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Os Sete Pecados Capitais

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Os Sete Pecados CapitaisUma análise histórico-filosófica

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Fortaleza-CE2012

José Anastácio de Sousa Aguiar

Os Sete Pecados CapitaisUma análise histórico-filosófica

2ª Edição

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Juscelino Guilherme

[email protected]

Óleo de Raffaello Sanzio da Urbino

A282s Aguiar, José Anastácio de Sousa.

2012.210 p. : il.

ISBN 978-85-7915-125-5

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“Minha gratidão à Divindade, aos familiares -

ram para a elaboração deste livro, à minha queri-da esposa Soraya Aguiar, pela existência tão doce, e à Bia, pelos maravilhosos momentos de alegria proporcionados e por sempre me lembrar que não importa necessariamente o que as pessoas e coisas são, mas o que elas nos fazem ser e sentir. Dedico a todos que se interessem pelo tema.”

José Anastácio de Sousa Aguiar

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Nota à Segunda EdiçãoPrefácioApresentaçãoComprar, Rezar, Viver e Morrer

............21Os 7 Pecados Capitais – gênese..........................................

................... ....................................

................................................................ ...................42

......47As 7 Virtudes Capitais.........................................................52

........................60 ............................................................................65

.......67

.............................. .............................77

............................................Narciso e a Vaidade ...........................................................88

........................92

...................................A Inveja e o Cão .................................................................97Caim e Saul ........................................................................99Pitágoras, o teorema e a Inveja .........................................

...............107

.....................................111 ...................................................................

A Ira de Deus ...................................................................115

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...........................................118A Paciência como contraponto à Ira .................................120

............................123 ............................................................125

A Preguiça e os outros pecados capitais ...........................126 ....................................

A Diligência como contraponto à Preguiça ......................

......................A Avareza e o sapo...........................................................A Avareza, o dinheiro e a sociedade moderna..................140

........................142A Generosidade como contraponto à Avareza..................145

.............................A Gula e o porco ..............................................................149A Gula e o prazer .............................................................152

.............................154 .........................157

........................... ...........................................................161

...............................................164 .........................167 .........................171

................................................... ............177

Maiêutica Socrática e o 8º Pecado Capital .......................181Como odiar e como amar .................................................186A Moral comum e os grandes Mestres ..............................188

................................................................19

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Certamente esta nota à segunda edição bem que poderia chamar-se de nota de agradecimento, porque é disso que se trata. Pouco mais de quatro meses após o lançamento desta obra que ocorreu em 11 de maio de 2012, a primeira edição está praticamente esgotada e as livrarias nas quais deixei os exemplares já solicitam mais livros.

Pois bem, aproveitei para revisar e ampliar o livro, mas gostaria de lançar mão da oportunidade de reimprimi-lo fa-zendo justos agradecimentos.

Primeiramente, à Divindade, pelo dom de ainda estar aqui e poder contribuir com o aprofundamento do estudo das questões ligadas ao comportamento humano e propiciar, a quem se interesse pelo tema, mais um meio de buscar a au-tocompreensão, facilitando, quem sabe, um melhor entendi-mento das quatro grandes questões do ser humano: de onde

É dever de justiça lembrar do sempre amigo Eliseu de Oliveira Machado, que prontamente aceitou o convite para escrever o prefácio e carinhosamente nos proporcionou o seu belo texto. Agradeço também à amiga escritora e incentivado-

A seguir seguem pessoas que conheci desde o lança-mento do livro, as quais agradeço pelo incentivo e carinho:

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Atire a primeira pedra aquele que nunca se viu avalian-do a própria conduta, ou a de outrem, à luz do que poderia ser considerado pecado.

-

Decididamente, o tema pecado está de tal forma impreg-

pensar e agir há muito transcendeu as fronteiras da religião,

econômicas.

Nesta obra, José Anastácio de Sousa Aguiar aborda os sete pecados capitais, “ditos como fundamentais, os quais se encontrariam no centro da natureza humana e dos quais se originariam todos os outros pecados”, a partir de profun-

tempo, consegue emprestar ao texto uma leveza e uma cla-reza que conquistam o leitor, despertando ou aguçando a in-

bem como seus respectivos contrapontos, estão reunidas e -

pecado equiparável ou talvez até pior que estes.

-tivismo cultural na apreciação de tema tão abrangente e, ao

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mesmo tempo, tão sujeito a interpretações. Neste tom, provo-

A abordagem clara de nuanças variadas permite a quem lê a ampliação da visão do tema, observando desde a atualidade

antiguidade de algumas práticas de culturas

Sem ceder às tentações das respostas prontas, o autor -

des nomes que fundaram as bases da cultura ocidental, apre-sentando um amplo espectro de compreensões. Sem restringir o espaço para que o leitor costure a sua própria linha de pen-samento, convida-o a percorrer caminhos como os sugeridos por Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”; e Jesus: “Ama o teu próximo como a ti mesmo”, balizadores fundamentais para quem deseja estudar sobre Virtude, Saber, Verdade, conheci-mento de si mesmo e evoluir.

-forme reconhece o autor, “não tem a pretensão de esgotar o assun-

Ao ler um texto tão elucidativo quanto agradável, con-

Agradecendo ao autor a generosidade de compartilhar o fruto de mais este trabalho, lembro um trecho de um poema de

pode não ser o bastante. Dê o melhor de você assim mesmo.

Nunca foi entre você e os outros”.

Eliseu Oliveira Machado

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“Na Natureza, não há efeito sem causa; compreen-de a causa e só terás que fazer a experiência.”

quanto aquela cuja resposta é óbvia.”Mário Quintana

Poucas são as questões que têm tanta abrangência e re-

No que se refere à questão econômica, o pecado está presente, ou pelo menos, os pequenos pecados socialmente aceitos e tolerados. Ora, toda a base da economia de merca-

foi cabalmente demonstrado por Adam Smith1, considerado o

-

moderna. Sua principal obra foi “Investigação sobre a Natureza e as Causas da -

co e da prosperidade das nações, quais sejam: não-intervenção do Estado na

-dos, dentre outros.

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pai da economia moderna, que asseverava que a riqueza das

Entretanto, no cômputo geral, haveria a promoção do bem--estar da sociedade.

É pela necessidade de comprar que a máquina capita-lista funciona, e, por certo, somos diariamente incentivados a adquirir muito mais do que necessitamos. Em outras palavras,

coisas que geralmente estão além das necessidades básicas,

vivemos imersos não nos pecados capitais, mas nos pecados do capital.

Ora, nada mais estimulador da arte de pecar do que a competição, motor primordial de uma economia de mercado.

-nos e grandes pecados são cometidos, em outras palavras, os

-

como necessários, pois uma vez suprimidos, seria desmonta-do grande parte do atual sistema.

-culação com o pecado, até porque a primeira aparição hu-

-

Eva e depois Adão que a humanidade encontra-se afastada do Jardim do Éden. Até mesmo aqueles que não interpretam a

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pecado original pode ser vista como a também muito conhe-cida “Queda dos Anjos”2, que da mesma forma teria afastado

-minismo, Jean-Jacques Rousseau , o homem no estado da na-tureza nasce feliz e deseja apenas aquilo que o rodeia, limi-tado às suas necessidades básicas. Em sua obra o “Contrato Social”, ele propõe que o homem, para viver em sociedade

-cial”, no qual ele abdica de alguns direitos que teria no estado da natureza, e recebe em troca a proteção do Estado contra

do pecado de outrem, o homem aceita viver em sociedade.

-

-sico, como, não menos importante, o psicológico. E nada mais aconselhável para desequilibrar um organismo do que questões relativas à culpa, ao remorso, a fobias, a traumas, a destempe-

Nesse contexto, a noção individual e coletiva de pecado -

2 “A Queda dos Anjos” é uma teoria que de uma forma ou de outra é tratada

da rebeldia inicial dos anjos contra o próprio Deus, que teria dado origem à

Original” de Adão e Eva.-

cipais expoentes do Iluminismo. Sua principal obra foi “O Contrato Social”, no qual defende que o homem no estado da natureza é naturalmente bom e livre,

-do. Via a liberdade como valor supremo e a sociedade como uma necessidade.

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pria realidade vivenciada por cada um de nós. E esta realidade

O ser humano, em um primeiro momento, tende a descobrir primeiro as coisas que o cercam, para depois constatar a exis-

coisas. Em seguida, desperta para si mesmo na busca de en-tender o seu lugar no todo. Dessa forma, “as coisas aparecem

-rioriza-se de tal modo que não se admite que possa ter sentido um Deus para si mesmo. O homem descobre-se a si mesmo e em si mesmo encontra – ou talvez perca – Deus e o Mundo.”4

-ca se houver uma aceitação da existência da vida após a morte,

qualquer recompensa ou punição no além. Vale lembrar que a sociedade grega, por exemplo, acreditava que os mortos iriam

pela eternidade vagando independentemente dos seus feitos

sociedade eram aqueles advindos das leis terrenas.

Por certo, algumas perguntas desde já se apresentam

-

-

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Nesse diapasão, diante de um tema com tamanha rele-

sete pecados capitais.

-te obra deve-se ao fato de acreditar que a tentativa de compre-ensão da ordem e da beleza do universo traz “consigo alguma forma de participação nessa ordem e beleza”5. Em suma, que um pouco da grandeza do universo se transmite ao homem que o estuda.

O livro não tem a pretensão de esgotar o assunto, nem muito menos responder a todas as perguntas antes descritas, mas me dou por satisfeito se tiver conseguido fazer as pergun-

Para realizar a presente obra li vários livros que tem como tema os sete pecados capitais e pude perceber que exis-te no mercado uma ampla gama de visão sobre o tema, que vai desde a abordagem materialista histórica até o fundamen-talismo religioso.

Cumpre alertar o leitor que me preocupei em colocar os -

vel e evitar conclusões que subvertam o inalienável e sagrado

meu nesse sentido, desde já, peço escusas.

nem muito menos sistematizadora, é muito mais uma co-leção de idéias arranjadas de forma que possa provocar pensamentos.

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-nidade, em especial, aos clássicos.

Com efeito, entendo que, como disse André Comte--Sponville: “só possuimos o que recebemos e transforma-mos, o que nos tornamos, graças a outros ou contra eles.”6

expressa nas palavras de Wittgenstein: “Eu não gostaria que as coisas que escrevo poupassem as outras pessoas de pensar. Ao contrário, gostaria de estimulá-las a pensar pensamentos que fossem delas mesmas”.7

Quanto à formatação do livro, procurei aliar o texto a imagens8 que explicassem ou ilustrassem a idéia escrita e para isso escolhi as obras clássicas. Acredito que a conjugação de

com Rubens Alves: “À medida que envelheço retornam certas

texto. Nas livrarias vou sempre primeiro à seção dos livros de 9

-ber da Silva, Eliseu Oliveira Machado, Rita de Cássia Bitten-court, José Joaquim Neto Cisne, Rogério Nogueira Aguiar e

-lo: Martins Fontes – 1995, p. 11.

p. 29.

9 Ibid, p. 99.

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-

natureza humana e suas inquietações pelas questões que envolvem sua

destacam-se no quadro: o fogo e a escada. O fogo sempre cativou a aten-ção e a reverência dos humanos, o que o levou a ser introduzido em várias

a razão ou o conhecimento, aquele trazido aos homens por Prometeu.

ascensão humana em busca do divino. Observemos que nem mesmo o -

da, como se o caminho a ser percorrido pela humanidade tivesse maior

não tão fácil de perceber no quadro é a semelhança que ele apresenta com

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Capítulo I

-do no museu do Prado. Madri.

Na obra “Os Sete Pecados Capitais”, Jesus Cristo se encontra no centro do painel, cercado por um largo anel dourado no qual está inscrito em latim: “Cuidado, cuidado, Deus vê”. A esfera central tem a aparência de um olho

do olho de Deus, que tudo vê. No restante, temos a representação de cada

-

o inferno e a glória

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-versidade revela as virtudes.”

Diderot

-

diferente, posto que a origem da tradição de ambos vem de -

Chegou à nossa geração, após passar pelo caldeirão cul-tural dos séculos que nos antecederam, a noção de que as

resultariam toda bondade e maldade.

-

Para os antigos gregos, a virtude estava intimamente liga-da à beleza10, à funcionalidade11, e também à excelência, que era o que fazia uma pessoa executar bem seu propósito. Neste contexto, a virtude do ouvido é ouvir bem; a virtude da faca,

-

10 “Podemos inclusive dizer que a beleza é a existência real ou a verdadeira realida-

11de função, propósitos ou objetivo apropriados. Em geral, uma coisa era dita boa se desempenhava o papel que lhe cabia, realizava o objetivo que lhe to-

-Op. cit.

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24

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-texto da Grécia Antiga, não era necessariamente oposição à

-

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25

monástico cristão no deserto do Egito, era, originalmente, uma lista --

12

capitais é imprecisa, mas muitos acreditam que se deu no sé-culo IV, quando o monge Evagrius teria registrado no Egi-to oito pecados capitais: a gula, a libertinagem, a avareza, a melancolia, a ira, a letargia espiritual, a vanglória e o orgu-lho. João Cassiano de Marselha14

levado a relação à Roma onde esta recebeu sua formulação

12 GUINESS – Sete pecados capitais: navegando através do caos em uma época de confusão moral – São Paulo: Shedd Publicações – 2006, p. 24.

quatorze anos de sua vida em Kellia, comunidade monástica localizada no deserto de Nitria no Egito, onde dedicou-se primordialmente aos seus escritos. Em que pese a

das almas humanas e certos ensinamentos sobre a natureza de Deus e de Cristo. 14

-dor dos trabalhos do mestre, tendo criado em Marselha um mosteiro nos moldes dos

um dos criadores da teoria do semipelagianismo, que defendia que o ser humano é salvo pela graça de Deus, mas a salvação só se daria se houvesse a iniciativa da boa

-gura alada retira o véu da Virtude,

-lha mulher, representando a fraude. Atualmente a pintura encontra-se no The National Gallery

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José Anastácio de Sousa Aguiar

clássica que hoje conhecemos pelo papa Gregório Magno15, no século VI.

“São Gregório Magno e os

pelo pintor italiano Gio-vanni Francesco Barbieri

como Guercino. Atual-mente a obra encontra-se no The National Gallery

A partir de então e especialmente pelo fato de que o referido papa ter sido um grande incentivador das missões de conversão pelo mundo afora, os sete pecados capitais não

compreendidos como perigos morais da alma em meio à vida

doutrinação da Igreja nas épocas que se seguiram.

15-

conversão e de ter dado origem aos cantos gregorianos.

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Duas obras tiveram o condão de impulsionar e popula-rizar a noção dos 7 pecados capitais: “Os Contos de Canter-

Na primeira obra, o autor descreve a trajetória de 29 via-

de Canterbury a partir de Southwark, nas proximidades de -

dos para que contassem histórias aos demais: relatos de amor,

Inglaterra do século XIV. O autor sugere que os sete pecados capitais estariam entrelaçados e seriam o tronco da árvore de

Mural dos Contos de Canterbury pintado por Ezra August Winter na Biblio-teca do Congresso Americano, Washington, D.C.

“A Divina Comédia” é um poema narrativo rigorosa-mente simétrico, que narra uma odisséia pelo Inferno, Pur-

etapa da viagem. Dante, o personagem principal da estória, é

e no céu por Beatriz, musa em várias de suas obras.

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José Anastácio de Sousa Aguiar

A lista dos sete pecados capitais, por certo, não abrange todos os pecados que podemos enumerar, mas ela apresen-ta os pecados capitais, ditos como fundamentais, os quais se encontrariam no centro da natureza humana e dos quais se originariam todos os outros pecados.

Vale a lembrança de que a perspectiva cristã considera o impulso do amor como estando exatamente no centro de todas

---

sário ter em conta que todo pecado se fundamenta em algum desejo natutral, e o homem, ao seguir qualquer desejo natural,

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tende à semelhança divina, pois todo bem naturalmente dese-jado possui uma certa semelhança com a bondade divina”.16

-mar que há um acordo comum sobre as categorias gerais dos

sete pecados capitais, que são: soberba, inveja, ira, preguiça,

de Aquino: “precisamente isto é o que constitui o caráter de capital, pois a cabeça tem o poder de governar aquilo que está

Cabe-lhe também o caráter de mãe, pois mãe é aquela que -

17

-

são, obviamente, pecados da carne e, portanto, “quentes”.

16 -

17 Ibid., p. 86.

“A Divina Comédia de Dante”, de Dome-

1465 localizada no domo da igreja de San-ta Maria Del Fiore – Catedral de Florença – Itália. Dante com sua obra “A Divina Co-

purgatório, inferno e dos pecados capitais.

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José Anastácio de Sousa Aguiar

dispõe para a gente é no meio da travessia.”Guimarães Rosa – Grande Sertão: veredas

No que se refere à cristandade, a idéia de pecado, em es-pecial o pecado original, está intimamente ligada aos concei-tos de salvação e fé18. A aceitação da necessidade de salvação passa pelo pressuposto lógico do cometimento de pecado. E a solução que historicamente nos é oferecida é a redenção, ou melhor dizendo, a fé na redenção.

-

e na necessidade de salvar-se, posto que em não se conside-

esperar qualquer recompensa ou punição no além.

que pese, hodiernamente não haver grandes contendas sobre o tema, no passado esta questão suscitou debates acalorados.18 Em que pese o tema fé não ser objeto do presente livro, trago ao leitor interessante

-bino espanhol do século XII. Seus escritos cobrem uma vasta área da teologia e da

ser totalmente desinteressada, ou seja, não esperar nenhuma recompensa e, acres-centemos nenhum castigo por suas ações; o Deus maimonidiano não é um bicho-

por si sós, sua recompensa. Maimônides percebeu muito bem que essa sublime

modelo basilar seria o patriarca Abraão. Assim, ele admitia como aceitável para o

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Na Igreja cristã primitiva discutiu-se sobre o tópico e duas correntes de pensamento se enfrentaram: o monergismo e o sinergismo.

O monergismo asseverava que o homem não tinha qual-quer participação em sua salvação, sendo salvo ou condena-do exclusivamente pela decisão soberana de Deus.

o responsável pela salvação, mas o homem tinha algum grau de participação.19

20: “Nos sécu-los IV e V da Era Cristã, dois teólogos, Agostinho, o africano, e

-lento duelo mental sobre o como da redenção: Pelágio defen-

redenção pelo poder da graça divina; Deus salva o homem, o homem só se pode perder por si mesmo, mas não se pode salvar por si mesmo.”21

da Igreja e todas as outras teorias foram rechaçadas e conde-

19 Alguns pensadores cristãos de diversas épocas desenvolveram diferentes for-mas de sinergismo, como o pelagianismo, que nega a existência do pecado original, e em assim sendo pelas boas obras o homem poderia salvar-se, e o

-vação, ao se predispor para tal.

20como o precursor brasileiro do espiritualismo universalista. Escreveu cerca de

-to que propõe a unidade da ciência e religião e a universalidade do homem e as forças da natureza.

21Pai-nosso – São Paulo – Editora Martin Claret – 5ª Edição – 2011, p. 19.

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José Anastácio de Sousa Aguiar

Cumpre destacar que segundo Averróis22 as posturas da Igreja oficial – qualquer que seja ela – eram meios para atingimento de determinado fim, posto que o ilustre filó-sofo cordobês afirmava que “as crenças populares, como a antropomorfização de Deus e dos anjos, as representa-

-gia de todas as religiões, são meios práticos necessários para levar o homem comum à prática da virtude”.

Após a exposição desses conceitos teóricos, passo a apresentar uma pequena resenha de como duas das mais an-

alma no post-mortem e a salvação.

22

e interpretações às obras de Aristóteles. Em suas obras procura harmonizar razão e fé. Concebe o universo como uma totalidade, sempre em movimento e transformação, na qual todos os seres formam uma escala de graus de poten-cialidade e atualidade, desde o ato puro - Deus, que é o motor necessário, pois

matéria prima. Em razão das suas idéias, Averróis foi acusado e condenado por

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“Vivestes como se fôsseis viver para sem-pre, nunca vos ocorreu que sois frágeis, não notais quanto tempo já passou; vós o perdeis, como se ele fosse farto e abun-dante, ao passo que aquele mesmo dia que é dado ao serviço de outro homem

-tais, vos aterrorizais de tudo, mas dese-jais tudo como se fôsseis imortais. Ouvirá

refugiarei no ócio, aos sessenta estarei li-

envergonhas de reservar para ti apenas as sobras da vida e destinar à meditação somente a idade que já não serve mais

quando já é hora de deixar de fazê-lo. Que negligência tão louca a dos mortais,

-

deste ponto, ao qual poucos chegaram, querer começar a viver!”

Sêneca

O conceito de vida após a morte era algo plenamente acei-to pela sociedade do Antigo Egito, e em razão disso grande era a

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José Anastácio de Sousa Aguiar

Inicialmente entendia-se que somente os faraós tinham o privilégio de ter uma vida após a morte, entretanto houve com o passar dos anos uma democratização da idéia, e tanto nobres como plebeus podiam desfrutar da existência celeste, desde

Entretanto, para garantir a vida eterna não bastava ao recém ingresso no post-mortem ter meios para arcar com as

Os rituais realizados no citado tribunal estão descritos -

gamento era a descoberta da verdade e a realização da justi-ça, em outras palavras, não valeriam as riquezas, nem a posi-ção social do falecido em vida, mas apenas seus atos seriam levados em conta.

do Antigo Egito foi a primeira na história da humanidade a crer que a sorte dos mortos dependia do valor da sua

-

mágicas, orações e hinos do Antigo Egito, escri-

ajudar o morto na sua viagem pelo mundo sub-

poderia encontrar na viagem para o Além. Em--

se teológica, constitui uma das principais fontes

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lembro que a sociedade grega, cerca de mais de mil anos depois, acreditava que os mortos iriam para o mundo in-

e lá vagariam pela eternidade independentemente do que realizassem em suas vidas terrenas, posto que o Olimpo era morada exclusiva dos deuses.

Basicamente, o julgamento no tribunal presidido por -

sistia em pesar o coração do morto em uma balança cujo

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José Anastácio de Sousa Aguiar

ao julgamento. Diante desse tribunal é que o candidato à eternida-

para com os deuses, para com sua própria pessoa e o bem alheio.

lugar no reino do além. Caso contrário, o morto estaria cheio de

-da ao post-mortem. Sua pele verde simboliza o renascimento.

cabeça de falcão e os olhos re-presentando o sol e a lua.

sabedoria, à escrita, à aprendizagem, à magia e à medição do tempo.

-ção e à vida após a morte.

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“E conhecereis a Verdade, e a Verdade vos libertará.”

Em que pese a quantidade de documentos oriundos da tradição cristã sobre o tema vida após a morte ser superior aos

talvez justamente por isso – não é fácil encontrar uma postura

-res e em consequência possuem doutrinas e orientações peculiares para seus seguidores. O fato de Jesus, o Cristo, ter predominante-mente ensinado por meio de parábolas, torna mais nebuloso ainda

“E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória;

E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas;

E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda.

“O Sermão da Montanha”, óleo de

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José Anastácio de Sousa Aguiar

Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde,

preparado desde a fundação do mundo;

Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;

Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me.

Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quan-

E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo

Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos;

Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber;

Sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes.

Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou

Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo

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E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna.”

Vaticano, Roma.

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José Anastácio de Sousa Aguiar

-mento após a morte, bem como da vida eterna, segundo a tradição cristã, implicará em adentrar em assuntos da fé, que, por certo, não é escopo deste livro.

domo da capela de São Brizio em Orvieto, Itália. A capela é também co-nhecida como Capella della Madonna di San Brizio.

São Pedro recebe as chaves dos céus em Mateus 16:19: “E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.” A cultura popular tem interpretado a referida passagem como São Pedro sendo o responsável pela

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“São Pedro recebendo as chaves dos céus de Cristo”, pintura de Pietro Peru-

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José Anastácio de Sousa Aguiar

“Num universo tão complexo, no seio de um organismo de forças regido por uma lei tão sá-

podes acreditar que teu destino esteja abando-

-

Pietro Ubaldi

É imperioso que se entenda qual é a origem da palavra pecado. Em verdade, esse termo “é a tradução do latim pec-cattum

hamartiasua vez é a transcrição do hebraico hatta’t, que se deveria

24

Nesse contexto, pecar é não atingir o objetivo desejado, -

nho que levaria ao alvo.

A orientação religiosa sobre o pecado no Ocidente

25 que houve a sistema-tização do assunto, ele assim asseverava: “O pecado é toda ação, palavra ou cobiça contra a lei eterna”. “O pecador se

24

25Considerado como um dos mais brilhantes escritores e pregadores da cristandade, ele entende que Deus não é o autor do mal, pois Deus sendo tão bom não poderia

o cristianismo ocidental concorda com o “Pecado original”, existindo Deus fora do

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desvia então de Deus e se converte à criatura” e apontava ser o arrependimento o caminho inverso.

26

acrescentando os erros por omissão, pois “é sempre para jun-

imprime na natureza de quem o possui uma má disposição, en--

moção, que torna pior o ser e a operação de quem a possui”.27

pintura na Capela Sistina, Roma

26 -

Gentios” que sintetizaram o entendimento cristão até a época. Entendia que toda a criação é boa, tudo o que existe é bom, por participar do ser de Deus e a essência do mal é a privação ou ausência do bem.

27-

de Federal Fluminense, p. 18.

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José Anastácio de Sousa Aguiar

-te Rafael, pintor italiano

O pecado original, ou seja, a desobediência primeira de Adão e Eva às determinações divinas de não colher o fruto da árvore do bem

do pecado por excelência. Ambos entendiam que todos os pecados seriam derivados do pecado original e o mesmo tinha uma dimensão

a uma ordem do próprio Criador, em pessoa, que lhes havia coberto de favores, acarretando para eles e seus descendentes o sofrimento,

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45

não tivesse havido a Redenção, proporcionada por Jesus Cristo, gra-ças a qual os eleitos escapariam dos tormentos eternos.

Convém lembrar que na Idade Média toda a vida e visão -

ção do espaço, a hierarquização dos sistemas de valores, gi-ravam em torno da presença do pecado. A esta cultura do pe-cado pode-se associar um complexo de práticas penitenciais,

que conheceu seu auge nos século XII a XIV.

Essa ênfase no pecado foi bastante importante para o progres-so do sentido da responsabilidade individual, posto que proporcio-nou, a duras penas, um desacordo consigo mesmo, que levou as gerações seguintes para o despertar da consciência. Desenvolveu também uma espécie de moral da intenção, gerando uma tensão criadora, proporcionando ao homem cristão, submisso à culpa-bilização intensiva, ser levado a se aprofundar e descobrir a sua verdadeira identidade, retornando mais uma vez à máxima escrita no portal do oráculo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo.”

-lução do reino de Deus no homem, e não a ausência do reino, como entendia a sinagoga de Israel e como entendem ainda hoje certos teó-logos cristãos. Deus e seu reino nunca estão nem podem estar ausen-

28

pecado-sofrimento: “O erro na zona espiritual se chama pe-cado, o erro na zona material se chama sofrimento. Sendo

-

29

Op. cit., p. 44.29 Ibid., p. 126.

Page 47: Os Sete Pecados Capitais

46

José Anastácio de Sousa Aguiar

“Eu não posso ensinar nada a ninguém, só posso fazê-lo pensar.”

Sócrates

É imperioso destacar que o conceito de pecado varia de geração para geração, seja de forma consciente ou não, “os vitorianos, por exemplo, viam a preguiça e a libertinagem de forma exacerbada, enquanto a inveja e a avareza eram subestimadas”.

Alguns entendem que o atual estado da nossa sociedade

banalizar a noção de virtude, maximizando o relativismo e o liberalismo comportamental e pondo em risco valores antes tidos como sagrados, levando a sociedade ocidental a uma grave crise cultural.

Já outros entendem que o atual status quouma adequação a novos valores que antes estavam adormeci-

intimamente associada ao conceito de relativismo. O tema é

GUINESS – Op. cit., p. 20.

Mais detalhes sobre este tema, recomendo a leitura do tópico “Refutação do relativismo” no livro ROGUE, Christophe – Compreender Platão: tradução de

Page 48: Os Sete Pecados Capitais

47

Em verdade, os eventos que trouxeram à baila Sócrates , -

tema relativismo.

-

para vencer contentas por meio da argumentação – tivesse ela fundamento na moral e na virtude ou não, e recebiam

relativista de mundo, expressa pela máxima de Protágo-ras : “O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são enquanto são, e das coisas que não são, enquanto não são”.

Sócrates tinha posição diametralmente oposta e levanta uma série de objeções a esse relativismo subjetivista, enten-dendo que o homem deve ter uma vida virtuosa, em busca do discernimento e auto-conhecimento. Asseverava que “as

ter a sua essência própria e permanente; elas não existem em -

-

e descoberta dos próprios valores: a dialética.

homem-medida acima destacado, que conduz à conclusão de que cada coisa é -

do um relativismo absoluto. Este relativismo protagórico foi também severamente combatido por Platão, que entendia que ele colocava em perigo os fundamentos

-dade, quer se fale ou não se fale.” ROGUE, Christophe – Compreender Platão –

Este axioma maximiza a idéia do subjetivismo, entronizando o homem como -

da por Sócrates.

Page 49: Os Sete Pecados Capitais

48

José Anastácio de Sousa Aguiar

sos caprichos, mas são independentes”.

Platão-

isto é, como discurso renunciando de partida a reaplicação do

é acusado de fabricar imagens de discurso” .

Essa luta tem durado mais de vinte séculos e não parece

De qualquer forma, o consectário lógico da superposi-

de referência, bem como da noção de limites, o que parece ser parte da relativização dos valores morais.

Op. cit., p. 215.

-ção de ensino superior do mundo ocidental. Platão é conhecido por ter introduzido

ROGUE, Christophe – Op. cit., p. 27.

Page 50: Os Sete Pecados Capitais

49

“O do Prado em

Madrid. Datando de entre 1490 e 1510, quando Bosch tinha cerca de 40 ou 50 anos é o seu mais conhecido e mais ambicioso trabalho. Em nenhum outra

uma advertência didática sobre os perigos das tentações da vida terrena.

Nesse contexto, recordo-me de uma certa aula teórica sobre direitos humanos ocorrida numa tarde fria do outono londrino nos idos de 2008. A professora descortinava temas relacionados aos direitos das crianças frente ao relativismo cultural, em outras palavras, tratava do tema da universali-dade dos direitos do homem em oposição à prática de atos degradantes, mas aceitáveis por parte de certas culturas.

O foco em questão era a prática da mutilação genital

continua a existir em razão de uma suposta promoção da vir-gindade e prevenção da promiscuidade feminina.

Page 51: Os Sete Pecados Capitais

50

José Anastácio de Sousa Aguiar

Até então os alunos apenas ouviam as explanações, quando a professora perguntou para a turma qual era a nossa opinião so-bre o tema. O primeiro a se manifestar foi um colega africano que argumentou em alto e bom tom que as culturas locais têm o direito de preservar suas tradições sem a interferência do Ocidente.

--

quase de imediato a colega inglesa retrucou, dizendo que aquela postura era absurda, pois práticas abusivas contra o ser humano desrespeitam a declaração da ONU sobre o tema.

Quase que imediatamente o colega africano respondeu -

te dominante, e não representava as reais necessidades locais.

A discussão foi tomando proporções apaixonantes com -

fessora achou melhor dar um intervalo para a turma.

a sensação de que para nós todos naquela classe, naquele dia, foi mais uma tarde fria de outono, enquanto para algumas crianças pelo mundo afora, pode ter sido uma tarde de horror

-

A despeito dessa crise cultural para uns ou simples cons-tatação de mudança cultural para outros, far-se-á referência nesta obra aos conceitos clássicos de pecado e virtude. As noções elaboradas em torno dos Sete Pecados Capitais basi-

Page 52: Os Sete Pecados Capitais

51

--

leção por paisagens, pintou quadros que realçavam o absurdo na vulgaridade, expondo as fraquezas e loucuras humanas, que lhe trouxeram muita fama.

“O Julgamento”, detalhe localizado no canto superior direito do quadro

Page 53: Os Sete Pecados Capitais

52

José Anastácio de Sousa Aguiar

-mamos, o que nos tornamos, graças a outros ou contra eles.”

André Comte-Sponville

Page 54: Os Sete Pecados Capitais

Em oposição aos Sete Pecados Capitais, tem-se as Sete Virtudes Capitais, que são derivadas do poema épico Psico-maquia, escrito por Prudêncio

pela Igreja como padrão de comportamento e caminho para a santidade para seus adeptos. São elas:

de Birmingham, Birmingham, Alabama.

Caridade Paciência Diligência Generosidade Castidade

--

tornou-se ascético, época em que escreveu suas obras, dentre elas “A Batalha Psicomaquia

Manuscrito do século XI conservado na Biblioteca Psychomachia

Page 55: Os Sete Pecados Capitais

54

José Anastácio de Sousa Aguiar

está no Museu Isabella Stewart Gardner, em Boston. A vida terrena é representada alegoricamente como uma batalha entre o desejo, representado pelo Cupido de pé

-ria de André Comte-Sponville: “É uma força que age, ou que pode agir. Assim a virtude de uma planta ou de um remédio que é tratar, de uma faca, que é cortar, ou de um homem, que é querer e agir

-40

É imperioso notar que de acordo com a noção acima exposta, as virtudes seriam independentes do uso que se faz delas, como

assemelhada à excelência. E assim entende o referido autor quando

41

Montaigne42 amplia o conceito ao falar das virtudes mo-rais, que seriam o que fazem um homem parecer mais huma-40 Op. cit., p. 7. 41 Ibid., p. 8. 42

em seus trabalhos abordar as condições humanas. Sem ser ético ou moralista, procura abordar as posturas humanas, mas não apresenta um sistema de con-

medida em que descrê da possibilidade de atingir o conhecimento pleno pela razão, mas conforma-se com a precária condição humana.

Page 56: Os Sete Pecados Capitais

55

no ou mais excelente. Aristóteles parece concordar na medi-

de fazer o bem”.44

-45. Ao tratar

do assunto, ele o coloca na forma de uma busca de uma ma-neira de viver e existir. Entende que a experiência moral se refere à idéia de completude, de plenitude e de realização e a virtude exigiria o desenvolvimento da razão como seleção do

-ção de um cuidado de agir, de viver e de conservar o seu ser sob a condução da razão.

iniciado46

toda a história da humanidade desde então até os dias atuais. Boa parte do le-

-

44 Op. cit., p. 9. 45

dos grandes racionalista do século XVII. São duas as suas obras mais conhe--

obra de Spinoza: “Spinoza – a life”, de autoria de Steven Nadler. O livro trata

sobre sua trajetória de vida e obra.46 -

Page 57: Os Sete Pecados Capitais

56

José Anastácio de Sousa Aguiar

natureza humana. Ele entendia que “sua missão era exortar as pessoas a cuidar de suas almas buscando entender e adquirir as virtudes”47 -dadeiramente virtuoso se não soubesse o que era a virtude, e

48

Já Platão, entende que a virtude é um meio para atingir a bem-aventurança. Aristóteles, por seu turno, entende que as virtudes não são hábitos do intelecto como queriam seus antecessores, mas da vontade. Para ele não existiriam virtudes inatas, mas todas se adquirem pela repetição dos atos, que geraria o costume. Esses atos para gerarem virtudes não deve-riam desviar-se nem por falta, nem por excesso, pois a virtude consistiria na justa medida, longe dos extremos, e próxima da verdade.49

relação virtude-verdade ao asseverar: “na realidade objetiva

47 Op. cit., p. 184. 48 Ibid., p. 186. 49

-tes de um grupo de coisas é a condição para conceber um sistema teórico. Para a construção de tal conhecimento, Aristóteles não se satisfez com a dialética de Platão, segundo a qual o caminho para chegar à verdade era a depuração dos argumentos e pontos de vista por intermédio do diálogo. Aristóteles quis criar

silogismo. Ele consiste de três proposições - duas premissas e uma conclusão que, para ser válida, decorre das duas anteriores necessariamente, sem que

-mens são mortais. Sócrates é um homem. Portanto, Sócrates é mortal. Isso não basta, porém, para que a lógica se torne ciência. Um silogismo precisa partir de verdades, como as contidas nas duas proposições iniciais. Elas não se sujeitam

real - ganha, assim, papel central na concepção de ciência de Aristóteles, em contraste com o pensamento de Platão.

Page 58: Os Sete Pecados Capitais

57

-50

que fazem oposição aos pecados capitais, temos duas outras

--

As virtudes cardiais são: prudência, que é virtude racio-nal por essência e se dispõe a aperfeiçoar a razão; justiça, que é racional por participação e se dispõe ordenar a vontade; for-50 Op. cit., p. 147.

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58

José Anastácio de Sousa Aguiar

51

Elas polarizariam todas as outras virtudes e seu concei-to teológico teria sido derivado inicialmente do esquema de Aristóteles e Platão, elaborado em suas obras como Protágoras

Milão52

do Vaticano.

As virtudes teológicas são: a fé, a esperança e a caridade

51 Op. cit.,p.18.52

-ciou os dogmas da Igreja como, por exemplo, a sua defesa da identidade da

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59

-ra, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade, estes três, mas o maior destes é a caridade.”

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60

José Anastácio de Sousa Aguiar

“A felicidade só pode ter por alicerce a liber--

feliz quem conhece a verdade, a verdade vi-vida e saboreada experencialmente. De maneira que o homem, livre por sua essência divina, não é livre por sua existência humana.

inconsciência da nossa escravidão. Pela ciência, o intelecto nos torna conscien-tes da nossa escravidão. Pela sapiência, a razão nos liberta da escravidão. A verdade sobre Deus, a verdade sobre o mundo, a verdade sobre nós mesmos – eis a grande libertadora!Compreender o universo, diz Spinoza, é estar libertado dele. Compreender tudo, é estar li-vre de tudo. Somos escravos de tudo o que ig-noramos – somos livres de tudo que sabemos. A ética racional é a proclamação da supre-

Um dos principais objetivos das virtudes, no en-tendimento da doutrina cristã, é fazer o contraponto aos

têm incentivado as pessoas a cultivar uma vida virtuosa,

Page 62: Os Sete Pecados Capitais

61

As formas de enfrentamento aos pecados variaram bastante com o decorrer da história. Inicialmente, a igreja cristã optou por demonizar a questão, entendendo que a solução para muitos

pela igreja e o advento do estado laico, as soluções passaram a ser menos radicais. Chega à nossa geração, então, duas formas

A primeira pode ocorrer, por exemplo, por meio do -

mento do impulso de pecar. Já a segunda forma, ocorre com

da utilização das virtudes.

“Alegoria das Virtudes”, quadro

A obra encontra-se no Museu do

“É importante lembrar que adquirir as virtudes, como em um jardim, não é o

Op. cit

Page 63: Os Sete Pecados Capitais

62

José Anastácio de Sousa Aguiar

Ocorre que em outras culturas existem abordagens di-ferentes, senão vejamos. A Cultura Bön54, bastante difundida

pois se houver a supressão, o sentimento negativo reaparece em outro momento e normalmente em outro formato, até por meio de doenças. Enfrentar também seria desaconselhável,

Acredita-se que a longo prazo os instintos voltariam com mais

A tradição Bön entende que o apropriado para lidar nes-

que criam seus efeitos e reequilibrar as energias corporais.55

Outras crenças parecem concordar com essa postura, pelo menos é o que pensa Nilton Bonder, ao batizar sua téc-nica de “adoçamento do ódio”: “Devemos aprender a fazer uso do mal e não o afugentar. O potencial contido no mal, ou mesmo numa desavença, é muito importante para que o des-

-

é, com certeza, jogado para dentro de nosso sistema. Como energia não dissipada, espera um momento de tensão tal que possa descarregar-se.”56

54 Cultura Bön – tradição de origem tibetana anterior á chegada do budismo na-

assim como a Natureza.55 -

562004 – p. 149 e 150.

Page 64: Os Sete Pecados Capitais

Outra postura semelhante quanto à abordagem do peca-do é de autoria de James Allen57

o aparente sucumbimento à tentação não é, na verdade, um processo repentino. A queda é o resultado do que começou na mente, provavelmente, muitos anos antes. O pensamento dese-jado uma vez instalado na mente ganha, com o passar do tem-

Dessa forma, a fonte e causa de todas as tentações são oriundas do desejo interno, consciente ou não. As circuns-

ser humano.

Na sua visão, o objetivo da tentação seria mostrar onde reside e qual é a causa e a natureza das fraquezas humanas. Nesse contexto, quando a tentação é entendida e conquista-da, a evolução é garantida. Em assim sendo, a tentação não é

-cia na qual a alma precisa se submeter na sua passagem para uma vida superior.

Já Epicuro58 -ra feliz sem viver sabiamente, bem e justamente, nem viver sabiamente, bem e justamente, sem também viver de manei-57

livros escritos abordam temas relativos à moral, ao pecado e à evolução hu-mana. Considerado por muitos como o pioneiro dos livros motivacionais e do movimento de auto-ajuda. Seu livro mais conhecido é “As a Man Thinketh”,

se caracteriza por uma linha de pensamento que tem por objeto atingir a felici-dade e tem como bem supremo o prazer, entendido como a quietude da mente

Page 65: Os Sete Pecados Capitais

64

José Anastácio de Sousa Aguiar

ra feliz. Assim, as virtudes e a sabedoria são a medida e o

“todos os danos provêm aos homens do ódio ou da inveja ou do desprezo, coisas às quais o sábio se faz superior por meio

-

quanto a assumi-la.”59

59

Page 66: Os Sete Pecados Capitais

65

“Aquele que estudar cuidadosamente o pas-sado, pode prever os acontecimentos que se produzirão em cada Estado, e utilizar os mes-mos meios que os empregados pelos antigos. Ou então, se não há mais os remédios que já foram empregados, imaginar outros novos, segundo a semelhança dos acontecimentos.”

Nicolau Maquiavel

Outra questão tem colocado em posição oposta as tradi-ções orientais e ocidentais, o tempo. Somos ensinados a enten-der o tempo como algo linear e que nunca se renova. Entretan-

ter alguma consciência de que as coisas no nosso cotidiano ocorrem em ciclos, sejam os ciclos da natureza, como o pró-prio dia; ou os ciclos diários das nossas atividades. Mas será

Muitos crêem que os fatos da vida de cada um desen-rolam-se sem qualquer relação com os fatos passados, e por consequência, sem qualquer compromisso com o futuro.

-

-

-no ocorrem como decorrência lógica do ciclo anterior, o fato de não estar preparados para o desempenho do próximo ciclo, acar-retará o surgimento de vários problemas não resolvidos.

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66

José Anastácio de Sousa Aguiar

Citarei um exemplo simples. Alguém que se disponha a casar, e pretenda, ao estar casado, continuar com o estilo de vida do ciclo anterior de solteiro, por certo, passará mais rápido do que imagina para o ciclo seguinte, o de separado. E assim, com maior ou menor ênfase, ocorrem em outros tantos exemplos.

Destaco Santo Agostinho: “Quem poderá deter o cora-

não passada nem futura, sempre imóvel, determina o futuro e

60

60

Page 68: Os Sete Pecados Capitais

67

te levar a transgredir tua fé, a perder tua honra, a odiar, a suspeitar, a amaldiçoar, a dissimular, a cobiçar o que terá que ser oculto por muros ou véus. Quem privilegia a razão, seu deus inte-

presta a espetáculo, não se lamenta, não procura a solidão e a multidão, mas viverá sem desejos e sem temor. Nisso reside o maior dos bens.”

Marco Aurélio

61 Creio que respon-der esta pergunta é essencial para o verdadeiro entendimento do tema pecado.

Ora, para muitos, como enfatizado por Santo Agostinho, o pecado é contra Deus. Em assim sendo, somente Ele poderia dar a salvação.

Entretanto, há outras formas de abordar o assunto. Ve-jamos um tema correlato que tem despertado o interesse de

Natureza, senão vejamos o que nos ensina Pietro Ubaldi62: 61

Janeiro: Ediouro, 2006. 62

sua vida adulta veio morar no Brasil até a sua morte. Dedicou-se ao estudo da

na universalidade, dentre os quais os dois destacados nesta obra: “A Grande -

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José Anastácio de Sousa Aguiar

“Num universo tão complexo, no seio de um organismo de -

damente, como podes acreditar que teu destino esteja aban-

e te parece injustiça, não seja condição de mais alto e mais

Epicuro entende: “Nada pode originar-se do nada. Se assim fosse, tudo poderia ter origem em tudo, sem que para isso se necessitasse, pelo menos, de uma matéria criadora. E se aquilo que desaparece se dissolvesse no nada, então tudo que existe realmente já há muito se teria perdido, pois nada existiria em que pudesse se dissolver. A totalidade daquilo

a eternidade, porque nada existe em que pudesse se transfor-mar. Nada existe fora do universo que possa penetrar nele e provocar tal transformação.”64

O conceito “Ordem Universal da Natureza” parece estar intimamente ligado às noções de Relativo e Absoluto. Pou-

Esta questão não é nova. Já foi abordada por quase todos -

arkhéPlotino65

-lo Vieira da Silva – Fraternidade Francisco de Assis – 19ª Edição – 1997, p. 188.

Editora Martin Claret – 2005, p. 48.

conhecida como neoplatonismo, que se baseava nos ensinamentos de Platão,

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69

como visto anteriormente, ou até mesmo nas elucubrações 66 quanto o Vir-a-ser , como também

-doto, que defendia que “nada nasce do não-ser”67.

Vejamos esta visão. Entenda-se por Relativo tudo que es-tiver sob a égide da relação tempo-espaço. Se algo está sujeito

enquadra-se e pertence ao Relativo.

-

bem como, alterado qualquer fator anterior de medição, pode -

vo está intimamente ligado aos valores do observador e tem

que o mal não tinha existência real no mundo e que o homem poderia obter a

de tudo que existe, por meio de emanações sucessivas. Considerado por alguns

da investigação, o do ser e o do não-ser, sendo que o primeiro é o caminho da certeza, pois conduziria à verdade; e o segundo seria imperscrutável ao

por buscar a essência das coisas; e à moderna teoria da relatividade – por fazer a distinção entre o relativo e o absoluto.

67 “Nada nasce do não-ser, porque, do contrário, qualquer coisa poderia absur-damente gerar-se de qualquer coisa sem necessidade de qualquer semente geradora; e nada se dissolve do nada, porque, do contrário, nesse momento, tudo já teria perecido e nada mais seria. E dado que nada nasce e nada perece, então o todo, isto é, a realidade na sua totalidade, foi sempre tal como é agora e será assim sempre; com efeito, além do todo, não há nada no qual este possa

-vanni – Op. cit., p. 170.

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70

José Anastácio de Sousa Aguiar

-

Cumpre alertar, entretanto, que em que pese todas as verdades que possamos alcançar sejam relativas, este relati-vismo é diferente daquele proposto por Protágoras. Ele apon-tava pertencer a cada qual a sua verdade, o que não nego, mas enfatizo que há outro grupo de verdades que podem ser tão abstratas quanto a totalidade das idéias, mas tem o seu valor independentemente do contexto que forem analisadas, senão vejamos Fernando Pessoa68 sobre o tema:

“O universo não é uma idéia minha.A minha idéia do universo é que é idéia minha.A noite não anoitece pelos meus olhos,A minha idéia da noite é que anoitece por meus olhos.Fora de eu pensar e de haver quaisquer pensamentosA noite anoitece concretamenteE o fulgor das estrelas existe como se tivesse peso.”

-

Page 72: Os Sete Pecados Capitais

71

Já para o Absoluto, a regra é exatamente a oposta. Ele

-

poderá ser entendida. asseverava que: “Essa essência una,

-

--

cessantes, através de todos os tempos e espaços. Deus nunca

-

no seu agir. Em nenhum dos seus efeitos pode Deus revelar--se total e exaustivamente, o que equivaleria a criar um novo Deus e com isso esgotar todas as suas potencialidades criado-

69

Pietro Ubaldi acrescentava que: “Nós, como tudo que existe, estamos em Deus, porque nada pode existir fora de Deus, nada lhe pode ser acrescentado nem tirado”.70

Sistema Plotiniano, que tem por base a distinção platônica en-

-69

de Jean Melville – São Paulo – Editora Martin Claret – 2002, p. 20, 21 e 22.70

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72

José Anastácio de Sousa Aguiar

matéria, assim “as hipóstases e o próprio mundo são apenas graus diversos do Divino, em cada grau ou momento está pre-sente, em certo sentido, o todo, o Uno está no todo, ainda que de maneira diversa, conforme cada coisa seja capaz de contê--lo, e o todo está no Uno.”71

O referido enfoque, se efetivamente fosse entendido e vivido, como pregava a doutrina de Anaxágoras72 – que enten-dia que tudo estava em tudo, aportaria indubitavelmente em um maior amadurecimento de todos e de cada um.

Nessa visão, diferentemente do conceito agostiniano an-teriormente apontado, vemos que pecar além de ser um ato contra Deus, é contra si próprio e todos.

71

72

-

permeia o mundo e de alguma forma controla todos os processos naturais.

Page 74: Os Sete Pecados Capitais

Capela Sistina, Roma.

com essa realidade, que chamamos conhecer, é sempre rela-

-co, para todos os tempos e todos os homens”.

Op. cit., p. 47.

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Capítulo II

-culdade em admitir sua impossibilidade.”

Bertrant Russell

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77

“De ordinário, as grandes asneiras são, como as cordas grossas, formadas por

pequenos motivos determinantes, e direis,

Entrançai-os, porém, e torcei-os todos, e

Desde já é bom que se diga que a indicação do pecado superbia

74, ou-tros a vaidade75, entretanto nesta obra utilizaremos a soberba76,

Um dos grandes nomes da Idade Média que se dedi-

De Malo Summa Theologica

a busca da própria excelência é um bem, a desordem, a distorção dessa busca é a soberba que, assim, se encontra em qualquer outro pecado: seja por recusar a superioridade de Deus que dá uma norma, norma esta recusada pelo pe-74 Como no livro GUINESS – Sete Pecados Capitais: navegando através do caos

em uma época de confusão moral – São Paulo: Shedd Publicações – 2006.75

apontava como a mãe e fonte de todos os outros pecados, colocando assim o

76

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78

José Anastácio de Sousa Aguiar

cado, seja pela projeção da soberba que se dá em qualquer outro pecado.”77

Detalhe do quadro “Os Sete Pecados Capitais” referente à soberba, pinta-

canônica dos sete pecados capitais, “a soberba ocupou o pri-meiro lugar. O primado advém não só por ter sido cronolo-gicamente o primeiro pecado cometido pelos Anjos rebeldes, 77

Page 80: Os Sete Pecados Capitais

79

mas porque segundo o profeta Jeremias, todo pecado se reduz à soberba, transformando-se no delito mais monstruoso e guia

78

A soberba tem sido considerada como o primeiro e mais

seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o -

79

Outro argumento para demonstrar a sua periculosidade seria o fato de ser considerado por muitos que sua origem não estaria no mundo, nem na carne, mas no próprio Diabo. Ele

não teria consciência.

na atualidade é a sua transformação em virtude, na medida em que seja confundida soberba com orgulho, e este com res-peito próprio e auto-estima. Em outras palavras, a impugnação da motivação da soberba aportaria na confusão dos conceitos

virtude80 81

79 GUINESS – Op. cit., p. 41.80

virtude, e elas não podem ser ignoradas. A forma mais comum é mudar sua

mesmo. É prejudicial não ter auto-estima. Portanto, por que o orgulho deveria

Ibid81

temas voltados ao comportamento humano, em especial as religiões e a moral judaico-cristã. Pretende ser o desmascarador de todos os preconceitos do gêne-

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80

José Anastácio de Sousa Aguiar

que defendia que “o ataque à soberba é uma máscara para encobrir o ressentimento do fraco.”82

Entende-se que a soberba “é o desejo de desprezar todas as outras pessoas, ou em outros termos, é negar-se a reconhe-cer e admitir a presença, a igualdade ou mesmo a superiori-dade de qualquer outro ser.”ser soberbo “é, basicamente, o desejo de colocar-se acima dos demais”84, ou como diria Santo Agostinho “a soberba é um distorcido desejo de grandeza.”85 O que invariavelmente geraria a competição do soberbo86 contra tudo e contra todos, aportando inexoravelmente na solidão e na insegurança.

-cas principais da soberba são: o sentimento de superioridade,

basicamente ao fato da negação da relação de dependência da criatura com o Criador. Dar-se-ia uma espécie de compe-tição entre ambos, tentando aquele atingir os limites Deste.

A história da humanidade está repleta de exemplos de soberbos. Os exemplos mais claros parecem vir da Antiguida-de, em especial dos tiranos, reis e imperadores que assolaram o mundo antigo com suas guerras de conquistas, tais como

-sés II, entre outros. Entretanto, foi a história moderna que ofer-tou um momento impar no qual o soberbo encontra seu auge,

82 GUINESS – Op. cit., p. 40.Op. cit

84 Op. cit85 Op. cit., p. 80. 86 “É a comparação que nos torna orgulhosos: o prazer de estar por cima dos outros.

Não havendo o fator competição, o orgulho desaparece.” GUINESS – Op. cit., p. 45.

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81

-perador da França. Naquela oportunidade, Napoleão convo-cou o próprio papa Pio VII à Paris para coroá-lo na catedral

-

Entretanto, as conquistas perpetradas por Napoleão não durariam muito, poucos anos depois seria derrotado em Wa-

evitar a cobiça da glória, pois ela tolhe a liberdade da alma, pela qual devem se empenhar principalmente os homens

87

87 Op. cit., p. 87.

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82

José Anastácio de Sousa Aguiar

Pertinente ao presente caso é a parábola do galo de bri-ga e a águia de Esopo88. Dois galos se degladiavam para o co-mando e controle de um galinheiro. Após uma feroz luta, um pôs o outro para correr e o galo derrotado afastou-se e foi se recolher em lugar sossegado. O vencedor voou exultante até o alto de um muro e bateu suas asas e cantou orgulhoso. Uma águia que pairava nas cercanias lançou-se sobre ele e levou--o preso em suas garras. O galo derrotado saiu do seu canto e reinou absoluto dali por diante.

No que se refere à Divina Comédia, de Dante Alighieri, os soberbos, que pecaram mais intensamente, estão imersos

do Inferno. Os soberbos, que pecaram menos intensamente,

Purgatório, em processo de expiação dos seus pecados.

“ave dotada de uma simbologia quase contraditória. Se na Mi-tologia Grega aparece como animal sagrado e nos primórdios do Cristianismo é a imagem da imortalidade, baseada na ideia

-ristia, como Signum Ressurrectionis et Vitae Aeternae, o facto é que vai perdendo a aura sagrada e acaba desvirtuado como

89

88 Esopo – fabulista grego do século VI a.C. é considerado pai da fábula como gênero literário.

89

Page 84: Os Sete Pecados Capitais

“Se acaso encontrares nessa vida algo me-lhor do que a justiça, a verdade, a tempe-rança, a coragem, melhor ainda do que o pensamento que a si mesmo basta quando, submisso à razão, fornece o rumo certo de atividade, que com seu destino se confor-ma ao aceitar a sorte que não escolheu, se,

--te a isso com todas as forças e goza o bem supremo que descobristes.”

Marco Aurélio

-vro do Gênesis, que parecem melhor retratar a soberba. São as que se referem ao pecado original e à construção da

Quanto aos eventos relacionados ao cometimento do

pode ser mais caracterizador da soberba do que os atos perpetrados pelo primeiro casal ao comer o fruto da árvore proibida. Ficaria, segundo esse entendimento, bem carac-terizada a negação da relação de dependência e subordina-ção da criatura para com o Criador, bem como a vontade de igualar-se a Deus, tomando posse de todo o conheci-

Page 85: Os Sete Pecados Capitais

84

José Anastácio de Sousa Aguiar

Entretanto, há quem entenda essa ques-tão como um paradoxo, posto que a obtenção do fruto proibido tinha como consectário ló-gico a obtenção do conhecimento e a equi-paração a Deus, o que a toda evidência é o

à santidade90. Nesse contexto, entende-se que “por alguma razão inexplicável, a aquisição de conhecimento, su-postamente o resultado salutar da reivindicação de liberdade pessoal, torna-se uma ameaça que deve ser reprimida.

-chamento permanente da porta à igualdade completa com Deus.”91

-

verdadeiro não deveria viver simplesmente a vida do homem probo, mas, mais ainda, a vida dos Deuses, entendendo que

92

90 -nhece o potencial extraordinário dos homens para escalar alturas éticas, como o vasto golfo separando Deus e os mortais. Ironicamente a promessa colocada

-dução Soraya Borges de Freitas – São Paulo: Madras – 2010, p. 61.

91 Ibid.92

“O Pecado Original”, quadro pintado por Mi-

localizado em Viena no Kunsthistorisches Museum.

Page 86: Os Sete Pecados Capitais

85

Quanto à construção da torre de Babel, a sua realização -

o projeto e fez com que a torre ruisse, depois castigou os ho-

eles não se entendessem e não pudessem voltar a construir uma torre com esse propósito.

Flavio Josefo, renomado historiador judaico-romano -

reinado de Nimrod, bisneto de Noé: “Pouco a pouco, trans-formou o estado de coisas numa tirania, sustentando que a

fazê-los continuamente dependentes do seu próprio poder. Ele ameaçou vingar-se de Deus, se Este quisesse novamente inundar a terra; porque construiria uma torre mais alta do que poderia ser atingida pela água e vingaria a destruição dos seus antepassados. O povo estava ansioso de seguir este conselho, achando ser escravidão submeter-se a Deus; de modo que empreenderam construir a torre [...] e ela subiu com rapidez além de todas as expectativas.”

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86

José Anastácio de Sousa Aguiar

-dro encontra-se em Viena no Kunsthistorisches Museum.

A toda evidência, Nimrod adota uma postura de compe-tição com Deus diametralmente oposta a de seu bisavô, Noé,

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87

Page 89: Os Sete Pecados Capitais

88

José Anastácio de Sousa Aguiar

“Mas o que temos de fazer para chegar a

Como poderemos ver essa Beleza imensa que permanece, por assim dizer, no interior do santuário e não se dirige para fora para

fazê-lo siga-a até a sua interioridade, aban-donando a visão dos olhos, e não se volte para o esplendor dos corpos que admirava antes. Quando vemos as belezas corporais, não devemos correr atrás delas, mas saber que elas são imagens, traços e sombras; e que portanto, devemos fugir em direção àquela Beleza da qual elas são uma imagem. Se corrermos para apanhar as imagens como se fossem reais, seremos semelhantes ao ho-mem que quis apanhar sua bela imagem re-

e desapareceu.”Plotino

-

, poder-se-ia dizer que o exemplo clássico de vaidade oriundo da mitologia refere-se à lenda de Narciso.

Op. cit., p. 82.

Page 90: Os Sete Pecados Capitais

89

Narciso nasceu possuidor de uma beleza excepcional, o que já teria despertado descontentamento nos deuses gregos, que não admitiam que mortais fossem aquinhoados de qual-

deuses imortais era permitido o exagero.

-tar um oráculo para perguntar se ele viveria muito tempo, ob-tendo a seguinte resposta: “Ele pode viver muito tempo, desde que aprenda a conhecer a si próprio.”

Page 91: Os Sete Pecados Capitais

90

José Anastácio de Sousa Aguiar

Narciso, a despeito das paixões que despertava nas nin-fas e donzelas, preferia viver só, pois julgava que não havia encontrado ninguém que julgasse merecedora do seu amor.

montes, companheira favorita de Diana em suas caçadas, mas

-vertindo-se com as ninfas, saiu à sua procura. Eco usou a sua conversa para entreter a deusa enquanto suas amigas ninfas se

--a a não falar uma só palavra por sua iniciativa, a não ser repe-

Certo dia, a ninfa passeava pelo bosque quando viu Nar-ciso, e logo se apaixonou, mas não podia falar nada em razão da maldição, e o seguiu. Era preciso esperar que ele falasse primeiro para então responder-lhe.

mas Narciso ouviu o barulho e caminhou em sua direção.

palavras. A ninfa desesperada e movida pela paixão correu em direção ao amado e ao vê-la, Narciso, exclamou: “Afasta-

Narciso fugiu e Eco, envergonhada, correu para esconder--se nos bosques. Daquele dia em diante, passou a se esconder, não se alimentava e evitava outros seres, até que veio a morrer, restando apenas a sua voz, que respondia a todos que chama-

As ninfas se revoltaram e foram procurar Nêmesis, a deusa da Justiça. Esta após ouvir as queixas, sentenciou que

Page 92: Os Sete Pecados Capitais

91

Certo dia, Narciso cansado de um dia de caça, chegou a uma fonte de água cor de prata, que nenhum homem ou animal havia bebido. Narciso ao se debruçar sobre as águas

-nando-se pela beleza daquele ser e não mais se contendo,

abraçá-lo, mas o contato das mãos na água fazia o ser sumir para voltar logo depois, tão belo quanto antes.

-cá-la e esquecendo-se de se alimentar, veio a falecer.

Page 93: Os Sete Pecados Capitais

92

José Anastácio de Sousa Aguiar

baseando-me no meu conhecimento da na-

ninguém o compreenda, a dar, sob caloroso aplauso da multidão, o meu acordo em tolices.Renuncio de boa vontade ao belo, que não traz prazer, e desprezo também os seus tolos admiradores.Então quem obedece à natureza, e não às vãs opiniões a si próprio, se basta em todos

por natureza, toda aquisição é riqueza, mas,

até a maior riqueza é pobreza.A quem não basta pouco, nada basta.A vida do insensato é ingrata, encontra-se em constante agitação e está sempre dirigida para o futuro.”

Epicuro

Page 94: Os Sete Pecados Capitais

É quase uma unanimidade considerar a humildade como contraponto à soberba.94 Entende-se que pela prática daquela,

95

Entretanto, nem todos têm essa visão. Alguns entendem que “é bastante comum acharmos que a humildade é o outro extremo

extremo oposto ao orgulho é a falta de auto-estima. O humilde em nada tem a ver com aquele que não consegue reconhecer e apre-ciar a si como parte das maravilhas deste mundo. Sua atitude, po-rém, é distinta da do orgulhoso, que é totalmente centrado em si.” 96

Nesse contexto, a humildade seria uma meta a ser buscada e

“A Virtude da Modéstia”, gravura pintada

94 -ta, na moral cristã, chama-se humildade.” GUINESS – Op. cit., p. 45.

95 “Devemos ser humildes porque Deus nosso criador é humilde. Se Deus não é Op. cit., p. 44.

96 BONDER, Nilton – Op. cit -mando que “de todos, no entanto, o orgulho de quem se acha em crescimento como ser humano é o pior. Para estes o orgulho representa uma armadilha traiçoeira, pois experimenta em seu desenvolvimento a sensação de superioridade que é em si um

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Capítulo III

“Eis que o varão merecedor desse nome, aquele que se esforça por colocar-se de imediato entre os melhores, é qual um sacerdote, minis-tro dos deuses, amigo Da-quele que nele habita e o tor-

invulnerável ao sofrimento, -

dado à maldade, combatente do mais nobre dos embates – aquele que se trava para dominar as paixões, – inte-riormente impregnado de justiça, aberto a todos os sucessos, conformado com o destino, só raramente é levado por necessidade im-periosa ou pelo interesse co-mum, cogita do que dizem, fazem ou pensam os outros. Aplica a sua atividade ex-clusivamente à sua própria vida, medita constantemente a respeito da sorte que lhe

assemelhar. Para o homem, a felicidade consiste em fazer o que lhe é natural. E o natural do homem é ser benevolente para com seus semelhan-tes, desdenhar da carência dos sentidos, discernir as ações que merecem

-

o que perturba, e, vendo as coisas realmente como são, delas me servir

Marco Aurélio

Page 97: Os Sete Pecados Capitais
Page 98: Os Sete Pecados Capitais

97

dos tesouros do faraó, deixava-se passar fome e se alimentava de cevada. Disseram-

-

Mansour Challita

invidiacomo “o segundo pior e mais predominante pecado capital.”97

perpetradores nunca apreciam e raramente confessam”. 98

Etimologicamente, o termo “inveja” tem origem no ver-videre

com maus olhos, projetar sobre o outro um olhar malicioso.

Detalhe do quadro “Os Sete Pecados Capitais” referente à inveja, pintado

97 GUINESS – Op. cit., p. 75.98 Ibid.

Page 99: Os Sete Pecados Capitais

98

José Anastácio de Sousa Aguiar

São os olhos, então, os órgãos do corpo humano asso-ciados à inveja, e talvez por isso tenha Dante Alighieri des-crito a condenação das almas no purgatório em sua obra “A

99

-sidera como mal próprio, porque diminui a própria glória ou excelência”.

Apesar de ser considerada como o mais triste dos hábi-tos100, a inveja gera um paradoxo na medida em que é enten-dida por alguns como essencial para o desenvolvimento da economia moderna, posto que pode ser considerada como “a chave de toda propaganda e a força poderosa que impulsiona a economia”101, e até mesmo da democracia, sendo entendida como estando na “origem da própria democracia e servindo para vigiar o desempenho correto do sistema”.102

-veja na disputa de um osso. A inveja, simbolizada no cão, sur-ge com a cabeça coroada de serpentes, porque se alimentava de serpentes peçonhentas.”

99Paulo – Martins Claret, p. 250.

100 Op. cit.101 Ibid., p. 57.102 Op. cit.,

Op. cit., p. 57.

Page 100: Os Sete Pecados Capitais

99

“Aquele que ambiciosamente muitas coisas cobiçou, orgulhosamente desprezou, inso-lentemente venceu, traiçoeiramente enga-nou, desonestamente roubou e prodigamen-te dissipou seus bens, necessariamente terá

próprio de uma mente segura de si e sosse-gada poder percorrer todas as épocas de sua

se estivesse subjugado, não pode se voltar sobre si mesmo e se examinar. Portanto sua vida se precipita num abismo; e, tal como não é de nenhum proveito procurar encher

-quido, se não há fundo que o receba ou sus-tenta, assim não importa quanto tempo tens à disposição; se não tens como retê-lo, ele vazará como de almas rachadas e furadas. O

-guns parece não existir, pois está sempre em

antes de vir a ser; é tão incapaz de deter-se, quanto o mundo ou as estrelas, cujo infatigá-vel movimento não lhes permite permanecer no mesmo lugar.”

Sêneca

bem o pecado da inveja, quais sejam: Caim e Saul.

Page 101: Os Sete Pecados Capitais

100

José Anastácio de Sousa Aguiar

A história do primeiro e de seu irmão Abel está retratada

é lavrador da terra e o caçula, pastor de ovelhas. Os dois ofe-receram oferendas fruto de seu trabalho a Deus, que recusou

Caim convida seu irmão para ir ao campo e o mata.

Page 102: Os Sete Pecados Capitais

101

Os fatos que envolvem o rei Saul concernentes ao peca-

--

sos, e ao volverem ao seu lar, Israel, as mulheres de todas as

dez milhares”. Daquele dia em diante, Saul passou a invejar e tramar a morte de Davi.

Page 103: Os Sete Pecados Capitais

102

José Anastácio de Sousa Aguiar

“Saul atacando David”, pintado por Giovanni Francesco Barbieri

Essas duas passagens ilustram bem o comportamento do invejoso. Na primeira ao ver sua oferta recusada por Deus; Caim, após comparar-se com seu irmão, sentiu-se injustiçado e impossibilitado de vingar-se de Deus, eliminou a parte mais fraca, o irmão. Percebe-se que em situações limite como esta, a inveja gera o ódio e o sentimento de vingança, levando o invejoso a cometer outros pecados.

Na segunda passagem, a inveja em ver o povo aclamar alguém que não ele próprio, leva o rei Saul a orquestrar a morte de Davi.

Page 104: Os Sete Pecados Capitais

“Se aquilo que ocasiona prazer aos libertinos -

menos da natureza, da morte e das dores, e se ainda ensinasse o conhecimento da limi-

Nada faças na vida algo que te cause medo se teu vizinho vier a sabê-lo. O fruto mais

O mais belo fruto da justiça é a paz da alma. O essencial para nossa felicidade é a nossa

E consideramos um grande bem bastar-se a -

pre pouco, mas para nos contentarmos com pouco no caso em que não possuamos mui-to, legitimamente persuadidos de que desfru-

aqueles que menos necessidades têm, e que

o que é vaidade. A serenidade espiritual é o fruto máximo da justiça. O justo é suma-mente sereno; o injusto, cheio da maior per-turbação. O homem que tenha alcançado o

que ninguém se encontre presente.” Epicuro

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104

José Anastácio de Sousa Aguiar

“A Inveja” pintado por Giotto di Bon--

-se na capela Scrovegni, Pádua, Itália.

Nem mesmo Pitágoras es-capou das garras da Inveja. O

--

mo, porém seus feitos mais conhecidos estão no campo da matemática, em especial o famoso teorema que leva o seu

-

Conta a lenda que Pitágoras foi o primeiro a idealizar a palavra matemática, concebida como um sistema de pensa-mento fulcrado em provas dedutivas. O mesmo teria aconte-

-res eram conhecidos como sábios. Pitágoras não teria querido para si a alcunha de sábio, preferindo mais ser conhecido

Page 106: Os Sete Pecados Capitais

105

-

adquirindo conhecimentos sobre astronomia, matemática, ciências, misticismo e religião. Ao retornar à sua cidade na-

ilha de Crotona, no sul da Itália, fundando a Escola Pitagó-rica, que pode ser considerada a primeira universidade da história da humanidade.

A sua escola era um misto de irmandade religiosa e in-telectual, abordando temas ecléticos que variavam da mate-

ensino da metempsicose à proibição de beber vinho e comer carne. Os alunos eram submetidos a testes de iniciação e pou-cos eram admitidos. Pois bem, um dos não admitidos dedi-cou-se a realizar propaganda com o escopo de destruir tanto Pitágoras como a sua escola. Algum tempo depois, a escola

mestre assassinado.

-

da elevação espiritual do ser humano, dentre os seus pensa-mentos destaco:

Educai as crianças e não será preciso punir os homens; Pensem o que quiserem de ti, faz aquilo que te parece justo; O que fala, semeia; o que escuta, recolhe; Ajuda teus semelhantes a levantar a carga, mas não a

carregues; Com ordem e com tempo encontra-se o segredo de fazer

tudo e tudo fazer bem; A melhor maneira que o homem dispõe para se aperfeiçoar

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106

José Anastácio de Sousa Aguiar

é aproximar-se de Deus;

A vida é como uma sala de espetáculos: entra-se, vê-se e sai-se;

A sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas os

-rava: “Anima-te por teres de suportar as injustiças; a verdadei-ra desgraça consiste em cometê-las”.

Page 108: Os Sete Pecados Capitais

107

“Quanto melhor alguém é, mais benevolen-te se torna com relação a todas as coisas e com relação aos homens.”

Plotino

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108

José Anastácio de Sousa Aguiar

comparação o mecanismo desencadeador da inveja. A partir -

pecados, como nos casos de Caim e Saul.

-ximo do invejoso, que por conhecer a história do invejado, sente-se injustiçado em não ter o que o outro tem, procu-rando sistematicamente rebaixar os méritos do invejado e o invejoso mostra-se, em geral, reticente em louvar as qualida-des do próximo.

preferindo a destruição do bem, antes que o outro o possua. --

to e hipocrisia.

-los. Com exceção daqueles que conseguimos perceber como extensão nossa – daqueles que geram uma sensação de que nos multiplicamos como objeto de prazer, alegria e sucesso – invejamos a todos.” 104

-doto para a inveja, pois “o que há de fundamental, portan-to, na consideração da inveja, é a questão de nossa capaci-dade de estreitar ou ampliar o grupo dos que consideramos

105

104 BONDER, Nilton – Op. cit., p. 14.105 Ibid.

Page 110: Os Sete Pecados Capitais

109

Nesse contexto, talvez a capacidade de ver a todos como

e crenças, o que em outras palavras, pode ser entendido como

Page 111: Os Sete Pecados Capitais
Page 112: Os Sete Pecados Capitais

Capítulo IV

lembrar disso.”Confucio

Page 113: Os Sete Pecados Capitais
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“Não permitirei que homem algum denigra minha alma por haver-me feito odiá-lo.”

Comparado com os outros pecados, a ira (ira

-

indomáveis, sendo considerada como “a fornalha do Diabo, o pe-106

“apesar dessa conotação negativa, o leão possui propriedades que o convertem num animal simbólico com outros valores

107

O pecado da ira tende a originar-se em sentimentos de inferioridade e de impotência, bem como no ápice de uma mágoa mal curada.

Detalhe do quadro “Os Sete Pecados Capitais” referente à

106 GUINESS – Op. cit., p. 118.107 Op. cit., p. 56.

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114

José Anastácio de Sousa Aguiar

Apesar de ser o terceiro pecado capital e do seu reconhe-cido potencial destrutivo, os estudiosos do tema têm encontrado

entendem que ele tem sua utilidade na medida em que é “uma boa resposta à ameaça, permitindo que nos defendamos a nós ou aos outros sob momentos de ataque. Pode ser uma resposta apro-priada para a crueldade, injustiça ou sofrimento desnecessário.” 108

Existe também quem pense que nem sempre a ira é pecado,

a desordem, o contrário da razão. Considera-se que existe uma ira positiva, que é a que tende a suprimir o mal e restabelecer o bem.”109

ser boa ou má, “pois é claro que, quando alguém pretende uma vingança de acordo com a devida ordem da justiça, isto é um ato virtuoso, por exemplo, quando – de acordo com a ordem

--se contra o pecado”.110 Assim, o ilustre santo acreditava que a serviço da razão e da justiça, a ira poderia ser boa e virtuosa.

No geral, é apresentada uma espécie de gradação, na qual

A raiva, no entanto, torna-se um pecado capital quando deriva-se de motivo doentio, quando a expressão da emoção é desordenada, ou quando essa ira contra o mal se transforma em ódio tornando-se assim mais importante que o amor a Deus ou ao seu próximo.”111

um consenso, em especial quando analisada sob o enfoque da ira de Deus, que veremos a seguir.

108 Op. cit., p. 78.109 Op. cit., p. 81.110 Op. cit., p. 96. 111 GUINESS – Op. cit., p. 116.

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115

acordo com a sua posição evolutiva, um sentido completamente diferente. Para os in-feriores que saem de baixo, o plano humano pode ser um ponto de chegada bastante alto.

subir a planos mais elevados, a terra pode ser um baixo ponto de partida. Assim, viver em nosso mundo pode representar para os primitivos a maior e mais alegre realização da existência, enquanto para os mais adian-tados, pode constituir doloroso estado de su-focação da vida.”

Pietro Ubaldi

-co pecado capital que alguns admitem que possa ser cometi-

112

-rando-se uma vasta gama de interpretações com dois limites opostos. Em uma das extremidades estão aqueles que aceitam a

um livro a ser lido em seu sentido literal. Na outra, aqueles que -

posições com aceitações parciais de uma ou outra interpretação.

112 Op. cit., p. 79.

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116

José Anastácio de Sousa Aguiar

Para aqueles que estão no primeiro grupo, eles “só con-seguem conceber um tipo de ira que seja justa: a ira de Deus contra o mal.” Nesse diapasão, “o pecado capital da ira é

descreve-se que Deus está irado, no sentido de estar indig-nado por motivo justo.” 114 Para tentar esclarecer seu enten-

--

gumas religiões orientais. Ele é um Deus de amor ardente e de 115 O respaldo para tal entendimento

vingança e a retribuição.”

Op. cit., p. 88.114 GUINESS – Op. cit., p. 115.115 Op. cit., p. 84.

Page 118: Os Sete Pecados Capitais

117

próprios ensinamentos de Jesus, o Cristo, que teria vindo a este mundo para pregar a paz e o amor, sendo assim, seria

-tiva ou negativa.

Em defesa desse entendimento temos Baruch de Espino-

116

Nesse contexto, Deus, como essencialmente uno, seria

o que apontaria, necessariamente, para a impossibilidade de

nenhum dos seus efeitos pode Deus revelar-se total e exausti-vamente, o que equivaleria a criar um novo Deus e com isso

ato criador. Assim, nesse entendimento, tentar entender Deus

116

Page 119: Os Sete Pecados Capitais

118

José Anastácio de Sousa Aguiar

“Se alguém tem alguma crença – por absur-da que for – nunca discutas com ele... Diz--me, com a mão no coração: - que lhe darias

de uma criança.”Mário Quintana

-sofa, astrônoma e matemática, caso os atos de violência de um pequeno grupo religioso não a tivesse imortalizado como uma

pintura “A Escola de Atenas”, pintado por Rafael Sanzio. O pin-tor colocou no afresco os maiores estudiosos antigos como se fos-sem amigos que discu-tiam e desenvolviam as formas de pensar e

mulher representada.

Page 120: Os Sete Pecados Capitais

119

Considerada como uma das mais notáveis matemáti-

que levava o nome da cidade. Filósofa neo-platônica e se-guidora de Plotino, destacou-se por suas pesquisas no cam-po da matemática, tendo sido ferrenha defensora dos estudos lógico-matemáticos, em detrimento da até então consagrada

Acusada de ter sido a causa das desavenças entre o re-presentante do Império Romano, Orestes e o Patriarca, Cirilo,

-

-mente assassinada.

Alguns historiadores consideram que sua morte marca o --

Page 121: Os Sete Pecados Capitais

120

José Anastácio de Sousa Aguiar

“Nunca perder o controle. Grande ênfase deve pôr a prudência em não perder o controle. Assim se portam os grandes homens, pois a magnani-

humores da alma, e qualquer excesso indispõe a prudência. Se a moléstia sai da boca, sua reputa-

de si próprio na prosperidade como na adversi-dade, ninguém irá censurá-lo, mas admirá-lo.”

Baltazar Gracian

“A Ira” pintado por Giotto di Bondone

na capela Scrovegni, Pádua, Itália

Page 122: Os Sete Pecados Capitais

121

-ca mais caracterizadora da mesma está na passagem de São

mansidão, misericórdia e paz.

Em verdade, Jesus, mais uma vez, inovava em relação ao sistema vigente até então, seja administrativo-romano ou religio-so-judaico, ao pregar que não bastavam as imposições éticas de

-

bondade e paciência, não somente destinada aos amigos e fami-

-manidade, amar a todos, inclusive os inimigos.

Page 123: Os Sete Pecados Capitais

122

José Anastácio de Sousa Aguiar

Page 124: Os Sete Pecados Capitais

Capítulo V

“A tragédia do homem moderno não é saber cada vez menos sobre o propósito da própria vida, mas que isso o incomode cada vez menos.”

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125

“A preguiça, como pecado capital, é a re--

Josef Pieper

acedia -de a ser confundida com outros termos como desocupação, ociosidade, letargia e indolência. Em razão disso, é imperio-so que comecemos mostrando o que os autores entendem por preguiça.

de ser um pecado de omissão, e não um de comissão, a ausên-cia de uma atitude positiva, e não a presença de uma atitude

que desistiu de buscar a Deus, à verdade, ao bom e ao belo.” 117

Detalhe do quadro “Os Sete Pecados Capitais” referente à preguiça, pintado por

117 GUINESS – Op. cit., p. 149.

Page 127: Os Sete Pecados Capitais

126

José Anastácio de Sousa Aguiar

Nesse contexto, ela seria diferente dos termos anterior--

timento, de mente e, consequentemente, de corpo prove-

espirituais”118

de Aquino, que descreve a preguiça como a tristeza ou a falta de empenho para conseguir um bem espiritual ou divino. San-

o tédio ou a tristeza em relação aos bens interiores e aos bens 119

da preguiça, como pecado capital, independentemente da

pelas coisas espirituais, ou, em outras palavras, pela transcen-dência da existência humana individual, pois, “de fato, desis-tir de se transcender implica desistir da própria existência hu-mana e em estar satisfeito por pertencer ao reino animal.”120

Incapaz de encontrar interesse ou satisfação pelas coisas

da matéria, que após superado este interesse mundano, ou mesmo antes disso, lança-se na “incapacidade de encontrar satisfação em qualquer coisa ao seu redor.” 121 Insatisfação

vida, e ela nos leva a não encontrar nenhum prazer na vida, -

nhuma novidade, nada de interessante, nada pelo qual valha a pena sair da cama.” 122

118 Ibid., p. 150.119 Op. cit120 GUINESS – Op. cit.121 Op. cit., p. 157.122 Ibid., p. 154.

Page 128: Os Sete Pecados Capitais

127

Vê-se que o conceito de preguiça aqui exposto não se

mesmo à opção mais cômoda entre tarefas e responsabilida-

evolução, desistindo do ideal de vir a ser.

o burro, entretanto “às vezes a preguiça relacionava-se com o porco e o boi, dois animais indolentes por natureza”.

Op. cit., p. 57.

Page 129: Os Sete Pecados Capitais

128

José Anastácio de Sousa Aguiar

“A preguiça anda tão devagar que a pobreza facilmente a alcança.”

The National Gallery

Page 130: Os Sete Pecados Capitais

129

Seguindo o entendimento acima exposto de que a pre-guiça, pelo menos a que é entendida como pecado capital, refere-se primariamente à falta de interesses pelas questões

associada ao pecado da soberba na medida em que um dos seus efeitos “é fazer-nos pensar que ninguém tem sabedoria

pena ser ouvido”. 124

-lução espirirtual – se entrelaça, “a glutonaria oferece um tur-bilhão de danças, banquetes, esportes e pequenos afazeres que nos fazem ir de cá para lá que nos deixam pasmos com as belezas, mas que, quando as alcançamos, maculam-nos com a vulgaridade e o esbanjamento. A cobiça nos arranca

nossos negócios; a inveja nos incita a fofocar e a difamar, a escrever cartas impertinentes aos jornais e a desenterrar

apropriada neste mundo tão cheio de malandros e demônios 125

124 Op. cit.125 GUINESS – Op. cit., p. 158 e 159.

Page 131: Os Sete Pecados Capitais

José Anastácio de Sousa Aguiar

“Num duelo espiritual, aquele que é venci-do, ganha, contanto que tenha ampliado os seus conhecimentos.”

Epicuro

Inicialmente é interessante destacar que na Grécia Anti-ga, o que se opunha à preguiça era a atividade e não o traba-

cidadãos atenienses, em especial, desempenhavam suas ativi-dades em harmonia com suas potencialidades, e este era um

-

nascimento da arte de pensar.

Page 132: Os Sete Pecados Capitais

referia à preguiça, assim entendido como “fundamentalmen-

invade a alma ao pensar nos bens espirituais – na virtude, na bondade, no amor a Deus e ao próximo – precisamente por-que não são fáceis de alcançar nem de conservar.” 126

da história127. Para superá-lo o homem tem buscado ultrapas-sar seus limites, o que teria proporcionado grandes descober-tas e acontecimentos.

Por outro lado, alguns vêem a nossa atual sociedade como a mais entediada da história criando um paradoxo de como explicar “a ironia de que a mesma sociedade que, pela primeira vez, conquistou a natureza por meio da tecnologia e transformou o mundo numa fábrica gigante de jogos e diversão, em um quarto de jogos de crianças ricas, na sociedade que tem

128

Um aspecto interessante a destacar sobre a questão da -

comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás.”

sétimo dia descansarás: na aradura e na sega descansarás.”

As referências à preguiça encontram-se em especial no

126127 Op. cit., p. 122.128 Op. cit., p. 158.

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José Anastácio de Sousa Aguiar

“Vai ter com a formiga, ó preguiçoso; olha para os seus caminhos, e sê sábio;

Pois ela, não tendo chefe, nem guarda, nem dominador,

Prepara no verão o seu pão; na sega ajunta o seu man-timento.

Um pouco a dormir, um pouco a tosquenejar; um pouco a repousar de braços cruzados;

Assim sobrevirá a tua pobreza como o meliante, e a tua

“O que trabalha com mão displicente empobrece, mas a mão dos diligentes enriquece.

-

“Diz o preguiçoso: Um leão está no caminho; um leão está nas ruas.

Como a porta gira nos seus gonzos, assim o preguiçoso na sua cama.

O preguiçoso esconde a sua mão ao seio; e cansa-se até de torná-la à sua boca.

Mais sábio é o preguiçoso a seus próprios olhos do que

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“Não há quem apresse mais os outros do que os preguiçosos depois de haverem sa-

diligentes.”

Page 135: Os Sete Pecados Capitais

José Anastácio de Sousa Aguiar

A diligência é entendida como o contraponto à pregui-ça. Entretanto, é oportuno que se esclareça que esta diligên-

oposto do amor não é o ódio, mas sim a indiferença. Se a indiferença está na essência da preguiça, então a preguiça é a inimiga do amor.” 129

---

rados os que têm fome e sede de justiça, pois serão satisfeitos.”

De qualquer forma, diligência pressupõe “uma atenção esmerada e cuidadosa para apreciar o valor dos deveres a cumprir, e para os escolher conscientemente, como fruto de

, apontando inexoravel-

129 Ibid., p. 78. FAUS, Francisco – Op. cit., p 16.

Page 136: Os Sete Pecados Capitais

Capítulo VI

“O sábio que se pôs à prova nas necessidades da vida, melhor sabe dar generosa-

dos desejos que em si possui.”Epicuro

Page 137: Os Sete Pecados Capitais
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-minante no universo; justiça e não injusti-

honestidade e não corrupção é a força mo-deladora e impulsionadora do governo es-piritual do mundo. Assim sendo, o homem tem apenas que endireitar a si próprio para endireitar o universo, e durante o processo de endireitar-se, ele descobrirá que na me-

relação às coisas e ao próximo, as coisas e

minuto sucessivo se apresenta a você são as imagens estranhamente adaptadas de seus pensamentos em permanente mutação.”

James Allen

avaritia como o segundo mais perigoso pecado capital e o animal que o simboliza é o sapo: “tudo, neste pobre animal, concorre para causar asco. A pele escura e viscosa, os sons emitidos quando coacha, os movimentos lentos e desconjuntados, os olhos parados. Eis porque, como animal simbólico, aparece

Interessante notar que dos sete pecados capitais é a ava-

Op. cit., p. 169.Op. cit., p. 56.

Page 139: Os Sete Pecados Capitais

José Anastácio de Sousa Aguiar

mandamento da lei mosaica: “Não cobiçaras a casa do teu próximo, não cobiçaras a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.”

Detalhe do quadro “Os Sete Pecados Capitais” referente à avareza, pinta-

“está ligado a uma desordenada ambição de dinheiro.” En--

tes: “obter o que não temos e preservar o que temos”. Nesse

também tenderia a ser o motor gerador de outros pecados, tais como a fraude e a violência, para obter o que se deseja, e a

Op. cit., p. 100. Op. cit., p. 169.

Page 140: Os Sete Pecados Capitais

Nesse contexto, alguns autores entendem que haveria no atual estágio da nossa sociedade uma espécie de gradação en-tre os termos: interesse próprio, ambição e avareza, sendo o pri-meiro, necessário; o segundo, aceitável; e o terceiro, condená-

necessidades e as daqueles que dependem de mim. Uma am-bição saudável consegue realizar grandes coisas. Contudo, a avareza sempre consome. Em particular, ela consome a pessoa que ela domina. Nunca se satisfaz e sempre deseja mais.”

Indubitavelmente, a gênese da avareza está no desejo

precisaria ter sido inventado.”

avareza é incompleta, posto que é fundamental que seja acres-centado o elemento “desordem”. É, na verdade, o desejo desor-denado que caracteriza a avareza. Assim, “a avareza não é o desejo em si de ter bens temporários, mas o desejo exagerado de tê-los. É natural desejar coisas externas como meios, mas a

-tura se transforma em um deus, ela passa a ser um demônio.”

Outro ponto intimamente associado à questão da identi--

no ato de desejar e guardar, e a partir de que momento o desejo passa a ser doentio.

Muito pode ser dito a respeito dos meios de aferir esse limite, e este livro não tem a pretensão de esgotar o tema, mas

entendemos a exata função do “ter” e do “ser”.

Op. citOp. cit., p. 122.

Op. cit

Page 141: Os Sete Pecados Capitais

140

José Anastácio de Sousa Aguiar

“A temperança, que é a moderação nos de-sejos sensuais, é também a garantia de um desfrutar mais puro ou mais pleno. É um

A temperança é essa moderação pela qual permanecemos senhores de nossos prazeres,

-de suportar seu corpo! Que felicidade des-frutá-lo e exercê-lo! O intemperante é um escravo, mais subjugado ainda por transpor-

liberdade só estar submetido à natureza! A temperança é um meio para a independên-cia, assim como esta é um meio para a feli-cidade. Ser temperante é poder contentar-se com pouco; mas não é o pouco que importa: é o poder, e é o contentamento.”

André Comte-Sponville

É fato que em nossa sociedade hodierna existe uma cul-tura voltada para o “ter”. O atual sistema capitalista ocidental tende a valorizar o desejo pelos bens de consumo, que é a mola propulsora da economia de mercado

É fato também que para manter esse sistema funcionando,

incentivo à cultura do “ter” e à competição no livre mercado.

Page 142: Os Sete Pecados Capitais

141

“Avareza”, gravura do pintor Jacques Callot

Nesse diapasão, o dinheiro em suas diversas matizes status

Alguns entendem que o dinheiro seria a causa dos males da humanidade e na tentativa de suprimir eventuais mazelas resultantes da má aplicação do dinheiro, tentou-se até mesmo

comunismo, que, como não poderia ser diferente, só resultou em mais sofrimento para a população subjugada.

Em verdade, o erro dessa avaliação está no fato da equivoca-da demonização do dinheiro, posto que o dinheiro por si só não tem

para solucionar a questão do mal uso do dinheiro por qualquer sociedade passa pela reeducação do ser humano, na busca do desenvolvimento das qualidades inerentes ao “ser” e não ao “ter” e na aplicação de uma legislação que iniba os excessos.

Page 143: Os Sete Pecados Capitais

142

José Anastácio de Sousa Aguiar

“Seres desiguais não podem pensar da mes-ma maneira. Sempre haverá evidente con-traste entre o servilismo e a dignidade, a torpeza e o gênio, a hipocrisia e a virtude. A imaginação dará a uns impulso original em direção ao perfeito. A imitação organi-zará em outros os hábitos coletivos. Sempre

-sui um sentido das diferenças que lhe per-mite distinguir entre o ruim que observa e o melhor que imagina. Os homens sem ideais são quantitativos; podem apreciar o mais ou menos, mas nunca distinguem o melhor do

--lo em páginas decisivas.”

Jose Ingenieros

A preocupação em combater os excessos, em especial no que se refere à exploração do homem pelo homem é um

-

como dia de descanso.

Em Êxodo 20:9-10 temos: “Seis dias trabalharás, e farás todo o teu trabalho, mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teu

teu animal, nem o estrangeiro que está dentro das tuas portas.”

Page 144: Os Sete Pecados Capitais

normatização limitadora foi um grande avanço como proteção aos excessos cometidos na relação senhor-servo, sendo então

Um dos episódios mais interessantes e contundentes do

que veio a casar com o rei Acab, de Israel, como resultado de

O rei Acab procurava governar dando liberdade religio--

razão da personalidade forte da rainha Jezabel, os interesses

-ta Elias, que teve que fugir para o reino de Judá em razão da perseguição real aos profetas de Javeh.

Pois bem, certa feita houve um incidente envolvendo uma

palácio de Acab. O rei tentou comprar a vinha sem sucesso. Sua esposa, mulher determinada e independente, que não se

evento tramou a morte Nabote e tomou a vinha para o rei.

O profeta Elias ao saber do ocorrido profetizou que cães devorariam Jezabel no campo de Jizreel. Um comandante

real e o corpo da rainha foi jogado da janela do palácio pelos próprios eunucos reais e comido pelos cães. 138 Ibid., p. 142.

Page 145: Os Sete Pecados Capitais

144

José Anastácio de Sousa Aguiar

“A morte de Jezabel”, de Paul

No contexto da Divina Comédia, de Dante Alighieri, há duas referências aos avaros: a primeira no canto VII da parte que se refere ao Inferno e a segunda no canto XXII do Purgatório.

“Os Avarentos”, de Paul Gustave Dore

-vura retrata os ava-rentos empurrando enormes sacos no

Inferno, segundo Dante em sua obra “A Divina Comédia”

As riquezas dos avarentos estão representadas por enor-mes sacos cheios de dinheiro e barras de ouro que são empur-rados colina acima pelos pecadores.

Page 146: Os Sete Pecados Capitais

145

“O mais belo fruto da justiça é a paz da

cargos ou o poder produzem a felicidade e a bem-aventurança; produzem-na a ausência de dores, a moderação nos afetos e a dispo-

-tes impostos pela natureza.”

Epicuro

“A Generosidade concedendo seus presentes”, quadro de Giovanni

--se, como dito anteriormente, pelo desejo desordenado de ob-ter o que não temos e guardar o que temos, “o contraponto

ambos são o cerne da misericórdia”

GUINESS – Op. cit., p. 199.

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146

José Anastácio de Sousa Aguiar

A generosidade também é tida como garantia de bondade e

ela estabelece limites para a aquisição de bens e introduz um fa-tor essencialmente importante: as necessidades das outras pessoas que poderiam ser os recipientes de nossa generosidade.” 140

-

“Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expulsai os demônios; de graça recebestes, de graça dai.”

-nalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, cheio de amor fraternal, misericordiosos, humildes, não retri-

-trário, bendizendo, porque para isso fostes chamados, para herdardes uma benção.”

“A Virtude da Compaixão”, gravura pinta-

140 Op. cit., p. 144.

Page 148: Os Sete Pecados Capitais

Capítulo VII

“Compreensão de si mesmo. Do caráter, do talento, do discernimento e das emoções. Ninguém consegue dominar-se se não compreende a si próprio.

Baltazar Gracian

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149

“A alma atrai aquilo que ela secretamente abriga; aquilo que ela ama e também aqui-lo que teme; ela atinge o apogeu de suas

são os meios pelos quais a alma recebe o que lhe é devido. O mundo exterior das cir-

pensamentos, e as condições externas, tanto as agradáveis como as desagradáveis, são fa-

sua própria colheita, o homem aprende tan-to pelo sofrimento como pela felicidade. Os homens não atraem aquilo que eles querem, mas aquilo que eles são.”

James Allen

gulapecados capitais, e é também o primeiro dos dois pecados da carne, ditos também como “quentes”.

O animal que lhe é associado é o porco. “Se, nos nossos

porco era associado à imagem de fecundidade e de bem-estar. Contudo, pela sua voracidade, aponta-se como o mais indi-cado para simbolizar a gula.”141 Assim, “os glutões, ao reduzir toda a comida a uma lavagem, assemelham-se a porcos”. 142

141 Op. cit., p. 56 e 57.142 GUINESS – Op. cit., p. 205.

Page 151: Os Sete Pecados Capitais

150

José Anastácio de Sousa Aguiar

Um aspecto peculiar relativo à gula é que por algum tempo nos idos do século IV ela era considerada pelos mon-ges monásticos como o pior dos pecados capitais, posto que se entendia que o primeiro e mais importante inimigo a ser combatido era o que estava dentro de nós e se expressava por um guloso apetite.

Detalhe do quadro “Os Sete Pecados Capitais” referente à gula, pintado

Aquino, entendendo-se que a gula diz respeito mais ao cor-

todos têm que se alimentar de alguma maneira, que alguém viesse a se exceder.

Op. cit., p. 96.

Page 152: Os Sete Pecados Capitais

151

Entretanto, hodiernamente essa questão está longe de ter

que o pecado da gula, assim entendido como uma obsessão desordenada por comida, bebida ou pelo simples consumo,

144, ou de uma forma mais abrangente seja uma maneira de de-monstrar a não aceitação da própria vida, tendo em vista que “o ato de comer é a aceitação da vida” 145.

Santo Agostinho deixou claro que: “não temo a impu-reza da comida, mas a do desejo. Fica claro, portanto, que a gula se refere às paixões e se opõe à temperança enquanto diz respeito aos desejos e prazeres do comer e beber.”146

é a inexistência clara de limites para o que comer e beber. Ao falar em limites inevitavelmente trata-se não só dos exces-sos dos glutões, mas também da rejeição dos anoréxicos e da

144 GUINESS – Op. cit., p. 206.145 Op. cit., p. 51.

Op. cit., p. 104.

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152

José Anastácio de Sousa Aguiar

pensamentos habituais. As idéias colorem a alma. Sendo assim, tinge-a pela meditação de pensamentos como este: em qualquer lugar em que se pode viver, pode-se viver bem. A ninguém acontece nada que a natu-reza não lhe dê forças para suportar.”

Marco Aurélio

-dar o prazer foi o epicurismo. Segundo a doutrina de Epicuro, de Samos, seu fundador, o sumo bem reside no prazer. Como

prazer dos sentidos e dos excessos, mas o prazer da quietude

“A Gula”, gravura do pintor Jacques

Page 154: Os Sete Pecados Capitais

A gula transforma uma necessidade básica humana, a

comer e o beber não são os censurados, mas sim “o comer e 147.

-da. A comida ou bebida passa a ser utilizada como mecanis-

entendida como medicação e consolo, passa a ser prioritária e essencial.

-cia, a alegria néscia, a loquacidade desvairada e a expansivi-dade debochada.148

Op. cit., p. 45.Op. cit., p. 105.

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154

José Anastácio de Sousa Aguiar

-cia cósmica acima do comum da humani-dade-massa suspeitam ou adivinham, com maior ou menor clareza, que existe uma vasta e profunda unidade do universo para além dessa aparente multiplicidade de fe-

que alguém possa avaliar com justeza e verdade um gênio, deve ele mesmo possuir

fácil um sábio aprender de um tolo, do que um tolo aprender de um sábio.”

-

de forma indireta no contexto de alguma parábola, como

aplicar as palavras de Cristo, senão vejamos.

-

esplendidamente.

que jazia cheio de chagas à porta daquele;

da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas.

Page 156: Os Sete Pecados Capitais

155

E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pe-los anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado.

E no inferno, ergueu os olhos, estando em tormentos, e

E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de

nesta chama.

Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebes-

este é consolado e tu atormentado.

E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá.

E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai

Pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemu-nho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento.

E disse ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dentre os mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam.

Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite.

Page 157: Os Sete Pecados Capitais

156

José Anastácio de Sousa Aguiar

No contexto da Divina Comédia, de Dante Alighieri, os

ainda Cérbero, o cão de três cabeças do Inferno que arranha,

Page 158: Os Sete Pecados Capitais

157

“Aquele a quem a vida basta, de que poderia

esse segredo, talvez, de uma pobreza feliz. Mas a lição vale, sobretudo, para nossas so-

-perança do que por fome e ascetismo. A tem-perança é uma virtude para todos os tempos, tanto mais necessária, contudo, quanto mais favoráveis eles são. Não é uma virtude ex-

-

virtude não de exceção, mas de regra, não de

Andre Comte-Sponville

Page 159: Os Sete Pecados Capitais

158

José Anastácio de Sousa Aguiar

Entendendo a glutonaria como uma forma de indiscipli-na e de auto-indulgência, temos a temperança como o contra-

Entretanto, existem outras visões que consideram a cora-gem em meio ao sofrimento e à perseguição como o elemento oposto à gula, na medida em que “a disciplina e a paciência requeridas para enfrentar os sofrimentos com coragem são os contrapontos poderosos para a própria indulgência, bastante enjoativa, da glutonaria.” 149

Existe também a visão mais pragmática e objetiva que considera como resposta à gula, o jejum, que teria duas fun-ções primordiais: serviria como forma de exercitar o auto--controle, servindo “como um meio para manter a comida em seu devido lugar”150 e seria o meio de “nos conectar de forma

151

-

149 GUINESS – Op. cit., p. 229.Op. cit., p. 110.

151 Ibid.

Page 160: Os Sete Pecados Capitais

Capítulo VIII

“Chamo servidão a impotência do homem para governar e refrear suas paixões. Com efeito, submetido às paixões, o homem não é autônomo, mas dependente da fortuna, de tal modo estando sob o seu poder que muitas vezes é forçado a

fazer o pior, mesmo que veja o melhor.”Baruch de Espinoza

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161

“Nem com milhões de moedas de ouro pode-se recuperar um só instante da vida. Que maior perda, então, que a do tempo

Chanakya Pandita

luxuria -do pecado mais grave. Para a representação simbólica da

Nos Bestiários, o bode aparece como animal voluptuoso, corneador, sempre ávido ao acasalamento.”152

-

ser o motor gerador de outros pecados, tal como é alertado -

sidade sobre a mulher do próximo geraria a inveja e a ava-reza ou vice-versa: “Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.”

Op. cit., p. 56.

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162

José Anastácio de Sousa Aguiar

-lheres se entregam à libertinagem tão somente por mero tédio e descontentamento.”

haver uma idéia equivocada na qual se defende a coincidên-154

Op. cit

Op. cit., p. 100.

Page 164: Os Sete Pecados Capitais

essa satisfação, de liberar a tensão do desejo sexual. E, como tal, ela não vê a outra pessoa como um ser humano, transfor-mando-a em algo inferior.” 155

-

desejo, condição equivalente ao da comida para o guloso.

-

ou a satisfação do desejo, assim, tão logo esse objetivo é al-cançado, o que normalmente vem à tona é um sentimento de aversão, e o meio pelo qual o objetivo foi alcançado é rejeitado.”156

-

podem ser caracterizados como saudáveis, em outras palavras

Op. cit., p. 114.156 Ibid., p. 116.

Page 165: Os Sete Pecados Capitais

164

José Anastácio de Sousa Aguiar

“Existem certas atividades inconvenientes – traças do tempo precioso -, e ocupar-se com o descabido é pior do que não fazer nada. Para ser prudente não basta não se intrometer nos assuntos alheios: é preciso também impedir os outros de se intrometer nos seus. Não se dê aos outros ao ponto de não poder mais se dar a si mesmo. Não abuse de seus amigos, nem lhes peça mais

com os outros.”Baltazar Gracian

Poucos são os bens da nossa sociedade moderna tão

gerações passadas para que atualmente possamos desfrutar da liberdade de votar, de ir-e-vir e principalmente de viver sem medo. Pois bem, até mesmo um bem tão caro tem sido o fundamento dos que defendem a liberação incondicional

ou simplesmente do aumento do apelo sexual nos meios de comunicação de massa.

Page 166: Os Sete Pecados Capitais

165

A tese que fundamenta essa posição é ancorada justa-mente na liberdade, a liberdade de escolha. Em verdade, os

-reito absoluto e inalienável, e, portanto, cada um o usa como bem entende.

Ocorre que esse argumento contém duas falácias, a pri-meira é que nenhum direito tem caráter absoluto, todos os di-reitos devem ser visto dentro do contexto de proteção à vida,

uma sociedade. A segunda refere-se ao equivocado pressu-posto “que somos pessoas perfeitamente equilibradas, capa-zes tranquilamente de escolher para nós mesmos o que é bom

obstáculos.” 157 Como se não bastasse, existem setores da so-ciedade, como, por exemplo, as crianças, que não tem a for-mação necessária para ter o pleno direito de escolha.

157 Ibid., p. 121.

Page 167: Os Sete Pecados Capitais

166

José Anastácio de Sousa Aguiar

Essa questão merece um estudo mais profundo de cada

do impacto patológico e psicológico para as pessoas que são

-

Mas, também, os próprios usuários se ludibriam. A sedução impelida pela libertinagem, desprovida de compromisso, ter-mina unicamente no vazio e em um anseio mais profundo.” 158

“quando a alma se volta veementemente para um ato de uma faculdade inferior, as faculdades superiores se debilitam e se

intensidade do prazer, a alma se ordena às potências inferio-

que, necessariamente, as potências superiores, isto é, a razão 159

158 GUINESS – Op. citOp. cit., p. 108.

Page 168: Os Sete Pecados Capitais

167

“O que é essencial é que se viva a verdade. -

sente a força mágica da verdade, da verda-de libertadora, como dizia Jesus. A verdade apenas estudada chama-se verdade, a verda-de vivida chama-se Amor. O amor é a cul-

Baruch de Espinoza

-

se entrega a ele, coincidentemente ou não, referem-se à pes-soa e aos familiares do primeiro grande rei de Israel, Davi.

Quase todos sabem sobre as suas qualidades de guerrei--

O primeira episódio é contado em 2Samuel 11,12, no qual Davi, ao passear no terraço de sua casa real, viu uma bela mulher que estava tomando banho. Indagou de seus ser-vos quem era a mulher e descobriu ser Bate-Seba, esposa de Urias. Davi mandou seus mensageiros chamá-la e com ela se

-quitetou um plano para matar o marido de sua amante e assim Urias veio a falecer em combate.

-

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168

José Anastácio de Sousa Aguiar

Amnom apaixonou-se por sua meia-irmã. Era uma pai-

ela uma jovem casta.

Seu primo Jonadabe notou a tristeza de Amnom e, ao saber a razão, logo desenvolveu um plano para conseguir que

-

transformou em ódio, demonstrando que não era amor, mas

se oferecido a ele, e não havia quem testemunhasse a verdade a favor dela, porque Amnom havia esvaziado a casa. O seu crime havia feito com que ela não pudesse ser dada em casa-mento, pois não era mais virgem.

-tes de princesa, coloca cinza na cabeça em sinal de luto, pôe suas mãos sobre a cabeça e vai se lamentando pelo caminho sendo assim achada por Absalão, seu irmão. Este a consolou e hospedou-a em sua casa, procurando assim evitar um es-

-

Pouco tempo mais tarde, Absalão arquiteta um plano para assassinar seu meio-irmão e assim o faz.

Page 170: Os Sete Pecados Capitais

169

No contexto da Divina Comédia, de Dante Alighieri, a refe-

Ventos. Os luxuriosos sofrem e são atormentados e arrebatados

violência, atormentando-os e ferindo-os. É descrito no Canto V.

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170

José Anastácio de Sousa Aguiar

-

grande parede de fogo através da qual todos devem passar. Almas arrependidas do desejo sensual percorrem as chamas cantando o hino Summae Deus Clementiae, como oração.

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171

“A virtude, repete-se desde Aristóteles, é uma disposição adquirida de fazer o bem. É preciso dizer mais, porém, ela é o próprio

Andre Comte-Sponville

--

ência a Deus. O quadro retrata o momento no qual o anjo Gabriel anuncia

Page 173: Os Sete Pecados Capitais

172

José Anastácio de Sousa Aguiar

--

antiética e irrestrita, a pureza de coração é a devoção ética e disciplinada do coração. Enquanto a libertinagem cega e dis-sipa nossa força, a pureza de coração é uma concentração intensa de força, além de ser perspicaz.” 160

--

espirituais, com alma, mente, coração e corpo entrelaçados -

pos sem uma união espiritual similar do coração, da mente,

somos sérios ao dizermos que queremos outra pessoa quan-do só queremos parte dela.” 161

160 GUINESS – Op. cit., p. 255.Op. cit., p. 125.

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“A Virtude da Castidade”,

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Capítulo IX

“A Escola de Atenas”, pintura de Rafael Sanzio localizada no Palácio Apostólico do Vaticano.

“Não há nada que precise de mais reforma que os hábitos dos outros.”

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177

efeito, é ainda imaturo, ou já está demasia-

Quem diz não ter ainda chegado sua hora

quem diz não ter ainda chegado ou já ter passado a hora de ser feliz.”

Epicuro

-

por desinformação, má formação, falha no caráter, ou tantas -

joso, a necessidade das coisas do alheio; ao irado, o descon-

supervalorização do dinheiro; ao guloso, o endeusamento da

Em verdade, conclui-se que toda a questão resume-se

-prio da razão dirigir o desejo – principalmente enquanto informada pela lei de Deus -, então, se o desejo se volta para qualquer bem naturalmente desejado de acordo com a regra da razão, esse desejo será reto e virtuoso; será, po-rém, pecaminoso se ultrapassa essa regra ou se não chega a atingi-la” 162.

Op. cit., p. 79.

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178

José Anastácio de Sousa Aguiar

-mar que “nenhum prazer é por si mesmo um mal: mas os meios para se dar certos prazeres trazem muito mais tormentos que prazeres” . Complementa o ilustre pensador; “Se as coi-sas que dão lugar aos prazeres próprios dos dissolutos fossem também capazes de libertar-nos dos temores da alma acerca dos fenômenos celestes, da morte, da dor, e nos ensinassem

eles estariam, de fato, repletos de todo o prazer e não teriam

exatamente, o mal”.164

-tretanto, é apenas parte da solução do problema. Outra parte tão ou mais importante quanto é a conscientização em cada

foi enfatizado há mais de 2.400 anos por Sócrates: “Conhece--te a ti mesmo”.

Para alguns, essa questão pode parecer demasiadamente -

damental do ser humano, pois conforme ele demonstrou “co-

cuidar de nós mesmos, o que não poderemos saber se nos des-

conhecermo-nos a nós mesmos começa-se a investigar o que é o ser em si do homem. O ser em si do homem não são as suas rou-pas, os seus atributos acidentais, não é nem mesmo o seu corpo. O ser em si do homem é a sua alma, a sua psiqué.” 165

164 Ibid., p. 211.

Editora Moderna – 2ª edição – 1996, p. 52.

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179

conduta, e muito desta falta de interesse passa pela falta de prioridade que é dada ao tema. E é exatamente nisso que resi-

-

razão e principalmente os prazeres naturais.” 166

É importante destacar que a maioria das pessoas parece estar convencida de que antes de se dedicar à vida espiritual deve resolver questões de ordem material.

-nea, somos educados e motivados a primeiramente superar as

-sentadoria, para depois nos preocuparmos com as questões ditas espirituais ou subjetivas. Parece estar no inconsciente coletivo da nossa sociedade que em assim agindo estaremos cumprindo as necessidades impostas pela vida. Entretanto,

Nesse contexto, parece bastante pertinente o mito das

no livro referido, Platão em seu diálogo está tratando do tema

Platão viu a humanidade condenada a uma infeliz condição, a de estar acorrentada no fundo de uma caverna, de costas para a entrada, vendo ao fundo dela, as som-bras distorcidas projetadas pelas imagens das pessoas que passavam. As correntes simbolizando a miopia e as limita-ções humanas, que por estar na condição de prisioneiros,

Op. cit., p. 104.

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180

José Anastácio de Sousa Aguiar

percebia as projeções amorfas no fundo da caverna como realidade e verdade.

-dequada, o ser humano tende a incorrer na armadilha há muito antecipada por Epicuro, no sentido de que “ninguém escolhe o mal vendo claramente que é tal; mas prende-se a ele se, enganosamente, considera-o um bem com relação a um mal maior.”167

Em assim sendo, o que era para ser meio passa a ser

semi-deus. Dessa forma, os marcos regulatórios de satisfação

Platão e os nossos esforços são direcionados para o cumpri-mento de tarefas secundárias ou até mesmo desnecessárias168.

riquezas, antes de qualquer outro cuidado, vem o da alma e seu aperfeiçoamento.” 169

Nessa realidade o cumprimento das nossas obrigações

satisfação pessoal e da felicidade. O que se vê na socie-dade hodierna são pessoas sentindo-se vazias e sem rumo, mesmo após terem desempenhado seu papel social. O que

167 Op. cit., p. 221.168

nada é tão necessário quanto o saber reconhecer bem o que não é necessário, e considero que a maior entre todas as riquezas é a autarquia, e que nada é tão nobre quanto o não ter necessidade de nada.” Ibid., p. 215.

Op. cit., p. 185.

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181

“Considera brevemente o que te ocupa du-rante esse percurso. Poderias acaso crer que teria sido para um destino tão nulo que te verias dotado de faculdades e propriedades

-te, tão grandioso, tão vasto nas profundezas de teus desejos e pensamentos somente para consumires tua existência com ocupações tão fastidiosas por sua periodicidade; tão te-

tão contrárias à tua nobre energia, dado o capricho que parece mantê-las em sua de-

Antiguidade para tentar responder o que está errado na nossa sociedade e para isso lançamos mão da maiêutica socrática170.

-tes da Antiguidade, não haveria um conhecimento absoluto a ser transmitido, todo o saber poderia ser adequado às necessidades do orador, independentemente do seu valor moral e “para com-

170 Maiêutica é o método idealizado e aplicado por Sócrates que consistia na obten-ção de verdades por meio de perguntas simples que levava o interlocutor a questio-nar seus valores anteriores e extrair novas verdades de si mesmo, como num parto. O método baseia-se na possibilidade de se alcançar um conhecimento absoluto

-vel, bastando para isso a aplicação de perguntas que conduza à rememoração de saberes já contemplados pela alma. Nesse contexto, ignorar é ter esquecido, e aprender é recordar essências existentes a priori em um lugar celestial.

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José Anastácio de Sousa Aguiar

de seus diálogos de transição, Mênon, pela primeira vez, a sua teoria da reminiscência, ou seja, a idéia de que a alma é imortal

encarnações. Para ter acesso a estes conhecimentos verdadeiros, esquecidos pelo simples mortal, seria necessário um trabalho de rememoração: através de perguntas e respostas submetidas às leis da dialética171

uma realidade objetiva, absoluta e perene.” 172

-cava o problema, mas também apontava o caminho da solução, que invariavelmente passava pela “temperança, da qual a maioria só conhece o nome, virtude que consiste em não ser escravo dos desejos, mas de se pôr acima deles e viver com moderação.”

história até os nossos dias, e em especial em razão do crescen-te descrédito dos representantes de diversas religiões, parece

--

morais e éticos, defendidos por Sócrates e Platão.

Cabe destacar que a maiêutica socrática não era um mé--

171 Convém aqui destacar que a dialética para Sócrates e Platão, bem como para os neoplatônicos como Plotino “é elevação moral, é subida e é conversão. A dialética não pode existir sem a virtude e, mais ainda, as virtudes superiores coincidem ou estão estreitamente ligadas à dialética, uma vez que estas vir-

-

Op. cit., p. 186.

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ximar o homem da Divindade, como dizia Amônio Sacas174,

ou seja, a união com o Divino”,175 ou como aspirava a Esco-la de Plotino “ensinar aos homens a libertar-se da vida deste mundo para reunir-se ao Divino e para poder contemplá-lo até o ápice de uma união estática transcendente”.176

Nesse contexto, o pecado mais popular hodiernamente e que encontra campo fértil em nossa sociedade contempo-

não é nenhum dos sete pecados anteriormente analisados,

-de nas sombras da dissimulação, agiganta-se na alcova dos corruptos e atinge seu auge no interior dos covardes e dema-gogos. Este que vos falo, responde pelo nome de hipocrisia.

-

É exatamente contra a hipocrisia que Jesus se encoleriza

174

175

176 Ibid., p. 18.

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184

José Anastácio de Sousa Aguiar

Ele acusa os fariseus de dedicar-se apenas ao exterior, enquanto o interior está cheio de rapina e maldade; de amar os primeiros assentos nas sinagogas e as saudações nas

um homem no sábado. Em Marcos 11:15-17, Ele expulsa os vendilhões do templo.

O perigo do hipócrita não está nos seus atos, até porque estes são aparentemente bons, mas sim na sua capacidade de

-dor a ter uma vida dupla, uma exterior, de aparências e outra

Em assim sendo, aqueles conhecimentos verdadeiros, aquelas virtudes idealizadas por Platão serviriam, nas mãos

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185

dos hipócritas, apenas como meio para acobertar alguma ne-cessidade passageira qualquer, pondo por terra a concepção

da alma177. Destaco Andre Comte-Sponville: “Que importa a 178

canto XXIII da parte do Inferno, Dante e Virgilio encontram os hipócritas que vagam vestidos por pesadas capas de chumbo dourado

177 -

Op. cit., p. 40.

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186

José Anastácio de Sousa Aguiar

“Sócrates repetia que julgava sua tarefa cumpri-da, logo que as suas exortações tinham desper-

desejo de conhecer e abraçar a virtude. Quan-

vale a satisfação de ser um homem honesto, não há acreditava ele, muito mais que aprender.”

-

humano, assim entendido como aquele que tenha conseguido

Profetas e sábios têm peregrinado este planeta em diver-sas eras pregando o amor, a paz e a união, entretanto como,

-tores que têm posturas singulares sobre o tema, quais sejam: Nilton Bonder e Pietro Ubaldi, a seguir:

“De forma bastante primitiva, odiamos todas as pessoas

Em outras palavras somos condicionados, como seres oriundos da diferenciação, a amar tudo que percebemos como

ser reduzido a empatias e interesses. Se essas empatias e in-teresses se expandem a incluir cada vez mais o universo que nos cerca, maior é a nossa sensação de crescimento interno.

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187

a gostar unicamente de si, o que é uma perversão apenas em relação à expectativa de vida em sociedade ou à harmonia

Quanto mais pobre nossa percepção de quem somos, mais limitada será nossa capacidade de incluir o outro sob uma destas duas categorias. Portanto, aquele que ama apenas a si ama algo muito pequeno, pois é na sua incapacidade de encon-

179

-

Em nosso mundo os valores mais apreciados são os me-

que vence submetendo o próximo, e não o mais honesto, que

principal qualidade do Anti-Sistema, que nos indica a oposta, o 180

Parece então que a solução prática passa pelo amor a si próprio e a expansão das nossas empatias e interesses sob o

que na verdade remonta aos ensinamentos de dois dos grandes mestres da humanidade: “Conhece-te a ti mesmo”, de Sócrates e “Ama o teu próximo como a ti mesmo”, de Jesus, o Cristo.

179 BONDER, Nilton – Op. cit.Op. cit.

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188

José Anastácio de Sousa Aguiar

“Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, por tua vontade, lei universal da natureza.”

Immanuel Kant

A decadente Grécia Antiga de Sócrates e Platão não dife-re muito das eras posteriores, e muito menos do nosso tempo.

-trava-se na separação do ser do logos

-

Quando isso acontece, “a ação pode separar-se do va-lor. Dissimular a ação ao mesmo tempo em que se reivindica o valor, levar vantagens com a injustiça ao mesmo tempo em que se abriga atrás de discursos do bem, tal é então, a ten-

-tamento entre o logos

um aceita não mais cometer injustiça para preservarem-se mutuamente, sem cessar de pensar que, segundo a natureza, cometer a injustiça é um bem. Mais que de moral, se deveria

mas honrada por causa da impotência em que se está de co-181

Em outras palavras, independentemente da sociedade analisada, a moral comum decadente está intimamente asso-

181 ROGUE, Christophe – Op. cit., p. 54 a 55.

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189

moral e dilapidação dos mais caros valores sociais que sur-gem os grandes mestres da humanidade.

-

de outra forma após a passagem de ambos. São eles Sócrates e Jesus Cristo.182

-tes, os pré e os pós-socráticos . Quanto a Jesus, o próprio tempo recomeçou a contagem com a sua existência.

É exatamente contra a moral comum estabelecida que se insurgem ambos. Os dois, ao seu modo, foram

universalistas.

Digo inovadores e libertadores, na medida em que ins-

contraste com as ultrapassadas convenções morais de suas épocas. Sócrates, por exemplo, observa que não se deve ja-mais retribuir o mal com o próprio mal.184

Ambos, Sócrates e Jesus, buscavam desconstituir a hi-logos à rea-

182 “Para os padres da Igreja, Sócrates era reconhecido como um nome superior. Eles viam nele um predecessor dos mártires cristãos, que como estes morrera pelas suas convicções, tendo sido como eles acusado de traição à fé nos deu-ses tradicionais. O nome de Sócrates surge mesmo associado ao de Cristo.”

-tologia, ignorando a ética; Sócrates e os socráticos rejeitaram a cosmologia

-

Op. cit., p. 197.

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190

José Anastácio de Sousa Aguiar

lidade e à moral, inaugurando a autonomia e a liberdade do pensamento185 186, e, a vivência do reino de Deus por meio do amor e do perdão, no caso do Nazareno.

-dade” 187, no caso de Sócrates, e, no caso de Jesus, será pelo conhe-

Eles, até mesmo, inverteram muitos dos conceitos vi-gentes às suas épocas: “Não canso de lhes dizer que não é a riqueza que faz a virtude; mas, ao contrário, que é a virtude

188

novo mandamento vos dou, que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei a vós, que também vós vos ameis uns

Digo agregadores, na medida em que apesar de serem ci-dadãos ateniense e judeu, e, portanto, pertencentes à elite local, ambos destinavam sua dialética e seus ensinamentos a todos indis-criminadamente189

no primeiro caso190 e alcançar o Reino dos Céus, no segundo.

185 “É a partir de Sócrates que se opera a plena libertação, e simultaneamente o segredo do pensamento.” JASPER, Karl – Op. cit., p. 41.

186 “Sócrates vituperava através das ruas de Atenas sobre a decadência da época. Não contente em denunciar por toda a parte o reino dos hipócritas, o triunfo das falsas virtudes, eis que atacava os depositários do saber, as autoridades mais reconhecidas da cidade.” ROGUE, Christophe – Op. cit., p. 168 a 169.

187 Op. cit., p. 221. 188 Ibid189 “Sócrates tinha o prazer em questionar e discutir com qualquer um, fosse rei

-Op. cit., p. 186.

-

Op. cit., p. 11.

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191

natureza inteira seria homogênea, isto é, que a natureza inteira -

ças que posteriormente se desenvolveram”191 e que a verda-deira espiritualidade não consiste em realizar ritos recebidos da tradição, mas de transformar a si mesmo, e assim aceitaram passivamente as suas injustas condenações à morte192.

Op. cit., p. 60. 192

constituem respostas à questão da morte.” JASPER, Karl – Op. cit., p. 150.

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após o advento de ambos, é decorrência dos ensinamentos e palavras desses dois grandes mestres.

“quando a alma se volta veementemente para um ato de uma faculdade inferior, as faculdades superiores se debilitam e se desorientam em seu agir”. Em oposição, “a evolução ascen-sional do homem consiste em aumentar progressivamente o grau de consciência que ele tem da presença da Divindade”.194 Complementa o ilustre pensador tomista: “pela virtude o ho-mem se dirige ao máximo daquilo que pode ser.”195

seu médico Eustóquio: “Procura reunir o divino que está em ti ao divino que está no universo.”196

Op. cit., p. 108.194

Pai-nosso – São Paulo – Editora Martin Claret – 2011, p. 28 e 29.195 Op. cit., p. 145.196

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