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Os mártires de Lião Em Lião, no ano 177, uma amotinação popular prendeu cristãos condenados com a concordância do mesmo imperador Marco Aurélio. Eusébio nos conservou uma carta que relata os acontecimentos. Carta das Igrejas de Lião e de Viena às Igrejas da Ásia e da Frígia. Os servos de Cristo que habitam em Viena e em Lião, na Gália, aos irmãos da Ásia e da Frígia, que, como nós, têm fé e esperam a redenção: paz, graça e honra em nome de Deus, o Pai e de Jesus Cristo, nosso Senhor. A todas as perguntas Sanctus respondia em latim: "Sou cristão"; essa afirmação fazia para ele as vezes do nome, da cidade, da raça e de tudo; os pagãos não ouviam dele outra palavra (...). Para terminar, eles lhe aplicaram lâminas de ferro incandescentes nas partes mais delicadas do corpo. Elas o queimavam, mas ele continuava inflexível e inquebrantável, firme na confissão de sua fé e recebendo da fonte celeste como que um orvalho fortalecedor da água viva que saído lado de Cristo. Seu pobre corpo testemunhava o que se tinha passado: todo ele era contusões e chagas; encolhido em si mesmo, ele não linha mais aparência humana. Mas era Cristo que sofria nele e realizava uma obra grande e gloriosa: tornava impotente o adversário e mostrava aos outros, como exemplo, que nada é temível onde está o amor do Pai, que nada é doloroso onde está a glória de Cristo (..). 1

Os mártires de lião

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Page 1: Os mártires de lião

Os mártires de Lião

Em Lião, no ano 177, uma amotinação popular prendeu cristãos condenados

com a concordância do mesmo imperador Marco Aurélio. Eusébio nos conservou

uma carta que relata os acontecimentos. Carta das Igrejas de Lião e de Viena às

Igrejas da Ásia e da Frígia.

Os servos de Cristo que habitam em Viena e em Lião, na Gália, aos irmãos da

Ásia e da Frígia, que, como nós, têm fé e esperam a redenção: paz, graça e honra em

nome de Deus, o Pai e de Jesus Cristo, nosso Senhor.

A todas as perguntas Sanctus respondia em latim: "Sou cristão"; essa

afirmação fazia para ele as vezes do nome, da cidade, da raça e de tudo; os pagãos

não ouviam dele outra palavra (...). Para terminar, eles lhe aplicaram lâminas de ferro

incandescentes nas partes mais delicadas do corpo. Elas o queimavam, mas ele

continuava inflexível e inquebrantável, firme na confissão de sua fé e recebendo da

fonte celeste como que um orvalho fortalecedor da água viva que saído lado de

Cristo. Seu pobre corpo testemunhava o que se tinha passado: todo ele era contusões

e chagas; encolhido em si mesmo, ele não linha mais aparência humana. Mas era

Cristo que sofria nele e realizava uma obra grande e gloriosa: tornava impotente o

adversário e mostrava aos outros, como exemplo, que nada é temível onde está o

amor do Pai, que nada é doloroso onde está a glória de Cristo (..).

Alguns dias mais tarde, os carrascos torturaram novamente o mártir;

pensavam que o submeteriam, aplicando-lhe as mesmas torturas, já que ele não podia

suportar nem o simples contato das mãos. Na pior das hipóteses, ele morreria nos

tormentos, e esse exemplo encheria os outros de medo. Mas não foi assim; contra

toda a expectativa, o corpo do mártir se refez, se fortaleceu nas novas torturas e

recobrou, com sua forma anterior, o uso de seus membros. Em vez de ser um

sofrimento, o novo suplício foi para Sanctus uma cura pela graça de Cristo.

Outros tinham sido tão cruelmente torturados que pareciam não poder

sobreviver, apesar de todos os cuidados; não obstante, eles resistiram na prisão:

privados de todo o socorro humano, mas reconfortados por Deus, recobraram as

forças do corpo e da alma, encorajavam e sustentavam seus companheiros. Enfim, os

que foram presos por último, cujos corpos ainda não tinham sido levados à tortura,

não suportaram o horrível amontoamento da prisão e morreram.

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O bem-aventurado Fotino, ao qual tinha sido confiado o ministério do

episcopado em Lião, tinha então mais de noventa anos. Ele se achava em extrema

fraqueza física, respirando com dificuldade, mas, sob a influência do Espírito e

desejando ardentemente o martírio, reencontrava suas forças. Também ele foi

arrastado ao tribunal; seu corpo velho e doente o abandonava, mas nele velava a sua

alma, para que por ela Cristo fosse glorificado. Conduzido pelos soldados ao

tribunal, era seguido pelos magistrados da cidade e por todo o povo, que levantava

contra ele toda a sorte de gritos como se ele fosse o Cristo: ele deu um belo

testemunho. Interrogado pelo Legado sobre o Deus dos cristãos, respondeu:

“Conhecê-lo-ás se fores digno” (...).

Blandina, suspensa num poste, estava exposta como alimento para as feras

soltas sobre ela. Vendo-a suspensa nessa espécie de cruz e ouvindo-a orar em voz

alta, os combatentes sentiam crescer sua coragem; no meio de seu combate, eles

viam, com seus olhos de carne, através de sua irmã, aquele que foi crucificado por

eles, a fim de mostrar aos seus fiéis que todos aqueles que sofrem para glorificar o

Cristo conservam sempre a união com o Deus vivo (...).

A bem-aventurada Blandina, a última de todos - como uma nobre mãe que,

depois de ter encorajado seus filhos, os enviou na frente, vitoriosos, até o rei -, sofria,

por sua vez, o rigor de todos os combates sustentados por seus filhos. Agora ela se

apressava em ir juntar-se a eles, feliz e radiante de alegria por causa dessa partida,

como se fosse convidada para um banquete de núpcias, e não entregue às feras.

Depois dos golpes, depois das feras, depois da grelha, colocaram-na dentro de uma

rede e a expuseram assim a um touro. Atirada muitas vezes ao ar por esse animal, ela

nem percebia mais o que lhe acontecia, absorvida como estava na esperança e na

expectativa de sua fé e no seu entretenimento com Cristo. Ela também foi degolada,

e os próprios pagãos reconheciam que entre eles jamais uma mulher tinha suportado

tantos tormentos (...).

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