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Artigo original Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano ISSN 1415-8426 RELAÇÃO ENTRE AUMENTO DA FLEXIBILIDADE E FACILITAÇÕES NA EXECUÇÃO DE AÇÕES COTIDIANAS EM ADULTOS PARTICIPANTES DE PROGRAMA DE EXERCÍCIO SUPERVISIONADO RELATIONSHIP BETWEEN INCREASE IN FLEXIBILITY AND IMPROVEMENT IN THE EXECUTION OF DAILY ACTIONS BY ADULTS PARTICIPATING IN SUPERVISED EXERCISE PROGRAM RESUMO Este estudo objetivou relacionar ganhos de flexibilidade decorrentes da participação em progra- ma de exercício supervisionado (PES) com eventuais facilitações na execução de ações cotidianas em adultos. Vinte indivíduos, a maioria coronariopatas, com idade de 58 ± 9 anos, que estavam freqüentando um PES, foram selecionados intencionalmente. Para a avaliação da flexibilidade utilizou-se o Flexiteste. Em adendo, os indivíduos responderam um questionário com 11 perguntas para avaliar subjetivamente, a facilidade e/ou dificuldade de realizar ações cotidianas, no início do PES e no momento em que esta- vam respondendo o questionário. Após o PES, houve ganhos na facilidade de execução das 11 ações, na flexibilidade global passiva e em seis movimentos individuais do Flexiteste (p<0,05). Há correlação signi- ficativa entre as diferenças das respostas ao questionário e as variações na flexibilidade global (r=0,45; p<0,04). Existe relação inversa entre as variações de peso e de flexibilidade (r=-0,66; p<0,05). Con- cluiu-se que a facilitação na realização de ações cotidianas, após um período de PES, está associada a uma melhoria da flexibilidade global. Aumentos na flexibilidade global estão associados com uma redu- ção de peso corporal. Estes resultados podem possuir implicações para a individualização do treinamen- to da flexibilidade, em um programa de exercício voltado à promoção da saúde. Palavras-chave: qualidade de vida, flexibilidade, ações cotidianas ABSTRACT The aim of this study was to relate flexibility improvements from supervised exercise program (SEP) attendance, to eventual improvements in the execution of daily actions by adults. The sample consisted by 20 subjects, the majority of cardiac patients with an average age of 58 + 9 years, actively participating in SEP, were intentionally selected. The Flexitest, was used to determine the flexibility. In addition, the subjects answered an 11-question questionnaire, aiming to assess the relative difficulty in daily actions. The questionnaire assessed the subject opinion on their improvements for daily actions since beginning of the SEP, that was completed between three and 18 months after beginning the program. After the SEP, improvements were observed in the execution of 11 daily actions, global flexibility, and six individual movements of the Flexitest (p<.05). There is a correlation between questionnaire answered differences and global flexibility changes (r=.45; p<.04). There is a inverse relationship between body weight and flexibility changes in the group as a whole (r=-.66; p<.05). It was concluded that the easiness of execution of daily actions after a period of SEP is related with improvements in global flexibility. Improvements in global flexibility are also related to reduction in body weight. These results may have implications for the flexibility training individualization, in the context of a health-oriented exercise program. Key words: quality of life, flexibility, daily actions Carla Werlang Coelho 1 Claudio Gil Soares de Araújo 1,2 1 Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Educação Física - Universidade Gama Filho (UGF) 2 Clínica de Medicina do Exercício - CLInimex Volume 2 – Número 1 – p. 31-41 – 2000

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Artigo original

Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano ISSN 1415-8426

RELAÇÃO ENTRE AUMENTO DA FLEXIBILIDADE E FACILITAÇÕES NAEXECUÇÃO DE AÇÕES COTIDIANAS EM ADULTOS PARTICIPANTESDE PROGRAMA DE EXERCÍCIO SUPERVISIONADO

RELATIONSHIP BETWEEN INCREASE IN FLEXIBILITY AND IMPROVEMENT IN THE EXECUTION OFDAILY ACTIONS BY ADULTS PARTICIPATING IN SUPERVISED EXERCISE PROGRAM

RESUMO

Este estudo objetivou relacionar ganhos de flexibilidade decorrentes da participação em progra-ma de exercício supervisionado (PES) com eventuais facilitações na execução de ações cotidianas emadultos. Vinte indivíduos, a maioria coronariopatas, com idade de 58 ± 9 anos, que estavam freqüentandoum PES, foram selecionados intencionalmente. Para a avaliação da flexibilidade utilizou-se o Flexiteste.Em adendo, os indivíduos responderam um questionário com 11 perguntas para avaliar subjetivamente,a facilidade e/ou dificuldade de realizar ações cotidianas, no início do PES e no momento em que esta-vam respondendo o questionário. Após o PES, houve ganhos na facilidade de execução das 11 ações, naflexibilidade global passiva e em seis movimentos individuais do Flexiteste (p<0,05). Há correlação signi-ficativa entre as diferenças das respostas ao questionário e as variações na flexibilidade global (r=0,45;p<0,04). Existe relação inversa entre as variações de peso e de flexibilidade (r=-0,66; p<0,05). Con-cluiu-se que a facilitação na realização de ações cotidianas, após um período de PES, está associada auma melhoria da flexibilidade global. Aumentos na flexibilidade global estão associados com uma redu-ção de peso corporal. Estes resultados podem possuir implicações para a individualização do treinamen-to da flexibilidade, em um programa de exercício voltado à promoção da saúde.

Palavras-chave: qualidade de vida, flexibilidade, ações cotidianas

ABSTRACT

The aim of this study was to relate flexibility improvements from supervised exercise program(SEP) attendance, to eventual improvements in the execution of daily actions by adults. The sampleconsisted by 20 subjects, the majority of cardiac patients with an average age of 58 + 9 years, activelyparticipating in SEP, were intentionally selected. The Flexitest, was used to determine the flexibility. Inaddition, the subjects answered an 11-question questionnaire, aiming to assess the relative difficulty indaily actions. The questionnaire assessed the subject opinion on their improvements for daily actionssince beginning of the SEP, that was completed between three and 18 months after beginning the program.After the SEP, improvements were observed in the execution of 11 daily actions, global flexibility, and sixindividual movements of the Flexitest (p<.05). There is a correlation between questionnaire answereddifferences and global flexibility changes (r=.45; p<.04). There is a inverse relationship between bodyweight and flexibility changes in the group as a whole (r=-.66; p<.05). It was concluded that the easinessof execution of daily actions after a period of SEP is related with improvements in global flexibility.Improvements in global flexibility are also related to reduction in body weight. These results may haveimplications for the flexibility training individualization, in the context of a health-oriented exercise program.

Key words: quality of life, flexibility, daily actions

Carla Werlang Coelho1

Claudio Gil Soares de Araújo1,2

1 Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Educação Física - Universidade Gama Filho (UGF)2 Clínica de Medicina do Exercício - CLInimex Vo

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INTRODUÇÃOA literatura científica utiliza largamen-

te diferentes conceitos para qualidade de vida,porém, é consenso afirmar que ela abrange osdomínios da vida humana em seis áreas distin-tas: física, mental, social, produtiva, emocionale cívica (Felce, 1997). Pode-se dizer que a qua-lidade de vida está intimamente relacionada aoestilo de vida adotado pelo indivíduo.

Hoje, um estilo de vida mais ativo, atra-vés da prática regular de atividades físicas éassociado a maiores quantidade e qualidade devida da população. É sabido ainda que a sen-sação de bem-estar pessoal relaciona-se coma qualidade de vida orientada para a saúde ecom a autonomia para a vida. Há consenso atu-almente de que uma boa condição física depen-de não somente de níveis de potência máximaaeróbica satisfatórios, mas também de padrõesapropriados de potência muscular, de flexibili-dade e de estabilidade postural (Buchner, 1997;Mazzeo et al., 1998; Pollock et al., 1998). Estasvariáveis em níveis apropriados parecem serimportantes para o bem-estar e para a autono-mia do indivíduo.

Programas de exercício físico supervi-sionado (PES), podem ser uma excelente alter-nativa, para desenvolver estas qualidades físi-cas. Um PES normalmente é composto por trei-namento de resistência aeróbica/muscular eexercícios de flexibilidade, o que resulta embenefícios cardiovasculares, músculo-articula-res e morfológicos (Beniamini et al., 1997;Berkhuysen et al., 1999; Castro & Araújo, 1997;Dugmore et al., 1999). Possivelmente estesbenefícios proporcionam uma maior disposiçãoe facilidade para a realização de ações cotidia-nas, corroborando para um aumento na quali-dade de vida.

O American College of Sports Medicine(ACSM), uma das mais importantes organiza-ções científicas sobre a prática de atividadesfísicas, no seu posicionamento sobre a quanti-dade e qualidade de exercícios para o desen-volvimento e manutenção da formacardiovascular, muscular e da flexibilidade, paraadultos saudáveis, salienta que a atividade físi-ca deve ser prescrita da forma que proporcioneo máximo de benefícios e o menor risco, sem-pre levando em consideração as condições ge-rais do indivíduo e os objetivos particulares.Ênfase deve ser dada sobre os fatores que re-sultarão numa mudança permanente do estilode vida (Pollock et al., 1998).

Sabe-se que programas de atividadesfísicas também têm sido utilizados para melho-rar a saúde pública. Diferentes estratégias têmsido utilizadas para que as mais diversas popu-lações tenham acesso a programas de exercí-cios. Jette et al. (1999) investigaram como umprograma de atividades físicas realizado emcasa pode trazer benefícios para pessoas ido-sas debilitadas; 215 idosos, participaram de umgrupo de treinamento em casa, composto porexercícios contra resistência, utilizando faixaselásticas de diversas espessuras para realizarrotinas de exercícios que passavam numa fitade vídeo. Foram realizadas avaliações pré trei-namento e após seis meses de treinamentocontra resistência (TCR) e os resultados com-parados com aqueles obtidos em um grupo con-trole. A adesão foi de 89 %; quando compara-do com o grupo controle, obteve-se diferençassignificativas com relação a melhoras na forçados membros inferiores (6 para 12 %) e umamelhora de 20 % em um teste de marcha pa-dronizada e 15 para 18 % de redução no graude incapacidade física ao final de seis mesesde acompanhamento. Já em outro estudo, fo-ram avaliados os efeitos de TCR e treinamentoaeróbico em idosos independentes, para ver seexercícios podem melhorar as funções físicasdesses idosos. O treinamento foi realizado en-tre 75 e 80 % de intensidade, três vezes porsemana durante seis meses, observando-seganhos de 11 % no consumo de O2 e de 33 %na força muscular, quando comparado com ogrupo controle. Com isto foi concluído a impor-tância da atividade física para a saúde públicacomo papel preventivo nesta população (Cresset al., 1999).

Muitas atividades da vida diária envol-vem a combinação da força/potência/resistên-cia muscular e da flexibilidade articular e mus-cular. Estes componentes juntos têm sido refe-ridos como forma muscular. A capacidade dosidosos continuarem fisicamente independentes,provavelmente, depende menos da formacardiovascular do que destes componentesmusculares. Atividades diárias típicas comosubir escadas, carregar compras, pegar obje-tos na estante, entrar no carro, envolvem estescomponentes da forma muscular (Netz & Argov,1997; Phillips & Haskell, 1995).

Reconhecendo a importância da manu-tenção da forma muscular para a saúde e inde-pendência durante o processo do envelhecimen-

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to, várias organizações científicas têm lançadosuas diretrizes para o treinamento contra resis-tência e da flexibilidade (Feigenbaum & Pollock,1999; Mazzeo et al., 1998; Pollock et al., 1998).Por exemplo, o ACSM (1998), para a manuten-ção e/ou desenvolvimento da flexibilidade reco-menda que os exercícios sejam realizados duasa três vezes por semana e que alonguem a mai-oria dos grupos musculares. O objetivo desta prá-tica é desenvolver e manter a amplitude dosmovimentos articulares, através de técnicas apro-priadas de exercícios de alongamentos, dinâmi-cos e estáticos (Pollock et al., 1998).

Atualmente, está claro que a flexibili-dade, uma variável cineantropométrica, é umcomponente da saúde relativo à forma física, eé altamente treinável. Por exemplo, para man-ter uma postura adequada é necessário um mí-nimo de flexibilidade. Para acessar o nível fun-cional dos idosos, a flexibilidade tem sido umadas qualidades físicas avaliadas (Netz & Argov,1997; Phillips & Haskell, 1995). Aparentementeo treinamento da flexibilidade tem sido poucoenfatizado na maioria dos PES. Pode especu-lar-se que um dos motivos talvez seja a falta deuma metodologia de avaliação que subsidiemais efetivamente uma posterior prescrição dotreinamento de flexibilidade, já que o teste maisutilizado para avaliar esta qualidade física é ode sentar e alcançar, que proporciona uma vi-são extremamente restrita da flexibilidade. Ou-tro aspecto, é como avaliar na vida dos indiví-duos, os benefícios adquiridos através da parti-cipação em PES, que são expressos pelo au-mento do consumo máximo de oxigênio, aumen-to de força e potência muscular e aumento deflexibilidade. Importantes organizações científi-cas na área da saúde expõem sua preocupa-ção em avaliar as intervenções realizadas jun-to a seus pacientes, principalmente no que istopode implicar com relação à qualidade de vida(Treasure, 1999).

Funções músculo-esqueléticas debili-tadas, especialmente fraqueza, inflexibilidade edor, durante o processo de envelhecimento,podem causar incapacidade progressiva, pro-vocando limitação na mobilidade e conseqüen-te diminuição na qualidade de vida (Buckwalter,1997). Outro ponto importante a ser considera-do é que com o avançar da idade, a função dostecidos declina, estando suscetível a doençasdegenerativas e aumento das lesões, sendo quea habilidade para recuperação das doenças elesões diminui (Buckwalter, 1997).

Porém, estudos sugerem que a idadenão se constitui barreira para se adquirir os be-nefícios da flexibilidade. É possível evoluir emanter o nível de flexibilidade alcançada emqualquer idade, independente do sexo (Araújo& Pereira & Farinatti, 1998; Barry & Eathorne,1994; Buckwalter, 1997).

Parece claro ainda que a participaçãoem um programa regular de exercícios é umaintervenção que previne e/ou reduz um númerode declínios funcionais associados com o en-velhecimento (Mazzeo et al., 1998; Pollock etal., 1998).

O objetivo deste estudo foi relacionarganhos de flexibilidade em programa de exercí-cio físico supervisionado (PES) com eventuaisfacilitações na realização de ações cotidianasnum grupo especial de adultos, a maioria delescoronariopatas em prevenção secundária.

MATERIAIS E MÉTODOS

Amostra

Participaram deste estudo 20 indivídu-os (15 homens e cinco mulheres), a maioriadeles coronariopatas em prevenção secundá-ria, com idade entre 38 e 76 anos (58 ± 9 anos),com peso de 75 ± 10 kg e altura de 168 ± 8 cm.Todos estavam freqüentando regularmente umPES pelo menos três vezes por semana, porum período entre três e 18 meses. A amostrafoi selecionada intencionalmente, levando emconsideração dois critérios: (1) ter pelo menosduas avaliações da flexibilidade em dois mo-mentos distintos, na fase inicial do PES e outracom um intervalo de no mínimo três e no máxi-mo 18 meses; (2) estar freqüentando o PESsem intercorrências e com boa adesão (75%das sessões de exercício previstas) no períodocompreendido entre as duas avaliações.

Protocolo

O resultado das duas avaliações da fle-xibilidade estava disponível no momento da se-leção da amostra. Estas avaliações foram reali-zadas por avaliadores experientes dentro de umconjunto de testes realizados antes e durante oPES. A flexibilidade foi avaliada através doFlexiteste (Araújo, 1986; Araújo & Pereira &Farinatti, 1998; Farinatti & Araújo &Vanfraechem, 1997). Nesse método, é avalia-

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da a mobilidade articular passiva máxima de 20movimentos em sete grandes articulações (tor-nozelo, joelho, quadril, tronco, punho, cotoveloe ombro). No Flexiteste, cada movimento é re-alizado pelo avaliador, em uma posição padro-nizada, e a amplitude obtida comparada com a

de mapas específicos, atribuindo-se graus pro-gressivos em uma escala descontínua e cres-cente de 0 a 4 pontos, correspondendo, res-pectivamente, a pouca e muita amplitude demovimento. Como todos os resultados dos 20movimentos tendem a possuir uma distribuição

FIGURA 1. Flexiteste. Instrumento que avalia a mobnilidade passiva maxima de 20 movimentos articulares em sete grandes articulações, utilizado para a avaliação da flexibilidade.

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Em adendo a essas medidas de flexi-bilidade já existentes, os indivíduos que foramselecionados, responderam um questionáriocom 11 perguntas para determinar eventuaisbenefícios em atividades cotidianas após parti-ciparem de um PES. Este questionário objetivouavaliar subjetivamente a execução das seguin-tes ações cotidianas: (1) subir e descer esca-das; (2) entrar e sair do carro; (3) amarrar ossapatos; (4) pedalar a bicicleta; (5) andar naesteira; (6) cruzar as pernas; (7) alcançar ascostas para coçar ou esfregar durante o banho;(8) alcançar algum objeto no alto da estante;(9) caminhar; (10) levantar da cama; e (11) aga-

char-se. Este instrumento de avaliação, permi-tia avaliar, através de uma escala visualanalógica localizada embaixo de cada pergun-ta, como o indivíduo se encontrava no início doPES e no momento em que foi aplicado o ques-tionário, com relação à facilidade e/ou dificul-dade de realizar essas ações. A escala visualanalógica era composta por uma linha reta de10 cm (que não apresentava escala numéri-ca), onde no extremo esquerdo estava escritomuita dificuldade, e no extremo direito muitafacilidade. O indivíduo era orientado a assina-lar nesta linha reta, com um “i“, onde ele se en-contrava antes de começar o PES, e com um“x”, onde ele se encontrava no momento em queestava respondendo o questionário, levando emconsideração a facilidade e/ou dificuldade deexecução de cada uma das 11 ações cotidia-nas acima citadas. O resultado da avaliação eraexpresso através da diferença em milímetrosentre esses dois pontos assinalados na reta,proporcionando um delta entre o início do PESe o momento em que o indivíduo estava res-pondendo o questionário (Figura 2).

Figura 2. Escala visual analógica, utilizada embaixo de cada pergunta do questionário. = momento em que oindivíduo se encontrava antes de iniciar o PES; x = momento em que o indivíduo se encontrava na hora queestava respondendo o questionário; D = diferença em milímetros entre os dois momentos.

•••••

O PES era individualmente prescritocom base nos resultados obtidos em uma bate-ria de testes iniciais, e era realizado de três acinco vezes por semana. Uma sessão típica doPES, compreendia 30 minutos de exercíciosaeróbicos, 20 minutos de exercícios contra re-sistência e 10 minutos de exercícios de alonga-mento muscular, durando cerca de uma horano total. Os exercícios aeróbicos, eram realiza-dos sempre que possível, na intensidade ligei-ramente abaixo da freqüência cardíaca na qualo indivíduo tinha atingido o limiar anaeróbico noteste de esforço cardiopulmonar, empregandocicloergômetros (braços e pernas),remoergômetros e esteiras ergométricas. Osexercícios contra resistência, eram realizadospriorizando os principais grupos musculares,

através de um protocolo de seis a oito exercícioslocalizados, com duas séries de seis a oito repe-tições, realizadas com halteres livres ou em apa-relhos convencionais de exercícios musculareslocalizados. Os exercícios de alongamento,priorizavam as principais articulações e as quepossuíam maiores limitações de mobilidade arti-cular de acordo com os dados da avaliação inici-al. A sessão de alongamento era tipicamente di-vidida em duas partes: (1) alongamento ativo,onde o indivíduo realizava uma rotina básica deaproximadamente oito exercícios que mobiliza-vam as principais articulações; (2) alongamentopassivo, onde o professor executava o movimen-to para o indivíduo, orientando as manobras paraas articulações de maior necessidade de apri-moramento da flexibilidade.

Muita dificuldade Muita facilidade

gaussiana com tendência central em torno dovalor 2, é possível adicionar os valores obtidosem cada um dos movimentos e determinar umíndice de flexibilidade global denominado deflexíndice, cujos resultados variarão em umaescala de 0 a 80 pontos (Figura 1). As medidasde peso corporal também foram realizadas nes-ta bateria de testes, em uma balança Filizolaeletrônica digital com graduação de 100 em 100gramas.

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Análise estatística

Os resultados das variáveis analisadasforam apresentados como média e desvio pa-drão (descrição da amostra) ou erro padrão damédia (comparação entre médias). O teste uti-lizado para comparar o valores obtidos nos doismomentos de avaliações da flexibilidade foi oteste t de Student para amostras dependentes.Para avaliar se as respostas do questionáriodiferiam entre si utilizou-se análise de variância(ANOVA) para medidas repetidas, seguido,quando necessário, pelo teste de Bonferroni.Para avaliar se havia correlações entre as vari-áveis: flexibilidade, ações cotidianas e pesocorporal, foi utilizada correlação produto-mo-mento de Pearson. Em todos os testes utiliza-dos, considerou-se como significativas aquelascujo p<0,05.

RESULTADOS

Após o PES, houve ganhos significati-vos (p<0,05) na flexibilidade global; na análiseespecífica das diferenças, constatou-se que osaumentos foram em três articulações e em seismovimentos específicos dessas articulações(Tabela 1).

Após o PES, também houve ganhosmédios de 38 % na facilidade de execução das11 ações cotidianas, avaliadas subjetivamenteatravés do questionário. A ANOVA para medi-das repetidas mostrou variações significativas(p<0,01) entre as respostas das 11 perguntas,sendo que as ações que apresentaram maio-res benefícios depois de um PES foram: peda-lar na bicicleta, subir e descer escadas e andarna esteira; e as ações que apresentaram me-nores benefícios foram: cruzar as pernas e le-vantar da cama.

Observou-se que os indivíduos queobtiveram maiores ganhos nas respostas doquestionário, foram aqueles que apresentavamescores iniciais menores. E quando estes re-sultados foram analisados através da correla-ção de Pearson, encontrou-se correlações en-tre esses valores (r=-0,84; p<0,01) (Figura 3-A). Porém um fato que chamou a atenção, foique, em quatro indivíduos praticamente nãohouve variação nas respostas ao questionário,enquanto que em outros cinco constatou-segrandes diferenças. Comparativamente, encon-

trou-se que os primeiros ganharam em médiadois quilogramas de peso corporal e apenas umponto no Flexíndice, enquanto que aqueles quemelhoraram muito, em média, perderam quatroquilogramas e ganharam 12 pontos na flexibili-dade global. No grupo como um todo, existerelação inversa entre as variações de peso ede Flexíndice (r=-0,66; p<0,05) (Figura 3-B).

Os resultados da avaliação da flexibili-dade, apresentaram variações semelhantes àobservada na avaliação com o questionário. Osindivíduos que mais melhoraram a flexibilidadeglobal possuíam os escores menores na primeiraavaliação. Encontrou-se entre esta variação umacorrelação de r=-0,65 (p<0,01) (Figura 3-C).

Correlacionou-se, para cada indivíduo,as variações da flexibilidade global através dosvalores obtidos no flexíndice, e as variações dasrespostas obtidas no questionário. Há correla-ção significativa entre estas variações de r=0,45(p<0,04), mostrando que normalmente maioresganhos de flexibilidade significam maiores gan-hos nas respostas do questionário (Figura 3-D). Também foi testada a possibilidade de ha-ver correlações entre ganhos de flexibilidade emarticulações específicas com ações específicasavaliadas no questionário. Encontraram-se cor-relações significativas (r>0,57; p<0,05) entre: (a)maior facilidade para sair de um carro com amobilidade na flexão do joelho; (b) maior facili-dade para calçar os sapatos com a mobilidadede flexão do tronco e de rotação lateral do om-bro; (c) e maior facilidade para levantar-se dacama com a flexão do tronco. Além disso, es-tas três ações e a de cruzar as pernas têm asua facilidade de execução associadas a umaumento da soma da mobilidade dos 20 movi-mentos articulares.

TABELA 1. Resultados significativos (p<0,05) da avaliação da flexibilidade

Média ± erro padrão da média. Resultados estatísticos obtidosatravés do teste t de Student para amostras dependentes.

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RESPOSTAS DO QUESTIONÁRIO ANTES DO TREINAMENTO (cm )

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DIFERENÇAS ENTRE AS M EDIDAS DE PESO CORPORAL (k g)

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FLEXÍNDICE ANTES DO TREINAMENTO (pontos)

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DIFERENÇAS ENTRE OS FLEXÍNDICES (pontos )

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Figura 3. Diagramas de dispersão de algumas das variáveis estudadas comparando os valores antes e após 3 a 18 mesesde treinamento.

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DISCUSSÃO

A flexibilidade é uma qualidade físicatreinável, independente da idade e do sexo (Ara-újo & Pereira & Farinatti, 1998; Barry & Eathorne,1994; Buckwalter, 1997; Mazzeo et al., 1998;Pollock et al., 1998). Este PES, além da pres-crição dos exercícios aeróbicos e dos exercíci-os contra resistência, trabalhava especificamen-te exercícios para melhorar a flexibilidade . Aprescrição era baseada no Flexiteste, que per-mitia ter um panorama da flexibilidade específi-ca, através dos 20 movimentos articulares agru-pados nas sete maiores articulações do corpo,e a flexibilidade global através do somatório dapontuação atingida nestes 20 movimentos ava-liados. A partir disto, os indivíduos realizavamuma rotina de oito a dez exercícios de alonga-mento dinâmicos, e em seguida, realizavamalongamentos passivos com a ajuda de um pro-fissional especializado, que executava as ma-nobras priorizando os movimentos articularesque possuíam maiores limitações, normalmen-te valores de 0 ou 1 no Flexiteste inicial, garan-tindo a realização correta do exercício. A formade alongamento passivo, principalmente paraesta faixa etária, é uma excelente alternativa;existe uma tendência do indivíduo não realizaros movimentos que possui dificuldades, muitasvezes por medo de sentir dor, ou até mesmopor desconhecer qual é o limite do estiramentomuscular. Desta forma, como o PES era volta-do também para a individualização do treina-mento da flexibilidade, e era parte integrante detodas as sessões, os resultados de aumentosda flexibilidade foram de grande magnitude eaté certo ponto esperados.

Um fato muito interessante a ser ob-servado é que a amplitude da faixa etária dogrupo estudado era de 38 a 72 anos de idade.Segundo levantamento de um banco de dadosde 1874 avaliados através do Flexiteste, com oobjetivo de traçar um perfil da flexibilidade deacordo com faixas etárias, o que normalmenteacontece, é que existe uma pequena perda deflexibilidade dos 16 aos 40 anos, porém, apósos 40 anos de idade o declínio é muito rápido(Araújo & Pereira & Farinatti, 1998). Outro as-pecto constatado, é que a variabilidade da fle-xibilidade corporal aumenta com a idade, mo-mento em que o principal fator para a manuten-ção ou recuperação da flexibilidade é a prática

regular de atividades físicas (Araújo & Pereira& Farinatti, 1998).

Pode-se dizer que a amostra estuda-da, pertence a um grupo de pessoas especiais,que normalmente estão engajados nestes tiposde programas com o objetivo de manutençãoe/ou recuperação da saúde. Muitas vezes sãoindivíduos que já estavam sentindo limitaçõesfísicas, em algumas ações cotidianas, relacio-nadas à falta de vitalidade e/ou mobilidade físi-ca. Outro aspecto fundamental, é que normal-mente são pessoas que deixaram de praticarsua atividade física durante sua vida estudantil,portanto, há pelo menos 15 anos sem partici-par de atividades físicas regulares.

Normalmente indivíduos com este per-fil, que se engajam em programas de ativida-des físicas regulares, apresentam uma evolu-ção positiva e rápida no condicionamento físi-co. Com pelo menos três meses, as variáveisfisiológicas sofrem um salto nos níveis de con-sumo de O2, força, potência, resistência e flexi-bilidade muscular. Em estudo recente do nossogrupo, realizado em uma amostra com caracte-rísticas similares, foram avaliados 24 indivídu-os (14 homens e 10 mulheres), através daergoespirometria em dois momentos, separa-dos por um período médio de sete meses (vari-ação de dois a 16 meses) de treinamento emPES. Os indivíduos apresentaram melhoras emsuas capacidades funcionais, através do au-mento de 33 % da carga de trabalho máxima ede 43 % na carga de limiar anaeróbico. O con-sumo máximo de oxigênio (VO2 max) foi aumen-tado em 20% (Castro & Araújo, 1997).

Fato interessante é que em PES, jun-tamente com a melhora das variáveis fisiológi-cas, são relatados durante as sessões, senti-mentos de bem-estar e maior disposição. Nor-malmente, os indivíduos passam a realizar mui-tas tarefas que já haviam deixado de fazer, de-vido a limitações anátomo-fisiológicas, e mui-tas vezes, devido à falta de confiança em suashabilidades. Então, é sabido empiricamente, queos benefícios de um PES são transferidos paraatividades da vida diária, principalmente atra-vés da sensação de bem-estar e de auto confi-ança, propiciada por músculos mais fortes e fle-xíveis, articulações mais flexíveis e maior vitali-dade aeróbica.

No nosso estudo, além das variáveisfisiológicas avaliadas na rotina do PES,objetivou-se quantificar através da sensação

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individual, o quanto de melhora houve entre oinício do PES e o momento que o indivíduo seencontrava, com relação a maior facilidade deexecução de determinadas ações. Utilizou-seum questionário, que avaliou a dificuldade e/oufacilidade de realizar 11 ações cotidianas, queforam eleitas como mais relevantes para estegrupo estudado. Como o grupo era heterogê-neo, principalmente com relação ao aspecto deidade, algumas perguntas do questionário po-deriam parecer irrelevantes para alguns, porémeram de extrema importância para outros. Porexemplo, no ato de cruzar as pernas e levantarda cama, principalmente para os indivíduos maisnovos são duas ações que praticamente nãose constatou melhoras entre início do PES e asegunda avaliação; porém, para as pessoascom mais idade, que provavelmente já possuí-am importantes limitações articulares e muscu-lares, apresentaram benefícios surpreendentes.Sendo a flexibilidade importante componente daforma muscular para a realização de movimen-tos que são necessários para ações importan-tes na vida diária ( Netz & Argov, 1997; Phillips& Haskell, 1995), procurou-se correlacionarganhos da flexibilidade através de um PES comos valores obtidos no questionário. Pode-se di-zer que uma particularidade que é uma origina-lidade do estudo, foi a possibilidade decorrelacionar aumentos de flexibilidade especí-ficas por articulação e de flexibilidade global comuma maior facilidade de execução de açõescotidianas. Fato que contribuiu para uma me-lhor análise destas associações, foi a avaliaçãoda flexibilidade ser bem discriminada eabrangente das principais articulações.

Como observado nas respostas doquestionário, houve uma tendência para os in-divíduos terem maior facilidade de realizaçãode ações cotidianas; em algumas atividadesmais e em outras menos, dependendo princi-palmente do grau de dificuldade inicial. Comofoi o que aconteceu na avaliação da flexibilida-de; os indivíduos que possuíam escores inici-ais menores apresentaram maiores ganhos deflexibilidade na segunda avaliação. Isto foi mos-trado através do índice de correlação entre es-tas variáveis.

Outro aspecto muito interessante, foique o estudo foi sensível em correlacionar dife-renças de peso corporal, com diferenças napontuação do Flexiteste. Em uma análise deta-lhada dos dados individuais constatou-se que

quatro indivíduos praticamente não variaram nosvalores de flexibilidade e nas respostas do ques-tionário, foi quando percebeu-se que estes in-divíduos em média haviam adquirido dois qui-logramas; enquanto que outros cinco indivídu-os melhoraram muito no questionário e noflexiteste, e eles haviam perdido em média qua-tro quilogramas. Parece evidente que dentro deum mesmo PES existem indivíduos que conse-guem excelentes resultados enquanto outrosnão são tão bem sucedidos.

Aumentos de peso corporal parecemgerar um efeito negativo na performance física,o que pode significar redução de autonomia fí-sica e provavelmente de qualidade de vida.Estes dados de certa maneira se ajustam aosresultados encontrados no estudo do efeito devariações abruptas do peso corporal sobre oteste de sentar-levantar (TSL) (Silva & Lira &Araújo,1998). Para a realização deste teste oindivíduo necessita de níveis mínimos de po-tência e coordenação motoras, estabilidadepostural e flexibilidade. Foi estudado um grupode 40 recrutas relativamente homogêneos quan-to à idade, índice de massa corporal e somatóriode dobras cutâneas (peitoral, abdominal e coxa).Cada indivíduo realizou o TSL de três formasdistintas: (a) com sobrepeso de 10 % do pesocorporal (coletes de areia); (b) com sobrepesode 20 % do peso corporal e (c) sem sobrepeso,com seqüência contrabalanceada. Os resulta-dos mostraram que não houve diferenças sig-nificativas para o ato de sentar nas três situa-ções. Porém, para o movimento de levantar, osobrepeso afetou negativamente e de modoproporcional os resultados. A conclusão che-gada foi que as modificações abruptas do pesocorporal por sobrepeso, prejudicaram a destre-za no movimento de levantar, provavelmentepela modificação da relação potência muscu-lar/peso corporal (Silva & Lira & Araújo, 1998).

Curiosamente a ANOVA mostrou queas ações que apresentaram maiores benefíci-os com o PES foram caminhar na esteira, subire descer escadas e pedalar a bicicleta, enquantoque as que menos apresentaram mudanças fo-ram cruzar as pernas e levantar da cama. É pro-vável que isso tenha de certo modo sido causa-do pela exposição freqüente a algumas dessasatividades durante a parte aeróbica das sessõesde exercício.

Uma potencial crítica a esse estudofoi o emprego do questionário em apenas um

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único instante e não concomitante às duas ava-liações da flexibilidade. Todavia, como analisa-mos apenas a magnitude da variação entre asduas respostas subjetivas e não a magnitudede cada uma delas, isso pode até ser conside-rado um aspecto positivo, já que o indivíduorepresentava na escala visual analógica, na prá-tica, aquilo que lhe parecia a sua melhora, queera a variável que efetivamente nos interessa-va. Interessantemente, a sensação individual,da proporção de aumento na facilidade de exe-cução das 11 ações avaliadas, correlacionou-se muito bem com a proporção de aumento daflexibilidade global. Também os movimentosespecíficos do Flexiteste, revelaram correlaçõespertinentes com a musculatura envolvida nomovimento das ações realizadas. Estes acha-dos nos permitem supor que a forma de avalia-ção através do questionário, com escala visualanalógica, proporciona adequadamente umanoção de tempo para o indivíduo no momentoque está respondendo as questões.

Em sumário, conclui-se que, com aparticipação regular entre três e 18 meses emum PES, com pelo menos dez minutos por ses-são de treinamento da flexibilidade, primaria-mente direcionada aos movimentos com mo-bilidade mais limitada conforme a avaliação ini-cial pelo Flexiteste, existem aumentos signifi-cativos na flexibilidade de adultos, a maioriacoronariopatas, que se correlacionam com umamaior facilidade para a execução de ações co-tidianas, provavelmente representando umganho na qualidade de vida relacionada à saú-de dos indivíduos.

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer, pela especialcontribuição na coleta de dados e na análiseestatística, aos professores Mauro Teixeira(UGF) e Marta I. R. Pereira (UGF).

Este estudo foi fomentado pela Capes.

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