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O ambiente interno em narrativa machadiana: os detalhes em Dom Casmurro Áurea Rapôso Patrícia Soares Lins Rossana Gaia Centro Federal de Educação Tecnológica de Alagoas (CEFET-AL) Projeto Versiprosa 2008. O bruxo do Cosme Velho: um mestre na periferia do capitalismo. 22-24/09/08

O designer Machado de Assis.2008

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Reflexão sobre o ambiente interno da obra Dom Casmurro de Machado de Assis.

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O ambiente interno em narrativa machadiana:os detalhes em Dom Casmurro

Áurea RapôsoPatrícia Soares Lins

Rossana GaiaCentro Federal de Educação Tecnológica de Alagoas

(CEFET-AL)

Projeto Versiprosa 2008. O bruxo do Cosme Velho: um mestre na periferia do capitalismo. 22-24/09/08

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A um bruxo, com amor

• Em certa casa da Rua Cosme Velho (que se abre no vazio) venho visitar-te; e me recebes na sala trajestada com simplicidade onde pensamentos idos e vividos perdem o amarelo de novo interrogando o céu e a noite. (Drummond, 2008, online)

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Relações possíveis entre o design de interiores e a literatura brasileira

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Nosso ponto de partida foi a pesquisa desenvolvida por Socorro Rocha (1992) no programa de Pós-Graduação em Letras e Lingüística da Universidade Federal de Alagoas (PPGLL/UFAL) - Os espaços representativos no Dom Casmurro de Machado de Assis: Uma leitura político-ideológica da casa. Igualmente inspirador foi Papanek (2004, p. ) para quem

Todos os homens são designers. Tudo o que fazemos, quase todo o tempo é design. O design ébásico em todas as atividades humanas. Planejar e programar qualquer ato visando um fimespecífico, desejado e previsto isto constitui o processo de design. [...]. design é compor umpoema épico, executar um mural, pintar uma obra de arte, escrever um concerto.

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Passeio no Rio antigo, o menino que se esconde, o narrador que trapaceia, a

menina que entra pelos fundos...

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A narrativa machadiana nos possibilita pensar ainda sobre a questão do espaço percebido como patrimônio já que o narrador evidencia que sua história é dividida em dois espaços distintos, ainda que exatamente “iguais”: a casa da rua Matacavalos, que conforme indica Moore (on-line) é a “atual Riachuelo, uma das principais artérias do centro do Rio de Janeiro: eixo entre a zona norte e a zona sul” e a casa do Engenho Novo. Este último bairro, conforme registra Cláudio Lara (on-line) foi originado nas freguesias de São Cristóvão, Engenho Novo e Engenho Velho.

Rua de Matacavalos

“Ia entrar na sala de visitas, quando ouvi proferir o meu nome e escondi-me atrás da porta”.

As primeiras linhas de Dom Casmurro nos remetem à solenidade de uma sala, com uma porta atrás

da qual é possível ouvir segredos e com um longo corredor que a antecede, pois certa hora alguém

vai ver se há espiões na escuta.

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O designer Casmurro

Construtor e pintor entenderam bem as indicações que lhes fiz: é o mesmo prédio assobradado, três janelas de frente, varanda ao fundo, as mesmas alcovas e salas. Na principal destas, a pintura de teto e paredes é mais ou menos igual, umas grinaldas de flores miúdas e grandes pássaros que as tomam nos bicos de espaço a espaço. [...]. Quando fomos para a casa de Matacavalos, já ela estava assim decorada; vinha do decênio anterior. Naturalmente era gosto do tempo meter sabor clássico e figuras antigas em pinturas americanas. O mais é também análogo e parecido. [...]. Uso louça velha e mobília velha. Enfim, agora, como outrora, há aqui o mesmo contraste da vida interior, que é pacata, com a exterior, que é ruidosa (MACHADO DE ASSIS, 1997, p.16-17).

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A ambiência de Machado de Assis na obra Dom Casmurro

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A sala, o convívio, a troca...

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A Sala de Visitas do século XIX consistia em espaço reservado ao

convívio social e às formalidades dos costumes da época.

Segundo Reis Filho (1987), a casa de 1850-1900 conservava boa

parte do traçado, do ponto de vista dos compartimentos internos,

do período de transição da arquitetura colonial do século XVIII

para a arquitetura de influência européia do século XIX, no

entanto, em uma nova tipologia residencial: a casa de porão alto.

Como o próprio autor (1987, p. 33) define “a casa de porão alto,

representava uma transição entre os velhos sobrados e as casas

térreas”. Ou seja, a habitação mais comum na segunda metade do

século XIX e início do XX era a residência com entrada lateral,

geralmente associada a jardim, assobradada ou não.

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O sobrado com porão alto:

ligações com a casa machadiana

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1. Croqui de sobrado com porão alto

2. Croqui da fachada de sobrado com porão alto

Fonte: REIS FILHO, 1987, p. 41.

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Residência com porão alto

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Parei na varanda; [...]. Não me atrevia a descer à chácara, e passar ao quintalvizinho. [...]. Tijolos que pisei e repisei naquela tarde, colunas amareladas que mepassastes à direita ou à esquerda, segundo eu ia ou vinha, [...] (MACHADO DEASSIS, 1997, p. 33)

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A sala de estar na narrativa: “seja bem-vindo/a, caro leitor/a”, convida o narrador

machadiano...

Welington Andrade, professor do curso de

Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero,

escreve na Revista Cult (on line) que a

técnica de escrita machadiana é da

"literatura de sala de estar", onde ocorre a

maioria de suas tramas

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Pensando o design interno machadiano

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Bentinho lembra da mãe e conta um detalhe

da ambientação interna da sua casa: “Tenho

ali na parede o retrato dela, ao lado do

marido, tais quais na outra casa.”

(MACHADO DE ASSIS, 1997, p. 26).

Baudrillard (1993, p. 28), era tradição do

interior burguês, a inserção de retratos – “o

retrato de família, a foto de casamento no

quarto de dormir, o retrato do

proprietário no salão, de corpo inteiro ou

só de busto [...]

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Sobre o canapé

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Deles, só o canapé pareceu haver compreendido a nossa situação moral, visto que nos ofereceu os serviços da sua palhinha,com tal insistência que os aceitamos e nos sentamos. Data daí a opinião particular que tenho do canapé. Ele faz aliar aintimidade e o decoro, e mostra a casa toda sem sair da sala. Dois homens sentados nele podem debater o destino de umimpério, e duas mulheres a graça de um vestido; mas, um homem e uma mulher só por aberração das leis naturais dirão outracoisa que não seja de si mesmos. Foi o que fizemos, Capitu e eu. (MACHADO DE ASSIS, 1997, p. 154).

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Conclusões possíveis

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Este exercício reflexivo que desenvolvemos é uma homenagem ao

fundador da Academia Brasileira de Letras (ABL), Machado de Assis.

Além disso, é uma forma de comprovarmos as muitas possibilidades de

desenvolvermos trabalhos interdisciplinares no campo do design de

interiores. A literatura, seja local ou global possibilita aos designers um

verdadeiro passeio pelo mundo dos ambientes internos por onde

circulam suas personagens, sendo espaço privilegiado da (re)criação.

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