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1 Recomendações Éticas para a Produção e Divulgação Científica Mariangela Amendola

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Recomendações Éticas para a Produção e Divulgação Científica Mariangela Amendola

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Mariângela Amendola Profa. Dra. Matemática Aplicada e Computação Científica

Faculdade de Engenharia Agrícola - FEAGRI Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

Recomendações Éticas para a Produção e Divulgação Científica

28 de Junho de 2010

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Mariângela Amendola Profa. Dra. Matemática Aplicada e Computação Científica

Faculdade de Engenharia Agrícola - FEAGRI Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

Recomendações Éticas para a Produção e Divulgação Científica

Trabalho de Conclusão do Curso

de Pós-graduação em Jornalismo Científico Laboratório de Jornalismo - LABJOR

Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

28 de Junho de 2010

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Agradecimentos Agradeço aos professores Amarildo, Conceição, Cristiane, Geraldo, Graça, Herton, Lea e Simone, pela inclusão e discussão do tema nas disciplinas desse curso; aos membros dos grupos de alunos dos trabalhos dessas disciplinas, pelas discussões ao longo da elaboração dos trabalhos que contemplaram o tema; ao LNCC, pelas oportunidades de apresentar palestras sobre o tema em seus eventos; a FEAGRI, pela autorização para a minha participação no curso; à minha mãe, minha babá Maria Dondon, aos amigos (as): André, Cesare, Gi, Haroldo, Lala, Luci, Marina, Marlene, Rô, Rodolfo, Sandramalta, Sonia, Valéria e Willinha, pelo incentivo nessa minha atuação (“a esta altura da vida!” ou “para quê?” - disseram os outros).

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As Coisas (Arnaldo Antunes) As coisas têm peso Massa, volume, tamanho Tempo, forma, cor Posição, textura, duração Densidade, cheiro, valor Consistência, profundidade Contorno, temperatura Função, aparência, preço Destino, idade, sentido As coisas não têm paz As coisas não têm paz As coisas não têm paz As coisas não têm paz As coisas têm peso Massa, volume, tamanho Tempo, forma, cor Posição, textura, duração Densidade, cheiro, valor Consistência, profundidade Contorno, temperatura Função, aparência, preço Destino, idade, sentido As coisas não têm paz As coisas não têm paz As coisas não têm paz As coisas não têm paz

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Resumo Este trabalho mostra os resultados da análise da compilação de artigos referentes a conduta ética na produção e divulgação científica, que revelam argumentos que servem de suporte para a implementação de um conjunto de recomendações para a prática científica nas universidades e institutos de pesquisa do Brasil. Tal compilação se deu pela leitura de artigos científicos e informes relacionados ao tema com os quais nos deparamos a partir de meados de 2003, seguiu sendo complementada desta mesma forma até o início de 2009 e, desde então, de forma particular a partir das discussões do tema nas diversas disciplinas do curso de Jornalismo Científico do LABJOR / UNICAMP. Os resultados obtidos, que já serviram para palestras por nós ministradas em eventos científicos nacionais, bem como para o encaminhamento de sugestões para sociedades científicas, unidades da UNICAMP e jornalistas científicos, revelam que o tema, em geral, não vem sendo discutido e/ou divulgado nas universidades e institutos de pesquisa do Brasil. Essa revelação justifica esse trabalho, cujos resultados levam à recomendação de que parte da responsabilidade de todo cientista seja garantir que os seus alunos e orientados recebam educação crítica que contemple conceitos e procedimentos éticos tanto para a produção quanto para a divulgação científica de seus resultados. De forma complementar recomendamos que as sociedades científicas brasileiras disponham de representantes de sua comunidade para este fim e que jornalistas científicos considerem essas recomendações. A partir da implementação dessas recomendações, sugerimos que as universidades e instituições de pesquisa do Brasil estabeleçam regras para a punição dos envolvidos nos distintos tipos de imposturas, a exemplo do que vem sendo feito em outros países. Palavras-chave: ética na produção científica, ética na divulgação científica, orientações para a prática científica

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Sumário

1. Introdução 08 2. Objetivo 11

3. Material e métodos 11 4. Resultados e discussões 20

5. Considerações finais 50 6. Trabalhos futuros 50

7. Bibliografia complementar citada 51 8. Anexos 53

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1. Introdução

A produção do conhecimento em áreas científicas denominadas “ciências duras”, como a matemática de nosso domínio, segue uma orientação pré-estabelecida que traduz o que se entende por método científico.

Mas o método científico não é o único fator que serve de orientação

para a produção científica destas e de outras áreas que se servem de seus resultados, em particular nas universidades aonde os atuais critérios de avaliação dos cientistas (professores ou alunos que fazem ciência), vem revelando outro tipo de orientação: a “motivação” extraordinária, no sentido de fora de ordem, para a divulgação de resultados por meio de publicações e patentes.

A observação sobre a referida motivação tem sido alvo de discussão em

várias esferas de decisões brasileiras, que vão de reuniões universitárias locais a congressos nacionais, como a recente 4a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, realizada em Brasília, de 24 a 28 de maio de 2010 (www.cgee.org.br/cncti4), cujas conclusões vem sendo divulgadas não só nos meios científicos como em outros meios sociais, e nem sempre acompanhadas de argumentos que revelam o que está em jogo, principalmente para esses últimos.

Neste contexto, Mário Novello, físico do Centro Brasileiro de Pesquisas

Físicas, Rio de Janeiro, em entrevista a Ricardo Mioto, da Folha de S. Paulo, em 30 de maio de 2010, disse:

“a razão pela qual Newton fazia aquilo não tinha nada ver com a razão pela qual um bolsista faz as coisas hoje em dia”.

Entretanto em sua fala, Novello não incorpora, ao lado do bolsista, seu

orientador (um pesquisador já consagrado), nem alinhava comentários sobre a produção científica dos pesquisadores das universidades brasileiras em geral que, no sentido darwiniano, não é comparável à de Newton, e assim, não incorpora, também deste lado, o mesmo orientador.

Refletir sobre os diversos fatores que motivam os cientistas a fazerem o

que fazem nas universidades, portanto, se mostra relevante e atemporal.

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Sobre esses fatores, anotamos o que comentou o professor Marcio Barreto, da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas, em palestra realizada aos estudantes do curso de J. C. da mesma universidade, em 17 de maio de 2010:

“Esses critérios (de avaliação dos cientistas) são válidos desde que não assumam um caráter absoluto, tal como é a tendência atual. É preciso tê-los como parte da avaliação, mas há outras formas quantitativas e principalmente qualitativas que devem ser colocadas em pé de igualdade com os atuais indicativos. Além disso, o que os cientistas fazem, não é adequadamente divulgado, apesar de ter implicações sociais e políticas para a sociedade como um todo”.

Essa afirmação chama atenção para um outro fator que, com raras

exceções, não pertence ao cotidiano dos cientistas, e cuja responsabilidade pode ser atribuída não só a quem produz ciência, como também, aos que divulgam ciência: quando não os próprios cientistas, os profissionais designados para esse fim.

Se, com relação a esse fator capaz de revelar implicações (e benefícios!)

para a sociedade, não há nenhuma regra brasileira em vigor (ver Pesquisa FAPESP no 164 ou www.pesquisafapesp.br), a adequação da divulgação, em geral, pode ser remetida à educação brasileira. É o que afirma o escritor Mario Prata que, em entrevista ao Caderno C do jornal Correio Popular em 27 de maio de 2010, ao ser questionado sobre ser a falta de tempo a responsabilidade pela má qualidade dos textos da imprensa, ainda que se referindo à imprensa de modo geral, respondeu:

“Também, mas não só. O problema é o ensino no Brasil, que é péssimo. O nível é baixo demais”.

Um pouco mais otimista, entretanto, e referindo-se a divulgação

especializada, informou Mariluce Moura, editora chefe da Revista FAPESP, em palestra realizada aos estudantes do curso de J. C. da UNICAMP, em 07 de junho de 2010:

“os jornalistas de ciência (do Brasil) tem feito esforços consideráveis para melhorar conhecimentos e atuação, incluindo atualização com as novas ferramentas de divulgação

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oriundas da Internet, mas mostra-se necessária a formação contínua em jornalismo científico”.

Essa informação de alguma forma, senão da mesma, remete à educação a referida adequação da divulgação, mesmo que não atribuindo somente ao divulgador e sim também aos cientistas a responsabilidade pela divulgação científica de boa qualidade.

A educação no sentido amplo, portanto, é a única força capaz de vencer

o jogo de fatores relacionados à motivação para a produção e a divulgação científica, no sentido de ser capaz de formar adequadamente profissionais, cientistas e/ou divulgadores científicos.

Nesse sentido, mostra-se relevante questionar a responsabilidade de

todo cientista, como afirmou a pesquisadora Cecília Nunes, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, durante o II Congresso Fluminense de Iniciação Científica e Tecnológica da Universidade Estadual do Norte Fluminense, encerrado em 10 de junho de 2010:

“É preciso que todos aqueles que fazem ciência - inclusive os estudantes de iniciação científica - tenham uma visão crítica da sociedade”.

Essas considerações, também contempladas no trabalho da disciplina

Seminários de Ciência e Cultura (ES 655) do curso de Jornalismo Científico (J. C.), justificam o trabalho que segue.

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2. Objetivo O objetivo geral é mostrar os resultados da análise da compilação de artigos referentes à conduta ética na produção e divulgação científica, para revelar argumentos que sirvam de suporte para a implementação de um conjunto de recomendações para a prática científica nas universidades e institutos de pesquisa do Brasil. Os objetivos específicos são estabelecidos de acordo com as descrições do material e do método usados que seguem. 3. Material e método Este trabalho usa como material a compilação de artigos e informes relacionados ao tema focado, não pela pesquisa bibliográfica -usual em trabalhos acadêmicos-, mas porque foram os artigos com os quais casualmente nos deparamos a partir de meados de 2003 (ocasião de interesse particular). Tal compilação seguiu da mesma forma até o início de 2009, ora porque dispostos na mídia especializada, como o Jornal da UNICAMP, a Revista FAPESP e o Jornal Folha de S. Paulo, e ora porque enviados por colegas que sabem do nosso interesse no tema. Além disso, usa o que foi compilado de forma particular após 2009 a partir: i) das discussões do tema por nós persistentemente inseridas nas diversas disciplinas do curso de J. C. da UNICAMP; ii) dos trabalhos apresentados nessas disciplinas (individuais ou dos grupos dos quais fizemos parte); iii) de artigos internacionais dispostos em blogs; iv) das palestras por nós ministradas em eventos científicos promovidos pelo Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC/MCT) nos anos de 2009 e 2010; v) do retorno (ou não) de nossa sugestão da mesma discussão junto a Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional – SBMAC e a Faculdade de Engenharia Agrícola - FEAGRI/UNICAMP. Observamos que, apesar da total pertinência ao tema, não fazemos uso do que buscamos de forma orientada e em livros, como: i) Sokal e Bricmont (2001) - físicos que abriram o debate sobre os parâmetros de rigor intelectual e honestidade, e ii) Pracontal (2004) - matemático e especialista em divulgação científica que discorre sobre os vários tipos de imposturas científicas, apontando meios para identificá-las.

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O método de análise é a identificação de artigos referentes ao tema que ressaltam os conceitos de ética, ciência e divulgação científica como especificados no que segue. Ética

Fonte: www.nature.com/nature/journal/v451/n7177/full/451397a

O conceito de ética focado neste trabalho refere-se não àquele associado às pesquisas que envolvem seres humanos no sentido de os mesmos serem parte da experimentação, posto que para essas há regulamentação estabelecida e disponibilizada (e.g. Diniz et al, 2008), e sim ao associado às pesquisas que envolvem seres humanos no sentido de os mesmos serem consumidores do que se produz e/ou se divulga como científico nas diversas áreas de conhecimento.

Para discussões aprofundadas sobre o conceito de ética e sua evolução

temporal remetemos à leitura especializada (e.g. Srour, 1998; Bursztyn, 2001). E, para os propósitos desse trabalho, no que tange a ética na produção e divulgação científica, consideramos especialmente as imposturas científicas referentes ao plágio e autoria em publicações de revistas especializadas, sob o ponto de vista do que consta em Monteiro et al (2004)- divulgado na Revista FAPESP de abril de 2005.

A despeito de terem sido elaborados para a área médica de acordo com o International Committee of Medical Journals Editors (ICMJE), os critérios de autoria defendidos por Monteiro et al (2004) servem para quaisquer outras áreas de conhecimento e, portanto, seguem copiados.

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O ICMJE recomenda que o crédito deva ser dado com base no preenchimento de três condições: 1. Contribuição substancial na concepção e planejamento, ou aquisição de dados, ou análise e interpretação de dados; 2. Redação e elaboração do artigo ou revisão intelectual crítica deste; 3. Aprovação da versão final a ser publicada.

O ICMJE recomenda, ainda, que em estudos multicêntricos com grande número de participantes, o grupo deverá identificar os indivíduos que aceitam a responsabilidade direta pelo manuscrito.

Além disso, o documento revisado pelo ICMJE ratifica

que:

• Obtenção de financiamento, coleta de dados ou supervisão geral de um grupo de pesquisa não são, por si só, critérios para autoria ou co-autoria. • Todas as pessoas designadas como autoras ou co-autoras deverão qualificar-se, e todas qualificadas deverão ser listadas. • Cada autor ou co-autor deverá ter participado suficientemente do trabalho para ter responsabilidade pública sobre segmentos apropriados do conteúdo. • A ordem dos autores e co-autores será decidida pelo grupo que deverá estar apto a explicá-la.

Quanto à seção Agradecimentos, o ICMJE sugere: • Outras pessoas que tenham dado contribuições substanciais e diretas para o trabalho, mas que não possam ser consideradas autores, podem ser citadas na seção Agradecimentos; se possível, suas contribuições específicas devem ser descritas. Apoio financeiro também deverá ser mencionado nesta seção.

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• Pessoas que colaboraram com o estudo, mas cuja contribuição não justifica autoria ou co-autoria, podem ser listadas nos Agradecimentos como “investigadores clínicos” ou “investigadores participantes”, seguidas da sua função ou contribuição, por exemplo, “coleta de dados”, “encaminhamento e cuidados aos pacientes do estudo”, etc. • Considerando-se que os leitores podem inferir que as pessoas listadas em agradecimentos endossam os resultados e conclusões, todas devem dar permissão por escrito para serem agradecidas.

Ciência, Produção e Divulgação Científica

Por um lado, sobre a questão o que é ciência, Morin (2008) afirma que a mesma não tem resposta científica;

“Científico aquilo que é reconhecido como tal pela maioria dos cientistas”.

Desta forma, para efeitos do que nos propomos, tomamos o termo

ciência como explicado por Nobel (2009):

“Ciência é o termo usado para designar o conjunto de fatos e teorias que explicam esses fatos; tudo que é produzido por instituições que desenvolvam atividades científicas; e maneira particular de trabalhar reconhecida como método científico”.

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Notamos que não é objetivo deste trabalho apresentar a evolução das discussões do conceito de ciência ao longo do tempo e segundo os estudiosos que se ocuparam disso, para o que remetemos, por exemplo, a Kuhn (1962) em particular, e à bibliografia da disciplina Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia (ES 695) do curso de J. C. da UNICAMP.

Por outro lado, sobre a questão sobre o que é divulgação científica, nos

apoiamos nas orientações de José Reis - pesquisador de renome internacional e pioneiro nacional em aliar a sua carreira científica ao trabalho de explicar ciência de forma didática através da imprensa, o que se estabeleceu pelo que atualmente se entende por jornalismo científico e divulgação cientifica.

Fonte: Olson, J. 2008

Para identificar os distintos meios de fazer circular informações

científicas reconhecendo aqueles que o fazem no sentido de Reis, podem ser consideraras as especificações que constam em Bueno (1984):

Difusão - todo e qualquer processo ou recurso utilizado para veicular informações científicas e tecnológicas em periódicos especializados, banco de dados, sistemas de informação acoplados aos institutos, páginas de C&T de jornais e revistas e programas de rádio e televisão dedicados à ciência. Disseminação - transmissão de pesquisa ou estudo do cientista para seus pares, por meio de revistas especializadas. Destina-se a especialistas da mesma área (intra-pares) ou de áreas distintas (extra-pares). Não pretende atingir o público leigo. Divulgação - pressupõe a transposição da linguagem especializada para a não-especializada, com intenção de tornar o conteúdo acessível ao público em geral.

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Jornalismo Científico: divulgação de ciência e tecnologia pelos meios de comunicação segundo o modo de produção jornalística. Seu objetivo é promover a democratização do conhecimento para que os cidadãos entendam melhor o mundo.

No que segue, entretanto, consideramos a expressão divulgação científica sem distinção aos limitantes dessas especificações, devido a difusão e a disseminação serem, no presente contexto, as fontes geradoras para a divulgação científica e o jornalismo científico, como explicado nas disciplinas Oficina de J. C. I (ES 616) e Oficina de J. C. II (ES 696) do curso de J. C.. Sendo assim, atenção especial será dada à divulgação científica realizada pelos que produzem ciência.

Educação

Tendo em vista as considerações da introdução desse trabalho, que

remetem à educação os questionamentos apontados no tema, consideramos a figura que segue (Aquarela de Debret), para exemplificar que a diversidade de interpretações diante de um objeto, um texto, uma ação, um tema, uma reação, um resultado, um fenômeno ou uma imagem, é dependente do conhecimento que o indivíduo domina ao se deparar com o mesmo.

Esta figura vem sendo usada nas aulas de Cálculo Numérico (FA 374)

sob nossa responsabilidade na Faculdade de Engenharia Agrícola FEAGRI/UNICAMP, a qual, por nossa sugestão, serviu para discussões na disciplina Linguagem (ES 476) desse curso de J. C., ocasião que gerou frutos mais bem fundamentados pela teoria de Análise do Discurso, como brilhantemente desenvolvido pela professora responsável.

No caso do uso dessa figura em FA 374, a finalidade é mostrar

argumentos para o aprendizado das novas técnicas matemáticas ensinadas na mesma, cujos alunos, oriundos do ciclo básico, persistentemente se mostram desacreditados da aplicabilidade de mais uma disciplina de matemática em suas vidas profissionais futuras, sem ter noção do que nela vão aprender. E a estratégia usada passa, da sugestão de alguns minutos para a contemplação e busca de erros da aquarela para, em seguida, revelar o mistério tentando convencê-los de nossos argumentos uma vez que o erro foi apontado somente em 1994, e porque um aluno de engenharia mecânica -a origem do erro está no mecanismo retratado.

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O que almejamos com esta metáfora, portanto, é ressaltar a

responsabilidade da educação de modo geral, e em particular a caracterizada “como crítica que contemple conceitos e procedimentos éticos tanto para a produção quanto para a divulgação científica”, no sentido de que, se nada for ensinado e, portanto, conhecido sobre esses conceitos e procedimentos, nada poderá ser cobrado, e a tendência será a de perpetuação da crítica, nesse sentido, afirmada. Neste contexto ressaltamos o que consta em Diniz (2008, p. 362):

“A incorporação de valores e a aquisição de competência ética são processos que exigem reflexão e devem ser iniciados já nas primeiras etapas da formação profissional. A utilização de metodologias ativas de ensino-aprendizagem pode contribuir para a capacitação dos futuros pesquisadores e prepará-los para enfrentar e minimizar possíveis conflitos de interesse no cotidiano da prática científica”.

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Outras Considerações Para delimitar a compilação de artigos para a análise das questões éticas

relacionadas à produção ou divulgação científica, reconhecemos a atuação dos seguintes atores inter relacionados:

i) responsáveis de instituições e órgãos de fomento a pesquisa; ii) cientistas; iii) divulgadores científicos; e iv) cidadãos e o meio ambiente

dentre os quais selecionamos: ii) e iii), posto que i) e iv), ainda que mostrem relações com os itens selecionados, são amplamente discutidos nas disciplinas Ciência, Tecnologia e Sociedade (ES 644), Políticas Públicas e Sociedade (ES 617), e Instituições e Políticas de C&T (ES 656) do curso de J. C., os quais contemplam vasta bibliografia. Desta forma, os cientistas e os divulgadores científicos, em particular os próprios cientistas - como já especificamos, cujas atuações também já foram discutidas, ainda que com outro enfoque, nas disciplinas Fontes de Informação em Ciência e Tecnologia (ES 646) e Oficina de J. C. II (ES 696), respectivamente, são os atores passíveis da análise em questão. Ainda, no que se refere a percepção pública dos cientistas, tomamos como referencial o que consta em Vogt e Polino (2003), onde, dentre outras conclusões se encontra a obtida a partir do Gráfico 1, que segue comentada pelos autores:

“À margens das interpretações que se poderiam fazer sobre a diferença entre os dois grupos de países, o conjunto de dados evidencia um tipo de público que parece sentir que a motivação dos cientistas e as funções positivas da ciência não são suficientes para a tomada de decisões políticas. Isto reflete uma posição de alta racionalidade na dinâmica da política científica, no sentido de que a qualidade de especialista não leva, necessariamente, à racionalidade das decisões políticas”.

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Gráfico 1.

Além disso, apontamos como complementar a observação, divulgada pelo comentarista Arnaldo Jabor na Rede Globo de Televisão, na ocasião do terremoto do Haiti ocorrido em janeiro de 2010, que, após citar pesquisas de ponta que vem sendo realizas e divulgadas (Jabor, 2010), ressaltou:

“...e a miséria brutal sendo ignorada pela ciência e tecnologia”. As conclusões de Vogt e Polino e a observação complementar de Jabor caracterizam fatores da atuação dos cientistas que requerem atenção, principalmente se alinhadas com a afirmação de Oliveira (2002), especialista em divulgação científica:

“O direito à informação por si só justificaria a essência de divulgar C&T para o grande público como forma de socialização do conhecimento. (...) Além disso, a maior parte dos investimentos em C&T é oriunda dos cofres públicos, ou seja, da própria sociedade para quem deve retornar os benefícios resultantes de tais investimentos”.

Do que foi estabelecido até então, fica evidente o fio condutor seguido para atingir os objetivos propostos nesse trabalho. Sendo assim, no que segue são apresentados os apontamentos, se não da maioria mantida em arquivo, dos principais artigos compilados, que seguem ora na íntegra e ora em partes de acordo com o que queremos ressaltar e apontar do conteúdo dos mesmos.

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4. Resultados e discussões Uma das raras vezes que o Jornal da Unicamp (JU) publicou sobre o tema, ocorreu em sua edição de agosto de 2003, onde se encontra o artigo “Códigos de Conduta em Física”, em que o professor Marcelo Knobel, do Instituto de Física da UNICAMP, comentou sobre o então atual (2002) código da Sociedade Brasileira de Física, de qual conclusão emprestamos a afirmação sobre a responsabilidade de todo cientista: “...

Além disso, o novo código inclui uma clara sugestão de que ética deve ser parte integrante da educação do Físico, indicando que é parte integrante da responsabilidade de todo cientista que seus estudantes recebam treinamento específico em ética profissional.

... Está lançada a discussão...” Desde então não encontramos mais nenhum artigo sobre o tema no JU, mas, posteriormente, tomamos conhecimento de uma reportagem divulgada em uma edição de novembro de 1993 do jornal Folha de S. Paulo, sobre a ocorrência de um caso de plágio na Faculdade de Engenharia de Alimentos - FEA/UNICAMP (p.21).

Observamos que esse jornal (Folha de S. Paulo), publica com alguma frequencia artigos referentes à atuação dos cientistas e dos divulgadores científicos, apresentando não somente os resultados de pesquisas de ponta como também críticas sobre a importância dessas pesquisas, denúncias de imposturas científicas como o plágio, interpretações de resultados de forma adequada ao público em geral, sendo grande parte de autoria dos jornalistas científicos Marcelo Gleiser e Marcelo Leite, sendo deste último o livro “Ciência: use com cuidado” Leite (2008). Dentre esses e os que seguiram após 2008, selecionamos o que antecedeu o início do primeiro semestre do curso de J. C., em 16 de abril de 2009, e sobre o qual, no fim do mesmo semestre, apresentamos o trabalho de ES 695. O artigo e o trabalho são apresentados na integra (p.22-23 e p.23-26).

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Folha de S.Paulo, domingo, 15 de março

de 2009

+Marcelo Leite Fraudes e fraudes

Há incentivos demais para obter resultados e publicar rápido

Por que os cientistas cometem falsificações? Será que o número de fraudes em pesquisa está aumentando? São perguntas difíceis de responder. Fabricar ou adulterar dados é a mais completa negação da ética científica (e jornalística, aliás). Veracidade, mais até do que fidedignidade e precisão, constitui a pedra angular da ciência. No dia em que não for mais possível confiar nas informações de artigos de pesquisa enviados para publicação num periódico científico, o alicerce da ciência estará arruinado. Há muita gente convencida de que a quantidade de contrafações está, sim, em expansão. Gente como Horace Freeland Judson, que aprendi a admirar depois de ler seu monumental "The Eighth Day of Creation" (O Oitavo Dia da Criação, monumental história da biologia molecular, de 1978, até hoje sem edição em português). Em outro livro, "The Great Betrayal" (A Grande Traição), de 2004, Judson traça um panorama sombrio da pesquisa contemporânea. Há incentivos demais para obter resultados e publicar, rápido. Jovens pesquisadores competitivos e supervisores lenientes, na sua avaliação, compõem a mistura corrosiva que solapa as fundações do edifício científico. Essa parece ser a raiz mais comum da falsificação, fonte das dezenas de casos noticiados a cada ano. Poucos se tornam notícia de primeira página, como os falsos clones humanos do sul-coreano Woo-Suk Hwang. Não merecem manchetes doutorandos ou pós-doutorandos ávidos por resultados que os mantenham no páreo por bolsas e posições no laboratório. Vários são estudantes estrangeiros, como Nima Afshar, da Universidade da Califórnia em São Francisco, que adulterou imagens de chips de DNA para fazer aparecerem os efeitos esperados com culturas de leveduras. Ou

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como Peili Gu, do Baylor College of Medicine, do Texas, outro caso de PhotoShop. Ou como Mai Nguyen, que falsificou dados de estudo sobre câncer -todos casos pescados na newsletter "The Scientist". Há ocorrências muito mais graves, porém, por afetar milhares de pessoas. Um caso recente é o de Scott Reuben, respeitado anestesiologista de Massachusetts, nos Estados Unidos, acusado de falsificações em 21 artigos, segundo noticiou "The Scientist" na quarta-feira. Esses trabalhos ajudaram a estabelecer o estado-da-arte em analgesia multimodal, uso combinado de medicamentos para tratar dor pós-operatória. Parece inacreditável que alguém fabrique resultados cuja falsidade pode levar as pessoas a sentirem mais dor, mas acontece. Por essas e por outras é que não se deve confiar cegamente nos cientistas (nem nos jornalistas), ainda que a maioria seja veraz. Nada se compara em matéria de dano social, contudo, a Andrew Wakefield. Ele é o autor de um artigo de 1998 no respeitado periódico médico "The Lancet" tido como o iniciador da popular hipótese de que o autismo é causado pela vacina MMR (contra sarampo, caxumba e rubéola). A taxa de vacinação britânica caiu de 92% para menos de 80%, desde então. Os casos de sarampo passaram de 56 em 1998 para 1.348 em 2008, com duas mortes. O jornal "The Sunday Times" noticiou em 8 de fevereiro que Wakefield teria alterado dados sobre pelo menos 11 das 12 crianças descritas no estudo. Tudo, claro, para reforçar o suposto vínculo entre o autismo e a vacina -coisa de que muitos pais brasileiros desinformados e irresponsáveis se acham convencidos, a despeito do que lhes dizem os médicos.

ES 695- J. C. LABJOR/UNICAMP Junho de 2009

Aluna: Mariangela Amendola

O que motiva a produção científica?

Antes de tentar argumentar para a elaboração de qualquer resposta sobre a questão proposta como título deste ensaio, apontamos que a mesma faz parte de um conjunto de questões relacionadas, dentre as quais: O que é

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ciência? Porque, dentre as idéias ou ações geradas pelos diversos grupos sociais, só algumas, “merecem” esta classificação? Onde estão e como se relacionam os atores sociais que produzem e/ou divulgam ciência? Por quem esses atores são reconhecidos como tais e como se relacionam entre si e com os demais atores sociais? No que estas produções ou divulgações influenciam as decisões de políticas públicas? Quem produz e/ou divulga ciência, o faz com qual finalidade, interesse e autonomia? Quem está preocupado com estas questões e as correspondentes respostas? E porque?

Ainda que formular e buscar respostas a este conjunto de questões pareça não pertencer ao cotidiano intelectual da maioria dos indivíduos da sociedade que não são de grupos específicos de estudiosos sociais, o mesmo não acontece no cotidiano existencial dos primeiros.

Esta afirmação se justifica porque, ao longo da vida, todos os indivíduos são submetidos a regras que regem os diversos grupos sociais aos quais pertencem, dentre outros a família, a comunidade vizinha, a escola, o local de trabalho, a cidade e o país, que, embora temporal e aparentemente em equilíbrio, por serem passíveis de interações, experimentam uma dinâmica. Assim, enquanto a análise desta dinâmica permanece com destaque na atuação dos referidos grupos de estudiosos, tanto estes, bem como todos os atores dos demais grupos sociais necessitam se ocupar com a geração de meios capazes de garantir sua cidadania e sobrevivência, o que se dá, geralmente, quando da busca pela especialidade profissional. Ressalta-se que há outros grupos específicos: o dos que se ocupam com a descoberta ou a invenção, o desenvolvimento e a implementação ou a inovação de meios para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos, como fazem, dentre outros, os especialistas das áreas de saúde e de educação; os dentre esses que o fazem segundo metodologias sujeitas a comprovação teórico-experimental; e outro, que não exclui os primeiros, dos que se ocupam pela divulgação dos meios então desenvolvidos.

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Como fruto da desejável interação entre os atores dos distintos grupos, e também por sorte, interesse, afinidade, aptidão, ou empenho, todos poderiam acumular um nível mínimo do conhecimento gerado das diversas atuações: o nível capaz de revelar a aptidão para questionar as causas que levam ao estabelecimento, ajuste ou transformação das referidas regras, para então, poderem desfrutar, se adequar ou adequar as regras. Nota-se que associado ao conceito de regras se encontra o conjunto de crenças, paradigmas ou enigmas que revelam o conhecimento construído, ainda que temporal, capaz de levar à interpretação individual do que constitui a natureza e os indivíduos.

Entretanto, tais regras bem como, e principalmente, os objetivos da ocupação dos grupos ressaltados, nem sempre são genuínos ou conhecidos, o que pode levar não a melhorias e sim a desastres na qualidade de vida dos indivíduos, em especial aos menos favorecidos de educação.

É neste sentido que se pode reconhecer a pertinência da questão proposta como título deste ensaio, para a qual voltamos à luz do que constou no artigo publicado na FSP de 15/3/2009 de Marcelo Leite [1], cujo título é “Fraudes e fraudes”, e onde o autor discorre sobre fraudes científicas, sugere que “não se deve confiar cegamente em cientistas (nem em jornalistas)”, e por fim detalha os impactos danosos gerados em 1998 pela divulgação de um artigo iniciador da hipótese de que o autismo é causado pela vacina contra sarampo, caxumba e rubéola, como uma forma de ressaltar o que explica a atual necessidade de publicação por certos grupos de cientistas.

Observamos que, embora não haja estimativas sobre quantos são os indivíduos que são atraídos para este tipo de divulgação, é razoável sugerir que, dentre os que têm condições intelectuais e/ou oportunidade para a leitura, a maioria - agentes passivos do que é produzido e divulgado como científico-, se “assustaria” ao ler tal artigo, cujo

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autor, felizmente (?) também é cientista e divulgador científico.

Tal sugestão segue com a inclusão da palavra felizmente porque, independentemente de experiências individuais ou sociais, os leitores: cientistas, jornalistas ou leigos, além de assustados, permaneceriam desconfortáveis na qualidade de cidadão não fosse o empenho do referido autor tanto em apontar o que motiva certos cientistas a produzirem e/ou a publicarem fraudes, quanto em apresentar dados comprovados sobre as conseqüências sociais desastrosas deste tipo de produção / publicação. Mas este empenho, que por um lado convence o leitor de que não há o que justifique as fraudes, por outro, não fornece elementos para que os mesmos sejam capazes de elaborar uma conclusão sobre a isenção daqueles, pois o autor não apresenta qualquer informação complementar sobre punições aos autores e/ou divulgadores de fraudes; daí a inclusão da interrogação após a palavra felizmente: uma estratégia de enfraquecê-la, mas não para desmerecer a atuação do autor do artigo - exemplar na tentativa de promover aquelas interações desejáveis-, mas sim para clamar por mais e mais efetivas interações, também junto aos responsáveis pelos grupos sociais a que pertencem os cientistas.

Os argumentos que levaram à inclusão da interrogação foram tomados por mim, eu: cidadã, cientista e aprendiz de divulgadora científica, como mais um incentivo para a continuidade da busca de um referencial teórico capaz de garantir a futura prática da divulgação científica que contemple a minimização de qualquer desconforto para todo tipo de cidadão. Neste sentido, pode ser encontrar na disciplina “Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia” do curso de Jornalismo Científico do LABJOR/UNICAMP, dentre outras fontes de informação de estudiosos especializados, uma bibliografia fundamental.

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A escolha pela apresentação integral desse artigo, que evidencia nosso interesse particular pelo tema e daí a escolha para o referido trabalho de nossa autoria, se deve ao fato do mesmo tornar público questionamentos comparáveis às originadas de nossas inquietações frente a ocorrência de diversos casos de imposturas intelectuais que, lamentavelmente, só tomamos conhecimento e/ou divulgamos de maneira informal, as quais, em geral não levaram à quaisquer punições dos envolvidos.

De outra forma, a Revista FAPESP, que somente recente, tímida e ocasionalmente divulga informações relacionadas a desvios de conduta que levaram à punição dos envolvidos, mas não foi encontrado nenhum envolvendo cientistas ou divulgadores brasileiros.

Os demais artigos relacionados ao tema que foram divulgados tanto

pelo jornal Folha de S. Paulo de modo geral, quanto pela Revista FAPESP, seguem intercalados e em uma certa ordem que não é cronológica. Observamos que não acompanhamos os casos relatados. O que segue foi selecionado porque foi publicado coincidentemente na época em que preparávamos a primeira palestra sobre o tema de questões éticas para ser apresentada à comunidade do LNCC/MCT.

Folha de S. Paulo - 17/11/2009 Trabalho de reitora da USP é acusado de outro plágio Trabalho assinado pela reitora Suely Vilela e outros pesquisadores da USP que já estava sob suspeita por plágio é acusado agora de copiar mais dados. ... Assim como na primeira denúncia, a suspeita é que eles tenham utilizado no artigo sob suspeita mais trechos de estudos de um grupo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) sem informar o crédito. ...

Esta ocorrência lembrou-nos de outros dois artigos de nossos arquivos,

sobre a acusação de plágio na USP e a sobre a cópia de trechos sem a devida referência bibliográfica:

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Folha de S. Paulo 29/06/2007

Físicos da USP acusam chefe do Instituto de Física de plágio Uma acusação de plágio que envolve artigos científicos assinados pelo diretor do IF (Instituto de Física), da Universidade de São Paulo, Alejandro Szanto de Toledo, abriu ontem uma crise entre os professores da entidade. A denúncia, que circula internamente entre um grupo de físicos desde abril, aponta entre os artigos plagiados dois trabalhos do professor Mahir Hussein, da própria usp, recém-aposentado.

Folha de S. Paulo - 09/2008

Marcelo Leite - Vergonha na USP Todo contribuinte que sustenta a USP deve preocupar-se com o modo como o caso de plágio foi tratado pela reitoria A Universidade de São Paulo, maior e melhor instituição pública de pesquisa e ensino superior do Brasil, faz 75 anos em 2009. Quando ela ainda tinha 45 anos, formei-me em jornalismo na sua Escola de Comunicações e Artes, mas prossegui como aluno de filosofia (estudo que, infelizmente, nunca concluí). ... Hoje me pergunto se ainda devo ter orgulho de ser ex-aluno da USP. No centro da preocupação com minha "alma mater" (mãe nutridora), como dizem os norte-americanos e os britânicos, está o caso de plágio em seu Instituto de Física. Não pelo caso em si, que é menor, mesquinho mesmo. Briga de comadres por migalhas de micropoder institucional. Nem vem ao caso quem acusa quem, só que professores titulares admitem copiar trechos de artigos científicos de outros sem a devida referência bibliográfica.

Ainda do ano de 2009, encontramos ainda outros três exemplos de impostura científica, sendo duas ocorrências brasileiras, uma com possibilidade de retratação e outra sem qualquer conseqüência, e uma a coreana com indicativo de punição:

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Folha de S. Paulo - 07/05/2009 Periódico científico publica dois estudos plagiados na íntegra Um caso de plágio envolvendo dois estudos publicados no periódico científico "Revista Analytica" surpreendeu os autores dos artigos originais. Publicados em 2007, os dois trabalhos eram cópias de artigos anteriores da primeira à última palavra, com alterações apenas nos títulos. A revista "Química Nova", da SBQ (Sociedade Brasileira de Química), que havia publicado os estudos originais, negocia agora uma forma de retratação (anulação) dos plágios. Um dos artigos, um estudo que descrevia um novo método para controle de qualidade de cachaça, foi copiado do grupo do químico Ivo Küchler, professor da UFF (Universidade Federal Fluminense).

Folha de S. Paulo - 10/07/2009

Unicamp diz que Dilma cursou mestrado, mas não o terminou A Unicamp informou por meio de nota que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) foi aluna dos programas de mestrado e doutorado da universidade mas não concluiu a elaboração e a defesa de teses nos cursos -necessários para a obtenção dos títulos de mestre e doutor. A Unicamp havia informado que Dilma não havia sido nem mesmo aluna do mestrado, mas retificou o dado. ... O currículo da ministra na Plataforma Lattes - base de dados acadêmicos do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)- indicava que ela havia preparado e defendido a tese de mestrado. Após a revista "Piauí" deste mês ter indicado o erro, Dilma admitiu o equívoco e disse que não preparou a tese em virtude do trabalho em cargos públicos.

Folha de S. Paulo - 25/08/2009 Promotoria pede cadeia para coreano que fraudou pesquisa Promotores da Coreia do Sul pediram ontem uma pena de quatro anos de prisão para o cientista que caiu em desgraça após um escândalo envolvendo clonagem em 2005. Hwang Woo-suk, que publicou artigos fraudados na revista "Science" sobre

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clonagem humana, é acusado de desvio de verba pública, prevaricação e compra ilegal de óvulos para sua pesquisa. Todas as acusações relacionadas às denúncias de fraude. Um promotor disse que Hwang manchou a imagem da Coreia do Sul no exterior e que merecia punição exemplar. Hwang pediu clemência. O caso será julgado no dia 19 de outubro.

Seguem mais outros exemplos de outro tipo de impostura, ocorridas em anos distintos, sendo uma envolvendo estudantes de pós-graduação brasileiros cujas conseqüências não encontramos, outra envolvendo um cientista japonês que acabou sendo preso, e ainda outra mais antiga, relacionando vários casos de punições a cientistas japoneses.

Folha de S. Paulo–19/08/2007 União cobra R$ 54 milhões de ex-bolsistas

Doutorandos receberam ajuda para estudar no exterior e não teriam cumprido as exigências ou abandonado estudos Supostas irregularidades vão de falsificação de diplomas a descumprimento de acordo para permanecer no Brasil com o fim da pós-graduação.

Desde 2002, o governo federal pediu a devolução de cerca de R$ 54 milhões que ex-bolsistas de doutorado favorecidos por ajuda oficial teriam recebido de forma irregular. O levantamento da CGU (Controladoria Geral da União) envolve a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e o CNPq (Conselho Nacional de desenvolvimento Científico e Tecnológico) -principais fomentadores do benefício. Os motivos dos processos variam de irregularidades como o abandono dos estudos até a falsificação de documentos

Pesquisa FAPESP – 10/1009 Desvio e embaraço

Um cientista japonês conhecido por seu trabalho com supramoléculas foi preso sob a acusação de desviar fundos de pesquisa. Tatsuo Wada, retido no dia 8 de setembro, trabalha no Instituto de Ciência Avançada em Wako, que integra uma rede

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de laboratórios de pesquisa conhecida como Riken. O caso causa embaraços para a Riken, que recebe um generoso orçamento anual de US$ 1 bilhão e, em 92 anos de existência, jamais enfrentou um escândalo dessa dimensão. “Vamos lançar mão de medidas de precaução e redobrar nossa vigilância para que o instituto possa atender às expectativas da população”, desculpou-se o presidente da Riken, Ryoji Noyori, segundo a revista Nature. Tatsuo Wada é conhecido por criar sistemas orgânicos supramoleculares – conjunto de moléculas orgânicas cuja forma, tamanho e orientação podem ser manipulados para transmitir informações. A polícia de Tóquio o acusa de transferir 11 milhões de ienes por meio de ordens de pagamento fictícias. O dinheiro foi parar em contas da Akiba Sangyo, empresa que distribui material científico. O presidente da empresa, Etsuo Kato, também foi preso.

Pesquisa FAPESP – 02/2007 Punições exemplares Uma seqüência de punições a pesquisadores do Japão sugere que o governo e a comunidade científica do país deflagraram uma cruzada contra más condutas acadêmicas. Em dezembro passado, duas importantes universidades demitiram cientistas que publicaram artigos questionados e uma professora demitiu-se de uma terceira instituição, acusada de desvio de recursos. A Universidade de Osaka anunciou a demissão de um de seus membros por haver fabricado dados de uma pesquisa. Segundo jornais japoneses, trata-se do químico Akio Sugino, co-autor de um estudo publicado em julho no Journal of Biological Chemistry. Segundo a revista Science, um comitê interno concluiu que Sugino agiu sozinho. Mas, em meio ao escândalo, um outro co-autor do artigo cometeu suicídio. Uma investigação promovida pela Universidade Waseda, em Tóquio, concluiu que uma professora desviou para sua conta particular recursos públicos destinados a bolsistas. Kazuko Matsumoto, a acusada, nega a malversação, mas renunciou ao cargo. Por fim,

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a Universidade de Tóquio demitiu Kazunari Taira e Hiroaki Kawasaki por práticas de pesquisa não confiáveis envolvendo artigos publicados nas revistas Nature, Nature Biotechnology e Proceedings of the National Academy of Sciences. Foi a primeira vez que as universidades de Tóquio e de Osaka tomaram medidas tão drásticas. Antigamente, os escândalos eram abafados ou resultavam em punições discretas. Mas, com o crescimento da competição por recursos, passou-se a exigir mais transparência. Em 2006 as três universidades criaram códigos de conduta e comitês para investigar fraudes.

Seguem outros artigos sobre ocorrencias americanas, um que relata imposturas envolvendo a adulteração de imagens e conclui com uma recomendação exemplar, e outro que comenta sobre um programa para detectar plágio e apresenta uma estatística alarmadora:

Pesquisa FAPESP – 11/2009 A cultura do Photoshop A manipulação de imagens que ilustram artigos científicos tira o sono dos editores de publicações acadêmicas. Num encontro sobre plágio realizado em Londres, Virginia Barbour, editora chefe da PLoS Medicine, revista publicada pela Public Library of Science (PLoS), apresentou dados de um estudo que vem avaliando imagens de artigos aceitos para publicação. Ao longo de um ano, a revista encontrou adulterações em três artigos, num universo de 13 papers averiguados. Num dos casos, pesquisadores duplicaram a foto de um teste western blot. Em outro, fundiram imagens sem informar que buscavam realçar um efeito. Barbour disse que os autores deram explicações satisfatórias e que nenhum dos artigos foi rejeitado. Mas reiterou que modificar imagens sem avisar constitui falsificação. “Há uma cultura nas universidades segundo a qual não há nada de errado em alterar fotos e isso precisa ser discutido”, disse à revista Nature. No rol das investigações

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sobre má conduta abertas entre 2007 e 2008 pelo Escritório de Integridade da Pesquisa do U.S. Department of Health and Human Services.

Pesquisa FAPESP – 11/2008

Flagrantes de plágio Um grupo de pesquisadores da Universidade do Sudoeste do Texas, em Dallas, criou um programa de computador que identifica plágios em artigos científicos ao fazer o cruzamento de milhares de textos publicados em revistas especializadas. Com base no monitoramento realizado pelo software, a equipe texana, liderada por Harold Garner, criou uma base de dados sugestivamente batizada de Déjà Vu, que reúne 75 mil resumos listados na base Medline em que há evidências de cópia de outros textos. Em entrevista à revista Nature, Garner disse que 181 artigos são rematadas cópias de outros textos – em um quarto deles a similaridade beira os 100%. Tanto as publicações que reproduziram os textos clonados quanto os pesquisadores vitimados pelo plágio são alertados depois que o software faz o seu trabalho. O biogerontologista francês Eric Le Bourg ficou surpreso ao ver um artigo que publicou no jornal Experimental Gerontology ser integralmente reproduzido no Korean Journal of Biological Sciences, mas com a assinatura de Hak-Ryul Kim, da Universidade de Seul. “Era puro copy e paste. Até os gráficos eram copiados”, disse. Pelo menos 22 plagiadores de 12 países são reincidentes, diz Garner, que se queixa da relutância de certas publicações em denunciar o plágio. Segundo ele, seus alertas não surtiram nenhum efeito em 50% dos casos e, mesmo quando há retratação, ela nem sempre é comunicada à PubMed, a consagrada base de dados de resumos

Um outro artigo sobre ocorrências na China chama a atenção por publicar um menu de imposturas com punições pre-estabelecidas, e outro mais representativo do universo das imposturas é o que mostra os resultados de uma

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renião de 52 países, cuja afirmação é pioneira em afirmar que a pressão para que os pesquisadores publiquem a qualquer custo foi a causa mais mencionada para o avanço das fraudes:

Pesquisa FAPESP – 05/2009

O menu das más condutas Num esforço para combater fraudes e condutas desonestas no meio acadêmico, o Ministério da Educação da China publicou uma espécie de índex de atos e comportamentos inadequados, assim como estipulou punições para quem praticá-los. De acordo com o documento, cometer plágio, falsificar dados e referências, fraudar currículos e usar o nome de outros pesquisadores sem pedir permissão poderá dar punição com demissão, suspensão do financiamento de projetos de pesquisa, cassação de prêmios e processos na Justiça. As medidas são uma resposta a um recente escândalo envolvendo a Universidade Zhejiang, na cidade de Hangzhou, onde dois professores de ciências farmacêuticas, He Haibo e Li Lianda, perderam seus cargos acusados de plágio. Em 2006 o governo chinês já havia criado um esquema para monitorar projetos de pesquisa depois de uma série de acusações envolvendo condutas desonestas. “As medidas buscam criar um mecanismo de prevenção que mantenha o campo acadêmico livre de fraudes”, disse à agência SciDev.Net Xu Mei, a porta-voz do ministério. Para Hou Zinyi, professor de direito da Universidade Nankai, na cidade de Tianjin, as iniciativas do governo são superficiais. Segundo ele, é preciso aliviar a pressão sobre os pesquisadores, principalmente os mais jovens, que se veem obrigados a publicar artigos em grande quantidade e acabam recorrendo a trapaças.

Pesquisa FAPESP – 11/2007

Buracos na rede Cerca de 300 pessoas de 52 países, entre cientistas, editores de periódicos acadêmicos, autoridades e gestores de universidades,

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reuniram-se durante três dias em Lisboa no final de setembro para discutir o desafio de combater a desonestidade no ambiente de pesquisa, com destaque para plágios, fraudes e falsificações em artigos científicos.

...

É certo que episódios de desonestidade científica estão longe de ser novidade.

...

Citou-se, por exemplo, o escasso hábito de promover a retratação de artigos fraudulentos publicados em revistas científicas. A taxa de retratação de artigos na base PubMed, por exemplo, está estacionado em apenas 0,02% desde 1994. “O que ouvimos aqui confirma que as condutas impróprias estão muito mais disseminadas do que se imagina, ainda que nem sempre se configurem crimes”, diz Ian Halliday, presidente da ESF. A pressão para que os pesquisadores publiquem a qualquer custo foi a causa mais mencionada para o avanço das fraudes. Enquanto o número de publicações dos Estados Unidos está estagnado, países como China, Coréia do Sul, Cingapura, Hong Kong e Taiwan vêm ampliando anualmente em 15% sua produção, segundo dados apresentados por Ovid Tzeng, da Universidade National Yang Ming, em Taiwan. “Os sistemas de ranqueamento são muito severos em Taiwan, Hong Kong e outras localidades da Ásia. Os governos destinam fundos de acordo com o ranking e perguntam apenas: quantos artigos você publicou? Quem consegue publicar um paper na Nature recebe US$ 1 mil em dinheiro vivo”, afirmou Tzeng. “Devemos pedir às agências de fomento, governos e instituições que revisem suas regras para reduzir a pressão por aumentar a quantidade de artigos publicados, especialmente para os pesquisadores muito jovens. Isso pode ser feito sem comprometer a qualidade e pode até realçá-la”, disse Peter Tindemans, da Fundação Européia da Ciência.

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As imposturas envolvendo cientistas brasileiros que divulgam seus resultados em revistas internacionais consagradas, também se revelam por outros meios, como a divulgada no artigo que segue, cuja consequencia também desconhecemos:

Pesquisa FAPESP – 11/2005

A polêmica do artigo Como às vezes acontece, o feitiço pode ter virado contra o feiticeiro. Se a revista Cell, um dos periódicos internacionais mais respeitados da área de ciências da vida, queria desacreditar o artigo publicado em sua edição de 23 de julho de 2004 pela equipe do médico Antonio Teixeira, da Universidade de Brasília (UnB), a forma de lidar com o caso talvez não tenha sido das mais transparentes, nem eficaz em seus propósitos. Pondo fim a uma negociação de meses com os autores brasileiros do estudo em questão, que havia fornecido as primeiras evidências de que trechos do genoma do parasita Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas, poderiam se incorporar ao DNA de animais, inclusive do homem, o periódico cancelou a validade do artigo num comunicado de dois parágrafos e cerca de 120 palavras divulgado em 23 de setembro deste ano. Fez isso à revelia dos autores, sem apresentar razões inequívocas para seu comportamento. O procedimento unilateral acabou gerando críticas em relação à política editorial da Cell e jogou ainda mais luz sobre o estudo dos pesquisadores de Brasília. A revista argumentou que, “depois de cuidadosa e extensiva revisão dos dados (de Teixeira) por especialistas independentes da área”, era forçada a retirar o artigo porque havia dúvidas sobre o local do DNA do hospedeiro em que o genoma do parasita teria se alojado. Mas não apresentou nenhuma evidência de fraude, deslize ético ou má conduta da equipe brasileira que redigira o polêmico artigo, situações que normalmente são invocadas quando uma publicação resolve cancelar os escritos de um pesquisador. A comunidade científica, brasileira e internacional, estranhou o procedimento

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da Cell e reclamou publicamente em reportagens e artigos que saíram em meios de comunicação daqui e do exterior. A reação levou a editora da Cell, Emilie Marcus, a voltar ao assunto num texto maior, o editorial da edição de 21 de outubro passado, intitulado “Controvérsia da retratação”. Resultado da polêmica: o artigo cancelado, aquele que não era boa ciência segundo o periódico, chegou a ser o segundo mais lido no site da própria revista e o editorial explicativo estava na 11ª posição na mesma lista no final do mês passado. Baiano de 63 anos, Teixeira desenvolve a linha de pesquisa que redundou no artigo da Cell há mais de uma década e meia. Ele se diz perplexo com o desenrolar dos acontecimentos, inclusive com as reações de solidariedade que recebeu de colegas do Brasil e de fora do país. “Jamais poderia imaginar que a atitude arrogante da revista pudesse sensibilizar tantas pessoas no mundo”, afirma o pesquisador da UnB, que defende a validade de seus dados. “Outros laboratórios estão tentando reproduzir os nossos resultados.” O tempo, como sempre, dirá quem tem razão.

Um artigo que merece destaque é o que foi publicado pelo Observatório da Impprensa, em sua edição 558, com observações importantes sobre o plágio, mas refereindo-se somente aos praticados por alunos. Além disso, citando leis que não são divulgadas, e não sabemos se praticadas ou em vigor, ainda que afirmando com propriedade sobre a inexistência de fiscalização. Esse artigo segue copiado na íntegra:

Observatório da Imprensa-06/10/2009 (http://www.observatoriodaimprensa.com.br) MÍDIA & EDUCAÇÃO

O trabalho acadêmico e o plágio

Por Eliezer Belo Algumas coisas chamam a atenção quando fogem da regularidade. Foi o que se pode perceber durante este mês de setembro de 2009. Por duas vezes, em uma mesma emissora e

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um mesmo programa jornalístico, enfatizou-se a questão das compras de monografias.

A monografia tem sido o "calcanhar de Aquiles" de muitos estudantes, coisa percebida no ambiente acadêmico nas últimas décadas. Na verdade, ela sempre foi uma profunda dor de cabeça para muitos. Mas o que vem chamando a atenção para tal é o fator de que, atualmente, muitos desses trabalhos estão sendo acusados de plágio. Um fator interessante em todo esse contexto é que pouco se fala nas condições em que os alunos dos cursos de graduação estão envolvidos, no que diz respeito aos aspectos legais, educacionais, à compreensão da natureza do trabalho acadêmico, culturais e tecnológicos.

Em relação ao plágio, ele se caracteriza (conforme Lei nº 9.610 de 19/02/1998) consistentemente pelo uso não autorizado ou não referenciado pelo pesquisador. Quando a lei expressa "a proteção recairá sobre a forma literária ou artística, não abrangendo o seu conteúdo científico ou técnico, sem prejuízo dos direitos que protegem os demais campos da propriedade imaterial". Com isso a materialização de uma obra científica é apoderada pelo autor a partir de sua configuração, ou seja, o texto em si. Apropriação desse texto (inciso I, Art. 7, Lei 9.610) configura a apropriação indébita. Porém, o Art. 108, quando trata das punições reza "Quem,[...] deixar de indicar ou de anunciar, como tal, o nome, pseudônimo ou sinal convencional do autor e do intérprete, além de responder por danos morais, está obrigado a divulgar-lhes a identidade [...]". Dentro desse aspecto, o trabalho acadêmico, seguindo os critérios da ABNT - NBR 6023, eximir-se-á do plágio pelo uso orientado dos textos fidedignos de pesquisa.

Consciência e importância

A produção do trabalho acadêmico tem por objetivo inserir o aluno à pesquisa. Ele advém dos "recortes" (recortes aqui são aqueles que se apresentam nos trabalhos acadêmicos, em formato de citação, e aparecem devidamente referenciados) de pesquisas já efetivadas por pesquisadores já inseridos no processo pesquisa.

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O que dá caráter científico a um trabalho é exatamente sua fundamentação, que faz uso de uma metodologia própria de pesquisa e se apodera de um objeto manipulável e com regularidades. A materialidade da pesquisa consiste na coleta de dados feita pelo pesquisador, seja pela observação laboratorial, com recursos às literaturas ou feita em campo.

O laboratório, a literatura e o campo nunca estiveram tão próximos aos pesquisadores como agora. De que forma? Pelos meios digitais, especificamente pela internet. Tempo e espaço estão reduzidos ao "click". O aluno que está sendo inserido no campo da pesquisa deve ter construído em si a importância do trabalho acadêmico, principalmente a monografia. Sem a consciência da utilidade acontece a banalização e a desconsideração. Sendo assim, fica muito fácil, e até uma "tentação" para o aluno, desassistido, buscar outros meios para efetivar "seu" trabalho. A consciência e importância do trabalho acadêmico devem iniciar sua construção desde o primeiro momento que o aluno se insere no ambiente acadêmico e acompanhado até a sua saída.

Pertinência e metodologia

A monografia deve ser encarada como a primeira especialização do aluno, sabendo que é, a partir do tema proposto, ela que o orientará no que diz respeito às suas futuras investidas acadêmicas. Caso o aluno ignore essa condição, dificilmente terá sucesso após sua formação. Sem querer poetizar, o trabalho acadêmico deve produzir no aluno o sentimento de quem pintou um belo quadro, obra única (fazendo uso de tintas produzidas por outros, mas misturadas por criatividade única), ou escreveu uma poesia, sentimento único (fazendo usa de palavras utilizadas por outros, mas com articulações únicas), essa é a autenticidade do trabalho acadêmico. Para muitos o término da monografia e sua apresentação à banca examinadora já foi considerado um rito de passagem, mais significativa do que a colação de grau ou a recebimento do diploma.

Não se pode ignorar que as Instituições de Ensino Superior (algumas delas) deixam de assumir compromisso com o aluno,

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ou seja, não cumprem o papel educacional. Isso está claro, é só vermos as condições em que alguns alunos saem "formados" de certas faculdades e universidades. É de toda compreensão que as responsabilidades são recíprocas. Mas a questão maior é que, mesmo o colegiado e o setor pedagógico vendo a situação de descaso em que certos alunos encaram a graduação, ignoram. Parece que o que mais importa para essas Instituições de ensino são as "mensalidades quitadas". Mensalidade quitada está virando sinônimo de "formação continuada".

Se há um acompanhamento do aluno da definição do tema para o projeto, questionamentos sobre a pertinência do tema, a proposição metodológica e o desenvolvimento seqüencial e assistido por um orientador, dificilmente ele se ocupará com a desonestidade de se apropriar indebitamente da produção intelectual de outro.

Regras e fiscalização

Ignorar a figura do orientador, para conter gastos também é imoral, assim como ir à internet e copiar alguma coisa para enxertar um trabalho (apesar da lei do mercado sustentar que a contenção de gastos é justa). A regra do mercado educacional é "quanto mais tempo o aluno gasta em sala de aula, ou sendo assistido, maior será o gasto, que é igual a prejuízo". Mas as regras da educação e da pedagogia são "orientar e facilitar até que se consolide o processo ensino-aprendizagem".

Retirar dos cursos de graduação o TCC ou os artigos periódicos, como meios de avaliação, também não será uma postura responsável, eles ainda são um meio possível, dentro de nosso contexto, de produzir um profissional ou pesquisador envolvido com as questões de imanência de sua formação.

Seria justo que o MEC fiscalizasse mais, tanto as IES, no que diz respeito à qualidade de serviços educacionais, não usando apenas como critério a instalação física e a titulação do corpo docente, mas tudo o que envolve o compromisso educacional; como também às produções acadêmicas de conclusão de curso. Pelo MEC seria o caminho que, imparcialmente, alcançaria tanto que o que explora a necessidade comercial do ensino

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como o que se serve dela. Existem regras? Sim. Uma porção delas, expressas nas portarias no MEC. Existe fiscalização? Não. O mercado educacional, no que diz respeito à seriedade que se deve dar à formação das pessoas e à fiscalização, é "terra de ninguém".

Um outro tipo de informação que merce ser comentado é que, a despeito da ter sido divulgado em diversos meios, com no Jornal Nacional da Rede Globo, mereceu somente um pequeno comentário no que constou na Revista FAPESP. A importância dessa informação, segundo nossa interpretação, é o fato de a mesma revelar o descrédito do pesquisador para com seus pares, a partir do que podemos sugerir a ocorrência de imposturas intelectuais em seu meio acadêmico; de outra forma, a que se deveria atribuir tal descrédito? Segue o que foi publicado.

Pesquisa FAPESP – 04/2010

O gênio rejeita US$ 1 milhão O matemático russo Grigory Perelman, 43 anos, recusou mais um prêmio em reconhecimento à proeza de resolver a conjectura de Poincaré, considerada uma questão central da topologia, área da matemática que estuda as propriedades geométricas que não mudam quando objetos são distorcidos, esticados ou encolhidos. Segundo o jornal Pravda, Perelman rejeitou o prêmio de US$ 1 milhão oferecido pelo Instituto Clay de Matemática (CMI, na sigla em inglês), de Massachusetts. Ele publicou a solução da conjectura em artigos na internet em 2002 e 2003. Em 2006 foi indicado para receber a cobiçada Fields Medal, concedida a grandes matemáticos com menos de 40 anos, mas recusou o prêmio, tachando-o de irrelevante. Ele também tinha rejeitado um prêmio do Congresso Europeu de Matemáticos, em 1996, sob o argumento de que não reconhecia nos pares que concederam a honraria autoridade para julgar seu feito.

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Segue ainda um artigo recentemente publicado, que trata da impostura de um cientista, mas de um egípcio.

Folha de S. Paulo - 03/01/2010 L.I.X.O.

Marcelo Leite

Físico egípcio descobre como pôr a estatística a serviço de si mesmo

... Há alguns problemas com a produção do egípcio, no entanto. Nos últimos anos, seus adversários se deram conta de que mais de 300 dos 400 artigos publicados por El Naschie o foram no próprio "CSF" por ele editado. ...

Outro artigo, desta vez brasileiro,e que, portanto, merece atenção é o que mostra a informação de ocorrência de plágio na Faculdade de Direito (!!!), e da USP (!!!), que foi publicado tanto na Folha de S.Paulo quanto no Jornal da Ciência (JC) (SBPC), mas que não concluiu com qualquer punição:

Folha de S. Paulo 06/02/2010 Universidade "inocenta" professor titular da Faculdade de Direito e afirma que problemas foram só em formalidades

JC de 08/02/2010

A USP decidiu arquivar uma investigação de plágio contra um docente da sua Faculdade de Direito e isentá-lo de qualquer penalidade -apesar de uma comissão de sindicância ter apontado irregularidades no trabalho apresentado por ele no concurso para professor titular, ápice da carreira.

E, de imposturas de outras naturezas ainda seguem artigos publicados que colocam em questão a atuação de pesquisadores de renome, que foram enfaticamente divulgados, como os que seguem.

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Folha de S. Paulo 04/04/2010

+MARCELO LEITE Promessa não cumprida

Qualquer criança sabe que o câncer continua a ser uma doença grave

No dia 26 de junho fará dez anos que Bill Clinton, Francis Collins -hoje diretor dos poderosos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos EUA, então chefe do Projeto Genoma Humano (PGH)- e Craig Venter, da empresa competidora Celera, se reuniram na Casa Branca para anunciar o fim do sequenciamento (soletração) do conteúdo dos 23 pares de cromossomos humanos. Como muita coisa de que esse trio participou, nada ali era bem verdadeiro, e quase tudo cheirava a encenação.

Folha de S. Paulo – abril de 2010

Freud na berlinda

Livro do francês Michel Onfray contra o pai da psicanálise gera polêmica antes mesmo de chegar às livrarias ...

No livro, lançado na quarta passada, Onfray se entrega com indisfarçável deleite ao ataque contra Freud e o freudismo.

...

Segundo Onfray, o médico formado em Viena toma emprestado conceitos de Schopenhauer e Nietzsche sem honrar suas fontes; dissimula os fracassos terapêuticos da psicanálise; pretende ser um cientista e, ao mesmo tempo, se apresenta como "conquistador de um continente desconhecido", tomando seus desejos por realidade; é um burguês ávido de celebridade; persegue dinheiro e glória; mantém uma relação adúltera com a

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cunhada, que vivia em sua casa; é um falocrata, misógino e homofóbico.

As principais revistas científicas internacionais também mostram

preocupação com imposturas, como a publicada na Nature que segue.

Nature Vol 464 |no. 7293 | 29 April 2010 www.nature.com/nature

Under suspicion When Nature or its sister journals receive serious allegations about data or author conduct, they follow a clear procedure to work out whether the published record needs to be revised.

A particularly exciting research paper catches your eye. You start to read it in detail, carefully studying the methods, figures, data and logic. To your growing horror, you realize that a few of the blots and gel images look as though they have been digitally manipulated. You immediately inform the journal of your suspicions and are told that the editors will ‘look into it’. But after months of silence, you begin to wonder if that phrase is just a euphemism for inaction.

It isn’t — certainly not at Nature or any of the other Nature-branded journals. We make a concerted effort to forestall such problems by spot-checking the images in at least two papers of each issue before publication. Even so, Nature journals that publish a substantial number of gels and blots still receive up to five reports of image manipulation per journal per year — and few of these cases can be handled quickly.

When we receive a complaint, we first do our own tests on the figures to see whether the charges have merit. We also take a careful look at the paper as a whole. Some claims of fraudulent image manipulation turn out to be mistaken. Others we suspect of being clumsy attempts to slur the reputations of others.

Occasionally, our examination suggests that something may be amiss. We then ask the authors for the original data and an explanation of what has happened. This is to help us understand whether the images really were manipulated and, if

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so, why. This request for authors to provide us with explanations holds true for almost all other types of allegations, from authors not sharing materials as expected to charges of fabricated data or plagiarism.

Intent is key — we often find that no data have been fabricated, but that poor practice and a lack of education have allowed unexplained gel splices, for example, to slip past co-authors before submission or during the revision process. Taking into account the authors’ response, together with our comparison of the original images with the published figures, we will hopefully find that the apparent problems are either nonexistent or easily remedied. If we conclude otherwise, we will then contact the authors’ home institution. This step is necessary because, unlike universities and other such institutions, journals don’t have the resources or the legal authority to investigate allegations fully, or to make formal findings of research misconduct.

At Nature, we usually wait for the results of a formal inquiry before correcting the record — hence the seeming inaction. Institutions vary in their practices, and some are more efficient than others. Institutions that accept government grants in the United States must have a researchintegrity officer to handle such allegations, but they are not obliged to share their information with us. We urge institutions to produce a redacted version of their final report that protects the innocent, but that indicates the extent of the investigation and the findings on each allegation. Because this is not general practice, we are not always sure that we concur with the actions suggested by the institution’s investigating committee. To see exactly what was examined, we are forced to request clarifications, which delays revisions to the public record further.

At times, we have to resort to the US Freedom of Information Act to obtain enough information to correct the literature appropriately.

If the institute is not in the United States, lines of responsibility are less clear. Determining whom to contact is not straightforward and convincing parties that an investigation is needed and getting useful information back is not a reliable process. Sometimes, this means it can be difficult to judge if the investigation has been thorough and fair.

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The complexity of a case, which is not always readily apparent, also has a bearing on how quickly a verdict can be reached. If an institution’s report concludes that misconduct occurred, we usually insist on a retraction — and will issue the retraction ourselves if the authors refuse to comply. But when an institution’s investigation cites lesser problems such as ‘beautification’ of the images, ‘sloppy science’ or ‘inadequate record-keeping’ — sometimes misconduct is suspected but cannot be proven — we will base our response on the specifics of the case.

If there were no data fraud and no intent to deceive, for example, and if only one or two images were involved, we would allow the authors to publish an erratum and supply appropriate data, figures, original gels or images as supplementary information. Such an erratum can enhance the authors’ reputation for honesty. But if most of the figures are problematic, we will strongly urge the authors to retract the paper, even if they were cleared of misconduct and even if the paper’s main conclusions have been verified independently by other labs. The logic is that the published paper did not accurately reflect the data as they were collected.

We urge all readers or reviewers who think that images or other information have been inappropriately handled to bring your concerns to the attention of the editors. By doing so you help increase the reliability of the literature, and so prevent the waste of both time and money following up fraudulent leads and fabricated insights. We strongly believe that it is in our best interest to correct errors that we have published, once we have as much information as we are likely to get — a practice that all journals should embrace. ■ © 20 Macmillan Publishers Limited. 10 All rights reserved

Muitas outras informações relacionadas ao tema são publicadas em

diferentes blogs dos quais recebemos comunicação por e-mail como por exemplo: i) o sugerido pelo Labjor/UNICAMP, que se encontra no http://www.the-scientist.com/blog, de onde, sem anotar a edição, copiamos as figuras que seguem, a primeira por mostrar que não há razão para atribuir a ocorrência de fraudes ou plágios somente aos alunos, e a segunda por mostrar que a maioria das ocorrências não são adequadamente reportadas:

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ou ii) cujos autores não são populares ou referidos nos meios por nós selecionados, de onde copiamos o que segue por servir de exemplo de outro tipo de impostura, em que são citados autores de renomes com o propósito de inferir pela qualidade do artigo:

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IREvalEtAl William Webber’s Research Blog http://blog.codalism.com/?p=773

Citing papers that you’ve never read — or that were never written

A regrettably common practice in academic writing is to cite papers because someone else cites those papers, without having read them yourself. Justin warns about this in his book on writing for computer science, and I know he personally has a few good anecdotes. The practice is particularly amusing when the paper is incorrectly referenced or simply doesn’t exist; the original citer has made a mistake, and this has been blindly carried forward by their imitators. Via Edel Garcia comes The Most Influential Paper Gerard Salton Never Wrote, an article by David Dubin tracing the history of the vector space model as applied to the field of information retrieval. In this article, Dubin points out that a highly cited paper, “A Vector Space Model for Information Retrieval”, published by Gerard Salton in 1975 in the Journal of the American Society for Information Science, does not in fact exist.

Um outro caso que consta de nossos arquivos, que chama ainda mais a atenção por ter sido comprovado, sugere o que pode ser atribuído às origens do problema no Brasil:

i)Quem foi Paula Souza (Google) O professor Antônio Francisco de Paula Souza foi o fundador da Escola Politécnica de São Paulo - Poli, hoje integrada à Universidade de São Paulo. Engenheiro, político e professor, Paula Souza nasceu em Itu, em 1843. De uma família de estadistas, foi um liberal, tendo lutado pela República e Abolição da Escravatura. Em 1892 elegeu-se deputado estadual, ficando poucos meses no cargo, pois o Marechal Floriano Peixoto convocou-o ao Ministério do Exterior. Formado em Engenharia em Carlsruhe, na Alemanha, e em Zurique, na Suíça, foi em toda a sua vida pública um empreendedor e forte oposicionista da centralização do poder político-administrativo

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da Monarquia. Educador, esteve ligado à Poli por 25 anos. Seu desejo era introduzir no Brasil um ensino técnico voltado para a formação de profissionais preocupados com o trabalho e não apenas com discussões acadêmicas. Seu dinamismo em criar obras é um exemplo dessa preocupação. Criou um conceito novo de ensino, convidou especialistas europeus e americanos para lecionar na Poli, à frente da qual esteve como primeiro diretor, de 24 de novembro de 1894 abril de 1917, quando faleceu, em São Paulo.

ii) Por outra fonte de informação Na página 214 do livro "Campinas, das origens ao futuro", de autoria de Dr. Antonio da Costa Santos (Toninho - PT 13), o prefeito de Campinas, assassinado em 10 / 09/ 2001-encontra-se a nota no 145: "O autor pôde constatar, através de documento abaixo reproduzido, oferecido pela Reitoria da Universidade de Karlsruhe, Alemanha, que Paula Souza nunca foi diplomado por esta instituição de ensino, contrariamente ao afirmado pela competente bibliografia no Brasil".

Finalmente, analisando o conjunto de artigos compilados e comentados

anteriormente, podemos afirmar que a ocorrência de imposturas científicas não é um problema só do Brasil, a despeito de deixar evidente que nesse caso (nacional) nada foi encontrado sobre a aplicação de penalidades aos envolvidos, e, portanto, nada podermos apontar sobre o que poderia servir de exemplo a ser seguido para a prática ética da produção e divulgação científica brasileira. Essa análise das discussões dos resultados se mostra como pilar e orientação para nossas recomendações apresentadas nas considerações finais, as quais seguimos em nossa atuação descrita nos anexos referidos nas mesmas.

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5. Considerações Finais

Ainda que sem autoridade para concluir sobre “estado da arte” dos fatores que motivam a produção e a divulgação científica, porque dispondo somente de uma compilação de artigos referentes ao tema selecionados por um método previamente estabelecido, recomendamos que parte da responsabilidade de todo cientista seja garantir que os seus alunos e orientados recebam educação crítica que contemple conceitos e procedimentos éticos tanto para a produção quanto para a divulgação científica de seus resultados.

De forma complementar recomendamos que as sociedades científicas

brasileiras disponham de representantes de sua comunidade para este fim, a exemplo do que propusemos à Sociedade Brasileira de Matemática Aplicada e Computacional (SBMAC) da qual fazemos parte (ver Anexo 1, Anexo 2-a e Anexo 2-b), que todos os cursos das universidades e dos institutos de pesquisa brasileiros se responsabilizem pelo oferecimento de pelo menos uma palestra sobre o tema, a exemplo das que ministramos no LNCC/MCT e da que sugerimos à Comissão de Pesquisa da FEAGRI/UNICAMP - unidade da UNICAMP a que pertencemos (ver Anexo 3), e que jornalistas científicos responsáveis considerem essas recomendações, a exemplo da que sugerimos à Revista FAPESP e da que foi aceita no blog do físico Marcelo Gleiser (ver Anexo 4). A partir da implementação dessas recomendações, sugerimos que as universidades e instituições de pesquisa do Brasil estabeleçam regras para a punição dos envolvidos nos distintos tipos de imposturas, a exemplo do que vem sendo feito em outros países. 6. Trabalhos futuros O conteúdo desse trabalho pode ser usado como parte complementar do PROJETO “Percepção Pública da Ciência pelos Cientistas”, anunciado pelo Dr Carlos Vogt aos alunos do curso de J. C. em 14 de junho de 2010.

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7. Bibliografia complementar citada Bueno, W. C. Jornalismo Científico no Brasil: aspectos teóricos e práticos. São Paulo, CJE/ECA/USP, 1988. Bertolli Filho, C. Elementos fundamentais para a prática do jornalismo científico. BOCC. Biblioteca On-line de Ciências da Comunicação 2006; 1: 1-32. Bursztyn, M. Ciência, ética e sustentabilidade. 2. ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2001. Diniz, D. , Sugai, A., Guilhem, D., Squinca, F. Ética em Pesquisa: temas Globais. Editora UNB, Brasília. 2008. 404p. Knobel, M. Comunicação em aula da disciplina Fontes de Informação do curso de Jornalismo Científico do Labjor, UNICAMP, Campinas-SP, 2009. Kuhn, T. The struture of scientific revolutions.Chicago, University Press. 1962. Leite, A. P. R., Araújo, M. D. A. Reflexões sobre a Ética nas Organizações: Uma Abordagem Inicial sobre a Eticidade nas Universidades Brasileiras. III Encontro Nacional de Pesquisadores em Gestão Social. Juazeiro-BA. Maio de 2009. Leite, M. Ciência: use com cuidado. Campinas, SP: Editora da Unicamp. 2008. Leite, M. Fraudes e fraudes. Folha de São Paulo. 15/03/2009 Monteiro R, Jatene FB, Goldenberg S, Población D.A., Pellizzon R.F. Critérios de autoria em trabalhos científicos: um assunto polêmico e delicado. Rev bras cir cardiovasc [on line]. 2004, 19(4): I-VIII. Morin, E. Ciência com Consciência. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil. 2008. 12ª edição. 350p Oliveira de, F. Jornalismo científico. Editora Contexto. 2002: 42.

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Olson, J. C. Newton and Copernicus. In: The Comic Strip as a Medium for Promoting Science Literacy. California State University Northridge, 2008. Pracontal, M. A impostura científica em dez lições. São Paulo: Editora UNESP, 2004. 453p. Sokal, A., Bricmont, J. Imposturas intelectuais. Rio de Janeiro, Record, 2001. Srour, R. H. Poder, cultura e ética nas organizações. Rio de Janeiro, Campus, 1998, p. 270-71. Vogt, C. & Polino, C. Percepção pública de ciência: Resultados da pesquisa na Argentina, Brasil, Espanha e Uruguai. Campinas, SP, Ed. Unicamp; São Paulo, SP. 2003.

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8. Anexos ANEXO 1

No final do ano de 2009, o Presidente da Society Industrial Applied Mathematics - SIAM, em carta à essa comunidade, manifestou sua "preocupação" diante da crescente ocorrência de plágios (Anexo 1.1). Essa notícia circulou por e-mail entre pesquisadores de diversas universidades e institutos de pesquisa da área de Matemática Aplicada. Uma outra notícia, que também circulou pelos mesmos caminhos, constou da exclusão de um artigo científico já publicado na revista Advances in Engineering Software (Anexo 1.2). Diante destas, dentre outras ocorrências de mesma natureza que tomei conhecimento, eu escrevi informalmente a diversos membros da SBMAC para trocar idéias no sentido de propor que alguma providência fosse tomada para alertar a comunidade sobre o problema de conduta de cientistas, bem como, e principalmente, educar os mais jovens. Nada aconteceu. Coincidentemente era o período em que os sócios da SBMAC poderiam sugerir nome para as conferências especiais do "Congresso Nacional de Matemática Aplicada e Computacional" - CNMAC 2010, ocasião em que, a exemplo de anos anteriores, me manifestei, desta vez com a sugestão do tema "Ética na produção e divulgação científica", e o nome do Prof Marcelo Knobel, que fora nosso professor da disciplian "Fontes de Informação" do curso de J. C. O referido professor aceitou o convite, mas a diretoria da SBMAC não selecionou o seu nome. Posteriormente, enviamos à Revista FAPESP o que consta no Anexo 1.1 junto com a sugestão da inclusão do tema para a pauta, o que não foi contemplado até a presente data.

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ANEXO 1.1

SIAM NEWS

Integrity Under Attack: The State of Scholarly Publishing

December 4, 2009 Talk of the Society Douglas N. Arnold Scientific journals are surely important. They provide the most effective means for disseminating and archiving scientific results, and so are a key part of an enterprise on which our health, security, and prosperity ultimately depend. Publications are used by universities, funding agencies, and others as a primary measure of research productivity and impact. They play a decisive role in hiring, promotion, and salary decisions, and in the ranking of departments, institutions, even nations. With big rewards tied to publication, it is not surprising that some people engage in unethical behavior, abuse, and downright fraud. Still, when I started to look at the issues more closely, I was appalled by what I found. In this column, I give a few troubling examples of misconduct by authors and by journals in applied mathematics. One conclusion I draw is that common bibliometrics---such as the impact factor for journals and citation counts for authors---are easily manipulated not only in theory, but also in practice, and that their use in ranking and judging should be curtailed. SIAM places great value on scholarly publishing, of course, and we are taking strong actions to ensure the integrity of our own publications and to protect our authors from theft of their work. But we are still struggling to decide just what actions we should take. So I invite the thoughts of members of the SIAM community. If you have witnessed troubling incidents in journal publication, let me know. Do you think such incidents are on the rise? Should SIAM be doing more? Should we look beyond our own publications and authors?

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Author misconduct---most obviously verbatim plagiarism, but also more subtle appropriation of ideas and duplicate publication---has always been with us. At SIAM, however, our impression is that the problem is becoming far more common. Perhaps even more disturbing is journal misconduct, carried out by publishers and editors, often with an evident profit motive. One example is a sloppy or sham peer review process designed to produce the impression of a serious scholarly journal without the substance. Another is the deliberate manipulation of citation statistics in order to raise the impact factor or other journal bibliometrics. A recent case involving SIAM brings in both author and journal misconduct. A paper published in a SIAM journal in 2008 was plagiarized essentially verbatim from a preprint posted by the authors on the web. A copied version of the paper appeared in the International Journal of Statistics and Systems in the same year with different title and authors. SIAM's publisher, vice president for publications, executive director, and I undertook a full investigation, which required nearly six months. The case got messier and more disturbing week by week. I decided that our final report on it should be made fully public; it is available on the web, where you can read the details.^1 Meanwhile, here are some of the sad conclusions. Based on the papers that we reviewed, we determined that the suspect authors had committed plagiarism in this and various other cases. At least four articles published under their names in four different journals are essentially verbatim copies of the articles of other authors, and we have reason to believe that there are other cases as well. The journal publisher, Research India Publications, publishes nearly 50 journals, many related to applied mathematics, but did not respond to our inquiries about the plagiarized article. We contacted the editor-in-chief listed on the journal web page, but he himself has been unable to contact the journal! After learning about this incident from us, he submitted his resignation to the journal but has received no response from the publisher; his name, along with those of numerous other distinguished mathematicians, remains on the journal website.

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Rumors of editor and journal misconduct have dominated the highly publicized case of the applied math journal Chaos, Solitons and Fractals (CSF), published by Elsevier. As reported in a 2008 article in Nature, ^2 "Five of the 36 papers in the December issue of Chaos, Solitons and Fractals alone were written by its editor-in-chief, Mohamed El Naschie. And the year to date has seen nearly 60 papers written by him appear in the journal." In fact, of the 400 papers by El Naschie indexed in Web of Science, 307 were published in CSF while he was editor-in-chief. This extremely high rate of self-publication by the editor-in-chief led to charges that normal standards of peer review were not upheld at CSF; it has also had a large effect on the journal's impact factor. (Thomson Reuters calculates the impact factor of a journal in a given year as C/A, where A is the number of articles published in the journal in the preceding two years, and C is the number of citations to those articles from articles indexed in the Thomson Reuters database and published in the given year.) El Naschie's papers in CSF make 4992 citations, about 2000 of which are to papers published in CSF, largely his own. In 2007, of the 65 journals in the Thomson Reuters category "Mathematics, Interdisciplinary Applications," CSF was ranked number 2. Another journal whose high impact factor raises eyebrows is the International Journal of Nonlinear Science and Numerical Simulation (IJNSNS), founded in 2000 and published by Freund Publishing House. For the past three years, IJNSNS has had the highest impact factor in the category "Mathematics, Applied." There are a variety of connections between IJNSNS and CSF. For example, Ji-Huan He, the founder and editor-in-chief of IJNSNS, is an editor of CSF, and El Naschie is one of the two co-editors of IJNSNS; each publishes copiously, not only in his own journal but also in the other's, and they cite each other frequently. Let me describe another element that contributes to IJNSNS's high impact factor. The Institute of Physics (IOP) publishes Journal of Physics: Conference Series (JPCS). Conference organizers pay to have proceedings of their conferences published in JPCS, and, in the words of IOP, "JPCS asks

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Conference Organisers to handle the peer review of all papers." Neither the brochure nor the website for JPCS lists an editorial board, nor does either describe any process for judging the quality of the conferences. Nonetheless, Thomson Reuters counts citations from JPCS in calculating impact factors. One of the 49 volumes of JPCS in 2008 was the proceedings of a conference organized by IJNSNS editor-in-chief He at his home campus, Shanghai Donghua University. This one volume contained 221 papers, with 366 references to papers in IJNSNS and 353 references to He. To give you an idea of the effect of this, had IJNSNS not received a single citation in 2008 beyond the ones in this conference proceedings, it would still have been assigned a larger impact factor than any SIAM journal except for SIAM Review. Another example of journal misconduct was revealed with an element of comedy. In "‘CRAP' paper accepted for publication," published online in June in Science News, senior editor Janet Raloff ^3 described an experiment in which Cornell graduate student Philip Davis and a friend used a computer program, SCIgen, to generate a random document; the grammar and vocabulary were those of a computer science research paper, but the document was completely free of meaningful content. (The paper opens, "Compact symmetries and compilers have garnered tremendous interest from both futurists and biologists in the last several years. The flaw of this type of solution, however, is that DHTs can be made empathic, large-scale, and extensible." Four pages later, it concludes, "We expect to see many futurists move to studying TriflingThamyn in the very near future." Indeed!) The paper was submitted to The Open Information Science Journal (TOISCIJ), published by Bentham Science, a publisher of more than 200 open-access scientific journals (many of which, according to the publisher's website, have high impact factors). Although the paper was submitted under pseudonyms and with the give-away affiliation Center for Research in Applied Phrenology, or CRAP, Davis was notified four months later that the "submitted article has been accepted for publication after peer-reviewing process in TOISCIJ." Following the open-access model, the publisher told

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the authors that the paper would be published as soon as they sent a check for $800. (They declined to do so.) The cases I have recounted are appalling, but clear-cut. Perhaps even more dangerous are the less obvious cases: publishers who do not do away with peer review, but who adjust it according to nonscientific factors; journals that may not engage in wide-scale and systematic self-citation, but that apply subtle pressures on authors and editors to adjust citations in favor of the journal, rather than based on scholarly grounds; authors who may not steal text verbatim, but who lift ideas without giving proper credit. These are much harder to measure and adjudicate. What do you think? Are such practices significantly distorting the scientific literature or enterprise? Do you have a story of such dubious practices to tell? One conclusion that I am ready to draw is that we need to back away from the use of bibliometrics like the impact factor in judging scientific quality. It has long been noted that what the impact factor measures is not well correlated with the quality of a journal, and even much less with the scientific quality of the papers appearing in it or of the authors of those papers. In our field, the 2008 IMU–ICIAM–IMS report Citation Statistics ^4 made that case eloquently. Less emphasized has been that these metrics are open to gaming, and are in fact being gamed; in some cases they are likely a better indicator of the unscrupulousness of the authors, editors, or publishers than of the quality of their work. I frequently hear of technical solutions, proposed in the hope that an adjustment to the formula---for example, increasing the time frame for the impact factor from 2 to 5 years, or excluding self-citations---will solve the problem. Such remedies, in my opinion, are doomed to failure. The numbers of citations to mathematical articles are small integers, with excellent papers often drawing lifetime totals of only tens or hundreds of citations, and such numbers are easily manufactured. What one editor can do in one journal by self-citation, a pair of editors can do with two journals without self-citation. Counting can never replace expert opinion.

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What can we, as concerned scientists, do? Of course, the first step is to look to ourselves: As scientists, we should place great emphasis on scientific integrity, in what we write and what we review. Ask yourself some questions before lending your name to a journal as an editor. Does that journal hew to high standards of peer review? Does it have clear policies and mechanisms for enforcing them? Is its output a useful addition to the sprawling scientific literature? We also need to educate others, not only our students, but also our colleagues and administrators and managers. The next time you are in a situation where a publication count, or a citation number, or an impact factor is brought in as a measure of quality, raise an objection. Let people know how easily these can be, and are being, manipulated. We need to look at the papers themselves, the nature of the citations, and the quality of the journals. I look forward to learning from the experiences and thoughts of the SIAM community. You can reach me at [email protected]. 1 www.siam.org/journals/plagiary. 2 Nature, Volume 456, November 27, 2008, page 432. 3www.sciencenews.org/view/generic/id/44706/title/Science_+_the_Public__‘CRAP'_paper_accepted_for_publication. 4 www.iciam.org/QAR/CitationStatistics-FINAL.PDF.

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ANEXO 1.2

Advances in Engineering Software Volume 40, Issue 4, April 2009, Pages 246-252

RETRACTED: Use of a computer program in the solidification of molten steel using a front-tracking method

A. Kharaba, aMathematics Department, KFUPM, Dhahran 31261, Saudi Arabia

Available online 16 June 2008.

This article has been retracted at the request of the Editor-in-Chief and

Author.

Reason: This article contains substantial material from a paper that had

already appeared in Int. J. Heat Mass Transfer, 29 (1986) 495–499. One of

the conditions of submission of a paper for publication is that authors

declare explicitly that their work is original and has not appeared in a

publication elsewhere. Re-use of any data should be appropriately cited.

As such this article represents a severe abuse of the scientific publishing

system. The scientific community takes a very strong view on this matter

and we apologize to readers of the journal that this was not detected during

the submission process.

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ANEXO 2-a

Re: Boletim da SBMAC Ano 1 - No. 6

Para: SBMAC Data:18/06/2010 1.1. Criação de Comitês temáticos

Convidamos todas as pessoas interessadas em participar ou criar comitês temáticos no âmbito da SBMAC a enviar um email para [email protected] com as informações sobre este documento, contendo: Nome: MARIANGELA AMENDOLA Email: [email protected] Possível comitê temático que participaria: RECOMENDAÕES ÉTICAS PARA A PRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

Tem intenção de participar da reunião de organização de um comitê temático na área durante o cnmac? Sim_X_ Não___ Sugestões: A partir da leitura especializada como, por exemplo, Monteiro et al (2004), elaborar um Código de Conduta Ética nos moldes do proposto, por exemplo, pela Sociedade Americana de Física de 2002, para: i) ser divulgado para toda a comunidade, ii) ser apresentado em todo CNMAC, ERMAC, etc...e iii) ser recomendado para ser apresentado em palestras em todos os cursos afins, a exemplo do que apresentamos no LNCC em 2009 e 2010. Aguardamos sugestões e lideranças na criação dos comitês temáticos por parte dos associados da SBMAC. A diretoria da SBMAC sugere a criação dos seguintes comitês temáticos: Problemas Inversos, Sistemas dinâmicos e aplicações, Wavelets,Ensino de Matemática, Equações Diferenciais e Aplicações, Sistemas Biológicos, Modelagem Computacional Modelagem Matemática e Computacional, Mudanças Climáticas, Ciência Espacial, e Espaço Profundo Mariangela Amendola Profa Dra Matemática Aplicada FEAGRI/UNICAMP Fone: 0xx19 91121779

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ANEXO 2-b

Criação de Comitês Temáticos

De: CNMAC 2010 Para:Mariangela Amendola Assunto: Criação de Comitês Temáticos Data: 25/06/2010 14:11 Convidamos todas as pessoas interessadas em participar ou criar comitês temáticos no âmbito da SBMAC a enviar um e-mail para [email protected] com as informações sobre este documento, contendo: Nome:______________________________ Email:______________________________ Possível comitê temático que participaria:______________________________ Tem intenção de participar da reunião de organização de um comitê temático na área durante o cnmac? Sim___ Não___ Sugestões:___________________________________________________ Durante o CNMAC em Águas de Lindóia, no dia 21/09 as 18:30 serão disponibilizadas salas para reuniões com vistas à formação dos comitês temáticos. Pessoas interessadas em liderar a formação de comitês temáticos, devem entrar em contato com a Sra. Andrea Ribeiro através do e-mail: [email protected] para proceder a reserva de sala no dia 21/09. Aguardamos sugestões e lideranças na criação dos comitês temáticos por parte dos associados da SBMAC. A diretoria da SBMAC sugere a criação dos comitês temáticos abaixo e aguarda sugestões de outros comitês. Álgebra Linear Numérica Ensino de Matemática Equações Diferenciais e Aplicações Ciência Espacial Matemática na Indústria Modelagem Matemática e Computacional Mudanças Climáticas Otimização Combinatória Problemas Inversos Recomendações Éticas para a Produção e Divulgação Científica Sistemas Aeronáuticos Sistemas Biológicos Sistemas dinâmicos e aplicações Sistemas Fuzzy Wavelets

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ANEXO 3 Conteúdo de e-mail enviado aos docentes da FEAGRI/UNICAMP em 04 de dezembro de 2009 Melhor tomar providências...exemplo: ATA DA QUINQUAGÉSIMA TERCEIRA REUNIÃO ORDINÁRIA DO CONSELHO INTEGRADO DE TECNOLOGIA DE PROCESSOS, DA FACULDADE DE ENGENHARIA AGRÍCOLA, DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Aos sete dias do mês de outubro, de dois mil e nove, as quatorze horas, o Presidente

do Conselho Prof. Dr. Durval Rodrigues de Paula Junior deu início à sessão, com a

presença dos seguintes membros: Antonio Carlos de Oliveira Ferraz, Antonio

Ludovico Beraldo, Benedito Carlos Benedetti, Denis Miguel Roston, João Domingos

Biagi José Euclides Stipp Paterniani, Mariângela Amendola, Sylvio Luís Honório e

Rafael Augustus de Oliveira (Representante Titular dos Funcionários).

...

7) Discussão da Proposta de Fortalecimento da Pesquisa na FEAGRI. A Professora

Mariângela Amendola ressaltou a importância de dois norteadores para a

continuidade dessa atividade da Comissão de Pesquisa na FEAGRI: a inovação

referente a sugestão apresentada pelo Professor Antonio Carlos de Oliveira Ferraz, de

incluir no relatório SIPEX um plano de pesquisa para os próximos 3 anos e a sua

sugestão para a elaboração de uma orientação de conduta ética, o que pode ser

pautado pelo artigo científico que vem divulgando.

...

atte

Mariangela Amendola

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ANEXO 4

micro/macro - marcelo gleiser

Domingo, 2 de maio de 2010

Ciência, ética e escolhas

Na nossa profissão, devemos seguir uma regra básica: "Nunca minta"

Na semana passada, tive o prazer de ciceronear a escritora e filósofa Rebecca Newberger Goldstein, que veio à Dartmouth dar uma palestra sobre seu último livro, o romance "36 Argumentos para a Existência de Deus, Uma Obra de Ficção". Goldstein é famosa pela sua habilidade de tratar de assuntos cabeludos de filosofia e ciência dentro da narrativa ficcional de um romance. O livro é excepcional em vários níveis. Seu estilo é brilhante e extremamente engraçado, uma descrição contagiante e sincera do mundo acadêmico, da busca pela glória, da inevitável inveja profissional, da competição entre as escolas e da vaidade intelectual que tanto colore as discussões em tópicos que vão desde a mitologia grega à existência do Multiverso (ou seja, de infinitos universos). Como o título informa, o livro trata também da questão da existência de Deus. Mas, para nós aqui nesta coluna, ao menos no contexto do tema de hoje, que é a ética, o livro é principalmente sobre escolhas. Somos produto das escolhas que fazemos ao longo da vida. É bem verdade que, às vezes, as escolhas são feitas à nossa revelia. Por exemplo, quando falha a saúde, ou devido a pressões econômicas. Por falta de emprego, um pacifista com um doutorado em física pode se ver forçado a trabalhar na indústria armamentista. Por outro lado, pode fazê-lo por opção, por ser um patriota. Como Goldstein sugeriu, temos um cerne pessoal (estou criando esse termo) que funciona de forma bem específica. Podemos até deduzir as posições que um conservador ou um liberal tomarão numa variedade de questões, desde a liberação da maconha até a regulação das práticas do mercado de capitais. A correlação das escolhas é bem forte, produto desse cerne pessoal, que "guia" nossas decisões. Será que a ética é parte desse cerne pessoal? Especulo que sim. Algumas pessoas têm padrões éticos mais elevados do que outras. Não há dúvida de que esses padrões podem

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ser influenciados por eventos na vida, pela educação, por relações etc. Mas alguns casos são mais flexíveis do que outros. E os cientistas? São menos dados a cometer fraudes do que outros profissionais? Na nossa profissão, devemos obedecer a uma regra ética básica: "Nunca minta". De fato, mentir em ciência é uma péssima ideia. Mais cedo ou mais tarde, a comunidade exporá a sua fraude e sua carreira estará arruinada. É bem simples, na verdade: a natureza não tolera trapaças. Quem lembra, por exemplo, da história da fusão a frio? (Veja pt.wikipedia.org/wiki/Fusao-a-frio ) Inocentemente, gostaria de acreditar que essa regra do não mentir deveria valer para todas as profissões. No entanto, é o contexto que determina a aplicação de princípios éticos. Mesmo que você se considere um indivíduo extremamente ético, pode sofrer terríveis pressões para contrariar suas próprias regras. É fácil pensar em exemplos, desde os mais dramáticos (os alemães que "tinham" de se juntar aos nazistas) aos mais amenos (o estudante que cola na prova do vestibular). A moralidade de um pessoa pode ser medida pela resistência que oferece a essas pressões, permanecendo fiel aos seus princípios éticos. Trapacear é construir a sua própria prisão. Se ser livre é poder escolher ao que se prender, gostaria de acreditar que, quanto mais seguimos princípios morais elevados, mais livres somos.

11 comentários:

PENSO QUE O QUE É AFIRMADO: "De fato, mentir em ciência é uma péssima ideia. Mais cedo ou mais tarde, a comunidade exporá a sua fraude e sua carreira estará arruinada.É bem simples, na verdade: a natureza não tolera trapaças." DEVERIA SER MELHOR DESCRI|TO A PARTIR DE DUAS AFIRMAÇÔES: 1)"De fato, mentir em ciência é uma péssima ideia. Mais cedo ou mais tarde, a comunidade exporá a sua fraude e sua carreira estará arruinada." E 2)"É bem simples, na verdade: a natureza não tolera trapaças." POIS A PRIMEIRA NÃO CONTEMPLA OS VÁRIOS TIPOS DE MENTIRAS QUE SÃO REALIZADAS EM NOME DA CIÊNCIA...E TAMBÉM PORQUE NEM SEMPRE A COMUNIDADE DESCOBRE OU, QUANDO TEM ACESSO, TOMA PROVIDÊNCIAS...NEM EXISTE UM CÓDIGO DE CONDUTA NAS UNIVERSIDADES. JÁ A SEGUNDA É MAIS ABSOLUTA...E EU ACREDITO. ATTE MARIANGELA AMENDOLA 2 de maio de 2010 05:38

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Até o Fim Composição: Chico Buarque Quando nasci veio um anjo safado O chato do querubim E decretou que eu estava predestinado A ser errado assim Já de saída a minha estrada entortou Mas vou até o fim "inda" garoto deixei de ir à escola Cassaram meu boletim Não sou ladrão , eu não sou bom de bola Nem posso ouvir clarim Um bom futuro é o que jamais me esperou Mas vou até o fim Eu bem que tenho ensaiado um progresso Virei cantor de festim Mamãe contou que eu faço um bruto sucesso Em quixeramobim Não sei como o maracatu começou Mas vou até o fim Por conta de umas questões paralelas Quebraram meu bandolim Não querem mais ouvir as minhas mazelas E a minha voz chinfrim Criei barriga, a minha mula empacou Mas vou até o fim Não tem cigarro acabou minha renda Deu praga no meu capim Minha mulher fugiu com o dono da venda O que será de mim ? Eu já nem lembro "pronde" mesmo que eu vou Mas vou até o fim Como já disse era um anjo safado O chato dum querubim Que decretou que eu estava predestinado A ser todo ruim Já de saída a minha estrada entortou Mas vou até o fim