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Sonhos e esperanças são cultivados na Fazenda Carnaúba Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1119 Setembro/2013 Pentecoste Logo cedo encontramos Valdeci na porta de sua casa, conversando com amigos, sorrindo e trazendo um mamão delicioso para degustarmos enquanto íamos conhecendo um pouco de sua comunidade, de seu território. Sua relação com a comunidade Fazenda Carnaúba, Pentencoste (CE), é hereditária, ali nasceu, por ali foi menino, brincou entre os sabiás, correu nos milharais e conhece com a palma da mão toda aquela terra que serviu de sustento a seus pais e hoje fornece alimento a sua família. José Valdeci Soares Nunes não sabe bem explicar a história da comunidade, de onde veio, quem fundou, todos que por ali passaram, a história é um exercício que ele quer construir conjugando-a no futuro, porque o passado já está ali presente em seus olhos, marcados em sua pele e salientado em sua fala quando enfatiza que os velhos hábitos de queimar e brocar estão superados por ele e por boa parte da comunidade, que hoje conta com 10 famílias e vive da agricultura porém sofre com a seca dos últimos anos. Entre um café e outro se nota que não existe uma nova consciência, mas, sobretudo, a potencialização de um saber compartilhado que foi possível com a vinda da Barragem Subterrânea, uma tecnologia que retêm os fluxos de água subterrânea armazenando-as de forma que reduz as perdas por evaporação, chegando às vezes a ser nulas; a água armazenada está menos sujeita à poluição, os riscos de ocorrência de doenças de veiculação hídrica diminuem e o solo acima da água estocada pode ser aproveitado para cultivos agrícolas. A Barragem Subterrânea foi levada pelo CETRA em parceria com a Associação Comunitária de Carnaúba e Adjacências, levou dois meses pra ser concluída e foi entregue em janeiro de 2013. Chegou trazendo não apenas as esperanças, mas novas oportunidades de lidar com seu espaço, de fazer algo que o próprio Valdeci já desconfiava. “Quando eu fui receber essa cisterna, na própria capacitação, ouvi tudo que eu queria e já desconfiava, que era sobre o prejuízo que a queimada traz”, enfatiza o agricultor que lembra que essa prática agora foi assimilada pela comunidade, que sempre debate esses assuntos nas reuniões da Associação Comunitária e que tem diminuído essa prática consideravelmente. “É uma forma de conseguirmos manter o solo bom né, não estragar tudo e deixar a natureza em equilíbrio”, finaliza José Valdeci. Maria Roseli Gomes Nunes, esposa de Valdeci, é uma das mais esperançosas quanto ao funcionamento da tecnologia instalada. O casal Valdeci e Roseli e sua filha Marina

Sonhos e speranças são cultivados na Fazenda Carnaúba

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas - nº 1119

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Page 1: Sonhos e speranças são cultivados na Fazenda Carnaúba

Sonhos e esperanças são cultivados

na Fazenda Carnaúba

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1119

Setembro/2013

Pentecoste

Logo cedo encontramos Valdeci na porta de sua casa, conversando com amigos, sorrindo e trazendo um mamão delicioso para degustarmos enquanto íamos conhecendo um pouco de sua comunidade, de seu território. Sua relação com a comunidade Fazenda Carnaúba, Pentencoste (CE), é hereditária, ali nasceu, por ali foi menino, brincou entre os sabiás, correu nos milharais e conhece com a palma da mão toda aquela terra que serviu de sustento a seus pais e hoje fornece alimento a sua família.José Valdeci Soares Nunes não sabe bem explicar a história da comunidade, de onde veio, quem fundou, todos que por ali passaram, a história é um exercício que ele quer construir conjugando-a no futuro,

porque o passado já está ali presente em seus olhos, marcados em sua pele e salientado em sua fala quando enfatiza que os velhos hábitos de queimar e brocar estão superados por ele e por boa parte da comunidade, que hoje conta com 10 famílias e vive da agricultura porém sofre com a seca dos últimos anos.Entre um café e outro se nota que não existe uma nova consciência, mas, sobretudo, a potencialização de um saber compartilhado que foi possível com a vinda da Barragem Subterrânea, uma tecnologia que retêm os fluxos de água subterrânea armazenando-as de forma que reduz as perdas por evaporação, chegando às vezes a ser nulas; a água armazenada está menos sujeita à poluição, os riscos de ocorrência de doenças de veiculação hídrica diminuem e o solo acima da água estocada pode ser aproveitado para cultivos agrícolas.A Barragem Subterrânea foi levada pelo CETRA em parceria com a Associação Comunitária de Carnaúba e Adjacências, levou dois meses pra ser concluída e foi entregue em janeiro de 2013. Chegou trazendo não apenas as esperanças, mas novas oportunidades de lidar com seu espaço, de fazer algo que o próprio Valdeci já desconfiava. “Quando eu fui receber essa cisterna, na própria capacitação, ouvi tudo que eu queria e já desconfiava, que era sobre o prejuízo que a queimada traz”, enfatiza o agricultor que lembra que essa prática agora foi assimilada pela comunidade, que sempre debate esses assuntos nas reuniões da Associação Comunitária e que tem diminuído essa prática consideravelmente. “É uma forma de conseguirmos manter o solo bom né, não estragar tudo e deixar a natureza em equilíbrio”, finaliza José Valdeci.Maria Roseli Gomes Nunes, esposa de Valdeci, é uma das mais esperançosas quanto ao funcionamento da tecnologia instalada.

O casal Valdeci e Roseli e sua filha Marina

Page 2: Sonhos e speranças são cultivados na Fazenda Carnaúba

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará

Realização Apoio

Para ela, assim que houver o inverno e a barragem puder armazenar mais água, será a oportunidade concreta de cultivar uma horta. “Eu ajudo muito ele, colhendo e debulhando o feijão, agora meu sonho é ter uma horta sabe, poder plantar cheiro verde, tomate, pimentão, essas coisas...”. Valdeci e Roseli tem três filhos, os mais velhos André e Mateus, trabalham em uma fábrica de sapatos que fica no distrito de Serrote, próxima a Fazenda Carnaúba e a pequena Marina que circula por entre as pernas da mãe enquanto ouvimos sua história.Como beneficiário do programa P1+ 2 MDS Valdeci teve oportunidade de participar de capac i tações e in te rcâmb ios que possibilitaram ao produtor conhecer várias outras experiências agroecológicas, entre elas a de seu Lourival, lá na Paraíba; “Fomos pro encontro na Paraíba, na casa de seu Lourival, chegamos lá vimos o que os projetos adquiridos trouxeram, antes eles plantavam roça, milho, feijão, como a gente aqui, depois eles passaram a ter as hortas pra comunidade, foi um encontro bom demais, pela simplicidade do seu Lourival, nordestino, da área seca também...” Valdeci completa: “A gente tá no mesmo pensamento deles, de ir pra agroecologia”.Outro momento importante para Valdeci foi conhecer, através do CETRA, as experiências agroecológicas do município do Trairi, e de lá pôde trazer uma ideia que julga como das mais importantes. “Trouxe inclusive a ideia da casa de sementes, aprendemos como guardar sementes, aprendemos mais coisas sobre a semente crioula” explica o produtor exibindo duas vasilhas cheias de sementes que ele já conserva em sua casa e pensa que em breve possa, junto à comunidade, instalar uma casa de sementes da comunidade Fazenda Carnaúba, que já tem até semente com nome de agricultor local “Aqui eu já tenho milho, feijão - de duas espécies - e sementes de Jerimum, Melancia, Fava, Milho 'Antonio Luis', que é um velho pioneiro, cuidava muito desse milho, com muito gosto, aí a gente acabou chamando de Antonio Luis”.Agora a família de Valdeci e Roseli está à espera da chuva para que a tecnologia possa funcionar melhor do que já vem operando, para a horta de Roseli fornecer um alimento de qualidade tanto para sua família quanto para sua produção e que Valdeci receba vários novos agricultores que queiram conhecer sua casa de sementes e suas experiências agroecológicas no objetivo de difundir essa prática de que ele tanto vem se apropriando e, basta uma chuvinha, um pouquinho de água qualquer, que o sertão se alardeará em verde.

Sementes são armazenadas pelo seu Valdeci