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EDITORIAL O jornalista Paiva Netto escreve “O Milênio das Mulheres” Altay Veloso Valores e crenças do compositor brasileiro Amit Goswami O físico indiano fala sobre Ciência e Espiritualidade Villas-Bôas Corrêa Memória do Brasil contemporâneo Myltainho Alma de editor e gênese de repórter HISTÓRIA Um século de imigração japonesa no Brasil Experiências de vida dos jornalistas Cristiana Lôbo e Jorge Moreno a alunos de Comunicação Social Marcos Caruso Paixão pela arte de atuar no teatro de jornalismo Lições

Revista Boa Vontade, edição 221

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A Revista Boa Vontade tem por objetivo levar informações por meio de matérias que abordam temas voltados à cultura, educação, política, saúde, meio ambiente, tecnologia, sempre aliados à Espiritualidade como ferramenta de esclarecimento, auxílio, entendimento e compreensão.

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Page 1: Revista Boa Vontade, edição 221

EDITORIAL O jornalista Paiva Netto escreve “O Milênio das Mulheres”

Altay Veloso Valores e crenças do compositor brasileiro

Amit Goswami O físico indiano fala sobre Ciência e Espiritualidade

Villas-Bôas Corrêa Memória do Brasil contemporâneo

Myltainho Alma de editor e gênese de repórter

HISTÓRIA Um século de imigração japonesa no Brasil

Experiências de vida dos jornalistas Cristiana Lôbo e Jorge Moreno a alunos de Comunicação Social

Marcos Caruso Paixão pela arte de atuar no teatrode

jornalismo

Lições

Page 2: Revista Boa Vontade, edição 221

A Boa Vontade TV sela mais uma parceria, agora com a Sky, para oferecer

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Page 3: Revista Boa Vontade, edição 221

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6 EditorialO Milênio das Mulheres

10 Cartas,e-mails,livroseregistros

17 OpiniãoEsportiva

18 ComunicaçãoVillas-Bôas Corrêa

24 Samba&HistóriaAltay Veloso

28 PerfilMylton Severiano da Silva

33 Utilidadepública

34TeatroMarcos Caruso

38 Especial—CapaAula de Jornalismo

47 Acontece

48 Meioambiente

52 DestaqueLBV: Amor e Solidariedade

60 Opinião—MídiaAlternativa

64 Saúde

68 HistóriaOs cem anos da imigração japonesa no Brasil

77 NotíciasdoSul

78 EcumenismoIrrestrito

80 ResponsabilidadeSocial

82 ArtenaTela

84 MelhorIdade

89 Cidadania

90 FórumMundialEspíritoeCiência,daLBV.Amit Goswami

92 AçãoJovemLBV

94 PedagogiadoCidadão Ecumênico

96 SoldadinhosdeDeus

98 Esporte

créditos das Fotos de capa: altay Veloso: Rick Abreu; amit Goswami : João Preda; Marcos caruso/Villas-Bôas corrêa: André Fernandes; Myltainho: Rafael Rezende; imagem capa: João Preda

Sumário

EDITORIAL O jornalista Paiva Netto escreve “O Milênio das Mulheres”

Altay VelosoValores e crenças do compositor brasileiro

Amit GoswamiO físico indiano fala sobre Ciência e Espiritualidade

Villas-Bôas CorrêaMemória do Brasil contemporâneo

MyltainhoAlma de editor e gênese de repórter

HISTÓRIA Um século de imigração japonesa no Brasil

Experiências de vida dos jornalistas Cristiana Lôbo e Jorge Moreno a alunos de Comunicação Social

Marcos Caruso Paixão pelaarte de atuarno teatrode

jornalismo

Lições

6 18 24 28

38 52 68

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BOA VONTADEA N O 5 2 • N O 2 2 1 • j A N / F E V / M A R / 2 0 0 8

BOA VONTADE é uma publicação das IBVs, editada pela Editora Elevação. Registrada sob o no 18166 no livro “B” do 9º Cartório de Registro de Títulos e Documentos de São Paulo.diretor e editor-responsáVel: Francisco de Assis Periotto - MTE/DRTE/RJ 19.916 JPcoordenador Geral: Gerdeilson BotelhoJornalistas colaBoradores especiais: Carlos Arthur Pitombeira, Hilton Abi-Rihan, José Carlos Araújo e Mario de Moraes.equipe eleVação: Adriane Schirmer, Angélica Beck, Daiane Emerick, Daniel Trevisan, Danielly Arruda, Débora Verdan, Felipe Tonin, Jaqueline Lemos, Jefferson Rodrigues, João Miguel Neto, Joílson Nogueira, Jully Anne, Karina Sene, Larissa Tonin, Leila Marco, Leilla Tonin, Maria Aparecida da Silva, Mário Augusto Brandão, Natália Lombardi, Neuza Alves, Roberta Assis, Rodrigo de Oliveira, Simone Barreto, Walter Periotto, Wanderly Albieri Baptista e William Luz.proJeto GráFico: Helen WinkleriMpressão: Editora Parmaendereço para correspondência: Rua Doraci, 90 • Bom Retiro • CEP 01134-050 • São Paulo/SP • Tel.: (11) 3358-6868 • Caixa Postal 13.833-9 • CEP 01216-970 Internet: www.boavontade.com / E-mail: [email protected] revista BOA VONTADE não se responsabiliza por conceitos e opiniões em seus artigos assinados.

ReflexãodeBOAVONTADEA Caridade não é um sentimento de tolos. É uma estratégia de Deus, que estabelece nos corações a condição ideal para que se trabalhe, governe, empresarie, administre, pregue, faça Ciência, elabore a Filosofia e se viva, com espírito de generosidade, a Religião.

ExtraídodanovaediçãodolivroCidadania do Espírito, deautoriadoescritorPaivaNetto,lançadopelaEditoraElevação.

Aoleitor

Família: tema recorrente nesta revista. Está em entrevistas e conteúdos distintos. Logo no Editorial, o escritor Paiva Netto homenageia o gênero feminino no artigo “O Milênio das Mulheres”, pois, segundo ele, pelas mãos delas se alcança a estabilidade do lar e, por conseqüência, do próprio mundo.

Em evidência, neste número, entrevistas de cidadãos bem-sucedidos — pessoas que alcançaram notoriedade por seu trabalho e determinação — que destacam a convivência familiar e a influência dela no crescimento pessoal. Foi por essa perspectiva que anotamos frases como a do veterano jornalista Mylton Severiano: “Como é importante ter pais legais”, referindo-se ao primeiro texto seu, publicado por volta dos 9 anos, por incentivo do pai. Outro que ressalta a convivência positiva no lar é o ator Marcos Caruso: “Eu ia muito ao teatro infantil. Minha tia-avó me levava, e isso sempre foi um grande estímulo para que eu descobrisse o meu talento”.

O centenário da imigração japonesa no Brasil é tema de reportagem nesta edição. Nela, podem-se ver os mo-tivos que influenciaram essa epopéia e o que representou esse movimento para os cerca de 1,5 milhões de descen-dentes japoneses nascidos em nosso País.

Ainda destacamos a descontraída entrevista com os jornalistas Jorge Bastos Moreno, Cristiana Lôbo e Sílvia Faria que, entre outros temas, falaram da profissão, da comunicação no dia-a-dia e das mudanças na mídia desde o aparecimento da internet.

Boa leitura!

LeianapróximaBOAVONTADE!Já estamos preparando para Você, amigo leitor, a edição no

222. Entre as reportagens, a cobertura completa do aniversário de 100 anos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e entrevistas com importantes nomes da área, a exemplo do veterano jornalista Ricardo Kotscho. Além disso, personali-dades como o ator Carlos Vereza e o cantor e compositor Juca Chaves expõem seus pontos de vista. Em Abrindo o Coração, o maestro João Carlos Martins conta como a superação de momentos difíceis o elevou ao patamar de um dos maiores pianistas na atualidade. Destaque, ainda, para a reportagem especial enfocando a inclusão de pessoas com deficiência.

O próximo número mostrará também que há muita gente preocupada com o Planeta. Exemplo disso é a mobilização que se dá na América Latina com o II Fórum–Feira de Inovações Rede Sociedade Solidária, promovido pela LBV, com suporte da ONU, em que mais de 1.200 organizações da sociedade civil, além de autoridades, trocam receitas de sucesso, para multipli-car práticas e fomentar o desenvolvimento sustentável.

Revista apolítica e apartidária da Espiritualidade Ecumênica

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Editorial

O Milênio

Phot

os.co

m

Mulheresdas

“A Mulher, o lado mais formoso da Humanidade, singulariza o alicerce de todas as grandes realizações. Aquilo que fisicamente nos constitui é gerado em seu ventre (...). Nossos primeiros passos no desenvolvimento da cidadania são por ela guiados, ao nos conduzirem pelas mãos. A estabilidade do mundo começa no coração da criança. Por isso, na LBV praticamos, há tantos anos, a Pedagogia do Afeto.”

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*1 praça alziro Zarur — Iniciativa de Paiva Netto que contou com a colaboração do Casal Legionário noys e Haroldo rocha, atualmente em Portugal.

O Milênio

MulheresHeloneida Studart

Divu

lgaçã

o

Numa justa homenagem ao ente humano, que dentre tantas virtudes possui o dom de trazer-

nos à vida, separei trechos do meu livro O Capital de Deus, Editora Elevação. Antes de transcrevê-los, quero destacar que há muitas formas de ser mãe, como escrevi no Correio Braziliense, em 1987: mesmo quan-do não seja pela feição carnal, por-quanto há outras sublimes maneiras de o ser, inclusive dar à luz grandes realizações em prol da Humanidade. Espero que apreciem:

É notável a sensibilidade femi-nina também para com os assun-tos transcendentais. Mirando as perspectivas dos próximos anos, em que, por força do instinto de subsistir, as consciências poderão mostrar-se mais fecundas a tudo o

que diz respeito à ascensão moral e espiritual, convidei — nas diversas oportunidades em que me dirigi ao Povo, naqueles dois dias, no Templo da Boa Vontade, na sede do ParlaMundi da LBV e na Praça Alziro Zarur*1, em frente ao Conjunto Ecumê-nico da Boa Vontade — os que me privilegiaram com seu apreço, em 2000, a dar boas-vindas ao Milênio das Mulheres.

Com atenção assisti, àquela al-tura, à entrevista concedida à Boa Vontade TV pela saudosa escritora Heloneida Studart (1932-2007), que dissertou sobre o relevante papel que elas vêm assumindo no âmbito da melhoria da qualidade de vida:

“O feminismo tem sido sempre o mesmo, mas enriquecido de no-vas reivindicações. Existe uma ala dele, principalmente no Primeiro Mundo, que agora está engajada na luta contra a pobreza, um fenômeno

crescente, ao contrário do que se podia antes imaginar, que atinge, de maneira muito dura e cruel, as mulheres, muito mais do que os

homens. Elas trabalham em casa e fora de casa e têm de assistir, de viva-voz, olho no olho, todas as carências de sua família (...). Fica cuidando do filho doente que não tem remédio, preocupa-se por

não poder dar vitamina às crianças e não ter como comprar frutas, vê mais vezes a conta da luz que está atrasada...

“A ONU tem uma estatística mostrando que a mulher pobre tra-balha mais que o homem, porque atua em várias frentes: no lar, na rua, na empresa, enfim, estão ativas em grande quantidade de tempo por dia. Em geral, quando saem para o emprego, já têm duas ou três horas de serviço executadas no próprio lar e, ao voltarem para casa, ainda têm tarefas a cumprir. O aumento

João

Pre

da

josé de Paiva Netto, jornalista, radialista e escritor. É diretor-presidente da LBV.

Vista parcial do histórico “Bem-Vindo, ano 2000!” Em frente ao Conjunto Ecumênico da LBV, em Brasília/DF, ocorreu o grandioso Congresso que contou com a presença, segundo informações oficiais, de cerca de 200 mil pessoas, de todas as partes do Brasil e do Exterior, para saudar a chegada do ano 2000. Sob a liderança de Paiva Netto, o Povo presente reuniu-se pela Paz mundial.

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Editorial

cerce de todas as grandes realizações. Aquilo que fisi-camente nos constitui é gerado em seu ventre (...). Componen-tes do gênero feminino se traduzem em elemento preponderante para a sobrevivência das boas causas. Organizações estáveis contam com mulheres estáveis. (...) O meu fito aqui é ressaltar quanto é primacial para a evolução humana e a segu­rança do mundo a missão da Mulher (...). Nossos primeiros passos no desenvolvimento da cidadania são por ela guiados, ao nos conduzirem pelas mãos. A estabilidade do mundo começa no coração da criança. Por isso, na LBV praticamos, há tantos anos, a Pedagogia do Afeto.

Hámuitoqueaprendercomopróximo

Em Globalização do Amor Fra-terno*2, mensagem endereçada à ONU, em 2007, ponderei:

Nunca como agora se fez tão

indispensável unir os esforços de ambientalistas e seus

detratores, como também traba-lhadores, empresários, o pessoal da mídia, sindicalistas, políticos, militares, advogados, cientistas, religiosos, céticos, ateus, filósofos, sociólogos, antropólogos, artistas, esportistas, professores, médicos, estudantes, donas de casa, chefes de família, barbeiros, taxistas, varredo-res de rua e demais segmentos da sociedade, na luta contra a fome e pela conservação da vida no Plane-ta. O assunto tornou-se dramático, e suas perspectivas, trágicas. Pelos mesmos motivos, urge o fortale-cimento de um ecumenismo que supere barreiras, aplaque ódios, promova a troca de experiências que instiguem a criatividade global, corroborando o valor da cooperação sócio-humanitária das parcerias, como, por exemplo, nas cooperati-vas populares em que as mulheres têm grande desempenho, destaca­do o fato de que são frontalmente

contra o desperdício. Há muito que aprender uns com os outros. Um roteiro diverso, comprova-damente, é o da violência, da brutalidade, das guerras, que invadiram os lares em todo o orbe. Resumindo: cada vez que suplantarmos arrogância e preconceito, existirá sempre o que absorver de justo e bom com todos os componentes desta ampla “Arca de Noé”, que é o mundo globalizado de hoje.

A escritora e filósofa francesa Si­mone de Beauvoir (1908-1986) foi feliz ao inspiradamente concluir:

dos espaços de lazer para elas, com a diminuição da carga trabalhista, é uma reivindicação do chamado novo feminismo”.

Touché, cara Heloneida.

AMulhereaestabilidadedomundo

Não há como impedir — con-soante ainda hoje alguns de forma simulada gostariam — a destacada e frutífera participação delas nos vários setores da sociedade para que o progresso alcance pleno êxito em magnífica cruzada de resgate da cidadania, conforme o exposto pela dra. Heloneida. Adesão que natu-ralmente inclui os que gerenciam as ações político-governamentais, em que é essencial o alento renovador da Espiritualidade Ecumênica, sem o que a eficiência permanecerá aquém dos anseios populares.

A Mulher, o lado mais formoso da Humanidade, singulariza o ali-

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“— Não há uma po-legada no meu caminho que não passe pelo cami-nho do outro”.

(...)

Omilagredasdonasdecasa

Não há melhor financista do que a mãe de família, a dona de casa, que tem de cuidar do seu muitas vezes minúsculo orçamento, rea-lizando verdadeiros milagres, dos quais somos todos testemunha, desde o mais influente ministro da Fazenda ao cidadão mais simples. Sobretudo, no campo da Economia, que não pode ser pega no grave crime de esquecer o espírito de Solidariedade, a ação da Mulher é basilar.

Mohammad Ali Jin­nah (1876-1948), jurista e político, fundador do Paquistão, em discurso que fez em 1944 na Mus-lim University Union, salientou:

“— Nenhuma nação poderá surgir à altura de sua glória a menos que as mulheres estejam lado a lado com os governos”.

AAlmadaHumanidade

Para finalizar, apresen-to-lhes um pequeno trecho de outra página — “A Mulher no conSerto*3 das nações” — que igualmente enviei à ONU, em nova oportuni-dade, e que foi traduzida por ela em seus seis idiomas oficiais, por ocasião da “51a Sessão do Status

da Mulher”, em 2007, na sede das Nações Unidas, em Nova York. O evento sempre tem a presença da LBV, que leva a sua palavra de Paz às delegações do mundo, como ocorreu novamente este ano:

O papel da Mulher é tão im-portante, que, mesmo com todas as obstruções da cultura machista, nenhuma organização que queira sobreviver — seja ela religiosa, política, filosófica, científica, em-presarial ou familiar — pode abrir mão de seu apoio. Ora, a Mulher, bafejada pelo Sopro Divino, é a Alma de tudo, é a Alma da Hu-manidade, é a boa raiz, a base das civilizações. Ai de nós, os homens, se não fossem as mulheres esclare-cidas, inspiradas, iluminadas!

Estas nossas afirmativas encon-tram ressonância nas do educador norte-americano Charles McIver (1860-1906), que dizia:

“— O caminho mais econômi-co, fácil e certo para a educação universal é educar as mulheres,

aquelas que se tornarão as mães e professoras de gerações futuras”.

Verdade seja dita, ho-mem algum pouco rea-liza de verdadeiramente proveitoso em favor da Paz se não contar, de

uma forma ou de outra, com a inspiração feminina. Realmente, pois, “se você educar um ho-mem, educa um indivíduo; mas se educar uma mulher, educa uma família”. Exato, McIver.

(...)

Simone de Beauvoir

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Mohammad Ali jinnah

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Charles McIver

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ivo B

V

*2 Globalização do amor Fraterno — Publicada inicialmente em português, francês, inglês e esperanto, a revista foi especialmente enviada por Paiva Netto à reunião do High-Level Seg-ment 2007, do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (Ecosoc) — no qual a LBV possui status consul-tivo geral —, realizada no Palais des Nations, escritório central da ONU em Genebra (Suíça). Foi recebida com muito entusiasmo pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, quando de sua visita ao estande da Legião da Boa Vontade no evento. O secretário referendou seu apoio à LBV ao assinar a capa da revista e ratificou votos de muito sucesso para todas as ações empreendidas pela Legião da Boa Vontade.

*3 a Mulher no conserto das nações — Na língua portuguesa, em linhas gerais, conCerto (com cê) significa espetáculo musical, acordo (inclusive político), harmonia. Já conSerto (com ésse) quer dizer reforma, reparo, res-tauro. Daí Paiva Netto, no início desse seu documento, ter explicado: “Antes de tudo, devo esclarecê-los sobre a palavra ‘conSerto’ grafada com ‘S’ no título deste artigo. Não se trata de erro ou distração no emprego do vocábulo em português. É ‘conSerto’ mesmo, porquanto, da forma que se encontra o mundo a pré-abrasar-se com o aquecimento global, é melhor que os sexos confraternizem, unam forças e realizem o conSerto urgente do que ameaça quebrar-se, porque, do contrário, poderemos acabar nuclear ou climaticamente cozidos numa panela fenomenal: o Planeta que habitamos. (...) Isto sem falar no ameaçador bioterrorismo”.

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Cartas,e-mails,livroseregistros

Profundidadeecorretaabordagem

Quero agradecer o correto e sensível tratamento dado pela revista BOA VONTADE à entre-vista feita comigo. Vocês foram

muito generosos, obri-gado. Espero que o meu testemunho possa ter ajudado, em especial aos jovens, para com-preender a importância das ações solidárias como as praticadas pela

LBV. Em especial, num Brasil que ainda tem uma grande dívida social a ser resgatada. (Ricardo Viveiros, jornalista, escritor e professor, de São Paulo/SP)

A revista BOA VONTADE é graficamente perfeita, muito bem-

feita, bem diagramada. O mais importante, além dos assuntos va-riados, é a quantida-de de formadores de opinião que deixam seus depoimentos so-bre o trabalho da LBV.

(Walter Guedes, secretário de Cultura de Maricá/RJ)

Fiquei contente em ler a revista BOA VON-TADE. A entrevista com Lya Luft está maravilhosa. Muito obrigada, um abra-ço a todos. (Con-ceição Cavalcanti, coordenadora do

Programa Leitor do Futuro, do jornal Diário de Per­nambuco)

A numeróloga Aparecida Liberato e o escritor e diretor de marketing Beto Junqueyra lançaram recen-temente, na capital paulista, o livro Diga-me seu nome e direi quem você é. O trabalho é um guia prático que mostra, por meio da Numerologia, a influência que o primeiro nome exerce sobre as atitudes dos indivíduos, como revela também detalhes da personalidade e dos talentos pessoais. Representantes da LBV prestigiaram o evento e foram portadores de um exemplar da obra dedicado ao dirigente da Instituição, José de Paiva Netto. Eis a mensagem dos autores: “Querido Irmão Paiva, com grande alegria lhe escrevo! Abraços e minha admiração. Aparecida Liberato” e “Irmão Paiva, um abraço carinhoso do Beto Junqueyra”.

Em entrevista à BOA VONTADE, Aparecida destacou: “Agradeço a presen-ça da Legião da Boa Vontade, sempre nos prestigiando. É maravilhoso! Vocês estão juntos, aqui em São Paulo, em Porto Alegre, não importa. Tenho muito de agradecer às crianças queridas da LBV que, tão gentilmente, fizeram um quadro com a minha foto da campanha [de Natal], à qual eu aderi e sempre vou aderir, porque a LBV faz uma diferença enorme para nós, brasileiros, que precisamos dela e do empenho do Irmão Paiva nessa luta para diminuir no mundo o egoísmo e trazer Amor. Quando eu penso no Irmão Paiva, penso em Amor”.

Beto Junqueyra também deixou seu recado: “Paiva Netto, é sempre um pri-vilégio ter o prestígio da LBV. Nós temos um carinho muito grande por vocês. Um grande abraço”.

O evento reuniu amigos, artistas e familiares. Na oportunidade, o irmão da numeróloga, o apresentador de TV Augusto Liberato, o Gugu, esteve no lan-çamento e cumprimentou com simpatia os representantes da LBV.

Guia mostra a influência do primeiro nomenapersonalidade

Isabel Paes

O apresentador de TV Gugu Liberato prestigia o lançamento do livro da irmã, Aparecida (D). Na ocasião confraternizaram com Isabel Paes, da LBV.

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Beto junqueyra

Diversidade

culturaldo BrasilPontos de vista, reportagens,

registros e histórias de

destacados brasileiros da

comunicação social, meio

ambiente, poder público, política,

esporte, educação e cultura.

TribuTo a Villa-lobos Paiva Netto escreve sobre o notável compositor brasileiro

Vivia

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beiro

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O famoso compositor e humorista Juca Chaves, ao visitar recentemente a sede da Boa Vontade TV, em São Paulo/SP, ressaltou o prazer que tem de colaborar com a LBV, tendo em vista a seriedade do trabalho que ela realiza: “Não sou religioso, mas penso que a vida, com Boa Vontade, abre caminhos para o mundo. Não existe Paz se não houver Boa Vontade. (...) Gosto do Paiva Netto porque ele faz muito para muitas crianças. Que ele continue concedendo alegria a todas essas crianças que cantaram para mim hoje. Que eu seja sempre útil à LBV naquilo que puder”.

Elias

Pau

lo

PadrãodequalidadeEstou impressionado com a qua-

lidade da revista. Gostei bastante da entrevista com o jornalista Ricardo Boechat. Muito interessante! Coisas que eu não sabia a respeito desse profissional passei a conhecer. A

BOA VONTADE, quando busca uma personagem ou per-sonalidade, tem-se aprofundado na vida e nas ações dessa pessoa, e muitos desses entrevistados

são espelho para o leitor. É o que falta para o jornalismo de revista no Brasil. O conteúdo dela é importantíssimo, não se restringe a um só tema, abre um leque para informar assuntos da LBV, como os nacionais e internacionais. (Beto Lago, jornalista da Federação Pernambucana de Futebol, de Recife/PE)

O jornal Gazeta do Araripe sente-se honrado em veicular, nas versões on-line e impressa, os valiosos artigos de Paiva Netto e as campanhas da Legião da Boa Vontade. Desde que colocamos no jornal a participação da LBV, nós nos sentimos mais maduros e com a certeza de levar aos nossos leitores e internautas uma melhor leitura e padrão de qualidade. Apesar dos 32 anos militando no rádio e no jornal, ainda tenho muito que aprender, mas pelo menos já aprendi com o dirigente da LBV quão importante é ter no coração a presença do Cristo Ecumênico. (Izaurino Paes Brasil, jornalista, de Ouricuri/PE)

Com avaliação e palestras da Dra. Michele Billant-Fedoroff, representante das Nações Unidas/Nova York,

e o apoio do UNIC-Rio, ONU/Brasil, a LBV promove oficinas intersetoriais pelas Oito Metas do Milênio.

Irreverência, paixão e polêmica:

o veterano profissional revela um pouco

de sua história e analisa o jornalismo brasileiro.

Sempre fuicompetitivo para farejar

e localizar as jazidas“ “

R I C a R D O B O e C h at

a B R e O C O R a Ç Ã O

MaURICIO De SOUSae S p e C I a L

Japiassuescreveàredação“Que maravilhosa surpresa!!! Este velho sertanejo

não merece tudo isso! Ficou excelente o papo com Rodrigo de Oliveira nas páginas de uma revista muito bonita e bem-editada. Meus cumprimentos ao nosso amigo Paiva Netto e ao editor da BOA VON-TADE, Francisco Periotto, além de toda a equipe. A revista está muito bem escrita (Janistraquis, lupa em punho, andou a perscrutar...), com ótimas reportagens, e cobriu com grande competência o Salão do Jornalista Escritor. Parabéns a todos! Recebam o grande abraço do Japi. Marcia envia um jacá de beijos.” (Moacir Japiassu, jornalista, Cunha/SP)

Reprodução de parte da reportagem

publicada na edição no 220 da

revista BOA VONTADE.

jornalismo, e falou dos projetos aos quais se dedica atualmente, a exemplo da famosa coluna “Jornal da ImprenÇa” (no portal www.comunique-se.com.br), em que, com o uso da sátira, critica os erros de gramática e estilo dos textos jornalísticos, fazendo des-se canal um meio de aprendizado para os aspirantes à profissão. BOA VONTADE — Podemos

começar falando de sua vida no Nordeste, ainda menino. Como foi a mudança do sertão para a Região Sudeste?Moacir Japiassu — Para você

ter uma idéia dessa aventura, ela foi tão traumatizante que até hoje não me recuperei (risos). Eu estou fora da Paraíba, onde nasci, desde dezembro de 1956. Quer dizer, agora em dezembro estará fazendo 51 anos. Meu pai (Severino Lins Falcão) era funcionário público do Departa-mento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) e, em 1956, o chefe dele, em João Pessoa/PB, foi convidado a comandar um escritório no norte de Minas — afinal, essa região também padece muito com as secas e está

incluída no chamado polígono das secas — para desenvolver vários projetos, novos açudes. E ele, que se chamava dr. ManuelMartins de Athayde, amigo de meu pai e que gostava muito do velho, convidou-o a vir a Montes Claros/MG, que era sede do pro-jeto. O velho ficou meio assusta-do, porque é sertanejo, tem medo dessas aventuras repentinas. Ele tentou dizer não, mas antes con-versou com a minha mãe: “Neusa,o dr. Athayde me fez esse convite, olhe só que absurdo!” Aí a velha disse: “Não tem esse negócio de absurdo, não! Vamos, sim!” O velho tomou aquele susto. Como minha mãe mandava realmente em casa — casa de cabra macho é assim: quem manda é a mulher —,

aí num instante eles se resolveram; vieram para cá e eu vim junto. Foi essa a aventura!

BV — Logo que chegou, como foi a adaptação? Algum fato en-graçado?

Japiassu — Não, comigo nunca aconteceram fatos ri-gorosamente engraçados, mas sempre tragicômicos (risos). Na verdade, aconteceram esses fatos mais lá no Nordeste do que no Sudeste, porque aqui é mais aberto, mais evoluído, mais cosmopolita. Quando estava no Nordeste — é que hoje estou com cabelo todo branco e não dá para ver —, tinha um cabelo vermelho. Eu era ruivo mesmo. E você já pensou ser ruivo no Nordeste? É uma coisa espan-tosa. Por onde andava, chamava uma atenção danada. Um dia, estou numa estação de trem para voltar para o interior e, na hora que saí de um bar onde tinha tomado um refrigerante, uma senhora agarrou a criancinha e disse: “Ai Nossa Senhora, é o diabo”. E eu era uma criança, fiquei revoltadíssimo.

BV — Você destaca a característi-ca cosmopolita da Região Sudes-te, mas hoje reside em um sítio. Por que fazer essa escolha?Japiassu — O negócio é o se-

guinte: essa mudança não foi feita assim que cheguei. Eu me mudei para lá há cinco anos. Então, passei boa parte da vida aqui nesta Região; na verdade, cheguei em 1970 a São Paulo, para você ter uma idéia. Já era jornalista veterano, com uns 10

Japiassu e sua esposa, Marcia Lobo, durante visita à Escola da LBV, em 1995.

Janistraquise boas histórias

Japiassu,

U m descontraído bate-papo de 30 minutos com o veterano jorna-lista Moacir Japiassusignifica ouvir boas histórias e a garantia de aprender e dar boas ri-sadas com elas. E não foi nada di-ferente nesta entrevista exclusiva. Antes de levar sua colaboração intelectual ao I Salão Nacional do Jornalista Escritor (veja reporta-

gem sobre o evento na página 71), falou à nossa equipe sobre aquilo que tirou de melhor no auge dos 65 anos de uma vida dedicada ao jornalismo, profissão pela qual se apaixonou graças ao incentivo do irmão.

A entrevista nem mesmo havia começado a ser gravada e o jor-nalista logo disparou: “Esqueci meus óculos de entrevista!”,

exclamou, referindo-se ao tradi-cional objeto sem as lentes com o qual sempre se apresenta. E complementou: “Os óculos são de mentira, mas, de fato, não os esqueci. É que para dar entre-vista à Legião da Boa Vontade é preciso usar óculos de verdade, não de mentira”.Narrou fatos de sua história

pessoal, como a incursão no

Rodrigo OliveiraFotos: Daniel Trevisan

PerfilO bem-humorado jornalista Moacir Japiassu

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valte

Cae

tano

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BOA VONTADE | 19

“Quando estava no Nordeste — é que hoje estou com cabelo todo branco e não dá para ver —, tinha um cabelo vermelho. Eu era ruivo mesmo. (...) Um dia, estou numa estação de trem para voltar para o interior e, na hora que saí de um bar onde tinha tomado um refrigerante, uma senhora agarrou a criancinha e disse: ‘Ai Nossa Senhora, é o diabo’. E eu era uma criança, fiquei revoltadíssimo.”

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reGistro moacir Japiassu, chico pinheiro (E) e paiva netto (C), durante a entrega do Prêmio Cláudio Abramo, há alguns anos, promovido pelo veterano japi.

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Page 12: Revista Boa Vontade, edição 221

ArtistaplásticoAngelIrrazabalenaltecetrabalhodaLBV

O renomado artista plástico uru-guaio Angel Irrazabal e sua simpática esposa, sra. Ana Gomes de Almeida, receberam em sua casa, em Juiz de Fora/MG, os representantes da LBV.

Lucas Alvares

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“Retrato de Paiva Netto” (2000), 100x80 cm, óleo sobre tela, de Angel Irrazabal.

Na ocasião, relembraram a homenagem que o artista fez ao líder da Instituição, há alguns anos, no Templo da Boa Von-tade (TBV), quando o presenteou com uma belíssima pintura de seu retrato.

“Tive a oportunidade de conhe-cer o Templo da Boa Vontade, que é maravilhoso, um lugar repleto de Paz e importante para a promoção da cultura de nosso País através da grande e moderna Galeria de Arte. Resolvi fazer um retrato de Paiva Netto em quadro como forma de agradecimento, não só por mim, mas por toda a Humanidade, homenagean-do-o com o que melhor sei fazer, de maneira sincera e humilde. Desejo

Cartas,e-mails,livroseregistros

A próxima edição da BOA VON-TADE traz entrevista com Gervásio Baptista (foto 1), considerado o de-cano do fotojornalismo brasileiro. Ao longo de mais de meio século de tra-balho, conseguiu capturar a imagem de estadistas e personalidades como: John F. Kennedy, Richard Nixon, Juan Domingo Perón, Charles de Gaulle, Che Guevara, Fidel Cas­tro, além de ter fotografado todos os presidentes brasileiros desde Getúlio Vargas. Parte de seu trabalho está na exposição “Gervásio Baptista: 50 anos de Fotografia”, que está no Supremo Tribunal Federal (STF), até o dia 18 de abril.

Nessa mostra do fotógrafo, há também algumas manifestações de figuras destacadas da sociedade acerca de seu trabalho, como esta

GervásioBaptista:Decanodofotojornalismo

do diretor-presidente da LBV (foto 2): “Num momento de descontração, há mais de trinta anos, falei ao meu velho amigo Gervásio Baptista: Gervásio, Você é uma figura tão influente neste País e faz tamanha parte de nossa história, que, quando Pedro Álvares Cabral desembarcou por estas bandas, já se encontrava

na praia para fotografá-lo.“Saudações, estimado compa-

nheiro, pelos seus mais de 50 anos de fotojornalismo!”

Ao ler a frase, Gervásio sim-paticamente afirmou: “Coloque o texto do Paiva Netto aqui, bem na entrada. Ele merece o melhor lugar desta exposição”.

1 2

que ele continue sempre adiante com a LBV e em tudo que faz.”

Angel tem atualmente 76 anos e muita disposição, recebendo enco-mendas de pinturas, vindas de todo o Brasil. Entre as pessoas retratadas, figuram grandes personalidades mundiais.

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Pepita Rodriguez há muitos anos divide seu tempo entre o tea-tro, a pintura, a literatura e a criação dos filhos. Recentemente, a atriz e também apresentadora de TV ainda encontrou espaço na agenda para se dedicar à arte culinária, fruto de sua experiência com os amigos, eter-nizada no livro A arte de cozinhar entre amigos. O título foi lançado, em noite de autógrafos da autora, na capital fluminense, em 22 de janeiro, reunindo amigos e fãs.

Na obra, Pepita nos convida a conhecer sua cozinha e narra situa-ções vividas por ela em família e com personalidades, como Nelson Freire, Zico, Luiza Brunet e Ri­cardo Amaral.

Durante o lançamento, ela au-tografou um exemplar do livro ao diretor-presidente da Legião da Boa Vontade, com a seguinte dedicatória: “Meu muito querido José de Paiva Netto, olha aqui meus amores rechea-dos de alquimias. Beijos do meu coração. Pepita Rodriguez”.

PepitaRodriguezcozinhandoentreamigos

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Simone Barreto

A atriz Glória Pires e o marido, o cantor e compositor Orlando Morais, viveram momentos de interiorização no Templo da Boa Vontade (TBV), o Templo da Paz, na capital federal. Por sugestão de amigos, o casal decidiu visitar o Templo no fim de 2007. “Tivemos vontade de vir conhecer e foi ótimo, bonito, uma energia muito boa!”, comenta Glória.

Para a atriz, a proposta ecumê-nica do TBV, a Pirâmide das Almas Benditas, representa “o fu-turo: a convivência pacífica entre as religiões, entre os povos; isso é que a gente deve buscar”. Ela ainda recomendou a quem puder que vá visitar o monumento.

Por sua vez, Orlando não es-condeu a forte impressão que lhe causou o local, dizendo-se satisfeito de saber que existe em Brasília um lugar tão sublime como esse,

GlóriaPireseOrlandoMoraisvisitamoTemplodaLBV

Simone Barros

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Glória, ao lado do marido, na Nave do Templo da Paz, com os exemplares das revistas BOA VONTADE e Globalização do Amor Fraterno.

vizinho de Goiânia, sua terra natal. Segundo ele, foi uma ótima opção para encerrar o ano, classificando a experiência como “um momento de interiorização total”.

Templo da Boa Vontade e ParlaMundi da LBV — SGAS 915, lotes 75/76. Tel.: (61) 3245-1070 — Brasília/DF

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Cartas,e-mails,livroseregistros

De Londrina/PR, a leitora da revista BOA VON-TADE Denise Sales dos Santos, pós-graduada em Língua Portuguesa pela Universidade Norte do Paraná, escreve à redação, destacando trecho do discurso do jornalista e escritor José de Paiva Netto ao corpo docente do Instituto de Educação da Legião da Boa Vontade, na capital paulista, em que o autor pondera sobre a qualificação pela qual crianças e jovens devem se preparar para o ingresso no mercado de trabalho.

A respeito do texto publicado na página 4 da edição no 220 da revista (de discurso proferido originalmente em 1999), co-menta Denise: “Lendo a BOA VONTADE, me surpreendi com a matéria que traz as palavras do presidente das Instituições da Boa Vontade, José de Paiva Netto, dirigidas ao corpo docente do belíssimo Instituto de Educação da LBV. Como educadora, não poderia deixar de expressar quanto nossa formação seria melhor se tivéssemos

P e d a g o g i a d o C i d a d ã o e C u m ê n i C o Comprometimentocomofuturo

em nossas escolas, faculdades e secretarias de Edu-cação um projeto pedagógico de tamanha força e comprometimento.

“Paiva Netto, além de nos mostrar a importân-cia de trabalhar com a alma e o coração, ou seja, a Espiritualidade ligada à sabedoria, deixa claro o

papel que temos na vida da sociedade e que depende de nós, professores, essa forma-ção qualificada e eficaz. E mais: verifiquei que esse discurso foi publicado em vários idiomas, um deles o Esperanto, uma língua universal, neutra e internacional, que sur-giu não para substituir outra língua, mas para somar.

“Conhecendo a Legião da Boa Vontade em Londrina/PR, constatei que a LBV é assim, ou seja, uma soma de valores, culturas, crenças, ide-ologias. Uma soma à Humanidade. Coincidência? Acredito que não. Visão de um grande homem e uma grande Obra presentes neste Planeta”.

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Centenário da Associação Brasileira de Imprensa

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Na próxima edição da BOA VONTADE, acompanhe a reportagem completa sobre os principais even-tos que marcaram os festejos dos 100 anos da Casa do jornalista (1908-2008), a exemplo do que ocorreu no Theatro Municipal (1), onde se reuniu um seleto público, recebido, na oportunidade, pelo presidente da ABI e anfitrião da festa, o jornalista maurício azêdo (2). Na ocasião, o vice-presidente do Brasil, José alencar, representou o presidente lula. O evento contou com a apresentação da Or-questra Petrobras Sinfônica, sob a regência do maestro isaac Karabtchevsky (3), e show do cantor e compositor paulinho da Viola (4).

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O livro Ao Coração de Deus — Coletânea Ecumênica de Orações (versão pocket) está disponível nas principais livrarias

do País ou pelo Clube Cultura de Paz: 0800 77 07 940.

Diretoria da Providerencanta-se com a LBV

Largos sorrisos e músicas, na voz das crianças do Coral Ecumênico Infantil LBV, aten-didas pela Instituição, na capital cearense, deram as boas-vindas à diretoria da Provider Ltda., que visitou o Centro Comuni-tário e Educacional da Legião da Boa Vontade, no dia 13 de fevereiro. O presidente da em-presa, sr. Arnaldo Haimenes, encantou-se com as crianças. “Assistimos a uma apresen-tação maravilhosa. Nós, da Provider, estamos muito satis-feitos em ajudar uma Entidade como a LBV, que preza por um aspecto fundamental: a Cida-dania. Formar o cidadão é um trabalho fenomenal que a LBV

F O R T A L E Z A / C E

Leontina Maciel

O presidente da Provider, sr. Arnaldo Haimenes (E), o sr. Vicente Ximenes, supervisor, e o sr. Wilson Matias, gerente, entre as crianças da LBV.

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realiza. (...) Hoje vi e senti o aprendizado de se formar um Cidadão Ecumênico. Essa mis-são está presente nesta Casa”, disse.

O sr. Wilson Matias, ge-rente da filial da Provider no Ceará, também agradeceu, afirmando seu apoio à Insti-tuição: “Quando for possível, a Provider estará presen-te participando em parceria com a LBV”. Nesse sentido, o supervisor de qualidade da empresa, sr. Vicente Ximenes, também destacou: “Estamos à disposição em contribuir para o crescimento do trabalho de-senvolvido pela Legião da Boa Vontade”.

Ao Coração de Deus

O respeitado jornalista Moa­cir Benvenutti destacou em sua coluna do jornal A Notícia, de

Joinville/SC, um dos mais recentes lan-çamentos da Editora Eleva-ção. Escreve Moacir: “O diretor-presi-dente da Le-gião da Boa

Vontade (LBV), José de Paiva Netto, está lançando Ao Coração de Deus — Coletânea Ecumênica de Orações, dirigida para quem quer melhorar a auto-estima e renovar energias por meio da oração. Segundo os editores, é ‘essencial para todos aqueles que acreditam que, por intermédio da prece, pode-se alcançar uma força poderosa, não só para aten-der às necessidades materiais de nossas vidas, mas também para acalentar o coração e a alma de todos’. São 50 orações das mais diversas tradições religiosas, que expressam as diferentes maneiras de vivenciar a fé”.

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AVAPE. Diminuindo as diferenças, aumentando as oportunidades.

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o”.

Há 25 anos a AVAPE desenvolve um trabalho de reabilitação clínica, profi ssional e de acompanhamento familiar às pessoas com defi ciência. Além disso, capacita e encaminha estas pessoas ao mercado de trabalho. Só no último ano, foram mais de 4 milhões de atendimentos, mais de 90% deles gratuitos. Um importante trabalho de inclusão social que transformou a AVAPE em referência nacional no atendimento a pessoas com defi ciência. E que precisa da ajuda de todos para continuar, inclusive da sua. Faça parte desta história repleta de força de vontade, dedicação e superação. Ligue (11) 4993-9200 ou acesse www.avape.org.br.

Escolha fazer a diferença na vida de uma pessoa com deficiência.

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OpiniãoEsportivaColuna do Garotinho

josé Carlos Araújo, comunicador da Rádio Globo do Rio de janeiro

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Os principais clubes do País se reforçaram. Buscaram o que podiam ter de melhor. Na maioria das vezes, as

contratações não foram aquelas sonhadas pelos torcedores, mas as que as finanças permitiram. Por isso mesmo, os times são vistos com desconfiança.

Há exceções, como o Flumi-nense, que se reforçou com Dodô, Leandro Amaral, Washington, Dario Conca e outros. Ou mes-mo o São Paulo, que fez a mais importante contratação do futebol brasileiro: Adriano.

No entanto, outros grandes clubes só vão ter a força avaliada de verdade no Campeonato Bra-

josé Carlos Araújoespecial para a BOA VONTADE

sileiro, quando terão pela frente equipes tradicionalmente fortes e competitivas. Que ninguém chegue ao campeonato nacional iludido, pois só os competentes sobreviverão.

Os campeonatos estaduais são importantes. Têm tradição e muito charme. Todos os clubes querem conquistar o campeonato de seu Estado, porque há rivali-dade até secular em jogo. O título estadual é uma ambição de todos e uma cobrança dos torcedores.

No entanto, a qualidade dos participantes, na maioria dos estaduais, é discutível. E, quan-do os adversários são fracos, os grandes acabam iludidos. Podem não ter formado equipes tão fortes quanto pensam para o restante do ano.

Com certeza, isso não acontece em São Paulo. Mas fica evidente em Minas, no Rio Grande do Sul e em outras grandes praças, espe-cialmente no Rio de Janeiro, onde o Estadual tem um regulamento inteiramente a favor dos grandes clubes.

Realidadesóno

No Campeonato Estadual do Rio de Janeiro, houve um acordo: os clubes menores abriram mão do direito de jogar contra os grandes clubes em seus estádios. Mediante uma compensação financeira, acei-taram enfrentar os grandes clubes cariocas somente no Maracanã, em São Januário ou no Engenhão.

Com isso, praticamente desis-tiram de lutar por vagas nas fases decisivas do campeonato, porque se tornaram presas fáceis no cam-po dos adversários. Uma fórmula em que todos são enganados: os pequenos, que trocam suas chan-ces por dinheiro; os grandes, que não conseguem medir o tamanho de sua força; e os torcedores, que acabam iludidos.

As conseqüências surgem quando disputam a Taça Liber-tadores da América e o Cam-peonato Brasileiro. Aí, sim, é a hora da verdade, quando quem tem competência vai em frente e quem não tem sucumbe. É elimi-nado, no caso da Libertadores, ou corre o risco de rebaixamento no Brasileiro.

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ComunicaçãoVillas-Bôas Corrêa

“(...) Nunca fui boêmio, não tive tempo. (...) Trabalhava demais. Como é que seria boêmio se saía de casa às sete da manhã, voltava para almoçar e emendava até as duas, três da manhã?”

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A oportunidade de conver-sar com um dos ícones do jornalismo político em atividade no Brasil

é uma experiência única. Afinal, como o próprio Luiz Antonio Villas­Bôas Corrêa gosta de lem-brar, “talvez seja o último sobre-vivente da geração que cunhou o modelo de reportagem política que ainda hoje se pratica”. Villas-Bôas Corrêa, como ficou conhecido esse carioca nascido no bairro da Tijuca, ingressou no jornalismo dois anos após a promulgação da Consti-tuinte de 1946, logo depois do fim do Estado Novo, em meio ao pro-cesso de restauração democrática. Partidos eram fundados, surgiam os primeiros candidatos a cargos públicos. Para o jornalista, aquele momento era como uma contínua “embriaguez de liberdade”. A sociedade tinha fome por esse tipo de notícia. Ao mesmo tempo, os jornais ainda não dispunham de quadros para cobrir política, que se transformara em uma área im-portante do noticiário.

Com 84 anos de vida, Villas-Bôas está para atingir outra mar-

Memória do Brasil contemporâneo

ca: completa seis décadas de tra-balho no próximo 27 de outubro. No trato diário com o noticiário político, diz que sempre procura a isenção no que escreve, a ponto de jamais ter declarado voto, ou ter-se filiado a qualquer partido. A fim de garantir o requisito, para ele, fundamental em sua atividade: a credibilidade como

analista. Cultivando boas fontes de informação e qualidade na escrita, passou por diversas mí-dias, como o Diário de Notícias, a Rádio Nacional, O Estado de S.Paulo (durante 23 anos); foi comentarista político da extinta TV Manchete e um dos funda-dores do jornal O Dia, no qual trabalhou até aposentar-se, em 1998. No ano seguinte, voltou ao Jornal do Brasil e atualmente as-sina três artigos semanais. Além disso, publicou os livros Casos da Fazenda do Retiro (2001), em que relata as reminiscências da juventude, e Conversa com a me-mória (2002), com as lembranças de meio século como repórter.

Nesta entrevista exclusiva, Villas-Bôas Corrêa conta, de forma descontraída, as realizações na im-prensa e fala da vida em família.

BOA VONTADE — Foi no curso de Direito que surgiu o interesse pela política?

Villas­Bôas — Sou filho de um juiz de Direito, o desembargador Merolino Raimundo de Lima Corrêa. Meu pai foi juiz em Carmo

Villas-Bôas Corrêa e os felizes 60 anos de jornalismo

em FamÍlia O jornalista com a esposa, regina maria de sá corrêa, e o filho mais velho, marcos, que segue a carreira do pai.

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Rodrigo de Oliveira e Simone BarretoReportagem fotográfica: André Fernandes

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tro Villas­Bôas, fiscal do posto de consumo, aposentado, um sujeito maravilhoso. Ele me deu várias coisas, inclusive, o gosto pelo teatro. Na casa dele me formei; saí de lá casado, com 22 anos. Antes disso, fui convocado na guerra, servi mais de um ano na Fortaleza de São João, na Urca, quando passei a cabo. Uma coisa curiosa: o meu avô foi jornalista de província, de Angra dos Reis; meu pai, que visitava a gente — ia ver o filho de vez em quando, era difícil para ele viajar como juiz de interior

—, tinha um tio muito inteligente, chamado José Pedro Saragossa Santos (juiz no Estado do Rio de Janeiro). Era uma casa de pessoas que liam muito jornal, mas eu não tenho lembrança de uma conversa política, a não ser as reminiscências sobre a velha política fluminense, porque simplesmente não havia po-lítica no Estado Novo. Não existiam

nos jornais notícias sobre política, partidos, Congresso. Quando entrei na Faculdade Nacional de Direito, estava praticamente em branco em matéria de política. Se ela não me deu um diploma que me servisse na vida prática, porque nunca advoguei, pelo menos ali eu caí na fervura da política acadêmica, na fase de resistência ao Estado Novo. Fui presidente do Centro Acadêmico Cândido Vieira (Caco) e como presidente assinei e redigi um manifesto saudando a queda da ditadura.

BV — Como foi o início no jorna-lismo?

Villas­Bôas — Eu não posso dizer que tinha vocação jorna-lística. Entrei para o Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), mas o vencimento do ser-vidor público era muito escasso e consegui um cartão do meu sogro, Bittencourt de Sá, que tinha sido

Boas recordaÇÕes do rio antiGo Sempre abordando temas sociais, em um de seus “Comandos Parlamentares”, o jornalista vai a campo, na favela da Mangueira, na companhia de dois deputados e um religioso. No percurso, encontram um grupo de pesca-dores que se alimenta em volta de um cesto de caranguejos. “Não vão nos convidar para comer?”, questionou o deputado heitor Beltrão, que aparece sentado (foto 1) ao lado do também parlamentar Breno da silveira (paletó branco). À esquerda, estão o padre medei-ros neto e Villas-Bôas. “Esse era o Rio de Janeiro daquele tempo”, recorda o jornalista.

do Rio Claro/MG (perto de Furnas), município que fui rever 40 anos depois. E lá minha mãe, Maria Safira Corrêa, teve uma doença terrível, que a obrigou a vir para a casa do pai dela no Rio de Janeiro, onde morreu dois anos depois. Fi-quei órfão de mãe aos 8 anos, e o restante da minha mocidade passei na casa do meu avô, Luís de Cas­

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Comunicação

“A reportagem política recomeçou

com a queda do Estado Novo.

Foi aquele estouro, aquela

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pegou os jornais desprevenidos.

Não havia quadros para cobrir

a política, eles foram sendo

preenchidos com a turma antiga,

que vinha da República Velha.”

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um grande jornalista na cidade do Rio de Janeiro. Ele me deu uma carta para entregar ao Cândido de Campos, dono do A Notícia, do Rio. Apresentei-me ao Silva Ramos, que foi o meu grande professor, mestre de jornalismo, porque foi na base do trabalho; era um sujeito exigente. Ele leu o bilhete e disse: “O Bittencourt está dizendo que você é bacharel, mas não é necessariamente analfabeto. Tire o paletó, sente ali e comece”. Esse foi o meu curso de jornalismo político. Demorou dois, cinco mi-nutos, talvez. Tirei o paletó e, nesse dia, voltei para casa lambendo a notícia, a minha primeira matéria publicada, uma matéria simples, de uma coluna.

BV — E a carreira no jornalismo político?

Villas­Bôas — Foi muito rápi-da. A Notícia não possuía repórter político e começou a existir essa

necessidade. As manchetes passaram a ser, em geral, sobre a área. Um belo dia fui buscar o “boneco” (usava-se à época a fotografia do rosto da pessoa) de um suicida, perto do centro do Rio, e entrei num hotel para informar à redação que não havia “boneco” algum. Enquanto esperava, ouvi um cidadão com sotaque estrangeiro, aos berros, ao telefone no fundo do corredor, com a cabine aberta, falando com alguém de Porto Alegre. Comunicava o fato de ser vítima de uma tentativa de chan-tagem por parte de um ministro de Estado, e que ia ter naquele dia uma entrevista com o então ministro da Guerra, o general Canrobert Pereira da Costa. Ele se chamava Ivo Borcioni; apre-sentei-me, disse que era jornalista, bacharel, e que ouvira a conversa. Combinei que iria como advogado dele à audiência com o Canrobert,

Villas-BÔas em alGUns momentos (2) A fé do povo nordestino, uma das pautas de uma série de reportagens sobre a seca no sertão, elaborada em 42 dias e com passagens por diversas cidades, entre o Rio de janeiro e o Ceará. (3) O jornalista (em destaque), durante coletiva de imprensa com o presidente Juscelino Kubitschek. (4) Cumprimenta o então governador do Estado de São Paulo, adhemar de Barros. (5) Encontro com o presidente da Argentina arturo Frondizi, que exerceu o cargo entre 1958 e 1962.

“Hoje, você entra em uma redação

e tem a impressão de estar em uma

espécie de maternidade: todo mundo

em frente da televisão vendo aquilo,

ninguém conversa. Para mandar um

recado, em vez de falar com o colega

ao lado, passa pelo computador. O

negócio é muito mecanizado.”

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Cavalcante. Chegamos lá e o jan-tar já estava sendo servido. Quando entrei na sala, vi que a turma se co-çou, entendeu? Daí um bocadinho começou aquele negócio de prato voando. Foi um furo absoluto. Tive a sensação de que aquilo tinha sido feito para mim (risos).

BV — De alguma forma os pro-fissionais com quem conviveu contribuíram para o êxito do seu trabalho.

Villas­Bôas — Acho que sim, porque, como eu era amigo do Odylo Costa, filho, uma figura maravilhosa, grande escritor e poeta, para onde ele ia me levava. Para o Diário de Notícias, para o Estado de S.Paulo. (...) A repor-tagem política recomeçou com a queda do Estado Novo. Foi aquele estouro, aquela embriaguez da liberdade, que pegou os jornais desprevenidos. Não havia quadros para cobrir a política, eles foram sendo preenchidos com a turma antiga, que vinha da República Velha, Prudente de Morais, neto; Osvaldo Costa e poucos mais; o resto foi improvisando. O Rio de Janeiro, como capital política, tinha um Congresso extremamente vivo e atuante, com grandes figuras. Foi a época de ouro da oratória. Con-vivi com os maiores oradores do século: Carlos Lacerda e Affonso Arinos. O presidente da República atuava politicamente dentro do Congresso por meio de sua lide-rança. O jogo político, de fato, era travado dentro do Congresso, da Câmara.

BV — Este ano se comemoram os

BV — Como era a rotina a essa época?

Villas­Bôas — O começo em A Notícia foi decisivo porque lá não havia frescura, fazia-se tudo. Fui me especializando dentro da política, passava a tarde na Câmara, ia ao Senado de vez em quando (a capital do Brasil ainda era no Rio de Janeiro/RJ), visitava a sede de partidos e ministros, rodava o dia inteiro e, de noite, ficava a correria para escrever as matérias. Cheguei a trabalhar em três jornais.

BV — Alguma história curiosa desse período?

Villas­Bôas — Criei os “Co-mandos Parlamentares” de O Dia, o que era isso? Pegávamos três deputados, um senador de vez em quando. Encontrávamos com eles às quartas-feiras no O Dia — que ficava na avenida Marechal Floriano; ali havia um carro de reportagem e o Aquiles Camacho, um grande fotógrafo, que nos acompanhava. Só na porta do jornal os deputados eram informados aonde iriam. Virávamos o Rio de cabeça para baixo. Íamos a todo tipo de lugar, mas procurávamos os temas populares, as favelas. Os

“Comandos” ficaram popularíssi-mos, e eu recebia muitas denúncias. Estava na redação quando alguém me telefona com uma voz meio abafada e diz: “Villas-Bôas, estou aqui na penitenciária de Bangu; hoje no jantar vamos fazer uma revolta”. Então falei: “Agüenta aí, estou indo para o local”. Corri até a Câmara e chamei dois deputados, o Breno da Silveira e o Tenório

“O Rio de Janeiro, como capital

política, tinha um Congresso

extremamente vivo e atuante,

com grandes figuras. Foi a

época de ouro da oratória.

Convivi com os maiores

oradores do século: Carlos

Lacerda e Affonso Arinos.”

Comunicação

e assim foi. Para minha surpresa, o general aceitou aquela denúncia contra o seu colega de ministério, sem piscar um olho, e prometeu levar a denúncia ao presidente Du­tra. No dia seguinte, o assunto foi manchete do A Notícia. O assunto teve repercussão no Congresso Nacional, e isso me consolidou logo como repórter político.

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100 anos da ABI e 200 da imprensa no Brasil...

Villas­Bôas — Tenho absoluta imparcialidade em avaliar isso. O Maurício Azêdo trabalhou comigo no Estado de S. Paulo, tivemos lá nossas divergências, mas considero absolutamente exemplar a admi-nistração dele. Ele não está só re-cuperando a Casa, o prédio, como também está movimentando todos os setores. Tem sabido respeitar o contraditório. Na ABI, de vez em quando, há palestras de pessoas que levam um pensamento inteiramen-te diferente do que é predominante na Casa; isso é perfeito. Acho uma administração fantástica. Ele vai dar o maior brilho possível a esse centenário da Associação Brasilei-ra de Imprensa.

BV — O senhor chega aos 84 anos com boa memória e saúde. Qual o segredo para manter-se bem?

Villas­Bôas — Reflete um preço meio grande porque nunca fui boêmio, não tive tempo. Casei muito moço. O Marcos nasceu nove meses depois e, Marcelo, um ano depois. De repente estava eu com mulher e dois filhos, mo-rando na casa do sogro. Embora tenha sido bem tratado lá, estava louco para ter minha casa. Então, trabalhava demais. Como é que seria boêmio se saía de casa às sete da manhã, voltava para almoçar e emendava até as duas, três da manhã? Quando Getúlio morreu, passei 48 horas na redação sem sair; só pude dar um pulo em casa para tomar um banho, trocar a roupa, fazer a barba.

BV — O senhor fala da família de forma apaixonada. Esse convívio foi importante para sua condição intelectual, cultural e moral?

Villas­Bôas — Em geral, o jor-nalista da minha geração cultivava muito a vida familiar. Quase sem exceção, tiveram um casamento só. Essa fase de Brasília eu não pe-guei, não quis ir para lá. Recebi um convite absolutamente irresistível, para dirigir a sucursal do Jornal do Brasil em Brasília, mas não fui porque era difícil deslocar a famí-lia, os meninos estavam estudando, ia atrapalhar a vida deles. Trabalhei sempre nesse ritmo; há pouco tempo é que se deixou de ter essa relação. Hoje, você entra em uma redação e tem a impressão de estar em uma espécie de maternidade: todo mundo em frente da televisão vendo aquilo, ninguém conversa. Para mandar um recado, em vez de falar com o colega ao lado, passa pelo computador. O negócio é muito mecanizado.

Bastidores Equipe da Super Rede Boa Vontade de Comunicação prepara o ambiente para gravar a entrevista, na sala da residência do jornalista, na zona sul do Rio.

Ao término da entrevista, Villas-Bôas, que vem acompanhando o tra-balho da LBV há décadas, registrou: “Tenho uma relação muito longa com a LBV, desde Zarur. Tinha as referências mais elogiosas do Osório Borba, um pernambucano ranheta, grande jornalista e escri-tor, que tinha a informação de que o Zarur era um homem absolutamen-te honrado, desprendido, que vivia distribuindo a Sopa dos Pobres. O presidente atual, o dr. Paiva Netto, é sempre muito cordial comigo... eu o encontrei pessoalmente algumas vezes. Um dia, ele me convidou a ir a Brasília (para uma visita ao Templo da Boa Vontade), lá estive e fui muito bem recebido. Se não sou um crente de nenhuma reli-gião, também não sou um desafeto. Contribuo, modestamente, com a Legião da Boa Vontade há muitos e muitos anos, e é o único lugar em que colaboro financeiramente. Apenas ajudo a LBV porque merece a minha confiança”.

BOA VONTADE | 23

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Cidadão domundoA reportagem do programa Samba & História esteve no

bairro de Porto das Pedras, São Gonçalo, município do Rio de Janeiro, para conversar com uma figura desta-cada da música brasileira: o cantor e compositor Altay

Veloso. O artista abriu as portas da casa e do coração para contar um pouco da trajetória de vida. Destacou a infância e juventude como épocas marcantes na formação do caráter e de sua abrangente visão de mundo.

Autor de mais de 450 músicas, muitas delas de bastante su-cesso, Altay mantém a forma simples de ser do início de carreira. Mora no mesmo bairro onde nasceu e escolheu para constituir família e criar os filhos, Saul, Saulo, Bárbara e Gibran. Du-rante a conversa, relembrou como a convivência com pessoas especiais o influenciaram e quando surgiu a oportunidade de ser

compositor: “A primeira gravação na verdade foi com a Wan-derléa, um disco produzido pelo Egberto Gismonti; ali

aconteceu o pontapé inicial”.Depois, as canções de Altay ganharam realce

nas vozes de Roberto Carlos (Dito e Feito), Elba Ramalho (Nascido em 22 de abril),

Emílio Santiago (40 anos), Vanusa, Ale­xandre Pires, Leny Andrade, Alcione e dos grupos de samba Só pra Contrariar,

Negritude Júnior, Soweto e Exaltasamba. Como cantor, lançou cinco discos, a

exemplo de Avatar (1983) e Nascido em 22 de abril (1995).

Enquanto toda a vida profis-sional ia desenrolando-se, um

Samba&HistóriaAltay Veloso

Altay Veloso conta como a infância na LBV o ensinou a respeitar as diferenças

Rick de Abreu

Hilton Abi-Hihanespecial para a BOA VONTADE

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Altay Veloso recebe em sua residência o ra-dialista, jornalista e apresentador do progra-ma Samba & História*, Hilton Abi-Rihan, da Boa Vontade TV e da Super RBV.

* programa Samba & História — Na Super Rede Boa Vontade de Rádio (Super RBV), você pode acompanhar essas entrevistas aos domingos, às 14 e 20 horas. Pela Boa Vontade TV (canal 27 da SKY), o telespectador pode conferi-las aos sábados, às 14 e 21 horas. Outra opção é aos domingos, às 5, 14 e 23 horas. Pela Rede Mundial de Televisão, assista ao bate-papo aos sábados, às 18 horas; aos domingos, às 18 horas e segunda-feira, às 22 horas.

sonho de mais de vinte anos era acalentado por Altay: a montagem de um superprojeto sobre Jesus, a quem aprendeu a amar ainda bem pequeno com a saudosa avó Rosa­lina, Legionária da Boa Vontade. A primeira música do futuro trabalho, Jerusalém, foi composta ainda aos 21 anos de idade. Pouco tempo depois, viriam O louco e Gólgota. A idéia de escrever sobre a saga de um africano de Daomé, que se en-contra com o Cristo e se apaixona pelos ensinamentos Dele, foi passo a passo tomando corpo, entre uma e outra interrupção forçada. Mas apenas quando completou 40 anos é que o artista conseguiu concreti-zar a história.

Com recursos próprios, viajou em 2000 para Israel (por duas ve-zes), ao território de Ifé, na Nigéria, além de Angola e Bahia, onde re-colheu os últimos detalhes do livro Ogundana, o Alabê de Jerusalém,

que mais tarde se transformaria em CD e DVD. O trabalho foi gravado por nomes importantes da nossa música, como Elba Ramalho, Jor­ge Vercilo, Jorge Aragão, Fafá de Belém, Ivan Lins, Margareth Menezes, Sandra de Sá, Lenine, Lucinha Lins, Bibi Ferreira, entre outros.

A obra conta a história de Ogun­dana, um africano nascido há dois milênios, em Ifé, que aos 12 anos foge de sua aldeia e viaja por várias nações do norte da África até que encontra um centurião romano e dele se torna amigo, seguindo ambos para Roma. Graças aos conhecimentos medicinais, herda-dos de sábios de sua tribo, e outros aprendidos durante a viagem, passa a cuidar do Exército romano e segue com a tropa para Cesaréia. Posteriormente chega à Galiléia, onde conhece o Cristo.

O compositor explica que o

“Dona Rosalina (...) me levou para a LBV ainda molequinho, menininho, e isso foi extremamente importante para a minha vida; ajudou a forjar o meu espírito, a ser ecumênico, a ter uma relação mais fraterna com o próximo, com as diferenças. Eu fui vendo que Deus se manifesta de formas diferentes.”

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dUas Épocas O pequeno Altay

entre os pais Izolina e Aguilar; ao lado o registro

dele em sua primeira comunhão.

mundo

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título — inspirado em várias he-ranças culturais (cristã, judaica e

muçulmana) — é fruto da experiên-cia familiar: a mãe, Izolina, sacer-dotisa de cultos africanos, o pai, Aguilar, um jongueiro do Espírito Santo, e uma avó muito querida. “Dona Rosalina deve estar muito feliz de eu participar de um pro-grama da Legião da Boa Vontade, foi ela quem me levou para a LBV ainda molequinho, menininho, e isso foi extremamente importante para a minha vida; ajudou a forjar o meu espírito, a ser ecumênico, a ter uma relação mais fraterna com o próximo, com as diferenças. Eu fui vendo que Deus se manifesta de formas diferentes.”

Em maio de 2007, Altay con-seguiu concretizar finalmente o projeto, levando a ópera Alabê de Jerusalém aos palcos do Canecão e do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, reunindo 70 artistas em uma megaprodução. O músico disse que busca patrocinadores para uma nova montagem da ópera.

InfânciamarcantecomoSoldadinhodeDeus

No bate-papo com Altay ficou evidente também a preocupação com as novas gerações. Para ele, a in-fância é um momento especial.“Foi a fase mais importante da vida, a que mais lembro, a que tenho mais afeto”, recorda-se. A principal lem-brança dele é a partir dos 7 anos de idade, em que ao lado de dona Ro-salina começou a freqüentar a LBV e tornou-se um Soldadinho de Deus, como são carinhosamente chamadas as crianças na Instituição:“Eu tenho um afeto especial por Alziro Zarur, pela proposta ecumênica da LBV. Até hoje a voz dele soa na minha alma, realmente foi inspiradíssimo. Que bom que o professor Paiva Netto continua esse belo trabalho”. Na oportunidade, ao receber de presente um CD com a composição Marcha dos Soldadinhos de Deus, o cantor se emocionou muito e co-meçou a cantarolar a música (leia a letra da canção ao lado), para ele, impossível de esquecer. Altay Veloso e sua esposa, celinha, em

jerusalém.

Marchados

SoldadinhosdeDeus

Música/letra: Sylvio Gomes

Soldadinhos de Deus somos nós,

A lutar pelo Bem!

Dos Anjinhos, em coro, eis a voz

Prenunciando Jesus, que já vem!

Meu Jesus!

Meu Senhor!

Linda Luz!

Doce Amor!

Abre os braços para os Teus

Soldadinhos de Deus!

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Altay Veloso é entrevistado por Jô soares, em agosto de 2007. Na ocasião, recordou-se de passagens marcantes de sua vida e da música Marcha dos Soldadinhos de Deus (letra ao lado), que conheceu aos 7 anos de idade, ao freqüentar a LBV, incentivado pela avó Rosalina.

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*¹ dos primórdios da lBV — Referência à famosa “Sopa dos Pobres”, também conhecida como a “Sopa do Zarur”, iniciativa que resultou na criação do Programa Ronda da Caridade, uma ativi-dade permanente da LBV contra a fome. *²O Programa Boa Vontade, com Paiva Netto, vai ao ar pela TV Bandeirantes, no início da madrugada, de segunda a sexta-feira, após o A Noite é uma Super Criança, do apresentador e amigo da Legião da Boa Vontade otávio Mesquita. Você pode assistir tam-bém pelo canal 27 da SKY, pela Boa Vontade TV.

É também na infância, como Soldadinho de Deus, que ele des-cobre o valor de figuras notáveis da Humanidade, Seres Humanos que trabalharam para que o Pla-neta hoje pudesse ser um pouco mais fraterno. Isso há quase 50 anos: “Nessa época não havia uma literatura vasta, principal-mente morando em São Gonçalo, mas o que eu li sobre Gandhi na antiga revista BOA VONTADE foi o bastante para que eu o amasse e tentasse me inspirar a partir de um sentimento de um homem como ele”.

Da avó, recorda-se que era uma voluntária ativa nos progra-mas socioeducacionais da LBV — “daquelas que faziam sopa aos sábados*¹” — e, apesar de ser analfabeta, valorizava muito o estudo.“Tanto é que, quando ela pôde, fez dentro da casa dela uma escola para alfabetizar os meninos da vizinhança, que se chamava Escola São Francisco de Assis, o Patrono da LBV. Aprendi a gostar de São Francisco, conheço todas as orações dele.”

Nas reuniões da Institui-ção, o cantor fez um grande amigo, o psiquiatra José Eu­gênio: “Ele era da Legião da Boa Vontade, um sujeito

maravilhoso, marxista, ateu, da-queles que amam o próximo de tal forma que, mesmo não acreditando em Deus, como dizia, estava pronto para ajudar o semelhante”.

O médico chamou o garoto para lecionar na escolinha que a avó montou. “O pessoal me cha-mava de professor, tínhamos 80 alunos e isso foi possível por conta da LBV, que juntou todas essas coisas na minha vida.” Foi mais ou menos nessa época que desco-briu a vocação musical e aprendeu a tocar violão e acordeão.

Tantos anos depois, Altay Velo-so guarda todos aqueles sublimes sentimentos que conhecera quan-do criança. Diz que recentemente sentiu-se muito feliz ao visitar o conjunto educacional da LBV na capital paulista, no qual são aten-didos mais de 1.200 alunos. “Vi meninos e meninas sendo tratados com carinho. E a contribuição da LBV nos dias atuais pode ser mais

relevante do que já foi, porque hoje a gente precisa muito desse sentimento ecumênico”, ressalta. E acrescenta: “Se as crianças tiverem acesso a essa diversidade humana, serão muito melhores, te-rão mais chance de ser felizes”.

Para o artista, ali está o retrato do Brasil futuro, que pode influen-ciar o restante do Planeta. “Aqui árabes e judeus vivem próximos uns dos outros. Há alguma coisa de especial neste chão, neste ter-ritório, nesta aura brasileira que o mundo aos poucos saberá.”

Por fim, Altay não se esquece de dizer que costuma assistir ao Programa Boa Vontade, com Paiva Netto*²: “O meu abraço ao Paiva Netto, minha gratidão por ter continuado, de forma tão bonita, essa Inspiração Divina, começada por Alziro Zarur. Que Deus lhe dê muita força e luz, para que possa levar à frente esse trabalho”.

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heranÇas cUltUrais Cenas do espetáculo Alabê de Jerusalém, assinado por Altay e sucesso nos palcos do Canecão e do Theatro Municipal do Rio.

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Page 28: Revista Boa Vontade, edição 221

gênese de repórter

Alma de editorPerfilMyltainho

Caminhos que o jornalista Mylton Severiano percorreu para consolidar-se como um dos grandes nomes da comunicação brasileiraIzi

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Pelas contas do veterano jor-nalista Mylton Severiano, editor-executivo da revista Caros Amigos, sua trajetória

na profissão começou, literalmen-te, a ser redigida em 10 de setem-bro de 1940, então data dedicada à Imprensa. O próprio Myltainho diz que desde o nascimento isso “estava escrito”. Aliado a este fator, o incentivo a boas leituras, vindo do pai, o alagoano Bernar­do Severiano da Silva, foi aos poucos burilando na mente do jovem Myltainho uma consciên-cia crítica e intelectual. Tanto que o faro pela reportagem é aguçado desde tenra idade — seu primeiro texto fora publicado antes mesmo de completar uma década de vida. Aos 12 anos, fez um poema sobre o Dia das Mães para o Correio de Marília. No colégio, tocava o jornal do grêmio, ao lado do amigo de infância Woile Guimarães, também jornalista, dono da GW Produções.

No entanto, apesar de esse repertório conspirar a favor do jornalismo, o contato com a pro-fissão surgiu da necessidade de auto-sustento. Logo quando che-gou à capital paulista, vindo de Marília/SP, em janeiro de 1960, ingressou na faculdade de Direito, mas largou o curso no terceiro ano para trabalhar. Nesta entre-vista, ele fala desses e de outros assuntos, bem como dos planos. Também destacou sua admiração pela Legião da Boa Vontade e pelo seu diretor-presidente, José de Paiva Netto, com quem teve oportunidade de realizar uma de suas reportagens.

Ao ceder esta imagem, o ilustre Woile Guimarães mandou singela dedicatória

ao amigo em que relembra: “Em Marília, encontrei com Monteiro

Lobato, na coleção do Myltainho.Lá, seguramente, desenvolvi, com as

leituras, meu pendor pelas letras, pelo português, que o Myltainho sabe de

trás pra frente e da frente pra trás. Não só a ortografia, a gramática, mas pela mágica que ele faz com as letras, com

sua cultura e sensibilidade política e social”.

1- Myltainho entre os pais, Bernardo e ju-lieta, e a irmã Iracema, no colo da mãe.2- Moisés Baumstein (E), Myltainho e Ha-milton Almeida Filho (D), na redação da revista Extra-Realidade Brasileira.3- Revista Realidade, em 1969. Sentado, em destaque, no centro da mesa, paulo mendonça, então diretor da revista. No sentido horário, os novos jornalistas da Realidade, luís Fernando mercadante, José carlos marão, mylton severiano, luís Fontes, Jean solari, david Zingg e Jaime Figuerola.Ar

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“Tive a sorte de ter pais maravilhosos. Meu pai, Bernardo Severiano da Silva, é o meu herói.”

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Como é importante ter pais legais. Naquela época meu pai gostava de caçar e, um dia, me levou junto. Fiquei fascinado! Chegamos a uma fazenda que tinha Mata Atlântica e começou a chover muito forte, um temporal com raios; a gente saiu correndo. Encontramos uma cabana onde morava um jovem casal de camponeses, muito pobres, com duas crianças, uma de colo, e outra pequenina de 2 ou 3 anos. Meu pai já era candidato a vereador, um sujeito muito falante, simpático. Ele pediu licença ao casal para olhar no fogão de lenha o que tinham para comer. No caldeirão só havia feijão e ele me mostrou: “Filho, olha aqui o que eles vão comer”. Virou-se para eles e perguntou o que mais comeriam. “Farinha, senhor”, responderam. Quando parou de chover, e a gente ia embora, meu pai entrevistou os dois, perguntou quanto ganhavam, de onde vieram, enfim... foi o jornalista. No caminho de volta, eu falei que ia

escrever o que contaram e mostrar para a professora. Ele disse: “Não. Escreva, mas me dê, vou mandar para o Terra Livre”. Esse era o nome de um jornal agrícola, dos campone-ses e pequenos agricultores. Desse modo, publiquei com 8, 9 anos meu primeiro texto, relatando o que tinha visto, que eu achava aquilo muito triste. Até então, não vira uma coisa que tivesse me tocado assim, penso que ali nasceu o jornalista; a vocação baixou.

BV — E daí trabalhou em vários jornais brasileiros, certo?

Myltainho — Trabalhei. Eu vim a São Paulo fazer curso de Direito, cheguei a entrar na São Francisco, mas, ao mesmo tempo, procurei em-prego; precisava trabalhar, meu pai não tinha condições de me sustentar aqui. Um amigo, Woile Guimarães, já tinha vindo na frente; a gente era de Marília/SP. Ele é jornalista, empresário de comunicações, já estava havia um ano na Folha de S.Paulo e me arrumou um lugar lá. Quando entrei e vi aquela coisa toda, me desencantei do Direito e me apaixonei na hora por uma redação. Tinha começado a estudar Direito pela inércia e também porque meu pai queria. Em seguida, em 1964, com o golpe militar, o meu pai foi preso e aí tive o álibi para abandonar a faculdade e mergulhar de sola no jornalismo. Eu precisava segurar as pontas da família e então fui em-bora. Trabalhei em vários canais de TV e em muitos veículos, como o Estado de S.Paulo, Jornal da Tarde, uma porção deles.

BV — Quem você destaca como

BOA VONTADE — Como foi a infância?

Myltainho — Eu sou filho de um pai e de uma mãe semi-alfa-betizados. Tive a sorte de ter pais maravilhosos. Meu pai, Bernardo Severiano da Silva, é o meu herói. Minha mãe, Julieta Mazzola da Silva, era cristã; meu pai entrou para o Partido Comunista. Autodidata, lia muito, e o maior bem que ele me deu foi me colocar para estudar. É a minha gênese. Quando tinha 5 anos, me lembro de um primeiro presente que ele me deu, muito ins-tigante. Era uma caixa, com cubos de madeira, que deve existir até hoje. Cada face do cubo tem uma letra para você se alfabetizar. Logo depois, começou a me dar livros. Assim eu comecei a ler.

BV — Nessa época você já sonha-va em fazer comunicação? O que o despertou?

Myltainho — Estava escrito!

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SérgiodeSouzaNo fechamento deste número,

recebemos a notícia do falecimento do jornalista sérgio de souza, editor da revista Caros Amigos, publicação lançada por ele há 11 anos. Serjão, como era conhecido entre os cole-gas, morreu aos 73 anos, no dia 25 de março, na capital paulista. Em sua carreira, trabalhou na redação de grandes jornais brasileiros. Inte-grou a equipe que fundou e lançou a histórica revista Realidade.

A Legião da Boa Vontade e seu diretor-presidente, Paiva Netto,

dedicam as mais sinceras vibra-ções de Paz e respeito a esse gran-de comunicador, nosso caro amigo. Esses sentimentos são extensivos também a todos os colegas e fa-miliares, especialmente à esposa, lana nowikow, e filhos.

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nácio de Loyola Brandão, José Carlos Marão, Hamilton Almei­da Filho, enfim, cada um ensinou alguma coisa, e

você também ensina para eles.

BV — Quais reportagens mais o marcaram?

Myltainho — Praticamente tudo o que fazia o José Hamilton sempre foi muito bom, desde a revista Realidade. Na televisão, me lembro de uma reportagem no programa Globo Rural, no qual ele está até hoje. Nela, mostrava, para a gente da cidade, como na roça as pessoas dão um jeito para as coisas que para nós, urbanos, não trazem

preocupação como, por exemplo, mandar uma carta. A gente a põe no correio e fim de papo. Só que na reportagem ele mostra um sujeito na roça que vai com o caminhão de

fundamental na sua formação dentro do jornalismo?

Myltainho — No começo, o meu pai. Depois que ele foi solto, ficou meio aperreado, como ele dizia, chateado. Logo sentiu que aquilo era uma paixão para mim, então enten-deu e me deu todo o apoio. Depois dele, grandes amigos, verdadeiros mestres, o Paulo Patarra, que foi o diretor de redação da revista Rea-lidade, e o Sérgio de Souza, meu professor de texto. Ele me ensinou praticamente tudo: a aper-feiçoar a ideologia, o jor-nalismo a serviço do Povo, do mais fraco, na defesa das causas populares. Esses são os principais. Aí tem o convívio com colegas como José Hamilton Ribeiro, Ig­

O jornalista Myltainho com seu colega de profissão Paiva Netto, durante visita ao Centro Educacional, Cultural e Comunitário da LBV em Del Castilho, Rio de janeiro/Rj, em 2000. Recordando-se carinhosamente da data, mandou um recado: “Um grande abraço ao Paiva Netto e a todos os colaboradores da LBV. Eu os trago no coração”.

“Nessa entrevista com o Paiva Netto fui, mais uma vez, um repórter bissexto, pois não era a minha praia. Mas o que eu senti naquele dia na LBV foi muita emoção. Criança me emociona muito. E eu vi aquelas crianças se alimentando e sendo bem tratadas. Aquilo me embargou a voz em alguns momentos. Foi uma das entrevistas de campo que fiz que mais me emocionaram, sem dúvida. Não teve outro trabalho que me emocionasse tanto.”

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entreVista de campo Fachada da unidade educacional da LBV, na zona norte do Rio, onde Myltainho entrevistou o dirigente da Instituição.

Ignácio de Loyola Brandãojosé Hamilton Ribeiro Hamilton Almeida Filho

manhã buscar o leite e depois volta, recolhendo aqueles latões na porta da fazenda. Aí, ele aproveita para levar cartas, bilhetes, encomendas, o sapato que o pai manda para um filho. É bonito isso, sabe? Na última

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BV — Quais são os planos? Myltainho — No momento, me

preparo para escrever um livro sobre a revista Realidade. Já entrevistei o José Hamilton e mais umas 18, 19 pessoas que estiveram lá. De uns anos para cá, o Hamilton e eu, da Caros Amigos, somos procurados anualmente por meia dúzia de estu-dantes que farão seu TCC (trabalho de conclusão de curso) sobre a Realidade. Mas que história é essa? Uma revista que há quase 50 anos continua sendo motivo de trabalhos! Os guris vêm entusiasmados quan-do o professor tem um exemplar ou fala da revista. Eles vão lá no arquivo e descobrem. Falei que ia escrever a história da revista de um jeito emocional, como tudo que gosto de fazer, com emoção. Estou entrevistando ex-colegas meus, não só querendo saber o ponto de vista profissional, mas também a história de cada um, como é que chegaram

lá; e tenho descoberto coi-sas gostosas. Alguns pon-tos comuns dessa turma é que eram autodidatas, gos-tavam muito de ler; desde a infância quase todos co-meçaram lendo Monteiro

fazenda em que ele en-tra, para encerrar, há um cara com um papagaio, em cima da árvore, que canta um monte de mú-sica, e o José Hamilton termina a reportagem

com o pássaro cantando. Acho aquilo uma obra-prima. No jorna-lismo escrito, na revista Realidade, praticamente tudo era muito bom, porque havia grandes repórteres. O Carlos Azevedo fez uma repor-tagem que considero uma pequena obra-prima: “Os maridos assassinos de Minas Gerais”, em 1980. Houve uma epidemia de maridos matan-do mulheres em Minas, desde os pobres até a classe alta. Um desses casos o Azevedo foi fazer em Belo Horizonte. Essa reportagem, como texto jornalístico-literário, cito como uma obra-prima. Eu não fui muito repórter, mas fiz algo que me agra-dou na revista: um trabalho sobre os 50 anos da Revolução Russa; eu me abeberei em alguns livros lá e escrevi um pequeno ensaio sobre o assunto, e até hoje tem gente que se lembra daque-le trabalho.

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caros amiGos Myltainho, ao centro, com sua equipe de redação, na Editora Casa Amarela. Da esquerda para a direita, Mariana, Natália, Letícia, Wagner, Camila, Léo, Thiago, Mariana, Michaella.

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Lobato. Não é curioso isso? E era tudo gente de classe média, média mesmo, de pobre para remediado, como se diz. É uma história interes-sante de contar. Esse é um projeto que estou tocando ali na paralela, vou começar a pôr no papel.

BV — Por falar em emoção, você a considera importante no jor-nalismo?

Myltainho — Acho que o jornalismo existe para informar, di-vertir e emocionar também, por que não? Uma boa história com uma boa carga de emoção, só de colo-cá-la no ar, na televisão, no rádio ou no papel, se você transmiti-la fielmente, transmitirá emoção. Não que você vá se derramar e cometer pieguice. A Humanidade precisa disso, a gente precisa de emoção, de poesia. [N. L. e R. O.]

dom mUsical Longe das redações, Myltainho revela o perfil de músico, como se vê na foto tocando piano. Incentivado pelo pai, estudou acordeão durante seis anos, no Conservatório Musical Santa Cecília, de Marília/SP.

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Segundo balanço do Minis-tério da Saúde, em 2007, foram registrados 559,9 mil casos de dengue no

Brasil, 1,5 mil casos confirma-dos de febre hemorrágica e 158 mortes por dengue hemorrágica. O que elevou o número de no-tificações, no ano passado, em cerca de 200 mil casos da doença em relação a 2006. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), envolvendo 100 países, dão conta de que dezenas de milhares de pessoas são afetadas anualmente pela dengue: em média, 550 mil necessitam de hospitalização e 20 mil morrem. O Aedes aegypti, nome científi-co do mosquito que se tornou o grande vilão da saúde pública, por ser o agente transmissor da doença, tem sido o alvo principal do Programa Nacional de Con-trole da Dengue, por meio de campanhas efetivas de combate à proliferação do inseto.

É fundamental eliminar os criadouros do mosquito que ataca, geralmente, pela manhã e ao entardecer. Por voarem

vilãdasaúdepúblicabaixo, os pés e tornozelos são os principais alvos. Como a picada é anestésica, a dor torna-se im-perceptível; casas e terrenos são os principais abrigos do inseto (95% deles).

Para combater a dengue, é ne-cessário manter quintais sempre limpos, não acumular entulho, verificar se não há água parada, separar e enviar para a reciclagem garrafas PET que não serão utili-zadas, manter baldes de boca para baixo. Além disso, deve-se retirar a água da bandeja da geladeira; as caixas d’água precisam estar bem fechadas, assim como as lixeiras; e lavar diariamente as vasilhas com água destinadas aos animais domésticos.

Sintomas — Em casos de suspeita de dengue é aconselhá-vel procurar imediatamente o serviço de saúde. Após a picada, os sintomas começam a manifes-tar-se no terceiro dia. Depois do período denominado incubação, começam a surgir os seguintes sintomas: forte dor de cabeça; dor atrás dos olhos, que piora com o movimento deles; perda

do paladar e do apetite; manchas e erupções na pele, semelhantes ao sarampo; náuseas, vômitos e tonturas; extremo cansaço, dores nos ossos e articulações, que causam moleza no corpo.

RepercussãoO diretor de Saúde Ambiental da

Secretaria de Saúde de Londrina/PR, Maurício Barros, em recente pa-lestra sobre o combate à dengue, agradeceu à LBV e à BOA VON-TADE o apoio à conscientização da doença. O diretor destacou a página de Walter periotto, publicada na edição no 220 da revista: “O controle e o combate à dengue se dão pela participação efetiva das pessoas, e a LBV tem sido fundamental nesse trabalho em Londrina. É parceira essencial. Deixo o convite a outras instituições para que sigam este exemplo. Para combater a dengue, você e a água não podem ficar pa-rados. Vejam todos esta belíssima matéria da BOA VONTADE: ‘Todos contra a dengue’”.

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Na época das chuvas, fique atento a essa doença

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Teatro

Há três décadas e meia a dra-maturgia brasileira desfruta o talento do ator e roteirista paulistano Marcos Caruso.

Nesta entrevista à BOA VONTA-DE, ele fala de sua trajetória em diferentes palcos (teatro, cinema, TV) e dos desafios na profissão. Um dos maiores talentos de sua geração, ele também compartilha com o leitor sua visão sobre a arte de representar. Nascido em 22 de

fevereiro de 1952, completa em maio 35 anos de carreira e não esconde que continua apaixonado pelo teatro.

A primeira experiência no palco veio na infância. Desde criança, o autor de comédias de grande suces-so de público e crítica ouve falar do destino de infortúnio que teria o tea-tro. Ele garante, com propriedade, que essa milenar expressão artística não vai acabar. “Há dois mil anos

ouve-se isso. (...) Todas as mídias foram interferindo nos espetáculos teatrais, mas nada disso atrapalha, porque esta é a arte mais pura, a arte do imponderável.”

Em 21 de março, volta em cartaz a peça que Caruso escreveu com Jandira Martini, em 1986, Sua Excelência, o Candidato, em São Paulo/SP.

Entre outras coisas, Caruso lem-brou seus ídolos e contou o que aprendeu na carreira, além de deixar registrado seu carinho pela Legião

da Boa Vontade. “Para-béns, LBV, pelo que faz. Eu acompanho esse trabalho há muito tempo e assino embaixo tudo o que vocês têm realizado na LBV.”

BOA VONTADE — Quando nasceu o interesse pela

profissão de ator?Marcos Caruso — Eu ia

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Em CENA

Elenco da comédia Operação Abafa, com direção de Caru-so e da atriz jandira Martini (centro) (1). O ator com Ma-rília Pêra (2) e Vera Holtz (3), que o ajudaram a construir sólida carreira também na televisão.

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muito ao teatro infantil. Minha tia-avó me levava, e isso sempre foi um grande estímulo para que eu desco-brisse o meu talento. Aos 7 anos, enquanto os fregueses esperavam para provar as roupas que a minha avó fazia, eu usava os retalhos da costura para fantoches e apresen-tava algumas peças que inventava à mesa da sala de jantar. Ajoelhava no chão, punha uma toalha e fingia que aquilo era um palco. Começou ali a minha carreira, digamos assim, amadora. Mas o talento espontâneo de ator, autor e diretor já aparecia: eu inventava, dirigia e interpretava ao mesmo tempo. (...) Ganhei a pri-meira marionete aos 7 anos, que era da minha mãe. Ela faleceu quando nasci. Isso instigou em mim a von-tade de me tornar um manipulador de ilusões, assim dizendo.

BV — Você se formou em Direito. Tinha a intenção de seguir car-reira?

Caruso — Não. Desde os 12 ou 13 anos eu já sabia o que queria: ser ator. Meu pai, com toda a razão, achou que a profissão de artista era muito dura e cheia de percalços. Então ele me disse: “Você pode seguir o que quiser, mas se tiver uma faculdade, um diploma ou um curso em que possa se apegar nos momentos mais difíceis da incons-tância da profissão, será bom”. E optei pela advocacia. Achei que, em última análise, poderia ser um advogado de tribunal, de júri. Graças a Deus, não precisei exercer a profissão, que considero lindíssima, mas não tenho talento algum para ela. Já no ginásio fun-dei grupos de teatro com colegas.

Em 1972, na faculdade, entrei para o Centro Acadêmico 11 de Agosto, um teatro muito impor-tante na época. Em plena ditadura militar se fazia um teatro político da maior importância. A partir daí fui chamado para participar de um espetáculo profissional e, em 1973, me profissionalizei como ator.

BV — Certa vez, você disse: “O mais importante é fazer com que o sucesso não alimente a vaidade, mas a responsabilidade”. Por quê?

Caruso — Quando você faz sucesso, é aplaudido, bem criticado, elogiado, ou seja, é acarinhado pelo público, pela crítica e pelos colegas. Tudo isso faz bem à nossa vaidade, somos Seres Humanos. Só que, quanto mais alimentamos isso, ficamos menos responsáveis. (...) Fico muito feliz com os aplausos, mas quanto mais elogios recebo, mais respon-sável eu tenho de me tornar, pois isso significa que o público gosta do que eu faço. O teatro é mais do que uma profissão para mim, é uma opção. Se optei por fazer com que o meu semelhante se divirta, se emocione e reflita na sua realidade com o meu tra-balho, então ele tem de ser mais do que uma profissão.

BV — Atualmen-te você está envolvido em muitos pro-jetos: uma peça tea-

tral, um papel na TV e um roteiro que acaba de virar filme. Como é lidar com tudo isso?

Caruso — Sempre trabalho com muitas coisas ao mesmo tempo. Sempre assim, nunca tive menos de dois ou três trabalhos concomi-tantemente. A peça Trair e Coçar é só Começar está há 21 anos em cartaz (recorde registrado pelo Guiness Book) e continua sendo

André

Ferna

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a paixão

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Teatro

e a televisão é uma indústria. Por isso, não há a chance de errar muito. No teatro é mais prazeroso o trabalho do ator, dá para repetir durante 30 meses ou 30 anos, você exercita, em um mesmo persona-gem, todas as possibilidades que ele é capaz de lhe dar. Existe essa liberdade. A televisão se fecha às possibilidades de espaço, quer di-zer, você tem de representar para uma câmera, os seus gestos são menores, você tem de ter um vo-lume de voz menor. Obviamente são duas coisas completamente distintas. Quando comecei, era

exagerado, falava alto demais, o tipo de interpretação não servia ao veículo, mas eu fui aprendendo com o passar dos anos e hoje eu ainda vou para a televisão cheio de preocupações.

BV — Quem contribuiu para o seu aprendizado na televisão?

Caruso — Ainda estou apren-dendo e tenho muito a aprender com as pessoas com quem eu contraceno. Aprendi muito com Lília Cabral, Regina Duarte, Tônia Carrero, Jandira Marti­ni, Osmar Prado, Marília Pêra e tantos outros colegas da maior credibilidade e importância. Atual-mente com jovens também, como a Fernanda Vasconcelos e um menino que fez a novela comigo, o Max Fercondini. Já aprendi muito com o Gabriel Kaufman. Ele fez meu neto. É uma criança sem nenhum tipo de censura, mas tem uma espontaneidade muito forte e sinceridade. Não vi nenhum tipo de vício de ator, muleta, nada! Eu fiquei muito interessado no tipo de interpretação daquele menininho de 5 anos.

BV — Quais são seus ídolos?Caruso — Bom, no teatro eu

tenho um. Para mim, o Marco Nanini é um ator completo; canta, dança, representa dra-ma, comédia, farsa, musical, tem posi-cionamento político diante da vida, é um cidadão consciente; tem personalidade e, ao mesmo tempo, uma cara branca e limpa para receber

apresentada; temos obtido grande sucesso, principalmente porque se trata de comédia. Os meus espe-táculos sempre divertem muito, o público gosta de rir. Por outro lado, acho que fazemos uma comédia que tem a intenção de colocar o dedo na ferida de problemas políticos, sociais e econômicos do País, isso faz com que a platéia também se identifique muito com os nossos temas.

BV — Com que tipo de ator você não gostou de trabalhar enquanto dirigia, atuava ou roteirizava?

Caruso — Eu acho que com o tipo que vê o trabalho como trampolim para o sucesso pessoal, como deve acontecer em qualquer profissão. Aquela pessoa, em qual-quer área, que vê o trabalho com individualidade. Se é um trabalho coletivo, seja numa sala de aula, escritório, hospital ou palco, é preciso saber que você faz parte de uma engrenagem, de um todo, e tem de contribuir para o coletivo. O pior ator é aquele que não traba-lha para o coletivo.

BV — Sua experiência no teatro é bem maior do que na televisão. Você sentiu alguma diferença em atuar na frente das câmeras?

Caruso — Bastante. Até hoje. O teatro é uma repetição diária, onde você pode errar hoje e acer-tar amanhã. Na televisão, não! Se você erra hoje, errou para sempre e não tem volta. Podem até dizer: “Ah, mas grava-se várias vezes a mesma cena!” Isso profissional-mente não é o ideal. O ideal é que o ator entre em cena, faça uma vez e passe adiante. Tempo é dinheiro,

“A função do teatro também

está bem descrita nas duas

máscaras que o representam,

a comédia e a tragédia. São

funções importantes: a de fazer

rir e a de emocionar. Mas existe

uma terceira, que é provocar

a reflexão. Quando você junta

essas três, consegue cumprir

todas as funções do teatro.”

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foram interferindo nos espetáculos teatrais, mas nada disso atrapalha, porque esta é a arte mais pura, a arte do imponderável. Você senta-se na platéia e pode subir ao palco a qualquer momento, ou saber que o ator poderá descer também. Só não fazem isso porque existe um acor-do entre palco e platéia: ninguém passa daquela linha de luz. Isso é lindo, você acredita que o que está sendo feito em cena é uma verda-de, sabendo que é uma mentira. O ator sabe que está encenando para a platéia, mas para ele tem de ser verdade. Esse acordo entre palco e platéia só acontece no teatro, na arte ao vivo; cria-se a ilusão de que aquilo é a mais real das realidades. [L. T. e N. L.]

qualquer tipo de personagem. Como autor, tenho alguns ídolos. Sigo sempre os passos do italia-no Eduardo de Filippo. Ele foi ator, autor, cenógrafo, figurinista, diretor, músico, palhaço, artista circense de cinema, de rádio, en-fim, é uma pessoa pela qual tenho profunda admiração.

BV — Na sua opinião, qual seria a função da dramaturgia?

Caruso — Acredito que uma das funções mais importantes da televisão é formar pessoas e cabe-ças, além de informar e divertir. (...) A dramaturgia tem uma res-ponsabilidade social muito gran-de. Qualquer obra de arte precisa ser responsável, principalmente quando trata de assuntos como a síndrome de Down, o idoso ou a bulimia, ou quando fala a respeito de uma situação presente como a que eu estou fazendo na peça tea-tral Operação Abafa, por exemplo, e em tantos outros espetáculos. A função do teatro também está bem descrita nas duas máscaras que o representam, a comédia e a tragédia. São funções importantes: a de fazer rir e a de emocionar. Mas existe uma terceira, que é provo-car a reflexão. Quando você junta essas três, consegue cumprir todas as funções do teatro.

BV — O que é mais difícil: comédia ou drama?

Caruso — A arte de representar, como um todo, é desafiadora. Ob-viamente, não dá para fazer comé-dia se não tiver humor. É impossível transformar um ator dramático em um comediante. Já o contrário é

mais fácil. O mais difícil para mim é tudo! (risos) Interpretar, encontrar a medida certa, introjetar, trazer de dentro de você o humor ou o drama, a farsa ou a tragédia. Nada é fácil. O dia que eu achar que é fácil inter-pretar, puser os dois pés nas costas e fizer isso com facilidade, aí deixa de existir o prazer em atuar.

BV — Em todos esses anos, qual a sua maior emoção no palco?

Caruso — Foi com Intimidade Indecente, tanto ao lado da Irene Ravache quanto da Vera Holtz. É uma peça da Leila Assunção na qual pude, sem sair de cena, em uma hora e 45 minutos de espetá-culo, ir dos 50 aos 90 anos de idade sem mudar a maquiagem, figurino, nada. Pude, através do corpo e da voz, emocionar as pessoas e fazê-las rir. Foi um momento muito bo-nito da minha carreira, um divisor de águas.

BV — O teatro vai acabar sumindo em meio a tantas opções novas de lazer e entretenimento?

Caruso — Não. Há dois mil anos ouve-se isso... O teatro ia acabar por outras circunstâncias, pela chegada do cinema, depois com a televisão, o vídeo, em se-guida o DVD, a TV a cabo e uma série de coisas. Todas as mídias

“Fico muito feliz com os aplausos,

mas quanto mais elogios recebo,

mais responsável eu tenho de me

tornar, pois isso significa que o

público gosta do que eu faço. O

teatro é mais do que uma profissão

para mim, é uma opção.”

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o TV

Glob

o

Em seu atual trabalho na TV, Caruso interpreta o padre Inácio, que

contava com a ajuda do atrapalhado Nezinho, papel do saudoso ator

luiz carlos tourinho (em segundo plano). Ao seu Espírito eterno as

nossas homenagens extensivas a seus familiares e amigos.

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Especial—Capa

ção, mas apenas por gostar da companhia de pessoas e querer demonstrar-lhes quanto são que-ridas. Por isso, um encontro para o almoço em sua casa é sempre um acontecimento, seja pela for-ma cordial de reunir pessoas, seja

Aula deJornalismo

pelos saborosos pratos à mesa, sem esquecer, é claro, os ilustres convidados que ali se juntam ao anfitrião para prosear. E foi dessa maneira, simpática, que Moreno recepcionou outros dois amigos de profissão: Sílvia Faria (direto-

Olhares de Brasília

Belkis Faria e Enaildo VianaFotos: João Preda

Se é uma arte receber bem os amigos, Jorge Bas­tos Moreno, um dos mais importantes e respeitados

jornalistas políticos do País, é expert no assunto. Talvez porque faça isso não por uma obriga-

proFessores e alUnos Cristiana Lôbo e jorge Bastos Moreno, em primeiro plano. Em pé, os estudantes de jornalismo que assistiram à entrevista: kátia Oliveira Silva, Alaíde Ruth Popov, Neylon jacob de Barros, Camila Fecury, yza Morgana Lima Ortegal e Hemilly Helen Araújo, do curso de Comunicação Social da Universidade Paulista (Unip) de Brasília, do Centro Universitário Unieuro e do Instituto de Educação de Brasília (IESB).

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Jornalismo

ra de Jornalismo da TV Globo em Brasília/DF) e Cristiana Lôbo (que possui um blog no portal G1 e é comentarista e apresentadora da Globo News).

Para o encontro também foram convidados o jornalista Oswaldo Buarim; o assessor parlamentar Naaman do Valle; alunos do curso de Comunicação Social da Universidade Paulista (Unip) de

SílviaFariaA diretora de jornalismo da

TV Globo, em Brasília/DF, já trabalhou na Folha de S.Paulo, foi coordenadora de economia da sucursal de O Globo e diretora do Estadão e da revista Época, sem-pre na capital federal. Trabalhou por um tempo no Banco Central, atuando depois como porta-voz da ex-ministra da Fazenda Zélia cardoso de Mello.

“Na televisão o que é mais difícil é noticiar tudo em pouquíssimo tempo. É preciso ter critério de seleção altamente cuidadoso e batalhar todos os dias para tudo que vai ao ar ser 100% verdadeiro e certo.”

Brasília, do Centro Universitário Unieuro e do Instituto de Educa-ção de Brasília (IESB), em que Jorge Moreno leciona Técnicas e Gêneros Jornalísticos.

A ocasião ofereceu àqueles es-tudantes e também agora a você, amigo leitor, a oportunidade de conhecer mais sobre os bastidores da política, bem como debater a questão da obrigatoriedade do

diploma de jornalismo, discutir a comunicação no dia-a-dia e as mudanças na mídia desde o aparecimento da internet. Fique à vontade nesta sala de visitas e acompanhe nosso bate-papo.

BV — Como é essa experiência do blog, da rádio do moreno?

Moreno oferece um saboroso feijão-tropeiro com costela de boi assada aos convidados

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ler o texto para não chamar a atenção das pessoas com o fone, e isso é um grande problema, pois vou ter de reformular essa coisa e fazer um mix de texto, áudio e vídeo.

Cristiana Lôbo — É porque o texto você acessa mais rapi-damente do que o áudio. São 23 milhões de brasileiros que têm acesso à internet de casa, e estamos crescendo. Um acesso aberto para o mundo. A grande revolução foi essa e, no Congres-so, muita coisa já começa a ter repercussão por causa do que o on-line deu.

Moreno — Uma coisa curiosa acontecia e pode ser que isto esteja cavando a minha demissão (risos), mas é o seguinte: os editores e di-retores do jornal impresso diziam: “Ah, vocês com blogs noticiam algo exclusivo, deviam guardar para o jornal, porque dessa forma todo o mundo toma conhecimen-to”. Veio, então, a chamada conver-gência de mídias, eles perceberam que fica muito mais fácil vender o jornal projetando-o pela internet,

é o que está acontecendo; já não pedem para guardar nada.

BV — E os jornais impressos hoje no Brasil?

Moreno — Eles vêm, agora, diversificando sua produção, atendendo exatamente à demanda das classes mais baixas. Tanto é que aconteceu, recentemente, um fenômeno com os jornais populares em toda a mídia brasi-leira; estava concentrada no eixo Rio–São Paulo, e agora Minas Gerais acabou de desbancar isso com o jornal Super Notícia. Esse processo todo vem da junção de mídias. Aliás, quando se es-crever a história da revolução da mídia no Brasil, vamos ficar devendo muito aos pioneiros da TV Senado, pela qual veio essa difusão de TV pública, divul-gando transparência. As emis-soras abertas tinham de cobrir tudo, isso começou a despertar na população interesse maior pelo noticiário político. Aí o que começou a acontecer? A pessoa via na televisão aquela notícia e

Moreno — Estamos numa fase de reflexão para mudança da rádio. Diziam que o futuro da internet seria o áudio e o vídeo, uma coisa natural, para substituir, cumprir o papel do jornal, prin-cipalmente. O que fez a gente acreditar que o texto na rede, como notícia, não iria prosperar muito. Aí apostei na questão do áudio, e leitores, que prefiro cha-mar de navegantes, começaram a reclamar, dizendo que queriam de volta o texto. Porque em Brasília é o seguinte: você chega no horá-rio comercial, são funcionários de empresas públicas e privadas que estão ali ao computador. Eles não têm fone de ouvido, então querem

“Aposto que todo jornalista cumpre o seu dever de contribuir para o conhecimento da história do país. Nós nunca seremos lembrados porque temos exatamente essa função de trabalhar por trás de tudo; a gente não é notícia.”

JorgeBastosMoreno

Iniciou carreira como estagiário no Jornal de Brasília, onde trabalhou por seis ou sete anos até 1982, quan-do se transferiu para O Globo. Mais tarde, a experiência adquirida em outros grandes veículos de comuni-cação o levou a trabalhar no Jornal do Brasil e na revista Veja. Em 1989, tornou-se assessor de imprensa do dr. ulisses Guimarães, à época can-didato à presidência da República. Atualmente, é colunista de O Globo, onde escreve semanalmente sobre política. Mantém um blog a respeito do mesmo assunto, com ênfase nos bastidores da política. Com 35 anos de carreira, é considerado um dos mais importantes e respeitados jornalistas políticos do País.

Especial—Capa

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queria saber mais sobre aquilo nos jornais. Se a imprensa escrita estivesse morrendo, os jornais não estariam crescendo. O Globo, por exemplo, tem dois jornais populares no Rio e logo pode ter mais outro. Todo o mundo está investindo nisso. Isso mostra que um complementa o outro. A informação chega hoje, de forma instantânea, ao maior número de pessoas no mundo. A pessoa vê na televisão, no dia seguinte quer ler no jornal os detalhes.

BV — A questão da obrigatorieda-de do diploma de jornalismo está sendo discutida?

Moreno — Há vários aspectos a serem discutidos em função de uma grave crise que o País atravessa na Educação, que está comprometendo as gerações futuras. Temos um ensino mé-dio e fundamental deficientes. Esses jovens entram na univer-sidade para estudar jornalismo, ou qualquer matéria da área de Humanidades, e não sabem nada de História do Brasil, nem sabem

escrever. Na convivência acadê-mica, aprendem a escrever. Isso não é erro deles, mas da estrutura de ensino. Como dispensar, hoje, o diploma do curso superior para alguém que trabalhará com tex-to, se essa pessoa teve o ensino médio ruim? Acaba-se criando emprego, mais uma vez, para ricos, porque estão nas escolas particulares e ali a exigência é maior, há bons professores; eles vão chegar e ter um belo desem-penho como repórter.

Sílvia Faria — A questão é um pouco mais complexa. Um advogado, um médico, podem ser jornalistas também e exercer a profissão como defende a Folha de S.Paulo?

Moreno — O curso de Jor-nalismo é recente no mundo; no Brasil não tem 50 anos. Antes os jornalistas eram médicos, advogados. Houve uma fase de transformação. Defendo o diplo-ma nessa circunstância.

Sílvia Faria — Ouvi do Do­minique Wolton [cientista políti-co francês], estudioso de mídias,

uma opinião muito interessante. Tinha dúvidas: por que um advo-gado não pode escrever matéria em jornal? Wolton disse que temos de defender, com unhas e dentes, a exigência do diplo-ma. Por quê? Se um médico vai cobrir um evento, dará a notícia do ponto de vista médico, que é a formação dele. O advogado, a mesma coisa: terá o viés jurídico para a questão. Já o jornalista não tem um corporativismo nesse as-pecto, o interesse dele é dar furo, o máximo volume de notícia. É questão da democracia que se exija o diploma, o argumento dele me convenceu completamente. Quando vemos um fato, temos a

CristianaLôboFormada em Comunicação So-

cial pela Universidade Federal de Goiás (UFG), foi contratada como estagiária, em 1978, na editoria de política da Folha de Goiaz, de Goiâ-nia/GO. Desde 1982 acompanha a política nacional. Em 1986, trabalhou como assistente da jornalista tereza cruvinel na coluna “Panorama Po-lítico”, de O Globo. Em 1992, teve a oportunidade de trabalhar com ricardo Boechat. No mesmo ano, assumiu uma coluna no Estado de S.Paulo, onde permaneceu até 1998. De lá, passou a ser comentarista de política e depois apresentadora do Fatos e Versões, da Globo News. Em 2005 e 2007, participou da mesa de debates intitulada As Meninas do Jô, no Programa do Jô, sobre a situação política do País.

“Com o tempo que tenho na profissão, não posso tratar o fato simplesmente sem ver os personagens dele; esse é o papel do comentarista, passar para o leitor o interesse daquele personagem do fato.”

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evoluirá para o jornalismo mais especializado — nela vai ter muita medicina, direito, econo-

mia. Se você é um economista da linha desenvolvimentista, e vai escrever uma matéria, vai puxar a sardinha; se você é da linha neoliberal, vai puxar a sar-dinha para sua brasa; se você é um jornalista de economia, terá a obrigação de passar por todas essas escolas, porque daí surge o debate, e nisso está a riqueza da notícia. Um bom jornalista vai ter que ouvir todos os lados e é isso que ele defende.

Buarim — Em geral, a gente pode abrir janelas para os pensa-mentos?

Sílvia Faria — Aí você sabe que está lendo um articulista, está vendo um ponto de vista. É im-portante qualificar isso. A notícia não pode ter apenas um ponto de vista. Sabemos disso desde que fazemos jornalismo.

Moreno — Estamos vivendo um período peculiar em que algu-mas pessoas, com todo o direito democrático, emitem sua opinião na mídia e esses articulistas estão sendo confundidos com jornalis-tas. O povo não faz a diferença. Uma coisa curiosa: de vez em quando, algum conhecido lê uma matéria minha, o que é raro, e fala assim: “Ah, não! Você tem de es-crever que nem fulano, metendo o pau!” Quer dizer, é necessária uma formação acadêmica, por tudo isso que a Sílvia falou. Es-tamos evocando o professor Do-minique Wolton nesta entrevista, hoje o mais polêmico de todos os estudiosos da mídia. O Cláudio Abramo, um grande jornalista de sua época, dizia que essa história da ética no jornalismo é balela,

obrigação de lidar com todos os pontos de vista, técnicos ou não, e o médico, o advogado, cada um pesará aquilo que é mais sensí-vel para ele, que domina mais; fará a defesa da corporação que representa.

Buarim — Com isso, a plu-ralidade estaria mais contem-plada?

Sílvia Faria — Com o jorna-lista a pluralidade estaria mais contempla-da exatamente p o r q u e e l e não tem uma especializa-ção. Claro, a gente cami-nha para um jornalismo de especialização, existem estudos que afirmam isso. Cada vez mais a mídia impressa

Os jornalistas Cristiana Lôbo e Oswaldo Buarim

“Fica muito mais fácil vender o jornal projetando-o pela internet, é o que está acontecendo. (...) A informação chega hoje, de

forma instantânea, ao maior número

de pessoas no mundo. A pessoa vê a notícia na televisão, no dia

seguinte quer ler no jornal os detalhes.”

Moreno

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porque o cidadão é em casa o que é no trabalho. Fico repetindo isto para meus alunos: “É em casa o que é no trabalho”. O que falava o mestre Cláudio Abramo está certíssimo. Há situações, no entanto, es-pecialíssimas, como a questão da privacidade; não pode ser dada essa condes-cendência ao bandido, ao criminoso. Com os meus alunos faço o seguinte: estávamos discutindo sobre o Conselho Na-cional de Jornalismo, algo que diz respeito ao futuro deles, e eu tinha de mostrar a história da imprensa no Brasil. Falava que Hipólito da Costa chegou de Londres, fazia uma pauta, e argumentava: vamos atualizar. Colocava em debate o que estava acontecendo no País. A universidade é fun-damental em todos os aspectos. Abordei a deficiência do ensino, até para confirmar que teremos pessoas que não sabem escrever. A Sílvia mencionou um aspecto mais profundo, a especificação da profissão, que possui peculia-ridades, certos comportamentos, que outras categorias não têm. Há determinados níveis de atuação em que as éticas são totalmente diferentes; basta citar a ética do mercado financeiro, muito dife-rente de outras.

Cristiana Lôbo — Acho fundamental a universidade, essa convivência, como o Mo-reno falou, essa abordagem da

Sílvia, mas queria falar de outra coisa.

As pessoas que têm talento para escrever,

virtude, vocação, hoje estão contempladas com seus blogs ou com colaboração para os jornais. Antes, quando esse debate sobre a exigência do diploma de jorna-lista se iniciou, dizia-se: “Muitas pessoas que têm talento para escrever ficarão embotadas por causa de um diploma?” Não! Pri-meiro, existe universidade à noite em que se pode estudar, não há li-mitação de curso para freqüentar, para essa convivência. Ela pode demonstrar o talento nos blogs ou como colaborador em jornais. Há espaço para isso em vários segmentos: no segundo caderno, na literatura, na crítica de livro. Isso tudo ajuda na pluralidade que os meios de comunicação têm interesse em passar para seu público.

BV — Como lidar, na cobertura diária, com a pressão do públi-co?

Cristiana Lôbo — Não li-dando. Tenho, além do espaço na Globo News, um blog no portal G1 e ali o leitor faz seus

comentários. O Moreno também lida muito com isso. Tem hora que um me xinga de governista e, em outro momento, me xinga porque acha que sou neoliberal ou “neo” qualquer coisa. Quer dizer, enquanto estão me xingando é sinal de que faço o meu trabalho de noticiar o fato. Com o tempo que tenho na profissão, não posso tratar o fato simplesmente sem ver os personagens dele; esse é o papel do comentarista, passar para o leitor o interesse daquele personagem do fato. A política lida mais com vaidade do que o próprio setor artístico, porque ela envolve vaidade e poder, que é a soma de tudo.

Moreno — Se a política lida com a vaidade de aparecer na mídia, na televisão, imagino a pressão que a Sílvia sofre para atender a algum tipo de reivindi-cação como: “Tenho uma coisa importante, mereço estar no Jornal Nacional”.

Sílvia Faria — Isso ocorre várias vezes por dia, mas é normal, todo o mundo quer alguns segun-dos no Jornal Nacional. Isso vale quantos milhões em investimento de candidaturas se for um político, um governador? Muitos chegam e dizem: “Vocês podiam dizer que farei tal coisa”. E respondo que primeiro ele precisa realizar; e, se fizer, temos a obrigação de noti-ciar. É preciso parcimônia, tomar cuidado com as promessas, porque isso é uma ilusão; prometer todo o mundo promete, mas é normal, é do jogo. Acho mais perigoso uma pessoa que passa uma informa-ção tentando usar você contra ou

“Quando vemos um fato, temos a obrigação de lidar

com todos os pontos de vista.”

SílviaFaria

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conversa para convencer, ou se tem um argumento mesmo.

BV — Qual mídia é mais difícil?Sílvia Faria — A impressa,

no aspecto da profundidade, no tratamento que a notícia exi-ge. Na revista, aquela coisa de

esperar a semana inteira para dar furo, e não levar furo, uma dificuldade que acho das pio-res. É muito difícil programar revista, uma capa que venda; é uma angústia permanente para o meu temperamento. Na televisão o que é mais difícil é noticiar tudo em pouquíssimo tempo. É preciso ter critério de seleção altamente cuidadoso e batalhar todos os dias para que tudo que vai ao ar seja 100% verdadeiro e certo, senão vem uma chuva de e-mails e telefonemas; isso é legal porque você tem uma re-ciprocidade muito grande. Se se informou errado, tem-se a obri-gação de corrigir imediatamente ou no dia seguinte.

BV — Qual notícia que vocês gostariam de dar?

Sílvia Faria — Que o Brasil atingiu o primeiro nível em Edu-cação, saúde e desenvolvimento humano.

Cristiana Lôbo — Assino embaixo.

Moreno — Todo jornalista, no fundo, é egoísta. A notícia que eu queria dar era a seguinte: desco-berta a vacina contra o diabetes, e agora você pode tomar sorvete, fazer tudo, engordar (risos).

BV — Por qual momento de sua vida você gostaria de ser lem-brado?

Moreno — O jornalista não faz a história do país; jornalista relata a história. Se um jornalista disser: “Eu gostaria que lembrassem aquela cobertura que fiz”, não tem de ser de acordo com a visão

a favor de alguém (inimigos ou amigos), por interesses próprios, interesses contrariados. É muito comum, tem de se estar atento; e na televisão isso é corriqueiro, mais do que na minha experiência na imprensa escrita. Os repórteres mais jovens são muito ingênuos; trazem o prato pronto, como se realmente fosse maravilhoso aquilo, mas é um aprendizado que ninguém tem em faculdade.

Cristiana Lôbo — Há uma prática elementar: a notícia que vem na mão, desconfie dela. É preciso saber se é a favor ou con-tra o adversário daquele portador. O que vem sem esforço pode até ser uma grande notícia, incorre naquele problema que a Sílvia levantou: o cuidado para não estar sendo usado, e isso ocorre o dia inteiro. A gente acaba ficando vacinado, sabe até pelo perfil da pessoa se ela já vem com uma

“A gente caminha para um jornalismo de especialização, existem estudos que afirmam isso. Cada vez mais a mídia impressa evoluirá para o jornalismo mais especializado — nela vai ter muita medicina, direito, economia.”

SílviaFaria

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Os jornalistas entrevistados com a equipe da revista BOA VONTADE

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mente e dão notícias de tudo. Do que a gente está preocupada, eles lêem e sabem do que estão falan-do. E aí já vão para os assuntos deles... É claro que há uns mais jovens do que esses meninos de 25. Esse pessoal de 15 a 18 anos que vive na internet buscando; você não sabe qual a linguagem que eles falam.

Sílvia Faria concede entrevista a Enaildo Viana, da revista BOA VONTADE.

dele. O jornalista trabalha com o fato. Aposto que todo jornalista cumpre o seu dever de contribuir para o conhecimento da história do país, e nós nunca seremos lem-brados porque temos exatamente essa função de trabalhar por trás de tudo; a gente não é notícia. O dia que o jornalista for notícia ele pode ter essa pretensão de deixar alguma herança intelectual ou material.

BV — O que vocês acham da percepção do povo quanto à po-lítica? Como está a participação da mulher neste cenário?

Cristiana Lôbo — Olha, eu acho que está muito grande, é a coisa que mais me impressiona. Por exemplo, no programa que faço na Globo News, Fatos e Versões, 60% da audiência é de mulheres, contra 40% de ho-mens. Antigamente, política era tida como assunto de homem, conversa masculina, e não é. Hoje, posso dizer que a política interessa muito às mulheres.

BV — Está faltando que elas se candidatem mais?

Cristiana Lôbo — Isso. A lei manda ter 20%, nem a cota de 20% tem sido preenchida. Mas então você observa as pesquisas. Quando a eleição está muito disputada, logo que se define o resultado, sabemos, foi a mulher. Ela é a última que decide o voto. Por isso, acho interessante essa preocupação nova das mulheres com a política, porque é coisa recente, não antiga.

Moreno — Está acontecendo agora um fenômeno lamentável,

“Há uma prática elementar: a notícia que vem na mão,

desconfie dela. Temos de ver se é a favor ou contra

o adversário daquele

portador.” Cristiana

Lôbo

isto é, a gente paga um preço para a informação ficar blindada contra qualquer tipo de censura. Os nossos jovens têm ocupado o tempo deles na internet com bate-papo, essas coisas. Na minha época, o jovem sabia o que estava ocorrendo, tentava estar por den-tro de tudo, da política.

Cristiana Lôbo — Discordo de você. Seus filhos não são bem informados? Acredito que eles são mais rápidos. Eu tenho filhos e a Sílvia também. Não sei se é porque é filho de jornalista, mas os amigos deles também são in-formados.

Moreno — Claro, filho de jornalista nasce dentro da notícia.

Cristiana Lôbo — Eles passam pela internet rapida-

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Na Legião da Boa Vontade, desde cedo se aprende a importância de preservar o meio ambiente com ações práticas. O trabalho de reciclagem e aproveitamento de sucatas para a confecção de artesanato, brinquedos e jogos educativos ocorre durante a atividade mais espe-rada pelas crianças: a Oficina dos Arteiros, em um espaço dedicado ao desenvolvimento da criatividade.

São utilizadas caixas de diversas embalagens, cola, papel camurça e tinta guache para confeccionar uma variedade de brinquedos. O tema foi a preservação do meio ambiente por meio da reciclagem. As peças produzidas pelas crianças ficam à mostra no Centro Co-munitário e Educacional da LBV (Rua Jamil Abraão, 645 — Setor Rodoviário, tel.: (62) 3531-5000).

A deputada estadual por São Paulo Darcy Vera, primeira mulher a representar a região de Ribeirão Preto/SP na Assembléia Legislativa de São Paulo, recebeu a equipe de

reportagem da Super Rede Boa Vontade de Comunicação para uma entrevista, em que desta-cou o apoio às entidades sociais, uma bandeira pela qual a parlamentar

se empenha. Por esse motivo, sen-te-se identificada com as ações de valorização do Ser Humano e seu Espírito eterno, empreendidas pela Legião da Boa Vontade, em todo o Brasil, a exemplo da Campanha Natal Permanente de Jesus — o

Diferencial do trabalho da LBVR I B E I R Ã O P R E T O / S P

Pão Nosso de cada dia! A inicia-tiva distribuiu, em 2007, mais de 440 toneladas de alimentos (leia reportagem na página 52). “Esse projeto é extremamente importante. A LBV é um dos grandes referenciais para um Natal sem fome. As pessoas não morrem de fome só na Áfri-ca; as cidades pequenas também sofrem com isso.”

A deputada, que já visitou o Templo da Boa Vontade (TBV), em Brasília/DF, recordou-se: “Eu fiquei encantada. Já vinha acompa-nhando o trabalho de Paiva Netto e tive o grande prazer de ler vários de seus livros. E, quando entrei no Templo da LBV, me emocionei.

Ali existe algo diferente! Foi um dos momentos mais abençoados que tive. Vi gente do Brasil intei-ro numa demonstração de Fé. É inexplicável! Só sentindo isso para saber como é maravilhoso”.

Consciência ecológica desde a infânciaG O I Â N I A / G O

Maurício Garrefa

Fachada da LBV em

Ribeirão Preto/SP. Em

destaque, aula de balé oferecida às

crianças.Darcy Vera

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Acontece

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Page 48: Revista Boa Vontade, edição 221

Em março, a Legião da Boa Vontade promoveu no Bra-sil e na Argentina uma série de eventos que integram o

II Fórum–Feira de Inovações Rede Sociedade Solidária. O tema deste ano — “Desenvolvi-mento Sustentável” — foi defi-nido pelo Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas (Ecosoc-ONU), com o objetivo de apresentar boas práticas e ações sociais capazes de promover o desen-volvimento socioeconômico em bases sustentáveis.

A programação dos encon-tros incluiu painéis temáticos, acompanhados de apresentações artísticas e amostragem de boas práticas, formados por represen-tantes do poder público, iniciativa privada, organizações da socieda-de civil e meio acadêmico.

O Fórum–Feira de Inovações ocorreu em seis capitais brasi-

De mãos dadaspelo desenvolvimento sustentável

leiras, no Distrito Federal e na capital argentina, Buenos Aires. Cada cidade apresentou sua pró-pria exposição de cases de suces-so, conforme as características e necessidades locais, que têm colaborado para a promoção do desenvolvimento sustentável no Brasil e na América Latina.

Representações oficiais da ONU estiveram presentes ao evento, a exemplo da dra. Mi­chele Billant­Fedoroff, chefe adjunta do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU (UN/Desa); do jorna-lista Giancarlo Summa, diretor do UNIC-Rio; e do dr. Richard

Apoio:

II Fórum–Feira de Inovações, promovida pela LBV, com o suporte da ONU, reúne mais de 1.200 ONGs e autoridades na busca de soluções para salvar o Planeta

MeioambienteParceiros globais pelo desenvolvimento sustentável

Dra. Michele é recebida por algumas crianças atendidas pela LBV em Manaus/AM.

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Page 49: Revista Boa Vontade, edição 221

De mãos dadaspelo desenvolvimento sustentável

Jordan, que presidiu a 60a Con-ferência Anual de Organizações Não-Governamentais do Depar-tamento de Informação Pública (DPI), ocorrida em setembro de 2007, em Nova York (EUA), onde foram discutidos os impactos so-ciais das mudanças climáticas.

A Legião da Boa Vontade conta com diversos parceiros para a realização dessa segunda edição da Feira de Inovações, entre eles a Associação Brasi-leira de Recursos Hídricos, a Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), Associação Mineira de Defesa Ambiental, Fundação José de Paiva Netto (FJPN), o governo dos Estados do Amazonas e do Rio Grande do Sul, Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), orga-nização Parceiros Voluntários, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Secretaria de De-senvolvimento Sustentável do Ministério do Meio Ambiente e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Este é o quinto ano consecuti-vo que a LBV, com o suporte do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU, realiza encontros intersetoriais com a participação da sociedade civil latino-americana. A primei-ra edição do Fórum–Feira teve a adesão de mais de 1.200 organi-zações e grande repercussão na mídia nacional e do Exterior.

Confira reportagem completa sobre o evento na próxima edi-ção da revista BOA VONTADE, abordando os principais temas e resultados de cada localidade.

Os resultados do II Fórum-Feira de Inovações Rede Sociedade Solidária foram apresentados às Nações Unidas em Nova York (EUA), durante o Fórum de ONGs do Ecosoc. As informações obtidas em cada encontro estão no relatório que a LBV encaminhará à ONU, em contribuição à Reunião de Alto Segmento (High-Level Seg-ment), que acontece em julho deste ano. Nele, a Instituição expõe suas recomendações aos chefes de Estado, minis-tros e embaixadores de vários países membros da ONU e aos demais participantes.

Por causa do grande sucesso dos resultados demonstrados, a LBV foi convidada a falar entre as sete maiores iniciativas da sociedade civil em desenvolvimento sustentável no mundo. O evento preparatório para o encontro do Alto Segmento do Con-selho ocorreu no reservado salão do Ecosoc Chamber e mereceu destaque no discurso do vice-presidente do Ecosoc, embaixador de Cabo Verde, pedro Monteiro lima, que agradeceu em português à Legião da Boa Vontade.

Após ver o clipping sobre a ampla divulgação do Fórum na mídia e o vídeo com a quantidade de lideranças que prestigiaram as atividades, tendo uma edição em plena Floresta Amazônica, a dra. Hanifa Mezoui, chefe do NGO Section (Seção de ONGs) do UN/Desa, afirmou impressionada: “A LBV já pode fazer escola para nós”. Quem também cumprimentou o trabalho da Instituição foi o dr. liberato Bautista, presidente da Congo (Conferência das organizações não-governamentais), da qual a LBV é membro desde 2000.

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Dra. Hanifa Mezoui e Danilo Parmegiani, da LBV.

A LBV expõe suas recomendações de boas práticas na sede das Nações Unidas, em Nova york.

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PRESTANDO CONTAS

A LBV inicia ação social de 2008 e comemora o

resultado de seu amplo trabalho

e aniversário de 58 anos de

fundação

DestaqueLBV — prestando contas do que faz ao Povo

Americana/SP

Bauru/SP Piracicaba/SP Florianópolis/SC

Araraquara/SPAraçatuba/SPCampinas/SP

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Page 53: Revista Boa Vontade, edição 221

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Maricá/RJGoiânia/GORecife/PE

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Amor e Solidariedade

Vitória/ES

MensagemdeFraternidadedoNXZeroNa ocasião da entrega das cestas de alimentos da LBV a famílias

em risco social, di, o vocalista da banda NX Zero, em entrevista à Super Rede Boa Vontade de Comunicação, aproveitou para deixar seu recado de Solidariedade à Instituição e a seu dirigente: “Estou aqui para mandar um beijão e um abraço. Saúde e Paz para todo mundo da LBV! Eu já estudei lá e tenho uma história com ela. Minha educação e minha formação, devo à LBV também. Feliz Natal e Feliz Ano-Novo, sempre com muita Paz. Estou aqui para falar também para o Irmão Paiva que eu o conheço há muito tempo. Ele já me proporcionou muitas conversas boas desde que eu era pequeno e estou com muita saudade dele. Então, Irmão Paiva, um grande beijo”.

nX Zero Da esq. para a dir.: Caco, Gee, Di, Fi e Dani.

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Destaque

São quase seis décadas de tra-balho no desafio cotidiano para estabelecer na socieda-de a consciência solidária e

altruística. Esse é o mote que dire-ciona toda ação socioeducacional empreendida pela Legião da Boa Vontade desde suas raízes, em 1o de janeiro de 1950. Da mesma forma que o sofrimento do Povo é diário, conforme anotou o dirigente da Ins-tituição, há décadas, em sua página Vencer o sofrimento do corpo e

da Alma*, a ação da LBV acolhe em todas regiões,

em qualquer época do ano, os que necessitam de amparo.

Por isso, logo nos primeiros dias de janei-

ro, a Legião da Boa Von-tade iniciou sua tradicional

mobilização social, com a Cam-panha Criança Nota 10 — Sem Educação não há Futuro! A boa

acolhida ao convite da Instituição se traduz no êxito da iniciativa: en-tre janeiro e fevereiro, kits escolares foram entregues, nas cinco regiões brasileiras, a milhares de meninos e meninas atendidos no Programa LBV — Criança: Futuro no Pre-sente! Essa ação é promovida nas escolas de Educação Básica e nos Centros Comunitários e Educacio-nais da Instituição.

Deste modo, a Legião da Boa Vontade oferece à criança ferramen-tas para que crie uma nova perspec-tiva para a vida, incentivando-a ao estudo e priorizando a indispensável formação fraterna, razão de ser da Pedagogia do Cidadão Ecumênico — linha educacional preconizada pelo educador Paiva Netto e im-plantada na rede de atendimento da Instituição, no Brasil e no Exterior.

Os pais têm notado a diferença: “Desde que minha filha começou a participar deste programa da

Oqueacriançaencontrano kit escolardaLBV

• Mochila• 6 cadernos (três de brochura, dois de desenho e um para recados)• 6 lápis no 2 na cor preta• 1 caixa de lápis de cor com 12 unidades• 1 caixa de giz de cera com 12 unidades• 2 canetas esferográficas• 2 borrachas• 1 apontador com depósito• 2 tubos de cola• 1 tesoura sem ponta• 1 régua de 30 cm• 1 estojo grande• 1 livro paradidático de tabuada.

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*Leia este e outros textos do dirigente da LBV no site: www.paivanetto.com, seção “Artigos”.

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LBV, melhorou muito na escola. Sou grata por este trabalho lindo e maravilhoso. Ela não é só uma mãe para a minha filha, mas para mim também, pois me ajuda muito. Não sei o que seria de mim se não fosse a Legião da Boa Vontade!”, exclama Maria dos Anjos, mãe de uma das crianças beneficiadas pela Entidade em Ipatinga/MG. A essas palavras junta-se o agradecimento do catarinense Jorge Amorim, lí-der comunitário em Florianópolis/SC: “Com a entrega de kits esco-lares, a LBV valoriza a criança, a sociedade e a educação. Graças a Deus, temos organizações como a LBV, que sempre se preocupa com isso”.

Atendida em Campina Grande, interior da Paraíba, a dona de casa Maria de Lurdes Silva também registra sua grati-dão: “O atendimento aqui é muito bom. Estou muito satisfeita; minha filha não tinha esse mate-rial. Fico mais feliz ainda em ver minha filha na LBV e feliz”.

“A LBV representa uma segunda casa para nós. A minha filha acordou mais cedo para ir à LBV receber o kit. Com certeza, ela cuidará muito bem do material. Essa contribuição da LBV chegou em boa hora para nossa família.”

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Destaque

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Nas cinco regiões brasileiras, a LBV luta contra a fome.

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Coroamento de um ano de vitórias

São Luís/MA

Manaus/AM

Belo Horizonte/MG Maringá/PR

Campo Grande/MS

Assim que chegou o 1o de janeiro, uma comemoração dupla: os 58 anos de trabalho da Legião da Boa Vontade (fundada pelo poeta, radialista e ativista social brasileiro Alziro Zarur, em 1950) e mais um ano de crescimento nas atividades empreendidas. A edição 2007 da tradicional Campanha Natal Permanente da LBV — Jesus, o Pão Nosso de cada dia! superou expectativas e bateu recorde de arrecadação. Foram entregues 440 toneladas de alimentos não-perecíveis a famílias atendidas ao longo do ano pela Instituição. O sorriso no rosto das crianças e das famílias, estampado nesta reportagem, diz muito mais do que palavras.

Artistas, personalidades e voluntários aderiram a essa em-preitada solidária, mobilizando a sociedade a fazer doações e, principalmente, a engajar-se em ações que contribuam para que o Brasil vença seus grandes desa-fios, entre eles o de acabar com a fome e a miséria e promover a educação básica de qualidade para todos — os dois primeiros dos oito Objetivos de Desenvol-vimento do Milênio (ODMs).

Esse mutirão, forte aliado na luta pelo bem-estar social, tem colaborado para mudar a realidade de brasileiros, como a de Rosalina Morais, de São Luís/MA. Com orçamento doméstico apertado,

ela admite que a ajuda vem em boa

hora: “Agradeço a Deus a oportunidade que me concedeu

56 | BOA VONTADE

Page 57: Revista Boa Vontade, edição 221

em conhecer a Legião da Boa Vontade, que ajuda tanto minha família”. Também com a renda comprometida, a aposentada Matília Maria Azevedo, 84 anos, de São José do Rio Preto/SP, agradece: “É uma bênção que vem de Deus quando chega o dia de receber esta cesta. O que recebemos, só Jesus pode pagar. Este alimento é abençoado, nos dá sustento por muito tempo”.

Tendo como foco melhorar a perspectiva de vida de milhões de brasileiros, a Legião da Boa Vontade oferece seu atendimento

“Eu colaboro com a LBV há muitos anos e hoje, presenciando este trabalho com essas famílias, só aumenta a minha vontade e a minha força para colaborar mais e mais.”

ClaricePhelipineColaboradoradaLBVdeLondrina/PR

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“Mesmo tendo a experiência de ser mãe de quatro filhos, aprendi muitas coisas na LBV e recebi muitas informações importantes. É o melhor atendimento que temos na nossa região.”

HeleneidaGonçalvesdeOliveira

AtendidapeloprogramaCidadão-Bebê,emBeloHorizonte/MG.

BOA VONTADE | 57

Page 58: Revista Boa Vontade, edição 221

Destaque

“A LBV é mãe, é pai, é tudo na nossa vida. Quem chega aqui sai outra pessoa, porque a LBV leva a gente para o alto, para a frente, mostra o alto-astral para as pessoas. Depois que entrei aqui, tudo mudou, esse ano para mim foi maravilhoso. De hoje em diante minha felicidade vai ser permanente.”

RaimundadeSouzaParticipantedocursodemacramênaLBVdeBrasília/DF.

Taguatinga/DF

Presidente Prudente/SP Leme/SP Inhumas/GO Franca/SP Petrópolis/RJ

Recife/PEAnápolis/GOFoz do Iguaçu/PRNiterói/RJ

São Paulo/SP Salvador/BA Mogi das Cruzes/SP Paranaíba/MS

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social durante todos os meses do ano, com a campanha do Natal Permanente de Jesus, o Cristo Ecumênico. Ou seja, o mesmo ideal que sensibiliza as pessoas nos festejos de dezembro man-tém acesa a chama da Solida-riedade Altruística ao longo do ano. É esse aspecto que chama a atenção do mestre-de-cerimônias e apresentador Marcão Kareca, colaborador da LBV em Londri-na, cidade do norte do Paraná. “É uma honra fazer parte da Legião da Boa Vontade. Posso dizer isso porque aqui me sinto parte da família LBV. Eu vejo que aqui o Natal é Permanente,

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JornaisdestacamatendimentosocialdaLBVdaEuropaedosEstadosUnidos

Em outros países, a tradicional campanha de fim de ano da Legião da Boa Vontade também apresenta bons resultados. A LBV de Portugal realizou, em dezembro de 2007, a entrega de cestas e prendas de Natal à comunidade excluída socialmente. Além dos colaboradores, outros fortes parceiros são os meios de comunica-ção que, constantemente, divulgam as iniciativas da Obra. Em especial, nessa edição da campanha, os jornais Destak, Sol, Jornal de Notícias e O Primeiro de Janeiro. Nos Estados Unidos, a mídia também ressaltou a iniciativa solidária, conforme se pode ver na ilustração aqui reproduzida.

porque eles atendem todos os dias do ano.”

Todos estão convidados a par-ticipar não somente dessa grande mobilização, mas também de ou-tras ações nos demais dias do ano. Leia no quadro, ao lado, sobre como colaborar para as obras da LBV. [R. O.]

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colabore com as obras socioeducacionais da lBVBanco do Brasilagência: 3339-1Conta corrente: 5.010-5

Banco Bradesco agência: 0292-5Conta corrente: 99090-6

Banco itaú agência: 0237Conta corrente: 73700-2

outras informações: (11) 3225-4500 ou www. lbv.org.br

Reprodução do fac-símile da matéria publicada pelo jornal Brazilian Voice, dos Estados Unidos.

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Carlos Arthur Pitombeira, jornalista e conselheiro da ABI.

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Dois séculos de imprensa

Opinião—Mídiaalternativa1808-2008 — Bicentenário da Imprensa brasileira

Carlos Arthur Pitombeiraespecial para a BOA VONTADE

um atraso de três séculos e meio em relação à invenção da tipografia e, ao mesmo tempo, estabeleceu o surgimento da imprensa alternativa no País. Vale lembrar que os dois primeiros jornais brasileiros, o Correio Braziliense e a Gazeta do Rio de Janeiro, surgem com uma diferença de apenas dois meses um do outro e características distintas na sua circulação; o primeiro mensal; e o outro saindo duas, e depois, três vezes por semana.

A primeira edição do Correio, de Hipólito da Costa, preparada em Londres (Inglaterra), chegou clandestinamente ao Brasil, logo após a abertura dos portos às na-ções amigas, e circulou em 1o de

junho de 1808; a da Gazeta, do frei Tibúrcio José da Rocha, no dia 10 de setembro. Foram os prelos da Imprensa Régia (atual Imprensa Nacional) que deram vida à Gazeta do Rio de Janeiro, esta, sim, com cara de jornal, enquanto o outro se destinava a conquistar opiniões: a cada mês, reunia em suas páginas o estudo das questões mais impor-tantes que afetavam a Inglaterra, Portugal e Brasil.

Os historiadores registram que naquela época muitos brasileiros exilados, a exemplo de Hipólito da Costa, também editavam jornais e os enviavam ao Brasil. Sociedades secretas surgiram e se multiplicaram “para abrigar os que ousavam pen-

Quando todas as atenções se voltam para as comemora-ções dos 200 anos da chegada ao Brasil de dom João VI e

sua Corte, fugindo das tropas de Napoleão Bonaparte, não pode ser ignorado o fato de que o ano de 1808 marca também o nascimento da imprensa brasileira. Isso rompeu

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Hipólito da Costa, que preparou, em Londres (Inglaterra), a primeira edição do Correio Braziliense.

reGistro A capa histórica

da Gazeta de Notícias, de 14 de

maio de 1888, comunicando

a oficialização da Lei Áurea,

que determinou o fim do

escravismo no Brasil.

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relÍQUias Reprodução de páginas históricas dos jornais Gazeta do Rio de

Janeiro e Correio Braziliense, os primeiros jornais impressos do Brasil. Abaixo,

reprodução da primeira página do Diário de Pernambuco, considerado o mais

antigo em circulação na América Latina.

sar no futuro, analisar o presente, estudar”. Eram lojas maçônicas, sociedades literárias e figuras emi-nentes da Igreja Católica que davam forma à imprensa daquela época.

Em 1798, por exemplo, já cir-culavam na Bahia boletins de dou-trina libertária, sem periodicidade definida. Mas a história da imprensa brasileira foi se apresentando aos poucos: o jornal A Idade do Ouro do Brasil nasceu em 14 de maio de 1811, em Salvador/BA, antiga capital e segunda cidade brasileira; o Preciso, surgido em 1817, tornou-se o primeiro totalmente engajado em um movimento político; a Revolta Pernambucana tinha por objetivo tirar o controle comercial das mãos

dos portugueses e dos ingleses; a Malagueta começou a circular no Rio de Janeiro em 18 de dezembro de 1822. Minas Gerais, então pro-víncia, só viria a conhecer a impren-sa em 1823 com o aparecimento, em Ouro Preto (então Vila Rica), de O Compilador Mineiro.

Em Pernambuco, em outubro de 1825, ainda com as lembranças do levante de 1817, quando se che-gou a proclamar a independência da província de Pernambuco da Corte, nascia no Recife o Diário de Pernambuco, considerado o mais antigo jornal em circulação da América Latina. Em 1827 começa-va a circular no Rio Grande do Sul o Diário de Porto Alegre; em São Paulo, o Farol Paulistano. O Jornal de Recife surgiria em 1859; e, em São Luís, no Maranhão, o primeiro periódico ilustrado de grande forma-to, o Jornal Para Todos, começava a circular em 1876. O Jornal do Brasil era fundado em 8 de abril de 1891.

A primeira empresa brasileira destinada a editar jornais aparece em 1875 e o Província de São Paulo, que mais tarde se chamaria O Esta-do de S.Paulo (O Estadão), começa a escrever a história do jornalismo moderno. Em 1911, Irineu Mari­

nho funda A Noite, e em 1925 surge o jornal O Globo. Um ano antes, em 1924, Assis Chateaubriand compra o jornal O Pernambuco, de Recife, o primeiro de seu império de comunicação. Em 1968, quando morreu, era dono da rede Diários Associados, com 32 jornais, 24 emissoras de rádio, três revistas e 19 emissoras de televisão.

A Independência do Brasil, em 1822, marcaria novo ciclo na imprensa brasileira. Movimentos políticos em defesa da República e contra a escravatura motivam o surgimento de inúmeros jornais com característica alternativa/co-munitária. Em 7 de Setembro de 1822, dom Pedro I proclamava a Independência, mas a notícia só era publicada treze dias depois, em O Espelho. De 1870 a 1872, surgiriam no País 20 jornais republicanos. O primeiro deles provavelmente tenha sido A República, que começou a circular em 3 de dezembro de 1870, como órgão oficial do Partido Re-publicano Brasileiro e do Clube Re-publicano, que abrigava a ala mais radical dos liberais. Nessa mesma linha republicana entram em cena também vários jornais no interior e até nas províncias mais longínquas da Corte: O Argos, no Amazonas;

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Opinião—Mídiaalternativa

O Futuro, no Pará; O Amigo do Povo, no Piauí; O Voluntário da Pátria, na Paraíba; O Tempo, no Rio Grande do Sul. Por todo o País multiplicam-se os pequenos jornais republicanos e também começam a surgir abolicionistas.

São inúmeras também as publi-cações sobre temas diversos, como os periódicos feministas Brasil Mulher e Nós Mulheres (Londrina); o anarquista Inimigo do Rei (Salva-dor); O Beijo (Rio), com matérias político-existenciais que marcaram; O Trabalho (SP), trotskista, político e cultural; e o carioca Lampião da Esquina, publicação voltada para a comunidade homossexual e con-siderada de excelente nível jorna-lístico. Em 1977, O Repórter, com reportagens e linguagem popular — marcada pela velha Última Hora

— de alto valor, deixa sua marca. E não se pode esquecer do jornalismo de qualidade, grandes reportagens e ótima linguagem, do Coojornal, de Porto Alegre/RS.

A partir de O República, O Macaco Brasileiro, A Mulher do Simplício, O Esbarra, A Mutuca Picante, passando pelo Bondinho, O Grilo, Ovelha Negra, Extra, Realidade, Ex, Opinião, Reunião, Folha da Semana, Idéia Nova, Mais Um Movimento, Senhor, Pasquim, Repórter, Versus, Flor do Mal, Sin-gular & Plural, Binômio, A Manhã, Pif-Paf e tantos outros, os jornais al-ternativos sempre foram magníficos laboratórios de jornalismo a serviço das liberdades democráticas. Devo-taram-se a essa causa jornalistas de todas as épocas, como Gonçalves Ledo, Cipriano Barata, Rui Bar­

bosa, Luís Augusto May, Quin­tino Bocaiúva, Aristides Lobo, Manuel Vieira, Castro Alves, Eça de Queiroz, Raul Pompéia, Monteiro Lobato, Joaquim Na­buco e Euclides da Cunha, só para citar alguns mais antigos. Entre os contemporâneos, no eixo Rio–São Paulo/Minas Gerais, podemos citar Tarso de Castro, Jaguar, Henfil, Marcos Faerman (Marcão), Ál­varo Caldas, Millôr Fernandes, Paulo Francis, Ivan Lessa, Sergio Augusto e muitos outros.

Há, sim, muito que se come-morar neste 2008, ano que registra dois séculos da chegada ao Brasil de dom João VI e sua Corte. Mas não pode ser ignorada a importância que o ano de 1808 representa para a imprensa alternativa e comunitária brasileira.

Page 63: Revista Boa Vontade, edição 221

Programa voltado para o público jovem, tem como obje-tivo destacar as principais atividades desenvolvidas por organizações do setor público e privado que promovam a cidadania por meio da educação, preservação ambiental e da existência humana. Contribui para a propagação do conhecimento sobre a questão educacional e ambiental em toda a sociedade.

QUANDO ASSISTIRsegunda a sexta-feira: 13h30outros horários: www.boavontadetv.com

É um espaço dedicado à valorização do pequeno, médio e grande produtor rural. Com notícias, reportagens, di-cas e entrevistas com especialistas do setor, tem como objetivo informar o homem do campo, apresentando a ele alternativas de produção e comercialização no agro-negócio. o programa traz também semanalmente as principais cotações do mercado agropecuário.

QUANDO ASSISTIRterça-feira: 7h e 16 horassábados: 10 horas

A T V D A PA Z E D A F R AT E R N I D A D E R E A L

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S k y - C A N A L 2 7 - 2 4 H O R A S N O A R

Page 64: Revista Boa Vontade, edição 221

no futuroDe olhoA p r e s e r v a ç ã o d a s a ú d e

Oqueédiabetes?

Diabetes é um grupo de distúr-

bios metabólicos caracterizado por

hiperglicemia (aumento dos níveis

de açúcar no sangue), causado por

ausência absoluta (diabetes tipo

1) ou relativa (diabetes tipo 2) de

insulina. A secreção desse hormônio

é importante na regulação do meta-

bolismo dos carboidratos, lipídios e

proteínas.

Um novo caso de diabetes surge a cada 5 segundos no mundo. O alerta é da Organização Mundial da

Saúde (OMS), que divulgou alar-mante nota em 2007 sobre a atual situação da doença. Os números assustam: em média, a cada 10 se-

gundos, uma pessoa morre de complicações em decorrência desse mal; o prognóstico é

que cerca de 376 milhões de pessoas terão a doença em 2030, se não houver mudança no estilo de vida. O relatório ci-tou a obesidade e o sedentarismo como

os maiores vilões do diabetes tipo 2, o mellitus. No Brasil, 11 milhões têm a doença.

SaúdeDiabetes: mutirões solidários

Mário Augusto Brandão e Liliane CardosoFonte: Sociedade Brasileira de Diabetes

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Page 65: Revista Boa Vontade, edição 221

Na contramão desses indica-dores, a Legião da Boa Vontade (LBV) desenvolve programas de prevenção dirigidos aos que, di-reta ou indiretamente, participam das atividades nos seus centros educacionais — por determina-ção de seu diretor-presidente. Exemplo disso é o que se vê freqüentemente no Instituto de Educação da Legião da Boa Von-tade, na capital paulista. A unida-de educacional da LBV realiza, durante o ano letivo, mutirões de saúde com o objetivo de manter o bem-estar físico e mental de seus 1.200 alunos. Em um deles, para identificar casos de diabetes tipo 2, a Instituição contou com a parceria da Samcil. Esta ação faz parte do Programa de Nutrição e Saúde da LBV, realizado com sucesso em todo o Brasil. Na primeira fase, o levantamento dos

dados antropométricos (peso, altura e pressão arterial) dos alunos observou as questões de desnutrição e obesidade, tudo sob o acompanhamento dos pais ou responsáveis.

Em Glorinha/RS, o cons-tante acompanhamento médico tem feito a diferença na vida dos guris amparados pelo Lar e Par-que Alziro Zarur, da LBV. Para um dos adolescentes abrigados, esse hábito foi fundamental na descoberta dos sintomas do dia-betes tipo 1. Após identificação do caso, o garoto foi levado a um especialista para consulta. “Du-rante o atendimento, ele relatou ao médico que, nos últimos três dias, sentiu muita sede, bebia bastante líquido e, conseqüen-temente, urinava várias vezes ao dia. Diante da descrição,

condizente com sinais de uma alteração na glicemia, foi solici-tado o teste que constatou o valor de 500 mg/dl”, relata a técnica em enfermagem do Lar, Flávia Freitas.

A partir da avaliação, o menino pôde ser encaminhado ao Hos-pital da Criança Santo Antônio, em Porto Alegre/RS, para melhor avaliação e tratamento diante da gravidade da situação. Com o diagnóstico confirmado, o menino

Quemtemriscodedesenvolveradoença?

Existem vários fatores que podem

torná-lo mais vulnerável:• Estar acima do peso. O Índice de Mas-

sa Corporal deve estar entre 20 e 24,9;

• Sedentarismo; • Ter mais de 45 anos de idade;

• Dar à luz criança com peso superior

a 4 quilos; • Hereditariedade (irmãos ou pais dia-

béticos).

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no futuroolho

No sul do País, a criançada é atendida pelo mutirão contra o diabetes.

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Page 66: Revista Boa Vontade, edição 221

idéia de realizar em dezembro de 2007 um encontro — com muitas atividades recreativas, lúdicas e esportivas — entre os meninos e meninas atendidos pelo ICD e os meninos abrigados na Legião da Boa Vontade.

No dia marcado, dezenas de crianças, adolescentes e pro-fissionais do ICD adentraram as dependências do Templo da Natureza e da Criança — como também é conhecido o Lar da LBV. O diretor-presidente do instituto, dr. Balduíno Tschiedel, presente na festividade, ressaltou: “Este é um local fantástico, que só faz engrandecer a parceria. (...) O interessante deste dia é nossos pacientes verem uma realidade diferente, convivendo

com outras crianças em harmonia, fraternidade, paz e amor”. Para o coor-denador do Programa de Educação em Diabetes do instituto, o endocrinolo-gista César Geremia, esta César Geremia

Lilian

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o

permaneceu seis dias internado. Ao ser liberado, foi orientado pela equipe médica do hospital sobre alimentação e aplicação de insulina e encaminhado para acompanha-mento ambulatorial no Instituto da Criança com Diabetes (ICD), centro de referência no tratamento da doença no Rio Grande do Sul.

Para seguir rigorosamente o tratamento, a unidade da LBV adaptou sua infra-estrutura para melhor atender às necessidades de crianças com diabetes. “Foi colocado um frigobar no quarto do adolescente, aos cuidados do monitor, em virtude da necessi-dade de guardar a insulina sob refrigeração. Além disso, orien-tamos, pessoalmente, os monito-res, funcionários e responsáveis pelas refeições quanto às regras de alimentação e monitoramento da glicemia”, comenta Roberto Stencel, responsável pela LBV em Glorinha.

Outra medida tomada pela Instituição foi capacitar todos

os monitores no ICD. Durante o treinamento são oferecidas aos educadores palestras e oficinas com a equipe multidisciplinar do instituto, composta por médicos pediatras e endocrinologistas, nu-tricionistas, enfermeiras, dentistas, psicólogas, assistentes sociais e educadores físicos. Os monitores são amplamente esclarecidos sobre diabetes.

EncontrofraternoA equipe multidisciplinar do

ICD abriu espaço na agenda de trabalho para conhecer o Lar e Parque da LBV. Durante a visita, a nutricionista Siciane Gracciolli, o educador físico Winston Boff, a enfermeira Marjorie da Silva e a responsável pelo Programa de Educação em Diabetes e setor de eventos, Ane Pandolfo, disseram-se impressionados com a qualidade do trabalho e com a beleza do local. Daquele contato, surgiu a

Saúde

Desde os pequenos até os mais jovens participaram do mutirão em São Paulo/SP, em parceria com a Samcil.

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Comodetectar?

Em uma pessoa considerada sau-

dável, o corpo mantém os níveis de

glicose entre 70 e 100 miligramas

por decilitro (mg/dl). Após comer,

os níveis sobem, dependendo da

quantidade e conteúdo da refeição,

mas não deve exceder os 140 mg/dl,

caracterizando um quadro diabético.

Já de 110 a 130 mg/dl, o estado é de

alerta, sendo necessária outra análise

clínica para confirmar o resultado.

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Page 67: Revista Boa Vontade, edição 221

foi “mais que uma visita à LBV: foi um momento de convivência muito especial. Todos nós retor-namos a Porto Alegre bastante felizes, renovados. Esperamos estreitar cada vez mais esses laços de amizade em prol de uma sociedade melhor”.

Ao iniciar o encontro, todos os presentes se reuniram no ginásio po-liesportivo José de Paiva Netto para um café da manhã. Em seguida, as crianças da LBV e do ICD foram divididas em grupos mistos e tiveram a oportunidade de participar de variadas ofici-nas, entre elas a de cavalgada, tradicionalismo, hip hop, vôlei, futebol.

LareParquedaLBVrecebetroféudoICD

Unidos pela solidariedade, amor e respeito a seus

atendidos, o Instituto

da Criança com Diabetes e o Lar e Parque Alziro Zarur, da LBV trabalham juntos para propor-cionar uma vida mais saudável às crianças que atendem. O

ICD premia, anualmente, estudantes, escolas, edu-cadores e organizações que participam de seus programas e tornam-se multiplicadores de co-nhecimento. Em dezem-bro de 2007, um grupo

de profissionais da LBV recebeu o certificado de Educador Cida-dão, entregue pelo comentarista e ex-jogador da Seleção Brasi-leira de Futebol Paulo Roberto Falcão, presidente do Conselho Administrativo do ICD, e pelo coordenador do Programa de Educação em Diabetes do ins-tituto, endocrinologista César Geremia. Além disso, o ICD pre-miou a Legião da Boa Vontade com o troféu Amigo do Instituto da Criança com Diabetes.

Paulo Roberto Falcão

Lilian

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rdos

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“Nunca vi um lugar tão bonito e integrado com a comunidade como este Lar da Legião da Boa Vontade. Toda a nossa equipe e as crianças agradecem sobremaneira à LBV. (...) Eu transmito ao Paiva Netto o abraço pelo orgulho desta Obra levantada, que tanto benefício vem espalhando pelo mundo.”

BalduínoTschiedelDiretordoICD

Liliane Cardoso

Sintomasesinaisque

denunciamodiabetes

Pessoas com níveis malcontrolados costu-

mam apresentar:

• Muita sede;

• Vontade de urinar muitas vezes;

• Fome exagerada;

• Visão embaçada;

• Infecções na pele ou mucosas;

• Machucados que demoram a cicatrizar;

• Fadiga;

• Dores nas pernas, por causa da má cir-

culação.

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Lar e Parque da LBV, em Glorinha/RS.

Tel.: (51) 3487-1033.

Page 68: Revista Boa Vontade, edição 221

Colônia e descendentes festejam um século de história e agradecem a acolhida aos antepassados

UimigraçãoUma bem-sucedida

História100 anos da presença japonesa no Brasil

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Leila Marco

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Page 69: Revista Boa Vontade, edição 221

Primeiro veio a necessida-de de sair da pátria mãe, atravessar oceanos e en-contrar, no outro lado do

Planeta, todo tipo de dificuldade do recomeço em uma nova terra. Precisavam “fazer a América” para voltar ao Japão. Mas as coi-sas não aconteceram exatamente como os pioneiros planejaram. Depois de algum tempo, os imi-grantes japoneses souberam que era hora de mudar o rumo dessa história; era necessário criar raí-zes no Brasil.

Este ano, essa epopéia feita de lágrimas, suor e sonhos, nem sempre alcançados, completa um século. Os motivos que influenciaram aquela aventura e o que representou esse mo-vimento para os cerca de 1,5 milhão de nikkeis (descendentes de japoneses nascidos fora do Japão) no Brasil estão nesta reportagem especial da revista BOA VONTADE.

Umolharsobreopassado

Ao observar o próspero Japão de hoje, é difícil imaginar por que há cem anos muitos de seus filhos abandonaram tudo a fim de arriscar-se em terras tão distan-tes. Para entender melhor isso, é preciso recuar aos anos anteriores ao marco inicial da imigração ja-ponesa no Brasil — caracterizado pela chegada do navio Kasato Maru a Santos/SP, em 18 de junho de 1908, depois de 52 dias desde que partira do Porto de Kobe (429 quilômetros a oeste da capital, Tóquio). A embarcação trazia os primeiros 781 imigrantes, dentro do acordo imigratório estabeleci-do entre as duas nações, e mais 12 passageiros independentes.

A história desses imigrantes remonta ao período de moderniza-ção do país, em 1868. O professor de História do Extremo Oriente, pela USP, estudioso da maçonaria e missionário budista Ricardo

Mário Gonçalves diz que, a esse tempo, o país do sol nascente se abria para o mundo ocidental e vivia um momento expansionista. “Quando eles chegaram aqui, o Japão tinha acabado de sair de uma guerra com a Rússia [1905], que venceu a duras penas. O processo de industrialização se dá, mas trazendo consigo graves crises internas. Grande parte da população rural se viu despojada de suas terras, jogada na grande cidade, às vezes sem condições. As províncias, particularmente populosas, tiveram fortes tensões sociais, e uma das tentativas para

Entendaanomenclatura

Issei – imigrante japonêsNissei – filho de japonesesSansei – neto de japoneses Yonsei – bisneto de japoneses

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imigração

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Page 70: Revista Boa Vontade, edição 221

aliviar essas tensões foi a imigração”, conta.

Com a modernização, após a chamada Era Meiji, a nação ganha o cenário internacional. O fato de ter firmado nessa época tratados comerciais per-mitiu a saída de trabalhadores japoneses para outras partes do

Planeta, a princípio para o sudeste da Ásia e da Oceania. A América Latina tornou-se uma alternativa quando os Estados Unidos passa-ram a desestimular a imigração. Primeiro o Peru, depois o Brasil, onde se dá a mais bem-sucedida iniciativa. “Isso porque o nosso País experimentava uma crise diferente, a da falta de mão-de-obra. Tínhamos saído do regime escravista e não se havia feito ab-solutamente nada para preparar o negro para assumir a condição de mão-de-obra livre. O negro foi liberto, mas permaneceu mar-

ginalizado. (...) A elite branca brasileira tinha medo de

que aqui se repetisse o que acontecera no Haiti, onde a maioria negra acabou com a minoria branca e criou a república negra.

A Sakura, hoje a maior fabrican-te de molhos líquidos do Brasil, nasceu pelas mãos do imigrante japonês suekichi nakaya, que chegou ao Brasil no princípio do século 20. Na década de 1930, ele percebeu que muitos amigos, parentes e amigos da comunidade tinham dificuldade de produzir o shoyu e o missô, e iniciou de forma caseira a empresa, com ajuda da esposa. Atualmente, ela é dirigida pelo filho Renato Nakaya.

O professor Ricardo Gonçalves é autor do livro A Ética Budista e o Espírito

Econômico do Japão (Editora Elevação). O lançamento da obra, ocorrido no fim de 2007, na Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo, praticamente deu início às comemorações do Centenário

da Imigração japonesa no Brasil. Em um dos exemplares da obra, o professor

Ricardo deixou a seguinte dedicatória ao dirigente da Legião da Boa Vontade:

“Para o querido Irmão José de Paiva Netto, o Grande Timoneiro da LBV, com

um abraço ecumênico do autor”.

O Museu da Imigração japonesa, em São

Paulo/SP, abriga um grande número de peças e documentos, a exemplo destes passaportes japoneses

das décadas de 1950 e 1960.

História

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Na imagem central, a Fazendinha Antinha, em Promissão/SP, onde o fundador da Sakura, Suekichi Nakaya, foi trabalhar logo que chegou ao Brasil. No destaque, à esquerda, a primeira fábrica da empresa, ainda em Presidente Prudente (década de 1940), e a foto dos pais do sr. Suekichi, torakichi nakaya e senhora.

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Page 71: Revista Boa Vontade, edição 221

Havaí1868

Estados Unidos1888

Peru1899

Brasil1908

DestinosdaimigraçãojaponesanaAmérica

Por isso a política chamada de branqueamento, trazendo imi-grantes europeus”, explica Ricar-do Gonçalves.

A idéia era fazer do Brasil um país de população dedicada à agri-cultura, mas de origem européia, em um sistema de colonização que visava à ocupação territorial como forma de defender os espaços va-zios. Só que a falta de habilidade de nossos fazendeiros, acostumados a tratar com escravos, arrefeceu esse processo, segundo o professor.

“Eles se sentiam muito maltra-tados, e começou uma campanha contra o Brasil. Os fazendeiros de café precisavam de mão-de-obra e uma das soluções era o asiático. Na segunda metade do século 19 já havia tido algumas tentativas de trazer os chineses para cá. O sena-dor Vergueiro, do Império, fez este experimento com eles. E a idéia foi retomada com os japoneses”, que preenchiam uma lacuna deixada, principalmente, com a suspensão

Na primeira grande fase da imigração japonesa, 1908-1941, chegam aqui mais de 188 mil isseis, e dentro desta há outra muito importante, no ano de 1925: um verdadeiro boom da imigração, quando o governo japonês subsidia a passagem para quem quisesse seguir para o Brasil.

Visão geral de uma das exposições permanentes do Museu Histórico da Imigração japonesa no Brasil. No detalhe, réplica de um dos navios que trouxeram as primeiras levas de imigrantes do japão ao Brasil. endereço: Rua São joaquim, 381, 7o, 8o e 9o andares, Liberdade, São Paulo/SP, tel.: (11) 3208-1755. horário: De terça a domingo, das 13h30 às 17h30. preço: R$ 5 adultos (estudantes pagam meia) e R$ 1 crianças de 5 a 11 anos.

Célia Oi, historiadora, jornalista e coor-denadora de comunicação da Sociedade Brasileira de Cultura japonesa e de As-sistência Social (Bunkyo).

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Kasato Maru foi apenas adaptado para levar passageiros. “Quando saía a parte na qual se transpor-tava carga, você montava um imenso tablado. As famílias eram divididas umas das outras com uma espécie de cortina e com as bagagens de mão; separavam-se as pessoas pelas províncias a que pertenciam. No Japão daquela época o uso do dialeto era muito forte. Cada setor tinha um repre-sentante e ele se entendia com os coordenadores da viagem.”

De acordo com a historiadora, outro problema era a demora na viagem — o transcurso até o Bra-sil levava quase dois meses. Para minimizar isso, eles desenvolviam uma série de atividades tentando ocupar-se, como aulas básicas de português, competições esportivas envolvendo as crianças, festas para marcar a mudança de hemisfério (a saída do Norte para o Sul), a passa-gem pela linha do Equador, enfim, tudo era motivo para distrair-se.

Fasesmigratóriaseacontribuiçãodacomunidade

A corrente migratória japonesa para o nosso País, conforme des-taca Célia Oi, teve três grandes períodos. A primeira grande fase, 1908-1941, na qual chegam aqui mais de 188 mil isseis, e dentro desta há outra muito importante, no ano de 1925: um verdadeiro boom da imigração, quando o governo japonês subsidia a passagem para quem quisesse seguir para o Brasil. “Bastava provar que era um sujeito saudável e tinha idade e força para trabalhar”, diz a pesquisadora.

História

Em 1991, quando Paiva Netto completou 50 anos de idade, recebeu do casal de monges budistas Yvonete e Ricardo Mário Gonçalves (fotos 1 e 2), representantes do Templo Budista Higashi Honganji, o koromo e o owan (ves-te e escudela). No ano seguinte, ofertaram-lhe o kesa (manto). Essas vestimentas são conce-didas somente àqueles cuja missão na Terra é considerada sagrada. Em 2006, ao completar meio século de trabalho na Legião da Boa Vontade, os monges budistas rea-lizaram, em nova home-nagem, ocorrida no dia 25 de agosto, no gabinete do dirigente da Instituição, em São Paulo/SP, a repo-sição da veste sacerdotal búdica que Paiva Netto ganhara em 1991 (fotos 3 e 4). Conhecida como gedappuku e fukuden-e, a abençoada roupa, que simboliza a colheita do sacerdote nos campos da Felicidade e da Libertação, também está exposta no Templo da Boa Vontade (Brasília/DF), a exemplo da primeira.

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iniciais não eram nada confortá-veis, muito pelo contrário. O pri-meiro navio construído especial-mente para transportar emigrantes japoneses para a América Latina só surgiria em 1941. Até então, todas as embarcações utilizadas para esse fim eram cargueiros.

A historiadora, jornalista e coordenadora de comunicação da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social (Bunkyo), Célia Oi, informa que o

do fluxo de imigrantes italianos, em 1902.

Aventuradaprimeiraviagem

Como se vê, os isseis (japone-ses que emigram

para a América) quebram, em parte, essa

discriminação e che-gam ao nosso País.

Mas aquelas viagens

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Grande parte deles veio para o Estado de São Paulo, estimulada pela cultura do café, sobretudo até o fim dos anos 1920. Eles tra-balhavam na fazenda cafeeira e, depois de um tempo, começavam a buscar a vida independente. Um fato importante se dá nos idos de 1915, época da expansão do café para a região oeste de São Paulo, e os imigrantes seguem esse tra-çado, em busca da independência econômica, montando suas pró-prias propriedades ou alternativas de vida. “A estrada de ferro era uma coisa muito presente na vida deles e dos italianos. Pergunta-se: ‘Para onde foram esses imigran-tes?’ — Para onde iam as linhas de trem, como a Noroeste do Bra-sil, a Paulista, a Alta Sorocabana e a Mogiana”.

Com a crise cafeeira, em 1929, a comunidade diversifica as plan-tações e entram em cena o algo-dão, o arroz (em menor escala) e uma série de outras culturas então trazidas pelos japoneses, e desen-volvidas ou adaptadas às condi-ções do clima do Brasil. Tendo em vista melhores preços para o café, é proibido o plantio de novos pés

Em 23 de julho de 1988, o jornal São Paulo-Shimbun noticiou a visita de representantes da coletividade nipo-brasileira à escola mantida pela LBV na capital paulista. Os visitantes — Masuichi omi, então presidente da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa (Bunkyo) e também da Comissão Organizadora dos festejos comemorativos do 80o aniversário da imigração japonesa no Bra-sil; paulo ishii, na época o encarregado do setor japonês da Varig; ryoichi Kodama, remanescente do Kasato Maru; e rosa oikawa, que era vice-coordenadora do Museu da Imigração Japonesa — percorreram todas as dependências da Supercreche Jesus. oshiro sanenari, do São Paulo-Shimbun, definiu o trabalho desenvolvido pela LBV como “impressionante”. No destaque, Masuichi Omi (D) e Ryoichi Kodama.

do fruto no Estado bandeirante, o que intensifica a ida de japoneses para o norte do Paraná, local que se abria para a colonização.

Em meados da década de 1930, cresce outro movimento: a aproxi-mação da zona urbana. “Estamos falando do imigrante que sai do sítio e está procurando se aproxi-mar da cidade, se dedicando ao comércio, à área de prestação de serviço, ou vai morar na redonde-za, na periferia dessa cidade. Ou-

tra grande con-tribuição dos imigrantes

japoneses foi o desenvolvimento das atividades hortifrutigranjei-ras. Pensando na cidade de São Paulo, há o que a gente chama até hoje de ‘cinturão verde’”.

Outro foco de imigração ocor-re na Região Norte do país, onde deixam suas marcas na agricultura do Amazonas e do Pará, princi-palmente pelo cultivo da juta e da pimenta-do-reino.

Um dos mais belos templos do japão, o kinkakuji (Templo Dourado). No destaque, a réplica no Brasil, construída no Parque Turístico Nacional Vale dos Templos, em Itapecerica da Serra/SP.

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“Coraçõessujos”Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, os imigrantes japoneses

vivem um período bastante traumático no Brasil, em que a comunidade fica cindida em dois grupos — os katigumi, da Shindô Remmei (Liga do Caminho dos Súditos), seita ultranacionalista nascida em São Paulo, cujos adeptos eram chamados de “triunfalistas”, pois não acreditavam na notícia de rendição do Japão, para eles, uma farsa dos aliados; e os makegumi, ou “derrotistas”, apelidados de “corações sujos” pelos seguidores da seita. De janeiro de 1946 a fevereiro de 1947, matadores da Shindô Remmei buscam em todo o Estado de São Paulo os makegumi, considerados por eles traidores do Império. Esse grupo mata 23 imigrantes e deixa feridos outros 150, provocando um sentimento de terror na colônia. O Dops (Departamento de Ordem Política e Social) prende 30 mil pessoas suspeitas dos crimes, mas apenas 381 são condenadas e 80 deportadas para o Japão. O episódio é contado em detalhes no livro Corações sujos, do jornalista Fernando Morais.

encerrado com o restabelecimento das relações diplomáticas entre Brasil e Japão, em 1953.

É nesse momento que se inicia a terceira fase, em que há várias tentativas de conciliação, de paci-ficação, dos grupos divididos (Leia quadro acima). A derrota japonesa para os aliados deixa claro que a volta para o país de origem não seria possível. Eles tinham de orga-nizar-se para ficar e, com isso, há uma reviravolta, porque vêem que os filhos se tornaram brasileiros e, assim, seria necessário melhorar a condição cultural e social deles, especialmente por meio do estudo. “Em 1953 tem-se a chegada das primeiras levas do pós-guerra e, em geral, considera-se que esta fase vá até 1973, exatamente o período em que os imigrantes vinham por via marítima; pode-se aqui falar em 55 mil imigrantes japoneses. Na década de 1970, com a recuperação do Japão, muita gente deixou de ter essa preocupação em emigrar”.

Desdobramentosdaguerra

O objetivo inicial desse imi-grante era permanecer por algum tempo, trabalhar, ganhar dinhei-ro e retornar. Portanto, havia a postura de preservar a cultura original. Com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, em 1942, há interrupção da vinda de japoneses e tem início a segunda fase, ou “período branco”, quando eles são considerados inimigos dentro do território nacional.

Por conta disso, a comunidade sofre uma série de sanções, como não poder falar a língua japonesa em público, a proibição de todos os meios de comunicação com o idioma nipônico e, ainda, o conge-lamento dos bens deles por decisão do governo. E completa Célia Oi: “Os imigrantes tiveram de sair de Santos, da faixa litorânea e do centro das cidades, locais conside-rados estratégicos, de segurança nacional”. Este período branco é

Boa Vontade tV

no mundo

A parceria entre a Fundação josé

de Paiva Netto e a Rede Brasileira

de Televisão Internacional – RBTI –

segue firme, transmitindo o conteúdo

educativo e de Espiritualidade

Ecumênica da BOA VONTADE TV

para os Estados Unidos, México,

Canadá e Portugal.

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Page 75: Revista Boa Vontade, edição 221

Homenagem ao templo da Boa Vontade — Mais de duzentos ja-poneses da Sociedade da Oração para a Paz Mundial estiveram, no fim do ano 2000, em Brasília/DF, para homenagear o Templo da Boa Vontade, com o oferecimento de um Obelisco da Paz. A comi-tiva foi liderada pelo presidente da organização, Hiroo saionji, e sua esposa, Masami saionji. A cerimônia de entrega do Obelisco ocorreu ao som da música Aos Irmãos Orientais, de autoria do diretor-presidente da LBV, José de Paiva Netto.

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OfenômenodekasseguiNos anos 1980, o Brasil assiste

ao aparecimento do movimento migratório no sentido contrário: o fenômeno dos dekasse-guis. O brilho do país do sol nascente levou muitos nipo-brasi-leiros a procurar na terra dos antepassa-dos uma oportunidade de melhorar a própria vida.

Hoje, com a queda da oferta de empregos e um crescimento menor da economia japonesa, o sonho já não é tão atraente, mas, ainda assim, é possível encontrar muitos brasilei-ros por lá. Em 2005, o Ministério da Justiça estimou a presença de 300 mil brasileiros vivendo legalmente no Japão, os quais enviam todo ano cerca de 1,5 a 2 bilhões de dólares para o Brasil.

AnodeIntercâmbioBrasil–Japão

No último 17 de janeiro, o pre-sidente Luiz Inácio Lula da Sil­va abriu oficialmente o Ano de Intercâmbio Brasil–Japão, em cerimônia realizada no auditório do Itamaraty, em Brasília/DF. Na oportunidade, o desenhista Mauri­cio de Sousa apresentou o desenho

do mascote comemorativo do centenário: Tikara.

Esse personagem rece-beu de seu criador, dias

depois, a companhia da garotinha Keika, os dois representam a cultura mi-lenar do Japão em 2008. Os

nomes foram escolhidos

Renato Nakaya, empresário e coordena-dor de finanças da Associação para a Comemoração do Centenário da Imigra-ção japonesa no Brasil.

A Praça do japão (foto 1), em Curiti-ba/PR, está localizada em uma área bastante arborizada, possui lago de carpas, 30 cerejeiras trazidas do país do sol nascente, cerimônia de chá (às quintas) e museu. Na capital paulista, o bairro da Liberdade abriga o jardim Oriental (2).

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na língua japonesa: tikara pode ser traduzido como “força e coragem” e keika, “bravura, pureza e honestidade”.

O coordenador de finan-ças da Associação para a

Comemoração do Centenário da Imi-

gração Japonesa no Brasil, o em-

presário Renato Nakaya, ressalta que a

comunidade se prepara há um bom tempo para esse

momento tão especial e que todos os eventos foram pensados sobre cinco pilares: “Primeiro é home-nagear os imigrantes, segundo é agradecer aos brasileiros a acolhida a nossos antepassados, aumentar o intercâmbio cultural e as relações bilaterais. E o quinto é trazer a cultura japonesa para o Brasil e também levar mais da nossa cultura brasileira para o Exterior”.

Nakaya também afirma que em nenhum país do mundo houve uma mobilização com tamanho número

de pessoas envolvidas, com tantos acontecimentos. Diz que é uma honra para ele estar vivenciando este centenário. Entre os muitos acontecimentos, destaca os que ocorrerão em junho, no auge dos festejos. A exemplo da presença do príncipe herdeiro Naruhito, representante oficial da Família Imperial do Japão. O príncipe participará das comemorações de Brasília (18 de junho), São Paulo (21 de junho), Paraná (22 de ju-nho) e em outros Estados.

“Haverá uma Semana Cul-tural Japonesa (de 13 a 22 de junho), no Complexo Anhembi, em São Paulo”, informa o coor-denador. Além da inauguração no Paraná dos parques do Japão (Rolândia), Yumê (Maringá) e do Centenário (Curitiba), também estão previstas a Corrida e a Caminhada do Centenário, em Florianópolis/SC e em São Paulo, prometendo um mês de muitas realizações (www.centenario 2008.org.br).

BancodedadosOutro importante projeto é o

do Museu da Imigração Japo-nesa, que está catalogando as informações dos japoneses que vieram na primeira e na terceira fases. Com esses dados os des-cendentes poderão descobrir, ao acessar o banco de dados, o nome dos integrantes da família, quantos vieram, a origem, qual a idade e o destino aqui no Brasil. “O importante, neste primeiro momento, é que as pessoas po-derão localizar suas famílias. ‘Ah, meu avô, minha avó tinham essa idade...’”, estima a assessora de comunicação da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social, entidade mantenedora do Museu.

A beleza da cultura japonesa em três momentos: na culinária (1), na apresentação do Grupo de Taiko Araumaza do japão (2), em março no Brasil, e do grupo folclórico de Curitiba/PR (3).

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Um dos mais prestigiados jornais do noroeste do Rio Grande do Sul, A Tribuna Regional, de Santo Ângelo/RS, tem divulgado, semanalmente, desde janeiro, os artigos do escritor e jornalista

Paiva Netto (também disponíveis no site www.paivanetto.com/artigos). O convite ao dirigente da LBV partiu do diretor-presidente do periódico, o jornalista e advogado Valdir Andres, também diretor administrativo do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul). “Agradeço esse privilé-gio de termos entre os colaboradores do jornal A Tribuna o nome de uma pessoa como o professor

Paiva Netto, com toda a sua grandeza moral, a sua mística, pode-mos assim definir. Para nós, é uma honra muito grande. (...) Os milhares de leitores de A Tribuna terão a feliz oportunidade de acompanhar os comentários, os artigos, enfim, todas as opiniões transmitidas pelo nosso grande líder da Legião da Boa Vontade”, ressaltou.

Por ocasião de uma coletiva de imprensa promovida pelo Banrisul, na capital gaúcha, em entrevista à Super RBV, AM 1300, de Porto Alegre, o dr. Valdir Andres voltou a comentar: “É uma satisfação falar para essa rede de rádio que presta tantos ser-viços para todo o País. (...) Mando uma saudação muito especial ao meu amigo Paiva Netto, que é um dos grandes do Brasil e, sem dúvida, uma pessoa que se dedica às outras, a projetos, e presta inestimáveis serviços à Pátria. (...) Ele começou a escrever recentemente no jornal A Tribuna Regional, de Santo Ângelo, e está sendo grande a acei-tação dos leitores, repercutindo de modo extraordinário nas Missões, em outros Estados e até mesmo no Exterior, conforme e-mails que temos recebido. Portanto, é uma honra imensa abrigar os conceitos, as opiniões, a pena brilhante do professor Paiva Netto”.

NotíciasdoSul

josé Roberto de Oliveira Valdir Andres

A Tribuna Regional, de Santo Ângelo/RS

Homenagem da Região das

MissõesO prefeito em exercício de São

Miguel das Missões, José Ro­berto de Oliveira, presenteou o líder da Legião da Boa Von-tade com o distintivo da Cruz Missioneira, encaminhando-lhe a seguinte dedicatória:

“Em 1680, os jesuítas trouxeram a Cruz de Caravaca para a Região das Missões. Hoje, a chamamos de Cruz Missioneira. É nosso principal símbolo místico e reli-gioso e está sendo procurada por peregrinos de todos os cantos da Humanidade. Que este símbolo cristão vindo da Espanha prote-ja-o e traga-lhe as boas energias necessárias ao seu trabalho. Bons Espíritos visitem-no!”

Leitor dos artigos do diretor-presidente da LBV no jornal A Tri-buna Regional, frisou o conteúdo ecumênico que encontra nos textos: “Para nós, é extremamente im-portante o escritor Paiva Netto escrever para um dos jornais da nossa região missioneira, A Tribuna Regional. (...) Há um lado espiritual muito forte nes-ta região e, com a presença do Paiva Netto, que nós já conhece-mos, obviamente vai acender, ou reacender, no coração de cada um dos missioneiros esta energia da Espiritualidade, que pertence à terra missioneira”.

Reprodução de um dos artigos do escritor Paiva Netto divulgados pelo jornal A Tribuna Regional.

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Lícia Curvello

EcumenismoIrrestritoNotícias de Brasília

Em 27 de dezembro do ano passado foi sancionada a lei no 11.635 que cria o Dia Nacional de Combate à Intolerância Re-

ligiosa, comemorado, pela primeira vez, em 21 de janeiro, na sede do Ministério da Justiça, na mesma data em que se celebra o Dia Mun-dial da Religião.

O evento reuniu representantes de diversas tradições indígenas, líderes das comunidades islâmica, budista e cristã, religiões africanas, além de agnósticos e ateus.

A Legião da Boa Vontade (LBV), que possui na capital fe-

No Dia da Religião,o combate à intolerância.

deral um Templo dedicado à Espi-ritualidade Ecu-mênica, também participou do en-contro, a convite da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH).

Durante a cerimônia, os participantes destacaram a impor-tância do diálogo entre as religiões para a busca da Paz entre os povos e saudaram os representantes da LBV, que exemplifica, desde sua origem, o conceito de Ecumenismo Irrestrito,

isto é, o que apregoa a perfeita confraterniza-ção entre os Seres Hu-manos e Espirituais, independentemente

de suas crenças ou des-crenças. O fundador da

Instituição, Alziro Zarur (1914-1979), já sustentava

este ideal desde a adolescên-cia, quando lançou os fundamentos de sua Cruzada de Religiões Irma-nadas, uma antecipação do relacio-namento inter-religioso.

Sobre esse aspecto o sheik Hajja Ramza Abdullah, do Centro Islâmico do Brasil, ex-pressou: “A importância desse trabalho é de uma magnitude incomensurável. A iniciativa de Paiva Netto é uma atitude lou-vável e eu tenho certeza de que é muito bem vista aos olhos de Deus, Todo-Poderoso. (...). Nós nos colocamos à disposição para todos os eventos que ocorrerem na Legião da Boa Vontade para a Paz, o esclarecimento e a congregação mundial rumo a um mundo melhor”. Ao término, o sheik respondeu à saudação legionária — “Deus está presente! Viva Jesus em nossos co-rações para sempre” —, dizendo:

conJUnto ecUmÊnico da lBV O monumento mais visitado da capital federal, com mais de 17 milhões de peregrinos e turistas, em 18 anos de existência (segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo do Distrito Federal — SDET), está localizado no SGAS 915,lotes 75/76, tel.: (61) 3245-1070.

Da Redação

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Osvaldo Júnior

Sheik Hajja Ramza Abdullah

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“Viva Jesus! Para quem pensa que muçulmano não acredita Nele, a gente quer deixar claro que Ele faz parte da nossa Fé; é o nosso Messias e nós estamos aguardando a Sua se-gunda vinda, como todos os cristãos. Inch Allah (se Deus quiser)”.

Muito a propósito, recordamos a homenagem da comunidade islâmi-ca ao Templo da Boa Vontade, en-tregue na época da inauguração, em 1989. Marrocos foi a primeira nação a agraciar o famoso monumento da LBV, em louvor ao relevante papel que ele desempenha na sociedade. Sua Embaixada no Brasil doou, em nome do governo e da população marroquinos, notável obra de arte, um mosaico de pedras característico da crença islâmica. A Embaixada iraniana também manifestou seu apreço ao presentear o TBV com uma belíssima pintura tradicional

de sua arte, feita em pele de cabra.

O índio Marcos Tere­na, conselheiro da Ordem do Mérito da Fraternidade Ecumênica do ParlaMun-di da LBV, enfatizou que as comunidades indígenas

também têm o propósito de buscar uma liberdade mais ampla. Neste sentido, afirma que “o papel da LBV se torna edificante e respeitoso. Tem um momento que ela se apresenta como um conjunto de forças religio-sas, com experiências anteriores que contribuem para o avanço da Paz e do respeito mútuo entre as pessoas e os povos. Espero que Paiva Netto continue nessa missão, sempre com humildade, pois os desafios são grandes, mas o importante é saber onde queremos chegar”.

“A atmosfera, as idéias do TBV e os conceitos são muito importantes para todos os povos.

Agradeço à LBV a hospitalidade de sempre.”TziporaRimon

EmbaixadoradeIsraelnoBrasil

Em fevereiro do ano passado, a embaixadora de Israel no Brasil, Tzipora Rimon, visitou o Tem-plo da Boa Vontade (TBV), em Brasília/DF, para apreciar a ex-posição Desenhos das Crianças de Terezín, na Galeria de Arte do monumento. A mostra focalizou a experiência desses pequenos durante a Segunda Guerra Mun-dial (1939-1945) na antiga Tche-coslováquia, hoje Eslováquia e República Tcheca, por meio de desenhos e poemas feitos por mais de 15 mil crianças.

Encantada com tudo o que presenciou no TBV, voltou em janeiro deste ano para apresentá-lo aos amigos israelenses Raphael Singer, primeiro-secretário da Embaixada de Israel em Brasília, e Amós Rolnik, diretor dos pro-jetos Povos do Mundo escrevem a Bíblia e Crianças do Mundo Desenham a Bíblia. Rolnik, que veio ao Brasil exclusivamente para conhecer a Pirâmide da LBV, disse estar “muito im-pressionado com o TBV”. Dos 52 países que já visitou, afirma: “Nunca tinha visto e nem estado

Marcos Terena

Comitiva de Israel conhece o Templo da Paz

em um Templo como este. Quero divulgar a idéia do TBV por todo o mundo”.

No Salão Nobre, voltou sua atenção para a Menorah — espécie de candelabro, um dos símbolos mais conhecidos do Judaísmo. Em virtude da proximidade com o dr. Adolpho Bloch, na década de 1970, ficou particularmente feliz ao saber que se tratava de um presente da conhecida família de origem judaica ao diretor-presidente da LBV. Também destacou o fato de estar posicionado ao lado do Corão, livro sagrado dos muçulmanos, e próximo a um quadro iraniano pintado em pele de cabra. “A Paz tem de ser assim”, reconheceu.

A embaixadora de Israel no Brasil, Tzipora Rimon (E), acompanhada de Raphael Singer e Amós Rolnik.

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No Dia da Religião,o combate à intolerância.

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ResponsabilidadesocialEmpresas abrem espaço para a mão-de-obra de presidiários

Uma das questões a se discutir com muita atenção no Brasil de hoje, no âmbito da segu-rança pública, é o sistema

carcerário. O cidadão inserido nesse meio vê suprimidos direitos fundamentais como a liberdade e o voto — conseqüência das infrações que cometeram. Muitos na socie-dade estabelecem que o detento

na reabilitaçãoEsperança

deva se reabilitar por intermédio do isolamento total, considerado um instrumento eficaz na manutenção da segurança. Entretanto, ao cum-prir a pena, o preso nem sempre se mostra disposto a melhorar a conduta, ou pior: na falta do que fazer lá dentro, muitos reincidem no crime.

Diversas iniciativas de organi-

zações da sociedade civil têm aju-dado a transformar quem entra na cadeia em uma pessoa melhor, re-educada e ressocializada, por meio, por exemplo, da profissionalização do detento. Dados do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) apontam que, nos locais onde as medidas socioeducativas são aplicadas, as taxas de reincidência no crime são de 20%, enquanto nas peni-tenciárias convencionais chegam a 60%.

Exemploquevemdaprópriavida

A penitenciária de Hortolândia, próxima a Campinas, interior de São Paulo, é uma referência de como essas medidas podem ser efetivamente aplicadas. O casal Fabiana Campos e Frederico Camargo Chibim, donos da Vitória Artesanato, há sete anos oferece qualificação profissional, preparando o preso para o mercado de trabalho.

O interesse deles em ajudar os detentos surgiu há quase uma déca-da, quando descobriram que o feto gerado no útero de Fabiana tinha hidrocefalia e nasceria com malfor-mação. “Perguntei ao médico o que ele faria como pai nessa situação. Ele me respondeu que abortaria, ‘porque é uma vida que não vale a pena’”, recorda Fabiana. A mãe, porém, não desistiu: deu à luz uma criança que viveu por oito meses. “Aprendi com esse exemplo que toda vida vale a pena, por isso demos seguimento a esse traba-lho. Muitas vezes, a sociedade faz a mesma coisa com as pessoas

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que estão atrás das grades e as condena”.

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Por acreditar nessa idéia, o em-presário Selmo Scremin, da em-presa Milênio Distribuidora, investe no projeto de profissionalização de detentos da unidade penitenciária de Hortolândia. Visitando o presídio, conta o que testemunhou: “A reali-dade é um confinamento em espaço totalmente reduzido. Alguns deten-tos forjam doenças para caminhar da cela até a enfermaria, e esse foi um dos relatos que mais nos choca-ram”. No regime fechado, os presos ficam em cárcere 21 horas por dia, e há aqueles que não chegam a receber visitas, ou porque a família mora em outra cidade ou porque os abandonou. “Por esse motivo, dão valor ao emprego. Nós nos surpreen-demos muito com o empenho e com o respeito que tivemos deles”, acrescenta Frederico Chibim.

A Milênio Distribuidora, em-presa dos irmãos Selmo e Sérgio Scremin, tira o preso da cela e o leva para o ambiente de trabalho, remunerando-o. Para participar dos programas, os 1.200 internos da unidade de Hortolândia passam por uma triagem, a começar pelo critério de boa conduta. Com base nisso, são selecionados aqueles mais aptos a exercer as funções.

Entre outros benefícios, a inicia-tiva ajuda na redução da pena em troca da prestação de serviços. “As condições sociais que os trouxe-ram ao presídio são várias, mas a condição de saída é o foco de vida deles; eles não querem perder o emprego”, pondera o empresário, que tem como atuação basilar a dis-tribuição de materiais que agregam valor cultural.

“Imagine o currículo de uma pessoa de 40 anos de idade, 10 de cadeia e experiência profissional zero. Alguma empresa no País o empregaria?”, questiona Selmo. Os presos formam equipes de ma-nutenção de máquinas, consertam o telhado e fazem toda a conservação do local onde se situa a empresa dos irmãos Scremin; além disso, são bons encanadores e cozinheiros — preparam alimentos para eles e para a área administrativa do presí-

dio. O resultado dessa ação, conta o empresário, mudou também sua forma de ver a relação emprega-dor/empregado, antes restrita às finanças. “Hoje recebo muito mais do que pago: não só pelo trabalho, mas para ter certeza de que as pessoas que estão com a Milênio na penitenciária vão sair profissio-nalizadas e com cultura”.

“Chegava a esquecer que estava num presídio; por algumas horas me sentia em liberdade espiritual”, conta L., que não quis se identificar. Ele cumpriu 25 anos de prisão, tendo passado por várias unidades prisionais, e viu naquela oportuni-dade a esperança de dias melhores na reabilitação. [N. L.]

“Aprendi que toda vida vale a pena.”

FabianaCamposChibim

incentiVo Os empresários Sérgio (E) e Selmo Scremin, da Milênio Distribuidora, apostam na idéia de investir na mão-de-obra de detentos. Ao lado, galpão de armazenamento de produtos da empresa.

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que se diga que, naquela época, Minas Gerais era o purgatório dos brancos, o inferno dos negros e o paraíso dos mulatos. Quase todos os artesãos eram mulatos. O branco não trabalhava, o negro era escravo e o trabalho livre era normalmente feito por mulatos”.

O artista viveu na antiga Vila Rica (hoje Ouro Preto), no período da descoberta do ouro e da forte religiosidade, era filho de um por-tuguês com uma escrava liberta, nasceu livre e com o pai aprendeu o ofício de entalhador. É sobre esse contexto que se desenvol-

veu a exposição itinerante “Aleijadinho e seu tempo — fé, engenho e arte”, que recebeu público recorde de visitas no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em São Paulo/SP, no ano passado: cerca de 150.600

pessoas (Fonte: CCBB-SP). Isso após ter alcançado sucesso de visi-tação também em Brasília e no Rio de Janeiro.

AleijadinhoO GRANDE BARROCO BRASILEIRO

Marta jabuonski, curadora da Galeria de Arte do Templo da Boa Vontade.

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al Aleijadinho recebeu influência de Francisco Xavier de Brito, no início da carreira, mas logo de-monstrou em seus trabalhos grande liberdade de expressão. Como era muito religioso, gostava de estudar a vida dos santos e carregava sempre uma Bíblia na mão. Era um jovem alegre, mas mudou radicalmente o comportamento social quando uma doença passou a deformá-lo.

A mostra situou o lugar — Minas Gerais —, a paisagem e os índios que lá viviam. Desenvolveu-se no local o ciclo do ouro, com enormes descobertas de jazidas, o que tornou a região a maior produtora desse tipo de metal no mundo. Só para se ter uma idéia, em 70 anos, foi extraído de suas reservas mais do que o resto do Planeta produziu em dois séculos.

A exposição suscitou alguns questionamentos e reflexões sobre esse tempo e, além disso, pôde-se conhecer mais a respeito da sensi-bilidade desse mestre entalhador. O que é possível notar na maquete da

Quem foi Antônio Francisco Lisboa — o Aleijadinho? O museólogo Fábio Ma­galhães responde: “É um

personagem misterioso até hoje, teve uma vida longa para a época e foi bastante ativo. E a cada dia descobrem-se indícios da passagem do Aleijadinho, sobretudo nos arquivos das nossas paró-quias, seja pelos recibos de pagamentos, discussões de empreitadas, cursos que deveria realizar, pagamentos a auxiliares que contratou”.

Na seqüência, comenta o estu-dioso: “Era um mulato, aliás, é bom

ArtenaTelaExposição exalta o artista mineiro

Antônio Francisco Lisboa

Marta jabuonskiespecial para a BOA VONTADE

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Igreja de São Francisco de Assis (em Ouro Preto) ou com os Sete Passos da Paixão e os 12 Profetas, do San-tuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo, suas mais famosas criações.

Destaque ainda para a sala espe-cial montada com obras originais de Aleijadinho e outras das quais não se tem certeza serem de sua lavra. Para falar da religiosidade mineira, pôde-se ver os oratórios e um con-junto expressivo de fotografias de Marc Ferrez e do Gotero.

Fábio Magalhães diz que é pos-sível traçar um paralelo das obras do mestre e dos seus contemporâneos, como Xavier de Brito, Francisco Servas e Mestre Piranga. “É inte-ressante perceber que o Aleijadinho não é um fenômeno isolado. Ele viveu numa época excepcional, na qual Ouro Preto, São João del-Rei, Mariana e Sabará foram núcleos urbanos que cresceram numa velo-cidade extraordinária. Havia mais orquestras em Ouro Preto do que em Lisboa/Portugal.”

O curador da mostra lembra que a descoberta de diamante na zona de Diamantina, Cerro Conceição do Mato Dentro, tor-nou o Estado o maior produtor também dessa pedra preciosa. “Somando diamante e ouro, imagina-se como era intensa a

vida cultural e social da época. Toda produção ia para Ouro Preto e pelo caminho real para Paraty, mais tarde para o Rio de Janeiro, de lá para Lisboa. Isso enriqueceu Dom João V, que reconstruiu Lisboa e transformou Portugal em uma nação influente.”

O próprio Karl Marx afirma no livro O Capital que o ouro brasilei-ro ajudou a financiar a Revolução Industrial Inglesa.

O museólogo diz que o Barroco brasileiro é a matriz de todos os outros movimentos que surgiram em seqüência, como Maneirismo, Renascimento e Barroco.

No período do Descobrimento do Brasil, o Barroco era a lingua-gem da época na Europa, expan-dindo-se para o norte da Espanha, para a Alemanha, para a Áustria e para o sul, Espanha e Portugal. No Brasil há exemplos magníficos nos Estados de Pernambuco, Bahia, Rio

de Janeiro e São Paulo (apesar de mais pobre).

Minas traz um Barroco tardio, porque foi ocupada no fim do sé-culo 17, e este é o diferencial entre o Barroco nordestino, que é muito português, e o mineiro, que recebe influências da Índia, da África e do Rococó.

Nos trabalhos de Aleijadinho nota-se o chamado Barroco da Baviera, da Áustria, além do por-tuguês. A Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, onde o artista foi o arquiteto e responsável por todo o projeto, bem como de grande parte da decoração interna, é considerada pelo ex-diretor do Museu do Louvre, em Paris, Jean Roger Galard, a mais importante obra arquitetônica já realizada fora da Europa nesse estilo.

Fábio Magalhães é modesto ao falar do êxito da exposição “Alei-jadinho e seu tempo – fé, engenho e arte”, dando crédito a toda a equi-pe pelo sucesso e ressaltando o nome de Ana Helena Curtis, produ-tora e responsável pela montagem da mostra.

Aleijadinho

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Respeitem os idosos!

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Para aqueles que, como este que vos escreve, já atingi-ram idade de serem cha-mados idosos, custa aceitar

os novos tempos quando, cons-tantemente, os mais velhos são desrespeitados. Vai longe a época em que o chefe de família era o primeiro a sentar-se à mesa e o primeiro a ser servido; quando os jovens, nas conduções, cediam o lugar a uma pessoa com mais idade; ou numa reunião caseira, ninguém interrompia a fala dos mais velhos. Tudo isso é coisa do passado e, se um idoso relembrar algum fato desses, por certo será tachado de ultrapassado pela qua-se maioria dos jovens, que não lhe dará a menor importância.

Se isso já ocorre em relação aos pais, a situação torna-se ainda mais preocupante quanto ao relaciona-mento com os avós, quase sempre tidos como chatos e fora da reali-dade. Triste de um deles se indagar

Dignidade e zelo para com a Terceira IdadeMelhorIdade

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Mario de Moraesespecial para a BOA VONTADE

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Page 85: Revista Boa Vontade, edição 221

Respeitem os idosos!ao neto, que sairá à noite, aonde ele vai e a que horas voltará.

São outros tempos. É preciso aceitar. E ficar feliz quando enve-lhece e é tratado como um membro querido da família. Isso porque, em muitos casos, o idoso é visto como um problema, principalmente se é vítima de enfermidade.

Nas camadas mais pobres, em geral ele é levado para um asilo, onde passa a viver longe do amor dos seus. Se a família do idoso tem posses e falta paciência com as esquisitices do pai ou do avô, facil-mente o envia para uma moderna casa de repouso, em que as diárias são caríssimas. E acha que, assim, cumpriu seu dever.

Diferentesformasdeviolência

Em excelente trabalho realizado pela dra. Maria Cecília de Souza Minayo, do Centro Latino-Ame-ricano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves), da Fundação Oswaldo Cruz (RJ), fica-se sabendo que acidentes e violências são a sexta causa de morte no Brasil de pessoas com idade superior a 60 anos. Deixando de lado aqueles que sofrem algum tipo de acidente, como queda, atropelamento, as violências contra os idosos são bem abrangentes e disseminadas no País, com abusos físicos, psicológicos, sexuais e fi-nanceiros, além da negligência no atendimento.

De acordo com esse trabalho, a faixa de 60 a 69 anos, que constitui cerca de 10% da nossa população, é a mais atingida. Numa pesquisa de 1945, feita pelo antropólogo Leo

Simmons, sobre como a maioria dos idosos vê seu futuro, ele chegou à conclusão de que as pessoas mais velhas desejam viver o máximo possível; terminar a vida de forma digna e sem sofrimento; encontrar ajuda e proteção para a progressiva diminuição de capacidades; conti-nuar a participar das decisões da comunidade; prolongar ao máximo conquistas e prerrogativas sociais, como propriedades, autoridade e respeito. Infelizmente, temos de concordar, são poucos os que rea-lizam esses desejos.

No caso brasileiro, as violências contra essa faixa etária se expres-sam em tradicionais formas de dis-criminação, como os atributos que comumente lhe são impingidos: “descartáveis” e “peso social”. Por parte do Estado, o idoso é respon-sabilizado pelo custo insustentável da Previdência Social e, ao mesmo tempo, sofre enorme omissão

quanto a políticas e programas de proteção específicos. É bem verdade que, em 1994, foi promul-gada a Lei Federal 8.842 buscando ordenar a proteção aos idosos. No entanto, como no caso de muitas leis no Brasil, a implementação é ainda precária. Mas nada se iguala ao que ocorre, muitas vezes, no interior dos próprios lares, onde o choque de gerações, problemas de espaço físico e dificuldades finan-ceiras costumam se somar a um imaginário social que considera a velhice como “decadência”.

Em outro trecho do trabalho, a dra. Maria Cecília retrata, de modo real, a situação dos idosos. Em levantamento realizado no período de 1980 a 1998, por especialistas do Claves, onde a pesquisadora trabalha, verificou-se que em 1998 morreram 13.184 idosos vítimas de acidentes e violências no Brasil, o que significou cerca de 37 óbitos

melhor idade Esta é a denominação carinhosa que os idosos recebem na Legião da Boa Vontade. Em todo o Brasil, programas e lares para vovôs e vovós resgatam a auto-estima, oferecendo-lhes atendimento médico, lazer e cultura.

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por dia. Felizmente, observa-se que esses índices estão caindo, a cada ano, suplantados por óbitos por doenças infecciosas e parasitárias.

Os números obtidos são sur-preendentes. Embora a principal causa de falecimentos entre os idosos de 60 anos ou mais, no período estudado, tenha sido por acidentes de trânsito e transporte, ela vem diminuindo de intensidade, ao contrário das quedas e homicí-dios, que aumentaram. Outro dado preocupante é que o suicídio entre os idosos, naquele período, teve aumento de 6,7% para 7,8% do total de mortes.

Na pesquisa realizada pela dra. Minayo, ela destaca seis unidades da Federação como as mais vio-lentas para essa faixa etária: Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Roraima e Rio de Janeiro. E informa que o número de óbitos na Terceira Idade por causa da violência em nosso País não é conclusivo.

O sistema de informação hos-pitalar do SUS esclarece que, em 1999, registraram-se 69.637

internações por violências de todo tipo. Estudos de especialistas no assunto concluíram que a maneira mais freqüente de violência contra os mais velhos ocorre no âmbito familiar. Cerca de 90% dos casos de maus-tratos e negligência con-tra eles acontecem em seu próprio lar, e 2/3 dos agressores são filhos ou cônjuges das vítimas. O estudo também revela que, em primeiro lugar, aparecem como agressores os filhos homens, mais que as filhas. A seguir, vêm noras e genros ou um dos cônjuges. O idoso é agredido mesmo quando é ele quem, por meio da aposentadoria ou econo-mias, sustenta a casa.

Como livrá-lo da violência? A dra. Maria Cecília informa: “De-vem ser objeto de atenção: políticas públicas que redefinam de forma positiva o lugar do idoso na so-ciedade e privilegiem o cuidado, a proteção e sua subjetividade, tanto em suas famílias como nas institui-ções, tanto nos espaços públicos como nos âmbitos privados (...). No caso dos serviços de saúde, é preciso que os profissionais, tanto

os dedicados à atenção primária como os do setor de emergência, se preparem, cada vez melhor, para a leitura da violência nos sinais deixados pelas lesões e traumas que chegam aos serviços ou levam a óbito. Em vários estudos demons-tra-se o pouco envolvimento das equipes para ir além dos problemas físicos, mesmo quando em seu diag-nóstico fica evidente a existência de violências como causa básica das ocorrências. A lógica que define seu não-envolvimento costuma ser a consideração do problema de maus-tratos como de âmbito priva-do, portanto, fora da competência da medicina (...)”.

E conclui com eloqüência a pesquisadora: “Em todas as formas de aumentar o respeito à população mais velha, em todas as políticas públicas voltadas para sua prote-ção, cuidado e qualidade de vida, precisa-se considerar a participa-ção dos idosos, grupo social que desponta como ator fundamental na trama das organizações sociais do século 21. Ricos ou pobres, ativos ou com algum tipo de depen-dência, muitos sustentam famílias, dirigem instituições e movimentam um grande mercado de serviços que vão de turismo, lazer, estética e cosmética a produtos e assistência médica e social”.

Seria ótimo se os mais jovens, que não respeitam ou agridem os idosos, compreendessem que, se chegarem a envelhecer, terão os mesmos problemas de seus pais ou avós. Quem sabe, assim, agissem de forma mais justa e correta. Vale a pena refletir no assunto! [M. M.]

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mento oferecido pela Instituição:

“É a minha primeira visita a este lar da LBV. Quero deixar consignado que fiquei muito bem impressionado com o trabalho de excelência aqui desenvolvido. Para-benizo toda a equipe pela dedicação aos idosos”. (Alberto Pontes Garcia Júnior, juiz de Direito do Idoso)

“Acompanhei o dr. Alberto e

mais uma vez percebi o zelo e a dedicação que são dados aos ido-sos. Gostaria de parabenizar todos os funcionários e dirigentes pelo trabalho que desenvolvem e que, sem dúvida, atende o idoso não só materialmente, mas emocional e

L A R D A L B V P A R A I D O S O S E M V O L T A R E D O N D A / R j

“Trabalho de excelência”

espiritualmente”. (Andréa Araújo, promotora de Justiça)

“Em visita à Instituição, fiquei maravilhada com o trabalho de-senvolvido e animada por ter tido a oportunidade de observar que, havendo boa disposição e vontade de acertar, é possível alcançar excelentes resultados. Desejo que Deus continue a abençoar esta bela atividade e que o município de Volta Redonda possa contar, por vários e vários anos, com o maravilhoso trabalho da LBV”. (Cláudia Lage, secretária de Gabinete)

Pensando na valorização e no bem-estar dos vovôs e vovós em situação de vulnerabilidade social, a Legião da Boa Vonta-

de de Volta Redonda/RJ se empenha com seriedade para satisfazer às necessidades deles, proporcionando-lhes qualidade de vida e respeito.

Para cumprir esse compromisso, a LBV utiliza a estrutura ampla e moderna do Núcleo e Lar Ássima e Elias Zarur para Idosos, que é ampla-mente reconhecido por autoridades e personalidades do município. Em recente visita ao local, o juiz da Vara da Infância, da Juventude e do Idoso dr. Alberto Pontes Garcia Júnior, a promotora de Justiça Andréa Araújo e a secretária de Gabinete da Vara da Infância, da Juventude e do Idoso, Cláudia Lage, registraram as seguintes impressões sobre o atendi-

Andréa Araújo (E), Cláudia Lage e dr. Alberto Pontes Garcia júnior, juiz da Vara da Infância, da juventude e do Idoso, em visita ao Núcleo e Lar para Idosos da LBV.

Selma Correa

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V I S I T E , A P A I X O N E - S E E A j U D E A L B V ! núcleo e lar Ássima e elias Zarur para idosos, da lBV — Av. Nossa Senhora do

Amparo, 5.079, Santa Rita do Zarur, Volta Redonda/Rj, Brasil — Tel.: (24) 3346-7150

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Page 88: Revista Boa Vontade, edição 221

Desde dezembro do ano passado — quando foi confirmada a primeira morte por febre ama-rela silvestre no Brasil — o

Ministério da Saúde tem alertado a população sobre a prevenção e transmissão da doença. A advertên-cia é dirigida principalmente aos que vivem em regiões rurais (Leia o item “Áreas de risco”). Segundo dados do órgão público, foram aplicados, até meados de fevereiro, cerca de 7,3 milhões de doses da vacina.

Na forma silvestre da doença, a transmissão do vírus ocorre quando pessoas saudáveis, que não tenham tomado a vacina, ao fazer trilhas, procurar cachoeiras ou mesmo estar em ambiente rural, são picadas pelos mosquitos haemagogus e sabethes. No meio urbano, onde não era regis-trado caso de febre amarela desde 1942, a transmissão é feita pelo aedes aegypti, o mesmo mosquito

responsável por espalhar a dengue. Para se prevenir da doença, é preciso estar bem informado e ficar atento também a estes fatores:

Sintomas — Febre, dor de cabe-ça, calafrios, náuseas, vômito, dores no corpo, icterícia (a pele e os olhos ficam amarelos) e hemorragias (de gengivas, nariz, estômago, intestino e urina).

Transmissão — A febre amarela é transmitida por meio da picada de mosquitos transmissores infectados. A transmissão direta de pessoa para pessoa não existe.

Tratamento — Não há um específico. O tratamento é apenas sintomático e requer cuidados na assistência ao paciente que, sob hospitalização, deve permanecer em repouso com reposição de líquidos e das perdas sanguíneas, quando indi-cado. Nas formas graves, o paciente deve ser atendido em uma Unidade de Terapia Intensiva. Se o paciente não receber assistência médica, po-derá morrer.

Prevenção — A única forma de evitar a febre amarela silvestre con-siste na vacinação contra a doença. A vacina é gratuita e está disponível nos postos de saúde em qualquer época do ano. Devem receber a dose pessoas que residem ou viajam para

áreas consideradas de risco. Vale destacar, também, que a vacina só passa a fazer efeito 10 dias após sua aplicação. Pode ser tomada a partir dos 9 meses e sua validade é de 10 anos. É contra-indicada a gestantes, pessoas com o sistema imunológico debilitado e a quem é alérgico a gema de ovo*.

Áreas de risco — Fique atento à zona rural das Regiões Norte e Centro-Oeste, Estado do Maranhão e parte dos Estados do Piauí, da Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde há casos confirmados em humanos ou circulação do vírus entre animais (macacos).

AfebreamarelanosúltimoscincoanosNúmero de casos confirmados e mortes

registradas desde 2002.

CasosMortes

64

15

5 3 2 56

23

3

3 2 6

2002

2003

2004

2005

2006

2007

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Walter PeriottoFonte: www.saude.gov.br

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F E B R E A M A R E L A

Não vacile,vacine-se

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Page 89: Revista Boa Vontade, edição 221

Não vacile,vacine-se

No Brasil, onde historica-mente o Estado aparece como um fator fundamen-tal para o estabelecimento

do que se entende por identidade nacional, em termos culturais, uma iniciativa recente lançada pelo Mi-nistério da Cultura (MinC) promete desesconder o País e reconhecer os ritos vivos de seu povo. É o que se espera com os Pontos de Cultu-ra, ação prioritária do Programa Cultura Viva, que começou a ser implantado em 2004. Esse aspecto dá esperanças quanto ao acesso universal aos bens culturais, não só na condição de consumidores, mas também de produtores de cul-tura. Além disso, permite inclusão de novas tecnologias que podem propiciar uma verdadeira explo-são transformadora na sociedade brasileira.

O resgate da produção cultural será buscado a partir de iniciativas que envolvem a comunidade em atividades de arte, música, cida-dania e economia solidária. Essas organizações são selecionadas por meio de edital público e passam a receber recursos do Governo Federal para potencializar seus trabalhos, seja na compra de ins-trumentos, figurinos, equipamentos

Programa Cultura Vivamultimídias, seja na contratação de profissionais para cursos e oficinas, produção de espetáculos e eventos culturais, entre outros.

O Ponto de Cultura é exata-mente esta parceria entre Estado e sociedade civil, que recebe a quantia de R$ 185 mil reais para executar seu projeto. “A rede cres-ceu. Eram 450 pontos em 2006, agora são 680. (...) É um plano de investimento que prevê, até 2010, 20 mil Pontos de Cultura em atividade no Brasil, em diversos formatos”, anuncia o dr. Célio Turino, da Secre-taria de Programas e Projetos Culturais, vinculado ao MinC, responsável por essas ações.

Parte da verba recebida é usada para aquisição de software livre, composto por mi-crocomputador, miniestúdio para gravar CD, câmera digital, ilha de edição e o que mais for necessário. Neste caso, o papel do Ministério da Cultura é o de agregar recursos e novas capacidades a projetos e instalações já existentes. Também oferece equipamentos que ampli-ficam as possibilidades do fazer artístico e recursos para uma ação contínua nas comunidades.

Colaboração: Marilisa Bertolin

“A alma da Humanidade é a cultura”, frase do dr. Célio Turino.

Fonte: www.cultura.gov.br

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Música e teatro são duas amostras das manifestações culturais registradas pelo programa.

CidadaniaRedescobrimento cultural do Brasil

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Page 90: Revista Boa Vontade, edição 221

A afirmação de que Ciência e Espiritualidade podem, sim, caminhar juntas tem mexido com os meios aca-

dêmicos nos últimos anos. Entre os que defendem essa posição está um dos mais destacados físicos da atualidade, o indiano Amit Goswami, destacado palestrante do I Fórum Mundial Espírito e Ciência, que a Legião da Boa Vontade (LBV) promoveu no ano de 2000, em seu ParlaMundi, em Brasília/DF, Brasil. Para ele, o entendimento da verdadeira natu-

RevoluçãoO renomado físico Amit Goswami explica como as teorias da Física Quântica têm aproximado a Ciência da Espiritualidade

reza da criatividade mostra que é falha também a crença segundo a qual cientistas só trabalham com idéias racionais, matemáticas. Na visão do físico, eles precisam da intuição, de visões criativas para desenvolver a Ciência. E ele não está só nesse pensamento, basta relembrar as palavras do célebre físico judeu-alemão Albert Eins­tein (1879-1955): “Não descobri a Teoria da Relatividade apenas com o pensamento racional”.

Amit, que reside nos Estados Unidos, é Ph.D. em Física Quân-

tica e foi pesquisador e professor titular de física teórica da Univer-sidade do Oregon (EUA), por mais de três décadas. Ele costuma dizer que fez o caminho contrário, isto é, partiu do aspecto científico para o espiritual, pela ótica da Física. Dos 14 aos 45 anos manteve-se em uma filosofia materialista, na qual cresceu e obteve sucesso pro-fissional. Apenas quando começou a trabalhar com a questão da medi-ção quântica, é que vislumbrou o paradoxo que lhe era apresentado: “Se a consciência é um fenômeno

em curso

Fórum Mundial Espírito e Ciência, da LBVEntrevista exclusiva

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cerebral, obedece à

Física Quânti-ca, como a obser-

vação consciente de um evento pode causar o colapso da onda de possibilidades levando ao evento real que estamos ven-do? A consciência em si é uma possibilidade. Possibilidade não pode causar um colapso na pos-sibilidade”.

Desde então, vem dedicando-se ao assunto, tratado por ele em palestras pelo mundo e em livros de sucesso, a exemplo de Física da Alma e O Universo Autocons-ciente. Em nosso País já esteve por diversas vezes e dele guardou as melhores referências: “Sinto-me ótimo. A cultura brasileira sempre tem parecido aberta a mim quando se refere a assuntos espirituais, vida após a morte e técnicas de tratamento alterna-tivo, temas sobre os quais escre-vo”. Amit relembra, com carinho, a participação no Fórum Mundial

Espírito e Ciência, da LBV, con-siderado um dos maiores eventos do gênero no mundo: “Agradeço à Legião da Boa Vontade esse apoio. Estou feliz de estarmos juntos nessa monumental mudan-ça de paradigma”.

Em entrevista no ano de 2001, Amit afirmou que “(...) se esses estudos se desenvolverem, no início do terceiro milênio, Deus logo será finalidade da Ciência, e não só da Religião”.

Falando com exclusivida-de à revista BOA VONTADE, Goswami comenta essa mudan-ça de paradigma e as principais evidências sobre a existência do que chama consciência cósmica.

Para o físico indiano, a Física Quântica revolucionou ao trazer com ela uma mudança de conceitos da Física Clássica, mostrando que o tempo é variável, o movimento descontínuo, que existe interco-nectividade não localizada e que a consciência pode influenciar nos acontecimentos. “Potenciais cerebrais têm sido transferidos de um sujeito para outro enquanto meditam juntos, e isso ocorre sem nenhum sinal eletromagnético, su-gerindo conexão sem sinal ou não local entre eles. A cura espontânea, para a qual existem dados extensos, mostra-se possível por causa dos saltos quânticos criativos das pes-soas. Dados científicos explicariam a reencarnação, as experiências de quase-morte e canalizações, a eficácia da homeopatia e da acu-puntura.”

Nesse raciocínio, o físico ques-tiona a teoria evolucionista de Charles Darwin (1809-1882)

que, segundo ele, esclareceria alguns estágios homeostáticos da evolução, como o fato de as espécies adaptarem-se às mudan-ças ambientais, mas não elucida como uma espécie torna-se outra. Amit Goswami acredita que essas “lacunas fósseis”, estágios muito rápidos da evolução, sugeririam um salto quântico, que uma cons-ciência interveio de forma objetiva nesse mecanismo.

E conclui: “O Deus que a Física Quântica possibilita redescobrir é objetivo”. Sob esse fundamento mudam-se importantes conceitos da medicina e da filosofia, que podem ser muito úteis ao Ser Humano. “Ele é o agente causal por detrás da nossa criatividade e Espiritualidade, que, na verdade, é criatividade interior. A dança da criação é entre nosso interior e Deus.” [L. S. M.]

Amit Goswami participou do Fórum Mun-dial Espírito e Ciência, da LBV, em outu-bro de 2000, no Parlamento Mundial da Fraternidade Ecumênica, em Brasília/DF, considerado um dos maiores eventos do gênero no mundo. Sobre a iniciativa, destacou: “Agradeço à LBV esse apoio. Estou feliz de estarmos juntos nessa mo-numental mudança de paradigma”.

“Deus é o agente causal por detrás da nossa criatividade e Espiritualidade.”

João

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Revoluçãoem curso

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Page 92: Revista Boa Vontade, edição 221

juliano Carvalho Bento, Bacharel em Física pela Unicamp

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se fundamenta no

Quando a

Alma AmorDurante a vida, não é raro

submetermos nossos pensamentos a idéias opostas àquilo que te-

mos como valores honrosos, como Família, Solidariedade e Amor. Desta maneira, chegamos a um ponto no qual o risco de perder a fé na Humanidade, portanto, em nós mesmos, encontra-se muito elevado. Podemos observar isso quando, no campo da vivência humana, somos compelidos, muitas vezes, a nos ilu-dir e admitir, primeiro, um quadro de horrores propiciado por uma cultura do medo de tudo e de todos, seguido de uma satisfação de nossas carên-cias no culto ao materialismo.

Contudo, observar esse show de inversão de valores e esperar que o planeta se torne melhor, por si só, é como imaginar a existência de uma

árvore sem que ao menos se plante uma semente. Do mesmo modo, se ampliamos nossa analogia ao saber acadêmico e também reli-gioso, torna-se uma alternativa por vezes acomodada de querer fazer conhecimento para nossos próprios interesses, ambicionando que, com tais idéias circunscritas, ganhemos o mundo e o modifiquemos.

Essa semente não poderá estar nas mãos do saber e do sentir hu-manos, se as pessoas não pensarem em plantá-la e adubá-la de maneira que gere frutos para alimentar toda a Humanidade, compreendida por indivíduos dotados de emoção e ra-zão. É indispensável o entendimento da necessidade de aplicar o saber de modo que se compreenda, em pleni-tude, sua real função para, com isso, torná-lo ainda mais sublime. “(...) É

AçãoJovemLBVOpinião dos Militantes de Boa Vontade

juliano Bento

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Page 93: Revista Boa Vontade, edição 221

imperioso que se junte ao esforço mental o das mãos; à filosofia, o cabo da enxada (...). Não basta conceber, tem de realizar. Os novos tempos exigem maior presteza, posto que, agora, o problema implacavelmente alcança bilhões de pessoas, cuja paciência não é inesgotável. Mesmo que atingisse um único Ser vivente, já seria um escândalo”, conceitua o jornalista e escritor Paiva Netto em seu livro Reflexões e Pensamentos — Dialética da Boa Vontade (1987), trecho reproduzido no artigo “Oito Objetivos do Milênio”, constante da revista Globalização do Amor Fraterno, inicialmente editada em quatro idiomas, entregue a chefes de Estado e demais representações pre-sentes à Reunião do Alto Segmento da ONU, em Genebra (Suíça), em julho de 2007.

Por isso mesmo se faz neces-sário pensar para agir, ou seja, raciocinar para saber o melhor modo de atuar. Por isso, quando nos fundamentamos em um Saber Divino, que podemos compreender como Amor, surge uma Ciência que busca a grandeza da Verdade, demonstrando humildade perante a Natureza, que é seu objeto de estudo e pesquisa; uma Filosofia que busca trazer o indivíduo para as discussões, colocando-o como a causa do pensar; uma Política que não pensa no imediatismo para proveito de quem a faz, mas, sim, no cultivo das relações humanas, trazendo benefícios para todos; e, por fim, uma Religião que mostra o caminho necessário para que visua-lizemos e possamos pôr em prática os ideais venturosos do Ser.

A respeito disso, tão bem definiu

pioneiramente o saudoso fundador da Legião da Boa Vontade (LBV), o radialista, poeta e ativista social Alziro Zarur (1914-1979) ao afir-mar: “Religião, Ciência, Filosofia e Política são quatro aspectos da mesma Verdade, que é Deus”.

Globalizar o Amor Fraterno é também globalizar o conhecimento eterno em prol do próprio conhe-cimento e dos que o buscam, con-forme explica Paiva Netto em sua mensagem às Nações Unidas. Fazer religião, ciência, filosofia e política para fortalecer a acomodação peran-te as contradições que se formam diante de nós significa rumar para nosso fim, portanto, dessas frentes de ação do conhecer humano. Não é necessária uma lógica matemática para demonstrar que para todo efeito há uma causa. Logo, sem novas causas em favor dos bons efeitos, idéias falhas emergem, acarretando um abismo moral e intelectual cada vez maior, afastando-nos do brado “viver em um mundo melhor”.

A estratégia mais aceita, por-tanto, para a Alma alçar vôos maiores, sem atrofiar as asas e cair, não é pensar pelo prisma do ego, mas, sim, pelo do Amor de Jesus, o Cristo Ecumênico, por trazer a personificação maior do amar, manifestada no Seu Mandamento Novo (quadro ao lado), visto que é superior ao próprio “eu”. Isso por-que nos abrange e nos modifica para a real necessidade de existirmos no Universo e de o Cosmos existir. Somente assim entenderemos que, da mesma forma que não se limpa sujeira com lodo, não se ama e vis-lumbra a Verdade permanecendo na indiferença e na omissão.

Ensinou o Cristo Ecumê-nico: “Novo Mandamento vos dou: Amai-vos como Eu vos amei. Somente assim podereis ser reconhecidos como meus discípulos, se tiverdes o mes-mo Amor uns pelos outros. (...) O meu Mandamento é este: que vos ameis como Eu vos tenho amado. Não há maior Amor do que doar a sua pró-pria Vida pelos seus amigos. E vós sereis meus amigos se fizerdes o que Eu vos mando. E Eu vos mando isto: amai-vos como Eu vos amei. Já não mais vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto aprendi com meu Pai vos tenho dado a conhecer. Não fostes vós que me escolhestes; pelo contrário, fui Eu que vos escolhi e vos designei para que vades e deis bons frutos, de modo que o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vos conceda. E isto Eu vos mando: que vos ameis como Eu vos tenho amado. (...) Porquanto, da mesma forma como o Pai me ama, Eu também vos amo. Permanecei no meu Amor”.

TratadodoNovoMandamentodeJesus(ReunidoporPaivaNetto,con-soanteoEvangelhodoCristodeDeus,segundoJoão,13:34

e35;15:12a17e9)

Amor

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A sociedade mundial está doente. Para chegar a esse diagnóstico, basta ver que a exclusão social grassa, a dependência tóxica

assola gerações e a violência que atinge o lar, a escola, as ruas, está em toda parte. O debate sobre tais ques-tões nos leva a refletir na profundida-de da educação. É importante termos a consciência de que não se pode desenvolver o organismo social sem mudar a cultura vigente; o Ser Hu-

Noys Rocha, representante da LBV de Portugal.

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Noys Rochade Portugal

mano carece do alimento espiritual para que não falte o material. “Mais do que educar, é preciso reeducar”, como propõe a LBV.

É fundamental que haja novo paradigma, afinal tudo é gerado pelo Espírito do Ser Humano, portanto, necessário se faz atuar nele. É nesse panorama que se insere a Pedagogia do Cidadão Ecumênico (PCE), Pe-dagogia do Afeto, linha educacional preconizada pelo diretor-presidente da Legião da Boa Vontade, José de Paiva Netto, que alia intelecto, sen-timento e Espiritualidade.

Essa linha educacional vai muito além dos períodos letivos, porque não se restringe ao ensino formal, estende-se ao não formal, ao nosso cotidiano, na trilogia escola-família-comunidade. Paiva Netto, em Re-flexões e Pensamentos — Dialética da Boa Vontade, nos adverte que “a escola não substitui o lar”. A pre-

sença dos pais, acompanhando os filhos nos estabelecimentos de ensino, é essencial para um bom desempenho escolar, pois fortalece a auto-estima dos educandos e contribui para que os valores de conduta aprendidos no colégio te-

nham ressonância no ambiente familiar. Assim, a bagagem de ex-periência dos pais ou responsáveis pode ser partilhada com o corpo docente, o que beneficia a formação do caráter do estudante. A qualidade da educação, portanto, depende de nós — como pais, responsáveis ou professores.

Diversos programas socioedu-cativos são desenvolvidos, aqui em Portugal, com a missão principal de criar uma cultura de Solida-riedade, por meio da melhoria da qualidade de vida, de forma ampla e abrangente, em todos os segmentos sociais, com a Caridade Completa (material e Espiritual). Um desses exemplos é o programa Sorriso Feliz, que, além de desmistificar a aversão à cadeira do dentista, promove a cultura da higiene bucal correta, como medida mais eficaz para a prevenção da saúde oral. A unidade móvel da LBV, denomi-nada Autocarro da Saúde Oral, um ônibus equipado com gabinete den-tário e minibrinquedoteca, percorre a área metropolitana de Lisboa, de estabelecimentos de ensino a entidades comunitárias, realizando procedimentos de profilaxia, como

Pedagogia do Cidadão EcumênicoLBV da Europa

Espiritualidade EcumênicaNovo paradigma da Educação

Crianças portuguesas atendidas no programa Semente da Boa Vontade

Fotos: Arquivo LBV de Portugal

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o tratamento de tártaro e aplicações de flúor, de selantes, entre outros.

Integrado nesse mesmo propó-sito, temos o programa de Agen-tes Comunitários de Saúde Oral (Proaso) que, no Porto, em Lisboa, em Coimbra e em várias cidades portuguesas, vem formando agen-tes multiplicadores dessa cultura, por meio de palestras, simpósios e sessões educativas com entidades parceiras da LBV. “Há muitos pro-blemas cardíacos e outros decorren-tes da saúde bucal comprometida”, informa o dr. Cassiano Scapini, dentista voluntário, supervisor téc-nico de saúde da Instituição.

Voltado a crianças e adolescentes até os 13 anos de idade, em situação de risco social, há o programa Se-mente da Boa Vontade que ocupa o tempo livre desses pequenos com oficinas temáticas e sessões de formação, além do apoio alimentar e afetivo.

“É preciso unir a experiência dos mais velhos à energia dadivosa dos mais jovens.” Sob a inspiração desse pensamento de Paiva Netto, outra importante iniciativa é desenvolvida: o programa Viva Mais!, que contri-bui para a vida ativa na Terceira Ida-de e incentiva o voluntariado sênior. Os participantes são recebidos não como simples usuários dependentes de amparo, mas colaboradores com uma rica bagagem a ser dividida com as novas gerações.

Na Ronda da Caridade rea-lizamos um serviço itinerante de socorro aos sem-teto, percorrendo diversas localidades nas noites frias das cidades do Porto e de Lisboa, no apoio aos sem-abrigo (moradores de rua). O trabalho estende-se por toda a semana nas instalações do Centro Social da LBV, onde os atendidos recebem também orientação tendo em vista a reinserção na sociedade. Uma das voluntárias nessa atividade, a artista plástica e atriz em Portugal, Olga Sotto, começou a colaborar como uma forma de fazer laborató-rio para um personagem morador de rua que ia interpretar. Desde então, não deixou mais de ajudar. “Faço a Ronda da LBV toda semana, não consigo viver sem ela. (...) Há uma empatia que não consigo explicar. Se

não tratares do espírito e da alma, não dás nada a ninguém (...). Todos os dias acordo com um sorriso no rosto. Posso dizer que sou feliz”, destaca Olga.

Para levar avante essas e outras iniciativas, a LBV de Portugal con-ta com a parceria da ESE (Escola

Superior de Educação do Porto) e das Universida-des Lusófona (de Lisboa), Fernando Pessoa e Escola Superior de Educação Pau-la Frassinetti (do Porto), entre outros respeitáveis estabelecimentos de ensino

e entidades a quem agradecemos. Na minha ótica, o pensamento

basilar da Pedagogia do Cidadão Ecumênico, de autoria do dirigente da LBV, é: “Cuida do Espírito, reforma o Ser Humano, e tudo se transformará”.

A LBV de Portugal, nos meses de janeiro e fevereiro, recebeu a visita de estudantes lu-sos interessados em ajudar os menos favorecidos. Alunos da Escola Carolina Michaelis conheceram o trabalho voluntário e, ao final, ofereceram-se para “doar Amor” em co-operação à Obra. Os estudantes da Escola Secundária de Moimenta da Beira, região centro-sul do país, também sensibilizaram-se e aproveitaram a oportunidade da visita para participar do Programa Ronda da Caridade, na cidade do Porto.

Olga Sotto

Espiritualidade Ecumênica

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Ajude Pedroa atravessar o labirinto

De Newark, Estados Unidos, escreve o Soldadinho de Deus

Amanda Cecília Vieira, 11 anos:“GOD IS PRESENT! (Deus está

presente!)“Adoro ser um Soldadinho de Deus!

E adoro toda a Legião da Boa Vontade (LBV). Sempre escuto a Super Rede Boa Vontade de Rádio pela internet. E o programa que gosto bastante é o Bolo com Pudim, que passa aos sába-dos, às 11 horas”.

Jhordan Gabriel, 12 anos, de Goiânia/GO, escreveu-nos para contar um ensinamento que aprendeu no livro A cura do servo de um centurião, da Editora Elevação:

“O centurião, sabendo da doença de seu servo e da chegada de Jesus, pediu que seus soldados

O encontrassem (o Cristo), pois acreditava não ser digno de falar com Ele. E Jesus

pôde curar o servo do centurião, tão grande era sua fé. E isso é um exemplo para todos nós,

pois não há tempo e nem espaço que impeçam as realizações no

Bem, desde que acreditemos em Jesus e façamos por merecer recebermos a Sua proteção”.

Você pode ter este e outros belíssimos ensinamentos do Divino Mestre com os livros da Coleção Ecumênica Os Milagres de Jesus. Adquira pelo Clube Cultura de Paz: 0800 77 07 940.

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Page 97: Revista Boa Vontade, edição 221

(1) Lailla Pereira Jor-ge, 3 anos, São Paulo/SP

(2) Anna Clara (4 meses) e Gui-lherme de Figueiredo Caetano (8 anos),

Glorinha/RS (3) Os irmãos Eduarda, 9 anos, e Enzo Coutinho de Carvalho, 6 meses,

de São Paulo/SP (4) Beatriz Alonso Von Gal Furtado, 2 anos, Campinas/SP (5)

As gêmeas Ingrid Clara e Valeska Maria Matos de Souza, 2 meses, de Brasília/DF, (6) Evelyn de Souza Barreto, 9 meses, de

Niterói/RJ, (7) Soldadinhos de Deus da cidade de Arceburgo/MG, (8) Luana Santos

da Cruz, 9 anos, e Murilo Santos da Cruz, 2 meses, São Paulo/SP. (9) Laura

Bittencourt Rodrigues, 1 ano, Glorinha/RS.

Crianças da cidade de Santos/SP escreveram um livro a respeito do que

aprendem nas Aulas de Moral Ecumênica, da Religião de Deus, o qual dedicaram ao Irmão Paiva. Destacamos um trecho

especial para demonstrar o belo trabalho escrito por Gabrielle Cristina, 7 anos:

Deus está presente em tudo.Deus está presente na flor.

Deus está presente na abelha.Deus está presente na borboleta.

Deus está presente na casa.Deus está presente nas pessoas!

Soldadinhos de Deus da Baixada Santista

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Page 98: Revista Boa Vontade, edição 221

Esporte

Momento Esportivo, doRJ,éeleitoo melhor programa do gênero

Apremiação dos melhores des-portistas de 2007, avaliados pelo Sindicato dos Treinado-res de Futebol Profissional do

Estado do Rio de Janeiro, ocorreu, no dia 20 de dezembro, na Galeria Gourmet, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio). O encontro reu-niu personalidades do Esporte, a exemplo dos treinadores Zagallo, Joel Santana (Flamengo), Alfredo Sampaio (então técnico do Vasco), Fábio Azevedo (TV Bandeirantes), Amaro José da Silva (presidente do Sindicato dos Treinadores/RJ).

Entre os vencedores, o Momento Esportivo, da Super Rádio Brasil (AM 940), emissora da Super Rede Boa Vontade de Rádio, recebeu o

O técnico Alfredo Sampaio, o treinador Mário jorge Lobo Zagallo e Marcelo Figueiredo, da LBV.

time de craQUes da sUper rBV Da esquerda para a direita, em pé, Wilson pimentel, marcelo Figueiredo, antonio Jorge e eduardo Freitas. Sentados, andré Gonçalves, maurício moreira e Gustavo adolfo.

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prêmio de melhor programa local do rádio esportivo do Rio de Ja-neiro em 2007, representado pelo coordenador da equipe, Marcelo Figueiredo.“É um reconhecimento ao trabalho que a gente faz já há nove anos, contando com grande repercussão, credibilidade e apoio da Super Rede Boa Vontade de Rádio. A pauta é livre e esse bom trabalho é refletido neste segundo ano consecutivo em que ganhamos este prêmio”, afirmou.

O técnico do Vasco, que entre-gou o troféu à equipe, destacou: “Eu tive o maior prazer em entregar este prêmio porque são profissionais que eu respeito muito, e a Super Rede Boa Vontade também”.

Page 99: Revista Boa Vontade, edição 221

NET também tem

AMAZONASManausRIO DE JANEIROAngra dos ReisBarra Mansa

ResendeSÃO PAULOAmericanaAraçatubaAraraquara

ArarasAtibaiaBragança PaulistaCaçapavaCaraguatatuba

CatanduvaHortolândiaItapetiningaJacareíLimeira

Mogi-GuaçuMogi-MirimRio ClaroSanta Bárbara d’OesteSão José dos Campos

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www.net.tv.br

Televendas: (11) 4004-8844Central de Relacionamento: (11) 4004-7777

Page 100: Revista Boa Vontade, edição 221

Novo CR-VLiberdade é ser você mesmo

Novo CR-V