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POLÍTICA PÚBLICA PARA EDUCAÇÃO PENITENCIÁRIA: Panorama do debate atual e seus desafios para implantação no Brasil Provincia de Misiones / Argentina 2011 1 Eliane Leal Vasquez - GEDHEP / Brasil Edmar Souza das Neves - GEDHEP / Brasil Lucidea Portal Melo de Carvalho - GEDHEP / Brasil Zoar Monteiro de Oliveira - GEDHEP / Brasil I Encuentro Continental de Docentes y Organizaciones para la Educación en Contextos de Encierro

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POLÍTICA PÚBLICA PARA EDUCAÇÃO PENITENCIÁRIA:Panorama do debate atual e seus desafios para implantação

no Brasil

Provincia de Misiones / Argentina 2011 1

Eliane Leal Vasquez - GEDHEP / BrasilEdmar Souza das Neves - GEDHEP / Brasil

Lucidea Portal Melo de Carvalho - GEDHEP / BrasilZoar Monteiro de Oliveira - GEDHEP / Brasil

I Encuentro Continental de Docentes y Organizaciones para la Educación en Contextos de

Encierro

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1. Introdução

Neste trabalho analisamos o debate atual e desafios para implantação das Políticas Públicas para Educação Penitenciária no Brasil. O texto é constituído nas seguintes discussões: Aspectos históricos da educação penitenciária brasileira, Programa Educar para a Liberdade e a implantação das políticas públicas para educação penitenciária, resultados e considerações finais.

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1.1. Aspectos históricos da educação penitenciária brasileira

Desde a segunda metade do século XIX no Brasil a “instrução escolar” a população carcerária é mencionada no conteúdo de regulamentos penitenciários da Casa de Correção da Corte/Rio de Janeiro, Presídio de Fernando de Noronha, Casa de Correção de Porto Alegre, Colônia Correcional de Dois Reis, Casa de Correção de São Paulo e outras instituições disciplinares destinadas a cumprimento de pena com trabalho obrigatório, além das penas de galés, desterro e outras.

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Desse modo, a promoção da cultura escolar ao sujeito-preso antecede as determinações da atual Lei de Execução Penal (Lei no 7210/84). Nesse contexto, é interessante observar que a introdução da “instrução escolar na prisão” ocorreu no Brasil em paralelo à organização da instrução pública em nível de ensino primário, secundário e superior, além do período que se difundiu as bibliotecas públicas, a exemplo da estruturação da biblioteca da corte no império brasileiro. Nesse período da história das prisões no Brasil, o controle político da nação esteve nas mãos dos imperadores D. Pedro I e D. Pedro II (1822 a 1889).

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Sabe-se que no século XIX pela análise de Foucault (1977), que o estabelecimento penitenciário surgiu enquanto prisão-aparelho, isto é, instituição disciplinar destinada ao controle, vigília e punição do corpo do condenado, com base nos princípios que passaram a vigorar nessa época, as conhecidas técnicas penitenciárias. Essas técnicas se constituíram com os princípios da (correção, classificação, modulação da pena, trabalho como obrigação e direito, educação penitenciária, controle técnico da detenção e instituições anexas). Na prática do encarceramento, isto significou, à entrada da escola, igreja e hospital para o interior das prisões

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Oferta das instruções moral, religiosa e intelectual às pessoas presas

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Escola de primeiras

letras

Educação e Jovens e Adultos: escolas

(EJA)

Escolas correcionais

Séc. XIX

Séc. XX ao XXI

Início do séc. XX

Instrução moral, religiosa e escolar

Instrução moral, religiosa e escolar e prática de

atividade física

Instrução moral, religiosa, escolar, artística,

profissional e educação física

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Em síntese, a educação penitenciária brasileira vem se desenvolvendo desde a segunda metade do século XIX, orientada por uma vasta legislação e obras de diferentes áreas do conhecimento científico, como da ciência penitenciaria, e a partir do século XX, do e direito penitenciário, educação, direitos humanos, execução penal, política criminal e penitenciária e outras áreas. Quanto à realidade da oferta da educação básica às pessoas presas ou detidas, e a atuação das escolas no interior das instituições penais e instituições de medida sócio-educativa, é preciso ressaltar que a cultura que impera nessas instituições disciplinares é a cultura do controle e cultura prisional em detrimento a cultura escolar. Grupo de Estudos Direitos Humanos e

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Algumas consequências do convívio da cultura do controle, a cultura prisional e cultura escolar:

• Demora da liberação do sujeito preso ou detido de sua cela para chegar à escola.• Difíceis relações sociais entre as pessoas presas e servidores penitenciários.• Ampliação das manifestações da cultura prisional como mecanismo de resistência ao sistema de controle, vigília e punição.

• Prática de violação aos direitos humanos impedindo a promoção da cultura escolar.

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A referida problemática é pauta dos debates preparatórios para implantação das políticas públicas para educação penitenciária. Atualmente é recorrente em publicações no Brasil (2007 a 2010), resultantes de pesquisas e discussões no Fórum Mundial Social (2009):

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Políticas Públicas para Educação nas

Prisões

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1.2. Programa Educando para a Liberdade e a Implantação das Políticas Públicas para Educação Penitenciária

Neste tópico, apresentaremos a transcrição de entrevistas na íntegra realizadas no período de 11 de abril a 04 de maio de 2011 pelo Grupo de Estudos de Direitos Humanos e Educação Penitenciária – GEDHEP, com finalidade de levantar dados atuais sobre o processo de elaboração dos planos estaduais de educação em prisões no contexto do Programa Educando para a Liberdade no Brasil.

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ENTREVISTA 1: CARLOS JOSÉ PINHEIRO TEIXEIRA (MEC/SECAD)

Auto-apresentação

GEDHEP: Boa tarde! Estamos encaminhando o roteiro de entrevista. Fique a vontade para fazer a sua auto-apresentação. C.J.P.T.: Licenciado e especialista em Filosofia (UFRN), com atuação em Lógica e Ética. Mestre em Estudos da Linguagem (UFRN). Coordenador das ações de educação em prisões na Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade/Ministério da Educação no Brasil. Grupo de Estudos Direitos Humanos e

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Programa Educando para a LiberdadeGEDHEP: Como surgiu o Programa Educando para a Liberdade, nos esclareça sobre a sua coordenação, finalidade, ações pretendidas, verba para execução do seu cronograma de ações e tempo de duração? C.J.P.T.: Surgiu a partir da provocação do Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça ao Ministério da Educação em 2004. Como conseqüência foi assinado Protocolo de Intenções entre estes dois Ministérios e criado grupo de trabalho com a participação de representantes das secretarias de estaduais de educação e dos órgãos responsáveis pela administração penitenciária, com o apoio da UNESCO.

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Este grupo definiu com o Projeto Educando para a Liberdade:

• Ações e realização de seminários regionais e nacional para a definição de diretrizes para a oferta de educação nas prisões. • O Ministério da educação transferiu recursos para os estados realizarem ações de formação dos profissionais envolvidos na oferta de educação nas prisões. • Definição de Estratégias para a inclusão da população carcerária nas Políticas de Educação de Jovens e Adultos.

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• Essas estratégias foram:

Financiamento via FUNDEB; Distribuição dos livros do Programa Nacional do Livro Didático; Merenda Escolar (PNAE); Plano Nacional de Formação de professores; Assistência Técnica e Financeira via Plano de Ações Articuladas (PAR Prisional), com recursos para elaboração dos Planos Estaduais de Educação em Prisões, formação de profissionais e aquisição de acervos literários.

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OBJETIVO: Implementar as políticas públicas para educação nas prisões no Brasil.

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Implicações para a oferta da Educação Formal no Sistema Penitenciário Brasileiro

GEDHEP: Qual a relevância da Resolução CNE/CEB n° 2/2010 que normatiza as diretrizes nacionais para educação em prisões?

C.J.P.T.: As Diretrizes é o marco normativo que orienta a oferta de educação nas prisões no Brasil. Marco este que era reclamado por todos os profissionais que atuam nesta oferta. O processo de elaboração dos planos estaduais de educação em prisões ainda não foi encerrado. Em função da publicação das Diretrizes e do interesse dos Conselhos Estaduais se manifestarem sobre a matéria, o prazo de finalização destes planos passou para o final de 2011.

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GEDHEP: E quais os Estados que já concluíram a elaboração do Plano Estadual de Educação em Prisões no Brasil?

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ENTREVISTA 2: ROBERTO DA SILVA (USP)

Auto-apresentação

GEDHEP: Boa tarde! Estamos encaminhando o roteiro de entrevista. Fique a vontade para fazer a sua auto-apresentação. R.S: Roberto da Silva é pedagogo (UFMT, 1993), mestre (USP, 1998), doutor (USP, 2001) em Educação e Livre Docente em Pedagogia Social (USP, 2009). Professor do Departamento de Administração Escolar e Economia da Educação (USP).

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Participação de grupos de pesquisas no processo de elaboração de Plano Estadual de Educação em Prisões no Brasil GEDHEP: Prof. Dr. Roberto da Silva, quais os Estados em que o senhor contribuiu com a produção do plano estadual de educação em prisões? R.S: Colaborei com os estados de Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso. Participei das discussões no Rio de Janeiro, Bahia, Rondônia e Acre. Rio Grande do Norte já tem o plano e outros estados estão em fase inicial de discussão.

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Plano estadual de educação em prisões do Sistema Penitenciário de São Paulo GEDHEP: Prof. Dr. Roberto da Silva discorra sobre como se encontra o debate em São Paulo para a implantação das políticas públicas para educação em prisões, e, por conseguinte na elaboração do seu plano estadual para a referida área. R.S.: Apenas em Março de 2011 a Secretaria de Administração Penitenciária criou uma comissão para iniciar esta discussão. São Paulo tem estado ausente dos debates nacionais por óbvias rivalidades políticas com o governo federal e isso atrasou significativamente o início da discussão no estado mais importante da federação e que é responsável por cerca de 40% dos presos no Brasil. A comissão constituída por decreto do governador não contempla a participação das universidades e da sociedade civil, havendo neste exato momento uma intensa mobilização para viabilizar estas participações.

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1.3. Resultados e considerações finais

Nesse trabalho contextualizamos aspectos históricos da educação penitenciária brasileira para situar a tentativa de implantação das políticas públicas para a educação nas prisões no século XXI, como uma pauta atual do Ministério da Educação (MEC) e Ministério da Justiça (MJ). Esses ministérios por meio de cooperação institucional têm procurado através do Programa Educando para a Liberdade, promover a articulação institucional necessária para implantação das políticas públicas para a oferta da educação no sistema penitenciário brasileiro.

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Em termos concretos, o que se efetivou foram as aprovações das resoluções do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária e Conselho Nacional de Educação (CNPCP no 3/2009 e CNE/CEB n° 2/2010), que legitimam as diretrizes nacionais para oferta da educação às pessoas privadas de liberdade, como ainda, a elaboração de 4 (quatro) planos estaduais de educação nas prisões - PEEP, respectivamente nos estados: Santa Catarina, Rio Grande do Norte, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

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Apresentamos dados quantitativos que esclarecem com relação às demais unidades federadas / Brasil :

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Unidades Federadas com PEEP concluído

Unidades Federadas com PEEP previstos para conclusão

Unidades Federadas com

dados indisponíveis sobre

a elaboração do PEEP

4 14,88 % 11 44,44 % 12 40,74%

Fonte: Elaboração da exposição tabular pelo GEDHEP, 2011.

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As diretrizes nacionais para educação nas prisões visa a urgente implantação das políticas públicas para referida área, para que de fato o acesso à educação como direito social e humano se efetive a homens e mulheres que estão cumprindo penas no sistema penitenciário brasileiro, caso contrário, teremos apenas novas resoluções para a oferta da educação nas prisões, o que não garantirá a sua execução pelas unidades federadas como política criminal e penitenciária ou política pública na área da educação de jovens e adultos.

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