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Revista InterfacEHS edição completa Vol. 6 n.1

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A InterfacEHS é uma Publicação Científica do Centro Universitário Senac que publica artigos científicos originais e inéditos, resenhas, relatos de estudos de caso, de experiências e de pesquisas em andamento na área de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente. Acesse a revista na íntegra! http://www3.sp.senac.br/hotsites/blogs/InterfacEHS/

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EDITORIAL A Revista InterfacEHS inicia o volume 6/2011 com novidades em relação a sua

plataforma eletrônica e ao corpo editorial, que passa a contar com um Comitê

Editorial além do seu Conselho Científico. A publicação foi migrada para o Sistema

Eletrônico de Editoração de Revistas – SEER, disponibilizado pelo IBICT,

Ministério da Ciência e Tecnologia, o que não altera estrutura composta por artigos,

resenhas, traduções e seção InterfaceHS e nem suas áreas de atuação: Gestão

Integrada, Saúde e Meio Ambiente. Tem por missão, Saúde, Meio Ambiente e

Sustentabilidade: veículo de discussão, reflexão, crítica, disseminação e análise do

estado da arte em gestão integrada e inovação, esclarecendo de forma mais objetiva o

escopo da revista. Desta forma, o primeiro número do sexto volume da revista conta

com os artigos científicos elaborados por profissionais da área acadêmica, científica

e técnica que apresentam importantes resultados de pesquisas de suas áreas de

atuação. Neste contexto, os autores Tania Maria Cerati et. al. marcam relevantes

contribuições sobre o modelo de gestão ambiental participativa, implantado em área

do entorno do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI), cujos resultados

evidenciam a necessidade de ações e políticas públicas para uma gestão

socioambiental que atinja a comunidade. As autoras Angela Maria Branco e Helena

Ribeiro avaliam no artigo Descentralização da Gestão e Manejo da Fauna Silvestre:

o caso da Divisão Técnica de Medicina Veterinária e Manejo da Fauna Silvestre do

Município de São Paulo, a importância de uma gestão bem sucedida da fauna

silvestre em função da existência de um serviço voltado ao atendimento de animais

vitimados em grandes centros urbanos. Na linha de reflexões sobre a gestão da fauna

silvestre, o artigo A caracterização e o zoneamento ambiental como instrumentos de

gestão de um parque zoológico, dos autores Luciana Mara Ribeiro Marino et. al.

promove debate sobre os desafios na gestão de um parque zoológico e ressalta a

importância da caracterização e zoneamento ambiental neste processo. Soma-se neste

©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados. Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação

completa da fonte. Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]

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número da InterfaceHS, as contribuições dos autores Lady Virginia Traldi Meneses e

João Vicente de Assunção que abordam elementos necessários à caracterização do

estágio de gestão ambiental no setor de tratamento de superfície. Finalmente, mas

não por último, o autor Everton Fernando Alves apresenta em seu trabalho intitulado

Programas e ações em qualidade de vida no trabalho, sugestões de ações e

programas de promoção da qualidade de vida no trabalho a serem utilizados como

modelo, visando à saúde do trabalhador e o ganho das empresas. A contribuição

destacada na seção Tradução é relativa a importância da educação para o

desenvolvimento sustentável, traduzindo o artigo intitulado Competences for

sustainable development and sustainability: Significance and challenges for ESD das

autoras Yoko Mochizuki, Zinaida Fadeeva, publicado em 2010, no volume 11, do

International Journal of Sustainability in Higher Education. A seção InterfaceHS foi

motivada após a divulgação da última edição especial desta revista, que apresenta o

trabalho Sobre o Programa de Mestrado em Gestão Integrada em Saúde do

Trabalho e Meio Ambiente, elaborado pelos autores Alice Itani et. al. que relatam a

experiência do programa do Mestrado em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e

Meio Ambiente desenvolvido no Senac-SP no período entre 2004 e 2010 e sua

contribuição para o debate sobre perspectivas metodológicas de formação

profissional. Esta edição conta também com a resenha do artigo The limits of

regulatory toxicology publicado na Revista Toxicology and Applied Pharmacology ,

elaborada pelas autoras Patrícia Silvério e Gisela de Aragão Umbuzeiro , que

apresentam comparações interessantes entre diferentes limites regulatórios.

Esperamos que os debates proporcionados em trabalhos publicados possam

contribuir cada vez mais com a disseminação e aprimoramento do conhecimento nas

áreas de saúde, meio ambiente e sustentabilidade. Desejamos a todos, uma boa

leitura! Editor

Emilia Satoshi Miyamaru Seo

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GESTÃO PARTICIPATIVA EM UMA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO URBANA: A BUSCA DE ESTRATÉGIAS PARA CONSERVAR O PARQUE

ESTADUAL DAS FONTES DO IPIRANGA, SÃO PAULO, BRASIL.

Tania Maria Cerati 1

Dácio Roberto Matheus2

Aline Queiroz de Souza 3

Maria Denise Rafael Bonomo4

RESUMO

O presente trabalho expõe um modelo de gestão ambiental participativa, implantado em uma área

conflituosa no entorno do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI) com a participação do

estado, município e comunidade. Estão descritas as etapas desenvolvidas e o conjunto de ações

realizadas. Os resultados são evidenciados pelas ações e políticas públicas implementadas e pelo

ganho socioambiental obtido pela comunidade.

Palavras-chave: políticas públicas, gestão participativa, unidade de conservação, pesquisa

participativa.

ABSTRACT

This paper presents a co-management model deployed in a conflict area around the Parque Estadual

das Fontes do Ipiranga (PEFI) in partnership with state, district and community. Steps are described

and all the actions performed. The results are evidenced by policies implemented and the social gains

achieved to local communities.

1 Pesquisador Científico do Instituto de Botânica da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. 2 Professor Adjunto do Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do ABC. 3 Estudante de Ciências Biológicas da Universidade de São Paulo, Estagiária do Instituto de Botânica. 4 Socióloga da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo Autor para correspondência: Tania Maria Cerati. Instituto de Botânica, Av. Miguel Stefano 3687, Água Funda, São Paulo, CEP: 04301-012. Email: [email protected] .

©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados. Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação

completa da fonte. Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]

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Keywords: public policies, co- management, protected areas, community-based research.

1. Introdução

O SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, aprovado em 2000

introduziu modificações na política de gestão de unidades de conservação (UCs) com a finalidade de

assegurar a participação de diversos segmentos da sociedade. Desde então, gestores mobilizam

esforços para a implantação do processo de gestão participativa. Observamos que ao longo destes anos

importantes e crescentes avanços foram realizados nesse sentido.

Visando contribuir e refletir sobre a gestão participativa em UCs, o presente artigo tem como

objetivo a busca de estratégias para a implantação de um programa de gestão no entorno de uma

unidade de conservação urbana, o Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI). A experiência

descreve as diferentes etapas realizadas no processo, bem como os resultados e obstáculos enfrentados

para a efetivação deste modelo de gestão.

2. A abordagem da gestão participativa

A diretriz participativa destaca-se na grande maioria dos atuais projetos socioambientais no

Brasil. Esse tipo de abordagem passa a imigrar do universo das ONGs para o setor público no final

dos anos oitenta. Experiências de gestão participativa multiplicam-se desde então em todo território

nacional refletindo uma tendência mundial (RODRIGUES, 2001).

Gestão ambiental pode ser definida como a implementação pelo governo de sua política

ambiental, mediante a definição de estratégias, ações, investimentos e providências institucionais e

jurídicas com a finalidade de garantir a qualidade do meio ambiente, a conservação da biodiversidade

e o desenvolvimento sustentável (PHILIPPI JR. & MAGLIO, 2005).

A definição apresentada evidencia a tendência presente em nossa sociedade de atribuir

majoritariamente ao Estado a responsabilidade pela gestão do meio ambiente. Essa tendência possui

bases legais na Constituição Federal 5 que, apesar de atribuir ao Poder Público e à coletividade o dever

de defender e preservar o meio ambiente, responsabiliza unicamente o Poder Público por

incumbências relacionadas ao controle, preservação e proteção ambiental (QUINTAS, 2004).

A gestão ambiental pública está passando por um processo de transformação, incluindo a

mudança na própria concepção de gestão, passando de uma perspectiva “preservacionista” para a

valorização da população local, sendo o modelo de gestão participativa o que mais se adapta a essa

nova concepção ( CARLSSON & BERKES, 2005).

A gestão participativa é comumente definida pelo compartilhamento de poderes e

responsabilidades entre os diferentes atores, sendo os principais o governo e a comunidades locais. O 5 Artigo 225 da Constituição Federal de 1988

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conceito é frequentemente igualado aos de gestão compartilhada, colaborativa, conjunta ou co-gestão

(CARLSSON & BERKES, 2003).

Dentro deste conceito a instituição responsável pela área (geralmente o Estado) pode

desenvolver uma “parceria com importantes atores sociais envolvidos (incluindo primariamente

residentes e usuários de recursos) que especifica e garante suas respectivas funções, direitos e

responsabilidades com relação à área” (BORRINI-FEYERABEND, 1997).

Carlsson & Berkes (2003) compreendem a gestão participativa como um processo mais

complexo e sofisticado, definindo-a como “uma rica rede de relações e acordos ligando diferentes

partes do setor público a atores privados igualmente heterogêneos”. Essa concepção parte do

pressuposto de que o Estado e a sociedade civil não constituem uma unicidade, mas são formados por

diferentes atores sociais com interesses diversos.

Nesse sentido, Quintas (2004) contribui para essa concepção, definindo a gestão ambiental

pública como “um processo de mediação de interesses e conflitos (potenciais ou explícitos) entre

atores sociais que agem sobre os meios físico, natural e construído, objetivando garantir o direito ao

meio ambiente ecologicamente equilibrado. Este processo define e redefine, continuamente, o modo

como os diferentes atores sociais, através de suas práticas, alteram a qualidade do meio ambiente e

também como se distribuem os custos e benefícios decorrentes da ação destes agentes”.

Na literatura os conflitos são estudados sob diferentes óticas e em diversos níveis: pessoais,

organizacionais, internacionais, sociais, culturais ou ambientais (GOMES et al., 2004).

Para Acselrad et al. 1995 conflitos socioambientais caracterizam-se como conflitos sociais

que tem elementos da natureza como objeto, expressando as tensões entre interesses coletivos/espaços

públicos versus interesses privados/tentativa de apropriação de espaços públicos.

Conflito socioambiental é definido por Little (2001) como a disputa entre grupos sociais,

derivada dos distintos tipos de relação que eles mantêm com o ambiente natural. Cada grupo tem sua

forma de adaptação, ideologia e modo de vida que entra em choque com as formas de outros grupos,

dando assim a dimensão social e cultural do conflito socioambiental.

Diferente da abordagem tradicional de gestão, em que as decisões são unidirecionais

baseadas em conhecimentos técnicos, a abordagem fornecida pela gestão participativa propicia o

encontro de múltiplas perspectivas, permitindo que os conflitos e divergências existentes entre os

diferentes atores sociais sejam explicitados. Os conflitos não são necessariamente resolvidos, uma vez

que para isso as múltiplas causas que deram origem a ele teriam de ser eliminadas, mas podem ser

tratados (GOMES et al., 2004).

O debate gerado pelo diálogo entre os diferentes atores leva a um acordo sobre as ações

necessárias para se produzir melhorias. Esse acordo e as ações realizáveis representarão, ao final, uma

acomodação entre as visões conflitantes (PIMBERT & PRETTY, 2000).

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É importante ressaltar que a gestão participativa não é um estado fixado, mas um processo

contínuo de resolução de problemas, envolvendo extensiva deliberação, negociação e aprendizagem

conjunta (CARLSSON & BERKES, 2003).

Layrargues (2006) destaca no processo de gestão a existência de uma assimetria de poder

político, em que nem sempre o grupo dominante leva em consideração os interesses de outros grupos

nas decisões. Dentro desse processo o autor delineia o papel do educador ambiental, que tem o desafio

de criar condições para a participação política dos diferentes segmentos sociais, tanto na formulação

da política pública quanto na sua aplicação. “O educador deve estar qualificado também para agir em

conjunto com a sociedade civil organizada, sobretudo com os movimentos sociais, numa visão de

educação ambiental como processo instituinte de novas relações entre si e deles com a natureza”.

Assim o educador ambiental é quem prepara o terreno para a tão encantada fórmula do exercício da

cidadania, instrumentalizando a sociedade civil à participação da vida política.

3. A gestão participativa nas Unidades de Conservação

Entendemos que o modelo de gestão praticado atualmente nas UCs não favorece o

engajamento da comunidade nos processos decisórios, ao contrário, é marcado por um distanciamento

entre as aspirações e necessidades da comunidade em relação às decisões técnicas tomadas pelos

gestores, que por sua vez também estão distanciadas da realidade local. Atualmente há um crescente

reconhecimento que sem o envolvimento da população do entorno das UCs no planejamento, manejo

e gestão das áreas preservadas, poucas são as chances de sucesso dos projetos para a conservação da

biodiversidade e, como conseqüência, os custos de manejo se elevam (PIMBERT & PRETTY, 2000).

Johnson (2007) salienta que para enfrentar a crise da perda da biodiversidade cientistas,

governos e comunidades têm concentrado sua atenção no desenvolvimento de políticas participativas

na gestão ambiental, postura estimulada pela Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade

Biológica que reconheceu a importância de envolver as comunidades locais na formulação e

implementação de ações para conservação, bem como a necessidade de educação e conscientização

tendo em vista o uso sustentável e a gestão dos recursos biológicos. Dessa forma, é essencial que os

projetos de gestão criem estratégias para motivar a participação da comunidade.

Experiências de gestão participativa mostram-se como tendência mundial, sendo estimuladas

em unidades de conservação em todo o mundo.

No Brasil, a gestão participativa foi incorporada nas UCs a partir das discussões para a

criação do SNUC, que tramitou no Congresso Nacional durante oito anos e contou com a participação

de diversos setores sociedade. Segundo Mendes et al. (2006), o SNUC reflete uma mudança de

postura da sociedade brasileira, passando de uma visão essencialmente preservacionista para uma

inspiração socioambiental.

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Instituído em 2000 pela lei 9985/2000, o SNUC passou a incorporar os conselhos como

espaços de consulta ou deliberação nas Unidades de Conservação (UC), formalizando-os como

instância de gestão participativa para as áreas protegidas. Conforme determina o artigo 5° inciso III, o

SNUC é regido por diretrizes que “assegurem a participação efetiva das populações locais na

criação, implantação e gestão das unidades de conservação”. Esses processos de participação

ocorrem formalmente através de três instrumentos: as Consultas Públicas, os Planos de Manejo e os

Conselhos Gestores (MACEDO, 2007).

Desde então diversas iniciativas vêm sendo realizadas pelos órgãos públicos e demais

instituições envolvidas com a gestão dessas áreas, no sentido de dar materialidade ao disposto na lei.

No entanto a efetivação e o funcionamento desses conselhos encontram inúmeros desafios.

Uma das instituições que têm se destacado pelas iniciativas de fomento e consolidação dos

conselhos nas UCs é o IBAMA, que a partir da criação do SNUC, iniciou um processo amplo de

discussão acerca da gestão participativa e da função dos conselhos em unidades de conservação

(LOUREIRO et al., 2003). Esse processo consolidou um projeto de fortalecimento dos conselhos

por meio da educação ambiental, que está sendo desenvolvido em diversas Unidades de Conservação

Federais, principalmente no estado do Rio de Janeiro. Para o autor a educação ambiental tem

importante o papel de fomentar os conselhos (consultivos e deliberativos) garantindo a participação

das comunidades locais, a fim de se obter uma gestão que propicie o diálogo com a população do

entorno, almejando uma situação em que a sustentabilidade das condições gerais de vida desses

grupos sociais auxilie na preservação, atenuando pressões degradantes sobre o patrimônio natural.

O processo de gestão apresentado no presente trabalho não ocorreu no âmbito do conselho

consultivo do PEFI, mas foi referendado pelo mesmo. O processo de gestão focou-se em uma área do

entorno do Parque e incluiu duas esferas do Poder Público: estadual e municipal.

4. O Parque Estadual das Fontes do Ipiranga

O PEFI é o terceiro maior remanescente de Mata Atlântica do município de São Paulo,

destacando-se como importante unidade de conservação urbana. Vinculado à Secretaria do Meio

Ambiente do Estado de São Paulo, existe como área física desde 1893, mas criado oficialmente em

1969 pelo Decreto No 52.281, quando ficou conhecido como Parque do Estado (BARBOSA, 2002).

Com 526 ha de área total, sua situação fundiária é complexa, uma vez que abriga dentro de

seus limites sete instituições governamentais e uma Reserva Biológica com 162 ha. Destaca-se pela

sua função ecológica - abriga rica diversidade biológica, dois aqüíferos subterrâneos e 24 nascentes,

contribui para a qualidade ambiental da região, uma vez que ameniza o clima, mantém a qualidade do

ar e controla as cheias; e social – configura-se como um importante patrimônio cultural e histórico

oferecendo à população áreas que proporcionam acesso a cultura, lazer e educação, contribuindo para

o bem estar físico e psíquico (BICUDO et al. 2002).

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Localizado na região sudeste do município de São Paulo, faz limite com Diadema e São

Bernardo do Campo, cidades que compõe o ABC paulista. Na década de 70 a construção da Rodovia

dos Imigrantes representou uma verdadeira intervenção não apenas no PEFI como também em seu

entorno. Construída no lado leste do Parque, seu traçado reduziu a delimitação inicial, provocando a

fragmentação da área florestada e o isolamento de uma pequena porção de mata e nascentes, tornando-

a vulnerável a ocupações irregulares e posteriormente forte pressão urbana (SANTOS, 2006). No

município de Diadema a Rodovia foi construída cruzando o território da cidade e atraindo pequenas e

médias indústrias, satélites das grandes fábricas de São Bernardo, acelerando o crescimento

demográfico e gerando uma expansão horizontal de grandes proporções (ROLNIK, 1999).

Em decorrência de sua localização e do histórico de ocupação, o entorno do PEFI é

constituído por bairros periféricos com alta densidade populacional e um padrão desordenado de

ocupação do espaço territorial, gerando um cenário de conflitos socioambientais que deflagram

impactos no Parque.

Dentre os impactos Santos (2006) destaca a presença de lixo e esgoto doméstico no interior

da mata, constando que a deposição desses resíduos é feita por moradores do entorno, desencadeando

impactos na vegetação, no solo e na qualidade das águas das nascentes. Observa-se também

ocupações irregulares, descarte de entulho, restos de material de construção e o acesso facilitado a

áreas internas.

Cerati et al. (2002) descreve as ações educativas que são realizadas pelos diversos órgãos

instalados dentro do PEFI na tentativa de sensibilizar os moradores do entorno para a preservação

dessa área. No entanto, essas ações não acontecem de forma integrada para fortalecer o papel do

Parque enquanto unidade. Para a melhoria da qualidade socioambiental da região não basta apenas

sensibilizar, sendo necessário criar um entorno participativo, crítico e atuante frente aos problemas

socioambientais instalados na região ao longo do tempo.

4.1. Área de intervenção

A proposta de gestão participativa apresentada foi aplicada em uma das áreas mais

conflituosas do entorno do PEFI, localizada na divisa com o município de Diadema, Bairro Jardim

Campanário. O bairro foi formado na década de 70 por loteamentos clandestinos e ocupações

irregulares, com casas auto-construídas e urbanizado posteriormente pela prefeitura. A área possui alta

densidade populacional uma vez que, de acordo com dados do IBGE, Diadema possui a 2ª maior

densidade populacional do país, cerca de 12.480 habitantes por km² (http://www.ibge.gov.br/home/).

Recentemente diversas políticas públicas têm sido implantadas visando à resolução ou

minimização dos problemas ambientais e o fortalecimento da gestão integrada do PEFI. Em 2005 foi

criado o Programa Multisetorial de Ecodesenvolvimento do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga –

ECOPEFI, com o objetivo de promover a sustentabilidade a partir de serviços e atividades de

pesquisa, educação, cultura e lazer na área de conservação. O Programa ligado à Casa Civil do Palácio

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do Governo conta com orçamento próprio para o gerenciamento do Parque, o que possibilitou a

elaboração do Plano de Manejo, aprovado pelo CONSEMA em 2008.

5. A construção do diálogo com a comunidade

A metodologia desenvolvida no trabalho foi a pesquisa-ação definida por Thiollent (2005),

como uma metodologia derivada da pesquisa social com base empírica, concebida e realizada em

estreita associação com uma ação ou a resolução de um problema coletivo, na qual pesquisadores e

participantes representativos da situação ou problema estão envolvidos de modo cooperativo ou

participativo.

Essa metodologia se aproxima de outras metodologias participativas e de acordo com

Johnson (2007) quando aliada à gestão proporciona elementos essenciais para o êxito de uma

abordagem integrada, fomentando a mudança social por meio da construção, da capacitação e do

empoderamento da comunidade promovendo tomadas de decisão que envolve múltiplos atores sociais.

Loureiro (2003) afirma que as metodologias participativas são as mais propícias para o

fomento do conselho como instrumento democrático de gestão e estas englobam inúmeras tendências

como: pesquisa participante, pesquisa-ação, pesquisa participativa.

Pode-se dizer que esse processo foi desencadeado pelos próprios moradores em articulação

com lideranças políticas, tendo como resposta a proposição de ações planejadas e desenvolvidas em

parceria entre os gestores do PEFI e a prefeitura de Diadema.

Esse processo foi acompanhado em suas diferentes etapas pelos pesquisadores, cujo papel

consistiu na comunicação e mediação das decisões tomadas no sentido da resolução dos conflitos. As

etapas do processo estão descritas a seguir:

Etapa 1. Identificação dos conflitos e primeiras articulações

O contato inicial dos moradores com os gestores ocorreu no início de 2005 quando líderes

comunitários promoveram um encontro com representantes do PEFI (diretores e educadores

ambientais do Instituto de Botânica) e da prefeitura (vereadores, representantes de secretários da

Educação e Segurança) para expor os problemas existentes na área. A reunião ocorreu de forma aberta

e contou com a participação de cerca de trinta pessoas. Os moradores expuseram os problemas

enfrentados a longo tempo na área. A fala de um morador expressa a opinião da comunidade: “Nos

sentimos abandonados pelo poder público”. Essa consciência de exclusão desencadeou um

sentimento de não pertencimento e isenção de responsabilidades para a região.

Esse encontro e o estabelecimento de diálogo com os moradores permitiram diagnosticar os

principais conflitos existentes na área:

• A delimitação do Parque era feita por um muro que contornava toda a área da mata. O muro

encontrava-se em estado precário, sendo alvo de vandalismo; possibilitava o acesso ilegal à mata e a

ocorrência de ações criminosas; além disso, dificultava a visão do interior da mata. Esses fatores

provocavam forte sentimento de insegurança na comunidade;

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• Conflito devido aos limites administrativos – o Parque, o muro e a calçada são mantidos pelo

Estado e localizados no município de São Paulo, enquanto que a rua e os serviços de coleta de lixo,

segurança e iluminação são mantidos pela Prefeitura de Diadema. Portanto existe uma rua (Rua

Alfenas) em que, de um lado há uma unidade de conservação e de outro o Bairro Jd. Campanário,

pertencente ao município de Diadema;

• Descarte inadequado de lixo e entulho – Em toda a extensão do muro e calçada eram

depositados lixo e entulho pela população, que se tornavam focos de animais nocivos e peçonhentos,

gerando grande incômodo para os moradores. Periodicamente a prefeitura organizava mutirão para

coleta. Essa situação, que já havia sido detectada há algum tempo pelos órgãos públicos, gerava

insatisfação e provocava uma sensação de ‘abandono’ e ‘desleixo’, segundo alguns moradores;

• Falta de áreas de lazer e praças na região.

Como agravante da tensão existente na área, a ocorrência, no passado, de crimes com grande

repercussão na mídia, marcou negativamente a região provocando medo entre os moradores e

descrédito em relação à gestão do Parque e da Prefeitura.

Etapa 2. Articulação entre o poder público em resposta às reivindicações dos moradores.

Após a primeira reunião foram traçadas ações estratégicas para a revitalização do local

visando à resolução dos conflitos com a participação da comunidade, que foi consultada na fase de

planejamento da obra de revitalização, passando a participar mais ativamente nas decisões a partir da

criação do Conselho (descrita a seguir).

As ações realizadas no processo e a divisão de tarefas e responsabilidades entre os diferentes

grupos participantes estão descritas na Tabela 1.

Tabela 1. Ações Estratégicas para a gestão do entorno do PEFI.

PEFI / ESTADO PREFEITURA MORADORES

Substituição de 1,5 km de muro por

gradil

Formação do Conselho de

Compromisso

Participação no Conselho

de compromisso

Construção de 1,5 km de calçada

com pista de caminhada e área

gramada.

Promoção da festividade Agita

Alfenas

Vigilância para descarte

de lixo

Construção de recuos paisagísticos Paisagismo da área da calçada Sensibilização dos

moradores

Paisagismo da área da calçada

Carlsson & Berkes (2005) destacam que na gestão participativa representantes de diferentes

níveis das organizações coordenam suas atividades em relação à área específica de maneira não-

hierárquica, estabelecendo ligações entre grupos organizacionais que não poderiam ser conectados de

outra forma. Vale destacar que essa articulação entre diferentes esferas do Poder Público que atuam

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sobre a área (secretarias municipais e governo do Estado) nunca havia ocorrido anteriormente e

considerada fundamental para o sucesso das ações.

Etapa 3. Formação do Conselho de Compromisso

Como sugestão de representantes da Secretaria da Educação de Diadema, foi criado em 22 de

fevereiro de 2007, o Conselho de Compromisso dos moradores da Rua Alfenas, com o objetivo de

envolver os moradores locais no processo de gestão iniciado na área, garantindo sua participação nas

ações de revitalização.

O Conselho de Compromisso faz parte de uma experiência já implantada em outras áreas da

cidade, através do Programa Ação Compartilhada da Prefeitura de Diadema, que segundo definição da

prefeitura é:

“... uma parceria entre a Prefeitura do Município de Diadema e entidades da sociedade civil

para a valorização da educação popular democrática. Através da educação popular e

elaboração conjunta, o Programa contribui na construção conhecimentos coletivos

incorporando a comunidade na execução de políticas públicas permanentes, evitando

depredações nos equipamentos públicos e democratizando o acesso à educação, cultura,

esporte e lazer. Com a participação de entidades da Sociedade Civil na gestão dos

espaços públicos, por meio dos Conselhos de Compromisso, o Programa atua amplamente

no combate a violência, analfabetismo e massificação cultural. A comunidade se apropria

dos espaços e os torna verdadeiramente públicos, pertencentes ao povo.”

(http://www.diadema.sp.gov.br/csp/diadema/secretarias/secretariasdetalhes.csp?OBJID=75

&SecretariaId=10)

O modelo de Conselho adotado não é institucional, sendo aberto à participação de qualquer

interessado. Ele foi composto por moradores, lideranças comunitárias, representantes das Secretarias

Municipais de Educação e Segurança, um deputado, um vereador e representantes do órgão gestor do

PEFI (Instituto de Botânica).

As considerações a respeito do processo de gestão participativa desenvolvido no âmbito do

Conselho de Compromisso serão apresentadas a seguir.

6. O processo de gestão participativa no Conselho de Compromisso

As reuniões do conselho ocorreram no período de fevereiro de 2007 a março de 2008,

totalizando cerca de 20 reuniões, que ocorriam mensalmente. As reuniões foram acompanhadas e

registradas pelos pesquisadores.

O Conselho foi criado e as primeiras reuniões foram coordenadas por representantes da

prefeitura que atuavam no Programa Ação Compartilhada. A proposta inicial era realizar atividades de

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lazer comunitário, com o objetivo de promover o uso das novas áreas criadas (calçada e recuos

paisagísticos), estimulando sua valorização e conservação.

No entanto, a dinâmica do conselho se modificou ao longo das reuniões. A presença de

importantes representantes de diferentes secretarias da prefeitura e representantes do órgão gestor do

PEFI, estimulou uma participação mais reivindicativa dos moradores, que aproveitaram o canal de

diálogo aberto para expor seus interesses.

O Conselho configurou-se como um espaço político, que viabilizou o intercâmbio de

informação, a mediação dos conflitos e a negociação entre comunidade e o Poder Público para a

resolução dos problemas detectados na área.

As principais ações realizadas pelo Conselho foram:

Gestão das obras mencionadas com interferência no projeto inicial para a inclusão de recuos

na calçada para criar áreas para lazer;

Tratamento paisagístico dos recuos;

Plantio de 120 mudas de jerivás (Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman), palmeira nativa

da Mata Atlântica, ao longo da calçada;

Divulgação do Conselho de Compromisso e sensibilização da comunidade com a realização

do evento “Agita Alfenas” realizado na rua que contou com brincadeiras, atividades

educativas, palestras sobre preservação e organização de um mutirão para o plantio dos

jerivás;

Ações de conscientização sobre o descarte de lixo e entulho;

Apoio da comunidade à vigilância do PEFI;

Ações de educação ambiental com crianças do programa Escola da Família.

As tarefas relacionadas às atividades propostas pelo Conselho eram divididas entre os

representantes da prefeitura, PEFI e lideranças dos moradores. Os representantes dos órgãos públicos

se incumbiam da obtenção dos recursos materiais necessários, enquanto que os moradores se

responsabilizavam pela divulgação de informações sobre o Conselho e das atividades aos demais

moradores.

As reivindicações relativas a esferas do poder público não representadas nas reuniões eram

encaminhadas por meio dos representantes da prefeitura presentes, assim como as decisões que

envolviam o PEFI eram encaminhadas ao gestor do Parque. Logo foi possível visualizar no processo

as articulações entre as diferentes esferas ou níveis de poder indicados por Carlson & Berkes (2003)

no processo de gestão. Os autores afirmam que, em comparação com modos organizacionais

hierárquicos de gestão, a gestão participativa responde melhor às circunstâncias locais; o fluxo de

informações é mais rápido e efetivo e os problemas são direcionados para um nível mais apropriado

dentro da organização.

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Essa divisão das responsabilidades e tarefas entre prefeitura e estado foi acompanhada de

perto pelos moradores, que aprenderam quais instituições eram responsáveis pela resolução de cada

problema e como acionar essas instituições.

O processo participativo gera aprendizado entre todos os envolvidos e possibilita à

comunidade a compreensão de sua responsabilidade perante os demais atores sociais. Individualmente

os moradores passaram a atuar como agentes de preservação, monitorando e denunciando o descarte

de lixo e entulho e as ações ilegais que ocorriam no Parque, como a para caça e ações criminosas.

Sobre o aprendizado em grupo gerado pelos processos participativos Pimbert e Pretty (2000)

afirmam que “esse debate muda as percepções dos atores em seu preparo para ação trazendo

posições mais sofisticadas sobre o mundo”, tem-se um acordo sobre a ação e “essa ação inclui reforço

ou reconstrução de instituições locais, aumentando, portanto, a capacidade das pessoas iniciarem as

ações por seus próprios meios”.

O conselho de compromisso definiu uma política participativa aberta cabendo aos

participantes opinar, organizar-se, defender seus direitos e refletir sobre seus deveres quanto cidadão.

Foi um movimento voltado à nova cultura de direito, experiência inovadora que favoreceu a

capacidade crítica e participativa de todos os envolvidos. A forma de gestão implantada na área abriu

espaço de interlocução complexo, que ampliou o grau de responsabilidade de segmentos que sempre

tiveram pouca ou nenhuma participação na gestão pública.

7. Resultados do o processo de gestão

O fluxograma a seguir resume as etapas do processo e seus principais resultados.

Figura 1. Fluxograma das diversas etapas do processo participativo implantado no PEFI e

seus resultados.

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Os resultados da obra de revitalização evidenciam a melhora obtida com a transformação da

paisagem (Figs. 2-3), possibilitando um novo uso para área, que de local de descarte de lixo e entulho,

passa a ser utilizado para lazer (caminhada) e como espaço funcional (no cotidiano as mães e crianças

utilizam a calçada para se locomoverem, irem a escola, etc).

Figuras 2-3. 2. Vista do entorno do PEFI antes do início do processo de gestão compartilhada; 3

Visão geral da área após a revitalização.

Pressão

- descarte de lixo/ entulho - violência - depredações -falta de lazer

RESPOSTAS

Atividades humanas

- sentimentos negativos (exclusão, não-pertencimento) - isenção de responsabilidades

Impacto

- contaminação do solo e cursos d’água - Invasões na mata (lazer e crimes) - perda de biodiversidade - queimadas

Mobilização e Organização

- obras de revitalização - conselho de compromisso

Empoderamento e

Responsabilidade da comunidade

- participação nas decisões - Atividades de lazer -plantios de jerivás

Valorização da área Mudança de atitudes

Redução do lixo e invasões Criação de espaços para lazer

Preservação da mata Apoio à proteção

Incentivo a participação social

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As transformações nas percepções dos envolvidos podem ser notadas na notícia a seguir,

publicada pela prefeitura de Diadema, sobre o evento promovido pelo Conselho de Compromisso (II

Agita Alfenas):

Ações conjuntas entre moradores e a Prefeitura garantiram que as mudanças na rua

Alfenas possibilitassem a sensação de segurança. O muro que dava acesso ao Parque do

Estado foi reformado e a troca do gradil permite uma visão privilegiada para quem

passa no local e valoriza a área verde. As mudanças deixaram marcas na população

que, hoje, fiscaliza para que não seja feito o despejo de lixo e entulhos no local.

Noticia do II agita alfenas em 25/04/2008 (Opinião dos moradores

Antônio Augusto Moraes, morador do bairro há 18 anos, faz parte do Conselho de

Compromisso e comemora as mudanças. "O lugar ficou muito bonito e temos que cuidar

para que continue assim", comemora Antonio Augusto. "As pessoas vem nos visitar e

comentam como está diferente",

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(http://www.diadema.sp.gov.br/csp/diadema/noticia.csp?OBJID=5132)

Como evidenciado na notícia além da mudança de percepção houve uma mudança nas atitudes

dos moradores, que passaram a atuar como agentes de preservação, monitorando e denunciando o mau

uso da área.

8. Considerações finais

A experiência aqui apresentada revelou inúmeros desafios para a implantação do processo

participativo em uma UC, sendo inegáveis as dificuldades que as instituições gestoras enfrentam para

implantar este processo. Essas dificuldades estão presentes em diferentes escalas: resistência e

despreparo de diretores e corpo técnico para implantar e conduzir o processo, número reduzido da

equipe, distanciamento entre gestores e lideranças locais, postura centralizadora da direção das UCs

não visualizando os diferentes atores sociais parceiros para a conservação da área.

Diante da prática que nos deparamos, achamos importante ressaltar algumas dificuldades e/ou

necessidades que devemos atentar ao implantar um processo participativo: Equipe capacitada – com

amplo conhecimento da área em seus aspectos físico, ambiental e social; atuante na gestão com

autonomia para tomar decisões junto à comunidade produzindo respostas rápidas para as solicitações e

os conflitos; profissionais com perfil para mediação com habilidades para comunicação, argumentação

e liderança, destacando-se a importância de serem aceitos pela comunidade para o estabelecimento do

processo. Disponibilidade orçamentária – os recursos financeiros são necessários para a realização

das diversas ações propostas ao longo do processo. Processo educativo – toda a gestão participativa

tem implícito um processo educativo para a formação da consciência crítica, exercício da cidadania e

melhoria da qualidade ambiental. Este processo possibilita a reflexão entre os diferentes atores sociais

estabelecendo direitos e deveres e favorecendo a autonomia para ações locais. Planejamento contínuo

– todas as ações devem ser planejadas com extrema responsabilidade, inclusive o planejamento

orçamentário. Perante a comunidade é necessário que afirmações sejam cautelosas e as promessas

cumpridas, pois esta se coloca numa “posição vigilante” das ações dos órgãos públicos.

O processo de gestão aqui apresentado estabeleceu um canal de comunicação entre gestores e

comunidade. Nesse diálogo a comunidade assumiu a postura participativa com conquista de direitos

expressa pelo exercício da cidadania. Essa nova condição aumentou a união e a força do grupo

envolvido bem como a auto-estima da comunidade local que passou a valorizar o trabalho realizado

pelos órgãos públicos e por eles próprios. Para a equipe gestora revelou uma mudança da percepção

sobre a área, permitindo reconhecer os conflitos existentes a partir de uma perspectiva local, fornecida

pelo convívio e diálogo com os moradores.

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http://www.ibge.gov.br/home/ (acessado em 05/10/2007)

Agradecimentos

À Prof. Dra. Rozely Ferreira dos Santos do Laboratório de Planejamento Ambiental da UNICAMP

por compartilhar seu conhecimento e as valiosas sugestões.

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DESCENTRALIZAÇÃO DA GESTÃO E MANEJO DA FAUNA SILVESTRE: O CASO DA

DIVISÃO TÉCNICA DE MEDICINA VETERINÁRIA E MANEJO DA FAUNA SILVESTRE

DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO.

DECENTRALIZED MANAGEMENT OF WILD FAUNA: THE CASE OF THE TECHNICAL

DIVISION OF VETERINARY MEDICINE AND WILD FAUNA MANAGEMENT IN THE

MUNICIPALITY OF SÃO PAULO

Angela Maria Branco1

Helena Ribeiro2

1

Mestre em Saúde Pública, área de concentração Saúde Ambiental, pela Universidade de São Paulo;

Médica Veterinária da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente da Prefeitura de São Paulo.

Rua José de Almeida Soares, 89, apartamento 23 – Jardim Taboão. 05742-120 – São Paulo – SP –

Brasil.

[email protected]

2 Geógrafa, Professora Titular do Departamento de Saúde Ambiental, Faculdade de Saúde Pública da

Universidade de São Paulo.

[email protected]

RESUMO

A pressão antrópica provoca grandes alterações no ambiente que compromete a fauna, porém, poucos

trabalhos são realizados para subsidiar a gestão e o manejo de animais silvestres vitimados no

ecossistema urbano. O objetivo desta pesquisa foi avaliar a gestão descentralizada da fauna silvestre

pelo Município de São Paulo, por meio da Divisão Técnica de Medicina Veterinária e Manejo da

Fauna Silvestre (DEPAVE-3), da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente. A metodologia

empregada baseou-se em referências bibliográficas e dados obtidos a partir do atendimento de animais

que passaram pelo serviço no período de 1993 a 2007. A pesquisa demonstrou que o DEPAVE-3 está

estruturado para fazer o atendimento médico veterinário e biológico de animais silvestres, visando sua

recolocação na natureza. A pesquisa avaliou e descreveu a estrutura física e operacional, as atribuições

relacionadas ao manejo de animais, a investigação de zoonoses, o inventário da fauna, além dos dados

informatizados empregados na tomada de decisões. Como conclusão a pesquisa demonstrou que a

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gestão bem sucedida da fauna, realizada pelo Município de São Paulo, decorre da existência de um

serviço voltado ao atendimento de animais vitimados na região e recomenda que esse modelo seja

implantado também em outros grandes centros urbanos.

Palavras-chave: gestão da fauna silvestre; manejo de animais silvestres; gestão descentralizada;

biodiversidade; tráfico de animais; fauna urbana; DEPAVE-3.

ABSTRACT

Anthropogenic pressure causes significant changes in the environment that affect the fauna. However,

few studies have been conducted to support management and handling of wild animals victimized in

urban ecosystem. The purpose of this study was to evaluate the decentralized management of wildlife

by the Municipality of São Paulo, through the Technical Division of Veterinary Medicine and Wild

Fauna Management (DEPAVE-3), of Municipal Secretariat for Environment. The methodology was

based on references and data obtained from the care of animals that passed through the service in the

period 1993 to 2007. The research showed that the DEPAVE-3 is structured to make the veterinary

medical and biological support for wild animals, seeking their replacement in nature. The study

evaluated and described the physical structure the physical structure and operational assignments

related to the handling of animals, the investigation of zoonoses, the inventory of fauna, in addition to

data used in decision making. In conclusion, the study showed that the successful management of

wildlife, held by the Municipality of São Paulo, stems from the existence of a service aimed at serving

victimized animals in the region and recommends that this model be also implemented in other major

urban centers.

Keywords: Wildlife management; wild fauna, decentralized management; biodiversity; animal

trafficking; urban fauna; DEPAVE-3; São Paulo Municipality.

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FAUNA SILVESTRE NO AMBIENTE URBANO

A pressão antrópica nas cidades compromete a sobrevivência das espécies silvestres, tanto da

flora como da fauna, e apesar do recente avanço da legislação que contempla medidas de preservação

ambiental, poucos órgãos governamentais estão preparados para inserir ações voltadas à proteção da

biodiversidade no planejamento urbano, nas diferentes esferas de governo.

Segundo SOBRAL (1996), o ambiente urbano não é o mesmo que o ecossistema natural,

onde há uma interação entre seus diversos elementos como a temperatura, as águas , a vegetação, o

tipo de solo, entre outros. “Nas cidades o homem e suas construções mudaram drasticamente o

funcionamento desses elementos, rompendo o equilíbrio que antes havia. As cidades são as maiores

propulsoras dos impactos que o homem causa na natureza e onde mais se alteraram os recursos

naturais: terra, água, ar e organismos” ( p. 11).

No Brasil, estudos voltados para as espécies ameaçadas de extinção revelam que 639

espécies animais encontram-se listadas no processo de extinção2, sendo que, 627 encontram-se

ameaçadas, 2 foram consideradas extintas na natureza e 10 extintas por não existir registro da espécie

há mais de 50 anos (MMA, 2007). O Brasil também ocupa o 2º lugar mundial em número de espécies

de aves ameaçadas.

O Brasil comporta um dos maiores contingentes de espécies silvestres do

planeta e situa-se entre os maiores do mundo em biodiversidade. Apesar

desta posição privilegiada, o que se tem constatado é o rápido declínio

das populações animais e o crescente risco de extinção de espécies em

decorrência da redução de hábitats e da crescente ocupação humana e

exploração econômica (BRANCO, 2002, p. 237).

Fatores como a supressão da vegetação, o comprometimento dos recursos hídricos, a caça e

pesca predatórias, o comércio ilegal de animais silvestres e a introdução de espécies silvestres

invasoras no meio natural podem ser destacados como os principais responsáveis pelo processo de

extinção de espécies. Com a extinção de uma espécie também se perde sua história genética, que não

pode ser recriada, e ainda, deve ser considerado que as espécies não evoluíram de forma independente

e possuem relações intra e interespecíficas com o meio, muitas vezes desconhecidas, e que atuam na

complexidade e equilíbrio dinâmico dos ecossistemas.

Na cidade de São Paulo, os principais fatores responsáveis pelo declínio das populações de

animais silvestres são decorrentes da urbanização, dos desmatamentos, da degradação ambiental,

apanha e caça.

Frente aos delitos ambientais envolvendo diretamente animais silvestres, normalmente, os

órgãos de fiscalização autuam o infrator e apreendem os animais que necessitam ser rapidamente

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alojados, alimentados e receber cuidados médicos veterinário, em decorrência de maus tratos e manejo

a que foram submetidos.

Além de apreensões realizadas pelos agentes ambientais, também policiais do corpo de

bombeiros, agentes de centros de controle de zoonoses3 e cidadãos resgatam animais silvestres feridos

ou doentes. Esses animais normalmente são vítimas de atropelamentos, eletrocussões, incêndios,

caçadas, desmatamentos, perda dos pais, ou ainda, considerados invasores de domicílios.

De acordo com a Lei Federal n° 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, os animais apreendidos

devem ser libertados em seu hábitat ou entregues a jardins zoológicos, fundações ou entidades

assemelhadas, desde que fiquem sob a responsabilidade de técnicos habilitados. Animais que são

apreendidos ou resgatados, quando procedentes da natureza, têm muitas chances de serem recolocados

em seu habitat natural após receberem assistência médica veterinária, acompanhamento biológico e

nutricional, e passarem por um processo de reabilitação (BRANCO, 2002).

Internacionalmente, as instituições que recebem animais vitimados e que desenvolvem

trabalhos com a finalidade de libertá-los são conhecidas como “centros de resgate de fauna”, e a

maioria é gerida por entidades não governamentais. JIMÉNEZ-PÉREZ (1999, p. 68) define como

centro de resgate “aqueles estabelecimentos públicos ou privados que contam com instalações

capacitadas para receber, alojar e reabilitar exemplares da fauna silvestre provenientes de apreensões,

doações, ou encontrados acidentados”.

Para DREWS (1999, p. 470), “um centro de resgate e ou reabilitação de fauna silvestre é um

lugar onde se recebe animais silvestres com a finalidade de habilitá-los novamente para regressarem

ao seu hábitat natural”. E ainda para SOORAE e PRICE (1999), os centros de resgates “são

estabelecidos principalmente para tratar indivíduos feridos ou confiscados” (p. 63).

Segundo JIMÉNEZ-PÉREZ (1999), algumas críticas direcionadas aos centros de resgate não

dizem respeito propriamente às práticas nele realizadas, mas sim, questionam o verdadeiro papel

desempenhado para a conservação da biodiversidade.

Por essa razão, a Prefeitura da Cidade de São Paulo foi objeto de pesquisa por dispor de um

serviço com atribuições precípuas voltadas ao atendimento de animais silvestres vitimados

provenientes da região, visando a sua reintegração na natureza, mas principalmente por ter criado

políticas públicas que garantem a gestão e o manejo da fauna silvestre nativa na região (BRANCO

2008).

A pesquisa realizada foi um estudo de caso sobre a Divisão Técnica de Medicina Veterinária

e Manejo da Fauna Silvestre (DEPAVE-3), do Departamento de Parques e Áreas Verdes (DEPAVE),

da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SVMA), da Prefeitura da Cidade de São

Paulo (PMSP).

A pesquisa teve como principal objetivo avaliar a política pública e a gestão da fauna

silvestre nativa, adotada pela Prefeitura de São Paulo, a fim de verificar se as mesmas poderiam se

prestar como modelo descentralizado para outros órgãos ambientais.

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O método empregado foi do tipo descritivo e qualitativo, considerando que o principal

objetivo da pesquisa era fazer a avaliação de um serviço público por meio da descrição e análise de

sua constituição e atribuições.

A pesquisa foi desenvolvida em três fases:

A primeira, de revisão bibliográfica, contou com poucos estudos relativos ao tema que se

concentravam no final da década de 1990, quando a questão sobre fauna nativa resgatada foi foco de

discussões internacionais.

A segunda, que abordou o conteúdo tratado no estudo de caso, foi realizada a partir de

documentos institucionais como relatórios de atividades anuais; diários oficiais e publicações

institucionais. Também foram consultadas diferentes unidades da Secretaria Municipal do Verde e do

Meio Ambiente (SVMA), que disponibilizaram informações e dados por elas gerenciados.

A terceira, de apresentação e análise de dados, contou com uma ferramenta de informações, o

Sistema de Informações da Fauna (SISFAUNA)4. Esse sistema armazena informações relativas aos

animais atendidos, e nele encontram-se os registros de entrada e de destinação.

A pesquisa revelou que a Prefeitura de São Paulo criou, por meio de leis municipais, tanto

uma Divisão Técnica de Medicina Veterinária e Manejo da Fauna Silvestre (DEPAVE-3), como o

Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) e o Centro de Triagem de Animais Silvestres

(CETAS), com atribuições que garantem a gestão e o manejo da fauna silvestre na cidade.

HISTÓRICO, ATRIBUIÇÕES E ESTRUTURA

A Divisão Técnica de Medicina Veterinária e Manejo da Fauna Silvestre (DEPAVE-3), do

Departamento de Parques e Áreas Verdes (DEPAVE), da Secretaria Municipal do Verde e do Meio

Ambiente (SVMA), foi criada pela Lei Municipal n° 11.426, de 18 de outubro de 1993, a partir de um

“Projeto para a Criação do Serviço Médico Veterinário, Biologia e de Manejo de Fauna no

Departamento de Parques e Áreas Verdes”, iniciado em 03 de janeiro de 1989, na Secretaria de

Serviços em Obras da Prefeitura de São Paulo5.

O Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) foi instituído pela Portaria nº

044/SVMA.G/95, que definiu sua localização e atribuições. Somente em 9 de maio de 1996 foi

publicada a Lei Municipal n° 12.055, que autorizou a implantação no Parque Anhanguera do CRAS e

do Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS), como Seções Técnicas do DEPAVE-3.

Dentre suas atribuições, o DEPAVE-3:

• Recebe animais resgatados e presta atendimento hospitalar clínico-cirúrgico, com suporte

laboratorial;

• Presta assistência biológica e nutricional aos animais recebidos;

• Reabilita e destina os animais atendidos;

• Responde pela manutenção do acervo faunístico dos parques municipais;

• Realiza o inventário faunístico na cidade de São Paulo;

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As informações e procedimentos são registrados em fichas que compõem o prontuário dos

animais atendidos, e parte delas é lançada no SISFAUNA.

Com relação aos recursos humanos, o DEPAVE-3 contava, no final de 2007 com 59

funcionários, sendo: 28 técnicos de nível superior (17 médicos veterinários e 11 biólogos), 11

tratadores de animais e 20 operacionais (vigias e auxiliares de limpeza). Além do corpo efetivo de

funcionários, a Divisão também contava com 21 universitários (10 de Biologia e 11 de Medicina

Veterinária) contratados como estagiários por 1 ou 2 anos6.

Dentre os 11 biólogos, 03 deles possuíam doutorado, 04 mestrado, e 02 pós-graduação;

enquanto que, dentre os 17 médicos veterinários, 03 deles possuíam mestrado e 11 pós-graduação.

A equipe técnica também elabora material para publicação, realiza cursos relacionados à

fauna, presta atendimento telefônico para pessoas que procuram o serviço para sanar dúvidas, além de

acompanhar visitas técnicas monitoradas pela sede do DEPAVE-3.

Não foi possível determinar o valor dos recursos financeiros empregados na gestão da fauna

pelo DEPAVE-3, uma vez que, apesar de possuir uma dotação orçamentária própria, essa é destinada

apenas para a compra de equipamentos e materiais e a contratação de serviços voltados diretamente

para os animais.

Como estrutura física, o DEPAVE-3 conta com duas sedes, uma no Parque Ibirapuera e outra

no Parque Anhanguera, onde estão instalados o CRAS e o CETAS.

A capacidade de suporte para internação de animais é bastante variada, dependendo das

espécies alojadas. Segundo o DEPAVE-37 , no dia 05 de fevereiro de 2007, havia 585 animais

internados em ambas as sedes, sendo: 429 aves; 86 mamíferos e 70 répteis.

Um problema enfrentado pela equipe diz respeito a sua estrutura física, tanto no Parque

Ibirapuera como no Anhanguera, que não condizem com as exigências do serviço. A construção de

uma nova sede denominada de “Centro de Manejo e Preservação da Fauna Silvestre – SP Fauna

Silvestre do Parque Anhanguera”8

está em andamento para melhor atender as demandas,

principalmente aquelas relacionadas aos procedimentos hospitalares.

BIODIVERSIDADE FAUNÍSTICA

Outra atribuição do DEPAVE-3, iniciada oficialmente em 1993, é o “Projeto

Inventariamento Faunístico em Áreas Verdes do Município de São Paulo”.

No período de 1993 a 2006, a Prefeitura de São Paulo publicou diversos resultados do

projeto9. Em 2006, foram pesquisadas 48 áreas verdes representativas da cidade. Nela foi registrada a

ocorrência de 429 espécies de animais vertebrados, sendo: 285 pertencentes ao grupo das aves, 58 dos

mamíferos, 37 dos répteis, 40 dos anfíbios e 09 dos peixes, além de 06 espécies de animais

invertebrados (SÃO PAULO, 2006).

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© Revista INTERFACEHS - v.6, n.1, Artigo, Abril. 2011 26

Com relação às aves, das 285 espécies foram registradas 19 diferentes ordens, 53 famílias e

233 gêneros. Quanto aos mamíferos, das 58 espécies foram registradas 10 diferentes ordens, 22

famílias e 49 gêneros.

Dentre as 435 espécies de animais inventariadas, 73 espécies são endêmicas da Mata

Atlântica e 14 espécies estão provavelmente ameaçadas de extinção no Estado de São Paulo, segundo

o Decreto Estadual nº 42.838/98 (SÃO PAULO (Município), 2006).

Merece destaque no inventário da fauna da cidade de São Paulo a ocorrência da onça-parda

(Puma concolor), considerada uma espécie vulnerável à extinção no Estado de São Paulo (SÃO

PAULO (Município), 1998). Essa espécie também se encontra ameaçada de extinção na Lista da

Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (2003); no apêndice II da CITES (2006); e como quase

ameaçada na Lista Vermelha Mundial da IUCN (IUCN, 2006).

Em 2010, o inventário da fauna foi atualizado, com os registros obtidos no período de 1993 a

2010, e catalogou 700 espécies em 81 áreas pesquisadas. Merece destaque a ocorrência do mono-

carvoeiro ou muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides), uma das espécies mais ameaçadas de extinção

das Américas, documentada na região sul do Município (SÃO PAULO (Município), 2010).

Esse inventário da fauna da Cidade, único do País realizado por poder público, cumpre

papéis fundamentais (CBD, 2008):

• Respalda as solturas de animais realizadas pelo DEPAVE-3;

• Subsidia a elaboração de estudos e relatórios de impacto ambiental no Município;

• Direciona projetos de manejo de áreas verdes do Município;

• Gera indicadores ambientais;

• Orienta políticas públicas locais;

• É fonte de informações para publicações como o Atlas Ambiental do Município de São

Paulo, GEO Cidade de São Paulo, Fauna Silvestre da Cidade;

• Contribui na catalogação da biodiversidade do Estado de São Paulo.

MANEJO DE ANIMAIS SILVESTRES

Outra atribuição refere-se ao manejo de animais silvestres realizado pelo DEPAVE 3 e que

compreende todos os procedimentos realizados com os animais durante o processo de sua internação,

como: captura, contenção, transporte, marcação, atendimento médico veterinário, atendimento

biológico, ambientação no recinto, alimentação, reabilitação, soltura. Isso implica que, desde o

momento da entrada do animal no serviço, até que o mesmo seja solto ou entregue para uma outra

instituição, ele estará submetido ao constante manejo por parte da equipe de trabalho (BRANCO,

2002).

Nesse sentido, o DEPAVE-3 conta com um protocolo, elaborado pela própria equipe,

contendo as normas de procedimentos que descreve de maneira detalhada as rotinas das diferentes

unidades da Divisão, tanto na esfera técnica, como na administrativa e operacional10 .

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© Revista INTERFACEHS - v.6, n.1, Artigo, Abril. 2011 27

Na entrada, os animais recebem atendimento médico veterinário clínico e cirúrgico e

dependendo do histórico, são colhidos materiais biológicos como sangue, urina e fezes para uma

avaliação do estado de saúde, além da pesquisa de doenças infecciosas e parasitárias, em especial as

zoonoses, a exemplo dos mamíferos onde é pesquisada a raiva e a toxoplasmose (SILVA et al., 2000),

a leptospirose (CORRADO, 2001) entre outras, dependendo da espécie. Esse procedimento auxilia no

tratamento de doenças dos animais internados e propicia a detecção de zoonoses que acometem a

população humana que reside na cidade.

Os animais que vêm a óbito, também dependendo do histórico e espécie, são submetidos ou

encaminhados para exame de necropsia para detecção da causa mortis. Em alguns casos é aproveitada

a pele ou o esqueleto para compor o acervo de peças biológicas da própria Divisão ou doação para

museus.

Todos os animais permanecem internados até o momento da destinação,

sendo que, durante esse período recebem acompanhamento biológico onde são

realizadas a identificação, biometria e marcação, além da orientação quanto à dieta e

adequação do recinto de internação para o espécime, sempre na dependência da

espécie. A partir dos dados do SISFAUNA foi constatado que as espécies de aves mais atendidas no

DEPAVE-3, no período de 1991 a 2003 foram: rolinha (Columbina talpacoti), corujinha-do-mato

(Otus choliba), sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris), bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), coruja-

orelhuda (Rhinoptynx clamator) e periquito-rico (Brotogeris tirica). Para Columbina talpacoti, o

principal motivo de entrada foi o recolhimento de filhotes em fase de aprendizado de vôo. Para a Otus

choliba e Rhinoptynx clamator, 24,6% das entradas foram de filhotes e outros 24% foram devidos a

traumas diversos. O Brotogeris tirica freqüentemente é recebido com lesões provocadas por linhas de

pipa (ALMEIDA et al., 2003).

Quanto aos animais apreendidos pelos agentes de fiscalização, encontram-se principalmente

as aves canoras, como o canário-da-terra (Sicalis flaveola), galo-da-campina (Paroaria dominicana),

cardeal (Paroaria coronata), e várias espécies de Sporophila como os coleirinhos e bigodinhos.

Também, é comum o recebimento de psittaciformes como araras, papagaios e periquitos; primatas

como sagüis e macacos-prego; e répteis como jabutis e cágados.

Os bugios (Alouatta guariba clamitans), que habitam fragmentos de remanescentes da Mata

Atlântica do Município, são bons exemplos de animais vitimados pela pressão humana. Dados do

DEPAVE-3 revelam que, de um total de 138 animais recebidos para tratamento no período de janeiro

de 1992 a janeiro de 2006, 61,6% vieram da Zona Norte, e 27,5% da Zona Sul. A entrada desses

animais no serviço revela alguns impactos sobre a fauna, causados pela pressão urbana, como:

eletrocussões provocadas por fios de alta tensão; ataques por cães; atropelamentos; além do

recebimento de filhotes órfãos (SUMMA et al., 2006).

Desde a implantação do serviço em dezembro de 1991, até o mês de agosto de 2010, foram

atendidos 40.630 animais no DEPAVE-3.

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Apesar de se tratar de um serviço voltado ao atendimento de animais da fauna silvestre

nativa, também atende outras demandas envolvendo animais silvestres exóticos e até domésticos que,

direta ou indiretamente, convivem com a fauna silvestre nativa na cidade.

Durante o período de 1992 a 2007, o DEPAVE 3 prestou atendimento a 27.779 animais

pertencentes somente à fauna silvestre nativa e que foram encaminhados para o serviço por terem sido

resgatados ou apreendidos. Dentre esses, 21.070 pertenciam ao grupo das aves, 5.036 dos mamíferos e

1.673 dos répteis.

As entradas por resgates se devem a diversos motivos, principalmente quando os animais são

provenientes da região, porém, um grande número corresponde a animais que foram apreendidos

pelos órgãos de fiscalização (figura 1).

Figura 1 - Número de animais silvestres nativos que deram entrada no DEPAVE-3, segundo o ano e o

motivo da entrada, no período de janeiro de 1992 a dezembro de 2007.

0

500

1000

1500

2000

2500

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

ResgateApreensão

Fonte: DEPAVE -3, 2008. Notas: Resgate - Animais de vida livre ou do acervo dos parques municipais. Apreensão: Polícias (Militar e Civil) e IBAMA.

Dos 27.779 animais silvestres nativos atendidos durante o período de 1992 a 2007, 16.269

(58,57%) haviam sido resgatados, enquanto que 11.510 (41,43%) haviam sido apreendidos por órgãos

de fiscalização.

Nota-se que, apesar do número total de animais resgatados ser maior do que o dos

apreendidos, apenas durante o período de 1999 a 2001 ocorreu uma inversão, não devido a diminuição

dos resgatados, mas pelo aumento significativo do número de apreensões, época em que a discussão

sobre o tráfico de animais silvestres estava em evidência no cenário nacional, principalmente devido à

promulgação da Lei de Crimes Ambientais n° 9.605/98, regulamentada em 1999.

Durante os procedimentos de manejo dos animais e mediante a necessidade, materiais

biológicos como sangue, fezes, urina, raspados de pele são colhidos para exame na própria unidade,

ou encaminhados para pesquisadores e laboratórios especializados. A colheita do material atende um

protocolo, previamente estipulado. Os exames laboratoriais realizados nos materiais colhidos dos

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© Revista INTERFACEHS - v.6, n.1, Artigo, Abril. 2011 29

animais internados ou que tiveram óbito visam diagnosticar doenças, inclusive inaparentes. Esse

procedimento conta com a participação de pesquisadores, institutos de pesquisas e universidades, além

de laboratórios particulares.

Os tipos de exames realizados normalmente são os sorológicos, hemograma, parasitológico,

histopatologia, necropsia, cariótipo. Dentre os exames sorológicos, está incluída a pesquisa de doenças

como a raiva, leptospirose, toxoplasmose, arbovirose, hepatite, malária, e nos parasitológicos os

exames para pesquisa de endo e ecto- parasitas. Além de exames laboratoriais, outros exames como

raios X e ultrasonografia também são realizados, mediante a necessidade do caso clínico.

A realização de exames laboratoriais está voltada tanto visando à saúde dos animais como a

do homem, uma vez que a maioria dos animais que chega ao serviço foi manipulada por pessoas que

desconhecem os riscos de transmissão de doenças. Também é considerado o fato que os animais

vivem em áreas urbanas, próximos de animais domésticos e da população humana.

Como exemplo de risco, destaca-se a comprovação da ocorrência da raiva em morcegos

doentes, resgatados de parques urbanos localizados na Cidade de São Paulo e encaminhados pelo

DEPAVE-3 para pesquisa da raiva, no Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), da Prefeitura de São

Paulo11 .

Simultaneamente à assistência médica e laboratorial, os animais recebem acompanhamento

biológico voltado à sua recuperação e reabilitação, para que possam ser recolocados na área de

procedência, desde que sejam atendidos os critérios técnicos preconizados pela equipe de trabalho.

Os reflexos desse trabalho podem ser avaliados pelos números apontados em um estudo

realizado pelos técnicos do DEPAVE-3. Entre 1992 e 2006, foram recebidos 24.692 animais, de 333

espécies, dos quais 12.579 foram soltos em áreas de procedência ou ocorrência da espécie. Assim,

51% dos animais atendidos foram recolocados em seu ambiente natural. Os animais que não

preencheram os quesitos de soltura foram destinados para zoológicos e outras instituições

legalizadas12.

Dentre os critérios de soltura adotados pelo DEPAVE-3, BRANCO (2002) destaca que, para

que um animal seja recolocado no seu hábitat natural é necessária à observância da legislação e o

cumprimento dos seguintes critérios:

• O animal deve ser solto na área de procedência do espécime, e dependendo da

espécie, na área de sua ocorrência;

• Deve estar confirmada a ocorrência da espécie na área de soltura; • Deverão ser realizados exames laboratoriais específicos para a espécie, com a finalidade de se

detectar e investigar doenças inaparentes;

• O animal deve estar com a saúde, anatomia e fisiologia recuperadas;

• O animal deve estar identificado por método de marcação preconizado para a espécie;

• As solturas devem ser monitoradas, sempre que houver esta possibilidade.

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A adoção desses critérios é justificável, pois, solturas realizadas de maneira indevida podem

comprometer as espécies que já vivem na localidade e provocar desequilíbrio ambiental, devido aos

riscos de:

• Introdução de uma espécie animal que não ocorre na área de soltura;

• Introdução de uma nova doença no meio silvestre. Além desses riscos, outro problema que normalmente ocorre é a morte do animal que foi

solto sem condições físicas, ou sem aprendizado de sobrevivência na natureza. Também é verificada

se a área onde o animal se encontrava, quando foi resgatado, apresenta sinais recentes de degradação

que impeça que a soltura seja realizada.

Os animais com procedência conhecida são recolocados no local onde foram resgatados, ou

próximo dele, mesmo que seja na Região Metropolitana de São Paulo, e, nesse caso, mediante a

expedição de guia de transporte pelo IBAMA. Já aqueles provenientes de apreensões sem

procedência, dependendo da espécie, são soltos em áreas de ocorrência natural da espécie,

confrontando os dados das listas do inventário da fauna e consultas bibliográficas.

Porém, mesmo que os animais sejam procedentes da região, se não

preenchem os critérios para soltura, são destinados ao cativeiro e encaminhados, com

autorização do IBAMA, para zoológicos ou criadouros. O mesmo destino é dado

para os animais pertencentes a espécies que não ocorrem na região de abrangência do

serviço. Quando observados os critérios de soltura adotados pelo DEPAVE-3, pode ser concluído que

a maioria dos animais reintegrados é aquela vitimada por acidentes. Esses animais, quando

recuperados, têm grande chance de reintegração, pois sua procedência é conhecida.

Uma situação mais complexa envolve animais apreendidos pelos órgãos de fiscalização,

vítimas do tráfico. Nas apreensões, normalmente não é possível registrar o histórico de procedência ou

origem dos animais, e, dependendo da espécie, a falta de informações impossibilita sua recolocação na

natureza. Esses acabam sendo destinados ao cativeiro, mesmo destino dado para os animais silvestres

com características de domesticação.

Porém, CARVALHO (2007, p. 279) relata o caso de um gavião-carijó (Rupornis

magnirostris) recebido no DEPAVE-3, em julho de 2002, trazido no ombro, e que apresentava bom

estado nutricional, com as penas desgastadas pelo cativeiro. Após o tratamento e reabilitação para vôo

e caça, a ave foi solta em novembro de 2002. Em junho de 2004, ela foi recuperada demonstrando o

sucesso na sua adaptação à vida livre, por 1 ano e 7 meses.

Após a realização de todos os procedimentos indicados para recuperar cada animal recebido,

o mesmo é transferido para o CETAS, responsável por sua destinação. Os 27.779 animais silvestres

nativos atendidos durante o período de 1992 a 2007 tiveram diversas destinações, sendo que 14.124

foram recolocados na natureza. (figura 2).

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Figura 2 - Percentual do número de animais silvestres nativos que saíram do DEPAVE-3, segundo o

motivo, no período de janeiro de 1992 a dezembro de 2007.

SolturaMorteCativeiroOutros

Fonte: DEPAVE- 3, 2008. Nota: Outros: Repatriamento, perdas; envio para o CCZ, pesquisa, ou ainda internados.

Nota-se que a soltura, seja por recolocação ou translocação, tem sido o destino dado à

maioria dos animais recebidos, mesmo o DEPAVE-3 atendendo um grande número de animais

apreendidos de outras regiões do País que não podem ser soltos. Isso reflete no número de animais que

são destinados ao cativeiro, morrem ou têm outro destino.

Chama a atenção o elevado número de óbitos, demonstrando que mesmo quando assistidos

por um serviço especializado, os animais chegam em péssimas condições de saúde decorrentes de

lesões ou maus tratos, transporte realizado de maneira imprópria, além do stress que sofrem durante os

procedimentos de manejo, mesmo que esses sejam voltados à recuperação da saúde do animal.

AVALIAÇÃO E MONITORAMENTO

Para a avaliação de solturas, o monitoramento é uma ferramenta indispensável, porém, ele

normalmente não é realizado pelas instituições por exigir equipamentos sofisticados e onerosos, e

equipe de campo especializada.

O DEPAVE-3 adotou o sistema de monitoramento de aves silvestres com anilhas do Centro

Nacional de Pesquisa para a Conservação das Aves (CEMAVE), de 1998 a 2004. A partir desse ano,

passou a utilizar anilhas confeccionadas para a Prefeitura de São Paulo, que são empregadas nas aves

que são recolocadas na natureza. O anilhamento permitiu que a equipe aprimorasse o monitoramento

das solturas e a obtenção de dados sobre a sobrevivência dos animais.

Entre outubro de 1998 a maio de 2005, foram anilhadas e soltas 3.854 aves. A taxa de

recuperação foi de 2,2%, das quais 52,4% eram rapinantes, ou seja, corujas, gaviões e falcões. Os

outros 47,6% foram, na grande maioria, passeriformes, seguidos por anseriformes, ciconiformes,

50,84 %

33,83 %

9,9 %

5,43%

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psitaciformes, caprimulgiformes, coraciformes, piciformes, gruiformes, columbiformes, cuculiformes

e apodiformes. (CARVALHO e NAMBA, 2006); (CARVALHO, 2007).

Para as outras classes de animais são adotados outros sistemas de marcação para

monitoramento, a partir de métodos preconizados para a espécie, como no caso dos mamíferos onde

são empregados tatuagem e implantação de microchip.

Para o bugio (Alouatta guariba clamitans), desde 1996 está sendo desenvolvido um projeto

específico de recolocação. Nove grupos de bugios, totalizando 24 indivíduos, foram soltos nas áreas

remanescentes de Mata Atlântica no Município de São Paulo. Uma das evidências da contribuição do

projeto para a sobrevivência da espécie traduz-se em 10 nascimentos ocorridos em cativeiro e outros

dois nascimentos em vida livre (SUMMA et al., 2006). Atualmente, está sendo adotado o sistema de

radiotelemetria para o monitoramento da espécie.

O monitoramento é a etapa final do processo que teve início com a entrada do animal no

serviço e que permite verificar se houve sucesso no manejo dos animais, realizado durante o período

de internação.

COMUNICAÇÃO DE RESULTADOS

Na área da comunicação, o DEPAVE-3 tem disseminado informações sobre os animais

silvestres, tanto para o público em geral como para os profissionais da área técnica, em forma de

matérias para a imprensa radiotelevisiva e escrita, publicações, palestras, cursos de capacitação,

merecendo destaque os resultados decorrentes da produção de trabalhos acadêmicos e científicos13 .

Pode-se verificar que as informações e dados gerados pelo DEPAVE-3 vem sendo

empregados por empreendedores, órgãos ambientais e principalmente pela própria Secretaria do

Verde e do Meio Ambiente na avaliação de Relatórios de Impacto Ambiental (RIMA), processos de

licenciamento de obras, fiscalização e implantação de parques e unidades de conservação. Dessa

forma, a municipalidade pode contar com mais informações e dados acerca dos impactos sobre fauna

silvestre, a saúde dos animais, os riscos de zoonoses e a biodiversidade faunística urbana para

subsidiar a gestão ambiental e o planejamento da cidade.

CONCLUSÃO

Com relação aos dados gerados pelos setores de clínica médica e medicina preventiva, esses

podem estar diretamente ligados à saúde da população. Os exames para diagnóstico de doenças como

a raiva, leptospirose, toxoplasmose, hantavirose, malária, revelam que os animais silvestres que dão

entrada no serviço podem ser portadores de agentes causadores de zoonoses, que podem afetar

drasticamente a saúde do homem. Nesse sentido, vários trabalhos de pesquisa estão sendo realizados

a partir de materiais colhidos dos animais recebidos para atendimento e encaminhados para

instituições de pesquisa.

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© Revista INTERFACEHS - v.6, n.1, Artigo, Abril. 2011 33

Devido às características do serviço, tanto os profissionais como os estagiários que atuam no

serviço têm a oportunidade de aprendizado a partir do manejo de animais silvestres de diferentes

espécies, com diferentes problemas de saúde, e que exigem um grande esforço da equipe para o

sucesso do tratamento e da reabilitação, expressos principalmente no ato de soltura.

Como resultados da gestão e do manejo da fauna silvestre podem ser considerados os

benefícios para os espécimes animais atendidos; o avanço na área de pesquisa médica a partir da

análise de materiais biológicos coletados; e o conhecimento gerado durante a realização das práticas

de manejo com os animais.

Com um serviço específico voltado à fauna, o governo possui instrumentos para tomada de

decisões que vão desde a avaliação sobre a criação de uma unidade de conservação, assim como a

implantação de empreendimentos impactantes para o meio, e até o posicionamento com relação a

questões como: controle de espécies invasoras; abate de manejo; caça; venda de animais silvestres

como pet. Atualmente, as discussões sobre essas questões são norteadas ora por visões humanitárias,

ora utilitaristas, devido à falta de informações.

A Prefeitura de São Paulo, ao criar o DEPAVE-3, passou a:

• Cumprir a legislação ambiental referente à fauna;

• Disponibilizar um serviço público para atendimento de demandas sobre fauna silvestre;

• Assumir a responsabilidade na gestão da fauna;

• Conhecer a fauna do seu território;

• Obter informações e dados importantes para a gestão ambiental e planejamento da cidade;

• Conhecer as doenças presentes na fauna silvestre de vida livre;

• Desenvolver técnicas para a recolocação de animais vitimados na natureza;

• Contribuir com material para pesquisa;

• Formar profissionais especializados no manejo de animais silvestres;

• Publicar os resultados decorrentes dos trabalhos realizados.

O fato da Prefeitura de São Paulo ter criado um serviço voltado prioritariamente ao

atendimento de animais silvestres vitimados em seu território, e não de animais apreendidos pelos

órgãos de fiscalização, permite que, com a adoção de critérios técnicos, os animais possam ser

reintegrados na natureza. Com isso, liberam espaço para novos atendimentos, até para animais não

procedentes da região, vítimas do tráfico ou comércio ilegal.

Outra característica do serviço é estar estruturado para realizar o inventário da fauna e o

manejo de animais silvestres, uma vez que, os critérios adotados para a recolocação dos animais

resgatados na natureza exigem o conhecimento do meio, tanto das espécies que ocorrem na localidade

como das doenças, além das condições ambientais.

A pesquisa revela que a gestão da fauna não deve ser entendida como um trabalho de caráter

protecionista, voltado à solução de problemas de alguns espécimes de animais vitimados, e sim, como

um serviço estratégico para orientar o planejamento e as ações voltadas à conservação e preservação

de áreas naturais e implantação de áreas verdes. Dessa forma, podem garantir a presença de maior

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biodiversidade no ambiente urbano, além de possibilitar o controle do estado de saúde dos animais e o

conhecimento das zoonoses que podem acometer a população humana.

Considerando a legislação vigente, os problemas relativos à fauna silvestre e os resultados

obtidos pelo serviço prestado pela Prefeitura de São Paulo, através do DEPAVE-3, a pesquisa

demonstra que o Estado, nas suas diferentes esferas de governo, deve ser aparelhado para fazer a

gestão e o manejo da fauna silvestre nativa, em seu território.

Além do mais, deve-se considerar que:

• Assumir a gestão da fauna silvestre requer da instituição uma capacidade financeira para

arcar com os custos do serviço que, frente à alta complexidade, é bastante oneroso,

principalmente quanto às instalações, equipamentos e pessoal necessários;

• É necessário contar com instituições de pesquisa e ensino próximas ao serviço e buscar

formalizar parcerias com essas instituições;

• É imprescindível que o serviço de gestão e manejo da fauna, independente da denominação,

seja instituído por política pública que garanta a sua estruturação, operação e continuidade.

Dessa forma, conclui-se que a gestão e o manejo da fauna silvestre exigem um grande

compromisso do poder público, que pode ser revertido para a saúde e o bem estar da população, a

conservação de áreas verdes, e a preservação de remanescentes florestais, refletindo na saúde

ambiental.

CONTRIBUIÇÃO

Como contribuição, a pesquisa recomenda que as capitais de estado e as principais cidades

do País, integrantes do SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente), criem políticas públicas e

assumam a gestão da fauna silvestre nativa de seu território, criando serviços voltados ao manejo de

animais silvestres resgatados na região, a exemplo do Município de São Paulo. Essa medida

possibilitaria que um maior número de animais vitimados, também pelo comércio ilegal, fosse

reintegrado ao meio natural, quando repatriados ao estado de origem.

NOTAS 1

Resultado da dissertação de Mestrado de Angela Maria Branco, defendida na Faculdade de Saúde

Pública da USP, na área de concentração Saúde Ambiental, sob orientação da Professora Helena

Ribeiro, em 2008. 2 A IN MMA nº 003, de 28.05.2003 e IN MMA nº 005 Anexo 1, de 26.05.2004 + Portaria nº 52 de

08.11.2005 acrescentou na lista de 2003 as espécies de peixes e invertebrados aquáticos. 3 Zoonose é toda doença ou infecção naturalmente transmissível dos animais vertebrados aos seres

humanos. As zoonoses podem ser bacterianas, virais, ou parasitárias, ou ainda podem envolver

agentes não convencionais, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

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Também é definida como enfermidade que se transmite dos animais vertebrados ao homem, e as

comum ao homem e aos animais ACHA (1977). 4 O SISFAUNA – Sistema de Informações da Fauna foi desenvolvido pelo Analista

de Sistemas Natal Saito e pelas médicas veterinárias Angela Maria Branco e Maria

Eugênia Laurito Summa, para o DEPAVE-3, em 1993. 5 O “Projeto para a Criação do Serviço Médico Veterinário, Biologia e de Manejo

de Fauna no Departamento de Parques e Áreas Verdes”, iniciado em 03 de janeiro de

1989 na Secretaria Municipal de Serviços em Obras, foi tratado no Processo PMSP –

SSO/DEPAVE nº 02.003.176-92*66. 6 Informações fornecidas pela Coordenadoria de Estágios da Divisão de

Desenvolvimento Pessoal da SVMA, em 2007. 7 Dados obtidos no Relatório de Atividades do DEPAVE-3, referente ao ano de 2007,

encaminhado para o IBAMA. 8 Informação publicada do Diário Oficial da Cidade de São Paulo, 19 de jun. 2008, v.

53, n.107, p. 73. 9 Capítulo sobre o Projeto em SILVA, et al. (1993) e publicação de quatro listas da fauna inventariada

na cidade: SÃO PAULO (1998ª) ; SÃO PAULO, (1999ª); SÃO PAULO, (2000); SÃO PAULO,

(2006). 10 Normas de Procedimentos elaboradas pelos técnicos do DEPAVE-3, em 2001. 11 Animais encontrados no Parque Municipal Tenente Siqueira Campos e Parque Estadual Alberto

Loefgreen, e que foram encaminhados para exame de diagnóstico da raiva, no Centro de Controle de

Zoonoses da Prefeitura da Cidade de São Paulo, nos anos de 1997 e 2001. 12 Informações contidas na publicação São Paulo Biodiversity Report -2008. 13 Informações retiradas dos Relatórios Anuais da Divisão Técnica de Medicina Veterinária e Manejo

da Fauna Silvestre, no período de 1993 a 2003, e pesquisa na internet.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, A. F. et al. Levantamento da avifauna da Região Metropolitana de São Paulo atendida

pela Divisão Técnica de Medicina Veterinária e Manejo da Fauna Silvestre. Boletim CEO, São Paulo,

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A GESTÃO AMBIENTAL DO SETOR DE TRATAMENTO DE SUPERFÍCIE

DA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO1

Lady Virginia Traldi Meneses - MSc.em Saúde Pública /USP

João Vicente de Assunção FSP/USP

RESUMO

Este estudo teve como objetivo apresentar o estágio da gestão ambiental e o

grau de inserção do conceito de prevenção à poluição das atividades do setor de

tratamento de superfície situadas na RMSP. Metodologia O estudo foi desenvolvido

em duas etapas: levantamento de dados secundários, por meio de revisão

bibliográfica internacional e levantamento de dados primários, empregando as

técnicas de pesquisa qualitativa e quantitativa baseada em um plano de amostragem

estatístico com 34 empresas de um universo de 152 pertencentes ao setor de

tratamento de superfície, por meio de aplicação de questionário junto às empresas

amostradas. Resultados O estudo de caso revelou que trinta empresas amostradas

são nacionais e empregam até 50 funcionários; 26 são prestadoras de serviços para o

setor automobilístico, auto peças, mecânica; 29 recorrem a funcionários habilitados

ou consultoria externa para operar o Sistemas de Tratamento de Águas Residuárias -

STAR ou o processo industrial; 11 são filiadas ao CENTRALSUPER e 13 ao

SINDISUPER; a maioria conhece a legislação ambiental vigente mas desconhecem a

lei de crimes ambientais; 26 tem inventário e controle de estoques e 21 realizam 1 Parte da Dissertação de Mestrado de Meneses, Lady Virginia Traldi ”Instrumentos de Política Ambiental Aplicados ao Setor de Tratamento de superfície na Região Metropolitana de São Paulo”, apresentada à Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. São Paulo. 2001.

©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados. Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que

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completa da fonte. Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]

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inspeções para detectar vazamentos e derramamentos de maneira informal e visual;

somente 5 possuem pisos adequados. Todas instalaram STAR e tipo batelada (25) e a

maioria encaminha o lodo gerado para um armazenamento temporário à

CENTRALSUPER que os encaminha para empresa localizada em outro Estado da

Federação do Brasil para formulação de micronutrientes utilizados em fertilizantes;

o conceito de prevenção à poluição é desconhecido (11) ou é entendido como

controle de poluição (20); 20% intencionam substituir produtos tóxicos: cianetos

(39%) e cromo hexavalente (46,3%); todas implantaram segregação de linhas;

programas de redução de água e energia estão em curso (41,9%) e reutilização da

água na lavagem de peças (31%) ou nos sanitários (24,6%); técnicas de lavagem em

contra-corrente são adotadas somente para 5,3 %; 18 foram requisitadas pelos

clientes para obtenção das Normas ISO14000; apoio do governo por meio de

incentivos fiscais (31,7%) e financiamentos e assistência técnica (50%).

SUMMARY

This study herein had as specific aim to know the stage of the environmental

administration system and the level of insertion of the pollution prevention concept

of the activities of the surface treatment sector located in the Metropolitan area of

São Paulo. Methodology The study was developed in two steps/phases: collection of

secondary data through international bibliographic review and collection of primary

data, using the qualitative and quantitative research techniques, this last one also

called survey, based on a statistic sampling plan with 34 companies were sampled

out of a total of 152 belonging to the surface treatment department companies

sampled in the area of the case study. Results The study of the case demonstrated

that thirty sampled companies are domestic and have up to 50 employees; 26 are

service providers to the automobile sector, automobile parts and mechanic; 29 make

use of qualified employees or third parts to operate the Wastewater Treatment

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System - STAR or the industrial process; 11 are affiliate to CENTRALSUPER and

13 TO SINDISUPER; most of them know the environmental legislation in force but

they do not know the environmental crime law; 26 have stock control and state and

21 perform inspection in order to detect leaking and flowing in a visual and informal

manner; only 5 have adequate floor. All of them installed STAR and load type (25)

and the majority takes the mud created for temporary storage to CENTRALSUPER

which takes it to a company located in other State in Brazilian Federation for the

formulation of micronutrients used in fertilizers; the concept of pollution prevention

is unknown (11) or it is understood as pollution control (20); 20% intend to replace

toxic products: cyanides (39%) and hexavalent chromium (46,3%); all of them

implemented line segregation; water and energy saving programs are in course

(41,9%) and water reuse in the washing of parts (31%) or in restrooms (24,6%);

Countercurrent washing techniques are adopted only for 5,3%; 18 were requested by

the clients for the acquisition of ISO14000 Norms; government support through

taxing incentive (31,7%) end financing and technical assistance (50%); technical

requirements to air, water and residues are listed adopting traditional tools; pollution

prevention measures must be adopted, according to the technician interviewed.

1. INTRODUÇÃO

O setor de tratamento de superfície destaca-se como uma das atividades

industriais prioritárias em países do mundo, devido principalmente à variedade de

substâncias tóxicas manuseadas e incorporadas durante o processo produtivo, tais

como: ácidos, álcalis e metais. Largamente empregadas, estas matérias-primas, caso

venham a ser manuseadas de maneira imprópria, podem acarretar situações danosas

tanto ao trabalhador, afetado diretamente pela exposição às substâncias tóxicas

quanto ao meio ambiente, caso ocorra deposição inadequada dos resíduos perigosos

gerados pelo processo industrial (COSTA4 1989) (EPA10 1996). Sob o ponto de

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vista toxicológico, os metais e resíduos contendo metais são contaminantes

bioacumulativos e os resíduos contendo organoclorados são contaminantes

persistentes, ambos atingindo o solo ou as águas e podem acarretar efeitos negativos

ao meio ambiente e à saúde pública (COSTA4 1989).

No Estado de São Paulo, a região mais industrializada do Brasil, programas

governamentais têm sido estabelecidos, priorizando setores industriais que, por meio

de efetivo controle da poluição visam a melhoria contínua e crescente da qualidade

das águas e do ar. Neste sentido, o setor de tratamento de superfície, dada a sua

importância para o controle e a melhoria da qualidade ambiental, tem sido inserido

nestes programas, como o Programa de Despoluição da BHAT e da Represa Billings.

O PREND2 (SABESP 4 1998) priorizou setores e dentre eles, as atividades de

tratamento de superfície de metais as quais enviam os seus efluentes líquidos nas

ETEs da RMSP. O estudo do PDL da RMSP3 (SABESP 5 1998) priorizou a

aplicação do lodo gerado nas ETEs para a utilização na agricultura, devendo seguir

regras ambientais para minimizar impactos adversos ao meio ambiente.

A Região Metropolitana do Estado de São Paulo - RMSP é constituída por 39

municípios, 37 inseridos na BAHT e considerada como uma das áreas mais

impactadas ambientalmente e, por isso prioritária para ações governamentais tanto

quanto as atividades do setor de tratamento de superfície metálica.

1.1. Objeto de estudo: Setor de Tratamento de Superfície Metálica

A atividade de revestimento metálico de superfícies tem sido praticada pela

indústria por mais de um século e meio sendo o cobre o primeiro metal a ser

utilizado para recobrimento, seguido pelo cádmio, cromo, ouro, ferro, níquel, prata e

zinco (EPA26 1988). Esta atividade, denominada Tratamento de Superfícies

2 Programa de recebimento de efluentes não domésticos - PREND em que empresas priorizadas pelo Programa de Despoluição da BHAT encaminham os seus efluentes para tratamento nas cinco Estações de Tratamento de Esgotos - ETEs da RMSP. 3 Plano Diretor de Lodos da RMSP- O estudo prioriza a agricultura como a forma de aplicação de lodo gerado nas ETEs.

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Metálicas, é comumente conhecida como galvanização, cuja origem do termo advém

do cientista italiano Luigi Galvani (1757-1798), e surgiu em decorrência da

necessidade de obtenção de determinadas características físico-químicas em peças, a

fim de impedir a deterioração devido à oxidação, corrosão ou ataque de bactérias. A

galvanização, porém, é a aplicação de uma camada protetora de zinco a um metal,

principalmente o ferro, para inibir a corrosão (JUNIOR14 1999).

No Brasil, a galvanoplastia começou a aparecer a partir de 1950, com a

importação dos produtos químicos. (IBGE13 1982) classifica as atividades em

industriais e não industriais, e as atividades de tratamento de superfície metálica

podem estar inseridas em três grandes setores industriais ou gêneros como: os de

números 11, 12, e 14 correspondente à Metalurgia, Mecânica e Transporte,

respectivamente. (GÜNTHER11 1985) considera que as indústrias galvânicas

dividem-se em três segmentos: grandes indústrias cativas compreendendo empresas

automobilística e produtoras de utensílios, as pequenas indústrias cativas que são as

fábricas de máquinas operatrizes ou muitas das empresas produtoras de artigos

esportivos e, indústrias de serviços, prestadoras de serviços.

O processo industrial utilizado para o recobrimento de peças com um metal

está embasado no conceito químico de eletrodeposição, o qual é definido, em linhas

gerais, como a transferência de íons metálicos de uma dada superfície sólida ou meio

líquido denominado eletrólito, para outra superfície, seja metálica ou não. Está

dividido em duas principais etapas: limpeza das peças, e aplicação da camada

metálica propriamente dita (CETESB6 1990) (GEDULD10 1992). Os principais

processos de revestimentos de superfície metálica utilizados pelas galvanoplastias

nacionais envolve diferentes tipos de tratamentos de superfícies, destacando-se como

principais banhos de: zinco, zinco-ferro, zinco- níquel, zinco- cobalto, níquel, cromo,

cromo hexavalente, cobre, bronze, latão, níquel decorativo ou químico, anodização

de alumínio, fosfatização e eletropolimento.

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De um modo geral, as indústrias de galvanização apresentam condições de

trabalho bastante inadequadas, com riscos à saúde, relacionados à presença de

inúmeras substâncias, entre as quais metais (níquel, cromo, cádmio) e metalóides

como o arsênio, que podem provocar, nas pessoas expostas, manifestações alérgicas

ao nível cutâneo e respiratório, lesões de mucosa nasal e patologias gastrintestinais

(COSTA7 1989). Este autor cita, ainda, o cianeto que é um composto largamente

utilizado também uma substância tóxica que pode levar o trabalhador exposto ao

óbito, pela inibição da fosforilação oxidativa e, nos casos de exposição crônica, pode

determinar lesões de pele, alterações neuropsíquicas, além de processos inflamatórios

em mucosas conjuntivas e de vias respiratórias. Também outras substâncias tóxicas,

como ácidos e álcalis, causam fenômenos irritativos, alérgicos e, em muitos casos,

queimaduras graves.

1.2. A Prevenção à Poluição no Setor de Tratamento de Superfície Metálica

O conceito de prevenção à poluição para o setor de tratamento de superfície TS

apresenta quatro técnicas: melhoria das práticas operacionais, substituição de

matérias-primas, segregação de linhas de tratamento e treinamento dos funcionários.

(FOECKE8 1991) (EPA23 1988). As oportunidades de redução de resíduos na fonte

geradora são apresentadas no Quadro 1.

Quadro 1. Oportunidades de redução de resíduos para o setor de Tratamento de Superfície Metálica

Processo Fontes de Geração

Opções de Redução na Fonte Opções de Reciclagem

Movimentação e estocagem de materiais

Pré-inspeção de materiais Adequada estocagem de materiais Restrição de tráfego na área de estocagem Controle de inventário Aquisição de quantidades conforme a necessidade

Testes p/ verificar a utilidade de materiais com meia vida

Resíduos da usinagem

Óleo de corte

Utilizar óleo de corte de alta qualidade Filtração do óleo de corte Usar água desmineralizada Controle de concentração Limpeza de máquinas de reservatórios Manutenção de válvulas e gaxetas Limpeza de óleo de corte Designação de responsabilidade pelo Controle de óleo de corte

Remoção de sobrenadante Aglutinação Lavagem em ciclone Centrifugação Pasteurização Gradeamento

Limpeza de peças

Solventes Instalação de tanques cobertos Aumento da distância entre o topo da zona de vapor e o topo do

Separação por gravidade

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tanque e instalação de resfriadores nesta zona Evitar contaminação cruzada Apropriada solução de “make up” Padronização de solvente Melhorias das operações Substituição do meio

Separação por gravidade Filtração Destilação em batelada Destilação fracionada Usar como combustível Reciclagem interna ou externa

Limpadores aquosos

Remoção de lodos Usar métodos de limpeza a seco e decapagem Substituição do meio

Separação a óleo Reciclagem dos banhos

Abrasivos Usar aglutinantes a base de água ou sem gordura Usar “sprays” líquidos Controle do nível de água Abrasivos sintéticos

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Cont. Quadro 1. Oportunidades de redução de resíduos para o setor de Tratamento de Superfície Metálica Água de

lavagem Projeto do sistema de lavagem Lavagem por “spray” ou neblina Lavagem química Uso de água deionizada

Tratamento de superfície e eletrodeposição

Soluções de processo

Aumento do tempo de vida das soluções Substituição de material Substituição de processo Revestimento químico Cobertura mecânica e revestimento

Uso de limpeza por batelada com controladores de pH Recuperação de metais Evaporação Osmose reversa

Lavagem com água

Redução no descarte de produtos químicos nos processos; Velocidade de extração Tratamento de superfície Concentração dos banhos de eletrodeposição Uso de surfactantes Temperatura das soluções Posicionamento das pecas

Recuperação dos descarte Considerações sobre o projeto de sistemas; Projeto dos tanques de lavagem Tanques de lavagens múltiplas Lavagem reativa Sprays e bicos de neblina Controle automático de fluxo Agitação dos banhos de lavagem

Tratamento de superfície e eletrodeposição

Tratamento dos resíduos

Agentes de precipitação e outros produtos químicos p/ tratamento Uso de cromo trivalente Segregação de resíduos Desidratação de lodo

Tratamento térmico

Seleção dos processos limpos

Aplicação de tinta

Embalagens vazias

Segregação de resíduos Compras a granel Minimização residual

Resíduos da aplicação de tintas

Redução do excesso de “spray” Modificação de equipamentos Treinamento do operador Substituição de material de revestimento a base de solvente com: Revestimentos a base de água Revestimento por U.V. ou I.V. Revestimento a seco

Reutilização misturas de tintas contendo solventes Recuperação através de destilação Recuperação através de filtração

Fonte: (EPA24 1990 p. 14) (EPA25 1992) (EPA26 1994) (PIRES19 1996)

Um estudo desenvolvido pela EPA em 33 indústrias do setor de TS no Arizona

EUA (ARIZONA1 1992) apresenta as principais técnicas utilizadas para a redução e

minimização de resíduos, quer sejam: 29% em boas práticas de operação; 25% na

substituição de matérias-primas e 18% com medidas de minimização de resíduos por

meio da reciclagem, apresentado na Figura 1.

Figura 1 – Principais de redução e minimização no setor de Tratamento de Superfície Metálica, adotadas no Arizona/ EUA

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Boas Práticas de Operação

29%

Sistema de Enxágue6%

Substituição de Material25%

Reciclagem e Reutilização no Local

18%

Outros10%

Extensão do Tempo do Banho

4%

Redução de Arraste8%

Fonte: apud ARIZONA1 1992

2. OBJETIVOS

Apresentar o sistema de gestão ambiental implementado buscando conhecer o

estágio de incorporação do conceito de prevenção à poluição das atividades

pertencentes ao setor de tratamento de superfície metálica situado na RMSP.

3. METODOLOGIA

3.1. Método

O levantamento de dados primários foi realizado empregando-se as técnicas de

pesquisas qualitativa e quantitativa sendo esta também denominada de survey, a qual

é baseada em um plano de amostragem, com a realização de entrevistas pela

aplicação de questionário junto à população de estudo. O levantamento de dados

secundários foi desenvolvido por meio de revisão bibliográfica e documental.

Levantamento de dados primários

De acordo com SIMIONI21 et all 1997 “a busca da verdade é que deve ser o

eixo norteador da opção metodológica, sendo possível o “mix” entre métodos

qualitativos e quantitativos”. MINAYO17 1993 também considera que a “escolha

metodológica deve estar baseada na natureza do problema a ser estudado, bem como

no recorte da realidade de cada pesquisa”.

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MINAYO17 1996 assinala que “as metodologias de pesquisa qualitativa são

entendidas como aquelas capazes de incorporar a questão do significado e da

intencionalidade como inerentes aos atos, às relações e às estruturas sociais, sendo

estas últimas tomadas, tanto no seu advento quanto na sua transformação, como

construções humanas significativas. As abordagens qualitativas permitem a

compreensão dos campos e dos sentidos neles presentes na medida em que remetem

a uma teia de significados, de difícil recuperação através de estudos quantitativos. O

significado é a preocupação essencial na abordagem qualitativa”. BRITTEN &

FISCHER2 1993 p. 270 assinala que “a metodologia qualitativa implica em ouvir as

pessoas e observar o comportamento em seu mundo: um sistema que motiva, já é

uma força que ajuda muitos clínicos gerais em seu trabalho”.

A metodologia quantitativa de acordo com CARMO-NETO3 1993, também

denominada como técnica survey, é entendida como uma “ investigação de um

levantamento extensivo, e que significa um levantamento teórico aprofundado e que

é utilizado em todas as áreas do conhecimento”. Survey, de origem do francês antigo

é definida como examinar uma condição, situação, valor (PELICIONI20 1995) e

apresenta a característica “de produzir estatísticas, isto é, descrições numéricas ou

quantitativas de alguns aspectos de estudos populacionais. O meio principal para a

coleta de informações são as perguntas feitas para a população e suas respostas

constituem os dados a serem analisados. Normalmente, informações são coletadas

sobre frações da população, isto é da amostra, mas também podem ser coletadas

sobre todos os membros da população” (FOWLER9 1990 p. 9). GIL12 1991 p. 90,

considera que “o questionário constitui o meio mais rápido e barato de obtenção de

informações além de não exigir treinamento de pessoal e garantir o anonimato”.

Levantamento de dados secundários

Os dados para o levantamento bibliográfico foram obtidos das seguintes fontes:

Faculdade de Saúde Pública- FSP/ Universidade de São Paulo - USP –– Serviço

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Integrado de Bibliotecas - REPIDISCA; Universidade do ESP- UNESP;

Universidade de Campinas – UNICAMP; OEMA/SP e Pesquisa via Internet.

Os dados para o levantamento documental foram obtidos junto aos bancos de dados

da OEMA/SP que autorizou o seu acesso, quais sejam: Sistema de Informação de

Poluição -SIPOL, Empresas Prioritárias para o Inventário de Resíduos Sólidos

Industriais, Empresas Prioritárias do Projeto de Despoluição da BHAT, Inventário

das Águas, PREND e junto à FIESP, SINDISUPER e CENTRALSUPER.

3.2. Desenvolvimento da pesquisa

Plano Amostral aplicado às empresas do setor de tratamento de superfície metálica

situadas na RMSP

KUESTER15 1999 ensina que um plano amostral deve seguir uma metodologia

científica. Segundo o autor, a definição de uma amostra, ou seja, o estabelecimento

de um dimensionamento amostral, segue um processo que abrange:

Etapa 1 - Identificação da população de interesse. Para definir o universo de

empresas do setor de tratamento de superfície metálica localizadas na RMSP,

utilizou-se o cadastro dos empreendimentos do Projeto de Despoluição da BHAT:

foram selecionadas as empresas incluídas nas atividades industriais sob os códigos

11, 12 totalizando, desta forma, 638 empresas cadastradas e foram identificadas

aquelas do setor 11.80 do código do IBGE: Galvanoplastia; Tratamento superficial;

Galvanotécnica; Serviços de galvanoplastia; Cromeação de peças metálicas;

Zincagem de peças metálicas; Anodização de alumínio; Revestimento de peças

metálicas; Decapagem e Pintura eletrostática (IBGE16 1982), perfazendo um total de

233 empresas do ramo que estão localizadas nas BHAT.

Um rastreamento junto aos bancos de dados do órgão meio ambiente

OEMA/SP identificou as empresas em funcionamento: das iniciais 233 empresas

constatou-se o encerramento de 81 empresas, reduzindo-se a 152 empresas em

atividade na RMSP, distribuídas em oito escritórios da OEMA/SP.

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Etapa 2 - Determinação da delimitação e tamanho da amostra: Aplicou-se o

método estatístico de amostragem simples para calcular o tamanho da amostra tendo

como parâmetros o grau de confiança de 95% e erro permitido de 15% obtendo-se

então um total de 34 empresas a serem pesquisadas. Para identificação do número de

empresas da amostra, realizou-se uma estratificação proporcional ao tamanho do

estrato. A população de interesse foi definida como o número de empresas em

funcionamento do setor de tratamento de superfície metálica situadas na RMSP e

estratificada em função da localização e da abrangência de atuação dos oito

escritórios da OEMA/SP, conforme Tabela 1.

Tabela 1. Tamanho da amostra proporcional à população de interesse Estratos Tamanho da População de Interesse Amostra

Guarulhos (G) 8 2 Mogi das Cruzes (MG) 4 1

Osasco (O) 8 2 Pinheiros (P) 29 7 Santana (S) 21 5

Santo Amaro (SA) 18 4 Santo André (SD) 26 6

Tatuapé (T) 38 9 TOTAL 152 34

Ano Base 2001.

A aplicação da metodologia resultou, então, em obter o tamanho da amostra

ideal a qual foi compatibilizada proporcionalmente à população e à região de

interesse: o processo de seleção escolhido foi o aleatório, por meio de sorteio dentre

o universo das empresas já estratificadas.

Portanto, em um universo de 152 empresas do setor de tratamento de

superfície, 34 empresas perfazendo 22% do total, foram amostradas e sorteadas de

acordo com a estratificação considerando os oito escritórios da OEMA/SP.

População de estudo para aplicação do questionário “Roteiro de entrevista: empresas

selecionadas pertencentes ao setor de tratamento de superfície situadas na RMSP, já

abrangidas pelo Projeto de Despoluição da BHAT”

A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas, com aplicação de

questionário e via telefone, composto por 21 campos, divididos em três blocos:

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Bloco A: denominado Informações sobre a Empresa, contou com seis campos

caracterizados por questões fechadas e objetivou conhecer o perfil e porte das

empresas; a estruturação técnica e administrativa ambiental e grau de interação com

outros setores afins.

Bloco B: denominado Avaliação das Condições Atuais, objetivou conhecer o grau de

importância relacionado ao controle das fontes geradoras de poluição; bem como ao

atendimento as legislações ambientais.

Bloco C: denominado Informações sobre as Oportunidades Para Reduzir a Poluição,

objetivando conhecer intenções, iniciativas ou ações em curso implementadas no

bojo do conceito de Prevenção à Poluição, com relação à redução de água, energia,

substituição de matérias-primas bem como o grau de preocupação relativo à

reciclagem e/ou reutilização dos resíduos gerados no processo industrial. Em síntese,

este bloco objetivou obter o estágio do Sistema de Gestão Ambiental em função dos

critérios estabelecidos pela Norma Série ISO 14000 (TIBOR22 1996).

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Bloco A - O perfil das 34 empresas amostradas Resultados - O perfil das 34 empresas amostradas encontra-se na Tabela 2 Tabela 2. Bloco A - Síntese dos Resultados do perfil das empresas amostradas. N° de funcionários na área de produção Porte N° de empresas % de empresas 0 a 5 5 16,1 6 a 10 8 25,8 11 a 15 5 16,1 16 a 50 9 29,0 51 a 100 2 6,5 + 100 2 6,5 TOTAL 31 100

Atividade “meio“ Automobilístico/automotivo/autopeças/mecânica 37,6 Eletrodomésticos 9,8 Metalúrgica 9,8 Construção civil 19,5 Móveis/peças pequenas/bijuterias/carrinhos de supermercado 19,5 Aeronáutica 2,4

Atividade “Fim” Metalúrgica 46,9 Serviços especializados (peças sob encomenda) 44,9 Utilidades domésticas/ móveis / ferragem 8,2

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Cont. Tabela 2. Bloco A - Síntese dos Resultados do perfil das empresas amostradas Estrutura Administrativa

Departamento de Meio Ambiente 4,0 *Profissional habilitado 45,9 Sem habilitação 45,9 Consultoria externa 2,1 Outros 2,1

Associação de classe CENTRALSUPER 11 SINDUSPER 12 Não associadas 11 Ano Base 2001. Discussão 33 empresas amostradas são nacionais. Uma associação entre o tipo de

atividade e o porte das empresas revelou que 23 empresas amostradas com até

cinqüenta funcionários, portanto micro e pequenas, são prestadoras de serviços para

o setores automobilístico, auto peças e mecânica

Os dados de estrutura administrativa revelam a preocupação em manter

encarregado vinculado à empresa para operacionalizar o sistema de tratamento de

efluentes de dois tipos: 1. sem habilitação que, ou por experiências de vida ou por um

treinamento técnico específico, tornaram-se responsáveis pelo processo ou 2.

profissional de química, que realiza atividades de assessoria técnica para o processo

industrial, tais como formulação de soluções químicas utilizadas para o revestimento

de superfícies

As empresas amostradas estão associadas ao CENTRALSUPER e ao

SINDISUPER, podendo propiciar troca de informações técnicas.

4.2. Bloco B - Avaliação do Sistema de Gestão Ambiental das 34 empresas amostradas Resultados - A Avaliação do Sistema de Gestão Ambiental SGA das 34 empresas

encontra-se na Tabela 3.

Tabela 3. Bloco B - Avaliação do SGA das 34 empresas amostradas Conhecimento da legislação vigente N° de empresas

Legislações para efluentes líqüidos, resíduos sólidos, ruídos e emissões gasosas 31 Crimes ambientais 3

Controle de inventário das substâncias manuseadas e produzidas

Sim 26 Não 8

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Cont. Tabela 3. Bloco B - Avaliação do Sistema de Gestão Ambiental da amostra Manutenção periódica

Adequada e diária 21 Informal e visual diária 10 Informal e visual quinzenal mensal /bimestral /trimestral/ anual 3

Armazenamento de matérias-primas e produtos Produtos armazenados em local fechado e coberto 25 Não adequado 9

Tipo de piso utilizado Adequado Piso revestimento para substâncias químicas 5 Inadequado Piso de cimento com revestimento 12 Piso de concreto 10 Piso de madeira 4 Tipo de revestimento de superfície

Linhas de tratamento/Freqüência % linhas em operação

Zincagem 8/51 15,70 Cromeação 10/51 19,06 Niquelação 15/51 29,40 Crobreação 7/51 13,70 (Outros) Anodização 11/51 21,60 TOTAL 51/51 100,00

Sistemas de tratamento de efluentes e destinação de resíduos

Batelada 25 Contínuo 9 Lodo gerado (kg/mês) de 0 a 100 16 de 100 a 200 07 de 200 ou mais 05 Não sabe 06 Ano Base 2001.

Discussão

As empresas amostradas demonstraram conhecer as legislações para efluentes

líqüidos, resíduos sólidos, ruídos e emissões gasosas e 3 afirmaram ter conhecimento

da legislação de Crimes Ambientais.

Embora a maioria das empresas tenha um inventário e controle de estoques e

as inspeções para detectar vazamentos e derramamentos são realizadas de maneira

informal e visual. Esta constatação é particularmente importante, uma vez que o

descuido na operacionalização do processo pode ser considerado como pontos

críticos de geração de resíduos e estes pontos devem ser vistos como “oportunidade

para prevenir a poluição”. Práticas operacionais devem ser avaliadas e melhoradas.

Pisos bem construídos denotam atendimento às boas técnicas de

gerenciamento industrial, de modo a evitar contaminação do solo e das águas

subterrâneas. O piso dos locais de processamento industrial, onde se manipulam e

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utilizam as substâncias químicas tóxicas, deve ser impermeabilizado e resistente a

essas substâncias. No entanto, verifica-se que não há preocupação com a adequação

do piso para o processamento dos produtos: são pisos inadequados para esta

atividade industrial.

As empresas possuem mais de uma linha para o tratamento de superfície,

resultando em 51 informações, indicando a niquelação, seguida da cromeação e da

anodização como os processos mais empregados em revestimento de superfícies para

os setores automobilístico, automotivo, auto-peças e construção civil,, coerentes com

a maioria do perfil das empresas amostradas, ou seja, prestadoras de serviços.

Todas instalaram Sistemas de Tratamento de Águas Residuárias- STAR:

sendo maioria do tipo batelada há compatibilidade com o porte de micro e pequena

das empresas amostradas.

A geração de lodo é diretamente proporcional à produção da atividade

industrial, com quase 50% das empresas geradoras de até 100 kg/mês de lodo.

4.3. Bloco C- Informações para reduzir a poluição na fonte nas 34 empresas

Resultados - A Síntese das Informações para reduzir a poluição na fonte encontra-se na Tabela 4. Tabela 4. Bloco C Síntese das Informações para reduzir a poluição na fonte Soluções utilizadas Freqüência % Cianetos 16/41 39,0 Cromo hexavalente 19/41 46,3 Não sabem/não responderam 5/41 14,7 TOTAL 41 100

Intenção na Substituição de produtos tóxicos Sim 20,0 Não 31,4 Já alterou 14,3 Não sabem 14,3 Não responderam 20,00

Segregação de linhas de tratamento %

Sim 73,4 Não 26,6

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Cont. Tabela 4. Bloco C Síntese das Informações para reduzir a poluição na fonte Redução do consumo de água % Reutiliza na lavagem das peças 31,0 Reutiliza nos sanitários 24,6 Outros 44,4

Destinação do lodo N° de empresas CENTRALSUPER 18 Aterro Sanitário 06 Recuperação de metais 04 Armazenamento no local 01 Co-processamento 02 TOTAL 31 Certificação ISO 9000 e ISO 14000 N° de empresas

Sim 1 Não 33

Formas de Financiamento Formas Freqüência % de empresas Incentivos fiscais 19/60 31,7 Financiamento 15/60 25,0 Assistência 15/60 25,0 Implantação de ETE regional 8/60 13,3 Não sabe 3/60 5,0 Ano Base 2001.

Discussão

O conceito de prevenção à poluição é totalmente desconhecido para quase da

metade das empresas amostradas. Embora o restante das empresas tenha afirmado ter

conhecimento do conceito, as definições recaíram em: controle e tratamento de

efluentes, e adequação às normas da OEMA/SP, armazenamento adequado do lodo

gerado e busca de parâmetros para reduzir a poluição.

De acordo com o resultado da pesquisa, constata-se: 1.um aumento do

conhecimento dos aspectos legais e ambientais das empresas situadas na região de

estudo uma vez foram pressionadas pelo órgão ambiental do ESP tratarem

adequadamente seus efluentes líquidos, resíduos sólidos industriais e emissões

gasosas; 2. empresas realizam o controle e o tratamento dos poluentes por obrigação

legal, sobretudo as nacionais; 3. em sanções legais aplicadas às empresas amostradas

pelo não atendimento aos requisitos legais e /ou por não estarem em conformidade

ambiental, no que diz respeito as obtenção das licenças de instalação e

funcionamento; 3. que a totalidade das empresas amostradas terem implantado

sistemas de tratamento de efluentes líquidos gerados pelo processo industrial; 4. as

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empresas de grande porte são alvo constante de ações de fiscalização e controle por

parte do setor governamental e por isso, considerada no mínimo, conhecida e

controlada; 5. um aumento nos custos nas empresas para se adequarem às exigências

governamentais, com redução de margens de lucro: muitas delas encerraram as suas

atividades por não conseguirem manter-se no mercado, a preços competitivos.

Com relação à substituição de matérias-prima, 20% das empresas amostradas

intencionam substituir produtos tóxicos e dessas 39% intencionam substituir cianetos

e 46,3% cromo hexavalente.

A segregação de linhas de produção foi implantada em todas as empresas.

Para quase a maioria, há programas de redução de água (reutilização em

sanitários) e energia. O uso da técnica de lavagem em contra-corrente para a redução

do consumo de água no processo industrial é adotada somente para 5,3% das

empresas, denotando ainda um desconhecimento técnico.

A maioria das empresas encaminha o lodo gerado para um armazenamento

temporário, a CENTRALSUPER, que os encaminha para empresa localizada em

outro Estado da Federação do Brasil, para formulação de micronutrientes utilizado

em fertilizantes.

Há uma empresa recuperação de metais em funcionamento.

Duas formas de destinação do lodo gerado pela STAR foram evidenciadas: a

disposição em aterros sanitários e a utilização agrícola do lodo gerado, sendo que o

órgão ambiental do ESP proíbe esta destinação para os lodo gerados pela atividade

de tratamento de metais, tendo editado norma técnica para a disposição de lodos na

agricultura. Por este motivo, o lodo é armazenado no CENTRALSUPER e

encaminhado para empresas localizadas em outro Estado da Federação do Brasil,

para ser utilizado como matéria-prima para formulação de micronutrientes para

posterior utilização em fertilizantes.

As embalagens vazias das matérias-primas, as matérias-primas vencidas e as

soluções gastas oriundas das etapas desengraxe e decapagem, são caracterizadas

como resíduos sólidos perigosos, razão pela qual devem ser tratados adequadamente.

18 empresas amostradas declararam que os clientes têm solicitado a obtenção

dos certificados ISO 9000 e que têm intenção de se adequar o SGA ao certificado na

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Norma ISO 14000, especialmente as micros e pequenas empresas, prestadoras de

serviços para indústrias automobilísticas.

As pequenas e micros empresas amostradas revelaram que um dos maiores

anseios é ter acesso a linhas de financiamento para renovação de seu processo

industrial.

5. CONCLUSÃO

É indubitável a ação de controle e de fiscalização que tem sido exercida pela

OEMA/SP sobre as empresas de tratamento de superfície da RMSP.

Nos programas governamentais do ESP, como o Programa de Despoluição da

BHAT e o PREND as atividades de TS metálicas estão priorizadas.

O SGA é inexistente para o setor TS, de acordo com a Norma ISO 14010.

Com relação à substituição de matérias-primas, sugere-se ao OEMA/SP

fomentar, a médio e longo prazo, um programa de redução gradual de substâncias

tóxicas contendo cianetos e cromo hexavalente, pois há intenção de substituição.

Apesar das empresas de grande porte serem as responsáveis potenciais pela

maior quantidade de resíduos gerados, as atividades de micro, pequeno e médio porte

contribuem com uma parcela não desprezível na produção de resíduos (líquidos,

sólidos e gasosos), caracterizados como perigosos. De uma forma geral, a geração de

resíduos decorrente destas empresas não justifica a implantação de STAR,

acarretando, ou o armazenamento provisório dos mesmos, para posterior destinação

ou uma deposição inadequada.

È imprescindível uma norma federal para estabelecer critérios unificados para

a utilização de resíduos proveniente das atividades de tratamento de metais. O lodo

gerado é encaminhado como matéria-prima, para empresas de formulação de

micronutrientes, localizadas em outro Estado Brasileiro. O micronutriente é

utilizado em fertilizantes, podendo ser utilizado nos solos brasileiros.

Há somente uma empresa recuperadora de metais no ESP, sendo necessário

fomentar a instalação de outras, como forma de destinação destes resíduos.

As empresas clandestinas se, por um lado, têm interferido no mercado junto às

empresas regularizadas, por outro, são um grande desafio para o órgão ambiental.

De uma forma geral, devido à facilidade de instalação deste tipo de atividade, o

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OEMA do Estado de SP não tem conhecimento e o controle dessas fontes. Em

decorrência disto, a geração de efluentes com altas cargas de metais pesados e

cianetos podem ser lançados em corpos d’água, com alto risco de contaminação

ambiental. Nesse sentido, várias ações poderiam ser implementadas:

criação de uma linha de denúncia, com a operacionalização do Sindicato de

Industrias de Tratamento de Superfície, com posterior encaminhamento das

denúncias à OEMA;

vinculação da licença ambiental à aquisição dos produtos necessários para o

processamento industrial. Considerando que os produtos são controlados pelo

Ministério do Exército, Polícia Federal e Secretaria de Segurança Pública, a

vinculação proposta poderia ser uma das formas para controle efetivo de

empresas clandestinas;

conscientização das empresas regularizadas de TS junto aos clientes.

Apesar da iniciativa PROCOP4 para implantação de tecnologias de cunho

preventivo, não há linhas de crédito nem tampouco subsídios ou incentivos fiscais

para empresas de pequeno porte. O governo poderia oferecer subvenções,

empréstimos ou reduções de impostos, especificamente para adoção de tecnologias

de prevenção à poluição, fator motivador para reduzir a geração de poluentes.

No ESP a política estadual do meio ambiente e constitui o SEAQUA5 introduz a

necessidade de renovação das licenças ambientais, fixando período de validade para

a concessão dessas licenças. Dessa maneira, poder-se-ia vincular essas concessões ao

emprego de técnicas e tecnologias mais adequadas para evitar a geração de poluição

no processo produtivo.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 1. Arizona Department of Quality Environmental. Arizona Metal Finishers Pollutions Prevention &

Conclusions. Metal Finishing in Arizona: Pollution Prevention Opportunities, Practices and Cost Benefits. (3):7-29, 1992.

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Programas e ações em qualidade de vida no trabalho

Programs and activities in quality of life at work

Everton Fernando Alves Especialista em Saúde do Trabalhador pela Universidade Estadual do Norte do Paraná.

Enfermeiro, responsável pelo Serviço de Controle Infecção da Clínica de Cirurgia Plástica Dr. Fábio Paixão, Maringá, Brasil.

Endereço do autor:

Rua Rio Paranapanema, 779, Conj. Branca Vieira, Maringá-PR, CEP: 87043-150. Tel.: (44) 8806-6686. E-mail: [email protected]

RESUMO

A promoção de ações e/ou programas de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) vem

se tornando a maneira pela qual é possível se desenvolver e manter a motivação e o

comprometimento dos trabalhadores, resultando em inúmeros benefícios.

Atualmente, muitas empresas têm buscado incorporar programas padronizados de

QVT de forma imediatista, sem planejamento estratégico e os devidos investimentos.

Dessa forma obtêm resultados contrários aos esperados. Cada programa deve ter um

direcionamento, uma vez que cada empresa tem a sua especificidade. Dessa forma,

deve-se haver um diagnóstico dos problemas e limitações das atividades

ocupacionais, assim como dos recursos físicos e humanos, para diante disso ser

possível o planejamento e execução das ações a serem implementadas. O presente

estudo teve como objetivo apresentar sugestões de ações e programas de promoção

da QVT a serem utilizados como modelo, visando à saúde do trabalhador e o ganho

das empresas. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica através de consulta às

seguintes bases de dados: DEDALUS, LILACS, MEDLINE e Scielo, tendo como

base os períodos de 1995-2008. Conclui-se que há muito por fazer. Deve-se, então,

diminuir a distância entre o discurso e a prática, para que a QVT não seja apenas

mais um modismo e não venha a desaparecer diante da primeira dificuldade a ser

enfrentada.

©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados. Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação

completa da fonte. Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]

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Palavras-chave: qualidade de vida. saúde do trabalhador. programas e ações.

ABSTRACT

The promotion of quality of work life programs has become the way it is possible to

develop and maintain motivation and commitment of workers, resulting in numerous

benefits. Currently, many companies have sought to incorporate standardized

programs Quality of Work Life (QWL) immediately, without strategic planning and

proper investment. This causes them to obtain results contrary to those expected.

Each program must have a direction, since each company has its specificity. Thus, it

should be a diagnosis of problems and limitations of occupational activities, as well

as the physical and human resources, it can forward the planning and execution of

actions to be implemented. This study aimed to present suggestions of actions and

promotional programs for QWL to be used as a model, aiming to worker health and

gain business. Was conducted a bibliographic research by consulting the following

databases: DEDALUS, LILACS, MEDLINE and SciELO, based on the periods of

1995-2008. It is concluded that there is much to do. Should then reduce the gap

between rhetoric and practice, so that the QWL is not just another fad and will not

disappear before the first difficulty to be faced.

Keywords: quality of life. occupational health. programs and actions.

1. Introdução

O ser humano tem buscado como regras simples, maneiras para se obter uma

vida mais satisfatória. Entretanto tal proeza não pode ser alcançada através de

atitudes metódicas. Um exemplo desse anseio é a busca pela qualidade de vida.

Alcançá-la vem se tornando o grande anseio do ser humano, que busca tudo que

possa proporcionar maior bem estar e o equilíbrio físico, psíquico e social.

Atualmente, a saúde, não é vista por um conceito simplista de ausência de

doença e, sim determinada também por influências externas variadas do meio

ambiente, além do estilo de vida dos indivíduos e o equilíbrio entre fatores externos e

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internos do ser humano. Acredita-se que tal equilíbrio está intimamente relacionado à

harmonia entre todos os âmbitos vitais que circundam o trabalhador, como visto no

conceito da OMS em 1948 (THE WHOQOL GROUP, 1995). E isto está diretamente

associada à qualidade de vida.

Neste contexto, de maneira inevitável e natural o termo qualidade de vida está

sendo também, inserida no ambiente de trabalho, local onde, os indivíduos dedicam

grande parte de seu tempo. O mercado cada vez mais competitivo e exigente movido

pelos avanços tecnológicos redefine o trabalhador como sendo a verdadeira potência.

A motivação e o comprometimento são os combustíveis dessa potência. Portanto a

promoção de qualidade de vida nas empresas vem se tornando a maneira essencial

para manter-se a motivação e o comprometimento.

Muitas empresas, intituladas como “as melhores em gestão de pessoas” têm

se destacado em aumento da produtividade, baseando-se na QVT, ao inseriram em

seu planejamento e gerenciamento dos recursos humanos.

É visto que a inclusão da QVT dentro das empresas gera inúmeros benefícios,

ainda imensuráveis em sua totalidade e os dados estatísticos são aleatórios.

Entretanto, sabe-se que a redução de custos com a saúde dos trabalhadores é

considerável, apresentando diminuição dos níveis de estresse, menor incidência e

prevalência de doenças ocupacionais, e isso ainda, associado ao ganho secundário no

aumento de produtividade (ANGELUCI et al., 2005). Trata-se de um setor

inexplorado e imprescindível que está sendo recentemente inserido no trabalho

diante das pressões de um conceito antigo, mas antes sem relevância, o respeito por

todos e a valorização da vida de cada um e dos bens coletivos.

Assim, atualmente, muitas empresas têm buscado incorporar programas

padronizados de Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) de forma imediatista, sem

planejamento estratégico e os devidos investimentos. Dessa forma obtêm resultados

contrários aos esperados. Isto se deve ao fato de que não existe um padrão quando se

trata de qualidade de vida no trabalho. Cada programa deve ter um direcionamento,

uma vez que cada empresa tem a sua especificidade.

Dessa forma, deve-se haver um diagnóstico dos problemas e limitações das

atividades ocupacionais, assim como dos recursos físicos e humanos, para diante

disso ser possível o planejamento e execução das ações a serem implementadas,

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assim como também a avaliação destes, o que requer tempo e investimento.

Entretanto, com o intuito de obter resultados imediatos, muitas empresas contratam

serviços que não atingem a eficácia para a qualidade de vida no trabalho. Esse

quadro reflete um período de exploração de uma área pouco conhecida e que

necessita, assim como outras áreas, de uma estrutura forte e articulada que os

trabalhadores e as empresas devem construir, visando o equilíbrio de ambos.

Diante disso, o presente estudo teve como objetivo apresentar sugestões de

ações e programas de promoção de QVT a serem utilizados como modelo, visando à

saúde do trabalhador e o ganho das empresas.

2. Metodologia

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica através da busca em estudos

indexados nas bases de dados internacionais LILACS (Literatura Latino- Americana

e do Caribe em Ciências da Saúde), MEDLINE (National Library of Medicine), nas

coleções SCIELO (Scientific Electronic Library Online) e DEDALUS, após consulta

às terminologias em saúde a serem utilizadas na base de descritores da BVS

(Biblioteca Virtual em Saúde) da Bireme, (Decs) e Pubmed (Mesh).

Os descritores utilizados foram qualidade de vida, trabalho, saúde do

trabalhador, ambiente de trabalho, satisfação no trabalho, stress no trabalho,

incapacidade laboral e doença ocupacional. Os critérios de inclusão utilizados foram:

livros, artigos, teses e dissertações: 1) tivessem sido publicados na íntegra, no

período entre 1995 e 2008, no idioma português e inglês; 2) contivessem alguns dos

descritores selecionados; e 3) estivessem disponíveis no Brasil. Alguns trabalhos

mais citados, publicados antes desse período foram incluídos tendo em vista os

critérios de pioneirismo e impacto na literatura.

3. Apresentação da análise

A qualidade de vida no trabalho não pode ser confundida com políticas de

benefícios, nem com atividades festivas de congraçamento, embora essas sejam

importantes como estratégias. A QVT tem a ver com a cultura organizacional.

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Cultura esta que pode ser traduzida como: os valores, a filosofia da empresa, sua

missão, o clima participativo, o gosto por pertencer a elas e as perspectivas concretas

de desenvolvimento pessoal que criam a identificação empresa-trabalhador

(MATOS, 1997).

Nesse sentido, a QVT somente ocorre no momento em que as empresas

tomam consciência que os seus trabalhadores são partes fundamentais de sua

organização. Assim, eles devem ser vistos como um todo. Segundo Campos (1992),

um dos mais importantes conceitos dos programas de qualidade de vida está na

premissa de que, somente se melhora o que se pode medir e, portanto, é preciso

medir para melhorar, sendo, assim, torna-se necessário avaliar de forma sistemática a

satisfação dos trabalhadores e, nesse sentido, o processo que permeia a subjetividade

são de grande importância para detectar a percepção dos trabalhadores sobre os

fatores intervenientes na qualidade de vida do trabalho.

Segundo a psicóloga americana Maslach e o psicólogo canadense Leiter

(1999), atualmente, os trabalhadores passam muito mais horas convivendo em um

ambiente laboral do que convivem com seus familiares. Com isso os desgastes

físicos e emocionais alastram-se nos locais de trabalho. Isso ocorre, na maioria das

vezes, pelo desencontro da natureza do trabalho e a natureza da pessoa que realiza

esse trabalho.

Os autores enfatizam também que o desgaste emocional nos trabalhadores diz

mais sobre as condições de trabalho dos colaboradores do que sobre eles mesmos.

Algumas das maiores fontes do desgaste são: excesso de trabalho; falta de controle;

falta de recompensa; falta de união; falta de eqüidade e conflito de valores.

O desgaste, afeta tanto o indivíduo e os seus familiares quanto às empresas,

afinal a diminuição da tolerância ao estresse e redução do apoio em suas vidas

pessoais, os tornam incapacitados em lidar com os problemas do trabalho,

diminuindo a capacidade de produtividade. Acredita-se que uma das soluções para

este problema seria que a própria empresa criasse ações preventivas, além de

programas de QVT, pois à medida que o trabalhador ganha, a empresa também

através do ganho secundário.

Entretanto para se conseguir a aprovação da diretoria e colocar em prática,

ações como essas, não é um processo simples. Deve-se provar que com estas ações,

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conseguir-se-á redução de custos mais altos no futuro. Para tal, devem-se utilizar

argumentos fundamentados no ganho secundário, cujo significado é os ganhos que a

empresa obterá pela redução de despesas relacionadas à saúde dos trabalhadores.

Limongi-França (2004) comenta sobre alguns dos vieses apresentados pelos

programas de qualidade de vida, motivos pelos quais, ainda hoje, não são aceitos

pela maioria das empresas.

Um exemplo é a forma como são vistos pelas organizações, assumindo de

forma geral três visões diferenciadas: 1) o enquadramento legalista – resumido ao

cumprimento de regras impostas pela legislação ou por obrigação em situações

específicas, tais como exigências feitas por grandes clientes, exigências de

programas de certificação de qualidade; 2) o enquadramento paternalista - realizados

no intuito de fazer com que o indivíduo se sinta bem em seu ambiente laboral. A

preocupação e o objetivo principal, neste sentido, é exclusivamente o indivíduo e não

há, necessariamente, uma interligação destes programas com as estratégias da

organização; 3) a visão estratégica - os programas são percebidos como parte

integrante da visão estratégica organizacional, atrelados ao resultado planejado pela

organização (LIMONGI-FRANÇA, 2004).

Cabe aos profissionais especializados na saúde dos trabalhadores procurarem

maneiras, pautadas na legislação e fundamentação científica, para que haja a

aceitação e mudança de conceitos das empresas. Entretanto, caso não seja possível

implantar grandes ações, há a possibilidade de se por em prática, dois grandes

valores básicos, com comprovação científica, que podem ser desenvolvidos dentro

das empresas e, que não geram nenhum custo e, que promovem também a qualidade

de vida dos trabalhadores: desenvolver a auto-estima e a empatia. Ao desenvolver-

los, conseguir-se-á reverter ou amenizar um quadro clínico de desgaste físico e

emocional (MASLACH; LEITER, 1999).

Um planejamento estratégico é fundamental para implementação das ações e

programas de QVT a serem implantados. Estes envolvem diagnósticos e implantação

de melhorias, inovações gerenciais, inovações tecnológicas e estruturais dentro e fora

do ambiente de trabalho, visando propiciar condições plenas de desenvolvimento

humano para e durante a realização do trabalho. O diagnóstico pode ser realizado

para um levantamento das condições relacionadas à empresa e/ou seus recursos

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humanos. Moretti diz que existem várias medidas a serem aplicadas, como

remuneração justa, manutenção de um ambiente físico, psicológico e social mais

saudável, e implantação de uma política de benefícios sociais, criando assim,

condições para que o sistema racional funcione (MORETTI, online, 2005; TIMOSSI

et al., 2007).

As empresas americanas que desenvolvem programas de promoção à saúde

não os fazem por bondade, os motivos têm mais a ver com o ganho secundário, ou

seja, aumento da produtividade, competitividade, e redução de custos gerados pelos

trabalhadores. Entretanto, alguns programas apresentam medidas drásticas, como por

exemplo, a proibição do fumo no ambiente de trabalho. Isto pode gerar uma rejeição

dos trabalhadores, uma vez que para se mudar comportamento de risco deve-se

inicialmente promover a conscientização (ALVAREZ, 1996).

E para que o programa de qualidade de vida no trabalho não vire mais um

modismo gerencial, é necessário que as empresas, antes de implantarem um

programa, façam uso dos diagnósticos, para direcionar as estratégias de promoção à

saúde. Isto permite definir estrategicamente o sistema de trabalho da empresa,

permitindo descobrir as necessidades a curto, médio e longo prazo, além de padrões

de desempenho em quantidade, qualidade e de tempo.

No Brasil, algumas empresas de grande e médio porte vêm adaptando

modelos de programas de qualidade de vida de empresas nos Estados Unidos com o

objetivo de reduzir custos com assistência médica, absenteísmo, acidentes, melhorar

a segurança e o bem estar dos trabalhadores, através de uma visão holística (SILVA;

LIMA, 2007).

Ao proceder à literatura pode-se verificar uma diversidade de ações e

programas implantados por grandes empresas que obtiveram resultados positivos e,

que se tornaram referência, podendo ser visto como modelos a serem seguidos.

Assim, o Quadro 1 apresenta algumas destas ações em QVT. O que segue, é uma

proposta de simplificação e organização, com finalidade essencialmente didática.

Quadro 1 – Ações e/ou programas de promoção da QVT e seus resultados.

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Ações/Programas Principais resultados observados Exercícios físicos (Ex: Ginástica laboral) Treinamento e desenvolvimento dos trabalhadores Ergonomia Ginástica Laboral Benefícios Avaliação de desempenho Higiene e segurança do trabalho Estudo de cargos e salários Controle de álcool e drogas Preparação para aposentadoria Orientações nutricionais Terapias alternativas Musicoterapia Anti-tabagismo

Aumenta a disposição e satisfação dos trabalhadores, aumenta a tolerância ao estresse, redução do absenteísmo, melhora do relacionamento interpessoal, redução dos acidentes de trabalho, redução dos gastos médicos. Aumento do capital intelectual, aperfeiçoamento das atividades, satisfação profissional, aumento da produtividade. Aumento do desempenho nas atividades, redução dos acidentes de trabalho. Prevenção e reabilitação de doenças ocupacionais, prevenção de acidentes de trabalho, melhor integração entre os trabalhadores, diminuição do absenteísmo, aumento da produtividade. Motivação, satisfação profissional, satisfação das necessidades pessoais, aumento da produtividade. Aumento do desempenho do trabalhador, aumento da produtividade, aumento da satisfação profissional. Gera um ambiente mais saudável, prevenção de riscos à saúde, diminuição dos acidentes de trabalho, diminuição do absenteísmo e rotatividade, aumento da produtividade. Mantêm seus recursos humanos, aperfeiçoamento da administração dos recursos humanos, aumento da motivação e satisfação dos trabalhadores, aumento da produtividade. Redução de riscos, melhora na segurança operacional e da saúde dos trabalhadores, melhora na auto-estima, diminuição dos acidentes de trabalho e absenteísmo. Motivação, satisfação profissional, aumento da auto-estima, melhora na relação interpessoal, descobrimento de novas habilidades e competências, benefícios na vida social e familiar do trabalhador. Diminuição da obesidade, mudança no comportamento de risco, aumento do desempenho e disposição, aumento da produtividade. Aumento da tolerância ao estresse, melhora no relacionamento interpessoal, aumento da produtividade. Aumento da auto-estima, aumento do desempenho profissional, melhora no relacionamento interpessoal, aumento da tolerância ao estresse, prevenção de doenças. Aumento da auto-estima, aumento do desempenho e disposição, prevenção de doenças.

Fonte: Autoria própria (2010)

3. 1. Exercícios Físicos

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Shephard (1994) verificou que após um programa de exercícios físicos no

trabalho, as pessoas se sentiam melhor, além de ocorrer uma redução dos gastos

médicos. O mesmo autor afirma que o melhor estado de saúde é um processo

contínuo de "bem-estar", com uma demanda reduzida de recursos médicos.

Os programas de exercício podem beneficiar o setor corporativo e através do

melhoramento da imagem da companhia, o entrosamento dos empregados,

aumentando a satisfação dos mesmos, melhorando a produtividade, a redução do

absenteísmo e substituição do pessoal, uma diminuição dos custos médicos, redução

de lesões e acidentes e um incremento no estilo de vida em geral.

O exercício físico regular reduz a obesidade, reprimindo a estimulação

simpática (adrenalina) e ressalta a estimulação parassimpática, tornando a pessoa

mais calma. Isto traz múltiplos benefícios, por exemplo, para o sistema

cardiovascular, tornando o sangue mais fluido, e diminuindo a fração danosa do

colesterol. Os exercícios reduzem a hipertensão arterial e melhoram o fluxo das

coronárias, são inúmeros os benefícios, até hábitos nocivos à saúde, como álcool e

fumo são reduzidos. Enfim, o exercício regular aumenta tremendamente a tolerância

ao estresse (BAUCK, 1989 apud ALVAREZ, online, 1996).

3. 2. Treinamento

Outro fator importante dentre as atividades de promoção da QVT é o

treinamento, que sem dúvida, é considerado parceiro e instrumentador das metas de

bem estar no trabalho. Potencial, criatividade, força de trabalho, inovação,

compromisso e interação capacitam os trabalhadores no ambiente organizacional

através de situações planejadas e monitoradas para obtenção de mudanças pessoais,

grupais e organizacionais. As pressões para novos desempenhos de um lado,

ameaçam a estabilidade e o conhecimento adquirido, de outro, têm sido a grande

oportunidade de mudança, como a modernização, a evolução quanto à performance,

a maturidade crítica, a criação de novos paradigmas, os valores de preservação, a

qualidade de compromisso e a autonomia profissional (FRANÇA, 2005).

O treinamento e o desenvolvimento de trabalhadores são importantes para

mantê-los em constante aperfeiçoamento e satisfeitos com o desenvolvimento de

suas funções (GOEDERT; MACHADO, online, 2007).

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O treinamento era considerado antigamente, apenas como uma forma de

adequar a pessoa ao seu cargo, hoje se tornou uma forma de melhorar o seu

desempenho. O autor ainda complementa que “o treinamento é considerado um meio

de desenvolver competências nos trabalhadores para que se tornem mais produtivos,

criativos e inovadores, a fim de contribuir melhor para os objetivos organizacionais”

(CHIAVENATO, 2004, p.339 apud GOEDERT; MACHADO, online, 2007).

Os programas de treinamento e desenvolvimento de trabalhadores são uma

forma de aumentar o capital intelectual da empresa, mas também gera benefícios ao

colaborador, agregando conhecimentos que serão importantes para o

desenvolvimento pessoal e a promoção da QVT.

3. 3. Ergonomia

Outro aspecto que contribui para a saúde do trabalhador e conseqüentemente

para desenvolver a qualidade de vida, é a preocupação com a ergonomia.

Vilarta e Moraes (2004 apud GOEDERT; MACHADO, online, 2007),

relatam que a ergonomia é uma ferramenta para identificar situações em que o

ambiente de trabalho está inadequado e adaptá-lo para o trabalho humano. Lida

(1990 apud GOEDERT; MACHADO, online, 2007), explica que a ergonomia não

envolve somente máquinas e equipamentos, mas todo o relacionamento entre o

homem e o trabalho, não apenas ambiente físico, mas também o ambiente

psicológico que o local pode proporcionar.

A partir desse conceito verifica-se que o estudo da ergonomia busca

identificar situações em que o ambiente de trabalho possa prejudicar a saúde do

trabalhador e verificar melhores formas de desenvolver suas atividades sem que

possa causar danos à saúde, conseqüentemente contribuindo para a promoção da

Qualidade de Vida no Trabalho (GOEDERT; MACHADO, online, 2007).

3. 4. Ginástica Laboral

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A Ginástica Laboral (GL) é um programa que está sendo cada vez mais

adotado pelas empresas no combate do stress e melhoramento da saúde física dos

trabalhadores.

Para Lima (2003, p. 7 apud GOEDERT; MACHADO, online, 2007), a

conceituação de GL é definida como “um conjunto de práticas físicas, elaboradas a

partir da atividade profissional exercida durante o expediente, que visa compensar as

estruturas mais utilizadas no trabalho e ativar as que não são requeridas, relaxando-as

e tonificando-as”.

A GL vem se desenvolvendo nas empresas significativamente, diminuindo o

absenteísmo e melhorando o desempenho dos colaboradores, trazendo muitos

benefícios para a empresa e para os colaboradores, pois além da promoção da saúde,

aumenta a disposição para o trabalho e melhora a integração entre os colaboradores.

3. 5. Benefícios

Os benefícios que a empresa oferece, pode ser um grande fator capaz de

motivar e melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores. De acordo com o

significado, benefício se trata de uma forma de remuneração indireta na qual a

organização oferece aos colaboradores, e ainda complementa que “os benefícios

sociais são incentivos internos oferecidos com o objetivo de satisfazer às

necessidades pessoais, proporcionando um ambiente mais harmonioso possível e

produtivo para toda a empresa” (ARAÚJO, 2006, p. 169).

Com um programa de benefícios adequados, a empresa consegue deixar o

trabalhador mais satisfeito com o trabalho, satisfazendo algumas de suas

necessidades e deixando-o mais motivado para o trabalho.

3. 6. Avaliação de desempenho

A avaliação de desempenho é um meio muito importante para o colaborador

identificar como está seu desenvolvimento na empresa e também faz com que a

empresa identifique se ele está atingindo suas expectativas e objetivos.

E se referindo a tal assunto Chiavenato (2004, p. 223 apud GOEDERT;

MACHADO, 2007), afirma que:

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Avaliação do desempenho é a identificação, mensuração e administração do desempenho humano nas organizações. A identificação se apóia na análise de cargos e procura determinar quais áreas de trabalho que se deve examinar quando se mede o desempenho. A mensuração é o elemento central do sistema de avaliação e procura determinar como o desempenho pode ser com certos padrões objetivos. A administração é o ponto chave de todo o sistema.

Com isso o autor demonstra de forma clara o objetivo e funcionamento da

avaliação de desempenho, sendo que é necessário identificar as áreas a serem

avaliadas, medir o desempenho em comparação com os objetivos que o cargo impõe

e principalmente saber administrar os resultados obtidos para levá-lo a uma

maximização do potencial humano.

3. 7. Higiene e segurança do Trabalho

Outro fator de grande importância para garantir a saúde dos colaboradores na

organização são os programas de higiene e segurança no trabalho, que constitui a

garantia de um local apropriado para o desempenho das funções.

E, se tratando desse tema, Chiavenato (2002), explica que a Higiene do

Trabalho é um conjunto de normas e procedimentos que garantem a proteção da

saúde física e mental do trabalhador, preservando-o dos riscos que o ambiente de

trabalho possa oferecer.

Pode-se dizer que higiene e segurança do trabalho são atividades interligadas,

onde uma complementa a outra para que seu propósito atinja os objetivos almejados

pelo programa. A despeito disso, Chiavenato (2002, p. 438), afirma que segurança no

trabalho é “o conjunto de medidas técnicas, educacionais, médicas e psicológicas,

empregadas para prevenir acidentes” onde se deve eliminar as condições inseguras

do local de trabalho e ensinar as pessoas a implantação de práticas preventivas.

A partir de então, entende-se que os benefícios com este programa é

compensador tanto para a organização quanto para o colaborador, garantindo um

ambiente de trabalho seguro e agradável, onde com isso o empregado produz melhor,

diminui o absenteísmo, afastamentos e a rotatividade.

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3. 8. Cargos e salários

Todo colaborador presta seus serviços e desenvolve suas habilidades em troca

de uma remuneração adequada de acordo com seu cargo.

Qualitas (2005 apud ARAÚJO, 2006, p. 46) define a atividade de cargos e

salários da seguinte forma:

O estudo de cargos e salários é um instrumento que permitirá à empresa a administração de seus recursos humanos na contratação, movimentações horizontais (méritos) e verticais (promoções) de seus profissionais e retenção de talentos da empresa. A definição de cargos e salários estabelecerá uma política salarial eficaz que permitirá a ascensão profissional dos colaboradores de acordo com suas aptidões e desempenhos; assim como subsidiará o desenvolvimento do plano de carreiras.

Com isso, através de um programa de cargos e salários, a empresa poderá ter

definido o salário a ser aplicado a cada cargo, definindo também as funções que se

enquadram em cada cargo. Acima de tudo, promovendo a satisfação e contemplando

a motivação do trabalhador.

3. 9. Controle de álcool e drogas

Para desenvolver tal programa é necessário sensibilizar a direção, mostrando

que haverá lucro se tratar o dependente; promover mudança na cultura ao traçar as

regras e treinar uma equipe médica para detectar a doença através dos exames

ocupacionais.

O programa pode ser feito no exame pré-admissional, periódico, na pós-

reabilitação, em cargos de risco e executivo, e após acidentes. “Os resultados são:

redução de riscos, melhora na segurança operacional e da saúde dos empregados”,

diz Carlos Lucena, gerente da divisão médica da Esso Brasileira (GRUPO CATHO,

online, 1997). A partir daí, quem for dependente químico é convidado a participar

das reuniões de grupos de apoio externo, como Alcoólatras Anônimos, e conforme o

caso pode ser internado em uma clínica conveniada à empresa. Para readaptá-lo ao

trabalho é preciso provar que mantém a serenidade e sobriedade.

Nem todas as organizações estão preparadas para lidar com o dependente,

pois o preconceito ainda prevalece. O desconhecimento do tema leva as pessoas a

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encararem o doente como alguém sem caráter, ou então o ajuda na dissimulação do

problema. Desta forma, para reverter tal quadro é necessário enfatizar as vantagens

da recuperação para os dirigentes. Com um programa de apoio as empresas evitam

despesas com reposição de empregados, reduzem o número de acidentes de trabalho

e absenteísmo. É preciso trocar o preconceito pelo conceito de doença.

3. 10. Preparação para aposentadoria

Os avanços da ciência e tecnologia, a maior conscientização sobre assuntos

ligados à saúde, bem-estar social, mental versus o aumento da expectativa de vida

trouxe novas demandas, desafios e responsabilidades, principalmente por parte das

empresas, em implantar instrumentos que leve seus colaboradores a terem uma

melhor qualidade de vida na maturidade/pós-carreira (SHIBUYA, online, 2008).

Observam-se situações como: a perda da identidade institucional; o receio do

retorno ao lar; a preocupação com a parte financeira, uma vez que acreditam que

terão dificuldades em manter a atual situação econômica e despreparo frente à

aposentadoria, por muitas vezes identificá-la como fim da etapa produtiva.

Em face destas dificuldades, percebe-se o quanto é importante as empresas

implantarem o Programa de Preparação para a Aposentadoria - PPA, pois não se

pode falar em Qualidade de Vida, se não tiver dentro deste "guarda-chuva" a mesma

preocupação com aqueles que ajudaram a construir a empresa, cumprindo, assim, a

responsabilidade que lhes cabe.

Este programa busca dar todo o suporte para que cada participante desperte

para o futuro, de forma planejada, através de uma visão positiva e real da

aposentadoria, de forma a sentir-se motivado e comprometido com a elaboração de

seu projeto de vida.

É gratificante perceber através deste programa, o quanto o colaborador

resgata a auto-estima, descobre novas habilidades e competências, melhora os laços

conjugais e familiares, o quanto passa a envolver o grupo familiar na elaboração do

projeto de vida, com foco na qualidade de vida e felicidade.

Portanto, como se pode ver, todos ganham: a empresa, o colaborador, a

família e a sociedade.

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3. 11. Outras iniciativas

As orientações nutricionais é uma ação que promove a QVT, ou seja, a

alimentação e o exercício se estiverem dentro de determinados limites, são

adequados, satisfatórios e, portanto, benéficos para a promoção da QVT. Para

Alvarez (online, 1996), os aspectos relacionados ao estado nutricional devem ser

trabalhados entre os colaboradores.

Por ter sido observado em sua pesquisa, que em todas as faixas etárias os

homens estavam com sobrepeso, gordos ou obesos, a empresa deveria fazer uma

revisão do cardápio que está sendo oferecido no refeitório. Junto ao programa de

exercícios físicos, deve ser dada uma orientação nutricional no controle da

obesidade. Como foi observado um aumento dos níveis de lipídeos sangüíneo, com o

passar da idade, os trabalhadores devem ser orientados sobre os riscos, os cuidados

quanto à alimentação e à prática regular de exercícios na redução do colesterol.

As Terapias Laborais são uma iniciativa que também propicia a promoção da

QVT. Dentre elas, as técnicas de relaxamento são muito úteis para normalizar a

respiração, contraindo e descontraindo o abdômen numa seqüência compassada,

elevando à calma. Também a música pode acalmar e normalizar o estado de ânimo

(NAHAS, 1989 apud ALVAREZ, online, 1996).

A musicoterapia se aplica claramente à promoção de saúde, uma vez que o

profissional qualificado obtém recursos e meios para mobilizar as pessoas, levá-las a

refletir, incentivá-las e encorajá-las a tomar decisões, aumentar a auto-estima,

estimular e incentivar novas habilidades, aumento de capacidade, facilitar a relação

social, expressar sentimentos, conhecer e aumentar os limites individuais, propiciar

nova forma de ver a vida, encorajá-lo a mudanças, oferecer opções e apoio

emocional no enfrentamento dos seus problemas e conflitos (PIMENTEL, 2003).

O profissional que atua na Musicoterapia está habilitado a conduzir seu

trabalho em busca da melhoria da qualidade de vida, tanto individual quanto social

agindo antes que a doença surja. Atuando de forma a prevenir o adoecimento,

promover a saúde, reduzir seus fatores de risco em nossa vida, em vez de atuar nas

conseqüências do adoecimento sendo o tratamento menos efetivo, tardio e caro.

O programa antitabagismo também é uma idéia que está funcionando. Ele

envolve a conscientização e o tratamento quanto ao uso do tabaco pelos

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colaboradores dentro do ambiente de trabalho. O tratamento oferecido pelas

empresas pode durar até um ano. Normalmente, ele começa com a identificação dos

tabagistas, depois vem o diagnóstico médico e psicológico e termina com as receitas

dos nutricionistas para aqueles que temem engordar ao largar o cigarro. O método

utilizado é a terapia cognitiva comportamental que identifica os gatilhos que acionam

o vício, como o café ou o ato de atender ao telefone; além disso, investiga-se o

histórico familiar e o passado profissional da pessoa. O grau de dependência "leve,

moderado ou pesado" é que irá determinar o número de sessões individuais a que o

fumante se submeterá (CARNEIRO, 2009).

Cecília Shibuya, presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida

(ABQV), diz que está havendo uma mudança na maneira como as companhias

brasileiras estão agindo em relação aos fumantes. "Antes elas estavam mais

preocupadas com a teoria, ofereciam palestras, informativos, hoje existe a

conscientização de que elas precisam colaborar mais para ajudar seus colaboradores

a se livrarem do cigarro", diz. Segundo ela, apenas a implantação de um

"fumódromo" já não parece ser suficiente. "Alguns programas agora envolvem até a

família do fumante", diz. Das 114 empresas que participaram da II Jornada da

ABQV Nacional no final de 2003 e que possuem programas de qualidade de vida, 59

desenvolvem ações contra o tabagismo (FUNCIONÁRIOS... 2004).

4. Considerações finais

Pouca coisa tem sido feita quando se trata de programas de QVT. Observa-se

nas empresas que existem poucos programas que visam à saúde dos trabalhadores.

Deve-se haver implementação de estratégias para sensibilização da alta gestão, pois

programas de QVT servem para baratear custo com saúde, tendo assim um caráter

profilático.

Tais programas de bem-estar aos trabalhadores ainda enfrentam muitos

desafios a serem vencidos para que possam ser implementados com a colaboração de

todos os envolvidos pelo programa. Um exemplo é a cultura e a mentalidade das

empresas, que tem papel fundamental na implementação de ações e/ou programas de

QVT.

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A busca pela QVT, não pode ser considerada como um custo nas planilhas das

empresas, uma vez que os custos com afastamentos e ações trabalhistas são maiores

do que uma medida preventiva. Cada empresa deve começar a fazer a sua parte para

a mudança cultural das práticas de saúde e de minimização de riscos no ambiente de

trabalho, tendo em mente que através das práticas de prevenção de riscos

ocupacionais, resultará em um ganho secundário à empresa.

Deve-se então diminuir a distância entre o discurso e a prática, para que a QVT

não seja apenas mais um modismo, mas que faça parte de um plano organizacional

estratégico e não venha a desaparecer diante da primeira dificuldade a ser enfrentada.

Acredita-se que um real investimento na QVT tornará o trabalho mais humanizado,

favorecendo um clima laboral saudável, diminuição de acidentes de trabalho,

absenteísmos e reclamações trabalhistas. Pois, se é na empresa onde os trabalhadores

passam a maior parte de suas vidas, natural seria que as transformassem em lugares

mais aprazíveis e saudáveis para a execução do trabalho.

REFERÊNCIAS

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A CARACTERIZAÇÃO E O ZONEAMENTO AMBIENTAL COMO INSTRUMENTOS PARA GESTÃO DE UM PARQUE ZOOLÓGICO – ESTUDO

REALIZADO NO ZOOLÒGICO MUNICIPAL DE MOGI MIRIM/SP

CHARACTERIZATION AND ZONING AS ENVIRONMENTAL MANAGEMENT INSTRUMENTS OF A ZOO - STUDY DEVELOPED AT THE MUNICIPAL ZOO OF

MOGI MIRIM / SP

Luciana Mara Ribeiro Marino1

José Eduardo dos Santos2

Luiz Eduardo Moschini2 1.Doutora em Ciências pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar 2 Professor da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar

RESUMO

Os Zoológicos modernos se encontram em um estágio contínuo de aperfeiçoamento para o

atendimento de suas principais funções: conservação, pesquisa, educação e lazer educativo. Devido a

diversidade de suas funcionalidades, a compreensão da relação existente entre a proteção

(preservação, conservação e recuperação) ambiental e o uso público dos Zoológicos para atividades

recreativas ou educativas tornou-se o grande desafio dos administradores destas instituições. O

presente artigo objetiva apresentar instrumentos importantes para a obtenção de informações

necessárias para a elaboração e desenvolvimento de um plano de manejo de um Parque Zoológico. O

trabalho foi realizado no Parque Zoológico Municipal de Mogi Mirim por meio da realização da

caracterização ambiental do Zoológico e em seu entorno imediato, com base no uso de Sistemas de

Informações Geográficas, tornando possível a elaboração de um banco de dados georreferenciados e

de cartas temáticas de diversos parâmetros estruturais da unidade (limites, hidrografia, malha viária e

usos da terra). Os resultados permitiram a elaboração de uma proposta do zoneamento ambiental para

o Zoológico e para sua zona de amortecimento em termos dos riscos ambientais resultantes dos tipos e

intensidades dos usos da terra do entorno imediato. O zoneamento ambiental constitui-se como

componente primário do plano de manejo, um documento de declaração pública das intenções da

©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados. Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação

completa da fonte. Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]

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instituição gestora do Zoológico na perspectiva de assegurar o cumprimento das suas verdadeiras

funções.

Palavras-chave: caracterização ambiental; zoneamento ambiental; gestão; parque zoológico

ABSTRACT

The modern Zoos are in a continuous improvement for the attendance of your

principal functions - leisure, education, conservation and research. The

understanding of the relationship among the environmental protection (preservation,

conservation and recovery) and the public use of the Zoos for activities recreational

or educational has been the administrators' of these institutions great challenge. The

present work had as objective the environmental characterization and zoning of the

Municipal Zoological Park of Mogi Mirim and its immediate surrounding to

subsidize your management plan. The Zoological Park environmental

characterization was made based on the use of Geographical Information Systems,

making possible the elaboration of a georeferenced database and thematic maps of

several landscape structural elements (limits, hydrography, road net and land use).

These results allowed the proposition of a Zoo’s conceptual environmental zoning

and for your buffer zone, in terms of the environmental risks resulting from the types

and intensities of the immediate surrounding land uses. The environmental zoning

constitutes the primary component of a management plan, a public declaration

document of the institution manager's of the Zoological Park intentions in the

perspective to assure the execution of your functions.

Keyword : environmental characterization, environmental zoning, management, zoo

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1. INTRODUÇÃO

O surgimento dos zoológicos no mundo está historicamente associado à

manifestação de diferentes atitudes humanas em relação aos animais, e pelos

diferentes papéis que estas instituições desempenharam na sociedade e na cultura ao

longo da história da civilização humana (WEMMER, 2006).

Os zoológicos foram criados basicamente com o propósito de expor espécies

exóticas de animais à sociedade e estes locais tiveram sucesso pela curiosidade

própria do ser humano e passaram a receber um número significativo de visitantes,

tornando-se ponto rentável e turístico de muitas cidades contemporâneas (SANDERS

; FEIJÓ, 2007).

No século XX, houve uma mudança no enfoque da função dos zoológicos,

que deixaram de ser meras coleções, passando a desenvolver atividades e funções

voltadas para a conservação da fauna regional e global (BARRELLA et al., 1999).

Os Zoológicos modernos encontram-se atualmente em um estágio contínuo

de aperfeiçoamento no atendimento de suas principais funções, atuando como fonte

de conhecimento, centro de reprodução e sobrevivência de espécies ameaçadas,

recursos para enriquecimento cultural da comunidade e local de lazer para a

sociedade (WEMMER, 2006). Além disso, os zoológicos constituem uma importante

estratégia para a conservação ex situ de espécies da fauna brasileira, expressa na

forma de reservatórios genéticos e demográficos que possibilitam a realização de

pesquisa básica em biologia populacional e em sociobiologia, além de

proporcionarem o desenvolvimento de técnicas de cuidado e manejo dos animais em

cativeiro ou em semi-liberdade, bem como no último recurso para as espécies que

não têm mais opções de sobrevivência na natureza (GUEDES, 1998).

Embora os Zoológicos contemporâneos estejam intimamente ligados à

conservação, a reprodução das espécies em perigo não é a única forma de contribuir

para a conservação. O mais importante é o impacto que estas instituições produzem

sobre o público, responsável por influenciar nas tomadas de decisões que definem o

êxito ou fracasso das políticas públicas conservacionistas.

Ultimando esta nova forma de ver e pensar os zoológicos, diversas

instituições em todo o mundo reformularam suas atividades também em prol do

estabelecimento de programas integrados de pesquisa. Neste contexto, parques

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zoológicos norte americanos e europeus como o "National Zoological Park",

"Zoological Society of San Diego", "Chicago Zoological Society", "Wildlife

Conservation Society" e "London Royal Zoological Society" dentre muitos outros,

desenvolveram, implantaram e sustentam centenas de projetos de pesquisa em uma

ampla rede multidisciplinar. Tais projetos, baseados em abordagens tanto in situ

como ex situ, visam contribuir de forma continuada com o incremento do

conhecimento disponível sobre as espécies animais e seus ecossistemas (DIAS,

2003).

De acordo com a Associação Americana de Zoológicos, Parques e Aquários

(AAZPA), os zoológicos modernos atuam como fonte de conhecimento, centro de

reprodução e sobrevivência de espécies ameaçadas, recursos para enriquecimento

cultural da comunidade e local de lazer para a sociedade.

Os Zoológicos Brasileiros

A maioria dos zoológicos atualmente funcionando no Brasil, foi criada a partir

da década de 1960, quando diversas prefeituras do interior do País “aproveitaram” a

crescente onda conservacionista para inaugurar pequenos zoológicos

(BOKERMANN, apud AMARAL, 2002). Alguns zoológicos vêem se

desenvolvendo e se destacando pelos programas oferecidos, como o Zoológico de

Sorocaba, SP, que na década de 1970 o foi responsável pelo primeiro programa de

educação ambiental desenvolvido em zoológicos, que se tornou uma referência

nacional e é desenvolvido até os dias atuais.

Os zoológicos brasileiros são responsáveis pela manutenção de animais

silvestres em cativeiro, especialmente para espécies da fauna brasileira. Atuam de

várias formas na conservação das espécies, promovendo a criação em cativeiro e

realizando atividades em educação ambiental. Também atuam na área da pesquisa em

zoologia, muitas vezes em parceria com instituições de pesquisas nacionais e

internacionais (GUEDES, 1998).

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Legislação

No Brasil, durante muitos anos a principal legislação referente a zoológicos

foi a Lei No. 7.173, de 14 de dezembro de 1983, elaborada por técnicos com base em

experiências nacionais e internacionais de sucesso em reprodução e bem estar. De

acordo com a referida Lei, que dispõe sobre o estabelecimento e funcionamento dos

jardins zoológicos brasileiros, “considera-se Jardim Zoológico qualquer coleção de

animais silvestres mantidos vivos em cativeiro ou em semi-liberdade e expostos à

visitação pública”. O artigo 2o cita que para atender a finalidade sociocultural e

objetivos científicos, o Poder Público Federal poderá manter ou autorizar a instalação

e o funcionamento de jardins zoológicos (IBAMA, 2005).

Para regulamentar a Lei de Zoológicos, técnicos do IBAMA e da

SOCIEDADE DE ZOOLÓGICOS DO BRASIL (SZB) elaboraram as normas

necessárias para atender essa atividade que resultaram na publicação da Portaria

283/P, de 18/05/89 e a Instrução Normativa (IN) 001/89, que estabelecem os critérios

mínimos necessários para o registro dos jardins zoológicos.

No final da década de 1990, a Portaria 283/P e a IN 001/89 foram revistas

pelos técnicos do IBAMA, da SZB e por representantes da sociedade civil

organizada, resultando na revogação destas, e na publicação da Instrução Normativa

04/02. Segundo esta Instrução Normativa, Art. 2º - Para atender a finalidades sócio-

culturais e objetivos científicos, o Poder Público Federal poderá manter ou autorizar

a instalação e o funcionamento de jardins zoológicos. Em seu Art. 4º determina que:

- será estabelecida em ato do órgão federal competente classificação hierárquica

para jardins zoológicos de acordo com gabaritos de dimensões, instalações,

organização, recursos médico-veterinários, capacitação financeira, disponibilidade

de pessoal científico, técnico e administrativo e outras características.

Já a Instrução Normativa no. 04, de 04 de março de 2002, estabeleceu os

tamanhos e condições mínimas dos cativeiros, alimentação e segurança, de acordo

com a espécie e a obrigatoriedade de se manter pessoal capacitado, sendo um médico

veterinário e um biólogo, além de recomendações referentes a programas de

educação ambiental e pesquisa. Esta legislação estabelece critérios mínimos

necessários para registro de zoológicos. O órgão responsável por fiscalizar o

cumprimento da lei é o IBAMA.

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Em 20 de fevereiro de 2008, foi publicada a Instrução Normativa No. 169,

que institui e normatiza as categorias de uso e manejo da fauna silvestre em cativeiro

em território brasileiro, visando atender às finalidades socioculturais, de pesquisa

científica, de conservação, de exposição, de manutenção, de criação, de reprodução,

de comercialização, de abate e de beneficiamento de produtos e subprodutos,

constantes do Cadastro Técnico Federal (CTF) de Atividades Potencialmente

Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Naturais. Dentre as categorias citadas acima,

se encontra o “Jardim Zoológico”, termo então que define um empreendimento

autorizado pelo IBAMA, de pessoa física ou jurídica, constituído de coleção de

animais silvestres mantidos vivos em cativeiro ou em semi-liberdade e expostos à

visitação pública, para atender a finalidades científicas, conservacionistas, educativas

e sócio-culturais (BRASIL, 2008).

Planejamento e gestão em zoológicos

Os zoológicos, juntamente com outros parques e reservas, são unidades de

conservação enquadradas no mesmo artigo da Portaria no 181, que data de 1987.

Também definido como um espaço público com dimensões significativas e

predominância de elementos naturais, principalmente cobertura vegetal, os

zoológicos podem contemplar funções ecológicas de uma unidade de conservação,

pois muitas vezes trata-se de uma área verde de grande relevância para a região em

que está localizada. São muitas as funções atribuídas aos parques zoológicos, e a

compreensão da relação existente entre a proteção (preservação, conservação,

recuperação) ambiental e o uso público dos parques para atividades recreativas ou

educativas tem sido o grande desafio dos administradores destas instituições, as quais

necessitam cada vez mais de instrumentos que definam claramente as diretrizes de

cada instituição, que orientem a administração da área (BARRELA et al., 1999).

Segundo PIRES et al (2000) os principais instrumentos empregados para a

administração e manejo de Unidades e Conservação são o zoneamento ambiental e o

plano de manejo.

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REGALADO (2005) também cita que para que uma Unidade de Conservação

atinja plenamente os objetivos básicos para qual foi criada, é fundamental a definição

das ações a serem desenvolvidas em seu interior e na integração com o entorno.

O Decreto nº 4.340/2002, que regulamenta a Lei do Sistema Nacional de

Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), a chamada Lei do SNUC, determina

em seu Artigo 14 ser função do IBAMA estabelecer roteiro para elaboração dos

planos de manejo das diferentes categorias de UC, sendo que tais roteiros têm que

compreender basicamente: a) diagnóstico; b) zoneamento; c) programas de manejo;

d) prazos de avaliação e revisão e etapa de implementação.

O zoneamento ambiental passou a ser um componente primário de um

instrumento maior, denominado Plano de Manejo (REGALADO, 2005). Este Plano

de Manejo passa a ser um documento de declaração pública das intenções da

instituição gestora de uma Unidade de Conservação. Pode-se conceituar o Plano de

Manejo como um conjunto de metas, normas, critérios e diretrizes, tendo a aplicação

prática desses princípios por fim a administração ou o manejo dos recursos naturais

de uma determinada área (CONDURÚ; SANTOS, 1995).

O Plano de Manejo tornou-se um documento básico para administração não

somente de áreas legalmente protegidas, como também de outras áreas onde se

pretende trabalhar de forma sustentada, que também deveria elaborar e adotar este

documento como guia para a sua administração (PIRES, 2001). Estas outras áreas

incluem parques públicos e parques zoológicos que também necessitam de

planejamento adequado além de diretrizes para o desenvolvimento e conciliação de

suas atividades.

As dificuldades de implementação de gestão ambiental estão fundamentadas,

principalmente, na falta de caracterização ambiental detalhada dos sistemas e de

análise integrada dos dados, de modo a possibilitar a interpretação, avaliação e

tomada de decisões (LANNA, 1995).

O planejamento ambiental surge como uma forma de mitigar os impactos

ambientais de uma determinada área ou região. Deve ser um processo flexível e

dinâmico, baseado em uma descrição detalhada da área, e fundamentado em mapas

recentes, essenciais à elaboração de uma infra-estrutura básica de dados para

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interpretação, avaliação e decisão a respeito do manejo da mesma (PIRES et al ,

1988).

Segundo REGALADO (2005), um plano de manejo deve ser composto

basicamente por um diagnóstico (caracterização e análise ambiental), um

zoneamento e um conjunto de programas e ações. O diagnóstico envolve dois

processos:

1) A caracterização ambiental, cujo objetivo consiste no levantamento e organização

das informações referentes aos aspectos ambientais, sociais e econômicos da unidade

e de seu entorno;

2) A análise ambiental, cujo principal objetivo é apresentar as potencialidades e

fragilidades da unidade e áreas adjacentes. O zoneamento é a etapa seguinte ao

diagnóstico e resulta no parcelamento da área em setores ou zonas, nas quais, de

acordo com suas características ambientais, sociais e econômicas, e em suas

potencialidades e fragilidades, são definidos os graus de interferência permitida.

Muitos trabalhos de pesquisa já demonstraram a importância do plano de

manejo na gestão de Unidades de Conservação e acredita-se que ele também seja um

instrumento adequado para assegurar as funções de um zoológico, que em sua grande

maioria está sujeito a constantes oscilações devido a inexistência de diretrizes pré-

estabelecidas, além de normativas de rotina e funcionamento.

Frente a dificuldade em se administrar as diversas funções atribuídas aos

Parques Zoológicos, aliando seu papel ecológico de uma Unidade de Conservação e a

interação entre a conservação e o uso público, se faz necessária a elaboração de um

plano de manejo destas instituições, onde o zoneamento ambiental passa a ser seu

componente primário .

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O Município de Mogi Mirim possui uma população de aproximadamente

85.390 habitantes (IBGE, 2007) e está localizado na região centro-leste do Estado de

São Paulo, entre as coordenadas 22º34’ e 22º18’ de latitude sul e 47º7’ e 46°51’ de

longitude oeste, circundado pelos municípios de Artur Nogueira, Conchal,

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Engenheiro Coelho, Holambra, Itapira, Mogi Guaçu e Santo Antônio da Posse

(Figura 1).

Figura 1 : Localização do Município de Mogi Mirim, SP

Parque Zoológico Municipal de Mogi Mirim

O Parque Zoológico Municipal de Mogi Mirim foi fundado em 22 de outubro

1988 com a finalidade de promoção de lazer e educação para a população do

município. Quando inaugurado, tratava-se de um mini-zoológico do Horto Florestal,

administrado pelo Departamento Municipal de Meio Ambiente e Agricultura com o

objetivo de atuar como uma opção de lazer no município e região.

Com uma área de 62.068 m2, e um quadro de cerca de 22 funcionários , o

Zoológico recebe anualmente cerca de 55.000 visitantes do município e região

(dados da instituição em 2004).

De acordo com o censo de 2003, o Zoológico contava com um plantel de cerca de

250 animais, sendo 53 espécies diferentes, onde a maior parte pertencente a fauna

nacional.

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Flora do Parque

A área do Parque Zoológico Municipal apresenta uma fitofisionomia

caracterizada como Cerradão com uma diversidade florística bastante acentuada. No

entorno das trilhas do parque também são encontradas diversas espécies da flora

brasileira de diversas regiões.

Dentre as espécies identificadas na área do Jardim Zoológico estão angico-

do-cerrado (Anadenanthera falcata), jatobá (Hymenaea courbaril), pau-de-formiga

(Triplaris brasiliana), louro-pardo (Cordia trichotoma), Ipê-amarelo-da-mata

(Tabebuia chrysotricha), Jequitibá branco (Cariniana estrellensis) entre outras

importantes espécies da flora silvestre. Na área do entorno do lago do Zoológico

existem muitas espécies originadas de outros países tropicais, com destaque para o

pinheiro-do-brejo (Taxodium distichum), liquidambar (Liquidambar styraciflua),

guemelina (Guemelina arbórea), chorão (Salix babilônica). Em levantamento

florístico realizado por BRITO, & TOLEDO FILHO (2004) foram catalogadas 115

diferentes espécies, entre nativas e exóticas, incluindo uma coleção de palmeiras e

arbustos que foram plantadas com enfoque estético há alguns anos no parque.

Fauna do Parque

Devido a grande diversidade de espécies arbóreas existentes na área do

parque, a área do zoológico abriga também diversas espécies da fauna de vida livre,

como Ramphastos toco, Forpus xanthopterygius, Ajaia ajaia, Nycticorax nycticorax,

Colaptes melanochloros, Piaya cayana, Milvago chimachima, Boa constrictor,

Tupinambis merianae, Oxychopus guebei, Myocastor coypus, Didelphis albiventris,

Leopardus tigrinus, Euphractus sexcinctus, entre outras espécies identificadas no

levantamento faunístico realizado por NESTORI et al. (2001).

Procedimentos metodológicos

Os procedimentos utilizados no trabalho foram adotados com base em referências

de outros estudos realizados com unidades de conservação, divididos em cinco

principais etapas:

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I. Caracterização ambiental

II. Análise ambiental

III. Análise documental

IV. Zoneamento ambiental

V. Elaboração de diretrizes de manejo

Caracterização ambiental

Embora longa e exaustiva, a etapa da caracterização ambiental proporciona

aos administradores e aos usuários da unidade a compreensão da dinâmica dos

componentes sistêmicos estruturais e funcionais, basicamente decorrente dos tipos de

usos e ocupação da terra no âmbito da mesma e de seu entorno imediato (PIRES et

al., 2000).

A caracterização do ambiente físico do Parque Zoológico foi elaborada com

base na organização de um banco de dados georreferenciados, contendo as cartas

temáticas dos seguintes elementos estruturais da paisagem: limites da área,

hidrografia, malha viária e usos da terra. Estas informações foram obtidas a partir da

utilização de um Sistema de Informação Geográfica (SIG) MapInfo 8.5. Os limites

geográficos da área de estudo foram estabelecidos com a utilização do Sistema de

Posicionamento Global (GPS) in locu, sobreposto a uma imagem QuickBird

resolução 2,53 m georreferenciada através da verdade terrestre com o auxilio do

GPS. Para obtenção da hidrografia e malha viária foi utilizada uma carta topográfica

do IBGE (Mogi-Guaçu SF-23-Y-A-III-3), escala 1:50.000.

A classificação das áreas de perfil natural e de ação antrópica, dentro e no

entorno do Jardim Zoológico, foi realizada considerando o caráter visual da imagem

QuickBird, datada de 17 de agosto de 2003, através da digitalização em tela, com a

conseqüente atribuição de um “pixel” para cada categoria de uso da terra criando-se

polígonos vetoriais. A elaboração do banco de dados georeferenciados permite

cumprir a fase inicial do planejamento, ao descrever e caracterizar a paisagem do

Jardim Zoológico como subsídio às fases posteriores.

Análise documental e ambiental

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Após a organização de um banco de dados que fundamentou a caracterização

ambiental da área do Parque Zoológico, foi realizada a análise ambiental visando

identificar as potencialidades e fragilidades da unidade.

Esta análise incluiu uma investigação histórica sobre o Jardim Zoológico

Municipal, realizada através de pesquisa documental que incluiu leis municipais,

estaduais e federais, processos do Jardim Zoológico junto ao IBAMA, projetos,

notícias dos jornais regionais e fotos do acervo da instituição. A recuperação da

memória histórica da instituição, bem como do entendimento dos aspectos

relacionados à sua ocupação, permitem compreender a relação do Jardim Zoológico

como o desenvolvimento do município e sua população.

Zoneamento ambiental

O zoneamento ambiental é definido pelo Sistema nacional de Unidades de

Conservação da Natureza – SNUC (MMA/SBF, 2003) como a “definição de setores

ou zonas em uma Unidade de Conservação com objetivos de manejo e normas

específicas, com o propósito de proporcionar os meios e as condições para que

todos os objetivos da unidade possam ser alcançados de forma harmônica e eficaz”.

Trata-se de uma técnica de ordenamento territorial usada para atingir melhores

resultados no manejo de uma UC, pois estabelece usos diferenciados para cada

espaço, segundo seus objetivos, potencialidades e características encontradas no

local. Identificando e agrupando áreas com as qualificações citadas, elas vão

constituir zonas específicas, que terão normas próprias. Dessa forma, o zoneamento

torna-se uma ferramenta que vai contribuir para uma maior efetividade na gestão de

uma UC.

Para análise e definição das zonas foi considerada a caracterização ambiental

da área do Jardim Zoológico (usos da terra, hidrografia, malha viária e limites), em

termos das suas potencialidades e fragilidades frente à condição do entorno, bem

como as funções e a legislação referentes aos Zoológicos brasileiros.

A proposta de zoneamento ambiental do Jardim Zoológico de Mogi Mirim foi

fundamentada no Sistema Nacional de Unidades de Conservação propondo a

definição de setores com objetivos de manejo e diretrizes específicas, com o

propósito de assegurar o cumprimento das funções da unidade. A nomenclatura das

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zonas de manejo também foi baseada nas normas definidas no Sistema Nacional de

Unidades de Conservação (BRASIL, 2000b; 2002), com adaptações para o

atendimento das funções restritas de um Jardim Zoológico.

Devido às funções diversificadas que incluem conservação e lazer, foram

propostos dois cenários de zoneamento: um a curto prazo respeitando e priorizando a

função principal desde a criação do Parque Zoológico – o lazer, e outro cenário a

longo prazo priorizando a função de conservação.

A zona de amortecimento, conceituada como o entorno de uma Unidade de

Conservação (BRASIL, 2000b; 2002), foi estabelecida como uma faixa com largura

de 300 m do entorno do Parque. Esta área foi reduzida devido a caracterização do

entorno em seis quilômetros se manter a mesma da faixa estabelecida, sendo que a

redução permitiria uma maior possibilidade de ações.

Os principais critérios de exclusão de zonas de amortecimento estão ligados à

presença de áreas urbanas já estabelecidas; e de áreas definidas ou estabelecidas

como expansões urbanas pelos Planos Diretores Municipais ou equivalentes,

legalmente instituídos (REGALADO, 2005).

A categorização das zonas foi efetuada com base na identificação dos tipos de

usos da terra, que devem estar sujeitos a restrições de usos, configurando como

extensão do próprio Zoológico, ou medidas especiais para proporcionar uma

proteção adicional à unidade.

Elaboração de diretrizes de manejo

As diretrizes de manejo para as zonas estabelecidas foram elaboradas de

acordo com os objetivos pré-definidos para os Zoológicos: pesquisa, educação,

conservação e lazer, e em informações referentes às potencialidades e fragilidades da

área e, principalmente, na capacidade institucional para a implantação das atividades

sugeridas.

A Figura 2 apresenta a descrição sumária das etapas metodológicas deste

trabalho:

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Figura 2: Fluxograma das etapas metodológicas do trabalho. Elaborado por

MARINO, 2007.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização ambiental do Zoológico

O Parque Zoológico Municipal de Mogi Mirim apresenta-se com um

perímetro de 7.588,12 m e uma área de 62.073 m2. Através do georeferenciamento e

da imagem do Google Earth foram definidos os limites do Parque Zoológico (Figura

3), que compreendem: a área urbana da cidade de Mogi Mirim; uma propriedade

particular sem infra-estrutura, e uma fração da área total do Horto Florestal. Esta área

equivale a um perímetro de 2.931,75 m e uma extensão de área de 484.913,96 m2.

Procedimentos metodológicos

I.Caracterização Ambiental

Levantamento de dados

Aquisição 

de Cartas

Saída a campo (georeferenciamento)

Elaboração de cartas

II. Analise 

ambiental

Identificação das potencialidades e 

fragilidades

Organização de um banco de dados ambientais

IV. Zoneamento 

ambientalV.  Elaboração das 

Diretrizes de manejoIII. Análise 

Documental

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Figura 3. Limites imediatos do Parque Zoológico, Município de Mogi Mirim, SP.

Hidrografia

O Parque Zoológico está localizado na bacia hidrográfica do Rio Mogi Guaçu. A hidrografia

(Figura 4) contempla o córrego Bela Vista que alimenta a lagoa do Horto e continua pelo Bairro

Aterrado até o encontro com o Rio Mogi Mirim. A lagoa do Horto apresenta um processo de

assoreamento progressivo, que reflete na perda de sua capacidade de armazenamento de água.

Segundo estudo realizado por SANTOS et al. (2004), a lagoa do Horto há anos vem sofrendo

com seu assoreamento. Os repetidos esforços para remoção do material assoreado apresentam pouca

repercussão, pois no período das chuvas mais intensas (dezembro a fevereiro), grande quantidade de

material mineral e orgânico é novamente depositada na extensão da lagoa. Uma área agrícola de safra

anual apresentando erosões laminares, a ausência de vegetação ribeirinha ao longo dos afluentes da

lagoa e a ocupação urbana acelerada e desorganizada foram apontadas como as principais causas do

assoreamento, que gerou uma redução de cerca de 70% no volume de água do lago.

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Figura 4: Hidrografia do Parque Zoológico, Município de Mogi Mirim, SP.

Malha viária

A malha viária (Figura 5) da área onde o Parque Zoológico está localizado

contempla a Rodovia Estadual Engenheiro João Tosello (SP-147) que liga Mogi

Mirim ao município de Itapira , além das ruas pavimentadas em seu entorno

imediato. A Unidade também apresenta pistas de caminhada no seu interior,

utilizadas pelo público visitante.

Figura 5: Malha Viária do entorno do Parque Zoológico, Município de Mogi Mirim,

SP.

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Uso e ocupação da terra

O uso da terra é entendido como a forma pelo qual o espaço está sendo ocupado

pelo homem (ZANIN, 2002).

A classificação dos tipos de cobertura do solo do Parque Zoológico baseou-se na

caracterização do ambiente e nas atividades realizadas em cada área ou setor. Assim,

na área analisada, foram identificados seis diferentes tipos de usos: vegetação

arbórea; vegetação arbustiva; recintos de animais; ambiente aquático; edificações e

trilhas (Figura 6).

Esta classificação permitiu a divisão das áreas e delimitações das mesmas,

conforme mostra o quadro 1.

Quadro 1: Distribuição dos usos da terra para a área do Parque Zoológico do

Município de Mogi Mirim, SP. Tipos de uso e ocupação da terra Área (m2) Área (%)

Ambiente Aquático 13.208,85 21,28

Edificações 1.537,87 2,48

Recintos de Animais 11.707,12 18,86

Trilhas 9.617,28 15,49

Vegetação Arbórea 18.750,85 30,21

Vegetação Arbustiva 7.251,03 11,68

TOTAL 62.073,00 100,00

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Figura 6: Tipos de usos da terra para a área do Parque Zoológico do Município de Mogi Mirim, SP.

Zoneamento ambiental do Parque Zoológico Municipal

A proposta para o Zoneamento Ambiental do Parque Zoológico do Município

de Mogi Mirim contemplou cinco zonas: Zona de Manejo Animal (ZMA), Zona de

Uso Público (ZUP), Zona Natural de Uso Restrito 1 (ZUR 1), Zona Natural de Uso

Restrito 2 (ZUR 2) e Zona de Uso Especial (ZUE) (Figura 7).

MARINO, 2004

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Figura 7: Proposta de Zoneamento Ambiental para o Parque Zoológico do

Município de Mogi Mirim, SP.

O Quadro 2 apresenta os valores dos perímetros e das áreas definidas para

cada zona de manejo. Esta proposta de zoneamento define as potencialidades e

limitações do Jardim Zoológico, além de um cenário futuro frente aos usos e

atividades proibidas e permitidas, contribuindo para o exercício de suas verdadeiras

funções.

Quadro 2. Valores de perímetro (m) e das áreas (m2 / %) das Zonas do Parque Zoológico do Município de Mogi Mirim, SP.

Zonas Área (m2) Perímetro (m) Área (%)

Zona de Manejo Animal (ZMA) 16.033,87 1.333,66 25,83

Zona de Uso Público (ZUP) 5.982,00 818,88 9,64

Zona Natural de Uso Restrito 1 (ZUR 1) 15.432,44 2.069,60 24,86

Zona Natural de Uso Restrito 2 (ZUR 2) 13.159,16 450,47 21,20

Zona Uso Especial (ZUE) 1.847,33 238,13 2,98

Zona de Manejo Animal (ZMA)

Compreende uma área de 16.033,87 m2, ou seja, 25,83% da área total do

Parque Zoológico. Esta zona contempla os recintos dos animais do plantel do

zoológico e o setor de quarentena sendo distribuídos por toda a extensão do parque.

Possui normas de segurança e diretrizes de manejo, que devem ser organizadas

através de programas específicos. Alguns recintos necessitam de manutenção e

adequação, além de uma reorganização de sua distribuição pelo parque. A ZMA está

cercada pelas demais zonas e possui acesso restrito para funcionários do parque e

pesquisadores autorizados.

As considerações anteriores demonstram a importância do manejo das

espécies do Parque Zoológico voltado para pesquisas que visem não apenas a

conservação das espécies, mas dos ecossistemas como um todo. Assim se faz

necessário um programa voltado para pesquisa que incentive o desenvolvimento de

projetos em parceria com instituições de ensino e pesquisa. Este programa deve

normatizar as atividades de pesquisa e reforçar sua função de instrumento para

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conservação ex situ da fauna brasileira. Portanto, as diretrizes da Zona de Manejo

Animal devem priorizar a pesquisa e a educação forma organizada e eficiente,

visando à conservação da biodiversidade.

Diretrizes de manejo da Zona de Manejo Animal:

Programa para ampliação, em área e em número, dos recintos de manejo

animal, além de um reoordenamento territorial e enriquecimento ambiental

dos mesmos para o desempenho específico de suas funções;

Respeito a legislação vigente, Instrução Normativa No. 169 de 20 de

Fevereiro de 2008, que estabelece os tamanhos e condições mínimas de

alimentação e segurança dos cativeiros, de acordo com a espécie animal, além

das condições de funcionamento dos Jardins Zoológicos;

Desenvolvimento da pesquisa baseado em programas que incentivem a

parceria com instituições de ensino e pesquisa, otimizando a

operacionalização da pesquisa no Parque Zoológico e reforçando sua função

como instrumento para conservação da fauna brasileira;

Manutenção constante: Os recintos localizados na Zona de Manejo Animal

devem receber manutenção constante visando o bem-estar dos animais, a

segurança e a adequação à legislação vigente. O trabalho de manutenção da

Zona de Manejo Animal deve ser incluído no organograma de trabalho do

Parque Zoológico e consta de vistorias diárias e serviços de reparos;

Realização de manejo: o manejo realizado nesta zona compreende: manejo

nutricional, reprodutivo, genético e contenção dos animais. Todas as ações

realizadas devem conter um planejamento adequado e devem ser

desenvolvidas por funcionários devidamente capacitados. Também deve ser

realizado trabalho de enriquecimento ambiental em todos os recintos dos

animais. Para tanto, são necessários treinamentos e cursos de atualização

constantes, além do acompanhamento direto dos técnicos;

Acesso restrito a funcionários: a Zona de Manejo Animal deve conter

normas de segurança próprias e o acesso deve ser restrito a funcionários do

parque. Para desenvolvimento de pesquisa, os pesquisadores devem estar

devidamente autorizados e devem ser acompanhados por funcionários;

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Planos de manejos das espécies: o manejo dos animais do Jardim Zoológico

deve integrar e respeitar os planos de manejo das espécies, pré-estabelecidos

pelos comitês nacionais e internacionais;

Normatização própria para instalações físicas e procedimentos: o

trabalho desenvolvido na Zona de Manejo Animal deve conter normas de

procedimentos para garantir a segurança e eficiência do trabalho. Os

funcionários devem ter conhecimento estes procedimentos;

Capacitação e treinamento: funcionários, técnicos, estagiários,

pesquisadores e demais colaboradores devem estar devidamente capacitados

para atuarem na Zona de Manejo Animal;

Organização do plantel: a definição das espécies do plantel deve ocorrer de

acordo com um planejamento que inclua: relevância para preservação da

fauna brasileira e a interação com o público visitante;

Desenvolvimento de educação ambiental: a Zona de Manejo Animal pode

ter finalidade educativa também, para tanto devem ser implantados recintos

auto-didáticos, representando o habitat do animal e a importância de sua

preservação. Placas de identificação e murais temáticos também devem ser

instalados em frente aos recintos.

Zona de Uso Especial (ZUE)

Esta zona compreende as edificações dos setores administrativos e

compreende uma área de 1.847,33 m2, sendo 2,98 % da área total do Parque

Zoológico. Abrange os setores de biologia e veterinária, nutrição, administração e

manutenção, sendo que cada setor possui normas especificas e atividades

diferenciadas, sendo necessária a implantação de programas específicos para cada

setor. Os setores estão organizados em três edificações: setor de biologia e

veterinária, administração e manutenção.

Diretrizes de manejo da Zona de Uso Especial:

Ocupação destinada exclusivamente para as atividades administrativas.

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Normatização própria para instalações físicas e procedimentos: cada

setor deve ter normas para o desenvolvimento do trabalho. Estas normas

devem ser apresentadas para os funcionários através de treinamentos e devem

estar expostas em suas instalações físicas.

Manutenção constante.

Acesso restrito a funcionários: as áreas destinadas para uso especial devem

permitir acesso apenas para funcionários.

Capacitação profissional constante: capacitação e atualização constante dos

funcionários para atuação nos setores administrativos.

Programas de segurança e profilaxia: as áreas administrativas e técnicas

devem possuir programas próprios de segurança e de profilaxias.

Programa de qualidade do alimento: deve ser implantado o programa de

qualidade de alimento que inclui normas e procedimentos adequados para

armazenamento, preparo e oferta de alimento para os animais. Este programa

foi elaborado através do projeto de pesquisa de MARINO & RIBEIRO-

MARINO (2002) “Implantação de Sistema de Qualidade de Alimento no

Zoológico Municipal de Mogi Mirim”.

Organograma de trabalho: o organograma de trabalho dos funcionários

deve ser revisado constantemente, sendo atualizado de acordo com os

objetivos e com as dificuldades enfrentadas na rotina do Parque Zoológico.

Reordenamento espacial das instalações físicas de forma que aperfeiçoe o

trabalho e garanta a qualidade do mesmo.

Transferência da Horta: transferência da horta para local mais próximo do

setor de nutrição.

Zona de Uso Público (ZUP)

A referida zona inclui 5. 982m2 de áreas abertas com gramado e jardins

destinadas às atividades de lazer, além de duas edificações, ou seja, 9,64% da área

total do Parque Zoológico. As áreas abertas possuem equipamentos de lazer e são

acessadas através das trilhas que percorrem toda a extensão do parque. As duas

edificações compreendem um auditório e salas de aula destinadas para atividades

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educativas. O uso público que é dividido em lazer /recreação e educação, muitas

vezes conflitam com atividades de manejo e conservação, por isso devem ser

organizadas através de programas específicos.

Diretrizes de manejo:

Manutenção constante: a manutenção constante é necessária devido ao fato

da área receber grande quantidade de público. A área deve permanecer limpa

e segura para os visitantes, minimizando acidentes e depredações.

Ampliação das estruturas educativas: proposta de construção de um

aquário instalado no Auditório “Casa da água” além de um observatório e de

uma ilha sensorial para atender as atividades educativas.

Programa educativo integrado: a Zona de Uso Público deve conter um

programa educativo que inclua atividades continuas e atualizadas de acordo

com revisões freqüentes e inovações. Este programa deve ser integrado com o

Programa de Pesquisa e com as atividades de lazer desenvolvidas no Parque.

Ampliar a estrutura de lazer: visando atender uma das importantes funções

de lazer, a referida zona deve conter uma infra-estrutura adequada para

atender os visitantes. Esta infra-estrutura inclui mais equipamentos de lazer,

bebedouros, sanitários e lixeiras. Esta área também pode ter função educativa,

através da instalação de brinquedos educativos.

Melhorar o serviço de informação: instalação de um mural na entrada do

Jardim Zoológico com mapa contendo localização dos recintos e das

estruturas. No mural deve conter informações sobre o parque e dicas de

segurança.

Melhorar o pavimento das trilhas, adequando-os para melhorar o acesso

dos visitantes.

Implantação de Programa de Acessibilidade, promovendo melhorias nas

estruturas físicas do Parque com a adequação dos acessos às trilhas e às

edificações do local.

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O trabalho educativo que o Parque Zoológico implantou e realizou no período

de 1998 e 2004 foi reconhecido no Município e na região, tornando-se uma

referência não apenas no atendimento às escolas com ações de educação ambiental,

mas como importante recurso para o ensino de Ciências. Os resultados de uma

pesquisa realizada por RIBEIRO-MARINO & MARINO (2006) demonstraram que

além da educação ambiental, caracterizada pelo enfoque na conservação da

biodiversidade, as atividades educativas contribuíam com o ensino de Ciências

desenvolvido nas escolas. O espaço natural do Parque, a estrutura física, os animais

e as atividades didático-científicas tornaram-se recursos essenciais para suprir as

dificuldades das escolas do município e da região em abarcarem todo o

conhecimento proveniente do progresso científico e tecnológico dos nossos dias. As

atividades desenvolvidas no programa contribuíram também com a popularização

da ciência na região, apresentando-a para a comunidade estudantil de forma clara e

prática.

Zona Natural de Uso Restrito (ZUR 1):

Compreende uma área de 15.432,44 m2 coberta por vegetação natural com

espécies arbóreas típicas de cerrado, sendo 24,86% da área total do Parque

Zoológico. Apesar da predominância de espécies nativas, são encontradas espécies

exóticas oriundas do uso comum com o Horto Florestal. Área de acesso proibida aos

visitantes, sendo utilizada apenas por funcionários para a manutenção e acesso aos

recintos dos animais. Por onde cruza o córrego Bela Vista há uma mata ciliar na área

do Parque Zoológico.

Esta área abriga a maior parte da fauna de vida livre, onde são encontrados ninhos de

diversas espécies da avifauna brasileira.

Diretrizes de manejo:

Acesso restrito: permissão apenas para funcionários realizarem manutenção

quando necessária.

MARINO, 2003

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Preservação: manter a vegetação natural que abriga espécies da fauna de

vida livre.

Minimização de impactos: recomenda-se a instalação de corrimão com tela

na trilha para evitar o acesso do publico e possíveis depredações.

Ampliação da área: a área deve ser ampliada através da retirada dos recintos

que abrigam as espécies Caiman latirostris e Geochelone sp., ação proposta

na Zona de Manejo Animal. Esta área deve ser preservada pois está às

margens do córrego Bela Vista.

Realização de monitoramento da qualidade do ar e do solo na área do

Parque Zoológico.

Zona Natural de Uso Restrito 2

Abrange 21,20% da área total do Parque Zoológico, com 13.159,16 m2 de

ambiente aquático que inclui a lagoa do Horto e parte do córrego Bela Vista.

Apresenta nítida presença de interferência antrópica representada pelo processo de

assoreamento e constantes inundações dos córregos. Apesar do assoreamento, além

da ictiofauna, o lago é freqüentado por aves migratórias e por mamíferos de vida

livre que utilizam a área para reprodução, abrigo e fonte de alimento.

Diretrizes de Manejo:

Desassoreamento da Lagoa: realizar o desassoreamento completo, incluindo

a construção de uma caixa de contenção de areia para prevenir novos

assoreamentos.

Revitalização das ilhas: realizar um trabalho de revitalização de quatro ilhas,

sendo utilizadas pelas aves migratórias que freqüentam o Parque.

Preservação: a área da lagoa, suas margens e ilhas devem ser preservadas.

Proibição para navegação: não deve ser permitida a navegação no lago que

vise o lazer.

Proibição para pesca: não deve ser permitida a pesca no local.

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Implantação da Ilha sensorial: promover o acesso a uma das ilhas próxima

à margem através de uma ponte de madeira. Esta ilha deve conter recursos

naturais organizados de forma que permitam a realização de um trabalho

educativo através dos sentidos.

Realização de monitoramento da qualidade da água da lagoa e dos

córregos encontrados na área do Parque Zoológico

Zonas de Amortecimento

O zoneamento ambiental deve ser obrigatoriamente estendido às áreas

adjacentes à unidade delimitando uma “zona de amortecimento” para a mesma.

As Zonas de Amortecimento representam as melhores oportunidades de

minimizar os efeitos negativos e de maximizar os efeitos positivos dos usos da terra

no entorno de uma Unidade de Conservação. São comumente referidas como uma

área periférica de uma Unidade de Conservação, onde estão definidas restrições de

usos ou medidas especiais para a proteção adicional à Unidade, enquanto

proporciona benefícios às comunidades vizinhas (BRANDON, 1997). O uso

eficiente das zonas de amortecimento vem sendo defendido por ambientalistas e

órgãos gestores de Unidades de Conservação (PRINS & WIND, 1993). A Resolução

nº 13/90 (CONAMA, 2006) considera um raio de 10 km o entorno de uma Unidade

de Conservação, como a área onde deverá ocorrer licenciamento de qualquer

atividade que possa comprometer a biota da Unidade. Entretanto, como não existem

diretrizes específicas para o planejamento das zonas de amortecimento (MARTINO,

2001), foi definido para o Jardim Zoológico uma área de entorno com uma faixa de

somente 300 m de largura. Mesmo porque os usos da terra para a área circundante

são os mesmos em um raio de 6 km.

A proposta das zonas de amortecimento para o Parque Zoológico definiu

quatro áreas críticas circundantes com potencialidades e limitações distintas (Figura

8), além de apresentar um cenário futuro frente aos usos e atividades proibidas e

permitidas no entorno do mesmo, contribuindo para o exercício de suas funções.

A Zona de Entorno Imediato 1 (ZE 1) compreende o uso exclusivamente

urbano relacionado a residências , escolas, postos de saúde e estabelecimentos

comerciais . Os maiores riscos à integridade do Parque Zoológico são relacionados às

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residências localizadas às margens do córrego Bela Vista (que integra a hidrografia

do parque) e a falta de uma política pública para gerenciamento deste córrego.

Também devido a ocupação urbana ocorre a entrada de animais domésticos no

Parque, oferecendo riscos epidemiológicos aos animais silvestres de vida livre ou em

cativeiro. Devido a impossibilidade de se propor qualquer mudança de uso para a

área urbana, as diretrizes para a ZE 1 estão restritas a um trabalho educativo com os

moradores, visando minimizar o impacto causado pelas invasões pelos animais

domésticos além do despejo de lixo e dejetos no córrego Bela Vista.

Figura 8: Proposta Conceitual para a Zona de Amortização do Parque Zoológico do Município de Mogi Mirim, SP. A Zona de Entorno Imediato (ZE 2) compreende uma fração da área do Horto

Florestal (Figura 50), que contempla uma área com plantio de Pinus; um viveiro de

mudas; edificações da administração e residências de funcionários do Horto

Florestal, e ainda um campo de futebol com freqüência bastante acentuada de

visitantes que se utilizam desta estrutura para atividade recreacional. A inexistência

de um convênio oficial que defina diretrizes de uso comum entre o Parque Zoológico

MARINO, 2004

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e o Horto Florestal constitui um fator de risco para assegurar o desempenho

funcional destas instituições, uma vez que normas institucionais diferenciadas

permitem o estabelecimento de conflitos no gerenciamento destas áreas.

A Zona de Entorno Imediato (ZE 3) contempla uma área de campo

antrópico de propriedade particular, com ocorrência constante de queimada, a

presença de animais domésticos oferecendo riscos ao Parque Zoológico, e a

proliferação de animais sinantrópicos devido a grande quantidade de lixo jogado por

moradores do entorno da área. A 300 metros da área também ocorre fragmentos de

Cerradão e a 150 metros uma faixa de Mata Ciliar de 200 m de comprimento por 50

m de largura. No Plano Diretor da Prefeitura Municipal de Mogi Mirim (2005–2008)

esta área foi categorizada como uma Zona Exclusivamente Residencial (ZER),

determinando a ocorrência dos mesmos tipos de riscos conferidos à Zona de Entorno

Imediato 1.

A Zona de Entorno Imediato (ZE 4) compreende uma área de vegetação de

cerrado pertencente e administrada pelo Horto Florestal , porém atualmente utilizada

pelo Jardim Zoológico para atividades e estudos de reintrodução animal. Esta zona

de amortecimento, independente de sua anexação ou não ao Parque Zoológico,

deveria atuar efetivamente como uma zona de conservação para atender atividades de

manejo animal integrado com projetos de reintrodução à natureza, com manutenção

e cuidados adequados para tal finalidade.

As Zonas de Entorno Imediato 2 e 4 compõem um perímetro que devem

configurar como extensões do Parque Zoológico, considerando as mesmas restrições

de usos que as estabelecidas para a Unidade. As Zonas de Entorno Imediato 1 e 3

compõem um perímetro que devem contemplar usos que possibilitem a integração do

Parque Zoológico com a comunidade.

O Plano Diretor de Desenvolvimento de Mogi Mirim (2005 – 2008),

regulamentado através da Lei Complementar No. 210/07 apresenta o Parque

Zoológico e o Horto Florestal como Zona Especial de Interesse Ambiental (ZEIA 01

– Área de Preservação Ambiental), sem diferenciar os desempenhos funcionais

distintos destas Unidades. Segundo o Art. 141 “as Zonas Especiais de Interesse

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Ambiental 01 ficam definidas como APA – Área de Preservação Ambiental – em

acordo com a conceituação definida pela Lei Federal 9.985/2000. Além disso, o § 3º

cita que “o manejo da Unidade de Conservação deverá atender às disposições do

Plano de Manejo e as exigências legais compulsórias previstas na Lei Federal nº

9.985/2000”

No referido Plano Diretor, o Parque Zoológico Municipal e o Horto Florestal

são considerados uma área única, com gestão baseada na legislação referente a

Unidades de Conservação (Lei Federal No. 9985/2000).

O termo “Zoológico Municipal” é citado apenas na Seção V, referente ao

desenvolvimento do turismo, sendo a reforma e adequação das edificações no

Zoológico Municipal uma das ações estratégicas para o desenvolvimento do turismo

descritos no Art. 20.

A forma em que o Parque Zoológico Municipal de Mogi Mirim foi

apresentado neste documento reforça a importância e necessidade de esclarecer e

oficializar o papel e as atribuições desta Instituição. O zoneamento ambiental

demonstra-se um documento básico para administração não somente para as áreas

legalmente protegidas, mas também de outras áreas incluindo os parques públicos e

os zoológicos, os quais também necessitam de planejamento e diretrizes para o

desenvolvimento e conciliação de suas atividades e funções. Essencial, sobretudo

para os Parques Zoológicos, que em sua maioria está sujeito a constantes oscilações

devido a inexistência de diretrizes e de normas de rotina e funcionamento.

Segundo BARRELA et al (1999), ao longo dos anos, pode-se acompanhar a

oscilação técnica ou a substituição de profissionais e, em alguns casos, a mudança de

filosofia de trabalho de vários Parques Zoológicos do estado de São Paulo. Esta

dinâmica está associada às mudanças políticas municipais, que podem ocasionar a

interrupção de projetos em andamento, com prejuízos na obtenção dos resultados das

pesquisas sobre o manejo dos animais em cativeiro, como também nos programas

educativos, científicos e de conservação.

Além das questões políticas, o orçamento destinado aos Parques Zoológicos

na maioria das vezes não é o suficiente para garantir remodelação de recintos,

projetos paisagísticos, aquisição de rações de primeira linha, capacitação de

funcionários, elaboração de material didático e divulgação. Este problema é

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vivenciado pela maioria das Unidades, pois somente no Estado de São Paulo, em

1999, dos 50 Parques Zoológicos existentes, 47 eram gerenciados por prefeituras, um

era uma fundação e dois particulares.

Poucas instituições são tão propícias à investigação científica como os

parques zoológicos contemporâneos. A diversidade de temas relacionados à

conservação, demonstra a tendência dos parques zoológicos em ampliarem o foco de

suas atividades, não se restringindo apenas aos temas ligados à fauna, mas sim aos

diversos segmentos que envolvem, direta ou diretamente, a manutenção dos habitats

e a própria qualidade de vida, como os problemas ambientais atuais do ambiente

urbano e natural os diferentes tipos de poluição (AURICCHIO, 1999).

A necessidade de manter jardins zoológicos ainda é muito questionada por

parte da sociedade (WEMMER, 2002). Segundo AMARAL (2002), é comum ouvir

comentários dos próprios visitantes, como por exemplo, “coitado do animal, não

merecia estar preso”. Ou a pergunta: “Se vocês gostam tanto de animais, porque

vocês prendem eles nas jaulas?” citada por MERGULHÃO (1998).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os questionamentos sobre a existência dos parques zoológicos ainda

persistem devido a falta de clareza em relação ao objetivo e às verdadeiras funções

destas Instituições. Muitas ainda são mantidas como um local para exposição de

animais, onde os animais são capturados e presos para satisfazer a curiosidade das

pessoas e entreter o público.

Acredita-se que histórico desta instituição, que apresenta sua criação baseada

em entretenimento e sinônimo de poder; a falta de esclarecimento quanto às suas

verdadeiras funções e a casos isolados de abusos e a falta de ética na gestão de

algumas instituições possam ser os motivos que levam a este questionamento.

Diante da atual situação ambiental em que se encontra o país, a manutenção

de animais em cativeiro é considerada necessária não apenas pelo órgão ambiental

IBAMA, mas por muitos pesquisadores que atuam na área ambiental e

conservacionista. Esta necessidade vai além de apresentar animais silvestres às

crianças, como razões relacionadas à pesquisas que garantam a reprodução em

cativeiro e a conseqüente manutenção da espécie. Infelizmente, ainda há uma retirada

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© Revista INTERFACEHS – v.6, n.1, Artigo, Abril. 2011 109

absurda de animais da natureza por ações do tráfico de animais, e os zoológicos

acabam muitas vezes sendo os únicos recursos para alojar os animais oriundos de

apreensões .

As recomendações anteriormente citadas, somadas a dados oriundos de

diversos trabalhos científicos e relatos de trabalhos desenvolvidos nos parques

zoológicos brasileiros demonstram que estas instituições devem ser analisadas e

administradas com base nas dimensões ecológica, econômica, social, política e

ambiental. Desta forma, fica evidente que os parques zoológicos necessitam de

planos de manejo que definam claramente suas diretrizes de atuação.

Durante a realização do trabalho no Zoológico de Mogi Mirim, foi

considerada uma proposta mais ampla, visando priorizar a função de conservação ex

situ da área, mas em uma perspectiva a longo prazo, pois necessitaria de uma

adequação ao Plano Diretor do Município, especialmente em relação às diretrizes

propostas às zonas de entorno imediato e de um reordenamento territorial do Parque

Zoológico, com a transferência de recintos de animais e novas construções. Estas

ações dependem de outra ação de longo prazo que é uma dotação orçamentária maior

e um convênio com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente para desenvolvimento e

de trabalho em conjunto com a Estação Experimental de Mogi Mirim.

Sabe-se que a maioria dos planos de manejo no Brasil apresenta um grande

distanciamento entre a sua elaboração e a sua execução propriamente dita. Acredita-

se que um bom Plano de Manejo seja aquele que contenha informações básicas que

permitam, mesmo ao longo de sua elaboração, desencadear as ações necessárias para

a administração da Unidade de Conservação.

Desta forma, conclui-se que o zoneamento realizado e as diretrizes propostas

para o Parque Zoológico Municipal de Mogi Mirim podem subsidiar a elaboração de

um plano de manejo que permita conciliar o seu uso público, para atividades de lazer

e educação, com a preservação dos atributos naturais relevantes, com a pesquisa e

com a conservação a partir de um modelo de planejamento e gestão com diretrizes

adequadas.

Em 20 de fevereiro de 2008 foi publicada uma Instrução Normativa que

define com maior clareza os “jardins zoológicos”. A publicação desta legislação foi

um grande avanço, uma vez que durante vinte e cinco anos a legislação não

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contemplou as principais funções de um jardim zoológico. Esta nova legislação traz

uma definição mais clara sobre seu papel e principalmente, exigências como a

descrita no §2º do Artigo 9: Para os Jardins Zoológicos Públicos deverá ser

apresentada a dotação orçamentária com detalhamento da despesa (instalação e

manutenção do Jardim Zoológico) incluído no orçamento público.

Esta exigência pode amenizar um dos grandes problemas citados neste

trabalho que é a dificuldade do poder público manter o funcionamento dos jardins

zoológicos.

O trabalho realizado com no Parque Zoológico Municipal de Mogi Mirim

pode subsidiar outras ações para os demais zoológicos brasileiros, além de ressaltar a

necessidade de uma legislação mais clara e objetiva quanto as funções e

obrigatoriedades mínimas dos mesmos, pois a manutenção dos animais em cativeiro

só se justifica se a instituição tiver um trabalho sério, que inclua ética e

planejamento.

REFERÊNCIAS

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© Revista INTERFACEHS – v.6, n.1, Artigo, Abril. 2011 111

BRASIL. Lei no 9.985, de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da natureza e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 2000b. BRASIL. Decreto no 4.340, de 22 de agosto de 2002. Regulamenta o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da natureza e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 2002. BRASIL. Instrução Normativa Nº 169, de 20 de Fevereiro de 2008. Brasília, 2008. Brito, L.S. & Toledo Filho, D.V. 2004. Levantamento Florístico do Zoológico Municipal de Mogi Mirim. XIII Congresso da Sociedade Paulista de Zoológicos - Leme/SP. Collados, G. 2007. Conservación + Exhibición. Anais do XXXI Congresso Anual da Sociedade de Zoológicos do Brasil - São Paulo/SP. Dias, J.L.C. 2003. Zoológicos e a pesquisa científica. Biológico, São Paulo, v.65, n.1/2, p.127-128, jan./dez.,2003 Franzoni, A.M.B. 2000. Avaliação do meio físico para fins de planejamento geoambiental no traçado e manutenção de rede viária: Ilha de Santa Catarina – SC Tese de Doutorado do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista. Guedes, A.C. (Coord.) 1998. Conservação Ex-Situ. Relatório do Grupo de Trabalho Temático 3: Artigo 9 sobre a Convenção de Diversidade Biológica. Brasília. Coordenação Nacional de Diversidade Biológica (COBIO) do Ministério do Meio Ambiente. 43 pp. (Estratégia Nacional de Diversidade Biológica). Disponível em http://www.mma.gov.br/port/sbf/chm/doc/gtt3.pdf. Acessado em Agosto/2007. IBAMA. 2005. IBAMA: Fauna e Jardins Zoológicos. Disponível em: http://www.ibama.gov.br/ Acesso em agosto de 2005. IBGE. 2007 – IBGE Cidades Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php Acesso em novembro de 2007. Lanna, A.E.L.1995. Gerenciamento da Bacia hidrográfica: aspectos conceituais e metodológicos. Brasília, IBAMA. 171p (Coleção Meio Ambiente) Magnani, F.2002. Analise do panorama administrativo e operacional dos zoológicos brasileiros. In: XXVI Congresso da Sociedade de Zoológicos do Brasil e II Encontro de Zoológicos do Mercosul. Porto Alegre/RS. Anais da SZB, p.207. Nestori, E.; Marino,G.I. & Ribeiro,L.M. 2001. Levantamento faunístico da região de Mogi Mirim (SP) - três anos e meio de registro de animais silvestres recebidos pelo Zoológico Municipal de Mogi Mirim. VI Encontro Internacional de Zoológicos e XXV Congresso da Sociedade de Zoológicos do Brasil, de 20 a 25 de maio de 2001 - Brasília / DF. Pires, A. M. Z.C. R. ; Santos, J. E. & Pires, J.S.R.1998. Elaboração de um banco de dados digitais georeferenciados para caracterização ambiental de uma Unidade de Conservação.In:VIII Seminário Regional de Ecologia, São Carlos. Anais. pg.585 -598. Pires, A.M.Z.C.R.; Santos, J.E. & Pires, J.S.R. 2000. Caracterização ambiental de

uma Unidade de Conservação. Estação Ecológica de Jataí, Luiz Antônio, SP. Estudos

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© Revista INTERFACEHS – v.6, n.1, Artigo, Abril. 2011 112

integrados em Ecossistemas - Estação Ecológica de Jataí, Luiz Antônio, SP. Vol.1.

Editora RIMA: São Carlos.

Pires, L. A. S. 2007. Papel do Zoológico na economia do Município de Bauru. Anais do XXXI Congresso Anual da Sociedade de Zoológicos do Brasil – São Paulo/SP. Prins, H. & Wind, J. 1993. Research for nature conservation in south-east Asia. Biological Conservation, 63: 43 – 46. Regalado, L.B. 2005. Contribuição ao Gerenciamento da Floresta Nacional de Ipanema: O Uso de Base Cartográfica Digital na Construção de um Modelo Alternativo ao Plano de Manejo. Tese de Doutorado em Ciências da Engenharia Ambiental da Universidade de São Paulo. São Paulo/SP. Sanders, A. & Feijó, A.G.S. 2007. Uma reflexão sobre animais selvagens cativos em zoológicos na sociedade atual. Anais do III Congresso Internacional Transdisciplinar Ambiente e Direito- III CITAD, realizado em Porto Alegre na PUCRS em 2007. Santos, S.A.M.; Cavenaghi, L.A.; Caetano, N.R.; Ribeiro-Marino, L.M. 2004. Assoreamento do Lago do Zoológico Municipal de Mogi Mirim: causas e conseqüências para a biodiversidade local. Arquivos do Instituto Biológico. ,São Paulo, v.71, (supl.), p1-749. Silva, C. E. F. 2003. Proposta para planejamento da categoria de manejo floresta, unidade de conservação de uso sustentável, em função do artigo 26, do Decreto federal N. 4.340, de 22 de agosto de 2002, que regulamentou a Lei Federal N. 9.985, de 18 de julho de 2000. Instituto Florestal. SMA/SP. São Paulo. Wemmer, C. 2006. Manual técnico de zoológico. Sociedade de Zoológicos do Brasil. Balneário Camburiú, SC.

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© Revista INTERFACEHS - v.6, n.1, Resenha, Abril. 2011

113 

OS LIMITES DA TOXICOLOGIA REGULATÓRIA

THE LIMITS OF REGULATORY TOXICOLOGY

Patrícia Silvério, Dra ¹

Gisela de Aragão Umbuzeiro, Dra ²

¹ CPEA – Consultoria Paulista de Estudos Ambientais

Rua Henrique Monteiro, 13º andar, Pinheiros

05423-020 – São Paulo – SP

[email protected]

tel. 55 11 40823200

² Laboratório de Ecotoxicologia e Microbiologia Ambiental "Prof. Dr. Abílio Lopes"

Faculdade de Tecnologia - FT da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

Rua Paschoal Marmo, 1888, Jd Nova Itália

13484-332 - Limeira - SP - Brasil

[email protected] ou [email protected]

tel. 55 19 21133347/59

 RESUMO

Esta é uma resenha do artigo “The limits of regulatory toxicology” publicado na Revista

Toxicology and Applied Pharmacology, 243(2): 191-197 por Clark D. Carrington e P.

Michael Bolger ambos do “Center for Food Safety and Applied Nutrition, U.S. Food and

Drug Administration” dos Estados Unidos. O artigo faz comparações interessantes entre

diferentes limites regulatórios. Aborda o conceito ingresso diário aceitável (IDA), do inglês

“acceptable daily intake” (ADI), que tem sido utilizado na regulamentação de compostos

químicos por órgãos oficiais por mais de 50 anos. Este mesmo conceito foi empregado pela

agência ambiental americana – USEPA, com uma nova denominação, dose de referência

(DRf). Ambos os termos foram criados como instrumentos de política regulatória, porém,

com o passar dos anos, tornou-se comum utilizá-los como se fossem fatos científicos. Esta

confusão impede tanto o melhor uso da ciência disponível quanto uma participação pública

©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados. Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação

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© Revista INTERFACEHS - v.6, n.1, Resenha, Abril. 2011

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mais informada na construção de políticas regulatórias. Adicionalmente, podem impedir a

consideração de alternativas efetivas para reduzir a exposição a compostos químicos

perigosos, incluindo medidas regulatórias que não envolvem a prescrição de limites de

concentração ou padrões numéricos regulatórios.

Palavras chave: toxicologia regulatória, padrões ambientais, políticas públicas.

 Os autores fazem uma comparação muito interessante entre diferentes limites

regulatórios. Dentre os limites existentes, o que restringe a velocidade nas estradas é o mais

familiar ao público em geral. Estes limites são usualmente fundamentados em estatísticas

sobre a relação entre velocidade da viagem e acidentes fatais e não fatais. Como em toda

análise estatística, o fato dos dados serem oriundos de estradas e situações específicas, os

acidentes considerados podem não ser representativos para todas as estradas e situações.

Sabe-se que todo trabalho científico tem um grau de incerteza, porém se aceita resultados de

estudos estatísticos para predizer os acontecimentos de situações em geral. Esses estudos

informam, por exemplo, quais as chances de ocorrer certo número de acidentes com gravidade

específica a cada velocidade de cruzeiro. Mas não é o estudo estatístico que vai ditar qual

deve ser o limite de velocidade aceitável nas estradas, isso somente ocorre depois que uma

agência regulatória, neste caso, o Departamento de Transportes determina qual o risco ou taxa

de acidente que será considerado aceitável. Este risco deverá ser balanceado de algum modo

que considere a necessidade das pessoas de serem transportadas de um local para o outro e da

necessidade de sobrevivência nesta viagem. Se algum órgão regulatório decidir adotar risco

zero para acidentes em estradas terá que impedir que as pessoas se locomovam com veículos

automotores. Como isso não é possível, é preciso estabelecer, por meio de políticas públicas

quais os limites regulatórios que serão utilizados para este fim, com base nos dados existentes

e nos riscos de acidentes considerados toleráveis. Isso é válido também para a definição de

outros limites como contaminantes em águas, alimentos ou atmosfera. Outra observação que

precisa ser feita é que o número estabelecido, ou seja, o padrão, nunca é uma verdade

absoluta. Se o limite de velocidade é 120 km/hora e uma pessoa fizer uma viagem a 121

km/hora e outra a 119 km/hora, não está garantido que a pessoa que viajou a 121 km/hora

sofrerá um acidente e aquela que viajou a 119 km/hora não. Apesar de parecer óbvio e básico,

o público em geral e mesmo técnicos que trabalham na área ambiental tendem ignorar este

conceito quando interpretam os padrões para substâncias químicas presentes no ambiente. Em

geral, as pessoas entendem que se o padrão para um determinado contaminante na água é de

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10 ug/L, quando uma pessoa consumir água com 10,5 ug/L certamente ficará doente e com

9,5 ug/L não, o que não é uma verdade. Isso porque os padrões regulatórios para água são

usualmente derivados com base em uma quantidade que pode ser ingerida por dia em que não

se espera um efeito adverso corrigida por um fator de incerteza (dose de referência), um fator

de alocação e um cenário genérico de exposição. Por exemplo, considera-se que a população

que se pretende proteger tenha um peso médio de 60 Kg e beba 2 litros de água por dia1.

Os autores do trabalho discutem os conceitos de dose diária aceitável – do inglês

“acceptable daily intake” (ADI), que em português chamamos de ingresso diário aceitável

(IDA) – e da adoção da terminologia adotada pela USEPA do inglês “reference dose” (RfD),

dose de referência (DRf). Estes termos foram criados como instrumentos de política

regulatória, porém com o passar dos anos, tornou-se comum empregá-los como se fossem

fatos científicos. Mesmo com a tentativa de usar o termo dose de referência em substituição a

ingresso diário aceitável, com o intuito de modificar a idéia que se depreende da palavra

“aceitável”, nada mudou do ponto de vista metodológico. Como conseqüência, o público em

geral entende que os padrões regulatórios, que são derivados muitas vezes de valores pré-

definidos ou “default” representam “verdades científicas” quando na verdade eles

representam de fato uma política regulatória. Os autores afirmam que esta confusão impede

tanto o melhor uso da ciência disponível quanto uma participação pública mais informada na

construção das políticas regulatórias. Seria necessário que todos percebessem que IDA ou

DRf são valores estimados e não calculados. Enquanto esses valores forem tratados como se

fossem oriundos de fatos científicos, alternativas que levam à redução da exposição a

compostos químicos que podem ser perigosos, incluindo medidas regulatórias que não

envolvam a prescrição de uma concentração limite regulatória não são consideradas. Muitas

vezes se espera anos pelo cálculo de um valor seguro e enquanto isso não se toma medidas

que previnam a exposição e consequentemente os seus possíveis efeitos. Ou seja, em

determinadas situações é melhor que se estabeleça uma medida regulatória, mas o público em

geral espera um número, com o nome de “padrão”, que proteja a população e entende que

existe uma barreira definitiva, sendo que abaixo do padrão a população está protegida e acima

do padrão a população corre risco.

Os autores discutem dois exemplos de estabelecimento de padrões nos EUA, o do

chumbo e do metilmercúrio. Iniciam declarando que assim como os padrões regulatórios são

instrumentos de decisão política (“discretion policy”), alguns fatores usados para derivá-los

também o são. Também discutem a questão das diferenças populacionais. Uma análise de

regressão “probit” baseia-se na idéia de que limiares individuais podem ser modelados com

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base numa distribuição matemática que indica a variação máxima que ocorre numa

população, com base em uma amostra da mesma. Mas as populações que um padrão

regulatório pretende proteger podem ser muito mais variáveis que o grupo de animais

estudados no laboratório.

No caso do chumbo, a USEPA não derivou uma dose de referência (DRf) pois a agência

considera que não há valor de exposição conhecido onde não se observa efeito adverso. Como

não é possível ter exposição zero a esse metal, pois ele está presente atualmente em todos os

ambientes, a USEPA adotou níveis máximos de exposição de chumbo para fins de

gerenciamento do risco e estabeleceu padrões regulatórios para o ar, a água e o solo.

Com relação ao metilmercúrio (MeHg), os autores apresentam que, diferentemente da

exposição ao chumbo, proveniente de diversas fontes, a maior parte da exposição ao (MeHg)

vem do consumo de peixes. Embora os níveis de MeHg tenham aumentado como resultado da

queima de carvão e outras atividades humanas, uma parte de MeHg vem de fontes naturais.

Os peixes em geral contém MeHg e pessoas que comem peixe estão mais expostas a MeHg

do que aquelas que não comem. Alguns peixes contêm mais MeHg que outros. Pelo fato do

MeHg acumular nos tecidos em função de tempo, os peixes mais velhos, maiores e

predadores apresentam mais mercúrio que os peixes mais novos, menores e aqueles que estão

no início da cadeia alimentar. As concentrações de MeHg podem também ser muito mais

altas, quando o peixe vem de um corpo d’água localizado perto de uma fonte industrial. De

forma natural ou antrópica, hoje, todos os frutos do mar apresentam alguma quantidade de

MeHg. Como resultado, as escolhas são consumir peixe e se expor a MeHg ou não, e se

consumir preferir aquelas espécies que apresentam concentrações mais baixas. Os autores

discutem a questão dos esforços iniciais da Food and Drug Administration (FDA) terem sido

focados na limitação da exposição ao MeHg em peixes com a introdução de um limite

regulatório e apresenta dois problemas decorrentes da adoção deste método. O primeiro é um

problema legal: existem regras escritas que permitem que a agência determine uma tolerância

que considera especificamente a extensão na qual um contaminante deve ser evitado, mas não

há uma diretriz clara sobre como isso deve ser feito, e exige que um processo formal de

definição de regras de difícil implementação seja instituído. Como uma alternativa, a FDA

introduziu um “nível de ação”, mas este método foi rejeitado pela Suprema Corte. O segundo

problema é que qualquer nível estabelecido para um contaminante alimentar não intencional

dificilmente será respeitado. Os níveis de MeHg variam muito. Mesmo em determinadas

espécies, não se sabe qual peixe específico excederia o nível determinado porque as

concentrações de MeHg são conhecidas apenas para os peixes que vão para o laboratório e

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não para os que vão para o mercado. Outra dificuldade é que os limites regulatórios tendem a

prescrever um mesmo limite para todas as situações. O artigo cita como exemplo os limites de

velocidade que pretendem orientar a velocidade de veículos em curvas. Geralmente

prescrevem a mesma velocidade para um caminhão e para um carro esportivo, apesar do fato

deste último ser fabricado para ser muito mais estável em estradas com curvas. De modo

similar, a exposição ao MeHg por peixes é tal que nem todos os consumidores estão sob igual

risco. No caso do metilmercúrio, uma vez que o limite regulatório se mostrou ineficaz para

limitar a exposição da população ao MeHg oriundo de peixes, considerando todas as

variações citadas acima, a FDA optou por lançar alertas aos consumidores. Um primeiro

alerta, feito em 1994, sugeriu que mulheres grávidas não deveriam comer tubarão e peixe-

espada mais de uma vez por mês. Um segundo alerta, feito em 2001, especificava que essas

duas espécies não deveriam ser consumidas por mulheres grávidas, incluindo mais dois tipos

de peixe na lista de “não consumir” e sugerindo um limite de 340 gramas por semana para

outras espécies de peixe. Um terceiro alerta foi feito na FDA em conjunto com a USEPA em

2004. Diferente dos dois primeiros, este alerta reuniu os esforços da FDA/USEPA para incluir

o consumo de peixes comerciais e não-comerciais como, por exemplo, aqueles obtidos em

atividades recreacionais. Embora tenha sido incluído um alerta adicional para crianças, este

foi muito similar ao alerta de 2001. Como ocorre na sinalização de trânsito, com um símbolo

de “Cuidado estrada Sinuosa”, um alerta ao consumidor não tem força legal. Mas

diferentemente de um sinal de trânsito, o alerta é especificamente direcionado para os

indivíduos que correm mais risco.

Ainda em relação ao mercúrio, em um documento gerado por um comitê externo a FDA e

USEPA, que foi criado para avaliar a dose de referência (DRf) vigente, além concluir que a

DRf da USEPA é cientificamente justificável, o comitê estimou que mais de 60.000 crianças

que nascem a cada ano estão em risco de sofrer efeitos adversos relativos a neuro-

desenvolvimento devido à exposição a MeHg. O termo “em risco” se refere a crianças

nascidas a cada ano de mães expostas a níveis acima da DRf. Os bebês dessas mães estão

expostos a níveis de mercúrio não considerados seguros e, portanto, o comitê os considerou

“em risco”. Está claro pela explicação que o uso do termo “em risco” no relatório significa

que a exposição acima da DRf resulta em estar “em risco” de ter uma exposição acima da DRf

e nada além disso.

Os autores finalizam considerando que a afirmação “because we say so”, ou seja, “porque

assim foi determinado” é um excelente argumento quando dado em suporte a políticas

regulatórias, mas que esta frase deixa muito a desejar como argumento científico. Não

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importa quantas vezes isso seja dito pelas agências regulatórias, nem quem ou quantas

pessoas dizem isso, dizer que algo é verdadeiro não o torna um fato. Argumentos científicos

são fundamentados em teoria e observação, dados e modelos, ou aprendizado pela história.

Em resumo os autores do trabalho enfatizam como os padrões regulatórios são derivados,

as incertezas associadas e as inferências envolvidas, além das questões relacionadas às

decisões políticas. Adicionalmente às incertezas associadas à derivação dos padrões

ambientais, existe outra incerteza que não foi tratada neste artigo e deve ser considerada na

aplicação prática dos referidos padrões. Trata-se da incerteza da medição analítica das

substâncias químicas. O resultado apresentado em um laudo analítico também possui

incertezas associadas, sendo que estas incertezas são iniciadas na geração do dado primário e

são inerentes aos métodos analíticos escolhidos para verificar o atendimento aos padrões

regulatórios. Com isso, conclui-se que, nas atividades que envolvem análises laboratoriais e

comparação dos resultados com padrões ambientais, todos esses fatores discutidos acima

devem ser considerados, não com o intuito de justificar resultados acima do padrão, mas com

o intuito de ponderar os resultados dentro da razoabilidade, sempre lembrando que a simples

comparação de um resultado analítico com uma tabela de padrões ambientais não garante que

toda a população esteja protegida e nem o contrário. Assim sendo, quanto maior o número de

especialistas – tanto da área de avaliação como de gerenciamento de riscos – que estiverem

envolvidos desde a etapa de geração dos dados primários até sua interpretação final, maior a

chance da tomada de medidas que minimizem os riscos e protejam efetivamente a população

em geral.

*Para mais informações sobre como se derivam padrões regulatórios recomenda-se a leitura do trabalho

intitulado “Toxicologia, padrões de qualidade de água e legislação” de Umbuzeiro, G; Kummrow, F.; Rei, F.F.C. publicado na INTERFACEHS – Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente - v.5, n.1, Resenha, jan./abr. 2010.

 

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© Revista INTERFACEHS - v.6, n.1, Seção Interfacehs. Abril. 2011

119 

SOBRE O PROGRAMA DE MESTRADO EM GESTÃO INTEGRADA EM SAÚDE

DO TRABALHO E MEIO AMBIENTE

Alice Itani

Fernando Rei

Alcir Vilela Junior

Emilia Satoshi Miyamaru Seo

RESUMO

Trata o presente artigo de relato da experiência do programa do Mestrado em Gestão

Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente desenvolvido no Senac-SP no período

entre 2004 e 2010. Baseia-se em nas reflexões, documentos, reports de workshops do

mestrado do período entre 2005 e 2008. Tem por finalidade apresentar os parâmetros e

diretrizes que nortearam o processo de construção teórico-metodológica do programa. Busca-

se contribuir para o debate sobre perspectivas metodológicas de formação profissional.

Palavras chaves: formação, gestão, experiência, Mestrado em gestão integrada em saúde do

trabalho e meio ambiente.

1. Introdução

O programa do Mestrado em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente

desenvolvido no período entre 2004 e 2010, atendeu a demandas. Dentre elas, a mais

preponderante está a da premente necessidade de profissionais que sejam capazes de integrar

a gestão da saúde do trabalhador e do meio ambiente. Essa demanda apoiou-se em

©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados. Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação

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pressupostos, sendo a principal, a necessidade de políticas públicas para enfrentar os

problemas e os novos desafios.

O pressuposto baseou-se- nos problemas presentes na realidade social e das organizações, particularmente em setores industriais. Dos problemas ocupacionais, está a realidade de acidentados e doentes do trabalho relacionados a fontes e atividades com potencial poluidor. Em paralelo, a utilização de componentes físico-químicos na extração e produção agroindustrial pode produzir altos níveis de toxicidade afetando a saúde das populações envolvidas. O país se apresenta, também, dentre aqueles com menor transparência diante das populações, dos diferentes grupos envolvidos, trabalhadores e comunidades afetadas, em relação a esses danos.

Verifica-se, ainda, que os impactos ambientais estão produzindo danos à saúde dos trabalhadores com a saúde dos espaços de vidas das populações. E, na maior parte das vezes, esses danos aparecem somente quando há denuncias e, em na maioria dos casos, quando são irreversíveis. Sobre essa problemática emerge o debate sobre a formação em gestão em saúde e meio ambiente bem como o desenvolvimento dos estudos e pesquisas.

O programa de Mestrado em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente foi

concebido e estruturado a partir desse cenário, seguindo preceitos estabelecidos pela Capes.

Trata de relato da experiência do período entre 2004 e 2010 com a finalidade apresentar

parâmetros e diretrizes que nortearam o processo de construção teórico-metodológico do

programa. Baseia-se em nas reflexões, documentos, artigos, workshops do mestrado do

período entre 2005 e 2008. Busca-se contribuir para o debate, em construção, sobre

perspectivas metodológicas de formação profissional.

2. A proposição da formação em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio

Ambiente

A proposta de um programa de formação em gestão em saúde e meio ambiente estruturou-se a partir de um debate para a compreensão de cada um dos pilares em construção (ITANI; VILELA, 2007). Vale apresentar alguns dos prontos principais do entendimento.

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Antes de tudo, compreende-se que os danos ocupacionais, doenças e acidentes de trabalho, bem como impactos ambientais, são decorrentes dos atuais modelos de gestão que se baseiam nos atuais padrões de produção e de consumo. São resultantes de políticas públicas desenvolvidas nos espaços (BERLINGUER, 2004 e FASSIN, 1996). Os impactos, os perigos e riscos são, na maior parte das vezes, decorrentes de decisões tomadas, sobre opções produtivas e tecnológicas.

É fato que os novos padrões de sistemas de gestão estabelecidos mundialmente têm resultado em ações das organizações. Também o arcabouço legal e institucional tem moldado boa parte das ações dos dirigentes. Contudo, as ações dos sistemas de gestão podem ser, na maior parte das vezes, realizadas tão e somente para a obtenção das certificações. Mesmo o atendimento das exigências legais, a conhecida conformidade legal, nem sempre têm reduzido na origem a ocorrência de fatos negativos.

Os impactos do sistema produtivo produzem impactos negativos nos ambientes e espaços de

trabalho das atividades produtivas, como aos espaços de vida das populações em seus

diferentes grupos sociais, do trabalhador como das comunidades do entorno dessas atividades.

Elas envolvem questões da saúde ocupacional, saúde do trabalhador, mas não se encerra

nelas. Ela compreende a saúde pública, envolvendo a saúde coletiva decorrente de produção

da saúde desenvolvida em nível local, regional e nacional. Nesse sentido, adota-se a

perspectiva de Berlinguer (1991 e 2004) partindo da concepção da saúde como resultante dos

conflitos de interesses no espaço político nacional e internacional decorrente de políticas

públicas que resultam na qualidade dos espaços de vida das sociedades.

Há questões que se apresentam em saúde, mas são decorrentes de dados que não são novos

sobre doenças das populações impactadas pelas atividades do sistema produtivo, incluindo os

processos produtivos industriais, os serviços, os processos de circulação e distribuição e de

consumo. Compreendendo o sistema produtivo e o trabalho pelas relações sociais tais como

elas estão estabelecidas nos espaços econômicos (BOYER, 1998), elas compreendem

atividades nas grandes empresas, como as que são implicadas, as pequenas empresas,

industriais e de serviços, atividades governamentais e não governamentais. E também

envolvem atividades do setor formal como o não formal, compreendidas como parte do

sistema produtivo tal como se estabelece nesses espaços. Os danos são produzidos pelos

riscos decorrentes da atividade produtiva tal como está organizada, compreendendo os riscos

decorrentes das relações sociais tais como elas se estabelecem na sociedade.

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Além disso, há novas questões ambientais, cenários ambientais complexos, como a

problemática do efeito estufa decorrente do aumento de emissões de dióxido de carbono no

mundo. Entretanto, há questões que já se objetivaram como fatos reais no Brasil. Vários são

os exemplos, como os casos de Cubatão, Paulínia, São Vicente, dentre outros, que produziram

doenças e danos ambientais, pela degradação do ar, do solo e da água, requerendo reflexões

sobre a relação entre ambiente e sociedade, as formas de produção e de consumo, suas fontes

de nocividade, insalubridade, diferentes patogenias (BERLINGUER, 2004) e a necessária

identificação de perspectivas de prevenção de ocorrência de novos fatos. As questões em

saúde e meio ambiente são facetas de uma mesma problemática que foram se fraturando e se

desmembrando em áreas especializadas com estruturas organizacionais e governamentais

distintas. Tais questões em saúde e meio ambiente já foram outrora objeto de medidas únicas.

A ação do Estado brasileiro no caso da febre amarela no século XIX pode ser exemplo disso.

A gestão em saúde e segurança do trabalho, para além da saúde ocupacional no seu sentido

estrito, do cuidado da saúde do trabalhador no exercício de sua ocupação, envolve, assim,

também, o cuidado com a saúde da população inserida no processo de produção capitalista,

distribuição e circulação de mercadorias, prevenindo danos e eliminando probabilidades de

riscos e fatores geradores de acidentes e doenças. Utiliza-se da perspectiva teórica que vem

sendo construída na área de saúde do trabalhador, como se sedimenta no texto de Minayo-

Gomez (1997), por exemplo, nascendo da saúde pública e saúde coletiva por meio de práticas

e reflexões teóricas interdisciplinares, seja com conhecimentos de diversos profissionais de

saúde atuando, sobretudo nas instituições públicas, seja com reflexões da academia utilizando

diversos aportes das distintas áreas de conhecimentos.

Entretanto, a compreensão da problemática saúde e meio ambiente como facetas do mesmo

problema, requer uma perspectiva teórico-metodológica, em processo de construção. As bases

teóricas são restritas para dar conta da complexidade das questões envolvidas. Utiliza-se dos

conhecimentos, experiências e saberes dos que atuam com a gestão dos problemas ambientais

e sanitários.

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A proposta do programa foi, assim, de centrar-se essencialmente sobre a ação da gestão sobre

questões envolvendo a saúde, segurança do trabalho e o meio ambiente. Compreende-se que

os problemas em saúde, segurança do trabalho são produzidos no processo de trabalho. As

perspectivas de compreensão dos danos envolvem levar em conta não somente os riscos das

tarefas nos locais de trabalho, os riscos contidos no trabalho, como parte das relações de

trabalho implicando para além dos espaços de trabalho, os riscos que impactam a saúde nos

espaços de vida.

A gestão integrada é, nesse sentido, um referencial, e acima de tudo uma opção estratégica e

política, porque busca recompor um saber que no mundo da vida está posto como tal e exige

intervenções complexas. Partindo do entendimento de que os conhecimentos fragmentados

tais como estão postos não possibilitam compreender e agir no mundo da vida e mesmo da

preservação da vida (BERLINGUER, 1991), a reflexão está na recuperação de saberes como

parte da tarefa acadêmica. Saúde do trabalho e meio ambiente resulta de uma opção política

na perspectiva de, ao assegurar a equidade dos termos, a elaboração da saúde como processo

de produção se faça presente, com as dimensões necessárias para a formação.

3. Formação e produção técnico-científica

O desenvolvimento do programa baseou-se sobre quatro objetivos, a saber:

1. Contribuir para que profissionais de diferentes áreas desenvolvam competências para

concepção de diretrizes e políticas, implementação e gerenciamento integrado do processo

produtivo nas organizações;

2. Contribuir para o desenvolvimento de profissionais com competência e capacidade crítica

para reflexão e análise de processo de gestão que integre ações de saúde e segurança no

trabalho com as de meio ambiente;

3. Fortalecer a capacidade de análise crítica do futuro mestre, desenvolvendo uma visão

gerencial prospectiva e de antecipação, para elaborar propostas alternativas e inovadoras de

gestão integrada, enfrentando com criatividade as problemáticas emergentes da área

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ambiental, de segurança e saúde, numa realidade econômica em contínua e rápida

transformação;

4. Contribuir para a formação de profissionais de assessoria e consultoria, bem como para a

docência e pesquisa científica no campo de estudo de gestão ambiental e de saúde.

Dentro desses objetivos espera-se que o mestre formado seja capaz de:

1. Conceber modelos de gestão, diretrizes e políticas em saúde e meio ambiente de

organizações privadas e públicas;

2. Elaborar metodologias, instrumentos e ferramentas para a gestão integrada das questões em

saúde e meio ambiente para organizações;

3. Ter competências para analisar questões relacionadas a saúde e meio ambiente;

4. Elaborar propostas e gerenciar ações que eliminem danos e respondam aos desafios de

responsabilidade social das organizações;

5. Elaborar e apresentar um produto do curso, em forma de dissertação ou outra forma

definida pelo programa, e defendê-lo diante de Banca Pública Examinadora dentro de

parâmetros científicos e critérios estabelecidos no curso.

Nesse sentido, para a formação desses gestores, o processo incorporou a integração dessas áreas de atuação, de saúde e meio ambiente. Isso ocorre num processo de imersão dentro de um campo de trabalho e de estudo. E que exige elaboração e pesquisa dos problemas presentes na realidade e seu funcionamento. Também requer analisar o sistema produtivo nos seus modelos constitutivos.

Tecer fatos reais e experiências, analisando e refletindo sobre os aspectos constitutivos dos modelos produtivos e seus processos com os modelos de gestão que se traduzem pelas políticas que envolvem a saúde e o meio ambiente (ITANI; VILELA, 2008). A reflexão deve incluir as políticas públicas, as interfaces econômico-políticas, bem como as culturas locais e regionais e a sustentabilidade das organizações.

A formação de gestores com conhecimentos e perspectivas críticas, necessárias e suficientes,

capazes de decidir, sobre assuntos concernentes em saúde, segurança do trabalho e meio

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ambiente nas organizações deve contar com assessoria de especialistas nos assuntos

específicos, tanto acadêmico quanto não acadêmicos. A atuação da gestão centrada na

prevenção de danos deve prever reflexão sobre os processos produtivos e de consumo, os

modelos e políticas econômicas dos novos processos. Para isso, a reflexão teórica sobre o

sistema produtivo e seus modelos de gestão busca compreender como se inserem como

estratégias de gestão envolvendo políticas e processos produtivos.

Nesse sentido, a estrutura curricular do programa foi composta pelo conjunto das disciplinas

com atividades cientificas, articulando conhecimentos teórico-conceituais com os específicos

das áreas de saúde, segurança do trabalho, meio ambiente associados, sobretudo a

perspectivas metodológicas de compreensão que possibilitem desenvolver e praticar o saber

científico. As disciplinas obrigatórias do programa propiciar bases da gestão onde cada uma

das problemáticas, desde os desafios da sustentabilidade da sociedade quanto das

organizações dentro do sistema produtivo tal como se constitui e se estabelece passando pelos

conhecimentos sobre as inovações que se sucedem apresentando sempre novas questões. As

disciplinas optativas visaram aprofundar temas específicos para melhor compreensão de cada

uma dos aspectos embutidos nessas problemáticas e corroborar para melhor atuação e decisão

sobre as questões que se apresentam aos gestores.

Nesse processo de formação, a aprendizagem resulta de reflexão da experiência profissional à

luz da ciência. Uma reflexão não descolada dos setores da sociedade em que os fatos e os

problemas se apresentaram e dos efeitos e implicações para cada um dos setores da sociedade

e grupos sociais. O debate de fatos emblemáticos envolvendo atividades produtivas e de

consumo que impactaram o meio ambiente com danos sobre o espaço de vida e saúde das

populações, é um exemplo disso.

Para dar conta dessa formação e produção, o corpo docente e de pesquisador foi composto por

uma equipe multidisciplinar. Essa composição é coerente com a perspectiva do programa e

com o processo de formação. Isso se estabelece em dois pontos. Um primeiro, diferentes

formações de base que possibilitam articulação de conhecimentos e saberes num trabalho

coletivo. Um segundo, diferentes qualificações e perspectivas, experiências diversas, seja em

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organizações privadas, organizações públicas, instituição acadêmica. Essas vivências em

diferentes campos compostas por saberes distintos, tem potencial de produção de novos

conhecimentos.

A formação e desenvolvimento docente seguem as diretrizes de incorporar docentes

pesquisadores em áreas carentes que possam atuar no binômio graduação-mestrado com todas

as atividades que isso envolve, tentar manter relação de mais novos com mais experientes e,

ao mesmo tempo, com maior experiência em diferentes organizações e maior experiência em

instituições acadêmicas universitárias.

Na perspectiva de construção desses novos conhecimentos, as atividades de formação e

desenvolvimento da produção técnico - cientifica contaram também com um conjunto de

atividades, tais como:

- oficinas de pesquisas – sobre objetos de estudo de cada um e sobre temas comuns para

estruturar projetos comuns – periodicidade quinzenal;

- oficinas de pesquisas – colóquios sobre papers – todos debruçados sobre debates teóricos

que possibilite estruturar uma perspectiva comum de entendimento sobre perspectivas teóricas

– periodicidade semestral;

- oficinas com alunos e docentes – uma vez ao ano que possibilite troca entre alunos e

professores sobre temas do curso, aberto ao publico externo, com comissão cientifica e

organizadora formada por professores e alunos;

- simpósio internacional – temático - uma vez sobre dois anos que possibilite trocas e debates

com especialistas internacionais e nacionais;

- revista cientifica – organização e montagem de uma revista que possibilite abrir espaço de

debate com comunidade cientifica nacional e internacional e seja também espaço de

publicação e material de referência para alunos e professores.

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Além disso, cada um dos docentes participou com papers nos Colóquios semestrais, e trouxe

e contribuiu uma discussão do grupo, sua compreensão sobre um tema de seu objeto de

estudo. Exemplos de papers apresentados, como Análise de ciclo de vida de produtos

industriais como ferramenta de gestão, Condições de trabalho e riscos, Saúde e meio ambiente

e a integração necessária, Acidentes industriais ampliados, Riscos e acidentes de trabalho,

Diagnóstico de acidentes de trabalho nas pequenas empresas. As problemáticas, a concepção

teórica, metodologia de analise e formas de levantamento de dados, a análise dos resultados

estiveram no conteúdo desses eventos.

A área de Gestão em saúde e meio ambiente articula, assim, a concepção básica como a

estrutura da formação. A formação, como a estrutura e processo baseou-se, assim, numa

metodologia, em atividades didático-pedagógicas e atividades científicas desenvolvidas para a

aprendizagem. Em se tratando de um processo, a formação inclui a capacitação técnica e

tecnológica articulando a compreensão teórica com as técnicas especializadas. Compreendem-

se as atividades de pesquisa como parte do processo de formação. Elas articulam o domínio

teórico com atividades desenvolvidas na realidade social. Essa aprendizagem nos espaços

reais permite sedimentar bases da atuação profissional, na sua capacidade tecnológica quanto

na prática deontológica, com o conteúdo dos valores morais e éticos.

A pesquisa compõe os desdobramentos das atividades de construção de conhecimentos pelos

seus estudos como ações que contribuam para melhoria das políticas públicas. As pesquisas

em Gestão Integrada compreenderam estudos e ações sobre políticas, diretrizes e modelos de

gestão. Os elementos constitutivos das abordagens integradas de políticas de gestão, públicas

e as do sistema produtivo, seu arcabouço legal e institucional, associadas às ações

institucionais e tecnologias utilizadas.

As pesquisas em Saúde, Meio Ambiente e Trabalho compreenderam estudos para análise e compreensão dos fundamentos teóricos e conceituais da saúde, segurança do trabalho e do meio ambiente bem como a intersecção entre essas áreas e que possibilitaram avanços no conhecimento, na integração das problemáticas onde estão envolvidas tais questões.

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A estruturação da pesquisa passou por um conjunto de discussões, em reuniões semanais, em

workshops e seminários, como parte do processo de estruturação do curso, cujo núcleo central

do programa, da gestão das questões de saúde, segurança do trabalho e meio ambiente sejam o

foco para a compreensão em seus aspectos epistemológicos, políticos, sociais, econômicos

bem como seus arcabouços legais e institucionais.

A temática riscos foi privilegiada com a reflexão de fatos emblemáticos, analisando os danos

e o processos de produção deles, as instituições envolvidas, as interfaces e os efeitos

produzidos sobre diferentes grupos e suas respostas.

Os projetos desenvolvidos, seja de Responsabilidade Social no Complexo Guarapiranga, seja

o junto à Secretaria da Saúde de Santo Amaro podem ser espaços privilegiados de

aprendizagem. As perspectivas críticas para atuar dentro dos princípios de precaução e

diretrizes de prevenção de riscos ambientais e ocupacionais, com conhecimentos específicos

de cada uma das áreas podem contribuir para:

- desenvolvimento de competências para assessoria junto a organizações governamentais, não

governamentais;

- construção de formas de construção e de concepção do trabalho do grupo;

- desenvolver competências para identificar formas alternativas de solução para tomada da

melhor decisão em cada um dos momentos.

O perfil discente foi fundamentalmente de gestores, de organizações privadas e públicas,

indústrias e de serviços, terceiro setor, setor governamental. Constituíram de profissionais que

atuam nas organizações, que se dedicam a áreas aplicadas que contribuem e podem contribuir

para delineamento de políticas públicas dessas áreas, como em riscos e gerenciamento de

riscos, impactos de poluentes, impacto da poluição na saúde e na minimização desses

impactos.

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Esse profissional possui experiência, na maioria dos casos em uma das áreas, na gestão de

saúde e segurança do trabalho ou na área de meio ambiente. Sua experiência está desde a

gerência geral como na direção da produção, como . também em atividades de consultoria e

assessoria. É aquele que tem e terá sob sua responsabilidade decisões que possam direta ou

indiretamente impactar um conjunto de indivíduos e grupos. Mas, é aquele que tem a

oportunidade de integrar a gestão dessas áreas. É aquele que tem ou terá por responsabilidade

delinear e traçar diretrizes as políticas públicas e de gestão, que possam reduzir e ou eliminar

danos à saúde e ao meio ambiente.

A formação variada desses profissionais é marcante. São provenientes de cursos de graduação

em engenharia em suas diversas modalidades, administração em suas diversas modalidades

atuais, direito, medicina, enfermagem, química, dentre outros. Já conhece a realidade do

universo das questões em saúde, segurança do trabalho, meio ambiente, processos de

produção industrial e de serviços, mas reconhece que pode atuar com eficácia e eficiência na

gestão integrada dessas questões.

O programa contribuiu para a formação no país, em termos quantitativos com 107 mestres no

período entre 2004 e 2009. A contribuição do programa foi também na produção cientifico -

tecnológica. Nesse período, publicou 23 livros e 41 capítulos de livros nacionais e

internacionais, 91 artigos científicos em periódicos indexados nacionais e internacionais, 58

artigos em revistas técnicas, 598 produções técnicas e tecnológicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O programa Mestrado em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente

desenvolvido no Senac-SP no período entre 2004 e 2010 permanentemente buscou-se

contribuir para formação profissional dando ênfase que para trabalhar em sistema integrado

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de gestão é necessária uma primeira discussão de teoria de sistemas e teorias de organização,

bem como o entendimento conceitual de segurança, saúde do trabalho e meio ambiente como

conceitos inseridos no processo de relação homem e seu ambiente, sobretudo num sistema

produtivo, integrado nas organizações, dentro de novos padrões de qualidade, sustentabilidade

e responsabilidade social.

O conjunto de linhas de pesquisas desenvolvidas e as disciplinas ministradas no período foi

desenvolvido, tendo como foco, o processo de formação dos profissionais nas competências

delineadas nos objetivos do programa, bem como o desenvolvimento da pesquisa científica.

REFERÊNCIAS

BECK, Ulrich. Sociedade de risco. Rumo a uma outra modernidade. São Paulo: editora 34,

2010

BERLINGUER, Giovanni. Bioética cotidiana. Brasília: UNB, 2004.

______________________. Questões de vida. São Paulo: Hucitec, 1991.

BOYER, Robert. Apres fordisme. Paris: Syros, 1998.

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FASSIN, Didier. L’espace politique de la santé. Essai de généalogie. Paris: PUF, 1996.

ITANI, Alice; VILELA, Alcir; UMBUZEIRO, Gisela. Debate em gestão integrada em saúde

e meio ambiente: fatos emblemáticos. Interfacehs, v. 3, n. 2, 2008

ITANI, Alice; VILELA, Alcir. Meio ambiente e saúde: Desafios para a gestão. Interfacehs,

v. 1, n.3, 2007.

MARTINEZ-ALLIER, Joan; JUSMET, Jordi. Economia ecológica y politica ambiental.

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131 

MINAYO-GOMEZ, Carlos; LACAZ, Francisco. Saúde do trabalhador: novas-velhas

questões, Ciência e saúde coletiva, v. 10, n.4, p. 797-807, 2005.

MINAYO-GOMEZ, Carlos; THEDIN-COSTA, Sonia Maria. A construção dá campo da

saúde do trabalhador: percursos e dilemas, Cadernos de Saúde Pública, p. 13:21-32,

1997.

TAMBELINI, Anamaria Testa; CAMARA, Volney de Magalhäes. A temática saúde e

ambiente no processo de desenvolvimento do campo da saúde coletiva: aspectos

históricos, conceituais e metodológicos. Ciência e saúde coletiva, v.3, n.2, p. 47-59,

1998.

 

 

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© Revista INTERFACEHS - v.6, n.1, Versão traduzida do artigo: “Competences for sustainable development and sustainability .Significance and challenges for ESD” - Yoko Mochizuki, Zinaida Fadeeva, (2010) , International Journal of Sustainability in Higher Education, Vol. 11 Iss: 4, pp.391 - 403- . Abril. 2011 

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COMPETÊNCIAS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E SUSTENTABILIDADE

IMPORTÂNCIA E DESAFIOS PARA A EDS

Yoko Mochizuki e Zinaida Fadeeva Programa de Educação para o Desenvolvimento Sustentável,

Instituto de Estudos Avançados, Universidade das Nações Unidas, Yokohama, Japão

RESUMO Propósito – O propósito deste documento é chamar a atenção da comunidade de Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS) para recentes discussões sobre abordagens por competência e examinar a adequação do modelo baseado em competência como meio de conseguir a transformação social e educacional com relação à sustentabilidade. O documento analisa e destaca alguns importantes aspectos dos estudos de caso de autores que contribuíram com a edição especial. Projeto/metodologia/abordagem – O documento se baseia em uma revisão de literatura e reflexões relevantes sobre artigos que constituem esta edição especial. Reflete também as observações dos autores, através de suas constantes interações com profissionais, teóricos e decisores da EDS no contexto da década das Nações Unidas sobre educação para o desenvolvimento sustentável (DEDS) e do ensino superior para o desenvolvimento sustentável (ESDS). Achados – O documento reconhece a natureza altamente complexa das conceitualizações das competências para o DS e sua articulação com os programas educacionais. Destaca ainda o interesse crescente em abordagens por competência das instituições de ensino superior e seus acionistas em diferentes partes do mundo. Implicações práticas – O documento fornece um amplo panorama de processos internacionais e diversos participantes influentes que empregam abordagens por competência em EDS e aponta a necessidade de uma análise crítica em múltiplos níveis mais coerente de tais processos.

©Copyright, 2006. Todos os direitos são reservados. Será permitida a reprodução integral ou parcial dos artigos, ocasião em que deverá ser observada a obrigatoriedade de indicação da propriedade dos seus direitos autorais pela INTERFACEHS, com a citação

completa da fonte. Em caso de dúvidas, consulte a secretaria: [email protected]  

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© Revista INTERFACEHS - v.6, n.1, Versão traduzida do artigo: “Competences for sustainable development and sustainability .Significance and challenges for ESD” - Yoko Mochizuki, Zinaida Fadeeva, (2010) , International Journal of Sustainability in Higher Education, Vol. 11 Iss: 4, pp.391 - 403- . Abril. 2011 

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Originalidade/valor – O documento contribui para um amplo debate sobre estratégias de implementação da EDS e educação para a sustentabilidade (EpS), apresentando argumentos sobre as competências para o DS e sustentabilidade, com foco particular em instituições de ensino superior. Palavras-chaves - Competências, Educação Superior, Desenvolvimento Sustentável, Organização Social. Tipo de documento - Documento Conceitual

Introdução

Há um consenso geral sobre a noção de educação como importante ferramenta para empreender a mudança e o desenvolvimento sustentável (DS). O crescente interesse em “competência” e “desempenho” nos círculos de educação para a sustentabilidade está baseado parcialmente na falta presumida de importância da provisão educacional atual e a necessidade de produzir “agentes de mudança”.

Há uma reconhecida necessidade de profissionais (incluindo professores) que possam efetivamente lidar com os desafios urgentes de sustentabilidade (ou aqueles que possam orientar seus alunos a participarem do processo de mudança social positiva, no caso de professores). Além disso, as conceitualizações da natureza dos problemas de sustentabilidade e o grau de mudança necessária para a transição para a sustentabilidade por parte das pessoas e instituições educacionais e outras instituições diferem significativamente e isso gera definições tanto convergentes quanto divergentes das competências para DS e sustentabilidade [1]. Esta edição especial apresenta algumas discussões em andamento nas competências para o DS, particularmente na comunidade de educação ou de desenvolvimento sustentável (EDS), e explora as implicações das abordagens por competência em ensino superiores como meios de conseguir uma transformação educacional e social com relação à sustentabilidade. Por que competências? Quando falamos sobre a EDS, especialmente sustentabilidade em voga no currículo de educação formal, é importante estar consciente do que pretendemos que os alunos aprendam em uma atividade, curso ou programa em particular. A seleção que fazemos de conteúdos temáticos de DS e EDS, a forma como organizamos uma atividade de ensino e a forma como avaliamos a aprendizagem dos alunos, todas deveriam estar conscientemente alinhada com os resultados do ensino pretendidos, que também podem ser descritos como competências. Colocado de forma simples, competência pode ser definida como aquilo que os alunos estarão mais capacitados a fazer após a conclusão da atividade de aprendizagem. Competências são descritas como verbos, como a habilidade de fazer algo.

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© Revista INTERFACEHS - v.6, n.1, Versão traduzida do artigo: “Competences for sustainable development and sustainability .Significance and challenges for ESD” - Yoko Mochizuki, Zinaida Fadeeva, (2010) , International Journal of Sustainability in Higher Education, Vol. 11 Iss: 4, pp.391 - 403- . Abril. 2011 

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Os frequentemente citados e bem conhecidos “quatro pilares da educação do século XXI” do Relatório para a UNESCO, Educação: Um Tesouro a Descobrir (Delors, 1996) – aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a viver juntos – são expressos como competências. Uma breve noção de competência relacionada ao desempenho em ambiente de trabalho tem ganhado espaço desde os anos de 1980, impulsionada pelas necessidades dos estados-nação para estruturar os sistemas de treinamento e educação, atender as exigências da economia global e permanecer competitivos no Mercado Global (Smith, 1996/2005). A noção de competência nesta edição especial (conforme ilustrado pela referência às categorias de Delors), contudo, não se refere à habilidade de fazer uma atividade específica de acordo com um padrão predeterminado e prescrito.

Os quatro grupos de competência identificados no Relatório de Delors de 1996 pouco se ajustam aos grupos de competência a seguir, que são frequentemente usados: competências de domínio, competências metodológicas, competências pessoais e competências sociais (Erpenbeck e von Rosenstiel, 2003, conforme citado em Sleurs, 2008, p. 35). Entre os artigos reunidos nesta edição especial, o artigo de Podger et al. (2010) destaca as competências pessoais (qualidades e virtudes pessoais associadas à “consciência cultural conectiva”, consciência moral crítica madura = a disposição para a sustentabilidade, profunda consciência ecológica, etc.) e as competências sociais. Por outro lado, Parker (2010) aponta que “não é apenas a intenção, mas o conhecimento que sustenta a ação, incluindo a ação moral”, e enfoca sobre como o múltiplo domínio e as competências metodológicas para o DS – conhecimento e habilidades específicos em diferentes disciplinas – podem ser integradas para promover a interdisciplinaridade no ensino superior. A UNESCO desenvolveu descritores para a EDS em conjunto com a Década das Nações Unidas sobre a educação para o desenvolvimento sustentável (DEDS), estendendo de 2005 a 2014, mas eles estão mais relacionados às características da oferta educacional (entradas) do que a resultados para os alunos (saídas). Tampouco a visão frequentemente citada pela DEDS – “um mundo onde todos possuem a oportunidade de beneficiar-se da educação e aprender valores, comportamentos, estilos de vida necessários para um futuro sustentável e para transformações sociais positivas” (UNESCO, 2005, p. 6) – nem as “características essenciais” da EDS relacionadas no Esquema de Implementação Internacional da DEDS (UNESCO, 2005; veja a lista “Características essenciais da EDS conforme definidas pela UNESCO” apresentada a seguir) tem sido muito úteis na elaboração de programas educacionais que contribuam para um ensino transformador. Conforme Sleurs (2008, p. 40) mencionou suscintamente, a abordagem da competência pergunta “não o que deve ser ensinado, mas o que deveria ser aprendido, quais habilidades para agir, quais conceitos e estratégias para solucionar problemas as pessoas adquiriram em decorrência do processo de aprendizagem”. A UNESCO (2005) caracterizou a EDS como educação de qualidade e enfatizou a aquisição de habilidades de vida, bem como valores que sustentam o DS. A meio caminho da Década, está na hora de a comunidade da EDS se voltar para as competências de DS como base de projeto e pedagogia, com um currículo mais efetivo e ligá-los à questão de avaliação dos processos e resultados.

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© Revista INTERFACEHS - v.6, n.1, Versão traduzida do artigo: “Competences for sustainable development and sustainability .Significance and challenges for ESD” - Yoko Mochizuki, Zinaida Fadeeva, (2010) , International Journal of Sustainability in Higher Education, Vol. 11 Iss: 4, pp.391 - 403- . Abril. 2011 

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Características essenciais da EDS conforme definidas pela UNESCO A Educação para o desenvolvimento sustentável:

está baseada em princípios e valores que formam a base do DS; ocupa-se com o bem estar de todos os três campos da sustentabilidade – meio-

ambiente, sociedade e economia; promove a aprendizagem ao longo da vida; é localmente importante e culturalmente apropriada; está baseada nas necessidades, percepções e condições, mas reconhece que o

atendimento das necessidades locais possui efeito e consequências internacionais; envolve a educação formal, não formal e informal; acomoda a natureza do conceito de sustentabilidade em desenvolvimento; trata do conteúdo, considerando o contexto, questões globais e prioridades locais; constrói a capacidade civil para a tomada de decisão com base na comunidade e

tolerância social, administração do meio-ambiente, força de trabalho adaptável e qualidade de vida;

é interdisciplinar. Nenhuma disciplina pode reivindicar a EDS para si própria, mas todas as disciplinas podem contribuir com a EDS; e

usa uma variedade de técnicas pedagógicas que promovem a aprendizagem participativa e capacidade intelectual de maior abstração.

Fonte: UNESCO, 2005, pp. 30-1. Em anos recentes, o conceito de competência vem sendo empregado progressivamente em discussões de como promover a EDS na segunda metade da DEDS. Por exemplo, em uma tentativa de atender a solicitação dos ministros do meio ambiente da Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa (CENUE) (2009) para oferecer um modelo de currículo para instituições de treinamento do professor que tentam integrar a EDS em seus currículos, o departamento de educação de professor da KatholiekeHogeschool Leuven (Comunidade Flamenga da Bélgica) assumiu o papel de coordenação da Comissão Européia – projeto fundado para desenvolver a estrutura de integração da EDS no currículo de treinamento do professor, e os resultados do projeto foram publicados como Competências dos Professores de DS (Sleurs, 2008)[2]. Em 2009, o Comitê Diretivo da CENUE sobre a EDS, formou um grupo especializado em competências de educadores, com o objetivo de indicar a natureza de tais competências, bem como fornecer os decisores nos países membros da CENUE, com recomendações políticas para facilitar o desenvolvimento das competências. Muitos esforços para definir as competências sobre o DS e EDS foram influenciados pelo trabalho da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) (2005), projeto de Definição e Seleção de Competências Chaves (DeSeCo) para definir as competências essenciais de toda educação (OCDE, 2008; Stevens, 2008; Sleurs, 2008)[3]. Houve também esforços para especificar as competências em ensino superior. Por exemplo, o conceito de competência é a chave para elaborar novos graus na estrutura da área europeia de ensino superior (AEES), conforme claramente visto na Declaração de Bologna de 1999. O projeto TUNING, uma pesquisa europeia envolvendo 100 instituições europeias de ensino

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superior, propôs uma lista de competências a serem desenvolvidas ao longo dos programas de graduação universitária (Estrutura Educacional na Europa TUNING, 2007, pp. 23-4), e esta lista se espalhou rapidamente não apenas na Europa, como também na America Latina. Além dos esforços de órgãos internacionais como a CENUE, OCDE e União Europeia (UE) para especificar as competências para o século vinte e um, há também importantes iniciativas nos EUA para reorientar o ensino superior com relação à sustentabilidade parcialmente baseada nas abordagens por competência. Por exemplo, a Lei de Sustentabilidade de 2008 para o ensino superior autorizou um programa de concessão de $50 milhões ao departamento de Educação, que anualmente subsidia entre 25 e 200 projetos em instituições de ensino superior e consórcio/associações para oferecer suporte para faculdade e treinamento de administradores, disseminar boas práticas, estudos de caso e diretrizes educacionais, envolver acionistas externos (negócios, ex-alunos e agências homologadoras), e desenvolver ferramentas analíticas para avaliar o progresso institucional. A Fundação Mac Arthur está oferecendo $15 milhões para suporte a SEED, com intuito de ajudar a rede global de universidades a iniciar novos programas de mestre em prática de desenvolvimento (MPD), conforme o modelo estabelecido no relatório final da Comissão Internacional sobre Educação para a prática de desenvolvimento sustentável (2008). A rede MPD global, facilitada pela Secretaria de MPD Global no Instituto Terra da Universidade de Columbia está oferecendo um forte ímpeto para as instituições de ensino superior do mundo todo, a fim de criar um novo programa de graduação projetado para formar graduados como novas competências para a “prática de desenvolvimento sustentável”. É importante notar que há críticas efetivas e bem fundamentadas sobre abordagens por competência. Por exemplo, Elliot (2007) desafia o exato ato de especificar as competências visto que limita o desenvolvimento pessoal de indivíduos, pela perspectiva da “capacidade”, enquanto Lotz-Sisitka e Raven (2009) discutem a dificuldade de articular a competência em desenvolvimento dos reais programas educacionais, que podem limitar o potencial transformador da educação ao tornar alunos em agentes de mudança. A crítica de Lotz-Sisitka e Raven (2009, p. 317) não é dirigida ao conceito de competência em si, mas às “interpretações superficiais ou inadequadas da estrutura da competência” (p. 317). Embora reconhecendo a contestada natureza da abordagem por competência, este documento não investiga a problemática da competência como conceito amplamente usado no projeto de currículo, devido à limitação de espaço (para uma visão sucinta dos problemas da abordagem por competência, veja Sleurs, 2008, pp. 35-38 e Lotz-Sisitka e Raven, 2009, p. 311). Em direção à nova estrutura da EDS De um jeito ou outro, as competências para o DS estão conceitualizadas como alternativa para competências para a “modernização”. Se a EDS ou educação para a sustentabilidade (EpS) se refere à desconstrução da sociedade consumista que coloca a produção em massa, consumo em massa e descarte em massa no centro da atividade econômica e social das pessoas em países desenvolvidos (por exemplo, alunos da Universidade de Wageningen, nos Países Baixos do artigo de Arjen Wals nesta edição), EDS/EpS nos chamados países em desenvolvimento e países não ocidentais tendem a prestar atenção ao conhecimento e valores

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tradicionais e nativos como importante recursos para atingir o DS (Breidlid, 2009) e abordagens sustentáveis de meio de vida. Pode-se facilmente detectar ressonâncias entre as “disposições para a sustentabilidade” discutida no artigo de Podger et al. (2010) e a “capacidades de trabalho com relação à paz e desenvolvimento sustentável” no artigo de Thaman nesta edição especial. Fazendo um contraste com Podger et al. (2010), que se refere a disposições “associadas com uma nova visão de mundo ecológico, humanístico e transformador que assume a interdependência e interconexão” (ênfase acrescentada), Thaman se refere à cultura tradicional e nativa do Pacífico que ela vê em oposição à cultura ocidental. Tanto nas formulações de Podger et al. (2010) quanto nas de Thaman as disposições para a sustentabilidade são tidas como antitéticas para as disposições de indivíduos autônomos, racionais, que maximizam a utilidade no mundo moderno/ocidental. Em outras palavras, a convergência da visão de Podger et al. (2010) e Thaman pode ser interpretada como uma convergência natural do tipo de formulações de “pós-moderno” e “antimoderno” das disposições para a sustentabilidade. A defesa da solidariedade comunitária, espiritualidade e conhecimento tradicional possui uma ressonância atraente para muitos que procuram estabelecer uma nova estrutura da EDS. Nesta edição especial, os dois presidentes da UNESCO que são importantes promotores de DEDS – Arjen Wals e Konai Thaman – juntos com outros contribuidores procuram uma visão mais holística do mundo que vivemos e aplicá-la no contexto do ensino superior. O suporte de seus argumentos é a conceitualização da EDS/EpS de como desenvolver capacidades para re(ligar) e holisticamente encontrar meios e formas de vida que tenham sido segmentadas, fragmentadas e compartimentalizadas na busca da humanidade pelo limitadamente definido “desenvolvimento”. Dada a natureza da EDS/EpS como parte do projeto de esclarecimento não finalizado da razão, moralidade, da emancipação humana e social, os promotores da EDS/EpS não podem ser inteiramente pós ou antimodernos. Qualquer solicitação séria para uma abordagem verdadeiramente transformadora para a EDS/EpS, contudo, exige que se desafie as convenções estruturais e se questione os dualismos modernistas tidos como garantidos (por exemplo, tradicional/moderno, individual/coletivo, acadêmico/vocacional) que escoram o moderno sistema educacional. Precisaríamos promover as instituições alternativas, tanto quanto precisamos do despertar ético, espiritual, cognitivo e perceptivo para a interligação, interdependência, diversidade e totalidade com relação a tudo. Seria, portanto útil olhar para os exemplos concretos de como as instituições de ensino superior em diferentes partes do mundo estão tentando orientar os alunos a desenvolver uma gama de competências para a sustentabilidade. Com relação ao final, este documento analisa as contribuições para essa edição especial que apresenta percepções úteis sobre como traduzir o conceito de competência em reais atividades de aprendizagem, cursos e programas. As competências para o DS são universais? Embora possamos observar uma aparente convergência entre as discussões sobre competência inspirada pela ecologia profunda em países “desenvolvidos” e os que enfatizam o conhecimento tradicional e nativo nos países “em desenvolvimento”, as competências

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essenciais necessárias para o DS nem sempre podem ser concebidas como universal. É possível argumentar que a teoria europeia sobre a competência está influenciando mundialmente os discursos e práticas para a EDS. O conceito dinamarquês de “competência da ação” e conceito alemão de “Gestaltungskompetenz” (“competência formadora”) (de Haan, 2006) são um bom exemplo. Por exemplo, a noção de Gestaltungskompetenz – “competências chaves [. . .] exigidas para participação autônoma e avançada na formação do desenvolvimento sustentável” (Barth et al., 2007, p. 418) – foi apresentada aos círculos para a EDS no Japão por pesquisadores japoneses treinados na Alemanha. Pesquisadores japoneses da EDS geralmente enxergam a Alemanha como um país avançado com relação à EDS, e inclusive, Gestaltungskompetenz tem sido discutido como um conceito importante para o planejamento e implementação da EDS no Japão. Com relação ao conceito de “competência da ação” que tem sido dominante nos círculos educacionais na Dinamarca desde os anos de 1980, Parker (2010) aponta a tendência ocidental nesta noção, argumentando que ela pressupõe a existência de uma sociedade democrática e “competências para meio de vida sustentável” pode ser uma formulação globalmente mais acessível. Embora a especificação das competências seja um importante passo para o movimento além do tratamento da EDS/EpS como se ela estivesse pronta e existisse “lá fora” para ser implementada, os pedagogos tem se mostrado tradicionalmente resistente em adotar o conceito de competência em sua totalidade. Isso em parte, porque esses conceitos estão frequentemente associados a um treinamento vocacional restrito e aquisição de habilidades, em vez de ao que os pedagogos mais acreditam ser o objetivo “genuíno” da educação, por exemplo, o desenvolvimento do indivíduo como um todo ou a formação de sujeito. Em um recente artigo que explora o relacionamento entre a abordagem da “competência da ação” e recentes discursos sobre EDS, Mogensen e Schnack (2010) sugerem que a interpretação da “competência” difere substancialmente da abordagem por competência da ação do conceito de competência individual, amplamente usada no gerenciamento de recursos humanos, embora haja algumas similaridades entre as noções orientadas para o sujeito da competência e a perspectiva DeSeCo promovida pela OCDE. O fato mesmo que levou Mogensen e Schnack (2010) a desejar escrever este documento claramente mostra que “competência” como comumente compreendida é um termo confuso pelo menos em inglês. De certa maneira, a abordagem por competência parece ir diretamente contra a “pedagogia de Bildung, que defende a aquisição de conhecimento como um processo, e não como um produto” (Readings, 1996, p. 69). Um caso ilustrativo e fascinante de um programa de ensino superior projetado para a aquisição de conhecimento como um produto pode ser oferecido pelo Programa de Graduação em Bacharelado Profissional para a Redução da Pobreza e Gerenciamento Agrícola (RPGA)[4] do Instituto de Tecnologia Asiática (ITA). O programa de RPGA foi elaborado em colaboração com o Ministério da Agricultura e Silvicultura da República Democrática Popular de Lao (RDP de Lao ou Laos), organização não governamental com base em Bangkok (ONG), Programa da Wetlands Alliance, e instituições de hospedagem de terciários na região nordeste da Tailândia. São alvos do programa de RPGA os oficiais de extensão agrícola do distrito de carreira intermediária em Laos e “tem por objetivo equipá-los com as principais competências para a redução da pobreza” (Asean Affairs, 2009). Os alunos do

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programa de RPGA adquirem conhecimentos e habilidades em tratamento, doenças e prevenção para cabras e, medicamentos de animais e seu uso, para que a produção de cabras possa ajudar os pequenos fazendeiros a saírem da pobreza na zona rural de Laos. O programa de RPGA tem por objetivo equipar os líderes rurais com habilidades e conhecimentos que possam ser prontamente aplicados em seus vilarejos e a essência do programa de RPGA é capturada na seguinte observação do Diretor da Extensão do ITA:“Não se trata de oferecer educação de nível mundial para oficiais distritais de Laos. Trata-se de oferecer ao povo aquilo de que precisam para fazer a diferença nas vidas de comunidades desesperadamente pobres” (Kok, 2008). Os alunos do RPGA devem demonstrar ao longo de seu trabalho que são capazes de usar os novos conhecimentos e habilidades para reduzir a pobreza e a avaliação dos alunos está baseada em sua real contribuição para a redução da pobreza [5]. O programa de RPGA oferece uma percepção verdadeiramente útil sobre a questão da possibilidade de se identificar as “competências essenciais para o DS” que sejam universais. O programa de RPGA está baseado em sua premissa que há receitas para resolver o problema da sustentabilidade (por exemplo, a redução da pobreza) que seus alunos precisam resolver e que o programa de ensino superior pode equipá-los com as competências necessárias (por exemplo, habilidades e conhecimentos no tratamento de cabras). Fazendo contraste profundo para esse tipo de programa de graduação profissional e vocacional para o DS, a abordagem da competência sobre a educação para a sustentabilidade, a ciência da sustentabilidade e similares tendem a enfatizar que a humanidade está enfrentando mudanças rápidas e imprevisíveis e, portanto, a educação para a sustentabilidade precisa equipar os alunos que vivem em “sociedade de risco” (Beck, 1992, 2009) em época de “modernidade líquida” (Bauman, 2007) com competências para tratar de problemas, cujos riscos e incertezas são muito altos. Por exemplo, escrevendo sobre uma estrutura para a educação de meio ambiente e sustentabilidade na África do Sul, Lotz-Sisitka e Raven (2009, p. 312) discutem a importância da “competência reflexiva” para “conectar o desempenho e a tomada de decisão [de alguém] a uma compreensão profunda e adaptar a mudança ou circunstâncias não previsíveis” e explicar essas adaptações”. Referindo-se a Ulrich Beck, Anthony Giddens e Margaret Archer como “teóricos da mudança social”, Lotz-Sisitka e Raven (2009, p. 310) argumentam que a “reflexão é um fator capacitante na agência e, portanto é um elemento chave dos processos de mudança social”. O acima mencionado Gestaltungskompetenz é interpretado como “um conjunto de competências chaves [. . .] para possibilitar uma participação ativa, reflexiva e colaborativa em direção ao desenvolvimento sustentável” (Barth et al., 2007, p. 418; ênfase acrescentada). A reflexividade é também uma palavra chave na literatura de “aprendizagem social” para a sustentabilidade entre diferentes setores da sociedade, bem como aprendizagem entre e dentro das organizações (Keen et al., 2005; Wals, 2007; Senge et al., 2008). A noção de “competência reflexiva” reconhece uma agência humana situada e indica a necessidade para a recriação contínua de processos educacionais, ajustando-se aos desafios imprevisíveis e não antecipáveis e interações dos aprendizes com eles. Um processo em aberto de experimentos educacionais historicamente situados – em vez de aquisição de conhecimento fixo como um produto acabado – vem ocupar um estágio central neste tipo de formulação da competência para a sustentabilidade. O fato de algumas empresas de grande

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porte estar iniciando a contratação de pessoas sem perguntar sobre as suas credencias de ensino superior claramente mostra que muitos programas de ensino superior como realmente projetados não estão formando pessoas que possam criativamente apresentar soluções para os complexos problemas contemporâneos. Naturalmente, a ênfase sobre a competência reflexiva foi prontamente adotada por pedagogos e educadores, por ressoar satisfatoriamente com o processo reflexivo de Bildung e a desconsideração comum pela aquisição mecânica do conhecimento. Assim, o que liga o modelo do RPGA às abordagens por competência que enfatizam a reflexividade? Como podemos reconciliar o foco do programa de RPGA na aquisição do conhecimento específico como um produto e educação transformadora para a ênfase da sustentabilidade na aquisição de conhecimento como processo e engajamento crítico com estruturas do conhecimento? Como alguém treinado para pensar que a educação para a sustentabilidade não se refere a treinar alunos para adquirir soluções prontas para os desafios da sustentabilidade apreciar o programa de RPGA? Este documento volta a essas questões na conclusão, após olhar para alguns exemplos práticos compilados sobre essa questão específica na seção a seguir. Exemplos Práticos para esta edição especial O caso da Escola de Sustentabilidade da Universidade Estadual do Arizona (UEA-EDS), o primeiro desse tipo nos EUA (Brundiers et al., 2010) oferece uma percepção útil para os interessados em criar um novo programa em ensino superior para facilitar o engajamento do aluno nos processos da mudança social positiva – agora e no futuro. A UEA-EDS estruturou um ensino não graduado para permitir aos alunos um engajamento profundo com o “mundo real” de maneira progressiva e sistemática. Um cuidadoso projeto de programa – através da colaboração e coordenação de docentes e acionistas externos da universidade – fornece uma interessante oportunidade para os alunos não apenas desenvolver habilidades estratégicas, práticas e colaboradoras de forma gradual e progressiva, mas uma diferente combinação dessas competências. Além de iniciar um novo programa em educação para a sustentabilidade, EDS, DS, ciência da sustentabilidade ou similar, a reorientação das disciplinas convencionais existentes é outra abordagem muito importante para integrar a sustentabilidade ao ensino superior. James e Hopkinson (2010) demonstraram como algumas universidades, e a Universidade de Bradford como um exemplo chave do artigo, ligaram a EDS às atividades essenciais – incluindo o trabalho laboratorial – de disciplinas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (CTEM). Mudanças graduais, consistentes e em incrementos para atingir mais práticas orientadas para a sustentabilidade tiveram reações positivas dos alunos e da faculdade. Mudança para pedagogias mais criativas e solucionadoras de problemas, atividades de aprendizagem em laboratórios tradicionais e atenção para o trabalho de campo conduziram ao desenvolvimento do conhecimento profissional e habilidades que vão além do conhecimento técnico específico para disciplinas particulares e, eventualmente, para aumentar a empregabilidade dos alunos. Os casos apresentados e referências oferecidas por James e Hopkinson (2010) são particularmente importantes, visto que algumas das disciplinas de

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CTEM, como a ciência da saúde (com farmácia sendo um exemplo elaborado) frequentemente apresentam dificuldades em identificar uma ligação com a EDS e competências para a sustentabilidade. A Universidade de Bradford agrega à nossa compreensão o modo como as combinações de importantes estratégias organizacionais contribuem para a mudança evolucionária que auxilia o desenvolvimento de novas competências não apenas para os alunos, como também para a faculdade. Entre elementos críticos que fornecem um espaço produtivo para cultivar novas competências estão: . política de cima para baixo e estratégia de implementação acadêmica oferecendo continuidade e coerência de planejamento; . estratégia de baixo para cima para criar incentivos e identificação de boas práticas para a EDS nas disciplinas de CTEM; . evidência de percepções sérias da EDS por profissionais e órgãos homologadores; e . existência de “um patrocinador, institucional, educacional e arquiteto de currículo” que facilite a mudança educacional na universidade. Baseando-se nas experiências de cursos de Educação Ambiental Aplicada e Comunicação na Universidade de Wageningen, Wals (2010) esclarece e ilustra os princípios dos processos de projeto educacionais que conduzem à aprendizagem transformadora. Encorajando alunos a desconstruir e reprojetar o Happy Meals de gigantes do fast-food, o curso facilita a análise crítica de questões relacionadas ao meio ambiente, saúde, direitos humanos, consumismo, ética, informação, igualdade e poder dentro e fora das modernas cadeias de fornecimento de alimento. Wals argumenta que a prática de, nas palavras de Brundiers et al. (2010), “levar questões do mundo real para a sala de aula” contribui para a habilidade de comutar entre as diferentes mentalidades, espelhar a posição de outros, refletir sobre a própria resistência e, finalmente, criativamente projetar alternativas para problemas complexos urgentes Conclusão e Novos Rumos Esta edição especial sobre competências para o DS e sustentabilidade foi elaborado para chamar a atenção do leitor para um crescente conjunto de pensamentos, análises e experimentos na aplicação das abordagens por competência para reorientar o ensino superior em direção à sustentabilidade. O crescimento de interesse em DS/competência para a sustentabilidade é conduzido parcialmente pela necessidade (principalmente por parte das agências das Nações Unidas e governos nacionais) de implementar a EDS e avaliar o progresso de sua implementação, e em parte pelas ambições (de estudantes e profissionais da educação para a sustentabilidade) de avançar a teoria e prática da “educação transformadora interdisciplinar para a sustentabilidade” no contexto do ensino superior (Schwarzin, 2010). Embora as abordagens por competência que possibilitam as mudanças incrementais e evolucionárias na educação são úteis e importantes, em épocas de mudanças rápidas e amplamente descontroladas, as instituições de ensino superior podem e devem experimentar

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inovações mais radicais em suas principais áreas de atividade, incluindo currículo e ensino, pesquisa e serviço para a comunidade. Conforme ilustrado no modelo de RPGA, o ITA redefiniu radicalmente suas relações com as comunidades locais reestruturando o que tradicionalmente constitui as atividades de extensão ou expansão dos principais campos em estreita colaboração com o Governo de Laos, ONG de Thai e outros acionistas. No programa de RPGA, as comunidades não são o alvo da expansão; elas se tornam parceiras da universidade e seu bem-estar (medido pela extensão da redução da pobreza alcançada pelos alunos do programa de RPGA, ou seja, trabalhadores de extensão agrícola) serve como uma medida do sucesso educacional. Num relance, as “competências para o desenvolvimento sustentável” do RPGA possuem pouca importância para o tipo de competência para a sustentabilidade desenvolvida na livre busca por soluções para os desafios do DS, visto que se referem especificamente a habilidades necessárias para trabalhadores de extensão em zonas rurais de Laos, e o conhecimento e habilidades enfatizados no programa de RPGA tampouco são transferíveis, assim como as competências para tratar com mudanças imprevisíveis, incertezas e vulnerabilidade. É também importante notar que a empregabilidade não é problema para alunos do programa de RPGA . As “competências para o desenvolvimento sustentável” do programa de RPGA são restritas e específicas no sentido de que são diretamente ligadas à ocupação atual dos alunos. Embora apresente todas as imagens negativas da abordagem por competência associada à educação profissionalizante, o modelo do programa de RPGA não fornece em momento algum uma percepção chave para reorientar o ensino superior com base nas abordagens por competência. No programa de RPGA, as “competências para o desenvolvimento sustentável” foram identificadas em consulta direta aos diversos acionistas externos à instituição de ensino superior. Isso traça um profundo contraste com os projetos como TUNING, nos quais competências desejáveis foram identificadas principalmente por acadêmicos e empregadores. Se a competência se refere ao que nós (sejamos organizações das Nações Unidas, políticos, decisores, empresários ou acadêmicos) desejamos que as universidades formem para fazer o que nós (e não os próprios alunos) consideramos valiosos e se não houver questionamentos das crenças pessoais dos aprendizes e se eles realmente querem isso, a EDS/EpS pode ser um exercício dogmático. Dada a natureza complexa e transversal do DS/sustentabilidade, e a falta de consenso em sua definição, acoplada com diversas conceitualizações de competências e desempenho, é impossível capturar e definir as competências necessárias para o DS e sustentabilidade. Pela abordagem de capacidade de Amartya Sen (1999), o objetivo primário das instituições educacionais deve ser criar condições para ampliar substancialmente a liberdade do povo em fazer o que valorizam. A noção de Sen de capacidade pode resolver a dicotomia entre as competências para meios de vida sustentáveis e competência reflexiva para a sustentabilidade, permitindo-nos conceitualizá-las como capacidades humanas em tratar o tipo de vidas que cada um valoriza e possui razões para valorizar. Em vez de um rápido “check lists” das competências, precisamos de processos democráticos, deliberativos e situados que antes especifiquem as competências desejáveis (perguntando sobre quais necessidades e desejos estão sendo tratados, para quais propósitos, em quais tipos de mundo) e então cuidadosamente articulá-los em programas educacionais. Competências

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não tem qualquer sentido, a menos que estejam em vigor na prática por lei e conectadas para avaliação em um contexto específico. O modelo do programa de RPGA pode ter implicações de longo alcance para abordagens por competência no ensino superior como meio de conseguir a transformação educacional e social com relação à sustentabilidade. Inscrevendo-se no programa de RPGA, os alunos estarão, ao mesmo tempo, escolhendo funções diretamente conectadas ao bem-estar humano – atividade que possuem valor intrínseco além do valor instrumental (em termos de contribuição para reduzir a pobreza). Além disso, o programa de RPGA possibilitou a mudança não apenas em nível do aluno e da comunidade como também em nível de organização pela abertura de horizonte para novas explorações e diferentes meios de projetar um programa de graduação e reconhecimento da contribuição imediata da faculdade para o engajamento perante o acionista e pesquisa de ação para o DS. Contribuições para esta edição especial e exemplos inspiradores como os do programa de RPGA fornecem pistas para superar a tendência de a abordagem por competência ser tomada por especificações (mesmo prestando suficiente atenção em aspectos humanos e diferenças individuais e culturais) e negligenciar a importância das mudanças organizacional e institucional na consecução do DS. Há esforços emergentes para criar um sistema alternativo de avaliação universitária para identificar as atividades universitárias que não sejam convencionalmente reconhecidas pela classificação e esquema de avaliação dominantes (Fadeeva e Mochizuki, 2010), e tais sistemas de avaliação desenvolvidos para estimular a diversidade e a inovação para o DS adicionariam mais estímulos para a redefinição dos papéis de instituições de ensino superior em conseguir a transição para a sustentabilidade – e os tipos de competências cultivadas através dos programas de ensino superior. Notas

1. Neste documento, “competência” é usada como um termo genérico que se refere tanto a “competência” quanto a “desempenho”. Existem literaturas sobre gerenciamento de recursos humanos que discutem a distinção entre “competência” e “desempenho”, mas ela não é relevante neste documento. Quando as palavras “desempenho” e “competência” aparecem neste texto, significa que essas palavras são usadas como parte do nome oficial de um grupo, projeto ou programa ou usadas por aqueles que estão neles envolvidos.

2. Parceiros deste projeto (Comenium-2-project, CSCT: currículo, desenvolvimento sustentável, competências, treinamento de professor) incluíram dois institutos da Bélgica (incluindo a parceria de coordenação), um da Noruega, um da Dinamarca, um do Reino Unido, dois da Espanha, quatro da Áustria, um da Hungria, um da Alemanha e dois da Suíça. Detalhes do projeto podem ser encontrados em www.csct-project.org. O projeto definiu cinco domínios de competência:

(1) conhecimento; (2) sistemas de pensamento; (3) emoções; (4) ética e valores; e (5) ação.

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3. O projeto DeSeCo da OCDE (2005) descreve os três grupos de competências chaves: (1) habilidade de usar as ferramentas interativamente (por exemplo, linguagem,

tecnologia); (2) habilidade de interagir em grupos heterogêneos; e (3) habilidade de agir autonomamente.

4. Em 2008, o ITA foi apoiado pela Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon, como local do Centro oficial da Associação de Nações do Sudeste Asiático de Excelência nas Metas de Desenvolvimento do Milênio (MDM), e RPGA é parte integrante dos esforços do ITA para fortalecer sua contribuição para o DS. Até o momento, mais de 3.000 oficiais governamentais distritais em sete províncias do sul de Laos foram identificados como candidates ao RPGA, e o governo de Laos tem, desde essa época, atraído recursos adicionais de fundos para o RPGA totalizando US$200.000 (Kok, 2008).

5. Os indicadores da redução da pobreza foram desenvolvidos em consulta ao Governo de Laos e é possível medir a contribuição dos alunos do RPGA para a redução da pobreza.

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Sobre os autores Yoko Mochizuki, PhD, é socióloga da educação. Antes de se unir a UNU-IAS, foi Professora Assistente Substituta no Departamento de Desenvolvimento Humano, Faculdade de Pedagogia, Universidade de Columbia em Nova York, e ministrou cursos de Sociologia da Educação Comparativa. Sua atual pesquisa destaca a teoria e prática da EDS e a sociologia do desenvolvimento internacional. Yoko Mochizuki é autora correspondente e pode ser contatada em: [email protected]

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Zinaida Fadeeva é Associate Fellow da equipe da EDS na UNU-IAS. Participa do Centro de Serviço RCE Global. Faz pesquisas e estudos políticos na área da EDS e participa do desenvolvimento de processos políticos relacionados à DEDS. No momento da redação, Zinaida Fadeeva era membro do grupo especializado de CENUE em competências da EDS para educadores. Antes de se unir a UNU-IAS, trabalhou como Associada de Pesquisa no Instituto Internacional para Economia Ambiental Industrial na Universidade de Lund, Suécia. Suas atividades em pesquisa se relacionam a gerenciamento ambiental inter-organizacional, industrial e DS. Seu interesse atual em pesquisa inclui a aprendizagem inter-organizacional, modelos alternativos de consumo e produção e políticas que influenciam esses modelos.