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INSTITUTO LATINO-AMERICANO DE SOCIEDADE E POLÍTICA (ILAESP) SERVIÇO SOCIAL HANNAH ARENDT: A CONDIÇÃO HUMANA RESENHA FILIPE SILVA NERI Foz do Iguaçu 2016

RESENHA - A condição humana HANNAH ARENDT

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Page 1: RESENHA - A condição humana HANNAH ARENDT

INSTITUTO LATINO-AMERICANO DE

SOCIEDADE E POLÍTICA

(ILAESP)

SERVIÇO SOCIAL

HANNAH ARENDT: A CONDIÇÃO HUMANA

RESENHA

FILIPE SILVA NERI

Foz do Iguaçu

2016

Page 2: RESENHA - A condição humana HANNAH ARENDT

INSTITUTO LATINO-AMERICANO DE

ECONOMIA, SOCIEDADE E POLÍTICA

(ILAESP)

SERVIÇO SOCIAL

HANNAH ARENDT: A CONDIÇÃO HUMANA

RESENHA

FILIPE SILVA NERI

O trabalho que ora apresento faz

parte da disciplina de Ética e Ciência do

curso de Serviço Social, ministrada pelo

Prof. Dr. Ladislao Homar Landa.

Foz do Iguaçu

2016

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A CONDIÇÃO HUMANA

ARENDT, Hannah. A Condição Humana; tradução de Roberto Raposo, posfácio de

Celso Lafer. – 10.ed. – Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.

Hannah Arendt (2008), uma das maiores filósofas e teóricas políticas do século passado,

em seu livro “A condição Humana” postula e discorre sobre múltiplas alternativas sobre

a observação do mundo, bem como dos seres, sociais ou não. Compreende mais que as

condições que a vida foi dada ao ser. Traz em si a compreensão da modernidade.

A obra que ora apresento em forma de resenha pode ser considerada a mais importante

da autora. Sendo um fator condicionante par ascensão da mesma no plano intelectual. A

partir disso, surgiram muitos livros e filmes que abordam suas obras, temáticas e

pensamentos. Sua teoria descreve a prática de muitos profissionais.

O livro é uma possibilidade de reconsiderar a condição humana. Sugere que pensemos no

que estamos fazendo. Arendt pensa nas atividades da condição humana, sendo acessíveis

a todas as pessoas: o trabalho, o labor e a ação. Denominado pela como vita activa.

A autora começa falando sobre um objeto terrestre que foi lançado ao universo no ano de

1957. Acredita que essa foi uma tentativa para que o homem saísse de seu estado de

natureza para criar suas próprias condições de vida e sobrevivência “[...] esse evento teria

sido saudado com a mais pura alegria se não fosse as suas incomodas circunstâncias

militares e políticas.” Hannah acredita que a liberdade só pode ser estabelecida frente à

reafirmação e recuperação do mundo em uma forma pública pois “Esse homem futuro

[...] parece motivado por uma rebelião contra a existência humana tal como nos foi dada

[...] Não há razão para duvidar de que sejamos capazes de realizar essa troca, tal como

não há motivos para duvidar de nossa atual capacidade de destruir toda a vida orgânica

da Terra.”

Logo Hannah passa a discorrer sobre a condição humana, esclarecendo que o homem,

enquanto ser social, é um animal político e social. Tendo como atividades fundantes o

trabalho, o labor e a ação, enquanto atividades que repercutem as condições primárias da

vida. Um fato interessante é que a autora traz em sua obra que a atividade humana

produziu o mundo.

No que diz respeito ao labor, Hannah Arendt postula que este é decorrente de uma

atividade biologicamente determinada pelo corpo humano. “A condição Humana do labor

é a própria vida.” O labor, por meio do produto, garante a subsistência e a longevidade

do tempo humano

O trabalho, diferente do labor, está intrinsecamente ligado ao artificialismo da existência

do ser, não estando contido no ciclo da vida humana enquanto vital para espécie. Produz

o mundo artificial das coisas. “A condição humana do trabalho é a mundialidade.” A

realização do trabalho pelo homem garante a vida humana.

No tocante a ação, enquanto única e exclusiva atividade que o ser exerce sem a utilização

dos meios – sujeito x natureza – “corresponde a condição humanada pluralidade” e [...]

Todos os aspetos da condição humana tem alguma relação com a política; mas esta

pluralidade é especificamente a condição de toda vida política.” Tudo com o que a

humanidade entra em contato torna-se condicionante para sua existência, pois, os homens

são seres condicionados. O que remete a uma visão paralela de Karl Marx. O trabalho

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torna-se uma atividade vital para o ser social. A ação realizada pelo humano garante

também que a história seja lembrada.

Essas três atividades caracterizadas pela autora são relacionadas com a condição mais

abrangente da existência do ser, o nascimento e a morte, ou seja, natalidade e mortalidade.

Em sua obra filosófica, apesar de não se considerar como tal, Arendt, ao falar sobra a

expressão Vita Activa, nos apresenta como Aristóteles, através de seu pensamento,

discrimina as três formas dignas de vida para um homem e que este poderia escolher

livremente – o belo, o necessário e o útil – sendo: a vida dedicada aos prazeres, onde se

ocupam do ócio, ou do belo; a vida política, onde são concedidos os efeitos; e a vida do

filósofo, dedicado a contemplação do eterno, ou seja, a beleza é contemplada em si

mesma. Tais modos acabam por opor-se aos modos de sobrevivência dos escravos (labor),

pois, estes apenas tinham a possibilidade de realizar atividades para suprir sua existência

e submissão à tirania do senhor. Não sendo harmônico com o modo de viver, não apenas

sobreviver, dos homens livres. “Esta condição prévia de liberdade eliminava qualquer

modo de vida dedicado basicamente à sobrevivência do indivíduo”. O modo de vida do

homem livre é dedicado à contemplação do que é belo, algo que é escolhido livremente

podendo não ser necessário, muito menos útil. Destaca-se aqui que o homem político,

assim como o homem escravizado e até mesmo o próprio artesão não são considerados

como homens livres, pois, “produziam o que era necessário e útil, não podiam ser livres

independentes das necessidades e privações humanas”. O homem absolutamente, e de

fato, livre é o homem que contempla o belo. Vida contemplativa. “Nem o labor nem o

trabalho eram tidos como suficientemente dignos para construir um bios, um modo de

vida autônomo e autenticamente humano”.Arendt apresenta a imortalidade como a

continuidade do tempo passado e presente no futuro. “Os homens são os mortais, as

únicas coisas mortais que existem”. A mortalidade do homem reside do fato de que a vida

individual advém da vida biológica. A eternidade segue como algo transcendente e a

imortalidade como continuidade no tempo.

No segundo capítulo de seu livro, Arandt presume que sem a ação do homem no mundo

o mesmo não poderia sobreviver, pois as coisas e os homens constituem o ambiente de

cada uma das atividades humanas e todas essas atividades só são possíveis pelo fato do

homem viver em sociedade. Na esfera pública, ou seja, na polis, era a esfera da liberdade.

Essa situa-se na esfera do social. A força e a violência tornam-se monopólio do governo.

Todos são iguais. A liberdade passa a situar-se única e exclusivamente na esfera política.

Na esfera privada a necessidade era a que dominava perante todas as atividades exercida

na esfera individual. A esfera familiar e política é correspondida de acordo com as

definições de vida pública e privada. “O que diferenciava a esfera familiar é que nela os

homens viviam juntos por serem a isso compelidos por suas necessidades e carências.” A

esfera social é que situa à liberdade. A política se diferenciava da família pelo fato de que

na polis os pares se conheciam. A política não podia ser um meio de proteger a sociedade.

A família era o centro das desigualdades. A igualdade era a essência da liberdade. Na

modernidade, a esfera social e da polis possuem uma diferença ínfima. A política torna-

se apenas uma função da sociedade moderna. A divisão entre público e privado se dá no

momento da passagem da sociedade do sombrio interior do lar para a luz da esfera

pública. Ao falar sobre a intimidade, Arendt explica que o primeiro eloquente a falar do

assunto foi Rousseau, referindo-se à intimidade do coração em contraponto à intimidade

do lar. A definição mais abrangente para explicar que a sociedade funda a organização

pública de seu próprio processo vital pode ser encontrada no fato de que a nova esfera

social transformou todas as comunidades modernas em sociedades de operários

assalariados, focando sua existência apenas no labor.

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Tudo que vem do público pode ser visto e ouvido por todos e tem a maior divulgação

possível. O termo público significa o próprio mundo, porém, não idêntico a terra ou a

natureza. A esfera pública nos reúne em companhia uns dos outros. Tudo que é visto,

falado ou ouvido coletivamente constitui a realidade, pois a percepção do que é real

depende evidentemente do aparente.

Viver na esfera privada é privar-se de ser ouvido em sociedade política partilhada entre

os seres. Torna-se um fenômeno de massa da solidão. A sociedade de massa não destrói

apenas a esfera pública ou privada. Priva, ainda, os homens de seu lugar no mundo e em

seu lar privado. A riqueza e pobreza são criticadas pela autora por tratar-se de um

equívoco, pois, a pobreza é inexistência de propriedade privada. A existência desta

engendrava um meio onde o homem não dependia necessariamente de um senhor. A

riqueza trazia a possibilidade da liberdade, o caráter sagrado da propriedade privada.

O social é acentuado pela modernidade. A esfera privada – propriedades, riquezas – é

protegida pela pública. A propriedade privada torna-se riqueza comum, pois agora passa

a ser protegida pelo governo da luta de todos contra todos. A propriedade adquire um

novo significado, podendo ser objeto de troca mutua e consumida por terceiros. Invasão

da privatividade pela sociedade. A propriedade pertence àqueles que realizam o trabalho

– força de trabalho. A distinção entre público e privado equivale a diferença do que deve

ser exibido e o que deve ser/permanecer ocultado.

Pode-se localizar a atividade humana em dois aspectos, sendo na vita activa e na bondade.

Postula que a esfera privada do labor não se ocupa apenas do que se torna necessário para

sobrevivência humana, podendo adotar uma realidade da teleologia, “ a única atividade

que Jesus ensinou [...] foi a atividade da bondade”. A autora afirma que no momento em

que a bondade cristã é divulgada, perde seu aspecto privado e seu caráter de bondade.

Hannah Arendt passa a procurar o significado da palavra trabalho e labor. Realiza ainda

uma crítica a Karl Marx. Existem três formas de opostas de definir trabalho para Arendt,

sendo: trabalho improdutivo; trabalho qualificado e não qualificado; e trabalho intelectual

e manual. A crítica que Arendt faz à Marx é sobre sua compreensão de trabalho enquanto

trabalho produtivo. A concepção de trabalho manual e intelectual nasce da necessidade

um nome para o trabalho industrial à época. Labor jamais designa o produto final. Fala

que o qualificado e não qualificado, manual e intelectual não desempenha papel nenhum

na economia política de Marx. Explica que o homem possui a força de trabalho por

natureza, findando-se apenas com a morte. Arendt postula que o labor é a força de

trabalho. “O que os bens de consumo são para a vida humana, os objetos de uso são para

o mundo do homem”. A linguagem sugere a forte probabilidade de que não saberíamos o

que uma coisa é se não tivéssemos diante de nós - o trabalho de nossas mãos. Os produtos

da ação do discurso que constituem a textura das relações sociais. O homem torna-se

dependente de sua própria produção.

O principal ponto de análise que Arendt postula em seu texto é que toda produção e

trabalho pertence a uma ação possuinte de um início e um fim – processo teleológico. O

processo do trabalho, tem a intenção de colaborar com a processualidade do labor. O

homo faber tem a capacidade de estabelecer determinada relação social dentre a esfera

pública.

A natureza e seu movimento dá força a tudo que é vivo. É somente no mundo humano

que a natureza se manifesta. Fazendo parte do processo cíclico da transformação do

homem para com a natureza – sujeito x objeto – em seu processo cognitivo de objetivar.

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Hannah Arendt aborda sobre a pluralidade humana como enquanto possuidora de

distinção e igualdade. A vida humana precisa de ação e de discurso, pois, a ação é

considerada um segundo nascimento, pois, o homem só pode inserir-se no meio através

destes. O quem é um ser, o que é ser alguém são coisas bastantes distintas. A ação tem

um caráter revelador, pois, os homens se realizam em sua materialidade. A história só

pode ser lembrada pela ação, a narração é resultante da ação. A ação e o discurso não

podem ser tomadas de maneira isolada do mundo e das relações sociais. Sempre um

homem irá precisar do outro.

Eudamion é algo que significa o bem-estar que acompanha o ser durante sua vida. Para

os gregos, os juristas eram considerados como artesãos, pois estes não pertenciam a esfera

da polis. A polis assegurava que atos, palavras e ações fossem imperecíveis. A esfera da

polis surge no ato de compartilhar ações e palavras. A ação é o único ato que constitui o

ambiente comum. O espaço da aparência precede a constituição da esfera pública, existe

sempre que os homens se reúnem na modalidade do discurso e da ação. O poder preserva

a esfera pública, não pode ser armazenado. O poder é sempre um potencial de poder. Só

há poder onde não se separam atos e palavras. A força é indivisível. A força e a violência

podem destruir o poder. A violência destrói com mais facilidade que a força. O homo

faber e o animal laborans denunciam a desídia da ação e do discurso humana. A alienação

humana é a atrofia do espaço da aparência e debilidade do sentido comum. A frustação

humana está no fenômeno do gênio.

A atividade do trabalho pressupõe o isolamento. Sua realização pode acontecer de uma

forma não política. Hannah Arendt faz uma crítica a Smith e Marx pelo falo deles

pensarem a sociedade enquanto consumidora. Explicita que a sociabilidade está

imbricada diretamente no ato de laborar. Fala da igualdade dos desiguais que são

igualados “a igualdade presente na esfera pública é, necessariamente, uma igualdade de

desiguais que precisam ser igualados”. A igualdade política é o avesso da igualdade

coletiva perante a morte.

Na modernidade não foi a primeira a denunciar a ociosidade do discurso e a ação. “A

notável monotonia das soluções propostas no decorrer da história escrita atesta a

simplicidade elementar da questão”. A condição sine qua non é a condição do espaço da

aparência enquanto calamidade da ação humana. A tirania pode produzir um aumento

significativo do labor. A abolição da pluralidade equivale a destituição da esfera pública.

A ação não possui fim ou finalidade. A canalização da capacidade humana de agir resulta

do processo da tentativa de suprimir a ação. A solução contra a imprevisibilidade é a

possibilidade de perdoar. Sem a capacidade de perdão, a capacidade humana de atuar

estaria enclausurada em um só ato “ se não fossemos perdoados, nossa capacidade de agir

ficaria limitada, não estando obrigado a cumprir com a promessas, não mentiríamos nossa

identidade. “Ao contrário do perdão, a força estabilizadora inerente à faculdade de

prometer sempre foi conhecida em nossa tradição”. A promessa vem para suprir a

incapacidade de antecipar. A ação e o perdão são considerados como uma espécie de

milagres.

Arendt acaba por propor uma ampliada consideração da condição humana no que diz

respeito a modernidade, levando em consideração os fracassos e medos da humanidade.

Isso é determinado por três evento modernos quais sejam: a descoberta da América; a

reforma protestante e o avanço da tecnologia através da invenção do telescópio. Faz uma

reflexão sobre a proximidade do ser social coma natureza.

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A alienação está dividida em duas etapas, a primeira baseada na crueldade, infortúnio e

miséria. Tendo em vista o recrudescimento do pauperismo à época. A segunda forma de

alienação exemplificada pela autora é a alienação expressada no momento em que o ser

social se converte em sujeito de nova vida, ou seja, o processo de alienação da

humanidade frete o mundo. Levando em consideração a expropriação do homem pela

terra.

A descoberta do ponto de vista arquimediano postula a representação da evolução

humana, permitindo a distinção do universo e da ciência, citando Galileu. A ciência e a

natureza dividem a linha tênue entre a era moderna e o mundo atual. Faz uma

argumentação sobre Descartes, onde discorre sobre os processos que surgem da mente

humana, e que estes processos podem converter-se em objetos de pesquisa/investigação.

Essa investigação consiste em elevar a ação contemplando enquanto estado mais elevado

do ser em suas relações sociais. O fazer e o fabricar eram pertencentes ao homo faber. A

conceituação do ser é trocada pela conceituação do processo de trabalho, desaparecendo

no produto.