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TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL3.ª REGIÃO
NOÇÕES DE DIREITOPARA JORNALISTASG U I A P R Á T I C O
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL3.a REGIÃO
Assessoria de Comunicação Social, ACOMAv. Paulista,1842 – 4.º - Cep 01310-923 - São Paulo/SPwww.trf3.gov.br - e-mail: [email protected]
2.ª EDIÇÃO ,ATUALIZADA ATÉ
FEVEREIRO /2003TIRAGEM:
5.000 exemplares
EXPEDIENTEASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL /TRF3ASSESSOR: Márcio NovaesPRODUÇÃO EDITORIAL: Assessoria de Comunicação Social/TRF3;
Seção de Divulgação Social/JF-SPPESQUISA, TEXTO E EDIÇÃO: Dorealice de Alcântara e SilvaPROJETO, EDITORAÇÃO E PRODUÇÃO GRÁFICA: Elizabeth Branco PedroCAPA: Elizabeth Branco Pedro Giuseppe Campanini (foto)REVISÃO GRAMATICAL: Carmen Lúcia Uehara GilEQUIPE ACOM/TRF3-SUDS/JF: Carmen Lúcia Uehara Gil, Daniela de OliveiraBenedete, Dorealice de Alcântara e Silva, Eduardo Silveira Costa, ElizabethBranco Pedro, Ester Laruccia Ramos, Giuseppe Campanini, Ricardo AcedoNabarro, Selma A. D. Lacerda de Alcântara, Thais Menandro Lopes.FILMES: REVISTA DO TRF3FOTOLITO DE CAPA E IMPRESSÃO: RETTEC ARTES GRÁFICAS
NOÇÕES DE DIREITO PARA JORNALISTAS - 2ª EDIÇÃO é uma publicação do TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL - 3ª Região
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS: Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo,especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fonográficos, videográficos, sem a au-torização do TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL - 3.ª Região. Vedada a recuperação total ou parcial, bem como ainclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas proibições aplicam-setambém às características gráficas da obra e à sua editoração. A violação dos direitos autorais é punível como crime (art.184 e parágrafos do Código Penal) com pena de prisão e multa, busca e apreensão e indenizações diversas (arts. 101 a110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).
NOÇÕES DE DIREITO PARA JORNALISTASGUIA PRÁTICOTribunal Regional Federal - 3ª RegiãoSão Paulo, SP - Brasil, 2003
2.ª EdiçãoMarço/2003
1. Direito - Brasil. 2. Jurisprudência - Brasil.3. Jornalismo - Brasil. 4. Brasil. Tribunal RegionalFederal - 3ª Região (TRF3).
Agradecimentos:
pela valiosa orientação em Direito Processual Civil,
juiz federal Paulo Cesar Conrado;
em Direito Processual Penal,
juiz federal Roberto da Silva Oliveira;
à dedicação e empenho de
Dorealice de Alcântara e Silva,
pesquisadora, editora e redatora;
pela revisão criteriosa e atenção dedicada,
juiz federal Diretor do Foro da
Seção Judiciária do Estado de São Paulo,
José Eduardo Santos Neves;
em especial, pelo constante
incentivo e apoio à iniciativa,
ao presidente do TRF3,
desembargador federal Márcio Moraes.
JURISDIÇÃOSÃO PAULO - MATO GROSSO DO SUL
Presidente:Desembargador Federal MÁRCIO José de MORAES(2)
Vice-Presidente:Desembargadora Federal ANNA MARIA PIMENTEL(3)
Corregedora-Geral:Desembargadora Federal DIVA Prestes Marcondes MALERBI(4)
DESEMBARGADORES FEDERAISARICÊ Moacyr AMARAL Santos, Paulo THEOTONIO COSTA, Paulo OctavioBAPTISTA PEREIRA, SUZANA de CAMARGO Gomes, ANDRÉNABARRETE Neto, MARLI Marques FERREIRA, ROBERTO Luiz RibeiroHADDAD, RAMZA TARTUCE Gomes da Silva, SYLVIA Helena de FigueiredoSTEINER, Maria SALETTE Camargo NASCIMENTO, NEWTON DE LUCCA,Otavio PEIXOTO JUNIOR, FÁBIO PRIETO de Souza, CECÍLIA Maria PiedraMARCONDES, THEREZINHA Astolphi CAZERTA, MAIRAN Gonçalves MAIAJúnior, NERY da Costa JÚNIOR, ALDA Maria BASTO Caminha Ansaldi, LuísCARLOS Hiroki MUTA, CONSUELO Yatsuda Moromizato YOSHIDA, MARISAFerreira dos SANTOS, Luís Antonio JOHONSOM DI SALVO, Pedro PauloLAZARANO NETO, NELTON Agnaldo Moraes DOS SANTOS, SÉRGIO doNASCIMENTO.Juízes Federais (Convocados):MAURÍCIO Yukikazu KATO, Carlos André de CASTRO GUERRAJuiz Federal (Convocado em auxílio na Vice-Presidência):CÉSAR de Moraes SABBAG
Seção Judiciária do Estado de São Paulo:Diretor do Foro: Juiz Federal JOSÉ EDUARDO Barbosa SANTOS NEVES
Seção Judiciária do Estado de Mato Grosso do Sul:Diretor do Foro: Juiz Federal RENATO TONIASSO
Diretor Geral TRF3:Gilberto de Almeida Nunes
_______________(1) Composição do TRF 3ª Região atualizada em 2/4/2003.(2) Não integra as Turmas. Preside a Sessão Plenária e o Órgão Especial.(3) Não integra as Turmas. Preside as Seções.(4) Não integra as Turmas.
PODER JUDICIÁRIOTRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO (1)
APRESENTAÇÃOMENSAGEM AOS JORNALISTAS
É com imensa satisfação que estamosdisponibilizando aos senhores profissionais da
imprensa, que se incumbem da grande missão deinformar e promover a consolidação da
cidadania de nosso povo, este exemplar do“Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático”.
Em segunda edição, revista, ampliada e atualizada, estemanual tem o objetivo de melhorar o canal de
comunicação entre Imprensa e Judiciário, aprimorando o nosso relacionamento.
Esperamos então, que aqueles que busquem dirimirsuas dificuldades no mundo das letras jurídicas, encontrem
aqui informações mais qualificadas.Registro a admiração e o respeito que dedico à
Imprensa e a seus profissionais, com os quais comungoos esforços de um Brasil mais justo e melhor.
Márcio Moraespresidente - TRF 3.ª Região
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 7
ÍNDICE GERAL
PARTE I
CAPÍTULO IINTRODUÇÃO
1 JUSTIÇA PRIVADA, 172 JUSTIÇA PÚBLICA, 183 JUSTIÇA “INTERNACIONAL”, 21
3.1 Tribunal Penal Internacional, TPI, 223.2 Arbitragem (Convenção de Nova Iorque), 23
4 TV JUSTIÇA, 25
CAPÍTULO IIESTADO E PODER
1 UNICIDADE DO PODER, 272 DIVISÃO DO PODER , 283 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO, 304 SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO, 32
Índice Geral8
5 CRIAÇÃO DOS CURSOS JURÍDICOS NOBRASIL, 33
CAPÍTULO IIIO PODER JUDICIÁRIO
1 ORGANIZAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO, 381.1 Supremo Tribunal Federal, 401.2 Superior Tribunal de Justiça, 411.3 Justiça Federal, 41
1.3.1 Tribunais Regionais Federais, 44 - Composição e competência, 46
1.3.2 Seções Judiciárias, 49 - Composição e competência, 49
1.4 Justiça do Trabalho, 501.5 Justiça Eleitoral, 511.6 Justiça Militar, 531.7 Justiça Estadual, 541.8 Juizados Especiais, 55
1.8.1 Juizado Especial Cível, 561.8.2 Juizado Especial Criminal, 57
2 A JUSTIÇA FEDERAL NA TERCEIRA REGIÃO(SP/MS), 59
2.1 Órgãos Julgadores do TRF3, 60 - Plenário, 60 - Órgão Especial, 60 - Seções Especializadas, 61 - Turmas, 61 - Turmas de Férias, 61 2.2 Fóruns Especializados de 1.º Grau, 61
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 9
2.2.1 Fórum de Execuções Fiscais de São Paulo, 62 - Execuções Virtuais, 63
2.2.2 Fórum de Direito Ambiental, Indígena e Agrário (MS), 642.2.3 Fórum Social, 64
- Juizados Especiais Previdenciários, 65- Turmas Recursais, 67
- Varas Previdenciárias, 67 2.3 Juizados Especiais Federais Criminais, 683 INSTITUIÇÕES ESSENCIAIS À ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA, 69
3.1 Ministério Público, 693.2 Advocacia-Geral da União, 713.3 Procuradorias dos Estados e do Distrito Federal, 733.4 Defensoria Pública, 733.5 Ordem dos Advogados do Brasil, 73
CAPÍTULO IVCONCEITOS BÁSICOS
1 CONCEITO DE DIREITO, 752 DIVISÃO DO DIREITO, 783 DIREITO OBJETIVO E DIREITO SUBJETIVO, 804 LEI, 80
4.1 Conceito, 804.2 Hierarquia, 81
- Emenda, 81- Lei Complementar, 81- Lei Ordinária, 83- Medida Provisória, 83
Índice Geral10
- Decreto-Lei, 83- Lei-delegada, 84- Resolução, 84
5 PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO, 846 EQÜIDADE, 857 JURISDIÇÃO, 858 COMPETÊNCIA, 869 CONEXÃO E CONTINÊNCIA, 8610 PREVENÇÃO, 8711 LITISPENDÊNCIA, 8812 AÇÃO, 88
12.1 Condições da ação, 8912.1.1 Legitimidade de parte, 8912.1.2 Interesse de agir, 9012.1.3 Possibilidade jurídica do pedido, 90
13 PROCESSO, 9013.1 Requisitos básicos, 9113.2 Tipos, 9113.3 Atos processuais, 92
14 PRAZOS, 9315 PROCEDIMENTO, 9416 CARÁTER FÍSICO DOS AUTOS, 94
16.1 Identificação e localização dos autos, 96
CAPÍTULO VVISÃO GERAL DO PROCESSO
1 PROCESSO CIVIL, 971.1 Princípios gerais, 971.2 Sujeitos da lide, 99
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 11
1.3 Capacidade postulatória e capacidade de serparte, 100
1.4 Petição inicial, 1011.5 Citação, 102
1.5.1 Efeitos da citação, 1021.5.2 Contestação, 1031.5.3 Conciliação e provas, 1031.5.4 Sentença, 104
a) Sentenças declaratórias, 105b) Sentenças condenatórias, 105c) Sentenças constitutivas, 105d) Remessa “ex officio”, 105
1.6 Recursos, 1061.6.1 Recursos no Primeiro Grau, 1061.6.2 Recursos no Segundo Grau, 107
2 PROCESSO PENAL, 1082.1 Princípios Gerais, 1082.2 Inquérito policial, 109
2.2.1 Início do inquérito policial, 1102.2.2 Prazo do inquérito, 1112.2.3 Relatório, 1112.2.4 Incomunicabilidade, 1122.2.5 Sigilo e arquivamento, 112
2.3 Ação penal, 1132.3.1 Ação penal pública incondicionada, 113
2.3.1.1 Princípios que regem a ação penal pública, incondicionada ou condicionada, 114
2.3.2 Ação penal pública condicionada, 116
2.3.3 Ação penal privada, 117
Índice Geral12
2.3.3.1 Princípios que regem a ação penalprivada, 118
2.3.3.2 Tipos de ação privada, 1182.3.4 Ação penal privada subsidiária da pública, 1192.3.5 Extinção da punibilidade, 1192.3.6 Procedimento da ação penal, 1212.3.7 Recursos no Processo Penal, 123
2.3.7.1 Classificação dos recursos, 1242.3.8 Prisões, 127
2.3.8.1 Prisão provisória, 1272.3.8.2 Prisão em flagrante, 1272.3.8.3 Prisão preventiva, 1282.3.8.4 Prisão provisória temporária, 1282.3.8.5 Liberdade provisória, 129
2.3.9 Fiança, 1302.3.9.1 Inafiançáveis, 130
CAPÍTULO VIO CAMINHO DOS AUTOS
1 DE VOLTA À ORIGEM, 1332 A PRIMEIRA INSTÂNCIA, 1383 A SEGUNDA INSTÂNCIA, 138
3.1 Acórdão e recursos de 2.º grau, 1393.1.1 Recursos contra decisões do Plenário,
das Seções e das Turmas, 1404 RECURSOS COMUNS PARA O SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA, STJ E PARA OSUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, STF, 141
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 13
5 RECURSOS PRIVATIVOS DO SUPREMOTRIBUNAL FEDERAL E DO SUPERIORTRIBUNAL DE JUSTIÇA, 142
6 AÇÃO RESCISÓRIA, 143
CAPÍTULO VIIPROCEDIMENTOS ESPECIAIS
1 USUCAPIÃO, 1551.1 Conceito, 1561.2 A função social, 1561.3 Prazos, 157
2 CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE, 1593 CRIMES CONTRA A ECONOMIA POPULAR, 1594 TÓXICOS, 1605 LAVAGEM DE DINHEIRO (crime organizado),1616 CRIMES DE IMPRENSA, 162
6.1 Lei de Imprensa – Comentários, 1636.1.1 O crime como fato, 1646.1.2 Delitos praticados “pela imprensa” e “por meio
da imprensa”, 1656.1.3 Delitos de imprensa e delitos comuns, 1656.1.4 Corpo de delito e lesão moral, 1676.1.5 Direito e suscetibilidade, 1686.1.6 Publicação tendenciosa e afrontosa, 1696.1.7 Lei de imprensa e ação penal, 1696.1.8 Escrito original ou reproduzido, 1706.1.9 O delito consumado, 1716.1.10 Crime continuado, 171
Índice Geral14
6.2 Principais abusos previstos em lei, 172
CAPÍTULO VIIIINSTRUMENTOS DE TUTELA
DOS DIREITOS E DAS LIBERDADES1 MANDADO DE SEGURANÇA, 1752 HABEAS CORPUS, 1773 AÇÃO POPULAR, 1784 MANDADO DE INJUNÇÃO, 1785 HABEAS DATA, 1796 AÇÃO CIVIL PÚBLICA, 180
PARTE II
GLOSSÁRIO, 185
PARTE III
PRINCIPAIS PRAZOS, 243LEI DE IMPRENSA, 251ÍNDICE BIBLIOGRÁFICO, 283ÍNDICE DE FIGURAS, 289
PARTE I
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 17
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PARTE I
CAPÍTULO IINTRODUÇÃO
1 JUSTIÇA PRIVADA
Nos tempos primitivos, as violações das regras do gru-
po eram resolvidas por meio da chamada justiça privada, na
qual a parte ofendida exigia reparação, aplicando, quase sem-
pre, a lei de talião (olho por olho, dente por dente). A com-
posição dos conflitos entre as pessoas dava-se de forma
autônoma, na chamada autotutela ou autodefesa, também
conhecida como “justiça pelas próprias mãos”, feita de acordo
com os meios de que cada um dispunha; com isso, normal-
mente prevalecia a vontade do mais forte. Esta é a chamada
justiça privada, feita pela atuação dos próprios interessados.
A solução dos conflitos entre as partes dava-se na for-
ma de:
- desistência, quando ocorria a renúncia à pretensão;
- submissão, quando ocorria a renúncia à resistência
Capítulo I - Introdução18
oferecida;
- transação, quando as partes faziam concessões recíprocas.
Contudo, tais soluções, porque originadas quase sem-
pre da força bruta, não se impunham como capazes de pa-
cificar as partes envolvidas e gerar a paz entre todos os mem-
bros da comunidade.
2 JUSTIÇA PÚBLICA
Ainda naqueles tempos antigos, o direito era aplicado
pelos sacerdotes, que foram os primeiros juízes; mais tarde,
os anciãos ou os chefes detinham o poder para decidir os
litígios. Cada caso rememorava e repetia a decisão anterior,
mas o conhecimento era secreto, guardado com muito zelo
pelos mais velhos, que assim mantinham suas posições so-
ciais e seus privilégios. Dessa repetição de sentenças, surgiu
a lei e, após, os códigos. Dentre estes, o Código de Hamurabi
constitui-se num dos exemplos mais extraordinários de
codificação de leis dos tempos remotos. Acreditava-se que
esses primeiros códigos tivessem sido transmitidos pela di-
vindade da cidade à qual pertencia o rei-legislador; daí o
caráter divino do direito.
Somente com os romanos o direito foi desvinculado
da moral e da religião. Roma criou uma ciência e uma arte
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 19
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PARTE I
do direito, constituída pelo direito público, pelo direito pro-
cessual, pelo direito penal e pelos delitos privados, que aca-
bou se convertendo no direito europeu e, muito tempo de-
pois, na base do direito ocidental.
A natural evolução decorrente do tempo acabou por
impor a idéia de que o Estado deveria substituir os particu-
lares na solução dos conflitos, passando a administrar a jus-
tiça como uma legítima atividade estatal. Foi o desenvolvi-
mento das relações sociais, com o conseqüente reconheci-
mento de alguns direitos inerentes à pessoa humana, o for-
talecimento do Estado e da própria idéia de Estado de Di-
reito, que levou a instituição estatal a assumir o papel de
definidora das regras de convivência e da sua aplicação para
a solução dos litígios, retirando das mãos dos particulares o
poder de fazer justiça.
Por fim, há que se destacar a contribuição da França
para o Direito. A Declaração Universal dos Direitos do
Homem e do Cidadão, em 1789, promulgada pela Assem-
bléia Nacional Francesa, foi um marco na consolidação da
idéia sobre direitos fundamentais. Ela serviu de modelo para
o mundo com seus preceitos de liberdade, igualdade e
fraternidade.
Portanto, a partir da Revolução Francesa, podem-se
admitir os direitos de 1.ª, de 2.ª e de 3.ª geração, respecti-
Capítulo I - Introdução20
vamente ligados à liberdade, à igualdade e à fraternidade.
Os direitos de 1.ª geração são aqueles que em pri-
meiro lugar transmudaram-se para o raio normativo cons-
titucional; são eles os direitos à liberdade - direitos civis e
políticos.
Os direitos de 2.ª geração são os que têm maior reper-
cussão. São direitos defendidos no século XX e podem ser
resumidos em direitos sociais, culturais e econômicos e
direitos coletivos, que nasceram inspirados no princípio da
igualdade, que os ampara e os estimula.
Em relação à teoria dos direitos da 3.ª geração,
pode-se afirmar que tomaram grande impulso no final
do século XX, configurando-se em direitos que não se
consagram com especialidade à proteção de um só in-
divíduo ou de um grupo, mas a todo o gênero humano,
em todos os seus ângulos. São os direitos relativos à
fraternidade, à solidariedade, compreendendo o direi-
to ao desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente, à pro-
priedade sobre o patrimônio comum da humanidade e
o direito de comunicação, podendo alargar-se para no-
vos direitos.
Alguns autores reconhecem como resultado da
globalização os direitos humanos de 4.ª geração, isto é, o
direito à democracia e à informação.
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 21
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PARTE I
3 JUSTIÇA INTERNACIONAL
O final da primeira metade do século XX inaugurou
uma justiça que se poderia chamar de internacional, que
veio solidificando-se pouco a pouco, de um lado como um
mecanismo de proteção à humanidade e de outro como
normas que traduzem e facilitam as relações comerciais en-
tre os Estados nacionais por meio da arbitragem.
No início, o exercício dessa jurisdição internacional
tratou apenas de crimes de guerra. As quatro Convenções
de Genebra, ocorridas em 1949, ratificadas por 189 países,
prevêem que um crime cometido fora do território nacio-
nal, como bombardeio à população civil de outro país, deve
ser julgado internacionalmente.
Já os tribunais penais internacionais de Nuremberg e
de Tóquio foram criados especificamente para processar
crimes ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial, sen-
do reconhecidos pela Assembléia-Geral da ONU em 1946.
Atualmente existem dois tribunais instituídos pelo Con-
selho de Segurança da Organização das Nações Unidas, ONU,
que estão processando e julgando crimes cometidos na ex-
Iugoslávia a partir de 1991 e em Ruanda e Estados vizinhos
em 1994 (genocídio e outras violações graves ao direito in-
ternacional monetário).
Capítulo I - Introdução22
Em 1998, com a criação do Tribunal Penal Internacio-
nal permanente, que pretende tratar com uma visão mais
ampla os crimes contra a humanidade, sejam de guerra ou
contra o meio ambiente - que também coloca em risco a
sobrevivência da humanidade -, a justiça internacional con-
solidou-se.
Dentro dessa jurisdição internacional podem-se incluir,
ainda, convenções que estabelecem normas que regulam
relações comerciais internacionais por meio da arbitragem.
O Decreto n. 4.311, publicado em 24.07.02, por exemplo,
incluiu o Brasil entre os países que ratificaram a Convenção
de Nova York, passando a reconhecer sentenças arbitrais
estrangeiras.
3.1 Tribunal Penal Internacional, TPI
O Tribunal Penal Internacional foi instalado oficial-
mente em Haia, Holanda, em 01.07.02, com previsão para
início efetivo dos trabalhos no final de 2003.
O TPI foi criado pelo Estatuto de Roma, em julho de
1998, estando ratificado, atualmente, por 76 países.
O papel desse tribunal é processar e julgar pessoas de
qualquer parte do mundo que tenham praticado crimes
contra a humanidade, crimes de guerra e genocídio, in-
cluindo-se tanto os conflitos internacionais como os in-
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 23
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PARTE I
ternos. Para isso os crimes devem ter sido cometidos no
território de um dos Estados que ratificaram o TPI, ou o
acusado ter a nacionalidade de um desses Estados, e o Es-
tado envolvido não desejar ou não ter condições de julgar
o caso adequadamente.
O Conselho de Segurança da ONU pode enviar qual-
quer caso ao TPI.
Os crimes previstos pelo Estatuto do TPI são o
genocídio, os crimes contra a humanidade e os crimes de
guerra e agressão.
O Estatuto prevê penas de prisão por um período
máximo de 30 anos e, nos casos de extrema gravidade,
prevê prisão perpétua. Também está previsto dispositivo
que permite a revisão da sentença, após dois terços do tem-
po de prisão ou após 25 anos no caso de pena de prisão
perpétua.
3.2 Arbitragem
O Brasil ratificou a Convenção de Nova York, princi-
pal acordo internacional sobre arbitragem, que garante o
reconhecimento e a execução de sentenças arbitrais estran-
geiras sem a necessidade de homologação pelo Judiciário
brasileiro.
Capítulo I - Introdução24
A Convenção de Nova York foi firmada em 1959, no
âmbito da Organização das Nações Unidas, ONU, e atual-
mente conta com a adesão de 131 países.
A arbitragem torna-se valiosa para empresas que atuam
em países estrangeiros. A Convenção de Nova York, por
exemplo, evita que seus membros submetam-se às diferen-
tes legislações nacionais, pois todos os países que ratifica-
ram essa convenção aceitaram suas normas para solucionar
eventuais conflitos.
No Brasil, a validade do laudo arbitral está prevista pela
Lei n. 9.307/96, conhecida como Lei da Arbitragem. Se-
gundo ela, em vez de recorrer ao Judiciário, as partes po-
dem optar pelo arbitramento, ou convenção de arbitragem,
que se realiza em duas etapas.
Em se tratando de contrato, os contratantes com-
prometem-se, no caso de discordância, a solucioná-la
por meio de arbitramento, estabelecendo-se a cláusula
compromissória.
O segundo passo, que é o do compromisso arbitral,
acontece quando, em face da divergência na execução do
contrato, as partes indicam árbitro ou árbitros e compro-
metem-se a acatar a decisão arbitral. As partes podem esco-
lher um juiz entre os leigos na própria sessão de concilia-
ção. Após homologado, o laudo arbitral é irrecorrível.
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 25
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PARTE I
4 TV JUSTIÇA
A TV Justiça nasceu no Supremo Tribunal Federal,
STF, com o propósito de “levar ao ar um canal que mos-
tre ao público uma visão de conjunto da Justiça, com
toda a diversidade que ela comporta”. Ela foi inaugurada
em 11 de agosto de 2002, em comemoração ao Dia da
Criação dos Cursos Jurídicos no Brasil e, acrescente-se,
dia de Santa Clara, padroeira da televisão. O primeiro
programa foi “Justiça em Ação”, com a transmissão da
sessão plenária do Supremo Tribunal Federal ocorrida no
dia 8 de agosto.
Sua programação está voltada prioritariamente para o
público não especializado em Direito, pretendendo mos-
trar ao cidadão comum como chegar à Justiça e como de-
fender os seus direitos.
O Supremo Tribunal Federal é o gerador do sinal, mas
a programação da TV Justiça abrange os diversos órgãos do
Poder Judiciário, mostrando imagens de todo o Brasil.
A programação da TV Justiça é distribuída pelas ope-
radoras de televisão por assinatura (Directv/canal 209; Sky/
canal 29; NET/canal 09; TVA/Canal 60) e pela TV Cultu-
ra (SP). Encontra-se em estudo a distribuição das imagens
por outras tecnologias, como a DTH.
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 27
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PARTE I
CAPÍTULO IIESTADO E PODER
1 UNICIDADE DO PODER
É costume dizer que, se há Estado, deve haver poder.
O exercício do poder pelo Estado ocorre sob diversas for-
mas, mas, independentemente disso, é bom lembrar que o
poder é uno e indivisível na sua essência e se divide apenas
nas suas manifestações exteriores. Assim, historicamente, o
poder unificado foi a primeira forma de manifestação, e a
monarquia absoluta, o seu exemplo mais bem acabado.
Entretanto, o tempo e a experiência demonstraram a in-
conveniência do seu exercício por uma só pessoa, os riscos
do autoritarismo e do poder arbitrário.
Então, contrapondo-se ao absolutismo político, nas-
ceu a “teoria da separação de poderes”, já intuída por
Capítulo II - Estado e Poder28
Aristóteles na antigüidade, mas aplicada somente na era
moderna por Cromwell, em 1653, no “Instrument of
Government”. Do ponto de vista teórico, a divisão de po-
deres foi desenvolvida por Locke, Harrington e Bolingbroke,
mas coube a Montesquieu dar-lhe a formulação definitiva
em 1748, em sua obra De L’Espirit des Lois, inspirando
toda a ciência política e o direito constitucional das eras
moderna e contemporânea.
A teoria da separação de poderes funda-se na atribui-
ção, em princípio, de uma função determinada e delimita-
da a cada um dos Poderes do Estado, devendo ser exercida
com independência em relação aos outros poderes.
2 DIVISÃO DO PODER
A Constituição Federal de 1988 adotou a divisão clás-
sica e instituiu os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciá-
rio, encarregados do exercício das três funções básicas do
Estado, quais sejam: administrar (executiva), legislar
(legislativa) e compor conflitos (judiciária ou jurisdicional).
Porém, o fato de cada Poder estar investido de uma função
não significa a impossibilidade de exercer, em caráter se-
cundário, atribuições típicas de outra, como será visto.
Se a função básica do Poder Legislativo é a de legislar,
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 29
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PARTE I
fazendo as leis mediante procedimento próprio inscrito na
Constituição Federal, ele também fiscaliza as contas da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
por meio dos Tribunais de Contas, que são seus órgãos au-
xiliares; investiga autoridades públicas, por meio de Comis-
sões Parlamentares de Inquérito - CPIs; administra o seu
quadro próprio de pessoal e, no caso do Senado Federal,
processa e julga o Presidente e o Vice-Presidente da Repú-
blica nos crimes de responsabilidade e os Ministros de Esta-
do nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles,
após a autorização para a instauração do processo por parte
da Câmara dos Deputados.
O Poder Executivo exerce principalmente a função
administrativa, gerindo os negócios estatais, aplicando a lei
e zelando pelo seu cumprimento. Além disso, o Executivo
exerce atividade legislativa limitada quando edita medidas
provisórias, baixa regulamento para fiel cumprimento da
lei e, ainda, decide em sede administrativa os recursos con-
tra suas decisões e atos de execução.
O Poder Judiciário tem o monopólio da função
jurisdicional, isto é, o poder de aplicar a lei nos casos con-
cretos submetidos à sua apreciação. Aplicar a lei
contenciosamente significa garantir o livre e pleno debate
da demanda entre as partes interessadas no seu deslinde,
Capítulo II - Estado e Poder30
por meio do contraditório, permitindo-se a todos os que
serão afetados pela decisão expor suas razões e seus argu-
mentos.
Os membros do Poder Judiciário gozam de garantias
especiais, para fazer atuar a função jurisdicional com inde-
pendência e imparcialidade, que lhes são conferidas pela
Constituição Federal, quais sejam: a vitaliciedade, signifi-
cando que são vitalícios no cargo, podendo nele permane-
cer até a aposentadoria ou a morte; a inamovibilidade, que
impede sejam removidos, salvo por interesse público; e a
irredutibilidade de subsídio, que impede a redução nomi-
nal de valores, sujeitando-se, no entanto, aos impostos ge-
rais e às vicissitudes econômicas.
3 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
A organização político-administrativa do Estado bra-
sileiro compreende a União, os Estados, o Distrito Federal
e os Municípios, gozando todos de autonomia.
A União é pessoa jurídica de direito público externo e
interno. Quando representa o Brasil no exterior, mantendo
relações com Estados estrangeiros, participando de organi-
zações internacionais ou firmando tratados internacionais,
manifesta-se a face soberana de pessoa política do direito
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 31
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PARTE I
das gentes. Quando administra os interesses internos, como
a política de proteção aos índios, a reforma agrária, a políti-
ca econômico-financeira, a moeda, manifesta-se a pessoa
de direito público interno, comumente chamada de Gover-
no Federal.
São Poderes da União: o Legislativo, exercido pelo
Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Depu-
tados e do Senado Federal; o Executivo, exercido pelo Pre-
sidente da República, com o auxílio dos Ministros de Esta-
do; e o Judiciário, exercido pelos órgãos listados no art. 92
da Constituição Federal e que serão objeto de estudo logo a
seguir.
Os Estados-membros organizam-se por meio de cons-
tituições estaduais que, seguindo o modelo federal, institu-
em os seus Poderes Legislativo (Assembléia Legislativa Es-
tadual), Executivo (Governo do Estado) e Judiciário (Tri-
bunal e Juízes Estaduais).
O Distrito Federal rege-se por meio de uma lei orgâ-
nica que disciplina os Poderes Legislativo (Assembléia
Distrital) e Executivo (Governo do Distrito Federal). Cabe
à União organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério
Público e a Defensoria Pública do Distrito Federal.
Os Municípios, que a partir da Constituição de 1988
foram formalmente elevados à categoria de entes federados,
Capítulo II - Estado e Poder32
participam da Federação e organizam-se por meio de lei
orgânica que trata dos Poderes locais: o Legislativo (Câma-
ra Municipal) e o Executivo (Prefeitura Municipal). Note-
se que no Brasil não existem órgãos judiciários municipais e
o município não participa da elaboração das leis federais e
estaduais.
4 SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO
A história do sistema jurídico brasileiro começa muito
antes do descobrimento do Brasil, em 1500, quando Portu-
gal transportou para cá as instituições do direito português.
O sistema jurídico brasileiro pertence ao espaço social
dos direitos codificados. É, pois, um sistema de direito es-
crito, tendo na lei a sua fonte suprema.
Quanto ao conteúdo, o direito brasileiro sofreu influ-
ência imediata do direito português e mediata do direito
romano, do direito canônico e, em menor extensão, do di-
reito germânico.
Quanto ao direito constitucional, as constituições bra-
sileiras tomaram por modelo a forma da constituição nor-
te-americana: são todas escritas e, salvo a Constituição do
Império, que é semi-rígida, todas as republicanas são rígi-
das, inclusive a de 1988, o que significa que somente pode-
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PARTE I
rão ser modificadas por procedimento legislativo especial
aplicável às emendas, diverso daquele previsto para as de-
mais leis.
Apesar de alguns reconhecidos defeitos, é notório que
a Constituição Federal de 1988 consignou avanços extraor-
dinários em matérias como direitos e garantias individuais,
direitos sociais, defesa do consumidor, meio ambiente, pre-
vidência social, comunicação social, família e proteção da
criança e do adolescente.
5 CRIAÇÃO DOS CURSOS JURÍDICOS NO
BRASIL
Até 1827, os brasileiros estudavam direito na Univer-
sidade de Coimbra, fundada em 1288 por D. Diniz. Na
Faculdade de Direito Civil, fundada em 1772, bacharela-
ram-se José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca, e José
da Silva Lisboa, o Visconde de Cairu, para destacar apenas
dois entre tantos outros patrícios ilustres da época.
Em 11 de agosto de 1827, foram criados os primeiros
cursos jurídicos no Brasil (Cursos de Ciências Jurídicas e
Sociais), um em Olinda e outro em São Paulo. O curso de
Olinda foi instalado em 15 de maio de 1828, no Mosteiro
de São Bento, transferindo-se mais tarde para Recife. O curso
Capítulo II - Estado e Poder34
de São Paulo foi instalado em 1.º de março de 1828, no
velho Convento de São Francisco, do século XVII, demoli-
do em 1936, por força do plano de urbanização da cidade,
sendo transferido para o prédio em que se encontra até hoje,
no Largo São Francisco.
A atual Faculdade de Direito do Largo São Francisco,
que integra a Universidade de São Paulo, era conhecida como
Academia de São Paulo, ou Arcadas, como é tratada até hoje.
Nela tiveram origem grandes movimentos políticos, como
a Abolição da Escravatura e a Revolução Constitucionalista.
Entre os seus alunos ilustres, incluem-se Joaquim Nabuco
(1849-1905), Rodrigues Alves (1848-1919), Campos Sales
(1841-1913), Prudente de Moraes (1841-1902), Ruy Bar-
bosa (1849-1923), Pedro Lessa (1859-1921), cognominado
de o “Marshall brasileiro” e que chegou a ministro do Su-
premo Tribunal Federal.
Na década de 40 do século passado, a Academia tor-
nou-se famosa pelo movimento jurídico conhecido como
Escola Processual de São Paulo. Nos anos 50, reuniu o
grupo realeano em torno do jusfilósofo e professor Miguel
Reale, autor da teoria tridimensional do direito, que o
concebe como a composição de fato, valor e norma (1).
Nos anos 60, 70 e 80, desempenhou extraordinário papel,
num primeiro momento, na resistência à ditadura, tendo
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 35
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PARTE I
sofrido inclusive invasão no ano de 1968, e, num segundo
momento, nos movimentos memoráveis pela democrati-
zação do país.
1 Teoria Tridimensional do Direito
Miguel Reale, em sua teoria tridimensional do direito, encontra a definição dedireito pela congregação de três elementos, os quais, numa relação dinâmica,constituem a verdadeira estrutura jurídica: a norma, o fato e o valor. Assim,grosso modo, tomando (i) a norma para Ciência; (ii) o fato para a Sociologia; e(iii) o valor para a Filosofia, encontrar-se-ia a compreensão do direito. Daí aconcepção de direito de Miguel Reale: “O Direito é a concretização da idéia dejustiça na pluridiversidade de seu dever histórico, tendo a pessoa como fonte detodos os valores” (Teoria Tridimensional do Direito, Miguel Reale, Editora Sa-raiva, 1994, Suplemento I, Preliminares ao Estudo da Teoria Tridimensional doDireito, p. 117)
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PARTE I
CAPÍTULO IIIO PODER
O Poder Judiciário brasileiro tem como característica
fundamental a sua unidade e o fato de exercer o monopó-
lio da função jurisdicional ou o poder de dizer o direito
aplicável ao caso concreto, decidindo a lide com
definitividade e produzindo, pelo ato jurisdicional, a cha-
mada coisa julgada, que é a decisão contra a qual não cabe
mais recurso.
A Constituição Federal assegura ao Poder Judiciário
autonomia administrativa e financeira com o objetivo de
garantir-lhe a independência necessária para o exercício ple-
no de sua missão institucional. O autogoverno da magistra-
tura manifesta-se, por exemplo, no fato de eleger os mem-
JUDICIÁRIO
Capítulo III - O Poder Judiciário38
bros diretivos de seus tribunais e deter a iniciativa de lei
para sua própria organização e de seus quadros.
1 ORGANIZAÇÃO DO
PODER JUDICIÁRIO
O Poder Judiciário é exercido pelos seguintes órgãos:
Supremo Tribunal Federal; Superior Tribunal de Justiça,
Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais, Tribunais e
Juízes do Trabalho, Tribunais e Juízes Eleitorais, Tribunais e
Juízes Militares, Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito
Federal e Territórios (Fig. 1).
O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores
(Superior Tribunal de Justiça, Tribunal Superior do Traba-
lho, Tribunal Superior Eleitoral e Superior Tribunal Mili-
tar) têm sede na Capital Federal (Brasília) e jurisdição em
todo o território nacional.
Em decorrência do princípio da unidade do Poder Ju-
diciário, os órgãos acima listados, na ordem do art. 92 da
Constituição Federal, compõem a estrutura judiciária da
União, dos Estados-membros, do Distrito Federal e dos
Territórios, sendo que estes não existem presentemente no
Brasil.
Noções de D
ireito para Jornalistas - Guia Prático - TR
F339
Capítulo IIIO PODER JUDICIÁRIO
PARTE I
Figura 1
SUPREM O TRIBUNAL FEDERAL
TR IBU N A LSU PE RIO R D O
TR A BALH O
TR IB U N A ISR E G IO N AIS
D O TR A B AL H O
VARAS DOTRABALHO
JUNTAS ELEITOR AIS
AU DITORIASM ILITARES
TR IB U N ALS U P ER IO RELEITO RAL
TR IBU N A ISR E G IO N A ISE LE ITO R A IS
(*)
(*) A le i e sta d u a l p o d e rá c ria r, m e d ia n te p ro p o s ta d o Trib u n a l d e Jus tiç a , a Ju s tiç a M ilita r e s ta d u a l, c o n s titu íd a , e m p r im e iro g ra u , p e lo s C o n se lh o s d e J u stiç a e , e m s e g u n d o , p e lo p r ó p rio Trib u n a l d e J u stiç a , o u p o r Trib u n a l d e Ju s tiç a M ilita r n o s E s ta d o s e m q u e o e fe tiv o da p o líc ia m ilita r s e ja s u p e rio r a vin te m il in te g ra n te s , n o s te rm o s d o a rtig o 1 2 5 , § 3 º , da C o n stitu iç ã o F e d e ra l. .
S U P ER IO RTR IBU N AL
M IL IT AR
P O D E R JU D IC IÁ R IO
SUPERIORTRIBUNAL DE
JUSTIÇA
TRIBUNAISREGIONAISFEDERAIS
VARAS FEDERAIS E
JUIZADOS ESPECIAISFEDERAIS, CÍVEIS E
CRIMINAIS
VAR AS ESTADUAISE
JUIZAD OS ESPECIAISCÍVEIS E CRIM IN AIS
TR IB U N A ISD E JU ST IÇ AE S T AD U A IS
TR IB U N A IS D E A L Ç AD AE S T A D U A IS
Capítulo III - O Poder Judiciário40
1.1 Supremo Tribunal Federal
O Supremo Tribunal Federal é o tribunal de cú-
pula do Poder Judiciário brasileiro e compõe-se de
onze ministros, escolhidos dentre brasileiros natos,
no exercício pleno dos direitos de cidadão, com mais
de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos,
de notável saber jurídico e reputação ilibada. A no-
meação é feita pelo Presidente da República, após
aprovada a escolha pela maioria absoluta dos mem-
bros do Senado Federal.
A principal atribuição do Supremo Tribunal Federal
é a guarda da Constituição, sendo seu intérprete mais au-
torizado. Contudo, não se trata de uma Corte Constituci-
onal, nos moldes das existentes na Europa, ou nos Estados
Unidos, pois exerce também outras atribuições de direito
infraconstitucional, como, por exemplo, processar e jul-
gar, nas infrações penais comuns, o Presidente da Repú-
blica, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Naci-
onal, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da
República.
As demais competências do Supremo Tribu-
nal Federal estão elencadas no ar t. 102 da Cons-
tituição.
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PARTE I
1.2 Superior Tribunal de Justiça
O Superior Tribunal de Justiça compõe-se, hoje,
de trinta e três ministros, nomeados pelo Presidente da
República, após aprovada a indicação pelo Senado Fede-
ral, dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos
de sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e repu-
tação ilibada. Da composição acima, um terço dos cargos
será preenchido por juízes dos Tribunais Regionais Fede-
rais, um terço por Desembargadores dos Tribunais de Jus-
tiça e o outro terço por advogados e Membros do Minis-
tério Público Federal, Estadual, do Distrito Federal e Ter-
ritórios, de forma alternada.
A principal atribuição do Superior Tribunal de Jus-
tiça é garantir a aplicação das leis federais e a uniformidade
de sua interpretação. As demais competências estão listadas
no art. 105 da Constituição.
1.3 Justiça Federal
Com a proclamação da República, as províncias foram
transformadas em Estados que passaram a integrar a federa-
ção brasileira, conforme disposto no Decreto n. 1, de 15 de
Capítulo III - O Poder Judiciário42
novembro de 1889. Encerrava-se o Estado Monárquico
unitário, possibilitando a organização do Poder Judiciário
nos âmbitos federal e estadual.
À época, o Ministro e Secretário de Estado dos Negóci-
os da Justiça, Campos Salles, elaborou o texto do Decreto n.
848, de 11.10.1890, editado pelo Marechal Manoel Deodoro
da Fonseca, Chefe do Governo Provisório da República, com
base na Constituição provisória, corporificada no Decreto n.
510, de 22.06.1890, criando a Justiça Federal.
Inicialmente, era composta pelo Supremo Tribunal
Federal e por Juízes Federais (Juízes de Seção). Cada Esta-
do, bem como o Distrito Federal, formava uma seção judi-
ciária, com um Juiz Federal e um Juiz Substituto, inamovíveis
e nomeados pelo Presidente da República, sendo o primei-
ro vitalício e o segundo eleito para um mandato de seis anos.
A Constituição de 1891 manteve os órgãos previstos
no Decreto n. 848/1890 e inovou ao prever a criação de
Tribunais Federais, embora estes não tenham sido efetiva-
mente instalados.
Com a edição da Lei n. 221, de 20.11.1894, foi com-
pletada a organização da Justiça Federal e lançada, de forma
embrionária, a idéia de sua interiorização por meio da divi-
são das seções judiciárias em circunscrições. Referida lei foi
regulamentada pelo Decreto n. 3.084, de 05.11.1898, que
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PARTE I
não fez menção à instalação e à competência dos Tribunais
Federais previstos na Constituição de 1891.
A Constituição de 1934, ao dispor sobre os órgãos do
Poder Judiciário, instituiu uma Corte Suprema e manteve
os Juízes e Tribunais Federais.
A Constituição de 1937 extinguiu a Justiça Federal e a
Justiça Eleitoral.
A Constituição de 1946, além de restabelecer a Justiça
Eleitoral, criou o Tribunal Federal de Recursos e a Justiça
do Trabalho, mantendo o Supremo Tribunal Federal e a
Justiça Militar. Porém, não restabeleceu a Justiça Federal de
primeiro grau, atribuindo aos Juízes de Direito o
processamento dos feitos cuja competência anterior era dos
Juízes Seccionais.
O Ato Institucional n. 2, de 27.10.65, restabeleceu a
Justiça Federal de primeiro grau, sendo os Juízes Federais
nomeados pelo Presidente da República, dentre cidadãos
indicados na forma da lei pelo Supremo Tribunal Federal.
Cada Estado ou Território e o Distrito Federal passaram a
constituir uma seção judiciária, com sede na respectiva ca-
pital.
Em seguida, foi editada a Lei n. 5.010, de 30.05.66,
tida como a Lei Orgânica da Justiça Federal, que estruturou
as seções judiciárias em cinco regiões (norte, nordeste, cen-
Capítulo III - O Poder Judiciário44
tro-oeste, leste e sul), criou o Conselho da Justiça Federal e
restabeleceu o cargo de Juiz Federal Substituto, a ser provi-
do mediante concurso público. Essa lei disciplinou, ainda,
a delegação de competência para a Justiça dos Estados, no
que se refere ao processamento das execuções fiscais da União
e suas autarquias, às vistorias e justificações destinadas a fa-
zer prova perante a administração federal e aos feitos
previdenciários, quando na comarca não houver um Fórum
da Justiça Federal. As cinco seções judiciárias viriam a ser os
futuros tribunais regionais federais.
Com a Constituição de 1988 foram criados os tribu-
nais regionais, em número de cinco. O art. 106 da CF dis-
põe que são órgãos da Justiça Federal: os Tribunais Regio-
nais Federais e os Juízes Federais.
1.3.1 Tribunais Regionais FederaisAtualmente, são cinco os Tribunais Regionais Federais:
o da 1.ª Região, com sede em Brasília; o da 2.ª Região, com
sede no Rio de Janeiro; o da 3.ª Região, com sede em São
Paulo; o da 4.ª Região, com sede em Porto Alegre; e o da 5.ª
Região, com sede em Recife (Fig. 2).
Encontra-se em votação no Congresso a criação de
novos tribunais regionais. O projeto prevê a criação de mais
quatro tribunais regionais (Fig. 3).
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PARTE I
Figura 3
Figura 2
SPMS
A M
R R
PA
A P
M A C ERN
PBPE
PR
AL
SC
ES
SE
R S
RJ
PITO
M TR O
M G
G O
B A
A C
TRF
1.ª REGIÃO
2.ª REGIÃO
3.ª REGIÃO
4.ª REGIÃOPortoAlegre
Rio deJaneiro
Recife
Brasília
5.ª REGIÃO
DF
São Pau lo
SP
AM
RR
PA
AP
M A C ERN
PBPE
PR
M S
A L
SC
ES
SE
RS
R J
PITO
M TRO
M G
G O
BA
AC
TRF
1.ª REGIÃO
9.ª REGIÃO
2.ª REGIÃO
8.ª REGIÃO
7.ª REGIÃO
3.ª REGIÃO2003
4.ª REGIÃO
6.ª REGIÃO
PortoAle gre
Curitiba
Rio deJaneiro
Salvador
Recife
Brasília
Manaus 5.ª REGIÃO
DF
Sã o Pa u lo
Capítulo III - O Poder Judiciário46
Nos Tribunais Regionais Federais, são processados
os recursos originados de decisões da 1.ª instância (por
exemplo, apelação de sentenças e agravos de instrumen-
to pretendendo a reforma de decisões liminares). Eles
também processam feitos originados de decisões do pró-
prio Tribunal, sujeitos a pressupostos determinados como,
por exemplo, embargos infringentes contra a decisão de
uma turma.
As decisões iniciais nos processos que chegam ao Tri-
bunal são proferidas por um só desembargador federal (nome
dado aos juízes na segunda instância); as decisões de mérito
são sempre votadas por um colegiado; nas turmas, esse
colegiado é constituído por quatro desembargadores fede-
rais; nas sessões, votam no mínimo sete desembargadores; a
decisão de mérito, das turmas ou das sessões, é denominada
acórdão (Fig. 4).
Composição e competência
Os Tribunais Regionais Federais têm composição variá-
vel, com o número de juízes definido em lei, sendo um
quinto escolhido dentre advogados com mais de dez anos
de efetiva atividade profissional e membros do Ministério
Público Federal com mais de dez anos de carreira e os de-
mais escolhidos mediante promoção de juízes federais com
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PARTE I
Figura 4
(*) O F ÍC IO P R E CAT Ó R IO - pagam ento pela Un ião, d eterm inad o por sente nça jud icial, com valor su per io r a 60 (sessenta ) salá rios m ínim os; R EQ U IS IÇ Ã O D E PE Q U E N O VAL O R - se o valor a ser pag o, con form e determ in ado por se nten ça judicial, for d e até 60 (sessen ta) sa lá rios m ínim o s, ele é requ isitado e pag o pelo C onselh o da Justiça, n o prazo de 60 dia s.
T R IB U N A L R E G IO N A L F E D E R A L
PRESIDÊNCIA
CorregedoriaGeral
Vice-Presidência
1.ª SEÇ Ã O
1.ªTurma
3.ªTurma
2.ªTurma
4.ªTurma
5.ªTurma
6.ªTurma
2 .ª SEÇ Ã O
(e ntre outras atr ibuições), julga S uspen são d e S egurança (S S);
R equ isiçã o de proc essos à 1.ª In stância p/ reexa m e n ecessár io (P E T); Precató rios
e requisição de p eque no va lo r*
(entre outros) determinar a aber-tura e realização de inspeçõese sindicância; impor penalida-des de censura e advertência eaté suspensão a servidores.
(entre outras atribuições) admite:Recurso Ordinário; Recurso Espe-cial; Recurso Extraordinário;Agra-vo de Instrumento (e encaminhapara os Tribunais Superiores)
processar e julgar matéria pe-nal, previdenciária, direito pri-vado,trabalhista, propriedadeindustrial, registros públicos,ser-vidores civis e militares; desa-propriações e apossamentosadministrativos, entre outros
matérias de direito público, na-cionalidade e naturalização, li-citações, ensino superior; exer-cício profissional; preços públi-cos, entre outros.
Capítulo III - O Poder Judiciário48
mais de cinco anos de exercício, por antigüidade e mereci-
mento, alternadamente.
Em maio de 2000, com a edição das Leis n. 9.967 e
9.968, foi ampliado o número de desembargadores federais
nos tribunais regionais, cargos que vêm sendo providos
gradativamente.
Esses tribunais (TRFs) são competentes para processar
e julgar juízes federais, magistrados das Justiças Militar e
do Trabalho e membros do Ministério Público da União,
nos crimes comuns e de responsabilidade; nesses casos, diz-
se competência originária porque esses processos são pro-
postos no próprio tribunal. Os tribunais também julgam os
Figura 5
TRF1
TRF2
TRF3
TRF4
TRF5
27
27
43
27
15
C om as le isnº 9 .667 /2000nº 9 .668 /2000
18
23
27
23
10
A tua lTribuna is R eg ionaisF edera is
N Ú M ER O D E D ESEM BAR G AD O R ES FED ER AIS
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IO
PARTE I
pedidos de revisões criminais e as ações rescisórias de julga-
dos seus ou de juízes federais; os mandados de segurança e
os habeas data contra ato do tribunal ou de juiz federal; os
habeas corpus, quando a autoridade coatora for juiz federal;
os recursos interpostos de decisões de juízes federais e de
juízes estaduais no exercício de competência federal.
1.3.2 Seções JudiciáriasA Justiça Federal de primeiro grau é dividida em se-
ções judiciárias, uma no Distrito Federal e uma em cada
Estado-membro, com sede na respectiva capital. Essas se-
ções são agrupadas em cinco regiões, correspondentes a cada
um dos Tribunais Regionais Federais.
Todas as decisões da primeira instância são
monocráticas, isto é, proferidas por um só juiz, espelhando
a sua convicção sobre a matéria questionada pelas partes.
Composição e competência
As seções judiciárias são divididas em subseções com-
postas por varas, constituídas por juízes federais e servido-
res públicos, admitidos por meio de concurso público. Aos
juízes federais compete processar e julgar as causas em que
a União e suas entidades autárquicas, como o Banco Cen-
tral do Brasil e o Instituto Nacional do Seguro Social, INSS,
Capítulo III - O Poder Judiciário50
ou empresa pública federal, como a Caixa Econômica
Federal, CEF, forem interessadas na condição de auto-
ras, rés, assistentes ou oponentes, com exceção das ações
de falência e de acidentes de trabalho e das de compe-
tência da Justiça Eleitoral ou da Justiça do Trabalho.
Além dessas, outras competências são atribuidas aos
juízes federais pela Constituição (art.109), podendo ser
destacadas as causas entre Estado estrangeiro ou orga-
nismo internacional e Município ou pessoa domiciliada
ou residente no país; as causas fundadas em tratado ou
contrato da União com Estado estrangeiro ou organis-
mo internacional; os crimes políticos e as infrações pe-
nais praticadas em detrimento de bens, serviços ou in-
teresse da União.
1.4 Justiça do Trabalho
Surgiu em 1932, com a criação das Comissões Mis-
tas de Conciliação, vinculadas ao Ministério do Trabalho,
Indústria e Comércio, e, mais tarde, foram instituídos, jun-
to ao Conselho Nacional do Trabalho, a Câmara da Justiça
do Trabalho, a Câmara de Previdência Social, e, num nível
inferior, os Conselhos Regionais do Trabalho e as Juntas de
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JU
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PARTE I
Conciliação, funcionando tais órgãos com características
jurisdicionais.
A Constituição Federal de 1946 integrou referi-
da estrutura ao Poder Judiciário, com a competência para
julgar conflitos individuais e também instituir ou rever
condições de trabalho nos processos de dissídios coleti-
vos, fazendo uso do chamado “poder normativo”. As
Constituições de 1967, 1969 e 1988 mantiveram a com-
petência da Justiça do Trabalho, inclusive para os dissídios
coletivos, porém a última Carta ampliou bastante as suas
atribuições ao incluir os dissídios individuais e coletivos
de empregados dos entes da administração pública dire-
ta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios.
A Justiça do Trabalho compreende os seguintes ór-
gãos: Tribunal Superior do Trabalho, Tribunais Regionais
do Trabalho e Varas do Trabalho.
1.5 Justiça Eleitoral
Foi criada por decreto em 1932, quando editado o
Código Eleitoral, na primeira fase do governo de Getúlio
Vargas. Com a Constituição Federal de 1934, ganhou foro
Capítulo III - O Poder Judiciário52
de instituição constitucional. Tratava-se de antiga reivindi-
cação do Movimento Tenentista, composto por jovens ofi-
ciais do Exército que, com apoio de amplas camadas da classe
média, pregavam a moralização dos costumes políticos e da
administração pública.
Em 1937, com a implantação da ditadura conheci-
da por Estado Novo, foi editada nova Constituição que
aboliu as eleições, extinguiu os partidos políticos e a Jus-
tiça Eleitoral. Somente na Constituição de 1946, com a
redemocratização do país, a Justiça Eleitoral foi
reinstituída.
A competência da Justiça Eleitoral resume-se em pre-
parar, realizar e apurar as eleições. Em outras palavras, com-
pete à Justiça Eleitoral: fazer o alistamento eleitoral; provi-
denciar o registro e a cassação do registro de candidatos;
organizar a divisão eleitoral do país, se não disciplinada em
lei; fixar a data das eleições, se não prevista em lei ou na
Constituição; julgar impugnações de registros partidários
ou de candidaturas; decidir as argüições de inelegibilidade;
fiscalizar a propaganda eleitoral; julgar os crimes eleitorais;
expedir e diplomar os eleitos.
A Justiça Eleitoral compõe-se dos seguintes órgãos:
Tribunal Superior Eleitoral, Tribunais Regionais Eleitorais,
Juízes Eleitorais e Juntas Eleitorais.
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PARTE I
1.6 Justiça Militar
Em 1.º de abril de 1808, por alvará assinado por D.
João VI, foi instituída a Justiça Militar com a criação do
Conselho Supremo Militar e de Justiça. Trata-se do mais
antigo tribunal superior do país, que, durante o império e
início da fase republicana, era presidido pelos Chefes de
Estado; no Império, por D. João VI, D. Pedro I e D. Pedro
II; na República, pelos presidentes Marechal Deodoro da
Fonseca e Marechal Floriano Peixoto.
Em 18 de julho de 1893, referido Conselho foi trans-
formado no Supremo Tribunal Militar, tendo sido manti-
dos todos os componentes do antigo tribunal, despojados
de seus títulos de nobreza e denominados, genericamente,
ministros, passando a Corte a ser presidida por um de seus
membros, eleito por seus pares. Esse tribunal passou mais
tarde a denominar-se Superior Tribunal Militar, órgão má-
ximo da Justiça Militar, composta, ainda, pelos Tribunais e
Juízes Militares instituídos por lei.
À Justiça Militar da União compete processar e jul-
gar os crimes militares definidos em lei e cometidos por
militares da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Não
se trata de justiça operada por tribunal de exceção, já
que atua, ininterruptamente, há quase duzentos anos e
Capítulo III - O Poder Judiciário54
possui magistrados nomeados segundo as normas legais per-
tinentes.
Os quinze ministros vitalícios que compõem o Su-
perior Tribunal Militar são nomeados pelo Presidente da
República, depois de aprovada a indicação deles pelo
Senado Federal.
1.7 Justiça Estadual
Compete aos Estados a organização de sua Justiça,
obedecendo às disposições da Constituição Federal e das
respectivas leis de organização judiciária.
A estrutura da Justiça Estadual compreende um Tri-
bunal de Justiça, seu órgão de cúpula e juízos de primeira
instância, sendo estes normalmente instalados em comarcas
sediadas na maior cidade de sua jurisdição, que pode com-
preender vários municípios. Em alguns Estados, existem,
ainda, outros tribunais denominados de Tribunais de Alça-
da, como no Estado de São Paulo, onde existem dois Tribu-
nais de Alçada Civil e um de Alçada Criminal.
A competência dos tribunais estaduais é definida na
Constituição do Estado e a dos juízes de direito, nas leis de
organização judiciária, de iniciativa do Tribunal de Justiça.
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PARTE I
1.8 Juizados Especiais
Os juizados especiais foram previstos pelo art. 98 da
Constituição Federal de 1988. Segundo esse artigo, cabia à
União, no Distrito Federal e nos Territórios, e aos Estados
criarem os juizados especiais.
Em 26.09.95, a Lei n. 9.099 regulamentou e instituiu
os juizados especiais cíveis e criminais no âmbito da Justiça
Estadual; em 18.03.99, a Emenda Constitucional n. 22
acrescentou um parágrafo ao art. 98 da Constituição, dis-
pondo sobre a criação de juizados especiais no âmbito da
Justiça Federal; em 12.07.2001, finalmente, com a Lei n.
10.259, foram criados e regulamentados os juizados especi-
ais cíveis e criminais da Justiça Federal.
O acesso aos juizados especiais, federais ou estaduais, é
gratuito; porém, se houver recurso, cessa a gratuidade.
Nos juizados especiais, podem ser autores pessoas físi-
cas ou microempresas. A pessoa natural, maior de 18 anos,
independe de assistência dos pais ou responsáveis. As pesso-
as jurídicas, salvo as microempresas, não podem ser auto-
ras, mas podem ser rés.
Compõem o juizado especial um juiz togado, os juízes
leigos (somente nos juizados estaduais), os conciliadores, e
a Secretaria. No juizado cível, os conciliadores devem ser
Capítulo III - O Poder Judiciário56
bacharéis em direito, e os juízes leigos, advogados com mais
de cinco anos de prática.
1.8.1 Juizado Especial CívelA principal função do Juizado Especial Cível é concili-
ar e julgar causas de pequeno valor. Na Justiça Estadual, o
valor da causa está limitado a 40 salários mínimos. Na Jus-
tiça Federal, ele alcança 60 salários mínimos.
Os Juizados Especiais Cíveis Estaduais tratam de todas
as causas abrangidas pelo procedimento sumário; das ações
de despejo para uso próprio; das ações possessórias sobre bens
imóveis no valor de até 40 salários mínimos; somente da ten-
tativa de conciliação e eventual decisão imediata, nas causas a
serem definidas pela organização judiciária local. Cabe-lhes,
ainda, a execução de seus julgados, a execução de títulos exe-
cutivos extrajudiciais no valor de até 40 salários mínimos e a
conciliação também na execução, após a penhora.
Nos juizados estaduais o processo é gratuito e se ins-
taura com a apresentação do pedido, escrito ou oral, à Se-
cretaria. Se for oral, a Secretaria reduzi-lo-á a escrito. Nas
causas com valor de até 20 salários mínimos, não há neces-
sidade de advogado, que passa a atuar somente naquelas de
valor superior ao mencionado.
Os conciliadores procuram obter um acordo entre
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PARTE I
as partes; na impossibilidade de conciliação, é realizada
uma audiência de instrução e julgamento, quando será
proferida a sentença pelo juiz leigo (somente no juizado
estadual). Essa sentença é submetida ao juiz togado, que
poderá homologá-la, reformá-la ou substituí-la por ou-
tra. Nos juizados especiais federais todas as etapas do
processo são presididas por um juiz togado que também
profere a sentença.
As partes têm 10 dias para recorrer da sentença e, no
caso de recurso - para o qual é necessário advogado -, ela
será reexaminada por uma turma composta por três juízes
togados em exercício no primeiro grau de jurisdição. Nesse
caso, pagam-se as custas e inclusive honorários advocatícios.
1.8.2 Juizado Especial CriminalCompete aos juizados especiais criminais a conciliação, o
julgamento e a execução das infrações penais de menor poten-
cial ofensivo, isto é, as contravenções penais e os crimes a que a
lei comine pena máxima não superior a 1 ano, excetuados os
casos em que a lei preveja procedimento especial.
O procedimento do juizado criminal divide-se em três
fases: a policial, a preliminar ou conciliatória e a de proce-
dimento sumaríssimo.
A fase policial é mínima, não se realizando inquérito.
Capítulo III - O Poder Judiciário58
A autoridade policial lavra um termo, requisita as perícias
necessárias e encaminha imediatamente ao Juizado os no-
mes do autor e da vítima juntamente com o termo.
A fase preliminar exige a participação do autor e da
vítima na audiência. O juiz propõe acordo entre as partes
para a composição dos danos, se houver. O representante
do Ministério Público pode formular proposta de aplicação
de pena não privativa de liberdade. Se a pena for de multa,
o juiz poderá reduzi-la até a metade, se entender razoável. A
composição dos danos, se houver, é reduzida a escrito e
homologada, valendo como título executivo. Não havendo
indício de infração penal, o Ministério Público promoverá
o arquivamento das peças.
Se não houver sentença nem arquivamento na fase pre-
liminar, passa-se, sem interrupção, para a etapa seguinte, a
do procedimento sumaríssimo. Nela, o representante do
Ministério Público oferecerá denúncia oral, de imediato,
ou requererá remessa às Varas comuns, se for o caso. Pode-
rá, ainda, propor a suspensão condicional do processo pelo
prazo de 2 a 4 anos, cabendo ao acusado aceitá-la ou não.
Tanto no caso de sentença, como no de rejeição da denún-
cia ou queixa, caberá apelação dentro do prazo de dez dias,
podendo esta ser julgada por três juízes togados de primeira
instância.
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PARTE I
2 A JUSTIÇA FEDERAL NA
TERCEIRA REGIÃO (SP/MS)
A Justiça Federal da Terceira Região é consti-
tuída por um Tribunal Regional Federal (TRF3) e por
duas Seções Judiciárias, abrangendo os Estados de São
Paulo e Mato Grosso do Sul. A população destes Esta-
dos soma 39.110.404 habitantes (23,03% da população
do País), distribuídos em uma área de 605.334,388 km2
(7,11% do território nacional), segundo censo/2000 do
IBGE.
Atualmente, a Seção Judiciária de São Paulo possui
122 varas implantadas, e a Seção de Mato Grosso do Sul, 9
varas, incluindo-se os fóruns especializados, e há previsão
de implantação de 15 novas varas, completando as 146 va-
ras criadas para a 3.ª Região.
Segundo dados do Conselho da Justiça Federal, no
período de 1992 até 31.06.2002, foram distribuídos
1.305.638 processos para a Terceira Região. Esse volume de
processo, comparado com a distribuição nas demais regi-
ões, no mesmo período, significa 104% a mais do que na
Primeira Região; 194% a mais do que na Segunda Região;
31% a mais do que na Quarta Região e 157% a mais do
que na Quinta Região.
Capítulo III - O Poder Judiciário60
2.1 Órgãos Julgadores do TRF3
Cada tribunal regional possui o seu próprio Regimen-
to Interno. No geral, eles são semelhantes. Segue abaixo a
composição e competência dos órgãos julgadores do Tri-
bunal Regional Federal da 3.ª Região. Convém lembrar
que o número de desembargadores nos órgãos de julga-
mento, no TRF3, será alterado após a implantação da Lei
n. 9.968/2000 e, nos demais Tribunais, após a implanta-
ção da Lei n. 9.967/2000.
PLENÁRIO - é composto por todos os desembar-
gadores federais do Tribunal; no caso do TRF3, são 27
desembargadores federais; entre suas atribuições, está a de
eleger o presidente, o vice-presidente e o corregedor-geral
do Tribunal, e a de promover concursos públicos.
ÓRGÃO ESPECIAL - composto pelos 18 desembar-
gadores federais mais antigos do Tribunal. Entre as suas vá-
rias atribuições, está a de processar e julgar Juízes Federais,
inclusive os da Justiça Militar e do Trabalho, e os membros
do Ministério Público da União que atuam na 1.ª instân-
cia. Cabe ainda a esse órgão processar e julgar as revisões
criminais, as ações rescisórias de seus julgados e os respecti-
vos embargos infringentes, e os mandados de segurança con-
tra ato do Tribunal.
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PARTE I
SEÇÕES ESPECIALIZADAS – são duas as seções e
cada uma delas é composta por três turmas; os
desembargadores federais, membros dessas turmas, com-
põem a seção, totalizando 12 em cada uma. Entre suas vári-
as atribuições, as seções processam e julgam embargos
infringentes e de divergência conflitos de competência en-
tre juízes federais e estaduais, e mandados de segurança con-
tra atos de juízes federais.
TURMAS – no TRF3 elas são seis, constituídas por
quatro desembargadores federais cada uma. Elas processam
e julgam habeas corpus e todos os recursos contra as deci-
sões dos juízes federais de 1.ª instância, ou estaduais em
casos especiais.
TURMAS DE FÉRIAS – exercem as atividades das
outras turmas durante o período de recesso do Judiciá-
rio, em julho (02 a 30) e em dezembro/janeiro (20/12 a
31/01).
2.2 Fóruns especializados de 1.º grau
A Terceira Região possui três fóruns especializados: exe-
cuções fiscais(SP); direito ambiental, indígena e agrário (MS)
e direito previdenciário, este último denominado Fórum
Social Ministro Miguel Jeronymo Ferrante (SP).
Capítulo III - O Poder Judiciário62
2.2.1 Fórum de Execuções Fiscais de São Paulo
Com a edição da Lei n. 7.583, em 6 de janeiro de 1983,
foram criadas quatro novas varas cíveis na Seção Judiciária
do Estado de São Paulo, para localização na Capital. Em 17
de janeiro de 1991, o Conselho da Justiça Federal da Ter-
ceira Região, pelo Provimento n. 54, criou o Fórum de
Execuções Fiscais, declarando implantadas, com as res-
pectivas Secretarias, as quatro varas anteriormente criadas.
Para fins administrativos e com o objetivo de facilitar a
identificação das varas especializadas, elas foram denomi-
nadas, respectivamente, de 1.ª, 2.ª, 3.ª e 4.ª Varas de Execu-
ções Fiscais, em substituição à denominação anterior de 25.ª,
26.ª, 27.ª e 28.ª Varas Cíveis.
O Fórum de Execuções Fiscais foi inaugurado em
19.04.91, com sede na Rua José Bonifácio, 237, São Paulo,
Capital. Em abril de 1999, sete anos depois, a sua sede foi
transferida para a Rua João Guimarães Rosa, 215, Praça
Roosevelt, São Paulo, Capital.
Atualmente o Fórum possui 12 varas e um acervo de
211.957 ações em andamento. Em dezembro de 2000, o
Fórum contava com seis varas e o acervo de 335.000 ações
em andamento, contra aproximadamente 290.000 em de-
zembro de 1999, processadas por quatro varas. (1)
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PARTE I
EXECUÇÕES VIRTUAIS - Para processar o número
significativo de ações existentes e agilizar o ingresso de no-
vas ações, foi implantado, em novembro de 2000, o progra-
ma de “execução fiscal eletrônica”, inicialmente como pilo-
to, na Seção Judiciária de São Paulo, a ser, futuramente,
estendido para as outras seções judiciárias do país.
Trata-se de um projeto dividido em quatro etapas:
transferência eletrônica dos dados da petição inicial; pro-
cesso eletrônico judicial - exeqüentes; processo eletrôni-
co judicial - executados; fase de expansão na Justiça Fe-
deral, com a instituição do sistema em outras seções ju-
diciárias.
Nesse projeto, todos os dados, inclusive petições e
documentos de exeqüentes e executados, serão juntados
eletronicamente, nas estações de trabalho. A materialização
dos autos acontecerá em casos específicos de remessa a
outro tribunal não participante da execução virtual, com
a impressão de caracteres, imagens e gráficos em papel.
O projeto é resultado da colaboração entre o Superior
Tribunal de Justiça, o Conselho da Justiça Federal, o Minis-
tério da Fazenda, o Ministério da Previdência e Assistência
Social, a Advocacia-Geral da União, o Tribunal Regional
Federal da Terceira Região, a Procuradoria-Geral da Fazen-
da Nacional, o Instituto Nacional do Seguro Social, o Ser-
Capítulo III - O Poder Judiciário64
viço Federal de Processamento de Dados, a Empresa de
Processamento de Dados da Previdência Federal e a Caixa
Econômica Federal.
2.2.2 Fórum de Direito Ambiental, Indígena e Agrário (MS)
Criada pela Lei n. 8.146, de 24 de abril de 1992, e
remanejada pelo Provimento n. 196 do Conselho da Jus-
tiça Federal, a 1.ª Vara da Justiça Federal em Corumbá,
sede da 4.ª Subseção Judiciária do Estado de Mato Grosso
do Sul, foi implantada em 9 de junho de 2000, como vara
especializada em direito ambiental, indígena e agrário,
embora continue recebendo execuções fiscais e processos
previdenciários oriundos de residentes na cidade. Em dois
anos de funcionamento, a 1.ª Vara recebeu 2.300 proces-
sos, 28 dos quais relacionados, especificamente, ao direito
ambiental (quatro ações civis públicas) e ao direito agrário
(24 ações).
2.2.3 Fórum SocialCriado em 2002 para processar e julgar ações pre-
videnciárias, é formado pelos juizados especiais previ-
denciários, pelas turmas recursais e pelas varas
previdenciárias.
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PARTE I
JUIZADOS ESPECIAIS PREVIDENCIÁRIOS -
Em razão do grande volume de processos que tratam de
matéria previdenciária, os Juizados Especiais Federais Cíveis
de São Paulo e Mato Grosso do Sul optaram por tratar, ini-
cialmente, apenas de causas previdenciárias, por isso são cha-
mados de Juizados Especiais Previdenciários.
Esses juizados atendem pessoas que possuem algu-
ma causa contra o INSS, relativa à concessão e à revisão
de benefício previdenciário, no valor de até 60 salários
mínimos.
Eles são totalmente informatizados e seguem um rito
especial simplificado que permite a solução, em tempo con-
sideravelmente menor, dos casos que lhes são levados. A
escolha pela previdência e assistência social priorizou o aten-
dimento à população mais carente.
Em pouco mais de um ano, os Juizados Especiais
Previdenciários, JEP, têm aberto novas perspectivas para o
Judiciário. Eles tornaram o acesso à Justiça mais fácil e as
respostas aos processos mais rápidas. Com os juizados
itinerantes a Justiça foi ao encontro do jurisdicionado nos
locais onde eles residem.
Vários fatores contribuíram para essa mudança, po-
dendo se destacar a adoção de um rito simplificado e a
informatização:
Capítulo III - O Poder Judiciário66
• petição inicial digitada por um funcionário do juizado no
momento em que o interessado comparece ao Juizado;
• documentos escaneados e devolvidos em seguida às partes;
• perícia médica gratuita (se for necessária) marcada para
cerca de um mês depois do início do processo no Juizado;
• citação do INSS por e-mail - transmitida a mensagem, o
sistema emite uma notificação confirmando o recebimento
pelo INSS e, a partir daí, começa a ser contado o prazo
para ele se manifestar;
• audiências coletivas, reunindo processos que possuam
pedido idêntico; na primeira audiência coletiva realizada
no JEP de São Paulo, em 29.11.2002, foram proferidas
60 sentenças; na segunda, em 12.12.2002, foram proferi-
das 66 sentenças.
• Juizados especiais previdenciários itinerantes – projeto
piloto iniciado em Capão Redondo, Santo Amaro, São
Paulo, Capital, em 14.02.2003. Uma equipe de funcio-
nários e um juiz dirigem-se a um local previamente mar-
cado, atendem os moradores do bairro, orientam e, se for
o caso, iniciam o processo no próprio local. O interessa-
do, que passa a ser o autor do processo, já fica ciente da
data marcada para a primeira audiência e para a perícia, se
for necessária. Vale lembrar que Capão Redondo é um
dos bairros mais carentes da cidade de São Paulo.
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PARTE I
• O roteiro do juizado itinerante é definido por uma pes-
quisa realizada no Juizado Especial Previdenciário da Ca-
pital. Verifica-se qual a origem das pessoas que buscam o
Fórum Social, elabora-se um “mapa social” da Capital e
Interior priorizando os pontos de maior demanda.
• Os primeiros pontos definidos pela pesquisa foram: Capão
Redondo, zona sul, e Itaquera, zona leste, ambos na Ca-
pital paulista; São Caetano do Sul; Ribeirão Preto e Cam-
pinas, todos no Estado de São Paulo.
TURMAS RECURSAIS - Nos Juizados Especiais Fe-
derais, os recursos são processados e julgados pelas Turmas
Recursais, compostas por três juízes federais.
Para recorrer, é indispensável a assistência de um advo-
gado, e o autor paga custas judiciais.
O prazo para recurso é de 10 dias após a publicação da
sentença.
VARAS PREVIDENCIÁRIAS - A Lei n. 9.788/99
criou 15 novas varas cíveis na Seção Judiciária do Estado de
São Paulo, cinco das quais especializadas em matéria
previdenciária. Em 15 de abril do mesmo ano, pelo Provi-
mento n. 172, essas varas especializadas foram localizadas
na cidade de São Paulo e, em 28 de outubro, o Provimento
n. 186 declarou-as implantadas a partir de 19 de novem-
bro, com as respectivas secretarias e a denominação de 1.ª,
Capítulo III - O Poder Judiciário68
2.ª, 3.ª, 4.ª e 5.ª Varas Federais Previdenciárias, com atri-
buições para processar e julgar ações relativas a benefícios
previdenciários. Inicialmente, as cinco varas especializadas
foram instaladas na Rua José Bonifácio, 237, no Centro,
São Paulo, Capital.
As questões previdenciárias (revisão e concessão de
benefícios pelo INSS), contudo, representam o maior volu-
me de processos na Justiça Federal em quase todas as ins-
tâncias. A grande maioria de seus autores são pessoas ca-
rentes que precisam de soluções rápidas. Por isso, em abril
de 2002, quatro novas varas juntaram-se às cinco existen-
tes, e o antigo Fórum Previdenciário passou a integrar o
Fórum Social, instalado na Rua São Joaquim, 69, bairro da
Liberdade, São Paulo, Capital.
2.3 Juizados Especiais Federais Criminais
Os juizados especiais federais criminais, em São Paulo
e Mato Grosso do Sul, foram implantados, inicialmente,
como adjuntos das Varas criminais existentes. Assim, todo
processo criminal que dá entrada em uma das varas passa
por uma triagem: se a pena a ser aplicada não ultrapassar
dois anos, ou tratar-se de caso de multa, seguirá o rito sim-
plificado dos Juizados Especiais.
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PARTE I
3 INSTITUIÇÕES ESSENCIAIS
À ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA
3.1 Ministério Público
O Ministério Público é instituição permanente, es-
sencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a
defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos in-
teresses sociais e individuais indisponíveis.
Trata-se de instituição que abrange:
I- o Ministério Público da União, que compreende:
- o Ministério Público Federal;
- o Ministério Público do Trabalho;
- o Ministério Público Militar; e
- o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios;
II- os Ministérios Públicos dos Estados.
O Ministério Público da União é chefiado pelo Procu-
rador-Geral da República, nomeado pelo Presidente da Re-
pública dentre integrantes da carreira, maiores de trinta e
cinco anos, após a aprovação de seu nome pela maioria ab-
soluta dos membros do Senado Federal. Os Ministérios
Públicos dos Estados são chefiados por Procuradores-Ge-
rais de Justiça, nomeados na forma das respectivas consti-
tuições estaduais.
Capítulo III - O Poder Judiciário70
Para bem cumprir as suas atribuições, é assegurada ao
Ministério Público autonomia funcional e administrativa,
gozando os seus membros de garantias iguais às deferidas
aos magistrados.
O art. 129 da Constituição Federal trata da compe-
tência do Ministério Público, que, de forma geral, no pro-
cesso civil funciona ora como agente, ora como
interveniente. Na condição de agente, é, por exemplo, o
titular da ação civil pública; como substituto processual,
pleiteará em nome próprio direito alheio, por exemplo,
quando pugna por direitos de interditos ou vítimas po-
bres; na qualidade de fiscal da lei, ou custos legis, intervirá,
necessariamente, nas causas relativas a estado da pessoa,
pátrio poder, tutela, curatela, interdição, casamento, de-
claração de ausência e disposições de última vontade, bem
como em todas as demais causas em que houver interesse
público, evidenciado pela natureza da lide ou pela quali-
dade da parte.
No processo penal compete, privativamente, ao
Ministério Público promover tanto a ação criminal pública
incondicionada quanto a condicionada. A primeira é movi-
da por denúncia apresentada perante o juízo competente e
não se prende à interferência ou à iniciativa de quem quer
que seja; a segunda deve atender a uma condição legal de
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PARTE I
procedibilidade, que é a representação penal do ofendido,
do seu representante legal ou do Ministro da Justiça.
O Ministério Público deverá atuar, ainda, nos cha-
mados procedimentos de jurisdição voluntária quando, em
razão da natureza do pedido, deva deles participar. É o que
ocorre quando o pleito versa sobre interesse de incapazes.
A ausência de intervenção do Ministério Público, quan-
do ela é necessária, causa a nulidade do processo.
3.2 Advocacia-Geral da União
É a instituição que, diretamente ou por meio de órgão
vinculado, representa a União, judicial e extrajudicialmen-
te, cabendo-lhe também as atividades de consultoria e
assessoramento jurídico do Poder Executivo. É chefiada pelo
Advogado-Geral da União, de livre nomeação pelo Presi-
dente da República, escolhido dentre cidadãos maiores de
35 anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada.
A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, PGFN,
embora se trate de um órgão jurídico integrante da estru-
tura do Ministério da Fazenda, sendo administrativamen-
te subordinada ao Ministro de Estado da Fazenda, é vin-
culada tecnicamente à Advocacia-Geral da União. Na exe-
cução da dívida ativa de natureza tributária, por exemplo,
Capítulo III - O Poder Judiciário72
a representação da União cabe à Procuradoria-Geral da
Fazenda Nacional.
Ela atua em todo o território nacional com uma orga-
nização descentralizada, composta por unidades regionais
(DF,RJ,SP,RS e PE), estaduais (uma em cada Estado) e sec-
cionais (62 em diferentes Estados, até 2001).
Entre outras atribuições, a PGFN representa a União
nas causas de natureza fiscal, inclusive infrações à legislação
tributária, empréstimos compulsórios, apreensão de merca-
dorias nacionais e estrangeiras, créditos e estímulos fiscais à
exportação.
Ela também é responsável pela inscrição da dívida ativa
dos débitos para com o Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço – FGTS, relativo às contribuições, às multas e aos
encargos previstos na legislação específica, além de repre-
sentar judicial e extrajudicialmente o FGTS na respectiva
cobrança.
A atuação da PGFN no ano de 2001 proporcionou
ganhos de R$ 58.919.896.681,32 (cinqüenta e oito bilhões,
novecentos e dezenove milhões, oitocentos e noventa e seis
mil, seiscentos e oitenta e um reais e dois centavos) para a
Fazenda Nacional, representados pela arrecadação direta de
receitas e pelo benefício econômico decorrente de vitórias
judiciais.
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PARTE I
3.3 Procuradorias dos Estados e do
Distrito Federal
Na esfera dos Estados e do Distrito Federal, compete
às Procuradorias-Gerais, por meio de seu quadro de procu-
radores, o exercício da representação judicial desses
federados, bem como a prestação dos serviços de consultoria
e assessoria aos órgãos do Poder Executivo.
3.4 Defensoria Pública
Trata-se de outra instituição essencial à função ju-
risdicional do Estado, sendo incumbida de prestar orien-
tação e fazer a defesa jurídica gratuita dos necessitados, em
todos os graus, pois se trata de dever imposto ao Estado
(CF, art. 5.º, LXXIV). Dentre suas atividades, estão incluí-
das as causas de natureza civil, como as de usucapião, famí-
lia, sucessões, registro civil, regularização de loteamentos,
terras, habitação, direitos do consumidor, além daquelas de
cunho administrativo e do atendimento junto às varas de
execuções penais.
3.5 Ordem dos Advogados do Brasil
É o órgão de classe dos advogados, sendo estes con-
Capítulo III - O Poder Judiciário74
siderados indispensáveis à administração da justiça, gozan-
do da garantia da inviolabilidade por atos e manifestações
praticados no exercício da profissão, desde que dentro dos
limites da lei.
A Ordem dos Advogados do Brasil está organizada sob
a forma federativa e tem por finalidade a defesa da Consti-
tuição, da ordem jurídica do Estado democrático de direi-
to, dos direitos humanos, da justiça social e a luta pela boa
aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e pelo
aperfeiçoamento da cultura e das instituições jurídicas.
A origem da OAB remonta a 7 de agosto de 1843,
data de aprovação do Estatuto do Instituto dos Advogados
Brasileiros pelo Governo do Império. A sua criação, com o
perfil que ostenta hoje, deu-se com o Decreto n. 19.408, de
18 de novembro de 1930.
A Lei n. 8.906, de 4 de julho de 1994, dispõe sobre
o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Bra-
sil, disciplinando os requisitos e as condições para o exercí-
cio da profissão e tratando do papel institucional do órgão
no cenário da organização jurídica brasileira.
1 Fonte: Núcleo de Apoio Judiciário, NUAJ/JF 1.ª Instância/SP.
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PARTE I
CAPÍTULO IV
BÁSICOS
1 CONCEITO DE DIREITO
Para Goldschmidt, o Direito é o complexo das nor-
mas gerais e invioláveis produzidas pela cultura de uma
comunidade e inspiradas na idéia de justiça; para tornar
possível a coexistência dos homens, essas normas lhes im-
põem deveres de fazer ou não fazer, tipicamente corres-
pondentes a outros tantos direitos e, geralmente, estatuem
que a comunidade organizada reprimirá a violação de tais
deveres. Para Radbruch, é o conjunto das normas gerais e
positivas que regulam a vida social. Para Ruggiero e Maroi,
o direito é a norma das ações humanas na vida social,
estabelecida por uma organização soberana e imposta
coativamente à observância de todos. Para Miguel Reale,
Direito é a ordenação heterônoma, coercível e bilateral
atributiva de relações de convivência, segundo uma
CONCEITOS
Capítulo IV - Conceitos Básicos76
integração normativa de fatos e valores.
Tércio Sampaio Ferraz Jr. trata o Direito como um fe-
nômeno decisório, vinculado ao poder e à ciência jurídica
como uma tecnologia, em cujo interior está presente a
dualidade.
Segundo ele, do século XIX até meados do século XX,
o Estado moderno assume a função de garantidor da or-
dem pública. Nesse contexto, o Direito constitui-se num
elenco de normas, proibições e obrigações que o jurista
deve sistematizar e interpretar; em conseqüência, ao juiz
cabe punir todo aquele que transgride as normas ou não
cumpre as obrigações.
Da segunda metade do século XX para cá, além de
mantenedor da ordem pública, o Estado contemporâneo
passa a ser um produtor de serviços de consumo social. Ele
regulamenta e coordena a economia, determinando preços,
criando taxas, impostos e fixando índices salariais. O Direi-
to, novamente, se altera.
Tércio contrapõe a jurisprudência atual à romana. Ao
tempo de Roma, os juristas trabalhavam com um saber que
produzia o verdadeiro no campo do útil, do justo e do belo.
O saber jurídico atual possui significativa influência da vi-
são econômica e busca extrair da vida social o máximo que
ela possa dar.
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PARTE I
Hoje, segundo Tércio, “a decisão dos conflitos dá-se,
via de regra, por um corte da realidade, isolando o proble-
ma mais relevante para a decisão e desviando a atenção dos
demais. Importante é a decidibilidade do conflito, que pro-
porciona a ação”.
Sobre a dualidade que acredita presente no Direito,
Tércio diz: “introduzir-se ao estudo do Direito é, pois,
entronizar-se num mundo fantástico de piedade e impieda-
de, de sublimação e perversão, pois o Direito pode ser sen-
tido como uma prática virtuosa que serve ao bom julga-
mento, mas também usado como um instrumento para pro-
pósitos ocultos ou inconfessáveis”.
E como essa dualidade abriga possibilidades diversas,
Tércio como que adverte que “o Direito privado de mora-
lidade perde sentido, embora não perca necessariamente
império, validade e eficácia”.
Ada Pellegrini Grinover, em seu livro NOVAS TEN-
DÊNCIAS DO DIREITO PROCESSUAL de acordo com
a Constituição de 1988, define o processo como um ins-
trumento ético e político de atuação da Justiça e de garantia
da liberdade. Segundo ela, essa tendência surgiu a partir do
anos 50 do século XX.
O acesso à Justiça, diz Ada Grinover, ocorre “dentro de
uma sociedade de massas, em busca de soluções para confli-
Capítulo IV - Conceitos Básicos78
tos novos e emergentes, que deslocam o enfoque individual
para o social” e, em conseqüência, as ações são movidas por
entidades que representam grupos - exemplo, um sindicato -,
ou pelo Ministério Público em nome do interesse coletivo.
A proteção ao patrimônio histórico e cultural da hu-
manidade, ao meio ambiente, o direito do consumidor, o
estatuto da criança e adolescentes, entre outros, podem ser
incluídos entre as reivindicações emergentes dessa socieda-
de de massas.
Essas reivindicações constituem os direitos meta-
individuais, reunindo os interesses difusos, coletivos e
homogêneos individuais, que passam a constituir o univer-
so do Direito na sociedade contemporânea. E a ação civil
pública, criada em 1985 (Lei n. 7.345/85), torna-se um dos
instrumentos mais usados para buscar soluções para esses
novos “direitos”.
2 DIVISÃO DO DIREITO
O Direito divide-se em dois grandes ramos: o Direito
Público e o Direito Privado. O primeiro ramo compreende
as disciplinas que tratam das instituições e dos direitos ge-
rais da coletividade, como o Direito Constitucional, o Di-
reito Internacional, o Direito Administrativo, o Direito Pe-
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nal, o Direito Processual Civil ou Penal, etc.; e o segundo
cuida das disciplinas voltadas para o tratamento das rela-
ções interpessoais de caráter particular, objeto do Direito
Civil, ou das relações de natureza mercantil desenvolvidas
por pessoas naturais ou jurídicas, objeto do Direito Comer-
cial.
Para Hugo Nigro Mazzilli, “além do interesse público
(de que é titular o Estado) e do interesse privado (de que é
titular o cidadão), existem os interesses de grupos de indiví-
duos, chamados de metaindividuais (coletivos, difusos e
individuais homogêneos), que ocupam uma categoria in-
termediária.
Mazzilli faz uma distinção entre esses novos direitos,
com base nos titulares da ação:
- no caso do interesse coletivo, os titulares possuem
um vínculo jurídico que os une; eles podem fazer parte de
um mesmo sindicato, de uma sociedade comercial, de um
condomínio, de uma família, etc; exemplo: ação contra au-
mento ilegal das prestações de um consórcio;
- no interesse difuso, os titulares, ou autores da ação,
não possuem vínculo jurídico, mas possuem algum traço
em comum, como morar numa mesma região, consumir o
mesmo produto, e todos foram igualmente atingidos pelo
mesmo problema; exemplo: proibição da venda em larga
Capítulo IV - Conceitos Básicos80
escala de um bem deteriorado sem se poder identificar pre-
viamente todos os lesados;
- nos interesses individuais homogêneos, o titular da
ação é um grupo de pessoas que compartilha prejuízos, em
graus diferentes, originados do mesmo fato; exemplo:
indenização para os compradores de um lote de automóveis
que apresentou o mesmo defeito. Essa indenização vai variar
para cada comprador, considerando-se o eventual conserto
promovido por um usuário, ou substituição da peça com-
prometida por outro usuário, ou ainda a eventual lesão
física causada a um terceiro usuário do veículo, e assim
por diante.
3 DIREITO OBJETIVO E
DIREITO SUBJETIVO
O primeiro é o conjunto de normas que integram o
ordenamento jurídico, o direito positivo; o segundo é enten-
dido como a faculdade de agir conferida à pessoa que, em
síntese, pretende seja aplicada a norma objetiva a seu favor.
4 LEI
4.1 Conceito
Para Clóvis Beviláqua, é uma regra geral que, emanando
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de autoridade competente, é imposta, coativamente, à obe-
diência de todos. Para Washington de Barros Monteiro, é
um preceito comum e obrigatório, emanado do poder com-
petente e provido de sanção.
4.2 Hierarquia
A Constituição é a lei fundamental; pode-se dizer que
ela é lei de organização do Estado e lei das garantias indivi-
duais; como lei fundamental, todas as demais leis que
conflitarem com ela serão declaradas inconstitucionais pelo
Judiciário (Supremo Tribunal Federal). Abaixo dela estão as
leis complementares, as leis ordinárias... (Fig. 6)
· EMENDA - reforma a Constituição sem alterá-la substan-
cialmente, no que se refere aos direitos fundamentais; é sub-
metida a dois turnos de votação e sua aprovação ocorre por
voto nominal de pelo menos 3/5 dos membros das duas
Casas do Congresso. A Constituição Brasileira promulgada
em 1988 acolheu 39 emendas em 15 anos de vigência.
· LEI COMPLEMENTAR - apenas complementa a Cons-
tituição, sem inovar; é uma lei que trata da estrutura estatal
ou dos serviços do Estado e sua matéria está prevista na
Constituição; para existir, exige maioria absoluta nas duas
Casas do Congresso Nacional.
Capítulo IV - Conceitos Básicos82
Figu
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PARTE I
· LEI ORDINÁRIA - proposta, votada e aprovada pelo
Legislativo da União, do Estado ou do Município; trata de
matéria de direito público e privado; é submetida à sanção
do chefe do Executivo, que irá promulgá-la ou vetá-la, no
todo ou em parte.
Veto – recusa do Executivo a projeto de lei por
considerá-lo inconstitucional, podendo ser total ou parcial.
Quando vetado, o projeto volta ao Legislativo para ser
reapreciado. O Legislativo pode aceitar ou rejeitar o veto.
Se rejeitar o veto por maioria qualificada, o projeto volta ao
Executivo.
Maioria qualificada – votação de uma decisão por
maioria qualificada leva em consideração o número total
das pessoas presentes e ausentes que constituem um colégio
ou uma assembléia e têm direito a voto.
·MEDIDA PROVISÓRIA - ato normativo editado pelo
Presidente da República em caso de urgência e necessidade
extraordinária; tem força de lei.
· DECRETO-LEI - regra de direito editada pelo chefe do
Poder Executivo sem autorização constitucional; tem força
de lei; é submetido ao Congresso no prazo de 60 dias; se
Capítulo IV - Conceitos Básicos84
aprovado, torna-se lei. O decreto-lei foi muito usado pelo
Executivo, sendo extinto com a Constituição de 1988. Em
1939, por exemplo, o Decreto-lei n. 1.259 proibia o exces-
so de ruídos urbanos.
· LEI-DELEGADA – elaborada pelo Presidente da Repú-
blica, que deverá solicitar a delegação (autorização) ao Con-
gresso Nacional.
· RESOLUÇÃO - deliberação que tem força de lei ordi-
nária, proposta pelo Congresso ou pelo Presidente da Re-
pública.
5 PRINCÍPIOS GERAIS
DE DIREITO
Sílvio Rodrigues ensina que, se o juiz não encontrar
na lei a solução para o caso que lhe é submetido, se não
encontrar remédio na analogia (decisão por aplicação de
hipótese semelhante), nem nos costumes (conduta cria-
da e aceita pela comunidade), deverá recorrer aos princí-
pios gerais de direito, aplicando ao caso aquelas regras
que se impõem, inexoravelmente, como uma necessida-
de da vida do homem em sociedade. São exemplos de
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PARTE I
princípio gerais de direito: dar a cada um o que é seu,
ninguém pode transferir mais direitos do que tem, os
pactos devem ser cumpridos, ninguém deve ser conde-
nado sem ser ouvido, etc.
6 EQÜIDADE
É a idéia imutável de justiça que leva o juiz a valer-se
de um critério de moderação e humanidade, ainda que em
detrimento da aplicação do direito objetivo.
7 JURISDIÇÃO
É o poder do Estado de dizer o direito aplicando a lei
ao caso concreto para solucionar a lide. A jurisdição pode
ser contenciosa, quando o juiz decide um litígio entre par-
tes antagônicas, e voluntária, quando certos negócios ou
atos jurídicos são submetidos ao controle do juiz, para que
tenham validade, como, por exemplo, abertura de testa-
mentos, venda de bens de menores ou separação con-
sensual.
A lide é decidida no primeiro grau de jurisdição e, da
sentença proferida pelo juiz, a parte que se julgar prejudica-
da poderá apresentar recurso para um órgão do segundo
Capítulo IV - Conceitos Básicos86
grau de jurisdição, normalmente um tribunal, que
reapreciará a demanda, proferindo nova decisão, denomi-
nada de acórdão.
8 COMPETÊNCIA
É a delimitação da jurisdição onde cada juiz pode atu-
ar. Divide-se em duas: a do Foro e a do Juiz. Foro compe-
tente é a circunscrição territorial (seção judiciária ou co-
marca), sede de um ou mais juízes, onde determinada causa
pode ser proposta. Juiz competente é aquele que, entre
vários existentes na mesma circunscrição, deve tomar co-
nhecimento da causa para processá-la e julgá-la.
A Constituição Federal trata da competência do Su-
premo Tribunal Federal (art. 102), do Superior Tribunal de
Justiça (art. 105), da Justiça Federal (arts. 108 e 109) e das
Justiças Eleitoral, Militar e do Trabalho (arts. 114, 121 e
124). A competência da Justiça Estadual é definida pelo
critério residual, ou seja, o que não for de competência da
Justiça Federal e das Justiças Especializadas será atribuição
dos órgãos judiciários estaduais.
9 CONEXÃO E CONTINÊNCIA
Duas ou mais ações são conexas quando tiverem
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PARTE I
em comum o objeto ou a causa de pedir. Objeto da
ação é o que o autor pretende obter com a ação e causa
de pedir é o fundamento de fato e de direito da ação.
Exemplo: ação de despejo movida pelo proprietário do
imóvel e ação de consignação em pagamento dos alu-
guéis movida pelo inquilino, referentes ao mesmo con-
trato.
A continência acontece quando as partes e a causa de
pedir são idênticas, mas o objeto de uma das ações é mais
amplo que o das outras.
10 PREVENÇÃO
É um critério de confirmação e manutenção da com-
petência do juiz que conheceu a causa em primeiro lu-
gar. Por exemplo, um autor pede a isenção de um impos-
to de importação e seu pedido é negado. Ele desiste da
ação e entra com outra ação, pretendendo que o mesmo
pedido seja analisado por outro juiz, cuja decisão possa
ser favorável. Estabelecida a prevenção, a nova ação será
distribuída para o primeiro juiz que conheceu a causa. A
prevenção é uma das formas de eliminar a escolha de juiz
pelas partes.
Capítulo IV - Conceitos Básicos88
11 LITISPENDÊNCIA
Ocorre quando uma causa possui o mesmo objeto, a
mesma causa de pedir e as mesmas partes figuram em outra
causa em andamento.
12 AÇÃO
É o direito subjetivo de requerer ao Poder Judiciário
decisão sobre uma pretensão, independentemente do direi-
to material invocado para tanto.
Segundo a pretensão do autor, as ações podem ser cí-
veis ou penais. Ação civil é aquela destinada à composição
de um litígio envolvendo interesses localizados na esfera das
relações civis, como indenização, contrato, questões admi-
nistrativas ou tributárias, negócios em geral envolvendo
particulares. A ação penal é a destinada a apurar uma infra-
ção penal, visando a aplicação de uma pena ao réu e envolve
a apreciação de um ato classificado como antijurídico prati-
cado por alguém em detrimento de algum bem da pessoa
ou da sociedade. A norma penal estabelece sanções específi-
cas para aquele que a transgride. São penas que, no Brasil,
podem ser privativas de liberdade, restritivas de direitos ou
de multa.
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PARTE I
12.1 Condições da ação
O princípio da ação, ou princípio da demanda, atribui
à parte a iniciativa de provocar o exercício da função juris-
dicional. Porém, o direito de ação submete-se à existência
de alguns requisitos denominados condições da ação, para
verificar se ela mesma tem viabilidade, ou seja, possibilida-
de de êxito do autor na demanda. A falta de qualquer uma
das condições fará com que o juiz indefira a petição inicial
ou decrete a extinção do processo, por carência de ação. São
três as condições da ação: legitimidade de parte, interesse
de agir e possibilidade jurídica do pedido.
12.1.1 Legitimidade de parteA legitimidade de parte, ou para a causa, refere-se aos
sujeitos da lide, titulares dos interesses em conflito. A le-
gitimidade ativa é da parte que se julga prejudicada no
seu direito e busca reparação, e a legitimidade passiva é
daquele que resiste à pretensão do autor. Cada um deve
propor as ações relativas aos seus próprios direitos, salvo o
habeas corpus, que pode ser impetrado em benefício de
outrem. A legitimação pode ser ordinária, do próprio ti-
tular do direito substantivo, ou extraordinária, também
conhecida por substituição processual, quando a lei auto-
riza alguém a pleitear, em nome próprio, direito alheio. É
Capítulo IV - Conceitos Básicos90
o que ocorre quando o marido, em nome próprio, defen-
de, em juízo, os bens dotais da mulher, ou quando o Mi-
nistério Público ajuíza ação de acidente do trabalho.
12.1.2 Interesse de agirO interesse de agir, ou interesse processual, traduz-se
na necessidade de recorrer ao Judiciário para a solução do
conflito e também na possibilidade de receber dele uma
decisão adequada em face dos interesses materiais em jogo.
Assim, se alguém for esbulhado na sua posse e pleitear de-
claração de que é proprietário, estará fazendo pedido inade-
quado, carecendo-lhe interesse.
12.1.3 Possibilidade jurídica do pedidoA possibilidade jurídica do pedido reside na existên-
cia, em tese, na ordem jurídica, daquilo que o interessado
pretende. Por exemplo, no ordenamento jurídico brasilei-
ro, é inadmissível a cobrança de dívida de jogo (CC, art.
1.477), ou a prática de eutanásia, desligando-se os apare-
lhos de doente terminal, para evitar o sofrimento.
13 PROCESSO
É uma seqüência de atos coordenados por meio dos
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PARTE I
quais o juiz decide a lide, atuando a jurisdição. Assim, o
exercício do direito de ação dá-se por intermédio do pro-
cesso, garantindo-se ao réu o amplo direito de defesa e o
contraditório. No processo, é estabelecida uma relação
jurídica entre juiz, representante do Estado, e partes, au-
tor e réu.
13.1 Requisitos básicos
A constituição válida e o desenvolvimento regular do
processo pressupõem a existência de alguns requisitos bási-
cos, denominados pressupostos processuais, que são os se-
guintes: a capacidade civil das partes, a representação dessas
partes por advogado, a investidura, a competência e a im-
parcialidade do juiz, a correta propositura da petição inici-
al, a escolha do procedimento adequado, a existência da
citação, etc.
13.2 Tipos
Dependendo do tipo de decisão que se pretende pelo
processo, este se classifica em processo de conhecimen-
to, processo de execução ou processo cautelar. O primei-
ro visa a estabelecer o direito; o segundo, a executá-lo; o
último, a permitir que se assegure a possibilidade de
exercê-lo.
Capítulo IV - Conceitos Básicos92
13.3 Atos processuais
A marcha do processo ocorre por meio da prática de
atos processuais, que são atos jurídicos originados das par-
tes ou do juiz.
O juiz pratica os atos de direção do processo, compe-
tindo-lhe assegurar às partes igualdade de tratamento, velar
pela rápida solução do litígio e prevenir ou reprimir qual-
quer ato contrário à dignidade da Justiça. Os seus atos são
decisórios e de despachos (nestes solicitando a juntada de
um documento que comprove o alegado pelas partes) ou
atos reais (marcar audiências, perícias). Os atos decisórios
também são chamados de provimento, o qual compreende
os atos praticados para decidir as questões da própria lide,
subdividindo-se em decisões finais – as sentenças – e
interlocutórias, proferidas pelo juiz no curso do processo
para resolver questão incidente. A concessão de liminar nos
mandados de segurança e medidas cautelares são exemplos
de decisões interlocutórias.
Os atos das partes são:
- postulatórios: como a petição inicial, a contestação, os
recursos, a reconvenção ou o pedido de declaração inciden-
te, sujeitos a um pronunciamento do juiz sobre a lide ou
mesmo sobre o desenvolvimento da relação processual;
- instrutórios: como a juntada aos autos de elementos de
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prova para demonstrar direito;
- dispositivos: ou de disposição de direito ou de uma vanta-
gem; por exemplo, quando se desiste da ação;
- materiais: ou reais, mediante a prática de uma conduta,
como o comparecimento a uma audiência.
14 PRAZOS
São os lapsos de tempo dentro dos quais os atos devem
ser praticados. Os prazos dividem-se em: legais, aqueles fi-
xados por lei; judiciais, os estabelecidos pelo juiz; conven-
cionais, os fixados por acordo entre as partes.
Há diferença entre suspensão e interrupção do prazo.
Quando se tratar de interrupção, o tempo anteriormente
decorrido fica cancelado, e o prazo passa a ser contado no-
vamente, por inteiro, a partir da causa interruptiva. Se se
tratar de suspensão, conta-se também o tempo transcorrido
antes da causa suspensiva. Assim, quando do recomeço da
contagem, esta se dará pelo que sobejar, pelo que faltava na
contagem.
Em regra, os prazos não se interrompem, apenas são
suspensos. Assim, se determinada a suspensão de um prazo
de dez dias, quando já decorridos quatro, ao final dela res-
tam seis dias. No caso da interrupção, o prazo recomeçará
Capítulo IV - Conceitos Básicos94
desde o início, sem levar em conta o período já decorrido.
Se o prazo vencer em dia de feriado será, automaticamente,
prorrogado para o primeiro dia útil seguinte, e será poster-
gado o seu início se começar em dia de feriado.
Todos os prazos processuais são preclusivos, o que sig-
nifica que, decorrido o lapso de tempo sem a prática do ato,
a parte não mais poderá fazê-lo.
15 PROCEDIMENTO
É a seqüência de atos que objetiva o desenvolvimento
e a solução do processo, ou a forma como esses atos se enca-
deiam. É o movimento e a forma pelos quais se desenvolve
o processo. Assim, no processo de conhecimento, os proce-
dimentos podem ser o ordinário, o sumário ou o especial.
O processo de execução e o processo cautelar têm proce-
dimentos próprios.
16 CARÁTER FÍSICO DOS AUTOS
Enquanto ação, o processo e o procedimento têm na-
tureza abstrata, e os autos têm natureza concreta - ainda
que em meio digital ou eletrônico - e se revelam pelo con-
junto físico dos documentos apresentados com a finalidade
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Figura 7 (atualizada até set./2002)
70 P ARA NÁ71 R IO G RA NDE D O SU L72 S ANTA C ATA RINA
80 A LAGO AS81 C EAR Á82 P ARA ÍBA83 P ERN AM BUC O84 R IO G RA NDE D O NO RTE85 S ERG IP E
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R E G IÃO C Ó D . S EÇ ÃO JU D IC IÁ R IA C Ó D . S U BSEÇ ÃO JU D IC IÁR IA V AR AS
30 A CRE31 A MA PÁ32 A MA ZON AS33 B AHIA34 D IS TRITO FE DER AL35 G OIÁS36 M ATO GRO SS O37 M AR ANH ÃO38 M IN AS G ERA IS39 P ARÁ40 P IAU Í41 R ON DÔ NIA42 R OR AIMA43 TO CA NTINS
50 E SPÍRITO SA NTO51 R IO D E JANE IR O
00 CAM PO G RA ND E 602 DO URA DO S 103 TRÊ S L AGO AS 104 CO RUM BÁ 184 CAM PO G RA ND E - J.E.F.P revidenciário00 SÃO P AUL O - CÍVEL 2 402 RIBEIRÃ O PRE TO 903 SÃO JO SÉ D OS CA MP OS 404 S ANTO S 605 CAM PINA S 506 SÃO JO SÉ D O RIO PRE TO 607 ARA ÇAT UBA 208 BAU RU 309 PIRAC IC ABA 310 SO ROC AB A 211 MA RÍLIA 312 PRE SIDEN TE PR UDE NTE 413 FRA NCA 214 SÃO B ERN AR DO D O CAM PO 315 SÃO C AR LOS 116 ASS IS 117 JAÚ 118 GU ARA TIN GU ETÁ 119 GU ARU LHO S 320 ARA RAQ UA RA 121 TAU BATÉ 122 TUP Ã 123 BRA GA NÇA P AULIST A 124 JALES 125 OU RINHO S 126 SAN TO AN DR É 381 SÃO P AUL O - CR IM IN AL 882 SÃO P AUL O - FISCA L 1 283 SÃO P AUL O - PR EVIDE NCIÁR IO 984 SÃO P AUL O - J.E .F. Previd enciário
MATO GR OSSOD O SU L
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61 SÃ O PAULO
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02
Capítulo IV - Conceitos Básicos96
de permitir que o juiz decida a causa, pondo fim ao litígio.
Nesse sentido, todo processo compõe-se da petição inicial
do autor, na qual este expõe o conflito e junta documentos
para a prova de seu direito, da resposta do réu, por meio de
contestação, negando o direito do autor e juntando docu-
mentos de prova da negativa, de atos e manifestações das
partes, de provas e laudos periciais, culminando com a de-
cisão do magistrado proferida por meio de uma sentença.
16.1 Identificação e localização dos autos (capa)
Na Justiça Federal, de primeira e segunda instância, as
cores das capas dos autos são estabelecidas por Instrução
Normativa e visam, além da padronização, facilitar a iden-
tificação e a localização dos autos.
Também se disciplinou a numeração desses autos, com-
postas por 15 dígitos identificadores, que são os mesmos
tanto na 1.ª como na 2.ª instância (Figura 7).
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PARTE I
CAPÍTULO VVISÃO GERAL
1 PROCESSO CIVIL
1.1 Princípios gerais
O processo civil contemporâneo funda-se em alguns
princípios gerais que informam a disciplina do direito pro-
cessual, podendo ser lembrados os seguintes:
• Princípio da Imparcialidade do Juiz - sem juiz indepen-
dente e imparcial não há garantia de justiça;
• Princípio do Contraditório - o juiz ouvirá sempre os dois
lados sobre cada questão tratada nos autos;
• Princípio da Persuasão Racional do Juiz - o juiz decide de
acordo com seu livre convencimento, sempre de forma
fundamentada e segundo critérios críticos e racionais, após
análise das provas e documentos juntados aos autos;
DO PROCESSO
Capítulo V - Visão Geral do Processo98
• Princípio da Publicidade - os atos judiciais são públicos,
salvo se o segredo se impuser para preservar as partes en-
volvidas, como nas ações de separação judicial, casamen-
to, filiação, alimentos, quebra de sigilo bancário, etc.;
• Princípio da Oralidade – com o uso da palavra fala-
da, sempre que possível e sem dispensar provas docu-
mentais;
• Princípio da Sucumbência - cabe ao sucumbente, ou ven-
cido, pagar as despesas do processo;
• Princípio da Lealdade - as partes e seus procuradores
têm a obrigação de expor os fatos em juízo conforme a
verdade, de proceder com lealdade e boa-fé, não formu-
lando pretensões nem defesas destituídas de fundamen-
to; caso contrário, estão sujeitos a responder por perdas
e danos;
• Princípio da Economia Processual - salvo disposição em
contrário, nenhum ato é nulo e deverá ser refeito se tiver
atendido às finalidades processuais, embora realizado de
forma diversa da prevista em lei;
• Princípio do Duplo Grau de Jurisdição - é a possibilidade
de revisão da decisão de primeiro grau por um órgão revi-
sor de segundo grau de jurisdição, pois existe a convicção
de que um processo reexaminado é um processo melhor
decidido;
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PARTE I
• Princípio da Instrumentalidade - o processo não é um
fim em si, mas um instrumento de realização do Direito
como um todo;
• Princípio da Inércia do Juiz ou da Iniciativa das Partes -
cabe às partes a iniciativa de propor as questões a serem
decididas pelo juiz. Admite-se que o juiz determine as
provas que entender necessárias (art. 130 do CPC), mas a
doutrina e a jurisprudência recomendam que a iniciativa
do juiz deve ser moderada, para manter sempre a sua
eqüidistância das partes.
1.2 Sujeitos da Lide
Com a instauração de um processo cria-se uma relação
trilateral que vincula os sujeitos da lide: juiz, autor e réu.
Cabe ao juiz ser o mediador ou aquele que propõe uma
solução para o conflito de interesses que ensejou a preten-
são do autor e encontrou a resistência do réu. O autor é
aquele que ocupa o pólo ativo da relação processual, ajui-
zando a ação porque teve a sua pretensão resistida. O réu é
o ocupante do pólo passivo da relação processual, sendo
aquele que resiste à pretensão do autor.
No processo penal, a figura do autor cabe, na maioria
das vezes, ao Ministério Público, como titular da ação pe-
Capítulo V - Visão Geral do Processo100
nal, sendo réu o acusado. No caso de ação penal de iniciati-
va privada, o autor é o ofendido.
1.3 Capacidade postulatória e
capacidade de ser parte
O pedido formulado em juízo para defender direitos
de alguém, mediante petição inicial, faz-se por meio de ad-
vogado, pois, no Brasil, salvo as hipóteses de impetração de
ordem de habeas corpus, e em causas de valor reduzido, que
tramitam perante os Juizados Especiais Estaduais e Federais
e perante as Varas de Trabalho, a capacidade postulatória é
privativa dos profissionais da advocacia.
Para que um advogado represente a parte e possa atuar
em juízo, esta deverá outorgar-lhe uma procuração, que é o
instrumento do mandato, com poderes próprios da cláusu-
la ad judicia.
Portanto, há que se distinguir a capacidade postulatória
da capacidade de ser parte. Toda pessoa que se acha no exer-
cício de seus direitos tem capacidade para estar em juízo,
isto é, ser parte, mas a capacidade postulatória é própria de
advogado legalmente habilitado, mediante prova de inscri-
ção nos quadros da OAB.
Além das pessoas físicas, as pessoas jurídicas também
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devem estar adequadamente representadas em juízo, sob
pena de ser decretada a nulidade do processo ou a revelia.
Assim, referida representação ocorre da seguinte forma: a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios, por
seus procuradores; o Município, por seu prefeito ou procu-
rador; a massa falida, pelo síndico; a herança jacente ou va-
cante, por seu procurador; o espólio, pelo inventariante; as
pessoas jurídicas, por quem os respectivos estatutos desig-
narem ou, não os designando, por seus administradores; a
sociedade sem personalidade jurídica, pelas pessoas a quem
couber a administração dos seus bens; a pessoa jurídica es-
trangeira, pelo gerente, representante ou administrador de
sua filial, agência ou sucursal aberta ou instalada no Brasil;
e o condomínio, pelo administrador ou pelo síndico.
1.4 Petição inicial
O autor formula o seu pedido numa peça escrita cha-
mada de petição inicial, nela expondo os fatos que o leva-
ram a procurar a Justiça, fundamentando juridicamente sua
pretensão, especificando provas e fazendo o seu pedido. A
inicial deve ser redigida de maneira lógica e compreensível,
de modo que o réu possa entender o pedido e defender-se.
O juiz poderá ordenar ao autor que complete ou emende a
Capítulo V - Visão Geral do Processo102
petição inicial; se o autor não cumprir o determinado, o
juiz poderá indeferi-la.
1.5 Citação
Recebida a petição inicial, a parte contrária deve ser
citada, pois, se não o for, não se estabelecerá a relação jurí-
dica processual. Assim, a citação é ato de cientificação, de
comunicação ao réu de que contra ele foi ajuizada uma ação,
para que possa exercer o direito de defesa.
1.5.1 Efeitos da citaçãoO ato citatório é indispensável para a validade do pro-
cesso e gera os seguintes efeitos: torna prevento o juízo,
fixando a competência para um único juízo, quando exis-
tir mais de um com igual competência para julgar a causa
proposta; induz litispendência, que ocorre quando se re-
pete a ação que está em curso; faz litigiosa a coisa, vincu-
lando o bem jurídico ao processo, devendo a parte que
tem a sua guarda mantê-lo no estado em que se encontra
no momento da citação; constitui em mora o devedor, pois
a citação equivale à interpelação, surtindo o efeito materi-
al da mora; e interrompe a prescrição, que retroage à data
da propositura da ação, desde que a citação ocorra nos dez
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dias subseqüentes ao despacho que a ordenar, prorrogável
por até noventa dias.
1.5.2 ContestaçãoUma vez citada, a parte contrária dispõe do prazo de
15 dias para apresentar sua resposta, que tem o nome de
contestação e se constitui na sua defesa geral, nela devendo
concentrar todos os seus argumentos e alegações, juntar
documentos, requerer provas, perícias e testemunhos, tudo
para provar o seu direito. Não deve o réu deixar de impug-
nar especificamente cada um dos fatos narrados na petição
inicial, expondo suas razões e indicando as provas que pre-
tenda produzir.
1.5.3 Conciliação e provasEm seguida, o juiz tentará a conciliação das partes
mediante proposta feita em audiência aberta e, se houver
acordo, ele será homologado. Se frustrada a tentativa de
conciliação, segue-se a instrução, deferindo o juiz a produ-
ção das provas necessárias para a instrução do feito. Os mei-
os de prova são os documentos, as perícias, os depoimentos
pessoais, as confissões, as testemunhas, etc. Concluída a ins-
trução, na mesma audiência o juiz determina a produção
das chamadas razões finais, que são alegações orais apresen-
Capítulo V - Visão Geral do Processo104
tadas pelos advogados das partes, e, se o assunto for muito
complexo, poderá o juiz marcar prazo para a entrega de
memoriais.
1.5.4 SentençaApós, os autos serão tornados conclusos para o juiz
proferir a sua decisão. Chama-se sentença o ato pelo qual
o juiz põe fim ao processo, decidindo ou não o mérito da
causa. A sentença tem força de lei, nos limites da ação
proposta e das questões decididas e, juridicamente, come-
ça a existir no momento em que é publicada, isto é, quan-
do é dado a público o conhecimento do seu teor. Com-
põe-se de três partes: relatório, onde se faz um resumo do
processo; fundamentação, onde se analisam os fatos e o
direito aplicável, equacionando-se a questão em exame; e
dispositivo, onde o juiz declara a sua decisão, resolvendo a
lide posta. Ao proferir a sentença, o juiz deve ater-se ex-
clusivamente ao que a parte pediu, não podendo decidir
além do que foi pedido (ultra petita), nem aquém (infra
ou citra petita), nem fora da questão proposta na inicial
(extra petita). Após a publicação da sentença, o juiz não
pode mais alterá-la, salvo no caso de inexatidões materiais
ou erro de cálculo, ou no caso de embargos de declaração,
oferecidos por uma das partes para esclarecer obscuridade
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ou contradição, ou quando foi omitido ponto em que de-
veria pronunciar-se a sentença.
As sentenças podem ser:
a) declaratórias, que decidem apenas sobre a autenticida-
de de documento ou sobre a existência de relação jurí-
dica, como a declaração da incidência ou não de um
tributo.
b) condenatórias, que, além de declarar o direito, impõem
uma obrigação ao réu, como a condenação ao pagamen-
to de uma indenização por perdas e danos.
c) constitutivas, que, além de declarar o direito, criam,
modificam ou extinguem uma relação jurídica, como nas
ações renovatória de aluguel ou de divórcio.
Se a sentença não for objeto de recurso, após esgota-
do o prazo para a sua interposição, ocorrerá o fenômeno
da coisa julgada, que a torna imune às futuras controvér-
sias, impedindo que se modifique ou que se discuta, num
processo subseqüente, aquilo que o juiz houver declara-
do como sendo a lei no caso concreto.
d) Remessa “ex officio” (ou remessa oficial, ou ainda duplo
grau) – toda sentença que condena a União Federal, os
Estados, os Municípios e suas autarquias e fundações
públicas é submetida ao “reexame necessário”, isto é, só
terá efeito depois de reexaminada pelo Tribunal.
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1.6 Recursos
Quando o vencido não se conformar com o resultado
da sentença, poderá recorrer para que a decisão seja
reexaminada em segundo grau, perante um tribunal. Isso
ocorre mediante o uso de instrumentos conhecidos como
recursos.
Os recursos têm os seguintes efeitos: efeito devolutivo,
comum a todos eles, uma vez que devolve a apreciação da
matéria ao juízo de instância superior na parte em que o
recorrente expressamente manifestar seu inconformismo; e
efeito suspensivo (presente em apenas alguns recursos), que
susta os efeitos da decisão, não permitindo a chamada execu-
ção provisória.
1.6.1 Recursos no Primeiro GrauAlém dos embargos de declaração, no primeiro grau
de jurisdição cabem o recurso de agravo, em caso de deci-
sões interlocutórias, e o recurso de apelação, em caso de
sentença.
Agravo - é o recurso cabível contra qualquer decisão
de primeiro grau, exceto contra sentença. Não obsta o an-
damento do processo. É interposto em tribunal superior,
instância imediata, e o juiz relator pode, a requerimento do
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agravante, dar efeito suspensivo ao agravo, nos casos em
que se discuta prisão civil, adjudicação, remição de bens,
levantamento de dinheiro sem caução idônea e outras hi-
póteses relevantes (art. 558 do CPC).
O agravante pode, em princípio, optar pelo regime
comum ou pelo especial, denominado agravo retido, para
ser apreciado quando os autos subirem à instância superior
em razão de apelação. No caso de agravo retido, ele será
examinado pelo tribunal antes do recurso de apelação; se
não houver apelação, ele não será julgado.
Apelação - Se o vencido não se conformar com o re-
sultado da sentença, ele pode apelar, no prazo de 15 dias,
para que a questão seja reexaminada em segundo grau (pelo
Tribunal de Justiça, pelo Tribunal de Alçada ou pelo Tribu-
nal Regional Federal), onde a sentença poderá ser mantida
ou reformada, total ou parcialmente. Poderá eventualmen-
te haver outro recurso, para o mesmo tribunal, para o STF
(em caso de matéria constitucional) ou para o STJ (em caso
de matéria não constitucional).
1.6.2 Recursos no Segundo GrauEm linha geral, no segundo grau de jurisdição os re-
cursos são separados em duas classes: recursos contra
acórdãos e recursos contra decisões diferentes de acórdãos.
Capítulo V - Visão Geral do Processo108
No primeiro caso, estão os embargos infringentes, os
embargos de declaração, o recurso extraordinário e os em-
bargos de divergência do STF.
Vale esclarecer que os embargos podem ser infringentes
em matéria cível; infringentes e de nulidade em matéria
penal; de declaração em matéria cível, penal e trabalhista; e
de divergência em matéria trabalhista.
2 PROCESSO PENAL
2.1 Princípios Gerais
O direito processual penal é o ramo do direito público
que regula a função do Estado de processar e julgar os auto-
res de infrações penais e aplicar as penas.
A persecução penal é exercida pelo Estado por inter-
médio do inquérito policial e da ação penal. Quando al-
guém pratica uma infração penal (crime ou contravenção)
surge para o Estado o direito/dever de punir, que só pode
ser concretizado por meio do processo. Antes da ação pe-
nal, pode existir um inquérito policial, cuja finalidade é a
colheita de um mínimo de elementos probatórios da ocor-
rência da infração penal e de sua autoria. Esse mínimo de
elementos probatórios é denominado de “justa causa”.
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PARTE I
O processo penal brasileiro assume a forma mis-
ta, isto é, há uma primeira fase inquisitória (inquérito
policial) e uma posterior acusatória (ação penal), na
qual cada função no processo é exercida por pessoas
diferentes:
• o juiz (órgão imparcial que julga o acusado);
• o promotor de justiça (procurador da república, no caso
da Justiça Federal), que é o órgão encarregado de acusar o
réu, além de ser o titular da ação penal, ou seja, aquele que
promove a ação em face do acusado;
• e o defensor do acusado (advogado). Nenhum acusado,
ainda que ausente ou foragido, será processado ou julga-
do sem defensor. Se isso ocorrer, o processo é inválido,
nulo.
2.2 Inquérito policial
O inquérito policial é um procedimento administrati-
vo-informativo destinado a fornecer ao órgão da acusação o
mínimo de elementos necessários à propositura da ação pe-
nal. Esse mínimo de elementos necessários, ou seja, o con-
junto de elementos probatórios razoáveis sobre a existência
do crime e da autoria, nada mais é do que a justa causa (uma
das condições da ação penal, correspondente ao interesse
processual).
Capítulo V - Visão Geral do Processo110
2.2.1 Início do inquérito policial• portaria, baixada pela autoridade policial quando chega
ao seu conhecimento uma notícia-crime;
• auto de prisão em flagrante delito – termo lavrado pela
autoridade competente quando lhe é apresentado o preso
por suposta infração penal. Esse termo é constituído pelas
declarações de quem conduziu o preso e das testemunhas
que o acompanharam e pelo interrogatório do acusado.
Ao fim, todos assinam as declarações feitas que configu-
ram o auto.
O início do inquérito policial, no caso de crime apura-
do por meio de ação pública condicionada, só ocorre após a
representação da vítima (art. 5.º, § 4.º, CPP), e, no caso de
ação privada, depende, também, de iniciativa da vítima (art.
5.º, § 3.º, CPP).
A portaria pode ser baixada pela autoridade policial; por
exemplo, em decorrência de requerimento do ofendido (víti-
ma), ou mediante requisição do Ministério Público ou do Juiz.
A requisição não pode ser indeferida pela autorida-
de policial, mas o requerimento sim. Do despacho da
autoridade policial que indeferir o requerimento de aber-
tura de inquérito policial caberá recurso para o Chefe da
Polícia (figura que corresponde, hoje, ao Secretário da
Segurança Pública).
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A autoridade policial não pode arquivar inquérito po-
licial, somente o juiz pode fazê-lo, a requerimento do Mi-
nistério Público.
2.2.2 Prazo do inquéritoO inquérito policial deve encerrar-se em até 10 dias, se
o indiciado estiver preso, e em até 30 dias, se estiver solto
(Justiça Estadual). Na Justiça Federal, o prazo é de 15 dias
se o indiciado estiver preso, prorrogável por mais 15 dias,
por pedido fundamentado da autoridade policial, que, nes-
se caso, deverá apresentar o preso ao juiz. No caso de
indiciado solto, o prazo é de 30 dias.
2.2.3 RelatórioAo final do inquérito, a autoridade policial elabora um
relatório, mas o Ministério Público, que é o destinatário
desse procedimento, poderá devolvê-lo a essa autoridade,
para novas diligências. Poderá, ainda, oferecer denúncia ou
pedir o arquivamento do inquérito. Não há no inquérito,
ainda, acusação, portanto não se pode falar em defesa, nem
em nulidade.
Uma vez arquivado, o inquérito só poderá ser
desarquivado com base em provas novas (Súmula 524 do
STF).
Capítulo V - Visão Geral do Processo112
2.2.4 IncomunicabilidadeSegundo o Código de Processo Penal, o juiz pode de-
terminar a incomunicabilidade do preso pelo prazo máxi-
mo de três dias, mas há quem entenda que essa disposição
não prevalece mais diante do disposto na Constituição Fe-
deral (art. 5.º, LXII, LXIII, e 136, § 3.º, IV).
2.2.5 Sigilo e arquivamentoO inquérito policial é procedimento inquisitorial e
sigiloso. Do despacho que determina o arquivamento do
inquérito não cabe recurso ou qualquer outro meio de
impugnação. O inquérito policial é dispensável, podendo
o Ministério Público oferecer denúncia com base em pe-
ças de informação (arts. 12, 27, 39, § 5.º, e 46, § 1.º, do
CPP).
Caso o órgão do Ministério Público peça o arquiva-
mento do inquérito, não concordando o juiz, os autos são
remetidos ao chefe do Ministério Público (Procurador Ge-
ral de Justiça ou Procurador Geral da República; nesse úl-
timo caso, se for crime que se processa na Justiça Federal),
o qual poderá oferecer denúncia, designar um órgão do
Ministério Público para que a ofereça ou insistir no pedi-
do de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obriga-
do a atender.
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O juiz não pode fundamentar uma decisão conde-
natória apoiada exclusivamente no inquérito policial.
2.3 Ação penal
A ação penal é o direito de invocar o Poder Judiciário
para aplicar o direito penal objetivo. Se a legitimidade para
promover a ação penal é do Estado-Administração, por
intermédio do Ministério Público, ela é ação penal públi-
ca; se a lei defere a mesma legitimidade à vítima, a ação
penal é privada. A ação penal pública pode ser
incondicionada ou condicionada. Esta última pode ser
condicionada à representação ou à requisição do Ministro
da Justiça.
2.3.1 Ação penal pública incondicionadaO Ministério Público é o titular da ação penal pú-
blica e é representado, na Justiça Estadual, por Promoto-
res de Justiça e Procuradores de Justiça e, na Justiça Fe-
deral, por Procuradores da República e Procuradores
Regionais da República. Segundo o art. 129, I, da Cons-
tituição da República, é função institucional do Minis-
tério Público promover, privativamente, a ação penal
pública, na forma da lei.
Capítulo V - Visão Geral do Processo114
2.3.1.1 Princípios que regem a ação penal pública,
incondicionada ou condicionada:
· Princípio da oficialidade, segundo o qual a persecução
penal é promovida por órgãos oficiais do Estado-Admi-
nistração.
· Princípio da obrigatoriedade, segundo o qual não fica ao
arbítrio ou discricionariedade do Ministério Público mo-
ver ou não a ação penal, uma vez que, existindo elementos
que comprovem a ocorrência de ilícito penal, ele é obriga-
do a promover a ação penal. O art. 24 do CPP determina
que a ação penal será promovida por denúncia do Minis-
tério Público.
· Princípio da indisponibilidade, segundo o qual o Minis-
tério Público não pode desistir da ação penal já promovi-
da (art. 42 do CPP), nem do recurso já interposto (art.
576 do CPP).
· Princípio da divisibilidade, oposto ao princípio da
indivisibilidade da ação penal privada, consoante o qual o
Ministério Público pode aditar a denúncia a qualquer tem-
po para incluir co-réu ou promover nova ação penal contra
outras pessoas não incluídas na ação anterior.
Em qualquer crime, quando praticado em detrimento
do patrimônio ou interesse da União, Estado e Município,
a ação penal será pública (art. 24, § 2.º, CPP).
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Figura 8
D EN Ú N CIA +IND IC A ÇÃ O D E TESTEM U NH A S
(1)
JU IZ REJEITAA D EN Ú N CIA
NO TRIBUNAL:Habeas Corpus:pede a rejeiçãoda denúncia eo trancam ento
da ação .NO TRIBUNAL:
Recurso emsentido estrito:
pede que a denúncia se ja aceita.
A Ç Ã O P E N A L P Ú B LICA
INQUÉRITO
Capítulo V - Visão Geral do Processo116
2.3.2 Ação penal pública condicionadaO Ministério Público também, aqui, é o titular da ação
penal, mas depende, para agir, de manifestação de vontade
da vítima ou de seu representante legal (representação), ou
de requisição do Ministro da Justiça.
Chama-se representação a intenção manifestada pela
vítima, ou por seu representante legal, que permitirá o iní-
cio da persecução penal do processo. Essa manifestação pode
ser escrita ou oral, mas precisa conter informações que pos-
sam servir para apuração dos fatos.
- Quem pode promover a representação? O ofendido
ou seu representante legal, o procurador com poderes espe-
ciais, o cônjuge, o ascendente, o descendente ou o irmão,
no caso de morte do ofendido ou quando declarado ausen-
te por decisão judicial.
Se o ofendido é pessoa jurídica, a representação deve
ser feita por quem os contratos constitutivos ou estatutos
designarem, ou, no silêncio, pelos diretores ou sócios-ge-
rentes.
No caso de a vítima ser maior de 18 e menor de 21
anos, tanto ela como seu representante legal podem ofere-
cer queixa.
Para alguns crimes, a queixa, ou representação, é obri-
gatória. São eles: perigo de contágio venéreo; ameaça; cri-
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mes contra os costumes quando a vítima não tiver recursos
para prover as despesas do processo; crimes contra a honra
de funcionário público, em razão da função; lesões corpo-
rais culposas, etc.
Nos crimes contra a honra praticados contra o Presi-
dente da República ou chefe de governo estrangeiro (art.
145, parágrafo único, CP) e nos delitos praticados por es-
trangeiro contra brasileiro fora do Brasil (art. 7.º, § 3.º, CP),
é obrigatória a requisição do Ministro da Justiça.
• Denúncia - a denúncia é a petição inicial da ação
penal pública e o prazo para o seu oferecimento é de 5 dias,
se o réu estiver preso, contados da data em que o MP rece-
beu o inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver solto.
Se não houver inquérito, o prazo para o oferecimento da
denúncia começará a contar da data em que o MP recebeu
as peças de informação ou a representação.
2.3.3 Ação penal privadaÉ aquela em que o Estado, titular exclusivo do direito
de punir, transfere a legitimidade para propor a ação penal
à vítima ou ao seu representante legal. É transferido o direi-
to de acusar. Esse tipo de ação penal procura evitar que o
escândalo do processo ofenda ainda mais a vítima. Ela é
usada nos crimes que, quase exclusivamente, dependem de
Capítulo V - Visão Geral do Processo118
colaboração do ofendido e, se este assim não quiser, não há
que se insistir no poder punitivo do Estado.
2.3.3.1 Princípios que regem a ação penal privada
· Princípio da oportunidade ou da conveniência: a vítima
avalia a oportunidade ou conveniência da instauração da
ação penal.
· Princípio da disponibilidade: a vítima não só pode deci-
dir se ajuíza ou não a ação penal, como também pode
desistir dela (renúncia, decadência, perempção e perdão)
e dispor do conteúdo material do processo.
· Princípio da indivisibilidade: conforme o art. 48 do CPP,
a queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao
processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua
indivisibilidade.
O titular da ação penal privada é o ofendido ou seu
representante legal, ou, ainda, no caso de morte, o cônjuge,
o ascendente, o descendente ou o irmão.
2.3.3.2 Tipos de ação penal privada
• comum
• ação penal privada personalíssima - só pode ser exercida
pelo ofendido e não pelos sucessores mesmo em caso de
morte (por exemplo, caso de adultério).
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• ação penal privada subsidiária da pública - poderá ser
promovida pela vítima somente em caso de inércia do MP.
Se a pessoa comprovar pobreza, o juiz nomeará defensor
para oferecer queixa.
A queixa ou queixa-crime é a petição inicial da ação
penal privada. O autor da ação é denominado querelante e
o réu, querelado.
2.3.4 Ação penal privada subsidiária da públicaSomente no caso de inércia do órgão do Ministério
Público na ação pública, ou seja, na hipótese em que o Pro-
motor de Justiça não intentar a ação penal no prazo legal, a
vítima poderá intentar queixa, dando início à ação penal,
mesmo em se tratando de ação pública. Nesse caso, o mem-
bro do Ministério Público poderá intervir em todos os ter-
mos do processo e, no caso de negligência do querelante,
retomar a ação como parte principal.
2.3.5 Extinção da punibilidadeO direito de punir é exclusivo do Estado; no entanto,
em condições especiais, ele pode perder esse direito.
• decadência (art. 107, IV, CP) - tanto na ação penal públi-
ca quanto na ação penal privada, pode ocorrer a decadên-
cia, isto é, se o ofendido ou seu representante legal não
Capítulo V - Visão Geral do Processo120
oferecer a representação ou a queixa no prazo de seis me-
ses, o Estado perde o direito de punir.
A renúncia, o perdão e a perempção podem ocorrer
somente em ação penal privada.
• renúncia (art. 107, V, primeira parte, CP) – refere-
se ao direito de queixa e pode ser expressa, por escri-
to, ou tácita, quando há um ato incompatível com o
propósito de iniciar a ação privada. A renúncia é uni-
lateral, pois não depende de concordância do quere-
lado.
• perdão (art. 107, V, segunda parte, CP; art. 58, parágra-
fo único, CPP) – ocorre quando o ofendido perdoa o
ofensor, desistindo do prosseguimento da ação penal. O
perdão é bilateral, depende de aceitação do ofensor. O
perdão que não for recusado no prazo de três dias será
tido como aceito.
· perempção (art. 107, IV, última parte, CP) – ocorre quan-
do o autor deixa de promover o andamento do processo
por 30 dias seguidos; quando não comparece, sem moti-
vo justificado, a qualquer ato processual a que deva estar
presente; quando pela morte ou incapacidade do autor,
após 60 dias, não comparecer pessoa habilitada ao Juízo.
Diante da inércia do ofendido, o Estado perde o direito
de punir.
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PARTE I
2.3.6 Procedimento da ação penalA ação penal, de modo geral, é iniciada com uma de-
núncia do Ministério Público, baseada, no mais das vezes,
num inquérito policial, no qual se investigou a infração
penal. Em alguns casos, o juiz pode rejeitar a denúncia. A
ação penal morre já no seu nascedouro, cabendo recurso
para o Tribunal. Se o juiz receber a denúncia, o acusado é
citado, por intermédio de um mandado cumprido por ofi-
cial de justiça, tomando conhecimento da acusação contra
ele formulada.
Citação por edital - quando o acusado não é encon-
trado, ele é citado por edital, publicado no diário oficial;
não comparecendo no dia designado pelo juiz para ser in-
terrogado, nem constituindo defensor, o processo será
suspenso e prazo de prescrição da infração penal também.
Interrogatório - quando o acusado comparece em juízo,
após a citação por mandado ou por edital, ele é interrogado
pelo juiz. O acusado tem direito ao silêncio, mas é a opor-
tunidade que ele tem para apresentar sua versão dos fatos.
Após o interrogatório, o defensor indicado pelo acu-
sado (defensor constituído) ou aquele nomeado pelo juiz,
em caso de pobreza do acusado (defensor dativo), é intima-
do para apresentar a defesa prévia, que é o momento ade-
quado para a defesa arrolar suas testemunhas.
Capítulo V - Visão Geral do Processo122
Oitiva das testemunhas - indicadas as testemunhas, o
juiz designa uma audiência para ouvir as testemunhas de
acusação e outra para ouvir as testemunhas de defesa. Caso
elas residam em cidade fora da jurisdição do juiz processante,
serão ouvidas por intermédio de carta precatória, que nada
mais é do que um pedido do juiz processante (juiz
deprecante) para que o juiz do local onde as testemunhas
residem (juízo deprecado) as ouça.
Novas provas e alegações finais – depois de ouvidas
as testemunhas, abre-se um prazo para que se tragam aos
autos algumas provas que eventualmente estiverem fal-
tando.
A acusação e a defesa apresentam alegações finais, que
são razões escritas, nas quais cada um expõe seu ponto de
vista sobre as provas que foram produzidas, na tentativa de
formar o convencimento do juiz.
O Ministério Público pode pedir a condenação ou a
absolvição do acusado. O defensor do acusado somente pode
pedir a absolvição, caso contrário o acusado pode ser consi-
derado indefeso e a tarefa de defender passa para outro de-
fensor.
Sentença - finalmente, o juiz profere a sentença; ana-
lisando as provas produzidas e as alegações das partes,
pode condenar o acusado (julgando procedente a denún-
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 123
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cia) ou absolvê-lo da acusação (julgando improcedente a
denúncia).
Apelação - da sentença cabe apelação para o Tribunal
competente (segunda instância), que revê, em órgão
colegiado, o que foi decidido pelo juiz. Normalmente, se o
Tribunal der provimento ao recurso, significa que estará
modificando o que foi decidido pelo juiz de primeira ins-
tância. Se negar provimento ao recurso, estará mantendo o
que foi decidido na sentença.
Trânsito em julgado - quando a decisão se torna defi-
nitiva, isto é, não há cabimento de qualquer recurso, diz-se
que ocorreu o “trânsito em julgado”. Após o trânsito em
julgado, a condenação ainda pode ser atacada por intermé-
dio de uma revisão criminal, se ocorreu, por exemplo, erro
judiciário.
2.3.7 Recursos no Processo PenalDa decisão proferida por juiz singular cabe recurso,
que é um pedido de reexame e reforma da decisão judicial.
Pelo princípio da voluntariedade dos recursos, em regra
somente a parte vencida pode recorrer, se desejar, mas exis-
tem casos em que o legislador determina o reexame neces-
sário da decisão remetendo o feito para nova apreciação pelo
tribunal. Esse recurso é chamado de recurso de ofício.
Capítulo V - Visão Geral do Processo124
A execução - Após esgotados os recursos ou na ausên-
cia destes, a decisão – sentença ou acórdão – transitará em
julgado e, a partir daí, se houve condenação, o réu deve
submeter-se aos procedimentos de execução penal, cum-
prindo a pena imposta, que pode ser privativa de liberdade,
restritiva de direitos ou multa, aplicada segundo a maior ou
menor gravidade do delito cometido.
Júri - Cabe aqui rápida lembrança sobre a instituição
do júri, que tem competência exclusiva para o julgamento
dos crimes dolosos contra a vida, como homicídio,
induzimento, instigação ou auxílio a suicídio, infanticídio
e aborto.
O júri é composto por um juiz federal ou de direito,
que é seu presidente, e vinte e um jurados, sendo sorteados,
dentre estes, sete para formar o conselho de sentença em
cada sessão. O serviço do júri é obrigatório e os jurados,
dentro de suas funções, como juízes leigos, têm as mesmas
responsabilidades dos juízes de direito.
2.3.7.1 Classificação dos recursos
Pelo princípio da voluntariedade dos recursos, em
regra somente a parte vencida pode recorrer, se desejar,
mas existem casos em que o legislador determina o
reexame necessário da decisão remetendo o feito para
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PARTE I
nova apreciação pelo tribunal. Esse recurso é chamado
de recurso de ofício.
Os recursos são classificados em:
• constitucionais (previstos na Constituição);
• legais (previstos em lei); e
• regimentais (previstos nos regimentos dos tribunais).
O recurso é ordinário quando o fundamento do pedi-
do é o simples inconformismo da parte, como na apelação.
Será extraordinário quando forem exigidos requisitos espe-
ciais, como no protesto por novo júri, que pode ser utiliza-
do apenas uma vez, na hipótese de a aplicação da pena de
reclusão ser igual ou superior a 20 anos, em razão de um
único crime.
a) Apelação - É o recurso genérico e amplo que cabe contra
as sentenças e decisões definitivas, ou com força de defi-
nitivas, proferidas pelo juiz singular, e contra as decisões
do Tribunal do Júri.
b) Protesto por novo júri - É privativo da defesa e cabe da
condenação à pena de reclusão de 20 anos ou mais. Só
pode ser interposto uma vez e invalida qualquer outro
recurso, inclusive a apelação.
c) Revisão criminal - É ação que pretende a desconstituição
de decisão condenatória criminal com trânsito em jul-
gado. É admitida a qualquer tempo, antes e depois da
Capítulo V - Visão Geral do Processo126
extinção da pena e mesmo após a morte do réu. Pode ser
requerida pelo réu, por intermédio de advogado, ou, no
caso de morte do réu, pelo cônjuge, ascendente, descen-
dente ou irmão. O pedido pode ser reiterado sempre que
houver prova nova.
d) Habeas Corpus - Tem natureza de recurso quando se
presta a provocar o reexame e a reforma da decisão e tem
natureza de ação quando, por exemplo, é impetrado pe-
rante o juiz contra ato de determinada autoridade ou em
substituição à ação de revisão criminal, contra a coisa
julgada.
Pode ser habeas corpus preventivo, com a expedição de
salvo-conduto, ou liberatório, com a expedição de alvará
de soltura ou outra providência adequada. O emprego
usual desse recurso/ação tem por finalidade a cessação
de prisão ou ameaça de prisão a que falte ou tenha passa-
do a faltar determinado requisito legal. Deve-se impetrá-
lo perante autoridade judiciária superior àquela de quem
partiu a coação.
Qualquer pessoa, com ou sem advogado, pode impetrar
habeas corpus em benefício próprio ou alheio.
e) Mandado de Segurança no crime - Cabe quando não há
recurso previsto para impugnar o ato ilegal ou para em-
prestar a recurso interposto efeito suspensivo não previs-
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to na legislação, se houver periculum in mora e patente
ilegalidade na decisão atacada.
2.3.8 Prisões2.3.8.1 Prisão provisória
Com exceção da prisão disciplinar (caso das transgres-
sões militares), do estado de defesa, do estado de sítio e da
recaptura do réu evadido, toda prisão só poderá ser efetua-
da em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamenta-
da da autoridade judiciária competente.
São provisórias: a prisão em flagrante, a prisão pre-
ventiva, a prisão por pronúncia, a prisão por sentença
condenatória, que não admite recurso em liberdade, e a
prisão temporária. Na ocasião da prisão, o preso será infor-
mado de seus direitos, especialmente o de permanecer cala-
do, assegurando-lhe a assistência da família, do advogado e
a identificação dos responsáveis por sua prisão.
2.3.8.2 Prisão em flagrante
Pode ser própria, quando ocorre no momento em que
a infração está acontecendo, e imprópria, quando o agente
é perseguido e preso logo após a infração. O flagrante pode
ser ainda presumido, quando o agente é encontrado e pre-
so logo depois com instrumentos, armas, objetos ou papéis
Capítulo V - Visão Geral do Processo128
que façam presumir ser ele o autor da infração.
2.3.8.3 Prisão preventiva
A lei exige a prova da existência do crime e indícios
suficientes de que o acusado seja o autor; não basta a suspei-
ta. A autoria pode ser demonstrada por indícios firmes, cujo
exame caberá ao juiz na decretação da prisão.
Assim, a prisão preventiva somente pode ser decretada
por garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal ou para assegurar a apli-
cação da lei penal. Em princípio, ela só é admissível nos
crimes dolosos punidos com reclusão. A jurisprudência fi-
xou o prazo de 81 dias para o encerramento da instrução
criminal. Decorrido esse prazo sem o encerramento da ins-
trução, a prisão preventiva deve ser revogada, por se
transmutar em constrangimento ilegal.
2.3.8.4 Prisão provisória temporária
Instituída pela MP n. 111/89, convertida na Lei n.
7.960/90, aplica-se nos seguintes casos:
I - quando imprescindível para as investigações do inquéri-
to policial;
II - quando o indiciado não tiver residência fixa ou não
fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua
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PARTE I
identidade;
III - quando houver fundadas razões de participação do
indiciado em homicídio doloso, seqüestro ou cárcere priva-
do, roubo, extorsão, extorsão mediante seqüestro, estupro,
atentado violento ao pudor, rapto violento, epidemia com
resultado de morte, envenenamento de água potável ou subs-
tância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte,
quadrilha ou bando, genocídio, tráfico de drogas e crimes
contra o sistema financeiro.
O prazo da prisão temporária é de cinco dias, prorro-
gável por mais cinco. Os presos deverão ficar separados dos
demais detentos.
Convém ressaltar que existem duas correntes de inter-
pretação para esse dispositivo. Uma corrente acredita que
basta o preenchimento das condições apontadas em um dos
incisos para a decretação da prisão temporária. Outra cor-
rente acredita que a prisão temporária cabe apenas nos cri-
mes apontados no inciso III, se presentes as condições do
inciso I ou do inciso II. Diz-se que a interpretação literal do
art. 1.º da lei conduz a conclusões juridicamente inaceitá-
veis e, portanto, deve ser afastada.
2.3.8.5 Liberdade provisória
A regra geral era o preso em flagrante continuar detido
Capítulo V - Visão Geral do Processo130
até o julgamento final da causa, salvo em três casos espe-
cíficos: nas infrações de nenhuma gravidade, indepen-
dentemente do pagamento de fiança; no caso de delito
em que se admitia pagamento de fianças; e quando o
juiz verificava que o agente cometera o fato em excludente
de antijuridicidade. Com o passar do tempo, moderni-
zado o processo penal, determinou-se que será dada li-
berdade provisória, independente de fiança, sempre que
estiverem ausentes os motivos da prisão preventiva, per-
manecendo a obrigação de o agente comparecer a todos
os atos do processo.
2.3.9 FiançaÉ a garantia real que visa assegurar a presença do acu-
sado no processo. É real porque tem por objeto um bem
com valor economicamente apreciável. Pode ser prestada
pelo acusado ou por terceiro em seu favor, mediante de-
pósito em dinheiro ou bens móveis ou por meio de uma
hipoteca.
2.3.9.1 Inafiançáveis:
• Racismo, crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilíci-
to de entorpecentes, terrorismo, ação de grupos armados,
civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Esta-
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do Democrático (art. 5.º, XLII, XLIII e XLIV, da Consti-
tuição Federal);
• Crimes punidos com reclusão em que a pena míni-
ma é superior a dois anos (art. 323, I), ou que pro-
voquem clamor público ou tenham sido cometidos
com violência contra a pessoa ou grave ameaça (art.
323, V);
• As contravenções de vadiagem e mendicância e sempre
que houver no processo prova de que o réu é vadio (art.
323, II e IV);
• Os crimes dolosos, quando o agente foi condenado defi-
nitivamente por outro crime doloso (art. 323, III);
• Todas as infrações quando, no mesmo processo, o agente
descumpriu obrigação imposta em liberdade provisória,
sem justa causa (art. 324, I);
• As prisões civil, disciplinar, administrativa ou militar (art.
324,II);
• As infrações cometidas por aquele que está no gozo de
sursis ou livramento condicional, salvo se processado por
crime culposo ou contravenção que admita fiança (art.
324, III);
• A contravenção de aposta em corrida de cavalo fora do
hipódromo (art. 9.º, § 2.º, da Lei n. 7.291/84);
• Os crimes contra o sistema financeiro, se estiver configu-
Capítulo V - Visão Geral do Processo132
rada situação que autorize a prisão preventiva (art. 31 da
Lei n. 7.492/86);
• Os crimes contra a fauna (art. 34 da Lei n. 5.197/67);
• Toda e qualquer infração em que esteja presente mo-
tivo que autorize a decretação da prisão preventiva (art.
324, IV).
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DOS AUTOS
CAPÍTULO VIO CAMINHO
(PRINCIPAIS PROCESSOS EPROCEDIMENTOS NA JUSTIÇA FEDERAL)
1 DE VOLTA À ORIGEM
Todo processo percorre um caminho circular, isto é,
ele sempre retorna a sua origem. De modo geral, ele come-
ça em uma das Varas da 1.ª Instância e, eventualmente, pode
chegar até o Superior Tribunal de Justiça ou o Supremo Tri-
bunal Federal, dependendo dos recursos interpostos pelas
partes.
Para ilustrar o caminho que os autos de um processo
podem percorrer, reproduzimos duas notícias extraídas do
“site/notícias” do Superior Tribunal de Justiça – STJ, e do
Supremo Tribunal Federal - STF (1.º caso, fig. 9/9.1, e 2.º
caso, fig. 10/10.1).
Capítulo VI - O Caminho dos Autos134
Figura 9
N OTÍC IAS N OTÍC IAS N OTÍC IAS N OTÍC IAS N OTÍC IAS N OTÍC IAS
1.º CASO
INCIDE IPI SOBRE A TRANSFO RM AÇÃO DE CAM IO -NETE DE CABINE S IMPLES EM D UPLA
O Im posto sobre Produ tos Industria lizados (IP I) recai sobre a a lte ração realizada em cam ionetes tipo pick-up para transform á-las de cab ine sim ples em dupla . O en tend im ento unânim e é da Prim eira Turm a do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e foi tom ada em um recurso da Auto Renovadora Boff, em presa da cidade gaúcha de São M arcos, contra a Fazenda N acional.
A empresa en trou na Justiça contra o Fisco buscando o reconhecim ento de que inexiste relação jurídica que determ ine o recolhim ento de IP I sobre a prestação de serviços de colocação ou recolocação de cabines duplas em veícu los utilitários pick-up de cabine simp les com acréscim o de com p lem entos distintos dos originais de fábrica, de uso exclusivo de clientes. Segundo alega, tais veícu los não se destinam à industrialização ou com ercia lização e as operações de beneficiam ento estão su jeitas tão-som ente à incidência do Im posto Sobre Serviços (ISS).
O juiz na PRIMEIRA INSTÂNCIA , em decisão unipesso-al, ju lgou o pedido procedente , reconhecendo que não se poderia exigir o Im posto sobre P rodutos Industrializados, IPI, sobre o tipo de ativ idade desenvolvida pe la em presa porque não im plicava industrialização nem espécie nova. A Fazenda N acional, no entanto, apelou dessa decisão, argum entando que a ativ idade em questão caracteriza-se com o transform ação, ou seja, obtenção de espécie nova, o que determ ina uma c lassificação d iferenciada na Tabela de Incidência do IP I (T IP I), enquan to que no beneficiam ento o produ to m antém a sua individualidade, m odificando-se apenas o seu funcionam ento, u tilização, acabamento ou aparência. C om o A FAZEN DA CO NSEGUIU REVERTER [no Tribunal Regional] A DEC ISÃO [de 1ªinstância] da Justiça Federal no R io Grande do Sul, a Boff recorreu ao SUPERIO R TRIBUNAL DE JUSTIÇA, STJ.
A questão em discussão no STJ consiste em de finir se o IPI incide sobre as operações realizadas por em presa que se dedica à a tiv idade de alte ra r as cam ione tes, transform ando-as de cab ine sim ples para
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Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 135
Figura 9.1
dup la, inclusive co m acréscim os dos respectivos com ple-m entos (acessórios) e fabricação de estruturas especia is.
Segundo o entendim ento do rela tor, m inistro Luiz Fux, a resposta é sim , pois o Cód igo Tribu tário Nacional (C TN) determ ina que se considera industrializado o produ to que tenha s ido subm etido a qualquer operação que lhe m odifi-que a natureza ou a finalidade ou o aperfeiçoe para o consum o. A lém disso, o reg ulam ento do IP I, ao explic ita r de que form a se caracteriza a industrialização, definiu a operação que importe em m odificar, aperfeiçoar ou alterar de qualquer form a o funcionam ento, a utilização, o acaba-m ento ou a aparência do p roduto (benefic iamento).
D ia nte d isso, o m inistro reconheceu, no que foi acom pa-nhado pelos dem ais m inistros que com põem a Prim eira Turm a, que no caso em questão há um verdadeiro benefic i-am ento na operação exercida com a execução da mudança do ve ículo. Assim , para efeitos de incidência do imposto, considera-se industria lizado o produ to que tenha sido subm etido a qualquer operação que lhe m odifique a natureza ou o aperfe içoe para consum o. (P rocesso : RESP 416939; texto publicado no s ite w ww.stj.gov.br/notíc ias; 7.8.2002)
D E SC R IÇ Ã O D O C A S O :
R ecurso esp ecialprop osto
pe lo AUTO R
* (1)
* (1) Recurso especial é proposto perante o Tribunal Regional, onde é analisado e, se for admitido (juízo de admissibilidade) é encaminhado para jkulgamento no STJ. .*(2) O Superior Tribunal de Justiça possui competência exclusiva para questionamento de leis federais; no caso, trata-se de Imposto sobre Produtos Industrializados, IPI, previsto por lei federal (lei 4.502/64). .
1.ª instância1.ª instância 2.ª instância(TRF)
STJ* (2)
acó rdão favorável ao RÉU
ac órdão m anté m decis ão doTr ib unal R egionalfavorá vel a o RÉ U
N OTÍC IAS N OTÍC IAS N OTÍC IAS N OTÍC IAS N OTÍC IAS N OTÍC IAS (1 .º C A SO ... con tinuação)
Capítulo VI - O Caminho dos Autos136
Figura 10
N OTÍC IAS N OTÍC IAS N OTÍC IAS N OTÍC IAS N OTÍC IAS N OTÍC IAS
2.º CASO
SUPREMO MANTÉM INDENIZAÇÃO POR DESASTRE AÉREO
A Prim eira Turm a do m anteve (14/05) d ecisão do
da 5.ª Região, com sede em Recife, que conce-deu , em grau de ape lação, a ação indenizatória m ovida por Ana M aria Duarte Baracho contra a União pela m orte dos pais, em conseqüência de um d esastre aéreo.
O acidente ocorreu no d ia 11 de novem bro de 1991, em Recife , logo após a decolagem , do Aeroporto dos Guararapes, de um avião Bandeirante, da Nordeste Lin has Aéreas. Nele m orreram 17 pessoas, entre elas o casa l Lisanel Duarte de M elo e Tereza Araú jo D uarte. No momen-to da queda o avião era pilotado por um ofic ial da Aeronáu tica , encarregado de checar a tripulação .
Os m inis tros acompanharam o voto do relato r da ação, m inistro Sepúlveda Pertence , e m antiveram a decisão da JUSTIÇA FEDERAL ao aprovar o arquivam ento do Recurso Extraord inário (R E 258726) m ovid o pe la U nião.
Na ação ajuizada por Ana M aria Duarte Ba racho e outros seis irm ãos, TRF RESPONSABILIZO U A UNIÃO PELO DESASTRE.
O TRF reconheceu o direito à indenização por danos m orais e pa trim on iais ao conside ra r que, no caso houve responsabilidade estata l por omissão do Departam ento de Aviação C ivil na fisca lização das aeronaves antes da decolagem , pelas condições precárias de m anutenção do avião que caiu e pela falta de treinam ento adequado do pessoal.
A ação diz que o relatório final do M inistério da Aeronáu tica confirm ou a inaptidão do ofic ial para pilo tar o avião , a falta de treinam ento e de ativ idades de prevenção , e a de fic iência de instruçã o e de supervisão com o fa tores que contribu iram para o acidente.
O RECUR SO EXTRAORDINÁRIO AO SUPREMO , a União sustentou não ter s ido dem onstrado o nexo causa l entre a alegada om issão da adm inistração e o dano sofrido. A rgum entou, ain da, não ser obrigató rio ou tecn icam ente
SUPREMO TR IBUNAL FEDERALTRIBU NAL R EG ION AL
FEDERAL
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(con tinua)
Cap
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Figura 10.1
A ÇÃ O DE INDENIZA ÇÃ O
*(1) Recurso extraordinário é proposto na 2.ª Instância, se for admitido é encaminhado ao Supremo. .*(2) O Supremo Tribunal Federal possui competência exclusiva para matéria Constitucional. No caso, trata-se de acidente ocorrido em aeronave. O espaço aéreo pertence à União conforme previsão do art. 21 e 22 da Constituição Federal. O uso desse espaço pode se dar através de concessão a particulares, mas a fiscalização, cabe, exclusiva- mente à União. .
N OTÍC IAS N OTÍC IAS N OTÍC IAS N OTÍC IAS N OTÍC IAS N OTÍC IAS
viável ao DAC vis to riar todos os aviões an tes da decolagem .Em seu voto, o m inistro Sepúlveda Pertence consid erou
re levante o fato de que o avião estava sendo pilotado “em situação irregular” na hora do acidente, por um funcionário sem treinam ento especializado, acom panhado pelo co -piloto e na ausência do com and ante, que estava fora da cabine de controle .
“Aqui me parece o ponto decisivo que torna irrelevan te a discussão sobre a responsabilidade por essa om issão da fiscalização das condições de m anutenção da aeronave”, assina lou o m inis tro Pertence.
“Esse protagonismo com issivo do agen te público em serviço n a causa im edia ta do acidente torna oc ioso discutir a im putabilidade ou não à om issão da polícia adm in istra tiva da União dos seus antecedentes m ecânicos, em ergência resultante da a terradora falta de m anuten ção da aeronave”, c o n c l u i u P e r t e n t e . ( t e x t o p u b l i c a d o n o s i t e
; 17.5.2002)www.stf.gov.br/notícias
D E S C R IÇ Ã O D O C A S O :
(2 .º C A SO ... con tinuação)
R ecurso extraord inário*
prop osto pe lo RÉU
(1)
1.ª instância1.ª instância 2.ª instância(TRF)
STF * (2)
acó rdão favorável
ao AUTOR
ac órdão m anté m decisão doTr ib unal R egiona l
favorá vel a o A UTO R
Capítulo VI - O Caminho dos Autos138
2 A PRIMEIRA INSTÂNCIA
Na 1.ª Instância, o protocolo é a porta de entrada
da Justiça. Ali se entrega a petição inicial e os docu-
mentos, que são encaminhados ao setor de distribui-
ção.
Na distribuição, a petição inicial é sorteada para uma
das Varas e recebe um número que identificará os autos do
processo.
Na Vara, petição e documentos são autuados, isto é,
daí para frente, cada folha que entrar nos autos será nu-
merada, reunindo todas as manifestações das partes ao lon-
go do processo. E começa, então, o diálogo entre autor e
réu, mediado pelo juiz, em busca de se provar de quem é o
direito.
Acompanhe, no final do capítulo, esquemas simplifi-
cados, dos principais tipos de ações que são propostas na
1.ª Instância (Figuras 11 a 17, no final do capítulo).
3 A SEGUNDA INSTÂNCIA
Existem duas maneiras de os autos ingressarem nos tri-
bunais regionais, denominados 2.ª instância ou segundo grau
Cap
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PARTE I
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 139
de jurisdição. A primeira chama-se de “competência origi-
nária”, caso em que as ações são propostas no próprio Tri-
bunal. O segundo caso chama-se “competência recursal”,
quando o Tribunal julga os recursos propostos contra as
decisões de juízes federais de 1.ª Instância e, em alguns ca-
sos, de juízes estaduais.
Todas as decisões de mérito no Tribunal são proferi-
das por um colegiado, constituído pelos desembargadores
federais que compõem as turmas, as seções, o órgão especi-
al, o plenário. A decisão proferida por esse colegiado deno-
mina-se acórdão.
Quando a decisão é unânime, via de regra, ela torna-se
definitiva, irrecorrível no próprio Tribunal (salvo nos casos
de embargos de declaração). Quando a decisão dá-se por
maioria de votos, cabem embargos infringentes. Esgotados
todos os recursos, ou o prazo para sua interposição, diz-se
que ocorreu o “trânsito em julgado” da decisão, isto é, ela
tornou-se irrecorrível, definitiva no Tribunal que a proferiu
ou em outros que lhe são superiores (Fig. 18, no final do
capítulo).
3.1 Acórdão e recursos de 2.º grau
Cabe ao Tribunal processar e julgar todos os recursos
provenientes da 1.ª instância e, ainda, alguns recursos pro-
Capítulo VI - O Caminho dos Autos140
postos contra decisões das turmas, seções e mesmo do ple-
nário que o compõe.
Em casos especiais, as partes podem propor recurso
especial e recursos ordinário no Superior Tribunal de Justi-
ça - STJ, ou recurso extraordinário no Supremo Tribunal
Federal - STF se envolver questão constitucional, contra
decisões da 2.ª instância.
3.1.1 Recursos contra decisões do Plenário,das Seções e das Turmas
a) agravo regimental - é cabível quando a parte sentir-se
prejudicada pela decisão do presidente do Tribunal, da
Seção, da Turma ou pelo relator do processo;
b) embargos de declaração – é recurso que pretende esclare-
cer um ponto obscuro, contraditório ou omisso de uma
decisão;
c) embargos infringentes – são opostos contra acórdãos em
que o resultado da votação não foi unânime, objetivando
que prevaleça o voto vencido. Para julgamento dos em-
bargos, será sorteado novo relator.
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PARTE I
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 141
4 RECURSOS COMUNS PARA O SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA – STJ E PARA O
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - STF
a) recurso ordinário constitucional
- no STF e no STJ - cabe contra acórdão proferido por
tribunal superior ou regional ou local em única instân-
cia, isto é, em processo de sua competência originária. A
decisão impugnada deve ser denegatória de mandado de
segurança ou de habeas corpus.
- só no STF – quando o recurso ordinário tratar de cri-
me político; ou habeas data e mandado de injunção, se
denegatória a decisão.
- só no STJ – quando o recurso ordinário for movido por
Estado estrangeiro ou organismo internacional de um lado
e Município ou pessoa residente no país, de outro.
b) agravo de instrumento – proposto contra decisão que
nega seguimento de recurso ordinário ou de recurso es-
pecial para o STJ e de recurso extraordinário para o STF.
c) embargos de divergência – opostos contra decisão de tur-
ma em recurso especial e extraordinário.
d) embargos de declaração – recurso que pretende esclare-
cer um ponto obscuro, contraditório ou omisso de uma
decisão.
Capítulo VI - O Caminho dos Autos142
5 RECURSOS PRIVATIVOS DO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL E DO SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
a) recurso especial no STJ - propõe-se recurso especial quan-
do as causas decididas em única ou última instância pe-
los tribunais regionais ou pelos tribunais dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios contrariarem lei fede-
ral, a ela se contrapuserem ou atribuírem interpretação
divergente. Esse recurso é interposto no Tribunal que
proferiu a decisão questionada, é analisado nesse mesmo
tribunal e, se for “admitido”, é encaminhado ao STJ.
b) recurso extraordinário no STF – é proposto quando a
decisão proferida em única ou última instância contra-
riar a Constituição ou ainda declarar a inconstitu-
cionalidade de tratado ou lei federal.
Além desses recursos, existe o agravo de instrumento,
contra o despacho do Presidente do Tribunal recorrido, que
nega o seguimento do recurso extraordinário, o agravo regi-
mental de decisão de relator que causar prejuízo à parte e
ainda os recursos estaduais locais, próprios do regimento
interno de cada tribunal.
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PARTE I
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 143
6 AÇÃO RESCISÓRIA
É a ação de competência originária dos tribunais por
intermédio da qual se pede a anulação ou a desconstituição
de uma sentença ou acórdão transitado materialmente em
julgado e a eventual reapreciação do mérito. O prazo para
propositura da ação rescisória é de 2 (dois) anos, contados
do trânsito em julgado da decisão.
A sentença ou o acórdão só serão rescindidos:
· quando forem dados por prevaricação, concussão
ou corrupção do juiz;
· quando proferidos por juiz impedido ou absoluta-
mente incompetente;
· quando resultarem de dolo da parte vencedora em
detrimento da parte vencida, ou da colusão entre as
partes, a fim de fraudar a lei;
· quando ofenderem a coisa julgada;
· quando violarem literal disposição da lei;
· quando se fundarem em prova cuja falsidade tenha
sido apurada em processo criminal ou seja provada
na própria ação rescisória;
· quando, depois da sentença, o autor obtiver novo
documento, cuja existência ignorava, ou dele não
pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar
Capítulo VI - O Caminho dos Autos144
pronunciamento favorável;
· quando houver fundamento para invalidar confis-
são, desistência ou transação, em que se baseou a
sentença;
· quando fundados em erro de fato, resultante de atos
ou de documentos da causa.
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PARTE I
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 145
CAPÍTULO VIFIGURAS
Figura 11 - 1ª Instância
Figura 12 - Ação Civil Pública
Figura 13 - Ação de Execução
Figura 14 - Ação Ordinária
Figura 15 - Ação Penal Privada
Figura 16 - Mandado de Segurança/MS
Figura 17 - Medida Cautelar
Figura 18 - 2ª Instância (Tribunais)
Capítulo VI - O Caminho dos Autos146
Figura 11
1.ª INSTÂ NCIAF O R M A Ç ÃO E
PR O C ESS AM EN TO D O S AU TO S
PROTOCOLO
DISTRIBUIÇÃO
VARA(Processa e julga o
pedido das partes)
AÇÃO CIVIL PÚBLICA
AÇÃO DE EXECUÇÃO
AÇÃO ORDINÁRIA
AÇÃO PENAL PRIVADA
MANDADO DE SEGURANÇA
MEDIDA CAUTELAR
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PARTE I
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 147
Figura 12
A ÇÃ O CIVIL P ÚBLIC A
CONTESTAÇÃO
CITAÇÃO
PROVAS
SENTENÇA
EXECUÇÃODA SENTENÇA
(Recursos; embargos de declaração; apelação)
PETIÇÃOINICIAL
Capítulo VI - O Caminho dos Autos148
Figura 13
PETIÇ Ã O IN IC IA L +C D A (C ertidão de
D ív ida A tiva)
C ITA Ç Ã O PA R APA G A M EN TO
D E D ÍV ID A
D ÍV ID A PA G A N OPR A ZO
D ÍV ID A N Ã O PA G A :
EM B A R G O S ÀEXEC U Ç Ã O
SEN TEN Ç A
R EC U R SO :apelação
(Prazo: 5 dias)
(Extinção do feito earquivamento dos autos)
A ÇÃ O DE EXECUÇÃ O
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PARTE I
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 149
Figura 14
PETIÇÃO INICIAL
CITAÇÃO
CONTESTAÇÃO
AUDIÊNCIA
SENTENÇA
EXECUÇÃODA SENTENÇA
(Pedidodo autor)
(Cópia da petição inicial e dos documentos apresentados pelo autor para o réu saber
do que é acusado/cobrado)
(Resposta do réu)
(Tentativa de conciliação)
(Produção de provatestemunhal e de perícia)
(Recursos; embargos de declaração; apelação)
(Após decididos todosos recursos possíveis)
P R IN C IPA IS P R O C E D IM E N TO SA ÇÃ O ORDINÁ RIA
Capítulo VI - O Caminho dos Autos150
Figura 15
QUEIXA CRIME +TESTEM UNHAS DE ACUSAÇÃO
(1 )
JUIZ REJEITAA QUEIXA-CRIME
N O TR IB U N A L:H a be as C orp us :pe de a re je içãoda q ue ixa-c rim e e o tran cam en to
da a çã o.N O TR IB U N A L:
R e curso emsen tido es trito :
pe de q ue a q ue ixa -c rim e
seja aceita .
INQUÉRITO
A ÇÃ O PENAL PRIVADA
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PARTE I
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 151
Figura 16
(Recurso: embargos de declaração; apelação;
1.ª Instância (apresentados perante o juíz ou perante o
Presidente do Tribunal.Outra medida cabível:
suspensão de segurança)
PETIÇÃO IN IC IAL EDOC UMENTOS
COM PROB ATÓ RIOS
LIMINAR
NOTIFICAÇÃO
LIMINAR
PARECER DO MPF
SENTENÇA
(Pedido do impetrante)
(Sobre o pedidodo impetrante)
(Medidascabíveis)
(Decisão provisóriaatendendo o pedido
do impetrante)
(Cópia da petiçãoinicial e documentos
enviados ao impetrado para justificar os seus atos)
(Medidas cabíveis: agravo de instrumento;
suspensão de segurança)
MANDADO DE SEGURAN ÇA/MS
Capítulo VI - O Caminho dos Autos152
Figura 17
PETIÇÃOINICIAL
CONTESTAÇÃO
LIM INAR
LIM IN A R
CITAÇÃO
PROVAS
SENTENÇA
Medida cabível:agravo de
instrumento no Tribunal
MEDIDA CAUTELAR
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PARTE I
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 153
Figura 18
FAS ES D O P R O C ES SO2ª INSTÂ NCIA (TRIBUNAIS)
PROTOCOLO
DISTRIBUIÇÃO
RELATOR
RECURSO
JULG AM ENTO
ACÓRDÃO
-Processo Originário-Processo Recursal
(Sessão de)
Sorteio* do relator,observando-se otipo de matéria
(ELETRÔNICA)
1.º Análise do pedido da parte2.º Elaboração de relatório e voto3.º Inclusão na pauta de julgamento
Três desembargadores votam; o primeiro é o relator.
- Embargos de Declaração;- Embargos Infringentes
* Todas as turmas são especializadas e compostas por quatro desembargadores. Quando uma ação chega à Distribuição, ela é sorteada para um dos desembarga-dores da Turma especializada na matériaque o processo discute.
Decisão a que os três desem-bargadores chegarem sobre o processo, pode ser a mesma do relator, ou não. .
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PARTE I
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 155
CAPÍTULO VIIPROCEDIMENTOS
Com relação aos procedimentos de leis especiais, va-
mos lembrar aqui apenas os que tratam do usucapião, cri-
mes de abuso de autoridade, crimes contra a economia po-
pular, tóxicos, lavagem de dinheiro e crimes de imprensa.
1 USUCAPIÃO
A ação de usucapião é mais conhecida como aquela que
permite a uma pessoa obter o título de propriedade de um
terreno e respectivo imóvel após longos anos de ocupação.
Mas o usucapião também pode ocorrer pela posse de bens
móveis, como, por exemplo, uma jóia. Portanto, é útil saber
algumas de suas peculiaridades, a começar pelo conceito.
ESPECIAIS
Capítulo VII - Procedimentos Especiais156
1.1 Conceito
Usucapião é a aquisição de domínio ou de um direito
real sobre coisa alheia, mediante posse mansa e pacífica,
durante o tempo estabelecido em lei (J.Carlos de M.Salles).
A definição de J.Salles amolda-se perfeitamente aos
termos do antigo Código Civil e sofreu pequenas altera-
ções no novo Código Civil, que entrou em vigor no dia
11.01.2003.
A “posse mansa e pacífica” entendida como posse sem
oposição (art.550 do antigo Código Civil) ou posse não
contestada (art.551 do mesmo código), de que se pode pre-
sumir a inércia do proprietário, pelo atual Código Civil em
vigor, surge como posse sem interrupção nem oposição,
ou posse contínua e incontestada.
A “coisa alheia” a que se refere a definição de J. Salles,
pode ser entendida como bens móveis e imóveis. O Códi-
go Civil atual trata a aquisição de propriedade de bens imó-
veis, por usucapião, nos artigos 1238/1244 e de bens mó-
veis, como, por exemplo, jóias, nos artigos 1260/1262.
1.2 A função social
Todo bem móvel ou imóvel deve ter uma função so-
cial; se o dono não cuida do bem que tem, gera oportu-
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Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 157
nidade para que outro cuide. Essa posse, quando é
contínua e sem oposição acaba configurando uma
situação de fato.
Para a comunidade é conveniente que essa situação de
fato se transforme em situação de direito, evitando confli-
tos e discórdias entre seus membros.
Alguns autores, como Tupinambá Miguel C. do Nas-
cimento, remetem o princípio da função social da terra à
colonização do Brasil. Segundo ele, a Carta Régia, de 20 de
novembro de 1530, trazida de Portugal por Martim Afonso
de Souza, concedia o domínio da terra brasileira, dividida
em sesmarias, sob a condição de “uso” (ser ocupada e ser
produtiva) e que, assim, prolongaria sua posse aos descen-
dentes.
1.3 Prazos
O novo Código Civil, promulgado em 10 de janeiro
de 2002 (Lei 10.406), que entrou em vigência a partir de
11 de janeiro de 2003, manteve o princípio da função so-
cial do imóvel e promoveu poucas alterações na legislação
anterior.
O capítulo I, Da Propriedade em Geral, o parágrafo 1º
do artigo1228, estabelece expressamente que “o direito de
propriedade deve ser exercido em consonância com as suas
Capítulo VII - Procedimentos Especiais158
finalidades econômicas e sociais (...)”.
Os artigos 1238 a 1244 tratam do usucapião de bens
imóveis, estabelecendo condições e prazos, de 5 a 15 anos,
para que a posse “sem interrupção nem oposição” justifique
o título de propriedade.
Os artigos 1260 a 1262 estabelecem os prazos, de
3 a 5 anos, e as condições para que a posse “contínua e
incontestada” de bens móveis se transforme em pro-
priedade.
USUCAPIÃOBENS MÓVEIS e BENS IMÓVEIS
Se a posse se prolongarpor cinco anos, sem sercontestada
Se a possefor contí-nua e semcontesta-ção, comjusto títuloe boa-fé
Se a possefor sem in-terrupçãonem oposi-ção
Se o pos-suidor mo-rar no lo-cal, ou ti-ver realiza-do obrasou servi-ços de ca-ráter pro-dutivo naproprieda-de
Área rural – se não for pro-prietário de outro imóvel,rural ou urbano, e morar,sem interrupção nem opo-sição, em área não superi-or a 50 hectares, tornando-a produtiva por seu traba-lho ou de dua família.Área urbana – se usarcomo sua moradia, ou desua família, área de até250 m2 e não for proprietá-rio de outro imóvel em zonaurbana ou rural
Bens
Móv
eis
Bens
Imóv
eis
P R A Z O S15 anos 10 anos 3 anos5 anos
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PARTE I
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 159
2 CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE
Os crimes de abuso de autoridade são definidos pela
Lei n.º 4.898, de 9.12.65, constando como figuras crimi-
nais a prisão ilegal, o constrangimento ilegal, o atentado à
incolumidade física, à liberdade de locomoção, à inviolabilidade
do domicílio, ao sigilo de correspondência etc.
Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, o
funcionário público, em sentido amplo, ou seja, todo aque-
le que exerce cargo, emprego ou função pública, de nature-
za civil ou militar, ainda que transitoriamente ou sem re-
muneração.
3 CRIMES CONTRA A ECONOMIA
POPULAR
Os crimes contra a economia popular são definidos
pela Lei n.º 1.521, de 26.12.51, que descreve várias figuras
penais, como a sonegação de mercadorias, a transgressão ao
tabelamento de preços, a fraude em pesos e medidas, a des-
truição de matéria-prima com o fim de causar alta de pre-
ços, gestão fraudulenta de bancos etc.
A pena, em todos os crimes, é de detenção e multa.
Capítulo VII - Procedimentos Especiais160
A competência nos crimes contra a economia popular é
do juiz singular estadual, com recurso para os tribunais
estaduais.
4 TÓXICOS
A Lei n.º 6.368, de 21.10.76, trata da prevenção e
repressão às drogas causadoras de dependência física ou
psíquica. Como figuras básicas da lei, na repressão, en-
contra-se o traficante e o usuário-portador. A fase policial
é sigilosa, ficando a critério do juiz a manutenção do sigi-
lo, uma vez instaurada a ação penal. O laudo provisório
de constatação da substância deve ser apresentado até a
denúncia, e o definitivo, até a audiência. Há necessi-
dade de exame de dependência, se o réu se declarar
viciado. O período previsto para instrução vai de 38 a
76 dias.
Em 11 de janeiro de 2002 foi editada a Lei nº10.409,
que dispõe sobre a prevenção, o tratamento, a fiscalização,
o controle e a repressão à produção, ao uso e ao tráfico ilíci-
tos de drogas que causem dependência física ou psíquica.
Depois dessa lei ser votada e aprovada pelo Congresso, ao
ser submetida ao Presidente, vários artigos foram vetados,
dificultando sua aplicação, de tal forma que, na prática, a
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PARTE I
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 161
Justiça ainda tem decidido com base na Lei n.º 6.368, de
21.10.76.
5 LAVAGEM DE DINHEIRO
(crime organizado)
A “lavagem de dinheiro”, decorrente em grande parte
do tráfico de drogas, vem movimentando um volume de
dinheiro tão alto que já se admite que as organizações cri-
minosas estão se transformando em organizações
transnacionais. A ação dessas organizações, no mundo, faz-
se sentir na administração pública, nas atividades comerci-
ais e financeiras, de tal forma que o combate a essa forma de
criminalidade tem sido objeto de acordos internacionais,
como a Convenção de Viena (1988) e de esforços conjun-
tos de toda a comunidade internacional. No Brasil, o crime
de lavagem de dinheiro é previsto pela Lei 9.613, de 3/3/
1998.
Com a edição da Lei 10.467, em 12 de junho de 2002,
foi alterada a Lei de “Lavagem” ou Ocultação de Bens, Di-
reitos e Valores, com a inclusão do inciso VIII ao art. 1º.
A nova lei prevê como crime a prática de corrupção
de funcionários públicos estrangeiros por brasileiros em tran-
Capítulo VII - Procedimentos Especiais162
sações comerciais internacionais. Ela é resultado da Con-
venção para o Combate à corrupção de funcionário públi-
co estrangeiro em transações comerciais internacionais,
assinada em 17 de dezembro de 1997, em vigor desde 15
de fevereiro de 1999.
A Lei 10.467 considera como funcionário público es-
trangeiro toda pessoa que exerce cargo, emprego ou fun-
ção pública em entidades estatais ou representações diplo-
máticas, mesmo que a atividade seja temporária ou sem
remuneração; pessoas que trabalhem em empresas con-
troladas, direta ou indiretamente, pelo poder público de
outro país, e pessoas que trabalhem em organizações pú-
blicas internacionais.
6 CRIMES DE IMPRENSA
Os crimes de imprensa definidos pela Lei n.º 5.250,
de 9.2.67, são divididos em duas classes. Na primeira,
estão classificados os crimes contra a ordem pública ou a
divulgação de segredo de Estado; na segunda, estão men-
cionados os crimes contra a honra (calúnia, difamação,
injúria).
O autor do escrito ou da transmissão responde pelo
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PARTE I
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 163
crime. Não havendo identificação do autor, responde o di-
retor ou o redator-chefe do jornal, ou o gerente ou o pro-
prietário do veículo de comunicação. A responsabilidade
penal, nesses casos, é sucessiva.
A queixa ou representação deve ser apresentada den-
tro de três meses da data da publicação ou da transmissão.
A prescrição da ação ocorre após dois anos da divulgação
ou transmissão incriminada. E a prescrição da execução
ocorre no dobro do prazo da pena de detenção aplicada.
O jornalista profissional tem direito a prisão especial
antes da condenação definitiva, e, no caso de condenação,
a pena privativa de liberdade é cumprida em estabeleci-
mento distinto dos que são destinados a réus de crime co-
mum e sem sujeição a qualquer regime penitenciário ou
carcerário.
Seguem breves comentários sobre a Lei de Imprensa e
os principais abusos previstos por ela.
6.1 Lei de Imprensa - Comentários
A primeira tentativa, no Brasil, para evitar eventuais
exageros da imprensa ocorreu em 1833, ainda no Im-
pério.
Naquele ano foi elaborado um projeto de lei que foi
Capítulo VII - Procedimentos Especiais164
submetido à deliberação das Câmaras. Nesse projeto, o
interessado em publicar qualquer periódico ou folheto de-
veria prestar uma caução, exigindo-se, também, que to-
dos os escritos fossem assinados com o nome e o cognome
do autor, com declaração de emprego, residência e quali-
dade do eleitor. Desnecessário dizer que tal projeto en-
controu forte oposição.
Em 18 de março de 1837, um decreto governa-
mental definiu as providências indispensáveis à consti-
tuição do processo criminal. Ele definiu os limites da
culpa, considerando como corpo de delito o escrito
incriminado, e regulamentou a ordem de substituição
dos responsáveis pelos eventuais abusos: impressor, edi-
tor, autor e vendedor.
6.1.1 O crime como fatoAs Constituições brasileiras, de 1946 a 1988, têm as-
segurado a liberdade de manifestação do pensamento. Por-
tanto, ainda que se considere a imprensa como veículo de
transmissão de idéias e pensamentos, o crime só se configu-
ra quando um ato, uma palavra, ou um escrito provoca a
alteração da ordem pública ou a lesão do direito privado,
isto é, transforma-se num fato concreto cujos efeitos foram
pretendidos pelo agente.
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PARTE I
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 165
6.1.2 Delitos praticados “pela imprensa” e“por meio da imprensa”
Em algumas legislações mais antigas, distinguiam-se
duas categorias de crimes relacionados à imprensa, incluin-
do-se, na primeira, as transgressões de preceitos ao
ordenamento e polícia da imprensa e, na segunda, as lesões
de direito que apresentassem o caráter de delito com corres-
pondência no código penal.
Os crimes da primeira categoria teriam caráter pre-
dominantemente contravencional, não passando de meras
desobediências, sem correspondência com os tipos do Có-
digo Penal, como, por exemplo, a falta de publicação do
nome do diretor-responsável.
Na segunda categoria seriam incluídos os delitos co-
muns praticados por meio da imprensa: verbi gratia, a calú-
nia, a difamação; enfim, todas as figuras delituosas previstas
pelo Código Penal.
6.1.3 Delitos de imprensa e os delitos comunsExiste diferença entre os delitos de imprensa e os deli-
tos comuns? O assunto é polêmico.
Darcy Arruda Miranda, em seu livro “Comentários à
Lei de Imprensa”, traça um panorama das diversas tendên-
cias sobre o assunto no Brasil e no exterior. Assim, ele re-
Capítulo VII - Procedimentos Especiais166
corre a G.Natale, Silvio Ranieri, Jacques Bourquin, R.Von
Ihering, Rui da Costa Antunes, entre outros (obras citadas
no Índice Bibliográfico).
De um lado estão os autores que não consideram “sui
generis” os delitos cometidos por meio da imprensa. Eles
dizem que esse argumento serviu a governos autoritários
que editavam leis repressivas para impedir o trabalho da im-
prensa. Esses autores e a legislação de muitos países inclu-
em os delitos de imprensa na legislação penal comum.
De outro lado estão os autores que consideram os de-
litos de imprensa “sui generis”. Eles admitem que a difama-
ção, por exemplo, é a mesma quer seja praticada por meio
da imprensa ou por outro meio qualquer. A diferença, di-
zem, é que no tratamento do delito de imprensa, predomina
o critério de utilidade política, isto é, o interesse da
coletividade.
Jacques Bourquin destaca o largo alcance das idéias
difundidas pela imprensa. Ele explica que a calúnia dirigida
por carta de uma pessoa a outra não pode equiparar-se àquela
difundida por milhares de exemplares impressos. Admite
que essa natureza particular da imprensa exigiria sanções
especiais e mais severas, que se tornariam menos graves quan-
do se tivesse em conta a missão que ela deve cumprir e as
condições difíceis dos que fazem um jornal.
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Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 167
Esses autores concluem que, “é incontestável que a im-
prensa representa o pulmão através do qual os povos respi-
ram e qualquer restrição que se lhe oponha, e não seja dita-
da pelo interesse coletivo, pode ser o prenúncio do predo-
mínio da força sobre o direito”.
O Brasil, assim como a França, a Itália e o Uruguai,
inclui os delitos de imprensa na categoria “sui generis” e possui
uma “lei especial de imprensa”.
6.1.4 Corpo de delito e lesão moralG. Natale considera que o “corpo de delito” nos cri-
mes de imprensa é “imaterial”. Segundo ele, examinando
a injúria com o critério de uma lesão pessoal, ela apresen-
ta, nitidamente, dois elementos constitutivos do crime: a
intenção de lesar a integridade pessoal de outrem (elemento
moral, dolo), e a lesão efetivamente produzida (elemento
material).
No caso da injúria, Natale diz que se pode verificar o
efeito do elemento moral, mas o elemento material, aque-
le sem o qual não se pode avaliar a importância do fato
criminoso, não se vê nem se toca. “Ele existe, porém, e
consiste naquela profunda lesão moral, que a palavra inju-
riosa produziu na consciência da pessoa ofendida”, con-
clui Natale.
Capítulo VII - Procedimentos Especiais168
6.1.5 Direito e suscetibilidadeVon Ihering diz que, além da existência material, o
homem possui uma existência moral, que ele defende com
o direito. Ele ressalta que “aquele que for atacado em seu
direito, deve resistir”, sendo isso um dever para consigo
mesmo. No entanto, é prudente não confundir direito com
suscetibilidade, honra com amor-próprio, ofensa com a nar-
ração da verdade.
· Suscetibilidade é um estado emocional provo-
cado por estímulo exterior e que se caracteriza
como reação moral, porém sem reflexos sobre o
direito.
· Honra é o conjunto de virtudes sadias e boas qualidades
que emolduram a pessoa humana, credenciando-a ao res-
peito dos seus semelhantes.
· Amor próprio é um sentimento de auto-perfei-
ção insuscetível de desmerecimento; é uma espé-
cie de vaidade pessoal que se não confunde com
a honra.
· Ofensa é o ataque ilícito à honra, provocando o deslus-
tre social do ofendido.
· Verdade é o fato provado, que pode melindrar o indiví-
duo, desintegrar-lhe a personalidade moral, sem ofendê-
lo no sentido legal.
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Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 169
6.1.6 Publicação tendenciosa e afrontosaO fato verdadeiro também pode se constituir em in-
júria ou difamação, quando ele não tem o menor interes-
se para a coletividade e é revelado ou realçado com malig-
nidade.
Assim, a ofensa divulgada em jornais ou periódicos
pode constituir-se em difamação e injúria quando a notí-
cia, mesmo sendo verdadeira, é exagerada, tendenciosa ou
afrontosa.
O exagero constitui-se em dolo quando altera a verda-
de, ampliando a parte descritiva com expressões que tor-
nem ridícula a pessoa visada, deformando os fatos, ou ex-
pondo-a ao desprezo público.
Notícia tendenciosa é considerada aquela que “embora
sendo verdadeira e não exagerada, é, entretanto, difundida
e comunicada de modo sugestivo, visando a atingir fim di-
verso do que aparenta”. (Ranieri)
Diz-se que é afrontosa uma publicação que visa
diretamente a uma pessoa, com o fim deliberado de macular-
lhe a honra.
6.1.7 Lei de imprensa e ação penalA Lei de Imprensa prevê o exercício da ação penal pú-
blica, ação penal privada e da ação penal privada subsidiária.
Capítulo VII - Procedimentos Especiais170
A ação será instruída pela prova da conduta tida
por ofensiva, podendo ser um exemplar do jornal ou
outro periódico, ou a notificação à emissora de rádio
ou televisão para não destruir os textos ou gravações
do programa do qual constou a manifestação tida por
ofensiva.
A notificação, que se realiza no caso de emissoras,
está voltada para a apreensão da prova que configurará o
corpo de delito. Este será, se necessário, submetido à perí-
cia para afastar eventuais dúvidas sobre a autenticidade de
seu conteúdo no momento da gravação, do manuseio e
também da guarda de textos, e poderá ser submetido à
transcrição.
O objetivo da notificação é preservar o corpo de deli-
to, ela deve ser realizada o mais rápido possível pelo inte-
ressado, pois a Lei de Imprensa determina que as empre-
sas emissoras de radiodifusão e televisão conservem os
textos de seus programas pelo prazo de 60 dias, e pelo
prazo de 20 ou 30 dias as gravações de debates, entrevistas
ou outros programas que não correspondam a textos pre-
viamente escritos.
6.1.8 Escrito original ou reproduzidoPara instruir a ação penal não há necessidade de se apre-
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sentar o escrito original. A lei não distingue entre escrito
original e reprodução.
6.1.9 O delito consumadoConsidera-se consumado o delito de imprensa quan-
do ocorre a sua publicidade, isto é, quando a informação
torna-se pública. No caso de jornais e periódicos, por exem-
plo, a publicidade surge no momento em que o jornal é
posto à venda, no momento em que é iniciada a sua distri-
buição.
Atualmente, pela Lei 5.250/67 (art.42), o lugar do
delito, para determinação da competência territorial, será
aquele em que for impresso o jornal ou periódico, ou o
local do estúdio do permissionário ou concessionário do
serviço de televisão e radiodifusão, bem como o da admi-
nistração principal da agência noticiosa.
6.1.10 Crime continuadoPara que o delito seja continuado, é necessário que a
repetição do escrito ou divulgação ofensiva não tenha
por fundamento o mesmo fato, porque, então, o delito
será um só.
Capítulo VII - Procedimentos Especiais172
6.2 Principais abusos previstos em lei
Segundo a Lei de Imprensa atual são considerados abu-
sos no exercício da liberdade de imprensa:
a) Fazer propaganda de guerra, de processos de subversão
da ordem política e social ou de preconceitos de raça ou
classe (arts.1º, §1º, e 14);
b) Publicar ou divulgar:
I – segredo de Estado, notícia ou informação relativa à
preparação da defesa interna ou externa do País, desde
que o sigilo seja justificado como necessário, mediante
norma ou recomendação prévia determinando segredo,
confidência ou reserva;
II – notícia ou informação sigilosa, de interesse da segu-
rança nacional, desde que exista, igualmente, norma ou
recomendação prévia determinando segredo, confidên-
cia ou reserva (art.15);
c) Publicar ou divulgar notícias falsas ou fatos verdadeiros
truncados ou deturpados, que provoquem:
I – perturbação da ordem pública ou alarma social;
II – desconfiança no sistema bancário ou abalo de crédi-
to de instituição financeira ou de qualquer empresa,
pessoa física ou jurídica;
III – prejuízo ao crédito da União, do Estado, do Distri-
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Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 173
to Federal ou do Município;
IV – sensível perturbação na cotação das mercadorias e
dos títulos imobiliários no mercado financeiro (art.16);
d) Ofender a moral pública e os bons costumes (art.17);
e) Divulgar, por qualquer meio e de forma a atingir seus
objetivos, anúncio, aviso ou resultado de loteria não au-
torizada, bem como do jogo proibido, salvo quando a
divulgação tiver por objetivo inequívoco comprovar ou
criticar a falta de repressão por parte das autoridades res-
ponsáveis (art.17, parágrafo único);
f ) Obter ou procurar obter, para si ou para outrem, favor,
dinheiro ou outra vantagem para não fazer ou impedir
que se faça publicação, transmissão ou distribuição de
notícias (art.18), que, mesmo expressadas por desenho,
figura, programa ou outras formas capazes de produzir
resultados, for desabonadoras da honra e da conduta de
alguém (§1º).
g) Fazer ou obter que se faça, mediante paga ou recompen-
sa, publicação ou transmissão que importe em crime pre-
visto na lei (art.18, §2º);
h) Incitar à prática de qualquer infração às leis penais (art.19)
ou fazer apologia de fato criminoso ou de autor de crime
(§2º);
i) Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato defi-
Capítulo VII - Procedimentos Especiais174
nido como crime (art.20) ou, sabendo falsa a imputa-
ção, reproduzir a publicação ou transmissão caluniosa
(§1º);
j) Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo a sua re-
putação (art.21);
k) Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou decoro
(art.22).
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CAPÍTULO VIIIINSTRUMENTOS DE
São ações colocadas à disposição das pessoas para a de-
fesa de seus direitos e garantias de índole constitucional ou
legal. Por meio das ações, o Judiciário toma conhecimento
dos conflitos e os decide, fazendo operar a função
jurisdicional com a finalidade de garantir a paz social.
Segue rápido perfil de alguns dos principais instrumen-
tos de garantia dos direitos conferidos aos cidadãos.
1 MANDADO DE SEGURANÇA
É um instrumento de defesa de direitos, líquidos e cer-
tos, voltado para o interesse pessoal de quem teve violado
TUTELA DOS DIREITOSE DAS LIBERDADES
Capítulo VIII - Instrumento de Tutela dos Direitos e das Liberdades176
esses direitos, ou esteja em perigo iminente de sofrer essa
violação. Entende-se por direito líquido e certo aquele de-
monstrado de plano, sem necessidade de se desenvolver ne-
nhuma atividade probatória, pois aquele é provado de iní-
cio por meio de documento.
É impetrado sempre que o responsável pela ilegalidade
ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pes-
soa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público, e
diretamente contra a autoridade coatora, aquela que pode
corrigir o ato inquinado de ilegal e lesivo aos direitos da
parte impetrante.
O prazo para impetração da ação é de 120 dias, a par-
tir da ciência, pelo interessado, do ato impugnado.
O mandado de segurança pode ser individual, quando
impetrado na defesa de direito singular e próprio de uma
ou mais pessoas; e coletivo, quando impetrado para a defe-
sa dos direitos de toda uma coletividade, podendo a ação
ser ajuizada por partido político com representação no Con-
gresso Nacional e por organização sindical, entidade de classe
ou associação legalmente constituída e em funcionamento
há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus
membros ou associados.
É possível conceder medida liminar em mandado de
segurança quando razoáveis as razões do pedido e se o direi-
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to do impetrante correr o risco de perecimento, se não for
de pronto acautelado. Quer dizer, presentes os pressupostos
do fumus boni juris, a fumaça do bom direito, e do
periculum in mora, do perigo da demora, impõe-se a con-
cessão da liminar.
2 HABEAS CORPUS
É destinado, exclusivamente, à proteção do direito
líquido e certo de ir e vir, ou de permanecer, e será conce-
dido sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de
sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomo-
ção, por ilegalidade ou abuso de poder. Como protege
apenas esse direito, somente será deferido para as pessoas
físicas e não para as jurídicas, podendo estas impetrar a
ordem em favor daquelas. A concessão da ordem exige que
a violação da liberdade se dê por ilegalidade, prática de
ato contrário à lei, como no caso de um síndico que proí-
ba morador do prédio de ter acesso à laje de cobertura
para reparar antena de seu rádio; ou abuso de poder, que
pressupõe ato de autoridade, como no caso de prisão de
pessoa sem motivo ou sem ordem legal de autoridade com-
petente.
Capítulo VIII - Instrumento de Tutela dos Direitos e das Liberdades178
3 AÇÃO POPULAR
Estabelece a Constituição Federal (art. 5.º, LXXIII)
que “qualquer cidadão é parte legítima para propor ação
popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público
ou entidade de que o Estado participe, à moralidade admi-
nistrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e
cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento
de custas judiciais e do ônus da sucumbência”.
A ação popular constitui-se em eficiente instrumento
de controle pelo cidadão dos passos da administração pú-
blica, visando a proteção do interesse coletivo de uma co-
munidade, podendo ser ajuizada por qualquer cidadão, que
deve ser entendido como aquele no exercício pleno de seus
direitos políticos, sendo, pois, eleitor e em dia com as suas
obrigações eleitorais.
4 MANDADO DE INJUNÇÃO
Será concedido sempre que a falta de norma
regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e
liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania. Qualquer pessoa
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está legitimada para a sua proposição, desde que a ausência
de norma de regulamentação de uma certa matéria esteja
tornando inviável a fruição de um direito legítimo seu, de
uma liberdade ou de uma prerrogativa constitucional. Cum-
pre anotar que só cabe essa ação contra pessoa jurídica de
direito público, pois apenas esta é capaz de violar os direitos
previstos na norma constitucional de regência (art. 5.º,
LXXI).
5 HABEAS DATA
Estabelece a Constituição (art. 5.º, LXII) que “conce-
der-se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento de
informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de
registros ou bancos de dados de entidades governamentais
ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quan-
do não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou
administrativo”.
O seu objetivo é o de assegurar o acesso de todos aos
dados que o Poder Público ou entidades de caráter público
tenham a respeito dos interessados, sendo, pois, destinado
apenas ao conhecimento das informações do próprio
impetrante e não de terceiros. Por último, o interesse do
Capítulo VIII - Instrumento de Tutela dos Direitos e das Liberdades180
impetrante pode ser apenas o de conhecer referidos dados
ou informações, bem como o de conseguir a retificação de-
les, quando inexatos ou incompletos.
6 AÇÃO CIVIL PÚBLICA
A Lei n. 7.347/85 disciplina a ação civil pública de
responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao
consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico e a qualquer outro interes-
se difuso ou coletivo.
A ação civil pública poderá ser proposta pelo Ministé-
rio Público, pela União, pelos Estados e pelos Municípios.
Poderá ser proposta ainda por autarquia, empresa pública,
fundação e sociedade de economia mista. Associações cons-
tituídas há pelo menos um ano, tendo entre suas finalida-
des institucionais a proteção ao meio ambiente, ao consu-
midor, à ordem econômica, à livre concorrência, ou ao
patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico também possuem legitimidade ativa.
A ação civil pública passou a significar não só aquela
proposta pelo Ministério Público, como também a propos-
ta pelos demais legitimados ativos do art. 5.º da Lei n. 7.347/
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85, dentre eles as entidades estatais, autárquicas, paraestatais
e as associações, desde que seu objeto seja a tutela de inte-
resses difusos. Exemplo disso é a propositura de ação por
entidade de defesa do meio ambiente em face de empresa
de incorporação imobiliária, que pretenda edificar em área
considerada de preservação ambiental.
Referida ação presta-se, ainda, à defesa de direitos
difusos, como aqueles que interessam a toda uma comuni-
dade e têm natureza indivisível (por exemplo, a poluição do
ar e das águas); ou, ainda, para a defesa de interesses coletivos,
que são aqueles de natureza indivisível e de titularidade de
um grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si por um
interesse comum.
PARTE II
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 185PARTE II
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AA quo – Juízo a quo é aquele de cuja decisão se recorre; diesa quo é o dia em que começa a contagem de um prazo.
Abandono de processo – ocorre quando o processo fica pa-ralisado por mais de um ano, em virtude de negligência daspartes (art. 267, II, Código de Processo Civil), ou por maisde trinta dias, por negligência do autor (art. 267, III, Códi-go de Processo Civil).
Absolvição sumária – absolvição antecipada que ocorre nafase inicial do processo nos crimes de competência do Tri-bunal do Júri, quando o juiz deixa de pronunciar o réu porreconhecer que ele agiu em legítima defesa, em estado denecessidade, no exercício regular de direito, em estrito cum-primento de seu dever legal, ou, ainda, se ficar provado queera inimputável.
Ação – direito subjetivo público da parte interessada de de-
GLOSSÁRIO186
duzir em juízo uma pretensão para que o Estado lhe dê aprestação jurisdicional.
Ação cautelar – é a destinada à proteção urgente e provisó-ria de um direito.
Ação civil – é aquela por meio da qual se tem por fim obterum provimento de natureza civil, ou seja, pertencente à áreafamiliar, sucessória, obrigacional, contratual ou real.
Ação civil pública – proposta pelo Ministério Público ououtras pessoas jurídicas, públicas ou privadas, para protegero patrimônio público e social, o meio ambiente, o consu-midor, ou, ainda, quaisquer interesses difusos e coletivos,visando obter a reparação de danos.
Ação cominatória – visa à condenação do réu a fazer ounão fazer alguma coisa, sob pena de pagamento de multadiária (arts. 287, 644 e 645, CPC).
Ação constitutiva – tem por finalidade criar, modificar ouextinguir um estado ou relação jurídica.
Ação de conhecimento – tem como finalidade reconhecero direito do autor.
Ação de execução – visa ao cumprimento forçado de umdireito já reconhecido.
Ação declaratória – limita-se a declarar a existência ou
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 187PARTE II
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inexistência de relação jurídica ou de autenticidade ou falsi-dade de um documento (art. 4.º, CPC).
Ação declaratória incidental – serve para pedir que se jul-gue uma questão prejudicial referida no processo. Questãoprejudicial é a que não está em julgamento, nem faz partedo mérito, mas que se coloca como antecedente lógico dadecisão a ser proferida e poderá, por si só, ser objeto de umprocesso autônomo (arts. 5.º e 325, CPC).
Ação dúplice – é a ação na qual o réu pode deduzir umapretensão em face do autor, na própria contestação. Exem-plos: ação de prestação de contas, ação de divisão e de de-marcação e ações possessórias.
Ação incidental – é proposta no curso de outra ação, já emandamento, e com ela passa a caminhar, dentro do mesmoprocesso, para decidir questões prejudiciais. Exemplo: exi-bição de documentos com vistas a comprovar o direito dis-cutido na ação principal.
Ação monitória – é a ação própria para reclamar pagamen-to em dinheiro, ou entrega de coisa móvel ou fungível (aquiloque é suscetível de substituição por bem da mesma espécie,quantidade ou qualidade), com base em prova escrita semeficácia de título executivo.
Ação penal – é aquela de titularidade do Ministério Públi-co, quando incondicionada, com a finalidade de processare julgar os autores de delitos penais.
GLOSSÁRIO188
Ação popular – é aquela que visa a anulação de ato lesivo aopatrimônio público ou de entidade de que o Estado partici-pe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e aopatrimônio histórico e cultural, podendo ser proposta porqualquer cidadão (art. 5.º, LXXIII, da CF; Lei n. 4.717, de29.06.65).
Ação rescisória – é destinada a desconstituir ou revogaracórdão ou sentença de mérito transitada em julgado (art.485, CPC). O prazo para a sua interposição é de dois anos(art. 495, CPC).
Acareação – ato de confrontar duas ou mais pessoas cujosdepoimentos foram contraditórios, para que possam ser re-solvidas as divergências.
Ações ordinárias – são aquelas que observam um procedi-mento corriqueiro, comum a todas, sem qualquer cauteladiferenciada ou alguma forma especial de seqüência, provaou atuação das partes.
Acórdão – decisão proferida por tribunal (art. 163, CPC).
Ad hoc – para isto, para fim determinado; pessoa nomeada, emcaráter transitório, para exercer uma determinada função.
Ad judicia – para fins judiciais, para o foro; procuração adjudicia.
Ad quem – Juízo ad quem é aquele para o qual se recorre.
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 189PARTE II
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Adjudicação – ato judicial em que o credor recebe a coisapenhorada em pagamento de seu crédito. Só cabe se na pra-ça ou leilão não houve nenhum licitante (arts. 708 e 714,CPC).
Administração direta – conjunto de órgãos ligados direta-mente aos governos da União, dos Estados, do Distrito Fe-deral e dos Municípios.
Administração indireta – conjunto de órgãos dotados depersonalidade jurídica própria e criados para a consecuçãode um objetivo específico do Estado, como as autarquias, asfundações públicas, as empresas públicas e as sociedades deeconomia mista.
Aduzir – oferecer ou trazer alegações em geral, apresentarprovas, testemunhos.
Agravo – recurso que cabe de decisões interlocutórias ou,no segundo grau, de decisões diferentes de acórdãos. Háagravo de instrumento, agravo retido, agravo regimental eagravo propriamente dito (ou agravo, apenas).
Agravo de instrumento – recurso que cabe das decisões, ouseja, dos atos pelos quais o juiz, no curso do processo, resol-ve questão incidente, sem encerrá-lo (art. 522, CPC). Oprazo é de dez dias. Deve ser interposto diretamente notribunal competente (art. 524, CPC).
Agravo regimental – recurso para rever decisão do relator
GLOSSÁRIO190
do processo, do presidente de Turma, de Seção, ou dopresidente do Tribunal, na parte em que a pessoa se jul-gar prejudicada, para que o Plenário, a Seção ou a Tur-ma se pronuncie sobre ela, confirmando-a ou reforman-do-a.
Agravo retido – modalidade de agravo em que o recursonão é processado, ficando apenas retido nos autos, para apre-ciação futura, por ocasião da apelação (art. 522, CPC).
Ajuizar – propor uma ação, ingressar em juízo.
Alegações – são manifestações escritas ou orais com funda-mentação jurídica, doutrinária ou jurisprudencial, em fa-vor de uma idéia ou pretensão ou em defesa ao direito quese nega.
Alegações finais – última manifestação das partes, com ex-posição de fundamentos de fato e de direito, com a finali-dade de convencer o juiz a decidir de acordo com a suarespectiva pretensão.
Alvará – autorização administrativa ou judiciária, para queseja feito ou praticado algum ato que é fiscalizado pelaAdministração Pública ou só pode ser praticado medianteautorização judicial.
Âmbito jurídico – ponto principal ou núcleo de uma ques-tão jurídica; algo que se discute dentro da esfera jurídica ede acordo com critérios legais.
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 191PARTE II
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Apelação – recurso que cabe da sentença, ou seja, do atopelo qual o juiz põe termo ao processo, decidindo ou não omérito da causa (art. 513, CPC); o prazo é de 15 dias (art.508, CPC). A apelação ex officio, chamada de reexame ne-cessário, é aquela na qual o juiz, por força de lei, na própriasentença determina o reexame pelo tribunal.
Apelante – aquele que apela de uma sentença que lhe foidesfavorável; e apelado é aquele contra quem se apelou, oadversário.
Apensar – anexar ou incorporar, juntando à capa final dosautos, outros autos ou papéis.
Argüição – acusação; arrazoado com que uma parte argu-menta contra a outra; ação de ouvir um candidato publica-mente, verificando seus conhecimentos.
Arrazoar – discurso oral ou escrito dos litigantes, em juízo,que tem por finalidade a defesa de sua causa, apresentandoas alegações sobre a demanda.
Arrematação – aquisição de bens levados a leilão em pro-cessos de execução; um leiloeiro apregoa e um licitante osadquire, pelo maior lance (art. 686, CPC).
Arrestar – fazer ou decretar arresto, isto é, apreensão judi-cial de bens do devedor, como meio preventivo de garan-tir ao credor a cobrança de seu crédito, até ser decidida aquestão (art. 813, CPC).
GLOSSÁRIO192
Arresto – medida cautelar que consiste na apreensão ante-cipada e provisória de bens do devedor (art. 813, CPC) paragarantia de seu credor.
Arrolar – ato pelo qual se faz a discriminação de pes-soas ou coisas, colocando-as num rol ou lista; porexemplo, arrolamento de testemunhas, arrolamentode bens.
Assistência – intervenção de terceiro no processo, para au-xiliar uma das partes (art. 50). Pode ser simples(envolvimento indireto) ou litisconsorcial (envolvimentodireto, devendo a sentença ser uniforme, tanto para o assis-tido como para o assistente).
Assistente técnico – técnico indicado pela parte para acom-panhar perícia (art. 421, § 1.º, CPC).
Audiência – sessão solene em que o juiz interroga as partes,ouve os advogados e as testemunhas e pronuncia o julga-mento.
Audiência de instrução e julgamento – é a sessão em que ojuiz colhe as provas orais, recebe eventuais documentos, ouveo debate dos advogados e profere a sentença.
Autarquia – é uma entidade de direito público, com perso-nalidade jurídica e patrimônio próprios, destinada à execu-ção de atividades destacadas da administração direta. Exem-plo: INSS, BACEN.
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Autor – todo aquele que demanda contra outrem em Juízopara exigir direito que julga lhe pertencer.
Autuação – formação dos “autos” pelo escrivão, com a co-locação da petição inicial numa capa de cartolina, que con-terá também todas as demais peças subseqüentes, além dotermo lavrado nessa capa contendo o nome das partes, ojuízo, a espécie de ação, etc.
Averbação – registro de alguma anotação à margem de ou-tra. Por exemplo, anotação de sentença de divórcio no Li-vro de Registro de Casamento e de Imóveis.
Avocar – chamar a si, atribuir-se; chamar o juiz, a seu juízo,a causa que tramita em outro (“O juiz avocou o processo àsua comarca”).
Avocatória – carta ou mandado, expedidos a pedido daspartes ou do próprio juiz, pelos quais o juiz chama ao seujuízo todas as causas conexas que tramitam noutro juízo,por serem de sua competência.
BBaixar – ato de devolução dos autos do processo da autori-dade superior para uma inferior.
CCaducar – perder a validade ou a força de um direito, emdecorrência do tempo; superado o prazo legal, o titular dodireito não mais poderá exercê-lo.
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Calúnia – imputação falsa a alguém de fato definido comocrime (art. 138 do CP). A conduta é imputar, atribuir, afir-mar fato cometido por alguém, o qual há de ser definidocomo crime pela legislação em vigor.
Câmaras – órgãos colegiados em que são divididos os tri-bunais e que têm competência para julgamento de causasou recursos.
Caput – indica o início, a primeira parte de um artigo delei. Refere-se à primeira parte, ou à parte mais alta de umartigo de lei.
Carência de ação – ausência do direito de agir decorrenteda falta de pressuposto processual ou de condição da ação(v. pressupostos processuais e condições da ação).
Carta de citação – meio que serve para citar alguém por viapostal.
Carta de ordem – requisição de diligência, por tribunal oupor membro de tribunal, a juiz de primeira instância (art.201, CPC).
Carta de sentença – é uma coletânea de peças de um pro-cesso, que habilita a parte a executar provisoriamente asentença e que só é formada porque os autos principaissubirão à instância superior para conhecimento do recur-so da parte vencida, o qual não é dotado de efeitosuspensivo.
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 195PARTE II
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Carta precatória – ato pelo qual um juiz (deprecante) soli-cita a outro juiz (deprecado) a realização de determinadadiligência (art. 201, CPC).
Carta rogatória – solicitação de diligência a autoridade ju-diciária estrangeira (art. 201, CPC).
Carta testemunhável – modalidade de recurso, cabível con-tra as decisões em que o juiz denega recurso em ação crimi-nal ou contra a decisão que obsta à sua expedição e ao seuseguimento para o Tribunal.
Caução judicial – é a garantia real (sobre bens) ou fidejussória(baseada “na palavra”, compromisso de pessoas, que é a fi-ança) de que, de um ato judicial que uma das partes querpraticar, resultará indenizada a parte contrária; pode serrequerida pelo interessado, mas, às vezes, é a própria lei quedetermina que alguém, para fazer algo, ou para promoverdeterminada ação, preste caução. Exemplo: o Código Civil,no art. 555, especifica que o proprietário tem direito deexigir do dono do prédio vizinho a demolição, ou a repara-ção necessária, quando este ameace ruína, bem como prestecaução pelo dano iminente.
Certidão de objeto e pé (ou de breve relato) – certidão queretrata o andamento do processo, elaborada pela secretariado cartório judicial a pedido de parte interessada.
Certidão negativa – é aquela cujo teor declara não ha-ver registro de algum ato ou fato, como, por exemplo,
GLOSSÁRIO196
existência de dívida.
Circunscrição – é a delimitação territorial para efeitos dedivisão administrativa de trabalho, definindo a área de atu-ação de agentes públicos.
Citra petita – aquém do que foi pedido.
Citação – ato processual escrito pelo qual se chama, porordem da autoridade competente, o réu, ou o interessado,para defender-se em juízo. Pode ser feita por mandado, se oréu ou o interessado estiver no território sujeito à jurisdiçãodo juiz que a ordenou; por carta precatória, se estiver forada jurisdição do magistrado processante; por carta rogatória,se a citação tiver de ser feita em outro país; ou por edital, seo réu estiver em local inacessível ou se a pessoa que tiver deser citada for incerta.
Citação com hora certa – realizada quando o oficial de jus-tiça não consegue encontrar a pessoa a ser citada e tem aimpressão de que ela está esquivando-se; após procurá-lapor três vezes, ele marcará hora certa do dia subseqüente aoaviso para citá-la. Caso ela não se encontre, deixará contrafécom qualquer pessoa da família ou com vizinho.
Citação ficta – também é designada citação presumida, porocorrer mediante edital ou com hora certa.
Citação na execução – ato processual que dá início à execu-ção, quando o devedor é chamado para defender-se, sendo-
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lhe oferecida uma última oportunidade para cumprir a pres-tação devida.
Citação pelo correio – ocorre por meio de carta citatóriaregistrada e expedida com aviso de recebimento para que,com a anexação desse aviso aos autos, fique comprovado orecebimento da citação pelo destinatário.
Citação por carta de ordem – ordem do tribunal dirigida ajuiz que lhe seja subordinado para que este determine ocumprimento de uma citação.
Citação por carta precatória – ato citatório que ocorre quan-do o réu ou o interessado mora em outra comarca e deve sercomunicado para defender-se em juízo. O juiz do processo,por não ter jurisdição na comarca onde a citação deve serefetuada, depreca ao juiz da comarca onde a citação deveser feita para que a providencie. O instrumento desse pedi-do feito por um juiz a outro da mesma categoria funcionalé a carta precatória.
Citação por carta rogatória – ato processual solicitado porjuiz brasileiro, por via diplomática, a uma autoridade judi-ciária estrangeira, quando o réu ou o interessado esteja noexterior. Dá-se o mesmo nome para pedidos de juízes es-trangeiros a juízes brasileiros.
Citação por edital – ocorre por aviso ou anúncio publicadona imprensa oficial ou particular, afixado na sede do juízo,ou divulgado pelo rádio, no caso de ser o réu desconhecido
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ou incerto, de se encontrar em local ignorado, incerto ou ina-cessível, ou, ainda, nos casos expressamente indicados em lei.
Citação por mandado – feita pelo próprio oficial de justiça,não dispondo a lei de outro modo, no território da circuns-crição judiciária em que o juiz ordenador da diligênciacitatória exerce a jurisdição ou no de comarca contígua,quando fácil a comunicação e próximo o lugar onde residao citando ou onde ele possa ser encontrado.
Citação por oficial de justiça – aquela feita pelo oficial dejustiça, por ordem do juiz, que manda entregar-lhe o man-dado, quando vedada ou frustrada a citação pelo correio,para que procure o réu e cite-o, onde o encontrar, ou proce-da à citação por intermédio de pessoa da sua família ou dovizinho, no caso de não encontrar o citando porque este seescondeu para não ser citado.
Coisa julgada – Qualidade que a sentença adquire, de serimutável, depois que dela não couber mais recurso.
Coisa julgada formal – é a imutabilidade da sentença den-tro do processo em que foi proferida.
Coisa julgada material – é o impedimento de ser a lidenovamente discutida em outro processo, ou no mesmo, porestar a questão definitivamente julgada.
Colegiado – conjunto de magistrados que julga o méritodos processos levados aos Tribunais.
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 199PARTE II
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Comarca – território abrangido por um juízo, compreen-dendo um ou mais municípios, onde atuam um ou maisjuízes.
Competência – delimitação da jurisdição e da área de atua-ção de cada juiz; é o limite de um juízo ou tribunal; às vezesse define pelos limites territoriais, pela matéria (cível, cri-minal, trabalhista) ou pela organização funcional (Tribunalde Justiça, Tribunal de Alçada).
Comutar – permutar uma pena mais grave por outra maisbranda (não se confunde com os institutos do perdão, doindulto e da graça, nos quais se libera toda a pena).
Conciliação – acordo entre as partes.
Conclusão – ocorre quando os serventuários encaminhamos autos do processo ao juiz para que ele despache ou profi-ra sentença.
Condições da ação – são requisitos necessários à propositurada ação, indicadores da sua viabilidade. São as seguintes:legitimidade para a causa, interesse de agir e possibilidadejurídica do pedido.
Conexão – relação que existe entre duas ou mais ações quan-to ao objeto ou à causa de pedir, acarretando a reunião deprocessos para que um mesmo órgão profira decisão.
Confissão – admissão de um fato.
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Conflito de competência – ocorre quando dois ou maisjuízes declaram-se competentes ou incompetentes ouquando entre os juízes surge controvérsia sobre uma uni-dade de juízo (jurisdição), junção ou separação do pro-cesso.
Conhecer do recurso – dar provimento ao recurso,aceitando, ainda que parcialmente, as razões do re-querente; examinar o mérito da decisão de instânciainferior.
Contestação – resposta do réu com a exposição das razõesde fato e de direito com que se defende da pretensão doautor. A contestação tem de ser especificada, abrangendotodos os fatos alegados pelo autor, com referência a cadaum deles (art. 302 do CPC).
Continência – relação que existe entre duas ações, comoidentidade de partes e de causa de pedir, de modo que oobjeto de uma abranja o da outra, por ser mais amplo (art.104 do CPC).
Contradita de testemunha – é a impugnação de uma teste-munha, pretendendo que seja ela impedida de depor, porser amigo íntimo, parente, inimigo figadal do réu, ou terqualquer outro interesse na decisão.
Contrafé – cópia da inicial, entregue ao réu pelo oficial dejustiça, por ocasião da citação (art. 226 do CPC). Cópiaautêntica do mandado.
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 201PARTE II
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Contra-razões – quando a parte, no exercício do di-reito de defesa, apresenta contrariedade ou contes-tação às alegações escritas ofertadas pelo seu adver-sário.
Contrariedade – peça escrita, ou oral reduzida a termo,em que a parte se contrapõe a algum ato ou a algumaprova.
Contravenção – ação ou omissão voluntária que, por cons-tituir ofensa menos grave que o crime, é punida com penamais leve.
Contumácia – omissão da parte no processo; recusa da par-te para comparecer em juízo.
Corpo de delito – conjunto de elementos materiais ou devestígios que indicam a existência de um crime. Ex.: vítima,armas, pegadas.
Correição parcial – fiscalização levada a efeito pelo juizcorregedor ao tomar conhecimento de erro ou de abuso deservidor público.
Cota – manifestação dos advogados das partes ou do Mi-nistério Público, nos próprios autos, no correr de um pro-cesso, acerca de um documento ou de qualquer incidenteprocessual.
Crime – ação ou omissão que venha a causar dano, lesar ou
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expor a perigo um bem juridicamente protegido pela nor-ma penal.
Curador – aquele que é nomeado para defender certos in-teresses, ou para assistir, representar ou defender certaspessoas.
Curador especial – aquele que é nomeado para assistir acertas pessoas, não de um modo geral, mas apenas em de-terminado processo.
Curatela – ocorre quando alguém é nomeado, judicialmente,para defender e administrar os bens de uma pessoa maior,que, por si só, não está em condições de fazê-lo, em razãode enfermidade física ou mental; em direito penal, o curadordo réu é nomeado, no inquérito policial ou na ação penal,quando se tratar de menor de vinte e um anos ou suspeitode insanidade mental.
Custas – são taxas cobradas pelo Poder Público em decor-rência dos serviços prestados para a realização dos atosprocessuais. Em regra, são pagas pela parte vencida, em facedo princípio da sucumbência.
DData venia – com a devida permissão.
Dativo – tutor ou curador nomeado pelo juiz ou pelo testa-dor para administrar bens ou interesses alheios. Também
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 203PARTE II
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pode ser o defensor nomeado pelo juiz para defender osinteresses do acusado.
De cujus – abreviatura das expressões latinas cujus agiturhereditatis, ou seja, o defunto em nome de quem agem osherdeiros, e cujus sucessione agitur, ou seja, de cuja sucessãose trata; assim, o de cujus é sempre o falecido que deixou aherança ou aquele em nome de quem age o espólio duranteo inventário.
De jure – de direito, com razão.
De ofício – realizado por iniciativa do próprio funcionário,em razão do seu ofício, independentemente de requerimentodo interessado; por dever de ofício.
Decadência – caducidade de um direito cujo titulardeixa de exercê-lo dentro do prazo legalmente fixadopara tal.
Decisão de saneamento – despacho no qual o juiz declara oprocesso em ordem e apto para prosseguir, decidindo tam-bém sobre a realização das provas, a designação de audiên-cia de instrução e julgamento, bem como sobre eventuaispreliminares levantadas pelas partes.
Decisão monocrática – é aquela proferida por juízo singular.
Deferir – acolher um requerimento, um pedido, uma pre-tensão.
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Delegar – ato típico de quem tem algum poder e o transfe-re a outrem para que o exercite em seu nome.
Delito – toda infração à lei, podendo ser civil, penal, fiscalou administrativo.
Demanda – causa, lide, pleito.
Denegação – indeferimento ou negação de uma pretensãoformulada em juízo.
Denegar – indeferir, negar uma pretensão formulada emjuízo.
Denúncia – peça técnica elaborada pelo promotor de justi-ça formulando a acusação da prática de um crime, pedindoque seja instaurada a ação penal e que o réu seja condenadoe apenado.
Denunciação da lide – ocorre quando o autor ou o réuchamam a juízo terceira pessoa, para garantir seu direito, afim de resguardá-lo no caso de ser vencido na demanda.
Depoimento pessoal – inquirição da parte, pelo juiz, sobreos fatos da causa. Se o réu não comparecer em juízo ou serecusar a depor, serão presumidos como verdadeiros os fa-tos alegados contra ele.
Depositário – é a pessoa física ou jurídica que recebealguma coisa em contrato de depósito, ou como encargo
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 205PARTE II
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legal (depositário legal ou judicial); o depositário tem odever de restituir a coisa sempre que esta lhe for pedidapelo depositante, sob pena de ser decretada sua prisãocomo depositário infiel.
Derrogar – revogar parcialmente lei, decreto ou regulamen-to; a revogação pode ser total – “ab-rogação”, ou parcial –“derrogação”.
Descaminho – importação de mercadoria estrangeira sempassar pela alfândega e, portanto, sem pagar o imposto deimportação; trata-se de crime contra a ordem tributária enão deve ser confundido com o contrabando, que é a im-portação de mercadoria estrangeira cujo ingresso é proibi-do no país.
Deserção – perecimento ou não seguimento de um recur-so, por falta de preparo, ou seja, por falta de pagamento dascustas; abandono do recurso (art. 519 do CPC).
Deslindar – demarcar; “deslindar a questão”, isto é, esclare-cer a questão.
Despacho interlocutório – decisão do juiz que define umaquestão, no meio do processo, determinando diligências eesclarecendo controvérsias.
Despacho saneador – é o despacho em que o juiz saneiaeventuais irregularidades do processo, organizando-o paraprosseguimento.
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Despachos – atos do juiz, praticados no processo, a fim dedar-lhe andamento. Se o despacho envolver alguma decisãosobre questão incidente, terá o caráter de decisãointerlocutória, cabendo, então, agravo. Mas, se o despachofor de mero expediente, ou seja, tiver apenas a finalidade deordenar o processo, sem possibilidade de prejuízo para aspartes, não caberá recurso algum (arts. 504, 162, §§ 2.º e3.º, do CPC).
Devolutivo – ver “Efeito devolutivo”.
Difamação – é a imputação a alguém de fato ofensivo àsua reputação, o qual, diversamente do que ocorre na ca-lúnia, não deve ser definido como crime tampouco comofalso. A reputação do ofendido é o alvo do difamador, que,com a conduta, vulnera a honra objetiva daquele (art.139 do CP).
Dilação – na linguagem forense, é expressão usada para plei-tear a prorrogação de prazos processuais.
Dilação probatória – prazo concedido igualmente ao autore ao réu para a produção de provas ou a execução de dili-gências necessárias para a comprovação dos fatos alegados.
Direito adquirido – é o que já se incorporou definitiva-mente ao patrimônio e à personalidade do seu titular, demodo que nem a lei nem um fato posterior pode alterar talsituação jurídica, pois há direito concreto, ou seja, subjeti-vo, e não direito potencial ou abstrato. Consiste, portanto,
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 207PARTE II
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na possibilidade de extrair efeitos de um ato contrário aoprevisto pela lei vigente, ou seja, de continuar a gozar dosefeitos de uma norma pretérita mesmo depois de já ter sidoela revogada.
Distribuição – ato administrativo pelo qual se registram ese repartem entre os juízes processos apresentados em cadajuízo ou tribunal, obedecendo aos princípios de publicida-de, alternatividade e sorteio.
Dolo – intenção deliberada de praticar um ato criminoso;emprego de um artifício ou expediente astucioso para indu-zir alguém à prática de um ato que o prejudica e acaba bene-ficiando o autor do dolo ou mesmo uma terceira pessoa.
Domicílio – sede jurídica da pessoa, onde se presume queela exerce ou pratica, habitualmente, seus atos e negóciosjurídicos.
Duplo grau de jurisdição – preceito que estabelece a exis-tência de duas instâncias, determinando que as causas deci-didas no juízo a quo (primeira instância) venham a serreapreciadas no juízo ad quem (segunda instância), em graude recurso.
Dura lex, sed lex – a lei é dura, mas é lei.
EEfeito devolutivo – refere-se à devolução, ou seja, à transfe-
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rência da matéria recorrida à instância superior, sem sus-pensão do andamento do processo. Efeito próprio de umrecurso. Recebida a apelação só no efeito devolutivo, o ape-lado poderá promover desde logo a execução provisória dasentença (art. 521 do CPC).
Efeito suspensivo – efeito de recurso que impede a práticade qualquer outro ato no processo, até a decisão do grausuperior, obstando também a execução provisória (art. 521do CPC).
Embargar – impedir que algo ocorra; oposição ou ofereci-mento de uma ação, execução, diligência ou decisão.
Embargos à execução – ver “embargos do devedor”.
Embargos de declaração – recurso dirigido ao próprio juizda causa, para esclarecimento de obscuridade, omissão oucontradição da sentença (art. 535 do CPC).
Embargos de divergência – recurso cabível quando ocorredivergência de julgamento entre turmas ou seções nos TRFs,no STJ, no STF, em matéria trabalhista.
Embargos de terceiro – ação que visa à liberação de bensindevidamente apreendidos, em procedimento judicial, per-tencentes ou na posse de terceiros.
Embargos do devedor – ação que visa à desconstituição dotítulo executivo e ao trancamento da execução (art. 736 do
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 209PARTE II
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CPC). Embora ação incidente, tem caráter de defesa; o mes-mo que embargos à execução.
Embargos infringentes – (1) recurso cabível quando nãofor unânime o julgado proferido pelo tribunal, em apelaçãoou ação rescisória julgada procedente (art. 530 do CPC);(2) recurso cabível nas execuções fiscais (Lei n. 6.830/80).
Ementa – sinopse ou resumo de uma decisão judicial, prin-cipalmente dos acórdãos dos tribunais.
Empresa pública – é uma empresa de capital inteiramentepúblico, dedicada a atividades econômicas, tendo, porém,personalidade jurídica de direito privado. Exemplo: CEF,EBCT.
Esbulhar – praticar o esbulho, isto é, desapossar uma pes-soa daquilo que lhe pertence ou de que tem a posse justa,por meio de ato violento.
Estuprar – constranger mulher à conjunção carnal, medi-ante violência ou grave ameaça (art. 213 do CP).
Ex nunc – de agora em diante; indicação de que o ato vigo-ra da celebração em diante, sem efeito retroativo.
Ex officio – por ofício do juiz, de forma oficial.
Ex tunc – desde então; indicação de que o ato abrange tam-bém o passado, atingindo situação anterior.
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Excutir – Executar judicialmente os bens de (um devedorprincipal).
Execução – cumprimento de sentença judicial transitadaem julgado.
Expropriar – desapossar alguém de sua propriedade, medi-ante processo movido pelo Estado.
Extra petita – decidir fora da questão proposta na petiçãoinicial.
Extradição – ato de entrega que um Estado faz a outro deum indivíduo para fins de processo e julgamento.
FFeito – designação genérica de vários significados, comoprocesso, procedimento, causa, demanda, lide.
Foro – o mesmo que subseção ou comarca; local paraautenticação de atos jurídicos ou para a condução de pro-cessos.
Fórum – edifício-sede do juízo.
Fraude – subterfúgio para alcançar um fim ilícito ou, ain-da, o engano dolosamente provocado, o maliciosoinduzimento em erro ou aproveitamento de preexistenteerro alheio, para o fim de injusta locupletação.
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 211PARTE II
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Fraude à execução – alienação ou oneração de bens, porparte do devedor, quando contra ele já existia demandacapaz de reduzi-lo à insolvência (arts. 592, V, e 593 doCPC).
Fraude contra credores – ocorre quando o devedor in-solvente, ou na iminência de o ser, desfalca seupatrimônio, onerando ou alienando bens (arts. 106 a 113do CC).
Fumus boni juris – “fumaça do bom direito”; pre-tensão razoável, com probabilidade de êxito em juízo;um dos requisitos da ação cautelar e da tutela anteci-pada.
Fundação – é a pessoa jurídica composta por umpatrimônio juridicamente personalizado, destacadopelo seu fundador, para uma finalidade específica. Nãotem proprietário, nem titular, nem sócios ou acionis-tas. Consiste apenas num patrimônio destinado a umfim, dirigido por administradores ou curadores, naconformidade de seus estatutos. Na área pública, afundação é criada por lei, ou por escritura pública,desde que autorizada por lei. Ex.: FUNAI – FundaçãoNacional do Índio.
Fungibilidade dos recursos – critério pelo qual ainterposição de um recurso por outro não impede seu co-nhecimento, desde que não haja erro grosseiro e que estejano prazo certo.
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GGravar – Impor gravame, onerar, sujeitar a encargos, hipo-tecar.
HHabeas corpus – ação para garantir a liberdade de loco-moção (liberdade de ir e vir), de modo a reprimir ou im-pedir prisão ou constrangimento ilegal (art. 5.º, LXXII,da CF).
Habeas data – ação que garante ao interessado o acesso ainformações sobre sua pessoa, constantes de registros oubancos de dados de entidades governamentais ou de caráterpúblico, bem como a retificação desses dados (art. 5.º,LXXII, da CF).
Hasta pública – expressão genérica que abrange tanto a praça(para bens imóveis) como o leilão (para bens móveis). Paraalguns, significa licitação com lance nunca inferior ao daavaliação.
Homologar – ratificar, confirmar ou aprovar determinadoato, por decisão de autoridade judicial ou administrativa,para que este se invista de força executória e tenha validadelegal.
Honra objetiva – o conceito em que cada pessoa é tida (re-putação). A difamação e a calúnia atingem a honra objetiva.
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 213PARTE II
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Honra subjetiva – o sentimento pessoal de auto-estima, de-corrente do juízo que cada um tem acerca de seus própriosdotes. A injúria atinge a honra subjetiva, ofendendo a dig-nidade e o decoro da pessoa.
IIlegitimidade da parte – é a parte que se apresenta em juízopara pleitear direito de que não dispõe, ou seja, direito alheio;ausência de aptidão ou competência para estar em juízo,pleiteando algo em seu próprio nome ou como represen-tante de alguém.
Ilícito civil – ação ou omissão voluntária contrária à lei,que atinge direito subjetivo individual, causando danopatrimonial ou moral a outra pessoa, gerando a obrigaçãode indenizar a vítima pelo prejuízo sofrido.
Ilícito penal – ofensa à sociedade, colocando em jogo ointeresse público; mesmo sem a concretização do dano, oautor está sujeito a uma penalidade.
Impedimento – motivo legal pelo qual o juiz, o advogado,o perito estão proibidos de atuar em determinado processoou causa; oposição legal, moral ou física que venha a tolhera execução de um ato.
Impetrante – aquele que pede uma providência judicial,sendo mais comum designar com esse nome aquele queimpetra habeas corpus ou mandado de segurança; requeren-
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te; suplicante; impetrado é aquele contra quem se impetrao mandado de segurança ou o habeas corpus.
Impetrar – interpor recurso; requerer perante autoridadecompetente habeas corpus ou mandado de segurança.
Impugnar – contestar, contrariar, refutar.
In dubio pro reo – em dúvida, a favor do réu.
In verbis – textualmente; nestes termos.
Inaudita altera pars – sem ouvir a outra parte; caracterís-tica de certos atos judiciais em que não se ouve a outraparte, como nas liminares em geral ou nos embargos dedeclaração.
Incidente de falsidade – ação incidental em que se argúi afalsidade de documento apresentado no processo principal(art. 390 do CPC). O incidente tramita nos próprios autosprincipais quando proposto antes de encerrada a instrução(art. 391 do CPC). Se proposto depois de encerrada a ins-trução, tramita em separado, mas em apenso aos autos prin-cipais (art. 393 do CPC).
Incurso – incluído, implicado; que incide ou recai.
Indiciar – proceder a imputação criminal contra alguém,submetendo-o a inquérito policial, no qual o MinistérioPúblico se baseará para oferecer a denúncia.
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 215PARTE II
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Indulto – perdão que libera o condenado do cumprimen-to parcial ou total da pena que lhe foi imposta. É umamedida de caráter coletivo, embora, na sua sucessão pos-sam vir nomeados os beneficiários. Só o Presidente daRepública pode conceder o indulto, sempre após parecerdo Conselho Penitenciário, embora não fique vinculado aesse parecer.
Infra petita – aquém do que foi pedido.
Infraconstitucional – abaixo da Constituição, isto é, umanorma ou lei que está abaixo da lei maior que é a Constitui-ção Federal.
Inicial inepta – aquela que não reúne os requisitos essenci-ais, ou seja, é incompreensível (art. 295, parágrafo único,do CPC).
Injúria – ato ofensivo à dignidade ou ao decoro de alguém.Injuriar é exprimir um juízo de valor, um juízo depreciati-vo, que envolve o mencionar de vícios, de defeitos, de qua-lidades negativas. É a manifestação de desrespeito pessoal,de menosprezo.
Inquérito civil – procedimento administrativo, instauradoe presidido pelo Ministério Público, tendo por objeto a apu-ração de danos causados ao meio ambiente, ao consumidorou a outros interesses coletivos ou difusos, com vistas a even-tual e posterior ação civil pública (art. 8.º, § 1.º, da Lei n.7.347, de 24.07.85).
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Inquérito policial – é um procedimento administrativo des-tinado a apurar as infrações penais e a oferecer elementospara fundamentar a denúncia ou a queixa. Sua natureza éinvestigatória e inquisitiva, destinada à coleta de provas dodelito e de sua autoria.
Instrução – fase processual em que se produzem as provas.
Interesse de agir – demonstração, em linhas gerais, de quea providência jurisdicional é necessária, não podendo o au-tor, sem ela, obter o bem jurídico desejado (art. 3.º do CPC).
Interesses coletivos – interesses de grupos, de uma coletivi-dade, que dizem respeito a anseios ou mesmo a necessida-des da coletividade ou grupo de pessoas, relativamente àqualidade de vida, como, por exemplo, o direito à saúde, àqualidade dos alimentos, à informação correta e atual, àpreservação do meio ambiente, etc.
Interposição – oferecimento de recurso.
Interrupção dos prazos – ato ou efeito de interromper. Nainterrupção de prazo, o tempo anterior não se soma ao pos-terior, devendo-se proceder a uma nova contagem.
Intervenção de terceiro – ingresso de terceiro no pro-cesso, para auxiliar ou excluir as partes; são formas deintervenção de terceiros a oposição, a nomeação à au-toria, a denunciação da lide, o chamamento ao proces-so e a assistência.
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 217PARTE II
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Intimação – ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos etermos do processo, para que faça ou deixe de fazer algumacoisa (art. 234 do CPC).
JJuiz leigo – pessoa escolhida, de preferência entre advoga-dos com mais de cinco anos de prática, para auxiliar o juiztogado no Juizado Especial Cível (Justiça Estadual).
Juizado Especial Cível Estadual – órgão judicante para con-ciliação e julgamento de causas menos complexas, cujo va-lor não ultrapasse 40 salários mínimos.
Juizado Especial Federal – órgão judicante para conciliar ejulgar causas cíveis e criminais. Aos juizados especiais cri-minais cabe conciliar, julgar e executar contravenções pe-nais e crimes com pena máxima de até 2 anos, exceto cri-mes e contravenções com procedimento especial. Nosjuizados especiais cíveis as causas não podem exceder o va-lor de 60 salários mínimos. O processo é sempre gratuito(criminal ou cível) e só em caso de recurso pagam-se custase honorários advocatícios.
Julgamento antecipado da lide – forma de julgamento con-forme o estado do processo, em que o juiz dispensa o pros-seguimento e julga desde logo a questão de mérito, por serela unicamente de direito, ou, sendo de direito e de fato,por não haver necessidade de produzir prova em audiência(art. 330 do CPC).
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Julgamento conforme o estado do processo – fase pro-cessual, após as providências preliminares, em que o juizdeve tomar um desses três caminhos: a) extinguir o pro-cesso com ou sem julgamento de mérito; b) julgar ante-cipadamente a lide; c) designar audiência preliminar deconciliação.
Juntada – ato cartorário de anexar nos autos de um proces-so uma petição ou documento.
Jurisdição – função do Estado, exercida pelos juízes, dentrode um processo, para solucionar um litígio entre as partes;autoridade para dizer o direito.
Jurisdição contenciosa – é a jurisdição própria ou verdadei-ra, referindo-se à atividade do juiz na composição de litígi-os entre as partes.
Jurisdição voluntária – trata de certos negócios ou atos ju-rídicos submetidos ao controle do juiz, como a abertura detestamentos ou a venda de bens de menores.
Jurisprudência – conjunto de decisões de juízes ou tribu-nais sobre uma dada matéria.
LLançamento – escrito em que se declara algo; na linguagemfiscal, é o ato da autoridade que constitui o crédito tributá-rio.
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 219PARTE II
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Laudo – parecer escrito de árbitro ou perito.
Lavrar – escrever, registrar, exarar um ato judicial.
Legítima defesa – consiste no uso moderado dos meios ne-cessários para repelir agressão injusta, atual ou iminente, adireito seu ou de outrem; portanto, não configuraantijuridicidade nem é passível de responsabilidade civil oupenal.
Legitimação extraordinária – autorização excepcional, dadapela lei, para que alguém pleiteie em nome próprio direitoalheio; substituto processual.
Legitimidade para a causa (legitimatio ad causam) – oulegitimidade de parte é uma das condições da ação que dizrespeito aos titulares do conflito; a legitimidade ativa é re-presentada pela parte (autor) que se julga prejudicada e quebusca o seu dreito , e a legitimidade passiva é representadapela parte que resiste à pretensão desse autor (réu).
Lei complementar – aquela que complementa matériaveiculada na Constituição Federal e possui campo pró-prio de incidência, exigindo maioria absoluta para suaaprovação.
Lei delegada – aquela elaborada e editada pelo Presidenteda República (delegação externa corporis) ou por Comissãodo Congresso Nacional, ou das Casas do Congresso Nacio-nal (delegação interna corporis), mediante delegação.
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Lei ordinária – é a lei comum emanada do Poder Legislativo.
Leilão judicial – venda pública de bens móveis levada a efeitopor leiloeiro oficial, como auxiliar do juízo onde tem cursoo feito, na execução por quantia certa.
Libelo – escrito articulado do Ministério Público, expondoa ação delituosa, concluindo pelo pedido de aplicação dapena a que o réu deve ser condenado.
Licitação – procedimento adotado pela Administração Pú-blica para contratar obras e serviços, ou para adquirir bens emercadorias, tornando pública a contratação mediante editale permitindo que todos os interessados concorram, visandoobter o melhor preço e a melhor qualidade.
Lide – litígio, processo, pleito judicial.
Liminar – ordem destinada à proteção cautelar de um di-reito em face da razoável procedência dos fundamentos ale-gados e da possibilidade de dano irreparável em razão dademora.
Liquidação de sentença – procedimento complementardo processo de conhecimento, embora formalmente se-parado, para preparar execução de sentença ilíquida, quenão determinou o valor ou não individualizou o objetoda condenação (art. 603 do CPC). A liquidação podeser: a) por arbitramento, quando se faz necessário examepericial para apuração do valor da condenação; b) por
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 221PARTE II
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artigos, quando houver necessidade de se alegar e provarfato novo.
Litisconsórcio – ocorre quando existe mais de um autor oumais de um réu, ou ainda vários autores ou réus nos pólospassivo e ativo de uma demanda.
Litisconsorte – denominação atribuída a quem demandaem litisconsórcio.
Litispendência – pendência de um litígio; situação em quehá ação anterior idêntica à ajuizada; fato que impede apropositura de ação igual a outra já em andamento; a açãonova deve ser extinta sem julgamento do mérito, aguardan-do-se o desfecho daquela que já estava em andamento (arts.267, V, e 301, § 1.º, do CPC).
MMagistrado – juiz togado; membro da magistratura.
Magistratura – é o corpo de juízes que constituem o PoderJudiciário.
Mandado – documento que consubstancia ordem escritado juiz para cumprimento de uma diligência. Ex.: manda-do de citação, de penhora, de busca e apreensão, de arresto.
Mandado de Injunção – procedimento pelo qual se visaobter ordem judicial que determine a prática ou abstenção
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de ato por violação de direitos constitucionais, fundada nafalta de norma reguladora.
Mandado de Segurança – ação proposta para assegurar àpessoa um direito líquido e certo, incontestável, que estejaviolado ou ameaçado por ato ilegal ou inconstitucional deuma autoridade.
Mandato – contrato pelo qual alguém (mandatário ou pro-curador) recebe de outrem (mandante) poderes para, emseu nome, praticar atos ou administrar interesses. O instru-mento do mandato é a procuração.
Mandato ad judicia – documento em que se constitui umprocurador (advogado regularmente inscrito na Ordem dosAdvogados do Brasil) para ser representado em juízo; ooutorgante pode especificar os poderes e a finalidade dessarepresentação.
Mandato ad negotia – contrato pelo qual o man-dante confere poderes a um mandatário para pra-ticar, em seu nome, certos atos ou negócios. De-nomina-se tal contrato de mandato extrajudicial,porque a ação do mandatário ocorrerá fora do âm-bito judicial.
Medida cautelar – medida acessória que visa a garantirum direito que se discute ou irá ser discutido num pro-cesso de conhecimento ou de execução. Em regra, deveser requerida em processo próprio, de natureza cautelar,
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 223PARTE II
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e será concedida se presentes os requisitos do fumus bonijuris e do periculum in mora.
Mérito – pretensão do autor deduzida em juízo; a matériade fato e de direito em julgamento.
Ministério Público – instituição permanente a quem aConstituição Federal incumbiu de zelar pela defesa da or-dem jurídica, do regime democrático e dos interesses soci-ais e individuais indisponíveis.
Minuta do agravo – petição do agravo de instrumento expon-do as razões pelas quais se interpõe o recurso de agravo, pedin-do reforma da decisão que causou o gravame. Deverá ser ins-truída, obrigatoriamente, com cópias da decisão agravada, dacertidão da respectiva intimação e das procurações outorgadasaos advogados do agravante e do agravado, e, facultativamen-te, com outras peças que o agravante entender úteis.
Modus operandi – modo de.
Monocrática – decisão proferida por uma só pessoa; no casodo Judiciário, trata-se de decisão proferida por um só ma-gistrado.
Mutatis mutandis – locução latina que significa “mudan-do-se o que deve ser mudado”, “fazendo-se as alterações ne-cessárias”.
Mútuo – contrato de empréstimo pelo qual um dos con-
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tratantes transfere a propriedade de bem fungível ao outro,que se obriga a restituir-lhe coisa do mesmo gênero, quali-dade e quantidade.
NNepotismo – nomeação para cargos públicos ou distribui-ção de favores ou empregos a parentes, facilitando-lhes aascensão social.
Nexo causal ou nexo de causalidade – relação existente entrea ação e o dano dela decorrente, necessária para que se con-figure a responsabilidade penal ou civil.
Nomeação à autoria – indicação daquele que deveria real-mente ser o réu (art. 62 do CPC).
OOficial de justiça – servidor da Justiça incumbido de reali-zar diligências determinadas pelo Juízo, lavrando, ao final,certidão do que foi feito.
Ônus da prova – obrigação daquele que alega os fatos deprovar as suas alegações. Logo, o ônus da prova incumbe aoautor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; ao acusa-dor, quanto ao crime; e ao réu, quanto à existência do fatoimpeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor,demonstrando que das afirmações do autor não decorrem
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 225PARTE II
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os efeitos por ele pretendidos.
Oposição – intervenção de terceiro, no processo, para ex-cluir o autor e o réu, ou um deles.
PParecer – análise jurídica de um problema.
Partes – são as pessoas que litigam numa demanda na con-dição de autor ou réu, ou que figuram num contrato, nacondição de contratante ou contratado.
Patrimônio cultural – conjunto de bens e direitos de valorartístico, estético, turístico e paisagístico.
Peças – documentos que fazem parte dos autos do processo,por exemplo, petição inicial, contestação, laudo pericial, etc.
Peculato – crime cometido por funcionário público, que,valendo-se de seu ofício, apropria-se de dinheiro ou de bensmóveis, de forma indevida, confiados à sua guarda e posse,em proveito próprio ou de terceiro, ou que se vale de suainfluência para desviá-los.
Penhora – apreensão dos bens do devedor suficientes paragarantir a execução.
Penhora no rosto dos autos – registro feito na capa dosautos (rosto dos autos).
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Perempção – esse vocábulo é entendido literalmente comoextinção, perecimento; aplicado ao Direito, ele tem sentidopróprio embora resulte na “extinção” de um direito. Quan-do o autor, ou o réu, deixa de exercer, no processo, um atoque tem direito dentro de um prazo determinado, perde odireito de fazê-lo. Tratando-se do autor, se este ato for es-sencial para o prosseguimento da ação e ele não praticá-loapós intimado três vezes, o processo será extinto.
Periculum in mora – perigo na demora; possibilidade deconcessão de liminar por existir um fato que possa ocasio-nar dano irreparável se houver demora em providência quevenha a impedi-lo.
Persecução penal – atividade desenvolvida pelo Estado comvistas à punição do criminoso.
Personalidade civil – aptidão legal de exercitar direitos e con-trair obrigações; decorre do nascimento com vida, mas osdireitos do nascituro são resguardados desde a concepção.
Personalidade jurídica – decorre do registro na repartiçãocompetente dos atos constitutivos de empresas e institui-ções, as quais, porque reconhecidas juridicamente, passama ter direitos e deveres próprios, não se confundindo com aspessoas naturais que nelas atuam.
Petição – pedido escrito, dirigido a uma autoridade, con-tendo exposição de fatos, fundamentos jurídicos e pedidofinal.
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 227PARTE II
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Pleno iure – pleno direito.
Praça – forma de licitação pública para imóveis.
Precatória – ver carta precatória.
Precatório – dívidas judiciais referentes a processos com sen-tenças definitivas.
Preclusão – perda do direito de manifestar-se no processo,por não tê-lo feito na forma devida ou na oportunidadedevida.
Preliminar – toda questão que impede o julgamento domérito; defesa indireta que deve ser alegada antes da defesade mérito.
Preparo – pagamento das custas judiciais devidas e necessá-rias para o recebimento e o processamento de um recurso.
Prescrição – perda do prazo para o exercício do direito deação.
Pressupostos processuais – requisitos exigidos para a cons-tituição e o desenvolvimento válido e regular do processo,como a capacidade civil das partes e a sua representaçãopor advogado.
Prestação jurisdicional – ocorre quando o juiz decide a causaaplicando o direito ao caso concreto.
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Prevenção – critério para manter a competência de um ma-gistrado em relação a uma determinada causa pelo fato deleter conhecido essa causa em primeiro lugar.
Prevento – é assim denominado o juiz que tomou conheci-mento de uma causa em primeiro lugar.
Princípio da publicidade – assegura que todos os atos judi-ciais devem ser praticados publicamente, com a participa-ção de todos os interessados.
Princípio do contraditório – garante oportunidades iguaispara as partes se manifestarem, contradizendo o que foi ditosobre elas.
Procedimento – modo ou o rito de andamento do processo.
Procedimento comum ordinário – é o aplicável a todas asdemandas, salvo as de rito especial ou as de rito comumsumário.
Procedimento comum sumário (cível) – rito aplicável àscausas cujo valor não exceda a 20 vezes o valor do maiorsalário mínimo vigente no País em matéria que trate de ar-rendamento rural, parceria agrícola, cobrança de despesasde condomínio e outros casos enumerados no art. 275 doCPC.
Procedimento sumaríssimo (legislação trabalhista) – ritosimplificado, usado para dissídios individuais, cujo valor da
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 229PARTE II
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causa não exceda a 40 salários mínimos na data do ajuiza-mento da reclamação trabalhista.
Processo – é uma seqüência de atos coordenados por meiodos quais o juiz decide a lide; autos em que se materializamos atos processuais.
Processo cautelar – medida cautelar; procedimentocautelar que visa a concretizar medida urgente, ante opericulum in mora e o fumus boni iuris, para atenderao direito afirmado pelo autor. Instaurado antes ouno curso do processo principal, visa a assegurar o seuresultado.
Processo de conhecimento – é aquele em que a divergênciaentre autor e réu é apresentada ao órgão judicante para quea conheça e a qualifique juridicamente, prolatando uma sen-tença sobre o mérito.
Processo de execução – processo pelo qual se pede aefetivação de um direito reconhecido em título executivojudicial ou extrajudicial. Ele é independente do processo deconhecimento.
Procuração – instrumento pelo qual se outorga um man-dato a alguém, dando poderes para ele agir em nome dooutorgante.
Pronunciar – é o ato pelo qual o juiz proclama a autoria dodelito para encaminhar o réu ao Tribunal do Júri.
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Propositura – ato que dá início a uma ação judicial; podeser ainda “aquilo que se propõe”, ou oferta, ou ainda umacondição que se apresenta para chegar a um acordo; argu-mento.
Prova – todo elemento que leva ao conhecimento do juizos fatos pertinentes à causa.
Prova emprestada – prova produzida num processo e tras-ladada para outro, mediante certidão ou traslado de peças.
Providências preliminares – são determinações do juiz,feitas após a resposta do réu, para a regularização dequalquer falha no processo, se necessário (v. art. 323,CPC).
Provimento – ato emanado de tribunais veiculando nor-mas de caráter administrativo.
QQueixa-crime – petição inicial mediante a qual o ofendidodá início à ação penal de caráter privado.
Querelar – ajuizar ação penal privada contra alguém.
Quesito – é a questão que deve ser resolvida ou respondida.
Questão prejudicial – aquela que deve ser resolvida, neces-sariamente, antes da decisão de mérito.
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 231PARTE II
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Quinto constitucional – disposição constitucional que prevêa integração de membros do Ministério Público e da Advo-cacia na composição de alguns tribunais.
RRazões de recurso – peça escrita na qual se pleiteia a refor-ma de uma sentença ou acórdão.
Recebimento do recurso – é a aceitação do recurso para oseu regular processamento.
Reconhecimento do pedido – admissão, pelo réu, da pro-cedência de fato e de direito do pedido. Não se confundecom a confissão, pois esta é um meio de prova e refere-seapenas aos fatos.
Reconvenção – é uma ação inversa, incidente à ação princi-pal, que o réu pode mover contra o autor, no mesmo prazoda contestação da primeira ação; é um pedido do réu contrao autor; deve haver conexão com a ação principal ou com ofundamento da defesa.
Recurso – meio colocado à disposição do vencido na de-manda a fim de obter a reforma da decisão proferida pelaautoridade judicial ou administrativa.
Recurso adesivo – aquele que adere a um recurso principal(apelação, embargos infringentes, recurso extraordinário ourecurso especial), no caso de sucumbência recíproca (venci-
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dos autor e réu); é um recurso subordinado, uma vez que aorecurso interposto por qualquer das partes poderá aderir aoutra parte (é adesão à oportunidade recursal).
Recurso de ofício – ocorre quando o próprio juiz queprolatou a sentença submete-a à instância superior parareapreciação, existindo ou não recurso das partes.
Recurso em sentido estrito – recurso criminal para reexame,por tribunal superior, de decisão, despacho ou sentença quenão receber a denúncia ou a queixa, que concluir pela in-competência do juízo, que conceder ou negar habeas corpuse em outros casos previstos em lei (art. 581, Código de Pro-cesso Penal).
Recurso especial – recurso interposto perante o SuperiorTribunal de Justiça das decisões proferidas por outros tribu-nais quando houver ofensa a tratado ou a lei federal ou ou-tras matérias não constitucionais (CF, art. 105, III, e CPC,art. 541).
Recurso extraordinário – recurso interposto perante o Su-premo Tribunal Federal das decisões proferidas por outrostribunais quando houver ofensa a norma constitucional (CF,art. 102, III, e CPC, art. 539).
Recurso ordinário – recurso interposto perante o SupremoTribunal Federal das decisões dos Tribunais Superiores emcertas matérias e no crime político (CF, art. 102, II,); oupara o Superior Tribunal de Justiça em certas matérias deci-
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 233PARTE II
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didas por tribunais de segunda instância (CF, art. 105, II, eCPC, art. 539).
Redução a termo – tornar escrita manifestação oral, consti-tuindo-se um ato processual.
Referendo – confirmação de um ato por um órgão ou ins-tância superior. No âmbito constitucional, é uma consultapopular sobre medida adotada pelo Governo; difere do ple-biscito, pois neste o povo é consultado antes da decisão oudo ato governamental.
Regimento – conjunto de normas que regulamentamas atividades internas dos tribunais ou de uma insti-tuição.
Relatório – resumo do processo, apresentando todos os fa-tos; descrição dos fatos que compõem o processo.
Renúncia – ocorre quando o titular de um direito, ou deum bem, desiste voluntariamente dele.
Repristinação – ato de tornar eficaz uma lei revogada, porter a lei revogadora perdido o efeito; deve ser expressa.
Res nullius – coisa de ninguém.
Resposta – manifestação escrita do réu num processo, dirigidaao juiz, dentro de determinado prazo. Pode consistir em: con-testação, exceção ou reconvenção (art. 297 do CPC).
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Restauração de autos – processo incidente instaurado porqualquer das partes a fim de reconstituir um processo, cujosautos foram extraviados ou destruídos, uma vez constatadotal fato.
Retroatividade da lei – fenômeno que permite à lei atin-gir fatos pretéritos, ocorridos antes de sua vigência. Emregra, a lei não retroage por respeito ao direito adquirido,ao ato jurídico perfeito e à coisa julgada. No âmbito dodireito penal, a lei nova não retroagirá, salvo para benefi-ciar o réu.
Revel – réu que não comparece em juízo para defender-se.
Revelia – ocorre quando o réu não comparece em juízo paradefender-se.
Revisão criminal – é a ação que pretende a desconstituiçãode decisão condenatória criminal com trânsito em julgado.
Revogar – tornar uma norma sem efeito, retirando-lhe acapacidade de gerar efeitos.
Rito – procedimento legal pelo qual se exteriorizam os atosprocessuais.
Rogatória – carta em que a autoridade judicial brasileira pedeà autoridade judicial estrangeira a execução ou a prática decertos atos judiciais. No Brasil, recebida a carta rogatória, estadeve, primeiramente, receber o exequatur do Supremo Tri-
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 235PARTE II
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bunal Federal autorizando o seu cumprimento.
Rosto dos autos – capa do processo com os dados identifi-cadores da causa e o órgão no qual ele tramita.
SSalvo-conduto – documento que possibilita o livre trânsi-to, em zona de beligerância, sem risco de prisão de seu por-tador; documento assinado pelo juiz, ordenando habeascorpus em favor de uma pessoa para frustrar ameaça de vio-lência ou coação ilegal.
Saneador – decisão pela qual o juiz regulariza o processo,ordenando, se necessário, diligência ou nova oitiva do réuou testemunha para sanar nulidade ou suprir falta que pre-judique o esclarecimento da verdade.
Segredo de justiça – é decretado apenas em casos excepcio-nais, para resguardar o interesse público e para não cons-tranger os interessados nos processos relativos a casamento,filiação, separação dos cônjuges, quebra de sigilo bancário,etc. Com a decretação do segredo, fica proibida a consultados autos pelo público em geral.
Sentença – ato pelo qual o juiz põe fim ao processo, deci-dindo ou não o mérito da causa.
Sentença condenatória – é a que, além de declarar o direi-to, impõe uma obrigação ao réu, como a condenação ou
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pagamento de uma indenização.
Sentença constitutiva – é a que, além de declarar o direito,cria, modifica ou extingue uma relação jurídica.
Sentença declaratória – é a que decide apenas sobre a au-tenticidade de documento ou sobre a existência de relaçãojurídica.
Sindicância – procedimento sumário para obter informa-ções sobre fatos que se pretende apurar, no serviço público,por eventual conduta irregular.
Sociedade de economia mista – é uma empresa de capitalpúblico e particular, com direção estatal e personalidade ju-rídica de direito privado. Deve ter a forma de sociedadeanônima e maioria de ações com direito a voto pertencenteao poder público. Exemplo: Banco do Brasil S.A.,PETROBRAS.
Sonegar – ocultar dolosamente; desviar; encobrir; dei-xar de relacionar algo exigido por lei, com intuito frau-dulento.
Status quo – locução latina que significa “no estado, na si-tuação em que se encontra”.
Stricto sensu – entendimento estrito.
Sub judice – sob julgamento.
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 237PARTE II
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Subsídio – remuneração paga, em dinheiro, pelo governo,a certos setores da produção para controlar o preço ou in-centivar a exportação; na linguagem jurídica, também é con-siderada como auxílio, benefício.
Substabelecer – transferir para terceiro, total ou parcialmen-te, os poderes outorgados no mandato, para que se substi-tua o mandatário.
Sucumbência – ônus que recai sobre a parte vencida numaação de pagar os honorários de advogado da parte vencedo-ra e as custas ou despesas processuais.
Sui juris – locução latina que indica quem tem capacidadejurídica para praticar, por si, os atos da vida civil.
Súmula – resumo da orientação jurisprudencial de um tri-bunal para casos análogos.
Suspeição – situação que impede o juiz, o membro do Mi-nistério Público, o advogado, o perito, o escrivão de exerce-rem suas funções com isenção ou imparcialidade, motivopelo qual devem ser afastados do processo.
Suspensão condicional da pena ou sursis – paralisação daexecução da pena privativa de liberdade, mediante determi-nadas condições impostas por lei.
Suspensão de segurança – remédio constitucional cabívelpara proteger direito líquido e certo ameaçado ou violado
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de pessoa física ou jurídica por ato ou omissão ilegal ouinconstitucional.
Suum cuique tribuere – expressão latina que significa “dar acada um o que é seu”.
TTaxa – tributo instituído pela União, pelos Estados, peloDistrito Federal e pelos Municípios e cobrado em razão dautilização de serviço público específico prestado ao contri-buinte ou colocado à sua disposição.
Termo – marco divisório que inicia ou encerra a eficácia donegócio jurídico; prazo para cumprimento de ordens judiciais.
Testemunha – aquele que presencia um fato.
Tipicidade – qualidade de um fato real que, após definido,serve como modelo; conduta típica.
Togado – que usa toga; pertencente à magistratura.
Transitar em julgado – esgotar-se o prazo para a interposi-ção de qualquer recurso contra a decisão judicial.
Turma – divisão de um tribunal ou de qualquer órgão cole-giado.
Tutela antecipada – é aquela que objetiva uma decisão de
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 239PARTE II
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mérito exeqüível provisoriamente, antes do cumprimento detodos os trâmites procedimentais, possibilitando a concessãototal ou parcial do direito material. Sua eficácia é provisória,podendo ser revogada ou modificada a qualquer tempo.
UUltra petita – além do que foi pedido
Usque ad finem – expressão latina que significa “até o fim”.
Usucapião – ação que permite ao seu autor adquirir legal-mente o domínio de um bem móvel ou imóvel após termantido a posse desse bem durante um tempo estabelecidoem lei sem oposição do legítimo proprietário.
VVacância – declaração de que o cargo público está vago.
Vade-mécum – livro com noções indispensáveis e essenci-ais consultado tão amiúde que o consulente o leva sempreconsigo.
Vara – cada divisão de uma jurisdição, na comarca onde hámais de um juiz.
Veto – recusa do Chefe do Poder Executivo a projeto de leiaprovado pelo Poder Legislativo, fundada em razões de in-constitucionalidade ou interesse público.
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Vexata quaestio – locução latina que significa “questão con-trovertida”, “que acaba gerando longas discussões”.
Viger – ter vigência.
Vista – exame dos autos pelas partes.
Vitaliciedade – garantia conferida ao magistrado pela Cons-tituição Federal que o torna vitalício no cargo, do qual sópode ser afastado por sentença judicial transitada em julga-do.
Voto – na 2.ª Instância, é a parte decisória; é proferido pe-los que julgam.
WWrit – ordem judicial determinando que entidade públicaou privada faça ou deixe de fazer algo, por ter sido violadoum direito ou praticado abuso de poder.
ZZona de fronteira – faixa de terra fronteiriça com paísesvizinhos, considerada essencial à segurança do Estado e porisso mesmo sujeita a limitações de uso.
PARTE III
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 243
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PARTE III
PRINCIPAISPRAZOS
1 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
MEDIDAS PRAZOSAgravo de instrumento
para interpor (art.522) 10 dias
Agravo retido
para interpor (art.522) 10 dias
Apelação
para interpor ou responder (art.508) 15 dias
Contestação
• procedimento ordinário (art.297) 15 dias
• procedimento sumário audiência de conci-liação (art.278)
• procedimento cautelar (art.802) 5 dias
Embargos à execução (art.738) 10 dias
Embargos de declaração (art.536) 5 dias
PRINCIPAIS PRAZOS244
MEDIDAS PRAZOSExceção
- de incompetência, suspeição ou simultaneamente com a
impedimento contestação (art.297)
- no sumário em audiência
Impugnação ao valor da causa
(art.261) 15 dias
Prático de ato sem prazo expresso
(art.185) 5 dias
Reconvenção
simultaneamente com a contestação 15 dias
(art.297)
Recurso adesivo
• para interpor (art.500, I) 15 dias
• para responder (art.508) 15 dias
Recurso Especial (art.508) 15 dias
Recurso Extraordinário (art.508) 15 dias
Testemunhas, apresentação do rol
• no procedimento ordinário (art.407) - prazo fixado pelo juiz
- na omissão do juiz,
10 dias
• no sumário - autor na petição
inicial (art.276)- réu na audiência de conciliação (art.278)
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PARTE III
2 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
MEDIDAS PRAZOS
Agravo de execução interp - 5 diasRazões - 2 dias
Alegações Finais
Rito ordinário 3 dias
Trib. Júri 5 dias
Apelação
• Interp. 5 dias
• Razões 8 dias
• Nos Juizados Especiais Criminais
(L.9.099/95 -art.82) 10 dias
Carta Testemunhável 48 horas
Citação por Edital
• Publicação 15 dias
• Esquiva do acusado 5 dias
• Local inacessível 30 a 90 dias
• Pessoa incerta 30 dias
Contrariedade do Libelo
Crime Acusatório 5 dias
PRINCIPAIS PRAZOS246
MEDIDAS PRAZOS
Correição Parcial 5 dias
Defesa Prévia 3 dias
Debates Orais
• Rito Sumário 20 min + 10 min
• Rito Sumaríssimo -Lei 9.099/95 20 min + 10 min
• Plenário do Juri 2 horas( 1 réu)
3 horas (+ de 1 réu)
Denúncia
• Simples 15 dias(indiciado solto)
5 dias (indiciado preso)
• Entorpecente 15 dias(indiciado solto)
5 dias (indiciado preso)
Diligência
(rito ordinário - p/requerimento) 24 horas
Embargos de declaração
• Simples 2 dias
• (L.9.099/95) 5 dias
• Infringentes ou de nulidade 10 dias
Inquérito Policial
• Simples 30 dias(indiciado solto)
10 dias(indiciado preso)
• Entorpecentes 30 dias(indiciado solto)
5 dias (indiciado preso)
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 247
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PARTE III
MEDIDAS PRAZOS
Mandado de segurança 120 dias
Período de prova
• no “sursis” de 2 a 4 anos
• no “sursis” etário de 4 a 6 anos
• na suspensão Condicional do de 2 a 4 anos
processo (L.9.099/95 -art.89)
Prisão temporária
• Comum 5 dias + 5 dias
• Hediondos 30 dias + 30 dias
Protesto por novo júri 5 dias
Queixa crime (prazo decadencial)
• Comum 6 meses
• Crime de imprensa 3 meses
• Adultério e art.236 do CP 1 mês
Réplica do júri 30 min1 hora (+de 1 réu)
Representação 6 meses
Recurso em Sentido Estrito
• interp. 5 dias • Razões 2 dias
Recurso extraordinário 15 dias
PRINCIPAIS PRAZOS248
MEDIDAS PRAZOS
Recurso Ordinário Constitucional 5 dias
Término de instrução criminal - entorpecentes • Réu preso 38 dias
• Réu preso arts.12 a 14 76 dias
Lei 6.368/76
Tréplica no júri 30 min.
1 hora (+ de 1 réu)
Sentença
• Simples 10 dias + 10 dias
• Rito sumário na audiência ou + 5 dias
• Rito sumaríssimo (L 9.099/95) na audiência
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 249
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PARTE III
3 DO REGIMENTO INTERNO DOTRIBUNAL REGIONAL FEDERALDA 3.ª REGIÃO
MEDIDAS PRAZOS
Acórdão. Publicação (Art. 86, § 1º) 60 dias
Advogado. Vista (Art. 82, § 1º) Determinado pelorelator
Agravo de Instrumento
Interposição (Art. 252) 5 dias
Agravo Regimental
Interposição (Art. 250) 5 dias
Casos Omissos (Art. 94)
Citações (Art. 89, parágrafo único)
Contagem (Arts. 89, parágrafo único;
90, § 1º e 94)
Contestação e recurso (Art. 94, parágrafo único)
Defesa prévia (Art. 212) 5 dias
PRINCIPAIS PRAZOS250
MEDIDAS PRAZOS
Diligências. Requerimento (Art. 213) 5 dias
Edital. Publicação ( Art. 81, parágrafo único)
Fluência (Art. 90 e § 1º)
Informações (Art. 90, § 2º)
• Para Desembargadores Federais 10 a 30 dias
(Art. 95)
• Para Servidores (Art. 96) 48 horas
Partes. Vista (Art. 82)
Relator. Conclusão (Art. 87, § 4 º) ± 20 dias
Noções de Direito para Jornalistas - Guia Prático - TRF3 251
LEI D
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PR
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PARTE III
LEI DE IMPRENSA
LEI Nº 5.250, DE 9 DE FEVEREIRO DE 1967(CONFORME REDAÇÃO ORIGINAL)
Regula a liberdade de manifestaçãodo pensamento e de informação.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , faço saber que o CON-GRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
CAPÍTULO IDA LIBERDADE DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO E
DA INFORMAÇÃOArt 1º É livre a manifestação do pensamento e a procura, orecebimento e a difusão de informações ou idéias, por qual-quer meio, e sem dependência de censura, respondendo cadaum, nos têrmos da lei, pelos abusos que cometer.§ 1º Não será tolerada a propaganda de guerra, de processosde subversão da ordem política e social ou de preconceitos deraça ou classe.
LEI DE IMPRENSA252
§ 2º O disposto neste artigo não se aplica a espetáculos ediversões públicas, que ficarão sujeitos à censura, na formada lei, nem na vigência do estado de sítio, quando o Govêrnopoderá exercer a censura sôbre os jornais ou periódicos eemprêsas de radiodifusão e agências noticiosas nas matériasatinentes aos motivos que o determinaram, como também emrelação aos executores daquela medida.Art 2º É livre a publicação e circulação, no território nacional,de livros e de jornais e outros periódicos, salvo se clandesti-nos (art. 11) ou quando atentem contra a moral e os bons cos-tumes.§ 1º A exploração dos serviços de radiodifusão depende depermissão ou concessão federal, na forma da lei.§ 2º É livre a exploração de emprêsas que tenham por objetoo agenciamento de notícias, desde que registadas nos têrmosdo art. 8º.Art 3º É vedada a propriedade de emprêsas jornalísticas, se-jam políticas ou simplesmente noticiosas, a estrangeiros e asociedade por ações ao portador.§ 1º Nem estrangeiros nem pessoas jurídicas, excetuados ospartidos políticos nacionais, poderão ser sócios ou particular desociedades proprietárias de emprêsas jornalísticas, nem exer-cer sôbre elas qualquer tipo de contrôle direto ou indireto.§ 2º A responsabilidade e a orientação intelectual e adminis-trativa das emprêsas jornalísticas caberão, exclusivamente, abrasileiros natos, sendo rigorosamente vedada qualquer mo-dalidade de contrato de assistência técnica com emprêsas ouorganizações estrangeiras, que lhes faculte, sob qualquer pre-texto ou maneira, ter participação direta, indireta ou sub-reptícia,por intermédio de prepostos ou empregados, na administra-ção e na orientação da emprêsa jornalística.§ 3º A sociedade que explorar emprêsas jornalísticas poderáter forma civil ou comercial, respeitadas as restrições consti-tucionais e legais relativas à sua propriedade e direção.§ 4º São emprêsas jornalísticas, para os fins da presente Lei,
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aquelas que editarem jornais, revistas ou outros periódicos.Equiparam-se às emprêsas jornalísticas, para fins de respon-sabilidade civil e penal, as que explorarem serviços de radiodi-fusão e televisão e o agenciamento de notícias.§ 5º Qualquer pessoa que emprestar seu nome ou servir deinstrumento para violação do disposto nos parágrafos anterio-res ou que emprestar seu nome para se ocultar o verdadeiroproprietário, sócio, responsável ou orientador intelectual ouadministrativo das emprêsas jornalísticas, será punida com apena de 1 a três anos de detenção e multa de 10 a 100 salári-os-mínimos vigorantes na Capital do País.§ 6º As mesmas penas serão aplicadas àquele em proveito dequem reverter a simulação ou que a houver determinado oupromovido.Art 4º Caberá exclusivamente a brasileiros natos a responsa-bilidade e a orientação intelectual e administrativa dos servi-ços de notícias, reportagens, comentários, debates e entre-vistas, transmitidos pelas emprêsas de radiodifusão.§ 1º É vedado às emprêsas de radiodifusão manter contratosde assistência técnica com emprêsas ou organizações estran-geiras, quer a respeito de administração, quer de orientação,sendo rigorosamente proibido que estas, por qualquer formaou modalidade, pretexto ou expediente, mantenham ou no-meiem servidores ou técnicos que, de forma direta ou indireta,tenham intervenção ou conhecimento da vida administrativaou da orientação da emprêsa de radiodifusão.§ 2º A vedação do parágrafo anterior não alcança a parte es-tritamente técnica ou artística da programação e do aparelha-mento da emprêsa.Art 5º As proibições a que se referem o § 2º do art. 3º e o § 1ºdo artigo 4º não se aplicam aos casos de contrato de assistên-cia técnica, com emprêsa ou organização estrangeira, nãosuperior a seis meses e exclusivamente referente à fase deinstalação e início de funcionamento de equipamento, máqui-nas e aparelhamento técnicos.
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Art 6º Depende de prévia aprovação do CONTEL qualquercontrato que uma emprêsa de radiodifusão pretenda fazercom emprêsa ou organização estrangeira, que possa, dequalquer forma, ferir o espírito das disposições dos artigos3º e 4º, sendo também proibidas quaisquer modalidadescontratuais que de maneira direta ou indireta assegurem aemprêsas ou organizações estrangeiras participação nos lu-cros brutos ou líquidos das emprêsas jornalísticas ou de ra-diodifusão.Art 7º No exercício da liberdade de manifestação do pensa-mento e de informação não é permitido o anonimato. Será, noentanto, assegurado e respeitado o sigilo quanto às fontes ouorigem de informações recebidas ou recolhidas por jornalis-tas, radiorrepórteres ou comentaristas.§ 1º Todo jornal ou periódico é obrigado a estampar, no seucabeçalho, o nome do diretor ou redator-chefe, que deve estarno gôzo dos seus direitos civis e políticos, bem como indicar asede da administração e do estabelecimento gráfico onde éimpresso, sob pena de multa diária de, no máximo, um salá-rio-mínimo da região, nos têrmos do art. 10.§ 2º Ficará sujeito à apreensão pela autoridade policial todoimpresso que, por qualquer meio, circular ou fôr exibido empúblico sem estampar o nome do autor e editor, bem como aindicação da oficina onde foi impresso, sede da mesma e datada impressão.§ 3º Os programas de noticiário, reportagens, comentários,debates e entrevistas, nas emissoras de radiodifusão, deve-rão enunciar, no princípio e ao final de cada um, o nome dorespectivo diretor ou produtor.§ 4º O diretor ou principal responsável do jornal, revista, rá-dio e televisão manterá em livro próprio, que abrirá e rubrica-rá em tôdas as fôlhas, para exibir em juízo, quando para issofôr intimado, o registro dos pseudônimos, seguidos da assi-natura dos seus utilizantes, cujos trabalhos sejam ali divul-gados.
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CAPÍTULO IIDO REGISTRO
Art 8º Estão sujeitos a registro no cartório competente do Re-gistro Civil das Pessoas Jurídicas:I - os jornais e demais publicações periódicas;II - as oficinas, impressoras de quaisquer naturezas, perten-centes a pessoas naturais ou jurídicas;III - as emprêsas de radiodifusão que matenham serviços denotícias, reportagens, comentários, debates e entrevistas;IV - as emprêsas que tenham por objeto o agenciamento denotícias.Art 9º O pedido de registro conterá as informações e seráinstruído com os documentos seguintes:I - no caso de jornais ou outras publicações periódicas:a) título do jornal ou periódico, sede da redação, administra-ção e oficinas impressoras, esclarecendo, quanto a estas, sesão próprias ou de terceiros, e indicando, neste caso, os res-pectivos proprietários;b) nome, idade, residência e prova de nacionalidade do diretorou redator-chefe;c) nome, idade, residência e prova de nacionalidade do propri-etário;d) se propriedade de pessoa jurídica, exemplar do respectivoestatuto ou contrato social e nome, idade, residência e provada nacionalidade dos diretores, gerentes e sócios da pessoajurídica proprietária;II - no caso de oficinas impressoras:a) nome, nacionalidade, idade e residência do gerente e doproprietário, se pessoa natural;b) sede da administração, lugar, rua e número onde funcio-nam as oficinas e denominação destas;c) exemplar do contrato ou estatuto social, se pertencentes apessoa jurídica.III - no caso de emprêsas de radiodifusão:a) designação da emissora, sede da sua administração e local
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das instalações do estúdio;b) nome, idade, residência e prova de nacionalidade do diretorou redator-chefe responsável pelos serviços de notícias, re-portagens, comentários, debates e entrevistas.IV - no caso de emprêsas noticiosas:a) nome, nacionalidade, idade e residência do gerente e doproprietário, se pessoa natural;b) sede da administração;c) exemplar do contrato ou estatuto social, se pessoa jurídica.Parágrafo único. As alterações em qualquer dessas declara-ções ou documentos deverão ser averbadas no registro noprazo de 8 (oito) dias.Art 10. A falta de registro das declarações exigidas no artigoanterior, ou de averbação da alteração, será punida com mul-ta que terá o valor de meio a dois salários-mínimos da região.§ 1º A sentença que impuser a multa fixará prazo, não inferiora 20 dias, para registro ou alteração das declarações.§ 2º A multa será liminarmente aplicada pela autoridade judici-ária cobrada por processo executivo, mediante ação do Minis-tério Público, depois que, marcado pelo juiz, não fôr cumpridoo despacho.§ 3º Se o registro ou alteração não fôr efetivado no prazo refe-rido no § 1º dêste artigo, o juiz poderá impor nova multa, agra-vando-a de 50% (cinqüenta por cento) tôda vez que seja ultra-passada de dez dias o prazo assinalado na sentença.Art 11. Considera-se clandestino o jornal ou outra publicaçãoperiódica não registrado nos têrmos do art. 9º, ou de cujo re-gistro não constem o nome e qualificação do diretor ou redatore do proprietário.
CAPÍTULO IIIDOS ABUSOS NO EXERCÍCIO DA LIBERDADE
DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO E INFORMAÇÃOArt 12. Aquêles que, através dos meios de informação e divul-gação, praticarem abusos no exercício da liberdade de mani-
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festação do pensamento e informação ficarão sujeitos às pe-nas desta Lei e responderão pelos prejuízos que causarem.Parágrafo único. São meios de informação e divulgação, paraos efeitos dêste artigo, os jornais e outras publicações periódi-cas, os serviços de radiodifusão e os serviços noticiosos.Art 13. Constituem crimes na exploração ou utilização dosmeios de informação e divulgação os previstos nos artigosseguintes.Art 14. Fazer propaganda de guerra, de processos para sub-versão da ordem política e social ou de preconceitos de raçaou classe:Pena: de 1 a 4 anos de detenção.Art 15. Publicar ou divulgar:a) segrêdo de Estado, notícia ou informação relativa à prepa-ração da defesa interna ou externa do País, desde que o sigiloseja justificado como necessário, mediante norma ou reco-mendação prévia determinando segrêdo confidência ou reser-va;b) notícia ou informação sigilosa, de interêsse da segurançanacional, desde que exista, igualmente, norma ou recomen-dação prévia determinando segrêdo, confidência ou reserva.Pena: De 1 (um) a 4 (quatro) anos de detenção.Art 16. Publicar ou divulgar notícias falsas ou fatos verdadei-ros truncados ou deturpados, que provoquem:I - perturbação da ordem pública ou alarma social;II - desconfiança no sistema bancário ou abalo de crédito deinstituição financeira ou de qualquer emprêsa, pessoa físicaou jurídica;III - prejuízo ao crédito da União, do Estado, do Distrito Fede-ral ou do Município;IV - sensível perturbação na cotação das mercadorias e dostítulos imobiliários no mercado financeiro.Pena: De 1 (um) a 6 (seis) meses de detenção, quando setratar do autor do escrito ou transmissão incriminada, e multade 5 (cinco) a 10 (dez) salários-mínimos da região.
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Parágrafo único. Nos casos dos incisos I e II, se o crime éculposo:Pena: Detenção, de 1 (um) a (três) meses, ou multa de 1 (um)a 10 (dez) salários-mínimos da região.Art 17. Ofender a moral pública e os bons costumes:Pena: Detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa de 1(um) a 20 (vinte) salários-mínimos da região.Parágrafo único. Divulgar, por qualquer meio e de forma a atingirseus objetivos, anúncio, aviso ou resultado de loteria não au-torizada, bem como de jôgo proibido, salvo quando a divulga-ção tiver por objetivo inequívoco comprovar ou criticar a faltade repressão por parte das autoridades responsáveis:Pena: Detenção de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa de 1(um) a 5 (cinco) salários-mínimos da região.Art 18. Obter ou procurar obter, para si ou para outrem, favor,dinheiro ou outra vantagem para não fazer ou impedir que sefaça publicação, transmissão ou distribuição de notícias:Pena: Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa de 2(dois) a 30 (trinta) salários-mínimos da região.§ 1º Se a notícia cuja publicação, transmissão ou distribuiçãose prometeu não fazer ou impedir que se faça, mesmo queexpressada por desenho, figura, programa ou outras formascapazes de produzir resultados, fôr desabonadora da honra eda conduta de alguém:Pena: Reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, ou multa de 5(cinco) a 50 (cinqüenta) salários-mínimos da região.§ 2º Fazer ou obter que se faça, mediante paga ou recompen-sa, publicação ou transmissão que importe em crime previstona lei:Pena: Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa de 2(dois) a 30 (trinta) salários-mínimos da região.Art 19. Incitar à prática de qualquer infração às leis penais:Pena: Um têrço da prevista na lei para a infração provocada,até o máximo de 1 (um) ano de detenção, ou multa de 1 (um)a 20 (vinte) salários-mínimos da região.
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§ 1º Se a incitação fôr seguida da prática do crime, as penasserão as mesmas cominadas a êste.§ 2º Fazer apologia de fato criminoso ou de autor de crime:Pena: Detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa de1 (um) a 20 (vinte) salários-mínimos da região.Art 20. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato defi-nido como crime:Pena: Detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa de1 (um) a 20 (vinte) salários-mínimos da região.§ 1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputa-ção, reproduz a publicação ou transmissão caluniosa.§ 2º Admite-se a prova da verdade, salvo se do crime imputa-do, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sen-tença irrecorrível.§ 3º Não se admite a prova da verdade contra o Presidente daRepública, o Presidente do Senado Federal, o Presidente daCâmara dos Deputados, os Ministros do Supremo TribunalFederal, Chefes de Estado ou de Govêrno estrangeiro, ou seusrepresentantes diplomáticos.Art 21. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à suareputação:Pena: Detenção, de 3 (três) a 18 (dezoito) meses, e multa de2 (dois) a 10 (dez) salários-mínimos da região.§ 1º A exceção da verdade sòmente se admite:a) se o crime é cometido contra funcionário público, em razãodas funções, ou contra órgão ou entidade que exerça funçõesde autoridade pública;b) se o ofendido permite a prova.§ 2º Constitui crime de difamação a publicação ou transmis-são, salvo se motivada por interêsse público, de fato delituoso,se o ofendido já tiver cumprido pena a que tenha sido conde-nado em virtude dêle.Art 22. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou decôro:Pena: Detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa de 1(um) a 10 (dez) salários-mínimos da região.
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Parágrafo único. O juiz pode deixar de aplicar a pena:a) quando o ofendido, de forma reprovável, provocou direta-mente a injúria;b) no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.Art 23. As penas cominadas dos arts. 20 a 22 aumentam-sede um têrço, se qualquer dos crimes é cometido:I - contra o Presidente da República, Presidente do Senado,Presidente da Câmara dos Deputados, Ministro do SupremoTribunal Federal, Chefe de Estado ou Govêrno estrangeiro, ouseus representantes diplomáticos;II - contra funcionário público, em razão de suas funções;III - contra órgão ou autoridade que exerça função de autori-dade pública.Art 24. São puníveis, nos têrmos dos arts. 20 a 22, a calúnia,difamação e injúria contra a memória dos mortos.Art 25. Se de referências, alusões ou frases se infere calúnia,difamação ou injúria, quem se julgar ofendido poderá notificarjudicialmente o responsável, para que, no prazo de 48 horas,as explique.§ 1º Se neste prazo o notificado não dá explicação, ou, a crité-rio do juiz, essas não são satisfatórias, responde pela ofensa.§ 2º A pedido do notificante, o juiz pode determinar que asexplicações dadas sejam publicadas ou transmitidas, nostêrmos dos arts. 29 e seguintes.Art 26. A retratação ou retificação espontânea, expressa ecabal, feita antes de iniciado o procedimento judicial, excluiráa ação penal contra o responsável pelos crimes previstos nosarts. 20 e 22.§ 1º A retratação do ofensor, em juízo, reconhecendo, por têrmolavrado nos autos, a falsidade da imputação, o eximirá da pena,desde que pague as custas do processo e promova, se assimo desejar o ofendido, dentro de 5 dias e por sua conta, a divul-gação da notícia da retratação.§ 2º Nos casos dêste artigo e do § 1º, a retratação deve serfeita ou divulgada:
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a) no mesmo jornal ou periódico, no mesmo local, com osmesmos caracteres e sob a mesma epígrafe; oub) na mesma estação emissora e no mesmo programa ouhorário.Art 27. Não constituem abusos no exercício da liberdade demanifestação do pensamento e de informação:I - a opinião desfavorável da crítica, literária, artística, científi-ca ou desportiva, salvo quando inequívoca a intenção de inju-riar ou difamar;Il - a reprodução, integral ou resumida, desde que não consti-tua matéria reservada ou sigilosa, de relatórios, pareceres,decisões ou atos proferidos pelos órgãos competentes dasCasas legislativas;III - noticiar ou comentar, resumida ou amplamente, projetos eatos do Poder Legislativo, bem como debates e críticas a seurespeito;IV - a reprodução integral, parcial ou abreviada, a notícia, crô-nica ou resenha dos debates escritos ou orais, perante juízese tribunais, bem como a divulgação de despachos e senten-ças e de tudo quanto fôr ordenado ou comunicado por autori-dades judiciais;V - a divulgação de articulados, quotas ou alegações produzi-das em juízo pelas partes ou seus procuradores;VI - a divulgação, a discussão e a crítica de atos e decisões doPoder Executivo e seus agentes, desde que não se trate dematéria de natureza reservada ou sigilosa;VII - a crítica às leis e a demonstração de sua inconveniênciaou inoportunidade;VIII - a crítica inspirada pelo interêsse público;IX - a exposição de doutrina ou idéia.Parágrafo único. Nos casos dos incisos II a VI dêste artigo, areprodução ou noticiário que contenha injúria, calúnia ou difa-mação deixará de constituir abuso no exercício da liberdadede informação, se forem fiéis e feitas de modo que não de-monstrem má-fé.
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Art 28. O escrito publicado em jornais ou periódicos sem indi-cação de seu autor considera-se redigido:I - pelo redator da seção em que é publicado, se o jornal ouperiódico mantém seções distintas sob a responsabilidade decertos e determinados redatores, cujos nomes nelas figurampermanentemente;II - pelo diretor ou redator-chefe, se publicado na parte editori-al;III - pelo gerente ou pelo proprietário das oficinas impressoras,se publicado na parte ineditorial.§ 1º Nas emissões de radiodifusão, se não há indicação doautor das expressões faladas ou das imagens transmitidas, étido como seu autor:a) o editor ou produtor do programa, se declarado na trans-missão;b) o diretor ou redator registrado de acôrdo com o art. 9º, incisoIII, letra b , no caso de programas de notícias, reportagens,comentários, debates ou entrevistas;c) o diretor ou proprietário da estação emissora, em relaçãoaos demais programas.§ 2º A notícia transmitida por agência noticiosa presume-seenviada pelo gerente da agência de onde se origine, ou pelodiretor da emprêsa.
CAPÍTULO IVDO DIREITO DE RESPOSTA
Art 29. Tôda pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidadepública, que fôr acusado ou ofendido em publicação feita emjornal ou periódico, ou em transmissão de radiodifusão, ou acujo respeito os meios de informação e divulgação veicularemfato inverídico ou, errôneo, tem direito a resposta ou retifica-ção.§ 1º A resposta ou retificação pode ser formulada:a) pela própria pessoa ou seu representante legal;b) pelo cônjuge, ascendente, descendente e irmão, se o atin-
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gido está ausente do País, se a divulgação é contra pessoamorta, ou se a pessoa visada faleceu depois da ofensa recebi-da, mas antes de decorrido o prazo de decadência do direitode resposta.§ 2º A resposta, ou retificação, deve ser formulada por escrito,dentro do prazo de 60 (sessenta) dias da data da publicaçãoou transmissão, sob pena de decadência do direito.§ 3º Extingue-se ainda o direito de resposta com o exercíciode ação penal ou civil contra o jornal, periódico, emissora ouagência de notícias, com fundamento na publicação ou trans-missão incriminada.Art 30. O direito de resposta consiste:I - na publicação da resposta ou retificação do ofendido, nomesmo jornal ou periódico, no mesmo lugar, em caracterestipográficos idênticos ao escrito que lhe deu causa, e em edi-ção e dia normais;II - na transmissão da resposta ou retificação escrita do ofen-dido, na mesma emissora e no mesmo programa e horário emque foi divulgada a transmissão que lhe deu causa; ouIII - a transmissão da resposta ou da retificação do ofendido,pela agência de notícias, a todos os meios de informação edivulgação a que foi transmitida a notícia que lhe deu causa.§ 1º A resposta ou pedido de retificação deve:a) no caso de jornal ou periódico, ter dimensão igual à do es-crito incriminado, garantido o mínimo de 100 (cem) linhas;b) no caso de transmissão por radiodifusão, ocupar tempo igualao da transmissão incriminada, podendo durar no mínimo umminuto, ainda que aquela tenha sido menor;c) no caso de agência de notícias, ter dimensão igual à danotícia incriminada.§ 2º Os limites referidos no parágrafo anterior prevalecerãopara cada resposta ou retificação em separado, não podendoser acumulados.§ 3º No caso de jornal, periódico ou agência de notícias, aresposta ou retificação será publicada ou transmitida gratuita-
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mente, cabendo o custo da resposta ao ofensor ou ao ofendi-do, conforme decisão do Poder Judiciário, se o responsávelnão é o diretor ou redator-chefe do jornal, nem com êle tenhacontrato de trabalho ou se não é gerente ou proprietário daagência de notícias nem com ela, igualmente, mantenha rela-ção de emprêgo.§ 4º Nas transmissões por radiodifusão, se o responsável pelatransmissão incriminada não é o diretor ou proprietário daemprêsa permissionária, nem com esta tem contrato de tra-balho, de publicidade ou de produção de programa, o custo daresposta cabe ao ofensor ou ao ofendido, conforme decisãodo Poder Judiciário.§ 5º Nos casos previstos nos §§ 3º e 4º, as emprêsas têmação executiva para haver o custo de publicação ou transmis-são da resposta daquele que é julgado responsável.§ 6º Ainda que a responsabilidade de ofensa seja de terceiros,a emprêsa perde o direito de reembôlso, referido no § 5º, senão transmite a resposta nos prazos fixados no art. 31.§ 7º Os limites máximos da resposta ou retificação, referidosno § 1º, podem ser ultrapassados, até o dôbro, desde que oofendido pague o preço da parte excedente às tarifas normaiscobradas pela emprêsa que explora o meio de informação oudivulgação.§ 8º A publicação ou transmissão da resposta ou retificação,juntamente com comentários em caráter de réplica, asseguraao ofendido direito a nova resposta.Art 31. O pedido de resposta ou retificação deve ser atendido:I - dentro de 24 horas, pelo jornal, emissora de radiodifusão ouagência de notícias;Il - no primeiro número impresso, no caso de periódico quenão seja diário.§ 1º No caso de emissora de radiodifusão, se o programa emque foi feita a transmissão incriminada não é diário, a emisso-ra respeitará a exigência de publicação no mesmo programa,se constar do pedido resposta de retificação, e fará a trans-
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missão no primeiro programa após o recebimento do pedido.§ 2º Se, de acôrdo com o art. 30, §§ 3º e 4º, a emprêsa é aresponsável pelo custo da resposta, pode condicionar a publi-cação ou transmissão à prova de que o ofendido a requereuem juízo, contando-se desta prova os prazos referidos no incisoI e no § 1º.Art 32. Se o pedido de resposta ou retificação não fôr atendi-do nos prazos referidos no art. 31, o ofendido poderá reclamarjudicialmente a sua publicação ou transmissão.§ 1º Para êsse fim, apresentará um exemplar do escritoincriminado, se fôr o caso, ou descreverá a transmissãoincriminada, bem como o texto da resposta ou retificação, emduas vias dactiloqrafadas, requerendo ao Juiz criminal queordene ao responsável pelo meio de informação e divulgaçãoa publicação ou transmissão, nos prazos do art. 31.§ 2º Tratando-se de emissora de radiodifusão, o ofendido po-derá, outrossim, reclamar judicialmente o direito de fazer aretificação ou dar a resposta pessoalmente, dentro de 24 ho-ras, contadas da intimação judicial.§ 3º Recebido o pedido de resposta ou retificação, o juiz, den-tro de 24 horas, mandará citar o responsável pela emprêsaque explora meio de informação e divulgação para que, emigual prazo, diga das razões por que não o publicou ou trans-mitiu.§ 4º Nas 24 horas seguintes, o juiz proferirá a sua decisão,tenha o responsável atendido ou não à intimação.§ 5º A ordem judicial de publicação ou transmissão será feitasob pena de multa, que poderá ser aumentada pelo juiz até odôbro:a) de Cr$10.000 (dez mil cruzeiros) por dia de atraso na publi-cação, nos casos de jornal e agências de notícias, e no deemissora de radiodifusão, se o programa fôr diário;b) equivalente a Cr$10.000 (dez mil cruzeiros) por dia de inter-valo entre as edições ou programas, no caso de impresso ouprograma não diário.
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§ 6º Tratando-se de emissora de radiodifusão, a sentença dojuiz decidirá do responsável pelo custo da transmissão e fixa-rá o preço desta.§ 7º Da decisão proferida pelo juiz caberá apelação sem efeitosuspensivo.§ 8º A recusa ou demora de publicação ou divulgação de res-posta, quando couber, constitui crime autônomo e sujeita oresponsável ao dôbro da pena cominada à infração.§ 9º A resposta cuja divulgação não houver obedecido ao dis-posto nesta Lei é considerada inexistente.Art 33. Reformada a decisão do juiz em instância superior, aemprêsa que tiver cumprido a ordem judicial de publicação outransmissão da resposta ou retificação terá ação executiva parahaver do autor da resposta o custo de sua publicação, de acôrdocom a tabela de preços para os seus serviços de divulgação.Art 34. Será negada a publicação ou transmissão da respostaou retificação:I - quando não tiver relação com os fatos referidos na publica-ção ou transmissão a que pretende responder;II - quando contiver expressões caluniosas, difamatórias ouinjuriosas sôbre o jornal, periódico, emissora ou agência denotícias em que houve a publicação ou transmissão que lhedeu motivos, assim como sôbre os seus responsáveis, ou ter-ceiros;III - quando versar sôbre atos ou publicações oficiais, excetose a retificação partir de autoridade pública;IV - quando se referir a terceiros, em condições que criempara êstes igual direito de resposta;V - quando tiver por objeto crítica literária, teatral, artística,científica ou desportiva, salvo se esta contiver calúnia, difa-mação ou injúria.Art 35. A publicação ou transmissão da resposta ou pedido deretificação não prejudicará as ações do ofendido para promo-ver a responsabilidade penal e civil.Art 36. A resposta do acusado ou ofendido será também trans-
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crita ou divulgada em pelo menos um dos jornais, periódicosou veículos de radiodifusão que houverem divulgado a publi-cação motivadora, preferentemente o de maior circulação ouexpressão. Nesta hipótese, a despesa correrá por conta doórgão responsável pela publicação original, cobrável por viaexecutiva.
CAPÍTULO VDA RESPONSABILIDADE PENAL
SEÇÃO IDos Responsáveis
Art 37. São responsáveis pelos crimes cometidos através daimprensa e das emissoras de radiodifusão, sucessivamente:I - o autor do escrito ou transmissão incriminada (art. 28 e §1º), sendo pessoa idônea e residente no País, salvo tratando-se de reprodução feita sem o seu consentimento, caso emque responderá como seu autor quem a tiver reproduzido;II - quando o autor estiver ausente do País, ou não tiver idonei-dade para responder pelo crime:a) o diretor ou redator-chefe do jornal ou periódico; oub) o diretor ou redator registrado de acôrdo com o art. 9º, incisoIII, letra b , no caso de programa de notícias, reportagens,comentários, debates ou entrevistas, transmitidos por emis-soras de radiodifusão;III - se o responsável, nos têrmos do inciso anterior, estiverausente do País ou não tiver idoneidade para responder pelocrime:a) o gerente ou proprietário das oficinas impressoras no casode jornais ou periódicos; oub) o diretor ou o proprietário da estação emissora de serviçosde radiodifusão.IV - os distribuidores ou vendedores da publicação ilícita ouclandestina, ou da qual não constar a indicação do autor, edi-tor, ou oficina onde tiver sido feita a impressão.§ 1º Se o escrito, a transmissão ou a notícia forem divulgados
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sem a indicação do seu autor, aquêle que, nos têrmos do art.28, §§ 1º e 2º, fôr considerado como tal, poderá nomeá-lo,juntando o respectivo original e a declaração do autor assu-mindo a responsabilidade.§ 2º O disposto neste artigo se aplica:a) nas emprêsas de radiodifusão;b) nas agências noticiosas.§ 3º A indicação do autor, nos têrmos do § 1º, não prejudica aresponsabilidade do redator de seção, diretor ou redator-che-fe, ou do editor, produtor ou diretor.§ 4º Sempre que o responsável gozar de imunidade, a parteofendida poderá promover a ação contra o responsável su-cessivo, na ordem dos incisos dêste artigo.§ 5º Nos casos de responsabilidade por culpa previstos no art.37, se a pena máxima privativa da liberdade fôr de 1 (um) ano,o juiz poderá aplicar sòmente a pena pecuniária.Art 38. São responsáveis pelos crimes cometidos no exercí-cio da liberdade de manifestação de pensamento e de infor-mação através da agência noticiosa, sucessivamente:I - o autor da notícia transmitida (art. 28, § 2º), sendo pessoaidônea e residente no País;II - o gerente ou proprietário de agência noticiosa, quando oautor estiver ausente do País ou não tiver idoneidade pararesponder pelo crime.§ 1º O gerente ou proprietário da agência noticiosa poderánomear o autor da transmissão incriminada, juntando a decla-ração dêste assumindo a responsabilidade pela mesma. Nes-te caso, a ação prosseguirá contra o autor nomeado, salvo seestiver ausente do País ou fôr declarado inidôneo para res-ponder pelo crime.§ 2º Aplica-se a êste artigo o disposto no § 4º do art. 37.Art 39. Caberá ao ofendido, caso o deseje, mediante apre-sentação de documentos ou testemunhas merecedoras de fé,fazer prova da falta de idoneidade, quer moral, quer financei-ra, dos responsáveis pelos crimes previstos nesta lei, na or-
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dem e nos casos a que se referem os incisos e parágrafos dosartigos anteriores.§ 1º Esta prova, que pode ser conduzida perante qual-quer juiz criminal, será feita em processo sumariíssimo,com a intimação dos responsáveis, cuja idoneidade sepretender negar, para em uma audiência, ou, no máximo,em três, serem os fatos argüidos, aprovados e contesta-dos.§ 2º O juiz decidirá na audiência em que a prova houver sidoconcluída e de sua decisão cabe sòmente recurso sem efeitosuspensivo.§ 3º Declarado inidôneo o primeiro responsável, pode o ofen-dido exercer a ação penal contra o que lhe suceder nessaresponsabilidade, na ordem dos incisos dos artigos anterio-res, caso a respeito dêste nôvo responsável não se haja ale-gado ou provido falta de idoneidade.§ 4º Aquêle que, nos têrmos do parágrafo anterior, suceder aoresponsável, ficará sujeito a um têrço das penas cominadaspara o crime. Ficará, entretanto, isento de pena se provar quenão concorreu para o crime com negligência, imperícia ouimprudência.
SEÇÃO IIDa Ação Penal
Art 40. Ação penal será promovida:I - nos crimes de que tratam os arts. 20 a 22:a) pelo Ministério Público, mediante requisição do Ministro daJustiça, no caso do nº I, do art. 20, bem como nos casos emque o ofendido fôr Ministro de Estado;b) pelo Ministério Público, mediante representação do ofendi-do, nos casos dos ns. II e III, do art. 23;c) por queixa do ofendido, ou de quem tenha qualidade pararepresentá-lo;d) pelo cônjuge, ascendente ou irmão, indistintamente, quan-do se tratar de crime contra a memória de alguém ou contra
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pessoa que tenha falecido antes da queixa.II - nos demais crimes por denúncia do Ministério Público.§ 1º Nos casos do inciso I, alínea c , se o Ministério Públiconão apresentar denúncia dentro de 10 dias, o ofendido poderáapresentar queixas.§ 2º Sob pena de nulidade, é obrigatória a intervenção do Mi-nistério Público, em todos os processos por abuso de liberda-de de imprensa, ainda que privados.§ 3º A queixa pode ser aditada pelo Ministério Público, no pra-zo de 10 dias.Art 41. A prescrição da ação penal, nos crimes definidos nes-ta Lei, ocorrerá 2 anos após a data da publicação ou transmis-são incriminada, e a condenação, no dôbro do prazo em quefôr fixada.§ 1º O direito de queixa ou de representação prescreverá, senão fôr exercido dentro de 3 meses da data da publicação outransmissão.§ 2º O prazo referido no parágrafo anterior será interrompido:a) pelo requerimento judicial de publicação de resposta oupedido de retificação, e até que êste seja indeferido ou efeti-vamente atendido;b) pelo pedido judicial de declaração de inidoneidade do res-ponsável, até o seu julgamento.§ 3º No caso de periódicos que não indiquem data, o pra-zo referido neste artigo começará a correr do último dia domês ou outro período a que corresponder a publicação.
SEÇÃO IIIDo Processo Penal
Art 42. Lugar do delito, para a determinação da competênciaterritorial, será aquêle em que fôr impresso o jornal ou periódi-co, e o do local do estúdio do permissionário ou concessioná-rio do serviço de radiodifusão, bem como o da administraçãoprincipal da agência noticiosa.Parágrafo único. Aplica-se aos crimes de imprensa o dispostono art. 85, do Código de Processo Penal.
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Art 43. A denúncia ou queixa será instruída com exemplar dojornal ou periódico e obedecerá ao disposto no art. 41 do Có-digo de Processo Penal, contendo a indicação das provas queo autor pretendia produzir. Se a infração penal tiver sido prati-cada através de radiodifusão, a denúncia ou queixa será ins-truída com a notificação de que trata o art. 57.§ 1º Ao despachar a denúncia ou queixa, o juiz determinará acitação do réu para que apresente defesa prévia no prazo decinco dias.§ 2º Não sendo o réu encontrado, será citado por edital com oprazo de quinze dias. Decorrido êsse prazo e o qüinqüídio paraa defesa prévia, sem que o réu haja contestado a denúncia ouqueixa, o juiz o declarará revel e lhe nomeará defensor dativo,a quem se dará vista dos autos para oferecer defesa prévia.§ 3º Na defesa prévia, devem ser argüidas as preliminarescabíveis, bem como a exceção da verdade, apresentando-se,igualmente, a indicação das provas a serem produzidas.§ 4º Nos processos por ação penal privada será ouvido a se-guir o Ministério Público.Art 44. O juiz pode receber ou rejeitar a denúncia ou queixa,após a defesa prévia, e, nos crimes de ação penal privada, emseguida à promoção do Ministério Público.§ 1º A denúncia ou queixa será rejeitada quando não houverjusta causa para a ação penal, bem como nos casos previstosno art. 43 do Código de Processo Penal.§ 2º Contra a decisão que rejeitar a denúncia ou queixa caberecurso de apelação e, contra a que recebê-la, recurso emsentido estrito sem suspensão do curso do processo.Art 45. Recebida a denúncia, o juiz designará data para a apre-sentação do réu em juízo e marcará, desde logo, dia e horapara a audiência de instrução e julgamento, observados osseguintes preceitos:I - se o réu não comparecer para a qualificação, o juiz considerá-lo-á revel e lhe nomeará defenfor dativo. Se o réu comparecere não tiver advogado constituído nos autos, o juiz poderá no-
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mear-lhe defensor. Em um e outro caso, bastará a presençado advogado ou defensor do réu, nos autos da instrução;II - na audiência serão ouvidas as testemunhas de acusaçãoe, em seguida, as de defesa, marcando-se novas audiências,se necessário, em prazo nunca inferior a oito dias;III - poderá o réu requerer ao juiz que seja interrogado, deven-do, nesse caso, ser êle ouvido antes de inquiridas as testemu-nhas;IV - encerrada a instrução, autor e réu terão, sucessivamente,o prazo de três dias para oferecerem alegações escritas.Parágrafo único. Se o réu não tiver apresentado defesa pré-via, apesar de citado, o juiz o considerará revel e lhe dará de-fensor dativo, a quem se abrirá o prazo de cinco dias paracontestar a denúncia ou queixa.Art 46. Demonstrada a necessidade de certidões de reparti-ções públicas ou autárquicas, e a de quaisquer exames, o juizrequisitará aquelas e determinará êstes, mediante fixação deprazos para o cumprimento das respectivas diligências.§ 1º Se dentro do prazo não fôr atendida, sem motivo justo, arequisição do juiz, imporá êste a multa de Cr$10.000 (dez milcruzeiros) a Cr$100.000 (cem mil cruzeiros) ao funcionárioresponsável e suspenderá a marcha do processo até que emnôvo prazo seja fornecida a certidão ou se efetue a diligência.Aos responsáveis pela não-realização desta última, será apli-cada a multa de Cr$10.000 (dez mil cruzeiros) a Cr$100.000(cem mil cruzeiros). A aplicação das multas acima referidasnão exclui a responsabilidade por crime funcional.§ 2º Vetado.§ 3º A requisição de certidões e determinação de exames oudiligências, serão feitas no despacho de recebimento da de-núncia ou queixa.Art 47. Caberá apelação, com efeito suspensivo, contra a sen-tença que condenar ou absolver o réu.Art 48. Em tudo o que não é regulado por norma especialdesta Lei, o Código Penal e o Código de Processo Penal se
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aplicam à responsabilidade penal, à ação penal e ao processoe julgamento dos crimes de que trata esta Lei.
CAPÍTULO VIDA RESPONSABILIDADE CIVIL
Art 49. Aquêle que no exercício da liberdade de manifestaçãode pensamento e de informação, com dolo ou culpa, viola di-reito, ou causa prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar:I - os danos morais e materiais, nos casos previstos no art. 16,números II e IV, no art. 18 e de calúnia, difamação ou injúrias;II - os danos materiais, nos demais casos.§ 1º Nos casos de calúnia e difamação, a prova da verdade,desde que admissível na forma dos arts. 20 e 21, excepcionadano prazo da contestação, excluirá a responsabilidade civil, salvose o fato imputado, embora verdadeiro, diz respeito à vida pri-vada do ofendido e a divulgação não foi motivada em razão deinterêsse público.§ 2º Se a violação de direito ou o prejuízo ocorre mediantepublicação ou transmissão em jornal, periódico, ou serviço deradiodifusão, ou de agência noticiosa, responde pela repara-ção do dano a pessoa natural ou jurídica que explora o meiode informação ou divulgação (art. 50).§ 3º Se a violação ocorre mediante publicação de impressonão periódico, responde pela reparação do dano:a) o autor do escrito, se nêle indicado; oub) a pessoa natural ou jurídica que explora a oficina impresso-ra, se do impresso não consta o nome do autor.Art 50. A emprêsa que explora o meio de informação ou divul-gação terá ação regressiva para haver do autor do escrito,transmissão ou notícia, ou do responsável por sua divulgação,a indenização que pagar em virtude da responsabilidade pre-vista nesta Lei.Art 51. A responsabilidade civil do jornalista profissional queconcorre para o dano por negligência, imperícia ou imprudên-cia, é limitada, em cada escrito, transmissão ou notícia:
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I - a 2 salários-mínimos da região, no caso de publicação outransmissão de notícia falsa, ou divulgação de fato verdadeirotruncado ou deturpado (art. 16, ns. II e IV).II - a cinco salários-mínimos da região, nos casos de publica-ção ou transmissão que ofenda a dignidade ou decôro de al-guém;III - a 10 salários-mínimos da região, nos casos de imputaçãode fato ofensivo à reputação de alguém;IV - a 20 salários-mínimos da região, nos casos de falsa impu-tação de crime a alguém, ou de imputação de crime verdadei-ro, nos casos em que a lei não admite a exceção da verdade(art. 49, § 1º).Parágrafo único. Consideram-se jornalistas profissionais, paraos efeitos dêste artigo:a) os jornalistas que mantêm relações de emprêgo com aemprêsa que explora o meio de informação ou divulgação ouque produz programas de radiodifusão;b) os que, embora sem relação de emprêgo, produzem regu-larmente artigos ou programas publicados ou transmitidos;c) o redator, o diretor ou redator-chefe do jornal ou periódico, aeditor ou produtor de programa e o diretor referido na letra b ,nº III, do artigo 9º, do permissionário ou concessionário deserviço de radiodifusão; e o gerente e o diretor da agêncianoticiosa.Art 52. A responsabilidade civil da emprêsa que explora o meiode informação ou divulgação é limitada a dez vêzes as impor-tâncias referidas no artigo anterior, se resulta de ato culposode algumas das pessoas referidas no art. 50.Art 53. No arbitramento da indenização em reparação do danomoral, o juiz terá em conta, notadamente:I - a intensidade do sofrimento do ofendido, a gravidade, anatureza e repercussão da ofensa e a posição social e políticado ofendido;II - A intensidade do dolo ou o grau da culpa do responsável,sua situação econômica e sua condenação anterior em ação
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criminal ou cível fundada em abuso no exercício da liberdadede manifestação do pensamento e informação;III - a retratação espontânea e cabal, antes da propositura daação penal ou cível, a publicação ou transmissão da respostaou pedido de retificação, nos prazos previstos na lei e inde-pendentemente de intervenção judicial, e a extensão da repa-ração por êsse meio obtida pelo ofendido.Art 54. A indenização do dano material tem por finalidade res-tituir o prejudicado ao estado anterior.Art 55. A parte vencida responde pelos honorários do advoga-do da parte vencedora, desde logo fixados na própria senten-ça, bem como pelas custas judiciais.Art 56. A ação para haver indenização por dano moral poderáser exercida separadamente da ação para haver reparaçãodo dano material, e sob pena de decadência deverá ser pro-posta dentro de 3 meses da data da publicação ou transmis-são que lhe der causa.Parágrafo único. O exercício da ação cível independe da açãopenal. Intentada esta, se a defesa se baseia na exceção daverdade e se trata de hipótese em que ela é admitida comoexcludente da responsabilidade civil ou em outro fundamentocuja decisão no juízo criminal faz causa julgada no cível, o juizdeterminará a instrução do processo cível até onde possa pros-seguir, independentemente da decisão na ação penal.Art 57. A petição inicial da ação para haver reparação de danomoral deverá ser instruída com o exemplar do jornal ou perió-dico que tiver publicado o escrito ou notícia, ou com a notifica-ção feita, nos têrmos do art. 53, § 3º, à emprêsa de radiodifu-são, e deverá desde logo indicar as provas e as diligênciasque o autor julgar necessárias, arrolar testemunhas e ser acom-panhada da prova documental em que se fundar o pedido.§ 1º A petição inicial será apresentada em duas vias. Com aprimeira e os documentos que a acompanharem será forma-do processo, e a citação inicial será feita mediante a entregada segunda via.
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§ 2º O juiz despachará a petição inicial no prazo de 24 horas,e o oficial terá igual prazo para certificar o cumprimento domandato de citação.§ 3º Na contestação, apresentada no prazo de 5 (cinco) dias,o réu exercerá a exceção da verdade, se fôr o caso, indicaráas provas e diligências que julgar necessárias e arrolará astestemunhas. A contestação será acompanhada da prova do-cumental que pretende produzir.§ 4º Contestada a ação, o processo terá o rito previsto no art.685 do Código de Processo Civil.§ 5º Na ação para haver reparação de dano moral sòmenteserá admitada reconvenção de igual ação.§ 6º Da sentença do juiz caberá agravo de petição, que sòmenteserá admitido mediante comprovação do depósito, pelo agra-vante, de quantia igual à importância total da condenação. Coma petição de agravo, o agravante pedirá a expedição da guiapara o depósito, sendo o recurso julgado deserto se no prazodo agravo não fôr comprovado o depósito.
CAPÍTULO VIIDISPOSIÇÕES GERAIS
Art 58. As emprêsas permissionárias ou concessionárias deserviços de radiodifusão deverão conservar em seus arqui-vos, pelo prazo de 60 dias, e devidamente autenticados, ostextos dos seus programas, inclusive noticiosos.§ 1º Os programas de debates, entrevistas ou outros que nãocorrespondam a textos prèviamente escritos, deverão ser gra-vados e conservados pelo prazo, a contar da data da trans-missão, de 20 dias, no caso de permissionária ou concessio-nária de emissora de até 1 kw, e de 30 dias, nos demais ca-sos.§ 2º O disposto no parágrafo anterior aplica-se às transmis-sões compulsòriamente estatuídas em lei.§ 3º Dentro dos prazos referidos neste artigo, o Ministério Pú-blico ou qualquer interessado poderá notificar a permissionária
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ou concessionária, judicial ou extrajudicialmente, para nãodestruir os textos ou gravações do programa que especificar.Neste caso, sua destruição dependerá de prévia autorizaçãodo juiz da ação que vier a ser proposta, ou, caso esta não sejaproposta nos prazos de decadência estabelecidos na lei, pelojuiz criminal a que a permissionária ou concessionária pedirautorização.Art 59. As permissionárias e concessionárias de serviço deradiodifusão continuam sujeitas às penalidades previstas nalegislação especial sôbre a matéria.Art 60. Têm livre entrada no Brasil os jornais, periódicos, li-vros e outros quaisquer impressos que se publicarem no es-trangeiro.§ 1º O disposto neste artigo não se aplica aos impressos quecontiverem algumas das infrações previstas nos arts. 15 e 16,os quais poderão ter a sua entrada proibida no País, por perí-odo de até dois anos, mediante portaria do Juiz de Direito oudo Ministro da Justiça e Negócios Interiores, aplicando-se nestecaso os parágrafos do art. 63.§ 2º Aquêle que vender, expuser à venda ou distribuir jornaisperiódicos, livros ou impressos cuja entrada no País tenha sidoproibida na forma do parágrafo anterior, além da perda dosmesmos, incorrerá em multa de até Cr$10.000 por exemplarapreendido, a qual será imposta pelo juiz competente, à vistado auto de apreensão. Antes da decisão, ouvirá o juiz o acu-sado, no prazo de 48 horas.§ 3º Estão excluídas do disposto nos §§ 1º e 2º dêste artigo aspublicações científicas, técnicas, culturais e artísticas.Art 61. Estão sujeitos à apreensão os impressos que:I - contiverem propaganda de guerra ou de preconceitos deraça ou de classe, bem como os que promoverem incitamentoà subversão da ordem política e social.II -ofenderem a moral pública e os bons costumes.§ 1º A apreensão prevista neste artigo será feita por ordemjudicial, a pedido do Ministério Público, que o fundamentará e
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o instruirá com a representação da autoridade, se houver, e oexemplar do impresso incriminado.§ 2º O juiz ouvirá, no prazo máximo de 24 (vinte e quatro)horas, o responsável pela publicação ou distribuição do im-presso, remetendo-lhe cópia do pedido ou representação.§ 3º Findo êsse prazo, com a resposta ou sem ela, serão osautos conclusos e, dentro de 24 (vinte e quatro) horas, o juizdará a sua decisão.§ 4º No caso de deferimento de pedido, será expedido ummandado e remetido à autoridade policial competente, parasua execução.§ 5º Da decisão caberá recurso, sem efeito suspensivo, parao tribunal competente.§ 6º Nos casos de impressos que ofendam a moral e os bonscostumes, poderão os Juízes de Menores, de ofício ou medi-ante provocação do Ministério Público, determinar a sua apre-ensão imediata para impedir sua circulação.Art 62. No caso de reincidência da infração prevista no art. 61,inciso II, praticada pelo mesmo jornal ou periódico, pela mes-ma emprêsa, ou por periódicos ou emprêsas diferentes, masque tenham o mesmo diretor responsável, o juiz, além da apre-ensão regulada no art. 61, poderá determinar a suspensão daimpressão, circulação ou distribuição do jornal ou periódico.§ 1º A ordem de suspensão será submetida ao juiz competen-te, dentro de 48 (quarenta e oito) horas, com a justificação damedida.§ 2º Não sendo cumprida pelo responsável a suspensão de-terminada pelo juiz, êste adotará as medidas necessárias àobservância da ordem, inclusive mediante a apreensão su-cessiva das suas edições posteriores, consideradas, para efei-tos legais, como clandestinas.§ 3º Se houver recurso e êste fôr provido, será levantada aordem de suspensão e sustada a aplicação das medidasadotadas para assegurá-la.§ 4º Transitada em julgado a sentença, serão observadas as
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seguintes normas:a) reconhecendo a sentença final a ocorrência dos fatos quejustificam a suspensão, serão extintos os registros da marcacomercial e de denominação da emprêsa editôra e do jornalou periódico em questão, bem como os registros a que serefere o art. 9º desta Lei, mediante mandado de cancelamentoexpedido pelo juiz da execução;b) não reconhecendo a sentença final os fatos que justificam asuspensão, a medida será levantada, ficando a União ou oEstado obrigado à reparação das perdas e danos, apuradosem ação própria.Art 63. Nos casos dos incisos I e II do art. 61, quando a situa-ção reclamar urgência, a apreensão poderá ser determinada,independentemente de mandado judicial, pelo Ministro da Jus-tiça e Negócios Interiores.§ 1º No caso dêste artigo, dentro do prazo de cinco dias, con-tados da apreensão, o Ministro da Justiça submeterá o seuato à aprovação do Tribunal Federal de Recursos, justificandoa necessidade da medida e a urgência em ser tomada, e ins-truindo a sua representação com um exemplar do impressoque lhe deu causa.§ 2º O Ministro relator ouvirá a responsável pelo impresso noprazo de cinco dias, e a seguir submeterá o processo a julga-mento na primeira sessão do Tribunal Federal de Recursos.§ 3º Se o Tribunal Federal de Recursos julgar que a apreen-são foi ilegal, ou que não ficaram provadas a sua necessidadee urgência, ordenará a devolução dos impressos e, sendopossível, fixará as perdas e danos que a União deverá pagarem conseqüência.§ 4º Se no prazo previsto no § 1º o Ministro da Justiça nãosubmeter o seu ato ao Tribunal Federal de Recursos, o inte-ressado poderá pedir ao Tribunal Federal de Recursos a libe-ração do impresso e a indenização por perdas e danos. Ouvi-do o Ministro da Justiça em cinco dias, o processo será julga-do na primeira sessão do Tribunal Federal de Recursos.
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Art 64. Poderá a autoridade judicial competente, dependendoda natureza do exemplar apreendido, determinar a sua des-truição.Art 65. As emprêsas estrangeiras autorizadas a funcionar noPaís não poderão distribuir notícias nacionais em qualquer partedo território brasileiro, sob pena de cancelamento da autoriza-ção por ato do Ministro da Justiça e Negócios Interiores.Art 66. O jornalista profissional não poderá ser detido nemrecolhido prêso antes de sentença transitada em julgado; emqualquer caso, sòmente em sala decente, arejada e onde en-contre tôdas as comodidades.Parágrafo único. A pena de prisão de jornalistas será cumpri-da em estabelecimento distinto dos qus são destinados a réusde crime comum e sem sujeição a qualquer regime penitenci-ário ou carcerário.Art 67. A responsabilidade penal e civil não exclui aestabelecida em outras leis, assim como a de natureza admi-nistrativa, a que estão sujeitas as emprêsas de radiodifusão,segundo a legislação própria.Art 68. A sentença condenatória nos processos de injúria, ca-lúnia ou difamação será gratuitamente publicada, se a parte orequerer, na mesma seção do jornal ou periódico em que apa-receu o escrito de que se originou a ação penal, ou, em setratando de crime praticado por meio do rádio ou televisão,transmitida, também gratuitamente, no mesmo programa ehorário em que se deu a transmissão impugnada.§ 1º Se o jornal ou periódico ou a estação transmissora nãocumprir a determinação judicial, incorrerá na pena de multade um a dois salários-mínimos da região, por edição ou pro-grama em que se verificar a omissão.§ 2º No caso de absolvição, o querelado terá o direito de fazer,à custa do querelante, a divulgação da sentença, em jornal ouestação difusora que escolher.Art 69. Na interpretação e aplicação desta Lei, o juiz, na fixa-ção do dolo e da culpa, levará em conta as circunstâncias es-
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peciais em que foram obtidas as informações dadas comoinfringentes da norma penal.Art 70. Os jornais e outros periódicos são obrigados a enviar,no prazo de cinco dias, exemplares de suas edições à Biblio-teca Nacional e à oficial dos Estados, Territórios e Distrito Fe-deral. As bibliotecas ficam obrigadas a conservar os exempla-res que receberem.Art 71. Nenhum jornalista ou radialista, ou, em geral, as pes-soas referidas no art. 25, poderão ser compelidos ou coagidosa indicar o nome de seu informante ou a fonte de suas infor-mações, não podendo seu silêncio, a respeito, sofrer qualquersanção, direta ou indireta, nem qualquer espécie de penalida-de.Art 72. A execução de pena não superior a três anos de de-tenção pode ser suspensa por dois a quatro anos, desde que:I - o sentenciado não haja sofrido, no Brasil, condenação poroutro crime de imprensa;Il - os antecedentes e a personalidade do sentenciado, osmotivos e circunstâncias do crime autorizem a presunção deque não tornará a delinqüir.Art 73. Verifica-se a reincidência quando o agente comete nôvocrime de abuso no exercício da liberdade de manifestação dopensamento e informação, depois de transitar em julgado asentença que, no País, o tenha condenado por crime da mes-ma natureza.Art 74. Vetado.Art 75. A publicação da sentença cível ou criminal, transitadaem julgado, na íntegra, será decretada pela autoridadecompetente, a pedido da parte prejudicada, em jornal, periódicoou através de órgão de radiodifusão de real circulação, ouexpressão, às expensas da parte vencida ou condenada.Parágrafo único. Aplica-se a disposição contida neste artigoem relação aos têrmos do ato judicial que tenha homologadoa retratação do ofensor, sem prejuízo do disposto no § 2º, le-tras a e b , do art. 26.
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Art 76. Em qualquer hipótese de procedimento judicial instau-rado por violação dos preceitos desta Lei, a responsabilidadedo pagamento das custas processuais e honorários de advo-gado será da emprêsa.Art 77. Esta Lei entrará em vigor a 14 de março de 1967,revogada as disposições em contrário.Brasília, em 9 de fevereiro de 1967; 146º da Independência e79º da República.
H. CASTELLO BRANCOCarlos Medeiros Silva
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ÍND
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PARTE III
ÍNDICE DEFIGURAS
Figura 1 ...................................................................... 39
Figura 2 ...................................................................... 45
Figura 3 ...................................................................... 45
Figura 4 ...................................................................... 47
Figura 5 ...................................................................... 49
Figura 6 ...................................................................... 82
Figura 7 ...................................................................... 95
Figura 8 .................................................................... 115
Figura 9 .................................................................... 134
Figura 10 .................................................................. 136
Figura 11 .................................................................. 146
Figura 12 .................................................................. 147
Figura 13 .................................................................. 148
Figura 14 .................................................................. 149
ÍNDICE DE FIGURAS290
Figura 15 .................................................................. 150
Figura 16 .................................................................. 151
Figura 17 .................................................................. 152
Figura 18 .................................................................. 153