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Deambulando pelas ruas de Sintra… Percurso Queirosiano No passado dia 21 de novembro, os alunos do Ensino Secundário e dos Cursos Profissionais “deambularam” pelas ruas de Sintra, seguindo os passos de Carlos da Maia, herói da famosa obra Os Maias de Eça de Queirós. Foram acompanhados por uma responsável do Departamento de Cultura, Turismo, Juventude e Desporto da Câmara Municipal de Sintra que, ao longo da “deambulação”, foi relembrando excertos da obra. Esta visita de estudo teve como objectivos promover o desenvolvimento integral dos alunos, alargando os seus conhecimentos e forma de apreensão do mundo; tomar contato com autores e obras da Literatura Portuguesa; desenvolver nos alunos diversas competências entre as quais, a capacidade de observação, de análise e o espírito crítico; estimular a relação do aluno com espaços naturais e o interesse pela natureza; desenvolver o sentido estético; desenvolver competências sociais, de forma a promover um convívio saudável entre todos.

Percurso queirosiano

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Relatório de Visita de Estudo.

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Page 1: Percurso queirosiano

Deambulando pelas ruas de Sintra…

Percurso Queirosiano

No passado dia 21 de novembro, os alunos do Ensino Secundário e dos Cursos Profissionais

“deambularam” pelas ruas de Sintra, seguindo os passos de Carlos da Maia, herói da famosa

obra Os Maias de Eça de Queirós. Foram acompanhados por uma responsável do

Departamento de Cultura, Turismo, Juventude e Desporto da Câmara Municipal de Sintra que,

ao longo da “deambulação”, foi relembrando excertos da obra.

Esta visita de estudo teve como objectivos promover o desenvolvimento integral dos alunos,

alargando os seus conhecimentos e forma de apreensão do mundo; tomar contato com autores

e obras da Literatura Portuguesa; desenvolver nos alunos diversas competências entre as

quais, a capacidade de observação, de análise e o espírito crítico; estimular a relação do aluno

com espaços naturais e o interesse pela natureza; desenvolver o sentido estético; desenvolver

competências sociais, de forma a promover um convívio saudável entre todos.

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A ação d' Os Maias passa-se em Lisboa, na segunda metade do séc. XIX. Conta-nos a história

de três gerações da família Maia. A ação inicia-se no outono de 1875, altura em que Afonso da

Maia, nobre e rico proprietário, se instala no Ramalhete. O seu único filho – Pedro da Maia –

de carácter fraco, resultante de uma educação extremamente religiosa e protecionista, casa-

se, contra a vontade do pai, com a negreira Maria Monforte, de quem tem dois filhos – um

menino e uma menina. Mas a esposa acabaria por o abandonar para fugir com um Napolitano,

levando consigo a filha - Maria Eduarda - de quem nunca mais se soube o paradeiro. O filho –

Carlos da Maia – viria a ser entregue aos cuidados do avô, após o suicídio de Pedro da Maia.

Carlos passa a infância com o avô, formando-se depois, em Medicina em Coimbra. Carlos

regressa a Lisboa, ao Ramalhete, após a formatura, onde se vai rodear de alguns amigos, como

o João da Ega, Alencar, Dâmaso Salcede, Euzébiozinho, o maestro Cruges, entre outros.

Seguindo os hábitos dos que o rodeavam, Carlos envolve-se com a Condessa de Gouvarinho,

que depois irá abandonar. Um dia fica deslumbrado ao conhecer Maria Eduarda, que julgava

ser mulher do brasileiro Castro Gomes. Carlos seguiu-a algum tempo sem êxito, mas acaba por

conseguir uma aproximação quando é chamado por Maria Eduarda para visitar, como médico a

governanta - Miss Sarah. Começam então os seus encontros com Maria Eduarda, visto que

Castro Gomes estava ausente. Carlos chega mesmo a comprar uma casa onde instala a amante.

Castro Gomes descobre o sucedido, através de uma carta enviada por Dâmaso Salcede, e

procura Carlos, dizendo que Maria Eduarda não era sua mulher, mas sim sua amante e que,

portanto, podia ficar com ela.

Entretanto, chega de Paris um emigrante, Sr Guimarães, que diz ter conhecido a mãe de

Maria Eduarda e que a procura para lhe entregar um cofre que, segundo ela lhe disse,

continha documentos que identificariam e garantiriam para a filha uma boa herança. Essa

mulher era Maria Monforte – a mãe de Maria Eduarda e também a mãe de Carlos. Os amantes

eram irmãos... Contudo, Carlos não aceita este facto e mantém abertamente a relação –

incestuosa – com a irmã. Afonso da Maia, o velho avô, ao receber a notícia morre de desgosto.

Ao tomar conhecimento, Maria Eduarda, agora rica, parte para o estrangeiro, e Carlos, para

se distrair, vai correr o mundo.

O romance termina com o regresso de Carlos a Lisboa, passados dez anos, e o seu

reencontro com Portugal e com Ega, que lhe diz: - "Falhámos a vida, menino!".

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Sintra e Os Maias

" Era uma linda manhã muito fresca, toda azul e branca, sem uma nuvem, com um lindo sol que aquecia, e punha nas ruas, nas fachadas das casas, barras alegres de claridade dourada."

Os Maias, Cap.VIII

"Só ao avistar o Paço descerrou os lábios: - Sim senhor, tem cachet! E foi o que mais lhe agradou - este maciço e silencioso palácio, sem florões e sem torres, patriarcalmente assentado entre o casario da vila, com as suas belas janelas manuelinas que lhe fazem um nobre semblante real, o vale aos pés, frondoso e fresco, e no alto as duas chaminés colossais, disformes, resumindo tudo, como se essa residência fosse toda ela uma cozinha talhada às proporções de uma gula de rei que cada dia come todo um reino."

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"Eram duas da tarde quando os dois amigos saíram enfim do hotel, a fazer esse passeio a Seteais - que desde Lisboa tentava tanto o maestro. Na praça, defronte das lojas vazias e silenciosas, cães vadios dormiam ao sol: através das grades da cadeia, os presos pediam esmola.(...)

" De vez em quando aparecia um bocado da serra, com a sua muralha de ameias correndo sobre as penedias, ou via-se o Castelo da Pena, solitário, lá no alto.”

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"Defronte do hotel da Lawrence, Carlos retardou o passo, mostrou-o ao Gruges. - Tem o ar mais simpático..."

“(...) o maestro declarou que preferia estar ali, ouvindo correr a água, a ver monumentos caturras... - Sintra não são pedras velhas, nem coisas góticas... Sintra é isto, uma pouca de água, um bocado de musgo... Isto é um paraíso!...”

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" - Vejam vocês isto!- gritou o Cruges, que parara, esperando-os. - isto é sublime. Era apenas um bocadito de estrada, apertada entre dois velhos muros cobertos de hera, assombreada por grandes árvores entrelaçadas, que lhe faziam um toldo de folhagem aberto à luz como uma renda: no chão tremiam manchas de sol: e, na frescura e no silêncio, uma água que se não via ia fugindo e cantando." " Mas ao chegar a Seteais, Cruges teve uma desilusão diante daquele vasto terreiro coberto de erva, com o palacete ao fundo, enxovalhado, de vidraças partidas, e erguendo pomposamente sobre o arco, em pleno céu, o seu grande escudo de armas."

(...) Iam ambos caminhando por uma das alamedas laterais, verde e fresca, de uma paz religiosa, como um claustro feito de folhagem."

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"Quando passaram o arco, encontraram Carlos sentado num dos bancos de pedra, fumando pensativamente a sua cigarrette. (...) do vale subia uma frescura e um grande ar; e algures, em baixo, sentia-se um prantear de um repuxo."

"Cruges, no entanto, encostado ao parapeito, olhava a grande planície de lavoura que se estendia em baixo, rica e bem trabalhada, repartida em quadros verde-claros e verde-escuros, que lhe faziam lembrar um pano feito de remendos assim que ele tinha na mesa do seu quarto. Tiras brancas de estrada serpeavam pelo meio(...) O mar ficava ao fundo, numa linha unida esbatida na tenuidade difusa da bruma azulada: e por cima arredondava-se um grande azul lustroso como um belo esmalte,(...)”

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" -Agora Cruges, filho, repara tu naquela tela sublime. O maestro embasbacou. No vão do arco, como dentro de uma pesada moldura de pedra, brilhava, à luz rica da tarde, um quadro maravilhoso, de uma composição quase fantástica, como a ilustração de uma bela novela de cavalaria e de amor. Era no primeiro plano o terreiro, deserto e verdejando (...) e emergindo abruptamente dessa copada linha de bosque assolhado, subia no pleno resplendor do dia, destacando vigorosamente num relevo nítido sobre o fundo do céu azul-claro, o cume airoso da serra.”