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REFLEXÃO 1 APRESENTAÇÃO, CONHECENDO A TURMA... O INICIO DO ESTÁGIO. Creio que as coisas novas que acontecem na vida da gente são todas semelhantes, inicialmente com aquele friozinho na barriga. O desconhecido nos assusta e nos estimula, e nos faz querer cada vez mais e mais. O que seria de nós se não fosse a adrenalina do 1º dia? Inicialmente comecei a conversa com apenas algumas meninas que estavam em aula. Me apresentei, falei de mim, da minha história, de Uruguaiana... Falei um pouquinho da minha trajetória até estar ali naquela sala em um momento histórico único, acho que isso é bom para que eles tenham confiança no professor. Professor é gente, ri, chora, comemora, dança, brinca, perde, ganha. Temos um grande trabalho até desmistificar a figura historicamente construída do professor. Entreguei o cronograma, comentei os conteúdos e acrescentei que minhas aulas eram preparadas sob orientação de uma profª orientadora (nesse caso você, querida leitora), e fiz questão de ler a frase da Maria Curie para a turma, que naquele momento era representada basicamente pelo público feminino. Na frase a cientista fala que a ciência é como se fosse um conto de fadas. Ao passar do tempo a turma ia chegando aos poucos. Já haviam me dito que aulas noturnas seriam assim. Então iniciei provocando a reflexão: o que estuda a genética? Como somos parecidos com nossos pais? O que o núcleo celular e nossa carteira tem em comum? Nesse momento a turma silencia e assim começamos nossa aula. Guardamos informação em nossa carteira. Se você encontrar a minha carteira você pode descobrir quem eu sou, pelos meus documentos, algum telefone... minha carteira de identidade. Assim no núcleo celular está a identidade da célula. A molécula do DNA. A molécula da hereditariedade. Falei um sobre a descoberta da molécula dos Ácidos nucléicos. Expliquei a constituição básica dos nucleotídeos, e notei que as dúvidas ficaram no ar. No segundo período aprofundamos nos nucleotídeos e bases nitrogenadas (AG<CT)(U). Mostrei a pintura de Salvador Dali, que representa a molécula. Falamos em projeto genoma. Busquei explicar o seqüenciamento do genoma humano (projeto Genoma). Acredito que eles tenham captado o que quis dizer. Percebi que eles entenderam a importâncias de estudar o DNA.

Reflexões do estágio 2011 marcelo

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Page 1: Reflexões do estágio 2011   marcelo

REFLEXÃO 1

APRESENTAÇÃO, CONHECENDO A TURMA... O INICIO DO

ESTÁGIO.

Creio que as coisas novas que acontecem na vida da gente são todas

semelhantes, inicialmente com aquele friozinho na barriga. O desconhecido

nos assusta e nos estimula, e nos faz querer cada vez mais e mais. O que

seria de nós se não fosse a adrenalina do 1º dia?

Inicialmente comecei a conversa com apenas algumas meninas que

estavam em aula. Me apresentei, falei de mim, da minha história, de

Uruguaiana... Falei um pouquinho da minha trajetória até estar ali naquela

sala em um momento histórico único, acho que isso é bom para que eles

tenham confiança no professor. Professor é gente, ri, chora, comemora,

dança, brinca, perde, ganha. Temos um grande trabalho até desmistificar a

figura historicamente construída do professor.

Entreguei o cronograma, comentei os conteúdos e acrescentei que

minhas aulas eram preparadas sob orientação de uma profª orientadora

(nesse caso você, querida leitora), e fiz questão de ler a frase da Maria

Curie para a turma, que naquele momento era representada basicamente

pelo público feminino. Na frase a cientista fala que a ciência é como se

fosse um conto de fadas.

Ao passar do tempo a turma ia chegando aos poucos. Já haviam me

dito que aulas noturnas seriam assim. Então iniciei provocando a reflexão: o

que estuda a genética? Como somos parecidos com nossos pais? O que o

núcleo celular e nossa carteira tem em comum? Nesse momento a turma

silencia e assim começamos nossa aula.

Guardamos informação em nossa carteira. Se você encontrar a minha

carteira você pode descobrir quem eu sou, pelos meus documentos, algum

telefone... minha carteira de identidade. Assim no núcleo celular está a

identidade da célula. A molécula do DNA. A molécula da hereditariedade.

Falei um sobre a descoberta da molécula dos Ácidos nucléicos.

Expliquei a constituição básica dos nucleotídeos, e notei que as dúvidas

ficaram no ar. No segundo período aprofundamos nos nucleotídeos e bases

nitrogenadas (AG<CT)(U). Mostrei a pintura de Salvador Dali, que

representa a molécula. Falamos em projeto genoma. Busquei explicar o

seqüenciamento do genoma humano (projeto Genoma). Acredito que eles

tenham captado o que quis dizer. Percebi que eles entenderam a

importâncias de estudar o DNA.

Page 2: Reflexões do estágio 2011   marcelo

REFLEXÃO 2

A HISTÓRIA DO REI SALOMÃO

.

Cheguei cedo na escola sexta-feira, percebi que 10 min. para as 7h os

portões estão abertos para @s alun@s entrarem. Observei um pouco da

entrada del@s no colégio. Vão chegando e já se direcionando para suas

salas. @s profºs ficam nas sala dos professores e debandam todas para suas

respectivas salas em um momento exato.

O 1º período era destinado às aulas de religião, mas fui autorizado

pela direção iniciar a aula. Como só tinha 3 alun@s em sala dediquei-me a

fazer um esquema na lousa, e entreguei a folha de exercício. Assim aos

poucos a turma foi chegando enquanto eu passava alguns tópicos no quadro,

assim notei que foi o tempo ótimo para iniciar a aula.

“- Boa noite pessoal. Há 3 mil anos atrás, o rei Salomão encontra-se

em um grande impasse, pois duas mães reivindicam a maternidade ...” Então a

história procedeu normalmente, e um aluno chamado Bruno sabia a moral da

história. Noto que quando começamos uma aula com alguma história, é uma

forma instigante e provocativa, que a turma aceita muito bem.

Busquei fazer um flash back da nossa primeira aula, fui mais

repetitivo na importância de que el@s entendam a importância de

compreender o DNA como molécula da hereditariedade. Falei em

determinado momento que se el@s percebessem que a informação genética

era constituído de um código organizados pela seqüência dos 4 nucleotídeos

básicos (A,G,C,T) e a diferença elementar entre

homes/macacos/sapos/pteridófitas/alface é a sequências desse código...

“-pessoasl, se vocês compreenderem isso, saio feliz dessa aula!”

Uma aluna trouxe a filha dela para assistir a aula, a menina ficou

escrevendo e fez o exercício que eu havia entregado. Maria me disse que

sua filha adorava Biologia, e que seria minha colega no futuro, falei que a

menina tinha um potencial enorme e que quando ela quisesse assistir a aula

era bem vinda. Percebo que no turno da noite não há como fazer um controle

do horário de chegada e saída dos alun@s em sala, el@s são adult@s, que

possuem cada um seus problemas e suas prioridades. Desejo ganhar el@s no

amor, na liberdade e na magia da ciência, quero que a turma deseje chegar

no horário nas segundas e sextas feiras, e desejo que eles me digam no final

da aula que o tempo passou rápido.

A diretora solicitou que eu ficasse mais um período em sala. Fiquei

com prazer. É Primeira vez que saio com a sensação de ter facilitado uma

boa aula.

Page 3: Reflexões do estágio 2011   marcelo

REFLEXÃO 3

IDENTIFICANDO PESSOAS PELO DNA

.

Tinha uma grande expectativa no ar para esta aula, pois

desenvolveria a proposta em sala que simula o padrão eletroforético de 5

pessoas semelhantes aos testes de DNA usados para solucionar crimes e

exames de paternidade. Realmente achei a proposta brilhante e foi o que

pude constatar com @s alun@s em sala.

No primeiro instante procurei corrigir os exercícios que tinham

ficados na última aula, mas a maioria não fez, ou esqueceu em casa. Percebo

que trabalhar com os adultos nesse sentido de fazer trabalhos de casa é

mais complicado, pois não sabemos se eles não fazem, ou se não tem tempo

para fazer. Ao mesmo tempo não são crianças para serem cobradas, pois

cada um sabe de suas responsabilidades.

Iniciamos nesta terça-feira contando a história do julgamento de um

ex-astro de futebol americano acusado de assassinar a esposa. Através da

análise de sangue encontrado no local do crime, revelou a presença de DNA

pertencente ao assassino. Expliquei a turma como as enzimas de restrição

(tesouras moleculares) atuam cortando pontos específico da molécula,

somente onde ocorre determinadas seqüências de bases.

Após busquei representar no quadro como a eletroforese acontece, e

como ocorre a separação dos diversos tamanho de fragmentos de restrição,

assim eles se movem no gel de maneira inversamente proporcional ao seu

tamanho.

Então a parte mais difícil da aula: Explicar os cortes nos segmentos

específicos dos cromossomos homólogos. Confesso que senti um pouco de

dificuldade, mas a turma foi muito boa, se empenharam em fazer a

atividade, ajudaram com as respostas, logo conseguimos fazer o exercício

todos juntos, descobrimos quem era o criminoso e descobrimos quem era o

pai da criança.

Neste dia passei no paiets pela manhã e pedi um bloquinho de

anotações que sobrou de um evento que fizemos, e levei comigo.

“ – pessoal quem descobrir quem é o criminoso, ganha este bloquinho!”

Foi a minha provocação. No final como toda a turma fez juntos o exercício

achei mais justo sortear o bloquinho, então a Jenifer ganhou o bloquinho que

eu havia levado.

Page 4: Reflexões do estágio 2011   marcelo

REFLEXÃO 4

O que você quer ser quando crescer?

.

Agora descobri que nas sextas-feiras o primeiro período seria

dedicado às aulas de religião. Entretanto tenho chegado neste horário pois

há esta gaveta de horários. Então busquei fazer uma aproximação com a

turma no sentido de conhecê-los melhor, seus objetivos e projetos futuros.

Solicitei que cada um@ dissesse o que desejaria fazer quando crescer:

“ - Falem o que gostam de fazer, se tem algum hoby, se desejam

continuar os estudos.” Foram diversas respostas: engenharia civil,

engenharia ambiental, educação especial, geografia-licenciatura,

oceanografia. Mas o que me deixou pensando foi que uma menina não disse

nada, se recusou dizer. Sabe aquele filme PRECIOSA? Ela me lembra muito

aquela atriz. E aquele contexto que ela vivia, a dificuldade que ela passava

na escola. Trouxe toda aquela reflexão quando ela não expressou seus

desejos e sonhos. Isso me deixou pensando.

Tenho usado a mesma metodologia em aula. Abro um grande esquema

no quadro envolvendo os principias conceitos que serão abordados no dia,

com as devidas palavras chaves que remetem o significado. Esse foi o

espaço de tempo para el@s se chegarem em sala, se acomodarem, para dar

inicio a explicação. Coloquei a página do livro del@s que continha aquela

explicação, conforme fui orientado pela querida leitora/orientadora!

Comecei de fato, contando a história do jovem camponês de família

humilde, que gostava de matemática e botânica, que foi seguir os estudos

em um convento. Gregor Mendel, foi um homem a frente do seu tempo, pois

descobriu o que é tão popular na ciência da Hereditariedade: o gene.

Expliquei as ervilhas de Mendel, o trabalho do monge, o porquê

recebe o título de pai da genética. Entramos em meiose para que eles

compreendessem o processo de segregação dos genes, solicitei atenção da

turma, e reforcei dizendo que muitos acadêmicos de biologia saem da

graduação sem entender corretamente a meiose. A turma manteve-se

atenta durante a explicação. A maioria é adulta, e tenho notado que eles

colaboram.

A profª Rosane solicitou se eu poderia aplicar uma prova nesta sexta-

feira dia 9, para fechar os 30% da nota deles. É o conteúdo que ela estava

passando para eles. Fui afirmativo na minha resposta, meu trabalho é apenas

cuidar da prova, disse que não haveria problemas, entretanto nossa aula de

sexta-feira de exercícios migrará para terça-feira.

Page 5: Reflexões do estágio 2011   marcelo

REFLEXÃO 5

Entendem mas não compreendem!

.

“- Como foi a aula hoje Marcelo?”

Minha resposta rimou:

“-Eles entendem

mas não compreendem!”

Nossa aula nesta terça-feira abordou a 1ª lei de Mendel – Lei do

Monoibridismo. Na última aula já havia explicado o histórico/trabalho de

Mendel, as características analisadas por Mendel (cor da semente

amarela/verde, forma da semente lisa/rugosa, altura do pé alta/baixa,

entre outras).

Cheguei 10min atrasados, depender de

mototaxi para o transporte tem sido

complicado. Minha adrenalina sempre sobe a

1000mil quando a moto pega aquela faixa

movimentada/perigosa de noite, entre o

Jardim do Sol e a Escola Lorea Pinto.

“- Boa Noite à turma!”

Entreguei o glossário e solicitei que anexassem no caderno, pois ali

estão os principais conceitos que serão abordados ao longo deste trimestre.

Também solicitei que me entregassem os exercícios para correção. Alguns

me entregaram, assim eu leio que escreveram e coloco algumas

considerações e entrego-os. Também estou registrando todos que estão

entregando os trabalhinhos.

Iniciei a aula com alguns conceitos na lousa e o cruzamento entre

sementes lisas (AA) e sementes rugosas (aa) cuja F1 é 100% heterozigota.

Depois o cruzamento entre duas plantas (Aa), que então reaparece o

genótipo recessivo. Como algum@s educadas chegam minutos depois devido

trabalharem no comércio, apaguei esse esquema e o refiz novamente. Entre

a explicação chegou um aluno (Bem Hur) que não havia estado presente em

aula desde o início dso meu estágio.

Poxa!

Fiz uma breve retomada em alguns minutos sobre a molécula da

hereditariedade e Mendel, para que ele ficasse por dentro das discussões e

já me concentrei nos cruzamentos de Mendel.

Page 6: Reflexões do estágio 2011   marcelo

Solicitei atenção e disse que gostaria que eles aprendessem a fazer

os cruzamentos pois assim a genética se revelaria como mais uma matéria

fácil e interessante.

Notei que a dificuldade por parte de alguns é na ordem dos genes no

momento da construção do quadro de punnett, Por isso que o título desta

reflexão é este, querida leitora!

O mais engraçado nisso tudo é que aquele aluno que ainda não havia

vindo nas minhas aula, foi o que mais colaborou nas respostas de freqüência

genotípica e proporção fenotípica. Ao meu ver ele foi o que compreendeu

melhor a aula e tinha as sacadas do cruzamento velozmente.

Quando eu estava esperando a mototaxi chegar para retornar para a

casa da Letícia, ele passou por mim. Do outro lado da rua eu falei:

“ – Vem nas aulas kra, você manda bem!”

Realmente, mergulhei neste oceano chamado estágio IV.

Figura 1http://jomasipe.no.sapo.pt

Page 7: Reflexões do estágio 2011   marcelo

REFLEXÃO 6

Mãos de cimento!

.

Sexta-feira foi o dia que a turma fez uma prova para fechar a nota

do trimestre que passou. Chegando ao colégio fui ao encontro da profª

Rosane para que ela me entregasse a avaliação e assim eu me dirigi até a

sala de aula. Aquel@s que chegam sempre no horário já estavam me

aguardando. Fiz algumas considerações sobre a provas:

“ – Pessoal, segundo as orientações da profª Rosane a avaliação é

Individual, sem consulta... Boa Prova.”

No que o tempo foi passando alguns alunos foram chegando, então eu

solicitava que elas assinassem a presença, pegassem a avaliação e sentassem

para iniciar a prova. Notei que alguns estavam meios relapsos para a

avaliação, não estava ligando muito, fizeram poucas questões, e entregaram

logo a folha. Algumas alunas ficaram até o final com a prova, tentando,

perguntando algo para mim. Na medida do possível eu facilitava algumas

idéias para que se lembrassem do conteúdo. Fiz algumas breves falas, sem

dar resposta alguma, mas na intenção de facilitá-los a recordar da matéria.

Passado o primeiro período, chega um aluno, fiz o mesmo

procedimento, entretanto no que ele leva a mão para assinar a chamada

notei que sua pela estava branca. Aquele branco do cimento de quem

trabalha em obras, e que não sai com esses sabonetes comerciais. Então

minha reflexão me levou para o

contexto de uma construção civil,

virando massa de cimento,

carregando areia e tijolos, para

depois do dia de trabalho tomar

um banho em casa e ir para escola

fazer uma prova de histologia.

Será que ele dispôs de tempo

para decorar os dois tipos de

tecidos epiteliais? Será que ele

esteve lendo nessa tarde algo do tipo: Por onde caminha o impulso nervoso?

Sempre me questiono o tipo de avaliação que deve ser feita para

determinada classe, para que avaliar não seja apenas medir a capacidade de

reprodução da informação recebida d@s alun@s. Para que aprender não seja

sinônimo de decorar. Sempre me questiono que espécie de sujeito que

trabalha com educação serei eu. Para que minha função na atividade

educativa não seja apenas de instrução.

Page 8: Reflexões do estágio 2011   marcelo

Não olhei a prova del@s, mas pelo que observei acho que maioria

respondeu apenas a metade da prova, e muit@s sequer responderam 2 ou 3

questões. Isso me preocupa um pouco! Sabe...

REFLEXÃO 7

Nariz alquilino!

.

Ontem ao sair da escola depois da aula, me pairou a dúvida se tinha

mediado uma boa alua, ou não tão boa assim. Fiquei com essa pulga atrás da

orelha. Ser avaliado enquanto se está falando, é uma tarefa muito difícil,

pois se o fator nervosismo entrar em cena pode estragar o bom andamento

do pronunciamento ou da fala. Ao chegar em casa, assisti o filme “o Discurso

do Rei (Oscar 2011)” já ouvira falar sobre, mais não sabia o que exatamente

se tratava. Em certos momento do filme me remeti ao espaço da sala de aula

onde me faltou palavras para descrever um conceito que poderia estar na

minha mente, entretanto fatores psíquicos diversos podem atrapalhar no

momento. Sorte que, além de uma avaliadora de estágio, há uma pessoa

amiga junto a nós, que nos entende nas situações adversas, e tem nos

ajudado nessa trajetória de estudos e superação pessoal.

O filme trata disso: de uma relação de amizade, de um homem simples

que apóia um Rei a superar sua gagueira, para fazer seu discurso, antes de

estourar a 2ª guerra mundial.

Iniciei a aula como tenho feito, com um esquema colorido e ilustrativo

no quadro, assim dá tempo da turma chegar aos pouquinho, e copiar para que

a explicação inicie.

Busquei na explicação elucidar os principais conceitos que são

utilizados em genética, e tenho notado que alguns a turma já está

familiarizada tamanha a ênfase que tenho dado a eles nas aulas.

A turma tem colaborado muito nas explicações, e noto que alguns já

estão sabendo fazer os cruzamentos da 1ª Lei Mendel. Nessa próxima aula

faremos uma sequência de exercícios então terminamos essa primeira parte

e seguimos em frente.

Mesmo sendo observado, na mair parte do tempo creio ter mantido a

calma, entretanto a turma notou e veio me falar de pois:

“ - Como foi professor? Estava nervoso, né?”

Trabalhar com o raciocínio lógico das pessoas também não é tarefa

muito fácil, a genética é uma das poucas áreas da biologia que necessita das

aptidões da matemática, e nesse sentido é um desafio para mim que eles

compreendam as probabilidades e resultados.

Page 9: Reflexões do estágio 2011   marcelo

Tenho feito possível, querida leitora, o que vistes ontem é uma extenção do

meu sujeito. Mesmo que o profissional da educação sofra freqüentes abalos

em sua auto-estima e auto-imágem, parece certo que o amor pelo

conhecimento e a tarefa para construí-lo juntos aos educandos, sem dúvida,

é uma virtude.

REFLEXÃO 8

A pergunta que não quer calar!

.

Nesta terça feira cheguei na Escola perto da 19h. A menina que

estava sentada perguntou se eu iria viajar pois estava com a minha mochila.

Respondi que não, aquela era minha mochila mesmo, e estava cheia de livros,

saqueios lá de dentro e fiz questão que eles sejam tocados e toquem

outr@s. Neste dia a merenda foi cedo. O pessoal ia chegando e a Lu(?) vice

diretora, comunicava ao pessoal para irem ao refeitório:

“ – Pessoal Sanduíche e suco hoje!”

Então fui até o refeitório fazer o lanche também. Lá estava a

educanda Maria, nos cumprimentamos e peguei o lanche e sentei na frente

dela. Maria é daquelas que vem sempre a aula, tem uma filha grande que

gosta de Biologia e ora aparece nas aulas. Falei que ela pode vir quando

quiser.

Ao iniciarmos nossa conversa Maria seriamente me perguntou:

“ - Marcelo, mas tu que mesmo ser professor?”

A pergunta que não quer calar. A pergunta que o garotinho Endrel na

escola Porto seguro, em meu estágio no ensino Fundamental me fez, com o

mesmo tom de voz, com a mesma dúvida e provocação. As pessoas duvidam

que alguém deseje o trabalho pedagógico. Creio de fundamental importância

para aqul@s que irão trabalhar na docência busquem compreender melhor a

posição socialmente desvalorizada do saber docente em relação os outros

conhecimentos sociais. Maurice Tardif ao filosofar sobre Saber e

trabalho: Contrariamente ao operário de uma indústria, o professor

não trabalha apenas com um objeto, ele trabalha com sujeitos em função de um projeto: transformar os alunos, educá-los e insntruí-los. (Tardif, pg.13)

Freire em Pedagogia da autonomia nos leva um complexo devaneio

filosófico, entretanto, para mim, define muito esta troca recíproca que

ocorre neste processo de transformar os sujeitos:

...quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é

formado forma-se e forma ao ser formado. Quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender. (Freire, pg. 23)

Page 10: Reflexões do estágio 2011   marcelo

Não respondi a minha querida educanda. Sou daqueles que acha que

nem tudo na vida deve ser respondido. Deixarei que ela tire suas conclusões.

A aula ocorreu normalamente. Ontem havia pouc@s educandos em sala.

Entretanto corrigimos os exercícios mendelianos aqueles que tinham dúvidas

no cruzamento foram a quadro praticar. No final prguntei quem queria ser

professor. O Bem Hur levantou o braço. Então pedi para ele apagar o

quadro. Prontamente ele foi e disse que desejava ser professor de

Matemática. Falei que ele tinha potencial para tal. É um garoto que tem o

raciocínio lógico bem desenvolvido e veloz, notei isso ao fazer minhas

provocações nos exercícios de proporção fenotípica e genotípica. Ele

sempre com as repostas à frente de seus colegas. Creio que a educação seja

um pouco disso, sabe querida Leitora, Identificar n@s sujeit@s os seu

potencias, volvê-los com base naquilo que se gosta de fazer.

REFLEXÃO 9

O concelho!

.

Quando a professora Rosane me convidou para participar do conselho

de classe primeiramente a minha resposta foi negativa, sempre escutei

coisas ruins sobre o conselho, que os profºs falavam mal dos alunos e outras.

Mas em conversa com a orientadora fui estimulado a participar de tal

reunião, se assim posso chamar, e na terça-feira à noite desloquei-me para o

colégio. Desta vez não para a sala de aula!

Quando cheguei @s prfesso@s já estacam reunidos na biblioteca, em

uma mesa redonda. A biblioteca estava bem iluminada, a professora

convidou-me para sentar, cumprimentei a todas e sentei-me ao lado dela. O

coordenador pedagógico da escola, falou para os demais professores que

iria começar pela turma 202, devido a minha presença. Todos prontamente

toparam.

Pelo caderno de chamada (diário de classe) nome a nome iniciando pela

letra “A” foi chamado @s 40, alun@s, matriculados na 202-noturno da

escola. Professor por professor das diversas ares foi dando seu parecer

(“R” de reprovado e “A” de aprovado) situação dos alunos. Pausadamente

quando chegava em situações que precisava melhor detalhamento e

Page 11: Reflexões do estágio 2011   marcelo

discussão sobre uma situação específica, @s professo@s trocavam idéias

sobre determinada pessoa.

Em um primeiro momento, pensei na situação quando fui aluno no

ensino fundamental. Por quantos conselhos de classe meu nome passou... Por

alguns momentos pensei o quanto é importante esses momentos.

Tive escutando que a maioria dos conselhos de classe eram chatos e

desagradáveis, mas não foi o que vivenciei na companhia dos professores da

Escola que tenho feito estágio. Todos bem descontraidos, riam, faziam

brincadeira. Percebi que o colegiado de professores é unido, é um coletivo

bem coeso e paira sobre El@s uma Aura de amizade recíproca. Senti uma

sensação boa em estar lá naquele momento. Percebi que a elite intelectual

senta para conversar, em roda, para decidir as coisas, todos os grande

intelectuais, pessoas famosas, presidentes e personalidades passaram pelo

conselho.

Mas que conselho é esse?

Lembrei das aulas de história, pensei como as coisas eram decididas

na Roma antiga, no conselho dos Anciãos, me pairou estas imagens em meu

plano de idéias.

No fim a vice diretora abrir para que eu falasse:

Agradeci. Posicionei-me em favor de alguns alunos...

REFLEXÃO 9

Rato amarelo, professor!

.

Ontem iniciamos a 2ª Lei de Mendel. Estive estudando bastante para

desenvolver esta aula, fica em mim a preocupação de que El@s

compreendam estes cruzamentos, pois penso que muitos saem do ensino

médio sem compreender adequadamente um Cruzamento simples de

Page 12: Reflexões do estágio 2011   marcelo

monoibridismo, acho que alguns saem do curso superior sem entender o

cruzamento das 16 possibilidades do diibridismo. Tenho iniciado as aulas

com a mesma metodologia, passado uma folhinha com a data que eles vão

assinando, assim tem sido a “chamada”. Busco não perder tempo nos

pontinhos nome-a-nome.

Iniciamos com um feedback do que viemos estudando, os genes, as

características, a 1ª Lei, e apresentei então a 2ª Lei de Mendel. Solicitei

atenção da turma. Disse que a primeira lei analisava uma característica de

cada vez, entretanto a 2ª Lei irá analisar mais de uma característica

simultaneamente. Isso dificulta a compreensão do cruzamento.

A aula foi basicamente toda no quadro. Meu estágio tem sido assim.

Muito desenho e esquemas. Setas prá lá e cá. Conceitos novos e conceitos

desconhecidos. O universo das palavras e dos símbolos. O universo das

idéias no quadro negro.

“ - Não entendo a letra, professor!”

Vou colocando as idéias principais. Fazendo os esquemas. Algumas

frases. Assim na hora da explicação El@s ficam atentos. A questão não é

copiar. Mas captar as idéias que facilitem o processo de aprendizagem.

letra realent não é uma das elhores, n m d s pior s. Cheis

de simbls e ©arregad s de signi ic ds s bjetivs do “eu”.

Estudamos dois exercícios específicos da 2ª Lei de Mendel, o

primeiro envolvendo o cruzamento de duplo heterozigotos, com

características específicas das ervilheiras de Mendel. Características para

a cor da semente e tipo de tegumento da semente (lisa/rugosa). Esse foi o

primeiro que fizemos. Fizemos o quadro de 16 possibilidades, solicitei que o

se alguém era voluntári@ para fazer no quadro os cruzamentos. Aquela

menina de cabelo curto que trabalha na farmácia fez direitinho os

cruzamentos dos genes. Mesmo com dois pares de gene ela sacou rapidinho

como fazia. Notei que ela tem um potencial altíssimo.

Na hora de separar os fenótipos o Bruno ajudou na lousa. Fez

atentamente e nós compreendemos a proporção fenotípica de 9:3:3:1.

Propus um outro exercício para fixar esse tipo de cruzamento, que ao meu

ver é complexo demasiadamente. Nesse meio tempo chegou uma aluna que

não faz biologia comigo, ela chega para a aula do 3º período. Com ela veio o

seu filho, com cerca de 6 anos, eu acho. Sentou-se ao lado da mão na

primeira cadeira, abriu a bolachinha e perguntou se o professor queria uma...

o professor prontamente aceitou pois o professor adora bolachinha

recheada de morango.

Page 13: Reflexões do estágio 2011   marcelo

O exercício que estávamos analisando havia duas característica de

ratos. 1- Cor do pelo (branca/preto), 2 – tipo de pelo (eriçado/liso) Quando

eu estava em pleno monólogo das característica escutei aquela vozinha:

“ – Pêlo amarelo, professor!”

Foi ele que disse. Então troquei a cor do rato, fizemos o exercício

com a cor sugerida pelo aluninho que nos deu a graça de escutá-lo e estar

presente/ciente/inteligente naquele momento em que eu explicava. Fizemos

o exercício usando o amarelo.

É por isso que gosto de trabalhar com @s pequen@s. É por isso que

Gonzaguinha fala em sua música:

“Eu fico com a pureza das respostas das crianças” – O que é o Que é.

É por causa do amarelo que eu acredito utopicamente na Educação.

Page 14: Reflexões do estágio 2011   marcelo

REFLEXÃO 10

Troca de Sala.

. Sexta feira o tempo parecia que

ia desabar, achei que ninguém ia para

aula. Felizmente eu estava errado. Com toda aquela ventania do inicio de outubro,

mesmo com o tempo feio (ou bonito),

alguns alun@s foram para escola. Inclusive a Márcia, uma aluna bem

atenciosa que fazia dias que não aparecia.

Devido as questões climáticas a nossa

turma foi deslocada para uma sala dentro do prédio da escola, devido as rajadas de

vento norte. Habitamos aquela noite a

sala dos 3ºs anos. A sala é bem diferente, pois é

limpinha, o quadro é lisinho e bonitinho...

até me inspirei para fazer uns desenhos a

mais. Iniciamos a aula colocando os

tópicos que seriam abordados em sala.

Alguns conceitos novos como Dominância incompleta, co-dominância, genes letais,

parecem primeiramente assustá-los, cabe

então ao mediador do conhecimento torná-los fáceis e acessíveis,

desmistificá-los melhor dizendo. A

Explicação correu em fluxo normal,

entretanto notei que ainda restam dúvidas nel@s. É difícil, pois não

exteriorizam estas dúvidas, só se

pressionarmos e provocarmos as respostas. Aí então notamos que há

dúvidas.

Dúvidas e mais duvidas.

Sinto um distanciamento: Mesmo o professor buscando um método

bem humano de lecionar, mesmo buscando estar em contato com a turma.

Creio que reproduzem um fator social, pois observo que ocupam

primeiramente as cadeiras do fundo da sala. É esse distanciamento que

observo pelas diversas experiências que tenho vivenciado. É um

distanciamento físico. É um distanciamento de idéias e de classes (a classe

dos professores, a classe dos alunos). Penso que uma educação mais

progressista, humana e ecológica no futuro deverá reorganizar esse espaço

da sala de aula também. Penso em um remodelamento radical, que para isso

deverá ser pensado por aqueles que efetivamente fazem a educação

acontecer no espaço da escola: @s educand@s.

Sugeri um encontro no final do estágio. Sei lá, podemos comer um

lanche, uma pizza... Escutarmos uma música (acho que vou levar o violão),

para sairmos um pouco das paredes frias do concreto. Sinto que preciso ir

um pouquinho além... percebo a cada dia que el@s tem mais coisas a me

dizer. Desejo aprender um pouquinho mais com essa gente que faz de mim a

finalidade de um ator ou um Ser:

“ Professor!”

Ao chegar no cassino a água desabou desse céu. Cruzava relâmpagos por todos os lado. Acho lindo tudo isso. A força da natureza ainda encanta qualquer sujeito.