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PROJETO DE PESQUISA
Plano de trabalho
OBSERVATÓRIO DA EDUCAÇÃO – EDITAL 038/2010
Fomento a Estudos e Pesquisas em Educação
CAPES/INEP
Coordenação do projeto: Sandra Mara Corazza
Instituição sede: Programa de Pós-Graduação em Educação
Faculdade de Educação
Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS
Núcleo proponente: UFRGS, UFPEL, UNIOESTE, UFMT e UERGS
Apresentado a CAPES em setembro de 2010.
ESCRILEITURAS: UM MODO
DE “LER-ESCREVER” EM MEIO À VIDA
2
1. Ofício de encaminhamento do projeto:
3
2. Termo de compromisso dos participantes
Professora Sandra Mara Corazza UFRGS
Professor Silas Borges Monteiro UFMT
TERMO DE COMPROMISSO
Na qualidade de membro participante da equipe de trabalho que compõe o projeto Escrileituras:
um modo de “ler-escrever” em meio à vida, venho, através deste, balizar minha concordância com a
proposta de estudo e pesquisa apresentada em sua íntegra, bem como o meu compromisso quanto ao
cumprimento e à execução do projeto.
_________________________________________
Professor Dr. Silas Borges Monteiro / UFMT
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Professora Ester Maria Dreher Heuser UNIOESTE
Professora Carla Gonçalves Rodrigues UFPEL
TERMO DE COMPROMISSO
Na qualidade de membro participante da equipe de trabalho que compõe o projeto
Escrileituras: um modo de “ler-escrever” em meio à vida, venho, através deste, balizar minha
concordância com a proposta de estudo e pesquisa apresentada em sua íntegra, bem como o
meu compromisso quanto ao cumprimento e à execução do projeto.
_________________________________________ Professora Dra. Carla Gonçalves Rodrigues / UFPEL
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Professor Gabriel Sausen Feil UNIPAMPA
Professora Adriana Abech Branchelli EMEF Ver. Antônio Giúdice
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Professora Janete Maria do Nascimento Escola Municipal André Zenere. Toledo/PR
Professora Luciana Alves Pinto Escola Municipal André Zenere. Toledo/PR
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Professora Janice Inês Winter Ortiz Escola Municipal André Zenere. Toledo/PR
Professor João Schommer Colégio Estadual Jardim Europa. Toledo/PR
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Professa Sandra Elisete Casola Colégio Estadual Jardim Europa. Toledo/PR
Professora Shirlei Bracht Estadual Jardim Europa. Toledo/PR
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Cristiano Bedin da Costa Doutorando do PPGEDU/UFRGS
Professor Eduardo Guedes Pacheco UERGS
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Professor Deniz Nicolay UFFS
Professor Luciano Bedin da Costa SETREM
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Professor Paulo Mauro da Silva Secretaria Municipal de Educação de POA /RS
Professora Patrícia Cardinale Dalarosa Mestranda do PPGEDU / UFRGS
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3. Projeto de pesquisa nos termos do edital 038/2010/CAPES/INEP
3.1. Título do projeto:
Escrileituras: um modo de “ler-escrever” em meio à vida.
3.2. Instituições participantes: Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS Programa de Pós-Graduação em Educação / Faculdade de Educação Reitoria - Av. Paulo Gama, 110 - Porto Alegre/RS - CEP: 90040-060 Fone: (51) 3308.6000 Universidade Federal de Pelotas - UFPEL Programa de Pós-Graduação em Educação / Faculdade de Educação Rua Gomes Carneiro, 1. Centro. Pelotas/ RS - CEP 96001-970 Caixa Postal 354 · Pelotas, RS Fone: (53) 3921-1401 · FAX: (53) 3921-1268 Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE Programa de Pós-Graduação em Filosofia / Faculdade de Filosofia Rua da Faculdade, 645 - Jardim Santa Maria CEP: 85903-000 - TOLEDO – PR Telefone: (045) 3379-7000 - ramal 7127 Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT Programa de Pós-Graduação em Educação
Av. Fernando Corrêa da Costa, nº 2367 - Bairro Boa Esperança. Cuiabá-MT - 78060-900 Fone/PABX: +55 (65) 3615-8000 / FAX: +55 (65) 3628-1219
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul - UERGS Faculdade de Música / Montenegro Rua Capitão Porfírio, 2141 - Centro | Montenegro-RS CEP 95780-000 | Caixa Postal: 211 Telefone: +55 (51) 3632.1879 Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA Faculdade de Comunicação Social Rua Ver. Alberto Benevenuto, 3200 - São Borja - RS - CEP: 97670-000 Fone: (55) 3430-4323 SMED/POA - Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre Rua dos Andradas, 680 - Centro Histórico - CEP 90020-040 - Porto Alegre, RS Escola Municipal de Ensino Fundamental Vereador Antônio Giúdice - POA/RS Rua Caio Brandão de Melo, s / n. Humaitá, POA / RS Fone: 3374 1808 Escola Municipal André Zenere - Toledo/PR Rua General Câmara Leme, 1191. Jardim América. CEP: 85908-180, Toledo, PR. [email protected] Fone: 3055 8781
13
Colégio Estadual Jardim Europa – Toledo/PR Rua General Câmara, 391. Jardim Europa. Toledo – PR. CEP: 85908-180 Telefone: (0xx)45 3252-7444 jardimeuropa.seed.pr.gov.br Escola Estadual Dom José Do Despraiado Rua Dublin, S/N Bairro Rodoviária. Cuiabá, Mato Grosso. Escola Estadual Professora Paciana Torres de Santana Av. Principal, 585. Residencial Caxipó. Cuiabá/MT. CEP: 78.090-290
Telefone: (65) 3665-7247 3.3. Coordenador e equipe do projeto: Dra. Sandra Mara Corazza / UFRGS Docente responsável pela coordenação do projeto perante a CAPES. [email protected] Telefone: (51) 9919 0663 (51) 33083267 Ramal: 4151 Fax: (51) 33084120
Endereço para correspondência: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Educação, Departamento de Ensino e Currículo. Rua Paulo Gama 110, Prédio 12201, salas 808, 908, 909, Campus Central. Bairro Farroupilha. Porto Alegre, RS - Brasil CEP: 90046-900
Dra. Carla Gonçalves Rodrigues Professora da UFPel [email protected] Telefone: (53) 91399519 ou 32233168. Av. Dom Joaquim, 529 ap. 301. Pelotas / RS CEP: 96020 260
Dra. Ester Maria Dreher Heuser Professora da UNIOESTE [email protected] Telefone: (45) 88273307 Rua Dom Pedro II, 2789 / 102. Toledo / PR CEP: 85902010 Dr. Silas Borges Monteiro Professor da UFMT [email protected] Telefone: (65) 3615.8422
Av. Fernando Corrêa da Costa, 2.367 - Boa Esperança. Cuiabá - Mato Grosso CEP 78.060-900
Grupo de Pesquisa DIF – artistagens, fabulações, variações vinculado ao CNPQ Pesquisadores integrantes e colaboradores:
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Eduardo Guedes Pacheco Professor da UERGS – Montenegro/RS Faculdade de Música [email protected] Telefone: 55 99857536 / 55 32234399 Rua Bekcer Pinto 232/302 Bairro Dores – Santa Maria / RS CEP: 97050/070 Dr. Gabriel Sausen Feil Professor da UNIPAMPA – São Borja/RS Faculdade de Comunicação Social [email protected] Telefone: (55) 9972-8657 Rua Bompland 525, apto 03. Bairro Maria do Carmo. São Borja, RS CEP: 97670-000
Dr. Deniz Nicolay [email protected] Prof. de Fundamentos da Educação UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL - UFFS Campus - Cerro Largo - RS - Brasil
Rua João Sebastiany, 16 CEP: 97900 000 Fone: 055 3359 -2014
Cristiano Bedin da costa Doutorando do PPGEDU / UFRGS [email protected] Rua Grão Pará, 75 / 204. Bairro Menino Deus. POA/RS CEP: 90850-170 Telefone: 51 32079471 Patrícia Cardinale Dalarosa Mestranda do PPGEDU / UFRGS [email protected] Rua Vasco da Gama, 214 / 701. Bairro Bom Fim. POA/RS CEP: 90420-110 Telefone: 51 8142 3750 / 51 3377 9445
Dr. Luciano Bedim da Costa [email protected]
Professor da Sociedade Educacional Três de Maio / SETREM Av. Santa Rosa, 2405
Três de Maio / RS – CEP 98910-000
Fone / Fax: (55) 35351011
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Professores da rede pública de ensino:
Adriana Abech Branchelli Profª da Escola Municipal de Ensino Fundamental Vereador Antônio Giúdice. POA/RS Fonoaudióloga e especialista em Linguagem e Letramento. [email protected] Telefone: (51) 9218 8806 Rua Joaquim G. de Campos Netto, 122 / 303. Bairro Jardim Planalto. POA/RS Paulo Mauro da Silva Professor do Centro Municipal de Educação do Trabalhador Paulo Freire. POA/RS Coordenador da Educação de Jovens e Adultos na SMED/POA. Possui formação em Artes Cênicas e Direção Teatral. [email protected] Telefone: (51) 9958 4908 Rua dos Andradas, 680. 8° andar / Edu. Jovens e Adultos. Centro Histórico. POA/RS
CEP 90020-040 Janete Márcia Do Nascimento Professora da Escola Municipal André Zenere. Toledo/PR [email protected] Telefone: (45) 9917-9258 / (45) 3252-5535 (residencial) Endereço para correspondência: Rua 1º de Maio, 2198 - fundos, Jardim Alto Alegre Toledo – Paraná Janice Inês Winter Ortiz Professora da Escola Municipal André Zenere. Toledo/PR [email protected] Fone. 45 3055 8781 Rua Manoel Bandeira, 12. Vila Pedrini 2, Toledo/PR CEP: 88029 808
Luciana Alves Pinto Professora da Escola Municipal André Zenere. Toledo/PR [email protected] Fone: (45) 3055 8781 Rua Peru, 379. Ouro Verde do Oeste. Toledo/PR CEP: 85933-000 Sandra Elisete Casola Professora do Colégio Estadual Jardim Europa. Toledo/PR [email protected] Fone: (45) 32779626 Rua Miraldo Pedro Zibetti, 443. Jardim Santa Maria. Toledo/PR CEP: 85.903-160 Shirlei Bracht Professora do Colégio Estadual Jardim Europa. Toledo/PR [email protected] Fone: (45) 3252 – 3547 (45) 9914 – 3946 Av. Maripá, 1528. Jardim Europa. Toledo/PR CEP: 85.909-060
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João Luis Schommer Professor do Colégio Estadual Jardim Europa. Toledo/PR [email protected] / [email protected] Fone: (45) 325-6617 / (45) 9972 – 3385 Rua Santos Dumont, 1810 - Edifício Porta do Sol, Ap. 01 – Centro. Toledo/PR 3.4. Docentes responsáveis pela coordenação: Professora Dra. Sandra Mara Corazza / UFRGS http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhepesq.jsp?pesq=5125809962363078
Professor Dr. Silas Borges Monteiro / UFMT http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhepesq.jsp?pesq=1235153651563231 Professora Dra. Carla Gonçalves Rodrigues / UFPEL http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhepesq.jsp?pesq=7498311941583904
Professora Dra. Ester Maria Dreher Heuser / UNIOESTE http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhepesq.jsp?pesq=5548908138476554
3.5. Detalhamento do projeto:
Eixos temáticos:
Educação básica
Educação de jovens e adultos
Superior: alunos de licenciaturas
Profissional: professores da rede pública de ensino
Linha de pesquisa:
Filosofias da Diferença e Educação
Justificativa:
Com base nos dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais (INEP) acerca do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(IDEB), concordamos com a necessidade da criação de propostas de estudos e de
pesquisas empenhadas na qualificação da Educação Básica no Brasil. Sabe-se que
uma das metas estabelecidas pelo MEC no Plano de Desenvolvimento da Educação
(PDE) é, justamente, elevar o IDEB brasileiro. Contudo, para que se concretize a
elevação dos índices educacionais, torna-se cada vez mais imprescindível o
investimento em ações voltadas à importância do processo de alfabetização em
crianças, jovens e adultos nas diferentes etapas da aprendizagem. Nesse sentido, o
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projeto de estudo e pesquisa aqui apresentado, oferece parceria e solidariedade às
atuais preocupações do governo federal em relação à qualidade do ensino público.
Escrileituras: um modo de “ler-escrever” em meio à vida insere-se, portanto,
num cenário que busca alternativas de compreensão e de superação dos resultados
apontados pelo INEP; principalmente aqueles que sinalizam as dificuldades de
linguagem na escola, expressadas pela grande maioria dos alunos da Educação
Básica através da avaliação da Prova Brasil. Dificuldades, estas, pelos mais diversos
motivos, relacionadas ao próprio uso e produção da linguagem, ou seja, relacionadas
à associação entre conteúdos escolares e operações mentais que envolvam leitura,
interpretação, escrita, variações acerca de um mesmo tema, relações entre fatos,
saberes e locais, diferentes usos da linguagem, singularizações, raridades, processos
de pensamento e de expressão, relações espaciais, temporais e históricas,
sensibilidade para as artes como modo de expressão e de invenção, bem como as
habilidades e competências necessárias ao estabelecimento de problemas no campo
das ciências exatas.
Como se trata de um projeto desdobrado em oficinas de escrileitura, operamos
com este conceito a partir das indicações de Corazza (2007): como texto que
reivindica uma postura multivalente do leitor, de co-autoria. Assim, a idéia da escrita
como um processo de escrileitura, remetido a uma “escrita-pela-leitura” ou uma
“leitura-pela-escrita”, propõe um texto aberto às interferências do leitor e, portanto,
sempre escrevível de diferentes maneiras. Trata-se do texto produtivo, ou seja, do
texto que ganha existência na medida em que o seu leitor é um produtor de
significações
Nesse sentido, é com o espírito da produção que o plano de trabalho, aqui
apresentado, se justifica enquanto modo de intervenção bio-filosófico-pedagógica nas
aprendizagens que, por excelência, envolvem processos de alfabetização e de
desenvolvimento do potencial humano criativo em diferentes etapas da Educação
Básica e Superior. Sua extensão aborda a alfabetização como prática e como conceito
que está para além de uma apropriação do código da escrita, sabidamente necessário
para responder de maneira satisfatória às demandas sociais. Entende-se a leitura e a
escrita como práticas que acontecem em diferentes suportes, de múltiplos modos;
como ações criadoras de sentidos diferentes para cada “leitor-escritor” em seus
processos de subjetivação e que, portanto, entram na linguagem em suas variadas
formas. Nessa perspectiva, propõe-se a criação de outros modos de pensar o vivido
no campo das singularidades, oportunizando, através das oficinas de escritura, a
experimentação de outras maneiras de expressão, de afectos e de modos de enfrentar
e de ordenar o que ainda não está materializado no campo da aprendizagem.
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O trabalho com oficinas de escritura implica, necessariamente, o campo do
vivido, dos sentidos, das sensações ou das invenções. Cada uma das oficinas
compreende um convite à escrita e à leitura: escrileitura que se desdobrará em
saberes, histórias, aventuras, problematizações, musicalidade, arte, fantasias e
fruições.
Deseja-se um encontro produzido na multiplicidade do “leitor-escritor-texto”, no
qual o texto se exerça como um ato de sedução do pensamento, que seduz o outro
porque o deseja. Em Barthes (2008, p. 20), temos que “o brio do texto (sem o qual, em
suma, não há texto) seria a sua vontade de fruição: lá onde ele excede a procura,
ultrapassa a tagarelice e através do qual tenta transbordar, forçar o embargo dos
adjetivos – que são essas portas da linguagem por onde o ideológico e o imaginário
penetram em grandes ondas”. Um modo de texto por onde o autor seja entornado na
própria intersecção “escrita-leitura”, cujo processo de decomposição e de
desocupação dos territórios identitários, permita uma possibilidade de abertura ao
inusitado, à raridade e ao desejo de escrever.
Trata-se de um projeto que pretende explorar e ampliar as possibilidades do
trabalho com diferentes linguagens, provocando outros modos de relação com a
escrita, com a leitura e com a vida. A modalidade de ação proposta através de
oficinas, nesse sentido, compreende a experimentação como condição da
aprendizagem, uma vez que possa convocar para a ação do pensamento. Investe-se,
portanto, em processos disparadores da criação textual, na medida em que colocam
um problema em cena: a ser lido, falado, enunciado, perguntado, transformado e
escrito em suas variadas formas.
Para a escrita que acontece nas aberturas experimentais, o conceito de
experimentação aqui utilizado, ultrapassa a idéia ilusionista de uma etapa
metodológica previsível e garantida ao acesso ou à comprovação do conhecimento.
As experimentações textuais propostas neste projeto, não buscarão a generalização
do particular ou a comprovação de quaisquer tipos de “evidências”, tampouco
compreenderão a noção de conhecimento como algo de uma natureza exclusivamente
empírica ou ainda passível de desvelamento. Mas tratarão, como encontramos em
Nietzsche (2005), da vida como obra de arte: do desordenamento necessário à
criação; da idéia de afetação, de transgressão e de abertura ao encontro inesperado
com outro corpo, seja ele um texto, uma imagem, uma pergunta, um pensamento, um
humano... Trata-se de por em experimentação o que não se conhece, através de uma
espécie de infância do mundo. E, na extensão de sua estrangeiridade, fazer falar e
escrever outra língua na liberação de forças mais criativas.
19
O conceito de escrileitura, portanto, insere este projeto na dimensão imaginativa
de toda a escritura ou texto de fruição. Ou seja, lidará com os modos de produção e de
inscrição de sentidos, de histórias, de vidas, de coisas no mundo, etc; que acontecem
através e nas brechas experimentais, situadas entre espaçamentos não pensados, no
imenso campo de possibilidades que há entre os objetos brutos, para dizer da
importância do outrem na criação. A escrileitura, como exercício imaginativo, encontra-
se na própria experimentação do pensamento. Está na abertura. Ela pode produzir
intensidades de tal modo que se distribuam para além do deslocamento físico. Como
no olhar de Deleuze (2001), é muito viável que se possa experimentar todo o tipo de
vida sem, necessariamente, qualquer movimentação mecânica ou instalação do real:
As intensidades se distribuem no espaço ou em outros sistemas que não precisam ser espaços externos. Garanto que, quando leio um livro que acho bonito, ou quando ouço uma música que acho bonita, tenho a sensação de passar por emoções que nenhuma viagem me permitiu conhecer.
Assim, as escrileituras podem abrir um universo de sentidos e de imagens
outras; entre estas, é possível visualizar a figura do rizoma, por exemplo, abordada em
Deleuze. Tessituras, velocidades, conexões, intensidades, singularização.
Esquizolinhas... "Não existem pontos ou posições num rizoma como se encontra numa
estrutura, numa árvore, numa raiz. Existem somente linhas" (DELEUZE; GUATTARI,
1995, p.17). Portanto, "há tipos de linhas muito diferentes na arte, mas também numa
sociedade, numa pessoa" (DELEUZE; GUATTARI, 1992, p. 47). Interessam, aqui, as
noções de encontro, de acontecimento e de interceptação do Mesmo, para pensar e
produzir novas escritas e aprendizagens. A experimentação, neste plano de trabalho,
é entendida como algo que possa forçar o pensamento, com a potência do
esfacelamento necessário daquilo que impede o estabelecimento de outros modos de
relações, de outras aprendizagens. É tributária da noção de corpo rizomático,
atravessado e composto por uma infinidade de linhas e de fluxos que fogem ao infinito,
atravessado por cheiros, imagens, hormônios, afetos, sensações, ondas sonoras,
gravitacionais, dinamizadas... Enfim, um modo de produção textual que possa fazer
saltar do sítio sombreado de velhas árvores conhecidas do Éden (representacional)
em direção à massa disforme da imaginação, por onde brotam desertos, saqueadores,
combates, festas dionisíacas e intensidades que não se submetem ao impedimento
cognitivo, mas que inauguram novas formas de “ler-escrever”.
As leituras de Foucault (2007) e Deleuze (1997) permitem-nos pensar o
escrileitor como um corpo que escorrega sobre a superfície livre, capaz de navegar a
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experimentação da escrita em toda a sua extensão, mas que também necessita de
estriamentos para que possa estabelecer territórios de aprendizagem.
A produção de escrileituras pode referir um contágio ou um convite do “escritor-
leitor” à invenção de outra língua, na aventura da criação e da reverberação de novos
sentidos, por onde não há suporte ao “re-sentimento”. No entanto, se a linguagem
dispõe-se ao infinito, na fabricação de conceitos que se articulam ilimitadamente, a
palavra, de certa forma, impõe limites aos significados que pode expressar. As
palavras, a serviço de nomeações e de generalizações do comunicável, sugerem uma
compreensão finita da realidade. Assim posto, a escrileitura se ocupará de conexões
estrangeiras à palavra em si mesma, que justamente a transbordam em sua
materialidade para inscrever-se na inauguração de uma língua escapista e inventora
de conectores.
Trata-se da dispersão lingüística produzida nos espaços intermediários da
comunicação. Espaços, estes, situados entre o dito (nomeado) e o “não dito”. Brechas
por onde a língua se distrai dos modelos representacionais e força a palavra a fazer
outros nexos, a dizer o que ela não poderia dizer. Quando faz passar o pensamento e
abre-se para a repetição da singularidade. Nesse sentido, o escrileitor pode ser
entendido enquanto corpo-aberto ao movimento da criação de conceitos, como se
estes fossem a própria encosta do „guardador de textos‟, como que um lugar de
abrigo, uma casa movediça com janelas e portas abertas. Os conceitos, diz Deleuze
(1997, p.51), “são totalidades fragmentárias que não se ajustam umas às outras, já
que suas bordas não coincidem. Eles nascem de um lance de dados, não compõem
um quebra-cabeça. E, todavia, eles ressoam...”. Para fazer ressoar um conceito, o
escritor passa pela terra desértica, pré-conceitual e anterior à escrita: lugar de
reverberação da história. Neste plano, um conceito pode retumbar e somar-se a
outro(s), produzindo um terceiro, quarto, quinto.... novo conceito, inaugurando a
diferença a cada repetição, conexão e deslocamento conceitual. A criação, nesse
sentido, é uma necessidade de efetuação, produzida pelo estancamento do fluxo já
conhecido e contínuo: quando algo do fora da linguagem força o descontínuo de uma
existência em sua diferenciação.
Em Diferença e repetição, Deleuze (1988) propõe a reversão do conceito de
repetição. O filósofo parte do suposto de que a repetição não é a generalidade,
opondo-a exatamente àquilo que compreendemos enquanto reprodução do Mesmo.
Isso faz nexo com a ótica pela qual é possível tratar a dinâmica da repetição lingüística
sem ligá-la às idéias de equivalência ou semelhança. Nesse sentido, o escrileitor pode
produzir seu texto no arranjo de conceitos, criando novas linguagens num processo
de repetição como comportamento, mas em relação a algo único ou singular, algo que
21
não tenha semelhante ou equivalente. Do ponto de vista da repetição do semelhante
(da generalidade), enxerga-se a representação do particular como se fosse o próprio
particular (supostamente substituído) e ignora-se qualquer possibilidade de diferença:
importa, aqui, a cópia do modelo, ou seja, a escrita descritiva. Trata-se da
generalização do particular. Assim, enxerga-se um texto-desenho como representação
de algo, de algo passível de substituição. No entanto, do ponto de vista da “repetição”
diferencial, proposta por Deleuze (na reversão do conceito), enxerga-se uma
singularidade sem equivalente, insubstituível. Sua potência está em introduzir a
diferença. Um texto decorado, será sempre outro a cada repetição: no lugar do Mesmo
se instala, agora, a diferença. Escrever, nesse sentido, é singularizar algo durante um
processo de aventura que se repete.
Tomar a escrita e a leitura como aventura, é, necessariamente, vê-las como um
exercício de pensamento. Sendo assim, cada exercício de pensamento refere uma
temporalidade própria ao período de sua viagem: com paradas provisórias,
velocidades que passam da aceleração infinita às lentidões necessárias,
esgotamentos, vôos alucinados, desatinos, excessos, escassezes de idéias,
combates, multidões, inspiração, musicalidade, solidão e fome. É dizer de uma
escrileitura que solicita outro tempo que não este, cronológico, mas que pede
passagem para existir ao seu modo, de outras maneiras possíveis de inscrever
sentidos e signos, no qual a mudança de posição e de significações dos códigos
também abra passagem às escritas formais; posto que o sucesso escolar implica,
essencialmente, o exercício das práticas sociais de leitura, numeramento, oralidade e
escrita.
Mediante ao plano de trabalho apresentado, em sua dimensão multidisciplinar da
alfabetização, trata-se de desenvolver estudos e atividades no campo das múltiplas
linguagens expressas nas oficinas propostas: biografemática, filosófica, musical,
teatral, artística visual e lógico-matemática.
Objetivos:
Produzir, em nível de mestrado e de doutorado, estudos relacionados ao
conceito de aprendizagem, de letramento e de escrileitura na
contemporaneidade.
Investigar as relações entre modalidades de pensar e modalidades do
aprender.
Constituir espaços de pesquisa e de in(ter)venção nos modos de ler e de
escrever.
22
Contribuir na formação de recursos humanos em educação, através de
experimentações previstas com docentes da rede pública de ensino e com
alunos de licenciaturas.
Criar, nas oficinas de escritura, cenários de autoria e leitura junto aos alunos da
Educação Básica (Ensino Fundamental, Médio e Educação de Jovens e
Adultos) envolvidos no projeto.
Expandir o conceito de texto para além das noções de registro e prazer, que
permita uma possibilidade ao inusitado, à raridade e ao desejo de ler e de
escrever, ultrapassando assim as escolhas definidas por territórios identitários.
Desenvolver Oficinas, Colóquios, Cursos de Extensão e Ciclos de
Conferências, orientados e ministrados pela equipe do projeto; professores da
Linha de Pesquisa 09 Filosofia da Diferença e Educação do PPGEDU/UFRGS;
bem como por pesquisadores integrantes e colaboradores do Grupo de
Pesquisa DIF – artistagens, fabulações, variações;
Metodologia:
Pensar um método que pensa o próprio caminho da investigação, que se utiliza
de um percurso desconhecido para traçar desvios e operar outras rupturas no já
sabido, reconhecido e legítimo. Um método que pode estabelecer suspeitas e propor a
reversão dos saberes pretensiosamente universais. Poder-se-ia dizer que se trata do
método genealógico inaugurado por Foucault em 1961, na História da Loucura. No
entanto, é bem possível que esta “inovação metodológica”, como bem refere Roberto
Machado na introdução do livro Microfísica do poder (Foucault, 1990), nos sirva para
pensar o pensamento e os saberes tanto discursivos quanto não-discursivos
produzidos ao longo da história da Educação em seus dinamismos espaço-temporais.
Pesquisar acerca da efetuação de um determinado saber em diferentes épocas
e em diferentes locais, a fim de pensar os meios e as condições que possibilitaram o
seu surgimento, bem como a instituição de uma nova prática discursiva nomeada por
letramento. Trata-se de uma abordagem acerca das relações entre os saberes,
observando as compatibilidades e as incompatibilidades que permitem individualizar
formações discursivas, uma vez que são produzidas em espacialidades e
temporalidades distintas; ou, ainda, “... uma forma de história que dê conta da
constituição dos saberes, dos discursos, dos domínios de objeto, etc., sem ter que se
referir a um sujeito...” (Foucault, 1990, p. 7).
O método foucaultiano, tributado na análise dos conceitos que este projeto
convoca a pensar, sejam eles todos atravessados pelas noções de letramento, texto,
23
aprendizagem, pensamento e criação; implica, de antemão, uma ruptura com a noção
de “sujeito-unidade”, portador de uma essência ou humanisticamente transcendente
(ao modo como é tratado na filosofia humanista do pensamento moderno), e nos leva
a incursionar outro conceito de sujeito. Como forma de superação do platonismo
analítico-cristão da finitude, Foucault propõe uma concepção de sujeito bastante
afastada do cartesianismo e da análise kantiana ao perguntar-se: “qual é, pois, a
relação e a difícil interdependência entre o ser o pensamento? Que é o ser do homem,
e como pode ocorrer que esse ser, que se poderia tão facilmente caracterizar pelo fato
de que „ele tem pensamento‟ e que talvez seja o único a possuí-lo, tenha uma relação
indelével e fundamental com o impensado? (Foucault, 1999, p.448). Há, portanto, uma
interrogação acerca do modo de ser do homem e sua relação com o pensado e o
impensado transcendental. Propõe-se, no entanto, que o pensamento se dirige ao
impensado e com ele se articula, de modo que o sujeito seja contemporâneo do
impensado e não posterior a ele, como propunha a analítica da finitude. Não sendo
funcionário de pensamentos ainda não pensados (universais e anteriores a si mesmo),
o sujeito pode ser tratado como uma realidade histórica do presente, constituída por
determinados saberes. Posto assim, não há como tirar-lhe todas as máscaras para,
enfim, desvelar uma identidade primeira, justo porque não haveria uma identidade
recolhida em si mesma. A pesquisa genealógica, ao contrário, voltar-se-á para as
aventuras e desvios que puderam ter acontecido, bem como a todo tipo de disfarce
possível. O genealogista, por assim dizer, é uma espécie de “escutador” da história,
que recusa a pesquisa da origem, como bem sugere Nietzsche ao tornar-se um
sintomatologista da civilização.
Nesse sentido, a força do método proposto por este projeto de pesquisa, de
inspiração nietzscheana, foucaultiana e deleuziana, além de problematizar e
desconstruir as noções de letramento vinculadas à filosofia humanista, principalmente
aquelas implicadas por conceitos de sujeito, de realidade e de verdade, também nos
arremessa à experimentação da terra desconhecida (a ser pesquisada), sem a firmeza
do solo platônico-cristão das representações. Foucault, em um devir estrangeiro, nos
arrasta à estrangeiridade da pesquisa e ao estranhamento de todo o tipo de convicção
quando topamos o convite do arqueólogo em seu “trabalho-viagem” exploratório. É
como arqueólogos, então, que nos colocaremos ao lançar mão do método genealógico
da dispersão, ou seja, de um método cuja preocupação maior está justamente no jogo
do discurso, no jogo que lhe é imanente, no qual seus enunciados aparecem de modo
disperso e heterogêneo, em um estado tal de revezamento que permite trocas de
posições, supressões, substituições e aparições descontínuas, em estado dançante,
molecular e caóide; ao qual pode-se imprimir, a qualquer tempo e interesse, um
24
determinado ordenamento político. Cabe ao método genealógico, então, pesquisar
este solo de estabelecimentos conceituais “verdadeiros” e supostamente universais.
Ele colocará o conceito em perspectiva genealógica, investigará as variações espaço-
temporais e mudará as perguntas generalizadoras que buscam “o que é aprender?”; “o
que é ensinar?”; “o que é ler?”; o que é escrever?”; “o que é pensar?” etc.; em
detrimento de “quais as condições possíveis para o pensamento?”; “em que
condições acontecem a leitura e a escrita?”; “como e quando surgem leitores-
escritores?”
Trata-se de uma investigação que colocará em evidência o drama do saber
investigado, posto que estará atento as suas irregularidades e variabilidades,
problematizando a sua dimensão hegemônico-representacional. É, portanto,
movimento descontínuo que nos permite explorar como exploradores em terra
desconhecida e encontrar raridades ou individuações não recobertas pela imagem do
pensamento representacional.
Nesse sentido, o pensamento de Foucault nos permite uma aproximação ao
pensamento deleuziano. Permite que pensemos a pesquisa como aventura ou
viagem... Da qual não se pode desembarcar com o mesmo corpo. De uma aventura
que nos coloca a conhecer caminhos ainda não pensados, que revertem palavras de
seus sentidos e fazem escapar o pensamento. Há quem chame de a grande aventura
do espírito, em se tratando de nossas corporeidades. É a aventura do nascimento e da
morte, do acontecimento que nos torna inteiramente outro: por onde não há mais
reconhecimento, mas as possibilidades conceituais da linguagem.
Portanto, a pesquisa propõe-se a enfrentar o “perigoso” plano de imanência,
sobre o qual os corpos encontrarão velocidades e variações infinitas. Por onde “o
pensamento reivindica somente o movimento que pode ser levado ao infinito” (Deleuze
e Guattari, 1997, p. 53). Em Deleuze, um conceito é um estado caóide. Algo desta
afirmação compõe a imagem de um mergulho no caos, no fora da linguagem
representacional. Deste mergulho, breve, opera-se um retorno de pensamento: do
caos tornado consistente. Uma espécie de salto radical sobre a loucura, na inversão
das palavras, no reverso dos sentidos, no abandono de convicções, no seu devir
criança... Enfim, o próprio acontecimento. O acontecimento, diz Deleuze (2000, p.
152), “não é o que acontece (acidente), ele é no que acontece o puro expresso que
nos dá sinal e nos espera”, uma vez que “o ator efetua o acontecimento...” porque lhe
é necessário e não há como não fazê-lo.
Se as caóides, as três filhas do caos, a filosofia, a ciência e a arte, são formas
de pensamento, como afirmam Deleuze e Guattari (1997), são realidades produzidas
em planos que recortam o caos. Planos, estes, que só podem coexistir na dimensão
25
de um “estado de sobrevôo”, uma forma em si de junção a qual Deleuze e Guattari em
O que é a filosofia? nomearam por cérebro. Em se tratando de uma pesquisa que
pretende ocupar-se da aprendizagem enquanto processo de pensamento e, portanto,
produtora de leituras e de escritas desejantes, há de se retornar do estado caótico:
traçar um programa e cartografar o ambiente da pesquisa durante o próprio percurso.
Ver pontos que se sobrepõem, ver as recorrências, os detalhes de raridade. Trata-se
de um método que só é possível no tempo lógico de sua produção. Estabelecido nas
fronteiras do território pesquisado, possui bordas que demarcam extensões de forças,
cujas contrações podem, a qualquer tempo, ora repulsar e ora aspirar outros objetos
de análise.
Arqueologicamente, as oficinas de escritura constituem uma metodologia
encenada, que deseja colocar o pensamento em cena, desde um modo possível de
pesquisar, desalojado de um contínuo de procedimentos pré-definidos, mas que
compõem uma prática a ser inventada, documentada, analisada e produtora de
sentidos, afecções, conceitos, relações e aprendizagens.
Nesse “com-texto” de procedimentos, pretende-se constituir uma dinâmica em
dois planos: um, diz respeito à modalidade das oficinas enquanto modo de intervenção
na leitura e na escrita de seus integrantes; o outro, coexistente a este, compreende a
investigação acerca dos movimentos de pensamento, leitura e escrita que se
expressam através das oficinas, envolvendo processos mentais de diferentes ordens:
do lógico-matemático-científico, das artes e das problematizações.
A metodologia de trabalho empregada no projeto Escrileituras: um modo de
“ler-escrever” em meio a vida, compreende um modo de intervenção investigativa
nas formas de aprender e, como tal, prevê a modalidade de oficinas como estratégia
de experimentações textuais. Para tanto, refere um plano de trabalho organizado em
tempos, espaços e propostas específicas a cada encontro.
Em relação aos locais de desenvolvimento das oficinas, considera-se
imprescindível que as instituições escolares estejam de acordo com o projeto e que
expressem seu conhecimento e congruência. Nesse sentido, como condição para a
qualidade do trabalho, propõe-se uma relação de parceria junto às respectivas
escolas, principalmente naquilo que diz respeito ao seu funcionamento: contribuição
pedagógica e utilização do espaço físico de forma adequada.
CARACTERÍSTICAS DO EIXO COMUM ÀS OFICINAS
Transdisciplinaridade
26
Imersão no estrangeiro através de experimentações com texto e com a leitura
Aportagem de problematizações acerca do cotidiano
Vivência de diferentes processos de singularização (seu, do outro, do grupo)
Articulação com a docência da investigação
Produção escrita em todas as modalidades de oficinas
Espaço de correlações entre leitura, invenção, sensações, afectos e
pensamento
EIXOS ESPECÍFICOS DE CADA OFICINA
Artes Visuais
Experimentação de coisas percebidas mas ainda não estratificadas e
conhecidas, o que significaria “ver com os olhos” através das sensações. Como em
Valéry (2003), operar uma certa disjunção entre o intelecto e a sensação, a fim de
fazer contato com a imagem em seu estado anterior à interpretação, numa espécie de
apreensão do fenômeno ainda não codificado no plano dos valores, mas passível de
constituir-se como ponto de partida para a sua escritura. Uma escrita que se efetua na
expressão do desconhecido, demoradamente tocado pelos olhos e mãos que, por
necessidade, colocarão a visão sobre um suporte. Trata-se do diálogo entre o eu que
vê e o eu que desenha ou escreve em processo de criação; ou seja, inventa-se
mesmo aquilo que seja mais familiar (na medida em que o modo de ver é inventado
através de sua expressão).
Partindo da pergunta de Deleuze (1987) em Proust e os signos: o que a
aprendizagem da literatura e da arte tem a ensinar acerca da aprendizagem? Temos
que a arte não é um alvo, um ponto fixo a ser atingido, mas um atrator caótico, um
ponto tendencial, sem possibilitar falar em regimes estáveis ou em resultados
previsíveis. Colocar a aprendizagem do ponto de vista da arte é colocá-la do ponto de
vista da invenção. A arte surge como um modo de colocação do problema do
aprender. Toda aprendizagem começa com a invenção de problemas.
E neste plano disforme do encontro, temos o nascedouro de uma escrita que faz
artistagens, cujo percurso pode liberar o pensamento “daquilo que ele pensa
silenciosamente, e permitir-lhe pensar diferentemente” (FOUCAULT, 2007, p. 14).
Assim, também, o escritor-artista se “arriscará” ao encontro daquilo que o pensamento
ainda não havia pensado.
27
Biografemas
Uma oficina de escritura biografemática: implicada por movimentos disparadores
de pensamento. O que significa escrever os detalhes de uma vida, as raridades que
passam desapercebidas ou que ainda não foram significadas e partilhadas no plano
cognitivo. Transformar detalhes insignificantes (sem significação prévia) em signos de
escrita. Utilizar estes signos (aqueles que podem encantar) como disparadores de um
novo texto, ou seja, da escrita de uma vida em experimentação e que, portanto, é
produzida na potência da invenção de sentidos. Trata-se da invenção de conectores
entre ficção e realidade, entre imaginário e história biográfica. Assim, a escritura
ficcional não é menos verdadeira do que aquela que se acredita no terreno da
verdade: cada traço, um detalhe e cada detalhe, uma nova escritura. Trata-se, nesse
sentido, do acontecimento (escrita) de uma biografia, na qual os traços são
inventariados.
Esta oficina, como as outras, convoca seus integrantes à postura da produção:
produzir com o autor do texto lido, ao ponto de tornar a escrita uma necessidade de
reinvenção do eu que escreve.
Filosofia
Uma proposta de escrita por dentro do próprio texto, no qual o “dentro”
comunica-se com o “fora” da escrita e, na mesma superfície, passa a conversar com
quem o escreve: objetos que se produzem e ganham vida no exercício da linguagem,
e que passam a dialogar e a produzir encontros de autorias inesperadas. O
“escrileitor” é também considerado texto, pretexto, personagem e escritor que
experimenta a superfície movediça do vivido. Ele compõe autoria com o que encontra
ou com quem quer que seja que o encontre.
Uma oficina provocadora de sentidos e produtora de conceitos na
experimentação de sensações, afectos, desejos e outras maneiras de ser e de
escrever o inefável... O texto, portanto, é único, múltiplo e infinito, porque ele se fabrica
durante o processo da oficina e toma a direção que lhe surge com mais energia,
durante a ocorrência de vetores que desafiam a gravidade das forças.
Descontinuamente, novas conexões de conceitos provocam o pensamento e permitem
uma existência possível no campo da linguagem. Cossutta (2001, p. 40) faz referência
ao “intermediário entre a imagem e a forma, entre o vivido e o abstrato” em sua
abordagem acerca do conceito. Quanto à semântica conceitual, Cossutta sugere que o
conceito “é construído no seio da própria atividade filosófica” e que “o texto rearticula
conjuntos nocionais, desloca sentidos fixados e cria expressões novas...”. (p. 42).
Nessa perspectiva, a escrita se constitui e se organiza internamente través dos
28
conceitos que consegue anexar ou inventar nas próprias amarrações que se
estabelecem. É experimentação de vida na medida em que fabrica aberturas à escrita
compartilhada no encontro, através do qual, leitores e escritores podem trocar de
papéis e participar um da escrita do outro: quando ler e escrever se confunde na
própria coexistência.
Nesse sentido, o pensamento está na criação de conceitos sempre possíveis,
que inspiram a pensar a vida como campo de forças e de multiplicidades, como
encontramos em Deleuze (1997, p. 10) ao afirma “... filosofia é a arte de formar, de
inventar, de fabricar conceitos.”
Pensamento lógico-matemático
Esta oficina considera a ciência um campo do pensamento e, portanto, uma
modalidade de aprendizagem que demanda a ordenação lógica do conhecimento.
Envolve, portanto, o estabelecimento de relações entre espaço, forma, grandezas,
medidas, números, operações, funções, bem como os modos de tratamento das
informações organizadas.
Nesse sentido, desenvolver a potência do pensamento lógico-matemático
implica a criação de desafios científicos, ou seja, um espaço de produção das
perguntas necessárias à pesquisa e, conseqüentemente, à ordenação de objetos e de
funções.
Música e corpo
Musicalização como possibilidade de invenção, de sensibilização e de
problematização. Esta oficina trata a música como um modo de expressão da
linguagem que ela própria fabrica. Sua potência consiste, justamente, na abertura a
outros modos de sentir e de pensar o cotidiano e, portanto, buscará a criação de
conectores possíveis entre os modos de expressão musical e escrita. Serão realizadas
audições, performances e composições que possam colocar a música e a escritura em
estado de coexistência.
Para o escrileitor, escrever é dar passagem à vibração dos sentidos e daquilo
que se pensa, através, mesmo, do modo de olhar e experimentar o mundo. Assim, ele
sugere ter olhos na ponta dos dedos para tocar a vida com vida. Ter olhos até na
ponta da língua para sentir o gosto de tudo pela primeira vez, como se enchesse de
estrelas o próprio céu da boca. Ou seja, trata-se de pensar com o corpo, de dentro do
mundo, longe de qualquer neutralidade, assepsia ou distanciamento científico; é,
também, sentir-se com o corpo todo, deixar-se tocar e colocar-se num estranhamento
29
sonoro, como que uma viagem à infância que habita todo o tipo de novidade e se torna
necessária ao espírito.
Importa o que se processa no encontro dos corpos: tímpano, pandeiro, mãos,
papel, cordas vocais, etc. Para além dos significados do corpo e do pensamento em si
mesmos. O que há nos corpos, diz Deleuze (2000, p. 6), “são misturas: um corpo
penetra outro e coexiste com ele em todas as suas partes, como a gota de vinho no
mar ou o fogo no ferro. Um corpo se retira de outro, como o líquido de um vaso.”
Em Nietzsche (2007, p.43), o conceito de corpo aparece voltado à arte em seu
caráter mais subversivo, de modo a impor-se diante do pensamento racionalista: “O
corpo é uma grande razão, uma multiplicidade com um só sentido, uma guerra e uma
paz, um rebanho e um pastor (...) Há mais razão no teu corpo do que na tua melhor
sabedoria (...) O ser próprio criador criou para si o apreço e o desprezo, criou para si o
prazer e a dor. O corpo criador criou o espírito como mão da sua vontade. Trata-se, na
perspectiva nietzscheniana, de uma corporeidade afirmativa, com potência criadora.
Tratar a relação corpórea da música como também nos sugere o postulado de
Spinoza ao referir-se ao corpo humano (2007, p.163): “O corpo humano pode ser
afetado de muitas maneiras, pelas quais sua potência de agir é aumentada ou
diminuída, enquanto outras tantas não tornam sua potência de agir nem maior nem
menor”.
Teatro
Experimentação cênica do pensamento. Modo de expressão que se elabora
fora da representação de um eu fixo para, justamente, operar o movimento que há
entre os corpos, seja de expulsão, atração e coexistência, capaz de inventar e
desfazer personagens. Um modo de expressão textual, com máscaras, ecos e
disfarces da realidade, que encena a repetição de gestos corpóreos da diferença e,
portanto, encena a potência da singularização possível a ser vivida e escrita.
Trata-se de um jogo que embaralha e muda códigos de lugares, pela
intensidade e pela vida que se afirma na potência do que é inventado. Nesse sentido,
é justamente na infância que conseguimos ler e escrever nossos textos. No
Abecedário de Deleuze (2001), situando-nos na letra E de Enfance [Infância],
podemos encontrar uma aproximação do ato de escrever à idéia de infância e de vida
não-orgânica:
A literatura e o ato de escrever têm a ver com a vida. A vida é algo
mais do que pessoal. (...) Mas também não se escreve pelo simples ato de
escrever. Acho que se escreve porque algo da vida passa em nós. Qualquer
coisa. Escreve-se para a vida. É isso. Nós nos tornamos alguma coisa.
30
Escrever é devir (...) escrever é mostrar a vida... É gaguejar na língua... Na
Literatura, de tanto forçar a linguagem até o limite, há um devir animal da
própria linguagem e do escritor e também há um devir criança, mas que não é
a infância dele. Ele se torna criança, mas não é a infância dele, nem de mais
ninguém. É a infância do mundo...
PÚBLICO PREVISTO ÀS OFICINAS:
Estudantes de licenciaturas, no eixo Educação Superior;
Docentes da Educação Básica de Ensino, no eixo profissional;
Alunos da rede pública de ensino, nos eixos da Educação Básica e da
Educação de Jovens e Adultos.
PERIODICIDADE DAS OFICINAS:
Encontros semanais ou mais, conforme especificidade de cada oficina
LOCAIS PARA O DESENVOLVIMENTO DAS OFICINAS:
Espaços públicos: UFRGS, UNIOESTE, UFPel, UERGS, UFMT, UNIPAMPA e
escolas da Rede Pública de Ensino.
GRUPO
DE TRABALHO
COMPOSTO POR
BOLSISTAS
ATIVIDADES
REALIZAÇÃO DAS OFICINAS DE ESCRITURA JUNTO A ESTUDANTES E DOCENTES
SISTEMATIZAÇÃODA PESQUISA
ESTUDANTES DOCENTES
AVALIAÇÃO,
PLANEJAMENTO,
RELATÓRIO,
SEMINÁRIOS,
PUBLICAÇÃO
Matriculados no Ensino Fundamental
Matriculados na Educação de Jovens e Adultos
Matriculados em cursos de licenciaturas
Professores com matrícula na rede pública de ensino
Bolsistas estudantes de mestrado e de doutorado
X
X
X
X
X
Bolsistas estudantes de graduação
X
X
X
X
X
Docentes da rede pública em exercício profissional
X
X
X
31
Cronograma de atividades:
ATIVIDADES
2011 2012 2013 2014
2011/1 2011/2 2012/1 2012/2 2013/1 2013/2 2014/1 2014/2
Desenvolvimento semanal das oficinas
X
X
X
X
X
X
X
X
Encontros quinzenais de avaliação e de planejamento dos respectivos núcleos.
X
X
X
X
X
X
X
X
Seminário integrador UFRGS, UNIOESTE UFPel, UNIPAMPA, UERGS e SMED.
X
X
X
X
Produção escrita de relatórios semestrais
X
X
X
X
X
X
X
X
Publicação anual de artigos
X
X
X
X
Ciclos de Conferências
X
X
Seminário nacional e apresentação do trabalho produzido nas oficinas (textos, imagens, música, esquetes teatrais e instalações diversas)
X
X
Duração do projeto:
Quatro anos
Resultados esperados:
Contribuição no IDEB das escolas envolvidas direta ou indiretamente no
projeto
Qualificação acadêmica dos bolsistas através da realização de oficinas de
escrileitura, bem como na participação da pesquisa acerca dos conceitos
investigados
Reverberação, na prática docente, do trabalho com texto mediante a
participação dos professores e dos docentes em formação nas oficinas,
Estabelecimento de novas relações textuais dos sujeitos envolvidos
Publicação de artigos que relacionem as temáticas: aprendizagem,
pensamento, processos criativos, leitura e escrita na contemporaneidade
32
4. Utilização de fontes e de bases de dados:
Como sintomatologistas e analíticos do sistema educacional brasileiro,
utilizaremos as bases de dados educacionais do INEP. Entre estas: o Censo Escolar,
com vistas ao estudo das informações relacionadas ao Nível do Ensino Fundamental e
à modalidade da Educação de Jovens e Adultos. Consideramos a análise dos índices
relacionados, bem como o estudo de suas variações, uma possibilidade de
aproximação e de contribuição acadêmica na implementação de políticas orientadas
para a qualificação do sistema educacional brasileiro. Nesse sentido, os dados obtidos
por regiões e municípios, nos permitem uma análise topológica e tipológica do ensino
atualmente oferecido pelas escolas cadastradas no banco de informações do INEP.
Também as Sinopses Estatísticas da Educação Básica, em suas informações
referentes aos estabelecimentos de ensino, às matrículas, à função docente e ao
movimento e rendimento escolar, serão utilizados no estudo da sintomatologia
presente nos dados levantados, cuja finalidade está na pesquisa de novas
proposições acerca dos modos de pensar e fazer educação.
5. Estratégias de disseminação dos resultados da pesquisa:
Publicação de artigos
Participação em espaços de formação junto aos professores da Educação
Básica de Ensino
Seminário Nacional de Educação
Oficinas, colóquios e ciclos de conferências.
6. Bolsas solicitadas:
Para a execução do projeto, solicitamos três bolsas para professores orientadores,
três bolsas para estudantes de doutorado, nove bolsas para estudantes de mestrado,
dezoito bolsas para professores da Educação Básica e também dezoito bolsas para
estudantes de graduação. A posterior seleção dos bolsistas será orientada pelos
seguintes critérios:
Interesse na temática da pesquisa proposta
Proximidade teórica ao pensamento da diferença abordado neste projeto
Experiência no trabalho escolar
Disponibilidade para desenvolver com empenho e com espírito pesquisador as
atividades propostas no referido projeto
33
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36
ModalidadesDuração
(Meses)
Quantidade
(Nº de Bolsistas)
Valor
(R$)
Subtotal
(Ano 1)
Duração
(Meses)
Quantidade
(Nº de Bolsistas)
Valor
(R$)
Subtotal
(Ano 2)
Coordenação
(R$ 1.500,00) 12 3 1.500 54000 12 3 1.500 54000 108000
Doutorado
(R$ 1.800,00) 12 3 1.800 64800 12 3 1.800 64800 129600
Mestrado
(R$ 1.200,00) 12 9 1.200 129600 12 9 1.200 129600 259200
Prof. Ed. Básica
(R$ 765,00) 12 18 765 165240 12 18 765 165240 330480
Aluno Graduação
(R$ 400,00) 12 18 400 86400 12 18 400 86400 172800
Material de Consumo
(R$) 45000
Diárias
(R$) 35000
Passagens
(R$) 20000
CapitalCapital
(R$ 8.000,00)
1100080TOTAL GERAL
Proposta Orçamentária
ANEXO II - TABELA ORÇAMENTÁRIA
25.000
15.000
10.000
Bolsas
Outras
despesas
(Custeio)
Despesas
10.000
20.000
20.000
ANEXO II
OBSERVATÓRIO DA EDUCAÇÃO - EDITAL 2010
Ano 1 Ano 2
TOTAL