20
89 ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014 QUALIDADE DE VIDA DOS PROFISSIONAIS QUE TRABALHAM NO CAPSI DE UM MUNICÍPIO DO OESTE CATARINENSE QUALITY OF LIFE OF PROFESSIONALS WORKING IN CAPSI OF A CITY OF OESTE CATARINENSE Marina Atuatti 1 Sayonara de Fatima Teston 2 Resumo: O objetivo global dessa pesquisa foi identificar como os profissionais da equipe Capsi avaliam a qualidade de vida profissional, visando a demanda de usuários na busca do tratamento. O referencial teórico traz vários autores moldando conceitos dos processos de qualidade de vida profissional, mantendo o foco desta qualidade em serviços públicos utilizados para tratamento de dependentes químicos. Para alcançar os objetivos foi realizada uma pesquisa de campo, onde foi aplicado um questionário aos profissionais do serviço, e para melhor obtenção de dados foram realizadas observações sistemáticas no local. Os resultados do estudo foram analisados por meio do método da estatística descritiva. Como resultados do estudo verificou-se que a equipe tem uma ótima organização de trabalho, mas a dificuldade é estabelecer uma relação de comunicação, na qual a saúde pública ofereça qualificar o tratamento do usuário, para motivar a equipe em seu trabalho. Palavras Chave: Profissionais da saúde, usuários de drogas, qualidade de vida no trabalho. Abstract: The overall objective of this research was to identify how professionals Capsi staff assess the quality of working life, aimed at demand of users in seeking treatment. The theoretical framework brings several authors shaping concepts of quality processes of professional life, keeping the focus of this quality in public services used for the treatment of drug addicts. To achieve the objectives a field study where a 1 Graduanda em Psicologia da Universidade do Oeste de Santa Catarina. E-mail: [email protected]. Endereço: Avenida Nereu Ramos, 3777D, Bairro Seminário, Chapeco, Santa Catarina. 2 Graduada em Psicologia, Pós Graduada em Gestão de Recursos Humanos, Mestranda em Administração pela Universidade do Oeste de Santa Catarina. E-mail: [email protected]

Qualidade de vida dos profissionais que trabalham no CAPSI de um Município do Oeste Catarinense

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Artigo publicado na edição Vol. 9 nº1 - InterfacEHS Revista de Saúde, Meio Ambiente e Sustentabilidade Publicação Científica do Centro Universitário Senac - ISSN 1980-0894 Acesse a edição na íntegra! http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/?page_id=1480 Autores: Marina Atuatti e Sayonara de Fatima Teston Resumo: O objetivo global dessa pesquisa foi identificar como os profissionais da equipe Capsi avaliam a qualidade de vida profissional, visando a demanda de usuários na busca do tratamento. O referencial teórico traz vários autores moldando conceitos dos processos de qualidade de vida profissional, mantendo o foco desta qualidade em serviços públicos utilizados para tratamento de dependentes químicos. Para alcançar os objetivos foi realizada uma pesquisa de campo, onde foi aplicado um questionário aos profissionais do serviço, e para melhor obtenção de dados foram realizadas observações sistemáticas no local. Os resultados do estudo foram analisados por meio do método da estatística descritiva. Como resultados do estudo verificou-se que a equipe tem uma ótima organização de trabalho, mas a dificuldade é estabelecer uma relação de comunicação, na qual a saúde pública ofereça qualificar o tratamento do usuário, para motivar a equipe em seu trabalho. Palavras Chave: Profissionais da saúde, usuários de drogas, qualidade de vida no trabalho.

Citation preview

Page 1: Qualidade de vida dos profissionais que trabalham no CAPSI de um Município do Oeste Catarinense

89

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014

QUALIDADE DE VIDA DOS PROFISSIONAIS QUE TRABALHAM NO

CAPSI DE UM MUNICÍPIO DO OESTE CATARINENSE

QUALITY OF LIFE OF PROFESSIONALS WORKING IN CAPSI OF A

CITY OF OESTE CATARINENSE

Marina Atuatti1

Sayonara de Fatima Teston2

Resumo: O objetivo global dessa pesquisa foi identificar como os profissionais da

equipe Capsi avaliam a qualidade de vida profissional, visando a demanda de usuários na

busca do tratamento. O referencial teórico traz vários autores moldando conceitos dos

processos de qualidade de vida profissional, mantendo o foco desta qualidade em serviços

públicos utilizados para tratamento de dependentes químicos. Para alcançar os objetivos

foi realizada uma pesquisa de campo, onde foi aplicado um questionário aos profissionais

do serviço, e para melhor obtenção de dados foram realizadas observações sistemáticas

no local. Os resultados do estudo foram analisados por meio do método da estatística

descritiva. Como resultados do estudo verificou-se que a equipe tem uma ótima

organização de trabalho, mas a dificuldade é estabelecer uma relação de comunicação, na

qual a saúde pública ofereça qualificar o tratamento do usuário, para motivar a equipe em

seu trabalho.

Palavras Chave: Profissionais da saúde, usuários de drogas, qualidade de vida no

trabalho.

Abstract: The overall objective of this research was to identify how professionals

Capsi staff assess the quality of working life, aimed at demand of users in seeking

treatment. The theoretical framework brings several authors shaping concepts of quality

processes of professional life, keeping the focus of this quality in public services used for

the treatment of drug addicts. To achieve the objectives a field study where a

1 Graduanda em Psicologia da Universidade do Oeste de Santa Catarina. E-mail: [email protected]. Endereço:

Avenida Nereu Ramos, 3777D, Bairro Seminário, Chapeco, Santa Catarina. 2 Graduada em Psicologia, Pós Graduada em Gestão de Recursos Humanos, Mestranda em Administração pela

Universidade do Oeste de Santa Catarina. E-mail: [email protected]

Page 2: Qualidade de vida dos profissionais que trabalham no CAPSI de um Município do Oeste Catarinense

90

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014

questionnaire to service professionals was applied was performed, and obtaining better

data systematic observations were conducted at the site. The results of the study were

analyzed using descriptive statistical method. As results of the study it was found that the

team has a great work organizations, but the difficulty is to establish a communication in

which public health qualify treatment offers the user, to motivate the staff in their work.

Key words: Health workers, drug users, quality of work life.

INTRODUÇÃO

Devido ao aumento de usuários de drogas no Oeste catarinense, buscou-se atender

esta demanda regional por meio da implantação do Centro de Atenção Psicossocial –

Infanto/Juvenil o Capsi, que é um serviço de saúde mental que presta atendimento a

pessoas com transtornos decorrentes do uso de substâncias psicoativas, e à seus

familiares. Este Centro trabalha de acordo com as diretrizes determinadas pelo Ministério

da Saúde, tendo por base o tratamento em liberdade, buscando a reinserção social do

usuário.

Nesse sentido, a pesquisa teve como objetivo geral analisar a qualidade de vida da

equipe do Capsi do município lócus da pesquisa, haja vista a demanda dos usuários do

serviço. Apresenta-se como problema de pesquisa: Como os profissionais da equipe do

Capsi avaliam a sua qualidade de vida profissional, visando a demanda dos usuários do

serviço?

Os objetivos específicos da pesquisa foram analisar a satisfação dos funcionários

em relação à qualidade de vida, verificar as condições que a saúde pública oferece para

adquirir resultados melhores no tratamento do usuário; e levantar condições necessárias

para a equipe desenvolver seu trabalho com propostas e ações favoráveis ao serviço.

Para tanto, na fundamentação teórica abordou-se os temas em relação à qualidade

de vida profissional em relação à motivação no trabalho, a saúde dos profissionais e a

dependência química, visando conceituar a busca deste processo na instituição publica, a

qual auxilia no tratamento do usuário.

Com esse estudo foi possível identificar os melhores meios para motivar a

Qualidade de vida no trabalho de acordo com as necessidades dos funcionários. Assim, o

conhecimento obtido, a partir das pesquisas efetuadas, terá relevância social para

empresas que querem adotar programas de QVT. Como relevância científica, pode servir

Page 3: Qualidade de vida dos profissionais que trabalham no CAPSI de um Município do Oeste Catarinense

91

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014

também de base para estudos acadêmicos, assuntos relacionados à gestão de pessoas e

satisfação de funcionários ou servindo de modelo a futuras monografias e pesquisas.

TRABALHO, QUALIDADE DE VIDA E PROMOÇÃO DA SAÚDE

A importância da qualidade de vida no trabalho reside no fato de que os

trabalhadores passam a maior parte de suas vidas no ambiente de trabalho. São mais de

oito horas por dia, durante pelo menos 35 anos. Percebe-se que não se trata de levar os

problemas de casa para o trabalho, mas também de levar para casa as tensões, os receios

e as angústias acumuladas no trabalho. Nessa concepção, muitas entidades estão

desenvolvendo programas de qualidade de vida no trabalho, voltadas para uma maior

satisfação de seus funcionários.

Os problemas enfrentados pelas organizações com seus empregados, assim como o

aumento da competitividade, fizeram surgir estudos relacionados com a satisfação e o

bem-estar do trabalhador na organização. Dentre esses estudos encontra-se a Qualidade

de Vida no Trabalho (QVT), que vem se desenvolvendo a cada dia, tendo como objetivo

pesquisar alternativas e estratégias de melhorar a relação do homem com o seu ambiente

e atividades no trabalho.

A Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) é um conjunto de ações de uma instituição

que envolve diagnóstico e implantação de melhorias e inovações gerenciais, tecnológicas

e estruturais, dentro e fora do ambiente de trabalho, visando propiciar condições plenas

de desenvolvimento humano na realização do seu ofício (ALBUQUERQUE; FRANÇA,

p. 41, 1998). Segundo Maslow (1998), qualidade de vida diz respeito a desenvolver

hábitos saudáveis, enfrentamento das tensões cotidianas, consciência dos impactos dos

fatores do ambiente, desenvolvimento permanente do equilíbrio interior e na relação com

os outros.

Estas necessidades, sem exceção, são consideradas fundamentais para a promoção

e prevenção da saúde do ser humano, tanto em situação do trabalho como fora delas. Em

uma perspectiva sistêmica, qualidade de vida pode ser percebida como a condição

humana resultante de um conjunto de parâmetros individuais e socioambientais,

modificáveis ou não, que caracterizam as condições matérias e psicossociais de existência

do ser humano (NAHAS, 2003). As principais ideias norteadoras da compreensão do que

é qualidade de vida no trabalho são: o trabalho influencia a saúde das pessoas e a eficácia

Page 4: Qualidade de vida dos profissionais que trabalham no CAPSI de um Município do Oeste Catarinense

92

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014

das organizações, e a participação das pessoas na solução de problemas e na tomada de

decisão é importante para a saúde no ambiente psicossocial do trabalho (NADLER;

LAWLER, 1983). Desta forma, o conceito de qualidade de vida adotado para esta

pesquisa, buscar por meio de estratégias específicas, a satisfação e motivação total de seus

funcionários. Com estratégias bem planejadas, as empresas tem como resultado a

otimização de espaço e adequação do empreendimento ao seu funcionário.

De modo mais específico, Smircich (1983) relata em estudos organizacionais de

base culturalista, os seguintes temas: cultura social e valores organizacionais

compartilhados, produção de artefatos culturais nas organizações de trabalho, como

lendas e cerimônias, construção de formas simbólicas compartilhadas, como a linguagem,

produção de sistemas de conhecimento traduzidos em significados, e os formatos

organizacionais e comportamentos resultantes da projeção de processos mentais. Sob essa

perspectiva, também agregando contribuições da Psicologia e da Sociologia entre outras

áreas do conhecimento, as organizações de trabalho são percebidas como realidades

socialmente construídas (MOEGAN, 2002).

Na formação e no estabelecimento da realidade social nas organizações de trabalho,

funcionam como “guardiões” de valores, crenças atribuídas a indivíduos e grupos, que

definem os comportamentos considerados desejáveis como aqueles que devem ser

reforçados em diferentes situações de trabalho (HARRIS, 1994). A ação humana

individual e em grupo, mediada pelos processos cognitivos, emocionais e

interdependentes do contexto, variam conforme as características do ambiente externo,

seus modelos de inserção e do tipo específico de organização de trabalho, levando-se em

conta as especialidades de suas subunidades.

Mesmo dentro de uma única organização, considerado suas diferentes unidades, as

interações humanas tenderão a adquirir particularidades, cujas origens, entre outros

fatores determinantes, residem no repertório ocupacional dos participantes, na tecnologia

utilizada e nos objetivos específicos, próprios de cada local de trabalho (SCHEIN, 2001).

Pode-se mencionar que estas características também podem ser encontradas na instituição

pesquisada, uma vez que essa formação estabelecida individual ou em grupo, está

imbuída de fatores específicos que fazem a equipe trabalhar num contexto objetivo e

possam desenvolver projetos qualificados na organização de trabalho.

Enfim, a organização, como sistema social, inserida em seu contexto, busca

preservar sua identidade e manter-se viva. Para tanto, desenvolve uma estrutura normativa

Page 5: Qualidade de vida dos profissionais que trabalham no CAPSI de um Município do Oeste Catarinense

93

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014

(valores, normas e expectativas de papeis, padrões esperado de comportamento e

interação) e uma estrutura de ação (padrões reais de interação e comportamento),

originada, sobretudo nas posições dirigentes (KATZ; KHAN, 1978). Por isso, a busca

incessante do alinhamento, continua na gestão de pessoas, entendida aqui como um

conjunto de políticas e práticas que reduzem a distância entre as expectativas de gestores

e dos demais integrantes de uma organização de trabalho, para que, em conjunto, possam

sustentá-las ao longo do tempo (DUTRA, 2002). Desta forma, infere-se que há uma

ligação entre o sistema social que move a organização e o tema qualidade de vida no

trabalho, pois, cada membro inserido na organização desempenha valores e crenças

diferentes dos demais que geram conflitos, então vai da gestão da instituição transformar

essa diferença em conhecimento para mudanças produtivas na instituição.

Feigenbaum (1994) entende que QVT é baseada no princípio de que o

comprometimento com a qualidade ocorre de forma mais natural nos ambientes em que

os funcionários, se encontram envolvido nas decisões que influenciam diretamente suas

atuações. O autor relaciona todo o processo que ocorre na instituição, visando que cada

funcionário independente do seu cargo, deve-se criar um comprometimento ético e

prazeroso, motivando os demais integrantes que ali se fazem presentes. As organizações

estão reavaliando suas formas de organizar o trabalho, gerando novas alterações

beneficiando os funcionários para que assim, permaneçam contribuindo para a construção

da qualidade da instituição. Karch (2000) afirma que programas de promoção e saúde e

qualidade de vida vêm sendo cada vez mais adotados pelas organizações, mobilizado os

profissionais de recursos humanos, para tornar o ambiente de trabalho mais produtivo e

saudável.

O programa que visa facilitar e satisfazer as necessidades do trabalhador ao

desenvolver suas atividades na organização, tendo como ideia básica o fato de que as

pessoas são mais produtivas quanto mais estiverem satisfeitas e envolvidas com o próprio

trabalho, é fundamental para a presente pesquisa e tem relação direta com os pressupostos

relacionados à saúde da equipe profissional.

A SAÚDE DOS PROFISSIONAIS

Infere-se que a tarefa essencial das condições organizacionais são os métodos

favoráveis ao trabalho desenvolvido pelo colaborador, por meio dos quais os objetivos

Page 6: Qualidade de vida dos profissionais que trabalham no CAPSI de um Município do Oeste Catarinense

94

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014

profissionais possam ser atingidos, com esforços em direção aos objetivos da instituição.

Todos os agravos na saúde, que tem influencia tanto na vida profissional quanto

pessoal dos trabalhadores, podem ocorrer devido à falta de qualificação nas empresas,

deixando o funcionário em um nível de estresse elevado, assim, desenvolvendo as

patologias que podem incapacitar o trabalhador. O desgaste físico e emocional leva a

corrosão da dignidade e da vontade (SENNETT, 1999). Segundo Stacciarini e Tróccoli

(2002, p. 187-205), quanto ao estresse ocupacional, percebe-se igualmente uma extensão

da indefinição do conceito de estresse. Considerado pelos pesquisadores como um

assunto complexo, o estresse ocupacional não é um fenômeno novo, mas sim um novo

campo de estudo que passou a ganhar relevância em conseqüência do aparecimento de

doenças que foram vinculadas ao estresse no trabalho, como por exemplo, hipertensão,

úlcera, entre outras.

No que se refere ao papel da psicologia neste âmbito, conforme citada por Lara e

Traesel (s/d) “o psicólogo nas ações em saúde pode desempenhar tarefas ligadas ao

planejamento e gestão de trabalho, nas quais todos os profissionais devem estar

envolvidos”, como por exemplo, o conhecimento das demandas da região, dos recursos

públicos e comunitários que esta região dispõe e o trabalho integrado com o gestor para

governar e aperfeiçoar o seu aproveitamento. Um dos pilares fundamentais da psicologia

são o compromisso social e a construção de novas possibilidades de existência. Neste

sentido, o psicólogo necessita compreender as dimensões sociais desses usuários, o que

corrobora com o objetivo da pesquisa, de avaliar como os psicólogos desempenham seu

papéis profissionais, diante do compromisso de fornecer melhores adequações no

tratamento para crianças e adolescentes dependentes químicos.

A QUESTÃO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA NO MODELO

PSICOSSOCIAL DE SAÚDE

O uso de drogas é considerado um grave e complexo problema de saúde pública,

considerando-se os modelos que contribuem para a compreensão do fenômeno no

momento atual e as estratégias de intervenção estabelecidas pelos locais que prestam

serviços aos usuários. Segundo Occhini e Teixeira (2006, p. 229), a abordagem exigida

para a dependência química é coerente com o modelo psicossocial de saúde, isso ocorre,

pois a questão do uso abusivo de substâncias psicoativas e a questão da dependência,

Page 7: Qualidade de vida dos profissionais que trabalham no CAPSI de um Município do Oeste Catarinense

95

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014

implica discutir não só as questões orgânicas e psicológicas, mas também os aspectos

sociais, políticos, econômicos, legais e culturais.

Considerando que esse fenômeno tem repercussões negativas na saúde física e

psíquica e no âmbito social a família e comunidade, é fundamental a análise do contexto

familiar e sociocultural, identificando os fatores de risco e de proteção para subsidiar

ações efetivas de caráter preventivo ou de intervenção. Em linhas gerais, a dependência

de drogas é mundialmente classificada entre os transtornos psiquiátricos, sendo

considerada como uma doença crônica que acompanha o indivíduo por toda a sua vida,

porém, a mesma pode ser tratada e controlada, reduzindo-se os sintomas, alternando-se,

muitas vezes, períodos de controle dos mesmos e de retorno da sintomatologia (LEITE,

2000).

A Organização Mundial da Saúde (2001) destaca ainda que a dependência química

deve ser tratada simultaneamente como uma doença médica crônica e como um problema

social. Pode ser caracterizada como um estado mental e, muitas vezes físico, que resulta

da interação entre um organismo vivo e uma droga, gerando uma compulsão por tomar a

substância e experimentar seu efeito psíquico e, às vezes, evitar o desconforto provocado

por sua ausência. Não basta, portanto, somente identificar e tratar os sintomas, mas sim,

identificar as conseqüências e os motivos que levaram à mesma, pensando o indivíduo

em sua totalidade, para que se possa oferecer outros referenciais e subsídios que gerem

mudanças de comportamento em relação à questão das drogas.

Para esses indivíduos a droga passou a exercer um papel central em suas vidas, na

medida em que, por meio do prazer, ela preenche lacunas importantes, tornando-se

indispensável para o funcionamento psíquico dos mesmos. A Política do Ministério da

Saúde (2003) preconiza que a assistência a esses usuários deve ser oferecida em todos os

níveis de atenção, privilegiando os cuidados em dispositivos como os Centros de Atenção

Psicossocial Infanto – Juvenil (Capsi), Centros de Atenção de Transtornos mentais

(CapsII) e os Centros de Atenção para Álcool e Drogas (Capsad). É importante que esta

assistência também esteja articulada aos Programas de Saúde da Família, Programas de

Agentes Comunitários de Saúde, Programas de Redução de Danos e Rede Básica de

Saúde. O Capsi é um serviço de atenção psicossocial para atendimento de pacientes

menores de 18 anos, com transtornos mentais ou pelo uso e dependência de substâncias

psicoativas, conforme preconizado pelo Ministério da Saúde (MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 2003).

Page 8: Qualidade de vida dos profissionais que trabalham no CAPSI de um Município do Oeste Catarinense

96

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014

De acordo com a Portaria GM336, de 19 de fevereiro de (2002), o CapS oferece

atendimento diário a pacientes que fazem uso prejudicial de álcool e outras drogas,

permitindo o planejamento terapêutico dentro de uma perspectiva individualizada de

evolução contínua. Esse serviço precisa ser apoiado pela existência de leitos psiquiátricos

em hospital geral e outras práticas de atenção comunitária (internação domiciliar, inserção

comunitária de serviços, entre outros). Em Chapecó, este serviço funciona das 8 às 18

horas, de segunda a sexta-feira, tendo, diariamente, um profissional de plantão para

acolhimento. As atividades desenvolvidas vão desde o atendimento individual

(medicamentoso, psicoterápico, de orientação) até atendimentos grupais ou oficinas

terapêuticas e visitas domiciliares. Este serviço deve oferecer condições para o repouso,

bem como para a desintoxicação ambulatorial de pacientes que necessitem desse tipo de

cuidados e que não demandem por atenção clínica hospitalar.

Pode-se afirmar que a dependência química, como um grave problema de saúde

pública, necessita de atenção especial. Portanto, a área de saúde tem muito a realizar no

que diz respeito ao uso de drogas e à promoção de saúde (GELBCKE; PADILHA, 2004).

Assim, trabalhar essa questão exige um conjunto de ações específicas que envolvam

melhorias tanto no tratamento em si, no caso da dependência já instalada, quanto em

termos de promoção e prevenção ao uso de drogas, de acordo com o modelo

biopsicossocial de saúde, o qual apresenta uma concepção holística do ser humano.

É necessário pontuar que o atendimento a dependentes químicos envolve dois

aspectos centrais: primeiro, a desintoxicação com a finalidade de retirada da droga e seus

efeitos, e segundo, a manutenção, ou seja, a reorganização da vida do indivíduo sem o

uso da droga. Segundo Macieira (2000), estudos apontam que, ainda hoje, observam-se

baixos índices de sucesso no tratamento da drogadição, mesmo englobando o aspecto

médico, farmacológico, as psicoterapias e grupos de ajuda, pois diversos fatores podem

contribuir para a não adesão ao tratamento, o abandono ou até mesmo, para o uso de

substâncias psicoativas durante o tratamento.

Essa problemática, de implantar e sustentar este serviço de tratamento para

reinserção social, aos poucos vai se adequando às diretrizes sociais e políticas. Assim, a

realidade vivenciada mostra a necessidade de se trabalhar na promoção da saúde visando

a questão de estilos de vida e de educação para a saúde, a qual pode ser encarada como

uma estratégia política e educacional adotada por muitos governos com o propósito de

garantir a equidade. A promoção da saúde envolve aspectos como capacitar, educar,

Page 9: Qualidade de vida dos profissionais que trabalham no CAPSI de um Município do Oeste Catarinense

97

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014

buscar a paz, respeitar os direitos humanos, justiça social, equidade no atendimento.

Dessa maneira, pode-se reduzir o fenômeno das drogas, uma vez que promover a saúde é

uma postura que está de acordo com o novo modelo de saúde, o qual considera o indivíduo

na sua totalidade (GELBCKER; PADILHA, 2004).

A importância da relação paciente e profissional, também foi observada em um

estudo sobre a relação entre fatores relativos ao tratamento, no qual a percepção dos

pacientes sobre seu contato com a equipe molda uma relação de ajuda associando a uma

melhor adesão na recuperação. Para Dimenstein (2001), mudanças significativas no modo

de atuação dos profissionais atuante na saúde pública, incorporam uma nova concepção

de prática profissional, associada ao processo de cidadanização, de construção de sujeitos

com capacidade de ação e de proposição. Há, portanto, uma necessidade de aprendizagem

de ambos. Gazzinelli et al. (2005) afirma que para que essa visão se altere, e realmente

ocorra à promoção da saúde, há a necessidade de se romper com o padrão cientificista,

buscando pensar a educação para saúde em termos mais abrangentes, que consideram o

indivíduo em sua totalidade, o qual é dotado de subjetividade, e de valores e saberes

diferentes daqueles com os quais os profissionais de saúde e educação lidam.

Um olhar voltado ao indivíduo em sua totalidade pode incluir um modelo de

trabalho com dependentes químicos visando à adesão, ressaltando os benefícios de

oferecer um suporte psicossocial encaminhando-lhes a desintoxicação, exigindo novas

formas de intervenções.

O processo de qualidade de vida profissional vem realizando diversas modificações

no âmbito organizacional, adquirindo melhorias de promoção e prevenção à saúde do

trabalhador. Averiguando as condições inadequadas da saúde pública prestadas aos

dependentes químicos, busca-se identificar o contexto motivacional dos profissionais que

trabalham com o processo de reinserção social. A pesquisa investigou a qualidade de vida

da equipe do Capsi de um município do Oeste catarinense, haja vista a demanda dos

usuários do serviço, relacionando a capacidade individual e do grupo para planejar

projetos que tragam benefícios para o serviço.

Page 10: Qualidade de vida dos profissionais que trabalham no CAPSI de um Município do Oeste Catarinense

98

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O método refere-se ao estudo de um conjunto de regras básicas para desenvolver

um trabalho que traga uma nova experiência a fim de produzir novos conhecimentos. É

nele é explicado o tipo de pesquisa abordado, os instrumentos que foram utilizados,

questionário aplicado, é onde se expõem todas as ferramentas utilizadas para o trabalho

de pesquisa. Para Lakatos e Marconi (2001, p.83) o método é o conjunto das “atividades

sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o

objetivo dos conhecimentos válidos e verdadeiros, traçando o caminho a ser seguido,

detectando erros e auxiliando as decisões do cientista.”

O presente estudo foi realizado no Centro de Atenção Psicossocial – Infanto/Juvenil

(Capsi) localizado em um município do oeste catarinense, com o objetivo de analisar a

qualidade de vida dos profissionais que trabalham para a reabilitação social dos usuários

do serviço, trata-se portanto, de um estudo de caso. Yin (1994) afirma que esta abordagem

se adapta à investigação em educação, quando o investigador é confrontado com situações

complexas, de tal forma que dificulta a identificação das variáveis consideradas

importantes, quando o investigador procura respostas para o “como?” e o “porquê?”,

quando o investigador procura encontrar interações entre fatores relevantes próprios dessa

entidade, quando o objetivo é descrever ou analisar o fenômeno de uma forma profunda

e global, e quando o investigador pretende apreender a dinâmica do fenômeno, do

programa ou do processo.

Este estudo de caso é predominantemente quantitativo, sendo que Moreira (2002)

segue-se uma orientação que objetiva entender a situação em análise. O autor Mitchell,

(1987, p. 81) deixa claro que a quantificação deve auxiliar o trabalho de campo e não se

constituir sua perspectiva principal.

O referido trabalho buscou obter características de fenômenos entre formas e

maneiras das circunstâncias dos fatos ocorrentes na equipe, proporcionando um estudo

de caso descritivo, pois relata os fenômenos avaliados no serviço, para adequação na

qualidade de vida no trabalho. A pesquisa descritiva consiste em estudar o nível de

atendimento dos órgãos públicos de uma comunidade, as condições de habitação de seus

habitantes, os índices de criminalidade que aí se registra, entre outros. Estão incluídas

nesse grupo as pesquisas que têm como objetivo levantar as opiniões, atitudes e crenças

de uma população (GIL, 1994, p.45).

Page 11: Qualidade de vida dos profissionais que trabalham no CAPSI de um Município do Oeste Catarinense

99

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014

Atualmente, fazem parte de equipe 15 profissionais, entre eles Psicólogos, Agente

de Saúde, Educador Físico, Psicopedagoga, Terapeuta Ocupacional, Enfermeira e

Auxiliar de Enfermagem, Médico Pediatra, Motorista, Auxiliar de Serviços Internos,

Médico Psiquiatra e Estagiários, sendo que destes 10 participaram da pesquisa.

Como instrumentos de levantamento das informações, utilizou-se a aplicação de

um questionário em grupo para a equipe no próprio local de trabalho, baseando-se na

fundamentação dos autores Werther e Davis (1983), com modificações realizadas pelo

pesquisador a partir da análise do ambiente do Capsi, com perguntas fechadas. Segundo

Parasuraman (1991) um questionário é tão somente um conjunto de questões, feito para

gerar os dados necessários para se atingir os objetivos do projeto.

Além do questionário, foram utilizadas observações sistemáticas, que segundo

Fialho e Santos (1995), permitem avaliar a questão em seus aspectos funcionais,

estruturais e conjunturais. Normalmente, as observações oferecem validade para outras

técnicas. As observações sistemáticas foram registradas em um diário de campo, que de

acordo com Minayo (1993 p, 100) contempla todas as informações que não sejam o

registro das entrevistas formais. Ou seja, observações sobre conversas informais,

comportamentos, cerimoniais, festas, instituições, gestos, expressões que digam respeito

ao tema da pesquisa. Falas, comportamentos, hábitos, usos, costumes, celebrações e

instituições compõem o quadro das representações sociais. Neste sentido, a confrontação

entre os dados obtidos a partir de observações com as declarações obtidas através do

questionário é interessante, pois pode evidenciar pontos críticos.

Para análise dos dados do questionário, utilizou-se o método de estatística descritiva

que segundo Reis (1998), tem como objetivo básico sintetizar uma série de valores de

mesma natureza, permitindo dessa forma que se tenha uma visão global da variação

desses valores. Os dados foram organizados e descritos de duas maneiras: por meio de

gráficos e de medidas descritivas.

ANÁLISE DE DADOS

A pesquisa foi realizada no Centro de Atenção Psicossocial Infanto/Juvenil. Sabe-

se que uma rede de saúde mental, pode ser constituída por vários dispositivos assistenciais

que possibilitem a atenção psicossocial aos pacientes com transtornos mentais e

dependência química, segundo critérios populacionais e demandas dos municípios. Esta

Page 12: Qualidade de vida dos profissionais que trabalham no CAPSI de um Município do Oeste Catarinense

100

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014

rede pode contar com ações de saúde mental na atenção básica onde são inclusos oficinas

terapêuticas, grupos, terapias e consultas individuais, visita domiciliar, a rede oferece

serviços em hospitais gerais e clinica terapêutica. Ela deve funcionar de forma articulada,

tendo os CAPS como serviços estratégicos na organização de sua porta de entrada e de

sua regulação. Os profissionais foram questionados sobre os seguintes temas:

confiabilidade, compartilhamento de idéias e objetivos, novas situações de trabalho,

capacidade de resolver problemas e imprevistos, execução de atividades, forma de

realização destas atividades, comportamento ético, administração de tempo e trabalho,

busca de qualificação pessoal e profissional, nível de stress e humor, reinserção social,

saúde publica e qualidade de vida profissional.

Quanto ao grau de confiabilidade das informações, atividades e dos serviços

prestados no serviço, verificou-se que 60% dos respondentes consideram que a equipe

tem excelentes proporções de relacionamento e comunicação confiável, enquanto 40%

avaliaram como bom seu desempenho em relação à confiabilidade. Percebe-se que a

confiabilidade leva também há um aumento da segurança, a uma redução dos riscos

ambientais e contribui decisivamente para um ambiente positivo na equipe.

Verificou-se que 70% dos respondentes consideram que os integrantes da equipe

compartilham ideias, que visam buscar objetivos de melhorias nas condições de trabalho

e processo terapêutico dos pacientes, além disso, pode-se averiguar que 20% dos

respondentes afirmam que a equipe busca ter um bom desempenho de atingir

expectativas, enquanto 10% consideram o compartilhamento de ideias como regular.

Pode-se considerar que houve uma alta porcentagem de profissionais que busca novos

conhecimentos para aprimoramento de ideias e conceitos. Neste sentido, percebeu-se que

clareza e transparência quanto aos objetivos e estratégias da organização são essenciais,

pessoas produzem mais e melhor quando se identificam com o que fazem, sabem para

onde vão profissionalmente e compreendem que fazem parte de algo maior.

Quanto a compreender e responder às novas situações de trabalho, verificou-se que

40% dos respondentes consideram que respondem à estas novas situações de forma

excelente, enquanto 50% avaliaram como bom este processo e 10% consideram como

regular. Sabendo que a demanda de usuários desse serviço é ligada a dependência química

e transtornos mentais, infere-se que há busca por novas formas de compreensão,

conhecimento e técnicas para lidar com as demandas de trabalho.

Quanto à capacidade de resolver problemas e imprevistos, de forma eficaz no

Page 13: Qualidade de vida dos profissionais que trabalham no CAPSI de um Município do Oeste Catarinense

101

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014

trabalho a partir do conhecimento e experiência, 30% dos respondentes consideraram

excelente, 60% consideraram bom e 10% como regular. Neste sentido, identificou-se que

os profissionais que atuam no Capsi, tem uma demanda constante por novas posturas

diante de situações imprevistas. Quanto ao processo de execução das atividades no

serviço, que geram impactos e otimização nos processos e formas de trabalho, a

capacidade de criar e inovar projetos, planos, ideias para trazer benefícios concretos à

equipe, verificou-se que 20% dos respondentes consideram essa execução excelente, 50%

dos profissionais classificaram como boa e 30% avaliaram como regular essa execução.

Neste sentindo, infere-se a falta de alguns membros da equipe do Capsi afetam

diretamente os resultados do trabalho, principalmente em relação à forma de execução

das atividades.

Quanto à realização de atividades no serviço de forma organizada, consistente e

objetiva com vistas aos objetivos pré-estabelecidos para melhoria da qualidade de vida

profissional, verificaou-se que 20% dos respondentes a consideraram excelente, 40% a

classificaram como boa e 40% como regular. Neste sentido, observa-se que a organização

dos processos de trabalho é um dos fatores que mais sofre prejuízos na opinião dos

respondentes da pesquisa.

Quanto à atitude pautada pelo respeito ao próximo, integridade, senso de justiça,

impessoalidade nas ações, percebeu-se que a equipe desenvolve um processo ótimo para

70% dos respondentes, enquanto 30% o classificaram como bom. Neste sentido, infere-

se que o serviço visa buscar o melhor tratamento para comunidade debilitada que o utiliza,

desempenhando um papel profissional, controlando seu estado emocional e mental

decorrente situações que geram um cuidado maior, assim promovendo benefícios para o

paciente e sua família. Pode-se afirmar que este fator contribui também para a discussão

de melhorias.

Quanto às atitudes em relação à administração do tempo, considerando a

pontualidade e interrupções durante o período de trabalho, constatou-se que 40% dos

respondentes classificam como excelente a relação com o tempo e 60% classificaram este

aspecto como bom. Neste sentido, e por meio das observações realizadas infere-se que o

tempo de trabalho é escasso, e diante disso, exige-se que os profissionais consigam

administrar esse tempo e processos de uma forma organizada e eficiente.

Page 14: Qualidade de vida dos profissionais que trabalham no CAPSI de um Município do Oeste Catarinense

102

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014

Quanto ao interesse pela busca ativa de qualificação e aprimoramento pessoal e

profissional, 20% dos respondentes o classificaram como excelente, 50% o classificaram

com bom e 30% como regular. Neste sentido, percebe-se que a busca por qualificação e

aprimoramento profissional não é efetiva da equipe atualmente, já que somente 20% a

classificam como excelente.

Quando questionados sobre como percebem seu nível de estresse no decorrer do

dia, 40% dos respondentes mencionaram que o mesmo pode ser classificado como

regular, enquanto o restante da amostra (60%) mencionou que não se sentem estressados.

Quando questionados sobre qual é a percepção acerca do nível de humor ao final do dia,

após o trabalho, 10% dos respondentes afirmaram que não sofrem alterações e o humor,

e o classificaram como excelente, enquanto 60% o classificaram como bom e 30% o

classificaram como regular.

Durante o processo de análise dos dados da pesquisa, alguns resultados chamaram

mais atenção do que outros, neste sentido, para algumas respostas, optou-se pela

apresentação de gráficos, haja vista a importância dos resultados para os objetivos da

pesquisa. Quanto questionados sobre a percepção da equipe sobre a importância de

trabalhar com reinserção social, que é foco do trabalho da equipe, 30% dos respondentes

classificaram como boa a relação neste contexto, 50% mencionaram regular e 20%

classificaram como péssimo, o que pode ser verificado no Gráfico 01.

Gráfico 01 - Percepção da equipe sobre trabalhar com reinserção social

Fonte: Elaborado pelas autoras, com base nos resultados da pesquisa, 2014.

Bom 30%

Regular 50%

Péssimo20%

Excelente

Bom

Regular

Péssimo

Page 15: Qualidade de vida dos profissionais que trabalham no CAPSI de um Município do Oeste Catarinense

103

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014

Diante dos resultados apresentados do gráfico 1, pode-se inferir que há uma certa

insatisfação da equipe em relação ao trabalho que desempenham com os dependentes

químicos em processo de reinserção social, o que pode influenciar a qualidade de vida no

trabalho. Pode-se afirmar que o indivíduo precisa estar inserido em locais onde possa

realizar atividades benéficas a instituição e sentir-se bem diante deste processo, e se caso

não consegue, acaba afetando o tratamento dos usuários do serviço. A reinserção social

do dependente químico necessita de uma equipe multiprofissional para seu tratamento, e

para auxiliar nesse processo a equipe necessita ter um conhecimento geral sobre esse

determinado assunto, e principalmente fazer um levantamento de dados sobre o paciente,

vinculando a teoria com a prática, beneficiando ambos os lados.

Quando questionados sobre a importância da atenção da saúde pública voltada aos

pacientes, 30% dos respondentes classificaram como bom, 50% como regular e 20%

péssimo, o que pode ser verificado no Gráfico 02.

Gráfico 02 - A saúde pública e a atenção aos dependentes químicos

Fonte: Elaborado pelas autoras, com base nos resultados da pesquisa, 2014.

Neste sentindo, infere-se que a percepção dos respondentes é de que há falta de

comprometimento da saúde publica, sobrecarregando a equipe. Por meio das observações

percebeu-se que as dificuldades que a saúde pública encontra para promover mudanças,

gerando impactos na equipe, pois ela visualiza o sofrimento do usuário e da família.

Percebe-se nas respostas o impacto da falta de estrutura adequada do ambiente,

profissionais treinados e recebimento de qualificações necessárias no serviço.

Bom 30%

Regular 50%

Péssimo20%

Excelente

Bom

Regular

Péssimo

Page 16: Qualidade de vida dos profissionais que trabalham no CAPSI de um Município do Oeste Catarinense

104

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014

Quanto à saúde publica estar dando atenção à qualidade de vida profissional,

percebe-se que 10% dos respondentes classificaram como boa, 60% regular e 30%

péssimo, o que pode ser verificado no Gráfico 03.

Gráfico 03 - Saúde pública e qualidade de vida dos profissionais

Fonte: Elaborado pelas autoras, com base nos resultados da pesquisa, 2014.

Neste contexto, pode-se afirmar que a equipe demonstra que não conta com o apoio

da Prefeitura do município, e pode-se inferir que a sobrecarga da equipe é proveniente da

complexidade das tarefas, e dos problemas administrativos. Foi dado relevância para estas

três últimas questões, pois se percebe que as forma como os fatores foram avaliados pelos

respondentes tem relação direta com os objetivos da pesquisa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa teve como objetivo geral analisar a qualidade de vida da equipe do Capsi

de um município do Oeste catarinense, haja vista a demanda dos usuários do serviço,

relacionando a capacidade individual e do grupo para planejar projetos que tragam

benefícios para o serviço. Neste sentido, percebe-se que a equipe procura meios na saúde

publica para aperfeiçoamento da equipe como um todo e com vistas no tratamento do

usuário.

Pode-se inferir que a demanda gerada pelos usuários influencia na qualidade de vida

no trabalho, constituindo-se como fator estressor, devido ao desgaste emocional e físico

dos profissionais, e pela forma como percebem a importância de trabalhar com reinserção

Bom 10%

Regular 60%

Péssimo 30%Excelente

Bom

Regular

Péssimo

Page 17: Qualidade de vida dos profissionais que trabalham no CAPSI de um Município do Oeste Catarinense

105

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014

social, mas que não a percebem como eficaz no tratamento do usuário. Da mesma forma,

os respondentes também não parecem considerar o stress e as alterações de humor com

grande influência em sua qualidade de vida. Neste sentido, questiona-se a participação

individual dos profissionais do serviço em busca de projetos e estratégias com vistas ao

melhor desempenho.

Importante ressaltar que a pesquisa com servidores públicos com vistas à qualidade

de vida no trabalho não tem sido muito frequente, mas merece novos estudos, já que

alguns fatores entendidos como motivadores, podem estar sendo superestimados, quando

se pensa nos demais fatores relacionados ao trabalho e que demonstram influências na

qualidade de vida no trabalho dos servidores.

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, L.G.; FRANÇA, A.C. L. Estratégias de Recursos Humanos e

Gestão de Qualidade de vida no trabalho; o STRESS e a Expansão do Conceito de

Qualidade Total. Revista de Administração. USP, São Paulo, v.33, n.2, p.40-51. Abr.

/Jun. 1998.

DIMENSTEIN, M. O psicólogo e o compromisso social no contexto da saúde

coletiva. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 6, n. 2, Dec. 2001.

DUTRA, J. S. Gestão de Pessoas: modelo, processo, tendências e perspectivas. São

Paulo: Atlas, 2002.

FEIGENBAUM, A. V. Controle de qualidade total. 40.ed. São Paulo: Makron Books,

1994. v.1 e v.2.

FIALHO, F.; SANTOS, N. Manual de Analise Ergonômica do Trabalho. Curitiba:

Genesis, 1995.

GAZZINELLI, M. F.; GAZZINELLI, A.; REIS, D. C.; PENNA, C. M. M. Educação

em saúde: conhecimentos, representações sociais e experiências da doença. Cadernos

de Saúde Pública, 21, 200-206, 2005.

GELBCKE, F. L.; PADILHA, M. I. C. S. O fenômeno das drogas no contexto da

promoção da saúde. Texto e Contexto de Enfermagem, 13, 272-279, 2004.

Page 18: Qualidade de vida dos profissionais que trabalham no CAPSI de um Município do Oeste Catarinense

106

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1994.

HARRIS, S. G. Organizational Culture and Individual Sensemaking: a Schema-

based perspective. Organization Science, 1994, 5 (3): p. 309-321.

KATZ, D; KHAN, R. L. Psicologia Social das Organizações. São Paulo: Atlas, 1978.

KARCH, R. Qualidade de vida. Entrevista ao jornalista Luiz Gonzaga, São Paulo,

2000. Disponível em: www.manager.com.br. Acesso em: 04 set. 2013.

LAKATOS, E.; MARCONI, M. Fundamento de Metodologia Cientifica. 4ª Edição.

São Paulo: Atlas S.A., 2001.

LARA, M. P; TRAESEL, E. S. A psicologia e a saúde coletiva nas políticas de saúde

mental – Relato de Estágio Especifica – UNIFRA, s/d. Disponível em:

https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:FEEuGA4m66IJ:www.abrapso.org.br/sit

eprincipal/images/Anais_XVENABRAPSO/ Acesso em: 20 de maio de 2014.

LEITE, M. C. Aspectos básicos do tratamento da síndrome de dependência de

substâncias psicoativas. Brasília: Presidência da República, Gabinete de Segurança

Intitucional, Secretaria Nacional Antidrogas, 2000.

MASLOW, A. H. Maslow on Management. Nova Yorque: John Wiley & Sons, 1998.

MACIEIRA, M. Tratamento da dependência química: experiência do PAA-HUCAM-

UFES. Em M. A. Luis & M. A. Santos (Orgs.), Uso e abuso de álcool e drogas:

trabalhos apresentados no VI Encontro de Pesquisadores em Saúde Mental e V

Encontro de Especialistas em Enfermagem Psiquiátrica (p. 47-51). Ribeirão Preto:

FIERP-EERP-USP/FAPESP, 2000.

MINISTERIO DA SAÚDE (BR). Política do Ministério da Saúde para a Atenção

Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas. Brasília (DF): Ministério da Saúde;

2003.

MINAYO, M. C. S. O Desafio do Conhecimento. Pesquisa qualitativa em saúde. 2ª ed.

SP: HUCITEC/ RJ: ABRASCO, 1993.

MITCHELL, J. C. A questão da quantificação na antropologia social. In: FELDMAM-

Page 19: Qualidade de vida dos profissionais que trabalham no CAPSI de um Município do Oeste Catarinense

107

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014

BIANCO, Bela (org.).Antropologia das sociedades contemporâneas. São Paulo:

Global, p.77-126, 1987.

MOEGAN, G. Imagens da organização: edição executiva. São Paulo, Atlas, 2002.

MOREIRA, D. A. O método fenomenológico na pesquisa. São Paulo: Pioneira

Thomson, 2002.

NADLER, D. A; LAWLER, E. E. Quality of Work Life: perspectives and directions.

Organizations dynamics. 11:20.30, Winter, 1983.

NAHAS, M. V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões

para um estilo de vida ativo. 2. ed. Londrina: Midiograf, 2001.

OCCHINI, M.; TEIXEIRA, M. Atendimento a pacientes dependentes de drogas:

atuação conjunta do psicólogo e do psiquiatra. Estudos de Psicologia (Natal), 11, 229-

236, 2006.

OMS - Organização Mundial da Saúde. Transtornos devido ao uso de substâncias. Em

Organização Pan-Americana da Saúde & Organização Mundial da Saúde (Orgs.).

Relatório sobre a saúde no mundo. Saúde Mental: nova concepção, nova esperança

(pp. 58-61). Brasília: Gráfica Brasil, 2001.

PARASURAMAN, A. Marketing research. 2. ed. Addson Wesley Publishing

Company, 1991.

REIS, E. Estatística descritiva. Lisboa: Silabo, ed. 4, 1998.

SCHEIN, E. H. Guia de sobrevivência corporativa. Rio de Janeiro: José Olympio,

2001.

SENNETT, R. A corrosão do caráter: as consequências pessoais do trabalho no novo

capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 1999.

SMIRCICH, L. Concepts of Culture and Organizational Analysis. Administrative

Science Quartely, vol. 28. N 3, 1983.

Page 20: Qualidade de vida dos profissionais que trabalham no CAPSI de um Município do Oeste Catarinense

108

ISSN 1980-0894 Artigo, Vol.9 Nº1, Ano 2014

STACCIARINI, J. M. R.; TRÓCCOLI, B.T. Estresse Ocupacional. In: Mendes AM,

Borges LO, Ferreira, MC (Orgs.). Trabalho em transição, saúde em risco. Brasília:

Universidade de Brasília; 2002. p. 187-205.

WERTHER, W; DAVIS, K. Administração de pessoal e recursos humanos. São

Paulo: McGraw Hill, 1983.

YIN, R. Case Study Research: Design and Methods (2ª Ed) Thousand Oaks, CA:

SAGE Publications, 1994.

Recebido em 13/06/2014

Aceito em 17/06/2014