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Nº 47 • Julho de 2006 Av. Brasil, 4.036/515, Manguinhos Rio de Janeiro, RJ • 21040-361 www.ensp.fiocruz.br/radis NESTA EDIÇÃO Bem-vindos, farmacêuticos! Presença na Atenção Básica abre novo ciclo para a profissão

Revista radis células tronco

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Page 1: Revista radis  células tronco

N º 4 7 • J u l h o d e 2 0 0 6

Av. Brasil, 4.036/515, ManguinhosRio de Janeiro, RJ • 21040-361

www.ensp.fiocruz.br/radis

NESTA EDIÇÃO

Bem-vindos,farmacêuticos!

Presença naAtenção Básicaabre novo ciclopara a profissão

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Oinspetor Silva está chegando.Quem nunca ouviu falar dele terá

a oportunidade de conhecê-lo a par-tir de julho, quando será lançado oCD-ROM Direito sanitário para a Cida-dania, experiência de comunicação emsaúde surgida a partir do curso BasesLegais para as Ações de Saúde, pro-movido pela Fiocruz-Brasília e a Secre-taria de Saúde do Distrito Federal.

No CD, o personagem principal(criado e desenvolvido pelos alunosem sala de aula) está envolvido emsituações corriqueiras, que ressaltama importância da Vigilância Sanitáriapara a saúde das pessoas e como ins-trumento de cidadania. É possível, porexemplo, ver o inspetor Silva dandoorientação em casos variados, comoa venda de remédios sem receitamédica, a compra de um simples ca-chorro-quente naqueles carrinhosespalhados por todas as cidades, ocorreto tratamento do lixo hospita-lar, os cuidados com a saúde do tra-balhador, a vacinação de animais.

A linguagem é leve e bem-humo-rada, como nos desenhos animados ouquadrinhos. O CD-ROM vai além: compi-la a legislação sanitária do Distrito Fe-

Inspetor Silva,um cidadão vigilante

deral, “que estava dispersa, dificultan-do a consulta de quem trabalha na área”,segundo a coordenadora do projeto,Maria Célia Delduque, advogada.

O curso Bases Legais teve comoalunos profissionais das atividades-meio da vigilância sanitária do DF.“Nosso objetivo foi capacitar essestrabalhadores porque entendemosque a ação de vigilância sanitária sedá em diversos momentos, e não ape-nas nas fiscalizações de campo”, dizo diretor de Vigilância Sanitária doDF, Laércio Cardoso.

Além de mergulhar no universodas leis, os alunos tiveram noções decomunicação e pensaram na melhorforma de informar à população sobreas ações de saúde. Diversas reuniõesdefiniram nome e perfil do inspetore dos demais personagens, como tam-bém os temas que seriam abordados.O curso resultou ainda num livro pre-parado pelos alunos, Questões atuaisde direito sanitário, do qual a Radistratará na próxima edição.

O CD-ROM será distribuído gra-tuitamente a profissionais e estabe-lecimentos do Distrito Federal quetrabalhem com produtos e serviçosligados à vigilância sanitária. (W. V.)

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Início do início do início

Comunicação e Saúde

• Inspetor Silva, um cidadão vigilante 2

Editorial

• Início do início do início 3

Cartum 3

Cartas 4

Súmula 6

Toques da Redação 7

Células-tronco

• Falta consenso, sobra esperança 8

Comissão Nacional SobreDeterminantes Sociais da Saúde

• Compromisso com a ação 12

Lei de Segurança Alimentar

• A gente não quer só comida 15

Entrevista: Chico Menezes

• “A alimentação é um direitofundamental” 17

Serviço 18

Pós-Tudo

• Atenção básica abre novo ciclopara o farmacêutico 19

editorial

Nº 47 • Julho de 2006

Capa Aristides Dutra

A mandala da capa foi produzida a partirde gráficos de fractais

Ilustrações Cassiano Pinheiro (C.P.) eAristides Dutra (A.D.)

Cartum

Aimagem da capa é uma mandala concebida pelo editor de arte para sim-

bolizar o futuro dos nossos sonhos.Como no tempo em que o brasileiroestiver alimentado adequadamente, li-vre de desigualdades e beneficiadopelas terapias com células-tronco, te-mas que são abordados nesta edição.

Segundo o IBGE, 72 milhões debrasileiros enfrentam situações de in-segurança alimentar, 39,5 milhões emgrau considerado grave. Campanhas dasociedade, políticas de governo e umaproposta de Lei Orgânica de Seguran-ça Alimentar e Nutricional são o iníciode um futuro diferente.

No debate sobre determinantessociais da saúde, reduzir desigualda-des requer ações que fortaleçam a ca-pacidade de decisão dos indivíduos,construção de redes entre as comu-nidades vulneráveis, políticas públicasintersetoriais de melhoria das condiçõesde vida e mudanças macroeconômicase culturais para um desenvolvimentocom distribuição de riquezas.

No imaginário estimulado pelamídia, as terapias com células-tron-co vão acabar com doenças incurá-veis. E a sensação é de que já chega-mos lá. Avanços anunciados pelosul-coreano Woo-Suk Hwang, porexemplo, tiveram mais repercussão doque a constatação de que suas des-cobertas se tratavam de fraudes. Ban-

cos de células privados fazem propa-ganda enganosa sobre congelamentode células de cordão umbilical. A es-perança em torno das células-troncofoi utilizada como cortina de fumaçana Lei de Biossegurança, para aprovarpesquisas e comercialização de orga-nismos geneticamente modificados (ostransgênicos), argumentam debatedoresde oficina promovida pelo ProjetoGhente, da Fiocruz, que promove estu-dos sociais, éticos e jurídicos sobreacesso e uso de genomas em saúde.

Pesquisadores que obtiveram su-cesso injetando células em voluntárioscom doenças do fígado e do coraçãodizem que ainda não conhecem os me-canismos que produziram melhoras nospacientes. O Ministério da Saúde finan-cia pesquisa com 1.200 pacientescardiopatas, em diversas instituições,para aprimorar esses estudos e ofere-cer, no futuro, o tratamento pelo SUS.

As questões éticas são controver-sas, especialmente no que diz respeitoà regulação de clínicas de reproduçãoassistida, à socialização do conhecimen-to existente, à informação para a parti-cipação consciente em experimentos,aos aspectos éticos e morais nos pro-cedimentos de cada pesquisa.

Estamos apenas no começo.

Rogério Lannes RochaCoordenador do RADIS

C.P./A.D.

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CARTAS

RADIS é uma publicação impressa e onlineda Fundação Oswaldo Cruz, editada peloPrograma RADIS (Reunião, Análise eDifusão de Informação sobre Saúde),da Escola Nacional de Saúde PúblicaSergio Arouca (Ensp).

Periodicidade mensalTiragem 47.500 exemplaresAssinatura grátis

(sujeita à ampliação do cadastro)

Presidente da Fiocruz Paulo BussDiretor da Ensp Antônio Ivo de Carvalho

Ouvidoria FiocruzTelefax (21) 3885-1762Site www.fiocruz.br/ouvidoria

PROGRAMA RADISCoordenação Rogério Lannes RochaSubcoordenação Justa Helena FrancoEdição Marinilda Carvalho

Reportagem Katia Machado (subeditora),Claudia Rabelo Lopes, WagnerVasconcelos (Brasília), BrunoCamarinha Dominguez e JúliaGaspar (estágio supervisionado)

Arte Aristides Dutra (subeditor) eCassiano Pinheiro (estágiosupervisionado)

Documentação Jorge Ricardo Pereira,Laïs Tavares e Sandra Suzano

Secretaria e Administração OnésimoGouvêa, Fábio Renato Lucas,Cícero Carneiro e MarianeGonzaga Viana (estágiosupervisionado)

Informática Osvaldo José Filho eMario Cesar G. F. Júnior (estágiosupervisionado)

Endereço

Av. Brasil, 4.036, sala 515 — ManguinhosRio de Janeiro / RJ — CEP 21040-361Tel. (21) 3882-9118Fax (21) 3882-9119

E-Mail [email protected] www.ensp.fiocruz.br/radis

Impressão

Ediouro Gráfica e Editora SA

USO DA INFORMAÇÃO — O conteúdo da revista Radispode ser livremente utilizado e reproduzido em qual-quer meio de comunicação impresso, radiofônico,televisivo e eletrônico, desde que acompanhado doscréditos gerais e da assinatura dos jornalistas respon-

sáveis pelas matérias reproduzidas. Solicitamos aosveículos que reproduzirem ou citarem conteúdo denossas publicações que enviem para o Radis um exem-plar da publicação em que a menção ocorre, as refe-rências da reprodução ou a URL da Web.

expediente

que deve passar por um processo dereestruturação. Analisando a forma-ção acadêmica dos profissionais desaúde e o atendimento nas unidades,vê-se a necessidade de mudanças deatitudes de muitos profissionais que,na verdade, fazem parte do SUS ape-nas para ocupar espaço. O usuárioclama por assistência humanizada. (...)

Para isso, o SUS tornará seusprincípios e diretrizes mais presen-tes e mais eficazes quando passar poruma reforma íntima, a fim de que seforme um profissional conhecedor dosistema de saúde. A grade curricular,com raríssimas exceções, é voltadapara o profissional tecnicista e comcarga enorme de preconceito coma saúde pública. O “profissionalneoliberal” ocupará os espaços. (...)Assim, não existirá “reforma da re-forma” sem a reforma íntima, passan-do por uma análise profunda dosnossos atos, em prol daqueles queconfiam no “dotô”.• Romeu Costa Moura, fisioterapeu-ta, pós-graduado em Saúde Pública,Guanambi, BA

REMÉDIOS SUPERFATURADOS — RÉPLICA 1

Com relação à entrevista publicadana Radis, em que o sr. Antonio

Barbosa, presidente do ConselhoRegional de Farmácia do Distrito Fe-deral [N. R.: também coordenadordo Idum], cita o anti-hipertensivoNaprix como um dos medicamentosque teriam sofrido reajustes de pre-ços de até 954% nos últimos 10 anos,a Libbs Farmacêutica gostaria de es-clarecer que o Naprix foi lançado nomercado em agosto de 2000, ou seja,há pouco mais de cinco anos, nasapresentações 2,5 mg com 20 com-primidos e 5mg com 20 comprimidos,aos preços máximos ao consumidorde R$ 11,60 e R$ 21,60, respectiva-mente. Queremos também comple-mentar que todos os reajustes depreços feitos pela Libbs estão per-feitamente de acordo com as nor-mas da Anvisa. (...)• Alcebíades de Mendonça AthaydeJunior, diretor de marketing da Libbs

Tréplica do Idum — O Instituto Brasi-leiro de Defesa dos Usuários de Me-dicamentos (Idum) reafirma todos osdados sobre os aumentos de preçosdos medicamentos de novembro de1995 a fevereiro de 2005, com rea-justes de até 954%. O que mais subiude preço foi o Naprix, do Libbs. Osdados foram extraídos da RevistaABCFarma (órgão oficial de preços daindústria farmacêutica). A edição nº52, de novembro de 1995, traz oNaprix na página 77 com o preço deR$ 5,22. Portanto, já existia em 1995.A apresentação que o laboratório usapara enganar a imprensa e o consu-midor é diferente da pesquisada. Ouseja, usa as apresentações de 2,5 mge 5 mg, ambas com 20 comprimidos.A apresentação pesquisada, no entan-to, foi a de 0,5 mg com 30 comprimi-dos. Que teve, sim, reajuste acumu-lado no período de 954%; a inflaçãoacumulada oficial medida pelo IPCAfoi de 197,45%, e o salário mínimo foireajustado em apenas 250%.O Idum já enviou representação aoMinistério Público Federal solicitan-do o cancelamento dos aumentos au-torizados em março de 2006, pois osconsidera abusivos. As provas dos re-ajustes do Libbs também foram en-caminhadas ao MPF.• Antônio Barbosa, coordenador

CRIANÇA FELIZ

Achei inteligente e atualizada a ma-téria da edição nº 44, sobre os di-

reitos da criança e do adolescente.Sou assistente social da saúde e tra-balho na Casa do Adolescente doGrajaú, em São Paulo, desenvolvendoterapia comunitária com adolescentes,pais e educadores. Temos assento noFórum de Defesa dos Direitos da Cri-ança e do Adolescente do Grajaú.• Maria Lucia B. Santos, São Paulo

A REFORMA “ÍNTIMA” DO SUS

Apartir de 2000, os grandes pensa-dores da área da saúde vêm pre-

gando “a reforma da reforma” do SUS,

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REMÉDIOS SUPERFATURADOS — RÉPLICA 2

Em entrevista à Radis nº 45, página31, o Sr. Antonio Barbosa, presi-

dente do Conselho Regional de Far-mácia do DF, afirmou que o InterferomPeguilado custa ao fabricante apenasR$ 4 e é vendido a quase R$ 1.000.Como presidente da Associação Brasi-leira dos Transplantados de Fígado ePortadores de Doenças Hepáticas(TransPática), gostaria que a Radis ve-rificasse esta informação, pois afetaos portadores da hepatite C, com me-dicamentos distribuídos pelo gover-no. Creio que a Radis, como publica-ção de instituição pública, tem o deverde verificar a informação antes decolocá-la em sua revista, pois temenorme efeito em seus leitores, devi-do à credibilidade da instituição e aogrande alcance desta publicação.• Ervin Moretti, presidente da Trans-Pática, São Paulo

Tréplica do Idum — O InterferonPeguilado tem sua dosagem calculadaem micrograma (1.000.000 de micro-gramas = 1 grama). De acordo com opreço, podemos observar que o gramacusta em torno de R$ 5 milhões. E nãohá nenhuma tecnologia que justifique.O grama do ouro, por exemplo, custacerca de R$ 50. O do medicamento ci-tado, R$ 5 milhões. Como é dosado emmicrogramas, o usuário não chega aperceber a extensão absurda do pre-ço. Portanto, ainda que houvesse ouroou diamante (não é caso) na fórmula,o preço ainda seria absurdo.

O que define o preço de ummedicamento não é apenas a maté-ria-prima. A planilha de custo é as-sim composta: 15%, matéria-prima;1,5%, embalagem/cartonagem; 30%,marketing/comercial; 53,5%, pro-dução/tecnologia/pessoal.

No caso dos medicamentos compatente o fabricante tem exclusivi-dade por cerca de 20 anos. Com o ar-gumento do custo da pesquisa, tam-bém superdimensionado, o remédiopode custar milhares de vezes maisdo que o justo. É o caso do InterferonPeguilado. A indústria usa de muitomarketing e até favorecimento a or-ganizações para justificar os absurdos.Vale destacar que, neste caso específi-co, a matéria-prima, por ter patente,tem o preço que seu fabricante bementende, resultando nessa aberração.

Aproveitamos para lamentar aausência de indignação do presidenteda TransPática, que em nenhum mo-mento se mostra estarrecido com a prá-tica da indústria, mas, ao contrário,insinua não ser séria a postura da re-

A Radis solicita que a correspondênciados leitores para publicação (carta,e-mail ou fax) contenha identificaçãocompleta do remetente: nome, ende-reço e telefone. Por questões de es-paço, o texto pode ser resumido.

NORMAS PARA CORRESPONDÊNCIA

vista, nem ter a informação a devidacredibilidade. Nossas fontes: IMS-Health, Ministério do Desenvolvimen-to, Indústria e Comércio Exterior.• Antônio Barbosa, coordenador

RADIS “GOVERNISTA”

Sou leitor das revistas Radis, Súmulae Tema há muitos anos, talvez uns

15. E nesse período percebi que man-tinham linha dura com os governosanteriores, estampadas inclusive nascapas. No entanto, percebi agoraque, após a eleição de Lula, esseenfoque mudou. Espero estar enga-nado, pois não gostaria de saber quea revista esteja afinada com um governocorrupto, incompetente e aliado a dita-dores como Hugo Chávez, Fidel Castro(daquele país onde o povo é obrigado aviver em condições medievais).• Cezar Santin, médico, Chapecó, SC

O leitor está de fato enganado. ARadis, publicação que já alcançou amaturidade, não avalia governos, esim políticas de saúde segundo a suaobservância à Constituição e aos prin-cípios do SUS. No financiamento, porexemplo, os investimentos da Uniãoem saúde caíram de US$ 89,45 percapita/ano em 1997 para US$ 48,37%em 2002, o que foi devidamente cri-ticado pela revista. Em 2005, ficamosem US$ 62,67, bem distante do ne-cessário — igualmente criticado. Abandeira atual do movimento da re-forma sanitária é a aplicação na saú-de de 10% das receitas brutas daUnião, como prevê o PLC 01/03, queregulamenta a Emenda Constitucio-nal 29. E que infelizmente o Congres-so, não-pressionado pelo governo,mantém engavetado há três anos.

NA PAUTA

Sou biólogo sanitarista e trabalhocom controle de vetores pela

Funasa, cedido à Secretaria de Saú-de de São Gonçalo/RJ, onde venhodesempenhando meu trabalho, ago-ra como tutor do Proformar — Curso

de Formação de Agentes Locais deVigilância em Saúde — e gostaria dever matéria sobre este importantecurso para agentes que desenvolvematividades de epidemiologia e vigilân-cia ambiental. Afinal, é um importan-te trabalho com agentes do SUS, tal-vez o primeiro deste porte.• Adaly Fortunato da Silva Junior, SãoGonçalo, RJ

Gostaria de ver matéria sobrehemodiálise. Milhões de pessoas

nem sequer têm noção do que sejaisso. Estou fazendo treinamento numaunidade de hemodiálise e é um setorfascinante.• Jaquelline Moura, técnica de nívelmédio, Patos, MG

RADIS AGRADECE

Gostaria de parabenizar a Radis peloexcelente conteúdo e a facilida-

de de acesso à revista. Sendo univer-sitários (e conseqüentemente semmuita grana no bolso), temos conteú-do em nossa área de atuação sem cus-to, o que valoriza a gente como estu-dante. Assinaturas são bem caras.• Edson Mascarenhas Cotta, BeloHorizonte

ARadis é a revista que eu procura-va e não encontrava. Está sendo

de grande contribuição para a minhavida acadêmica.• Paulo Henrique de Souza Rocha, Vi-tória da Conquista, BA

Sou estudante do curso técnico deGestão em Saúde. Fico sempre an-

sioso para ler as matérias desse peri-ódico: não sei mais viver sem Radistodo mês.• João Leopoldo V. Vargas, Juazeiro, BA

Sou dentista, mas trabalho com pro-moção da saúde em escolas no pro-

jeto chamado Dentescola, e adorei arevista.• Katia Cristina M. Guerra, Rio de Ja-neiro

A.D./C.P.

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DIREITOS HUMANOS E FRUSTRAÇÃO

Afrustração com o governo Lula foia tônica dos debates da 10ª Con-

ferência Nacional de Direitos Huma-nos, em junho, pelas limitações na exe-cução das políticas públicas e pelopróprio modelo de desenvolvimento.Alguns identificaram sinais de mudan-ça depois que o ministro Paulo Vanuchiassumiu a Secretaria Especial de Di-reitos Humanos, em dezembro — ascríticas à gestão do ex-secretárioNilmário Miranda, histórico militanteda causa, foram as mais duras, comotambém ao episódio do rebaixamentoda pasta, que de julho a dezembro de2005 perdeu o status de ministério.

A avaliação da gestão Lula foimais negativa do que a da época deFernando Henrique Cardoso. Para CaioVarela, do Instituto Nacional de Estu-dos Socioeconômicos (Inesc), a cam-panha de combate à tortura sofreu durodesmonte, perdendo até o telefone deligação gratuita para denúncias de abu-so, disse à Agência Carta Maior. As açõesde defesa de crianças e adolescentesameaçados também foram desarticula-das. Campanhas como o Plano de Edu-cação em Direitos Humanos e Brasil semHomofobia, sem recursos, tiveram pou-ca efetividade. “O problema do orça-mento é dramático”, justificou-seVanuchi, “premido pelas questões fis-cais e a necessidade de superávit pri-mário”. Somados os orçamentos da se-cretaria e do Fundo Nacional da Criançae do Adolescente, há R$ 100 milhões,quando são necessários R$ 200 milhões.“Programas como apoio à implantaçãode conselhos de promoção dos direi-

tos das pessoas com deficiência e apoioa vítimas e testemunhas não recebe-ram um real sequer”, reconheceu oministro, que, segundo a matéria, temmantido postura suprapartidária e vemlutando no governo pelo crescimentoda pauta dos direitos humanos.

MAIS ATENÇÃO À EPILEPSIA

Oministro da Saúde planeja assi-nar neste mês de julho portaria

que prevê uma estratégia de aten-ção à epilepsia. A OMS faz campanhahá anos pelo fim do preconceito emrelação à doença, que considera acondição neurológica grave mais co-mum do planeta. Em 2002 o Brasil ade-riu ao processo, que supõe reduçãodos encargos econômicos, físicos epsicossociais que a epilepsia acarre-ta. No 4º Workshop da Campanha Glo-bal Epilepsia Fora das Sombras, naUnicamp, em Campinas (SP), uma dasestratégias estudadas foi o atendimen-to aos pacientes nas Unidades Básicasde Saúde, pois mais de 70% dos casosde epilepsia são tratáveis com medidassimples. A mídia brasileira, que alimen-ta o preconceito, ignorou o encontro.

CAMISINHAS MADE IN XAPURI

Ogoverno federal vai fabricar ca-misinhas a partir de janeiro de

2007. A primeira fábrica estatal de pre-servativos está sendo construída emXapuri, no Acre, e vai produzir cami-sinhas com látex natural da seringuei-ra nativa da Amazônia. Hospitais pú-blicos e centros de saúde receberãoo material gratuitamente.

CNTBIO EM MOMENTO DIFÍCIL

Ojornal O Estado de S. Paulo, histó-rico defensor dos transgênicos e

crítico da reformulação da ComissãoTécnica Nacional de Biossegurança(CTNBio) a partir da aprovação da Leide Biossegurança, publicou várias ma-térias sobre “um clima de levante e in-dignação” entre seus integrantes. Em 2de junho, o vice-presidente da comis-são, professor Horário Schneider, espe-cialista em genética, pediu afastamen-to e criticou o “excesso de reuniões”.

“A saída de Schneider ocorre nummomento de evidente insatisfação de

cientistas com o andamento da CTNBio”,diz a matéria. “Eles alegam que a novacomposição dificulta uma discussão maisobjetiva”. Com a Lei de Biossegurança,a composição da CTNBio foi ampliadade 18 titulares para 27. Além do “exces-so de democracia”, incomoda sobretu-do a nomeação de representante doMinistério Público Federal para as-sistir às reuniões — coisa que a lei jápermitia, mas nunca foi colocada emprática, em 11 anos da CTNBio. “Con-sidero totalmente desnecessária apresença de tal representante”, dis-se Schneider. “É uma espécie de in-tervenção numa comissão técnica,algo totalmente sem sentido”. Em suacarta de demissão, ele se refere às“tensas e intermináveis reuniõesmensais, que não se esgotam”, in-formou o jornal.

Matéria anterior do Estadão dizque, “para muitos cientistas”, a funçãoda procuradora Maria Soares Cardioli é“tumultuar e intimidar”. E mais: “Asdiscussões estão emperradas. Um gru-po que notadamente está lá para atra-palhar, fica se atendo a picuinhas, enão se avança no principal”, desabafao pesquisador da Embrapa EdilsonPaiva, segundo a matéria.

Maria Soares determinou que osintegrantes fizessem declaração deconflito de interesse, para o caso deprocessos em que não poderiam atu-ar por seus vínculos com a instituiçãoou o cientista envolvido no assunto.Segundo o jornal, “muitos ameaçaramnão assinar”, mas o fizeram em duasversões: uma do MP e outra prepara-da pelos próprios integrantes.

MORRE O PAJÉ TUCANO GABRIEL GENTIL

Opajé tucano Gabriel dos SantosGentil morreu no dia 27 de maio no

Hospital João Lúcio, em Manaus. Em ou-tubro de 2004 (Radis 26) ele recebeu otítulo honorífico de “pesquisador eméritono campo do conhecimento tradicional”do Centro de Pesquisa Leônidas e MariaDeane (Fiocruz-Amazonas) e ganhou bol-sa para desenvolver seus projetos depesquisa. Gabriel, que estudava a histó-ria de seu povo há mais de 30 anos, co-meçou a coletar mitos da tradição tucanaem 1969, em São Gabriel da Cachoeira(1.601 quilômetros a noroeste de Manaus,pelo Rio Negro), a pedido do padresalesiano Casimiro Béksta. Seu último li-

SÚMULA

C.P.

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vro publicado foi Povo tucano — Cultura,

história e valores.

REMÉDIO VENDIDO A R$ 1 É GRATUITO

OGlobo de 31/5 publicou reporta-gem afirmando que as farmácias po-

pulares do governo do Estado do Rio,que atendem pacientes acima de 60anos, cobram R$ 1 por medicamentosdistribuídos gratuitamente em unidadesdo SUS. Inspeção do Tribunal de Contasdo Estado (TCE) descobriu que 43% dosremédios, entre os 44 oferecidos nes-sas farmácias, fazem parte da lista daAssistência Farmacêutica do SUS, queos fornece de graça à população. Ojornal afirma que o governo federal tam-bém cobra, nas farmácias populares, pormedicamentos gratuitos do SUS. A far-mácia popular federal aceita receita dequalquer médico, e a estadual, apenasde médicos do SUS.

OS 7 ERROS DO ESTATUTO

DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA

Geraldo Nogueira, vice-presidenteda Reabilitation International para

América Latina, em artigo no site do Ibase(www.ibase.org.br) de 22 de maio, enu-mera os sete pecados do Estatuto daPessoa com Deficiência, em análise noCongresso Nacional. Ei-los, em resumo:1) Terminologia inadequada, interpreta-ção equivocada de direitos e “muitospadrinhos loucos para batizar logo ascrias”; 2) Estatuto soa excludente: se-para direitos de leis que tratam a socie-dade como um todo; 3) Deficiência écondição humana que permeia as de-mais diferenças: idosos, jovens, etnia,religião, gênero ou orientação sexualnão devem estar afastados da realidadeda pessoa com deficiência; 4) Estatutoé instrumento jurídico estático e dedifícil alteração, ao contrário da lei, queé dinâmica; 5) Um estatuto facilita con-sulta de direitos, mas também ações delobby; 6) Lobistas poderão emperraravanços no Congresso, alegando queexigem revisão do estatuto; 7) O esta-tuto se justificava quando o segmentoera minoria inexpressiva. Atualmente, aspessoas com deficiência somam 14,5%da população, organizadas em dois mo-vimentos que se complementam e con-tam com uma das legislações mais inclu-sivas das Américas.

SÚMULA é produzida a partir do acom-panhamento crítico do que é divulgadona mídia impressa e eletrônica.

EXCELENTE IDÉIA! — A Revista

Facultad Nacional de Salud Pública,da Universidad de Antioquia, Medellín,Colômbia (www.udea.edu.co/), que oRADIS recebeu em fins de maio, publi-ca em edição especial de março as“Memorias do 4º Congreso Internaci-onal de Salud Pública” (novembro/2005), cujo tema foi “Globalização,Estado e saúde”. São 149 páginas comtodas as palestras proferidas. Umapublicação assim, com a íntegra dasintervenções em conferências e con-gressos, seria de enorme utilidadepara pesquisadores e profissionais desaúde brasileiros. Uma dica: a publi-cação colombiana foi parcialmentefinanciada pela Opas/OMS.

Pelo menos os arquivos dasapresentações podem muito bem serdivulgados nos respectivos sites, jáque se trata de tecnologia ao al-cance do setor. Os organizadores da12ª Conferência Nacional de Saúde,por exemplo, prometeram que logotodas as intervenções estariam napágina da Doze na internet, o quenão aconteceu.

Também a revista Salud Publica

— Escuela de Salud Publica, Facultadde Ciências Médicas, Universidad Na-cional de Córdoba (www.unc.edu.ar)—, que em abril enviou ao RADIS suasedições de 2005, publicou númeroespecial com as intervenções nasJornadas Internacionales de SaludPublica. Como diz o diretor da escolaem editorial, “todo evento científicotem por finalidade proporcionar es-paço de participação e troca de ex-periências entre os profissionais in-teressados na temática”. É mais doque justo que, além dos participan-tes, os “interessados na temática”tenham acesso aos trabalhos apresen-tados em eventos.

RSP 40 ANOS -— Ainda no capítulo daspublicações: a Revista de Saúde Pú-

blica da Faculdade de Saúde Públicada USP comemorou seus 40 anos deexistência com uma edição especial,que contém um capítulo com os “Clás-sicos dos primeiros dez anos”: “His-tória da saúde pública no estado deSão Paulo” e “Situação da rêde pú-

blica de assistência médico-sanitáriaem São Paulo”. Com a grafia da épo-ca, claro. Parabéns à revista.

SAÚDE LEGIS NO AR — Já está dispo-nível o Sistema de Legislação em Saú-de, o Saúde Legis (www.saude.gov.br/saudelegis), com 44 mil atos normativospublicados desde 1947 no Diário Ofi-cial da União (seções 1 e 2) e nos Bo-letins de Serviço (por enquanto, es-tão disponíveis apenas os textoscompletos dos atos normativos publi-cados a partir de 2003; os anterioresserão incluídos gradativamente). Oconteúdo está num banco de dadosúnico, o que facilita a pesquisa. A con-sulta pode ser feita por tipo de nor-ma, número, data, assunto e órgão deorigem. Também será possível acessaro Saúde Legis no Portal da Saúde(www.saude.gov.br) e na BibliotecaVirtual em Saúde (www.saude.gov.br/bvs). Futuramente o sistema incluiráuma interface para pesquisas simultâ-neas no Saúde Legis e na base de da-dos da Presidência da República, queabrange leis, decretos, medidas pro-visórias etc.

ABRASCÃO: 8.380 TRABALHOS — Os10 mil profissionais cadastrados no 8ºCongresso Brasileiro de Saúde Cole-tiva (www.saudecoletiva2006.com.br),o Abrascão, e no 11º Congresso Mun-dial de Saúde Pública, em agosto, noRio de Janeiro, enviaram aos organi-zadores — a Associação Brasileira dePós-Graduação em Saúde Coletiva(Abrasco) e a Federação Mundial dasAssociações em Saúde Pública(World Federation of Public HealthAssociations) — 9.680 trabalhos. Dessetotal, apenas 1.300 foram recusados.Os restantes serão apresentados emformato pôster ou oralmente.

A.D.

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Bruno Camarinha Dominguez

e Claudia Rabelo Lopes

Adescoberta de queeram fraudes os alar-deados avanços obti-dos pela equipe do

cientista sul-coreano Woo-Suk Hwang nas pesquisas comcélulas-tronco embrionáriasobrigou a sociedade e os pró-prios pesquisadores a reve-rem as conquistas atingidasna área (Radis 42). A popula-ção se encanta com os anún-cios de que as terapias comcélulas-tronco (ver box) são

a solução para acabarcom doenças incurá-veis. Mas a impreci-

são de dados dos estu-dos, com cientistas divergindoentre si, demonstra a falta deconsenso na área. A polêmi-ca é ainda maior quando en-tram em pauta as discussõeséticas e legais. Para esclare-cer a comunidade científicasobre as possibilidades atuaisde aplicação de células-tron-co no Brasil, os limites da téc-nica e o uso seguro das tera-pias, o Projeto Ghente —Estudos sociais, éticos e ju-rídicos sobre acesso e uso degenomas em saúde —, daFiocruz, promoveu uma ofici-na, em 18 de maio, no Audi-tório do Museu da Vida.

CÉLULAS-TRONCO

Falta consenso,sobra esperançaFalta consenso,sobra esperança

A.D.

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Sob o tema “Células-tronco: Pos-sibilidades, riscos e limites no campodas terapias no Brasil”, o evento reu-niu representantes dos campos da ci-ência, da ética e do direito em trêsmesas temáticas. Logo na primeiramesa — “O estado da arte das pes-quisas e terapias com células-tronco”—, os palestrantes sentenciaram queos procedimentos com células-tron-co ainda não estão ao alcance da po-pulação. “Estamos na fase de testese a aplicação deve demorar pelo me-nos dois anos”, previu Ricardo Ribei-ro dos Santos, coordenador do Insti-tuto do Milênio de BioengenhariaTecidual da Fiocruz em Salvador. Omédico reforçou a importância dapesquisa básica, que serve para defi-nir métodos e teorias. Um históricoapresentado pelo professor AntonioCarlos Paes de Carvalho, da Universi-dade Federal do Rio de Janeiro,complementou a fala de Ricardo,mostrando que já houve pelo menostrês alterações nos paradigmas dasterapias celulares. “Trabalhos apresen-tados em 2002 já foram contestados enão têm mais validade”, resumiu.

Uma dificuldade enfrentada pe-los pesquisadores é que determina-das experiências não resultam emdados concretos. Um desses casos éo tratamento de pessoas com falên-cia do fígado, testado pela Fiocruz-Bahia em 10 pacientes que tiveramcirrose ou hepatite C. A injeção decélulas-tronco retiradas da medulaóssea na artéria hepática não gerou

expressiva melhora, mas também nãoprovocou efeito colateral, três me-ses após o procedimento. “Existeuma tendência de recuperação e,principalmente, um crescimento daqualidade de vida”, disse Ricardo,para quem ainda falta conhecimen-to para explicar quais fatores provo-caram alterações no organismo e deque modo. Ele ressaltou que as te-rapias com células-tronco podem re-presentar o fim da fila para trans-plante hepático. Entre 2004 e 2005,das 221 pessoas à espera de um doa-dor, 30 morreram antes de conseguiro transplante, citou.

Outro teste com resultado posi-tivo foi realizado pelo Hospital Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro. A insti-tuição foi a primeira do mundo atratar insuficiência cardíaca com cé-lulas-tronco de medula óssea. HansFernando Rocha Dohmann, diretor-científico do Pró-Cardíaco, contou naoficina que a pesquisa teve início compacientes com doença coronarianaavançada, que já haviam sido subme-tidos a cirurgia cardíaca e tomavamaltas doses de remédio. A injeção de

células-tronco no coração gerou umamelhora significativa: os pacientespassaram a gastar mais energia e aconsumir mais oxigênio. A isquemia foireduzida de 15% para 4,5%. Os doen-tes que sequer conseguiam concluiro almoço sem parar para descansar eprecisavam de ajuda até para tomarbanho voltaram a ser independentes.“O interessante é que muitos delesse separaram das mulheres,provavelmente porque deixa-ram de depender delas”, brin-cou, sob risadas da platéia.Hans afirmou que a melhora éconcreta, apesar de não sesaber que mecanismo levou à recu-peração: “Não pode ser efeitoplacebo, pois já dura quatro anos”.

Em suas falas, Ricardo e Hans lou-varam a iniciativa do “Estudo Multi-cêntrico Randomizado de Terapia Ce-lular em Cardiopatias”. A pesquisa, queenvolve cerca de 1.200 pacientes,está orçada em R$ 13,5 milhões, fi-nanciados pelo Ministério da Saú-de, e prevê que, ao fim dos testes,as diversas instituições envolvidasapontem a usabilidade das terapias

O que é célula-tronco

Oprofessor Antonio Carlos Paes deCarvalho, da UFRJ, abriu o even-

to dando a definição clássica de cé-lula-tronco: “Uma célula não-espe-cializada com grande potencial deauto-renovação, capaz de originar di-ferentes tipos celulares no organismo”.

Podem ser obtidas do embrião,do feto ou do adulto. As embrioná-rias são capazes de gerar qualquerum dos tipos celulares presentesnos tecidos do organismo. “Mas sua

utilização do ponto de vista clínicoainda está bastante distante, por-que precisamos ter um controle so-bre a proliferação e a diferencia-ção delas”, disse Antonio Carlos.

Já as adultas, usadas nas tera-pias, dão origem a células do mes-mo tipo. Pode haver risco de apa-recimento de tumores, por isso éessencial monitorar constantemen-te o desenvolvimento das células-tronco aplicadas nos pacientes.

Em 1998, surgiram os primeiros tra-balhos propondo que a injeção decélulas-tronco retiradas da medu-la óssea era capaz de reconstituiro músculo esquelético lesado decamundongos. Veio em seguidauma enxurrada de estudos afir-mando que determinadas células-tronco poderiam gerar não sómúsculo esquelético, como célu-las de fígado, coração, neurônios.Este paradigma prevaleceu até2002, quando descobriu-se que oque se julgava um processo detransdiferenciação era, na verda-de, fusão celular: no fígado, porexemplo, a célula-tronco injeta-da se fundia ao hepatócito, emvez de se transformar — o queenganava os pesquisadores. Atu-almente, ganha força o uso defatores como a proteína timosinab4, e não mais de células-tronco,o que não impede que haja con-senso em torno dos benefícios dainjeção de células-tronco.

Herbert Praxedes, Heloísa Helena, Renata Parca, Marisa Palácios, Maria CláudiaBrauner e Sueli Dallari: visões diversas sobre a Lei de Biossegurança

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portantes como “genitores” e “em-briões inviáveis”, o que cria confu-sões para sua aplicação. Mas avalioupositivamente a 11.105/05 porqueveda a comercialização de materiaisbiológicos provenientes de embriõeshumanos e proíbe a clonagem huma-na, a prática da engenharia genéticaem células germinais humanas, zigotos(células reprodutoras formadas peloencontro do espermatozóide com oóvulo) ou embriões.

O Decreto 5.591, também de2005, veio regulamentar as pesqui-sas com células-tronco embrionári-as, e trouxe definições que faltavamà lei. Mas a 11.105/05 foi aprovadasem que existisse legislação especí-fica ou controle sobre a atividadedas mais de 50 clínicas de reprodu-ção assistida no país, o que tem cau-sado dificuldades na identificação deembriões que atendam aos requisi-tos legais para a pesquisa. Por isso oMinistério da Saúde publicou a Por-taria 2.526/05, sobre identificaçãode embriões, e a Agência Nacionalde Vigilância Sanitária (Anvisa) apro-vou Resolução da Diretoria Colegiada(RDC 33/06) que dá os critérios paracriação e funcionamento de bancosde células e tecidos germinativoshumanos. Na palestra seguinte, abióloga Renata Parca, da Gerênciade Sangue, Outros Tecidos, Célu-las e Órgãos da Anvisa, informouque está em elaboração uma RDCque cria um cadastro nacional paracontrole e rastreamento dos em-briões criados em clínicas de ferti-lização in vitro. A matéria aguarda-va decisão do Ministério da Saúdepara ir a consulta pública ou serpublicada imediatamente.

PARTICIPAÇÃO POPULARJá a jurista Suely Dallari, da

USP, considera que portarias e re-soluções são atos importantes degoverno, mas alertou que o valordeles, no meio jurídico, é relativo:“Nossa escola ensina Direito do sé-culo 18, que diz que só a lei é quemanda; então o juiz não vai nemestar interessado em portaria, emRDC”. Suely frisou que qualquer leisó pode ser justa se for uma expres-são da vontade da sociedade em suadiversidade, o que não é o caso daLei de Biossegurança. “Se o povonão estiver participando nunca serájusto”, disse. “Estou falando issoporque o debate não foi feito, oconhecimento não foi socializado,então não estamos sendo livres paradecidir”. Ela ressaltou o papel crucialda divulgação científica no século 21

com células-tronco em pacientescom doenças do coração, forneçamtreinamento e, principalmente,apliquem o tratamento no SistemaÚnico de Saúde.

A LEI E A POLÊMICASe ainda falta muito para se che-

gar a definições nas pesquisas, a si-tuação é ainda mais complicada noque se refere aos aspectos éticose legais envolvidos na questão dascélulas-tronco. A aprovação da Leide Biossegurança (11.105/05) em ou-tubro de 2005 continua alvo de mui-ta discordância, como se viu nas me-sas-redondas da parte da tarde,quando a cordialidade não escondeuas farpas trocadas entre participan-tes. A lei surgiu para tratar da pro-blemática dos organismos genetica-mente modificados, os OGM (como asoja transgênica), questão totalmentediversa da problemática das células-tronco embrionárias — incluída na leiàs pressas, sem maiores discussões coma sociedade e os parlamentares. “Oassunto foi tratado no Congresso deforma absurda, sem debate”, afirmouo médico Herbert Praxedes, coor-

denador do Comitê de Éticaem Pesquisa da Faculdade deMedicina da Universidade Fe-deral Fluminense (UFF). “Osgrupos que se opunham foramsegregados e a mentira preva-

leceu”. Sua fala foi uma referência àatuação de pesquisadores que leva-ram deficientes físicos às galerias doCongresso para pressionar os parla-mentares a aprovarem a lei (Radis 32).

Por outro lado, a primeira pales-trante da mesa “Regulamentação daspesquisas e terapias envolvendo cé-lulas-tronco”, a advogada gaúchaMaria Cláudia Brauer, considera que

é melhor ter essa lei aprovada do quenão ter nenhuma. Especialista na áreade reprodução assistida, ela viu a in-clusão do tema das células-tronco nalei dos OGMs como a estratégia pos-sível para que pesquisas e terapias fos-sem viabilizadas naquele momento. “Sehouvesse um projeto de lei destina-do exclusivamente à legalização des-sas pesquisas, dificilmente seria apro-vado”, disse, acrescentando que “ascríticas são pertinentes, mas a situa-ção já está dada, a lei está aí”.

Eliane Moreira, jurista e coorde-nadora do núcleo de Propriedade Inte-lectual do Centro Universitário do Pará(Cesupa), tem leitura diferente. Paraela, a inclusão do tema na 11.105/05serviu como cortina de fumaça sobreo tema dos transgênicos, que era adiscussão central até então. “Ele foi,em boa medida, uma estratégia políti-ca que permitiu o deslocamento dofoco e permitiu que muita coisa alémde biossegurança, sobre transgênicos,passasse sem uma discussão concre-ta”, disse, ao abrir a mesa seguinte.

Pelo menos num ponto houveconcordância: a Lei de Biossegurançacontém grandes falhas no que dizrespeito a células-tronco embrioná-rias, o que tem levado à criação deoutros instrumentos que tentam fe-char as brechas. Para Maria Cláu-dia, esses instrumentos são avançosimportantes enquanto se aguardauma lei que efetivamente regule areprodução assistida, e representamuma “visão de compromisso” do Es-tado brasileiro com a liberdade ci-entífica, “mas com responsabilida-de e prudência”. A especialista fezum apanhado de toda a legislaçãobrasileira sobre o assunto, come-çando pela própria Lei nº 11.105/05que, para ela, não define termos im-

Radis adverte

O controle rígido docomércio da cola desapateiro, em vigordesde 15 de junho, fazbem à saúde de umpaís que se preocupacom a criança.

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e defendeu a abertura de todos osespaços possíveis para a participa-ção popular, inclusive com anúnciodas consultas públicas na televisão:“Tem que ter, como tem propagan-da de remédio fracionado”, afirmou.

A debatedora Marisa Palácios,do Núcleo de Estudos de Saúde Co-letiva da UFRJ, lembrou que, apesarde a Resolução 196 do Conselho Na-cional de Saúde, sobre pesquisas eexperiências com seres humanos,determinar o controle social, comparticipação dos usuários nos comi-tês de ética em pesquisa das insti-tuições científicas, na prática, nemsempre as coisas funcionam comodeveriam. Ela questionou se há real-mente autonomia na situação em queas pessoas consentem em participarde pesquisas com células-tronco, jáque são indivíduos em condição devulnerabilidade — problema que exi-ge senso ético ainda maior do pes-quisador. A outra debatedora, Helo-ísa Helena, da Faculdade de Direitoda Universidade do Estado do Rio deJaneiro, informou que há uma açãode inconstitucionalidade contra oArtigo 5º da Lei 11.105/05 tramitan-do no Supremo Tribunal Federal, eque o encontro poderia fornecer

Art. 5o É permitida, para fins depesquisa e terapia, a utilização decélulas-tronco embrionárias obti-das de embriões humanos produ-zidos por fertilização in vitro enão utilizados no respectivo pro-cedimento, atendidas as seguin-tes condições:

I — sejam embriões inviáveis; ou

II — sejam embriões congeladoshá 3 (três) anos ou mais, na datada publicação desta Lei, ou que,já congelados na data da publica-ção desta Lei, depois de comple-tarem 3 (três) anos, contados apartir da data de congelamento.

§ 1o Em qualquer caso, é necessá-rio o consentimento dos genitores.

§ 2o Instituições de pesquisa e ser-viços de saúde que realizem pes-quisa ou terapia com células-tron-co embrionárias humanas deverãosubmeter seus projetos à apreci-ação e aprovação dos respectivoscomitês de ética em pesquisa.

§ 3o É vedada a comercializaçãodo material biológico a que serefere este artigo e sua práticaimplica o crime tipificado no art.15 da Lei no 9.434, de 4 de feve-reiro de 1997.

dados técnicos, jurídicos e éticospara colaborar na discussão com osministros do STF.

Na mesa-redonda “Ética nas pes-quisas e terapias com células-tronco”,o palestrante Sérgio Rego, médico-sa-nitarista do Departamento de CiênciasSociais da Ensp/Fiocruz,abordou diferentes ma-neiras de compreender oâmbito da moral e da éti-ca, o que depende sem-pre do lugar que se dá aooutro nas relações soci-ais. Ele falou da dificulda-de por parte de muitospesquisadores de en-tenderem que uma pes-quisa correta científicae metodologicamentenão é necessariamenteética. “Bom senso e boaintenção todo mundotem, todos querem fa-zer o melhor”, disse, ex-plicando que, ao se discutir aeticidade de uma pesquisa, é impor-tante enfatizar que não se avalia ocaráter das pessoas, e sim a pesquisaem si mesma, o que significa desviaro foco da moralidade do agente epassar a discutir a moralidade dos atospropriamente ditos. Declarando-se di-abético e pai de uma criança com pa-ralisia cerebral, Sérgio observou quehouve um “acordo negociado” naaprovação da Lei de Biossegurança.Segundo o médico, aqueles “direta-mente interessados” na questão — nocaso, as pessoas com deficiências eproblemas de saúde que esperampoder ser tratadas com células-tron-co no futuro — têm que estar pre-sentes às negociações.

Numa fala contundente, a médi-ca Marilena Corrêa, do Instituto deMedicina Social da Uerj, criticou o“modelo do milagre” e discordou deque tenha havido consenso na aprova-ção da 11.105/05: “A aliança que par-te da comunidade científica fez comruralistas para a aprovação da lei foiimoral”, declarou, acrescentandoque se tratou de uma “atuação ne-fasta dos cientistas” em termos doque se quer para a consolidação dosdireitos e da democracia no país. Emoutra linha de pensamento, o médi-co Arnaldo Pineschi, do Conselho Re-gional de Medicina do Rio de Janei-ro, apontou um forte fundamentoreligioso no impasse em torno daspesquisas e do uso terapêutico dascélulas-tronco embrionárias. Elequestionou até que ponto se devedeter o avanço das ciências emnome de visões estritamente reli-

giosas ou filosóficas, defendendoque a moral e a ética têm que evo-luir e se adaptar.

Outra fonte de células-tronco,já muito usada em transplantes demedula, é o sangue do cordão umbi-lical, assunto da palestra da médica

Marlene Braz, do Instituto FernandesFigueira (IFF/Fiocruz). Ela falou daimportância das doações aoBrasilcord — banco público de cé-lulas de cordão umbilical —, que in-tegra rede internacional cri-ada pela Organização Mundialde Saúde em 2004. Por essarede, aproximadamente 4 milpessoas já receberam trans-plantes no mundo, enquantoos transplantes autólogos — feitoscom células do cordão da própriapessoa — foram apenas cinco.

Marlene mostrou ainda como osbancos de células privados fazem pro-paganda irregular, apelativa e enga-nosa, induzindo pais a fazerem gastosdesnecessários em armazenamentode cordão umbilical (Radis 31). Umaestratégia é alegar que as célulaspoderão ser usadas por outra pes-soa da família. Pela RDC 153 da Anvisa,no entanto, o material armazenadonos bancos privados é de uso ex-clusivo do próprio doador. Uma re-presentante da Anvisa esclareceuque o Brasilcord pode receber do-ações para uso aparentado se hou-ver indicação terapêutica. Muitospais pagam até R$ 4 mil para conge-lar as células dos filhos em bancosprivados. Provavelmente não sabemque elas só poderão ser emprega-das no doador enquanto ele tiveraté 50 quilos, e que a probabilidadede uso é irrisória. “O futuro do fu-turo do futuro é vendido como rea-lidade”, disse Marlene.

Mais informaçõesProjeto Ghente www.ghente.org

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COMISSÃO NACIONAL SOBRE DETERMINANTES SOCIA I S DA SAÚDE

Compromissocom a ação

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*Secretário executivo da Comissão

Nacional sobre Determinantes Sociaisda Saúde (CNDSS)

Alberto Pellegrini Filho*

As três linhas de ação da Co-missão Nacional sobre Deter-minantes Sociais da Saúde(CNDSS), produção de infor-

mações e conhecimentos, apoio e ava-liação de políticas e mobilização soci-al, se articulam em torno de um eixocomum que é o compromisso com aação. Entende-se esse compromissocomo a promoção de políticas em fa-vor da eqüidade em saúde, as quais seapóiam em dois pilares fundamentais:as evidências científicas e a participa-ção social. O ex-diretor-geral da OMSDr. Lee Jong Wook, ao propor a cria-ção da Comissão sobre DeterminantesSociais da Saúde da OMS, disse que o

objetivo da comissão era transformaro conhecimento em ação, ou seja, uti-lizar a evidência científica como umaalavanca para a mudança de políticas.

Não se trata de um desafio trivial.Se fizermos uma comparação entre aprática clínica e a definição de políti-cas para a eqüidade em saúde basea-das em evidências, encontraremos di-ferenças significativas. Apesar dasaparentes “facilidades” de implantaçãoda medicina baseada em evidências, emcomparação às dificuldades para a ado-ção de políticas públicas de combateàs iniqüidades baseadas em evidênci-as, não é assim tão fácil convencer osprofissionais de saúde a abandonarpráticas que, embora consagradaspelo uso, se mostram inefetivas oudanosas à luz das evidências científi-cas. Tampouco é fácil convencê-los aadotar novas práticas cuja eficácia eefetividade são plenamente comprova-das por reiterados estudos.

Apesar das dificuldades, a CNDSSpretende enfrentar esse desafio,apoiando a definição de políticas vol-tadas para a promoção da eqüidadeem saúde em estudos sobre as rela-ções entre DSS e a situação de saú-de que busquem identificar “pontosvulneráveis” sobre os quais devemincidir as intervenções para a supera-ção de iniqüidades. Pretende tambémrecoletar, analisar e divulgar experi-ências exitosas, assim como promovero aprimoramento de metodologias deavaliação de intervenções. Tudo issoevidentemente deve ser feito em es-treita colaboração com instituiçõesgovernamentais e não-governamen-tais, públicas e privadas, mobilizandopesquisadores, gestores, represen-tantes da sociedade civil organizadae o público em geral.

As intervenções sobre os DSSpodem se dar em diferentes níveis,como veremos a seguir:

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INTERVENÇÕES INDIVIDUAISVERSUS

INTERVENÇÕES POPULACIONAIS

As estratégias de promoção e pro-teção da saúde privilegiam a atuaçãosobre os fatores de risco individuais,principalmente entre os indivíduos maisexpostos ao risco. Freqüentementeestas estratégias de aconselhamentoindividual são pouco eficazes, porquenão levam em conta determinantessociais como fatores culturais, porexemplo. É muito difícil que alguémdeixe de fumar ou de comer gordu-ras saturadas quando todos a sua vol-ta, parentes e amigos o fazem. Se tra-tar de comer de maneira diferente,provavelmente será visto como excên-trico ou hipocondríaco. Muito maiseficaz seria a adoção de medidaspopulacionais que diminuíssem esseshábitos na população em geral.

Além disso, os fatores de riscoindividuais, como o hábito de fumar,o colesterol alto, a obesidade etc.,não são condições nem necessáriasnem suficientes para causar deter-minadas doenças. Por esta razão, éàs vezes difícil para o leigo entenderesse conceito. Todos conhecem umparente ou um amigo com 80 anos,fumante e amante de um bom bife,que goza de plena saúde, enquantoum outro conhecido não-fumante esempre preocupado com a dieta e oexercício morreu de infarto domiocárdio aos 50 anos.

Talvez a analogia que mais facilita acompreensão do conceito de fator derisco é a loteria. Evidentemente umapessoa que comprou cinco bilhetes temmaior probabilidade de ganhar em com-paração a outra com apenas um bilhe-te. No entanto, nada impede que esteúltimo ganhe o prêmio. Mais ainda,como o número de pessoas com ape-nas um bilhete é muito maior, a proba-bilidade de o vencedor ter apenas umbilhete é também muito maior. Voltan-do a um exemplo de saúde, tomemos arelação entre síndrome de Down e ida-de materna. Mães abaixo de 30 anos têmindividualmente um risco mínimo degerar um filho com síndrome de Down(0,7 por mil nascimentos), enquantopara mães entre 40-44 anos há um altorisco (13,1 em mil nascimentos), e ascom 45 e mais, um risco maior ainda(34,6 por mil nascimentos). Aconteceque pelo fato de as mães abaixo de30 anos serem muito mais numerosas,elas geram 50% dos casos de síndromede Down, enquanto as mães comidade entre 40 e 44 geram 11% e asde 45 e mais, apenas 2% dos casos,conforme o artigo “Sick individuals

and sick populations” (InternationalJournal of Epidemiology, 1985).

Preocupar-se somente com aspessoas mais expostas aos fatores derisco é, portanto, pouco eficaz quan-do se quer diminuir a incidência dedeterminadas doenças em uma popu-lação, já que as causas das incidên-cias a nível populacional em geral es-tão relacionadas aos determinantessociais que exigem intervençõespopulacionais. Em “Social class andcoronary heart disease” (BritishHeart Journal, 1981), de Rose G. eM. Marmot, observa-se a distribui-ção da pressão arterial sistólica nosfuncionários públicos de Londres eem povos nômades do Quênia. Osmédicos e sanitaristas londrinos emgeral não costumam se preocuparcom a distribuição da pressão arte-rial ao nível populacional. Preocu-pam-se sim com os casos mais críti-cos, perguntando-se por que essesindivíduos têm pressão alta e pro-curando tratá-los dessa condição.Se a pergunta fosse outra — ou seja,por que os quenianos não têm pres-são alta como os londrinos? — suas es-tratégias de intervenção seriam total-mente diferentes. Procurariam agirtambém em nível populacional sobredeterminantes mais gerais, com um im-pacto muito maior na saúde geral dapopulação.

Outro exemplo interessante podeser encontrado num clássico traba-lho de Michael Marmot [o presiden-te, na OMS, da comissão de DSS] so-bre funcionários públicos londrinos.Marmot observou que se fixarmoscomo 1 o risco relativo de falecerpor doença coronariana para funci-onários da administração de maisalto nível na hierarquia, os funcio-nários de níveis hierárquicos inferi-ores, como profissional/executivo,atendentes e outros teriam respec-tivamente risco relativo 2,1; 3,2 e 4ou, aproximadamente, duas, três equatro vezes maior risco de morrerpor doença coronariana. Marmot pro-curou a explicação dessas diferençase encontrou que os fatores de riscoindividuais, como colesterol, hábito defumar, hipertensão arterial e outrosexplicavam apenas uma pequena par-te do problema. É certo que todosesse fatores de risco crescem na me-dida em que descemos na escala hie-rárquica, com exceção do colesterol,mas explicam apenas cerca de 35-40%da diferença. A que se devem entãoos outros 60-65%?. Vários estudos mos-tram que gradientes observados nasituação de saúde entre diferentesestratos sociais têm a ver com aspec-

tos materiais relacionados à renda e àposse de determinados bens, mas temtambém muito a ver com a vivência desituações estressantes no bairro e noambiente domiciliar, com pouca expe-riência de relações de solidariedade,com raras oportunidades de “relaxar”em atividades de lazer e com outroselementos relacionados ao bem-estar.Estudos sobre a trama de relaçõesentre experiências psicossociais sub-jetivas e aspectos relacionados à or-ganização social vêm permitindo co-meçar a entender como a saúde éafetada por essas relações.

Com todo o anterior, fica claroque, se procurarmos diminuir as iniqüi-dades no risco de morrer por enfermi-dade coronariana dos funcionários in-gleses buscando apenas mudanças decomportamento, o efeito será bastan-te limitado. Para um maior impacto serátambém necessário atuar principalmen-te sobre as desigualdades nas condi-ções de vida desses funcionários. É bomlembrar que, para doença coronariana,assim como para câncer de pulmão eAids, conhecemos relativamente bemos fatores de risco individuais. O mes-mo não ocorre para um grande núme-ro de outras doenças, o que diminuiainda mais o efeito se nos limitarmos aatuar sobre estes fatores.

NÍVEIS DE ATUAÇÃOSOBRE OS DETERMINANTES

SOCIAIS DA SAÚDE

Se tomarmos um modelo propos-to por Whitehead e Dahlgren paraclassificar os determinantes da saú-de, observamos uma gradação desdeos macrodeterminantes relacionados àsestruturas socioeconômicas e culturaisde uma sociedade até os determinantesindividuais relacionados à biologia deum determinado indivíduo.

É muito difícil estabelecer umcorte que nos permita separar cla-ramente o que são determinantessociais e o que são determinantesindividuais. Já vimos anteriormenteque os estilos de vida individuaisnem sempre correspondem a umalivre escolha dos indivíduos, já queos hábitos de fumar, beber, fazerexercício, praticar sexo seguro etc.estão claramente condicionados pordeterminantes sociais, culturais oueconômicos. As próprias caracterís-ticas biológicas do indivíduo, comoidade, sexo ou raça, terão repercus-são sobre a sua saúde dependendoda maneira como a sociedade atri-bui papéis funcionais diferenciaisaos indivíduos de acordo com essascaracterísticas.

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Esta distinção é importante, poispermite distinguir entre desigualdadese iniqüidades. Evidentemente, as con-dições de saúde de um grupo de jo-vens comparadas às de um grupo deidosos será diferente; o mesmo se podedizer se compararmos um grupo dehomens a um grupo de mulheres, cadaum com doenças próprias do gênero.Trata-se de desigualdades que aceita-mos como naturais. Diferente é o casode desigualdades na saúde de homense mulheres, com evidente prejuízo deum ou de outro grupo, ocasionadas pelacondição de pertencer a um determi-nado gênero, ou seja, devido aos pa-péis diferenciais que a sociedade atri-bui a indivíduos de acordo com o sexo.Estamos então diante de desigualdadesque não são naturais, são socialmentedeterminadas e que devem ser comba-tidas por serem injustas e evitáveis.

O modelo proposto por White-head e Dahlgren permite identificarquatro níveis de atuação não-exclu-dentes e inter-relacionados sobre osquais podem incidir políticas e progra-mas que buscam combater as iniqüida-des, atuando sobre os determinantessociais da saúde:

• Um primeiro nível é o individual,consistindo no fortalecimento ouempowerment dos indivíduos. Trata-se de apoiar pessoas em circunstân-cias desfavoráveis ou fortalecer suacapacidade de decisão para enfren-tar as influências advindas de outrosníveis de determinação. Principalmentepela informação e a motivação, essasestratégias buscam apoiar mudançasde comportamento em relação aosfatores de risco pessoais ou lidar me-lhor com as influencias negativasadvindas de suas condições de vida etrabalho. Alguns exemplos incluemeducar pessoas que trabalham emcondições monótonas a lidar com oestresse; aconselhar pessoas que setornam desempregadas para ajudar aprevenir o declínio da saúde mentalassociado a essa condição; e clínicaspara parar de fumar. Os serviços deaconselhamento para pessoas desem-pregadas não reduzirão a taxa de de-semprego, mas poderão melhorar ospiores efeitos do desemprego sobre asaúde e prevenir maiores danos.

• O segundo nível corresponde às co-munidades e suas redes de relações.Estudos vêm demonstrando que um dosprincipais mecanismos pelos quais asiniqüidades de renda produzem umimpacto negativo na situação de saúdeé o desgaste dos laços de coesão soci-al, a debilidade das relações de solida-

riedade e confiança entre pessoas egrupos que são fundamentais para apromoção e a proteção da saúde indi-vidual e coletiva. Estas relações sãotambém fundamentais para o combateà pobreza, já que, além da falta de aces-so a bens materiais, a pobreza é tam-bém a falta de oportunidades, de pos-sibilidades de opção, de voz frente àsinstituições do Estado e da sociedadee uma grande vulnerabilidade a impre-vistos. Além da geração de oportuni-dades econômicas, o combate à po-breza deve também incluir medidas quefavoreçam a construção de redes deapoio e o aumento das capacidades dosgrupos desfavorecidos para estreitarsuas relações com outros grupos, parafortalecer sua organização e participa-ção em ações coletivas, para consti-tuir-se enfim em atores sociais e ativosparticipantes das decisões da vida so-cial. Esse nível de atuação tem, por-tanto como foco, a união das comuni-dades em desvantagem para obter apoiomútuo e dessa maneira fortalecer suasdefesas contra os danos na saúde.

• O terceiro nível se refere à atua-ção das políticas sobre as condiçõesfísicas e psicossociais nas quais aspessoas vivem e trabalham, bus-cando assegurar um melhor aces-so a água limpa, esgoto, habita-ção adequada, emprego seguro erealizador, alimentos saudáveis enutritivos, serviços essenciais desaúde, serviços educacionais e debem-estar e outros. Essas políticas sãonormalmente responsabilidade de se-tores distintos, que freqüentemente

operam de maneira independente,obrigando o estabelecimento demecanismos que permitam uma açãointegrada.

• O quarto nível de atuação se referea mudanças macroeconômicas e cul-turais que visem promover um desen-volvimento com melhor distribuiçãode seus frutos, reduzindo as desigual-dades e seus efeitos sobre a socieda-de. Neste nível se incluem políticasmacroeconômicas e de mercado detrabalho, de fortalecimento dos valo-res culturais e de proteção ambiental.

A CNDSS deve promover interven-ções nesses diversos níveis de deter-minações, tendo como objetivo cen-tral a promoção da eqüidade emsaúde e articulando suas diversas li-nhas de ação em torno desse objeti-vo comum. Conta para isso com di-versos elementos facilitadores, entreeles a pluralidade e a diversidade deseus integrantes, o que facilita a ne-cessária mobilização de diversos seto-res da sociedade. Outro importanteelemento facilitador é sua articulaçãocom o Grupo de Trabalho Intersetorial,

composto por representantesde diversos ministérios do go-verno federal e das secretariasestaduais e municipais de saú-de, que deve possibilitar a co-ordenação de políticas nos di-versos níveis.

Mais informaçõesÍntegra do artigo no site da CNDSS(www.determinantes.fiocruz.br)

Convocação aos pesquisadores

Três editais importantes do Mi-nistério da Saúde, em parceria

com o CNPq, para pesquisas emDeterminantes Sociais da Saúde:

1º) Pesquisas sobre DSS, abordandorelações entre as condições de vidae a saúde da população, sobre saú-de da pessoa com deficiência, ava-liando a atenção prestada a essesegmento, conhecimento básico eavançado sobre saúde da popula-ção negra, e saúde da populaçãomasculina. Recursos: R$ 10 milhões.Prazo de inscrição: 27/7. Íntegra:www.cnpq.br/servicos/editais/ct/2006/edital_0262006.htm

2º)Pesquisa sobre doenças negligen-ciadas, com apoio a projetos quecontribuam para o avanço das ações

públicas de melhoria das condiçõesde saúde e a superação de desi-gualdades. Recursos: R$ 20 milhões.Prazo de inscrição 1ª etapa: 16/7.Íntegra: www.cnpq.br/servicos/editais/ct/2006/edital_0252006.htm

3º) Estudos epidemiológicos em po-pulações expostas à contaminaçãoambiental, com orçamento de R$3,5 milhões — R$ 500 mil para cadaprojeto. Há sete linhas de apoio,para temas como agrotóxicos noNordeste, postos de combustível noSudeste, exposição à mineração emSanta Catarina; projetos genéricosno Pará, no Amapá e em Mato Gros-so e exploração de petróleo emCampos (RJ). Propostas até 27/7.Íntegra: www.cnpq.br/servicos/editais/ct/2006/edital_0242006.htm

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Wagner Vasconcelos

Nos idos de 1987,quando os Titãs per-guntavam “você temfome de quê?”, cobra-

vam de um Brasil recém-democratiza-do ações imediatas para a saúde e a qua-lidade de vida da população. Os titânicosacordes ainda reverberam, duas déca-das depois, igualmente desafiadores. Ago-ra, nossos representantes no CongressoNacional se dedicam a debater a Losan,apelido da aguardada Lei Orgânica de Se-gurança Alimentar e Nutricional. Seusobjetivos: assegurar o direito à alimenta-ção a todas as pessoas, definir seguran-ça alimentar, implantar um princípio desoberania alimentar e difundir um cará-ter intersetorial para a segurança alimen-tar e nutricional no Brasil.

E que não se pense que a tramitaçãoestá apenas começando. Na verdade, oprojeto já passou por todas as comissõesindicadas da Câmara dos Deputados — asde Trabalho, Administração e Serviço Pú-blico, de Seguridade Social e Família e deConstituição e Justiça e de Cidadania.Por ser de caráter conclusivo, não che-gará ao plenário. Sua aprovação, por-tanto, dependerá da apreciação do Se-nado, para onde a proposta seguiu.

A criação da Lei Orgânica de Se-gurança Alimentar e Nutricional terárepercussões práticas e simbólicas.Práticas porque estabelece e definecritérios sobre as políticas que o paísdeve implementar para acabar de vezcom a chaga da fome. E simbólicas por-que coloca no centro de discussõesum tema tão caro ao país, mas pormuito tempo negligenciado.

Por isso, está sendo tão festejadapelo professor Renato Maluf, titular dacadeira de Desenvolvimento Agrícola eSociedade, da Universidade FederalRural do Rio de Janeiro, integrante dacoordenação do Fórum Brasileiro deSegurança Alimentar e Nutricional econselheiro do Consea (Conselho Na-cional de Segurança Alimentar eNutricional). Ele foi um dos articuladoresdo Projeto de Lei 6.047/05, que cria oSistema Nacional de Segurança Alimen-tar e Nutricional (Sisan) e que, se apro-vado, receberá o nome de Losan.

“A Losan consagra algo sagrado”, dizRenato, referindo-se ao Artigo 2º do pro-jeto, que determina: “Alimentação ade-quada é direito fundamental do ser hu-

Lei de Segurança alimentar

mano, inerente à dignidade da pessoahumana e indispensável à realização dosdireitos consagrados na Constituição Fe-deral, devendo o poder público adotaras políticas e ações que se façam ne-cessárias para promover e garantir asegurança alimentar e nutricional dapopulação”. O Sisan será integrado peloConsea e pela Câmara Interministerialde Segurança Alimentar e Nutricional.Essas instâncias deverão definir as polí-ticas a serem implementadas e acom-panhadas pelo Sisan.

DRAMA QUANTIFICADOProblema secular, a falta de comi-

da na mesa do brasileiro exibe sua car-ga dramática no noticiário sobre a fomenas mais diversas regiões do Brasil. Eesse drama já está quantificado. Nasegunda quinzena de maio, o InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística(IBGE) divulgou pesquisa traçando per-fil inédito da fome no Brasil. E chegoua dados surpreendentes, como o deque 72 milhões de brasileiros enfren-tam situações de insegurança alimen-tar. O número equivale às populaçõesda França e de Portugal somadas!

É importante salientar que essa in-segurança tem graus que variam entreleve, moderado e grave. As modalidadesmoderada e grave significam limitaçãode acesso quantitativo aos alimentos,com ou sem situação de fome. Mesmoassim, os números revelam um panora-ma incômodo: 39,5 milhões de pessoasestão nessa situação. É uma Espanha!

Outros dados da pesquisa confir-mam as disparidades sociais entre asregiões brasileiras. Se na Região Sul76,5% dos domicílios têm acesso à ali-mentação, tanto em termos quantita-tivos quanto qualitativos, no Nordesteesse acesso cai para 46,4% dos domicí-lios. Os domicílios com crianças apre-sentam mais situações de insegurançaalimentar. De acordo com a pesquisa,moram neles 50,4% da população de 0a 4 anos de idade. Esses índices caemà medida em que aumenta a faixa etária.

Também importantes os dados re-ferentes à cor da população: no Brasilviviam, em 2004, em situação de insegu-rança alimentar grave, 11,5% da popula-ção preta ou parda, sendo que esta pro-porção era de 4,1% entre os brancos. Apopulação com garantia de acesso aos

A gente nãoquer só comida

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alimentos em termos qualitativos e quan-titativos, ou seja, que vivia em domicíli-os em condição de segurança alimen-tar era de 71,9% entre os brancos ede 47,7% entre os pretos ou pardos.(A íntegra da pesquisa pode ser con-sultada no site do IBGE, no endereçowww.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2004/supla l imentar2004/default.shtm)

Dados como estes reforçam a ne-cessidade — e sobretudo a urgência —da aprovação da Lei Orgânica de Segu-rança Alimentar e Nutricional. A inicia-tiva de criá-la surgiu em março de 2004,a partir de uma deliberação da 2ª Con-ferência Nacional de Segurança Alimen-tar e Nutricional, em Olinda (PE). De lápara cá, a idéia veio sendo amadurecidaaté resultar no projeto elaborado peloConsea e encaminhado à Casa Civil, queo enviou ao Congresso.

O SUS COMO INSPIRAÇÃOSegurança alimentar não é uma ba-

talha recente no Brasil. O tema já es-tava em pauta desde o governo ItamarFranco, lá no início dos anos 90, se-gundo Renato Maluf. Hibernou por umcerto tempo e, agora, voltou à cena.Houve avanços, é claro, como no casoda alimentação escolar, como destacaRenato. Mas ainda estamos longe deter razões para festejar o fim da fomeno país. Afinal, casos de desnutrição eobesidade também se mostram em pa-tamares preocupantes.

Entendendo a segurança alimen-tar como um tema transversal, o cará-ter intersetorial da Losan tem por objeti-vo estimular o diálogo inclusive com aSaúde, assim como com a sociedade civil,seja por meio de organizações não-go-vernamentais, seja pela iniciativa privada.

A lei também se inspirou no Siste-ma Único de Saúde (SUS) ao sugerir acriação de conselhos estaduais e muni-cipais que garantam o controle socialda área. E há outros princípios do SUSpresentes na Losan. Está lá, no Inciso Ido Artigo 7º do projeto: “Universalida-de e eqüidade no acesso a uma alimen-tação adequada, sem qualquer espéciede discriminação”. E também diretrizescoincidentes, como revela o Inciso II doArtigo 8º: “Descentralização das ações earticulação, em regime de colaboração,entre as esferas de governo”. O SistemaNacional de Segurança Alimentar eNutricional ainda prevê conferênciasnacionais, e afirma que essas conferên-cias serão convocadas com periodicida-des não superiores a quatro anos.

Apesar de inédita no mundo, aLosan não é muito detalhada — o que,segundo Renato, é um artifício para

agilizar a tramitação da proposta. O pro-jeto, por exemplo, não determina açõesvoltadas especialmente às populaçõesmais afetadas pela fome, como as comu-nidades indígenas, quilombolas ou demoradores de áreas pobres das regiõesNorte e Nordeste. “O enfoque diz res-peito à população de forma mais ampla,pois não queremos apenas políticas deerradicação da fome: este é só um doscomponentes de uma política de segu-rança alimentar”, diz Renato Maluf. Detoda forma, o Inciso III do Artigo 4º refor-ça que, como integrante da segurançaalimentar está “a promoção da saúde,da nutrição e da alimentação da popu-lação, incluindo-se grupos populacionaisespecíficos e populações em situaçãode vulnerabilidade social”. Ações espe-cíficas, portanto, terão o respaldo daLosan para sua implementação.

POSIÇÃO ESTRATÉGICAE o dinheiro? Pois é, ao contrário

do que ocorre com o SUS, o sistemade segurança alimentar e nutricionalainda não entrou na batalha por di-nheiro. Mas se alguém acha que issofoi esquecimento, enganou-se. TantoRenato Maluf quanto o presidente doConsea, Francisco Menezes (ver en-trevista na página ao lado), asseguramque essa posição inicial é estratégica,pois, como se trata de uma área naqual os projetos ainda estão se con-solidando, não determinar valores deinvestimento seria uma forma de evi-tar possíveis contingenciamentos.

Para assegurar a eficiência e a efi-cácia de uma política de segurança ali-mentar e nutricional, a Losan se preo-cupa em tornar abrangente seu campode atuação, incluindo nele o meio am-biente e as questões relacionadas àqualidade de vida. Por isso, defende aconservação da biodiversidade e a uti-lização sustentável dos recursos natu-rais. Da mesma forma, trata da produ-ção de conhecimento e acesso àinformação e da “garantia da qualida-de biológica, sanitária, nutricional etecnológica dos alimentos, bem comoseu aproveitamento, estimulando práti-cas alimentares e estilos de vida saudá-veis que respeitem a diversidade étnicae racial e cultural da população”.

A mobilização em prol da Losan égrande, mas, como em todos os casosde leis dessa natureza, requer a partici-pação de toda a sociedade. Em 24 demaio, último dia do Encontro Nacionalde Segurança Alimentar e Nutricional,Maria Nakano, viúva do sociólogo Betinho— um dos grandes incentivadores dasquestões ligadas à segurança alimentar— entregou ao senador Eduardo Suplicy(PT-SP) abaixo-assinado com 11 mil assi-

naturas para pressionar os parlamenta-res a aprovarem a lei. O senador prome-teu entregar o documento ao presiden-te do Senado, Renan Calheiros, e aospresidentes das comissões de Constitui-ção e Justiça e de Direitos Humanos eLegislação Participativa, senadores Antô-nio Carlos Magalhães (PFL-BA) e CristovamBuarque (PDT-DF), respectivamente. Asassinaturas foram fruto do trabalho doConsea e de todos os conselhos estadu-ais de segurança alimentar.

A entrega do abaixo-assinado fezparte das atividades do ato público deapoio à lei orgânica, promovido no Au-ditório Petrônio Portela, no Senado. Esseato, por sua vez, fez parte do encontronacional, realizado no Hotel Saint Paul,em Brasília, e que reuniu 400 pessoas.Ao ato estiveram presentes o ministrodo Desenvolvimento Social e Combate àFome, Patrus Ananias, o presidente doConsea, Chico Menezes, a secretária-executiva do MDS, Márcia Lopes, e pre-sidentes de conselhos estaduais de se-gurança alimentar e nutricional.

PRIORIDADE NAAGENDA PÚBLICA

Durante o evento, foram avalia-dos os programas já existentes na áreae discutidas formas de avançar naimplementação das políticas de segu-rança alimentar e nutricional. Con-cluindo o encontro, os participanteselaboraram declaração que foi enca-minhada ao presidente da República.No texto, destacaram avanços nocampo da segurança alimentar enutricional, como o fato de o temaestar colocado “como uma questão deinteresse social e prioridade na agen-da pública do país, com uma compre-ensão orientada pelo direito humanoà alimentação adequada e saudável epela busca da soberania alimentar”.

O documento também destacoudesafios como o da “adoção de políti-cas que promovam um crescimento eco-nômico assentado na geração de em-prego e oportunidades de trabalho nacidade e no campo, reduzindo as desi-gualdades sociais e afirmando o prima-do da soberania em relação aos demaisinteresses nas relações internacionais”.

Assim como ocorre com os proje-tos relacionados à saúde, espera-se queuma mobilização de diversos segmen-tos sociais faça com que a proposta daLosan seja aprovada o mais rapidamen-te possível. E que, como pede a músi-ca dos Titãs, a gente tenha, de formaplena, “comida, diversão e arte, a gen-te quer a vida como a vida quer, a gen-te quer dinheiro e felicidade, a gentenão quer só dinheiro, a gente quer in-teiro e não pela metade...”

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ENTREVISTA

Aiminência da aprovação do pro-jeto de lei que cria a Losan estádeixando em estado de euforiaos militantes do combate à

fome no Brasil. Um desses entusiastasé o presidente do Conselho Nacionalde Segurança Alimentar e Nutricional(Consea), Francisco Menezes — maisconhecido como Chico Menezes, an-tes pesquisador e diretor do InstitutoBrasileiro de Análises Sociais e Econô-micas (Ibase), fundado pelo sociólogoBetinho — o criador da campanha bra-sileira contra a fome.

Em meio ao corre-corre que mar-cou o Encontro Nacional de Seguran-ça Alimentar e Nutricional, de 22 a 24de maio, em Brasília, Chico falou so-bre o avanço que a Losan representa-rá para instâncias como o conselhoque preside, sempre tão vulneráveis aoscilações e conveniências políticas,explicou por que a Losan não tratade orçamento e disse acreditar numamobilização ampla para tornar o temada segurança alimentar e nutricionalpresente na vida de cada brasileiro.

O que representa uma lei como a Losan?O objetivo, quando se apresentou

essa lei orgânica, é organizar o sistema.Porque hoje temos programas e açõesmuito fragmentados, até localizadoscorretamente nos devidos ministérios esecretarias, mas sem articulação. Ao ladodisso, o aparato institucional, do qual opróprio Consea é uma das instâncias,não tem uma sustentabilidade. OConsea foi criado por decreto e ficamuito exposto, sobretudo em situaçõesde troca de governo, exatamente pornão estar dentro de estatuto de lei. Alei trabalha muito a perspectiva daintersetorialidade. Por causa disso,estamos propondo a criação de umacâmara interministerial, a ser presididapelo mesmo ministro que faz a secreta-ria do Consea, que possibilitasse, no âm-bito do governo, essa articulação que agente acha que ainda está frágil.

Há também a questão da segurançaalimentar como direito humano...

Sim, outro ponto importante é oaspecto do direito humano à alimen-tação, que está desde o início colo-cado no texto da lei e que represen-ta um avanço porque a questão dodireito à alimentação não é citada nalegislação brasileira. É um primeiromomento, e isso aparece com a pers-pectiva de futuramente fazer-se umaalteração na Constituição incorporan-do esse direito humano, que é um di-reito fundamental. Que a lei propicieo rompimento dessa fragmentação eque se possa falar numa política naci-onal de segurança alimentar. Isso sig-nifica justamente essa política articu-lada com diversos planos e ações.

Como está a receptividade da pro-posta entre os parlamentares?

Até agora tem sido muito boa. Elesentendem bem a necessidade de or-ganização do sistema, tanto que nósconsideramos que a tramitação na Câ-mara dos Deputados foi bastante rápi-da. Ela entrou em outubro na Câmarae no princípio de maio teve aprovaçãona última comissão. Como o governoenviou a proposta como prioritária,pôde-se evitar o envio ao plenário, ace-lerando o processo. Temos uma preo-cupação, que é esse ano eleitoral, emque as atividades tendem a se reduzirno segundo semestre e a trazer difi-culdades para a tramitação. Mas, dequalquer forma, acredito que se hou-ver uma compreensão dos senadorese uma mobilização da sociedade, pelomenos da sociedade conhecedora dotema, temos condições de aprová-laainda neste mandato.

A sociedade ainda desconhece o queé segurança alimentar e nutricional.Como trabalhar para aumentar esseconhecimento?

Isso vai ser um processo gradativo,mas acho que estamos avançando.Avançamos muito se pensarmos nos

tempos mais recentes. Hoje, pessoasque não estão diretamente envolvi-das com a questão da segurança ali-mentar já se referem a isso em diver-sas situações. Então, acho que éinsistindo, trabalhando o tema. E aí amídia tem uma importância muitogrande, assim como as instituiçõesacadêmicas e de pesquisa tambémtêm importância muito grande na di-vulgação e discussão desse tema. Eacho que gradativamente isso vai sen-do incorporado à vida da sociedade.

A Losan não fala em orçamento...Isso foi proposital. Não quisemos

fixar orçamento porque, na verdade,os programas e as ações já têm seusorçamentos. Achamos que se estabe-lecêssemos um orçamento dentro dalei orgânica poderia significar depoisrestrições, inclusive orçamentárias,dado que podemos ter no futuro ca-pacidade até de ampliação desse or-çamento. Então, preferimos trabalharsem entrar nesse tema, sem criar maisum fundo, como constantemente sefaz, para preservar, dessa maneira, oque já foi conquistado a partir desseprograma. (W. V.)

Chico Menezes

“A alimentação é umdireito fundamental”

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A.D.

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ENDEREÇOS

EVENTOS

9º ENCONTRO NACIONAL

DE ALEITAMENTO MATERNO

Com foco no tema “Aleitamentomaterno: Conquistando saúde,

protegendo a vida”, o evento estámarcado para Porto Alegre, entre 3 e6 de setembro de 2006. A organiza-ção caberá à Ibfan (Rede Internacio-nal em Defesa do Direito de Amamen-tar) da capital gaúcha, em associaçãocom várias entidades: Grupo Amigasdo Peito (Rio de Janeiro), La LecheLeague de Maceió, World Alliance toBreastfedding Action, Associação Bra-sileira de Profissionais de Bancos deLeite Humano. Mais de 90 palestrantesnacionais e internacionais são espe-rados, além de 1.200 participantes.Data 3 a 6 de setembro de 2006Local Salão de Atos da Reitoria daUFRGS, Porto AlegreMais informaçõesTel. (51) 2108-3111E-mail [email protected] http://www.enam.org.br/

5º CONGRESSO INTERNACIONAL DE

SAÚDE MENTAL E DIREITOS HUMANOS

Organizada na Argentina paralela-mente ao 1º Fórum Social de Saú-

de Coletiva e Direitos Humanos e aoTerceiro Encontro Internacional deLuta Antimanicomial, a quinta ediçãodo congresso, de 16 a 19 de novem-bro de 2006, terá lugar na UniversidadPopular Madres de Plaza de Mayo,Buenos Aires, Argentina. O evento édestinado a trabalhadores da saúdemental, militantes sociais, professo-res, educadores populares, estudan-tes, intelectuais e artistas que bus-cam criar “novas vidas e novosmundos”. Os participantes são con-vidados a construir coletivamente umespaço fraterno para troca de expe-riências entre os que “pensam o quefazem para fazer o que pensam”.Data 16 a 19 de novembro de 2006Local Universidad Popular Madres dePlaza de Mayo (Hipólito Yrigoyen,1.584), Buenos AiresMais informaçõesTel. (5411) 4383-0377/6430Fax (5411) 4954-0381Obs. Não esquecer de discar antes00 + código da operadora

SERVIÇO

Editora Fiocruz

Av. Brasil, 4.036, sala 112,Manguinhos, Rio de Janeiro, RJCEP 21040-361Tel. (21) 3882-9039 e 3882-9006E-mail [email protected] www.fiocruz.br/editora

E-mail [email protected] http://www.madres.org/

INTERNET

QUANDO TRABALHAR ADOECE

AAgência Fiocruz de Notícias pre-parou uma série de reportagens

especiais sobre doenças relacionadasao trabalho. Segundo pesquisadoresconsultados, os médicos em geral nãoreconhecem que certas patologiasestão ligadas à ocupação profissional,e por isso ainda é recente o interes-se pelo impacto da profissão no de-senvolvimento de doenças.Site www.fiocruz.br/ccs/especiais/especial_trabalho.htm

PUBLICAÇÕES

PRECIOSIDADE REEDITADA

A Editora Fiocruz ea Academia Brasi-leira de Letras seassociaram paralançar Rondônia,Anthropologia —Ethnografia, deEdgard Roquette-Pinto, publicadapela primeira vez em 1917 nosArchivos do Museu Nacional do Riode Janeiro. A obra é resultado dosapontamentos da viagem de quatromeses do autor, em 1912, à regiãoem que hoje se situam os estadosde Mato Grosso e Rondônia — foiRoquette, aliás, quem sugeriu a pa-lavra Rondônia, em homenagem aomarechal desbravador, para batizaro território compreendido entre osrios Juruena e Madeira, cortadopela “Estrada Rondon”, que ligoupor telégrafo Mato Grosso e Ama-zonas. Para Roquette, a área erade grande importância para a pes-quisa científica.

Estão nesta sétima edição (a sex-ta datava de 1975) as ilustrações daspeças coletadas ao longo da viagem,depositadas no Museu Nacional — osdesenhos são associados aos respec-tivos números que receberam noacervo do museu.

SAÚDE E NUTRIÇÃO

A cientista social AnaMaria Canesqui, daUnicamp, e a nutri-cionista Rosa WandaDiez Garcia, da USPde Ribeirão Preto,organizaram Antro-pologia e nutrição:um diálogo possí-vel, lançamento da Editora Fiocruz.São 12 ensaios que inter-relacionamsaúde, nutrição e determinantessociais e questionam o reducio-nismo do paradigma biologista da ali-mentação. “Sua lição principal éque comer deixou de ser um atomeramente biológico desde queAdão e Eva tragaram o fruto proibi-do”, resume a obra a pesquisadoraCecília Minayo.

INFORMAÇÃO E SOCIEDADE

Vivemos tempos detecnicismo, individu-alismo e consumis-mo, e o vigoroso de-senvolvimento dastecnologias da infor-mação e comunica-ção, marcadamentea internet, cria umapolaridade entre tecnofóbicos etecnofílicos, nem sempre se admitin-do um lugar eqüidistante de tempe-rança entre os dois extremos. Naspalavras da médica Maria CristinaGuilam (Cesteh/Fiocruz), é disso quetrata Precariedades do Excesso —Informação e comunicação em saú-de coletiva, da Editora Fiocruz, es-crito a quatro mãos pelos doutoresem Saúde Pública Luis David Castiel(Ensp/Fiocruz) e Paulo Roberto Vas-concellos (Inca).

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PÓS-TUDO

Atenção básica abre novociclo para o farmacêutico

Jaldo de Souza Santos *

Os meus 50 anos como farmacêuticome privilegiaram com o direito de

ser espectador e agente de episódiosprofundos e transformadores da histó-ria da farmácia no Brasil. Agora, a histó-ria me reserva, mais uma vez, igual direi-to. Este novo momento dividirá as “águas”da profissão, com a edição da Portaria698/06, que garante o custeio dos ser-viços profissionais em todo o conjuntoda atenção básica na saúde pública.

Eu diria que a publicação da nor-ma é algo histórico e encerra luta deuma década do Conselho Federal deFarmácia, antes, batendo de porta emporta de autoridades sanitárias paramostrar-lhes a importância da parti-cipação do farmacêutico nesse setorda saúde pública e, depois, sabendoarticular, com extrema habilidade,com as secretarias municipais e esta-duais (Conass e Conasems) e abrirnegociações no momento crucial daelaboração da portaria. Por pouco,não fosse o CFF, ela seria mais umamedida árida, caída no vazio dadesassistência farmacêutica.

É que o texto da portaria, já con-cluído e a caminho da publicação noDiário Oficial, não contemplava o cus-teio dos serviços farmacêuticos. Foiquando o CFF entrou em campo parareabrir as negociações. E conseguiuque fosse reescrito o texto da porta-ria, desta vez, assegurando recursospara a contratação de farmacêuticos.

Esta foi uma luta do CFF e detodos — de outras organizações far-macêuticas, universidades e tantosatores que, como nós, não aceitáva-mos a ausência do farmacêutico naatenção básica por questões legais esanitárias. Por isso, gostaria de co-memorar com todos esta vitória.

Saliento o empenho do Departa-mento de Assistência Farmacêutica doMinistério da Saúde. Mas, em especial,

A.D.

aplaudo a dedicação pessoal do entãoministro da Saúde, Saraiva Felipe, quenos ouviu, que recebeu nossa propos-ta e se sensibilizou com nossa causa.Foi ele quem definiu a portaria.

Alguém pode lembrar — como lem-brou — que o farmacêutico já vinhaparticipando da atenção básica. É ver-dade. Contudo essa participação aindaé pífia (menos de 20% dos mais de 5.500municípios contrataram o profissionalcom esse objetivo), desarticulada e im-provisada. Agora, os serviços farmacêu-ticos serão sistemáticos e obrigatórios.

Mas a alegria com que trago estanotícia tem o mesmo tamanho da ne-cessidade de enfrentar uma nova lutaque se inicia, agora, pela qualifica-ção profissional. A finalidade é que ofarmacêutico abrace este novo de-safio com capacidade técnico-profis-sional e visão histórica ampla sobreseu tempo e sobre o Sistema Únicode Saúde. O SUS experimenta com-plexa reestruturação cujo objetivo éalcançar o princípio da universalida-de no acesso a serviços e produtosde saúde previstos na Constituição.É neste contexto que o farmacêuti-co entra para a atenção básica.

Para a maioria, tudo será novo: aatuação numa equipe multiprofissional,o contato direto com o usuário domedicamento, a responsabilidade dian-te de um universo grande de pacien-tes, a percepção complexa da saúdepública, o SUS, este emaranhado parao qual devem se voltar os esforços degestores e profissionais. E, obviamen-te, de toda a sociedade, mantenedorae beneficiária do sistema.

A publicação da 698/06 não encer-ra apenas uma longa luta, mas um ciclo.

A atuação do farmacêutico na atençãobásica, inclusive no Programa Saúde daFamília, além de outros programas liga-dos a doenças, como Aids, diabetes,hipertensão, inaugura um ciclo identifi-cado pelo encontro do farmacêuticocom as necessidades sanitárias e soci-ais da população, no setor público, comrecursos federais exclusivos.

Ele estará, com outros profissio-nais, na ponta do atendimento domaior sistema de saúde público domundo. É uma responsabilidade de-safiadora. Mas o farmacêutico rom-peu séculos vencendo desafios.

Tenho dito que estivemos incontá-veis vezes com ministros e demais auto-ridades sanitárias buscando convencê-los do óbvio. Ou seja, seria necessáriomesmo provar a importância dos servi-ços farmacêuticos na saúde pública? Nãobastaria o exemplo dos países desenvol-vidos? Ou o Brasil, com décadas de er-ros, é que estaria certo? Alegações deque a contratação do farmacêutico sig-nificaria despesas não convenciam. Pro-vamos que a economia gerada por nos-sos serviços superaria as despesas.

Ninguém mais aceitava que o pro-fissional da saúde da estatura técnico-científica do farmacêutico, dotado deconhecimentos e qualificações, que,nos últimos 10 anos, deflagrou impor-tante revolução no seio da farmácia,chamada atenção farmacêutica, focadanão apenas no medicamento, mas nopaciente usuário do medicamento,continuasse exilado da saúde. Na aten-ção básica, o medicamento é um eixofundamental. Como o farmacêutico, aautoridade em medicamento, não par-ticipava do contexto?

A Portaria 698/06, publicada em 3de abril de 2006, cria blocos de financia-mento, entre eles a atenção básica e aassistência farmacêutica. Diz que os re-cursos federais para o custeio de açõese serviços de saúde serão transferidos aestados, Distrito Federal e municípios deforma automática, fundo a fundo. A por-taria abre espaço para a contratação decerca de 22 mil farmacêuticos em todoo país. Dissemos que o farmacêutico éimprescindível à atenção básica. Suasações provarão isso.

RADIS 47 � JUL/2006

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*Presidente do Conselho Federal de

Farmácia (www.cff.rg.br); editorialda revista Pharmacia Brasileira, nº 52,março/abril de 2006.

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ACOMPANHE O QUE HÁ DE MAIS RECENTE NA PESQUISA EM SAÚDE COLETIVA

CADERNOS DE SAÚDE PÚBLICA AGORA É MENSAL!www.ensp.fiocruz.br/csp | [email protected]

Cadernos de Saúde Pública é uma publicação mensal editada pela Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, que se destina a veiculação de artigos técnico-científicos quecontribuam ao estudo da Saúde Pública em geral e áreas afins, como epidemiologia, controle de endemias e de vetores, avaliação nutricional, saúde ambiental, planejamento, saúde do trabalhador e ciências sociais em saúde.