdade de oportunidades,

oferecendo meios institucionais diferenciados para o acesso

das pessoas portadoras de deficiência e, portanto, viabilizar

o pleno exercício de direitos fundamentais, sobretudo no que

concerne ao direito ao trabalho.

O SINE se constitui o maior órgão governamental que

trabalha com a contratação de profissionais, este por sua vez

está vinculado a outras empresas tanto estatal como

privadas. Em suas parceiras atende o perfil que a empresa

disponibiliza para a vaga disponível, independente de ser um

profissional com deficiência ou não. Respeitando

simplesmente o perfil que a empresa exige.

No tocante as vagas destinadas a pessoas com

Síndrome de Down, a Lei Nº 8.213 de 24 de julho de 1991

que estabelece à política nacional de inclusão de pessoas

com deficiência no mundo do trabalho, e orientações do

Ministério do Trabalho e Emprego as empresas parceiras do

SINE, em geral disponibilizam vagas de emprego para

trabalhadores que apresentam deficiência física, auditiva,

mental e visual.

Page 66: Miolo livro  apae (oficial)

~ 65 ~

Desta forma entendemos que também não restringimos os portadores da Síndrome de Down. Esta forma de

ação está em perfeita consonância com os objetivos fundamentais do Estado de erradicar a pobreza, a marginalização, e de reduzir as desigualdades sócio-regionais, sem preconceitos de limitações, físicas, mentais, auditivas, sensoriais dentre outras.

21

O SINE por meio de sua gerente de Mobilização do

Trabalho desconhece a inclusão de portadores da Síndrome

de Down, por intermédio desta instituição. Como pode ser

observado no Gráfico a seguir, vemos que a partir de 2003,

8% se inscreveram, assim como em 2006 apenas 1% das

inscrições foram realizadas, ou seja, mesmo que pequena,

ainda há uma procura, o que acontece como pode ser

analisado, na entrevista a Heloísa Pantoja é que o mercado

não absorve essa mão- de - obra.

GRÁFICO 05: INSCRITOS NO SINE/AC – TIPOS DE

DEFICIÊNCIA

0 01

6

12

3

5

8

0 0 0

2

0 0 0 0 0 00

2 21 1

21

000 1

4

2

8

01

0

0

5

10

15

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Auditivo Físico Mental Multíplo Visual

FONTE: SINE/AC, 2007

21

Heloísa Pantoja, Gerente de Mobilização pelo Trabalho/SINE. Entrevista

Page 67: Miolo livro  apae (oficial)

~ 66 ~

GRÁFICO 06: TRABALHADORES DEFICIENTES

COLOCADOS PELO SINE/AC

23

8

4

10

14

21

0

5

10

15

20

25

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Colocados

FONTE: SINE/AC, 2007

GRÁFICO 07: VAGAS X COLOCAÇÕES

9

193

124

20 21

72

2 3 8 4 10 1420 21

0

50

100

150

200

250

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Vagas Colocados

FONTE: SINE/AC, 2007

Page 68: Miolo livro  apae (oficial)

~ 67 ~

Apesar de se constituir lei a inclusão de pessoas com

deficiência no mercado de trabalho, não existe nenhum

órgão responsável por essa fiscalização.

Como a APAE é o único órgão filantrópico no Estado

que trabalha com essa proposta de inclusão para o mercado

de trabalho, foi-se necessário indagar se existe alguma

parceria/convênio com o SINE. Como foi possível observar

em entrevista a Heloísa Pantoja, a parceria existente entre

este Departamento e a APAE ocorre por meio de contratação

da mesma como entidade executora para a realização de

cursos profissionalizantes a serem oferecidos aos alunos

e/ou familiares. Esta relação ocorre em função das

orientações do Plano Nacional de Qualificação - PNQ por

meio do Plano Territorial de Qualificação – Planteq o qual

poderá disponibilizar cursos para o público em questão.

Nessa perspectiva conclui-se que existe um grupo,

ainda pequeno que procuram emprego, recorrendo ao SINE,

o que acontece é que não existe nem uma política pública e

nem uma lei específica para pessoas com Síndrome de

Down. No decorrer do trabalho, pode ser observado que

todas as leis são muito abrangentes, atende a todos aqueles

que possuem alguma deficiência. Quanto à APAE, seu papel

apenas está vinculado somente ao acesso em fornecer

cursos profissionalizantes, a qual disponibiliza cursos de

oficina com jornal, bordado, crochê, fuxico/vagonite,

reciclagem, embalador, doces, pintor, arrumadeira,

jardinagem, padeiro, auxiliar de serviços gerais, e outros.

Page 69: Miolo livro  apae (oficial)

~ 68 ~

Observa-se que não foi criada uma estratégia eficiente

para a que à mão-de-obra fosse absorvida após a conclusão

dos cursos, pois só existe um convênio com Senac/Senai.

Em entrevista realizada com Cecília Maria na condição

de coordenadora técnica da APAE, foi disponibilizada uma

lista que contém 11 (onze) alunos que estão ativos no

mercado de trabalho na cidade de Rio Branco. Podemos

verificar na tabela abaixo.

TABELA 5: ALUNOS QUE ESTÃO INSERIDOS NO

MERCADO DE TRABALHO

Alunos que estão inseridos no mercado de trabalho de Rio Branco

Nº Nome Data de Nascimento

Idade Empresa Deficiência

01 Ricardo Freitas Borges

05/08/1978 30 Supermercado Araújo

Deficiência Intelectual

02 Adriana da Silva Gomes

17/09/1982 27 APAE – Ábaco Engenharia

Retardo Mental Moderado

03 Maxlândia Bevilagua Aragão

09/02/1989 20 APAE – Ábaco Engenharia

Deficiência Mental

04 Heber Brilhante de Oliveira

29/07/1982 27 APAE – Ábaco Engenharia

Deficiência Mental

05 Raimundo Lope da Silva

24/10/1984 25 Assembleia Legislativa

Deficiência Mental

06 Antonio Lopes da Silva Filho

27/05/1985 24 Supermercado Araújo

Deficiência Mental

07 Saulo da Silva Pinheiro

13/03/1986 23 Supermercado Araújo

Deficiência Intelectual

08 Geones Andrade de

30/11/1967 41 Supermercado Araújo

Deficiência Mental

Page 70: Miolo livro  apae (oficial)

~ 69 ~

Souza

09 Adriana Araújo de Lima

20/03/1986 23 Supermercado Araújo

Deficiência Intelectual

10 Alecssandra Fonte de Melo

05/02/1987 22 Supermercado Araújo

Deficiência Mental

11 Alexis Fortunato da Silva Neto

29/03/1991 18 Supermercado Araújo

Deficiência Intelectual

Fonte: APAE/AC -2010

Portanto, diante desse quadro a filantropia exercida

pela a APAE no Acre contribuiu olhando para as pessoas

com deficiência, sob a ótica de revolucionar a década de 80

no Estado, porém podemos perceber por detrás desse

discurso revolucionário, e que mesmo diante desses longos

anos de “luta” pela inclusão, não podemos ver um

posicionamento definido do que seriam realmente os

objetivos específicos dessa instituição. Não existe só uma

única vertente, que seria a inclusão tanto na educação

quanto no mercado de trabalho, pois até agora não vemos

tais metas se concretizarem. Não existe uma estratégia

adequada e eficiente para que de fato essas pessoas com

deficiências possam ser incluídas.

Limitando-nos somente ao âmbito da pesquisa, só foi

possível identificar 11 pessoas que passaram pelo

atendimento da APAE, com Deficiência Mental, Intelectual e

Retardo Mental que estão no mercado de trabalho, em

pesquisa realizada ao SINE, como pode ser observado nos

gráficos, constatamos que existe sim uma procura por

emprego, mas não existem mecanismos que dê suporte e

Page 71: Miolo livro  apae (oficial)

~ 70 ~

acesso para tais pessoas. Ou seja, a APAE deveria

estabelecer conjunturas sociais que pudessem dar

mecanismos às pessoas com Síndrome de Down, para que

estas pudessem trabalhar.

Como foi citado, anteriormente, o PPP da APAE,

estabelece essa proposta como meta, inclusive parcerias e

alternativas para favorecer a inclusão no mercado de

trabalho, mas como pode ser comprovada na pesquisa, essa

inclusão ainda caminha em passos lentos, existem pessoas

com necessidades físicas, visual, auditiva, que passaram

pelo o SINE e hoje estão no mercado de trabalho, mas no

que se refere à Síndrome de Down, não existe nenhum caso.

Nossa proposta, é que a partir de tais dados, a APAE,

busque novas alternativas e estratégias para solucionar tais

lacunas, e que a inclusão não fique limitada somente a

inúmeros projetos que simplesmente não saem do papel,

mas que de fato se efetivem e se estabeleça como fator

primordial nessa busca de inclusão na sociedade onde todos

aqueles que possuem qualquer tipo de deficiência: física,

auditiva, visual, mental, estejam incluídas nesse processo na

busca de uma sociedade igualitária, a qual tem se tornado

uma utopia.

Page 72: Miolo livro  apae (oficial)

~ 71 ~

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No percurso da sociedade brasileira em direção à

garantia e à efetivação dos direitos da pessoa com

deficiência, com o advento da Constituição Federal de 1988,

estes alcançaram um patamar nunca antes experimentado

pelas iniciativas legais isoladas anteriormente.

De acordo com Rosana Beraldi (2001) “a Carta

Magna, com sua previsão de garantias de forte influxo social

e o estabelecimento subsequente de mecanismos via

legislação ordinária, inaugurou uma etapa de maior

concretude, juridicidade e eficácia rumo à igualdade e

dignidade desse segmento da população”.

Só que a APAE- Acre, originada também na década

de 80, antes da Constituição vigente, já buscava espaço e

discussões contribuindo e incentivando, pais e amigos na

luta contra a discriminação e impulsionando uma nova ação

transformadora da realidade vivida naquele momento.

Objetivava-se à educação e a inserção das pessoas com

deficiência no mercado de trabalho.

A matéria está permeada inteiramente pelo princípio

da igualdade que, conforme a doutrina citada está

correlacionada acentuadamente ao princípio da não-

discriminação e à previsão de medidas niveladoras como

meio de compensar as persistentes desvantagens

experimentadas pela pessoa com deficiência na competição

natural da vida frente às pessoas que não portam

deficiências.

Page 73: Miolo livro  apae (oficial)

~ 72 ~

Diante do exposto, podemos concluir que talvez um

dia seja desnecessário que a Constituição e as leis falem de

igualdade, vedem discriminações, concedam tutelas

especiais, estabeleçam direitos de prestação e criminalizem

o preconceito.

Na realidade atual, precisamos dessas providências

para que de fato alcancemos o estágio da civilidade e que as

leis sejam dispensadas para que possamos atingir a

igualdade e dignidade.

Page 74: Miolo livro  apae (oficial)

~ 73 ~

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