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Poesia pós moderna: Tropicalismo e poesia Marginal Franciele Laufer e Douglas Wrasse

Poesia pós moderna

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Poesia ps moderna:

Poesia ps moderna:Tropicalismo e poesia MarginalFranciele Laufer e Douglas Wrasse

Foi um movimento musical popular, mas que teve influncia sobre a poesia (poesia concreta), as artes plsticas, o teatro e o cinema.Originou-se, na dcada de 60, nos festivais de M. P. B. realizados pela TV Record.As letras das msicastinham um tom potico,fazendo crticas sociais eusando temas do cotidiano deum jeitoinovador e criativo sobre o regime militar.

Tropicalismo

Liberdade a palavra fundamental do movimento, que revolucionou a msica popular brasileira, at ento dominada pela Bossa Nova.O nome do movimento foi uma expresso colhida de um projeto ambiental do arquiteto Hlio Oiticica na exposio Nova objetividade brasileira, exposta no MAM no Rio de Janeiro, em 1967. A exposio de Oiticica relacionava o contexto das vanguardas da poca e as diversas manifestaes da arte.

-Atualizao da linguagem musical brasileira em relao ao que se vinha fazendo, especialmente na Europa (Beatles) e Estados Unidos (filosofia hippie)-Crtica aos valores ticos, morais e estticos da cultura brasileira-Rejeio tendncia lrica da MPB atravs de uma linguagem mais realista e atual-Descompromisso total com os estilos, com os modismos, com as coisas feitas e esgotadas-Adoo de uma viso latino-americana inserida na realidade cotidiana.

Tropicalismo propunha:

Com humor, irreverncia, atitudes rebeldes e anarquistas os tropicalistas procuravam combater o nacionalismo ingnuo que dominava o cenrio brasileiro, retomando o iderio e as propostas do Movimento Antropofgico de Oswald de Andrade. Dessa forma, propunham a devorao e de deglutio de todo e qualquer tipo de cultura, desde as guitarras eltricas dos Beatles at a Bossa Nova de Joo Gilberto e o "nordestinismo" de Luiz Gonzaga. (PESCANDO LETRAS, 2011, p. 1)O retorno antropofgico

A tropiclia desmistifica a tradicional msica brasileira ao colocar em conflito seus principais elementos a partir de novos dados obtidos com a associao a musica vanguarda. Assim, Caetano e os baianos levam toda esta imploso informativa para o consumo, pois produzem informao ao violarem o cdigo de conveno que o rege. Essa violao ocorre em consequncia da criao de uma nova linguagem que associa diversos elementos sonoros e visuais. (CORREA, 2009, p. 9)Desmistificando o tradicional

" Proibido Proibir", de Caetano Veloso

O tropicalismo se consolida como forma de escrita influenciada pelas concepes poticas de rupturas e experimentao, algo at ento pouco explorado na tradio das letras de nossas canes. Cubismo, simultaneidade, fragmentao, enunciao catica, iconoclastia, prosaico, jogo de palavras, desconstruo eram alguns procedimentos adotados pelos textos dos compositores tropicalistas e que lhes garantia uma posio de vanguarda no cenrio desse tempo. (QUARESMA, 2011, p. 11)

Segundo Celso Favaretto o tropicalismo surgiu mais de uma preocupao entusiasmada pela discusso do novo, do que propriamente como movimento organizado. Helisa Buarque de Hollanda, no livro Impresses de viagem: CPC, Vanguarda e desdumbe 1960/70. Diz que a descrena na significao e na linguagem desenvolvimentista coloca em debate o problema das relaes de dependncia, acirrado pelo projeto econmico vigente. O tropicalismo no foi homogneo.

Ou seja, o tropicalismo, mesmo no surgindo como um movimento organizado, cumpre seu papel de vanguarda ao atualizar a crise da linguagem que ocorria na dcada de 60, levantando questes que seriam fundamentais para a produo cultural da poca e para a superao do discurso populista-nacionalista de que os membros da Tropiclia tanto desconfiavam. (MEDEIROS, 2012, P. 29)

Os tropicalistas, influenciados pela produo de paradigmas de mudana cultural, da transformao esttica e politica da poca, indicam uma situao nova, no contexto dos acontecimentos das cidades de So Paulo e Rio de Janeiro (FAVARETTO, 1996, p.99). Essa influncia feita por meio do dialogismo que o tropicalismo faz com diversas fontes, fundamentando-se, em especial, nos princpios terico-metodolgicos esboados por Mikhail Bakhtin, onde a vida so caracterizados pelo principio dialgico.(CONTIER, 2003, P. 136)

A influncia terica

Os autores incorporaram sua expresso potica as novidades da indstria cultural (especialmente a dimenso esttica da televiso, mdia relativamente recente no cotidiano da classe mdia, que dava a tnica de uma nova forma de relaes do artista com o pblico, com uma nova conscincia dos impactos buscados), a retorica dos comcios, passeatas e manifestaes politicas, as imagens fragmentarias e justapostas do discurso cinematogrfico. (QUARESMA, 2011, p. 11)A influncia poltica nas canes.

Alis, muito da atrao que os festivais de msica exerciam sobre seu pblico advinha dessa espcie de partidarismo formava-se verdadeiras torcidas semelhantes s dos clubes de futebol: MPB versus Jovem Guarda ou MPB versus Tropiclia. E, de acordo com Chico Buarque, a disputa tambm se estendia aos msicos: havia rivalidade entre ns, mas era uma rivalidade saudvel, porque escancara. (CORREA, 2009, p. 5)

Letras de Msicas:

Alegria, AlegriaCaetano VelosoCaminhando contra o ventoSem leno e sem documentoNo sol de quase dezembroEu vouO sol se reparte em crimesEspaonaves, guerrilhasEm cardinales bonitasEu vouEm caras de presidentesEm grandes beijos de amorEm dentes, pernas, bandeirasBomba e Brigitte BardotO sol nas bancas de revistaMe enche de alegria e preguiaQuem l tanta notciaEu vouPor entre fotos e nomesOs olhos cheios de coresO peito cheio de amores vosEu vouPor que no, por que noEla pensa em casamentoE eu nunca mais fui escolaSem leno e sem documentoEu vouEu tomo uma Coca-ColaEla pensa em casamentoE uma cano me consolaEu vouPor entre fotos e nomesSem livros e sem fuzilSem fome, sem telefoneNo corao do BrasilEla nem sabe at penseiEm cantar na televisoO sol to bonitoEu vouSem leno, sem documentoNada no bolso ou nas mosEu quero seguir vivendo, amorEu vouPor que no, por que no?Por que no, por que no?Por que no, por que no?

Caetano Veloso"Quando Pero Vaz CaminhaDescobriu que as terras brasileirasEram frteis e verdejantes,Escreveu uma carta ao rei:Tudo que nela se planta,Tudo cresce e floresce.E o Gauss da poca gravou".Sobre a cabea os aviesSob os meus ps os caminhesAponta contra os chapadesMeu narizEu organizo o movimentoEu oriento o carnavalEu inauguro o monumentoNo planalto central do pasViva a Bossa, sa, saViva a Palhoa, a, a, a, aViva a Bossa, sa, saViva a Palhoa, a, a, a, aO monumento de papel crepom e prataOs olhos verdes da mulataA cabeleira escondeAtrs da verde mataO luar do sertoO monumento no tem portaA entrada uma rua antigaEstreita e tortaE no joelho uma crianaSorridente, feia e mortaEstende a moViva a mata, ta, taViva a mulata, ta, ta, ta, taViva a mata, ta, taViva a mulata, ta, ta, ta, taNo ptio interno h uma piscinaCom gua azul de AmaralinaCoqueiro, brisa e fala nordestinaE farisNa mo direita tem uma roseiraAutenticando eterna primavera

E no jardim os urubus passeiamA tarde inteira entre os girassisViva Maria, ia, iaViva a Bahia, ia, ia, ia, iaViva Maria, ia, iaViva a Bahia, ia, ia, ia, iaNo pulso esquerdo o bang-bangEm suas veias correMuito pouco sangueMas seu coraoBalana um samba de tamborimEmite acordes dissonantesPelos cinco mil alto-falantesSenhoras e senhoresEle pe os olhos grandesSobre mimViva Iracema, ma, maViva Ipanema, ma, ma, ma, maViva Iracema, ma, maViva Ipanema, ma, ma, ma, maDomingo o fino-da-bossaSegunda-feira est na fossaTera-feira vai roaPorm...O monumento bem modernoNo disse nada do modeloDo meu ternoQue tudo mais v pro infernoMeu bemQue tudo mais v pro infernoMeu bemViva a banda, da, daCarmem Miranda, da, da, da, daViva a banda, da, daCarmem Miranda, da, da, da, da

Foi um movimento cultural que buscou atravs da Literatura uma atuao distante dos padres da Academia e indiferente crtica literria. Seus pequenos textos, aliados a elementos visuais como fotografias e quadrinhos, so permeados pela coloquialidade, ironia, sarcasmo, grias e humor. Do movimento literrio, ficaram a inventividade artstica e a vitalidade criativa, suas caractersticas predominantes.representado por nomes como Paulo Leminski e Torquato Neto, Chacal e Cacasco.

Poesia Marginal ou Gerao Mimegrafo

Hlio Oiticica criou a clebre frase que sintetizaria a cultura marginal dos anos 1970

Um dosobjetivos da Poesia Marginalera propor uma crtica aos conservadorismos da sociedade, incorporando Literatura elementos e representaes da violncia diria nas grandes cidades. A expresso Gerao Mimegrafo, como ficou conhecida tambm a Poesia Marginal, estava ligada ao fato de que muitos poetas recorriam ao mimegrafo para copiar seus livros em um processo artesanal e sem qualquer tipo de vnculo com editoras, que no se interessavam pela Literatura que subvertia os padres convencionados para a arte. As poucas cpias eram vendidas para um pblico restrito, pessoas que frequentavam eventos como shows, exposies e bares ligados contracultura. (PEREZ, 2017)

Protagonizada por um grupo de artistas e intelectuais pertentes classe mdia, com amplo acesso cultura letrada, mas sem dispor de meios econmicos para patrocinar uma revoluo esttica nos moldes modernistas, a literatura marginal dos anos 70 no Brasil faz-se margem do sistema social e cultural vigente.A poesia Marginal uma manifestao de denuncia e de protesto, uma exploso de literatura geradora de poemas espontneos, mal-acabados, irnicos, coloquiais, que falam do mundo imediato do prprio poeta, zombam da cultura, escarnecem a prpria literatura.

Os poetas marginais publicaram vrios livretos, colees, jornais e revistas. Criaram o grupo Nuvem Cigana, e como principal marco foi o lanamento da antologia 26 poetas Hoje, que reuniu artistas de diferentes estilos e influncias, com um perfil ecltico. A antologia foi criticada pelos diversos poemas curtos, sem esttica de poema, com um contedo um tanto proibido, sem aparncia de literatura, e sem um padro que delimitava a apario daqueles poemas no livro. (SANTOS, 2014, P. 5)

A poesia marginal dispe de recursos de linguagem como a metfora, que marca da subjetividade lrica, a ironia, a ambiguidade, com um sentido crtico alegrico mais circunstancial e independente de comprometimento com um programa preestabelecido. E a referncia a outros textos. (SANTOS, 2014, P. 6)A poesia marginal teve um carter crtico em relao poltica da poca, e atravs da intertextualidade com efeitos de pardia esse objetivo foi alcanado. (SANTOS, 2014 ,P. 7).

Pardia e intertextualidade

Exemplo

POEMAA paisagem no vale a pena.Pesa diz-lo assim to duramente,mas o que posso fazer contra os mascaradosque penetraram os altos murose agora coabitam os aposentos desolados?J no vale a pena a manh.Os embuados chegaram em surdinae foram destroando todos os pilares,todas as primaveras, as lcidas esperanas,vultos to horrendos que paralisaram o dia.A noite no significa mais nada.As casas dormem e no significam nada.O vento cortou-se em mil fatias de desespero.Que dimenso canta alm da treva,a face repousada, os olhos claros?Afonso Henriques Neto

Fica evidente que a Poesia Marginal apresenta particularidades estticas de retomadas contnuas do chamado cnone literrio nacional, a partir de elementos intertextuais que evidenciam o intuito de parodiar e se apropriar constantemente de signos diversos, como, por exemplo, a deglutio de poetas da gerao modernista de 1922 e de outras poticas subsequentes como o Concretismo e o Poema Processo.Uma crtica literria

Nessa esteira literria, outros elementos foram anexados aos poemas, como, por exemplo, propagandas e outros cones, sobretudo da Pop Arte americana, o que demonstra uma sintonia esttica no tocante s diversas mudanas conceituais, lingusticas e visuais que a poesia estava passando naquele momento.

Contudo, a proposta esttica da marginalia, ainda encarada como um tipo de poesia que no merece destaque no mbito dos estudos desenvolvidos sobre as manifestaes literrias, mantendo-se, apenas, como ilustrao nos manuais literrios, que registram esse momento da poesia brasileira como um mero acidente no contexto da dcada de 70, ou a rotulam como uma poesia menor e sem acabamento estrutural e potico. (JNIOR, 2014, P.2).

O termo marginal numa acepo artstica, marginais so as produes que afrontam o cnone, rompendo com as normas e os paradigmas estticos vigentes. Na modernidade, uma certa posio do marginal da arte sempre foi a condio aspirada como possibilidade para a criao do novo. (OLIVEIRA, 2011, P. 31).

O marginal e o perifrico

O sentido de marginal, do ponto de vista esttico-cultural, tem uma aplicao especifica na histria da Literatura brasileira, referindo-se ao movimento da dcada de 70 do sculo XX, contrrio s formas comerciais de produo e circulao da literatura, conforme o circuito estabelecido pelas grandes editoras. (OLIVEIRA, 2011, P.31).

A periferia tambm se reveste de uma conotao politica, definida em oposio ao centro, tomado como modelo de desenvolvimento, seja econmico, dependente e heternoma, segundo essa viso, figura como uma condio perifrica de um pas significa situ-lo na relao com um modelo hegemnico, cuja matriz , via de regra, europeia, responsvel pelo estabelecimento de padres culturais e estticos, traduzidos a partir das chamadas lngua de civilizao, sobretudo o francs, o ingls e o alemo. (OLIVEIRA, 2011, P. 32)

Tanto o marginal como o perifrico so conceitos intrinsecamente ligados a modelos de representao, que pem em causa no apenas modos de significar o mundo, como tambm de produzir identidades. Essa considerao fundamental para pensarmos sobre a produo literria contempornea originadas nos morros e favelas das grandes cidades brasileiras, o modo como ela se inscreve no contexto sociocultural em que se situa, as experincias que ela traduz e as identidades que engendra.(OLIVEIRA, 2011 P. 33)

CONTIER, Arnaldo Daraya; CARVALHO, Vera A. A. T. de; FABRCIO, Ovanil; FISCHER, Catarina J.. O movimento tropicalista e a revoluo esttica. Cadernos de Ps-Graduao em Educao, Arte e Histria da Cultura, v. 3, n. 1. Mackenzie, So Paulo 2003.CORREA, Priscila Gomes. O crtico e a Tropiclia. Contemporneos Revista de Artes e Humanidade, n. 3, So Paulo, 2009.FAVARETTO, CELSO. Tropiclia, alegria, alegria. So Paulo: Ateli Editorial, 1996.JNIOR, Luiz Guilherme dos Santos. Uma reviso crtica da Poesia Marginal brasileira. Revista Estao Literria, V. 12. Londrina PR, 2014.

Referencias

MEDEIROS, Manuela Quadra de. Dilogos antropofgicos: Poesia Concreta e Tropicalismo. TCC, Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. Florianpolis, 2012. OLIVEIRA, Rejane Pivetta de. Literatura Marginal: Questionamentos teoria literria. Revista Ipotesi, v. 15, n. 2, Juiz de Fora MG, 2011. PEREZ, Luana Castro Alves. Poesia marginal. Disponvel no site: Acesso em 17/02/2017PESCANDO LETRAS. Tropicalismo e a poesia Marginal. Disponivel no site: Acesso em 22/ 12/2016.

QUARESMA, Jacqueline; SILVA, Rubens, A; ALENCAR, Valkiria; GON, Viviane; GON, Vivian. A tropiclia. So Paulo, 2011. Disponvel no site: Acesso em 17/02/2017.SANTOS, Raquel da Silva; FRAZO, Idemburgo. Literatura e histria: poesia marginal em destaque. Revista Philologus, Ano 20, N 58 Supl.: Anais do VI SINEFIL. Rio de Janeiro: CiFEFiL, jan./abr.2014.TROPICALIA. Movimento Tropicalista. Disponvel no site: Acesso em 22/12/2016.