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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1386 Setembro/2013 Quintal agroflorestal mudando o cenário e a vivência no campo Na comunidade Assemim em Viçosa do Ceará, a família de Maria de Fátima Rocha, 39 e Antonio Francisco Vieira dos Santos, 49, rompeu com a prática agrícola tradicional e há dois anos vem desenvolvendo um sistema agroflorestal no quintal da casa. Antonio conta que se interessou pelo modelo ao assistir um programa de televisão que tratava da experiência. Daí em diante, resolveu copiar a técnica que a princípio não deu certo, pois, segundo ele “a vontade era maior de que o conhecimento”. Contudo, não desistiu de tentar e foi em busca do saber que lhe faltava. Começou participando de cursos, oficinas, intercâmbios e conheceu pessoas na região que já desenvolviam o sistema. Ao passo que aprendia, ia praticando no quintal de casa, experimentando e acertando. Assim, a área que antes tinha apenas alguns pés de caju, ata e poucas plantas nativas, foi se transformando em agrofloresta e atualmente possui uma variedade de espécies das quais ele fala explicando a importância. As forrageiras, por exemplo, são para a criação de animais que planeja iniciar e também para levar sementes e mudas à feiras e intercâmbios de troca. Dentre as que cultivam, destaca a gliricídia, palma, sorgo, capim pisoteio, mororó e catingueira. Têm também as medicinais, como a aroeira que “é cicatrizante e as mulheres usam muito para fazer garrafada e assepsia”, esclarece. E ainda, o marmeleiro, o agrião, o ipê, a imburana de cheiro e o angico, utilizados conforme a sabedoria popular. As adubadeiras ou adubo verde fortalecem o solo e dentre elas destaca a mucuna, o feijão de porco, a crotalária, o estilosante e o calepogonio. Para a alimentação da família, por enquanto, tem abacaxi, laranja, ata, cajá imbu, acerola, feijão, milho, fava, maxixe, mandioca, vinagre, canela e um modesto canteiro de hortaliças. Tem ainda, o cansanção que utiliza como ingrediente no preparo de defensivos naturais e biofertilizantes. Aspectos, vantagens e desafios do trabalho No processo de desenvolvimento da agrofloresta Antonio Chico, como é conhecido, Vicosa do Ceará

Quintal agroflorestal mudando o cenário e a vivência no campo

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Page 1: Quintal agroflorestal mudando o cenário e a vivência no campo

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1386

Setembro/2013

Quintal agroflorestal mudando o cenário e a vivência no campo

Na comunidade Assemim em Viçosa do Ceará, a família de Maria de Fátima Rocha, 39 e Antonio Francisco Vieira dos Santos, 49, rompeu com a prática agrícola tradicional e há dois anos vem desenvolvendo um sistema agroflorestal no quintal da casa.

Antonio conta que se interessou pelo modelo ao assistir um programa de televisão que tratava da experiência. Daí em diante, resolveu copiar a técnica que a princípio não deu certo, pois, segundo ele “a vontade era maior de que o conhecimento”.

Contudo, não desistiu de tentar e foi em busca do saber que lhe faltava. Começou participando de cursos, oficinas, intercâmbios e conheceu pessoas na região que já desenvolviam

o sistema. Ao passo que aprendia, ia praticando no quintal de casa, experimentando e acertando. Assim, a área que antes tinha apenas alguns pés de caju, ata e poucas plantas nativas, foi se transformando em agrofloresta e atualmente possui uma variedade de espécies das quais ele fala explicando a importância.

As forrageiras, por exemplo, são para a criação de animais que planeja iniciar e também para levar sementes e mudas à feiras e intercâmbios de troca. Dentre as que cultivam, destaca a gliricídia, palma, sorgo, capim pisoteio, mororó e catingueira. Têm também as medicinais, como a aroeira que “é cicatrizante e as mulheres usam muito para fazer garrafada e assepsia”, esclarece. E ainda, o marmeleiro, o agrião, o ipê, a imburana de cheiro e o angico, utilizados conforme a sabedoria popular.

As adubadeiras ou adubo verde fortalecem o solo e dentre elas destaca a mucuna, o feijão de porco, a crotalária, o estilosante e o calepogonio. Para a alimentação da família, por enquanto, tem abacaxi, laranja, ata, cajá imbu, acerola, feijão, milho, fava, maxixe, mandioca, vinagre, canela e um modesto canteiro de hortaliças. Tem ainda, o cansanção que utiliza como ingrediente no preparo de defensivos naturais e biofertilizantes.

Aspectos, vantagens e desafios do trabalho

No processo de desenvolvimento da agrofloresta Antonio Chico, como é conhecido,

Vicosa do

Ceará

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Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará

valoriza a utilização de cobertura para proteger o e sempre faz isso com a matéria orgânica restante da poda, do raleamento, da capina seletiva e também da colheita. Explica que ela nutre, é importante para a sobrevivência das plantas principalmente durante a seca e favorece o crescimento de algumas sem precisar irrigar. Conta que procura passar os conhecimentos às filhas Jaynne, 16, para ir conhecendo e despertando o interesse e Jayanne, 04, que segundo ele, já acompanha, observa e procura conhecer as plantas. Diz também que esposa trabalha bastante, cuida da colheita, maneja os frangos que criam e por isso tem um tempo maior dentro da área. Assim, a família inteira se envolve no processo. Para ele, a vantagem dessa forma de produzir é o retorno financeiro pela variedade e qualidade dos produtos, o bem estar da família na melhoria da alimentação, e ainda, é “bom para o meio ambiente”. Se sente realizado quando ouve outras pessoas dizerem: “minha área ta devastada, não tem mais nada dentro, e a tua ta desse jeito”, e ele responde: “alguma coisa sempre permanece, nem que seja uma fruteira”. Servir de exemplo para incentivar outros/as a fazer agrofloresta é um fator que o motiva. Tem a maior satisfação de ensinar o que já sabe e diz que já esteve em algumas áreas dando orientações. Também gosta de participar dos eventos e levar sementes, mesmo quando tem pouca, se alegra em “dividir com o pessoal”. Considera como desafio, convencer os/as vizinhos/as da importância do sistema agroflorestal, pois, conforme relata, todos/as adotam métodos tradicionais e não compreendem, por exemplo, porque ele mantém a matéria orgânica no solo, acham que é preguiça de “limpar”. “O pessoal trabalha com leiras, faz a destoca, junta toda a matéria, queima e fica aquele terreno de terra nua, zero mesmo”, e, o que sempre lhe preocupa é que quando acontecem as queimadas, corre o risco de atingir a agrofloresta.

Expectativas

Pretende ampliar a agrofloresta, introduzir mais fruteiras, forragem, hortaliças, “o que o sistema pedir”, aumentar a criação de aves e criar outros animais como a ovelha, por exemplo. Planeja incorporar mais frutíferas como, cajá, goiaba, graviola e produzir polpa para comercializar. Espera inspirar outras pessoas, ser copiado na vizinhança e está preparando as filhas para que continuem na atividade. Considera-se como alguém que ainda está fazendo a experiência e deseja continuar trabalhando, ensinando o que sabe mesmo se um dia não puder mais trabalhar.

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