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ESCRITÓRIO DE ADVOCACIA LEONARDO FERNANDES – OAB PE 23776 D Rua 48 nº 434 aptº 1702 I Espinheiro Recife PE [email protected] 1- 15 Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da 4ª Vara da Fazenda Pública Estadual Número NPU 0023470-29.2011.8.17.0001 MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO DE LIMINAR “Sabe-se que vivemos em uma sociedade em que vigora a exclusão social e, neste aspecto, as práticas integracionistas favorecem a manutenção desse sistema quando propõem que cabe à pessoa adaptar-se à estrutura social vigente. Já o processo de inclusão denuncia as desigualdades e o desrespeito às minorias, reivindicando não só mudança de estruturas físicas, mas também de concepções, pensamento e planejamento da sociedade, procurando uma nova forma de organização social em que as diferenças individuais sejam respeitadas e não menosprezadas” (disponível em: www.acegosjf.com.br/?pagina=detalhes&tipo=3&cat=29; acesso em: 28/04/2011). MANUEL AUGUSTO OLIVEIRA DE AGUIAR, brasileiro, divorciado, Registro Geral da Cédula de Identidade e CPF/MF, respectivamente, sob os números 603.817 SSP/PE e 084.330.034-53, empregado público de sociedade de economia mista federal, com domicílio profissional à Rua Delmiro Golveia, nº 333, CHESF, sala D106, Bongi, Recife, Pernambuco, vem, respeitosamente, à presença de V. Exa., através do seu advogado subscritor da presente, inscrito na OAB Seccional PE, sob nº 23.776 D, interpor a presente ação constitucional de MANDADO DE SEGURANÇA INDIVIDUAL com esteio, na CR/1988, art. 5º, LXIX 1 e na novel Lei nº 12.016/2009, em face do Sr. Diretor do DEPARTAMENTO ESTADUAL DE TRÂNSITO DE PERNAMBUCO (DETRAN-PE), autarquia estadual 2 vinculada à Secretaria das Cidades do Governo do Estado 3 , pessoa jurídica de Direito Público com CNPJ nº 09.753.781/0001-60, sede e foro à Estrada do Barbalho, nº 889, Iputinga, Recife, Pernambuco, CEP 50.690-900, pelos fatos e motivos expostos a seguir. 1 Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas-corpus ou habeas-data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. 2 Criada pelo Decreto-Lei nº 23, de 24/maio/1969 alterado pela Lei n.º 11.629 de 28/janeiro/1999 e regulamentada pelo Decreto n.º 21.479, 11/junho/1999. 3 Lei nº 12.016/2009, art. 6º. A petição inicial, que deverá preencher os requisitos estabelecidos pela lei processual, será apresentada em 02 (duas) vias com os documentos que instruírem a primeira reproduzidos na segunda e indicará, além da autoridade coatora, a pessoa jurídica que esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual exerce atribuições.

O mandado de segurança impetrado

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Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito da 4ª Vara da Fazenda Pública Estadual

Número NPU 0023470-29.2011.8.17.0001

MANDADO DE SEGURANÇA

COM PEDIDO DE LIMINAR

“Sabe-se que vivemos em uma sociedade em que vigora a exclusão social e, neste

aspecto, as práticas integracionistas favorecem a manutenção desse sistema quando

propõem que cabe à pessoa adaptar-se à estrutura social vigente. Já o processo de

inclusão denuncia as desigualdades e o desrespeito às minorias, reivindicando não só

mudança de estruturas físicas, mas também de concepções, pensamento e

planejamento da sociedade, procurando uma nova forma de organização social em

que as diferenças individuais sejam respeitadas e não menosprezadas” (disponível em:

www.acegosjf.com.br/?pagina=detalhes&tipo=3&cat=29; acesso em: 28/04/2011).

MANUEL AUGUSTO OLIVEIRA DE AGUIAR, brasileiro,

divorciado, Registro Geral da Cédula de Identidade e CPF/MF, respectivamente, sob os

números 603.817 SSP/PE e 084.330.034-53, empregado público de sociedade de

economia mista federal, com domicílio profissional à Rua Delmiro Golveia, nº 333,

CHESF, sala D106, Bongi, Recife, Pernambuco, vem, respeitosamente, à presença de

V. Exa., através do seu advogado subscritor da presente, inscrito na OAB Seccional

PE, sob nº 23.776 D, interpor a presente ação constitucional de

MANDADO DE SEGURANÇA INDIVIDUAL

com esteio, na CR/1988, art. 5º, LXIX1 e na novel Lei nº

12.016/2009, em face do Sr. Diretor do DEPARTAMENTO ESTADUAL DE TRÂNSITO

DE PERNAMBUCO (DETRAN-PE), autarquia estadual2 vinculada à Secretaria das

Cidades do Governo do Estado3, pessoa jurídica de Direito Público com CNPJ nº

09.753.781/0001-60, sede e foro à Estrada do Barbalho, nº 889, Iputinga, Recife,

Pernambuco, CEP 50.690-900, pelos fatos e motivos expostos a seguir.

1 Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas-corpus ou habeas-data,

quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de

atribuições do Poder Público. 2 Criada pelo Decreto-Lei nº 23, de 24/maio/1969 alterado pela Lei n.º 11.629 de 28/janeiro/1999 e regulamentada pelo

Decreto n.º 21.479, 11/junho/1999. 3 Lei nº 12.016/2009, art. 6º. A petição inicial, que deverá preencher os requisitos estabelecidos pela lei processual, será

apresentada em 02 (duas) vias com os documentos que instruírem a primeira reproduzidos na segunda e indicará, além da

autoridade coatora, a pessoa jurídica que esta integra, à qual se acha vinculada ou da qual exerce atribuições.

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COMPETÊNCIA & TEMPESTIVIDADE

Anotamos, com base nas regras do Direito Administrativo,

Processual Civil e na jurisprudência dos Tribunais do País, que o presente writ tem

como autoridade coatora in caso o seu Dirigente, em exercício, e porque é autarquia

estadual4 vinculada à Secretaria das Cidades, deve desenvolver-se em uma das Varas

da Fazenda Pública Estadual.

A Nova Lei do Mandado de Segurança, Lei nº 12.016/2009,

dispõe (grifei):

Art. 1º, Omissis. § 1o Equiparam-se às autoridades, para os

efeitos desta Lei, os representantes ou órgãos de partidos

políticos e os administradores de entidades autárquicas, bem

como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas

naturais no exercício de atribuições do poder público,

somente no que disser respeito a essas atribuições.

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. MANDADO DE SEGURANÇA

DIRIGENTE DE DEPARTAMENTO DE TRÂNSITO. AUTORIDADE

ESTADUAL. DELEGAÇÃO DE COMPETÊNCIA. MATÉRIA DE MÉRITO.

SÚMULA 510/STF. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. 1. Em

mandado de segurança, a competência é estabelecida em função da natureza

da autoridade impetrada (ratione auctoritatis): somente será da competência

federal quando a autoridade indicado como coatora for federal (CF, art. 109,

VIII). 2. Por outro lado, não se pode confundir competência com legitimidade ou

com o mérito da causa. O juízo sobre competência para a causa se estabelece

levando em consideração os termos da demanda. Para efeito de mandado de

segurança, o que se considera é a autoridade impetrada indicada na petição

inicial. Saber se tal autoridade é legítima, ou se o ato por ela praticado é

realmente de sua competência, ou se é ato decorrente de delegação, ou se é

ato de autoridade ou de simples gestão particular, são questões relacionadas

com o próprio juízo sobre o cabimento da impetração ou o mérito da causa, a

serem resolvidas em fase posterior (depois de definida a competência), pelo

juiz considerado competente, e não em sede de conflito de competência. 3. No

caso, a autoridade impetrada, indicada na inicial é o Diretor Geral do

Departamento de Trânsito do Estado de Santa Catarina, que condicionou o

licenciamento do veículo de propriedade da impetrante ao pagamento prévio de

multas de trânsito, o que evidencia a competência da Justiça Estadual (= a

suscitante). 4. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito

da 2ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Joinville - SC, o suscitante.

4 Criada pelo Decreto-Lei nº 23, de 24/maio/1969 alterado pela Lei n.º 11.629 de 28/janeiro/1999 e regulamentada pelo

Decreto n.º 21.479, 11/junho/1999.

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Apenas por cautela, informamos que o presente writ foi ajuizado

tempestivamente, no dia de hoje, 29/abril/2011, portanto, 20 (vinte) dias, da ciência do

ato ora impugnado, ocorrido em 09/abril/2011, segundo os documentos acostados a

presente (parágrafo único, 3º c/c art. 23, tudo da Lei nº 12.016/2009).

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FATOS

O Sr. MANUEL AUGUSTO OLIVEIRA DE AGUIAR doravante

IMPETRANTE é deficiente visual, e, recentemente, comprou um veiculo automotor de

marca/modelo Honda CRV EXL, ano 2010/2010, cor preto, chassi nº

3CZRE2870AG501337, placa KJB 0017, Certificado de Registro de Veículo (CRV)

nº 8.152.057.957 (66.343.631.262), RENAVAM código 199.722.714, passando ao

vendedor inclusive recibo de próprio punho.

O IMPETRANTE e sua esposa, às 10:30:45 do dia 09/abril/2011,

dirigiram-se ambos então a uma das Lojas de Atendimento do DETRAN-PE, aquela

mais próxima a seu domicílio – Shopping Tacaruna, 1º Pavimento, Loja 142, à Avenida

Agamenon Magalhães, nº 153, Santo Amaro, nesta cidade – para realizar os

obrigatórios serviços de veículo que todo cidadão que é proprietário de

automóvel o faz – transferência de propriedade, emissão do Certificado de Registro e

Licenciamento de Veículo (CRLV), etc. etc.

EM TEMPO: anexamos ao presente mandamus: cópia do ticket

de estacionamento (nº 631824) pago e expressamente consignando o CPF/MF do

IMPETRANTE (nº 084.330.034-53); cópia da Ficha de Atendimento DETRAN-PE (nº

003 – Preferencial) do aludido Posto de Atendimento.

Ocorre que o IMPETRANTE, no exercício do seu DEVER, teve o

seu DIREITO ilegalmente embargado pelos agentes, no exercício de atribuições do

Poder Público; a sua ida voluntária ao Posto de Atendimento foi publicamente

constrangedora e não conseguiu atendimento por abuso de poder desses mesmos

agentes.

O atendente de uma daquelas baias negou-se a transferir e

registrar o aludido veículo ao IMPETRANTE ao argumento de que ele era CEGO, e que

seguia a orientação da Coodenadoria daquela Loja no sentido de permitir, apenas

nesses casos, uma procuração pública, em face das normas internas do DETRAN-PE.

O IMPETRANTE que outrora já registrou vários carros, pela

primeira vez viu-se numa situação vexatória, foi quando pediu que dessem uma cópia

dessa resolução ao mesmo.

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Ora as normas se dirigem à sociedade e devem ser públicas.

Porém, fora-lhe negada.

O IMPETRANTE pediu então que chamassem o responsável,

quando apresentou-se uma Supervisora e depois a Coordenadora, e todos

endossaram o que foi dito pelo subordinado: não poderia registrar diretamente, pois

obedeciam as resoluções internas do DETRAN-PE e do Código Civil.

O IMPETRANTE mais uma vez pediu que lhe desse ou a cópia da

resolução ou então uma declaração assinada pelos prepostos do DETRAN-PE,

responsáveis imediatos pelo constrangimento, o que lhe foi negado jocosamente.

A esposa do IMPETRANTE e outras testemunhas assistiam a

tudo atônitos o teatro armado pelos que se dizem “servidores públicos” enquanto outros

populares riam a beça da cena: um homem cego, perdido, choroso, sendo jocosamente

tratado por quem deveria ampara-lo como se dizia na ficha “Preferência”, mas faltou-

lhe respeito e aviltaram a sua dignidade causando-lhe grande dor.

Nesse momento, esforçando-se para manter a calma diante dos

covardes bufões que lhe cercavam, falou alto, mas num tom que qualquer pessoa

sensível entenderia: o esforço para compensar a sua cegueira e usar assim o sentido

mais elementar do ser humano: a voz!

Ser ouvido, Excelência, e então respeitado no seus mais

elementares direitos constitucionais, mas por conta disso, não bastando o teatro de

humilhação, a Srª Coordenadora resolveu acionar os seguranças do Shopping

Tacaruna para irem à Loja convencerem o homem cego e com sua esposa a se

retirarem.

O Sr. MANUEL AUGUSTO OLIVEIRA DE AGUIAR merece nada

mais que a proteção da Constituição da República e dos Tratados Internacionais que

têm status de emenda constitucional.

E isso não é só.

Este Advogado subscritor da presente, quando contratado pelo

IMPETRANTE, resolveu procurar novamente aquela Loja do DETRAN-PE. Então, este

Advogado pediu esclarecimentos de como proceder a um caso de parente cego que

quisesse registrar o carro no nome dele.

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O atendente disse mesmo que o Código Civil proibia, e que estes

casos devem ser resolvidos diretamente na sede do DETRAN-PE. Procuramos a

Coordenadora, mas foi-nos negada a sua presença. Relatou-nos o subordinado que

caso semelhante acontecera semana antes, mas agora, segundo a Coordenadoria,

tudo deveria ser resolvido na sede do DETRAN-PE, de acordo com o CC/2002.

Agora, concluímos que para pessoas não-cegas, a transferência e

registro ou outros serviços nos veículos podem ser realizados em qualquer posto

avançado do DETRAN-PE.

Para as pessoas cegas – caso do IMPETRANTE – todavia, esses

mesmos serviços são realizados, na distante sede do DETRAN-PE, assumindo assim o

desconforto, distância, riscos e desgastes que as pessoas não-cegas com certeza não

passarão. É que talvez esses postos avançados do DETRAN-PE tenham o desiderato

de atender apenas pessoas sem deficiência?

Há em verdade um evidente despreparo e preconceito por parte

da referida equipe capitaneada pela Coordenadoria que deveria sim responder a uma

sindicância e passar por um treinamento sério.

Suas condutas ferem qualquer cidadão cego e não-cego e

arranham a imagem da Instituição DETRAN-PE, pois afrontaram a missão, a visão e os

valores prometidos pela autarquia que, na sua página da internet – apenas para nós

lermos, nós os não cegos... (grifei): MISSÃO: Promover no Estado de Pernambuco um trânsito

seguro, humanizado e com inclusão social.

VISÃO: Até 2011, consolidar-se como organização modelo na

prestação de serviços ao cidadão, orientada para o

desenvolvimento da tecnologia da informação, para ações de

inclusão social, de valorização do servidor e de preservação do

meio ambiente.

VALORES:

1. Respeito ao cidadão;

2. Credibilidade;

3.Prioridade na educação de trânsito;

4. Compromisso com a qualidade da prestação do serviço;

5. Valorização do servidor;

6. Respeito ao meio ambiente;

7. Responsabilidade social;

8. Respeito à acessibilidade / mobilidade.

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Por fim, anotamos que o IMPETRANTE, exauridas quase

completamente suas forças, imediatamente saiu do recinto com sua esposa e dirigindo-

se, no mesmo dia, hora depois, diligenciou registrar em Delegacia um Boletim de

Ocorrência nº 11E0318001892 (doc. em anexo).

Dois dias depois, aos 11/abril/2011, o IMPETRANTE ciente da

gravidade do abuso sofrido, e consciente que se se trata de um Direito Difuso de seus

companheiros deficientes visuais, dirigiu-se ao Ministério Público do Estado, sua 8ª

Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital Promoção e Defesa dos

Direitos Humanos e consignou as declarações supra, a fim de realizar sua missão

constitucional e fazer cessar descalabros como esses (doc. em anexo).

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DIREITO

O IMPETRANTE está no seu dever cidadão de se insurgir contra

a negativa abusiva e vexatória utilizada pela Coordenadora da Loja Tacaruna do

DETRAN-PE, de nome LIDIANE, comprovadamente despreparada para atendimento

ao público e, principalmente, às pessoas com alguma forma de deficiência.

A Srª Coodenadora, em verdade, completamente desinformada

quanto às regras básicas do sistema jurídico, alegou incialmente que o IMPETRANTE

era pessoa incapaz de assinar qualquer documento de registro de automóvel,

invocando para isso o disposto no Código Civil/2002 e Resoluções do DETRAN-PE e

que deveria assinar uma procuração pública.

Ora, então, pela (i)lógica da Srª Coordenadora, poderia o

IMPETRANTE, passar recibo de compra do veículo e bem assim assinar uma

procuração pública mas não teria capacidade de assinar diretamente o registro e

transferência do carro... é de causar espírito.

Apenas disse isso, ao que tudo indica, como maneira de

desestimular o cidadão ora IMPETRANTE de exercer os seus direitos ou então não

demonstrar a sua grandiloquente ignorantia legis.

Esqueceu – ou nunca estudou – a Srª Coordenadora, que ela

com sua conduta irritante e constrangedora lesionou sim a premissa básica do

nosso Estado de Direito, onde a regra é a capacidade, sendo exceção o inverso.

Além disso, fez letra morta da garantia constitucional do direito à propriedade e

sua função social.

A Srª Coordenadora acabou atentando – ou vilipendiando,

certamente, de acordo com a cartilha que ela lera – contra a Sacrossanta CR/1988, tão

achincalhada e que merece a guarida desse Órgão Judiciário, pois (grifei):

CR/1988, art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção

de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à

vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...

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Outrossim, rasgou ab ovo o CC/2002, Lei de envergadura

Nacional, válida em todo território brasileiro, que já na sua primeira regra dispôs:

CC/2002, art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na

ordem civil.

Em qual incapacidade, a Déspota Iluminada Coordenadora

logrou, ao seu alvedrio, encaixar constrangedoramente o IMPETRANTE?

Passeando pelo CC/2002 encontramos:

Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer

pessoalmente os atos da vida civil:

I - os menores de 16 anos;

II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não

tiverem o necessário discernimento para a prática desses

atos;

III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem

exprimir sua vontade.

Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à

maneira de os exercer:

I - os maiores de 16 e menores de 18 anos;

II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por

deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;

III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;

IV - os pródigos.

Ora, Douto Julgador, o IMPETRANTE é pessoa adulta, hoje

possui mais de 40 (quarenta) anos, nunca foi ébrio ou viciado habitual, não está

acometido por enfermidade ou deficiência mental, nem é pessoa excepcional ou

indígena.

O IMPETRANTE, como nós outros, tem desenvolvimento mental

completo e está completamente apto a exprimir a sua vontade. E isso, nem que seja

pelas vias judiciárias e contra a vontade de qualquer agente público despreparado ou

desinformado.

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O IMPETRANTE é cidadão brasileiro e em todas as eleições

exerce ativamente os seus Direitos Políticos, votando nos candidatos que livremente

escolhe por convicção.

O IMPETRANTE possui graduação universitária em

Administração de Empresas, Pós-graduação em Tecnologia da Informação e,

atualmente, é Mestrando nessa área do conhecimento.

O IMPETRANTE tem emprego público, laborando, ativamente, há

35 (trinta e cinco) anos, na sociedade de economia mista federal CHESF.

O IMPETRANTE já casou e divorciou-se, vivendo hoje

harmoniosamente com sua segunda companheira.

O IMPETRANTE paga pontualmente todos os tributos, compra,

vende, aluga, passa recibos e procurações – como a este Advogado – possui firma

reconhecida em Cartórios do Recife.

O IMPETRANTE realizou registros de imóveis em seu nome... E

por que não poderá registrar 01 (um) automóvel, que ele próprio comprou com o

dinheiro do seu trabalho, cumprindo assim as determinações das Leis?

Sem embargos, cumpre perquirir curiosamente: a Srª

Coordenadora – baluarte das milhares de normas jurídicas do sistema jurídico – invoca

“especialmente” uma “Resolução” que ela disse, em alto e bom som, emanada do

DETRAN-PE, resolução essa que cerceia o direito das pessoas cegas a assinarem de

próprio punho, diretamente, o documento específico.

Esquece – ou mais provável, não sabe, mais uma vez – a Srª

Coordenadora que, regras sobre a capacidade das pessoas é matéria de Direito Civil e,

portanto, de competência privativa da União (art. 22, I, CR/1988).

Essa pseudo Resolução que a Srª Coordenadora invoca a todo

custo – inclusive do Erário Estadual, pois pouco se importa – se existir é

absurdamente eivada de inconstitucionalidade por usurpação de competência

legislativa, além de violar o princípio da dignidade da pessoa humana (art. 5º, III,

CR/1988), portanto, deve ser declarada a sua inconstitucionalidade incidenter tantum

por este Juízo, pois todo e qualquer órgão investido do ofício judicante tem

competência para proceder ao controle difuso de constitucionalidade (STF, AI

666523 AgR, Relator Min. RICARDO LEWANDOWSKI, julgamento: 26/10/2010).

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Outrossim, não podemos deslembrar o que dispõe a CR/1988:

Art.37, Omissis. § 6º As pessoas jurídicas de direito público e

as de direito privado prestadoras de serviços públicos

responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade,

causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso

contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

É de causar espírito, mas ao que tudo indica, a Srª Coordenadora

e seus subordinados daquela Loja do DETRAN-PE têm os olhos e as mentes voltados

das Sociedades Primitivas à Alta Idade Média5, quando essas odiosas condutas

desarrazoadas e arbitrárias eram realizadas, em prejuízo da dignidade humana.

E tudo isso é péssimo inclusive para a imagem da entidade e da

atual Direção do DETRAN-PE que, segundo consta na sua página da internet tem

como missão e visão a inclusão social e entre os seus valores o respeito ao

cidadão, o compromisso com a qualidade da prestação do serviço e a

responsabilidade social. Tudo isso espancado pela Srª Coordenadora e seus

subordinados.

Com efeito, o ato administrativo da Srª Coordenadora e de seus

subordinados em NÃO permitir que o IMPETRANTE diretamente realize o registro do

veículo arvora-se então como arbitrária, ilegal e escandalosamente constrangedora.

Sr. Julgador, ousamos realçar: o IMPETRANTE assinou de

próprio punho o recibo de compra do aludido automóvel, cujas firmas foram

reconhecidas, em tabelionato público, e então por que ele não poderá faze-lo

diretamente a transferência e registro para o seu digno nome?

É curioso anotar, pois, as pessoas cegas possuem legalmente, no

Estado de Pernambuco, o direito à requerer diretamente a isenção de IPVA perante

a SEFAZ-PE... entretanto, não possuem o direito de registrar diretamente o seu veiculo

automotor?

5 Os séculos XVIII e XIX marcaram uma mudança e um avanço na história das pessoas com deficiência visual. Em 1784, Valentim

Hauy inaugurou na França, O Instituto Real dos Jovens Cegos de Paris, a primeira escola do mundo destinada à educação de

pessoas cegas e em 1829, Louis Braille, então aluno desse instituto, inventou o Sistema Braille. Disponível em:

http://www.acegosjf.com.br/?pagina=detalhes&tipo=3&cat=29; acesso em 29/abril/2011.

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Nosso Estado permitiu ex vi legis a isenção tributária de IPVA

para os deficientes visuais, segundo consta, na Lei Estadual nº 10.842/1992 e

jurisprudência do E. TJPE.

No site da SEFAZ-PE existe regras para os cegos requererem

diretamente o benefício fiscal da isenção de IPVA, nos seguintes termos

colacionados ipsis litteris (acesso em: 28/abril/2011; disponível em:

www.sefaz.pe.gov.br/sefaz2/outros/duvidas.asp#13):

14. Como solicitar a isenção do IPVA?

Deficiente Visual e Físico (inapto a dirigir/veículo usado)

Requerer a isenção em formulário disponível na internet, anexando em Documento do veículo em nome do deficiente, laudo médico do DETRAN e indicação de 03 (três) condutores.

Igualmente, o E. TJPE, perfilhando o Direito e a Justiça,

reconheceu o direito de propriedade e da dignidade da pessoa humana, com foros na

CR/1988, e assim decidiu (acesso em: 28/abril/2011; disponível em:

www.tjpe.jus.br/cej/PaginaPrincipal/noticias/ver_noticia2.asp?codg=713). O

Desembargador Relator LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO, assim subscreveu o

referido aresto:

CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO. ILEGITIMIDADE PASSIVA. TEORIA DA

ENCAMPAÇÃO. OCORRÊNCIA. DEFICIENTE VISUAL. ISENÇAÕ DO IPVA

PREVISTA EM LEI. CONCESSÃO DA SEGURANÇA. 1.Nos Tribunais pátrios

vigora a teoria da encampação que consiste na possibilidade de correção da

errônea indicação do impetrado quando este, ao alegar sua defesa, argüir

ilegitimidade passiva e defender também o mérito. Preliminar de ilegitimidade

passiva rejeitada. 2. Admitida a autoridade coatora como parte legitima para

figurar no pólo passivo, não há que se falar em incompetência deste Egrégio

Tribunal para processar e julgar os presentes autos. Preliminar não conhecida.

3.Deve ser excluído o crédito tributário por isenção do IPVA prevista em lei,

independente de condições restritivas impostas pela administração. À

unanimidade concedeu-se a segurança. TJPE, Relator Des. Leopoldo de

Arruda Raposo, MS 153658-5, 12/02/2008.

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Ora, Eminente Julgador, esse Advogado desconhece por inteiro

quais as Resoluções do DETRAN-PE que a Srª Coordenadora arrogantemente

fundamentou sua negativa em atender o IMPETRANTE.

Pesquisamos in locu, na sede do DETRAN-PE, mas nada nos foi

informado. Não existe, segundo os colegas daquele Departamento Jurídico. Mentiu a

Srª Coordenadora.

Logramos que esse MM Magistrado cesse esse estado de

desatenção e menosprezo e, por ordem judicial, in limine, determine à Coordenação

dessa Loja, no Shopping Tacaruna, o imediato registro do aludido veículo a partir da

assinatura direta do IMPETRANTE Sr. MANUEL AUGUSTO OLIVEIRA DE AGUIAR

que está lutando, em vias judiciais, para fazer valer o seu Direito, respeito e cidadania.

A CR/1988, art. 5º, LXIX, ampara o pedido do impetrante, posto

que o seu direito de transferir e registrar o veículo está obstado pela negativa da Srª

Coordenadora e de seus subordinados. Dessarte, possui o IMPETRANTE direito

líquido e certo em insurgir-se contra o ato administrativo porque está amparado pela

Lei e pelo Direito.

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PEDIDOS

Isto posto, requer ao MM Magistrado:

1-7. Receba o presente mandado de segurança individual,

dando-se a prioridade positivada no art. 20, Lei nº

12.016/2009;

2-7. Se digne o Eminente Julgador, em conceder in limine a

obrigação de fazer o registro do veículo, afastando a ilegal

e arbitrária exigência dos prepostos daquela Autarquia

Estadual, necessário à regularização do licenciamento do

veículo de propriedade do IMPETRANTE, para evitar mais

lesões de difíceis e incertas reparações (art. 7º, § 3º, Lei nº

12.016/2009);

3-7. Concedida a liminar, determine o MM. Juiz, a notificação

da Autoridade Coatora para, querendo, prestar as

informações que julgar necessárias, em 10 (dez) dias, nos

termos dos incisos do art. 7º, Lei nº 12.016/2009;

4-7. Findo o prazo das informações, seja ouvido o

representante do Ministério Público Estadual para opinar

em 10 (dez) dias (art. 12, caput, Lei nº 12.016/2009);

5-7. Com ou sem o parecer do Ministério Público, conclusos os

autos ao MM Juiz, seja proferida a decisão de mérito

(parágrafo único, art. 12, Lei nº 12.016/2009);

6-7. Concedido o mandado, determine-se seja transmitido em

ofício, por intermédio do oficial do juízo, ou pelo correio,

mediante correspondência com aviso de recebimento, o

inteiro teor da sentença à autoridade coatora e à pessoa

jurídica interessada (art. 13, caput, Lei nº 12.016/2009);

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7-7. Requer, afinal, a concessão da segurança, e, como

corolário, seja declarada incidenter tantum, em controle de

constitucionalidade difuso, a inconstitucionalidade da aludida

resolução, se existir, em face dos fundamentos jurídicos

dispendidos supra.

Dá-se à presente causa o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais).

Nestes termos,

Pede deferimento.

Recife/PE, aos 29/abril/2011 (sexta-feira).

Leonardo de Medeiros Fernandes

Advogado | OAB PE 23.776 D