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A N Á L I S E
Pois nossas madres van a San Simón
Cantiga de romaria Subgénero das cantigas de amigo que se distingue pela referência a romarias ou santuários. Não se trata, contudo, de composições de temática religiosa, já que, frequentemente, a peregrinação ou a capela são pretexto ou cenário do desenvolvimento da temática amorosa e profana como ocorre na conhecida cantiga Pois nossas madres van a San Simon:
Rima InterpoladaPois nossas madres van a San Simónde Val de Prados candeas queimar,nós, as meninhas, punhemos d'andarcon nossas madres, e elas entón queimen candeas por nós e por si, e nós, meninhas, bailaremos i.
Nossos amigos todos lá iránpor nos veer e andaremos nósbailand'ant'eles, fremosas, en cos,e nossas madres, pois que alá van, queimen candeas por nós e por si, e nós, meninhas, bailaremos i.
Nossos amigos irán por cousircomo bailamos, e poden veer,bailar moças de mui bon parecer,e nossas madres, pois lá queren ir, queimen candeas por nós e por si, e nós, meninhas, bailaremos i.
Pero Viviáez [CBN 698 / CV 336
abbaCC
Rima Emparelhada
Rima EmparelhadaREFRÃO
Forma: cantiga de refrão, em três coplas singulares de decassílabos agudos, de rima consoante.Esquema rimático: abbaCC; a rima é interpolada e emparelhada nas quadras e emparelhada no refrão.
Esquema Rimático:[3 x (4+2)]
Género: cantiga de amigo
Subgénero: cantiga de romaria.
Tema: amor e religiosidade do ser medieval.
Assunto: a cantiga expressa a grande alegria e entusiasmo das meninas por irem à
romaria: é que vão encontrar-se com os seus amigos e bailar enquanto que as
mães vão rezar por si e por elas, já que lá vão.
Destaca-se o refrão, muito expressivo e cheio de ritmo, que destaca a garridice das
meninas, o seu atrevimento brincalhão e o desinteresse pelo aspecto religioso;
Pois nossas madres van a San Simónde Val de Prados candeas queimar,nós, as meninhas, punhemos d'andarcon nossas madres, e elas entón queimen candeas por nós e por si, e nós, meninhas, bailaremos i.
Nossos amigos todos lá iránpor nos veer e andaremos nósbailand'ant'eles, fremosas, en cos,e nossas madres, pois que alá van, queimen candeas por nós e por si, e nós, meninhas, bailaremos i.
Nossos amigos irán por cousircomo bailamos, e poden veer,bailar moças de mui bon parecer,e nossas madres, pois lá queren ir, queimen candeas por nós e por si, e nós, meninhas, bailaremos i.
Pero Viviáez [CBN 698 / CV 336
Se as donzelas vão à romaria é para que o amigo admire a sua elegância e com elas dance; a devoção das velas, isso fica à conta das mães (tom humorístico)
Convite ao amor numa situação de romaria
Devoção alegre e um pouco fingida, que encomendava às mães a parte séria da romaria e deixa às raparigas o vagar da dança em cós, perante os namorados.
Esta referência permite classificar a cantiga
como BAILIA.
mães que vão ao santuário fazer promessas (fanatismo
religioso)
Diante das igrejas costumavam as moças em
coro, dançar à vista dos namorados e galãs.
A caracterização psicológica da rapariga traduz uma realidade intemporal
Belo retrato de costumes por ocasião das
peregrinações – a carolice das mães que
vão ao santuário fazer promessas em
contraste com a devoção superficial e
indiferente (mas assumida) das donzelas
que buscam o santuário como ponto de
referência para encontros amorosos.
Diante das igrejas costumavam as moças
em coro, dançar à vista dos namorados e
galãs.
Carácter narrativo da composição:
• acção —* ida de um grupo de donzelas, acompanhadas pelas suas mães,; uma romaria, que funciona como pretexto para dançarem e se "mostrarem” aos seus amigos;
• personagens e sua caracterização: Donzelas — temperamento juvenil presente através• da forma como se encaram: "fremosas, en cós" "moças de mui bon parecer" .• da referência ao seu poder de sedução: "Nossos amigos iram pôr cousir/como bailamos..."• da irreverência em relação a atitude das mães e à religião, presente no refrão
• Espaço —* local da romaria "San Simon de Vai de Prados".
O poeta apresenta todo um quadro de grande beleza:
meninhas que conversam, sonham e combinam entre si coisas de namoradas; irão com as mães ao templo, não porém, para orar e sim para dançar, para se exibirem aos olhos dos namorados, dos “amigos” que lá estarão para admirá-las, “cousir”. E as mães? Elas que rezem, que acendam velas ao santo, não só para si mesmas, mas também para as filhas que estarão dançando no adro. Esta é ainda hoje a psicologia das moças que vão às igrejas com as mães: para orar? Não: para namorar, para ver o namorado.
O ritmo das cobras é fortemente acentuado, mas o do refrão o é ainda mais, momento em que o entusiasmo do baile deveria ser também maior. Note-se como já aparece o provençalismo cousir, observar, admirar.
Tudo isto revela, nesta cantiga d’amigo, grandes recursos literários, conhecimentos que o povo simples, que o vulgo não poderia ter.