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Nº 07 Ano II maio 2010 www.agrojacarezinho.com.br O analista de mercado Elio Micheloni Jr. projeta que até o final de 2010 as co- tações do boi gordo terão bons índices e destaca que o mercado de reposição per- manecerá em alta pelo fato da oferta ser pequena. Em entrevista à ‘Pecuária Produtiva’, Micheloni comentou que este ano está se mostrando promissor para os investi- mentos no mercado, porém, há fatores que influenciam nesse processo, como a recuperação da economia mundial, que pode causar oscilações em valores. Confira entrevista na íntegra. 1 – O ano de 2010 está sendo pro- missor para o mercado do boi gordo? Quais são as perspectivas? Se considerarmos o primeiro trimestre do ano, podemos afirmar que “foi” pro- missor, visto que a alta da arroba se deu ao redor de 11%, recuperando boa parte da baixa do final de 2009. Ou seja, o início está bom, mas ainda é só o começo, temos muitos fatores que agirão neste mercado como, a econo- mia mundial que, recuperando-se, dará maior condição de consumo desta proteí- na, além do clima, moedas, produção dos países competidores e, principalmente o tamanho da oferta brasileira. 2 – Qual a estimativa para a ocor- rência do pico da arroba do boi gor- do neste ano? Considerando-se os últimos três anos, quando observamos mudança no ciclo pecuário, os preços máximos atingidos se deram em plena safra de pasto, ou seja, no primeiro semestre. Isto em decorrên- cia do fato de que o confinamento, que cresceu muito em volume, está “ante- cipando uma era” no abate, tirando os bois que estariam prontos até março, sendo abatidos 5 meses antes. 3 - Nos últimos três anos, isso tem acontecido de forma invertida, dando-se nos meses de junho e ju- lho, quando,normalmente, seria em outubro. Qual o motivo dessa inver- são? Pode estar ligada à escassez de ofertas? Sim, está ligada à escassez de oferta do boi de pasto, aquilo que conhecemos ENTREVISTA Mercado de reposição permanecerá em alta, afirma analista como safra. E o motivo desta inversão está diretamente ligado ao confinamen- to quando ocorre a concentração de ven- da no segundo semestre, o que conhece- mos por entressafra, passou a ser “safra de confinados”, isto explica os preços mais altos no primeiro semestre. 4 – Qual será o comportamento do mercado de setembro a novembro? Pode-se acreditar na arroba a R$ 85 e até R$ 90? Se considerarmos que o o preço do boi para outubro 2010 já atingiu R$89,00, e este era o objetivo do pecuarista, então a atitude era de vender o mercado futuro. Agora, olhar para o fim do ano e afir- mar o nível do mercado, é muito difícil. O que podemos afirmar é que, os funda- mentos são muito positivos para este ano. 5 – Apesar de o mercado estar seguindo em um ciclo alto, já vem mostrando vestígios do início da baixa. Porém, o mercado de reposi- ção continua em alta. A que se deve esse fator? Efetivamente estamos recompondo o rebanho, a oferta é pequena, por isto nota-se o preço do bezerro firme e em alta, a recomposição do estoque de todas as categorias é demorada. Estamos entrando no período de des- mama, será interessante observar se ha- verá enfraquecimento no preço do be- zerro. Não acredito nesta possibilidade. 6 – O abate de vacas foi maciço até pouco tempo, porém, houve reten- ção nesse sentido.Qual a razão? O abate teve seu ápice até 2006, de lá para cá aumentou a retenção, a prova disto é que o preço da vaca que chegou a 25% abaixo do valor da arroba boi, hoje está em 5% abaixo. A razão da retenção é financeira, pro- duzir um bezerro de R$ 700,00 e uma be- zerra de R$ 500,00, é rentável. E, o produtor tem qu ter receita, se não, volta a abater suas vacas e o ciclo volta a acontecer. 7 – Como está a relação de troca entre boi gordo, boi magro e be- zerro? Quais as expectativas para este ano? A relação está apertada para o inver- nista/confinador, pelos motivos acima, pouca oferta. Este ano ainda será apertada, com o gado magro com bom preço. Para 2011 haverá aumento de oferta mas, como temos uma demanda crescen- te, de carne e, um abate “mais precoce”, a recomposição será mais demorada. 8 – Como está a disponibilidade de gado nos estados, de maneira geral? O interessante nesta pergunta é que, no estado de SP, praticamente não há mais bois de safra, o boi de pasto. SP está virando um estado confinador, por várias razões. A produção volta-se aos estados do centro-oeste e norte onde o custo para produzir é mais baixo. 9 - Em relação à indústria, como será o comportamento desse setor e o que os pecuaristas podem esperar? Entramos num ano com a economia mais sólida e otimista. A indústria, em grande parte, considerando os pequenos e médios frigoríficos, seguem sem linhas de financiamento, ou seja, a sua opera- ção está dando resultado, e isto é um ex- celente ponto de solidez. Alguns grupos voltam a operar ou devem ser incorpora- dos. O setor está bem melhor. Elio Micheloni Jr.

Newsletter Pecuária Produtiva Jacarezinho: confira a entrevista com Elio Micheloni Jr. sobre o mercado de reposição

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Nº 07 • Ano II • maio 2010 www.agrojacarezinho.com.br

O analista de mercado Elio Micheloni Jr. projeta que até o final de 2010 as co-tações do boi gordo terão bons índices e destaca que o mercado de reposição per-manecerá em alta pelo fato da oferta ser pequena.

Em entrevista à ‘Pecuária Produtiva’, Micheloni comentou que este ano está se mostrando promissor para os investi-mentos no mercado, porém, há fatores que influenciam nesse processo, como a recuperação da economia mundial, que pode causar oscilações em valores.

Confira entrevista na íntegra.

1 – O ano de 2010 está sendo pro-missor para o mercado do boi gordo? Quais são as perspectivas?

Se considerarmos o primeiro trimestre do ano, podemos afirmar que “foi” pro-missor, visto que a alta da arroba se deu ao redor de 11%, recuperando boa parte da baixa do final de 2009.

Ou seja, o início está bom, mas ainda é só o começo, temos muitos fatores que agirão neste mercado como, a econo-mia mundial que, recuperando-se, dará maior condição de consumo desta proteí-na, além do clima, moedas, produção dos países competidores e, principalmente o tamanho da oferta brasileira.

2 – Qual a estimativa para a ocor-rência do pico da arroba do boi gor-do neste ano?

Considerando-se os últimos três anos, quando observamos mudança no ciclo pecuário, os preços máximos atingidos se deram em plena safra de pasto, ou seja, no primeiro semestre. Isto em decorrên-cia do fato de que o confinamento, que cresceu muito em volume, está “ante-cipando uma era” no abate, tirando os bois que estariam prontos até março, sendo abatidos 5 meses antes.

3 - Nos últimos três anos, isso tem acontecido de forma invertida, dando-se nos meses de junho e ju-lho, quando,normalmente, seria em outubro. Qual o motivo dessa inver-são? Pode estar ligada à escassez de ofertas?

Sim, está ligada à escassez de oferta do boi de pasto, aquilo que conhecemos

entrevista

Mercado de reposição permanecerá em alta, afirma analista

como safra. E o motivo desta inversão está diretamente ligado ao confinamen-to quando ocorre a concentração de ven-da no segundo semestre, o que conhece-mos por entressafra, passou a ser “safra de confinados”, isto explica os preços mais altos no primeiro semestre.

4 – Qual será o comportamento do

mercado de setembro a novembro? Pode-se acreditar na arroba a R$ 85 e até R$ 90?

Se considerarmos que o o preço do boi para outubro 2010 já atingiu R$89,00, e este era o objetivo do pecuarista, então a atitude era de vender o mercado futuro.

Agora, olhar para o fim do ano e afir-mar o nível do mercado, é muito difícil. O que podemos afirmar é que, os funda-mentos são muito positivos para este ano.

5 – Apesar de o mercado estar seguindo em um ciclo alto, já vem mostrando vestígios do início da baixa. Porém, o mercado de reposi-ção continua em alta. A que se deve esse fator?

Efetivamente estamos recompondo o rebanho, a oferta é pequena, por isto nota-se o preço do bezerro firme e em alta, a recomposição do estoque de todas as categorias é demorada.

Estamos entrando no período de des-mama, será interessante observar se ha-

verá enfraquecimento no preço do be-zerro. Não acredito nesta possibilidade.

6 – O abate de vacas foi maciço até pouco tempo, porém, houve reten-ção nesse sentido.Qual a razão?

O abate teve seu ápice até 2006, de lá para cá aumentou a retenção, a prova disto é que o preço da vaca que chegou a 25% abaixo do valor da arroba boi, hoje está em 5% abaixo.

A razão da retenção é financeira, pro-duzir um bezerro de R$ 700,00 e uma be-zerra de R$ 500,00, é rentável.

E, o produtor tem qu ter receita, se não, volta a abater suas vacas e o ciclo volta a acontecer.

7 – Como está a relação de troca entre boi gordo, boi magro e be-zerro? Quais as expectativas para este ano?

A relação está apertada para o inver-nista/confinador, pelos motivos acima, pouca oferta.

Este ano ainda será apertada, com o gado magro com bom preço.

Para 2011 haverá aumento de oferta mas, como temos uma demanda crescen-te, de carne e, um abate “mais precoce”, a recomposição será mais demorada.

8 – Como está a disponibilidade de gado nos estados, de maneira geral?

O interessante nesta pergunta é que, no estado de SP, praticamente não há mais bois de safra, o boi de pasto. SP está virando um estado confinador, por várias razões.

A produção volta-se aos estados do centro-oeste e norte onde o custo para produzir é mais baixo.

9 - Em relação à indústria, como será o comportamento desse setor e o que os pecuaristas podem esperar?

Entramos num ano com a economia mais sólida e otimista. A indústria, em grande parte, considerando os pequenos e médios frigoríficos, seguem sem linhas de financiamento, ou seja, a sua opera-ção está dando resultado, e isto é um ex-celente ponto de solidez. Alguns grupos voltam a operar ou devem ser incorpora-dos. O setor está bem melhor.

Elio Micheloni Jr.

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projeção

artigo

Desafios futuros da gestão

Produção de alimentos deve aumentar 70% até 2050, projeta FAOA Organização

das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) projeta para 2050 uma população de 9,1 bilhões de ha-bitantes, número que demandará um investimento de 83 bilhões de dólares/ano em ali-mentos para aten-der esse volume. Isso representa um aumento de 70% na produção mundial de alimentos.

O desafio não é apenas aumentar a futura produção global, mas, onde ela é mais necessária. Mudanças climáticas e o êxodo para a cidade devem contribuir para a falta de alimentos nos próximos anos, segundo relatório da FAO.

Para isso, deve-se duplicar a produção agrícola nos países em desenvolvimento nos próximos 41 anos, período em que a população mundial deve crescer em

A agropecuária nacional supera os revezes e recupera a aceleração de seu crescimento.

As perspectivas para o setor melho-raram consideravel-mente, entretanto, mais do que épocas

passadas, é preciso que agropecuaristas se adaptem às mudanças demandadas pelos mercados (interno e externo).

O efeito globalização da economia derrubou fronteiras e define quase que constantemente uma nova ordem para a gestão dos negócios agropecuários, impondo uma revisão completa de suas práticas e conceitos.

Entender a empresa rural apenas como um modelo fornecedor de ma-téria prima, desconectada dos outros momentos de transformação, não cabe mais. É primordial que o empresário ru-ral se quiser continuar atuando, deve aprender a visão sistêmica de produção e comercialização, buscar eficácia, de

cadeias produtivas do agronegócio, so-bretudo para aquele inserido “dentro da porteira”.

- Vender bem, buscando a utilização de mecanismos de comercialização que possibilitem vender primeiro e produzir depois, como, por exemplo, a Cédula de Produto Rural – CPR e por que não Mer-cado de Futuros e Opções.

Este é um cenário ditado pela com-petição, onde a força do mercado é o atual paradigma estabelecido, e no-vos instrumentos de inteligência de mercado(analise da demanda), gestão financeira, gestão de risco, aliadas a Tecnologia da Informação devem ser utilizados, pois o agronegócio do futuro e do presente necessitará satisfazer cri-térios de sustentabilidade para ter aces-so a mercados, especialmente mercados de exportação globalizados com renda e exigências constantes.

Carlos Magno é analista de sistemas, técnico agropecuário com especialização em Gestão de Cadeias Produtivas e dire-tor técnico da Seiva Brasilis, Empresa de

Gestão em Negócios Agropecuários.

forma a favorecer a relação custo/bene-fício e permanecer competitivo. O agro-negócio passa a ser encarado como um sistema de elos, abrangendo itens como pesquisa, insumos, tecnologia de produ-ção, transporte, processamento, distribui-ção e preço.

- Modelo de gestão – Tem a finalidade de auxiliar o gestor nas suas atividades do dia-a-dia e nos momentos onde é neces-sária uma ou várias tomadas de decisões focando o gerenciamento mais adequado dos recursos disponíveis na propriedade para alcançar os objetivos traçados.

Prezado empresário rural, conhecen-do onde sua empresa rural se posiciona dentro da cadeia produtiva, possuindo informações corretas onde, estas são ge-renciadas por um programa de suporte a decisão, o senhor será capaz de tomar decisões importantes para a viabilização do seu negócio, que estão relacionadas à: Quais mercados atender? Como? Quan-do? Aonde?

Lidar profissionalmente com esta en-tidade chamada mercado é uma neces-sidade imperiosa para todos os elos das

mais 2,3 bilhões. Inicialmente, devem ser 20 bilhões de dólares por ano des-tinados à produção agrícola, 13 bilhões para a criação de animais e 50 bilhões de dólares em serviços correlatos, como armazenamento e processamento.

Dos 83 bilhões de dólares anuais a serem investidos, 29 bilhões devem se concentrar nos dois países mais popu-losos do mundo, China e Índia, objeti-vando o aumento da segurança alimen-tar e redução da pobreza. “São países

emergentes que es-tão se capitalizando, têm recursos para gastar”, explica o supervisor de Ven-das da Agropecuária Jacarezinho, Daniel Carvalho.

Segundo ele, para os produtores esta-rem preparados para as estimativas des-ta projeção da FAO, não há fórmula para

garantir o crescimento, mas, caminhos a serem seguidos. Na atividade pecuá-ria, por exemplo, destaca a melhoria da produtividade com investimentos em tecnologia, boas práticas de mane-jo, conquistar certificações sob chance-la internacional e aumento na taxa de desfrute. “Não é preciso derrubar mais árvores para aumentar as áreas de pas-tagens, mas sim, otimizar a produtivida-de por hectare já utilizado e aumentar os confinamentos, finaliza.