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FACULDADE SETE DE SETEMBRO FA7 CURSO GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS O PAPEL DO VOLUNTARIADO EMPRESARIAL COMO INFLUENCIADOR NA GESTÃO ORGANIZACIONAL: UM ESTUDO DE CASO DO SISTEMA FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DO CEARÁ ISIS FONSÊCA ALVES Fortaleza 2010

O PAPEL DO VOLUNTARIADO EMPRESARIAL COMO INFLUENCIADOR NA GESTÃO ORGANIZACIONAL: UM ESTUDO DE CASO DO SISTEMA FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DO CEARÁ

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Monografia apresentada à Faculdade 7 de Setembro como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Administração.

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FACULDADE SETE DE SETEMBRO – FA7

CURSO GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS

O PAPEL DO VOLUNTARIADO EMPRESARIAL COMO

INFLUENCIADOR NA GESTÃO ORGANIZACIONAL: UM ESTUDO DE

CASO DO SISTEMA FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO

DO CEARÁ

ISIS FONSÊCA ALVES

Fortaleza – 2010

1

ISIS FONSÊCA ALVES

O PAPEL DO VOLUNTARIADO EMPRESARIAL COMO

INFLUENCIADOR NA GESTÃO ORGANIZACIONAL: UM ESTUDO DE

CASO DO SISTEMA FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO

DO CEARÁ

Monografia apresentada à Faculdade 7 de Setembro como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Administração.

Orientador: Prof. Ms. Maiso Dias.

Fortaleza – 2010

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O PAPEL DO VOLUNTARIADO EMPRESARIAL COMO

INFLUENCIADOR NA GESTÃO ORGANIZACIONAL: UM ESTUDO DE

CASO DO SISTEMA FIEC

Monografia apresentada à Faculdade 7 de Setembro como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Administração.

____________________________________ Isis Fonsêca Alves

Monografia aprovada em: ______ / ______ / ______

____________________________________ Prof. Ms. Maiso Dias (FA7)

1º Examinador: ______________________________________

Prof. _______________________________________________

2º Examinador: ______________________________________

Prof. _______________________________________________

____________________________________ Prof. Ms. Hercílio Brito (FA7)

Coordenador do Curso

3

“Eu posso ser a esperança que eu quero pro mundo. Basta só eu doar meu amor a alguém.”

Filipe Ramalho

4

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus, por sua graça e amor incondicional por mim.

Somente por Ele foi possível conquistar essa vitória.

Aos meus pais pelo cuidado e amor sem fim, pelo investimento feito na minha

educação e na formação de meu caráter. Não tenho dúvidas de que sem vocês eu

não seria quem sou hoje.

Ao Rafael Neves, que me ensinou a sonhar e lutar pela realização deles.

Aos meus amigos que sempre se fizeram presentes nos momentos mais diversos da

caminhada, sempre compartilhando a vida, aprendendo e crescendo juntos.

Aos professores que com suas aulas e dicas souberam administrar o ensino da

teoria e da prática com seus conhecimentos e experiências profissionais.

5

RESUMO

Este trabalho é composto pela descrição de conceitos sobre a questão da

responsabilidade social e do voluntariado. Visa identificar fatores dentro da prática

voluntária que influenciam a gestão empresarial, seja por meio de benefícios para a

empresa como também para o colaborador. O objetivo desse trabalho é analisar

como a prática do voluntariado influencia na gestão empresarial do Sistema FIEC.

Para realização desta monografia foi feito pesquisas bibliográficas e pesquisa em

campo. Foi realizado um estudo de caso a partir de entrevista estruturada com um

gestor da empresa. Este trabalho científico é composto de cinco capítulos. No

primeiro capítulo destina-se a expor a importância do voluntariado. O segundo

apresenta o referencial teórico a respeito dos temas responsabilidade social,

evolução e conceitos de voluntariado, a importância para a gestão e programas de

voluntariado empresarial. No terceiro capítulo é apresentada a metodologia

escolhida para realização da pesquisa e no quarto capítulo é feita a análise dos

resultados obtidos. No último capítulo são feitas as conclusões e considerações

finais.

Palavras-chave: Responsabilidade Social. Voluntariado. Programa de Voluntariado

Empresarial

6

ABSTRACT

This work is composed of description of concepts on the issue of social responsibility

and volunteerism. Aims to identify factors within the voluntary practice that influence

corporate governance, either through benefits to the company but also for the

developer. The aim of this study is to examine how the practice of voluntary

corporate governance influences the System FIEC. To perform this monograph was

made literature searches and field research. We conducted a case study from a

structured interview with a manager of the company. This scientific work is composed

of five chapters. The first chapter is intended to expose the importance of

volunteering. The second presents the theoretical framework of the themes of social

responsibility, evolution and concepts of volunteerism, the importance for

management and corporate volunteer programs. The third chapter presents the

methodology chosen for the research and in the fourth chapter is the analysis of

results. The last chapter made the conclusions and final considerations.

Keywords: Social Responsibility. Volunteering. Corporate Volunteer Program

7

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 8

1.1 Objetivos..................................................................................................... 9

1.1.1 Objetivo Geral............................................................................................. 10

1.1.2

1.1.3

Objetivos Específicos..................................................................................

Estrutura do Trabalho .................................................................................

10

10

2

REFERENCIAL TEÓRICO.........................................................................

12

2.1 Responsabilidade Social............................................................................ 12

2.2 Voluntariado............................................................................................... 15

2.2.1 Evolução e conceitos................................................................................. 15

2.2.2 Importância para gestão empresarial........................................................ 18

2.2.3 Programa de Voluntariado Empresarial..................................................... 21

3

3.1

3.2

4

5

METODOLOGIA........................................................................................

Delineamento da Pesquisa.........................................................................

Técnica de Coleta de Dados.......................................................................

RESULTADOS...........................................................................................

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................

REFERÊNCIAS ..........................................................................................

ANEXOS.....................................................................................................

APÊNDICES................................................................................................

31

31

31

33

37

39

42

44

8

1 INTRODUÇÃO

O voluntariado no Brasil teve início em 1543 com a fundação da Primeira

Santa Casa de Misericórdia, onde freiras e padres dedicavam-se ao trabalho

voluntário. Provavelmente por esse motivo ainda hoje ligamos a prática do

voluntariado à espiritualidade. (DOMENEGHETTI, 2001)

Entretanto, apenas em meados dos anos 1990 é que as empresas

brasileiras voltaram suas mentes e esforços para incentivar o voluntariado nas

organizações. Isso inserido a um novo campo denominado responsabilidade social

empresarial. Melo Neto (2005) afirma que existem duas dimensões desse conceito:

o foco interno que está relacionado à responsabilidade com público interno e a

segunda dimensão a responsabilidade com a comunidade, o público externo.

Portanto Joana Garcia (apud RIOVOLUNTÁRlO, 2007) acredita que “a prática do

voluntariado se reapresentou com outros formatos e significados” e empresas

passaram a incentivar e mobilizar ações voluntárias como forma de agregar mais

valor ao negócio da empresa. Rossetti (apud RIOVOLUNTÁRIO, 2007) afirma que

essa reapresentação do voluntariado veio com alguns desafios, dentre eles “o mais

significativo é reduzir a perspectiva assistencialista e caridosa (...), para fortalecer

uma perspectiva de cidadania e garantia de direitos”. Outros desafios citados por ele

foram: profissionalização do setor, crescimento de parcerias entre setores,

necessidade de ações mais coordenadas com transparência e melhores

instrumentos de avaliação.

A instituição da Lei 9.608 que rege o serviço voluntário em 1998, a criação

dos centros de voluntariados espalhados no país, a criação do Dia Nacional de

Voluntário (FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DE MINAS GERAIS, 2006) e a escolha

da ONU pelo ano 2001 como sendo o Ano Internacional do Voluntariado foram

eventos que marcaram esse novo momento na evolução do conceito no Brasil.

(DOHME, 2001)

A prática do voluntariado empresarial atende a dimensão do público externo

(MELO NETO, 2005), onde colaboradores são incentivados pelas empresas a doar

parte de seu tempo e talentos em prol da solidariedade para benefício da

comunidade. Cabe às empresas se organizarem para apoiar de forma efetiva e

estruturar comitês para desenvolvimento e aprimoramento de atividades voluntárias.

9

Atualmente, existem diversas empresas brasileiras que praticam o

voluntariado empresarial. De acordo com a pesquisa Perfil do Voluntariado

Empresarial no Brasil II (CONSELHO BRASILEIRO DE VOLUNTARIADO

EMPRESARIAL, 2010), destaca-se que 85,9% das empresas pesquisadas possuem

um programa de voluntariado institucionalizado e 59,4% estão dispostas a

ampliarem seus investimentos nessa área. Nota-se que, de fato, essa prática tem

sido uma tendência empresarial na área de responsabilidade social corporativa.

Fisher e Falconer (2001) afirmam que o voluntariado é um instrumento

inovador de recursos humanos, pois ao criar o ambiente para o colaborador exercer

atividades de interesse pessoal de forma voluntária e desenvolver suas habilidades

a empresa contribui para a comunidade e, por consequência, contribui para

realização pessoal e profissional de cada colaborador.

Entretanto, poucos são as literaturas e estudos científicos que exploram

essa temática. Existem dados quantitativos bastante relevantes nessa pesquisa de

perfil do voluntariado citada anteriormente, mas é necessário o aprofundamento

teórico desse tema. E principalmente, é imprescindível desvendar e qualificar quais

os impactos positivos nas organizações e para a construção da cidadania.

O presente trabalho tem como objetivo identificar como a prática do

voluntariado influencia na gestão empresarial partindo do seguinte questionamento:

Como o voluntariado empresarial influencia na gestão da empresa?

Para responder o questionamento e atingir o objetivo geral do trabalho,

foram elencados cinco objetivos específicos que servirão como norteadores para

desenvolvimento do trabalho: (a) Identificar motivos que levaram a empresa ter um

programa de voluntariado em sua gestão; (b) Comparar os critérios que contemplam

o programa de voluntariado da empresa pesquisada com a literatura; (c) Identificar

as práticas de voluntariado na organização; (d) Identificar os indicadores de

resultados gerados pelos programas de voluntariado das empresas; (e) Identificar

fatores do voluntariado que influenciam na gestão da empresa.

A pesquisa é de natureza bibliográfica constituída de livros e artigos

científicos, com levantamento de dados através de um estudo de caso. Foi escolhido

esse procedimento técnico por consistir em um estudo aprofundado de forma que se

obtenha um conhecimento amplo e detalhado. (FACHIN, 2001)

1.1 Objetivos

10

Os objetivos a seguir são um resultado a ser alcançado no estudo, e é

através de sua definição que se comprovará o que será atingido e realizado durante

a investigação. Segundo diversos autores pesquisados, o objetivo é dividido em dois

momentos: o objetivo geral e os objetivos específicos.

1.1.1 Objetivo Geral

Analisar como a prática do voluntariado influencia na gestão empresarial do

Sistema FIEC.

1.1.2 Objetivos Específicos

Identificar motivos que levaram a empresa ter um programa de voluntariado

em sua gestão

Comparar os critérios que contemplam o programa de voluntariado da

empresa pesquisada com a literatura

Identificar as práticas de voluntariado na organização

Identificar os indicadores de resultados gerados pelos programas de

voluntariado das empresas

Identificar fatores do voluntariado que influenciam na gestão da empresa

1.1.3 Estrutura do Trabalho

A seção de número dois contextualiza sobre referencial teórico e a explicação

da escolha quanto aos temas abordados na presente pesquisa. Descreve os

fundamentos teóricos referentes ao tema tornando o discurso relevante para a sua

conceituação.

A primeira subseção do referencial teórico abordará a responsabilidade social

empresarial, seus conceitos e seu contexto histórico até os dias de hoje.

A subseção seguinte abordará o conceito de voluntariado, a evolução do

conceito, a importância para a gestão empresarial e finalizará com uma descrição

sobre programa de voluntariado empresarial.

A terceira seção será uma explanação da metodologia do presente trabalho.

11

A quarta seção será a análise dos resultados da pesquisa e será feita a

comparação teoria x prática.

Em seguida, na quinta seção serão feitas às considerações finais além de

observações imprescindíveis sobre as possíveis pesquisas no campo acadêmico, já

que o tema está em processo de difusão e expansão.

Para finalizar o presente trabalho estarão relacionadas as referências, os

anexos e apêndices desenvolvidos pela autora no decorrer da pesquisa.

12

2 REFERENCIAL TEÓRICO

As seções a seguir foram escolhidas por serem avaliadas de forma

necessária para que a pesquisa seja fundamentada com uma base teórica relevante

através de artigos e livros científicos e, assim, ser possível fazer uma análise dos

dados coletados no estudo de caso.

Na subseção 2.1 será feita uma explanação da responsabilidade social,

focando os conceitos e sua evolução. Na subseção posterior (2.2) será abordado o

voluntariado, onde veremos a importância desse tema para as empresas, suas

formas de mensurar resultados e os tipos de programa de voluntariado empresarial.

2.1 Responsabilidade Social

“A responsabilidade social e ambiental pode ser resumida no conceito de

„efetividade‟, como alcance de objetivos do desenvolvimento econômico-social.

Portanto, uma organização é efetiva quando mantém uma postura socialmente

responsável.” (TACHIZAWA, 2007, p. 73) Para o mesmo autor, essa efetividade está

ligada diretamente à satisfação da sociedade, seja por meio de seus requisitos

econômicos sociais e/ou culturais.

Segundo Aligleri et al (apud Ashley, 2005) “o assistencialismo e a filantropia

perderam espaço”, por isso as empresas estão com um novo foco de atuação social

e assumindo uma estratégia à longo prazo que gerem impacto econômico e

financeiro. Analisando a evolução do conceito de responsabilidade social pode-se

observar que no início havia apenas filantropia e a prática do assistencialismo.

Segundo Oded Grajew (apud MELO NETO, 2005, p. 79), Diretor-Presidente

do Instituto Ethos, “o conceito de responsabilidade social está se ampliando,

passando da filantropia, que é a relação socialmente comprometida da empresa com

a comunidade, para abranger todas as relações da empresa”.

Segundo Melo Neto (2001), as enormes carências sociais, o crescente grau

de organização da sociedade e do terceiro setor, a ação social dos concorrentes e a

influência da mídia são alguns fatores que impulsionaram as empresas brasileiras

ampliarem seu conceito sobre responsabilidade social. No entanto, o mesmo autor

conclui através de algumas ideias publicadas por um empresário no jornal Gazeta

Mercantil (18/09/97) que a empresa tem um compromisso com a sociedade, sendo

13

uma forma de prestação de contas do seu desempenho, pois os recursos utilizados

por ela são “patrimônio da humanidade”, ou seja, pertence à sociedade. Então, ela

restitui através de soluções de problemas sociais, ofertando alguns serviços ou

investindo em projetos sociais.

Através da globalização e o advento das novas tecnologias em meados do

século XX, as empresas perceberam a necessidade de se tornarem socialmente

responsáveis. Segundo Tachizawa (2007), esse novo tempo caracterizou-se pela

exigência rigorosa dos clientes, nos quesitos relacionamento, ética nos negócios,

boa imagem e atuação ecologicamente responsável. Acredita-se que a partir dessa

época a responsabilidade social passou a ser um fator competitivo para as

empresas.

Em seu livro Ética e Responsabilidade Social nos Negócios, Ashley (2005)

apresenta que no mundo atual, a tendência da transparência nas atividades

empresariais tem sido um fator diferencial. Com isso, fez as empresas melhorarem

seus relacionamentos com as partes interessadas, os chamados stakeholders.

Essas partes interessadas que são: o governo, a comunidade, os empregados, os

concorrentes, os acionistas, entre outros; que estão sob vigilância e cobrança de um

comportamento ético, transparente e comprometido socialmente e ambientalmente.

Existe outro fator, defendido por Veloso (apud ASHLEY, 2005), que

impulsionou o comportamento ético, moral e consequentemente a política de

responsabilidade social é que, com a economia globalizada as empresas passaram

a adotar padrões éticos e morais mais rigorosos respeitando as noções

internacionais.

A prática recente da responsabilidade social corporativa vem sendo aplicada

de forma adaptada a realidade brasileira. Já nos Estados Unidos e na Europa, estão

imersos e difundidos em um cenário cultural, econômico e social diferente. Mesmo

no Brasil, é necessário que sejam criadas e desenvolvidas estratégias de acordo

com cada região devido a sua diversidade sócio-cultural. (ASHLEY et al, 2005)

De acordo com Melo Neto (2005), existem duas vertentes de

responsabilidade social empresarial, sendo a primeira voltada ao público interno

através de proporcionar um ambiente bom para o trabalho, contribuindo para o bem-

estar de seus colaboradores. E o segundo, tendo a sociedade como foco através de

ações sociais. Para o mesmo autor (MELO NETO, 2005, p.18-19), dentre as

modalidades das ações sociais estão:

14

Doações

Investimentos em programas e projetos sociais

Financiamento de campanhas

Parcerias com o governo, comunidades, entidades

Participação em trabalhos voluntários

Para ele, a modalidade que mais cresce no Brasil é o investimento em

projetos e programas sociais, o chamado Investimento Social Privado (ISP). O ISP é

o investimento, em forma de transferência de recursos financeiros, para projetos

sociais, ambientais e culturais de interesse público. (MILANI FILHO, 2007)

Para o Grupo de Instituto, Fundações e Empresas, o Investimento Social

Privado:

É caracterizado pelo direcionamento de recursos privados de pessoas jurídicas ou físicas para projetos e ações sociais, sem a necessidade de parceria ou alianças com organizações do Terceiro Setor, mas com o comprometimento de se monitorarem e avaliarem os projetos desenvolvidos para diferenciá-los de práticas assistencialistas. Nesse sentido, espera-se que o investidor social se envolva com as ações e os resultados proporcionados à comunidade. GIFE (2002 apud MILANI FILHO, 2008, p. 92)

O conceito de Responsabilidade Social Empresarial atinge proporções que

mescla, a ética nos negócios e a ética social. Resulta na explicitação e valorização

de princípios e valores (ligados à governança corporativa) e na elaboração de

indicadores que revelem o nível de relacionamento da empresa com seus públicos.

(ASHLEY et al, 2005)

Em síntese, no Brasil e no mundo cresce a preocupação com a responsabilidade social empresarial, tanto em trabalhos acadêmicos quanto no dia-a-dia das próprias organizações. Muitos têm sido os motivos apontados para a necessidade de se pensar e refletir sobre o tema, mas ainda não se chegou a um consenso sobre o que exatamente seria tal responsabilidade, como deveria ser implementada no âmbito das organizações ou como mensurá-la e incluí-la nos cálculos gerais de cada organização. (ASHLEY, 2005, p. 77)

Segundo Silva (2002, apud OLIVEIRA; LIMONGI, 2009), a responsabilidade

social empresarial é uma obrigação da empresa onde ela tem que agir de maneira

15

que sirva tanto os interesses próprios, como lucro, como também os interesses da

sociedade.

Oliveira (2003, apud OLIVEIRA; LIMONGI, 2009) aponta que as empresas

que são bem-sucedidas em seus negócios são aquelas capazes de gerar e agregar

valores à sociedade. Como conseqüência desse trabalho social as empresas

garantem não somente o respeito de seus consumidores, como também de seus

colaboradores, que cada vez mais satisfeitos e orgulhosos terão, posteriormente,

uma maior produtividade.

Melo Neto (2005) acrescenta também que o voluntariado obteve grande

visibilidade com a Comunidade Solidária promovida pelo governo federal. A

Comunidade Solidária foi criada em 1995 com o objetivo de formar parcerias com

todos os setores da economia para realizar ações de combate à pobreza e à

exclusão social. A partir do programa Comunidade Solidária, surgiram projetos de

âmbito nacional, entre eles o Programa Voluntários. Esse programa busca a

“valorização e promoção do voluntariado como expressão de uma ética de

solidariedade e participação cidadã”. De acordo com entrevista feita com Ruth

Cardoso, foram criados mais de 40 Centros de Voluntários em todo país com a

estratégia inovadora do Programa Voluntários.

2.2 Voluntariado

2.2.1 Evolução e conceitos

O Programa Voluntários do Conselho da Cidadania Solidária (BRASIL, 2010)

define o voluntário como: “cidadão que, motivado pelos valores de participação e

solidariedade, doa seu tempo, trabalho e talento, de maneira espontânea e não

remunerada, para causas de interesse social e comunitário”.

De acordo com a Lei Nº 9.608, considera-se serviço voluntário

[...] a atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza ou instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive, mutualidade. Parágrafo Único: O serviço voluntário não gera vínculo empregatício nem obrigação de natureza trabalhista, previdenciária ou afim.

16

Segundo a definição das Nações Unidas (apud FIEMG, 2006),

O voluntário é o jovem ou adulto que, devido a seu interesse pessoal e seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividade, organizadas ou não, de bem-estar social, ou outros campos [...].

Panorama histórico do voluntariado no Brasil (RECIFE VOLUNTÁRIO, 2002 apud

LIMA, 2004)

• 1543 Fundação da Santa Casa da Misericórdia, na Vila de Santos –

Capitania de São Vicente;

• 1908 A cruz Vermelha chegou ao Brasil;

• 1910 Os escoteiros estabelecem-se no Brasil, com objetivo de “ajudar o

próximo em toda e qualquer ocasião”;

• 1961 Surgimento da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais –

APAE;

• 1983 Criação da Pastoral da Criança;

• 1993 Hebert de Souza, Betinho, cria a Ação da Cidadania Contra Miséria e

pela Vida;

• 1995 Criação do Programa Comunidade Solidária;

• 1997 Criação dos primeiros Centros de Voluntários do País;

• 1998 É promulgada a Lei 9.608, a Lei do Serviço Voluntário;

• 2001 Proclamação da ONU o Ano Internacional do Voluntariado

Segundo o Instituto para o Desenvolvimento Social (2002), situado em Lisboa,

a sociedade hoje reconhece o voluntariado como complementação do trabalho

profissional, onde possui um espaço próprio para atuação em instituições. Os

governos dão cada vez mais destaque aos voluntários por constituírem um dos

recursos mais valiosos de qualquer país.

Oded Grajew, do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, e

Miguel Darcy de Oliveira, do Programa Voluntários do Conselho da Comunidade

Solidária, afirmam que: “o voluntariado é um caminho de busca de conscientização

das pessoas, de mobilização de grupos sociais marginalizados na defesa dos seus

direitos, de influência de políticas públicas e outras ações no campo da cidadania”.

(GOLDBERG, 2001, p.8)

17

Para Rossetti (apud RIOVOLUNTÁRIO, 2007, p.14), a evolução da área de

voluntariado trouxe alguns desafios para as instituições. Para ele, “o mais

significativo é reduzir a perspectiva assistencialista e caridosa, (...) para fortalecer

uma perspectiva de cidadania e garantia de direitos”. Posteriormente, encontram-se

a profissionalização do setor, uma maior necessidade de coordenação,

transparência e avaliação das atividades e crescimento de parceiras inter-setoriais.

Para Braga (2005, p. 30), o voluntariado não exclui o trabalho remunerado.

Pelo contrário, o voluntariado “contribui para que a sociedade expresse a sua

capacidade de assumir responsabilidade e de agir por si mesma”.

Seja por oportunidade, por prazer, por fraternidade, por civismo, por

solidariedade ou por amor, o trabalho voluntário caracteriza-se em uma atividade

desempenhada espontaneamente com qualidade de valores éticos e de

generosidade cidadã. (ROMANO FILHO, 2010)

De acordo com o Instituto para o Desenvolvimento Social (2002), o

voluntariado:

Está a serviço das comunidades para melhoria da qualidade de vida e do

bem-estar;

Desenvolve-se através de projetos e programas de entidades públicas e

privadas;

Corresponde a uma decisão livre e voluntária apoiada em motivações e

opções pessoais que caracterizam o voluntário.

“O termo voluntariado é colocado em evidência como uma práxis da gestão

participativa devido a sua característica de estimular o trabalho em equipe e o

envolvimento das pessoas de forma efetiva com as causas humanitárias” – Leite

(2002 apud BRAGA, 2005, p. 30)

Domeneghetti (apud BRAGA, 2005) aponta algumas características

importantes do perfil do voluntário: discrição, pontualidade, assiduidade,

responsabilidade, criatividade, paciência, prontidão e iniciativa.

A classificação das atividades voluntárias podem ser as mais diversas. Elas

vão desde a característica da atividade, o propósito, a periodicidade, a quem se

destina, quem são os voluntários até ao eixo de atuação, como por exemplo: saúde,

cidadania, educação e lazer. Domeneghetti (2001), classifica os voluntários pela

forma de atuação:

18

Voluntários de Gestão – são aqueles que participam como gestores e

aqueles que se dedicam dentro de sua área profissional, como por

exemplo: médicos, enfermeiros, etc.

Voluntários de Atuação – são aqueles que atuam diretamente com o

público, trabalham na atividade fim da entidade.

Voluntários Externos – são aqueles voluntários que não tem

disponibilidade para cumprimento de carga horária como os voluntários de

atuação. Eles dão suporte as atividades esporadicamente.

Voluntários de Fim-de-semana – são aqueles que não participam do dia-a-

dia da entidade, como por exemplo: aqueles que atuam em hospitais e

casas de apoio.

O voluntariado empresarial iniciou na década de 1990 de forma mais

organizada e ganhou força no Brasil através da criação de lei especificamente

voltada à prática do voluntariado, a Lei Nº 9.608 (ANEXO A). Outro marco

importante foi a criação do Dia Nacional do Voluntário, 5 de dezembro.

Para Goldberg (2001; p.21), “o voluntariado empresarial é um conjunto de

ações realizadas para incentivar e apoiar o envolvimento dos seus funcionários em

atividades voluntárias na comunidade”.

A gestão do trabalho de voluntariado tem como base o modelo de gestão

empresarial. Porém esse novo modelo de trabalho deve ser visto com mais atenção,

pois, segundo Camargo et al (apud COSTA, 2005), “os voluntários precisam obter

mais satisfação em suas realizações justamente porque não recebem remuneração.”

O voluntariado empresarial é uma forma de diálogo com a comunidade, que abre espaço para o relacionamento ético com os demais públicos da empresa, incorporando valores de cidadania que

contribuem para o desenvolvimento sustentável. (FIEMG, 2006, vol.1, p.7).

2.2.2 Importância para gestão empresarial

Segundo a Points of Light Foundation1 (apud RIOVOLUNTÁRIO, 2007, p. 9),

“Voluntariado empresarial é o apoio formal e organizado de uma empresa aos seus

empregados e aposentados que desejam servir voluntariamente uma comunidade

com seu tempo e habilidades”.

1 É uma organização americana fundada em 1990, responsável por uma rede nacional de centros de voluntariado, cuja missão

é engajar pessoas e recursos mais eficientes no serviço voluntário para ajudar a resolver problemas

19

A implantação do trabalho voluntário não só agrega valores importantes à organização como um todo, mas também agrega valores à sociedade, que recebe em troca cidadãos mais conscientes e com valores internos mais verdadeiros e solidificados. Famílias inteiras se reciclam através de novos conceitos, como solidariedade e cidadania. (DOMENEGHETTI, 2001, p. 106).

Garay e Mazzilli (2003) fizeram o levantamento de algumas suposições de

motivos que levaram as empresas promoverem ou apoiarem o trabalho voluntário de

seus funcionários:

Desenvolver competências dos funcionários

Pardini (2000 apud GARAY; MAZZILLI, 2003) afirma que o voluntariado

estimula o uso de habilidades e criação de solução de problemas visando o coletivo.

Além disso, Garay e Mazzilli (2003, p. 6) defendem que “voluntariar representa uma

forma de treinamento, oportunizando o exercício da liderança e senso de

responsabilidade”.

Estimular o desenvolvimento do papel institucional do executivo

Aumentar o nível de satisfação e identidade dos colaboradores com a

empresa

A participação da empresa com projetos sociais e, posteriormente o

engajamento de funcionários como voluntários pode funcionar como estratégia de

convencimento e de maior aceitação da empresa pelos indivíduos. Ao ingressarem

num projeto estimula o sentimento e orgulho de pertencimento a uma causa nobre.

(GARAY; MAZZILLI, 2003).

Fortalecimento da cultura corporativa

O estímulo ao trabalho voluntário pode ser considerado um elemento de

criação de valor da organização, onde pode ser um diferencial entre seus

concorrentes. As empresas criam rituais, cerimônias, possuem valores e imagens

que são também exemplos de procedimentos de uma cultura corporativa em torno

de sua missão social. Com base em valores sólidos, com apelo forte, busca-se

fortalecer a cultura corporativa. (GARAY; MAZZILLI, 2003).

Consolidação de uma imagem corporativa favorável

No marketing existe o posicionamento socialmente responsável que pode ser

diferencial competitivo capaz de trazer bons resultados às organizações, com

20

consolidação de uma imagem e de uma marca corporativa favorável. Essa imagem

representa como o público vê a empresa perante a sociedade como também deve

estar em sintonia com a imagem de marketing que é o “valor de troca” que ela

possui para seu público. (GARAY; MAZZILLI, 2003).

Wanda Engel, superintendente executiva do Instituto Unibanco (apud

CONSELHO BRASILEIRO DE VOLUNTARIADO EMPRESARIAL, 2010, p. 4) aponta

que as empresas têm muito a ganhar com o voluntariado empresarial: “O incremento

no valor da marca, a satisfação e orgulho dos colaboradores, além de oportunizar ao

colaborador voluntário o desenvolvimento de habilidades típicas de um

empreendedor social (...).”

De acordo com a Pesquisa Perfil do Voluntariado no Brasil II (CONSELHO

BRASILEIRO DE VOLUNTARIADO EMPRESARIAL, 2010), dentre as principais

expectativas com o programa de voluntariado estão:

Contribuir para o desenvolvimento das comunidades próximas a empresa -

29,7%

Contribuir para melhoria de vida de seus moradores – 20,0%

Fortalecer a imagem da empresa para públicos interno e externo –18%

Ampliar as competências e habilidades dos colaboradores – 10,9%

Figura 1: Ordem de Importâncias das principais expectativas Fonte: CONSELHO BRASILEIRO DE VOLUNTARIADO EMPRESARIAL, 2010.

21

A orientação corporativa continua sendo a principal motivação para o

desenvolvimento de práticas de voluntariado empresarial, apontada por 57,8% das

empresas pesquisadas em 2010 contra 49% em 2007. Este dado demonstra a

importância de programas de voluntariado organizados por iniciativa empresarial.

Outro dado relevante que evidencia a importância de um programa de voluntariado é

que 68,8% realizam o planejamento das atividades dentro do horário de trabalho,

entretanto a ação ocorre fora do horário de trabalho, conforme figuras 2 e 3.

Figura 2: Motivação para o voluntário Fonte: CONSELHO BRASILEIRO DE VOLUNTARIADO EMPRESARIAL, 2010

2.2.3 Programas de Voluntariado

O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social define Programa de

Voluntariado como: “aglomerado de ações orquestradas e sistemáticas que uma

empresa realiza com a finalidade de dar suporte ao voluntariado empresarial”

A transformação do voluntário bem-intencionado em profissional treinado, integrante de uma equipe, fez com que as organizações tivessem que aprimorar e desenvolver o impulso solidário de voluntário para convertê-lo em compromisso. Para isso,

22

os voluntários precisam obter mais satisfação em suas realizações justamente porque não recebem remuneração. (CAMARGO et al apud COSTA, 2005, p. 69-70)

Figura 3: Horário em que os colaboradores são incentivados a realizar ações voluntárias Fonte: CONSELHO BRASILEIRO DE VOLUNTARIADO EMPRESARIAL, 2010

Domeneghetti (2001) defende que para garantir que o trabalho seja realizado

com eficácia (cumprir o objetivo proposto), eficiência (a melhor forma de fazer algo

com os recursos disponíveis) e efetividade (atingir a meta segundo a necessidade) é

necessário uma coordenação de voluntários que esteja atenta as quatro funções

gerenciais: planejamento, organização, direção e controle. Já Dohme (2001)

apresenta uma relação de atribuições do coordenador:

Analisar a organização e a necessidade do público

Articular o envolvimento do voluntário na organização

Desenvolver programas e objetivos

Estabelecer as funções voluntárias

Coordenar o planejamento de turnos

Determinar políticas e procedimentos

23

Gerenciar o orçamento

Prover apoio necessário

Desenvolver novos projetos

Desenvolver habilidades pessoais

A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) elaborou em

2006 a Coleção Voluntariado Empresarial contendo quatro volumes de publicação

com temas relevantes para implantação de programas de voluntariado. O volume 1

“Como coordenar programas de voluntariado empresarial” descreve princípios do

Programa de voluntariado empresarial: (a) ele deve estar sintonizado com a cultura

organizacional da empresa, (b) deve ser realizado com a mesma linguagem e com

os mesmos interesses dos seus empregados e (c) deve sempre ter seu foco no

público externo, na comunidade e/ou em instituições sem fins lucrativos. A

manifestação voluntária é o relacionamento responsável com a sociedade, visando

sempre o exercício da cidadania. Nessa mesma publicação, a FIEMG defende que o

coordenador deve ser “um profissional mobilizador, organizado e articulado”, “ter um

perfil animador, capaz de valorizar as pequenas ações tanto quanto as grandes, de

valorizar o indivíduo e o grupo, fazendo com que todos sintam-se comprometidos.”

(FIEMG, 2006, p.10). Dentre as funções do coordenador descritas pela FIEMG

estão:

Elaborar diretrizes

Realizar diagnóstico

Organizar o preparo do comitê

Coordenar o sistema de informações do programa

Organizar as capacitações necessárias para o bom desempenho dos

voluntários

Estabelecer o relacionamento com a comunidade

Fazer o monitoramento dos processos

Tendo sido definido âmbito filosófico estratégico, como é denominado por

Domeneghetti (2001), que é a coordenação e o planejamento da ação voluntária, o

próximo passo é o âmbito tático operacional. Corroborando, Vânia Dohme (2001)

descreve cada etapa onde a primeira é o recrutamento que inclui a captação,

seleção, contato, integração e orientação. Nessa fase a divulgação é um instrumento

importantíssimo, mas deve-se lembrar de dois enfoques: (a) divulgação da

24

organização e (b) divulgação da necessidade, escopo e função do voluntário. Uma

estratégia que pode ajudar bastante é alocar voluntários que são profissionais da

área, estudantes de comunicação para desempenhar essa tarefa. (DOHME, 2001)

O processo de seleção deve ser desenvolvido sem esquecer o seguinte lema

“pessoas certas no lugar certo”. Alguns questionam por que fazer uma seleção de

voluntários se a pessoa já decidiu trabalhar de graça? A resposta é simples, os

voluntários lidam com questões de vulnerabilidade social e eles precisam possuir

tempo, disposição, interesse pela atividade que irá desempenhar e, principalmente,

estar comprometido com a missão do programa. Cada instituição ou projeto possui

áreas e perfis de voluntários distintos, portanto é necessário identificar qual papel

cada voluntário desempenhará. (DOHME, 2001)

Dohme (2001) e Domeneghetti (2001) defendem que a organização já deve

definir uma prévia da necessidade de voluntários e uma descrição de cargos e

tarefas, além dos horários disponíveis. Tendo isso em mãos fica mais prático o

processo de seleção. Ambas as autoras apresentam a entrevista como uma

estratégia essencial onde o candidato preencherá uma ficha de inscrição que

facilitará ao entrevistador direcionar as atividades de acordo com as habilidades e

disponibilidade descritas na ficha e serão repassados ao entrevistado os elementos

mais específicos do serviço voluntário. Por ter um contato direto com o candidato é

uma fase para fazer perguntas e conhecer melhor as expectativas e características

do novo voluntário. Feito as entrevistas com os candidatos, deverá ser feita uma

avaliação e logo em breve, informar se o candidato foi ou não selecionado.

Lembrando sempre de demonstrar cortesia e indicar outra instituição ou centro de

voluntariado adequado ao perfil do candidato que não foi selecionado.

Feita a escolha dos candidatos, deverá ser marcada uma reunião com os

selecionados onde deve ser explanado aos candidatos o estatuto, regimento interno,

diretrizes, programas de treinamento, benefícios, organograma e demais orientações

gerais da função do voluntário e ao final, o voluntário deverá preencher o Termo de

Adesão (ANEXO B). Domeneghetti (2001) denomina essa etapa como um Curso de

Formação e Capacitação.

Findada a etapa de recrutamento, inicia-se a Execução das atividades.

Dohme (2001) destaca nessa fase a formação de equipes, avaliação e categoriza

como Término o remanejamento da carreira e reconhecimento.

25

Acredita-se que seja relevante descrever sobre o aspecto motivacional na

execução das atividades, pois por ser realizado sem nenhum tipo de remuneração o

fator motivacional é a força que estimula a ação. Entre os fatores motivadores

descritos por Dohme (2001) e Domeneghetti (2001) estão: atingir metas sociais,

interesse pela causa, obtenção de reconhecimento, ter uma participação efetiva na

obtenção dos objetivos, assumir uma nova atividade, ser aceito pelo grupo e ter bom

relacionamento com estes. Dohme (2001) elenca duas características importantes

que uma equipe deve ter: (a) comprometimento, que é a responsabilidade no

exercício da função e; (b) entusiasmo, uma reação da vontade de realizar algo com

prazer alinhado aos objetivos causado pelo ambiente externo.

Domeneghetti (2001) descreve três etapas para manutenção da motivação

em alta, são eles: valorizar as funções, saber como delegar as responsabilidades e

realizar recompensas de forma que estimulam a competitividade. Dohme (2001, p.

129) faz uma alerta: “a política de reconhecimento (...) deve ser avaliada com

cuidado e sempre visando à eficiência do trabalho (...). As recompensas devem ser

acessíveis e imediatas e não ser alvo constantes de promessas”.

Dohme (2001) cita os fatores de desmotivação que podem gerar insatisfação

e consequentemente uma desistência por parte do voluntário. Bronca, uma ação que

vai contra o sentimento de cooperação. Entretanto, quando houver necessidade de

consertar falhas deve ser feito através de diálogo, observando pontos de vista

diferentes. Outro fator desmotivador é quando o voluntário sente que não faz falta no

ambiente ou no grupo que atua ou quando ele tem dúvidas quanto a sua utilidade no

desempenhar das tarefas. Nesse caso, deve identificar uma nova atividade ou área

de acordo com o perfil do voluntário. Falta de direcionamento, excesso de regras,

má liderança, mau relacionamento e condições de trabalho insuficientes também

são outros exemplos desmotivadores.

É notório perceber que alguns desses fatores desmotivadores estão

relacionados à comunicação, ou melhor, falha ou falta de comunicação. Por isso, é

importante planejar corretamente a comunicação desde o início do programa. De

acordo com a FIEMG (2006), não deve ser feito apenas divulgação, é preciso

informar, engajar, interagir, facilitar e manter a participação através de criação de

vínculos. Domeneghetti (2001) defende ainda que a falta de informações é uma

fonte de desmotivação.

26

Antes de traçar as diretrizes de comunicação, é necessário conhecer a cultura

organizacional, obter apoio da alta administração, conhecer as características da

comunidade e identificar a motivação dos empregados. Vale ressaltar que as

estratégias utilizadas devem gerar credibilidade, identificação e participação. As

formas utilizadas podem ser as mais diversas, mas independentemente do porte da

empresa ou dos recursos, a comunicação deve ser clara, transparente, objetiva,

criativa e, acima de tudo, motivadora. (FIEMG, 2006)

Na publicação “Como mobilizar pessoas para programas de voluntariado

empresarial”, a FIEMG (2006, p.10) relaciona alguns itens da comunicação

específicos para o público interno:

Informar a política do programa de voluntariado, seus objetivos, os

responsáveis, qual o papel da empresa, o funcionamento do programa, as

responsabilidades de cada um, as possibilidades de atuações, os

treinamentos, resultados e formas de sugerir melhorias

Conscientizar sobre a importância do voluntariado

Promover troca de experiências, sentimentos, expectativas de forma que

gere interação e manutenção de laços

Divulgar constantemente avanços e resultados

Já ao público externo alerta que além de focar a visibilidade do programa

deve ampliar seu relacionamento de forma consistente e confiável para garantir a

legitimidade junto a sociedade, uma possível adoção de voluntariado por parte de

outras empresas, ampliando sua rede de cidadania e fortalecimento de sua

reputação junto aos stakeholders. (FIEMG, 2006)

A estratégia de registro da história do programa é outra dica interessante da

Coleção Voluntariado Empresarial da FIEMG (2006). Eles afirmam que registrar a

história com dados, fotos, comentários, experiências, matérias de jornal e resultados

ajudam a preservar a trajetória do programa, favorece o desenvolvimento do

sentimento de participação e entusiasmo. Além disso, para o público externo ao

visualizar a trajetória do programa valorizam a causa, a iniciativa e o apoio da

empresa. Resumindo: o importante é gerar a motivação para que os participantes

continuem o trabalho e novas adesões possam enriquecer o projeto.

Um procedimento que não se pode esquecer é a avaliação, pois não adianta

planejar, executar e não monitorar e adotar critérios de avaliação para verificar o

27

impacto, o cumprimento dos objetivos propostos, identificar os pontos que devem

ser melhorados e observar a eficiência e eficácia das atividades. Portanto Dohme

(2001, p. 57) defende que a “avaliação e estabelecimento de novas metas devem

ser feitos com calma e por todas as pessoas envolvidas no processo”.

De acordo com a Pesquisa Perfil do Voluntariado Empresarial no Brasil II

(CONSELHO BRASILEIRO DE VOLUNTARIADO EMPRESARIAL, 2010), 64,1%

das empresas pesquisadas tem definidos indicadores de avaliação das ações

voluntárias realizadas pelos colaboradores. Podemos ver com a figura a seguir que

os instrumentos de registro e avaliação são diversos, porém há um destaque em

dados subjetivos como levantamento de casos observados em 59,4% dos casos e

em 53,1% com conversas informais.

Figura 4: Como são recolhidas e registradas informações sobre as ações voluntárias Fonte: CONSELHO BRASILEIRO DE VOLUNTARIADO EMPRESARIAL, 2010

Nessa mesma pesquisa quando são aplicados instrumentos formais de

avaliação, 81,3% das empresas pesquisadas apontaram que focam nos resultados e

apenas 28,1% no impacto. Dentre as principais informações recolhidas no processo

28

de execução, são: número de colaboradores envolvidos, número de beneficiários

diretos e quais os tipos de ações realizadas e número de instituições beneficiadas.

Podemos visualizar os valores percentuais na figura 5.

Fazendo um panorama sobre a percepção dos benefícios do voluntariado na

pesquisa Perfil do Voluntariado Empresarial no Brasil II (CONSELHO BRASILEIRO

DE VOLUNTARIADO EMPRESARIAL, 2010) identificamos que 64,1% dos casos o

público-alvo é o maior beneficiado, em 23,4% são as empresas e com esse mesmo

percentual estão os colaboradores voluntários.

Figura 5: Tipo de informações recolhidas sobre o resultado das ações voluntárias Fonte: CONSELHO BRASILEIRO DE VOLUNTARIADO EMPRESARIAL, 2010

O interesse principal desse trabalho é identificar fatores do voluntariado que

influenciam na gestão da empresa. Por isso, será dado destaque e apresentados os

gráficos da percepção de benefício para empresas e para os colaboradores. Na

primeira pesquisa elaborada em 2007, chamada Pesquisa do Voluntariado

Empresarial no Brasil (RIOVOLUNTÁRIO, 2007), 96% das empresas concordam que

o voluntariado fortalece o espírito de equipe e 85% concordam que desenvolve

29

novos talentos. Já na segunda pesquisa Perfil do Voluntariado Empresarial no Brasil

II (CONSELHO BRASILEIRO DE VOLUNTARIADO EMPRESARIAL, 2010),

elaborada em 2010, esses índices aumentaram como podemos ver na figura 6.

Dentre os benefícios identificados nas empresas os principais foram: melhora

na relação com a comunidade cresceu de 89% em 2007 para 93,8% em 2010;

melhora no compromisso/envolvimento dos funcionários cresceu de 81% para

87,5% em 2010 e o favorecimento do trabalho em equipe cresceu de 87% em 2007

para 92,2% em 2010. Esses e outros fatores elencados como benefícios para as

empresas podem ser observados na figura 7.

Figura 6: Benefícios para os colaboradores Fonte: Pesquisa Perfil do Voluntariado Empresarial no Brasil II

30

Figura 7: Benefícios para as empresas Fonte: Pesquisa Perfil do Voluntariado Empresarial no Brasil II

A seção seguinte abordará a metodologia utilizada para realização desta

pesquisa, com maiores esclarecimentos sobre o delineamento da pesquisa, a

técnica de coleta e a análise dos dados.

31

3 METODOLOGIA

Nessa seção será apresentado como foi desenvolvido o presente trabalho e

quais instrumentos de pesquisa foram utilizados para atingir os objetivos propostos.

Segundo Ventura (2002), há diversas classificações da metodologia

encontradas em literaturas especializadas. Quanto ao tipo, as pesquisas são

classificadas como quantitativas ou qualitativas. As quantitativas necessitam de

valores numéricos para atingir os objetivos, enquanto as pesquisas qualitativas

incluem rótulos ou nomes usados para identificar cada elemento. (ANDERSON;

SWEENEY; WILLIAMS, 2008).

3.1 Delineamento da Pesquisa

Quando a sua natureza o trabalho está classificado como resumo de um

assunto, pois não se trata do primeiro trabalho científico sobre o tema conforme

afirma Andrade (2005).

Inicialmente, foi feita uma pesquisa exploratória explicativa sobre o conceito

de responsabilidade social empresarial, o surgimento do voluntariado e as práticas

de voluntariado no meio empresarial. Segundo Gil (2002), esse tipo de pesquisa

conduz ao pesquisador uma maior familiaridade com o tema. Portanto, foi definida

como sendo a primeira etapa do trabalho. Para Andrade (2005) a pesquisa

explicativa busca não só registrar, mas também identificar fatores determinantes no

objeto de estudo. A pesquisa bibliográfica foi obtida com fontes secundárias, em

livros, artigos e sites conceituados da área.

3.2 Técnica de Coleta de Dados

O método escolhido para fazer o levantamento dos dados foi o estudo de

caso. Esse método caracteriza-se por um estudo com um ou poucos objetos,

servindo para investigar algo que se deseja amplo conhecimento e detalhamento.

(GIL, 2002)

Na pesquisa de campo, o investigador assume papel de observador e

explorador, pois coleta seus dados e fenômenos no local (campo). (BARROS;

LEHFELD, 2000). Utilizou-se de entrevista estruturada como técnica de coleta de

32

dados. Existem três tipos de entrevista (MARCONI, 1990 apud ANDRADE, 2005):

(a) estruturada, (b) não estruturada e (c) painel. Foi elaborado um roteiro, portanto

caracterizou-se como entrevista estruturada. Segundo Lakatos e Marconi (2003)

esse modelo possui algumas vantagens como: pode avaliar melhor as atitudes e

condutas, há possibilidade de obter informações mais precisas e há maior

flexibilidade para esclarecer ou especificar algum assunto.

Quanto à classificação dos dados está classificado como qualitativo, pois

não é o foco mensurar valores apenas identificar comportamentos e fenômenos.

Buscou-se identificar, na percepção do gestor, quais as influências do voluntariado

na gestão organizacional.

Para análise do fenômeno em questão, utilizou-se de análise de conteúdo,

com a qual buscou sistematizar e explorar os dados de natureza qualitativa. Para

realização da análise foi necessário fazer interpretação dos dados para dar um

significado amplo das respostas (BARROS; LEHFELD, 2000). Segundo LAKATOS

(1983 apud BARROS; LEHFELD, 2000, p. 95), existem dois aspectos importantes

para interpretação dos dados:

Construção de tipos, modelos e esquemas através dos conceitos

teóricos

Ligação com a teoria – pressupõe uma definição metodológica e teoria

do pesquisador em termos de seleção entre as alternativas disponíveis da

interpretação da realidade.

Quanto ao objeto de estudo foi escolhida a Federação das Indústrias do

Estado do Ceará onde existe um programa de voluntariado que abrange

colaboradores de todo o Sistema FIEC: Serviço Social da Indústria (SESI), Serviço

Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Instituto Euvaldo Lodi (IEL), Instituto

FIEC de Responsabilidade Social (FIRESO) e Instituto Nacional de Desenvolvimento

Industrial (INDI). O critério utilizado para escolha da empresa foi que ela possua um

programa de voluntariado há mais de um ano, que a atuação vise ao público externo

e que as ações não sejam apenas pontuais.

Na próxima seção, segue os resultados obtidos com a pesquisa juntamente

com a análise dos mesmos. Ao final, foram feitas as últimas considerações.

33

4 RESULTADOS

A empresa escolhida para realizar o estudo de caso foi a Federação das

Indústrias do Estado do Ceará (FIEC). Seu programa de voluntariado foi implantado

em dezembro de 2008, sendo coordenado pelo Instituto FIEC de Responsabilidade

Social (FIRESO) e conta com a participação de colaboradores de todas as casas do

Sistema FIEC, como Serviço Social da Indústria (SESI), Serviço Nacional de

Aprendizagem Industrial (SENAI), Instituto Euvaldo Lodi (IEL), FIRESO e Instituto

Nacional de Desenvolvimento Industrial (INDI). Esse estudo de caso é baseado nas

informações fornecidas através de entrevista com a secretária executiva do FIRESO

e por meio do documento norteador do Programa de Voluntariado do SFIEC

fornecido pela mesma. Como roteiro para entrevista (ver apêndice) foram

elaboradas treze perguntas subjetivas e uma questão objetiva visando atingir os

objetivos específicos do trabalho.

O Grupo de Voluntariado do SFIEC tem como objetivo mobilizar os

colaboradores para engajamento com projetos sociais que atendam aos segmentos

sociais em situação de vulnerabilidade social. As atividades são sistemáticas, sendo

realizadas em um sábado de cada mês tendo 4 horas práticas e 8 horas de

planejamento realizado pela coordenação.

Quando questionada sobre as motivações da empresa em implantar um

programa de voluntariado, a entrevistada respondeu:

“Em 2007 foi feita uma consultoria pra identificar qual o nível de aderência dos valores de Responsabilidade Social na gestão das casas do SFIEC. A metodologia adotada foram entrevistas por amostragem com diretores, gestores e colaboradores para identificar pontos de gargalos no tocante a responsabilidade social e sua relação com os stakeholders do SFIEC. A partir daí foi feito um diagnóstico social de como que se dava esse relacionamento com suas partes interessadas. Subsidiado por esse diagnóstico, depois foi elaborado um Plano de Ação Social coletivamente voltando para questão da representatividade de gestores, diretores e colaboradores e esse plano, para cada parte interessada foram relacionadas atividades que poderiam mobilizar e incentivar o próprio sistema a construir esse canal de diálogo. E uma das coisas que ficou sinalizada nesse plano foi a questão de um programa de voluntariado.”

Portanto, obtemos que o fator principal que motivou o SFIEC a implantar um

programa de voluntariado foi visão de praticar a responsabilidade social corporativa.

É tanto que foi elaborado um diagnóstico geral com todas as suas partes

34

interessadas. Como Ashley (2005) mencionou como um fator diferencial e tendência:

a transparência nas atividades empresariais, onde as empresas buscam melhorar

seus relacionamentos com as partes interessadas, os chamados stakeholders.

Quando questionada sobre os critérios que contemplam o programa de

voluntariado da empresa, a entrevistada respondeu fazendo comentários de alguns

itens.

Coordenação e comitê gestor – a entrevistada apresentou que ainda é um

grande desafio, pois os voluntários ainda não se sentem aptos a assumirem a tutela

do programa. Segundo ela: “Eles participam, mas não se vêem com gestores do

processo”.

Orientação ao trabalho voluntário – a entrevistada classificou como em

parte, pois existe o processo de formação permanente sobre conceitos de

voluntariado e na área motivacional que é realizado através de cursos e encontros

de voluntariado. Porém orientação sobre a prática do trabalho e na preparação

sobre a instituição e o público que é atendido não existe.

Estrutura de equipes – na FIEC, a estrutura de equipes se dá quando

existem atividades do grupo e não por competência.

Outros componentes que foram constatados no programa da FIEC:

Definição de Missão, objetivos e planejamento estratégico

Divulgação

Contrato e informações gerais da atividade voluntária

Diagnóstico externo

Diagnóstico interno

Capacitação

Avaliação e escala de progressão

Registro das atividades

Captação, seleção e integração de novos voluntários, foram apresentadas

como um grande desafio, pois conforme a entrevistada “depois que houve a

formação do grupo ele se fechou em si”. Os demais itens que não contemplam no

programa de voluntariado da FIEC, são: remanejamento de carreira e

reconhecimento dos voluntários.

35

Quando questionada sobre as práticas de voluntariado, a entrevistada

respondeu que existem atividades sistemáticas de prestação de serviço a

instituições previamente escolhida e feito diagnóstico. Além disso, eles realizam

campanhas de arrecadação em datas comemorativas como, por exemplo, Natal e

dia das crianças. As atividades são desenvolvidas fora do horário de trabalho, porém

o planejamento acontece no horário do expediente, o que mostra o apoio da

empresa com o programa. Outra contribuição da empresa para com o grupo é que

eles oferecem os recursos e as instalações da empresa para realizar atividades de

prestação de serviço e promovem a capacitação de voluntários.

Capacitação de Voluntários – existem duas vertentes da capacitação no

SFIEC: inicial e a continuada. No inicio do programa foi realizado um curso de

formação para os voluntários onde foram abordados temas como voluntariado,

voluntariado corporativo, práticas de gestão, atribuições da empresa e do voluntário.

A capacitação continuada acontece de forma sistemática, durante cada ano a

coordenação do programa promove cursos, encontros e intercâmbio com outros

grupos de voluntariado visando promover a interação dos membros do grupo, como

também proporcionar melhores aprendizados nas áreas de responsabilidade social,

cidadania, sustentabilidade e voluntariado. Outro detalhe é que se trata de uma

capacitação aberta para outros colaboradores interessados na temática.

Participação da alta gestão nas atividades – apesar deles não

participarem das atividades de prestação de serviço eles subsidiam todas as

atividades.

Monitoramento e avaliação – a própria FIEC elencou seus indicadores de

resultados. São feitos relatórios para cada atividade e com esses dados é

alimentada uma planilha de indicadores de resultados. Quantitativamente são

coletados o número de voluntários participantes, número de horas de atividades,

número de pessoas beneficiadas e número de atendimentos. Qualitativamente é

feito reuniões trimestrais com o grupo para obter o índice de satisfação do voluntário

com a atividade proposta, índice de satisfação da instituição, qual relevância do

trabalho para o público beneficiado, agregação de valor e se as atividades atendem

a demanda.

Resultados e influencia na gestão – Dentre os benefícios obtidos pela

empresa com o programa de voluntariado, segundo a entrevistada, é o valor

36

agregado onde, por ser uma instituição que o foco de atuação perpassa pela

Responsabilidade Social, acaba sendo um instrumento de intervenção da federação

na sociedade e esse programa acaba sendo uma ferramenta de exercício da

responsabilidade social. No âmbito interno ressalta a mobilização desses

colaboradores se engajarem em atividades desse tipo. A motivação acaba sendo de

imediato o retorno para a empresa porque o colaborador vai se sentir mais motivado

nas suas atividades cotidianas que ele executa desde a gerência de projetos a

administração de conflitos. E também ele trabalha o funcionário que ganha com

desenvolvimento de habilidades e outras competências que ele normalmente não

obteria somente com seu trabalho profissional.

37

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho se desenvolveu com a problemática de analisar como a prática

do voluntariado influencia na gestão empresarial do Sistema FIEC.

Constatou-se que o Programa de Voluntariado do SFIEC possui fatores que

influenciam as empresas, seja por meio de sua melhora de imagem institucional,

melhor relacionamento com suas partes interessadas ou através de feed-backs de

seus colaboradores. Essa monografia estabeleceu cinco objetivos específicos e

atingiu todos eles.

O primeiro objetivo específico seria identificar motivos que levaram a

empresa ter um programa de voluntariado em sua gestão. De acordo com os

resultados obtidos do estudo de caso, a empresa apresentou que o motivo pelo qual

ela iniciou seu programa foi para melhorar seu relacionamento com seus

stakeholders.

O segundo objetivo específico seria comparar os critérios que contemplam o

programa de voluntariado da empresa pesquisada com a literatura e de acordo com

a análise dos resultados. Existem alguns fatores importantes que a literatura aponta

que ainda não são vivenciados pela empresa como reconhecimento, criação de um

comitê e realização de capacitação voltada para desenvolvimento das habilidades e

atividades do grupo, são fatores confessados como um grande desafio. A estrutura

de equipes e a criação de funções por parte da coordenação, Dohme (2001)

apresenta como um fator essencial, entretanto no SFIEC a estrutura de equipes se

dá pelas atividades e não por competência. Outro fator inexistente no programa

pesquisado é que não existe recrutamento, seleção, integração de novos membros,

fatores defendidos pelas autoras Domeneghetti (2001) e Dohme (2001). Entretanto,

aconteceu uma capacitação inicial de formação do grupo no início do programa e

existe a capacitação continuada, o que mostra que a empresa realiza a etapa

Capacitação e Formação chamada por Domeneghetti (2001).

O terceiro objetivo específico seria identificar as práticas de voluntariado na

organização. Para este objetivo foi identificado além dos critérios que contemplam o

programa de voluntariado, as atividades são sistemáticas de prestação de serviço a

instituições previamente escolhida e também existem as campanhas de arrecadação

em datas comemorativas. Na empresa, as atividades são desenvolvidas fora do

horário de trabalho, porém o planejamento acontece no horário do expediente.

38

Existe um monitoramento e avaliação do programa através dos relatórios de

atividades e planilha de indicadores de resultados elaborada pela instituição.

O quarto objetivo, identificar os indicadores de resultados gerados pelos

programas de voluntariado das empresas, foi obtido pela empresa estudada que

eles elaboraram seus próprios indicadores: quantitativamente estão o número de

voluntários participantes, número de horas de atividades, número de pessoas

beneficiadas e número de atendimentos. Qualitativamente são grau de satisfação do

voluntário com a atividade proposta, índice de satisfação da instituição, qual

relevância do trabalho para o público beneficiado, agregação de valor e se as

atividades atendem a demanda.

O último objetivo específico é identificar fatores do voluntariado que

influenciam na gestão da empresa, foi identificado como benefício que a empresa

obtém retorno na sua imagem e no relacionamento com suas partes interessadas.

Outro fator apresentado é que os colaboradores através da prática de uma atividade

que eles se identificam, vêem resultados positivos na comunidade eles se sentem

motivados e desenvolvem novas habilidades.

Acredita-se que os resultados do estudo constituem informações relevantes

para os alunos do curso de administração e para as empresas que desejam

implantar um programa de voluntariado, pois trazem estratégias e práticas para um

melhor direcionamento no processo de formação de um programa de voluntariado

empresarial.

Sugere-se futuras pesquisas sobre o perfil do voluntário empresarial na

região nordeste, como também uma pesquisa comparativa entre a prática do

voluntariado no primeiro, segundo e terceiro setor, com suas similaridades e

diferenças.

39

REFERÊNCIAS

ANDERSON, David R.; SWEENEY, Denis J.; WILLIAMS, Thomas A. Estatística Aplicada à Administração e Economia – 2. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2008. ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2005. ASHLEY, Patrícia Almeida. Ética e responsabilidade social nos negócios. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. BARROS, Aidil Jesus da Silveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Um guia para a iniciação científica. 2. ed. São Paulo: Makron Books, 2000. BRAGA, Patrícia Maldonado Lima. Gestão do trabalho voluntário no atendimento da 3ª idade: um estudo de caso no lar Francisco de Assis. 2005. 82 f. Monografia (pós graduação em Administração de Recursos Humanos) – Curso de Pós Graduação em Administração de Recursos Humanos, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2005. BRASIL. Presidência da República. Secretaria de Comunicação. Comunidade Solidária: todos por todos. Brasília, 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/publi_04/COLECAO/COMUNI.HTM Acesso em: 20 de outubro de 2010.

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ANEXO A – LEI DO SERVIÇO VOLUNTÁRIO

Lei nº 9.608, de 18 de fevereiro de 1998

Dispõe sobre o serviço voluntário e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Artigo 1 - Considera-se serviço voluntário, para fins desta Lei, a atividade não remunerada, prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza ou instituição privada de fins não lucrativos, que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência social, inclusive, mutualidade. Parágrafo Único: O serviço voluntário não gera vínculo empregatício nem obrigação de natureza trabalhista, previdenciária ou afim.

Artigo 2 - O serviço voluntário será exercido mediante a celebração de termo de adesão entre a entidade, pública ou privada, e o prestador do serviço voluntário, dele devendo constar o objeto e as condições do seu exercício.

Artigo 3 - O prestador do serviço voluntário poderá ser ressarcido pelas despesas que comprovadamente realizar no desempenho das atividades voluntárias. Parágrafo Único: As despesas a serem ressarcidas deverão estar expressamente autorizadas pela entidade a que for prestado o serviço voluntário.

Artigo 4 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Artigo 5 - Revogam-se as disposições em contrário. Brasília, 18 de fevereiro de 1998; 117 da Independência e 110 da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Paulo Paiva

(Publicado no Diário Oficial da União de 19/02/1998)

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ANEXO B – EXEMPLO DE TERMO DE ADESÃO

Nome da instituição: ________________________________________ Endereço: ________________________________________________ Área de atividade: _________________________________________ Nome do voluntário: ________________________________________ Documento de identidade: ______________ CPF: ________________ Endereço: _______________________________________________ Referências pessoais: _____________________________________

O trabalho voluntário a ser desempenhado junto a esta instituição, de acordo com a Lei nº 9.608 de 18/02/1998 é atividade não

remunerada, com finalidades ___________ (assistenciais, educacionais, científicas, cívicas, culturais, recreativas, tecnológicas ou outras), e não gera vínculo empregatício nem funcional, ou quaisquer obrigações trabalhistas, previdenciárias e afins.

Trabalho voluntário na área de: ________________________________________________________

Tarefa específica: ________________________________________________________

Duração: de _______ até _________ Horários:___________________

Resultados esperados: ________________________________________________________

Declaro estar ciente da legislação específica sobre Serviço Voluntário e que aceito atuar como Voluntário nos termos do presente Termo de Adesão. Cidade: ____________________ Data:______________________ _______________________________________

Assinatura do voluntário, R.G. e CPF Testemunhas: _____________________ ______________________

Assinatura, R.G. e CPF Assinatura, R.G. e CPF

De acordo: __________________________________________________________ Nome e assinatura do responsável da instituição/ cargo que ocupa

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APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA

Data da Entrevista ____/____/_____

Nome da Empresa:___________________________________________

Ramo de atividade: ___________________________________________

Quantidade de Funcionários: ___________________________________

Nome do Entrevistado: ________________________________________

Função: ____________________________________________________

1. Existe programa de voluntariado empresarial na empresa?

2. E qual é esta atividade que é desenvolvida?

3. Como é estimulada a participação voluntária para os colaboradores?

4. O que motivou a empresa a ter um Programa de Voluntariado?

5. Marque quais os critérios que contemplam o programa de voluntários da

empresa.

a. Definição de missão, objetivos e planejamento estratégico

b. Coordenação e Comitê gestor

c. Divulgação

d. Captação e seleção de voluntários

e. Contrato e informações gerais da atividade voluntária

f. Integração

g. Orientação

h. Diagnóstico interno

i. Diagnóstico externo

j. Estrutura de equipes

k. Capacitação

l. Avaliação e escala de progressão

m. Remanejamento de carreira

n. Reconhecimento

o. Registro das atividades

6. Quais as principais práticas de voluntariado adotadas na empresa?

7. As atividades são desenvolvidas dentro ou fora do horário de trabalho?

8. Existe participação da alta gestão da empresa em atividades voluntária?

9. Qual percentual de participação?

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10. Como é feita a capacitação dos voluntários para atuação no programa?

11. Como é feito a avaliação do impacto da atividade voluntária? Quais são

indicadores de resultados?

12. Como é feito o monitoramento das atividades do Programa de Voluntariado?

13. Existe algum benefício/ganhos para o voluntário que participa do programa?

14. Quais melhorias obtidas na gestão da empresa com o programa de voluntariado?