23
o QUADRANTE DE PASTEUR da pesquisa basica inspirada pela usa faram encobertas par mais urn acidente historico na metade do seculo XX - 0 empenho da comu- nidade cientifiea em preservar a autonomia da ciencia feita com £1- nanciamento publico, declarando que os esfon;:os para restringir a criatividade da pesquisa basica por meio de considerar;oes de uso eram inerentemente autodestrutivos. Com 0 triunfo da visao de Science, the Endless Frontier, 0 paradoxo estava completo. Permaneceu, porem, a tensao entre esse paradigma e a experiencia real da cieneia, e os desafios aos canones de Bush tornaram-se mais insistentes a me- dida que as neeessidades do pais foram se deslocando da esfera mili- tar para a economica. 0 proximo capitulo desenvolve uma visao des- se relacionamento mais em conformidade com as realidades da CienCla b:isica e da inovar;ao tecnol6gica. 3 TRANSFORMANDO 0 PARADIGMA Meio seculo se passou desde que Vannevar Bush articulou a visao pa- radigmatica sobre a ciencla basica e seu papel na inovat;:ao tecnologi- ca que acabou sendo absorvida pelo pensamento das comunidades cientifiea e de politicas apos a Segunda Guerra Mundial. Essa cstru- tura coneeitual, inspirada em parte pelo ideal de investigar;ao pura da filosofia eientifiea oeidental, e fortaleeida pela separar;ao institucional entre ciencia pura e ciencia aplicada e pelos interesses da comunida- de eientifica no pos-guerra, influenciou a politica cientifica e tecna- 10gica durante boa parte do periodo que se seguiu. Mas essa estrutura vern sendo submetida a fortes pressoes, na medida em que as politicas as quais ela conduziu parecem menos adequadas as neeessidades de uma nova epoca. Na verdade, as duvi- das a esse respeito tern surgido em todos os principais paises indus- trializados. Ninguem mais acredita que urn pesado investimento na ciencia b:isica, pura, guiada apenas pela curiosidade, assegurara par si so a tecnologia exigida para competir na economia mundial e satis- fazer toda gama de necessidades da sociedade. A Gci-Bretanha, por exemplo, publicou em maio de 1993 urn Livro Branco sobre politica

O quadrante de Pasteur

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: O quadrante de Pasteur

o QUADRANTE DE PASTEUR

da pesquisa basica inspirada pela usa faram encobertas par mais urn acidente historico na metade do seculo XX - 0 empenho da comu-nidade cientifiea em preservar a autonomia da ciencia feita com £1-nanciamento publico, declarando que os esfon;:os para restringir a criatividade da pesquisa basica por meio de considerar;oes de uso eram inerentemente autodestrutivos. Com 0 triunfo da visao de Science, the Endless Frontier, 0 paradoxo estava completo. Permaneceu, porem, a tensao entre esse paradigma e a experiencia real da cieneia, e os desafios aos canones de Bush tornaram-se mais insistentes a me-dida que as neeessidades do pais foram se deslocando da esfera mili-tar para a economica. 0 proximo capitulo desenvolve uma visao des-se relacionamento mais em conformidade com as realidades da CienCla b:isica e da inovar;ao tecnol6gica.

3 TRANSFORMANDO 0 PARADIGMA

Meio seculo se passou desde que Vannevar Bush articulou a visao pa-radigmatica sobre a ciencla basica e seu papel na inovat;:ao tecnologi-ca que acabou sendo absorvida pelo pensamento das comunidades cientifiea e de politicas apos a Segunda Guerra Mundial. Essa cstru-tura coneeitual, inspirada em parte pelo ideal de investigar;ao pura da filosofia eientifiea oeidental, e fortaleeida pela separar;ao institucional entre ciencia pura e ciencia aplicada e pelos interesses da comunida-de eientifica no pos-guerra, influenciou a politica cientifica e tecna-10gica durante boa parte do periodo que se seguiu.

Mas essa estrutura vern sendo submetida a fortes pressoes, na medida em que as politicas as quais ela conduziu parecem menos adequadas as neeessidades de uma nova epoca. Na verdade, as duvi-das a esse respeito tern surgido em todos os principais paises indus-trializados. Ninguem mais acredita que urn pesado investimento na ciencia b:isica, pura, guiada apenas pela curiosidade, assegurara par si so a tecnologia exigida para competir na economia mundial e satis-fazer toda gama de necessidades da sociedade. A Gci-Bretanha, por exemplo, publicou em maio de 1993 urn Livro Branco sobre politica

Page 2: O quadrante de Pasteur

o QUADRANTE DE PASTEUR

cientifica e tecno16gica no qual se afirmava explicitamente que "0 governo nao acredita que seja suficiente apenas confiar no surgimen-to automatico de resultados aplicaveis [a partir da ciencia basica] que a industria em seguida utiliza".1 Em todos os paises industrializados vern crescendo 0 interesse em atrelar a ciencia a couida tecno16gica, e esse interesse contribui para criar urn ambiente receptivo a uma Cr1-tica fundamental da estrutura coneeitual eriada no p6s-guerra para a re£lexao sobre eieneia e teenologia.

PRIMElRAS D1SSENSOES

Uma vez desafiado 0 paradigma prevaleeente, nao e cliffeil encontrar os primeiros observadores que tentararn remodelar suas imagens un1-dimensionais, procurando, como Michelangelo, extrair 0 anjo coo-ceitual do marmore que 0 cercava. Urn desses antigos escultores foi James B. Conant, 0 qual, como presidente de Harvard, serviu como urn dos mais pr6ximos colegas de Bush durante a guerra. Conant de-clinou da nomeac;:ao para 0 cargo de diretor-fundador da National Science Foundation quando a nova agencia foi criac¥, em 1950, mas concordou em fazer parte do National Science Board e foi eleito seu presidente. Sua apresentac;:ao do primeiro relat6rio anual da fundac;:ao incluia essa visao notavehnente heterodoxa:

Ninguem pode trapr uma linha divis6ria precisa entre a pesqui-sa b.3sica e a pesquisa aplicada. e a Funda\=ii.o apoiara muitas investi-gao;:oes que podenam ser dassificadas em uma ou outra dessas areas. Na verdade, falando par mim mesmo, nio pelo Conselho, arrisco-me a sugerir que fariamos bern em descartar inteiramente as expressoes "pesquisa aplicada" e "pesquisa fundamental". Em seu lugar eu colocaria

1 Realising our Pott'ntial:A Strategy ior Engineering and Technology. em 2250 {London. Her Maje,ry', Stationery Office. 1993. p.2}.

98

DONALD E STOKES

as palavras "pesquisa programitica" e "pesquisa descomprornissada", pois hft uma distin<;ii.o suficientemente dara entre uma pesquisa diri-gida a uma meta espedfica e uma explora<;ii.o descompramissada de uma ampla area da ignodncia humana. Seria segura afirmar que to-da a pesquisa chamada aplicada e programitica, mas assim tambem e grande parte da pesquisa ftequentemente rotulada como fundamental. 2

Conant deixou claro que essa·era a sua visao, nao a do Conse-lho. E fez bern, pois os relat6rios anuais da fundat;:ao enfatizavam a importancia da "sequencia tecnol6gica". Conant evitou uma eo1isao frontal com Bush substituindo "basiea" por "fundamental". Mas ele entendia que am.bos os termos eram intercambiaveis e referiam-se a toda pesquisa que procura estender 0 entendimento dentro de urn campo ciendfieo - e que, portanto, inclutam mais do que a Clencia impulsionada pela curiosidade chamacla por ele de "pesquisa deseom-promissada", e que Bush havia denominado pesquisa basica.3 Na ver-dade, ao se recusar a identifiear os termos "fundamental" e "descom-promissado", Conant reconheeeu uma relat;:ao de interpenetrat;:ao entre os objetivos de entendimento e uso, uma relat;:ao que divide a pesquisa bastea au fundamental em trabalho programatico, influencia-do por eonsiderat;:6es de usa, e trabalho descompromissado, uma pura viagem de descoberta.

A ideia de dividir a pesquisa basica segundo ela seja tamhem inspirada ou nao por de uso atraiu uma serie de obser-vadores que desejavam poder dar coma de urn relacionamento mais complexo entre esses dois objetivos. 0 historiador da cienCla Gerald Holton, em seu notavel ensaio sobre a visao de Thomas Jefferson a respeito da expedic;:ao de Lewis e Clark, articula a necessidade de uma

2 l"ational Science Foundation, First AMMuaJ Repoti, 1950-1951 {Wa,hington. Government Printmg Office, 1951, p.viil} Grifo no,.".

3 Bush !tio deft";,, a pe'qui£>. basin como urn trabJlho empreendido ,em ,e peruar em fins pritico,. Sua tamma maxi= de que a pe'quisa aplicada expulsa a pura s6 poderia Ser mais que uma tautologla ,e de emendesse que...".. de,eri,;;o era uma verdade de [ato, e noo uma

99

Dirlene Almeida Ferreira
Page 3: O quadrante de Pasteur

o QUADRANTE DE PASTEUR

categoria de pesquisa que combine a tradiyao newtoniana de enten-dimento do mundo natural com a tradit;ao de Bacon de utilizar esse entendimento para atingir fins bern determinados. Uma categoria as-sim englobaria a "pesquisa em uma area de ignocincia cientifica ba-sica que estivesse no carayao de urn problema social".4 Lillian Hod-desan, em uma serie de artigos sobre a pesquisa basica nos Bell Laboratories, propos essa modificayaa da estrutura conceitual:

Pesquisa "fundamental" e "pura" refere-se a tentativa, par meios experimentais e te6ricos, de as fundamentos fisicos dos fe-namenos.O termo especial "pesquisa bisica" refere-se aqui -a estudos fundamentais realizados no ambito da prodw;ao, as quais podem le-var a aplica<;:oes, mas sem que este seja seu objetivo primordial.A pes-quisa aplieada, par sua vez, que engloba engenharia e teenologia, tern por objetivo primordial a apliea<;:ao pratica. 5

o uso especializado de "pesquisa basica" feito por Hoddeson esti proximo da categoria de pesquisa proposta por Deborah Shapley & Rustum Roy na desalentadora avaliayao que fizeram cia Clencia e cia polltica cientifica contempocineas:

o que se perdeu, em uma palavra, foi a import:i.ncia da eieneia aplicada e da engenharia, e de algo mais que chamaremos pcsquisa btl-sica dirigida - isto e, a pesquisa de natureza fundamental que e reali-uda com uma aplicayio geral em mente, como a descoberta do ma-ser por Charles H. Townes enquanto trabalhava em transmissao de llllcroondas para a Bell Laboratories, ou a maior parte da pesquisa biomedica.6

4 Gerold Hoiton, Sdence and Ant,·S",,"ce (Harvard Umversity Pre", 1993, p.115).

5 Lillian Hoddeson, "The Emergence of Basic Research In the Ben Telephone Sy,{em, 1875-1915" (Tee/mology and Cuilllre, v.22, p.SI4,July 1981).

6 Deborah Shapley e Rustum Roy, LoSI at lhe Front'er (lSI Press, 1985, p.9).

100

DONALD E STOKES

A frustrayao com a estrutura conceitual prevalecente era, na verdade, endemica entre aqueles que tentavam ajustar suas categarias a pesquisa em ciencias biomedicasVarios cientistas tern argumentado que a pesquisa aplicada indui estudos que tambem buscam urn en-tendimento mats basico de urn campo. Assim,Julius Comroe & Ro-bert Dripps, em seu seminal estudo sabre os trabalhos que levaram a grandes progressos dinicos, definem uma categoria de pesquisa que esa relacionada a urn problema cUnico, mas que tambem esta "preo-cupada com mecarllsmos basicos bio16gicos, quimicos ou fisicos",7

o isolamento cia pesquisa basica de pensamentos sobre fins pci-ticos foi defendido contra tais contestayoes, em parte aceitando-se co-mo legitima a preocupayao com objetivos aplicados par parte daque-les que finandam a ciencia, mas nao dos que a realizam. Em uma epoca de ciencia institucionalizada, a pesquisa se estabelece tipicamente no in-terior de uma estrutura organizacional na qual a influencia sabre os ob-jetivos pode ser compartilhada com aqueles que estabelecem priorida-des e controlam as fundos em varios nlveis.Alan T. Waterman, primeiro diretor da NSF, incluiu essa diferenya entre patrocinadar e investiga-dor em uma defesa da crenya de Bush de que 0 cientista deve ser livre para levar a pesquisa basica para onde quer que ela a conduza. Em seu discurso de 1964, ao retirar-se da presidencia da American Association for the Advancement of Science, Waterman fez a seguinte observayao:

Tern havido urn crescimento continuo do apoio a pesquisa basl-ca que poderia ser denominada "orientada par uma missio" - isto e, que tern por ajudar a resolver algum problema pranco. Tal pes-quisa distingue-se da pesquisa aplicada pelo fato de nao se pedir au esperar que 0 investigador procure uma descoberta de import:i.ncia pratica; de ainda esta explorando 0 desconhecido, por qualquer ca-minho que possa escolher. Mas ela difere da pesquisa b:isica "livre"

7 Julius H. Comroe Jr. e Robert D. Dripp'. "SClent>!]C Basis for {he Support of Biomedical Science" (Saenee, v.ln. p.10S-II.April 9, 1976).

101

Dirlene Almeida Ferreira
Page 4: O quadrante de Pasteur

o QUADRANTE DE PASTEUR

pelo fato de a agencia que a apoia ter a move! da utilidade, a espe-rano;a de que as resultados auxiliem a missao pratica cia agencia ... Assim, a atividade de pesquisa basica pode ser dividida em pesquisa "livre", empreendida unicamente POt suas promessas cientificas, e pesquisa bisica "relacionada a uma missao", apoiada primordialmen-te pela esperano;a de que sem resultados tenham uma utili dade prati-ca lmediata e ja preVlsta.8

E digna de nota a habilidade com que Waterman mtroduziu a categoria de pesqUlsa basica "orientada por uma missao" sem fazer nenhuma concessao a insistencia de Bush de que a pesqUlsa basica deve ser feita por cientistas que nao tenham fins priticos em mente. Na formula<;ao de Waterman, somente a agencia finane'iadora preci-sa ter tais pensamentos, pelo faro de apOlar pesquisas baslcas "orien-tadas por uma missao". De faro, 0 investigador individual somente compartilharia com a agencia patrocinadora a escolha do problema de pesquisa, e a partir dai estaria livre para conduzir sua pesquisa sem pensar em fins praticos.

Harvey Brooks propos uma versao malS sofisticada da visao de Waterman em urn relat6rio de 1967 para 0 Comissao pe Ciencia eAs-tronautica da Camara, sobre como engajar a ciencia no progresso tec-no16gico, quando 0 Congresso estava debatendo as "emendas Dadda-rio" ao estatuto de da NSF.9 A introduo;ao de Brooks traz uma analise interessante da distin<;ao entre a pesquisa basica e a pesqUlsa aplicada, analise que faz eco a de Waterman ao notat que

8 Alan T. Watenll:m. "The Ch.nging EnVironment of (.xienee, v.147, p.1S,January 1,1965).

9 0 rela,6,io completo fm publIc"do sob 0 titulo Applied .xienee and Technologiral Progress: A Report '0 'he Committee on Science and Amonaut!c, U.S. Hou,e of Rq,,,,,entative, by the National Aca-demy of Sciences (Government Printing Office, 1967). 0 capitulo introdut6rio de Brookman aparo-ceu em versao «sumida na reVlSt • .x,eHce antes da do rela,6rio (cf. Harvey Brooks, "Applied Selence and Prog",,,", Sdfnce. v_ 156, p.1706-12,June 30, 1967).Veja-,;e, tambem, Flmda. rne"tal Research and /he Policies if the (Pari,: Organization for Economic Cooperatlon and Developmen" 1966),0 rd,,6no de um grupo de .studes internacional do qual Brook< ora membro, preparado para um "ncontrO do, rnmistro, <.b ciencla do< paise, do OCDE.

'02

DONALD E S rOKES

pode haver uma diferenya de ponto de vista perfeitamente viave! en-tre 0 trabalhador em pesqulsa e seu patrocinador. Pesquisas que po-dem ser vistas como bastante fundamentais pelos cientistas que as realizam podem ser enxergadas como positivamente aplicadas t: en-caixando-se em urn padcio coerente de trabalhos correlatm, do pon-to de vista da organizao;ao ou agenda que as patrocina.1(I

Essa observa<;ao levou Brooks, como ja havia ocorrido com Waterman, a subdividir a pesquisa basica segundo essa a<;ao lllutua das influencias institucionns sobre a sele<;ao de problemas. Encurtando a "pesquisa basica orientada por uma missao" de Waterman para "pes-qUlsa basica orientada", Brooks observou que

ocampo geral no qual urn cientista escolhe trabalhar, au no qual e colocado, pode ser influenciado par sua possivel ou provavel apli-cabiJidade, ainda que as detalhes das escolhas de direo;ao possam ser inteiramente governadm por criterios cientificos internos. A pt:s-qUlsa deste tipo e algumas vezes referida como "pesquisa basica orientada. 11

Brooks tambem notou que a pesquisa pode ser percebida de formas diferentes, segundo 0 local em que e realizada. Par exemplo, certos tipos de pesquisa sobre materiais semicondutores, quando rea-lizados em laborat6rios de universidades, "poderiam set considerados como bastante 'puros: enquanto nos Bell Laboratories seriam consi-derados 'aplicados' simplesmente por existirem, em seu ambiente imediato, clientes potenciais para os resultados da pesquisa" P urn fa-tor que influencia ° ponto de vista adotado peIo cientista em sua bancada e nao somente 0 ponto de vista do seu patrocinador:

10 Brooks, "Applied Science and Technological Progress", op. cit., p.1706.

11 ibidem.

12 Ibidem

>03

Dirlene Almeida Ferreira
Dirlene Almeida Ferreira
Dirlene Almeida Ferreira
Page 5: O quadrante de Pasteur

o QUADRANTE DE PASTEUR

Depois que 0 transistor foi descoberto, e 0 germanic tornou-se tecnologicamente importante, quase qualquer pesquisa sobre as pro-priedades dos materiais semicondutores do grupo IV poderiam ser consideradas potencialmente aplicaveis ... e a pesquisa na tearia pa-ra a por zona de monocristais era de uma ime-diata tao 6bvia que podena ser com chamada de aplicada em vez de meramente aplicavel", enquanto "antes cia descoberta do tran-sistor, ambos esse, tipos de pesquisa teriam apresentado 0 mesmo in-teresse e importancia do ponto de vista cientifico, mas teriam sido classificados como bastante fundamentais ou 'puros"'. 13

Mas em urn notavel comentario a parte, Brooks permitiu-se uma visao muito mais radical, ao notar que

os termos basica e aplicada, em urn outro sentido, nao sao opostos. o trabalho dirigido em a objetivos aplicados pode ser alta-mente fundamental quanta a seu carater, no sentido de ter urn im-pacto importante sabre a estrutura conceitual ou 0 panorama de uma area. Alem disso, 0 fato de a pesquisa ser de natureza tal que pos-sa ser aplicada nao significa que ela nao seja tamberp basica. 14

Ele apoiou essas observap3es no exemplo de Louis Pasteur, cu-jo trabalho da maturidade constituiu, como virnos, uma sintese im-preSSlOnante dos objetivos de entendimento e uso. Esse comencirio representou uma ruptura muito mais radical com a ideia de urn es-pectro unidimensional da pesquisa basica e da aplicada, enos ajuda a preparar a caminho em a uma estrutura conceitual diferente para a reflexao sabre as objetivos de entendimento e liSO.

13 Ib,dem.

14 IbIdem.

'"

DONALD E STOKES

As CATEGORIAS NOS RELATORIOS OFICIAIS

Com as interesses atendidos pela estrutura conceitual de Bush tao firmemente entrincheirados, os Estados Unidos pouco fizeram, no imbito oficial, para responder a 16gica dessas primeiras mssensOes. Mas as paises com uma experiencia diferente no p6s-guerra procu-raram identificar uma re1ayao mais complexa entre entendimento e usa. Com eXCeyaO da Gd-Bretanha, nenhum dos outros paises mdus-trializados compartilhava das circunstancias peculiares que levaram 0

paradigma do p6s-guerra a tornar-se tao profundamente arraigado nos Estados Unidos. 1S A desarticulayao economica e social causada pela guerra impediu que as cientistas desses paises fizessem a seus go-vernos exigencias equivalentes aque1as defendidas nos Estados Uni-dos pela campanha que sucedeu a publicac;:ao de Sdence, the Endless Frontier, ainda que a estatura da ciencia norte-americana do p6s-guerra tivesse tornado a estrutura conceitual de Bush altamente visi-vel em todos os paises industrializados.

Urn foco natural, ainda que em ultima anilise limitado, com vistas aOs esforc;:os conceituais para mesclar as objetivos de entendi-menta e uso foi a trabalho da Organizayao para e De-senvolvimento Economico para refinar as categorias por meio das quais as paises membros da OCDE relatavam suas atividades cientifi-cas e tecnol6gicas. Esses esforc;:os podem ser acompanhados median-te sucessivas vers6es do Manual Frascati da oeDE, assim cbamado por-que a conferencia de 1963 que referendou 0 primeiro manual aconteceu na cidade italiana de Frascati. 0 pnmeiro manual, cujo es-boc;:o inicial foi em grande parte escrito por Christopher Freeman, urn especialista em politica cientifica Ingles que se tornou mais tarde co-fundador da Science Policy Research Unit na Universidade de

15 Tambem a Cci_Bretanha I':mergHI da Segunda Guerra Mumhal profundameme impresrionad. com " de seus cientista:; para a Viloria fla guen.a. Sua gr.Hid;;c> tomc>u formas do palpaveis co-mO a cipida do gc>verno para 0 tdeseopic> de cem polegadas proposto pela Royal Society pa-ra marcar 0 tricentenirio do n",cimento de Newton.

105

Page 6: O quadrante de Pasteur

o QUADRANTE DE PASTEUR

Sussex, partiu das que a National Science Foundation dos Estados Unidos havia usado por quase uma decada. Portanto, seu es-

nao representava nenhum desafio as categorias de Bush, para alivio dos representantes da National Science Foundation. A pesquisa fondamental foi definida como "trabalho primordialmente empreen-dido com vistas ao progresso do conhecimento cientifico, sem uma

pratica especifica em vista"; a pesquisa ap/icada como traba-Iho que tinha "uma em vista". Alem disso, em concordan-cia com 0 modelo linear da transferencia de tecnologia, 0 desenvolvi-mento experimental foi definido como "uso dos resultados da pesquisa fundamental e da pesquisa aplicada no sentido cia introdlll;:ao de ma-teriais, dispositivos, produtos, sistemas e processos uteis, ou cia melho-ria daqueles ja existentes",16 0 segundo dnone de Bush', de acordo com a qual a tecno16gica tern suas ralzes fundamentais na descoberta cientifica, continuava bern vivo na conferencia de Frascati.

Essas categorias foram modificadas quando a Manual Frascatj foi revisto, em 1970. Essa revisao abordou as defini!foes de pesquisa bisica e pesquisa aplicada em tres niveis. Em primeiro lugar, ela pro-pos uma defini!fao generica de pesquisa e desenvolvimento experimental como "trabalho criativo realizado de maneira sistemiti'ra, a fim de au-mentar a estoque de conhecimento tecnico e cientifico e usar esse estoque de conhecimento para criar novas aplica!foes".17 Definiu a seguir a pesquisa b6sica ("fundamental" havia cedido lugar a expressao de Bush) como "investigao;ao original empreendida com 0 fim de obter entendimento e conhecimento cientifico novos ... nao diri-gida primordiahnente a uma ou objetivo pritico espedfi-co" e pesquisa aplicada como "investiga!fao original empreendida com a fim de obter entendimento e conhecimento cientifico novos ...

16 OEeD DireclOrate for Affairs, The MfasuremCni of S"enrijil and Technical A[wlilies: Pro-posed St.lndard Practice for Surveys ofRe,earch and Experimental Development. Frascali ,Vanual (Pa-ri" Organization rOT Economic Cooperation and Development, 1962. p. 12; refel'icio como MaHu4{ F",scori, acompanhado do ano de pubhca<;iio pela OCDE).

17 Mnnual Frascoli, 1970.p.13.

tn6

DONALD E STOKES

dirigida primordialmente a uma aplica<;:ao ou objetivo pcitico esped-fico". 18 Ate aqui, a estrutura conceitual prevalente continuava intocada.

Num terceiro nivel, entretanto, 0 manual revisado acrescentou algumas observao;oes sabre pesqulsa bisica que repeciam a visao de Wa-terman e Brooks sobre a "pesquisa orientada", notando em particular que, embora a pesquisa basica "nao tenha em vista aplicao;6es pciticas especificas imediatas", ela "pode ser orientada na dire!fao de uma irea de interesse para a organiza!fao que a realiza", acrescentando que "na pesquisa Msica orientada a que emprega a investigador nor-malmente dirigiri seu trabalho em a urn campo de interesse social, economico au cientifico atual ou potencial" .19 Esses comenti-nos revislOnistas eram acompanhados par uma figura, reproduzida aqui como Figura 3.1, na qual urn drculo de "pesquisa basica orien-tada" esti inscrito em urn drculo maior para a "pesquisa aplicada" -e tambem, de forma intrigante, em urn drculo ainda mais abrangen-te de "desenvolvimento.experimental" - com urn circulo para a "pes-quisa bisica pura" tangenciando esses dais circulos aninhados, mas sem intersecti-los.

Embora essa figura lembrando uma flor-de-lis assinalasse algum relaxamento do pressuposto de que entendimento e usa se opoem, ela contribuiu bern pouco para esclarecer a rela!fao conceitual entre esses objetivos e nao foi reproduzida de maneira ampla. Ela tambem sofria das de apenas dar conta de uma divisao dicotoffilca da pes-quisa bisica em pesquisa "pura" e "orientada", e de presumir que a nUs-tura de objetivos nessa ultima categoria decorte somente do patrocinio organizacional da pesquisa, e nao de uma de objetivos do pr6prio cientista pesquisador. Esse verrnz organizacional esti ausente de virias defini!foes subsequentes de "pesquisa estrategica", 0 termo que suplantou a "pesquisa orientada" na revisao do Manual Frascati de 1980.20

18 Ib,dem. p.B-5.

19Ibldem,p.15.

20 Ma"ual Frnsmti. 1981, p.B.

Dirlene Almeida Ferreira
Page 7: O quadrante de Pasteur

o QUADRANTE DE PASTEUR

FIGURA 3.1 - Apresentayao diagramatica dos conceitos de Pesquisa basica e de Pesquisa aplicada e Desenvolvirnento experimental no l\:fanual Fraswti 1970.

Meta ou objetivo pratico especiflco

T De,envolvimento

experimental

Pesquisa aplicada

Pesquisa basica orientada

Pesqulsa basica pura

Fonte: OECD Directorate for Scientific Affairs, The Measurement of Scientific and Technical Ac-tivities: Proposed Standard Practice for Surveys of Research and Experimental Development (Manual Frascoti) (Paris Organization for Economic Cooperation and Development,1970, P.14).

Dais estudiosos britamcos,John Irvine eBen R.Martin, trataram da questao cia pesquisa estrategica no ambito de duas esclarecedoras analises sobre a previsao na pesquisa em alguns paises.21 Seu livro de 1989 diz 0 seguinte:

21 John lrvme eBen R. Mortin, Poresigl,t in Sae"ce, Picklng the Winner< (London: Frances Pmter Pn-b!',hers, 1984); eBen R. Martin e John Irvine, Re.<eMcn FO"'$ognl: Prioruy_Sotting In (London, Pmter Pnbli,he,-s, 1989).

>08

DONALD E STOKES

Neste ponto, a tradicional distinyao triplice entre "pesquisa bisi-ca", "pesquisa aplicada", e "desenvolvimento experimental" e agora reconhecida como inadequada. A categoria "basica" e espeClalmente problemitica na medida em que ela abriga uma variedade de ativi-dades dispares que VaG da pesqmsa gmada pela curiosidade, sustenta-das pela vontade, ate os programas com objetivos de lange prazo apoiados por agencias setariais do governo, e ate 0 trabalho especu-lanvo na industria, para 0 qual nao se tenha ainda uma aplicayao es-pecifica em mente. E portanto util subdividir a "pesquisa bisica" em "pesqUlsa onentada pela curiosidade" e "pesquisa estrategica".n

Tern sido inerentemente dificil para os governos resolver a problema conceitual em torno dos objetivos da pesquisa por meio do delineamento de urn conjunto de categorias estatisticas para relato-rios. Quase toda serie estatistica uti! torna-se prisioneira das defini-

que a comp6em, e as dificulciades para a dos mo-tivos da pesquisa cientifica aumentaram a dos que qUlseram preservar a separa<;:3.o empirica entre pesquisa basica e pesquisa apli-cada, Em conseqiiencia disso, 0 problema conceitual da pesquisa es-trateglCa tornou-se refem dos problemas de e permane-ceu sem

Esta era, com certeza, a situa<;:ao quando a National Science Foundation dos Estados Unidos considerou a possibilidade de revisar a estrutura conceitual de Bush. 0 pano de fundo desse episodio foi a dis-posi<;:ao do Congresso e cia administray3.o Reagan de estabelecer seus novos programas de Centros de Pesquisa em Engenharia e Centros de Ciencia e Tecnologia. Esses centros estavam tipicamente localizados em universidades, mas contavam com a participa<;:ao cia industria e dos go-vernos estaduais e foram concebidos para atralf os recursos de varias disciplinas cientificas e de engenharia para 0 tratamento de areas pro-blemiticas de evidente importancia para as necessidades do pais.

22 MaTtm e Irvine, Research Foresighl, op. cit., p.7.

;C9

Page 8: O quadrante de Pasteur

o QUADRANTE DE PASTEUR

Nao e de surpreender que, a medida que esses centros se beleceram,o diretor da NSF, Erich Bloch, fosse levado a perguntar-se se as categorias usadas para os relar6rios sobre a P&D financiada pe-10 governo dariam conta adequadamente do tipo de pesquisa estra-tegica que se pretendia que tais centros desenvolvessem. Bloch criou a partir dai uma fotl;a-tarefa para tratar dessa questiio, solicitando que o grupo tambem examinasse as taxonomias mistas propostas pelo governo bridnico e pelo Servi<;o de Contabilidade Geral dos Esta-dos Unidos. 0 relat6rio dessa for<;a-tarefa assinalou claramente a im-portilncia dos centros recem-fundados no desencadeamento dessa reVlSaO:

Nos ultimos anos, uma serie de novos "centros de Ffesquisa" foi formada, frequentemente como parcerias entre governo federal, go-vernos estaduais e mteresses produtivos e academicos. A pesquisa realizada nesses centros tende a combinar muitas disciplinas nais e e orientada :i geras:iio de conhecimento em campos que dem conduzir a descobertas que venham a melhorar a situac;io es-trategica dos Estados Unidos na economia mundial ... A taxonomia existente para a pesquisa nio consegue lidar muito be,m com esse ti-po de pesquisa.23

A fon;:a-tarefa nao atacou de frente 0 problema conceltual; em vez disso, deslocou a base para uma taxonomia, dos objetivos da quisa para os usuarios pretendidos para a pesquisa.24 Ela propos uma caregorizar;:ao triplice para a pesquisa - na qual a pesquisa fundamental levaria a "resultados pretendidos na epoca do estabelecimento da pes-quisa, para disseminayao entre outms pesquisadores e educadores"; a pesquisa estrategica, com resultados "de evidente interesse para uma

23 National SC1ence Foundatlon. Repon oj rhe Task Force On Research and D.veiopmml Mxonomy. edi-rev,",,, (Washington, July 1989. pAl,

24 !hldcm,p.3.

no

DONALD E STOKES

ampla classe de usuarios, externos a comunidade de pesquisa, que po-dem ser identificados a epoca do estabelecimento cIa pesquisa", salvando que "os usuarios pretendidos para os resultados podem bem pertencer :i comunidade de pesquisa"; e a pesquisa dirigida, que conduziria a resultados satisfazendo "necessidades espedficas da nizayao patrocinadora" .25

o relat6tio e a avaliayao das outras taxonomias nele induidas deixavam claro que a forya-tarefa havia escolhido enfocar os usuarios na crenya de que seria dificil trabalhar com dados precisos em uma taxonomia baseada em objetivos, e tambem de que se deveria encon-ttar uma taxonomia que nao reptesentasse uma mUdanp "ameayado-ra" para outras agencias federais que patrocinavam subscanciais volu-mes de P&D; 0 problema conceitual fora novamente feito refem pelo problema da medida. De qualquer forma, as propostas cIa fors:a-tate-fa nao tiveram majores consequencias. A NSF ainda adota definiy6es de pesquisa basica e aplicada firmemente baseadas na tradiyao de Bush. Apenas, em sua avalia<;iio anual da P&D industriais, acrescenta a definiyao de pesquisa basica a pequena observayao de que a pesquisa basica "pode ser feita em areas de interesse presente ou potencial pa-ra a empresa que apresenta 0 relat6rio".26

Os esforyos de vinte anos, portanto, dos paises da OeDE para modificar suas categorias descritivas fizeram menos do que se deria esperar para 0 esclarecimento da relayao entre entendimento e uso como objetivos da pesquisa. As extensas discuss6es entabula-das no inicio dos anos 1990 para uma nova ediyao (a quinta) do Ma-nual Frascati contaram com somente dois governos pressionando por modificar;:6es na distinyao tradicional entre pesquisa basica e aplicada, por meio da inclusao de uma categoria para a pesquisa es-trategica. Esses dais governos nao chegaram a um acordo sobre a

25 !bid<m,

26 NatIOnal Science Found.lion. R"earch and Developmenl i" Indus!ry, 1 NSF 92-387 (Washmg-ton, 1998. p,145).

, "

Dirlene Almeida Ferreira
Page 9: O quadrante de Pasteur

o QUADRANTE DE PASTEUR

maneira como tal categoria deveria ser definida, e as man-ndas pelos outros membros eram,suficienteI11erite tortes para limi-tar 0 que ser dado em a da questao conceitual em torno 4essa distinyao. E, com efeitP, 0 linguajar ia alem dos anteriores Frascati foi consideravelmel'l.te dilui-do durante 0 escigio di consulta aos paises membros s¢bre '0 texto da nova ediyao.

As reservas eram de varios tlpos. Para comec;:ar,_ encontrava-se ali novamente urn desejC! de preservar a distinyao hist6rica entre pes-quisa bisica e aplicada e a serie es.tatistica associada' a cia. Em conseqiiencia <lisso, as propostaS revisiorust:a$ foram'dirigidas a rrianei-

. ra de como se poderia acomodar a pesquisa e!itrategica de distinryoes no intl!rior das categorias de pesquisa. basica e apli-cada, em vez de realiw cortes por meio delas. Havia tambem a preo-

semantica de que "pesquiSa estrategica" poderia ser dida com estudos sabre seguranya nacional_ou internacional, ou com pesquisas'sobre tecnologias tiu materiais esttategicos. Mas havia pelo menos uma, tenue prfocupas:ao'nova - a de que, ao relatar pesquisas estraregicas de relevancia comercial, urn pais cia oeDE pudesse ,ser visto por outtos -governos como subsidiando indire:tamente 61. bens , .., exportados. pelas firnus que s.e beneficiassem dos resultados pesquisas. Algum dos membros .cia oeDE terniam estar abrindo urn novo campo para disputas cometeiais aO eriar uma categoria para' 0 relat6 de pesq\llsas estrategieas. , .

Com essa Ultjma fechava-se 0 eirculo.A crenc;:a de' . que-a cieneia poderia ser engajada'no em direryao a eompe-

econonllea havia, em primeiro lugar, alimentado boa parte do interesse dos membros cIa QeDE na pesquisa estrategica - e, pOJ;"- . tanto, havia ciunbem alimentado muito do interesse na' de eategorias para '-relatar essa pesquisa: Mas, consciencia de que a P!!squisa estrategica poderia melhorar 0 co-mercial de uma pais e ser, portanto, considerada urn subsldio a expor-

ajudou, afinal, a impedir os esforr;os para definir uma oU mais

112

DONALD E. STOKES

categorias para. o· relato de, pesquisas estrategieas. Depois que a lin.,. guagem definidora ru;via sido extirPada de seu tudo que rest,ou na nova edir;ao do Frascati [oi a de _que distinguir entre ciencia bisica pura e· eiencia bisiea. 6rientada "pode' -ser de al--guma ajuda para a identifieayao _da pesquisa estrategica"27 e a vay3.o de que

emboIa se reconher;a que urn elemento da pesquisa aplicada pode set descrito Como pesquisa. estrategica, a falta de urn metodo coriSensual para sua identificar;ao em entre os paises impede uma recomendao;ao ne"Ste escigiO.2!1

S-e a aeDE deve desempenhar urn pape! significativQ no escla-. da questao conceitual sobre a relayaQ entre entendimento

e usa como objetivos cb pesquisa, entao eIa esti. a espera de urn no-vo Manual Frascati em 2000, antes que- utpa nova esculttira das cate-gorias liberte esse anjo eonceitual do marmore estatistieo .. 0 que e-necessarIa e uma maneira de eliminar a eseolha inerentemente 'am-.' bigua entre assiinilar a pesquis_a estrategiea seja a pesquisa b.isiea seja a pesquisa aplicada. Vejamos como esse problema pode ser resolvido por meio de uma estrutura clara e .. conceitualmente_ eeononUea.

EXPANDINbO A lMAGEM DIMENSIONAL

- , i E tao forte a do espectro- unidimensional basiea-apIica-da que muitos observadores que acham difieil aj.ustar- esse quadro

.. as realidades da pes'quisa pensam que 0 problema se deve a jncer-teza sobre a classificaryi-o nas proxinridades do ponto media desse

. espectro. como se fosse 0 caso de psic610gos quantitativos tentando

27 Manudl FmSC4Ii,I993,p.69.

28 Ibidem,

113

Dirlene Almeida Ferreira
Page 10: O quadrante de Pasteur

o QUADRA.NTE DE PASTEUR

discriminar duas classes latentes de individuos com base em nao,ccmfiaveis repiesentadas_ uma -s6 escala. Nessa perspec-

tiva, um e?,-;-diretor da Division' of Science da I-:IS'F ·disse do espec'tro ciencia basica-aplicada que "qualquer processo, dividindo urn contlnug- em 'regioes discretamente demarcaveis es-tfl em' ger;li infestado -de irnprecisao e nag frOJ;lteiras -das 'Subareas". 29

a cllficuldade aqui 'constitui algo mais do que uma "impre-cisao e superposi¥oes nag fronteiras". Ela sf; sima muito rn.a.,is ten-tativa imp or, uma unidimensional a urn con-

,ceitual de dimensao inerentemente --Para deliriear as causas disso, podemos notar que Conant e ou-

tros das ciencias fisicas tentaram ,dividir a pesquisa basica ela fosse tambem guiada ou -naQ por fins. pciticos ob-servararn impliCitamente urn traruvers-al' entre Os ob-jetivos de entendimento e de uso. Tambem Conu;oe &, Dripps, e

dos 'Outros'-estudiosos das ciencias da vida que tentararn divi-di.r a pesquisa aplicada conforihe ela taIQ:bem buscasse entendi-mento mais fundamental, perceberam de forma semelhante uma re-lalj:ao transversal- Nitre esses dois objetivos da

Para como isso funcioll3Iia, vC?lteinos a id-ela familiar d.e urn espectro de pesquisa estendendo-se da" pesquisa basic;! a pes-quisa aplicada e perguntemos onde nesse espectro deveria ser coloca..., do 0 trabalho t4 maturidade de Pasteur. Em vista,de seu duplo com-promisso com 0 'entendimento e .a uso, 0 impulso poderia set coloca-lo no ponto medio, 0 do -espectro 3.2).

29 Ch¥les E. FaIk, "Evaluation of Current Cb.ssifications of Research: A fur a New Policy-(Jriented T'alrotlOmy", >n Oliver D. Hensley, The Cli.lSs!ficaticn oj Resetm:h flel?sTech University 'Press, 1988, p, 153).

114

B.ii5ica Aplicada

FIGURA 3.2 -- Uma hipotetica dos tr.ibalhos de Pasteur sabre 0

espectro de pesquisa b:isica-aplicada unidimensioruu.·

Mas ,urn momento de reflexa<;l e suficiente para' observar que . isso esta. errado e que_,o -Pasteur cia_ matiIridade merece ser colocado .. nao etp um mas em dois: ele ao extremo esquerdo

do espectro em razao- da forya'de sell comproluisso de entender os processos ttncrobioJ6wcos que descobriu, ele tambem pertence , ao extrema diteito do espectro fID razaq ru. forfa de seu 'compromis-so com a _controle dos efeitos de tais processos em- varios prodgtos e em animais e seres'humanos {Figura 3.3),

, ,

'A,.

Page 11: O quadrante de Pasteur

Procura de Pasteur por entendim€nto

Btisica

o QUADRANT£ DE PASTEUR

o

Procura d6 Pasteur por conttoie

, Aplkada

FIGURA 3.3 Urn segundo posicionamento hipotetlco dos ttabalhos de Pasteur sobre 0 espectro de basica-aplicada u'fudimensional.

Encontramos., portanto, a anomalia de Pasteur ser representado' pois dois cartesianoS" nesse espatro upidimensional,

-- uma anomalia que deveria nOs leVa! a inqagat se uma figura dessa es-pecie pode caracterizar adequadamente a pesquisa quanta aos objetivos basicos e aplicados. Podetrtos remover 'essa" e, ao me$Il1o tempo, reter a facilidade 'de interpretar urn de pouca dimensao se tomarmos 0, espectro em seu ponto zero e girarroos- 'a, met_ade. dO ta:do esquerdo num angwo de Pas-teur a sua condir;'ao de uni ponto cartesiano uruco no que agora re-presenta conceiw.ahnente urn: plano (Figura 3.4), no qual a eixo representa 0' grau com que urn c:erto c-orpo de pesquisa ptocura estender as fronteiras do fimdamen-tal; 0 'horizontal, 0 grati com que a mesma pesquisa. e guiada par'

de uso.

1t6

Basica

DONALD E. STOKES

:--' ------>, , , , , , , , , , , Pasteur ,- -- ------.' ---.. _ .... -_ ... -. , ' , , , , , ,

o ' Aplicada

FIGURA 3,4 Localizar;ao dos. trabalhos de_ Pasteur em urn plano tual

, '

Nao hl a_minima'-raiao para se pensar nessas dimenS,oes somen-teo em terrhos·dicot6micos, vis.to que pode haver muitos graus de comptometimento c9m esses-dois fizermos isso por razoes heuristicas, ficari claro que' agora temos nao uma, mas duas cli-

. cotomias. Essa clicoto'nria dual pode ser exibida c'omo Qllla' tabela 'q1[ladripartida em ceIulas ou (Figura '

,

30 fubocci pela primcira vez urn 'llladro dem, tipo em "Making Sense"of the fusiclApplied Distinc-tion: Le51l0!l5 for Public Policy Progrnms", 1'ublicado em Categ<m'es of Sikntific Research (\Vashingr.on: National Science Foumhcion, 1979,p24--7). Depois de apresenci_lo ao conselho comultiyo do diretor da Naciorur.! Science Foundation, [Qmci a apreseIltar meus argulIlentos sobte 0 valor dess;i' estrutpra em ·'Perceptions of the of Basic and Applied Science -in tjIe United States", in Arthur Gerotcnfeld (Ed-) Scift1ce PoIUy,Pmpectives: USA-Japan (Academic Press, 1982,p.l-1S)_Estou utiliz:mdo aqui os ter-mas "caula" e "quadrante" indiferentemente, embora 0 quadrantc 'cjo; estritomente &laUd.o, menos opropriado, tendo em vista 0 faro de que a orig.,m conjunta de"e bidimensional se lociliu no seu Callto esiJ.uerdo infetior, e nii<:;no centro do quadro. '

Page 12: O quadrante de Pasteur

o QUADRANTE DE PASTEUR,

Pesquisa Inspirada por:

Busea de em:endimento fundamental?

.

Sim

de uso?

Nao Sim ...

Pe5quisa basica Pesquisa Msica inspirada

pura (Bohr) pelo 'usa , (Pasteur)

f'esquisa aplicada .. pura

- (Edison)

-

FIGURA 3.5 - Modelo de quadrantes cia pesquisa dentHica.

Sera mais ficil gravar 0 significado desse arranjo se caracteri-,zannos seus quadrantes.A ceIula superior a esquerda inCh,ll a pesqui-sa b4sic:r que -e conduzida somente pela busca' de eritendimento, sem pensamentos sabre utiliza'r}io pratie-a. Poderia ser ch¥nada de Qua-drante de Bohr; vist-o que\a procura de urn modelo atomico por Niels Bohr foi elaramente uma.'pura viagem de independente-'mente da extensao em que suaS ideias malS tarde 0 mundo. Essa categoria represeIita 0 ideal de pesqwsa dos fil6sofos naturais, institucionalizada -na ciencia pura dos alemaes no seculo XIX e dos

no .seculo xx, e ,inelui 0 conceito 'de "pesquisa ba-sica" de Bush. '.

, A cHula no canto direito inferior inelui-a pesquisa- guiada:ex-

eluSivamente par objetivos aplicados, sem procm-a! por urn ente:p.di'-menta mais geral d6s de um campo ,da- cienda. ,Seria apropriado chama-Ia de Edison, dada maneira estrita com que esse inventor impediu que seus colaboradores em Menlo Park, 0 primeiro laborat6rio de pesquisa industriaf,dos Estados

",

DONALD E. STOKES

Unidos, peqeguissem as cientificas rnais profundas do que lam nescobrindo em sua busca de um·sistema de ele-trica rentivel. Grande parte da pesquisa moderna pertencente a essa categoria e, extremamente sofisticada, embora di-rlgida de maneira estreita a 'objetivos aplicados imediatos .

. 0 superior a ceJula contendo a pesquisa ba-sica que estender as fronteiras 'do entendimento, rna-s que e

inspirada pOr considerayoes de usa. Ela merece- set conheci-da como 'Quadrante de Pasteur, em vista do- claro exemplo de com-

desses- oQjetivos no di-recionamento de Pasteur para 0 enten-dimento e' 0 uSa. Completarnente :ilheia a estrutura conceitual do -relat6rio de Bush, essa categoria inclui a grande trabalho de John , . Maynaid a pesquisa fundainental do Projeto Manhattan, e a ffsica' de superficies de Langmuir. tarnbem inel,ui a "pes"lwsa esttategica", a qual tern esperado que estrut\1ra como essa the urn lar conceitual, urn caso de o.rfandade ja notado aquL

, 0 quadrante inferior a c;:sql.ierda, que' indui a pesquisa que n.ao e inspirada pel,o objetivo de nem._pelo de_ Usa,' niio es-ta VUlo,'e 0 fato de que nao 0 esteja ea prova de que de fato temos duas dimensoes conceituais e nao- Ulll<i versao mais elegante do espectro bisica-aplicada tradicional. Na a "pre-

de tal dtegoria a com(J), un1 todo. Esse qua-drante'inclui. todas as pesquisas que exploram sistematicamente fe-nomenos particulares_ sem ter em vista nem objetivos explanat6rios gerais nem qualquer utiliza¥ao pratica a qual se destinem sellS resul-tados - Ulna mais a vontade com a ampla ideia alema de Wtssenschajt do coIn as ,ideias e da cien-cia. Pesquisas desse tipo podem ser impulsionadas peIa curiosidade do investigador sabre fatos partkulares, do mesmo modo - como a pesquisa no Quadrante de Bohr e rlirigida peIa' do cien-tista sabre materias mais gerais. Os observadores de passaros que se sentirem agradecidos pe1a pesquisa sistematica sobre as

119

Dirlene Almeida Ferreira
Dirlene Almeida Ferreira
Dirlene Almeida Ferreira
Dirlene Almeida Ferreira
Dirlene Almeida Ferreira
Page 13: O quadrante de Pasteur

o QUADRANTE DE PI\STEUR

'c<lI¥tensticas fisicas e as areas de' incidencia ?as espedes' que ap:u.e-'ceram no Peterson Cuide to the Birds of North AmCrica poderiam de-sejar chamar este, de- Qua.drante de Peterson, embora este seja- urn exemplo limitado demais para garantir-4he 0 nome.

Considerando-se as trajet6rii<> dinfuiucas que conectam pes-quisa nas'qUatrb ceIulaS cia fica c4ro que os' estudos no. quarto quadrante podem ser prec:ursores importantes de pe_squisas no Qua-

Qe Bohr,"c'omo 0 foram no caso da obra...,prima'de Charles .. Darwin, das Espedes, e tambem da pesquisa no 'Quadrante de EdiSon,. -Outras a Hi casos em que 0 objetivo primordial Cia pesqyisa as ha-bilidades qos p_esquisa'.iores. Amoh d3. de projetos de pes-quisa. agricola quais os investigadores a trabalhar em uma nova area, !lio pelas descobertas que-farao, mas para ganhar ha-bilidade e experienci<t, que podera,o mais tarae utilizat- "quando sur-girem problemas naquela area", ou" quando grandes 6btidos par outros pesquisadores tornarem' 0 campo E os- que tern familiaridade com 0 papel cia pesquisa no processo do estabele-cimento de politica,s nab tenD em identificar situayOes_ em que sao iniciados estudos nao em: razao ,do que ser apcen-chdo com e1es, mas para impedir 0 inicio ?as de algum programa, com urn objetivo em ao qual os investigadores en-volyidos, t¥rtbcm podem ser partes ,

31 I. Arnon, 'The PWnning and Programming of AgrUultur41 Rf'Setlrch (Rome: Food andAgriculrure Or-g;ini.zatiou of the Uuited Nations, 1975, p29).Viirios autores tern comentadO a das ernp1'e-.as em em pesquisa: bisica como forma de recrutar ou aprimorar ,sellS quadms, ou de abtir seu caminho para dtntro das redes de comunit;l9Oes' cientifiCAS, ou por dum. nzoes a p:nte do conhe):i-mento que a pesquisa pode gem. em porticubr, Nathan Rosenberg, "Why Do Firms Do BaSic Research- (Witli Their Own,M0ney)'" (Research Policy, v.19, n.2, p.16S-74, April 1990).

32 Assembly of Behavioral alld Social Sciences Study Project on Socia.rRese:luh :md Development, Th Felkrnllnvestmt11t in Knowledge of Social Problems (Washington: National Academy ofScience5, 1978,p.55_6).' .

• 120

DONALD E_, STOKES

.1'ESTANDO A ESTRUTURA,

A, de ,'diminuici, e 0 maior realismo de' \llll plano" '-conceituaLcomo esse ficara. demonstrado, se essa estrutura for aplica-da a alguth corpo de,p,esquisa para ilustcl-la. Urn capitulo dos. anais da peSquisa que se presta admiravelmente a esse prOp6sito e a' anali-se, feita par C0llm?e {k Dripps, d9S desenvolviment»s nas ciencias fi-sicas ,e biol6gicas qU'e conduziram ,aos mais imp.ortante;s progressos recentes' no prevenr;:ao e cura de <;loenrras ,pulmonateS cardiovasculareS.33 Esses a'utores realizariun sua excep-' cionahnente. Cletalhada, no ambiente cientifico das novas'tecnologias dos anos ipstigados pela de rumo _em a.pe.s-,quisa b.iomedica putaffiente -aplicada siruilizada pela$ admiIi}strac;oes Johrison e Nixon:. - " .

Os achados de seu meticmoso estudo constituem, em primei-ro lugar, uma tocante ?e com(?" as trajet6rias as des-cobertas tientifieas e as novas tecnologias sao' variadas, nao-lineares e

percorridas. Olhando pot esse bdo, a fazem dos que levaram a cirurgia c3rd1aca e espe:" ciahnente interessante:

Quando a ane'stesia geral foi empregada pela primeira vez em . pratica da: cirurgia. expandiu-se mui1;is dU.e<;:oes, exeeto para a 'cirurgia toraciei!-. A euuq?;ia eardiaca s6 teve iokio quase, cern aDQS mais tarde, e John Gibbons nao -realizou a prlmeira

em urn corar;:ao. aberto com aparelliagem ,de desviQ cardiopnlrnQnat completo ate 108 arras Qepo'is da primeira utiliza<;:ao

: da anestesia com eter. 0 que deteve a cirurgia cardiaea? O"que pre-ser eonhecido antes que urn cirurgiao pudesse ptever e reparar

com sucesso defeitos cardiaeos? Em primeiro, lugar, 0 cirurgiao tinha , .

33 Comroe e Dripp', "Scientific Basis", op. cit., p.l05-11. Veja-,e, wnbem, do. mesmo, autore', "Ben Franldin and Open He..rt Surgery" (Circulation Research, v.35, p.661-9, November 1975) .

121

Page 14: O quadrante de Pasteur

,

o QUADRANTE DE PASTEUR

necessidade de urn diagn6stic<? pre:....operat6iio precisQ de todo pa-ciente cujo necessitasse de Isso exigia a angiocardio_ grafia seleriva, a qual, por sua vez, exigia a descoberta anterior'da ca-

cardiaca, que pressupunba a &scoberta ainda m:ns anriga dos rai?S X. Mas 0 cirurgiio tambem precisava de uma iparelhagem COqLvao-pulmao artificial (boIbba-oxigenador) para assunnr 0 papeJ do corar;ao e pulmoes do paciente enquanto ele paralisava 0 corar;ao deste para poder abri-lo e consert:l-Io. No caso das bpmbas, isso exi-gia urn projeto que nao cianificas&e.o sangue; para os oxigeiladores, re-queria-se conhecimento bisko Sabre a troca de O2 e CO2 entre g:is e sangue. Contudo, me$1lloc urn conjunto boritba-oxigenador perfeito seria inuti! se 0 sangue estivesse coagulado.As.sim, 0 cirurgiao cardla-co teve de esperar peb. descoberta·e.purificar;ao de ticoagulante nao-taxico - a heparina.34

o aspecto da analise deles que diz respeito &retamente a nos-sa estrutura a meticlllosa verificar;ao que fazem dos (iue moviam os ,responsaveis por esses avanr;os da tecnologia medica. Em lugar, Comroe. & Dripps conseguiram obter dos me-dicos e especialistas da area as informac;:oes de quais ,foram os 'dez mais irnportantes progressos clinicos, desde 0 irucio dos anos 1940 , para "diagnosticar, prevenir ou curar pulmonates ou car,.. diovasculares; deter seu progresso, diminuir 0 sofrimento, ou pro-longar a vida util". Ao lado cia cirurgia cardiaca aberta, a lista re-sultante incluia a cirurgia de vasos sangliineos, 0 tratamerito da hipertensao, 0 tratamento de da coroniria, a pre-

cIa poliomielite, a quimioterapia pm ',a tuberculQse e a febre reumatica a.gI;lda, a ressuscitac;:ao cardlaca e os marca-passos can;liacos, os diureticos orais (para tratamento de pressa.o alta ou falha',-cardia-ca congestiva), as unidades de terapia intensiva e os novos metodos de diagn6stico." '

34 Comroe & Dripp.::Scientific Basis", op. cit., p.l06; veja-se tambem p.tOR

'"

.. DONAto E. STQKES

Em seguida, 'eles ana!isaraqt 0 trabal,ho que h3.via .conduzido a cada urn. deriSes Com 0 auxilio de 140 consultores, identifi-caram 0 conhecimento essencial a cada e mais de quinhentos "artigos-chave" os trabalhos que desenvolveram' esse co-nhecimento, ·alguns casos retrocedendo mais de dois seculos no tempo: Eles fizeram desses artigos {ou, equivaleritemen!e, da pesquisa descrita neles) 0 foco central de SU;l aI},ilise, classificando-os g.e d'llas maneiras. A primeira foi a de se os ·autores ddses relat6rios deram al-,guma de que trabalho tivesse '"sido '\;linicamente' orien-taclQ" pot mei? de "algum interesse no ruagn6stico, tra-tamento ou de uma ,alterar;ao clinica' ou na explicat;ao 'do mecanismo basico de urn sinal ou sintoma cla pr6pria doenc;a". Em nosso quadro, isso equivale a indagar sf! urn. dado trabalho deveria ser colocadQ"na cotuna cia ou cia direita. na Figuta'3.5.

Comroe & Dripps cruzaram esses' resultados' com umi segun-cia para a qual. a pesquisa telatada poderia ser hlsica ou nao: ho senti_do de que ,0 tivesie buscado enten.der as rrtecanismos responsaveis pelos efeitos isto e, em nossos termos, se ;l pesquisa deveria ser_Ioca.liu.da na linha superior ou infe-rior de nossa quadXupla .. As tres categorias resultantes - pesqui-sa bis'ica sem relac;:ao com a de urn problema curuco; .pesqui-sa basica' relacionada a de urn problema clinico, e pesquisa feita sem p.enhuffia preocupac;:ao com mecarusmos &icos, quinricos ou biol6gicos b.kicos - correspondem aos quadrantes de' Bohr, Pas-teur e-Edison. Eles descobriram tais categorias englobavam, res-' pectivamente, 37%, 25% e 21% dos as restantes 17% [oram classificados como (15%) 'ou como, "revisao e

(ZOIo). Os 25% classific;ados como pesfJ.uisa basica relacionada i soluc;:ao de urn problema clinico (isto e, trabalhos ocupando -0 Qua-drante Pasteur) constituem mais uma impressionante evidencia <la, mistura de e_ntendimento e usa como objetivos da pesquisa, embora os 37lJo- classificados como pesquisa basica nao-relacionada a soluc;ao de urn problema currico (ou seja, trabalhos localizados no Quadrante

123

Dirlene Almeida Ferreira
Page 15: O quadrante de Pasteur

-0 QUADRANTE DE-PASTEUR

de Bohr) constituam urn renovado tributo ao pape! da pesquisa pura ' nas novas tecn-ologias.35

" As- -desse modo de pensar a' respeito ,cia ciencia basica e da ciencia -aplicada podem ser mais bern esdarecidas se vol-tarmos, nossa para quatro questoes conceituais. Cacia llma de-las e importante pO,r si'mesma, e uma discussao desses pontos pode tambem diminuir qualquer impressao de que a ideia de urn plano conceitual \.Jm dispositivo puramente formal.

Caracterizar a pesquisa ex ante ou ex post. A primeira dessas _ques-toes e se ,a dassificayao cia pesquisa em bisica ou aplicada cleve ba-

em julgamentos adiantados os .objetivos pretendidos peIa ou em julgamentos retrospectivos daquilo que a quisa alcanl(ou. Objetou-se algtInW vezes que a cia pes-quisa ,com base nos objetivos pretendidos envolve especulayoes -nao-ciencificas sobre os dos pesquisadores, bern diferentes das avaliac;:oes segu!:as e objetivas _que os-historiadores da cienda podeclo mais tarde realizar.Um cientista recalcitrante aEnnou que,distinguir a pesquisa bisica da com base em taisjuliamentos ex aitte e como colocar os cientistas no clivi

'A 16gica de se classificar a com base nos· objetivos pre-tendidos, e rno nos resultados conhecidos, repo'usa de que a politica tern a ver com escolhas - escolhas por cientistas individuals, escolhas' enfrentadas por aque!es que destinam recursos para uso em difetentes ,pesquisas, em grande ou pequerta esc:;ala. To-

:les exigemjulgamentos ex ante feitos com <). inc,erteza e par-te merente da pesquisa ainda MO tealizada_Ainda que 0 historiador da ciencia venha a ser capaz, no devido ternpo, de julgar de

35 E que in!piraram em p:me as pe6quU.as aqui atribuidas ao Quadlaflte de Pas-teur nao se 1in;Ii= de JIl'Uleira alguma 51 as pulmouares ou cardiov.ascubres corn as quatS Comroe & Dripps ,eu em cerro sentido, constitui wn meio de iden, tilk.r um corpo 'Igrlificativo de pesqui"" que mOltre que os objetivo, de entendimento e uso estao .ubstancialmente m..istlliados_

124

DONALD E. STOKES

. muito mais segura qual foi a pesquisa _que ptOvOU ter de fato contri-buido para 0 do ente;ndimento geral' em urn-campo do cophe-cimento, e que a pesquisa tenha -conduzido,de fato a urn-usc signifilOa-

somente uma. estrutura que trate ex ante dos objetivos da pesquisa pode prover as necessiciades da politica cientifica e tecnol6gica. .

Urn tratamento como esse vai alernde motivos pw:amente par-ticulares.--Ernbora sempre existir sobte se os objetivos ,<4 pesquisa serao atingidos, 4:is tern a ver com con-

"objetivas," sobre as quais. podern set feitos julgamentos beril fundament;ados. Na verdade, a integridade do processo de revisao pe-los pares repousa no fata. ,de que e passivel julg;amentos ins-titucionalizados e bern fundantentados sobre a probabihdade de se-rem atingid9s os objetivos ,especificados para projetos de pysquis<t particulares.

Quais' as objetivos que devem ser levados em conta? Algumas ve-zes colCica-se <), objel(ao de que e impossive! distinguir os tipos_de !,_es-quisa com base em seus objl!tivos, porque aqueles que representam papeis diversos no moderno sistema de pesquisa ter objetivos diferentes wra urn dado projeto. Numa epoca de ciencia organizada, como ji observamos, a' pesquisa e realizada dentro de nma estrutura institucional na qual a influencia sobre os objetiVos po-

, de ser cornpartilhada com aqueles que determiruup. as prioridades e controlarn 'as verbas·, em virios nlveis organizacionais. 0 foeo mais concentrado sobre 0 entendirnento dos- cientistas em atividade, e so- . bre 0, usa, de tern sido urn elemento conspicuQ de urn sistema que envolve apoio govername!1taL Urn cientis-ta biomedico que ,trabalba numa .unlversidade e que busca 0 apoio dos National Institutes of Health pode enxergar 0 trabalp.o proposto como de extensao de conhecimentos fundamentais, e 0 mesmO po-dem pensar-'o chefe de departamento 40 e a de es-tudos dos NIH que apoio a'de.Ao mesrno tempo, '? projeto pode ser aprovado pelo vice-presidinte,para assuntos medicos

125

Dirlene Almeida Ferreira
Dirlene Almeida Ferreira
Dirlene Almeida Ferreira
Page 16: O quadrante de Pasteur

o QUADRANTE DE PASTEUR

da universidade e finandadp pelos NIH, e em Ultima instancia pelo Congresso, pela!; que traz ao contrale de doenyas. Al-

anos atras,_Charles V. Kidd.observou com ironia que <l§ imiver-sidades do pais afirmavarn_ ter aceitado US$ -85 milh5es em patrocinio federal para pesqwsa basica, num ano no qual 0 gov'erno pensava :que -seus dese'mbolsos 'para pesquisa apenas metade- <lisso.36 Aij.na1 de contis, 0 proprio Bush reconheceu a difereny.a em ainpla escala entre a visao_do cientista e a do quando conclamou a nat;ao a promover suru; metas sodais e economicas me-diante 0 apoio a pesquisas qu'e seriam, em urn sentido di-rigidas apenas pela busca de mais entendimento por parte dos-den-tistas. ComQ foi obseivado . Alan ·T. Waterman, primeiro cia NSF, iIl_seriu--essa diferent;a de mao Q. inves-tigador e 0 patrocinador em sua defesa da crenc;a' de Bush de que os cie?tistas devem ser livres para conduzir a pesquisa onde quer que ela os Em uma especie de caso limite, urn patrocinador po-deria'reuoir todo urn rol 'de ,est.udos bisic(")s envolvendo mUltiplos pesquisadores sem que os pesquisadores estivesserh a par do cibjetivo aplicado por tris

Ainda assi!-U, e necessario enfatizar que a mistura de objetivos na pesquisa bisica inspira9a. pelo uso, nao resulta somen;e diferen-

entre os objetivos dos que ocupam os diferentes.niv-eis p.o sistema institucionalizado da cieI!cja moderna.A de'speito da-a-c;ao de Water-man e de outros na retaguarda, para defender a pureza da busca de entendimento por P:rrte do, cientista individual, os _anais da pesquisa estao repletos de exemplos de trabalhos por investigadores diretamente influepciados ao mesmo' tempo pela busca de entendi-mento geral e por considerat;oes de uso, Pasteur queria e controlar os processos microbiologicos que descobriu. Keynes queria entender e melhorar 0 funcionamento das economias modernas'. Os

)6 Charles V. KiOO, "&sic - Description versus Definition" (Science, v.129, p.368. 13, 1959). Kide ciu 0 estudo cia Natiorud Science Foundation, Bas;,; Res€arth: A National Resource (Washington, 1957, p.2S).

'"

DONALD E. ST9KES

fisicos do Projeto Manhattan queriaril entendei e controlar a fissao nu-clear. Langmuir queria entender e eXplorar a fisi-ca de superficies des componentes eletronicos·. Os biologos moleculares tem desejado en-tender e alterar os c6digos gen€:t:icos presentes no

Al6m elisso, compartilhamento da influencia sobre as esc()lhas das pesquisas entre 0 cientista e 0 patrocinador nao acarreta necessa-riamente uma dissonancia de objetivos do dcistica a ponto de tomar impossiVel c1assificar essas pesquisas dentra de nossp quadro bidimen-, siotial. Nos principais paises de produt;ao cientifica, a independeIitla dos cientistas ligados a universidades esci sufidentemente bern esta-belecida ,pari que possam, ern grande medida, determinar seus pro-prios -objetivos, sujeitos as inevitaveis recursos e as pers-pectivas de suas disciplinas ciencificas que dominam 0

mecanismo de analiSe pelos pares usado -na distribuis;ao de subven-Nnda assim, l!ssa independencia nao impediu urn vivo interes-'

se por objetivos aplicad.os em _ciencias tao diversas como a quimica, a eiencia da a economia, a biologia molecular, a farmaco-logia, a estatistica, a optica e a ciencia atoinica e molecular, Se ciendstas academicos -tern Uffi<!. merec}da reputat;ao de Qerseguir .seus

. proprios inte're.sses, .de 'urn modo geral eles tambem fieis a objetivos acresceritados quando envolvem em-pesquisas, patroci-nadas de carater e inspiradas pelo uso. Da mesma m,aneira, cientistas trabalhando em laboratories iridustriais ou governamentais rem abrat;ado em geral as xmss5es dessas unidades; ainda que muitos, conservem 0 gosto pela Giencia baslca -' urn gosto' e;ncorajado pelas lideran/(as dos principaii laboratorios como wna forma de recrutar, desenvolver e manter equipes excelentes.

0" volume de pesquisa aC!ldemica hisica insp£rada pelo uso ajuda a explicar' a ironica notada por Kidd -de' que as universidades -afirmassem. ter aceito finandamento.s federais para pesquisa basica-iguais ab dobro do valor que 0 governo pensava ter concedido em urn determinado ario. Tendo' em, vista que ambas as contabilizat;5es, do governo e das univetsidades, utilizaram alguma

Page 17: O quadrante de Pasteur

". ,

o QUADRANTE DE .PASTEUR

classi£icayao de "isto-ou-aquilo" para a pesquisa basica e' a aplicada, Ilia deve ser surpreendente 0 fate que as universidades conside_ rassem como basicas.muitas de suas pesquisas do Quadrante de Pas-teur financiadas. peIo govemo federal, enquanto este considerava que muitas delas aplicadaS.37 A com respeito a objetl-vos entre os cientistas em atividade e seus supervisores au fiaancia-dores· se todos perceoessem . que a pesquisa' Pade sel' in-

ao mesmo tempo, peIa busca. de entendimento cientifico e par considemyoes'de usc, urn ponto que merece enfase especial:

Libertados d:i falsa logica do "isto-ou-aquilo". cia tradici,?nal 00-basical aplicada, as cientistas individu;Us veriam mais geral-_

mente que os objetj.vos aplicados rno. esmo inerenternerfte em guer-. ra com a criatividade e a rigor cientificos; e seils supervisores e financiadores veriam mais gerahnente que 0 impulso em ao entend.iniento b4sico nao esti inerentemente em guerra c9rn as

uso.

Na verdade, os arranjoS' instii:ucionais da ciencia moderna -mats 'ajudam a as objetivos da pesquisa par-a seu quadro de cientis-tas do que c'ausam conflitos sobre tais objetivos. Essa re-vette a impulso da reserva com aos "que devem set

. contemplados. Os arranjos organizacionais p.ara a pesquisa nao' con-tribuem tanto para tomar complicado 0 etl).prego de urn quadro ba-seado em obj,etivos para se peIisar a politica cientifica e tecno16gica

". como' para encorajar pesquisas. por combinaryoes parti-cu4res dos objetivos de enten-dimento e usa, induindo -pesquisas que saQ ao mesmo tempo bisicas e pelo uso. Por exemplo, varias unidades de pesquisa, algumas delas na industria (Bell

37 John Irvine Ben. Martin., em seu estudo de prev.i,i)e, solne pesquisas no, E,to:d(;" Ullidos, descobri-ram que as agencias..especiois m== uma maior tendencla "pan relatlr seu apo;a it pesgulsa <myter-mos de utilicirias do que a. acaderrucos que recebiam Jell apoia_ Nrun, a Deparbmento de Energia poderia descrever como bengenhari .. " pesqu;>as que as uniYersida,les de,creviam como "fuica".

DONALD E. STOKES

Laboratories), outras autonomas (Rand Corporation), outras ainda na,s unive;sidades, tem utiliZado utn plano' organizacional rnatricial-para engajar cientistas de .primeira Ilnha em pesquisas' de rigor cien-tifleo nnPressionante mas que sao, ao mesp10 tempo, profuriclamente .influenciadas por considerayoes de uso.

Podem as duas dimensoes set a uma? A irnagem gcifi-ca de urn espectro unidimensional de pesquisa basica-aplicada abre

, naturalm.ente caminho ao plano bldimensi?nai. 'uma vez que esteja claro que objetivos nao sao inerentemente opostos. _Mas 0 po-der 'do pensamento em uma dimensao tem sido tao grande que ain-da houve QUtras para dispor a pesquisa ao longo de urna s6 escala. Urn instrutivo esforyo tipo'foi mcluido num relatOrio de 1981 do C?nsellio Cientifico eTecnol6gicoAustraliano (Astec}.:.a Es-se telaoorio reproduz as categorias de pesquisa propostas pelo Manual Frascatl, com modificayoes do' Departaniento .de. Estatistica no. Essas definiyoes, como ja observamos, apontam para uma. vis.ao mais transversal -da pesquisa basica e da pesquisa aplicada. Mas a rela-fario nao consegtiiu Jevar adiante essa 16gica e, em vez disso,_ propos um espectro de pesquisa unidimensional, pesquisas "imediatamente_aplicaveis" ate "alt:arnente abstratas".A representayao gr:ifica desse espectro e reproduzida a seguir como.a Figura '3.6. As 10calizap5es relativas das pesquisas basica, estrategica e citica sao S1.l-geridas par tres gaussianas (em forma de sino) que se es-tenclem atr.tves desse.espayo euclidiano umrumensional entre os pO-los "imematamehte ,aplicaveis" e "altaI;r\.ente abstratas".

38 Ausa:ilim md"Ieehnology council, Basil; ResNn:h <!tid Objectives (Cmberra:Aus-tralian GoVernment 1981, p.3-4).Veja_ge, Department ofScien-ce and Technowgy, Project SCORE: Resean:h MId DevelDpml;tll in Australia 1976-77 (Canberra: ALl'-ttalla Government Pubfuhing Service, 1980, pAS7), e J. Romyne, Stienct in Governmenl:A Review of t?e Principles aQd P,9ctice ofSctence Policy (Edward Arnold, 1984. p.3S).

Dirlene Almeida Ferreira
Dirlene Almeida Ferreira
Page 18: O quadrante de Pasteur

- ,

o QUADR./>.NTE DE PASTEUR

FIGURA - australiana do modelo li?ear,_

imediatamerite -apllcaveis

Pesquisas taticas

1 Pesqu1sas Pesquisas

estrategic,as plJras

1 1

Altamente , abstratas

Fonte: Australian- Scier'lce and Technology Council, Basic 'and -National ,Objecti'16 (Canberra: Australian Government Publishing Service, 1981, p.6'J. COpYright de Commonwealth of Australia, autorizada. -

Essa ilustrayao espacial vincula-se mais ao apelo do pensamen- ' to unidim,ensional do, que as caracteristic<l;S tdas pesqujsas que qs au-tares do Astec buscavan1 reveIar, Ao rp.tuiar um de seus polos como

" ".imediatamente- apliciveis" os ;redatores -revelam. seu desejo' con""" os'dqis objetivos descrito por suas versoes modifi-

cadas das ,definiyoes do Manual Frascciti. Mas:, ao fazer de "altamente abstratas" 0 ,polo -oposto a "irneruatamente e com a incl.u-sao de mais urn arranjo unidimensional apenas encobtem a S-ern a!guma, 0 pensaniento abstrato esta' em grau maximo na pesquisa localizada no Quadrante de Bohr e tern proemi-nenci'a minima :em que se encontram n'o Quadrinte de Edison. Mas, isso constitui somente lima, afirmac;:ao sobre -QS aspectos empiricos correspondentes aos padroes de 9bjetivos visados pelas de-finic;oes do- Manual Frascati, Os autores do Astec teriam.chegadd mais perto do alvo se tivessem sua estrutura unidimensional e

no

DONALD E_. STOKES'

se tivesseni usado suas habilidades gcificas para, elucidar a base con-ceitual das entre a pesquisa "pura", "estrategica''.e "citica".

Temp€? ate a - Acredita-se algumas vez'es que 0 £ator mais iinportante para. que a pesquisa se aa de um -limco continuo reside na ideia do "tempo ate a. Na verdade, pensa-se com que esse defint? a diferenya a P,es-quisa pura e a aplicada. Ninguem duvida,de que hi uma enorrne di-ferenya Ii? tempo que'provavelmente se passara entre a produyao de

,-algum co'tfhecimento novo e' a utiliziJ,yao desse conhecimento para urn prop6sito aplicado, quando se val do Quadrante- de Bohr para a de Edison. -seria de outra forma', viseo que a pesquisa bi-sica pura procura apenas sondat fundamentos desconheGidos, ao passo' 'que a pesqUisa puramehte aplicada busca- soinente satisfazer alguma

claramente definida. Mas 0 tempo are a a,plicayao _e mui-to mais problematico na. pesquisa bisica inspirada pelo uso do Qua-:-drante de Pasteur. que ,pIOcura, aa mesroo tempo, sondar fundamen-(os desconhecidos e satisfazer uma necessidade da sociedade. 0 conhecimento obtido com 0' trabalho fu.udamental'do pr6pl'io Pas-teur _em microbiologia foi rapidamente aplicado a problemas indus-triais e de saude pu'Qlica, ,cia mesIlla forma como a pesquisa funt'4-mental em biologia tern sido atualmente aplicada -com

em biotecnologia ..,:' na verdade, tao rapidamente que ,alguns a falar'brincando de urn 'tempo negative) are'a

"'-plicar;ao. Contudo, os cientistas que trabalham com plasma_ deverao necessitar, ao final de suas pesquisas, de mais de meio sekulo para terem 0 conhecimento bisico que levari a prodm;ao comerci'almen-

, te viavel de energia: -meio da fusio Albm disso, hi uma grande variar;ao nao apenas no tempo ate a mas tambem eQ! nossa capacidade de estimar 0 horizonte de tempo dessa apli-Cayao. Na verdade, e ate possivel que faya sentido c9nsiderar -0 tem-po ate a',aplicayao' previsibilidade desse tempo como' dime,nsoes separada's. Uma visao razoavel seria" portanto: que 0 tempo 'ate:a

131

Dirlene Almeida Ferreira
Dirlene Almeida Ferreira
Dirlene Almeida Ferreira
Dirlene Almeida Ferreira
Page 19: O quadrante de Pasteur

nao constitui urn substituto unidimensional para nosso pla--' "' ,--'-': • no conceitual, mas apertas urn impartante c-orrelato empirico das

collfigurac;oes de objetivos que definem essa estrutura bidimensionaL Sera importante dispor de ulna visao clara cia relac;ao'

tempo e uso para entender as desse q\1adrd para' a politi-ca cientifica, as quais serlo discutidas a seguir capitulos 4 e 5. Se-ra especi<).lmente importante perceber que alguns avanc;os de impor-

cientifica fundamental tern de curto' prazo - e nao pemar -que toeb. pesquisa de carater fundamental deve ter apenas Uin -papel distante dds progressos da tecnologia. Esse ponto e,muito mais facilihente apn;:endido se pensarmos na realidade da pesquis,a basica inspira<4 pelo usc, urna realidade expressa pdo Quadrante de Pas-teur. Se estivermos ,cientes cia grande :&eqiiencia com que-as conside:'" ral;oes de usa influenciam 'a pesquisa fimdamental - 0 que inclui 0_

atendiffiento das da, evoluc;ao tecno16,gica - sera mais [a(:il entender que essa pesquisa pode ter aplicac;oes ,num futuro. relativa-mente proximo,

Mas tarnbem sera irnpor:tante perceber que as considera!Toes de uso podem influenciar' pesquisas basicas que apresentam probabilidade de proporcionar um ret(nno cipido, em tecnologia --e nao, supor que toda pesquisa com uln horizonte de-uso distante cons-titUi tlece'ssariamente tuna cieniliica guiada pela cUriosida-de localizada no Quadrante de Bohr. Acreditar toda pesquis:y com ,urn horizonte de tempo como esse constitui wna pUl"a avent'll..: ra do entendimento, cujas nao podem set previstas, equi-, vale a perder de vista novarnente 0 ponto, essencw de que, no que conceme as da "tudo que e born nad

, precisa neCeSsariamente ter inicio com .urn lampejo no ()lhar perdido de urn pesquisador bisico", 39

391bmei = frase bem-viruh do trabalho. de Michael HeYlin, "Sc;=ce for the 2,15[ Cen-!my". Chemical and Engineering News (Much 13,1995, p.5).

132

DONALD E. STOKES'

R,EPENSANDO 0 PARADIGMA DINAMICO

Reconhecer a possibilidade da basica inspirada pelo uso equi- ' vale a ver 0 papel da-ciencia,em novas' tec"nalogias,por uma perspec-

., tiva bern diferente da visao do paradigrna do pbs.-guerra, segundo 0

qual a pesquisa 'basica se em uma remota de, ino-V;;c;io tecnol6gica. Embora necessario algum grau de cenc;a metaf6rica _para organizar pensarilento a respeito desses

coinplexos, esta claro que, a concedida, ao ,hued"," que vaj da pesquiS'a basica a pesquisa aplicada -e

alen'l, ate,o desenvolvimento e 'a produyao ou as operayoes, expirou ha muito teJIlpo. Nas palavras de Nathan ,Rosenberg, "todos que 0 modele linear da indvayao est:l., morto" ,40 mesrna que ele a4t-da sobreviva 'em parteS das cientifica e de politicas en-

i tre 0 publico em geraL Ele sofreu' ferUnel!oos mortais pe1a do sao trulltiplas, e desi:'"

gualmente percorridas as entre 0 'progresso cientifico e' 0

tecl1:016gico; -de quae. frequenteIl;lente a tecnologia serve de inspira-a ciencia, em vez de o_correr 0 conttfo-rio; e de quanw melhorias

da tecnologia nem seqtier esperam pela Na Ultima dcssa.s criticas levou varios

deslocar seu foco das entre a dencia e a tecnologia cpmo tais para'todas as fontes da tecno16iica. com urn interesse apenas , secundirio em quan:tas.' debs podem em arialise citar ligadas- a cie_ncia,A literatura sabre que cresce -rapidamente! pro-posto varias i!nageIlS 'a respeito dessas fontes, muito me-' nos simplistas' que 0 modelo linear, Rye Hirasawa. por exempio, pro-pos um modelo. de "sistema concorrente" envolvendp a administrac;a.o de uma superposic;ao, em vez de ulria adririnistra<;ao sequencial, das fa.-ses de pesquisa, desenvolvimento. e vendas. presente em

40 RosenbeTg, "Critical in Policy Research" (sa""", and A1bli, Polity, v.lS. p.335, December 1991).

,"

Dirlene Almeida Ferreira
Dirlene Almeida Ferreira
Page 20: O quadrante de Pasteur

o QUADRANTE QE PASTEUR

empresas japonesas inovadoras.41 Hirotaka Takeuchi e Ikujiro Nona-ka utilizam t1111:l'linguagem esportiva para desenvolVer essa contrastando uma de revezamento,na qU!llo bastao e pass ado de u.m corredor para 0 corredor seguinte no final de cada etapa, com umjogo" de rugby em que 0 resultado depende de urn time que "'ten-ta pertorrer. toda a .<Ustancia c'omo uma s6. unidade, passanqo a bola 'para a frente e para tcis" .42 Stephen J. Kline e Rosenberg 'oferecem urn modele iterativo' de "elo de cadeia" para a inova<rao, 0 qual distin-gue os elementos de inicia<rao, realimenta<rao e a cadeia, urn modelo que, no minima, reflete a complexidad,e do processo de inovayao.43

Inevitavelmente, o' exame mais gei:al das fonteS da inova<rao en-volvido nesses model.os desviou em alguma medida a atenyao da re-lat;:ao entre a ciencia basica e ,a inovayao tecno16gica. Essa era ' tudo de que o. modele linear tratava, ainda que de maneira falha. A aten<ra() a' essa relayao foi desvlada pela cOIn a competitividade econ&tp.ica, a tern levado varios comentaristas a desviar foco para a liga<rao entre as novas tecnologias e sua apli-ca<rao comerdal. Erich Bloch, ex-diretor da National SClence Foun-clation, e Cheney, urn colega no de Corripetitivida-de, exprimem essa preocupa<rao:

A tecnologia que perinanece nos labOl'8.torios traz quase nehhum beneficio economico:A tecnologia·que e aplicada s.omente aos mercados

41 Ryo Hiwawa, "The Concept of R&D Sprouting inJapan", in Proc.eedings of the Re-s.arch and Techm>kgy Planning Society (tviay 15:1992).

'42 Huotaka e Ilrujito Nouaka, "The t>{ew Product Development Game" (lkrva,d Business Review, 11.64, p.137-46,January-February, 1986). ComQ mais uma evidencia da imporcincia do pensa-mento met:rlOrico para esse, desenvolvimentos ad4linimativo.,Takeuchi e Nonaka observ:nn que a Fu- ' ji-Xerox identifica ,eu af3st;;tmento do modelo linear e seqiiencia! de desenvolvimento como 0 sistema sol$himi,serido que 0 '<l<himi e Urn prato compo.to de ( .. bas de peixe em disposf;:I$ segundo 'urn padrao de

43 Stephen J. Kline, "Innovation Is Not a Linear (Resear0 v.28, p.36-45,July-A,u· gust t985).Veja-se, tambem, StephenJ. Kline e Nathan Rosenberg, "An Overview oflIlIlOVlltior),', in Ralph Landau e Nathan Rosenberg (Ed,) Th, Positive Sum Strategy: Hamessing1echnology fOr'Ei:o-nomic GI'owt.h (Washington: NationaiAcademy 1986,

134

DONALD E. STOKES

governamentais, tais como a defesa, traz beneficios bern menores do que astecnologias que contribuem para a sucesso nos mercados comerciais, muito maiotes;, e nos mercados

cada vez mai,s importantes.44

Na visao desses autores, as Estados Unidos sao Jlderes mundiais na clenda basica e provavelmente 'tainbem na' inovaC;ao tecnol6gica; o pais, 'contudo, nao e eficiente na conversio das novas tecnologias em produtos e servi<ros que consigam aprovados no teste do mer-

, caao. Tornou-se quase urn lugar-comum nos comentarios sobre 0

, atraso competitivo norte-americano ,a freqftencia born que tecnolo-gia.'Ldesenvplvidas inicialmente nos Estados Umdos foram exploradas de ,modo comer6al em outras partes do mundo, especial Ja-pao, Os autores ,de urn relat6rio bastante. completo sobre a politica europeia para a inoYafao e difusao da tecnologia tambem fuzem essa distinyao entre a nova tecnologia e seu usc em produtos ou setviyos que passam pelo teste do mercado.45 b governo' brimmeo incorpo-rou essa distin<rao' ao v,ocabul3.rio da tecno16gica. empregan-do 0 termO "iilOva<raO" para 0 deslmvolvimento de novas tecnologias, e'"explora<rao''' para Sua aplicayao comercial.

As para estabelecer tal, distinc;ao pareceriam refor<;:adas peIos exemplos notaveis dos anais da tecnologia; detalhados pot.

e outros, nos quais forim necessarios muitos arros para que nova tecnologia encontrasse utiliza<r0es mais importantes. A ffiaquina a Vapor foi vista iniciahnente como um dispositivo para bomb ear agua de minas, e somente mais tarde tornou-se urn gerador de motriz p;tta navios e locomotivas,A ferrovia foi: encarada ·inicialmente como urn alimentador' de merca-dorias pata 0 transporte fluvial par canais, e mais tarde

«Erich :Bloch e David Cheney, "Technology Policy Comes of AJ!,e" (Issues in Sciena and T",hlWiogy, v.9, p,S7, Summer 1993).

4S An Integrated Approach /(> European Innovation and Technology DiJfosion PoIicy:A Maa.tricht Memo-r.andum,May 1993. •

Dirlene Almeida Ferreira
Page 21: O quadrante de Pasteur

o QUADRANTlj DE PASTEUR

constituip. sistema transporte integralmente articulado e au-tonomo. 0 radio £oi .c:onSiderado um substitute), "sem fio" para 0 telegiafo eletrico, -para a comunicac;:ao entre dois pontos que nao podiam ser conectados por fio, corrio Hm navio e a,terra, e somente mais tarde como'urn meio de "difusao" de comunicac;:ao para uma auruencia de massas.46 Na verdade, e_sse e urn fenomeno quase na' Dificilmente urn novo' p;a.radigma tecno16.gico completarnente acabado cia mente ,de se,u tor, e quando isso rio 'caso da vlsao de Clar-ke sabre os satelites de comunicac;:ao, e pouco provavel que Q vlsio-nario a pessoa que transforma.em realidade ,esse sonho tecno16gico.

Ha, porem, proplemas impreyistos na distinc;:ao entre uma tec-nologia e suas aplicac;:.oes. E- preCise trac;:ar Uina distinc;:ao valida entre

tecnologia e apli.cac;:ao a ,ou processos parti-disso, bens ou serylC;:Os 'lp.Wviduais podem combinir em

si vmas tecnologias, e' algumas caracteristicas nnan.ceiras e de mar· keting'que podem ser de importancia critica para ° SllCesso. eccin6mi-co sao distintas -da tecnoiogia que esci sendo -expiorada. Mas, supor a tecnologia seja moldada pOt consi4erac;:6es tecni-cas ou de engenh;tria, livre da influencia do,meccado, c;onstitui -ape-nas remanescente -do -modo de pensai do -modelo linear. A pro-pria tecnologia pode ser infhiertciada; em tnercados emergentes, pela demanda dos .consurnidores, como aconteceu nos. casas cia J113quina a 'vapor, da ferrovia e -do radio; a tecnol9gia da 10-comotiva a vapor havia avanvado ate'rnuito alem da 't-ecnologia usa-. da para b,?mbear agua do interior <:las minas: -Faz perfeitaptente sen-tido [alar de ulna "trajet6ria" da tecnologia; gmada por ' tecnlcas e mercadol6gicas, cia mestna firma. como falariamos traje-

--tbria de um.ramo da ciep.cia que fosse dirigido por varias iniluencias

'46 Nattl:m "The Impact Innovation: A Hi.>toricil Review", in Landau e The Positive Sum Strategy, op. cit., p . .17_32_

136

!

DONAtp E'_ STOKES

-;- inclusive, as vezes, pela oportunidade de ,criar uma tecnologia-de sucesso comercialY

. De fato, essa mecifora uti! pode ser adaptada para ,reformular a problema dinannco nos §eguintes termos:

Para 0 modelo linear do do, e.os-guerra, ne:-de urn entendimento claro das entre as tra-

jet6rias duais, mas :s.emi-autonomas, do entemfunento ba-; e do saber

0 modelo linear considerasse C;;s .avanc;:os cia ciencia" co'-mo integrallnente 0 deserlv'ofvirileJrto da tecllol,ogia, vnnos' q'ue 0 entre ambos- muito mais interativo, CQm -a tec;nologia as vezes uma podcrosa influencia sabre a ciencia. E pontO que se situam os problemas para a trarufor-mas;ao dos. escitico e dinamico: sera possivel'um, entendi-mentO'mais prorundo r.\esse'relacionamento se for not:!cU a impor--cincia cia pesquisa situada no Quadrante de Pasteur.

Ainda que fosse divertido enxergar uma rio curso entrelar;:ado e ascendente do entendimento cientifico e da capadda--de esci chro -que 0 modelo linear, de mao uruca, para a ligac;:ao entre- a cienCia b:lsica e a - tecno16gica precisa ser

_ substituido por uma imagem' que alguma id6ia de suas muet6rias dl.l3is e ascendentes- como interaiivas mas setni-aut6ilOma5 (Figura 3.7). Essas traje,t6rias estao acopladas apenas de forma tenue;,A cien-_cia frequentemente se moVe de um mvel de ja exis-

. teJ:lte para urn nivelsuperi-Dr por'meio'de pesquisas puras em que os progressos tecnol6gicos desem:penham urn papel pequeno. De fonna similar, a tecnologia com freqiiencia desloca-se de urn grau existente

470 significado do termQ "tr!ljeroria'; e rnuito similar a seu significado na 00'" de Richard R. Nebon e Sidney po'; exemplo, "In Search ofU,efulTheory oflnnovation" (Resell1Ch Policy, 1,'.6, p,36-76,1:muary 1977), e. 0 capitulo 11 de lrabalho, An EW/aJionary Theory if&orwmic Chan-ge (Harvard University Pr=, 1'182). '

137

Dirlene Almeida Ferreira
Dirlene Almeida Ferreira
Page 22: O quadrante de Pasteur

a QUADRANTE DE PASTEUR

de capaciclade para um de capacidade P9r meio de pes-quisas com alvos estreitamente definid<rs, ou por meio de mudanvas de projeto ou de engenharia, -ou simpiesmente pot meio impro-

no-laboratorie, processes quais progressos re-centes da ciencia tern pouca -relevancia. Mas cada uma dessas trajet6rias e de tempos em tempos fortemente influenciada pela outra, sendo que es-

- . - . sa .in.fluencia pode acontecer em uma ou outra- direyao, com a pes-quisa basica inspirada pelo uso atuando freqiientemente no p_apel de ligayao. De maneira similar, Brooks observou que "a relayao entre ciencia_.e tecnologia e mais bern imaginada em termos de duas tor-rentes paralelas <le cophecimento cumulativo, as quais podem apre-

_ sentar interdependencias e relayoes laterais, mas cujas conexoes inter-nas sao mais fortes que suas conexoes transversais"';48

FIGURA 3.7 - Urn modelo din:irnico revisado.

Entendimento melhorado

Pesquisa basiea pura

J Conhecimento

existente

f>esqufsa bAsica

Inspirada pelo ';Iso

Tecnologia melhorada

Pesquisa e desenvolvlmento

puraniente aplicado5

Tecnoiogia

48 Cf. Harvey Brooks, UThe Relationship BetM-en ScienLe and Technology" (Research PolicY, v.23, p.479, 1994). ' -

138

DONALD E. STOKES

Essa imagem das trajetorias duais do deixa mui-ta coisa de fotar A interayao da ciencia com a tecnologia inclui 0 pa-pel algumas d'esempenhado pelas tecnologias de pesqui-

criay3.o de tecnologias e a iniporclncia que pode ter a disponibilidade de metodos de riiediyao comerciais para 0

a pesquisa fundamental, nova.. Apesar <lissa, as trajetorias do enten-dimento cientifico e da capacitayao tecnologica tern sido caracteri-zadas por -urn relacionamento pouco interativo, desde 0 periodo no seculo XIX em que 0 conceito de "tecnologia''-lanr;:ou raizes pela pri-meira'vez no pensamento posttivista. Nesse periodo,o casamento da ciencia com ,;is atividades pciticas proposto por Francis Bacon mais de dois seculos antes foi finalmente consumado pela influencia da tecnologia sobre 0 desenvolvimento ,da ciencia e influencia <.las disciplinas emeigentes da fislca, cia quithi-ca e- cia biologia sobre 0 de-. senvolvimento de novas produtos e proceSsos.

WPLIcA<;:OES PARA A POLiTICA

Ha mais_ coisas por tcis deSsas imagens teformuladas das a oencia basica e a tecno16gica do_que ap.enas s'ua maior:6-dehciade a6s anais pesquisa. Essas rcl"ormulayoes do paradigma db pas-guerra te!D- iuna grande importincia para a politica cien-tinca tecno16gica: Na verdade, as cinco podem talvez transportar-nos' atraves da ba:rreira ep.tre-a analise e a politica:

• A vislo paradigroatica da ciencia 'e da tecnologia que emergiu da Segl,lUqa Guerra'Mundial forneceu uma dr;:scriyao notoriamente incompleta do relaCionamento entre a pesquiSa basica e a -ino-vayao tecno16gica.

• A incompletude do paradigma do pos-guerra eSta 0

dialogo entre a comunidade cientifica e a comunidade de politicas e atrapalhando a busca pot urn novo pacto entre ciencia e govern'o.

Dirlene Almeida Ferreira
Dirlene Almeida Ferreira
Page 23: O quadrante de Pasteur

o QUADRANTE DE PASTEUR_

• Uma visaa mais realista do relacianamento entre a e a tec-' nalogia cleve reservar espat;o' para ° te <fa pesquisa b:isl€:a inspirada pela uso, de fazer a ligas;ao entre' as ttajet6rias semi-autonomas do entendimento cientifico e_ do co-nhecimento tecno16gico.

• Urn entendimento mais daro, por parte das comunidad.es cient#i-ca e' de politiC¥}. do papel cia pesquisa insPirada uso po-

. de ajudar a renovar 0 entre a ciencia e_o .governo, urn pacto que cleve tambem conferir apoio a pesq1iisa basica_ pura.

• S6 se podecio construir agendas de pesquiSa basica inspil'a:da uso par nieio da c;onjugas;:lo de avalialYoes bem fundaInentadas das pn;;messas cia pesquisa e da's necessidaaes da sociedade ..

As impli,calYoes dessas observas;5es para a, po.litica sao cUscutidas ". no); capitulos 4 e 5. 0 Capitulo 4 explica C0;o10 uma mais rea-

lista do relacionamento entre <l,-'ciencia. bisica e a tecno16-, gica. pode ajudar a restabelecer 0 pacto entre a ciencia e 0 governo. o Capitulo 5 explora a forma de'ligar as avaliac;oes as promes-sas, da ciencia 'com as sobre seu Valor social ,no nnan,-ciamento cia bisica inspirada par consideras;o-e.s de uso. ,

HO

4 ' RENOVANDO 0 PACTO

ENTRE cIENC1A E GbVERNo

A niedi?a que 0 seculo)Q( se aproxima-de sell,fim, a desordem.na politica cientifica e do mundo industriahzado senta-se de' forma clara nos Estados Unidos. E Iacil exagerat 0 construo sllbjacen.te a idade ouro-da norte-americana ap6s a Segunda Guerra Mun'dial As verdades ago-ra parecem ter suscitado 0 respeito, universal foram acatada$ na-quela:'epoca sOn\ente de forma tentativa, e 0 fluxo de fundos para a ciencia basiq. no urn fluka sem paq.1elos, at+aves. de caitais organizacionais bem- difere,Ntes daqueles propos-

, tbs por yannevar Bush em seu epico relat6rio Sdence, the Endless Frontier.A1em disso, a Guerra da Vietna"a com os im-

. pactos cia sobre 0 meio ambiente e 0-desejo de avanS;ar, com a ainda nao-concluida agenda domhtica do pais abalaram as bases do apQio publico a ciencia pura e a ciencia aplicada, no final dos ano§ 1960 e inicio dos anos 1970, mais. do que hoje e lembra-do; na verdade. il exp,eriencia do Vietna gerou. urna intensa frustra-

. c;ac ao mostrar- quanto a dianteip. tecno16gica do pais pesava pou-co na do sucesso militar. Podenamos dizer, diante desse .

'"

Dirlene Almeida Ferreira